Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil
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Comportamento do consumidor: o nascimento do
consumidor infantil
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1 INTRODUO
Nos dias atuais vemos um nmero cada vez maior de produtos destinados a um
pblico cada vez mais jovem, em uma tentativa das organizaes de trazer as
crianas para o mercado consumidor, atingindo suas expectativas e estimulando o
consumo de produtos voltados especificamente para o pblico infantil. O marketing
dos produtos voltados para este pblico possui caractersticas prprias, envolvendo
profunda conotao psicolgica, a fim de atingir as crianas desde sua mais tenra
idade, em uma estratgia de fidelizao do consumidor s mercadorias que lhes tm
como pblico alvo.
Neste sentido, as crianas aparentemente passam a desenvolver um sistema de
classificao e de apelo para marcas e modelos que lhes so apresentados por
meio da mdia e que, dependendo da sua idade, passa a ser encarado como uma
realidade e no como simples estratgia para venda de um bem. Esta preparao
do consumidor aparentemente estimulada e fortalecida pela quantidade de
informaes que as crianas recebem por intermdio de um sem fim de mdias,
como a televiso, a internet ou at mesmo por meio dos contatos sociais e
familiares.
As crianas na faixa dos 6 aos 12 anos, ou seja, em uma faixa etria que coincide
com o ingresso na escola at a 6 srie do ensino fundamental, esto na fase
identificada por Olmos (2006) como sendo aquela em elas adquirem a capacidade
de formar conceitos e de apreender os objetos a partir de suas relaes internas.
De acordo com Velozo (2008), cada vez mais inseridas na cultura do consumo, as
crianas representam um mercado significativo s empresas. A autora afirma que
segundo o censo de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica - IBGE, crianas de 0 a 14 anos representam mais de 50 milhes de
brasileiros, quase 30% da nossa populao. Desses 30% de crianas, 78% vivem
nas cidades, portanto, prximas aos bens de consumo industrializados alm de
estarem sendo educadas mais dentro de suas casas e em maior contato com a TV e
internet.
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As crianas consomem cerca de U$$50 bilhes por ano, o que demonstra a
importncia econmica da criana no contexto nacional. De acordo com o filme
Criana, a alma do negcio, 80% da influncia de compras para a casa vm das
crianas, que esto sendo educadas pelas mdias a convencer os pais a comprarem
sempre o que querem. O documentrio expe tambm que a criana brasileira a
que mais assiste TV no mundo.
A mdia promete muitas coisas para as crianas, e nem sempre as crianas podem
ter tudo o que querem, devido s diferentes classes sociais aos quais esto
inseridas. Isso pode gerar reflexos negativos no desenvolvimento da criana,
trazendo sofrimento no seu convvio escolar e familiar, devido aos estmulos de uma
prtica consumista gerada pelas mdias. As crianas so muitas vezes colocadas
contra os pais, como se eles fossem viles por no darem o que elas pedem
sempre.
Existem trs vertentes para explicar o consumo: a vertente do marketing tradicional,
a vertente crtica e a vertente antropolgica. A vertente do marketing tradicional
baseada em uma viso econmica, que defende que as pessoas consomem pela
utilidade do bem, ou seja, valoriza-se o que necessrio e til. H uma busca pelo
maior benefcio ao menor custo possvel. Essa necessidade, ento, totalmente
representada pelo prprio objeto de consumo e as preferncias so orientadas pelos
bens disponveis e oferecidos pelo mercado. a chamada escolha racional que
fundada na capacidade do indivduo de hierarquizar suas preferncias, de avaliar o
conjunto de ofertas possveis e otimizar sua satisfao, medida em termos de
utilidade. (BAUDRILLARD, apud SOUSA JUNIOR, 2009, p.17)
De acordo com Sousa Junior (2009), essa viso explicita que o consumo pode ser
impulsionado a partir do momento em que o indivduo sente uma necessidade de
algo e a partir da esse individuo vai ser motivado de vrias maneiras a tomar uma
deciso em comprar ou no um produto.
Na vertente crtica sobre a publicidade e propaganda, os consumidores so vistos
como seres passivos e influenciveis pela mdia. Nessa viso, os indivduos so a
massa e independentemente de seu nvel escolar e desenvolvimento cognitivo,
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podero compreender as mensagens, o que no ocorre, necessariamente, com os
livros e jornais. Nesse sentido, a televiso teria mais efetividade na transmisso de
uma mensagem, atingindo um nmero maior de receptores, se comparada aos
outros meios de comunicao. (THOMPSON, 1998 apud SOUSA JUNIOR, 2009)
Na vertente antropolgica, a preocupao mostrar o consumo como um fato social
total e um grande sistema classificatrio, ao mesmo tempo em que se procura
relativizar a idia de universalidade do homem econmico e da prpria noo de
indivduo, por meio da realizao de diversos estudos etnogrficos.
Barbosa (2004), Douglas e Isherwood (2004), Rocha (2004) so autores no campo
da Antropologia do Consumo, que retiram esse fenmeno da posio de mero
reflexo da produo colocando-o em um lugar central de anlise, capaz de produzir
um discurso sobre as relaes sociais. Abandona-se assim, uma viso utilitria do
consumo, que prevalece no vis economicista e passa a se dar a devida ateno ao
significado cultural contido neste fenmeno e em suas prticas. O consumo um
fato social refratrio a explicaes que o reduzam ao plano individual, sendo,
inversamente, sensvel s interpretaes que envolvem significados culturais e
pblicos. (JUNIOR, 2009)
No presente trabalho foi utilizada a vertente do marketing, mais baseada na
psicologia e no comportamento do consumidor para tentar explicar o nascimento do
consumidor.
Estudar o consumo infantil e o papel das mdias no nascimento do consumidor se
justifica porque, aparentemente mais suscetveis aos apelos do marketing e da
propaganda que lhes dirigida, as crianas podem estar desenvolvendo padres de
relacionamento e de conduta tica dissociados das suas relaes com os seus
semelhantes e voltadas para a produo de um novo consumidor, em uma escala
semelhante a um repositrio de estoques de compradores para as empresas.
Investigar os dois grupos de crianas (escolas pblicas e privadas) em separado e
compar-los facilitar o entendimento sobre o assunto.
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O objetivo da pesquisa foi explorar se h diferenas perceptveis entre crianas
pertencentes a classes scio-econmicas diferentes e de idades diferentes e sua
exposio aos apelos do marketing infantil que lhes dirigido. Buscou-se identificar
quando surge uma mudana mais acentuada de comportamento entre as crianas
de mesma faixa econmica e entre as classes. Procurou-se observar o grau de
exposio das crianas s mdias e propaganda de uma maneira geral e avaliar
seus desejos de consumo, alm de avaliar as se h diferenas de desejos de
consumo entre crianas com idades e classes scio-econmicas diferentes.
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2 METODOLOGIA
A pesquisa foi executada em duas fases. Primeiramente foi realizado um
levantamento bibliogrfico, com o intuito de se formular uma base terica sobre
assunto e elaborar o instrumento de coleta de dados. O levantamento foi realizado
em peridicos cientficos nacionais e internacionais relacionados ao tema, alm de
reportagens, filmes, livros e outras publicaes.
Na segunda fase da pesquisa foi elaborado e testado previamente um questionrio
com perguntas fechadas, baseado em pesquisas anteriores e aplicado a 655
crianas com idade entre 6 e 12 anos de escolas pblicas e privadas do bairro
Jardim Camburi Vitria/ES. Ao todo participaram 4 escolas, sendo 2 privadas
(Salesiano e Nacional) e 2 pblicas (Elzira Vivcqua dos Santos e Adevalni
Sysesmundo Ferreira de Azevedo). A escolha das escolas e da amostra dos alunos
respondentes deu-se por convenincia.
Os questionrios foram distribudos entre turmas do 2 ao 7 anos (antigas 1 a 6
series), sendo assim distribudas: 3 turmas de 2 ano, 4 turmas de 3 ano, 5 turmas
de 4 ano, 5 turmas de 5 ano, 5 turmas de 6 ano e 5 turmas de 7 ano.
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3 LEVANTAMENTO BIBLIOGRFICO
3.1 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
O comportamento do consumidor uma disciplina recente, com seus primeiros
manuais escritos na dcada de 60. Suas idias foram provenientes da psicologia
freudiana, divulgadas por pesquisadores da motivao e utilizadas por anunciantes.
Contudo, apenas com o surgimento do conceito de marketing, que ocorreu na
mesma dcada, a necessidade de estudar o comportamento do consumidor foi
reconhecida.
Para Mowen e Minor (2003, p.3), o comportamento do consumidor pode ser definido
como sendo o estudo das unidades compradoras e dos processos de troca
envolvidos na aquisio, no consumo e na disposio de mercadorias, servios,
experincias e idias.
Sob o ponto de vista de Limeira (2008, p.8), o conceito de comportamento do
consumidor seria um conjunto de reaes ou respostas dos indivduos a
determinados estmulos, os quais decorem de fatores pessoais, ambientais,
situacionais e de marketing.
Pode-se citar tambm outra definio de comportamento do consumidor como
sendo:
uma cincia aplicada originria das cincias humanas e sociais, como a economia, a psicologia, a sociologia ou ainda a antropologia. Se