Como é que correu o teu dia?

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Artes Pláscas e Mulmédia Laboratório Mulmédia II 2º semestre , 2º ano (2010/2011) Projecto () (Interacção, parcipação, Design, Arte, objecto, wearabl) Sara Castanho nº 4848 Relatório do Projecto “Como é que correu o teu dia?”

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relatório do Projecto II de Laboratório Multimédia II

Transcript of Como é que correu o teu dia?

Artes Plásticas e Multimédia Laboratório Multimédia II

2º semestre , 2º ano (2010/2011)

Projecto (�) (Interacção, participação, Design, Arte, objecto, wearabl)

Sara Castanhonº 4848

Relatório do Projecto “Como é que correu o teu dia?”

Resumo do Projecto

O caos da ordem e desordem da queda fluida de materiais deformados.

Uma criação têxtil que reforça as ligações dos fragmentos que a constituem e propõe em si

mesma, uma avaliação autónoma daquele que a vê.

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Índice Projecto (2)

Descrição/Justificação Conceptual .…….…..…………..……………….…….…. pág.2

Descrição/Desenvolvimento Técnico ……………...……..……………….……… pág.4

Conclusão ………………………………………………………………….……………..…. pág.10

Bibliografia …………………………………………………………………………………... pág.11

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Projecto (2)

Descrição/Justificação Conceptual

A desconstrução de objectos e o afastamento da sua função dita natural, é tido na actualidade

como algo quase inovador. Apesar de não se tratar disso – de uma inovação – é certo que cada vez mais

damos conta de objectos já existentes tomarem outra utilidade que não a sua.

O enunciado referente ao último projecto a realizar na Unidade Curricular, permitiu os alunos

pensassem na forma e na função de diferente maneira.

Numa primeira fase, o tabuleiro foi o objecto que suscitou interesse. Um tabuleiro de cozinha

ou simplesmente para decoração, iria ser o “PÓ-sitive”: estrutura de madeira com várias camadas, uma

delas com pó, areia e terra e outra com luzes, onde a pessoa teria de procurar, movimentando o

tabuleiro, a luz. Seria uma metáfora para vida, para aqueles momentos em que é preciso procurar o lado

bom das coisas, no meio da confusão, do lixo.

Conceptualmente forte, mas tecnicamente fraca a ideia foi abandonada. Foi então necessário

pensar noutra coisa completamente diferente, visto que a primeira hipótese se encontrava esgotada.

Agora o tema era outro: a privacidade. Estruturou-se assim, uma instalação em que um igloo

seria a peça central. Só que este igloo iria ser composto por colantes e meias, amarradas umas às outras.

O tema escolhido estava patente na obra, mas quando chegou a altura de produzi-la o resultado não foi

aquilo que se esperava (mais uma ideia posta de parte).

Perante este estado de transformação e descoberta de mais ideias para finalmente se avançar

com o projecto, eis que surge “Como é que correu o teu dia?”: uma tenda de campismo suspensa no

tecto de um espaço público, que se faz acompanhar por uma cascata vertical de tecidos interligados

entre si.

Como referência artística, estudou-se o trabalho de Tracey Emin1: “Everyone I Have Ever Slept

With 1963–1995”2 da artista, foi aquele que melhor serviu de base conceptual para este projecto.

Desde logo comparou-se “Como é que correu o teu dia?” com a obra de Tracey, pelo facto de

ambas apresentarem na sua composição artística uma tenda de campismo.

1 Tracey Emin nasceu em Londres em 1963, e estudou no Maidstone College of Art e no Royal College of

Art, em Londres. A artista já expôs internacionalmente o seu trabalho (exposições individuais e colectivas) na Holanda, Alemanha, Suíça, Espanha, Japão, Austrália, Estados Unidos e Chile. 2 Informação acerca da obra em:

http://en.wikipedia.org/wiki/Everyone_I_Have_Ever_Slept_With_1963–1995

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A instalação da artista, baseia-se em retalhos de tecidos cozidos à tenda; retalhos esses que

correspondem ao nome de todas as pessoas com que a artista dormiu – familiares, amigos, parceiros

sexuais, etc. – entre os anos de 1963 e 1995. O registo efectuado pela artista, dos nomes de todas

aquelas pessoas cujo o público desconhece a identidade, constituem uma invasão ao privado e às

memórias de Tracey (base principal do seu trabalho).

Conceptualizaram-se assim, temas como a ruptura, o caos da vida humana, a desordem da

mesma, conflito de valores entre o eu pessoal e o outro e principalmente, a intimidade. Todos eles

inseridos no contexto de fabricação e estruturação de “Como é que correu o teu dia?”. Porque cada

conceito tem o seu propósito e lugar no que diz respeito à significação da obra: o caos e a aparente

desorganização dos tecidos, advém da agitação das vivências do Homem; do facto de o tempo não parar

e das pessoas não pararem para viver, o que ao mesmo tempo, por muito curioso que seja, as faz viver

de forma ainda mais intensa. A intimidade é representada pela tenda de campismo: um lugar nómada,

fechado e privado, em que o lugar físico exterior é apenas o suporte de tudo o que se pode vir a passar

num outro lugar: o interior. Também as roupas apelam à intimidade, só que de maneira diferente,

remetem-nos para alguém, para posse, para um ou mais indivíduos. Quem serão? São as suas

identidades relevantes? Não, não o são enquanto experiência visual pessoal. Poderão ser, se o meu

interesse de espectador estiver direccionado para a atribuição de uma identidade àquilo que estou a ver.

Se assim for, “Como é que correu o teu dia?” reflectirá as histórias de um conjunto não específico de

identidades, através da quantidade de tecidos e fragmentos têxteis nele incorporados.

O privado conduziu conceptualmente este trabalho para outro tema: o casal, a relação de duas

pessoas que estão juntas já há algum tempo e que atravessam um período de ruptura nos sentimentos

que partilham. Daí a utilização da tenda – espaço ocupado pelo casal – e dos tecidos, que ao fim ao cabo

são parte da rotina que os acompanha; rotina essa que se traduz na posição de queda da tenda.

Com isto, a sua leitura/interpretação visual pode alertar o espectador não para o declínio, mas

sim para a ascensão da tal rotina que consume o casal. E sendo a tenda o objecto de maior dimensão e

altura da obra, a atenção do espectador vai ser sempre direccionada para lá.

Mas independentemente da ordem, a compreensão da obra fará parte das experiências

pessoais de quem a observa, e as vê traduzidas na obra. Trata-se portanto, de uma auto-reflexão após a

queda de algo, após um obstáculo que visualmente resulta num caminho, numa conduta psicológica e

intemporal de acontecimentos e momentos. Porque, a obra é capaz de penetrar o interior daquele que

a vê, invadi-lo e tocar as suas experiências mais profundas, que tão secretas que são, encaixam-se e

surgem de forma pública.

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Descrição/Desenvolvimento Técnico

Reunir o máximo de roupas velhas, tecidos e trapos, foi a primeira etapa a ultrapassar para

desenvolver o projecto de uma escultura têxtil de grandes dimensões e claro, a aquisição de uma tenda

de campismo.

Antecipadamente, realizou-se ainda um estudo prévio de trabalhos que seguissem a linguagem

adoptada e que de alguma forma fossem uma referência para o aperfeiçoamento técnico do projecto.

A já referida Tracey Emin, continua a fazer parte da lista; o português João Pedro Vale3, com a

instalação “Feijoeiro”4 permitiu-nos analisar e pensar o nosso projecto de forma expansiva e possível de

habitar um espaço público. Por fim, Joana Vasconcelos5 com as suas criações têxtil (“Contaminação”,

2008-2010, “Loft”, 2010, “Concubina”, 2010, “Tubex”, 2009, “Contudex”, 2008 e “Valquíria Excesso”,

2005), reflectiram-se na parte gráfica dos ornamentos e detalhes.

Partiu-se então de uma selecção de cores e materiais: a utilização de vários tecidos em tons de

verde, amarelo, laranja e vermelho fizeram parte da camada inicial, a mais próxima da tenda.

Imagem 1 – Primeira selecção de tecidos realizada.

A estratificação das cores e dos tecidos, adveio não só da cor da tenda mas também da

organização visual que se quis transportar para o trabalho. Por isso, optou-se por seguir uma linguagem

de cores minimamente ordenada e limpa, daí o uso de combinações de tecidos.

3 Página pessoal do artista: http://www.joaopedrovale.com/jpv.aspx?Lang=PT&ID=m04

4 Um enorme feijoeiro, com grandes tentáculos verdes que invade o espaço expositivo. Os grandes

"braços" do feijoeiro são feitos de materiais como colantes (verdes), esferovite, armações de ferro e arame. (Link para ver a obra: http://www.joaopedrovale.com/imagens/2004/feijo01.jpg) 5 Página pessoal da artista: http://www.joanavasconcelos.com/home.html

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Nesta primeira fase, construíram-se algumas ramificações, por assim dizer, de tecidos sem

ainda fazerem parte do corpo da tenda. Foi uma má escolha enquanto grupo, pois estávamos a começar

a realizar dois trabalhos, em vez de um só; até porque as peças seriam a tenda e não parte dela.

E de facto, quando a tenda se encontrava já suspensa, o ritmo e a dedicação ao projecto

alteraram-se: agora, a percepção em relação ao que estávamos a fazer era outra. A partir daqui,

começaram a surgir, dia após dia – respeitando algumas pausas que tiveram de ser feitas para retirar o

melhor aproveitamento da peça – ligações e mais ligações de tecidos (ver imagem 2).

A reutilização dos materiais, levou também ao aproveitamento dos mesmo para se produzir o

efeito de queda, cascata que se pretendia inicialmente. Para tal, teve-se em consideração a quantidade

de tecidos a incorporar na peça e a forma como estes se iam apresentar em declínio.

Os materiais em questão não acusaram quaisquer dificuldades de manuseamento, o difícil foi

conjugá-los a todos para que no final estivessem realmente unidos e interligados uns aos outros.

Imagem 2 – Primeiras ligações de tecidos realizadas.

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Tirou-se portanto, partido da fluidez e leveza de alguns dos tecidos; outros foram moldados e

manipulados com arame, presos e unidos com mais tecidos e restos de um cabo de corda (este foi o

método utilizado para criar grande parte da estrutura do topo e da zona central).

Quando já não nos era permitido trabalhar no local onde tudo começou, porque a escultura

estava agora a precisar de crescer e de se desenvolver, foi tempo de colocá-la no sítio definido para a

mesma: o Edifício dos Serviços Comuns, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Beja

(ver imagens 3, 4 e 5).

Pedidas autorizações e ultrapassadas todas as burocracias, o projecto ganhou uma nova

dinâmica: por aquele local passam todos os dias, muitas pessoas (alunos e funcionários) que ficaram

surpresos ao encontrarem uma tenda de campismo e um extenso aglomerado de tecidos à entrada do

edifício. Este foi um dos requisitos para o qual tivemos especial atenção e também considerámos a

altura do local, bastante boa para a visualização e exposição desta grandiosa tenda.

Imagem 3 – Montagem da Peça no Edifício.

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Imagem 4 – Montagem da Peça no Edifício – Suspensão da tenda.

Através das imagens é notável o aparato que a montagem teve: foram necessários andaimes

para chegar ao tecto e este teve de ser furado para se suspender a tenda - todo o serviço foi realizado

pela Equipa Técnica do Instituto Politécnico de Beja.

Imagem 5 – Continuação da suspensão da Tenda no Edifício.

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Seguiram-se mais alguns dias e noites, em torno da peça. Com esta já suspensa, o objectivo era

completar a cascata de tecidos e fazê-la chegar até ao chão (ver imagem 5).

Imagem 6 – Peça, já finalizada, suspensa no Edifício.

Posto isto, o grupo sentiu necessidade de ver a peça interagir com o exterior.

Interacção que foi levada a cabo pela extensão e condução dos fragmentos de tecido da peça

até ao lado de fora, até ao espectador. Decisão marcante, que projectou “Como é que correu o teu dia?”

para um outro nível visual.

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Imagem 7 – Peça no Interior e Exterior do Edifício.

Também os detalhes concebidos a elevam: são a alma da peça. Porque apesar da sua dimensão

as pequenas coisas que a constituem são bastante relevantes na sua composição, por isso, houve

especial atenção para o pormenor e desconstrução dos tecido.

A criação desta escultura têxtil, insere-se quase que num carácter performativo de uma acção,

visto que o trabalho foi terminado no local de exposição e o público assistiu ao nascimento e

crescimento da obra. Aqui é levantada uma questão importante: a da apropriação de um espaço.

A descontextualização do objecto principal, a tenda de campismo, constrói essa noção de

apropriação e tomada de posse de um outro contexto, conceptualmente decidido pelo criador - ou

grupo, neste caso - e interage com a presença do espectador que pode observar e acompanhar todo o

processo criativo. Foi este conjunto de intervenções, que também influenciaram a peça e sobretudo

quem a estava a desenvolver: com tanta agitação e movimento de saídas e entradas, tantos olhares

curiosos e comentários soltos, era difícil não transportar qualquer um deles para o projecto.

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Conclusão

"A obra é o conjunto das reacções interpretativas que suscita e estas configuram-se como novo

percurso do processo (…)".

ECO, Umberto. A Definição da Arte - Arte e Comunicação. Edições 70, Portugal. 1995

É com esta citação que encerro a análise e explicação de “Como é que correu o teu dia?”.

Uma obra que, agora finalizada e permanente num espaço, vai moldar-se às experiências

ditadas pelo movimento das pessoas que a observam e contemplam.

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Bibliografia

Recursos on-line e Referências de Projectos :

http://www.alycesantoro.com/

http://www.husseinchalayan.com/#/home/

http://wildenstein.wordpress.com/2010/08/01/tracey-emin/

http://www.saatchi-gallery.co.uk/artists/tracey_emin.htm

http://www.joanavasconcelos.com/

http://www.joaopedrovale.com/jpv.aspx?Lang=PT&ID=m04

http://www.strp.nl/strp/content/index

http://www.anemicfestival.cz/?page_id=32&lang=en

http://www.medienkunstnetz.de/mediaartnet/

http://www.artcyclopedia.com/artists/emin_tracey.html

http://en.wikipedia.org/wiki/Everyone_I_Have_Ever_Slept_With_1963–1995

http://www.youtube.com/watch?v=15jVnBlt6e0

Referências Bibliográficas:

BRONOWSKI, Jacob (1983). Arte e Conhecimento - Ver, imaginar, criar. Edições 70, Portugal.

ECO, Umberto (1995). A Definição da Arte - Arte e Comunicação. Edições 70, Portugal.