Como Calcular Os Termos Espectroscópicos

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Como calcular os Termos Espectroscópicos Primeiro vamos calcular o termo espectroscópico para o átomo de carbono (C), enquanto deixamos os passos necessários no meio do caminho. Primeiro Passo: Fazer a distribuição eletrônica do átomo de carbono. Precisamos então, ver o número atômico e, igual a ele, temos o número de elétrons, que é o que vamos distribuir nos subníveis. Temos 6 elétrons, portanto a configuração eletrônica fica: 1s² 2s² 2p². Segundo Passo: O subnível que vamos analisar é o último, a camada aberta (2p²). Mas antes precisamos saber quanto varia o nosso número quântico magnético (m). Sabemos que m varia de -l a +l. Mas, qual é o número de l (número quântico secundário)? L é n-1 e o n é 2 maior (número quântico principal). Agora sabemos que: n = 2, l = 1 (representado por p na notação escpectroscópica) e m = -1, 0, +1. Terceiro Passo: Agora precisamos distribuir os 2 elétrons do 2p² nas três “camadas”, -1, 0 e +1. É importante lembrar da Regra de Hund do ensino médio: -1 0 +1 Embora esse conceito passado possa ajudar, ele não é mais verdadeiro. Não precisamos distribuir os elétrons “para cima” em todas as camadas antes de preencher com os elétrons “para baixo”. Já que nos abstraimos dessa restrição, agora vamos criar uma tabela de possibilidades com todas as possíveis combinações: -1 0 1 Σm Σs -1 1 0 1 1 1 -1 -1 0 -1 1 -1 -1 0 0 0 1 0 -1 0 0 0 1 0 ↑↓ -2 0 ↑↓ 0 0 ↑↓ 2 0

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  • Como calcular os Termos EspectroscpicosPrimeiro vamos calcular o termo espectroscpico para o tomo de carbono (C), enquanto deixamos os passos necessrios no meio do caminho.

    Primeiro Passo:Fazer a distribuio eletrnica do tomo de carbono. Precisamos ento, ver o nmero atmico e, igual a ele, temos o nmero de eltrons, que o que vamos distribuir nos subnveis. Temos 6 eltrons, portanto a configurao eletrnica fica: 1s 2s 2p.

    Segundo Passo:O subnvel que vamos analisar o ltimo, a camada aberta (2p). Mas antes precisamos saber quanto varia o nosso nmero quntico magntico (m). Sabemos que m varia de -l a +l. Mas, qual o nmero de l (nmero quntico secundrio)? L n-1 e o n 2 maior (nmero quntico principal).

    Agora sabemos que: n = 2, l = 1 (representado por p na notao escpectroscpica) em = -1, 0, +1.

    Terceiro Passo:Agora precisamos distribuir os 2 eltrons do 2p nas trs camadas, -1, 0 e +1. importante lembrar da Regra de Hund do ensino mdio: -1 0 +1

    Embora esse conceito passado possa ajudar, ele no mais verdadeiro. No precisamos distribuir os eltrons para cima em todas as camadas antes de preencher com os eltrons para baixo. J que nos abstraimos dessa restrio, agora vamos criar uma tabela de possibilidades com todas as possveis combinaes:

    -1 0 1 m s -1 1

    0 1

    1 1

    -1 -1

    0 -1

    1 -1

    -1 0

    0 0

    1 0

    -1 0

    0 0

    1 0

    -2 0

    0 0

    2 0

  • Voc deve estar se perguntando: o que m e s e como obtemos aqueles nmeros? Bom, para obter o m ns somamos os nmeros das colunas que correspondem s lacunas preenchidas naquela linha.

    Por exemplo: Vamos pegar a primeira linha da tabela acima:

    -1 0 1 m s -1 1

    Vemos que as lacunas preenchidas correspondem ao -1 e ao 0. Portanto, -1 + 0 = -1 = m.Lembrando: = somatrio, m = nmero quntico magntico (os nmeros das trs colunas).

    Para obter o s, fazemos praticamente a mesma coisa. Mas ao invs de somarmos o nmero quntico magntico, somamos o spin. Para isso precisamos observar a posio das setas. Se a seta estiver para cima, teremos +1/2, se estiver para baixo, teremos -1/2.

    Por exemplo: Vamos pegar a primeira e a ltima linha da tabela acima (vamos colocar uma em cima da outra):

    -1 0 1 m s -1 1

    2 0

    Na primeira linha do exemplo, temos duas setas para cima, ou seja, temos +1/2 + (+1/2) = 1 = s.Na segunda linha temos uma seta para cima e outra para baixo, ou seja, temos +1/2 + (-1/2) = 0 = s.

    Quarto Passo:Agora precisamos fazer uma tabela de ocorrncias. Para isso, vamos fazer uma coluna onde os valores de m vo entrar. Para descobrir esses valores, basta olhar a coluna de m na tabela de possibilidades e ver de quanto a quanto ele varia. No caso, ele varia de -2 a +2. Ento, teremos a nossa tabela assim:

    m-2-1012

    Quinto Passo:A tabela de ocorrncias agora precisa da linha superior completa. Para complet-la vamos usar o s. Seguindo a mesma linha de raciocnio do quarto passo, vamos ver de quanto a quanto o s varia na tabela de possibilidades. Ele varia de -1 a +1. Ento a nosa tabela ficar dessa forma:

    m/s -1 0 1-2-1012

    Sexto Passo:Agora que a tabela est pronta, precisamos preench-la. Para isso, iremos fazer pares e checar na

  • tabela de possibilidades, quantas vezes eles aparecem.

    Por exemplo: Vamos pegar os nmeros -2 com -1. Ento vamos checar na tabela, nas colunas de m e s quantas vezes esse par de nmeros se encontra. Feito isso, veremos que esse par no se encontra. Ento, a tabela continua da mesma forma, com esse espao vazio.

    Mas, se pegarmos o par: -1 e -1, veremos que ele se encontra uma vez. Portanto, nossa tabela de ocorrncias ficar dessa forma:

    m/s -1 0 1-2-1 |012

    Feito isso com todos os pares da tabela de ocorrncia, ela ficar assim:

    m/s -1 0 1-2 |-1 | || |0 | ||| |1 | || |2 |

    Stimo Passo:Agora precisamos calcular os termos espectroscpicos ( ) e para isso, precisamos pegar linhas ou colunas completas na tabela de ocorrncia, evitando pegar as lacunas vazias (falsas combinaes).

    m/s -1 0 1-2 |-1 | || |0 | ||| |1 | || |2 |

    Pegamos primeiro 1 ocorrncia de cada coluna das trs linhas do meio da tabela, os traos que esto em vermelho. Calculamos ento, o L. Ele calculado pelo mdulo de onde o m varia, ou seja, onde a coluna correspondente s trs linhas varia. Observe o pedao da tabela abaixo:

    -1 | | |0 | | |1 | | |

    Percebemos que a coluna de m varia de -1 a 1. Ou seja, L = 1.

    Para calcularmos o S, precisamos ver de quanto a quanto, a linha de s varia e colocar a resposta em mdulo.

  • Observando o pedao da tabela abaixo, verificamos que a linha do s varia de -1 a 1. Ou seja, S = 1. Na notao espectroscpica, S = 1 P.

    -1 0 1| | |

    | | |

    | | |

    Para calcularmos o J, precisaremos da frmula:

    J = |L+S| |L-S|

    Depois de calculado o resultado, verificamos que o J deu 2 e 0. Ou seja, ele comea em 2, passa pelo 1 e termina no 0. Portanto os termos espectroscpicos obtidos nessa etapa, so: P2, P1, P0.

    Oitavo Passo:Voltando tabela de ocorrncia, pegamos dessa vez, uma ocorrncia de cada linha da coluna do meio, os traos que esto em azul.

    m/s -1 0 1-2 |-1 | || |0 | ||| |1 | || |2 |

    Calculamos o L, vendo onde a parte que pegamos varia (em mdulo) na coluna de m. Feito isso, veremos que ele varia de -2 a 2. Portanto, L = 2 D.

    Calculamos agora o S, vendo onde a parte que pegamos varia (em mdulo) na linha de s. Feito isso, veremos que ele no varia. A coluna que pegamos est somente no 0. Portanto, S = 0.

    Por ltimo, calculamos o J e obtemos s o nmero 2. Portanto, o termo espectroscpico obtido nessa etapa : D2.

    Nono Passo:Sobrou uma nica ocorrncia para pegar na tabela de ocorrncias (nico trao preto). No podemos desprez-la, portanto, vamos calcular o termo espectroscpico que ela ir gerar (acompanhe pela tabela do passo anterior).

    Calculando o L, obtemos 0 S. Calculando o S, obtemos 0. Calculando o J, obtemos 0. Portanto, o termo espectroscpico obtido nessa etapa o S0.

    Concluso:Os termos espectroscpicos para o tomo de carbono, ou, de uma forma mais geral; para qualquer tomo com a configurao eletrnica terminando em np (com n variando de 1 a 7), so: P2, P1, P0, D2 e S0.

    Como coloc-los em ordem crescente de energia?Vamos usar as regras de Hund. Que so:

    a. dentre todos os termos oriundos de uma configurao eletrnica, o de menor energia aquele de maior

    multiplicidade (2S+1);

  • Com a primeira regra, j podemos dizer que os termos espectroscpicos P2, P1 e P0 possuem menor energia do que os outros (P2, P1 e P0 < D2 e S0),

    b. entre dois termos de mesma multiplicidade, o de menor energia o que tem maior momento angular (L);

    Com a regra b, conseguimos distinguir qual dos termos, D2 e S0, o de menor energia. Eles possuem a mesma multiplicidade, mas valores de L diferentes. Na notao espectroscpica, D equivale a 2 e S equivale a 0. Portanto, o de menor energia o D2. Visto que os outros termos com mesma multiplicidade possuem mesmo momento angular (P2, P1 e P0), no conseguimos avano quanto a classific-los com maior ou menor energia.

    c. entre dois termos de mesma multiplicidade e momento angular, o de menor energia ser:

    1- aquele com menor valor de J, caso o nmero de eltrons da camada aberta seja menor do que a metade do nmero total de eltrons que a camada comporta;

    2- aquele com maior valor de J, caso o nmero de eltrons da camada aberta seja maior do que a metade do nmero

    total de eltrons que a camada comporta.

    Com a introduo da terceira regra, temos que decidir qual de suas subdivises vamos usar. Para isso, vamos at a camada aberta do tomo de carbono novamente, 2p. Sabemos que o subnvel p comporta 6 eltrons, no entanto, nesse caso, possui somente 2 eltrons. Quando o nmero de eltrons acomodados no subnvel for menor que a metade da capacidade total, usaremos a regra c1. Portanto, teremos:

    P0 < P1 < P2 < D2 < S0

    Nosso passo a passo de como calcular e colocar em ordem crescente de energia os termos espectroscpicos j chegou ao fim, mas vamos fazer mais dois exemplos.

    Vamos calcular agora os termos espectroscpicos do Escndio (Sc) que tem a configurao eletrnica 1s 2s 2p6 3s 3p6 4s 3d. A camada aberta desse elemento o 3d e a terminao que vamos usar o d, ou seja, de uma forma mais geral, os termos espectroscpicos do Escndio sero os mesmos para quaisquer tomos com a camada aberta com a terminao d.

    O primeiro passo descobrir de quanto a quanto o nmero quntico magntico (m) varia. Como ele varia de -l a +l e o l 2 (d), o m varia de -2 a +2. E ento, formamos a tabela de possibilidades com todas as combinaes que podemos fazer com um eltron, nos 5 orbitais:

    -2 -1 0 1 2 m s -2 1/2

    -1 1/2 0 1/2

    1 1/2 2 1/2

    -2 1 /2 -1 1 /2

    0 1 /2 1 1 /2

    2 1 /2

  • Agora vamos fazer a tabela de ocorrncias. Ateno! Os valores de s, no variam de -1/2 a +1/2, pois no temos o 0. Eles so -1/2 ou +1/2, portanto:

    m/s -1/2 +1/2-2 | |-1 | |0 | |1 | |2 | |

    Como temos todas as lacunas preenchidas, podemos pegar uma ocorrncia de cada linha. Como s temos 1 ocorrncia para cada, vamos pegar todas elas e calcular os termos espectroscpicos.

    Calculando o L, temos L =2. Calculando o S, temos S = . Calculando J, temos:

    J = |L+S| |L-S| 5/2 3/2

    J = 5/2 e J = 3/2. Portanto, nossos termos espectroscpicos so: D5/2 e D3/2.

    Podemos colocar os termos encontrados em ordem crescente de energia pela terceira regra de Hund. Como d possui somente 1 eltron acomodado e admite at 10. Temos novamente a regra c1 de Hund. Se o nmero de eltrons acomodados for menor que a metade do total da capacidade, o de menor energia o de menor valor de J. Portanto:

    D3/2 < D5/2

    Observao Importante!Se voc achar multiplicidade igual a 3, achar 3 termos espectroscpicos. Se achar multiplicidade 2, achar dois termos espectroscpicos. E assim por diante.

    Curiosidade:Por que alguns orbitais com n maior tm menor energia que alguns orbitais de n menor?Porque a soma dos valores dos nmeros qunticos principal e secundrio, desses orbitais com n maior menor que a soma dos mesmos nmeros qunticos do orbital com n menor.

    Exemplo: Por que o subnvel 4s deve ser preenchido antes do subnvel 3d?Porque o 4s menos energtico que o 3d. Sabemos disso fazendo n+l (soma dos nmeros quntico principal e secundrio) e o que obtm maior resultado o mais energtico. Observe:

    4s n+l = 4+0 = 43d n+l = 3+2 = 5

    Podemos concluir ento, que embora o subnvel 4s venha, tecnicamente, depois do 3d, precisamos preencher os subnveis menos energticos primeiro.

    Autor: Lucas Oliveira, dono do Qumica Suprema e aluno do curso de Licenciatura em Qumica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).Contato: [email protected]