COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DE GRADUANDOS E ......no desenvolvimento de habilidades e competências...
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Gabriela Marchiori Carmo Azzolin
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DE GRADUANDOS E DOCENTES DE
ENFERMAGEM NA MEDIDA DE PRESSÃO ARTERIAL
CAMPINAS
2015
FICHA CATALOGRÁFICA
FOLHA DE APROVAÇÃO
DEDICATÓRIA
A Deus, pelo presente da vida.
Pela terra que piso.
Pelo alento que respiro.
Pelas pessoas com quem convivo.
Que minhas atitudes sejam diariamente o reflexo deste sentimento de
gratidão.
AGRADECIMENTOS
Agradecer é dar; ser grato é dividir. A gratidão é dom, a gratidão é partilha, a
gratidão é amor.
Em primeiro lugar, agradeço a Deus e a todos seus assessores, por todas as
oportunidades da minha vida.
Quero homenagear e agradecer, de forma muito sincera e especial, meu
grande mestre José Luiz Tatagiba Lamas, pelo aprendizado científico que me
proporcionou, mas, além disso, por ter me ensinado a valorizar a vida, o ser
humano. Nem sei como agradecer por sua solidariedade e apoio nesta precursora
iniciativa, pois só você sabe o quanto precisei nestes anos de seu amparo em
muitos momentos. Se consegui percorrer esta trajetória, devo muito a você, que me
orientou muitas vezes com os olhos, no silêncio. Você é uma das poucas pessoas
que conhece o meu limite. Tatá te admiro!!!! Parabéns!!!
Agradeço a todos os participantes da pesquisa que, muito gentilmente,
atenderam ao meu convite e se dispuseram a doar seu tempo e seus
conhecimentos, contribuindo sobremaneira com os resultados.
Agradeço a Adeline Mariano da Silva e Paula Rocco Gomes Lima, por
estarem ao meu lado, desde o início, contribuindo diretamente com a pesquisa em
todas as suas etapas. Meu profundo agradecimento, pois é quase impossível
dimensionar o tamanho da competência de ambas e a dedicação que tiveram. Sem
paciência, apoio, sensibilidade, cumplicidade e determinação, eu jamais teria
atingido este objetivo. Vocês foram muito mais que auxiliares desta pesquisa. Foram
e são minhas parceiras. A vocês, serei eternamente grata.
Agradeço a todos os meus amigos e colegas de trabalho, pela torcida
calorosa e constante.
Agradeço a secretaria da Pós-Graduação da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP), pelo amparo e pela solidariedade com minha pessoa sempre
que precisei.
Agradeço a Eulália Escobar e a Silvia Ricci minha amigas companheiras de
todas as horas, que contribuíram muito com nesta caminhada.
Agradeço a minha família, por estar ao meu lado em todos os momentos, de
forma plena, integral e incondicional.
Agradeço a você, Rogério Azzolin, grande pai, companheiro, que sempre
cuidou e cuida muito bem de nossos filhos. Sem sua presença, a conquista seria
complicada. Você é justo, sincero e amigo. Sei o quanto devo a você. Os momentos
foram de aprendizado, tenho certeza.
Finalmente, agradeço aos meus filhos, Gabriel e Bruno, que me inspiram a
enfrentar os desafios, e que compreenderam e toleraram por muitas vezes minha
ausência e nossa distância. Sem eles, a vida não teria o mesmo brilho.
RESUMO
INTRODUÇÃO: A hipertensão arterial é um grave problema de saúde pública,
que atinge cerca de 600 mi’lhões de pessoas e constitui um dos fatores de risco de
maiores morbidade e mortalidade mundiais. A medida de pressão arterial tem sido
algo preocupante em pesquisas já realizadas em serviços de saúde, pois sua
operacionalização esbarra em muitas dificuldades dentro da prática clínica. Sabe-se
o quanto a técnica de medida de Pressão Arterial (PA) apurada é necessária para
diagnosticar a Hipertensão Arterial (HA), pois, apesar de ser um procedimento fácil,
há necessidade de que os profissionais sejam criteriosos em sua aplicação,
executando-o de maneira adequada. A aquisição de competências e habilidades
relacionadas a essa técnica durante a graduação é fundamental, já que a mesma é
presente no cotidiano do processo de trabalho do enfermeiro. OBJETIVOS: avaliar o
desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas à medida
auscultatória de pressão arterial na visão de docentes e discentes de uma
universidade pública do interior paulista e analisar a colaboração de cada disciplina
no desenvolvimento de habilidades e competências para a realização da medida de
pressão arterial, conforme expresso em seus programas de ensino; verificar como os
docentes avaliam as competências e as habilidades dos estudantes, com relação à
técnica de medida auscultatória da pressão arterial; verificar como os discentes se
avaliam quanto às suas competências e habilidades, com relação ao técnica de
medida auscultatória da pressão arterial. MÉTODO: Pesquisa de natureza
documental e exploratória descritiva desenvolvida em uma faculdade de
enfermagem de universidade pública por meio da aplicação de dois questionários
desenvolvidos pela pesquisadora e validados por juízes. Um questionário foi
aplicado aos docentes e o outro aos discentes da faculdade. Os dados foram
coletados por três enfermeiras, que também os codificaram e inseriram em planilhas.
Foram coletados dados sócios demográficos e sobre formação, processo de ensino-
aprendizagem, aplicabilidade da medida de pressão arterial e grau de competência
quanto ao assunto abordado. RESULTADOS: Participaram 94 alunos e 20
professores da faculdade. Nos Programas analisados verificou-se que somente na
disciplina de Fundamentos de Enfermagem o conteúdo da medida de pressão
arterial é contemplado, sendo que nas demais disciplinas apenas é abordado no
ensino do processo de enfermagem. A maioria dos estudantes se julgou com
conhecimento suficiente e total da técnica e nenhum estudante se considerou
incapaz de realizar o procedimento. Os docentes entenderam que os discentes
tinham competência e habilidade suficiente ou total para medir a pressão arterial.
Houve discordância entre docentes e discentes sobre a relevância do ensino da
medida de pressão arterial durante todo período da graduação, sobre o
conhecimento da relação entre mecanismos de regulação da pressão arterial com a
técnica de medida e sobre o grau de compreensão das relações entre o conteúdo
teórico das disciplinas de graduação e o procedimento de medida de pressão
arterial. CONCLUSÃO: A maioria das respostas indicou que, ao final das disciplinas,
os docentes consideraram que os discentes tinham competência e habilidade para
medir a PA, pois, os conceitos prevalentes atribuídos a estes foram o de suficiente
ou total. Com exceção da disciplina EN322 que correspondia a “Fundamentos de
Enfermagem” a medida de pressão arterial não foi valorizada como conteúdo.
Todavia, esse conteúdo faz parte do processo de enfermagem e da avaliação do
sistema cardiovascular, contemplado em algumas disciplinas. De um modo geral,
entendeu-se que essas competências e habilidades foram adquiridas em grau
satisfatório, embora de forma instrumental.
Palavras-chave: Enfermagem, medida de pressão arterial, educação superior.
Linha de Pesquisa: Processo de Trabalho em Saúde e Enfermagem.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Hypertension is a severe public health issue that reaches around
600 million people and comprises one of the risk factors with higher worldwide
morbidity and mortality. Blood pressure measurement has been a matter of concern
in investigations carried out at health services, because its operationalization faces
many difficulties in the clinical practice. It is known how much the blood pressure
measurement technique is required to diagnose hypertension because, despite being
an easy procedure, it requires professionals to perform properly. The acquisition of
skills and abilities related to this technique during graduation is critical since it is
present in the daily nursing work process. OBJECTIVES: To evaluate the
development of competencies and skills related to auscultation blood pressure
measurement in the view of teachers and students from a public university in São
Paulo and analyze the contribution of each discipline in the development of skills and
competencies to perform the blood pressure measurement as expressed in their
school curricula; see how teachers assess the skills and abilities of students ,
regarding auscultation measurement technique in blood pressure; check how the
students are assessed for their competence and skills in relation to auscultation
measurement technique in blood pressure. METHODS: This research has a
descriptive, documental and exploratory nature. It was developed in a nursing school
from a public university using two questionnaires created by the investigator and
validated by experts. One of them was applied to professors and the other to
scholars from the college. Three nurses collected data, and also codified and
inserted them in spreadsheets. Sociodemographic data and those related to
formation, process of teaching-learning, applicability of blood pressure measurement,
and ability degree regarding the subject were collected. RESULTS: 94 students and
20 professors from the college took part in the study. It was found that only in
Nursing Fundamentals content in blood pressure measurement is contemplated; in
the other disciplines it is only inserted in the nursing process where this workup is
necessarily addressed. Most of the students declared having enough and complete
knowledge about the technique and none of them reported being unable to perform
the procedure. The teachers understood that the students had enough or total skills
and ability to measure the blood pressure. The following answers from students were
different compared to professors: regarding school knowledge of the blood pressure
measurement technique and professor perception as to school knowledge about
his/her theoretical-practical subject; about relevance of teaching the blood pressure
throughout the graduation period; about knowledge of the relation between
mechanism of blood pressure regulation and measurement technique; and about
comprehension degree of the relations between theoretical knowledge of graduation
disciplines and blood pressure measurement process. CONCLUSION: Most of the
responses indicated that teachers felt that students had competence and ability to
measure the PA because the prevalent concepts assigned to these were sufficient or
complete. Aside from the EN322 discipline corresponding to "Fundamentals of
Nursing" blood pressure measurement was not valued as content. However, this
content is part of the nursing process and the evaluation of the cardiovascular
system, seen in some subjects. Overall, it was understood that these skills and
abilities were acquired in satisfactory degree, although in instrumental form.
Keywords: Nursing; Blood pressure determination; Education, Higher.
Research line: Working Process in Health and Nursing.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Frequência absoluta e porcentual dos conceitos
autoatribuídos pelos alunos em cada questão (Q1 a
Q10); n = 94. Campinas (SP), Brasil, 2015
36
Tabela 2 Frequência absoluta e porcentual dos conceitos
atribuídos pelos docentes aos alunos em cada
questão (Q1 a Q10); n = 20. Campinas (SP), Brasil,
2015
37
Tabela 3 Frequência absoluta e porcentual dos conceitos
autoatribuídos pelos alunos da segunda série em
cada questão (Q1 a Q10); n = 43. Campinas (SP),
Brasil, 2015
37
Tabela 4 Frequência absoluta e porcentual dos conceitos
autoatribuídos pelos alunos da terceira série em
cada questão (Q1 a Q10); n = 32. Campinas (SP),
Brasil, 2015
38
Tabela 5 Frequência absoluta e porcentual dos conceitos
autoatribuídos pelos alunos da quarta série em cada
questão (Q1 a Q10); n = 19. Campinas (SP), Brasil,
2015
38
Tabela 6 Comparação das respostas obtidas pelos alunos
entre as séries (Q1 a Q10); n = 94. Campinas (SP),
Brasil, 2015
39
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ANA American Nursing Association
CIES Comissões de Integração Ensino-Serviço
CIPE Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem
DBH Diretrizes Brasileiras de Hipertensão
HA Hipertensão arterial
INSS Instituto Nacional de Seguridade Social
IVC Índice de Validade de Conteúdo
LDB Lei de Diretrizes e Bases
MEC Ministério da Educação e Cultura
NANDA-I North American Nursing Diagnoses Association International
NIC Nursing Interventions Classification
NOC Nursing Outcomes Classification
PA Pressão arterial
PED Programa de Estágio Docente
SAE Serviço de Apoio ao Estudante
SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia
SBH Sociedade Brasileira de Hipertensão
SBN Sociedade Brasileira de Nefrologia
SUS Sistema Único de Saúde
USAID United States Agency for International Development
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16
2.1 Trajetória pessoal: origens e preocupações do estudo ............................ 17
2.2 Educação Superior no Brasil ............................................................................ 19
2.3 Docência universitária e processo de ensino-aprendizagem .................. 21
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 30
2.1. Hipertensão Arterial ................................................................................................... 30
2.2. Medida de Pressão Arterial ...................................................................................... 32
2.3. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão ..................................................................... 34
3.OBJETIVOS .......................................................................................................... 38
3.1. Objetivo Geral .................................................................................................. 38
3.2. Objetivos Específicos ..................................................................................... 38
4. MÉTODOS ........................................................................................................... 40
4.1.Tipo de Estudo ............................................................................................................ 40
4.2. Local de Estudo.......................................................................................................... 40
4.3. População ................................................................................................................... 40
4.4. Instrumentos ............................................................................................................... 41
4.5. Avaliação por pares do instrumento ....................................................................... 41
4.6. Pré-teste do Instrumento .......................................................................................... 42
4.7. Coleta de dados ......................................................................................................... 42
4.8. Tratamento e Análise dos Dados ............................................................................ 42
4.9. Procedimentos Administrativos ............................................................................... 43
4.10. Apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa ..................................................... 43
5. RESULTADOS ..................................................................................................... 45
5.1. Análise dos Programas das Disciplinas ................................................................. 45
5.1.1. Programas de disciplinas da segunda série ................................................... 45
5.1.1.2. Segundo semestre .......................................................................................... 46
5.1.2. Programas de disciplinas da terceira série ..................................................... 48
5.1.3. Disciplinas de quarta série ................................................................................ 50
5.1.4. Estágio Curricular ............................................................................................... 50
5.2. Análise das respostas aos questionários ............................................................... 51
6.1. Avaliação dos programas ......................................................................................... 56
6.3. Análise das respostas aos questionários ............................................................... 58
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ........... 75
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS DOCENTES ............................. 78
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS DISCENTES ............................ 80
APÊNDICE D – CARTA DE SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO ............................ 82
ANEXO I – APRECIAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ....................... 83
1
INTRODUÇÃO
16
1. INTRODUÇÃO
2.1 Trajetória pessoal: origens e preocupações do estudo
Ao refletir sobre minha trajetória na Enfermagem, percebo quatro momentos
importantes: o primeiro como acadêmica de Graduação em Enfermagem, o segundo
como profissional, o terceiro como docente de enfermagem − sendo este último o
que me motivou a fazer o mestrado e, posteriormente, o doutorado (o quarto
momento), que contribuiu efetivamente em meu caminhar.
No primeiro momento, como acadêmica, tive o contato inicial com os enfoques
gerais da profissão, quando pude descobrir e aprender muito. Posso dizer que senti
muita satisfação, vinculada ao fato de me sentir verdadeiramente uma futura
profissional, já que conseguia cuidar de indivíduos e famílias, bem como trabalhar
em equipe e tomar decisões sobre questões relativas à unidade de internação, à
equipe e aos pacientes. Nas práticas e estágios oferecidos pelas disciplinas, tive a
oportunidade de me sentir parte do grupo de enfermagem pertencente àquela
unidade e à instituição. Apesar de ainda não ser reconhecida legalmente como
enfermeira, já me sentia realizada dentro desse espaço, pois a equipe
multiprofissional reconhecia o trabalho dos acadêmicos, com respeito e
demonstrando que sentia nossa ausência, quando, por algum motivo, não podíamos
comparecer à unidade. Minha apreciação é de que fazíamos diferença nesse
espaço, pois os pacientes e a equipe multiprofissional sentiam a importância de
nosso trabalho.
O segundo momento foi vivenciado no cotidiano profissional, quando tive
oportunidade de trabalhar na mesma instituição, mantendo sempre forte o vínculo
com a Faculdade de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de Campinas
(PUC-Campinas), em razão de minha referência no corpo docente, que foi
fundamental para minhas descobertas profissionais iniciais.
Como enfermeira, atuei nessa instituição e em outras de menor porte, chegando a
trabalhar em unidades de internação cirúrgica e clínica, e até exercer o cargo de
coordenação, o que me permitiu a atuação na gerência. Embora trabalhando em
serviços fora da universidade, sempre mantive o vínculo com a Faculdade de
Enfermagem em que me graduei.
17
Após três anos da conclusão do curso e atuando em instituições hospitalares,
surgiu a oportunidade de participar de um processo de seleção para docentes na
Faculdade de Enfermagem da PUC-Campinas, tendo sido aprovada. Teve início o
terceiro momento. A partir dessa vivência, passei a enfrentar o desafio de participar
do ensino e compartilhar meus conhecimentos e experiências profissionais. Meu
trabalho como docente iniciou-se na disciplina Clínica Cirúrgica, que tinha como
proposta desenvolver com o aluno o raciocínio clínico para o planejamento da
assistência.
Vivenciei, então, sentimentos contraditórios: por um lado, o contentamento, por
compartilhar vivências com um grupo em formação, sedento por conhecer aquilo
que lhe reservava a futura vida profissional; por outro, a angústia do querer
compreender os entraves para a aplicação do raciocínio clínico no planejamento da
assistência de enfermagem.
Cabe ressaltar que a insegurança também estava presente, pois eu dominava
competências e habilidades para o cuidado de enfermagem, mas ainda não tinha a
vivência no ensino formal.
A partir de 2003, tive a oportunidade de ser inserida na disciplina da área de
Gerenciamento em Enfermagem, especificamente com enfoques no processo de
trabalho em saúde e enfermagem, teorias administrativas e filosofia. Nessa
disciplina, busquei vincular o gerenciamento à assistência de enfermagem; contudo,
constatei a dificuldade que os alunos apresentavam para relacionar as dimensões
do cuidar e gerenciar em enfermagem. O projeto político pedagógico dessa
instituição é montado com base no desenvolvimento de competências e habilidades
em todas as disciplinas, portanto, segue a mesma lógica, o que me levou à
aproximação com esta temática. Com base nessa percepção, senti-me incomodada
e busquei me aprofundar nesses problemas durante o curso de mestrado, em 2005,
iniciando meu quarto momento. Nele, pude investigar como os docentes das
disciplinas de gerenciamento desta faculdade vivenciam e transmitem a articulação
entre o processo de trabalho e o processo de enfermagem.
Obtive o título em 2007 e sinto-me muito satisfeita e honrada, pois meu trabalho
contribui até os dias de hoje para a Faculdade de Enfermagem, ao realizarmos
18
nossos planejamentos. Posso dizer que isso me instiga a pesquisar e contribuir a
cada dia com a enfermagem.
Dessa maneira, surgiu, a partir do meu trabalho como docente, a necessidade de
compreender melhor a relação de competências e habilidades dos docentes, o que
caracteriza a continuidade de meu quarto momento, agora como doutoranda da
UNICAMP.
Na atualidade, permaneço vinculada à disciplina de Clínica Cirúrgica e também
contribuo na etapa final de formação do aluno, especificamente no Estágio Curricular
Supervisionado, apresentando, discutindo e avaliando com o acadêmico as
questões de assistir, gerenciar, educar e investigar em enfermagem e vivenciando
na prática o quanto as intervenções de enfermagem são fundamentais para articular
a assistência com a gerência. Dentre estas intervenções observei que a medida da
pressão arterial muitas vezes é realizada de forma incorreta pelos alunos. Esta
observação me incomodou, pois a Hipertensão Arterial atinge cerca de 600 milhões
de pessoas em todo o mundo e o seu controle é realizado pela medida da pressão
arterial. Assim, a partir desta observação surgiu a motivação para estudar o
desenvolvimento de competências e habilidades para medição da pressão arterial
no âmbito do ensino e aprendizagem, na educação superior.
2.2 Educação Superior no Brasil
A criação das universidades no país se deu em 1823, no entanto, o Ensino
Superior ganhou timidamente mais densidade a partir da economia cafeeira, que
demandava maior contingente de técnicos na esfera da construção de estradas de
ferro e infra estrutura para exportação agrícola, favorecendo o ensino das
engenharias civil e metalúrgica, entre outras profissões(1,2).
Após um período longo de inúmeros projetos de lei, finalmente surge o
Estatuto das Universidades Brasileiras, a partir da promulgação do Decreto 19.851,
de 11 de abril de 1931, determinando que o Ensino Superior fosse realizado, de
preferência, em universidades, podendo ser ministrado em estabelecimentos
isolados. Em 20 de dezembro de 1961, foi promulgada a lei 4.024, denominada Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, criando o Conselho Federal de
Educação(3).
19
Após a Revolução de 1964, a educação brasileira passou a receber forte
influência dos Estados Unidos, quando começou a absorver suas teorias e práticas
educativas, consideradas como as de maior eficiência, com relação à nova
racionalidade pedagógica. Nesta época, vários acordos de cooperação foram
firmados entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a United States Agency
for International Development (USAID). Voltados para o fornecimento de assessoria
técnica e financiamento, visavam viabilizar um processo de modernização da
educação, sanando as grandes deficiências constatadas com relação ao
treinamento e à capacitação das autoridades estaduais de educação(4).
Com o Estatuto do Magistério Superior, em 1965, ocorreu a reestruturação
das universidades federais, por intermédio do decreto-lei 53, de 18 de novembro de
1966, complementado pelo decreto-lei 252, de 28 de fevereiro de 1967, que
implantou a Reforma Universitária(3).
Foram criadas as condições para a reformulação do ensino nacional, com
base na nova política nacional e, em 1° de outubro de 1968, foi baixado o decreto
63.341, que estabeleceu critérios para a expansão do Ensino Superior e deu outras
providências. No mesmo ano, a lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, conhecida
como Estatuto do Magistério Superior Federal, fixou normas de organização e
funcionamento do Ensino Superior, determinando “que a universidade fosse a forma
de organização por excelência do ensino superior, restando à instituição isolada o
status de excepcional e transitória”(3,5).
Os anos seguintes foram de grande repressão política e ideológica do Estado
contra professores e estudantes. O ensino em nível de pós-graduação passou a ser
incentivado, promovendo intercâmbio entre as instituições nacionais e as norte-
americanas e francesas, possibilitando grande formação de novos pesquisadores,
que passaram a ser aproveitados como professores, e uma qualificação significativa
do Ensino Superior(5).
A partir de 1982, com o final do regime autoritário, a universidade brasileira
foi foco e, ao mesmo tempo, favorecida pelo processo de redemocratização do país,
principalmente em decorrência da nova Constituição Brasileira de 1988 e da nova lei
9.394 de 20 de dezembro de 1996, também conhecida como Lei de Diretrizes e
Bases (LDB), cujos reflexos principais foram o forte incremento de cursos superiores
20
e de instituições universitárias privadas. A liberalização dos exames de ingresso
possibilitou novamente a grande expansão do número de estudantes matriculados, a
partir da crescente privatização do Ensino Superior(5).
A nova LDB introduziu, ao mesmo tempo, um processo de avaliação
institucional, por intermédio do recredenciamento periódico das Instituições de
Educação Superior, realizado por equipes de professores-visitadores designados
pelo Ministério da Educação com as funções de exercer avaliação externa das
condições de ensino, visando à comprovação da sua qualidade(4).
Em termos qualitativos, as novas modificações introduzidas pela LDB
acentuaram-se na esfera dos currículos, com a supressão dos currículos mínimos e
a introdução de diretrizes curriculares nacionais que preconizavam conteúdos
gerais, possibilitando que cada Instituição de Educação Superior adaptasse seu
currículo às demandas regionais, e às características de seus alunos e do mercado
de trabalho local, bem como flexibilizando o tempo de duração dos cursos(4).
Esta retomada histórica se faz necessária para a compreensão da
estruturação do ensino superior no Brasil e consequentemente, da formação
curricular dos cursos da área da saúde.
2.3 Docência universitária e processo de ensino-aprendizagem
O ensino é e sempre será a função principal das Instituições de Educação
Superior. Ensinar consiste em organizar, selecionar, sistematizar, disseminar e
criticar o conhecimento humano acumulado, com base nas necessidades sociais e
culturais de determinada época e local. Como esse processo é de mão dupla, pois
não existe ensino sem aprendizagem, estabeleceu-se o processo denominado
ensino-aprendizagem compartilhado entre professores e alunos, que é coletivo e
interativo, não se admitindo mais o professor como emissor de um discurso para
uma plateia passiva(6).
Aprender e ensinar constituem duas atividades muito próximas da experiência
de qualquer pessoa. Estas atividades enfrentam não apenas o desafio da
sobrevivência, mas também o do desenvolvimento, que se alcança pela
aprendizagem feita no seio de comunidades que se renovam constantemente. Daí a
importância fundamental de levar o docente universitário a refletir sobre sua prática
profissional enquanto professor, partindo do princípio de que aprendemos quando
21
introduzimos alterações na nossa forma de pensar e de agir, e de que ensinamos
quando partilhamos com o outro a nossa experiência e os saberes que vamos
acumulando(7).
Em geral, os professores universitários utilizam grande parte do tempo de suas
atividades em sala de aula e, ao menos teoricamente, estão sempre se interrogando
sobre como essas aulas poderiam ser mais bem aproveitadas por seus alunos. Ao
mesmo tempo em que se perguntam, surge, em suas lembranças, um conjunto de
técnicas que poderiam usar, ou de que ouviram falar algum dia, mas que não
consideram tão importantes quanto o domínio do conteúdo para o exercício da
docência. Assim, de um modo geral, prevaleceu o ensino do conteúdo(8).
Freire (9) afirma:
Ensinar exige rigorosidade metódica (...) a importância do papel do
educador, o método da paz com que viva a certeza de que faz parte
de sua tarefa docente não apenas ensiná-los conteúdos, mas
também ensinar a pensar certo.
Anastasiou(10) institui como elementos da profissão docente formação
acadêmica, conceitos, conteúdos específicos, ideal, objetivos, regulamentação,
código de ética, ou seja, o currículo explícito e o implícito. Atribui à docência
universitária a característica intrínseca de realizar a mediação entre sujeitos
distintos, professores e alunos, no embate e na conquista do conhecimento. Nessa
perspectiva, de acordo com este autor, a docência universitária desenvolve-se
centrada em dois pontos principais, o professor e o aluno, de acordo com um
determinado tipo de ensino, voltado para um objetivo específico e com diferenças
básicas entre si. Na realidade, não deve haver uma separação entre aquele que
ensina e aquele que aprende, pois se deve pensar a educação reunindo o processo
de ensino-aprendizagem e equilibrando a importância de ambos. De nada adianta
um professor que apenas se preocupe com o ato de ensinar, transmitindo seus
conhecimentos e experiências, sem se preocupar com o discente. É preciso, pois,
valorizar os conhecimentos e as experiências do aluno(10).
A esse respeito, Anastasiou(10) aponta que os fatores que interferem no
processo ensino-aprendizagem são aqueles referentes a uma concepção e à prática
22
tradicional do ensino, que comporta, inclusive, uma separação entre ensino e
pesquisa − sendo esta última supervalorizada; fatores referentes aos resultados da
escolaridade prévia e ao universo cultural dos alunos; fatores referentes às
condições da profissionalização e às condições de trabalho dos docentes no Ensino
Superior(10).
Outro aspecto a se destacar é a formação do professor, no que se refere aos
conhecimentos técnico-científicos de seu campo de trabalho docente e do campo da
educação, da pedagogia e da didática, que requerem investimentos acadêmicos e
atualização constante(10).
Também é desejável que o professor universitário disponha de recursos
didáticos pedagógicos atualizados para desenvolver os processos interdisciplinares,
sendo desejável que saiba relacionar a teoria com a prática e, além do saber em si,
que tenha competência para realizar um bom trabalho em sala de aula e provocar,
no aluno, atitudes positivas de convívio social e de adequação profissional(8).
O professor, por mais titulado e competente que possa ser, jamais pode
dispensar a atualização derivada da bibliografia de sua área de conhecimento, nem
o enriquecimento da educação continuada, por meio de cursos, congressos,
simpósios, navegações internéticas e outros meios de atualização. Também é
preciso considerar a pesquisa, na formação de professores, como princípio cognitivo
de investigação, com os alunos da realidade escolar, e também como princípio
formativo, uma vez que possibilita a atitude investigativa da prática docente(11).
Conforme Anastasiou(10), embora rara, é louvável a reflexão do docente sobre
sua prática, por meio de pesquisas que revelem essa intencionalidade.
De acordo com os autores acima citados, a formação dos professores do
Ensino Superior precisa ser pensada em novos moldes, pois requer um
profissionalismo semelhante àquele exigido para o exercício de qualquer profissão.
A política educacional brasileira só mais recentemente vem demonstrando
preocupações concretas com a construção de um processo de profissionalização
inicial e continuada de docentes. Sem o comprometimento e a atuação mais firmes,
no sentido de influenciar diretamente e desenvolver a docência universitária, ou de
fazer com que as instituições e os docentes se responsabilizem pelas melhorias
23
necessárias, o Estado não contribui, de modo significativo, para elevar os padrões
de ensino na educação superior.
A educação busca trazer as pessoas de um desconhecimento relativo para
um estado de conhecimento, por meio da capacitação contínua, capaz de
transformar a realidade. Nessas condições, a educação deve estar presente não
para transmitir receitas prontas a um público preparado para consumi-las, mas para
ajudar esse público a compreender os conteúdos técnicos e científicos das
disciplinas em questão e a utilidade das estratégias pedagógicas empregadas nessa
formação(8).
Para Peres(12), a educação é um processo social que extrapola a educação
formal, pois necessita de uma organização para instrumentalizar pessoas capazes
de gerar as mudanças desejadas.
Delors(13) afirma que a educação deveria ser organizada em torno de quatro
aprendizagens, que constituirão, para cada indivíduo, ao longo de suas vidas, os
quatro pilares do conhecimento:
Aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da
compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio
envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar
com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender
a ser, via essencial que integra os três precedentes.
Nesta perspectiva, é necessário definirmos ‘competência’, como a
“capacidade de apreciar e resolver determinado assunto, fazer determinada coisa,
capacidade, habilidade e (13) aptidão”(14).
A palavra ‘competência’ designa simultaneamente o direito de executar e a
capacidade de conhecer. Para compreender a maneira como as competências se
diferenciam, é necessário considerá-las produtos de processos, e não mais pontos
de partida, encarando esses processos como sequências de habilitações. Será
competente aquele que for capaz de se tornar hábil em um domínio de
conhecimento(4).
Ramos(15), relacionando-a à interação social e ao caráter coletivo de sua
esfera de ação, entende como competência a
24
capacidade que os trabalhadores têm de enfrentar situações e
acontecimentos próprios de um campo profissional com iniciativa e
responsabilidade, guiados por uma inteligência prática que está
ocorrendo e coordenando-se com outros atores para mobilizar suas
próprias capacidades.
Morin e Kern(16) defendem a construção de competências, que transcendem
o conceito cartesiano de aquisição de habilidades ou de simples desenvolvimento de
conhecimentos técnicos, que repercutem apenas na generalização do trabalho
parcelar sem iniciativa, sem responsabilidade e sem interesse.
Referindo-se ao mundo do trabalho, Ramos(15) analisa que a dimensão
conceitual da qualificação remete-se à formação e ao diploma, que garantiria o
acesso ao mercado de trabalho e, assim, também uma qualificação, um status, uma
remuneração, mas questiona a competência decorrente da obtenção deste.
Segundo ela, o exercício da competência não existe sem que haja profundidade dos
conhecimentos que possam ser disponibilizados e mobilizados pelo sujeito para
superar determinada situação. Os conhecimentos e saberes não se limitam ao nível
de sua aplicabilidade, mas, justamente porque implicam um exercício reflexivo,
pressupõe-se que o sujeito mobilize o conjunto de valores, aprendizagens e
habilidades em favor das situações(17).
Documento do MEC(3) define competências como
(...) “ as modalidades estruturais de inteligência, ou melhor,
as ações e operações que utilizamos para estabelecer relações com
e entre objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejamos
conhecer. As habilidades decorrem das competências adquiridas e
referem-se ao plano imediato do ‘saber-fazer’. Por meio das ações e
operações, as habilidades aperfeiçoam-se e articulam-se,
possibilitando nova reorganização das competências”..
Ainda segundo Ramos(15), competência é entendida como “uma forma de
interpretar o mundo” e classificada em três dimensões: competências técnicas (que
permitem interpretar os processos físicos e organizacionais), competências
subjetivas (que permitem interpretar as relações pessoais e interpessoais) e as
25
competências sociais (que permitem interpretar o que ocorre no mercado, no espaço
público).
Para Pinhel e Kurcgant(17), depreende-se que competência é uma categoria
complexa de atividades mentais e intelectuais, que congrega a capacidade e a
habilidade de mobilizar conhecimentos e recursos, para resolver situações também
complexas em tempo real, isto é, que ocorrem a cada momento na vida profissional.
Pensando nas competências relacionadas ao trabalho docente,
compartilhamos a opinião de Freire (9) quando diz:
ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é
ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo
indeciso e acomodado.
Para este autor, na sociedade do conhecimento, o saber é o capital principal
para o desenvolvimento. Importante notar a necessidade de práticas educativas
interdisciplinares, permitindo aos professores conversar, interagir sobre suas ações
e, a partir daí, buscar novas práticas.
Assim, para que o docente desempenhe adequadamente seu papel, é
necessário que ele se aperfeiçoe. Para Freire(9), a qualificação do magistério é
fundamental para a sociedade avançar em termos de educação.
O docente deve ajudar o aprendiz a ter acesso à cultura, desenvolver sua
capacidade reflexiva, estimulá-lo à criação e ao desenvolvimento da consciência do
‘ser’; para tanto, ele necessita ser estimulado, por meio do ensino, a se desenvolver
continuadamente, demonstrando suas habilidades e suas competências (18).
Também a discussão das diretrizes curriculares dos profissionais da área da
saúde é importante para compreendermos a natureza das propostas e sua base
conceitual no Ensino Superior, bem como suas consequências nas instituições
universitárias e a discussão sobre a importância das políticas da Reforma Sanitária
brasileira, no campo da formação no Sistema Único de Saúde (SUS)(11,19).
Cecim(19) destaca ainda a importância da integralidade da atenção à saúde
como um eixo norteador na formação dos profissionais da área da saúde, para que
26
exista uma formação mais articulada com as políticas da área e, principalmente, do
SUS.
É indispensável a diversificação dos cenários da prática, que devem estar
presentes ao longo de toda a formação universitária, de modo que os estudantes
tenham a oportunidade de aprender e trabalhar em todos os espaços em que se dá
a atenção a saúde(19).
A orientação do Ministério da Saúde (MS) no contexto da formação
universitária, contribui para direcionar a base das construções de novas produções
dos conhecimentos e saberes na área da saúde, destacando a importância de um
trabalho integrado entre os Ministérios da Saúde e da Educação, para que as
políticas sejam convergentes e coerentes, e para que as transformações possam
atingir o núcleo de formação. Sugere, para tanto, a integração das Comissões de
Integração Ensino-Serviço (CIES) em saúde a gestores municipais e estaduais do
SUS, instituições formadoras e representantes do controle social(11).
Campos(20) refere que é necessário que os profissionais da área da saúde
repensem os modelos de educação em saúde, objetivando, com isso, ampliar a
autonomia e a capacidade de intervenção das pessoas sobre suas próprias vidas,
pois a formação não deve ser referência apenas para uma busca eficiente de
evidências ao diagnóstico, cuidado, tratamento, prognóstico, etiologia e profilaxia
das doenças e agravos. Ressalta o autor que as universidades devem buscar
desenvolver, durante a formação, a ideia de que o cuidado deve incluir a
compreensão do contexto político e social, além de considerar o nível educacional
da população e, enfim, ser integral.
As transformações políticas, econômicas e socioculturais ocorridas no
contexto global promovem, a cada momento, diferentes necessidades das
populações, que, por sua vez, necessitam de cuidado integral à saúde. Dessa
maneira, faz-se necessária a formação de profissionais capacitados, para atender os
usuários de maneira correta e com qualidade assistencial(21).
No sentido de construir uma proposta de formação que atenda as
transformações contemporâneas na constituição de uma educação mais crítico-
reflexiva e que forme sujeitos ativos, com uma prática mais qualificada e
transformadora, torna-se necessário que esses profissionais sejam capazes de
27
resolver os problemas de saúde, além de construir projetos sociais alternativos e
reivindicar espaços sociopolíticos(22).
Nesse contexto, é importante destacar que ‘cuidar’ significa assistir o ser
humano em suas necessidades básicas e que tal atitude tem caráter universal. No
entanto, na prática, o cuidado se apresenta de forma histórica e contextual, sendo
variável e dependente das relações que se estabelecem no processo de assistência,
tornando-se uma atividade bastante complexa.
28
2
REFERENCIAL TEÓRICO
29
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Hipertensão Arterial
Hipertensão arterial (HA) é um grave problema de saúde pública, que atinge
cerca de 600 milhões de pessoas e constitui um dos fatores de risco de maior
morbidade e mortalidade mundiais. É uma doença cardiovascular que, quando
associada a diabetes, tabagismo e hipertrofia ventricular esquerda, apresenta custos
elevados decorrentes de suas complicações, como doença cerebrovascular, doença
arterial coronariana, insuficiência cardíaca, insuficiência renal e doença vascular de
extremidades(23,24).
Trata-se de uma patologia que, muitas vezes, não se manifesta por algum
sinal e sintoma físico, motivo pela qual é nomeada ‘assassina silenciosa’. Essa
característica dificulta a adesão ao tratamento e diminui o comprometimento da
população, com relação ao controle e à conduta terapêutica, já que não se
consideram doentes. Autores brasileiros consideram que, entre indivíduos adultos,
apenas 50,8% sabem ser hipertensos; destes, 40,5% estão em tratamento e apenas
10,4% controlados (25).
Embora não existam estudos de magnitude nacional, os dados regionais
apontam uma prevalência de 33,7% no Estado do Rio Grande do Sul (25), de 29,9%
na cidade de Salvador(26), de 41,4% na cidade de Campo Grande(27), de 36,4% na
cidade de Goiânia(28) e de 22,58% em Fortaleza(29).
A prevalência nos Estados Unidos é de 27,8%, no Canadá de 27,4%, na
Itália de 37,7%, na Suécia de 38,4%, na Inglaterra de 41,7%, na Espanha de 46,8%,
na Finlândia de 48,7% e na Alemanha de 55,3%(30).
Cerca de 40% das aposentadorias do Instituto Nacional de Seguridade Social
(INSS) referem-se a doenças decorrentes da HA(31).
Em 2001, o Ministério da Saúde desenvolveu um Plano de Reorganização da
Atenção à Hipertensão Arterial Sistêmica, propondo um programa de atuação
multiprofissional, visando à detecção precoce da hipertensão e ao desenvolvimento
de estratégias para garantir a adesão da população ao tratamento, por meio de
30
ações educativas de âmbito multiprofissional junto à população. Dentre as ações
previstas destaca-se a consulta de enfermagem (32).
A medida de pressão arterial (PA) faz parte da consulta de enfermagem e sua
operacionalização tem sido preocupante na prática clínica(33) sendo, portanto, uma
habilidade técnica que merece uma competência do saber conhecer, ser e fazer
Estudo realizado por Veiga et al.(32) reforça o quanto a técnica de medida de
PA apurada é necessária para diagnosticar a HA, pois, apesar de ser um
procedimento fácil, há necessidade de que os profissionais sejam criteriosos em sua
aplicação, executando-o de maneira adequada.
O procedimento de medida de PA deve-se revestir de cuidados especiais,
para garantir a acurácia dos valores obtidos(34,35).
A primeira tentativa de quantificar numericamente o pulso arterial de maneira
não invasiva foi feita pelos franceses Hérrison e Gernier, em 1834. Tratava-se de um
aparelho similar a um termômetro, com um reservatório de mercúrio na sua parte
inferior e uma coluna graduada em milímetros que, colocado sobre o pulso,
comprimia a artéria, e sua pulsação movimentava a coluna de mercúrio. Esse
instrumento foi o primeiro a ter o nome de ‘esfigmomanômetro’ (do grego
sphygmos= pulso). A dificuldade em quantificar a oscilação do pulso e, portanto, de
medir a PA, levou-o ao seu abandono(36).
Em 1856, J. Faivre fez a primeira medição acurada da PA em humanos.
Durante um ato cirúrgico, cateterizou a artéria femoral, ligando-a a um manômetro
de mercúrio, e detectou 120 mmHg; na artéria braquial, encontrou 115 a 120
mmHg(37).
Diversos modelos foram criados e adaptados até que, em 1896, Scipione Riva
Rocci idealizou um esfigmomanômetro de coluna de mercúrio muito parecido com os
utilizados atualmente, que tornou possível e rotineira a medida indireta da PA(37).
Em 1905, Nicolai Sergeivich Korotkoff associou ao esfigmomanômetro de
Riva Rocci a possibilidade de se auscultar sons arteriais, originando, assim, o
método de medida de PA auscultatório, utilizado até os dias de hoje(37).
Segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, a implementação de
medidas de prevenção para a HA ainda representa um grande desafio para os
31
profissionais na área da saúde. No Brasil, cerca de 75% da assistência à saúde da
população é feita pela rede pública. A prevenção primária é de fundamental
importância, pois é a maneira mais eficaz de evitar as doenças e deve ser meta
prioritária dos profissionais de saúde. A detecção, o tratamento e o controle da HA
são fundamentais para a redução de eventos cardiovasculares (23).
2.2. Medida de Pressão Arterial
A medida de PA tem sido algo preocupante nas pesquisas já realizadas em
serviços de saúde, pois a operacionalização da mesma, conforme autores nacionais
e internacionais, tem esbarrado em muitas dificuldades dentro da prática clínica, o
que acarreta prejuízo no processo de avaliação de qualidade(33).
Segundo Machado et al.(33), o conhecimento teórico e prático sobre as
etapas da medida da PA está aquém das diretrizes, e muitas etapas não são
cumpridas. Também há escassez de treinamentos específicos após a formação,
além de grande desconhecimento sobre calibração, ausência de programas de
manutenção preventiva e critérios de descarte de aparelhos e acessórios.
As estratégias de melhoria do conhecimento do enfermeiro são necessárias
para a obtenção de valores fidedignos, assim como é importante investir no papel
das instituições na atualização profissional e na gestão de equipamentos, com ações
institucionais participativas, desde a aquisição, a manutenção e a guarda de
equipamentos, para melhorar a assistência prestada à medida que proporciona uma
prática mais segura(35). A melhoria do conhecimento do enfermeiro passa,
necessariamente, pela aquisição de habilidades durante a graduação, conforme é
apontado por Tibúrcio et al.(35).
Veiga et al.(32) afirmam:
“A partir das avaliações cotidianas dos níveis de pressão arterial em
pacientes internados e em atendimentos ambulatoriais, sobretudo
observando os profissionais de saúde executarem este procedimento
e, ainda, convivendo com o ensino e a pesquisa deste procedimento
ao nível de graduação e pós-graduação junto aos alunos de
enfermagem e medicina, sentimos necessidade de avaliá-lo, à luz
dos critérios recomendados pela American Heart Association em
1993.”
32
A importância do procedimento de medida de PA deve-se revestir de
cuidados visando garantir a acurácia dos valores obtidos. Dessa forma, os membros
da equipe de saúde são responsáveis pela realização do procedimento, para afastar
qualquer margem de erro que possa comprometer o diagnóstico de HA, bem como o
tratamento clínico da doença(38).
Para Pierin et. al.(39) e Pierin(40), a avaliação da PA pode ser executada nos
serviços de saúde, em domicílio ou ao longo das atividades realizadas de maneira
rotineira pelo indivíduo. Este deve ser capacitado para realização correta do
procedimento.
A técnica permite dois métodos, o direto e indireto. O método indireto pode
ser realizado de maneira contínua, intermitente e casual, com técnicas auscultatória
e oscilométrica(41).
Estudo sobre a medida de PA com 82 profissionais de enfermagem de um
hospital universitário identificou pelo menos um erro de cada profissional na
realização deste procedimento, o que trouxe grande preocupação, pois essa técnica
é de fundamental importância para o diagnóstico correto de HA(42).
A medida casual da PA é a mais amplamente realizada por profissionais de
saúde com o uso de esfigmomanômetros de coluna de mercúrio, aneroide ou
aparelhos automáticos, em ambiente de saúde, na atenção básica, consultórios ou
outros locais institucionalizados(43).
É importante ressaltar que, para que a aferição seja fidedigna, é necessário
que o equipamento esteja devidamente calibrado e que a relação entre o tamanho
do manguito e o braço do paciente esteja adequada; caso contrário, os valores
podem ser subestimados ou superestimados. A largura da bolsa inflável deve
corresponder a 40% da circunferência do braço e seu comprimento deve envolver
80% do braço, mantendo uma relação de 1:2(44).
Aparelhos automáticos ou semiautomáticos podem ser utilizados, porém os
mesmos devem ser validados, ou os resultados obtidos não serão satisfatórios. Para
Pierin et al.(41), as formas de avaliação mais utilizadas recaem nas normas da British
Hypertension Society e da Association for the Advancement of Medical
33
Instrumentation(45). No entanto, o protocolo da European Society of Hypertension
vem ganhando cada vez maior aceitação(44).
A manutenção do braço ao nível do coração é importante, pois o braço
desalinhado pode alterar os valores obtidos, prejudicando o diagnóstico e o
tratamento da HA(43).
Para a obtenção de valores precisos de PA, o paciente deve descansar em
ambiente calmo, com temperatura agradável, por pelo menos 5 minutos; evitar a
alimentação, fumo ou ingestão de bebida alcoólica no mínimo 30 minutos antes da
medida; estar sentado com o tronco recostado e relaxado no encosto da cadeira,
com as pernas descruzadas; e o braço selecionado deverá estar no nível do
coração, livre de roupas, com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo
ligeiramente fletido. O observador deve promover um relaxamento do paciente,
afastando tensão e ansiedade, e não conversar durante a medida; posicionar os
olhos no nível do topo da coluna de mercúrio ou diretamente sobre o mostrador do
manômetro aneroide; colocar o estetoscópio com firmeza sem pressionar com
excesso, inflando de 20 a 30 mmHg acima da pressão sistólica estimada e
deflacionar em velocidade de 2 a 4 mmHg/segundo; identificar a pressão sistólica no
primeiro som auscultado e a diastólica no desaparecimento dos sons; anotar os
valores lidos no manômetro terminados em zero, dois, quatro, seis ou oito. O
equipamento deve estar sempre calibrado, com bolsa e manguito adequados ao
braço do paciente, posicionamento correto do estetoscópio com as olivas voltadas
para frente do observador e comprimento dos tubos em torno de 40 cm; atentar para
o ressecamento da borracha, o que resulta em furos e vazamentos na pera e na
válvula, procedendo ao reparo quando necessário(23).
2.3. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão
Com o passar do tempo e os avanços na sociedade, as doenças crônicas
foram se agravando. Isso trouxe a necessidade de preparar orientações que
pudessem ajudar os profissionais de saúde no cuidado a esses pacientes. No caso
da HA, considerada atualmente como um dos principais fatores de risco para
morbidade e mortalidade em doenças cardiovasculares, as Sociedades Brasileiras
de Hipertensão (SBH), de Cardiologia (SBC) e de Nefrologia (SBN) assumiram a
34
responsabilidade de preparar estes documentos, atualmente conhecidos como
Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (DBH).
Inicialmente, elas eram chamadas de consensos, sendo discussões
científicas de profissionais médicos a respeito da HA e suas complicações,
prevenção e tratamento. O I Consenso, que direcionava os profissionais de saúde
no diagnóstico e tratamento da HA, foi publicado em 1991. Conforme novas
evidências científicas, os pesquisadores sentiram necessidade de realizar
atualizações no referencial abordado, sendo publicados consensos até a terceira
edição. Em 2002, ocorreu a primeira publicação das DBH, seguindo até os dias
atuais, com a sexta versão, de 2010(23). Ela tem como objetivo direcionar os
profissionais da área da saúde com relação ao conceito, à epidemiologia, à
prevenção primária e à abordagem clínica da HA.
Para indivíduos maiores de 18 anos de idade, a PA medida em consultório é
delimitada pelas VI DBH da seguinte maneira: ótima, quando a sistólica < 120 mmHg
e diastólica < 80mmHg; normal, quando a sistólica < 130 mmHg e diastólica <
85mmHg; limítrofe, quando a sistólica for de 130 a 139 mmHg e a diastólica de 85 a
89 mmHg. A partir daí, são apontados três estágios de HA: (1) sistólica de 140 a 159
mmHg e diastólica de 90 a 99 mmHg; (2) sistólica de 160 a 179 mmHg e diastólica
de 100 a 109 mmHg; (3) sistólica acima de 179 mmHg e diastólica acima de 109
mmHg. Valores de sistólica acima de 139 mmHg acompanhados de diastólica
abaixo de 90 mmHg são definidos como hipertensão sistólica isolada.
As VI DBH(23) apontam também alguns fatores de risco para a HA, sendo eles:
Idade: quanto maior a idade, maior a prevalência da hipertensão.
Excesso de peso e obesidade: na população jovem com excesso de peso, é
possível observar um grande número de hipertensos e, durante a vida adulta, o
ganho de peso pode contribuir para o aparecimento ou agravamento do problema.
Ingestão de sal: a população brasileira pratica uma ingestão de sal acima do
recomendado e, como o sal é rico em sódio, esse hábito interfere diretamente no
aumento da PA.
35
Ingestão de álcool: quando acontece por tempo prolongado, a ingestão de
bebida alcoólica pode contribuir para o aumento da PA e ainda levar à morte por
agravos cardiovasculares.
Sedentarismo: a prática de atividade física, mesmo entre pré-hipertensos,
diminui a ocorrência de hipertensão, além de diminuir o risco para doenças
cardiovasculares.
Fatores socioeconômicos: ocorrência maior entre a classe de menor
escolaridade.
Genética e outros fatores cardiovasculares: existe na população a
predisposição genética e hábitos inadequados podem contribuir para o agravamento
da doença.
Há divergência entre as recomendações das VI DBH e a medida de PA
realizada na prática de saúde. Esta polêmica avulta-se na medida em que se torna
evidente a dicotomia entre o que se espera do profissional da área da saúde na
visão dos teóricos e o que se verifica ser a ação cotidiana nas instituições
assistenciais. Ao se inserirem no âmago de uma organização, os profissionais da
área da saúde encontram um trabalho que os leva a uma conduta organizada
segundo rotinas preestabelecidas. Deles é esperado apenas que cumpram a
técnica, sem a preocupação com a articulação teórico-prática. Focando na medida
da PA, Almeida e Lamas(44) identificaram lacunas no conhecimento de enfermeiros e
apontaram a probabilidade de uma das causas ser a deficiência no ensino.
No que tange ao ensino dessa técnica, percebe-se que ainda há a
necessidade de avaliação da apropriação desse conhecimento pelos docentes da
área da saúde que abordam esse conteúdo em suas disciplinas, assim como dos
acadêmicos. Para compreendermos melhor o contexto descrito, é importante buscar,
junto a professores e alunos de ensino superior, o entendimento a respeito dos
entraves à aplicação correta desta técnica e se os estudantes atingem as
competências e habilidades necessárias para isso.
36
3
OBJETIVOS
37
3.OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral
Analisar a visão de docentes e graduandos de Enfermagem quanto à
aquisição de competências e habilidades relacionadas à medida de pressão
arterial.
3.2. Objetivos Específicos
Analisar a colaboração de cada disciplina ao desenvolvimento de habilidades
e competências para a realização da medida de pressão arterial, conforme
expresso em seus programas de ensino.
Verificar como os docentes avaliam as competências e as habilidades dos
estudantes com relação a técnica de medida auscultatória da pressão arterial.
Verificar como os discentes se avaliam quanto às suas competências e
habilidades, com relação a técnica de medida da pressão arterial
auscultatória.
38
4
MÉTODOS
39
4. MÉTODOS
4.1.Tipo de Estudo
Trata-se de uma pesquisa de natureza documental e exploratória descritiva.
4.2. Local de Estudo
Este estudo foi desenvolvido em uma universidade pública do interior do
estado de São Paulo junto a docentes e discentes do curso de graduação em
Enfermagem. A grade curricular é composta por 52 disciplinas que são ministradas
por 31 professores, e tem uma duração de quatro anos e meio.
4.3. População
A população deste estudo foi constituída por alunos do segundo, terceiro e
quarto anos da graduação e docentes da Faculdade estudada. Foram incluídos os
alunos regularmente matriculados, e os docentes de graduação das disciplinas que
abordavam o objeto do estudo. Todos que aceitaram participar da pesquisa
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A). Também
compuseram a população de estudo os programas das disciplinas específicas da
área profissionalizante das séries estudadas que abordavam a medida de pressão
arterial direta ou indiretamente.
Foram excluídos os programas de disciplina e os docentes que não
ministravam as disciplinas enfocadas neste estudo. Também foram excluídos os
discentes da primeira série por não terem ainda sido apresentados ao conteúdo e
aqueles que desistiram de cursar as disciplinas. Quatro docentes não quiseram
participar da pesquisa.
Desta forma, a amostra obtida foi composta por 43 estudantes da segunda
série, 32 da terceira série e 19 da quarta série da graduação, perfazendo um total de
94 alunos. Destes, seis eram do sexo masculino. Quanto aos docentes, o número
total foi 20, sendo apenas um homem. Considerando o baixo número de indivíduos
do sexo masculino na amostra, não foi feita qualquer análise em função desta
variável.
40
4.4. Instrumentos
A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de dois questionários,
desenvolvidos pela pesquisadora, pois embora já tivessem sido utilizados
instrumentos semelhantes em outros estudos com relação a habilidades e
competências na área de enfermagem, tanto coletiva quanto hospitalar, estes
apresentavam aspectos a serem melhor elucidados, principalmente, no que se
referia ao ensino da medida de pressão arterial nos cursos de graduação e as
competências e habilidades de docentes e alunos para tal.
Os instrumentos continham dez questões sobre formação, processo ensino-
aprendizagem, aplicabilidade da medida de PA e grau de competência quanto ao
assunto abordado, sendo que um foi dirigido aos docentes (Apêndice B) e outro aos
discentes (Apêndice C).
As respostas dos instrumentos eram fechadas e estavam estruturadas em
uma escala ordinal, partindo da posição de menor para a de maior grau de
desenvolvimento(45). Esse tipo de escala exige respostas graduadas para cada tipo
de afirmação, variando entre extremos representativos do grau de concordância com
as possibilidades de respostas(46).
Propôs-se, então, uma escala delimitada por quatro níveis, sendo eles:
nenhum, insuficiente, suficiente e total. ‘Nenhum’ foi codificado como zero e
correspondeu àquele sujeito que desconhecia o conteúdo. ‘Insuficiente’ foi
codificado como um e correspondia ao participante que conhecia minimamente o
conteúdo. ‘Suficiente’, codificado como dois, correspondia a quem era habilitado
para tal, porém não articulava teoria e prática. ‘Total’, que correspondia ao sujeito
com total domínio teórico e prático do conteúdo, foi codificado com o número três.
4.5. Avaliação por pares do instrumento
Os questionários foram enviados por e-mail a cinco juízes, professores
universitários de enfermagem de outra instituição de ensino superior, estudiosos de
competências e habilidades para que os mesmos fizessem sugestões,
complementações e análise. Após seu retorno, as modificações sugeridas foram
discutidas pela autora e seu orientador, sendo acatadas.
41
4.6. Pré-teste do Instrumento
Para verificar se a formulação das questões do instrumento estava adequada,
o mesmo foi aplicado a dez discentes e dez docentes que ministravam disciplinas
práticas, em outra instituição de ensino superior. Os dados obtidos geraram nova
rodada de reformulação do instrumento, aqui apresentado em seu formato final
(Apêndices B e C).
4.7. Coleta de dados
Os dados foram coletados no segundo semestre de 2014, por três
enfermeiras que também os codificaram e inseriram em planilhas. Os sujeitos foram
instruídos a assinalar a intensidade da competência e da habilidade com relação aos
itens ordinais da pesquisa (nenhum, insuficiente, suficiente e total) sendo que, como
já apontado, os escores variavam de zero a 3. Uma das dificuldades encontradas
nesta trajetória esteve relacionada à compreensão dos docentes em responderem o
questionário sem que participassem da disciplina de Fundamentos de Enfermagem.
Mesmo assim, houve colaboração dos mesmos. No grupo de alunos houve
receptividade positiva, sem qualquer questionamento.
Foram realizadas análises dos programas das disciplinas específicas da área
profissionalizante da segunda, terceira e quarta séries, conforme praticados em
2014. A primeira série não foi analisada porque as disciplinas não focavam o objeto
desta pesquisa. Algumas disciplinas das séries avaliadas também não foram
incorporadas no estudo, uma vez que, durante a leitura dos programas, não se
evidenciou, nem indiretamente, qualquer relação com a medida de PA.
4.8. Tratamento e Análise dos Dados
Um banco de dados foi elaborado em planilha Excel® com as pontuações das
respostas aos questionários, de acordo com a classificação ordinal dos grupos de
docentes e discentes.
A análise dos dados baseou-se na escala ordinal presente nos instrumentos
desenvolvidos pela própria pesquisadora, bem como na análise dos programas das
disciplinas. As respostas dos questionários foram pontuadas conforme descrito no
item Resultados. A pontuação foi registrada em planilha do programa Excel®.
42
Foi realizada análise estatística descritiva e inferencial por meio do teste
exato de Fisher. Consideraram-se significativos valores de p < 0,05. O programa
estatístico utilizado foi o software SAS, versão 9.3.
4.9. Procedimentos Administrativos
Antes do início da aplicação do instrumento de coleta de dados, foi
encaminhada uma solicitação de autorização à Coordenação do Curso de
Graduação em Enfermagem, para aplicação dos instrumentos de coleta de dados,
assim como cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido a ser assinado
pelos sujeitos da pesquisa, após ter sido realizado um convite verbal aos docentes
das disciplinas e alunos para a participação no estudo. Mediante explicitação, foi
solicitado o consentimento espontâneo por meio da assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A), elaborado de acordo com as
normas da Resolução 466/2012, que dispõe sobre os aspectos éticos em pesquisa
envolvendo seres humanos(45). Foi também escrita uma carta pela pesquisadora
solicitando autorização para que a mesma pudesse ter acesso aos documentos da
graduação da Faculdade de Enfermagem da UNICAMP (Apêndice D). Os programas
de disciplinas foram liberados para que a autora pudesse analisá-los. Os
questionários foram aplicados conforme a conveniência e preferência de cada
colaborador.
4.10. Apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa
O projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da
instituição e foi aprovado pelo parecer 608.234 de 7 de abril de 2014(Anexo I).
43
5
RESULTADOS
44
5. RESULTADOS
5.1. Análise dos Programas das Disciplinas
Para atender o primeiro objetivo específico deste trabalho, foi realizada uma
análise dos programas das disciplinas das três séries abordadas. Nessa análise, o
alvo foi a ementa, os objetivos, o conteúdo programático e a bibliografia
recomendada. Por meio dela, buscou-se articular o conteúdo da disciplina e o ensino
da medida auscultatória da PA.
5.1.1. Programas de disciplinas da segunda série
5.1.1.1. Primeiro semestre
a) EN 312 – Enfermagem na Organização do Sistema de Saúde
Sua ementa contempla, entre outros aspectos, estrutura, gestão e processos
de trabalho. Um dos objetivos específicos é “planejar e implementar intervenções em
problemas de saúde coletiva”. Ele pode ser aplicado a diferentes situações, como
avaliação de cobertura vacinal e grupos de aleitamento materno, entre outros, mas
também à HAS.
A medida de pressão arterial não é citada explicitamente em qualquer parte
do programa, apesar de ser um dos aspectos a considerar para atingir o objetivo
explicitado.
b) EN321 - Semiologia Aplicada à Enfermagem I
Sua ementa contempla a “Introdução ao processo de enfermagem, com
ênfase no exame físico” e “Subsídios teóricos e práticos do exame físico geral”. Um
dos objetivos específicos é “instrumentalizar o aluno para a realização do exame
físico geral do adulto”. Este inclui, obrigatoriamente, a medida da PA que, no
entanto, não é mencionada explicitamente em qualquer parte do programa.
c) EN 322 - Aspectos Fundamentais do Processo de Cuidar em
Enfermagem.
45
Sua ementa contempla o ensino teórico-prático de aspectos da assistência de
enfermagem ao usuário atendido em serviços de saúde; introdução à aplicação do
processo de enfermagem, com vistas ao planejamento e à execução de cuidados de
enfermagem; desenvolvimento de práticas educativas em enfermagem. O objetivo
geral consistia em capacitar o aluno para o cuidado de clientes em diferentes
instituições de saúde, por meio do desenvolvimento e da implementação do
processo de enfermagem. Alguns objetivos específicos eram: coletar os dados
significativos do cliente; identificar os problemas do cliente que era atendido;
desenvolver e aplicar o raciocínio clínico; registrar os dados coletados de maneira
adequada. O conteúdo programático da disciplina era dividido em 15 unidades,
sendo que todas trabalhavam o cuidar em enfermagem, desde os básicos, como
assepsia médica e cirúrgica, até a aplicação do processo de enfermagem de
maneira holística, direcionando, assim, o aluno na compreensão do seu papel como
futuro profissional.
A avaliação de sinais vitais estava presente de maneira formal no programa
descrito no conteúdo programático. A unidade IV estava nomeada como ‘Avaliação
dos sinais vitais e antropometria’, contemplando os seguintes subitens: pulso,
temperatura, frequência respiratória, PA, antropometria (peso e altura).
Esse programa trazia todas as técnicas, procedimentos e visão para
desenvolver o aluno passo a passo dentro das competências e habilidades do
enfermeiro.
5.1.1.2. Segundo semestre
a) EN412 - Enfermagem em Saúde Coletiva III
A ementa enfocava a saúde com abordagem epidemiológica e assistencial
nos Serviços Básicos de Saúde; vigilância epidemiológica e sanitária; programa de
imunização; educação em saúde; planejamento, execução e avaliação de ações de
enfermagem em serviços de saúde.
O objetivo geral era promover a capacitação técnica e o senso crítico do aluno
em relação à realidade de saúde e um dos objetivos específicos é, textualmente,
“utilizar os conhecimentos adquiridos em disciplinas já cursadas para subsidiar a
46
compreensão da assistência de enfermagem no contexto dos serviços básicos de
saúde”.
Não há como negar a medida da PA como uma das práticas mais realizadas
em saúde coletiva, inerente, portanto, a muitas das ações ali desenvolvidas. Porém
em nenhuma parte do programa formal ficava explícita a medida de pressão arterial
como instrumento da disciplina
b) EN421 - Semiologia Aplicada à Enfermagem II
A disciplina capacitava o aluno para a realização do processo de
enfermagem, por meio do aprendizado do exame físico geral e específico do
indivíduo adulto e idoso, sendo o sistema cardiovascular um dos conteúdos
abordados. Considerando isto, é impensável que a medida de PA não seja praticada
na disciplina, mas não estava explicitada diretamente em nenhuma parte do seu
programa de ensino.
c) EN430 - Enfermagem em Saúde Mental II
Esta disciplina desenvolvia atividades práticas em serviços de referência de
atenção à saúde mental. Os objetivos específicos baseavam-se em avaliar,
entrevistar, examinar e cuidar do paciente com distúrbios psíquicos. O conteúdo
programático estava dividido em unidades, sendo que as mesmas trabalhavam os
meios de aproximação do objeto de trabalho da enfermagem em saúde mental;
fundamentos da clínica em enfermagem; introdução às classificações diagnósticas;
modalidades terapêuticas e aplicação dos conteúdos anteriores nas atividades
teórico-práticas.
A maioria dos conteúdos focava o paciente psiquiátrico, mas também existiam
referências sobre o cuidado e exame físico, o que caracterizava que os alunos
também deviam dar sequência ao aprendizado da técnica de medida de PA.
d) EN465 - Assistência de Enfermagem à Saúde da Mulher
Sua ementa abordava a assistência de enfermagem na saúde reprodutiva,
incluindo atenção pré-natal e contracepção e o desenvolvimento de atividades
educativas. O conteúdo programático contemplava o exame físico geral da mulher.
Em nenhuma parte do programa ficava explícita de forma direta a medida de
pressão arterial, embora este procedimento seja indispensável na atenção pré-natal
47
e também seja fundamental para a detecção da elevação dos níveis da PA durante o
climatério.
5.1.2. Programas de disciplinas da terceira série
5.1.2.1. Primeiro semestre
a) EN 555 - Assistência de Enfermagem à Criança e ao Adolescente I
A disciplina abordava o ensino teórico-prático da assistência de enfermagem
à criança e ao adolescente sadios ou portadores de doenças de baixa e média
complexidade, entre outros assuntos. O conteúdo programático previa a assistência
integral, o impacto da hospitalização para a criança e o exame físico da criança e do
adolescente, sendo, portanto necessário, abordar a medida da PA, o que não estava
diretamente explicitado no seu programa de ensino.
b) EN 504– Processo de Cuidar do Adulto e Idoso
A disciplina abordava o processo de cuidar em enfermagem a adultos e
idosos, institucionalizados ou não. O objetivo geral era “proporcionar aos estudantes
oportunidades para a construção de conhecimentos e o desenvolvimento de atitudes
e habilidades sobre a assistência integral a clientes adultos e idosos hospitalizados e
institucionalizados, com alterações orgânicas, funcionais e emocionais”. Uma das
unidades do conteúdo programático destacava as “alterações do sistema
cardiovascular” apontando a importância de abordar este conteúdo, mas em
nenhuma parte do programa de ensino da disciplina era explicitada de maneira
direta a medida de PA.
c) EN532– Processo de Cuidar em Enfermagem Psiquiátrica
A disciplina destinava-se ao estudo do objetivo e dos instrumentos de trabalho
da enfermagem psiquiátrica e em saúde mental, visando à saúde mental do
enfermeiro no tratamento de sujeitos em sofrimento mental que requeressem
cuidados contínuos e intensivos em serviços de saúde de nível secundário e
terciário, particularmente de saúde mental. Também abordava o processo de cuidar
em enfermagem psiquiátrica e em emergências psiquiátricas mediante a realização
de atividades práticas em serviços de saúde mental. O objetivo geral era
48
desenvolver o processo de cuidar em enfermagem psiquiátrica com sujeitos que
apresentassem sofrimento de origem psíquica compatível com classificações
diagnósticas consagradas, assistidos em serviços de saúde mental, fundamentando-
se em princípios teóricos, científicos e éticos. Os objetivos específicos eram: discutir
as concepções de homem; descrever e empregar corretamente a metodologia de
coleta de dados e formulação diagnóstica do paciente psiquiátrico; estabelecer
conexões entre o processo de cuidar em enfermagem psiquiátrica e outras
tecnologias de cuidados existentes nos serviços; participar de grupoterapia de
natureza educativa. Em nenhuma parte do programa de ensino da disciplina era
explicitada de maneira direta a medida de PA.
5.1.2.2. Segundo semestre
a) EN604 - Processo de Cuidar em Enfermagem Perioperatória
A disciplina enfocava a atuação em unidade de centro cirúrgico, centro de
recuperação pós-anestésica e central de material esterilizado; processamento e
controle de artigos de saúde; processo de cuidar em enfermagem ao adulto e idoso
no período peri-operatório de cirurgias ambulatoriais, de médio e de grande porte.
Ressalta-se que em todo o período peri-operatório a medida de PA assume papel
muito importante, mas sua discussão não apareceu diretamente explícita no
programa de ensino dessa disciplina.
b) EN665–Assistência de Enfermagem à Criança e ao Adolescente II
A ementa da disciplina abordava “crianças e adolescentes portadores de
doenças de média e alta complexidade”, as “repercussões da doença e do
tratamento na vida da criança, adolescente e família” e o desenvolvimento de
práticas educativas. Utilizava o processo de enfermagem como referência, porém a
realização da medida de PA no exame físico, parte do histórico de enfermagem, não
estava diretamente explicitada no programa de ensino dessa disciplina.
c) EN704 – Processo de Cuidar em Enfermagem do Adulto e do Idoso de
Alto Risco
A disciplina retomava o cuidado de enfermagem sistematizado ao cliente
adulto e idoso internado em situação de alto risco, urgência e emergência,
objetivando proporcionar aos estudantes oportunidades de construção de
49
conhecimento e desenvolvimento de raciocínio clínico de atitudes e habilidades na
assistência integral a clientes adultos e idosos hospitalizados, em risco de morte e
em situações de emergência e urgência. Seu conteúdo programático incluía as
alterações fisiopatológicas no sistema cardiovascular. Assim, à semelhança da
disciplina EN 504, destaca-se a importância de abordar a medida da PA nesta
disciplina, mas este conteúdo não ficava explícito diretamente em nenhuma parte do
seu programa de ensino.
5.1.3. Disciplinas de quarta série
5.1.3.1. Primeiro semestre
a) EN690 – Estágio Supervisionado de Administração em Enfermagem
Hospitalar
A disciplina destacava a importância do processo de trabalho gerencial do
enfermeiro, articulando assistência e gerência, garantindo a segurança em saúde e
o raciocínio clínico do discente, sendo desenvolvida no ambiente hospitalar, onde a
medida da PA é cotidianamente realizada, porém no conteúdo da disciplina esta
medida não estava diretamente explicitada.
b) EN766 – Assistência de Enfermagem à Saúde da Mulher e do Recém-
Nascido
Os sujeitos da assistência desta disciplina são mulheres e recém-nascidos no
período perinatal. Seu conteúdo programático apontava, como um dos tópicos, o
aprendizado e a prática do exame físico geral e obstétrico, mesmo assim, em
nenhuma parte do programa de ensino era diretamente explicitada a medida da PA.
5.1.4. Estágio Curricular
O estágio curricular engloba todo o aprendizado do estudante durante os
quatro anos da graduação. Embora fosse composto por duas disciplinas, como será
apresentado no item (a) a seguir, possuíam um programa de ensino único.
50
a) EN 791 – Estágio Supervisionado I (segundo semestre da quarta
série) e EN 891 – Estágio Supervisionado II (primeiro semestre da
quinta série)
O objetivo era capacitar o aluno a planejar, implementar e avaliar o cuidado-
assistência, tanto no âmbito individual quanto coletivo, por meio de atividades
desenvolvidas em conjunto com a equipe multiprofissional. O plano de estágio
contemplava atividades nos eixos de assistência, gerência e educação. Neste era
esperado que os estudantes unissem e articulassem todos os conhecimentos
abordados nas etapas anteriores de seu curso de graduação, o que inclui a medida
de PA. Mesmo assim, este conteúdo não estava diretamente explicitado no
programa de ensino.
5.2. Análise das respostas aos questionários
A Tabela 1 apresenta as respostas dos alunos ao questionário, considerados
no todo.
Tabela 1. Frequência absoluta e porcentual dos conceitos autoatribuídos pelos alunos em cada questão (Q1 a Q10); n = 94. Campinas (SP), Brasil, 2015
Pode ser observado que nenhum estudante se considerou incapaz de realizar
o procedimento. Além disso, a maioria se concentrou nos conceitos suficiente e total.
Entre as dez questões apresentadas, a maioria das respostas relacionou-se ao
conceito suficiente. Observou-se ainda um elevado índice de respostas ao
questionário, havendo apenas três abstenções.
A Tabela 2 apresenta as respostas dos docentes em relação aos alunos,
considerados no todo, ao questionário.
Conceito Q1 n (%)
Q2 n (%)
Q3 n (%)
Q4 n (%)
Q5 n (%)
Q6 n (%)
Q7 n (%)
Q8 n (%)
Q9 n (%)
Q10 n (%)
Nenhum 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 ( 0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0)
Insuficiente 2 (2) 4 (4) 6 (6) 18 (19) 4 (4) 5 (5) 10(11) 13(14) 7 (8) 5 (5)
Suficiente 56 (60) 56 (60) 50 (53) 66 (70) 45 (48) 22 (23) 34 (36) 55(59) 64 (69) 38 (40)
Total 36 (38) 33 (36) 38 (40) 10 (11) 45 (48) 67 (71) 50 (53) 25(27) 22 ( 24) 51 (54)
Sem informação 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0
51
Tabela 2. Frequência absoluta e porcentual dos conceitos atribuídos pelos docentes aos alunos em cada questão (Q1 a Q10); n = 20. Campinas (SP), Brasil, 2015
Observa-se que apenas em dois momentos considerou-se que os estudantes
não tinham nenhum preparo para a medida da PA (Q1 e Q2). Essas duas respostas
foram fornecidas pelo mesmo docente e se referiram ao conhecimento teórico-
prático da técnica de medida de PA após o término da disciplina aplicada pelos
docentes (Q1) e à qualidade do conhecimento de discentes sobre o conhecimento
de medida de PA ensinada em sua disciplina (Q2). Ainda assim, a maioria das
respostas indicou que, ao final das disciplinas, os docentes entenderam que os
discentes tinham competência e habilidade suficiente ou total para medir a PA.
Nessa questão, o índice de abstenção de respostas no total foi 9.
A Tabela 3 apresenta as respostas dos alunos da segunda série,
considerados no todo, ao questionário.
Tabela 3. Frequência absoluta e porcentual dos conceitos autoatribuídos pelos alunos da segunda série em cada questão (Q1 a Q10); n = 43. Campinas (SP), Brasil, 2015.
Os alunos, em sua maioria, consideraram-se com conhecimento suficiente e
total para realizar o procedimento de medida de PA, porém observou-se que, nas
dez questões, alguns alunos se declararam com conhecimento insuficiente. O
conceito ‘nenhum’ não foi atribuído. Em seis das questões apresentadas, as
Conceito Q1
n (%)
Q2
n (%)
Q3
n (%)
Q4
n (%)
Q5
n (%)
Q6
n (%)
Q7
n (%)
Q8
n (%)
Q9
n (%)
Q10
n (%)
Nenhum 1 (6) 1 (6) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0)
Insuficiente 2 (13) 4 (22) 2 (12) 0 (0) 1 (5) 1 (5) 2 (10) 2 (10) 6 (30) 1 (5)
Suficiente 13 (81) 13 (72) 9 (47) 13 (68) 17 (85) 13 (65) 13 (65) 4 (20) 7 (35) 16 (80)
Total 0 (0) 0 (0) 7 (41) 6 (32) 2 (10) 6 (30) 5 (25) 14 (70) 7 (35) 3 (15)
Sem informação 4 2 2 1 0 0 0 0 0 0
Conceito Q1
n (%)
Q2
n (%)
Q3
n (%)
Q4
n (%)
Q5
n (%)
Q6
n (%)
Q7
n (%)
Q8
n (%)
Q9
n (%)
Q10
n (%)
Insuficiente 2 (6) 3 (7) 3 (7) 8 (19) 2 (5) 1 (2) 2 (5) 4 (10) 3 (7) 3 (7)
Suficiente 26 (60) 23 (55) 21 (49) 32 (74) 24 (56) 11 (26) 16 (37) 25 (60) 26 (62) 16(37)
Total 15 (35) 16 (38) 19 (44) 3 (7) 17 (40) 31 (72) 25 (58) 13 (31) 13 (31) 24(56)
Sem informação 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0
52
respostas relacionaram-se ao conceito suficiente. Observou-se, ainda, um elevado
índice de respostas ao questionário, havendo apenas três abstenções.
A Tabela 4 apresenta as respostas dos alunos da terceira série, considerados
no todo, ao questionário.
Tabela 4. Frequência absoluta e porcentual dos conceitos autoatribuídos pelos alunos da terceira série em cada questão (Q1 a Q10); n = 32. Campinas (SP), Brasil, 2015
Os alunos, em sua maioria, consideraram-se com conhecimento suficiente e
total para realizar o procedimento de medida de PA. Porém, em nove, das dez
questões, os alunos se posicionaram com conhecimento insuficiente. Esse conceito
não foi atribuído apenas na primeira questão (‘Avalie o seu grau de conhecimento
sobre o procedimento de medida de pressão arterial adotado na disciplina teórico-
prática’). Em sete das questões apresentadas, as respostas relacionaram-se ao
conceito suficiente. Observou-se ainda um elevado índice de respostas ao
questionário, não havendo abstenções.
A Tabela 5 apresenta as respostas dos alunos da quarta série, considerados
no todo, ao questionário.
Tabela 5. Frequência absoluta e porcentual dos conceitos autoatribuídos pelos alunos da quarta série em cada questão (Q1 a Q10); n = 19. Campinas (SP), Brasil, 2015
Em sua maioria, os alunos se consideram com conhecimento suficiente e total
para realizar o procedimento de medida de PA. No entanto, em algumas questões,
alguns alunos se declararam com conhecimento insuficiente. Na maioria das
Conceito
Q1
n (%)
Q2
n (%)
Q3
n (%)
Q4
n (%)
Q5
n (%)
Q6
n (%)
Q7
n (%)
Q8
n (%)
Q9
n (%)
Q10
n (%)
Insuficiente 0 (0) 1 (3) 1 (3) 7 (22) 1 (3) 2 (6) 5 (16) 6 (19) 3 (9) 2 (6)
Suficiente 17 (53) 23 (72) 19 (59) 19 (59) 12 (38) 6 (19) 13 (41) 18 (56) 24 (75) 12 (38)
Total 15 (47) 8 (25) 12 (38) 6 (19) 19 (59) 24 (75) 14 (44) 8 (25) 5 (16) 18 (56)
Conceito
Q1
n (%)
Q2
n (%)
Q3
n (%)
Q4
n (%)
Q5
n (%)
Q6
n (%)
Q7
n (%)
Q8
n (%)
Q9
n (%)
Q10
n (%)
Insuficiente 0 (0) 0 (0) 2 (11) 3 (16) 1 (5) 2 (11) 3 (16) 3 (16) 1 (5) 0 (0)
Suficiente 13 (68) 10 (53) 10 (53) 15 (79) 9 (47) 5 (26) 5 (26) 12 (63) 14 (74) 10 (53)
Total 6 (32) 9 (47) 7 (37) 1 (5) 9 (47) 12 (63) 11 (58) 4 (21) 4 (21) 9 (47)
53
respostas apresentadas, o conceito suficiente esteve relacionado. Houve também
elevado índice de respostas ao questionário, não havendo abstenções.
A Tabela 6 apresenta a comparação estatística dos grupos de alunos de cada
série ao questionário. Não foram observadas quaisquer diferenças significantes
entre as séries.
Tabela 6. Comparação das respostas obtidas pelos alunos entre as séries (Q1 a Q10); n = 94. Campinas (SP), Brasil, 2015
Variável
Série Valor de p*
2º
3ª 4º
n % n % n %
Q1
0,6852
Sem conhecimento 2 4,65 0 0,00 0 0,00 Com conhecimento 41 95,35 32 100,00 19 100,00 Q2 0,5389
Sem conhecimento 3 7,14 1 3,13 0 0,00 Com conhecimento 39 92,86 31 96,88 19 100,00 Q3
0,5664
Sem conhecimento 3 6,98 1 3,13 2 10,53 Com conhecimento 40 93,02 31 96,88 17 89,47 Q4 0,8885
Sem conhecimento 8 18,60 7 21,88 3 15,79 Com conhecimento 35 81,40 25 78,13 16 84,21
Q5
1,0000
Sem conhecimento 2 4,65 1 3,13 1 5,26 Com conhecimento 41 95,35 31 96,88 18 94,74 Q6 0,2794
Sem conhecimento 1 2,33 2 6,25 2 10,53 Com conhecimento 42 97,67 30 93,75 17 89,47
Q7
0,1730
Sem conhecimento 2 4,65 5 15,63 3 15,79 Com conhecimento 41 95,35 27 84,38 16 84,21 Q8 0,4685
Sem conhecimento 4 9,52 6 18,75 3 15,79 Com conhecimento 38 90,48 26 81,25 16 84,21 Q9
1,0000
Sem conhecimento 3 7,14 3 9,38 1 5,26 Com conhecimento 39 92,86 29 90,63 18 94,74 Q10 0,7083
Sem conhecimento 3 6,98 2 6,25 0 0,00 Com conhecimento 40 93,02 30 93,75 19 100,00
Valor de p obtido por meio do teste exato de Fisher.
54
6
DISCUSSÃO
55
6. DISCUSSÃO
6.1. Avaliação dos programas
Foram realizadas avaliações dos programas das disciplinas específicas da
área profissionalizante da segunda, terceira, quarta e quinta séries (terceiro ao nono
semestres do curso). A primeira série não foi analisada porque as disciplinas não
focavam o objeto desta pesquisa. Algumas disciplinas das séries avaliadas também
não foram incorporadas no estudo, uma vez que, durante a leitura dos programas,
não se evidenciou, nem indiretamente, qualquer situação em que fosse necessária a
aplicação da medida de PA.
Observa-se que, em todos os programas de disciplina, a medida de PA não
apareceu explicitada formalmente, exceto em EN322, disciplina correspondente à
clássica “Fundamentos de Enfermagem”. Infere-se que essa medida deve ser
considerada como parte do conteúdo nos programas avaliados porque se
mencionam explicitamente a abordagem ao sistema cardiovascular, o processo de
enfermagem, a sistematização da assistência de enfermagem, o processo de cuidar
e o processo de trabalho do enfermeiro.
Nos programas, é possível identificar a predominância da dimensão técnica
do trabalho desenvolvido com os alunos, sendo esta definida por Mishima et. al.(46)
como o conjunto de instrumentos, conhecimentos e habilidades necessários para
atingir objetivos de um determinado projeto.
Verificou-se que a medida de PA foi abordada apenas de forma instrumental,
numa perspectiva da tecnologia dura na maioria dos programas de ensino.
Para Peduzzi e Anselmi(47), os instrumentos de trabalho não são naturais,
mas sim construídos historicamente pelo sujeito que, assim, estende sua
possibilidade de intervenção sobre o objeto. A medida de PA se encaixa nisso, mas
os dados apresentados nesta pesquisa indicam que sua apropriação pelo
enfermeiro está sendo considerada, nas instituições formadoras, responsabilidade
de um pequeno número de docentes e do corpo discente.
Para Merhy(48), as tecnologias podem ser classificadas como leve, leve-dura e
dura. Todas tratam a tecnologia de forma abrangente, mediante análise de todo o
processo produtivo, até o produto final. As tecnologias leves são as das relações; as
56
leve-duras as dos saberes estruturados, tais como as teorias; as duras são as dos
recursos materiais. É possível identificar que, em todas as disciplinas, a discussão
sobre o uso de tecnologias se faz presente e necessária. Procedimentos são
classificados como tecnologia leve-dura, pois podem e devem ser discutidos à luz da
evolução científica, mas não prescindem das tecnologias das relações. Para isso
acontecer adequadamente, é fundamental discutir os procedimentos à medida que
novos conteúdos são introduzidos nas diferentes disciplinas. A ausência desta
discussão traz o risco de desarticulação do conhecimento.
A evolução do saber em Enfermagem reforça a importância dessa articulação.
Para Almeida e Rocha(49), as técnicas e os procedimentos, que começaram a ser
organizados no final do século XIX, na Inglaterra, foram fundamentais para a
sistematização inicial do saber da profissão, sendo considerados os primeiros
instrumentos que a enfermagem utilizou para cuidar do corpo do doente. Gomes(50)
cita que, aliado a esses saberes, o conhecimento também se constituiu como
instrumento de trabalho de enfermagem, que contribuiu para organizar o ambiente
terapêutico, onde o cuidado é realizado. Os programas de disciplinas aqui avaliados
não indicam claramente o estabelecimento dessa aliança. Embora seja possível que
ela esteja acontecendo por iniciativa de cada docente em sua disciplina, isto não
configura uma situação desejável: a única forma de garantir esta discussão é
assumir formalmente e institucionalmente sua necessidade.
Apesar da medida da PA não estar explicita em alguns programas, o
processo de enfermagem é contemplado e este inclui, em sua primeira etapa, a
coleta de dados ou histórico de enfermagem, o que dá margem para entender que
todas as disciplinas abordam esse conteúdo, pois é uma técnica que deve ser
realizada no ato do exame físico de enfermagem(51).
Neste sentido, os resultados da pesquisa evidenciam a necessidade do
ensino a partir da visão do cuidado ampliado, o que torna necessário que as
pessoas envolvidas no processo ensino-aprendizagem se aproximem do conceito
teórico de Rossi e Silva(52), segundo o qual é importante reconhecer o cuidado como
possível e necessário de ser gerenciado no universo organizacional dentro de uma
dimensão que extrapole o tecnicismo.
57
Gazibara et al.(53) avaliaram a contribuição de intervenções educativas
complementares com diversas estratégias alternativas para a melhoria do
conhecimento teórico-prático sobre a medida de PA. Os mesmos autores dizem que
é essencial aplicar novos métodos de ensino para a promoção da competência em
estudantes de enfermagem. A medida da PA é básica para o cuidado e para a
tomada de decisão clínica e os alunos devem ser capacitados para dominar essa
habilidade. O estudo traz ainda como resultado que os métodos de capacitação
aplicados proporcionam aos alunos a capacidade necessária para medir a PA
sistólica e diastólica corretamente.
Portanto, é necessário que todos os programas sejam repensados e
recomenda-se que contemplem referências de medida de PA, uma vez que essa
técnica é ensinada logo no início do curso, para que o aluno possa, com seu
raciocínio clínico, identificar rapidamente se está ocorrendo algo com o paciente.
6.3. Análise das respostas aos questionários
A análise das tabelas demonstrou o quanto os alunos compreendem seu
aprendizado com competência e habilidade sobre a medida de PA no curso de
enfermagem, considerando prevalente a classificação suficiente em todas as
disciplinas, contemplando da segunda à quarta série da escola estudada.
Após a análise crítica das disciplinas oferecidas neste período, podemos
evidenciar uma fragilidade na articulação na continuidade do conteúdo entre ambas,
conforme resultado evidenciado nas questões Q8 e Q9, que abordaram o grau de
necessidade de articulação teórico-prática. Essas disciplinas são voltadas mais para
a questão da competência e habilidade técnica da profissão, e são ministradas por
vários docentes da escola, que dividem os alunos na prática para que ocorra o
aprendizado, ou seja, cada docente é responsável pelo aprendizado do seu grupo.
Pode-se considerar, então, que este grupo de docentes e discentes prevalece
com uma competência técnica, que é o saber fazer.
As competências técnicas representam o conhecimento profundo, ao nível
dos métodos, processos e procedimentos, das atividades desenvolvidas;
representam ainda a energia e desembaraço para a realização rápida de tarefas(54).
58
Sabe-se que, na área da saúde, não podemos só realizar as tarefas e sim,
dentro do processo de cuidar, é necessário exercermos o cuidado integral, em que
paciente, família, docente, discente e equipe devem ter competência e habilidade
para realizar tudo que for necessário em termos de necessidades de saúde.
Conforme reforça Horta(55), o cuidado holístico é essencial para ensinarmos,
aprendermos e executar como profissionais.
A Q5 avaliou o grau de competência e habilidade que o discente considera ter
desenvolvido ao final da graduação. Evidencia-se, no resultado, um empate de 45%
para suficiente e total.
Assim sendo, o ensino deve ser contínuo, o que não foi identificado no
processo aprendizado de medida de PA para este grupo de estudantes, pois, seria
esperado que eles se considerassem com competência total para realizar este
procedimento.
Outro aspecto que nos chamou atenção foi o quanto os docentes
compreenderam a competência e habilidade sobre a medida de PA, considerando
prevalente a classificação suficiente de Q1 a Q10 em todas as disciplinas,
contemplando da segunda à quinta série da escola estudada.
Após a análise crítica das disciplinas aplicadas a esse período, podemos
evidenciar uma fragilidade na articulação na continuidade do conteúdo entre ambas,
conforme resultado evidenciado nas questões Q1 e Q2, nas quais um único docente
considerou nenhum conhecimento dos discentes com relação à medida de PA
ensinada em sua disciplina, e na Q3, em que se esperava a atribuição de grau total
de importância a este procedimento após o término das disciplinas, sendo
considerado pelos docentes, neste estudo, a classificação suficiente.
Na Q4, notou-se que os docentes consideraram um nível suficiente de
aprendizado durante todo o curso teórico-prático, porém um docente considerou
insuficiente na Q5 a competência que os discentes apresentavam sobre os
mecanismos de regulação da PA e a técnica da medida ao final da graduação,
sendo uma pontuação importante para análise deste estudo. A Q8 e Q9 analisaram
a articulação das disciplinas de todas as séries com relação à temática estudada,
sendo evidenciado um empate na Q9, relacionando o grau suficiente e total com
uma significância importante de seis docentes, ou seja, 30% consideram esse
59
aprendizado insuficiente. A Q10 avaliou o grau de estratégia e conteúdo teórico do
ensino da medida de PA, desenvolvem competências e habilidades nos discentes
para eles exercerem adequadamente a prática deste procedimento. A prevalência
do resultado foi suficiente, destacando um docente que respondeu insuficiente.
A partir destes dados fica evidente a necessidade do ensino a partir da visão
do cuidado ampliado. Mais uma vez é importante lembrar o conceito teórico de Rossi
e Silva(52) e reconhecer o cuidado como um objeto que pode e deve ser gerenciado
de maneira que extrapole o tecnicismo.
Refletir sobre a articulação expressa a apreensão das conexões existentes
entre as diversas ações realizadas pelos diferentes profissionais na questão do
ensino-aprendizagem, para que não ocorra desarticulação de nenhum processo e
nem falta de comunicação entre os atores envolvidos(57).
Frente à percepção dos discentes na segunda série do curso de graduação
em relação a competências e habilidades de graduandos na medida de PA, são
ministradas disciplinas técnicas que envolvem o ambiente de sala de aula e
ambiente prático. O que prevaleceu foi o conceito suficiente, mas oito respostas
foram insuficientes na Q4, que abordou o grau de competência e habilidade que o
discente desenvolveu durante o curso em relação à medida de PA. Considerando
que o período contempla disciplinas voltadas ao desenvolvimento de habilidades e
ao aprendizado de técnicas, o grau de conhecimento sobre a medida de PA nessa
disciplina seria de uma expectativa total. Porém, não se pode esquecer que muitos
desses estudantes vivenciam neste momento o primeiro contato com essa técnica e
a insegurança em sua aplicação e escolha do método mais adequado ainda pode
ser uma realidade.
Foram notadas pontuações de insuficiência em todas as questões avaliadas,
destacando também a Q10 do questionário aplicado aos docentes, que avaliou a
estratégia e o conteúdo da medida de PA para o desenvolvimento de competências
e habilidades dos discentes para que eles executem a prática de maneira adequada.
Dezesseis docentes (37,21%) classificaram como insuficiente.
Como estratégia, podemos pensar como Kassier(58), que refere que o
raciocínio clínico é um desenvolvimento que não deve esperar até que os
estudantes adquiram um conhecimento completo de anatomia e fisiologia. Quanto
60
mais precoce o contato com os conceitos e articulados a todas as outras disciplinas
ministradas, melhor para o reconhecimento e a interpretação das técnicas e saberes
que estão apreendendo, pois mais fácil será a absorção.
A questão do aprendizado do raciocínio clínico é um assunto complexo, que
demanda, por parte dos estudantes, uma sólida estrutura de conhecimentos básicos
e a repetição deliberada de experiências com casos clínicos, de preferência com
pacientes reais, sendo esse um componente essencial do processo de ensino-
aprendizagem. A dificuldade de apreender o raciocínio clínico está na formação dos
estudantes; entretanto a compreensão do processo de estruturação do raciocínio
clínico e de seus componentes analíticos e intuitivos ajuda o estudante a se
beneficiar com o que há de melhor em ambos(59).
Já na terceira série do curso de graduação, em relação a competências e
habilidades de graduandos, com relação à medida de PA, são ministradas
disciplinas técnicas e de alto risco, que mereciam uma maior responsabilidade e
adesão do estudante no que diz respeito ao aprendizado, notando-se, na Q5, Q6,
Q7 e Q10, a prevalência do quesito suficiente para esse conteúdo, sendo estas
questões que avaliavam estratégias de ensino e as etapas específicas da medida de
PA trabalhadas nestas disciplinas. Destaque deve ser dado para a Q8, que avaliou o
grau de necessidade de todo esse conteúdo em todas as disciplinas, notando-se
18,75% na classificação insuficiente e, na Q4, 21,88% nessa mesma classificação,
avaliando o grau dessas competências e habilidades desenvolvidas durante todo o
curso.
Segundo Aguiar e Ribeiro(60), os problemas da prática, no mundo real, não se
apresentam com recortes bem delineados, mostrando-se complexos e
indeterminados. A falha pode estar em não formar alunos capazes de tomar
decisões em condições de incerteza, na presença de ambiguidades e contextos
diversificados.
O aluno necessita articular o saber e o fazer, a teoria e a prática, para
solucionar o problema real que lhe é apresentado.
A percepção dos discentes da quarta série do curso de graduação em relação
a competências e habilidades de graduandos na medida de PA teve como objetivo
final fazer com que o aluno aprendesse além da técnica já ensinada. Esperava-se
61
que o aluno articulasse o raciocínio clínico e o pensamento crítico, desenvolvendo,
dessa maneira, todas as competências e habilidades na prática profissional. A
prevalência do conceito total que era esperado em todas as questões ficou
evidenciada somente em Q6 e Q7, que abordaram a importância da posição do
paciente e a insuflação correta do manguito para a medida da PA, confirmando,
dessa forma, a fragilidade citada na articulação das disciplinas para esse
conhecimento ao término do curso. Nota-se também um empate no conhecimento
suficiente e total na Q5, com 47,37% na percepção dos discentes em relação ao
grau de competência adquirido no final da graduação, não sendo notada nenhuma
pontuação na classificação insuficiente somente na Q1, Q2 e Q10.
Considerando os resultados apresentados, verifica-se ser importante discutir
as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão de forma crítica junto à primeira etapa do
processo de enfermagem para que o aluno tenha uma maior bagagem técnico-
científica, mas também para desenvolver o raciocínio clínico e executá-lo na prática
de forma competente. Se esse conteúdo não for discutido de forma crítica nas
disciplinas, o aluno desenvolve uma tecnologia dura de aprendizagem.
É importante seguirmos o raciocínio de Nonino et al.(61),que diz que, a partir
de resultados insatisfatórios que obteve com relação à avaliação de procedimentos
realizados, como banho e curativo, foi possível questionar a eficácia do aprendizado
de todas as técnicas apreendidas, pois todas são delineadas como um instrumento
para qualificar a assistência, mas não têm alcançado sua finalidade, que é a de
assegurar aos pacientes ações de enfermagem com qualidade.
A partir dessa questão, foi analisada uma comparação das respostas de
docentes e discentes aos questionários, e foi possível identificar que, nas respostas
dadas a Q1, Q2, Q4 e Q9, essas apresentaram diferença significativa. Q1 avaliou o
grau de conhecimento sobre a técnica de PA adotada na disciplina cursada; Q2, o
grau da técnica da medida de pressão arterial em todas as disciplinas do curso,
considerando a contribuição para sua formação; a Q4, o grau de competência e
habilidade que o discente tinha com relação ao ensino-aprendizagem durante o
curso de graduação; e a Q9 avaliou o grau de compreensão que o docente e
discente atribuíam na articulação teórica prática ministrada e cursada. A partir dos
dados apresentados, verifica-se que o planejamento e a organização entre todas as
disciplinas ministradas devem estar articulados durante todo o curso, para que o
62
aluno e o docente não tenham a visão e o raciocínio clínico dentro da série ou
disciplina que ministram, e sim de toda a graduação e suas especificidades
acadêmicas.
É importante refletir que as competências no ensino de enfermagem no Brasil
são realizadas em um ambiente específico, efetiva os fenômenos pedagógicos em
meio a relações complexas, que ocorrem entre professor, aluno, paciente e família.
Assim, o docente e o enfermeiro-educador vivenciam as atividades de ensino-
aprendizagem em enfermagem, nos processos de trabalho educacional, assistencial
e gerencial. Para essa nova conformação do processo de ensino-aprendizagem, é
necessário que não só os novos enfermeiros, mas também os atuais e futuros
enfermeiros-professores, desenvolvam competências que os possibilitem pensar e
agir com ética e ousadia(17).
Foi realizada uma comparação das respostas obtidas entre os discentes e as
séries cursadas, sendo possível considerar as séries em relação ao conteúdo já
ministrado, porém não foram encontradas diferenças significativas, concluindo a
inexistência de correlação entre o ensino e o aprendizado comparados entre as
séries. Essa correlação não é, necessariamente, atribuição exclusiva do docente:
também cabe ao discente estabelecê-la, à medida que progride no curso.
Fundamentar o ensino na dimensão social do aprendiz significa, entre outras
coisas, respeitar suas possibilidades de raciocínio e organizar situações que
proporcionem o aperfeiçoamento desse raciocínio; significa também estabelecer
relações entre conteúdo, método e processos cognitivos. Esse procedimento requer,
do professor, o domínio da matéria de estudo e a realização do mapeamento
conceitual do conteúdo (reconhecimento dos conceitos básicos do assunto em pauta
e das relações que se estabelecem entre eles). Requer ainda a identificação das
modalidades de recursos cognitivos e dos conceitos cujo domínio os alunos
manifestam em suas atividades.
Cabe ao professor planejar situações-problema (com sentido, isto é, que
tenham significado para os estudantes) e escolher materiais que sirvam de apoio
para o trabalho que eles realizarão nas aulas. Também é sua atribuição propor
atividades que propiciem a manifestação dos alunos sobre dados disponíveis e
possíveis soluções para os problemas que desencadeiam suas atividades
63
intelectuais. Nas situações voltadas para o saber, o aluno é solicitado a pensar
(fazer o que observa e formular hipóteses), e não necessariamente a encontrar uma
resposta correta(61), portanto, destaca-se o papel mediador do docente no ensino da
medida da PA de modo a incentivar uma lógica de raciocínio centrada no cuidado
ampliado.
64
7
CONCLUSÕES
65
7. CONCLUSÕES
A maioria das respostas indicou que, ao final das disciplinas, os docentes
consideraram que os discentes tinham competência e habilidade para medir a PA,
pois, os conceitos prevalentes atribuídos a estes foram o de suficiente ou total.
No percurso desta análise, foi possível identificar nas respostas dos
questionários dos docentes e discentes e na análise dos programas das disciplinas,
que a concepção de ambos com relação ao conteúdo de medida de pressão arterial
é uma concepção que aparenta ser de cunho instrumental.
Com base nos programas de disciplinas, entendeu-se que o curso considera
o processo de enfermagem como instrumento assistencial fundamental do processo
de trabalho do enfermeiro. Entretanto, não ficou clara a articulação entre os
diferentes componentes do saber em Enfermagem, que embasa este processo de
trabalho.
Conclui-se que com exceção da disciplina EN322 que corresponde a
“Fundamentos de Enfermagem” a medida de pressão arterial não é valorizada como
conteúdo. Todavia, esse conteúdo faz parte do processo de enfermagem e da
avaliação do sistema cardiovascular, contemplado em algumas disciplinas.
Assim, observou-se que o ensino da medida de pressão arterial parece
limitado para abarcar a totalidade do aprendizado durante toda a graduação.
Acredita-se na iniciativa de docentes e discentes no aprendizado desta
técnica, a partir do instrumento processo de enfermagem e do sistema
cardiovascular, como estratégia para que o aluno a compreenda com visão ampliada
o cuidar em enfermagem. No entanto, é preciso incluir, na totalidade das ementas
das disciplinas estudadas conteúdos que forneçam bagagem para o ensino da
medida de pressão arterial para a melhoraria os níveis de aprendizagem da técnica.
Desta forma conclui-se que os objetivos do presente estudo foram
plenamente alcançados sendo os mesmos relevantes na medida em que podem
contribuir para o estabelecimento de uma reflexão que leve a melhor articulação
entre os programas de ensino na perspectiva da integralidade da atenção o que
deslocaria a discussão da PA e da HAS apenas como a técnica de bem medir a PA,
mas como algo que convoca o pensar critica do enfermeiro para outras vertentes.
66
8
REFERÊNCIAS
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73
9
APÊNDICES
74
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Por esse instrumento particular declaro, para os efeitos éticos e legais, que
eu,
(nome)________________________________________________________(nacion
alidade) _________________(profissão)____________________________ (idade)
______, portador do RG ____________________ CPF______________________
residente e domiciliado à
___________________________________________________________________
________________________________________________na cidade de
______________________ Estado_________________ fui convidado a participar
deste estudo, denominado Medida de pressão arterial: competências e habilidades
de docentes e graduandos da Universidade Estadual de Campinas, realizado por
Gabriela Marchiori Carmo Azzolin (doutoranda), Paula Rocco Gomes Lima e Adeline
Mariano da Silva (assistentes de pesquisa), sob orientação do Prof. Dr. José Luiz
Tatagiba Lamas. O objetivo geral é analisar os dados à luz das recomendações para
medida de pressão arterial das VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial e
objetivos específicos verificar como os docentes se avaliam quanto a suas
competências e habilidades com relação ao conteúdo da técnica de medida
auscultatória da pressão arterial e verificar como os discentes se avaliam quanto as
suas competências e habilidades com relação ao conteúdo da técnica de medida
auscultatória da pressão arterial. Minha participação ocorrerá no sentido de permitir
a observação da medida da pressão arterial realizada por estudantes de
enfermagem em ambiente de ensino. Além disso, deverei responder a um
questionário estruturado, visando avaliar competências e habilidades de docentes e
discentes com relação à medida auscultatória de pressão arterial. Recebi
esclarecimentos necessários, de forma verbal, que os procedimentos a serem
realizados pelos pesquisadores são simples e não há riscos previsíveis. Possíveis
desconfortos relacionam-se a exposição do sujeito, tempo gasto em função de sua
participação na pesquisa e interrupção da aula gerando desconforto pedagógico e
atraso no cronograma a ser cumprido pelo docente. Levando-se em conta que é
uma pesquisa, os resultados positivos ou negativos somente serão obtidos após a
75
sua realização. Os benefícios esperados relacionam-se à identificação de limitações
no processo de aquisição de competências e habilidades, o que possibilitará
melhoria desse processo. Estou ciente que meu nome ou qualquer outro dado que
possa, de qualquer forma, me identificar, será mantido em sigilo. Autorizo, para
devidos fins, o uso, a divulgação e a publicação dos dados e resultados obtidos do
relatório da pesquisa geral. Também fui informado de que posso me recusar a
participar do estudo, ou retirar meu consentimento a qualquer momento, sem
precisar justificar, e que, por desejar ser excluído da pesquisa, não sofrerei qualquer
prejuízo ou pena. Não receberei qualquer quantia por participar deste estudo. Por
outro lado, qualquer despesa decorrente de minha participação será de
responsabilidade dos pesquisadores. É assegurada a assistência durante toda a
pesquisa, bem como me é garantido o livre acesso a todas as informações e
esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas consequências. No caso de
dúvidas poderei fazer contato diretamente com qualquer um dos pesquisadores,
cujos números de telefone constam deste termo. Para reclamações ou denúncias
poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa, cujo endereço e número de
telefone são informados abaixo. Tendo sido orientado quanto ao teor de tudo aqui
mencionado e compreendido a natureza e o objetivo do estudo, manifesto meu livre
consentimento em participar.
Por estar de pleno acordo com o presente termo, assino abaixo o mesmo.
Campinas,_______de __________ de 2013.
_______________________ ____________________________
(Assinatura do Voluntário) (Assinatura da Pesquisadora)
Prof. Dr José Luiz Tatagiba Lamas – Tel. 3521-8832
76
Gabriela Marchiori Carmo Azzolin – Doutoranda de Faculdade de
Enfermagem – cel. 98147-9592
Paula Rocco Gomes Lima – cel. (19) 98105-0157
Adeline Mariano da Silva – cel. (19) 99638-1186
Comitê de Ética em Pesquisa – Rua Tessália Vieira de Camargo, 126 - Caixa
Postal 6111 Cep: 13083-887 – Campinas – SP- Tel: 3521-8936 – Fax (19) 3521-
7187
E-mail: [email protected]
77
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS DOCENTES
IDENTIFICAÇÃO POR GRAU DE COMPETÊNCIA
Orientação:
Assinale o grau de competência que você julga que o discente alcançou ao término
de sua disciplina.
1. Reconhece que após o término de sua disciplina teórico-prática o discente
apreende a técnica de medida de pressão arterial?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
2. Qualifique o conhecimento dos discentes sobre o procedimento de medida de
pressão arterial ensinada em sua disciplina teórico-prática.
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
3. Que grau você atribui à importância dada pelo discente a esse procedimento após
sua disciplina?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
4. Qual o grau de competência e habilidade você compreende que o discente
desenvolve durante todo o curso de graduação em Enfermagem?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
5. No final da graduação, qual grau de competência os discentes possuem sobre os
mecanismos de regulação da pressão arterial e sua técnica de medida?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
6. Como você considera o preparo dos discentes a respeito da importância do
posicionamento do paciente na medida de pressão arterial?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
78
7. Como você considera o preparo dos discentes a respeito da importância de inflar
adequadamente o manguito durante a medida de pressão arterial?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
8. Qual o grau de necessidade do conteúdo de medida de pressão arterial estar
articulado com todas as disciplinas do curso de graduação em Enfermagem?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
9. Que grau você atribui a compreensão do discente quanto à necessidade do
procedimento de medida de pressão arterial estar integrado e articulado em todas as
disciplinas teórico- práticas do curso de graduação em Enfermagem?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
10. Em que grau você considera que a estratégia e conteúdo teórico do ensino da
medida de pressão arterial desenvolvem competências e habilidades nos discentes
para que eles executem adequadamente a prática deste procedimento?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
79
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS DISCENTES
IDENTIFICAÇÃO POR GRAU DE COMPETÊNCIA
Orientação:
Assinale o grau de competência que você julga ter alcançado após ter apreendido o
conteúdo da técnica de medida de pressão arterial durante todas as disciplinas da
graduação junto aos docentes dessa universidade.
1. Avalie o seu grau de conhecimento sobre o procedimento de medida de pressão
arterial adotado na disciplina teórico-prática.
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
2. Em que grau o ensino de medida de pressão arterial em todas as disciplinas de
seu curso de graduação contribuiu para sua formação?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
3. Qual o grau de aplicabilidade da medida de pressão arterial, aprendida nas
disciplinas teórico-práticas com todas as disciplinas do curso de graduação em
enfermagem?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
4. Avalie o conhecimento que você tem sobre a relação dos mecanismos de
regulação da pressão arterial com a técnica de medida?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
5. Como você considera seu próprio preparo a respeito da importância do
posicionamento do paciente na medida de pressão arterial?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
6. O quanto você considera ser importante inflar adequadamente o manguito durante
o procedimento de medida de pressão de pressão arterial?
80
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
7. O quanto você considera que o aprendizado prático e teórico do conteúdo de
medida de pressão arterial deve ser integrado em todas as disciplinas, durante todo
período de graduação, permitindo desta maneira relacionar os fatores que
influenciam na medida de pressão arterial com a assistência qualificada à saúde?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
8. Em que grau você considera que o conteúdo prático-teórico ensinado em todas as
disciplinas o preparou para execução correta desse procedimento?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
9. Em que grau você compreende as relações entre o conteúdo teórico das
disciplinas de graduação e o procedimento de medida de pressão arterial?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
10. Em que grau você considera que o aprendizado prático e teórico acumulado nas
disciplinas permitiu a compreensão de que a pressão arterial deve ser verificada
durante o exame físico?
( ) Nenhum ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Total
81
APÊNDICE D – CARTA DE SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO
Campinas, 20 de dezembro de 2014.
Ilma. Sra.
Profa. Dra. Luciana de Lione Mello,
Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem - UNICAMP
Prezada Senhora:
Venho solicitar autorização para execução do projeto Medida de Pressão
Arterial: Competências e Habilidades de Docentes e Graduandos do Curso de
Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (ANEXO III). Trata-se de
projeto de doutorado desenvolvido nesta Faculdade de Enfermagem sob orientação
do Prof. Dr. José Luiz Tatagiba Lamas.
No aguardo de sua manifestação, fico à disposição para esclarecimentos.
Atenciosamente,
Gabriela Marchiori Carmo Azzolin
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ANEXOS
ANEXO I – APRECIAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
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84
85