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Comercialização Bilateral de Energia em Mercados ... · A electricidade possui características...
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Comercialização Bilateral de Energia em Mercados
Liberalizados: Contratos por Diferenças e Gestão de Risco
Francisco Diogo Silva de Sousa
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Electrotécnica e de Computadores
Orientadores: Doutor Fernando Jorge Ferreira Lopes
Prof. Doutor João José Esteves Santana
Júri
Presidente: Prof.ª Doutora Maria Eduarda Pedro Orientador: Prof. Doutor Fernando Jorge Ferreira Lopes Vogal: Prof. Doutor Pedro de Carvalho
Outubro de 2014
1
Resumo
O processo de liberalização da indústria da energia eléctrica caracterizou-se por uma
crescente desregulação económica, que cortou com o modelo de uma entidade única, responsável
por toda a cadeia de valor, e possibilitou a abertura dos sectores de produção e da comercialização.
Actualmente, as entidades participantes nestes dois sectores chave competem entre si, em clima
concorrencial, e têm como objectivo principal maximizarem os seus lucros.
Dado o armazenamento de energia não ser economicamente viável, a qualquer momento a
oferta tem de igualar a procura para o sistema manter a integridade. Aliando este facto a um perfil de
carga em constante mudança ao longo do tempo, temos os participantes no mercado expostos a
riscos associados à volatilidade de preços e a incertezas quanto à produção e ao consumo. Uma das
formas encontradas para diminuir estes riscos é a contratação bilateral. Neste tipo de comercialização
de energia, os participantes negoceiam fora do contexto do mercado em bolsa e estabelecem os seus
próprios termos dos contratos. Existem várias modalidades de contratação bilateral, sendo de
destacar, para a presente dissertação, os contratos por diferenças.
Neste sentido, os capítulos iniciais efectuam a contextualização do tema, sendo
posteriormente definidos modelos de negociação para agentes de software, que permitem simular a
negociação bilateral entre agentes produtores e retalhistas.
No final, apresenta-se um caso de estudo que recorre a um simulador multi-agente para
comprovar os benefícios dos contratos por diferenças como instrumentos de gestão de risco e
comparar o desempenho destes com outras modalidades contratuais, nomeadamente os contratos
forward.
Palavras-Chave: Gestão de Risco, Contratação Bilateral, Contratos por Diferenças, Agentes
Autónomos de Software, Sistemas Multi-Agente.
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Abstract
The liberalization of the power industry is characterized by a growing economic deregulation,
which set apart from the model of a single company responsible for all processes, and allowed the
introduction of competition in both the production and the retailing sectors. At present, the entities
participating in these sectors compete with each other and have the main goal of maximizing their
profits.
Since the storage of electricity isn’t economically viable, the offer has to match the demand at
any given time to keep system’s integrity. Combining this fact with a load profile that changes with
time, we have market participants exposed to risks associated with price volatility and uncertainties
regarding production and consumption. One of the ways to hedge against these risks is to resort to
bilateral contracts. In such deals, participants negotiate outside the spot market and establish their
own contract terms. There are several modalities of bilateral contracting, notably contracts for
differences, which are the main focus of this dissertation.
The opening chapters give a contextualization of the area. They are followed by the definition
of negotiation models for software agents allowing them to simulate bilateral negotiation between
producers and retailers.
Finally, a case study is developed using a multi-agent simulator to prove the benefits of
contracts for differences as an hedging instrument and to compare their performance with other key
types of contracts, specifically forward contracts.
Keywords: Risk Management, Bilateral Agreements, Contract for Difference, Autonomous Software
Agents, Multi-Agent Systems
3
Capítulo 1- Introdução
Este capítulo começa por descrever o contexto do trabalho realizado no âmbito da presente
dissertação. De seguida, o capítulo descreve as motivações que levaram à realização do mesmo e os
seus principais objectivos. Por fim, apresenta a organização da dissertação.
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1.1- Enquadramento
Nos dias de hoje, é impossível separar a vida quotidiana do uso de energia eléctrica. Este
sector assume uma posição fulcral no funcionamento da sociedade e é uma pasta fundamental na
visão de qualquer governo. Nele, podem-se distinguir quatro actividades principais: produção,
transporte, distribuição e comercialização.
Desde os finais do século XIX, a organização do sector eléctrico registou grandes mudanças,
impulsionadas pela influência do poder político e com o objectivo de o tornar mais fiável e seguro, de
forma a garantir e melhorar o bem-estar do consumidor final. As economias de escala associadas à
produção de energia criaram bases para que o sector fosse organizado como um monopólio
regulado, durante grande parte do século XX, com apenas uma única entidade encarregue das quatro
actividades mencionadas acima. Diversos acontecimentos, como a crise do petróleo de 1973 ou a
crescente consciencialização para as causas ambientais (que levou à procura de alternativas às
fontes de energia tradicionais), serviram como motor para uma crescente desregulação do sector a
nível mundial. Esta desregulação foi feita através de pacotes legislativos que permitem actualmente a
existência de concorrência no mercado grossista (competição entre produtores) e no mercado
retalhista (competição entre comercializadores).
A situação em Portugal não é diferente, estando o sector eléctrico português a caminhar a
passos largos para a liberalização total, com este processo a estar concluído no final de 2015,
quando forem extintas as tarifas reguladas para os consumidores finais. O sector português encontra-
se actualmente interligado com o sector eléctrico espanhol, existindo uma plataforma Ibérica comum
para a transacção de energia, em que os participantes de ambos os países têm total liberdade para
participar. Os produtores e comercializadores podem participar no mercado grossista comum e os
consumidores finais podem escolher os seus próprios comercializadores de energia.
No mercado grossista, a aquisição de energia pode fazer-se de duas maneiras distintas:
através do mercado spot Ibérico (ou mercado em bolsa) e através de contratos bilaterais. No mercado
em bolsa, o preço da energia é obtido através da agregação e intersecção das curvas de oferta de
venda por parte dos produtores e de compra por parte dos comercializadores. Os contratos bilaterais
são contratos estabelecidos pelas partes, caracterizados através da modalidade contratual, preço e
maturidade, de acordo com as preferências dos participantes na negociação. No mercado retalhista,
os consumidores escolhem o seu comercializador de energia e celebram com ele um contrato
bilateral, ou escolhem uma das tarifas genéricas disponibilizadas pelo comercializador.
No campo dos contratos bilaterais, há a destacar a presença de produtos financeiros que
ajudam os participantes a definir a sua própria exposição ao risco. Entre eles, temos os contratos
forward, os contratos de opções, os contratos de futuros e os contratos por diferenças (também
designados como swaps). Estes diferem entre si em aspectos como o método de cumprimento de
pagamentos ou em termos do tipo de liquidação. A liquidação pode ser física, quando o contrato
bilateral implicar a entrega física do volume de energia acordado na data de maturação, ou ser
financeira, quando existir apenas a liquidação das margens dos contratos e não a entrega física de
energia.
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O celebramento de contratos bilaterais pode envolver, e na presente dissertação considera-se
que envolve, uma negociação entre as partes, com objectivos opostos, no que toca ao preço de
venda da energia. Como tal, o desenvolvimento do processo negocial dependerá das estratégias
utilizadas pelas partes para defenderem os seus interesses, como se irá descrever ao longo dos
capítulos seguintes
1.2- Motivações
A electricidade possui características que a distinguem de outras commodities e que fazem
com que o mercado de energia eléctrica seja substancialmente diferentes dos mercados de outros
bens. Em primeiro lugar, a electricidade não pode ser armazenada e tem de ser consumida dentro de
um décimo de segundo após a produção. Isto implica que a qualquer momento a oferta deva igualar a
procura. A electricidade também não possui uma individualidade própria quando presente na rede e
não flui nas linhas de transmissão no percurso mais desejável.
Tendo em conta estas características e o facto do diagrama de carga variar ao longo do dia,
podemos ter potência instalada no sistema que fica subutilizada nos períodos de menor consumo,
devido à necessidade de satisfazer o consumo nos períodos de pico. Pode também ser necessária
potência excedentária para fazer face a períodos de consumo inesperados ou avarias de
equipamentos, ou para poder compensar a produção intermitente associada a tecnologias que usem
recursos não armazenáveis, tais como a energia eólica. O sector eléctrico também necessita de um
mercado de serviços de sistema, que regule a frequência e a tensão e geração de reserva, de forma
a garantir a fiabilidade do sistema. Estas características irão moldar o mercado de energia, sendo que
a organização deste e a definição dos preços está fortemente dependente destes factores.
Consequentemente, a participação no mercado faz-se através da previsão de consumo, o
que envolve riscos financeiros. É do interesse dos participantes no mercado maximizarem os seus
lucros. Contudo, por um lado, estão sujeitos à volatilidade associada ao preço devido às mudanças
assistidas ao longo de um dia em termos de picos de procura e escassez de oferta, e por outro lado,
existe o risco associado ao volume de energia devido às incertezas relativas ao nível de produção e
de consumo. O risco inerente ao mercado é uma das motivações desta dissertação.
É do interesse dos participantes no mercado usarem mecanismos que levem à menor
exposição ao risco possível. Esta pode ser conseguida com recurso a contratos bilaterais que,
quando convenientemente elaborados, salvaguardam os interesses dos participantes. A liberalização
do mercado permitiu a entrada de novos produtos de derivados financeiros, estando o foco desta
dissertação virado para o estudo dos contratos por diferenças. O estudo de vários tipos de contratos
bilaterais e a comparação entre estes é outra das motivações.
Por fim, tendo em conta a crescente complexidade do sector eléctrico, em termos de
participantes, e a multiplicidade de comportamentos e objectivos apresentados por estes, tem surgido
um interesse crescente em modelar esses participantes através de agentes autónomos, de software,
e ver como estes interagem entre si num ambiente próprio (sistemas multi-agente). As conclusões
obtidas através dessas modelações do mercado poderão servir de suporte à tomada de decisão,
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nomeadamente através do estudo dos resultados obtidos para cada tipo de estratégia utlizada pelos
agentes, sendo esta a terceira motivação desta dissertação.
1.3- Principais Objectivos
Esta dissertação envolve vários objectivos, sendo de realçar os seguintes:
Estudo da dinâmica da contratação bilateral de energia, com particular destaque para o
mercado grossista e para os contratos por diferenças;
Adopção do modelo de negociação desenvolvido por Lopes et al. (2002; 2005) e estendido
por Lopes & Coelho (2010 a; 2012) e Lopes et al. (2013 a; 2013 b). Extensão do modelo da
negociação bilateral de forma a possibilitar aos agentes trocarem propostas e negociarem
vários tipos de contratos bilaterais, nomeadamente contratos por diferenças;
Desenvolvimento de agentes de software simplificados, que representem os participantes no
mercado grossista (produtor a vender a comercializador), e criação de estratégias que
possibilitem aos agentes participar em negociações expondo-se ao risco de acordo com o
nível ou atitude por si desejado;
Adição, a um simulador multi-agente já existente, do modelo negocial e das estratégias
mencionadas acima;
Estudo detalhado de casos práticos, em que se faça uma representação o mais próxima
possível de uma negociação real, e cujos resultados suportem ilações sobre o tema da
dissertação. Comparação entre comercialização bilateral de energia através de contratos
forward e com contratos por diferenças.
1.4- Contribuições
O trabalho desenvolvido nesta dissertação vem no seguimento de outros trabalhos
efectuados no âmbito do projecto MAN-REM - Negociação Multi-agente e Gestão de Risco em
Mercados de Energia Elétrica, que envolve o desenvolvimento de um simulador para mercados de
electricidade1. Como principais objectivos, este simulador permitirá aos participantes no mercado
negociarem contratos bilaterais e saírem de contratos através do pagamento de penalizações,
gerirem eficientemente o risco através de transacções nos mercados spot, de futuros e em mercados
a prazo, entrarem em coligações para poderem usufruir de melhores posições negociais e assim
assegurarem melhores tarifas, e gerirem eficientemente a participação activa dos consumidores na
comercialização bilateral de energia, através do uso de estratégias que modelem tarifas de preço
dinâmicos.
1 Trabalho realizado no âmbito do projecto MAN-REM (FCOMP-01-0124-FEDER-020397), financiado pelo
FEDER através do programa COMPETE- Programa Operacional Temático Factores de Competitividade, e pela FCT- Fundação para a Ciência e Tecnologia
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A presente dissertação apresenta várias contribuições, entre as quais se destacam:
Estudo de uma nova modalidade de contratação bilateral: contratos por diferenças. O
trabalho desenvolvido foi feito no sentido de se conhecer a fundo o funcionamento e o
contexto destes contratos nos mercados de electricidade, com particular destaque para a
realidade portuguesa. Este estudo culmina com o desenvolvimento de um novo modelo
negocial, em que se acrescentam, a um modelo já existente, as particularidades associadas a
estes tipos de contratos;
Implementação de contratos por diferenças no simulador em desenvolvimento, alargando o
leque de escolhas do utilizador e aproximando mais o simulador da realidade, onde os
participantes no mercado podem escolher vários tipos diferentes de contratos bilaterais. Foi
também concebida um novo grupo de estratégias, que relacionam a atitude face ao risco dos
participantes no mercado com o comportamento que estes podem assumir na negociação;
Desenvolvimento de casos de estudo que permitem testar as características dos contratos
por diferenças, sendo estes uma ferramenta de gestão de risco face à volatilidade dos preços
no mercado spot, e que permitem comparar o desempenho deste tipo de contratos com os
contratos forward, com consequente análise e critica dos resultados e benefícios para as
partes envolvidas na negociação.
1.5- Organização
No Capítulo 2 é feito o enquadramento das temáticas sobre as quais incide o trabalho
desenvolvido na dissertação. Inicialmente, são descritos os modelos organizacionais do sector
eléctrico, seguido-se uma descrição do mercado eléctrico português, onde é feita uma retrospectiva
da sua evolução até aos dias de hoje, bem como uma descrição das principais entidades e dos
números envolvidos neste mercado. São também abordados os temas da transacção de energia,
sendo feita uma descrição das possíveis modalidades de aquisição de energia (mercado spot e
contratos bilaterais) e dos produtos financeiros disponíveis para o mercado português, com ênfase
para os contratos por diferenças. O capítulo encerra com a descrição das principais características de
agentes autónomos (de software) e de sistemas multi-agente, sendo também feita uma referência ao
trabalho existente nesta área em termos de simuladores.
O Capítulo 3 aborda o tema da negociação, sendo mostradas as principais características
desta interação social (nomeadamente as suas etapas). É apresentado um modelo de negociação de
contratos com diferenças, que servirá como base teórica para a implementação da contratação
bilateral no simulador, e apresentado o protocolo de ofertas alternadas, a ser utilizado pelos agentes.
São também abordados os principais tipos de estratégias que podem ser adoptadas pelos agentes.
No Capítulo 4 é apresentada um novo grupo de estratégias, a serem utilizadas pelos agentes
na simulação, baseadas nas suas atitudes face ao risco. Em primeiro lugar, é descrito como estas
atitudes influenciam a forma como um agente aborda a negociação, em termos de objectivos gerais.
De seguida, é apresentada a forma como se pode associar estas atitudes às funções de utilidade de
cada agente, para os tópicos ou itens negociais em causa, começando com a descrição do conceito
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de utilidade e incluindo as funções de utilidade de von Neumann-Morgenstern. Apresenta-se depois
um modelo para quantificar a atitude face ao risco dos agentes, e posteriormente a descrição de um
novo grupo de estratégias de concessão baseadas no grau de aversão ao risco, uma das quais será
usada no Capítulo 5.
O Capítulo 5 é dedicado aos casos de estudo. O capítulo começa com a descrição do
software utilizado na simulação. Depois são apresentados os pressupostos usados a nível de preços
e de perfis de consumo de energia. De seguida, é apresentada a interface gráfica desenvolvida para
o simulador, através da descrição do conjunto de janelas existentes, que permitem ao utilizador
escolher os termos da negociação bilateral recriada computacionalmente. O capítulo encerra com a
apresentação, análise e discussão dos resultados obtidos nos casos de estudo, que envolve três
negociações, diferindo entre si ao nível do tipo de contrato negociado e da atitude face ao risco dos
agentes participantes.
Finalmente, o Capítulo 6 apresenta as conclusões da dissertação, incluindo um resumo do
trabalho feito e as recomendações sobre trabalho futuro a desenvolver sobre o tema.
A fechar, são apresentadas as referências bibliográficas utilizadas ao longo da dissertação e
os anexos onde está presente informação acessória utilizada no caso de estudo. Em particular, o
Anexo 1 apresenta informação relevante para os casos de estudo.
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Capítulo 3- Contratação de
Energia e Negociação Bilateral
O presente capítulo descreve o processo de negociação que serve de base à contratação bilateral de
energia em mercados liberalizados. O capítulo começa por apresentar alguns dos principais aspectos
do modelo de negociação adoptado para o presente trabalho. Posteriormente, descreve-se a
extensão desse modelo com os aspectos inerentes à contratação bilateral envolvendo contratos por
diferenças, ou seja, apresenta-se parte da contribuição conceptual da presente dissertação (relativa à
contratação bilateral). Por fim, o capítulo descreve o papel e importância das estratégias na
negociação bilateral.
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3.1- Introdução
A presente dissertação diz respeito à contratação bilateral de energia em mercados
liberalizados. Dois agentes, um produtor/vendedor e um comprador/consumidor de energia,
interagem com o intuito de definir os termos de um contrato (tipicamente preços, mas também podem
incluir volumes, duração, etc.).
Existem diferentes processos de interação que os agentes podem adoptar na contratação
bilateral. Nesta dissertação consideram-se dois agentes que negoceiam o preço da energia através
de um processo negocial que envolve a troca iterativa de propostas e contra-propostas, podendo
alcançar-se um acordo, ou não (um ou ambos os agentes podem desistir da negociação).
Uma negociação pode ser definida como um processo para a resolução de conflitos criados
por preferências opostas entre as partes participantes, e envolve tipicamente uma discussão entre
essas partes, com o objectivo de se alcançar um acordo. Não existe limite para o número de
participantes que podem entrar numa negociação, que pode envolver duas partes (negociação
bilateral) ou mais do que duas (negociação multilateral (Lopes & Coelho, 2010 b)). Os tópicos ou itens
em consideração numa negociação podem ser divididos em um ou mais assuntos, que podem exigir
decisões separadas por parte dos agentes.
Existem situações em que o carácter da negociação pode ser cooperativo, outras em que
pode ser puramente competitivo, e ainda outras em que pode ser híbrido e possuir elementos
cooperativos e competitivos (Lopes et al., 2008). Em todo o caso, existem características que são
comuns a todas as negociações, entre elas estão: a participação de dois ou mais agentes, a
existência de um conflito entre as partes, e uma preferência para chegar a um acordo. Para o caso da
presente dissertação será considerado um cenário envolvendo a negociação bilateral entre um
agente vendedor e um agente comprador de energia.
O processo de negociação pode ser dividido em várias etapas (Lopes et al., 2008). Em
particular, existe uma fase inicial (pre-negociação) focada na preparação e no planeamento feito
pelos agentes, através da definição dos seus objectivos, limites e posições iniciais. Esta etapa é
seguida por uma intermédia (resolução de problemas) caracterizada pela interacção entre os
agentes, o uso de estratégias e pela tentativa de se chegar a um acordo. Por fim, temos um fase final
(implementação) em que são implementados os acordos, caso tenham sido alcançados.
Na etapa da pre-negociação, os agentes realizam um conjunto de acções, sendo de realçar
as seguintes: priorizam os itens, definem os limites e especificam os objectivos. Os itens são
ordenados consoante a importância que têm para um agente e os limites definem a gama de valores
sobre a qual se decide se um acordo pode ser alcançado ou não.
Segundo Raiffa et al. (2007), durante a pre-negociação os agentes refletem sobre os
problemas de decisão que irão enfrentar, e ao analisarem as consequências relativas à falha no
alcance de um acordo, estabelecem valores limites adequados às suas necessidades. Um vendedor
formula um preço que representa o valor mínimo para um acordo. Qualquer valor inferior conduz a
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Figura 3.1- Esquematização da negociação para um preço [adaptado de Raiffa et al. 2007]
uma situação em que o cenário de não acordo é mais atractivo do que a venda a esse preço. A
mesma lógica aplica-se ao comprador, que neste caso estabelece um preço máximo, relativo ao qual
preços superiores são preteridos face a uma situação de não acordo.
Caso o preço em questão seja maior (menor) que o preço limite do vendedor (comprador)
então podemos considerar que os agentes negoceiam numa zona de “saldo positivo”, que ambos
quererão que seja o maior possível.
Se o maior preço pelo qual o comprador chegar a acordo for menor do que o menor preço
estabelecido pelo vendedor, então não existe uma zona de possível acordo. Contudo, caso o preço
limite do comprador seja maior do que o limite estabelecido pelo vendedor, existe uma zona de
preços onde as expectativas realistas dos agentes criam bases negociais para poder ser atingido um
acordo, tal como se encontra descrito na Figura 3.1. Convém notar que, mesmo que a condição
anterior se verifique, não é correcto afirmar que se chega sempre a acordo. A interacção e
capacidade negocial dos agentes é que vai determinar se um preço dentro da gama de valores
possíveis satisfaz ou não as suas pretensões.
Uma pre-negociação também requer que os agentes negociadores cheguem a acordo para a
adopção de um protocolo que defina apropriadamente as regras pelas quais a interacção será regida
(Lopes et al., 2009). Existem vários tipo de protocolos. Contudo, nesta dissertação vai ser adoptado
um protocolo em que os agentes apenas trocam entre si propostas e contrapropostas, sendo
designado por protocolo de ofertas alternadas. Entre as actividades da pre-negociação podem-se
incluir ainda a formulação de um prazo negocial e decisões sobre o que fazer caso a negociação
falhe (Lopes & Coelho, 2010 b).
3.2- Modelo de Negociação Bilateral
Esta secção descreve de forma sucinta aspectos importantes do modelo de negociação
desenvolvido por Lopes et al. (2002; 2005) e Lopes & Coelho (2010 a; 2012) e que será adoptado
para esta dissertação.
Sejam 𝐴 = {𝑎1, 𝑎2} o conjunto de agentes autónomos participantes na negociação. Seja
𝐴𝑔𝑒𝑛𝑑𝑎 = {𝑥1, … , 𝑥𝑘} a agenda negocial, ou seja, o conjunto de itens sobre os quais vai incidir a
Zona de possível
acordo
Preço limite do
vendedor
Preço limite do
comprador
€/MWh
Preço do possível
acordo
Comprador pretende
aumentar esta
diferença
Vendedor pretende
aumentar esta
diferença
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negociação. Cada um destes itens é uma variável quantitativa definida sobre um intervalo contínuo
𝐷𝑛 = [𝑚𝑖𝑛𝑛, 𝑚𝑎𝑥𝑛] . Os preços limites de cada negociador para cada um dos itens da agenda
negocial, 𝑥𝑘, são representados por 𝑙𝑖𝑚𝑘.
Os negociadores determinam a alocação dos itens ao trocarem alternadamente propostas
para os períodos de tempo 𝑇 = {1,2, … }. Isto quer dizer que apenas uma proposta é submetida em
cada período 𝑡 ∈ 𝑇, com o agente 𝑎1 a enviar as suas propostas nos períodos ímpares {1,3, … } e o
outro agente 𝑎2 nos períodos pares {2,4, … }. Os agentes possuem a possibilidade de abandonarem
unilateralmente a negociação, como resposta a uma proposta do oponente.
O processo de negociação inicia-se com 𝑎1 a submeter uma proposta 𝑝1→21 para 𝑎2 no
periodo 𝑡 = 1. O agente 𝑎2 recebe 𝑝1→21 e tem três hipóteses de acção: aceitar a proposta, rejeitar e
abandonar a negociação, ou rejeitar e continuar a negociar. Nos dois primeiros casos, a negociação
termina. Se 𝑝1→21 for aceite, a negociação termina e o acordo é implementado. Caso 𝑝1→2
1 seja
rejeitada e 𝑎2 abandonar, a negociação termina sem acordo. Se ocorrer o último caso, a negociação
segue para o período seguinte 𝑡 = 2, no qual 𝑎2 envia a contra-proposta 𝑝2→12 . Este processo é então
repetido. Assim que se chegue a um acordo é feita a alocação dos itens negociais. O protocolo de
negociação obedece às normas padrão da FIPA, que irão referenciadas no Capítulo 5.
Cada proposta é um vector de itens negociais enviado por um agente 𝑎𝑖 ∈ 𝐴 para um agente
𝑎𝑗 ∈ 𝐴 no período 𝑡 ∈ 𝑇, e tem a forma:
𝑝𝑖→𝑗𝑡 = (𝑣1, … , 𝑣𝑘) (3.1)
onde 𝑣𝑘, 𝑘 = 1, … , 𝑛, é o valor do item negocial 𝑥𝑘 ∈ 𝐴𝑔𝑒𝑛𝑑𝑎.
A decisão de aceitar ou não uma proposta depende da avaliação feita pelo agente, tendo em
conta as suas preferências, no que diz respeito aos itens de negociação. Para cada item 𝑥𝑘 , os
agentes atribuem um peso 𝑤𝑘 , que é um número que representa a preferência do agente
relativamente a 𝑥𝑘 . Cada agente irá recorrer a uma função de utilidade contínua para fazer a
avaliação das ofertas. No caso do modelo aditivo, esta função tem a seguinte forma:
𝑈𝑖(𝑥1, … , 𝑥𝑛) = ∑ 𝑤𝑘𝑉𝑘(𝑥𝑘)
𝑛
𝑘=1
(3.2)
O valor que cada agente atribui a cada um dos itens de negociação é dado pelo resultado da
função de utilidade marginal 𝑉𝑘(𝑥𝑘). A avaliação de uma oferta é feita recorrendo ao modelo aditivo
da equação 3.2, em que cada agente soma os valores atribuídos a todos os itens tendo em conta o
seu peso relativo. A aceitação de uma oferta acontece quando a utilidade associada à oferta recebida
for superior à utilidade da oferta que um agente esteja pronto a submeter.
3.3- Modelo para a Negociação de um Contrato por Diferenças
Os procedimentos anteriormente descritos serão seguidos para todos os tipos de contrato
disponíveis no simulador (a ser descrito no Capítulo 5). O trabalho desenvolvido permite ao utilizador
escolher entre três tipos de contrato bilateral: forward, contratos por diferenças a uma via e contratos
por diferenças a duas vias. No caso em que a escolha seja de um contrato forward, então o processo
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negocial termina quando as propostas forem aceites pelas duas partes ou quando uma das partes
terminar a negociação.
Um dos objectivos desta dissertação é a implementação da negociação de um contrato por
diferenças, para três preços distintos, relativos a diferentes partes do dia (vazio, cheia e ponta), cada
um deles associado a um consumo típico de energia. Considere-se o seguinte vector para os três
volumes em questão: 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 = (𝑣𝑜𝑙1, 𝑣𝑜𝑙2 , 𝑣𝑜𝑙3). Tal como foi referido anteriormente, num contrato
deste género é necessário que os agentes cheguem a um acordo para os preços dos volumes de
energia em discussão, com o preço respectivo a cada um deles a ser designado por strike price. Se a
negociação for concluída com sucesso, então a proposta aceite pelas partes 𝑝𝑖→𝑗𝑡 = (𝑣1, 𝑣2,𝑣3) ditará
os strike prices:
𝑆𝑡𝑟𝑖𝑘𝑒 = (𝑠𝑡𝑘1, 𝑠𝑡𝑘2, 𝑠𝑡𝑘3) (3.3)
onde:
i) 𝑆𝑡𝑟𝑖𝑘𝑒 é o vector de strike prices (em €/MWh);
ii)𝑠𝑡𝑘𝑖, 𝑖 = 1,2,3, é o strike price associado a cada um dos volumes em negociação 𝑣𝑜𝑙𝑖.
Os contratos por diferenças necessitam também que seja estabelecido um conjunto de
valores que sirvam como referência, a partir dos quais são calculados as diferenças. Os preços de
referência podem ser definidos como:
𝑅𝑒𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑐𝑒 = (𝑟𝑒𝑓1, 𝑟𝑒𝑓2, 𝑟𝑒𝑓3) (3.4)
onde:
i) 𝑅𝑒𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑐𝑒 é o vector dos preços de referência (em €/MWh);
ii)𝑟𝑒𝑓𝑖 , 𝑖 = 1,2,3, é o preço de referência associado a cada período do dia para o qual é
negociado o volume 𝑣𝑜𝑙𝑖.
Com a formalização destes dois vectores de preços, procede-se então à modelação das
diferenças entre eles, cuja multiplicação pelo volume dará a compensação financeira que uma parte
fará à outra. Caso os preços nos vectores acima sejam iguais, não haverá compensações. As normas
dos contratos por diferenças estipulam que um agente vendedor terá de compensar financeiramente
um comprador quando os strike prices forem inferiores aos preços de referência. O valor monetário
total da diferença a pagar pelo vendedor será dado por (em €):
𝐷𝑖𝑓𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑐𝑒𝑠𝑒𝑙𝑙𝑒𝑟 = ∑(𝑟𝑒𝑓𝑖 − 𝑠𝑡𝑘𝑖) × 𝑣𝑜𝑙𝑖
3
𝑖=1
(3.5)
O comprador terá de pagar compensações financeiras ao vendedor na situação onde os
preços de referência forem inferiores aos strike prices e quando se estiver a negociar um two-way
CfD. Seguindo a mesma lógica, temos o valor monetário a pagar pelo comprador dado por (em €):
𝐷𝑖𝑓𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑐𝑒𝑏𝑢𝑦𝑒𝑟 = ∑(𝑠𝑡𝑘𝑖 − 𝑟𝑒𝑓𝑖) × 𝑣𝑜𝑙𝑖
3
𝑖=1
(3.6)
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3.4- Uso de Estratégias na Negociação Bilateral
Segundo Carnevale e Pruitt (1992), existem duas correntes de pensamento no que toca à
investigação empírica da negociação. Uma é a corrente da estratégia e motivação, que defende que
o resultado de uma negociação se deve às estratégias escolhidas pelos negociadores, e prevê a
escolha estratégica destes com base nas suas motivações. A outra é a corrente cognitiva, em que os
resultados das negociações se devem à percepção dos negociadores e à sua capacidade para
processar informação. O foco nesta dissertação será sobre a primeira corrente, sendo isto vincado
com o desenvolvimento e recurso a estratégias cujos resultados se refletirão na simulação.
Existem vários tipos de estratégias, sendo de realçar (Lopes et. al, 2008; Lopes & Coelho, 2010
a):
Estratégias de concessão: estratégias em que um negociador reduz as suas pretensões de
forma a acomodar a outra parte;
Estratégias competitivas: estratégias em que uma das partes obriga a outra a ceder. As
tácticas que implementam esta estratégia incluem ameaças e compromissos;
Estratégias de resolução de problemas: caracterizadas pela procura de opções que
satisfaçam os objectivos de ambas as partes. As tácticas incluem o fornecimento de
informação sobre as prioridades de cada parte e a cooperação na procura de soluções. Estas
estratégias são o principal método para alcançar acordos em que todas as partes estejam
satisfeitas.
Estas estratégias são, na prática, simultaneamente incompatíveis devido à abordagem
diferente que fazem do problema da negociação e aos diversos efeitos causados no opositor. A
selecção de uma estratégia inicial adequada é uma parte fulcral do processo de pré-negociação. A
escolha depende obviamente das condições da negociação e da correspondente probabilidade de
sucesso. Também não é de todo errado considerar que numa negociação se possa recorrer a várias
estratégias, com cada uma delas a ser aplicada num determinado período consoante a sua
adequação à fase da negociação em causa.
A motivação dos agentes também pode ser categorizada de acordo com a sua preocupação
com o desfecho da negociação. Quando a preocupação se incide no resultados do próprio, a
motivação é considerada individualista. Quando se sucede o oposto, e a preocupação se incide
sobre o resultado do opositor, então a motivação é altruísta. Quando a preocupação é repartida
pelos resultados de ambas as partes, então a motivação é cooperativa. Pode-se também dar o caso
em que um agente apenas tenha o desejo de ser melhor sucedido que a outra parte. A motivação
assume, neste caso, um carácter puramente competitivo. Tendo em conta estas motivações, é
possível mapear as estratégias num diagrama dual, em que é feita a previsão da estratégia a
escolher por um agente, tal como é retratado na Figura 3.2.
O trabalho desta dissertação incidirá sobre as estratégias de concessão e no capítulo
seguinte será desenvolvido um grupo de estratégias deste tipo. É importante referir que já existe uma
extensa investigação sobre estratégias de concessão, cujas conclusões são relevantes para o
15
Figura 3.2- Modelo dual para previsão de estratégias (Carnevale & Pruitt, 1992)
trabalho apresentado nos capítulos seguintes (ver Chertkoff & Conley 1967; Benton et al. 1972;
Bartos 1974; Hamner 1974; Harnett & Vincelette 1978 citados por Carnevale & Pruitt (1992). Estas
conclusões dizem respeito à forma como as exigências negociais iniciais e o ritmo de concessões
afecta o desenrolar da negociação. Em primeiro lugar, é possível concluir que exigências iniciais altas
conjugadas com concessões feitas a um ritmo baixo fazem com que o alcance de um acordo se torne
mais lento e menos provável. Outra conclusão, indica que exigências iniciais baixas e concessões
mais rápidas produzem resultados piores para a parte que usa estratégias deste género e resultados
melhores para o opositor.
Por fim, temos uma terceira conclusão, que pode ser obtida a partir das duas anteriores e
comprovada por diversos estudos, que diz que existe uma relação em forma de U invertido entre o
nível das exigências e o nível dos resultados. Negociadores que comecem com exigências altas e
concedam lentamente são frequentemente incapazes de chegar a um acordo e normalmente têm
resultados maus. Quem também tem resultados maus são os negociadores que comecem com
exigências baixas e concedam rapidamente às pretensões do opositor. Os negociadores que se
localizam entre estes extremos são os que geralmente obtêm melhores acordos.
É com base nestes princípios que o modelo do capítulo seguinte foi elaborado, tendo o
padrão de concessões sido desenvolvido de forma a recriar esta relação entre as exigências em cada
ronda negocial e o desfecho da negociação.
16
Capítulo 6- Conclusões
Este capítulo apresenta as conlusões retiradas do trabalho desenvolvido na presente dissertação e
recomendações para possíveis trabalhos futuros, com a intenção de explorar mais a fundo a área.
17
6.1- Síntese dos Resultados
O caminho para a liberalização do sector eléctrico implicou o corte com o passado, onde
existia apenas uma única entidade responsável por toda a cadeia de valor, assistindo-se actualmente
a uma abertura à concorrência em sectores como a produção e a comercialização. Esta desregulação
do mercado deu azo à entrada de novos participantes, cada um dos quais com um conjunto de
intenções diferentes, mas todos guiados pelo objectivo de assegurar a maximização dos lucros. O
mercado de electricidade tornou-se uma mistura complexa de agentes cuja acção não segue uma
matriz comum. A electricidade é um bem que, ao não poder ser armazenado, obriga a que a oferta
iguale sempre a procura. A necessidade de existência deste equilíbrio cria pressões adicionais no
mercado, o que leva à exposição, por parte dos participantes, a riscos financeiros devido à flutuação
de preços, e a riscos associados à incerteza de produção e de consumo. Uma maneira de contornar
estes perigos é permitir que os agentes estabeleçam contratos bilaterais entre si que, quando
convenientemente aplicados, podem diminuir a exposição ao risco.
Tal como foi explicado no Capítulo 2, esta dinâmica de mercado suscitou um interesse na
modelação do mercado eléctrico, de forma a ajudar os participantes nas suas tomadas de decisão.
Esta modelação é feita através de agentes de software, autónomos, operando num ambiente multi-
agente. Os agentes autónomos possuem características que replicam as acções dos participantes no
mercado e permitem executar simulações de negociações muito próximas do que sucede na
realidade.
Foi neste contexto que foi proposto o trabalho desta dissertação, tendo sido decidido dar
ênfase ao estudo da gestão de risco recorrendo a contratos bilaterais, sendo que foi dado destaque
aos contratos por diferenças, cuja descrição se encontra no Capítulo 2, sendo a sua inserção num
modelo de negociação feita nos capítulos 3 e 4.
Uma das vantagens dos contratos bilaterais, em relação à participação no mercado spot, é o
facto de poderem ser desenhados à medida dos participantes, nomeadamente em termos do nível de
exposição ao risco (desejado por cada uma das partes). Foi com esta ideia em mente que foi
elaborado um grupo de estratégias de negociação, descrito no Capítulo 4, que modelam o
comportamento negocial de um agente consoante a sua atitude face ao risco. Essas estratégias são
de concessão fixa e indicam o ritmo, consoante a aversão ao risco, com que um participante cede às
exigências negociais do opositor, através de uma fórmula específica apresentada no final do Capítulo
4.
De modo a testar as estratégias e comparar a negociação bilateral através dos CfDs e com
forwards, foram elaborados casos de estudo que envolvem a negociação bilateral entre um agente
produtor e um comercializador, em representação de um cliente industrial. Na base dos pressupostos
dos casos estudo estão dados reais relativos a 2013, para a elaboração das ofertas iniciais e dos
limites negociais de cada agente, e dados de um caso típico de consumo industrial. Os casos de
estudo tratam a negociação de um contrato para os meses de Junho, Julho e Agosto de 2014, sendo
que para efeitos de preços de referência, foram usados preços reais praticados no mercado spot
português.
18
Os preços da electricidade para os três meses do contrato eram substancialmente superiores
aos preços usados como base das ofertas. Como tal, recriou-se uma situação típica em que os
agentes negociaram um contrato bilateral e assistiu-se a uma subida de preços. Foram simuladas
três situações, em que duas recorreram a contratos por diferenças e uma terceira a um contrato
forward. As duas onde foram celebrados CfDs distinguem-se entre si pela atitude face ao risco do
produtor.
Após terem sido feitas as três simulações, são de realçar três conclusões importantes. A
primeira diz que os contratos por diferenças são, efectivamente, instrumentos financeiros eficazes no
combate à flutuação de preços. No caso de estudo, o consumidor fica bastante protegido da subida
de preços verificada em 2014. Através dos pagamentos efectuados pelo agente produtor, consegue
reduzir em 7%, no melhor caso, as despesas que teria na aquisição da sua energia, se estivesse
apenas a participar no mercado spot. Este caso mostra uma situação prática em que os contratos por
diferenças fazem uma gestão bastante benéfica dos riscos associados à subida de preços.
Obviamente que o agente produtor sai prejudicado ao entrar em contratos bilaterais. Contudo, pode
salvaguardar os seus interesses de outra forma, o que nos leva à segunda conclusão.
O agente produtor pode maximizar as suas vendas se assumir uma postura propensa ao
risco, como é perceptível pela comparação dos preços efectivos de venda de energia entre os casos
em que participa em CfDs e assume uma posição propensa em detrimento de uma posição avessa.
A terceira conclusão envolve a comparação entre os benefícios para o agente produtor, caso
este escolha um contrato forward ou um contrato por diferenças. É possível ver, pelo preço efectivo
de venda de energia, que existem situações em que, apesar do produtor estar do lado perdedor do
contrato por diferenças, pode retirar maiores benefícios, bastando assumir uma atitude propensa ao
risco, em comparação com o caso em que este se tenha envolvido num contrato forward, onde
ambos os agentes tenham uma posição neutra face ao risco e estejam apenas interessados numa
liquidação física da energia.
6.2- Trabalho Futuro
Para a aprofundação do trabalho desenvolvido nesta dissertação, sugerem-se de seguida
alguns tópicos que, caso sejam desenvolvidos convenientemente, irão conferir maior realismo ao
simulador desenvolvido no projecto MAN-REM - Negociação Multi-agente e Gestão de Risco em
Mercados de Energia Elétrica, e aproximarão o projecto dos seus objectivos relativos à gestão de
risco.
Em primeiro lugar, seria interessante desenvolver um pouco mais a negociação dos contratos
por diferenças, em termos das funcionalidades do simulador. Como foi explicado no Capítulo 2, estes
contratos podem ser feitos para vários períodos temporais, e as datas para serem feitas as
compensações financeiras podem também variar (a título de exemplo, no caso de estudo do Capítulo
5, foram calculadas mensalmente, mas podiam apenas ter sido feitas no final dos três meses de
contrato). Seria uma boa contribuição para o programa se fosse dada a possibilidade do utilizador do
simulador escolher o horizonte temporal da maturidade do contrato, bem como a escolha da
19
Figura 6.1- Janela de escolha dos detalhes do contrato
frequência com que se fariam as compensações financeiras. A título exemplificativo, é mostrada na
Figura 6.1 uma janela hipotética para este efeito, que foi desenvolvida no âmbito da dissertação, mas
que nos termos actuais não tem utilidade prática, e cuja intenção seria permitir ao utilizador escolher
a duração do contrato e a frequência das compensações.
Outra vertente que melhoraria o simulador seria incluir uma linha temporal, ou seja, em vez
de se negociar apenas para um dia (como está actualmente implementado), seria criada uma linha
temporal que influenciaria a forma como os mecanismos contratuais fossem implementados. De uma
forma geral, a intenção seria possibilitar a “visualização” do tempo a passar e, assim, assistir-se ao
pagamento de compensações ou à evolução dos preços de referência de mercado, até se atingir a
maturidade do contrato.
Um outro tema que seria interessante ver aprofundado está relacionado com a atitude face ao
risco exibida pelos agentes. Nesta dissertação, a caracterização de cada agente é feita pelo
utilizador. Apesar disso, a classificação não tem em conta outros dados além do nível de preferência
de risco desejado para cada tipo de contrato exibido. Este facto poderia ser mudado se fossem
atribuídas outras características aos agentes. Para o agente produtor, por exemplo, poderíamos ter
em conta o seu portfolio tecnológico. Se a produção de um agente tivesse origem em fontes de
energia intermitentes, obviamente que teria de se ter uma abordagem ao mercado completamente
diferente da de um produtor que recorresse apenas a centrais a gás (por exemplo). A sugestão aqui
deixada é permitir que o utilizador do simulador defina o mix energético do produtor, sendo que se se
aplicasse a cada tecnologia um factor de capacidade produtiva, poderíamos automaticamente
classificar a sua postura face ao risco através da concepção de um modelo que fizesse a ponderação
da origem da produção. Para o lado do consumidor, a criação de um nível de aversão ao risco
poderia ser feita através da avaliação da sua associação em coligações. Um consumidor isolado está
mais vulnerável negocialmente, do que quando estiver associado a outros consumidores. Como tal, o
nível de aversão ao risco poderia ser definido consoante o peso relativo deste numa coligação.
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