Competências de Liderança para a Gestão da Qualidade ...

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XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. Competências de Liderança para a Gestão da Qualidade Utilizando o Ciclo PDCA: um Modelo Conceitual Felipe Guilherme de Oliveira-Melo (UNIVASF) [email protected] Este estudo aborda os aspectos que permeiam a gestão da qualidade por meio da atuação do líder, tendo como objetivo principal propor um modelo teórico com as competências de liderança que impactam positivamente na gestão da qualidade por meio da aplicação do ciclo PDCA. Para tanto, a metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, baseando-se, principalmente, nas ideias e concepções de autores como Sokovic, Pavletic e Pipan (2010), Serafimovska e Ristova (2011) e Melo e Silva (2019), além da estrutura definida pela norma regulamentadora ABNT/NBR/ISO 9001:2015. O modelo proposto abrange 26 competências de liderança distribuídas entre as quatro etapas do ciclo PDCA. Nota-se que a comunicação é uma das competências mais relevantes, estando presente em três das quatro etapas. Por fim, conclui- se que a atuação do líder é determinante no processo de implementação e consolidação um Sistema de Gestão da Qualidade, sendo o ciclo PDCA um dos métodos que contribui com a sistematização e com o desempenho da liderança. Palavras-chave: Ciclo PDCA, Competências, Gestão da Qualidade, Liderança.

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XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”

Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.

Competências de Liderança para a Gestão da

Qualidade Utilizando o Ciclo PDCA: um Modelo

Conceitual

Felipe Guilherme de Oliveira-Melo (UNIVASF)

[email protected]

Este estudo aborda os aspectos que permeiam a gestão da qualidade por

meio da atuação do líder, tendo como objetivo principal propor um

modelo teórico com as competências de liderança que impactam

positivamente na gestão da qualidade por meio da aplicação do ciclo

PDCA. Para tanto, a metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica,

baseando-se, principalmente, nas ideias e concepções de autores como

Sokovic, Pavletic e Pipan (2010), Serafimovska e Ristova (2011) e Melo

e Silva (2019), além da estrutura definida pela norma regulamentadora

ABNT/NBR/ISO 9001:2015. O modelo proposto abrange 26

competências de liderança distribuídas entre as quatro etapas do ciclo

PDCA. Nota-se que a comunicação é uma das competências mais

relevantes, estando presente em três das quatro etapas. Por fim, conclui-

se que a atuação do líder é determinante no processo de implementação

e consolidação um Sistema de Gestão da Qualidade, sendo o ciclo PDCA

um dos métodos que contribui com a sistematização e com o desempenho

da liderança.

Palavras-chave: Ciclo PDCA, Competências, Gestão da Qualidade,

Liderança.

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“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.

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1. Introdução

No âmbito das organizações do século XXI, a gestão da qualidade se destaca como um fator

primordial para alcançar a competitividade e atender às expectativas dos clientes. Nesse

contexto, inúmeros estudos científicos têm apontado fatores que impactam positivamente a

consolidação de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ), incluindo o papel exercido pela

liderança (BARBOSA; GAMBI; GEROLAMO, 2017; LAKSHMAN, 2006; SILVA;

AQUINO; CRISPIM, 2016; TEOMAN; ULENGIN, 2017; WALDMAN, 1993).

Para Tummers e Knies (2015), a liderança influencia substancialmente na forma de trabalho de

uma organização, refletindo diretamente nos resultados esperados. Em relação à gestão da

qualidade, algumas competências de liderança, como a capacidade de influenciar os membros

de um grupo e criar uma visão compartilhada para atingir objetivos comuns, são apontadas por

estudos nacionais e internacionais e enfatizam que o líder influencia positivamente na

consolidação de um SGQ (LAKSHMAN, 2006; SERAFIMOVSKA; RISTOVA, 2011;

MUSTAFA; BON, 2012; SILVA; AQUINO; CRISPIM, 2016). Barbosa; Gambi e Gerolamo

(2017, p. 438) mencionam que “dentre o levantamento de fatores críticos para o sucesso de

programas de gestão de qualidade, a liderança apresenta-se como um dos fatores mais citados”.

Nesse panorama, a norma regulamentadora ABNT/NBR/ISO 9001:2015, publicada pela

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2015), define os requisitos para a

implementação de um SGQ por meio de uma estrutura que destaca a liderança e o ciclo PDCA

como elementos fundamentais na operacionalização da gestão da qualidade. O ciclo PDCA é o

método de apoio à gestão da qualidade mais utilizado em práticas e programas de melhoria

contínua (SAAVEDRA, 2010; SALVADORI, 2013).

No âmbito educacional, a formação do engenheiro, principalmente do engenheiro de produção,

deve estar diretamente relacionada ao exercício da liderança, tendo em vista que muitos desses

profissionais ocupam cargos de liderança dentro das organizações e precisam estar aptos a lidar

com outros profissionais em atividades de rotina, incluindo as que não estão ligadas à gestão

da qualidade (MELO et al., 2018).

Apesar da influência da liderança na gestão da qualidade, a maioria dos estudos não aborda

explicitamente a forma como o líder pode influenciar na consolidação do SGQ. Isso posto, este

estudo objetiva propor um modelo conceitual com as competências de liderança que impactam

positivamente na gestão da qualidade por meio da aplicação do ciclo PDCA. O estudo

fundamenta-se na revisão bibliográfica, principalmente nas ideias e concepções de autores

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como Sokovic, Pavletic e Pipan (2010), Serafimovska e Ristova (2011) e Melo e Silva (2019),

além da estrutura definida pela norma regulamentadora ABNT/NBR/ISO 9001:2015.

Este estudo não tem a intenção de esgotar as possibilidades de atuação do líder em um SGQ.

Nesse sentido, busca-se nortear organizações e pesquisas da área em relação às competências

de liderança para a implementação de um SGQ e sua futura certificação, permitindo o

delineamento de capacitações e a melhor alocação dos líderes em cada fase.

2. Referencial teórico

Esta seção traz em seu bojo aspectos relacionados à definição do termo “liderança”, ao papel

dos líderes na gestão da qualidade e à importância do ciclo PDCA no SGQ.

2.1. Liderança

Os conceitos e aspectos que abrangem o termo “liderança” têm sido tópicos de pesquisa e

interesse por várias décadas (LAKSHMAN, 2006). De acordo com Bass (1990), as qualidades

associadas ao líder foram identificadas desde a civilização egípcia, em torno de 2300 a.C,

entretanto, o termo “liderança” só emergiu na era cristã, por volta de 1300 d.C (STOGDILL,

1974).

Devido ao grande volume de pesquisas e suas aplicações em diferentes contextos, as definições

do termo “liderança” apresentam diferentes interpretações (BERGAMINI, 1994; MELO,

2016). Uma das primeiras definições consolidada na literatura é que “a liderança pode ser

considerada como o processo (ação) de influenciar as atividades de um grupo organizado em

seus esforços no estabelecimento de metas e alcance de objetivos” (STOGDILL, 1950, p. 3).

Essa definição associa a liderança à capacidade de influenciar de indivíduos organizados em

um grupo com vistas a atingir objetivos em comum.

Na mesma linha de raciocínio, alguns autores corroboram com essa perspectiva e ressaltam

outras competências de liderança, como a comunicação (DONELLY; IVANCEVICH;

GIBSON, 1985; TANNENBAUM; WESCHLER; MASSARIK, 1961) e a capacidade de

direcionar e motivar outros indivíduos (BASS, 1990; SADLER, 2003; BENEDETTI;

HANASHIRO; POPADIUK, 2004).

Em síntese, Bergamini (1994) ressalta que as definições intrínsecas ao termo “liderança”

envolvem dois aspectos em comum: (i) a liderança ocorre por meio de interação entre

indivíduos, estando ligada a um fenômeno grupal, e (ii) a influência exercida pelo líder, por

meio de suas competências de comunicação, ocorre de forma intencional. Em outras palavras,

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o líder é capaz de influenciar intencionalmente, por meio da comunicação interpessoal, e

motivar os membros de um grupo, visando o alcance de objetivos e metas compartilhados.

2.2. O papel da liderança na gestão da qualidade

É fato que a liderança é considerada um diferencial competitivo no mercado, visto que o papel

desempenhado pelo líder impacta diretamente no comportamento dos seus seguidores e,

consequentemente, no sucesso das organizações (GALLON; BITENCOURT; FLECK, 2013).

Nesses termos, o líder é visto como o mestre da mudança, capaz de interferir na cultura das

organizações pelo fato de possuir um senso acentuado de oportunidade estratégica

(BERGAMINI, 1994).

Inúmeros estudos científicos buscam investigar a relação entre a atuação do líder e a gestão da

qualidade, principalmente por meio da Gestão da Qualidade Total (TQM, Total Quality

Management) (LAKSHMAN, 2006; MISZTAL, 2013; BARBOSA, 2015; SILVA; AQUINO;

CRISPIM, 2016; ACHOUR; SARRA, 2016). Para Mustafa e Bon (2012), a liderança

desempenha um papel crucial na implementação de um SGQ. Igualmente, Serafimovska e

Ristova (2011) salientam que a gestão da qualidade começa com uma visão, sendo esta

incentivada pela atuação do líder.

As organizações que obtêm sucesso na gestão da qualidade possuem líderes que podem

efetivamente envolver pessoas em todos os níveis hierárquicos, motivando estes colaboradores

para participar em, e como, equipes de gestão da qualidade (LAKSHMAN, 2006).

Nesse sentido, o papel da liderança no envolvimento das equipes e na criação de uma “visão de

qualidade” está diretamente ligado à capacidade de influência. Misztal (2013) ressalta que o

líder influencia sem a necessidade de usar a força, encontrando nos liderados suas melhores

qualidades e gerenciando os mesmos de acordo com os seus objetivos.

Na visão de Serafimovska e Ristova (2011), o líder é o agente que promove a importância da

qualidade na organização, criando condições para educação contínua e para o treinamento dos

colaboradores, bem como mantendo o contato constante entre colaboradores, clientes e

fornecedores. Em suma, Youngdahl, Waldman e Anders (1998) apontam que a atuação do líder

deve imprescindivelmente estar ligada aos três princípios mais importantes da gestão da

qualidade (DEAN; BOWEN, 1994): foco no cliente; trabalho em equipe e participação; e

melhoria contínua.

À luz dessas considerações, ressalta-se que a importância do líder na gestão da qualidade é

notadamente apontada nos critérios de avaliação dos prêmios mais importantes da qualidade,

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em nível nacional e internacional: Malcolm Baldrige (Estados Unidos), Prêmio Deming

(Japão), Prêmio de Excelência da Fundação Europeia para Gestão da Qualidade (EFQM,

European Foundation for Quality Management) e no Prêmio Nacional da Qualidade (Brasil)

(BOAS; COSTA, 2011; CARPINETTI, 2012; CAUCHICK MIGUEL, 2006; SILVESTRO;

MAZZOCHI, 2014).

2.3. O ciclo PDCA na gestão da qualidade

Entre as diversas ferramentas e métodos utilizados na gestão da qualidade, o ciclo PDCA é,

sem dúvidas, o mais consolidado. De acordo com Sousa et al. (2017, p. 112), “a utilização do

método PDCA, vem sendo considerada um instrumento importante para atingir a excelência

operacional e a continuidade dos esforços de melhoria [...]”. Em adição, Costa (2007) salienta

que o ciclo PDCA perpassa a mera implantação de mudanças estratégicas, contribuindo

diretamente com a melhoria contínua por meio de um ciclo composto por quatro fases: Planejar

(P, plan), Fazer (D, do), Verificar ou Controlar (C, control ou check) e Agir (A, act).

O uso do ciclo PDCA reflete a procura contínua pela melhoria da qualidade, sendo a quarta fase

(atuar) a mais importante, pois é nessa fase são estabelecidos os parâmetros para retomada do

processo de melhoria (SOKOVIC; PAVLETIC; PIPAN, 2010). Para Saavedra (2010, p. 13), o

ciclo PDCA “[...] tem como função básica o auxílio no diagnóstico, análise e prognóstico de

problemas organizacionais, sendo extremamente útil como metodologia para a solução de

problemas”.

A consolidação do ciclo PDCA no âmbito da gestão da qualidade contribuiu com a inclusão do

mesmo em uma das mais importantes normas de gestão da qualidade, a ABNT/NBR/ISO

9001:2015 (ABNT, 2015). Esta norma foi criada pela Organização Internacional de

Normatização (ISO, International Organization for Standardization) e faz parte de um conjunto

de normas que versam sobre a gestão da qualidade, visando aumentar a eficiência e a satisfação

do cliente (ABNT, 2016).

Entre os benefícios oferecidos pela ABNT/NBR/ISO 9001:2015, a ABNT (2016) destaca a

maior facilidade na aplicação e a grande ênfase no envolvimento da liderança. A Figura 1

apresenta a estrutura da ABNT/NBR/ISO 9001:2015, que inclui o ciclo PDCA e a liderança

como protagonistas do SGQ.

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Figura 1 – Estrutura da ABNT/NBR/ISO 9001:2015 para implementação de um SGQ.

Fonte: ABNT (2015).

A Figura 1 mostra a liderança como elemento central na gestão da qualidade, estando presente

em todas as etapas e influenciando nas entradas e nas saídas do SGQ. Em adição, nota-se a

presença do ciclo PDCA como mecanismo de interação entre essas etapas, tornando o processo

cíclico e iterativo.

A visão e o comprometimento da liderança são fatores essenciais para a manutenção e para o

sucesso de um SGQ. Nesse sentido, as competências de liderança desempenham um papel

importante na mudança da cultura organizacional para a gestão da qualidade. “A melhoria da

qualidade possui uma relação estreita com a melhoria na eficiência dos indivíduos, grupos e da

organização como um todo” (SERAFIMOVSKA; RISTOVA, 2011, p. 26), sendo o líder um

dos principais responsáveis para que isso aconteça.

3. Métodos

Esta pesquisa é classificada como descritiva e fundamentada em uma abordagem qualitativa.

Quanto aos procedimentos técnicos, tem-se uma pesquisa bibliográifca (GIL, 2019). De acordo

com Vosgerau e Romanowski (2014), as revisões abrangem a análise e a comparação de estudos

já publicados sobre determinada área de estudo, apontando a evolução das teorias ou dos aportes

metodológicos e indicando tendências e abordagens das práticas educativas.

De acordo com Marconi e Lakatos (2017), a pesquisa bibliográfica se baseia em fontes

secundárias, que abrangem toda a bibliografia já publicada em relação ao tema de estudo. Por

meio dessa técnica é possível explorar novas áreas nas quais os problemas ainda não se

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cristalizam suficientemente, abrindo caminhos para novas descobertas e pesquisas futuras.

A partir das classificações sugeridas por Noronha e Ferreira (2000), esta revisão bibliográfica

é classificada como: (1) analítica em relação ao propósito, pois visa traçar um panorama geral

do desenvolvimento de uma determinada área por meio do agrupamento e da reflexão de

trabalhos sobre o tema (Liderança na Gestão da Qualidade); (2) atemporal e reação à

abrangência, considerando não foi estipulado um período para obtenção dos trabalhos; (3) de

atualização em relação à função, tendo em vista que considera a literatura publicada

recentemente; e (4) bibliográfica no que diz respeito ao tratamento e à abordagem dada aos

trabalhos analisados, já que não se atém a grandes análises e aprofundamentos críticos sobre os

resultados.

Assim sendo, definiram-se como palavras-chave de busca de artigos nas bases de dados os

seguintes termos e combinações booleanas: “Competências” AND/E “Qualidade” AND/E

“Liderança”. Estas palavras foram buscadas nos índices: título, resumo ou palavras-chave. O

Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) foi escolhido como a principal base de dados deste estudo, considerando que ele inclui

artigos publicados nas principais bibliotecas de artigos científicos.

4. Resultados e discussão

Consoante Hamrol (2005 apud MISZTAL, 2013), o sucesso de um SGQ dependente 10 % dos

equipamentos técnicos, 40 % da tecnologia utilizada e 50 % das pessoas e da forma como elas

estão sendo lideradas. Nesse contexto, nota-se a importância em identificar as competências de

liderança que impactam positivamente o sucesso de um SGQ.

Igualmente, WALDMAN (1993, p. 67) acrescenta que “[...] o envolvimento nas políticas e

comportamentos em relação à política de gestão da qualidade por parte dos membros da

organização é visto como sendo mutuamente influenciado pela cultura organizacional

E pelas práticas de liderança”.

Com base em uma densa revisão bibliográfica acerca das teorias de liderança, Melo e Silva

(2019) identificaram 35 competências atribuídas aos líderes, atendendo os mais diversos perfis

de liderança. Essas competências foram avaliadas levando em consideração os critérios

estabelecidos por Sokovic, Pavletic e Pipan (2010) e por Serafimovska e Ristova (2011) para

implementação de um SGQ utilizando o método do ciclo PDCA, além da estrutura apontada na

ABNT/NBR/ISO 9001:2015. Como resultado, a Figura 2 apresenta o modelo concietual

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proposto por esse estudo, envolvendo 26 competências de liderança que impactam

positivamente o SGQ.

Figura 2 – Modelo conceitual das competências de liderança para gestão da qualidade com o ciclo PDCA.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A partir da Figura 2, infere-se que cada etapa da gestão da qualidade utilizando o ciclo PDCA

exige competências de liderança diferentes, que se complementam com o mesmo objetivo. As

26 competências do modelo teórico foram selecionadas entre as 35 competências de liderança

apresentadas por Melo e Silva (2019). Algumas competências são apresentadas em apenas uma

das quatro etapas, mas isso não impede que elas sejam aplicadas nas demais. O perfil do líder

e o contexto de atuação são fatores determinantes na adequação das competências em relação

às etapas do ciclo PDCA.

A primeira etapa (planejar) requer um perfil de liderança capaz de enxergar novas

oportunidades, maduro, preocupado em encontrar soluções para os problemas, motivador,

conhecedor das atividades que se pretende desenvolver e capaz de trabalhar em equipe. Nessa

etapa a atuação do líder na criação e implementação da “visão de qualidade” na cultura da

organização é fundamental. Para tanto, o processo de planejamento deve ser feito de forma

compartilhada e integrada, envolvendo todos os colaboradores.

A segunda etapa (fazer) demanda um líder compreensivo e ao mesmo tempo imparcial e

Liderança

para

Gestão da

Qualidade

Objetivos

Estabelecer os conceitos e objetivos do sistema de qualidade,

bem como a metodologia de implantação e manutenção; criar

uma visão para qualidade; e iniciar o treinamento para qualidade.

• Orientado aos problemas

• Conhecedor

• Comunicativo

• Persuasivo

• Participativo

Competências do líder:

• Motivador

• Visionário

• Maduro

• Autoconfiante

Objetivos

Verificar e avaliar as condições das partes envolvidas na gestão

da qualidade (clientes, fornecedores e colaboradores); elaborar

os registros e as documentações para o controle de mudanças e

a padronização; e estabelecer de parâmetros de conformidade e

compatibilidade.

Competências do líder:

• Empático

• Imparcial

• Controlador

• Comunicativo

• Diretivo

• Proativo

• Sistemático

• Competente

Objetivos

Avaliar criticamente dos resultados por

meio da inspeção, da auditoria e da

realização de testes funcionais; e

Realizar o benchmarking.

• Sistemático

• Orientado aos resultados

• Crítico

• Comprometido

• Flexível

• Sincero

• Competente

Competências do líder:

Objetivos

Certificar o sistema de gestão da qualidade com

base na melhoria contínua e nos aspectos

culturais da organização, sendo estes voltados

para a Gestão da Qualidade Total, gestão das

não conformidades e integração dos sistemas de

gerenciamento.

• Persistente

• Recompensador

• Comunicativo

• Autoritário

• Negociador

• Audacioso

Competências do líder:

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controlador, capaz de se comunicar efetivamente e organizar as atividades de forma objetiva e

sistemática. Nessa etapa, o líder deve se colocar no lugar dos stakeholders (partes interessadas)

e ser realista na elaboração dos documentos que fundamentam a implementação do SGQ. Os

parâmetros de conformidade e compatibilidade devem ser alcançáveis, respeitando os limites

da organização e dos colaboradores.

Na terceira etapa (verificar), tem-se um perfil de liderança preocupado com o resultado das

ações, com um grau elevado de criticidade. As avaliações ocorrem de forma sistemática e

sincera, no sentido de reconhecer os pontos positivos e negativos, além de identificar

alternativas plausíveis para sanar os problemas encontrados. A benchmarking exige desse líder

um perfil flexível, capaz de adequar-se a novos cenários.

A quarta etapa (agir) exige um perfil de liderança capaz de aprender com os erros e estabelecer

novas metas a serem cumpridas, dando início a um novo ciclo. Por isso, nessa etapa o líder

precisa ser comunicativo, negociador e audacioso. Em algumas situações, o líder deve delegar

as atividades, caracterizando um perfil de liderança autoritário. A audácia caracteriza a busca

pela melhoria contínua e pela Gestão da Qualidade Total.

5. Conclusão

A liderança é um dos principais fatores que influenciam no sucesso de um SGQ. A par disso,

este estudo propôs um modelo teórico com 26 competências de liderança visando à gestão da

qualidade. As competências estão distribuídas entre as quatro etapas do ciclo PDCA, podendo

ser transferidas entre as etapas em função do perfil de liderança e do contexto de atuação do

líder. Em adição, nota-se que a comunicação é uma das competências mais relevantes, estando

presente na maioria das etapas.

O embasamento teórico reafirma o papel dos líderes em criar uma “visão de qualidade” dentro

da cultura organizacional e, por meio de suas competências de comunicação e persuasão,

implantar e consolidar o SQG de forma compartilhada e integrada, envolvendo todos

colaboradores, independentemente do nível hierárquico.

Através desse estudo, líderes que atuam em organizações que almejam implementar ações de

gestão da qualidade podem encontrar dados norteadores em relação às competências a serem

desenvolvidas em cada etapa da implementação do SGQ, tendo como base os princípios do

ciclo PDCA.

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