Como fazer um documentário com baixo custo

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Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), da faculdade de Jornalismo, sobre os 100 anos do Corinthians. O relatório mostra passo a passo como foi feito o documentário.

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Faculdades Integradas Teresa Dvila Curso de Comunicao Social com habilitao em Jornalismo

Ariane Aparecida Fonseca de Souza

Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco

Lorena, 2010

ARIANE APARECIDA FONSECA DE SOUZA

ETERNA PAIXO: 100 ANOS DE UM AMOR EM PRETO E BRANCO

Projeto Experimental de carter profissional, requisito parcial para a obteno do grau de Bacharel em Comunicao Social, com habilitao em Jornalismo, apresentado nas Faculdades Integradas Teresa Dvila. Orientador: Me. Miguel Adilson de Oliveira Jnior.

LORENA, 2010

S 729d Souza, Ariane Aparecida Fonseca de Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco. Lorena: Ariane Fonseca - 2010. 149 f. Projeto Experimental (Graduao em Comunicao Social com habilitao em Jornalismo) Faculdades Integradas Teresa Dvila, 2010. Orientador: Prof. Me. Miguel Adlson de Oliveira Jnior. 1. Corinthians. 2. Futebol. 3. Documentrio. I. Ttulo II. Autor CDU 796.072.3

ARIANE APARECIDA FONSECA DE SOUZA ETERNA PAIXO: 100 ANOS DE UM AMOR EM PRETO E BRANCOProjeto Experimental de carter profissional, requisito parcial para a obteno do grau de Bacharel em Comunicao Social, com habilitao em Jornalismo, apresentado nas Faculdades Integradas Teresa Dvila. Orientador: Prof. Me. Miguel Adilson de Oliveira Junior.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Prof Mestre Miguel Adilson de Oliveira Junior Faculdades Integradas Teresa Dvila

__________________________________________ Prof Doutora Eliane Freire de Oliveira Faculdades Integradas Teresa Dvila

__________________________________________ Prof Mestre Maurlio do Prado Lua Faculdades Integradas Teresa Dvila

Lorena, 6 de dezembro de 2010.

A minha v corintiana Emlia, que j est no cu, por me ensinar com a vida que tudo possvel com determinao e coragem.

AGRADECIMENTOSA Deus e Nossa Senhora Aparecida, Por me abenoarem, darem foras e nunca me deixarem desistir deste projeto. A minha famlia, Lucina, minha me; Batista, meu pai; e Pollyana, minha irm, que sempre me apoiaram e tiveram pacincia comigo durante este ano. Tambm aos meus avs, tios e primos que ajudaram como puderam. A Ednelson Prado, Meu namorado, que me ajudou muito a concluir este documentrio e me deu foras nas horas mais difceis. Foi o anjo que Deus e Nossa Senhora enviaram para no me deixar desistir. Aos amigos, Da faculdade e do trabalho, pela compreenso durante este ano e pelo apoio dado. A Ocimara Pereira, Amiga da famlia que por algumas vezes me levou, gentilmente, a So Paulo para realizar as gravaes. A Celso Unzelte, Jornalista e historiador que cedeu imagens essenciais sobre o Corinthians que faziam parte de seu arquivo pessoal para compor esse vdeo. A Marlia Ruiz, Jornalista e torcedora corintiana, que passou o contato de fontes fundamentais para este trabalho. Ao professor Miguel Adlson de Oliveira Junior, Meu orientador que ajudou a tornar esse sonho realidade.

Somos do tamanho de nossos sonhos! Fernando Pessoa

RESUMOSOUZA, Ariane Aparecida Fonseca de. Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco. 2010. 149f. Trabalho de Concluso de Curso (Bacharel em Comunicao Social, com habilitao em Jornalismo) - Faculdades Integradas Teresa Dvila, Lorena, So Paulo, 2010. [Orientador: Prof. Me. Miguel Adilson de Oliveira Junior]. Este projeto experimental aborda na forma de documentrio os fatos marcantes do time de futebol Sport Club Corinthians Paulista que, em 2010, completa cem anos. O objetivo do trabalho destacar sua histria centenria e enfatizar a presena do torcedor nesta trajetria. O time possui a segunda maior torcida do Brasil, totalizando cerca de 25 milhes de alvinegros, que empurram o clube nos jogos, nas decises e nas horas de tenso. Como ainda h poucos documentrios sobre o time paulista e o jornalismo esportivo carece de trabalhos neste formato, fez-se necessrio aproveitar o ano comemorativo para aprofundar a histria do Corinthians. Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco resgata, em aproximadamente 1h10, as principais histrias de um sculo de acontecimentos mesclando depoimentos de ex-jogadores, jornalistas esportivos, pesquisadores, torcedores rivais, e, claro, quem faz a diferena no time: a Fiel torcida. Palavras-chave: Centenrio, Corinthians, Documentrio, Futebol, Torcida.

SUMRIO1. INTRODUO ................................................................................................. 11 2. TEMA ............................................................................................................... 13 3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 14 4. OBJETIVOS ..................................................................................................... 15 5. CAPTULOS .................................................................................................... 16 5.1 SPORT CLUB CORINTHIANS PAULISTA ................................................ 16 5.1.1 Momentos marcantes da histria do clube ............................................ 18 5.1.2 Torcida Fiel ............................................................................................ 20 5.2 DOCUMENTRIO ......................................................................................... 22 5.2.1 Surgimento do documentrio ................................................................ 23 5.2.2 Tipos de documentrio .......................................................................... 26 5.3 PR-PRODUO ...................................................................................... 28 5.3.1 Pesquisa ................................................................................................ 28 5.3.1.2 Anlise de similares ................................................................. 29 5.3.2 Escolha das fontes ................................................................................ 30 5.3.2.1 Jogadores ................................................................................ 31 5.3.2.2 Torcedores ............................................................................... 32 5.3.2.3 Fontes especializadas ............................................................. 33 5.3.3 Montagem do pr-roteiro ...................................................................... 34 5.3.4 Burocracia ............................................................................................. 35 5.3.4.1 Direito de imagem ................................................................ 35 5.3.4.2 Contrato de prestao de servios .......................................... 36 5.3.5 Oramento ......................................................................................... 36 5.4 PRODUO .................................................................................................. 38 5.4.1 Contato com os entrevistados ............................................................... 38 5.4.2 Produo das pautas ............................................................................ 39 5.4.3 Gravaes ............................................................................................. 39 5.4.3.1 Jogadores ................................................................................ 40 5.4.3.2 Torcedores ............................................................................... 42 5.4.3.3 Fontes especializadas ............................................................. 44

5.4.4 Imagens de arquivo ............................................................................... 45 5.4.1 Fotos ........................................................................................... 46 5.4.2 Vdeos ......................................................................................... 46 5.4.5 Trilha sonora ......................................................................................... 47 5.5 PS-PRODUO ......................................................................................... 49 5.5.1 Decupagem ........................................................................................... 49 5.5.2 Roteiro de edio .................................................................................. 49 5.5.3 Edio e finalizao .............................................................................. 51 5.5.4 Escolha do ttulo .................................................................................... 52 5.5.5 Anlise do oramento ........................................................................ 52 6. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................ 54 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 55 ANEXO A: Direitos de imagem ............................................................................ 57 ANEXO B: Contrato de prestao de servios .................................................... 58 APNDICE A: Pr-roteiro .................................................................................... 63 APNDICE B: Roteiro de edio ......................................................................... 81

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1. INTRODUOCorintiana, a ideia de fazer um documentrio sobre os 100 anos do Corinthians, como Trabalho de Concluso de Curso (TCC), nasceu na autora do projeto em 2007 - j no primeiro ano de faculdade. O vdeo foi uma forma desafiadora de exercer a imparcialidade jornalstica, item fundamental a todo reprter. Em 2008, a ideia inicial foi amadurecendo, junto com sucessivas leituras sobre o formato escolhido e a trajetria do clube do Parque So Jorge. No final de 2009, a proposta foi colocada no papel para ser apresentada faculdade e ao orientador. Alm de fonte de consulta para amantes do Corinthians, o documentrio essencial para o fomento a criao de produtos audiovisuais sobre o esporte realidade essa que no explorada no Brasil. O Corinthians nasceu em setembro de 1910, num bairro operrio de So Paulo. Nos primeiros anos, sofreu preconceito para entrar na liga principal de futebol e teve dificuldades financeiras para se manter. O torcedor, desde o incio do clube, mostrou sua paixo pelo time ajudando-o a enfrentar esses desafios. S contando a histria das glrias alvinegras, o documentrio se estenderia para mais de duas horas. Como a proposta criar algo objetivo e que no seja cansativo, ento, decidiu-se escrever o centenrio do Corinthians valorizando a figura do torcedor e enfatizando os fatos do clube que foram considerados mais importantes. Na narrativa, dividida em dez blocos, h sete fragmentos da histria que sero explorados com mais intensidade: o nascimento e os primeiros anos do clube; a poca do tabu corintiano em que o time paulista passou quase 23 anos sem ganhar ttulos importantes; a democracia corintiana; a dcada vitoriosa de 1990; o campeonato Mundial, em 2000; a queda para a srie B do campeonato Brasileiro, em 2007; e o tabu com a taa Libertadores da Amrica. Como a inteno valorizar o amor do corintiano pelo clube, escolheu-se como ttulo do documentrio Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco para deixar claro que o personagem principal da narrativa o torcedor. Por fim, em aproximadamente 1h10, pode-se conhecer um pouco mais sobre a histria do Corinthians por meio de 24 entrevistados, dentre eles quatro jornalistas dois

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corintianos fanticos; cinco jogadores; 11 alvinegros e quatro torcedores rivais. Haver sempre quem tenha um fato marcante que, eventualmente, no esteja descrito aqui - algo inevitvel em uma nao heterognea. Por isso, a pretenso no foi escrever a histria definitiva do Corinthians, mas um ponto de vista sobre esse time centenrio. O produto no ser comercializado, seu objetivo ser portflio para a autora e servir como consulta para os amantes do futebol na internet.

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2. TEMAEterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco retrata a trajetria do time de futebol brasileiro que nasceu, literalmente, do povo. Mais especificamente no dia 1 de setembro de 1910, s 20h30, no Bom Retiro, bairro operrio de So Paulo que contava, principalmente, com imigrantes italianos, portugueses e espanhis. luz de um lampio a gs, o clube foi fundado por Joaquim Ambrsio, Carlos Silva, Rafael Perrone, Antnio Pereira e Anselmo Correia, na Rua dos Imigrantes (atual Jos Paulino), n 34. O clube surgiu da inspirao do Corinthian Casuals Football Club, que passou por So Paulo e Rio de Janeiro na poca para disputar amistosos. O nome do Corinthians, depois de muita discusso, tambm foi baseado no time ingls, com apenas o acrscimo de um 's' no final da palavra. Nos primeiros anos de vida, o time passou por dois tipos de dificuldades: financeira e pouco prestgio. Sem dinheiro para comprar bola, uniformes e custear o aluguel do campo, os moradores do bairro fizeram vaquinha para arrecadar fundos. Comea, ento, desde 1910 a paixo dos torcedores pelo clube paulista. Para driblar o preconceito da liga principal de futebol, que no permitia a entrada do Corinthians na elite, somente o tempo, aliado a boas campanhas em campo. Em 1914, com apenas quatro anos de vida, o clube do Bom Retiro conquistou o seu primeiro triunfo, vencendo o Campeonato Paulista de forma invicta. Depois disso, foi ganhando espao no futebol e, hoje, acumula inmeros ttulos. Entre altos e baixos, nos cem anos de vida, o Corinthians conquistou o I Mundial de Clubes da Fifa, em 2000; quatro campeonatos Brasileiros, em 1990, 1998, 1999 e 2005; trs Copas do Brasil, em 1995, 2002 e 2009; uma Supercopa do Brasil, em 1991; um Brasileiro da srie B, em 2007; cinco torneios Rio-So Paulo, em 1950, 1953, 1954, 1966 e 2002; e 26 campeonatos Paulistas. Tudo isso apoiado por mais de 25 milhes de alvinegros. E nesse contexto de glrias e fracassos que surge o documentrio Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco.

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3. JUSTIFICATIVAO Sport Club Corinthians Paulista o time de futebol que mais intriga os seus adversrios. So cerca de 25 milhes de torcedores que acompanham os lances, torcem, se emocionam e empurram o clube onde quer que ele esteja. Embora a paixo da 'fiel', nome pelo qual so conhecidos os alvinegros, seja motivo de discusses e pesquisas, ainda h poucos trabalhos no formato documentrio que resgatem a trajetria do time que afeta a vida de tantos brasileiros. Sendo assim, necessrio um registro da histria do clube, principalmente pelo fato dele completar um sculo de histria em 2010. Muito alm dos torcedores do Corinthians, o registro da trajetria do time, que ou amado ou odiado, importante para o acervo de trabalhos audiovisuais do futebol brasileiro. Resgatar as dificuldades, glrias e tropeos do clube que nasceu do povo torna-se uma referncia para o Jornalismo Esportivo. O pas do futebol ainda tem escassez de trabalhos acadmicos que explorem a histria dos clubes e mesclem passado com presente. Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco pretende contribuir para o incentivo pesquisa documental no Jornalismo Esportivo, alm de ser fonte de conhecimento para a nao alvinegra que ainda no conhece a fundo a histria do time. Embora o esporte seja criticado por muitos acadmicos como uma rea no condizente ao jornalismo a Rede Globo de Televiso um exemplo, pois dividiu os ncleos de esporte e jornalismo -, visto a parcialidade e grau de intimidade com as fontes, o presente documentrio visa mostrar que ele pode, sim, ser uma ramificao desta rea to importante para a sociedade. Em suma, registrar a histria do Sport Club Corinthians Paulista, alm de servir como referncia para os torcedores e amantes do futebol, ir contribuir com o escasso acervo documental em vdeo do esporte brasileiro. A ocasio da comemorao dos cem anos de vida do time uma oportunidade para a realizao de tal registro de forma mais abrangente e aprofundada.

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4. OBJETIVOS4.1 OBJETIVO GERAL Produzir um documentrio sobre o centenrio do Sport Club Corinthians Paulista, sem fins lucrativos, enfatizando o amor dos torcedores pelo clube. No h inteno de divulgar este trabalho posteriormente em redes de televiso, ele serve apenas como portflio para a autora e consulta para os amantes do futebol, na internet. 4.2 OBJETIVOS ESPECFICOS Revelar os fatos marcantes do clube que tem a segunda maior torcida do Brasil; Mostrar porque a torcida corintiana chamada de 'fiel'; Aumentar o acervo documental em vdeo sobre a trajetria do Sport Club Corinthians Paulista; Contribuir com a disseminao do gnero documentrio sobre futebol, ainda escasso no Jornalismo Esportivo; Publicar o contedo do vdeo no blog www.arianefonseca.com para consulta dos internautas gratuitamente.

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5. CAPTULOS5.1 SPORT CLUB CORINTHIANS PAULISTA O clube paulista nasceu no dia 1 de setembro de 1910, sob a luz de um lampio, s 20h30, no Bom Retiro - bairro operrio de So Paulo que contava, principalmente, com imigrantes italianos, portugueses e espanhis. Os cinco fundadores do time eram pessoas simples que, deslumbradas com o Corinthian Casuals Football Club, time ingls que passou por So Paulo e Rio de Janeiro na poca para disputar amistosos, decidiram criar um clube de futebol. Joaquim Ambrsio e Antnio Pereira eram pintores de parede. Raphael Perrone, sapateiro. Anselmo Corra, cocheiro, e Carlos Silva, trabalhador braal. De acordo com Unzelte (2010, p. 12), a deciso de criar o clube aconteceu no dia 31 de agosto de 1910, quando esses cinco operrios estiveram no Veldromo de So Paulo assistindo a vitria por 2 a 0 do Corinthian em cima da Associao Atltica das Palmeiras. Entusiasmados com o que viram, eles se reuniram naquela mesma noite, sob a luz de um lampio, na esquina da Rua dos Imigrantes para a fundao de um novo time de futebol. Segundo a Revista Veja So Paulo edio especial do centenrio do Corinthians (2010, p. 12) -, foi na noite seguinte, juntando-se a eles outros moradores do bairro, que oficialmente foi criado o clube. o dia 1 de setembro a data oficial considerada da criao do Corinthians.Mais oito pessoas contriburam com 20.000 ris e tambm foram consideradas scias-fundadoras: Alexandre Magnani (fundidor), Miguel Bataglia (fiscal da Light), Antnio Nunes (alfaiate), Csar Nunes (pintor de parede), Salvador Lopomo (macarroneiro), Antonio Vizzone, Emlio Lotito e Jorge Campbell (esses trs viriam a abrir uma confeitaria com Magnani) (VEJA SO PAULO, 2010, p. 12).

Para decidir o nome do time vrias reunies foram feitas. Entre tantos nomes sugeridos, como Santos Dumont e Carlos Gomes, acabou vingando Sport Club Corinthians Paulista sugesto de Joaquim Ambrsio, em homenagem ao time ingls que inspirou a criao daquele clube -, com toque final de Miguel Bataglia que acabou se tornando o primeiro presidente do clube recm fundado.

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O mais antigo registro existente sobre a fundao do Corinthians data de 22 de setembro de 1910, dia em que os jornais 'O Estado de S. Paulo' e 'O Comrcio de S. Paulo' publicaram a mesma nota (provavelmente emitida pelo prprio clube). O comeo da nota dizia as seguintes frases: Com o nome de Sport Club Corinthians Paulista, fundou-se nesta capital mais uma sociedade sportiva, com o fim de desenvolver o conhecido e apreciado Sport breto (UNZELTE, 2010, p. 12). Nos primeiros anos de vida, o time passou por dois tipos de dificuldades: financeira e de pouco prestgio. Unzelte (2010, p. 12) conta em seu livro 'Timo 100 anos, 100 jogos, 100 dolos' como foi a compra da primeira bola: 6 mil ris custou a primeira bola corintiana, comprada pelo tesoureiro Joo da Silva em uma loja da rua So Caetano, em So Paulo. O dinheiro foi arrecadado com a vizinhana do bairro do Bom Retiro. Para driblar o preconceito da liga principal de futebol, que no permitia a entrada do Corinthians na elite, somente o tempo, aliado a boas campanhas em campo, puderem resolver. Em 1913, o Corinthians conseguiu entrar na Liga para disputar o seu primeiro ttulo Paulista, ficando em quarto lugar. Alm da boa campanha, o campeonato ainda serviu para revelar o seu primeiro grande dolo: Manuel Nunes, o Neco - que brilharia no time durante os anos 10 e 20. No ano seguinte, veio o primeiro ttulo: o campeonato Paulista de 1914, conquistado de forma invicta. Da para frente, o Corinthians s cresceu. Em 1916, foi novamente campeo invicto do Paulista; em 1922, 23 e 24, conquistou seu primeiro tricampeonato; e, em 1928, 29 e 30, repetiu a dose se consagrando mais uma vez tri campeonato estadual. No final da dcada de 30, conquistou pela terceira vez um tri: em 1937, 38 e 39, feito histrico, pois s o Corinthians trs vezes tri campeo Paulista at hoje. Na dcada de 1940, as dificuldades comearam a aparecer: o time passou quase dez anos sem ganhar ttulos importantes, somente conquistou o Paulista de 1941. Na dcada de 1950, entretanto, os anos de ouro voltaram a brilhar. Foi campeo do ressuscitado Rio-So Paulo, em 1950; campeo Paulista, em 1951 quebrando um jejum que j chegava aos dez anos; bi estadual em 1952; campeo da pequena Taa do Mundo, na Venezuela, em 1953; bi do Rio-So Paulo, em 1953 e 54; e campeo do Torneio Internacional Charles Miller, em 1955. O ano de

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1954 foi, ainda, o da conquista do IV Centenrio da fundao de So Paulo (o time que ganhasse o campeonato Paulista daquele ano levaria a taa). Depois desta volta gloriosa, o Corinthians enfrentou o maior jejum de sua histria: passou quase 23 anos sem ganhar ttulos importantes. S voltou a vencer em 1977, conquistando o campeonato Paulista em cima da Ponte Preta, em uma final muito disputada. Nesta poca, a torcida corintiana cresceu consideravelmente. Em 1969, durante este tabu, nasceu os Gavies da Fiel a maior torcida organizada do Corinthians e uma das maiores do Brasil. Em 1976, os alvinegros deram uma demonstrao de amor ao time invadindo o Maracan, no Rio de Janeiro, para a semifinal do campeonato Brasileiro daquele ano. Depois de 1977, o Corinthians voltou a ser campeo em 1979, com mais um ttulo Paulista. Na dcada de 80, inspirado pela 'democracia corintiana' na qual os jogadores participavam nas decises do clube o time levantou um bi Paulista, em 1982 e 1983. Em 1988, veio outro ttulo estadual para a galeria do Timo. Na dcada de 1990, o Corinthians brilhou novamente, comeando o perodo com o indito campeonato Brasileiro. No Paulista, o time foi campeo em 1995, pela primeira vez com vitria sobre o rival Palmeiras em uma final. Repetiu o feito em 1997, sobre o So Paulo, e em 1999, com direito a embaixadinhas de Edlson no jogo decisivo, de novo com o Palmeiras. No mbito nacional, firmou-se de vez, ganhando sua primeira Copa do Brasil, em 1995, e transformando a ento conquista solitria de 1990 em um tri, com o bicampeonato brasileiro de 1998 e 1999. A tristeza da dcada foram as duas desclassificaes seguidas da Taa Libertadores da Amrica nico ttulo que o Corinthians ainda no tem. Na dcada de 2000, o Corinthians comeou conquistando o I Mundial de Clubes da Fifa, em cima do Vasco, no Rio de Janeiro. Depois, vieram trs Paulistas, em 2001, 2003 e 2009; duas Copas do Brasil, em 2002 e 2009; um torneio Rio-So Paulo, em 2002; um Brasileiro, em 2005; e um Brasileiro da srie B, em 2007. Foi nesta queda, alis, que o corintiano demonstrou mais uma vez seu amor fiel ao clube. 5.1.1 Momentos marcantes da histria do clube

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Como pode-se notar, s contando a histria das glrias alvinegras, o documentrio ia se estender para mais de duas horas. Como a proposta criar algo objetivo e que no seja cansativo, ento, decidiu-se contar a histria do clube por meio de duas perspectivas: primeiro pela viso da autora sobre os fatos marcantes da histria do time paulista e, segundo, enfatizando a figura do torcedor. Na narrativa, dividida em dez blocos, h sete fragmentos da trajetria centenria do time paulista que sero explorados com mais intensidade: o nascimento e os primeiros anos do clube; a poca do tabu corintiano em que o time paulista passou quase 23 anos sem ganhar ttulos importantes; a democracia corintiana; a dcada vitoriosa de 1990; o campeonato Mundial, em 2000; a queda para a srie B do campeonato Brasileiro, em 2007; e o tabu com a taa Libertadores da Amrica. Escolheu-se enfatizar o nascimento e os primeiros anos para contar as primeiras dificuldades do clube, mostrar a histria da rivalidade dele com o Palmeiras, que tambm nasceu na dcada de 1910, e apresentar como foi a aquisio do Parque So Jorge estdio do clube at hoje. Quanto poca do tabu corintiano, notou-se que era fundamental explicar como foram os quase 23 anos que o time viveu sem a conquista de ttulos importantes. Esta a parte mais rica do trabalho, com depoimentos de jornalistas, alvinegros e torcedores rivais. A 'democracia corintiana' tambm ganhou um pouco de destaque por ser um movimento criado no Corinthians que, de certa forma, influenciou os brasileiros na poca da Ditadura Militar. As glrias de 1990 ganharam espao no documentrio por se tratar da dcada na qual o Corinthians ganhou seu primeiro campeonato Brasileiro, depois de tantos ttulos estaduais. O Mundial de 2000 o ttulo mais importante do clube, portanto, no poderia deixar de ser explorado com mais detalhes. Assim como a queda para a srie B do campeonato Brasileiro que, apesar do momento de tristeza, mostrou a fora da fiel torcida. Por fim, optou-se por dar um enfoque para as derrotas do Corinthians na Taa Libertadores da Amrica para tentar mostrar aos que virem o produto final o porqu do clube no conseguir vencer o campeonato, alm de enfatizar como os alvinegros encaram esse tabu.

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5.1.2 Torcida Fiel Outro ponto forte no documentrio, alis, o mais importante, a relao dos torcedores do Corinthians com o clube. Desde a fundao do time, em 1910, que os alvinegros demonstram um amor diferente, ajudando no que podem, inclusive, com a compra da primeira bola por meio de uma vaquinha pela vizinhana do Bom Retiro, como citou Unzelte (2010, p. 12). Depois disso, a paixo veio novamente de forma intensa entre 1954 e 1977, quando o Corinthians ficou quase 23 anos sem vencer e, ainda assim, a torcida fiel continuou a crescer. Nesta poca, ainda, nasceu a maior torcida organizada do clube, os Gavies da Fiel, com o objetivo de lutar pelos interesses do time. Em 1976, aconteceu o pice deste amor, quando 70 mil corintianos invadiram o Maracan para assistir Fluminense e Corinthians, pela semifinal do campeonato Brasileiro daquele ano. Em seu livro 'Timo 100 anos, 100 jogos, 100 dolos', Unzelte (2010, p. 107), fala sobre o episdio:Foi o maior deslocamento humano em tempos de paz e, provavelmente, o maior de todos os tempos em funo de um evento esportivo. [...] A maioria chegou em nibus fretados pelas torcidas organizadas, mas alguns foram de bicicleta e outros at a p. Calcula-se que cerca da metade das 146.043 pessoas presentes naquele dia at hoje, o maior pblico pagante em um jogo do Corinthians eram corintianos (UNZELTE, 2010, p. 107).

O jogo terminou empatado por 1 x 1 e o Timo ganhou nos pnaltis. Apesar da demonstrao de amor da torcida, na final contra o Internacional, no Rio Grande do Sul, o Corinthians deixou escapar o ttulo. Somente no dia 13 de outubro de 1977, com um gol de Baslio aos 36 minutos do segundo tempo - depois de 22 anos, oito meses e sete dias de jejum - o clube paulista conseguiu ganhar um campeonato e levou a torcida ao delrio. Na Revista Online especial 'O mundo do futebol' (2005, p. 32) - consta o seguinte depoimento sobre o fato histrico:Jovens que nunca haviam visto o seu time campeo se abraavam a velhos corintianos que viviam de lembranas, de amargas saudades. Soube-se, depois, que naquela manh de quinta-feira, na concentrao, o tcnico Oswaldo Brando, chamado de velho mestre, que todos sabiam ser espiritualista, chamou Baslio de lado e lhe disse: - Eu tive um sonho.

21 Neste sonho, voc fez o gol da vitria, o gol do ttulo (REVISTA ONLINE, 2005, p. 32).

Em 2007, na queda do clube para a srie B do campeonato Brasileiro, outra vez os alvinegros mostraram porque so chamados de fieis. Os torcedores lotaram todos os jogos e empurraram o time embalados pela cano, criada por eles mesmos: 'Eu nunca vou te abandonar porque eu te amo'. claro que houve outros momentos em que a torcida se destacou, mas, no contedo deste documentrio, so essas histrias que vo embalar a narrativa.

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5.2 DOCUMENTRIO A escolha do formato usado para registrar os cem anos do Sport Club Corinthians Paulista foi uma das partes mais conflitantes na pr-produo do projeto, em razo da dvida em optar pelos gneros grande reportagem e documentrio. Atualmente, nos estudos da rea de telejornalismo, ao buscar definies para estes mtodos de gravao, tm-se uma polmica. Pode-se afirmar que a linha divisria entre os dois tipos de produo tnue, como aponta o artigo 'Documentrio e vdeo-reportagem: uma contribuio ao ensino de telejornalismo', apresentado no 9 Frum Nacional de Professores de Jornalismo, em 2006, por Ana Paula Silva Oliveira, Ivete Cardoso do Carmo-Roldo e Rogrio Eduardo Bazi. A bibliografia sobre as diferenas de ambos os formatos escassa e houve uma grande dificuldade para encontrar aspectos que ajudassem a definir como o trabalho seria realizado. Depois de uma vasta pesquisa, optou-se pelo gnero documentrio por este se mostrar o mais apropriado para aprofundar a histria do clube, resgatando a sua memria. Alm da caracterstica marcante do carter autoral do documentrio. Ressalta-se que, de acordo com Ramos (2008, p. 22), um documentrio sempre o recorte de uma realidade a partir da escolha e ponto de vista de um indivduo.O documentrio uma narrativa basicamente composta por imagenscmera, acompanhada muitas vezes de imagens de animao, carregadas de rudos, msica e fala, para as quais olhamos, em busca de asseres sobre o mundo que nos exterior, seja esse mundo coisa ou pessoa. Em poucas palavras, documentrio uma narrativa com imagens-cmera, que estabelece asseres sobre o mundo, na medida que haja um espectador que receba essa narrativa como assero sobre o mundo (RAMOS, 2008, p. 22).

Ou seja, ao contrrio dos filmes de fico, o documentrio se baseia na realidade, mostrando um mesmo fato por vrias perspectivas. Segundo Souza apud Ramos (2008, p. 22), a proposta de todo documentrio buscar o mximo de informaes sobre um tema, o que, consequentemente, aumenta a durao do trabalho, diferenciando-o das grandes reportagens. Entretanto, por mais que o documentrio tenha consolidado algumas caractersticas, difcil determinar o que ele realmente. O formato um gnero cinematogrfico que pode incorporar

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caractersticas do cinema ou da TV. Isto depender, inclusive, de qual ser o seu destino do mesmo: o cinema ou a televiso. A principal caracterstica do formato o fato dele ser um discurso pessoal contando, ou relatando um evento (que pode ser desde uma manifestao poltica a uma biografia de uma pessoa), priorizando algumas exigncias mnimas de verossimilhana, literalidade e registro in loco. 5.2.1 Surgimento do documentrio De acordo com Ramos (2008, p. 22), historicamente, o documentrio surgiu nas beiradas da narrativa ficcional, da propaganda e do jornalismo. um gnero cinematogrfico que teve seu incio praticamente ao mesmo tempo em que o prprio cinema. O difcil definir a primeira representao de cinema e como ela sucedeu, pois costuma ser um tema polmico. Alguns autores gostam de apontar o dia 28 de dezembro de 1895, quando os irmos Lumire, inventores do cinematgrafo, projetaram as primeiras imagens no Salo Indien, em Paris, como a data oficial de fundao. Rizzo (2004, p. 10) afirma:Em 1895 os filmes curtos dos irmos franceses Auguste e Louis Lumire registravam cenas cotidianas em diversas regies do planeta, fundando o documentrio com as clebres imagens de A chegada do trem a estao de La Ciotat. [] O documentrio ganhou fora nas lentes de ferrenhos opositores da fico no cinema, entre eles o sovitico Dziga Vertov, que na dcada de 20 formou o grupo Kinoki, que assinou manifestos em defesa do cinema-olho. Suas ideias deram origem a documentrios clssicos como Cmera-olho e Um homem com uma cmera (RIZZO, 2004, p. 10).

O termo documentrio foi utilizado pela primeira vez nos anos 20 pelo socilogo John Grierson, no jornal The New York Sun, ao comentar os filmes de Robert Flaherty. Nessa publicao, o estudioso definiu o gnero documentrio como o tratamento criativo da atualidade. O documentrio desenvolveu e consolidou suas caractersticas a partir do movimento documentarista britnico nos anos 30. H dois momentos que marcam o documentarismo no mundo: o documentrio clssico e o documentrio direto/verdade.

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O documentrio clssico, em resumo, se estrutura a partir de um argumento desenvolvido por uma narrao em off, ilustrado por imagens e exemplificado ou comprovado por entrevistas ou depoimentos. Uma das caractersticas mais importantes o recurso da voz over, tambm chamada voz de Deus, que nada mais do que a narrao, do incio ao fim, que explica, comenta e antecipa cada plano ou cena, envolvendo todo o filme numa atmosfera de onipresena e suprema sabedoria. Conforme aponta Ramos (2008, p. 25), tambm so prprios narrativa documentria clssica a utilizao de imagens de arquivo, rara utilizao de atores profissionais, intensidade particular da dimenso da tomada. Quanto ao cinema direto (termo americano) e verdade (termo francs), a definio cruzada de suas faces, que representa um mesmo estilo (o documentrio novo), pode levar a confuses. Sobre isso, Ramos (2008, p. 273) ainda escreve:As diferentes tradies terminolgicas em torno dos conceitos de direto ou verdade, utilizadas para designar o novo documentrio, so fludas e variam de pas para pas, de autor para autor, de cineasta para cineasta, de acordo com a variedade lingustica, preocupaes com contrataes secundrias dos termos e idiossincrasias idiomticas (RAMOS, 2008, p. 273).

As primeiras experincias com a nova estilstica documentria surgem com a revoluo tecnolgica do final dos anos 1950, provocada pelo aparecimento de novos aparelhos portteis de gravao de som e imagem como aponta Ramos (2008, p. 273), em seu livro 'Mas, afinal... o que mesmo documentrio?'. No primeiro momento do cinema direto, acredita-se numa posio tica centrada no recuo do cineasta em seu corpo-a-corpo com o mundo. O sujeito est em uma posio observativa e no interativa, para utilizarmos a terminologia criada pelo crtico norte-americano Bill Nichols. Mas Jean Rouch, ao trazer para o primeiro plano a entrevista e o depoimento, e tambm a encenao dramtica, inaugura com 'Crnica' uma nova forma estilstica, que ter em seu eixo um modo mais interativo e reflexivo de ao do sujeito-da-cmera na tomada, como gosta de usar Ramos (2008, p. 273). Ao documentrio com estilo participativo no embate com o mundo na tomada, utilizando entrevistas e com a ao direta do cineasta, deu-se o nome de cinema verdade.

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O importante para se saber sobre o documentrio novo, tambm chamado de contemporneo, que, nele, as vozes parecem misturadas na maneira de postular. A voz do saber, em sua nova forma, perde a exclusividade da modalidade over. Como afirma Ramos (2008, p. 24), ainda temos a voz over, mas os enunciados assertivos so assumidos por entrevistas, depoimentos de especialistas, dilogos, filmes de arquivo. O documentrio, portanto, se caracteriza como narrativa que possui vozes diversas que falam do mundo, ou de si. Dentre outras caractersticas, o novo formato busca registrar a realidade tal como ela , sem roteiro prvio, baseando-se no improviso. Este estilo possui, ainda, quase a mesma estrutura que os filmes de fico, portanto, exige mais recursos financeiros e uma equipe maior. Como aponta Ramos (2008, p. 280):O estilo que define o novo documentrio direto diversificado, o que afasta qualquer tentativa de defini-lo em frmulas fechadas. O som direto tem um parceiro inseparvel no corao dos jovens documentaristas dos anos 1960: uma nova mquina-cmera, mvel, pequena, gil, leve, concebida para ser sustentada longe do trip, a maioria das vezes em 16 mm, dotada de negativos com sensibilidade aguada luz, com um novo e potente zoom (12/120') para tomadas em primeiro plano distncia, alm de lente grande-angular e visores reflex que liberam o olho do fotgrafo (RAMOS, 2008, p. 280).

Quando a televiso comeou a crescer, houve um fortalecimento do documentrio, j que ele um formato que se adequou rapidamente ao formato televisivo. A partir dos anos 80, surgiram nos Estados Unidos e na Europa canais com programao especializada neste formato. No Brasil, o documentrio - do inicio do falado at o surgimento da gerao cinemanovista -, de acordo com Ramos (2008, p. 320), articula-se basicamente em torno do Instituto Nacional do Cinema Educativo (Ince) e na figura de nosso principal diretor do final do mudo, Humberto Mauro. Seu trabalho de documentarista cobre cerca de trinta anos, entre 1936 e 1964, e encontra-se geralmente sombra do breve sucesso no cinema de fico. Para o documentrio Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco foi escolhido o modelo clssico, por se tratar de uma obra que resgata a histria centenria do Corinthians por meio de depoimentos e imagens de arquivo.

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A nica caracterstica do formato que no foi usada foi a voz over, substituda pelos interttulos (como ser explicado mais adiante). 5.2.2 Tipos de documentrio A partir de sua postura metodolgica diante da realidade abordada, o documentrio pode apresentar caractersticas diferenciadas. Chamadas de modos de representao se classificam em seis categorias, de acordo com Nichols (2005, p. 20): potico, expositivo, participativo, observativo, reflexivo e performtico. No modo potico, so enfatizadas associaes visuais, qualidades tonais ou rtmicas, passagens descritivas e organizao formal. Ele evidencia a subjetividade e se preocupa com a esttica. Em relao construo do texto, podem-se usar poemas e trechos de obras literrias. No modo expositivo, por outro lado, so enfatizados o comentrio verbal e uma lgica argumentativa. o modo como a maioria das pessoas identifica um documentrio. Ele preocupa-se mais com a defesa de argumentos do que com a esttica e subjetividade. Para isso, um dos recursos utilizados o casamento perfeito entre o dito e o mostrado. No modo observativo, o engajamento direto do cotidiano das pessoas que representam o tema do cineasta, conforme so observadas por uma cmera discreta, valorizado. O documentarista busca captar a realidade tal como aconteceu. Para isso, evita qualquer tipo de interferncia que caracterize falseamento da realidade. Dessa maneira, h pouca movimentao de cmera, trilha sonora quase inexistente e no h narrao, uma vez que as cenas devem falar por si mesmas. O modo participativo caracterizado pela interao de cineasta e tema. A filmagem acontece em entrevistas e outras formas de envolvimento ainda mais direto. Frequentemente so utilizadas imagens de arquivo para examinar questes histricas. Dessa forma, o documentarista torna-se um sujeito ativo no processo de gravao, pois aparece em conversa com a equipe e provoca o entrevistado para que este fale.

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O modo reflexivo chama a ateno para as hipteses e convenes que regem o cinema documentrio. Agua nossa conscincia da construo da realidade feita pelo filme. Nos filmes em que esse modo de representao prevalece nota-se como a reao do grupo pesquisado diante da cmera e do seu realizador. Por fim, no modo performtico, caracteriza-se pela subjetividade e pelo padro esttico adotado, utilizando as tcnicas cinematogrficas de maneira livre. Pertencem a esse modo os filmes de vdeo-arte e cinema experimental e vanguarda. O documentrio em questo faz parte do modo expositivo. A diretora entrevista e utiliza imagens de arquivo para argumentar e mostrar seu ponto de vista, mas h tambm caractersticas fortes do modo participativo. Um documentrio pode ter caractersticas de mais de um modo, mas na maioria das vezes um deles prevalece como o mais importante e visvel.

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5.3 PR-PRODUO A pr-produo do documentrio Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco foi a parte mais tranquila na elaborao do projeto. Apesar da dificuldade em definir o formato, grande reportagem ou documentrio, a diversidade de livros contando a histria do Corinthians facilitou esta etapa. Foram utilizadas referncias bibliogrficas de livros, revistas e artigos cientficos, alm de acervo audiovisual para finalizar a primeira etapa do vdeo em questo. 5.3.1 Pesquisa Rosenthal apud Soares (2009, p. 85) lista quatro fontes de pesquisa: material impresso, material de arquivo (filmes, fotos, arquivos de som), entrevistas e pesquisa de campo nas locaes de filmagem. Seguindo estas quatro etapas, o autor ainda afirma que:O documentarista dever ler tudo aquilo que for possvel, dentro dos limites de tempo disponveis para a produo, referente ao assunto escolhido; fazer um exaustivo levantamento de material de arquivo, entre fotos, filmes e arquivos sonoros, buscando garantir permisso para uso no filme; fazer pr-entrevistas com todas as pessoas que possam estar envolvidas com o tema; alm de visitar os locais de filmagem para se familiarizar com o espao fsico e com as pessoas que os habitam. (...) Cabe ao documentarista aprofundar seu conhecimento sobre o assunto se certificando da quantidade e qualidade de matria visual e textual disponvel para o filme alm da real viabilidade de todas as possveis locaes (SOARES, 2009, p. 85).

Com exceo de visitar o local antes da gravao, por questo financeira, a primeira parte do projeto foi embasada nesta citao. Quanto pesquisa bibliogrfica sobre o formato, primeiro item pesquisado, as principais obras que contriburam para a estruturao do documentrio foram 'Introduo ao Documentrio', de Bill Nichols; 'O Documentrio de Eduardo Coutinho: televiso, cinema e vdeo', de Consuelo Lins; 'Mas afinal... O que mesmo documentrio', de Ferno Pessoa Ramos e 'Roteiro de documentrio: da pr-produo psproduo', de Srgio Puccini Soares. Todas essas obras contriburam para

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entender o universo do documentrio, visto que a autora nunca tinha trabalhado com este formato. Em relao pesquisa bibliogrfica sobre o tema, os livros que mais contriburam para a parte da pesquisa foram 'Timo 100 anos, 100 jogos, 100 dolos' e 'Almanaque do Timo', de Celso Unzelte; 'Corinthians, paixo e glria', de Juca Kfouri; e 'Corinthians - preto no branco', de Washington Olivetto. Alm das revistas 'Veja So Paulo', edio especial do centenrio; e 'Revista Online', edio especial 'O mundo do futebol'. Como citado acima, h muito contedo sobre a histria do Corinthians no mercado, ento, optou-se por resumir da melhorar maneira possvel cem anos em um produto que no fosse cansativo, mas que tambm no deixasse de abordar assuntos importantes. 5.3.1.2 Anlise de similares

Alm da pesquisa em livros, revistas e artigos, tambm foram analisados outros documentrios para a produo do vdeo em questo. Sobre o Corinthians, os produtos utilizados foram 'Fiel', dirigido por Andrea Pasquini; '23 anos em 7 segundos o fim do tabu corintiano', de Di Moretti e Julio Xavier; e 'Todo poderoso', com direo de Ricardo Aidar e Andr Garolli. Mas somente as obras referentes a histria do clube no foram suficientes para criar um modelo para Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco. Ento, foram recorridos a outras produes do gnero, como 'Nada vai nos separar Os 100 anos do Sport Club Internacional', de Saturnino Rocha; 'Pel eterno', dirigido por Anibal Massaini; e 'nibus 174', de Jos Padilha. A escolha pela anlise de documentrios com forte apelo para imagens de arquivo foi proposital, para se ter uma noo de como contar uma histria com este estilo de forma criativa e sem ser cansativo. Com 'Fiel', filme lanado em 2008 para contar a saga da torcida corintiana durante 2007 - ano da queda do Corinthians para a srie B do campeonato Brasileiro -, percebeu-se que preciso tomar cuidado com o excesso de fontes. O vdeo ficou mais preocupado com o testemunho dos torcedores que eram muitos - do que em mostrar imagens deles em campo, apoiando a torcida. E em documentrio, a imagem muito importante para no tornar a narrativa cansativa. Por outro lado, viu-

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se que usar os prprios entrevistados para contar a histria mais interessante do que utilizar o off, tambm chamado de voz over. Em '23 anos em 7 segundos o fim do tabu corintiano', produzido em 2009 para narrar os anos de 1954 a 1977, em que o Corinthians no ganhou nem um ttulo importante, comprovou-se o que j tinha se constatado com 'Fiel': a pluralidade de fontes fundamental. Nem tantos jogadores, nem tantos torcedores, nem tantas fontes especializadas. O equilbrio essencial para o sucesso do produto. E, nisso, a obra se saiu muito bem, pois soube mesclar estes itens, alm de valorizar a imagem e tambm vetar o off. 'Todo poderoso', lanado este ano para comemorar o centenrio do Corinthians, tambm foi muito importante na fase de criao do produto. Ele conseguiu mostrar como unir cem anos em um vdeo criativo e interessante. O nico problema, que, alis, foi o mesmo encontrado em 'Nada vai nos separar' foi o tempo de durao do documentrio. Ambos tm mais de 1h40 de vdeo o que, por mais que o telespectador goste do assunto, acaba se tornando cansativo em dado momento. Em 'Pel eterno', que narra a vida do ex-jogador do Santos, Pel, tambm se pde ver a importncia de mesclar as fontes. O trabalhado mostra a trajetria do craque por meio de depoimentos de ex-jogadores, amigos e celebridades, alm da exibio de vrios de seus gols, principais jogadas e fatos que marcaram sua carreira. Por fim, com 'nibus 174', concluiu-se que no utilizar off, realmente, um recurso interessante. O documentrio relata o incidente que aconteceu no dia 12 de junho de 2000, no Rio de Janeiro, que culminou com a morte do sequestrador Sandro do Nascimento e de uma de suas refns. Com imagens das emissoras de televises e gravaes prprias, o diretor Jos Padilha constri uma narrativa dupla que mostra o desenrolar do sequestro e a trajetria pessoal de Sandro intercalados com depoimentos. O autor conseguiu mesclar o passado com o presente de uma maneira muito criativa, o que levou a reflexo sobre a importncia de tambm utilizar da criatividade na hora de produzir o trabalho em questo. 5.3.2 Escolha das fontes

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A escolha das fontes foi uma parte complicada do projeto, pois eram muitas possibilidades. Entretanto, tinha-se em mente a conscincia de que o vdeo no poderia se tornar longo e cansativo, logo, o nmero de depoimentos deveria ser bem planejado. Na lista inicial, foram sugeridos 80 nomes, entre torcedores, jogadores, tcnicos, o atual presidente, jornalistas e historiadores. Como era invivel cumpri-l, este nmero foi reduzido para 45 j na fase de produo do trabalho. Depois de muita pesquisa e dificuldade para conseguir o contato de alguns entrevistados escolhidos, a lista inicial foi novamente reduzida para 24. Esse o nmero de pessoas que contriburam, com seus testemunhos, para a elaborao de Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco. A mudana de alguns personagens e a reduo do nmero inicial se deu, principalmente, pela dificuldade de contato devido a Copa do Mundo, que ocorreu nesse ano. No foi possvel gravar com Andrs Sanchez, o atual presidente, nem membros da diretoria e da comisso tcnica, como pensando inicialmente, porque o Corinthians criou um documentrio oficial sobre o centenrio do clube, o que dificultou bastante o contato com a Assessoria de Imprensa. Em relao a atletas do atual elenco, optou-se por no us-los por acreditar que o trabalho histrico e h personagens mais importantes. Ento, este projeto feito com torcedores do time e rivais, jornalistas, um pesquisador da histria do futebol e ex-jogadores. 5.3.2.1 Jogadores Dentre 1.251 jogadores que j vestiram a camisa alvinegra, escolheu-se cinco para representar o Corinthians no documentrio de acordo com os fragmentos da histria do clube que queria-se enfatizar. Jos Roberto Baslio, que foi meia-direita do time de 1975 a 1981, foi escolhido por ser o responsvel de tirar o Corinthians da fila de quase 23 anos sem ganhar ttulos importantes. O jogador virou heri da noite para o dia por ter feito o gol da vitria, na final do Campeonato Paulista, contra a Ponte Preta, no dia 13 de outubro de 1977. Ele participou de 253 jogos e fez 29 gols durante sua carreira no clube. Wladimir Rodrigues dos Santos, lateral-esquerdo que jogou de 1972 a 1985 e, depois, em 1987, entrou no projeto por ser o atleta que mais vezes vestiu a

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camisa alvinegra e, tambm, para representar o perodo da democracia corintiana. Ele um dos autores da iniciativa, que, em meio ditadura militar no Brasil, cobrava mais participao dos jogadores nas decises referentes ao clube. Ele participou de 803 jogos, fazendo 34 gols. Outro ex-jogador escolhido foi Jos Ferreira Neto, meia-esquerda que jogou no Corinthians de 1989 a 1993. O atleta foi um dos mais importantes na conquista do 1 Campeonato Brasileiro do time paulista. Alm disso, um dos jogadores mais queridos da fiel torcida. Ele participou de 228 jogos, totalizando 80 gols. O irreverente atacante Claudinei Alexandre Pireis, apelidado de Dinei, tambm foi escolhido para o trabalho. O ex-jogador esteve presente em quase todos os ttulos importantes conquistados pelo clube na dcada de 90 e o nico que participou dos trs primeiros Brasileiros em 1990, 98 e 99. Ele jogou 117 jogos, fazendo 34 gols. Por fim, entre os ex-jogadores, tambm foi escolhido o meia-direita Marcelo Pereira Surcin, conhecido como Marcelinho Carioca. O ex-atleta conquistou trs campeonatos Paulistas pelo Corinthians (em 1995, 97 e 99), dois Brasileiros (em 1998 e 99), uma Copa do Brasil (em 1995) e o mais importante ttulo da histria do clube: o Campeonato Mundial da Fifa, em 2000. Com 372 jogos e 180 gols, esteve no time de 1994 a 1997, de 1998 a 2001 e em 2006. 5.3.2.2 Torcedores Destaque no documentrio, a escolha de torcedores corintianos que representassem a fiel torcida no vdeo no foi uma tarefa fcil. Afinal, so 25 milhes de alvinegros. Como o custo das viagens para so Paulo era alto - devido necessidade de levar cinegrafista, combustvel, motorista, entre outros -, decidiuse procurar pelo Vale do Paraba cones fanticos e que pudessem contribuir para o projeto. Foi nessa busca que Helena Rodrigues, Guilherme Rocco, Jos Batista de Souza, Jos Mauro de Souza, Carlos de Lima e Carlos Rodrigo foram encontrados. Todos recheados de amor e com boas histrias sobre o fanatismo pelo time paulista para contar.

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Alm destes, fecham o grupo de torcedores Luiz Carlos, membro dos Gavies da Fiel maior torcida organizada do Corinthians e uma das maiores do Brasil -; Paulo Elorza, representante da velha-guarda dos Gavies da Fiel; e Moyss Ferreira, torcedor que completou cem anos tambm em 2010. Representando os rivais, esto Cludio Nicolini, torcedor do Santos; Demetrius Figueiredo, do Palmeiras; Elisandro Bartolomedi, do Internacional; e Thalita Miranda, do So Paulo todos so do Vale do Paraba. Foram escolhidos apenas estes times para o documentrio porque eles fazem parte marcante da histria do clube. 5.3.2.3 Fontes especializadas Por fim, entre as fontes especializadas esto jornalistas, pesquisadores e presidentes de rgos ligados ao clube. A jornalista corintiana Marlia Ruiz foi escolhida por se destacar no cenrio do jornalismo esportivo. Formada pela Universidade de Braslia, j passou pela Folha de S. Paulo, foi colunista do jornal Lance! e trabalhou nas emissoras de televiso RedeTV, Record, Rede Bandeirantes e CNT. Atualmente, esta de volta RedeTV, no programa Belas na Rede, alm de manter um blog e ser colunista do Dirio do Grande ABC. Participa do documentrio falando da dcada de 2000. Outro jornalista que faz parte do trabalho Milton Neves, que faz sucesso no rdio e na TV e considerado uma 'enciclopdia humana' no que se refere histria do futebol. Ele mantm um projeto inovador, intitulado 'Que fim levou?', que narra onde esto as celebridades envolvidas com o mundo do futebol que j no aparecem mais na mdia. Foi escolhido, principalmente, para narrar a poca do tabu corintiano de quase 23 anos sem ttulos importantes. O lendrio Orlando Duarte tambm faz parte do trabalho. Escritor e jornalista, cobriu 14 Copas do Mundo e dez Olimpadas. Alm disso, j publicou 27 livros sobre o mundo do esporte. Duarte participa dando sua opinio sobre momentos importantes da histria do Corinthians, como a invaso no Maracan, a democracia corintiana, a conquista do campeonato Mundial e a queda para a srie B do campeonato Brasileiro.

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O atual presidente dos Gavies da Fiel, Eduardo Pontes, participa falando sobre a criao da torcida organizada e a importncia dela nos momentos decisivos do clube tanto bons como ruins. O presidente do Comit de Preservao da Memria Corinthiana, Ernesto Teixeira, fala sobre os primeiros anos do time paulista. O projeto comandando por Teixeira resgata a histria do clube por meio de fotos, livros e jornais e revistas antigas. Por fim, e um dos mais importantes entrevistados, o fantico torcedor corintiano Celso Unzelte foi escolhido por seu grande conhecimento sobre o clube. Hoje, Unzelte considerado um dos principais especialistas em histria do futebol. Alm de participar de programas esportivos da ESPN, o jornalista d aulas na Csper Lbero, em So Paulo, e autor de vrios livros, entre eles 'Timo 100 anos, 100 jogos, 100 dolos', 'Os dez mais do Corinthians', 'Jornalismo Esportivo: Relatos de uma paixo', 'Flamengo Rei do Rio', 'O grande jogo' e 'Grandes clubes brasileiros'. 5.3.3 Montagem do pr-roteiro Como o modelo utilizado para a elaborao de Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco o clssico, criou-se um pr-roteiro, ainda na fase de pr-produo, a fim de nortear as entrevistas e facilitar a produo do produto final. Assim como lembra Soares (2009, p. 11), se o documentrio contemporneo coloca nfase em tomadas indeterminadas, realizadas sem planejamento, existe outra tradio que trabalha decupagem e roteiro, aproximando-se bastante do filme de fico. Essa ruptura do modelo clssico para o contemporneo, que aconteceu por volta de 1960, trouxe tona um trabalho que valoriza mais o imprevisto, algo que no recomendvel quando se produz um produto histrico foco do documentrio em questo. Ainda segundo Soares (2009, p. 16), roteirizar :Recortar, selecionar e estruturar eventos dentro de uma ordem que necessariamente encontrar seu comeo e seu fim. O processo de seleo se inicia j na escolha do tema, desse pedao de mundo a ser investigado e trabalhado na forma de um filme documentrio. Continua com a definio dos personagens e das vozes que daro corpo a essa investigao. Inclui ainda a escolha de locaes e cenrios, a definio de cenas, sequncias, at chegar a uma prvia elaborao dos planos de

35 filmagem, dos enquadramentos, do trabalho de cmera e som, dentre outros detalhes tcnicos que podem contribuir para a qualidade do filme. Ao trmino deste percurso, o cineasta ter adquirido noo mais precisa das potencialidades do seu projeto (SOARES, 2009, p. 16).

Com base nas referncias bibliogrficas e audiovisuais, e com a maioria das fontes j definidas (embora, mais tarde, sofressem alteraes), o pr-roteiro foi montado. Para a produo deste pr-roteiro foi utilizado como modelo um edital de concurso do DOCTV, iniciativa da TV Cultura com o apoio do Governo Federal. O exemplo foi retirado do livro 'Documentrio e roteiro de cinema: da pr-produo ps-produo', de Srgio Puccini Soares (2009, p. 79). No Brasil, uma das referncias para modelos de proposta de filmagem vm a ser os editais de concursos. Na fase de gravao das entrevistas, o roteiro ajudou bastante a manter o foco, mas, no final, sofreu modificaes devido mudana de algumas fontes e o acrscimo de informaes que os mesmos passaram por meio das entrevistas. Diferente do filme de fico, que engessado, a vantagem do roteiro de documentrio que ele, realmente, precisa ser aberto, pois trabalha com fatos reais. 5.3.4 Burocracia Mesmo sendo um trabalho acadmico sem fins lucrativos, a autorizao de uso de imagem e som de voz e o contrato de prestao de servios so fundamentais para documentar o projeto e evitar problemas futuros. Como a proposta do documentrio em questo disponibilizar o vdeo na ntegra no Youtube (para ser exibido no blog www.arianefonseca.com) foi ainda mais importante solicitar a autorizao. Quanto ao contrato de servio, foi fundamental pelo fato do trabalho de gravao e edio ter sido realizado por uma empresa contratada. 5.3.4.1 Direito de imagem

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Segundo Durval (1988, p. 12), direito imagem a projeo da personalidade fsica (traos fisionmicos, corpo, atitudes, gestos, sorrisos) ou moral (aura, fama, reputao) do indivduo (homens, mulheres, crianas ou beb) no mundo exterior. O direito imagem assumiu uma posio de destaque no contexto dos direitos da personalidade (aqueles referentes a defesa dos valores inatos do ser humano), devido ao extraordinrio progresso tecnolgico dos meios de comunicao, tanto no desenvolvimento da facilidade de captao da imagem, quanto a de sua reproduo. Para a elaborao do direito de imagem que foi utilizado no documentrio em questo, usou-se um modelo adaptado com referncias do livro 'Direito imagem', de Durval (1988, p. 105). A dificuldade com esta parte do trabalho foi referente a conseguir algumas autorizaes, pois o tempo das entrevistas, no geral, era curto e os entrevistados no tinham pacincia para ler e assinar documentos. Por essa razo, percebe-se que, em alguns direitos de imagem, no h todas as informaes completas, apenas a assinatura e outras que o mesmo julgou importantes. No entanto, trs fontes os jogadores Neto e Marcelinho Carioca, alm do jornalista Milton Neves no aceitaram assinar porque disseram que no haveria problema em divulgar as suas imagens em meio acadmico. Quando foram questionados sobre disponibilizar tal trabalho na internet, tambm se mostraram favorveis sem autorizar no papel. 5.3.4.2 Contrato de prestao de servios De acordo com o livro 'As organizaes contbeis e o contrato de prestao de servios' (2009, p. 10), o contrato de prestao de servios a garantia formal da contratao como prova jurdica para fixar os limites da execuo dos servios e a cobrana dos honorrios profissionais. A prestao de servios regulada pelo Cdigo Civil, nos artigos 593 a 609. Para elaborar o modelo de Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco, recorreu-se a um advogado. 5.3.5 Oramento

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Ainda durante o perodo de pr-produo do projeto, como uma estratgia de planejamento, foi criado o seguinte oramento para o documentrio em questo: ATIVIDADE Gravao, edio e arte grfica Viagens no Estado de So Paulo com alimentao HD externo Telefone (fixo e celular) Encadernao dos projetos escritos e impresses Fitas Total PREO R$ 2.000,00 R$ 2.000,00 R$ 300,00 R$ 480,00 R$ 80,00 R$ 100,00 R$ 4.980,00

Cpia dos DVDs (para a banca e alguns entrevistados) R$ 20,00

OBS.: Os nmeros foram arredondados, pois apenas servem como um esboo do que acreditava-se que seria gasto.

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5.4 PRODUO As principais dificuldades desta etapa foram financeira e falta de equipamentos adequados. Apesar de prever o oramento, muitos imprevistos aconteceram, principalmente nas viagens a So Paulo, como cancelamento de entrevistas em cima da hora, estacionamentos caros e dificuldade de encontrar um carro disponvel para levar at as gravaes. Quanto aos equipamentos, foi utilizada a cmera Panasonic HVX 200 das Faculdades Integradas Teresa D'vila, assim como dois microfones (um boom e uma lapela). Houve problema para agendar tais equipamentos, visto que neste ano vrios alunos produziram projeto em vdeo como Trabalho de Concluso de Curso. 5.4.1 Contato com os entrevistados Quando pensou-se nos entrevistados, a maior preocupao era conseguir o contato deles. Passada essa etapa, o problema seria convenc-los a, gratuitamente, ceder uma entrevista para um trabalho acadmico. Foi, literalmente, uma pr-ocupao, pois no foi uma tarefa difcil graas web. O ponto negativo foi o alto custo com telefone fixo e mvel, alm de internet. A primeira fonte contactada foi o pesquisador da histria do futebol, Celso Unzelte. Foi fcil achar o e-mail dele no Google, aps rpida pesquisa. Ele gentilmente respondeu aceitando o convite e marcamos para o dia 2 de maro. Como conter os custos era primordial, logo optou-se por marcar outra gravao para este mesmo dia. Ento, a jornalista Marlia Ruiz foi procurada pelo Twitter, j que seu e-mail no foi encontrado na internet. Ela, tambm, foi muito solcita e concordou em gravar no dia 2. Ruiz contribuiu, e muito, para o contato com os demais entrevistados, passando telefones pessoais de jogadores, dirigentes e outros jornalistas. Com isso, conseguiu-se marcar com os atletas Neto, Baslio e Marcelinho Carioca. O contato com Dinei foi feito durante a gravao com o Neto, aps partida beneficente em prol de So Luiz do Paraitinga, em Taubat (SP); e com Wladimir por meio da secretaria de Esportes de Caraguatatuba, onde o mesmo exerce a funo de secretrio.

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Os jornalistas Milton Neves e Orlando Duarte tambm foram facilmente encontrados na internet. Com o primeiro, o contato foi feito pelo e-mail da produo do programa 'Terceiro tempo' no qual ele comanda; e, no segundo, com a TV Cmara So Paulo, na qual Duarte apresenta um programa de esporte chamado 'Cmara Esporte Clube'. Quanto ao presidente dos Gavies da Fiel, Eduardo Pontes, foi necessrio ligar para a secretaria da sede da escola, que fica no bairro Bom Retiro, em So Paulo. Marcado a entrevista, mais dois torcedores da torcida organizada - Luiz Carlos e Paulo Elorza foram convidados a participar do vdeo. O presidente do Comit de Preservao da Memria Corinthiana, Ernesto Teixeira, foi encontrado tambm na internet e, por meio do site oficial do projeto, foi possvel marcar a entrevista com ele. Os torcedores fieis e rivais do Vale do Paraba (SP) foram encontrados por meio de sugesto de amigos e familiares. Moyss Ferreira, o torcedor centenrio, foi descoberto por meio de uma reportagem do 'O Estado de S. Paulo'. Aps contato com o jornal pelo Twitter, conseguiu-se o e-mail do jornalista que escreveu a matria e, posteriormente, o telefone do filho de Ferreira. 5.4.2 Produo das pautas As pautas para as entrevistas foram realizadas de forma simultnea, de acordo com o contato com as fontes. Nenhuma entrevista foi feita sem a pauta. A pesquisa bibliogrfica, as curiosidades vistas em vdeos e pesquisas na internet ajudaram muito a concluir com eficcia esta etapa. Muitas perguntas foram feitas em comum para os entrevistados a fim de tornar o vdeo dinmico. 5.4.3 Gravaes Muitos imprevistos aconteceram nas gravaes, desde dificuldade para encontrar um carro disponvel para transportar ao local at srios problemas em achar um cenrio adequado para realizar a entrevista. Foi a etapa do trabalho que mais deu dor de cabea e extrapolou o oramento.

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Quanto ao tipo de enquadramento, 90% das entrevistas foram gravadas em plano mdio, todas com o uso do trip, como aconselha Soares (2009, p. 138), em 'Roteiro de documentrio: da pr-produo a ps-produo':As opes quanto ao tipo de enquadramento geralmente ficam restritas s composies em plano mdio, primeiro plano e close up, podendo eventualmente o entrevistado ser mostrado de corpo inteiro. No h muito sentido em se filmar toda uma entrevista em grande plano geral, fazendo com que o entrevistado ocupe um espao mnimo do quadro. A utilizao ou no de trip para a cmera vai depender muito do local da entrevista e da situao em que esta ocorre. Em entrevistas previamente agendadas, conveniente a utilizao de trip para uma maior estabilidade da imagem e menor sacrifcio do operador de cmera, especialmente no caso de entrevistas longas (SOARES, 2009, p. 138).

Os entrevistados foram convidados a direcionar o olhar para o entrevistador, que ficou fora de quadro e ao lado do cinegrafista a fim de que, como explica Soares (2009, p. 140), a presena do entrevistador no traga como consequncia uma diviso de interesse da tela. Em relao ao local das entrevistas, nenhuma foi gravada em estdio, como orienta ainda o autor:Em um estdio, cercado de uma parafernlia tcnica que seja estranha ao entrevistado, o depoimento pode perder em espontaneidade, tornar-se mais frio e contido do que em um ambiente de convvio dirio, a casa ou o local de trabalho do entrevistado, por exemplo (SOARES, 2009, p. 141).

Confira como foram as gravaes: 5.4.3.1 Jogadores Baslio A gravao com o jogador Baslio estava marcada para ser na sede dos Gavies da Fiel. Entretanto, devido ao atraso do atleta para chegar ao local, ficou invivel realiz-la neste lugar por causa ao barulho (todo sbado, no perodo da tarde, os torcedores realizam festas na quadra). Sendo assim, ele nos levou para um campo de futebol, localizado no bairro Bom Retiro, no qual posteriormente descobrimos que era onde ele

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treinava quando era criana. O plano utilizado foi o mdio, com foco no jogador e o campo de fundo. No foi possvel utilizar luz artificial porque no tinha uma tomada prxima. Dinei Como j citado anteriormente, o contato com o Dinei foi feito aps o jogo beneficente em prol de So Luiz do Paraitinga, em Taubat (SP). Na lista de fontes inicial, o jogador no tinha sido cotado, mas, visto sua importncia para o clube e o fato dele estar presente na regio, resolvemos inclu-lo um dia antes da gravao. O local no tinha infraestrutura adequada e, como os jogadores estavam com pressa, tivemos que gravar com ele dentro do vestirio, sem lapela e luz. O barulho de fundo e as pessoas caminhando ao redor foram inevitveis. O plano utilizado foi o mdio, com o vestirio de fundo. Marcelinho Carioca A gravao com o Marcelinho Carioca foi uma das mais tranquilas. O jogador nos atendeu na sede do seu comit (ele concorreu s eleies deste ano, como deputado federal). Como no local no tinha nada relacionado ao Corinthians, gravamos na sala de reunio, com plano mdio, usando a parede de madeira de fundo como cenrio. Neto A entrevista com Neto foi a mais complicada. Alm de esperar mais de duas horas (j tnhamos entrado em contato com o jogador por telefone para marcar a gravao), tivemos que aguentar mau humor. Tendo em vista este contexto, no conseguimos lev-lo para um cenrio adequado, gravamos em plano mdio, atrs de uma janela, sem lapela e luz. Wladimir Com Wladmir, a entrevista tambm foi tranquila. Gravamos com o jogador na sua sala da secretria de Esportes de Caraguatatuba onde o mesmo exerce a funo de secretrio municipal desta rea. O plano

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utilizado foi mdio, com um trofu de fundo como cenrio. 5.4.3.2 Torcedores Torcedores fieis Carlos de Lima Como grande parte das pessoas de idade, o senhor Carlos de Lima sistemtico. No conseguimos convenc-lo a vestir uma camisa do Corinthians, colocar a lapela, nem gravar na praa que fica em frente a sua casa. Para no perder a preciosa fonte, precisamos entrevist-lo na sala da sua casa, em plano mdio, com um sof marrom de fundo. Carlos Rodrigo O plano utilizado na gravao do Carlos um dos nicos diferentes. Com uma bandeira da torcida organizada Gavies da Fiel de Aparecida (SP) de fundo, optamos pelo plano geral para dar destaque ao objeto. A entrevista foi tranquila, realizada em sua casa sem grandes problemas. Guilherme Rocco A entrevista com Guilherme tambm foi tranquila e realizada em sua casa. O plano utilizado foi o mdio, com destaque para as bandeiras espalhadas no sof e no seu colo todas usadas durante a invaso corintiana no Maracan, da qual participou. Helena Rodrigues Cenrio adequado foi o que no faltou na entrevista com Helena. A torcedora fantica nos atendeu na sua casa, que repleta de objetos do Corinthians. Gravamos com ela no seu quarto, com plano geral para enfatizar a cama enfeitada e a cabeceira com fotos dela em jogos de futebol. Como a lapela no estava disponvel na faculdade este dia, foi necessrio utilizar apenas o som do boom. Jos Batista

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O nico problema na gravao com Jos Batista foi a escolha do cenrio adequado. O torcedor nos atendeu em sua casa, que pequena e no tinha espao para os equipamentos. Por fim, tivemos que gravar na sala, em plano geral e com uma bandeira do Corinthians esticada no sof de fundo. Jos Mauro Jos Mauro cadeirante e pediu para no mostrar a cadeira de rodas durante a gravao. A entrevista foi feita na casa de Jos Batista (os dois so irmos), com um cenrio de fundo mostrando o desenho do smbolo do Corinthians pela metade. No foi possvel mostrar toda a figura porque no conseguimos enquadr-la no plano geral, atendendo ao pedido do entrevistado. A parede laranja, o que alterou a luz do local. Luiz Carlos e Paulo Elorza Os dois so membros dos Gavies da Fiel e, para entrevist-los, fomos at a sede da torcida, no Bom Retiro, em So Paulo. Como em toda quadra de torcida organizada, o local no era referncia de esttica. A rua era movimentada e foi impossvel encontrar um cenrio adequado dentro da quadra. Foi, ento, que descobrimos uma laje desocupada na casa em frente a quadra. Para entrevistar Paulo, utilizamos o plano mdio, dando foco numa bandeira do Corinthians (a mesma que levamos em todas as gravaes) de fundo. J com Luiz, para no repetir o cenrio, tivemos que gravar em p, tambm em plano mdio, tentando focar no smbolo dos Gavies de fundo. Moyss Ferreira A entrevista com o senhor Moyss foi tranquila, apesar de sua dificuldade em falar de maneira clara e objetiva. Mas, levando-se em considerao que Ferreira tem cem anos, o resultado foi muito positivo. A gravao aconteceu na casa dele, utilizando o plano mdio e um abajur do Corinthians de fundo.

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Torcedores rivais Cludio Nicolini A gravao com Nicolini, que jornalista, aconteceu no local do seu trabalho, logo, no tivemos muitas opes de cenrio. Por fim, a entrevista foi feita na sala de espera, com a redao de fundo, em plano mdio. Demetrius Figueiredo A entrevista com Demetrius aconteceu no seu escritrio, com um computador de fundo para mostrar o site do Palmeiras, do qual ele colaborador. O local no era o mais adequado, mas, pela falta de opo, precisou ser este. Elisandro Bartolomedi Elisandro dono de um bar em Lorena (SP) e no tinha disponibilidade de gravar durante o dia. A entrevista aconteceu no Gol Mania, uma quadra de futebol society da cidade, em plano mdio com o campo de futebol de fundo. Thalita Miranda A gravao com Thalita tambm foi no Gol Mania, mas durante o dia, dentro do campo de futebol. A entrevista foi feita em plano mdio, enfatizando a trave do gol de fundo. 5.4.3.3 Fontes especializadas Celso Unzelte Celso nos atendeu na sua casa. Como pesquisador, escolhemos gravar com ele no seu escritrio, recheado de livros e documentos. A gravao foi feita em plano mdio, enfatizando o computador com uma imagem do Corinthians de fundo.

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Eduardo Pontes Com Eduardo aconteceu o mesmo problema da gravao com Luiz Carlos e Paulo Elorza. Por falta de cenrio adequado na quadra dos Gavies da Fiel, tivemos que gravar no seu escritrio - que era apertado e sem infraestrutura - em plano mais fechado. No foi possvel utilizar a luz. Ernesto Teixeira A entrevista com Ernesto tambm foi na quadra dos Gavies da Fiel, logo, problemtica. O barulho de crianas jogando futebol estava muito grande no local, mas, como era necessrio aproveitar para gravar o mximo de entrevistas por questes financeiras decidiu-se fazer assim mesmo. Marlia Ruiz O cenrio utilizado na gravao com a Marlia foi um dos melhores. Conseguimos autorizao para entrevist-la no Memorial do Corinthians. O plano utilizado foi o mdio, enfatizando os trofus que o clube j conquistou de fundo. Milton Neves A entrevista com Milton tambm foi tranquila, ele nos atendeu em seu escritrio. O plano utilizado foi o mdio, enfatizando os quadros que o jornalista tem na parede, relatando a sua histria no jornalismo. Orlando Duarte Orlando nos atendeu na recepo do prdio onde mora, em So Paulo. Gravamos com ele em plano mdio, enfatizando o jardim de fundo.

5.4.4 Imagens de arquivo Conseguir o direito de utilizar as imagens de arquivo, tanto em vdeo como em foto, no foi uma tarefa fcil. Mesmo sendo um trabalho acadmico, sem fins lucrativos, as emissoras de televiso no cederam as imagens gratuitamente. Para

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as fotos, foi preciso recorrer ao Memorial do Corinthians e a arquivos pessoais de alguns dos entrevistados. 5.4.4.1 Fotos Para conseguir fotografias antigas do clube, primeiramente entrou-se em contato com o Memorial do Corinthians uma espcie de museu com a histria do time paulista. A diretoria do local permitiu a entrada com uma cmera fotogrfica no museu, mas muitas fotos estavam impressas em tamanho pequeno, o que dificultou a sua utilizao no documentrio. Em entrevista com o pesquisador da histria do futebol, Celso Unzelte, foi explicada a dificuldade com as fotografias e ele cedeu um acervo com mais de 200 imagens do seu arquivo pessoal para uso no trabalho, sem fins lucrativos. O presidente do Comit de Preservao da Memria Corintiana, Ernesto Teixeira, tambm cedeu algumas imagens da instituio para utilizar no documentrio. Como ainda eram precisas algumas fotos, recorreu-se a imagens da internet, retiradas dos sites: www.flickr.com/nikefutebol, www.corinthians.com e www.globoesporte.com. Alm disso, em entrevista na sua casa, Moyss Ferreira tambm cedeu imagens de seu arquivo pessoal. 5.4.4.2 Vdeos Quanto s imagens em vdeo, primeiramente, entrou-se em contato com a TV Cultura, que atualmente detm os direitos do antigo canal 100 (que tem imagens antigas do futebol no Brasil). Inicialmente, a empresa queria cobrar cerca de R$ 2 mil por um minuto de imagem, algo invivel para quem est na faculdade e no tem um patrocinador. Em contato com o diretor de TV da emissora, foi explicado o projeto e ele conseguiu um desconto de R$ 300 por cinco minutos. Como resumir cem anos de histria em cinco minutos de imagem? Ainda era pouco para muito dinheiro. Foi ento que tentou-se conseguir com a Rede Globo, que, assim como a TV Cultura, cobrava o mesmo preo por um minuto. Por fim,

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buscou-se contato com a TV Timo TV oficial do Corinthians -, que afirmou no poder ceder suas imagens para nenhum fim. Com esse problema, recorreu-se a internet para analisar como poderia conseguir as imagens. Depois de vasta pesquisa, o site DVDs de Futebol (www.dvdsfutebol.com.br), que vende imagens antigas e atuais de jogos de futebol de colecionadores de todo o pas, tornou-se uma boa opo. Adquiriu-se por cerca de R$ 90 dois DVDs: Corinthians campeo de 1954 a 2008 e Invaso Corintiana. A empresa no tem os direitos de imagem das partidas, mas, como o documentrio em questo no ser comercializado, ela me afirmou que no haver complicaes. Para as demais imagens, recorreu-se aos filmes sobre o Corinthians: 'Fiel', '23 anos em 7 segundos - O fim do tabu corintiano' e 'Todo poderoso', alm do Youtube. No foi possvel filmar a torcida nos jogos deste ano porque quem detm os direitos de transmisso tambm a Rede Globo. Na partida entre Corinthians e Flamengo, vlida para as oitavas de final da Libertadores deste ano, at conseguiu-se autorizao da emissora e da Associao dos Cronistas Esportivos do Estado de So Paulo (ACEESP) para gravar imagens da arquibancada, mas, j no estdio do Pacaembu, a Federao Paulista de Futebol barrou. 5.4.5 Trilha sonora Assim como livros e revistas, tambm h muita msica no Brasil referente ao Corinthians e ao futebol em geral. As canes foram escolhidas de acordo com o que a letra representa em cada poca da histria centenria do clube. Confira as utilizados no trabalho: Hino do Corinthians em saxofone, guitarra e tango CD 'Hinos do Timo' Hino do Corinthians Cidade Negra Hino do centenrio Tom Z 'Aqui tem um bando de loucos' e 'Timo o' CD 'Fiel torcida' 'Saudosa Maloca' Adoniram Barbosa 'Corinthians x Palmeiras' Castanha e Caju

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'Gol de Baltazar' Elsa Laranjeira 'Amor branco e preto' Rita Lee 'Meu corao corintiano' Silvio Santos 'Corinthians do meu corao' Toquinho 'Epitfio corintiano' Faeti 'Sou fiel' Negra Li 'Pra no dizer que no falei das flores' Geraldo Vandr 'Uma partida de futebol' - Skank

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5.5 PS-PRODUO Depois de muita pesquisa e com as gravaes em mos, chega o momento mais chato na produo de um documentrio (e tambm o mais importante): decupar as fitas e montar o roteiro de edio. Reisz apud Soares (2009, p. 177) comenta o seguinte sobre o processo de ps-produo:O que o diretor de documentrios perde com a falta de suspense de um enredo, compensado pela liberdade de montar os filmes de modo original e expressivo. No est preso a uma estrita cronologia de eventos, imposta por um argumento de estdio; ao contrrio, pode apresentar as facetas do seu tema e alterar a atmosfera do filme na ordem e no ritmo que desejar. As imagens com as quais trabalha no so amarradas a uma trilha sonora: o diretor pode fazer experincias com som direto e comentrios sonoros. E o que mais importante: tem maior liberdade de interpretao que um diretor de filme de fico, porque a interpretao a montagem que dar vida ao seu assunto (REISZ apud SOARES, 2009, p. 177).

Na ps-produo, a ideia inicial foi aperfeioada para que o documentrio se tornasse mais criativo e dinmico. 5.5.1 Decupagem Ouvir cerca de 16h de gravao (foram usadas 17 fitas durante as entrevistas) no foi uma tarefa empolgante, principalmente pelo fato da autora produzir o trabalho sozinha. Na decupagem, foi utilizado o mtodo de escrever o assunto e transcrever a deixa inicial e final de cada entrevista, devido ao curto tempo para entregar o produto para edio. O problema de optar por essa metodologia foi que, na hora de montar o roteiro de edio, precisou-se consultar as fitas novamente. O ponto positivo foi decidir fazer a decupagem logo aps cada entrevista, pois isso agilizou o trabalho mais adiante. 5.5.2 Roteiro de edio Segundo Soares (2009, p. 187):

50 O roteiro de edio ser resultado de uma leitura atenta das imagens e sons contidos no material bruto. Esse roteiro poder ou no seguir a estrutura proposta pelo tratamento escrito na fase de pr-produo, texto que serviu como mapa para orientar as filmagens e definir os principais pontos de interesse do documentrio. A experincia de filmagem, bem como contato com o universo abordado, pode subverter noes preliminares, esboadas na pr-produo, criando novos focos de interesse para o filme o que obriga, ao realizador, pensar em uma nova organizao do material que incorpore essas mudanas (SOARES, 2009, p. 187).

Foi justamente essa mudana de foco que aconteceu com Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco. O pr-roteiro contribuiu muito para a organizao das informaes durante as entrevistas, mas no foi utilizado na hora de montar o produto final que foi para edio. No decorrer do trabalho, percebeuse a necessidade de dar mais ateno aos torcedores corintianos e, alm disso, muitos entrevistados foram alterados durante o processo de produo. A maior dificuldade em escrever este roteiro foi escolher as melhores declaraes para fazer parte do produto, alm de organizar o trabalho de uma maneira que no o deixasse cansativo. Relatar cem anos no uma tarefa fcil, ainda mais quando o investimento no projeto baixo. Por questo de esttica, escolheu-se o modelo de roteiro utilizado na televiso (com pequenas modificaes, de acordo com a necessidade do produto), na qual as imagens e os efeitos ficam na coluna da esquerda e o texto e o udio na coluna da direita. Essa disposio da informao facilitou a visualizao geral do produto. Como salienta Soares (2009, p. 191), a criao do roteiro de edio importante porque define a estrutura do documentrio. Segundo ele, as seguintes perguntas precisam ser respondidas nesta etapa:O documentrio ser montado atravs de blocos temticos claramente divididos?; atravs da mistura de vozes e entrevistas?; atravs do respeito a uma ordem cronolgica?; qual ser sua abertura?; como ser desenvolvido o tema?; qual ser a sua resoluo? (SOARES, 2009, p.191).

No documentrio em questo, escolheu-se dividir o vdeo em dez blocos para facilitar o entendimento das dcadas (tanto para o telespectador quanto para a autora), visto que em cem anos de histria tem-se muita informao. Quanto

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escolha da disposio das entrevistas, optou-se por no utilizar o off por entender que o uso deste recurso arcaico, como mostra Soares (2009, p. 194):Muito em funo do fato de estar intimamente associada ao documentrio clssico, a narrao em voz over recurso bastante combatido por documentaristas contemporneos. Entre os problemas suscitados pelo uso de uma voz over est o aspecto de autoridade a ela relacionada (SOARES, 2009, p. 194).

Em substituio narrao usou-se os interttulos, que so teis como recurso de sntese de algumas informaes do documentrio, principalmente quando utilizada de maneira econmica e bem localizada. O mesmo autor citado acima (2009, p. 216), acredita que alm de sua funo informativa, os interttulos servem para pontuar o documentrio, marcar um ritmo para o filme e os incios de blocos temticos, alm de propiciar a explorao de efeitos estticos atravs da formatao do texto na tela. Como a autora nova na produo de documentrios e o produto histrico, evitou-se complicar o projeto, optando-se, assim, a contar a histria em ordem cronolgica. Mas, para criar um suspense no incio da narrativa como orienta Soares (2009, p. 193) -, escolheram-se trs palavras que, na opinio da autora, resumem o Corinthians (Glrias, Raa e Amor) para mesclar com imagens da histria do clube que representam essas palavras. Em seguida, aparece uma frase do primeiro presidente do time, Miguel Bataglia, que vai nortear todo o trabalho: O Corinthians o time do povo, e o povo quem vai fazer o time. A frase foi escolhida para enfatizar a importncia do torcedor na histria do clube assim como pode ser constatado no final do vdeo, que termina com a mesma citao. 5.5.3 Edio e finalizao Com um roteiro minuciosamente detalhado, ficou mais fcil o trabalho de edio do produto. O ajuste mais complexo foi referente aos udios das gravaes que deram problema. Tentou-se diminuir o barulho externo, mas no surtiu muito efeito. Como explicado anteriormente, a gravao e edio no foram feitas pela

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autora, mas por uma empresa contratada. Foi necessrio cerca de um ms para que o documentrio fosse editado e, mais duas semanas, para os ajustes finais de acordo com as observaes feitas pelos professores durante a segunda avaliao do Trabalho de Concluso de Curso. A principal mudana foi a reduo do tempo do vdeo em 10min para tornlo mais dinmico (de 1h20 para 1h10), retirando algumas declaraes e artes, ajustando os interttulos e diminuindo a durao de algumas trilhas sonoras. O produto final ficou pronto no dia 26 de outubro. 5.5.4 Escolha do ttulo Quando realmente decidiu-se fazer um documentrio sobre o centenrio do Corinthians, em meados de 2009, foi pensando o nome 'Corinthians, 100 anos' e 'Paixo 100 limite: A histria centenria do Sport Club Corinthians Paulista'. Tendo em vista a mudana de foco do trabalho, enfatizando o torcedor, foi preciso procurar um ttulo mais atraente. Foi, ento, que navegando na internet, a autora encontrou uma bandeira da torcida Gavies da Fiel com os seguintes dizeres: Eterna paixo. Assim, nasceu o tema do documentrio Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco. O ttulo reflete o sentimento forte que milhes de alvinegros levam no corao desde 1910. 5.5.5 Anlise do oramento Aps a finalizao do produto, a fim de analisar com mais detalhes os gastos utilizados na produo de Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco, decidiu-se comparar o oramento planejado com o custo geral do documentrio. Tinha-se pensando em um investimento de R$ 4.980,00, mas, no final, esse nmero aumentou consideravelmente. Isso porque no foi acrescentando no oramento os gastos com imprevistos, que sempre acontecem. Confira a tabela com os custos finais:

ATIVIDADE

PREO

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Gravao, edio e arte grfica Viagens a Guaratinguet, Aparecida, Potim, Taubat, Caraguatatuba e So Paulo (gasolina e pedgio) Alimentao Estacionamentos Impresso e encadernao das duas avaliaes HD externo de 500 GB Telefone (fixo e celular) Impresso e encadernao do relatrio final Fitas Cpia de 10 DVDs com a caixa Total

R$ 2.000,00 R$ 1.005,85 R$ 550,30 R$ 80,00 R$ 50,00 R$ 300,00 R$ 745,00 R$ 108,00 R$ 120,00 R$ 100,00 R$ 5.059,15

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6. CONSIDERAES FINAISPor ser um formato aberto que est sempre sujeito a interferncias advindas do ambiente externo diferente do filme de fico -, o documentrio um gnero que exige bastante preparo para sua realizao. E essa foi a principal dificuldade em produzir Eterna paixo: 100 anos de um amor em preto e branco, pois o tempo era curto e o trabalho denso. Por muitas vezes, teve-se que dividir a leitura dos livros e artigos com o horrio de almoo no trabalho, o intervalo das aulas na faculdade e at mesmo as longas madrugadas. Tudo isso em aproximadamente um ano. Realizar um vdeo desta magnitude sozinha e sem grandes investimentos foi o maior desafio j enfrentado pela autora. Hoje, entretanto, pode-se afirmar que o aprendizado adquirido fez valer a pena todo o esforo. Ao iniciar um projeto, o documentarista deve ter em mente todas as possveis reviravoltas do filme que ocorrem no perodo de gravao e se preparar para isso. E essa verdade pde ser vivida por muitas oportunidades durante a elaborao deste trabalho: foram entrevistados indisponveis, problemas com carro para viagens a So Paulo, falta de dinheiro, ter que diminuir o vdeo depois de pronto... Mas como ensina Charles Darwin: No o mais forte quem sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta s mudanas. Outro problema enfrentado foi referente a qualidade e a disponibilidade dos equipamentos das Faculdades Integradas Teresa D'vila. Um filme exige certos detalhes que no foram possveis de serem realizados por conta da falta de outra cmera, microfone boom especial para captao de udio e luz, entre outros. Tentou-se fazer o melhor com o disponvel. Por fim, foi um ano difcil e cheio de compromissos afinal, alm do Trabalho de Concluso de Curso, ainda tinha as atividades da faculdade, o trabalho, a famlia. Entretanto, foi um ano muito proveitoso. Saber mais sobre a histria do Corinthians e conhecer torcedores que do a vida pelo clube foi uma experincia rica para a vida profissional e pessoal. Com o projeto aprendeu-se que os sonhos so, sim, possveis de serem realizados, mas, para isso, preciso 1% de inspirao e 99% de transpirao, como diria Thomas Edison.

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BIBLIOGRAFIAAS ORGANIZAES Contbeis e o Contrato de Prestao de Servios. 4. edio. Porto Alegre: CRCRS, 2009. BERNARD, Sheila Curran. Documentrio: Tcnicas para uma produo de alto impacto. So Paulo: Elsevier, 2008. DURVAL, Hermano. Direito imagem. So Paulo: Saraiva, 1988. FIEL. Direo: Andrea Pasquini. Produo: Gustavo Ioschpe. So Paulo: G7 Cinema, 2009, 1 DVD. KFOURI, Juca. Corinthians, Paixo e Glria. So Paulo: DBA, 1996. LIMA, Marco Antunes de. Sport Club Corinthians Paulista: a origem da paixo. Disponvel em Acesso em: 28 jun 2009. LINS, Consuelo. O Documentrio de Eduardo Coutinho: televiso, cinema e vdeo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. NADA VAI NOS SEPARAR. Direo: Saturnino Rocha. Produo: Gustavo Ioschpe. Los Angeles: G7 Cinema, 2009, 1 DVD. NICHOLS, Bill. Introduo ao Documentrio. Trad. Mnica Saddy Martins. Campinas: Papirus, 2005. OLIVEIRA, Ana Paula Silva et al. Documentrio e vdeo-reportagem: uma contribuio ao ensino de telejornalismo. In: 9 Frum Nacional de Professores de Jornalismo, Campos dos Goytacazes/RJ, 2006. Disponvel em: Acesso em: 28 jun 2009. OLIVETTO, Washington; e BEIRO, Nirlando. Corinthians - Preto no Branco. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. NIBUS 174. Direo: Jos Padilha. Produo: Jos Padilha e Marcos Prado. Rio de Janeiro: Riofilme, 2002, 1 DVD. PEL ETERNO. Direo: Anibal Massaini. Produo: Anbal Massaini. So Paulo: Cinearte / UIP Brasil / Anima Produes, 2004, 1 DVD. RAMOS, Ferno Pessoa. Mas afinal... O que mesmo documentrio? So Paulo: Senac/SP, 2008.

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REVISTA VEJA SO PAULO Edio especial do centenrio. So Paulo: Abril, n 18, ano 43, maio de 2010. REVISTA ONLINE - O mundo do futebol edio especial 'Corinthians todos os ttulos'. So Paulo: Online Editora, n 6, ano 2, jan. de 2006. SOARES, Srgio Puccinni. Roteiro de documentrio: Da pr-produo psproduo. Campinas: Papirus, 2009. TODO PODEROSO: O FILME. Direo: Ricardo Aidar e Andr Garolli. Produo: Celso Unzelte. So Paulo: Canal Azul, 2010, 1 DVD. UNZELTE, Celso Dario. Timo 100 anos, 100 jogos, 100 dolos. So Paulo: Gutenberg, 2009. ______. Almanaque do Timo. So Paulo: Abril Multimdia, 2000. 23 ANOS EM 7 SEGUNDOS. Direo: Di Moretti e Julio Xavier. Produo: Ricardo Aidar. So Paulo: Fox Film do Brasil, 2009, 1 DVD.

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ANEXO A: Direito de imagem

Eu, abaixo assinado e identificado, autorizo o uso de minha imagem e som da minha voz por mim revelados em depoimento pessoal concedido e, alm de todo e qualquer material entre fotos e documentos por mim apresentados, para compor o documentrio, sem fins comerciais, sobre o centenrio do Sport Club Corinthians Paulista, produzido como Trabalho de Concluso de Curso (TCC), do curso de Jornalismo das Faculdades Integradas Teresa Dvila. A presente autorizao abrange os usos acima indicados via internet (sites, YouTube e outros) sem qualquer nus a Ariane Aparecida Fonseca de Souza, portador do RG n 44.875.106-9, inscrito no CPF sob n 360.840.908-42, responsvel pelo projeto, que poder utiliz-los. Por esta ser a expresso da minha vontade declaro que autorizo o uso acima descrito sem que nada haja a ser reclamado a ttulo de direitos conexos a minha imagem ou som de voz, ou a qualquer outro, e assino a presente autorizao.

Lorena, ____ de __________ de 2010.

___________________________________________ Assinatura do entrevistado