Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

48
Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

Transcript of Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

Page 1: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

Comportamento do consumidor: o nascimento do

consumidor infantil

Page 2: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

2

1 INTRODUÇÃO

Nos dias atuais vemos um número cada vez maior de produtos destinados a um

público cada vez mais jovem, em uma tentativa das organizações de trazer as

crianças para o mercado consumidor, atingindo suas expectativas e estimulando o

consumo de produtos voltados especificamente para o público infantil. O marketing

dos produtos voltados para este público possui características próprias, envolvendo

profunda conotação psicológica, a fim de atingir as crianças desde sua mais tenra

idade, em uma estratégia de fidelização do consumidor às mercadorias que lhes têm

como público alvo.

Neste sentido, as crianças aparentemente passam a desenvolver um sistema de

classificação e de apelo para marcas e modelos que lhes são apresentados por

meio da mídia e que, dependendo da sua idade, passa a ser encarado como uma

realidade e não como simples estratégia para venda de um bem. Esta preparação

do consumidor aparentemente é estimulada e fortalecida pela quantidade de

informações que as crianças recebem por intermédio de um sem fim de mídias,

como a televisão, a internet ou até mesmo por meio dos contatos sociais e

familiares.

As crianças na faixa dos 6 aos 12 anos, ou seja, em uma faixa etária que coincide

com o ingresso na escola até a 6ª série do ensino fundamental, estão na fase

identificada por Olmos (2006) como sendo aquela em elas adquirem a capacidade

de formar conceitos e de apreender os objetos a partir de suas relações internas.

De acordo com Velozo (2008), cada vez mais inseridas na cultura do consumo, as

crianças representam um mercado significativo às empresas. A autora afirma que

segundo o censo de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística - IBGE, crianças de 0 a 14 anos representam mais de 50 milhões de

brasileiros, quase 30% da nossa população. Desses 30% de crianças, 78% vivem

nas cidades, portanto, próximas aos bens de consumo industrializados além de

estarem sendo educadas mais dentro de suas casas e em maior contato com a TV e

internet.

Page 3: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

3

As crianças consomem cerca de U$$50 bilhões por ano, o que demonstra a

importância econômica da criança no contexto nacional. De acordo com o filme

―Criança, a alma do negócio‖, 80% da influência de compras para a casa vêm das

crianças, que estão sendo educadas pelas mídias a convencer os pais a comprarem

sempre o que querem. O documentário expõe também que a criança brasileira é a

que mais assiste TV no mundo.

A mídia promete muitas coisas para as crianças, e nem sempre as crianças podem

ter tudo o que querem, devido às diferentes classes sociais aos quais estão

inseridas. Isso pode gerar reflexos negativos no desenvolvimento da criança,

trazendo sofrimento no seu convívio escolar e familiar, devido aos estímulos de uma

prática consumista gerada pelas mídias. As crianças são muitas vezes colocadas

contra os pais, como se eles fossem vilões por não darem o que elas pedem

sempre.

Existem três vertentes para explicar o consumo: a vertente do marketing tradicional,

a vertente crítica e a vertente antropológica. A vertente do marketing tradicional é

baseada em uma visão econômica, que defende que as pessoas consomem pela

utilidade do bem, ou seja, valoriza-se o que é necessário e útil. Há uma busca pelo

maior benefício ao menor custo possível. Essa necessidade, então, é totalmente

representada pelo próprio objeto de consumo e as preferências são orientadas pelos

bens disponíveis e oferecidos pelo mercado. É a chamada ―escolha racional‖ que é

fundada na capacidade do indivíduo de hierarquizar suas preferências, de avaliar o

conjunto de ofertas possíveis e otimizar sua satisfação, medida em termos de

utilidade. (BAUDRILLARD, apud SOUSA JUNIOR, 2009, p.17)

De acordo com Sousa Junior (2009), essa visão explicita que o consumo pode ser

impulsionado a partir do momento em que o indivíduo sente uma necessidade de

algo e a partir daí esse individuo vai ser motivado de várias maneiras a tomar uma

decisão em comprar ou não um produto.

Na vertente crítica sobre a publicidade e propaganda, os consumidores são vistos

como seres passivos e influenciáveis pela mídia. Nessa visão, os indivíduos são ―a

massa‖ e independentemente de seu nível escolar e desenvolvimento cognitivo,

Page 4: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

4

poderão compreender as mensagens, o que não ocorre, necessariamente, com os

livros e jornais. Nesse sentido, a televisão teria mais efetividade na transmissão de

uma mensagem, atingindo um número maior de receptores, se comparada aos

outros meios de comunicação. (THOMPSON, 1998 apud SOUSA JUNIOR, 2009)

Na vertente antropológica, a preocupação é mostrar o consumo como um fato social

total e um grande sistema classificatório, ao mesmo tempo em que se procura

relativizar a idéia de universalidade do ―homem econômico‖ e da própria noção de

indivíduo, por meio da realização de diversos estudos etnográficos.

Barbosa (2004), Douglas e Isherwood (2004), Rocha (2004) são autores no campo

da Antropologia do Consumo, que retiram esse fenômeno da posição de mero

reflexo da produção colocando-o em um lugar central de análise, capaz de produzir

um discurso sobre as relações sociais. Abandona-se assim, uma visão utilitária do

consumo, que prevalece no viés economicista e passa a se dar a devida atenção ao

significado cultural contido neste fenômeno e em suas práticas. O consumo é um

fato social refratário a explicações que o reduzam ao plano individual, sendo,

inversamente, sensível às interpretações que envolvem significados culturais e

públicos. (JUNIOR, 2009)

No presente trabalho foi utilizada a vertente do marketing, mais baseada na

psicologia e no comportamento do consumidor para tentar explicar o nascimento do

consumidor.

Estudar o consumo infantil e o papel das mídias no nascimento do consumidor se

justifica porque, aparentemente mais suscetíveis aos apelos do marketing e da

propaganda que lhes é dirigida, as crianças podem estar desenvolvendo padrões de

relacionamento e de conduta ética dissociados das suas relações com os seus

semelhantes e voltadas para a produção de um novo consumidor, em uma escala

semelhante a um repositório de estoques de compradores para as empresas.

Investigar os dois grupos de crianças (escolas públicas e privadas) em separado e

compará-los facilitará o entendimento sobre o assunto.

Page 5: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

5

O objetivo da pesquisa foi explorar se há diferenças perceptíveis entre crianças

pertencentes a classes sócio-econômicas diferentes e de idades diferentes e sua

exposição aos apelos do marketing infantil que lhes é dirigido. Buscou-se identificar

quando surge uma mudança mais acentuada de comportamento entre as crianças

de mesma faixa econômica e entre as classes. Procurou-se observar o grau de

exposição das crianças às mídias e à propaganda de uma maneira geral e avaliar

seus desejos de consumo, além de avaliar as se há diferenças de desejos de

consumo entre crianças com idades e classes sócio-econômicas diferentes.

Page 6: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

6

2 METODOLOGIA

A pesquisa foi executada em duas fases. Primeiramente foi realizado um

levantamento bibliográfico, com o intuito de se formular uma base teórica sobre

assunto e elaborar o instrumento de coleta de dados. O levantamento foi realizado

em periódicos científicos nacionais e internacionais relacionados ao tema, além de

reportagens, filmes, livros e outras publicações.

Na segunda fase da pesquisa foi elaborado e testado previamente um questionário

com perguntas fechadas, baseado em pesquisas anteriores e aplicado a 655

crianças com idade entre 6 e 12 anos de escolas públicas e privadas do bairro

Jardim Camburi – Vitória/ES. Ao todo participaram 4 escolas, sendo 2 privadas

(Salesiano e Nacional) e 2 públicas (Elzira Vivácqua dos Santos e Adevalni

Sysesmundo Ferreira de Azevedo). A escolha das escolas e da amostra dos alunos

respondentes deu-se por conveniência.

Os questionários foram distribuídos entre turmas do 2º ao 7º anos (antigas 1ª a 6ª

series), sendo assim distribuídas: 3 turmas de 2º ano, 4 turmas de 3º ano, 5 turmas

de 4º ano, 5 turmas de 5º ano, 5 turmas de 6º ano e 5 turmas de 7º ano.

Page 7: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

7

3 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO

3.1 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

O comportamento do consumidor é uma disciplina recente, com seus primeiros

manuais escritos na década de 60. Suas idéias foram provenientes da psicologia

freudiana, divulgadas por pesquisadores da motivação e utilizadas por anunciantes.

Contudo, apenas com o surgimento do conceito de marketing, que ocorreu na

mesma década, a necessidade de estudar o comportamento do consumidor foi

reconhecida.

Para Mowen e Minor (2003, p.3), o comportamento do consumidor pode ser definido

como sendo ―o estudo das unidades compradoras e dos processos de troca

envolvidos na aquisição, no consumo e na disposição de mercadorias, serviços,

experiências e idéias.‖

Sob o ponto de vista de Limeira (2008, p.8), o conceito de comportamento do

consumidor seria ―um conjunto de reações ou respostas dos indivíduos a

determinados estímulos, os quais decorem de fatores pessoais, ambientais,

situacionais e de marketing.‖

Pode-se citar também outra definição de comportamento do consumidor como

sendo:

uma ciência aplicada originária das ciências humanas e sociais, como a economia, a psicologia, a sociologia ou ainda a antropologia. Seu objetivo é compreender os comportamentos de consumo adotando uma perspectiva pluridisciplinar (KARSAKLIAN, 2004, p.20).

Por meio da psicologia, que é a ciência mais utilizada para entender o

comportamento do consumidor, as pesquisas aplicadas a esse tema visam a

compreensão de tais comportamentos com o objetivo de contribuir para melhores

estratégias e tomadas de decisão por parte das empresas.

Page 8: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

8

Para entendermos o comportamento do consumidor, primeiramente deve-se

entender o que é o consumidor. De acordo com Karsaklian (2004), ser consumidor é

simplesmente ser humano, alimentar-se, vestir-se, divertir-se. Para a autora, o

consumidor é dotado de motivações, personalidade, percepção, tem capacidade de

aprender como todas as pessoas, é um ser social e traz dentro de si elementos que

vão interagir com estímulos exteriores.

Ainda à luz de Karsaklian (2004), o ponto de partida do ato de compra é a

necessidade, que conduzirá a uma motivação, a qual despertará o desejo. Com

base nesse desejo, nascem as preferências por formas de atender a motivação

inicial, que estarão relacionadas ao autoconceito, que seria a tendência em

escolher um produto que corresponda ao conceito que ele gostaria de ter de si

mesmo. Em sentido oposto à motivação, surgem os freios, que seriam a

consciência de risco relacionada ao produto. Entre esse dilema motivação e freios,

impõe-se a personalidade, a qual desembocará no autoconceito. A soma de todas

essas variáveis resultará na percepção sobre os produtos, que desencadeará

atitudes positivas ou negativas com relação a eles, que terá impacto sobre suas

preferências.

3.2 O ENVOLVIMENTO DO CONSUMIDOR

Segundo Celsi e Olson (1988, apud MOVEN e MINOR, 2001), o envolvimento do

consumidor é definido como a importância percebida ou interesse pessoal em

relação à aquisição, ao consumo e à disposição de uma mercadoria, serviço ou

idéia. Na medida em que o envolvimento aumenta, os consumidores têm maior

motivação para captar, compreender e elaborar informações relevantes para a

compra.

Para Mowen e Minor (2003), há vários fatores que influenciam o nível de

envolvimento de um consumidor, dentre eles:

- o tipo de produto em consideração;

Page 9: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

9

- as características da informação recebida pelo consumidor;

- as características da situação na qual o consumidor está atuando;

- a personalidade do consumidor.

Foram identificados por pesquisadores dois tipos de envolvimento: o circunstancial e

o duradouro. O circunstancial ocorre durante um curto período e está associado a

uma situação específica, como a necessidade de substituir algo. Já o envolvimento

duradouro representa um compromisso mais longo e maior preocupação com o tipo

de produto; esse envolvimento é identificado quando o consumidor gasta tempo

pensando em determinado produto diariamente. (RICHINS e BLOCH, 1986, apud

MOWEN e MINOR, 2003, p.45)

Em relação aos efeitos do envolvimento, foi constatado por Petty, Cacioppo e

Schumann, 1986 (apud MOWEN e MINOR, 2003) que na medida em que o nível de

envolvimento aumenta, os consumidores começam a processar informações com

maior profundidade, logo, aumentam também os níveis de excitação. Assim, os

consumidores dão mais importância às informações relevantes para a decisão

específica, o que causa um aumento de reflexão sobre as decisões.

3.3 A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE

A personalidade é uma variável pela qual os pesquisadores tentam explicar o

comportamento do indivíduo, como por exemplo, a escolha de determinadas marcas

em detrimento de outras. Ao contrário do que os pesquisadores esperavam os

resultados das pesquisas não condiziam com tal hipótese.

Personalidade é a referência a um atributo ou característica da pessoa que causa alguma impressão nos outros... A personalidade é que faz com que o indivíduo se comporte sempre da mesma forma, ou praticamente da mesma, em diferentes situações. Traduzindo essa afirmação relacionando-a ao consumo, isto significaria que um indivíduo de temperamento conservador terá tendência a escolher constantemente marcas conhecidas e consagradas, enquanto um não conservador seria mais inovador, tendendo a experimentar as novidades. (KARSAKLIAN, 2004, p.41)

Page 10: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

10

Depois de estudos feitos pelo psicólogo Gordon Allport (1937, apud KARSAKLIAN,

2004) sobre diferentes definições de personalidade, foram derivados os seguintes

princípios subjacentes:

- Princípio da globalidade – Tudo é o que somos.

- Princípio social – A personalidade consiste nos hábitos e nas características

adquiridos em resultado das interações sociais que promovem o ajustamento do

indivíduo ao meio social.

- Princípio da dinamicidade – Entende-se por personalidade o que organiza,

integra e harmoniza todas as formas de comportamento e características do

indivíduo, de tal maneira que haja certa coerência no comportamento.

- Princípio da individualidade – A personalidade é o conjunto de todos os aspectos

próprios do indivíduo pelos quais ele se distingue dos outros.

As pesquisas sobre personalidade trouxeram várias teorias à tona, como a de

Horney (apud KARSAKLIAN, 2004) que concorda com Freud sobre a importância da

infância na formação da personalidade, porém pensa que a psicanálise clássica

superestima o papel desempenhado pelas pulsões biológicas e subestima o papel

do meio social. Ela ressalta a importância da ansiedade originada do estado de

dependência no qual a criança faz sua aprendizagem do mundo. Para ela, existem

três maneiras de absorver essa ansiedade:

1 – ir em direção aos outros na busca de afeição e filiação;

2 – ir contra os outros, desenvolvendo um apetite de poder e dominação

3 – esquivar-se dos outros, refugiando-se no isolamento e construindo uma

carapaça de indiferença.

Cada estratégia corresponde a uma personalidade: o complacente, o agressivo e o

desapegado. Essa abordagem é importante para compreender como o contexto

interpessoal influencia na decisão de compra.

Page 11: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

11

Além dessa teoria, David Riesman propôs o esquema de evolução das sociedades

ocidentais. Assim, a orientação para a tradição, dominante no Antigo Regime; a

orientação para si mesmo, baseada nos valores individuais; a orientação para os

outros, característica da sociedade moderna, foram formas de identificação de

comportamentos. Essa abordagem influenciou muitas pesquisas sobre estereótipos

nacionais e os estilos de vida. Dessa forma foi possível dizer que existe ligação

entre o tipo de personalidade da audiência e o estilo de comunicação a ser adotado.

3.4 PERCEPÇÃO

A percepção é a tomada de consciência sensorial de objetos ou eventos externos,

isto é, reagir automaticamente ao contexto através dos sentidos (principalmente tato,

olfato e audição). As empresas compreenderam que a utilização dos sentidos

facilitava sua relação com os produtos, por isso o marketing sensorial vem

crescendo tanto nos últimos anos.

A percepção encontra-se numa estimulação física que ativa os receptores sensoriais. Uma sensação é então desencadeada quando uma estimulação externa ou interna influencia o comportamento com manifestações imediatas. Os órgãos sensoriais desempenham, então, o papel de transmissores de estímulos mercadológicos que recebemos com o objetivo de atrais a atenção. (KARSAKLIAN, 2004, p.49)

Pesquisas recentes informaram que crianças de cinco anos aprenderam o alfabeto

mais rapidamente quando tocavam as letras do alfabeto com as mãos. Steve

Moskowitz, diretor de marketing, descreve uma nova linha de doces da seguinte

forma:

Crianças querem ter seu próprio universo, onde a ênfase está sobre elas e onde os produtos são desenhados exclusivamente para elas. Nosso produto transmite essa exclusividade às crianças através da forma, cheiro e interatividade. As crianças gostam de tomar decisões, mas elas vivem num mundo onde elas não podem votar, dirigir, preencher cheques, da maneira que os adultos fazem. Então o método de dar a elas poder é através de doces, e através de doces interativos, que as permitam tomar suas próprias decisões quanto à ―maneira de consumi-los. (DAHM, 2002, p.16).

Page 12: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

12

Torna-se clara a função ideológica da concessão de poder em instâncias quando se

pode afirmar que qualquer ação que envolva as crianças com um produto constitui-

se uma nobre ação de prover os mais fracos com escolhas.

Karsaklian (2004), afirma que pesquisas realizadas por meio do método blind-tests,

que consiste em fazer com que o consumidor teste vários produtos sem apresentar-

lhe as respectivas marcas, demonstraram que os dados sensoriais brutos são

raramente suficientes para conduzir a uma reação coerente. Ainda é necessário

somar o apoio da imagem de marca e aquilo que ela significa para o consumidor.

A percepção dos produtos e serviços pelos consumidores não são sempre a

realidade daquilo que a empresa gostaria que fosse aos olhos de seu público alvo.

Uma das questões ligadas ao efeito dos estímulos mercadológicos sobre a

percepção dos consumidores consiste em saber se eles são capazes de distinguir

as diferenças entre os estímulos, isto é, saber se os consumidores percebem as

diferenças entre marcas existentes no mercado e com base em que critérios.

3.5 AS ATITUDES

Baseado na percepção que o consumidor tem de um produto, ele vai elaborando

uma atitude em relação a ele. A análise das atitudes e preferências constitui um

objetivo de primeira necessidade para a compreensão do comportamento de

compra. De acordo com Karsaklian (2004), as atitudes têm quatro funções básicas:

1. Função instrumental ajustativa: o indivíduo forma sua atitude em torno da

recompensa que ele poderá obter e da forma pela qual poderá reduzir a

insatisfação;

2. Função ego-defensiva: protege o indivíduo, distorcendo a realidade se esta

apresentar incongruente com sua auto-imagem e com seus valores;

3. Função de expressão de valores: faz o indivíduo expressar atitudes apropriadas

a seus valores pessoais e seu autoconceito.

Page 13: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

13

4. Função de conhecimento: permite construir o universo de forma organizada,

procurando dar significado e organização das percepções. Para tanto, elementos

que são percebidos com inconsistentes ou incompletos são reorganizados ou

modificados para formar um todo.

As emoções também explicam grande número das emoções dos consumidores, por

isso, algumas emoções fortemente vinculadas ao comportamento do consumidor

foram estudadas: a ansiedade, onde a função do marketing é demonstrar que pela

utilização de tal marca ou produto específico, a sensação desagradável de medo,

incerteza ou insegurança será eliminada.

A surpresa, onde se pode surpreender o consumidor com um preço mais atraente,

uma qualidade a mais oferecida pelo mesmo preço, uma nova qualidade do produto

ou outros atributos que poderiam ser de seu agrado, e assim fazer com que ele se

sinta mais próximo de determinada marca. A nostalgia, que hoje é utilizada para

fazer com que o consumidor possa relembrar os ―bons e velhos tempos‖.

Além disso, sabe-se que a música e os odores remetem a situações passadas, coisa

que é amplamente explorada pelo marketing sensorial. Esta tendência assume o

nome de retromarketing ou marketing de autenticidade.

É importante ressaltar que a atitude não é observável, mas o comportamento sim.

Na verdade o comportamento de compra é a conclusão do processo de avaliação,

ou seja, a escolha feita pelo consumidor é condicionada pela atitude que ele tem em

relação a um produto específico.

3.6 CONHECIMENTO DO CONSUMIDOR

O conhecimento de uma pessoa a respeito do ambiente de consumo está

armazenado na memória permanente. O conhecimento do consumidor é definido

como ―a quantidade de experiência e informação que uma pessoa tem acerca de

determinados produtos ou serviços‖ (BRAUN, 1999 apud MOWEN e MINOR, 2003,

p.71). Assim, à medida que o conhecimento do consumidor a respeito de um produto

Page 14: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

14

aumenta, a pessoa pode pensar nesse produto considerando um número maior de

dimensões e fazer distinções mais apuradas entre as marcas.

De acordo com Mowen e Minor (2003), podem-se identificar três tipos de

conhecimento do consumidor, sendo eles: o conhecimento objetivo, que diz respeito

à informação correta a respeito de um tipo de produto que o consumidor tenha

armazenado na memória permanente. O conhecimento subjetivo, que se refere à

percepção do consumidor a respeito do que ou do quanto ele conhece o tipo de

produto. E por último, a informação acerca do conhecimento das outras pessoas.

O estudo do conhecimento do consumidor se faz relevante para os gerentes de

marketing pelo fato de que na medida em que o conhecimento dos consumidores

aumenta, eles se tornam mais organizados, ficam mais eficientes e precisos ao

processar informações, além de se recordá-las melhor. Além disso, o nível de

conhecimento dos consumidores pode ser usado como uma importante variável de

segmentação, ou seja, mensagens diferentes e até mesmo produtos diferentes

podem ser dirigidos a consumidores diferentes com níveis de conhecimento

diferentes.

3.7 APRENDIZAGEM

Entende-se por aprendizagem ―uma modificação durável do comportamento em

virtude da experiência passada. Trata-se de um processo de adaptação permanente

do indivíduo a seu meio ambiente.‖ (KARSAKLIAN, 2004, p.81)

Em se tratando de consumo, tudo que o indivíduo possui em relação a valores com

conhecimento em determinado momento da sua existência é resultante de um

conjunto de aprendizagens. Sendo assim, todos os pensamentos estratégicos e

todas as ações conduzidas pelas empresas em direção aos consumidores têm a

vocação fundamental de agir sobre uma aprendizagem (criação, modificação ou

simplesmente consolidação), independentemente do objetivo visível.

Page 15: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

15

Em se tratando de aprendizagem do ambiente de consumo, as pessoas a adquirem

por meio da educação e prática, em que a aprendizagem por meio da educação

consiste em absorver informações a partir de propagandas, contato com pessoal da

área de vendas e o próprio esforço do consumidor para buscar essas informações

através de outros meios. Já o aprendizado através da prática implica o processo de

obtenção de conhecimento por meio do contato real com os produtos. Sabe-se que

o aprendizado através da prática é mais eficaz porque o consumidor é envolvido na

experiência do ato e também porque a informação obtida é mais viva, concreta e

relevante.

A aprendizagem é a variável que fará com que as empresas possam mais facilmente

fidelizar seus consumidores. De fato, o indivíduo aprende a ser fiel a uma empresa,

uma marca, um produto.

3.8 A INFLUÊNCIA DOS GRUPOS

De acordo com Mowen e Minor (2003), um grupo é um conjunto de indivíduos que

interagem entre si durante algum período de tempo e que compartilham uma

necessidade ou um objetivo comum. Em geral, o próprio grupo serve como meio

para alcançar um objetivo. Vários estudos mostram a influência significativa dos

outros sobre o ato de compra. Amigos, vizinhos, conhecidos e parentes lotam a lista

de fontes de informação quando se trata de decisão de compra.

Do ponto de vista sociológico, o grupo social impõe certo modo de consumo, que se traduz por um sistema de signos-objetos... Assim, o modo de vida adotado por um indivíduo compreende o consumo de produtos, o qual possibilita refletir a imagem de seu status para os demais. O grupo torna-se, para o indivíduo, o ponto de referência, o padrão graças ao qual ele procederá a julgamentos. (KARSAKLIAN, 2004, p.100-101)

De acordo com Mowen e Minor (2003), signos são palavras, gestos, fotos, produtos

e logotipos que uma pessoa utiliza para comunicar informações à outra. Os

consumidores pertencem a vários grupos e cada um possui certo impacto sobre o

comportamento de compra. É fundamental saber que grupo influencia a concepção

que cada um tem de si mesmo.

Page 16: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

16

Há vários tipos de grupos de referência, classificados em grupos primários e

secundários, formais e informais:

GRUPOS Informais Formais

Primários Escola, Amigos Escola, Trabalho

Secundários Esportivos e

Lazer

Associações de trabalho

Organizações diversas

Quadro 2: Exemplos dos diferentes tipos de grupos Fonte: KARSAKLIAN, 2004 p.101

A relevância dos grupos primários gira em torno do fato de se constituírem na fonte

básica de aprendizagem de atitudes e da formação total da personalidade dos

indivíduos, além de exercerem influência sobre a formação de crenças, gosto,

preferências. O grupo primário é quem efetivamente exerce influência mais

diretamente sobre o comportamento de compra.

Já os grupos secundários são representados por relações mais formais e

impessoais, e ele não é um fim em si mesmo, é apenas um meio para que seus

componentes atinjam fins externos ao grupo. Na tabela seguinte observamos a

influência do grupo sobre o produto e a marca.

Influência sobre a marca

Influência sobre o produto

Forte

Fraca Forte

Roupas Carros

Móveis Cigarros

Revistas Cerveja

TV em cores Remédios

Relógios Aparelhos de som

Ternos Equipamentos esportivos (tênis, raquete, bola)

Fraca

Sabonetes Ar-condicionado

Cobertores Café instantâneo

Conservas TV preto e branco

Detergentes Videodisco

Utensílios de cozinha Faca elétrica

Page 17: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

17

Geladeiras Jogos eletrônicos

Rádios

Colchões

Lâmpadas

Quadro 3: Influência do grupo sobre o produto e a marca Fonte: Bourne, 1957 (apud KARSAKLIAN, 2004, p.104)

De modo mais geral, podemos dizer que a influência do grupo e, extensivamente dos canais pessoais é mais forte quando: (1) o produto é caro ou percebido como tal (produto de luxo); (2) sua compra representa um risco (financeiro, físico ou social); (3) o produto é novo ou pouco difundido; (4) o produto é intangível (serviço) ou complexo em sua apresentação (aparelhos eletrônicos); e (5) seu consumo dá-se na presença de outras pessoas. O impacto da influência do grupo declina, ao contrário, quando o consumidor se sente relativamente bem informado, até mesmo como um expert para a categoria de produto. (KARSAKLIAN, 2004 P.104)

3.9 CLASSES SOCIAIS E ESTILOS DE VIDA

Para as sociedades modernas não é o valor de uso o que interessa, mas o valor-

símbolo. Desta forma, o consumo de certos objetos somente assume sentido

quando feito num contexto social.

Não só em relação ao consumo a classe social influencia, mas também na recepção

de mensagens publicitárias e a exposição à mídia. Foi constatado que os

consumidores pertencentes a classes sociais menos favorecidas são mais

receptivos à propaganda visual, ativa, enquanto classes superiores são mais

receptivas às representações simbólicas. (KARSAKLIAN, 2004, p.130)

Já o estilo de vida do indivíduo, de acordo com Karsaklian (2004), nasce da

interação entre três níveis de proximidade e de base em si mesmo: os valores e a

personalidade (nível estável), as atitudes e atividades que lhe são próprias (nível

intermediário) e os comportamentos de consumo efetivos (nível periférico e

efêmero). Sendo assim, o conjunto de pessoas que tem um estilo de vida similar

(comportamentos análogos em cada um dos três níveis) constitui um grupo

homogêneo, com um modo de vida idêntico.

Page 18: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

18

O estilo de vida é determinado por elementos como a cultura, o simbolismo dos

objetos e os valores morais. Assim, foi utilizado para representar vários mercados e

para a segmentação de mercados, bem como para a busca de novos conceitos para

produtos ou para o reposicionamento de produtos já existentes.

De acordo com Mowen e Minor (2003), estudar a as classes sociais e estilos de vida

possibilita melhor estratégias para a segmentação do mercado, visto que a

segmentação do mercado é definida como a divisão de um mercado em

subconjuntos distintos de clientes com necessidades e vontades semelhantes, cada

qual podendo ser alcançada com um mix de marketing diferente.

3.10 CULTURA

A cultura costuma ser definida de várias maneiras. Uma definição clássica seria a

dada por Wallendorf e Reilly (1986, apud MOWEN e MINOR, 2003 p. 293) que

afirma que ―a cultura é um conjunto de padrões de comportamento socialmente

adquiridos que são transmitidos simbolicamente aos membros de uma determinada

sociedade por meio da linguagem e de outros meios.‖

A cultura envolve todo um modo de vida, incluindo objetos materiais de uma

sociedade, envolve idéias e valores. Ela é compartilhada, transmissível e evolutiva,

engloba elementos característicos de uma vida em sociedade. Ela aparece em

princípio como um conjunto de comportamentos distintos, logo, o que diferencia uma

cultura de outra é certa forma de se alimentar, de se vestir, de morar, de falar, de

expressar sentimentos. Sendo assim, não se pode ignorar a variável cultura quando

falamos sobre comportamento do consumidor.

Os valores influenciam o comportamento de compra uma vez que eles determinam

os objetos almejados, o nível de envolvimento, os atributos buscados e as atividades

praticadas; logo, os produtos e modos de consumo. (KARSAKLIAN, 2004, p.157)

A identificação de mercados-alvo pode ser consideravelmente facilitada quando são levadas em consideração as variáveis culturais, nas quais existem particularidades ou diferenças de gosto e de comportamento entre

Page 19: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

19

os diversos grupos sociais que convivem dentro de um mesmo mercado. (Dubois, 1994, apud KARSAKLIAN, 2004, p.163-164).

3.11 COMUNICAÇÃO PERSUASIVA

A comunicação é onipresente em nossas vidas. Comerciais de televisão e rádio,

anúncios impressos, cartazes, embalagens e vendedores, todos buscam comunicar-

se conosco e, por fim, nos influenciar. (MOWEN e MINOR, 2003, p.165)

Conforme explica Limeira (2008, p.122), na literatura de marketing a propaganda ou

publicidade é definida como a forma impessoal de comunicação persuasiva que é

paga por um patrocinador identificado e veiculada pelos meios de comunicação,

visando convencer o público sobre os benefícios e significados dos produtos.

Mowen e Minor (2003) definem a comunicação como sendo o uso de um sinal para

transmitir um significado. Um sinal pode ser uma verbalização, uma expressão

bocal, um movimento do corpo, uma palavra escrita, uma figura, um odor, um toque.

A função da propaganda e objetivo do anunciante é a persuasão, a tentativa

explícita de provocar mudança nas crenças, atitudes e intenções de comportamento

do consumidor. Ela pode desempenhar um papel em cada etapa do processo de

decisão de compra e consumo, alterando ou reforçando a percepção do consumidor

em relação à marca ou ao produto.

Além da lembrança da marca, espera-se que o consumidor adquira conhecimento

do produto ou da marca, que é o conjunto de informações assimiladas pelo

consumidor sobre as características do produto, o preço, o local de compra, entre

outras. Pela aquisição de novos conhecimentos os consumidores formam crenças e

opiniões sobre a marca.

Pesquisas demonstram que jovens norte-americanos recebem em média 200 a 500

mensagens comerciais por dia, porém, eles se lembram apenas de 15% do total e

processam ativamente 4 a 5 % das mensagens. (HAWKINS e HOCH, apud MOWEN

e MINOR, 2003, p.165)

Page 20: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

20

Além das mídias, os amigos também são fonte de comunicação persuasiva, falando

de filmes, produtos, marcas, etc.

A criação de comunicação persuasiva deve se basear na estratégia de

posicionamento e diferenciação da empresa. Por exemplo, se a estratégia for

posicionar a marca como divertida, emocionante e não convencional, os anunciantes

deverão usar o formato de dramatização, no qual modelos atraentes aparecem

realizando atividades divertidas, não convencionais e estimulantes. Ao contrário, se

a estratégia for posicionar a marca com capaz de diminuir o risco de um problema

sério, o mais apropriado poderá ser uma mensagem que apela para o medo,

comunicada por uma fonte digna de crédito e sob a forma de apresentação.

Karsaklian (2004) explica que a atenção das crianças é maior quando os comerciais

são agrupados ou apresentados no início de um programa e que os efeitos sonoros

canalizam mais sua atenção que o visual. A complexidade visual pode desconsertar

a criança e fazê-la concentrar-se em outra coisa, enquanto a complexidade auditiva

vai gerar um comportamento exatamente oposto. O que faz a diferença em relação à

memorização, conforme a idade, é a presença ou não de um slogan repetitivo e

cantado ou de um jingle.

A pesquisa de mercado é, em geral, empregada para testar as reações do público

alvo em relação às fontes e às mensagens. Mais especificamente, a pesquisa deve

ser empregada para identificar antecipadamente de que maneira o mercado algo

percebe a simpatia, credibilidade e a relevância das fontes.

3.12 O CONSUMIDOR INFANTIL

De acordo com o documentário ―How the kids took over―, o marketing jovem é um

mercado de trilhões de dólares. Crianças gastam diretamente em torno de 200

bilhões de dólares, influenciam diretamente outros 300 bilhões de dólares e

indiretamente 500 bilhões de dólares. Essa influência indireta seria no carro da

família, nas férias, compra de produtos que demandem tecnologia (celulares,

maquinas fotográficas, etc.).

Page 21: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

21

Até meados dos anos 60, as crianças eram ignoradas como consumidoras devido a

sua mínima renda. Visto que elas são consumidoras, é importante investigar sobre

seus comportamentos de compra, bem como as motivações para comprarem onde

compram e o que compram e, a partir daí, iniciaram-se as pesquisas sobre o

consumo infantil, porém, ainda gradativamente.

Nos anos 80, os marketeiros de todos os lugares criaram os desenhos animados

com o propósito de vender os brinquedos do desenho. Programas como He-man,

Ursinhos Carinhosos e Moranguinho foram criados e funcionaram muito bem.

Nos anos 90, todas as empresas estavam interessadas em um melhor entendimento

sobre o novo alvo consumidor: as crianças. Era a hora de começar a espionar a vida

das crianças. Os marketeiros as assistiam comer, tomar banho, ir ao banheiro,

brincar, olhavam seus armários, o que tinha dentro, os tipos de vídeo, olhavam o

que tinha embaixo de suas camas, quando iam até a cozinha (toda essa observação

era para captar os sinais não verbais) e o mais importante: como faziam para

conseguir o que queriam.

Hoje em dia, as crianças são vistas como consumidores, possuem seu próprio

dinheiro e influenciam no consumo doméstico. Devido ao grande crescimento no

número de produtos destinados ao público infantil, surge uma preocupação por parte

dos pesquisadores, empresas, e publicitários em saber e entender o que motiva

esse consumo. Tais fatos fazem com que haja um grande interesse em conhecer o

comportamento do consumidor infantil, que tipo de influência as crianças têm no

consumo familiar, qual é o grau de influência que as mídias exercem no

comportamento de consumo infantil, dentre outros.

3.12.1 Modelo de socialização do consumidor

O processo pelo qual as crianças adquirem habilidades, conhecimento e atitudes

relevantes ao seu comportamento como consumidores no mercado é chamado de

socialização do consumidor.

Page 22: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

22

Segundo Ville (2007), o consumo de crianças e adolescentes é moldado e

transformado por uma combinação de medidas de gestão, políticas públicas, ciclos

de mudança tecnológica, a evolução das respectivas instituições como família e

escola, alterando referências culturais, valores, modos de socialização, bem como

pelas ações de crianças e adolescentes em si.

John (apud CHAN, 2005) propôs um modelo de socialização do consumidor no qual

a socialização é um processo que passa do estágio perceptivo (crianças entre 3 e 7

anos) para o estágio analítico (entre 7 e 11 anos) e então para o estágio reflexivo

(entre 11 e 16). Em cada estágio, a criança tem uma diferente consciência de fonte

de informação dependendo do produto ou situação que, de acordo com pesquisas

realizadas, aumenta de acordo com a idade.

Em pesquisas realizadas anteriormente com crianças chinesas, constatou-se que

crianças mais novas adquirem suas normas de comportamento observando seus

pais e outros irmãos, enquanto jovens e adolescentes provavelmente olham para

seus amigos como fontes pessoais de modelos de consumo.

O número médio de fontes de informação cresce com a idade. As crianças do jardim

de infância contam mais com as visitas às lojas, enquanto as da terceira e sexta

série acrescentam ainda os anúncios da mídia em massa e fontes interpessoais às

suas listas.

A figura a seguir representa um modelo simples de socialização do consumidor. O

modelo sugere que a socialização do consumidor está baseada em três

componentes: fatores de contexto, agentes de socialização e mecanismos de

aprendizagem, como aprendizagem cognitiva, condicionamento operante e

modelagem.

Page 23: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

23

Figura 3: Um modelo de socialização do consumidor

Fonte: MOWEN e MINOR (2003, p.277)

De acordo com Moore-Shay e Berchmans (1996, apud MOWEN e MINOR, 2003),

pesquisas realizadas mostraram o impacto dos agentes de socialização e dos

fatores de contexto sobre a socialização do consumidor. Em um importante estudo

que analisou os fatores de família, meios de comunicação, leitura de jornal, escola,

colegas, idade, classe social e sexo, descobriu-se que a família é essencial no

ensino dos aspectos racionais de consumo.

Contudo, a influência dos pais depende da situação específica e diversas

características pessoais, como idade, classe socioeconômica e sexo da criança. Os

pesquisadores descobriram ainda que a percepção que as crianças têm de

satisfação na vida e da capacidade financeira de seus pais contribui fortemente para

que ela aceite os pais como modelos do papel de consumo. Quando os pais eram

tidos como pessoas malsucedidas ou incapazes, os filhos buscavam modelos para o

papel de consumo em outros lugares.

Nessa mesma pesquisa, descobriu-se que os colegas também são agentes de

socialização importantes. Eles contribuíam principalmente para o elemento de

expressão, segundo o qual uma compra é feita por razões materialistas ou sociais

(por exemplo, comprar para ―não ficar para trás‖).

Nível socioeconômico Sexo Idade Classe social Religião

Mídia Membros da família Colegas Professores

Modelagem Reforço Estágio de desenvolvimento cognitivo

Consumidor socializado

Fatores de contexto

Agentes de socialização

Mecanismos de aprendizagem

Page 24: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

24

4 ANÁLISE DOS DADOS

4.1 PRIMEIRA ETAPA

Foram analisados 16 artigos sobre o consumo infantil, para serem comparadas com

as informações obtidas na presente pesquisa. As principais informações dos artigos

analisados estão resumidos no quadro 4 a seguir.

Autor Objetivo Resultados relevantes

Mayer, R. N.;

Belk, R. (1982)

Examinar o desenvolvimento do

reconhecimento de estereótipos

de consumo pelas crianças.

As crianças preferem itens novos, grandes e

esportivos. Suas percepções são complexas, pois

ocasionalmente atribuem características desejáveis

(inteligência e felicidade) a proprietários de itens

pequenos ou menos esportivos.

Özgen, Ö.

(2003)

Analisar interesses,

responsabilidades, fontes

econômicas, atividades de

compras, agentes socializadores e

influenciadores de compras dos

consumidores infantis.

As principais atividades citadas pelas crianças

foram brincar, assistir TV, ouvir musica, ler,

esportes, cuidados pessoais e fazer compras. 54%

das crianças tinham os brinquedos mais novos do

mercado. Meninos de 6 anos dão maior importância

a brinquedos mais novos, 74,6% das crianças dão

importância para sua aparência física, 60,7% das

crianças sempre dão importância para a marca,

19,9% de vez em quando e 19,4% nunca dão

importância.

McNeal, J. U.,

Yeh C. H.

(2003)

Atualizar o estudo feito em 1995,

que descrevia a natureza do

comportamento consumidor das

crianças chinesas.

No estudo de 1995, as crianças chinesas gastavam

em media 48% da sua renda. No atual, percebeu-

se que elas gastam 64%. Isto significa que estas

crianças (entre 7 e 11 anos) ganham mais e

gastam maior parte também. As crianças estão

crescendo mais ricas e exercendo maior influencia

sobre as compras da família do que há 7 anos

atrás.

Lindstrom, M.

(2004)

Olhar para as relações das

crianças com as marcas

Pessoas jovens se envolvem com o mundo por

meio do filtro das novas mídias – jogos de

computadores, comunicação móvel e a Web.

Entretanto, nos jogos de computadores o jogador

pode adotar uma diferente personalidade que não

necessariamente compartilha características diretas

com a pessoa.

Dotson, M. J.;

Hyatt, E. M.

(2005)

Fornecer uma visão sobre o gasto

das crianças, a exposição delas à

mídia e a identificação com as

marcas. Buscar uma explicação

Os impactos dos diferentes fatores que influenciam

a socialização do consumidor variam em função do

sexo, idade, quantidade disponível de dinheiro para

gastar, tempo de exposição à televisão e como as

Page 25: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

25

Autor Objetivo Resultados relevantes

de como o processo de

socialização dos consumidores

afeta as crianças.

crianças gastam o tempo depois da escola.

Chan, K. (2005)

Examinar com que frequência as

crianças chinesas interagem com

diferentes tipos de lojas, como

aprendem sobre novos produtos e

serviços e suas atitudes em

relação a diferentes fontes de

informação de produtos

As lojas mais citadas entre as crianças chinesas fo-

ram livrarias/papelarias, supermercados, restau-

rantes e lojas de fast food. Visitas as lojas variaram

muito com idade e gênero. Crianças percebem as

fontes pessoais como mais úteis e críveis do que

as fontes comerciais na obtenção de informações

sobre novos produtos e serviços. Crianças mais

velhas acham fontes comerciais mais úteis e críveis

do que as crianças mais novas e acham mais fon-

tes de informação úteis do que crianças mais novas

Martens, L.

(2005)

Alertar a sociologia da educação a

encontrar formas de pensar por

meio da relação entre crianças,

educação e consumo.

Educadores deveriam prestar atenção nas

conseqüências da cultura do consumo para a vida

das crianças e seus modos de aprendizado,

enfatizando a importância das escolas e do ensino

ao considerar o nexo entre a aprendizagem de

crianças e o consumo.

Panwar, J.S.,

Vindyanagar,

V.; Agnihotri, M.

(2006)

Estender o processamento

cognitivo de mensagens de

anúncio destinadas a crianças

urbanas na Índia.

A habilidade das crianças de decodificar e proces-

sar mensagens de anúncio e de compreender suas

intenções está influenciada não somente por suas

habilidades cognitivas em estratos diferentes da

idade, mas igualmente por seus ambientes sociais

e pessoais. Outros elementos como o argumento, o

slogan e a música podem criar gosto ou não por

uma propaganda e a decodificação de sua

mensagem.

Chan, K.,

McNeal, J. U.

(2006)

Analisar uso da mídia e atenção

para publicidade entre crianças

urbanas e rurais da China.

A propriedade, exposição e uso dos meios de

comunicação foram maiores entre crianças urbanas

do que entre crianças rurais. A propriedade e

exposição à TV foram ligeiramente mais elevadas

entre crianças rurais do que entre as urbanas.

Crianças rurais relataram maior atenção aos

comerciais na TV que crianças urbanas, enquanto

crianças urbanas relataram uma maior atenção a

outras formas de publicidade.

Shoham, A.;

Dalakas, V.

(2006)

Examinar as estratégias de

influencia usadas por crianças e

as reações dos pais em relação a

essas táticas.

Adolescentes estudados usam táticas racionais

com mais frequência do que táticas emocionais. A

reação dos pais é mais alta para táticas racionais e

mais baixa para táticas emocionais.

Cook, D. T.

(2007)

Explorar como os discursos de

―empoderamento‖ das crianças

por meio da posse de bens têm

surgido e funcionado como chave

narrativa nos comerciais infantis.

Três temas - escolha, reconhecimento e

participação - foram considerados os mais

proeminentes na concepção da criança sobre

consumo como fonte de ―empoderamento‖.

Ville, V. I. de L.

(2007)

Conceituar o campo do consumo

da criança e do adolescente como

As noções de responsabilidade social corporativa e

resposta social corporativa para a infância

Page 26: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

26

Autor Objetivo Resultados relevantes

um sistema de práticas sociais

com o cruzamento de 6

subsistemas interligados: social,

institucional, tecnológico,

narrativo, econômico e político.

envolvem conceitos difíceis de capturar.

Tinson, J.,

Nancarrow, C.

(2007)

Investigar o mercado voltado às

crianças e jovens.

O papel do gênero na orientação de consumo é um

fator na tomada de decisões familiares, mas a

relação não é simples. Algumas crianças podem

estar mais envolvidos na tomada de decisão de

compra como conseqüência de estratégias dos

pais, influências da mídia, escola e amigos.

Roper S.; Shah

B.(2007)

Estudar o impacto social da marca

em pré-adolescentes (entre 7 e 11

anos).

As marcas podem ser causa de divisão social entre

crianças. As que não têm as marcas certas podem

ser discriminados e sofrer impactos sociais, como

serem diminuídos, intimidados, ter baixa auto-

estima e de ser socialmente excluídos. Os pais

também sentem os efeitos por meio da culpa de

não serem capazes de comprar essas marcas para

seus filhos.

Sidin S. et al

(2008)

Investigar os efeitos da idade,

sexo e cidade onde vivem nas

atitudes de consumo e intenções

de comportamento das crianças.

Crianças com idade entre 9 e 10 anos indicaram

alta preferência por marcas preço e loja quando

compram comida e materiais de leitura. Não

gostam da influencia dos pais nas compras. Idade e

cidade onde moram são influências significantes

nas atitudes de consumo e intenções de

comportamento das crianças.

Quadro 4: Artigos analisados e principais conclusões

4.2 SEGUNDA ETAPA

A segunda etapa da pesquisa foi a aplicação de um questionário (apêndice 1)

construído a partir dos artigos anteriormente revistos. Foram 18 perguntas de

múltipla escolha e 25 afirmativas para as crianças marcarem se concordavam,

discordavam ou tanto faz.

4.2.1 Descrição dos respondentes

A seguir será descrita a amostra da pesquisa. Participaram 655 crianças sendo 351

(53,6%) estudantes de escolas públicas municipais e 304 (46,4%) estudantes de

Page 27: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

27

escolas particulares (tabela 1 a seguir). Quanto ao gênero, 50,5% eram meninos,

48,4% meninas e 0,9% não responderam ou anularam a questão (tabela 2). A

distribuição por idade está apresentada na tabela 3. Houve predominância de

crianças a partir dos 9 anos.

Tabela 1. Respondentes por tipo de escola

Tipo de Escola Quantidade %

Pública 351 53,6

Privada 304 46,4

Total 655 100,0

Tabela 2. Respondentes por gênero

Gênero Quantidade %

Menino 331 50,5

Menina 318 48,6

Não responderam 6 0,9

Total 655 100,0

Tabela 3. Respondentes por idade

Idade Quantidade %

6 anos 25 3,8

7 anos 41 6,3

8 anos 70 10,7

9 anos 120 18,3

10 anos 120 18,3

11 anos 129 19,7

12 anos 147 22,4

Não responderam 3 0,5

Total 655 100,0

Page 28: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

28

4.2.2 Perfil dos consumidores por tipo de escola

Em 1998, a Western International Media, a Century City e a Lieberman Research

World Wide fizeram um estudo sobre "importunar". Eles pediram aos pais que

anotassem em um diário, durante três semanas, toda vez que seus filhos os

importunassem para comprar algum produto e gravassem quando, onde e por quê.

O estudo tinha como objetivo ajudar as corporações a ensinar as crianças a pedir

com mais eficiência.

Na pesquisa atual quando perguntadas sobre as estratégias utilizadas (podia marcar

mais de uma resposta), obteve-se valores que mostram o que as crianças são

capazes de fazer quando se trata de conseguirem o que querem.

Quando comparadas as respostas entre tipo de escola, (tabela 4), as maiores

diferenças de percentuais estão nas escolas privadas para as estratégias: ―chora e

implora‖, ―cita exemplos de amigos que já tem o brinquedo‖, ―insiste até conseguir‖ e

―negocia com argumentos que eles consideram lógicos‖. Para as demais estratégias

as diferenças de percentuais de respostas foram pequenas entre os tipos de

escolas. Nota-se uma maior insistência e poderíamos dizer melhor estratégia por

parte dos alunos de escola privada em se tratando de conseguir o produto a

qualquer custo.

Tabela 4: Se você está no Shopping e vê uma coisa que você quer muito, como faz para

convencer seu pai ou sua mãe a comprar?

Escola Total

Pública Privada

Pede 183 52,3% 174 57,8% 357

Chora e implora 34 9,7% 40 13,3% 74

Grita, fica com raiva, faz mal criação 14 4,0% 14 4,7% 28

Faz eles se sentirem culpados se não te atenderem 31 8,9% 28 9,3% 59

Negocia (Se você comprar para mim...) 119 34,0% 110 36,5% 229

Cita exemplos de amigos que já tem o brinquedo 55 15,7% 69 22,9% 124

Insiste até conseguir 88 25,2% 95 31,6% 183

Negocia com argumentos que eles consideram lógicos 51 14,6% 76 25,2% 127

Se não der tudo bem... 110 31,4% 99 32,9% 209

Page 29: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

29

Chan (2005), em sua pesquisa realizada com crianças chinesas, constatou que a

televisão ficou posicionada como a fonte de informação mais útil, seguida pelos

amigos e colegas. Os pais, jornais, lojas e a internet ficaram em terceiro lugar. Na

presente pesquisa a televisão continua sendo a fonte de informação mais útil

seguida do shopping e da internet (tabela 5). As maiores diferenças percentuais

quando comparadas as respostas por tipo de escola foram para a internet e oudoors

(escolas privadas). Apenas o rádio foi o mais citado pelos alunos das escolas

públicas. Lembrando que os respondentes podiam marcar mais de uma opção de

resposta.

Tabela 5: Onde você vê propaganda dos produtos que gosta de comprar?

Escola Total

Pública Privada

TV 247 70,4% 242 79,9% 489

Shopping 185 52,7% 183 60,4% 368

Internet 105 29,9% 140 46,2% 245

Amigos 74 21,1% 90 29,7% 164

Revistas 76 21,7% 83 27,4% 159

Outdoors 29 8,3% 50 16,5% 79

Jornais 53 15,1% 47 15,5% 100

Outros 41 11,7% 29 9,6% 70

No rádio 28 8,0% 22 7,3% 50

Apesar desse número tão significativo quanto a televisão ser uma fonte de

informação útil, 59,8% das crianças discordam quanto a acreditarem que

―Comerciais de TV dizem a verdade sobre os produtos‖, 11,1% concordam com a

afirmação e 23,1% dizem que tanto faz (tabela 6). Quando perguntadas se assistir

TV é uma importante parte da vida delas, 43,5% disseram que discordam, 25,6%

disseram que tanto faz e 24,6% disseram que concordam.

Tabela 6: "Comerciais de TV dizem a verdade sobre os produtos."

Qtde %

Concordo 73 11,1

Tanto faz 151 23,1

Page 30: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

30

Discordo 392 59,8

Não preenchido 39 6,0

Total 655 100,0

Outro levantamento com crianças chinesas da primeira à sexta série, que vivem nas

cidades, descobriu que o ceticismo quanto aos anúncios crescia com a idade. Como

pode-se perceber na presente pesquisa, o ceticismo quanto aos anúncios da TV

também cresce com a idade, confirmando os achados da pesquisa com crianças

chinesas.

Notou-se que há considerável controle por parte dos pais quando se trata do tempo

que as crianças assistem TV e navegam na internet. Das crianças entrevistadas,

44,2% afirmaram que os pais controlam o tempo em que elas assistem TV, 56%

afirmaram que os pais controlam o tempo em que elas navegam na internet e 28%

das crianças responderam que os pais não os controlam. Percebeu-se que há um

maior controle sobre o tempo que as crianças ficam na internet e na televisão por

parte dos alunos de escola privada. (Tabela 7).

Panwar, Vidyanagar e Agnihotri (2003) explicam que na Índia foi constatado que há

um forte controle sobre a exposição das crianças as mídias, afirmando não que isso

não é comum para os ocidentais. Pode-se ver que com o passar do tempo e devido

a características culturais das pessoas envolvidas na pesquisa, os resultados

contradizem essa afirmação.

Tabela 7. Seus pais controlam o tempo que você...

Escola Total

Pública Privada

Assiste TV 144 41,9% 140 46,8% 284 44,2%

Navega na Internet 186 54,2% 174 58,2% 360 56,0%

Não controlam 99 28,8% 81 27,1% 180 28,0%

Total 344 100,0% 299 100,0% 643 100,0%

Page 31: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

31

Apesar de toda essa influencia das mídias sobre as crianças, quando perguntados

sobre em quem eles confiam para ajudar a escolher algum produto, os pais ficaram

em primeiro lugar, com 70,4%, em segundo lugar ficou a opção que eles não

confiavam ―em ninguém‖, em terceiro ficaram os amigos e em quarto a internet. Vale

salientar que essa pergunta era de única escolha, propositalmente, para saber em

quem as crianças realmente confiam quando se tratava de escolher algo.

A mudança na estrutura familiar também é um fator importante quando se trata de

consumo infantil. Fala-se hoje no chamado guilty money, que seria a situação em

que os pais dão o cartão de credito ou dinheiro para a criança comprar alguma

coisa, como forma de compensar o tempo que eles não podem passam com eles.

Foi constatado que 35,9% das crianças recebem mesada fixa e 33,6% recebem de

vez em quando.

Em um estudo feito com 10.000 famílias em Beijing, 25% das mães disseram que a

única maneira de manter boas notas é recompensando os filhos com dinheiro.

Também aumentou o ganho a partir de tarefas domésticas e isso sugere que as

crianças são cobradas por assumir algumas responsabilidades.

É importante salientar que o mercado envolve muito mais do que a simples troca de

coisas e o cálculo de valor. O mercado produz e reproduz significado social – o

significado das coisas, de pessoas, de trocas e da própria idéia do mercado em si –

e assim gera significados particulares em torno da infância e do consumidor infantil.

Os profissionais de marketing utilizam das vulnerabilidades consequentes de um

desenvolvimento ainda não completo da mente das crianças para impulsionar seus

desejos e estratégias de compra e acreditam que quanto mais cedo, melhor para

fidelizar seus clientes.

Foi perguntado às crianças sobre os lugares que eles mais gostam de frequentar e

lojas que visitaram recentemente, mesmo que não tivessem comprado nada. Quanto

aos lugares, o shopping ficou em primeiro lugar, com 76,1% das crianças, seguido

do parque de diversões com 61,7%, praia com 53,5%. Quanto às lojas visitadas

recentemente, lojas de roupa ficaram com 57,1% da preferência, livrarias com

46,6%, lojas de brinquedos com 45,9%, restaurantes e lojas de fast food 44,7%,

Page 32: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

32

supermercados com 42,6%, lojas de esportes com 40,7%. Exceto pelas lan houses,

todas as outras lojas foram mais visitadas pelas crianças de escola privada.

(Tabelas 8 e 9). As maiores diferenças percentuais entre tipos de escola foram para

Pedra da Cebola, praia e parque de diversões.

Tabela 8: Quais desses lugares você gosta de ir?

Escola Total

Pública Privada

Shopping 253 72,5% 243 80,2% 496 76,1%

Parque de diversões 194 55,6% 208 68,6% 402 61,7%

Praia 161 46,1% 188 62,0% 349 53,5%

Pedra da Cebola 79 22,6% 127 41,9% 206 31,6%

Outros lugares 92 26,4% 106 35,0% 198 30,4%

Praça 94 26,9% 93 30,7% 187 28,7%

Supermercado 68 19,5% 75 24,8% 143 21,9%

Total 349 100,0% 303 100,0% 652 100,0%

Tabela 9: Lojas que você visitou recentemente, mesmo que eu não tenha comprado nada...

Escola

Total Pública Privada

Lojas de roupas 180 51,6% 191 63,5% 371 57,1%

Livrarias 144 41,3% 159 52,8% 303 46,6%

Lojas de brinquedos 142 40,8% 156 51,8% 298 45,9%

Restaurante ou fast food 142 40,7% 148 49,3% 290 44,7%

Supermercados 144 41,3% 133 44,2% 277 42,6%

Lojas de esportes 133 38,2% 131 43,5% 264 40,7%

Loja de computadores 129 37,0% 129 42,9% 258 39,7%

Centro de jogos eletrônicos 117 33,5% 111 36,9% 228 35,1%

Lojas de música e vídeo 103 29,6% 123 40,9% 226 34,8%

Lan houses 108 30,9% 64 21,3% 172 26,5%

Total 349 100,0% 301 100,0% 650 100,0%

Foi perguntado o que as crianças comprariam se tivessem dinheiro (tabela 10). Os

itens mais escolhidos foram roupas e sapatos (61,3%), telefone celular (58,2%) e

computador (54,9%). As maiores diferenças percentuais entre escolas privadas e

Page 33: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

33

públicas foram para brinquedos (23%), jogos eletrônicos (20,1%) e videogames

(17,3%).

Tabela 10: Se você tivesse dinheiro qual(is) dos produtos abaixo compraria

Escola

Total Dif. Pública Privada

Roupas e sapatos 202 57,9% 198 65,3% 400 61,3% 7,5%

Telefone Celular 191 54,9% 188 62,0% 379 58,2% 7,2%

Computador 173 49,6% 185 61,1% 358 54,9% 11,5%

TV de plasma 157 45,1% 169 55,8% 326 50,1% 10,7%

Carro 157 45,0% 151 49,8% 308 47,2% 4,8%

Videogames 133 38,1% 168 55,4% 301 46,2% 17,3%

Comida 143 41,0% 158 52,1% 301 46,2% 11,2%

Jogos eletrônicos 128 36,7% 172 56,8% 300 46,0% 20,1%

Filmes 131 37,5% 162 53,5% 293 44,9% 15,9%

Bicicleta 124 35,5% 144 47,5% 268 41,1% 12,0%

Livros 124 35,5% 143 47,2% 267 41,0% 11,7%

Brinquedos 97 27,8% 154 50,8% 251 38,5% 23,0%

Skate 101 28,9% 127 41,9% 228 35,0% 13,0%

Jornais 22 6,3% 34 11,2% 56 8,6% 4,9%

Total 348 100,0% 303 100,0% 651 100,0% 0,0%

Sobre as influências nas decisões de compras (tabela 11) as análises dos dados

mostraram que 64,4% dos respondentes afirmaram gostar de fazer compras com os

pais.

Tabela 11. Eu gosto de ir fazer compras com meus pais.

Page 34: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

34

Escola Total

Pública Privada

Concordo 216 66,9% 184 61,7% 400 64,4%

Tanto faz 69 21,4% 70 23,5% 139 22,4%

Discordo 38 11,8% 44 14,8% 82 13,2%

Total 323 100,0% 298 100,0% 621 100,0%

Sobre as influências nas decisões de compras da família (tabela 12) 40,4%

afirmaram não tomar decisões sobre compras de família toda e 29,1% afirmaram

fazê-lo.

Tabela 12. Eu tomo decisões de compra em itens para a família toda.

Escola

Total Pública Privada

Discordo 133 40,7% 119 40,2% 252 40,4%

Tanto faz 96 29,4% 94 31,8% 190 30,5%

Concordo 98 30,0% 83 28,0% 181 29,1%

Total 327 100,0% 296 100,0% 623 100,0%

Com o objetivo de saber o que as crianças levam em consideração na hora de

escolher entre os produtos, foi perguntado o motivo da escolha dos produtos. A

grande maioria escolhe pelo preço (69,6%) e marca (54,5%). O vendedor foi mais

citado pelas crianças da escola pública (16,1%) do que da escola privada (12%).

Tabela 13. Quais itens abaixo são mais importantes quando você vai comprar um produto?

Escola Total

Pública Privada

O preço 234 67,4% 216 72,0% 450 69,6%

A marca 184 53,0% 168 56,0% 352 54,4%

Já conhecer o produto 124 35,7% 127 42,3% 251 38,8%

Sua escolha e preferência 110 31,8% 130 43,3% 240 37,2%

Page 35: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

35

Escola Total

Pública Privada

A loja 101 29,1% 94 31,3% 195 30,1%

O vendedor 56 16,1% 36 12,0% 92 14,2%

Total 347 100,0% 300 100,0% 647 100,0%

Nota-se que as crianças estão desenvolvendo suas próprias estratégias de compra,

apesar de ainda levarem em grande consideração a opinião dos pais. Dos

respondentes, 64,4% costumam escolhem o que querem comprar porque acham

mais bonito, 38,6% por indicação dos pais, 32,2% porque é mais barato, 28,4%

porque viram na TV.

Tabela 14. Você costuma escolher as coisas que quer comprar...

Escola Total

Pública Privada

Porque acha bonito 217 62,2% 202 66,9% 419 64,4%

Por indicação dos pais 120 34,4% 131 43,4% 251 38,6%

Porque é mais barato 104 29,9% 105 34,8% 209 32,2%

Porque viu na TV 82 23,5% 103 34,1% 185 28,4%

Por indicação dos amigos 60 17,2% 82 27,2% 142 21,8%

Porque é mais caro 32 9,2% 35 11,6% 67 10,3%

Total 348 100,0% 302 100,0% 650 100,0%

De acordo com Keller (1993, apud MOWEN e MINOR, 2003), o conhecimento da

marca por parte do consumidor pode ser definido como o conhecimento formado por

um nó de memória relativo a uma marca, ao qual uma série de associações está

conectada.

A marca é uma entidade psicológica na mente das pessoas. Roper e Shah (2007)

afirmam que elas podem ser a causa da divisão social entre as crianças resultando

na formação de grupos. Aqueles que não detêm as marcas certas podem ser

Page 36: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

36

discriminados e sofrer impactos sociais, como serem diminuídos, intimidados, ter

baixa auto-estima e de ser socialmente excluídos.

Das crianças pesquisadas, 35,2% discordaram que ―ser popular e importante‖ e para

37,1% tanto faz ser popular ou não. Além disso, 64,3% das crianças afirmam não

ser importante parecer com os amigos e 61,8% discordam quando perguntamos se

eles se sentiram incomodados com o fato de os amigos terem algo que eles não

têm. Não houve diferenças significativas na porcentagem das respostas entre as

classes.

Mailer (apud ROPER e SHAH, 2007), encontrou em suas pesquisas que estudantes

de escola pública eram mais obcecados por marcas que os de escola privada,

sugerindo que nomes de marcas eram mais desejáveis para grupos de poder

aquisitivo mais baixos. Isso confirma a proposta de Elliot e Leonard (apud ROPER e

SHAH, 2007) que dizia que marcas eram usadas como um disfarce da pobreza,

como poderia ser dito que crianças de escola publica eram mais interessadas em

mostrar sua competência econômica ou esconder a falta dela, mais que as crianças

mais ricas, que não precisavam fazer isso.

A presente pesquisa também confirmou os achados de Mailer, Elliot e Leonard

(apud ROPER e SHAH, 2007) quanto às crianças de escola publica terem mais

necessidade de mostrar que usam marcas. Quando perguntado o que eles achavam

da afirmação sobre de usar roupas com o nome da marca aparecendo, 40,4% das

crianças de escola pública concordaram com a afirmação, contra 30,3% de escola

privada. Do total, 35,6% das crianças concordaram com a afirmação (tabela 14).

Tabela 15. Eu gosto de usar roupas com o nome da marca aparecendo

Escola Total

Pública Privada

Concordo 130 40,4% 89 30,3% 219 35,6%

Discordo 107 33,2% 94 32,0% 201 32,6%

Tanto faz 85 26,4% 111 37,8% 196 31,8%

Total 322 100,0% 294 100,0% 616 100,0%

Page 37: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

37

Quanto à afirmação sobre prestar atenção em nomes de marcas de roupas na hora

de fazer compras, novamente um maior percentual de crianças de escola pública

concordou com a afirmação. Foram 60,8% dos alunos de escola publica e 52,2%

dos alunos de escola privada. Do total de respostas, 56,8%% das crianças

concordaram com a afirmação (Tabela 16). Entretanto, 42,2% dos respondentes

discordaram da afirmação de que ter roupas de marca é importante sendo a

discordância maior entre alunos da escola pública (46,6%) (Tabela 17).

Tabela 16. Eu presto atenção em nomes de marcas de roupas quando eu faço compras.

Escola Total

Pública Privada

Concordo 200 60,8% 153 52,2% 353 56,8%

Tanto faz 73 22,2% 74 25,3% 147 23,6%

Discordo 56 17,0% 66 22,5% 122 19,6%

Total 329 100,0% 293 100,0% 622 100,0%

Tabela 17. Eu penso que ter roupas de marca é importante.

Escola Total

Pública Privada

Discordo 151 46,3% 110 37,7% 261 42,2%

Tanto faz 96 29,4% 93 31,8% 189 30,6%

Concordo 79 24,2% 89 30,5% 168 27,2%

Total 326 100,0% 292 100,0% 618 100,0%

Na presente pesquisa, observou-se que 25,4% das crianças entrevistadas tentam

lembrar-se do diálogo ou da música após assistirem/lerem às suas propagandas

favoritas. Além disso, 29,7% delas se sentem empolgadas e 38,4% se sentem muito

satisfeitas ao assistirem/lerem suas propagandas favoritas.

Page 38: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

38

Tabela 18. Como você se sente quando está assistindo/lendo à(s) sua(s) propaganda(s) favorita(s)?

Escola pública

Escola privada

Total

muito satisfeito 41,1% 35,2% 38,4%

como se fosse dono do produto 12,4% 16,1% 14,1%

Empolgado 26,9% 32,9% 29,7%

Tento me lembrar da música ou do diálogo da propaganda 24,4% 26,5% 25,4%

não sinto nada 37,4% 35,9% 36,7%

Total 100,0% 100,0% 100,0%

4.2.3 Tomada de decisão em família

Mowen e Minor (2003) afirmam que os filhos sem dúvida fazem a diferença nas

decisões familiares. Eles têm o potencial de formar alianças com o marido ou com a

esposa para produzir uma decisão ―majoritária‖. Como podemos perceber no quadro

a seguir, 64,4% das crianças respondentes gostam de ir fazer compras com os pais.

Vale ressaltar que o número de crianças que gosta de ir fazer compras com os pais

decresce de acordo com o aumento da idade, ou seja, na mais tenra idade as

crianças gostam mais de ajudar na tomada de decisão familiar.

Tabela 19. "Eu gosto de ir fazer compras com meus pais."

Idade Total

6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos 12 anos

concordo 70,0% 78,9% 81,2% 71,8% 67,5% 59,2% 47,9% 64,4%

tanto faz 10,0% 10,5% 18,8% 19,7% 17,1% 28,0% 29,9% 22,4%

discordo 20,0% 10,5% 0,0% 8,5% 15,4% 12,8% 22,2% 13,2%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

A tomada de decisão tem três estágios: a procura, a negociação e a decisão final.

Até pouco tempo acreditava-se que as crianças tinham influência nas duas primeiras

etapas, e não necessariamente na decisão final. Porém estudos recentes mostraram

Page 39: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

39

que os elas têm influência significativa no terceiro estágio. Com isso passa-se a

encarar a interferência das crianças nas decisões de forma diferente. Nesses

estudos foi constatado que influência dos filhos no processo decisório de compra

doméstica aumenta à medida que a criança cresce.

Como podemos perceber na tabela 20 abaixo, na presente pesquisa o resultado foi

contrário à teoria mencionada anteriormente. À medida que as crianças crescem,

elas tendem a tomar menos decisões para toda a família.

Tabela 20. "Eu tomo decisões de compra em itens para a família toda."

Idade Total

6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos 12 anos

concordo 44,4% 44,4% 30,0% 36,8% 33,6% 23,6% 18,8% 29,1%

tanto faz 0,0% 25,0% 34,3% 29,9% 29,4% 31,5% 31,9% 30,5%

discordo 55,6% 30,6% 35,7% 33,3% 37,0% 44,9% 49,3% 40,4%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

De acordo com Sousa Junior (2009), as crianças possuem necessidades e desejos

de consumo que vão ser na maioria das vezes supridas pelos pais, e que podem

estar dispostos a pagar mais do que se imagina.

Tabela 21. "Eu falo com meus pais sobre os produtos."

Idade Total

6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos 12 anos

concordo 70,0% 62,2% 62,3% 73,5% 66,1% 78,7% 75,9% 71,8%

tanto faz 20,0% 8,1% 23,2% 12,0% 23,5% 12,6% 13,1% 15,6%

discordo 10,0% 29,7% 14,5% 14,5% 10,4% 8,7% 11,0% 12,6%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

O poder de influência dos pais é grande, principalmente dos 6 a 12 anos, uma idade

em que as crianças são muito dependentes dos mesmos, e ao mesmo tempo tem

grande poder de convencimento que, durante as conversas sobre produtos, acabam

Page 40: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

40

convencendo os pais sobre produtos que eles conhecem mais detalhadamente por

estarem sempre em contato com a mídia.

A seguir, agruparam-se as afirmativas do questionário por tema que receberam a

denominação de fatores de influência no consumo infantil. Foram quatro os

principais influenciadores analisados: os amigos, os anúncios comerciais, as marcas

e os pais. O quadro 2 a seguir apresenta esses fatores e respectivas afirmativas a

eles associadas.

FATOR Item do Questionário

AMIGOS

―Ser popular é importante.‖

―Eu gosto de usar o que meus amigos estão usando.‖

―Me incomoda quando meus amigos tem alguma coisa que eu não tenho.‖

―É importante para mim parecer com meus amigos.‖

―O que meus amigos pensam é mais importante que o que meus pais pensam.‖

COMERCIAIS

―Eu gosto de comerciais com artistas do esporte.‖

―Comerciais de TV dizem a verdade sobre os produtos.‖

―Assistir TV é uma importante parte da minha vida.‖

MARCA

―Eu compro as mesmas marcas que meus amigos.‖

―Eu gosto de usar roupas com o nome da marca aparecendo.‖

―Eu presto atenção em nomes de marcas de roupas quando eu faço compras.‖

―Eu penso que ter roupas de marca é importante.‖

―Meus pais me deixam comprar a marca que eu quiser.‖

―Pessoas de sucesso usam marcas famosas.‖

PAIS

―Eu compro as mesmas marcas que meus pais.‖

―Eu gosto de ir fazer compras com meus pais.‖

―Eu penso que meus pais devem dar opinião nas coisas que compro.‖

―Meus pais e eu concordamos quando se trata do que eu vou usar.‖

―Meus pais escolhem as roupas que compram para mim.‖

Quadro 5. Fatores de influência no consumo infantil

Page 41: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

41

A seguir calculou-se o grau de concordância das respostas das crianças para cada

um dos fatores, sendo zero igual a discordância e um igual a concordância. Quanto

mais próxima de um for média das respostas, indica que as crianças concordam

mais com as afirmações que compuseram o fator analisado. A tabela 22 a seguir

apresenta os valores máximos, mínimos e a média das respostas para todos os

fatores.

Tabela 22. Fatores de influência no consumo infantil: Grau de Concordância

Fatores Mínimo Máximo Média

Comerciais 0,33 1,00 0,74

Amigos 0,20 0,60 0,48

Pais 0,20 0,60 0,36

Marcas 0,17 0,50 0,32

Da tabela 22 acima, o fator ―comerciais‖ teve 33% de confirmação no mínimo e

100% de confirmação no máximo, obtendo a maior média (74%) entre os fatores

analisados. Isso significa um grau de 74% de confirmação em média de que este

fator é importante na vida das crianças.

O fator ―amigos‖ teve 20% de confirmação no mínimo e 60% de confirmação no

máximo, obtendo a segunda maior média (48%) entre os fatores analisados. Isso

significa um grau de 48% de confirmação em média de que este fator é importante

influência para as crianças quando o assunto é consumo.

O fator ―pais‖ teve 20% de confirmação no mínimo e 60% de confirmação no

máximo, obtendo a terceira maior média (36%) entre os fatores analisados. Isso

significa um grau de 36% de confirmação em média de que este fator é importante

para as crianças quando o assunto é consumo, atrás, portanto, da influência dos

amigos.

O fator ―marcas‖ teve 17% de confirmação no mínimo e 50% de confirmação no

máximo, obtendo a quarta maior média (32%) entre os fatores analisados. Isso

significa um grau de 32% de confirmação em média de que este fator é o menos

importante para as crianças quando o assunto é consumo.

Page 42: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

42

A seguir foi realizada uma análise por idade, para identificar se há variação de

influência desses fatores de acordo com a faixa etária da criança (Tabela 23).

Tabela 23. Fatores de influência no consumo infantil: Grau de Concordância por idade

6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos 12 anos

Diferença

6-12 anos

Comerciais 0,54 0,76 0,69 0,74 0,75 0,75 0,73 0,19

Amigos 0,37 0,44 0,47 0,49 0,48 0,49 0,48 0,11

Pais 0,33 0,32 0,31 0,33 0,36 0,39 0,39 0,06

Marcas 0,26 0,33 0,32 0,34 0,32 0,32 0,32 0,06

Da análise dos dados da tabela 23 acima, percebe-se que não há variação

significativa no grau de concordância quanto aos fatores analisados como mudança

de faixa etária da criança. A única diferença mais significativa foi no fator

―comerciais‖ e para crianças de 6 anos em que o grau de concordância (54%) ficou

bem abaixo da faixa dos 7 anos (76%).

O Fator ―comerciais‖ foi o que apresentou a maior diferença no grau de

concordância entre crianças de 12 anos e crianças de 6 anos: 19%, seguido dos

―amigos‖ com 11% (Tabela 23). Isso significa que esses dois fatores são os que

sofrem mais diferença no grau de concordância com o passar da idade, aumentando

sua influência nos dois casos.

Page 43: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

43

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo da pesquisa foi explorar se há diferenças perceptíveis entre crianças

pertencentes a classes sócio-econômicas diferentes e de idades diferentes e sua

exposição aos apelos do marketing infantil que lhes é dirigido. Buscou-se identificar

quando surge uma mudança mais acentuada de comportamento entre as crianças

de mesma faixa econômica e entre as classes. Observou-se que quando se trata de

estratégia para conseguirem o que querem, as crianças de escola privada utilizam

de maiores táticas de persuasão e convencimento, apesar de ambas terem

apresentado resultados relevantes.

Procurou-se observar o grau de exposição das crianças às mídias e à propaganda

de uma maneira geral e avaliar seus desejos de consumo, além de avaliar as se há

diferenças de desejos de consumo entre crianças com idades e classes sócio-

econômicas diferentes.

Notou-se que apesar de a TV ser a fonte de informação mais útil apontada pelas

crianças, seguida do shopping e da internet, elas aparentam ter bom discernimento

sobre o que é verdadeiro ou falso sobre propagandas, mesmo com todo o apelo das

mídias. O que confirma isso é o fato de as crianças apontarem os pais sobre que

mais confiam para ajudar a escolher algum produto. Além disso, foi observado que o

ceticismo quanto aos anúncios de TV cresce de acordo com a idade. Ficou

constatado que há maior controle sobre as mídias pelos pais nas classes sociais

mais altas.

Grande parte das crianças possui seu próprio dinheiro para fazer suas compras,

originado das mesadas, o que lhes dá maior liberdade e autonomia, logo, ficam mais

independentes dos pais e vulneráveis aos apelos do marketing. A grande maioria

leva em consideração o preço e marca na hora de escolher entre os produtos.

Observou-se que 29,1% afirmam tomar decisões de compra para a família toda.

Além disso, 64,4% das crianças entrevistadas gostam de ir fazer compras com os

pais e que esse número decresce de acordo com o aumento da idade, ou seja, na

mais tenra idade as crianças gostam mais de ajudar na tomada de decisão familiar.

Page 44: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

44

Logo, observou-se também que à medida que a criança cresce, ela tende a tomar

menos decisões de compra para toda a família.

Para a maioria das crianças, o senso de pertencer não é tão importante, mas para

as crianças de escola pública a necessidade de mostrar seu poder econômico

através da compra de produtos de marca é nítida.

Com os dados obtidos, podemos perceber o quanto as crianças estão sendo

afetadas pelos apelos de marketing e tentar educar as empresas no sentido de

trabalhar o marketing infantil de forma a não causar impactos tão negativos em torno

da infância e do consumidor infantil.

Como sugestão de pesquisas futuras, é interessante entrevistar também os pais das

crianças e as empresas que trabalham com o marketing infantil, como forma de

melhor entender o assunto abordado.

Page 45: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

45

6 REFERÊNCIAS

KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. 2º edição. São Paulo: Atlas,

2004.

LIMEIRA, Tânia Maria Vidigal. Comportamento do consumidor brasileiro. São Paulo:

Saraiva, 2008.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia

Científica. São Paulo: Atlas, 2003. 5ª edição.

MOWEN, John C., MINOR, Michael S. Comportamento do consumidor. 1º edição.

Tradução Vera Jordan. Ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003.

ROBBINS, Stephen P. Fundamentos do Comportamento Organizacional. Tradução

técnica Reynaldo Marcondes. 7º edição. São Paulo: Prentice Hall, 2004. Capítulo 4:

Conceitos básicos de motivação p.45 a 58.

SOUSA JUNIOR, Wilson Rodrigues de. A criança e o consumo na escola.

Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, 2009.

FARIAS, Ana Maria de; NEUFELD, Edgar; SANTOS, Francinete Braga; SALES,

Joelma; VARGAS, Julio Cesar; SILVA, Maria Irene Pereira da. Teorias da

aprendizagem: Humanista de Carl Rogers. Disponível em

<http://www.novoacesso.com.br/trabalhos_paraguai/Trabalho_Rogers.doc> Acesso

em 16/12/2009

VELOZO, Janayna. Influência do design de embalagens no consumo do lanche

infantil de fast-foods: uma análise comparativa entre MC Donald’s, Habib’s e Bob’s.

Revista Brasileira de Design da Informação. 2008. Disponível em

http://issuu.com/janaynavelozo/docs/influ_ncia_do_design_de_embalagens_no_cons

umo_do_l Acesso em 08/12/2009

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração.

São Paulo: Atlas, 2004.

Page 46: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

46

Chan, K. Store visits and information sources among urban chinese children. Journal

of Consumer Marketing; Volume 22, Edição 4, 2005, p178-188.

Chan, K.; Mcneal, J. U. Children and media in China: an urban-rural comparison

study. Journal of Consumer Marketing; Vol. 23, Ed. 2, 2006, p. 77.

Cook. D. T. The disempowering empowerment of children’s consumer ―choice‖:

cultural discourses of the child consumer in north america. Society and Business

Review; Vol. 2, Ed. 1, 2007, p37-52.

Dotson, M. J.; Hyatt, E. M. Major influence factors in children’s consumer

socialization. Journal of Consumer Marketing; Vol. 22, Ed. 1, 2005, p. 35.

Lindstrom, M. Branding is no longer child’s play! Journal of Consumer Marketing; Vol.

21, No 3, 2004, p.175-182.

Martens, L. Learning to consume—consuming to learn children at the interface

between consumption and education. Sociology of Education; 2005, Vol. 26, Ed. 3, p.

343.

Mayer, R. N.; Belk, R. Acquisition of consumption stereotypes by children. The

Journal of Consumer Affairs, Vol. 16, Ed. 2, 1982 p 307-321.

Mcneal, J. U.; Yeh, C. H. Consumer behavior of chinese children: 1995-2002.

Journal of Consumer Marketing; Vol. 20, Ed. 6, 2003, p542-554.

Olmos, Ana. Consumismo infantil está virando um caso de saúde pública. Jornal A

Gazeta, caderno Cidades, de 17/09/2006.

Özgen, Ö. An analysis of child consumers in Turkey. International Journal of

Consumer Studies, Vol. 27, Ed. 5, 2003, p366–380.

Panwar, J. S.; Vidyanagar, V.; Agnihotri, M. Advertising message processing

amongst urban children: An Indian experience — with special reference to TV

advertising. Asia Pacific Journal of Marketing and Logistics; Vol. 18, Ed. 4, 2006,

p303-327.

Page 47: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

47

Roper, S.; Shah, B. Vulnerable consumers: the social impact of branding on children.

Equal Opportunities International; Vol. 26, Ed. 7, 2007, p712-728.

Shoham, A.; Dalakas, V. How our adolescent children influence us as parents to

yield to their purchase requests. Journal of Consumer Marketing; Vol. 23, Ed. 6,

2006, p. 344.

Sidin, S.; Rahman, M. K. A.; Rashid, Z. A.; Othman, N.; Bakar, A. Z. A. Effects of

social variables on urban children’s consumption attitude and behavior intentions.

Journal of Consumer Marketing; Vol. 25, Ed. 1, 2008, p7-15.

Stampfl, R. W.; Moschis, G.; Lawton, J. T. Consumer Education and the Preschool

Child. Journal of Consumer Affairs, Vol. 12, Ed. 1, Page 12.

Tinson, J.; Nancarrow, C .―GROw‖ing up: tweenagers’ involvement in family decision

making. Journal of Consumer Marketing; Vol. 24, Ed. 3, 2007, p160-170.

Ville, V. I. De L. The consequences and contradictions of child and teen consumption

in contemporary practice. Society and Business Review; Vol. 2, Ed. 1, 2007, p7-14.

Filmes:

Criança, a alma do negócio. Direção: Estela Renner. 2008. Disponível em <

http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40> Acesso em:

20/10/2009

How the kids took over. Direcao: Ann-Marie Redmond. Producao: Nathalie Bibeau.

2006. Disponível em

<http://video.google.com/videoplay?docid=1794254998551978342&ei=o7xtSu7PBK

XeqAKE9PiXCw&q=how+kids+took+overPara>. Acesso em: 20/07/2009

The persuaders. Douglas Rushkoff. 2004. Disponível em

<www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/persuaders/>. Acesso em: 20/07/2009

Page 48: Comportamento do consumidor: o nascimento do consumidor infantil

48

The Merchants of cool. Produtores: Rachel Dretzin and Barak Goodman. 2001.

Disponível em <http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/cool/>. Acesso em:

20/07/2009

The corporation: The nag factor. Direção: Mark Achbar e Jennifer Abbott. Produção:

Mark Achbar e Jennifer Abbott. Big Picture Media Corporation, 2003. DVD.