Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e...

22
22 RBCE - 110 integração produtiva Complementaridade produtiva regional e competitividade * Renato Baumann Francis Ng RESUMO Um ambiente internacional positivo favorece o crescimento de diversas economias em uma determinada região, mas não assegura que as diferenças no potencial econômico dos vários países sejam reduzidas nesse processo. Como alternativa, a presença de complementaridades produtivas pode estimular a competitividade e contribuir para aumentar o grau de homogeneidade, mesmo no caso de termos de troca adversos. Este artigo analisa a experiência de uma série de grupos sub- regionais na Ásia e na América Latina nas últimas duas décadas. A América Latina recentemente vem se beneficiando com a melhoria significativa dos termos de troca, mas, ainda assim, as economias dessa região permanecem tão diferentes entre si, no que tange ao seu potencial econômico relativo, quanto eram no início dos anos 1990. Na Ásia, ao contrário, não obstante o impacto negativo dos termos de troca, houve crescimento do PIB a um ritmo muito rápido e uma maior convergência das diversas economias, com aumento acentuado na participação da região no mercado internacional. INTRODUÇÃO A literatura sobre o comércio regional destaca alguns canais por meio dos quais as Renato Baumann é membro da equipe econômica/técnica do IPEA e professor da Universidade de Brasília. Email: [email protected]. Francis Ng é economista do Development Research Group-Trade do Banco Mundial. Email: [email protected]. Os autores agradecem a Ian Gilson, do Banco Mundial, pelos proveitosos comentários sobre uma versão anterior. No entanto, nem ele nem as instituições mencionadas são responsáveis pelas opiniões ou erros contidos neste artigo. * Versão resumida de artigo a ser publicado este ano no International Trade Journal.

Transcript of Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e...

Page 1: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

22 RBCE - 110

integração produtiva

Complementaridade produtiva regional e competitividade*

Renato baumann Francis ng

rESUMO

Um ambiente internacional positivo favorece o crescimento de diversas economias em uma determinada região, mas não assegura que as diferenças no potencial econômico dos vários países sejam reduzidas nesse processo. Como alternativa, a presença de complementaridades produtivas pode estimular a competitividade e contribuir para aumentar o grau de homogeneidade, mesmo no caso de termos de troca adversos. Este artigo analisa a experiência de uma série de grupos sub-regionais na Ásia e na América Latina nas últimas duas décadas. A América Latina recentemente vem se beneficiando com a

melhoria significativa dos termos de troca, mas, ainda assim, as economias dessa região permanecem tão diferentes entre si, no que tange ao seu potencial econômico relativo, quanto eram no início dos anos 1990. Na Ásia, ao contrário, não obstante o impacto negativo dos termos de troca, houve crescimento do PIB a um ritmo muito rápido e uma maior convergência das diversas economias, com aumento acentuado na participação da região no mercado internacional.

INTrODUçãO

A literatura sobre o comércio regional destaca alguns canais por meio dos quais as

Renato Baumann é membro da equipe econômica/técnica do IPEA e professor da Universidade de Brasília. Email: [email protected] Ng é economista do Development Research Group-Trade do Banco Mundial. Email: [email protected] autores agradecem a Ian Gilson, do Banco Mundial, pelos proveitosos comentários sobre uma versão anterior. No entanto, nem ele nem as instituições mencionadas são responsáveis pelas opiniões ou erros contidos neste artigo.* Versão resumida de artigo a ser publicado este ano no International Trade Journal.

Page 2: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

23RBCE - 110

preferências comerciais podem afetar o crescimento do PIB das economias participantes. Além do conceito “vineriano” de criação de comércio, que pode ser associado a ganhos de escala,1 os principais autores também incluem entre esses canais os ganhos dinâmicos decorrentes de ajustes nos termos de troca e na taxa de câmbio,2 os ganhos de negociações conjuntas com terceiros3 e a expansão do comércio intraindustrial, que leva a menores custos de ajuste.4

Menos atenção tem sido dedicada às complementaridades produtivas em escala regional como um meio para adquirir competitividade. Essa é a questão central deste artigo. Vamos argumentar que um ambiente internacional positivo favorece o crescimento de várias economias em uma determinada região, mas não garante que as diferenças de potencial econômico entre os diversos países sejam reduzidas nesse processo.

Alternativamente, a presença de complementaridades produtivas pode promover a competitividade e contribuir para aumentar o grau de homogeneidade entre as economias de uma região, mesmo em situações em que os termos de comércio são adversos. Esse é um aspecto importante, na medida em que uma maior homogeneidade melhora o alinhamento dos

ciclos de negócios e contribui para ampliar a operação de mecanismos de transmissão, tais como a mobilidade dos fatores e a consolidação de cadeias produtivas.

Os processos produtivos em um número crescente de indústrias têm se caracterizado nos últimos anos pela fragmentação da produção, com diferentes etapas sendo realizadas em vários países, principalmente em razão de diferenças nos custos. A divisão da produção em unidades isoladas não é uma questão nova. Produções múltiplas dentro de uma determinada unidade produtiva, ou mesmo a combinação de processos para obter um conjunto variado de produtos acabados, são inerentes à própria lógica dos processos produtivos. É a intensidade da divisão de processos em diferentes partes do mundo que é um fenômeno novo.

Paralelamente a essa fragmentação, o mundo, desde meados dos anos 1980, vem testemunhando um ritmo sem precedentes de negociações de acordos preferenciais de comércio, tanto em termos bilaterais quanto em âmbito regional.

A fragmentação produtiva está relacionada à diferença de custos, permitindo, portanto, uma alocação mais eficiente de recursos. Preferências

comerciais podem contribuir ainda mais para a redução de custos no uso de bens produzidos nos países participantes, uma vez que, por definição, estes têm, comparativamente, melhores condições de acesso ao mercado regional.

A combinação desses dois elementos (a partição de processos produtivos entre vários países somada a condições preferenciais de comércio) pode fornecer condições bastante dinâmicas para competir no mercado internacional. Além disso, as complementaridades produtivas, por definição, levam a um ciclo virtuoso em que uma economia em crescimento fornece estímulos de demanda para outras economias em uma determinada região, gerando uma espécie de “multiplicador regional” pelo qual um aumento exógeno na demanda por produção em um país pode induzir “demanda derivada” pelos bens produzidos em outros lugares na mesma região.

Alternativamente, quando um processo de preferências comerciais ocorre em um cenário diferente, com baixa complementaridade produtiva, o objetivo torna-se essencialmente a redução das barreiras formais ao comércio, mas há pouca margem para um efeito multiplicador desse tipo. Em vez disso, quando a maioria

1 Ver, por exemplo, J.Viner (1950), M. Corden (1972) e H. Johnson (1965).2 B. Balassa (1964).3 R. Ffrench-Davis (1979).4 R. Devlin, P. Giordano (2004).

Page 3: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

24 RBCE - 110

dos fluxos de comércio regional é de produtos acabados, um aumento nas exportações de um dos países implica maior participação no mercado interno desses produtos nos demais países participantes; como consequência, isso aumenta a pressão para a adoção de barreiras comerciais. Em vez de um ciclo virtuoso, o mais provável é que ocorram paradas súbitas.

Esse raciocínio está diretamente ligado às características peculiares dos bens de produção5. A demanda por esses produtos é uma demanda derivada, ou seja, está intimamente ligada à atividade geral da economia. Além disso – e ainda mais importante –, esses produtos desempenham um papel importante na difusão do progresso técnico. As mudanças tecnológicas estão inseridas nas características do processo produtivo; então, quanto mais intenso o envolvimento de uma determinada economia com a produção e a comercialização desses produtos, maiores as chances de que esse país irá se beneficiar das oportunidades de acesso a informações tecnológicas atualizadas.

Castaldi e Dosi (2008) mostraram que as taxas de crescimento do PIB estão intimamente relacionadas às atividades inovadoras domésticas, às taxas de investimento em bens de capital e à difusão tecnológica internacional. Relacionando essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem

que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo, mas consegue ter acesso a bens de capital, é capaz de acumular mais capital, comparativamente a outro em situação de autarquia, porque esse acesso aumenta o produto por trabalhador e favorece o processo de aprendizagem (learning by doing).

Existe adicionalmente um componente de transferência tecnológica envolvido que fomenta ainda mais o crescimento. Goh (2005) indica que os fornecedores nos países em desenvolvimento não são receptores passivos de tecnologia: relacionamentos de longo prazo entre comprador e vendedor são construídos à medida que o fornecedor faz esforços tecnológicos para complementar o conhecimento recebido do comprador.

Há, portanto, boas razões para focar a atenção da análise no comércio de bens de produção. No nível regional, é mais provável que a demanda derivada por esses produtos tenha origem nas maiores economias da região. Todo processo de integração regional tem um eixo que parte das maiores economias, onde as trocas são mais intensas. Por isso, em cada região é possível identificar economias “líderes” com potencial para espalhar estímulos de demanda para os outros parceiros.

Este trabalho está focado, portanto, no comércio regional

5 A definição de bens de produção abrange bens de capital, insumos, partes, peças e componentes, assim como matérias-primas consumidas no processo produtivo.

A presença de complementaridades produtivas pode promover a competitividade e contribuir para aumentar o grau de homogeneidade entre as economias de uma região

Page 4: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

25RBCE - 110

desses produtos que não são destinados ao consumo final. Quanto mais intenso for o fluxo comercial, mais significativo é o grau de complementaridades produtivas. E como a fragmentação da produção está relacionada a custos mais baixos, quanto mais intenso o fluxo maior a probabilidade de ganhos de competitividade.

Esse tipo de abordagem regional parte do pressuposto de que os benefícios de uma abertura multilateral alternativa e não discriminatória – que poderia proporcionar acesso a produtos melhores e mais baratos do que os fornecidos pelos membros do bloco – podem ser superados pelos ganhos dinâmicos decorrentes, ao longo do tempo, da complementaridade produtiva transfronteiriça.

O presente trabalho não tem como objetivo comparar estratégias alternativas, nem inferir o seu verdadeiro impacto líquido no bem-estar global. Tampouco visamos a isolar a contribuição efetiva dos acordos preferenciais de comércio e da complementaridade produtiva. Nós apenas nos propusemos a comparar grupos de países que optaram por acordos preferenciais de comércio numa base regional e que têm obtido resultados bastante diferentes, decorrentes da influência conjunta das cadeias produtivas e do comércio preferencial.

O artigo tem seis seções. A seção a seguir apresenta alguns argumentos a favor de aumentar o grau de homogeneidade de crescimento do PIB numa base regional. A terceira seção mostra a abordagem metodológica básica adotada neste trabalho, essencialmente centrada nos dados sobre comércio e crescimento do PIB para algumas sub-regiões na Ásia e na América Latina. A quarta seção compara as características básicas do comércio regional e externo dessas sub-regiões, e a quinta seção traz alguns dados importantes em relação às taxas de crescimento do PIB e ao grau de homogeneidade do processo de crescimento em cada caso. A última seção resume as conclusões básicas.

OS FuNDAmENtOS DA hOMOgENEIDADE DO CrESCIMENTO rEgIONAL

A literatura teórica sobre preferências comerciais diferenciadas não é muito útil para a discussão a respeito de seus efeitos sobre o crescimento, pois foca nos efeitos das preferências sobre o bem-estar. Isso levou diversos autores a tentar identificar a real contribuição dos acordos preferenciais para o crescimento via procedimentos ad hoc. A questão básica é saber se é possível esperar mais

dinamismo em decorrência de ligações regionais mais estreitas, ou se relações multilaterais mais intensas (abrir a economia numa base multilateral) são o que afeta o crescimento com mais força. Um breve levantamento de uma série de trabalhos empíricos sobre as relações entre regionalismo e crescimento do produto mostra resultados bastante contrastantes.

Algumas análises6 chegaram à conclusão de que a convergência ocorre mais rapidamente dentro das regiões, em comparação com a economia mundial. Assim, o fosso entre economias menos abertas e economias mais abertas tende a diminuir mais rapidamente dentro de determinadas regiões do que na economia mundial.

A teoria (e o bom senso) indica que as chances de criação de comércio são maiores quanto maior for o mercado conjunto das economias participantes. Por isso, as chances de o comércio regional promover o crescimento do produto serão mais significativas para mercados maiores do que para um conjunto de pequenas economias.7 Nesse sentido, as descobertas de Alcala e Ciccone (2003)8 sobre os países europeus, de que o comércio e o tamanho do mercado interno são determinantes importantes do crescimento, reforçam a hipótese de “exportações motivadas pelo crescimento”

6 G. Chortareas, T. Pelagidis (2004). Além disso, S. Kim e Shin E. (2002), e R. Wooster, S. Dube, T. Banda (2007) consideram que a regionalização e a globalização não são processos contraditórios, e que a regionalização comercial cria comércio, em vez de desviar o comércio. 7 Como ilustrado, por exemplo, pelo alto número de acordos preferenciais entre países africanos, com um comércio regional bastante limitado. 8 F. Alcala, A Ciccone (2003).

Page 5: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

26 RBCE - 110

(growth-led exports), em vez de um “crescimento motivado pelas exportações” (exports-led growth). Como corolário, quanto maior o mercado regional, maior a probabilidade de que ele irá influenciar positivamente a taxa de crescimento da produção.

Outros estudos, baseando-se no tipo de abordagem “causalidade no sentido de Granger”,9 consideram que o comércio intrarregional tem um impacto menor sobre o crescimento do produto per capita do que o crescimento extrarregional. Isso é reforçado por um tipo alternativo de abordagem que estima o desempenho de crescimento para diferentes conjuntos de países classificando alguns como “economias abertas”, diferenciando-os de outros, que assinaram acordos preferenciais de comércio. Por exemplo, Vamkakidis (1999)10 acha que as economias cresceram mais rapidamente após uma liberalização ampla e mais lentamente após a participação em um acordo comercial regional. Um problema nessa abordagem é que ela parte de uma visão simplista, que assume que: a) todo acordo regional é igual a qualquer outro; e b) a simples adesão a um acordo deve ser condição suficiente para promover o crescimento.

A carência de orientação teórica aumenta a dificuldade para desenhar experimentos empíricos, bem como para interpretar os seus resultados.

Não só os acordos regionais diferem uns dos outros, mas também o conjunto de países que participam em cada acordo ajuda a determinar o resultado em termos do desempenho do produto.

Os acordos regionais devem, em princípio, estimular o crescimento e o investimento, facilitar a transferência de tecnologia, deslocar a vantagem comparativa em favor de atividades de alto valor agregado, dar credibilidade a programas de reformas e induzir a estabilidade política, embora correndo o risco de, ao mesmo tempo, promover desvio de comércio numa direção ineficiente e afetar negativamente o sistema de comércio multilateral. Dependendo do conjunto de países envolvidos, pode ser que todos esses efeitos ocorram simultaneamente. Além disso, um maior grau de homogeneidade melhora o alinhamento dos ciclos de negócios e contribui para ampliar o funcionamento dos mecanismos de transmissão, tais como a mobilidade dos fatores e a consolidação das cadeias produtivas.

Na tentativa de lidar com essas questões, Gupta e Schiff (1997)11 discutem o real impacto de um acordo sobre os países que dele não participam. Os autores consideram que mesmo um acordo pouco expressivo economicamente pode

9 Wooster/Dube/Banda (2007), op.cit.10 A. Vamkakidis (1999).11 A. Gupta, M.Schiff (1997).

Os acordos regionais devem estimular o crescimento e o investimento, facilitar a transferência de tecnologia, deslocar a vantagem comparativa em favor de atividades de alto valor agregado, dar credibilidade a programas de reformas e induzir a estabilidade política

Page 6: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

27RBCE - 110

12 A Venables (2003), op.cit.13 M.Berthelon (2004).14 V.Arora, A Vamkakidis (2004).15 M.Kose, C.Otrok, C.Whiteman (2003).16 Processo conhecido por diversos nomes, como “fatiar a cadeia de valor”, “especialização vertical”, “compartilhamento internacional da produção”, outsourcing, “complementaridades produtivas”, entre outros. Esse tipo de operação pode, naturalmente, compreender tanto transações à distância quanto intra firma.17 F.Ng, A.Yeats (2003).

promover poder de mercado em determinados produtos, levando a uma piora dos termos de troca do resto do mundo.

A questão da contribuição dos acordos regionais para o crescimento econômico foi abordada também em termos do grau de convergência dos níveis de renda per capita entre os países-membros e em termos da sua relação com o ciclo de negócios. Os resultados irão depender de uma série de variáveis, tais como as políticas macro adotadas por cada país participante, a infraestrutura, a concentração geográfica da oferta, a diferenciação do produto, a existência de barreiras comerciais (entre países parceiros, bem como impostas por terceiros países) e outras.

Venables (2003)12 contribui com uma perspectiva peculiar, concentrando-se nas vantagens comparativas dos países participantes em cada bloco comercial. Ele propõe que os países podem ser classificados de acordo com um espectro de vantagens comparativas. Se a vantagem comparativa está relacionada à renda per capita, um acordo que inclua países de alta renda irá provavelmente levar a uma convergência da renda per capita, enquanto que blocos compostos essencialmente por países em desenvolvimento

costumam apresentar divergência das rendas per capita.Esse resultado é apoiado por Berthelon (2004),13 para quem os acordos entre países do Norte têm efeitos de crescimento inequívocos, enquanto que os efeitos dessas iniciativas entre economias em desenvolvimento dependem do tamanho dos parceiros. Para acordos Norte-Sul, as evidências não são conclusivas.

A proposição de Venables também é indiretamente apoiada por Agora e Vamkakidis (2004),14 que exploram em que medida o crescimento econômico de um país é influenciado pelo seu parceiro comercial. Eles demonstram que o nível da renda externa em relação à renda doméstica é importante (a razão entre o PIB médio per capita dos parceiros comerciais e o PIB per capita do próprio país está positivamente relacionada ao crescimento).

De uma perspectiva diferente, a relação entre os fatores regionais e o ciclo de negócios foi estudada por Kose, Otrok e Whiteman (2003)15 para uma amostra de 60 países. Segundo esses autores, fatores específicos de cada região desempenham apenas um papel secundário para explicar as flutuações na atividade econômica.

Até agora, os estudos empíricos visando identificar regras genéricas em termos da verdadeira contribuição do comércio regional para o crescimento do produto ainda não apresentaram resultados conclusivos, mas as apostas parecem recair mais no sentido de que o impacto é positivo, já que – como lembram Freund e Ornelas (2009) – a norma é a criação de comércio, não o desvio. Em qualquer caso, a questão central é se o mercado regional pode ser uma fonte de demanda para exportações de manufaturados produzidos localmente e, mais ainda, para aqueles bens (produtos de alta tecnologia) para os quais se espera que a produção ocorra com custos decrescentes, estimulando o investimento de forma mais intensa e, assim, contribuindo mais para o crescimento do PIB. Presumivelmente, é isso que está ocorrendo na Ásia.

Na Ásia, diversas economias menores da região estão “conectadas” aos processos de produção por meio da fragmentação produtiva e do outsourcing,16 mas também como resultado do “esforço consciente para melhorar a composição de suas exportações finais”.17

A fragmentação das etapas produtivas, com diferentes

Page 7: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

28 RBCE - 110

estágios ocorrendo em diferentes países, principalmente em razão da diferença de custos, não é uma questão nova. Várias etapas dentro de uma determinada unidade produtiva, ou mesmo a combinação de processos para obter um conjunto variado de produtos acabados, são inerentes à própria lógica dos processos produtivos. É, no entanto, a intensidade da divisão de processos em diferentes partes do mundo que é um fenômeno novo.

O conceito de “integração produtiva regional” não é algo definido com precisão na literatura acadêmica, nem na literatura de negócios. Intuitivamente, pode-se dizer que é um processo de produção dividido fisicamente em diversas unidades que estão conectadas por um arranjo logístico sistemático (Hamaguchi (2010).18

O custo médio da fragmentação será menor se a produção total aumentar em decorrência das economias de escala. Nesse caso, uma região com um grande mercado consumidor ou com uma grande capacidade de exportação é uma candidata natural para a integração produtiva regional.

A fragmentação produtiva está relacionada à diferença de custos, possibilitando, portanto, uma alocação mais eficiente

dos recursos. As preferências comerciais contribuem ainda mais para reduzir os custos pelo uso de insumos produzidos nos países participantes, uma vez que, por definição, estes têm, comparativamente, melhores condições de acesso ao mercado regional. A combinação desses dois elementos (a partição de processos produtivos entre vários países somada a condições preferenciais de comércio) pode fornecer condições bastante dinâmicas para competir no mercado internacional.

As evidências disponíveis em relação ao Leste da Ásia parecem reforçar essa percepção. Uma característica do comércio intra-asiático (do Leste da Ásia, em particular) é que o aumento da participação do comércio intrarregional ao longo do tempo se deve principalmente ao rápido crescimento das importações intrarregionais, enquanto que, no que tange às exportações intrarregionais, esse aumento tem sido sistematicamente mais lento.19 Essa assimetria reflete em grande parte a dependência significativa das economias asiáticas em relação a exportações para terceiros mercados, bem como a composição peculiar da pauta de exportações da região.20 Ao mesmo tempo, é uma consequência do tipo de relação econômica que China e Japão – as potências mais importantes

18 N.Hamaguchi (2010). 19 P.Athukorala, A.Kohpaiboon (2009).20 Os países asiáticos tipicamente importam do resto do mundo recursos naturais e produtos intensivos e exportam produtos industriais (bens de consumo, em particular).

uma região com um grande mercado consumidor ou com uma grande capacidade de exportação é uma candidata natural para a integração produtiva regional

Page 8: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

29RBCE - 110

na região – estabelecem com as outras economias da área.

Essa mesma percepção de uma relação comercial dinâmica (superávit) com o resto do mundo deu origem a uma série de estudos tentando identificar se o alto crescimento alcançado por essas economias é resultado de seus vínculos regionais ou consequência de seu comércio global.

Ng e Yeats (2003)21 fornecem uma análise mais exaustiva do comércio regional no Leste Asiático, destacando a importância crescente das transações regionais. Grande parte do dinamismo exportador das economias menores é causada pela demanda de Japão e China. Os perfis de exportação e importação dos países da região tornaram-se cada vez mais complementares ao longo do tempo.

Alternativamente, Athukorala (2005)22 parte da perspectiva de que a fragmentação internacional da produção tornou o dinamismo do crescimento do Leste Asiático cada vez mais dependente do comércio extrarregional, e constata que o comércio extrarregional é muito mais importante do que o comércio intrarregional para o crescimento dinâmico sustentado: o processo de fragmentação parece ter fortalecido o argumento em prol de uma abordagem global, em vez de regional, em matéria

de comércio e o investimento, haja vista que a fragmentação diz respeito a cadeias setoriais de produção.

Para Shin e Wang (2003),23 o comércio intraindústria é o principal canal por meio do qual os ciclos de negócios se tornaram cada vez mais sincronizados entre as economias asiáticas. Isso não quer dizer que o comércio por si só aumente a coerência do ciclo de negócios: a sincronização crescente deve-se ao fato de o comércio asiático apresentar um padrão intraindustrial cada vez mais acentuado.

Park e Shin (2009)24 analisam os efeitos da integração intra-regional e extrarregional nas mudanças no padrão do ciclo de negócios do Leste da Ásia desde 1990. Apesar da proliferação de acordos preferenciais nos últimos anos, o alto grau de integração comercial na região tem sido impulsionado, de modo geral, sem a promoção deliberada dos governos. Esses autores encontraram fortes evidências de que uma maior integração comercial reforça o co-movimento do produto.

O resumo das contribuições teóricas e das pesquisas empíricas termina aqui. Aqueles que defendem um maior grau de homogeneidade da produção em âmbito regional contam com pelo menos um antecedente histórico de peso em favor de seu ponto

de vista. De fato, no mundo real, talvez o melhor exemplo da importância de fomentar o grau de homogeneidade entre os países num exercício de integração é dado pela União Europeia. Desde a sua fase inicial, diversos instrumentos foram criados para reduzir as disparidades entre os países-membros, como uma condição básica para a própria existência e sustentabilidade do exercício de integração.

Entendemos, portanto, que há muitas razões pelas quais os parceiros preferenciais devem se preocupar em promover um maior grau de homogeneidade no crescimento do produto dentro de uma região. Esse ponto de vista está presente na análise a seguir.

O OBjEtO DA ANáLISE

A existência de vínculos comerciais entre as economias maiores e as outras dentro de uma determinada região indica uma relação do tipo hub e spoke. Para os objetivos do presente artigo, um país hub é uma economia tão grande e com tantas conexões com outros que o seu ciclo de negócios pode (real ou potencialmente) afetar a atividade de outras economias vizinhas.

Um estudo anterior25 analisou a existência desse tipo de relação

21 Ng, Yeats (2003), Op.cit.22 P.Athukorala (2005).23 K.Shin, Y.Wang (2003).24 Y.Park, K.Shin (2009).25 24 R. Baumann (2010).

Page 9: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

30 RBCE - 110

na Ásia e na América Latina, quando consideradas como conjuntos homogêneos de países, e indicou que há mais chances de se encontrar um “multiplicador regional”, como definido acima, na primeira região do que na segunda. O presente artigo parte desses resultados e tenta identificar a existência de tais relações em um nível sub-regional.

Os grupos de países aqui considerados são os seguintes, com um asterisco para identificar as economias hub em cada caso: A) Leste da Ásia - China (*), Hong Kong, Japão (*), Mongólia, Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã; B) Sul da Ásia - Bangladesh, Índia (*), Paquistão e Sri Lanka; C) América Central - Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, México (*), Nicarágua e Panamá; D) América do Sul (com dois hubs, ou seja, Brasil e Argentina), dividida em E) países andinos26 - Bolívia, Chile, Colômbia (*), Equador, Peru e Venezuela (*)27 e F) Mercosul - Argentina, Brasil (*), Paraguai e Uruguai.

O período de análise é 1992-2008.28 Para os objetivos deste trabalho, foi construído um banco de dados específico sobre fluxos de comércio (a partir do banco de dados

Comtrade, das Nações Unidas) composto por três conjuntos de produtos comercializados por cada país: a) total de bens, ou seja, o agregado dos fluxos comerciais; b) “bens de produção” (uma seleção ad hoc de 1.919 itens específicos da SITC Rev. 3, no nível de classificação de 5 dígitos)29 e c) “outros produtos”, compreendendo a diferença entre o total de bens e os “bens de produção”. Esses itens foram identificados nos fluxos de comércio entre cada par de países dentro de cada sub-região, entre os chamados países spoke e cada um dos hubs em cada sub-região e no comércio entre cada sub-região e o resto do mundo.

No período considerado, houve variações significativas nos preços internacionais, principalmente nos das commodities, o que contribuiu particularmente para o desempenho de algumas economias da América Latina, cujos termos de troca foram fortemente afetados. Não temos como objetivo isolar os efeitos reais dessas variações em termos dos preços e dos volumes efetivamente negociados, o que exigiria outro tipo de abordagem, mais ambiciosa. A análise aqui é feita, essencialmente, em termos de valor. A consideração dos

26 Note-se que esse agrupamento de países não corresponde à Comunidade Andina. Compreende, em vez disso, uma lista ad hoc de países situados ao longo da Cordilheira dos Andes, inclusive o Chile.27 A República Bolivariana da Venezuela foi incluída nesse grupo porque durante a maior parte do período de análise os seus laços econômicos estavam mais próximos dessas outras economias do que dos parceiros do Mercosul, grupo ao qual o país solicitou adesão integral.28 O período de análise é determinado em grande medida pela própria disponibilidade de informações no banco de dados Comtrade ONU no nível de cinco dígitos: a maioria dos países não tem dados para 1990-1991, de acordo com a SITC Rev.3.29 A lista está disponível com os autores, mediante solicitação.

No período 1992-2008, houve variações significativas nos preços internacionais, principalmente nos das commodities, o que contribuiu particularmente para o desempenho de algumas economias da América Latina

Page 10: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

31RBCE - 110

ganhos e perdas decorrentes dos termos de troca e do crescimento do PIB é complementar à análise da importância relativa das complementaridades produtivas em nível regional.

A análise começa com uma caracterização geral da composição do comércio em cada uma das sub-regiões, identificando o peso real dos bens de produção em cada caso, nessas duas décadas.

Em seguida, fazemos uma avaliação dos fluxos de comércio entre países hub e países spoke em cada caso, mais uma vez isolando o papel do comércio de bens de produção.

O raciocínio acima, que atribui um papel central para o comércio de bens de produção, pode ser complementado pela ideia de um “multiplicador regional”. A ideia básica é que, onde o comércio regional de bens de

produção é complementado pelo intercâmbio regional de “outros produtos” em uma escala mais intensa do que no comércio com terceiros países, ocorre um ciclo virtuoso que beneficia todos os países envolvidos.

O “multiplicador regional” pode ser ilustrado assim: o país A experimenta um aumento exógeno na demanda. Devido a um certo grau de complementaridades produtivas, essa nova demanda excedente é acompanhada por um aumento na produção, que envolve a compra de bens de produção de outro país B na mesma região. Isso melhora a receita cambial do país B, aumentando, portanto, a sua capacidade para importar. Na medida em que o país B importa bens de consumo final produzidos no país A, isso gera um ciclo virtuoso, no qual a demanda agregada em A é reforçada e, consequentemente, a demanda de A por bens de

produção de B etc. Tanto A quanto B saem ganhando nesse processo.

O próximo passo é analisar a relação entre o comércio regional de bens de produção e a origem das importações de “outros produtos”, ou seja, se eles são fornecidos dentro da região ou se têm origem em terceiros países. Essa análise é seguida por uma avaliação do grau de convergência/divergência das taxas de crescimento do PIB em cada sub-região, utilizando-se a estimativa dos “índices de entropia”. Espera-se que, quanto mais intensa a incidência desse assim chamado “multiplicador regional”, maior o grau de convergência do crescimento do PIB entre os países em cada caso, de acordo com o raciocínio acima.

AS CARACtERíStICAS BáSICAS DO COméRCIO rEgIONAL

A Tabela 1 mostra a composição atual dos fluxos de comércio para os países asiáticos. Para fins de análise, tomamos como referência os valores médios para os períodos de 1992-1999 e de 2000-2008, e começamos apresentando cada região separadamente.

Há claras diferenças entre o Leste e o Sul da Ásia em termos do peso relativo das transações regionais. Na primeira região, a participação do comércio regional é não apenas significativamente alta –

Tabela 1LEStE E SuL DA áSIA - COmPOSIçãO DO COméRCIO REGIONAL EM 1992-2008

total de Bens Bens de produção Outros bens

% comércio regional/comércio total

% comércio regional/comércio total

% comércio regional/comércio total

1992-99 2000-08 1992-99 2000-08 1992-99 2000-08

Exportações

Leste da Ásia 46 49 50 53 40 43

Sul da Ásia 4 4 6 6 3 3

Importações

Leste da Ásia 51 55 56 65 44 43

Sul da Ásia 3 3 4 3 3 2

Fonte: Comtrade (ONU).

Page 11: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

32 RBCE - 110

alcançando quase a metade do comércio total das exportações e superando a marca de 50% nas importações –, mas aumentou ainda mais na última década. Isso é verdade tanto para os bens de produção quanto para outros bens, mas vale ressaltar que os fornecedores regionais são responsáveis por quase 2/3 das importações dos bens de produção. No Sul da Ásia, diferentemente, o comércio regional responde por menos de 7%, participação que tem permanecido relativamente constante desde 1992.

A indicação de um intenso comércio no nível sub-regional reforça o raciocínio sobre a existência de economias “líderes’” (hubs) e suas ligações com as outras economias (spokes) em cada grupo de países. A Tabela 2 ilustra esse ponto para o Leste e para o Sul

da Ásia. Em cada linha, a direção do comércio é identificada pela origem, seguida pelo destino de cada fluxo.

No que diz respeito à composição dos fluxos de comércio regional, o primeiro aspecto que se destaca a partir da Tabela 2 é a elevada percentagem de bens de produção nos indicadores do Leste da Ásia: mais de 60% do comércio entre os hubs e os spokes (assim como entre os spokes) são compostos por essas mercadorias. Mas ainda mais significativo é o próprio fato de que essa participação reduziu-se um pouco entre os anos 1990 e a década seguinte, nas exportações dos hubs para os spokes, e aumentou bastante nas exportações dos países spoke para os hubs. Isso consolida uma rede produtiva em nível regional que encontra

Tabela 2LEStE E SuL DA áSIA - COmPOSIçãO DO COméRCIO REGIONAL E ExtERNO Em 1992-2008 (Em %)

Bens de Produção Outros Bens

Média em 1992-99

Média em 2000-2008

Média em 1992-99

Média em 2000-2008

Leste da Ásia

exphubs-spokesEastAsia 69 67 31 33

expspokes-spokesEastAsia 64 66 36 34

expspokes-hubsEastAsia 58 66 42 34

expspokesEastAsia-ROW 52 55 48 45

impspokesEastAsia-ROW 59 49 41 51

exphubsEastAsia-ROW 62 58 38 42

imphubsEastAsia-ROW 43 38 57 62

Sul da Ásia

exphubs-spokesSouthAsia 57 45 43 55

expspokes-spokesSouthAsia 36 51 64 49

expspokes-hubsSouthAsia 22 46 78 54

expspokesSouthAsia-ROW 31 23 69 77

impspokesSouthAsia-ROW 57 51 43 49

exphubsSouthAsia-ROW 31 35 69 65

imphubsSouthtAsia-ROW 41 38 59 62

Fonte: Comtrade (ONU).

No Leste da Ásia, a participação do comércio regional é não apenas significativamente alta, como aumentou ainda mais na última década

Page 12: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

33RBCE - 110

paralelo, talvez, apenas na Europa Ocidental, constituída por países com níveis de desenvolvimento bastante semelhantes entre si.

Vale notar, ainda, que em seu comércio com o resto do mundo os países hub do Leste Asiático importam percentagens relativamente mais altas de outros bens do que os países spoke (os quais dependem muito do fornecimento dos hubs regionais). Essas indicações sugerem a existência de um “efeito multiplicador regional”, em que os países spoke fornecem bens de produção para os países hub e deles importam outros bens, principalmente.

Um cenário diferente é encontrado no Sul da Ásia. É importante observar que, ao longo do tempo, houve um aumento da importância relativa das exportações de bens de produção dos países spoke para os países hub (bem como entre países spoke). Isso reduziu a participação relativa desses produtos nas importações regionais do resto do mundo. Mas os números são muito mais baixos, em comparação com o Leste da Ásia, e a intensidade desses movimentos tem sido muito mais limitada.

As tabelas 3 e 4 mostram os mesmos indicadores para a América Latina. Mais uma vez, em cada linha a direção do comércio é identificada pela origem, seguida pelo destino de cada fluxo. Começando com o comércio total, na tabela 3 as

indicações do peso relativo do comércio regional são muito mais baixas do que no Leste da Ásia, mas muito maiores do que no Sul da Ásia. Além disso, existem diferenças marcantes entre os continentes. Os números típicos para a América do Sul ficam na casa dos 20%, enquanto que na América Central não ultrapassam 5% do comércio total.

A segunda e a terceira colunas da Tabela 3, em comparação

com a Tabela 1, mostram que a importância relativa do comércio regional como um todo na América Central e na América do Sul é muito mais baixa do que na Ásia e, na realidade, diminuiu entre os dois períodos considerados. Isso se deve à significativa diversificação de mercados experimentada pelas exportações dessas economias.

Esse resultado, obviamente, é altamente influenciado pelos

total de Bens Bens de Produção Outros Bens

% comércio regional/comércio total

% comércio regional/comércio total

% comércio regional/comércio total

1992-99 2000-08 1992-99 2000-08 1992-99 2000-08

Exportações

América Central 3 3 3 3 4 4

América do Sul 24 20 34 29 19 16

Países andinos 11 10 20 16 8 8

Mercosul 21 14 26 21 18 12

Importações

América Central 3 3 2 2 5 5

América do Sul 23 26 16 19 35 36

Países andinos 11 14 7 9 17 19

Mercosul 20 19 14 15 29 26

Fonte: Comtrade (ONU).

tabela 3AméRICA LAtINA - COmPOSIçãO DO COméRCIO REGIONAL EM 1992-2008

Gráfico 1 gANhOS E PErDAS DE TErMOS DE TrOCA – 1992-2008

-5

0

5

10

15

20

25

30

1992-99 2000-08

Indo

nési

a

Tailâ

ndia

Viet

Índi

a

Méx

ico

Pana

Bolív

iaCh

ileCo

lôm

bia

Bras

ilPa

ragu

aiU

rugu

ai

Paqu

istã

o

Chin

aKo

ng S

ar, C

hina

Gua

tem

ala

Hon

dura

s

Equa

dor

Peru

Arg

en�n

a

Page 13: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

34 RBCE - 110

efeitos dos termos de troca,30 que afetaram positivamente a maioria das economias da América do Sul nos últimos anos. De acordo com o Gráfico 1,31 os países andinos e os membros do Mercosul claramente se beneficiaram dos preços internacionais favoráveis na última década. O fato de o valor das exportações de commodities haver aumentado significativamente reduziu o peso relativo dos bens de produção no total das exportações. Isso também contribuiu para aumentar a percentagem de terceiros mercados como destino para os produtos da América do Sul.

Por isso, é particularmente notável, na Tabela 3, que a participação dos bens de produção nas exportações regionais na verdade tenha se reduzido ao longo do tempo em todos os grupos sub-regionais aqui considerados, num processo inverso em comparação com a Ásia. Isso é especialmente visível na América do Sul, para ambos os grupos sub-regionais, enquanto que os valores para a América Central não são significativos.

Também é interessante notar, na Tabela 3, que, em paralelo à diversificação de mercados e de produtos que afetou a importância relativa do comércio regional nas exportações da América do Sul – tanto para os países andinos quanto para os do Mercosul –, houve um pequeno ganho na importância relativa do comércio

regional sobre as importações totais, tanto para os bens de produção quanto para “outros” bens.Isso exige um olhar mais atento para os fluxos comerciais entre os países hub e os países spoke nas Américas. A tabela 4 mostra os indicadores básicos. O primeiro aspecto a observar na Tabela 4 é que na América Central não é só o peso do comércio regional que – conforme já demonstrado – é bastante limitado; houve, também, uma intensa redução na participação dos bens de produção no comércio regional entre 1992-1999 e 2000-2008. A contrapartida desse movimento é que o grau de dependência das importações, tanto de países hub quanto de países spoke, da importação desses produtos provenientes do resto do mundo manteve-se estável em níveis bastante elevados ao longo do tempo.

Na América do Sul, a história é um pouco diferente. Houve um aumento na participação dos bens de produção nas exportações dos países spoke para os hubs – indicando um movimento na direção certa –, e as exportações desses produtos dos hubs para os spokes mantiveram-se praticamente constantes. Como resultado, houve uma redução nas importações de bens de produção feitas pelos hubs e pelos spokes junto ao resto do mundo entre os dois períodos.

Decompondo esses dados por grupos de países, verifica-

30 Em 2000-2008, as perdas da Ásia como um todo variaram de 1%, em Hong Kong e na Tailândia, a 3% na China, Coreia do Sul e Filipinas. Na América Latina, os ganhos variaram de 1,5% no Brasil a não menos que 18% na Venezuela.31 Dados do Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial, 2010.

No Mercosul, a participação dos bens de produção nas exportações do país hub para os spokes variou pouco, mas, ao mesmo tempo, houve um aumento significativo na percentagem desses produtos nas exportações dos spokes para o hub

Page 14: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

35RBCE - 110

se que, nos países andinos, a percentagem de bens de produção no comércio entre países hub e países spoke sofreu redução tanto para as exportações dos hubs para os spokes, quanto dos spokes para os hubs. Nesse último caso, de forma bastante significativa: de 42% para apenas 29% dos fluxos de comércio regional. No

entanto – de forma tão diferente da experiência asiática –, houve também uma queda simultânea da participação dos bens de produção no comércio desses países com o resto do mundo: ocorreram reduções significativas nas participações dos bens de produção, tanto nas importações por hubs quanto nas feitas pelos países spoke.

Trata-se de algo particularmente estranho, quando se considera que o valor (em dólares norte-americanos constantes) da Formação Bruta de Capital Fixo nos países andinos dobrou entre 1992-2008, e que sua participação no PIB manteve-se virtualmente constante (21% no primeiro período e 20% no segundo). A explicação parece estar no notável desempenho do comércio de “outros bens” com terceiros países.

No Mercosul, diferentemente, a trajetória tem sido mais parecida com a experiência asiática. A participação dos bens de produção nas exportações do país hub para os spokes tem variado pouco, mas, ao mesmo tempo, houve um aumento significativo na percentagem desses produtos nas exportações dos spokes para o hub. Como consequência – novamente, de forma semelhante à Ásia –, houve uma pequena redução na participação dos bens de produção nas importações provenientes do resto do mundo, tanto por hubs quanto por spokes.

No que tange à composição de cada fluxo de comércio por produtos para os cinco sub-regiões, é perceptível a real diferença na composição das relações comerciais no Leste da Ásia e nos outros grupos de países. No Leste da Ásia, o cenário encontrado é o de produtos bastante semelhantes sendo comercializados tanto no nível regional quanto com o resto do mundo, bem como exportações semelhantes por parte de países hub e de países

tabela 4AméRICA LAtINA - COmPOSIçãO DO COméRCIO REGIONAL E ExtERNO Em 1992-2008 (Em %)

Bens de Produção Outros Bens

1992-99 2000-08 1992-99 2000-08

América Central

exphubs-spokesCAm 53 46 47 54

expspokes-spokesCAm 42 37 58 63

expspokes-hubsCAm 42 29 58 71

expspokesCAm-ROW 19 24 81 76

impspokesCAm-ROW 66 66 34 34

exphubsCAm-ROW 54 55 46 45

imphubsCAm-ROW 68 68 32 32

América do Sul

exphubs-spokesSAm 50 49 50 51

expspokes-spokesSAm 37 34 63 66

expspokes-hubsSAm 31 35 69 65

expspokesSAm-ROW 20 20 80 80

impspokesSAm-ROW 66 59 34 41

exphubsSAm-ROW 35 33 65 67

imphubsSAm-ROW 70 68 30 32

Países andinos

exphubs-spokesAC 45 40 55 60

expspokes-spokesAC 42 37 58 63

expspokes-hubsAC 42 29 58 71

expspokesAC-ROW 19 24 81 76

impspokesAC-ROW 57 48 43 52

exphubsAC-ROW 11 10 89 90

imphubsAC-ROW 67 61 33 39

Mercosul

exphubs-spokesM 64 62 36 38

expspokes-spokesM 47 49 53 51

expspokes-hubsM 31 36 69 64

expspokesM-ROW 21 20 79 80

impspokesM-ROW 69 68 31 32

exphubsM-ROW 42 36 58 59

imphubsM-ROW 67 65 33 35

Fonte: Comtrade (ONU).

Page 15: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

36 RBCE - 110

spoke. Além disso, trata-se, predominantemente, de produtos manufaturados.

Em contraste, nos outros quatro grupos, uma característica comum é que as exportações dos países hub apresentam um maior grau de diversificação, em termos do número de itens, e são diferentes das exportações dos países spoke,32 na medida em que estas tendem a ser não só menos diversificadas, mas também a apresentar um conteúdo mais elevado de recursos naturais.

Considerando especificamente as exportações de “bens de produção” entre países hub, países spoke e o resto do mundo, os índices de concentração Herfindahl-Hirshman33 mostram que o grau de concentração é mais baixo no comércio regional no Leste da Ásia, tanto para bens de produção quanto para “outros bens”, bem como nas exportações de “bens de produção” do Leste da Ásia para terceiros países. Isso reflete a competitividade em uma gama diversificada de produtos, o que não encontra paralelo nos outros grupos de países considerados aqui.

Uma segunda observação é que, entre os dois períodos, um processo de diversificação crescente ocorreu no Sul da Ásia. Em seu comércio com o resto do mundo, a região alcançou níveis de diversificação comparáveis aos do Leste da

Ásia. Em terceiro lugar, o grau de concentração das pautas de exportação – tanto no nível regional quanto externamente – é muito maior, em geral, na América Latina do que na Ásia, com a única exceção das exportações extrarregionais do Mercosul. Em quarto lugar, e tão diferente de todos os outros grupos, os países andinos apresentam um grau muito maior de concentração das exportações no seu comércio com o resto do mundo do que em uma base regional.

Como já mencionado, um dos canais que conectam o comércio regional ao crescimento do PIB, de acordo com a literatura, se dá por meio dos efeitos que se seguem à existência de um comércio intra-indústria significativo. O índice Grubel-Lloyd34 para cada sub-região mostra que a intensidade das transações intra indústria aumentou entre as duas décadas em quase todos os fluxos comerciais, com a única (e surpreendente) exceção das exportações de “outros bens”

32 Os números para a América Central são, é claro, fortemente influenciados pelas exportações mexicanas de fábricas “maquiladoras” e outras. Mas isso é uma consequência inevitável do método que utilizamos para definir esse grupo de países.33 O índice é definido como Hj = SQRT (SUM ij (xi / X) ^ 2)), em que xi é o valor da exportação do produto i na SITC Rev.3, no nível de quatro ou cinco dígitos, e X é a exportação total da categoria no país j. O índice é normalizado para produzir valores de 0 a 1, que indica a concentração máxima. 34 O índice de Grubel-Lloyd é definido como: GLj = 1 - [soma | Xij-Mij | / (Xij + Mij)], em que Xi e Mi são os valores da exportação total e importação total do produto i, respectivamente, no nível de quatro ou cinco dígitos SITC (Rev. 3) no país j. O valor do índice varia de 0 a 1.

1992-99 2000-08

LESTE DA ÁSIA

EApgRegional 0.45 0.54

EApgROW 0.45 0.44

EAogRegional 0.26 0.30

EAogROW 0.23 0.19

SUL DA ÁSIA

SApgRegional 0.15 0.22

SApgROW 0.25 0.36

SAogRegional 0.08 0.13

SAogROW 0.09 0.11

AMÉRICA CENTRAL

CApgRegional 0.20 0.27

CApgROW 0.47 0.52

CAogRegional 0.21 0.28

CAogROW 0.32 0.34

PAÍSES ANDINOS

AndeanpgRegional 0.22 0.22

AndeanpgROW 0.11 0.12

AndeanogRegional 0.16 0.16

AndeanogROW 0.13 0.14

MERCOSUL

MercopgRegional 0.34 0.35

MercopgROW 0.28 0.33

MercoogRegional 0.21 0.26

MercoogROW 0.17 0.24

Fonte: Comtrade (ONU).

Tabela 5íNDICES GRuBEL-LLOyD PARA O COméRCIO REGIONAL E ExtERNO

Page 16: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

37RBCE - 110

do Leste da Ásia. É claramente no comércio regional e externo de bens de produção que os indicadores nessa área são mais expressivos.

Em geral, as indicações mais importantes de transações intraindústria estão relacionadas com o comércio regional no Leste da Ásia, onde quase a metade de cada fluxo de comércio considerado é desse tipo. Em seguida, vem o comércio regional de “outros bens” na América Central e o comércio regional de bens de consumo e de outros bens no Mercosul. Os números comparativos para os outros fluxos comerciais registram tipicamente um comércio intraindústria na faixa de 10%-20%.

Se compararmos tais dados com o padrão típico encontrado no comércio dentro da União Europeia, onde esses índices ultrapassam o nível de 60%, verifica-se que, para esses grupos de países, uma das fontes de crescimento do PIB citadas pela literatura só é encontrada em proporções significativas no Leste da Ásia.

Essas indicações levam a uma pergunta óbvia: quais poderiam ser as explicações básicas para esses diferentes resultados na relação comercial entre hubs e spokes em cada região? Há pelo menos duas candidatas naturais: os acordos preferenciais de comércio (APCs) podem estar induzindo

desvio de comércio e/ou existem diferenças nas reais vantagens comparativas dos países em cada região.

No que tange aos APCs, é sabido que têm sido uma questão importante para as relações regionais na América Latina desde o início dos anos 1950. Não obstante o número de APCs existentes, o entendimento geral é que diversas tarifas e barreiras não tarifárias ainda permanecem em vigor, o que afeta o comércio bilateral.

Os países asiáticos tradicionalmente evitaram APCs regionais. Isso mudou principalmente a partir da década de 1990, e hoje essa região tem se mostrado muito ativa em promover esses acordos. O efeito real da intensidade e das características desses APCs sobre os fluxos de comércio é assunto para uma investigação suplementar, específica, o que ultrapassa os propósitos deste artigo.

Uma explicação alternativa (complementar) para esses resultados tem a ver com as reais vantagens comparativas: na medida em que, digamos, países spoke de uma determinada região são competitivos na produção de bens de produção, essa poderia ser uma boa razão por que os países hub na região preferissem importar os produtos deles.

A fim de lidar com essa hipótese, calculamos o índice de Balassa

de vantagens comparativas reveladas (VCR)35 em bens de produção para os países hub e spoke em cada região.

Os resultados para o Leste da Ásia são bastante peculiares e diferentes de todas as outras regiões consideradas aqui. Pelo menos três aspectos são dignos de nota. Primeiro, em seu comércio com o resto do mundo os índices VCR tanto para os hubs quanto para os spokes apresentam uma tendência sistemática de elevação (exceto nos dois últimos anos), indicando ganhos em vantagens comparativas. Em segundo lugar, ambos os índices são muito próximos, uma indicação de que as vantagens comparativas de países grandes e países menores são comparáveis. Em terceiro lugar, e não menos importante, no mercado regional os países spoke parecem ser ainda mais competitivos (Gráfico 2).

Independentemente dos efeitos de desvio de comércio que possam resultar de acordos preferenciais, há evidências de eficiência produtiva na maioria dos países naquela região.

Os índices de VCR para o Sul da Ásia indicam baixa competitividade no comércio em geral, uma vez que eles permanecem – para ambos os tipos de países – inferiores a 1, embora com uma leve tendência de aumento. No mercado regional, deve-se ressaltar que países spoke têm mostrado um desempenho muito

35 O índice VCR é calculado da seguinte forma. VCR = (xij / Xj) / (xiw / Xw), em que xij = exportações do produto i pelo país (ou grupo) j; Xj = exportações totais do país (ou grupo) j; xiw = exportações do produto i pelo mundo (ou região); Xw = exportações totais pelo mundo (ou região). Se o valor do índice é superior a 1, diz-se que o país (ou grupo) revelou possuir vantagem comparativa naquele produto.

Page 17: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

38 RBCE - 110

melhor, superando o hub desde o início dos anos 2000 (Gráfico 3).

Os índices VCR na América Central mostram uma distância grande (embora em queda) entre o países hub e spoke em seu comércio global. No mercado regional as diferenças são menores, mas não há convergência entre as duas séries de índices (Gráfico 4).

Nos países andinos, temos uma situação muito peculiar. O conjunto de países spoke apresenta ao longo do tempo um índice muito mais elevado de vantagens comparativas do que os países hub no seu comércio global. Isso se deve principalmente à forma como esse grupo foi concebido aqui: quando o Chile é retirado do conjunto de spokes, o índice sofre uma queda bastante significativa. Em qualquer caso, os índices são demasiadamente baixos (bem abaixo de 1) para indicar qualquer competitividade nos bens de produção. Os índices relativos ao comércio regional indicam uma competitividade limitada (embora aumentando lentamente) dos hubs, mas é notável que os índices dos países spoke sejam baixos e decrescentes ao longo do tempo (Gráfico 5).

O caso do Mercosul é certamente aquele em que a diferença de competitividade entre os hubs e os spokes é maior. Os spokes dessa área não são competitivos em bens de produção no mercado internacional nem no regional. Ainda mais impressionante é

35 O índice VCR é calculado da seguinte forma. VCR = (xij / Xj) / (xiw / Xw), em que xij = exportações do produto i pelo país (ou grupo) j; Xj = exportações totais do país (ou grupo) j; xiw = exportações do produto i pelo mundo (ou região); Xw = exportações totais pelo mundo (ou região). Se o valor do índice é superior a 1, diz-se que o país (ou grupo) revelou possuir vantagem comparativa naquele produto.

Gráfico 3 vANtAGENS COmPARAtIvAS Em BENS DE PRODuçãO – mERCADO rEgIONAL – SUL DA ÁSIA

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1992

1993

1994

1995 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005 2006

2007

2008

SA-Hub SA-Spokes

Gráfico 4 vANtAGENS COmPARAtIvAS Em BENS DE PRODuçãO – mERCADO REGIONAL – AméRICA CENtRAL

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1992

1993

1994

1995 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005 2006

2007

2008

CAM-Hub CAM-Spokes

Gráfico 2 vANtAGENS COmPARAtIvAS Em BENS DE PRODuçãO – mERCADO rEgIONAL – LESTE DA ÁSIA

0.85

0.9

0.95

1

1.05

1.1

1992

1993

1994

1995 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005 2006

2007

20

08

EA-Hubs EA-Spokes

Page 18: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

39RBCE - 110

que a diferença entre os dois conjuntos de países manteve-se relativamente constante tanto no mercado global como no mercado regional (Gráfico 6) ao longo das duas décadas.

Esses índices ajudam a entender por que as transações regionais em bens de produção são tão intensas no Leste da Ásia e tão raras entre os membros do Mercosul, por exemplo. A próxima pergunta, portanto, é o que pode ser dito em termos do real dinamismo dessas economias e – mais ainda – em termos da homogeneidade do crescimento regional.

A importância de um padrão de crescimento homogêneo decorre do fato de que é em economias de renda per capita semelhante que se encontram as oportunidades mais significativas para explorar segmentos de mercado, devido à similaridade nos padrões de demanda e de produção. Além disso, quanto mais desigual é uma região em termos de potencial econômico, menores são as possibilidades de criação de comércio. Pensar em termos de uma estrutura de comércio regional sustentável envolve, necessariamente, considerar as possibilidades de aumentar as similaridades de

oportunidades econômicas entre os países participantes.

INFERêNCIAS PARA O CrESCIMENTO rEgIONAL O foco da análise aqui é o mecanismo que permite um maior grau de homogeneidade no crescimento do PIB entre os países em cada sub-região. A ideia subjacente é que um “efeito multiplicador regional” como o descrito anteriormente pode ser uma ferramenta eficiente para promover a homogeneidade do crescimento do PIB em uma base regional.

A fim de identificar a incidência de tal mecanismo, focamos em três indicadores: XSpgH - as exportações de bens de produção de países spoke para hubs; MSogH - as importações dos países spoke de “outros bens” produzidos nos hubs; e MSogRW - as importações por parte dos países spoke de “outros bens” produzidos no resto do mundo. Essas são as variáveis-chave para a identificação de um “multiplicador regional”, conforme descrito na segunda seção.

O caso mais notável é o Leste da Ásia. O valor de seu XSpgH não é apenas o maior de todas as sub-regiões consideradas, mas quase triplicou entre as décadas de 1990 e 2000. É também o único grupo em que obtemos XSpgH>MSogH, o que significa um comércio regional ainda mais intenso em bens de produção do que em “outros bens”. Dado o notável crescimento de XSpgH nessa região, houve uma redução na

Gráfico 5 vANtAGENS COmPARAtIvAS Em BENS DE PRODuçãO – mERCADO REGIONAL – PAíSES ANDINOS

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1

1.1

1.2

1.3

1992

1993

1994

1995 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005 2006

2007

2008

ANDEAN-Hubs ANDEAN-Spokes

Gráfico 6 vANtAGENS COmPARAtIvAS Em BENS DE PRODuçãO – mERCADO rEgIONAL – MErCOSUL

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1992

1993

1994

1995 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005 2006

2007

2008

MERCO-Hub MERCO-Spokes

Page 19: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

40 RBCE - 110

proporção entre MSogh e XSpgH e entre MSogRW e XSpgH.

No Sul da Ásia, diferentemente, o XSpgH é extremamente baixo, maior apenas do que na América Central. Essa última região tem uma interação muito forte e cada vez maior com terceiros países no que tange ao comércio de “outros bens”.

Os países andinos apresentam também um valor muito baixo para XSpgH, mas esse indicador aumentou significativamente entre as duas décadas. O indicador MSogH variou em menor proporção. Como indicado anteriormente, o grupo de países andinos, devido à forma como foi por nós definido, não corresponde à composição da Comunidade Andina durante a maior parte desse período. Para lidar melhor com essa circunstância, as estimativas desses indicadores também foram feitas para o grupo de países andinos exclusive o Chile, que é um global trader mais intenso. O retrato não se altera significativamente. O indicador MsogH variou em menor proporção do que o XSpgH, e as economias nesse grupo são fortemente dependentes de importações de outros bens do resto do mundo.

Finalmente, o Mercosul difere dos outros grupos latino-americanos aqui considerados na medida em que apresenta o segundo maior valor para XSpgH depois do Leste da Ásia. Esse indicador aumentou entre os dois períodos,

mas seu valor na década de 2000 ainda era menos que o dobro do valor alcançado nos anos 1990. O quadro geral em relação a um “multiplicador regional” aponta, no entanto, para a direção esperada, com aumento simultâneo da razão MSogH/XSpgH e redução da razão MSogRW/XSpgH.

Esses indicadores ajudam no entendimento dos sinais de convergência do potencial econômico, apresentados pelos diversos países em cada grupo. Nesse aspecto, os índices de entropia relativa36 – indicadores tradicionais de convergência/divergência em relação a um conjunto de observações – destacam a existência de situações bastante diversas nos grupos de países considerados (Tabela 6). Note-se que quanto maior o índice, mais intenso terá sido o movimento em direção a um grau crescente de homogeneidade entre os países da amostra, haja vista que o peso de cada observação terá aumentado em termos relativos. Os números da Tabela 6 mostram que o desempenho mais notável na redução das diferenças entre os PIBs dos

países participantes ocorreu no Leste da Ásia, onde o índice de entropia aumentou mais de 15% entre os dois períodos. Uma boa parte do dinamismo que possibilitou tal convergência deveu-se ao grau crescente de complementaridades produtivas entre as economias nessa sub-região.

Essa não é uma característica comum a todos os países asiáticos, no entanto. No Sul da Ásia, onde o comércio regional em bens de produção é bastante limitado, a dependência de importações de “outros bens” oriundos de terceiros países é muito mais forte do que o comércio regional ou os vínculos produtivos e, portanto, o grau de homogeneidade de crescimento do PIB dos diversos países não se reduziu quase nada entre os anos 1990 e 2000.

O Gráfico 7 ilustra essas trajetórias.

Esses são dois bons exemplos da importância de se construir um “mecanismo multiplicador regional”. Os países asiáticos sofreram perdas bastante

36 O índice de entropia relativa (IER) é calculado como IER = soma (Yij * LN (1/Yij) / max (LN (1 / Yij)), em que Yij é a participação do PIB do país i no PIB total da região j. Os cálculos são baseados na World Development Indicators Database do Banco Mundial.

1992-99 2000-08

Leste da Ásia 0.139 0.161

Sul da Ásia 0.218 0.197

América Central 0.103 0.110

Países andinos 0.399 0.412

sem o Chile 0.356 0.372

Mercosul 0.158 0.151

Fonte: World Development Indicators Database do Banco Mundial.

Tabela 6íNDICES DE ENtROPIA RELAtIvA DO PIB – 1992-98

Page 20: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

41RBCE - 110

significativas em seus termos de troca nos anos 2000. Enquanto que no Leste da Ásia isso foi mais do que compensado pela rede de relações produtivas e comerciais sub-regionais, que permitiram uma maior homogeneidade do processo de crescimento, no Sul da Ásia a dependência do comércio extrarregional na verdade acentuou as diferenças entre as economias da sub-região.

A experiência latino-americana também é variada. O comércio regional em bens de produção é muito pequeno, mesmo onde é mais significativo, como no Mercosul: na década de 2000, em média o comércio de bens de produção no âmbito do Mercosul correspondia a apenas 1% do comércio destes produtos no Leste da Ásia.

Outra diferença entre a América Latina e a Ásia é que a primeira (especialmente a América do Sul) se beneficiou significativamente com os ganhos nos termos de troca na década de 2000. Isso teve, naturalmente, um impacto expressivo no crescimento do PIB.

O Gráfico 8 ilustra as trajetórias dos índices de entropia para a América Central, para os países andinos e para o Mercosul. A primeira coisa a notar é que, desde o início do período de análise, os países andinos mostraram um grau de crescimento do PIB bem mais homogêneo do que o observado no Mercosul e – mais ainda – na América Central.37 O grau de homogeneidade nos países andinos aumentou até 2003 e reduziu-se levemente desde então. Mas o grau de variação é muito baixo.

Na América Central e no Mercosul as variações entre as duas décadas são também mínimas, o que significa que as diferenças entre o potencial das economias

desses grupos de países permaneceram essencialmente as mesmas durante esse período.Isso não quer dizer que não houve nenhum crescimento, ou mesmo que o crescimento na segunda década foi pior do que na primeira. Com exceção da América Central, na década de 2000 todos os outros grupos de países mostraram maior dinamismo do que nos anos 1990.

O argumento é que, entre esses cinco grupos de países, foi apenas no Leste da Ásia que a existência de intensas complementaridades produtivas permitiu à região lidar com uma deterioração dos termos de troca e, ao mesmo tempo, promover um aumento na taxa média de crescimento do PIB e um maior grau de homogeneidade entre suas economias, em ritmo bastante significativo. No mesmo período, as economias latino-americanas se beneficiaram com condições internacionais favoráveis, mas as diferenças entre eles se mantiveram constantes ao longo de duas décadas. E, no Sul da Ásia, o ritmo médio de crescimento do PIB aumentou de forma

Gráfico 7LEStE E SuL DA áSIA – íNDICES DE ENtROPIA RELAtIvA DO PIB Em DÓLArES CONSTANTES – 1992-98

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

Leste da Ásia Sul da Ásia

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

37 Ou mesmo do que a Ásia, se comparado com os índices mostrados no Gráfico 12.

Gráfico 8AméRICA CENtRAL, PAíSES ANDINOS E mERCOSuL – íNDICES DE ENtROPIA RELAtIvA DO PIB Em DóLARES CONStANtES – 1992-98

0.080.130.180.230.280.330.380.43

América Central Países Andinos Mercosul

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Page 21: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

42 RBCE - 110

bem menos intensa do que no Leste da Ásia, enquanto que as diferenças entre as economias dos países participantes aumentaram drasticamente.

CONSIDERAçõES FINAIS

Este trabalho tem como objetivo fornecer algumas evidências empíricas a respeito de um fator que tem sido muitas vezes ignorado pela literatura sobre integração regional: o importante papel das complementaridades produtivas para fornecer dinamismo às economias participantes, bem como para ajudar a melhorar o grau de homogeneidade do potencial econômico de diversos países de uma determinada região, mesmo (ou talvez justamente por isso) nos momentos em que essas economias sofrem choques negativos, como refletido nas perdas decorrentes da variação negativa dos seus termos de troca.

Com base na avaliação da experiência nas duas últimas décadas de cinco grupos sub-regionais de países da Ásia e da América Latina, mostrou-se que há diferenças marcantes em termos da composição dos fluxos comerciais entre os grupos, do grau de diversificação dos fluxos comerciais e, ainda mais especificamente, da participação de bens de produção nas relações comerciais regionais e externas.

Ficou bem claro que a recente melhoria nos termos de troca beneficiou a maioria das

economias da América Latina, permitindo-lhes atingir maiores taxas de crescimento do PIB. Não obstante, essas economias permanecem tão diferentes entre si, no que tange ao seu potencial econômico relativo, quanto no início da década de 1990, e estão sofrendo cada vez mais a concorrência das importações provenientes de terceiros países. Mesmo em se tratando de uma região com um longo histórico de esforços para promover a integração regional, a soma de esforços para melhorar a competitividade em terceiros mercados nunca figurou entre os argumentos usados para justificar um tratamento comercial preferencial. Consequentemente, a preocupação com a promoção de complementaridades produtivas raramente esteve na agenda de negociação.

Um resultado diferente é encontrado na Ásia – no Leste da Ásia, em particular. As duas últimas décadas foram desfavoráveis no que diz respeito à evolução de seus termos de troca e, ainda assim, essas economias mostraram-se capazes de crescer a um ritmo bastante rápido e de aumentar drasticamente a sua participação no mercado internacional. Boa parte de sua competitividade está claramente relacionada, em grande medida, a um comércio regional cada vez mais intenso em bens de produção, associado a uma demanda regional dinâmica por “outros bens”. Esse é o cenário chamamos aqui de um “multiplicador regional”, em que o estímulo de demanda pelos produtos de

um país tem efeitos indiretos sobre a demanda pela produção de diversos outros países da região. Esse é um processo natural de criação de comércio, que independe da existência ou não de condições comerciais preferenciais.

Isso não quer dizer que o Leste da Ásia tenha encontrado a maior parte de seu dinamismo no mercado regional. Os superávits comerciais de vários desses países com o resto do mundo são destaque na imprensa diariamente. O ponto a destacar aqui é que boa parte da competitividade que permite esse desempenho tem a ver com o sistemático emprego de insumos produzidos em outro lugar dentro da região a custos mais baixos – a própria lógica de estruturas produtivas complementares –, e isso foi de fundamental importância em períodos de impacto negativo decorrente dos termos de troca.

Esse resultado é explicado em parte pela própria competitividade das economias menores da região. Como demonstrado, os países spoke do Leste da Ásia parecem ser tão competitivos quanto os países grandes, no que tange aos índices de vantagens comparativas em bens de produção. Além disso, há indícios de uma competitividade ainda mais significativa desses países no comércio regional de bens de produção. Trata-se de um cenário totalmente diferente do encontrado na América Latina.

Na América Latina, mesmo quando são encontradas algumas

Page 22: Complementaridade produtiva regional e competitividade · essas questões ao comércio, Goh e Olivier (2002) sugerem que um país que tem vantagem comparativa em um bem de consumo,

43RBCE - 110

indicações da existência desses “multiplicadores regionais” – como no Mercosul, em anos recentes –, estes são extremamente limitados e podem contribuir apenas marginalmente para alterar o cenário como um todo.

O comércio com o resto do mundo ainda absorve a maior parte da demanda regional. Dificilmente essa é uma estrutura sustentável no longo prazo, em particular quando há uma necessidade de políticas mais ativas para enfrentar a concorrência de produtos provenientes de fora da região, especialmente do Leste

da Ásia.O que tentamos mostrar aqui é que a experiência do Leste Asiático oferece lições que devem ser observadas com cuidado e eventualmente reproduzidas em outros locais. E isso não apenas em razão de suas particularidades: enfrentar a competitividade alcançada por essas próprias complementaridades produtivas é um desafio em si mesmo.

A América Latina tem mostrado taxas significativas de crescimento do PIB nos últimos anos, e a previsão para o futuro próximo tende a ser positiva, em grande parte devido às condições

favoráveis esperadas no mercado internacional de commodities. Esse parece ser um momento adequado para repensar as relações econômicas regionais a partir de uma nova perspectiva, criando as condições para promover a competitividade de uma forma mais sustentável, explorando as possibilidades de reduzir custos de produção e, ao mesmo tempo, gerando o dinamismo necessário para fornecer às economias mais frágeis da região as condições básicas para aumentar a sua participação no mercado internacional.

Bibliografia

Alcala, F. and A Ciccone (2003), Trade, Extent of the Market and Economic Growth 1960-1996, Journal of Economic Literature, December. Aminian, N., K. Fung, and H. Iizaka (2007), Foreign Direct Investment, Intra- Regional Trade and Production Sharing in East Asia, RIETI Discussion Paper Series, 07-E-064. Athukorala, P. (2005), Product Fragmenta-tion and Trade Patterns in East Asia, Asian Economic Papers, 4(3): 1-27. Athukorala, P. and A Kohpaiboon (2009), Intra-Regional Trade in East Asia: The Decoupling Fallacy, Crisis, and Policy Challenges, ADBI Working Paper Series, No. 177, December. Balassa, B. (1964), Teoría de la integración económica, México: Unión Tipográfica Editorial Hispano-Americana. Baumann, R. (2010), Regional trade and growth in Asia and Latin America: the importance of productive complementa-rity, CEPAL, LC/BRS/R238, November, unprocessed. Berthelon, M. (2004), Growth Effects of Regional Integration Agreements, Central Bank of Chile Working Papers, No. 278. Castaldi, C. and G. Dosi (2008), Techni-cal change and economic growth: Some lessons from secular patterns and some conjectures on the current impact of ICT technology, LEM Working Paper Series 2008/01, January, Sant’Anna School of Advanced Studies. Pisa. Chortareas, G. and T. Pelagidis (2004), Trade Flows: a facet of regionalism or globalization? Cambridge Journal of Eco-nomics, .28(2): 253-271.

Corden, M. (1972), Economies of scale and customs union theory, Journal of Political Economy, 80: 465-72. Devlin, R. and P. Giordano (2004), The old and the new regionalism: Benefits, costs and implications for the FTAA, In A. Estevadeordal et alli, Integrating the Ameri-cas – FTAA and beyond, Cambridge, MA: Harvard University Press, 143-86. Ffrench-Davis, R. (1979), Economía Inter-nacional: teorías y políticas para el desar-rollo, México: Fondo de Cultura Económica. Freund, C. and E. Ornelas (2009), Regional Trade Agreements, CEPR Discussion Pa-per, No. 961, London, December. Ng, F. and A. Yeats (2003), Major trade trends in East Asia: What are their implica-tions for regional cooperation and growth? World Bank Policy Research

Working Paper, No. 3084, June. Goh, A.T. and J. Olivier (2002), Learning by doing, trade in capital goods and growth, Journal of International Economics, 56: 411-444. Goh, A.T. (2005), Knowledge diffusion, input supplier’s technological effort and technology transfer via vertical relation-ships, Journal of International Economics, 66: 527-540. Gupta, A. and M. Schiff (1997), Outsiders and Regional Trade Agreements among Small Countries: The Case of Regional Markets, World Bank Policy Research Working Paper, No. 1847. Hamaguchi, N. (2010) Integracao Produtiva Regional no Leste da Asia. In Integracao Produtiva – Caminhos para o Mercosul. ABDI. Serie Cadernos da Industria, Vol XVI. Brasilia.

Johnson, H. (1965), The economic theory of protectionism, tariff bargaining and the formation of customs unions, Journal of Political Economy, 73: 256-83. Kim, S. and E. Shin (2002), A Longitudinal Analysis of Globalization and Regionaliza-tion in International Trade: A Social Network Approach. Social Forces, vol.81 (2): 445-48, and R. Wooster, S. Dube, T. Banda (2007), The Contribution of Intra-Regional and Extra-Regional Trade to Growth: Evidence from the European Union, Globalization and Regional Economic Integration Conference, Gyeong Ju, South Korea. Kose, M., C. Otrok, and C. Whiteman (2003), International Business Cycles: World, Region and Country Specific Fac-tors, American Economic Review, vol. 93, No. 4, 1216-1239. Park, Y. and K. Shin (2009), Economic Inte-gration and Changes in the Business Cycle in East Asia: Is the Region Decoupling from the Rest of the World? Asian Economic Papers, 8 (1):107-141. Shin, K. and Y. Wang (2003), Trade Integra-tion and Business Cycle Synchronization in East Asia, Institute of Social and Economic Research, Osaka University, Discussion Paper, No. 574, March. Vamkakidis, A. (1999), Regional Trade Agreements or Broad Liberalization: Which Path Leads to Faster Growth? IMF Staff Papers, 46: 42-68, March. Viner, J. (1950), The Customs Union Is-sue, New York: Carnegie Endowment for International Peace. World Bank (2010), World Development Indicators, Washington DC: World Bank publication. [http://data.worldbank.org/indicator].