Como escolher as tubulações Manutenção, temperatura da...

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Como escolher as tubulações Manutenção, temperatura da água, conexões e facilidade de instalar definem qual o melhor tubo para cada uso As instalações hidráulicas abrangem não apenas as redes de abastecimento mas também as tubulações de gás, coleta de esgoto e águas pluviais. No passado, era comum o uso de materiais como o cobre, aço galvanizado, ferro fundido e o PVC (policloreto de vinila). Entretanto, a busca por soluções mais rentáveis fez com que os investimentos nesse setor resultassem, nas últimas décadas, no aparecimento de novos materiais plásticos como o PEX (polietileno reticulado), o PPR (polipropileno random) e o CPVC (policloreto de vinila clorado). É imprescindível que o projetista ou consumidor preste atenção às medidas das peças. As soldáveis são fornecidas em milímetros e as rosqueáveis, em polegadas. Peças soldáveis e rosqueáveis não trazem a conversão de unidades (veja tabela). Tubulações As tubulações de aço galvanizado prevaleceram por muitos anos nos sistemas de abastecimento de água residencial. Contudo, seu elevado custo e a dificuldade no transporte - trata-se de um material extremamente pesado - contribuíram para que esse sistema venha caindo em desuso. "A manutenção é muito difícil, pois exigem juntas rosqueáveis. As chances de vazamento são maiores, explica Roberto Barboza, engenheiro e diretor técnico da Sanhidrel. No entanto, as tubulações de aço ainda têm lugar em sprinklers de instalações comerciais, itens obrigatórios no combate a incêndios. Outro fato importante é que esse tipo de material possui substâncias que podem deteriorar a tubulação quando é exposta a águas com teores de cloro e flúor elevados. Barboza conta que essa reação química também ocorre em instalações de cobre, exigindo cuidados especiais. "Para evitar a corrosão, o cobre não deve ser armazenado junto a tubos de aço e ferro. Além disso, a água que passa pela tubulação deve ser devidamente tratada, principalmente se for de poço artesiano", alerta o engenheiro. O cobre possui propriedades adequadas para condução de água quente, mas também tem uso em ramais de água fria e, principalmente, gás. É um material, porém, que exige mão-de-obra especializada, por causa das soldas necessárias nas conexões. "Após a limpeza das conexões e da ponta do tubo com escovinhas de aço, aplica-se o fluxo de solda para só então executá-la com o maçarico", informa Barboza. Por se tratar de um material sujeito a consideráveis dilatações, o cobre exige uma atenção redobrada do projetista.

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Como escolher as tubulações

Manutenção, temperatura da água, conexões e facilidade de instalar definem qual o melhor tubo para cada uso

As instalações hidráulicas abrangem não apenas as redes de abastecimento mas também as tubulações de gás, coleta de esgoto e águas pluviais. No passado, era comum o uso de materiais como o cobre, aço galvanizado, ferro fundido e o PVC (policloreto de vinila). Entretanto, a busca por soluções mais rentáveis fez com que os investimentos nesse setor resultassem, nas últimas décadas, no aparecimento de novos materiais plásticos como o PEX (polietileno reticulado), o PPR (polipropileno random) e o CPVC (policloreto de vinila clorado). É imprescindível que o projetista ou consumidor preste atenção às medidas das peças. As soldáveis são fornecidas em milímetros e as rosqueáveis, em polegadas. Peças soldáveis e rosqueáveis não trazem a conversão de unidades (veja tabela). Tubulações As tubulações de aço galvanizado prevaleceram por muitos anos nos sistemas de abastecimento de água residencial. Contudo, seu elevado custo e a dificuldade no transporte - trata-se de um material extremamente pesado - contribuíram para que esse sistema venha caindo em desuso. "A manutenção é muito difícil, pois exigem juntas rosqueáveis. As chances de vazamento são maiores, explica Roberto Barboza, engenheiro e diretor técnico da Sanhidrel. No entanto, as tubulações de aço ainda têm lugar em sprinklers de instalações comerciais, itens obrigatórios no combate a incêndios. Outro fato importante é que esse tipo de material possui substâncias que podem deteriorar a tubulação quando é exposta a águas com teores de cloro e flúor elevados. Barboza conta que essa reação química também ocorre em instalações de cobre, exigindo cuidados especiais. "Para evitar a corrosão, o cobre não deve ser armazenado junto a tubos de aço e ferro. Além disso, a água que passa pela tubulação deve ser devidamente tratada, principalmente se for de poço artesiano", alerta o engenheiro. O cobre possui propriedades adequadas para condução de água quente, mas também tem uso em ramais de água fria e, principalmente, gás. É um material, porém, que exige mão-de-obra especializada, por causa das soldas necessárias nas conexões. "Após a limpeza das conexões e da ponta do tubo com escovinhas de aço, aplica-se o fluxo de solda para só então executá-la com o maçarico", informa Barboza. Por se tratar de um material sujeito a consideráveis dilatações, o cobre exige uma atenção redobrada do projetista.

Para evitar o rompimento da tubulação, as extremidades devem ser presas com pontos fixos que limitam a movimentação da tubulação em pontos pré-determinados (veja a ilustração de fixação de tubulação de água quente). De acordo com as distâncias sugeridas, recomenda-se a aplicação de luvas guias para impedir que o tubo flambe ou entorte. A junta de expansão - geralmente feita de material inox, similar a uma sanfona - é instalada no centro dessa tubulação e ao mínimo sinal de movimentação absorve e direciona a dilatação para um único ponto. Essas tubulações devem apresentar isolamento térmico adequado, normalmente de lã de vidro ou mantas de polietileno para inibir a perda de calor. Já as tubulações de gás não podem ser executadas com materiais plásticos. Nesses casos, pode-se optar pelo cobre ou ferro. Como o gás é compressível, pode ser facilmente conduzido de um ponto a outro de uma edificação. Entretanto, o uso de válvulas redutoras de pressão é necessário. "Tubulações de gás com diâmetro relativamente pequeno devem apresentar uma válvula redutora de pressão instalada próximo ao ponto de consumo, tendo como continuidade um tubo de diâmetro maior e comprimento menor", esclarece Francisco del Nero Landi, gerente técnico da Tesis. Nas redes pluviais e de esgoto, o ferro fundido pode ser uma boa alternativa. "É um material com boa isolação acústica e menor risco de vazamento, graças aos anéis de borracha da vedação", diz Landi. "Porém, é difícil trabalhar com tubulações de ferro fundido, pois são pesadas, além de caras." Materiais plásticos A partir da década de 60, as tubulações de ferro foram em grande parte substituídas pelo PVC. Hoje, o policloreto de vinila é utilizado em larga escala no País quando o assunto é água fria. Essas instalações também são aplicadas em redes de esgotos e podem apresentar tubos e conexões com espessuras de paredes mais finas e bitolas maiores que o PVC marrom. Contudo, segundo Barboza, são ótimas para instalações sujeitas à baixa pressão. "Como o PVC não suporta pressões elevadas, é adequado apenas para uso em edifícios baixos, evitando o risco de vazamentos."

O CPVC é um derivado do PVC utilizado em instalações residenciais para condução de água quente. O produto resiste a temperaturas até 80ºC. Entretanto, era comum no passado que essas tubulações sofressem danos pela exposição a altas temperaturas. "Antigamente os aquecedores não possuíam um controle confiável. O tubo dependia da qualidade do equipamento instalado", conta Landi. Contudo, para minimizar esses riscos, alguns fabricantes se empenharam na comercialização de termoválvulas que, instaladas na saída do aquecedor, controlam a temperatura da água na tubulação. "Hoje, com as novas tecnologias, os aquecedores já possuem um dispositivo incorporado no próprio equipamento", informa Landi. Entre os materiais de plástico rígido podemos encontrar o PPR. As vantagens, além do custo mais acessível, é o desempenho. Indicado para água quente e fria, o PPR suporta temperaturas de até 95ºC e dispensa isolamento térmico. Apesar dessas facilidades, o polipropileno ainda não é normalizado no Brasil. "O uso do PPR levanta questões polêmicas por se basear ainda em uma norma alemã. O País precisa desenvolver com urgência uma normalização para esse material, já que nossa realidade é bem diferente da alemã", avisa Landi. O mesmo acontece com as tubulações de PEX: a maior parte dos fabricantes de polietileno reticulado é de origem européia. "A pergunta a ser feita é se esses materiais são intercambiáveis, ou seja, se no futuro podem ser adaptados a instalações de outros fabricantes sem necessidade de se substituir todo o sistema existente", alerta Landi. O PEX é um sistema flexível que apresenta dois tipos de instalação: manifold e derivação. O manifold possui o mesmo conceito de uma instalação elétrica e utiliza um tubo condutor que guia o PEX da caixa de distribuição, ou barrilete, até os pontos de consumo. Já o sistema de derivação utiliza ramais e sub-ramais que, apesar de exigirem uma menor quantidade de tubos, perdem a principal vantagem do sistema: dispensar o uso de conexões. "O PEX é leve e fornecido em mangueiras em rolos de 50 a 100 m", informa Barboza. Apesar de ser um sistema extremamente acessível para execução de reparos na tubulação, o PEX jamais deve ser aplicado a um projeto indiscriminadamente. "Jamais deve-se viabilizar um projeto de tubulações de PPR ou cobre para o PEX, pois tratam-se de processos distintos", avisa Barboza.

Inovações Muitos fabricantes estão preocupados com a competição e esquecem-se principalmente da adequação às normas. Segundo Wilson Passeto, diretor técnico do Cediplac, "o papel das indústrias fica quase sempre restrito aos produtos isoladamente. Isso gera no mercado soluções reduzidas, na qual o usuário confuso é induzido optar pelo produto de menor custo".

Um exemplo citado pelo diretor do Cediplac foi o lançamento recente de um tubo para saneamento. "Apesar da classificação DN 150 inscrita no tubo, o diâmetro interno é de 134 mm. Uma clara indução ao engano", critica Passeto. "O PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat) precisa de um sistema de avaliação técnica com visão sistêmica para impedir inovações apenas com foco em produtos", defende. O Cediplac trabalha atualmente na proposta de um sistema de proteção e combate a incêndio com tubos de CPVC. "Desde que bem protegida, poderia utilizar-se tubulação de plástico para essa finalidade, pois é mais fácil de instalar e o peso é reduzido", adianta Passeto. Manutenção Após a execução de uma obra, deve ser elaborado um manual de operação, uso e manutenção das edificações, conforme estabelece a NBR 14.037/98. "Nesse manual devem constar os procedimentos de manutenção para os sistemas prediais conforme a NBR 5674/99", explica Douglas Barreto, pesquisador do laboratório de instalações prediais do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Atualmente, o projeto de norma 02.136:01.001:2002 - Desempenho de Edifícios Habitacionais até cinco pavimentos - Parte 1 - Requisitos Gerais - está em elaboração na ABNT. "A norma define o desempenho de edificações e estabelece a vida útil de projeto para os vários sistemas da edificação", esclarece Barreto.

Junta de expansão aplicada nas tubulações de um edifício hospitalar

Aço galvanizado

Característica: metálico rígido instalação: AF e AQ Tipo de junta: rosca Temperaturas: suporta até 200ºC Ferro fundido Característica: metálico rígido Instalação: ES e AP Tipo de junta: junta elástica Temperaturas: suporta até 80ºC AF: Água fria; AQ: Água quente; GC: Gás combustível; ES: Esgoto sanitário; AP: Águas pluviais Fonte: Douglas Barreto, pesquisador do laboratório de instalações prediais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Confira as principais normas para instalações hidráulicas: NBR 5626/98 - Instalação predial de água fria NBR 7198/93 - Projeto e execução de instalações prediais de água quente NBR 13206/94 - Tubos de cobre leve, médio e pesado sem costura para condução de água e outros fluidos - Especificação NBR 5648/99 - Sistemas prediais de água fria - Tubos e conexões de PVC 6, 3 PN, 750 kPa, com junta soldável - Requisitos NBR 5688/99 - Sistemas prediais de água pluvial, esgoto sanitário e ventilação - Tubos e Conexões de PVC, tipo DN - Requisitos NBR 8417/99 - Sistemas de ramais prediais de água - Tubos de polietileno PE - Requisitos NBR 8161 - Tubos e conexões de ferro fundido para esgoto e ventilação - Formatos e dimensões - Padronização NBR 13933/97 - Instalações internas de gás natural (GN) - Projeto e execução Dicas

P Todas as conexões devem ser executadas com atenção e preparo, pois esses são os pontos mais suscetíveis a vazamentos. P Recomenda-se o uso de registros individuais para ambientes como cozinha, lavanderia e banheiros. Dessa forma, em caso de manutenção de alguma dessas áreas as demais poderão ser usadas normalmente. P Em tubulações retilíneas com pressão superior a 400 kPa, é necessária a instalação de válvula redutora

de pressão. PVC P Os tubos devem ser armazenados em locais planos e bem nivelados para evitar deformações permanentes. P Lixar a ponta do tubo e o interior da conexão para retirar as gorduras, resíduos e sujeiras que possam prejudicar a junta do material. P As soldas devem ser executadas com adesivos específicos, sendo as emendas com luvas apropriadas. A exposição do material a altas temperaturas (soldagem no canteiro de obras) pode prejudicar a resistência do material. P Para execução das juntas recomenda-se o uso de adesivo. É importante que após a fixação a tubulação não seja girada para nenhum acerto, pois esse movimento pode causar vazamentos futuros. PPR P A termofusão deve obedecer ao tempo mínimo de aquecimento da tubulação e conexão estipulado pelo fabricante para assegurar a fixação

Leia Mais

P Duas maneiras de utilizar o PEX no sistema hidráulico. Téchne nº 71. P Manual de hidráulica. Azevedo Netto; Miguel Fernandez y Fernandez, Roberto de Araújo e Acácio Eiji Ito. Editora Edgard Blücher. Reportagem de Eliane Quinalia Téchne 104 - novembro de 2005