Como a sociedade deveria ser organizada segundo a república de platão

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COMO A SOCIEDADE DEVERIA SER ORGANIZADA SEGUNDO A “REPÚBLICA” DE PLATÃO

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COMO A SOCIEDADE DEVERIA SER ORGANIZADA

SEGUNDO A “REPÚBLICA”

DE

PLATÃO

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Como a sociedade deveria ser organizada:“Isso não está certo!” “Não é justo!” Quantas vezes você ouviu estas palavras? Mas de onde

vieram as ideias de “justo” e “certo”? Trata-se de ideias vinculadas a justiça, um dos mais importantes valores humanos, visto que afeta

a vida de todos nós. Pensar sobre a justiça costuma levar a pensar sobre o tipo de sociedade em que vivemos, ou em que gostaríamos de viver, em vez de simplesmente nas relações entre os indivíduos.

A filosofia política emprega o conceito de justiça e faz tanto perguntas metafísicas como questões éticas.

A justiça é um valor dado por Deus ou um valor eterno absolutamente verdadeiro para todas as pessoas em todas as épocas e em todos os lugares?

A justiça é um valor puramente humano incorporado às nossas instituições a fim de trazer ordem e lealdade às sociedades humanas? Pode o que é certo para um grupo de pessoas ser errado para outro?

Qual a melhor forma de governo? Quais devem ser os limites de seu poder? Qual a justificativa para qualquer forma de governo?

Em termos gerais, os filósofos clássicos tentaram estabelecer diretrizes para uma sociedade ideal, enquanto os filósofos modernos revelam tendências a analisar sociedades existentes e extrair interrogações e conclusões de situações políticas reais.

O primeiro filósofo que conhecemos a elaborar diretrizes para uma sociedade ideal e a perguntar “O que é a justiça?” foi o grego Platão, que viveu em Atenas entre os séculos V e IV a. C. Ele escreveu a República, livro no qual afirma que a questão central que toda sociedade tem de enfrentar é: “Quem deve governar?” Ao mesmo tempo, Platão contrapunha sua filosofia aos sofistas, grupo de filósofos de Atenas que vendiam suas habilidades a seus clientes a fim de torná-los antes bem-sucedidos que morais. Era desejo de Platão que houvesse harmonia no Estado e excelência nos indivíduos, razão por que se opunha tanto aos sistemas políticos existentes como aos sofistas.

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O magnífico mitoPlatão pensava que um Estado ideal proporcionaria uma vida ideal. Acreditava também que a sociedade era o indivíduo em larga escala, razão por que o que fazia uma boa pessoa faria uma boa sociedade. Ele ensinava que há três partes na alma da pessoa.•O elemento racional, para o raciocínio e a argumentação.•O elemento irascível, para a coragem e as ações da vontade.•Os apetites, para os desejos e paixões, para o alimento, a bebida e o sexo.Uma pessoa leva uma boa vida quando esses três elementos acham-se harmoniosamente equilibrados.Como há três partes na alma, deve haver três classes numa sociedade, também equilibradas e em harmonia:Os dirigentes (ou guardiães), que correspondem ao elemento racional; a eles cabe governar. Esses guardiães seriam filósofos.Os militares, que correspondem ao elemento irascível; cabe-lhes combater.Os trabalhadores, que correspondem ao elemento apetitivo; é seu dever proporcionar comida e bebida e os outros elementos essenciais da vida.

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Logo, a sociedade ideal de Platão é uma aristocracia, ou o governo por uma classe particular. Essas três classes alegavam ele, permanecerão em larga medida inalteradas graças à hereditariedade, mas testes especiais iriam promover algumas pessoas e rebaixar outras.Como é perfeita, essa sociedade nunca vai mudar: uma vez atingida a perfeição, a mudança só poderia ser para pior. Platão afirma que as pessoas da sua república aprenderão um “magnífico mito”: passarão a crer que, quando Deus as criou, misturou ouro aos dirigentes, prata aos militares e bronze aos trabalhadores. Por conseguinte, em uma ou duas gerações as pessoas passarão a crer que têm uma posição natural ou dada pelos deuses na sociedade. O propósito deste mito é conferir estabilidade ao Estado.

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Justiça e educaçãoNa primeira parte da República, há uma discussão sobre se a justiça é uma habilidade no mesmo sentido da medicina ou da navegação. Se a justiça é uma habilidade, tal como Platão considera esta última, segue-se que, da mesma maneira como os melhores médicos têm de ser treinados para dirigi-las. Assim como nem sequer se sonharia em discutir o diagnóstico especializado de um médico, assim também seria ridículo contestar a direção especializada de um dirigente. A ideia central de Platão é a de que a direção tem de ser direção pelos melhores. A má direção leva ao mau governo, à anarquia, à tirania e à derrota; a boa direção leva a uma sociedade estável e a felicidade para todos. A República de Platão, os guardiães teriam poder absoluto e estariam acima da lei, na medida em que são seus autores. Na República, a educação tem primordial importância. Todas as crianças deverão ser tiradas dos pais quando nascerem e criadas comunitariamente até os 18 anos. As mulheres e crianças serão mantidas em comum; os casamentos serão com parceiros escolhidos pelo Estado. Assim como os animais são criados em busca de melhor qualidade; assim também devem ser tratadas as crianças, visto ser a meta chegar às melhores.

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Primeiro serão formados o caráter e a mente das crianças. Sua educação será física e cultural, com alguma matemática. Elas serão levadas a assistir a batalhas para que se tornem corajosas em épocas de guerra. O que lêem e escutam será estritamente censurado a fim de que não tenham maus exemplos a copiar; tudo que lhes for ensinado tenderá a mais alta excelência.Aos 30 anos, as pessoas serão submetidas a rigorosos testes destinados à escolha de novos guardiães. Quem for escolhido estudará filosofia por cinco anos e depois se tornará servidor civil do Estado por mais quinze anos. Aos 50, a pessoa, homem ou mulher, tornar-se-á guardiã. Os guardiães viverão simples e comunitariamente, sem dispor de dinheiro e com um mínimo de bens privados. Isso se destina a desestimular o auto-interesse: os guardiães podem ser felizes, mas devem dirigir para o bem de toda a comunidade e não para o bem de sua classe.O Estado tem de possuir as quatro qualidades cardeais: sabedoria, coragem, disciplina e justiça.

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A conclusão a que Platão chega é a de que “a justiça consiste em cuidar das próprias coisas e não inferior nas de outras pessoas”. Em outras palavras, a justiça é uma harmonia dos elementos da sociedade. Essa concepção platônica é uma expressão da crença grega de que justiça significa encontrar seu lugar na ordem natural das coisas. A república de Platão é uma sociedade oposta a toda democracia moderna. O problema que Platão levanta é: se o melhor regime decorre do fato de se ser governado pelas melhores pessoas, um Estado autoritário (mas não violento) é o melhor Estado possível?A confiança que Platão deposita em seus guardiães está fundada em suas próprias ideias sobre o Bem. Conhecer o Bem é tornar-se Bom. O Bem existe como fato objetivo, e podemos conhecê-lo por meio da razão. Como se empenham naquilo que é melhor para si mesmas, as pessoas se empenham no Bem; e, quando o encontram, descobrem que esse Bem é bom para todos. O mal, ao ver de Platão, vem da ignorância e não da malícia.Mas precisamos formular algumas questões: NO MUNDO MODERNO há chocantes exemplos de que “o poder corrompe, mas o poder absoluto corrompe absolutamente”. Dirigentes infalíveis são algo RAEPER, William; SMITH, Linda. Introdução ao estudo das ideias. São Paulo, SP: Ed. Loyola, 1997.