Componentes Da Matriz Extra Celular

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BIANCA BERGAMO DE ARAÚJO Componentes da matriz extracelular e seus reguladores no músculo liso brônquico na asma Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Área de Concentração: Patologia Pulmonar Orientadora: Profa. Dra. Thais Mauad São Paulo 2008

Transcript of Componentes Da Matriz Extra Celular

  • BIANCA BERGAMO DE ARAJO

    Componentes da matriz extracelular e seus

    reguladores no msculo liso brnquico na asma

    Tese apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    rea de Concentrao: Patologia Pulmonar

    Orientadora: Profa. Dra. Thais Mauad

    So Paulo 2008

  • Dedico este trabalho

    Ao meu Deus, pela companhia e cuidado constantes,

    Aos meus queridos pais, Noel e Maria Lcia, por toda dedicao e amor incondicionais,

    Aos meus lindos irmos, Fbio e Mrcio, pela amizade e apoio,

    Aos meus avs, exemplos de vida, por todo amor recebido,

    Ao Wanderson, por tornar minha vida mais bela,

    Aos meus familiares e amigos.

  • Minha gratido,

    querida Profa. Dra. Thais Mauad, minha orientadora, por proporcionar-me mais

    que conhecimento cientfico e acadmico nestes quatro anos de doutorado.

    Obrigada por todo auxlio e incentivo para que eu pudesse vivenciar outra Cultura,

    e para que este trabalho se tornasse realidade. Meu apreo e admirao pela sua

    dedicao e genialidade.

    Aos grandes colaboradores para realizao deste trabalho: Profa. Dra. Marisa

    Dolhnikoff, Dr. Luiz Fernando Ferraz da Silva, Sandra Morais Fernezlian e

    Higor Alexandre Gomes.

    Aos ps-graduandos: Tatiana Lanas, Diogenes Seraphim Ferreira, Aleta

    Senhorini, Mana Maria Barbosa Morales, Ruy de Camargo Pires Neto, Denise

    Simo Carnieli, Raquel Annoni, Ana Laura Nicoletti Carvalho, George Castro

    Figueira de Mello, pelo apoio mtuo.

    Aos funcionrios dos Laboratrios de Histologia e de Imunohistoqumica do

    Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de So

    Paulo (FMUSP), pelo processamento das lminas.

    Aos funcionrios do Museu e Sala de Imagem, da Sala dos Residentes, e s

    secretrias do Departamento de Patologia da FMUSP, por todo o auxlio.

    Aos funcionrios do Servio de Verificao de bito da Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo pelo auxlio na coleta do material.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) pela

    concesso da bolsa de estudo.

  • SUMRIO

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE FIGURAS

    RESUMO

    SUMMARY

    1. INTRODUO ........................................................................................ 1

    1.1 Asma - Definio ............................................................................. 2

    1.2 Asma - Epidemiologia...................................................................... 3

    1.3 Patognese da asma....................................................................... 4

    1.3.1 Inflamao.......................................................................... 4 1.3.2 Alteraes estruturais brnquicas na asma........................ 5

    1.4 Matriz extracelular ........................................................................... 8

    1.4.1 Reguladores da matriz extracelular (MEC)....................... 12 1.4.2 Inibidores teciduais de metaloproteinases........................ 13

    1.5 O msculo liso brnquico (MLB) na asma..................................... 13

    1.5.1 Hipertrofia......................................................................... 15 1.5.2 Hiperplasia ....................................................................... 16

    1.6 Deposio de MEC na camada do MLB........................................ 17

    1.7 Mecanismos de alteraes da MEC no MLB na asma .................. 19

    2. OBJETIVOS .......................................................................................... 24

    2.1 Gerais ............................................................................................ 25

    2.2 Especficos .................................................................................... 25

    3. MTODOS ............................................................................................ 26

    3.1 Casustica...................................................................................... 27

    3.1.1 Indivduos de So Paulo................................................... 27 3.1.2 Indivduos de Perth........................................................... 28

    3.2 Mtodos......................................................................................... 31

  • 3.2.1 Histoqumica..................................................................... 31 3.2.2 Imunohistoqumica ........................................................... 31 3.2.3 Morfometria ...................................................................... 33 3.2.4 Anlise Estatstica ............................................................ 35

    4. RESULTADOS ...................................................................................... 36

    4.1 Casustica...................................................................................... 37

    4.2 Morfometria ................................................................................... 38

    4.3 Anlise histoqumica...................................................................... 40

    4.4 Anlise imunohistoqumica ............................................................ 42

    4.5 Subgrupos analisados ................................................................... 46

    4.5.1 Fumantes versus no fumantes ....................................... 46 4.5.2 Uso de corticosteride...................................................... 47

    5. DISCUSSO ......................................................................................... 49

    6. CONCLUSES ..................................................................................... 60

    7. PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................................. 62

    8. ANEXOS................................................................................................ 64

    9. REFERNCIAS ..................................................................................... 69

    APNDICE................................................................................................... 85

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Anticorpos e procedimentos utilizados na anlise imunohistoqumica .......................................................................65

    Tabela 2. Dados clnicos do grupo de Asma Fatal, Asma No Fatal e Controle........ ...............................................................................66

    Tabela 3. rea fracionada dos componentes de matriz extracelular no msculo liso brnquico na Asma Fatal, Asma No Fatal e Controle........................................................................................67

    Tabela 4. rea fracionada das metaloproteinases 1, 2, 9 e 12; e inibidores das metaloproteinases 1 e 2 no interior do msculo liso brnquico nos casos de Asma Fatal e Controle.. ....68

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Representao macroscpica de pulmes (A) e via rea (B). .............................................................................................30

    Figura 2. Representao da anlise morfomtrica realizada na camada do msculo liso brnquico............................................34

    Figura 3. Representao histolgica de grande via area de indivduo do grupo Controle (A) e Asma Fatal (B)........ .. ..........38

    Figura 4. rea fracionada de fibras elsticas no msculo liso brnquico em grandes e pequenas vias areas nos grupos Asma Fatal, Asma No Fatal e Controle....................................40

    Figura 5. Fotomicrografias mostrando rea fracionada de fibras elsticas no msculo liso brnquico de indivduo do grupo Controle (A) e Asma Fatal (B)........ ...........................................41

    Figura 6. Fotomicrografias mostrando rea fracionada de fibronectina no msculo liso brnquico de indivduo do grupo Controle (A) e Asma Fatal (B) ..................................................................43

    Figura 7. rea fracionada de fibronectina no msculo liso brnquico em grandes e pequenas vias areas nos grupos Asma Fatal e Controle. ........................................................................43

    Figura 8. Fotomicrografias mostrando expresso de metaloproteinase-9 e metaloptoteinase-12 no msculo liso brnquico, epitlio e lmina prpria de indivduo do grupo Controle (A) e Asma Fatal (B)....................................................44

    Figura 9. Expresso de metaloproteinase-9 no msculo liso brnquico de grandes e pequenas vias areas nos grupos de Asma Fatal e Controle. .........................................................45

    Figura 10. Expresso de metaloproteinase-12 no msculo liso brnquico de grandes e pequenas vias areas nos grupos de Asma Fatal e Controle. .........................................................45

    Figura 11. Expresso de metaloproteinase-9 no msculo liso brnquico de grandes e pequenas vias areas no grupo de Asma Fatal.................................................................................47

    Figura 12. rea fracionada de fibras elsticas no msculo liso brnquico de grandes e pequenas vias areas no grupo de Asma Fatal. .....48

  • RESUMO Arajo BB. Componentes da matriz extracelular e seus reguladores no msculo liso brnquico na asma [tese]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2008. 84p. A matriz extracelular e as clulas musculares lisas das vias areas esto intimamente interrelacionadas. Poucos estudos porm, avaliaram a composio dos diferentes componentes da matriz extracelular e seus reguladores na camada do msculo liso brnquico na asma. Utilizando um programa de anlise de imagens, a rea fracionada do colgeno total e das fibras elsticas foi quantificada no interior do msculo liso brnquico de 35 indivduos que faleceram devido a um ataque de asma (Asma Fatal), e comparada com 10 casos de indivduos com asma e que faleceram de outras causas (Asma No Fatal), e com 22 indivduos controles sem patologia pulmonar. Expresso dos colgenos I e III, fibronectina, versicam, metaloprotease (MMP)-1, 2, 9 e 12, e inibidores de metaloprotease 1 e 2 foram quantificados no interior do msculo liso brnquico de 22 casos de asma fatal e 10 controles. Nas grandes vias areas dos casos de asma fatal, a rea fracionada das fibras elsticas foi significativamente maior na camada do msculo liso brnquico quando comparada com os grupos de Asma No Fatal e Controle. Semelhantemente, fibronectina, MMP-9 e MMP-12 estavam aumentadas no msculo liso das grandes vias areas nos casos de asma fatal quando comparadas aos controles. Apenas aumento das fibras elsticas foi observado nas pequenas vias areas na Asma Fatal, e somente quando comparadas aos casos de Asma No Fatal. O conjunto dos resultados mostra que h uma composio alterada dos elementos da matriz extracelular e um ambiente de degradao protica no msculo liso brnquico de indivduos que morreram por asma, o qual pode acarretar importantes conseqncias nas funes sintticas e mecnicas do msculo liso das vias reas. Descritores: 1.Msculo liso 2.Matriz extracelular 3.Asma 4.Metaloproteases 5.Inibidores de proteases

  • SUMMARY

    Arajo BB. Extracellular matrix components and regulators in the airway smooth muscle in asthma [thesis]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2008. 84p. There is an intimate relationship between the extracellular matrix (ECM) and smooth muscle cells within the airways. Few studies have comprehensively assessed the composition of different ECM components and its regulators within the airway smooth muscle (ASM) in asthma. With the aid of image analysis, the fractional area of total collagen and elastic fibres was quantified within the ASM of 35 subjects with Fatal Asthma (FA) and compared with 10 Nonfatal Asthma (NFA) patients and 22 nonasthmatic control cases. Expression of collagen I and III, fibronectin, versican, matrix metalloprotease (MMP)-1, 2, 9 and 12 and tissue inhibitor of metalloprotease-1 and 2 was quantified within the ASM in 22 FA and 10 control cases. In the large airways of FA cases, the fractional area of elastic fibres within the ASM was increased compared with NFA and controls. Similarly, fibronectin, MMP-9 and MMP-12 were increased within the ASM in large airways of FA cases compared with controls. Elastic fibres were increased in small airways in FA only in comparison with NFA cases. The results shower that, there is altered extracellular matrix composition and a degradative environment within the airway smooth muscle in fatal asthma patients, which may have important consequences for the mechanical and synthetic functions of airway smooth muscle. Descriptors: 1.Smooth muscle 2.Extracellular matrix 3.Asthma 4.Metalloproteases 5.Inhibitor of Protease

  • 1. INTRODUO

  • Introduo

    2

    1.1 Asma - Definio

    A asma uma doena inflamatria crnica caracterizada por

    hiperresponsividade das vias areas e por limitao varivel ao fluxo areo,

    reversvel espontaneamente ou com tratamento, manifestando-se

    clinicamente por episdios recorrentes de sibilncia, dispnia, aperto no peito

    e tosse, particularmente noite e pela manh ao despertar (GINA 2006).

    A hiperresponsividade brnquica, uma das caractersticas dos

    pacientes asmticos, o estreitamento excessivo da via area, que ocorre em

    resposta ao desafio da via area a uma ampla variedade de agonistas

    inflamatrios e irritantes no especfico, como frio, ar seco e gases oxidantes.

    Apesar da hiperresponsividade brnquica ser o substrato de base do

    estreitamento varivel das vias areas caracterstico da asma, o seu

    mecanismo no est ainda bem estabelecido. No se sabe se, este fenmeno

    causado por alteraes fundamentais do fentipo muscular ou se causado

    por alteraes estruturais-mecnicas dos elementos no contrteis, ou ainda

    por alteraes na relao entre a parede da via area e o parnquima

    pulmonar adjacente (King et al., 1999; Brusasco et al., 1998). Embora os

    mecanismos que envolvem esta hiperresponsividade permaneam obscuros,

    acredita-se que o msculo liso brnquico (MLB) dos asmticos seja um dos

    principais responsveis pelo fenmeno (An et al., 2007).

  • Introduo

    3

    1.2 Asma - Epidemiologia

    Apesar de a asma ser uma doena cujos mecanismos patogenticos

    e teraputicos so relativamente bem conhecidos, a mortalidade aumentou

    de maneira estatisticamente significante na dcada de 80, em nvel mundial,

    e o termo paradoxo da asma foi introduzido para descrever esta observao.

    Mais recentemente, parece ter havido uma queda gradual na mortalidade da

    asma em alguns pases onde as estatsticas de mortalidade so atualizadas

    de maneira acurada. Esta tendncia tem sido observada particularmente em

    pases que adotaram teraputicas modernas no tratamento de asma, entre

    elas o uso de corticosteride inalatrio (Baluga et al., 2001; Sly, 2004; Neffen

    et al., 2006).

    No Brasil, estima-se que 11% da populao seja asmtica (Masoli et

    al., 2004). A asma um grande problema de sade pblica brasileira.

    Anualmente ocorrem cerca de 350.000 internaes por asma no Brasil,

    constituindo-se na quarta causa de hospitalizao pelo Sistema nico de

    Sade (2,3% do total) e sendo a terceira causa entre crianas e adultos

    jovens (Ministrio da Sade, 2004). O estudo multicntrico ISAAC

    (International Study for Asthma and Allergies in Childhood) realizado em 56

    pases mostrou uma variabilidade de asma ativa de 1,6% a 36,8%, estando

    o Brasil em 8 lugar, com uma prevalncia mdia de 20% (ERJ, 1998).

    Estima-se que cerca de 2000 pessoas morram por ano no Brasil em

    decorrncia da asma, sendo 200 delas na cidade de So Paulo (Mauad et

    al., 2008).

  • Introduo

    4

    1.3 Patognese da asma

    1.3.1 Inflamao

    A inflamao brnquica constitui um dos mais importantes fatores

    patognicos da asma. resultante de interaes complexas entre clulas

    inflamatrias, mediadores e clulas estruturais das vias areas (Barnes et

    al., 1997; Djukanovic et al., 1990). Est presente em pacientes com asma de

    incio recente, em pacientes com formas leves da doena e mesmo entre os

    assintomticos (Vignola et al., 1998a).

    A resposta inflamatria tem caractersticas especiais que incluem

    infiltrao eosinoflica, degranulao de mastcitos e ativao de clulas T

    helper (auxiliadoras) 2 que produzem citocinas, como as interleucinas IL-4,

    IL-5, IL-13, entre outras, responsveis pelo incio e manuteno do processo

    inflamatrio (Bousquet et al., 1990). A presena de inflamao crnica

    poderia agir, teoricamente, em cada um dos compartimentos da via area,

    inclusive entre as clulas do msculo liso brnquico, com infiltrao de

    mastcitos (Brightling et al., 2002), tendo como conseqncia as alteraes

    de carter anatmico. sabido que a inflamao, que pode seguir um

    quadro agudo ou apresentar-se de maneira crnica, promove dano tecidual

    progressivo.

  • Introduo

    5

    1.3.2 Alteraes estruturais brnquicas na asma

    Um aspecto importante da asma so as alteraes estruturais da

    parede dos brnquios. Atravs de seus mediadores, as clulas inflamatrias

    causam leses e alteraes na integridade epitelial, anormalidades no

    controle neural autonmico e no tnus da via area, alteraes na

    permeabilidade vascular, hipersecreo de muco, mudanas na funo

    mucociliar e aumento da reatividade do msculo liso da via area (Holgate,

    2000).

    Acredita-se que as alteraes estruturais das vias areas, muitas delas

    de carter definitivo, possam ser responsveis pela obstruo persistente das

    vias areas e perda progressiva da funo pulmonar observadas nestes

    pacientes (Mauad et al., 2007; Chiappara et al., 2001; Lange et al., 1998).

    Tambm sugerido que as alteraes estruturais brnquicas estejam

    associadas com a gravidade da doena (Chetta et al., 1997).

    1.3.2.1 Remodelamento brnquico na asma

    O termo Remodelamento Brnquico normalmente utilizado para

    expressar modificaes estruturais que ocorrem nos pulmes,

    especialmente em situaes patolgicas decorrentes do prprio processo

    inflamatrio e da falta de reparo adequado injria crnica (Vignola et al.,

    2003). Vrias alteraes estruturais so relatadas no remodelamento

    brnquico. As principais alteraes estruturais das vias areas descritas na

    asma, resumidamente, so:

  • Introduo

    6

    Epitlio de revestimento brnquico:

    No indivduo fora da crise observa-se metaplasia de clulas

    caliciformes, e em menor grau, metaplasia escamosa. Nos casos de asma

    grave e fatal observa-se intensa descamao epitelial que concede ao

    epitlio um aspecto frgil (Mauad e Dolhnikoff, 2008). O principal fator que

    pode levar leso epitelial na asma a ao de produtos derivados da

    degradao de eosinfilos, entre eles a MPB (protena bsica principal),

    protena com ao citotxica epitelial (Rennard et al., 1995). Alm da funo

    de barreira fisiolgica, o epitlio brnquico exerce um importante papel na

    resposta inflamatria. A leso epitelial cria condies que facilita a ao de

    linfcitos T helper 2, mantm o processo inflamatrio eosinoflico atravs de

    citocinas como o fator estimulante de colnia de granulcitos e macrfagos

    (GM-CSF) (GINA 2006).

    Membrana basal epitelial:

    Representa uma camada de matriz extracelular especializada,

    composta por colgeno tipo IV, proteoglicanos e fibronectina, a qual exerce

    significante influncia no crescimento celular, maturao, funo celular,

    suporte mecnico e barreira qumica. Na asma, a verdadeira membrana

    basal est ntegra. Contudo, existe uma caracterstica deposio de

    colgeno I, colgeno III e fibronectina na regio abaixo da membrana basal

    epitelial (lamina reticular) que tpico desta doena (Roche et al., 1989).

  • Introduo

    7

    Lmina prpria:

    Esta camada da via area contm, basicamente, elementos da matriz

    extracelular, vasos e clulas inflamatrias. Os processos inflamatrios a

    deposio de matriz e a angiognese encontradas na asma podem causar

    um espessamento desta camada, promovendo uma diminuio acentuada

    da luz da via area (James et al., 1989).

    Msculo liso brnquico:

    Vrios estudos em asma fatal e no fatal mostraram que h hipertrofia

    e hiperplasia da camada de msculo liso, sendo essa alterao um fator

    chave na patognese da asma. Pacientes que morreram de um episdio

    agudo de asma apresentam aumento na espessura da camada muscular

    comparados com os que morreram de outras causas (Carroll et al., 1993).

    Detalhes desses processos sero descritos adiante.

    Glndulas submucosas:

    Na asma observa-se hiperplasia e hipertrofia de glndulas

    submucosas que contribuem para a excessiva produo de muco presente

    na asma fatal. Tampes mucosos so caractersticos desta doena e

    ocorrem em vias areas de todos os tamanhos (Benayoun et al., 2003).

    Adventcia

    A adventcia a camada mais externa da parede da via area e inclui

    tecido conectivo fibroso, componente vascular e cartilagem, esta ltima

  • Introduo

    8

    presente apenas nas grandes vias areas. Espessamento da adventcia nas

    pequenas vias areas de asmticos tem sido descrito (Bai et al., 2000,

    Dolhnikoff et al., 2008 submetido). Alm de estreitar o lmen, o

    espessamento desta camada pode aumentar a capacidade de contrao do

    MLB pelo desacoplamento do msculo carga aplicada pelo recolhimento

    elstico pulmonar.

    Alm das alteraes estruturais citadas acima, os componentes da

    matriz extracelular (MEC) dos pulmes (fibras elsticas e colgenas,

    proteoglicanos e glicoprotena), as metaloproteinases (MMPs) e seus

    reguladores teciduais (TIMPs) podem estar alterados na asma.

    1.4 Matriz extracelular

    A MEC tem um papel importante na manuteno da estrutura e

    funo das vias areas. As protenas da MEC esto envolvidas na interao

    clula-clula, clula substrato de adeso, recebendo e emitindo sinais

    moleculares, controlando a arquitetura tissular, orquestrando a adeso, a

    migrao, a proliferao e a diferenciao celular (Johnson et al., 2004;

    Parameswaran et al., 2006). A composio da MEC envolve processos

    dinmicos de produo e degradao de protenas da matriz. As fibras

    colgenas e elsticas, os proteoglicanos e as glicoprotenas so as

    principais protenas da matriz extracelular. Os principais fatores que

    controlam esse processo so as metaloproteinases (MMPs), os inibidores de

  • Introduo

    9

    metaloproteinases (TIMPs) e os fatores de crescimento (James, 2005). Em

    um processo inflamatrio como o que ocorre na asma este equilbrio

    prejudicado, resultando em uma quantia anormal da matriz depositada como

    tambm, uma composio alterada dos seus componentes.

    Os principais componentes da MEC que participam do

    remodelamento brnquico na asma so:

    Fibras Elsticas: Tm como principal componente a elastina que

    uma glicoprotena estrutural. Diferentes propores de elastina e

    microfibrilas promovem caractersticas funcionais variveis, adaptveis s

    necessidades locais dos tecidos (Kielty et al., 2002). O desenvolvimento da

    elastognese se d atravs de trs estgios graduais e sucessivos: fibras

    oxitalnicas (formadas exclusivamente por microfibrilas e sem elastina),

    elaunnicas (formadas por grande quantidade de microfibrilas e pouca

    elastina) e fibras elsticas maduras (formadas por grande quantidade de

    elastina e poucas microfibrilas). Assim, a propriedade da fibra relatada pela

    sua grande quantidade de elastina, sendo que as fibras oxitalnicas e

    elaunnicas, sem ou com pouca elastina, dariam resistncia tenso

    mecnica, o que representa ser um elemento capaz de sustentar as

    variaes de distenso a que se submetem, garantindo assim sua

    integridade. J as fibras elsticas maduras, as quais possuem grande

    quantidade de elastina, representariam o elemento responsvel pela

    distensibilidade reversvel do tecido conectivo, sendo capaz de aumentar at

    uma vez e meia o seu comprimento e retornarem ao seu comprimento inicial,

  • Introduo

    10

    regulando a patncia das vias areas e o recolhimento elstico pulmonar

    (Paniagua et al., 1983). So sintetizadas por fibroblastos, MLB, condrcitos e

    hidrolisadas facilmente por elastases.

    Fibras colgenas: O colgeno uma glicoprotena estrutural, com

    peso molecular de 290 quilodalton, composto pelos aminocidos glicina

    (33,5%), prolina (12%) e hidroxiprolina (10%) formando trs cadeias

    polipeptdicas enroladas entre si configurando uma estrutura de tripla hlice.

    formado por fibrilas e microfibrilas que originam as fibras com dimetros

    variados e presentes sob a forma de uma rede delicadamente tranada ou

    de feixes espessos (Gelse et al., 2003). No pulmo j foram identificados

    mais de 20 tipos diferentes de colgenos (Suki et al., 2005). Entre os vrios

    tipos de colgenos, os tipos I e III so os mais abundantes e com

    distribuio difusa no tecido pulmonar. O colgeno tipo I produzido pelos

    fibroblastos, conferindo um grau de polimerizao mxima e conferindo

    maior capacidade de resistir s tenses. O colgeno tipo III produzido

    pelas clulas do msculo liso e clulas reticulares, conferindo ao msculo

    liso, o tecido hematopoitico e nervos as suas propriedades, devida a mdia

    polimerizao das suas finas fibrilas (Junqueira e Carneiro, 2000).

    Proteoglicanos: Os proteoglicanos (PGs) representam uma famlia

    de macromolculas composta por uma protena central e cadeias laterais de

    polissacardeos sulfatados, glicosaminoglicanos (GAGs), covalentemente

    ligadas (Iozzo, 1985). A protena, sintetizada no retculo endoplasmtico

  • Introduo

    11

    rugoso, tem a funo principal de interagir especificamente com outras

    macromolculas alvo, repercutindo na distribuio dos PGs nos tecidos

    (Pogny et al., 1994; Sini et al., 1997). As cadeias GAGs so ionicamente

    carregadas e funcionam fisicamente como criadoras de compartimentos

    preenchidos por gua, mantendo a matriz hidratada (Hardingham, 1992;

    Yanagishita, 1993). Vrios PGs como biglicano, decorina, lumicam,

    heparina, versicam, entre outros, foram identificados na MEC, na superfcie

    ou entre as clulas. Participam da organizao de fibras colgenas (Wiberg

    et al., 2002), do equilbrio hdrico tecidual, auxiliam a migrao (Saika et al.,

    2000) e influenciam a permeabilidade vascular (Iozzo, 1985). Versicam um

    grande proteoglicano chondroitin sulfato isolado a partir de culturas de

    fibroblastos humanos com uma protena central rica em resduos de cido

    glutmico, serina e treonina. Sua estrutura complexa com vrios domnios de

    ligao confere a este PG participao em vrias funes como estimular a

    proliferao e diferenciao celular, e inibir a formao de tecido

    cartilaginoso (Zhang et al., 1998; de Kluijver et al., 2005).

    Glicoprotenas: A principal alterao de glicoprotenas descrita na

    asma a deposio subepitelial de fibronectina, tenascina e laminina (Vignola

    et al., 2003). Dentre os componentes da matriz extracelular, a fibronectina, um

    dmero de 450 quilodalton, caracterizada por ser uma protena com a funo

    de adeso entre as clulas, em outras molculas de fibronectina e em

    estruturas fibrosas da matriz, serve de ponte de unio entre as clulas no

    epiteliais, promove a migrao celular e a quimiotaxia, regulando a

  • Introduo

    12

    proliferao e diferenciao celular (Hocking, 2002). Fibronectina esta

    altamente expressa em tecidos lesados, com importante implicao no reparo

    tecidual (Limper e Roman, 1992), sendo que nveis aumentados de

    fibronectina no lavado broncoalveolar de pacientes asmticos, correlaciona-se

    com a imunorreatividade de macrfagos alveolares.(Vignola et al., 1996).

    1.4.1 Reguladores da matriz extracelular

    Metaloproteinases: De acordo com sua estrutura e substrato

    especfico ao qual se liga, membros da famlia das metaloproteinases so

    classificados em subgrupos de colagenases, estromelisinas, matrilisinas,

    metaloproteinases tipo-membrana, gelatinases e outras MMPs. Constituem

    uma famlia de proteinases que contm um on zinco no seu stio cataltico.

    Apresentam ampla gama de funes fisiolgicas e patolgicas, incluindo o

    desenvolvimento embrionrio, reparos teciduais, ovulao, funes

    macrofgicas e neutroflicas, desenvolvimento de cncer, remodelao ssea

    entre outros (Yoon et al., 2003). Clulas mesenquimais, epiteliais, macrfagos

    e neutrfilos so capazes de sintetizar as MMPs. Vrias MMPs tm sido

    implicadas no processo de remodelamento brnquico na asma,

    principalmente as MMP-2 e MMP-9, da famlia das gelatinases, capazes de

    degradar elastina, fibronectina, colgenos I, II, III e IV, ser pr-MMP-9 e 13. A

    MMP-1, da famlia das colagenases intersticiais, a qual degrada colgeno I, II,

    III, VII, VIII e X, e gelatina, pr-MMP-9 e moduladora do Fator de

    Crescimento Insulnico (GFI). J a MMP-12, uma metaloelastase capaz de

  • Introduo

    13

    degradar elastina e influenciar no recrutamento de clulas inflamatrias

    (Gueders et al., 2006).

    1.4.2 Inibidores teciduais de metaloproteinases

    A inibio das formas ativas das MMPs pode dar-se pela ao de

    seus inibidores teciduais (TIMPs). So quatro os TIMPs descritos (1, 2, 3, 4).

    Com exceo do TIMP-3, so secretados sob forma solvel. Todos so

    capazes de efetuar fortes ligaes com membros da famlia das MMPs, com

    conseqente formao de complexos inibitrios. So importantes no

    estabelecimento de balano entre sntese e degradao da MEC induzidas

    pelas MMPs (Yoon et al., 2003). Estudo ps leso do tecido muscular

    esqueltico mostra que a TIMP-1 ativada numa fase mais precoce (6

    horas), enquanto que a TIMP-2 apresenta-se ativada aps 2 dias. As TIMPs

    1 e 2 possivelmente tm papis diferentes de acordo com o tempo do dano

    tissular e de reparo (Koskinen et al., 2001).

    1.5 O msculo liso brnquico na asma

    Evidncias sugerem que a clula muscular lisa o componente mais

    importante envolvido na patognese da asma, pois alm de modular o tnus

    broncomotor, participa na funo imunomoduladora da orquestrao e

    perpetuao da inflamao das vias areas (An et al., 2007; Chung et al.,

  • Introduo

    14

    2000). Alm da capacidade proliferativa e contrtil, o msculo liso brnquico

    tambm uma importante fonte de citocinas pr-inflamatrias, quimiocinas e

    fatores de crescimento, e componentes da matriz extracelular (Panettieri,

    2003; Howarth et al., 2004). Estudos patolgicos de quase um sculo atrs

    demonstram que o MLB de pacientes asmticos est aumentado (Huber e

    Koessler, 1922), desde ento, esta observao vem sendo repetidamente

    confirmada por Kuwano et al., 1993; James et al., 1989; Heard e Hossain,

    1973; Carroll et al., 1993; Takizawa e Thurlbeck, 1971; Ebina et al., 1990;

    Sobonya, 1984; Bai et al., 2000; Saetta et al., 1991; Thomson et al., 1993;

    Woodruff et al., 2004, e os dados destes estudos mostram que a quantia do

    MLB, comparado com casos controles, est aumentado de 50 a 400% do

    MLB nos casos de asma fatal e de 25 a 200% nos casos de asma no fatal,

    dependendo do tamanho da via area examinada, e h correlao com a

    hiperreatividade e aumento da resistncia das vias areas. Avanos tm

    sido feitos para identificar os processos mitognicos e as vias que modulam

    o crescimento do MLB (Noveral et al., 1994).

    O paradigma a respeito do aumento da quantia do MLB na asma

    que a inflamao crnica secreta mediadores que resulta em proliferao do

    MLB (Ma et al., 1998; Panettieri, 1998). Alguns fatores de crescimento esto

    aumentados no lavado broncoalveolar (LBA) das vias areas de asmticos

    como, por exemplo: Fator de Crescimento Epidermal (EGF), Fator de

    Crescimento Insulnico (GFI), entre outros, que podem alterar a

    contratilidade e a homeostase do clcio e induzir hipertrofia e hiperplasia do

    MLB, podendo ento as clulas musculares lisas responderem a substncias

  • Introduo

    15

    que elas prprias secretam (sinalizao autcrina) (Laazar et al., 2000). De

    et al. (1993) demonstraram que a ao da IL-1 atua como um fator

    mitognico para o msculo liso devido a secreo autcrina de Fator de

    Crescimento Derivado das Plaquetas (PDGF).

    Ebina et al. (1990, 1993) compararam grandes e pequenas vias

    areas de 16 casos de asma fatal com indivduos no asmticos. Eles

    observaram duas categorias de pacientes baseados na distribuio do MLB,

    o tipo I com aumento do nmero de clulas do MLB (hiperplasia) somente na

    via area central, e o tipo II com aumento do tamanho do msculo liso

    (hipertrofia) nas vias areas centrais e perifricas. Este aumento da massa

    do MLB pode ser devido a um aumento na proliferao, sobrevivncia ou

    recrutamento de clulas progenitoras de MLB.

    1.5.1 Hipertrofia

    O aumento do tamanho das clulas do msculo liso brnquico

    contribui para o espessamento da mucosa brnquica, o qual pode resultar

    de numerosos fatores estimulantes, incluindo cargas aumentadas

    (decorrentes do prprio espessamento da parede brnquica e de repetidos

    episdios de broncoespasmo) (Vignola et al., 1998a). A hipertrofia tem sido

    reportada em grandes e pequenas vias areas em casos de asma fatal

    (Ebina et al., 1993), mas no nas grandes vias areas em casos moderados-

    graves de asma (Woodruff et al., 2004). Benayoun et al. (2003) reportaram

    um aumento de aproximadamente 1,5 vezes no dimetro de clulas de

  • Introduo

    16

    msculo liso de grandes vias areas de pacientes com asma intermitente e

    moderada, e 3 vezes nos indivduos com asma grave em relao a

    pacientes controles.

    1.5.2 Hiperplasia

    In vitro o MLB de asmticos apresenta uma taxa de proliferao maior

    (Johnson et al., 2001), que em parte pode ser devido uma acelerada atividade

    metablica (Trian et al., 2007) ou conseqncia a uma MEC de composio e

    quantidade alteradas (Johnson et al., 2004). A inflamao na asma tambm

    est associada com a produo de numerosos fatores mitognicos para o

    MLB (Panettieri, 1998). Um estudo experimental de Bai et al. (1995)

    demonstrou um aumento da sntese de DNA no msculo liso das vias areas

    de porquinhos-da-ndia sensibilizados com ovoalbumina, aps provocao

    duas vezes por semana, por seis meses, quando comparado com animais-

    controles submetidos provocao com soluo salina. Os sinais que

    estimulam a proliferao do MLB podem ser divididos em dois grupos

    baseados nos receptores de superfcie que eles interagem (Hirst et al., 2000).

    Fatores de crescimento de polipetdeos, como o Fator de Crescimento de

    Fibroblasto (FGF) interagem com os receptores de superfcie especficos com

    atividade intrnseca da protena tirosina-quinase. Outros estimulantes

    mitognicos como a histamina e a trombina interagem com protenas G.

    Ambas as vias ativam a quinase reguladora extracelular (ERK) e a

    fosforilao da protena do retinoblastoma, aumentando a produo da ciclina

  • Introduo

    17

    e a degradao do inibidor p27 KIP 1. Estes eventos resultam na fase S do

    ciclo da clula (sntese de DNA) e progride com a diviso celular. Heard e

    Hossain (1973) descreveram que o nmero de ncleos de micitos por

    volume de MLB estava aumentado nas grandes vias areas de 5 casos de

    asma fatal, comparados com indivduos no asmticos.

    1.6 Deposio de MEC na camada do MLB

    Outro componente que poderia contribuir para o espessamento da

    camada muscular na asma seria um aumento da deposio da MEC na

    camada muscular lisa das vias areas.

    As clulas do MLB so capazes de secretar uma grande variedade de

    protenas da matriz, incluindo fibronectina, fibras colgenas, fibras elsticas,

    hialorunan, laminina e versicam.

    Na asma, deposio anormal de protenas da MEC tem sido descrita

    nas camadas da submucosa e adventcia de grandes e pequenas vias

    areas (Mauad et al., 1999; Mauad et al., 2004; Chakir et al., 2003; De

    Medeiros et al., 2005), incluindo anormalidades nos colgenos, laminina,

    tenascina e fibronectina (Laitinen et al., 1997; Wilson e Li, 1997). Mauad et

    al. (1999) observaram um aumento das fibras elsticas na submucosa de

    vias areas centrais de indivduos que morreram por asma e um menor

    contedo de fibras elsticas quando se considera apenas a regio

    subepitelial dessas vias areas em comparao aos controles. A perda de

  • Introduo

    18

    acoplamento das fibras elsticas na membrana basal poderia resultar em

    uma diminuio da forca elstica da via area, facilitando o mecanismo de

    broncoconstrio.

    Na asma grave e fatal, os proteoglicanos versicam, biglicam e

    lumicam esto aumentados na lmina prpria e ao redor do MLB (De

    Medeiros et al., 2005; Pini et al., 2007; de Kluijver et al., 2005). Roberts

    (1995) encontrou deposio dos proteoglicanos versicam e cido hialurnico

    entre as fibras do MLB e na submucosa de vias areas de asmticos,

    sugerindo que a presena aumentada destas substncias poderia contribuir

    para as alteraes mecnicas observadas em uma via area espessa. Par

    et al. (1997) notaram que, se a deposio de colgeno ocorrer na matriz

    subepitelial a contrao do msculo liso pode ser dificultada, devido a

    resistncia compresso e tenso, entretanto, se a deposio dessas

    protenas estiverem entre as clulas do msculo liso brnquico, podem

    promover um enrijecimento e estreitamento das paredes das vias areas. No

    entanto, McParland et al. (2003) relatam que a deposio de matriz

    extracelular na camada do MLB pode aumentar a carga e dificultar a

    contrao desta musculatura, prevenindo o estreitamento excessivo das vias

    areas. Estudos in vitro demonstram que a digesto da MEC com

    colagenase promove um aumento da gerao de fora e encurtamento do

    msculo liso nas vias areas de humanos (Bramley et al., 1995), consistente

    tambm com os achados de Niimi et al. (2003), que sugerem que fibrose na

    parede da via area protege contra reatividades excessivas.

  • Introduo

    19

    Hirst et al. (2000) observaram que a resposta proliferativa das clulas

    do msculo liso era maior quando acrescentava determinados componentes

    da MEC, como fibronectina e colgeno I, sendo que, culturas de MLB podem

    variar seus fentipos em relao as condies de cultura (Ma et al., 1998).

    De acordo com Johnson et al. (2000), clulas de MLB de indivduos normais

    expostas em soro de indivduos com asma, produziram nveis aumentados

    de protenas da MEC. E ainda, peptdeos de elastina degradada cultivadas

    com clulas musculares lisas de artrias coronrias de porcos estimularam a

    mitose de clulas musculares lisas (Mochizuki et al., 2002). Slats et al.

    (2008), descreveram uma correlao entre a hiperresponsividade brnquica

    e elastina na parede brnquica de indivduos asmticos. As clulas de MLB

    podem desenvolver um fentipo secretrio, proliferativo e um aumento das

    protenas contrteis, resultando em um estado hipercontrtil celular de

    acordo com a composio da MEC que as circunda (Panettieri, 1998).

    1.7 Mecanismos de alteraes da MEC no MLB na asma

    Entre as protenas que parecem ter importante papel no

    remodelamento brnquico encontram-se as metaloproteinases. As MMPs

    so reconhecidas como coadjuvantes importantes em processos patolgicos

    pulmonares, tm a capacidade de clivar protenas estruturais como as fibras

    colgenas e elsticas.

  • Introduo

    20

    Na presena de inflamao crnica, macrfagos e neutrfilos so

    capazes de sintetizar metaloproteinases. Alm disso, as prprias clulas

    mesenquimais so capazes de produzir MMPs em condies associadas ao

    remodelamento tissular (Emonard et al., 1989). Vrias so as MMPs que tm

    sido implicadas no processo de remodelamento brnquico na asma. Xie et

    al. (2005) observaram in vitro que clulas do MLB expressavam MMP-12 ao

    serem induzidas com IL-1, sendo que, a expresso dessa metaloproteinase

    pode ativar outras MMPs, clivar protenas da MEC, promover migrao de

    clulas inflamatrias e induzir uma atividade elastoltica aumentada

    agravando doenas respiratrias como a asma. Poucos trabalhos

    avaliaram o papel da MMP-1 na asma. Rajah et al. (1999) mostraram

    expresso aumentada de MMP-1 em MLB de asmticos e sugeriram que

    MMP-1 poderia induzir a hiperplasia de MLB, alm de clivar os

    colgenos tipo I e III, os mais importantes colgenos fibrilares da MEC

    pulmonar. Elshaw et al. (2004) tambm demonstraram que o MLB expressa

    constitutivamente MMP-2, capaz de degradar colgeno tipo IV, um dos

    maiores componentes da camada subepitelial da membrana basal. J, a

    MMP-3, capaz de degradar uma ampla gama de protenas incluindo

    colgenos tipos IV e V, fibronectina, elastina e proteoglicanos (Whitelock et

    al., 1996). Kelly e Jarjour (2003) encontraram aumento da expresso de

    MMP-9 no lavado broncoalveolar e no escarro durante exacerbao

    asmtica, voltando a nveis normais aps estabilizao da crise. Porm,

    Vignola et al. (1998b) encontraram nveis aumentados de MMP-9 em escarro

    de pacientes com asma estvel. A imunorreatividade subepitelial de MMP-9

  • Introduo

    21

    tem sido associada com a gravidade da asma (Wenzel et al., 2003), sendo a

    MMP-9 considerada a metaloproteinase predominante nas vias areas de

    indivduos asmticos.

    Alm das MMPs, os inibidores teciduais de metaloproteinases

    tambm contribuem para o reparo tecidual e remodelamento brnquico

    encontrado na parede brnquica de asmticos. O equilbrio entre as MMPs e

    seus inibidores controla a deposio dos componentes da MEC nos tecidos.

    A expresso de TIMP-1 tambm foi encontrada em LBA durante

    exacerbaes de pacientes com asma (Kelly e Jarjour et al., 2003).

    Ao longo dos anos, o grupo do Departamento de Patologia Pulmonar

    da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo, vem

    organizando um banco de tecidos de pulmes de indivduos que morreram

    por asma e que foram submetidos a autpsia no Servio de Verificao de

    bitos da Capital. Estes pacientes tm em comum apresentarem asma

    grave pobremente controlada, baixo uso de corticosterides inalados,

    ausncia de acompanhamento mdico regular, baixo ndice scio econmico

    e educacional (Mauad et al., 2008).

    Desde ento, vrios trabalhos j foram publicados utilizando-se deste

    material e vrios outros esto em andamento. A pesquisa realizada nesse

    material tem a vantagem de nos proporcionar o acesso a diferentes regies

    do tecido pulmonar e de vias areas de vrios calibres, permitindo tambm

    a anlise das diferentes camadas da parede brnquica.

    Nos ltimos anos, temos desenvolvido colaboraes com outros grupos

    de pesquisadores que trabalham com o tecido de pacientes que faleceram

  • Introduo

    22

    de asma. Entre eles, temos colaborado com o Professor Alan James e seu

    grupo, de Perth, Austrlia. Esta colaborao nos permitiu acesso ao tecido

    de um grupo de pacientes que apresentavam asma (em geral leve) e que

    morreram de outras causas que no asma. Este grupo de estudo

    importante de ser acrescentado ao nosso, pois pode fornecer informaes

    importantes sobre as especificidades de nossos achados em relao asma

    ou a sua gravidade.

    No entanto, a pesquisa com este material apresenta algumas

    limitaes importantes, como a ausncia de dados relativos funo

    pulmonar ou dados confiveis em relao terapia medicamentosa. A

    ausncia destes dados no nos permite avanar nos mecanismos

    relacionados relao estrutura-funo neste material.

    O material de autpsia portanto, til para a caracterizao da matriz

    extracelular nos diversos compartimentos pulmonares em pacientes com

    asma.

    At o momento do desenho deste estudo, havia poucos estudos em in

    vivo onde a composio dos diferentes componentes da MEC e seus

    reguladores no interior do msculo liso de grandes e pequenas vias areas

    era descrita de maneira abrangente (Pini et al., 2007). Acreditamos haver

    importantes razes para entender melhor este assunto. Primeiro, alteraes

    da composio da MEC no MLB podem afetar suas propriedades contrteis.

    Segundo, descrever a expresso das MMPs e TIMPs no MLB pode

    aumentar o conhecimento do envolvimento do MLB no remodelamento na

  • Introduo

    23

    asma. Terceiro, uma composio alterada da MEC pode influenciar o

    fentipo das clulas do MLB (Johnson et al., 2000).

    Assim, o presente estudo tem como objetivo caracterizar os principais

    componentes da MEC e seus reguladores em vias areas grandes e

    pequenas de indivduos que faleceram devido a um ataque de asma (asma

    fatal), comparar com indivduos com asma e que faleceram de outras

    causas, e indivduos sem patologia pulmonar.

  • 2. OBJETIVOS

  • Objetivos

    25

    2.1 Gerais

    Caracterizar as alteraes dos componentes da matriz extracelular e

    seus reguladores na camada muscular lisa das vias areas de indivduos

    com asma.

    2.2 Especficos

    2.1.2 Determinar a frao de rea de colgeno total e fibras elsticas no

    msculo liso de vias areas grandes e pequenas de indivduos falecidos por

    asma, comparando com indivduos asmticos falecidos por causas no

    pulmonares e com indivduos falecidos por causas no pulmonares, no

    asmticos e sem doena pulmonar autpsia.

    2.2.2. Quantificar a frao de rea dos colgenos I e III, versicam,

    fibronectina, a expresso das metalopreinases 1, 2, 9 e 12, e dos inibidores

    das metaloproteinases 1 e 2 no msculo liso de vias areas grandes e

    pequenas de indivduos falecidos por asma e comparar com indivduos

    falecidos por causas no pulmonares, no asmticos e sem doena

    pulmonar autpsia.

  • 3. MTODOS

  • Mtodos

    27

    O protocolo deste estudo retrospectivo teve a aprovao do Comit

    de tica para a Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de So

    Paulo (CAPPesq-FMUSP) e pelo Sir Charles Gairdner Hospital Ethics

    Committee (Nedlands, Australia).

    Parte da populao do presente estudo foi descrita previamente

    (Mauad et al., 1999; Mauad et al., 2004; De Medeiros et al., 2005; De

    Magalhes et al., 2005; Carroll et al., 1993; Carroll et al., 1996) em outros

    estudos do Grupo de Patologia Pulmonar da Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo e pelo Department of Pulmonary Physiology, Sir

    Charles Gairdner Hospital, Nedlands, Western Australia.

    3.1 Casustica

    3.1.1 Indivduos de So Paulo

    3.1.1.1 Grupo Asma Fatal

    Tecido pulmonar foi obtido de indivduos autopsiados no Servio de

    Verificao de bitos da Capital (SVOC) do Departamento de Patologia da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo entre os anos de

    1996 e 2003.

  • Mtodos

    28

    Indivduos que morreram por uma crise aguda de asma. Todos

    apresentaram histria pregressa de asma documentada por um questionrio

    aplicado por uma assistente social aos familiares dos indivduos. Foram

    coletadas informaes relativas histria clnica, acompanhamento mdico,

    tratamentos anteriores, incio da doena, hospitalizaes prvias

    relacionadas asma, tabagismo, durao da crise final assim como o nvel

    socioeconmico. Dentre os achados macroscpicos, todos os indivduos que

    morreram por asma mostraram hipersecreo e hiperinsulflao pulmonar.

    (FIGURA 1A e 1B). Microscopicamente, as espcimes pulmonares

    apresentavam descamao epitelial, espessamento da membrana basal,

    hiperplasia de glndulas submucosas, hipertrofia de msculo liso e

    inflamao da mucosa com ou sem eosinfilos.

    3.1.1.2 Grupo Controle

    Os indivduos controles foram considerados aqueles que morreram

    por causas no pulmonares, sem histria de asma, no fumantes e que

    apresentavam pulmes macroscopicamente e microscopicamente sem

    alteraes.

    3.1.2 Indivduos de Perth

    Tecido pulmonar foi obtido de indivduos autopsiados no Coroner's

    Court of Western Australia.

  • Mtodos

    29

    3.1.2.1 Grupo Asma Fatal

    Pulmo foi obtido de indivduos que morreram por mal asmtico, com

    histria de asma confirmada por familiares e mdicos. Os casos de asma

    fatal no ocorreram em ambiente hospitalar e ventilao mecnica no foi

    utilizada. Os indivduos apresentavam histrias de internaes hospitalares

    pregressas decorrentes de problemas relacionados asma, perodos de

    ausncias na escola ou trabalho devido asma e uso freqente de

    corticosteride oral.

    3.1.2.2 Grupo Asma No Fatal

    Consistiu de indivduos que morreram por causas no pulmonares e

    sem trauma torcico. Atravs de questionrios aplicados aos familiares,

    mdicos ou anlise de pronturios hospitalares, histria pregressa de asma

    foi bem definida. Os sintomas decorrentes da asma eram considerados

    leves, com menos ocorrncias de internaes hospitalares devido asma

    quando comparado ao grupo de Asma Fatal.

    3.1.2.3 Grupo Controle

    Os indivduos que apresentavam pulmes macroscopicamente e

    microscopicamente normais e que morreram por causas no pulmonares

    foram includos no grupo controle.

  • Mtodos

    30

    Os critrios de excluso para todos os grupos basearam-se na

    presena de infeces, neoplasias ou inflamao.

    Figura 1. Achados macroscpicos caractersticos de indivduo que foi a bito por asma ( esquerda). Destaca-se a distenso do pulmo pela hiperinsuflao (A) e a ocluso das vias areas por tampes mucosos espessos e aderentes (B). O pulmo direita em (A) de um tabagista que morreu por causa no pulmonar (comparar o tamanho).

    A

    B

  • Mtodos

    31

    3.2 Mtodos

    3.2.1 Histoqumica

    Fragmentos de tecido foram coletados das reas centrais e perifricas

    dos pulmes, fixados em formaldedo a 10% e emblocados em parafina.

    Cortes de 5 m de espessura foram submetidos a colorao Hematoxilina

    Eosina (HE) para avaliao inicial.

    Para identificao das fibras elsticas, a tcnica de Resorcina

    Fuchsina de Weigert oxidada foi utilizada e previamente descrita em Mauad

    et al., 1999. Para a anlise do colgeno total nas vias areas, a colorao de

    Picrossrius foi utlizada (Dolhnikoff et al., 1999).

    3.2.2 Imunohistoqumica

    Os anticorpos especficos contra os colgenos I e III, fibronectina,

    versicam, metaloproteinases 1, 2, 9 e 12 e inibidores das metaloproteinases

    1 e 2 utilizados no estudo esto apresentados no Anexo A, Tabela 1

    (anticorpo, pr-tratamento, clone, titulao e fabricante). Resumidamente, as

    lminas previamente preparadas com silane (Sigma Chemical, Saint Louis,

    Missouri, USA) contendo os cortes histolgicos dos pulmes foram

    desparafinadas, hidratadas e submetidas a uma soluo de H2O2 a 3% por

    40 minutos com o objetivo inibir a atividade endgena da peroxidase. Em

    seguida, foi realizada a incubao por 24 horas com o anticorpo primrio e

  • Mtodos

    32

    posteriormente utilizado um complexo de estreptoavidina-biotina (LSAB,

    DAKO, Glostrup, Denmark) como anticorpo secundrio.

    Os cortes foram ento corados com o cromgeno diaminobenzidina

    (DAB) (Sigma Chemical, Saint Louis, Missouri, EUA) e contra-corados com

    Hematoxilina de Meyer. Para o processamento dos controles negativos, foi

    omitida a utilizao do anticorpo primrio, substitudo por PBS (soluo

    tampo fosfato).

    Essas reaes foram realizadas no Laboratrio de Imunohistoqumica

    do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade

    de So Paulo, sendo apenas o colgeno I realizado no Division of

    Biomedical Research,TNO Prevention and Health, Leiden University Medical

    Center (LUMC), The Netherlands.

    Para a otimizao da imunorreatividade do material a ser analisado,

    as reaes de cada anticorpo foram realizadas em uma mesma bateria.

    Aps realizao desse processo padronizado, foi observado que a

    intensidade da colorao da reao variava significativamente entre os

    casos de Perth e os casos de So Paulo, apresentando um padro fraco de

    colorao nos casos de Perth, provavelmente pelo fato desses casos terem

    sido submetidos a longos perodos de imerso no formol. Devido a esse fato,

    a anlise imunohistoqumica foi realizada apenas nos casos de asma fatal e

    controles coletados em So Paulo.

  • Mtodos

    33

    3.2.3 Morfometria

    As imagens foram analisadas a partir de um programa de computador

    Image-Pro Plus 4.1 para Windows (Media Cybernetics Silver Spring,

    MD, USA) em um computador pessoal acoplado a uma cmera de vdeo que

    captura imagens de um microscpio ptico Leica DMR (Leica Microsystems

    Wetzlar GmbH, Germany). Em cada caso foram analisadas 2 vias areas

    grandes e 3 vias areas pequenas cortadas transversalmente, classificadas

    de acordo com o permetro da membrana basal epitelial (Pmb), sendo

    considerada via area grande (Pmb > 6 mm), e via area pequena (Pmb 6

    mm) (Saetta et al., 1998).

    As reas do msculo liso foram medidas em toda a circunferncia das

    vias areas num aumento de 400X e sempre que o campo apresentasse a

    camada muscular claramente definida.

    A positividade de cada reao foi determinada utilizando uma

    ferramenta do analisador de imagem denominada color cube. Esta

    ferramenta realiza medidas atravs de diferenas de cor da amostra,

    calculando um parmetro baseado em uma tonalidade de cor definida pelo

    usurio. Para cada reao um padro de cor foi previamente estabelecido. O

    programa permite a seleo de uma regio onde a medida deve ser

    realizada, denominada rea de interesse. Assim, a rea de interesse, no

    caso a camada muscular lisa, foi manualmente determinada em cada campo

    (Figura 2).

  • Mtodos

    34

    Figura 2. Representao da anlise morfomtrica realizada na camada do msculo liso brnquico. Aps delimitao manual da rea de interesse (linha verde) num aumento de 400x, a marcao da rea positiva previamente estabelecida para uma determinada protena (fibras elsticas na figura), quantificada pelo programa de anlise de imagem (rea vermelha). Os resultados foram expressos em porcentagem. Colorao por Resorcina Fuchsina de Weigert oxidada. Ep = camada epitelial; lp = lmina prpria; mlb = msculo liso brnquico. Barra de escala = 20m.

    mlb

  • Mtodos

    35

    3.2.4 Anlise Estatstica

    Dados demogrficos foram apresentados como mediana e interquartis

    e os dados numricos como mdia DP.

    A rea fracionada de cada reao especfica foi corrigida pela rea do

    msculo liso brnquico (m2/m2) e expressa em porcentagem.

    Foi realizada transformao logartmica dos dados antes das anlises.

    Para comparar a rea fracionada de cada protena, para os dados

    paramtricos, foi realizado ANOVA ou Teste T, e para dados no

    paramtricos, o teste de Mann-Whitney ou Kruskal Wallis. Ps-teste de

    Bonferroni foi utilizado para discriminar diferena entre os grupos Asma

    Fatal, No Fatal e Controle.

    A rea fracionada de cada reao foi comparada entre as vias areas

    grandes e pequenas utilizando teste T pareado ou Wilcoxon. As correlaes

    foram realizadas utilizando o teste de Spearman.

    Valores de p menor que 0,05 foram considerados significantes, em

    todos os testes aplicados neste estudo.

    O programa estatstico utilizado para a anlise dos dados foi o

    programa de computador Statistical Package for the Social Sciences

    (SPSS) 13.0 (Chicago, Illinois).

  • 4. RESULTADOS

  • Resultados

    37

    4.1 Casustica

    As caractersticas clnicas dos indivduos so apresentadas no Anexo B,

    Tabela 2.

    Foram estudados os pulmes de 35 indivduos vtimas de asma,

    sendo 15 homens com a mediana da idade 38 (26 50) anos, sendo 25

    fumantes ou ex-fumantes.

    Todos os indivduos asmticos apresentaram diagnstico macro e

    microscpicos compatveis com asma fatal, e suas mortes foram

    atestadas pelo patologista como mal asmtico. Em geral, as

    caractersticas clnicas deste grupo sugerem asma grave, com admisses

    hospitalares freqentes, uso de corticosteride oral, ou prejuzo de suas

    atividades dirias devido asma.

    Dos 10 indivduos do grupo de Asma No Fatal, cinco eram homens e

    apresentaram idade mediana de 24 (17 34) anos, sendo cinco fumantes ou

    ex-fumantes. Em geral, o grupo de Asma No Fatal apresentou poucos

    sintomas relacionados a asma, com uso ocasional de -agonistas, baixas

    doses de corticosterides inalados e sem histrias prvias de

    hospitalizaes devido a asma, sugerindo classificao clnica de asma leve.

  • Resultados

    38

    Os 22 indivduos controles apresentaram pulmes normais aos

    exames, sendo 11 homens com mediana da idade de 43 (26 - 58) anos e

    todos no fumantes.

    4.2 Morfometria

    A Figura 3 ilustra na colorao de Hematoxilina e Eosina (H&E) as

    alteraes morfolgicas mais proeminentes presentes nas grandes vias

    areas de indivduos asmticos quando comparado as vias areas de

    indivduos sem patologia pulmonar. Nota-se na asma fatal, a espessa

    camada de msculo liso, infiltrado inflamatrio, hiperplasia das glndulas

    submucosas e rolha de muco no lmen quando comparado ao controle.

    Figura 3. Grande via area de um indivduo do grupo Controle (A) e Asma Fatal (B). Dentre as principais alteraes histolgicas observadas na via area (B), destaca-se a exuberante camada muscular (mlb). H tambm aumento do nmero de glndulas submucosas (gsm) e muco no lmen da via area (m). Ep = camada epitelial; lp = lmina prpria, c = cartilagem. H&E. Barra de escala = 200m.

    mlb

    mlb

    gsm

    gsm

  • Resultados

    39

    No total, foram analisadas 458 grandes e 651 pequenas vias areas

    no grupo Asma Fatal, 40 grandes e 60 pequenas vias areas no grupo de

    Asma No Fatal (somente anlise histoqumica) e 199 grandes e 375

    pequenas vias areas no grupo Controle.

    A rea de msculo liso brnquico por campo nas grandes vias areas

    foi 15,4 3,76 x 104 m2 na Asma Fatal, 12,2 4,16 x 104 m2 na Asma No

    Fatal e 9,1 3,66 x 104 m2 no Controle (p < 0,001 para Asma Fatal versus

    Controle; p = 0,085 para Asma Fatal versus Asma No Fatal; p = 0,16 para

    Asma No Fatal versus Controle). A rea de msculo liso brnquico por

    campo nas pequenas vias areas foi 5,4 3,56 x 104 m2 na Asma Fatal,

    2,5 1,96 x 104 m2 na Asma No Fatal e 2,9 2,16 104 m2 no Controle (p

    = 0,03 para Asma Fatal versus Controle; p = 0,02 para Asma Fatal versus

    Asma No Fatal; p = 0,99 para Asma No Fatal versus Controle).

    Nas vias areas grandes, a mdia do permetro da membrana

    basal (Pmb) foi 10,6 3,4 mm no grupo Asma Fatal, 12,6 3,1 mm no

    grupo Asma No Fatal e 10,3 3,8 mm no grupo Controle (p = 0,23).

    Nas pequenas vias areas, o Pmb foi 2,7 1,0 mm no grupo de Asma

    Fatal, 2,6 0,9 mm no grupo de Asma No Fatal e 2,4 0,5 mm no grupo

    Controle (p = 0,58).

  • Resultados

    40

    4.3 Anlise histoqumica

    Encontramos um aumento significativo na rea fracionada das fibras

    elsticas na camada do msculo liso nas grandes vias areas de Asma Fatal

    quando comparado ao grupo Asma No Fatal (p = 0,002) e grupo Controle (p =

    0,007). No houve diferena significativa entres os grupos Asma No Fatal e

    Controle. Em relao as pequenas vias areas, observamos um aumento

    significativo da rea fracionada das fibras elsticas no grupo Asma Fatal

    quando comparado com o grupo Asma No Fatal (p = 0,019), mas no quando

    comparado com o grupo Controle. No houve diferena na rea fracionada das

    fibras elsticas na camada do msculo liso das pequenas vias areas quando

    comparado aos grupos Asma No Fatal e Controle (Figura 4).

    Figura 4. rea fracionada de fibras elsticas no msculo liso brnquico em grandes e pequenas vias areas nos grupos Asma Fatal, Asma No Fatal e Controle. Dados apresentados em mdia DP.

  • Resultados

    41

    A comparao do contedo de fibras elsticas do msculo liso

    brnquico, entre as grandes e pequenas vias areas, no mostrou diferena

    significativa para os grupos Asma Fatal e Asma No Fatal. No grupo Controle,

    as fibras elsticas nas pequenas vias areas foram significativamente maior

    que nas grandes vias areas (p = 0,035).

    Figura 5 (A e B) mostra exemplos de fotomicrografias representativas de

    vias areas grandes de casos controles e asma fatal corados para fibras

    elsticas.

    Figura 5. Fotomicrografias mostrando rea fracionada de fibras elsticas no msculo liso brnquico (mlb) de indivduo Controle (A) e asmtico (B). Corados por Resorcina Fuchsina de Weigert oxidada. Ep = camada epitelial e lp = lmina prpria. Barra de escala = 50m.

    Para a porcentagem da rea fracionada do colgeno total, na camada

    do msculo liso brnquico analisado nas grandes e pequenas vias areas,

    no houve diferena significativa entre os grupos, assim como, no houve

    diferena significativa quando comparado as grandes e pequenas vias

    areas entre os grupos. Os dados esto sumarizados no Anexo C, Tabela 3.

    mlb mlb

  • Resultados

    42

    4.4 Imunohistoqumica

    Dentre os componentes da matriz extracelular, no encontramos

    diferena significativa na camada do msculo liso brnquico de grandes e

    pequenas vias areas entre os grupos para: versicam, colgeno I ou

    colgeno III.

    Para ambos os grupos, asmticos e controles, a rea fracionada

    de versicam, colgeno I e colgeno III apresentou aumento significativo

    nas pequenas vias areas quando comparado as grandes vias areas

    (Asma Fatal, p = 0,005, p = 0,001 e p = 0,001, respectivamente; Controle, p

    = 0,033, p = 0,018 e p = 0,011, respectivamente; Anexo C,Tabela 3).

    A fibronectina apresentou uma porcentagem de rea fracionada no

    msculo liso brnquico significativamente maior nas grandes vias areas de

    asmticos quando comparada ao grupo Controle (p = 0,04: Anexo C, Tabela

    3, e Figuras 6 e 7). A expresso de fibronectina apresentou correlao

    positiva com a idade (r = 0,48; p = 0,03) nas grandes vias areas dos

    asmticos.

  • Resultados

    43

    Figura 6. Fotomicrografias mostrando rea fracionada de fibronectina no msculo liso brnquico (mlb) de indivduo controle (A) e asmtico (B). Corados por imunohistoqumica anti-fibronectina. Ep = camada epitelial, lp = lmina prpria. Barra de escala: 50m.

    Figura 7. rea fracionada de fibronectina no msculo liso brnquico (MLB) em grandes e pequenas vias areas nos grupos Asma Fatal e Controle. Dados apresentados em mdia DP.

    mlb mlb

  • Resultados

    44

    Dentre as metaloproteinases estudadas, encontramos um aumento

    significativo da metaloproteinase-9 (Figura 8 e 9) e metaloproteinase-12

    (Figura 8 e 10) no msculo liso das grandes vias areas de asmticos,

    mas no nas pequenas vias areas, quando comparado aos controles.

    Os indivduos controles apresentaram uma maior rea fracionada de MMP-9

    no msculo liso das pequenas vias areas quando comparada as grandes

    vias areas (p = 0,043), e os asmticos apresentaram maior rea fracionada

    de MMP-12 nas grandes vias areas quando comparadas as pequenas vias

    areas (p = 0,001).

    Figura 8. Fotomicrografias mostrando expresso de metaloproteinase-9 e metaloptoteinase-12 no msculo liso brnquico (mlb), camada epitelial (ep) e lmina prpria (lp) de indivduo controle (A) e asmtico (B). Corados por imunohistoqumica anti-MMP-9 e anti-MMP-12. Barra de escala = 50m.

    mlb

    mlb

    mlb

    mlb

  • Resultados

    45

    Figura 9. Expresso de metaloproteinase (MMP)-9 no msculo liso brnquico (MLB) de grandes e pequenas vias areas nos grupos de Asma Fatal e Controle. Resultados expressos em %. Box-plots representam mediana e interquartis.

    Figura 10. Expresso de metaloproteinase (MMP)-12 no msculo liso brnquico (MLB) de grandes e pequenas vias areas nos grupos de Asma Fatal e Controle. Resultados expressos em %.

  • Resultados

    46

    As expresses de MMP-9 (r = 0,51; p = 0,01) e MMP-12 (r = 0,52; p =

    0,02) se correlacionaram positivamente com a idade de incio da durao da

    asma. A metaloelastase MMP-12, apresentou correlao positiva com as

    fibras elsticas mo msculo liso das grandes vias areas dos asmticos (r =

    0,71; p = 0,003).

    No foi encontrada diferena significativa entre os grupos para as

    MMP-1, MMP-2, TIMP-1 ou TIMP-2. Os controles apresentaram maior rea

    fracionada de TIMP-2 no msculo liso das pequenas vias reas quando

    comparado as grandes vias areas (p = 0,025), sendo os resultados

    demonstrados resumidamente no Anexo D, Tabela 4.

    4.5 Subgrupos analisados

    4.5.1 Fumantes versus no fumantes

    No grupo de indivduos asmticos de So Paulo, onze eram fumantes

    ou ex-fumantes, sendo que os fumantes apresentaram uma maior rea

    fracionada de MMP-9 nas grandes e pequenas vias areas que os

    asmticos no fumantes (vias areas grandes 8,6 10,6 versus 2,8 4,4 %,

    p = 0,001; pequenas vias areas e 6,5 6,0 versus 1,2 1,0 %, p = 0,024),

    como mostra a Figura 11.

  • Resultados

    47

    p = 0,024p = 0,001

    Figura 11. Expresso de metaloproteinase (MMP)-9 no msculo liso brnquico (MLB) de grandes e pequenas vias areas no grupo de Asma Fatal. Resultados expressos em %.

    No houve diferena significativa nas fraes de fibras elsticas e

    colgenas entre fumantes e no fumantes nos casos de Asma No Fatal.

    4.5.2 Uso de corticosteride

    Os indivduos do grupo de Asma Fatal que receberam tratamento

    regular com corticosterides (n = 13) apresentaram menor rea fracionada

    de fibras elsticas nas grandes e pequenas vias areas quando comparados

    queles que no receberam nenhum corticosteride (vias areas grandes

    8,8 13,7 versus 28,8 9,5%, p = 0,003; vias areas pequenas 10,0 12,8

    versus 20,4 9,5%, p = 0,01), como mostra a Figura 12.

  • Resultados

    48

    Figura 12. rea fracionada de fibras elsticas no msculo liso brnquico (MLB) de grandes e pequenas vias areas no grupo de Asma Fatal. Resultados expressos em %.

  • 5. DISCUSSO

  • Discusso

    50

    No presente estudo analisamos o contedo dos diferentes

    componentes da matriz extracelular, metaloproteinases e seus inibidores

    teciduais na camada do msculo liso de vias areas grandes e pequenas de

    indivduos com asma e comparamos com controles. At o momento, este o

    primeiro estudo em tecido humano in vivo que descreve de maneira bastante

    abrangente a composio dos diferentes componentes da MEC e seus

    reguladores no interior do msculo liso de grandes e pequenas vias areas

    em pacientes com asma fatal e asma no fatal.

    Ns encontramos nos casos de asma fatal: uma rea aumentada de

    msculo liso com aumento de fibras elsticas, fibronectina e

    metaloproteinases (MMP-9 e MMP-12) nas grandes vias areas; e uma rea

    aumentada de msculo liso com aumento somente de fibras elsticas nas

    pequenas vias areas em relao aos controles e aos indivduos asmticos

    que faleceram de outras causas.

    O aumento significativo das fibras elsticas no MLB das grandes vias

    areas nos casos de Asma Fatal foi observado quando comparado aos

    grupos Asma No Fatal e Controle, e nas vias areas pequenas quando

    comparado ao grupo Asma No Fatal.

    As fibras elsticas um componente integral da matriz extracelular

    das vias areas e do parnquima pulmonar, as quais tm a funo de

    regular a patncia das vias areas e o recolhimento elstico pulmonar. As

  • Discusso

    51

    fibras elsticas so abundantes entre as clulas do MLB e, embora seu

    papel fisiolgico no esteja totalmente esclarecido, so provavelmente

    importantes nas alteraes do calibre e comprimento das vias areas

    durante a tosse, respiraes normais e profundas, contribuindo para o

    comportamento de histerese das vias areas e parnquima pulmonar, se

    opondo a broncoconstrio durante a inspirao (Moreno et al., 1993; Noble

    et al., 2005).

    Estudos prvios do nosso grupo demonstraram uma diminuio de

    fibras elsticas na regio subepitelial de vias areas centrais asmticas

    quando comparado aos controles, e uma diminuio das fibras elsticas na

    adventcia das pequenas vias areas e nos septos alveolares

    peribronquiolares, local de ancoramento do parnquima pulmonar (Mauad et

    al., 1999; Mauad et al., 2004). Estes achados contrastam com os nossos

    atuais, onde observamos um aumento de fibras elsticas na camada

    muscular de vias areas de indivduos falecidos por asma. Essa variao da

    frao de fibras elsticas poderia ser explicada devido ao de proteases e

    elastases liberadas por clulas inflamatrias, que exuberante na camada

    interna (lmina prpria) e adventcia na asma (De Magalhes et al., 2005), e

    pela potencial funo secretora do msculo liso de promover formao de

    elastina. Sabe-se que o msculo liso brnquico no apresenta somente um

    papel broncoconstritor, mas tem importante papel imunomodulador. Graas

    a chamada plasticidade fenotpica, as clulas da musculatura lisa brnquica

    podem secretar elementos da matriz extracelular, alm de fatores de

    crescimento. A secreo destes elementos influenciada pelo ambiente

  • Discusso

    52

    inflamatrio prprio da asma, mas tambm a modula. Assim, clulas

    musculares lisas de asmticos secretam determinados elementos da matriz

    extracelular em maior quantidade que clulas musculares lisas obtidas de

    pacientes no asmticos (Chan et al., 2006).

    A contrao do msculo pode ser influenciada pelo tecido conectivo

    externo a camada do MLB e dentro da prpria camada. Enquanto o tecido

    conectivo externo ao msculo pode atuar como um componente paralelo

    elstico, limitando a broncoconstrio, o aumento das fibras elsticas entre

    os feixes de MLB pode representar uma maior carga contrtil as clulas, ou

    mesmo dificultar a transmisso de foras, representando um possvel efeito

    protetor contra a broncoconstrio excessiva. Pode-se hipotetizar ainda,

    que alteraes quantitativas nas fibras elsticas reflitam uma

    desorganizao estrutural e funcional. Sabemos que o reparo das fibras

    elsticas um processo bastante difcil em adultos, pois requer a formao

    ordenada de microfibrilas e elastina (Shifren e Mecham, 2006). Dessa

    maneira, o prprio relaxamento muscular ps-contrtil pode estar danificado

    na asma fatal por alterao quantitativa e possivelmente qualitativa das

    fibras elsticas intermusculares.

    O fato do aumento de fibras elsticas ocorrer apenas no grupo de

    pacientes que foram bito por asma mostra que estes pacientes so

    aqueles realmente mais suscetveis a desenvolverem alteraes estruturais

    da parede da via area, e que alteraes estruturais, de alguma maneira,

    podem contribuir para a gravidade da doena ou para ataques mais graves.

  • Discusso

    53

    Nossos resultados apontam para um aumento de fibras elsticas

    dentro da camada muscular das vias areas de asmticos que foram a bito

    por asma fatal, mas no em asmticos que foram a bito por outras causas

    ou em pacientes sem doenas pulmonares. Uma possvel explicao para

    este achado, que no interior da camada muscular predominem

    mecanismos proteolticos e que um turnover exagerado de fibras elsticas

    esteja ocorrendo, ou ainda que o aumento das fibras elsticas reflita o plo

    secretrio que as clulas musculares lisas podem assumir, resultando numa

    maior proporo de fibras elsticas nos casos mais graves da doena.

    Encontramos tambm um aumento de fibras elsticas na camada de

    msculo liso de vias areas grandes e pequenas em pacientes que faziam

    uso regular de corticosterides em relao aos que no faziam, sugerindo

    que o tratamento antiinflamatrio pode alterar o contedo de fibras elsticas

    na camada muscular lisa. So escassos os dados referentes ao uso de

    terapias para asma sobre a composio da MEC. Na doena estvel, o uso

    de corticosteride inalado por 6 semanas no alterou a composio de

    colgeno III (Bergeron et al., 2005), j um estudo com desafios alrgicos,

    demonstra que a composio de MEC aumentou em respostas aos alrgicos

    e, apesar de diminuir as clulas inflamatrias, aumentou o contedo de

    biglicano na mucosa brnquica de asmticos quando comparado a

    indivduos controles (De Kluijver et al., 2005). Portanto, tratamento com

    corticosteride pode paradoxalmente aumentar certas protenas da MEC.

    No se conhece porm, o efeito funcional destes achados.

  • Discusso

    54

    No tecido de adultos, o reparo funcional das fibras elsticas

    prejudicado, pois demanda uma reexpresso coordenada da incorporao

    de molculas de elastina nas fibras elsticas (Shifren e Mecham, 2006).

    Sendo possvel especular que, embora haja um aumento de fibras elsticas

    no MLB de asmticos, essas fibras elsticas apresentam uma estrutura

    anormal, com prejuzos na sua funcionalidade. Este fato pode contribuir para

    mecanismos alterados de contrao e relaxamento do MLB na asma.

    Os proteoglicanos (PGs) integram uma famlia de protenas,

    possuindo importantes funes biolgicas (Iozzo, 1985). Uma dessas

    protenas, o versicam, capaz de regular o contedo hdrico e a resilincia

    dos tecidos (De Kluijver et al., 2005). Estudos prvios tm demonstrado um

    aumento do versicam na camada interna de grandes e pequenas vias

    areas em casos de asma, porm diferenas no foram detectadas na

    camada de MLB (De Medeiros et al., 2005; Pini et al., 2007; De Kluijver et

    al., 2005). Pini et al. (2007) recentemente comparou a rea de versicam no

    MLB num pequeno grupo de pacientes com asma moderada e grave, e

    comparou com indivduos controles, e tambm no encontrou diferenas

    significativas entre os grupos. O aumento do versicam observado na camada

    interna de vias areas pode estar relacionado ao acmulo de edema

    encontrado nessa regio. Esses achados indicam que as alteraes da MEC

    podem variar entre diferentes compartimentos das vias areas (Brightling et

    al., 2002). Entender a relao entre as estruturas das vias areas e funo

    na asma, depender do estudo da composio e propriedades mecnicas

    dos componentes alterados em cada compartimento da via area e no

  • Discusso

    55

    parnquima circundante. Seria extremamente interessante conectar os

    nossos achados com os dados de funo pulmonar dos pacientes deste

    estudo, mas infelizmente esses dados de funo pulmonar no esto

    disponveis na grande maioria dos casos. Estudos correlacionando a

    estrutura das vias areas e a funo pulmonar na asma certamente sero

    necessrios para aumentar a compreenso dos nossos resultados.

    A fibronectina uma protena de matriz tambm expressa no MLB, e

    apresenta um contedo aumentado na parede da via area na asma

    (Roche et al., 1989). Embora nosso estudo seja o primeiro a demonstrar

    que a fibronectina est aumentada nas grandes vias areas de indivduos

    com asma, existem muitas evidncias in vitro que a fibronectina influencia

    bastante as funes biolgicas do MLB na asma. A fibronectina apresenta

    efeitos biolgicos na proliferao do MLB (Hirst et al., 2000), migrao

    (Parameswaran et al., 2004), e sobrevivncia da clula (Freyer et al.,

    2001). O aumento do contedo de fibronectina no MLB nas grandes vias

    areas de asmticos por ns descritos pode ento, estar contribuindo

    criticamente para a possvel hiperplasia do MLB observada na asma. Chan

    et al. (2006) demonstraram que, in vitro , clulas do msculo liso brnquico

    de asmticos secretam mais fibronectina, e que esta secreo pode

    contribuir autocrinamente para elevar os nveis de eotaxina dependente de

    IL-13.

    Por outro lado, o aumento observado de fibronectina associado ao

    aumento de fibras elsticas no msculo liso de grandes vias areas de

    asmticos pode levar a um aumento da resistncia do tecido deformao,

  • Discusso

    56

    representando um efeito protetor, promovendo uma maior pr-carga

    contrao do MLB, opondo-se ao seu encurtamento e conseqentemente o

    estreitamento da via area.

    A composio da MEC pode estar tambm influenciando na contrao

    do msculo liso brnquico (Zhang e Gunst, 2008). Os colgenos tipos I e III so

    os mais abundantes colgenos fibrilares no tecido muscular, enquanto que o

    colgeno IV o maior componente da membrana basal (Kovanen, 2002).

    Estudos in vitro tm demonstrado que o MLB de asmticos secreta maior

    quantidade de colgeno (Johnson et al., 2004). In vivo, alguns estudos

    detectaram aumento de colgeno na submucosa bronquial de asmticos

    (Roche et al., 1989; Wilson e Li, 1995; Benayoun et al., 2003) , enquanto que

    resultados conflitantes so encontrados na literatura (Chu et al., 1998).

    Bergeron et al. (2005) analisaram bipsias endobrnquicas e transbrnquicas

    de pacientes com asma leve e moderada, no observando diferena entre as

    vias areas grandes e pequenas ao analisar o contedo de colgeno III na

    submucosa. Nossos resultados esto de acordo com Chu et al. (1998),

    mostrando que no h diferena significativa do contedo dos colgenos

    analisados no MLB de asmticos em comparao com o MLB de indivduos

    controles, utilizando colorao de Sirius Red e imunohistoqumica para a

    marcao de colgenos. O aumento de colgeno fibrilar na camada do MLB

    poderia diminuir a resposta broncodilatadora a estmulos mecnicos e

    farmacolgicos, ou mesmo, contribuir para a obstruo irreversvel das vias

    areas. Por outro lado, uma fibrose na regio da mucosa poderia agir limitando

    a fora de transferncia entre as clulas do msculo liso brnquico e desse

  • Discusso

    57

    modo diminuindo a broncoconstrio (Okazawa et al., 1995), hiptese esta no

    sustentada pelos nossos dados.

    Diferentes expresses de metaloproteinases tm sido associadas

    patognese da asma. Alm de degradarem os componentes da MEC e

    serem responsveis em grande parte pelo turnover dos elementos da MEC

    (Atkinson e Senior, 2003), as MMPs esto envolvidas no trfego das clulas

    inflamatrias, nos processo de defesa e reparo tissular (Greenlee et al.,

    2007). Observamos no presente estudo aumento da expresso de MMP-9 e

    MMP-12, mas no de MMP-1e MMP-2, ou TIMP-1 e TIMP-2 nos feixes de

    MLB nos casos de asma fatal. Esses dados favorecem um ambiente

    proteoltico na camada de MLB, especialmente envolvendo MMPs com

    atividade elastoltica, com possveis ciclos repetidos de degradao da

    matriz seguidos de reparo inadequado. Interessante ressaltar que, o

    aumento da expresso de MMP-9 e MMP-12 no MLB sugerem um processo

    dinmico que pode ser amenizado com terapia.

    bem conhecida a super expresso de MMP-9 na asma,

    particularmente em pacientes com asma grave (Wenzel et al., 2003), e

    durante exacerbaes (Oshita et al., 2003). Clulas inflamatrias e clulas

    estruturais pulmonares, incluindo clulas da musculatura lisa brnquica

    podem expressar MMP-9. interessante observar que no presente estudo a

    MMP-9 apresentou-se aumentada no MLB de fumantes quando comparada

    a indivduos no fumantes. Assim como a MMP-9, a MMP-12 tem ao de

    elastase, e tambm capaz de clivar colgeno tipo IV, fibronectina, laminina

    e gelatina (Xie et al., 2005). O presente estudo encontrou aumento da

  • Discusso

    58

    expresso de MMP-12 no MLB de indivduos asmticos, e uma correlao

    positiva desta protease com as fibras elsticas, consistente com a idia de

    que um turnover dinmico de fibras elsticas ocorra na asma. No foram

    observadas diferenas na expresso dos inibidores de metaloproteinases

    teciduais na MLB, refletindo uma perda do equilbrio entre MMPs e TIMPs,

    com aumento da atividade das MMPs.

    O presente estudo tem importantes limitaes:

    1) Dados clnicos e funcionais limitados dos indivduos asmticos, que

    no nos permitem traar correlaes fidedignas entre os nossos achados;

    2) Os indivduos controles apresentam histologia pulmonar normal,

    porm no eram desprovidos de outras doenas; no sabemos o quanto as

    doenas de base podem ter influenciado nosso resultado. No entanto, por

    termos selecionados pulmes com estrutura de vias areas normais, essa

    influncia de outras patologias pode ser minimizada.

    3) No foi possvel realizar as coloraes de imunohistoqumica nos

    casos de Asma No Fatal de Perth. Os casos de nossa colaborao

    australiana exibiam padres de colorao bastante distintos dos nossos,

    possivelmente pelo maior tempo de fixao dos casos em formol. Sabe-se

    que a fixao em formol por tempo prolongado acarreta a perda de eptopos

    necessrios para o sucesso da reao imunohistoqumica. Portanto,

    optamos por no comparar os nossos achados imunohistoqumicos com o

    de Perth, a interpretao dos resultados seria bastante difcil e

    possivelmente no correta. No entanto, descrevemos o contedo do

    colgeno total e das fibras elsticas, as duas principais protenas da MEC

    pulmonar, nos casos de Asma Fatal, Asma No Fatal e Controle. Estas

  • Discusso

    59

    protenas provavelmente tm importante papel na mecnica da musculatura

    lisa brnquica. Alm disso, os nossos dados histoqumicos do contedo do

    colgeno total realizados nos trs grupos foram confirmados pela

    imunohistoqumica nos casos de So Paulo.

    Encontramos correlaes estatisticamente significativas entre algumas

    protenas e idade e incio de asma, embora a relevncia clnica destes

    achados seja obscura, Bai et al. (2000) tambm demonstram uma relao

    entre idade e frao de rea de componentes da MEC no MLB na asma.

    Os dados atuais baseiam-se em estudos histoqumicos e

    imunohistoqumicos. Sendo que poderia ser til a confirmao de nossos

    achados utilizando estudos de RNA. Infelizmente, tentativas de extrair RNA

    do msculo liso brnquico dissecado de material de autopsia no foi bem

    sucedido, devido extensa degradao de RNA post-mortem.

    Apesar da proporo de MEC no MLB das vias areas pequenas ser

    maior em geral, nossos resultados apontaram para maiores alteraes nos

    asmticos nas grandes vias areas. Recentemente, dois estudos (Brown et

    al., 2006 e Permutt, 2007) enfatizaram o envolvimento estrutural das grandes

    vias areas como principais determinantes da hiperresponsividade na asma.

    possvel que, alteraes dos componentes da MEC no MLB das grandes

    vias areas contribuam de maneira mais significativa nas alteraes

    intrnsecas na asma que as pequenas vias areas.

  • 6. CONCLUSES

  • Concluses

    61

    Os dados do presente estudo in vivo confirmam que componentes da

    matriz extracelular (fibras elsticas e fibronectina) e seus reguladores

    (metaloproteinases 9 e 12) esto alterados no msculo liso brnquico na

    asma, podendo acarretar importantes conseqncias funcionais para o

    msculo liso brnquico e excessivo estreitamento das vias areas na asma.

  • 7. PERSPECTIVAS FUTURAS

  • Perspectivas futuras

    63

    As alteraes da MEC associadas inflamao crnica das vias

    areas na asma devem ser consideradas em conjunto, refletindo o processo

    dinmico e de interao entre os diversos componentes envolvidos. Avanos

    nos estudos por imagens no-invasivas, como tomografia computadorizada

    de alta resoluo e tcnicas de imagens invasivas como, microscopia

    fluorescente confocal in vivo (Thiberville et al., 2007), assim como

    ultrassonografia endobrnquica (Coxson et al., 2008), podero fornecer

    informaes detalhadas da geometria das vias areas. O advento da

    termoplastia brnquica uma das novas oportunidades teraputicas como

    uma ferramenta para modificar o remodelamento brnquico (Cox et al.,

    2007) em pacientes com asma grave, porm mais estudos so necessrios

    para compreender os seus benefcios a longo prazo. Mais estudos buscando

    um melhor entendimento sobre as relao estruturafuno dos

    componentes da matriz extracelular em indivduos sem patologias

    pulmonares e asmticos so necessrios para podermos compreender se as

    alteraes do remodelamento so prejudiciais ou protetoras na asma.

  • 8. ANEXOS

  • Anexos

    65

    Tabela 1. Anticorpos e procedimentos utilizados na anlise imunohistoqumica

    Abreviaes: MMP = metaloproteinases; TIMP = inibidor das metaloproteinases de tecido.

    Anticorpo Pr-tratamento Espcies Diluio Clone Origem

    Colgeno I Citrato/pepsina Cabra 1:2000 Policlonal US Biological-Swampscott, MA, USA

    Colgeno III Tripsina Camundongo 1:2500 III-53 Oncogene & Calbiochem, Darmstadt, Germany

    Fibronectina Tripsina Coelho 1:4000 Policlonal Dako, Glostrup, Denmark

    Versicam Sem digesto Camundongo 1:2000 2-b-1 Seikagaku Co., Tokyo, Japan

    MMP-1 Citrato Camundongo 1:1500 41-1E5 Oncogene & Calbiochem, Darmstadt, Germany

    MMP-2 Citrato Camundongo 1:3000 A-Gel VC2 Labvision, Fremont, CA,

    USA

    MMP-9 Citrato Camundongo 1:40 626-644 Oncogene & Calbiochem, Darmstadt, Germany

    MMP-12 Citrato Camundongo 1:10 4D2 R&D System, Minneapolis, USA

    TIMP-1 Sem digesto Camundongo 1:25 2A5 Labvision, Fremont, CA, USA

    TIMP-2 Tripsina Camundongo 1:100 3A4 Labvision, Fremont, CA, USA

  • Anexos

    66

    Tabela 2. Dados clnicos do grupo de Asma Fatal, Asma No Fatal e Controle

    Definio das abreviaes: ECO = envenenamento por monxido de carbono; DCV = doenas cardiovasculares; DH = doenas hepticas; EX = ex-fumante; F = feminino; HGI = hemorragia gastroin