COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA: UM ESTUDO COM ENGENHEIROS DO...

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS Mestrado em Educação Tecnológica SANDRA RIBEIRO FORTES COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA: UM ESTUDO COM ENGENHEIROS DO SETOR DE CONSTRUÇÃO PESADA Belo Horizonte (MG) 2010

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS Mestrado em Educação Tecnológica

SANDRA RIBEIRO FORTES

COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA: UM ESTUDO COM

ENGENHEIROS DO SETOR DE CONSTRUÇÃO PESADA

Belo Horizonte (MG) 2010

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SANDRA RIBEIRO FORTES

COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA: UM ESTUDO COM

ENGENHEIROS DO SETOR DE CONSTRUÇÃO PESADA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Educação Tecnológica do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), para obtenção do título de Mestre em Educação Tecnológica. Orientador: Prof. Dr. José Geraldo Pedrosa.

Belo Horizonte (MG) 2010

SANDRA RIBEIRO FORTES

COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA: UM ESTUDO COM ENGENHEIROS DO SETOR DE CONSTRUÇÃO PESADA.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Educação Tecnológica do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), em 23/02/2010, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação Tecnológica, aprovada pela Banca Examinadora constituída pelos professores:

____________________________________________________ Prof. Dr. José Geraldo Pedrosa - CEFET/MG-Orientador

____________________________________________________ Profª Drª Maria de Fátima Almeida Martins - UFMG

____________________________________________________

Prof. Dr. João Bosco Laudares- CEFET/MG

Por mais longa que seja a caminhada, o mais

importante é dar o primeiro passo.

Vinícius de Moraes.

A minha mãe e meu pai, que sempre acreditaram em mim e me incentivaram, que forneceram uma base sólida para as minhas conquistas sem se descuidar do carinho e amor necessários ao meu coração.

A minha filha, Isabela, pelo amor, amizade, compreensão e respeito que permeiam a nossa relação e pelo incentivo que sempre me transmitiu, apesar dos muitos momentos de distância e ausência.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por me conceder o privilégio da vida e possibilitar a

transformação dos meus sonhos em projetos e estes em realizações.

Ao meu orientador, Professor José Geraldo Pedrosa, profissional competente

e dedicado, que acreditou em meu empenho e me acolheu de forma carinhosa,

tornando o desafio do mestrado mais agradável.

A todos os professores do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas

Gerais (CEFET-MG), pelo incentivo, profissionalismo e dedicação na condução do

mestrado.

Ao CEFET-MG, instituição que transformou meu trabalho profissional num

campo fértil para um aprendizado constante, numa perspectiva de cooperação como

prática vivenciada.

À empresa objeto de estudo, que permitiu a realização da pesquisa, parte

integrante desta dissertação, de forma espontânea e despretensiosa.

Aos colegas de mestrado, que em muitos momentos me mantiveram

concentrada no meu objetivo, transmitindo-me apoio irrestrito durante esta jornada.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desta

pesquisa, ajudando-me ou simplesmente apoiando-me na realização deste ideal.

RESUMO

FORTES, Sandra Ribeiro. Competências de liderança: um estudo com engenheiros do setor de construção pesada. Belo Horizonte, 2010. 143 fls.

Dissertação (Mestrado em Educação Tecnológica). Curso de Mestrado Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG).

O foco desta dissertação é compreender as competências de liderança por meio do estudo das percepções e dos processos de autoavaliação de um conjunto de engenheiros líderes de uma empresa do setor de construção pesada e relacioná-las com as competências de liderança requeridas pela referida empresa. A pesquisa caracteriza-se como exploratório-descritiva, com utilização da abordagem qualitativa. A partir de coleta de dados, foram entrevistados seis gerentes, por meio de entrevistas semiestruturadas. Os resultados sugerem que as competências existentes e necessárias que os engenheiros líderes percebem como suas merecem atenção, pois em grande parte atendem às demandas requeridas pela empresa. Com base na análise dos dados, concluiu-se que as competências estão associadas a um conjunto específico de atributos dos engenheiros líderes e, de certa forma, são usadas constantemente pelos gerentes, embora eles pouco se refiram às pessoas da equipe. Verificou-se que a forma de avaliar esses líderes ainda está baseada no resultado do contrato, havendo poucas verificações quanto à atuação do profissional junto à equipe, ao clima do ambiente de trabalho, às relações internas, etc. Por fim, pode-se concluir que os processos de autoavaliação de um conjunto de engenheiros líderes, comparados com as competências individuais requeridas pela empresa, são parcialmente aplicados, uma vez que nem todos os aspectos que compõem esses processos são praticados pela maioria dos líderes, embora todos os considerem importantes.

Palavras-chave: Liderança; Autoavaliação; Engenheiros Líderes.

ABSTRACT

FORTES, Sandra Ribeiro. Leadership skills: a study with engineers in the heavy construction sector. Belo Horizonte, 2010. 143 pages. Dissertation (Masters in

Education Technology). Masters Course - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG).

This dissertation focus on the understanding of leadership skills through the study of perceptions and self-assessment processes of a group of engineers leader running a heavy construction company and to correlate them with the leadership skills required by that company. This research is exploratory-descriptive with a qualitative approach. Six professionals were interviewed using semi-structured interviews based on the data collected. The survey results suggest that the existing and required skills which the leaders engineers consider they have deserve attention, as they largely meet the company demands. Based on data analysis, it can be concluded that the skills are associated with a specific set of attributes of the leader engineers and, in a certain way, they are constantly used by them, even though seldom refer to the people in the team. It was observed that the way to evaluate these leaders is still based on the outcome of the contract, and the professional is rarely assessed concerning his performance regarding the team, the work environment, the internal relations etc. Finally, we can conclude that the processes of self-assessment of a group of leader engineers, compared with the personal skills required by the company are partially implemented, since not all aspects that make these processes are practiced by most leaders, although all of them consider them important.

Key words: Leadership; Self-Assessment; Leader Engineers.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 A formação do engenheiro voltada para demandas futuras e temporais ........ 38

Figura 2 Competências como fonte de valor para o indivíduo e para a empresa .......... 48

Figura 3 Competência para a competitividade profissional ........................................... 48

Figura 4 Quadro com os modelos de análise ................................................................ 52

Figura 5 O conceito de competência individual ............................................................. 60

Figura 6 Teoria situacional ............................................................................................ 64

Figura 7 Ciclo de competências de liderança ................................................................ 76

Figura 8 Competências de liderança ............................................................................. 77

Figura 9 Modelo de uma competência contendo o resultado do Webveca ................... 84

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Identificação dos entrevistados na pesquisa empírica .................................. 23

Quadro 2 Artigo 4 das diretrizes curriculares nacionais para a Engenharia .................. 41

Quadro 3 Habilidade e competências do engenheiro .................................................... 43

Quadro 4 Modelos de competência profissional segundo as teorias filosóficas ............ 47

Quadro 5 Dimensões organizacionais da competência................................................. 49

Quadro 6 Desdobramento do conhecimento, habilidade e atitude ................................ 55

Quadro 7 Abordagens sobre liderança .......................................................................... 63

Quadro 8 Liderança estratégica, visionária e gerencial ................................................. 67

Quadro 9 Mudanças na estrutura da liderança tradicional para a liderança

facilitadora ..................................................................................................................... 69

Quadro 10 Competências de liderança ......................................................................... 72

Quadro 11 Modelo de estratificação de uma competência utilizada pela empresa ....... 83

Quadro 12 Habilidades requeridas do engenheiro líder ................................................ 86

Quadro 13 Habilidades que os engenheiros líderes de atribuem ................................ 106

Quadro 14 Atitudes que os engenheiros líderes de atribuem...................................... 108

Quadro 15 Conhecimentos que a empresa requer dos engenheiros .......................... 114

LISTA DE ABREVIATURAS

ASCE American Society of Civil Engineers

APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

CHA Conhecimentos, Habilidades e Atitudes

CL Competência de Liderança

ICL Inventário de Competência de Liderança

GARH Gerente administrativo e de recursos humanos

OHSAS Occupational Health and Safety Assessment Series (Série de Avaliação

de Saúde e Segurança Ocupacional)

PRAD Programa de Recuperação de Área Desmatada

RHs Recursos Humanos

RS Responsabilidade Social

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Microempresas

SGA Sistema de Gestão Ambiental

TICs Tecnologias de Informação e Comunicação

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13

1 METAMORFOSES NO MERCADO DE TRABALHO E A EMERGÊNCIA DO

ENGENHEIRO LÍDER................................................................................................... 27

1.1 Mercado de trabalho................................................................................................ 27

1.1.1 O trabalho em mudança ....................................................................................... 27

1.2 O profissional de Engenharia .................................................................................. 32

1.2.1 O significado e importância de Engenharia .......................................................... 32

1.2.2 O perfil do engenheiro .......................................................................................... 37

1.2.3 Habilidades e competências do engenheiro ......................................................... 40

1.3 Gestão por competências ........................................................................................ 45

1.3.1 Origem e evolução das competências .................................................................. 45

1.3.2 Pressupostos sobre competências ....................................................................... 51

1.3.3 Abordagens sobre competências individuais ....................................................... 58

1.4 Liderança ................................................................................................................ 61

1.4.1 Importância e conceituações ................................................................................ 61

1.4.2 Fatores de liderança ............................................................................................. 66

1.4.3 Integração entre liderança e competências .......................................................... 72

1.4.3.1 Sobre competências de liderança ..................................................................... 72

1.4.3.2 Estudos realizados sobre competências de lideranças ..................................... 74

2 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA ESTUDADA .................................................... 79

2.1 Apresentação da empresa ...................................................................................... 79

3 COMPETÊNCIAS DO ENGENHEIRO LÍDER: O REQUERIDO E O PRATICADO... 82

3.1 Percepções do gerente administrativo e de recursos humanos .............................. 82

3.1.1 Caracterização do entrevistado ............................................................................ 82

3.1.2 O macroprocesso estratégico da empresa ........................................................... 82

3.1.3 Sobre as competências técnicas e gerenciais para ocupar o cargo de gerente

de contrato .................................................................................................................... 84

3.1.4 Identificando o conhecimento, habilidade e atitude no trabalho ........................... 85

3.1.5 Aspectos que facilitam e dificultam o desenvolvimento das competências .......... 86

3.2 Resultados da entrevista com os engenheiros líderes ............................................ 87

3.2.1 Caracterização dos respondentes ........................................................................ 87

3.2.2 Competências de lideranças que os engenheiros líderes se atribuem................. 89

3.2.2.1 Identificando as competências técnicas e gerenciais ........................................ 89

3.2.2.2 Desenvolvimento das competências individuais do líder ................................... 95

3.2.2.3 Desafios de ser um engenheiro líder assumindo novos papéis gerenciais ..... 100

3.2.3 Sobre o conhecimento, habilidade e atitude na gestão de competências ......... 103

3.2.4 Os engenheiros líderes e as competências requeridas pela empresa ............... 110

3.2.5 Como os engenheiros líderes agregam as competências? ............................... 116

3.2.6 Desenvolvimento das competências requeridas dos engenheiros líderes ......... 118

3.2.7 Identificando as competências individuais dos engenheiros líderes................... 121

3.2.8 Atividades e competências dos engenheiros líderes .......................................... 123

3.2.9 O perfil requerido dos engenheiros líderes ......................................................... 124

3.2.10 Transformações no mercado de trabalho ......................................................... 127

CONCLUSÃO ............................................................................................................. 129

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 133

APÊNDICE A – ENTREVISTA PARA O GERENTE ADMINISTRATIVO E DE

RECURSOS HUMANOS............................................................................................. 141

APÊNDICE B – ENTREVISTA PARA OS ENGENHEIROS LÍDERES ...................... 142

13

INTRODUÇÃO

Tema e problema

A teoria da administração científica é o modelo de administração desenvolvido

pelo engenheiro Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Taylor preconizava o

controle de tempos e movimentos, a separação entre a execução e o planejamento

e a determinação rígida dos papéis sociais, de seus atores e a participação efetiva

do corpo gerencial no sistema organizacional (TAYLOR, 1990).

As teorias administrativas evoluíram da mesma forma pela qual os processos

e a organização do trabalho se modificaram. Segundo Hersey e Blanchard (1986),

enquanto a Administração Científica considerava as pessoas instrumentos que

deveriam ser “usados” por seus líderes, no movimento de Relações Humanas

(MAYO, 19381 apud CHIAVENATO, 2000) o líder deveria facilitar a realização

cooperativa de objetivos pelos liderados, ao mesmo tempo em que daria

oportunidades para seu desenvolvimento e crescimento pessoal. Reconheceram-se

a organização informal, as motivações e necessidades individuais, os sentimentos,

as relações de grupo, a necessidade de cooperação e integração e o trabalho em

equipe. As escolas posteriores, de abordagem sistêmica e contingencial, chamaram

a atenção para as variáveis relacionadas ao processo de liderança e dos diferentes

tipos de comportamentos dos líderes e para a necessidade de integração das

organizações com o ambiente externo, gerando novas demandas e habilidades aos

indivíduos nela inseridos (MAXIMINAMO, 2000; MORGAN, 1996).

No final do século XX, surgiram novas teorias organizacionais ou

administrativas adaptadas aos conceitos de globalização da Economia, capitalismo

flexível, novas relações de trabalho. Elas mostravam que a teoria organizacional

deveria se orientar em uma perspectiva de análise da liderança como atributo

individual, para a sua abordagem como fenômeno grupal/social. Nesse sentido,

“alguns fatores, como tipo de estrutura da empresa, sistemas de planejamento e

controle, clima organizacional, canais de comunicação também compõem o quadro

1 MAYO, Elton Jorge. The human problems of industrial civilization. Cambridge: Havard University

Press, 1938.

14

facilitador ou impeditivo da eficácia dos líderes” (HERSEY; BLANCHARD, 1986, p.

107).

As últimas décadas do século XX, segundo Harvey (2002), assistiram ao

“esforço” de uma reestruturação da empresa verticalizada e rígida. O processo de

mudança foi marcado por um confronto com a “rigidez” do fordismo. Os novos

paradigmas se apoiaram na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados

de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo. O mercado de trabalho

passou por uma reestruturação.

Percebe-se que as empresas substituíram as estruturas funcionais por

estruturas em unidades estratégicas de negócios, organogramas com muitos níveis

hierárquicos por organogramas “achatados”, burocratização e padronização por

diretrizes e enfoques fragmentados por enfoque integrado (BOOG, 1999). Isto,

necessariamente, envolve nova visão de liderança nas empresas, que precisam

aprender a lidar com essas transformações.

A liderança também tem se tornado um desafio nas últimas décadas, sendo

necessário rever as formas de trabalho e estilos até então praticados. O tipo de

produção rígida existente até meados do século XX resultava em produtividade e

lucratividade, com supervisão estrita, que determinava o que e como fazer, cabendo

ao trabalhador executar o que lhe era prescrito.

Nas últimas décadas, na medida em que a produção se tornou flexível, o

trabalho passou a ser feito por equipes e cada trabalhador, agora polivalente,

deveria se empenhar em garantir a qualidade do que fazia. Tornou-se necessária,

portanto, uma supervisão capaz de exercer gestão mais participativa, mais

democrática, que possibilitasse o trabalho em equipe.

Verifica-se, assim, que as discussões em torno das ações de liderança vêm

ocorrendo com frequência, principalmente pelo fato de as empresas possuírem

gerentes que, às vezes, não são necessariamente líderes, ou seja, que não detêm

competências essenciais para coordenar o trabalho em equipe.

Para Zarifian (2001), em uma equipe ou rede de trabalho surge uma

competência coletiva que é mais do que competências individuais. Isso se explica

pelos efeitos de sinergia entre essas competências e pelas interações sociais

existentes no grupo.

15

Vê-se, pois, que o processo de liderança parece estar vinculado a

características mais profundas do que aquelas que preveem uma simples relação de

“mão única”, estabelecida apenas em sentido descendente. Não somente o líder,

mas também a equipe e as contingências do ambiente passam a desempenhar

importantes papéis nesse processo, agora considerados elementos essenciais no

ambiente de trabalho nas empresas (BERGAMINI, 2002).

Ser líder é um desafio que muitos profissionais, senão todos, enfrentam no

ambiente organizacional. Para que “a competência se revele num conjunto de

Conhecimentos, Habilidades e Atitudes” – CHA (ZARIFIAN, 2001), deve-se entender

primeiro o que ela significa e qual a sua relação com a liderança.

Esse contexto está sendo visto de maneira diversa pelos profissionais

engenheiros que ocupam cargos de liderança, o que influencia o seu desempenho e

o dos funcionários, que, por sua vez, determinam diferentes resultados: positivo ou

negativo.

Algumas empresas, para se manterem em um mercado cada vez mais

competitivo, necessitam promover ações que facilitem o desenvolvimento de

competências de seus funcionários. Essas competências podem ser desenvolvidas

também a partir de vários processos de capacitação profissional, tais como: cursos

dentro e fora da empresa, reuniões, grupos de estudos, observação com outros

colegas, entre outros, em um processo coletivo em equipes que abranja a

organização como um todo. Esses processos de capacitação se propõem a levar os

indivíduos a transportar seus conhecimentos em ações, a compartilhá-los entre os

membros da empresa e incorporá-los nos resultados (STEIL, 2002).

Portanto, no cenário apresentado quanto às exigências do perfil do

engenheiro líder, o “mundo” organizacional ainda se encontra em transformação e

irá beneficiar aqueles que estiverem preparados, sendo este o momento de se

investir no talento pessoal. Isto significa, do ponto de vista individual, ser necessário

ir além da competência ideal; é preciso, preliminarmente, elaborar um projeto próprio

de existência, no qual deverão ser incluídos: diversão, educação, cultura e prazer no

que se faz.

Neste prisma, a preparação de engenheiros adequados às empresas tem se

imposto como um desafio para as instituições de ensino, abrindo espaço para a

necessidade de se estudar em profundidade e de se verificar como e de que forma

16

esses profissionais estão sendo qualificados, diante de tais exigências, quanto às

suas competências na liderança. É o momento de atribuir a essas competências o

lugar que lhes cabe nas práticas organizacionais correntes.

As competências dos líderes têm sido estudadas por algumas empresas

como alternativa ao modelo tradicional de administração para planejar, captar e

desenvolver os recursos necessários ao alcance de seus objetivos e às melhorias de

atividades profissionais.

Na Engenharia, essas observações também se fazem notar. As mudanças no

perfil do engenheiro líder foram muitas e alguns desses profissionais souberam

como se adequar e se atualizar frente ao novo papel exigido pelo mercado. Em

muitos casos, as mudanças exigidas pelo mercado no perfil e na performance do

engenheiro fazem com que ele atue mais como um líder do que como um

engenheiro propriamente dito, no modelo de competências.

Depreende-se, dessa forma, que a mudança no perfil do engenheiro como

líder é algo gradual, mas profundo, na medida em que ele adquiriu mais

responsabilidades, aumentando também a necessidade de sua formação e

capacitação.

As exigências se tornam mais numerosas a cada dia. Cultura internacional,

política, história, economia e mercado financeiro são apenas algumas necessidades

de conhecimento para que os engenheiros se sintam preparados para atuarem

como líder.

Além disso, são necessários domínio e atualização permanente em

informática, bem como conhecimentos sobre orçamentos, demonstrativos

financeiros, elaboração de textos e apresentações explicativas da empresa, seus

produtos e serviços. Os engenheiros líderes precisam ser dinâmicos, competentes,

fluentes em idiomas estrangeiros e ter disponibilidade para trabalhar em turno

integral, fazendo “jus” aos princípios evolutivos dos engenheiros contemporâneos.

Porém, as oportunidades surgem e variam de acordo com cada empresa.

Iniciativas de aperfeiçoamento profissional, a partir de educação continuada, adoção

de técnicas e práticas modernas de liderança estão, de fato, criando condições

favoráveis para a Engenharia. Empresas organizam-se, redefinem o papel dos seus

engenheiros líderes, seus serviços ou atividades, segundo critérios de excelência, e

solicitam domínio de técnicas de planejamento, acompanhamento e avaliação de

17

processos e resultados da empresa, com significativo impacto em sua forma de

atuação.

Inserida nesse panorama, uma empresa do setor de construção pesada

busca melhor compreensão acerca da temática competências de liderança

demandadas pelos profissionais de Engenharia. Tal iniciativa evoluiu na referida

empresa a partir do questionamento sobre o escopo mais amplo de atividades que

os engenheiros da empresa deveriam estar aptos para exercer na função de líder.

Requerer engenheiros envolvidos de forma integrada tornando-os

participantes do processo de transformação pelo qual a empresa objeto de estudo

passa é uma premissa da liderança. É necessário verificar quais “as competências

que um líder deve possuir para atender às expectativas da empresa e analisar como

estes profissionais atuam dentro destas competências” (RIBEIRO, 2006, p. 18).

Diante do exposto, a questão problema que se estabelece é: que

competências existentes e necessárias os engenheiros que exercem a liderança em

uma empresa do setor de construção pesada percebem como suas e como estas

podem ser relacionadas com as competências de liderança requeridas pela

empresa?

Objetivos

Geral

Compreender as competências de liderança por meio do estudo das

percepções e dos processos de autoavaliação de um conjunto de engenheiros

líderes de uma empresa do setor de construção pesada e relacioná-las com as

competências de liderança requeridas pela referida empresa

Específicos

verificar as competências de lideranças que a empresa requer de seus

engenheiros líderes;

verificar as competências de lideranças que os engenheiros líderes da

empresa se atribuem;

18

estabelecer relação entre as atividades dos engenheiros líderes e as

competências individuais requeridas pela empresa.

Justificativa do estudo

O profissional, num mercado globalizado, se vê na necessidade de se

qualificar e adequar-se melhor aos novos modelos organizacionais e demandas

profissionais vigentes, uma vez que as empresas cada vez mais necessitam de

profissionais especializados e com uma visão integrada dos processos

organizacionais.

A complexidade das empresas e das decisões, bem como a intensificação

das situações nelas envolvidas, passa a exigir dos profissionais que administrem

novas competências, capacidade de autogerenciamento, de assimilação de novas

informações, habilidades de natureza operacional, flexibilidade intelectual,

comportamento autônomo e formação intelectual diferenciada.

Dessa forma, novas competências precisam ser incorporadas ao exercício da

liderança, para que a mesma seja adequada à nova realidade, pois precisará

mobilizar a subjetividade desse trabalhador.

De acordo com Gomes (2004, p. 17), as competências “são construídas ao

longo da vida profissional e ficam mais sofisticadas e complexas em função da

qualidade das experiências de cada gerente”.

Como as competências essenciais tendem a aumentar-se, um dos desafios

será investir recursos de forma eficiente, buscando a qualificação e educação da

força de trabalho, tendo como contrapartida vantagem competitiva (GOMES, 2004).

Zarifian (2001) focaliza três mutações principais no mercado de trabalho, que

justificam a emergência do modelo de competência para a gestão das organizações:

a) A noção de incidente - que constata aquilo que ocorre de forma imprevista,

não programada, vindo a perturbar o desenrolar normal do sistema de

produção, ultrapassando a capacidade rotineira de assegurar sua

autorregulação. Isto significa que a competência não pode estar contida

nas pré-definições da tarefa; a pessoa precisa estar sempre mobilizando

recursos para resolver as novas situações de trabalho.

b) A comunicação - implica o ato de compreender o outro e a si mesmo e

19

entrar em acordo sobre objetivos organizacionais e partilhar normas

comuns para a sua gestão. A comunicação é, principalmente, construir um

entendimento recíproco e bases de compromisso que serão a garantia do

sucesso das ações desenvolvidas em conjunto.

c) A noção de serviço - está relacionada ao atendimento a um cliente externo

ou interno da empresa. Esse serviço precisa e deve estar presente em

todas as atividades; para tanto, a comunicação é fundamental.

Essas novas competências são compatíveis com a capacidade de influenciar

pessoas, gerir equipes e atingir resultados. Por isso, vão além das competências

técnicas. Tornam-se então necessárias as competências comportamentais, em que

o líder precisa mobilizar a subjetividade do trabalhador e, para tanto, precisará das

competências de gestão referentes à comunicação, flexibilidade, trabalho em

equipe, tomada de decisão, delegação, entre outras (DAVEL; VERGARA, 2001).

Para os autores acima, a subjetividade nas empresas significa que as

pessoas estão em ação e em permanente interação, dotadas de vida interior e que

expressam sua subjetividade por meio da palavra e de comportamentos não-verbais.

A linguagem controla e estrutura as possibilidades de ação das pessoas. Se a

linguagem é o veículo privilegiado da subjetividade, a “vida psíquica” é seu

fundamento. O ser humano, ser de desejo e de pulsão, como define a Psicanálise, é

dotado de vida interior, fruto de sua história pessoal e social. Os líderes devem,

então, perseguir objetivos que criem vantagens competitivas para a empresa por

meio das pessoas e iguais vantagens para as pessoas. A consideração dos seus

níveis objetivos e subjetivos pode ajudar nessa tarefa.

Assim, vêm surgindo novas formas de trabalhar e gerenciar. Muito se fala

sobre o novo milênio e o futuro do líder. Cada vez mais, o líder está se tornando

capaz de pensar e agir estrategicamente, colocando-se em um novo patamar, no

qual consegue compreender a dinâmica de todos os projetos com os quais a alta

administração esteja comprometida.

Diante desse cenário, pode-se depreender que as competências individuais

demandadas ao engenheiro líder sempre se fizeram necessárias, mesmo que nem

sempre explicitadas. O dinamismo de uma empresa indica que as mudanças

operadas nos seus focos de atividade e nos modelos de liderança adotados ao

20

longo do tempo provocaram, também, significativas alterações nos requisitos

exigidos de seus engenheiros.

Para competir num mundo globalizado e enfrentar as transformações que se

processam no ambiente econômico e social, segundo Dutra (2001), as empresas

passam a demandar de seus líderes capacidade de inovação, habilidades para

resolver problemas complexos e inusitados, além de qualidades pessoais,

habilidades sociais e altos níveis de comprometimento com os valores da empresa.

Acredita-se que as pessoas sejam o capital intangível das empresas e que seu perfil

deve estar afinado com as competências e estratégias que as empresas selecionam

para competir no mercado.

Desta forma, a postura que o engenheiro líder assume numa época de

incertezas e instabilidade é de essencial importância na sua interação com os

indivíduos no ambiente organizacional, para que os objetivos visados pela empresa

sejam atingidos.

Nesse prisma, seu papel é de um profissional que, além de se comprometer

com o resultado, é responsável pelo próprio desenvolvimento e realização da

pessoa; é criar um ambiente para capacitar pessoas, de modo que tenham abertura

para trocas de informações e de conhecimentos adquiridos nos processos de

capacitação profissional.

Sendo assim, as exigências evidenciam-se com mais intensidade; e

competências outras são requeridas do engenheiro líder, que assume novas e mais

difíceis responsabilidades a cada momento.

Para tanto, a presente pesquisa teve como foco os líderes de uma empresa

do setor de construção pesada, a fim de identificar como exercem as funções de

liderança em relação aos seus liderados.

Entende-se que uma das possíveis contribuições a serem aportadas por este

estudo situa-se na reflexão crítica que o trabalho busca empreender sobre as

características e habilidades necessárias ao engenheiro líder, tanto nos níveis da

autopercepção do profissional individual, quanto nas manifestações que se

explicitam nas empresas em que passa a atuar.

Adicionalmente, a decisão de estudar a atuação do engenheiro líder surgiu do

interesse e da necessidade da pesquisadora de aprofundar o nível de conhecimento

21

acerca das questões relativas ao controle do processo de trabalho e ao papel

exercido pelos chamados líderes.

Pretende-se contribuir também para o melhor entendimento dos mecanismos

que possam identificar as competências demandadas aos profissionais que ocupam

cargos de liderança e exercem funções de gerenciar pessoas e processos de

trabalhos.

Espera-se, também, que a pesquisa possa trazer contribuições ao atual

ensino acadêmico de Educação Tecnológica, em seus processos de

aperfeiçoamento, e melhor sintonia com a evolução do mundo do trabalho para os

quais se encaminham os processos formativos em evolução tecnológica. No nível

acadêmico, realça-se a carência de pesquisas e discussão sistemática sobre o

tópico “competências do engenheiro líder”, apesar da existência de pesquisas

correlatas e com temas próximos, mas sem a profundidade e direcionamento a que

se propõe esta. Nesse sentido, deseja-se que as questões aqui tratadas possam

suprir lacunas bibliográficas existentes, assim como estimular debates e um fluxo

sempre contínuo de produção intelectual na área.

Procedimentos metodológicos

Tipo de pesquisa

A pesquisa foi exploratório-descritiva. Yin (2001) enfatiza que os estudos

exploratórios têm por objetivo procurar se familiarizar com um dado fenômeno ou

com determinada situação, com o intuito de compreendê-lo para formular o problema

com mais rigor. Dessa forma, tornam-se apropriados para os primeiros estágios de

investigação.

Gil (1999) considera que as pesquisas descritivas têm como objetivo

primordial a descrição de características de determinada população ou fenômeno e

as exploratórias proporcionam visão geral acerca de determinado fato.

Abordagem metodológica

A abordagem foi de natureza qualitativa. Richardson (1999, p. 70) ressalta

que a pesquisa qualitativa pode “descrever a complexidade de determinado

22

problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar

processos dinâmicos vividos por grupos sociais”.

A escolha da abordagem qualitativa se deu também pelos procedimentos de

investigação que se desenvolveram sob o ponto de vista da compreensão e

interpretação do perfil do objeto e dos sujeitos investigados.

A pesquisa foi realizada apenas numa empresa e por isso não tem caráter

comparativo. Além disso, buscou-se abordagem em profundidade sobre as

experiências vivenciadas por um número restrito de sujeitos: os engenheiros que

exercem cargos de liderança.

Unidades de análise e observação

Foi definida como unidade de análise uma empresa de Minas Gerais de porte

médio, cuja principal atividade é a construção pesada, como obras rodoviárias,

aeroportos e barragens. Atua também no segmento de mineração.

As unidades de observação se constituíram dos engenheiros líderes que

ocupam posições gerenciais intermediárias na empresa. São os líderes de equipes

de trabalho, aqueles que se situam entre a concepção e a execução, articulando a

mediação entre ambas.

Universo e amostra da pesquisa

O universo selecionado se constituiu dos engenheiros da empresa do estado

de Minas Gerais, num total de 68.

A amostra compreendeu os engenheiros que ocupam cargo de liderança e

gerenciam equipe de execução de obra.

A amostragem para este estudo foi não-probabilística, uma vez que não foram

aplicadas quaisquer fórmulas estatísticas para cálculo, isto é, não houve tratamento

estatístico (MARCONI; LAKATOS, 2007).

A amostragem foi do tipo intencional. Beuren (2004, p. 126) salienta que “este

tipo de amostragem consiste em selecionar amostras com base em informações

disponíveis e que sejam consideradas representativas da população. O pesquisador

precisa ter o conhecimento prévio da população selecionada”.

23

Com a finalidade de assegurar o sigilo das informações e preservar a

identidade dos engenheiros líderes entrevistados e da empresa, os nomes que

emergem da pesquisa nas entrevistas foram substituídos por siglas, evitando-se,

assim, o rompimento do sigilo assegurado.

O total de participantes da pesquisa compreendeu cinco engenheiros líderes,

como demonstrado no Quadro 1.

Quadro 1 - Identificação dos entrevistados na pesquisa empírica. Fonte: Dados da pesquisa (2009).

A seleção dos engenheiros ficou a cargo da pesquisadora, cuja escolha foi

motivada pela facilidade de acesso, disponibilidade e concordância dos engenheiros

em participar da pesquisa, bem como pelo fato de estarem no exercício de liderança.

Dessa forma, encontram-se capacitados a opinar sobre o tema proposto.

Foi escolhido também para participar da entrevista o gerente administrativo e

de recursos humanos, com o intuito de estimular a abordagem da temática em

estudo e enriquecer a investigação. Esses entrevistados são pessoas

representativas da estrutura organizacional da empresa, que forneceram

informações sobre a visão institucional sobre competências.

Coleta dos dados

Os dados utilizados foram oriundos de fontes primárias e secundárias. As

informações primárias foram obtidas pela pesquisadora, em sua intervenção direta

junto aos sujeitos entrevistados.

Para coletar os dados essenciais à pesquisa, os engenheiros líderes foram

submetidos a uma entrevista semiestruturada (APÊNDICE A). Conforme Ludke e

André (1986), a entrevista semiestruturada representa, junto com a observação, uma

das principais técnicas de trabalho e mais utilizadas em Ciências Sociais.

ENTREVISTADOS SETOR SIGLAS

Engenheiro 1 Setor A ENG1

Engenheiro 2 Setor B ENG2

Engenheiro 3 Setor C ENG3

Engenheiro 4 Setor D ENG4

Engenheiro 5 Setor E ENG5

TOTAL 5

24

As entrevistas foram aplicadas direta e presencialmente pela pesquisadora e

obedeceram ao seguinte processo:

a) explicação dos objetivos da pesquisa;

b) entrega das entrevistas para leitura prévia por parte de cada engenheiro;

c) leitura, por parte da pesquisadora, de cada uma das questões da

entrevista, dirimindo, antes de cada resposta, as dúvidas sobre a questão

a ser respondida;

d) suporte da pesquisadora durante todo o processo de gravação da

entrevista, esclarecendo outras dúvidas eventuais;

e) após a aplicação, a pesquisadora ressaltou a importância da pesquisa

tanto para a área acadêmica quanto para a área empresarial.

Os trechos transcritos das entrevistas preservaram, exatamente, a forma tal

qual foi expresso por esses entrevistados.

A coleta de dados secundários se deu com base em livros, artigos de revistas,

artigos eletrônicos, journals, dissertações e teses. Marconi e Lakatos (2007, p. 24)

afirmam que as fontes secundárias são as extraídas da “imprensa em geral e obras

literárias”.

Para a pesquisa, além do embasamento teórico obtido a partir da revisão

bibliográfica, foi utilizada a experiência da pesquisadora em situação real de

trabalho, vivenciada em mais de 15 anos como consultora interna e como

profissional autônoma, em empresas de diversos segmentos, nos diagnósticos

organizacionais e realizando treinamentos para o desenvolvimento das

competências dos profissionais.

Em atividades correlatas ao tema, a pesquisadora constatou a influência da

liderança e a importância da interação na busca de produtividade da equipe sobre os

grupos organizacionais tanto nos níveis gerenciais como operacionais. Nessa

relação, a tarefa dos engenheiros líderes é influenciar, motivar e engajar os liderados

no alcance dos interesses da organização empresarial.

Os dados primários foram coletados pela própria pesquisadora no período de

julho a setembro de 2009, por meio de entrevistas semiestruturadas, visando

identificar as competências de liderança dos engenheiros da empresa objeto de

estudo.

25

Análise dos dados

A análise dos dados se efetivou pela análise de conteúdo. O objetivo desta

pesquisa encontra sentido nas respostas dos entrevistados, bem como durante a

mesma e permite ao pesquisador inferir sobre os elementos da comunicação, com

base na objetividade e sistematização da análise de conteúdos (BARDIN, 2004).

A análise de conteúdo das entrevistas seguiu os seguintes procedimentos: na

fase da pré-análise, foram gravadas e transcritas as entrevistas. A organização das

mesmas compreendeu os tipos, a ordem, os gerentes e a formulação das perguntas.

Em seguida, a pesquisadora realizou uma leitura com a finalidade de familiarizar-se

com o material, verificando se atendia ou não aos objetivos e pressupostos.

Visando contemplar de forma mais profunda a análise dos dados, após a

transcrição das fitas os dados brutos foram trabalhados e decodificados, ou seja, foi

feita uma categorização dos conteúdos de forma a facilitar a análise realizada

(BARDIN, 2004).

Após o tratamento dos dados coletados, eles foram confrontados com as

opiniões dos autores pesquisados constantes no referencial teórico apurado na

segunda parte da pesquisa.

Estruturação da dissertação

Além da introdução, a dissertação conta ainda com mais três capítulos. No

primeiro, encontra-se a fundamentação teórica, com base em abordagens teóricas

de alguns autores. Em linhas gerais, descrevem-se alguns aspectos considerados

importantes para o entendimento de Engenharia. Na gestão por competências é feito

um resgate conceitual dos conceitos de competências, principalmente das

competências essenciais e individuais. O estudo procura expor e analisar, ainda, a

liderança, com destaque para suas características.

O capítulo segundo destina-se ao histórico da empresa objeto de estudo, cuja

principal atividade é a construção pesada, como obras rodoviárias, aeroportos e

barragens.

26

No capítulo terceiro é apresentada a análise dos dados coletados junto aos

engenheiros e o gerente entrevistado, os quais são comparados com as informações

da pesquisa bibliográfica, com a finalidade de atender aos objetivos da pesquisa.

Para finalizar, as conclusões deste estudo, a partir do resgate do problema-

pesquisa e dos objetivos propostos, explicitam as questões que precisam ser

esclarecidas por meio de pesquisas adicionais.

27

1 METAMORFOSES NO MERCADO DE TRABALHO E A EMERGÊNCIA DO

ENGENHEIRO LÍDER

Este capítulo apresenta a base teórica do estudo. Inicialmente, abordam-se a

importância e as conceituações sobre trabalho e Engenharia. Em seguida,

destacam-se alguns aspectos sobre gestão por competência, com foco em

competências essenciais e individuais. Para finalizar, são apresentados alguns

aspectos e estudos sobre lideranças, com enfoque em competência de liderança.

1.1 Mercado de trabalho

1.1.1 O trabalho em mudança

A partir de 1965 tornou-se cada vez mais evidente a incapacidade do

fordismo/keynesianismo – conjunto de práticas de controle do trabalho, técnicas,

hábitos de consumo e configurações de poder político-econômico - tanto de conter

as contradições inerentes ao capitalismo quanto de garantir a reprodução ampliada

do capital. Na superfície, essas dificuldades podem ser mais bem apreendidas por

uma palavra: rigidez (HARVEY, 2002). Segundo o autor, havia problemas com a

rigidez dos investimentos de capital fixo de larga escala e de longo prazo em

sistemas de produção em massa que impediam flexibilidade de planejamento e

presumiam crescimento estável em mercados de consumo invariantes. Havia

também problemas com a rigidez nos mercados, na alocação e nos contratos de

trabalho. No caso particular da rigidez no trabalho - gestão e organização - havia

resistência e poder sindical que dificultavam mudanças ou flexibilizações. É um

período de legitimidade do papel dos sindicatos como interlocutores sociais,

representando os interesses dos trabalhadores.

Para Boyer (19862 apud FLEURY, 1995, p. 69), o eixo central do fordismo

consiste na interação entre capital e trabalho:

2 BOYER, Robert. La théorie de la régulation: une analyse critique, Paris: Éditions La Découverte.

1986.

28

A barganha pode ser apresentada basicamente da seguinte forma: de um lado reconhecia-se o papel de dirigentes e proprietários de empresas na liderança e iniciativa no tocante à organização do processo produtivo e na tomada das decisões estratégicas quanto aos mercados e investimentos. De outro lado, os sindicatos lutavam para conquistar a maior parcela dos ganhos de produtividade associados à difusão e consolidação das normas fordistas de produção e consumo.

Não obstante, as organizações sindicais burocratizadas se encontravam cada

vez mais acuadas (às vezes pelo exercício do poder estatal repressivo) para trocar

ganhos reais de salário pela cooperação em disciplinar os trabalhadores de acordo

com o sistema fordista de produção. Além disso, o poder estatal era exercido direta

ou indiretamente sobre os acordos salariais e os direitos dos trabalhadores na

produção (HARVEY, 2002).

Porém, a evolução da vida moderna provoca transformações e, nesse cenário

em mutação, “o trabalho também se modifica e suas representações se

transformam” (PIMENTA, 2004, p. 49).

De acordo com a autora, as modificações que se processam suscitam uma

indagação específica no que diz respeito à emergência de novas formas de

empresas e de desenvolvimento industrial e seus impactos sobre o trabalho como

processo e atividade, desde a década de 1970 nos países centrais e desde o final

da década de 1980 no Brasil.

Para Dedecca (1998), as mudanças atuais no sistema nacional de relações

de trabalho, os novos rumos da economia e a reestruturação vêm provocando uma

contração sistemática da base de trabalho assalariado existente, com alterações

significativas nos processos de negociação coletiva.

Em sua configuração moderna de relações assalariadas, o tema relações de

trabalho, na maior parte das vezes, condiciona o emprego e a utilização de

trabalhadores na sociedade capitalista.

De acordo com Pochmann (1997), a história do capitalismo teria passado por

três fases descontínuas quanto ao uso do trabalho assalariado, considerando-se as

formas de produção e a tecnologia.

Em relação à primeira fase, o uso do trabalho assalariado se desenvolve ao

longo dos processos de formação e consolidação dos Estados Nacionais. Esse

período é marcado pelo crescimento das modernas cidades e pelo florescimento da

manufatura. Gradativamente, as primeiras unidades fabris pré-capitalistas se

29

instalam e, no decorrer do tempo, evoluem até as modernas fábricas, sendo esse

percurso acompanhado pela organização de instituições de representação dos

interesses dos trabalhadores, das antigas corporações de ofício medievais (guildas)

às associações de trabalhadores.

Na segunda fase do desenvolvimento capitalista, ocorre o avanço das formas

de produção industrial, a partir de transformações nos conhecimentos científicos e

sua crescente aplicação produtiva e prática, tais como o surgimento da energia

elétrica e da indústria automobilística e a evolução das indústrias química,

petroquímica e farmacêutica.

Surgem, nesse estágio, as empresas capitalistas verticalmente integradas, ou

seja, grandes corporações manufatureiras que atuam na completa fabricação dos

produtos, desde seus insumos e componentes mais básicos até o produto final, e

para isso contratam 50 a 100 mil trabalhadores, reunindo-os, na maioria das vezes,

em um mesmo espaço produtivo. Nesse processo de evolução industrial, cria-se o

lócus concentrado de trabalho, que possibilita altos níveis de interação social e

política e novas formas de representação e de ação por parte dos trabalhadores, a

partir das uniões fabris e do desenvolvimento do sindicalismo. Trata-se de um novo

sindicalismo, mais organizado em instituições representativas dos anseios dos

trabalhadores e colaboradores (POCHMANN, 1997).

Segundo o autor, no momento atual, vive-se fase de transformações

tecnológicas, com modificações estruturais nos processos econômicos, sociais,

políticos e culturais. O avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação

(TICs) conduz a uma etapa pós-industrial e pós-fordista, com o crescimento do setor

de serviços e a perda relativa de importância do setor manufatureiro na composição

do produto interno de um país ou região.

Em paralelo, processa-se a desestruturação do modelo de grande empresa

manufatureira verticalmente integrada. As novas tecnologias3 ampliam as

3 Segundo Pinto (2005), a tecnologia é um conceito importante, difuso e confuso. É uma noção

polissêmica. É um conceito importante porque a vida contemporânea é cada vez mais repleta de técnicas. É uma noção difusa porque tem uso genérico, presente em todos os níveis de conhecimento. Cabe aqui enfatizar a diferença entre técnica e tecnologia. A técnica é o modo de produzir alguma coisa e, nesse sentido, não é necessariamente uma coisa, uma ferramenta ou um objeto. A técnica é um dado da realidade objetiva, um produto de percepção humana que retorna ao mundo em forma de ação, materializado em instrumentos e máquinas. A técnica é, pois, um objeto de estudo. Por outro lado, na definição de Pinto (2005), a tecnologia é o Logus ou a ciência da técnica. É o estudo, a teoria, a análise, a discussão da técnica. Nesse sentido, a tecnologia não é um produto da ciência; ela própria é uma ciência.

30

possibilidades de coordenação das atividades manufatureiras, a partir do

ajustamento do tempo dos processos de trabalho, tornando possível sua

segmentação espacial em distintos locais. Assim, subdividem-se os processos

manufatureiros em “essenciais” e “não-essenciais” e efetiva-se na prática sua

separação em distintos espaços produtivos.

Desenvolvem-se, nesse panorama, as novas relações de trabalho

terceirizadas, as redes de contratação e subcontratação, fragmentadas em múltiplas

cadeias de suprimento industrial. Pastore (2000, p. 1) menciona que uma das

características mais marcantes dos mercados de trabalho do mundo é “a

substituição gradual do emprego fixo, de longa duração e em tempo integral por

outras formas de trabalhar. O emprego, caracterizado pela posição que o

trabalhador ocupava de forma contínua numa empresa, está em franco declínio”.

Assim, os impactos desses processos se refletem em substancial

desemprego tecnológico, desencadeado por meio dos processos de reengenharia,

downsizing, de-layering (horizontalização, isto é, a diminuição de camadas e níveis

hierárquicos) e das crescentes demissões.

Segundo Minarelli (1995), a sociedade reagiu ao problema do desemprego e,

ao reagir, definiu as formas de convivência entre aqueles que têm emprego e

aqueles que não têm, avaliando que o desemprego é um problema individual.

Desenvolve-se, assim, a noção de “empregabilidade”, isto é, a capacidade do

trabalhador de se tornar “empregável”, a partir de seu contínuo autodesenvolvimento

e capacitação. Aqueles que se qualificam teriam mais empregabilidade, ao contrário

dos que não o fazem.

Nesse novo estágio de exclusão, as empresas buscam investir em novas

técnicas ou investir os recursos disponíveis no mercado financeiro na compra de

ações e na compra de outras empresas. Observa-se o uso de novos conceitos como

globalização, mundialização e internacionalização das economias, bem como o

acirramento da competição entre as nações, a concentração de riquezas e do poder

internacional em intensidade sem paralelo.

O comportamento da variável redução de emprego evidencia a ocorrência de

uma modernização dominada pelas decisões de racionalização produtiva com a

introdução pontual das novas gerações de equipamentos flexíveis (DEDECCA,

1998). Para o autor, a especialização produtiva se reflete no comportamento

31

diferenciado da produção e esse padrão de comportamento da estrutura produtiva

decorre das novas orientações da política econômica, que induz a mais exposição

da base local à concorrência externa.

Pode-se dizer que a reorganização produtiva brasileira resulta de um

movimento de racionalização econômica cujos efeitos sobre o emprego tendem a

ser negativos ao longo do tempo, independentemente do comportamento da

produção. O problema de “emprego continua extrapolando a situação de

desemprego no Brasil” (DEDECCA, 2005, p. 109).

Neste âmbito, há mudanças nos novos padrões de uso do trabalho baseadas

num processo que sinaliza a aproximação do trabalho de execução com o de

concepção e na polivalência dos trabalhadores, que seriam chamados a

desempenhar tarefas variadas e multiqualificadas e submetidos a treinamentos mais

amplos, com a finalidade de propiciar mais domínio sobre o conjunto do processo

produtivo (HARVEY, 2002).

Essa reengenharia situa-se no contexto da globalização dos mercados e

envolve a utilização massiva das técnicas de base microeletrônica, a reestruturação

organizacional e a inovação dos métodos de gerenciamento. Como parte desse

processo, o modelo da gestão de pessoas enfatiza a substituição das antigas

práticas de chefia pelas novas práticas de liderança. O desafio é buscar o equilíbrio

entre o gerenciamento de pessoas (planejar, organizar, controlar e dar soluções para

os problemas) e a liderança de pessoas (influenciar, desafiar, inspirar, capacitar e

encorajar). Verifica-se, portanto, que há novas competências sendo requisitadas e

ao mesmo tempo instituídas, as lideranças.

Zarifian (2001) focaliza três mutações principais no mercado de trabalho que

justificam a emergência do modelo de competência para a gestão das organizações:

a noção de incidente, a comunicação e o serviço. Em contrapartida, a noção de

comunicação equivale ao ato de compreender os problemas e as obrigações dos

outros e conseguir entender a si mesmo e as consequências dos seus atos sobre os

outros. A comunicação é, principalmente, construir entendimentos e bases de

compromisso que serão a garantia do sucesso das ações desenvolvidas em

conjunto. A questão da comunicação se junta ao evento, pois é exatamente nesses

momentos de eventos que se faz necessária a comunicação.

32

Por fim, a noção de serviço, que se relaciona ao atendimento a um cliente

externo ou interno da organização. Isso implica produzir um serviço para um

destinatário, conhecer suas necessidades e expectativas. Essa noção de serviço

precisa e deve estar presente em todas as atividades.

Diante do exposto, pode-se dizer que a competência, na medida em que é

construída a partir de uma perspectiva das relações entre o indivíduo e o local de

trabalho, conduz o trabalhador a uma situação de tornar-se competente para

resolver determinada situação.

Nesta perspectiva, as competências de lideranças de engenheiros sofrem os

impactos dessas mudanças no mercado de trabalho. Essa questão será retomada

nos tópicos seguintes.

1.2 O profissional de Engenharia

1.2.1 O significado e importância de Engenharia

A importância do estudo da história da Engenharia se faz presente para se ter

uma visão abrangente da profissão do engenheiro, bem como para entender-se que

o estudo do passado pode facilitar e esclarecer certas determinações de caracteres

por ela assumidas presentemente (KAWAMURA, 1981).

Até o desenvolvimento das primeiras escolas de Engenharia, o ensino era

livre e teórico, baseado em conteúdos que não eram orientados para a produção

econômica. A partir da criação das escolas de Engenharia o ensino passou a ter

outro enfoque, com práticas de produção técnicas e científicas, com o intuito de

atender às demandas sociais (BAZZO, 1998).

Os estudos sobre o início da Engenharia no Brasil direcionam-se para os

modelos das primeiras escolas tecnológicas da Europa. Na época, segundo Bazzo

(1998), os estudos empíricos e radicais do domínio da natureza eram necessários e

todo avanço tecnológico era bem-vindo, independentemente das consequências que

trazia à população e ao meio ambiente. Era inevitável a associação de progresso e

bem-estar aos avanços científicos e tecnológicos.

Os primeiros relatos sobre a história da Engenharia no Brasil remetem à

época do Brasil Colônia, quando, em 1792, Dona Maria I, Rainha de Portugal

33

mandou construir, no Rio de Janeiro, uma “Academia Real de Fortificação, Artilharia

e Desenho”, seguindo os modelos da mesma escola existente em Portugal

(WIKIPÉDIA, 2009). Essa escola tinha como objetivo formar soldados técnicos na

arte da construção de fortificações para promover a defesa da Colônia contra

ataques e invasões de outras nações.

O surgimento da Engenharia sob o ponto de vista de atender às necessidades

territoriais pode ser considerado juntamente com a busca do homem por atender

suas necessidades básicas de sobrevivência como moradia, alimentação e

locomoção. Assim, realça Telles (1984) que, ao ter-se a Engenharia somente como

a arte de construir, pode-se entender que ela é tão antiga quanto o homem, porém,

se relacioná-la com a ciência, é relativamente recente, datando do século XVIII.

A partir do século XVIII, dois movimentos influenciaram o surgimento da

Engenharia moderna: a Revolução Industrial, com o aparecimento da máquina a

vapor e de uma série de outras máquinas, forçando, assim, o desenvolvimento

tecnológico e o estudo e pesquisas das Ciências Físicas e Matemática; e, o

Iluminismo, valorizando o estudo das Ciências Físicas e Naturais e suas

implicações. Ambos promoveram uma mudança no campo científico, cujas

investigações começaram a ter sentido de aplicações práticas. Desde a Antiguidade

até o século XVIII, a investigação científica, inclusive nas Ciências Físicas e

Matemáticas, era quase mera especulação, em geral sem objetivo de aplicações

práticas; quando muito, havia aplicações militares. No Brasil e em Portugal, até

princípios do século XIX, a palavra engenheiro designava os engenheiros militares

(TELLES, 1994).

É importante notar que o título que se dava aos primeiros engenheiros militares era de oficial de engenheiros ou simplesmente engenheiro, dizia-se, por exemplo, “capitão de engenheiros” ou “coronel de engenheiros”, dando, talvez, a entender que os subalternos e soldados comandados por esses oficiais seriam também engenheiros, já que se dedicavam igualmente a fazer obras (TELLES, 1994 p. 5).

A história da Engenharia começou no Brasil em 1549 e entrou nas atividades

de duas categorias de profissionais: os oficiais-engenheiros, que tinham as funções

de obras de defesa: demarcação de fronteiras, levantamentos geográficos e

topográficos; ensino, para a formação de engenheiros no Brasil e obras civis

diversos; e os então chamados “mestre de risco”, construtores de edificação civil e

34

religiosa. Estes foram responsáveis pela maioria das construções até o século XIX,

pois eram os artífices legalmente licenciados para projetar e construir e cuja

capacidade profissional tinha de ser comprovada por exame minuciosamente

descrito no “Regimento dos Oficiais Mecânicos” (TELLES, 1994).

Em 1747, segundo Telles (1994), por iniciativa de Daniel Trudaine, foi

fundado em Paris o primeiro estabelecimento de ensino, em todo o mundo, a École

Nationale dês Ponts Et Chausses, onde foi ministrado um curso regular de

Engenharia que diplomou profissionais desse título.

Em 1795, fundou-se em Paris, por iniciativa de Gaspar Monge e de Fourcroy,

a famosa École Polytechnique, que se tornou o modelo de outras escolas de

Engenharia pelo mundo (TELLES, 1994).

Historicamente, o desenvolvimento da tecnologia no Brasil esteve ligado ao

processo de industrialização, ao qual está relacionada a criação de novos cursos de

Engenharia. Assim, as primeiras escolas de Engenharia foram fundadas

simultaneamente ao processo de industrialização do Brasil: A Politécnica do Rio de

Janeiro, em 1874, a Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876, e a Politécnica de

São Paulo, em 1894 (TELLES, 1994).

Segundo Kawamura (1981), existem três fases de transformação da categoria

do profissional engenheiro.

Uma fase de transição, desde fins do império de 1930, cuja base de produção

é agroexportadora, já assinala a presença significativa do profissional engenheiro.

Nessa fase, a atuação do engenheiro estava ligada aos aspectos militares, pois só

se interessava pela tecnologia como meio de segurança e repressão. Sua atuação

profissional ficou ligada à produção básica agroexportadora, de caráter dependente

da importação de manufaturados. A partir do último quartel do século XIX, com a

instalação de hidrelétricas, de serviços de gás, de transporte urbano, saneamento e

edificações é que a ação profissional do engenheiro passou a se realizar na

infraestrutura social. Sua participação era muito restrita no processo econômico-

social, tendendo a três formas básicas de relacionamento com o aparelho

econômico:

a) O profissional liberal - o engenheiro detinha o controle do processo de

trabalho na medida em que definia e dirigia as atividades técnicas e,

muitas vezes, também a financeira do empreendimento. Sua atuação era

35

limitada, entretanto, pela determinação tecnológica inerente ao material e

equipamento importados.

b) O profissional empresário, que tinha a posse do capital, e por isso pleno

controle do processo de trabalho, também se encontrava subordinado à

tecnologia.

c) O profissional assalariado exercia atividades técnicas permanentes nos

empreendimentos de Engenharia.

A segunda fase ocorreu de 1930 a 1945. É nela que se expandiu a

industrialização, centrada na produção de bens de consumo, compreendendo a

ampliação das oportunidades de trabalho para o engenheiro na infraestrutura social.

Decorreu principalmente da expansão de obras públicas, dos serviços urbanos, da

construção civil e, no final do período, da instalação da grande indústria siderúrgica.

Nesse período, o engenheiro tendia a ocupar posições de supervisão e comando

dos operários. A própria prática da Engenharia o colocava numa posição elitista e

privilegiada, outorgada pela formação escolar. Teve atuação também nas escolas de

Engenharia, como professor, e na reorganização do conteúdo do ensino da

Engenharia.

A terceira fase abrange de 1945 à atualidade, quando se verifica intensiva

industrialização. Nesse período, manifesta-se a estreita associação entre tecnologia,

intensificação do trabalho e mercado de trabalho do engenheiro. No início, a

intensificação da produção baseou-se na tecnologia importada, a atividade de

criação ficava no país de origem e localmente cabia a atividade de adaptação,

instalação, processamento, manutenção e reparação do aparato tecnológico. Assim,

o engenheiro, mesmo quando ocupando cargos diretivos, ficava numa posição de

complementaridade da Engenharia local em relação à estrangeira. O engenheiro

brasileiro não possuía grau de especialização requerido pela tecnologia recém-

chegada.

No final da década de 1960, a intensificação da construção civil deu nova

configuração ao mercado de trabalho do engenheiro no setor.

Na década de 1980, houve uma diminuição do nível geral do emprego,

incluindo aí o de engenheiro, não mais tão solicitado pelas empresas. As escolas

continuaram a formar os engenheiros, mas estes não conseguiam emprego, pois o

36

país perdia em competitividade internacional, devido a pouca qualidade de seus

produtos, prejudicados pela falta de pesquisa básica e tecnológica para produção de

bens de consumo, além da reserva de mercado.

Após os anos 1980, deu-se início à fase que se caracteriza pelas

transformações operacionais, gerenciais e tecnológicas, baseadas em formas

flexíveis de organização do trabalho e do processo de produção. A tendência

internacional prioriza a demanda por trabalho mais qualificado. Desta forma, o

engenheiro tem importante papel a ser exercido, devendo tornar-se um profissional

capaz de responder à demanda de qualidade exigida pelos mercados transnacionais

(KON, 1994).

Nesse sentido, Harvey (1992, p. 141 apud KUENZER, 2008, p. 92) afirma que

a acumulação flexível apoia-se na:

[...] flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados, dos produtos e dos padrões de consumo, tendo em vista assegurar a acumulação, tornam-se necessárias novas formas de disciplinamento da força de trabalho sobre a qual recaem os resultados do acelerado processo de destruição e reconstrução de habilidades, os níveis crescentes de desemprego estrutural, a redução dos salários e a desmobilização sindical.

Corrobora Gounet (20024, p. 29-30 apud CIMBALISTA, 2006, p. 49), quando

salienta que a empresa flexível:

a) exige mais do trabalho operário que o fordismo [...] a intensificação do trabalho atinge o auge, pois a relação um homem/máquina se altera para uma equipe/sistema e, com isso, cada trabalhador pode operar até cinco máquinas;

b) tem-se o gerenciamento por tensão (by stress) pelos sistemas de luzes (andon), determinando o ritmo desejado em toda a cadeia de produção;

c) a flexibilidade da produção exige flexibilidade do trabalho e dos trabalhadores.

Até aquela década, o engenheiro exercia atividades técnicas, sendo

responsável pela realização de pareceres técnicos, cálculos de projetos, desenho de

peças e componentes, pela logística de processo. Com as mudanças na

organização da empresa, que eliminaram muitos níveis hierárquicos intermediários,

4 GOUNET, T. Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel. São Paulo: Botempo, 2002.

37

e com o aumento da terceirização e redução de trabalhadores, inclusive

engenheiros, suas atribuições foram ampliadas e tornaram-se mais diversificadas,

incluindo conhecimentos administrativos, de marketing, de técnicas gerenciais

participativas, de liderança e de estrutura de custos (BRUNO; LAUDARES, 2000).

1.2.2 O perfil do engenheiro

Com a globalização da economia e o progresso da técnica, há demanda por

engenheiros com um novo perfil que vem se desenvolvendo com o passar dos anos.

A literatura relativa tem se voltado para o estudo de novos atributos

definidores do perfil profissional do engenheiro. Moraes (1999) realça que o

engenheiro do século XX está atuando em um cenário cibernético, informático e

informacional que está marcando, cada vez mais, a área profissional, social e

cultural da sociedade. A sociedade em que o engenheiro está inserido pode ser

classificada como sendo informacional e globalizada.

Porém, o perfil de engenheiro demandado pela sociedade sofreu algumas

mudanças e encontra-se presente até mesmo na própria definição do profissional

em Engenharia. Para Laudares (1992, p. 52), o engenheiro com formação superior

“é um profissional que desenvolve sua atividade na área de tecnologia; sua

responsabilidade é produzir tecnologia e trabalhar os processos industriais gerando

bens para a sociedade, a partir da produção científica disponível”.

De acordo com a Resolução do Governo Federal nº 11 de 2002, o curso de

Engenharia tem como perfil do engenheiro a “formação generalista, humanista,

crítica e reflexiva” e capacidade para desenvolver novas tecnologias. O curso

estimula, ainda, a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de

problemas, considerando seus “aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais

e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da

sociedade” (BRASIL, 200, p. 1).

O perfil do profissional de Engenharia deve possuir, no momento atual, uma

diversidade de conhecimentos e competências que lhe possibilite atuar em várias

funções e cargos com características distintas, assumindo vários posicionamentos

profissionais. Para Sacadura (1999, p. 17), o engenheiro pode:

38

[...] exercer funções de administrador ou de gerente, ao lado de missões mais tradicionais de designer de objetos ou de sistemas ou de gerente de produção. O engenheiro pode ser pesquisador ou vendedor de produtos e serviços. De funcionário público a assalariado de empresa privada ou consultor independente, as situações profissionais dos engenheiros também mostram diversidades [...].

O engenheiro recém-formado, conforme comenta Prata (1999) deve possuir

formação tecnológica e gerencial diversificada. De acordo com o autor, tem havido

tendência a incluir aspectos gerenciais e econômicos no currículo do engenheiro.

Essa tendência tem existido pela constatação de que apenas os engenheiros no

início de carreira trabalham tecnicamente (chão de fábrica) e após alguns anos de

carreira muitos deles se tornam administradores.

Dimenstein (19985 apud SIMON, 2004) mostra na Figura 1 a necessidade de

mudança do perfil do profissional engenheiro.

Figura 1 - A formação do engenheiro voltada para demandas futuras e temporais. Fonte: Adaptada de Simon (2004).

Verifica-se que a formação do engenheiro consiste em prepará-lo para as

necessidades de curto e longo prazos. O que se enfatiza, nos cenários nacional e

internacional, quando se fala sobre o ensino de Engenharia, é a necessidade de

uma nova formação, isto é, de uma reestruturação dos cursos de forma a atender às

novas expectativas do mercado de trabalho (McKEE, 1999; MORAES, 1999;

QUERINO; BORGES, 2002; RAGHY, 1999; SILVA, 1999).

5 DIMENSTEIN, Gilberto. Qual será o perfil do trabalhador empregado no futuro? Folha de São Paulo,

Caderno Especial, 01/05/98. p.11.

ENGENHEIRO

MERCADO

Demandas Temporais

SOCIEDADE

Necessidades Futuras

39

Papa Filho (1997) cita as principais características do perfil do “engenheiro de

sucesso”. É relevante observar que todos os “engenheiros de sucesso” selecionados

como amostra haviam feito especialização ou aperfeiçoamento após sua formação

acadêmica básica.

A partir de dados de pesquisa, o autor estabeleceu seis tipos de categorias,

três das quais se referiam à educação continuada: a experiência adquirida no

exercício do trabalho; a educação e aprendizagem permanente (atividades formais e

informais vinculadas aos objetivos de atualização constante do engenheiro); e a

produção (publicação) de trabalho científico.

Segundo Papa Filho (1997), 100% dos engenheiros entrevistados, por meio

da educação continuada, preocupavam-se em se manterem atualizados sobre

inovações e aperfeiçoamentos, visando aprofundar sua formação humana em cursos

relacionados à gestão de pessoas e relações interpessoais no ambiente de trabalho.

Ressalta-se que os entrevistados relataram a importância de se ter e manter um

bom relacionamento interpessoal e respeito humano no ambiente de trabalho, com a

finalidade de se obter o sucesso de sua gestão e a participação dos funcionários.

Vê-se, pois, que o engenheiro é visto como o indivíduo que busca

continuamente ampliar seus conhecimentos, destrezas e aptidões técnicas, de

comunicação, gerenciais e de relações humanas, em harmonia com o meio

ambiente, por meio de teorias e aspectos técnicos.

É importante destacar que o perfil do engenheiro não se caracteriza apenas

pelo seu aspecto técnico, mas também pelo aspecto comportamental e também

pelas suas atitudes. Timm, Schnaid e Costa (2004, p. 2) reforçam que, apesar da

capacitação técnica e a racionalidade serem as características mais importantes no

perfil de um engenheiro, sua formação humanística não deve ser desconsiderada. A

sua habilidade em “interagir com os seus pares, em uma perspectiva daquela que

privilegia uma visão mecanicista, é um das principais elementos de seu sucesso

profissional”.

Ao delinear um perfil desejado para o engenheiro, deve-se levar em

consideração que os atributos pretendidos estão integrados também ao CHA.

Segundo a American Society of Civil Engineers – ASCE (2007, p. 1):

[...] os conhecimentos são atributos cognitivos decorrentes de teorias, princípios e fundamentos relacionados a algum saber específico. As

40

competências, por sua vez, traduzem a habilidade na realização de determinadas atividades. Desta forma, a educação formal é a principal fonte de conhecimento, enquanto que as competências são desenvolvidas pela contribuição conjunta do ensino formal, do treinamento específico e da experiência profissional. As atitudes, por sua vez, representam os valores individuais que determinam como o indivíduo percebe, interpreta e vivencia o seu entorno. Dentre as atitudes propícias à prática profissional, destacam-se compromisso, curiosidade, honestidade, integridade, objetividade, otimismo, sensibilidade, meticulosidade e tolerância.

Desta forma, para a formação do engenheiro torna-se necessário

compreender as contribuições de diversos âmbitos, dos quais convém destacar a

formação acadêmica, o espaço coletivo de atuação profissional e a educação

continuada.

1.2.3 Habilidades e competências do engenheiro líder

Uma das finalidades da Engenharia, no momento atual, é enfatizar o

desenvolvimento de novas habilidades e competências (SIMON et al., 2002).

Conforme os autores, estas estão cada vez mais importantes, uma vez que a área

de Engenharia requer, além de um bom domínio dos conteúdos:

a) a capacidade de identificar, formular e resolver problemas de Engenharia,

muitas vezes lidando com incertezas e ambiguidades, isto é, destacando o

novo;

b) a integração do conhecimento teórico com o prático;

c) o desenvolvimento de habilidades e competências para interagir com

clientes e trabalhar em equipes multidisciplinares e internacionais;

d) flexibilidade de maneira a lidar com as mudanças do dia-a-dia, tanto em

relação à inovação tecnológica quanto às diferenças sociais e étnicas;

e) a capacidade de refletir sobre as suas próprias ações e tomar decisões;

f) capacidade de continuar construindo novos conhecimentos, bem como de

manter-se atualizado com as publicações na área da Engenharia;

g) ter responsabilidade profissional e ética, considerando possíveis impactos

ambientais e sociais;

h) ser capaz de gerenciar tempo, projetos e custos, entre outros.

Simon et al. (2002) propõem que os engenheiros devem ter boa formação e

ser capazes de dominar as teorias, os métodos e ferramentas mais usadas nas

41

engenharias. Entretanto, isto não é suficiente para o exercício dessa profissão,

tornando-se necessário mencionar também o desenvolvimento das habilidades e

competências.

As empresas estão, cada vez mais, definindo as habilidades e competências

como valores de que o engenheiro necessita para exercer com maestria a sua

função (BENNIS, 2006).

As diretrizes curriculares dos cursos de Engenharia CNE/CES (11/2002)

definem em seu artigo 4º as competências (QUADRO 2) que os alunos adquirem

durante o curso: “Art. 4: A formação do engenheiro tem por objetivo dotar o

profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes

competências e habilidades gerais.”

DIRETRIZES DESCRIÇÃO

D1 Aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais à Engenharia.

D2 Projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados.

D3 Conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos.

D4 Planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de Engenharia.

D5 Identificar, formular e resolver problemas de Engenharia.

D6 Desenvolver e/ou utilizar novas ferramentas e técnicas.

D7 Supervisionar a operação e a manutenção de sistemas.

D8 Avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas. D9 Comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica.

D10 Atuar em equipes multidisciplinares.

D11 Compreender e aplicar a ética e responsabilidade profissional.

D12 Avaliar o impacto das atividades da Engenharia no contexto social e ambiental.

D13 Avaliar a viabilidade econômica de projetos de Engenharia.

D14 Assumir a postura de permanente busca de atualização profissional. Quadro 2 - Artigo 4 das diretrizes curriculares nacionais para a Engenharia. Fonte: CNE/CES (11/2002).

Pode-se afirmar que novas habilidades e competências (não-técnicas) têm

sido exigidas tanto pela sociedade como pelo mercado de trabalho, para que um

engenheiro possa exercer sua profissão. De acordo com Moraes (1999, p. 32):

O conhecimento especializado está tendo duração média cada vez menor e será, possivelmente, substituído ou complementado por outro, o que exigirá novos e constantes aperfeiçoamentos, impondo, assim, novas qualificações e novas necessidades.

42

Corroborando, Nguyen (1998, p.7) complementa que nesse ambiente de

mudanças existe um foco:

[...] nas competências técnicas dos engenheiros, mas não suficiente em competências não-técnicas tais como comunicação, resolução de problemas e habilidades de gestão: requer-se dos engenheiros graduados várias habilidades e atributos mais amplos do que a capacidade técnica antigamente demandada.

O engenheiro, no desempenho de suas funções, deve possuir conhecimentos

diversificados, muito embora os mais importantes sejam aqueles relacionados à sua

formação técnica, como opina Bazzo (1998). Todavia, é plausível afirmar que as

soluções de problemas de Engenharia sejam sempre decorrentes da conjunção de

aspectos técnicos e de contribuições de outras áreas do conhecimento.

O autor acrescenta que o engenheiro aplica conhecimentos específicos à

criação de estruturas, dispositivos, processos e informações, não podendo se

esquecer de que o seu trabalho ultrapassa esse âmbito particular. Sua ação visa à

conversão de recursos disponíveis na natureza em formas adequadas ao

atendimento das necessidades humanas e essa característica amplia as

possibilidades e exigências profissionais.

Ressalta-se que a atividade de um profissional de Engenharia se dá pela

aplicação de seus conhecimentos para a identificação, avaliação e implementação

das tecnologias mais apropriadas para o contexto em que estão sendo

desenvolvidas as suas atividades. Desta forma, espera-se que ele crie, inove e

empreenda, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico e profissional.

O Quadro 3 apresenta, por ordem de importância, as 19 habilidades e

competências mais encontradas na literatura, no estudo realizado por Nguyen

(1998).

43

HABILIDADES E COMPETÊNCIAS

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS AUTORES (*)

CAPACIDADE PARA RESOLUÇÃO DE

PROBLEMAS

O engenheiro deve estar preparado para lidar com novos e imprevistos problemas, identificando, formulando e propondo soluções criativas e inovadoras a problemas mal formulados.

Encinas (2000); Massarani (2000).

HABILIDADES DE PESQUISA

Os engenheiros precisam ter habilidades de pesquisa, ou seja, devem ser capazes de localizar, examinar, selecionar, interpretar, processar, sintetizar, aplicar e divulgar informações e conhecimentos de maneira significativa e apropriada, além de extrair resultados, analisar e elaborar conclusões.

Vermaas Fowler (2001); Simcock, (1998); Martins e

Ramos (2001).

CRIATIVIDADE

O engenheiro precisa ter criatividade para conceber e desenvolver ideias e soluções novas, produzindo novos produtos ou processos na busca do objetivo.

Flemming (2002); Araújo e Lezana (2000)

HABILIDADE PARA PROJETAR E CONDUZIR

EXPERIMENTOS

O engenheiro contemporâneo deve ser capaz de realizar e conduzir experimentos e projetar sistemas, implementando novas ideias. Para isso ele precisa saber analisar e interpretar os resultados obtidos.

Nose e Rebelatto (2001); Schnaid et al. (2001).

CAPACIDADE PARA TOMADA DE DECISÃO

O engenheiro deve ter autonomia e iniciativa tanto no pensamento como na busca de informações para propor alternativas e critérios para a decisão.

Nakao e Felício (2001); Linsingen (2000).

HABILIDADE PARA DESENVOLVER E/OU

UTILIZAR NOVAS TÉCNICAS OU FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS

O engenheiro deve, além de possuir um domínio das ferramentas básicas de informática, conhecer e manusear os softwares específicos da área e ter competência para empregar, dominar, aperfeiçoar e até mesmo gerar tecnologias durante toda sua vida profissional.

Ribeiro et al. (2001); Angotti (1999); Rocha e Alexandre

(2002); Almeida (2001).

CAPACIDADE PARA

TRABALHAR EM EQUIPES

Espera-se que um profissional da área de Engenharia seja capaz de trabalhar em equipes multidisciplinares e internacionais, uma vez que os problemas têm se tornado cada vez mais complexos, exigindo profissionais das mais diversas áreas para que se possa resolvê-los.

Fink et al. (2002); Lopes, (2002); Leitão (2001).

CAPACIDADE PARA SE COMUNICAR NAS FORMAS ORAL, ESCRITA E GRÁFICA

Os engenheiros devem saber explicar seus pontos de vista e ideias de forma clara, apresentando as informações de maneira significativa e apropriada, principalmente para as pessoas não ligadas à área técnica. Além disso, é importante que ele tenha capacidade para articular, comunicar e defender suas propostas e ideias.

Moraes (1999); Silva (1999); Morton (1998); Brisk (1997).

HABILIDADES DE RELACIONAMENTO

INTERPESSOAL

Boas habilidades de relacionamento interpessoal também contribuem para auxiliar o trabalho em grupo. Incluem-se aqui as habilidades para desenvolver contatos internacionais e redes de trabalho, a capacidade para negociar, explicar e ouvir tentando compreender outros pontos de vista.

Nguyen e Pudlowski (1998); Krivickas (1997).

Quadro 3 – Habilidade e competências do engenheiro. Fonte: Adaptado de Nguyen (1998). (*) Autores citados por Nguyen (1998).

44

HABILIDADES E COMPETÊNCIAS

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS AUTORES (*)

PROFICIÊNCIA EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

Para trabalhar neste mercado global e atuar junto a equipes internacionais, precisa ter conhecimentos acerca de outras línguas, principalmente inglês e espanhol. Isso significa falar, compreender, ler e escrever em língua estrangeira.

Araújo e Franco (2002); Salum (1999); Silva (1999).

CULTURA GERAL O engenheiro deve ter educação a respeito da cultura das pessoas em regiões do mundo onde ele possa vir a trabalhar, incluindo aqui questões de negócios internacionais.

Crnkovic e Santos (2002); Jones (1999).

CONHECIMENTOS EM ADMINISTRAÇÃO

Os engenheiros devem possuir uma sólida formação em metodologias de gestão e negociação e ter orientação para resultados. Para isso, é necessário que eles tenham visão sistêmica, multidisciplinar e estratégica e formação ampla e generalista.

Walkington (2001); Encinas (2000).

CONHECIMENTO EM ECONOMIA

O engenheiro precisa ter conhecimento sobre questões econômicas e financeiras e saber avaliar a viabilidade econômica de projetos em Engenharia.

Camolesi Júnior (2002); Maines (2001).

COMPROMETIMENTO COM AS QUESTÕES SOCIAIS E

AMBIENTAIS

Espera-se que os engenheiros saibam analisar e valorar as consequências sociais e ambientais provocadas pelo desenvolvimento tecnológico.

Oliveira e Souza (2002); Riemer (2002).

RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL E ÉTICA

Cada vez mais exige-se que o engenheiro tenha consciência dos códigos de prática e ética que regem a sua profissão, bem como tenham responsabilidade profissional e compromisso social e ambiental.

Querino e Borges (2002); Leitão (2001).

CARACTERÍSTICAS

PESSOAIS

Com a alta competitividade entre as empresas, o engenheiro deve ter capacidade de lidar com estresse, falha ou rejeição, além de suportar pressões e conflitos, o que também se tornou importante, uma vez que o emprego não está mais garantido e a pressão por produtos de qualidade tornou-se mais forte.

Caspersen (2002); Laudares e Ribeiro (2001); Nose e

Rebelatto (2001).

EMPREENDEDORISMO

Os engenheiros necessitam desenvolver visão empreendedora, sistêmica e generalista num âmbito multidisciplinar, para que sejam capazes de compreender e identificar oportunidades de mercado.

Flemming (2002); Maines, (2001); Loureiro (2000).

FLEXIBILIDADE PARA SE ADAPTAR ÀS MUDANÇAS

Os engenheiros devem ser capazes de responder rapidamente aos desafios de nosso tempo, adquirindo e processando conhecimentos de forma acelerada, tendo flexibilidade para se adaptar às novas necessidades do mercado e às novas tecnologias e estarem aptos a responder aos desafios atuais.

Enemark (2002); Nicoletti Filho et al. (2002); Almeida (2001).

ATUALIZAÇÃO CONSTANTE

Além dos conhecimentos científicos particulares de cada Engenharia, exigem-se do profissional, habilidades que vão desde a comunicação oral até cultura geral e conhecimentos em Administração e Economia.

Simon et al (2004); Buch (2002); Leitão (2001).

Quadro 3 – Continuação. Fonte: Adaptado de Nguyen (1998). (*) Autores citados por Nguyen (1998).

45

1.3 Gestão por competências

1.3.1 Origem e evolução das competências

A definição de competências tem sido utilizada desde a era taylorista até as

organizações contemporâneas. Os trabalhos publicados por Spencer e Spencer

(1993)6, Mirabile (1997)7 e McLangan (19988 apud DUTRA, 2004) marcaram a

literatura americana a respeito do tema competências. Desta maneira, Fleury e

Fleury (2002) definem competência humana como o conjunto de CHAs que

justificam a performance.

As competências, segundo Ropé e Tanguy (1997), vêm assumindo diferentes

significados em outras áreas de atividades, tais como a Economia, o trabalho e a

formação profissional. No mercado de trabalho, vêm substituindo a noção de

qualificação e, na área de Educação, as noções de saberes e conhecimentos.

Manfredi (1999) assegura que as noções de qualificação e de competências

têm matrizes distintas, ligando a qualificação ao campo das Ciências Sociais, como

a Economia e a Sociologia do Trabalho.

O conceito de competência procura ir além do conceito de qualificação. A

competência nas condições de uma produção flexível representa o pleno

reconhecimento do valor da qualificação. A qualificação é usualmente definida pelos

requisitos do cargo ou pelos saberes e conhecimentos da pessoa, os quais podem

ser classificados e certificados pelo sistema educacional. A competência se limita à

inteligência prática do indivíduo e à capacidade da pessoa de ir além das atividades

prescritas, assumir responsabilidade e ter iniciativa (ZARIFIAN, 2001).

Em alguns países industrializados e também em alguns países da América

Latina, o paradigma da educação técnica e profissional está se modificando pela

introdução do conceito de competência ocupacional. Esta se associa às

qualificações técnicas próprias de cada ocupação, habilidades gerais de natureza

lógico-matemáticas, linguísticas e culturais, bem como qualificações estratégicas,

6 SPENCER, L. M. JR.; SPENCER, S. M. Competency at work: models for superior performance. New

York: John Wiley & Sons, Inc, 1993. 7 MIRABILE, R. J. Everything you wanted to know about competency modeling. Trainning &

Development, vol. 51. n. 8, 1997. 8 McLAGAN, P. A. La Nueva generatión de competencias. Training and Development Digest, 1998.

46

relacionais e instrumentais, provocando mudanças na concepção dos sistemas de

formação profissional. Porém, o conceito de competência ocupacional não é o

mesmo nos diversos países, não existindo um conceito único, mas vários conceitos

que se complementam (STEFFEN, 1999).

Verifica-se, portanto, que competência não é somente conhecimento teórico

ou técnico, mas “a habilidade profissional de aplicar esse conhecimento de maneira

eficiente e produtiva em diferentes casos. Isso geralmente requer experiência e

preparação” (KLEN, 2007, p. 67).

As competências, de acordo com Gomes (2004, p. 17), “são construídas ao

longo da vida profissional e ficam mais sofisticadas e complexas em função da

qualidade das experiências de cada gerente”. Segundo o autor, a carreira gerencial

passa por três competências básicas, as quais se integram criando muitas outras,

quais sejam:

a) técnica - possibilita alcançar estágios mais elevados na vida corporativa,

na medida em que se ascende a posições mais altas na empresa, adquire

sentido mais estratégico e menos especializado;

b) humana - inclui relações interpessoais, grupal e gerencial, permite

desenvolver relacionamento baseado na confiança recíproca. Representa

capacidade e discernimento para trabalhar com e por meio das pessoas;

c) conceitual/organizacional – capacidade para entender a organização,

integrar suas partes, transformar experiências em conceitos e conceitos

em resultados. Ela rege o raciocínio das pessoas, a criatividade e a

capacidade de resolver problemas. Além disso, sistematiza conhecimentos

em modelos, teorias, pressupostos pessoais, tornando-se mais ampla na

medida em que gera seu próprio conteúdo.

Os modelos de competência, segundo Steffen (1999), podem ser

classificados de acordo com algumas correntes teóricas. O autor aborda os modelos

de concepção comportamentalista, característica do sistema dos Estados Unidos; o

modelo funcionalista, originado na Inglaterra; e o modelo construtivista, desenvolvido

na França. O Quadro 4 apresenta uma síntese dos pressupostos citados nos

modelos de Steffen.

47

Quadro 4 - Modelos de competência profissional segundo as teorias filosóficas. Fonte: Adaptado de Steffen (1999).

Para Fleury e Fleury (2002, p. 35), competência significa “saber agir de

maneira responsável [...], implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos,

recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social

ao trabalho”.

Com base na corrente francesa, a competência é a “inteligência” prática de

situações que se apoiam nos conhecimentos adquiridos e os transformam quanto

maior for a complexidade das situações. Para Zarifian (2001), competência refere-se

à capacidade de uma pessoa assumir iniciativas, ir além das atividades prescritas,

ser capaz de compreender e dominar novas situações de trabalho, ser responsável

e ser reconhecida por isto.

Neste sentido, Fleury e Fleury (2002) afirmam que as competências devem

ser algo que agregue valor econômico para a empresa e valor social para o

indivíduo, conforme ilustra a Figura 2.

ORIGEM MODELO COMPORTAMENTAL

MODELO FUNCIONALISTA

MODELO CONSTRUTIVISTA

ESTADOS UNIDOS INGLATERRA FRANÇA

Base Teórica

Teoria Behaviorista Teoria Funcionalista Teoria Construtivista

OBJETIVO

Identificar os atributos fundamentais que

permitem aos indivíduos alcançar desempenho.

Construir bases mínimas para a

definição dos perfis ocupacionais que

servirão de apoio para a definição dos

programas de formação e avaliação para a

certificação de competências.

Construir normas a partir dos resultados da aprendizagem,

mediante análise das disfunções existentes mais adequadas, por meio de processo de

motivação e desenvolvimento das

pessoas.

FOCO

Centra-se nos trabalhadores mais capacitados ou em empresas de alto

desempenho para a construção das competências.

Parte da função ou funções que são compostas de elementos de

competência, com critérios de avaliação que indicam os níveis

de desempenho requeridos.

Desenvolve-se a partir da população menos

competente que, submetida a um

processo de aprendizagem, vai melhorando suas

competências profissionais.

48

Figura 2 – Competências como fonte de valor para o indivíduo e para a empresa. Fonte: Adaptado de Fleury e Fleury (2002).

Verifica-se que, nos tempos atuais, as condições em termos de “vida” e as

expectativas das pessoas em relação às empresas e ao trabalho passaram por

alterações pelas transformações tecnológicas e do ambiente (DUTRA, 2000).

A expectativa de vida por tempo mais longo exige condições reais para o

contínuo desenvolvimento, pressão para a contínua atualização e aquisição de

competência para a competitividade profissional (FIG. 3). A tarefa de agregar valor

é uma situação de novas possibilidades e descobertas na realidade.

Figura 3 - Competência para a competitividade profissional. Fonte: Adaptado de Dutra (2000).

Saber agir, Saber mobilizar, Saber transferir, Saber aprender,

Saber engajar-se, Ter visão estratégica,

Assumir responsabilidade.

Empresa

Econômico

Agregar valor

Social

Habilidades

Conhecimentos Habilidades

Atitudes

COMPETÊNCIA

EMPRESARIAL

Resposta da empresa ao

negócio/empresa

COMPETÊNCIA

INDIVIDUAL

COMPETÊNCIA

COLETIVA

CONDIÇÕES NECESSÁRIAS

CONSCIÊNCIA DA EMPRESA E DAS PESSOAS ..si próprias ..ambiente ..expectativas mútuas

RELACIONAMENTO CLARO E TRANSPARENTE

Conjunto de conhecimento,

habilidades e atitudes necessárias ao

negócio/empresa

Saber-ser, Saber-agir que

agreguem valor ao

negócio/empresa

49

Desta forma, a competência não é apenas um conjunto de habilidades ou

atitudes de uma pessoa, mas sim a caracterização da capacidade que a pessoa

possui de agregar valor. A tarefa de agregar valor é uma situação de novas

possibilidades e descobertas na realidade.

Nas novas formas de organização e gestão do trabalho, influenciadas pelo

toyotismo, em maior ou menor escala, o conceito de competência se relaciona mais

com o saber-fazer derivado da experiência prática do que das atividades intelectuais

que articulem conhecimento científico e formas de fazer. Esses saberes são tácitos

e se modificam a partir das diferentes oportunidades e subjetividade dos

trabalhadores, que não se ensinam e não são passíveis de explicação, da mesma

forma que não se sistematizam e não se identificam com o desenvolvimento do

raciocínio lógico-formal. Essas competências são desenvolvidas por meio de

relações sistematizadas com o conhecimento a partir de processos especificamente

pedagógicos disponibilizados por escolas ou por cursos de educação profissional

(KUENZER, 2008).

Para Kuenzer (2008), esse conceito de competência tem caráter parcial e se

refere a uma modalidade específica de trabalho: o reestruturado, que demanda forte

articulação entre as dimensões psicomotora, cognitiva e afetiva (fazer, saber e ser),

para o que é fundamental o domínio dos conhecimentos científico-tecnológicos e

sócio-históricos, adquiridos em extensa, continuada e bem qualificada escolaridade.

A experiência do Serviço Brasileiro de Apoio às Microempresas (SEBRAE)

em um modelo de gestão por competência iniciou-se em 2002. Por meio do novo

modelo foram criados os espaços ocupacionais, que equivalem aos antigos cargos,

agora com menos níveis. Passaram a existir apenas quatro níveis: auxiliares,

assistentes, analistas e consultores (LAGO, 2006).

As competências foram também divididas em quatro grupos: as genéricas

(comuns a todos os grupos); as funcionais (relativas ao que se espera em cada

espaço ocupacional); as específicas (que variam de acordo com a área em que o

profissional atua); e as gerenciais (voltadas para os gerentes).

A partir dos quatro espaços, tornou-se possível elaborar “as diretrizes de

evolução na carreira, as exigências de qualificação, os critérios de avaliação e

capacitação, bem como um sistema de remuneração que atendesse aos diferentes

50

níveis de competência” e foram “constituídos núcleos de acompanhamento e

avaliação de resultados” (LAGO, 2006, p. 46).

Bittencourt (2001) considera que o desenvolvimento de competências

compreende os aspectos intelectuais inatos e adquiridos que englobam

conhecimentos, capacidades, experiência e maturidade. Para a autora, as

empresas devem colocar seus talentos a seu favor, investindo nas pessoas, ou

seja, desenvolvendo as competências dos colaboradores a partir de um processo

contínuo e articulado de formação do CHA.

Mais recentemente, empresas que têm decidido adotar uma estrutura

baseada em um modelo de competências reconhecem que ele deve incluir as

competências requeridas para um trabalho específico, com base em um modelo de

competências com uma arquitetura formada por três componentes: competências

principais (essenciais); competências funcionais (ou grupos); e competências

específicas do trabalho (ou tarefas), como mostra o Quadro 5 (RUAS, 2001).

DIMENSÕES ORGANIZACIONAIS DA COMPETÊNCIA

NOÇÕES

ABRANGÊNCIA

ESSENCIAIS

São as competências que diferenciam a empresa perante concorrentes e clientes e constituem a razão de sua sobrevivência.

Devem estar presentes em todas as áreas, grupos e pessoas da organização, embora em níveis diferenciados.

FUNCIONAIS

São as competências específicas de cada uma das áreas importantes da empresa (vendas, produção, por exemplo).

Estão presentes entre os grupos e pessoas de cada área.

INDIVIDUAIS

São as competências individuais e compreendem as competências gerenciais.

Apesar da dimensão individual, podem exercer importante influência no desenvolvimento das competências dos grupos ou até mesmo da empresa. É o caso das competências gerenciais.

Quadro 5 - Dimensões organizacionais da competência. Fonte: Adaptado de Ruas (2001).

51

1.3.2 Abordagens sobre competências

As empresas, inseridas em um mercado globalizado, em que a difusão de

novas e melhores práticas organizacionais e de inovação tecnológicas ocorre

rapidamente, precisavam encontrar formas de diferenciação alternativas. Para tanto,

passaram a dar mais atenção a outros elementos tais como base de conhecimento,

formação e capacitação, experiência e conhecimento do mercado, entre outros

(MERTENS, 1999).

Dessa forma, aumenta a ênfase nas competências, concentrando-se

naquelas que permitem a distinção da empresa perante seus competidores. Com

isso, percebe-se mais preocupação com a competência do fator humano, com a

importância do desenvolvimento das pessoas para alcançar determinados objetivos

e resultados da empresa. Mertens (1999, p. 8) entende que:

[...] em relação à estratégia de competitividade, o surgimento da competência tem a ver com a necessidade das empresas de encontrar caminhos de diferenciação no mercado global, situando entre suas competências-chave, e que as distinguem como empresa, o desenvolvimento da competência humana. Tem a ver também com a mudança dos parâmetros básicos de competitividade que tem evoluído na direção de mais exigência e complexidade, combinando preços baixos com qualidade e adaptabilidade, em função de gerar maior valor agregado ao cliente, parâmetros estes que se projetam nas tarefas e nas pessoas, modificando as competências requeridas.

Um ponto de partida é a tentativa de situar diferentes abordagens

relacionadas às competências, conforme demonstrado por Rodrigues (2004), que

combina diversas perspectivas interdependentes da gestão de competência,

representada na Figura 4, condensando os principais eixos de análise dessa

questão.

52

Figura 4 - Quadro com os modelos de análise. Fonte: Rodrigues (2004, p. 33).

SOCIAL

ECONOMIA E ESTRATÉGIA

A empresa como uma coleção de recursos, capacidade e competências.

Recursos conferem à empresa uma dimensão idiossincrática e distintiva.

Heterogeneidade, baixa mobilidade e replicabilidade dos recursos como fatores que conferem vantagens.

Rotinas como repositórios da memória e dos conhecimentos da empresa (saber/ fazer).

Capacidades concebidas tanto como um tipo especial de ativo intangível quanto um padrão ou rotina empregada na criação, reprodução e comercialização de produtos.

Competência como a aptidão ou disposição da empresa em coordenar de forma duradoura o desenvolvimento e a utilização de ativos com o propósito de atingir objetivos.

RESULTADOS

Competência como capacidade - o que deve ser feito para se obter um resultado.

Acervo de conhecimentos e habilidades orientados a resultado.

Ênfase preponderante no fluxo – processo de aprendizado em vez do estoque, o que foi aprendido (qualificação).

Reconhece as qualificações adquiridas pelo trabalhador por vias diversas, seja via meios formais (codificado), por meio da experiência de trabalho (tácito) ou a combinação de ambos.

Consubstanciada por um contexto e uma função concreta.

MACRO MICRO

PROFISSIONALIZAÇÃO

Competência como uma abordagem de natureza estratégica.

Resulta da evolução, tanto da organização quanto da gestão.

É própria a cada empresa, departamento ou unidade de negócios.

Tomar iniciativa, assumir responsabilidade, conhecimento prático, mobilizar rede de atores.

Desempenho competente como resultado da combinação e mobilização de recursos incorporados – conhecimentos, capacidades, qualidades pessoais e experiência, e disponíveis no ambiente de trabalho, redes profissionais, banco de dados.

GERÊNCIA

Competência como uma característica profunda de um indivíduo em relação a um desempenho eficaz e/ou superior em um ponto ou situação dada.

Conjunto de atributos detidos por uma pessoa.

Colocação em prática, de forma integrada, de atitudes, traços de personalidade e conhecimentos adquiridos.

Características que distinguem o desempenho superior do bom desempenho.

DESEMPENHO

53

Conforme Ramos (2002), construir um sistema global e genérico de

competências que possa ser aplicado externamente à empresa torna-se difícil, pois

a abordagem por competência enfatiza a ação, as características pessoais e a

capacidade de mobilizar competências em uma situação específica de produção,

sendo geridas segundo interesses da própria empresa. A autora indica três pontos:

a) A necessidade de acordos para reconhecer as competências do

profissional, que não estejam baseadas somente nos diplomas

educacionais.

b) A necessidade de os sistemas educacionais desenvolverem competências

profissionais.

c) A necessidade de oferecer aos indivíduos, inclusive desempregados,

oportunidade de desenvolver as competências ao longo da sua carreira.

Existe a identificação de dois marcos conceituais que têm direcionado a

implantação de sistemas de competências profissional. O primeiro é o conceito

performativo, no qual a competência é associada ao desempenho demonstrado

frente a situações profissionais de acordo com os padrões de qualidade. Esses

desempenhos são validados por pessoas implicadas com o trabalho. O segundo

marco conceitual é o conceito reflexivo de competência, em que a pessoa mobiliza

seu conjunto de saberes e capacidades profissionais em situações de trabalho, com

outras pessoas (HERNÁNDEZ, 19989 apud RAMOS, 2002).

A competência, assim abordada, é concebida como o conjunto de saberes e capacidades que os profissionais incorporam por meio da formação e da experiência, somados à capacidade de integrá-los, utilizá-los e transferi-los em diferentes situações profissionais (RAMOS, 2002, p. 79).

Rodrigues (2004, p. 33) distingue a abordagem das competências em nível

macro e em nível micro:

[...] relacionadas e interdependentes. Neste último nível, verifica-se que as principais perspectivas que emolduram o enfoque compartilham um denominador comum, ou seja, contrapõem-se ao modelo clássico de recursos humanos à medida que contemplam fatos e pressupostos –

9 HERNANDEZ, Fernando. A organização do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed,

1998.

54

relacionados ao contexto e à organização do trabalho, aos fundamentos econômicos que estruturam a organização produtiva, ao papel que conferem ao conhecimento e ao aprendizado.

Essa síntese demonstra a diversidade que essa questão apresenta e reforça

sua inter-relação com o cenário atual, de alta complexidade, rápidas mudanças e

concorrência acirrada, exigindo que as empresas sejam cada vez mais bem

gerenciadas, de forma a incentivar e valorizar as competências de todos os

indivíduos envolvidos, para que os objetivos definidos sejam realmente atingidos.

A noção de competências está sendo bastante discutida nos últimos anos,

mas não apresenta consenso sobre o seu conceito. Barbosa (2002) esclarece que

cada autor procura utilizar ou formalizar um novo conceito de acordo com suas

inclinações e com a circunstância em que este será aplicado. Isso ocorre

principalmente por sua natureza dinâmica, já que está baseada no ambiente mutável

dos dias atuais. Essa dinâmica é percebida também pelo fato de que o que é

essencial hoje como competência pode não o ser amanhã.

A competência, diferenciada como gerencial e individual, a princípio definida

como um conjunto de CHA de um indivíduo passa, com o aumento dos estudos na

área, a apresentar novas noções. Estas vão além dessa simples definição e

começam a envolver outros aspectos também importantes, tais como: desempenho,

capacidade de realizar determinada atividade em função de uma esfera

organizacional, efetividade, utilização ótima de recursos, inclusão da relação

trabalhador/trabalho num enfoque mais social, entre outros (PUJOL, 200210 apud

RODRIGUES, 2004). Esse autor define competência como a capacidade de uma

pessoa realizar uma atividade, aplicando de maneira integral e pertinente os

conhecimentos, destrezas e atitudes requeridos em determinadas funções, em

situações e cenários definidos.

Lévy-Leboyer (199711, p. 46 apud RODRIGUES, 2004) percebe competências

como um vínculo entre as “atividades a serem exercidas e os comportamentos

colocados em prática para fazê-lo, por uma parte, e as qualidades individuais

necessárias para comportar-se de maneira satisfatória, por outra”.

10 PUJOL, J. Apuntes para una jornada de trabajo sobre noramización de competências laborales.

Turin: OIT, 1999 (mimeo). 11

LEVY-LEBOYER, Claude. Géstion de las competencias. Ediciones Géstion 2000, AS: Barcelona, 1997.

55

Para Rocha Neto (2004), as competências dividem-se em gerenciais, técnicas

e sociais, quais sejam:

a) competências gerenciais - a capacidade de identificar problemas e

oportunidades, organizar e mobilizar os recursos disponíveis para resolvê-

los;

b) competências técnicas - fundadas nos conhecimentos sistematizados e

tangíveis, mais fáceis de aprender e imitar;

c) competências sociais - referem-se às capacidades de pedir, doar e

oferecer, colocando-se como possibilidade para outros, seduzir, perdoar e

recusar, com dignidade, mas com respeito e afeto. Compreendem as

capacidades de escutar ativo, indagar, prometer e cumprir com

responsabilidade, emitir juízos com fundamentos, ensejar enfoques

múltiplos, além da apreciação de questões relevantes, a partir de

diferentes pontos de vista.

Já Leme (2005) agrupa conhecimento e habilidade (o saber e o saber-fazer)

como um tipo de competência técnica e a atitude (o querer-fazer) como um tipo de

competência comportamental, como mostra o Quadro 6.

CONHECIMENTO Saber Competência Técnica

HABILIDADE Saber-Fazer

ATITUDE Querer-Fazer Competência Comportamental Quadro 6 - Desdobramento do conhecimento, habilidade e atitude. Fonte: Adaptado de Leme (2005).

A definição de competências, para Barato (1998, p. 16), envolve informação,

conhecimento, desempenho e integração. Dessa forma, “competências são saberes

que compreendem um conhecimento capaz de produzir determinados

desempenhos, assim como de assimilar e produzir informações pertinentes”.

Algumas definições de gestão de competências buscam desenvolver uma

visão mais ampla da competência, incluindo a relação trabalhador/trabalho e as

responsabilidades e atitudes reflexivas necessárias aos funcionários no ambiente da

empresa. Essa visão, que chega a ter preocupação social, mostra a necessidade de

agregar valor tanto à empresa quanto à sociedade na qual ela está inserida e,

consequentemente, aos indivíduos que a compõem.

56

Zarifian (2001) defende a competência envolvendo aspectos como assumir

responsabilidades e desenvolver uma atitude reflexiva em face do trabalho, ao

mesmo tempo em que liga a aquisição de competências ao aprendizado profissional,

por meio de situações reais do cotidiano do trabalho; e á formação, via transmissão

e aquisição de conhecimentos.

O saber transmitido por meio das situações formais de ensino-aprendizagem

corresponde aos conhecimentos gerais ou à formação básica, de um lado. Pode ser

também o conjunto de conhecimentos específicos que visam a preparar o indivíduo

para o mercado de trabalho, de outro (CARRION, 1998).

Seguindo a preocupação de integrar indivíduo, empresa e sociedade,

Bittencourt (2001, p. 230) apresenta o conceito de competência (gerencial) como

sendo:

[...] o processo contínuo e articulado de formação e desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes em que o indivíduo é responsável pela construção e consolidação de suas competências (autodesenvolvimento) a partir da interação com outras pessoas no ambiente de trabalho, familiar e/ou em outros grupos sociais (escopo ampliado), tendo em vista o aprimoramento de sua capacitação, podendo, dessa forma, adicionar valor às atividades da organização da sociedade e a si próprio (autorrealização).

Consolidando a ideia de que competência não é apenas o conjunto de CHA,

mas também a sua aplicação em função de uma atividade predefinida e em busca

dos resultados esperados, Le Bortef (2003) afirma que a competência não é um

“estado” ou um conhecimento que se tem nem é resultado de um treinamento.

Competência seria, na verdade, colocar em prática o que se sabe em uma

determinada circunstância, esta última marcada geralmente por relações de

trabalho, cultura da empresa, imprevistos, limitações de tempo e recursos. Assim,

para esse autor, só se pode falar em competência em ação, traduzindo em saber-ser

e saber-mobilizar conhecimentos em diferentes panoramas.

Com esses conceitos, que envolvem indivíduos, empresas e sociedade, não é

possível estabelecer definição única, principalmente porque cada entendimento e

eventual aplicação serão diferentes do outro na medida em que estejam envolvidos

indivíduos e contexto sempre diferenciados.

57

Segundo Mertens (1999, p. 62), “para se identificar a competência parte-se

dos resultados e dos objetivos desejados da empresa em seu conjunto, que derivam

em tarefas, e estas em CHA requeridos”.

Para o autor, a competência é projetada no resultado que a pessoa ligada à

função deve alcançar, ou seja, conhecimentos e habilidades que assegurem o

resultado desejado. Isso significa que a competência está centrada na pessoa, que

pode chegar a ocupar uma ou mais funções, e não na função em si.

Lévy-Leboyer (1997 apud RODRIGUES, 2004) reconhece que as

competências se desenvolvem junto com as experiências profissionais, destacando

seu caráter dinâmico. Além disso, as competências podem ser adquiridas ao longo

de toda a “vida ativa”, constituindo, assim, um fator de flexibilidade e de adaptação

da evolução das tarefas e dos empregos.

O conceito de competências não pode ser separado da noção de

desenvolvimento, já que a avaliação das competências permite ao indivíduo avaliado

determinar não só as competências que foram adquiridas, mas também as que

deveria adquirir, incluindo os possíveis meios de fazê-lo. Dessa forma, “as

competências constituem dimensões que permitem caracterizar os indivíduos e,

portanto, conceitos que se prestam à avaliação” (LÉVY-LEBOYER, 1997, p. 30 apud

RODRIGUES, 2004).

Segundo Mertens (1999), a competência inclui vários tipos de padrões, que

podem ser reproduzidos em diferentes âmbitos e que, juntos, formam uma norma de

competência que é um conjunto de padrões válidos em diferentes ambientes

produtivos, podendo ser desenvolvida e adotada nacional, regional e localmente, o

que constitui o elemento comum da formação de pessoal, necessário para atingir os

objetivos das empresas.

Pesquisa como essa demonstra como tem sido tratada a gestão de

competências. Visando levantar um conjunto mais amplo de informações a respeito

da gestão de competências, Barbosa (2002) realizou uma pesquisa envolvendo 18

empresas mineiras que aplicam modelos de competência. O resultado abordou

aspectos como o conceito de competências utilizado, a quem se destina o modelo,

quem o elabora e quais os motivos para a adoção, entre outros.

Em relação ao conceito de competências, devido à variedade de aspectos

envolvidos, cada realidade segue uma lógica própria, de acordo com necessidades e

58

intenções envolvidas (BARBOSA, 2002). Entretanto, esse autor observou que,

mesmo utilizando conceitos diferentes, muitos seguem a mesma linha de

argumentação. Assim, em 13 dias nas 18 empresas estudadas foi percebido que as

mesmas voltam a gestão de competências para o aspecto do desempenho.

Além disso, o autor identifica a ênfase na busca de inserção competitiva e o

desenvolvimento da estratégia e do negócio como o principal motivo para a adoção

da gestão de competências. Sendo assim, poucas empresas justificam a adoção dos

modelos como sendo para atuar na gestão de recursos humanos tradicional, voltada

para o estímulo e reconhecimento de desempenho individual, a satisfação dos

funcionários, a retenção de talentos, a orientação do desenvolvimento profissional e

da carreira e a conquista do comprometimento dos funcionários.

Pode-se afirmar que a discussão de competências, longe de se resumir a um

mero debate retórico sobre preceitos gerenciais, encontra respaldo nas crescentes

preocupações organizacionais relacionadas à busca por melhor posição no cenário

competitivo contemporâneo.

1.3.3 Abordagens sobre competências individuais

Os estudos sobre competências, iniciados pelas modificações ocorridas na

dinâmica dos postos de trabalho na França, na década de 1970, foram influenciados

pela noção de qualificação. A emergência da lógica da competência está

fundamentalmente centrada na mudança de comportamento das pessoas em

relação ao trabalho e sua organização. Tais transformações têm origem no aumento

da complexidade da produção, cada vez mais sujeita a turbulência e incertezas do

ambiente (ZARIFIAN, 2001).

A proposta de Zarifian (2001) em relação à lógica da competência demonstra

que a diferenciação que pode ser feita da competência e da qualificação baseia-se

no fato de que a competência é do indivíduo, enquanto a qualificação se volta para a

definição do que é demandado por uma profissão. Desta forma, o processo de

formação das pessoas para uma profissão assume novos “formatos” quando se

entende que a competência engloba elementos da relação do indivíduo com seu

trabalho, não devendo, porém, se limitar às questões de caráter técnico, como ainda

predominam nas escolas de formação profissional.

59

Conforme Zarifian (2001), o trabalho é a realização da ação humana e sua

dinâmica é estabelecida diretamente pelos indivíduos, na medida em que são

capazes de dominar e aperfeiçoar suas ações profissionais.

A competência humana, de acordo com Dejours (1997), depende do quadro

ético e social, depende tanto de um sujeito quanto do outro, isto é, depende do

coletivo. A competência é coletiva antes de ser individual, o que causa impactos

significativos no conceito de fator humano.

No entanto, diversas têm sido as definições atribuídas à competência

individual. A inexistência de consenso quanto a seu conceito, além de “divergências

de caráter filosófico e ideológico, podem, também, ser atribuídas à adoção da

expressão com diferentes enfoques, em diferentes áreas do conhecimento”

(MANFREDI, 199812 apud KILIMNIK, 2005, p.4).

Zarifian (2001) tem opinião bastante crítica quanto às práticas organizacionais

referentes às competências. Propõe um conceito de competência mais amplo,

incluindo a interação do indivíduo com o seu ambiente: ser reconhecido e

recompensado como uma pessoa hábil, com inteligência prática dirigida à situação

de trabalho.

O conceito de competência individual ampliou-se. Segundo Hipólito (2001, p.

81), além de considerar “conhecimentos, habilidades e atitudes de um indivíduo,

considera também resultados, produção e entrega decorrentes de sua mobilização,

isto é, incorpora o valor adicionado pelo colaborador ao negócio”, conforme

demonstrado na Figura 5.

12

MANFREDI, Silvia M. Trabalho, qualificação e competência profissional: das dimensões conceituais

e políticas. Educação e Sociedade. Campinas: CEDES, n. 64, p. 13-49, set. 1998.

60

Figura 5 – O conceito de competência individual. Fonte: Hipólito (2001, p. 53).

Dutra (2004, p. 24) reconhece que a competência individual representa o

principal elemento da gestão de pessoas. Para sua efetiva gestão, torna-se

necessária, inicialmente, sua definição, para que sejam planejadas as demais ações

que visam ao seu desenvolvimento e avaliação.

Ao aprimoramento da gestão de pessoas soma-se a adoção de novas

competências organizacionais ou essenciais e individuais. Para Bittencourt (2002), a

proposta baseada na gestão de competências visa a aproximar os objetivos

organizacionais e os individuais. A partir dessa premissa, fica mais fácil

compreender os dois principais níveis de competências – organizacional e individual.

No primeiro nível, incluem-se as core competences, ou as competências essenciais

da empresa, que são responsáveis pela atuação da empresa no mercado,

estimulando a construção de um diferencial competitivo baseado nas especialidades

e especificidades de cada organização.

No segundo nível, as competências individuais, observa-se a necessidade

crescente de formar e valorizar o profissional que possa oferecer respostas mais

rápidas às demandas do mercado e da empresa, que tenha como objetivo a

inovação baseada num perfil criativo e flexível, que esteja preparado para trabalhar

e estimular o desenvolvimento das outras pessoas com quem trabalha.

Ao falar da interligação das competências organizacionais e individuais,

Brandão e Guimarães (2001) acreditam que as competências profissionais junto

POTENCIALIDADES Conhecimentos

COMPETÊNCIA

INDIVIDUAL

HABILIDADES Saber como

PRODUÇÃO E

ENTREGA

Resultados

ATITUDES Querer-fazer

61

com outros recursos dão origem e sustentação às competências organizacionais.

Desta forma, o desenvolvimento de competências individuais na empresa poderá

impactar positivamente a competência organizacional e, consequentemente, ampliar

a capacidade de desempenho.

Pode-se dizer que as competências devem ser traduzidas pela empresa em

competências individuais, ou seja, as competências das pessoas na empresa são,

em conjunto, um reflexo das competências essenciais da empresa.

1.4 Liderança

1.4.1 Importância e definições

O tema liderança se torna cada vez mais importante na atualidade marcada

pela globalização, automação digital generalizada e pela constante necessidade de

mudança e vem como pauta principal dos estudos sobre comportamento das

pessoas na organização (BERGAMINI, 2002). Este tema tem deixado o senso

comum e sido pesquisado por estudiosos do comportamento organizacional, num

referencial mais profundo que segue a orientação da pesquisa científica. O aumento

desse tipo de pesquisa vem gerando contínuo acervo de abordagens e conceitos

fundamentados em dados empíricos levantados em organizações de todos os tipos

e tamanhos no mundo todo.

Diante dessas mudanças, as lideranças têm que estar alertas ou perdem a

sintonia com as necessidades organizacionais e acabam por não atender às

demandas do funcionário que surge nessa nova situação. Espera-se do líder muito

mais que ele seja o facilitador do processo de aprendizado e crescimento, o

provedor de recursos para que os indivíduos possam colocar em prática suas

habilidades, além de desenvolver e adquirir outras.

Vendramini (2000) e Miranda (2003, p. 27) identificam que, quando os

conceitos de liderança são aplicados em um contexto organizacional envolvendo um

líder e seus liderados:

A percepção e consciência adquiridas pelos liderados são tão proveitosas que passam a falar uma linguagem comum e auxiliam no crescimento pessoal de cada indivíduo. Os liderados sabem que o líder comportar-se-á conforme as ações deles; assim, irão desenvolvendo, ao longo do tempo, a

62

maturidade suficiente para receberem autonomia em suas atividades, promovendo o autogerenciamento.

Senge (2004, p. 326) tem uma visão tradicional de líderes como pessoas

especiais que definem o caminho:

São aquelas que tomam decisões fundamentais e que energizam as equipes “enraizadas” em uma visão individualista e não-sistêmica do mundo. A visão tradicional de liderança baseia-se nos pressupostos de impotência das pessoas, na ausência de visão pessoal e na incapacidade de dominar as forças de mudança, déficit esses que só podem ser remediados por alguns grandes líderes.

Drucker (1996, p. 278) registra que “a liderança tem sido considerada o

resultado de pessoas talentosas, com traços dignos, influenciando seguidores a

fazerem o que é necessário para a realização de metas empresariais e sociais”.

Assim pensando, Senge (2004, p. 368) reforça esse discurso quando

menciona:

Nas organizações que aprendem, os líderes são projetistas, regentes e professores. Eles são responsáveis por construir organizações onde as pessoas expandem continuamente suas capacidades de entender complexidades, esclarecer visões e aperfeiçoar modelos mentais compartilhados – ou seja, eles são responsáveis pela aprendizagem.

A liderança, segundo McGregor13 (apud MAXIMIANO, 2000), não é um

atributo da pessoa, mas uma combinação complexa de quatro variáveis ou

elementos: as características do líder; as atitudes, necessidades e características

pessoais dos liderados; as características da organização, em especial a tarefa a ser

realizada; e a conjuntura social, econômica e política.

Outras abordagens mais recentes sobre a liderança são apresentadas por

Robbins (1999). O autor cita quatro teorias: a teoria da atribuição de liderança; a

teoria da liderança carismática; a teoria da liderança transacional versus

transformacional; e a teoria da liderança visionária, como mostra o Quadro 7.

13

McGREGOR, Douglas. Gerenciando o lado humano da empresa. São Paulo: Qualitymark, 2002.

63

TEORIA DESCRIÇÃO

TEORIA DA ATRIBUIÇÃO DE LIDERANÇA

Defende que liderança refere-se às características que as pessoas atribuem a outras, como: inteligência, personalidade sociável, fortes habilidades verbais, agressividade, compreensão e disposição para o trabalho.

TEORIA DA LIDERANÇA CARISMÁTICA

É uma extensão da teoria de atribuições, ela defende que seguidores, quando observam comportamentos carismáticos nas lideranças, tendem a fazer atribuições heroicas a estes. Um conjunto de seguidores desta teoria propõe que uma pessoa pode aprender a tornar-se carismática seguindo um processo de três passos. Primeiro, desenvolver uma perspectiva otimista; usar a paixão como catalisador do entusiasmo e comunicar-se demonstrando essa paixão e esse entusiasmo. Segundo, um indivíduo atrai o outro criando uma ligação que inspira o outro a segui-lo. Terceiro, o líder trabalha com as emoções de seus seguidores, extraindo dos mesmos o que eles têm de melhor.

TEORIA DA LIDERANÇA TRANSACIONAL VERSUS

TRANSFORMACIONAL

Busca diferenciar líderes transformacionais de líderes transacionais. Os líderes transacionais esclarecem a exigência do papel dos seguidores e suas tarefas, direcionando-os para o alcance de metas. Os líderes transformacionais produzem níveis de esforço e desempenho de seguidores que vão além do que ocorreria com a liderança transacional; ajudam seus seguidores a mudar a visão sobre dificuldades e limitações, fazendo-os questionar visões estabelecidas e sentir-se capazes de realizar coisas para as quais se achavam incapazes.

TEORIA DA LIDERANÇA VISIONÁRIA

Aborda a capacidade de criar e articular uma visão realista e atraente do futuro para uma unidade organizacional ou para a organização como um todo. Os líderes visionários parecem ter três qualidades que são relacionadas com a eficácia de seus papéis visionários. A primeira é a capacidade de comunicar a visão para os outros; a segunda é ser capaz de comportar-se de forma que transmita e reforce a visão; e por último é a capacidade de sequenciar atividades para que a visão possa ser aplicada em uma variedade de situações.

Quadro 7 – Abordagens sobre liderança. Fonte: Adaptado de Robbins (1999).

Na organização, a liderança já passou por vários papéis, desde as funções de

controle, supervisão (Escola Clássica), buscando a cooperação entre os grupos e

valorizando as habilidades interpessoais (Escola das Relações Humanas). Em

seguida, valorizando as competências individuais e o empowerment (Escola

Comportamentalista), até chegar à ênfase na inovação e no conhecimento (Escola

Contingencial) – (ROBBINS, 1999).

Para o autor, há teorias que buscam explicar a liderança, como:

a) Teoria dos Traços - a partir de atributos de personalidade, físicos e sociais

e ainda intelectuais pode-se identificar os líderes dos não-líderes.

b) Teoria Comportamental - poder-se-ia treinar pessoas para serem líderes

se por meio de estudos comportamentais mostrassem determinantes

64

críticos de liderança.

c) Teorias Contingenciais - nas quais fatores situacionais afetam a eficácia

da liderança.

Entre as teorias contingenciais vale a pena ressaltar a Teoria Situacional de

Hersey e Blanchard (1986), que se concentra nos seguidores. Segundo a mesma, a

liderança de sucesso é alcançada ao adequar o estilo de liderança correto ao nível

de maturidade dos seguidores (FIG. 6).

Figura 6 - Teoria situacional. Fonte: Hersey e Blanchard (1986, p.189).

De acordo com esses autores, maturidade se refere à capacidade e

disposição dos seguidores em realizar uma tarefa específica e cabe ao líder adequar

o seu estilo de liderança ao nível de maturidade dos seus seguidores. Esse estilo

varia entre ser mais voltado para a tarefa ou mais voltado para relacionamento.

Em relação à liderança, Kouzes e Posner (2003, p. 39) apresentam a seguinte

definição:

A liderança é um conjunto de habilidades e práticas que estão disponíveis para todos, e não apenas para alguns homens e mulheres carismáticos. A teoria de que o líder é um grande homem ou uma grande mulher está totalmente errada [...]; a liderança pode ser encontrada em qualquer parte

65

[....] a liderança é um relacionamento entre os que aspiram a liderar e os que optam por seguir.

Para Motta (1999, p.215-218), “a liderança pode ser aprendida através de

ensinamentos e de informações sobre os tipos de experiências mais importantes

para a aquisição de habilidades próprias da função”. O autor classifica essas

habilidades modernas de liderança em três diferentes dimensões:

a) dimensão organizacional – refere-se às habilidades de domínio do ambiente em que o dirigente trabalha. É o conjunto de fatores que determinam a possibilidade do indivíduo tornar-se líder em um determinado contexto, como o conhecimento organizacional onde o dirigente atua para que possa identificar os recursos disponíveis e utilizá-los na consecução de um ideal comum; b) dimensão interpessoal – compreende o conjunto de habilidades de comunicação e interação entre pessoas. A comunicação é o meio para se aproximar das pessoas, compartilharem ideias e visões, aprimorar a compreensão sobre o trabalho de cada um, monitorar desempenho e conhecer alternativas de futuro. É através da interação que se desenvolve a capacidade de influenciação, comprometimento e confiança mútuos; c) dimensão características individuais – diz respeito às qualidades individuais, ou seja, características individuais passíveis de serem conquistadas, que normalmente estão presentes nos líderes. Dentre essas qualidades, pode-se citar o conhecimento de si próprio, a iniciativa, a coragem, a persistência e a integridade, o bom senso, a competência e a experiência.

Na perspectiva de Bergamini (1994), alguns teóricos preocupam-se em

representar traços ou características de personalidade que sejam responsáveis pela

sua eficácia. Para outros, o que interessa é o comportamento, ou melhor, o

delineamento dos diferentes estilos de liderança. Ainda há outros pesquisadores

sociais que se interessam em estudar a eficácia da liderança a partir de variáveis

situacionais. Por fim, alguns estudiosos dedicam-se a pesquisas sobre a motivação

em dirigir pessoas.

Para Motta (1999, p. 221), “a liderança é o resultado de habilidades humanas

aprendidas por pessoas comuns e, portanto, perfeitamente tratáveis como uma

dimensão básica da formação gerencial”.

A função gerencial, segundo Motta (1999, p.208), “decorre naturalmente da

eficácia da gerência [...] é muito mais a tentativa de propor alternativas de

comportamento que transformem dirigentes em líderes.”

66

Depreende-se, portanto, que a ideia comum apresentada por muitos autores

está vinculada à liderança como maneira de inter-relacionar atitudes, crenças,

valores, comportamentos e sentimentos de outras pessoas.

1.4.2 Fatores de liderança

Os líderes se revelam no exercício da liderança, promovem a gestão

participativa que ampliam a interação com a empresa e a sociedade. Como

consequência, ocorre o aumento da competência profissional de cada funcionário.

Os exemplos apresentados pelo líder à sua equipe são importantes, porque

funcionam como elementos que levam outros a agir a partir de um modelo. Quando

ele exemplifica, na verdade está dando início a uma ação desejada. Desta forma, ele

expressa também sua posição de igualdade aos membros do grupo, isto é,

possibilita que seus liderados se sintam como pessoas em vez de apenas

funcionários. Junto a essas ações, o líder precisa transmitir à equipe sinais de

autenticidade por meio das proposições que apregoa, de modo tal que elas reflitam

na sua prática diária (KOUZES; POSNER, 2003).

Para Hersey e Blanchard (1986), quanto mais o líder adapta seu estilo para

atender à situação específica e às necessidades de seus liderados, mais eficiente

tenderá a ser para atingir os objetivos pessoais e da organização. O estilo não se

refere à maneira de pensar do líder em seu comportamento na situação, mas sim à

maneira como os seus seguidores percebem seu comportamento.

Segundo esses autores, os líderes empresariais emergentes têm

frequentemente um insubstituível papel a desempenhar na explicitação das

implicações estratégicas de uma unidade de produção ou de serviço e na

explicitação do motivo do que é exigido dos trabalhadores. A meta é instaurar uma

forma de comando que possibilite a reelaboração coletiva do motivo de trabalhar. Os

motivos são às vezes definidos como necessidades, desejos ou impulsos no interior

do indivíduo. Os motivos são dirigidos para objetivos e estes podem ser conscientes

ou inconscientes. Os motivos são os “porquês” do comportamento.

Uma pesquisa realizada em vários países pela consultoria “Anderson

Consulting” sobre as características desejáveis do líder do futuro com as

características desejáveis do líder do passado revela que muitos atributos da

67

liderança eficaz são considerados importantes ontem, hoje e amanhã.

Características como comunicar a visão, demonstrar integridade, ter preocupação

com resultados e garantir a satisfação do cliente foram descritas como tais tanto no

passado como no futuro. Além disso, cinco fatores fundamentais foram destacados

como importantes no futuro e no passado: pensar globalmente, prezar a diversidade

cultural, demonstrar desenvoltura tecnológica, construir parcerias e compartilhar a

liderança (DRUCKER, 1996).

Rowe (2002) cita alguns fatores que interferem na liderança estratégica,

visionária e gerencial (QUADRO 8).

LÍDERES ESTRATÉGICOS LÍDERES VISIONÁRIOS LÍDERES GERENCIAIS Combinação sinérgica entre

liderança gerencial e visionária. Pró-ativos moldam e mudam o

que as pessoas pensam ser necessário.

Conservadores, atitudes passivas, metas surgem das

necessidades.

Supervisão, responsabilidades operacionais e estratégias em

longo prazo.

Supervisão, responsabilidades operacionais e estratégias em

longo prazo.

Relacionamento com as pessoas de acordo com as

suas funções no processo de tomada de decisão.

Grandes expectativas em relação à performance de seus

superiores e pares, subordinados e deles próprios.

Influenciam atitudes e opiniões das pessoas na organização.

Influenciam os atos e as decisões das pessoas com

quem trabalham.

Valem-se do controle estratégico e financeiro, dando

ênfase ao estratégico.

Preocupação com o futuro da organização por meio do

gerenciamento das pessoas.

Envolvimento em situações e contextos característicos de

atividades cotidianas.

Padrões de pensamento linear e não-linear.

Vale-se do pensamento não-linear.

Vale-se do pensamento linear.

Acreditam na adoção de estratégias, isto é, as decisões estratégicas fazem diferença

em suas organizações e ambiente de trabalho.

Acreditam na adoção de estratégias. Suas decisões

estratégicas fazem diferença em suas organizações.

Acreditam no determinismo, isto é, as escolhas que fazem

são determinadas pelo ambiente externo/ interno.

Quadro 8 - Liderança estratégica, visionária e gerencial. Fonte: Adaptado de Rowe (2002, p. 9 apud PINTO, 2003, p. 63).

Verifica-se que a ética está nos perfis da liderança. Na organização,

pressupõe-se que gerentes, para tomar decisões, possuam liderança gerencial,

mas, para compartilhar uma visão comum, a liderança visionária é necessária. Na

liderança visionária, o “controle” organizacional é mantido por meio de socialização e

da conformidade com um conjunto de normas, valores e opiniões em comum. A

liderança gerencial envolve, além da estabilidade e ordem, ainda com a manutenção

do status quo.

68

As empresas encontram dificuldade de acompanhar essas transformações e

têm sido feitas várias tentativas de entender a liderança sob uma ótica científica, por

autores e pesquisadores de diferentes nacionalidades. Entretanto, o tema é

controverso, os problemas são variados e as conclusões permanecem abertas.

Sobre liderança, Bryman14 (1992, p. 9 apud BERGAMINI, 2006) acredita que

ela se transformou no principal:

[...] foco de atenção para uma variedade de escritores preocupados com as organizações. Ela sempre tem sido uma área importante de investigação entre os pesquisadores interessados nos processos organizacionais, visto que volumosa literatura sobre o assunto testemunha isso. Mas, desde o começo dos anos 80, o montante de interesse parece ter-se avolumado e presentemente não há sinais de que essa tendência venha diminuindo. Livros após livros apontam e exaltam a importância de um entendimento da liderança, insinuando que os líderes detêm a chave da eficácia organizacional.

Maximiano (2000) identifica que a competência técnica ou superioridade

técnica é um determinante fundamental e um fator importante na relação líder-

liderado.

Um dos primeiros estudos a respeito das habilidades de liderança foi

realizado por Katz15 (1989, apud GRUBER, 2001, p. 21-22), no qual identificou três

grupos de habilidades básicas que o líder deveria possuir em grau variado,

dependendo do nível de administração que estivesse exercendo:

1) Habilidades técnicas - é o entendimento e proficiência em uma atividade específica, que particularmente envolva métodos, processos, técnicas e procedimentos, conhecimento especializado, capacidade analítica e facilidade no uso de ferramentas e técnicas numa determinada disciplina. 2) Habilidades humanas - é a capacidade que o líder deve ter para trabalhar efetivamente como membro de um grupo e para obter esforço cooperativo do grupo por ele liderado. 3) Habilidades conceituais - consiste na capacidade de visualizar o empreendimento como um todo, isto é, reconhecer como as várias funções dentro da organização são interdependentes e como mudanças em cada parte podem afetar todas as demais.

Pode-se dizer que, na prática, essas habilidades encontram-se inter-

relacionadas, sendo difícil identificar onde uma termina e começa outra.

14

BRYMAN, A. Charisma and leadership in organizations. Londres: Sage, 1992. 15

KATZ, R.L. Skill of an effective administrador. Harvard Business Review, p. 45-57, 1989.

69

No Quadro 9, Schwarz (1994) sintetiza a mudança das atribuições dos líderes

tradicionais para os líderes facilitadores.

Quadro 9 - Mudanças na estrutura da liderança tradicional para a liderança facilitadora. Fonte: Schwarz (1994, p. 257).

ESTRUTURA

ELEMENTOS LÍDER TRADICIONAL LÍDER FACILITADOR

NORMAS

O líder tenta estabelecer normas na equipe implicitamente.

O líder compartilha valores centrais, princípios e atribuições básicas com os membros da equipe como bases potenciais para as normas da equipe. O líder e os membros da equipe discutem explicitamente e concordam sobre as normas da equipe.

CULTURA GRUPAL

O líder tenta influenciar a cultura implicitamente.

O líder compartilha valores centrais, princípios e atribuições básicas com os membros da equipe como bases potenciais para a cultura da equipe. O líder e os membros da equipe discutem explicitamente a cultura em curso e a desejada e concordam sobre os passos para compartilhá-la.

TEMPO

SUFICIENTE

O líder decide quanto tempo as tarefas poderiam levar e fixa prazos finais em reunião com os membros da equipe.

O líder ensina aos membros da equipe como planejar e administrar o tempo. Os membros da equipe usam informações relevantes e o apoio do líder para fixar prazos para suas tarefas.

PAPÉIS CLARAMENTE

DEFINIDOS

O líder define o papel dos funcionários com ou sem a participação dos membros da equipe.

Os membros da equipe usam informações relevantes e apoio do líder para definir e concordar sobre os seus papéis.

ASSOCIAÇÃO APROPRIADA

O líder decide quem se juntará e deixará a equipe com ou sem a consulta dos membros da equipe.

O líder assegura-se de que a equipe tem informação e habilidades necessárias para selecionar (e remover) membros da equipe. Os membros do grupo usam informações relevantes e apoio do líder para discutir e decidir quais tipos de membros eles precisam.

TAREFAS

MOTIVACIONAIS

O líder desenha o trabalho dos membros da equipe, algumas vezes em reunião com os próprios.

O líder ajuda os membros a entender o que faz um trabalho motivador. Os membros do grupo usam informações relevantes e apoio do líder para redesenhar seus trabalhos.

METAS CLARAS

O líder define metas baseadas na direção do supervisor do líder e, algumas vezes, em reunião com os membros da equipe.

O líder ajuda os membros do grupo a aprender como definir metas claras. Os membros da equipe usam informações relevantes e apoio do líder para discutir e fixar metas.

70

Quadro 9 – Continuação. Fonte: Schwarz (1994, p. 258).

PROCESSO GRUPAL

ELEMENTOS LÍDER TRADICIONAL LÍDER FACILITADOR

COMUNICAÇÃO

O líder controla quem se comunica com quem.

O líder ensina aos membros da equipe como se comunicar efetivamente, usando as normas básicas, fundamentais. Os membros da equipe iniciam a comunicação com alguém que possui informação válida ou possui interesse na situação.

ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS

O líder administra conflitos entre os membros da equipe.

O líder ensina aos membros da equipe como administrar seus próprios conflitos.

SOLUÇÃO DE PROBLEMAS

O líder resolve os problemas que os membros do grupo apresentam.

O líder ensina aos membros da equipe o modelo de solução de problemas. O líder assegura-se de que os membros da equipe têm acesso a informações relevantes para resolver problemas. Os membros da equipe têm responsabilidade para identificar e resolver os problemas que eles encontram.

TOMADA DE

DECISÃO

O líder ou toma decisões sozinho ou depois se reúne com membros da equipe.

Os membros da equipe tomam muitas decisões por eles mesmos ou como uma equipe. O líder e os membros da equipe, conjuntamente, tomam decisões apropriadas por consenso.

ADMINISTRAÇÃO DE LIMITES

O líder é responsável pela comunicação, coordenação e solução de problemas com pessoas que não pertencem à equipe.

O líder ensina aos membros como comunicar, coordenar e solucionar problemas com pessoas de fora da equipe. O líder e os membros, conjuntamente, determinam a abordagem de administração de limites. O líder administra amplamente os limites para facilitar a equipe na solução do problema de como resolver o problema.

71

Quadro 9 – Continuação. Fonte: Schwarz (1994, p. 258-259).

CONTEXTO ORGANIZACIONAL

ELEMENTOS LÍDER TRADICIONAL LÍDER FACILITADOR

AMBIENTE FÍSICO

O líder tem responsabilidade para tentar mudar o ambiente de trabalho físico, algumas vezes usando informações dos membros da equipe.

Os membros do grupo têm responsabilidade para tentar mudar o ambiente de trabalho físico, com informações relevantes e apoio do líder.

RECURSOS MATERIAIS/

TECNOLÓGICOS

O líder tem responsabilidade para obter recursos.

Os membros da equipe têm responsabilidade para obter recursos, com informações relevantes e apoio do líder.

TREINAMENTO/ CONSULTORIA

O líder tem responsabilidade para identificar e obter treinamento e consultoria necessitada pela equipe.

O líder assegura-se de que os membros do grupo têm conhecimento e habilidades para assessorar suas necessidades de treinamento e consultoria. Os membros da equipe têm responsabilidade para identificar e obter treinamento e consultoria necessitado pela equipe.

INFORMAÇÃO E FEEDBACK

O líder decide quais informações, incluindo feedback, os membros do grupo precisam e fornecem, algumas vezes com a participação dos membros da própria equipe.

O líder fornece feedback aos membros da equipe sobre seu desempenho. Os membros do grupo decidem quais informações precisam e as obtêm. O líder ajuda os membros da equipe a aprender como fornecer e buscar feedback efetivamente. O líder e os membros do grupo fornecem feedback uns aos outros e criticam o desempenho deles juntamente com a autocrítica.

RECOMPENSAS COERENTES COM OS

OBJETIVOS

O líder projeta o sistema de recompensa e decide quem receberá a recompensa.

O líder focaliza-se em recompensas extrínsecas individuais. O líder assegura-se de que os membros do grupo entenderam os elementos dos sistemas de recompensa efetiva. Os membros do grupo projetam o sistema de recompensas e decidem quem recebe as recompensas. O sistema de recompensa inclui recompensas intrínsecas e extrínsecas e focaliza recompensas individuais e grupais.

CULTURA SUPORTE

O líder e os membros do grupo tentam influenciar a cultura implicitamente.

O líder e os membros do grupo são modelos de valores centrais, princípios e papéis básicos e, simultaneamente, defendem e encorajam outros a se informarem como usá-los como base para a cultura grupal. O líder e os membros do grupo discutem explicitamente a cultura corrente e a desejada e concordam sobre os passos para compartilhar esta última.

72

Conclui-se, desta forma, que é predominante a delegação de

responsabilidade aos membros da equipe. Todavia, ao líder cabe a tarefa de

transmitir o know-how; assegurar que os indivíduos estejam recebendo as condições

para realizar seu trabalho com autonomia; dar apoio às equipes no processo de

tomada de decisões e estabelecimento do sistema de recompensas; compartilhar as

normas e a cultura estabelecidas pela equipe.

Pode-se dizer, também, que há praticamente transferência de atribuições, em

que os membros da equipe assumem as atividades antes realizadas pelos líderes

tradicionais, de modo que adquirem mais liberdade de ação para tomar suas

próprias decisões.

1.4.3 Integração entre liderança e competências

1.4.3.1 Sobre competências de liderança

Na literatura especializada sobre liderança percebe-se que muitas vezes a

expressão líder aborda competências que não contemplam práticas mais objetivas,

próprias do gerente, presentes no cotidiano de quem atua em gestão. A exemplo

apresenta-se a seguir o Quadro 10 sobre competências de liderança sugeridas por

Goleman, Boyatzis e Mcke (2002).

COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA

DOMÍNIO PESSOAL DOMÍNIO SOCIAL

AUTOCONSCIÊNCIA

Autoconsciência emocional. Autoavaliação precisa.

Autoconfiança.

CONSCIÊNCIA SOCIAL

Empatia. Consciência organizacional.

Serviço.

AUTOGESTÃO

Autocontrole. Transparência. Adaptabilidade.

Superação. Iniciativa. Otimismo.

ADMINISTRAÇÃO DE RELACIONAMENTOS

Inspiração. Influência.

Desenvolvimento dos demais. Catalisação de mudanças.

Gerenciamento de conflitos. Trabalho em equipe e colaboração.

Quadro 10 - Competências de liderança. Fonte: Adaptado de Goleman, Boyatzis e McKee (2002).

73

Segundo os autores, tais competências de liderança fomentam

relacionamentos, trazem no ambiente de trabalho condições de criar sinergia nos

grupos, permitindo que os valores sejam compartilhados e agregados no

desempenho organizacional. Quanto à dimensão individual, ao expressar tais

competências, os líderes tendem a tornar-se mais flexíveis e informais, mais abertos

e mais atentos às relações entre pessoas e às redes.

As competências de liderança aportam fatores relacionados com a atitude e

pouco se alteram, independentemente do segmento organizacional em questão, isto

é, seja em uma organização hospitalar, metalúrgica ou educacional, há necessidade,

por exemplo, de ter empatia, iniciativa e capacidade para gerenciar conflitos, que

são competências desejáveis para um líder. Já as competências gerenciais são

identificadas a partir da definição das competências organizacionais (BITENCOURT,

2004), ou seja, estão inter-relacionadas com conhecimentos e habilidades

demandados pela estrutura organizacional, seus processos, diretrizes e metas a

serem atingidas a partir da ação gerencial, nos distintos lugares de poder outorgado,

definidos na organização.

Bruno (2009) preconiza algumas competências de liderança para atender às

necessidades do liderado:

a) Clarificar os resultados e como alcançá-los - saber e querer-fazer a

definição das responsabilidades, competências, indicadores de resultado,

índices de medida, métodos de trabalho e metas de cada liderado.

b) Selecionar criteriosamente - saber e querer-fazer a escolha do liderado

com o menor gap das competências desejadas, integrar e treinar o

liderado para reduzir as defasagens o mais rápido possível.

c) Treinar eficazmente - saber e querer-fazer o ensino dos métodos de

trabalho ao liderado de forma que ele aprenda o mais rápido possível,

tenha autoconfiança e vontade de segui-los;

d) Acompanhar “corpo a corpo” - saber e querer-fazer a supervisão do

desempenho do liderado onde ele acontece, corrigindo imediatamente as

não-conformidades e agindo para a sua prevenção.

e) Interagir profissionalmente: saber e querer-fazer conexão com o liderado a

partir do interesse pela sua pessoa e do processo sistemático de dar e

receber feedback.

74

f) Desenvolver continuamente - saber e querer-fazer a identificação e

promover o desenvolvimento de novas competências requeridas do

liderado para a melhoria contínua dos resultados.

g) Agir para reforçar - saber e querer-fazer o reconhecimento emocional e

financeiro do liderado, pelas suas realizações excepcionais.

1.4.3.2 Estudos realizados sobre competências de lideranças

Novas habilidades e competências têm sido discutidas em simpósios e

congressos tanto nacionais como internacionais e em documentos oficiais do MEC

(BRASIL, 2002). Algumas pesquisas têm tentado delinear quais são as habilidades e

competências necessárias para o exercício da profissão, mas somente sob o

enfoque dos profissionais da área em que já atuam no mercado de trabalho.

Desta forma, o que existe são pesquisas realizadas junto a diretores, gerentes

e presidentes de corporações nacionais, que revelam quais as habilidades e

competências que estes acreditam ser mais importantes para o exercício da

Engenharia. Algumas pesquisas referem-se somente a uma modalidade da

Engenharia e outras possuem enfoque mais geral (NGUYEN, 1998; SACADURA,

1999).

Alguns estudos estão sendo realizados sobre competência. O assunto

liderança já vem sendo tratado há muitas décadas por diversas linhas de

pensamento (BENNIS, 1996). Novas correntes estão enfatizando as competências

de liderança como sendo uma vertente de uma das linhas entre os dois assuntos.

Empresas estão definindo suas competências de liderança como valores de que o

líder necessita para exercer a sua função, diferenciando, assim, o gerente do líder.

Segundo Bennis (2009, p. 22), “líderes são pessoas que fazem as coisas certas;

gerentes são aqueles que fazem certo as coisas”.

Bennis (2009) afirma existirem quatro competências de liderança, entre elas:

a) Gerenciamento da atenção - significa que o líder deve trazer todos a

serem seus seguidores, pois ele tem visão, um sonho, várias intenções,

um cronograma, uma estrutura. Isto deve gerar o comprometimento.

75

b) Gerenciamento do significado - deve haver para alinhar as pessoas com

os líderes. O autor afirma que o objetivo do líder não é fazer uma mera

explanação ou clarificação, mas criar um sentido para aquilo.

c) Gerenciamento da confiança - o determinante maior da confiança é a

credibilidade, o que Bennis chama de lealdade. É mais fácil para as

pessoas seguirem líderes que são constantes, mesmo que não concordem

com eles, do que os líderes que mudam de opinião constantemente.

d) Gerenciamento de si próprio - o mais difícil. Os líderes devem conhecer a

si mesmos; eles têm a habilidade de aceitar riscos.

A integração das quatro competências, segundo Bennis (2009), faz com que

as pessoas lideradas pelo líder eficaz sintam-se significativas e importantes. Os

líderes valorizam aprendizagem e domínio das competências. Onde há liderança há

uma equipe, uma unidade; e onde há líderes, o trabalho é desafiador.

Trabalho desenvolvido pela empresa Clark Wilson Group de São Paulo para

treinamento e desenvolvimento de líderes apresenta instrumento para diagnosticar

competências de lideranças, o Inventário de Competência de Liderança (ICL).

O ICL é “um instrumento específico para diagnosticar as competências

críticas que configuram o processo de liderança”. Proporciona feedback de amplo

espectro para o líder, bem como permite a comparação da sua percepção sobre ele

próprio com a de seus funcionários, seu superior imediato e seus pares ou clientes.

Este é o chamado “Processo 360º” (TANGRAM, 2009, p. 1).

As competências mensuradas abrangem os três principais vetores da

liderança: a visão do líder, sua sensibilidade para perceber as necessidades de

mudança e sua habilidade de implementação dessas mudanças.

O “Ciclo de Competências de Liderança” da Clark Wilson Group tem como

objetivos: compreender e verificar o impacto do ciclo nos resultados da empresa e

no crescimento dos funcionários; obter o feedback das pessoas com as quais

trabalha; refletir sobre o processo e a responsabilidade de influenciar pessoas;

analisar e interpretar os resultados dos inventários, identificando seus pontos fortes

e suas vulnerabilidades; e elaborar um plano de autodesenvolvimento (TANGRAM,

2009).

76

O “Ciclo de Competências de Liderança” aborda seis fases: visão

empreendedora; liderança para mudanças; obtenção de comprometimento;

sensibilidade pessoal; implementação (drive); e reconhecimento ao desempenho,

como mostra a Figura 7.

Figura 7 - Ciclo de competências de liderança. Fonte: Tangram (2009, p. 1)

As etapas que avaliam o “Ciclo de Competências de Liderança”

compreendem as seguintes variáveis:

a) Visão empreendedora (I) - visão, imaginação, riscos e ousadia.

b) Liderança para mudanças (II) - sensibilidade organizacional e

encorajamento à participação.

c) Obtenção de comprometimento (III) - espírito de equipe e persuasão.

d) Sensibilidade pessoal (IV) - feedback.

e) Implementação (V) - padrões de desempenho, energia, perseverança e

pressão.

f) Reconhecimento do desempenho (VI) - compartilhando resultados.

Outro estudo sobre as competências de liderança foi desenvolvido por Cripe e

Mansfield (2003), os quais incluem três categorias de competências subdivididas em

variáveis, num total de 31 competências (FIG. 8), também separadas em categorias:

pessoas (lidar com outros, comunicar e influenciar); negócios (prevenir e resolver

problemas e atingir resultados); e autogestão (autoconfiança, gestão do estresse,

credibilidade pessoal e flexibilidade).

77

Figura 8 - Competências de liderança. Fonte: Adaptado de Cripe e Mansfield (2003).

Ainda abordando autores que pesquisaram para descobrir quais as

competências e comportamentos que tornam o líder eficaz, será mencionado um

estudo realizado por Kouzes e Posner (2003). Esses pesquisadores entrevistaram

os líderes em 1983 com o interesse de saber o que as pessoas faziam quando se

encontravam em sua “melhor fase” no tocante à liderança de outras pessoas. Eles

voltaram a fazer a mesma entrevista 20 anos depois, perguntando aos líderes o que

havia de novo e o que havia de diferente. As respostas foram unânimes. Todos

PESSOAS

Lidar com os Outros

Comunicar e Influenciar

Estabelecer o foco Dar suporte motivacional

Incentivar o trabalho em equipe Dar autonomia aos outros

Gerenciar a mudança Desenvolver os outros

Gerenciar o desempenho

Atenção à comunicação Comunicação oral

Comunicação escrita Comunicação persuasiva Consciência interpessoal

Habilidade de influenciar os outros Construir relacionamentos de

colaboração Orientação para o cliente

NEGÓCIOS

Prevenir e Resolver

Problemas

Atingir Resultados

Coleta de informações para diagnóstico

Pensamento analítico Antecipação

Pensamento conceitual Pensamento estratégico Conhecimento técnico

Iniciativa Empreendedorismo Estímulo à inovação

Orientação para resultados Eficácia

Determinação

AUTOGESTÃO

Autoconfiança Gestão do estresse

Credibilidade pessoal Flexibilidade

78

declararam que as competências básicas das lideranças continuavam as mesmas

que nas décadas passadas, o que havia mudado era o contexto.

Esse contexto que influencia as práticas das lideranças estava com mais

incerteza, as pessoas mais conectadas, mais valorização para o capital social (o

valor coletivo, as redes humanas), economia global e a diversidade das pessoas.

Considerando os estudos realizados sobre competências de liderança e

inevitáveis mudanças e desafios, torna-se importante que as empresas busquem

estar preparadas, focando-se em novas tecnologias, como no desenvolvimento das

pessoas quanto ao perfil de competências requerido para a liderança.

Segundo Guimarães (2009, p. 1), “liderança é a competência que mais

influencia nos resultados gerenciais dentro das empresas”, uma vez que ela está

diretamente vinculada “à habilidade gerencial na condução de questões que

envolvem o relacionamento humano e influências diversas na equipe de liderados”.

Pode-se dizer que quanto mais bem-sucedida “a performance da liderança,

mais se produzirão ambientes motivados, produtivos e com qualidade, pois é através

dos estímulos emanados do líder que, efetivamente, se chega a excelência”

(GUIMARÃES, 2009, p. 1).

79

3 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA ESTUDADA

Este capítulo descreve as principais características da empresa, objeto de

estudo desta pesquisa, e suas principais diretrizes. Dando continuidade, descreve-

se o setor de Engenharia.

As informações sobre o histórico da empresa estão baseadas nos dados dos

Relatórios Internos da organização dos anos de 2007 e 2008, complementados

pelas observações em visita e entrevistas realizadas.

3.1 Apresentação da empresa

Em 2007, participou de 15 obras em oito estados, nas áreas de construção

pesada e mineração, gerando 1.351 empregos diretos e 234 indiretos. Além disso,

intensificou o processo de internacionalização dos negócios, com a consolidação da

abertura do seu primeiro escritório no exterior.

A empresa possui cinco anos de mercado, mas originou-se de outra do

mesmo ramo, que atuava no mercado desde a década de 60, o que a define com

mais de 40 anos de experiência acumulada. Possui clientes estatais e privados. Seu

capital é nacional privado e abrange no Brasil as regiões Norte, Nordeste, Centro-

Oeste e Sudeste e no exterior atua na África.

Sua sede é em Minas Gerais e atualmente seu quadro funcional é composto

de 2.300 empregados, sendo que 68 são engenheiros com atuação média de três

anos de empresa.

A empresa tem como visão organizacional ser reconhecida pela excelência

nas suas realizações e pela sua contribuição decisiva na construção de

infraestrutura sólida e economia sustentável. Sua missão é realizar projetos eficazes

e eficientes que surpreendam positivamente o cliente, desenvolvidos por uma equipe

comprometida e valorizada, com acesso à tecnologia de ponta e o suporte de uma

sólida estrutura financeira.

Entre seus compromissos, pode-se citar:

a) surpreender positivamente o cliente a partir da realização de projetos

eficazes e eficientes;

80

b) gerar o lucro planejado, garantindo o retorno aos acionistas e o

reconhecimento pelos serviços realizados;

c) manter a equipe de colaboradores comprometida e valorizada, com

acesso à tecnologia de ponta;

d) preservar a saúde ocupacional de todas as pessoas que interagem com

seus processos, prevenindo incidentes físicos e controlando os riscos do

ambiente de trabalho;

e) minimizar os impactos ambientais significativos, por meio da prevenção da

poluição e da racionalização da geração de resíduos e do consumo de

insumos relativos às suas atividades;

f) atender à legislação vigente de segurança, Medicina do trabalho, meio

ambiente e outros requisitos aplicáveis e/ou subscritos pela empresa;

g) promover a melhoria contínua dos sistemas de gestão.

A responsabilidade corporativa aborda questões que envolvem qualidade,

segurança ocupacional, meio ambiente e Responsabilidade Social (RS).

Como garantia na qualidade dos serviços prestados, a empresa é certificada

nas normas ISO 9001:2000 e Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do

Habitat (PBQP-H)16 e se compromete, por meio da sua política de gestão, a

surpreender positivamente o cliente a partir de realizações eficazes e eficientes.

No que concerne à segurança ocupacional, o compromisso da empresa com

a “segurança e a saúde ocupacional” dos seus funcionários está formalizado na sua

“Política de Gestão Empresarial” e é certificado na norma internacional Occupational

Health and Safety Assessment Series - OHSAS17 (Série de Avaliação de Saúde e

Segurança Ocupacional) 18001:2007.

A certificação respalda as práticas e os comportamentos exercidos pela

empresa no que diz respeito à manutenção da integridade física e emocional dos

16

É um instrumento do Governo Federal para cumprimento dos compromissos firmados pelo Brasil quando da assinatura da Carta de Istambul (Conferência do Habitat II/1996). A sua meta é organizar o setor da construção civil em torno de duas questões principais: a melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva. Diversas entidades fazem parte do programa, representando segmentos da cadeia produtiva: construtores, projetistas, fornecedores, fabricantes de materiais e componentes, bem como a comunidade acadêmica e entidades de normalização, além do Governo Federal. 17

É uma especificação que fornece às organizações os elementos de um Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Ela foi desenvolvida para ser compatível com a ISO 9001 (Gestão da Qualidade) e com a ISO 14001 (Gestão Ambiental).

81

seus funcionários. Atualmente, a empresa segue os mais rígidos padrões adotados

pelos seus clientes nas obras que, em sua maioria, já possuem certificação na

OHSAS 18001.

Em relação ao meio ambiente, em 2007, a empresa iniciou a implantação do

seu Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e em 2008 conquistou a certificação na

norma ISO 14001:2004, que rege a gestão de meio ambiente.

Por meio do Programa de Recuperação de Área Desmatada (PRAD), a

empresa contribui para a preservação da biodiversidade do entorno das obras.

Antes do desmatamento, autorizado pelo órgão ambiental, é feito o levantamento da

fauna e da flora local. As espécies nativas são recolhidas e encaminhadas a um

ambiente adequado à sua sobrevivência.

Outra iniciativa da empresa é o recolhimento e destinação dos pneus

utilizados na sua frota de equipamentos. Depois de usados, os pneus são

encaminhados a um fornecedor especializado, responsável por reprocessar o

material e vender para usinas, que o empregam na fabricação de asfalto.

Por fim, tem-se a RS, em que a empresa tem atuação junto às comunidades

com as quais se relaciona, estruturando programas corporativos de relacionamento

com esse público, por meio da criação de programas sociais próprios.

Desde 2006, a empresa apoia atletas portadores de deficiência mental, física

e visual para representá-la em campeonatos esportivos nas modalidades de bocha,

judô, patinação e tênis de mesa. O objetivo do programa é promover a prática de

esportes como reabilitação e integração social e contribuir para o crescimento e a

valorização desses atletas.

Outro programa consiste na contratação de alunos de oficinas de artesanato

promovidas pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) das

cidades de Lagoa Santa e Pedro Leopoldo, em Minas Gerais.

A empresa possui, ainda, uma campanha de Imposto Solidário, que tem como

objetivo estimular os colaboradores da empresa a destinar parte do valor devido do

Imposto de Renda para uma entidade beneficente, fortalecendo iniciativas de

inclusão social e incentivando o voluntariado junto aos seus colaboradores.

Após essa exposição sobre a empresa, apresentam-se no próximo capítulo a

análise e discussão dos resultados da pesquisa.

82

3 COMPETÊNCIAS DO ENGENHEIRO LÍDER: O REQUERIDO E O PRATICADO

Este capítulo refere-se à apresentação dos dados coletados junto aos

entrevistados e discussão de seus resultados em face do referencial teórico,

considerando-se o problema e os objetivos da pesquisa.

O objetivo deste capítulo empírico, que o difere dos capítulos anteriores, que

são de natureza teórica, é avaliar as respostas obtidas em entrevistas feitas com o

gerente administrativo e recursos humanos e com os engenheiros líderes, à luz do

referencial teórico.

3.1 Percepções do gerente administrativo e de recursos humanos

3.1.1 Caracterização do entrevistado

O entrevistado encontra-se na faixa etária de 41 a 50 anos e ocupa há dois

anos e seis meses o cargo de Gerente Administrativo e de Recursos Humanos

(GARH), tendo esse mesmo tempo de empresa.

Quanto à formação acadêmica, verificou-se que tem curso superior na área

de Direito e Economia e MBA em Finanças e Controladoria.

3.1.2 O macroprocesso estratégico da empresa

No processo de formulação e implementação do modelo de competências

(LAGO, 2006; STEFFEN, 1999; ZARIFIAN, 2001) para ocupar o cargo na empresa,

foi delineada sua percepção, uma vez que ele descreve as etapas desse processo

metodologicamente.

1) O processo de definição dos conceitos destas competências foi realizado no planejamento estratégico de 2006.

2) Quando entrei peguei estes conceitos macros definidos acima e estratifiquei-os, definindo quais as competências necessárias para cada cargo.

3) Quanto aos gerentes de contratos18

, as competências que se referem a eles foram estratificadas em cinco níveis cada uma (QUADRO 11), todas elas baseadas no instrumento utilizado pela consultoria contratada. O

18

Este cargo se refere aos engenheiros líderes que são responsáveis por uma obra e fazem toda a gestão desse contrato.

83

instrumento é um inventário que se chama “Webveca” e se apresenta em forma de questionário de escolha forçada. São 190 pares de frases, viabilizando o mapeamento de 20 competências básicas e essenciais para o comportamento gerencial.

4) Depois de estratificadas, a diretoria deu um “peso” [nota] para cada nível. Em seguida, definiu-se em cada competência o nível desejado para o gerente de contrato e outros gerentes também.

5) Quando se aplica o inventário “Webveca” em cada gerente de contrato, o mesmo dá o realizado, possibilitando fazer uma comparação com o desejado pela empresa, propondo atividades de melhorias para os “gaps” encontrados (FIG. 9).

6) Depois de identificados os gaps, ou seja, as competências com maiores demandas de desenvolvimento, foram elaborados, junto à consultoria externa especializada em gestão de pessoas, os módulos do treinamento de desenvolvimento de competências dos gerentes de contratos.

É importante enfatizar que esse processo ainda está em andamento (GARH).

COMPETÊNCIA CARACTERÍSTICA NÍVEL

PL

AN

EJA

ME

NT

O

Prontidão para responder, é um executor, não planeja porque não sabe, nunca teve esse aprendizado. Apenas executa o que lhe é delegado.

1

Elabora planos, definindo estratégia de trabalho para atender demandas e atingir resultados. Capacidade de análise e projeções futuras dos desdobramentos de ações. Visão realista das situações; desenvolve conceitos de aplicação no trabalho com equilíbrio entre a teoria e a prática.

2

Capacidade de projeção dos desdobramentos de ações para curto, médio e longo prazos. Visão realista das situações; equilíbrio entre conceitos e vivências. Percepção e análise consistentes. Define estratégia de trabalho com visão de adequação da mesma no presente e no futuro.

3

Prima por atuar com planejamento de ações. Atua em áreas que exigem análises e planejamento com foco no médio/longo prazos, prevendo desdobramentos de ações. Pode ter dificuldade de atender demandas não planejadas, principalmente sob pressão.

4

Visão de longo prazo e capacidade projetiva para participar da elaboração de planos estratégicos. Visão abstrata e pró-ativa de situações (antecipa o desdobramento das ações). Lida com baixa prontidão com situações que exigem ação não planejada e atendimento às demandas operacionais.

5

Quadro 11 - Modelo de estratificação de uma competência utilizada pela empresa. Fonte: Dados da pesquisa (2009).

84

Figura 9 - Modelo de uma competência contendo o resultado do Webveca. Fonte: Dados da pesquisa (2009). Instrumento utilizado pela consultoria externa para avaliação das competências.

Segundo o entrevistado, a empresa explicita em sua missão a realização de

projetos que “surpreendam” positivamente o cliente, desenvolvidos por uma equipe

de engenheiros líderes comprometida e valorizada, cujo compromisso é investir em

pessoas para atingir esse objetivo estratégico.

Ao fazer planejamento estratégico, analisam-se problemas internos e externos que ocorrem, para ser detectado onde estão os erros. As competências de lideranças estão no macroprocesso, assim, é feita avaliação de cada obra e, consequentemente, de cada gerente de contrato, para identificar as ações de melhorias (GARH).

3.1.3 Sobre as competências técnicas e gerenciais para ocupar o cargo de gerente de contrato

Quanto ao desenvolvimento das competências para ocupar o cargo, a

empresa começa com o treinamento de competências de liderança. Esta ação de

desenvolvimento entra no processo macro da empresa (RODRIGUES, 2004).

O detalhamento das competências consideradas essenciais para o

engenheiro ocupar o cargo de gerente de contrato foi composto levando-se em

consideração questões que abordavam administrar obra e gerenciar equipe. Isto

85

pode ser observado no relato de entrevista: “como este profissional atua diretamente

com a gestão das obras, de forma autônoma, ele tem que ter competências

desenvolvidas para dar conta de administrar a obra e gerenciar a equipe” (GARH).

Segundo Mertens (1999), para se identificar a competência, parte-se dos

resultados e dos objetivos desejados da empresa em seu conjunto, que derivam em

tarefas e estas em competências requeridas.

Depreende-se do comentário que há nítida preocupação da empresa com as

estratégias para desenvolver os engenheiros líderes: “a empresa elaborou o projeto

gestão por competência, que faz um desdobramento das estratégicas empresariais

que vai até as competências individuais do gerente de contrato” (GARH).

3.1.4 Identificando o conhecimento, a habilidade e a atitude no trabalho

Conforme descreve o entrevistado, foram identificadas 10 competências dos

engenheiros líderes requeridas pela empresa: comunicação, controle emocional,

comprometimento, dinamismo, espírito empreendedor, flexibilidade, trabalho em

equipe, habilidade negocial, liderança e planejamento (QUADRO 12).

Ressalta-se, entretanto, que para a empresa são inerentes à função de

gerente de contrato as competências gerenciais definidas para o cargo: “a questão

técnica fica como um pano de fundo, pois ele tem que delegar e desenvolver

pessoas para fazer a parte técnica muito bem” (GARH).

86

VARIÁVEL DESCRIÇÃO

COMUNICAÇÃO EFICAZ

Expressão de ideias com lógica e objetividade, por escrito e oralmente. Preocupação em verificar o entendimento das mensagens transmitidas e recebidas.

CAPACIDADE DE TRABALHAR SOB

PRESSÃO

Controle emocional. Habilidade em desenvolver tarefas, qualitativa e quantitativamente em curtos prazos de tempos.

COMPROMETIMENTO

Capacidade de gerar predisposição para ação e para o esforço em prol da empresa, compartilhando valores entre a empresa e os funcionários, para que estes passem a buscar os objetivos organizacionais.

DINAMISMO Capacidade de desenvolver as atividades com eficiência, rapidez e energia.

ESPÍRITO EMPREENDEDOR

Ser ativo, aceitar desafios, criar “alvos ambiciosos” e mecanismos para que novas ideias sejam identificadas e implantadas. Mostrar-se atento ao cenário interno e externo. Facilitar e estimular mudanças desejadas. Perceber onde estão os aliados. Saber pedir ajuda certa e sinergizar todo potencial humano e os recursos disponíveis para criar o que se imaginou.

TRABALHO EM

EQUIPE

Comportamento e atitudes no trabalho em equipe, mantendo um

ambiente sinérgico e harmonioso entre seus membros (mensuração:

cooperação, assiduidade, pontualidade, pesquisa de clima).

FLEXIBILIDADE

Adaptar-se e trabalhar eficazmente em uma variedade de situações e com vários indivíduos ou grupos. Engloba entendimento e apreciação de perspectivas diferentes e opostas sobre um assunto. Adaptar a abordagem em função das características do contexto ou situação na própria empresa, aceitando com facilidade mudanças de responsabilidades e objetivos.

HABILIDADE NEGOCIAL

Buscar aceitação de ideias, propósitos ou interesses, objetivando consenso em torno do melhor resultado possível.

LIDERANÇA

Poder de influência positiva sobre pessoas ou grupos com base na competência pessoal e profissional, conquistando credibilidade e confiança e obtendo aceitação, consenso e ação na consecução de objetivos.

PLANEJAMENTO

Capacidade de determinar, em função dos objetivos estabelecidos, planos e programas, definindo as seguintes etapas: o que fazer (projetos, atividades, tarefas), como fazer (métodos, técnicas e processos de trabalho), recursos necessários, prazos, pessoas, critérios de acompanhamento, controle e ações contingenciais.

Quadro 12 – Competências requeridas dos engenheiros líderes. Fonte: Dados da pesquisa (2009).

3.1.5 Aspectos que facilitam e dificultam o desenvolvimento das competências

Verificou-se junto ao entrevistado que a gestão por competências é simples e

fácil de gerir e identificar os potenciais e deficiências de cada engenheiro líder. Mas,

apesar de simples, encontrou-se uma linha diversificada de fatores que dificultam o

87

desenvolvimento desse processo, envolvendo avaliação de desempenho e

cancelamento do treinamento de desenvolvimento das competências dos

engenheiros líderes, como ilustram os relatos do entrevistado:

A empresa tem um instrumento de avaliação de desempenho para fazer a análise dos gerentes de contratos, dar feedback aos mesmos e propor ações de melhorias, mas ele ainda não é utilizado como deveria ser.

No momento, a empresa está parada em relação aos treinamentos de desenvolvimento dos líderes, pois ela está com outras prioridades, mas pretende retomar em 2010 (GARH).

Destaca-se, porém, que o gerente de contrato, ao se avaliar, promove

melhorias contínuas, influenciando o superior imediato (diretoria) a “comprar”

melhor esse processo de gestão de competência.

Bruno (2009) elucida que desenvolver continuamente é saber e querer-fazer

a identificação e promover o desenvolvimento de novas competências requeridas

do liderado para a melhoria contínua dos resultados

3.2 Resultados da entrevista com os engenheiros líderes

3.2.1 Caracterização dos respondentes

Dos entrevistados, três encontram-se na faixa etária entre 31 e 40 anos

(ENG1, ENG4 e ENG5), um entre 41 e 50 anos (ENG3) e, a seguir, um que está

acima de 50 anos (ENG2), respectivamente. Uma consideração importante, levando-

se em conta o perfil dos entrevistados, é que todos são pessoas acima dos 30 anos

e com ocupação profissional bem definida.

A maioria dos entrevistados exerce a função entre um e quatro anos,

registrando-se tal situação em quatro deles (ENG1, ENG2, ENG4 e ENG5). É

importante destacar que um entrevistado atua na função há mais de 13 anos

(ENG3). Estes dados mostram que eles atuam como engenheiros líderes há algum

tempo, desempenhando as suas funções ao longo das transformações ocorridas no

mercado. Verificou-se, ainda, que eles têm ampla experiência na área de atuação, o

que ficou patente nas entrevistas, pelas suas percepções sobre “competências de

88

liderança”, que vêm produzindo novas atuações na empresa e no mercado, a partir

das novas exigências.

A distribuição por cargo identificou que os entrevistados são engenheiros e

ocupam o cargo de gerente de contrato. Esses dados mostram que eles atuam em

obras há algum tempo, desempenhando as suas funções ao longo das

transformações ocorridas no mercado.

Considerando o tempo em que trabalham na empresa, foi identificado que

três (ENG2, ENG3 e ENG4) têm entre um e cinco anos e dois entre 11 e 15 anos

(ENG1 e ENG5).

Quanto à formação acadêmica, todos possuem formação no curso de

Engenharia Civil.

Dos engenheiros líderes abordados, um está cursando MBA em

Administração de Empresas (ENG1), dois possuem especialização em Gestão de

Projetos (ENG2 e ENG5) e Tecnologia de Materiais e Avaliação de Perícia (ENG4).

Isto mostra que a maioria considera importante a formação acadêmica para

conquistar o reconhecimento na empresa e no mercado, aliada à própria aquisição

de conhecimentos na prática.

Em relação aos cursos de atualização profissional (técnico e

comportamental), segundo os entrevistados, eles têm participado de cursos

técnicos, sendo citados: pavimentação, reciclagem de pavimento e tecnologia de

concreto (ENG1); Project Management Institute (PMI) - (ENG2); e pavimentação e

obras de artes especiais (ENG4). E também têm participado de cursos

comportamentais: desenvolvimento de competências de liderança (ENG1, ENG3,

ENG4 e ENG5); integração dos líderes e nivelamento de informações gerenciais

(ENG1, ENG2, ENG3, ENG4 e ENG5); Transformational Leadership Program

(ENG2).

No que diz respeito aos treinamentos comportamentais, constatou-se que

todos participaram, no último ano, de aproximadamente um a dois treinamentos,

ministrados pela empresa.

89

3.2.2 Competências de lideranças que os engenheiros líderes se atribuem

3.3.2.1 Identificando as competências técnicas e gerenciais

A avaliação dos fatores relativos às competências técnicas foi diversificada,

levando-se também em consideração questões que abordavam os seguintes

aspectos: formação escolar, conhecimento, gestão compartilhada, áreas humanas,

estratégia, prática do dia-a-dia de trabalho e planejamento.

Ao analisar as entrevistas, percebeu-se que a competência técnica que

influencia o desenvolvimento das competências individuais dos engenheiros líderes

está associada a atributos que envolvem a formação escolar, sendo esta a base

para o desenvolvimento das atividades:

Formação técnica escolar e de experiência nas atividades ao longo dos anos (ENG1). As competências técnicas você aprende na escola. Na escola o engenheiro aprende requisitos básicos; eles te dão uma estrutura, um caminho e, logicamente, quando você entra na vida profissional cada um vai para área a qual ele se sente bem, se sente melhor e a capacidade gerencial das pessoas vai aparecendo (ENG3).

Nesse sentido, Maximiano (2000) diz que a competência técnica é um

determinante fundamental e um fator importante para o líder.

Em outros depoimentos fica evidente, também, que a experiência profissional

facilita as atividades dos engenheiros como gerentes de contratos, conforme se

evidenciou nas respostas:

Dentro da formação de engenheiro, a experiência profissional, por passar por vários tipos de obra que a empresa executa vai dando embasamento técnico para você desempenhar suas funções da maneira especializada (ENG1). Na medida em que as oportunidades vão aparecendo as pessoas vão se destacando, uns destacam em executar obras, outros na parte financeira, logicamente voltado ao ramo de Engenharia [...] Se o líder se limita a trabalhar numa determinada função mais técnica, ele não vai ser um gerente de contrato. As competências para gerente de contrato se adquirem com a experiência profissional (ENG3).

90

Deve-se registrar que esse resultado é compatível com a teoria de Gomes

(2004), o qual defende que as competências são desenvolvidas em função da

qualidade das experiências de cada gerente.

Ficou claro, na análise de resultados das entrevistas realizadas, que ENG1

atribui muita importância à aquisição do conhecimento (FLEURY; FLEURY, 2002),

cuja rotatividade em diversas áreas tornou-se um instrumento de aprendizagem

(CARRION, 1998). Esse fato pode ser verificado no seu relato, ao afirmar:

Como gerente de contrato, tenho três anos na função, a experiência adquirida deu embasamento para ter condições de ser gerente de obra, pois além da parte técnica conheço a operação [...]. No meu caso, comecei como estagiário e passei por todas as áreas da empresa, não tinha um programa específico. Fui direcionado pela empresa de acordo com o que estava acontecendo e ela foi determinando as áreas que eu deveria passar. Fiquei como estagiário técnico na minha área, depois passei por áreas administrativo-financeira, contábil, auditoria, concorrência, comercial até ir para uma obra como engenheiro.

Nas respostas colhidas, foi possível detectar outro tipo de indicador que

expressa à competência técnica compartilhada para ocupar o cargo de uma

empresa em relação à gestão, como descreve o entrevistado ENG2:

Se você esta em uma empresa de Engenharia e chegou ao nível de gerência, obrigatoriamente tem que ter competências técnicas; se não tiver uma experiência técnica, você não consegue fazer uma gestão compartilhada com ninguém. Então, quanto à questão técnica, a empresa não pode pegar uma pessoa recém-formada, cheio de cursos e colocar esta pessoa para fazer uma gestão empresarial. Provavelmente, terá um resultado pouco satisfatório, pois não vai ter experiência agregada a esta gestão nem o compartilhamento técnico.

Para Gomes (2004), a competência técnica possibilita alcançar estágios mais

elevados na vida corporativa, na medida em que se ascende a posições mais altas

na empresa.

Aspectos relativos à competência técnica nas áreas humanas é um item que

faz parte da visão do entrevistado ENG2. Ele explica a sua visão desta maneira:

As competências nas áreas humanas para quem está no nível de gerente de contrato têm que ser agregadas à competência técnica [...]; se ele chegou a líder foi por estar “galgado” na competência técnica que ele tem; e

91

se ele não tiver um pouquinho de competência na área humana ele não vai ter liderança nunca.

Este resultado coincide com o pensamento de Motta (1999), quando salienta

que a liderança é o resultado de habilidades humanas aprendidas com a dimensão

básica da formação gerencial.

Verificou-se que o mapeamento das competências técnicas está sendo feito

pela empresa, acompanhado e avaliado no dia-a-dia de trabalho: “a empresa está

mapeando as competências dos gerentes, trabalhando aquilo que ela considera

importante na formação técnica de um engenheiro ligado à obra” (ENG1).

É fundamental citar que, em se tratando de competências do gerente de

contrato, nota-se que a visão do engenheiro líder tem que ser estratégica, mais

voltada para rentabilidade, imagem da empresa, cliente, competência

organizacional, confiança, estabilidade, forma de agir, mais do que para ações ou

processos pontuais. A empresa tem que investir um pouco mais na formação dos

líderes (TELLES, 1994), como mostram os depoimentos de ENG2:

Vejo na empresa que as lideranças ainda estão mais preocupadas com ações pontuais do que ações estratégicas. E cito como exemplo: a escavadeira que está produzindo pouco, não é ele [gerente] que tem que preocupar com isto, mas alguém que tenha esta competência para suprir o gerente. A visão dele tem que ser estratégica, ele tem que estar mais preocupado com rentabilidade que vai levar para dentro da empresa. Existe um meio do caminho entre os gerentes de contratos e a diretoria e este meio do caminho tem que ser muito bem trabalhado no nível estratégico. Para a empresa crescer, precisa melhorar o “alicerce” da gestão.

Observou-se, também, a importância da competência técnica adquirida na

prática do dia-a-dia do trabalho para os engenheiros líderes. Percebeu-se uma linha

diversificada nas respostas do entrevistado ENG4 quanto às etapas desse processo,

que compreendem: tempo na função e rotatividade em obras.

Experiências adquiridas com obras que já realizei me deram condições para executar o tipo de serviço, de obra que eu atuo. Uso muitas experiências técnicas adquiridas há 20 anos em obra de Engenharia e fundação, de 1985 a 2005. E cito como exemplo: 1) Comecei em obras de estradas como engenheiro de produção, logo depois, na mesma obra, eu assumi o cargo de gerente de contrato.

92

2) Durante um ano fiquei com esta obra e, no segundo ano, passei para fazer a obra do aeroporto; 3) No meio do ano seguinte iniciei outra obra de estrada em São Paulo; 4) Em seguida trabalhei com restauração de rodovia em obras emergenciais; 5) Depois passei certo tempo trabalhando na área de orçamento e iniciei obra de barragem em São Paulo.

O dia-a-dia de trabalho torna-se o prolongamento da competência que um

indivíduo mobiliza diante de uma situação profissional (ZARIFIAN, 2001).

As reflexões são pertinentes às competências técnicas, traduzindo muito bem

que é necessário estabelecer estratégias para o seu desenvolvimento, levando-se

em consideração não só experiência, mas também habilidade anterior: “[...] muito a

ver com a experiência, porque o engenheiro busca se aprimorar, por meio de novos

desafios”. E cita como exemplo: “tem obras que estão projetadas de uma maneira e

eu consigo alterar para outra maneira, devido à minha experiência e habilidade

anterior” (ENG4).

Os entrevistados enfatizam que o planejamento pode diminuir custos e reduzir

o tempo de implantação de um projeto. Além disso, pode auxiliar o engenheiro líder

no gerenciamento das etapas de um processo.

O projeto chega pronto e o engenheiro não participa da parte do desenvolvimento do projeto e, às vezes, ele identifica erros, ou melhor, pontos que não concorda, sugerindo, pela experiência, alterações. É feita uma nova negociação com o cliente ou alteração da planilha de custos (ENG4).

Deve estar focado em planejamento, principalmente nos custos. Estar atendo se o que foi programado está sendo cumprindo, tanto o financeiro quanto o físico da obra (ENG5).

Os resultados referentes às competências gerenciais baseadas em

conhecimento, dinamismo, conduta e empatia mostram que elas trazem benefícios,

uma vez que, no trabalho dos engenheiros líderes, elas existem. Um entrevistado

tinha suficiente conhecimento ou esclarecimento sobre o que são competências

gerenciais, como declarado por ENG1:

Uma competência gerencial fundamental para exercer o cargo de gerente é o conhecimento de toda a empresa.

93

Dinamismo é fundamental, por vários engenheiros estarem exercendo estas funções ao mesmo tempo, tem que manter o aspecto técnico e tem que conhecer o que está fazendo [...]. Para cada público tem que ter uma postura e uma conduta que entra na questão do gerenciar algo. Também fundamental é a questão da empatia, porque quando você consegue se colocar na posição do outro fica bem mais fácil, seja numa negociação ou numa interlocução que você esteja, fica mais fácil, consegue abrir canal mais fácil e o resultado vem mais rápido.

Aqui cabe resgatar o pensamento de Rocha Neto (2004), o qual opina que as

competências gerenciais são a capacidade de identificar problemas e oportunidades,

organizar e mobilizar os recursos disponíveis para resolvê-los.

A partir do conjunto de acontecimentos declarados pelo entrevistado ENG2, o

foco nos resultados estratégicos foi considerado e discutido no decorrer da

realização da entrevista. Notou-se a preocupação do engenheiro líder com o

desenvolvimento do projeto, prazo, custo, qualidade e parceria, que inevitavelmente

afetam o processo, como reforçam Le Bortef (2003), Mertens (1999) e Hipólito

(2001).

A primeira questão que o engenheiro tem que preocupar é a estratégia do empreendimento. Cada empreendimento você tem uma forma de abordar, pois quem faz a formatação do projeto não é quem vai executar, por isto tenho que entender o que o meu cliente precisa, o que eu vou construir para ele [...]. Outra preocupação é preservar o prazo, custo e a qualidade, procurar preservar isto de forma bastante objetiva, não perder o “rumo” disto e buscar dentro do foco do cliente a manutenção do equilíbrio econômico financeiro. Buscar o entendimento, parceria, de forma que o cliente entenda o que ele contratou e o que a empresa está oferecendo.

No relato do ENG2, identificou-se na liderança situacional - a capacidade de

diagnóstico do líder para identificar seus liderados e influenciar as pessoas -, a

importância dada à forma como o engenheiro líder desenvolve as pessoas para

alcançar o nível que seja estratégico para a empresa. São quatro quadrantes

básicos de comportamento do líder em função dos aspectos ligados à tarefa e ao

relacionamento: persuadir, determinar, participar e delegar.

1) Primeiro ele tem que “se entender” e “entender” em qual situação o liderado está dentro do quadrante da teoria situacional.

94

2) Tem que entender em qual quadrante ele está, se ele é controlador ou multiplicador ou agregador. 3) Saber para quem pode delegar, quais as responsabilidades de desenvolvimento dos liderados para crescer dentro dos quadrantes, até que ponto ele pode delegar ou não.

Pela Teoria Situacional, de Hersey e Blanchard (1986), entende-se que a

liderança eficaz é alcançada ao adaptar-se o estilo de liderança ao patamar de

maturidade dos seguidores.

Também foi lembrada, nas competências gerenciais, a importância da gestão

compartilhada, dirigindo pessoas (HARVEY, 2002), esforços e recursos para fins

comuns e integrados, evitando-se ações isoladas, paralelismo e sobreposições. Os

dados obtidos permitem inferir que ela tem que ser feita tanto para dentro quanto

para fora da empresa.

Tenho que compartilhar decisões e ações tanto internamente quanto externamente, abordando a estratégia com o cliente, tentar montar com ele uma gestão compartilhada dentro da estratégia que ele está querendo, se achar que é viável. Se você achar que não é viável, tem que negociar com o cliente antes de iniciar o projeto (ENG2).

É oportuno registrar que a gestão de pessoas (DUTRA, 2004) bem

estabelecida e aceita na empresa amplia as competências gerenciais, como ilustram

as falas de entrevistas de ENG3:

Liderança é a capacidade de ter a gestão de várias pessoas e manter o grupo unido e voltado para a mesma meta.

O engenheiro gerencia várias pessoas para conseguir o resultado econômico-financeiro, pois quem faz o resultado são realmente as pessoas e não a obra como um todo. Existe a parte ativa, as pessoas, e sem ela a obra não sai, o resultado não vem.

Uma das características evidenciadas pelo entrevistado ENG3 é que os

engenheiros líderes têm que se preocupar em abrir oportunidades, para poderem,

com isso, assumir a gestão de obra. Aspectos mais positivos da avaliação dizem

respeito à habilidade, visão e gestão de pessoas.

Muitas pessoas não conseguem atingir a habilidade de gestão. Na escola você aprende a ser um técnico e na “vida” profissional você aprende a ser gerente.

95

Nem todos os engenheiros conseguem ser gerentes, pois alguns não têm a capacidade de ampliar a visão, ficam somente no técnico. Às vezes, os engenheiros não gostam de gerir pessoas, não querem abrir novos horizontes.

Os entrevistados acentuaram também nas competências gerenciais para

ocupar o cargo a importância do comprometimento, direcionamento, relacionamento,

comunicação, trabalhar sob pressão e tomadas de decisões.

Comprometimento, uma vez que a empresa exige que o engenheiro seja comprometido com ela e com o contrato, ou seja, a obra (ENG4).

Direcionar e lidar com pessoas, tanto cliente interno como externo; lidar com pares, acionistas, comunidade [...] - (ENG1).

Bom relacionamento é importante, para com o cliente e fornecedores (ENG4).

Comunicação entre as pessoas tanto com o escritório que fica em cidade diferente da obra, como com clientes, fornecedores e principalmente com a equipe (ENG5).

O engenheiro, ao trabalhar sob pressão, tem que tomar decisões muito rápidas e assumir as decisões (ENG4).

A partir desses comentários, infere-se que a empresa influencia no

desenvolvimento das competências gerenciais, dando ao gerente de contrato a

liberdade de arriscar, tomar decisões e se responsabilizar pelo erro. Isto se

comprova nas seguintes respostas de ENG4:

Liberdade para arriscar sem medo de errar, aqui é muito bom, pois a empresa dá autonomia para tomar decisões.

Se responsabilizar pelo erro, quando ocorrer. Dependendo do erro, se for um erro muito grave, alguma advertência vai ter.

Pode-se afirmar que as competências técnicas e gerenciais para ocupar o

cargo estão alicerçadas nas necessidades das empresas e nas expectativas dos

engenheiros líderes.

3.2.2.2 Desenvolvimento das competências individuais do líder

Os relatos transcritos permitiram evidenciar que se pode considerar as

competências individuais do líder como uma forma de fazer, um “saber-fazer” ou um

“saber-ser”, enfim, um conhecimento fundamentado na utilização de habilidades

96

individuais na prática. O conjunto de engenheiros líderes participantes da pesquisa

apresentou variações na interpretação do que seriam, de fato, “as competências

necessárias à função de líder”, por estas envolverem componentes de subjetividade.

Segundo Kuenzer (2008), nas novas formas de organização e gestão do

trabalho influenciadas pelo toyotismo, em maior ou menor escala, o conceito de

competência se relaciona mais com o saber-fazer.

Os entrevistados, ao serem estimulados a se posicionar sobre o

desenvolvimento das competências individuais, destacaram a prática no dia-a-dia

de trabalho como fator importante da competência. Segundo eles:

[...] acredito muito na prática que é onde o líder estará observando consequências das decisões que ele toma. A prática traz para o líder a consolidação das competências (ENG1).

No dia-a-dia aparece sempre algo novo, pois as pessoas são diferentes. O gerente lida com fatores novos, muitas vezes convive com pessoas até de nacionalidades, costumes e problemas diferentes. Assim, enquanto líder, ele tem que tentar resolvê-los, pois do contrário pode gerar problemas para o resultado como um todo (ENG3).

As competências são adquiridas no dia-a-dia na obra por meio da observação e aprendizagem (ENG5).

Os dados sinalizam que as deficiências em situações de conflito e de

estresse, a tomada de decisões ou atitude são fatores preponderantes da

competência individual do líder. Como as decisões não são iguais, sempre tem uma

situação direcionada para algum tipo de consequência e isto traz possibilidade de ter

que decidir e saber as consequências. O entrevistado ENG1 cita como exemplo:

Numa negociação, numa interface com comunidade, numa situação extrema de acidente que tem uma pessoa envolvida, o líder está sempre testando suas competências. Numa negociação, o líder pode ser mais ousado ou não, isto permite que ele avalie suas atitudes, seus comportamentos. Obviamente, tem que estar aberto e atento a isto. Líderes que acham que estão 100% preparados perdem a situação de autoanálise. Líderes com muita autoconfiança perdem esta visão mais crítica.

Ao ser indagado quanto à análise do perfil para o cargo de engenheiro líder, o

entrevistado ENG2 mostrou saber com precisão qual é esse perfil. De forma

semelhante, definiu a importância de delinear esse perfil, mencionando como

exemplos o controlador, o negociador e o conservador:

97

A primeira coisa que o líder tem que fazer, no caso específico de obra, é mostrar para cada funcionário qual o perfil dele, por exemplo, o meu perfil predominante é o controlador, tem outro que é negociador, então a gente nunca vai ter uma pessoa englobando tudo isto, tem o predominante. [...] os líderes devem conhecer qual é o estilo da empresa, se é mais agressivo, mais conservador, se seu perfil está alinhado com o que a empresa quer. Em seguida, fazer uma autoanálise e depois identificar o que tem que desenvolver.

Nesse sentido, Sacadura (1999) menciona que o engenheiro deve possuir

conhecimentos e competências que lhe possibilitem atuar em várias funções e

cargos com características distintas, assumindo vários posicionamentos

profissionais.

Durante as entrevistas, foi explicitada a importância do comprometimento

para o desenvolvimento das competências individuais: “[...] seria o comprometimento

com as diretrizes da empresa, com sistema de gestão, o líder não pode fugir dos

procedimentos, leis, que regem a empresa” (ENG4).

Contudo, ENG3 incorporou ideias estabelecidas, transferindo para a empresa

a responsabilidade do autodesenvolvimento (BITTERCOURT, 2001; MINARELLI,

1995). Cabe ao engenheiro o cuidado de se autoconhecer e ter consciência de suas

próprias dificuldades profissionais, as quais poderiam impedir ou dificultar seu

autodesenvolvimento, influenciando nos resultados da empresa.

Cabe à empresa suprir o líder de cursos e leituras, se preocupar com isto, a empresa tem que dar cursos contextualizados, para proporcionar crescimento de gestão, principalmente nesta área de estratégia, aos gerentes de contrato.

Os dados coletados permitem dizer que o papel do líder como agente de

mudança é importante e auxilia os engenheiros líderes a desenvolverem as

competências individuais ao utilizarem cada vez mais e melhor a experiência

adquirida na função de líder. Isto se confirma no parecer de ENG3:

O gerente de contrato tem ser um agente de mudança, pois ao assumir um contrato que já foi orçado, desenvolvido pela área financeira, econômica e comercial, ele tem que fazer aquele papel se transformar numa obra; a gestão disto requer providências rápidas e enérgicas.

O maior desenvolvimento que o líder tem é fazer as coisas acontecerem. Na liderança, eu desenvolvo as competências, mas para realmente fazer as coisas acontecerem, ele tem que fazer uma boa gestão; tem que liderar estas pessoas de forma que elas trabalhem em conjunto em busca da meta.

98

Segundo Motta (1999), a função gerencial que decorre da eficácia da

gerência é uma tentativa de propor alternativas de comportamento que transformem

dirigentes em líderes.

Ressalta-se, entretanto, que um entrevistado estabelece a questão do tempo

para alcançar determinado resultado ou produzir alguma coisa, com determinado

nível de qualidade. Isto significa que os engenheiros líderes precisam planejar o

tempo, saber o que se quer fazer e ordenar as ações para a realização da maior

quantidade de atividades no mínimo prazo para se atingirem os objetivos da

empresa.

Muitas vezes, se as pessoas não resolvem, o líder tem que resolver por elas, porque as coisas não podem esperar, o tempo passa e você não tem como recuperá-lo. Tempo é dinheiro, os contratos são cada vez mais limitados em termos de ganhos financeiros, então se o tempo passa, a empresa perde e o líder pode comprometer o resultado (ENG3).

Realça-se, ainda, que os entrevistados atribuem à aprendizagem o saber-

fazer necessário às competências individuais, mas mencionam a formação escolar

(KAWAMURA, 1981) somente como contribuição técnica. E, por outro lado,

justificam que as competências individuais para ocupar o cargo requerem dos

engenheiros líderes apropriação desse saber-fazer. Sublinham que a experiência é o

fator fundamental para saber-fazer e desenvolver esse conhecimento.

Sempre tem uma coisa nova, uma ou outra técnica que aparece num determinado contrato e o líder tem que aprender, estudar, trocar experiência com outros gerentes, outros engenheiros e vai aprendendo também (ENG3). [...] elas se desenvolvem no dia-a-dia, eu desconheço alguma escola que ensina a ser líder. Quando o engenheiro frequenta o curso superior, ele sai da escola muito “catedrático”, “refém” do livro e do professor e vai para o mercado de trabalho para aplicar o que aprendeu na escola, na prática; assim o engenheiro acaba adquirindo a sua competência e experiência da aplicação pratica daquilo que adquiriu na escola (ENG4). As competências são adquiridas no dia-a-dia na obra por meio da

observação e aprendizagem (ENG5).

Dois entrevistados, ENG3 e ENG4, consideram importante o

compartilhamento das responsabilidades com e entre a equipe. Pode-se observar,

99

também, que há troca de informações e envolvimento do líder com sua equipe,

conforme resposta dos entrevistados.

Saber-fazer as pessoas trabalharem com união é muito importante para o líder (ENG3). Sempre trocando ideias com equipe, com seu superior, supervisores e

consultores. A participação e simetria com sua equipe é importante, porque

o líder não faz nada sozinho (ENG4).

Apreendeu-se, também, a preocupação do entrevistado ENG5 com o

feedback (BRUNO, 2009; SCHWARZ, 1994), que é o “melhor meio” de fornecer

dados ao engenheiro líder sobre seu desempenho, no sentido de melhorar suas

competências individuais. É importante registrar que para que haja êxito na

comunicação do feedback as barreiras devem ser rompidas e deve ser estabelecida

relação de confiança e segurança entre líder, liderados e empresa.

Acredito que a pessoa nasce com elas (competências) e com experiência, com o tempo você vai vendo aonde precisa melhorar. Os feedbacks que o líder tem dos próprios funcionários, de quem está ao seu lado são importantes para identificar as competências que precisam se melhoradas.

Os relatos de entrevistas de ENG1 e ENG5 sobre o desenvolvimento das

competências individuais relativas à sua função de líder indicaram que esses

profissionais estão motivados para melhorarem as competências e mostram atitude

positiva, ganhadora, que tem por base um compromisso constante de melhoria

individual, tendo em vista atingir desempenhos correspondentes ao máximo do

potencial que cada um revela. Neste sentido, descrevem:

O líder tem que ter a capacidade de identificar competências que são necessárias para ele melhorar, pelos próprios desafios que vão aparecendo, situações que vão enfrentando e que vai “moldando-o”. Assim, ele vai identificando as fragilidades, procurando melhorar, desenvolver aquilo que ele acha que está menos apto para se desenvolver (ENG1). [...] coloquei que tenho comunicação, mas sei que é também a competência que mais preciso melhorar e estou tentando melhorar. Mas, a melhora leva, às vezes, tempo: “já me falaram que eu melhorei demais” (ENG5). Eu estou melhorando muito na gestão de pessoas, pois sou muito mediatista e inflexível, achando que as pessoas têm que pensar igual a mim: “cobro das pessoas e como seu eu tivesse me cobrando” (ENG5).

100

Expõe-se o pensamento de Bazzo (1998), de que o engenheiro, no

desempenho de suas funções, deve possuir conhecimentos diversificados.

Pode-se dizer que as competências individuais dos engenheiros líderes

aparecem como uma combinação de saberes construídos por eles a partir de sua

formação e os aprendizados ao longo da sua trajetória profissional, com pares e

empresa. Um aprendizado ativo, uma agregação de conhecimentos organizados e

conscientes, sempre buscando o aperfeiçoamento pessoal e profissional.

3.2.2.3 Desafios de ser um engenheiro líder assumindo novos papéis gerenciais

Foram encontradas diferenças substanciais quanto às percepções dos

entrevistados no que diz respeito aos desafios de ser um engenheiro líder

assumindo novos papéis gerenciais. Não se buscou o questionamento sobre quais

são os desafios entendidos como condicionantes das mudanças, mas,

principalmente, procurou-se por meio da descoberta de algumas atribuições a

formatação das principais habilidades e conhecimentos que devem ser exigidos dos

engenheiros líderes.

Segundo Harvey (2002), o desafio do gerente é buscar o equilíbrio entre o

gerenciamento de pessoas (planejar, organizar, controlar e dar soluções para os

problemas) e a liderança de pessoas (influenciar, desafiar, inspirar, capacitar e

encorajar).

Os resultados mostram que um dos principais desafios do engenheiro líder é

deixar de focar-se na parte técnica, mesmo ela fazendo parte do crescimento

profissional. Porém, é difícil, pelo fato de ser um paradigma que ele tem que

“quebrar”. Normalmente, os líderes gostam da parte de Engenharia e um fator de

motivação é a parte operacional.

O grande desafio que entendo é que o engenheiro líder é muito “cobrado”. É expectativa da empresa que ele “extrapole” a parte técnica, uma vez que ele ainda é muito ligado à parte técnica, ao “chão da fábrica”, ao ser engenheiro. Então, ele tem que se desprender da parte técnica e prática para ter mais condições de assumir o papel gerencial (ENG1).

101

Espera-se do líder que ele seja um provedor de recursos para que os

indivíduos possam colocar em prática suas habilidades, além de desenvolverem e

adquirirem outras, como reforçam Vendramini (2000) e Miranda (2003).

Preocupar-se com o saber-fazer é o mesmo que preocupar com o técnico. E,

para exercer a liderança, o engenheiro líder dá importância às questões atitudinais.

A pressão sobre os engenheiros líderes aumenta junto com a necessidade de

entender os papéis e as responsabilidades atreladas à sua função. Os líderes têm

diferentes áreas de responsabilidade e cada uma delas precisa funcionar de forma

conjunta para que a empresa se mantenha competitiva. Compatibilizar o

crescimento com a agilidade ajuda a enfrentar esses novos desafios.

Alguns engenheiros líderes querem crescer rápido, mas não têm agilidade para crescer, rapidez e qualidade; eles se preocupam em fazer rápido, mas esquecem da qualidade e da pressão. Ao trabalhar sob pressão, eles tem que ser calmos e pacientes, saber conversar com os funcionários, não adianta apavorar. Tem que ter condição para poder ser líder [saber-ser] e não ser como um “Hitler”: ganhar as coisas no grito” (ENG4).

O maior desafio gerencial, segundo o entrevistado ENG3, é conseguir

transpor todos esses desafios e alcançar um resultado que seja ideal para a

empresa.

Um dos desafios que o engenheiro líder tem é de resultados das obras que estão com limites cada vez menores e mais difíceis. O líder tem os programas de qualidade, comunicação muito mais rápida e eficaz, o que facilita alcançar os resultados, mas existem outros tipos de problemas que dificultam esta gestão, como as exigências e a “cobrança” da empresa; estes são os maiores desafios. O resultado e a qualidade do seu trabalho são muito mais cobrados, uma vez que o líder tem que conseguir o resultado de um projeto com qualidade, apoio da comunidade, com resultado financeiro. Hoje existem ferramentas que obrigam o líder a buscar qualidade não só na parte de projeto, mas de gestão de pessoas, RH, controle ambiental que antigamente não tinha; a parte financeira é mais complicada e o controle muito maior de contabilidade. O líder tem que ser um ”super homem” e manter todos voltados para o resultado

Observa-se, pelo próprio crescimento da empresa, que os desafios vão

ficando mais difíceis e a sobrecarga de trabalho ficando muito pesada para os

engenheiros líderes.

102

Mas também isto faz parte da estruturação da empresa, porque o engenheiro líder tem que ter condição para deixar a parte técnica, mas tem que ter quem faça isto por ele de uma maneira eficiente. Assim, a empresa precisa criar uma estrutura para que ele tenha mais condições de gerenciar e trabalhar menos tecnicamente. A empresa está se preparando para isto, mas atualmente a “cobrança” é maior que a mudança, mas já se notam melhorias; tem uma estruturação nova sendo implantada [...] – (ENG1).

Outro grande desafio do engenheiro líder é trabalhar com pessoas de

diversos níveis, multiculturais e criar relacionamentos na empresa que ajudem a

desenvolver os negócios. Nesse sentido, descreve ENG2:

O maior desafio que o líder tem é na área humana (comportamental). Em se tratando do nível de pessoas que o líder gerencia, o nível mais vulnerável é o da construção civil: operador de máquina, pedreiro, carpinteiro, pessoal sem qualificação. Dependendo do lugar que o líder for trabalhar, principalmente no caso da empresa, que tem obra em lugares muito distantes, ele tem que suprir este pessoal de recursos e condições de convivência humana e a empresa tem esta preocupação e os líderes também.

Conhecer a empresa tornou-se vital para o ENG5. Para superar os desafios

ele precisou assumir novos papéis de modo a sobrelevar o momento de transição.

Constatou-se que o engenheiro líder superou os desafios propostos com humildade

e gestão participativa, promovendo o crescimento duradouro na empresa.

Entrei na empresa como engenheiro e ao ser promovido para gerente de contrato eu não senti muito esta transição, porque em várias outras obras eu já assumia este papel de decisão. Mesmo sem ser gerente de contrato tinha que ficar justificando os resultados da obra, então para mim esta transição foi tranquila, não vejo como grande desafio.

Segundo Robbins (1999), a liderança já passou por vários papéis desde as

funções de controle, supervisão (Escola Clássica), buscando a cooperação entre os

grupos e valorização das habilidades interpessoais (Escola das Relações Humanas).

Na coleta de dados, detectou-se a necessidade de a empresa ter cuidado em

organizar e sistematizar seu Sistema de Gestão para evitar que os engenheiros

líderes tenham conflitos ao assumir novos papéis. Entretanto, quando o engenheiro

líder está muito envolvido na parte técnica, no operacional, ele tem dificuldade de ter

visão mais estratégica do negócio da empresa. Além de ter visão, é necessário criar

estratégias que envolvam as pessoas para o alcance de resultados.

103

O sistema de qualidade da empresa, o que deve ser executado é de responsabilidade do gerente, sua implementação e integração ao sistema de gestão da empresa. A função do engenheiro líder na empresa chama-se gerente de contrato, mas hoje o que ele menos faz é gerenciar o contrato efetivamente, passa a assumir novos papéis: ficará mais tempo com o cliente, conseguir ver o projeto de fora, avaliando com mais sensatez, pois a tendência é quando o líder está muito envolvido na parte técnica, no operacional é ter dificuldade em ter uma visão mais estratégica (ENG1).

Na análise dos desafios de ser um engenheiro líder assumindo novos papéis

gerenciais, obtém-se uma base para fins comparativos, constatando-se que a cada

dia novos desafios surgem e conquistas podem ser alcançadas de acordo com a sua

capacidade de gerenciar.

3.2.3 Sobre o conhecimento, habilidade e atitude para a gestão de competências

A fim de identificar a compreensão que os entrevistados possuem sobre o

conhecimento, foi solicitado aos mesmos que opinassem sobre aqueles

conhecimentos mais importantes para eles.

Para os entrevistados, o conhecimento está envolvido na dimensão gestão de

pessoas:

Pela formação profissional dentro da empresa e formação técnica, o líder precisa saber lidar e gerenciar pessoas (ENG1). Tenho que ser habilidoso para gerir pessoas, entendendo o problema de cada um e saber que todos são humanos. Entender, por exemplo, que tem 35 dias que o liderado está na obra longe da família e sente falta de tudo, ou seja, às vezes, o líder precisa ser também um “paizão”; mas tem hora que você tem que ser mais duro, mais ríspido (ENG2).

[...] o líder vai conhecendo diversos tipos de pessoas e fazendo gestão delas e com elas (ENG3).

Adquiri muito conhecimento em gerir pessoas por meio de palestras e cursos oferecidos pela empresa, principalmente no curso “Desenvolvimento de Competências de Líderes” (ENG4).

Nesta obra, tenho bom relacionamento com a equipe, consegui colocar as pessoas que já trabalharam comigo no lugar, uma vez que já entendem o meu jeito de trabalhar (ENG5).

Os entrevistados manifestaram-se de forma semelhante no que diz respeito

ao planejamento:

104

Apesar de não ser planejador, conheço a técnica, o controle, do como fazer (ENG1). Ao assumir o gerenciamento de um empreendimento, o líder tem que saber como vai começar e como vai acabar, se ele tiver um problema qualquer deve saber o que fazer, caso contrário, deve buscar orientação (ENG2).

O planejamento não se aprende na escola, é um conhecimento verdadeiramente prático e é na vida profissional que o líder aprende (ENG3).

Se o líder não planeja suas atividades ele acaba não executando-as de forma eficiente; se ele planeja, tem condição de avaliar se aquele resultado foi o melhor, foi aquilo que ele planejou (ENG4).

Torna-se importante para um bom planejamento saber fazê-lo e ter um banco de dados para fazer acompanhamento, tenho muita experiência. Nenhuma obra é igual à outra, mas quando tem algum desvio, alguma mudança, alguma sugestão diferente a gente tem que se adequar para mudar o planejado (ENG5).

Salienta-se também a importância do domínio do conhecimento financeiro

para gerenciar uma obra:

O líder não precisa ser um expert na área, mas deve entender o necessário sobre finanças: despesas e receitas, resultados financeiros, entre outros. A parte financeira do projeto é tão importante quanto à parte técnica, de qualidade, pois não adianta nada ter uma meta, atingir todos os padrões de qualidade se financeiramente o líder não consegue maximizar os lucros da empresa (ENG3).

O líder não consegue fazer uma obra se não conhecer de finanças, um pouco de contabilidade, fluxo de caixa, receita e despesas; de tudo isto tem que saber o necessário para conseguir administrar um bom resultado (ENG4).

Nesta parte, o líder vê os resultados. Conhecer a parte financeira da obra, para controlar os números, saber o preço de tudo, acompanhar os custos e provisionar o resultado no final do mês (ENG5).

Os engenheiros líderes devem conhecer também aspectos relacionados com

a parte administrativa da empresa, como reforçam Bruno e Laudares (2000). Isto fica

claro nas respostas:

Saber administrar é importante, pois, se não, o líder não consegue “tocar” a obra (ENG1).

O conhecimento da parte administrativa, como departamento de pessoal, almoxarifado, compras, parte canteiros, ambiental, segurança do trabalho ajuda o líder a administrar melhor (ENG3).

105

Para os entrevistados, o conhecimento está envolvido nas seguintes

dimensões: projetos, legislação e língua inglesa.

O líder tem que ter noção de projetos, porque por meio dele que ele consegue fazer todos os trabalhos de “campo”. Se tiver alguma dificuldade deve recorrer aos livros, alguém que tem habilidade para ajudá-lo (ENG4).

Conheço superficialmente de legislação, mas conheço bem as normas da empresa (ENG1).

Dentro de qualquer projeto tem que saber como agir dentro da lei, hoje mais do que nunca. Conhecer legislação ambiental e trabalhista (ENG3).

O profissional que ocupa cargo de gestão tem que ter fluência em inglês, principalmente numa empresa que tem obras no exterior (ENG2).

Os entrevistados sugerem como meios para atribuir as habilidades:

comunicação, dinamismo, empatia, capacidade de relacionamento, criatividade e

organização, encorajar e trabalhar sob pressão.

A informação, a seriedade e a conduta trazem facilidades para o líder se comunicar com seus pares e clientes, gerando retorno positivo (ENG1). Mantenho as coisas em movimentos, em sequência (ENG1). Fundamental no ponto que se líder é se colocar na posição do outro, ele começa a pensar na posição do outro, dependendo da situação isto abre caminho, melhora os relacionamentos (ENG1). Vem da liderança, empatia, quando você desenvolve estas capacidades primárias fica fácil de relacionar. Tanto para baixo como para cima.

A criatividade facilita alcançar resultados. Não ficar na “mesmice”, conseguir ultrapassar barreiras de forma mais econômica (ENG3).

São dois itens que andam lado a lado, são muito importantes para qualquer projeto. Ter uma meta com início e fim tanto na sua vida pessoal e profissional (ENG3).

Eu incentivo, encorajo o desenvolvimento de uma pessoa a estudar ou outra coisa qualquer (ENG4).

Saber trabalhar sob pressão. Se o líder não souber trabalhar, ele não dá “conta” de continuar na função (ENG5).

Os entrevistados concordam nos seguintes aspectos quanto às habilidades

que julgam possuir: objetividade, negociação, liderança, parceria, ousadia, iniciativa,

trabalho em equipe, flexibilidade e comprometimento. A importância dessas

habilidades pode ser verificada nos comentários dos entrevistados (QUADRO 13).

106

HABILIDADES

VARIÁVEIS ENTREVISTADOS

OBJETIVIDADE

Sou bem focado no necessário, fazendo economia de tempo; sou capaz de ser mais rápido e assertivo (ENG1). Sou mais estratégico; um líder tem que ser objetivo naquilo que ele quer e depois no que a empresa quer [...] (ENG2). Não prolongo demais nas explicações: escrevo e falo pouco, mas falo tudo (ENG4). Fico focado no que estou fazendo, sem muitos “rodeios”, uma vez que as tomadas de decisões são rápidas (ENG5).

NEGOCIAÇÃO

No dia-a-dia das obras, projetos, sempre negociando, seja interna ou externamente (ENG1). O líder tem que saber negociar com os liderados, com parceiros, clientes, fornecedores (ENG2). Todo líder deve saber negociar bem, pois uma negociação insatisfatória é prejuízo para o negocio (ENG3). O engenheiro líder negocia o tempo todo, numa obra com os funcionários, fornecedores, entre outros (ENG5).

LIDERANÇA

Liderança está muito ligada a carisma - eu sou carismático, característica muito forte e isto me é um fator de motivação para ser líder (ENG1). Tem que passar credibilidade, conhecimento naquilo que ta fazendo, entendimento de cada liderado. Não basta conhecer o lado técnico, o lado profissional do seu liderado, tem que conhecer o que ele necessita: um precisa de mais diálogo, o outro de maior reconhecimento; então, é conhecer um pouco mais de cada um (ENG2). Mais importante, porque sem ela você não consegue atingir as metas de resultado (ENG3). A equipe a qual trabalho, sempre que a transfiro de obra ela sempre quer voltar, acho que este é um ponto forte, pois se estou atendendo a expectativa do meu subordinado é sinal que na questão de liderança estou mantendo um nível que eu estou satisfeito e o subordinado também (ENG4).

PARCERIAS

Capacidade de estabelecer aliança, estabelecendo parcerias em todos os níveis (ENG1). Manter sempre uma gestão compartilhada entre os parceiros (ENG2). Saber conviver com outras empresas, fazendo do concorrente o seu parceiro, em situação de consórcio, por exemplo. Manter um relacionamento de transparência, confiança, parceria com a empresa, parceira no consórcio (ENG4).

OUSADIA

O líder tem que ser ousado, na busca de oportunidades e parcerias para a empresa (ENG2). Sou ousado, mas de forma consciente, correndo risco calculado (ENG4). Tenho ousadia para fazer, para inovar e correr riscos (ENG5).

INICIATIVA

Tenho iniciativa, o que favorece alavancar resultados e atingir metas. O líder tem que inclusive ter a iniciativa de deixar que a outra pessoa caminhe sozinha, tenha iniciativa também (ENG3). Tem que “saber-fazer” e ter iniciativa para levar a equipe para frente (ENG4). Faço, mas com cautela, sem sair “atropelando todos e tudo” (ENG5).

TRABALHO EM

EQUIPE

Capacidade de fazer parceria com os pares; ter a capacidade de interação e integração, facilitando o seu desenvolvimento como líder (ENG1). O líder deve saber criar equipes multidisciplinares, pessoas que vão se completar, com uma única direção que é o resultado (ENG2).

FLEXIBILIDADE Sou flexível para buscar alternativas frente a situações diversas (ENG2). Tenho flexibilidade para aceitar opinião e iniciativa dos outros (ENG3).

COMPROMETIMENTO

Com as metas e com os próprios pares, com a equipe e com a liderança superior (ENG3). Trato o negócio como se fosse meu. Assumo alguns riscos, como o dono do negócio, avaliando, é claro, as consequências (ENG5).

Quadro 13 – Habilidades que os engenheiros líderes se atribuem. Fonte: Dados da pesquisa (2009).

107

Os ENG1 e ENG5 enfatizam também a importância da flexibilidade,

organização, visão e comunicação para melhorar as habilidades, como descrito:

Ser flexível, pois facilita as outras habilidades que eu tenho. Às vezes, por excesso de determinação, finco a “pé” numa determinada posição e perco capacidade de ter uma visão do todo [...]. Por ser muito correto, ter senso justiça muito apurado, às vezes, fico inflexível e a estratégia melhor é recuar, deixar as coisas ir num certo sentido (ENG1). Preciso melhorar a organização das tarefas, de forma mais prática (ENG1). Não escuto, não tenho paciência para escutar as pessoas, não espero as pessoas concluírem a idéia para eu entrar no assunto com minhas idéias. (ENG5).

Seguindo os procedimentos metodológicos adotados na categoria

conhecimento e habilidades, objetiva-se também identificar as atitudes que os

engenheiros líderes se atribuem.

De acordo com Zarifian (2001), a competência envolve aspectos como

assumir responsabilidades e desenvolver uma atitude reflexiva em face do trabalho.

Os engenheiros líderes sugeriram outras atitudes que eles devem possuir,

quais sejam: agilidade, entusiasmo e atenção.

O líder não deixar que as coisas aconteçam sem que ele tenha agilidade para atuar, para fazer a mudança na hora correta (ENG3).

Vem junto com a determinação. Se o líder não tiver entusiasmo, como vai ser determinado para chegar ao final? (ENG1).

Muitas pessoas dependem do líder e se ele não for atencioso com elas, elas não vão vê-lo como líder (ENG3).

Pelo que se pode observar, o ENG4 listou alguns aspectos que estão mais

voltados para atitudes do que para habilidades: esforçado, valores, princípios, visão,

interação, bom senso e estratégia.

Querer desistir, mas não desistir. Às vezes, o líder está numa situação difícil e ele acha que não vai “dar conta”, então ele tem que insistir um pouco e ir em frente.

Tem que conhecer os valores e princípios, respeitando os seus, dos outros e da empresa também.

Principalmente das ideias para ter a visão do todo.

Às vezes o líder sabe que a norma “manda” ele fazer daquela forma, mas ele sabe que se fizer daquele jeito não vai dar certo, então com bom senso ele muda a estratégia ou faz de outra maneira sem afetar o resultado final.

108

Os entrevistados manifestaram-se de forma semelhante nas seguintes

atitudes que eles possuem: postura, respeito, bom humor, determinação, justiça,

saber ouvir, ética, cooperação e responsabilidade (QUADRO 14).

ATITUDES VARIÁVEIS ENTREVISTADOS

POSTURA

Mantenho uma postura de estar trabalhando de forma coerente (ENG1). Tenho que ter uma postura interna no papel institucional que eu estou. Se eu sou o representante da empresa, tenho que mostrar todas as qualidades da empresa. Passar a marca e imagem de uma empresa séria, confiável, transparente, com gestão compartilhada (ENG2). É desta forma que o líder consegue um melhor resultado das pessoas que trabalham com ele. A postura traz a confiança na equipe, ela é importante na ética, comprometimento e justiça (ENG3). O líder tem que ter a postura de saber a hora de falar não ou sim, adequar seu comportamento conforme a situação (ENG4).

RESPEITO

Respeitar a sua equipe, a cada um como pessoa, os clientes [...] (ENG2). Tem que respeitar tanto os que estão acima ou abaixo de você (ENG3). Com você mesma e com as pessoas (ENG4). O líder tem que respeitar as pessoas, seus limites e dos outros. Têm que ter respeito com as posições dos cargos, os superiores (ENG5).

BOM HUMOR

Se o líder chegar ao trabalho de bom humor ele “contamina” as pessoas (ENG2). O bom humor sempre é uma qualidade: “as pessoas vivem melhor” (ENG3). Brinco para descontrair. Numa situação difícil eu brinco para a situação ficar mais leve (ENG4). Vibro com a obra mesmo quando não está indo muito bem (ENG5).

DETERMINAÇÃO

Ser persistente, não desistir das coisas e o líder tem que ter muita determinação para desenvolver as atividades. Se ele não for muito determinado, não acreditar naquilo, passa a ter motivo para desistir (ENG1). Quando o líder pegar alguma coisa para fazer tem que chegar ao resultado final. Se parar no meio, ele não está sendo um bom líder (ENG2). O líder ter convicção daquilo que ele está falando, mesmo tendo 15 pessoas contra; ao invés de desistir ele consegue persuadir estas pessoas a aceitarem suas ideias (ENG4).

JUSTIÇA

Tenho capacidade de ser justo (ENG1). O senso de justiça deve ser forte; ser justo com as pessoas que ajudam o líder e as que não ajudam também ser justo ao falar para elas, que por não ter ajudado estão fora da equipe, dialogando (ENG5).

SABER OUVIR

O líder deve fazer esforço para ouvir o outro, se colocar somente o seu ponto de vista, não ouve. O líder não deve achar que é o “dono da palavra”, “senhor do saber”. É muito do ser humano ele achar que aprendeu daquela forma e só ele sabe fazer daquele jeito (ENG2). O líder deve saber ouvir e entender o que aquela pessoa que lhe falou pode te ajudar. Saber ouvir, dar tempo às pessoas para expor opinião e pensamento dela é muito difícil (ENG3).

ÉTICA

O líder tem que conhecer o código de ética e as normas da empresa. Tem que ser ético ao manter sigilo de informações; não fornecendo informações confidenciais de uma empresa para outra (ENG2). Dentro de uma empresa, o líder na gestão de um projeto, ele é a imagem da empresa que ele representa; se ele não tem ética o outro pode imaginar que a empresa também não tem ética (ENG3). Tem que ter princípios, ética tem que imperar em todas as suas atitudes, apesar de todos os problemas você tem que ter ética com as pessoas que estão ao seu lado, ser transparente, ser verdadeiro, mostrando sempre a verdade (ENG5).

COOPERAÇÃO

Para você ter uma equipe coesa a cooperação é importante tanto do líder quanto da equipe e entre eles também (ENG3). [...] trabalhar em equipe com todos cooperando. As ideias expostas, por exemplo, numa reunião de brainstorming devem ser avaliadas por todos que estão naquele debate, e não somente pelo líder (ENG4).

RESPONSABILIDADE

Em qualquer coisa que o líder faz na vida ou na empresa, se ele não tiver responsabilidade, ele não tem comprometimento (ENG3). Fazer as coisas com responsabilidade. O líder ao se abster de um erro é responsável pelos resultados, tem que assumir os erros, principalmente junto à equipe (ENG4).

Quadro 14 – Atitudes que os engenheiros líderes se atribuem. Fonte: Dados da pesquisa (2009).

109

Concordam também nos seguintes aspectos quanto às atitudes que devem

melhorar: calma, autonomia, saber ouvir e ter paciência.

Sou muito ansioso e fico irritado: fico, às vezes, com nervo à “flor da pele” (ENG1). A empresa “tolhe” um pouco, você não sabe até aonde pode ser e ter. Às vezes fico confuso até aonde posso ir (ENG1). Não sei ouvir as pessoas, principalmente pessoas que falam devagar, não são objetivas (ENG5). Não tenho paciência com outro, não tenho paciência com pessoas de ritmo lento. Preciso desenvolver a paciência com os liderados, tenho paciência com superiores e com clientes (ENG5).

Torna-se complexo lidar com questões que envolvem todo um conjunto de

atitudes que precisam para melhorar em cobranças, no sentido de buscar

resultados, conhecimento financeiro e contábil, eficiência, custo e orçamento. Isto se

ilustra nos relatos de ENG4:

Tenho que melhorar meu lado de ser mais “cobrador”, ser mais “ríspido” com a equipe. Eu ainda não consigo ser aquele gerente “cobrador” demais, às vezes, a equipe não faz e eu pego para fazer. Vou muito ainda pelo lado humano e acho que tenho que ser um pouco menos humano.

Tenho que evoluir na área de conhecimento financeiro e contábil, pois os engenheiros líderes estão sendo muitos “cobrados”. Já comecei a desenvolver, chamo o pessoal do financeiro na obra para poder explicar o contrato.

Tentar ser mais eficiente, sem gastar muito. Às vezes, eu posso não gastar tanto com aquela atividade e sei que vou extrapolar o orçado, mas não deixo de comprar, prefiro ter a qualidade, pagar mais caro do que correr risco.

Os ENG1 e ENG5 enfatizam também a importância da flexibilidade,

organização, visão e comunicação para melhorar as habilidades, como descrito:

Ser flexível, pois facilita as outras habilidades que eu tenho. Às vezes, por excesso de determinação, finco o “pé” numa determinada posição e perco capacidade de ter uma visão do todo [...]. Por ser muito correto, ter senso de justiça muito apurado, às vezes, fico inflexível e a estratégia melhor é recuar, deixar as coisas ir num certo sentido (ENG1). Preciso melhorar a organização das tarefas, de forma mais prática (ENG1). Não escuto, não tenho paciência para escutar as pessoas, não espero as pessoas concluírem a ideia para eu entrar no assunto com minhas ideias (ENG5).

110

Assim se justifica a observação das atitudes dos entrevistados, acentuando-

se que o estudo das competências de liderança permite direcionar o foco e

concentrar energias no desenvolvimento e melhoria de atividades que gerem

vantagem competitiva, agreguem valor e aumentem a qualidade dos serviços

prestados pela empresa. No entanto, as competências exigidas dos engenheiros

líderes são reconhecidas pela qualidade das suas ações e resultados.

3.2.4 Os engenheiros líderes e as competências requeridas pela empresa

A fim de identificar a compreensão que os entrevistados possuem sobre

competência, foi-lhes solicitado que opinassem sobre as competências que a

empresa deve requerer de seu engenheiro líder. A avaliação dos fatores de

competências que devem ser requeridas do engenheiro líder se mostrou positiva.

Deve-se levar em consideração que os aspectos relacionados ao

cumprimento do papel do engenheiro líder de promover a empresa por meio das

competências (FLEURY; FLEURY, 2002; ZARAFIAN, 2001) foram avaliados

também positivamente.

Os entrevistados evidenciaram, também, que a habilidade exigida do

engenheiro líder deve estar associada ao diferencial, à negociação.

Permite que o líder consiga o desempenho, o resultado. Negociar é aquela questão dele estar inteirado com seus interlocutores (clientes internos, externos, diretoria), isto é a “chave” para uma boa negociação, trazendo benefícios estratégicos para empresa (ENG1).

Pelo fato do líder trabalhar num mercado cada vez mais concorrido, a negociação é importante para alavancar metas econômico-financeiras (ENG3).

Cobra muito que líder tenha capacidade para negociar, convencer. Toda reunião esta competência é cobrada. A empresa quer que o líder assuma todo tipo de negociação (ENG4).

Precisa saber negociar para manter as parcerias, o bom nome da empresa (ENG5).

No que concerne à habilidade, os entrevistados destacam como fundamental

a liderança com foco em resultados, desempenho, visão estratégica e

gerenciamento:

111

Compatibilização de resultados, desempenho com a gestão de pessoas (ENG1). A empresa exige muita postura do líder, gerando resultado, atuação junto da equipe, uma visão mais estratégica (ENG2).

A empresa busca líderes para ocupar o cargo de gerente de contrato. Líder para ela é aquela pessoa que sabe gerenciar atendendo os superiores e funcionários (ENG4).

Segundo os entrevistados, na empresa, a liderança é uma competência

importante, porque até cursos os líderes receberam:

Dentro do processo macro que a empresa tem, ela vai precisar de líderes que são muitas vezes gerentes. Os líderes são gerentes, pois a pessoa que tem o aspecto de liderança ela já está fazendo uma gestão sobre as pessoas na forma de trabalhar. Se o líder só é gerente ele trabalha para a empresa, mas não traz as pessoas para o objetivo comum, você pode conseguir resultado, mas, às vezes, não consegue que as pessoas que te ajudaram no resultado fiquem na empresa. Um bom líder mantém o pessoal comprometido, entusiasmado, motivado, não só naquela meta, mas no processo macro da empresa (ENG3).

O líder que está dentro do processo, à empresa não deixa sair do processo de crescimento da empresa. A empresa não deixa o líder ficar fora, ela tem um projeto macro de crescimento até 2015 no qual ele vai fazer parte. Por meio de reuniões, palestras ela te mostra onde ela está indo e como quer chegar (ENG3).

Compatibilização de resultados, desempenho com a gestão de pessoas (ENG1).

A empresa cobra muita postura do líder, gerando resultado, atuação junto da equipe, uma visão mais estratégica (ENG2). É fato consumado, ela quer líderes no seu corpo de gerente de contrato. Líder para ela é aquela pessoa que sabe gerenciar agradando tanto a parte de cima como a parte de baixo, ou seja, agradar os superiores e subordinados (ENG4).

A avaliação dos fatores de competências ligados à relação entre o trabalho do

engenheiro líder e as competências exigidas pela empresa foi feita levando-se em

consideração questões que abordavam: ousadia, dinamismo, criatividade e

objetividade.

1) OUSADIA: Pela própria tradução da marca da empresa, ousar no sentido de trazer novas perspectivas e oportunidades (ENG1).

Seu líder tem que ter ousadia, pois o mercado está cada vez mais concorrido e a ousadia é muito ligada ao dinamismo (ENG3).

O líder tem que estar sempre querendo mais (ENG4).

A empresa quer que você entregue o projeto e que seja ousado (ENG5).

112

2) DINAMISMO: O líder tem que estar aberto para perspectivas, ser visionário, ver um pouco na frente. O dinamismo faz parte do crescimento e da evolução (ENG1). Se o líder ficar na “mesmice”, a empresa para. O líder tem que estar sempre em processo de mutação, de procura de resultados melhores e de oportunidades (ENG3).

Hoje, tudo que o líder necessita, busca, pede e também as “cobranças” que vêm requer dinamismo. O líder não pode deixar para depois, pois senão passa a oportunidade (ENG4).

3) CRIATIVIDADE: Ajuda na própria perpetuação da empresa, aberto para novidade, propor novas coisas, processo, relações comerciais, pois estas mudam, as posições mudam (ENG1).

Pelo mesmo fator da negociação, a empresa sempre expõe e requer a criatividade (ENG3).

4) OBJETIVIDADE:

Ser claro e objetivo ao se posicionar; “ou é ou não é”. Parar de se justificar e sim mostrar os resultados (ENG2).

A empresa requer que o líder seja objetivo, ao se comunicar, ao escrever, nas apresentações [...]. Se o líder escreve muito, o superior reclama e diz que ele não tem tempo para ler coisas com pouca objetividade (ENG4).

Aspectos relativos à habilidade em termos de comprometimento e trabalho

em equipe são itens que fazem parte das competências requeridas dos engenheiros

líderes.

Principalmente nesta fase de reestruturação da diretoria, quando os proprietários saem para um Conselho Diretor e delegam estas ações para baixo, exigindo mais comprometimento de cada um. A responsabilidade aumentou muito, o líder tem que assumir o seu próprio empreendimento (ENG2).

A empresa requer que o líder tenha comprometimento com a política e meta dela (ENG3).

As equipes partem desde a sede até o funcionário mais simplório de um projeto, então quem não consegue se aliar a esta equipe acaba se “alienando” do processo (ENG3).

No último encontro de gerentes de contrato com a diretoria eles colocaram muito que querem que os gerentes troquem ideias e que os superintendentes e diretores sejam parceiros e não “cobradores”; os cargos devem trabalhar em equipe e não em hierarquia, no mesmo nível (ENG4).

Aspectos mais negativos da avaliação, segundo ENG1 e ENG5, dizem

respeito às soluções de problemas.

113

A empresa não quer um líder que não solucione problemas ou que não entenda o foco dela. O líder não tem que trazer problemas e sim soluções (ENG1).

Qualquer problema que acontece na empresa eles não se preocupam em solucionar o problema e sim em achar o “culpado” pelo problema, então começa a pressão acima do normal. O gerente de contrato não pode trazer problema para os acionistas, se ele trouxer o problema este fica maior, porque eles querem saber quem foi que errou, qual área errou, aumentando mais o problema em vez de resolvê-lo. O gerente tem que solucionar problemas, porque não tem apoio da diretoria, ele fica sozinho tendo que achar a solução para o problema, não tem apoio (ENG5).

Estes resultados se assemelham ao pensamento de Schwarz (1994), quando

entende que o líder resolve os problemas que os membros da equipe apresentam.

De acordo com os dados obtidos, as habilidades, por sua vez, denotam as

principais capacidades que se deve possuir para aplicar o conhecimento apreendido

na condução de qualquer situação, ou seja, o know-how (técnica) de cada um. As

habilidades sugeridas pelos engenheiros líderes congregam organização,

compreensão, trabalhar sob pressão e parcerias.

Quem não for organizado dentro da empresa não vai sobressair e não vai sobreviver (ENG3).

A empresa não julga o profissional antes de compreender o que aconteceu, o verdadeiro fato, sem ouvir as partes. E quer isto dos líderes também (ENG4).

O líder, na empresa, trabalha sob pressão, pelo resultado o tempo todo. Cobram o tempo todo, acompanham, sabem dos imprevistos que podem ocorrer (ENG5). [...] Isto é algo que a empresa enfatiza muito, o líder tem que ter parceiros (ENG5).

Já a questão do conhecimento é bastante ampla e foi agrupada nas áreas

técnica e gerencial. No entanto, acentua-se que essa questão foi muito debatida, por

ser este item o que mais estava explicitado quando da realização da pesquisa. São

eles: conhecimento sobre gestão de pessoas, administração, financeiro,

conhecimento técnico, planejamento, gestão estratégica, normas e legislação. Pode-

se afirmar que as atividades mencionadas são de domínio e competência dos

engenheiros líderes, sendo avaliadas de forma positiva, como demonstrada no

Quadro 15.

114

CONHECIMENTO VARIÁVEIS ENTREVISTADOS

GESTÃO DE PESSOAS

Uma empresa que está em processo de crescimento é muito importante a gestão de pessoas para o líder adquirir um quadro estável, com pessoas que gostem de trabalhar na empresa (ENG3). O líder tem que saber gerir as pessoas (ENG4).

ADMINISTRAÇÃO

O líder tem que ter um foco administrativo, saber controlar, reger aquilo que está mexendo. Ele gerencia pessoas, maquinário e dinheiro e tem que saber administrar as diversas áreas e situações (ENG4). Administrar o contrato para gerar rentabilidade, ênfase no faturamento (ENG5).

FINANCEIRO

A empresa sempre “cobra” resultados e quem não tem conhecimento básico financeiro acaba tendo problema (ENG3). O líder tem que saber de finanças, fluxo de caixa, receitas e despesas (ENG4).

PROJETO

O líder tem que ter o conhecimento prático, mas tem que ter uma parte técnica ou conhecimento básico do seguimento que ele atua (ENG3). O engenheiro líder tem que interpretar projetos, saber ler projetos (ENG4).

CONHECIMENTO TÉCNICO

É muito exigido do líder. Não posso me “abster” deste conhecimento, apesar de não poder ser mais operacional, mas sou cobrado por isto (ENG1).

PLANEJAMENTO

A empresa quer que todos os líderes tenham este conhecimento, façam seu planejamento (ENG3). Temos que saber planejar (ENG4).

GESTÃO ESTRATÉGICA

A empresa quer que os líderes sejam gerentes mais estratégicos (ENG2).

NORMAS E LEGISLAÇÃO

Conhecimento da legislação trabalhista, ambiental, normas ISO 14000 e ISO 9000 o que está nas normas de qualidade (ENG5).

Quadro 15 – Conhecimentos que a empresa requer dos engenheiros. Fonte: Dados da pesquisa (2009).

Já as atitudes indicadas podem ser definidas como normais, entretanto, é

complexo quando se depara com questões que envolvem determinação e

responsabilidade, que acabam por influenciar na formação de caráter e

automaticamente desencadeiam ou não determinadas atitudes do engenheiro líder.

1)DETERMINAÇÃO: Líderes devem ser determinados, dispostos a enfrentar quaisquer obstáculos em busca de resultados; determinado em assumir o empreendimento (ENG2).

A empresa requer competências, mas também dá liberdade para procurar novos horizontes, você tem que ser determinado, ser dinâmico (ENG3).

Ter foco no que a empresa quer e no que você também deseja (ENG4).

Requer que o gerente de contrato seja determinado na hora de tomar decisões (ENG5).

2)RESPONSABILIDADE:

A empresa requer que ele tenha compromisso com a empresa e saiba manter este compromisso. Ele tem que ter responsabilidade, pois vai

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trabalhar junto ao cliente, comunidade, manter o nome da empresa perante o governo, entre outros (ENG3).

A empresa tem um termo de responsabilidade o qual o líder assume junto com os proprietários todo e quaisquer ônus de acidente, de prejuízo, qualquer coisa que venha acontecer na empresa o gerente é corresponsável. Se houve um acidente na obra quem vai responder não é o proprietário da empresa e sim, o gerente como corresponsável (ENG4).

Os líderes são responsáveis pelo negócio da empresa, inclusive ele tem que ter mais responsabilidade ainda. O gerente de contrato é responsável por tudo que acontece na obra: como pessoas, equipamentos, resultados, clientes (ENG5).

Nas atitudes requeridas pela empresa são fundamentais a postura e a

conduta para fortalecer a imagem e esta tem que ser consolidada, perpetuada. Na

maneira como a empresa trabalha a sua imagem, ela tem que ser mantida e seus

princípios defendidos pelos seus funcionários. Os entrevistados foram unânimes no

que se refere a essa atitude.

Postura e conduta sejam no sigilo, na confidencialidade, nas relações externas com cliente, com o governo. Esta atitude é a primordial para a empresa (ENG1).

Organograma mudou, mas nem por isto o líder tem que deixar de respeitar a hierarquia. Ele tem que ter postura perante o que ela exige (ENG4).

O líder tem que ter postura profissional, pois ele é a imagem da empresa. Se ele é o responsável, a imagem da empresa tem que ser dele. Quem olhar para mim tem que falar: “este engenheiro é a imagem da empresa” (ENG2).

O líder tem que valorar a marca da empresa no mercado e a postura do líder é muito importante. A sustentação do nome no mercado depende da postura dos seus profissionais (ENG3).

Ela requer que o engenheiro líder, ao gerenciar a obra, tenha postura diferente nas áreas, com o cliente, postura que condiz com a marca e a imagem da empresa. Os líderes representam a empresa junto aos clientes e comunidade (ENG5).

Os entrevistados concordam nos seguintes aspectos referentes às atitudes

requeridas pela empresa: atenção, esforço, cooperação, bom senso, equilíbrio e

autonomia, como ilustram as opiniões de ENG4:

A empresa viu que a maioria dos gerentes estava meio dispersa em certos itens, passando a requerer mais atenção, leitura de contratos antes deles serem efetivados, interpretação do que o líder vai fazer [...].

Não deixar a “preguiça tomar conta”, não se acomodar. Ela requer sempre um pouco mais, então líder tem que estar sempre pensando no que ele pode fazer a mais. Se a empresa pede 5% de resultado e o gerente de obra entrega 6%, ele foi esforçado.

Requer que todo líder coopere, tenha a visão do todo [...].

116

A empresa prefere, às vezes, que o líder aja com bom senso do que ficar “preso” às normas e regras. Ele tem que usar o bom senso para não ser um “burocrata”.

Tem que ser ousado, mas tem que ser equilibrado. Tem que ter equilíbrio para trabalhar sob pressão. Pressão em cima dos resultados financeiros, qualidade, formação de equipe, saber lidar com situações de riscos.

A empresa requer autonomia, ela acha que se o líder não tem capacidade de decidir não serve para ser gerente de contratos. Este ano que a empresa começou a exigir mais autonomia, até ano passado era muito centralizado, com as divisões de diretoria, aí a gente ficou com mais autonomia para tomar decisões.

Identificar tais competências dos engenheiros líderes permite à empresa

expandir-se, direcionar sua atenção e concentrar forças e esforços no que é

fundamental; permite manter o foco, que é o desenvolvimento de competências de

liderança, melhorando-o continuamente.

3.2.5 Como os engenheiros líderes agregam as competências?

Os engenheiros líderes aproveitam os treinamentos, cursos, seminários,

estabelecimento de parcerias e o autodesenvolvimento como instrumentos que vão

auxiliá-los no desenvolvimento das competências de liderança. Verificou-se,

também, que a preocupação está em agregar competências para alcançar metas,

melhorar a performance de gerenciamento de obra e não somente pelo fato de a

empresa requerer essas competências. Esses instrumentos são para absorver e

obedecer aos padrões e determinações do mercado, da empresa e do próprio

engenheiro líder.

Guimarães (2009) reforça esse resultado, asseverando que quanto mais bem-

sucedida é a performance da liderança, mais se produzirão ambientes motivados,

produtivos e com qualidade.

Indagados sobre como os engenheiros líderes agregam as competências

requeridas pela empresa, com o objetivo de possibilitar mais dinamismo à sua

prática profissional e ao gerenciamento de obras, os entrevistados ENG1 e ENG3

citam treinamentos, seminários e cursos fora e dentro da empresa.

Vem a parte de treinamento, conhecimento para você fazer o desenvolvimento das competências de liderança. Sozinho pode identificar, mas para se desenvolver o líder precisa de um auxílio externo (ENG1).

Valorizo seminários mais focados e contextualizados. O líder tem que

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buscar aprimoramento, mas não por meio de cursos fora e sim através de seminários promovidos pela empresa com troca de experiências entre profissionais (ENG3).

Os líderes precisam de cursos para adquirir algum conhecimento maior nesta área [competências]. A empresa ao colocar os colaboradores para dividir as técnicas, inovar a forma de trabalhar, formar os profissionais em gestão é mais importante que ir fazer um curso fora da realidade da empresa (ENG3).

O entrevistado ENG2 avaliou negativamente o aspecto agregar competências

requeridas pela empresa, mencionando como fator impeditivo a distância entre obra

e local de aperfeiçoamento das competências.

Acho muito difícil pensar no desenvolvimento dos líderes devido ao fator distância. As obras são longe do grande centro, então, o líder, muitas vezes, acaba resolvendo do jeito dele. Tem que haver uma mudança de postura da diretoria. A empresa tem que achar um jeito de trazer estes líderes que ficam mais distantes para se aperfeiçoarem juntos com os outros líderes da empresa.

O entrevistado ENG4 considerou imprescindível estabelecer as questões

sobre o estabelecimento de parceria para agregar as competências. O relato a

seguir mostra essa percepção do entrevistado: “por meio de experiência de outros

profissionais de outras empresas. Numa parceria com outras empresas, o líder tem

condição de aprender com ela e reavaliar seu processo”.

O entrevistado ENG5 salienta, ainda, a importância do autodesenvolvimento

(BITTERCOUT, 2001; MINARELLI, 1995), como mostrado na sua resposta à

entrevista: “a empresa busca no mercado pessoas que já tenham estas

competências e que vai se desenvolvendo no dia-a-dia, se alinhando com o que a

empresa quer” (ENG5).

Outra consideração a ser feita é que os entrevistados foram unânimes ao

declarar que, por meio da aquisição das competências de liderança, eles podem

identificar e ajudar a minimizar as deficiências encontradas na aprendizagem no dia-

a-dia de trabalho. Considerou-se, também, que o interesse pela aprendizagem do

processo é fundamental para que eles possam desempenhar suas funções, ser cada

vez mais conhecedores da sua atuação como líderes.

118

Assim pensando, Senge (2004, p. 368) acrescenta a esse discurso quando

menciona que, nas organizações que aprendem, os líderes são responsáveis pela

aprendizagem.

Procurou-se, também, apurar como o engenheiro vê o processo de

consolidação das competências de liderança requeridas pela empresa. Neste

sentido, a consolidação se dá a partir do momento em que eles agregam

competências para exercer a função de engenheiro; identificam quais as

competências que mais precisam desenvolver para melhorar o seu desempenho; e

elaboram um plano de autodesenvolvimento.

3.2.6 Desenvolvimento das competências requeridas dos engenheiros líderes

Evidenciou-se, nos resultados das entrevistas, que os engenheiros líderes

atribuem muita importância aos treinamentos; e os resultados que neles circulam

tornam-se um instrumento para desenvolver competências de liderança. Esse fato

pode ser verificado ao afirmarem:

Os líderes estão fazendo um treinamento de desenvolvimento de competências de liderança na empresa. Este tipo de treinamento traz para a empresa resultados mais eficientes (ENG3). A parte técnica, a empresa está implantando o workshop de gerentes e vai ser adotado pela empresa, para trocar ideias e experiência; agora é ponto fundamental a empresa assumir isto como prerrogativa (ENG4).

Segundo Schwarz (1994), o líder tem responsabilidade para identificar e obter

treinamento e consultoria necessitada pela equipe.

Destacou-se, nas respostas, preocupação dos engenheiros líderes com a

suspensão temporária dos treinamentos comportamentais e urgência em retomá-los.

Os relatos em relação a este quesito foram bastante enfáticos na explicitação de

mudanças envolvendo mais responsabilidades:

Existem poucos treinamentos por parte da empresa (ENG2).

Há três anos tem tido muito treinamento, este ano por questão financeira eles diminuíram um pouco, mas já estou sabendo que vai retornar os treinamentos mais comportamentais (ENG4). Estava acontecendo um treinamento de desenvolvimento de competências de liderança, mas parou porque a empresa não conseguiu deslocar as

119

pessoas para fazer o treinamento (ENG5).

Todavia, embora a empresa esteja investindo no regime de competência, foi

observado que a relação salarial não está atrelada às competências, pois o salário é

determinado pelo desempenho econômico da empresa e reconhecimento, após

efetivação do resultado do empreendimento, como mostram os relatos de ENG1:

Não tem um plano de cargos e salários vinculados com desenvolvimento de competências. Existe uma política de remuneração variável, mas ainda é individual, por cada empreendimento, bem pautada no desempenho econômico da empresa. O reconhecimento ocorre por meio do resultado do empreendimento, que tem uma previsão de sucesso; se confirmado será remunerado por este sucesso.

Os resultados referentes à remuneração baseada nos resultados mostram

que ela traz benefícios, uma vez que no trabalho dos engenheiros líderes ela existe.

Verificou-se que os entrevistados tinham suficiente conhecimento ou esclarecimento

sobre o que são as práticas de remuneração por resultados, como descrito por eles:

Existe uma política de remuneração variável, mas ainda é individual, por cada empreendimento, focada no desempenho econômico da empresa (ENG1). A remuneração é diferenciada para os gerentes de contrato (ENG2). Se uma obra deu prejuízo, isso não quer dizer que ele irá receber zero como premiação. Às vezes, ele pegou uma obra que já sabia que ia dar prejuízo e ele ficou zero a zero, é lucro para a empresa, então ele recebe a participação no resultado pela empresa. Se a obra for bem, ele ganha pelo resultado da empresa e pelo resultado da obra (ENG4). O ponto que eles acham que seja mais seguro para ter as pessoas na empresa é remunerando de forma diferenciada, por resultados (ENG5).

Tais resultados coincidem com a visão de Lago (2006), que acredita que um

sistema de remuneração deve atender aos diferentes níveis de competência, sendo

constituídos de acompanhamento e avaliação de resultados.

Não se constataram diferenças significativas nos aspectos relacionados à

participação nos resultados da empresa. Percebeu-se que todos os entrevistados

recebem essa premiação.

120

O reconhecimento vem através do resultado do empreendimento, que tem a previsão de sucesso e, se confirmado, você será remunerado/premiado por este sucesso (ENG1).

A gente tem participação pelo resultado geral da empresa e ainda pelo resultado da obra, ou seja, se ela teve rentabilidade o líder ganha com isto (ENG2). O gerente de contrato é diferenciado, a participação sobre o resultado do contrato e o resultado da empresa é quase o dobro do seu salário. O percentual relativo à empresa e o percentual relativo ao projeto em si (ENG3). A empresa melhorou as condições salariais do gerente de contrato, baseando-se na participação nos resultados. O líder tem participação pelo resultado geral da empresa, pelo resultado da sua obra e pela eficiência da equipe (ENG4). Tem a participação nos resultados, tanto um percentual pela empresa toda e um percentual pela obra (ENG5).

Pode-se afirmar que a participação nos resultados da empresa cumpre seu

papel de criar espaço para a motivação. Para tanto, atende às expectativas de

reconhecimento e prestígio, aumentando a autoestima da equipe de trabalho. Mas

nem sempre a participação nos resultados garante o reconhecimento dos

funcionários pela parcela de distribuição versus contribuição à empresa, gerando, às

vezes, conflitos e insatisfação.

A participação nos resultados é dividida pelas pessoas envolvidas, mas, quem define esta divisão da premiação é o gerente de contrato. São pessoas que foram fundamentais para o desempenho daquele empreendimento. A premiação é dada por empreendimento, esta informalidade traz conflitos e certa decepção, nem sempre quem recebeu o prêmio numa obra irá receber em outra obra (ENG1). Esta premiação é dividida pelos profissionais da obra envolvidos no resultado. O gerente enumera as pessoas que ele acha que deverão ser premiados, mas não quer dizer que todos que ele enumerou serão premiados (ENG4).

Ficou nítido que os procedimentos e práticas utilizados para desenvolver as

competências individuais dos engenheiros líderes não estão atrelados à avaliação

de desempenho formal e individual, conforme ENG1:

Não tem avaliação de desempenho formal, o desempenho está traduzido pelo resultado da obra. Não há avaliação para o desempenho individual, está caminhando para ter.

121

A partir de dados coletados, percebeu-se que o conjunto de instrumentos

utilizados pela empresa para desenvolver as competências individuais de seus

engenheiros líderes são substancialmente satisfatórios, envolvendo treinamentos,

remuneração e participação nos resultados da empresa.

Mas, registra-se, também, carência em relação à formalização dos

instrumentos de avaliação de performance dos gerentes de contratos.

3.2.7 Identificando as competências individuais dos engenheiros líderes

Os procedimentos e práticas utilizados para desenvolver as competências

individuais dos engenheiros líderes são levantados, acompanhados e avaliados por

meio de indicadores.

Está havendo mudança interna na gestão da empresa, mas isto está indo em

paralelo com a mudança das pessoas e do “corpo” estratégico.

É importante que se diga que, em se tratando de procedimentos e práticas,

nota-se que a empresa está mais voltada para o acompanhamento feito por meio

dos resultados. Apuraram-se formas diferentes entre os entrevistados para expor

suas ideias e opiniões.

O acompanhamento é pelo resultado da obra. Eu não conheço nenhum tipo de acompanhamento formalizado feito pela empresa dos seus gerentes de contrato (ENG2). O acompanhamento é feito mensal quando o líder apresenta os resultados da obra para o superintendente. A empresa acompanha os resultados e, se não há reclamações, problemas com equipes, reclamações de funcionários, problemas com programa de qualidade, se os dados estão atualizados, o gerente é bem avaliado (ENG3). Eles acompanham por meio do resultado, o gerente é avaliado pelo resultado da obra. Os diretores acompanham o resultado da obra; tudo gira em torno de números. O líder tem o faturamento diário e no final de semana manda o resultado semanal; na segunda-feira tem uma reunião para analisar os resultados da obra (ENG5).

Os motivos da contratação de uma consultoria externa para a utilização de

procedimentos e práticas no levantamento, acompanhamento e avaliação das

competências individuais dos engenheiros líderes estão atrelados à convergência de

esforços em alinhar as diretrizes e metas emanadas da empresa, conforme se

122

comprova na fala de ENG1:

Recorreu à consultoria externa especializada em gestão de pessoas, definiu público-alvo, verificando nele as competências de cada um; definiu as competências que a empresa gostaria que os líderes tivessem para atuar dentro no negócio dela. Com esta identificação ela desenvolveu todo um programa de desenvolvimento para a liderança. Todos os engenheiros líderes passam por uma entrevista, têm feedback do mapeamento das competências e fazem o treinamento. Mas, este processo ainda está em andamento, não foi finalizado. Além dos treinamentos, tem muitos eventos corporativos, de alinhamento da visão estratégica, para onde o líder está indo e como estão inseridos nisto.

Outra consideração feita foi sobre os indicadores da empresa, que

compreendem as categorias:

Na empresa acredito que o gerente é avaliado primeiramente por meio do resultado de seu projeto; em seguida, pelo retorno financeiro, satisfação da equipe, informações sobre o gerente e a obra (ENG3). Os indicadores são da empresa: rentabilidade e desvio de segurança (taxa de frequência de acidente, com afastamento sem afastamento), mas o indicador forte mesmo é o de rentabilidade (ENG5).

Nos relatos colhidos, foi possível detectar outro tipo de indicador que

expressa o planejamento estratégico da empresa em relação ao gerente de contrato

e à pesquisa de clima organizacional, conforme ENG4:

Pelo planejamento estratégico cita-se muito o gerente de contrato. Este tem metas a atingir. Ele tem que manter uma meta com o cliente que a média é 8,5 (qualidade, serviço, comprometimento, eficiência, segurança e medicina do trabalho, pontualidade). Esta é uma forma de medir se o líder tem as competências, se está conseguindo alcançar a meta e, principalmente, se esta meta está ligada ao cliente. Também tem em relação ao funcionário, sobre a aceitação. É feita uma pesquisa de clima e pela média da nota de pesquisa de clima eles sabem se o líder esta influenciando positivamente ou não sua equipe.

Quanto ao papel da empresa na condução no desenvolvimento das

competências individuais dos engenheiros líderes, os dados coletados mostraram

que o papel da empresa é contribuir para expandir, direcionar a atenção e

concentrar forças e esforços no que é fundamental para esses profissionais.

123

3.2.8 Atividades e competências dos engenheiros líderes

Nos fatores que facilitam a relação entre as atividades dos engenheiros

líderes e as competências requeridas pela empresa, conforme relatos de entrevistas

de ENG3 e ENG4, foram considerados os seguintes itens: apoio da diretoria,

autonomia e recursos.

A empresa fornece recursos de primeira qualidade, não há restrição (ENG2).

Apoio da diretoria, liberdade de autonomia, os recursos de ponta que são fornecidos (ENG3).

Autonomia que a empresa concede contribui para desenvolver as competências (ENG4).

Frisou-se, no discurso dos entrevistados, que as questões que facilitam as

atividades dos engenheiros líderes e as competências requeridas pela empresa são

complementares, levando-se em consideração os seguintes aspectos: programa

interno, habilidades e relacionamento com o cliente.

O programa interno de desenvolvimento das competências de líderes tem facilitado o desenvolvimento do líder (ENG1).

Habilidades que os profissionais trazem de outras empresas (ENG4).

O relacionamento com o cliente, pois estando bem com o cliente, você está bem com a empresa (ENG5).

No entanto, os fatores dificultadores salientados pelos entrevistados foram

mencionados levando-se em consideração questões que abordavam o

desenvolvimento dos líderes, distância, cultura e responsabilidade.

Impossibilidade de estar se desenvolvendo, a gente sai de um projeto e entra em outro. Muitas vezes você não consegue parar para estar desenvolvendo estas competências (ENG1). Muitas vezes você tem alguma deficiência e precisa de alguma ajuda interna, participar de algum treinamento e nem sempre a gente tem esta possibilidade, até pela distância (ENG1). Não tem ainda uma cultura de cursos, de encontros para troca de experiências (ENG2).

Qualquer seminário que o líder participa, ele escuta o tempo todo: “isto é responsabilidade do gerente, aquilo é responsabilidade do gerente e por aí vai [...] (ENG3).

124

Sobressaiu-se que o Sistema de Gestão de Qualidade, que é bem definido

e foi desenvolvido pela empresa, significa desperdício de tempo e aumento da

burocratização e isso vai se refletir em um dificultador nas atividades dos

engenheiros líderes, como se percebe a seguir:

O Sistema de Gestão da Qualidade dá muito estresse, toma muito tempo e o líder não tem tempo para ver a parte da obra, execução e resultado (ENG3).

O Sistema de Gestão da Qualidade ficou muito complexo e um dos objetivos do planejamento estratégico é tentar simplificar o sistema. Ele burocratizou o sistema, muito papel e pouco resultado, a empresa quer mais resultado e menos papel (ENG4).

Também foram levados em consideração, como dificultadores, aspectos

relacionados ao planejamento, uma vez que ele deve dispor de um conjunto de

elementos a fim de tornar esse processo menos subjetivo e mais pragmático: “temos

que fazer um planejamento em tempo determinado e muitas vezes não há

colaboração e informações suficientes de outras áreas” (ENG3).

Aspectos relacionados ao gerenciamento da obra e qualificação foram

considerados também dificultadores:

Gerenciar uma obra na empresa está muito complicado, pois é muita burocracia que vem do sistema de gestão voltado para qualidade, relatórios, normas; o líder tem que absorver e ser responsável por tudo (ENG3).

A qualificação do pessoal em torno do gerente de contrato, porque a diferença é enorme entre o gerente e os outros: “o pessoal de uma obra é pouco qualificado para dar apoio para o gerente”. Assim, ele fica muito sozinho, se ele sair da obra não tem ninguém para responder por ele na obra (ENG5).

Na análise comparativa dos relatos de entrevistas têm-se subsídios para

observar, descrever e explorar aspectos sobre as atividades e as competências dos

engenheiros líderes, o que vem ao encontro da expectativa desta pesquisa.

Apuraram-se percepções bastante diferentes sobre essas questões.

3.2.9 O perfil requerido dos engenheiros líderes

A partir do relato de ENG1, pode-se inferir que a mudança no perfil do

engenheiro líder é algo gradual, mas profundo. Ele adquiriu mais responsabilidades

e passou a influenciar os resultados da empresa. O perfil sugerido congrega

125

diferentes características, como competências técnicas e comportamentais (LEME,

2005).

Para os líderes não só as competências técnicas influenciam o desenvolvimento das suas funções e perfil, as competências comportamentais têm que ser desenvolvidas também, pois influenciam nos resultados da empresa.

Na percepção dos entrevistados, as mudanças no perfil do engenheiro líder

foram muitas e ele deve saber como se adequar e atualizar frente a esse novo

papel. O perfil a ser desenvolvido compreende currículo e formação escolar.

A grade curricular de Engenharia atual traz aspectos mais comportamentais. Mudou muito (ENG1). O engenheiro tem falha na formação, até pouco tempo atrás o engenheiro estudava estritamente a parte técnica (ENG2). Quando me formei era muito técnico. Hoje a informação do profissional que está saindo da escola é bem maior. Quem conseguir buscar oportunidades de crescimento está feito (ENG3).

No decorrer das entrevistas, constatou-se que o engenheiro líder necessita de

treinamentos e seminários, buscando sempre o aperfeiçoamento, a atualização, a

polivalência e a diversificação, que são exigências atuais do mercado.

A empresa tem que investir em treinamentos e seminários internos, dentro do contexto (ENG3). O treinamento ministrado pela empresa direciona demais para o que a empresa quer [...] (ENG5). A empresa precisa dar continuidade aos treinamentos internos, principalmente para difundir nos gerentes o mesmo pensamento que a empresa está querendo, principalmente mudança comportamental e de atitudes (ENG5). O treinamento interno de desenvolvimento das competências de líderes tem facilitado para os gerentes de contrato (ENG1).

Para os entrevistados, um perfil alinhado com a graduação, pós-graduação e

cursos especializados potencializa o comprometimento dos engenheiros líderes,

explicitando qual é o seu papel. O perfil descrito pelos entrevistados envolve:

aprimoramento, desenvolvimento, conhecimentos, habilidades, gestão de pessoas:

126

A graduação e os cursos de pós-graduação trazem subsídios para o aprimoramento do perfil (ENG1). Fazer uma pós-graduação agrega muito no desenvolvimento do gerente. E quando ele faz um curso fora do ambiente da empresa, amplia, pois, a pós-graduação junta conhecimento técnico com outras habilidades, como: comunicação interpessoal, gestão de pessoas, Matemática Financeira, análise de riscos [...] - (ENG5). Eu tenho este paradigma, eu não acho tão importante a condição de se fazer pós-graduação. Acho que os cursos precisam acontecer mais focados para aquilo que você gosta de fazer (ENG4). Os cursos especializados ministrados pela empresa proporcionam um desenvolvimento melhor do perfil do engenheiro líder (ENG1). É preciso ter cursos especializados pela empresa, de forma a preparar o líder para a gestão de pessoas, bem contextualizado (ENG2).

Observou-se, nos depoimentos de ENG2, ENG3 e ENG5, que a educação

continuada amplia limites, contribuindo na estruturação de princípios e diretrizes

orientadas para a qualificação da formação dos engenheiros líderes, mas é

considerada um fator de dificuldade devido a algumas exigências.

Não adianta o líder ir fazer um MBA que agrega muito pouco para o negócio; o que agrega mesmo é o curso de gestão de pessoas, uma educação continuada para ensinar: gestão de pessoas, liderança situacional, gestão compartilhada, visão 360 graus, entre outros (ENG2). A educação continuada é interessante, mas se for feita dentro da empresa, se for para fazer cursos de fora como MBA, mestrado, especialização quem ganha mais é a pessoa, aí sim é bom, mas para a empresa agrega muito pouco (ENG3). A frequência dos cursos é muito importante para dar continuidade, tanto o de MBA como o comportamental dentro da empresa (ENG5).

Nesse sentido, Papa Filho (1997) menciona que, por meio da educação

continuada, os engenheiros se preocupam em se manterem atualizados sobre

inovações e aperfeiçoamentos.

Os resultados mostram que um dos grandes desafios do engenheiro líder está

na tentativa de adequar o desenvolvimento das competências às necessidades do

mercado, às expectativas da empresa em relação aos engenheiros líderes e ao seu

perfil.

Pode-se dizer que os gerentes de contratos ocupam posição estratégica e de

destaque na empresa. Participam e opinam ativamente sobre os negócios, ações,

estratégias e investimentos da empresa, isso sem contar outros fatores importantes,

127

como o desenvolvimento de novas competências, aumento da credibilidade e apoio

nos processos de mudanças.

3.2.10 Transformações no mercado de trabalho

Na medida em que se tem visão direcionada para as mudanças que estão

ocorrendo no perfil dos engenheiros líderes e das transformações que vêm

acontecendo no mercado de trabalho, fica mais fácil perceber que se trata de um

processo em transformação e sem a definição de um modelo.

De acordo com Moraes (1999), as novas habilidades e competências (não

técnicas) têm sido exigidas tanto pela sociedade como pelo mercado de trabalho.

Pelo que se observou, os entrevistados sugeriram alguns aspectos que estão

mais voltados para a competência comportamental e técnica, estratégia, resultados

e gestão de pessoas. Isto pode ser comprovado nos seguintes relatos:

Estrategicamente, é a consolidação da competência comportamental com a parte técnica (ENG5). Não adianta ter conhecimento técnico sem ter competência para lidar com estratégicas, com foco no resultado. Não é só ser engenheiro “concreto”. Tem que saber o que está entrando na obra e o que vai sair. O produto não é mais só a obra, tem ser humano nesta obra. A empresa tem o engenheiro líder que é o gerente de obra, mas mesmo assim ele tem que se preparar, tem que estar apto a desenvolver as pessoas (ENG1).

O engenheiro líder tem que conseguir buscar oportunidades de crescimento e “agarrá-las” para atender o que mercado está exigindo, aquele que parar no tempo e ficar muito técnico vai perder a oportunidade e ser somente gerente (ENG3).

O engenheiro líder tem que se manter atualizado com consultores das áreas específicas, pois ele “sai muito cru” da escola. No curso de Engenharia, tem que ter gestão de pessoas, pois o que o profissional aprende é pensar e fazer conta rápida, os restantes não têm (ENG5).

Os entrevistados ENG2 e ENG5 também manifestaram sua opinião sobre as

transformações do mercado de trabalho que eles julgam necessárias para agregar

valor às competências dos engenheiros líderes, como o aperfeiçoamento, a

aprendizagem e a leitura.

Aquele engenheiro líder que não tiver globalizado, não buscar se aperfeiçoar por meio de leituras, aproveitando todas as oportunidades de aprendizagem dentro da empresa ou em cursos específicos de liderança, não tiver desenvolvido as competências de liderança não irá “sobreviver” neste mercado competitivo (ENG2).

128

O engenheiro líder tem que ler muito, mas de forma pontual, quando tem um problema maior na obra, ele tem que pesquisar ou chamar alguém de fora, um consultor para orientá-lo (ENG5).

Aqui cabe retomar o pensamento de Ropé e Tanguy (1997), para quem a

competência no mercado de trabalho vem substituindo a noção de qualificação e, na

área de educação, as noções de saberes e conhecimentos.

Os entrevistados ENG4 e ENG5 manifestaram percepções semelhantes

sobre a experiência de profissionais mais velhos e dos trainees, como ilustrado nos

relatos:

Tem que equilibrar a “vontade” do engenheiro líder novo com a experiência do engenheiro líder mais velho (ENG4). Na empresa tem um trabalho de trainee e os engenheiros novos se acham “os donos no mundo”; é preciso respeitar a experiência dos mais velhos [...] (ENG5).

Cabe destaque aos relatos dos entrevistados cujas percepções referem que a

experiência dos engenheiros mais velhos ainda tem valor percebido pelo mercado, o

que facilita a diversificação na empresa da aplicabilidade daquilo que esses

engenheiros fazem de melhor.

129

CONCLUSÃO

A pesquisa realizada permitiu identificar aspectos favoráveis sobre

competências de liderança nos engenheiros de uma empresa do setor de

construção pesada.

Considerou-se como objetivo principal deste trabalho compreender as

competências em liderança por meio do estudo das percepções e dos processos de

autoavaliação de um conjunto de engenheiros líderes de uma empresa do setor de

construção pesada e relacioná-las com as competências de liderança requeridas

pela referida empresa.

Na aplicação das entrevistas observou-se que os líderes na empresa avaliada

trabalham buscando soluções para contribuir com o seu sucesso. As entrevistas

foram aplicadas em cinco engenheiros líderes e no gerente administrativo e de

recursos humanos, profissionais que atuam como líderes.

O primeiro objetivo específico traçado na pesquisa preocupava-se em verificar

as competências de lideranças que a empresa requer de seus engenheiros líderes.

As informações apuradas evidenciaram que a empresa está se reestruturando em

relação à sua forma de atuação no que se refere às estratégias e ao direcionamento

dos seus líderes e que as competências requeridas não estão relacionadas apenas

às questões do gerenciamento de obras, mas também à liderança de pessoas.

Pode-se verificar que as competências existentes e necessárias que os engenheiros

líderes percebem como suas atendem, em grande parte, às demandas requeridas

pela empresa.

A avaliação das competências na empresa passa a ser uma das

preocupações principais, pois é uma ação importante que focaliza especialmente as

competências que geram retornos imediatos junto aos clientes, mercados e

produtividade, tornando-se fundamental enfatizar: negociação, ousadia, dinamismo,

planejamento e postura ao representar a imagem da empresa. Objetivamente,

constatou-se também que os gerentes de contrato possuem autonomia para

gerenciar as obras e são “cobrados” no que tange a resultados e fortalecimento da

imagem da empresa junto aos clientes e sociedade.

130

Para atender ao segundo objetivo específico desta pesquisa, foram

verificadas as competências de lideranças que os engenheiros líderes da empresa

se atribuem, onde foram considerados os itens conhecimento, habilidades e

atitudes.

A questão do conhecimento é bastante ampla e foi agrupada nas áreas

técnica, financeira, gestão de pessoas, planejamento e projetos. É importante

enfatizar que os engenheiros líderes se sentem preparados para o exercício da

liderança. Deixam claro que essa experiência é adquirida no dia-a-dia de trabalho,

frente a situações novas e a uma equipe diversificada. Consideram importantes os

treinamentos realizados na empresa e fica evidente o investimento que fazem na

continuidade dos estudos, sendo a sua maioria em treinamentos e cursos de

especialização, o que demonstra a conscientização desses profissionais em relação

à educação continuada e à necessidade de se atualizarem quanto às competências

de liderança e alcançarem resultados melhores na empresa.

As respostas dos engenheiros líderes permitiram perceber que o

conhecimento sobre planejamento e gestão de pessoas é importante para gerir o

contrato e para atender às expectativas da empresa.

Não obstante, aparecem pontos fortes e fracos na abordagem das

competências e estas devem ser sempre avaliadas e melhoradas no sentido de

manter o alinhamento com o cliente do contrato, destacando-se: objetividade,

iniciativa, determinação, negociação, atitude, boa postura, ética e bom humor. Há

tendências observáveis dos engenheiros líderes a se preocuparem com a marca e

imagem da empresa no mercado, por isto se consideram responsáveis na

divulgação desta.

Os entrevistados concordam nos seguintes aspectos quanto às habilidades

que devem possuir: objetividade, liderança, parcerias, iniciativa, comprometimento e

dinamismo. Eles citaram também habilidades de negociação, ousadia, flexibilidade,

criatividade e soluções de problemas.

Observa-se que, tanto na dimensão do conhecimento quanto nas habilidades,

os entrevistados, em suas declarações, vão reforçando as atitudes necessárias, o

que indica a presença constante de justiça, postura, determinação, respeito e

responsabilidade.

131

Os participantes da entrevista apresentaram atitudes positivas em relação à

empresa e à própria pesquisa. Os dados coletados permitiram verificar que a

empresa estimula os seus engenheiros líderes a adquirirem e aprimorarem cada vez

mais suas competências.

Ressalta-se, portanto, que há na empresa uma ação contínua de avaliação

das competências, realizada progressivamente com intensidade, uma vez que nem

todos os aspectos que compõem esse processo de autoavaliação são praticados por

todos os engenheiros líderes da empresa, embora sejam considerados importantes.

Todavia, é necessário salientar que a pressão existente sobre esses

profissionais é muito forte, uma vez que estão envolvidos em todos os processos

que se referem ao contrato e precisam dar soluções criativas e de pouco custo para

a empresa, tendo, às vezes, pouco apoio da Diretoria, principalmente quando as

soluções não são satisfatórias.

Em busca de uma resposta ao terceiro objetivo secundário, correlacionaram-

se as atividades dos engenheiros líderes e as competências individuais requeridas

pela empresa. Foi importante detalhar um paralelo entre os objetivos, visão da

empresa no mercado e a atuação dos gerentes de contrato.

Aspectos como a demanda da empresa por profissionais mais estratégicos se

mostraram muito importantes, considerando-se que os mesmos ainda atuam de

forma operacional, uma vez que alguns entrevistados ainda não conseguiram se

desvencilhar da área técnica; e outros por se perderem nos processos burocráticos

que a empresa ainda apresenta, principalmente em função da gestão da qualidade.

Destaca-se, ainda, que as competências que os engenheiros líderes se

atribuem e que consideram que são demandadas pela empresa estão voltadas para

o negócio e pouco se referem às pessoas da equipe, até mesmo a forma de avaliar

esses profissionais ainda está baseada no resultado do contrato, havendo

verificações pouco significativas quanto à atuação do profissional junto à equipe, ao

clima do ambiente de trabalho, às relações internas, etc.

Inferiu-se demanda de investimento no desenvolvimento desses profissionais,

que atuam de forma abrangente, mas, muitas vezes, de forma individualizada, com

uma equipe diversificada, assumindo o contrato como uma pequena empresa dentro

de outra.

132

Por fim, pode-se concluir que as competências de liderança dos engenheiros

líderes da empresa estudada estão em grande parte relacionadas com as requeridas

pela referida empresa, tanto as que dizem respeito às percebidas pelos

entrevistados como as apresentadas pelo gerente administrativo e de recursos

humanos, que são as competências definidas no planejamento estratégico da

empresa e que compõem a gestão por competência.

Tomados em seu conjunto, os resultados apresentados não podem ser

generalizados, sugerindo-se a ampliação da pesquisa.

Adicionalmente, o estudo se limitou nas suas particularidades, não podendo,

dessa forma, servir de modelo a toda e qualquer empresa, impossibilitando

generalizações, apenas comparações, uma vez que os sujeitos envolvidos e seu

ambiente são os principais elementos determinantes da configuração da pesquisa

realizada para uma empresa do setor de construção pesada.

Como possibilidade de pesquisas futuras, espera-se que esta possa servir de

estímulo sobre o tema, em investigações com características correlatas ou mesmo

que utilizem metodologias diferenciadas.

Diante dessas considerações, podem-se citar algumas recomendações para

futuras investigações sobre o tema investigado:

a) ampliar a aplicação do estudo realizado para outras empresas do setor de

construção pesada, principalmente aquelas que dispõem de um programa

de desenvolvimento de competências de lideranças, a fim de se

verificarem as realidades distintas e compará-las quanto à sua eficiência e

congruência.

b) Realizar um estudo apresentando mais características do desenvolvimento

de competências de liderança evidenciadas em outras empresas do setor

de construção pesada e sua importância no mercado de trabalho.

c) Alterar o foco de visão das competências de liderança, podendo ser

reportado, por meio dos funcionários, a cada gerente de contratos, porém

aprofundando por intermédio de liderados para verificar a veracidade da

visão do gerente.

133

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141

APÊNDICE A – ENTREVISTA PARA O GERENTE ADMINISTRATIVO E DE

RECURSOS HUMANOS

Na condição de mestranda em Administração pelo CEFET-MG, estou realizando uma pesquisa sobre as competências de liderança do engenheiro. Para tanto, gostaria de contar com a sua colaboração no sentido de responder à presente entrevista. Asseguro-lhe que seu anonimato será totalmente preservado.

1) O que leva a empresa a adotar estratégias que influenciam as competências individuais do

engenheiro líder?

2) Como as competências individuais dos engenheiros líderes se inserem no macroprocesso

estratégico da empresa?

3) Que competências são requeridas do engenheiro líder pela empresa, diante da competição com outras empresas? Quais os conceitos das mesmas?

4) Como foi o processo de formulação e implementação do modelo de competências na empresa?

5) Cite as facilidades e dificuldades do processo de avaliar competências de liderança do engenheiro na empresa.

142

APÊNDICE B – ENTREVISTA PARA OS ENGENHEIROS LÍDERES

Na condição de mestranda em Administração pelo CEFET-MG, estou realizando uma pesquisa sobre as competências de liderança do engenheiro. Para tanto, gostaria de contar com a sua colaboração no sentido de responder à presente entrevista. Asseguro-lhe que seu anonimato será totalmente preservado.

BLOCO I - COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇAS QUE OS ENGENHEIROS LÍDERES DA EMPRESA SE ATRIBUEM Que competências técnicas e gerenciais você possui que considera essenciais para você ocupar o cargo atual? Como se desenvolvem as competências individuais relativas à sua função de líder? Quais são os desafios de ser um engenheiro líder multifuncional assumindo novos papéis gerenciais? Quais os conhecimentos, habilidades e atitudes desejadas dos engenheiros líderes da empresa?

BLOCO II - ATIVIDADES DOS ENGENHEIROS LÍDERES VERSUS COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS REQUERIDAS PELA EMPRESA Quais os instrumentos utilizados pela empresa para desenvolver as competências individuais de seus engenheiros líderes? (Discutir seu vínculo com treinamento, remuneração, entre outros). Quais os procedimentos e práticas utilizados para desenvolver as competências individuais dos engenheiros líderes? (Levantamento, acompanhamento e avaliação de competências – indicadores). O que facilita e dificulta a relação entre as atividades dos engenheiros líderes e as competências requeridas pela empresa? Qual é o perfil desejado de competências individuais dos engenheiros líderes nos diversos níveis da empresa? Você considera que os engenheiros poderão adquirir um perfil condizente com as exigências, se possuírem conhecimentos, habilidades e valores adquiridos na educação continuada tanto quanto as habilidades técnicas que poderão ser adquiridas em cursos de Pós-Graduação (especialização, mestrado ou doutorado) e específicos (informática, idiomas, técnicas, entre outros)?

143

Como você avalia as competências de liderança dos engenheiros tendo em vista as mudanças que estão ocorrendo no perfil desses profissionais e as transformações que vêm acontecendo no mercado de trabalho com a prática profissional do engenheiro?

BLOCO III – IDENTIFICAÇÃO DOS ENTREVISTADOS Qual é a sua faixa etária? □ Até 30 anos □ De 31 a 40 anos □ De 41 a 50 anos □ Acima de 50 anos Tempo no cargo atual:

De 1 a 4 anos De 5 a 8 anos De 9 a 12 anos Acima de 13 anos Qual a sua principal ocupação? ___________________________________________ Área de atuação na empresa: _____________________________________ Tempo de empresa:

De 1 a 5 anos De 6 a 10 anos De 11 a 15 anos

De 16 a 20 anos Acima de 20 anos Formação acadêmica

Superior: Em que?__________________ Especialização: Em que?________________

Mestrado: Em que?_________________ Outros. Explicitar:_____________________

Você tem participado de cursos de atualização profissional (técnico e comportamental)? Cite alguns desses cursos. Técnicos: Comportamentais: De quantos treinamentos comportamentais oferecidos pela empresa você já participou neste ano?

Nenhum De um a três De quatro a dez Mais de dez

Agradeço a sua participação. Esteja certo (a) de que suas opiniões serão fundamentais para o êxito desta pesquisa.

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