Comportamento Exploratório de Ratos no Labirinto em Cruz...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto Departamento de Psicologia e Educação Programa de Pós-graduação em Psicobiologia Comportamento Exploratório de Ratos no Labirinto em Cruz Elevado, Ingestão de Açúcar e Manuseio Diogo Antonio Blóes Chagas Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP para a obtenção do título de Doutor em Ciências, Área de Psicobiologia. Ribeirão Preto – SP 2007

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto

Departamento de Psicologia e Educação Programa de Pós-graduação em Psicobiologia

Comportamento Exploratório de Ratos no Labirinto em Cruz Elevado, Ingestão de Açúcar e Manuseio

Diogo Antonio Blóes Chagas

Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP para a obtenção do título de Doutor em Ciências, Área de Psicobiologia.

Ribeirão Preto – SP 2007

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FICHA CATALOGRÁFICA

Blóes Chagas, Diogo Antonio Comportamento exploratório de ratos no labirinto em cruz elevado,

ingestão de açúcar e manuseio. – Ribeirão Preto, 2007. 108 pp ; il.; 30 cm.

Tese de Doutorado, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP – Área de concentração: Psicobiologia.

Orientador: Morato, Silvio.

1. Ingestão de açúcar. 2. Manuseio experimental. 3. Comportamento exploratório. 4. Ansiedade. 5. Labirinto em cruz elevado. 6. Campo aberto. 7. Ratos.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto Departamento de Psicologia e Educação

Programa de Pós-graduação em Psicobiologia

Comportamento Exploratório de Ratos no Labirinto em Cruz Elevado, Ingestão de Açúcar e Manuseio

Diogo Antonio Blóes Chagas

Orientador: Prof. Dr. Silvio Morato

Ribeirão Preto – SP 2007

Agradecimentos À minha mãe, Márcia, que foi e continuará sendo a pessoa mais importante da minha vida, me apoiando desde o início. Sem você com certeza teria sido muito difícil! Não há maneiras de transformar em palavras o que sinto por você e o quanto sou grato por tudo que me fez! Te amo! Aos meus irmãos Pedro e Patrícia por sempre estarem ao meu lado incondicionalmente. Vocês são muito importante! Penso em vocês todos os dias! À minha avó, Henriqueta, que lutou muito na vida para poder educar seus filhos e netos. Sua força e persistência é um modelo para todos! Ao professor Dr. Silvio Morato, pela amizade, orientação, formação e apoio dispensados durante a realização deste trabalho. Também o agradeço por me incentivar a trabalhar paralelamente ao doutoramento. Poucos professores deste programa teriam feito dessa forma.Obrigado por ser tolerante para com meus atrasos frente aos prazos do programa! Ao amigo e professor Dr. Ari Bassi do Nascimento, pelas sugestões sobre o trabalho e pelas conversas nos bares. Você teve e continua tendo grande participação na minha formação profissional! Aos colegas Paulinho, Milena, Célio, Ana, Javier pelo companheirismo. Aos amigos de Poços de Caldas: Regiane, Gustavo (purga) e Francine (M..!). Gosto muito de vocês! À Reni e família, por terem me acolhido maravilhosamente em Poços. Obrigado por ter me tratado como um de seus filhos! Não é a toa que a chamo de mãe 2. Aos professores do programa de Psicobiologia que colaboraram de maneira direta ou indireta na produção deste trabalho. Aos colegas da Psicobiologia. Ao CNPq pelo apoio financeiro durante o primeiro ano, sem o qual a realização deste trabalho não seria possível.

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Índice Agradecimentos ................................................................................................... i Resumo ................................................................................................................ 1 Abstract ................................................................................................................ 2 Introdução ............................................................................................................ 3 Ingestão de substâncias doces e ansiedade ..................................................................... 3 Ingestão de substâncias doces e outros comportamentos apetitivos ............................... 5 Comportamento exploratório e ansiedade ou medo .......................................................... 7 Manuseio e o comportamento de ratos ........................................................................... 12 Problemas e objetivos ..................................................................................................... 13 Experimento I ..................................................................................................... 16 Método ............................................................................................................................. 18 Sujeitos .................................................................................................................... 18 Equipamento ............................................................................................................ 18 Procedimento ........................................................................................................... 19 Medida da ingestão de açúcar ......................................................................... 19 Teste no labirinto em cruz elevado .................................................................. 20 Medida da ingestão de açúcar como uma função do peso dos animais ......... 20 Análise estatística .................................................................................................... 20 Resultados ....................................................................................................................... 21 Discussão ........................................................................................................................ 29 Experimento II .................................................................................................... 38 Método ............................................................................................................................. 40 Sujeitos .................................................................................................................... 40 Equipamento ............................................................................................................ 40 Procedimento ........................................................................................................... 41 Medida de ingestão .......................................................................................... 41 Labirinto em cruz elevado ................................................................................ 41 Análise estatística .................................................................................................... 42 Resultados ....................................................................................................................... 42 Discussão ........................................................................................................................ 45 Experimento III ................................................................................................... 51 Método ............................................................................................................................. 53 Sujeitos .................................................................................................................... 53 Equipamento ............................................................................................................ 53 Procedimento ........................................................................................................... 54 Campo aberto .................................................................................................. 54 Labirinto em cruz elevado ................................................................................ 55 Ingestão de açúcar ........................................................................................... 55 Análise estatística .................................................................................................... 55 Resultados ....................................................................................................................... 56 Discussão ........................................................................................................................ 64 Experimento IV .................................................................................................. 69 Método ............................................................................................................................. 70 Sujeitos .................................................................................................................... 70 Equipamento ............................................................................................................ 71

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Procedimento .......................................................................................................... 71 Sessões de consumo ...................................................................................... 71 Labirinto em cruz elevado ............................................................................... 71 Drogas.............................................................................................................. 71 Análise estatística ................................................................................................... 72 Resultados ...................................................................................................................... 72 Discussão ........................................................................................................................ 76 Discussão Geral ............................................................................................... 81 Preferência por substâncias de gosto doce ............................................................ 81 Ingestão de substâncias palatáveis e modelos de ansiedade ................................ 83 Considerações finais ............................................................................................... 88 Referências Bibliográficas ............................................................................... 91

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RESUMO Vários estudos mostraram que existem diferenças individuais no consumo de substâncias doces, um fenômeno observado em roedores e humanos. Além disso, alguns trabalhos mostraram que essa variabilidade individual no consumo das substâncias doces prediz diferenças individuais em outros comportamentos. Dessa forma, o presente trabalho teve o objetivo de verificar se existe uma relação entre ingestão de substâncias doces e comportamentos relacionados à ansiedade ou à atividade locomotora em ratos. Para isso, quatro experimentos foram realizados. No Experimento I, ratos tiveram acesso a açúcar granulado ou ração moída durante uma hora por oito dias consecutivos. Ratos bons e maus consumidores de açúcar foram classificados com base na média de ingestão de açúcar e, posteriormente, foram testados no labirinto em cruz elevado. Os ratos que ingeriram maiores quantidades de açúcar apresentaram maiores freqüências de comportamentos relacionados à ansiedade ou à atividade locomotora. Esse efeito pode ser função da ingestão de açúcar ou do manuseio durante o período de ingestão. Baseado nisso, o objetivo do Experimento II foi o de verificar se o procedimento de manuseio e a ingestão de açúcar tinham efeitos independentes sobre as medidas comportamentais registradas no labirinto em cruz elevado. Para isso, ratos foram submetidos a diferentes períodos de manuseio (0, 1, 5 e 10 min) durante um período de 14 dias. Esse manuseio consistiu em alisar o pelo do dorso do rato com o dedo. Metade desses ratos teve acesso a açúcar e ração logo após o manuseio, enquanto a outra metade não. Um outro grupo de animais apenas permaneceu no biotério durante esse período. Os resultados mostraram que à medida que aumentou o tempo de manuseio diminuiu a quantidade de açúcar ingerida, sem alteração da quantidade de ração ingerida. Os registros comportamentais no labirinto foram inconsistentes, pois o procedimento de manuseio e a ingestão de açúcar afetaram tanto as medidas relacionadas à ansiedade como a atividade locomotora no labirinto. Pode ser que o procedimento de manusear os animais por 14 dias os tenha tornado menos ansiosos no labirinto. Em função disso, o objetivo do Experimento III foi o de minimizar o efeito do manuseio da fase de ingestão e verificar se existe correlação entre ingestão de açúcar e comportamentos relacionados à ansiedade ou à atividade locomotora. Para isso, utilizaram-se dois modelos animais, o campo aberto e o labirinto em cruz elevado. Somente após realizados os testes no campo aberto e no labirinto, realizou-se o procedimento de sete dias de ingestão. Os animais que ingeriram maiores quantidades de açúcar comportaram-se como menos ansiosos no campo aberto e locomoveram-se mais no labirinto. Isso mostrou que essas correlações são independes do fator manuseio. Baseado nisso, o objetivo do Experimento IV foi o de verificar se esses efeitos deveram-se à percepção do gosto doce ou ao aumento de açúcar no sangue. Para isso os animais foram distribuídos em quatro grupos: ratos que tiveram acesso a açúcar e ração por uma hora diária durante sete dias, ratos que tiveram acesso a açúcar e ração por somente uma hora, ratos que receberam uma única injeção de glicose (1 M, 1 ml/kg, i.p.) 30 minutos antes do teste no labirinto, e ratos que apenas permaneceram no biotério por sete dias. Após as sessões de ingestão dos respectivos grupos, os ratos foram imediatamente testados no labirinto. Tanto os ratos do grupo que tiveram acesso ao açúcar por sete dias como os do grupo que recebeu injeção de glicose comportaram-se como menos ansiosos e mais ativos no labirinto. Concluiu-se que ingerir açúcar torna os ratos menos ansiosos, mas os procedimentos não permitiram deslindar quais os mecanismo subjacentes a esse efeito. Palavras-chave: Ingestão de açúcar; manuseio experimental; comportamento exploratório; ansiedade; labirinto em cruz elevado; campo aberto; ratos.

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ABSTRACT Several studies have demonstrated the existence of individual differences in the consumption of sweet substances, a phenomenon observed in rodents and humans. Besides, some reports have shown this individual variability in the consumption of sweet substances to predict individual differences in other behaviors. Thus, the present work aimed at investigating whether there is a relationship between the ingestion of sweet substances and behaviors related to anxiety or locomotor activity in rats. For this, four experiments were carried out. In Experiment I, rats had access to commercial sugar or ground rat chow during one hour for eight consecutive days. Good and bad sugar consumer rats, thus classified on the basis of the average sugar ingestion, were later tested in the elevated plus-maze. Rats that ingested larger amounts of sugar exhibited larger frequencies of behaviors related to anxiety and locomotor activity. Such an effect could have been due to sugar ingestion or to the handling during the consumption period. Based on this, the aim of Experiment II was to investigate whether handling procedure and sugar ingestion had independent effects on behavioral measures recorded in the elevated plus-maze. For this, rats were submitted to different handling periods (0, 1, 5 and 10 min) for a period of 14 days. Handling consisted of combing a rat’s back fur with the finger. Half of the subjects had access to sugar and chow immediately after handling while the other half did not. Another group of rats just remained in the animal room during this period. Results showed that the longer the handling, less sugar was ingested without alterations in chow consumption. Behavioral records in the plus-maze were inconsistent, since both handling and sugar ingestion affected both anxiety- and locomotion-related measures. It could be the case that handling the animals for 14 days has rendered them less anxious inn the plus-maze. Because of this, the objective of Experiment III was to attempt at minimizing the effect of handling during the consumption period and investigate whether there is a correlation between sugar ingestion and anxiety- and locomotor-related behaviors. Two animal models were used: the open-field and the elevated plus-maze. The rats were tested in the open-field and, 24 h later, in the elevated plus-maze. Only after both tests were the animals submitted to the 7-day consumption period. Rats that ingested larger amounts of sugar behaved as less anxious and perambulated more in the plus-maze. This showed that these correlations are independent of handling. Based on this, Experiment IV aimed at investigating whether these effects were due to the perception of sweet taste or to the increase in blood sugar. For this, the animals were divided into four groups: rats that had daily 1-h periods of access to sugar and chow for seven days, rats that had access only to a 1-h session with sugar and chow available, rats that received a single i.p. glucose injection (1 M, 1 ml/kg) 30 min before being tested in the plus-maze, and rats that just remained in the animal room for seven days. All animals were tested in the elevated plus-maze after the consumption session(s) or injection. Both the rats that had access to sugar for seven days and the ones that were injected with glucose behaved in a less anxious manner and were more active in the plus-maze. It was concluded that the more sugar the rats ingested the less anxious they behaved and the move they moved about the plus-maze but the procedures did not allow uncovering the mechanisms underlying this effect. Keywords: Sugar ingestion; experimental handling; exploratory behavior; anxiety; elevated plus-maze; open-field; rats.

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INTRODUÇÃO

Ingestão de substâncias doces e ansiedade

Um dos primeiros efeitos documentados das drogas ansiolíticas, tais como os

benzodiazepínicos, foi sua habilidade para aumentar a ingestão de comida e de água em

ratos e cães. Randall et al., (1960) observaram que a administração aguda de

clordiazepóxido aumentou a quantidade de comida ingerida por ratos. Os mesmos autores

também examinaram o efeito da administração crônica dessa droga sobre o comportamento

de ingestão em cachorros. Eles mostraram que a quantidade de comida ingerida dobrou

quando a droga foi administrada por um período de cinco dias. Com base nessa observação,

os autores concluíram que a droga estimula o apetite nesses animais.

Além de se observar que as drogas benzodiazepínicas aumentavam a quantidade de

comida ingerida por ratos saciados em uma condição de livre acesso á comida (Poschel,

1971), alguns trabalhos também mostraram que essas drogas também aumentavam a

ingestão de comida na presença de condições com caráter aversivo. O clordiazepóxido

aumentou a freqüência do comportamento de pressão à barra, contingente ao recebimento

de comida e choque, e a ingestão suprimida por aversão condicionada ao gosto (Margules e

Stein, 1967). Esses mesmos autores também observaram que o oxazepam aumentou a

freqüência do comportamento de pressão à barra suprimido por um procedimento de

extinção além de também aumentar a ingestão suprimida por gosto amargo.

Esse efeito facilitador da ingestão de comida e de líquidos foi observado em

animais saciados e privados (Cole, 1983), com comida familiar (Xenakis e Sclafani, 1981)

e não familiar (Shepard e Estall, 1984), em ambiente familiar (Soubrié et al., 1975) ou

novo (Shepard e Estall, 1984), e em grande variedade de espécies, tais como o rato

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(Cooper e Francis, 1979a e b), gato (Della-Fera et al., 1980), cavalos (Brown et al., 1976),

macaco Rhesus (Foltin e Schuster, 1983) e humanos (Ayd, 1962).

Digno de nota é o fato de alguns trabalhos mostrarem que as drogas

benzodiazepínicas parecem ter o efeito de aumentar a quantidade ingerida de comida

palatável em uma condição em que há escolha. Animais que receberam drogas

benzodiazepínicas aumentaram significativamente o consumo de comida ou de líquidos

palatáveis (comida doce ou água com sacarina) comparado ao consumo de ração de

laboratório ou de água (Cooper, 1987; Cooper e McClelland, 1980; Cooper e Yerbury,

1988; Parker, 1991). Esse mesmo efeito de aumentar a ingestão de substâncias palatáveis

em ratos também foi observado em estudos nos quais uma fístula gástrica permitia a

retirada do que era ingerido, anulando assim a modulação da ingestão por eventos pós-

ingestivos (Cooper e Yerbury, 1988). Bainbridge (1968) mostrou que fêmeas de rato que

receberam clordiazepóxido aumentaram a freqüência da resposta de pressão à barra

mantida pela apresentação de leite condensado adocicado. Esses resultados sugerem que as

drogas benzodiazepínicas afetam a percepção do gosto palatável. Poschel (1971) relatou

que diazepam, nitrazepam, oxizapem e medazepam aumentaram o consumo de leite

condensado adocicado somente na primeira exposição dos ratos a essa comida. Dessa

forma, ele sugeriu que esse aumento na ingestão seja função de um efeito da droga sobre a

resposta neofóbica inicial ao leite adocicado.

Esse aumento na ingestão induzida por drogas benzodiazepínicas ainda não é bem

compreendido. Uma sugestão encontrada na literatura é que o aumento na ingestão resulta

de uma influência emocional inibitória atenuada pela droga. Tal influência emocional

poderia estar suprimindo a ingestão ou comportamento relacionado à ingestão (Margules e

Stein, 1967), uma hipótese baseada na redução no estado de ansiedade. Uma segunda

interpretação encontrada na literatura é que as drogas benzodiazepínicas têm uma ação

direta sobre algum mecanismo específico de ingestão, isto é, pode inibir a ação de algum

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mecanismo de saciedade ou estimular algum mecanismo de fome (Margules e Stein, 1967).

Diferente da hipótese anterior, esta não considera relevante o estado de ansiedade.

Margules e Stein (1967) sugeriram que ambas as hipóteses devem ser consideradas.

Quando a ingestão é emocionalmente suprimida, os benzodiazepínicos agiriam sobre o

mecanismo emocional; quando suprimida apenas por fatores de saciedade, agiriam sobre o

mecanismo de saciedade.

Ingestão de substâncias doces e outros comportamentos apetitivos

Ha na literatura, além de trabalhos mostrando que as drogas benzodiazepínicas

aumentam o consumo de comida e induzem preferência por comida palatável, outros

mostrando ainda que os ratos exibem considerável variabilidade em sua propensão a

ingerir uma substância doce (De Cabo et al., 1995; Sills e Crawley, 1996; DeSouza et al.,

1998). Adicionalmente, essa variabilidade individual na ingestão de substância doce pode

predizer diferenças individuais em resposta a aspectos apetitivos, tais como exploração,

aproximação e reforço (DeSouza et al., 1998). Por exemplo, ingestão elevada de sacarina

correlaciona-se com ingestão elevada de etanol (Kampov-Polevoy et al., 1990; Gosnell e

Krahn, 1992; Overstreet et al., 1993) e ratos seletivamente criados como bons ou maus

consumidores de etanol consumiram, respectivamente, quantidades elevadas ou baixas de

sacarina (Sinclair et al., 1992). Gosnell et al., (1995) mostraram que ratos com alta

preferência por sacarina auto-administraram mais morfina que ratos com baixa preferência.

Além disso, ratos que ingeriram quantidades elevadas de sacarose auto-administraram

psicoestimulantes intravenosamente mais prontamente que ratos que ingeriram baixas

quantidades de sacarose (DeSouza et al., 2000).

Paralelamente às observações de que os ratos apresentam diferenças individuais no

consumo de substâncias doces, observou-se ainda que os ratos exibem padrões diferentes

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de atividade locomotora em ambientes novos. Alguns ratos apresentam altas taxas de

atividade locomotora enquanto outros apresentaram baixas taxas da mesma (Piazza et al.,

1989). Interessante é o fato de que alguns pesquisadores mostraram que a taxa de atividade

locomotora induzida por ambientes novos pode predizer a resposta a drogas de abuso

(Piazza et al., 1989), como se observou nas diferenças individuais de consumo de

substâncias doces e nas respostas a essas drogas.

Assim, animais que apresentaram altas taxas de atividade locomotora em ambientes

novos auto-administraram anfetamina mais rapidamente e foram mais sensíveis aos efeitos

estimulantes da anfetamina sobre a atividade locomotora do que os animais que

apresentaram baixas taxas de atividade locomotora em ambientes novos. A atividade

locomotora induzida por um ambiente novo também permitiu prever: (1) a atividade

locomotora induzida por cocaína e cafeína (Hooks et al., 1992), (2) atividade locomotora e

auto-administração induzida por etanol (Gingras e Cools, 1995), e (3) hiperatividade

locomotora ao estímulo contextual condicionado em resposta aos efeitos da anfetamina

(Jodogne et al., 1994).

Estudos de microdiálise in vivo contribuíram para ressaltar ainda mais as

semelhanças entre ratos com altas taxas de atividade locomotora em ambiente novo e ratos

que consomem quantidades elevadas de açúcar. Ratos que apresentaram os níveis mais

altos de atividade locomotora induzida por anfetamina, assim como ratos que consumiram

quantidades elevadas de açúcar, mostraram atividade dopaminérgica elevada no núcleo

acumbente, quando comparados, respectivamente, a ratos com níveis mais baixos de

atividade locomotora induzido por anfetamina (Piazza et al., 1990; Hooks et at., 1992) e a

ratos que consumiram quantidades baixas de açúcar (Sills e Vaccarino, 1991; Sills et

al.,1993).

Esses dados sugerem que, quando selecionamos ratos que consomem quantidades

elevadas de açúcar livremente disponível, também estamos selecionando ratos que

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apresentam atividade locomotora elevada em ambientes novos. Além disso, Sills e

Vaccarino (1994) relataram que níveis elevados de ingestão de açúcar predizem atividade

locomotora elevada em resposta à administração de anfetamina. Os mesmo autores

também sugeriram que os mecanismos que regulam a ingestão de açúcar e atividade

locomotora induzida por anfetamina se sobrepõem.

É interessante notar que alguns trabalhos mostram que essa variabilidade

locomotora em resposta a ambientes novos pode servir para prever comportamentos de

ratos em modelos animais de exploração livre. Quando comparados a ratos com baixa taxa

de atividade locomotora em ambientes novos, ratos com alta taxa de atividade locomotora

em ambientes novos apresentam menor freqüência de comportamentos relacionados à

ansiedade em testes tais como a caixa claro-escuro e o labirinto em cruz elevado (Kabbaj et

al., 2000). Um fato interessante é que os ratos com alta taxa de atividade locomotora em

ambientes novos mostraram os mais altos níveis de corticosterona na corrente sangüínea,

quando comparado a ratos com baixa taxa de atividade locomotora em ambientes novos

(Piazza et al., 1991; Dellu et al., 1996; Kabbj et al., 2000). Adicionalmente, DeSouza et al.,

(1998) relataram que ratos bons consumidores de sacarose mostraram resposta de

sobressalto a um estímulo acústico de magnitude menor, em comparação com ratos maus

consumidores de sacarose. Os mesmos autores também relataram que os ratos que

preferiram sacarose apresentaram menor freqüência de comportamentos relacionados à

ansiedade no labirinto em cruz elevado quando comparados a ratos que não demonstraram

preferência por sacarose.

Comportamento exploratório e ansiedade ou medo

O comportamento exploratório é estudado em ratos selvagens e de laboratório.

Entretanto, Halliday (1966) relatou que situações que induzem movimentos exploratórios

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também induzem comportamentos tais como defecação e congelamento (freezing). Dessa

maneira, sugeriu que, ao menos em ratos, a resposta à novidade pode ser interpretado em

termos de duas tendências opostas: exploração e medo. Como estados de medo não são

acessíveis ao experimentador, utilizar registros de comportamentos relacionados à

fisiologia ajudam a inferir sobre esse estado. Ratos selvagens nem sempre respondem a um

estímulo novo aproximando-se, apesar de apresentarem comportamento exploratório.

Nessa situação, é mais provável observá-los imóveis (freezing) ou simplesmente parados

por um período de tempo quando colocados frente a algo estranho (Bindra e Spinner,

1958). Esses comportamentos também podem ser observados em ratos de laboratório

quando arranjadas as devidas condições. Essas respostas à novidade são comumente

chamadas de medo (Barnett, 1975). Vários autores já discutiram os aspectos aversivos de

objetos ou ambientes não familiares sobre o comportamento de ratos (Halliday, 1966;

Berlyne, 1950). A esquiva de objetos ou ambientes estranhos e também de animais

estranhos de espécie igual ou diferente é comum no reino animal. Esse comportamento de

esquiva é aprendido na vida precoce de muitas espécies de aves e mamíferos durante o

período em que há investimento parental (Barnett, 1975). A combinação dos

comportamentos de explorar e de esquivar-se é provavelmente o resultado de pressões

seletivas que maximizaram a maneira desses animais interagirem com os recursos e

perigos de seu ambiente (Barnett, 1975).

Um dos modelos mais utilizados no estudo da ansiedade, o labirinto em cruz

elevado, foi desenvolvido na década de 50 a partir de trabalhos sobre comportamento

exploratório. Em um estudo clássico, Montgomery (1951), que já havia demonstrado

que, devido à habituação, o comportamento exploratório do rato diminui com o tempo

de exposição ao aparelho, estudou de que maneira ratos exploram um labirinto em

forma de Y com dois braços abertos e um fechado, com paredes baixas e elevado do

chão (Montgomery, 1955). Nessa ocasião, ele propôs que a estimulação oriunda da

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novidade promove tanto o comportamento de medo como o de exploração, gerando um

conflito do tipo aproximação-esquiva. Considerou que tanto os braços abertos como os

fechados evocam o comportamento exploratório, mas que os primeiros evocam também

o medo com maior intensidade do que os últimos, resultando numa maior exploração

dos braços fechados pelo animal quando colocado nesse tipo de labirinto. Relatou ainda,

que a força do medo evocado pela situação nova diminuia com o tempo de exposição

direta à estimulação e que, depois de um período sem exposição, a re-exposição ao

mesmo estímulo resulta em recuperação espontânea do medo.

A partir desses resultados, Morrison e Stephenson (1970) sugeriram que o número

de entradas e o tempo de permanência do rato no braço aberto do labirinto em Y

elevado poderiam ser aumentados com drogas que diminuíssem a ansiedade. Handley e

Mithani (1984) utilizaram pela primeira vez um labirinto em cruz elevado, constituído

de dois braços fechados por paredes baixas (10 cm), cruzados por dois braços abertos.

Nele elas observaram que os ratos apresentavam uma preferência pela exploração dos

braços fechados e que drogas ansiolíticas aumentavam o número de entradas nos braços

abertos enquanto as ansiogênicas o diminuíam. Em 1985, Pellow e colaboradores

validaram o labirinto em cruz elevado como modelo de ansiedade dos pontos de vista

farmacológico, fisiológico e comportamental., Seu aparato era constituído por dois

braços abertos e dois fechados com paredes altas (desta vez com os clássicos 40 cm de

altura) e sua funcionalidade como modelo animal de ansiedade baseava-se na atividade

exploratória e na já descrita aversão natural dos ratos pelos braços abertos. Esta aversão

aos braços abertos parece ser desencadeada pelo espaço aberto dos braços sem paredes e

parece estar ligada a uma tendência ao tigmotatismo e não desencadeada pela altura

(Treit et al., 1993).

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Neste modelo, os indicadores de ansiedade são calculados a partir do número de

entradas e do tempo gasto nos braços abertos do labirinto, correlacionando-se

negativamente com a ansiedade. Esses indicadores são freqüentemente aumentados

pelas drogas ansiolíticas clássicas e diminuídos pelas drogas ansiogênicas (Handley e

Mithani, 1984; Pellow et al., 1985; Pellow e File, 1986; Guimarães et al., 1990; Cruz et

al., 1994). Pellow et al., (1985) mostraram que a freqüência de entradas, mas

principalmente a porcentagem de entradas, nos braços abertos do labirinto são boa

medida de ansiedade enquanto o número total de entradas relaciona-se com as

tendências exploratórias e locomotoras do animal., Recentemente, alguns estudos

mostraram que a atividade motora geral estaria mais relacionada com o número de

entradas nos braços fechados do labirinto em cruz elevado (File, 1992; Cruz et al.,

1994) mas o tempo gasto nesses braços não reflete a atividade geral sendo, ao invés, um

indicador de ansiedade da mesma forma que as medidas nos braços abertos (File, 1992;

Cruz et al., 1994).

Alguns trabalhos têm mostrado que a suscetibilidade dos ratos para explorar os

braços abertos do labirinto é influenciada por muitos fatores. Morato e Castrechini

(1989) mostraram que quanto maior o nível de luminosidade ambiental, menor a

exploração dos braços abertos. Maisonnette et al., (1993) mostraram que o alojamento

individual torna os ratos mais sensíveis à aversividade dos braços abertos, reduzindo sua

exploração. Da mesma forma, o número de animais alojados por caixa (Botelho et al.,

2007), as condições de alojamento e transporte (Morato e Brandão, 1996, 1997), a idade

dos animais testados (Frussa-Filho et al., 1991; Wright et al., 1991), a cepa (Rex et al.,

1996) e o sexo dos mesmos (Steenbergen et al., 1990) também modificaram a

exploração dos braços abertos.

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Em 1987, Lister, usando camundongos suíços NIH, demonstrou a generalidade de

espécies que o modelo é capaz de abranger. Empregando uma versão do labirinto em

escala proporcional ao tamanho dos camundongos e a mesma duração de sessão, ele

encontrou resultados comportamentais e farmacológicos comparáveis aos de ratos e

concluiu que essa versão modificada do labirinto em cruz elevado para camundongos

também era um teste útil para o estudo de compostos ansiolíticos e ansiogênicos.

Embora o efeito ansiolítico obtido com drogas que agem no complexo receptor

GABA-benzodiazepina seja consistente no labirinto em cruz elevado (Rodgers e Cole,

1994), outros tipos de droga geralmente produzem resultados mais variáveis. Resultados

inconsistentes foram obtidos com drogas serotonérgicas usando os indicadores clássicos

de ansiedade no labirinto em cruz elevado. Por exemplo, foi relataram-se efeitos

ansiolítico (Almeida et al., 1991; Critchley et al., 1992), ansiogênico (Critchley e

Handley, 1987; Pellow et al., 1987) e ausência de efeito (Critchley et al., 1992; Pellow e

File, 1986) de tratamentos com alguns agonistas 5-HT1A. Resultados inconsistentes

também foram relatados para antagonistas de receptores 5-HT2 (Pellow et al., 1987) e 5-

HT3 (File e Johnston, 1989).

Quando os animais exploram um labirinto em cruz elevado, além dos indicadores

convencionais de ansiedade, é possível observar ainda uma variedade de

comportamentos passíveis de análise mais detalhada. Lorenz (1981) salienta que a

principal característica do estudo dessa variedade de comportamentos é investigar sob

quais circunstâncias um dado animal de uma determinada espécie, idade e estado

emocional exibe um comportamento funcional sem necessidade de treinamentos

específicos. Comportamentos desse tipo foram investigados há algum tempo no

labirinto em cruz elevado. Cruz e colaboradores (1994), utilizando uma análise do

comportamento do rato neste modelo, chamada por eles de etofarmacológica,

11

demonstraram que algumas categorias comportamentais podiam se somar aos índices

tradicionais de ansiedade, já que foram alteradas da mesma maneira pela administração

de dois ansiolíticos (nitrazepam e diazepam) e de maneira oposta pela administração de

duas drogas ansiogênicas (pentilenotetrazol e FG 7142). Por exemplo, a exploração das

extremidades dos braços abertos do labirinto em cruz elevado também pode ser

considerado um bom indicador de ansiedade (Cruz et al., 1994). Neste estudo, o tempo

gasto nas extremidades foi menor em ratos tratados com pentilenotetrazol e FG 7142 e

maior nos animais tratados com midazolam e nitrazepan, em relação aos respectivos

grupos controle. Outro comportamento, o de levantar-se nos quartos traseiros (rearing),

foi relacionado à atividade motora (Cole e Rodgers, 1993), já que sua expressão foi

diminuída pelo FG 7142 e pelo pentilenotetrazol (Cruz et al., 1994) mas não foi alterada

pelos ansiolíticos benzodiazepínicos (Cole e Rodgers, 1993; Cruz et al., 1994).

Manuseio e o comportamento de ratos

Sabe-se que o manuseio de ratos, precoce ou tardio, produz alterações

comportamentais e fisiológicas (Andrews e File, 1993; Clausing et al., 1997; Fernández-

Teruel et al., 2002). Na fase neonatal, a manipulação de ratos altera a produção de

corticosteróides, aumenta a arborização dentrítica na região do hipocampo e melhora a

memória (Meaney et al., 1990), neutraliza os efeitos da desnutrição (Levitsky e Barnes,

1972) e aumenta a quantidade de receptores de glicocorticóides no hipocampo, de GABAA

em núcleos do sistema noradrenérgico ascendente e de benzodiazepinas no córtex frontal e

em alguns núcleos do complexo amigdalóide e do sistema noradrenérgico ascendente

(Anisman et al., 1998).

No rato adulto, faz com que algumas drogas ansiogênicas percam seus efeitos

(Brett e Pratt, 1990; Andrews e File, 1993; Hogg, 1996). Também se observou um

12

aumento de atividade e de comportamentos exploratórios específicos, aumento esse

normalmente associado com uma diminuição na defecação em uma variedade de testes

envolvendo diferentes graus de novidade, como o teste do campo aberto (Denenberg et al.,

1978), teste de exposição a caixas conhecidas e não conhecidas (Ferré et al., 1995), teste da

tábua de buracos (File 1978; Fernández-Teruel et al., 1992a) e labirinto em túnel

(Fernández-Teruel et al., 1991). Entretanto, quando foram usados testes mais específicos

medindo ansiedade ou medo (incondicionado ou condicionado), observou-se um aumento

na exploração dos braços abertos do labirinto em cruz elevado (Fernández-Teruel et al.,

1990; Andrews e File, 1993; McIntosh et al., 1999) e no número de visitas e tempo gasto

nos compartimentos abertos e iluminados no labirinto em túnel e na caixa claro-escuro

(Fernández-Teruel et al., 1992b). Além disso, observou-se que, imediatamente após a

exposição a um único choque, ratos manuseados mostraram menor supressão de um

comportamento apetitivo do que ratos não manuseados (Bodnoff et al., 1987). Esses efeitos

descritos acima são caracterizados como de tipo ansiolítico.

Alguns autores relataram que esse efeito do manuseio sobre comportamentos

relacionados à ansiedade ou atividade locomotora pode ser mediado pela alteração no

sistema GABA-benzodiazepina (Biggio, 1983; File et al., 1990; File et al., 1992). Essas

diferenças são similares àquelas associadas ao tratamento com benzodiazepínicos, que

reduz a supressão de um comportamento apetitivo mantido pela exposição a um ambiente

novo ou a um evento aversivo (Bodnoff et al., 1987).

Vários trabalhos relataram que o tratamento com benzodiazepínicos alterou o

comportamento de ingerir comida. Os resultados descritos acima sugerem que o manuseio

altera o comportamento exploratório de ratos e também o sistema GABA-benzodiazepina.

Dessa forma, o manuseio pode ser uma variável que afeta o comportamento de ingerir

comida ou líquidos palatáveis. Quando realizada uma busca na literatura não se encontrou

13

quaisquer trabalhos que tenham investigado o efeito do manuseio sobre o comportamento

de ingerir comida ou líquidos palatáveis.

Problemas e objetivos

O aumento do apetite e da ação sedativa do clordiazepóxido foram descritos juntos

nos primeiros relatos lidando com o 1,4-benzodiazepina (Randall et al., 1960).

Adicionalmente, esses efeitos foram demonstrados utilizando-se outros compostos

benzodiazepínicos. Entretanto, o interesse clínico e experimental dessas drogas ocorreu em

função de seus efeitos ansiolítico, sedativos e anti-punição. Apesar do pouco interesse no

efeito dessas drogas sobre a ingestão de alimentos e líquidos, alguns trabalhos começaram

a descrever a relação entre essas drogas e ingestão. Além de mostrarem que essas drogas

afetam a ingestão de alimentos, um efeito mais específico foi observado: sempre que havia

disponibilidade de dois ou mais alimentos com diferenças de palatabilidade, drogas que

agem no sistema GABA-benzodiazepina aumentaram a quantidade ingerida de substâncias

palatáveis, sobretudo quando comparada à quantidade ingerida de ração de laboratório

(Margules e Stein, 1967). A literatura apresenta duas hipóteses para a relação entre

benzodiazepínicos e ingestão de comida palatável: essas drogas podem agir sobre estados

de ansiedade ou sobre mecanismos relacionados à fome e saciedade. Ainda não há dados

suficientes que permitam sair desse impasse.

Paralela a essas observações, muitos trabalhos mostraram que os ratos variam

quanto à ingestão livre de substâncias palatáveis (De Cabo et al., 1995; DeSouza et al.,

1998). Quando se classificam ratos pelas quantidades consumidas de substâncias palatáveis,

de forma a podermos ter bons e maus consumidores, podemos predizer alguns

comportamentos como: auto administração de drogas, atividade locomotora em ambientes

novos em resposta ao tratamento com anfetamina, e atividade dopaminérgica no núcleo

acumbente. Adicionalmente, a atividade locomotora de ratos em ambientes novos também

14

foi correlacionada aos comportamentos descritos acima (Piazza et al., 1990; Hooks et at.,

1992). Esses trabalhos mostraram que se pode usar uma classe de comportamentos para

predizer outras.

É interessante o fato de que ratos que ingeriram muita comida palatável, em

detrimento de ratos que ingeriram pouca, também auto-administraram com maior

freqüência algumas drogas (Gosnell et al., 1995; DeSouza et al., 2000). Levando-se em

consideração que drogas benzodiazepínicas alteram a ingestão de substâncias palatáveis,

podemos utilizar a ingestão das mesmas para prever comportamentos relacionados à

ansiedade em modelos animais de ansiedade?

Baseado nessas colocações, torna-se pertinente verificar se ingestão de comida

palatável pode funcionar como um evento preditivo de comportamentos relacionados à

ansiedade em ratos. Pois, se os benzodiazepínicos agem de acordo com a primeira hipótese,

pode-se concluir que os ratos respondem de maneira diferente (mais ou menos ansiosos)

quando exposto em ambientes aversivos, sendo que a quantidade ingerida de comida

palatável pode ser um indicador dessa maneira de responder. O Experimento I verificou

como ratos classificados como bons ou maus consumidores de açúcar se comportam em

modelos animais de ansiedade. Sabendo que o manuseio afeta o comportamento de ratos

no labirinto em cruz elevado de maneira semelhante ao tratamento com benzodiazepínicos

(Bodnoff et al., 1987), o Experimento II verificou se o manuseio durante o procedimento

de ingestão pode afetar a ingestão ao mesmo tempo que o comportamento no labirinto em

cruz elevado. O Experimento III teve o objetivo de tentar anular os efeitos do manuseio

durante o procedimento de ingestão para verificar com mais especificidade se há

correlação entre ingestão e comportamento exploratório, em condições de exploração livre.

Finalmente, o Experimento IV teve o objetivo de verificar se ingestão prévia de açúcar

altera o comportamento de ratos no labirinto em cruz elevado.

15

Ações independentes dos benzodiazepínicos sobre a ingestão ou ansiedade têm

importantes implicações clínicas. Complicações podem surgir quando pessoas ingerem

essas drogas com finalidade ansiolítica, pois pode ocorrer aumento de ingestão com

conseqüente aumento de peso. Adicionalmente, membros da família dos benzodiazepínicos

podem ser descritos ou desenvolvidos com função relativamente específica para o

comportamento de ingestão, de forma a poder se tornar uma ferramenta valiosa no

tratamento de alguns casos de distúrbio alimentar.

Experimento I Vários estudos mostraram que existem diferenças individuais no consumo de

substâncias doces, um fenômeno notado em roedores e humanos (Brennan et al., 2001).

Assim, quando açúcar granulado está disponível, a quantidade consumida varia

amplamente entre os ratos (DeSouza et al., 1998; De Cabo et al., 1995; Sills e Crawley,

1996). Alguns trabalhos mostraram que essa variabilidade individual no consumo de

substâncias doces prediz diferenças individuais em outros comportamentos com perfil

apetitivo. Por exemplo, alta ingestão de sacarina correlaciona-se com alta ingestão de

etanol (Kampov-Polevoy et al., 1990; Gosnell e Krahn 1992; Overstreet et al., 1993) e

ratos seletivamente criados como bons ou maus consumidores de etanol consumiram,

respectivamente, altas ou baixas quantidades de sacarina (Sinclair et al., Li, 1992). Gosnell

et al. (1995) mostraram que ratos com alta preferência por sacarina auto-administram mais

morfina que ratos com baixa preferência. Além disso, ratos que ingerem quantidades

elevadas de sacarose auto-administram psicoestimulantes intravenosamente mais

prontamente que ratos que ingerem baixas quantidades de sacarose (DeSouza et al., 2000).

Paralelamente às observações de que ratos apresentam diferenças individuais no

consumo de substâncias doces, observou-se que ratos exibem padrões diferentes de

atividade locomotora em ambientes novos. Alguns ratos apresentam altas taxas de

16

atividade locomotora enquanto outros apresentam baixas taxas de atividade locomotora

(Piazza et al., 1989). Interessante é o fato de que alguns pesquisadores mostraram que a

taxa de atividade locomotora induzida por ambientes novos correlaciona-se com respostas

a drogas de abuso (Piazza et al, 1989), como observado em relação às diferenças

individuais no consumo de substâncias doces e resposta a essas mesmas drogas.

Segundo Dess e Minor (1996), por outro lado, o comportamento de ingestão está

relacionado com comportamentos afetivos tais como medo e ansiedade. Ratos

seletivamente criados para exibir um fenótipo de emocionalidade diferem quanto à

ingestão de sacarina (Gray, 1987; Overstreet et al., 1993). As linhagens que apresentaram

maior freqüência de comportamentos relacionados à ansiedade tomaram menor quantidade

de sacarina que as linhagens que apresentaram menor freqüência desses comportamentos.

DeSouza et al (1998) relataram que ratos tidos como bons consumidores de sacarose

mostraram resposta de sobressalto de magnitude menor diante de um estímulo acústico, em

comparação com ratos tidos como maus consumidores de sacarose. Os mesmos autores

também relataram que ratos que preferiram sacarose apresentaram freqüência menor de

comportamentos relacionados à ansiedade no labirinto em cruz elevado quando

comparados a ratos que não demonstraram preferência por sacarose.

Se ratos que preferem substâncias doces comportam-se como ratos que apresentam

atividade locomotora elevada em ambientes novos, pode ser que os dados relatados por

DeSouza et al (1998) não estejam relacionados somente à ansiedade. Além disso, em seu

experimento, esses autores não registraram medidas relacionadas à atividade locomotora

no labirinto em cruz elevado. Em função disso, o presente experimento teve dois objetivos.

Primeiro, fazer um procedimento semelhante ao protocolo experimental de DeSouza et al.

(1998) para verificar se ratos classificados como bons consumidores de açúcar granulado

apresentam menor freqüência de comportamentos relacionados à ansiedade no labirinto em

cruz elevado, quando comparados a ratos classificados como maus consumidores de açúcar

17

granulado. Segundo, verificar se os ratos que preferem açúcar granulado à ração de

laboratório moída apresentam atividade locomotora aumentada no labirinto em cruz

elevado em relação aos ratos que não demonstram preferencia por açúcar granulado á

ração moída de laboratório.

Método

Sujeitos.

Foram utilizados 108 ratos machos de uma derivação Wistar provenientes do

biotério central da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, pesando 200 ± 10 g. Os

sujeitos foram alojados em caixas de polipropileno (40 x 34 x 17 cm) em grupos de seis,

em um ciclo claro/escuro de 12 horas (luzes acesa as 7:00 h) e temperatura mantida entre

24 e 27° C, com livre acesso a ração comercial durante todo o experimento. Todos foram

submetidos a um período de habituação de 72 horas antes de qualquer manipulação

experimental. Quarenta sujeitos tiveram seu peso corporal medido diariamente enquanto os

demais foram pesados no início e no final do experimento.

Equipamento.

Utilizou-se um labirinto de madeira com dois braços abertos e dois fechados por

paredes laterais de 40 cm de altura. Os braços têm 50 cm de comprimento e 10 cm de

largura e estão arranjados de modo que os do mesmo tipo localizam-se em lados opostos,

unidos por um quadrado central de 10 x 10 cm. Os braços abertos são providos de bordas

de acrílico de 0,5 cm de altura. O labirinto é elevado 50 cm do chão e é iluminado por uma

lâmpada de 100 W, localizada 1,75 m acima do quadrado central. No intervalo entre as

sessões, o labirinto era limpo com uma solução de 5 % de etanol e, em seguida, seco com

uma flanela. As sessões experimentais eram gravadas com uma câmara de vídeo

18

posicionada ao lado da lâmpada e sobre o centro do labirinto. As sessões foram gravadas

em fitas VHS com um videocassete e observadas em um aparelho televisor. O

comportamento dos ratos no labirinto foi registrado em um computador com um programa

(X-Plo-Rat) desenvolvido em nosso laboratório para essa finalidade e em seguida foi

analisado observador treinado. Para avaliação do deslocamento dos animais no labirinto e

da distância percorrida no mesmo, o piso do labirinto foi dividido em quadrados de 10 cm

de lado em uma transparência de plástico colocada sobre a tela do monitor da televisão

usada para as observações.

Procedimento.

Nas sessões, o rato era gentilmente colocado no centro do labirinto com o focinho

voltado para um dos braços fechados. Cinco minutos depois encerrava-se a sessão e o

animal era retirado. Avaliaram-se as categorias comportamentais que se seguem.: (1)

entradas e tempo gasto em cada braço. Uma entrada era definida como a passagem das

quatro patas do animal de um braço para outro. (2) Entradas e tempo gasto nas

extremidades (dois últimos quadrados) dos braços abertos. (3) Distância percorrida nos

braços — estimada pelo total de cruzamento nos quadrados. (4) Tempo gasto levantando-

se, registrado sempre que o animal se colocava sobre as patas traseiras, independentemente

de apoiar-se nas paredes. (5) Tempo gasto esticando-se, registrado sempre que o animal

mantinha as patas traseiras em um lugar e esticava o tronco deslocando-se para frente com

movimentos das patas traseiras e retornando à posição original.; (6) Tempo gasto

mergulhando a cabeça, registrados sempre que a cabeça se projetava além do limite das

bordas do piso do labirinto e abaixo de seu nível, de modo que o eixo rostro-caudal da

cabeça colocava-se em uma posição quase vertical.

MEDIDA DA INGESTÃO DE AÇÚCAR. Durante esta fase utilizou-se açúcar comercial

granulado. Depois da habituação de 72 h, iniciou-se a fase da medida de ingestão de

19

açúcar. Por oito dias, em uma sessão diária de 60 min, os animais eram colocados

individualmente em uma caixa análoga àquela onde estavam alojados, com dois

comedouros de aço inoxidável contendo, respectivamente, açúcar comercial e ração moída.

Os comedouros eram pesados no início e final de cada sessão. A seguir, os animais eram

colocados de volta em suas gaiolas. Esta fase permitiu classificar os ratos conforme o

consumo de açúcar e distribuí-los em dois grupos com base na ingestão dos dois últimos

dias. No grupo de alto consumo, estavam os animais com consumo superior a um desvio

padrão acima da média de todos os ratos; no grupo de baixo consumo, estavam os animais

com consumo inferior a um desvio padrão abaixo da média de todos os ratos. Os animais

que não preencheram nenhum desses critérios foram utilizados apenas em parte da análise.

TESTE NO LABIRINTO EM CRUZ ELEVADO. Vinte e quatro horas após a última sessão de

ingestão, os animais foram testados no Labirinto em Cruz Elevado. Por ocasião do teste, os

ratos eram colocados gentilmente no quadrado central do labirinto com o focinho voltado

para um dos braços fechados e permitiu-se que explorassem livremente por cinco minutos.

Durante esses cinco minutos de sessão, foram registrados a freqüência de entradas em cada

tipo de braço, o tempo de permanência nos braços abertos, a distância percorrida nos dois

tipos de braços (estimada a partir do número de quadrados atravessados), as entradas e

tempo de permanência nas extremidades dos braços abertos, o tempo gasto nos

comportamentos de esticar-se, mergulhar a cabeça e levantar-se.

MEDIDA DA INGESTÃO DE AÇÚCAR COMO UMA FUNÇÃO DO PESO DOS ANIMAIS. Para verificar

se a ingestão de açúcar ou ração variava com o peso dos animais calculou-se quantos

gramas de açúcar ou ração foram ingeridos por quilo de rato, tanto para os animais

classificados como alto ou baixo consumidores. Os animais foram submetidos às mesmas

condições descritas na fase de ingestão de açúcar, sendo pesados a cada dois dias, em um

total de 4 pesagens. Para cada dia de pesagem foi calculada a ingestão em gramas por quilo

de rato. Em seguida foi calculada a média dessas quatro medidas.

20

Análise estatística.

Os dados coletados foram analisados com o teste t de Student e com o teste de

correlação de Pearson, ambos com nível de significância P < 0,05.

Resultados

A Figura 1 mostra o consumo de açúcar e ração dos animais extraídos de um grupo

de 68 ratos e classificados como bons (N = 7) ou maus (N = 7) consumidores de açúcar.

Como esperado, os bons consumidores de açúcar ingeriram quantidades significativamente

maiores de açúcar em comparação ao consumo de ração de laboratório (t[14] = 5,85, P <

0,001). Os maus consumidores ingeriram quantidades significativamente menores de

açúcar em comparação ao consumo da ração de laboratório (t[12] = -2,30, P = 0,04). Além

disso, os bons consumidores ingeriram quantidades significativamente maiores de açúcar

que os maus consumidores (t[14] = 5,85,; P < 0,001). A preferência por açúcar não afetou o

consumo da ração de laboratório, já que não houve diferença no consumo de ração entre

bons e maus consumidores (t[13] = -0,14,; P = 0,88).

A

*0

1

2

3

4

5

Bons Maus Bons MausTipo de seleção

Cons

umo

de a

çúca

r (g)

Açúcar Ração

B

*0

1

2

3

4

Bons Maus Bons MausTipo de seleção

Cons

umo

de ra

ção

(g)

Açúcar Ração

Figura 1. Média da ingestão de açúcar granulado e de ração de laboratório moída por ratosclassificados como bons e maus consumidores de açúcar (A) ou bons e maus consumidores deração (B). *, Diferente dos bons consumidores (t de Student, P < 0,05).

21

A Figura 2A mostra a ingestão de açúcar e ração dos animais extraídos de um

grupo de 40 ratos pesados diariamente e classificados como bons (N = 8) ou maus (N = 6)

consumidores de açúcar. Novamente, como esperado, os bons consumidores de açúcar

ingeriram quantidades significativamente maiores de açúcar em comparação ao consumo

de ração de laboratório (t[14] = 6,54, P < 0,001). Para os animais do grupo de baixo

consumo de açúcar não houve diferença entre o consumo de açúcar e ração de laboratório

(t[10] = -0,85, P = 0,42). Os bons consumidores de açúcar ingeriram quantidades

significativamente maiores de açúcar que os maus consumidores de açúcar (t[12] = 6,33, P <

0,001). O consumo de ração não diferiu entre os bons e os maus consumidores (t[12] = -1,15,

P = 0,27). A Figura 2B mostra o consumo de açúcar e ração normalizado para o peso

corporal do bons e maus consumidores de açúcar. Igual ao consumo absoluto de açúcar

mostrado nas Figuras 1 e 2A, a ingestão dos bons consumidores normalizada pelo peso

também foi significativamente maior que o consumo de ração (t[14] = 6,77,; P < 0,001).

Igualmente, a ingestão normalizada de açúcar dos bons consumidores foi maior que a dos

maus consumidores (t[12] = 3,20,; P = 0,008). Os dados da Figura 2B mostram que o

elevado consumo de açúcar não está relacionado ao peso dos animais. Em outras palavras,

A B

*

0

1

2

3

A R A R

Inges

tão de

açúc

ar (g

)

Bons consumidores

°

01

23

45

6

A R A R

Inges

tão de

açúc

ar (g

/Kg)

Maus consumidores

Grupos

Figura 2. Ingestão de açúcar granulado (A) e de ração de laboratório moída (R) de animais classificados como bons e maus consumidores de açúcar. A, Média (+ E. P. M.) da ingestão absoluta, em gramas. B, Média (+ E. P. M.) da ingestão normalizada pelo peso corporal dos animais, em gramas por quilo de peso corporal. *, Diferente do consumo de açúcar; °, diferente dos bons consumidores de açúcar (t de Student, P < 0,05).

22

os ratos que consumiram mais não o fizeram simplesmente porque eram mais pesados mas

sim porque comeram proporcionalmente mais.

A Figura 3 mostra as medidas obtidas no labirinto em cruz elevado relacionadas à

atividade exploratória. Pode-se observar na figura que, quando os ratos são classificados

pelo consumo de açúcar, os bons consumidores entram mais nos braços fechados (t[13] =

3,126, P = 0,008), percorrem distâncias maiores tanto nos braços fechados (t[13] = 3,086, P

= 0,009) quanto nos abertos (t[13] = 3,018, P = 0,010), além de apresentarem um maior total

de entradas que os maus consumidores (t[13] = 3,263, P = 0,006). No entanto, quando os

ratos são classificados pelo consumo de ração, não há diferenças estatisticamente

significativas entre os bons e maus consumidores quanto à freqüência de entradas nos

A

*

0

2

4

6

8

10

12

Bons Maus Bons MausTipo de seleção

Entra

das n

os b

raço

s fec

hado

Açúcar Ração

B

*

0

2

4

6

8

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Bons Maus Bons MausTipo de seleção

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ncia

perco

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Açúcar Ração

C

*

0

1

2

3

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5

Bons Maus Bons Maus

Tipo de seleção

Distâ

ncia

perco

rrida

nos b

raço

sab

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s (m)

Açúcar Ração

D

*

02468

1012141618

Bons Maus Bons MausTipo de seleção

Tota

l de

entra

da

Açúcar Ração

Figura 3. Medidas relacionadas à atividade. Freqüência de entradas nos braços fechados (A), distância percorrida nos braços fechados (B) e abertos (C), e total de entradas (D). *, Diferente dos bons consumidores de açúcar (t de Student, P < 0,05).

23

braços fechados (t[23] = 1,353, P = 0,189), distâncias percorridas nos braços fechados (t[23]

= 1,753, P = 0,093) ou nos abertos (t[23] = 1,039, P = 0,310), e ao total de entradas nos dois

tipos de braços (t[23] = 1,446, P = 0,162).

A Figura 4 mostra medidas obtidas no labirinto em cruz elevado mais relacionadas

à ansiedade. Pode-se observar na figura que os bons consumidores não gastam mais tempo

nos braços abertos (t[13] = 1,857, P = 0,086) que os maus consumidores, mas entram neles

com maior freqüência (t[13] = 2,487, P = 0,027). A porcentagem de entradas nos braços

abertos dos bons (36,17 ± 4,12%) e maus consumidores (40,14 ± 5,67%) não foi

estatisticamente significativa (t[13] = -0,575, P = 0,575). Além disso, os bons consumidores

A

01020304050607080

Bons Maus Bons MausTipo de seleção

Temp

o no

s bra

ços a

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Açúcar Ração

B

*

0

12

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56

7

Bons Maus Bons MausTipo de seleção

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das n

os b

raço

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Açúcar Ração

C

*0

510

1520

2530

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Bons Maus Bons MausTipo de seleção

Temp

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Açúcar Ração

D

*

0

1

2

3

4

5

Bons Maus Bons MausTipo de seleção

Entra

das:

extre

mida

des a

berta

Açúcar Ração

Figura 4. Medidas relacionadas à ansiedade. Tempo gasto nos braços abertos (A), porcentagem de entradas nos braços abertos (B), tempo gasto nas extremidades abertas (C), e freqüência de entradas nas extremidades abertas (D). *, Diferente dos bons consumidores de açúcar (t de Student, P < 0,05).

24

de açúcar entram mais (t[13] = 3,018, P = 0,010) e passam mais tempo (t[13] = 2,574, P =

0,023) nas extremidades dos braços abertos. No entanto, quando os ratos são classificados

pelo consumo de ração, não há diferenças significativas entre bons e maus consumidores

quanto a tempo gasto (t[23] = 0,142, P = 0,888) nem quanto à freqüência de entradas nos

braços abertos (t[23] = 1,242, P = 0,227). Como no caso da classificação pelo consumo de

açúcar, quando os ratos são classificados pelo consumo de ração a porcentagem de

entradas (não mostrada na figura) nos braços abertos dos bons (33,06 ± 3,14%) e maus

consumidores (32,21 ± 4,40%) não foi estatisticamente significativa (t[23] = -0,575, P =

0,575) . Igualmente, os bons consumidores de ração não diferiram quanto à freqüência de

entradas (t[23] = 0,712, P = 0,484) nem quanto ao tempo gasto (t[23] = -0,415, P = 0,682) nas

extremidades dos braços abertos.

A Figura 5 mostra o tempo gasto nos comportamentos de esticar-se, mergulhar a

cabeça e levantar-se. Pode-se observar que o tempo gasto esticando-se foi o mesmo tanto

entre os bons como entre os maus consumidores, seja de açúcar (t[13] = 0,091, P = 0,929)

seja de ração (t[23] = 1,449, P = 0,161). Por outro lado, os bons consumidores de açúcar

mergulharam a cabeça por um tempo significativamente maior que os maus consumidores

(t[13] = 2,626, P = 0,021), enquanto os bons e maus consumidores de ração não se

A

02468

10121416

Bons Maus Bons MausTipo de seleção

Tem

po e

stic

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Açúcar Ração

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2

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Bons Maus Bons MausTipo de seleção

Tem

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(s)

Açúcar Ração

C

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05

1015

202530

35

Bons Maus Bons MausTipo de seleção

Tem

po le

vant

ando

-se

(s)

Açúcar Ração

Figura 5. Tempo gasto nos comportamentos de esticar-se (A), mergulhar a cabeça (B), e levantar-se (C). *, Diferente dos bons consumidores de açúcar (t de Student, P < 0,05).

25

diferenciaram (t[23] = -0,015, P = 0,998). Igualmente, os bons consumidores de açúcar

levantaram-se por mais tempo que os maus consumidores (t[13] = 2,579, P = 0,021),

enquanto os bons e maus consumidores de ração novamente não se diferenciaram (t[23] =

1,111, P = 0,278).

A Figura 6 e a Tabela 1 mostram as correlações entre a ingestão de açúcar e as

medidas indicadoras de atividade exploratória obtidas no labirinto em cruz elevado dos

bons e maus consumidores de açúcar. Há uma correlação positiva estatisticamente

significativa entre ingestão de açúcar e freqüência de entradas nos braços fechados,

distância percorrida nos braços fechados, distância percorrida nos braços abertos e

freqüência total de entradas nos braços abertos e fechados. Não ocorreram correlações

significativas entre a ingestão de ração e as medidas de atividade exploratória (Tabela 1).

A

01234567

0 5 10 15 20Entradas nos braços fechados

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

B

01234567

0 5 10Distância percorrida nos braços fechados (m)

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

15

C

01234567

0 2 4 6 8Distância percorrida nos braços abertos (m)

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

D

01234567

0 10 20 30Total de entradas

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

Figura 6. Correlações entre a ingestão de açúcar e freqüência de entradas nos braços fechados (A), distância percorrida nos braços fechados (B) e abertos (C), e total de entradas (D) dos melhores e piores consumidores de açúcar..

26

Tabela 1. Correlação entre as quantidades ingeridas de açúcar e de ração e o comportamento dos ratos bons e maus consumidores de açúcar no labirinto em cruz elevado. r, Coeficiente de correlação de Pearson; P, probabilidade.

Melhores e piores consumidores de açúcar

Açúcar Ração

Comportamentos r P r P Entradas nos braços abertos 0.712 0.003 0.062 0.826 Entradas nos braços fechados 0.760 0.001 0.174 0.536 Total de entradas nos braços 0.815 0.000 0.140 0.618 Tempo gasto nos braços abertos (s) 0.624 0.013 0.034 0.903 Porcentagem de entradas nos braços abertos 0.070 0.804 -0.183 0.514 Entrada média nos braços abertos (s) 0.110 0.696 0.225 0.420 Distância percorrida nos braços abertos (m) 0.780 0.001 0.102 0.716 Distância percorrida nos braços fechados (m) 0.722 0.002 0.256 0.358 Tempo gasto no quadrado central (s) 0.452 0.090 0.389 0.152 Entradas nas extremidades dos braços abertos 0.784 0.001 0.091 0.748 Tempo nas extremidades braços abertos (s) 0.783 0.001 0.061 0.830 Freqüência de mergulhos de cabeça 0.745 0.001 0.116 0.680 Tempo gasto mergulhando a cabeça (s) 0.656 0.008 0.016 0.956 Freqüência de levantadas 0.471 0.077 0.365 0.181 Tempo gasto levantando-se (s) 0.307 0.267 0.020 0.944 Freqüência de esticadas -0.113 0.689 0.524 0.045 Tempo gasto esticando-se (s) -0.011 0.970 0.380 0.162 A Figura 7 e a Tabela 1 mostram as correlações entre a ingestão de açúcar e as

medidas indicadoras de atividade exploratória obtidas no labirinto em cruz elevado mais

relacionadas à ansiedade dos bons e maus consumidores de açúcar. Houve correlação

positiva estatisticamente significativa entre ingestão de açúcar e tempo gasto nos braços

abertos, tempo gasto nas extremidades dos braços abertos e freqüência de entradas nas

extremidades dos braços abertos mas não entre ingestão de açúcar e porcentagem de

entradas nos braços abertos. Não ocorreram correlações significativas entre a ingestão de

ração e as medidas de ansiedade (Tabela 2).

A Figura 8 e a Tabela 1 mostram as correlações entre a ingestão de açúcar e outras

medidas registradas no labirinto em cruz elevado dos bons e maus consumidores de açúcar.

Observou-se uma correlação positiva entre a ingestão de açúcar e o tempo gasto

mergulhando a cabeça mas não entre ingestão de açúcar e tempo gasto esticando-se e

levantando-se.

27

A

01234567

0 50 100 150 200Tempo gasto nos braços aberto (s)

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

B

012345678

0 1 2 3 4 5 6Entradas nos braços abertos (% )

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

C

01234567

0 20 40Tempo gasto nas extremidades abertas (s)

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

60

D

01234567

0 2 4 6 8 1Entradas nas extremidades abertas

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

0

Figura 7. Correlações entre a ingestão de açúcar e tempo gasto nos braços abertos (A), porcentagem de entradas nos braços abertos (B), Tempo gasto nas extremidades abertas (C), e freqüência de entradas nas extremidades abertas (D) dos melhores e piores consumidores de açúcar..

A

01234567

0 10 20 30 40 50Tem po es ticando (s )

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

B

012345678

0 5 10 15 20 25Tempo mergulhando a cabeça (s)

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

C

01234567

0 10 20 30 40 50Tempo levantando-se (s)

Inge

stão

de

açúc

ar (g

)

Figura 8. Correlações entre a ingestão de açúcar e tempo gasto esticando-se (A), mergulhando a cabeça (B), e levantando-se (C) dos melhores e piores consumidores de açúcar.

A Tabela 2 mostra as correlações entre os consumos de açúcar e de ração e

comportamentos exibidos no labirinto em cruz elevado pelos bons e maus consumidores de

ração. Pode-se notar que ocorreu uma única correlação significativa entre o consumo de

açúcar e a duração média das entradas nos braços abertos. Ocorreram, ainda, duas

correlações significativas entre o consumo de ração e as freqüências de levantar-se e

esticar-se.

28

Tabela 2. Correlação entre as quantidades ingeridas de açúcar e de ração e o comportamento dos ratos bons e maus consumidores de ração no labirinto em cruz elevado. r, Coeficiente de correlação de Pearson; P, probabilidade.

Melhores e piores consumidores de ração

Açúcar Ração

Comportamentos r P r P Entradas nos braços abertos 0.126 0.547 0.268 0.195 Entradas nos braços fechados 0.238 0.252 0.268 0.195 Total de entradas nos braços 0.212 0.309 0.294 0.153 Tempo nos braços abertos (s) -0.103 0.624 0.073 0.729 % Entradas nos braços abertos -0.198 0.343 0.046 0.826 Duração média de entradas nos braços abertos (s) -0.398 0.049 -0.019 0.928 Distância percorrida - braços abertos (m) 0.040 0.851 0.241 0.246 Distância percorrida - braços fechados (m) 0.256 0.216 0.328 0.110 Tempo gasto no quadrado central (s) 0.172 0.411 0.161 0.441 Entradas - extremidades dos braços abertos 0.053 0.801 0.185 0.377 Tempo - extremidades braços abertos (s) -0.194 0.353 -0.039 0.854 Freqüência de mergulhos de cabeça 0.094 0.657 0.156 0.456 Tempo gasto mergulhando a cabeça -0.003 0.987 -0.001 0.996 Freqüência de levantadas 0.163 0.436 0.405 0.044 Tempo gasto levantando-se 0.091 0.666 0.160 0.446 Freqüência de esticadas 0.202 0.332 0.642 0.001 Tempo gasto esticando-se 0.270 0.192 0.278 0.179

A Tabela 3 mostra as correlações entre os consumos de açúcar e de ração e

comportamentos exibidos no labirinto em cruz elevado por todos os 68 ratos deste

experimento. O perfil exibido é semelhante ao mostrado na Tabela 1 exceto pelo fato de

ocorrerem menos correlações significativas entre o consumo de açúcar e os

comportamento. Finalmente, houve uma única correlação significativa entre o consumo de

ração e a freqüência de esticar-se.

Discussão

O objetivo deste trabalho foi o de verificar se há uma correlação entre a quantidade

de açúcar ingerido por ratos e diminuição da freqüência e/ou duração de comportamentos

relacionados à ansiedade.

29

Tabela 3. Correlação entre as quantidades ingeridas de açúcar e de ração e o comportamento de todos os ratos no labirinto em cruz elevado. r, Coeficiente de correlação de Pearson; P, probabilidade.

Todos os sujeitos (N = 68)

Açúcar Ração

Comportamentos r P r P Entradas nos braços abertos 0.266 0.028 0.128 0.297 Entradas nos braços fechados 0.330 0.006 0.111 0.367 Total de entradas nos braços 0.341 0.004 0.134 0.277 Tempo nos braços abertos (s) 0.194 0.113 0.029 0.813 % Entradas nos braços abertos -0.046 0.712 0.045 0.717 Entrada média nos braços abertos (s) -0.070 0.570 -0.021 0.863 Distância percorrida - braços abertos (m) 0.236 0.053 0.108 0.382 Distância percorrida - braços fechados (m) 0.316 0.009 0.120 0.329 Tempo gasto no quadrado central (s) 0.207 0.090 0.103 0.405 Entradas - extremidades dos braços abertos 0.260 0.033 0.087 0.483 Tempo - extremidades braços abertos (s) 0.088 0.477 -0.001 0.992 Freqüência de mergulhos de cabeça 0.179 0.143 0.119 0.332 Tempo gasto mergulhando a cabeça 0.187 0.127 0.009 0.941 Freqüência de levantadas 0.125 0.309 0.190 0.120 Tempo gasto levantando-se 0.088 0.476 0.034 0.785 Freqüência de esticadas -0.036 0.772 0.349 0.004 Tempo gasto esticando-se 0.009 0.941 0.113 0.361

As análises dos ratos bons e maus consumidores de açúcar mostraram que, de um

modo geral, a tendência a consumir mais açúcar é indicadora de comportamento

exploratório no labirinto em cruz elevado característico de animais com baixos níveis de

medo ou ansiedade. Além disso, os efeitos observados foram específicos do consumo de

açúcar, uma vez que a análise dos ratos quando classificados em bons e maus

consumidores de ração não mostrou quaisquer efeitos do consumo da mesma sobre os

comportamentos exibidos no labirinto. Mais que isso, a análise do comportamento desses

animais mostrou correlações positivas entre o consumo de açúcar e diversos dos

comportamentos registrados. De um modo geral, essas correlações não aconteceram com o

consumo de ração. Parte das correlações se manteve quando todos os animais foram

analisados.

Os dados obtidos sobre as diferenças de consumo de açúcar, desvinculados do

consumo de ração, estão de acordo com vários trabalhos da literatura (De Cabo et al. 1995;

30

Brennan et al. 2001; Sills e Crawley, 1996; Sills e Vaccarino, 1996, Desousa et al., 1998).

Quando submetemos ratos à ingestão livre de dois tipos de comida, açúcar granulado e

ração moída de laboratório, pudemos classificá-los e agrupá-los em bons e maus

consumidores de açúcar sem que os grupos diferissem no consumo da ração de laboratório

moída. Em outras palavras, os animais de ambos os grupos não consumiram nem mais nem

menos ração por conta da quantidade de açúcar ingerida no mesmo período.

Adicionalmente, o consumo de açúcar não estava relacionado ao ganho de peso do animal.

Podemos encontrar vários trabalhos na literatura que mostraram que maior ingestão

de substâncias doces se correlaciona com: maior atividade locomotora quando os animais

são submetidos a tratamento agudo e crônico com anfetamina (Sills e Crawley, 1996), alta

ingestão de etanol (Kampov-Polevoy et al., 1990; Gosnell e Krahn 1992; Overstreet et al.,

1993); maior freqüência de auto-administração de morfina (Gosnell et at, 1995) e de

psicoestimulantes (DeSouza et al., 2000). Além dessas correlações, alguns autores

sugeriram que maior ingestão de açúcar se correlaciona negativamente com

comportamentos relacionados à ansiedade.

Segundo Dess e Minor (1996), a ingestão de qualquer tipo de comida interage com

processos afetivos, tais como medo e ansiedade. Ratos submetidos a choques consomem

menor quantidade de substâncias adulteradas por sacarina ou quinino, mas aumentam a

ingestão de açúcar (Dess e Chapman, 1990; Dess e Choe, 1994). Esses dados apóiam a

hipótese de que animais ansiosos ingerem mais açúcar. Em função disso, Dess e Minor

(1996) sugeriram que os estados de medo e ansiedade poderiam estar relacionados com a

ingestão de substâncias doces.

Quando utilizamos o labirinto em cruz elevado observamos que bons consumidores

de açúcar apresentaram alterações nas medidas comportamentais, tanto relacionadas à

ansiedade quanto à atividade locomotora, quando comparados aos maus consumidores de

açúcar. Os bons consumidores de açúcar apresentaram maior freqüência de entradas nos

31

braços fechados, maior freqüência de entradas totais nos braços fechados e abertos e maior

distância percorrida nos braços fechados. Como essas medidas estão mais relacionadas à

atividade locomotora podemos dizer que bons consumidores foram mais ativos que os

maus consumidores no labirinto em cruz elevado.

Em relação às medidas comportamentais relacionadas à ansiedade, observamos que

os bons consumidores de açúcar apresentaram maior freqüência de entradas nos braços

abertos e nas extremidades dos mesmos e maior tempo de permanência nos braços abertos.

Baseado nestas medidas relacionadas à ansiedade, diríamos que os bons consumidores de

açúcar apresentaram menos comportamentos relacionados à ansiedade que os maus

consumidores. Entretanto, não observamos diferenças entre bons e maus consumidores de

açúcar em uma medida comumente relacionada à ansiedade, que é a porcentagem de

entradas nos braços abertos. Geralmente, a porcentagem de entradas nos braços abertos é

mais sujeita a diminuição que as outras medidas relacionadas à ansiedade quando os

animais estão ansiosos. Como houve diferenças entre os bons e maus consumidores de

açúcar tanto em medidas relacionadas à ansiedade quanto à atividade locomotora, e não

houve diferença entre esses grupos para a porcentagem de entradas nos braços abertos,

torna-se difícil dizer se os animais estão se locomovendo mais ou estão menos ansiosos.

Outras medidas registradas no labirinto em cruz elevado podem ajudar nesse tipo

de situação. Segundo Cruz et al. (1994), o comportamento de esticar-se está relacionado às

condições aversivas que geram ansiedade. Entretanto, também não observamos diferenças

entre bons e maus consumidores de açúcar quanto ao tempo que os animais gastaram

comportando-se desta maneira. Segundo os mesmos autores (Cruz et al., 1994), os

comportamentos de mergulhar a cabeça para fora da plataforma dos braços abertos e

levantar-se de modo a apoiar-se nas patas dianteiras estão, respectivamente, mais

relacionados à ansiedade e à atividade locomotora e/ou exploratória. Assim, os bons

consumidores gastaram mais tempo que maus consumidores mergulhando a cabeça

32

(indicador de ansiedade diminuída) e levantando-se (indicador de maior atividade geral).

Considerando-se essas três medidas, pode-se dizer que elas indicam que os bons

consumidores de açúcar estavam menos ansiosos e mais ativos que os maus consumidores.

Qualquer uma dessas diferenças comportamentais citadas acima não foram

observadas quando comparamos bons e maus consumidores de ração. Isso sugere que não

é a ingestão de qualquer alimento que pode estar relacionada a essas medidas registradas

no labirinto em cruz elevado, mas parece que a percepção do gosto doce de substâncias

palatáveis é uma variável relevante nesta condição.

Além disso, quando realizamos testes de correlação, observamos que não existe

apenas uma diferença nas medidas registradas no labirinto em cruz elevado entre bons e

maus consumidores, mas também uma correlação significativa e positiva entre ingestão de

açúcar e a freqüência de alguns comportamentos registrados nesse modelo. Quando

selecionamos grupos de ratos e os classificamos como bons e maus consumidores de

açúcar, observamos que quanto maior a quantidade de açúcar ingerido maior a: freqüência

de entradas nos braços fechados, a freqüência total de entradas nos braços fechados e

abertos, e a distância percorrida em cada tipo de braço. Para o mesmo grupo de ratos, a

mesma correlação significativa e positiva foi observada entre maior ingestão de açúcar e

algumas medidas comportamentais relacionadas à ansiedade como: o tempo de

permanência nos braços abertos e nas extremidades dos mesmos e a freqüência de entradas

nas extremidades dos braços abertos. Isso mostra que quanto maior a quantidade de açúcar

ingerido maior será a freqüência das categorias comportamentais citadas acima.

Quando fizemos o teste de correlação para todos os animais independentemente de

os classificarmos como bons ou maus consumidores de açúcar, também observamos uma

correlação significativa e positiva para algumas medidas comportamentais. Quanto maior o

consumo de açúcar maior a: freqüência de entradas nos braços abertos e fechados, a

freqüência de entradas totais nos dois tipos de braços, a distância percorrida nos braços

33

fechados e a freqüência de entradas nas extremidades dos braços abertos. Ainda nesta

condição, temos alterações tanto em medidas relacionadas à ansiedade como à atividade

locomotora. Isso nos permite supor que a quantidade de açúcar ingerida pode funcionar

como um previsor para alguns comportamentos no labirinto em cruz elevado. Alem disso,

quando se levou em conta o consumo de ração, não observamos qualquer correlação entre

ingestão ração e medidas registradas no labirinto em cruz elevado. Essa ausência de

correlação foi observada tanto quando se analisaram apenas os bons e maus consumidores

de ração como quando se analisaram todos os sujeitos.

Apesar de os resultados do presente experimento não oferecerem condições

suficientes para separarmos um efeito ansiolítico de um efeito locomotor no labirinto em

cruz elevado, os resultados de outros trabalhos permitem levantar a hipótese de que bons

consumidores de açúcar locomovem-se mais que maus consumidores de açúcar. Desouza

et al. (1998) mostraram que ratos classificados como bons consumidores de açúcar

apresentaram porcentagem de entradas e tempo de permanência maiores nos braços abertos

em relação aos ratos classificados como maus consumidores de açúcar. Entretanto, esses

autores não fizeram registro de medidas comportamentais relacionadas à atividade

locomotora. Baseado nesses resultados os autores acima sugeriram que diferenças

comportamentais no consumo de sacarose podem predizer respostas relacionadas à

ansiedade no labirinto em cruz elevado.

Por outro lado, Piazza et al. (1989) e Hooks et al. (1991) mostraram que ratos que

exibiram altos níveis de atividade locomotora em resposta a ambientes novos mostraram

também locomoção mais exacerbada em resposta à anfetamina e à cocaína do que ratos

que exibiram baixo nível de atividade locomotora em resposta a ambientes novos.

Interessante é que Sills e Vaccarino (1994) mostraram que ratos que ingeriram altas

quantidades de açúcar também apresentaram locomoção mais exacerbada em resposta ao

34

tratamento agudo e crônico com anfetamina do que ratos que consumiram baixa

quantidade de açúcar.

As semelhanças entre ratos classificados como bons consumidores de açúcar e ratos

que exibem altos níveis de atividade locomotora em ambientes novos não se restringem

apenas à resposta locomotora ao tratamento com anfetamina. Estudos de microdiálise in

vivo mostraram que ratos que apresentaram os mais altos níveis de atividade locomotora

induzida por anfetamina também mostraram maior atividade dopaminérgica no núcleo

acumbente, quando comparados a ratos com níveis mais baixos de atividade locomotora

induzida por anfetamina, tanto sob condições de linha de base quanto em resposta a

tratamentos com psicoestimulantes (Hooks et at. 1992; Piazza et al. 1990). No mesmo

sentido, Sills e Vaccarino (1991) e Sills et al. (1993) relataram que ratos bons

consumidores de açúcar mostraram maior atividade dopaminérgica no núcleo acumbente

que ratos maus consumidores de açúcar.

Uma hipótese na literatura é a de que o sistema dopaminérgico esteja implicado na

atividade locomotora e na ingestão de substâncias doces. Vários trabalhos mostraram que o

tratamento com anfetamina afeta a locomoção (Kelly et al., 1975; Vaccarino et al., 1986;

Jones e Robbins, 1992; Weissenborn e Winn 1992) e a ingestão (Colle e Wise, 1988; Sills

e Vaccarino 1991; Sills et al. 1993). Esses trabalhos parecem indicar que, quando

selecionamos ratos que exibem atividade locomotora elevada frente a ambientes novos,

também selecionamos ratos bons consumidores de açúcar.

Abercrombie et al. (1989) e Imperato et al. (1989) mostraram que ratos submetidos

a choques na cauda apresentaram níveis elevados de dopamina no núcleo acumbente. Na

medida em que eventos estressantes afetam o sistema dopaminérgico, pode ser que ratos

bons e maus consumidores de açúcar apresentem variações diferentes neste sistema e uma

outra maneira de responder diferente pode ser a atividade locomotora. Dessa forma, ao

serem colocados no labirinto em cruz elevado, um modelo que envolve conflito, ratos bons

35

consumidores de açúcar locomovem-se mais que ratos maus consumidores tanto nos

braços abertos como nos fechados, e segundo Kabbaj et al. (2000), a atividade locomotora

elevada está associada à novidade e não ao ambiente familiar. Há vários trabalhos na

literatura relatando que ratos preferem ambientes familiares à ambientes novos, o que

mostra que um ambiente novo pode ser aversivo. No presente experimento (assim como na

maioria esmagadora dos relatos na literatura), o labirinto em cruz elevado é um ambiente

novo e pode ter favorecido o aumento na atividade locomotora de ratos classificados como

bons consumidores de açúcar mais que no caso dos maus consumidores.

Os dados do presente trabalho podem ser interpretados de maneira diferente da

interpretação que Desouza et al. (1998) fizeram sobre seus resultados, de que ratos bons

consumidores de açúcar sejam menos ansiosos que ratos maus consumidores no labirinto

em cruz elevado. Esses autores mostraram alterações em apenas duas medidas relacionadas

à ansiedade e não mostraram registro de medidas relacionadas à atividade locomotora.

Inclusive, se ingestão alta ou baixa de açúcar podem estar relacionadas a comportamentos

relacionados à ansiedade, outros trabalhos sugerem uma hipótese diferente da relatada por

Desouza et al. (1998).

Quando ratos foram expostos a um ambiente novo, mostraram um aumento nos

níveis de corticosterona em relação a controles não expostos (Oitzl et al., 1997).

Interessantemente, quando comparado a ratos com baixa resposta locomotora a um

ambiente novo, ratos com alta resposta locomotora mostraram níveis mais elevados de

corticosterona por um período mais prolongado quando foram exposto a um ambiente novo

inescapável (Piazza et al., 1989) ou submetidos ao modelo de restrição comportamental

(Dellu et al., 1996). Isso sugere que tomar como medida apenas o comportamento de

locomover-se não é suficiente para se inferir estados de ansiedade.

De maneira semelhante, Kabbaj et al. (2000) classificaram animais com alta e baixa

resposta locomotora frente a um ambiente novo e posteriormente testaram esses animais na

36

caixa claro/escuro e no labirinto em cruz elevado. Verificaram que os animais com alta

resposta locomotora frente a um ambiente novo exibiram maior freqüência de entradas no

ambiente claro e permaneceram mais tempo nesse ambiente que os animais com baixa

resposta locomotora frente a um ambiente novo. Adicionalmente, os ratos com alta

resposta locomotora frente a um ambiente novo permaneceram mais tempo nos braços

aberto do labirinto em cruz elevado e mostraram maior atividade locomotora nos mesmos

quando comparados aos animais com baixa resposta locomotora frente a um ambiente

novo. Esses resultados parecem indicar que, quando testamos na gaiola de transição

claro/escuro ou no labirinto em cruz elevado, ratos classificados como tendo alta resposta

locomotora frente a um ambiente novo exibem comportamentos menos relacionados à

ansiedade que ratos classificados como tendo baixa resposta locomotora em um ambiente

novo. Entretanto, os animais com alta resposta locomotora exibiram maiores níveis de

corticosterona no plasma quando comparados aos animais com baixa resposta locomotora

(Dellu et al., 1996; Piazza et al., Simon 1991). Isso sugere que ratos com alta resposta

locomotora frente a um ambiente novo são mais ansiosos que ratos com baixa resposta

locomotora frente a um ambiente novo. Como mostrado acima, há semelhanças

comportamentais entre ratos bons consumidores de açúcar e ratos com alta atividade

locomotora em ambientes novos. Assim, pode ser que o fato de os bons consumidores de

açúcar se locomoverem mais no labirinto em cruz elevado seja um indício de que esse

modelo é mais aversivo para estes do que para maus consumidores.

Há um outro problema que potencialmente poderia dificultar a interpretação dos

resultados do presente experimento. Durante a execução do protocolo experimental deste

experimento, o manuseio crônico e diário dos animais, pelo experimentador pode ter

afetado o comportamento tanto no labirinto em cruz elevado como o comportamento de

consumir açúcar durante a fase de ingestão. Alguns trabalhos mostraram que o manuseio

afeta o comportamento de ratos no labirinto em cruz elevado de modo a aumentar a

37

freqüência de entradas e tempo de permanência nos braços abertos (Andrews e File, 1993).

Adicionalmente, há trabalhos mostrando que os benzodiazepínicos facilitaram a ingestão

de comida e líquido palatáveis em uma variedade de espécies (por exemplo, Birk e Noble,

1982). As diferenças nas medidas comportamentais observadas no labirinto em cruz

elevado e no comportamento de ingerir de açúcar poderiam ser influenciadas pelo

manuseio. Da mesma maneira que ratos respondem de modo diferente quando em

ambientes novos, é possível que as diferenças no comportamento de consumir açúcar e nas

medidas comportamentais registradas no labirinto em cruz elevado sejam uma resposta ao

manuseio. Dessa forma, o experimento a seguir teve como objetivo verificar se o manuseio

crônico e/ou a ingestão de açúcar afetam o comportamento no labirinto em cruz elevado.

Experimento II As alterações nas medidas comportamentais relacionados à ansiedade e à atividade

locomotora no labirinto em cruz elevado observadas no Experimento I podem ser efeito: (1)

da ingestão de açúcar por um período prolongado, (2) da manipulação crônica dos animais

ou (3) de ambos os procedimentos.

Nos procedimentos experimentais realizados com animais, são várias as condições

às quais podem ser submetidos. Uma delas é o manuseio que o experimentador realiza,

conceito nem sempre bem definido. Um manuseio pouco ou nada definido é o contato

ocasional e rápido do ser humano com o animal em procedimentos rotineiros em

laboratórios que utilizam modelos animais. Dentre os exemplos desse manuseio rápido e

rotineiro, incluem-se a pesagem dos animais, injeções de drogas, transporte para a situação

de teste, troca de gaiolas durante procedimentos de limpeza etc

Geralmente, a manipulação experimental consiste em (a) retirar o animal da gaiola,

colocá-lo na palma da mão e retorná-lo, ou (b) manipulá-lo na própria gaiola, ou ainda (c)

retirá-lo da gaiola, mantê-lo seguro na mão, onde é realizada a manipulação. A

38

manipulação pode consistir em alisar suavemente os animais com o polegar no sentido

céfalo-caudal ou massagear os pêlos das costas e do pescoço, sendo que este tipo de

manipulação apresenta as mais variadas formas em relação a como é realizada e à duração.

Por exemplo, para Meinrath e Flaherty (1987), manipulação foi separar a mãe da ninhada e

colocar os filhotes um por vez em um compartimento individual por 3 minutos, do segundo

ao décimo quinto dia após o desmame. Abel (1971) chamou de manipulação a remoção

individual dos filhotes da ninhada e carregá-los por 3 minutos no corredor adjacente à sala

do laboratório, sendo que neste período o animal foi repetidamente colocado na palma da

mão do experimentador. Clausing et al. (1997) chamaram de manipulação à retirada do

filhote da ninhada e segurá-lo na mão por cinco minutos. Andrews e File (1993) chamaram

de manipulação pegar o animal (170 g), pesá-lo e aplicar uma injeção intraperitoneal de

água, por 7 dias consecutivos. Brett e Pratt (1990) relataram que os ratos foram

manuseados por dois dias, mas não descreveram as condições de manipulação. Quando

buscamos na literatura resultados referentes aos efeitos da manipulação constatamos que

não há um consenso do que chamar de manipulação.

Sabe-se que o manuseio precoce ou tardio produz alterações comportamentais e

fisiológicas (Andrews e File, 1993; Clausing et al. 1997; Fernández-Teruel et al. 2002) e

um sistema envolvido é o GABA-benzodiazepínico (Biggio, 1983; File et al., 1990a, 1992).

Em função do sistema envolvido e dos resultados comportamentais observados em

modelos animais de ansiedade, essas alterações produzidas em ratos pelo manuseio foram

caracterizada como sendo de tipo ansiolítica. Paralelamente, alguns trabalhos mostraram

que os benzodiazepínicos facilitaram a ingestão de comida e de líquidos em uma variedade

de espécies (Britton e Britton, 1981; Birk e Noble, 1982), embora não se conheça(m) o(s)

mecanismo(s) subjacente(s) a esse efeito. O efeito facilitador dessas drogas sobre a

ingestão de comida ou de líquido é interpretado de duas maneiras: (a) como uma redução

nos componentes aversivos da situação de teste, que normalmente suprimem o consumo

39

(Britton e Britton, 1981) ou (b) como uma modificação direta do mecanismo biológico que

controla a ingestão de comida e líquido (Cooper, 1980). Dessa maneira, o manuseio pode

ter um efeito semelhante ao efeito de drogas benzodiazepínicas sobre o comportamento de

ingestão de comida ou líquidos palatáveis.

Baseado na primeira hipótese mencionada acima, os ratos podem responder

diferentemente frente à manipulação repetida do experimentador. Isso pode ter efeitos

sobre a ingestão de açúcar ou ração durante a fase de ingestão e sobre as medidas

comportamentais registradas no labirinto em cruz elevado. No experimento anterior não

tivemos como saber se as medidas comportamentais registradas no labirinto em cruz

elevado foram afetadas pela ingestão prévia de açúcar ou pela manipulação prolongada do

experimentador ou se esses dois procedimentos têm efeitos no labirinto. Em função do

exposto acima, o objetivo deste experimento foi verificar se a manipulação experimental

pode afetar (a) o consumo de substâncias palatáveis em ratos e (b) os comportamentos no

labirinto em cruz elevado. Adicionalmente, verificar se ingestão prévia de açúcar e

manipulação experimental prolongada têm efeitos aditivos quando ratos são testados no

labirinto em cruz elevado.

Método

Sujeitos.

Foram utilizados 81 ratos Wistar machos (170 ± 10 g) provenientes do biotério

Geral do Campus da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto e mantidos nas mesmas

condições descritas no Experimento I.

Equipamento.

O mesmo utilizado no Experimento I

40

Procedimento.

Após o período de habituação os animais foram distribuídos em grupos (N = 9)

como se descreve a seguir. (1) Grupo Biotério— permaneceu em caixas no biotério por 14

dias sendo manipulado apenas para troca de maravalha; (2) Grupo Estimulação —

subdividido nos grupos 0, 1, 5 e 10, referência aos respectivos tempos de estimulação

diário (0, 1, 5 ou 10 minutos). Após o período de estimulação, os animais eram colocados

por 1 hora em uma caixa igual à que viviam no alojamento, na qual estavam disponíveis

dois comedouros de aço inoxidável vazios. O grupo 0 apenas era colocado na caixa por 1

hora. Passado esse tempo, os animais eram devolvidos às suas caixas de alojamento. Este

procedimento durou 14 dias. (3) Grupo Estimulação e Consumo — durante 14 dias os

animais foram submetidos aos mesmos procedimentos que os animais do grupo

Estimulação, mas, que após a estimulação eram colocados em uma caixa igual à de

alojamento por 1 hora, na qual estavam disponíveis em comedouros de aço inoxidável

açúcar comercial granulado e ração moída. Após 1 hora os animais eram devolvidos às

suas caixas de alojamento. Os comedouros foram pesados antes e depois do período de

ingestão. A estimulação foi realizada da seguinte forma: o rato foi colocado em uma gaiola

(30 x 18 x 13 cm) com maravalha e recebeu dois tipos de estimulação sem ser seguro:

alisamento da parte superior do corpo (dorso) e massagem breve (pressão ligeira e curta do

corpo) até completar o período correspondente a seu grupo.

MEDIDA DE INGESTÃO. Para os animais do grupo Estimulação e Consumo, mediu-se a

ingestão das duas substâncias. A média de ingestão de cada grupo foi calculada usando-se

os registros de ingestão das duas últimas sessões de cada rato.

LABIRINTO EM CRUZ ELEVADO. No décimo quinto dia, os ratos foram testados no labirinto

em cruz elevado por um período de cinco minutos de modo análogo ao realizado no

Experimento I, analisando-se os mesmos comportamentos.

41

Análise estatística.

A ingestão de açúcar e de ração foi analisada por uma análise de variância (Anova)

de duas vias, com tempo de manuseio como um dos fatores (quatro níveis: 0, 12, 5 e 10

minutos de manipulação) e substância consumida como um fator de medidas repetidas

(dois níveis: açúcar e ração). Sempre que apropriado, as médias de grupo foram

comparadas com o teste post-hoc de Duncan. Os dados comportamentais foram submetidos

a uma Anova de uma via, seguida pelo teste post-hoc de Dunnett, de comparações com um

grupo controle. Em todos os casos o nível de significância foi fixado em P < 0,05.

Resultados

A Figura 9 mostra o consumo de açúcar granulado e ração de laboratório moída dos

grupos de animais submetidos aos diferentes períodos de manuseio. A Anova mostrou uma

diferença geral significativa no fator consumo (F[1,28] = 3,428; P = 0,031) e o teste de

Duncan indicou que o consumo de açúcar foi maior que o de ração moída. Como outro

efeito geral, a Anova mostrou ainda que a manipulação influenciou o consumo (F[3,28] =

55,920; P < 0,001) e o teste de Duncan apontou que os sujeitos manipulados por 10 min

consumiram significativamente menos que os manipulados por 0 e 5 min. Finalmente, a

Anova mostrou uma interação significativa entre os dois fatores (F[3,28] = 6,091; P = 0,003).

O teste de Duncan evidenciou que os ratos manipulados por 0, 1 e 5 min consumiram

significativamente mais açúcar que ração. Evidenciou também que o consumo de açúcar

dos ratos manipulados por 10 min foi significativamente menor que os manipulados por 0,

1 e 5 min. Finalmente, mostrou que o consumo de açúcar dos ratos manipulados por 1 e 5

min foi significativamente menor que o consumo dos ratos não manipulados.

A Figura 10 e a Tabela 4 mostram as medidas correlacionadas com ansiedade. A

Anova mostrou um efeito do manuseio na porcentagem de entradas nos braços abertos

42

● ●

°* * *

0

1

2

3

4

0 1 5 10Tem po de m anuseio (m in)

Inge

stão

(g)

Açúcar Ração

Figura 9. Consumo de açúcar e de ração nas duas últimas sessões de medida de consumo pelos ratos do grupo Estimulação e Consumo. *, Deferente do consumo de açúcar; °, diferente do açúcar 0, 1 e 5; ●, diferente do açúcar 0. (Duncan, P < 0,05)

(F[8,72] = 2,081; P = 0,049) e o teste de Dunnett mostrou que os animais sem acesso ao

açúcar e manuseados por 10 min apresentaram porcentagens maiores que os do grupo

controle (Figura 1A). Também houve um efeito do manuseio na freqüência de entradas nos

braços abertos (F[8,72] = 2,684; P = 0,012), no tempo gasto nos braços abertos (F[8,72] =

2,824; P = 0,009) e na freqüência de entradas nas extremidades abertas (F[8,72] = 2,956; P =

0,006) e o teste de Dunnett mostrou que tempos e freqüências significativamente maiores

que os dos animais do grupo controle ocorreram nos animais que consumiram açúcar e

foram manuseados por 1 min e nos que não tiveram acesso ao açúcar e foram manuseados

por 10 min (Figura 1B e C; Tabela 4). Finalmente, observou-se um efeito do manuseio

sobre o tempo gasto nas extremidades abertas (F[8,72] = 3,003; P = 0,006) e o teste de

Dunnett mostrou que os animais que consumiram açúcar e foram manuseados por 1 min

permaneceram mais tempo nessas extremidades do que os controles (Figura 1D). Não se

observaram efeitos do manuseio sobre o tempo gasto mergulhando a cabeça (F[8,72] = 1,124;

P = 0,358; Tabela 4) e esticando-se (F[8,72] = 1,202; P = 0,310; Tabela 4).

A Figura 11 e a Tabela 4 mostram as medidas relacionadas à atividade locomotora

e/ou exploratória. A Anova não mostrou efeitos significativos do manuseio sobre a

freqüência de entradas nos braços fechados (F[8,72] = 0,579; P = 0,792; Figura 11A),

43

A

*

05

101520253035404550

C 0 1 5 10 0 1 5 10Tempo de manuseio

Entra

das n

os br

aços

aber

tos (%

)

Biotério Com ingestão Sem ingestão

B

* *

0102030405060708090

C 0 1 5 10 0 1 5 10Tempo de manuseio

Temp

o nos

braç

os ab

ertos

(s)

Biotério Com ingestão Sem ingestão

C *

*

0

1

2

3

4

5

6

C 0 1 5 10 0 1 5 10

Tempo de manuseio

Entra

das n

as ex

tremi

dade

s abe

rtas

Biotério Com ingestão Sem ingestão

D *

05

101520253035404550

C 0 1 5 10 0 1 5 10Tempo de manuseio

Temp

o nas

extre

mida

des a

berta

s (s)

Biotério Com ingestão Sem ingestão

Figura 10. Medidas relacionadas à ansiedade. Porcentagem de entradas nos braços abertos (A), tempo gasto nos braços abertos (B), freqüência de entradas nas extremidades dos braços abertos (C), e tempo gasto nas extremidades abertas (D). C, grupo controle; *, diferente dos controles (Duncan, P < 0,05).

Tabela 4. Medidas (média ± E. P. M.) de diversos comportamentos exibidos pelos ratos do grupo controle e os manipulados, com acesso ou não ao açúcar em sessões de 60 min. *, Diferente do grupo controle, C (Duncan, P < 0,05).

Estimulado e Consumo Estimulado

Parâmetro C 0 1 5 10 0 1 5 10

Freqüência de entradas nos braços abertos

3,00 ±0,41

3,44 ±0,63

6,56 ±0,69*

4,11 ±0,72

4,89 ±0,72

4,44 ±0,65

4,11 ±0,54

4,22 ±0,91

5,78 ±0,70*

Total de entradas 11,00 ±0,94

12,44 ±0,85

16,67 ±0,96

13,33 ±1,41

14,44±1,34

13,56 ±1,18

13,33 ±1,20

12,67 ±1,76

14,00 ±1,31

Distância percorrida nos braços abertos (m)

7,32 ±3,05

7,02 ±2,08

17,12 ±6,78

13,18 ±6,28

15,73±5,32

13,53 ±5,75

9,52 ±3,18

8,50 ±2,59

18,54 ±8,44

Tempo gasto mergulhando a cabeça (s)

4,45 ±0,82

6,67 ±1,31

10,34 ±2,08

5,61 ±0,55

8,48 ±1,84

7,18 ±2,0

6,96 ±1,56

5,71 ±1,79

8,53 ±2,40

Tempo gasto esticando-se (s) 10,52 ±2,10

10,70 ±3,12

4,59 ±1,32

6,38 ±1,47

7,02 ±1,70

7,12 ±2,23

11,43 ±4,27

10,81 ±3,20

4,79 ±1,13

Tempo gasto levantando-se (s) 36,17 ±3,06

34,87 ±3,28

37,54 ±2,34

40,11 ±3,31

34,12±4,01

32,08 ±3,51

36,05 ±2,60

36,35 ±3,69

36,53 ±3,54

44

freqüência total de entradas nos dois tipos de braços (F[8,72] = 1,549; P = 0,156; Tabela 4),

distância percorrida nos braços fechados (F[8,72] = 0,480; P = 0,866; Figura 11B) e abertos

(F[8,72] = 0,684; P = 0,704; Tabela 4) e Tempo gasto levantando-se (F[8,72] = 0,458; P =

0,881; Tabela 4).

A

0

2

4

6

8

10

12

C 0 1 5 10 0 1 5 10Tempo de manuseio

Entra

das n

os br

aços

fech

ados

Biotério Com ingestão Sem ingestão

B

0123456789

10

C 0 1 5 10 0 1 5 10

Tempo de manuseio

Ditân

cia no

s bra

ços f

echa

dos (

m)

Biotério Com ingestão Sem ingestão

Figura 11. Medidas relacionadas à atividade locomotora e/ou exploratória. Freqüência de entradas nos braços fechados (A) e distância percorrida nos braços fechados (B).

Discussão

No experimento I, observamos que animais que ingeriram maiores quantidades de

açúcar, contrapostos aos que ingeriram menores quantidades, apresentaram maiores

freqüências de comportamentos tanto relacionados à ansiedade como à atividade

locomotora no labirinto em cruz elevado. Entretanto, não tínhamos como saber se essas

diferenças são efeito da ingestão de açúcar ou do procedimento de manuseio executado no

protocolo da fase de ingestão. O presente experimento foi uma tentativa de controlar essas

duas condições para verificar seus efeitos sobre as medidas comportamentais registradas

no labirinto em cruz elevado.

As diferentes quantidades de manuseio a que os animais foram expostos não

alteraram a ingestão de ração moída de laboratório. Entretanto, a ingestão de açúcar

diminuiu conforme aumentava o tempo de manuseio. Willner et al. (1987) mostraram que

45

o consumo de sacarose diluída em água diminuiu durante um período de 3 semanas em que

ratos foram expostos a diferentes condições de estresse. Em contrapartida, o consumo de

sacarose aumentou nos animais não expostos as condições de estresse durante esse mesmo

período. Além disso, Katz (1982) relatou que ratos submetidos a um período de 3 semanas

de exposição a diferentes condições estressantes diminuíram o consumo de sacarose e de

sacarina sem que houvesse alteração no consumo de água.

No presente experimento, a maneira de manusear os animais foi semelhante para

todos os grupos, mas a duração da sessão de manuseio foi a variável que realmente afetou

a ingestão de açúcar. Considerando os resultados de Willner et al. (1987) e de Katz (1981),

podemos supor que sessões mais longas de manuseio deixaram os animais mais estressados,

a julgar pelo fato de terem ingerido menores quantidades de açúcar. Se esse foi o caso, a

duração do manuseio foi a condição relevante e não a freqüência de contatos com o

experimentador, pois, com exceção dos controles, todos os animais deste experimento

tiveram a mesma freqüência de contato com o experimentador. Ainda, os resultados deste

experimento, dos experimentos de Willner et al. (1987) e de Katz (1981) sugerem que as

manipulações realizadas nos animais alteraram somente a ingestão de substâncias

palatáveis.

Apesar do exposto acima, quando os animais deste experimento foram testados em

um modelo animal de ansiedade — labirinto em cruz elevado — observamos que a

condição de manuseio e a ingestão de açúcar produziram efeitos sobre o comportamento

exploratório dos ratos que são difíceis de serem explicados.

Em comparação com os ratos do grupo controle, os animais que foram expostos às

sessões de 10 min de manuseio sem posterior ingestão de açúcar aumentaram a

porcentagem de entradas, tempo e freqüência de entradas nos braços abertos bem como a

freqüência de entradas nas extremidades dos braços abertos. Entretanto, os animais

expostos às sessões de manuseio de 0, 1 e 5 min mas sem ingestão posterior de açúcar não

46

diferiram dos animais do grupo controle. Parece que manusear os animais por 10 minutos

durante 14 dias afeta seu comportamento no labirinto em cruz elevado. Esses mesmos 10

min de manuseio, no entanto, não produziram qualquer efeito sobre o comportamento dos

animais que receberam a ingestão posterior de açúcar. Talvez a ingestão de açúcar tenha

anulado os efeitos do manuseio por 10 min. Mesmo assim, o grupo de animais manuseado

por 10 min com ingestão posterior de açúcar consumiu significativamente menos açúcar

que os grupos de animais com ingestão posterior de açúcar e manuseados por 0, 1 e 5 min.

Isso sugere que a ingestão de açúcar pode ter tido pouca relevância para explicar o fato de

o grupo de animais manuseados por 10 min não diferirem dos ratos do grupo controle.

Nesse caso, por que os animais manuseados por 10 min com ingestão posterior de açúcar

não se comportaram de modo semelhante aos animais manuseados por 10 min sem

ingestão de açúcar?

Também observamos que, comparados aos controles, os animais manuseados por 1

min e com ingestão posterior de açúcar aumentaram o tempo gasto nos braços abertos, a

freqüência de entradas e o tempo gasto nas extremidades desses braços no labirinto em

cruz elevado. Entretanto, não observamos qualquer efeito sobre o comportamento

exploratório dos animais manuseados por 0, 5 e 10 min e com ingestão posterior de açúcar.

Os animais expostos às sessões de manuseio por 1 ou 5 min ingeriram quantidades

semelhantes de açúcar. Isso sugere que o tempo de manuseio talvez seja relevante para

justificar o efeito observado no grupo manuseado por 1 min. Entretanto, os animais

expostos às sessões de 1 min de manuseio sem ingestão posterior de açúcar não diferiram

dos animais do grupo controle. Adicionalmente, se considerarmos que a ingestão de açúcar

é um fator de impacto sobre o desempenho no labirinto em cruz elevado, o grupo que não

foi manuseado teria que se destacar dos outros, pois ingeriu uma quantidade

significativamente maior de açúcar quando comparado aos outros grupos.

47

Alguns trabalhos mostraram que a ingestão prévia de substância palatável pode

afetar o comportamento em situações posteriores. Por exemplo, a ingestão prévia de

substância palatável aumenta a latência de retirada da pata no teste da chapa quente, efeito

interpretado como analgesia (Segato et al., 1997). Entretanto, não encontramos trabalhos

na literatura mostrando que a ingestão prévia de substâncias palatáveis afeta

comportamento de ratos em modelos de exploração livre.

Em relação ao manuseio, vários trabalhos mostraram seus efeitos em situações de

exploração livre ou que exijam um operante específico. Levine et al. (1956) foram os

primeiros a relatar que o manuseio logo após o nascimento melhora o desempenho de ratos

na tarefa de esquiva ativa de duas vias. Posteriormente, vários estudos confirmaram esses

resultados, estendendo esse efeito de melhora para várias linhagens de ratos.

Adicionalmente, verificou-se que o manuseio precoce aumenta a atividade e

comportamento exploratório específico de ratos em vários modelos, tais como campo

aberto (Fernández-Teruel et al., 1992b), exposição a caixas conhecidas e desconhecidas

(Ferré et al., 1995) e tábua de buracos (Fernández Teruel et al., 1992a). Quando foram

utilizados testes mais relacionados à ansiedade verificou-se que o procedimento de

manuseio precoce tornou os animais menos ansiosos, visto aumentarem a exploração nos

braços abertos de um labirinto em cruz elevado (Fernandez-Teruel et al., 1990) e o número

de visitas e tempo de permanência em compartimentos iluminados e abertos em um

labirinto em túnel e na caixa claro-escuro (Fernández-Terual et al., 1991b).

No presente experimento os animais foram manuseados quando adultos (cerca de

200 g). Andrews e File (1993) relataram que, em comparação com ratos não manuseados,

ratos adultos (170 g) expostos a um período de 7 dias de manuseio (pegar o rato

diariamente, pesá-lo e aplicar uma injeção intraperitoneal de salina) apresentaram maiores

porcentagens de tempo gasto e de entradas nos braços abertos de um labirinto em cruz

elevado. Além disso, os autores salientaram que a história de manuseio prévia à chegada

48

dos animais no laboratório também é um fator importante a ser investigado, pois pode ter

efeitos relevantes nesse tipo de teste.

Meinrath e Flaherty (1987) também relataram efeitos do manuseio em ratos adultos.

Um grupo de animais com 60 dias de idade foi exposto ao procedimento de contraste de

ingestão de sacarose e 4 dias depois ao teste no campo aberto. Outro grupo foi exposto ao

procedimento na ordem inversa: campo aberto e quatro dias depois contraste de ingestão

de sacarose. Esse protocolo experimental de contraste de ingestão de sacarose durou 17

dias e nesse período os animais eram deslocados de suas caixas de alojamento para caixas

onde poderiam ingerir 4% ou 32% de sacarose, individualmente. Esses autores

observaram que houve efeito da ordem de execução dos protocolos: (1) contraste seguido

de campo aberto ou (2) campo aberto seguido de contraste. Os animais da primeira ordem

locomoveram-se mais no campo aberto em relação aos animais da segunda ordem.

Adicionalmente, esses animais mostraram maior freqüência de levantadas (ficar em pé nas

patas traseiras) e menor número de bolos fecais. Esses autores sugeriram que os

procedimentos repetidos (contato com o experimentador, pesagem, remoção e

deslocamento da caixa de alojamento) afetaram os animais de modo a torná-los menos

ansiosos no campo aberto.

Um ponto interessante a ser mencionado foi que os animais que se locomoveram

mais no campo aberto no experimento de Meinrath e Flaherty (1987), além de serem

manipulados mais vezes pelo experimentador também ingeriram sacarose antes do teste no

campo aberto. No entanto, os autores não fizeram qualquer sugestão de que a ingestão de

sacarose, de alguma forma, tenha sido relevante para justificar o aumento nas medidas

comportamentais registradas nesse modelo.

Brett e Pratt (1990) também relataram efeitos interessantes do manuseio. Esses

autores não encontraram diferenças significativas no comportamento exploratório no

labirinto em cruz elevado entre animais manuseados e não manuseados. Essa diferença

49

surgia apenas quando a manipulação era crônica. Em um procedimento subagudo, grupos

independentes de ratos receberam injeções de salina ou 2,5 mg/Kg de diazepam por três

dias consecutivos e posteriormente eram testados no labirinto em cruz elevado. Os animais

que receberam diazepam aumentaram a porcentagem de entradas e o tempo gasto nos

braços abertos quando comparados aos controles. Entretanto, quando um procedimento

crônico (28 dias) foi realizado não houve diferença entre os grupos controle e experimental

quanto às mesmas medidas do comportamento exploratório no labirinto em cruz elevado.

Como a única diferença entre os protocolos subagudo e crônico foi a freqüência com que

os animais foram manuseados, os autores apontaram o manuseio como a variável ser

considerada.

Esses resultados sugerem que o manuseio tem efeitos sobre medidas

comportamentais registradas em modelos de exploração livre. Entretanto, no presente

experimento não temos como dizer se os efeitos que observamos estão mais relacionados

ao manuseio, à ingestão de açúcar, a uma interação entre manuseio e ingestão de açúcar ou

se até mesmo se é possível dizer que são idiossincrasias.

No experimento I observamos diferenças entre bons e maus consumidores de

açúcar nas medidas registradas no labirinto em cruz elevado, entretanto, não conseguimos

fazer distinção se essas diferenças estavam mais relacionadas à ansiedade ou à atividade

locomotora. Os resultados do presente experimento também são difíceis de serem

compreendidos e também não ajudaram a explicar os resultados do Experimento I.

Os resultados do Experimento I parecem sugerir que existe uma relação entre

ingestão de açúcar e atividade locomotora no labirinto em cruz elevado. Entretanto, o

labirinto em cruz elevado é um modelo freqüentemente utilizado para registrar

comportamentos relacionados à ansiedade, sendo que outros modelos como o campo

aberto são mais utilizados quando se pretende investigar atividade locomotora. Para tentar

identificar efeitos sobre atividade locomotora ou sobre comportamentos relacionados à

50

ansiedade, torna-se necessário adicionar o teste no campo aberto. Com essa finalidade,

realizou-se o experimento a seguir.

Experimento III Os resultados obtidos nos experimentos anteriores sugeriram, além da utilização de

outro modelo animal, que parece relevante um maior controle das condições de manuseio

anteriores aos testes, principalmente no do campo aberto, pois muitos trabalhos mostraram

que o manuseio prévio pode alterar a atividade locomotora neste modelo de teste. Nesse

sentido, primeiro programaram-se os testes no campo aberto e no labirinto em cruz elevado

e em seguida as sessões de ingestão de açúcar. Nos experimentos anteriores era ao

contrário: primeiro a fase de ingestão de açúcar e depois o teste no labirinto em cruz

elevado. Dessa forma, de um modo geral, aqui vamos visar verificar se a ingestão de

açúcar está relacionada à atividade locomotora ou a comportamentos indicadores de

ansiedade. Com esse fim, utilizaram-se dois modelos, o campo aberto e o labirinto em cruz

elevado, na seguinte seqüência experimental: testes no campo aberto, no labirinto em cruz

elevado e a fase de ingestão de açúcar. A intenção foi a de deixar fase de ingestão de

açúcar por último em uma tentativa de amenizar os efeitos do manuseio.

O teste no campo aberto consiste em medir os comportamentos que ocorrem em um

ambiente novo e sem lugares protegidos. Os comportamentos observados dependem da

interação do rato com muitos fatores tais como: (1) experiência da remoção de um

ambiente familiar; transferência para o campo aberto, (2) características do campo aberto e

de seu ambiente circundante e (3) o protocolo experimental programado (Walsh e

Cummins, 1976).

Apesar de ser um modelo bastante utilizado não existe um padrão entre os

pesquisadores, tanto na forma como no uso deste modelo. Seu tamanho (Broadhurst, 1957;

Blizard, 1971), forma e cor (Delbarre et al., 1970; Oldham e Morlock, 1970), subdivisões

51

(Morrison e Thatcher, 1969), textura do chão (Satinder, 1968), odores (McCall, 1969) e

localização da área de início (Clark et. al. 1970; King, 1970) têm sido variados. Do mesmo

modo encontramos variações no ambiente circundante, tais como (1) a natureza,

intensidade e posição da luz, (2) odores e a visibilidade e (3) posição do observador (Walsh

e Cummins, 1976). De fato, é difícil pensar em uma condição desse modelo que já não

tenha sido modificada. Esta dificuldade de padronização pode ser explicada pelo fato de os

próprios pesquisadores não descreverem os detalhes de suas variáveis de procedimento.

Além das variações citadas acima, também observamos que há variações nas

variáveis dependentes registradas nesse modelo, como por exemplo, medidas fisiológicas,

endocrinológicas e comportamentais (Walsh e Cummins, 1976). Apesar disso, o modelo é

bem conhecido por ser utilizado para investigar atividade locomotora. A atividade

locomotora tem sido registrada pelo número de subdivisões atravessadas. Adicionalmente,

atividade locomotora também tem sido registrada pela sua localização, sendo que as

subdivisões do aparato podem ser compreendidas nas áreas central ou periférica (Ivinskis,

1970). Dessa forma, a atividade locomotora sobre ocorrida em uma ou outra área também

tem sido usada como uma medida de ansiedade (Morrison e thatcher, 1969; Valle, 1970).

Diferentes espécies foram testadas no campo aberto, com diferentes tamanhos. Os

resultados mostram que alterações no tamanho do campo aberto tem efeitos sobre a

atividade locomotora, quanto maior o tamanho do campo aberto maiores os níveis de

atividade locomotora em ratos (Montgomery, 1951; Broadhurst, 1957).

Outra condição que também afeta a atividade locomotora nesse modelo é o nível de

iluminação. Em condições com altos níveis de iluminação os ratos mostram atividade

locomotora reduzida. Blizard (1971) relatou que quanto maior o campo aberto, mais os

animais se locomovem sob condição de baixa iluminação. Valle (1970) relatou que

atividade locomotora, o comportamento de ficar em pé sobre as patas traseiras e o

comportamento conhecido como tigmotaxia — ficar próximo a superfícies verticais — são

52

menos freqüentes em condições de alta iluminação. Livesey e Egger (1970) relataram que

a atividade locomotora era menor nas condições de iluminação 9,3 lux do que na de 0,005

lux em ratos de 47 ou 115 dias.

Levando em consideração os resultados obtidos no Experimento I sobre ingestão de

açúcar e comportamentos relacionados à ansiedade ou atividade locomotora no labirinto

em cruz elevado, o objetivo deste experimento foi o de verificar se a ingestão de açúcar

está relacionado à atividade locomotora ou aos comportamentos indicadores de ansiedade.

Para isso, comparamos o comportamento exploratório de ratos em dois modelos: o campo

aberto e o labirinto em cruz elevado. Os animais foram submetidos às seguintes condições

experimentais: teste no campo aberto, teste no labirinto em cruz elevado e sessões de

ingestão de açúcar. A fase de ingestão de açúcar foi realizada por último com a finalidade

de amenizar possíveis efeitos do manuseio.

Método

Sujeitos.

Foram utilizados 26 ratos Wistar machos (300 ± 10 g) provenientes do biotério

Geral do Campus da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto e mantidos nas mesmas

condições descritas no Experimento I.

Equipamento.

Utilizou-se o mesmo labirinto em cruz elevado do Experimento I. Além desse

aparato, utilizou-se também um campo aberto. Este era constituído por caixa quadrada de

madeira (120 x 120 x 40 cm) com piso de fórmica marrom escuro, com paredes laterais de

madeira. Suspensa acima da região central do campo aberto havia uma câmera de vídeo

acoplada a um vídeo cassete e a um aparelho de televisão localizados em uma sala

53

adjacente à sala adjacente à sala de teste, como no caso do labirinto em cruz elevado. Por

ocasião do registro, também como foi feito para o labirinto em cruz elevado, colocava-se

um gabarito transparente sobre a tela do aparelho de televisão com a imagem do campo

aberto com o piso dividido em 36 quadrados (cada um com o equivalente a 20 cm de lado

no piso do aparato). Isso permitiu a localização precisa dos deslocamentos do animal e dos

comportamentos emitidos em cada um dos quadrados do campo aberto.

Procedimento.

CAMPO ABERTO. Após o período de habituação de três dias, os animais foram testados no

campo aberto por cinco minutos. O animal era gentilmente colocado na área central do

piso do campo aberto podendo explorá-la livremente durante 5 minutos. Durante o teste, a

luz da sala permaneceu desligada. Foram registradas a distância total percorrida (estimada

a partir do número de quadrados nos quais o animal entrava) e a distância percorrida em

cada região do campo aberto (Figura 12): área periférica (20 quadrados com pelo menos

um dos lados com parede), área intermediária (12 quadrados adjacentes internamente à

área periférica) e área central (4 quadrados no centro do campo aberto). Para o registro,

utilizou-se uma câmera equipada com lâmpada infravermelha. O registro comportamental

foi feito com o mesmo programa utilizado nos Experimentos I e II.

Figura 12. Diagrama do campo aberto dividido em 36 quadrados. Área periférica, quadrados hachurados; área intermediária, quadrados em branco; área central, quadrados pontilhados. Cada quadrado tem 20 cm de lado. A divisão em quadrados refere-se à divisão sobre o gabarito transparente; o piso do aparato não continha quaisquer divisões.

54

LABIRINTO EM CRUZ ELEVADO. Vinte e quatro horas após o teste no campo aberto, os

animais foram testados no labirinto em cruz elevado por cinco minutos do mesmo modo

que nos Experimentos I e II, analisando-se os mesmos comportamentos. Durante os cinco

minutos de teste, ao contrário do que ocorreu nos Experimentos I e II, a luz da sala

permaneceu desligada.

INGESTÃO DE AÇÚCAR. Vinte e quatro horas após o teste no labirinto em cruz elevado teve

início a fase de ingestão. Durante oito dias, em sessões diárias de 30 min, os animais foram

colocados individualmente em uma caixa semelhante à de alojamento, na qual estavam

disponíveis ração moída em comedouros de aço inoxidável, e dois frascos com bicos de

aço inoxidável contendo açúcar dissolvido em água de torneira (240 g/l) e apenas a água de

torneira. Os comedouros foram pesados no início e final de cada sessão, permitindo obter a

quantidade consumida. Os frascos continham divisões que permitiam medir o nível de

líquido, também permitindo obter a quantidade consumida durante a sessão. Em seguida,

os animais eram devolvidos às suas respectivas gaiolas-viveiro, com ração e água a

vontade.

Análise estatística.

A ingestão de açúcar e de ração foi analisada pelo teste de Mann-Whitney enquanto

a exploração do campo aberto foi analisada por Anova de uma via com medidas repetidas

(três níveis: áreas periférica, intermediária e central) seguida, sempre que apropriado, pelo

teste post-hoc de comparações de médias de grupos de Duncan. As correlações entre o

consumo de açúcar e de ração e os comportamentos no campo aberto e no labirinto em

cruz elevado foram feitas com o teste de correlações de Pearson. Em todos os casos o nível

de significância foi fixado em P < 0,05.

55

Resultados

A Figura 13 mostra a média da ingestão de açúcar e de ração nas duas últimas

sessões de consumo. Pode-se observar que o açúcar foi preferido pelos ratos, tanto em

relação à água quanto em relação à ração.

**

0

2

4

6

8

Açúcar Água Açúcar RaçãoSubstância

Con

sum

o (m

l)

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

Con

sum

o (g

)

Líquidos Sólidos

Figura 13. Ingestão média de açúcar e ração nas duas últimas sessões do período de consumo. *, Significativamente diferente do consumo de açúcar (Mann-Whitney, P < 0,05).

A Figura 14 mostra o padrão de exploração do campo aberto. A Anova mostrou

diferenças na quantidade de quadrados explorados em cada área (F[2,50] = 96,004; P <

0,001), no tempo gasto em cada área (F[2,50] = 6219,017; P < 0,001) e na distância nelas

percorrida (F[2,50] = 684,550; P < 0,001). O teste de Duncan mostrou que os animais

atravessaram mais quadrados na área intermediária do que nas outras duas e mais na

periférica do que na central. No entanto gastaram muito mais tempo e percorreram

distâncias maiores na área periférica do que nas áreas intermediária e central.

°

*

0

2

4

6

8

10

12

P I C

Freq

üênc

ia de

entra

das

° *0

50

100

150

200

250

300

P I C

Temp

o gas

to (s)

* *0

5

10

15

20

25

30

P I C

Distâ

ncia

perco

rrida (

m)

Áreas do campo aberto

Figura 14. Parâmetros de ocupação do campo aberto. P, Área periférica; I, área intermediária; C, área central. *, Diferente de P e I; °, diferente de P (Mann-Whitney, P < 0,05).

56

A Tabela 5 mostra as correlações entre o consumo de açúcar e a exploração do

campo aberto. Mostra também a correlação entre esta exploração e o consumo de ração.

Pode-se observar que houve uma correlação significativa entre o consumo de açúcar e a

distância percorrida na área central, isto é, ratos que consumiram mais açúcar

perambularam pela área central mais que os que consumiram menores quantidades de

açúcar. Além disso, houve também uma correlação positiva entre o consumo de ração e o

tempo gasto na área periférica, isto é, ratos que consumiram mais ração permaneceram

mais tempo na área periférica do que os que consumiram menos ração.

Tabela 5. Correlação entre o consumo (g) de açúcar e de ração e os comportamentos no campo aberto. P, Área periférica; I, área intermediária; C, área central. *, Correlação de Pearson estatisticamente significativa, P < 0,05.

Parâmetro

Freqüência de entradas Tempo gasto (s) Distância percorrida (m)

Substância consumida P I C P I C P I C

Açúcar 0.341 0.342 0.315 -0.368 0.291 0.348 0.134 0.332 0.391*Ração -0.176 -0.174 -0.135 0.390* -0.380 -0.295 0.266 -0.194 -0.203

A Figura 15 mostra as correlações individuais entre consumo tanto de açúcar como

de ração e freqüência de entradas, tempo gasto e distância percorrida campo aberto sempre

que a correlação apresentou uma probabilidade menor que 0,10. Pode-se notar que o

consumo de açúcar tendeu a se correlacionar com a freqüência de entradas nas áreas

periféricas e intermediária, com o tempo gasto nas áreas periférica e central e com a

distância percorrida nas áreas intermediária e central. Também se pode notar que houve

uma tendência à correlação entre o consumo de ração e o tempo gasto nas áreas periférica e

intermediária. As correlações com probabilidade entre 0,05 e 0,10, no entanto, foram

consideradas apenas como indicativas.

A Tabela 6 mostra as médias (± E. P. M.) dos comportamentos exibidos pelos ratos

nos braços do labirinto em cruz elevado. Não se analisaram as diferenças devido ao fato de

os animais se constituírem em um grupo único. Destaca-se. no entanto, o tempo maior

57

gasto nos braços fechados do labirinto, o que nem sempre se observou com os outros

comportamentos.

Área periférica Área intermediária Área central

A (Açúcar, P < 0,10)

0

2

4

6

8

10

12

14

0 1 2 3 4

Ent

rada

s

B (Açúcar, P < 0,10)

02

468

101214

1618

0 1 2 3 4

Ent

rada

s

C (Açúcar, P < 0,10; ração, P < 0,05)

250

260

270

280

290

300

0 1 2 3 4

Tem

po

D (Ração P < 0,10)

0

5

10

15

20

25

30

0 1 2 3 4

Tem

po (s

)

E (Açúcar, P < 0,10)

0

5

10

15

20

25

30

35

0 1 2 3 4

Tem

po (s

)

F (Açúcar, P < 0,10)

0

1

2

3

4

5

6

0 1 2 3 4

Dis

tânc

ia p

erco

rrida

(m)

G (Açúcar, P < 0,05)

0

1

2

3

4

0 1 2 3 4

Dis

tânc

ia p

erco

rrid

a (m

)

Consumo (g)

Figura 15. Correlação entre consumo de açúcar e ração e parâmetros de ocupação do campo aberto.

São mostradas apenas as correlações com P < 0,10. ●, Açúcar (linha de tendência pontilhada); °, ração (linha de tendência cheia).

58

Tabela 6. Comportamentos exibidos nos braços do labirinto em cruz elevado (média ± E. P. M.).

Área do labirinto

Medidas Braços abertos Braços fechados Centro Total

Freqüência Entradas 10.27±0.65 10.62±0.53 - 20.88±0.96 Porcentagem do total 48.77±1.66 51.23±1.66 - - Distância percorrida (m) 6.91±0.53 8.76±0.40 - 15.67±0.73 Levantadas 0.15±0.07 14.58±0.87 1.54±0.47 16.27±1.15 Esticadas 2.92±0.46 2.19±0.35 1.54±0.28 6.65±0.68 Mergulhos de cabeça 6.04±0.78 0.04±0.04 1.38±0.24 7.46±0.83 Limpadas 0.23±0.08 5.12±0.46 0.12±0.06 5.46±0.47

Tempo (s) Entradas 94.93±6.24 157.44±6.65 47.63±2.44 - Porcentagem do total 31.64±2.08 52.48±2.22 15.88±0.81 - Levantadas 0.14±0.09 22.21±1.76 1.97±0.66 24.32±2.17 Esticadas 3.56±0.66 3.04±0.65 1.76±0.31 8.35±1.15 Mergulhos de cabeça 6.62±0.98 0.03±0.03 2.15±0.41 8.80±1.18 Limpadas 0.12±0.06 24.79±4.18 0.05±0.04 24.96±4.21

A Tabela 7 contém as médias (± E. P. M.) dos comportamentos ocorridos nas

extremidades dos braços do labirinto em cruz elevado.

Tabela 7. Comportamentos exibidos nas extremidades dos braços do labirinto em cruz elevado (média ± E. P. M.). Extremidades

Freqüência Tempo

Medidas Braços abertos

Braços fechados

Braços abertos

Braços fechados

Entradas 8.19±0.70 10.19±0.48 43.70±4.45 84.65±5.49 Levantadas 0.00±0.00 12.44±0.76 0.00±0.00 20.32±1.68 Esticadas 1.65±0.38 0.08±0.05 2.01±0.53 0.06±0.04 Mergulhos de cabeça 2.31±0.43 0.00±0.00 2.56±0.53 0.00±0.00 Limpadas 0.04±0.04 3.42±0.40 0.03±0.03 14.93±3.15

A Tabela 8 mostra as correlações entre a ingestão de açúcar e de ração nas duas

últimas sessões do período de consumo e os comportamentos exibidos nos braços abertos e

fechados e no centro do labirinto em cruz elevado. Mostra também, sempre que pertinente,

os totais de cada um dos parâmetros considerados. Pode-se notar que houve uma

correlação positiva entre a ingestão de açúcar e a freqüência de entradas e a distância

59

Tabela 8. Correlações entre o consumo de açúcar e ração e as medidas comportamentais nos braços do labirinto em cruz elevado. *, Correlação de Pearson, P < 0,05.

Área do labirinto

Medidas Braços abertos Braços fechados Centro Total

Açúcar Freqüência de entradas 0.228 0.458* - 0.407* Porcentagem do total de entradas -0.096 0.096 - - Distância percorrida (m) 0.132 0.430* - 0.336 Freqüência de levantadas -0.113 0.270 0.306 0.323 Freqüência de esticadas -0.138 -0.044 -0.031 -0.129 Freqüência de mergulhos de cabeça 0.084 -0.068 -0.297 -0.011 Freqüência de limpadas -0.117 -0.315 0.098 -0.314 Tempo nos braços (s) 0.036 -0.106 0.196 - Porcentagem do total de tempo (s) 0.036 -0.106 0.196 - Tempo gasto levantando-se (s) -0.230 0.165 0.299 0.216 Tempo gasto esticando-se (s) -0.041 -0.038 -0.116 -0.076 Tempo gasto mergulhando a cabeça (s) 0.004 -0.068 -0.190 -0.064 Tempo gasto limpando-se (s) -0.012 -0.254 -0.030 -0.253

Ração Freqüência de entradas 0.113 0.138 - 0.153 Porcentagem do total de entradas 0.051 -0.051 - - Distância percorrida (m) 0.124 0.140 - 0.169 Freqüência de levantadas -0.128 0.077 0.156 0.115 Freqüência de esticadas 0.004 -0.145 -0.502* -0.276 Freqüência de mergulhos de cabeça 0.326 -0.130 -0.005 0.300 Freqüência de limpadas -0.340 -0.096 0.236 -0.122 Tempo nos braços (s) 0.260 -0.169 -0.203 - Porcentagem do total de tempo (s) 0.260 -0.169 -0.203 - Tempo gasto levantando-se (s) -0.141 0.111 0.161 0.133 Tempo gasto esticando-se (s) 0.072 -0.044 -0.544* -0.130 Tempo gasto mergulhando a cabeça (s) 0.331 -0.130 0.110 0.311 Tempo gasto limpando-se (s) -0.240 -0.304 0.057

percorrida nos braços fechados. Também houve correlação entre o consumo de açúcar e o

total de entradas. No entanto, houve correlações negativas entre o consumo de ração e a

freqüência e o tempo gasto esticando-se no centro do labirinto.

Finalmente, a Tabela 9 mostra as correlações entre o consumo de açúcar e ração e

os parâmetros comportamentais exibidos nas extremidades dos braços do labirinto em cruz

elevado.

60

Tabela 9. Correlações entre consumo de açúcar e ração e medidas comportamentais nas extremidades dos braços do labirinto em cruz elevado.

Extremidades dos braços

Freqüência Tempo

Medidas Abertos Fechados Abertos Fechados

Açúcar Entradas 0.105 0.317 -0.125 -0.328 Levantadas -0.038 0.194 -0.038 0.134 Esticadas -0.222 0.056 -0.138 0.047 Mergulhos de cabeça -0.027 -0.038 -0.082 -0.038 Limpadas -0.221 -0.336 -0.221 -0.416*

Ração Entradas 0.236 0.092 0.364 -0.057 Levantadas -0.147 0.084 -0.147 0.125 Esticadas 0.101 0.129 0.100 0.139 Mergulhos de cabeça 0.456* -0.147 0.384 -0.147 Limpadas -0.124 -0.140 -0.124 -0.179

Pode-se notar uma correlação negativa entre a ingestão de açúcar e o tempo gasto se

limpando nas extremidades dos braços fechados e uma correlação positiva entre a ingestão

de ração e a freqüência de mergulhos de cabeça nas extremidades dos braços abertos.

A Figura 16 mostra as correlações individuais com probabilidade menor que 0,10

entre o consumo tanto de açúcar como de ração e os seguintes comportamentos ligados à

exploração: distância percorrida nos braços fechados, distância percorrida total, entradas

nos braços fechados, total de entradas nos dois tipos de braços, e tempo gasto nas

extremidades dos braços abertos. As correlações com probabilidade entre 0,05 e 0,10, no

entanto, foram consideradas apenas como indicativas.

A Figura 17 mostra correlações individuais significativas entre o consumo de ração

e o comportamento de levantar-se (freqüência e tempo no centro do labirinto). A Figura 18

mostra as correlações individuais com probabilidade menor que 0,10 entre consumo de

ração e parâmetros do comportamento de mergulhar a cabeça (tempo nos braços abertos,

freqüência e tempo nas extremidades abertas). E, por último, a Figura 19 mostra as

correlações individuais com probabilidade menor que 0,10 entre consumo de açúcar e

61

parâmetros do comportamento de se limpar (freqüência e tempo nas extremidades dos

braços fechados).

A (açúcar, P < 0,05)

02468

10121416

0 1 2 3

Consumo (g)

Distâ

ncia

no fe

chad

o (m)

4

B (açúcar, P < 0,10)

0

5

10

15

20

25

0 1 2 3

Consumor (g)

Distâ

ncia

total

(m)

4

C (Açúcar, P < 0,05)

02468

1012141618

0 1 2 3

Consumo (g)

Entra

das n

o fec

hado

4

D (Açúcar, P < 0,05)

0

5

10

15

20

25

30

35

0 1 2 3

Consumo (g)

Total

de en

trada

s

4

E (Ração, P < 0,10)

0

20

40

60

80

100

120

0 1 2 3 4Consumo (g)

Temp

o extr

emida

de ab

erta

Figura 16. Correlação entre consumo de açúcar e ração e parâmetros de entradas nos braços do labirinto em cruz elevado. São mostradas apenas as correlações com P < 0,10.●, Açúcar (linha de tendência pontilhada); °, ração (linha de tendência cheia).

62

A (Ração, P < 0,05)

0123456

0 1 2 3 4

Consumo (g)

Freq

üênc

ia no

centr

o

B (Ração, P < 0,05)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 1 2 3 4Consumo (g)

Temp

o no c

entro

(s)

Figura 17. Correlação entre consumo de açúcar e ração e parâmetros de levantadas nos braços do labirinto em cruz elevado.

São mostradas apenas as correlações com P < 0,10. ●, Açúcar (linha de tendência pontilhada); °, ração (linha de tendência cheia).

A (Ração, P < 0,10)

0

5

10

15

20

25

0 1 2 3 4Consumo (g)

Temp

o no b

raço a

berto

(s)

B (Ração, P < 0,05)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

0 1 2 3Consumo (g)

Freq

üênc

ia ex

tremi

dade

abert

a

4

A (Ração, P < 0,10)

0

1

2

3

4

5

6

78

9

0 1 2 3 4Consumo (g)

Temp

o extr

emida

de ab

erta (

s)

Figura 18. Correlação entre consumo de açúcar e ração e parâmetros de mergulhar a cabeça nos braços do labirinto em cruz elevado. São mostradas apenas as correlações com P < 0,10.●, Açúcar (linha de tendência pontilhada); °, ração (linha de tendência cheia).

63

A (Açúcar, P < 0,10)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0 1 2 3 4

Consumo (g)

Freq

üênc

ia ex

tremi

dade

fec

hada

B (Açúcar, P < 0,05)

0

10

20

30

40

50

60

70

0 1 2 3Consumo (g)

Tem

po e

xtre

mid

ade

fech

ada

(s)

4

Figura 19. Correlação entre consumo de açúcar e ração e parâmetros de limpar-se nos braços do labirinto em cruz elevado.

São mostradas apenas as correlações com P < 0,10. ●, Açúcar (linha de tendência pontilhada); °, ração (linha de tendência cheia).

Como mencionado no caso das figuras anteriores, as correlações com probabilidade

entre 0,05 e 0,10, foram consideradas apenas como indicativas.

Discussão

No Experimento I observamos que, em comparação com os ratos que ingeriram

quantidades menores, os animais que ingeriram maiores quantidades de açúcar

apresentaram freqüências maiores de comportamentos relacionados tanto à ansiedade

como à atividade locomotora no labirinto em cruz elevado. Entretanto, não tínhamos como

saber se essas diferenças eram efeito da ingestão de açúcar ou do procedimento de

manuseio executado no protocolo da fase de ingestão. No Experimento II, tentamos

verificar se a condição de manuseio acarretava efeitos sobre a ingestão de açúcar ou

afetava as medidas registradas no labirinto em cruz elevado. Os resultados foram

inconsistentes e também não conseguimos verificar se as alterações observadas nas

64

medidas registradas no labirinto em cruz elevado eram função do manuseio ou da ingestão

de açúcar.

No presente experimento utilizaram-se dois modelos animais: a arena e o labirinto

em cruz elevado. Adicionalmente, tentamos amenizar os efeitos do manuseio, ao qual os

ratos foram expostos durante a fase de ingestão, sobre as medidas comportamentais

registradas no campo aberto e no labirinto em cruz elevado. Dessa forma, os ratos foram

expostos aos procedimentos da fase de ingestão depois dos testes no campo aberto e no

labirinto em cruz elevado.

Mais atividade locomotora no labirinto em cruz elevado parece funcionar como um

previsor de maior ingestão de açúcar, pois os animais que mostraram maior freqüência de

entradas nos braços fechados, maior freqüência total de entradas nos dois tipos de braços e

maior distância percorrida nos braços fechados ingeriram, posteriormente, maiores

quantidades de açúcar. Não houve correlação entre medidas comportamentais relacionadas

á ansiedade e quantidade de ingestão de açúcar. Também não houve correlação entre

qualquer das medidas comportamentais registradas no labirinto em cruz elevado e a

ingestão de ração de laboratório. Os resultados deste experimento sugerem que atividade

locomotora registrada no labirinto em cruz elevado varia da mesma forma que a ingestão

de açúcar registrada em sessões posteriores. No experimento I, observamos as mesmas

correlações observadas neste experimento, com a diferença de que também houve

correlação entre medidas comportamentais relacionadas à ansiedade e à quantidade de

ingestão de açúcar. Essa diferença pode ter ocorrido porque os animais do Experimento I

foram manuseados antes do teste no labirinto em cruz elevado, o que não ocorreu neste

experimento. Dessa forma, o efeito de tipo ansiolítico do Experimento I parece ter sido

acarretado pelo manuseio.

No presente experimento, os resultados observados no campo aberto sugerem uma

análise diferente da análise realizada sobre os resultados observados no labirinto em cruz

65

elevado. No campo aberto os animais que percorreram maior distância na área central

ingeriram maiores quantidades de açúcar em sessões posteriores. É relevante mencionar

que houve correlação positiva (com índice de significância 0,08, indicativo, portanto) entre

o tempo gasto na área central e a quantidade de ingestão de açúcar em sessões posteriores.

Entretanto, não houve correlação entre freqüência de entradas na área central e a

quantidade de açúcar ingerido. Segundo Prut e Belzung (2003), o tempo gasto, a

freqüência de entradas e a porcentagem da distância percorrida na área central são medidas

relacionadas à ansiedade. Apesar de não observarmos correlações significativas entre todas

as medidas comportamentais relacionadas à ansiedade e à quantidade de açúcar ingerido,

os resultados sugerem que comportamentos relacionados à ansiedade no campo aberto

sejam um previsor da ingestão de açúcar em sessões posteriores.

Entretanto temos que tomar cuidado quando tentamos analisar esses

comportamentos registrados no campo aberto. Roth e Katz (1979) submeteram um grupo

de ratos a um período de uma hora de estresse por luz fluorescente (70 W) e som (95 dB),

enquanto outro grupo permaneceu no biotério. Após esse período os animais foram

testados no campo aberto. Os animais que foram estressados apresentaram maior

freqüência de cruzamentos nos quadrados centrais do campo aberto, quando comparados

aos animais controle. Utilizando-se somente esse registro de comportamento pode-se

pensar que os animais do grupo estressado comportaram-se como menos ansiosos no

campo aberto em relação aos animais do grupo controle. Entretanto, quando se utiliza o

registro dos níveis de corticosterona, observa-se que os níveis dos animais estressados são

maiores que os dos animais controle. Os registros dos níveis de corticosterona sugeriram

que os animais submetidos à luz e ao som comportaram-se como mais ansiosos, embora

tenham se locomovido mais na área central do campo aberto. Utilizar medidas

comportamentais e endocrinológicas diminui as chances de se fazer uma análise incorreta.

66

No presente experimento não houve registro de medidas endocrinológicas e, em função

disso, as análises foram realizadas com precaução.

Em relação às medidas relacionadas à atividade locomotora os resultados foram

inconsistentes. Segundo Prut e Belzung (2003), a freqüência de entradas e a porcentagem

de distância percorrida na área periférica são medidas comportamentais relacionadas à

atividade locomotora. Houve uma correlação positiva (embora com índice de significância

0,08) entre a freqüência de entradas na área periférica e a quantidade ingerida de açúcar.

Isso sugere uma tendência de medidas como freqüência de entradas na área periférica e

quantidade ingerida de açúcar a variarem da mesma forma. Apesar de medidas como

freqüência de entradas na área periférica e quantidade de açúcar ingerido terem variado da

mesma forma, ambas aumentaram. Dessa forma, não temos condições de dizer se uma

medida afetou a outra.

Em relação à ingestão de ração de laboratório houve uma correlação positiva com o

tempo gasto na área periférica. Nenhuma outra medida registrada no campo aberto se

correlacionou com a ingestão de ração de laboratório. De um modo geral, tanto as medidas

comportamentais registradas no labirinto em cruz elevado assim como no campo aberto

não se correlacionaram com a quantidade ingerida de ração de laboratório. Isso sugere que,

quando se observa que certas medidas comportamentais registradas no labirinto em cruz

elevado ou no campo aberto correlacionam-se com a ingestão de açúcar, um fator a

considerar é a percepção do gosto doce. Os resultados do Experimento I e do presente

experimento apresentaram resultados parecidos aos de outros pesquisadores. Alguns

trabalhos mostraram que a variabilidade no consumo de substâncias doces permite predizer

diferenças comportamentais com perfil apetitivo. Por exemplo, alta ingestão de sacarina

correlaciona-se com alta ingestão de etanol (Kampov-Polevoy et al., 1990; Gosnell e

Krahn, 1992; Overstreet et al., 1993) e ratos seletivamente criados como bons e maus

consumidores de etanol consumiram, respectivamente, altas e baixas quantidades de

67

sacarina (Sinclair et al., 1992). Gosnell et al. (1995) mostraram que ratos com alta

preferência por sacarina auto-administram mais morfina que ratos com baixa preferência.

Além disso, ratos que ingerem quantidades elevadas de sacarose auto-administram

psicoestimulantes intravenosamente mais prontamente que ratos que ingerem baixas

quantidades de sacarose (DeSouza et al., 2000).

Outro fator importante é que tanto as medidas registradas no labirinto em cruz

elevado assim e no campo aberto como o registro da ingestão de açúcar são variáveis

dependentes do protocolo experimental e pode não haver relação entre elas. Muitos autores

defendem uma relação direta entre algumas variáveis dependentes, por exemplo, ingestão

de etanol e atividade locomotora em ambiente novo (Gingras e Cools, 1995, 1996),

ingestão de açúcar e comportamentos relacionados à ansiedade no labirinto em cruz

elevado (DeSouza et. al., 1998), alta ingestão de sacarina e alta ingestão de etanol

(Kampov-Polevoy et al., 1990; Gosnell e Krahn, 1992; Overstreet et al., 1993), e alta

ingestão de sacarina e auto-administração de morfina (Gosnell, et. al 1995). Sugerir que

existe uma relação entre os registros comportamentais no labirinto em cruz elevado ou no

campo aberto e a ingestão de açúcar em sessões posteriores pode ser precipitada. O

presente experimento não apresenta condições para identificar as variáveis que

favoreceram as correlações entre ingestão de açúcar e comportamentos registrados no

campo aberto ou no labirinto em cruz elevado. O teste de Pearson, utilizado neste

experimento, apenas nos mostra se a ingestão de açúcar e as medidas comportamentais

registradas no campo aberto ou no labirinto em cruz elevado variam da mesma forma ou

não. Entretanto, dizer que existe uma relação entre esses eventos requer estudos mais

detalhados. Com base nesses resultados, o experimento a seguir teve o objetivo de verificar

se ingestão de açúcar afeta o comportamento de ratos no labirinto em cruz elevado.

68

Experimento IV Os resultados do Experimento III mostraram que os ratos que ingeriram maiores

quantidades de açúcar apresentaram maior freqüência de comportamentos relacionados à

atividade locomotora no labirinto em cruz elevado e maior freqüência de comportamentos

relacionados à ansiedade no campo aberto. Em relação à ingestão de ração moída, não

ocorreram quaisquer correlações com as medidas comportamentais registradas no labirinto

em cruz elevado ou no campo aberto. Os resultados do Experimento I também mostraram

correlações entre maior quantidade de açúcar ingerida e maior freqüência de

comportamentos relacionados à ansiedade ou à atividade locomotora registrados no

labirinto em cruz elevado. Os resultados dos Experimentos I e III apenas mostraram que

quantidade ingerida de açúcar correlacionou-se positivamente com a freqüência de

comportamentos relacionados à ansiedade e à atividade locomotora no labirinto em cruz

elevado e no campo aberto.

Alguns trabalhos também mostraram que maior consumo de substâncias doces

correlacionou-se com outros comportamentos em diferentes modelos animais (Kampov-

Polevoy et al., 1990; Gosnell e Krahn 1992; Sinclair et al., 1992; Overstreet et al., 1993;

Gosnell et al., 1995). DeSouza et. al (1998) relataram que ratos bons consumidores de

sacarose mostraram resposta de sobressalto de menor magnitude diante de um estímulo

acústico, quando comparados a ratos maus consumidores de sacarose. Os mesmos autores

também relataram que os ratos que preferiram sacarose apresentaram menor freqüência de

comportamentos relacionados à ansiedade no labirinto em cruz elevado quando

comparados a ratos que não demonstraram preferência por sacarose.

Para qualquer dos resultados apresentados nos experimentos deste trabalho não se

pode afirmar que a quantidade ingerida de açúcar afetou o comportamento registrado no

labirinto em cruz elevado, embora tenham ocorrido correlações significativas. Em função

69

disso, o presente experimento teve o objetivo de verificar se a ingestão prévia de açúcar

afeta o comportamento de ratos no labirinto em cruz elevado.

Método

Sujeitos

Foram utilizados 32 ratos Wistar machos (170 ± 10 g) provenientes do biotério

Geral do Campus da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto e mantidos nas mesmas

condições descritas no Experimento I.

Após o período de habituação às condições do biotério, os animais foram

distribuídos em quatro Grupos (N = 8), três deles baseados na quantidade de sessões de

consumo (ver abaixo) a que seriam submetidos antes de serem testados no labirinto em

cruz elevado e um outro que receberia injeção de glicose. Para isso, os animais dos três

primeiros Grupos foram privados de comida por 24 horas uma única vez e em seguida

submetidos a uma sessão de habituação ao consumo, para que as substâncias oferecidas

não fossem novidade. Depois dessa sessão, um primeiro Grupo (0) permaneceu no biotério

por sete dias e os sujeitos foram manipulados apenas durante a limpeza da gaiola e troca de

maravalha. No oitavo dia, os animais foram testados no labirinto em cruz elevado e

imediatamente após, foram submetidos a uma sessão de consumo sem qualquer privação.

Não foram, exceto pela sessão de treino com privação, submetidos a nenhuma sessão de

consumo antes do teste no labirinto. Um segundo Grupo (1) permaneceu no biotério por

sete dias e, igual aos do primeiro Grupo, foram manipulados apenas durante a limpeza da

gaiola e troca de maravalha. No oitavo dia foram submetidos à sessão de consumo sem

privação. Imediatamente após, esses animais foram testados no labirinto em cruz elevado.

Foram, excetuando-se a sessão de treino com privação, submetidos a uma única sessão de

consumo antes do teste no labirinto. Um terceiro Grupo (7) foi submetido a sete sessões de

70

consumo sem qualquer privação, iniciadas 24 horas depois da sessão de habituação ao

consumo com privação. No oitavo dia, depois das sete sessões de consumo, foram

submetidos ao teste no labirinto. Exceto pela sessão de treino de consumo, esses animais

não foram mais submetidos a qualquer privação. Finalmente, para testar o efeito de açúcar

no metabolismo, um quarto Grupo (G) permaneceu no biotério por sete dias e, igual aos

sujeitos do primeiro e segundo Grupos, foi manipulados apenas durante a limpeza da

gaiola e troca de maravalha. No oitavo dia, os animais receberam injeção intraperitoneal de

glicose 30 minutos antes de serem testado no labirinto em cruz elevado. Esses animais

nunca foram submetidos a privação.

Equipamento

Labirinto em cruz elevado. idem ao do Experimento I

Procedimento

SESSÕES DE CONSUMO. Os animais foram transportados para uma sala adjacente em uma

caixa pequena e colocados individualmente em gaiolas idênticas às usadas para o

alojamento no biotério, para uma sessão de consumo de uma hora sem qualquer privação.

Durante esse período, estavam disponíveis nessa gaiola um recipiente com ração moída, e

dois frascos contendo água de torneira e solução de açúcar (240 g/l) respectivamente. Os

comedouros e os frascos com líquidos foram pesados antes e depois do período de

consumo. A diferença entre esses registros indicava o consumo de cada animal.

LABIRINTO EM CRUZ ELEVADO. Os animais foram testados no labirinto em cruz elevado

por cinco minutos do mesmo modo que nos Experimentos I e II, analisando-se os mesmos

comportamentos.

DROGAS. Os animais receberam injeções intraperitoniais de glicose. A droga (Drogasil,

Brasil) foi usada em concentração de 1 M e injetada em um volume de l ml/kg. As

soluções de açúcar foram preparadas usando-se açúcar comercial e água de torneira.

71

Análise estatística

Os dados coletados foram submetidos a Anova de uma via e, sempre que

apropriado, seguida do teste de Duncan de comparações entre médias de Grupo. Em todos

os casos, usou-se nível de significância P < 0,05.

Resultados

A Figura 20 mostra o ingestão durante as sessões de consumo. A Anova não

mostrou quaisquer diferenças no consumo de água (F[2,21] = 0,505, P = 0,610) ou de

solução de açúcar (F[2,21] = 0,526, P = 0,598). O consumo de ração, no entanto, foi alterado

pela exposição às

**

012345678

0 1 7 0 1 7 0 1 7

Sessões de consumo antes do teste no labirinto em cruz elevado

Inge

stão

(ml)

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

Inge

stão

(g)

Água Solução Ração

Figura 20. Consumo de água, solução de açúcar (240 g/l) e ração nos períodos de ingestão. No submetido a sete dias de consumo, foram utilizadas as médias das últimas duas sessões. *, Significativamente diferente do Grupo 0 (Duncan, P < 0,05).

diferentes quantidades de sessões de consumo (F[2,21] = 4,053, P = 0,031). O teste de

Duncan mostrou que os animais submetidos a 1 e 7 sessões prévias ao teste no labirinto em

cruz elevado ingeriram quantidade de ração significativamente menor que os sujeitos do

Grupo submetido ao teste labirinto após o período de sete dias e ã sessão de consumo

depois do teste comportamental (Grupo 0).

A Figura 21A mostra a freqüência de entradas nos braços abertos do labirinto. A

Anova mostrou um efeito do número de sessões de consumo e da injeção de glicose (F[3,28]

= 4,810, P = 0,008) e o teste de Duncan indicou que os animais submetidos a sessões de

72

consumo prévias ao teste comportamental e os que receberam injeção de glicose entraram

mais freqüentemente nos braços abertos do que os animais não submetidos à sessão prévia.

No entanto, a porcentagem de entradas nesses braços (Figura 21B) não foi afetada seja

pelas sessões prévias seja pela injeção de glicose (F[3,28] = 2,148, P = 0,117). A Figura 21C

mostra que o tempo gasto nos braços abertos, da mesma forma que a freqüência de

entradas nos mesmos, também foi alterado pela quantidade de sessões prévias de consumo

e pela injeção de glicose (F[3,28] = 4,861, P = 0,008). O teste de Duncan mostrou todos os

grupos gastaram mais tempo nos braços abertos do que o Grupo 0. Da mesma forma, a

Anova mostrou que a quantidade de sessões prévias de consumo e a injeção de glicose

alteraram tanto a freqüência de entradas (F[3,28] = 3,540, P = 0,027) quanto o tempo gasto

(F[3,28] = 3,113, P = 0,042) nas extremidades dos braços abertos (Figuras 21D e 21E). O

teste de Duncan mostrou que a exposição a uma sessão prévia e à injeção de glicose

aumentaram a freqüência e tempo gasto explorando as extremidades, em comparação com

o Grupo 0.

A Figura 22 (A e B) mostra as medidas ligadas à motricidade e atividade

exploratória propriamente dita. A Anova mostrou que a quantidade de sessões prévias de

consumo e a injeção de glicose alteraram tanto a freqüência de entradas nos braços

fechados (F[3,28] = 5,138, P = 0,006) quanto a distância percorrida neles (F[3,28] = 3,067, P =

0,044). O teste de Duncan mostrou que a exposição a uma sessão prévia e à injeção de

glicose aumentaram tanto a freqüência de entradas nos braços fechados quanto a distância

neles percorrida, quando comparados com o Grupo 0. A Figura 22C mostra a distância

percorrida nos braços abertos do labirinto. A Anova mostrou um efeito tanto do número de

sessões de consumo quanto da injeção de glicose (F[3,28] = 3,315, P = 0,034) e o teste de

Duncan de comparações entre médias de grupos indicou que os animais dos grupos

submetidos a sessões de consumo prévias ao teste comportamental e os que receberam

injeção de glicose percorreram maiores distâncias nos braços abertos do que os animais

não submetidos à sessão prévia (Grupo 0).

73

A *

**

0

1

2

3

4

5

6

7

0 1 7 G

Entra

das n

os br

aços

aber

tos

B

0

10

20

30

40

50

0 1 7 G

Entra

das n

os br

aços

aber

tos (%

)

C

* **

0

10

20

30

40

50

60

70

0 1 7 G

Temp

o nos

braç

os ab

ertos

(s)

D

**

0

1

2

3

4

5

6

0 1 7 G

Entra

das n

as ex

tremi

dade

s abe

rtas

E

**

0

5

10

15

20

25

30

35

0 1 7 G

Temp

o nas

extre

mida

des a

berta

s (s)

Figura 21. Exploração dos braços abertos do labirinto em cruz elevado.

0, 1 e 7, Quantidade de sessões de consumo antes do teste no labirinto em cruz elevado; G, injeção de glicose (1 M, 1 ml/kg). *, Diferente do Grupo 0 (Duncan, P < 0,05).

74

A

* *

0

3

6

9

12

15

0 1 7 G

Entra

das n

os br

aços

fech

ados

B

**

0

2

4

6

8

10

12

0 1 7 GDistâ

ncia

perco

rrida

no fe

chad

o (m)

C

**

*

0

1

2

3

4

5

0 1 7 G

Distâ

ncia

perco

rrida

no ab

erto

(m)

Figura 22. Medidas ligadas à atividade motora e exploratória.

0, 1 e 7, Quantidade de sessões de consumo antes do teste no labirinto em cruz elevado; G, injeção de glicose (1 M, 1 ml/kg). *, Diferente do Grupo 0 (Duncan, P < 0,05).

Finalmente, a Figura 23 mostra outros comportamentos exibidos no labirinto em

cruz elevado. A Anova não mostrou diferenças devidas a sessões de consumo nem às

injeções de glicose sobre os comportamentos de levantar (F[3,28] = 2,471, P = 0,082),esticar

(F[3,28] = 1,482, P = 0,241) e mergulhar a cabeça (F[3,28] = 1,934, P = 0,147). Mostrou, no

entanto, efeitos sobre o comportamento de limpar (F[3,28] = 1,934, P = 0,147). O teste de

Duncan indicou que os sujeitos submetidos a 1 e 7 sessões prévias de consumo, mas não os

que receberam a injeção de glicose, limparam-se significativamente menos que os sujeitos

do Grupo 0, que não foram submetidos a sessões prévias de consumo.

75

A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 1 7 G

Temp

o lev

antan

do-se

(s)

B

0

5

10

15

20

25

0 1 7 G

Temp

o esti

cand

o-se

(s)

C

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

0 1 7 G

Temp

o mer

gulha

ndo a

cabe

ça (s

)

D

**

0

10

20

30

40

50

60

70

0 1 7 G

Temp

o lim

pand

o-se

(s)

Figura 23. Outros comportamentos exibidos no labirinto em cruz elevado.

0, 1 e 7, Quantidade de sessões de consumo antes do teste no labirinto em cruz elevado; G, injeção de glicose (1 M, 1 ml/kg). *, Diferente do Grupo 0 (Duncan, P < 0,05).

Discussão

O presente experimento teve o objetivo de verificar se a ingestão prévia de

substâncias doces afeta o comportamento de ratos no labirinto em cruz elevado. Os dados

obtidos sobre a ingestão das soluções de açúcar mostraram que não houve diferença na

média diária de ingestão dessas substâncias em função do número de dias de ingestão para

os diferentes grupos de ratos. Adicionalmente, a exposição ao labirinto em cruz elevado

não teve efeitos sobre a ingestão de açúcar. Entretanto, a média diária de ingestão dos ratos

que tiveram apenas uma sessão de ingestão antes do teste no labirinto em cruz elevado foi

76

significativamente maior que a dos ratos que tiveram uma sessão de ingestão após o teste

ou 7 sessões de ingestão antes do teste. Essa diferença provavelmente se deu pelo fato de

um dos ratos desse grupo (que tiveram uma única sessão de ingestão antes do teste no

labirinto em cruz elevado) ter ingerido uma enorme quantidade de solução, o que elevou a

média de ingestão desse grupo. Levando em consideração esse fator podemos dizer que

não houve diferença significativa na média diária de ingestão de água, solução de açúcar e

ração de laboratório entre os diferentes grupos de ratos. Adicionalmente, podemos verificar

que, quando têm livre acesso a uma substância de gosto doce, os ratos a preferem em

detrimento de substâncias que não produzam essa sensação. Como já observado nos

experimentos anteriores, os ratos ingeriram quantidades de solução de açúcar maiores do

que água ou ração de laboratório.

Em relação ao teste no labirinto em cruz elevado, houve um efeito da ingestão

prévia de açúcar sobre as medidas comportamentais relacionadas à atividade locomotora.

Os ratos que tiveram uma única sessão de ingestão de solução de açúcar antes do teste no

labirinto aumentaram a freqüência de entradas nos braços fechados, a freqüência total de

entradas nos dois tipos de braços e a distância total percorrida nos braços fechados, em

comparação com os ratos que apenas permaneceram no biotério. Esses resultados sugerem

que o acesso livre à solução de açúcar por uma hora aumenta a atividade locomotora

quando os ratos são testados no labirinto em cruz elevado imediatamente após a ingestão.

Também houve um aumento na freqüência total de entradas nos dois tipos de braços para o

grupo de ratos que tiveram sete sessões de ingestão de açúcar. Quanto a esse resultado,

entretanto, é difícil separar o que é efeito da ingestão de açúcar e o que é efeito do

manuseio obrigatório durante as sessões de ingestão. Como discutido no Experimento II,

essa condição de manuseio (pegar o rato freqüentemente e colocá-lo em uma caixa

semelhante à que fica alojado) pode afetar o comportamento de ratos em modelos que

medem atividade locomotora. Alguns trabalhos mostraram esse efeito do manuseio sobre a

77

atividade locomotora em ratos (Andrews e File, 1993; Meinrath e Flaherty, 1987; Brett e

Pratt, 1990). Os ratos que tiveram apenas uma sessão de ingestão prévia ao teste no

labirinto em cruz elevado tiveram menos contato com o experimentador e

conseqüentemente não foram tão manuseados quanto os animais que tiveram sete sessões

de ingestão. Dessa forma, pode-se sugerir que o aumento na atividade locomotora exibido

pelos animais que tiveram apenas uma sessão de ingestão está menos relacionado ao

manuseio.

Um resultado interessante foi que os ratos que receberam a injeção intraperitoneal

de glicose também aumentaram a atividade locomotora no labirinto em cruz elevado:

mostraram aumentos na freqüência de entradas nos braços fechados, freqüência total de

entradas nos dois tipos de braços e distância percorrida nos braços fechados. Esses

resultados mostram que conseqüências pós-ingestivas da administração de glicose podem

ter afetado a atividade locomotora dos ratos no labirinto em cruz elevado. Dessa forma, a

sensação oral produzida pela ingestão da solução de açúcar quando os animais tiveram

uma ou sete sessões de ingestão parece não ser o principal fator afetando as medidas

comportamentais registradas no labirinto.

Uma variável que pode ter afetado o comportamento dos ratos que receberam

glicose intraperitoneal foi a picada da agulha. Alguns trabalhos mostraram que situações

como administração de choques elétricos ( Anderson et al, 1976), medo condicionado

(Baron, 1964; Cappell e Rodin, 1969), isolamento (Ader e Friedman, 1964; Goldsmith et al,

1978), barulho excessivo (Cox e Lee, 1976) e iluminação intensa (Dixon e DeFries, 1968)

tiveram efeitos de suprimir a atividade locomotora e/ou exploratória. Entretanto, Roth e

Katz (1979) mostraram que uma condição aversiva aumentou a atividade locomotora de

ratos em um campo aberto. Ratos expostos a uma luz fluorescente de 70 W e a um ruído

branco de 95 dB por um período de uma hora aumentaram a freqüência de cruzamentos

nos quadrados do centro e nos quadrados da periferia do campo aberto comparado a ratos

78

que não foram expostos a essa condição. Adicionalmente, a latência para iniciar o

movimento, quando colocado no campo aberto, foi significativamente menor nos animais

estressados do que nos controles. Dessa forma, o aumento na atividade locomotora dos

ratos que no presente experimento receberam glicose pode ser mais um efeito da picada da

agulha que da administração de glicose intraperitoneal. Para verificar esta possibilidade

deveria existir um grupo de ratos que tivesse recebido injeção intraperitoneal de salina.

Em relação às medidas comportamentais relacionadas à ansiedade também

observamos um efeito da ingestão de açúcar. Os ratos que tiveram uma única sessão de

ingestão de açúcar percorreram distâncias maiores nos braços abertos, permaneceram lá

mais tempo, e entraram mais e permaneceram mais tempo nas extremidades dos braços

abertos do que os ratos que ficaram no biotério. Os ratos que tiveram sete sessões de

ingestão apenas gastaram mais tempo gasto nos braços abertos do que os ratos que

permaneceram no biotério. Para este grupo (sete sessões de ingestão) vale a mesma análise

feita acima sobre as medidas comportamentais relacionadas à atividade locomotora, isto é,

o aumento pode ser função do manuseio. Apesar de várias medidas comportamentais

relacionadas à ansiedade terem aumentado por causa da ingestão de solução de açúcar, não

houve qualquer efeito sobre a porcentagem de entradas nos braços abertos. Contudo, houve

alterações significativas em várias medidas comportamentais relacionadas à ansiedade, o

que permite sugerir que a ingestão prévia de solução de açúcar teve um efeito ansiolítico

em ratos quando testados no labirinto em cruz elevado.

Novamente, os ratos que receberam injeções intraperitoniais de glicose também se

comportaram como se estivessem menos ansiosos: mostraram aumentos na distância

percorrida e no tempo gasto nos braços abertos, na freqüência de entradas e tempo gasto

nas extremidades desses braços. Como já discutido acima, é difícil dizer se esse efeito foi

causado pela picada ou pela administração intraperitoneal de glicose. Adicionalmente, os

resultados desse grupo fazem pensar que os ratos estavam menos ansiosos. Mas, como

79

houve alterações concomitantes tanto nas medidas relacionadas à atividade locomotora

quanto nas relacionadas à ansiedade, além de um provável estresse da picada, pode ser que

na realidade os ratos estivessem mais ansiosos. No Experimento I, salientou-se que tomar

como medida apenas o comportamento de locomover-se no labirinto não é parâmetro

suficiente para inferir estados de ansiedade. Seria interessante também utilizar medidas

fisiológicas, o que não ocorreu neste experimento.

Alguns trabalhos mostraram que a ingestão prévia de substâncias palatáveis afetou

o comportamento de ratos em situações posteriores. Por exemplo, a ingestão prévia de

substâncias palatáveis aumentou a latência da retirada da pata no teste da chapa quente, ao

aumentar a analgesia (Segato et. al, 1997). Entretanto, não encontramos trabalhos na

literatura mostrando que a ingestão prévia de substâncias palatáveis tenha afetado o

comportamento de ratos em modelos de exploração livre. Em função disso, os resultados

do presente trabalho levantam algumas questões. Por que os animais que tiveram sete

sessões de ingestão de açúcar comportaram-se diferente dos animais que tiveram apenas

uma única sessão de ingestão de açúcar? Lembrando que a média diária de açúcar foi

semelhante para todos os grupos, a única diferença foi a freqüência de contatos com o

protocolo da sessão de ingestão, isto é, os contatos com o açúcar, com o experimentador, a

retirada da caixa de alojamento, o próprio período de ingestão, no qual o animal ficava

separado de outros animais etc. A condição de repetição pode ter tornado esses animais

mais habituados, quando comparados aos animais que tiveram apenas uma sessão de

ingestão antes do teste no labirinto em cruz elevado. Além disso, o protocolo da sessão de

ingestão pode ter funcionado como uma condição de estresse para esses animais por ter

ocorrido apenas uma vez, sem dar condições para que se habituassem. Se de fato ocorreu,

essa condição pode ter favorecido o aumento na freqüência de comportamentos

relacionados à locomoção e o aumento na freqüência de comportamentos não relacionados

a um estado de ansiedade.

80

Discussão geral

Preferência por substâncias de gosto doce

Vários estudos mostraram que existem diferenças individuais no consumo de substâncias

doce, um fenômeno recorrente em roedores e humanos (Brennan et al., 2001). Os

resultados do presente trabalho sobre o consumo de açúcar e ração vão na mesma direção

de vários trabalhos na literatura (De Cabo et al., 1995; Sills e Crawley, 1996; Sills e

Vaccarino, 1996, DeSousa et al., 1998). Quando submetemos nossos ratos à ingestão livre

de dois tipos de comida, açúcar granulado e ração moída de laboratório, pudemos

classificá-los como bons ou maus consumidores de açúcar sem que qualquer dos dois

grupos apresentasse alteração no consumo da ração moída de laboratório. Em outras

palavras, os animais de ambos os grupos não consumiram mais (ou menos) ração por conta

da quantidade de açúcar ingerida no mesmo período. Além disso, o consumo mais elevado

de açúcar não se correlacionou com o peso dos ratos.

A literatura já mostra há muito que moléculas que servem como carregadores

energéticos, como açúcares, são preferidas por alguns animais (Pfaffman, 1975; Scott e

Giza, 1987). Em parte, isso pode explicar o fato de alguns animais mostrarem maior

preferência pelo açúcar á ração moída de laboratório. Entretanto, a escolha por uma

comida não se restringe apenas ao valor energético, pois há um intervalo desde a ingestão

até a metabolização de moléculas que funcionam como carregadores energéticos, e a

indicação de o que ingerir parece ocorrer no momento de escolha do alimento e não no

período de metabolização das moléculas em açúcares. Desse modo, alguns eventos que

afetam a escolha de alimentos, para maximizar a probabilidade do armazenamento de

energia, tornaram-se evolutivamente importantes (Galef, 1996). A percepção do gosto doce

81

sinaliza uma fonte energética para certos animais (Bassi, 1996). Dessa forma, alguns

animais apresentam diferenças na preferência por fontes diferentes de alimento em função

da percepção de gosto e não de energia adquirida. Essa percepção do gosto varia entre as

espécies em função da disponibilidade do que há para comer (Galef, 1996). Por exemplo,

herbívoros parecem ser pouco sensíveis á percepção do gosto amargo (Glendining, 1994),

pois a mesma não restringe sua dieta.

Há trabalhos na literatura que fundamentam a hipótese acima. Mook et. al. (1993)

mostraram que ratos continuam ingerindo sacarose mesmo que o líquido fosse drenado

através de uma fístula esofágica, tendo portanto pouca ou nenhuma conseqüência nutritiva.

Ratos também beberam soluções de sacarina ainda que a mesma não tivesse calorias e

fosse eliminada sem quebras metabólicas (Smith e Foster, 1980). Esses dados mostram que

para alguns animais a percepção do gosto doce é um dos fatores que afetam a ingestão.

Além da percepção do gosto doce, o custo para acessar um ou outro alimento

também interfere na escolha do quê comer. Quando beija-flores podiam escolher entre

comedouros com uma alta taxa de ingestão de energia instantânea, porém com solução de

sacarose de baixa concentração e comedouros com baixa taxa de energia instantânea porém

com solução de sacarose hiperconcentrada, o custo de acesso, ou seja a distância do ninho

aos comedouros revelou-se importante para a escolha. Quando o ninho estava próximo aos

comedouros os beija-flores preferiram a solução de sacarose pouco concentrada; entretanto,

quando estava longe eles preferiram a solução hiperconcentrada (Tamm, 1989).

Bassi (1996) também mostrou que o custo de um alimento afeta a escolha do quê

comer. Em seu estudo, ratos tiveram disponível sacarina, água e ração. À medida que o

custo para acessar a sacarina aumentou os animais deixaram de pressionar a barra e

preferiram ingerir água, uma vez que a água era um recurso livremente disponível.

Adicionalmente, Collier e Johnson (2000) mostraram que, quando ratos podiam ingerir

sacarose ou ração de laboratório livremente, preferiram a sacarose. Quando estipulado um

82

custo para ingerir a sacarose, os ratos passaram a ingerir ração de laboratório. Quanto

maior o custo para ingerir a sacarose maior foi a preferência pela ração. No presente

experimento não houve custo tanto para o açúcar granulado como para a ração moída de

laboratório e, por isso, pudemos observar que grande parte dos animais preferiu o açúcar

granulado.

Ingestão de substâncias palatáveis e modelos de ansiedade

Segundo Dess e Minor (1996) comportamento de ingerir interage com processos

tais como medo e ansiedade. Em alguns estudos, a exposição a choques elétricos

intermitentes alterou a taxa do comportamento de comer, sugerindo um persistente estado

de medo ou ansiedade (Helmstetter e Fanselow, 1993; Dess e VanderWeele, 1994). Ratos

seletivamente criados para exibir um fenótipo de emocionalidade diferiram quanto à

ingestão de sacarina (Gray, 1987 apud Dess e Minor, 1996). Ratos das linhagens que

apresentaram maior freqüência de comportamentos relacionados à ansiedade tomaram

menor quantidade de sacarina e de quinino quando comparados aos das linhagens que

apresentaram menor freqüência de comportamentos relacionados à ansiedade. DeSouza et

al. (1998) relataram que ratos tidos como bons consumidores de sacarose mostraram

resposta de sobressalto de menor magnitude frente de um estímulo acústico, em

comparação com ratos maus consumidores de sacarose. Os mesmos autores também

relataram que ratos que preferiram sacarose apresentaram menor freqüência de

comportamentos relacionados à ansiedade no labirinto em cruz elevado do que ratos que

não demonstraram preferência por sacarose. Os resultados relatados acima sugerem que

ratos que apresentaram maior freqüência de comportamentos relacionados á ansiedade

também ingeriram menores quantidades de substância doce.

83

Esses dados sugerem que, quando selecionamos ratos em função da quantidade de

açúcar ingerida, o fato de alguns deles ingerirem quantidades de açúcar maiores do que

outros pode nos indicar como eles se comportarão quando submetidos a alguns modelos

animais de ansiedade. Os resultados do Experimento I também mostraram que a ingestão

de substâncias doces está correlacionada com comportamentos relacionados à ansiedade no

labirinto em cruz elevado. Os resultados do Experimento III mostraram que, quando se fez

o inverso, isto é, registraram-se as medidas comportamentais no labirinto em cruz elevado

ou na arena, e posteriormente, registrou-se a quantidade de açúcar ingerida obtivemos uma

conclusão semelhante.

Os resultados dos Experimentos I e III, bem como de outros trabalhos na literatura,

apenas apontam uma correlação entre duas medidas comportamentais, sendo que uma

delas é a quantidade ingerida de açúcar e a outra pode variar de acordo com os objetivos do

respectivo trabalho: medidas comportamentais registradas no labirinto em cruz elevado ou

arena (Experimentos I, II e III; DeSouza et al., 1998), quantidade de ingestão de etanol

(Kampov-Polevoy et al., 1990; Gosnell e Krahn 1992; Overstreet et al 1993), auto-

administração de morfina (Sinclair et al., 1992) ou auto-administração de um

psicoestimulante (Gosnell et al., 1995).

Apesar de haver uma correlação entre quantidade ingerida de açúcar e algumas

medidas comportamentais exibidas no labirinto em cruz elevado ou na arena, não podemos

dizer que uma dessas medidas interfere na outra. Entretanto, alguns trabalhos mostraram

que a ingestão prévia de uma substância palatável aumentou a latência de retirada da pata

no teste da chapa quente, um efeito interpretado como analgesia (Segato et. at, 1997).

Além disso, Blass et al. (1987) mostraram que a infusão intra-oral de solução de sacarose

em ratos com 10 dias de idade aumentou rapidamente a latência de retirada da pata no teste

da placa quente e diminuiu o número de vocalizações provocadas pelo isolamento social.

Esse efeito sobre as vocalizações sugere que a infusão de sacarose teve um efeito

84

ansiolítico. Dessa forma, teria a ingestão de açúcar efeitos sobre comportamento

exploratório? Mais especificamente, afetaria o comportamento de ratos na arena ou

labirinto em cruz elevado?

Os resultados do experimento IV mostraram que a ingestão prévia de açúcar afetou

o comportamento de ratos no labirinto em cruz elevado, mas somente quando esteve

disponível por uma hora antes do teste nesse aparato. Um período de uma hora de ingestão

de açúcar aumentou a freqüência de comportamentos tanto relacionados à ansiedade como

à atividade locomotora. Não há trabalhos na literatura relatando o efeito de ingestão de

substâncias doces sobre comportamento de animais em modelos de exploração livre.

Adicionalmente, também se observou que a injeção intraperitoneal de glicose meia hora

antes do teste no labirinto teve efeitos semelhantes à condição de disponibilizar açúcar por

meia hora antes do teste. Entretanto, é preciso cautela para discutir os resultados do grupo

de ratos que recebeu injeção intraperitoneal de glicose, pois o efeito sobre as medidas

registradas no labirinto em cruz elevado podem ser em função da picada da agulha (ver

discussão Experimento IV).

Embora os resultados do presente trabalho corroborem outros trabalhos na literatura,

isto é, mostrem que há uma correlação entre ingestão de substâncias doces e certos

comportamentos registrados no labirinto em cruz elevado ou na arena (Experimentos I e

III), ainda seria interessante especular que condições favoreceram essas correlações.

Alguns trabalhos mostraram que eventos ocorridos na vida precoce de ratos afetaram o

desenvolvimento dos mesmos e esse efeito teve duração até a vida adulta (Levine, 1956,

1957, 1962; Haltmeyer et al., 1967; Núñez et al., 1995). Em ratos, uma condição que tem

efeitos sobre o modo como responderão frente a situações estressantes é o grau de cuidado

materno recebido no início da vida (Ogawa et al., 1994; Penke et al., 2001; Champagne et

al., 2003), definido como freqüência de lambidas (licking) e limpadas (grooming) da mãe

para os filhotes.

85

Assim, quando comparados a ratos criados por mães que apresentavam maior

freqüência de cuidados maternos, ratos criados por mães que apresentaram menor

freqüência de cuidados maternos durante a primeira semana de vida exibiram maiores

níveis de resposta fisiológica ao estresse, medido pelos hormônios de estresse circulantes

no sangue(Liu et al., 1997). Esses animais também apresentaram maior freqüência de

comportamentos relacionados à ansiedade quando testados em uma variedade de modelos

animais de ansiedade (Francis et al., 1999). Interessante é que esses mesmos ratos, quando

expostos a um evento estressante (quatro choques de 0,6 mA com três segundos de duração

em intervalos de 15 segundos), aumentaram a ingestão de uma substância palatável

(salgados de manteiga de amendoim) em detrimento da ração de laboratório, quando

comparados a ratos criados por mães que apresentaram maior freqüência de cuidados

maternos (Hancock et al., 2005). Esses dados apóiam os resultados dos Experimentos I e

III pois, quando os ratos foram testados no labirinto em cruz elevado e na arena, houve

correlações positivas significativas entre quantidade ingerida de açúcar e comportamentos

relacionados à ansiedade e à atividade locomotora.

Segundo Hancock et al. (2005), ratos criados por mães que apresentaram menor

freqüência de cuidados maternos mostraram-se mais ansiosos na vida adulta e ingeriram

maior quantidade de substâncias palatáveis. Na discussão do Experimento I foi levantada a

hipótese de que os ratos que consumiram maior quantidade de açúcar comportaram-se

como mais ansiosos no labirinto em cruz elevado. Esses resultados contrastam com os

relatados por Gray (1987), pois estes relataram que maior freqüência de comportamentos

relacionados à ansiedade está relacionada com menor quantidade ingerida de sacarina.

Entretanto, este autor utilizou ingestão de sacarina e, em função disso, é importante

ressaltar que Bassi (1996) relatou que ratos Sprague-Dawley preferiram água à sacarina,

sugerindo que a sacarina pode ser percebida como mais aversiva (gosto amargo) para essa

linhagem. Adicionalmente, ratos submetidos a choques inescapáveis consumiram menor

86

quantidade de substância adulterada por sacarina ou quinino, mas aumentaram a ingestão

de açúcares (Dess e Chapman, 1990; Dess e Choe, 1994). Esses dados suportam a idéia de

que a percepção do gosto amargo da sacarina pode estar relacionada às condições genéticas

e/ou exposição a eventos aversivos, de modo que essas condições podem salientar as

propriedades de gosto amargo da sacarina. Assim, a percepção do gosto amargo da

sacarina parece ser um fator importante quando se discute os resultados de Gray (1987),

comparando-os aos do presente trabalho.

Segundo DeSouza et al. (1998), ratos menos ansiosos consumiram maior

quantidade de sacarose, o que contrasta com os resultados de Hancock et al. (2005).

Quanto aos resultados de DeSouza et al. (1998), discutiu-se no Experimento I que utilizar

apenas as medidas comportamentais registradas no labirinto em cruz elevado não é um

bom parâmetro para discutir estados de medo e/ou ansiedade; medidas fisiológicas

ajudariam a discutir melhor esses estados. Adicionalmente, DeSouza et al. (1998)

apresentaram os registros de apenas duas categorias comportamentais bastante

relacionadas à ansiedade e não apresentaram quaisquer medidas relacionadas à atividade

locomotora. Em função disso, sugeriu-se no Experimento I que os ratos desses autores

estivessem mais ansiosos e não menos ansiosos, como sugerido pelos autores, concordando

com a hipótese de Hancock et al. (2005).

Um outro fator que reforça a relação entre ingestão de substâncias de gosto doce e

comportamentos relacionados à ansiedade é que não houve diferenças na ingestão de ração

de laboratório entre ratos criados por mães que apresentaram maior ou menor freqüência

de cuidados maternos (Hancock et al., 2005). Isto é, ratos mais e menos ansiosos não

ingeriram quantidades diferentes de ração de laboratório. Esse resultado é pertinente para

os resultados dos quatro experimentos deste trabalho. Quando realizado o teste de

correlação entre medidas registradas no labirinto em cruz elevado e arena e quantidade

87

ingerida de ração de laboratório, não houve correlação entre ingestão e as medidas

comportamentais.

Considerações finais

Um aspecto a ser considerado, tanto nos resultados deste experimento como no de

outros, é qual condição funciona como condição controle quando o objetivo é estudar os

efeitos da manipulação precoce ou tardia. Embora haja muita inconsistência no que se

chama de manuseio, ou “handling” (ver introdução do Experimento I), a condição de

controle é aquela em que o animal permanece no biotério durante todo o experimento,

sendo manuseado o mínimo possível. Entretanto, alguns trabalhos mostraram resultados

interessantes sobre os efeitos da manipulação e da ausência da manipulação sobre o

desempenho em atividades na vida adulta (Levine et al., 1955, 1967; Levine, 1962). Levine

(1960) submeteu um grupo de ratos jovens a choques elétricos leves programados sempre

para o mesmo período do dia. Em um segundo grupo os ratos foram colocados em uma

caixa igual por um período de tempo igual, mas não receberam choques. Um terceiro grupo

de ratos permaneceu no ninho e não foi manuseado durante todo o tempo de duração do

experimento. Quando os ratos chegaram à idade adulta, os experimentadores registraram

comportamentos relacionados à ansiedade. Para surpresa dos experimentadores, foi o

terceiro grupo quem apresentou comportamentos diferentes. O comportamento dos ratos

que receberam choques não foi diferente do comportamento dos ratos que foram apenas

manipulados, porém não receberam choques.

Esse protocolo experimental foi repetido expondo ratos a uma variedade de

condições estressantes e à diferentes formas de manipulações (Levine et al., 1955, 1967;

Levine, 1960, 1962) . Observou-se que os ratos não manipulados sempre se comportaram

de uma maneira diferente dos ratos que receberam choques ou dos que foram apenas

88

manipulados. Quando os ratos foram colocados em um ambiente não familiar (caixa de

plástico transparente), os não manipulados se encolhiam em um canto da caixa por um

período maior de tempo, enquanto os dos outros dois grupos exploraram todo o espaço da

caixa. Resultados semelhantes foram observados quando utilizaram o campo aberto: os

ratos que receberam choques ou que foram apenas manipulados locomoveram-se mais

(número de quadrados atravessados) do que os não manipulados. Nas duas condições de

teste, os ratos não manipulados se escondiam em um dos cantos ou se arrastavam

timidamente, tendendo a defecar e urinar com maior freqüência do que os que receberam

choques ou simplesmente foram manipulados. Tomando estes comportamentos em

conjunto, pode-se sugerir que os ratos não manipulados apresentaram freqüência de

comportamentos relacionados à ansiedade maior do que a dos ratos que receberam choques

ou que simplesmente foram manipulados.

Adicionalmente, alguns trabalhos também mostraram que ratos manipulados na

infância apresentaram resposta fisiológica a eventos estressantes diferente da de ratos não

manipulados (Levine,1962; Levine et al., 1967). Esses autores registraram os níveis de

esteróides na corrente sangüínea de ratos estimulados e não estimulados imediatamente

após receberem choques elétricos. Antes de receberem os choques ambos os grupos de

ratos mostraram níveis semelhantes de esteróides. Após os choques, entretanto, os ratos

que foram expostos ao estresse na infância mostraram níveis de esteróides nos primeiros

15 minutos mais altos que os dos ratos que não foram expostos ao estresse na infância. Os

ratos que não foram expostos ao estresse na infância demoraram mais tempo para

apresentar níveis de esteróides semelhantes aos dos estressados na infância. Os ratos não

estressados na infância também apresentaram níveis altos de esteróides por um período

mais longo quando comparados aos estressados na infância. Esses resultados sugerem que

há um padrão distinto de resposta ao estresse nos dois tipos de ratos. Considerando o

comportamento como um ajuste econômico às pressões a que o organismo está exposto, a

89

velocidade e o tempo de duração da resposta às pressões ambientais parecem otimizar a

relação custo/benefício nos ratos estressados na infância e os somente manipulados. O

atraso e o prolongamento da resposta de estresse nos ratos não manipulados em

comparação com os estressados na infância ou apenas manipulados sugerem um

comportamento que minimiza a relação custo/benefício, isto é, tem pouco valor de

sobrevivência.

Esses dados comentados acima sugerem que os animais do presente experimento

sujeitados à situação que foi denominada de controle, talvez sejam os animais que

devessem ser tratados como pertencentes à condição experimental. Em muitos laboratórios,

o animal considerado “normal ” é aquele que permanece no biotério com comida e água à

disposição, sem qualquer tipo de pressão seletiva sobre sua maneira de se comportar.

Parece um tanto evidente que, dessa maneira, os animais estariam despreparados para um

ambiente que não se mantém constante (ambiente natural). Muitos trabalhos utilizando

animais mostraram que tornar o ambiente variável, isto é, sujeitar o comportamento à

seleção tem efeitos sobre o desempenho na vida adulta. Em outras palavras, esses animais

melhoraram sua habilidade para resolver certos problemas impostos pelo experimentador

(Levine, 1956; Denenberg e Karas, 1961; Núñez et al., 1995). Além disso, podemos citar

as condições em que os animais são criados e mantidos em cativeiro. Quando chegam à

vida adulta, suas chances de sobreviver em um ambiente natural são mínimas. Se o

objetivo de se fazer pesquisa é entender o comportamento levando-se em consideração a

filogênese, e não vejo como não fazer isso, deveríamos pensar sobre a condição que

chamamos de controle. Manter o animal em um biotério sem que ele precise se empenhar

para conseguir comida ou água e até mesmo livrando-o de entrar em contato com eventos

aversivos é a condição mais bizarra que se possa imaginar: não há evidências da existência

de nenhuma espécie animal que foi selecionada nessas condições.

90

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