Como Tudo Que Está Na Internet Hoje

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Como tudo que está na internet hoje, muitos conceitos científicos caíram na boca do público e são usados de maneira totalmente errônea. Confira os dez principais e tenha em mente que, cada vez que você usa uma dessas ideias indevidamente, um cientista tem um infarto: 1. Prova Segundo o físico Sean Carroll, “prova” é o mais incompreendido conceito científico. A definição técnica de “prova” (no que diz respeito à ciência) é a “demonstração lógica de que certas conclusões decorrem de certas suposições”. Já nas conversas de bar, prova é usada simplesmente como “forte evidência para qualquer coisa”. Carroll afirma que a ciência nunca prova nada, tanto que a resposta para perguntas como “Você pode realmente provar que a mudança climática é causada pela atividade humana?” não é “Claro que podemos”, mas sim uma sequência de informações lógicas que formam um conjunto de evidências para tal conclusão. “O fato de que a ciência nunca prova nada, mas simplesmente cria teorias abrangentes cada vez mais confiáveis que, no entanto, estão sempre sujeitas a atualização e melhoria, é um dos aspectos-chave que explicam porque a ciência é tão bem sucedida”, diz Carroll. 2. Teoria De acordo com o astrofísico Dave Goldberg, os membros do público em geral ouvem a palavra “teoria” e a confundem com “ideia” ou “suposição”. “Teoria” no sentido coloquial é muito diferente de uma teoria científica. Não existe nada que seja “só uma teoria” científica – e é por isso que é extremamente irritante quando alguém comenta coisas como “a evolução é SÓ UMA TEORIA” como isso significasse que não é verdadeira. As teorias científicas são sistemas inteiros de ideias testáveis e potencialmente refutáveis. As melhores (como a relatividade, a mecânica quântica e a evolução) resistem há anos a desafios e hipóteses alternativas. Teorias também são mutáveis, mas não infinitamente: teorias científicas podem ser incompletas ou podem estar erradas em algum detalhe particular, sem toda a sua ideia ser destruída. Em resumo, uma teoria científica representa o conhecimento científico tido como mais correto, e se compõe de hipóteses testáveis ou testadas, além de fatos que as evidenciam. Em linha com o conceito anterior, não são nunca transformadas em leis ou verdades definitivas. Elas podem ser abandonadas ou aperfeiçoadas, bem como usadas para fazer previsões que mais tarde são testadas ou investigadas em laboratório ou na natureza.

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Método científico.

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Como tudo que está na internet hoje, muitos conceitos científicos caíram na boca do público e são

usados de maneira totalmente errônea. Confira os dez principais e tenha em mente que, cada vez que

você usa uma dessas ideias indevidamente, um cientista tem um infarto:

1. Prova

Segundo o físico Sean Carroll, “prova” é o mais incompreendido conceito científico. A definição técnica

de “prova” (no que diz respeito à ciência) é a “demonstração lógica de que certas conclusões decorrem

de certas suposições”. Já nas conversas de bar, prova é usada simplesmente como “forte evidência para

qualquer coisa”. Carroll afirma que a ciência nunca prova nada, tanto que a resposta para perguntas

como “Você pode realmente provar que a mudança climática é causada pela atividade humana?” não é

“Claro que podemos”, mas sim uma sequência de informações lógicas que formam um conjunto de

evidências para tal conclusão. “O fato de que a ciência nunca prova nada, mas simplesmente cria teorias

abrangentes cada vez mais confiáveis que, no entanto, estão sempre sujeitas a atualização e melhoria, é

um dos aspectos-chave que explicam porque a ciência é tão bem sucedida”, diz Carroll.

2. Teoria

De acordo com o astrofísico Dave Goldberg, os membros do público em geral ouvem a palavra “teoria” e

a confundem com “ideia” ou “suposição”. “Teoria” no sentido coloquial é muito diferente de uma teoria

científica. Não existe nada que seja “só uma teoria” científica – e é por isso que é extremamente irritante

quando alguém comenta coisas como “a evolução é SÓ UMA TEORIA” como isso significasse que não é

verdadeira. As teorias científicas são sistemas inteiros de ideias testáveis e potencialmente refutáveis. As

melhores (como a relatividade, a mecânica quântica e a evolução) resistem há anos a desafios e

hipóteses alternativas. Teorias também são mutáveis, mas não infinitamente: teorias científicas podem

ser incompletas ou podem estar erradas em algum detalhe particular, sem toda a sua ideia ser destruída.

Em resumo, uma teoria científica representa o conhecimento científico tido como mais correto, e se

compõe de hipóteses testáveis ou testadas, além de fatos que as evidenciam. Em linha com o conceito

anterior, não são nunca transformadas em leis ou verdades definitivas. Elas podem ser abandonadas ou

aperfeiçoadas, bem como usadas para fazer previsões que mais tarde são testadas ou investigadas em

laboratório ou na natureza.

Como aplicar o método científico no seu cotidiano

3. Incerteza (e estranheza) quântica

Goldberg acrescenta que há outra ideia que tem sido ainda mais mal interpretada que “teoria”: quando as

pessoas confundem ou se apropriam de conceitos da física para uso em fins espirituais. Este equívoco é

uma exploração da mecânica quântica para explicar ideias como “alma”, ou para dizer que os seres

humanos controlam o universo, ou qualquer outra pseudociência. “No final, nós somos feitos de

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partículas quânticas (prótons, nêutrons, elétrons) e fazemos parte do universo quântico. Isso é legal, é

claro, mas apenas no sentido de que toda a física é legal”, diz Goldberg.

4. Comportamento aprendido vs comportamento inato

“Um dos conceitos mais mal usados é a ideia do comportamento ser ‘aprendido vs inato’ ou qualquer

outra versão natureza vs criação”, afirma a bióloga evolucionista Marlene Zuk. O público pode usar a

expressão “isso é genético” para dizer que uma pessoa nasceu daquele jeito e nada mais influenciou

suas características, ou o contrário, para dizer que algo foi uma escolha da pessoa ou reflexo de suas

condições de vida, e que ela não nasceu assim. Mas, como brilhantemente argumenta Zuk, todos os

comportamentos ou características são o resultado de ambas as contribuições dos genes e do ambiente.

Apenas uma diferença entre traços, e não o próprio traço, pode ser genética ou aprendida – por

exemplo, se gêmeos idênticos criados em ambientes diferentes fazem algo diferente (como falam línguas

diferentes), então essa diferença é aprendida. Mas mesmo falar francês ou italiano não é um traço

totalmente aprendido porque, obviamente, a pessoa tem que ter um certo fundo genético para ser capaz

de falar qualquer coisa (abrir a boca e emitir sons que formam a linguagem).

5. Natural

O biólogo sintético Terry Johnson acha que as pessoas compreendem mal o termo “natural”. Essa

palavra tem sido usada em muitos contextos com significados diferentes, mas seu uso mais básico é

para distinguir os fenômenos que só existem por causa da humanidade de fenômenos que não. Isso

pressupõe que os seres humanos são algo “separado” da natureza, e as nossas obras não são naturais

quando comparadas com, digamos, a obra de castores e abelhas. Daí começa a confusão. Que comida

é “natural”, por exemplo? Diferentes países têm diferentes definições. No Canadá, pode-se comercializar

milho como “natural” se ele não tiver adição ou subtração de várias coisas, mas o próprio milho é o

resultado de milhares de anos de seleção feita por seres humanos a partir de uma planta que não

existiria sem a nossa intervenção.

Por que não devemos acreditar na ciência?

6. Gene

Johnson também se preocupa com o mal uso da palavra gene. “Foram necessários 25 cientistas e dois

dias para chegar a definição ‘uma região localizável de sequência genômica, que corresponde a uma

unidade de herança, que é associada com regiões reguladoras, regiões transcritas e/ou outras regiões

de sequências funcionais’, o que significa que um gene é um pedaço discreto de DNA que podemos

apontar e dizer ‘isso faz alguma coisa, ou regula a realização de alguma coisa’”, diz. Normalmente, a

palavra “gene” é mal utilizada quando vem seguida de “para”. Por exemplo, a popularização da ideia de

que, quando uma variação genética está relacionada com alguma coisa, é o “gene para” essa coisa. Por

exemplo, “tal gene é o das [causa] doenças cardíacas”, quando a realidade é geralmente “as pessoas

que têm tal alelo deste gene parecem ter uma incidência ligeiramente maior de doença cardíaca, mas

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não sabemos por que”. Em resumo, nós todos temos genes para a hemoglobina, mas nem todos nós

temos anemia falciforme. Diferentes pessoas têm diferentes versões do gene da hemoglobina,

chamadas de alelos. Existem alelos de hemoglobina que são associados com doenças de células

falciformes e outros que não. Assim, um gene refere-se a uma família de alelos, e apenas alguns

membros dessa família, se houver algum, estão associados a doenças ou distúrbios. Um gene nunca é

ruim – afinal, ninguém vive muito tempo sem hemoglobina -, embora você possa ter uma versão especial

problemática.

7. Estatisticamente significativo

Segundo o matemático Jordan Ellenberg, “estatisticamente significativo” é uma daquelas expressões que

os cientistas gostariam de renomear se pudessem. O termo “significativo” sugere importância. No

entanto, o teste de significância estatística, desenvolvido pelo estatístico britânico R. A. Fisher, não mede

a importância ou o tamanho de um efeito, apenas se somos capazes de distingui-lo usando nossas

melhores ferramentas estatísticas. “’Estatisticamente notável’ ou ‘estatisticamente discernível’ seria muito

melhor”, fala Ellenberg. Em outras palavras, não diga que algo é estatisticamente significativo apenas

porque você acha que aquilo é muito significativo, mas sim se for algo improvável de ter ocorrido por

acaso caso uma determinada hipótese nula seja verdadeira, mas não sendo improvável caso a hipótese

base seja falsa. Ou seja, a significância de um teste está relacionada ao nível de confiança ao rejeitar

hipótese nula quando esta é verdadeira. Entendeu? Aposto que não (se você não for um matemático ou

estatístico), e essa é a principal prova (hehe) pela qual você não deve usar esse termo à toa, sem saber

direito do que se trata.

8. Sobrevivência do mais apto

Para a paleoecologista Jacquelyn Gill, as pessoas simplesmente não compreendem alguns dos

princípios básicos da teoria da evolução. No topo da lista vem a “sobrevivência do mais apto”. Em

primeiro lugar, essas não são palavras do próprio Darwin (é um termo cunhado na verdade por Herbert

Spencer), embora ele seja o fundador da teoria da evolução. Em segundo lugar, as pessoas têm uma

ideia errada sobre o que o “mais apto” significa. Aliás, há grande confusão sobre a evolução em geral,

incluindo a ideia persistente de que ela é progressiva, direcional ou mesmo deliberada. Para entender a

teoria da evolução e a seleção natural de uma vez por todas, sugiro que leia esse nosso artigo

explicativo. Mas, de uma maneira geral, que fique registrado que “o mais apto” não significa o ser vivo

mais forte, nem o mais inteligente. Significa, simplesmente, que o organismo mais apto a tal ambiente,

que melhor se adapta ou se encaixa nele, é o que sobrevive por mais tempo. O mais apto pode ser o

menor, o mais venenoso ou o mais capaz de viver sem água por mais tempo. Além disso, as criaturas

nem sempre evoluem de uma maneira que podemos explicar como adaptações. O seu caminho

evolutivo pode ter mais a ver com mutações aleatórias, ou traços que outros membros de sua espécie

acham atraente (seleção sexual, ao invés de natural).

Como fazer uma criança entender conceitos científicos complexos: estudo

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9. Escala de tempo geológico

Gill também crê que as pessoas parecem compreender muito mal a escala de tempo geológico da Terra.

“Qualquer coisa pré-histórica é comprimida na mente das pessoas, e elas pensam que há 20.000 anos

tínhamos espécies drasticamente diferentes (não), ou até mesmo dinossauros (não não não). Não ajuda

que esses dinossauros de brinquedo muitas vezes incluam homens da caverna ou mamutes”, diz. A

escala de tempo geológico representa a linha do tempo desde o presente até a formação da Terra, e é

dividida em éons, eras, períodos, épocas e idades que se baseiam nos grandes eventos geológicos da

história do planeta. Ou seja, a pré-história não é um espaço no tempo onde todos os dinossauros,

humanos antigos e mamutes conviveram juntos (na verdade, diferentes espécies existiram em diferentes

tempos geológicos).

10. Orgânico

De acordo com a entomologista Gwen Pearson, há uma constelação de termos que aparecem juntos à

palavra “orgânico”, como “livre de químicos” e “natural”, que parecem sugerir que um alimento, por

exemplo, é seguro. Na verdade, toda comida é orgânica, porque contém carbono. Termos como “produto

orgânico” são usados erroneamente para descartar ou minimizar diferenças reais na produção de

alimentos e produtos. As coisas podem ser naturais e orgânicas, mas ainda bastante perigosas. Ao

mesmo tempo, podem ser sintéticas e fabricadas, mas seguras. Ou seja, orgânico não quer dizer que

algo é bom, porque “orgânico” é apenas um termo genérico para processos ligados à vida, ou

substâncias originadas destes processoshttp://hypescience.com/10-ideias-cientificas-que-os-cientistas-querem-que-voce-pare-de-usar-indevidamente/