Como mudar a sua vida para melhor

155
Mude a sua vida para melhor

Transcript of Como mudar a sua vida para melhor

Page 1: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

Page 2: Como mudar a sua vida para melhor

COMO MUDAR A SUA VIDA

PARA MELHOR

Copyright © 2012, Escolas+

www.escolasplus.com

e-mail: [email protected]

Título: Mude a sua vida para melhor

Autor: Dr. Miguel Lucas

Revisão: Regina Santana

Capa e composição: Regina Santana

1ª edição: Julho 2012

Page 3: Como mudar a sua vida para melhor

SOBRE OS DIREITOS AUTORAIS

Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou

transmitida livremente de alguma forma, sem o consentimento prévio dos seus

autores. Se por ventura estiver interessado na publicação de uma análise ao livro,

entre em contacto via email para [email protected]

UTILIZAÇÃO DO LIVRO

O autor deste livro não se responsabiliza direta ou indiretamente pela utilização de

qualquer um dos exercícios ou dicas nele contidos. Estes exercícios e dicas são

baseados em experiências pessoais e profissionais de Miguel Lucas, bem como da

experiência adquirida através da aplicação prática de conceitos de psicologia. O

objectivo deste livro é o de ensinar todos os seus leitores a pensarem positivo,

conquistarem objetivos e atingirem metas, sem que na realidade se possa

comprometer com esse resultado.

SOBRE MIGUEL LUCAS

Miguel Lucas é licenciado em Psicologia pelo Instituto

Superior de Línguas e Administração de Leiria. Exerce

psicologia clínica em consultório privado e Psicologia

Desportiva no acompanhamento direto a atletas e

clubes esportivos. É também preparador mental de

atletas e equipes esportivas, treinador de atletismo e

palestrante nas áreas do rendimento esportivo,

motivação e psicologia.

Miguel vive em Leiria, Portugal, uma pequena cidade a 130km de distância da capital

Lisboa. Nos seus tempos livres gosta de ler, praticar desporto e aproveitar a

companhia dos seus amigos e familiares.

Page 4: Como mudar a sua vida para melhor

Em memória à minha mãe, pessoa sensata, inspiradora e sempre presente.

O que mais precisamos é coragem, amor e confiança.

Miguel Lucas

Page 5: Como mudar a sua vida para melhor

“Toda a reforma interior e toda a mudança para melhor, dependem exclusivamente da

aplicação do nosso próprio esforço.”

Immanuel Kant

Page 6: Como mudar a sua vida para melhor

ÍNDICE

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 9

Capítulo 1 ...................................................................................................................... 11

MUDANÇA .................................................................................................................. 11

Sentimento de perda e desafio .............................................................................. 11

O futuro está nas suas mãos ................................................................................. 14

A mudança é inevitável: Vamos mudar para melhor? ........................................... 15

Emoções e sentimentos solidificam a mudança .................................................... 19

Capítulo 2 ...................................................................................................................... 21

CRESCIMENTO E PROTEÇÃO ................................................................................ 21

O medo como promotor ou inibidor do desenvolvimento ...................................... 21

O condicionamento do medo ................................................................................. 23

A complexidade do medo ....................................................................................... 24

O stress promove as nossas incapacidades ......................................................... 27

Capítulo 3 ...................................................................................................................... 29

PREOCUPAÇÃO EXCESSIVA .................................................................................. 29

Sentimento de perda e desafio .............................................................................. 29

Tememos o futuro .................................................................................................. 30

Preocupação normal e patológica .......................................................................... 31

Preocupação com as expetativas .......................................................................... 32

O que pode ser feito? ............................................................................................. 33

Respiração profunda e relaxamento ...................................................................... 37

Page 7: Como mudar a sua vida para melhor

Capítulo 4 ...................................................................................................................... 39

O MEDO ..................................................................................................................... 39

Um potenciador de objetivos .................................................................................. 39

Supere o fracasso fazendo coisas ......................................................................... 43

Capítulo 5 ...................................................................................................................... 45

ZONA DE CONFORTO .............................................................................................. 45

Razões para sair da sua zona de conforto ............................................................ 45

O que é a zona de conforto? .................................................................................. 47

A desconfortável zona de conforto......................................................................... 47

Você cresce, assim como a sua zona de conforto ................................................ 48

Você sente-se mais confiante ................................................................................ 49

Você aprende algo novo ........................................................................................ 49

Você faz coisas que a maioria das pessoas não faz ............................................. 50

Você impulsiona ações para alcançar os seus objetivos ...................................... 51

Capítulo 6 ...................................................................................................................... 53

POTENCIAR A VIDA .................................................................................................. 53

Procure desafios que mexam consigo ................................................................... 53

Como sair da sua zona de conforto ....................................................................... 55

Mude as suas crenças............................................................................................ 59

O poder das crenças .............................................................................................. 60

Livre-se das crenças incapacitantes e paralisantes .............................................. 66

Olhar o mundo e sua influência ............................................................................. 71

ACABAR COM AS DESCULPAS .......................................................................... 74

Coisas que não deve dizer para si mesmo ............................................................ 74

Deixe de dizer desculpe, eu não sei, eu não consigo ........................................... 76

Palavras para refletir .............................................................................................. 87

Page 8: Como mudar a sua vida para melhor

ESTABELECER OBJETIVOS ................................................................................ 88

O exemplo esportivo ............................................................................................... 91

A motivação é um impulsionador para o sucesso ................................................. 95

Manter o seu objetivo positivo em mente .............................................................. 97

O que fazer quando me estou a sentir pessimamente? ...................................... 110

Para obter sucesso mude-se a si próprio ............................................................ 111

Capítulo 7 .................................................................................................................... 115

PENSAR POSITIVO ................................................................................................. 115

Como mudar pensamentos negativos para pensamentos positivos ................... 115

Como o hábito do pensamento negativo se enraiza? ......................................... 116

Como mudar o seu pensamento? ........................................................................ 118

Atitude positiva ..................................................................................................... 123

Auto-conhecimento e auto-consciência ............................................................... 128

Visão de futuro...................................................................................................... 138

Reinicie a sua vida, deixe de fazer autosabotagem ............................................ 138

Ser positivo e otimista .......................................................................................... 150

Page 9: Como mudar a sua vida para melhor

PREFÁCIO

Mudar de vida para melhor, é provavelmente um dos grandes objetivos da maioria das

pessoas, eu incluído. Todos nós procuramos diariamente formas de melhorar a nossa

vida, seja através de um novo emprego, de um automóvel novo, ou de um

relacionamento com alguém. No entanto, acredito que todos nós erramos quando

consideramos que algum destes aspetos é mudar de vida para melhor. No íntimo da

questão, mudar de vida para melhor é muito mais do que isso. É tomar decisões

acertadas para a nossa vida, é viver com a consciência de que as mudanças

efetivadas nos trouxeram mais equilíbrio, é viver com consciência de que para mudar

algo, primeiro precisamos mudar-nos a nós próprios, e à forma como vemos o mundo.

Porque razão todos nós mudamos quando algo de menos bom nos acontece? Eu

próprio já vivi essa experiência, quando um dia, após dois anos e meio numa

sociedade comercial, tomei a decisão de sair e deixar que a vida me guiasse para

novos caminhos. Hoje, tenho a consciência de que tomei a decisão certa, pese

embora não soubesse para onde caminhava. Mas hoje faço aquilo que amo, tenho

tempo para mim e para os meus, e tenho uma vida melhor. Mas mais importante que a

vida que tenho, foi ter tomado a decisão certa, na hora certa, mesmo que por impulso.

Para mudarmos de vida, por vezes, apenas precisamos de coragem para lutar por

algo melhor, seja isso o que for. E foi isso que eu fiz naquela altura, e hoje tenho

orgulho nisso.

Acompanho o trabalho do Miguel há mais de uma década, e desde sempre tive a

felicidade de aprender de perto com ele e com a sua experiência, e isso ajudou-me em

várias fases da minha vida. Uma das coisas que mais me marcou nessa experiência,

foi ter aprendido a tomar decisões.

Após a leitura deste livro, que não é mais do que uma aprendizagem profunda à

tomada de decisões e ao controle emocional inerente a essas ações, chego à

conclusão de que todos nós, enquanto seres humanos, temos em nós a capacidade

Page 10: Como mudar a sua vida para melhor

de mudar e ser aquilo que bem desejarmos. Vivemos num mundo de possibilidades

infinitas, onde a aprendizagem está ao nosso alcance, e onde a mudança depende

exclusivamente de nós. Sair da zona de conforto, saber tomar decisões, ou

simplesmente não ter medo de correr atrás daquilo que se deseja, são apenas alguns

dos ingredientes que você vai encontrar ao longo desta magnífica obra, a qual poderá

realmente ajudá-lo a mudar a sua vida para melhor.

26 de Junho de 2012

Paulo Faustino

Fundador da rede Escolas Plus

Page 11: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

9

INTRODUÇÃO

Independentemente dos objetivos, sonhos e propósitos de vida que cada um de nós

possa ter, existe certamente algo que nos une a todos. Queremos mudar a nossa vida

para melhor, queremos progredir, evoluir, crescer e desenvolvermo-nos no sentido de

irmos ao encontro daquilo que perspetivamos conquistar, obter ou experienciar. Existe

um mundo de possibilidades para cada um de nós. Este livro pretende esclarecê-lo,

incentivá-lo e guiá-lo num vasto leque de estratégias, conceitos, dicas e conhecimento

científico que permite colocá-lo no epicentro do potencial que você possui para mudar

a sua vida para melhor.

Somos seres emocionais, que fomos evoluindo devido à capacidade de adaptação e

às condições de vida que foram mudando ao longo dos tempos. Esta capacidade

extraordinária para nos adaptarmos e adequarmos à constante mudança é expressa

através da expressão funcional do nosso lobo frontal. Mas, igualmente da enorme

capacidade interrelacional das nossas estruturas cerebrais, entre as quais o sistema

límbico, responsável pelo processamento emocional e respetivas respostas

carregadas de intenção para a ação.

É com base na capacidade que cada um de nós tem para conscientemente planejar e

organizar antecipadamente um conjunto de possíveis ações para posteriormente

decidirmos se nos servem ou não, que temos a possibilidade de mudarmos ao longo

do tempo.

A capacidade de mudarmos firma-se ainda na capacidade plástica que a nossa

estrutura cerebral apresenta. A neuroplasticidade do nosso cérebro permite-nos

aprender ao longo da vida, permite-nos substituir aprendizagens que não nos servem

mais por outras mais adequadas e que nos facilitam a vida.

É com base num conjunto de estruturas constituintes do nosso organismo que se

pautam pela capacidade de adaptação às circunstâncias de vida, que ficamos numa

posição vantajosa para aprendermos e mudarmos para melhor.

Page 12: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

10

Para mudar algo na nossa vida, é necessário aprendermos algo novo, ou de novo. As

aprendizagens estabelecem uma forte relação com a capacidade de memorizarmos o

que nos serve, é funcional e está sobre o nosso controle. Ao aprendermos algo, são

criadas novas ligações neuronais que permitem suportar a mudança instituída. Para

que as mudanças sejam duradouras e possamos aplicá-las de forma prática e em

tempo útil na nossa vida, é necessário praticar essas mesmas aprendizagens.

Ao praticarmos a nova aprendizagem uma e outra vez numa base consistente e ao

longo do tempo, irá permitir que se torne numa ação automática. Ou seja, numa

primeira fase a nova aprendizagem ou mudança a ser instituída necessita da nossa

atenção e monitorização consciente, para que numa fase posterior possa passar a ser

como uma segunda natureza. Passamos a conseguir aplicar de forma simples, prática

e eficaz sem que para isso tenhamos que despender grandes recursos atencionais.

Desta forma institui-se como um hábito na nossa vida. Assim, ficamos novamente

disponíveis para continuarmos a aprender coisas novas e ir pouco a pouco

implementando novas aprendizagens que nos permitam adequarmo-nos e adaptarmo-

nos às sucessivas mudanças que a vida nos impõe, e outras que escolhemos

implementar para mudarmos a nossa vida para melhor.

O nosso pensamento é o que dá suporte à consciência que temos da vida. É o nosso

pensamento que permite construirmos uma vida com perspetiva de futuro. O nosso

pensamento permite-nos criar a nossa realidade e a nossa realidade expressa o tipo

de vida que temos.

Page 13: Como mudar a sua vida para melhor

11

CAPÍTULO 1

MUDANÇA

Sentimento de perda e desafio

É importante reconhecer que toda a mudança estabelece uma forte relação com o

sentimento de perda, até mesmo uma mudança positiva. Em psicologia podemos

apelidar este fenómeno de desintegração positiva. A teoria da desintegração positiva

de Kazimierz Dąbrowski, descreve as tensões psicológicas e a ansiedade como

necessárias para o crescimento e desenvolvimento pessoal. Estes processos

"desintegradores", são vistos como "positivos", enquanto que, pessoas que não

conseguem passar pela desintegração positiva podem permanecer por toda a sua vida

num estado de "integração primária". Passando pelo processo de desintegração e

Page 14: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

12

avançando para os níveis mais elevados de desenvolvimento promovemos o aumento

do nosso potencial de desenvolvimento.

Desistimos ou abandonamos "o conhecido", mesmo que às vezes ele nos faça sentir

bem, para investirmos em novos caminhos e novas formas de olhar o mundo. Deixar o

território familiar pode ser desconfortável, às vezes triste, e um pouco assustador,

podendo gerar ansiedade e angústia. Ao mesmo tempo, pode ser estimulante,

oferecendo novas possibilidades. No entanto, mesmo na posse da informação de que

é importante investirmos em novo conhecimento e novas experiências, algo de

paralisante pode invadir-nos a mente: o medo. Quando focamos a nossa atenção na

incerteza do futuro, quando não se tem a certeza de tudo o que possamos vir a

enfrentar à frente, tendemos a ficar "presos" no que nos é familiar, e isso inibe-nos o

desenvolvimento.

Dabrowski, acreditava que o desenvolvimento avançado necessitava que se

quebrassem as estruturas psicológicas menores através do processo de

desintegração positiva.

Dabrowski, desenvolveu ainda um conceito bastante interessante, afirmando que a

componente fundamental da personalidade é o desenvolvimento de valores

individualizados e uma visão de "maiores possibilidades", culminando com a

idealização do tipo de pessoa que deseja tornar-se, uma caraterística apelidada de

ideal de personalidade. O valor das ideias de Dabrowski que me fascinam, são a sua

ruptura com a avaliação tradicional das psicopatologias, preconizando que os

sintomas psicológicos devem ser avaliados e interpretados no contexto da história de

um indivíduo e no seu nível de potencial de desenvolvimento.

De acordo com esta abordagem, é importante que entenda que quando queremos

mudar a nossa vida para melhor, devemos levar em consideração as várias áreas da

nossa vida através de um possível diagnóstico multidimensional que promove a

recolha de informação que ajudará a determinar o contexto de desenvolvimento e

significado dos próprios sintomas incomodativos (tristeza, angústia, irritabilidade,

abatimento, desesperança, incerteza, agitação motora, confusão, rancor, entre outros)

e situação de vida. Os sintomas incomodativos são uma fonte rica em informação que

devemos levar em consideração. Ainda que nos possam causar mal-estar, não

Page 15: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

13

devemos querer livrar-nos deles, como o diabo da cruz. A aceitação dos sintomas de

mal-estar, assim como a sua interpretação e entendimento, fazem parte da estrutura

de base que permite superarmos os nossos problemas pessoais, obstáculos ou

mesmo problemas psicológicos que possamos estar a enfrentar.

A forma como pensa, como sente e como age, estabelece uma forte relação com a

sua história de vida. As nossas incapacidades, dificuldades e problemas não existem

de forma isolada, como se nós tivéssemos algo interno de "errado" que nos faz agir,

sentir e pensar de determinada forma e identificada como prejudicial. É importante

contextualizar, é importante enquadrar e não ficar preso às formas cristalizadas que

possam catalogá-lo e impedi-lo de avançar rumo ao que idealiza para si, ou que

pretende vir a ser e alcançar.

Por outras palavras, o que pretendo transmitir é que apesar de provavelmente você

sentir que tem um conjunto de "barreiras psicológicas", sintomas ou incapacidades

que possam justificar o rumo que a sua vida tem tomado, é possível orientar-se por

aquilo que pretende alcançar, vir a sentir ou a experienciar, e de uma forma

construtiva e alinhado com a ideia de quem pretende ser, desenvolver mecanismos

que facilitem a obtenção de resultados satisfatórios.

Se você se encontra "preso" nos seus velhos sintomas de mal-estar, irei disponibilizar

algumas estratégias e conceitos que podem ajudá-lo a construir um plano para sair da

sua zona de conforto, promovendo a sua confiança e facilitando a obtenção dos seus

objetivos de vida. Em primeiro lugar, você deve examinar honestamente o verdadeiro

motivo ou motivos porque não se propôs a fazer o que pretende. Quando aquela voz

interior volta com as mesmas velhas respostas de incapacidade, lamúria e

desesperança, vá um pouco mais ao fundo da questão e pergunte-se: "O que está

realmente a impedir-me?" Deixe o seu inconsciente levá-lo onde você precisa ir. Veja

que associações vêm à mente quando você se questiona. "Do que é que eu tenho

medo?" Mais à frente irei aprofundar a importância do sentimento de medo, o quão ele

é importante na regulação da nossa vida, mas também como pode transformar-se no

seu pior inimigo.

Imagine-se a alcançar a meta. Qual é a sensação? Qual o aspeto que a sua vida pode

ter depois de ter alcançado algumas das suas metas? Algumas associações negativas

Page 16: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

14

vêm à mente? Quais? Receio de sucesso, o ciúme dos outros, mudança no seu

relacionamento ou status social? Às vezes, as suas associações, inicialmente, podem

não fazer grande sentido, mas se você for aprofundando o que lhe vai passando na

mente, eventualmente, uma imagem e/ou assunto irão emergir. Permita-se ser

curioso, ao invés de julgar o que vem à mente.

Ainda que todos nós em alguns momentos da nossa vida tenhamos de procurar ajuda,

aconselhamento ou opiniões, é importante que possamos aprender a desenvolver

uma forma funcional de resolvermos a grande maioria dos nossos problemas

pessoais, de trabalho, de relacionamento, psicológicos ou emocionais. Quero

sublinhar o papel importante que você deve desempenhar no seu próprio processo de

desenvolvimento ou até mesmo no seu processo terapêutico. É crucial que você

perceba que está encarregue de determinar ou criar o seu Eu ideal e estrutura de

valores. Isso inclui uma revisão crítica dos costumes e valores sociais que foram

aprendidos e possam eventualmente estar a impedir o seu progresso.

O futuro está nas suas mãos

Você não está condenado pelos seus genes, nem está programado para ser de uma

certa maneira para o resto da sua vida. Uma nova ciência (neurociência) está a

emergir que capacita todos os seres humanos para criar a realidade que escolherem.

Irei apresentar-lhe conhecimento necessário para mudar qualquer aspeto de si

mesmo, através do uso de ferramentas passo-a-passo para aplicar o que aprender de

forma a que consiga mensurar as mudanças em qualquer área da sua vida. Depois de

quebrar os hábitos que o têm impedido de atingir alguns dos seus objetivos, e

realmente mudar a sua mente, a sua vida nunca mais será a mesma.

Nós podemos literalmente aprender uma nova forma de ser, uma nova forma de

pensarmos, agirmos e sentirmos, e tudo graças à capacidade que temos para nos

liderarmos. Devido à capacidade que o nosso cérebro tem para mudar, devido à sua

capacidade plástica, com as devidas indicações, com uma orientação intencional da

própria pessoa, é possível instituir formas de pensar que nos permitam ter uma maior

liberdade de escolhas e assumirmos o futuro nas nossas mãos.

Page 17: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

15

Ao longo do livro irei apresentar muitas formas que você pode aprender e aplicar com

o intuito de reprogramar o seu pensamento usando princípios neuro-fisiológicos,

permitindo e facilitando a obtenção dos seus objetivos específicos, e eliminando os

seus hábitos destrutivos. Como referi anteriormente, cada um de nós tem dentro de si

o potencial latente de grandeza e capacidades ilimitadas.

Um privilégio do ser humano, é que podermos observar os nossos pensamentos, e

quando nos tornamos conscientes deles podemos mudar. Podemos quebrar os velhos

hábitos que distorcem o nosso pensamento e reinventar um novo eu. Aquilo que

vamos sendo no nosso dia-a-dia cria a nossa realidade pessoal. Se não estamos

contentes com aquilo que somos ou que temos, podemos sempre passar a ser de

outra forma, para obtermos aquilo que queremos obter. Mas como? Focando a nossa

atenção consciente nos pensamentos que escolhemos ter, e seguindo-os.

No livro: Evolve Your Brain, Dr. Joe Dispenza diz-nos: "Se você conseguir manter a

sua atenção numa possibilidade futura, você pode fazer com que o pensamento seja

mais real do que qualquer outra coisa, você pode fazer desse pensamento uma

experiência. Se conseguirmos fazer com que o nosso cérebro trabalhe de maneira

diferente, estamos mudando a nossa mente.

O que proponho, e o que apresento são formas de você conseguir mudar a sua

mente, através da capacidade de ficar ciente dos seus próprios pensamentos e dos

possíveis erros de raciocínio, e intencionalmente, por ação do seu querer e respetivo

conhecimento, implementar outros pensamentos mais funcionais, positivos, assertivos

e focados na obtenção dos resultados desejados.

A mudança é inevitável: Vamos mudar para melhor?

A mudança parece ser algo inevitável na era da Informação. Mas será que é? É

possível que toda a nossa cultura tecnológica esteja a promover um vício com o

mundo externo e a homogeneizar as comunidades? É uma sociedade empenhada em

encontrar a satisfação nos estímulos externos propensos ao conforto e à

conformidade e a tornar-nos menos prováveis de procurar, e abraçar a mudança?

Vamos focar-nos no que a neurociência e a biologia têm a dizer sobre a mudança. A

Page 18: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

16

teoria neuro-científica atual, diz-nos que o cérebro é organizado para refletir tudo o

que percebemos no nosso ambiente. As diferentes relações com as pessoas que

conhecemos, a variedade das coisas que possuímos e estamos familiarizados, a

acumulação de lugares que vamos visitando e vamos vivendo em diferentes épocas

das nossas vidas, e a miríade de experiências que abraçamos ao longo dos anos,

estão configurados nos tecidos plásticos do cérebro. Mesmo a matriz enorme de

ações e comportamentos que vamos repetidamente realizando ao longo da nossa vida

também ficam enraizados nas intrincadas dobras da nossa massa cinzenta.

Tendemos a dizer que o nosso cérebro é igual ao nosso meio ambiente.

Portanto, no nosso estado de vigília, à medida que nós interagimos com toda a

diversidade de estímulos no nosso mundo externo, é o ambiente que ativa os

diferentes circuitos no cérebro e, como resultado, que começam a pensar (e reagir)

igual ao meio ambiente. Como este processo ocorre, então, o nosso cérebro, aciona

circuitos familiares que refletem experiências conhecidas do passado, já instituídas.

Quando refletimos sobre o que nos rodeia, pensamos de forma familiar e automática

de acordo com as redes neuronais que foram sendo construídas pelas experiências

vividas. Se acreditarmos, ou tivermos a noção de que os nossos pensamentos ou as

nossas ações nada têm a ver com o nosso futuro, como podemos estar no controle do

nosso destino?

Por outras palavras, num dia normal, à medida que nós, consciente ou

inconscientemente respondemos às pessoas próximas, assim como reconhecemos

uma série de coisas comuns em diferentes lugares conhecidos, e quando nós

experimentamos as mesmas condições no nosso mundo pessoal, vamos, muito

provavelmente, pensar e agir de determinadas formas automáticas já memorizadas.

Para mudar, é necessário começar a pensar e agir de maneira diferente das nossas

circunstâncias presentes. É preciso pensar maior e de forma diferenciada do nosso

meio ambiente.

Num passado recente, foi-nos transmitido que o nosso cérebro é essencialmente

formado por um circuito imutável, que possuí, ou melhor, é possuído por uma espécie

de neurorigidez que se reflete num tipo de comportamento inflexível e habitual que

muitas vezes vemos exibido. A verdade é que o nosso cérebro é uma maravilha da

adaptabilidade, flexibilidade e possui uma neuroplasticidade que nos permite

Page 19: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

17

reformular e reprogramar as conexões neuronais para produzir o tipo de

comportamentos que queremos. A neurociência tem vindo a constatar que temos

muito mais poder de alterar o nosso próprio cérebro, nossos comportamentos, nossa

personalidade e, finalmente, a nossa realidade, do que se pensava ser possível. Que

dizer sobre os indivíduos que ficaram na história, por conseguirem ultrapassar as

circunstâncias, elevando-se acima dos violentos ataques da realidade que se

abateram sobre eles, fazendo mudanças significativas na sua vida?

Por exemplo, o Movimento dos Direitos Civis não teria tido os seus efeitos de elevado

impacto, se alguém como Martin Luther King, Jr., não tivesse, apesar de todas as

evidências contra as suas ideias, acreditado na possibilidade de uma outra realidade.

Embora o Dr. King expressasse no seu famoso discurso, "Eu tenho um sonho", o que

ele estava realmente a promover e a viver era um mundo melhor, onde todos tinham

direitos iguais. Como ele foi capaz de fazer isso? Simplesmente colocou as suas

intenções na sua mente, ele viu, sentiu, ouviu, viveu e respirou uma realidade

diferente da maioria das pessoas naquela época. Foi o poder da sua visão que

convenceu milhões de pessoas da sua causa. O mundo mudou por causa da sua

capacidade de pensar e agir acima das crenças convencionais.

A neurociência tem vindo a mostrar que podemos mudar o nosso cérebro pensando

de forma diferente numa base consistente. Através do conceito de ensaio mental

(repetidamente imaginar realizar uma ação na mente ou pensar em algo

repetidamente), os circuitos neuronais no nosso cérebro podem reorganizar-se para

refletir as nossas intenções. Num estudo, as pessoas que foram ensinadas a ensaiar

mentalmente um exercício de contração e extensão com os dedos da mão direita

durante duas horas por dia, durante cinco dias, demonstraram as mesmas alterações

no cérebro que as pessoas que realizaram fisicamente os mesmos movimentos.

Traduzindo esta ideia na prática quer dizer que, quando estamos realmente focados

intencionalmente em algo, o cérebro não sabe a diferença entre algo real e algo

imaginado.

Por causa do tamanho do lobo frontal e da nossa habilidade natural para tornar os

nossos pensamentos mais reais que qualquer outra coisa, este tipo de processamento

interno permite ficarmos tão envolvidos nos nossos sonhos e representações internas

que o cérebro consegue modificar a sua estrutura de redes neuronais sem ter

Page 20: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

18

experimentado o evento real. Isto significa que nós podemos mudar a nossa mente

independente dos estímulos ambientais, se insistirmos numa ideia, focando a nossa

atenção de forma sustentada o cérebro estará à frente da experiência externa real.

Por outras palavras, o cérebro irá funcionar como se a experiência já estivesse a

acontecer. Dado que o cérebro muda antes do evento futuro realmente ocorrer, se nós

abraçarmos as próprias circunstâncias que desafiam a nossa mente, dado que não há

evidências da nossa realidade particular que continuamente insistimos, vamos

conseguir criar os circuitos apropriados que suportem as nossas intenções.

Reinstalámos novo hardware para podermos operar novo software.

O que permitiu a Martin Luther King, Jr. mudar o curso da história e do mundo, foi que

a sua mente e corpo ficaram unidos e a trabalhar em uníssono para a mesma causa.

Ou seja, ele não pensou e disse uma coisa e depois comportou-se contrariamente às

suas intenções. Os seus pensamentos e ações terão ficado totalmente alinhados com

o resultado pretendido. Quando conseguimos focar a nossa mente num objetivo

desejado e, disciplinar o corpo para agir de forma consistente e em alinhamento com

isso, aumentamos a probabilidade de realizarmos o que queremos. Passamos

virtualmente a viver o futuro pretendido, embora ainda não possamos fisicamente

experimentar essa realidade com os nossos sentidos. No entanto, a nossa visão pode

tornar-se tão vivida na nossa mente que o cérebro e o corpo começam a mudar, a fim

de nos preparar para a nova experiência. Num estudo, alguns homens que ensaiaram

mentalmente o exercício de bícepes com halteres por um curto período de tempo

todos os dias, mostraram (em média) um aumento de 13 por cento no tamanho do

músculo, sem nunca se exercitarem realmente com os pesos. Os seus corpos foram

alterados para corresponder às suas intenções.

A saber: Então, quando chegar a hora de seguir uma visão contrária às condições

ambientais que nos chegam através dos estímulos externos, é bem possível que

estejamos já preparados para pensar e agir, com uma convicção firme e

inabalável. Na verdade, quanto mais pensarmos ou formularmos uma imagem do

nosso comportamento num evento futuro, mais fácil será para nós agirmos de

acordo com um novo modo de ser, porque a mente e o corpo estão previamente

unificados para esse fim.

Page 21: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

19

Emoções e sentimentos solidificam a mudança

Então quais são os elementos ou pontos chave da verdadeira mudança? A resposta é:

os nossos sentimentos e as nossas emoções. Os sentimentos e as emoções são os

produtos finais de uma experiência. O fim último de qualquer ação, atividade ou

pensamento é experienciar um sentimento. Quando estamos envolvidos numa

qualquer experiência, todos os nossos cinco sentidos recebem dados sensoriais numa

corrida de informação que é enviada para o cérebro através desses cinco caminhos

diferentes. Quando isto ocorre, uma enorme quantidade de neurónios disparam,

organizando-se para refletir na nossa mente, e igualmente no corpo, esse evento. No

momento em que um conjunto de células nervosas se padroniza em redes neuronais,

elas disparam em conjunto e libertam substâncias químicas para o nosso organismo.

Essas substâncias químicas que são libertadas, são chamados de emoções.

Emoções e sentimentos são, então, memórias neuro-químicas de eventos passados.

Podemos lembrar melhor algumas experiências, porque conseguimos lembrar de

como nos fizeram sentir. Por exemplo, você lembra-se onde estava no 11 de

Setembro? Você provavelmente pode recordar muito bem onde estava naquele dia, o

que estava a fazer e eventualmente com quem estava, porque consegue lembrar-se

do sentimento que prendeu a sua atenção em tudo o que estava causando essa

mudança química interna.

Se as emoções marcam as experiências na memória de longo prazo, então, quando

nos deparamos com os obstáculos existentes na nossa vida que requerem novas

formas de pensamento e comportamento, se usarmos os sentimentos familiares como

um barómetro para a mudança, certamente iremos reagir fora do nosso ideal. Pense

sobre isso. Os nossos sentimentos, na grande maioria das vezes refletem o passado.

Os nossos sentimentos são-nos familiares no sentido de que já foram experienciados.

Para mudar é necessário abandonar antigas maneiras de pensar, agir e sentir, para

que possamos avançar para o futuro com um novo resultado em mente. Para mudar é

necessário pensar (e agir) acima do que sentimos, temos de conseguir distanciar-nos

dos sentimentos familiares anteriores enraizados que nos remetem para atitudes e

comportamentos passados. Emoções como o medo, preocupação, frustração, tristeza,

ganância e raiva são sentimentos familiares que, quando se fazem sentir e decidimos

sucumbir, certamente irão conduzir-nos na direção errada. Provavelmente, voltaremos

Page 22: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

20

para o antigo eu, impulsionado por essas mesmas emoções e executando os mesmos

comportamentos.

Podemos então começar a contemplar a mudança por nós mesmos? Para poupar

tempo é preciso começar a conseguir pensar independente da enxurrada de estímulos

ambientais, é uma habilidade que, quando executada corretamente, vai mudar o

cérebro, a mente e o corpo, preparando-nos para o futuro. A arte da auto-reflexão está

a cair em desuso numa cultura tecnológica que satura-nos com tanta informação.

Corremos o risco elevado de ficarmos viciados no mundo externo, ficando à mercê

das condições externas para estimularem o nosso próprio pensamento. Seremos

assim tão livres? Agimos e reagimos sem reflexão, presos a velhos conceitos e a

velhas formas de olhar o mundo. Para termos tempo para refletir, para lembrar-nos de

novas formas de viver menos dependentes do mundo externo, para planejar o nosso

futuro, para ensaiar mentalmente os comportamentos que queremos mudar e pensar

em novas maneiras de ser, certamente temos de colocar à prova as formas de

pensamento incapacitante, crenças disfuncionais, sentimentos paralisantes e

reinventar-nos.

Page 23: Como mudar a sua vida para melhor

21

CAPÍTULO 2

CRESCIMENTO E PROTEÇÃO

O medo como promotor ou inibidor do desenvolvimento

Bruce Lipton, um reputado biólogo celular autor do livro, The Biology of Belief (A

Biologia da Crença - Ed. Butterfly), diz-nos que qualquer sistema vivo tem dois

comportamentos principais, crescimento e proteção. Ambos são necessários para a

sobrevivência. O problema é que o sistema foi concebido apenas para respostas

curtas ou agudas de proteção e, portanto, estar em crescimento a maior parte do

tempo. No entanto, o mundo em que vivemos incute-nos tanto medo que passamos

muito do nosso tempo em modo de proteção. E estar demasiado tempo no estado de

proteção tem consequências biológicas, as células não conseguem estar em dois

Page 24: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

22

estados antagónicos ao mesmo tempo, em crescimento e proteção. Ao nível mais

simples, as células respondem tanto a um estado como ao outro. Se vivemos num

ambiente ameaçador, ou percepcionamos um ambiente ameaçador, recebemos ou

criamos sinais que informam as células que precisam ficar num estado de proteção.

As células deixam de crescer e, como resultado, começamos lentamente a mudar a

nossa fisiologia, atingindo um estado que não suporta o nosso próprio crescimento e

manutenção. Os seres humanos precisam crescer a cada dia da sua vida. No entanto,

se vivermos num ambiente de medo, o nosso corpo vai reagir induzindo um estado de

proteção que é incompatível com o bom desenrolar da vida, prejudicando-nos.

Do ponto de vista biológico, o nosso sistema corporal pode estar em crescimento ou

proteção apresentando muitas variáveis. O corpo possui dois sistemas que lidam com

o crescimento e proteção.

1. O Sistema Visceral (é o sistema predominante durante o "crescimento") fornece

suporte metabólico e é composto por respiração, digestão, excreção, reprodução e

proteção interna.

2. O Sistema Somático (é o sistema predominante durante a "Proteção") fornece

suporte físico e é composto de tecido conjuntivo, aparelho musculoesquelético e

proteção externa.

O Sistema Endócrino é a chave mestre do corpo, alternando entre o crescimento e a

proteção, o sistema visceral ou somático. Estes sistemas estão ligados pelo Sistema

Nervoso Autónomo que se divide em sistema simpático e sistema parassimpático.

Quando um sistema está em "crescimento", o sistema visceral está no comando. Mas

quando a nossa percepção de ameaça desencadeia o Sistema Endócrino, e este

envia um sinal de proteção, o sistema somático toma a dianteira e aciona o "modo de

proteção." O fluxo de sangue é expelido para fora das vísceras e é canalizado para os

músculos e sistema esquelético. Simultâneamente o fluxo de sangue no cérebro é

suprimido no lobo frontal (planejamento de ações, pensamento abstrato, funções

executivas) e encaminhado para o tronco cerebral primário responsável pelas

respostas de "luta ou fuga". Assim o pensamento racional diminui e os processos

Page 25: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

23

instintivos são acelerados. Se você já se sentiu confuso e incapaz de pensar, é porque

mudou para o modo de proteção.

Se você se sentiu desconfortável, sentindo borboletas no estômago, é porque o fluxo

de sangue saiu dessa área dirigindo-se para os grandes músculos das pernas e

braços, preparando o corpo para a ação, para a proteção. O problema com o estado

de proteção começa a fazer sentir-se quando a pessoa repetidamente aciona este

mecanismo. Como o estado de proteção e crescimento são antagónicos, ficar

demasiado tempo no estado de proteção inviabiliza o desenvolvimento do organismo e

consequentemente a recuperação dos tecidos internos, afetando a nossa saúde.

Ouvimos falar destes malefícios sempre que alguém se refere às questões prejudiciais

provocadas pelo stress. O stress lesivo é devido à exacerbação do estado de proteção

do corpo. Medo, stress, ansiedade, preocupação, estão todos interrelacionados

porque utilizam os mesmos mecanismos e sistemas do corpo, que quando se fazem

sentir demasiado tempo, prejudicam-nos.

A anterior explicação um pouco mais técnica, tem como objetivo perceber que o nosso

organismo tem uma forma ótima de funcionamento e, que quanto mais entendermos e

nos comportarmos de acordo com os mecanismos e sistemas internos que facilitam e

promovem a saúde, bem-estar e felicidade melhor será o nosso desempenho nas

coisas a que nos propomos e, consequentemente promovemos o nosso crescimento e

desenvolvimento.

O condicionamento do medo

Mas porque razão ao longo da nossa vida vamos generalizando o medo às mais

variadas situações da vida? Porque vamos ficando condicionados, porque vamos

associando sensações físicas de mal-estar que nos inibem, que nos prejudicam a

confiança, diminuem a nossa autoestima e pior que tudo, colocam o nosso corpo num

estado de retração que nos retira capacidade e nos afeta cada célula no nosso

organismo.

Mas como funciona o condicionamento do medo? Quais são os mecanismos

neuronais que lhe estão subjacentes? Para entender o que é o condicionamento do

Page 26: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

24

medo, devemos primeiro entender o que significa o termo condicionamento. O

condicionamento clássico é um tipo de aprendizagem, em que um estímulo neutro,

que inicialmente não provoca resposta numa determinada situação (estímulo

condicionado), é emparelhado com um estímulo que provoca uma forte resposta

(estímulo incondicionado). Se os estímulos condicionados e incondicionados são

apresentados consecutivamente e repetidamente, a pessoa vai associar o primeiro

estímulo com o segundo, e vai reagir ao primeiro estímulo por si só.

A experiência de Pavlov com cães em 1901 é talvez o mais famoso dos experimentos

de condicionamento clássico. Descobriu que quando se apresentavam alimento aos

cães, este salivavam. Quando se tocava o som de um sino isoladamente não era

evocada nenhuma resposta similar. No entanto, após o sino ser emparelhado com o

alimento em vários ensaios, o som do sino por si só, gerava salivação. O som do sino

passou a ser um estímulo condicionado, e a salivação era uma resposta condicionada.

O cão havia sido condicionado a responder ao sino.

O condicionamento do medo é simplesmente o condicionamento clássico, onde o

estímulo incondicionado evoca medo e, portanto, uma resposta de medo é provocado

mediante a apresentação do estímulo condicionado. É um dos mecanismos de

sobrevivência, de modo que as situações perigosas podem ser evitadas depois de

saber que têm efeitos desagradáveis. Este é um dos mecanismos utilizados no

evitamento quando sentimos ansiedade. Sempre que o nosso organismo dispara uma

resposta fisiológica de medo (batimento cardíaco acelerado, sudação, nó na garganta,

agitação motora, entre outros) temos tendência a protejer-nos e a evitar a coisa

temida. O que no nosso dia-a-dia pode provocar terrível incómodo e disfuncionalidade

se evitarmos algo que temos de fazer, como por exemplo fazer uma apresentação oral

em público.

A complexidade do medo

Se você estiver caminhando na sua casa à noite, e ouvir um som suave ou uns

estalidos como se alguém estivesse pisando folhas secas na proximidade,

provavelmente o seu coração começa a bater mais rápido e você tenta perceber quem

Page 27: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

25

ou o que se esconde nas sombras. Você está vivendo uma experiência de medo ou

ansiedade? As diferenças entre estas emoções podem ser confusas. Mesmo na

literatura da psicologia você encontrará frequentemente os conceitos usados como

sinónimos. O medo do desconhecido, o medo de morte, o medo de contaminação, o

medo de voar, medo catastrófico, medo do sucesso, medo do fracasso são

comummente entendidos como um "medo" ainda que essas sensações possam

realmente ser vividas como ansiedade. Da mesma forma, as fobias são consideradas

um transtorno de ansiedade (American Psychiatric Association, 2000), apesar de

pudermos pensar acerca de uma fobia como algo que é temido, seja de insetos,

espaços fechados, alturas, ou contaminação. No entanto, é importante saber

diferenciar o medo da ansiedade, na medida em que pode fazê-lo. Estas emoções

podem transformar-se em comportamentos que podem levá-lo a evitar situações ou

em mecanismos de defesa que podem obscurecer o reconhecimento da realidade e,

consequentemente, têm sido entendidas como pontos chaves para a dinâmica de

alguns transtornos emocionais (Ohman, 2010).

O medo é geralmente considerado uma reação a algo imediato que ameaça a sua

segurança, tal como ser surpreendido por alguém que de repente salta para a sua

frente vindo detrás de um arbusto. A emoção do medo é sentida como uma sensação

de pavor, alertando para a possibilidade de você puder ser prejudicado, motivando-o a

proteger-se. Assim, a reação de "luta ou fuga" é considerada uma resposta ao medo e

descreve o comportamento de vários animais quando eles são ameaçados, lutando,

ou fugindo, a fim de escaparem do perigo. No entanto, também tem sido reconhecido

que os animais e as pessoas têm outros tipos de respostas a uma ameaça: uma

pessoa ou animal pode fingir de morto ou apenas "congelar" em resposta à ameaça,

ou gritar como uma resposta de combate ao invés de entrar em contato físico, ou

isolar-se como uma resposta de fuga. Como resultado, alguns investigadores sugerem

uma versão expandida da resposta de luta ou fuga, ou seja, "paralisar", lutar, fugir ou

assustar (Bracha, Ralston, Matsunaga, Williams, & Bracha, 2004).

Em contraste com o medo, a ansiedade é um estado geral de desconforto que é mais

duradouro do que o medo e geralmente é provocada por algo que não é específico,

ainda que produza excitação fisiológica, como nervosismo e apreensão. No entanto,

ambas as emoções de medo e ansiedade são acionadas em resposta à ameaça. A

melhor forma de esclarecer a diferença é a noção de que a ansiedade gera um

Page 28: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

26

sentimento de mau presságio face à coisa ou situação temida, remetendo-se na

grande maioria das vezes para o futuro, colocando-o em alerta para uma ameaça

futura, o medo dirige-nos imediatamente a uma vontade de defesa, usualmente no

momento presente, como por exemplo, escapar de um desastre iminente (Ohman,

2010).

Há momentos em que o medo sentido em acontecimentos passados pode voltar a

surgir, mesmo que a situação atual não justifique verdadeiramente a necessidade de

ter medo. É o caso verificado no transtorno de stress pós-traumático (TSPT), onde a

consequência de uma situação anterior em que a pessoa estava realmente em perigo

é revivida no presente, sempre que essas memórias emocionais são acionadas.

Embora a pessoa possa intelectualmente saber que está segura, o seu cérebro

automaticamente prepara-se para acontecer o pior (reconhece uma situação idêntica à

que aconteceu antes) o que prova o tremendo poder da memória emocional. A

resposta pós-traumática pode ser desencadeada por uma situação que se perceba

como semelhante a um acontecimento emocionalmente marcante do passado, um

pensamento particular, ou uma associação que traga à tona um evento que é

semelhante a um trauma que a pessoa tenha previamente experimentado.

Uma resposta pós-traumática pode ter a ver com uma situação em que o medo foi a

emoção primária envolvida. O TSPT é considerado um transtorno de ansiedade pela

American Psychiatric Association. O perigo sentido não é real no TSPT, mas é

antecipado ou esperado com base numa experiência prévia. O trauma original

desencadeou medo, e o stress pós-traumático pode desencadear ansiedade que

antecipa o medo.

De uma perspetiva evolucionista, a emoção do medo protege os seres humanos dos

predadores e outras ameaças à sobrevivência da espécie. Então, não é de admirar

que certos perigos evoquem a emoção do medo, uma vez que este ajuda a proteger-

nos, é portanto, adaptativo, funcional e necessário. No entanto, existe um outro aspeto

importante a considerar nas emoções, no caso do medo, pode ser preponderante para

a tomada de decisões, bem como para a sobrevivência. Ou seja, quando uma emoção

é acionada, ela tem um forte impacto sobre os nossos julgamentos, avaliações e

escolhas face às situações do momento. Se estivermos numa altura da nossa vida em

que andamos mais receosos face ao futuro, ou em relação a algo em particular,

Page 29: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

27

tendemos a ter escolhas mais pessimistas, evitamos mais as situações temidas

tornando-nos excessivamente cautelosos ou preocupados.

No capítulo 7, apresento a importância da auto-consciência e do auto-conhecimento

como dois recursos cognitivos necessário e igualmente promotores para

conseguirmos distinguir entre ameaças reais e ameaças criadas pelo nosso sistema

de crenças. Irá aprender e perceber através de uma prática milenar que foi introduzida

como técnica complementar em algumas terapias psicológicas, mais concretamente

na Terapia da Aceitação e Compromisso, como aplicar a mindfulness (atenção plena)

na autoregulação dos seus estados fisiológicos e emocionais.

A saber: A consciência das nossas emoções e considerando o quanto podem

influenciar a nossa decisão numa dada situação, torna-as de extrema importância

para a forma como abordamos a vida, o trabalho, os relacionamentos e objetivos.

O stress promove as nossas incapacidades

Tendencialmente grande parte dos nossos problemas surgem quando estamos

cronicamente stressados, porque os nossos sistemas de crescimento e sistema

imunitário ficam restringidos ou fechados.

Podemos ficar stressados pelos nossos sistemas de crença. No Capítulo 6 você irá

entender o poder das crenças e da sua importância para a mudança positiva na sua

vida.

Então, se nós andamos recorrentemente abatidos por influência do inverno, dos dias

mais curtos, e voltamos da escola ou trabalho, sentindo-nos mais stressados, é natural

que o nosso corpo entre em modo de proteção e diminua a atividade do sistema

imunitário. Podemos ficar temporariamente deprimidos, mais ansiosos, apanhar um

resfriado ou gripe. Talvez alguns desses organismos oportunistas já estivessem

latentes, bactérias, vírus ou agentes patogénicos apenas esperando a chance de obter

uma posição vantajosa sobre o sistema imunitário. E se fossemos capazes de

promover a nossa saúde, capacidade e bem-estar emocional na nossa vida? E se nós

realmente conseguíssemos fazer isso? Então, certamente não enviariamos sinais de

Page 30: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

28

stress lesivo de forma recorrente para o nosso sistema imunitário, ele não

enfraqueceria, e evitaríamos grande parte das doenças físicas e mentais. Iríamos

conseguir permanecer mais tempo no modo de crescimento, construindo um maior

bem-estar, felicidade, amor e paixão nas nossas vidas.

Não só somos mais suscetíveis a doenças quando estamos períodos prolongados

num estado de stress, como também somos afetados na nossa inteligência. Como

referi anteriormente, o stress, preocupação, ansiedade e medo, podem acionar a

resposta de "luta ou fuga" fluindo menos sangue para as regiões no cérebro

responsáveis pelo pensamento analítico e racional.

Page 31: Como mudar a sua vida para melhor

29

CAPÍTULO 3

PRECOCUPAÇÃO EXCESSIVA

Sentimento de perda e desafio

A preocupação é uma forma subjetiva de sentir medo. Sempre que sentimos medo de

algo, acionamos o mecanismo da preocupação numa tentativa de monitorizar a

possível ameaça e consequentemente protejer-nos. É na construção da possível

proteção face à ameaça que a preocupação pode tornar-se benéfica ou prejudicial. Às

vezes, todos nós temos preocupações. Ocasionalmente, por uma boa razão. Mas a

preocupação também pode ficar fora do nosso controle, ao ponto de perder o seu

Page 32: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

30

valor, tornando-se excessiva e consequentemente prejudicial. O medo, a preocupação

e a ansiedade estão intimamente relacionados.

A ansiedade pode manifestar-se de muitas maneiras, incluindo preocupação

excessiva e persistente. Por exemplo, no Transtorno de Ansiedade Generalizada, a

ansiedade excessiva e preocupação (expetativa apreensiva) sobre eventos tais como

o desempenho na escola ou no trabalho esteve presente a grande maioria dos dias

por um período de pelo menos seis meses. Por definição, esta contínua preocupação

é de difícil controle e causa sofrimento clinicamente significativo e/ou prejuízo no

funcionamento social, ocupacional ou outras atividades diárias. Ironicamente, a

preocupação que normalmente é uma tentativa de antecipar e impedir que coisas

ruins aconteçam, tende a fazer com que a pessoa fique ainda mais ansiosa, criando

um interminável e constante crescente ciclo vicioso de preocupação e ansiedade

(mais preocupações, mais ansiedade). Porque nos preocupamos tanto? O que é

exatamente isso de ficarmos preocupados? E como podemos preocupar-nos um

pouco menos?

Tememos o futuro

Primeiro e acima de tudo, tememos o futuro. O desconhecido. A capacidade

extraordinária que o nosso lobo frontal tem, permite que nos preocupemos com o que

vai acontecer-nos, à nossa família, nosso parceiro, nosso negócio, nosso dinheiro,

nossa casa, nossas posses, nosso país, no mundo, etc. Nós vivemos num universo

que é inerentemente imprevisível e por vezes perigoso. Quando nos sentimos

ameaçados direta ou indiretamente dispara em nós um sinal de alarme que é sentido

através dos sintomas da ansiedade, esta ansiedade sentida faz disparar a

preocupação que induz a pensarmos numa forma de restabelecermos o equilíbrio,

eliminar ou lidar com a ameaça. A preocupação é sentida no presente e tem sempre

um pé no futuro, é direcionada a algo que pode estar a acontecer ou que irá

acontecer.

A ansiedade é sentida no nosso corpo através de sintomas físicos, como o batimento

cardíaco acelerado, sudação, nó na garganta, borboletas no estômago, tensão

Page 33: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

31

muscular, entre outros. Mas, a ansiedade também tem uma manifestação na nossa

mente, chama-se ansiedade cognitiva, que é uma forma de preocupação. São um

conjunto de pensamentos que temos acerca da identificação da possível ameaça no

ambiente e ainda a avaliação acerca do que sentimos no nosso corpo. A ameaça no

ambiente nem sempre é uma ameaça direta como se alguém nos apontasse uma

arma, podemos igualmente sentir-nos ameaçados pela possibilidade de perdermos o

emprego, não passar num exame, terminar um relacionamento ou estarmos à beira de

perder a nossa casa. Em qualquer das situações, temos a noção da nossa

preocupação devido à capacidade que temos para monitorizar a ameaça.

Preocupação normal e patológica

Quando a nossa preocupação e monitorização da ameaça fica única e exclusivamente

centrada em nós mesmos, naquilo que sentimos no corpo e naquilo que nos passa na

mente, na forma de pensamentos acerca do medo que temos do que estamos a sentir

(sensações físicas desagradáveis) ser ruim, prejudicar a saúde, ficarmos loucos ou

levar à morte, desenvolvemos ansiedade e preocupação patológica. Este cenário

usualmente está relacionado com a experiência de ataques de pânico. Desenvolve-se

quando começamos a ter medo de vir a sentir medo. Preocupamo-nos acerca da

possibilidade de nos preocuparmos. E que os pensamentos que dão conteúdo à

preocupação podem ser prejudicais.

A ansiedade e a preocupação são reações normais, por vezes úteis e bem vindas. No

entanto ficarmos exageradamente preocupados acerca da nossa ansiedade e da

nossa preocupação, pode originar um ciclo vicioso que nos causa enorme transtorno.

A saber: Quando nos recusamos a aceitar e tolerar a ansiedade como uma parte

inevitável da nossa existência, paradoxalmente promovemos o aparecimento da

ansiedade patológica e preocupações excessivas.

Algumas preocupações com o futuro podem ser inevitáveis, e, em certas situações,

necessárias e potencialmente úteis. A ansiedade permite-nos antecipar (identificar) o

perigo, detetar e lidar com as ameaças fundamentais para a nossa sobrevivência

básica, para motivar e energizar-nos, para nos avisar quando não estamos a

Page 34: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

32

comportar-nos de acordo com os nossos objetivos ou traímos os nossos valores

básicos, para crescer com maior consciência e tornarmo-nos mais criativos. Mas

quando tentamos evitar ou reprimir essa ansiedade saudável por negar a realidade e

os nossos verdadeiros sentimentos, transforma-se em algo tóxico, tomando a forma

neurótica de tensão persistente, preocupação crónica e fadiga, sono perturbado, dores

de cabeça, hipervigilância, irritabilidade, agitação, incapacidade de concentração,

problemas digestivos e outros problemas físicos, ataques de pânico, paranóia e uma

miríade de outros debilitantes sintomas psicológicos. E, a preocupação acerca destes

sintomas, causa ainda maior ansiedade.

Preocupação com as expetativas

A preocupação pode também dizer respeito a querer sermos vistos pelo mundo como

nós desejamos. E desejarmos ver-nos a nós mesmos como queremos ser vistos.

Quando estamos investindo fortemente em projetar e manter uma certa imagem ou

personalidade para os outros, e isso passa a ser uma expetativa elevada e rígida,

tornarmo-nos demasiado vigilantes de nós mesmos, como se alguns dos nossos

comportamentos fossem uma ameaça. Nós passamos a preocupar-nos com a

exposição. Podendo emergir problemas como o medo de falar em público, ou

evitamento de exposição social.

Podemos ganhar medo de ser confrontados com quem somos e o que realmente

somos. Inerentemente temos receio do desconhecido, temos relutância em sair da

nossa zona de conforto. Sentimo-nos melhor quando conseguimos ter controle sobre

as situações, quando são conhecidas ou muito idênticas a experiências já vividas.

Temos igualmente receio de que os outros possam vir a saber das nossas

insegurança, incertezas, receios, dificuldades, o que nos leva à precaução. Mais uma

vez tudo isto pode ser considerado “normal”. No entanto, quando a preocupação

acerca desses assuntos se torna excessiva, nos empurra para um elevado foco na

antecipação dos resultados e no receio dos mesmos poderem vir a ser defraudados,

torna-se prejudicial.

Page 35: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

33

Podemos vir a ter pensamentos do tipo: “E se eu não posso esconder meus

sentimentos? Minha insegurança? Meu amor? Minha tristeza? Minha raiva? Minha

carência? Minha vulnerabilidade? Meu verdadeiro eu?”

Todos gostamos de ser amados, aceites e reconhecidos como pessoas de valor.

Quando entramos num ciclo negativo de nos preocuparmos com o que as pessoas

vão pensar de nós e se elas sabem que temos ansiedades e inseguranças, pode ser

catastrófico. Afeta-nos a autoestima e autoconfiança, aumentando ainda mais as

inseguranças e as incertezas. Então, a pessoa dedica-se arduamente em preocupar-

se sobre como esconder a ansiedade e vergonha, o que só torna isso mais forte e

duplamente difícil de disfarçar. Um ciclo negativamente repetitivo. A pessoa retrai-se,

protege-se, evita, restringe a sua vida e inibe os seus recursos, aciona ao seu modo

de proteção, que como sabemos quando ativado tempo excessivo é prejudicial.

O que pode ser feito?

Então, qual é a solução para este dilema castrador? Como podemos parar a nossa

preocupação excessiva? A Terapia Cognitivo-Comportamental tenta levar a que as

pessoas percebam que a sua preocupação excessiva é irracional e contraproducente

(não serve o propósito para o qual está focada). Que não é útil, pelo contrário,

aumenta a ansiedade, e não faz nada para impedir que aquilo sobre o qual nos

preocupamos ocorra. A “Catastrofização”, por exemplo, é um tipo muito comum de

preocupação em que imaginamos o pior cenário possível, mesmo para eventos

relativamente insignificantes. No entanto, na realidade, tais resultados cataclísmicos

felizmente raramente ocorrem.

Então, porque razão continuamos a fazer isso a nós mesmos? Porque a

preocupação crónica e a ansiedade ”negativa”, são por definição, não racionais. No

entanto, não é impeditivo que possamos vir a entender melhor a ansiedade e a

preocupação. Mais conhecimento, trás mais esclarecimento, e mais esclarecimento é

necessário para percebermos com o que é que estamos a lidar.

Page 36: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

34

A ansiedade pode ser o nosso melhor professor. Portanto, a questão crucial é saber

se estamos dispostos a parar de nos preocuparmos o tempo suficiente para perceber

o que a nossa ansiedade tem para nos dizer.

A Utilidade da ansiedade:

Serve para aprofundar mais plenamente o conhecimento da própria ansiedade

em vez de fugir dela?

Para ser mais presente com ela. Isso é um aviso de algum tipo? Um alarme?

Uma tiróide hiperativa ou talvez um sinal de alguma doença latente do foro

fisiológico?

Um subproduto de algum estimulante psicoativo, como cafeína, nicotina,

cocaína ou anfetaminas?

Um ”sinal”, para ativarmos algumas ferramentas psicológicas?

Uma necessidade urgente interior para a ação?

Anunciar a necessidade premente de alterar a nossa vida, a nossa

personalidade, os nossos relacionamentos, a nossa visão de mundo?

Para viver em maior alinhamento com o nosso verdadeiro temperamento?

Estabelecer um melhor equilíbrio entre as nossas atitudes e estilo de vida?

Para buscar um novo sentido de propósito e significado espiritual?

Encontrar um trabalho mais gratificante?

Ou será que a ansiedade às vezes pode ser um toque de clarim a um estímulo

para uma maior expressão criativa?

Devemos aprender a aceitar e a tolerar a nossa ansiedade, e que um pouco de

ansiedade é o preço inevitável de ser livre, consciente, mortal e responsáveis por nós

mesmos. Mas isso é necessariamente assim? No budismo, por exemplo, o sofrimento

(o que certamente inclui preocupação e ansiedade) é visto como a consequência de

ter muita vontade, ou apego. Apego às coisas materiais. Desejar ter certos

sentimentos e experiências, e outros não. O que coloca imediatamente a pessoa

numa situação desvantajosa sempre que sente o que não quer, porque

inevitavelmente em determinada altura irá sentir e ter (sentimentos e pensamentos

negativos).

Page 37: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

35

A reter: O incómodo da preocupação não reside no aparecimento de pensamento

inquietantes na sua mente, mas sim na importância e no foco que lhes dá após o

seu aparecimento.

A libertação da preocupação é muito mais fácil dizer do que fazer. E, eu também não

pretendo passar a mensagem que deveremos eliminar, suprimir ou impedir-nos de nos

preocuparmos, de todo. Até porque isso é na realidade virtualmente impossível de ser

feito. O que pretendo transmitir é que os sintomas da ansiedade e da preocupação

são estímulos sentidos por nós, exteriores ou interiores, e que estamos inerentemente

e geneticamente preparados para sentir. Não há como não sentir, ou evitar que

determinados pensamentos nos cheguem à mente.

Mas, aquilo que podemos fazer, é:

Aceitar que temos uma predisposição para ter sensações desagradáveis no

nosso corpo, e que elas servem um propósito: Transmitir informação.

Que essas sensações desagradáveis, vão ativar determinados pensamentos

de preocupação e ruminação no sentindo de nos protegermos da possível

ameaça. E que esses pensamentos são eventos mentais e não

necessariamente acontecimentos reais.

Temos de perceber se essa proteção é necessário, se nos serve, ou pelo

contrário, se nos prejudica.

Devemos separar-nos, desapegar-nos dessas sensações e pensamentos

negativos, no sentido de não reagirmos de imediato, e não nos confundirmos e

fundirmos às más sensações e pensamentos de preocupação irracional.

Agir de acordo com os nossos objetivos, valores e desafios, preparando-nos

para a ação, ao invés de agir de acordo com os medos, receios, inseguranças,

que nos preparam para o evitamento.

É imperativo percebermos que a ansiedade, é exacerbada ou promovida sempre que

preocupações irracionais diárias conduzam a pessoa à evasão ou evitamento.

Quando as nossas preocupações irracionais são cuidadosamente examinadas e

percebidas como conclusões lógicas, o medo profundo instala-se. O caso mais

pragmático deste tipo de preocupação que leva ao medo é o desenvolvimento do

Page 38: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

36

Transtorno Obsessivo-compulsivo. Normalmente trata-se de ideias exageradas e

irracionais com a saúde, higiene, organização, simetria, perfeição ou manias e “rituais”

que são incontroláveis ou dificilmente controláveis.

Como Woody Allen disse uma vez: “Eu não tenho medo da morte. Eu só

não quero estar lá quando acontecer.”

Mas o que acontece quando não temos mais medo de ter medo, mas sim aceitá-lo

como mera contrapartida necessária para a vida, como a escuridão é a contrapartida à

luz? Quando abraçamos o sofrimento como a contrapartida necessária do prazer,

alegria e felicidade? Pólos opostos da mesma existência. E quando vemos que não há

realmente nenhuma coisa como a segurança na vida. Exceto a sensação de

segurança que vem de dentro. A segurança que iremos acabar por encontrar uma

maneira de lidar com a situação, e que nada é permanente e imutável. É como que

encontrar uma ”sabedoria na insegurança”. Percebemos que a nossa constante

preocupação sempre foi uma maneira de negar esses fatos existenciais. De escapar

do presente. De evitar a nossa ansiedade existencial. De tentarmos convencer-nos de

que temos mais controle sobre a vida do que realmente temos.

Devemos enquadrar de forma racional e assertiva as nossas ilusões de controle,

aceitando a nossa impotência em relação à vida e à morte, ou a querer

antecipadamente certificarmo-nos que determinada coisa irá acontecer como

pretendemos. Devemos aceitar-nos com as condições humanas que possuímos,

incluindo a nossa ansiedade, isso pode ser extremamente libertador para que

possamos mudar aquilo que somos ou pretendemos vir a ser. Este tipo de

entendimento pode permitir-nos parar de preocuparmo-nos tanto, e continuarmos a

viver de forma agradável a nossa vida. O futuro é um mundo de possibilidades que

acabará sempre por revelar-se, tanto mais, quando mais trabalharmos para promover

a possibilidade que queremos ver realizada. Faça planos e decisões necessárias. Mas

não se focalize apenas sobre isso ou nos seus resultados desejados. Focalize-se

igualmente no que está acontecendo agora, neste exato momento, no que lhe provoca

ansiedade, no que é doloroso, difícil ou irritante, e não antecipar ansiosamente o que

pode ou não acontecer.

Page 39: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

37

Na presença da ansiedade, da preocupação excessiva e ruminação, quando

entendidas como prejudiciais, foque-se em estratégias de redução das sensações

físicas desagradáveis, e em estratégias que permitam acalmar a mente. Esforce-se

por encurtar o tempo que permanece em modo de proteção, implementando

estratégias que pouco a pouco permitam que transite para o modo de crescimento e

desenvolvimento, retomando o equilíbrio interno, físico e emocional.

Respiração profunda e relaxamento

Se deliberadamente conseguirmos relaxar os músculos começamos a acalmar,

diminuímos a tensão e aumentamos a clareza de pensamento. Se você praticar o

relaxamento muscular sem a presença de uma ameaça, este exercício vai-se tornando

automático podendo posteriormente ser usado em situações ansiosas.

A respiração profunda que também pode ser usada conjuntamente com o relaxamento

permite uma desativação fisiológica, promovendo igualmente sensações de leveza,

descontração, tranquilidade e clareza de pensamento.

Exemplo:

Na posição de deitado, com as costas bem assentes no chão (ou colchão) e em

ambiente calmo e de preferência sem ruídos de fundo, execute os seguintes passos:

Feche os olhos e foque-se na sua respiração, (uma das formas de focar a

atenção é escutar o som da respiração) faça isso durante 1 minuto.

É possível que existam algumas interferências de imagens e pensamentos, volte

rapidamente a estar atento e a escutar a sua respiração.

À medida que vai respirando, e que vai escutando a respiração, verifique se fica

mais tranquilo e relaxado. Observe que à medida que consegue focar a sua

atenção na respiração durante mais tempo que o corpo fica mais relaxado e a

mente mais tranquila.

Page 40: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

38

Agora, foque a sua atenção no modo como respira. Se conhecer o modo como

respira habitualmente, poderá usar a respiração para se relaxar em momentos

que se sinta ansioso.

Concentre-se nas partes do seu corpo (tórax) que usa para respirar. Sinta como

os diferentes músculos se movem durante a inspiração e a expiração, sinta isso.

Esteja tento a todas as sensações que sente quando respira. Memorize essas

sensações, para poder reproduzi-las em situação em que se sente ansioso.

Agora, coloque uma mão em cima do peito e outra sobre o seu estômago.

Note os movimentos de expansão e de contração do peito, à medida que inspira

e expira.

Note os movimentos de expansão e de contração do estômago, à medida que

inspira e expira. Foque-se nessas sensações durante 1 minuto.

Em seguida sempre que verificar que está a respirar pelo tórax, mude para os

músculos do estômago.

Em seguida foque-se na expiração, liberte o ar por entre os lábios, para controlar

a sua saída…verifique se são os músculos do abdómen e do diafragma que se

contraem.

Repita o processo demorando o dobro do tempo para expirar do que a inspirar o

ar.

Page 41: Como mudar a sua vida para melhor

39

CAPÍTULO 4

O MEDO

Um potenciador de objetivos

O medo é um sentimento incapacitante como já pudemos concluir. Pode chegar a ser

aterrador, inviabiliza os nossos movimentos e ações no dia-a-dia e pode transformar a

nossa vida num inferno. Enfrentá-lo é superá-lo. No entanto o medo mobiliza uma

enorme quantidade de energia, recruta uma quantidade grande de recursos, prepara-

nos para a luta ou para fugir, e isto é certamente benéfico. Se conseguirmos

aproveitar essa energia e focá-la para alcançarmos um objetivo, conseguimos tirar

proveito daquilo que à partida parecia ser um sentimento inibidor. Se agregarmos ao

Page 42: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

40

medo uma dose de coragem, um fenómeno extraordinário toma conta de nós, dá-se

uma explosão de ações face à coisa temida ou ao nosso objetivo. A energia é assim

canalizada a nosso favor, seja por fugirmos a uma situação que podia constituir um

ameaça ou por decidirmos enfrentá-la.

O general George Patton disse: “O medo mata mais pessoas que a própria morte.” A

morte só nos leva a melhor uma vez na vida, no entanto o medo pode consumir-nos

uma e outra vez, de forma subtil algumas vezes e de forma abrupta de outras. Mas, se

continuamente evitamos os nossos medos, ele irá perseguir-nos tal como um cão

enraivecido. Medo, livre-se dessa sensação incapacitante. A pior coisa que podemos

fazer é fechar os olhos e fazer de conta que ele não existe.

O medo e a dor, devem ser abordados como sinais, como uma fonte de informação,

não para nos toldar o raciocínio e/ou inibir mas sim para trazer clarificação e

discernimento. Se nos inibirmos podemos acabar no lado mais sombrio da nossa zona

de conforto, ficamos paralisados de medo, afetando a nossa vida nas mais diferentes

áreas.

O medo pode ser um grande motivador, ou um bloqueador na nossa vida. Porque,

muitas vezes estabelecemos as nossas próprias limitações, estes bloqueios e

obstáculos podem realmente ser uma coisa boa. Podem alertar-nos para tomarmos

atenção e sermos cautelosos, e podem levar-nos a analisar ou não se o que estamos

fazendo é certo para nós. No entanto, por vezes um bloqueio no nosso caminho pode

precisar ser derrubado para que nós possamos crescer. Superar um bloqueio ou

obstáculo na vida dá-lhe uma experiência de aprendizagem que você não pode obter

de outra forma. Decidir a agir e seguir em frente é o primeiro passo para libertar-se de

tudo o que o limita e prende.

Mas o que fazer se você sente que não pode tomar uma atitude? Às vezes não

nos sentimos capacitados para avançarmos de cabeça. A tarefa pode parecer-nos

muito exigente e pouco familiar. Superar o medo é um grande libertador, tal como

aquilo que nos prende é bastante angustiante, funcionando como uma âncora que nos

amarra ao caís.

Page 43: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

41

Em seguida apresento cinco maneiras que podem ajudá-lo a superar os seus medos e

conseguir alcançar o que tanto deseja. Use-os para capacitar-se para fazer a

mudança, e você vai sentir-se mais leve, mais energizado, mais relaxado e confiante.

1. Dar pequenos passos

Sente medo dos desafios, de propor-se a enfrentar alguns dos obstáculos que o

impedem de obter o que deseja, de propor-se a algo que mexa consigo? Tente

quebrar esse grande monstro através de pequenos passos, de pequenas etapas de

cada vez. Não começamos na vida por sermos campeões olímpicos ou concorrer à

presidência, mas podemos trabalhar até obtermos esses feitos. Tem medo de pedir ao

seu chefe que acha que merece um aumento? Comece por ir ao encontro daquilo que

julgue já poder obter e realizar com relativa facilidade, em seguida, desafie-se

elevando a fasquia a cada dia.

Decida-se hoje mesmo a agir e perceba a diferença que isso tem na sua vida. O medo

do fracasso é um dos maiores medos que podemos ter. O medo do fracasso está

intimamente relacionado com o medo da crítica e o medo da rejeição e de isso poder

vir a diminuir a nossa autoestima. O medo é um terrível inibidor. E o processo de

encarar os desafios pouco a pouco, passo a passo, com pequenos incrementos à

medida que a confiança aumenta é uma fórmula que pode efetivar-se como eficaz.

2. Você não está sozinho

Grande parte dos seus medos são partilhados por muitas outras pessoas. O seu medo

é o meu medo. O medo é um sentimento inerente a todos os seres humanos. Senti-lo

é um privilégio, obedecer-lhe na grande maioria das vezes é uma tormenta. Evite

movimentar-se ou não (evitar) em função do seu medo.

3. Procure suporte de alguém da sua confiança

Encontre um amigo que você possa confiar e fale com ele cerca do seu medo e peça-

lhe ajuda. Certifique-se se é uma pessoa solidária que não vai julgá-lo e não tem

interesse no resultado que você deseja alcançar.

Page 44: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

42

4. Proponha-se a aprender

Muitas vezes temos medo do desconhecido mais do que qualquer outra coisa. Neste

caso, procure familiarizar-se com o assunto ou situação, a recolha de informação pode

ajudar a sentir-se mais confiante e achar a tarefa a realizar menos intimidante. Com a

informação à distância de um clique, seja qual for o assunto, há uma maneira de

aprender sobre isso. Tome a vida nas sua mãos e procure aquilo que necessita para

ser bem sucedido.

5. Visualize

Quando as crianças brincam “fazem crer”, que estão realmente enfrentando medos.

Elas fingem que estão em território totalmente desconhecido, fazendo coisas

estranhas, mas colocam-se no controle total sobre o que acontece na sua história.

Usar esta mesma técnica, usando a sua própria imaginação para criar o resultado que

você deseja é um ótimo recurso disponível a todos nós. Anteriormente falei do ensaio

mental, como técnica para melhorar a performance de uma tarefa específica. No caso

da visualização, usa-se de forma mais generalizada às situações de vida, como se

estivéssemos a ver um filme de nós mesmos, ensaiando as cenas, falas e

comportamentos.

A técnica de visualização é muito utilizada pelos atletas como complemento do seu

treino físico, no sentido de melhorarem alguns aspetos técnicos e táticos. Tal como já

referi, o cérebro não percebe a diferença entre cenários reais e imaginados, utilizando

os mesmos circuitos neuronais e motores. Assim sendo, ao visualizar-se a si mesmo a

implementar algumas mudanças na sua vida e repetir isso mentalmente, está a criar

novas ligações e caminhos neuronais para a execução daquilo que pretende alcançar.

Um grupo de jogadores de basquetebol, praticou mentalmente o exercício de mandar

a bola ao cesto. Quando voltaram ao ringue, os seus lançamentos tinham melhorado.

Imagine-se a ultrapassar as suas dúvidas ou dificuldades e depois coloque-se no seu

estado ideal (com confiança) e execute as ações que treinou mentalmente. Treine o

mesmo cenário várias vezes na sua mente até que o sinta e faça parte de si. Veja-se a

Page 45: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

43

si mesmo a superar os seus medos, desafios e obstáculos. Agora passe à ação, faça

isso!

Supere o fracasso fazendo coisas

O medo do fracasso é um dos maiores medos que as pessoas têm. A lei do feedback,

afirma: não há fracasso, há apenas feedback. Há apenas resultados. As pessoas bem

sucedidas olham para os erros como resultados, e não como fracasso. As pessoas

com medo do fracasso olham os erros como permanentes e pessoais.

Citação: Buckminster Fuller escreveu, “O que quer que os seres humanos

aprenderam, teve que ser aprendido como consequência apenas de julgamento,

experiência e erro. Os seres humanos aprenderam somente através de erros. “

Siga os passos que se seguem para superar o seu medo do fracasso através da

ação:

Passo 1:

Tome uma atitude. Execute uma ação decisiva e ousada. Faça algo assustador. O

medo do fracasso imobiliza-nos. Para superar esse medo, você deve agir. Quando

você agir, aja com ousadia.

A ação dá-lhe o poder de mudar as circunstâncias ou a situação. Você tem que

superar a inércia fazendo algo. Faço-lhe a seguinte pergunta: ”O que você faria se

soubesse que não poderia falhar?” O que você poderia alcançar? Seja corajoso faça

algo. Se não funcionar do jeito que você quer, então faça outra coisa. Mas faça

alguma coisa agora.

Passo 2:

Seja persistente. As pessoas bem sucedidas simplesmente não desistem com

facilidade. Elas continuam tentando diferentes abordagens para alcançar os resultados

desejados, até obterem os resultados que querem persistem focados no seu alvo. As

Page 46: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

44

pessoas sem sucesso tentam uma coisa que não funciona e depois desistem. Muitas

vezes as pessoas desistem quando estão no limiar de sucesso. Desistem

prematuramente.

Passo 3:

Não personalize a falha. O fracasso gira em torno do comportamento e dos

resultados. O fracasso não é uma caraterística da personalidade. Embora por vezes

você não atinja o resultado que queria, isso não significa que você é um fracassado.

Porque você cometeu um erro, não significa que você é um fracasso.

Passo 4:

Faça as coisas de forma diferente. Se o que você está fazendo não está

funcionando, faça outra coisa. Há um velho ditado, “se você fizer sempre o que tem

feito, irá obter o que sempre tem obtido. Se você não está obtendo os resultados que

quer, então deve fazer algo diferente. Algumas pessoas deixam de continuar a fazer

as coisas que necessitam ser feitas, e isso é a garantia para não serem bem

sucedidos.

Passo 5:

Não seja demasiado duro consigo mesmo. Se nada funcionou, lembre-se que o

fracasso é um julgamento ou avaliação do seu comportamento. Olhe para o fracasso

como um evento ou um acontecimento, não como uma pessoa.

Page 47: Como mudar a sua vida para melhor

45

CAPÍTULO 5

ZONA DE CONFORTO

Razões para sair da sua zona de conforto

A nossa sociedade encoraja-nos para a obtenção do conforto. A grande maioria dos

produtos e serviços são pensados, desenhados e publicitados dia após dia para nos

sentirmos mais confortáveis, e ainda bem. O conforto que tanto procuramos e lutamos

para obter é sem qualquer tipo de dúvida uma mais valia na vida de todos nós.

Facilita-nos a vida, reconforta-nos depois de um dia extenuante de trabalho, revitaliza-

nos o corpo e a mente, por tudo isto, sem sombra de dúvida que o conforto estará

sempre na mira da humanidade. No entanto, o desafio, a aventura e o incómodo são

promotores do desenvolvimento e crescimento.

Page 48: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

46

O desafio, talvez seja aquilo que mais coloca à prova as nossas capacidades e nos

faz avançar. Acredito que o desafio e a motivação, ambas entrelaçadas irão permitir a

transformação pessoal. Cada desafio que enfrentamos ou a que nos propomos são

uma oportunidade para criarmos um “eu” mais capacitado, habilidoso e realizado.

Durante a maior parte do tempo, vivemos num estado de ser muito estável. Fazemos

as nossas coisas da mesma forma, dia após dia, e a vida parece ser pacífica,

confortável e descontraída. É assim que melhor nos sentimos e para o qual a nossa

estrutura cerebral nos empurra. Gostamos de ter a certeza das coisas, de facilitar a

sua obtenção, que não nos cause incómodo, que nos poupem tempo e que acima de

tudo não tenhamos que pensar muito para tomar decisões em tempo útil. Somos

construídos no hábito, e o hábito é um padrão mental e comportamental que é

instituído por força da repetição.

No entanto, ocasionalmente, temos que fazer algo com o qual não nos sentimos muito

confortáveis. Por exemplo, você tem que fazer uma apresentação para os seus

colegas de trabalho, mesmo sabendo que odeia fazer apresentações devido ao medo

de falar em público. Ou, que apesar de você achar que não tem queda para as

línguas, tem de inscrever-se num curso de inglês porque o seu patrão necessita de

você para dialogar com possíveis clientes que se expressam em Inglês. Não importa o

quão ruim são as suas habilidades de Inglês, você tem que fazê-lo, porque não quer

dar uma má impressão ao seu patrão. Por vezes, alargar a sua zona de conforto é

imperativo em favor do seu próprio desenvolvimento pessoal e produtividade. E isto

pode causar algum incómodo, tornando-se desconfortável. Mas o desconforto é

temporário, dado que temos uma capacidade enorme de aprendizagem e adaptação.

Constatação: Pouco a pouco, o que parecia medonho, um trabalho de Hércules e

julgou ser o fim do mundo, torna-se familiar, mais fácil, até que começa a encarar isso

com naturalidade. A sua zona de conforto expandiu-se através de um processo que

incluiu, desconforto, incómodo, aprendizagem, adaptação e adequação.

Page 49: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

47

O que é a zona de conforto?

É o conceito base de qualquer aprendizagem, evolução ou transformação. A zona de

conforto, define-se por tudo aquilo que estamos acostumados a fazer, pensar ou

sentir. É o habitual e conhecido para nós próprios. Incluí experiências positivas e

negativas, comportamentos construtivos e destrutivos.

Se queremos aprender ou mudar qualquer coisa, necessitamos de sair do conhecido e

aventurarmo-nos no desconhecido. Isto comporta um risco: todavia não sabemos o

que se passará ou se seremos capazes de controlar a situação. Por isso a tendência

natural é refugiarmo-nos naquilo que controlamos, a nossa experiência até à data, que

assim se converte, por sua vez, no nosso refúgio e limitação. De fato, quanto mais

experiência acumulamos, mais razões teremos para nos mantermos na nossa já

“ampla” zona de conforto

Citação: De vez em quando é preciso subir num galho perigoso, porque é lá que

estão as frutas – Will Rogers

A desconfortável zona de conforto

O desenvolvimento pessoal e a autoconfiança estão intimamente relacionados com a

zona de conforto. Isto acontece, porque para avançarmos, desenvolvermo-nos mais

rápido e de forma mais eficiente no nosso crescimento pessoal é necessário um boa

dose de confiança para sairmos daquilo que nos é conhecido, habitual e automático.

O crescimento pessoal ocorre fora da sua zona de conforto. Quando você está na sua

zona de conforto, você não está aprendendo, nem crescendo. Fazendo aquilo que

sempre fez irá obter aquilo que sempre obteve. Para crescer, você deve fazer as

coisas que não está fazendo neste momento. Pense em todas as conquistas que

você alcançou na sua vida. Provavelmente a maioria, se não todos as vezes, o

resultado aconteceu quando fez algo novo, ao invés de praticar os seus velhos

hábitos.

Page 50: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

48

Desafio: Que novas experiência você se propõe a realizar em prol do seu

desenvolvimento?

Grande parte da razão pela qual se aborda o estudo das zonas de conforto é porque

este conceito torna-se um preditor confiável de como as pessoas se irão comportar ou

reagir às situações, e ainda porque quando as pessoas se movimentam apenas na

sua zona de conforto isso passa a ser visto como um elemento de estagnação na vida.

Permanecendo a grande maioria do tempo no interior de uma zona de conforto não

permitirá a expansão mental ou o desenvolvimento de novas ideias , conduzindo as

pessoas para uma relativa estagnação ao longo da vida.

Por vezes alguns fatores externos podem contribuir para a quebra da zona de

conforto. Grandes tragédias ou mudanças na vida podem levar as pessoas à

mudança. Acontecimentos como o 11 de Setembro de 2001 em solo americano

conduziram os cidadãos dos E.U.A. a quebrarem a crença de que a América estava

de alguma forma segura de ataques de terrorismo, e isso contribuiu para a forma

como os americanos passaram a interpretar qualquer evento que se seguiu.

A seguir, apresento seis razões pelas quais você deve ponderar expandir a sua

zona de conforto:

Você cresce, assim como a sua zona de conforto

Quando você alarga a sua zona de conforto, cresce como pessoa. Por exemplo, há

dois anos atrás (2010) a minha visão do trabalho mudou, mas mesmo assim levei à

volta de seis meses para alterar o meu ponto de vista. Eu estava resistindo à mudança

há algum tempo, até que percebi que, poderia lançar-me no desconfortável desafio de

passar a escrever e transmitir através de postagens, aquilo que já fazia na prática:

motivar, ajudar, orientar, esclarecer e promover a melhoria e desenvolvimento

das pessoas. E isto era um excelente projeto para o meu próprio desenvolvimento.

Foi assim que nasceu a Escola Psicologia (www.escolapsicologia.com). Muito devo ao

impulso gerado pelo meu grande amigo Paulo Faustino, autor da Escola Dinheiro,

(www.escoladinheiro.com) e que igualmente ajuda pessoas em todo o mundo a

ganhar dinheiro na Internet, escrevendo artigos fantásticos como por exemplo: 14

lições que aprendemos a gerir um blog extremamente popular. Agora, dois anos mais

Page 51: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

49

tarde, aprendi novas habilidades, ganhei mais confiança e sei que estou pronto para o

próximo desafio ou situação idêntica no futuro. Algo com que eu estava receoso ou

sentia como impossível de realizar (escrever regularmente para uma grande

audiência), faz agora parte do meu conjunto de habilidades. A minha zona de conforto

foi crescendo à medida que fui avançado no processo de escrita e no projeto em geral.

Dica: Medo, enfrentá-lo é superá-lo.

Você sente-se mais confiante

Você melhora a sua autoconfiança, como já mencionei. Isto acontece, porque uma vez

que você consiga ultrapassar aquilo que julgava ser o seu limite, passará a sentir-se

bem consigo mesmo e muito mais confiante. Pegando no exemplo anterior, se você

tivesse que dar a tal apresentação para os seus colegas, muito provavelmente estaria

muito nervoso antes da apresentação. O seu coração bateria como um louco e você

começaria a transpirar, mas, ainda assim, você encarava a situação de frente,

respirava fundo e focava-se naquilo que era preciso ser feito em prol de dar uma boa

imagem de si para os outros. Acredito, que após a apresentação terminar, você se

sentiria bem consigo mesmo. Sentir-se-ia aliviado é claro, mas ao mesmo tempo, você

provou que pode fazer coisas incómodas e difíceis se você quiser. Este sentimento é

bom para gerar autoconfiança para eventos semelhantes no futuro. Se você tiver que

fazer essa apresentação novamente, basta lembrar o ótimo sentimento que teve

depois de terminar a sua apresentação anterior. Concentre-se no sentimento bom,

foque-se no sentimento positivo e na atitude positiva que teve, em vez de se

preocupar como a apresentação irá correr desta vez.

Dica: Aquilo em que nos focamos, expande-se.

Você aprende algo novo

O processo de expansão da sua zona de conforto é muito educativo e capacitador,

mas pode igualmente provocar ansiedade. Quando nos propomos a fazer ou aprender

algo que nos permite agarrar uma nova oportunidade ou melhorar a eficácia do nosso

trabalho, relacionamento, saúde ou até mesmo organização de vida, inevitavelmente

Page 52: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

50

enfrentaremos algo desconhecido e que pode requerer um determinado grau de

esforço e dedicação. Por vezes, evitamos oportunidades que nos surgem na vida, não

com receio sobre se dará certo ou não, mas porque receamos sair da nossa zona de

conforto, receamos abandonar o que nos é familiar, receamos que possamos ter de

enfrentar os nosso medos, e como consequência evitamos o novo, mantemo-nos a

fazer aquilo que sempre fizemos.

Mas, aprender é lidar com o novo, com o desconhecido, com o desafio, com o esforço,

com a dedicação, é inclusive lidar com os nossos medos. Quando você sair da sua

zona de conforto, irá também aprender algo sobre si mesmo, irá aprender como você

age em determinadas situações. Na minha experiência pessoal de iniciar o blog

(www.escolapsicologia.com), mesmo tendo mantido uma perspetiva muito positiva e

produtiva, tive alguns momentos ocasionais, em que eu era menos otimista e colocava

o sucesso em questão. Além disso, procrastinei (adiei) em determinadas tarefas. No

entanto, isso era tudo parte do processo (como ainda é) que permitiu estender a

minha zona de conforto pessoal. Desde que, você aprenda que propor-se a algumas

tarefas que sinta como desafios incómodos, incertos e difíceis, e verifique que nessa

situação particular conseguiu sair-se bem, isso ajuda a preparar-se e a encarar com

mais confiança situações semelhantes no futuro.

Dica: O maior ato de inteligência do ser humano, é perceber-se como um ser

aprendível.

Você faz coisas que a maioria das pessoas não faz

Para ter sucesso na vida ou nos negócios, você tem que agarrar o touro pelos cornos

e fazer algo diferente daquilo que os outros fazem ou daquilo que tem feito até ao

momento. Propor-nos a sacrifícios que exigem de nós esforço e motivação acrescidos

é algo que tem de ser suportado pelo valor atribuído ao crescimento e

desenvolvimento pessoal. Quando o negócio, o trabalho, a carreira, um

relacionamento, a saúde ou qualquer objetivo importante de realizar está em causa,

sair da sua zona de conforto é uma forma de tentar fazer as coisas de forma diferente,

daquilo que tem feito, ou do que os outros têm feito. Por vezes beneficiamos de uma

boa dose de criatividade e coragem. Ao propor-se a fazer as coisas que outros não

Page 53: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

51

estão dispostos a fazer, ou a fazê-las de forma diferente, pode aumentar

drasticamente a possibilidade de sucesso. Por exemplo, se você receber uma chance

de falar na frente de uma plateia e o seu concorrente não estiver disposto a fazer isso

(porque ele tem medo de fazê-lo, ou porque tem medo de falar em público), você vai

aumentar as suas possibilidades de ser conhecido e reconhecido para audiências

maiores, portanto, podem até surgir novas oportunidades de negócios.

Dica: Se fizermos sempre aquilo que temos feito, obtemos sempre aquilo que

temos obtido.

Você impulsiona ações para alcançar os seus objetivos

A abordagem passo a passo é uma estratégia recomendada para conseguir atingir

objetivos, no entanto, não devemos confundir isso com falta de ritmo, procrastinação,

deixar andar, evitar, ou perda de oportunidades e ausência de ações. Desta forma,

mesmo perante um processo passo a passo, deverão estar encadeados momentos ou

fases de expansão, de atrevimento, de audácia, de inovação, no fundo momentos em

que você se deve propor deliberadamente e conscientemente a sair da sua zona de

conforto e conquistar terreno.

Por exemplo, se você possui um blog e quer torná-lo conhecido por um público maior

(e pretende conseguir mais seguidores no twitter), tem que fazer coisas que

provavelmente não se sente à vontade, que não gosta de fazer ou que lhe são difíceis

de realizar. Poderia iniciar um canal no YouTube e gravação de vídeos novos numa

base regular. Ou, poderia tentar escrever um artigo convidado para outros blogs, cujas

audiências têm um maior alcance que o seu, e por isso investir na aprendizagem de

como se escreve um bom texto para um blog. Seja qual for a situação, se você estiver

disposto a sair da sua zona de conforto atual, irá certamente impulsionar algumas

ações para mais rapidamente alcançar os seus objetivos e cruzar a linha de chegada

em tempo útil.

Dica: Expresse o seu ponto de vista ou objetivo com entusiasmo.

Page 54: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

52

Você obtém novas oportunidades

Se você se propuser a sair fora da sua zona de conforto, provavelmente aumentará a

probabilidade de ficar exposto a novas oportunidades, tal como já referi anteriormente.

No meu caso, ao embarcar no projeto da Escola Psicologia,

(www.escolapsicologia.com) inicialmente segui aquilo que me moveu: divulgar

conhecimento e experiências que fossem ao encontro das necessidades das

pessoas, e que isso as motivasse a melhorarem as suas vidas. Não só cumpri

esse objetivo, como também tive um retorno inesperado, na forma de propostas para

workshops, entrevistas em jornais e lançamento de livros. Emergiu ainda a motivação

e a força de vontade para escrever o meu primeiro Ebook gratuito, baseado na minha

experiência profissional (no esporte e na psicologia), o qual, você, caro leitor pode ter

a oportunidade de ler: Seja Um Vencedor, guia prático para pensar positivo,

ultrapassar obstáculos e atingir metas. Eu sei que isso não teria sido possível, se eu

não tivesse inicialmente expandido a minha zona de conforto.

Se você está disposto a sair da sua zona de conforto, a propor-se a uma mudança,

nesse exato momento coloca-se também no mundo das possibilidades, no mundo das

oportunidades, e certamente desse processo emergem situações de mais valia. Novas

oportunidades começam a aparecer e você agradecerá a si mesmo por ter expandido

a sua zona de conforto.

Dica: Proponha-se ao crescimento e desenvolvimento. Melhore a sua confiança

através da experiência de enfrentar os seus receios e dúvidas. Aprenda algo de

novo. Faça coisas que nunca fez ou que nunca viu fazer. Empurre as suas ações

para o nível seguinte, suba a sua fasquia e lance-se a novas oportunidades que

emergem da expansão da sua zona de conforto. Caminhe para o sucesso que o

sucesso está a caminho!

Page 55: Como mudar a sua vida para melhor

53

CAPÍTULO 6

POTENCIAR A VIDA

Procure desafios que mexam consigo

Cabe a cada um de nós de forma constante e persistente procurar desafios que nos

motivem. E cabe a você perceber quando se encontra aborrecido e entediado por se

ter enraizado na sua zona de conforto. Para que nos seja mais fácil entender sobre o

que aqui quero apresentar, importa distinguir que querermos conforto na nossa vida,

não é sinónimo de vivermos sempre na nossa zona de conforto, são coisas distintas.

Zona de conforto, também não se trata de um sítio ou espaço a que recorremos

quando necessitamos descansar ou restabelecer energias. Apenas a palavra é

comum, o que por este fato pode induzir-nos em erro. São conceitos distintos ainda

Page 56: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

54

que se toquem indiretamente. Permanecer na nossa zona de conforto, está

relacionado.

Durante a vida, as pessoas, de uma maneira geral, costumam acomodar-se, refugiar-

se na sua zona de conforto. Acostumam-se com uma certa rotina, conformam-se a um

determinado modo de vida, seja no âmbito familiar, social ou profissional. No entanto,

a vida é essencialmente dinâmica. Assim, é preciso adaptar-se continuamente às

mudanças que ocorrem, sob pena de estagnação e marginalização.

As mudanças são desconfortáveis, trazem insegurança e ansiedade. Mas são

necessárias. É preciso preparar-se continuamente para os novos desafios que se

apresentam todos os dias. Tudo é impermanente. A insegurança é a regra. Não

podemos contar com a estabilidade nas relações sociais, profissionais ou comerciais.

A todo o momento, surgem novidades. É preciso acompanhar o progresso inevitável

que ocorre a uma velocidade cada vez maior.

Escolha sair da sua zona de conforto

Deixar a nossa zona de conforto deliberadamente é uma oportunidade de crescimento

pessoal, e preferencialmente não deve ser causado por eventos drásticos. Os

estudantes que ingressam na faculdade por vezes são estimulados a olhar para novas

ideias e interpretações, e estas podem levar o aluno a expandir mentalmente as suas

zonas habituais e avaliar as coisas de maneiras novas. Na verdade, durante os anos

de crescimento e desenvolvimento, as crianças e depois adultos jovens são

constantemente solicitados a expandir as suas zonas, para assumir novas ideias, para

analisar as coisas de forma mais complexa, e interpretar o mundo de uma forma

crescente.

A grande maioria das pessoas acham que a zona de conforto deve ser expandida

apenas na juventude, e uma vez que estes estádios “crescentes” terminem com a

entrada na idade adulta, as pessoas aceitam a estagnação como algo natural. Esta

ideia pode levar as pessoas a recusarem-se a mover-se mais ou pensar mais sobre as

ideias que são diferentes das suas ou que estejam fora da sua zona de conforto. E

isto, inibe a possibilidade de potenciar a vida.

Page 57: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

55

Como sair da sua zona de conforto

Com o tempo, todos nós construímos um conjunto de hábitos de constrição e restrição

em torno de nós, são aqueles hábitos que nos aprisionam numa suposta zona de

conforto, e esta impede-nos de atingir todo o nosso potencial. Logo, tais hábitos

enraízam-se fora da nossa consciência, mas eles ainda determinam o que pensamos

e o que podemos e não podemos fazer e o que nos recusamos sequer a tentar. Se

permitir que estes hábitos governem a sua vida, você vai ficar preso na sua própria

teia. Uma teia que o vai paralisando.

Tal como as pequenas criaturas macias (pequenos pólipos de coral) que constroem os

recifes de coral, os nossos hábitos começam pouco a pouco a ser menos flexíveis, e

acabam construindo barreiras de “rocha maciça” em toda a estrutura mental. Dentro

dos recifes, a água é tranquila e amigável. Fora desse ambiente pacífico as águas

ficam mais revoltas e o ambiente mais perigoso.

Na vida as coisas acontecem um pouco como no exemplo anterior, se você está a

desenvolver-se numa determinada área e atingiu um determinado estado, aquele em

que se encontra hoje, se quer continuar a progredir, você deve sair dos seus hábitos e

rotinas, deve abandonar o seu recife, alargar os limites da sua zona de conforto e

propor-se a explorar novas águas. Não há outra maneira. Assim como pode não haver

nada de errado nos seus hábitos comuns. Eles provavelmente funcionaram bem para

você no passado. Mas agora é hora de passar por cima deles e ir explorar o resto do

mundo, o resto do seu potencial não usado e ainda não descoberto. Alguns dos seus

medos podem estar a fazê-lo refém de si mesmo. A nossa mente é prodigiosa a

construir cenários, possíveis cenários monstruosos e perigosos que podem nunca vir a

acontecer, a não ser na sua cabeça.

Ninguém nasce com um manual de instruções para a vida. Apesar de todos os

conselhos úteis de pais, professores e idosos, cada um de nós deve fazer o seu

próprio caminho no mundo, fazendo o melhor que pode e muitas vezes fazer algumas

coisas erradas. Bagunçar algumas vezes não é pecado. Mas se você ficar com medo

Page 58: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

56

e tentar evitar todos os erros, com comportamentos “deixa ver se consigo”, você vai

perder muitas oportunidades também.

Por exemplo, muitas pessoas que sofrem de tédio no trabalho estão fazendo isso para

si mesmas. Elas estão aborrecidas e frustradas porque é o que as suas escolhas

causaram. Elas estão presas em buracos que cavaram para si ao tentar evitar cometer

erros e assumir riscos. Pessoas que nunca erram nunca fazem qualquer outra coisa

também.

Dica: Só erra quem tenta, e só quem tenta tem a possibilidade de ser bem

sucedido.

Praticando a mudança de hábitos

É hora de definir os hábitos que se tornaram inconscientes e estão tomando o rumo de

vida para e/ou por você, e criar outros mais capacitadores e desafiantes. Apresento

em seguida algumas formas de como fazê-lo:

Compreenda a verdade sobre os seus hábitos. Os hábitos representam os

acontecimentos do passado (sucessos e insucessos). Você tem formado

comportamentos automáticos, porque uma vez obtido sucesso com algo, temos uma

enorme tendência para executar a mesma resposta da próxima vez, e esperar que

funcione novamente. Esta é a explicação simples de como os nossos hábitos crescem

e se enraízam: porque os sentimos serem tão úteis. Em psicologia podemos apelidar

esta forma de aprendizagem de comportamento operante, ou seja, os nossos hábitos

expressam-se em função das circunstâncias de reforço. Se ao executarmos

determinado comportamento, e retirarmos reforço (sejamos bem sucedidos),

automaticamente aumentamos a probabilidade de numa próxima situação idêntica,

executarmos exatamente o mesmo comportamento.

Para fugir do que está causando a sua infelicidade e tristeza e pegando novamente no

exemplo no local de trabalho, você deve desistir de muitos dos seus hábitos a que

mais se afeiçoou (e que anteriormente foi bem sucedido). Deve tentar novas maneiras

de pensar e agir, isto porque provavelmente as formas antigas estão desadequadas e

Page 59: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

57

ultrapassadas. Esses velhos hábitos vão impedi-lo de encontrar ideias novas e

criativas. Sem ideias novas, não há novas aprendizagens. Sem aprendizagens, não há

acesso a mudanças bem sucedidas.

Faça alguma coisa, quase nada, de forma diferente e veja o que acontece.

Mesmo os hábitos melhor sucedidos, eventualmente, perdem a sua utilidade à medida

que as coisas vão mudando no mundo, e novas respostas são necessárias. No

entanto, nós temos uma enorme tendência para nos apegarmos aos hábitos

instituídos dado o seu benefício no passado. Porém grande parte das estratégias do

passado estão condenadas ao fracasso em algum momento. Deixar que se tornem

hábitos automáticos e que assumam o controle da vida é um caminho certo para a

auto-sabotagem e insucesso.

Tire algum tempo para si e tente construir uma visão detalhada de si mesmo,

sem tabus. Descobrir os seus hábitos inconscientes pode ser difícil. Para começar,

eles estão inconscientes, certo? Em seguida, eles exercem uma enorme influência

sobre o seu pensamento. Pergunte a qualquer pessoa que já tenha desistido de fumar

se os hábitos são difíceis de quebrar. Se você já se acostumou a eles, criou um

conjunto de “vícios” que exercem um enorme estímulo para serem executados.

Comece por observar o seu comportamento e a sua atitude em situações que é rígido,

que explode com facilidade, que é demasiado crítico, em que muda radicalmente de

humor, em que é extremamente teimoso e de ideias fixas, ou pelo contrário, onde se

sente como peixe na água.

Seja você mesmo. É fácil supor que você sempre tem que adaptar-se para caminhar

no mundo, que você deve obedecer para ser querido e respeitado por outros ou então

enfrentar a exclusão. Porque a maioria das pessoas querem agradar, tentam tornar-se

o que acreditam que os outros esperam que elas sejam, mesmo que isso signifique

obrigarem-se a ser o tipo de pessoas que não são. Isto não é ser-se assertivo nem

fazer uso da flexibilidade de pensamento ou muito menos ser-se uma pessoa com

uma identidade própria.

Você precisa começar por colocar-se em primeiro lugar. Você é único. Nós somos

todos únicos, não estou a sugerir que você é melhor do que outros ou merece mais do

que eles. Você precisa colocar-se em primeiro lugar, porque mais ninguém tem tanto

Page 60: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

58

interesse na sua vida como você próprio, e porque se não o fizer, ninguém vai fazer

por si. Colocar os outros em segundo lugar, significa dar-lhes o devido respeito, não

ignorá-los totalmente. Manter uma auto-imagem positiva pode ser um desafio. Ao

invés, ser presunçoso, e ter uma auto-estima desmedida e irrealista, pode ser uma

maldição. É importante perceber que um bom equilíbrio emocional irá colocá-lo num

situação saudável e vantajosa, caso precise de ajudar alguém ou a si mesmo,

certamente estará à altura quando o momento chegar.

Desacelere um pouco e deixe-se ir. A maioria de nós quer pensar acerca de nós

mesmos como boa pessoa, inteligente, simpático e carinhoso. Às vezes isso é

verdade. Às vezes não é. A realidade é complexa. Não podemos funcionar de forma

eficaz e adaptativa, sem interação e apoio de outras pessoas. Tudo o que temos, tudo

o que aprendemos, veio a nós através das mãos de outras pessoas, mesmo que

indiretamente. No nosso melhor, passamos nesta existência partilhando uns com os

outros e assimilando coisas dos outros. Na pior das hipóteses fazemos isso muito

pouco, e desperdiçamos isso. Assim, esforce-se por reconhecer que você é uma rica

mistura de pensamentos e sentimentos que vêm e vão, alguns úteis, outros não. Não

há necessidade de manter uma fachada, não há necessidade de fingir, não necessita

ter medo do que você sabe ser verdadeiro. Não somos melhores, nem piores, somos

únicos!

Quando você enfrentar a sua própria verdade, você vai descobrir que é um alívio

enorme. Se você não estiver a ser tão maravilhoso como gostaria de ser,

provavelmente também não está assim tão mal, como teme estar. A verdade é

libertadora, estabelece como que um feedback do estado em que estamos, libertando-

nos para fazer ajustes, alterações e melhorias. Você fica livre para trabalhar em ser

melhor e perdoar a si mesmo por ser humano. Você fica livre para expressar a sua

gratidão aos outros e reconhecer o que você precisa retribuir-lhes. Você fica livre para

reconhecer os seus sentimentos sem deixá-los dominar a sua vida. Acima de tudo,

você estará livre para entender a verdade da vida: que muito do que acontece com

você não é mais do que o acaso. Não pode ser evitado e não é culpa sua. Não há

nenhum benefício em bater-se contra isso.

O que por vezes nos prende em situações e ações que não funcionam não é a inércia

ou procrastinação. É o poder exercido pelas velhas maneiras habituais de ver o

Page 61: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

59

mundo e pensar acerca das coisas. Até que você tome consciência dos seus velhos

hábitos que o aprisionam e lhe fazem sabotagem, eles vão continuar a mantê-lo refém

de si mesmo. Permanecer na sua zona de conforto através do mero hábito, ou pior

ainda, ficar lá por causa de medos irracionais, irá condená-lo a uma vida de frustração

e arrependimento.

Se você conseguir aceitar a verdade sobre o mundo e a si mesmo, ficará mais

disponível para mudar o que o está prendendo, e continuar com uma nova visão sobre

a vida. Você irá perceber que uma única ação, por mais pequena que seja, permite

que abra a porta da sua prisão auto-imposta e caminhar livre face ao seu objetivo e

propósito de vida. Há um mundo maravilhoso lá fora. Você vai conseguir vê-lo, se

você tentar.

Dica: Saia da sua Zona de Conforto e potencie a sua vida.

Mude as suas crenças

Um dos maiores presentes que podemos ter na vida, e digo isso literalmente, é saber

que podemos mudar as nossas crenças. Este conhecimento é revolucionário,

extraordinário e muito esperançador, saber que podemos realmente mudar as nossas

crenças, principalmente aquelas que foram inúteis e permaneceram inalteráveis dentro

de nós durante anos. Nós temos certas crenças dentro de nós, que nos incapacitam,

que nos prejudicam e atrapalham o bom desenvolvimento da vida. Pretendo mostrar-

lhe algumas maneiras de como pode desarmar, enfraquecer e substituir as crenças

incapacitantes que lhe prejudicam a vida. Pretendo esclarecê-lo e elucidá-lo da forma

como aquilo que falamos, pensamos e acreditamos, influência todo o nosso organismo

e consequentemente o nosso desenvolvimento.

Dica: Desenvolvermo-nos e evoluirmos, é evoluir a nossa mente, e evoluir a

mente é desenvolver e melhorar a forma de comunicação connosco mesmo.

As nossas crenças dão forma à nossa realidade, muito provavelmente a sua realidade

é totalmente diferente da minha, é também diferente da do seu parceiro, colegas de

trabalho, seus filhos, as pessoas ao seu redor. Você é único, e aquilo que faz de você

Page 62: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

60

uma pessoa diferente de tantas outras, são as crenças que tem acerca de si mesmo,

dos outros e do mundo em geral. As crenças que você tem “criam” o seu próprio

mundo (formas de olhar as coisas, forma de agir e de pensar). Sim, nós

compartilhamos um conjunto de construtos, mas efetivamente, você criou o mundo ao

seu redor e criou a pessoa que você é hoje. Isto pode parecer-lhe demasiado radical e

pragmático, mas se conseguir refletir sobre isso, se conseguir perceber que foi você

que foi construindo a vida que tem agora, isso significa que pode alterá-la, pela

simples razão que é o seu principal investidor.

Para refletir: Você é o principal accionista da sua própria vida.

O poder das crenças

No Transtorno Dissociativo de Identidade, originalmente denominado Transtorno de

Múltiplas Personalidades, popularmente conhecido como dupla personalidade, é uma

condição mental onde um único indivíduo demonstra caraterísticas de duas ou mais

personalidades ou identidades distintas, existem histórias de pacientes que

literalmente mudaram a cor dos olhos, porque mudaram de uma personalidade para

outra. Eles também desenvolveram sintomas físicos, tais como a diabetes,

simplesmente porque mudam de uma personalidade para outra, tendo crenças

totalmente diferentes de si mesmo. Talvez, esteja a pensar que este tipo de histórias

se encaixam no estilo “fantástico”, provavelmente sim, mas não deixam de ser

reveladoras da extraordinária capacidade que o corpo humano tem para se

transformar por ação da crença.

O poder das crenças, é realmente avassalador. As crenças estão enraizadas na nossa

mente e podem afetar a nossa forma de raciocinar, mas também podem afetar outras

partes do nosso corpo, o que prova o extremo poder que elas possuem. É importante

aprender o máximo sobre si mesmo, através das suas crenças, e se sentir que é

necessário e útil, alterá-las ou implementar uma nova crença.

Na psicologia, tem sido usual estudar-se o efeito placebo. O que é o efeito placebo? O

efeito placebo é quando se associa um determinado benefício a algo inócuo. Dois

grupos de pacientes que recebem dois tipos de comprimidos diferentes, uma amostra

Page 63: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

61

do grupo recebe uma pílula de açúcar (sem qualquer efeito curativo), mas os

pacientes são informados de que a “pílula” vai ajudar a melhorar a sua condição, dor,

depressão, ansiedade, etc. Ao outro grupo são dados medicamentos verdadeiros (com

efeito curativo) para tratar a doença ou o problema.

O que se descobriu uma e outra vez, desde 1955, quando foi cunhada a expressão

“efeito placebo“, foi que 50% – 60% dos pacientes respondem positivamente aos

comprimidos placebo. Significado que 50%-60% das pessoas melhoram positivamente

a condição (doença ou problema) tomando um comprimido que não tem efeitos

curativos. Esse é o poder da crença, é a capacidade que todos temos para

produzir um efeito no nosso corpo, que julgamos poder acontecer. Se dentro dos

limites do possível, for possível, a crença que temos nisso faz o resto. Não significa

dizer que os seres humanos são estúpidos, significa apenas que estamos enganando

a nós mesmos com o poder da mente, quer seja a nosso favor ou contra nós.

Então o que realmente é uma crença? No seu conceito mais básico, é algo que você

tem e construiu na sua mente, é um conceito. É algo que você sabe, com toda a

certeza, que algo é verdade, é um sentimento profundo dentro de si.

Dica: Uma crença é um sentimento de certeza, sentindo que algo é verdadeiro.

As suas crenças potenciam o seu pensamento?

Nunca lhe aconteceu acordar e sentir-se ótimo, como se não tivesse de fazer nada

para se sentir bem? Você sente-se com um estado de espírito positivo, bem sucedido,

otimista, pensa em grande e que é capaz de ultrapassar qualquer obstáculo. Eu já me

senti assim, é maravilhoso! Mas, outras vezes pode acontecer o oposto, sentimo-nos

inseguros e julgamos não conseguir fazer nada, sentimo-nos exaustos e desistimos de

ir à luta. Já me aconteceu sentir-me derrotado e a perder o controle da construção dos

meus pensamentos.

Todos temos muitas crenças, e aprender de onde vêm e que elas desempenham um

papel importante na nossa vida é fundamental para começar a mudá-las. Elas são

uma parte do que somos como pessoa. É difícil modificar aquilo a que temos estado

Page 64: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

62

ligados grande parte da nossa vida, mas temos de começar a produzir crenças mais

capacitadoras e parar de defender as meias-verdades que nos impedem de ver um

conjunto enorme de possibilidades e opções.

As crenças que levam à falta de confiança, medo e preocupação são o que em última

análise, nos impede de experimentar o sucesso e conseguir o que se quer da vida.

Você sente-se preparado para mudar algumas crenças no sentido de

impulsionar a sua vida?

Como é que as crenças se formam? Serão as suas crenças realmente suas?

Ninguém nasce com determinadas crenças. As crenças são adquiridas a partir de

tenra idade e através da nossa experiência de vida. As coisas que lhe foram ditas e a

forma como foram tratadas quando jovem, foram-se tornando na maneira que você

pensa acerca de si mesmo, dos outros e do mundo, e tornaram-se nas suas crenças,

quer o capacitem ou o derrotem.

A grande questão que importa você refletir e saber, é que as crenças pelas quais você

orienta a sua vida não têm necessariamente de ser verdadeiras. Ou colocando este

assunto numa perspetiva mais fatual, as suas crenças não tem necessariamente de

ser funcionais. Por outras palavras, podem prejudicá-lo, podem inibi-lo de progredir ou

causar-lhe alguns problemas na sua vida. Só porque alguém nos disse que não pode

ser alguém bem sucedido ou fazer algo, não significa que temos de acreditar neles.

Pare de orientar-se por crenças desanimadoras, incapacitantes, obtusas e demasiado

rígidas! Eu sei que é difícil, mas não impossível.

Para facilitar o processo de identificação das suas crenças, questione-se:

O que é que eu acredito em mim?

Do que é que acho ser capaz?

O que é que eu acredito sobre o mundo?

O que é que eu acredito conseguir alcançar no futuro?

Depois de ter descoberto o que você acredita, é hora de decidir o que você deseja

manter e o que você quer deitar fora. Que crenças eu quero mudar? O que eu quero

Page 65: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

63

começar a pensar sobre mim e sobre o meu futuro? Você pode decidir o que quer

acreditar. Jogue fora as crenças autodestrutivas para que possa construir uma

autoimagem bem sucedida e capacitadora de si mesmo. Seja um vencedor.

Para ajudá-lo a clarificar melhor a razão porque é importante fazer o exercício

anterior, ou seja, desafiar as suas crenças (por vezes falsas crenças), vou ajudá-

lo a responder à seguinte questão:

Porque estamos todos (eu incluído) aparentemente tão predispostos a acreditar

em proposições falsas?

A resposta está no reconhecimento crescente da neuropsicologia que aborda a

questão do quão irracional o nosso pensamento racional pode ser, de acordo com um

artigo publicado na revista Mother Jones por Chris Mooney. Sabemos agora que os

nossos juízos de valor intelectual, ou seja, o grau em que acreditamos ou

desacreditarmos numa ideia, são fortemente influenciados pela tendência dos nossos

cérebros para a “ligação”, aquilo a que eu chamo de “inclinação mental.” Os nossos

cérebros são estruturas especializadas em fazer ligações (conjunto de redes

neuronais), agregando não só pessoas e lugares, mas também as ideias. E não

apenas de uma maneira friamente racional. O nosso cérebro torna-se intimamente

ligado emocionalmente com as ideias que passamos a acreditar que são verdadeiras

(no entanto, chegamos a essa conclusão), e é emocionalmente alérgico a ideias que

acreditamos serem falsas. Esta dimensão emocional do nosso julgamento racional,

explica uma gama de preconceitos mensuráveis que mostram o quão diferente dos

computadores (raciocínio lógico) as nossas mentes são.

Dois fatores que contribuem para a ligação emocional às nossas crenças:

Confirmação de viés (desvio). O que nos leva a prestar mais atenção e

atribuir maior credibilidade às ideias que sustentam as nossas crenças atuais.

Ou seja, nós escolhemos a evidência que suporta uma disputa que já

acreditamos e ignorarmos a evidência que está contra ela.

Desconfirmação de viés (desvio). O que nos faz gastar uma energia

tremenda tentando desconfirmar as ideias que contradizem as nossas crenças

atuais.

Page 66: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

64

A confirmação da crença não é o nosso único objetivo cognitivo. O outro objetivo é

validar as nossas crenças pré-existentes, as crenças que temos vindo a construir,

bloco por bloco num todo coeso durante toda a nossa vida. A confirmação de viés e a

desconfirmação de viés, representam duas das mais poderosas armas à nossa

disposição para solidificação das nossas crenças, mas, simultaneamente,

comprometem a nossa capacidade de julgar os méritos das ideias e as provas a favor

ou contra elas. É, na verdade um pau de dois bicos que temos de levar em

consideração se quisermos colocar à prova a funcionalidade, adequação e verdade

das nossas crenças.

Mude as suas crenças e implemente mudanças na sua vida

Nem sempre seguimos integralmente tudo aquilo que pensamos, no entanto aquilo em

que acreditamos exerce uma grande influência sobre aquilo que pensamos e

consequentemente nos nossos comportamentos e ações. De certa forma, as nossas

crenças regulam o nosso comportamento e são responsáveis por grande parte das

nossas decisões. Ou seja, na grande maioria das vezes nós fazemos aquilo em que

acreditamos. Tudo o que pensa e seja suportado por aquilo que acredita tem uma

probabilidade elevada de ser seguido por si mesmo. Se eu me sentir bem sobre

algo, eu comporto-me de acordo com isso, e se eu me sinto mal com alguma coisa, e

acredito que isso me prejudica, então eu vou afastar-me.

Isto é importante, porque aquilo que você pensar e acreditar vai influenciar

grandemente o seu futuro. Por outras palavras, se você acha que nunca vai conseguir

um novo emprego, começar a escrever um livro, ou ter um ótimo relacionamento, você

não irá obter e/ou conseguir isso.

Citação: Se você acha que pode, ou que não pode fazer alguma coisa, você tem

sempre razão. – Henry Ford

As suas crenças podem prendê-lo num ciclo de desamparo, incapacidade e

desesperança, de tal forma que você nunca vê resultados positivos. Talvez você tenha

implementando tantos pensamentos depreciativos na sua mente, que tenha criado um

padrão auto-derrotista de encarar a vida. O nosso diálogo interno (auto-verbalizações)

Page 67: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

65

até um determinado grau pode determinar a nossa autoimagem, autoconceito,

autoestima e autoconfiança, formando uma construção que irá condicionar as crenças

que temos. Se você conseguir mudar aquilo que pensa, o que diz e a ideia que tem

acerca de si mesmo, ficará certamente mais capacitado para tomar as rédeas da sua

vida e daquilo que quer conseguir fazer.

Em que medida estão as suas crenças a influenciar a sua vida?

Considere que:

Você pensa em cascata tripartida: as palavras ou a linguagem, provocam as

imagens, o que por sua vez originam emoções.

Você constrói a sua autoimagem através dos seus pensamentos. Seja

cuidadoso com o que você pensa.

O seu subconsciente aceita o que você vai afirmando para si mesmo. Você

deve controlar (gerir melhor) o seu diálogo interno.

A sua auto-imagem surte grande impacto na sua forma de agir. Para se sentir

mais capaz, trabalhe (melhore) a sua auto-imagem

Que percepção você tem das suas capacidades? Como é que você age quando não

está fingindo, quando você se deixa fluir livremente, sem controle consciente? É de

acordo com essa percepção e forma de estar na vida diária que nos devemos orientar,

estando em contato com o nosso verdadeiro “Eu”, sem restringir o nosso potencial.

Esclarecimento: Não estou a querer dizer que devemos agir sem pensar. Aquilo que

quero dizer é que devemos de forma consciente ir implementando e, se necessário

mudando algumas das nossas crenças, formas de pensar e agir, até que elas façam

parte de nós e possamos movimentarmo-nos livremente e de acordo com aquilo que

decidimos para nós, no nosso melhor estado de recursos.

As crenças contribuem para a nossa eficácia! Você está sendo

eficaz?

Page 68: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

66

Eu acredito que todos temos um potencial imenso, mas apesar deste enorme

potencial, podemos limitar-nos pelas nossas crenças. Só seremos capazes de fazer o

que acreditamos ser possível. Se as nossas crenças forem demasiado fixas, o nosso

comportamento e atitude seguirá o mesmo princípio. Nós auto-regulamo-nos de

acordo com o nosso nível de crença, e assim permanecerá a menos que nos

consigamos fortalecer para que possamos passar a agir de forma mais flexível.

Por este motivo é tão importante avançar progressivamente todos os dias para

expandir a sua flexibilidade de pensamento e fazer algo que o ajude a crescer e

romper com as anteriores crenças limitantes. Agir e propor-se à identificação dessas

crenças pode superar o medo da auto-limitação que não o deixa sair do caís.

Desamarre essa âncora.

Como anteriormente referi, quando você decide sair da sua zona de conforto, dá-se

um aumento na sua tensão, você fica mais alerta. Essa tensão vem da nossa mente

subconsciente, que nos quer fazer permanecer no ambiente conhecido, seguindo os

mesmos padrões de pensamento e comportamento, e não correr qualquer risco. Isto é

o que nos faz sentir que precisamos voltar para “onde pertencemos”, ou porque é

muito arriscado tentar algo novo. Não dê atenção a isso. Você pode subir a fasquia da

sua zona de conforto, aumentando o seu autoconceito.

Livre-se das crenças incapacitantes e paralisantes

Albert Ellis (percursor da Terapia Racional-Emotiva) identificou quatro tipos de

sistemas de crenças que influenciam significativamente o nosso pensamento e

comportamento perante o conflito. Estas dizem respeito às crenças sobre: a ordem

cósmica, a hierarquia, os outros e nós mesmos. Frequentemente algumas das

nossas crenças tornam-se incapacitantes colocando-nos à mercê do mundo, da

hierarquia, dos outros e de nós mesmos, ao invés de nos potenciar. Passamos a

vermo-nos como vítimas ou impotentes em vez de nos sentirmos capazes, confiantes

e responsáveis pelos nossos atos. Reconhecê-las e libertarmo-nos dessas crenças

amplamente difundidas, mas incapacitantes, pode fortalecer-nos e aumentar muito a

nossa capacidade de lidar com o conflito de uma forma mais construtiva.

Page 69: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

67

A ordem cósmica. Tente perceber se tem em si algumas crenças consideradas de

ordem cósmica, as quais expressamos em declarações como “As coisas são mesmo

assim”, “Isto nunca irá funcionar”, “Tudo dará certo no final”. É um conjunto de

pensamentos absolutos, em vez de pensamentos probabilísticos refletido em palavras

como “sempre”, “nunca”, e sugerem um fatalismo ou determinismo que nos deixa sem

opções alternativas. É uma forma de pensamento que, por implicação nos obriga a

respeitar o status quo, como se fosse uma ordem cósmica que está para além do

nosso controle ou influência. Estas crenças incapacitantes fazem que perante um

conflito possamos pensar: “Ninguém ganha um conflito”, “Algumas pessoas são

simplesmente más/arruaceiras, agressivas, etc”, “As pessoas estão sempre motivadas

por interesse próprio”. Desafiando estas crenças tão deterministas e absolutistas pode

ajudar-nos a sentirmo-nos mais “em controle” e responsáveis, em vez de, à mercê dos

acontecimentos e ajudar a fortalecer-nos.

A hierarquia. Muitas crenças incapacitante em relação à hierarquia podem levar-nos

a pensar que as pessoas em posições superiores são superiores a nós “Quem somos

nós para desafiá-los?” A tendência é internalizar numa idade muito precoce a ideia

que aqueles em posições de autoridade e poder, são superiores em tudo, e que

desafiá-los é inútil e impossível de serem derrotados. Muitas pessoas, especialmente

aquelas no poder ou de grau superior, querem fazer-nos acreditar que são superiores

em muitas coisas para além da sua posição social. Muitas pessoas fazem-nos

acreditar nesse estatuto superior, dado que tais crenças como a hierarquia confere

muitos benefícios e privilégios para aqueles em posições superiores. Elevar a

consciência e questionar a hierarquia poderia torná-los vulneráveis à perda de

benefícios, privilégios e influência.

Por vezes somos levados a internalizar pensamentos do género: “O chefe conhece

melhor, não é minha responsabilidade”, “É melhor manter a cabeça abaixo do

parapeito”, “você não pode lutar contra os tubarões”, “O mais poderoso sempre vence

no final, não há como desafiá-los”. Isto reflete as crenças que impedem a alteração da

mentalidade contra a hierarquia, alterações essas que muitas vezes são necessárias,

mas que evitamos quando lidamos com os conflitos.

Os outros. As crenças incapacitantes relacionadas com os outros, incluem a noção

de que os outros têm crenças semelhantes, valores e princípios, tal como nós temos,

Page 70: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

68

mas se não tiverem, eles estão errados ou há algo errado com eles. Por isso,

esperamos que os outros se comportem de formas prescritas, ainda que nós só

possamos tomar consciência das expetativas que temos quando alguém age de uma

forma que contraria as “regras”. Durante um conflito, podemos sentir-nos

decepcionados, traídos ou enganados quando alguém não joga pelas regras, mais

concretamente, as nossas regras, e tendemos a culpá-los por mau comportamento.

Tais crenças e regras muitas vezes são implementadas nas nossa linguagem na

forma de “deveria de…, tenho de…, não consigo”, e assim por diante, e supomos que

os outros também têm essas normas e que devem orientar-se por elas para serem

boas pessoas e integras. Às vezes, nós tomamos essas crenças por certas e

verdadeiras que ficamos chocados ou achamos difícil aceitar que os outros pensem de

forma diferente.

O que fazer?

A descoberta de que os outros operam a partir de um conjunto diferente de crenças ou

de regras precisa ser usado como um gatilho para explorar essas crenças diferentes,

e não como uma oportunidade para catalogar, culpar ou castigar os outros como

tantas vezes acontece na manipulação destrutiva do conflito. O primeiro passo é

reconhecer que existe uma determinada crença que está ativada (em funcionamento),

e o segundo passo é conscientizar-se do sistema de crenças e suspendê-las (não

nos guiarmos por elas) para que não se tornem na força motriz do nosso sentimento e

comportamento, pelo menos até que possamos verificar a sua validade, as suposições

subjacentes e regras. Isso exige competência emocional, que nos pode ajudar a

descobrir muitas das expetativas irreais, inadequadas ou simplesmente expetativas

não expressas que criam tantos conflitos e desrespeito pelas crenças e direito de

escolha dos outros.

Examine as suas crenças

Algumas crenças são contra-produtivas para o que você diz que quer fazer. Não seria

bom identificar essas crenças? Examiná-las para verificar a sua validade? Existirão

por certo muitas crenças auto-destrutivas, apresento apenas algumas que identifiquei

Page 71: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

69

em mim mesmo e na observação dos outros. Você acredita em algumas das coisas

que se seguem?

Crenças auto-sabotadoras:

Eu não posso mudar. Este é apenas o jeito que eu sou.

Os meus sentimentos são reações naturais, e não algo que posso

controlar/gerir.

Se eu controlar/gerir os meus sentimentos, eu vou ser um robô.

Eu tenho que ter (amor, sexo ou dinheiro), a fim de ser feliz.

Se eu não me sinto culpado, eu vou continuar a fazer coisas “más”.

Você tem que fazer algumas coisas (mais impróprias) que você não quer fazer

nesta vida.

Sem dor, não há ganho.

Se eu fosse feliz o tempo todo, eu seria um idiota cheio de energia.

As pessoas que estão otimistas não são realistas

Se a felicidade fosse a minha prioridade, eu seria imprudente para com os

outros.

É um mundo cão lá fora.

Quem nasce na lama, morre na lama

O mais poderoso sempre vence no final

Porque é que as suas crenças são tão importantes quanto os

seus genes?

Bruce Lipton no seu livro: The Biology of Belief, apresenta uma visão completamente

reveladora do poder que tem acreditarmos em algo. Temos ouvido muitas vezes a

frase: “Bem, você não pode mudar os seus genes” Ou: “Eu sou deste jeito, não posso

fazer nada para mudar isto.” Parece ser do conhecimento comum pensar que existem

algumas doenças que são causadas por “fatores genéticos”. Como se isso sugerisse

que aqueles que adoecem são pessoas com pouca sorte. Muitas pesquisas e

relatórios (julgo que erradamente) afirmam que a grande maioria do nosso

comportamento, saúde e até mesmo a nossa personalidade, é pré-determinada pelos

Page 72: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

70

genes que recebemos dos nossos pais. A noção que muitas pessoas têm, como

sendo impotentes para mudar os nossos genes leva-os a desenvolver ressentimento

para com os seus pais e possivelmente também com Deus. Podem perguntar: “Porquê

eu?” ou dizer “A vida não é justa.”

Por vezes vai-se criando um tipo de realidade, não necessariamente algo verdadeiro,

que nos desencoraja, que nos coloca numa situação de vítima, atribuindo-nos

passividade e ausência de controle nas nossas vidas. De vez em quando, porém,

alguém vem e desafia esses paradigmas de longa data. Alguém que faz perguntas

como: “E se tudo o que pensávamos que sabíamos estava errado?” ou “E se a nossa

composição genética não é gravada na pedra?” Melhor ainda: “E se há realmente algo

maior do que os nossos genes, algo que tem o poder de mudá-los?”

No início dos anos 80, Bruce Lipton estava fazendo uma pesquisa sobre as células de

tecidos humanos na Universidade de Wisconsin. Ele usava células de pessoas e

colocava-as em placas de cultura e estudava-as. Durante o seu trabalho, ele deparou-

se com algumas realizações surpreendentes que abanou toda a realidade científica,

quando ele explicou o funcionamento de uma célula e o papel do ambiente na

determinação do comportamento dessa célula.

Revolucionário: Por um lado, ele descobriu que era a percepção que a célula tinha do

seu ambiente (e não os genes), que controlava a célula. Assim, por exemplo, quando

uma célula percepcionava perigo no seu ambiente, ela podia alterar os seus genes de

uma determinada maneira para arranjar uma forma de fugir desse perigo.

Descoberta: Embora os genes controlem o comportamento, a percepção que a

célula tem do ambiente controla os genes.

Bruce Lipton cunhou isso de “Controle Epigenético“, que significa “Controle sobre os

genes”. Basicamente, uma célula faz monitorização do ambiente à procura de

mudanças e, com base na percepção do ambiente (suas crenças), a célula irá

modificar a genética para ter a melhor chance de sobrevivência. Faz sentido. A célula

recebe informações sobre o meio ambiente e, em seguida, muda os seus genes de

modo a que seja capaz de prosperar nesse ambiente.

Page 73: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

71

Extraordinário: Assim, verificamos que a evolução está ocorrendo a todo o

momento.

Olhar o mundo e sua influência

A velha crença científica defendia que a evolução aconteceu principalmente através

do processo de reprodução em que um organismo transmitia os seus genes aos seus

descendentes, ficando esta ideia vincada em conceitos como: seleção natural e da

sobrevivência do mais apto. Esta “Nova Biologia” mostra-nos que a qualquer momento

no tempo, nós realmente temos a capacidade de mudar os nossos genes para

atender/adequar-se melhor ao nosso ambiente. Na verdade, nós não temos somente a

capacidade, já estamos fazendo isso. Todos nós já ouvimos falar sobre o processo de

cancro (câncer) e como as células sofrem”mutações” tornando-se nocivas e

destrutivas para o corpo. Poderá ter algo a ver com a nossa percepção acerca do

ambiente, ou seja, das nossas crenças?

Provavelmente esta é uma resposta difícil de obter-se, não existirá apenas uma razão

para o aparecimento dessa doença por vezes fulminante. Mas, se as nossas células

estão mudando em resposta ao mundo que vemos lá fora, então o que acontece

quando passamos a ver um mundo mau, problemático e sem boas perspetivas?

O que acontece quando vemos as notícias ruins todos os dias, os terrores infligidos à

humanidade, ou o crescimento da negatividade?

A reter: Lembre-se, os nossos genes não mudam em resposta ao mundo, mas

sim em relação à nossa percepção do mesmo.

Se vemos um mundo que é perigoso e ameaçador, então os nossos genes vão

mudar para adaptar-se a esse mundo: O nosso corpo vai concentrar todas as suas

energias na sobrevivência a curto prazo, o sangue será direcionado para os músculos,

as nossas glândulas supra-renais irão queimar as nossas reservas de energia, o

nosso sistema imunológico vai enfraquecer, e teremos menos capacidade de pensar

racionalmente e com mais respostas instintivas e reativas.

Page 74: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

72

Por outro lado, se vemos um mundo que seja seguro e pacífico, então os nossos

genes vão mudar para adaptar-se a esse mundo: O nosso corpo vai concentrar

todas as suas energias na sobrevivência a longo prazo; o sangue será direcionado

para os nossos órgãos, o nosso cérebro irá libertar endorfinas, o nosso sistema

imunológico será reforçado, e teremos capacidade de pensar de forma mais racional e

de maneira menos instintiva e reativa.

Eu gosto desta segunda opção. Ainda assim, as coisas não têm de ser

necessariamente boas ou más, perigosas ou seguras. A vida gira em torno de coisas

antagónicas, existindo inevitavelmente um pouco de ambas. No entanto, quando

percebemos que a nossa percepção, efetivamente, muda-nos a um nível físico, não

fará sentido que, conscientemente, façamos a escolha de para quem e para o quê ou

para onde é que dirigimos a nossa atenção? Além disso, não é apenas o mundo que

vemos diante de nós que devemos levar em consideração, isso inclui o mundo que

vemos quando olhamos para o nosso passado.

As emoções evoluíram como uma forma de nos ajudar a sobreviver. Durante uma

experiência em que percebemos o perigo, as nossas emoções marcam uma memória

do acontecimento na nossa mente. Isto significa que se estivéssemos comendo frutos

junto ao rio e um leão nos atacasse, nós emocionalmente lembrar-nos-íamos de tudo

que aconteceu nesse momento terrível, o que comíamos, o que nós estávamos

fazendo, que hora do dia era, e assim por diante. Dessa forma, a próxima vez que nós

voltássemos a estar nessa situação ou noutra situação semelhante, a nossa emoção

iria alertar-nos de uma possível recorrência desse perigo.

A saber: Os acontecimentos traumáticos imprimem memórias e emoções na

nossa mente, com o objetivo de ajudar-nos a sobreviver.

O problema com as emoções, é que podem ser acionadas em momentos aleatórios e

empurrar o nosso sistema para o modo de proteção, mesmo que não estejamos

realmente em perigo. O que quer dizer que se nós tivermos muitas experiências

emocionais traumáticas do nosso passado, então, essas memórias podem ser

desencadeadas e reagirmos como se elas ainda estivessem acontecendo. Quando

isto sucede, quando nos começamos a movimentar de acordo com as nossas

angústias do passado, ficamos mais vulneráveis em termos psicológicos e

Page 75: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

73

emocionais. Ficamos mais propensos a poder desenvolver algum tipo de transtorno

psicológico que nos dificulte a vida, tais como: Ansiedade, fobia social, ataques de

pânico, depressão, stress pós- traumático, ansiedade generalizada, entre outros. Ou

mesmo alguns problemas mais subtis, mas igualmente perturbadores, tais como:

mentalidade de vítima, timidez excessiva, baixa autoestima, baixa autoconfiança,

excesso de preocupação, entre outros.

A saber: Vemos um mundo perigoso e/ou problemático, porque temos

experiências emocionais que alteram a nossa percepção.

De acordo com o que tenho vindo a apresentar, podemos retirar duas ideias que

podem ser-nos muito úteis para a nossa reestruturação mental e consequente

evolução da nossa mente. Primeiro, devemos tentar conscientemente e

intencionalmente decidir para onde e para o quê queremos dirigir a nossa atenção.

Segundo, devemos esforçar-nos para deixar de sermos controlados pelas nossas

velhas crenças inadequadas, ou pelas experiências dolorosas do passado que nos

imprimiram formas “pesadas” e incapacitantes de olhar o mundo.

Como fazemos isso? Na verdade já existem algumas formas eficazes que nos podem

ajudar. No fundo, tudo se resume à possibilidade e consequente capacidade que

todos temos para reprogramar a nossa mente e atualizar as nossas emoções de

acordo com aquilo que queremos para a nossa vida. Quando realmente entendemos

que temos o poder de mudar-nos, de evoluirmos e de mudar o nosso mundo, torna-se

realmente entusiasmante e capacitador. É ou não é, empolgante e esperançador?

Assim, proponho que reflita por um momento, em si mesmo:

O que você gostaria de mudar na sua vida?

Qual a parte do seu corpo que você gostaria de curar/melhorar?

Em que tipo de mundo você gostaria de viver?

Você pode aplicar essas ideias e técnicas para literalmente criar o que quiser.

Então o que você está esperando? Faça alguma coisa!

No meu caso, muitas vezes, aprendo melhor sobre as coisas quando tenho um

conhecimento muito profundo da ciência que suporta uma nova descoberta. As nossas

crenças podem ir mudando ao longo da vida e, isso deixa-nos uma margem de

Page 76: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

74

manobra para que possamos trabalhar no sentido de ir reestruturando o nosso

pensamento e aquilo em que acreditamos ou queremos vir a acreditar. De acordo com

esta abordagem, abre-se uma porta para podermos sonhar com um mundo melhor,

pois permite-nos implementar formas e atitudes facilitadoras que nos coloquem em

vantagem para mais facilmente alcançarmos aquilo que desejamos. Isto, caso

queiramos melhorar-nos e consequentemente desejarmos um mundo melhor para

todos.

ACABAR COM AS DESCULPAS

Saiba o quanto o seu diálogo interno orienta a sua vida

A visão que cada um de nós tem ou faz acerca da nossa própria vida é

tremendamente influenciada pelo nosso "diálogo interno." Aquilo que dia após dia

vamos dizendo e relatando para nós mesmos vai literalmente dando forma à nossa

vida interna e externa. Aquilo que cada um de nós pensa acerca do que a nossa vida

é ou representa para nós, é fundamentalmente e principalmente a representação

externa do nosso diálogo interno silencioso.

O que importa reconhecer na força do nosso diálogo interno, é que se ele nos ajuda a

perceber o nosso mundo exterior e influencia a forma como atuamos nele, certamente

também pode ajudar-nos a entendermos melhor o nosso mundo interior, assim como

contribuir para a sua regulação, orientação e mudança. O nosso diálogo interno é uma

ferramenta extraordinária que quando usada em consciência e alinhada com as

nossas intenções, objetivos e valores potencia a obtenção dos resultados desejados.

Percebendo a influência que a construção frásica silenciosa tem na nossa vida, e a

forma como se envolve com os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos,

ficamos na posse de informação que permite influenciarmos a nós mesmos,

contribuindo para a nossa melhoria de vida.

Coisas que não deve dizer para si mesmo

Page 77: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

75

Há um léxico de frases que podem destruir cada um de nós. Elas têm o poder para

impedir o progresso, matar um sonho e, consequentemente, transformá-lo numa

pessoa mal-humorada que você não reconhece, podendo vir a desprezar-se a si

mesmo.

As palavras proferidas variam de acordo com as pessoas, mas os sentimentos

venenosos que emergem são universais. Essas mensagens que dizemos a nós

mesmos servem apenas para nos fazer sentir vergonha, impotência e infelicidade.

Qual a razão para fazer isso para si mesmo? Porque passou a ser o seu próprio

inimigo?

Ao longo do tempo temos tendência para ir construindo a nossa própria lista de

palavras que inspiram à desgraça, miséria e negativismo. Mas, com uma atenção

redobrada você pode ser capaz de identificar as ameaças verbais silenciosas mais

cortantes. Assim que tome consciência do tipo de diálogo que usualmente tem consigo

mesmo, e caso identifique alguns padrões de fala depreciativa, pode nesse exato

momento começar a fazer algo.

A saber: Os pensamentos intencionais, ou subtis, positivos ou negativos são

reais, assim como os respetivos diálogos internos, porque possuem uma tremenda

força para a ação.

Segundo Martin Seligman, um especialista em psicologia positiva, existe validade nas

nossas intenções e crenças, o que se conhece como auto-realização de profecias. A

sua pesquisa indica que as pessoas possam prever e determinar o seu futuro pela

forma como explicam os acontecimentos e experiências nas suas vidas.

Em termos simples, Seligman diz: "Os sentimentos positivos sobre uma pessoa ou

um objeto levam-nos a abordá-los e a aproximarmo-nos, enquanto os sentimentos

negativos levam-nos a evitá-los."

E mesmo que o pensamento positivo não forneça os resultados desejados, o que

pode existir de benéfico em caminhar na vida nunca olhando para a frente em direção

a alguma coisa? Tal como Seligman, eu acredito que o que expressa para o mundo

acabará por ser devolvido de alguma forma para você. É com base neste principio que

Page 78: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

76

devemos considerar a forma como comunicamos connosco, com os outros e com o

mundo em geral.

Deixe de dizer desculpe, eu não sei, eu não consigo

A forma como verbalizamos aquilo que pensamos acerca das coisas, influencia as

nossas atitudes, percepções, noção de capacidade, autoestima, autoconfiança, e isto,

joga um papel importante na vida de cada um de nós. Ao dizer: “Eu não sei, desculpe-

me, eu não posso, eu não quero” alteram sem sombra de dúvida a sua mentalidade e

forma de ser. Através de algumas observações das pessoas no seu dia-a-dia, notei

que é comum usarem essas frases populares sem que conscientemente percebam o

quão negativas e prejudiciais podem ser para as suas vidas. E você, verbaliza

muitas vezes este tipo de palavras, como: eu sinto muito, eu não sei, eu não

consigo? Não querendo ser extremista, este padrão de linguagem quando excessivo,

limita muito o potencial que cada um de nós possui para alcançar aquilo que

queremos, sendo um impedimento no caminho para o crescimento, desenvolvimento e

felicidade.

Vamos então abordar cada uma destas verbalizações e tentar perceber o seu efeito

na nossa forma de raciocinar. Vamos também considerar algumas frases alternativas

que podemos usar no lugar das “negativas”, e que são mais favoráveis ao nosso

crescimento pessoal. Mas primeiro, vou explicar algumas coisas sobre a nossa mente

subconsciente.

A nossa mina de ouro escondida: a Mente Inconsciente

Nós funcionamos graças a uma extraordinária harmonia entre a nossa mente

consciente e a subconsciente. Os nossos hábitos e padrões de comportamento

residem na mente subconsciente. Nem sempre estamos cientes da razão pela qual

reagimos de determinada forma aos acontecimentos, apenas sabemos que reagimos.

É a mente subconsciente que governa essas reações, baseada na informação e nas

emoções que estão armazenadas. A nossa mente subconsciente armazena a maioria

Page 79: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

77

das informações no nosso cérebro, e pode processar muito mais dados ao mesmo

tempo (cerca de 2 biliões de vezes mais) do que a mente consciente. Erradamente,

muitas pessoas acreditam que é a mente consciente que controla tudo, porque é a

única expressão do cérebro que estamos cientes. E normalmente associamos a nossa

mente consciente, como sendo o “eu”. Mas na verdade nós somos muito mais do que

aquilo que estamos cientes que somos. Freud, afirmava que, assim como a maior

porção do icebergue, grande parte da mente fica escondida debaixo da superfície e é

influenciada por forças não observáveis.

Se a nossa mente consciente está de fato “sob o nosso controle” como nós

acreditamos, então porque razão muitas pessoas se inscrevem em academias, depois

do ano novo, e nunca chegam a ir? Porque é que mesmo depois de termos decidido

sobre algo que realmente queremos (como um novo hobby), não iniciamos os

comportamentos que cumpram a nossa vontade? Enquanto a nossa mente consciente

é o capitão do nosso barco, a nossa mente subconsciente é o pessoal da sala das

máquinas, assegurando o funcionamento do navio. Dado que a mente consciente tem

capacidade limitada e só pode tomar conhecimento de um conjunto muito limitado de

informações de cada vez, a nossa mente subconsciente só considera aquilo que

julgamos ser importante. Então, como é que a nossa mente subconsciente sabe o

que é importante? Não sabe. A mente subconsciente determina isso, com base na

frequência de indicações que recebe acerca de uma determinada situação, a partir da

mente consciente.

A reter: Cada vez que temos um pensamento consciente, ou verbalizamos

palavras em voz alta, ou visualizamos um cenário na nossa imaginação, tudo isto

vai sendo registado na mente subconsciente, transformando-se num hábito,

padrão ou convicção através da repetição.

Como uma ordem do capitão, se é nossa intenção ou não, a ordem é executada de

alguma forma, ela deixa uma impressão na mente subconsciente. Se verbalizarmos

muitas vezes palavras de incapacidade, mesmo que sejam ditas como uma forma de

proteção, irão acabar por influenciar a maneira como nos comportamos.

Dica: Aquilo que dizemos de forma repetida, vai sendo registado na mente

subconsciente. Vai ganhando força, e em situações idênticas iremos ter sempre o

Page 80: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

78

impulso de repetir as mesmas coisas. Isto é verdade para ambos os pensamentos,

os que são favoráveis e não favoráveis para o nosso bem-estar.

Estamos todos familiarizados com algumas palavras ou frases que expressam

“negatividade” ou “incapacidade” nas comunicações diárias que fazemos. Apresento

alguns exemplos:

Sinto muito, mas …

Desculpa sobre aquela situação …

Acho que não vou ser capaz de …

Não sei se vale a pena o esforço …

Desculpe… Sinto muito

Ao responder a um e-mail dois dias depois de recebê-lo, muitos de nós insistimos em

iniciar o e-mail com, desculpe. Agora considere o seguinte: Fizemos alguma coisa de

errado? Nós estamos realmente a sentir pena? Ou estamos simplesmente a repetir

um “dizer” popular? O que é que ganhamos ao dizer isso?

Experimente o seguinte: Feche os seus olhos e repita a palavra na sua imaginação ”

desculpe-me”. Pode até mesmo dizê-la em voz alta. Agora observe aquilo que está a

sentir. Você sente um leve aperto no seu estômago? Ou uma secura na sua garganta?

Você tem sentimentos de culpa? Agora imagine que esse sentimento de culpa é

acionado em nós cada vez que dizemos as palavras “Sinto muito”, quando

repetidamente usado. Lembre-se de como a nossa mente subconsciente recebe

ordens do que dizemos? Se dizemos repetidamente que “sentimos muito” por coisas

triviais, isso irá ficar registado como se tivéssemos feito algo errado, assim,

reforçamos um padrão psicológico negativo, desnecessariamente. Além disso,

criamos uma associação entre esse sentimento e as ações tomadas. Então, se nós

repetidamente dissermos, sinto muito, cada vez que respondermos a e-mails com

atraso de dois dias, estamo-nos programando para sentir culpa sempre que não

respondemos aos e-mails imediatamente.

Page 81: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

79

A levar em consideração: Quanto mais repetir essas palavras, mais diluído irá

ficando o seu verdadeiro significado, correndo o risco de banalizar as desculpas

ou viver à sombra dessa atitude.

Todos nós somos seres sensíveis, e percebemos quando os outros não estão a sentir-

se genuinamente arrependidos. Recomendo, que reserve as palavras – eu sinto

muito, para situações em que você realmente sinta isso, e precise dessas palavras

para expressar os seus sentimentos genuínos.

Sugestões para a ação:

Observe-se no seu dia-a-dia e tente perceber quantas vezes tem o impulso

para dizer, “desculpe” ou “sinto muito”.

Cada vez que tecla no e-mail ”desculpa” ou “sinto muito” ou percebe que está a

verbalizar isso, pergunte a si próprio: “estou mesmo a sentir arrependimento?”

Ou estou apenas a dizê-lo?” Se a resposta for, “Estou apenas a dizer isto

porque irá ficar bem”, apague rapidamente isso do e-mail. Deixe de se

movimentar pelo arrependimento.

Faça um esforço para reduzir a frequência dessa palavras incapacitantes e

desprovidas de sentido na grande maioria das vezes. Abandone esse cliché e

expresse esse sentimento apenas quando extremamente necessário.

Page 82: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

80

Eu não sei

Muitos de nós na hora de tomar uma decisão, somos apanhados a dizer: “Eu não sei”.

É uma resposta muito popular porque provavelmente tornámo-nos preguiçosos e

fomos condicionando o hábito de o dizer. Apresento em seguida algumas variantes

usualmente expressas:

Eu não sei onde é que é…

Eu não sei o que fazer…

Eu não sei o que escolher…

Eu não sei…

Existe uma diferença entre não saber verdadeiramente algo e acreditar que não sabe

alguma coisa. Transmite uma conotação de que você não tem a capacidade de decidir

ou aprender algo novo. Ao verbalizarmos repetidamente e de forma casual este tipo

de palavras, elas tornam-se banais ao ponto de já não as utilizarmos apenas quando

nos sentimos atacados pela preguiça ou não sabemos realmente algo.

Atenção: Corremos o risco de o hábito se transformar numa atitude tão enraizada que

às vezes, até mesmo para a menor decisão, encolhemos os ombros e dizemos “não

sei”. E porquê? Porque é uma resposta fácil. Não temos que pensar.

Decisões triviais como, “Que tipo de pasta devo pedir para o almoço?”, “Que cor devo

eu escolher?” Qualquer um de nós pode cair na tentação de dizer, “Eu não sei” em

situações semelhantes. Se for o seu caso, você certamente não estará sozinho. Diz-se

este tipo de frases por parecer-nos ser a forma mais fácil, no entanto existe o lado

aversivo desta facilidade ilusória, que é o fato de nos ir condicionado a crença de que

a indecisão é uma coisa boa. E, certamente que não é. Acabamos deixando as

decisões em aberto, enquanto isso nos consome a nossa energia mental,

desnecessariamente. Muitas vezes, nós temos a resposta, mas ficamos hesitantes em

verbalizá-la por medo que possa ser errada. Então, em vez disso, dizemos: “Eu não

sei”.

Cada vez que usamos este tipo de verbalização, estamos a transmitir à nossa mente

subconsciente que somos uma pessoa indecisa. “Eu não poderei ser inteligente e

confiante se não consigo sequer decidir a mais simples das escolhas. Eu não sou

Page 83: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

81

capaz de tomar uma decisão sobre questões importantes”. Provavelmente estarei a

exagerar neste exemplo, pois as coisas nem sempre são assim tão taxativas, no

entanto se este tipo de verbalizações for recorrente no nosso tipo de discurso, o

exemplo anterior faz todo o sentido.

A reter: Aquilo que repetidamente fazemos, torna-se um hábito.

E se solidificarmos o hábito da indecisão à custa da hesitação sobre pequenas

decisões, como é que iremos reagir quando necessitarmos de tomar decisões

importantes na nossa vida, trabalho ou relacionamentos? Provavelmente de forma

indecisa!

Sugestões para a ação:

Substituir a expressão “não sei” quando tomar uma decisão com uma frase alternativa.

Apresento algumas ideias:

Dê-me um momento, ainda não decidi…

Deixe-me pensar acerca do assunto…

Estou a avaliar as minhas opções

Ok, deixe-me ver…

Pratique, repetindo frases alternativas, para que possa internalizá-las e dizê-las

quando for o caso, em lugar de “eu não sei”. Em vez de querer ocupar o espaço e os

silêncios com “não sei” ao ser feita uma pergunta, experimente não dizer nada de

imediato. Faça uma pausa antes de falar.

Page 84: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

82

Outras formas de “Eu não sei”

As outras formas de “Eu não sei”, tendem para uma capacidade de não conseguirmos

fazer alguma coisa. Apresento exemplos de variações:

Eu não sei como fazer…

Eu não vejo…

Eu não me lembro…

Eu não consigo…

Eu não sou capaz…

Eu não tenho capacidade para…

Mais uma vez, nós dizemos repetidamente este tipo de frases porque são fáceis.

Lavamos daí as nossas mãos, e simplesmente declaramos não saber. Na grande

maioria das vezes desistimos sem sequer tentar. Não iniciamos qualquer tipo de

esforço, e rendemo-nos às frases que estamos habituados a que nos martelem a

cabeça. Vamos assim fazendo crescer as ervas daninhas da preguiça, vamos

permitindo que se instale a inépcia.

Considere o seguinte cenário:

Pessoa A: “Onde está o sal?”

Pessoa B: “Na prateleira da cozinha.”

Pessoa A: “Eu não o vejo.”

A pessoa B dirige-se onde está a pessoa A, coloca-se onde ela está, olha para o sitio

para onde ela estava a olhar e tira o frasco do sal. Estava mesmo à frente dos olhos

da pessoa A.

Você identifica-se com o cenário? A mim, já me aconteceram situações idênticas. A

pessoa A não terá visto realmente o sal? Ou a pessoa A, acreditou que não via o sal?

Certamente terá sido isso mesmo, acreditamos por vezes não ver as coisas, não

conseguir fazer ou não sermos capazes, não que não tenhamos capacidade ou

Page 85: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

83

habilidade para tal, mas simplesmente porque não nos damos ao trabalho de nos

colocarmos num estado de recursos. Não nos colocamos num estado de capacidade e

ação face ao que pretendemos realizar. Não procuramos em nós uma forma de

arranjar ou encontrar uma solução para o problema. Torna-se mais fácil dizer: não sei,

não consigo, não sou capaz!

Relembra-se, que a nossa mente subconsciente assume o comando baseando-

se nas nossas palavras? Quando dizemos a nós mesmos que não conseguimos ver

algo, estamos a passar a mensagem em forma de comando (ordem) para a nossa

mente subconsciente. Desta forma, acontece um comando de autosabotagem à tarefa

que queríamos realizar, e os estímulos que nos chegam associados ao objetivo

(agarrar o sal) deixam de ser processados. É quase anedótico, não é?

Como é que é possível não vermos algo que está mesmo na nossa frente? Agora

você já sabe. Isto acontece, porque verbalizamos mensagens de incapacidade que

irão assumir o comando das nossas ações, sabotando tudo o que se opuser a essa

ordem (por exemplo, ver o sal). Conseguir ver o sal era contraditório à ordem da

incapacidade construída pela pessoa A. Da mesma forma, quando dizemos “Eu não

me lembro”, estamos a dizer à nossa mente subconsciente para não nos deixar saber

a resposta, mesmo que a mente consciente se lembre. Então, como temos as

memórias armazenadas no nosso subconsciente, temos deliberadamente que enviar a

ordem de não trazer as memórias para a nossa consciência, para que aconteça o ato

de não nos lembrarmos.

A saber: Este é o ato da autosabotagem, deliberadamente impedimo-nos de

conseguirmos fazer algo, que na realidade temos capacidade para fazer.

Sugestões para a ação:

Praticar a reformulação de frases não-favoráveis às formulações que sugerem

possibilidades. Vejamos alguns exemplos:

Quando se ouvir a dizer, ” Eu não vejo sal nenhum na prateleira”, reformule e

pergunte a si mesmo, “Onde é que poderá estar o sal? Tenho de o encontrar.”

Page 86: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

84

Quando tiver o impulso para dizer, “Não me lembro onde coloquei as chaves?”,

reformule a pergunta para, ” Onde é que elas poderão estar? Qual foi a última

coisa que me lembro antes de guardar as chaves?”

Ao invés de dizer, “Eu não sei como fazer…”, reformule para, “Eu ainda não

aprendi como fazer isto, mas eu posso aprender. E depois serei capaz.”

Ao invés de dizer, “Eu não consigo abrir isto…, reformule para, “Se eu pudesse

abrir isto, como é que faria? Vou continuar a tentar, eu consigo abrir isto.”

Pratique, repetindo frases alternativas, e use-as sempre que for apropriado.

Torne as frases alternativas (mas muito mais capacitadoras e construtivas),

num hábito.

Eu não consigo

Esta é uma frase comum, e confesso que mexe muito comigo quando a ouço de forma

deliberada, principalmente aos atletas que treino ou aos que aplico programas de

preparação mental. É na verdade uma frase que retira capacidade e, acima de tudo,

retira-nos a possibilidade de nos focarmos nas ações que nos poderiam levar a

conseguirmos fazer. Apresento algumas variações:

Eu não consigo encontrar…

Eu não consigo fazer…

Eu não consigo colocar isto a funcionar…

Eu não consigo lembrar-me…

Eu não tenho tempo…

Eu não me consigo decidir…

Eu não consigo fazer isso hoje…

Quando dizemos que não conseguimos fazer algo, de forma deliberada, estamos

simplesmente a declarar a impossibilidade como uma resposta definitiva. Estamos a

dizer a nós mesmos que nunca seremos capazes de o fazer, porque não temos as

capacidades necessárias. Existem na verdade situações incapacitantes que provam

não sermos capazes ou termos capacidade para algo. Existe no entanto, uma

diferença entre não ser fisicamente capaz para fazer algo, e mentalmente

acreditar que não temos o que é necessário para conseguir. É exatamente este

assunto que importa refletir, e o qual tenho vindo a realçar.

Page 87: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

85

Dizendo simplesmente que não conseguimos fazer algo, estamos a sugerir que não

temos a capacidade para aprender, que estamos a desistir, que estamos a abrir mão

dos dons que temos. Tal como dizer coisas como, “Eu não consigo fazer isto” ou “Eu

não encontro isso” ou ” Eu não consigo ter isso pronto”, estamos a negar a nós

próprios a possibilidade de encontrar uma solução. Estamos a cegar a nossa própria

vista. Estamos a secar a nossa fonte do saber.

Dizendo que não temos tempo, estamos a dar a impressão nós próprios que estamos

muito ocupados, o que por vezes nos faz sentir importantes. Mas isto é uma ilusão.

Sim, por vezes nós temos a nossa agenda muito preenchida, mas dizer que não

temos tempo, normalmente quer dizer que nós não queremos fazer determinada

coisa. Não ter tempo suficiente é na grande maioria das vezes uma desculpa. Se for

suficientemente importante para nós, acabamos sempre por arranjar tempo. É, ou não

é? Eu acredito que sim! Além do mais, se contabilizarmos o tempo que gastamos a

fazer coisas que por vezes não são prioritárias, certamente arranjaremos tempo para

todas as outras em que dizemos que não temos tempo.

Tal como no treino esportivo, em que os grupos musculares mais fracos são aqueles

em que temos de dedicar mais tempo, acredito que assim também deverá ser na

nossa vida:

Citação: “Se eu não consigo, então devo.” – Desconhecido

Experimente, verá que o que você usou para considerar ser impossível torna-se

subitamente e, provavelmente, muito acessível.

Sugestões para a ação. Construa e implemente frases alternativas às frases

populares de incapacidade. Apresento alguns exemplos:

Ao invés de dizer, “Eu não consigo encontrar isso”, diga, “Eu ainda não vi isso,

mas continuarei a procurar”, ou “Onde é que isso poderia estar?”

Ao invés de dizer, ” Eu não consigo colocar isto a funcionar…”, considere dizer,

“ Ainda não está a funcionar, mas continuarei a tentar até que fique” ou ” Ainda

estou a trabalhar nisso. Se tiveres um tempo ajudas-me.”

Ao invés de dizer, “Eu não consigo fazer isso hoje porque…”, considere deixar-

se de desculpas e dar uma resposta firme e honesta, respondendo, “Eu não

Page 88: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

86

vou conseguir agora, talvez numa próxima oportunidade, obrigado pelo seu

convite. Isso significa muito para mim.”

Pare de dizer ao outros que eles não conseguem fazer as coisas. Alternativas

para, “Você não consegue fazer isso” são, “Eu prefiro que você não faça isso”

ou “Eu não recomendo que você faça isso porque…” ou ” Eu tentei da última

vez e não funcionou para mim, talvez funcione consigo.”

Eu tenho de…

Este tipo de afirmação sugere que não temos alternativa, e que não temos controle

nas nossas vidas. Apresento algumas variações:

Eu tenho mesmo de terminar isto

Eu tenho mesmo de ir a este evento

Eu tenho mesmo de ganhar isto

Na verdade nenhum de nós tem de fazer coisa nenhuma. Este é um conceito que

importa pensar. Não vimos ao mundo com esta ou aquela obrigação. Não temos

forçosamente de ter de fazer isto ou aquilo. O mundo não acaba se nós não fizermos

determinada coisa (na quase totalidade dos casos). Nós sentimos que temos mesmo

de fazer algo, por poucas coisas. Por exemplo:

Dá-lhe prazer/beneficio. Isto é, algo que você gosta de fazer.

Reduz-lhe ou retira-lhe dor. Perder o emprego ou amizade, ou uma desculpa

para não fazer mais alguma coisa.

Semelhante ao dizer “desculpe” ou “sinto muito”, sugerindo que não temos alternativa

para fazer algo, introduzimos em nós o sentimento de culpa. Por exemplo, se não

quisermos ir a uma festa, mas sentirmos pressão para ir, e isso gerar um sentimento

de culpa, esta culpa é desnecessária. Esta culpa é criada por nós, pela noção errada

de que temos de fazer qualquer coisa. Ainda que em algumas situações de vida nós

possamos não ter o controle das coisas, porque não dependem de nós, na grande

maioria das vezes isto não acontece. Podemos ter controle sobre a nossa vida e

especialmente dos nossos pensamentos, verbalizações e decisões, substituindo, “Eu

tenho de” para, “Eu quero” ou “Eu faço isto porque traz-me muitos benefícios”. Talvez

você não queira ir à festa de aniversário do filho do seu amigo, mas você vai, porque

Page 89: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

87

irá contribuir para a felicidade do seu amigo nessa ocasião tão especial. A sua

presença irá trazer-lhe benefícios, porque irá fazê-lo sentir-se bem por ter contribuído

para a felicidade de um amigo.

Se decidir fazer algo que preferiria não estar fazendo, ao invés de tratá-la como uma

tarefa “pesada”ou encarando-a com pensamentos desagradáveis, porque não mudar a

sua perspetiva para que possa apreciá-la? Qual o benefício que vai trazer-nos o

prolongamento de pensamentos infelizes, usando, “eu tenho de fazer…” como

desculpa?

Sugestões para a ação:

Ao invés de dizer “Eu tenho de fazer isto”, diga, “eu quero fazer isto” ou “Eu

estou fazendo isto porque ____ (escreva aquilo que o beneficia)

Se você não que fazer determinada coisa, ao invés de dar desculpas às

pessoas, altere isso para, “Eu tinha todo o gosto, mas eu tenho de…”,

Graciosamente diga, “Obrigado pelo convite, mas esta noite irei ficar a

descansar em casa.” ou “Obrigado, mas já tenho planos para esta noite, talvez

par a próxima vez.” (nota: tirar um tempo para você descansar, conta como um

evento). Você não tem necessariamente de se comprometer, seja honesto e

transmita a informação de forma sincera e de cabeça levantada.

Palavras para refletir

A linguagem que usamos é incrivelmente poderosa. Exerce um comando direto à

nossa mente subconsciente. Quer estejamos cientes disso ou não, verbalizemos

casualmente ou não, a nossa mente subconsciente está à escuta. A nossa mente

subconsciente tira sempre notas mesmo quando não estamos a prestar atenção a

determinadas coisas. Tenho vindo a abordar especificamente a linguagem que

utilizamos, mas deixe-me dizer-lhe que o mesmo princípio é aplicado a outros

estímulos/impulsos sensoriais. Estímulos como por exemplo, os filmes que

visionamos, as roupas que vestimos, os pensamentos que repetidamente ecoamos na

nossa mente, o tipo de livros e blogs que lemos. Todos alimentam a nossa mente

subconsciente, mesmo que muito subtilmente, uns mais que outros, funcionam por

Page 90: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

88

vezes como emissores de ordens e consequentemente tratados como uma “voz” de

comando.

A reter: Aquilo em que acredita não reflete simplesmente a sua realidade, cria a

sua realidade.

A nossa mente subconsciente é uma ferramenta magnífica, aprender a tirar proveito

das suas funções pode ajudar-nos a alcançar os nossos objetivos e viver a vida que

desejamos. Por muito “oco” que isto lhe possa parecer, não deixa de ser verdade. Os

exemplos que apresentei, certamente ser-lhe-ão familiares. Fico esperançado que o

possam ter alertado e lhe possa dar a oportunidade para olhar de frente algumas

verbalizações não favoráveis que tenha no seu reportório e reformulá-las. Adapte os

exemplos, dê-lhes o seu próprio toque e, se possível transmita-os a outras pessoas.

ESTABELECER OBJETIVOS

Faça uma lista dos objetivos de vida

Nunca hesite em sentar-se consigo próprio e fazer uma lista acerca daquilo que

pretende para a sua vida. Todos nós necessitamos de ter uma perspetiva temporal de

futuro. Quanto mais coisas conseguir escrever, mas facilmente conseguirá perspetivar

o seu futuro. Infelizmente parece haver uma relutância ou espécie de mito sobre o fato

de fazer uma lista ou um registo de objetivos ser demasiado trivial. Eu não concordo,

acredito ser uma estratégia muito enriquecedora. Na verdade achamos mais lógico e

de valor fazer uma lista de compras, dos gastos do mês ou do que é necessário para

um picnic do que propriamente para a nossa vida em geral. Mas não será a nossa vida

mais importante que um picnic?

Liste as suas metas, sonhos e objetivos de vida

A lista tem o poder de tornar as coisas vivas e explícitas.

Pode começar por um simples exercício para ganhar o hábito de colocar as

coisas significativas da sua vida em registo:

Page 91: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

89

Liste todas as caraterísticas positivas que julgue ter.

Liste todas as coisas que se lembre das quais se orgulhe ter realizado

Liste todas as coisas que gostaria de ter feito e ainda não fez

Liste todas as capacidades ou habilidades que julga ter e ser necessárias para

fazer o que ainda não fez

Liste todos os sentimentos, valores e alegrias que julgue vir a obter quando

conseguir alcançar aquilo que deseja

Se tiver uma lista daquilo que pretende fazer ou obter na sua vida, certamente não se

perderá nos corredores da incerteza. Já experimentou ir a um Shopping Center sem

uma lista de compras? Se esqueceu a lista, certamente levará mais tempo a efetuar

as compras e acabará por comprar coisas que não necessitava e esquecer-se-á de

outras que lhe farão falta. Na nossa vida também poderemos ter alguns dissabores se

não tivermos bem presente o que pretendemos e o que deveremos fazer para atingir

os resultados desejados.

Avancemos então para algo mais concreto:

Liste todas as coisas que gostaria de fazer antes de acabar a faculdade, ou

antes dos 50 anos, ou antes de morrer. Mantenha a lista num sitio de fácil

acesso e que a possa consultar e acrescentar.

Liste as pessoas da sua vida que quer manter por perto, e manter contato. A

amizade é um bem precioso, pelo que não deve ficar esquecido. Sabe-se

através de vários estudos científicos que as pessoas com laços sociais fortes,

têm uma maior resistência ao stress e consequentemente um sistema

imunitário mais forte. Por mais absurdo que lhe pareça fazer esta lista, irá ficar

surpreso o quanto isso o pode relembrar de quem é importante para si e quem

o motiva.

Os objetivos e metas ganham força quando você os escreve, ficando mais poderosos

de cada vez que os reescreve ou acrescenta algo que beneficia a obtenção dos

mesmos. Quando listamos os nossos objetivos, estamos a escrever a nossa história

antes dela acontecer. Escreva o seu próprio guião de vida. Em seguida torne-se no

seu realizador e produtor. Se algumas coisas não acontecerem como desejava,

reescreva novamente o guião, e faça mais um “take” na sua vida. Faça quantos

Page 92: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

90

“takes” forem necessários até que o produto final fique como deseja. Nós temos o

poder de desejar e de realizar os nossos sonhos, quanto melhor os definirmos, melhor

preparados estaremos para realizá-los.

Dica: Liste, realize e produza as suas metas e objetivos.

Mantenha os olhos na recompensa

Em determinada altura ou em determinadas áreas das nossas vidas nós não

utilizamos o poder de foco. A grande maioria de nós não se foca devidamente no

objetivo. Sentimos muitas vezes uma espécie de caos interno, quase como se

tivéssemos apanhado um choque elétrico, porque repetidamente tentamos pensar em

demasiadas coisas ao mesmo tempo. Existem demasiadas coisas a passarem-nos

pela cabeça. O poder de foco é uma arma poderosa apontada à nossa meta. Aquilo

em que nos concentramos expande-se, seja bom ou mau, positivo ou negativo. A

capacidade que temos de mobilizar energia e recursos face ao que prestamos atenção

é enorme. No entanto, fazer duas tarefas exigentes ao mesmo tempo é por certo

difícil, e sobretudo não muito eficaz. Para realmente efetuarmos algo como o máximo

de perícia e dedicação é necessário direcionarmos toda a nossa atenção para a

tarefa, pensamento ou comportamento em que queremos ser bem sucedidos.

Perdemos o foco no objetivo, porque por vezes pensamos nas muitas possibilidades

negativas. Distraímo-nos pelas nossas preocupações e medos, inibimo-nos face à

perspetiva de fracasso. O fracasso é uma opção, mas o medo não. O ato de falhar ou

não conseguir fazer algo de forma eficaz, diz-nos que nos propusemos a fazer e/ou

tentar algo, em vez de apenas ficarmos sentados na nossa zona de conforto.

Devemos abandonar o medo de fracassar.

Dica: Foque-se no seu objetivo e dê a si mesmo a possibilidade de falhar. Com

isto em mente, você não irá distrair-se com os pensamentos de incapacidade, de

impotência e com as autosabotagens.

Page 93: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

91

O exemplo esportivo

Correr uma maratona é um teste de resistência. O corpo irá tentar resistir quando o

cansaço se instala, e o esforço de continuar a correr torna-se doloroso. Este é o

momento em que a mente do atleta necessita ser forte, dado que o corpo começa a

enviar estímulos de dor para o cérebro. Podem começar a surgir igualmente impulsos

para abrandar o ritmo, ou eventualmente para parar. A mente começa a gritar: ” Já

chega.” Se sua mente não é forte, vai ser superada pelos gritos de dor do corpo.

Nesta fase da corrida há uma coisa principal que irá dar à sua mente a força para

resistir a essa vontade de desistir e parar.

Que coisa é essa? A recompensa, o seu prémio.

Nunca perca de vista a recompensa. Qual é a sua recompensa? O seu objetivo,

sonho, meta é a sua recompensa. A sua recompensa de uma forma geral é alcançar o

seu propósito de vida, é tirar gozo das coisas que faz e às quais se propõe a alcançar.

Ao focar-se no desafio, meta ou objetivo de forma exclusiva, irá permitir fazer aquilo

que quer, quando quiser, com quem quiser.

Para refletir: Qual é a recompensa que faz você correr a sua maratona

(metaforicamente falando)?

Para não desistir, foque-se no objetivo

Apesar de ter um objetivo bem definido, de ter uma boa estratégia bem delineada, de

ter colocado em marcha um conjunto de ações no sentido de conseguir chegar onde

pretende, o cansaço pode instalar-se. O cansaço pode instalar-se por várias razões.

Talvez porque algumas das coisas que fez não surtiram o efeito desejado, porque

afinal lhe faltam recursos, porque acha que provavelmente o seu esforço não vai ser

recompensado. Muitas poderão ser as razões pelo qual pode neste momento sentir-se

cansado. Lembre-se, cansado não é sinónimo de desmotivado, não é sinónimo que as

coisas lhe correm mal. O cansaço pode ser origem de um bom prenúncio. O prenúncio

que deve fazer uma pausa, deve revitalizar-se, deve reconfortar-se, eventualmente

Page 94: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

92

abrandar o seu ritmo, mas não pare. Pelos menos não pare de vez, continue a

caminhar depois da breve pausa.

Apresento um breve trecho da canção da Banda Arkanjos, Passo Mais:

“Dai-me forças para dar um passo

Que eu cresça na tua vontade

Dai-me forças para dar um passo mais

Tantas coisas tenho deixado eu sei

Minhas paixões e minhas ilusões

Como posso andar com tanto peso assim? Não sei…

Só se o Senhor me tomar pela mão e me aliviar o peso desse fardo de dor.”

Algumas pessoas desanimam a meio do seu caminho. Desanimam por encontrarem

algumas contrariedades. Não quero dizer que por vezes não possamos desistir de

alguns objetivos que se comprovaram desmedidos, inalcançáveis ou até

ultrapassados pelo passar do tempo. Neste tipo de situações, saber desistir é uma

virtude. Mas a maioria das vezes algumas pessoas desanimam muito antes de

esgotarem as possibilidades existentes para virem a ser bem sucedidas, e de forma

antecipada partem para outra coisa. Certifique-se que isto não acontece consigo.

Mantenha forte a sua motivação.

Considere os seguintes aspetos para avaliar o caminho percorrido e o que ainda

pretende percorrer:

Escolha o caminho que pretende percorrer: não se deixe levar pelos

comentários de outros, dizendo “acho que é assim que deverias fazer”, ou

“esta é a maneira mais fácil”. Você irá gastar muita energia e muito entusiasmo

para atingir o seu objetivo, portanto é o único responsável, e deve ter certeza

do que está fazendo e porque razão está fazendo.

Page 95: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

93

Saiba como preparar o caminho: muitas vezes, a meta é vista de longe, bela,

interessante, cheia de desafios. Mas quando tentamos aproximarmo-nos, o que

acontece? os caminhos são sinuosos, existem obstáculos entre você e o seu

objetivo, o que aparece claro no mapa é difícil na vida real. Portanto, tente

todos os caminhos, as trilhas, até que um dia você se depare na frente da meta

que pretende atingir.

Aprenda com quem já caminhou por ali: por mais que você se julgue único,

existe sempre alguém que já teve o mesmo sonho ou no mínimo semelhante, e

terminou deixando marcas que podem facilitar a caminhada; lugares onde

colocar os pés, picadas, galhos quebrados para facilitar a marcha. A

caminhada é sua, a responsabilidade também, mas não se esqueça que a

experiência alheia ajuda muito. O caminho do sucesso deixa marcas, por vezes

basta segui-las.

As dificuldades, encaradas de frente, são controláveis: quando você

começa a caminhada rumo aos seus sonhos, preste atenção ao redor. Há

desvios e contratempos, claro. Há deslizes quase imperceptíveis. Há muita

competitividade, há mudanças constantes de rumo. Mas se você souber onde

está colocando cada pé, irá notar as armadilhas, e saberá contorná-las. Olhe

as dificuldades de frente, estude-as, aceite-as e prepare-se para as enfrentar,

assim não será apanhado desprevenido. Evite queixar-se daquilo que

suspeitava poder acontecer. Não erre por defeito, é preferível errar por

excesso.

A vida muda, os objetivos também, portanto aproveite: claro que é preciso

ter um objetivo em mente: chegar ao alto. Mas à medida que vai caminhando

para o seu objetivo, mais coisas podem ser vistas, e não custa nada parar de

vez em quanto e desfrutar um pouco o panorama ao redor. Parar um pouco,

permite refletir sobre o caminho já percorrido. A cada metro conquistado, você

pode ver um pouco mais longe, e aproveite isso para descobrir coisas que

ainda não tinha percebido.

Respeite o seu corpo: só consegue terminar a caminhada do êxito, quem dá

ao corpo a atenção que merece. Você tem todo o tempo que a vida lhe dá,

portanto caminhe sem exigir o que não pode ser dado. Se andar depressa

demais, irá ficar cansado e desistir no meio. Se andar muito devagar, a noite

Page 96: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

94

pode descer e você estará perdido. Aproveite a paisagem, desfrute das coisas

boas com que se vai deparando, mas continue caminhando.

Respeite a sua mente: não fique repetindo o tempo todo “eu vou conseguir”. A

sua mente já sabe isso, o que ela precisa é usar a longa caminhada para poder

crescer, expandir-se através da experiência, atingir a meta. Uma obsessão não

ajuda em nada a busca do seu objetivo, e termina por tirar o prazer da

caminhada. Mas atenção: também não deve ficar repetindo “é mais difícil do

que eu pensava”, porque isso fará com que perca a sua força de vontade.

Prepare-se para um esforço acrescido: o percurso até ao sucesso é sempre

maior do que você imagina. Não se engane, chegará o momento em que o que

parecia perto ainda está muito longe. Mas como você se dispôs a ir mais além,

isso não será um problema.

Alegre-se quando chegar à meta: chore, bata palmas, grite aos quatro cantos

que conseguiu, deixe que as suas emoções expressem o que estiver sentindo.

Fique agradecido, rejubile-se. Que bom, o que antes era apenas um sonho,

uma visão distante, agora é parte da sua vida, você conseguiu.

Memorize o caminho para o sucesso: aproveite o fato de ter descoberto a

fórmula que não conhecia, e diga para si mesmo que a partir de agora irá usá-

la noutras situações. De preferência, proponha-se a novos desafios, agora

mais confiante, mais decidido e com conhecimento de causa.

Conte a sua história: sim, conte a sua história. Dê o seu exemplo. Diga a

todos que é possível, e outras pessoas então sentirão coragem para fazer a

sua própria caminhada.

Trabalhe na sua motivação

Se você quiser fazer as coisas acontecerem, a capacidade de motivar-se a si mesmo

e aos outros é uma habilidade crucial. No trabalho, em casa, e em tudo o resto, as

pessoas usam a motivação para obter os resultados desejados. A motivação requer

um equilíbrio delicado entre a comunicação consigo mesmo, a sua estrutura de

personalidade e incentivos externos. A motivação é, literalmente, o desejo de fazer as

coisas. É o elemento crucial na definição e execução de metas. O mais extraordinário

e capacitador é que você pode influenciar os seus próprios níveis de motivação e

Page 97: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

95

autocontrole. Para que a motivação possa ser canalizada com eficácia e objetividade é

necessário descobrir o que você quer, apoiar-se a si mesmo no processo, e começar a

ser quem você quer ser.

Já alguma vez disse a si mesmo que queria fazer algo, mas depois nunca deu o passo

em frente? Talvez você quisesse perder alguns quilos, parar de fumar ou encontrar um

emprego melhor. Às vezes você não termina o que iniciou, ou talvez mesmo não

comece algo que desejava, porque não sabe exatamente o que quer, por onde

começar ou não acredita em si mesmo. Então, há momentos em que o seu humor ou

sentimentos sobre as coisas impedem-no de prosseguir. É como se o seu diálogo

interno autocrítico matasse a sua motivação.

A motivação é um impulsionador para o sucesso

A motivação é vital se você quiser ter um bom desempenho. Esta força, intenção,

energia, vontade ou aquilo que você lhe possa chamar vem de dentro, tem de

pertencer-lhe e viver dentro de si. Ninguém vai ser capaz de influenciá-lo se você for

resistente, por isso, a motivação é algo que depende de você próprio. Quero dizer-lhe

que é possível aprender a criar e a manter o impulso durante tempos difíceis que

eventualmente esteja a enfrentar. Você é a força motriz capaz de manter-se no

caminho para o êxito, as outras pessoas podem ajudar, mas no final você detém o

poder. Se não aprender como caminhar durante os tempos difíceis, e a enfrentar de

forma tenaz as adversidades e os contratempos da vida, terá perdido antes mesmo de

começar.

Às vezes, a motivação é temporária ou completamente inexistente. Você pode ter-se

sentido animado para começar alguma coisa, pode ser que até tenha feito algumas

coisas para depois passado algum tempo acabar por desistir.

Em seguida, apresento algumas estratégias que vão permitir trabalhar a sua

motivação e perceber como mantê-la e potenciá-la:

Page 98: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

96

Priorizar e focar-se objetivamentte

Por vezes, a falta de motivação emerge da percepção de uma vida sobrecarregada. O

stress faz-se sentir de forma desmedida e intensa, chegando ao ponto da nossa

capacidade de resposta ser inferior aos desafios e tarefas que temos entre mãos.

Provavelmente muitas coisas estão acontecendo ao mesmo tempo, vamos sentindo o

desânimo quando os nossos esforços não chegam para a resolução dos problemas.

Instala-se a frustração e a confusão mental. Perdemos o nosso foco naquilo que

devemos dar prioridade e sentimos dificuldade em organizar o dia a dia.

Perante semelhante cenário, a indignação vai crescendo, quanto mais esforço se faz

pior nos sentimos. Então o que pode ser feito? Você precisa descobrir o que é mais

importante e focar-se nesse objetivo. Depois de concluída essa tarefa ou resolução do

problema, deverá passar para o próximo.

Isto parece óbvio, mas a maioria das pessoas não pensa muito sobre o assunto. É

claro que numa situação de ausência de motivação, é muito difícil arranjar força para

fazer algo. Mas, então como pode você propor-se a fazer algo se não se sente

motivado? Não deve movimentar a sua vontade pelo sentimento presente, mas sim

pela ideia daquilo que pretende alcançar. Para facilitar este processo deve ter em

mente que existe a possibilidade de vir a ser bem sucedido (ver os benefícios do

objetivo na sua mente). Depois, é apenas uma questão de focar a sua energia nos

passos e processo que o conduzirão ao resultado pretendido. Durante o processo

pode ainda visualizar, e pensar sobre como você se sentirá depois de conseguir

alcançar o seu objetivo. E, é com este sentimento que a sua motivação pode aumentar

e mantê-lo firme e convicto no caminho do resultado pretendido.

Desapegar-se do seu sentimento de incapacidade

Se você se encontra num estado abatido, sentindo-se deprimido, ansioso,

desesperançado ou desesperado, provavelmente tem tendência para orientar o seu

dia a dia por esses sentimentos negativos que lhe sugam a motivação, energia e força

de vontade. Ao focar-se nesses sentimentos pouco a pouco a sua mente perde a

Page 99: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

97

noção das possibilidades que existem e foca-se apenas num cenário catastrófico e

desanimado.

Se você se encontra de alguma forma numa situação parecida, digo-lhe que é

possível reverter o seu processo de raciocínio e passar a orientar-se por um

sentimento que lhe dê esperança. Mas, então como é que isso se faz na prática?

Você deve distanciar-se daquilo que nesse momento sente (refiro-me aos sentimentos

e sensação que o colocam em baixo). Não deve querer deixar de sentir aquilo que

sente. Não é isso que funciona. O que é útil e eficaz é, mesmo sentido-se mal, criar

uma imagem mental daquilo que você quer, como gostaria de vir a sentir-se, e

visualizar-se a fazer algo que permita atingir o que deseja.

Utilize o passo anterior para reorientar o seu foco, colocando-o em sentimentos

positivos e construtivos que lhe transmitam capacidade, esperança e alegria. Para

isso, faça uso da sua imaginação. A ferramenta para guiar a imaginação para onde

pretende é a atenção através do seu poder de foco.

Manter o seu objetivo positivo em mente

Quanto mais você pensar em algo positivo, melhor a chance disso tornar-se numa

realidade. Mantenha o seu objetivo na vanguarda de sua mente. Se você quer que

algo aconteça, como por exemplo sentir-se bem, deve perspetivar que coisas gosta de

fazer que lhe dão prazer e satisfação. Em seguida deve focar-se nisso, ter isso

presente na sua mente em forma de imagens. Construa um conjunto de lembretes.

Por exemplo, colocando palavras de incentivo agendadas no seu celular, ou escrevê-

las numa folha e colocar na porta do seu quarto, pode relembrar-se antes de ir deitar-

se e logo pela manhã antes de sair de casa. Se é algo que você quer que aconteça,

deve orientar-se em consciência e não apenas por aquilo que sente (principalmente se

forem sentimentos negativos que nessa altura prevaleçam). Faça um plano para dar

um pequeno passo todos os dias no sentido de aproximá-lo da realização. Estes

pequenos lembretes e ações promovem a sua motivação. Não fique frustrado com o

fato de isso ainda não ser uma realidade, no entanto, continue a focar-se no quão bom

será quando lá chegar.

Page 100: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

98

Procurar apoio

Se o seu objetivo envolve a mudança, alteração de crenças e reestruturação de

pensamentos, pode ser difícil fazê-lo sozinho. Alterar hábitos, formas de pensar e de

olhar o mundo, quando se está numa situação de desânimo pode parecer impossível.

Procure alguém, um grupo, um conselheiro, consultor, psicólogo que possam orientá-

lo e fornecer-lhe informação mais detalhada sobre como pode ser mais eficaz, positivo

e reaver esperança no futuro e em si mesmo. Querer fazer tudo sozinho e desapoiado

pode vir a comprovar-se como uma estratégia ineficaz. Você pode até conetar-se com

alguém que já andou por caminhos semelhantes e perguntar-lhe que estratégias

seguiu.

Focar-se no positivo e não no destrutivo

O condicionamento cultural ensina-nos a sermos críticos, mas por vezes de forma

exageradamente negativa. Não pense sobre as dificuldades, reconheça-as para que

possa planejar adequadamente, mas não se concentre e fixe demasiado nelas. Essa

seria a maneira mais simples de destruir a sua motivação. Foque-se no resultado e

como isso irá beneficiá-lo. Se você está procurando um emprego, por certo deve

focar-se no processo de entrevista, mas isso não deve impedi-lo de pensar na

possibilidade de ser bem sucedido. Dirija a sua energia para o que você quer que lhe

aconteça, e para o processo que pode tornar isso realidade. Certamente a sua

motivação irá aumentar e ajudá-lo a obter o que deseja.

Deixar de fazer o que o que o tem impedido de chegar onde

pretende

Se você está numa situação de vida em que sente uma pontinha de tristeza, desilusão

e frustração porque as promessas e objetivos que traçou para si, desvaneceram-se, e

a grande maioria pode ter ficado por completar, ou até pelo avançar dos meses tenha

desistido de algumas. Importa então questionar-se:

Page 101: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

99

Mas porque razão não consegui atingir os meus objetivos?

O que me mantém preso nos mesmo padrões incapacitantes? (exemplo:

porque continuo incapaz de perder peso, ganhar mais dinheiro, encontrar o

amor que realmente quero, ou fazer as outras inúmeras coisas para tornar-me

feliz?)

Em seguida apresento quatro obstáculos que podem afastá-lo dos seus

objetivos:

Você não clarifica bem o que quer

Depois de ter estabelecido alguns dos seus objetivos, certamente você até pode saber

que quer ter mais amigos, ou quer ganhar mais dinheiro, ou quer começar um

negócio. Você provavelmente tem agora uma vaga ideia melhor formulada sobre o

que pretende, mas já pensou cuidadosamente sobre o que realmente quer, até ao

último detalhe?

Um exercício que certamente irá clarificá-lo acerca dos pormenores dos seus objetivos

pretendidos é despender um tempo razoável respondendo a perguntas do género:

O que você quer?

Quem estará envolvido?

Que informação é necessário recolher?

Que coisas novas tem de aprender?

A que horas pretende levantar-se

Que esforço extra é necessário?

Quando pretende alcançar o objetivo?

Que recursos são necessário?

Que competências e habilidades tem de adquirir ou melhorar?

Estas questões estão de acordo com algumas das estratégias anteriormente referidas.

Ao levantar estas questões, você vai ter de fazer uso da sua imaginação e do seu

querer e não propriamente orientar-se por sentimentos de incapacidade. Quando você

consegue colocar o “futuro nas suas mãos”, começa a imaginar a vida a partir desse

ponto de vista, com uma ideia real e concreta sobre o que você necessita trabalhar e

Page 102: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

100

aplicar-se. Os seus objetivos serão claros e você saberá exatamente o que quer e o

que fazer para lá chegar.

Você não tem um plano

Talvez você saiba o que quer muito bem. No entanto, se você não tem um plano

devidamente estruturado, provavelmente nunca será capaz de alcançá-lo. Agir é

primordial, mas se você está apenas a agir sem uma estratégia ou noção acerca

daquilo que pode ser eficaz e necessário para atingir o que pretende, corre o riso de

não estar fazendo progressos consistentes e constantes na direção do seu objetivo.

Sem um plano, você até pode dar um passo que o coloca mais perto do que quer,

mas o próximo pode afastá-lo irremediavelmente.

Um exemplo comum disso é quando alguém tenta iniciar um blog na Internet. Muitos

blogueiros novatos ficam seduzidos pela possibilidade de ganhar dinheiro “facilmente”.

Tentam de tudo, saltando de ideias e oportunidades, querendo rapidamente atingir

resultados de excelência, comprovando num curto espaço de tempo que realmente

não estão fazendo qualquer progresso.

A solução para isso é procurar informação credível ou estudar alguém que seja bem

sucedido no que você deseja alcançar e seguir o mesmo plano para chegar lá. O

sucesso deixa pistas, então siga-as e use-as para construir o seu próprio plano para

guiá-lo no caminho que tem de percorrer.

Você não tem uma estrutura mental positiva

Você provavelmente projeta o seu futuro baseado nos seus pensamentos negativos.

Com este tipo de pensamentos em mente, deve concordar que torna-se difícil motivar-

se para algo. Se ao longo do tempo devido a um conjunto de fatores começou a

cristalizar um tipo de pensamento que o puxa para baixo, lhe retira capacidade

olhando de forma pessimista para os seus objetivos, o seu campo de ação vai ficando

restrito. Você pouco a pouco começa a retirar-se das coisas porque não consegue

vislumbrar soluções satisfatórias. Tudo isto em grande parte devido à forma como

estrutura os seus pensamentos.

Page 103: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

101

Você pode precisar tomar algumas ações para corrigir a situação. Deve esforçar-se

por criar uma visão mais construtiva e positiva da vida. Reestruture a sua forma de

pensar com o objetivo de maximizar as suas chances de sucesso. No próximo capítulo

irei abordar aprofundadamente esta questão, onde pode aprender como criar uma

estrutura mental positiva.

Você não tem a mentalidade adequada

Por vezes o que impede muitas pessoas de encontrar o sucesso que querem é não ter

a mentalidade adequada. Se você está querendo alcançar algo que está fora da sua

zona de conforto, é importante perceber quais são as suas crenças limitadoras e

alterá-las. Ter medo de não ser bom o suficiente, dúvidas se você possui as

habilidades necessárias, ou mesmo hesitações se aquilo que quer deve mesmo fazer,

são comuns.

Importa que perceba, que de forma antecipada nunca saberá se irá ser bem sucedido.

Desta forma o medo, receio e dúvidas devem servir apenas para você perceber que

existe um grau de incerteza na obtenção daquilo que deseja e que deverá preparar-se

o melhor que conseguir para ir ao encontro dos seus objetivos. O medo não deve

servir como um paralisante da sua vontade.

Se você tem uma crença de que é muito tímido para convidar alguém para sair, então

enfrente isso! Melhore a sua confiança, trabalhe na sua autoestima, aprenda como

iniciar uma conversa e convide alguém. Se você acha que não consegue perder peso,

então enfrente isso! Melhore a sua alimentação e rotina de exercícios físicos e

verifique se funcionou. Muito provavelmente vai verificar que afinal é possível, que tem

vindo a você acreditar em algo que era falso.

Não se detenha devido às suas crenças limitadoras, refute-as. Faça coisas para

provar o contrário. As crenças limitadoras normalmente baseiam-se em suposições

que você nunca contestou e nunca tentou desmistificar através da prática. Como foi

exemplificado anteriormente, vale a pena sair da sua zona de conforto, enfrentar

alguns receios e sentir o sabor de ser bem sucedido. Mas antes certifique-se que

trabalhou na sua mentalidade. Certifique-se que abandonou as crenças que

Page 104: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

102

repetidamente têm empurrado você para o fracasso. Identificar exatamente o que está

no seu caminho é o primeiro passo para deixar para trás os obstáculos que o

impedem de chegar onde pretende.

Fazer o que tem de ser feito

Por vezes quando o infortúnio, dificuldade e problemas nos assombram a vida, os

motivos são mais que suficientes para arranjarmos desculpas acerca da ausência de

motivação para levarmos a vida para a frente. Acredito profundamente que tenhamos

que passar por um período de desânimo, ou mesmo de sentimento de injustiça. O

impacto de alguns acontecimentos pode ser tão devastador que vislumbrar um

enquadramento para o sucedido é uma miragem. Mas, acredito igualmente que

ficarmos presos a esses acontecimentos e usá-los como “desculpas”, provavelmente

nenhum valor acrescentado trás para a resolução do problema ou minimização da dor

emocional.

Cuidado com o vício na motivação

Seja porque não conseguiu a promoção desejada, não foi correspondido no seu amor,

ou a sua vida foi interpelada por algum problema físico ou emocional, o mais certo é

que a sua motivação tenha sido afetada para encarar a vida com otimismo e

esperança. Como já abordei anteriormente, todos nós precisamos de motivação para

derrubar ou ultrapassar os problemas da vida. Mas às vezes ficamos viciados e

demasiado dependentes da nossa motivação, correndo o risco de nos tornarmos

incapazes de fazer seja o que for sem estarmos motivados. Claro que é bom estarmos

motivados face a algo. No entanto, a nossa motivação não é constante e permanente,

ela sofre abalos, investidas e contratempos. Perante tal cenário, se apenas fizermos

coisas quando estamos motivados, ficamos à sua mercê, e inevitavelmente

paralisamos a nossa vida.

Às vezes, fazemos autosabotagem a nós mesmos, e um grande contributo para isso é

a ausência de motivação. Deliberadamente justificamos a nossa falta de motivação

Page 105: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

103

com as desculpas insalubres dos acontecimento negativos que vivemos ou das coisas

que necessitam de um esforço extra para serem realizadas. Quando você tem que

acordar cedo pela manhã para alguma reunião importante no escritório ou quando

você tem que estudar muito para os exames, mas não tem vontade para fazê-lo, é

basicamente a falta de motivação que faz emergir o sentimento de dificuldade e

paralisia da vontade. As pessoas dão várias desculpas para esse tipo de

comportamento, mas na verdade a proteção do seu ego impede-as de aceitar que

tornaram-se dependentes (viciadas) nos fatores motivacionais para a realização do

que desejam ou que querem realizar.

Quando percebemos que alguns dos nossos sentimentos negativos atrapalham o

nosso bem-estar, devemos orientar os nossos objetivos, realizações e desejos pelos

valores, por aquilo a que damos significado na vida, ou no presente momento. No que

diz respeito à ausência de motivação para fazermos coisas, suportado por desculpas

infundadas, ou pela nossa lista de palavras que inspiram à desgraça, miséria e

negativismo, o princípio é o mesmo, devemos focar-nos naquilo que queremos e que

nos serve, não ficando à mercê de termos ou não motivação para fazermos o que tem

de ser feito.

Atenção: Apesar de eu estar a apresentar a ideia de que não devemos “viciar-nos” na

motivação, no sentido de dependermos única e exclusivamente dela para irmos ao

encontro dos nossos objetivos, isso não é sinónimo de não necessitarmos de motivar-

nos ou trabalhar e potenciar a motivação. Pelo contrário, eu sou apologista e defendo

que devemos promover a nossa motivação face aos nossos objetivos ou atitude

perante a vida. Mas, o que pretendo transmitir é que quando você se sentir

desmotivado, com falta de energia e ímpeto para realizar algo que necessita, julga

importante ou é fundamental para o bom desenvolvimento da sua vida, deve

desapegar-se da ideia de que só com motivação é possível fazer as coisas. Puro

engano, você pode fazer aquilo que pretende, simplesmente porque quer, mesmo que

lhe seja difícil.

Page 106: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

104

Como não depender de forma tóxica da motivação?

Para uma resposta esclarecedora, temos primeiro que perceber como se implementa

a desmotivação (ausência de motivação). A desmotivação para a execução ou

desempenho de algo começa com lapsos simples na realização de tarefas diárias e

passa a afetar todos os outros aspetos da vida. Ou, de forma mais drástica (morte de

um ente querido, catástrofe, doença, acidente) quando subitamente a vida nos inflige

uma perda ou dor inestimável. Um acumular de simples falhas para concluir algumas

tarefas vai cortando a motivação para fazê-lo na próxima vez. Ou no caso drástico,

instala-se uma perda de sentido para realizar outras coisas que temporariamente são

percebidas como insignificantes perante a tremenda perda sucedida. Aos poucos, a

sua paralisia da vontade sentida como desmotivação começa a diminuir a sua

autoestima, retira-lhe foco e capacidade, conduzindo-o à falha e ao erro em cada

tentativa de realização da tarefa, devido à falta de confiança instalada. Ou no caso

drástico, por sentir que provavelmente não conseguirá voltar a ter alegria e propósito

na sua vida.

O que você pode fazer é identificar as coisas que estão constantemente a

desencorajá-lo. Uma falha para completar uma tarefa pode ser resultado de um

planejamento inadequado, recursos insuficientes ou necessidade de melhorar uma

competência ou habilidade. Comece a olhar para as coisas de uma perspetiva

diferente. Nem todas as coisas ruins que lhe acontecem são necessariamente culpa

sua, ou de terceiros ou até mesmo de um mundo que possa interpretar como injusto.

Tente identificar as tarefas que você normalmente não conseguiu realizar durante os

últimos dias e descubra a razão, apesar da sua incapacidade. Você pode descobrir o

problema real analisando a dificuldade da tarefa.

Na situação drástica (morte de um ente querido, catástrofe, doença, acidente), tente

identificar a razão pela qual não vê sentido em voltar a reerguer-se, ou a perspetivar

novos planos. Avalie o impacto do sentimento de perda que está paralisando a sua

vontade. Usualmente existe uma proporção inversa no grau de motivação em relação

ao problema sentido. Ou seja, quando mais sentimos algo como muito significativo e

bom, maior é o sentimento de perda e dor emocional. Quer dizer que o nosso

sentimento de perda está associado a uma coisa ou a alguém que nos era muito

querido. É como se de uma forma cortante a tristeza estivesse ligada à enorme

Page 107: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

105

felicidade que retirávamos da situação ou do que vivíamos com essa pessoa. Num

estado de abatimento é normal que não sinta força de vontade para encarar a vida.

Pode instalar-se a tristeza profunda e sentir-se deprimido. Perante este cenário o

que pode ser feito?

Movimente-se por aquilo que quer

Quando você descobrir que a sua desmotivação não tem a ver com um traço da sua

personalidade ou porque não tem vontade para fazer algo, mas porque provavelmente

aprendeu a proteger-se para não sentir o peso da falha ou da sua dor emocional, fica

no caminho de ter de volta a capacidade de fazer as coisas que abandonou.

Há vantagens e desvantagens de sentir-se desmotivado na vida. Você pode não

acreditar, mas existem algumas vantagens de sentir-se sem motivação para a ação.

Às vezes a vida ou as ações imaginadas não oferecem benefícios suficientes para

impeli-lo a lutar e avançar com a sua vida. Mas se você parar de viver o dia-a-dia e

deixar a miséria tomar conta de você, certamente irá contribuir ainda mais para piorar

o estado em que se encontra. É isso que você quer? Esta é uma pergunta que pode

ser ingrata responder. Mas arrisco a dizer que aquilo que quer é voltar a sentir-se bem

e capaz de começar a fazer coisas das quais retire alguma forma de prazer e

satisfação.

Então como posso fazer algo sem motivação para isso?

Pode fazer esse “algo”, sem a motivação para isso. Pode fazer esse algo apenas

suportado pela ideia que quer recuperar a sua vida e sentir-se novamente bem pouco

a pouco. Deve propor-se a fazer coisas pela consciência que tem de querer

ultrapassar o momento menos bom que está a atravessar. E que não pode esperar

que a vontade lhe bata à porta, dado que os seus sentimentos de incapacidade de

momento inibem qualquer vontade de fazer o quer que seja.

Page 108: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

106

Dica: Apenas a ideia de que quer melhorar e ultrapassar o que está a enfrentar,

pode orientá-lo e lhe serve. Tudo o resto funcionará como desculpas paralisantes

e insalubres, ainda que com toda a legitimidade.

A motivação ou ausência de motivação faz-se sentir na forma de um sentimento de

capacidade ou incapacidade. Sentirmos força de vontade para fazer algo, ou ao invés,

sentirmos preguiça, inação, falta de energia, abatimento, condiciona-nos os cursos de

ação e os objetivos de vida. Na posse de sentimentos incapacitantes, corremos o risco

de cair num ciclo de negatividade e começamos pouco a pouco a deixar de sentir

significado em grande parte das coisas que nos davam alegria, satisfação, prazer e

bem-estar. Se repetidamente, dia após dia nos sentirmos deprimidos e desmotivados,

certamente acabaremos por ser afetados pela depressão. A depressão alimenta-se da

paralisia da vontade e da consequente desmotivação, reforçando o ciclo de

negatividade em que a pessoa se possa encontrar.

O processo passo a passo na prática:

Passo 1: Inevitavelmente os nossos sentimentos, influenciam o diálogo interno. Se

está desmotivado, coloque os sentimentos negativos que tem à prova, contestando-

os. Confronte esses sentimentos negativos, comparativamente aquilo que quer sentir

ou alcançar.

Passo 2: Questione-se. Nesse estado de abatimento tem força de vontade para fazer

aquilo que precisa de ser feito? Arrisco a dizer que não tem! Mas se não tem, quer

continuar a não ter? Respondo por si, claro que não.

Passo 3: Num cenário de abatimento o que pode ser feito? Você deve propor-se a

fazer coisas, em que o resultado das mesmas façam-no sentir-se bem. Por exemplo,

se está deprimido, faça coisas que ainda se lembra que gosta. Se tem dificuldade em

levantar-se para ir trabalhar, e quer ir trabalhar, perceba o que pode fazer ou imaginar

que valoriza. Se está ansioso, e isso dificulta propor-se a fazer algo, arranje forma de

aliviar a ansiedade e perceba como pode enfrentar a tarefa ou situação.

Este é o processo: Não deve estar á espera de sentir-se bem para iniciar algo que

quer fazer ou deseja fazer. Mas sim o inverso, fazer aquilo que tem de ser feito, para

posteriormente sentir-se bem. Por outras palavras: Deve movimentar-se por aquilo

Page 109: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

107

que quer, e desapegar-se das desculpas paralisantes que o impedem de fazer

aquilo que tem de ser feito para voltar a sentir-se bem e perspetivar significado

na sua vida.

O nosso bem-estar, felicidade, equilíbrio emocional, objetivos, alegria, estabelecem

uma forte relação com o lado oposto destes estados, como por exemplo, tristeza,

ansiedade, depressão, sentimentos negativos. Alguns investigadores apelidam o

processo de desenvolvimento pessoal perante a dificuldade, catástrofe, trauma e

adversidade de: Crescimento Pós-Traumático.

O Crescimento Pós-Traumático só é possível quando a pessoa consegue perspetivar

um conjunto de ações, decisões e possibilidades de caminhar em frente na sua vida

baseado naquilo que quer atingir, ou pretende para si mesmo.

Cuidado com seus pensamentos, pois eles tornam-se em palavras.

Cuidado com as suas palavras, pois elas tornam-se em ações.

Preste atenção às suas ações, para que se tornem em hábitos.

Preste atenção aos seus hábitos, pois eles tornam-se no seu caráter.

Preste atenção ao seu caráter, já que se torna no seu destino.

Talvez a culpa seja minha

- “Talvez a culpa seja minha.

- Talvez eu tenha-te levado a acreditar que era fácil, quando não era.

- Talvez eu te tenha feito pensar que o meu destaque começou no lançamento livre, e

não no ginásio.

- Talvez eu te tenha feito pensar que cada cesto que fiz, fez vencer o jogo.

- Que o meu jogo foi baseado em músculo, e não no ímpeto.

- Talvez a culpa seja minha, e você não reparou que a falha deu-me força, e que a

minha dor era a minha motivação.

Page 110: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

108

- Talvez eu te tenha levado a acreditar que o basquetebol era um dom dado por Deus,

e não algo que eu trabalhava para … todos os dias da minha vida.

- Talvez eu tenha destruído o jogo … ou talvez, você esteja a inventar desculpas. ”

by Michael Jordan

O poder da ação, fazer o que é necessário ser feito

Provavelmente todos nós já sentimos o poder antagónico entre o querer e o fazer.

Mas porque razão não seguimos o caminho daquilo que é necessário ser feito? Por

vezes até temos conhecimento do que é preciso para sermos bem sucedidos, mas

simplesmente não fazemos. As causas podem ser inúmeras, mas algo comum

manifesta-se estabelecendo uma forte relação para a autosabotagem de alguns dos

nossos desejos: as emoções.

As emoções, quando sentidas e descodificadas pela nossa consciência dão origem à

sua forma mais apurada: os sentimentos. Os nossos sentimentos para o bom e para o

mal, fazem-se sentir, exercendo uma forte influência nos nossos pensamentos e

consequentemente nas nossas decisões para a ação. Exemplo: se alguém tem de

fazer exercício físico porque necessita de perder peso, servindo igualmente como um

ativador comportamental e um redutor de ansiedade, e quando chega a hora de sair à

rua para iniciar a atividade, a pessoa diz: “Hoje não me sinto com vontade”. Este é um

exemplo claro de que neste caso, o sentimento que a pessoa está a ter naquele

momento, é um sentimento negativo e de incapacidade e não deve ser seguido. A

pessoa deve orientar-se por aquilo que é necessário ser feito e não pela forma como

se sente.

O antídoto para ultrapassar a paralisia que os sentimentos negativos provocam na

nossa vida, é a aceitação dos mesmos, seguida de ação.

Page 111: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

109

Pressupostos que suportam o poder da ação

Você não pode controlar as suas emoções pela vontade. Você não consegue

apenas pela sua vontade ser feliz ou criar instantaneamente um determinado

sentimento. Por exemplo: ”Eu ofereço-lhe cem mil euros para se apaixonar pela

primeira moça que entrar pela porta”. Certamente concordará que por mais controle

que julgue ter sobre as suas emoções, simplesmente pela vontade não iria conseguir

realizar esta “tarefa”. O que conseguimos e podemos controlar é o nosso

comportamento, e o que fazemos para conseguirmos alcançar algo ou sermos bem

sucedidos.

Aceite os seus sentimentos. Não tente mentalmente combatê-los, ou negá-los

(nunca deve negar a realidade daquilo que sente). Os seus sentimentos são uma fonte

de informação, alertam-no para algo. No entanto, são uma fonte de informação subtil e

rudimentar, que deverá ser analisada pela sua consciência. Reconheça, sinta, mas

não tem necessariamente de agir de acordo com aquilo que sente. Se os seus

sentimentos o incapacitam, deve agir de acordo com a sua razão. Deve orientar-se

pela consciência daquilo que é melhor para si e que é necessário ser feito. Quando

uma pessoa tem depressão e segue um tratamento através da terapia cognitivo-

comportamental, solicita-se à pessoa que faça algumas coisas, mesmo sem sentir

vontade para isso, como por exemplo, sair à rua para ir comprar o jornal. Esta ação

permite à pessoa ativar-se um pouco, promovendo um bom sentimento.

As emoções não são permanentes. Todos temos no nosso código genético a

informação que nos permite sentir um alargado espetro de emoções. Mas estas

emoções estabelecem uma relação com os estímulos ambientais, ou até mesmo com

os estímulos internos oriundos do conteúdo dos nossos pensamentos. Quero dizer,

que para mantermos a mesma emoção durante um período alargado de tempo é

necessário alimentá-la. É necessário manter a nossa atenção na situação

problemática ou na ruminação dos pensamentos que recorrentemente fornecem

estímulos ao nosso cérebro, e este por sua vez dá indicação para libertar na corrente

sanguínea os químicos que nos fazem sentir a emoção que tanto nos atrapalha a vida.

Este conhecimento da forma como uma emoção é mantida no nosso corpo é

esperançador, pois permite-nos igualmente saber como podemos criar outras mais

Page 112: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

110

positivas e capacitadoras. Isto consegue-se, quando nos propomos a direcionar a

nossa atenção para outros estímulos (pensamentos, imagens, tarefas).

As emoções servem um propósito. Mesmo as emoções que consideramos

negativas, elas não são necessariamente más. Sentimentos que provocam dor

emocional, fornecem informações sobre um problema que necessita da nossa atenção

para ser resolvido. Sobre algo que precisamos e não estamos a conseguir obter. Você

não tem que inibir, evitar ou não querer sentir essas emoções. Em vez disso, tente

extrair a informação que essas emoções lhe transmitem acerca de si e da situação e

use-as a seu favor.

Embora não possamos controlar diretamente as nossas emoções, podemos

influenciá-las. Se você se sente sozinho, pode sair e ir ter com alguns dos seus

amigos. Se está irritado, pode ir correr à volta da rua onde vive, até que fique cansado.

Pode praticar técnicas de relaxamento, meditar, ou escrever num bloco de notas a

forma como você se está sentindo. Tudo isto pode ajudar a reverter o seu estado, e

começar a sentir-se de outra forma. O objetivo não é querer pela vontade deixar de

sentir-se irritado, mas sim fazer algo para que possa emergir um sentimento mais

positivo e capacitador.

Mensagem: O que quero transmitir é que você não deve esperar que a vontade

apareça para fazer algo. Mas ao invés, fazer, e muito provavelmente no final o seu

sentimento passará a ser aquele que desejava estar a sentir antes de iniciar a ação.

O que fazer quando me estou a sentir pessimamente?

Agir com planejamento. Tente descobrir o que a emoção lhe está transmitindo e faça

algo. Se você acordou às três da manhã com pensamentos obsessivos sobre as suas

finanças, sente-se, faça um balanço dos seus gastos, e estabeleça um novo

orçamento. Se você está preocupado porque julga que o seu chefe acha que você não

está fazendo um bom trabalho, seja pró-ativo, e agende uma reunião para discutir o

seu desempenho e obtenha feedback diretamente. Apague o fogo emocional através

da ação.

Page 113: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

111

Agir propositadamente. O propósito, aqui, significa aqueles comportamentos que lhe

transmitem um senso de propósito, as coisas que lhe dão motivação, que você sente-

se apaixonado, que, quando as executa torna-se criativo e fluido nos seus

pensamentos. Esses comportamentos ou ações, como por exemplo: jardinagem,

ajudar os outros, compor música, passar tempo com os seus filhos, é aquilo para onde

você pode dirigir a sua atenção quando as suas emoções estão para baixo. Muito

provavelmente assim que inicie alguma dessas atividades, a preocupação, a

depressão ou tristeza irão desaparecer, sendo substituídos por sentimentos de alegria,

satisfação e bem-estar.

Agir conscientemente. Se você tiver que fazer algo que não gosta de fazer, por

exemplo mudar um pneu furado, limpar o banheiro, seja o que for, ao invés de focar-

se nas emoções e ficar ruminando na sua cabeça sobre como isso é injusto ou como é

horrível, tente, tanto quanto possível sentir aquilo que faz. Sinta os seus músculos

trabalhando ao levantar o pneu ou a usar a esponja na sua mão, ouvir o som dos

parafusos enquanto são apertados. Ao aumentar a sua atenção no presente, há

menos espaço para toda a preocupação mental e consequentes sentimentos

negativos.

A mensagem que importa ter em mente perante uma sensação negativa, de

incapacidade, angustia ou tristeza é: “Qual é a próxima coisa que eu preciso fazer?”

Abandone a pergunta comum e destruidora: “Como é que me sinto?”

Em seguida faça o que tem em mente. Abandone a preocupação, passe à ação.

Provavelmente irá ficar surpreendido com os sentimentos que irão emergir da ação.

PARA OBTER SUCESSO MUDE-SE A SI PRÓPRIO

Seja a própria mudança

Na nossa era, Gandhi foi provavelmente responsável por mais mudanças nos outros

que qualquer outra pessoa. Como é que ele fez isto? Ele tinha uma fórmula

profundamente simples. As pessoas por vezes procuravam Gandhi para lhe

Page 114: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

112

perguntar como é que ele conseguia mudar as pessoas. Por vezes alguns diziam-lhe,

“Eu concordo consigo sobre a não-violência, mas existem outros que não. Como é que

os posso mudar?” Gandhi disse-lhes que eles não conseguiriam mudar os

outros.”Você tem de ser a própria mudança que deseja ver nos outros,” Disse Gandhi.

Provavelmente já se questionou várias vezes: “Como é que eu mudo o meu parceiro?”

Ou, “Como é que eu posso mudar o meu amigo.” Ou, como é que faço para ele mudar

a sua atitude.”

A mensagem que quero transmitir é: Seja a mudança que quer ver nos outros. Ao

ser aquilo que quer que os outros sejam, você lidera pela inspiração.Tolo é aquele que

afundou seu navio duas vezes e ainda culpa o mar. Se você continuar fazendo o que

sempre fez, continuará obtendo o que sempre obteve. Ou menos.

Comportamento assertivo

Como tenho vindo a referir a vida é dinâmica, o mundo está sempre em constante

alteração. A necessidade que temos de adaptar-nos às novas coisas da vida é

permanente. Por este motivo, estaremos sempre um passo atrás da própria mudança

que nos é imposta nas mais variadas áreas da nossa vida. Estará sempre alguém a

comportar-se da forma que não queremos e que não achamos correta. A tendência e

o impulso natural que temos, é a crítica, o olhar de esguelha e a maledicência.

Perante esta atitude, colocamo-nos numa posição de não mudança, de não

responsabilidade, de não interferência. Desmobilizamo-nos das coisas pela ação da

crítica e do desdém. Corremos o risco, de também não sermos assertivos, dado que

os outros também não foram. Não nos propomos a mudar-nos a nós próprios, e não

damos o exemplo em que os outros poderiam inspirar-se para mudar. O caricato disto

tudo é, que o mundo está em constante mudança, mas na grande maioria das vezes é

uma mudança não orientada. É uma mudança reativa. Tal como fez Marter Luther

King Jr., se você pretende mudar algo em si, ou promover a mudança nos outros deve

fazê-lo mantendo uma visão bem clara do que pretende na sua mente e orientar-se de

acordo com isso.

Page 115: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

113

No capítulo 7, abordo uma técnica milenar com as suas raízes na meditação, que é a

atenção plena (mindfulness), irá permitir-lhe treinar a sua capacidade de ficar no

momento presente, diminuir a sua reatividade e ser mais assertivo nas respostas e

atitudes na sua vida.

Aprendizagem por observação

A teoria da aprendizagem por observação do psicólogo Albert Bandura, sugere que as

pessoas podem aprender simplesmente através da observação do comportamento de

outras pessoas. A pessoa observada é chamada de modelo. A este processo dá-se o

nome de Condicionamento Vicariante – é o processo de aprender reações

emocionais através da observação de outras pessoas. Verificou-se que indivíduos que

observaram um modelo a expressar uma resposta condicionada de medo

desenvolveram uma resposta emocional condicionada de forma vicariante a um

estímulo que anteriormente era neutro. Além da experiência direta, esta teoria enfatiza

a importância de modelos de aprendizagem por observação para o desenvolvimento

da personalidade. Os indivíduos adquirem respostas emocionais e comportamentos

através da observação dos comportamentos e respostas emocionais dos modelos.

Uma forma de motivar, de ensinar e de mudar os outros é certamente através do

exemplo, através de nos transformarmos em “modelos” das atitudes e

comportamentos dos outros. Ao adquirirmos esta posição na vida, colocamos

igualmente a possibilidade de sermos ativos e assertivos nas nossas metas de vida.

Atitudes por modelagem

Ao adotarmos uma atitude de modelo face à forma como gostaríamos que as coisas

ou os outros fossem, aumentamos a probabilidade de sermos bem sucedidos. Se você

fosse um diretor de vendas e pretendesse motivar mais os seus vendedores, como é

que acha que seria mais eficaz? Acredito que se tivesse a atitude que gostaria que os

vendedores tivessem, fosse bem sucedido. Não lhes deveria dizer como deveriam ser

ou como fazer, mas sim inspirá-los a fazer, fazendo.

Page 116: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

114

O mesmo parece ser viável para nós mesmos quando necessitamos de mais

motivação, força de vontade ou inspiração. Se adotarmos a atitude positiva de alguém

que “invejamos” ou que idolatramos, caminhamos rumo ao sucesso, dado que

seguimos o modelo que já provou ter resultados muito satisfatórios. Umas vezes

sendo você o modelo, outras vezes modelando os outros que lhe servem de modelo, o

importante é que consiga a atitude necessária para efetuar as mudanças adequadas e

facilitadoras da obtenção dos resultados desejados.

Page 117: Como mudar a sua vida para melhor

115

CAPÍTULO 7

PENSAR POSITIVO

Como mudar pensamentos negativos para pensamentos

positivos

Os pensamentos negativos e igualmente os pensamentos positivos fazem parte da

nossa vida. Os pensamentos negativos recorrentes estão associados a alguns

transtornos psicológicos como a depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, fobia

social, ansiedade generalizada, entre outros. Ter pensamentos negativos, não conduz

necessariamente a problema psicológicos ou problemas pessoais. No entanto, se os

pensamentos negativos de dia para dia forem aumentando em intensidade, frequência

Page 118: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

116

e duração podem prejudicar-nos a funcionalidade na nossa vida, afetar-nos o

equilíbrio emocional, promovendo a negatividade, enraizando e especializando as

redes neuronais para a desgraça, infortúnio e desesperança.

Os pensamentos positivos estruturados e contextualizados com as circunstâncias que

enfrentamos, promovem a construção de soluções orientados para os problemas que

queremos ver resolvidos, minimizados ou aceites. Os pensamentos positivos permitem

usarmos o nosso lobo frontal accionado as funções executivas (automonitorização,

autoregulação, planejamento, avaliação e resolução de problemas).

Como o hábito do pensamento negativo se enraiza?

Somos criaturas de hábitos. É por isso que rapidamente nos acostumamos a uma

certa maneira de fazer as coisas, uma maneira particular de pensar, sentir e agir. Nós

construímos hábitos de pensamento de acordo com o que vamos pensando. Um

hábito pode ser estabelecido de maneira surpreendentemente rápida, muitas vezes

dentro de algumas semanas.

Nós tendemos a pensar sobre nós mesmos e acerca das nossas vidas de uma certa

maneira, os nossos pensamentos seguem um caminho familiar. Se temos o hábito de

pensar negativamente sobre nós mesmos, podemos desenvolver depressão e falta de

motivação para sair dessas formas depreciativas de pensar. Os sentimentos de

letargia e apatia que acompanham este estado de espírito podem ser devastadores. O

problema de um ciclo negativo de pensamento é que uma vez que o hábito do

pensamento negativo se estabeleça, influencia enormemente a forma como agimos e

reagimos na maioria das situações.

O efeito cumulativo de muitos pequenos pensamentos negativos, cada um

aparentemente insignificante, é o que faz instituir uma estrutura mental especializada

na negatividade, criando redes neuronais especializadas na avaliação negativa de

grande parte das situações de vida. Dia após dia se formos fazendo avaliações

negativas acerca da grande maioria das situações, ou pensarmos de forma

depreciativa acerca de nós, ou tivermos pensamentos negativos acerca das nossas

Page 119: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

117

qualidades e desempenhos, é o suficiente para arrastar-nos drasticamente para a

autosabotagem:

“Eu não vou, eu não iria gostar, eu não gosto”

“Eu não sei porque estas pessoas estão sendo boas para mim.”

“Se eu tentar isso, eu vou estragá-la, eu não posso fazer isso.”

“Eu sou tão pouco atraente, eu pergunto-me porque ela me convidou?”

Cada pensamento aparentemente sem importância tem um efeito condicionante e

contribui para o nosso hábito geral de pensar sobre nós mesmos e sobre o que nos

rodeia. Se repetidamente instituirmos o hábito do pensamento negativo, não é de

admirar que possamos sentir-nos menos felizes e menos confiantes, afetando-nos

depreciativamente a nossa autoestima e prespetiva de futuro. Vamos alimentando a

ansiedade com os pensamentos negativos, inibindo raciocínios virados para a solução

e promovendo o pensamento catastrófico.

Usualmente não temos a noção real e total do impacto negativo que os pensamentos

negativos têm na nossa vida. Pensamento após pensamento, vamos construindo um

padrão destrutivo de pensar. Os pensamentos negativos são como ervas daninhas

insidiosas e de crescimento lento, enraizando-se em nós, sem nosso conhecimento ou

consciência.

Decida adotar o hábito do pensamento positivo

Devemos aprender a monitorizar e a ganhar consciência acerca dos pensamentos

negativos que aparecem na nossa mente. Eles podem parecer pequenos e

insignificantes, mas são uma armadilha, porque tendem a acumular-se e a prejudicar

todo o nosso modo de pensar.

Quando criamos o hábito de pensar positivamente, o resultado é um sentimento geral

de otimismo, bem-estar e elevada autoconfiança. Outros benefícios acrescidos são o

crescimento pessoal, uma maior motivação, energia e alegria de viver, e uma

sensação geral de estar a viver plenamente os acontecimentos da nossa vida.

Page 120: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

118

Utilizar o pensamento positivo nem sempre está relacionado apenas com sentirmo-nos

bem. Mesmo perante situações de perda, catástrofe e infortúnio, é possível pensar de

forma positiva. Isto se interpretarmos o pensamento positivo por aquilo que ele na

verdade representa em termos de utilidade de raciocínio. E a utilidade de pensarmos

de forma positiva perante algumas dificuldades de vida tem a ver com a capacidade

de utilizarmos os nossos recursos (experiências de vida, autoconhecimento, formas de

relacionamento com os outros, crenças, estratégias mentais, valores, entre outros)

orientados para a possível solução do problema, situação ou perda.

Quando você adota o hábito de pensar positivamente, certas coisas construtivas

começam a acontecer. Você vai sentir-se mais confiante começando a lidar melhor

com situações stressantes. Você poderá desenvolver uma visão mais otimista sobre a

vida e começar a aproveitar mais. Você pode tornar-se mais alegre e encontrar formas

de motivar-se.

Coisas que você pensava anteriormente que eram impossíveis de realizar podem

começar a parecer mais ao seu alcance. Você vai começar a querer experimentar

coisas novas e desconhecidas por acreditar que consegue promover ações que o

colocam no caminho do sucesso ou do alcance dos seus objetivos. Você vai achar

mais fácil fazer novos amigos, provavelmente devido à sua tolerância com as outras

pessoas ter aumentado e devido ao fato de você poder sentir-se mais feliz consigo

mesmo. Isto é possível de acontecer, se você promover a criação do seu estado de

crescimento em detrimento do de proteção. Todo o seu corpo "liga" os mecanismos

que permitem colocar à sua disposição o seu melhor estado de recursos (ótimo

funcionamento do organismo), e consequentemente promover emoções,

comportamentos e atitudes que promovem a bem-aventurança.

Como mudar o seu pensamento?

A primeira coisa que você deve fazer é acreditar que pode mudar a maneira como

pensa e, consequentemente mudar a forma como sente e age. Está em grande parte

relacionado com a forma como consegue aceitar, monitorizar, regular e criar o que

Page 121: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

119

você pensa. Você tem a capacidade (poder) de decidir o que vai ou não vai aceitar e

seguir acerca do que aparece na sua mente.

A maneira de mudar o seu pensamento negativo para um pensamento positivo é tão

simples e básico que você vai surpreender-se acerca da eficácia do método. Como a

maioria dos métodos que se revelam eficazes, funciona quando é aplicado de forma

consistente.

Para substituir os pensamentos negativos por pensamentos positivos você tem

que lidar com dois aspetos da situação:

1. Monitorizar o seu pensamento (detetar o pensamento negativo quando

aparece na mente)

2. Não seguir os pensamentos negativos que possam surgir na mente,

substituindo-os por pensamentos positivos o mais rápido possível.

Leve em consideração os seguintes aspetos:

ASPETO 1: MONITORIZE O SEU PENSAMENTO

Torne-se consciente da forma como você reage às situações, pessoas, pedidos,

frustrações, o clima, e assim por diante. Cada vez que você detetar um pensamento

negativo, focalize a sua atenção nele e perceba o quanto influencia os pensamentos

que se seguem. Avalie de forma mais pormenorizada o pensamento negativo em

particular. Pergunte-se:

Existe uma razão para pensar assim?

Este pensamento ajuda-me ou prejudica-me?

Posso pensar de uma forma mais construtiva?

Seja o mais honesto possível quando você responder a essas perguntas. Relembro-o

que o problema não está em ter pensamentos negativos, mas sim basear as suas

ações e respostas nesses pensamentos. Ao identificar, ou por outras palavras, ao

apanhar-se a si mesmo a ter um pensamento negativo, tem sempre a possibilidade de

avaliá-lo e em consciência alterá-lo, ou simplesmente não segui-lo.

Page 122: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

120

ASPETO 2: MUDE OS PENSAMENTOS NEGATIVOS RAPIDAMENTE

Toda a vez que você se pegar pensando negativamente, conscientemente e por ação

da sua vontade e querer diga-lhe não, vete esse pensamento negativo através da sua

capacidade de não o seguir mentalmente e substitua-o rapidamente por um

pensamento positivo. Nos exemplos seguintes, os pensamentos negativos são

apresentados em itálico e a negrito e os pensamentos de reequilíbrio (pensamentos

criados com um objetivo construtivo e orientados para a solução) estão num estilo de

letra comum:

Eu não posso fazê-lo.

Por que não posso? Não há nenhuma razão fatual porque eu não posso, por

isso vou fazê-lo.

Eu provavelmente não irei gostar.

Porque eu não gosto? Como é que eu sei que não gosto disso até que eu

tente? Vou experimentar e ver como me sinto.

Eu acho que eles não gostam de mim.

Como eu sei que eles não gostam de mim? Quais são as razões de fato que

suportam a minha sensação de que eles não gostam de mim? Eu não consigo

pensar em nenhuma razão de fato – é apenas um sentimento. Vou começar a

pensar que eles gostam de mim até que eu prove o contrário.

Não é para mim, eu posso ficar demasiado incomodado.

Estou a basear-me em quê para tomar esta decisão? Será nos meus

sentimentos vagos de baixa autoconfiança? Pode ser apenas uma coisa

minha. Vou tentar e ver o que acontece. Se depois se comprovar que foi chato,

na próxima vez não vou. Pelo menos vou ter um motivo real em que

fundamentar a minha próxima decisão.

Page 123: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

121

Você percebe agora como funciona este método?

Provavelmente através dos exemplos anteriores você começou a perceber como pode

aumentar a sua positividade perante determinados pensamentos negativos que

possam surgir-lhe na mente. O método envolve detetar o pensamento negativo

quando ele surge, e decidir se é baseado em fatos ou nos seus sentimentos negativos

e depreciativos. Se você tem o hábito de pensar negativamente, certamente vai

descobrir que o pensamento negativo é baseado em sentimentos e não em fatos

concretos. Você está reagindo negativamente quase sem ter consciência de estar a

fazê-lo, porque você enraizou esse hábito. É como se você estivesse a viver um

acontecimento passado e a sentir as mesmas emoções desencadeadas na altura.

Você está a viver o passado no momento presente e reforça a possibilidade de voltar

a viver o mesmo no futuro.

Depois de você analisar e avaliar se a sua reação negativa é justificada (se é baseada

em fatos ou em vagos sentimentos negativos ou de ansiedade) então fica mais

preparado para lidar com isso. Ao invés, se a sua reação não se baseia em fatos, você

deve substituir a negatividade com pensamentos positivos e construtivos. Desta forma,

vai aprender a pensar positivamente. Imagine o que pretende sentir de diferente,

positivo e construtivo nesse momento ou numa próxima situação idêntica.

Faça este exercício várias vezes por cada dia, tentando não perder nenhuma

oportunidade de colocá-lo em prática. Quanto mais consistentemente for substituindo

os seus pensamentos negativos por pensamentos positivos, mais rápido serão os

resultados. Para conseguir sedimentar na sua mente os novos reportórios de

pensamentos mais funcionais, imagine-se a tê-los e o que isso influencia nos seus

comportamentos e respetivos resultados. Para que possa mais facilmente memorizar

e implementar essa nova forma de pensar, emparelhe aos pensamentos que está a

criar o sentimento que julga vir a sentir quando obtiver o resultado desejado. Tudo isto

pode ser feito de forma imaginada. Relembro-o que o seu cérebro não distingue entre

algo imaginado e real, o que torna aquilo que imagina em algo real para si. E, se é real

para si, funciona como uma experiência aprendida.

Page 124: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

122

Cuidado com a abordagem errada

Algumas pessoas que tentam substituir pensamentos negativos por positivos fazem-

no de uma forma autodestrutiva. Você não deve seguir apenas a primeira metade do

método. Você deve monitorizar o seu pensamento, como foi dito, mas depois não

pode debruçar-se sobre o pensamento negativo, tentando encontrar razões para esse

mesmo pensamento negativo. Usualmente as pessoas fazem o seguinte erro na forma

de uma pergunta:

“Porque estou a ter de novo este pensamento negativo?”

Quanto mais você se concentrar num pensamento negativo mais forte se torna. A

pergunta, “Porque eu estou pensando isso?” Não é uma pergunta frutífera. Isso faz

focar a atenção em você, concentrando-se em si mesmo e na sua infelicidade,

dificuldade ou incapacidade, usualmente distorcidas. Tente não pensar tanto em si

mesmo, em vez disso, concentre-se no conteúdo do pensamento negativo,

questionando a sua validade, como mostrado nos exemplos acima.

Acima de tudo, não se culpabilize ou fique irritado consigo mesmo por ter

pensamentos negativos. O sentimento de culpa e a sensação de irritabilidade com

você mesmo não ajuda a substituir pensamentos negativos por positivos. Ao invés, faz

com que você se debruce sobre os pensamentos negativos promovendo sentimentos

de mal-estar. No mínimo, o foco exagerado nos pensamentos negativos leva à auto-

piedade.

Em breve o seu pensamento positivo será automático

As duas ou três primeiras semanas vai ser trabalho duro. Você terá que prestar

atenção redobrada na maneira de pensar a grande maioria do tempo. Mas, aos

poucos, torna-se automático para você rejeitar pensamentos negativos infundados.

Como o seu subconsciente absorve e responde às novas mensagens que está

recebendo continuamente, você vai reagir e responder de forma mais positiva. Depois

de duas ou três semanas, certamente irá conseguir mudar o terrível hábito de

responder negativamente às situações.

Page 125: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

123

Se você praticar continuamente a etapa 1, irá mudar drasticamente o seu hábito de

pensar. Aqueles que convivem com você irão observar uma mudança dramática para

melhor. Uma vez que um padrão positivo seja estabelecido, ele torna-se tão

automático quanto o hábito do pensamento negativo que você pretende substituir.

Sentirá uma consciência crescente do que de bom está acontecendo para você a nível

muito profundo. Esse sentimento, e a forma como aqueles que o rodeiam reagem a

você vai aumentar a sua confiança e sentimentos de aceitação, permitirá a liberação

interior, esperança, felicidade, bem-estar geral e paz de espírito.

Acredite, o trabalho dispendido no método descrito pode mudar a sua vida para

melhor, e certamente os resultados irão fazer-se sentir. Insista, persista e não desista

de transformar os seus pensamentos negativos em pensamentos positivos.

ATITUDE POSITIVA

A sua atitude é uma decisão: A importância de ter uma atitude

mental positiva

Atitude é definida como uma maneira de olhar ou viver a vida. É por isso que a atitude

que adotamos joga um papel tremendamente importante na regulação dos nossos

comportamentos, funcionado como uma “central de controle” da nossa vida. A atitude

mental positiva, é como se fosse algo que liberta um conjunto de informação

intencional dirigida a outras partes de nós mesmos (mentais e físicas) que nos

mobilizam e incentivam a funcionarmos de uma forma mais eficaz, usando o máximo

de recursos disponíveis para analisarmos, enfrentarmos e resolvermos os nossos

problemas, desafios, objetivos ou desejos. Por outras palavras, a atitude mental

positiva é uma decisão que se expressa através dos nossos comportamentos,

podendo estes ser aprendidos.

A ideia de podermos aprender a adotar uma atitude mental positiva é muito

esperançadora. E o mais extraordinário é que podemos tomar a decisão de querermos

aprender a ter essa atitude na nossa vida. Para mudar algo é necessário aprender

como fazê-lo e passá-lo à prática.

Page 126: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

124

O que é a atitude mental positiva?

Não se trata certamente de ignorar a realidade dos fatos, nem tão pouco afirmar que

tudo irá acabar por dar certo ou correr bem, ou que afinal aquilo que aconteceu não é

assim tão terrível (quando na realidade é). Não se trata de transformar algo ruim em

muito bom, não se trata de encarar tudo com um sorriso nos lábios, ou simplesmente

dizer que melhores dias virão (ainda que isto possa acontecer). Não se trata de fingir,

não se trata de fingir aceitar uma situação terrível através de afirmações positivas,

não, não, não.

A atitude mental positiva é realmente sobre o reforço da crença de que você pode

decidir como reagir a determinadas situações difíceis em prol de si mesmo. Nunca é

sobre mentir para si mesmo, é tudo sobre capacitar-se. Como todas as grandes

realizações na vida, há sempre um primeiro passo. Sem esse primeiro passo

fundamental, nada mais pode ocorrer. Estou a falar aqui da sua atitude face a algo,

algo que quer melhorar, algo que está a enfrentar, algo que quer conquistar, algo que

receia. A crença de que você pode, ou não pode, vai influenciar tudo o que se segue.

Atitude mental positiva estabelece uma forte relação com o pensamento positivo,

complementando-se um ao outro no sentido de melhor percebermos e conseguirmos

aplicar esta forma muito capacitadora de olhar o mundo.

Em seguida apresento sete citações relacionados com a atitude mental positiva que

complementarei com breve enquadramento e explicação dos respetivos benefícios e

como aprender a adotar a respetiva atitude.

É a nossa atitude no início de uma tarefa difícil, que, mais do que qualquer

outra coisa, vai afetar o seu resultado bem sucedido. – William James

Tal como já referi a nossa atitude face a algo é uma decisão nossa (mais ou menos

consciente). Se o primeiro passo a ser dado face a uma tarefa ou situação de vida é

adotando uma atitude que nos turva o raciocínio e que nos retira capacidade,

remetendo-nos para avaliações catastróficas e cenários paralisantes, certamente em

nada nos beneficia. Temos de tentar perceber que coisas, que sentimentos,

Page 127: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

125

pensamentos, medos, angústias interferem com a nossa capacidade de pensar e o

quanto nos impedem de conseguirmos perspetivar que possamos prestar ajuda a nós

mesmos. Não quero dizer que todas estas coisas devem ser ignoradas, pelo contrário,

devem ser levadas em consideração, no entanto, devemos esforçar-nos para que a

nossa atitude não seja totalmente condicionada e influenciada por esses estados

temporários, levando-nos a ter comportamentos que só agravam ainda mais a

situação ou impedem que possamos ser bem sucedidos.

Eu sempre acreditei que você pode pensar positivamente como também

pode pensar negativamente. – Sugar Ray Robinson

Mais uma vez esta citação reforça a ideia que podemos escolher a forma como

queremos pensar acerca das coisas. E inequivocamente a forma como pensamos

estabelece uma forte relação com a atitude que adotamos. No entanto, quero deixar

aqui um alerta relativamente à questão do pensamento negativo. Pensamento

negativo pode não ser a mesma coisa que ter um pensamento negativo acerca de

algo, ou pensar negativamente acerca de alguém ou de alguma coisa ou

acontecimento. Na verdade, quando pensamos de forma negativa acerca de algo ou

de alguém ou de nós mesmos, tem mais a ver com uma avaliação que fazemos do

que propriamente com a estruturação mental de recursos para resolver um problema

ou dificuldade. Por outras palavras, quando me refiro a pensar positivamente ou

negativamente, encaminho-me para a ideia de um conjunto de recursos mentais que

em psicologia se apelida de “funções executivas“. As “funções executivas” referem-se

à forma como cada um de nós dirige a atenção para aquilo que é prioritário e

igualmente o que você aciona para lidar com o que tem entre mãos.

Dando um exemplo concreto: Não importa tanto o que eu penso, mas sim a forma

como penso. Imagine que eu penso que tenho extrema dificuldade para falar em

público. Estou a fazer uma avaliação que posso encarar de forma positiva ou negativa.

A negativa: “Vou fazer figura de parvo e todo o mundo irá rir-se de mim.”

A positiva: “Vou conseguir focar-me no discurso que tenho estudado, e se me sentir

nervoso, respirarei fundo e volto a falar calmamente.”

Page 128: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

126

Você pode tomar a decisão de pensar positivamente (ter uma atitude mental positiva)

acerca de um pensamento negativo que teve, ou ao invés, tomar a decisão de pensar

negativamente acerca de um pensamento negativo que teve.

Habilidade é o que você é capaz de fazer. A Motivação determina o que você

faz. A Atitude determina o quão bem você faz. - Lou Holtz

Podemos ter imenso jeito para determinada atividade, termos um talento inato numa

área específica, termos conhecimento e capacidade para realizar algo e ainda assim

não termos um bom desempenho. Na posse da habilidade, algo tem que lhe dar

significado, algo tem de fazer com que possamos perspetivar um reforço à posteriori, e

ainda assim o desempenho pode ser fraco. Mas quando na posse da habilidade,

energizado pela motivação e com uma atitude mental positiva, por certo, o melhor

resultado possível encontrará o terreno ótimo para poder acontecer. A atitude mental

positiva potencia as aquisições necessárias para que estas possam expressar um

ótimo desempenho.

Você não pode controlar o que lhe acontece, mas você pode controlar a sua

atitude em relação ao que lhe acontece, e pode controlar as mudanças ao

invés de permitir que elas o controlem. – Brian Tracy

Grande parte dos acontecimentos da nossa vida estão fora do nosso controle, são

externos à nossa vontade e querer. Não temos controle sobre uma catástrofe natural,

um acidente de viação, uma doença súbita, um assalto à mão armada, mas podemos

ter controle sobre a forma como vamos lidar com a situação no momento e após a

fase aguda. A atitude que temos após um determinado acontecimento que nos

aconteceu, depende de nós. Depende da forma como queremos enfrentar o sucedido

e o quão focados conseguimos ficar na procura de soluções viáveis que possam

diminuir ou melhorar o impacto negativo que possa ter tido nas nossas vidas.

Um pessimista é aquele que faz dificuldades de suas oportunidades; um

otimista é aquele que faz oportunidades de suas dificuldades. – Harry Truman

Num quadro mental em que a estruturação do nosso pensamento apenas perspetiva

uma solução negativa, por certo estamos a adotar uma atitude pessimista. Não me

refiro ao pessimismo da perspetiva de um determinado resultado poder vir a ser

Page 129: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

127

negativo, pois por vezes os fatos apontam nesse sentido e não temos como lhes fugir.

Refiro-me a uma abordagem em que o nosso estado emocional depreciativo por vezes

toma conta de nós, assume o comando, encaminhando os nossos raciocínios para um

padrão negativista e fraco em recursos. Perante uma dificuldade ou cenário de

desvantagem se não colocamos todos os nossos recursos na procura da solução, de

certa forma estamos a promover uma atitude pessimista. O contrário é igualmente

verdade, se conseguirmos acionar os nossos recursos virados para a procura de uma

solução viável, por certo, todo o processo ficará sobre a autoridade de uma atitude

mental positiva, emergindo o otimismo.

Nada pode parar o homem com a atitude mental correta de atingir seu

objetivo, nada na terra pode ajudar o homem com a atitude mental errada. –

Thomas Jefferson

Não lhe posso dizer especificamente qual a atitude mental correta que deve ter para

as suas situações de vida, até porque a vida é fluída e mutável. O que nos serve hoje,

pode estar desatualizado ou desadequado amanhã. Aquilo que posso transmitir-lhe é

que quando pretendemos alcançar um objetivo, quando mais adaptável e funcional for

a nossa atitude mental no sentido de vislumbrar um conjunto de ideias, conceitos,

opções, alternativas e visões, maior é a probabilidade de tornarmos real aquilo que

queremos. Ao invés, se tivermos uma atitude nada combativa, pouco audaz,

desencorajada, pessimista, miserabilista, desanimada ou receosa, por certo a nossa

estrutura mental irá criar pensamentos que irão influenciar de forma perniciosa os

comportamentos que iremos expressar face ao que queremos. Por outras palavras,

sem uma atitude mental positiva corremos o risco de aumentar drasticamente a

autosabotagem dos nossos objetivos.

Entenda que qualquer um pode ter uma grande atitude de vez em quando ou

por algum tempo mas que é difícil ter uma grande atitude a maioria do

tempo. – Bob Rotella

Como qualquer outra aprendizagem que já tenha feito, ou venha a fazer, adotar uma

atitude mental positiva de forma consistente na sua vida segue o mesmo princípio, é

necessário prática e repetição. Na base da implementação consistente da prática de

uma atitude mental positiva na sua vida está algo que depende de si, o seu querer. É

necessário querer mudar a sua atitude, ficar consciente da importância dessa

Page 130: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

128

mudança e pouco a pouco ir adotando formas de raciocinar mais assertivas,

funcionais e adequadas às circunstâncias e aos seus objetivos (seja ter mais sucesso,

bem-estar, ser mais feliz, mais simpático, corajoso, entre outros).

AUTO-CONHECIMENTO E AUTO-CONSCIÊNCIA

Como tenho vindo a explicar, acima dos nossos comportamentos, os desejados e

menos desejados, para lá dos nossos pensamentos, positivos e negativos, e superior

as nossos sentimentos e emoções, positivas e negativas, estamos nós. Nós enquanto

individualidade somos a razão de ser de todas as coisas que conseguimos

experienciar, e tudo graças ao centro integrador de todas as operações conscientes e

subconscientes, falo especificamente do nosso cérebro. A mudança, e a mudança

para uma vida melhor, têm de passar inequivocamente pelo desenvolvimento,

crescimento e atualização do nosso cérebro para que possamos estabelecer desafios

maiores.

Seja o mestre, não a vítima do seu cérebro.

No capítulo 2 abordei as questões relacionadas com o medo, como aprendemos a ter

medo subjetivamente, como o medo é uma resposta emocional tremendamente

poderosa, protejendo-nos, ou ao invés, devastadora para a nossa vida. Alguma vez

sentiu como se o perigo estivesse presente antes de ver a possível ameaça? Isso

significa que o seu cérebro está fazendo o trabalho para o qual está intrinsecamente

preparado. A principal função do seu cérebro é protegê-lo e manter o seu corpo a

funcionar tão eficientemente quanto possível.

A resposta de medo funciona bem se a ameaça é real. No entanto, desde o momento

que a ameaça seja lida no seu cérebro como real, e na verdade for uma construção

subjetiva sua, dos seus receios, crenças e formas de pensar, tudo o que implica a

resposta de medo pode comprovar-se como a sua maior dor de cabeça, prejudicando-

lhe a vida e mais especificamente o seu bem-estar emocional. Por outras palavras, o

nosso cérebro como não consegue distinguir a diferença entre o que é uma ameaça

Page 131: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

129

ao nosso corpo físico (um problema concreto), e uma ameaça ao ego (um problema

subjetivo), ele irá continuar a protegê-lo, mesmo que isso interfira com o seu sucesso.

Para mudar a sua vida para melhor, se você pretende progredir, assumir novos

desafios ou implementar novas formas de pensar, agir e sentir, tem que

inevitavelmente encher-se de coragem, abandonar a sua zona de conforto assumindo

alguns riscos. Para que possa efetivar uma decisão deste género, é importante

aprender a acalmar-se, desprender-se da ideia que pode ter algo a perder por parecer

bobo, estúpido ou inadequado. Você precisa ser mais consciente e mais conhecedor

de como o seu cérebro na grande maioria das vezes toma decisões por você e para

você.

O nosso cérebro reage da mesma maneira quando alguém nos pretende infligir dano

(ameaçando-nos ou agredindo-nos fisicamente) ou quando percebemos que alguém

fere ou pode vir a ferir os nossos sentimentos, coloca em questão a nossa autoridade,

ou nos fazem sentir estúpidos. Você reage a estas duas ameaças ficando na

defensiva, ou contra-atacando (lutar) ou afastando-se fisicamente e mentalmente

(fugir).

Sem parar conscientemente a sua reação, é quase impossível avaliar objetivamente

as circunstâncias presentes. É difícil mudar a sua resposta no momento. Porque a

nossa resposta de luta ou fuga é automática, em vez de questionarmos as nossas

reações, habilmente racionalizamos o comportamento adotado e deixamos

(inconscientemente) que o nosso cérebro continue supostamente a proteger-nos. Mas,

como já verificamos anteriormente, na grande maioria das vezes essas respostas de

ilusória proteção são expressas de forma mascarada através de distorções do

pensamento que se materializam em diálogos autocritícos destrutivos e depreciativos,

autosabotagens, pensamentos negativos e consequentemente sentimentos de

indadequação.

Numa tentativa de construirmos respostas coerentes ao sucedido, e tendo sempre

como pano de fundo a super proteção do ego, tornamo-nos mestres em

racionalizações por força do hábito. Vamos construíndo uma lista oficial de desculpas

que justificam os pensamentos negativos de género: "Eu não sou capaz" ou "Eu não

sei" "ou "Eu não estou preparado para isto". Inconscientemente recebemos estímulos

Page 132: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

130

de alerta do nosso corpo na forma de uma emoção, que é lida no nosso cérebro como

uma ameça, que por sua vez emite uma resposta automática que posteriormente

temos consciência que a estamos a expressar. No exato momento que ficamos

cientes do comportamento e atitude que tivemos, somos "forçados" a racionalizar o

acontecimento de acordo com as nossas crenças mais profundas e formas de olhar o

mundo. É neste processo que nos confudimos com a forma como pensamos e

agimos. Quando acontecimentos deste tipo vão surgindo uma e outra vez, nós

aprendemos a ser de uma determinada forma em determinadas circunstâncias de

vida.

Se até ao presente momento a sua forma de ser expressa maioritariamente uma

estrutura mental negativa, suportada em emoções incapacitantes, e sedimentada por

formas indadequadas de agir, provavelmente você tornou-se num perito em

racionalizar os acontecimentos, para elegantemente abandonar alguns dos desafios

da sua vida que podiam fazer a diferença na sua sensação de realização e sucesso.

Você já ficou familiarizado como pode mudar pensamentos negativos para postivos e

igualmente o que fazer para instituir uma atitude positiva na sua vida. Os próximos

dois passos descrevem a mesma linha de racíocinio. Ou seja, é necessário conhecer

que comportamentos inadequados têm vindo a prejudicar a sua vida, para depois

através da capacidade atencional ir tomando consciência dos gatilhos que ativam

esses mesmo comportamentos e igualmente as suas emoções.

Passo 1:

Tornar-se ciente de que a sua reação protetora foi acionada. Isto significa que

você tem que praticar a capacidade de reconhecer quando está a ter uma reação

emocional. Que comportamentos e sentimentos expressa quando está a ter uma

atitude em modo de proteção. Os sentimentos são o portal de acesso para a auto-

consciência. Não deve esforçar-se para não senti-los, ou escondê-los. Eles dão-lhe

informações vitais acerca do impacto do que está a viver no momento. É realmente

necessário que sinta a experiência, para quando houver uma chance de mudar a sua

resposta no momento, saber que não deve agir com base no que anteriormente

Page 133: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

131

sentiu. O que sentiu e que lhe orientou o seu comportameto indadequado, passa a ser

o gatilho para a mudança, quando ficar ciente do sentimento incómodo.

De acordo com o neurocientista Antonio Damásio, a qualquer momento a sua

frequência de respiração, o fluxo de sangue, a tensão nos seus músculos e a

constrição no seu intestino representam um padrão no seu cérebro que você identifica

como um sentimento. Quanto mais rápido você tomar consciência que está reagindo

de forma desajustada devido à interpretação de um determinado sentimento ou

emoção incómoda, mais rápidamente pode usar o seu pensamento intencional e

atenção focada para determinar o que causou a reação e como perigosa a situação é,

ou não é realmente.

As emoções podem não desaparecer apenas através da sua consciência (estar ciente

que está a senti-las), mas sim quando consegue identificá-las. No processo de

identificação das emoções você pode compreendê-las e, em seguida, escolher

conscientemente como é que deseja agir.

Além disso, quando você entende que as suas emoções são reações biológicas, que o

seu cérebro está simplesmente reagindo de forma primitiva, "forçando" ações

benéficas para sua saúde e felicidade do ponto de vista evolutivo. Você pode começar

a abandonar a vergonha, sentimento de culpa e raiva causada pelo não entendimento

acerca da sua forma de pensar e agir inadequadas. Você aprende a perdoar a si

mesmo por ser humano, e por não ter entendido durante grande parte da sua vida um

conjunto de reportórios comportamentais prejudiciais. Pode, então, encontrar formas

mais assertivas que possam influenciar positivamente a implementação de novos

pensamentos e comportamentos, tal como tenho vindo a demonstrar através dos

vários exercícios apresentados. Ao prestar atenção aos seus sentimentos você pode

gerenciar melhor a sua vida.

Passo 2:

Determinar o que provocou as suas emoções. Uma vez que você fique ciente de

que está tendo uma reação emocional, pergunte-se: "Que informação esta emoção me

está a transmitir?" ou "O que aconteceu no ambiente para eu estar a sentir esta

Page 134: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

132

emoção?" ou "O que identifico na atual situação poderia causar-me mal?" Quando

você entender a origem das suas reações físicas, fica na posse de informação para

poder tomar decisões em consciência e resolver muitos dos seus conflitos internos.

Para ajudá-lo a encontrar a resposta, pense no que você tem realizado bem e como

obteve sucesso quando agiu dessa forma. O que você faz bem e naquilo que é bem

sucedido, aumenta a probabilidade de voltar a fazer, consequentemente o seu cérebro

faz um registo da experiência, e sempre que antecipadamente percebe que você pode

não estar nesse caminho, ele aciona a proteção de modo automático. Se você foi bem

sucedido porque comportou-se de forma inteligente, o seu cérebro reage quando

percebe que alguém não está reconhecendo a sua inteligência. Se você está feliz,

porque facilmente estabelece laços com as outras pessoas, você vai ter uma reação

emocional forte (eventualmente negativa) quando alguém não gosta de você. Se você

é bom em gerenciamento de projetos, você não vai gostar quando alguém assume o

controle por si.

A seguir apresento uma lista de gatilhos comuns que têm um forte potencial para

desencadear o comportamento de luta ou fuga, se alguém não lhe dá, tira ou impede

de conseguir o que você precisa para sentir-se bem. Tente priorizar os seus três

principais gatilhos.

Page 135: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

133

Aceitação Respeito

Ser apreciado Realização

Reconhecimento Ser entendido

Ser prestável Estar em controle

Ser correto Vencer

Ser tratado honestamente Sentimento de segurança

Liberdade Pacificação

Ordem Consistência

Atenção Aventura

Amor Sentir-se valorizado

Seja honesto com você mesmo. Quais as necessidades que quando não são

satisfeitas desencadearão uma reação em você? Identifique as coisas sobre as quais

o seu cérebro reage (isto equivale a dizer que você mesmo reage sem ter total noção

ou controle sobre isso).

Uma vez que esteja ciente que está reagindo emocionalmente e perceba qual o

gatilho, você pode questionar-se se a situação que pode vir a prejudicá-lo é real ou se

está a personalizar (avaliando a situação emocionalmente). Por exemplo, se percebe

que alguém está ignorando algo que você considera importante, pode simplesmente

pedir o que precisa? Se isso realmente não importa, você pode respirar, deixar ir e

seguir em frente? Se pode pedir o que você precisa ou deixá-lo ir, você está

escolhendo responder a uma situação de forma deliberda e em conciência em vez de

reagir à situação. Você percebeu que não existia nenhuma razão para se sentir

ameaçado, inoculando a primeira reação automática do seu cérebro, para em seguida

na posse de um auto-conhecimento, elaborar uma resposta que lhe sirva.

Page 136: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

134

Para realmente trazer mais paz, criatividade e saúde para a sua vida, você deve

prestar uma atenção redobrada aos seus sentimentos para que possa começar a

distinguir o que é uma ameaça real e o que não é. Com o tempo, o seu cérebro vai

interpretar essas situações como não sendo uma ameaça. Você vai lidar com os

comentários negativos com mais descontração, falar e dar indicações para si mesmo

com mais frequência, ou acalmar-se quando alguém estiver a ir contra as suas ideias.

Quanto mais você conseguir dominar-se, ser um lider de si mesmo e não uma vítima

do seu cérebro, e consequentemente das suas reações intempestivas e automáticas,

pode passar a escolher sair da sua zona de conforto, enfrentar os seus medos, regular

as suas emoções, pensar positivo, propor-se a desafios e deixar de caminhar num

estado de alerta paralisante. Certamente a sua vida irá mudar para melhor.

MINDFULNESS (Atenção plena)

A atenção plena é a prática de prestar elevada atenção ao que está acontecendo no

momento presente, seja uma imagem, um som, um sabor, um cheiro, uma sensação

no corpo, ou a atividade mental (esta última inclui emoções e pensamentos). A

atenção plena (mindfulness) pode ser praticada por alguns instantes ou por alguns

minutos, em qualquer lugar, deitado na sua cama, sentado num consultório

psicológico, num banco de jardim, ou em pé numa fila.

A atenção plena tem vindo a ser introduza em alguns modelos terapeuticos

psicológicos, nomeadamente na Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), da

expressão original em inglês Acceptance and Commitment Therapy. Um dos alvos

principais da ACT é a redução ou eliminação do evitamento e evasão situacional, que

é vista pela teoria como uma das maiores fontes do sofrimento humano. Na minha

prática clínica, na grande maioria dos problemas apresentados pelos clientes,

principalmente os que estão relacionados com transtornos de ansiedade e depressão,

faço uso dos principios que suportam esta abordagem terapêutica. A Terapia de

Aceitação e Compromisso promove uma atitude de aceitação dos pensamentos e

emoções como realmente são, e não como parecem ser. Uma vez que a pessoa

abandone a luta contra as suas próprias avaliações, pensamentos e sentimentos, fica

Page 137: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

135

capacitada para agir de modo produtivo sobre o seu ambiente, problemas ou

transtornos.

De acordo com tudo o que tenho vindo a apresentar acerca das emoções, do seu

importante papel no gerenciamento da vida, da forma como o entendimento sobre as

mesmas pode permitir a diminuição pejurativa de más interpretações. A vantagem de

olhar para as emoções como informação relevante acerca do que acontece momento

a momento no ambiente. A importancia de focalizar a atenção no momento presente

como inibidor de ruminações intrusivas e de preocupação excessiva. A vantagem de

aceitar os sentimentos negativos no sentido de não promover o evitamento de ações

preponderantes para a funcionalidade da vida. A mais valia de aceitarmos os

pensamentos negativos que nos invadem a mente, mas que temos a capacidade e

possibilidade de não agir de acordo com eles. Por tudo isto, a prática da atenção plena

na sua vida pode funcionar como um excelente catalizador para a implementação de

grande parte das estratégias que tenho vindo a sugerir para mudar a sua vida para

melhor.

Vejamos algumas das vantagens associadas à prática da atenção plena:

1. Facilita a avaliação, porque os exercícios de mindfulness levam a habilidades de

vivenciar os seus conteúdos como realmente são, sem categorizá-los ou atribuir

conceitos e significados derivados de outras fontes.

2. Promove o controle, porque a pessoa aprende a respeitar pensamentos e

sentimentos positivos e negativos.

3. Reduz a racionalização, porque nos exercícios de mindfulness a pessoa aprende a

vivenciar o momento sem racionalizar.

4. Promove a literalidade, porque a pessoa aprende a aceitar os pensamentos pelo

que são, nada mais do que pensamentos, mesmo quando são desagradáveis.

Page 138: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

136

Qual é a diferença entre meditação e atenção?

1. As práticas meditativas são encontradas na maioria das tradições religiosas e

espirituais. Buda não inventou a meditação. Ele, no entanto, desenvolveu a prática da

atenção consciente a que chamamos: atenção plena ou mindfulness.

2. A atenção plena pode ser praticada dentro ou fora da meditação formal. A

meditação é uma técnica para praticar a atenção consciente e intencional num

ambiente estruturado, que pode melhorar as suas habilidades atencionais fora da

meditação.

Como praticar a atenção plena fora da meditação?Faça três ou quatro respirações

(inspiração e expiração) conscientes enquanto focaliza a sua atenção sobre a

sensação do ar entrando e saindo do seu corpo. Você pode ter ficado ciente de um

som, um cheiro, ou talvez uma sensação corporal diferente da respiração. A atenção

cuidada e intencional a tudo o que está acontecendo no momento presente é a

essência da atenção plena. A sensação da respiração é muitas vezes usada como

uma âncora (refocá-lo no momento presente) porque a respiração está sempre

presente momento a momento.

Talvez você se surpreenda ao saber que praticar a atenção plena fora da meditação é

uma componente importante nos retiros de meditação. Por exemplo, enquanto se

come, a instrução é prestar atenção ao alimento que está sendo perfurado pela garfo,

sendo levado à sua boca, tocando a língua, sendo mastigado e depois engolido.

Esta sequência do ato de comer é uma sucessão de momentos em consciência que

pode incluir a visão e o cheiro da comida, a sensação física do seu braço que está

levando a comida até à sua boca, o som do alimento a ser mastigado, o sabor da

comida, e até mesmo o que possa estar pensando: "Este alimento é bom."

Quais são os benefícios de praticar a atenção plena no seu dia-a-dia?

1. A atenção plena perminte retirar o nosso foco dos pensamentos analíticos. Claro,

que às vezes precisamos pensar analiticamente. Mas a mente tende a perder-se em

pensamentos recorrentes de extrema preocupação sobre o passado e o futuro.

Quando enfrentamos períodos difíceis na vida tendemos a repetir mentalmente as

Page 139: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

137

experiências dolorosas do passado, e profetizamos os piores cenários possíveis sobre

o futuro. É cansativo, desgastante e pouco produtivo. Prestar atenção ao que está

acontecendo no momento presente é um alívio bem-vindo, reduzindo e eventualmente

eliminando os padrões de pensamentos incapacitantes habituais.

2. A atenção plena retira-nos de nós mesmos. Dado que a maioria do nosso

pensamento analítico é auto-centrado, é importante conseguirmos abandonar o

conteúdo dos nossos pensamentos dirigidos a nós. É refrescante e energizante para

abrir a nossa consciência para o mundo que nos rodeia, em vez de estarmos sempre

preocupados com as nossas histórias pessoais. A atenção plena também nos ajuda a

lidar com as sensações físicas dolorosas quando a sua intensidade toma conta do

nosso ser e sentimos que não somos mais nada do que apenas as nossas sensações

dolorosas.

3. A atenção plena transforma uma atividade entediante numa aventura. Ao

desenvolvermos a capacidade de prestarmos atenção às nossas sensações coporais

através dos nossos cinco sentidos, permite-nos um maior envolvimento com as

atividades que possamos estar envolvidos. Este compromisso intencional com o que

está acontecendo no momento presente gera curiosidade, desafio, ligação à tarefa ou

situação vivida, e não tédio.

4. A atenção plena liberta-nos do julgamento artroz. O não julgamento consciente de

tudo o que se apresenta aos sentidos é uma caraterística fundamental da atenção

plena. Tornamo-nos observadores amigáveis e imparciais, livres para nos libertarmos

do fardo de julgar. Desta forma, a atenção plena é uma porta de entrada para a

equanimidade porque a essência de equanimidade estabelece um equilibrio saudável

em ambas as experiências, agradáveis e desagradáveis.

Nota: Isto não quer dizer que você não deva tomar medidas para evitar danos a si

mesmo ou de outra pessoa. O não julgamento não é sinónimo de não ação. Ao invés,

permite-nos tomar ações em consciência e de acordo com os nossos valores mais

elevados.

5. A atenção plena permite-nos fazer escolhas sábias. Quando a nossa mente fica

presa em padrões de pensamento negativos e depreciativos, é difícil ter clareza de

pensamento. Ficamos confusos e tornamo-nos reativos, e não reflexivos. Então, nós

Page 140: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

138

estamos mais propensos a responder aos outros de forma inadequada, talvez dizendo

algo que mais tarde nos possamos arrepender. Quando estamos ressentidos,

frustrados, zangados ou com um sentimento de vítima ou de injustiça, usualmente

ventilamos esses estados projetando comportamentos de raiva nos outros, ou até

mesmo atitudes autosabotadoras connosco. Mas, se conseguirmos praticar a atenção

plena durante as experiências agradáveis e desagradáveis, ficamos mais propensos a

ter consciência das nossas tendências reativas e conseguir travar-nos, fazer uma

respiração consciente, e escolher uma forma mais assertiva para responder.

6. A atenção plena abre os nossos corações e mentes para o mundo que se apresenta

diante de nós. Quando a nossa atenção consciente se amplia e se refina, quando

pouco a pouco somos capazes de intencionalmente manter a atenção no pretendido, e

igualmente a nossa atenção vai alargando a novas experiências que acontecem

momento a momento, a vida toma novas cores. A apreciação em conjunto com a

aceitação fazem-nos aumentar a sensação da experiência por aquilo que ela é, umas

vezes agradável, outras, desagradável. A vida movimenta-se em polos opostos, e

ambos apimentam a nossa vida. Ambos fazem parte dela, completando-a. O alto não

era perceptível sem a noção do baixo, a tristeza não era sentida sem a vivência da

alegria.

VISÃO DE FUTURO

Reinicie a sua vida, deixe de fazer autosabotagem

Muitos podem ser os motivos que nos obrigam a tentar de novo algo que na primeira

tentativa não fomos bem sucedidos, ou até mesmo comprovarmos que o caminho que

tomámos não nos conduziu ao lugar desejado. Enquanto humanos que somos, e na

posse de uma motivação orientada, ou cientes daquilo que pretendemos e

conseguimos fazer, podemos tentar de novo. Você pode encontrar-se num momento

da sua vida onde começar de novo é imperativo. Provavelmente os acontecimentos de

vida empurraram-no para a situação em que se encontra, talvez você tenha feito

Page 141: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

139

algumas asneiras que contribuíram para o seu estado. Independentemente da causa,

ou das adversidades de vida que enfrenta, existe a possibilidade de tentar novamente.

Existe a possibilidade de perceber que pode reiniciar a sua vida. Pode verificar que

existem muitas ferramentas ao seu dispor que pode utilizar, aprimorar e ganhar

consciência que com persistência e determinação será capaz de autoregular-se no

sentido de gerir o seu diálogo interno, mudar algumas crenças, criar pensamentos

funcionais, gerir as emoções e focar-se no que quer para atingir o que deseja.

O seu passado pode ser muito marcante, incisivo e perturbador, e propor-se a

reorientar a sua vida pode parecer difícil de fazer. Acredito que sim. Acredito que pode

encontrar-se num estado de dúvida, incerteza, com muita ansiedade, preocupação,

sentido-se desesperado e até mesmo desesperançado no seu futuro. Todos esses

sentimentos por certo são legítimos. No entanto, importa fazer algumas perguntas

a si mesmo:

“Como é que me quero sentir no futuro?”

“O que é que eu quero para mim”

“Quais são os meus objetivos? (Os sentimentais, profissionais, de

relacionamento, financeiros, e outros…)

Arrisco a responder algumas possibilidades:

“Quero sentir-me bem, realizado, boa auto-estima e com confiança em

mim e no futuro.”

“Quero uma vida tranquila, com conforto e bem-estar, sentir-me vivo e

de bem com a vida.”

“Quero ser feliz, alegre, motivado, bem-disposto, ter sucesso no meu

trabalho, amar e ser amado, ter dinheiro para pagar as minhas

despesas.”

Ótimo. Fez questões às quais conseguiu dar resposta. E mais importante que tudo,

essas perguntas e respostas, permitem orientar a sua vida de acordo com aquilo que

deseja para si. Agora só tem de pegar nisso e dar um impulso na sua vida. Dar um

novo e renovado impulso, reiniciando a sua vida. Mas, para que esse reinicio possa

constituir uma nova forma de olhar a sua vida, importa desfazer alguns equívocos que

podem ter estado a fazer sabotagem aos seus objetivos.

Page 142: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

140

Apresento em seguida alguns equívocos ou ideias que provavelmente foram-se

enraizando na sua estrutura mental. Essas ideias passaram a ser falsas verdades que

lhe retiram ânimo, toldaram-lhe o pensamento e impossibilitaram a elaboração de

decisões acertadas de acordo com os seus objetivos pretendidos.

De uma vez por todas, você deve derrotar essas falsas verdades (crenças limitadoras)

para colocar-se com uma atitude positiva antes de reiniciar a sua vida.

Eu acabo fazendo sempre asneiras

Se no presente momento está insatisfeito com a sua vida, existe uma forte

possibilidade de ter construindo ao longo do tempo esta afirmação negativa na sua

mente. Claro que este pensamento é legítimo. Mas, por certo não é animador, pelo

contrário, retira-lhe forças e credibilidade em si mesmo. Se não é útil, porque razão

ele ecoa na sua cabeça? Isto acontece, porque o nosso cérebro é forçado a

encontrar respostas. E em última instância dirigimos a atenção para nós mesmos, e

culpabilizamo-nos. Sim, na verdade você até pode ser o responsável pelo estado em

que se encontra. Mas, construir uma ideia negativa acerca de si mesmo, e

“confortavelmente” conviver com isso, não é por certo uma estratégia benéfica.

Então que fazer?

Perceba onde, como e porquê fez a asneira?

O que fazer, para não voltar a acontecer?

O que aprendeu com a asneira?

O que essa asneira lhe diz acerca da forma como você pensa?

O que precisa mudar no seu pensamento e forma de olhar para si, para

que a asneira não se repita?

Quer continuar a fazer a asneira?

Se conseguir responder a estas questões, por certo irá ficar mais esclarecido. Com

esse esclarecimento em mente, abandone a ideia depreciativa que tem de si mesmo.

Essa ideia que de certa forma trás conforto, também tem o reverso da medalha.

Quando você percebe que pode mudar algumas coisas para ser bem sucedido, mas

Page 143: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

141

que é necessário trabalhar, investir em si e esforçar-se, fica mais fácil verbalizar algo

que justifica muita coisa menos boa que lhe acontece. Não se iluda mais, aceite essas

asneiras, mas não se confunda nem se funda a elas. Você não é as suas asneiras.

Você é aquele que percebe as asneiras que faz, e que tem a possibilidade de arranjar

uma forma de evitar que isso volte a suceder. Não use mais uma afirmação que se

encaixa no seu momento menos bom, mas que paralisa-lhe a mente na procura de

soluções. Se esta afirmação não lhe é útil, não lhe serve, deixe simplesmente de

verbalizá-la. Utilize a informação disponibilizada no capítulo 1 e construa uma lista de

palavras de incentivo, construtivas e orientadas para a solução.

Nada acontece do jeito que eu quero

Esta é uma mentalidade de vítima que você deve abandonar imediatamente. Não há

problema em sentir pena de si mesmo no começo do processo de procura de

entendimento e justificação para o momento que atravessa. Você pode e deve chorar

a sua perda, indignação ou frustração. Mas, de modo bastante breve. Depois você

precisa levantar-se, sacudir a mágoa do passado e seguir em frente. A vida não está

contra si. Acreditar que sim, só irá fazer com que se afunde ainda mais no seu

desespero (do qual você não irá escapar se ficar nesse estado por muito tempo).

As coisas podem ter sido difíceis e o resultado não foi o esperado. Por vezes temos de

encarar o lado oculto da felicidade. Inevitavelmente, as adversidades surgem no nosso

caminho, experimentamos o sabor do outro lado da conquista, do desafio, do êxtase,

da alegria e satisfação. O lado mais sombrio da felicidade enraiza-se no sofrimento, no

fracasso, na perda, na dificuldade, na injustiça, na tristeza e angústia de tudo o que

nos impele ao sofrimento e consecutivamente a mudar crenças limitadoras.

Mas o que aconteceu até agora, não quer dizer que continue a acontecer. Se assim

fosse nada mudava, nada melhorava, a vida seria estática. Nada pode estar mais

longe da verdade. A vida é fluída, a vida não pára. Se assim é, e com este

pensamento em mente, perspetive algo de melhor para si. Retire-se da sombra dos

seus pensamentos negativos. Pense como gostaria que as coisas funcionassem para

si. Agora acrescente-lhe uma pitada de esperança. Em seguida apoie essa esperança,

Page 144: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

142

seja o braço direito da sua esperança renovada. Motive a sua esperança, dê-lhe

suporte, energia, alimente-a através da ação. Faça coisas orientadas pelo

pensamento positivo. Desafie-se a ser bem sucedido utilizando as formas

motivacionais anteriormente descritas, assim como fazer aquilo que tem de ser feito

mesmo quando a vontade não abona a seu favor.

Não vale a pena seguir os meus sonhos

Todos merecemos a oportunidade de buscar a satisfação na nossa vida. Mas, por

vezes, pouco a pouco, devido à interpretação dos acontecimentos negativos do nosso

passado, emerge uma desmotivação. A descrença instalada constrói a percepção que

não vale a pena seguir os seus sonhos e desejos. Esta ideia é suportada por um

mecanismo de defesa. Não nos propomos a seguir os sonhos, para evitar a dor e o

sofrimento que julgamos vir a sentir com mais uma futura desilusão. Com base na

mágoa do passado e uma descrença no futuro, comprova a teoria que é preferível não

correr atrás do que é bom para si. Este até parece ser um pensamento lógico. De

certa forma é, tal como já referi, funciona como uma proteção à possível desilusão,

derrota e fracasso. É, no entanto uma crença tóxica, desadequada e destruidora.

Perante uma crença tão incapacitante, a pessoa caminha num eterno vazio. A forma

de restabelecer a sua motivação, força e energia para propor-se a acreditar que vale a

pena seguir os seus sonhos, é orientando-se por aquilo que quer e não por aquilo que

sente. Perante uma conclusão negativa, o sentimento é igualmente negativo, e nesse

estado as suas perspetivas são olhadas mediante essa realidade sentida. Para

reverter o processo é necessário imaginar o que sentiria ao alcançar o que deseja.

Foque-se naquilo que quer alcançar e no que sentiria quando isso se tornar realidade.

Depois, na posse desse sentimento, faça coisas que o aproximem dos seus sonhos.

Eu tenho de castigar quem me castigou

Às vezes, quando uma pessoa tem que começar de novo, sente-se a necessidade de

vingança em relação a parte (ou partes) que podem ter contribuído para a sua

Page 145: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

143

situação atual. Isto é completamente inútil. Não me estou a remeter para questões

jurídicas. Isso tem de ter outro tipo de abordagem. Refiro-me à normal interação do dia

a dia da vida de cada um de nós. Na verdade, é inteiramente contraproducente e um

desperdício total de tempo focar a sua atenção e energia em algo que vai alimentar

ainda mais o seu estado de negatividade, e eventualmente criar mais problemas

Supere isso. Deixe isso partir. Limpe a sua mente de todo esse absurdo. Alimentar o

fúria só irá fazer aumentar a sua ansiedade, contribuindo para o seu mal estar. A fúria

e a raiva, são sentimentos que por vezes lhe transmitem capacidade. Isto acontece

devido à grande libertação de energia e ímpeto, impele-o para a ação. Mas esta é uma

ação que em nada contribui para a solução e realinhamento de vida.

Importa reverter todo esse ímpeto para a construção de percursos de ação positivos e

que estejam alinhados com os objetivos pretendidos para a sua vida, dentro de uma

perspetiva de autorrealização. Foque-se em si, gaste a sua energia consigo.

Eu não consigo o que quero por causa da economia

Este é um pensamento que tem vindo a ser difundido na atualidade. A grande maioria

das pessoas parece querer culpar qualquer circunstância ruim na sua vida apontado o

dedo à crise económica. A realidade é que os fatores externos raramente são

obstáculos intransponíveis, somos nós que fazemos isso acontecer. Obviamente que

a economia tem um peso relativo no nosso sucesso, assim como muitas outras coisas

têm. Temos que ter uma atenção redobrada, quando todo mundo está em estado de

alerta relativamente à economia, podemos ter uma tendência para generalizar isso

aos problemas que enfrentamos, e arranjamos uma boa desculpa para não fazermos

nada.

Normalmente, inibimos a mudança e deixamos de adaptar-nos às novas realidades

que nos rodeiam. Você pode ter de fazer as coisas um pouco diferentes. Você precisa

colocar um olhar novo numa velha ideia. Você pode ter que fazer ajustes, tanto

pessoais quanto profissionais, mas ainda assim pode sobreviver e até prosperar nesta

Page 146: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

144

economia ou noutra qualquer. Não deixe que essa avalanche dramática e estado de

pânico geral impossibilite fazer aquilo que ainda é possível ser feito.

Eu só tenho de ter muita calma

Finalmente, quando confrontado com começar de novo, você pode ter tendência para

procrastinar. A razão para que isso possa acontecer, é por arranjar desculpas para si

mesmo. Por exemplo, você pode agarrar-se à falsa justificação que já passou por

muita coisa ultimamente e merece ter calma por algum tempo. Embora seja

geralmente uma boa ideia para “refrescar” depois de uma grande mudança de vida e

antes de fazer qualquer grande decisão, não deixe que isso se torne num

impedimento. As suas oportunidades de começar de novo, certamente surtirão maior

efeito agora. Quanto mais você esperar, mais difícil será conseguir-se reverter a

situação em que se encontra. Não deixe que o medo, mentiras e desculpas possam

retê-lo.

As coisas até podem ir com alguma calma, mas passo a passo. Quer dizer, que

mesmo lentamente você está a movimentar-se, está a fazer coisas para ir ao encontro

do que pretende alcançar. Aguardar, é ficar parado. Fazer as coisas com calma, deve

ser considerado, lentamente, pouco a pouco fazendo algo.

Construa um caminho para derrotar as sabotagens

Reiniciar sua vida não é fácil. A primeira batalha que você tem que ganhar está na sua

própria cabeça. A forma mais capacitadora que acredito surtir efeito é tendo uma

atitude positiva, e implementar o pensamento positivo na sua vida, acabando com a

autosabotagem. Estas sabotagens como podemos verificar, estão mascaradas e

enraizadas por um conjunto de desculpas sem sentido, que criam uma imagem

negativa de si mesmo. O seu cérebro tende a acreditar em tudo o que ouve, ou que

você verbaliza para si mesmo. Se você pode abolir o diálogo autocrítico da sua mente

e substitui-lo por mensagens de incentivo, reconfortantes e que puxem por si, então

Page 147: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

145

você estará construindo um caminho para derrotar essas sabotagens e criar uma nova

forma de olhar a vida.

Na grande maioria das vezes perante a constante autosabotagem da nossa vida,

percebemos o que está acontecendo, numa fase muito avançada do problema. Tal

como tenho vindo a transmitir-lhe, isto acontece devido à dificuldade de mudar hábitos

e rotinas de pensamento instituídas que minam a mudança de perspetiva. Numa

situação de caminhar na sua vida em piloto automático, tudo parece natural, até

mesmo a forma como aceita as suas debilidades, incapacidades e asneiras. Neste

estado de aceitação confuso, funde-se a uma imagem depreciativa de si mesmo,

comprovada pelo seu diálogo autocrítico negativo.

A sua própria forma de pensar, suga-lhe a vida. Essa negatividade instalada é como

uma erva daninha a crescer no quintal da sua casa, propaga-se rapidamente e toma o

espaço só para ela. Mata a esperança e a oportunidade para a mudança.Você precisa

de um novo caminho para sair dessa forma de pensamento negativo que instituiu na

sua rotina diária. E esse caminho pode construir-se na forma de uma pergunta:

“Se você continuar a seguir os mesmos padrões, quais são as chances de vir a

alcançar as coisas que você quer e tornar-se na pessoa que espera ser?”

Arrisco a dizer que as suas hipóteses são extremamente reduzidas. Nenhum de nós

escreve uma história de vida mais enriquecida sem uma mudança no padrão de ação.

Abandone o seu círculo de hábitos de autosabotagem. Reinicie a sua vida, tendo

noção que deve eliminar as falsas verdades que foi construindo e que durante muito

tempo orientaram as suas decisões. Acredite em si. Faça coisas que suportem a

crença que tem em si. Torne-se no seu maior aliado. Invista na sua vida, você é o seu

maior accionista.

Implemente um objetivo positivo e otimista na sua vida

Citação: “Entre o estímulo e a resposta está a liberdade de escolha.” – Viktor Fran

Page 148: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

146

O Desafio Positivo e Otimista é o seguinte: Durante sete dias você vai tentar usar o

máximo possível de pensamentos positivos. Aconteça o que acontecer com você,

tente adotar uma perspetiva positiva de forma a poder aprender e tirar partido disso.

Até ao final da semana mantenha-se fiel a esta nova atitude. O que se espera desta

experiência é que consiga descobrir o real benefício do pensamento positivo.

Certamente irão surgir-lhe alguns pensamentos negativos, não fique alarmado, use

isso como um alerta de que é necessário reverter esse pensamento e construir outros

mais adequados. Ter um pensamento negativo não implica que tenha

necessariamente agir de acordo com ele. Pode sempre optar por criar outro

pensamento, mais capaz, mais assertivo e positivo.

O que estou a sugerir não é um tipo irracional de pensamento positivo, onde você

finge que tudo está bem, mesmo com a sua casa a arder. Pelo contrário, aquilo que

proponho é que tenha um pensamento realista (aceitar as circunstâncias) e otimista

(atitude construtiva). Que olhe para as várias possibilidades e perceba que existe

sempre uma forma adaptativa de encarar a vida. Tente perceber uma situação ou

estímulo e, em seguida, escolher uma resposta positiva e útil, em vez de reagir de

uma forma instintiva.

Tente analisar o que poderia ser uma situação ganhar/ganhar, se a situação envolver

outras pessoas. Uma solução ganhar/ganhar é na grande maioria das vezes uma

solução ainda mais satisfatória e benéfica do que aquela em que você é o único a

ganhar.

Então mas como é que você pode fazer tudo isto? Apresento três dicas para a

primeira semana:

Faça um corte com as ligações/gatilhos negativos rapidamente. Por exemplo,

numa discussão permita-se ter pensamentos negativos apenas por um período de

tempo definido, talvez 30 segundos ou um minuto. Para que isso aconteça, basta

interromper esse pensamento através de uma voz silenciosa de comando (dizendo

para sim, pára, basta) isto permite cortar ou abandonar o pensamento negativo e

começar a pensar sobre as coisas positivas que o possam ajudar a sair dessa

situação. Não alimente os pensamentos negativos com mais energia movida pela

raiva, zanga ou frustração. Se não abandonar essa forma depreciativa de raciocínio,

Page 149: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

147

você pode empurrar a sua mente para uma espiral descendente e pensamentos

movidos por um pensamento deturpado. Se você começar a desencadear uma espiral

de pensamentos negativos é importante interromper isso muito rapidamente.

Perceba que é possível escolher o que você pensa e como reage. Você não tem

que viver a sua vida de uma forma reativa. Ser reativo para tudo não é nada

capacitador, pelo contrário é desencorajador e destrutivo. Você tem uma escolha.

Quase tudo na vida depende das nossas escolhas, sejam elas mais ou menos

conscientes. Fazer escolhas (pensamentos, atitudes, formas de agir e comportar-se)

num estado de pleno raciocínio e em consciência pode levar algum, pode levar algum

tempo para reestruturar a sua mente. Mas estou convicto que o esforço será

compensado pelos resultados. Mantenha-se fiel a esse desafio, insista e persista na

implementação de um pensamento positivo e otimista. Certamente, mesmo que você

rapidamente entenda isso intelectualmente, pode levar mais tempo para compreender

e aceitá-lo emocionalmente e num nível mais profundo.

Concentre-se no hiato entre o estímulo e a reação. Quanto mais você pensar sobre

isso (fazer escolhas de forma consciente, e não apenas por reação) e tentar

conscientemente perceber e agir de acordo com isso, ao longo do tempo, a diferença

vai fazer-se sentir cada vez mais vezes, tornando o processo mais fácil. Aceite os

seus sentimentos, não os negue, não os rejeite. Mas pondere sempre sobre aquilo

que está a sentir, e se agir de acordo com isso será ou não adequado. Quantas vezes

já se arrependeu de comportamentos intempestivos? Quantas vezes já se arrependeu

de coisas que disse por estar de cabeça quente? A mim já me aconteceu muitas

vezes!

Embora seja frequentemente possível cortar e interromper rapidamente os

pensamentos negativos, por vezes, pode não ser suficiente. As emoções negativas

podem acumular-se dentro de você ao longo do tempo, ou você pode sentir-se

dominado/oprimido por uma determinada situação. Então, você pode tentar o modo

contra-intuitivo (não comum), ou seja não deve combater esses sentimentos, não os

deve evitar. Em vez disso, deve aceitar esses sentimentos.

Observe a sensação (desses sentimentos) na sua mente e corpo, sem julgá-los. Se

você os sentir e observar, durante um ou dois minutos, provavelmente algo de

Page 150: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

148

maravilhoso acontecerá. O sentimento apenas desaparece. Parece estranho, mas

experimente. Aceite os sentimentos tal qual os sente, tal como sente a sua dor física.

Os sentimentos são uma importante fonte de informação, que nos transmitem de

forma muito subtil e por vezes tosca, que algo na nossa vida está mal (sentimentos

negativos), ou pelo contrário que está bem (sentimentos positivos). Ambos são

importantes, ambos nos pertencem. No entanto, é necessário que passem pelo filtro

da nossa consciência, é importante que dê algum tempo a si mesmo para os poder

analisar melhor e verificar se deve ou não agir de acordo com eles.

Apresento ainda mais algumas sugestões, algumas delas talvez não seja capaz

de utilizar plenamente dentro de uma semana, mas sim ao longo do tempo, para

que este desafio seja mais fácil e melhore a sua vida:

Perceba se está ou não a trabalhar na sua frescura física. Se você não tem tempo

para dormir uma boa quantidade de horas, comer corretamente e fazer exercício

físico, então você precisa priorizar. Se você não fizer isso será mais difícil pensar

positivo e permanecer com uma atitude positiva e otimista perante a vida. Se você

priorizar, o seu senso geral de bem-estar vai aumentar, você vai sentir-se mais forte e

ter mais energia. Em que é que você está utilizando o seu tempo útil? Priorize a

utilização do seu tempo para fazer melhor uso dele. Trabalhe na diminuição do seu

stress. Tente perceber e entender as suas necessidades. Lembre-se que cuidar de si

é igual a cuidar do seu corpo e consequentemente da sua mente. Passe algum tempo

consigo, dedique-se a si e às suas necessidades mais básicas: Alimentação,

descanso e atividade física. Cuide da sua saúde física e mental.

Aja como se fosse. Sorria para se sentir mais feliz. Movimente-se mais lentamente

para relaxar. Use uma linguagem positiva e construtiva. Aja como se você fosse já

uma pessoa positiva e começará a sentir-se e a tornar-se mais positivo. Você pode

sentir-se esquisito no começo, mas realmente funciona. Oriente-se por aquilo que

pretende vir a alcançar. Os atletas fazem exatamente isso mesmo, treinam as suas

habilidades e condição física com o objetivo de verem os seus resultados melhorados.

Faça isso. Tente representar o papel de alguém positivo, represente até que lhe saia

de forma natural. Siga o seu próprio caminho por vontade própria.

Page 151: Como mudar a sua vida para melhor

Mude a sua vida para melhor

149

Comece o seu dia mais preparado e animado. Antes de se deitar, diga para si

mesmo que deseja acordar bem disposto. Escolha acordar bem disposto, nós temos a

capacidade e possibilidade de mudarmos muitas coisas. As nossas atitudes, humores,

e forma de estar e ver a vida não são fixas. Devido à plasticidade cerebral que

possuímos enquanto seres humanos, podemos sempre por força do nosso querer,

reprogramar os comportamentos e atitudes que sabemos serem mais valiosos e mais

adequados para a nossa vida. Acordar mal humorado não é certamente algo muito

bom. Você será capaz de ir implementando isso pouco a pouco. Lembre-se que tem a

possibilidade de escolher os seus pensamentos. Quer tenha mais ou menos

consciência, é você que decide se quer acordar bem disposto ou mal-humorado: O

que é que irá fazer durante esta semana?

Modele as pessoas positivas. Procure por pessoas positivas à sua volta ou em

qualquer lugar no tempo e no espaço (através de documentários, biografias, etc) e

aprenda com elas. Tente perceber como é que essas pessoas lidam ou lidavam com a

vida quotidiana, problemas, contratempos e compare com os seus próprios

pensamentos e como você lidaria com situações semelhantes. Siga os bons

exemplos, o sucesso deixa rasto, deixa pistas, essas pistas podem orientá-lo e guiá-lo

para facilitar a construção do seu caminho, ajudando-o transformar-se numa pessoa

positiva e bem sucedida.

Evite pensamentos depreciativos. Em casa ou nos momentos de pausa e reflexão

(quando está a falar para si mesmo ou a pensar nas questões da sua vida), tente

tomar consciência se está a ler o “Livro das Lamentações” ou o “Catálogo das

Frustrações”. As suas experiências passadas são exatamente isso: passado. São os

seus sentimentos a informar-lhe que algo de desagradável está a acontecer ou

aconteceu na sua vida. Nesta situação não deverá pensar que é a pior pessoa do

mundo:

Que não tem valor nenhum como pessoa

Que as outras pessoas são melhores e têm uma vida melhor

Que as coisas nunca irão melhorar

Ter pena de si

Pensar nos seus insucessos e achar que é um fracassado

Todos estes tipos de pensamentos são “proibidos”

Page 152: Como mudar a sua vida para melhor

Miguel Lucas

150

Concentre-se no presente e no futuro, não no passado. Muitas pessoas gastam

muito tempo pensando sobre os erros que cometeram no passado. A melhor maneira

é pensar sobre o erro que você fez e o que você pode aprender com ele. Então pare

de desperdiçar o seu tempo e mude o seu foco para o presente e projete-se no futuro,

onde você pode realmente fazer uma mudança.

Redefine a sua noção de “fracasso” e “experiência “. Você não tem de saber

muito sobre pessoas bem sucedidas para perceber que um dos seus principais pontos

fortes, é que a sua forma de olhar para o fracasso é muito diferente de uma qualquer

pessoa comum. Como Michael Jordan disse: “Eu perdi mais de 9.000 lances na minha

carreira. Eu perdi quase 300 jogos. 26 vezes, eu acreditei que conseguiria ganhar o

jogo e perdi. Eu falhei uma e outra vez na minha vida. E é por isso que eu consegui. “

SER POSITIVO E OTIMISTA

Eu não acredito que existe uma só verdade, ou uma só forma de olhar a vida, mas sim

que o mundo muda devido às crenças que temos sobre o assunto e as ações que

tomamos com base nessas mesmas crenças. Eu acredito que este é um modelo útil,

funcional e enriquecedor de olharmos e interagirmos com o mundo. É uma forma

muito mais agradável e adequada de pensar, comparativamente com a pessimista. É

uma maneira de pensar que permite trabalharmos na nossa felicidade e aumentar a

alegria na vida. É algo que eu acho, que quase todas as pessoas no mundo querem:

Mudar a vida para melhor.

Bom desafio positivo!

Page 153: Como mudar a sua vida para melhor

REFERÊNCIAS

Damásio A. (2000). O Erro de Descartes. 20ª Edição, Publicações Europa- América.

Mem Martins

Dispenza J. (2007). Evolve Your Brain. Health Communications, Inc. Deerfield Beach,

FL

Dizpenza J. (2012). Breaking The Habit Of Being Yourself. Hay House. Carlsbad,

Califórnia

Driver, J. e Aalst, M. (2010). Como Observar as pessoas. 1ª Edição, Editorial Bizâncio.

Lisboa

Klein S. (2005). A Fórmula da Felicidade. 1ª Edição, Editoral Presença. Lisboa

Lipton B (2008). The Biology Of Belief. Hay House. Carlsbad, Califórnia

Lyubomirsky S. (2007). The How of Hapiness. Penguin Group. New York

Murray, B. e Fortinberry A. (2004). Creating Optimism. McGraw-Hill. New York

Palladino L. (2009). Descubra o Seu Ponto de Concentração. 1ª Edição, SmartBook.

Montijo

Robbins A. (2003). O Poder Sem Limites. 1ª Edição, Editora Pregaminho. Cascais

Schwartz, J. e Gladding R. (2011). You Are Not Your Brain. Penguin Group. New York

Seligman, M. (2002). Authentic Happiness. Simon & Schuster, Inc. New York

Seligman, M. (2011). Flourish. Simon & Schuster, Inc. New York

Wells A. (2003). Perturbações emocionais e metacognição. 1ª Edição, Climepsi

Editores. Lisboa

Page 154: Como mudar a sua vida para melhor

FIM

© 2012

Page 155: Como mudar a sua vida para melhor

Este livro foi distribuído cortesia de:

Para ter acesso próprio a leituras e ebooks ilimitados GRÁTIS hoje, visite:http://portugues.Free-eBooks.net

Compartilhe este livro com todos e cada um dos seus amigos automaticamente, selecionando uma das opções abaixo:

Para mostrar o seu apreço ao autor e ajudar os outros a ter experiências de leitura agradável e encontrar informações valiosas,

nós apreciaríamos se você"postar um comentário para este livro aqui" .

Informações sobre direitos autorais

Free-eBooks.net respeita a propriedade intelectual de outros. Quando os proprietários dos direitos de um livro enviam seu trabalho para Free-eBooks.net, estão nos dando permissão para distribuir esse material. Salvo disposição em contrário deste livro, essa permissão não é passada para outras pessoas. Portanto, redistribuir este livro sem a permissão do detentor dos direitos pode constituir uma violação das leis de direitos autorais. Se você acredita que seu trabalho foi usado de uma forma que constitui uma violação dos direitos de autor, por favor, siga as nossas Recomendações e Procedimento

de reclamações de Violação de Direitos Autorais como visto em nossos Termos de Serviço aqui:

http://portugues.free-ebooks.net/tos.html