Compadrio

download Compadrio

of 15

description

Compadrio.

Transcript of Compadrio

  • Compadrio, sacrifcio, chefia: desigualdades e a constituio do social

    Marcos Lanna Departamento de Cincias Sociais & Programa de Ps

    Graduao em Antropologia Social, Universidade Federal de So Carlos, Brasil.

    O compadrio no parece ter, no Brasil, a mesma presena que tem em outras partes

    da Amrica Latina No Mxico, por exemplo, ele apresenta-se como verdadeira instituio.

    Isto no significa que ele no tenha importncia estrutural, presena mais inconsciente do

    que consciente. Como instituio, o compadrio est presente em vrias partes do mundo

    latino e mediterrneo e h dcadas recebe anlises, que sero simultaneamente recuperadas

    e criticadas aqui. Elas representam um momento importante da antropologia simblica

    mas ao mesmo tempo assumem perspectiva funcional. Esta conjuno entre anlise

    simblica e funcional me parece atual, presente em autores influentes neste sculo XXI,

    como M.Foucault e P.Bourdieu.

    Sobre o sentido lvi-straussiano do termo estrutura, a ser adotado aqui: trata-se de

    realidade abstrata, mas que se entende em relao a suas manifestaes concretas,

    empricas. Com excees, como a de M.Sahlins, poucos tentaram entender estruturas

    polticas, dandoe a estrutura a conotao que lhe d C.Lvi-Srauss. Para Sahlins

    (2008:199), as formas elementares do parentesco e da poltica so uma. Sem espao para

    discutir o que seriam as estruturas elementares do parentesco, nem as diferenas entre a

    noo durkheimiana de forma elementar e a noo do primeiro Lvi-Strauss de estrutura

    elementar, basta dizer que a forma institucional e a estrutura abstrata. At certo

    ponto, Sahlins confunde estas noes, mas tem o mrito de remeter a estrutura a seu

    fundamento abstrato, ou a um deles, o princpio de reciprocidade (cf. Lanna 2001). Este

    tem sido freqentemente entendido incorretamente como forma institucional, erro apontado

    por Lvi-Strauss (em Viveiros de Castro 1998, entre outros textos).

    Foi ento inspirada em Lvi-Strauss que minha pesquisa sobre a realidade

    nordestina brasileira (Lanna 1995) buscou algum tipo de estrutura poltica. Tristes trpicos

    apresenta reflexes sobre a chefia bororo e nambiquara feitas em perodo anterior 2a.

    A

  • B

    Grande Guerra. Depois dela, Lvi-Strauss no faz, explicitamente, estudos do poltico (para

    alguns motivos disto, cf. Lanna 2005, nota 2), voltando a ele em seus estudos sobre as

    sociedades a casas no final dos anos 1970. Se as Estruturas elementares do parentesco,

    de 1949, analisa assimetrias relativas s alianas matrimoniais, Sahlins (2008) mostra que

    estas esto, de modo extremamente geral, na origem de alianas polticas que fundamentam

    a organizao scio-cultural de inmeras sociedades antigas, evidenciando aspecto poltico

    da anlise lvi-straussiana do parentesco (seja elementar, seja relativo s casas

    aristocrticas). Sahlins (2008) enfatiza a presena de casamentos reais que poderiam ser

    tomados como verdadeiras estruturas poltico-matrimoniais.

    Se Homans & Schneider (1955) criticaram como finalista a teoria de As estruturas

    elementares do parentesco, minha anlise do compadrio privilegiar sua caracterstica

    oposta, mostrando que ela pode nos livrar, ao menos em parte, de um entendimento

    funcionalista do poltico extremamente comum nas cincias sociais. Tomo que universal,

    na perspectiva j deste primeiro Lvi-Strauss, seria a idia de que, por trs da simetria

    aparente e ideolgica de algumas trocas, haveria uma assimetria fundadora das relaes

    sociais (cf. Lanna 2009). Quando me refiro ao aspecto funcionalista de descries do

    compadrio na Amrica Latina, e de modo ainda mais amplo, no mundo mediterrneo, penso

    na perspectiva instrumental que o coloca como uma superestrutura, como se ele apenas

    justificasse desigualdades pr-estabelecidas.

    Para Pitt-Rivers, por exemplo, o parentesco ritual um idioma, mas no no sentido

    rigoroso que Lvi-Strauss d noo de linguagem: na Andalusia, a patronagem seria

    "reforada pela instituio do parentesco ritual, que seria explorada por objetivos

    polticos" e "adaptada a usos que nada tem a ver com parentesco ou religio" (Pitt-Rivers

    1977:68, :34). Haveria assim uma exterioridade entre parentesco e religio, de um lado; de

    outro lado, as relaes poltico-econmicas funcionariam como base, determinando

    supostos usos poltico-econmicos de realidades do parentesco e da religio. Noto que o

    conceito de fato social total de Marcel Mauss evita este tipo de segregao entre esferas,

    que fragmenta algo imediatamente dado nos fatos, a simultaneidade entre suas dimenses

    poltica, econmica, religiosa, etc.. A esta fragmentao, imposta pelo analista, se seguiria

    uma reintegrao funcional, igualmente imposta. A meu ver, crenas ou relaes de

  • C

    parentesco no so meramente exploradas ou adaptadas, nem podem ser reduzidas a

    meios para fins utilitrios. Ou por outra, a desigualdade no funo de um objetivo,

    mas est presente desde o incio, na constituio de qualquer lao social - e mais, isto no

    apenas a partir de domnios poltico-econmicos.

    Demonstrarei ser o compadrio uma srie de trocas. Veremos que por isto, mesmo

    sendo relao fundante, pode ao mesmo tempo ser englobado por relaes poltico-

    econmicas, ou por aspectos politco-econmicos da estrutura que o forma. Uso a noo de

    hierarquia de L. Dumont (1980), definida como englobamento dos contrrios, mas no

    como relao necessariamente religiosa, como na ndia bramnica, onde o termo religioso

    (sacerdotes brmanes) engloba o poltico (reis ksatryas). Veremos que o oposto pode se dar

    no compadrio.

    A anlise parte da cidade de So Bento do Norte, situada na poro nordestina da costa

    do estado do Rio Grande do Norte. Do ponto de vista estrutural, no importa tanto se o patro

    e o padrinho so a mesma pessoa, mas sim como se inter-relacionam estas figuras lgicas.

    Havia naquela cidade de 10 mil habitantes, em 1991, quando l morei, polticos e lojistas com

    mais de uma centena de afilhados. Se na Andalusia a palavra padrio sinnima de

    patrn" (Pitt-Rivers 1977:52), em partes do Brasil a expresso meu patro que tem uso

    cotidiano. Isto , se padrinho engloba patro na Andalusia, temos no Brasil o contrrio. Em

    ambos os locais as palavras convergem, esto em relao hierrquica. Mais do que palavras ou

    pessoas concretas, elas so categorias classificatrias. No podem assim ser reduzidas a

    relaes pessoais do tipo Seu Joo meu patro ou Tio Zeferino meu padrinho.

    Veremos que todas pessoas no s tm vrios patres e tambm vrios padrinhos e no s

    aqueles institucionalizados, os de fogueira, de formatura, etc..

    O compadrio no pode assim ser reduzido a mecanismo ou ferramenta para

    estender ou intensificar relaes sociais (Mintz & Wolf 1950:348). Ele muito mais,

    fundamento da vida comunal. Quando uma comunidade se forma, as pessoas estabelecem

    laos de compadrio, como em um assentamento fundirio do INCRA, por exemplo, que

    acompanhei, a Baixa da Quixaba, onde 63 famlias foram assentadas. Alguns casais eram

    escolhidos como padrinhos preferenciais. O batismo significa pertencimento, incorporao em

    uma comunidade moral (Kottak 1967:433). A lei cannica fala em pais naturais dedicando

  • D

    seus filhos a santos, tendo os padrinhos como intermedirios (cf. Gudeman 1972). Temos aqui

    uma primeira ddiva, a da criana.

    Em alguns locais como a Andalusia (Pitt-Rivers 1977:62) e partes do Brasil

    (Woortmann 1995), os padrinhos do o nome. Sendo um nome cristo, um elo entre santo e

    afilhado. Em alguns locais h livre escolha de nomes, com preferncia por alguns deles. Pode

    tambm haver preferncia por certos parentes serem escolhidos como padrinhos. Segue-se

    uma srie de combinaes: em alguns lugares, o padrinho e o nome so preferenciais, at

    mesmo prescritos, em outros se prescreve como padrinho determinado parente, mas que no

    d o nome, em outros o padrinho pode ser de fora do crculo domstico e dar (ou no) seu

    nome ao afilhado, entre outras combinaes possveis. Por exemplo, na parte do serto

    pernambucano estudada por Galbraith (1983), o padrinho o av paterno e d o nome do

    primeiro filho. Em outras partes, tanto o nome como o padrinho devem vir de fora da famlia e

    por a se seguem vrias combinaes. Assim, o padrinho pode no dar o nome, pode dar o seu

    nome ou pode dar qualquer nome. Em todo caso, o nome seria uma segunda ddiva, ligada

    personalidade do afilhado. Da se entende a expresso qual a sua graa?, comum no Brasil

    e no mundo mediterrneo. H uma assimilao entre duas ddivas: o nome e a graa divina,

    ambas dadas pelos padrinhos e significando uma incorporao do afilhado na comunidade.

    A terceira ddiva seria ento a graa, valor mximo, retorno apropriado dedicao da

    criana e que define o aspecto sagrado do compadrio. Pitt-Rivers a toma como um free-gift ...

    algo que no pode ser retribudo (Pitt-Rivers 1977:61). Prefiro pens-la como o oposto do

    free-gift: ela coloca seu recebedor na posio de permanente endividamento, dando relao

    aspecto assimtrico. Note-se que temos uma troca de algo material, o corpo da criana, fruto

    do pecado, por algo imaterial, a graa. Sigo aqui Marcel Mauss, para quem no h free-gift, a

    ddiva implica sempre obrigao de retribuir, ainda que a retribuio nem sempre ocorra na

    prtica. Como qualquer dom, a graa no nunca perfeitamente retribuda e como valor

    maximo coloca seu recebedor em posio inferior, com obrigao de retribuir. V-se como o

    dom uma relao instvel, desequilibrada; no se retribui identicamente, ao mesmo tempo, a

    algum em posio social idntica. V-se ainda como a troca uma sntese entre dois

    movimentos em sentidos opostos, cada um criando sua dvida. Podemos ento definir o

  • E

    compadrio como a troca da pessoa fsica pela pessoa social. O compadrio a troca do afilhado

    pela graa, uma troca assimtrica, ainda que recproca; o valor inferior o da pessoa fsica.

    O aspecto poltico da troca se expressa no sentido das expresses de nada, de

    graa e obrigado. H um aspecto sacrifical na expresso obrigado: explicita a obrigao

    de retribuir e que a retribuio adequada a da pessoa que recebeu a ddiva inicial: ela que

    se obriga. Assim, ao dizer obrigado, indico que me obrigo; ao replicar de nada, o doador

    inicial me libera de minha obrigao. Usando uma frmula retrica que faz referncia

    ddiva inicial, apaga-a, ou tenta apag-la, como se ela no tivesse ocorrido, tivesse sido um

    nada. J quando se recebe algo de graa, a referncia no a um nada, mas, ao contrrio,

    a se receber como um padrinho, aps ter dado a graa, pela graa, como retribuio ao valor

    mximo, que retoricamente se supe ter sido dado. As frmulas de graa e de nada so

    opostas: a segunda uma retribuio adequada ao obrigado que supe retoricamente

    inferioridade do doador inicial, enquanto a primeira assume superioridade deste doador.

    Voltando ao compadrio, aps a troca inicial da criana por graa, restam assimetrias e

    desequilbrios. Em alguns locais e momentos histricos, os padrinhos receberiam outras

    prestaes materiais, que podem simbolizar a prpria pessoa do afilhado. O trabalho seria a

    contra-prestao mais valiosa que o afilhado (ou algum de sua famlia) poderia dar em troca

    da graa. Seria uma continuao lgica, uma reproduo da ddiva inicial que os pais da

    criana fizeram aos padrinhos, a pessoa fsica dada pelos pais biolgicos. Em algumas partes o

    trabalho o dom, feito pelo afilhado, de sua prpria pessoa. Teria assim contedo sagrado,

    aproximando-se da graa como modo de retribuio o mais equivalente possvel. Nele, o

    afilhado ao mesmo tempo um sujeito que d e um objeto que circula, semelhante assim s

    mulheres no modelo das estruturas elementares do parentesco, um valor simblico e um

    veculo de valor, a apresentao do valor em sua forma-corpo. Se o dom mais valioso que

    os pais biolgicos podem fazer o do seu filho, ou de alguns direitos ligados ao seu filho, o

    afilhado pode dar mais dele mesmo, seu trabalho. Isto sugere o aspecto sacrificial do

    compadrio. Em partes do nordeste brasileiro se prescreve, ou se prescreveu no passado,

    prestaes de trabalho do afilhado (cf. Arantes 1971 para a Bahia ou Woortmann 1995 para

    Sergipe). Ainda que tal prestao seja hoje rara, ela importa como possibilidade lgica, mais

    do que como ocorrncia prtica, seja l qual sua freqncia.

  • F

    A Lei Cannica explicita que depois de os padrinhos receberem no batismo o

    afilhado este recebe "o dom do Esprito Santo... o dom da f" (Gudeman 1972:49-50). H

    uma troca de direitos sobre a criana, de um lado, por pertencimento comunitrio, de outro.

    Este pertencimento no seria, evidentemente, aquele que associamos cidadania. Anlises

    simblicas do compadrio em vrias partes salientam a assimetria entre pais espirituais e

    biolgicos, estes associados cpula (Bloch & Guggenheim 1987:379). Indicam haver dvida

    do afilhado em relao aos que o fizeram cristos (cf. entre outros, Arantes 1971:24). A

    etnografia do mundo mediterrneo e latino evidencia o dom da graa feito pelos padrinhos,

    mais do que possveis formas de retribuio a este. Em Caiaras, o distrito pesqueiro de So

    Bento, h uma visita formal feita aos padrinhos na Pscoa, onde, como se diz em francs on

    paye de sa personne. Apesar de ser um hbito em desuso, esta visita ritualizada: o afilhado

    pede pequenos presentes, geralmente comidas, denominadas localmente esmolas;

    pescadores do peixes, comerciantes biscoitos industrializados, agricultores do cocos, etc.. A

    visita assim retribuda por esmolas, compondo mais uma srie de dons que constitui o

    compadrio naquele local. O fato de ser feita na 6. feira santa explicita o carter sacrificial da

    relao. Os dons que compem o compadrio so hierarquizados, assim como suas sries. No

    caso da 6. Feira santa em Caiaras, a esmola engloba a visita. A troca de esmola por

    visita reproduz a estrutura do compadrio: os inferiores fazem o dom inicial e sacrificial (o

    pagamento da pessoa), retribudo por algo mais valioso. O compadrio contm assim este

    paradoxo: o dom inicial feito pelos inferiores.

    No h espao para detalhar o argumento de que a dvida permanente incorrida pelo

    afilhado e seus pais permite prticas de separao da parte dos padrinhos, que se ligam

    ausncia de atos redistributivos dos patres (cf. Lanna 1995). Este argumento pressupe a

    possibilidade de transformaes lgicas entre as figuras de patro e padrinho, o que por sua

    vez pressupe uma antropologia simblica do poltico de cunho lvi-straussiano que ainda est

    se constri e para qual este artigo pretende contribuir. O fato que as trocas que constituem o

    compadrio tambm constituem a patronagem. Patres vem seus empregados como

    endividados, como no compadrio os padrinhos vem seus afilhados. Por isto pode-se ter

    circulao com mnimo contedo material, isto , um dos termos se definir com generoso a

    priori, em um nvel mais estrutural ou englobante, cria a possibilidade de uma prtica

  • mesquinha deste mesmo termo. Isto outro paradoxo do compadrio. O desequilbrio da

    troca se expressa na prtica, mas deriva de uma assimetria lgica que constitui a dimenso

    poltica no apenas como fato ou instituio, mas como estrutura. Alm de realidade

    fenomenolgica (fato e instituio), ela mesmo ontolgica, pois esta dvida uma dvida de

    vida, relativa ao ser, identidade da pessoa (expressa, por exemplo, no nome), sua

    existncia social.

    H ainda uma transformao de outro tipo, desta mesma estrutura assimtrica, do

    patro ao Estado. Tambm esta transformao estrutural pouco estudada; mas a existncia de

    cada um destes termos se liga logicamente do outro, as trocas comandadas por cada um deles

    sempre com contedo material mnimo. Mas vimos que no podemos concluir da no haver

    reciprocidade. Temos ento, no compadrio, na patronagem e na formao do Estado, um

    contexto sociolgico onde uma estrutura permite ampla manipulao das trocas. Patro e

    padrinho esto na posio de maximizar o contedo material das prestaes que recebem e

    minimizar o das que do, assim como o Estado. Crises podem resultar da manipulao

    excessiva destas trocas. A figura do mau patro estigmatizada do mesmo modo que

    rebelies podem pleitear alteraes no contedo redistribudo (no nvel estatal, diminuies

    nos impostos, por exemplo).

    Assim como no podemos confundir contedo mnimo das trocas com inexistncia de

    reciprocidade, tambm no podemos tomar aspectos simtricos do compadrio enfatizados

    mais ou menos em cada contexto etnogrfico e histrico particular como inexistncia da

    hierarquia. H simetria, por exemplo, no fato de pais naturais e espirituais serem mutuamente

    denominados compadres. Mas por trs desta simetria h a assimetria descrita acima, o fato

    de um casal de compadres dar graa, o outro a criana.

    Se o modelo do compadrio se prolonga na patronagem e no Estado, ele tambm

    organiza prticas cotidianas. Em So Bento, diz-se que "compadre quem se ajuda". No se

    precisa assim ser efetivamente compadre. Trata-se, como eu dizia, de um modelo categrico-

    estrutural que organiza diferentes realidades empricas. Mesmo o modelo da amizade tem

    relaes bvias com o compadrio. Assim como falamos de transformaes entre as figuras de

    padrinho e patro, nelas devemos incluir outras categorias, como amigos e xars.

    G

  • H

    Estudando o Panam, Gudeman (1969) afirma que a sacralidade do compadrio inibe a

    cooperao econmica. Arantes (1971:39) viu o oposto na Bahia. Mas isto no deveria ser

    fonte de disputa. Fatos aparentemente contraditrios como estes podem e devem ser

    entendidos como transformaes um do outro, manifestaes de especificidades locais e

    temporais. No vejo ainda razo para argumentos que diferenciam "interesses e transaes

    econmicas", de um lado, e "outros nveis de troca, como o moral" (Arantes 1971:36). Para

    Arantes, as trocas morais relativas ao compadrio seriam "incentivos ao trabalho" como eram a

    magia e as trocas trobriandesas para Malinowski. Na concluso voltaremos a esta questo,

    relao entre infra e super estrutura, trocas econmicas e religiosas.

    Vimos que a assimetria do compadrio se liga patronagem, formas de explorao

    poltico-econmica que pressupem a dominao de classe mas diferem da explorao

    capitalista. H sobreposio de diferentes tipos de relaes assimtricas implicadas em

    diferentes modos de produo social (quanto a este conceito, cf. Graeber, capt. 3). Uma

    "comunidade pode estar envolvida na produo de mercadorias baseadas no valor de troca

    mas esta no precisa ser sua cultura total" (Gregory 1986:64). Isso relevante para entender a

    especificidade de um capitalismo como o brasileiro. Temos de reconhecer de modo menos

    funcionalista o fato de que a relao de compadrio "tende a ser de tipo patronal (Willems

    1962:77) e vice versa, eu complementaria. No , ento, que "o lao de compadrio serve

    para reafirmar e ressaltar a relao patro-cliente pr-existente" (Arantes 1971:25, grifos

    meus), nem que "laos anteriores de parentesco, co-residncia ou econmicos assumam

    precedncia lgica sobre o compadrio" (Arantes 1971:20). Em outras palavras, a relao de

    patro-cliente no infra-estrutural ou pr-existe o compadrio; os laos econmicos no

    necessariamente tomam precedncia lgica sobre o compadrio. Do mesmo modo, no que

    "a performance das obrigaes mtuas [alis assimtricas] garantida atravs de um lao

    pessoal que transcende os grupos e categorias de pessoas existentes" (Eisenstadt 1956:93).

    No podemos assumir a existncia de qualquer grupo como anterior ao compadrio.

    Arantes, Bloch e Guggenheim e Eisenstadt tomam o compadrio como super-estrutural,

    reduzem-no ao seu carter instrumental para entend-lo como uma forma de controle social,

    repetindo o procedimento funcionalista de Mintz e Wolf (1950). Superada a idia de que o

    compadrio " um lao didico, formado pela escolha" por ter uma "utilidade, enquanto o

  • I

    "individuo ambiciona reforar sua posio" (Mintz & Wolf 1950:358), temos agora de superar

    a razo prtica ainda impregna tantas anlises influenciadas por K.Marx. Incluo aqui a de

    Chevalier (1982:328), para quem o "batismo frequentemente usado para mistificar relaes

    de classe, dando a elas uma pseudo santidade, ideologicamente transformando a dominao no

    dom da criao" (Bloch & Guggenheim 1987:385). Prefiro no tomar a "sacralidade do

    parentesco ceremonial" (Willems 1962:76) como "pseudo santidade", entendo-a como uma

    ideologia no ao modo marxista e sim ao modo dumontiano, relacionada a todos valores

    sociais e no apenas aos econmicos (cf. Dumont 1977). Concluo que o batismo e obrigaes

    entre compadres criam desigualdades polticas que obviamente diferem da dominao de

    classe, sendo inerentes fundao da sociedade como realidade sagrada. Em outras palavras, o

    dom da criao implica algum tipo de dominncia poltica. A sacralidade do poder no uma

    legitimao mas um modo de constituio do poder.

    Para Gudeman (1972), as caractersticas centrais" do compadrio so "o fato de os pais

    serem proibidos de escolherem a si mesmos como padrinhos e o fato de que ... no h

    reciprocidade direta na seleo" destes. Escrevendo 10 anos depois, Chevalier (1982:310) deu

    um passo adiante ao mostrar que a "seleo recproca ocorre". Ora, a proibio de os pais

    escolherem a si mesmos como padrinhos de seus filhos estritamente anloga proibio do

    incesto no modelo das estruturas elementares do parentesco de Lvi-Strauss. O fato de haver

    reciprocidade na seleo dos padrinhos explicita o compadrio como estrutura elementar do

    parentesco espiritual. Se as estruturas elementares so relativas afinidade, h no compadrio

    afinidade e filiao espiritual.

    Exatamente como nas estruturas elementares do parentesco, a reciprocidade pode ser

    mais imediata ou postergada no tempo, com ciclos curtos ou longos. O mais curto o de um

    casal escolhendo como padrinhos de seu filho o mesmo casal que os escolheu como

    compadres. O ciclo mais longo seria o da reciprocidade potencial: um casal escolhe outro na

    esperana de seus descendentes um dia serem escolhidos pelos descendentes dos segundos.

    Exemplo de ciclo mdio o encontrado por E.Woortmann (1995), numa comunidade de

    Sergipe, onde h preferncia para um homem escolher um afilhado de seu pai como padrinho

    de seu filho. Neste caso, a posio hierarquicamente superior revertida a cada escolha.

  • Recentemente a lei cannica aboliu a proibio de os pais escolherem-se a si mesmos,

    com o argumento de que o padrinho antes de tudo um amigo, logo, pode ser o pai. A Igreja

    Catlica no tem conscincia de que, ao faz-lo, aprofunda a ideologia africana-europia da

    consanginidade, segundo a qual basta um pai (e uma me) para fundar uma socialidade

    fraterna, de irmos-amigos. A Igreja se afasta assim de uma tradio ocenica-asitica, to

    bem configurada por Lvi-Strauss, onde a socialidade no se funda na figura paterna, mas na

    relao entre afins, cunhados. De todo modo, Gudeman erra ao falar em inexistncia de

    reciprocidade no compadrio. A reciprocidade que o compadrio estabelece fundamental por -,

    dada a proibio que vigorou por sculos de os pais escolherem-se a si mesmos como

    padrinhos -, se dar alm da esfera da produo domstica, ou melhor, da famlia nuclear.

    Ciclos mais longos estabeleceriam de modo mais bvio uma afinidade transcendental"1, por

    exemplo, nos casos que testemunhei na costa pernambucana, em que santos ou Jesus Cristo ou

    Nossa Senhora so escolhidos como padrinhos. Estes ciclos mais longos ocorrem com

    freqncia nas zonas de monoculturas de exportao brasileiras, ainda que a escolha de

    santos e sacerdotes seja proibida pela igreja catlica. Sejam eles mais ou menos verticalizados,

    os ciclos no se fecham necessariamente. Quando se chama um amigo ou parente para batizar

    um filho temos ciclos potencialmente mais curtos, com mais chances de se fechar, como no

    caso sergipano analisado por E.Woortmann. A escolha de patres, representantes do domnio

    da produo mercantil, indica ciclo intermedirio, entre os dos santos e os dos parentes e

    amigos.

    Meu survey de So Bento revelou parentesco entre padrinho e afilhado em apenas

    3.5% dos casos. Isto contrasta com comunidades nordestinas onde parentes so prescritos,

    como a sertaneja visitada por Galbraith (1983) onde avs paternos so padrinhos dos

    primognitos e avs maternos os das primognitas. Cada caso deve ser considerado uma

    1Uso o termo de Viveiros de Castro (1992). Compadrio afinidade espiritual na medida que o sexo entre compadre e comadre proibido, gerando em So Bento seres monstruosos. O compadrio tambm meta-afinidade por implicar unio de dois casais, mesmo quando padrinho e madrinha no so casados e de geraes distintas. A associao entre compadrio e casamento em So Bento se evidencia ainda no nome de um dom que se prescreve ao padrinho, o enxoval, composto pelas roupas novas que o afilhado usa na cerimnia do batismo. Outras analogias entre compadrio e casamento so os fatos de uma criana no batizada ser solteira e alguns homens chamarem suas esposas de comadres.

    J

  • variante do outro. Podemos no futuro analisar suas transformaes, ao modo do que fez Lvi-

    Strauss para mitos amerndios.

    O compadrio intra-familiar no pode assim ser compreendido ao modo funcionalista,

    como se a uma relao de parentesco se sobreponha outra, de parentesco espiritual. Mas h

    transformao no modo como a relao vivenciada, com um acrscimo de respeito, quando

    um tio ou um av passa a ser tambm padrinho. Exemplificam irmos que, transformados em

    compadres, passam a se chamar de "Senhor", como testemunhei em Carpina, na Zona da Mata

    de Pernambuco e Cndido (1951:294), dcadas atrs, em fazendas de caf do interior de So

    Paulo. Isto demonstra como o compadrio, enquanto afinidade espiritual, engloba (ou pode

    englobar) a consanguinidade. Parece-me ser fato fundamental da nossa civilizao ser capaz

    de englobar a figura da fraternidade pela afinidade espiritual. Ele complementa as

    compreenses de S. Freud ou J. Lacan que privilegiam a figura do pai e aproxima o ocidente

    de realidades como as ocenicas e asiticas analisadas por Lvi-Strauss (1949). Mais ainda, o

    tratamento de senhor mostra que o compadrio tem uma dimenso pblica.

    Assim, o compadrio no nunca relao restrita ao ambiente domstico, mesmo

    quando intra-familiar, entre irmos e avs. Em So Bento, onde muitos dos 10 mil habitantes

    so parentes entre si, os padrinhos so escolhidos de fora do crculo de parentes.2 Apenas 20

    % (ou 74 de 349) dos laos de compadrio em So Bento eram "horizontais", isto , pescadores

    escolhiam pescadores, agricultores, agricultores, etc.. Como indivduos mais prestigiosos ou

    ricos eram preferidos, isto significa que h hierarquia e assimetria mesmo no compadrio

    horizontal. Em 80% dos casos o compadrio tinha evidente verticalidade; comerciantes,

    proprietrios de terra ou de barcos, polticos, funcionrios pblicos, militares, eram as escolhas

    preferenciais de pescadores ou agricultores.

    H uma associao entre compadrio e a figura do patro, ou ao menos do dinheiro e do

    mercado. Os padrinhos devem sempre pagar pelo batismo e no caso de padrinhos de

    casamento, pelos custos do cartrio e taxas paroquiais. Padrinhos devem ainda pagar bebidas 2 De 349 casos (106 no distrito pesqueiro de Caiaras, 63 no centro, a sede da municipalidade, S.Bento, 55 no Alto da Favela, na periferia da sede, 43 no distrito do Alto do Socorro e 82 no de Guajer), apenas um padrinho era um tio de seu afilhado, no Guajer, quatro eram tios e dois netos em Caiaras. No centro, So Bento, com 500 habitantes, 3 tios e um casal de avs foi escolhido.. Nenhum parente foi escolhido nos distritos mais pobres, Socorro e Favela, onde o compadrio cria um lao entre o centro e a periferia, os marginalizados e a cidade como um todo, o que no significa, entretanto, que o compadrio seja por eles mais valorizado.

    K

  • L

    nos eventuais festejos, como outrora em outras partes do pas (Cndido 1954:356). Outra

    obrigao dos padrinhos em So Bento a de pagar pelo enxoval, que, como foi dito, so

    as roubas brancas novas usadas pelo afilhado. Algumas vezes se espera anos para se realizar

    um batismo, at os padrinhos terem dinheiro para o enxoval. A soma do enxoval com os

    custos de festejos, cartrio e parquia denominada arrumao.

    Muitos patres de So Bento recusam convites para se tornar padrinhos, em parte para

    evitar estes custos. Mas esta seria uma explicao da razo prtica que, mesmo se verdadeira,

    seria insuficiente, na perspectiva terica adotada aqui. Alguns patres me diziam que apenas

    os trouxas tm muitos afilhados, por no terem amor ao dinheiro. No podemos concluir

    da, entretanto, que a generosidade no um valor da elite, mas apenas que a elite direciona de

    modo especfico sua generosidade. Ela valor geral, mas no se pode ser generoso com

    qualquer um. Dadas suas prticas de separao, os mais ricos celebram seus casamentos e

    batismos na capital, Natal. Se as alianas assumem forma extra-familiar tanto na elite como

    entre os mais pobres; no primeiro caso h um carter intra-patronal. Por exemplo, o gerente da

    agencia local do Banco do Brasil tinha vrios compadres entre os empresrios. Um patro

    local d preferencialmente seus filhos para compadres da capital. De todo modo, em So

    Bento, os padrinhos tendem a ser mais ricos que os afilhados. Se o compadrio uma forma de

    afinidade, assume certa hipergamia em So Bento, batiza-se para cima. A tendncia o

    afilhado ser inferior ao padrinho e comum um padrinho acumular afilhados como um

    chefe primitivo acumula mulheres.

    O padrinho deve tambm, como o chefe primitivo, idealmente ser generoso: no

    passado se exigia que ele desse ao afilhado um animal, bezerro ou carneiro. Mas o padrinho

    preferencial de uma famlia modesta de So Bento no um grande patro e sim algum

    ligeiramente mais rico, e dentre estes, algum atipicamente generoso. Em geral, trata-se no

    de empresrios empreendedores mas de pessoas bem empregadas, que no desejam

    fortemente acumular. Luis Magi, por exemplo, tinha mais de 40 casas e 13 barcos

    pesqueiros em Caiaras e no coincidentemente, apenas um afilhado. Era considerado to

    mesquinho que as pessoas imaginavam ter feito pacto com o diabo.

    Em contraste, dois casais tinham, em 1989, mais de 100 afilhados cada. Em Caiaras,

    distrito mais rico e maior, Z Lino, dono de uma pequena loja sem empregados, tinha 123

  • M

    afilhados, carregando uma lista com o nome dos seus compadres no bolso.3 Morando no

    centro de S.Bento, Querubino e Dona Riva tambm tinham mais de 100 afilhados. Riva era

    professora e Querubino ajudava seu irmo, Valdir, presidente da Cmara dos vereadores em

    1991, em sua loja, que ficava em Caiaras. Ambos so da famlia Pereira, que fez vrios

    prefeitos. Z Lino e Querubino eram padrinhos arquetpicos, mas no tpicos polticos. Valdir

    e Querubino brigavam constantemente; o padrinho paradigmtico criticava o poltico

    paradigmtico por este ser, aos seus olhos, mesquinho. Valdir, por sua vez, achava que o

    irmo dava crdito a muitos que no pagariam, ou em sua avaliao moral, no mereciam.

    Escolhidos como padrinhos, Z Lino, Querubino e esposas nunca deixavam de dar

    os dons exigidos, que custavam no mnimo U$10. Um compadre de Z Lino me disse que

    gostava deste porque ele "no de prometer, sendo neste sentido o oposto de um

    poltico. Este, como veremos, aquele que promete. Uma boa madrinha deve se lembrar de

    seus afilhados com afeio. D.Riva, diz apenas aceitar convites para madrinha quando j

    conhece os pais e os considera bons amigos. Assim, o padrinho preferencial evita a prtica

    de separao que caracteriza o patro e o poltico e sua figura engloba a do amigo.

    Como em toda a parte, o Estado brasileiro se constitui por uma lgica prpria,

    redistributiva, no sentido de Karl Polanyi (1978). Certamente h manipulao da lgica do

    Estado para se atender a interesses de mercado, h convivncia incestuosa entre mercado e

    Estado, mas no incorporao do Estado pela lgica do mercado. Ao contrrio, o mercado que

    existe formatado na distribuio de crditos, por exemplo. Mais: a figura do Estado se

    constitui, como a do patro, pela dvida, pela reciprocidade hierrquica, pela circulao, mais

    do que sua manipulao. Estado assim engloba a lgica do mercado e por vezes perverte seus

    mecanismos, mais do que corrige a produo de desigualdades advinda do segundo, como

    faria em tese um Estado do bem estar. Importa ainda notar que no apenas no nordeste ou em

    partes perifricas do pas as relaes hierrquicas e as trocas de dons constituem a vida social4.

    3Z Lino elegeu-se duas vezes como vereador antes de ser perseguido pelo ex-prefeito Jomar, que pertencia a uma faco oposta, ligada Arena, partido que apoiava a ditadura militar. Teve seus direitos polticos caados por manobras burocrticas, dado ele, no por acaso, no freqentar as reunies oficiais do seu partido. O exemplo mostra, na prtica, diferenas entre as categorias de poltico e padrinho, o que no significa que no haja semelhanas. A generosidade de Z Lino no nem necessria nem suficiente para um poltico se eleger.

    4Oliveira (1990:67, :87), como tantos outros ainda insistem, fala em no integrao de partes do pas, o que denota influncia do pensamento funcionalista, obcecado com o tema. Meu argumento que algum tipo de

  • N

    Concluirei analisando as promessas religiosas, comparando-as s promessas dos polticos,

    para mostrar que o aspecto contingente das distribuies patronais e estatais no apenas

    derivado de manipulaes ou jogos de foras e interesses, mas se fundamenta em estruturas.

    REFERNCIAS

    Arantes, Antonio Augusto. 1971. "Compadrio in Rural Brazil", typescript, UNICAMP.

    Bloch, M. & Guggenheim, S. 1987. "Compadrazgo, Baptism & the Symbolism of a Second

    Birth", Man, 16:376-86.

    Cndido, Antonio. 1951. "The Brazilian Family", in T. Lynn Smith & A.Merchant (eds.),

    Brazil: Portrait of Half a Continent, New York:The Dryden Press.

    1954 "A Vida Familial do Caipira", Sociologia, 16(4):341-67.

    Chevalier, Jacques. 1982. Civilization and the Stolen Gift, Toronto:University of Toronto

    Press.

    Dumont, Louis. 1977 Homo Aequalis, Paris: Gallimard.

    1980 Homo Hierarchicus, Chicago: The Univ. of Chicago Press.

    Eisenstadt, S. N. 1956. "Ritualized Personal Relations", Man, 96:90-95.

    Galbraith, Eugene K..1983. Facets of Social Experience:Household Family &

    Compadrio in a Northeast Brazilian Community, PhD. Dissertation, The Johns

    Hopkins University.

    Gaspari, Elio. 1998. Para comear, Viagra. Folha de S.Paulo 1:11, 03/06/98.

    Graeber, D. 2007. Possibilities. Essays on hierarchy, rebellion and desire. Oakland:AK

    Press.

    Gregory, C. 1986 "On Taussig on Aristotle and Chevalier on everybody", Social Analysis,

    n.19:64-69.

    Gudeman, Stephan. 1969. Household, Family and Compadrazgo in a Panamanian

    Community, Ph.D. Dissertation, Cambridge University.

    1972. "The Compadrazgo as a Reflection of the Natural and Spiritual Person",

    Proceedings of the Royal Anthropological Institute, 1971:45-71.

    integrao j existe, mas este talvez no seja o melhor termo para nos referir convivncia entre capitalismo e no capitalismo.

  • O

    Homans, G. & D. Schneider. 1955. Marriage, Authority and Final Causes. Glencoe:Free Press.

    Hubert, H. & Mauss, M. 2005. Sobre o sacrifcio. S.Paulo:Cosac & Naify.

    Kottak, Conrad. 1967. "Kinship and Class in Brazil", Ethnology,(6):427-43.

    Lanna, Marcos. 1995. A dvida divina. Troca e patronagem no Nordeste Brasileiro. Ed.

    Unicamp.

    2001. Sobre Marshall Sahlins e as cosmologias do capitalismo. Mana,

    vol.7(1). UFRJ.

    2005.As sociedades contra o Estado existem? Reciprocidade e poder em

    Pierre Clastres. Mana, vol.11(2). UFRJ.

    2009. A imaginao sociolgica de C.Lvi-Strauss. Cadernos de campo. USP.

    Maybury-Lewis, David. 1968. "Growth and Change in Brazil since 1930: an Anthropological

    view", Sayers, R. (ed.), Portugal and Brazil in Transition, Minneapolis: Univ. of

    Minnesota Press.

    Mintz, S. & Eric Wolf. 1950. "An Analysis of Ritual Co-parenthood", Southwest

    Journal of Anthropology, 6(4):341-68.

    Oliveira, Francisco. 1990. "A Metamorfose da Arriba", in Novos Estudos

    CEBRAP, no.27:67-92, So Paulo: CEBRAP.

    Polanyi, K. 1978. A Grande Transformao. Ed.Campus.

    Pitt-Rivers, Julian. 1976. "Ritual Kinship in the Mediterranean: Spain and Balkans", in J.G.

    Peristiany (ed.), Mediterranean Family Structures, Cambridge Univ. Press.

    1977 The Fate of Shechem, Cambridge: Cambridge Univ. Press.

    Sahlins, Marshall. 2008. The Stranger-King; Or, Elementary Forms of the Political Life in

    Indonesia and the Malay World, vol.36, number 105, p.177-199, Routledge.

    Tcherkezoff, Serge. 1987 Dual Classification Reconsidered, Cambridge Univ. Press & Ed. De

    la Maison des Sciences de L'Homme.

    Viveiros de Castro, Eduardo. 1998. Entrevista com C. Lvi-Strauss; A antropologia de

    cabea para baixo Mana, vol.4(2). UFRJ.

    Willems, Emilio 1962. "On Portuguese Family Structures", International Journal of

    Comparative Sociology, 3:65-79.

    Woortmann, Ellen. 1995. Herdeiros, parentes e compadres. Hucitec.