Como trabalha o filósofo

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Reflexõe s Filosofia 10º ano Isabel Bernardo Catarina Vale Como trabalha o filósofo?

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Como trabalha o filósofo?

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Módulo Inicial – Iniciação à atividade filosófica

Como trabalha o filósofo?A razão filosófica como uma

razão argumentativa.

Teses, argumentos e contra-argumentos.

Critérios para avaliar argumentos.

A grande aventura de René Magritte (1930) (pormenor)

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A razão filosófica como uma razão argumentativa

Pensar com uma atitude filosófica implica refletir critica e racionalmente.

Pensar racionalmente implica descobrir razões que não sejam boas apenas para nós.

Pensar racionalmente implica usar uma autoridade universal.

fundamentos que serão aceites não apenas por aquele que pensa, mas por todos os que possam refletir igualmente sobre o assunto.

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A razão filosófica como uma razão argumentativa

A maior parte dos filósofos tem a convicção de que as suas teorias não são apenas boas para si.

a razão filosófica visa a intersubjetividade, ou seja, a possibilidade de outros seres racionais aceitarem como boa a teoria proposta.

a razão filosófica aspira à verdade, isto é, à possibilidade de haver acordo entre o pensamento e o que efetivamente acontece.

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Paul Cézanne, A residência do Jas de Bouffan, 1878

Como sabe o filósofo que a suateoria é verdadeira?

Para provar a sua teoria, o filósofo utiliza recursos linguísticos e argumentativos a que podemos chamar de método discursivo da filosofia.

Por isso, podemos afirmar que a razão filosófica é argumentativa.

A razão filosófica como uma

razão argumentativa

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Argumentação

Tese(perspetiva, posição, conjunto articulado de proposições que

respondem a um problema colocado)

Argumentos(razões, que se expressam em

proposições, que justificam, fundamentam, provam uma tese)

Contra-Argumentos(razões, que se expressam em

proposições, que procuram mostrar a falsidade de uma tese ou de um

argumento)

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Quem não tem umas tintas de filosofia é um homem que caminha pela vida fora sempre agrilhoado [preso] a preconceitos que se derivaram do senso comum, das crenças habituais do seu tempo e do seu país, das convicções que cresceram no seu espírito sem a cooperação ou o consentimento da razão.

Bertrand Russell (1912). Os Problemas da Filosofia. Trad, António Sérgio, 2001 Lisboa: Almedina, pp. 147-148 (adaptado).

Lê o texto que se segue.

Qual o tema do texto? Qual é a tese defendida pelo autor?

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Dirck van Baburen, Prometeu agrilhoado, 1623

Problema: “O que acontece ao homem que não é um pouco filósofo?”.

Tese: “Quem não é um pouco filósofo vive preso a preconceitos que lhe foram transmitidos sem que a sua razão os tenha aceite”.

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O mundo tende, para tal homem, a tornar-se finito, definido, óbvio; para ele, os objetos habituais não erguem problemas, e as possibilidades infamiliares são desdenhosamente rejeitadas.

Bertrand Russell (1912). Os Problemas da Filosofia. Trad, António Sérgio, 2001 Lisboa: Almedina, p. 148 (adaptado).

Lê agora o texto com que o autor sustenta a sua tese.

Quais os argumentos utilizados pelo autor?

No primeiro argumento, o autor defende que para o homem que não é filósofo, o mundo tornar-se-á finito (fechado) e que tudo o que for novo é rejeitado.

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Pelo contrário, quando começamos a filosofar, imediatamente caímos na conta de que até os objetos mais ordinários conduzem o espírito a certas perguntas a que incompletissimamente se dá resposta. A filosofia sugere numerosas possibilidades que nos conferem amplidão aos pensamentos, descativando-os da tirania do hábito. Aumenta em muitíssimo o conhecimento no que diz respeito ao que as coisas podem ser, varre o dogmatismo, um tudo nada arrogante dos que nunca chegaram a empreender viagens nas regiões da dúvida libertadora; e vivifica o sentimento de admiração, porque nos mostra que as coisas que nos são costumadas num determinado aspeto que não o é.

Bertrand Russell (1912). Os Problemas da Filosofia. Trad, António Sérgio, 2001 Lisboa: Almedina, p. 148 (adaptado).

Que outros argumentos são utilizados pelo autor?

Lê atentamente o texto e formula-os.

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O argumento que estivemos a analisar é muito mais complexo.

Por vezes, para identificar bem um argumento, temos de o decompor em partes.

Segundo argumento - A filosofia:

mostra-nos que o óbvio esconde inúmeras perguntas

abre-nos inúmeras possibilidades de interrogar, o que nos liberta do hábito e do dogma

mantém-nos abertos para as imensas possibilidades de novos conhecimentos.

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Porém, o texto completo, tem outros elementos que ainda não analisámos.

Lê-os agora nos sublinhados… O que são e qual a sua função na argumentação do autor?

A filosofia , se bem que incapaz de nos dizer ao certo qual venha a ser a verdadeira resposta às variadas dúvidas que ela própria evoca, sugere numerosas possibilidades que nos conferem amplidão aos pensamentos, desactivando-os da tirania do hábito. Embora diminua, por consequência, o nosso sentimento de certeza no que diz respeito ao que as coisas são, aumenta em muitíssimo o conhecimento no que diz respeito do que as coisas podem ser, varre o dogmatismo...

Bertrand Russell (1912). Os Problemas da Filosofia. Trad, António Sérgio, 2001 Lisboa: Almedina, pp. 147-148 (adaptado).

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As duas frases sublinhadas são contra-argumentos.

Como vimos, a função de um contra-argumento é a de rebater uma tese ou um argumento, ou seja, mostrar que não são boas respostas aos problemas levantados.

Se assim é, porque coloca o autor do texto dois contra-argumentos quando está a defender a sua tese?

Contra-argumentar, objetar, rebater, refutar consiste, assim, em apresentar razões contra uma determinada posição.

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Porque…

todo o filósofo visa a universalidade das suas teses

para isso deve discutir, testar as suas teses, antecipando possíveis objeções

os dois contra-argumentos apresentados são duas das objeções mais comuns levantadas à filosofia

ao apresenta-las e rebatê-las, o objetivo do autor é diminuir a força dessas objeções e aumentar a força da sua argumentação.

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Critérios para avaliar argumentos

Poderemos numa argumentação aceitar qualquer argumento?

Se pretendemos que o argumento passe no crivo da razão, não podemos.

Quando estamos perante um argumento devemos perguntarmo-nos:

- É forte ou fraco?

- É consistente ou inconsistente com a tese que procura defender?

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Avalia, com o teu colega de carteira, a consistência dos argumentos apresentados pelo autor do texto.

Existe acordo entre a posição defendida e os argumentos apresentados?

Onde é visível esse acordo?

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A tese assenta na ideia de que a filosofia liberta intelectualmente o homem de todas as imposições que se abatem sobre ele se não fizer uso da razão

Podemos considerar a argumentação do autor consistente, porque…

Os argumentos sublinham a ideia de libertação, de abertura mental, de crítica às imposições, de abertura a infinitas possibilidades, só possível a quem tem uma atitude filosófica

Os recursos linguísticos opõem a ideia de finitude, clausura, limitação, à ideia de infinitude, libertação e possibilidades sem limites.

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Bibliografia

- Abbagnano, N. (1985).História da Filosofia, Vol. I.. Lisboa: Editorial Presença.

- Blackburn, S. (1997). Dicionário de filosofia. Lisboa: Gradiva.

- Blackburn, S. (2001). Pense. Uma introdução à filosofia. Lisboa: Gradiva, pp. 11-22.

- Copleston, F. (1994). Historia de la filosofia 1: Grécia e Roma. Barcelonoa: Editorial Ariel.

- Descartes, R. (1644), Carta Prefácio. In Os Princípios da Filosofia. Trad. Laura Mascarenhas, 1995. Lisboa: Texto Editora, p. 18.

- Grayling, A. C. (2002). O significado das coisas. Lisboa: Gradiva, pp. 181-185.

- Nagel, T. (1997). O que quer dizer tudo isto? Uma iniciação à filosofia. Lisboa: Gradiva, pp. 7-11.

- Nagel, T. (1999). A última palavra. Lisboa: Gradiva, pp. 11-20.

- Savater, F. (1999). As perguntas da vida. Uma iniciação à reflexão filosófica. Porto: Publicações D. Quixote, pp. 15-25 e 45-68.