Comportamento postural dinâmico
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Comportamentopostural dinâmico
Maria Dolores Alves Ferreira Monteiro
Tese de Doutoramento
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Vila Real, 2004
I
Este trabalho foi expressamente elaborado com vista à
obtenção do grau de Doutor em Educação Física e Desporto,
de acordo com o disposto no nº 1 do artigo 8º do Dec – Lei
388/70, de 18 de Agosto.
II
III
À memória do meu pai
“ O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza dosseus sonhos”
- Eleanor Roosevelt.
IV
V
Agradecimentos
Para a finalização deste trabalho de índole científica contribuíram de uma formamais ou menos explícita todos aqueles que ao longo destes anos me acompanharamnesta longa mas proveitosa viagem. Acima de tudo, na vida, temos necessidadede alguém que nos obrigue a realizar aquilo de que somos capazes. É este o papelda verdadeira amizade.Neste sentido, queremos deixar expresso o nosso mais profundo reconhecimento:
À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, na pessoa do seu MagníficoReitor Doutor Armando Mascarenhas Ferreira Professor Catedrático, pelapermanente disponibilidade e pelo apoio, em tempo livre e em meios, que foramdispensados ao longo dos anos em que realizamos este trabalho de dissertação.
Ao Doutor Francisco Manuel dos Santos Madeira Professor Catedrático daFaculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa,orientador científico, pelo equilíbrio que sempre soube concretizar entre o rigornecessário da crítica e a afabilidade do incitamento.
Ao Doutor Miguel Videira Monteiro Professor Catedrático da Universidade deTrás-os-Montes e Alto Douro, Coordenador do Departamento de Desporto, porjustiça e por mérito queremos demonstrar a nossa admiração pela sua estaturaintelectual, persistente e cientificamente sério.
Ao Doutor Joaquim da Silveira Sérgio Professor Coordenador com Agregaçãoda Escola Superior de Tecnologias de Saúde de Lisboa o nosso reconhecimento,pela sua gratificante disponibilidade como pelas suas numerosas ideias pontosde vista, incitamento e acima de tudo a amizade.
Ao Doutor José Carlos Costa Pinto Professor Auxiliar da Universidade de Trás--os-Montes e Alto Douro queremos expressar a nossa imensa gratidão pelaamizade, disponibilidade e incentivos tantas vezes manifestadas, espíritoincansável de cooperação expresso no tratamento estatístico dos dados decisivosna realização deste trabalho.
Ao DoutorJ. Vasconcelos Raposo Professor Catedrático da Universidade de Trás--os-Montes e Alto Douro, o nosso reconhecimento pela disponibilidade que sempremanifestou, pela amizade e simpatia e ainda pelo ambiente de camaradagemcomo companheiro nos dias de trabalho.
VI
Ao saudoso Professor Valdemar Caetano ilustre colega, amigo e companheiro delongas e interessantes conversas, queremos expressar o nosso sinceroreconhecimento pelo apoio e constantes incentivos tantas vezes manifestados naelaboração deste trabalho e fundamentalmente pela honra que tivemos em oconhecer e sermos seus amigos. Bem haja !
Ao meu amigo e colega Manuel Barroso Magalhães pela disponibilidade e grandeamizade sempre reveladas em cada momento das nossas vidas os nossos maissinceros agradecimentos.
À minha colega de gabinete Eduarda Coelho, agradecemos a amizade, adisponibilidade , o afecto, a alegria e a imprescindível ajuda que nos proporcionousempre durante esta viagem.
Ao meu amigo e colega Jorge Fernandes um especial agradecimento pela formacarinhosa e dedicada que sempre demonstrou, mesmo nos momentos mais difíceis.
A todos os colegas do Departamento de Educação Física e Desporto da UTADque, de forma expressa sempre se interessaram por este trabalho, o meureconhecido e sentido agradecimento .Um reconhecimento muito especial àquelesque connosco iniciaram esta viagem, ao António Serôdio, à Isabel Mourão, aoFan Yanneng e ao Paulo Aparício.
Ao senhor Emílio Santos, coordenador dos Serviços Gráficos da UTAD, o nossoobrigado pela disponibilidade, empenho e dedicação que muito contribuiram paraconcretização deste trabalho.
Aos Funcionários do Departamento de Educação Física e Desporto da UTAD, omeu sincero reconhecimento pelo apoio com que sempre se disponibilizaram
Aos Alunos do Curso de Educação Física e Desporto um especial agradecimentopela amizade que fomos construindo ao longo destes anos e pelos contributosdados para um entendimento e desenvolvimento do verdadeiro espírito de equipa.
Aos meus amigos Fenanda e Etelvino Lisboa pela grande lição de vida e coragemque nos transmitiram, o que muito contribui para o nosso crescimento interior.
Às minhas amigas Fátima e Leonor que com a sua ajuda, encorajamento e amizadenos permitiram concluir o nosso trabalho.
Por último mas não menos importante a toda a minha família o apoio incondicionale motivação que nos transmitiram e que foram sem dúvida alguma o suporteequilibrado em termos emocionais, fundamental em todo este percurso.
Ao Luís, à Catarina, ao João e à Mariana um agradecimento muito especialpela força que sempre transmitiram .
VII
RESUMO
As numerosas experiências, em seres humanos, relacionadas com o controlo do
equilíbrio postural na posição bípede, têm demonstrado a envolvência de múltiplos factores
e parâmetros que se encontram relacionados, quer com as aferências sensoriais solicitadas,
quer com o tipo de estímulos aplicados (ópticos, vestibulares, proprioceptivos...).
De entre esses factores, a visão, designadamente, desempenha um importante papel
no controlo postural, uma vez que é inviável a realização de algumas tarefas, relacionadas
com este último, sem a sua participação.
No entanto, o relacionamento do desempenho visual no controlo postural, com o
decurso da idade, ainda não se encontra devidamente esclarecido. Ou seja, até hoje, tem
sido controversa a incidência do factor idade no papel controlador do equilíbrio postural
proporcionado pela visão.
Se existem autores como Bower,T.G.R., Broughton, J.M. & Moore M.K., (1970),
que demonstraram que a idade influencia o desempenho da visão no controlo postural,
outros estudos, orientados por Brandt, Wenzel & Dichgans (1976), não relacionaram as
modificações desse controlo com a influência da idade nas capacidades visuais, ainda que
tenha sido reconhecida a existência de uma diminuição da estabilidade na posição postural
ortostática de base, com o decorrer dos anos.
Este facto, que poderá estar igualmente na subjacência das quedas referidas na
terceira idade, mantém-se, no entanto, desconhecido quanto ao grau de interferência no
déficit da capacidade visual, se bem que seja do domínio do conhecimento e do ponto de
vista ontogenético a existência de alterações no desenvolvimento visual, verificáveis quando
se comparam dados de crianças, nas diferentes idades e, concomitantemente, com os dos
adultos.
Deste modo, o objectivo do presente estudo é o de analisar se a evolução da
contribuição visual e óculo-motora, com o decorrer da idade, interfere com o controlo
do equilíbrio postural dinâmico.
A amostra, constituída para este estudo, compreendeu 96 indivíduos do sexo
masculino e 24 do sexo feminino, com idades entre os 11 e os 14 anos.
A inclusão na amostra, deste grupo de 24 indivíduos do sexo feminino, prende-se
com o intuito de ser avaliada a influência do factor sexual nas diferentes provas, através da
comparação deste mesmo conjunto de não praticantes de modalidades desportivas, com
um conjunto idêntico de indivíduos do sexo masculino.
VIII
Deste modo, a amostra principal apresenta um “design” factorial de 4X4, o que
corresponde a 16 grupos, comportando cada um deles – 6 indivíduos – da seguinte forma:
4 modalidades – andebol, natação, futebol e não praticantes masculinos –
distribuídas por 4 escalões de idades – 11, 12, 13 e 14 anos.
No referente às variáveis, foram consideradas como variáveis independentes – o
sexo, a prática desportiva e o tipo de prova. Como variáveis de controlo foram consideradas
– a altura e o peso. Como variáveis independentes – o nº total de deslocamentos (TOTDES);
o tempo total de deslocamentos, ou tempo fora da posição central de equilíbrio (TOTTEM)
e a preferência lateral de deslocamento (LATD) e o tempo de preferência lateral de
deslocamento (LATT)
As provas efectuadas com o objectivo de realizar a exploração funcional e precisar
o acesso às características têmporo-espaciais dos diferentes sistemas implicados na
regulação do equilíbrio ortostático, foram baseadas em anteriores experiências conduzidas
no âmbito da posturografia, tendo sido comparadas as diferentes prestações posturais,
quando da realização de tarefas em posição ortostática, utilizando ou não a visão. Todas as
provas do protocolo foram realizadas a partir de uma posição base – a posição ortostática.
Os equipamentos utilizados compreenderam: uma plataforma de estabilidade,
modelo 16020; três relógios “stop-clock”, modelo 58007; um contador “counter data
recorder”, modelo 58004; e uma unidade marcadora de tempos “interval end repeat timer”,
modelo 51012; que integram a Plataforma Estabilométrica, modelo 16125, da Lafayette
Instrument Company.
No que diz respeito ao tratamento estatístico dos dados, para além das
estatísticas descritivas habituais (média, desvio padrão, etc…) utilizámos a análise de
variância multivariada (MANOVA) como procedimento inferencial predominante. Em
cada caso, a análise multivariada foi seguida por análises univariadas (ANOVAS) com o
objectivo de melhor entender e precisar as relações significativas detectadas.
Os resultados obtidos perfilam-se consonantes com alguns dos publicados na
literatura da especialidade, sobretudo no que se refere ao facto dos indivíduos mais altos
apresentarem oscilações mais acentuadas para a direita (expressas em nº de deslocamentos
mas não em tempos de deslocação).
É também de realçar, nesta amostra, o facto de os indivíduos não praticantes terem
obtido, significativamente, valores mais baixos de deslocamentos, ou seja, revelaram-se,
em termos do comportamento postural, mais equilibrados, não sendo, contudo, significativo
o factor idade.
No referente à relação entre os factores preditores e as variáveis TOTDES e
TOTTEM, a mesma encontra-se dependente do tipo de indução sensorial, ou seja, no caso
do vertente estudo, entre o comportamento postural ortostático e a indução sensorial do
IX
sistema visual foi verificável uma inquestionável dependência, daí que as maiores variações
se tenham verificado na prova de olhos vendados.
Quanto ao sexo, verificou-se não haver diferenças significativas, ainda que exista
uma interacção entre o sexo e as provas, referenciável ao facto de os indivíduos do sexo
masculino terem registado um menor tempo de desequilíbrio.
As conclusões do presente estudo reforçam o facto de que os métodos
estabilométricos podem permitir detectar as diferenças num quadro de reacções de
equilíbrio, em função dos tipos de aprendizagem a que os indivíduos são submetidos.
Por outro lado, verifica-se que a manutenção de uma actividade postural, em
condições não habituais e destabilizantes, é passível de suscitar no indivíduo, não somente
a utilização das aferências sensoriais, mas igualmente reacções motoras rápidas que sejam
as mais apropriadas ao restabelecimento do equilíbrio.
X
XI
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ............................................................................................. V
RESUMO ................................................................................................................. VII
ÍNDICE GERAL ...................................................................................................... XI
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................... XV
LISTA DE QUADROS ............................................................................................. XVII
LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................ XXIII
LISTA DE ANEXOS ................................................................................................ XXV
PARTE I
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3
2 REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................... 11
2.1 – CARACTERIZAÇÃO CONCEPTUAL ......................................... 13
2.2 – FACTORES DETERMINANTES ................................................... 23
2. 2.1 – Actividade Tónico Postural .............................................. 23
2.2.1.1 – Tónus .................................................................. 24
2.2.1.2 – Postura ................................................................ 27
2.2.1.3 – Movimento ......................................................... 46
2.2.1.4 – Equilíbrio............................................................ 49
2,2.1.5 – Coordenação ....................................................... 52
2.2.1.6 – Aprendizagem .................................................... 54
2. 2. 2 – Regulação e Controlo Postural ........................................ 65
2.2.2.1 – Entradas Primárias ............................................. 67
2.2.2.2 – Entradas Secundárias ......................................... 78
2.2.2.3 – Entradas Inespecíficas ........................................ 86
2. 2. 3 – Mecanismos Neurobiológicos ......................................... 93
2. 2. 4 – Métodos Estudo e Registo da actividade tónico-postural 96
PARTE II
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 105
3.1 - Caracterização da Amostra ............................................................... 107
3.1.1 - Processo Amostral ............................................................. 107
3.1.2 - Constituição da Amostra .................................................... 107
XII
3.2 - Formulação das Hipóteses ................................................................ 109
3.3 - Protocolo Experimental .................................................................... 110
3.3.1 - Normalização Ecológica .................................................... 110
3.3.2 - Normalização das Condições de Experiência .................... 111
3.3.3 - Normalização dos Equipamentos ...................................... 112
3.4 - Provas ............................................................................... 112
3.4.1 - Critérios de Elaboração ..................................................... 113
3.4.2 - Definição das Provas ......................................................... 114
3.5 - Procedimentos ............................................................................... 116
3.6 - Recolha de Dados ............................................................................. 117
3.6.1 - Equipamentos .................................................................... 117
4 RESULTADOS .................................................................................................. 119
4.1 - Estatísticas Descritivas ..................................................................... 121
4.1.1 - Relação do Peso e da Altura com a Modalidade praticada
e a Idade, entre os sujeitos do sexo masculino ................. 122
4.1.2 - Relação do Peso e da Altura com o Sexo e a Idade, entre
os sujeitos não - praticantes de ambos os sexos ............... 125
4.1.3 - Variáveis dependentes ........................................................ 127
4.1.4 - Correlação entre as variáveis de critério ............................ 129
4.2 - Análises Multivariadas das variáveis de critério ............................ 130
4.2.1 - Relação das variáveis antropométricas com as variáveis
dependentes ....................................................................... 130
4.2.2 - Relação entre os factores preditores e as variáveis
de critério ............................................................... 131
4.2.2.1 - Variáveis TOTDES e TOTTEM.......................... 131
- Factor Prova ....................................................... 133
- Factor Modalidade ............................................. 135
- Factor Idade ........................................................ 137
- Interacções .......................................................... 138
- Covariantes ......................................................... 143
4.2.2.2. - Variáveis LATD e LATT .................................... 144
- Factor Modalidade ............................................. 145
- Factor Idade ........................................................ 146
- Factor Prova ....................................................... 146
- Interacções .......................................................... 148
- Covariantes ......................................................... 155
XIII
4.2.3 - Relação do SEXO com as variáveis de critério ................. 156
4.2.3.1 - Variáveis TOTDES e TOTTEM.......................... 156
- Factor Sexo ......................................................... 157
- Factor Idade ................................................................... 158
- Factor Prova ................................................................... 158
- Interacções .......................................................... 159
4.2.3.2 - Variáveis LATD e LATT ..................................... 165
- Factor Sexo ......................................................... 166
- Factor Idade ........................................................ 167
- Factor Prova ....................................................... 168
- Interacções .......................................................... 168
PARTE III
5 DISCUSSÃO, CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES .................................. 177
5.1- Propostas de trabalhos futuros ........................................................... 185
6 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 187
7 ANEXOS ....................................................................................................... 205
XIV
XV
LISTA DE FIGURAS
2.1 - Apontamento de aulas práticas de Psicofisiologia Madeira, F. (1990).
2.2 - Esquema cibernético do sistema postural de acordo com a Association Française dePosturologie(1986).
2.3 - Registo de indivíduo que mantém a verticalidade no interior do polígono desustentação. Superfície do estatoquinesigrama.
2.4 - Plataforma utilizada no teste de Verticalidade de Barre.
2.5 - A pista de Fukuda.
2.6 - Teste Fukuda sobre a influência do Reflexo Nucal.
2.7 - Teste de Fukuda em posição de cabeça giratória.
2.8 - Teste de Fukuda após rotação de cadeira neutra.
2.9 - Teste Romberg postural.
3.1 - Conjunto Nac Eye Recorder - Nac System.
3.2 - Plataforma de Estabilidade modelo 16020.
3.3 - três relógios “58007 stop clock”.
XVI
XVII
LISTA DE QUADROS
3.1 - Composição da amostra total (N=120).
3.2 - Composição da amostra principal (N=96).
4.1 - Estatísticas descritivas do peso e altura para a amostra total (N=118).
4.2 - Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para opeso e altura, por modalidade e idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino(N=96).
4.3 - Testes univariados de significância da diferença de médias para o peso e altura, pormodalidade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.4 - Médias do peso e da altura, por modalidade, para a amostra de sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.5 - Testes univariados de significância da diferença de médias, para o peso e altura,por idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.6 - Médias de peso e de altura, por idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino(N=96).
4.7 - Testes univariados de significância da diferença de médias para o peso e altura, porinteracção modalidade X idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino(N=96).
4.8 - Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para opeso e altura, por sexo e idade, para a amostra de sujeitos não praticantes dos doissexos (N=48).
4.9 - Testes univariados (ANOVA) de significância da diferença de médias para o pesoe altura, por sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
4.10 - Médias do peso e da altura, para a amostra de sujeitos não praticantes dos doissexos (N=48).
4.11 - Testes univariados (ANOVA) de significância da diferença de médias para o pesoe altura, por idade, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
4.12 - Médias do peso e da altura, por idade, para a amostra de sujeitos não praticantes(N=48).
4.13 - Estatísticas descritivas das 20 medidas criteriais, para a amostra total (N=96).
4.14 - Correlações entre as variáveis de critério ou dependentes.
4.15 - Correlações entre as variáveis de critério e os factores peso e altura, para a amostrade sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.16 - Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para asvariáveis TOTDES e TOTTEM, por modalidade, idade e tipo de prova, para aamostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
XVIII
4.17 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveisTOTDES e TOTTEM, por tipo de prova, para a amostra de sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.18 - Médias de TOTDES e TOTTEM, por tipo de prova, para a amostra dos sujeitos dosexo masculino (N=96).
4.19 - Testes post-hoc (teste de Sheffé) de verificação da significância da diferença entrepares, para as variáveis TOTDES e TOTTEM, por tipo de prova, dos sujeitos dosexo masculino (N=96).
4.20 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveisTOTDES e TOTTEM, por modalidade, para a amostra de sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.21 - Médias de TOTDES e TOTTEM, por modalidade, para a amostra dos sujeitos dosexo masculino (N=96).
4.22 - Testes post-hoc (teste de Sheffé) de verificação da significância da diferença entrepares, para as variáveis TOTDES e TOTTEM, por modalidade, dos sujeitos dosexo masculino (N=96).
4.23 - Médias dos escores dos sujeitos do sexo masculino (N=96) nas variáveis TOTDESe TOTTEM, por modalidade.
4.24 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveisTOTDES e TOTTEM, por interacção entre a MODALIDADE e a IDADE, para aamostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.25- Médias de TOTDES e TOTTEM, por modalidade e idade, para a amostra dossujeitos do sexo masculino (N=96).
4.26 - Teste multivariado de significância para as duas variáveis de critério TOTDES eTOTTEM, por Peso e Altura, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.27 - Teste univariado de significância para a variável de critério TOTTEM 5, por Pesoe Altura, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.28 - Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para asvariáveis LATD e LATT, por modalidade, idade e tipo de prova, para a amostra desujeitos do sexo masculino (N=96).
4.29 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por Modalidade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.30 - Médias de LATD e LATT, por Modalidade, para a amostra dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.31 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por Idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.32 - Médias de LATD e LATT, por Idade, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino(N=96).
4.33 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por Prova, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
XIX
4.34 - Médias de LATD e LATT, por Prova, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino(N=96).
4.35 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por interacção Modalidade e Idade, para a amostra de sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.36 - Médias de LATD e LATT, por Modalidade e Idade, para a amostra dos sujeitos dosexo masculino (N=96).
4.37 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por interacção Modalidade e Prova, para a amostra de sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.38 - Médias de LATD e LATT, por Modalidade e Prova, para a amostra dos sujeitos dosexo masculino (N=96).
4.39 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por interacção Idade e Prova, para a amostra de sujeitos do sexo masculino(N=96).
4.40 - Médias de LATD e LATT, por Idade e Prova, para a amostra dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.41 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por interacção Modalidade x Idade x Prova, para a amostra de sujeitos dosexo masculino (N=96).
4.42 - Teste multivariado de significância para as duas variáveis de critério LATD e LATT,por Peso e Altura, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.43 - Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para asvariáveis TOTDES e TOTTEM, por Sexo, Idade e tipo de Prova, para a amostra desujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
4.44 - Teste multivariado de significância para as duas variáveis de critério TOTDES eTOTTEM, por Peso e Altura, para a amostra de sujeitos não praticantes dos doissexos (N=48).
4.45 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveisTOTDES e TOTTEM, por Sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dosdois sexos (N=48).
4.46 - Médias de TOTDES e TOTTEM, por Sexo, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.47 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveisTOTDES e TOTTEM, por Sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dosdois sexos (N=48).
4.48 - Médias de TOTDES e TOTTEM, por Idade, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.49 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveisTOTDES e TOTTEM, por Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes dosdois sexos (N=48).
XX
4.50 - Médias de TOTDES e TOTTEM, por Prova, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.51 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveisTOTDES e TOTTEM, por interacção Sexo x Idade, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.52 - Médias de TOTDES e TOTTEM, por Sexo e Idade, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.53 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveisTOTDES e TOTTEM, por interacção Sexo x Prova, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.54 - Médias de TOTDES e TOTTEM, por Sexo e Prova, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.55 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveisTOTDES e TOTTEM, por interacção Idade x Prova, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4.56 - Médias de TOTDES e TOTTEM, por Idade e Prova, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.57 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveisTOTDES e TOTTEM, por interacção Sexo x Idade x Prova, para a amostra desujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
4.58 - Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para asvariáveis LATD e LATT, por Sexo, Idade e tipo de Prova, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4-59 - Teste multivariado de significância para as duas variáveis de critério LATD e LATT,por Peso e Altura, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
4.60 - Testes univariados de significância para a variável LATT 4, por Peso e Altura, paraa amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
4.61 - Testes univariados de significância para a variável LATD 5, por Peso e Altura, paraa amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
4.62 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por Sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
4.63 - Médias de LATD e LATT, por Sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dosdois sexos (N=48).
4.64 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por Idade, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48)
4.65 - Médias de LATD e LATT, por Idade, para a amostra de sujeitos não praticantes dosdois sexos (N=48).
4.66 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
XXI
4.67 - Médias de LATD e LATT, por Prova, para a amostra de sujeitos não praticantesdos dois sexos (N=48).
4.68 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por interacção Sexo x Idade, para a amostra de sujeitos não praticantesdos dois sexos (N=48).
4.69 - Médias de LATD e LATT, por Sexo e Idade, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.70 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por interacção Sexo x Prova, para a amostra de sujeitos não praticantesdos dois sexos (N=48).
4.71 - Médias de LATD e LATT, por Sexo e Prova, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.72 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por interacção Idade x Prova, para a amostra de sujeitos não praticantesdos dois sexos (N=48).
4.73 - Médias de LATD e LATT, por Idade e Prova, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.74 - Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATDe LATT, por interacção Sexo x Idade x Prova, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
XXII
XXIII
LISTA DE GRÁFICOS
4.1. Distribuição do peso dos sujeitos (N=118).
4.2. Distribuição da altura dos sujeitos (N=118).
4.3. Distribuição do peso dos sujeitos, por idade e modalidade (N=96).
4.4. Distribuição do peso dos sujeitos não praticantes, por idade e sexo (N=48).
4.5. Distribuição dos escores em TOTDES, por prova, dos sujeitos do sexo masculino(N=96).
4.6. Distribuição dos escores em TOTTEM, por prova, dos sujeitos do sexo masculino(N=96).
4.7. Distribuição dos escores em TOTDES, por modalidade, dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.8. Distribuição dos escores em TOTTEM, por modalidade, dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.9. Distribuição dos escores em TOTDES, por modalidade e idade, dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.10. Distribuição dos escores em TOTTEM, por modalidade e idade, dos sujeitos dosexo masculino (N=96).
4.11. Distribuição dos escores em TOTDES, por Modalidade e Prova, dos sujeitos dosexo masculino (N=96).
4.12. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Modalidade e Prova, dos sujeitos dosexo masculino (N=96).
4.13. Distribuição dos escores em TOTDES, por Idade e Prova, dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.14. Distribuição dos escores em TOTDES, por Idade e Prova, dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.15. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Idade e Prova, para os praticantes deAndebol, dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.16. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Idade e Prova, para os praticantes deNatação, dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.17. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Idade e Prova, para os praticantes deFutebol, dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.18. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Idade e Prova, para os Não Praticantes,dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
4.19. Distribuição dos escores em LATD, por Modalidade e Idade, dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.20. Distribuição dos escores em LATT, por Modalidade e Idade, dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
XXIV
4.21. Distribuição dos escores em LATD, por Modalidade e Prova, dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.22. Distribuição dos escores em LATT, por Modalidade e Prova, dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
4.23. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, dos sujeitos do sexo masculino(N=96).
4.24. Distribuição dos escores em LATT, por Idade e Prova, dos sujeitos do sexo masculino(N=96).
4.25. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, para os praticantes de Andebol.
4.26. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, para os praticantes de Futebol.
4.27. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, para os praticantes de Natação.
4.28. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, para os Não Praticantes.
4.29. Distribuição dos escores em TOTDES, por Sexo e Idade, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4.30. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Sexo e Idade, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4.31. Distribuição dos escores em TOTDES, por Sexo e Prova, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4.32. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Sexo e Prova, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4.33. Distribuição dos escores em TOTDES, por Idade e Prova, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4.34. Distribuição dos escores em TOTEM, por Idade e Prova, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4.35. Distribuição dos escores em LATD, por Sexo e Idade, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4.36. Distribuição dos escores em LATT, por Sexo e Idade, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.37. Distribuição dos escores em LATD, por Sexo e Prova, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4.38. Distribuição dos escores em LATT, por Sexo e Prova, para a amostra de sujeitos nãopraticantes dos dois sexos (N=48).
4.39. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
4.40. Distribuição dos escores em LATT, por Idade e Prova, para a amostra de sujeitosnão praticantes dos dois sexos (N=48).
XXV
LISTA DE ANEXOS
Anexo I - Ficha de identificação pessoal
Anexo II - Funcionamento do estimulador óptico temporizável
Anexo III - Estimulador óptico temporizável
Introdução
1
PARTE I
Dolores Monteiro
2
Introdução
3
1Introdução
Dolores Monteiro
4
Introdução
5
1 –
A capacidade do homem para manter a postura em pé e a sua aptidão para reajustar
e corrigir todo o afastamento vertical foi problematizada no início do século XIX por
Charles Bell.
A descoberta da função dos captores sensitivos que concorrem para a manutenção
da posição erecta do homem, permitiu verificar a importância da visão evidenciada por
Romberg (1851); a propriocepção dos músculos paravertebrais por Longet (1845); a
influência do sistema vestibular por Flourens (1824), o “sentido”muscular de Sherrington
e a importância dos músculos oculomotores na atitude postural, por Baron (1973).
Numerosos trabalhos, ao longo de uma centena de anos, levam-nos a considerar o
sistema postural como um “todo estruturado”, com entradas múltiplas, não só as
proprioceptivas, mas também interoceptivas e exteroceptivas que estão na dependência
directa ou indirecta da produção de movimentos humanos.
Admitimos que os movimentos humanos dependem de múltiplos factores, incluindo,
contudo, os mecanismos do sistema nervoso, o envolvimento, o desenvolvimento de acções,
as proporções corporais e a postura Bertenthal & Clifton (1996).
A postura é uma manifestação objectiva duma actividade, que corresponde à
aferência e posterior integração de várias informações. Por outras palavras, a postura
depende das informações que são posteriormente analisadas e processadas a diversos níveis
hierarquizados do sistema nervoso central. Aqui, os centros nervosos, que coordenam os
movimentos, são igualmente responsáveis pelo “ajustar” da actividade postural, de maneira
a esta servir de base de apoio a esses movimentos, os quais, sem um controlo postural
adequado, têm dificuldade na sua continuidade e precisão (Sérgio, J.A.S. 1995).
A postura tem sido há largo tempo considerada como um estado estático, no entanto,
Reed (1989), entre outros, afirma que, mesmo na ausência de movimento, a regulação
postural é uma actividade fundamentalmente dinâmica.
A sua importância tem levado a que a educação postural não seja considerada um
fim em si mesmo, mas uma condição para assegurar o desenvolvimento total do indivíduo.
O seu objectivo é obter o melhor equilíbrio geral, em função das características individuais
e na dependência directa uma certa plasticidade da postura.
Na criança, o desenvolvimento das capacidades de equilíbrio aparece como uma
condição essencial, não somente na aquisição das habilidades complexas, mas também no
domínio das habilidades ditas fundamentais. Com efeito, é durante a infância que as relações
fundamentais entre postura e movimento são semelhantes. Por exemplo, os trabalhos de
Bril & Brenière (1993), sobre a aquisição da marcha, sugerem que a regulação postural,
em condições estáticas, é indispensável para a iniciação da locomoção independente.
Dolores Monteiro
6
Para Thelen (1989), é a falta de controlo postural que prejudica a locomoção independente
em idades mais jovens.
O controlo postural não é certamente o único factor limitativo do desenvolvimento
do controlo motor. Outros factores foram identificados, nomeadamente o desenvolvimento
estatural, a força muscular (Thelen E. & Cooke, 1987), o nível da atenção (Thelen, Fisher&
Ridley-Johnson, 1984), ou das capacidades cognitivas (Zelazo, 1983). O conjunto destes
factores e das suas interacções contribui para explicar porque é que é preciso cerca de um
ano para que uma criança possa aprender tarefas primárias: suportar o peso do seu corpo e
andar livremente (Thelen, 1989). Dado que todas as tarefas têm exigências posturais, o
desenvolvimento do controlo postural influencia fortemente o controlo postural voluntário
(Woollacott, M. H.; Shumway-Cook, A. & Nasher, L. M. 1987).
É assim importante, numa perspectiva de intervenção educativa ou investigação,
identificar as características e os elementos determinantes do desenvolvimento das crianças
ao longo da sua ontogénese.
Uma dessas determinantes a ter em conta, no que se refere nomeadamente à
regulação do equilíbrio nas crianças, é a influência da visão sobre o controlo do equilíbrio.
( Bower,T.G.R. Broughton, J.M. & Moore M.K., 1970), depois Yonas, A. (1981) mostraram
que as simulações visuais apropriadas (por exemplo aproximando um objecto de um sujeito)
levam a reacções de carácter postural (recuo da cabeça, elevação dos braços, que alguns
autores interpretam como reacções a um desequilíbrio). Estes resultados sugerem que as
crianças utilizam essencialmente informações de origem visual para controlar o equilíbrio.
Contudo, investigações levadas a efeito por Brandt, Wenzel & Dichgans (1976) concluíram
pela não influência de controlo visual na postura, antes da posição de pé.
Muitas pesquisas sugerem que o controlo motor voluntário e o controlo postural se
desenvolvem em paralelo através de um diálogo entre a percepção e a acção.
A prática e a experiência parecem contribuir para a organização espacial e temporal
das respostas posturais automáticas, sendo as sinergias posturais não estritamente inatas.
As aprendizagens, que têm lugar ao longo do curso do desenvolvimento, permitiram
um afinamento destas sinergias de activação muscular, assim como uma calibração das
entradas reguladoras das reacções de equilíbrio. Aparecem, no entanto, no trajecto do
desenvolvimento algumas regressões que teremos de ter em consideração, nomeadamente
as que acontecem entre os 4 e os 6 anos, que, segundo alguns autores, poderão ser motivadas
pelo facto de as crianças experimentarem, nesse período, novas estratégias para controlar
o equilíbrio (Woollacott & Sveistrup, 1992).
Estes trabalhos demonstram que a visão constitui uma das entradas tomadas em
conta pelo sistema nervoso, não sendo necessária nos deslocamentos das respostas posturais
automáticos.
Introdução
7
O aumento da frequência das respostas, na ausência da visão, sugere um aumento
da sensibilidade do sistema noutras fontes de informação.
Para Forsseberg & Nashner (1982), o controlo depende essencialmente dos influxos
somatosensoriais, e a visão não domina senão nas situações de conflito intersensorial.
Para Assaiante & Amblard (1995), a visão tem um papel determinante no decurso dos
períodos de transição para um nível de aprendizagem postural mais evoluído. No entanto,
para Bertenthal & Clifton, R.K. (1996) “o domínio de um sistema sensorial é fortemente
determinado pelo contexto e não é pois fixado dentro do sistema de controlo postural”.
As informações precedentes realçam uma questão de larga importância,
nomeadamente do papel da prática e mais nitidamente a prática desportiva na aceleração
do desenvolvimento e modificação das características das respostas posturais para lá da
aquisição das habilidades fundamentais. A influência da prática física ou desportiva sobre
as capacidades de equilíbrio tem sido muito estudada em adultos, tanto através de estudos
comportamentais como experimentais.
Alguns dos estudos revistos por Singer, R. (1970), destinados a avaliar o impacto
do envolvimento da prática desportiva sobre as capacidades do equilíbrio e da regulação
postural, eram relativamente contraditórios. Singer reporta uma superioridade, nas tarefas
estabilométricas, dos ginastas e dos “esquiadores náuticos sobre os outros atletas e sobre
os grupos constituídos por sujeitos sem prática desportiva ou qualquer tipo de treino. Ele
releva igualmente uma melhoria das performances no decurso das sessões experimentais,
e uma maior tendência dos atletas em relação aos sujeitos não treinados a experimentar
diversas estratégias de equilíbrio nesta nova situação.
Manipulando a vertical óptica, durante os registos estabilométricos, DeWitt, G.
(1972) mostrou que sujeitos não treinados são dependentes desta vertical óptica
(materializado por uma barra luminosa no decurso das sessões desenrolando-se na
obscuridade), tanto que os atletas utilizam, com vantagem, as informações proprioceptivas.
Dito de outra maneira, nesta experiência, os atletas parecem capazes de utilizar uma
estratégia postural diferente, mais eficaz.
Os resultados de Shick, Stoner & Jette, N. (1983) mostraram que as performances
dos dançarinos sobre as tarefas de equilíbrio estático e dinâmico melhoraram com o nível
de prática. Num outro registo, Haines (1974) realça a deterioração da estabilidade postural,
depois de longos períodos de inactividade, com uma recuperação total três dias depois de
retoma das actividades normais. Os seus resultados sugeriram que esta deterioração não
estava ligada à diminuição da força muscular associada ao repouso prolongado.
Por consequência, no conjunto estes trabalhos sugerem que as capacidades posturais
do adulto são plásticas e podem ser modificadas pela prática física e desportiva.
Dolores Monteiro
8
Sobre a influência da prática desportiva, em crianças e jovens, Debû, B., Woollacott
& Mowatt, M. (1988) verificaram, em investigação realizada sobre a alteração provocada
do equilíbrio num grupo constituído por 19 ginastas, entre os 7 e os 16 anos com 2 a 10
anos como praticante de actividade desportiva, e de 14 sujeitos da mesma idade, sem
experiência desportiva particular, que, nos ginastas, os mais jovens tendo 2 a 3 anos de
prática, as latências das respostas musculares correspondem aos valores encontrados no
adulto, quer dizer que elas tendem a ser mais curtas que nos sujeitos não treinados da
mesma idade, e mesmo mais curtas que nos sujeitos mais velhos (10 a 16 anos). Contudo,
este efeito não é observável senão ao nível dos músculos da metade superior do corpo.
A comparação das respostas posturais, em função do nível da avaliação, mostra
que os efeitos de treino não são monótonos. Se os primeiros anos de prática levam a uma
diminuição das latências de activação dos músculos da metade superior do corpo, uma
prática prolongada, para além de três anos, traduz-se por um alongamento destas latências
ao nível dos músculos abdominais e flexores do pescoço. As respostas registadas nos
músculos da parte superior do corpo (nomeadamente ao nível do pescoço) parece pois
muito mais sensível aos efeitos do treino. As respostas são igualmente mais sensíveis à
manutenção de outros factores testados, a saber, a disponibilidade das informações visuais
(nos sujeitos não treinados , a ausência de entradas visuais não tem efeito nos ginastas) ou
a dificuldade da tarefa (em todos os sujeitos). Os ginastas parecem adoptar uma estratégia
que privilegia as informações proprioceptivas, qualquer que seja a situação, o que está de
acordo com os resultados de De Witt (1972).
Segundo estes resultados, parece que a prática da ginástica poderia primeiro acelerar
a evolução das características das respostas posturais automáticas, depois de modificar a
organização em especial ao nível dos músculos da metade superior do corpo, menos
implicados na manutenção do equilíbrio. Alternativamente o treino poderia induzir um
melhor alinhamento do esqueleto e uma maior tonicidade dos músculos abdominais e
extensores lombares, quer dizer, uma modificação da atitude que seria responsável pelas
mudanças observadas na organização temporal das respostas, assim como a melhoria da
estabilidade postural (Debû, B., Woollacott & Mowatt, M.1988). Os resultados explicitados
confirmam que as respostas posturais automáticas são moldáveis, em função da
especificidade da actividade e das condicionantes da experiência ou das informações
sensoriais disponíveis.
Para Mesure, S., Bonnet, M., Crémieux, G.(1994), estas mudanças podem estar
ligadas a uma melhoria da coordenação sensório-motora, a uma modificação das escolhas
tácticas, como sugere igualmente Singer (1970) ou à reorganização da rede neuronal
preexistente, as sinergias posturais não são transmitidas rigidamente.
Em síntese, apesar da investigação já efectuada nestas áreas e da importância que é
Introdução
9
atribuída às variáveis posturais, pensamos que os resultados estão ainda bastante longe do
satisfatório. Tal facto tem levado os investigadores a centrar a sua atenção,
preponderantemente, nos estudos de natureza postural, verificando o funcionamento dos
diferentes sistemas sensório-motores, que asseguram a actividade tónico-postural em
posição ortostática utilizando a estatoquinesimetria e a estabilometria, assumindo particu-
lar interesse no perfil dos desportistas, respeitante à detecção, orientação e controlo do
gesto, ou ainda na prevenção da contra-performance.
O ser humano pode ser considerado como um conjunto de sistemas de informação
e de acção, integrados numa unidade funcional e regulados por um sistema particular que
é o sistema nervoso.
A sua actividade postural, que mantém o corpo numa determinada configuração ou
postura, tem os seus pilares assentes numa acção muscular permanente, repartida pela
generalidade da musculatura esquelética. Este tipo de actividade muscular reflecte, por
sua vez, um amplo jogo de acções de cooperação entre os sistemas aferentes e eferentes, a
diversos níveis do SNC, que se tentam opor às forças do meio circunstancial e à acção da
gravidade.
Mas o jogo das acções cooperativas, donde emanesce este estado de contracção
permanente, não é estereotipado, pelo contrário, exibe um manancial de flutuações ou de
nuances, consoante o estado psíquico do indivíduo, o que significa que a actividade tónica
assenta num comportamento.
Se toda a actividade motora assenta na postura, sendo esta sustentada através do
tónus e reflectindo este um determinado comportamento, pode inferir-se que qualquer
movimento, como parte da actividade motora, é um espelho desse comportamento.
Porém, também se sabe que qualquer acção motora, para ser consequente de forma
a que o organismo atinja um determinado objectivo, mais concretamente, que possa efectuar
prestações desportivas ou não, tem de encontrar um equilíbrio, caso contrário o movimento
torna-se incoerente. Este facto, significa que a postura tem de igualmente manifestar um
estado de tónus de equilíbrio.
Nesta perspectiva, consideramos necessário ter acesso às características do
funcionamento temporo-espacial dos diversos sistemas implicados no equilíbrio ortostático,
com a finalidade de tentar prever o respectivo rendimento em situações dinâmicas.
O termo “sistema” refere-se explicitamente à teoria dos sistemas, o que implica
uma saída e uma entrada do sistema.
A saída do sistema postural é precisamente a manutenção da linha de gravidade à
vizinhança de uma posição de equilíbrio.
O nosso estudo pretendeu analisar as características de funcionamento temporo-
-espacial dos sistemas visual e oculomotor e se a evolução da contribuição dos sistemas
Dolores Monteiro
10
referidos, com o decorrer da idade, interfere com o controlo do equilíbrio postural em
situações dinâmicas.
O trabalho está organizada em 3 partes: (Parte I) “Introdução e Revisão da
Literatura”; (Parte II) “Procedimentos Metodológicos, os Resultados e as Análises
Multivariadas das Variáveis de Critério”; (Parte III) “Discussão, Conclusões, Recomen-
dações, Bibliografia e Anexos”. Após o capítulo introdutório, onde se faz a apresentação
do problema e os objectivos, integramos a revisão da literatura que expressa o quadro
teórico do presente trabalho.
A parte II, ocupa-se dos procedimentos metodológicos, da apresentação dos
resultados da investigação e das análises multivariadas. Os primeiros inserem uma
caracterização da amostra, formulação das hipóteses de investigação, protocolo experi-
mental, provas, procedimentos, e recolha de dados; nos segundos apresentam-se de forma
desenvolvida os resultados de investigação; nos terceiros apresentamos as análises
multivariadas.
Finalmente, na parte III, inclui-se a discussão dos resultados conclusões e
recomendações. Procuraremos aqui articular e sintetizar, toda a evidência por nós recolhida
relativamente aos reflexos provocados pela indução de estímulos externos no compor-
tamento postural dinâmico da amostra enunciada.
11
Revisão da Literatura
2Revisão da literatura
12
Dolores Monteiro
13
Revisão da Literatura
2.1- Caracterização Conceptual
No início do século passado, Charles Bell já apresentava o problema que a
posturologia tenta hoje resolver: como é que o homem consegue manter a postura em pé
ou inclinado contra o vento que sopra sobre ele? É evidente que ele deve possuir uma
aptidão para reajustar e corrigir todo o afastamento da vertical. (Bricot, B.1999).
Desde o século XIX, que os captores sensitivos que concorrem para a manutenção
da posição erecta do homem, já tinham sido descobertos.
A importância dos olhos havia sido colocada em evidência por Romberg; a
propriocepção dos músculos paravertebrais, por Longet; a influência do sistema vestibu-
lar, por Fluorens, o “sentido” muscular, por Sherrington. A primeira escola de Posturologia
foi fundada em 1890, em Berlim, por Vierordt.
Mais recentemente, Baron, do laboratório de Posturologia do Hospital de Ste-Anne,
em Paris, publicou a tese, em 1955, sobre a importância dos músculos oculomotores na
atitude postural.
Kendal,H,O (1999) definiu postura como “um estado compósito do conjunto das
posições das articulações do corpo num determinado momento”.
Mais recentemente, Paillard introduziu os conceitos de “corpo situado e corpo
identificado” definindo-os como uma abordagem psicofisiológica da noção de esquema
corporal.
Será Babinski (1914), observando os efeitos de coordenação entre postura e
movimento, em indivíduos com alterações cerebelares, que apresentará os primeiros dados
sobre ajustamentos posturais associados ao movimento voluntário. Desde então ficou
estabelecido que, tanto no homem quanto no animal, o movimento intencional é
acompanhado e seguido por fenómenos posturais.
Os diferentes trabalhos integrantes do termo Postura estão ligados preci-samente a
uma multiplicidade de fenómenos em variados espaços científicos, levando a que seja
utilizado indiferentemente com alguns sinónimos – Sistema Postural, Actividade Postural,
Ajustamento Postural, Esquema Postural, Atitude, Equilíbrio, Controlo Postural, Postura.
Tidos como referência ao longo de mais de uma centena de anos, levam-nos a considerar
o sistema postural como um “todo estruturado”, com entradas múltiplas, tendo muitas
funções complementares:
- lutar contra a gravidade e manter a postura erecta;
- opor-se às forças externas;
- situar-nos no espaço tempo estruturado que nos envolve;
14
Dolores Monteiro
- guiar e reforçar o movimento;
- equilibrar-nos durante o movimento.
Para realizar esta proeza neurofisiológica, o organismo utiliza diferentes fontes:
- os exteroceptores, que nos situam na relação com o meio envolvente (visão,
audição, tacto);
- os proprioceptores que situam as diferentes partes do nosso corpo em relação
ao conjunto, em determinada posição no espaço;
- os centros superiores integram os selectores de estratégias, os processos
cognitivos (Paillard) e tratam os dados recolhidos das duas fontes precedentes.
Todavia existe uma “invariável postural” que representa a posição ideal do corpo
no espaço, em determinado momento da nossa evolução filogenética.
Existe, para cada espécie, uma postura de referência, a estação de pé, que está
determinada geneticamente para numerosas espécies, posto que se manifesta desde o
nascimento.(Massion,J.2000)
Charles Sherrington é apontado, por Magnus (1925), citado por Reed (1990), como
o grande impulsionador do estudo da Postura, através dos seus trabalhos sobre o controlo
neural do comportamento. Para este autor (1906), citado por Madeira (1986), a Postura
acompanha o movimento como uma sombra, o que significa que todo o movimento começa
numa Postura e termina noutra.
Antes de Alexander (1974) conceptualizar a Postura como - “an integral component
of a voluntary action, and not a response to stimuli”- Thomas (1940), citado por Madeira
(1986), afirmava que todo o ser apresenta, num estado estático ou cinético, uma Postura
mais ou menos tão típica como a sua forma, dimensões ou cor. Mesmo sujeita às mais
diversas contingências, a Atitude conserva a marca da espécie e do indivíduo. Este autor
utiliza, possivelmente, as expressões - Postura e Atitude - como termos sinónimos. Também,
para Guiner (1978), estes termos são sobreponívéis. Contudo, para outros autores podem
descrever ou representar “ entidades distintas de um mesmo conjunto de fenómenos, o que
não implica, que os mesmos possam ser dissociados, ou seja, apesar de distintos, não se
pode separar a Atitude da Postura.”
Os fisiologistas empregam o termo Atitude, quer como o sinónimo de posição -
“termo geométrico definido pela localização no espaço de diferentes peças do esqueleto”,
quer de Postura, termo fisiológico que designa, mais particularmente, as posições relativas
das diversas partes do corpo “animadas” pela musculatura, cuja actividade se opõe a acção
da gravidade. Na definição apresentada, aceita-se que o termo Postura pressupõe uma
actividade inerente ao homem, que não se encontra no termo Posição.
15
Revisão da Literatura
Para Wallon (1968), a Atitude abrange um aspecto cognitivo e simultaneamente
afectivo, aparecendo como uma criação dinâmica, uma propensão para reagir de um modo
determinado e um factor determinante. Este conceito não é passível de ser dissociado da
componente psíquica que lhe é afim, sob a pena de, em nome de um maior rigor cientifico
e de uma maior objectividade, se tornar caracterizado.
Para Buytendjyk (1957), as Atitudes são o resultado de uma repartição do tónus
muscular. O equilíbrio significa, em primeiro lugar, um equilíbrio tónico. Acrescenta ainda
que, em qualquer Atitude, temos o comprometimento de todo o corpo, motivo pelo qual se
pode dizer que - “a posição bípede não é menos eloquente que a mímica”.
Gibson (1966) opina que - “todos os sistemas sensoriais podem contribuir com as
suas informações para o controlo da Actividade Postural”.
Bernstein (1967), citado por Monteiro (1993), defendia que o equilíbrio não deve
ser visto apenas de uma forma mecânica de resposta antigravitária, afirmando que “sendo
a Postura uma actividade dinâmica, ela era o resultado do funcionamento de múltiplos
sistemas perceptivo motores que trabalhavam não contra, mas com a gravidade, de forma
a atingir-se uma acção integrada e funcional”.
Lapierre (1968) refere que a Atitude não deve ser considerada como um equilíbrio
mecânico, mas como um equilíbrio neuromotor. É sobre um fundo proprioceptivo que se
implanta as modulações afectivas, porque a Atitude também é um comportamento: um
comportamento social e um modo de expressão da personalidade profunda. Considera
ainda a Atitude como sendo - “resultado dos reflexos sensório-motores integrados nas
diversas partes do sistema nervoso, mediante uma regulação automática extremamente
complexa e como modo de reacção pessoal a um estímulo constante - o peso”.
Moro (1971) refere que o termo Postura deve ser interpretado como uma resposta
psico-fisiológica às estimulações do meio ambiente, como um com-portamento reaccional
que traduz a forma de expressão da personalidade profunda. Para o mesmo autor, o conceito
de Esquema Postural justifica a importância da posição relativa dos segmentos corporais,
sobre si e no mundo exterior, para a manutenção da Postura. Define Esquema Corporal
como uma organização das sensações do próprio corpo, relativas ao mundo exterior.
Para Le Boulch (1985), o Esquema Postural pressupõe a percepção imediata de
qualquer parte do corpo, integrada num conjunto global, em relação ao mundo exterior.
Para Berthelot, (1973), citado por Madeira (1986), a Postura representa a maneira
de estar corporalmente no mundo, a profunda, a mais rica, a mais desconhecida, mas
talvez a mais reveladora da nossa personalidade.
Metheney, citado por Cooper (1973), sustenta que não existe uma só Postura óptima
para todos os indivíduos. A melhor Postura é aquela na qual todos os segmentos corporais
se encontram equilibrados, na posição de menor esforço e máxima sustentação.
16
Dolores Monteiro
O termo Actividade Postural, segundo Paillard (1976), traduz-se pela imobilização
das peças do esqueleto nas suas posições determinadas, solidárias umas com as outras,
que dão ao corpo uma Atitude de conjunto. Esta Atitude exprime a forma como o organismo
enfrenta as estimulações do mundo exterior e se prepara para nele reagir.
Segundo este autor, a Atitude Postural caracteriza um certo alinhamento dos
segmentos esqueléticos e um certo equilíbrio segmentar geral. Corresponde a um modo de
equilíbrio pessoal, passageiro ou permanente, que pode ser estimado em função de
referenciais espaço-temporais.
De acordo com este autor, e citado por Fernandes (1998), cada espécie animal
assume uma “Atitude Fundamental”, que se organiza segundo uma Arquitectura Postural
própria e característica do seu modo de locomoção, na qual se constrói os grandes Esquemas
Posturais e cinéticos das actividades de relação. No homem, esta “Atitude Fundamental”,
é a posição de pé (bípede); ela constitui um estado especifico e privilegiado da nossa
motricidade como refere Dubois (1979).
Ainda na opinião do mesmo autor, “a Atitude constitui a manifestação ou
exteriorização (aquilo que é susceptível de ser captado pelos sentidos) da actividade que
lhe está subjacente - a Actividade Postural”- pelo que, e, na sua opinião, - “la Attitude ne
peut être distinguée de la Posture qui en constitue l’étroffe”.
Segundo o mesmo autor, o termo Atitude pertence ao vocabulário descritivo da
motricidade, significando, no seu sentido geral, “uma maneira de ter o corpo”.
Etimologicamente, a origem desta palavra reside no termo latino “Aptitudine”, que significa
aptidão ou disposição natural para cumprir determinadas acções ou tarefas. É com este
sentido que o termo derivado de “Aptitudine” vem a ser utilizado, segundo Sérgio (1995)
- “pelos críticos de arte italianos com a finalidade de descrever as posições do corpo humano
que o artista modela numa estátua ou delimita numa representação gráfica, em ambos os
casos, retratando ou espelhando uma certa disposição da alma”.
Nesta definição utilizada para descrever as manifestações exteriores observáveis,
ainda que faltando uma certa precisão, a Atitude surge com algum significado psicológico.
Segundo as ideias de alguns críticos “a interpretação significativa da Atitude tem que ser
sempre incluída num contexto onde intervém a génese da expressão”. E como exemplo,
temos - “não é a Atitude de levantar simplesmente as mãos ao alto que é suficiente para
exprimir uma súplica. É toda a génese dinâmica dessa Atitude que vai exprimir esse
sentimento nas suas múltiplas variantes”.
Paillard (1976) distinguiu dois modos de expressão da Actividade Tónico-postural,
directamente relacionados com o tipo de estimulação do envolvimento:
- Actividade Postural antigravitária, modo de reacção e adaptação a estimulações
permanentes e estáveis.
17
Revisão da Literatura
- Actividade Postural direccional, modo de reacção e adaptação a estimu-lações
variáveis.
A Actividade Postural antigravitária manifesta-se por quatro tipos de reacções
com origens distintas:
- Reacções de endireitamento que têm origem nos reflexos de origem labiríntica,
visual, muscular e cutânea determinadas pela gravidade, peso do corpo, corpo,
superfície de apoio e referências visuais.
- Reacções de sustentação manifestam-se através dos reflexos pro-prioceptivos
(resultado da acção conjunta dos músculos flexores e extensores) e
exteroceptivos (nível plantar) que permitem a manutenção da posição
anteriormente adoptada pela fixação dos segmentos móveis do corpo (membros
e cintura).
- Reacções de adaptação estática, na posição ortostática o corpo oscila
permanentemente. Qualquer factor tendente a modificar o equilíbrio corporal
(verticalidade) desencadeia uma resistência compensatória de adaptação a nova
situação, pela regulação quer da actividade tónica dos vários grupos musculares,
quer da amplitude do movimento das diversas articulações.
- Reacções de equilíbrio, funcionam como um dispositivo de segurança que
entra em acção quando as reacções de adaptação estática se tornam insuficientes
para manter a projecção do centro de gravidade no interior do polígono de
sustentação. Estas reacções têm origem muscular ou labiríntica.
Pode-se então concluir que a Postura constitui uma actividade que é imprescindível
à preparação e manutenção de qualquer acção, assegurando, simultaneamente, a eficácia
da sua execução.
A Actividade Postural, segundo Soulairac (1977), seja parcelar num segmento da
musculatura, seja global na regulação das atitudes, está permanentemente subjacente à
Actividade cinética e, sem ela, não se pode realizar.
Segundo este autor, toda a Actividade cinética, automática ou voluntária, vai
representar uma sucessão de Actividades Tónico-Posturais preparatórias ao movimento e
de Actividades fásicas que constituem a própria acção voluntária. Existe uma Actividade
holo-cinética representada pelo conjunto de realizações motoras assegurando a tonicidade
e a Postura, e uma Actividade idiocinética, de carácter essencialmente fásico, que representa
sobre um fundo permanente de tonicidade, a execução de movimentos de alta precisão.
18
Dolores Monteiro
Ainda, para este autor, na génese do esquema corporal, as primeiras sensações
proprioceptivas articulares e musculares nascem e organizam-se principalmente a partir
de informações visuais. A informação visual e os movimentos oculares continuam a ter
um papel importante no controlo e manutenção do equilíbrio corporal, ao longo do
desenvolvimento e no adulto. Os músculos oculomotores têm um papel importante na
regulação da Postura, regulando a amplitude motora dos diferentes segmentos do corpo,
no endireitamento do eixo cefálico; esta regulação oculomotora representa uma regulação
de alta precisão de origem vestibular. Um bom funcionamento visual permite uma aquisição
mais rápida da regulação Postural proprioceptiva de origem ocular.
Para Guiner (1978), a Actividade Postural traduz-se pela imobilização das peças
do esqueleto em posições determinadas, que traduzem a maneira pessoal de ter o próprio
corpo, tanto no estado estático como em situações dinâmicas. Refere ainda este autor, que
pela sua componente tónica, a Postura está na base do acto motor. O termo Postura é o
equivalente de Atitude. O sentido geral das duas palavras é o mesmo, sendo, no entanto, a
palavra Postura utilizada mais vulgarmente.
Apesar da evolução dos conceitos sobre a Actividade Postural neste últimos anos,
e desta ter ocupado um lugar de componente fundamental da actividade humana e ser
vista como merecedora de uma cuidada análise científica, ainda continua a ser definida,
por alguns estudiosos, sob o ponto de vista estático e tradicionalmente mecanicista.
Para Martin (1977), Postura- “é um estado do corpo”- para o qual contribuem duas
vertentes, a que trata da inter-relação das diferentes partes do corpo, e a outra que trata
especificamente da actividade de suporte antigravitária. Quando este autor refere a
actividade antigravitária adiciona a acção de equilíbrio “se forem assumidas as duas
vertentes como um todo, resulta que as diferentes peças esqueléticas tendem a inter-
relacionar-se de forma a que o corpo se oponha à solicitação da gravidade, ou seja, neste
caso, que se mantenha em equilíbrio e que não caia.”
Dubois (1979) define Ajustamento Postural como uma espécie de modelagem do
tónus da Postura, integrando por sua vez os elementos exteriores ao indivíduo (acção
permanente da força de gravidade, acção periódica de outras forças) e as componentes que
lhes são próprias (afectividade, vigilância, intenção de acção). Para este autor, o conceito
de Atitude não engloba apenas a organização e ajustamento da Postura com o fim de
manter e restabelecer o equilíbrio. A Atitude também é a tradução significativa de um
comportamento e, se por um lado, a sua regulação constitui uma reacção às condições
periféricas (equilíbrios articulares, tensões musculares), por outro, também são importantes
as influências centrais dependentes das reacções emocionais ou das variações de atenção.
Segundo este autor, a Actividade Postural intervém na retaguarda de todo o
movimento finalizado. A eficácia de um movimento, quer seja global ou localizada, vai
19
Revisão da Literatura
repousar sobre a estabilidade e consistência Postural da Atitude. Segundo este mesmo
autor, a Actividade Tónico-postural exprime-se pela imobilização, alinhamento e
solidarização dos diferentes segmentos móveis e cinturas do corpo, favorecendo a aplicação
e o transporte das forças através do mesmo e traduz o modo de reacção e adaptação do
indivíduo às estimulações do envolvimento material e humano, estando na base de todos
os movimentos. É a permanente adaptação do tónus da Postura que confere eficácia ao
movimento, assegurando o Equilíbrio e a estabilidade do posicionamento corporal.
Gahéry (1985) diz que “o movimento de qualquer segmento corporal constitui
uma fonte de perturbação da Postura e do Equilíbrio face ao deslocamento do centro de
gravidade, que resulta numa reacção ao organismo de modo a prevenir uma situação de
desequilíbrio”.
Para Clément (1983), a Actividade Postural não é apenas uma série de posições
estáticas do corpo. Cada movimento é precedido por um ajustamento antecipatório
necessário para o próprio movimento e acompanhado por componentes Posturais durante
a sua execução.
Este autor refere que o equilíbrio do corpo, em posição de pé, fica assegurado
quando o centro de gravidade se projecta no interior do polígono de sustentação definido
pela superfície de apoio no solo. A Postura exprime-se através de oscilações corporais em
torno da posição de equilíbrio, cuja frequência e amplitude estão dependentes dos sistemas
de regulação do tónus Postural e das fixações Posturais dos segmentos articulares em
relação à percepção da posição relativa dos vários segmentos corporais e destes em relação
ao envolvimento.
Clément et al. (1983), citado por Fernandes (1998), referem que é um dos pré-
requisitos mais importantes para a manutenção de uma Postura correcta. Estes autores
referem a importância da aplicação da noção de Esquema corporal no controlo da Postura
e do Equilíbrio a partir de dois tipos de informações, que são, por um lado, de natureza
métrica (informações sobre a posição dos segmentos uns em relação aos outros) e, por
outro, de natureza dinâmica (informações resultantes da massa e da inércia dos diferentes
segmentos, assim como das forças de apoio no solo).
Pompeiano (1983), citado por Fernandes (1998), refere que o Ajustamento Postural
também é necessário durante a realização do movimento, com o fim de prevenir o
desequilíbrio.
Madeira (1986) refere que a Postura erecta é mantida através da dinâmica de órgãos
especializados, designadamente diversas estruturas neurofisiológicas, vários sentidos e
sistemas funcionais. O equilíbrio humano não perspectiva apenas aspectos anatómicos e
mecânicos, nem se circunscreve unicamente ao alinhamento vertical do centro de gravidade
da cabeça, do tronco e dos membros.
20
Dolores Monteiro
Segundo este autor, a Actividade Tónico-postural exprime-se não só na imobilização
das peças ósseas utilizadas, mas também pelo alinhamento e consistência dos diferentes
segmentos e cinturas, propiciando transporte das forças através do corpo.
O mesmo autor esclarece que - “Actividade Postural ressalta como dinamismo
profundo do indivíduo que não cessa de operar finos reajustamentos para responder, de
forma adaptada, às estimulações do envolvimento material e humano. É sem dúvida, a sua
adaptação permanente que assegura a estabilidade de posicionamento corporal, o seu
equilíbrio e, em última instância, confere a eficácia ao movimento”.
Tanto Madeira como Paillard “sublinham que o alvo da Actividade Postural não é
só o de admitir um estado de estabilização ou de equilíbrio, mas sim, tratando-se dum
processo intimamente dinâmico, o de continuamente proceder ao controlo e distribuição
da resultante das forças ou estímulos actuantes a nível do organismo, de forma a que este
cumpra as suas mais diversas tarefas.
Para Massion et al. (1990), a Postura do Homem é constituída por módulos
sobrepostos a partir do solo, sobre o qual se efectua o apoio, até à cabeça: cada módulo
está ligado ao módulo subjacente por um conjunto de músculos que têm em comum uma
regulação central e periférica especializada, cuja a função é manter a posição de referência
desse módulo em relação ao módulo subjacente. Consideram que o controlo global da
Postura se faz por intermédio do tónus Postural.
Para esses autores, a noção de Postura é distinta da de Equilíbrio, que visa manter
a projecção no solo do centro de gravidade no interior do polígono de sustentação.
São os Ajustamentos Posturais que permitem manter o Equilíbrio (quando a
contracção da musculatura mantém o centro de gravidade no prumo da sua base de
sustentação), mas também estabilizam a Postura de um ou mais segmentos corporais (da
posição dos módulos entre si).
Reed (1989) referenciou uma maior aproximação funcional do conceito de Controlo
Postural a partir de uma perspectiva de sistemas da acção, argumentando que o Controlo
Postural não deverá, de um modo genérico, ser entendido como uma resposta às forças
perturbadoras para manter o equilíbrio mas, em vez disso, como o uso controlado e flexível
de todas as forças que actuam sobre o corpo.
Por outras palavras, o Controlo Postural não deve ser conceptualizado como sendo
dirigido automaticamente por respostas estereotipadas a estimulações mas, mais do que
isso, como um componente integral de acções funcionais que requerem um grande nível
de adaptabilidade.
Neste sentido Diener (1988) refere que o Controlo Postural não compreende apenas
mecanismos reflexos, mas também, requer um complexo processo central que pode ser
ajustado às modificações intrínsecas ou extrínsecas que são exigidas.
21
Revisão da Literatura
Fernandes (1998) refere que a Postura retrata a forma personalizada de se estar
corporalmente no mundo que nos rodeia; a Postura e o Movimento são interdependentes;
a Postura e o Equilíbrio são a base da actividade motora; a Postura está directamente
relacionada com o tónus muscular.
Sérgio (1995) refere que Ling, da escola sueca, utilizou o termo Atitude e concebeu
- o como sendo um modelo de referência abstracto, a partir do qual se elaborava a sessão
de ginástica.
A Atitude acima referida era definida da seguinte forma: “pés afastados a 90º,
peito bem saído, ventre para dentro, rins escavados, cabeça direita, corpo vertical, ombros
abaixados e para trás, centro de gravidade no centro da base de sustentação”.
Pensa-se que seria uma Postura muito semelhante a que actualmente se designa
por Posição Fundamental Anatómica
Ling, apesar de ter sido alvo de algumas críticas no sentido de pretender transformar
o Homem num boneco articulado, conseguiu realçar o valor da ligação entre a Atitude e os
Elementos ou Factores tónicos.
Para Bardy & Mariu (1996), o controlo do Equilíbrio Postural do Homem, em pé,
implica a coordenação das articulações do tibiotársico, ancas e joelhos com o objectivo de
manter a posição em pé. A tarefa, na qual o sujeito está envolvido, pode impor movimentos
de grande amplitude, uma mudança no modo de coordenação Postural a uma paragem das
oscilações do corpo.
Segundo este autor, as oscilações corporais destinadas a manter o equilíbrio têm
um papel funcional que depende das propriedades intrínsecas do indivíduo, do envolvimento
e da finalidade da acção.
Segundo Bessou et al. (1996), Postura corresponde a Atitude Corporal adaptada
por um sujeito num instante qualquer. Ela é o reflexo de um programa motor, de um
conjunto de instruções dirigidas pelo sistema nervoso, pelos quinhentos músculos do
organismo humano, com a função de se obter a geometria corporal desejada.
Um indivíduo, na posição de pé, está submetido à acção do campo de gravidade;
desta forma dispõe de um reportório Postural necessariamente limitado pelas restrições do
movimento.
Face à acção da gravidade, no Homem de pé, o sistema nervoso incluído em todo
o programa motor Postural, assume uma componente de luta antigravitária da manutenção
do Equilíbrio.
22
Dolores Monteiro
23
Revisão da Literatura
2. 2- Factores Determinantes
2.2.1 – Actividade Tónico Postural
Do ponto de vista neurobiológico, deve-se entender o desenvolvimento humano
como o corolário de toda uma actividade tónica e postural concertada, que suporta o
movimento organizacional temporal e espacial.
Ao falarmos de desenvolvimento humano, estamos a falar essencialmente de
movimento coordenado, movimento este realizado com a sintonia perfeita entre os diversos
intervenientes no mesmo.
Por outro lado, para falarmos em movimento, verificamos que este só se realiza
tendo por base toda uma actividade postural que o suporte e, esta, por sua vez, tendo como
suporte a actividade tónica.
Contudo, ao referir estes três níveis de actividade psicomotora, consideramos que
há sempre estruturas que permitem que essa actividade se realize - o suporte estrutural.
Além do suporte estrutural e por detrás do que é visível, existem as estruturas que
têm como função o controlo e regulação dessa mesma actividade.
Por outro lado, a actividade tónica está intimamente ligada à actividade motora e a
coordenação só é possível tendo como base um estado de equilibração. Esta função está,
dependente da actividade postural, tal como está dependente da actividade tónica. Por sua
vez, a coordenação está dependente dos movimentos realizados, os quais dependem também
do comportamento do indivíduo. Madeira (1986).
É a tensão tónica que prepara, orienta e suporta o movimento na sua expressão
visual. A tensão tónica é a tela de fundo de todo o acto motor, logo assegura a sua preparação,
assim como suporta a sua realização e vê reflectidos em si os seus resultados.
Tanto na postura como no aspecto comportamental, assim como também na
equilibração que resulta da actividade postural, num ou noutro caso, estamos em presença
de funções do organismo humano que se apoiam no mesmo suporte neurofisiológico: a
actividade tónica. A postura está na dependência da harmonia tónica.
A postura, no seu suporte estrutural, está dependente de estruturas nervosas que,
por seu lado, estão sob a dependência constante do nosso estado tónico.
Os conceitos de actividade tónica, postural e equilibração são interdependentes e
fazem parte de uma única trama que é o movimento que, quando bem tecido, se expressa
como um movimento coordenado, ou seja, onde nada é mantido ao acaso e onde todos os
24
Dolores Monteiro
factores têm a sua contribuição no momento certo, no local certo e com a intensidade
adequada a cada situação, que se encontra expressa na corporização da coordenação motora,
que é o mesmo que dizer, o acto motor coordenado.(Figura 2.1)
oCoordenaçã
ãoEquilibraç
Movimento
Postura
ntoComportame
Tónus==
Figura 2.1- Apontamento de aulas práticas de Psicofisiologia Madeira, F. (1990)
Madeira (1986) considera que as infra-estruturas da actividade motora são a postura
e o equilíbrio e, como tal, a base estrutural de qualquer processo de aprendizagem.
Como a actividade motora intencional e coordenação permitem a presença de
processos de aprendizagem, os sistemas posturais permitem o desenvolvimento da
actividade motora. (Quirós e Schrager, 1978).
Quer a actividade tónica quer a actividade postural não devem ser vistas como um
fim em si mesmo, mas como um meio imprescindível para a existência do movimento. A
motricidade humana é simultaneamente produto e produtor dos estudos tónicos e posturais
que se inter-influenciam e dos quais dependem, ao mesmo tempo que estes lhes estão
dependentes.
2.2.1.1 – Tónus
A função tónica, para muitos autores, é a mais complexa e aperfeiçoada do ser
humano, encontrando-se organizada hierarquicamente no sistema integrado reticular e
toma parte em todos os comportamentos de postura e movimento, através de uma maturação
progressiva.
O tónus “é basicamente o estado de tensão permanente ao nível do músculo que se
manifesta, não só no estado de repouso, mas em toda a actividade cinética” Surrel (1976)
Mano e Laget (1964) afirmam que a actividade tónica “forma a tela de fundo das
actividades motoras e posturais, fixando, preparando o movimento, fixando a atitude,
sustentando o gesto, mantendo o estatismo e a equilibração”.
Madeira (1990) considera que “A tonicidade está subjacente a toda a actividade
motora, influenciando a qualidade da respectiva manifestação (...), é fundamental pro-
piciar níveis optimais de tonicidade, pela vivência regular e sistemática de práticas cor-
porais que afectem as modulações tónicas. Qualquer imprecisão na carga tensional,
25
Revisão da Literatura
excessiva ou reduzida, compromete, inevitavelmente, a coordenação do gesto e sua
sequência temporal”.
Devem-se distinguir três níveis diferentes de organização tónica: tónus de repouso,
tónus postural ou de atitude e tónus de acção.
Podemos, então, caracterizar três regimes ou níveis de funcionamento tónico, sendo
em cada um desenvolvida uma tensão de tipo diferente e cada um destes regimes
assegurando igualmente uma função específica na motricidade humana:
- Tónus de Repouso
O tónus de repouso é o regime mais baixo, caracterizando o funcionamento do
aparelho muscular numa pessoa em repouso, com o seu corpo totalmente relaxado.
O tónus muscular de base, tal como é denominado por Rigal (1987), “é a contracção
mínima ou a ligeira excitação de um músculo em repouso.”
O tónus de repouso, ou também chamado permanente, não é mais que um estado
reduzido que corresponde à ligeira contracção muscular no estado de repouso.
O tónus de repouso é indispensável e responsável pela manutenção de determinadas
funções específicas do comportamento, nomeadamente, a manutenção dos grandes
aparelhos da vida vegetativa num adequado nível de funcionamento, o contacto e a posição
relativa dos diferentes elementos osteo-articulares.
Debelle (1976) compara o regime mínimo de funcionamento do aparelho muscu-
lar - tónus de repouso - ao regime de “ralenti” de um motor mecânico de explosão
- Tónus de Postura
Como substrato da realização de uma qualquer praxia torna-se verdadeiramente
imprescindível a aquisição prévia de um óptimo posicionamento corporal, possível apenas
pelo afinamento tónico dos grupos musculares respectivamente implicados.
Esta actividade do músculo caracteriza toda a actividade que precede imediatamente
a acção - é um estado de vigilância muscular. O tónus de atitude não é mais do que o
corolário de uma atenção (vigilância) sobre o envolvimento, ou ainda, é o que permite ao
corpo “estar disponível para...”. Não se pode dizer que esta atitude constitui, em si própria,
uma acção propriamente dita.
Este nível tónico tem duas qualidades principais - a globalidade e a plasticidade -
uma vez que todo o corpo deverá estar em estado de vigilância para que cada parte
constituinte possa assegurar o papel de coordenação a ele conferido.
26
Dolores Monteiro
O tónus postural resulta de um conjunto de reacções de equilibração e de manutenção
da atitude e fornece uma referência a um suporte para a execução de acções motoras.
O desempenho da sua missão não é compatível com um estado de relaxamento
absoluto do corpo mas, pelo contrário, requer uma adequada aceleração tónica, materializada
na atitude específica que cada indivíduo expressa.
Utilizando de novo a imagem do motor, em analogia com o tónus de atitude, neste
caso o motor já não se encontra a funcionar em regime de “ralenti”, mas sim num regime
significativamente mais intenso, ou seja, de pré-arranque.
Quando nos referimos a esta vigilância muscular que precede imediatamente uma
acção, não significa a acção propriamente dita; traduz, sim, a sinergia muscular que garante
a manutenção de uma qualquer posição corporal desejada que, para além de resistir à
acção da gravidade, pretende, acima de tudo, tornar o corpo disponível para a acção.
O tónus de atitude constitui a base do acto motor, dado que só a partir da contracção
tónica - cuja finalidade é a fixação de uma atitude de partida devidamente equilibrada - se
vem sobrepor a contracção fásica propriamente dita.
- Tónus da Acção
O terceiro nível de trabalho do músculo é o que provoca, ou o deslocamento dos
segmentos ósseos com vista a uma acção com movimento, ou a manutenção de uma posição,
no caso de uma acção sem movimento, o qual denominamos por tónus de acção.
Nesta situação, a parte activa do movimento é assegurada por um conjunto de
músculos agonistas.
Este tipo de trabalho muscular pode alcançar um alto nível de intensidade mas não
pode, neste caso, ser mantido durante muito tempo, uma vez que o músculo mantido
voluntariamente em contracção intensa, rapidamente se fadiga, esgotando-se as suas
reservas energéticas.
Em termos de funcionalidade, o tónus de acção assegura a transição do esquema
de atitude ao esquema de acção, acompanhando todas as variações deste.
O tónus de acção é a função que garante as condições de apoio necessárias à
prossecução dos actos motores.
Em termos gerais, podemos afirmar que a tonicidade está subjacente a toda a
actividade postural e de equilíbrio, que têm, como fim último, a aquisição de equilíbrio
geral e a sua adaptação à situação envolvente de acordo com a informação proprioceptiva
e exteroceptiva.
O tónus pode ser considerado como a função de ligação entre o psíquico e a
motricidade e, deste modo, os dois níveis tónicos de repouso e de atitude podem ser
27
Revisão da Literatura
considerados como um estado de passividade, se o entendermos como sinónimo de ausência
de acção e de inervação motora voluntária.
2. 2. 1. 2 – Postura
“Todo o ser se apresenta num estado estático ou cinético, numa postura pouco
mais ou menos tão típica como a sua forma, as suas dimensões ou a sua cor. Mesmo sujeita
às mais diversas contingências, a atitude conserva a marca da espécie e do indivíduo”
Madeira (1986).
Para Esbérard (1980), a postura é o mecanismo neural que mantém os membros
estendidos, levando o organismo a manter a posição que antagoniza a acção gravítica.
A manutenção da postura ortostática, característica da espécie humana, baseia-se
na actividade tónica de numerosos grupos musculares, designada por actividade tónico
postural ortostática.
Segundo Dubois (1979), a actividade tónico postural exprime-se pela imobilização,
alinhamento e solidarização dos diferentes segmentos móveis e cinturas do corpo,
favorecendo a aplicação e o transporte das forças através do mesmo.
Traduz o modo de reacção do indivíduo às estimulações do envolvimento material
e humano e está na base de todos os movimentos.
É a permanente adaptação do tónus de postura que confere eficácia ao movimento
assegurando o equilíbrio e a estabilidade do posicionamento corporal.
A actividade corporal para Guiner (1978), traduz-se pela imobilização das peças
do esqueleto em determinadas posições que representam a maneira pessoal de ter o próprio
corpo no estado estático ou em situações dinâmicas.
Moro (1971) define postura como uma resposta psicofisiológica às estimulações
do meio ambiente, como um comportamento racional, constituindo uma forma de expressão
da personalidade profunda.
O conceito de postura está relacionado com a posição relativa das diversas peças
do esqueleto, que é determinada pela acção constante da força da gravidade e outras forças
exteriores. Este é um conceito essencialmente de natureza mecânica que garante uma relação
optimal entre os custos energéticos e uma posição de equilíbrio máximo.
Mas, se considerarmos a integração de factores de ordem cultural, social e afectiva
que agem sobre cada pessoa de forma individualizada e que se traduzem num conjunto
particular de relações e adaptações posturais, aproximamo-nos do conceito de atitude.
Este conceito transporta-nos de uma visão mecânica determinada por uma evolução
filogenética para uma visão de individualização determinada pela evolução cultural e so-
cial.
28
Dolores Monteiro
A interacção destes dois conceitos - atitude e postura - define um terceiro que
engloba as duas dimensões apresentadas: o conceito de atitude postural.
Porém, e segundo Lapierre (1968), a atitude deve ser considerada não como um
equilíbrio mecânico mas como um equilíbrio neuro-motor. Ela é resultante de uma infinidade
de reflexos sensório-motores integrados nas diversas partes do sistema nervoso, mediante
uma regulação automática extremamente complexa e como reacção pessoal e um estímulo
constante - o peso.
O termo atitude postural, para Paillard (1976), caracteriza um certo alinhamento
dos segmentos esqueléticos e um certo equilíbrio segmentar e geral. Corresponde a um
modo de equilibração pessoal, passageiro ou permanente, que pode ser estimado em função
de referências espaço-temporais.
Para o mesmo autor, “...cada espécie animal assume uma atitude fundamental
essencialmente antigravitária, que se organiza segundo uma arquitectura postural que lhe
é própria e característica do seu modo de locomoção”.
Ainda para Paillard (1976) distinguiu dois modos de expressão da actividade tónico
postural directamente relacionados com o tipo de estimulação do envolvimento:
a) - Actividade postural antigravitária, modo de reacção e adaptação a estimulações
permanentes e estáveis.
b) - Actividade postural direccional, modo de reacção e adaptação a estimulações
variáveis.
A Actividade Postural Antigravitária manifesta-se por quatro tipos de reacções
com origens distintas:
1º) Reacções de Endireitamento:
Podem ter origem labiríntica, proprioceptiva, visual ou táctil e permitem a colocação
do corpo e dos seus segmentos móveis na posição ortostática.
O posicionamento da cabeça tem aqui um papel fundamental, uma vez que
determina a orientação dos órgãos sensoriais e o posicionamento mais eficiente do corpo
e seus segmentos.
2º) Reacções de Sustentação:
Essencialmente, têm origem exteroceptiva (nível plantar) e proprioceptiva (resultado
da acção conjunta dos músculos extensores e flexores) e permitem a manutenção da posição
adoptada pela fixação dos segmentos móveis do corpo (membros e cinturas).
Segundo Paillard (1976) sempre que se verifica uma modificação da posição fun-
29
Revisão da Literatura
damental ocorrem reacções de compensação que, consoante a intensidade da perturbação,
se traduzem quer por um simples reajustamento tónico (reacção de adaptação estática)
quer por movimentos de correcção, (reacção de equilibração).
3º) Reacções de Adaptação Estática:
Na posição ortostática o corpo oscila continuamente em torno da sua posição de
equilíbrio segundo ritmos particulares e complexos.
Qualquer factor tende a modificar o equilíbrio corporal e a desencadear uma
resistência compensatória de adaptação à nova situação, pela regulação, quer da actividade
tónica dos vários grupos musculares, quer da amplitude do movimento das diversas
articulações.
4º) Reacções de Equilibração:
Funcionam como um dispositivo de segurança que entra em acção quando as
reacções de adaptação estática se tornam insuficientes para manter a projecção do centro
de gravidade no interior do polígono de sustentação.
Estas reacções têm origem muscular ou labiríntica. As reacções musculares intervêm
logo que a adaptação estática é insuficiente e traduzem-se pelo deslocamento dos membros
ou do corpo na sua totalidade e pelo abaixamento do centro de gravidade. As reacções
labirínticas são desencadeadas quando o corpo é colocado em movimento angular ou
rectilíneo.
Para Rivenq e Terrisse, citados por Madeira (1986), o equilíbrio é a habilidade de
manter o corpo na posição bípede graças a movimentos compensatórios, quando o indivíduo
permanece no mesmo lugar (equilíbrio estático) ou quando se desloca (equilíbrio dinâmico.)
O equilíbrio é o processo pelo qual é assegurado o ortoestatismo e baseia-se na
integração de informações sensoriais (visuais, tácteis, articulares e labirínticas) e perceptivas
(percepção de verticalidade, profundidade e lateralização).
A Actividade Postural Direccional traduz o modo de reacção e adaptação às
solicitações alteráveis do envolvimento e baseia-se nas reacções antigravitárias.
As reacções de posicionamento direccional resultam do “despertar” da atenção
dum indivíduo para um estímulo significativo. São, em geral, acompanhadas da suspensão
da actividade em curso e seguidas da orientação da cabeça e do corpo de forma a favorecer
a reacção sensorial e motora adaptada ao objectivo seleccionado.
A primeira fase destas reacções, o despertar da atenção é da responsabilidade das
áreas de projecção sensorial correspondentes (olfactiva, auditiva, visual ou sensoriomotora)
sendo a orientação do corpo para as fontes de estimulação regulada pelos canais
30
Dolores Monteiro
semicirculares e pelos três pares de nervos cranianos (III, IV e VI).
Em termos filogenéticos, a aquisição da posição ortostática permitiu a evolução no
sentido da cerebralização pelo aumento da caixa craniana e consequente diminuição do
maciço facial.
Sendo a ontogénese uma recapitulação da filogénese pode afirmar-se que a aquisição
do ortoestatismo se faz progressivamente acompanhando a maturação do sistema nervoso.
A ontogénese decorre de um processo embrionário complexo, isto é, de um
desenvolvimento intra-uterino. Entretanto, é logo após o nascimento, que a reacção de
endireitamento do pescoço tendente a manter a cabeça no prolongamento do eixo corpo-
ral, evidencia a capacidade de reacção à gravidade por parte dos músculos extensores e
flexores.
A etapa seguinte é representada pelo reflexo labiríntico de endireitamento da cabeça
que surge aos 2 meses e se completa até aos 6 meses de idade traduzindo-se pela capacidade
de manutenção da cabeça na vertical qualquer que seja a posição do corpo.
Este reflexo labiríntico de postura da cabeça representa a interacção entre as
aferências visuais e vestibulares e permite a aquisição e manutenção da postura sentada.
No entanto, é a reacção de “pára-quedas” caracterizada pela extensão dos braços
quando o corpo sofre impulsos laterais ou antero-posteriores, que fornece as condições de
segurança básicas indispensáveis ao ortoestatismo e à marcha. Esta reacção será adquirida
aos 6-7 meses para impulsos anteriores, aos 8 meses para impulsos e aos 10-12 meses para
impulsos posteriores.
Dada a especificidade do estudo que realizámos, parece-nos importante referir que
é através da embriologia que podemos compreender o sentido biológico e dinâmico da
recapitulação da filogénese na ontogénese.
As origens do comportamento humano, e por conseguinte da ontogénese da
motricidade, encontra-se na embriologia e na neonatologia que suportam os estudos da
concepção, nidação e gestação do zigoto, onde o ser humano, único e determinado, começa
a vida.
O nascimento da vida humana dá-se a partir do momento em que duas células
sexuais incompletas – o óvulo da mãe e o espermatozóide do pai – se juntam numa célula,
denominada zigoto, contendo a informação genética que determinará o crescimento pré-
natal, bem como todo o crescimento morfológico que se prolongará preferencialmente até
por volta dos 15-16 anos de idade.
É óbvio que, se estas mudanças de forma continuassem na proporção do crescimento
pré-natal, o ser humano seria muito diferente.
A célula inicial (do tamanho da cabeça de um alfinete) mede cerca de dois décimos
de milímetro e pesa seis décimos de miligrama. Nove meses depois, o crescimento ponderal
31
Revisão da Literatura
aumentou quinhentos milhões por cento e o crescimento estatural duzentos e cinquenta
mil por cento. O recém-nascido tem em média cinquenta centímetros de estatura, e trinta
e cinco centímetros de perímetro cefálico que corresponde aproximadamente a trezentas
gramas de peso.
É esta ontogénese da forma que a embriologia pretende esclarecer, permitindo o
estudo sistemático e minucioso dos estados ontogénicos do crescimento. Crescimento que,
por definição, deve ser entendido como irregular, assincrónico, diferenciado e hierarquizado.
Neste sentido, Gessel e Col (1929,1950) centraram os seus estudos em cinco factores
fundamentais: maturação, diferenciação individual, leis do desenvolvimento, ritmo de
desenvolvimento e sectorização de comportamentos. Concretamente, sendo o autor um
“coleccionador” hiper rigoroso dos comportamentos da criança deixou-nos a sua escala de
desenvolvimento que compreende o comportamento adaptativo (ajustamentos sensório-
motores, e percepção das relações), comportamento motor global (postura e marcha),
comportamento motor fino (preensão e dextralidade), linguístico (comunicação verbal e
não verbal) e comportamento pessoal-social (reacções pessoais à cultura social).
Os aspectos comportamentais, anteriormente explicitados, desenvolvem-se
interdependentemente de acordo com os processos normais de maturação. Trata-se de
uma embriologia neurobiológica e psicomotora que origina novas formas de
comportamento, cada vez mais diferenciadas, ilustrando níveis de maturidade e de
integridade do sistema nervoso. O comportamento transforma-se em estrutura e em função.
O corpo cresce e o comportamento também, pensamento e movimento não se opõem, a
diferenciação neurológica produz a sua maturação evolutiva.
A ontogénese da criança compreende um aspecto biológico e um aspecto social.
No primeiro, depara-se-nos a maturação dos sistemas nervoso e endócrino, e no segundo,
observamos a integração social. O biológico e o social coexistem em termos de ontogénese
da motricidade.
Para Wallon (1968), “ o desenvolvimento da criança é um misto de inovação e de
renovação. A causa modifica-se a si mesma. A motricidade e o psíquico, embora sendo
duas realidades diferentes, são igualmente duas realidades solidárias”.
A inteligência é o corolário da acção. O pensamento resulta da ontogénese da motricidade,
que subentende um organismo total que evoluiu através dos tempos em termos de interacção
com o potencial genético. O organismo humano, como totalidade, é resultante de “contrários
dialécticos” que se harmonizam: anatómico-funcional; motor-psíquico; biológico-social;
fenótipo-genótipo.
O crescimento, como aumento quantitativo (estrutura), e o desenvolvimento, como
aumento qualitativo (complexidade), são as manifestações do mesmo fenómeno. Fenómeno
antagónico, alternado e harmonioso, onde surgem períodos de aceleração e desaceleração
32
Dolores Monteiro
que postulam uma relação dialéctica entre factores endógenos e exógenos, que retratam a
passagem de uma vida vegetativa (intra-uterina) a uma vida (extra-uterina).
A ontogénese da motricidade é o espelho da filogénese humana. Por aqui se
demonstra que os músculos (como órgãos efectores por excelência) são os instrumentos
privilegiados pelos quais os seres humanos comunicam e materializam os seus pensamentos
e sentimentos. O movimento voluntário e o ajustamento postural, tema fulcral do nosso
trabalho, são as chaves da inteligência e da comunicação humanas. O pensamento é o
corolário da acção; os dois são as duas facetas sublimes da actividade psíquica superior.
Foi assim que a consciência humana evoluiu historicamente (aspecto filogenético) e é
assim que se opera a formação da inteligência da criança (aspecto ontogénico).
As possibilidades motoras da criança têm sido amplamente debatidas no plano
evolutivo, e nem sempre são pacíficas algumas conclusões, por se situarem em modelos
anatómicos, fisiológicos e comportamentais. Por exemplo, no modelo inatista substitui-
se progressivamente a interacção entre variáveis genéticas e o envolvimento que determina
o comportamento, confirmando a experiência activa na aprendizagem Gessell e Col (1950).
A nível do seu desenvolvimento, todo o ser vivo tem necessidade de realizar uma
multiplicidade de objectivos que se estruturam a diferentes níveis, constituindo, em
conjunto, uma hierarquia. Ao nível mais elevado, constituem-se as finalidades biológicas
(defesa, alimentação e reprodução…) a um nível mais baixo, os comportamentos (que
permitem actualizar-se no tempo e no espaço) a que chamamos acções, e que estão
constituídos por movimentos e posturas.
Na realidade é no plano postural que se verifica mais facilmente o progresso no
desenvolvimento da criança, a partir do nascimento. O recém-nascido não suporta a cabeça
e a criança aos dois anos marcha perfeitamente. Já com Coghill (1929), em estudos feitos
com a salamandra, mostrou que os movimentos aparecem primeiro na região da cabeça e
depois progressivamente em direcção à cauda. O crescimento avança em ondas sucessivas.
Relativamente à criança, também o desenvolvimento atrás citado se processa do
mesmo modo, isto é, o controlo cortical sobre a actividade neuromuscular evolui segundo
a direcção crâneo-caudal, ou melhor, inicia-se pelo segmento cefálico e progride até aos
membros inferiores.
Este desenvolvimento está de acordo com o sistema motor arcaico, com as suas
origens na filogénese da motricidade. Neste sentido, de acordo com estudos já realizados
por Gessell e Col (1950), sobre o aparecimento dos músculos no feto, considerou-se o
seguinte ordenamento sequencial: músculos da cabeça, músculos do tronco, músculos
dos braços, músculos dos pés, músculos dos dedos, músculos dos tornozelos.
Já Mac-Graw in Fonseca (1988) demonstrou que os movimentos estão em primeiro
lugar submetidos ao controlo subcortical e só posteriormente ao controlo voluntário. O
33
Revisão da Literatura
declínio progressivo dos movimentos subcorticais produz-se no intervalo que medeia o
segundo e o quarto mês A influência inibidora do córtex manifesta-se no sentido que vai
da cabeça até à região da bacia.
Para Rigal, R., (1987) a actividade motora, coordenação de movimentos simples,
tem por base um reportório inato de modelos de acção (reflexos) e exige uma redução
progressiva dos graus de liberdade articular adaptada às estruturas espaço-temporal no
contexto da acção. Este conhecimento remete-nos para o estudo dos principais fundamentos
da natureza do início do desenvolvimento e o seu percurso hierárquico.
Independentemente das teorias explicativas que cada autor tenha abordado sobre o
desenvolvimento ontogénico, na maioria dos casos estamos de acordo que o referido
desenvolvimento se produz mercê da interacção entre a herança e o envolvimento que a
rodeia.
Na actualidade, quando se fala em desenvolvimento da criança, em termos
biológicos, é usualmente abordada a eterna questão do quando do seu início, isto é, se o
desenvolvimento começa a partir do momento da fecundação, ou momento em que se
constitui o ovo, ou se o desenvolvimento antecede a ovulação e a penetração do
espermatozóide.
Segundo Sacarrão, G. F. (1989), a biologia não pode marcar um começo em termos
absolutos, porque as influências sobre o desenvolvimento do futuro organismo já se exercem
antes da fecundação, uma vez que as determinantes do desenvolvimento e o dinamismo
organizador do germe se estabelecem no decurso da importante fase denominada por
ovulogénese. Isto significa, que as potencialidades da vida de cada indivíduo, que irão
orientar o seu destino, residem, não só, no ovo ainda não fecundado, como nos elementos
seus precursores.
Bateson, P. (1989) afirma, que a grande maioria dos biólogos concorda que a
evolução da vida envolveu, dum modo geral, alterações na composição genética dos
organismos em evolução. Outro ponto de acordo refere-se ao facto de que, se a mudança
no tempo deu lugar a uma adaptação ao meio ambiente, e o processo postulado da selecção
Darwiniana funcionou totalmente, então, os genes devem influenciar as características do
organismo. Só que neste aspecto, como nos refere este autor, começam a surgir
discordâncias, quando se particularizam as formas pelas quais os genes afectam o resultado
do desenvolvimento individual.
Esta influência genética levou vários autores, de entre os quais Wilson, E. (1975),
a admitir que o desenvolvimento do indivíduo é um processo complexo, através do qual
os genes são descodificados, podendo até ser, neste sentido, identificada uma
correspondência directa entre os genes e o comportamento.
Em termos do comportamento e, sobretudo, no que respeita à coordenação motora
34
Dolores Monteiro
e actividade postural, a haver uma correspondência genético-comportamental, significaria
que esta se encontrava previamente determinada.
Dawkins, R. (1981) coloca a questão nos seguintes termos - o código genético não
é como um texto impresso que serve para se montar o corpo a partir duma série de unidades
de informação, mas é mais como uma receita, que o permite formar a partir duma série de
ingredientes.
Partridge, L. (1983) afirmou ser infeliz a ideia de que “as instruções para formar os
organismos podem ser encontradas nos genes”. Neste sentido, Bateson, P. (1989) afirma
que - “os genes raramente, talvez mesmo nunca, codificam as características do organismo
no seu todo”.
Na verdade, os genes podem regular alguns comportamentos, mas o Homem no
seu percurso vai adquirindo capacidades para reagir a uma multiplicidade de estímulos
provenientes do mundo exterior, uma vez que o desenvolvimento do ser humano é fruto
duma interacção permanente de múltiplas influências biológicas e ambientais.
O que é adquirido na espécie humana, no que respeita a comportamentos, é, na
opinião de Sacarrão, G. F. (1989), muito mais amplo do que nos outros animais, não
devendo, por isso, interpretar-se o comportamento humano, simplesmente, pela transposição
para o Homem do que se passa nos animais.
Segundo a expressão de Soulairac, A. (1977), os indivíduos vão adquirindo
progressivamente, através da aprendizagem, movimentos ou formulações cinéticas, cada
vez mais complexos, assim como as técnicas operacionais de utilização.
Os seres vivos que, como o Homem, sofrem diversos processos de desenvolvimento
e, simultaneamente, são dotados da capacidade de se poderem deslocar, devem ser
considerados como constituídos por múltiplos e complexos sistemas que são, ao mesmo
tempo, cooperativos, isto é, constituídos por distintas partes anatómicas e diferenciados
níveis de integração, nos quais actuam variados processos fisiológicos que, aquando da
realização de qualquer acto, têm de agir em colaboração.
Thelen, E. & col. (1990) afirmam que estes sistemas se encontram auto-organizados,
o que significa que estes sistemas podem formar, espontaneamente, padrões de resposta,
provenientes unicamente da interacção das diferentes partes que os constituem, sem qualquer
instrução ou codificação prévia.
Reed, E. S. (1982), baseado nos textos de Gibson, J. (1966) e de Bernestein, N.
(1967), defende que, em vez de se perspectivar o controlo neuromuscular dum modo
estritamente hierarquizado, o mesmo deve ser visto como um complexo de sistemas e
subsistemas flexíveis, partilhando o processo de controlo.
Para Marsden, C. & col. (1983), é bastante claro o facto do movimento não ficar
confinado ao sector muscular e respectivos motoneurónios com ele relacionados, uma vez
35
Revisão da Literatura
que todas as partes do organismo devem participar numa forma de cooperação, de modo a
poderem assegurar uma resposta funcional adequada.
Em síntese, pode dizer-se que, qualquer indivíduo se apresenta à nascença com
potencialidades comportamentais, ainda não definidas ou vazias no seu conteúdo e
significado, as quais irão sendo preenchidas com o decorrer do tempo e em contacto com
os mais variados factores.
Estas formulações cinéticas, quer sejam elas automáticas quer voluntárias,
representam o resultado duma sucessão de actividades tónicas posturais que se encontram
na sua infrajacência.
A maior parte dos estudos realizados sobre o indivíduo têm sido tendencialmente
de natureza normativa-descritiva proporcionando uma diversidade de informação sobre
as características do desenvolvimento motor sendo, quanto a nós, de destacar a descrição
dos diferentes estádios ou fases que o ser humano atravessa ao longo da sua ontogénese.
Para Hurlock, (1978) o desenvolvimento motor de uma criança traduz-se pelo
desenvolvimento e controlo de todos os seus movimentos através da actividade coordenada
dos centros nervosos, nervos e músculos.
O período que vai desde a concepção até ao nascimento é denominado por período
pré-natal, estando este, por seu lado, dividido em: zigótico, embrionário e fetal.
Ao longo deste período, o ser humano passa por várias fases: fase aneural de
desenvolvimento motor, fase de transição neuromuscular, fase espino-bulbar do
desenvolvimento fetal, fase vestibular-bulbo-espinal-tegumentar e fase pálido-rubro-
cerebelo-bulbo-espinal-tegumentar.
Ajuriaguerra (1987) considera que o desenvolvimento motor pré-natal possui três
características:
- passa-se de movimentos lentos de pequena amplitude a movimentos bruscos,
rápidos e de maior coordenação;
- a reactividade fetal apresenta inicialmente efeitos de massa e pouca diferenciação,
tornando-se progressivamente mais localizada e diferenciada;
- as reacções contralaterais antecipam-se às homolaterais e os movimentos de
repulsão adiantam-se aos de aproximação.
A partir da vida intra-uterina, o indivíduo inicia um processo natural de
desenvolvimento sequencial.
Após o nascimento, a criança começa a manifestar-se frente ao mundo que
desconhece, reflectindo a influência que o meio lhe proporcionou durante os períodos de
vida intra-uterina. Para além das características genéticas, a família e o meio são as bases
36
Dolores Monteiro
que a influenciam desde o princípio da vida.
Para Hurlock, (1978), o desenvolvimento motor desenrola-se segundo um processo
sequencial que se inicia com reflexos muito simples e movimentos grosseiros (actividades
em massa) e termina com skills motores coordenados mais complexos (actividades
específicas). O desenvolvimento motor depende da maturação muscular e neural, sendo
desta forma o desenvolvimento das diferentes formas de actividade motora, paralelo ao
desenvolvimento das diversas áreas do sistema nervoso
Hurlock, (1978); Zaichkowsky, Martinek, (1980); Fein, (1978), citados por
Monteiro, (1993) referem que os centros nervosos mais baixos, localizados na espinal
medula, estão mais desenvolvidos à nascença do que os centros mais latos, fazendo isto
com que o comportamento motor evolua de movimentos reflexos para a aprendizagem de
movimentos posturais, locomotores ou de transporte e finalmente para movimentos
manipulativos. Deste modo, à medida que o mecanismo neuromuscular da criança se torna
maduro e o desenvolvimento motor ocorre nas direcções céfalo-caudal, próximo-distal e
do geral para o específico, a criança adquire um maior e melhor movimento controlado do
tronco e, mais tarde, das pernas, assim como evolui da utilização dos ombros e cotovelos
para a utilização posterior dos pulsos e dedos
De movimentos reflexos, desde o nascimento e até cerca dos 4 meses de idade,
seguir-se-á uma fase de movimentos rudimentares (até aproximadamente os 2 anos),
passando depois para os movimentos fundamentais (dos 2 aos 7 anos). A partir dos 12
anos, evolui para os movimentos que são determinados culturalmente.
Os comportamentos rudimentares referidos incluem o sentar, o gatinhar, a postura
de pé e o andar. São eles que constituem a base de desenvolvimento de outros
comportamentos fundamentais.
Para Hurlock, (1978); Espenchade, (1980), citados por Pinto (1997), o
desenvolvimento motor ocorre, segundo certos padrões normais de aquisição de controlo
muscular, tanto de diferentes partes do corpo como em actividades específicas. Este facto
é evidente pela mudança de actividades em massa para actividades específicas e pelo facto
de que a idade em que os bebés começam a andar ser compatível com o seu desenvolvimento
total. Damos como exemplo, o facto de uma criança que se senta cedo, andar também mais
cedo do que uma outra que se senta mais tarde.
Devido a esta compatibilidade na razão do desenvolvimento, é possível prever
com um certo grau de exactidão, quando uma criança começará a andar, com base na
razão do seu desenvolvimento em certas actividades motoras.
De acordo com este padrão previsível do desenvolvimento, podemos estabelecer
normas baseadas na média de idades para diferentes formas de actividades motoras; no
entanto, cada criança possui uma velocidade própria de desenvolvimento motor. Estas
37
Revisão da Literatura
normas podem ser utilizadas como linhas de orientação, habilitando os pais e as pessoas
que lidam directamente com a criança para quando esperar determinada actividade das
suas crianças.
Se uma criança, durante os primeiros meses de formação, tem dificuldades na
coordenação óculo-manual, estas podem enfraquecer a sua capacidade para organizar os
comportamentos do seu mundo espaço-visual.
Para Espenchade (1980), citado por Monteiro M. (1993), o recém-nascido com as
suas respostas e reflexos neo-natais, com os seus processos sensoriais externos e internos,
todos em conjunto, tende a responder ao envolvimento de uma forma específica.
O recém-nascido começa por utilizar as sensações, processo mais ou menos simples
e pouco centrado, isto enquanto o mundo exterior é sentido através de sensações; estas são
modificadas com as mudanças de estádios e com as condições corporais, Frank, (1966)
citado por Monteiro M.(1993). Deste modo, à medida que as condições internas e as
sensações se estabilizam de um modo crescente, a criança passa a ter a possibilidade de
centrar no agrupamento e nas configurações de conjunto ou nos inputs sensoriais
concomitantes, que podem ser organizados numa percepção.
É importante referir que Frank (1966), citado por Monteiro M.(1993), considera a
percepção humana uma imposição de forma padrão e com um sentido dos acontecimentos
exteriores.
Durante os dois primeiros anos de vida da criança, existe uma grande inter-relação
entre a dimensão motora e o desenvolvimento perceptual.
O ser humano pode receber estímulos de objectos distantes através dos órgãos dos
sentidos: visual, auditivo e olfactivo. O tipo e quantidade de estímulos sofre um grande
aumento quando o objectivo é posto em contacto com mais do que um processo sensório
corporal.
O maior processo sensorial externo está concentrado no ser humano na região da
cabeça, esta aloja também o mecanismo neural que permite a sua interpretação, daí ser
ideal a deslocação de objectos para esta zona. No entanto, o recém-nascido, apenas com os
seus reflexos de sucção e de agarrar, tem ainda uma capacidade limitada para levar o
envolvimento até à área facial. (Espenchade, 1980).
Ainda de acordo com Frank (1966), citado por Monteiro M.(1993), as condições
internas e as sensações da criança começam a estabilizar-se por volta do primeiro mês, do
período sensório motor de Piaget, podendo a criança, a partir daqui, começar a centrar a
sua atenção nos estímulos exteriores. Durante os três meses seguintes, a criança começa a
coordenar os movimentos do braço e da boca e passa a dar maior atenção aos objectos
familiares do que a objectos novos, estádio dos hábitos simples. Piaget (1962).
A criança, no período compreendido entre os quatro e os oito meses, já adquiriu o
38
Dolores Monteiro
desenvolvimento neurológico necessário para os esforços precoces de coordenação visuo-
manual, estando apta para apanhar e levar objectos para junto de si. Com esta acção, a
criança está a formar associações, iniciando uma percepção do espaço. Além disso, o facto
de começar a agarrar objectos sozinha, dá-lhe a oportunidade de uma maior exploração
dos mesmos em termos de forma, tamanho, peso e textura.
Esta manipulação dos objectos permite-lhe ainda a aquisição do conceito de
permanência do objecto e início de uma percepção de causalidade.
No período dos oito e os doze meses, o comportamento de exploração da criança
expande-se grandemente. Durante o jogo manipulativo, a criança recorda uma sequência
ordenada de acontecimentos, repetindo acções numa sequência temporal, o que indica um
aumento da percepção do objecto, das relações espaciais e temporais e causalidade física.
A criança tenta resolver novos problemas por tentativa e erro, entre os doze e os
dezoito meses. Piaget (1975).
Segue-se um período de desenvolvimento caracterizado pela preparação e
organização das operações concretas, correspondente ao período da infância, que é
caracterizado como um período de desenvolvimento rápido da integração mental,
coordenação motora, fala e controlo dos skills motores básicos.
A aquisição dos primeiros movimentos coordenados relaciona-se com a percepção
numa expressão rústica de resposta motora e é perceptível no primeiro ano de vida, com os
movimentos ordenados que partem da cabeça em direcção aos pés - desenvolvimento
céfalo-caudal. (Meinel, K.,1976)
Segundo este autor, a criança apresenta, a partir de então, movimentos contralaterais
conjuntos e um alto tónus muscular, esclarecedor da tentativa em controlar as próprias
atitudes motoras e organizá-las lentamente.
A evolução preceptiva e a sua influência expressa um estado de coordenação cor-
poral que permitirá, pouco a pouco, a aquisição de padrões mais consistentes.
Com a marcha, o início da fase dos movimentos fundamentais, verifica-se uma
rápida evolução acompanhada da diminuição dos excessos cinéticos; a adaptação resulta
das oportunidades, dos estímulos e das influências do meio que propiciam a aprendizagem.
A diminuição dos excessos cinéticos, provocada pelo aumento da capacidade de
coordenação segmentar e por factores de maturação, leva a uma redução da energia utilizada
e a uma menor utilização das sinergias musculares, que actuarão como verdadeira balança,
qualitativa e quantitativa.
Durante o período da infância, as crianças desenvolvem, entre outras, as capacidades
de correr, saltar, equilibrar-se, lançar e agarrar. (Hurlock, 1978; Zaichkowsky & Martinek
1980) in Monteiro (1993).
Estes skills são normalmente referidos como skills fundamentais gerais, uma vez
39
Revisão da Literatura
que são característicos em todas as crianças e necessários para a sobrevivência normal.
Há, no entanto, grandes diferenças individuais na capacidade de desempenho destes skills
fundamentais, mantendo-se a ordem de desenvolvimento igual para todas as crianças, mas
com uma variação de velocidade do mesmo.
Durante o fim da infância, surgem os movimentos mais específicos no repertório
das capacidades da criança. Os skills fundamentais gerais mais precisos, tornam-se mais
refinados e, consequentemente, mais fluidos e automáticos. A criança passa a dar mais
atenção à forma, precisão e adaptação dos skills podendo daqui utilizá-los na performance
desportiva.
Esta sequência natural sofrerá a influência do meio e particularmente da escola, a
qual, a partir da oferta de actividades motoras, proporcionará uma execução coordenada
dos movimentos do ser humano que possibilitará a sua execução com economia e
harmonização.
Na adolescência, as capacidades desenvolvem-se o suficiente para serem chamadas
especializadas. É claro que este processo evolui lentamente, desde o início da infância até
ao fim da adolescência e depende de uma série de factores, sendo para nós um dos mais
importantes, o nível de prática que o indivíduo tem na fase dos skills específicos. (Hurlock,
1978; Zaichkowsky & Martinek 1980) in Monteiro (1993).
Todos este skills requerem um maior ou menor grau de capacidades, tais como:
força, agilidade, flexibilidade, coordenação (Fein, 1978; Zaichkowsky & Martinek 1980).
Em adição ao aumento da coordenação e precisão do movimento que reflectem
melhorias no funcionamento neuromuscular, é importante referir também o aumento do
número de objectos manipulados pela criança que, consequentemente, vai aumentar a
complexidade das destrezas manuais, desempenhando, deste modo, um indicador evidente
da maturação e funcionamento neuromuscular. (Espenchade, 1980) in Monteiro M. (1993).
Quanto menor for a interferência de obstáculos do envolvimento, de handicaps
físicos ou mentais no desenvolvimento motor de uma criança, mais rápida e facilmente ela
se adaptará primeiro às exigências da escola, participando em todas as actividades dos
seus iguais e, mais tarde, numa boa integração e participação na sociedade. (Hurlok, 1978)
Podemos dizer que desde que o organismo sobreviva, há um feedback que permite
a continuação da abstracção da acção.
O mesmo autor considera que o desenvolvimento sensorial da criança é governado
pelo tipo de frequência de experiências a que ela é exposta e estas permitem-lhe desenvolver
e aumentar a capacidade de atenção selectiva e a percepção ordenada. No entanto, se a
criança for sujeita a grandes níveis de privação, terá mais dificuldade e um menor progresso
através dos vários estádios de desenvolvimento.
Quanto mais complexo for o acto motor, maior é o número de partes do organismo
40
Dolores Monteiro
a serem envolvidas pela actividade postural, encontrando-se esta, por sua vez, sujeita a um
processo de aprendizagem.
Segundo Thelen, E & col. (1990) no processo ontogénico de aquisição duma
determinada capacidade, as estruturas componenciais desenvolvem-se duma forma
assíncrona. No entanto, como todas são necessárias para a execução duma determinada
tarefa, as que se desenvolveram mais rapidamente terão de esperar pelas mais lentas.
Mcgraw, M. (1932) descreve o desenvolvimento postural “as acquiring the neces-
sary strength to support an increasing number of body segments against gravity”. Contudo,
só esta força não é suficiente porquanto existe a necessidade dum mecanismo de equilíbrio
complementar, susceptível de adaptar a postura às exigências contextuais. Para o mesmo
autor, “as crianças começam por desenvolver as aptidões anti-gravitárias sem a preocupação
de fazerem a integração dos movimentos dos segmentos corporais. Mas, com o sentar e,
sobretudo, na posição de pé, já existe a necessidade duma integração do controlo motor
dos vários segmentos corporais, uma vez que a base de sustentação do corpo diminui e o
valor da massa, que o centro de gravidade representa, aumenta.
Enquanto que o sentar e a posição de pé, que contribuem para uma situação de
redução da estabilidade, requerem o equilíbrio estático, o que significa - a manutenção do
centro de pressão dentro do polígono de sustentação - o andar, requer um equilíbrio
dinâmico, o que Raibert, M. & Sutherland, I. (1983) definem por - “maintaining the erect
posture over a constantly changing base of support”.
É do conhecimento geral, que o recém-nascido humano está mal adaptado às
solicitações ambientais extra-uterinas, verificando-se que tem pouca força muscular, do
mesmo modo que o controlo postural da cabeça e tronco são praticamente inexistentes.
Para Prechtl, H. (1986), estas manifestações de imaturidade neuromuscular perduram até
ao segundo mês de idade, altura em que se dão grandes transformações na capacidade
sensorial e motora da criança.
Taillard, W. & Blanc, Y. (1988) chamam a atenção para o facto dos recém-nascidos
não controlarem nenhum dos seus segmentos corporais, atingindo o controlo pleno do
eixo do seu corpo e a orientação da sua marcha entre os 18 e os 24 meses. Esta evolução,
que é efectuada por estádios e segundo um tipo de progressão que é comum a todos os
vertebrados, obedece, segundo estes autores, à lei céfalo-caudal de Coghill.
Illinworth, R. (1970), e Koupernick, C. & Dally, R. (1972) in Pinto (1997) definiram
esses estádios, que se podem resumir da seguinte forma:
- Aos 2 meses, a criança acaba por perder o reflexo do endireitamento, sendo
incapaz de suster o peso do seu corpo até aos 5 - 6 meses.
41
Revisão da Literatura
- Aos 3 meses, a criança é capaz de controlar a cabeça em posição vertical,
aparecendo a lordose cervical.
- Entre os 5 e os 6 meses, a criança começa por poder levantar a cabeça do plano
do leito e posteriormente a sentar-se, ou seja, a endireitar-se apoiando-se nas
pernas.
- Aos 8 meses, a criança apresenta o tronco direito, sem lordose lombar, e consegue
controlar perfeitamente a posição sentada. A partir desta fase, começa a pôr-se
em pé, com as nádegas ainda “dirigidas” para trás.
- Por volta dos 10 - 12 meses, com o aparecimento da lordose lombar a criança
consegue manter-se direita com o mínimo de apoio e levantar-se, servindo-se de
qualquer objecto em que se possa apoiar. Se lhe pegarmos pelas mãos, começa
por dobrar os membros inferiores e só depois é que vai endireitando os diferentes
segmentos, utilizando duma maneira harmoniosa os músculos sinérgicos e os
antagonistas.
- No que se refere à aquisição da marcha, verifica-se que esta se vai desenvolvendo
paralelamente em relação à actividade postural de endireitamento, começando
pelos movimentos de reptação a que se segue o “gatinhar”, até que, ao conseguir
pôr-se em pé e equilibrar-se, vai dispensando pouco a pouco os apoios e adquirindo
a sua independência, desenvolvendo progressivamente o faseado normal do passo
do adulto.
A posição de endireitamento é, sem duvida, um marco importante da ontogénese
humana. É a partir dela que o homem atinge o poder de potenciar as suas mais variadas
capacidades, até mesmo, o de pensar o que se discorre sobre elas. Isto seria impossível se
o seu horizonte se mantivesse delimitado e se não tivesse podido libertar as mãos aquando
da marcha.
Woollacott, M& col (1987) afirmam que só por volta dos 7 a 10 anos de idade é
que a criança manifesta respostas posturais idênticas às verificadas nos adultos. Contudo,
se colocarmos a criança em cima duma plataforma, à qual são aplicadas movimentações
rápidas, observam-se períodos de latência superiores aos verificados nos adultos nas mesmas
circunstâncias.
Hayes, K. & Riach, C. (1990) perguntam se esta modificação do sistema nervoso,
com repercussões no comportamento motor, será consequência da alteração dimensional
e das propriedades de inércia do tronco e dos membros, ou se resulta de alterações da
condução nervosa, como Miller, R. & Kuntz, N. L. (1986) defendem, ou ainda, se é
consequente da alteração dos reflexos proprioceptivos (Vecchierini-Blineau M. &
Guiheneuc, P. 1982; e Myklebust, B. M. & col. 1986) que se encontram associados ao
42
Dolores Monteiro
desenvolvimento, mas duma maneira diferente da maturação dos processos de equilibração.
O significado desta evolução, para posturas mais elaboradas, reside na emanescência da
necessidade duma actividade que, ao procurar avaliar os diferentes componentes corporais,
configure uma situação de equilíbrio entre os mesmos - como é o caso do equilíbrio
ortostático - o qual, por definição, corresponde à condição em que o centro de gravidade
do corpo se projecta dentro da sua base ou polígono de sustentação.
Segundo Thelen, E. & col (1990), o homem quando se desloca necessita igualmente
duma actividade de equilibração, que é fornecida através do reconhecimento que faz do
meio que o envolve e, igualmente, da própria progressão nesse meio. É por intermédio da
integração da informação, fornecida pelos sistemas somato-sensorial, vestibular e visual,
que o homem faz esse reconhecimento, não esquecendo, contudo, o suporte vegetativo,
materializado nas mais variadas funções como a respiratória, cardíaca, gastrointestinal,
renal, hormonal...
Nas fases de transição do desenvolvimento postural e da locomoção, as informações
visuais aparecem como dominantes no controlo da actividade postural (Woolacott, M &
col. 1990). No entanto, para estes autores, durante o espaço de tempo que medeia entre os
18 meses e os 3 anos e no qual a criança adquire a capacidade da marcha, a informação
visual, apesar de ter importância, não é a mais importante, como anteriormente se defendia.
Posteriormente, no período entre os 4 e os 6 anos, regista-se uma aparente regressão na
organização postural, face à integração conjunta das aferências visuais, vestibulares e
somato-sensoriais, para a manutenção do equilíbrio. A fina regulação do controlo postural,
que advém desta integração, apresenta-se como sendo um importante estádio no
desenvolvimento, conducente ao tipo de actividade verificada na idade adulta, na qual as
respostas são curtas, quer no tempo de latência, quer no de adaptação às modificações das
condicionantes onde decorrem as novas acções.
A importância do sector sensorial da visão para o equilíbrio da criança, quer na
pré-marcha como na marcha, encontra-se bem demonstrada através dos trabalhos de Lee,
D. & Lishman, J. (1975), e Butterworth, G. & Hicks, L. (1977). A situação da privação
visual, que aumenta a amplitude do balancear, quer na criança, quer no adulto, levanta
algumas questões, segundo Odenrick, P. & Sandsted P. (1984), de como a criança utiliza
normalmente a visão, apesar de se reconhecer que a visão é uma potente fonte de informação,
concorrendo para o seu equilíbrio.
Numa situação de privação temporária da visão, ou de conflito vestibulo-visual,
verifica-se mais a maneira de como a criança consegue atribuir maior ou menor peso
informativo a outras aferências sensoriais, ou seja, a maneira de como ela soluciona o
inesperado conflito, do que a forma em que os sistemas subjacentes são normalmente
utilizados, segundo nos referem Hayes, C. & Riach, C. (1990). Por outro lado, em crianças
43
Revisão da Literatura
privadas da visão, as aferências somato-vestibulares parecem ser suficientes para a
manutenção do equilíbrio.
Riach, C. & Starkes, J. (1987) verificaram que as crianças estão menos aptas do
que os adultos a utilizarem uma imagem fixa, no intuito de estabilizarem a sua postura,
face aos movimentos sacádicos que apresentam.
Woollacott, M & col. (1987), num trabalho efectuado com crianças, colocam
igualmente em questão que a visão seja sempre dominante, dado terem verificado que esta
não é solicitada, duma maneira geral, nos primeiros meses, como activadora de resposta
posturais e, nas crianças de idade inferior a 5 meses, de unicamente poder solicitar uma
organização, ainda que pouco segura, da resposta muscular, tal como fez o sector somato-
sensorial. Acrescem ainda, o facto de terem também constatado a existência dum curto
tempo de latência e um aumento da ocorrência de reflexos, em crianças de 2 e 3 anos de
idade, a quem lhes é retirada temporariamente a visão. Estas constatações levam a admitir
uma diminuição da importância da aferência visual, a favor do controlo exercido por outros
sistemas sensoriais.
Nesta sequência Woollacott,, M & col. (1990) chamaram a atenção para o facto de
que muitas constatações, que na realidade tendem a empolar o papel da visão em detrimento
das outras aferências, se baseiam em exemplos, nos quais só é dado observar as estimulações
dinâmico - visuais.
Bower, T. (1982) e Ornitz, E. (1983) afirmam que, como os três sistemas sensitivos
entram em funcionamento muito cedo após o nascimento, logo, o estudo da estruturação
dum só sistema, não deve ser usado para demonstrar a dominância do mesmo no controlo
postural.
Sheldon, J. (1963), nos estudos posturográficos efectuados em jovens, com idades
compreendidas entre os 6 e os 14 anos, nas situações de olhos abertos e fechados, verificou
que as suas prestações foram surpreendentemente más em ambas as circunstâncias,
melhorando rapidamente até à idade dos 16 anos e mantendo-se sem grandes alterações,
aproximadamente, até cerca dos 60 anos.
Com o passar dos anos, registam-se alterações no sistema neurológico que se
encontram subjacentes à actividade postural. Os estudos posturográficos são reveladores
do aumento de amplitude das oscilações nas provas de imobilidade ortostática, cujo efeito
é ampliado aquando da ausência das aferências visuais e em novos posicionamentos de
equilíbrio, quando se compara o adulto jovem com o idoso (Sheldon, J. 1963; Hasselkus,
B. & Shambes, G 1975).
Mais recentemente Maki, B & col. (1999) acerca de um trabalho realizado com
duas populações de adultos “normais” - jovens e idosos - verificaram diferenças
44
Dolores Monteiro
significativas entre estes dois grupos, indicando que os idosos são menos estáveis, quer
estejam com olhos abertos ou fechados.
Dadas as alterações fisiológicas ocorridas nestes últimos indivíduos, como sejam -
a diminuição de velocidade de condução nervosa, e a diminuição da força muscular,
paralelamente à determinação das funções visual, vestibular e somato-sensorial - é natural
esperarem-se alterações da estabilidade postural, relacionadas com a idade.
Woollacott, M(1990), através de estudos electromiográficos, demonstra-nos que
há um aumento de latência das respostas musculares posturais, no idoso, em relação ao
adulto jovem, quando se procura induzir uma situação de desequilíbrio e, sobretudo, quando
as aferências sensoriais estão reduzidas, o que por outro lado vem demonstrar a não
existência, nestas idades, de grande redundância, no que concerne às mesmas informações.
É necessário ser-se prudente na interpretação dos resultados referentes à
generalidade dos estudos posturológicos efectuados no idoso porque, para além de
demonstrarem uma grande variação, têm sido efectuados com populações pertencendo a
instituições de saúde, o que significa, na maior parte das vezes, que se tratam de indivíduos
com problemas patológicos.
Fernie, G. L. & col. (1982), num estudo em que correlacionaram a amplitude das
oscilações do centro de pressão com a frequência das quedas, entre populações de indivíduos
idosos pertencentes e não pertencentes a instituições de saúde, verificaram que as populações
pertencentes a instituições de saúde apresentavam uma maior amplitude nas oscilações do
centro de pressão do que as populações que não se encontravam em internamento.
Num outro estudo comparativo entre adultos jovens e idosos, efectuado por
Woollacott,, M & col. (1988), em que foram excluídos indivíduos que logo de início
apresentavam défices neurológicos, constataram que as diferenças entre os dois grupos
foram mais atenuadas no que respeita, quer ao número de quedas, quer aos tempos de
latência da resposta muscular.
Estas observações indiciam que, a verificar-se alguma alteração significativa, no
que respeita ao controlo postural, não será tanto a idade, a principal responsável por uma
maior amplitude de oscilações do corpo, levando consequentemente às quedas, mas sim, a
possível existência de quadros patológicos subjacentes, apesar de, por vezes, ser difícil a
sua detecção.
Gabell, A. & Nayak, U. (1984) num estudo efectuado em relação à marcha, em que
procederam criteriosamente à escolha da sua amostra, entre os mesmos tipos de população
(no adultos jovem e no idoso), verificaram uma pequena diferença de prestação entre os
dois grupos, e foram de opinião: “that any increase in gait variability with aging is not
normal, but is due to perhaps undetected pathology”.
45
Revisão da Literatura
Estas constatações vêm levantar o problema do conhecimento que se tem acerca
do fenómeno - envelhecimento.
Na perspectiva de Johnson, H. (1985), o envelhecimento resultaria da acumulação
de lesões não totalmente reparadas e provenientes das mais variadas origens, como das
radiações ionizantes, da acumulação de radicais livres, das toxinas, de agentes mutatórios,
de traumatismos vasculares e articulares...
Numa perspectiva focando mais o aspecto da relação entre a função cerebral e o
envelhecimento, Woollacott, M(1990), com base em vários estudos, conclui que o
envelhecimento corresponde:
- Ou a um declínio linear da função do sistema nervoso ao longo do tempo, com
vários sintomas de degenerescência, por diminuição do número de neurónios
numa área específica do cérebro, abaixo do nível para um funcionamento normal,
- Ou, pelo contrário, o sistema nervoso continua a manter um alto rendimento até
à morte, a não ser que haja “specific catastrophe or the individual contracts a
specific disease” que lhe origine um rápido declínio funcional numa área
específica do cérebro.
Hoje em dia discute-se, igualmente, o papel que a actividade física pode
desempenhar na melhoria das “performances” psicomotoras ao longo da vida. Embora
que não totalmente inequívocas, as conclusões demonstram o facto de que o exercício
pode vir a ajudar o envelhecimento desde que mantido ao longo de vários anos e efectuado
duma maneira regular (Baylor, A. 1990). Esta autora é também de opinião, que os diversos
programas de exercícios aeróbicos, para indivíduos idosos, têm êxito desde que
administrados por especialistas conhecedores das suas diferentes indicações e, versados,
simultaneamente, nos procedimentos de emergência que eventualmente possam vir a
ocorrer, provenientes da sua prática.
Podemos assim concluir que, dada a complexidade sensório-motora da actividade
postural, que procura assegurar a função da equilibração, como resultado dum dinâmico e
multi-vertente processo de desenvolvimento, o entendimento completo deste problema no
Homem é revelado pela importância da multidisciplinaridade das investigações realizadas.
Resumindo:
Toda a actividade cinética automática ou voluntária representa uma sucessão de
actividades Tónico-Posturais preparatórias de acção -ACTIVIDADE HOLOCINÉTICA -
e de actividade física envolvidas na realização da acção - ACTIVIDADE TELEOCINÉTICA
(Soulairac, 1977)
46
Dolores Monteiro
2. 2.1.3 – Movimento
A execução de um movimento, isto é, a alteração de um ângulo articular, necessita
da coordenação de várias contracções musculares a fim de que o movimento realizado
corresponda ao movimento desejado, que responda à necessidade ligada a uma situação
particular e se adapte ao envolvimento no qual se efectua. Para executar estes impulsos
nervosos, enviados pelas placas motoras, devem os músculos agonistas e os antagonistas
estar adequadamente distribuídos no tempo para que intervenham no momento apropriado.
Estes impulsos nervosos devem igualmente reger as informações específicas dos parâmetros
do movimento: amplitude, direcção, aceleração, força, velocidade, duração, assim como
os ajustes à posição final determinada a partir da posição inicial. De outra forma, a realização
de uma praxis implica que o sistema nervoso controle as características espaciais, temporais,
quantitativas, transformando uma intenção abstracta numa actividade muscular adaptada
à situação. É na união neuromuscular que esta transformação se opera.
O sistema nervoso deve assegurar a integração e o tratamento da informação
aferente, a selecção dos músculos que necessitam intervir, o controlo do desenvolvimento
do gesto, a coordenação das actividades musculares paralelas e aquelas que intervêm no
movimento principal, isto é, regulando as sinergias (conjunto de contracções musculares
coordenadas que produzem um gesto adaptado).
Reduzido à sua expressão mais simples, todo o movimento consiste numa série de
contracções musculares que permitem a um determinado número de pontos corporais
alcançar um lugar determinado no espaço: é o efeito motor. Por outro lado, as posturas
estão constituídas por contracções musculares que mantêm fixos outros pontos corporais
para permitir aos primeiros deslocar-se mantendo os mesmos pontos antes e depois do seu
deslocamento. Com este deslocamento encontramo-nos num processo dinâmico, isto é,
uma contracção muscular isotónica, com a postura trata-se de contracções musculares
isométricas.
A complexidade entre movimento e postura tem sido muito estudada. A ilustração
mais critica que se conhece é de Hess W.R. (1942), que considerou o aspecto dinâmico de
actividades “teleocinéticas” (portanto, essencialmente orientadas para um objectivo) e o
aspecto postural das actividades “ereismáticas” (são de suporte).
Durante longo tempo, teoricamente desde Descartes, na prática de Magendie, (1822)
in Monteiro M. (1993) que se diferenciaram os movimentos entre automáticos e voluntários.
Esta oposição foi atenuada consideravelmente por (Kandel e Schwartz, 1981): “a distinção
entre actos reflexos, instintivos e voluntários esfumou-se”. Longe de estar esclarecida,
esta concepção antiga e renovada conduziu os mesmos autores, à análise do reflexo “como
um modelo elementar de comportamento”.
47
Revisão da Literatura
A noção de movimento automático foi-se consolidando envolta da concepção
denominada de reflexo segmentar ou espinal (Marshall Hall, 1831), in Monteiro M. (1993).
Pretendia-se ao mesmo tempo, reconstruir a totalidade dos comportamentos a partir deste
modelo:-”o ponto de partida das nossas tentativas para encontrar o comportamento em
termos de processos neurológicos tem sido a localização cerebral das funções, e também a
teoria segundo a qual toda a integração nervosa está organizada sobre o método do reflexo
espinal” (Lashley, 1960).
O reflexo segmentar, dependendo da natureza determinada do circuito anatómico,
possui duas propriedades determinantes: é imperativo e está desprovido de toda a finalidade.
É imperativo, porque uma vez dado o mesmo impulso, segue-se sempre a mesma resposta,
“entre o estímulo e uma reacção determinada há um vínculo de causa e efeito” (Pavlov). A
ausência de finalidade, o reflexo de aimless, afirmado por Hall, resultava praticamente da
natureza premente do estímulo. É revelador que Pavlov(1916) tenha dada a finalidade a
um só tipo de reflexo (o reflexo de finalidade) que corresponde aquilo que nós chamamos
de “reflexo apetitivo” que consiste em situar o indivíduo junto de um estímulo desencadeado.
Toda a concepção, que formamos na actualidade da organização elementar do movimento,
remonta aos trabalhos de Sherrington.
De uma forma global, os movimentos são agrupados em caracteres gerais: - por
um lado partir de um carácter funcional é partir do movimento e não das organizações
anatómicas, por outro lado, o aspecto funcional põe em relevo a existência de um mecanismo
organizado para a execução do objectivo proposto. Na função integrativa (papel do contexto
presente) o movimento, incluindo o mais simples e elementar, resulta do tratamento de
diversas informações. Já Sherrington tinha demonstrado que a medula tinha uma estrutura
integrativa. “O teclado espinal… apresenta-se-nos como uma máquina sensível a
determinados tipos de influências através de determinado tipo de mensagens de origem
diversa, que directamente ou indirectamente, através dos sistemas interneurónios, converjem
sobre a dita espinal medula” (Paillard. 1960).
Esta função integrativa, portanto já realizada a nível medular, foi confirmada pelas
experiências posteriores de Fukson O.I. e Col. (1980). Demonstra que, na rã, as funções
da pata que executa o movimento de flexão, anterior ou posteriormente ao contacto cutâneo,
produzem-se em função da posição do estímulo sobre o espaço corporal (pata ou costas) e
com o espaço externo.
Estas duas características são suficientes para demonstrar que a especificidade dos
automatismos são uma falácia, e que não se altera de princípio quando se passa de um
nível do sistema nervoso a outro. De acordo com comentários de Canguilhem, relativos a
Sherrington: “As funções do encéfalo são uma extensão da função medular de integração
das partes de todo o organismo”.
48
Dolores Monteiro
Quanto mais subimos na hierarquia do sistema nervoso mais aumenta o número de
informações susceptíveis de serem integradas.
A plasticidade por aquisição (papel do contexto passado), neste item, a variabilidade
da resposta a um mesmo estímulo explica-se não somente pelo contexto dos acontecimentos
coexistentes mas igualmente pelos já produzidos e guardados na memória. Hoje sabemos
que a aquisição dos comportamentos é uma propriedade elementar do sistema nervoso.
Contrariamente ao que se poderia crer, posteriormente a Pavlov, o neocórtex não é
indispensável aos condicionamentos, e também, não só porque existem espécies que não o
têm, apesar disso, podem ser condicionadas, mas também porque em preparações limitadas
à medula são capazes de integrar condicionamentos do tipo pavloviano e instrumental.
A aquisição mais simples é sem dúvida a habituação pela qual a resposta a um
estímulo é inibida depois de ser repetida várias vezes. Este fenómeno “pode ser aplicado
ao comportamento de um animal intacto… ou a uma simples preparação celular, sendo
um fenómeno similar” (Horn e Hinde in Monteiro. M. 1993). Basta alterar ligeiramente as
características do estímulo, ou do contexto, para obter de novo a resposta (desabituação).
Podemos, assim, dizer que a plasticidade por aquisição é um atributo consubstancial da
organização neuronal.
Um outro item considerado como carácter geral do movimento é a dupla exigência
da velocidade e da precisão. Esta dupla exigência significa que um movimento tende a
produzir o máximo de efeitos no menor tempo possível. Uma vez que o movimento se faz
em presença de um contexto determinado, devem evitar-se modificações exteriores,
especialmente previsíveis quando se trate de outro animal (em investigações) podendo
exercer alterações. O tempo que medeia entre o aparecimento do estímulo e a resposta tem
que ser o mais breve possível. A unidade, neste campo, é o milésimo de segundo. A pressão
da evolução sobre este fenómeno tem sido imensa. Está claro que a velocidade não deve
afectar a precisão, daí um compromisso entre as duas variáveis.
Quando se trata de um movimento adquirido, constata-se que esta exigência implica
toda uma série de operações, de organizações hierárquicas. Por exemplo, organizações
musculares, anteriormente separadas, que agora funcionam conjuntamente (mecanismos
de pressão e sinergias), outros vão automatizar-se (constituindo subrotinas), processos de
antecipação que vão diminuir o tempo de resposta, etc.
Relativamente à temática em apreço julgamos estabelecer uma pequena abordagem
sobre a oposição entre movimento voluntário e automático. Os automatismos recuperados,
quando são originais, ou montados pelo sujeito e libertados do controlo da atenção, são
elementos constitutivos de um conjunto motor, mas, deixa de existir, se o critério essencial
é a presença ou a ausência de um objectivo a alcançar. Welford (1973) afirmava: “parece-
49
Revisão da Literatura
me que fazemos mal em falar de reflexos e de movimentos voluntários como de coisas
qualitativamente diferentes”.
Uma outra característica apresentada com mais clareza é a dualidade que opõe o
movimento passivo e o activo. No movimento passivo, a mobilização resulta do efeito
físico de uma força exterior ao sujeito; no movimento activo, este estabelece-se como
consequência das contracções musculares organizadas, desencadeadas e controladas pelo
sistema nervoso. A noção de reacção, oposta à transmissão de uma energia de origem
externa, do mesmo sentido, tem como ponto de partida a fisiologia – referindo-se a sistemas
limitados –, e a psicologia – referindo-se a reacções globais –. Temos verificado que, no
movimento activo, os receptores recebem reaferências subordinadas ao controlo da cópia
de eferência, enquanto que no movimento passivo se trata de exaferência.
Os movimentos ou actividades de transporte estão ligados por essência a estados
posturais. Reed (1982) disse com razão que “os constituintes das acções são as posturas e
os movimentos”. A postura, com efeito, é a componente estimuladora do movimento à
qual se associa precedendo-o, acompanhando-o e sucedendo-o. A este respeito convém
fazer alguns esclarecimento.
Em primeiro lugar, modificações posturais precedem qualquer actividade de
transporte e são específicas das propriedades do movimento que vai ser executado.
De referir igualmente que uma determinada organização postural pode servir de
referencial egocêntrico do movimento. Este problema, que se refere ao “esquema postural”
insere-se nos parâmetros espaciais do movimento.
2. 2.1.4 - Equilíbrio
A rapidez com que os animais desde a nascença, adquirem a faculdade de andar e
correr como os adultos, deixa antever a existência de um “mecanismo pré-formado” nos
centros nervosos. As reacções de sustentação (o apoio e a extensão) têm sem dúvida um
papel importante na equilibração mas o sistema nervoso central funciona como um todo.
Assim, para funcionar correctamente ele deve ser constantemente confrontado com a
experiência e com a influência do meio. Falise (1980)
A criança por volta dos 15 meses consegue estar de pé sozinha e caminhar. No
princípio, cada um dos seus passos são uma improvisação nos quais a procura do equilíbrio
é evidente. A posição e a marcha erecta que caracterizam a espécie humana repousam em
mecanismos inatos e adquiridos de uma forma indissociável.
Com efeito, o equilíbrio numa posição erecta é muito complexo, o corpo é formado
por elementos heterogéneos de naturezas diferentes e susceptíveis de se animarem
totalmente e/ou parcialmente sobre a influência de acções ou de reacções automatizadas.
50
Dolores Monteiro
Assim, os indivíduos estão em actividade permanente mesmo em ausência de qualquer
deslocamento aparente. A conservação deste equilíbrio durante a locomoção exprime-se
pela adaptação quase perfeita ao movimento inicial.
Pode parecer mais fácil ao sujeito normal implementar uma atitude do que mantê-
la. Assim o equilíbrio sobre um pé é cansativo. Uma vez que exige aos músculos que não
estão habitualmente treinados a um esforço estático mais considerável do que numa posição
bípede; o esgotamento não se produz na mesma altura para todos os indivíduos, mas provoca
sempre o regresso obrigatório ao apoio sobre os dois pés. Mais ainda, a atitude unipedal
representa um tempo de marcha na qual o equilíbrio não exige vigilância nem esforço
particular excepto em algumas condições: equilíbrios elevados ou sobre traves estreitas.
Devemos, assim, admitir que a noção de equilíbrio existe tanto na atitude como no
movimento.
Esta noção está intimamente ligada às forças coordenadoras que asseguram a
estabilidade de uma e de outra.
No homem a equilibração pode ser entendida como a função que assegura o
ortoestatismo. Se o equilíbrio é um conceito simplesmente espacial a equilibração é uma
função neuro-(ou psíquico-) motora que regula o equilíbrio na atitude e nos deslocamentos
do corpo no espaço-tempo utilizando a energia muscular: à atitude corresponde uma sinergia
de conjunto, ao movimento sinergias sucessivas.
Falise (1980) considera interessante acompanhar a maturação do equilíbrio e o seu
desenvolvimento. Depois de Gesell, Koupernik, Shirley, o aparecimento das sequências
posturais vão conduzir a criança ao controlo da posição da cabeça, ao andar, à posição e
aos deslocamentos em quadrúpedia que não são habituais no adulto. No entanto, na posição
de pé a cabeça está direita, influenciando, a sua orientação, os outros segmentos corporais
nas suas atitudes e nos seus movimentos.
Para o mesmo autor, “...um sujeito está em equilíbrio quando a contracção da
musculatura mantém o centro de gravidade no prumo da sua base de sustentação”.
Cratty (1979) define o equilíbrio como “a habilidade de se manter equilibrado na
presença de condições de queda...”, considerando o equilíbrio como um atributo básico e,
ao mesmo tempo, atributo esse muito complexo.
O equilíbrio corporal deve ser considerado como um sistema particular que permite
ao ser humano - através da organização em sistema dos seus órgãos dos sentidos - fazer a
manutenção de uma postura adequada e a estabilidade do seu corpo no espaço.
O conceito de equilíbrio é definido por Rivenq e Terrise (1974), in Monteiro M.
(1993) como a habilidade para manter o corpo na posição bípede, graças aos movimentos
51
Revisão da Literatura
compensatórios, implicando a motricidade global e a motricidade fina, quando o sujeito
permanece no mesmo lugar (equilíbrio estático) ou quando se desloca (equilíbrio dinâmico).
Bass (1939) considera o equilíbrio estático como sendo uma “actividade
equilibradora na qual o corpo não se move, enquanto dura uma performance apropriada”
e equilíbrio dinâmico como sendo a “manutenção do equilíbrio enquanto o corpo é
submetido a mudanças de posição”.
Espenchade (1980) considera o equilíbrio estático como sendo a ”manutenção de
uma posição particular do corpo, com um mínimo de oscilação” e o equilíbrio dinâmico
como a “manutenção da postura durante a performance de um skill motor, o qual tende a
perturbar a orientação do corpo”.
Na sua generalidade, o conceito de equilíbrio estático refere-se à capacidade de
manter o corpo numa posição particular, apesar da instabilidade que possa eventualmente
ser provocada por forças exteriores, por sua vez o equilíbrio dinâmico é a capacidade de
manter o estado de equilíbrio durante a realização de uma tarefa.
É necessário distinguir também entre os conceitos de “estado de equilíbrio” e o de
“capacidade de equilíbrio” .
Assim, o conceito de estado de equilíbrio leva-nos a dizer que um corpo está em
equilíbrio quando a projecção do centro de gravidade se encontra na área definida pela
base de sustentação. Este conceito reporta à manutenção, quer de uma posição absoluta no
espaço, quer da posição relativa dos segmentos corporais, através de contracções
musculares. As contracções musculares desencadeiam uma série de movimentos
compensatórios que corrigem a posição relativa dos segmentos e isto tanto no equilíbrio
estático como no equilíbrio dinâmico.
Por outro lado, a capacidade de equilíbrio refere-se à capacidade de adquirir e
manter o estado de equilíbrio do corpo em situações diversas, situações essas compostas
por um conjunto de factores que determinam as características dessa capacidade de
equilíbrio.
Porém, o equilíbrio, na sua concepção geral, é mais do que um equilíbrio mecânico
relacionado com posições ou formas físicas, um processo em contínuo ajustamento,
dependente de aferências inerentes ao próprio corpo e ao espaço onde se relaciona numa
situação particular, pois não perspectiva apenas aspectos anatómicos e mecânicos, nem se
circunscreve unicamente ao alinhamento vertical do centro de gravidade, da cabeça, do
tronco e dos membros. Ele é “...resultante de uma infinidade de reflexos sensório-motores
integrados nas diversas partes do sistema nervoso, mediante uma regulação automática
extremamente complexa...”(Madeira, 1986).
Quirós e Schrader (1978) consideram que um organismo adquire o equilíbrio quando
pode manter e controlar posturas, posições e atitudes. Estas, por sua vez, são o resultado
52
Dolores Monteiro
de uma repartição do tónus muscular e o equilíbrio significa, em primeiro lugar , um
equilíbrio tónico.
Enquanto o estado de equilíbrio é um conceito físico ou simplesmente espacial, a
equilibração é uma função psicomotora regulada por um sistema neurofisiológico complexo.
Madeira (1986) considera que a equilibração é uma função determinante da
organização psicomotora e, como tal, o alicerce de todas as acções coordenadas e
intencionais, ao envolver uma multiplicidade de ajustamentos posturais antigravíticos, é a
condição indispensável à proficiente concretização da actividade práxica.
Para o mesmo autor, a manutenção da postura, a utilização do equilíbrio, a orientação
do corpo no espaço e no tempo e as eficientes variações de posição, quer nos movimentos
estáticos quer nos dinâmicos, são aspectos essencialmente dependentes da função de
equilibração.
2. 2.1.5 – Coordenação
Do ponto de vista neuromuscular é importante distinguir dois tipos de coordenação:
a intermuscular e a intramuscular. A coordenação intermuscular assume-se como o trabalho
de coordenação entre os músculos agonistas e antagonistas. O grau dessa colaboração
tem uma influência decisiva na velocidade, assim como na economia da participação de
grupos musculares, num determinado movimento. Devem, portanto, ser excluídos os grupos
musculares que não tenham a responsabilidade num determinado movimento.
Por outro lado, a coordenação intramuscular traduz a cooperação entre o sistema
nervoso central e o aparelho locomotor. Revela a coordenação entre unidades motoras do
mesmo músculo no processo de sinergia muscular.
Por muito simples que seja um gesto, ele transcende sempre a acção de um único
músculo, implicando não só outros músculos com acção semelhante ao principal motor
(músculos agonistas), mas também os músculos cuja disposição anatómica lhes concede
uma acção articular exactamente oposta (músculos antagonistas). Quando se pensa na
execução de um movimento coordenado, atenta-se geralmente ao papel dos músculos
agonistas como principais intérpretes da maior força, velocidade, duração ou precisão do
movimento. Pensamos, no entanto, dever colocar em igual nível de importância a
intervenção dos músculos antagonistas, dado que passa também por eles a graduação das
variáveis referidas para o movimento.
É a unidade motora de célula nervosa e a fibra muscular por ela enervada que
permitem ao sistema nervoso regular a contracção muscular desejada, no sentido de se
obter determinada força, velocidade e duração da contracção. É das possibilidades de
funcionamento de cada unidade motora (frequência de contracção) e o jogo entre as várias
53
Revisão da Literatura
unidades motoras constituintes do grupo motor-músculo que resulta o processo de
coordenação intramuscular.
Piaget (1966) relativamente à coordenação estabelece que ela é um jogo de
assimilação e acomodação dos esquemas sensório-motores.
Para Bernstein (1967), a coordenação é uma ordenação e organização de várias
acções motoras, em função de um conjunto ou tarefa motora, tendo em consideração não
só os graus de liberdade do aparelho locomotor, como as fontes do envolvimento que
caracterizam a sua realização.
Piret e Beziers (1971) consideram a coordenação como uma síntese da anatomia e
da fisiologia ao nível do movimento. É a organização que permite obter um equilíbrio
entre os grupos musculares antagonistas, organizados pelos músculos condutores.
Kiphard (1976) define a coordenação como a interacção harmoniosa e económica
de músculos, nervos e sentidos, com a finalidade de produzir acções motoras precisas e
equilibradas ou reacções rápidas e adaptadas à situação ou objectivo
Fetz (1992) define a coordenação como sendo o funcionamento óptimo dos
músculos na produção do acto motor. Fisiologicamente, ainda para o mesmo autor, é uma
boa inervação dos músculos para agir de uma forma adequada e útil.
Espenschade & Eckert (1980) referem que os indivíduos têm boa coordenação,
quando se movem facilmente e as suas acções apresentam uma sequência e tempo bem
controlados.
Para Sustelo (1981), a coordenação é a colaboração entre o trabalho do sistema
nervoso central e a musculatura do aparelho locomotor, num determinado movimento.
Matveiev (1983) afirma que a coordenação motora espelha-se na aptidão regular
com a eficácia e tensão muscular.
Para Le Boulch (1985), a coordenação assume-se como a interacção, o bom
funcionamento entre o sistema nervoso e a musculatura no movimento, como uma acção
coordenada entre o sistema nervoso central e a musculatura fásica e tónica ou como o
domínio global do corpo, ou seja, um ajustamento dinâmico e contínuo, face ao
envolvimento.
Tubino (1989) considera a coordenação como a qualidade física que permite ao
homem assumir a consciência e a execução, levando-o a uma integração progressiva de
aquisições, favorecendo-o a uma acção óptima dos diversos grupos musculares na realização
de uma sequência de movimentos com um máximo de eficiência e economia. O
desenvolvimento da coordenação ocorre desde os primeiros anos de vida e essa valência
física estará sempre implícita nas destrezas específicas de qualquer desporto, sendo, deste
modo, um pré-requisito para que qualquer atleta atinja alto rendimento. Considera ainda o
mesmo autor que o sistema nervoso é a variável condicionante da coordenação.
54
Dolores Monteiro
Para Schnabel (1990), a coordenação assume-se como o processo de organização
dos movimentos submetido ao programa de uma acção directa e a um objectivo
hierarquicamente de ordem superior.
2. 2.1.6 – Aprendizagem
A capacidade de aprendizagem é uma das características do Homem que ultrapassa
e complementa a sua natureza biológica.
O Homem dotado, à partida, do equipamento indispensável à aprendizagem vai
adquirir prolongamentos sensoriais que lhe permitem uma evolução mais técnica e cultural
do que biológica. Nasce com programas de adaptação muito abertos, flexíveis e pouco
especializados. Enquanto as restantes espécies animais agem por instinto e reflexivamente
aos estímulos, o Homem aprende a associá-los e categorizá-los, podendo deste modo alterar
o seu comportamento, daí a sua possibilidade de adaptação a novas situações.
O Homem tem a capacidade de se adaptar ao meio, de adaptar o meio em que vive
a si próprio, e está a aprender que essa adaptação tem limites porque há equilíbrios
ecológicos a respeitar.
Todos os estudos que temos vindo a realizar demonstram que a aprendizagem
humana é uma capacidade complexa que ultrapassa os comportamentos instintivos; sendo
no Homem que se regista a capacidade de aprender a aprender através de um processo
dinâmico em interacção com o desenvolvimento.
A aprendizagem e o desenvolvimento desenrolam-se em espiral, de tal forma que,
ao mesmo tempo que o desenvolvimento influencia a aprendizagem é por ela dinamizado
em simultâneo e em reciprocidade. Se o desenvolvimento fisiológico é independente da
aprendizagem, já os desenvolvimentos psico-motor, cognitivo, linguístico e social se
processam em interligação com aquela.
Normalmente a aprendizagem e desenvolvimento ocorrem em simultâneo, de tal
forma que o indivíduo aprende se atingiu determinado grau de desenvolvimento, mas ao
aprender desenvolve-se ainda mais. Existem de facto problemas quando ocorrem
desfasamentos entre os dois processos: ou um desenvolvimento anormal dificulta a
aprendizagem, ou a aprendizagem pretendida não está de acordo com os estádios de
desenvolvimento individuais.
A aprendizagem é normalmente tida como uma mudança relativamente duradoura
no comportamento, quando induzida pela experiência. É uma actividade de construção
pessoal que ocorre dentro do organismo e que não pode ser directamente observada. A
acção de aprender é gradual e progressiva, realiza-se durante um certo período de tempo,
e não num fenómeno momentâneo e fugaz. É de natureza pessoal porque depende da
experiência de cada indivíduo quando interage com o meio e tenta compreendê-lo.
55
Revisão da Literatura
Não sendo directamente observável, somente se pode inferir dos seus efeitos nas
modificações que operam no comportamento exterior, observável do indivíduo. É através
de manifestações exteriores que se verifica se o indivíduo aprendeu.
Estas alterações do comportamento, para que possam ser tidas como aprendidas,
têm que ser estáveis, consistentes e duradouras, com possibilidade de serem repetidas,
mesmo após períodos de interrupção.
O estudo desta temática, não sendo central no nosso trabalho, tem vindo,
ao longo dos tempos, a suscitar um grande interesse, nomeadamente em determinar as
origens e mecanismos que a regulam.
No dicionário enciclopédico ilustrado de Oxford edição (1999), pode-se ler:
“aprender é adquirir conhecimentos ou destrezas numa arte ou outras matérias mediante o
estudo e a experiência”. Na realidade, podemos aprender qualquer matéria relativa à natureza
que nos rodeia e da qual fazemos parte. O vocábulo deriva do latim apreendere, assim:
adquirir alguma habilidade que não se possui ao nascimento. Como é evidente, cada
aprendizagem mostrará a peculiaridade da área de conduta ou do extracto neuroevolutivo
em que assentam os conhecimentos adquiridos.
Na aprendizagem expressa-se uma forma de comportamento que não depende da
informação genética, estruturando-se nos circuitos neuronais específicos só parcialmente
determinados, de acordo com as hipóteses da conectividade de Jacobson. Assim, resulta
da crescente complexidade SN/SE que mantém o seu número de genes constante. Digamos
que alguém aprende quando adquire uma “competência” no pensar ou no fazer de algo
que até aqui não dominava. A capacidade referida consegue-se mediante o adestramento
ou a educação que são facilitados por uma predisposição genética e a ajuda de factores de
imitação.
“Aprender, em neurobiologia, é reter e empregar adaptativamente as alterações de
estado ordenadas algoritmicamente no SN/SE, debaixo da influência da informação-
memória na qual se registam os «resultados dos sinais» «positivos e negativos» fruto de
uma conduta de «ensaios e erros»”(Young J.Z, 1937). Enfim, do ponto de vista estatístico,
aprender é reduzir o número de respostas teoricamente infinitas do estímulo provocado a
uma unidade.
Para Skinner (1987), “aprendizagem é um treino mediante condicionamento, que
converte as respostas prováveis em uma única resposta”.
Skinner (1987) citando Thorpe, “todas as modificações do comportamento, para
serem consideradas como aprendizagens, deveriam possuir como características
indispensáveis o seu valor para alcançar a sobrevivência mediante um processo de
adaptabilidade crescente”. Definição que serve igualmente para os instintos, ou melhor as
actividades automáticas de Waine & Sena G. Dennis, a fim de esclarecer os seus estudos
56
Dolores Monteiro
sobre o desenvolvimento prematuro de “gémeas” de 2 aos 16 meses com os resultados que
a seguir se descrevem:
-“Todas as reacções comuns no 1º ano de vida são autógenas para ambas; antes do
segundo ano, as respostas sociógenas são poucas e relativamente sem importância. Assim,
as respostas infantis, geralmente não estão constituídas exclusivamente por elementos
inatos. A maturação é o factor principal que possibilita a aprendizagem na criança. Nem
mesmo a aprendizagem no período evolutivo tem as mesmas características que a observada
no adulto, pois neste, aprender comporta enriquecimento progressivo da informação relativa
à realidade circundante, um «saber» como consequência de uma experiência cada vez
mais eficaz”.
Se compararmos os trâmites de ambos os processos expostos, verificaremos que,
nas primeiras idades, a aprendizagem se leva a cabo de uma forma passiva, durante as
quais os modelos de conduta pré-programados se vão estabelecendo com sucesso, eficiência
e harmonia perfeitas. A partir da idade em que a infância cede perante a adolescência, a
aprendizagem, ao converter-se em educação, não é mais um fenómeno passivo, já que não
se trata de sobreviver, mas sim de dispormos de conhecimentos adequados aos nossos
objectivos como elemento pertencente a uma família, elemento básico da sociedade.
Irenaus Eibel-Ebesfeldt (1961), estudando os mecanismos do cérebro e
aprendizagem, trata da interacção do não aprendido na conduta dos mamíferos e a
aprendizagem, advertindo que “certos padrões motores essenciais são completamente
independentes da aprendizagem”. Explicando algumas proezas da memória herdada, o
autor concluiu que a aprendizagem não serve para organizar os complexos movimentos
com o fim de habitar, criar, perseguir a presa e matá-la. Muitas actividades são inatas, mas
a aprendizagem serve para aperfeiçoar a técnica e melhorar os resultados.
Alguns padrões fixos de comportamento estabelecem uma relação com o meio, de
acordo com a sua espécie e é sustentado por mecanismos neurofisiológicos herdados que
agora classificamos de genéticos. De qualquer forma, é imprescindível uma habilidade
inata para reconhecer as “figura/fundo” singulares, que desbloqueia o padrão adequado,
segundo Lorenz.
O mesmo Irenaus Eibel-Ebesfeldt sublinha “…a existência de um grupo de
actividades de significativa importância biológica pela sua rápida aprendizagem.
Perguntando se serão resultado de um talento específico baseado nas estruturas do SNC
adaptadas aquela tarefa durante a evolução, ou se se deve a uma elevada pressão
motivacional”. A afirmação que o autor faz parece-nos ter sido colocada de maneira
incorrecta: a importância de uma actividade biológica não vem patenteada pela rapidez
com que se “aprendem” as respostas, uma vez que, quanto maior for a hierarquia biológica
de um padrão de comportamento, maior é a sua prioridade, e como tal, a perfeição das
respostas.
57
Revisão da Literatura
Quanto às causas, aquelas que se aludem como responsáveis da rapidez de
“aprendizagem”: um “talento específico do SNC” ou “uma elevada pressão motivacional”,
nenhuma das duas pode traduzir-se em termos neuroevolutivos, pois em neurofisiologia
não tem sentido referir-se a “talento”, como palavra chave, ao implicar a pré-existência de
uma faculdade auto-existente que deste modo seria anterior à maturação de circuitos
neurofuncionais, sede de toda a actividade nervosa superior, mental e psíquica, da qual
“talento” seria um atributo; quanto ao papel de uma “elevada pressão motivacional” é o
mesmo que se atribui à adaptação ontogénica, envolvida na sobrevivência e reprodução,
elementos fundamentais de apoio ao fenómeno maturativo. Digamos, enfim, que
“aprendizagem rápida” não é uma frase adequada: o rápido no comportamento animal é
“sempre” genético, precisamente por ser a salvaguarda no cumprimento das funções
mencionadas.
O grau de disponibilidade das actividades adquiridas por aprendizagem é relativo
e proporcional às características do habitat e da posição que o indivíduo ocupa nesse
mesmo local, esta necessidade também se torna visível mais à frente na etapa de maturação.
Quanto mais necessária for uma habilidade para determinada actividade, maior será a
“quantidade” de rápido.
Hebb D. O. (1985), a propósito dos diferentes aspectos de aprendizagem em animais
superiores, recorda que o molecular corresponde ao fisiológico ou à relação bineuronal, e
a molar ao psicológico, operação na qual intervém todo o sistema. Assinala a importância
do “ruído” na aprendizagem como consequência da acção dos neurónios que não intervêm.
O mesmo autor admite que a aprendizagem por memorização rápida na 1ª
experiência: “muito do que consideramos como inato, ao não existir evidência de uma
aprendizagem prévia, depende, com efeito, de uma aprendizagem imediata à 1ª experiência
na sequência de uma estimulação condicionante”.
Ainda para o mesmo autor, “como consequência das suas experiências em embriões
de frango, concluíram que todo o acto motor, pattern, é aprendido; ou durante o período
ontogénico ou pós-natal, e que nada seria inato”.
Dizer que nenhuma actividade nos vertebrados superiores é inata, é uma proposição
que atenta contra o princípio bem estabelecido de que a micromaturação do SNC, no
período ontogénico, assenta em 2 tipos de redes neurofuncionais: as congénitas que
capacitam o recém-nascido, por exemplo para responder eficazmente às necessidades
nutritivas: preensão, bucolabial, rooting, etc., e as adquiridas pela aprendizagem, definido
este como o resultado de estímulos endógenos e exógenos repetidos ao SN/SE, que, depois
de um número variável de ensaios, liberta a resposta mais adequada em cada circunstância,
e só aquela entre múltiplas alternativas.
58
Dolores Monteiro
Podemos admitir o ponto de vista unívoco da génese de qualquer comportamento
da vida pós-natal, se ao mesmo tempo aceitarmos que o padrão agora considerado como
adquirido foi na sua história evolutiva previamente inato. Todo o aprendido haveria sido
antecipadamente em algum momento inato; inscrito no genoma como possibilidade que
só se converte em realidade ao chegar ao animal a um grau de maturação, no qual se vêem
implicadas as respostas como produto do método de ensaios e erros num meio propício.
Na actualidade, a temática em apreço insere-se num conjunto mais vasto de teorias
que vão muito para além de uma teoria unificada, abrangendo os fenómenos que vão dos
reflexos à cognição humana. Não sendo antagónicas, as diversas escolas que estudam ou
estudaram a aprendizagem congregam aspectos diversificados não os conjugando numa
teoria global.
Assim sendo, podemos dizer, a título estritamente informativo pela importância
que a temática encerra para a pesquisa, que as teorias de aprendizagem mais importantes
que se referem ao séc.xx podem agrupar-se em duas grandes famílias: as teorias do
condicionamento estímulo-resposta, da família behaviorista e as teorias cognitivas, da
família de campo de Gestalt.
Para os behavioristas, ou teóricos do condicionamento, a aprendizagem é uma
mudança de comportamento. Ocorre através de estímulos e respostas; logo, envolve a
formação de algum tipo de relação entre séries de estímulos (causa da aprendizagem) e de
respostas (reacções físicas do organismo a uma estimulação interna ou externa). Os
defensores do condicionamento interpretam a aprendizagem em termos de mudança de
intensidade de variáveis hipotéticas, chamadas conexões E-R, associações, força do hábito
ou tendências do comportamento.
Os estudos destas correntes reportam-se a Pavlov (1849-1936), ao referir que muito
do que somos resulta não da natureza humana, mas sim da aprendizagem que pode ser
vista como uma alteração progressiva de comportamentos, feita por um processo de
desenvolvimento de reflexos condicionados que se obteriam substituindo estímulos por
estímulos condicionados.
Watson. J (1878-1958), seguidor de Pavlov, considerava a aprendizagem como o
resultado de um processo de condicionamento segundo o qual determinadas respostas são
associadas a determinados estímulos, pelo que todas as formas de comportamento podem
ser aprendidas.
Para Thorndike (1874-1949), a aprendizagem consistia em estabelecer uma conexão
a nível do sistema nervoso, entre o estímulo e a reacção, conseguida após uma série de
tentativas e erros. O autor formulou três leis da aprendizagem: Lei do efeito – se uma
resposta for seguida de reforço é fortalecida, se for seguida por punição ou ausência de
reforço será enfraquecida. É o princípio do prazer e da dor; Lei do exercício ou frequência
59
Revisão da Literatura
– A repetição resulta em aprendizagem se for acompanhada de resultados positivos; Lei da
maturidade específica – se um organismo estiver preparado para estabelecer a conexão
entre o estímulo e a reacção, o resultado será agradável e a aprendizagem realizar-se-á;
caso contrário, o resultado não será agradável e a aprendizagem será inibida.
Skinner (1904-1987) considerou a aprendizagem como uma forma de
condicionamento operante ou instrumental. Para o autor, o organismo não se encontra tão
“à mercê” do ambiente externo como era postulado no condicionamento clássico, o autor
exibe os princípios do reforço, considerando que uma resposta está associada a um estímulo
antigo.
As teorias behavioristas da aprendizagem realçam o “saber fazer”, o comportamento
exterior, observável e susceptível de ser medido. Baseiam-se no comportamento exterior
do indivíduo e na análise da estrutura da tarefa a aprender. Pressupõem uma determinação
precisa do indivíduo no início da aprendizagem, da sequência das actividades a desenvolver
e da meta a atingir.
As teorias cognitivas de campo - Gestalt tiveram a sua origem na Alemanha e
consideram o fenómeno da aprendizagem intimamente relacionado com a percepção,
definem aprendizagem em termos de reorganização do mundo perceptual ou psicológico
do aluno – seu mundo.
Para Kurt Koffka (!886-1941), Max Wertheimer (1880-1943) e Wolfgang Kohler
(1887-1967) in Monteiro M. (1993), o sujeito interpreta e organiza o que se passa à volta
em termos de conjuntos e não apenas de elementos isolados. A experiência do mundo é
percebida e organizada em estruturas, em formas completas, em esquemas de acção e em
configurações totais a que o sujeito atribui um determinado significado. O todo não é igual
à soma das partes; existe uma relação entre as partes e a estrutura, entre as acções isoladas
e o contexto geral.
Kurt Lewin (1890-1947), iniciador da teoria da forma, considerava a aprendizagem
como um empreendimento útil, imaginativo e criativo que implica compreensão e mudança
de insight. O indivíduo não é um ser passivo, puro receptor de estímulos exteriores, mas
um agente activo capaz de criar o seu próprio mundo e que irá evoluindo em resultado da
experiência adquirida. A aprendizagem é uma actividade funcional, exploradora,
imaginativa e criadora, assente na capacidade selectiva da percepção e da atribuição de
significado aos objectos e aos acontecimentos no seu contexto e na sua relação com os fins
que o sujeito se propõe alcançar. Esta teoria da forma combatia o atomismo do condutivismo
e dava especial importância à totalidade e às estruturas globais no conhecimento e na
percepção.
Para o mesmo autor: ”A psicologia cognitiva, que surge como uma reacção contra
o condutivismo, estuda os processos internos que tem lugar no indivíduo. Este é considerado
60
Dolores Monteiro
como um «processador» ou elaborador de informação e construtor de informações internas
do mundo e da sua própria conduta, posição esta coincidente com Piaget. Nesta
conformidade muitos dos processos de aprendizagem são associativos, fazendo uma
aproximação ao condutivismo”.
Autores como Sears, Abijou, Baer e Bandura (1977) realizaram investigações sobre
a aprendizagem social das condutas. Os autores consideram a aprendizagem ligada à
observação e à apresentação de modelos, actividades ditas de imitação. Através do reforço
intrínseco os autores consideraram a observação como parte constitutiva à posteriori da
transformação do próprio comportamento.
Mais recentemente investigações orientadas sobre a memória e a aprendizagem,
em particular em pacientes com lesões lóbulo-temporais, assim como investigações de
Warrington & Weiskrantz, sugeriram que, desde o ponto de vista neurológico, parecem
existir dois tipos de aprendizagem: uma explícita e outra implícita. A explícita ou declarativa
implica formas de aprendizagem e de memória que requerem um registo consciente;
enquanto que a aprendizagem implícita implica formas de aprendizagem e de memória
em que não intervém a consciência.
Kandel & Hawkins (1992) estudaram os dois tipos de aprendizagem. Para os autores
a aprendizagem explícita é rápida podendo ocorrer a seguir ao primeiro esforço. Pelo
contrário, a aprendizagem implícita é lenta, acumulando destrezas através de ensaios
repetidos. Tal como a memória explicita, apoia-se nas estruturas do lóbulo temporal, a
memória implícita expressa-se mediante a activação de sistemas sensoriais e motores
comprometidos na própria tarefa de aprendizagem; as suas recordações são adquiridas e
retidas graças à plasticidade inerente a estes sistemas neurais.
Kandel já há muito tempo que trabalha no estudo dos processos de aprendizagem
simples tais como a habituação, a sensibilização e o condicionamento clássico. Os seus
estudos centraram-se num organismo simples, o caracol aplysia, demonstrando que estes
aspectos elementares de aprendizagem não estão distribuídos de forma difusa no cérebro,
mas sim em partes bem localizadas específicas da rede neuronal. Além disso, observaram
que, para além do mecanismo celular proposto por Hebb, aparecia outro pré-postassociativo,
que mais tarde se confirmou estar localizado no hipocampo.
A descoberta das regras de aprendizagem celular levou ao esclarecimento da dúvida
sobre se os dois mecanismos atrás expostos estavam ou não relacionados entre si. As
implicações destas descobertas podem resumir-se da seguinte forma:
Nos humanos a aprendizagem explícita requer o funcionamento do lóbulo temporal;
Uma das estruturas do lóbulo temporal particularmente decisiva para o
armazenamento mnésico é o hipocampo.
O hipocampo manifesta-se para a memória a longo prazo como sendo um depósito
61
Revisão da Literatura
temporal. O hipocampo processa a informação recentemente adquirida por um período de
semanas ou meses, transferindo-a, de seguida, a áreas importantes do córtex cerebral para
um armazenamento mais prolongado;
A memória armazenada, nas áreas corticais, expressa-se através do funcionamento
mnésico do córtex pré-frontal (Goldman-Rikic, 1992);
Os neurónios do hipocampo possuem uma notável capacidade plástica do tipo das
habilidades que se requerem para aprendizagem. Esta descoberta conduziu ao conceito de
potenciação a longo prazo (PLP). Esta manifesta especificidade: a sua acção restringe-se
quando estimulada.
Para que se verifique a potenciação a longo prazo é necessário que se excitem,
simultaneamente, as células presinápticas e as células postsinápticas.
Desde Ramon e Cajal (1963), que se sabe que a informação flui somente da célula
presinática para a célula postsináptica. Assim, na PLP, parece emergir um novo princípio
de comunicação das células nervosas: os neurónios postsinápticos enviam algumas
mensagens em direcção às presinápticas, sendo necessário um mensageiro retrógrado para
manter a PLP.
Conclusão: as experiências sugerem que o PLP se apoia na combinação dos
mecanismos de aprendizagem sináptico independentes e associativos – um mecanismo
hebbiano e outro mecanismo de facilitação presináptica, não hebbiano, dependente da
actividade.
Os dois tipos de aprendizagem, explícito e implícito, parecem poder explicar-se
por um mesmo e único mecanismo celular. A aprendizagem pode produzir alterações nos
neurónios. A memória, a curto prazo, implica alterações na intensidade das conexões
existentes. As mudanças, a longo prazo, ainda que se armazenem no mesmo local, requerem
algo inteiramente novo: a activação de genes, a expressão de novas proteínas e o
desenvolvimento de novas conexões. As investigações levadas a efeito no caracol aplysia
demonstraram que os estímulos geradores de memória, a longo prazo, para a sensibilização
e o condicionamento clássico, se resolvem com um aumento do número de terminações
presinápticas. Alterações anatómicas similares ocorrem no hipocampo depois do PLP.
Estamos perante as leis dos mecanismos neuronais que regem os processos de
memória e aprendizagem, que implicam não só a explicação da organização cerebral, mas
também, a diversidade e individualidade da sua organização. A memória, a curto prazo,
implica alterações na intensidade das conexões existentes; a memória, a longo prazo, implica
um aumento do número de terminações presinápticas. Esta alteração não ocorre unicamente
por determinação genética, mas principalmente pela interacção com o mundo exterior. Em
cada indivíduo, essas alterações, na intensidade das conexões e no aumento das terminações
presinápticas, são diferentes. Assim, Kandel e Hawkins concluíram que é nestes mecanismos
62
Dolores Monteiro
celulares da memória e da aprendizagem que se encontra a chave da individualidade.
Changeux (1985), com a teoria do «darwinismo neural», alcança a mesma conclusão.
Transcrevemos de seguida o que os autores Kandel e Hawkins (1992) referem sobre
esta temática:
“Se a memória, a longo prazo, introduz alterações anatómicas, isto quer dizer que
a anatomia do nosso cérebro se altera constantemente à medida que aprendemos e nos
esquecemos ? Esta afirmação tem sido feita por muitos estudiosos do tema, aliás quem a
fez, com maior radicalidade, foi Michael Merzenich, da Universidade da Califórnia, U.S.A.
(1992). Este autor estudou a representação da mão na área sensorial do córtex cerebral.
Até há pouco tempo, os neurologistas pensavam que esta representação permanecia
estável ao longo de toda a vida, mas, com o seu grupo de estudo, o autor acabou por
demonstrar que os mapas corticais estão sujeitos a constante modificação, dependendo do
uso que se faça das vias sensoriais. Como os ambientes em que nos educamos diferem uns
dos outros, divergem as combinações dos estímulos em que estamos expostos e da forma
como estes exercitam de forma díspar as nossas capacidades sensoriais e motoras, segue-
se que a arquitectura do nosso cérebro se vai modificando de maneira pessoal. Esta
modificação distinta da arquitectura cerebral, junto com a singularidade da estrutura
genética, contribui para a base biológica da expressão da individualidade”
Diremos, citando Gardner (1987), “graças a estes trabalhos, podemos agora dizer
– talvez pela primeira vez – o que significa aprendizagem no plano químico e neuronal. A
questão inquietante que agora deve abordar a ciência cognitiva é se, à medida que se
descrevem de forma similar outros comportamentos mais complexos, haverá ou não
necessidade de uma explicação separada no plano da representação”.
Em suma, poderemos dizer que a aprendizagem é a adição de conhecimentos e,
sobretudo, a reestruturação do próprio conhecimento como resultado de novos conceitos e
experiências. Daí que as actuais teorias cognitivas prestem especial atenção quando estudam
a aprendizagem, os processos de compreensão e controlo dela própria, assim como, a
mediação social na própria aprendizagem.
Depois das primeiras experiências e desenrolar dos conhecimentos iniciais, estas
mesmas experiências e conhecimentos (uns, adquiridos na nossa interacção com o
envolvimento e com outros indivíduos, outros, adquiridos pela herança cultural) são os
que tornam possível a aquisição de novos conhecimentos e experiências. As estratégias e
os processos metacognitivos cooperam na aquisição e reestruturação do conhecimento.
O uso do conhecimento prévio para elaborar a informação facilita a sua transferência
e a memória a longo prazo. A relação da informação antiga com a nova informação ajudará
com grande probabilidade que o indivíduo aprenda e recorde a nova informação.
Uma nova perspectiva abre um novo ciclo nesta área do conhecimento, que são os
63
Revisão da Literatura
estudos sobre a inteligência artificial cujos trabalhos se apoiam na criação de redes neuronais
artificiais que mimetizem os processos cerebrais da aprendizagem. Para isso, estudam-se
as características essenciais dos neurónios e das suas interconexões e, depois, prepara-se
um programa, em computador ,que simule tais características.
Outra linha de investigação em inteligência artificial orienta-se para o desenho de
programas que possam compreender e raciocinar por analogia. Estas investigações centram-
se em analogia, porque os humanos a utilizam para compreender e para encontrar novos
conceitos.
Os humanos, tendo um reportório muito rico, dispõem de uma grande quantidade
de experiências e conhecimentos, o que não acontece com os computadores que estão
impossibilitados de o fazer. Dado que nós utilizamos estas experiências e conhecimentos
para estabelecer analogias e adquirir novos conhecimentos, isto é, para aprender, os
computadores encontram-se muito limitados nesta actividade. Consideramos, com esta
nova ideia da diversidade, que os processos implicados na resolução dos problemas de
analogias podem considerar-se universais, mas as experiências e conhecimentos, para além
de serem pessoais, são também diferentes em diversos sentidos.
Uma outra preocupação que tem vindo desde 1930, e que exige alguma atenção
neste contexto, é a dissociação maturação-aprendizagem. Neste sentido Marguis (1930)
estabeleceu que a maturação depende de factores internos e a aprendizagem de factores
externos que serviu de modelo para as relações nature-nurture. Na actualidade, os
investigadores tratam de estabelecer as chamadas condições óptimas que favorecem a
aprendizagem pela interacção entre a maturação interna e as influências externas.
Já Piaget (1967) estabelecera que organismo (maturação) e o envolvimento
(aprendizagem) formam uma entidade. A maturação é uma tendência fundamental do
organismo para organizar a experiência e torná-la assimilável; a aprendizagem seria o
meio de introduzir novas experiências nesta organização. Maturação (nature) e
aprendizagem (nurture) influenciam-se mutuamente para dar o desenvolvimento e a
adaptação. Qualquer acção pessoal do indivíduo resulta de interacção entre o seu genoma
e o meio particular em que vive. A assimilação de novas experiências, nas estruturas do
conhecimento existentes, está organizada sequencialmente pela maturação.
Entre as teorias genéticas, em que o êxito motor e a idade de aquisição estão
determinadas geneticamente, e as teorias ambientais, donde tudo resulta da aprendizagem
(conhecimentos anteriores e oportunidade de aprender), encontra lugar num modelo
adaptativo que tem em conta simultaneamente a maturação da criança e as influências
externas.
A aprendizagem, no contexto motor, ocupa um lugar particular entre as distintas
formas de aprendizagem (Miner et al., 1998) in Massion J. (2000). Realiza-se normalmente
64
Dolores Monteiro
de forma inconsciente (aprendizagem implícita) opondo-se às aprendizagens explícitas
dos actos e acontecimentos que se realizam de forma consciente. A aprendizagem motora
está preservada entre os sujeitos que, como consequência de lesões bilaterais do hipocampo
e da mediana do lóbulo temporal, perderam a capacidade de memorizar, a longo prazo, os
acontecimentos percebidos de forma consciente. Isto demonstra que as estruturas nervosas
responsáveis da aprendizagem motora são, pelo menos em parte, distintas daquelas que
causam a aprendizagem explícita. A este respeito Massion J. (2000) coloca a seguinte
pergunta: “Quer isto dizer que na aprendizagem motora não pode intervir nenhuma
contribuição explícita ? Existe, na realidade, em muitos casos, uma intervenção paralela
de formas de aprendizagem. Assim, quando se memorizam sequências de movimentos,
uma parte do processo de aprendizagem pode ser explícita. Da mesma forma, a
aprendizagem por imitação, que é uma forma frequente de aprendizagem na criança, é em
grande parte explícita e consciente”.
Antes de definir e categorizar a aprendizagem motora, consideraremos um exemplo
da aprendizagem de um movimento novo. Segundo Bernstein (1967), podem-se identificar
várias etapas: a primeira está caracterizada por um aumento da rigidez das articulações
implicadas no movimento. Este aumento de rigidez tem como resultado reduzir o efeito
perturbador sobre a trajectória do movimento das interacções dinâmicas entre os segmentos
que participam na acção; Na segunda etapa, utilizam-se mensagens sensoriais que assinalam
a presença de perturbações para corrigir os erros (controlo em via fechada). Paralelamente,
a rigidez articular reduz-se. Finalmente, na terceira etapa, vemos aparecer pontos de
referência temporais fixos ou invariáveis temporais no desenvolvimento da acção; são
muito estáveis de um ensaio ao outro e estão associados a formas de informação ou ao
estabelecimento de ordens que se antecipam aos acontecimentos seguintes da acção, como
são as perturbações mecânicas relacionadas com a execução do acto motor. No último
nível da aprendizagem, aparecem as sinergias articulares ou musculares relativamente
estáveis de ensaio para ensaio, que reflectem a redução do número de graus de liberdade
controlada pelo SN, e representam, a maioria das vezes, a solução menos custosa a nível
energético para realizar o movimento.
Bernstein lançou a hipótese de que, durante a aprendizagem, o SN construía um
“modelo interno”do envolvimento exterior das características cinemáticas e dinâmicas
dos segmentos corporais e das suas interacções, para prever as características do acto
motor. A partir desse modelo interno preditivo (modelo directo), constrói-se outro tipo de
modelo interno (modelo inverso) que está destinado a assegurar as ordens articulares e
musculares que permitem a realização do movimento.
A aprendizagem motora pode considerar-se, assim, como a criação de um novo
modelo interno do acto motor (ou a modificação de um modelo preexistente) que permite
65
Revisão da Literatura
a ordem dos efectores para realizar a acção. Implica também a especificação das mensagens
sensoriais que permitirão detectar o erro de trajectória com a intenção de corrigir a acção
em curso e adaptar o modelo às dificuldades encontradas (Ebner et al., 1996; Donoghue et
al., 1996) in Massion, J.(2000).
Trata-se da construção de um novo “modelo interno” da acção assim como a
identificação das mensagens de erro que assinalam um defeito na execução de uma tarefa.
A adaptação que se pode definir como uma alteração de longa duração e reversível
do modelo interno, devido aos sinais de erro geralmente associados a alterações encontradas.
É necessário distinguir o termo “adaptação” relacionado com a aprendizagem motora da
sua utilização para caracterizar fenómenos que não estão necessariamente relacionados
com a aprendizagem. Assim, temos, por exemplo, a adaptação da descarga de um receptor
em resposta a uma estimulação constante, que não tem nada a ver com a aprendizagem.
Sucede o mesmo com o reflexo pupilar que é uma adaptação do sistema visual periférico
à intensidade da luz. Este termo utiliza-se também para descrever respostas comportamentais
complexas que aparecem em presença de alterações de influências externas.
(microgravidade)
2. 2. 2 – Regulação e Controlo Postural
O estabelecimento de uma relação específica, entre os finos mecanismos de controlo
da actividade postural e a actividade motora desenvolvida, levou Paillard. J (1986) a
considerar que a formulação e adaptação desses mecanismos só são possíveis através duma
remodelação dos circuitos nervosos, o que demonstra uma certa plasticidade do próprio
sistema de controlo postural.
É por intermédio desses circuitos nervosos que o organismo se encontra capacitado
para poder responder aos estímulos, quer de origem intrínseca quer de origem extrínseca,
os quais, são captados, pelos diferentes receptores sensitivos, e, mais tarde, direccionados
para centros de integração, situados a vários níveis do eixo nervoso central cérebro-espinal,
donde tem início a resposta motora.
Relativamente ao estudo do controlo da actividade postural, podemos perspectivar
essencialmente duas vertentes de pesquisa - a neurofisiológica, ou a dos mecanismos neuro-
motores de regulação; e a psicofisiológica, na qual a actividade postural é estudada como
um comportamento.
Numa perspectiva neurofisiológica com incidência nas principais componentes
envolvidas na regulação da postura, apresentamos trabalhos publicados em investigações
que têm sido levadas a cabo utilizando a orientação proposta pela Association Française
de Posturologie(1986), conforme figura 2.2 que estabelece a diferença entre entradas
primárias e secundárias. Esta classificação é complementada pelas entradas inespecíficas
referentes aos níveis de vigilidade, propostas por Madeira (1986).
66
Dolores Monteiro
Relativamente às respostas do sistema postural, verifica-se de acordo com
Sérgio, J (1995) que os motoneurónios medulares são “bombardeados” por informações
provenientes de diversas fontes – desde as referentes às próprias estruturas do aparelho
locomotor e da pele, às dos centros cerebrais superiores, todas elas exercendo um controlo
descendente na manutenção da actividade tónico-postural e na locomoção.
Para o mesmo autor, “cabe, no entanto, aos motoneurónios – terminais duma
complexa rede de inter-induções – o importante papel de integração das múltiplas aferências
que até eles são encaminhadas, antecedendo o estímulo muscular final”.
Relativamente a qualquer movimento, sendo este entendido - por qualquer modificação
que se efectue no inter-relacionamento dos diferentes componentes articulares – a nível
dum segmento do corpo humano, vai originar alterações do primitivo posicionamento,
isto é, da original manifestação postural
Figura 2.2 Esquema cibernético do sistema postural de acordo com a Association Française de
Posturologie(1986)
Durante a ocorrência de qualquer modificação da postura, ou quando se executa
um dado movimento proporcionado por determinados conjuntos musculares, existem, em
contrapartida, outros músculos que tendem, não forçosamente a contrariar a acção dos
primeiros, mas a compensarem constantemente, através de diversos ajustamentos, o desvio
do centro de pressão por eles originado, procurando posicioná-lo dentro do polígono de
sustentação, por forma a que o nosso organismo possa continuar a responder duma forma
adaptada, às estimulações do envolvimento material e humano.
Ainda para Sérgio, J (1995) a constante acção de reajustamento muscular tem
subjacente um estado de contracção permanente, por parte do ou dos músculos que efectuam
67
Revisão da Literatura
esse reajustamento. É a este estado de contracção permanente, definido por alguns
fisiologistas como sendo a resistência do músculo à dimensão ou estiramento, que se
denomina – tónus muscular – sem o qual não existe a possibilidade de se proceder aos
finos reajustamentos atrás citados.
Sherrington (1908), que em experiências feitas com o seccionamento do tronco
cerebral ao nível do mesencéfalo, verificou aquilo a que chamou – rigidez por
descerebração. Posteriormente, ao seccionar as raízes posteriores de determinado membro,
verificou que o mesmo ficava flácido, ao contrário dos outros que permaneciam rígidos.
Concluiu, que a mesma era mantida por uma acção do tipo reflexo, isto é, que este quadro
de rigidez ou de hipertonicidade, necessitava de dados aferenciais para a sua manutenção.
Neste sentido, a organização deste estudo sobre a regulação da actividade tónico-
postural é tendencialmente iniciada pelas aferências sensoriais, passando pelos centros
integradores concluindo com os órgãos efectores.
2.2.2.1 – Entradas Primárias ou Exo-Entradas:
- Visual
As informações visuais mantêm um papel de inegável importância, quer no controlo,
quer na manutenção do equilíbrio corporal durante o desenvolvimento e também na idade
adulta.
Entre outros, Cratty, Reynolds, Kurata, Fukuda, Kuwaduro, Gantchev, Draganov,
Berthoz, Berthelot e Baron são autores de elevado mérito nesta matéria, que referem a
grande influência da visão sobre as oscilações posturais. Factores como perseguição de
um objecto com os olhos, bem como a velocidade desses objectos, a instalação da fadiga,
alterações do nível da tonicidade oculomotora levam a um aumento das oscilações corporais.
Berthelot (1973) escreve que “as informações visuais e os movimentos oculares
continuam a desempenhar um papel importante no controlo e manutenção do equilíbrio
postural, ao longo do desenvolvimento e no adulto”.
No entanto, tem-se considerado que o Sistema Visual tem uma limitada contribuição
para a manutenção da postura ortostática, quando comparada com os sistemas vestibular e
somato-sensorial. A primeira grande conclusão que retiramos das opiniões unânimes de
todos os autores diz respeito à amplitude e frequência dos deslocamentos do corpo na
posição ortostática que são sempre mais acentuados com os sujeitos de olhos fechados,
independente da amostra considerada.
Cratty, B & col (1974), devido à dificuldade verificada na manutenção do equilíbrio,
aquando da informação visual, afirmam que o equilíbrio se encontra dependente da
estabilização do campo visual.
Gantchev, G. (1980), citado por Monteiro, M. (1993), demonstrou que a rotação
68
Dolores Monteiro
dos olhos, de forma contínua, até 40º, não diminui a oscilação corporal, do que se infere
que a informação dos sensores da musculatura visual não é a causa da estabilização da
oscilação. Corroborando estudos efectuados anteriormente, veio igualmente a verificar
que as oscilações corporais se processam na mesma direcção dos movimentos oculares de
perseguição de alvos em movimento (movimentos sacádicos).
Já, Berthoz, A. (1978), verificara que a perseguição dum alvo em movimento linear
é susceptível de induzir uma inclinação do eixo corporal, no sentido desse movimento,
sendo o grau da mesma proporcional à velocidade de deslocamento do objecto - alvo.
Nashner, L & col. (1982), tendo por base a observação em doentes com défices
vestibulares, verificaram a particularidade de os mesmos exagerarem o equilíbrio quando
fecham os olhos. Contudo, também constataram que o aumento das estimulações somato-
sensitivas mascaravam a situação de deficiência, tal como Madeira, F (1986) que refere,
que a supressão da estimulação visual pode ser compensada pela entrada em função, no
processo de equilibração, de outros analisadores sensoriais.
Movimentos sacádicos periódicos guiados por alvos em ambas as direcções (verti-
cal e horizontal) reduzem a oscilação corporal antero-posterior (Iwase et al., 1979). Tal
redução da oscilação ou estabilização da postura é distinta nas componentes de frequência
de 0,3 Hz, ou mais baixas. A frequência e a amplitude dos movimentos sacádicos mais
eficientes para a estabilização da postura situam-se entre os 0,2 - 1,0 Hz e 5 - 40 graus,
respectivamente. No entanto, a possibilidade da estabilização poder estar relacionada com
a percepção da imagem alvo, eliminada pelo facto dos movimentos voluntários rápidos
repetitivos dos olhos (sacádicos), tanto no escuro, como com os olhos fechados, também
reduzirem a oscilação corporal Uchida et al., (1979).
A rotação dos olhos, de forma contínua até 40 graus em todas as direcções, não
diminui a oscilação corporal, o que sugere que a informação dos proprioceptores da
musculatura ocular não é a causa da estabilização da oscilação (Gantchev, 1980). Isto
levaria a admitir que a diminuição da oscilação corporal seria originada na actividade do
“sistema sacádico central”. Por outro lado, a estimulação foveal repetitiva com olhos
fechados, que deveria aumentar o nível de activação, estimulando o sistema activador
reticular, também reduzia a oscilação corporal.
Verificou-se a mesma ocorrência sempre que se ventilavam as pernas do indivíduo
com ar frio, ou quando os indivíduos seguravam sacos de gelo, com as mãos, encontrando-
se na posição ortostática.
Estes resultados levantam a questão da actividade do sistema visual (sacádico)
afectar ou não o sistema activador reticular.
Madeira (1986) refere o facto da supressão da estimulação visual ser compensada
pela intervenção simultânea dos restantes analisadores sensoriais.
69
Revisão da Literatura
Gantchev (1980), num estudo em que realizou o levantamento posturográfico
designadamente sobre a neurofisiologia da actividade tónico-postural ortostática,
revela um conjunto de dados importantes:
- Em primeiro lugar, e no âmbito dos efeitos da informação visual sobre as
alterações da actividade postural, refere que as investigações em 20 indivíduos
demonstraram que o simples acto de fechar os olhos dá lugar a uma lenta
deslocação do centro de gravidade para a frente associada a uma ligeira inclinação
do corpo. Em outros 10 indivíduos constatou que o sucessivo fechar e abrir de
olhos, num período de 2 minutos, conduzia a uma certa oscilação do corpo para
a frente e para trás. Refere que, do ponto de vista biológico, a inclinação para a
frente podia ser interpretada como uma reacção preparatória de protecção - a
queda para a frente é a reacção preferível porque as mãos podem ser usadas
como apoio;
- Em segundo lugar, a um grupo de 20 indivíduos a quem foi pedido para fixarem
os olhos numa posição horizontal, o mais para cima e o mais para baixo possível
- mantendo a cabeça fixa na posição normal - durante dois minutos em cada
posição, os resultados revelaram que, com o manter do olhar o mais para cima
possível, as oscilações do corpo aumentavam significativamente, enquanto com
o manter do olhar na posição mais baixa possível elas diminuíam, apresentando
características semelhantes às oscilações do corpo com os olhos fixos numa
posição horizontal.
- Em terceiro lugar, num estudo envolvendo vinte indivíduos sobre os quais foi
induzido o nistagmo óptico - cinético (movimento de linhas verticais pretas e
brancas), os resultados eram semelhantes aos obtidos por outros autores. As
oscilações do corpo aumentavam sob o efeito do nistagmo, acompanhando as
variações de velocidade deste.
- Em quarto e último lugar, um grupo de 10 elementos a quem foi solicitado a
tarefa de movimentar com os olhos fechados - de acordo com um dado padrão
demonstrado e experimentado com os olhos abertos - verificou-se que a posição
extrema esquerda ou direita dos olhos, controlada por electro-oculograma,
correspondia no - SKG - a oscilações sincronizadas para os mesmos lados.
Podemos concluir, que no âmbito da regulação postural, a visão é hoje entendida
como uma componente que completa as informações vestibulares e quinestésicas, estando
ultrapassada assim a intervenção exclusivamente exteroceptiva que outrora lhe era atribuída.
No aspecto comportamental, os dados observados mostram que a combinação de
70
Dolores Monteiro
estímulos de diferentes modalidades sensoriais originam mais facilmente respostas motoras,
do que os estímulos de uma única modalidade sensorial.
Têm ainda sido feitos estudos sobre as modificações posturais provocadas, quer
por estimulação visual através de cenas estáticas, quer por estimulação vestibular, quer
mesmo pela própria interacção com o sistema oculomotor.
Num estudo experimental, sobre os efeitos da estimulação visual na percepção e
no controlo motor, efectuado por Previc, F.(1992), em pilotos aviadores, foi verificado
que, ao comparar-se os tempos de latência entre as alterações posturais induzidas pela
proprioceptividade óculo-muscular vection system e as induzidas directamente pela visão,
havia um atraso de alguns segundos, por parte da primeira, em relação às mudanças de
atitude induzidas pela segunda, embora ambas se encontrem relacionadas em situações
opostas ao movimento linear, uma vez que os traçados foram de grande intensidade nas
duas entradas, aquando do “enrolamento” rol position e em relação ao posicionamento de
inclinação pitch attitude.
De acordo com o estudo anterior, poderemos concluir que os vários efeitos de
orientação, induzidos pela visão, podem envolver parcialmente mecanismos independentes.
E que quanto maior for a riqueza da estimulação, mais reforçado se torna o controlo postural.
Quando se considera a visão, esta terá que ser sempre tomada como uma componente que
irá agir em complementaridade com as demais informações, extravasando,
simultaneamente, o âmbito da exteroceptividade, para onde se encontrava remetida. As
informações visuais completam as dos receptores otolíticos, uma vez que estes não têm a
capacidade de distinguir uma aceleração linear de uma inclinação do corpo (neste caso
também existe a variável aceleração no plano da mácula).
- Vestibular
O segmento cefálico tem um papel importante na organização das acções posturais
e cinéticas. O aparelho vestibular ocupa aí um lugar de destaque como órgão preparado
para assinalar a posição da cabeça no espaço, os seus desvios em relação à atitude funda-
mental de referência e os seus deslocamentos (Paillard, 1976).
O labirinto possui dois tipos de receptores: as cristas ampulares, nos canais semi-
circulares, cuja estimulação mecânica, pelas acelerações angulares, origina reacções físicas
(de equilíbrio cinético); as máculas, no sáculo e utrículo, cuja estimulação mecânica pelas
acelerações lineares, origina reacções tónicas de (equilíbrio estático).
As informações captadas por estes receptores são veiculadas pelo nervo vestibu-
lar. Este entra no tronco cerebral do nervo auditivo e termina, quer nos quatro núcleos
vestibulares (lateral ou de Deiters, superior ou de Bechterew, médio Schwalbe e inferior),
quer no cerebelo (lóbulo flóculo nodular e núcleos fastígios).
71
Revisão da Literatura
Os núcleos vestibulares estabelecem conexões, entre si e com os homólogos do
oposto, funcionando como um centro de integração de informações provenientes do córtex
cerebral, da formação reticulada, do tronco cerebral e da medula espinal.
Assim, o sistema vestibular participa na manutenção e no controlo do tónus
muscular, dos movimentos oculares da cabeça e ainda no controlo postural e cinético dos
membros e do tronco. Este sistema está encarregue da detecção do posicionamento e da
movimentação da cabeça no espaço, através da integração da informação dada por receptores
periféricos, situados no ouvido interno, de cada lado da cabeça.
Importa reter que, contrariamente ao que se passa com a aferência visual e os seus
estímulos, no sistema vestibular, o organismo não tem a percepção consciente dos seus
estímulos.
O volume de produção científica no âmbito do sistema vestibular e os respectivos
resultados tiveram um enorme impacto e, naturalmente, consequências no reforço da sua
influência e importância na fenomenologia da equilibração postural e várias actividades
sensório-motoras. Muitos trabalhos experimentais foram desenvolvidos com prática de
diversas situações de estimulação, exclusão e ablação em distintas amostragens.
Nelson (1972), citado por Madeira (1986), em trabalhos levados a efeito em adultos
versando o efeito da labirintectomia unilateral sobre o equilíbrio postural, verificou que
este procedimento aumentou significativamente as perturbações posturais dos indivíduos.
O resultado das oscilações do corpo, espontâneas e provocadas, em indivíduos
“normais” e em doentes com arreflexia vestibular bilateral - causada sobretudo por
uma intoxicação estreptomicina -, concluiu:
- a referida patologia não provoca modificações consideráveis nas oscilações
espontâneas nas duas amostras, quando na situação de olhos abertos.
- na obscuridade, os resultados estabilográficos aumentam para o dobro,
verificando-se algumas diferenças nas duas amostras, uma vez que manifestam
oscilações mais acentuadas.
Podemos, assim, apoiar-nos nestes dados, para reforçar a concepção que defende a
compensação quase completa do equilíbrio, aquando de lesões do aparelho vestibular. O
aumento das oscilações espontâneas do corpo com os olhos fechados, que difere dos sujeitos
sãos, poderá ser considerado como a expressão duma alteração do controlo proprioceptivo
do equilíbrio quando os dois sistemas não funcionam, em consequência das lesões do
aparelho vestibular. (Draganova et al, 1976) citado por Madeira, (1986).
De notar que são imensos os elementos que indicam que as influências vestíbulo -
espinais provocam efeitos tónicos e fásicos induzidos directamente sobre os motoneurónios
72
Dolores Monteiro
alfa e sobre o sistema gama. Nas oscilações verificadas, os resultados separam-se
significativamente. Nos indivíduos da amostra afectados de arreflexia vestibular verifica-
se um considerável aumento de amplitude das oscilações.
Kehaiov, A.(1976), verificou uma acentuada interdependência entre a estimulação
vestibular e a percepção visual, em estudo das influências vestibulares sobre as funções
visuais e auditivas feito em operários afectados por ruído intenso e vibrações. Assim, a
excitação vestibular aquando da estimulação calórica, provoca deformações na percepção
das diferentes cores e desencadeia situações de vertigem. O analisador vestibular excitado
exerce uma influência mais significativa sobre os objectos vermelhos e amarelos que
manifestam as maiores deformações. Os objectos visionados, com cor verde, são
moderadamente influenciados, enquanto os objectos azuis e, sobretudo violetas, são os
menos modificados.
Por outro lado, a direcção da dilatação linear dos objectos luminosos evidencia
tendências determinadas. Por exemplo, quando é estimulado o labirinto direito, o objecto
encontra-se deformado sobretudo numa direcção de 340° - 360°, no quadrante inferior
direito quando é estimulado o labirinto esquerdo, a deformação é observada sobretudo na
direcção de 240° - 300°, nos dois quadrantes inferiores. Este fenómeno pode ser explicado
através da interacção entre os canais semi-circulares e o analisador visual.
Relativamente aos efeitos vestibulares sobre o sistema auditivo, concluiu-se que a
excitação labiríntica pode provocar atrasos na percepção auditiva, bem como distorções
de intensidade sonora e da direcção da fonte emissora (Kehaiov, 1976) citado por Madeira,
(1986).
Por exemplo, na estimulação vestibular com água fria num só ouvido, Miyosh,
T.(1979) constatou, que os desvios do centro de gravidade do corpo, em indivíduos adultos,
são mais acentuados no eixo do y - sentido lateral do que no eixo do x - sentido antero -
posterior. Por outro lado, utilizando o mesmo tipo de estimulação, mas com água quente,
verificou que os desequilíbrios eram ainda mais acentuados que na situação anterior. Com
esta experiência, as oscilações atingem o máximo da sua amplitude no minuto após a
irrigação - coincidindo este momento com o nistagmo vestibular - voltando gradualmente
ao estado original .
Os exemplos referidos são demonstrativos da relevância do aparelho vestibular,
que denota duas funções inter-relacionadas – função dinâmica, que é protagonizada pelos
canais semicirculares, relacionada com o aspecto rotacional da cabeça no espaço e com o
controlo dos movimentos oculares reflexos, e uma função estática, mediada pelo utrículo
e sáculo, que constitui uma função básica no controlo da postura, relacionada com os
reflexos tónicos produzidos a este nível, que na opinião de Kelly, J. (1985),”counterbalance
the neck reflexes so that appropriate postural adjustments are made in response to changes
73
Revisão da Literatura
in head position to allow the nervous system to maintain global control of body posture”.
Por seu lado, Young, L. (1968) sintetiza a importância das estruturas vestibulares,
ao afirmar que o envolvimento mais significativo deste sistema, sob o ponto de vista
funcional, é dado pela participação do mesmo na manutenção e controlo do tónus muscular,
no controlo dos movimentos dos olhos e da cabeça e no controlo postural e cinético dos
membros e do tronco.
– Podale
Apesar do inter-relacionamento das estruturas osteo-mio-articulares do membro
inferior, esta entrada deve ser tomada no sentido estrito, circunscrevendo-se ao pé.
No entanto, sobre o neologismo “Entrada Podale” agrupámos todos os captores do
sistema postural situados ao nível dos pés e das pernas, a saber:
a) Captores Proprioceptivos
A via mais importante de representação das informações podais do sistema postural
é, sem dúvida, a proprioceptiva.
Estudos realizados no Homem sobre a supressão das aferências proprioceptivas,
sem suprimir as aferências exteroceptivas, nem a condução dos neurónios motores, graças
a uma esquémia prolongada das pernas e dos pés deixada durante 15 a 25 minutos e
esperando o desaparecimento dos reflexos tendinosos do sentido posição da sensibilidade
e do diapasão, constataram o aparecimento de oscilações de 1 Hertz sobre um estabilograma
antero-posterior dos registos feitos com olhos fechados (Agashyan et al, 1973).
Sobre uma plataforma de forças verticais a 1 Hertz, não se vê praticamente oscilações
corporais, mas registam-se forças de impulsos musculares exercidas pela contracção
alternada da parte anterior da perna e do trigémeo.
Sem as informações proprioceptivas vindas do captador podal, o comando motor
dos músculos das pernas oscila, ele não está jamais parado.
Logo que a compressão é efectuada ao nível dos tornozelos, a fim de suprimir as
aferências proprioceptivas que vem dos pés, mas deixando intacto a proprioceptividade
das pernas, não se constatam mais estas oscilações de 1 Hertz, mas uma incapacidade do
sistema postural de compensar as oscilações antero-posteriores de 0,3 Hz da plataforma
sobre a qual o sujeito está de pé.
No meio de todas as aferências proprioceptivas podais, susceptíveis de serem
utilizadas pelo sistema postural, o papel das aferências Golginas e Rufianas é mal conhecido,
enquanto o papel das aferências fusoriais é mais conhecido.
Durante algum tempo pensou-se que as aferências fusoriais agiam a um nível
segmentar pelo reflexo miotático e que o comando central do sistema postural intervinha
74
Dolores Monteiro
simplesmente para modular este reflexo segmentar ao alojamento (estiramento).
Ainda é seguramente estabelecido que, no Homem, em ortoestatismo, não há
resposta reflexa ao alongamento do músculo trigémeo, que aparece nos “atrasos” dum
reflexo segmentar 40 mil segundos caracterizando o reflexo miotático, a resposta reflexa
aparece com um atraso importante 120 mil segundos, é “reflexo funcional do estiramento”
de origem supra-espinal (Nashner, 1976).
O simples apoio ligeiro de uma mão sobre um suporte faz desaparecer o reflexo
funcional do alongamento em benefício de reflexo miotático (Elner, 1979). O reflexo
funcional do alongamento é característico do ortoestatismo sem quaisquer outras fontes
de informação.
As fibras nervosas IA e II que conduzem as aferências fusoriais fásicas e tónicas,
respectivamente, não têm a mesma sensibilidade à anoxia, e Hayashi pôde demonstrar que
o nível de actividades dos fusos neuro-musculares tónicos dos músculos das pernas comanda
o centro de gravidade do corpo, assim como o eixo antero-posterior.
Quanto mais a actividade dos fusos tónicos do trigémeo se eleva, mais a posição do
centro de gravidade do sujeito vai para trás.
A elevação do nível de actividade dos fusos fásicos é acompanhada de um aumento
de oscilações do estabilograma antero-posterior, entre 0,2 e 2 Hz que traduz verosimilmente
uma elevação da reactividade às perturbações exteriores (Hayashi, 1981).
Nas condições normais do ortoestatismo, o nível da actividade das fibras IA e II
parecem variar paralelamente, com efeito, a posição do centro de gravidade do Homem,
assim como o eixo antero-posterior estão estreitamente relacionados com a variação da
velocidade dos deslocamentos do centro de pressão dos pés (Gagey et al,.1985).
Quanto mais o centro de gravidade se projecta para trás, em relação à
perpendicularidade de equilíbrio ou verticalidade do eixo do tornozelo (aumento da
actividade das fibras II tónica), mais a variabilidade da velocidade do centro de pressão
dos pés é elevada (aumento da actividade das fibras IA fásicos verosimilmente).
É possível dissociar este paralelismo entre a actividade dos IA e II, por exemplo,
através de drogas (Lorazepam) causando uma desinibição pré-sináptica ao nível da junção
das fibras IA alfa motoneurónios (Gagey, 1986).
No decurso da maturação do sistema postural que não acaba senão por volta dos 11
anos, nota-se uma posição muito posterior do centro de gravidade nas crianças que poderá
ser considerada como um testemunho dos aferentes fusoriais dos trigémeos que é mais
intenso que no adulto.
Segundo Gurfinkel et al, (1995). a entrada de detecção do movimento passivo, no
tornozelo, em ortoestatismo, será 0,08 mais ou menos 0,04 mas não são os movimentos
angulares do eixo do corpo que são os mais relacionados com a actividade eléctrica dos
75
Revisão da Literatura
músculos das pernas. O excitante específico das aferências fusoriais, em ortoestatismo,
será portanto o binário da força exercida pela massa corporal oscilando à volta dos
tornozelos.
Resumindo, as aferências fusoriais tónicas e fásicas vindas do captador podal
representam uma fonte de informações muito importante para o sistema postural, sem a
qual não pode funcionar normalmente na ausência de visão. Estas aferências são moduláveis,
verosimilmente pela via dos gama motoneurónios sobre a qual intervêm diversas influências
supra espinhais e segmentares (Rosemberg et al, 1980).
b) Captores Exteroceptivos
O sistema Postural é capaz de utilizar informações exteroceptivas vindas das regiões
podais, porque logo que se aumentam as superfícies de contacto entre a pele do sujeito e
seu envolvimento trazendo ele sapatos, melhora-se as performances do seu sistema postural.
Constata-se, com efeito, uma redução da superfície dos estatoquinesigramas e uma
diminuição da amplitude das oscilações posturais nas frequências controladas pelo sistema,
entre 0 e 0,5 Hz (Gagey et al, 1985).
Logo que se modifique a superfície de contacto da planta do pé, dispondo
regularmente sobre a plataforma de pontos de referência de 2m/m de diâmetro agrupados
num suporte duro, constata-se uma redução da superfície do estatoquinesigrama que varia
em função do afastamento desses pontos de referência distantes uns dos outros 1 cm, 1,5
cm, 2 cm (Okubo, 1980).
Com efeito, sabe-se que as aferências exteroceptivas são susceptíveis de agir de
maneira não específica a um nível segmentar, elevando a actividade do encadeamento de
inter-neurónios, mas no caso preciso de experiências de Okubo podemos pôr de lado esta
hipótese, porque as estimulações plantares utilizadas não modificam a resposta reflexa de
Offaman. Haverá, portanto, uma integração supra-espinal de aferências exteroceptivas
podais na regulação da posição do sujeito em relação ao seu envolvimento.
Esta proposta não é particularmente nova, outros exemplos foram já proporcionadas
para utilização específica de informações de tocar e de pressão na orientação espacial do
Homem (Lackner & Graybiel, 1978).
– Muscular e Tendinosas
Estas aferências encontram-se englobadas num conjunto de estudos de Smetamin,
B & Alexeev, M.(1982); Nashner, L. & Cordo; Gentaz, R (1979), entre outros, que têm
posto em evidência a importância da actividade muscular na postura ortostática.
As principais saídas da manutenção do equilíbrio e orientação estão padronizadas
76
Dolores Monteiro
através da musculatura do corpo. Todavia seria útil analisar a estrutura do músculo, função
e coordenação do ponto de vista de controlo.
Até agora não foi possível formular um modelo generalizado que fosse válido para
qualquer tipo de músculo. O músculo é um aparelho químico-mecânico em que muitas
das suas propriedades são conhecidas, mas muitas coisas ainda se mantém desconhecidas
(Nashner, 1976).
Estudos levados a efeito por Smetanin et al (1979-B), sobre as características da
resposta muscular - imediata nas situações que perturbam a postura ortostática, confirmaram
resultados anteriores obtidos por Alexeev e Nashner, isto é, verificam que a presença de
duas ondas de actividade muscular surgem como uma reacção compensatória às condições
desequilibrantes.
Na verdade, algumas investigações consideram a primeira resposta - onda como
um reflexo de estiramento. No entanto, outros autores admitem que a sua origem é bastante
mais complexa. Neste sentido, elaboraram uma experiência na qual foram provocadas
separadamente as duas ondas de actividade M-1, utilizando um impulso breve e brusco
M-2, através de impulsos com forças progressivamente crescentes que deslocavam o centro
de gravidade do corpo. Dado a latência da M-1 ser inferior ou igual à latência da modificação
do ângulo das articulações tíbio-társica, mostram que a M-1 não pode ser um reflexo de
estiramento. Com base nos resultados alcançados defendem que a M-1 não é determinada
por aferentação muscular e/ou articular e, ao mesmo tempo, que ela depende da força do
impulso desequilibrados. Presume-se que M-1 está relacionada com a percepção táctil
inerente ao impulso exterior e com o aparelho vestibular (Madeira, 1986).
Gentaz, R et al, (1979) realizaram um estudo com adultos visando a aproximação
electromiográfica das assimetrias da postura ortostática. Os sinais eléctricos musculares
foram recolhidas através de eléctrodos bipolares de superfície, colocados ao nível dos
pontos motores dos músculos tibial anterior e gémeos, processados num integrador, em
diversas situações e depois de os indivíduos serem caracterizados através de um exame
postural prévio. No caso da rotação passiva da bacia, nos sujeitos estritamente normais, de
olhos abertos, não foram observadas diferenças significativas na actividade eléctrica dos
músculos agonistas e antagonistas. No entanto, observou-se uma diferença entre a actividade
dos músculos estudados, na situação de olhos abertos e na situação de olhos fechados.
Quando procediam a uma rotação activa da bacia, de olhos fechados, verificou-se
um aumento da actividade eléctrica dos músculos agonistas.
A nível medular, as aferências musculares e tendinosas estão na base das
regulações posturais.
77
Revisão da Literatura
Estas aferências têm origem nos Fusos Neuro-Musculares (situados em paralelo
com as fibras musculares) e nos órgãos tendinosos de Golgi (receptores sensíveis ao
estiramento e situados nas lâminas aponevróticas e tendões).
Fusos Neuro-Musculares:
Os fusos neuromusculares contêm um número variável de fibras interfusoriais que
podem ser de dois tipos: em saco ou em cadeia nuclear.
As fibras, em saco nuclear, possuem, na sua parte não contráctil (parte central),
terminações anulo-espirais formadas pelo enrolamento das fibras IA.
As fibras, em cadeia nuclear, possuem terminações em leque de fibras II.
As fibras tipo IA e II constituem a dupla inervação sensorial dos fusos
neuromusculares.
As fibras tipo IA, de condução rápida, são responsáveis pelo transporte de
informações sobre as alteraçôesdo comprimento do músculo e, sobretudo, sobre a velocidade
dessas alterações provenientes das fibras fusoriais em saco nuclear. Este tipo de fibras,
pelas suas conexões com o motoneurónio (alfa), faz parte integrante do reflexo miotático
e da via de retorno do anel gama.
As fibras tipo II são de condução lenta e transportam informações sobre o estado
do comprimento do músculo provenientes das fibras fusoriais em cadeia nuclear.
A inervação motora dos fusos neuromusculares é da responsabilidade dos
motoneurónios gama tónicos, para as fibras em cadeia nuclear e dos motoneurónios gama
fásicos, para as fibras em saco nuclear.
O motoneurónio gama regula o nível da actividade muscular. Assim, qualquer
estiramento passivo do músculo (por ex. acção da gravidade ) provoca uma contracção
reflexa no sentido do restabelecimento do comprimento normal. De igual modo, qualquer
encurtamento do músculo, por uma força exterior, provoca uma diminuição da actividade
reflexa tendente a recolocá-lo na sua posição inicial (Meyer e Baron, 1982).
Sabe-se que hoje os centros cerebrais superiores (córtex, cerebelo e substância
reticulada) são continuamente informados por colaterais das fibras IA e IB e têm uma
acção inibidora ou estimuladora sobre os motoneurónios gama.
Orgãos Tendinosos de Golgi:
Os receptores de Golgi são sensíveis ao grau de tensão que é exercido pelo músculo
sobre o tendão.
A sua inervação sensorial é constituída pelas fibras IB que, através das suas conexões
com os motoneurónios (alfa), realizam um arco reflexo proprioceptivo inibidor da
contracção e denominado reflexo miotático inverso.
78
Dolores Monteiro
Às aferências músculo-tendinosas juntam-se, a nível periférico, as aferências
articulares. Entre estas são de realçar:
- as que provêm dos receptores de Ruffini, principalmente situados na articulação
tíbio-perónio-társica e que são portadoras de informação sobre o grau de
velocidade de abertura da articulação (Meyer e Baron, 1982).
- as que provêm dos receptores articulares do pescoço que seriam as mais
importantes para a manutenção do equilíbrio, por fornecerem informação sobre
a posição do pescoço em relação ao corpo (Guyton, citado por Madeira 1986).
É inegável a participação das aferências cutâneas, principalmente as plantares, na
regulação da actividade tónico-postural. Como se viu anteriormente, elas interferem na
regulação dos reflexos de endireitamento e sustentação.
Está demonstrado que a insensibilidade da abóbada plantar, provocada por anestesia
ou por frio, ocasiona perturbações do equilíbrio e da marcha (Madeira, 1986)
Desde 1953 que, os trabalhos efectuados por Baron e colaboradores, se demons-
traram a existência duma relação directa entre as infecções dentárias crónicas e/ou os
micro-traumatismos associados às oclusões dentárias e as perturbações do equilíbrio e da
oculomotricidade.
Para Baron e Meyer (1982), esta relação deve-se à existência duma via ascendente
e outra descendente com origem nos mecanoreceptores desmodentais dos molares que
conduzem as aferências proprioceptivas trigeminais até aos núcleos centrais cerebrais dos
III, IV, VI e XI pares cranianos.
Assim, a via ascendente conduz as aferências dos molares superiores até aos núcleos
do III e IV pares cranianos, participando na regulação da tonicidade dos músculos
oculomotores.
A via descendente conduz as aferências dos molares inferiores e dos receptores
artro-músculo-tendinosos mastigadores até ao núcleo mesencefálico do trigémeo, do VI e
do XI pares cranianos, influenciando a tonicidade dos músculos oculomotores e da nuca.
2.2.2.2 – Entradas Secundárias ou Endo-entradas
Estas entradas do sistema postural possuem a característica paradoxal comum de
não ter nenhuma relação directa com o envolvimento e de serem, apesar disso, necessários
ao bom funcionamento do sistema postural que situa o indivíduo no envolvimento. O seu
funcionamento lógico é o de fornecer a posição recíproca dos captores primários, elemento
estreitamente indispensável à integração comum das aferências primárias do sistema
postural.
79
Revisão da Literatura
– Proprioceptiva Raquidiana
Como um captor secundário do sistema postural, a entrada raquidiana tem por
objectivo fornecer a posição recíproca dos captores Podale e cefálico.
As informações vindas das articulações coxo-femurais e gonais contribuem também
logicamente para esta informação, mas muito poucos trabalhos experimentais foram
realizados para podermos falar deles em separado.
Desde 1845, é preciso relembrar Longet (1845), que descrevia os problemas de
equilibrio provocados no animal pela secção dos músculos da cabeça, fenómeno que ficou
ainda, durante algum tempo, por compreender .
Em 1940, Thomas conheceu a integração das aferências vestibulares e cervicais: a
direcção da resposta a uma estimulação galvânica labiríntica depende da posição da cabeça
em relação ao tronco, uma estimulação do mastóide direito (pólo negativo) leva o sujeito
para a frente, se a sua cabeça for rodada num ângulo de 90°, para a direita ou para trás, se
a sua cabeça for virada para a esquerda.
Numerosos posturologistas como Nashner, Baron e Hlavaka, respectivamente em
1973, 1975 e 1985 não fazem mais do que reescrever este fenómeno sobre as suas
plataformas, mas, Lund et al, (1983) mostraram que esta propriedade não era específica
do nervo raquidiano cervical, mas sim da posição da cabeça, é a posição da cabeça e a sua
relação com os pés que pode ser integrada nas aferências vestibulares, faça ou não a rotação
do nervo raquidiano cervical.
Sabemos que depois dos trabalhos de Richmond et al, (1979), as aferências
proprioceptivas da nuca são de origem essencialmente fusorial e que a vibração dos
músculos da nuca provoca uma resposta postural não registável sobre a plataforma
– Oculomotora
Algumas experiências de estabilometria experimental sublevaram o problema da
participação das aferências oculomotoras às entradas do sistema postural.
Baron et al, (1973), colocaram em evidência o movimento controlo lateral e o eixo
do corpo, seguido de uma solicitação ocular.
Tokumasu et al, (1980), descreveram o deslocamento do eixo corporal do lado
da sacada ocular. E que os movimentos voluntários dos olhos, na ausência da visão,
provocavam um deslocamento contralateral do eixo corporal.
Estes trabalhos não permitem distinguir a parte recíproca possível das aferências
proprioceptivas oculomotoras e da cópia eferente oculomotora.
A partir dos trabalhos de Meyer, (1982), pode aceitar-se que as aferências
oculomotoras proprioceptivas participam nas entradas do sistema postural. Com efeito, o
autor descreveu os fenómenos oculomotores e posturais (perturbações do reflexo de
80
Dolores Monteiro
convergência tónica, redução das superfícies dos estatoquinesigramas) que aparecem sobre
o efeito de uma anestesia ou de uma estimulação dos nervos dentários .
Estes fenómenos difíceis de explicar e confirmar supõem necessariamente uma
mistura de informações dentárias, as informações oculomotoras donde se ignora o local.
Sabe-se somente que as aferências proprioceptivas oculomotoras tomam a via do trigémeo
como as aferências dentárias para ganhar o tronco cerebral (Batini et al, 1974).
Recentemente, Roll Roll, (1985), demonstrou que a vibração dos músculos
oculomotores provocava um movimento do eixo corporal, assim sendo, fica assegurado o
papel postural das aferências fusoriais das aferências oculomotoras.
A entrada oculomotora desempenha funções especializadas e essenciais à perfeita
e normal regulação do sistema postural no Homem. Deste modo, o sistema oculomotor,
pelo tipo de movimentos que induz nos globos oculares, permite ao indivíduo a fixação do
olhar no alvo, contribuindo assim para estabilização visual da sua postura. Este sistema,
como não possui relação directa com o exterior, é influenciado por vários centros
subcorticais e corticais na sua função estabilizadora que é caracterizada pela ocorrência de
vários reflexos oculares que tornam possível a transmissão da informação visual aos centros
de regulação postural.
Nesta perspectiva, os movimentos dos olhos são controlados por três pares de
músculos antagonistas: os rectos médio e lateral responsáveis pelos movimentos na
horizontal, e os oblíquos superior e inferior e rectos superior e inferior, responsáveis pelos
movimentos na vertical. A sua inervação recíproca é feita por três pares de nervos cranianos:
o oblíquo superior é enervado contra-lateralmente pelo IV par craniano, o recto lateral
homo-lateralmente pelo VI par craniano, e os restantes músculos, homo-lateralmente pelo
III par craniano. O complexo de neurónios motores que origina os 3 nervos oculomotores,
chama-se núcleo oculomotor. Estes motoneurónios Mn oculomotores têm índices de
descarga muito superiores aos Mn espinais (100-600 impulsos/Seg. contra 50-100 impulsos/
Seg.), e têm um limiar de descarga fixo próprio de cada Mn. A tensão muscular é
desenvolvida por recrutamento de Mn de diferentes limiares ou pela aceleração do índice
de descarga de cada Mn.
Os sinais nervosos que coordenam o núcleo oculomotor, entre si, e este com o
sistema vestibular são transportados, em parte, no feixe longitudinal mediano que enerva
os núcleos motores oculares dos III, IV, VI pares cranianos. Parte deste feixe distribui-se
homolateralmente e provém do núcleo vestibular superior, e a outra parte, provindo dos
núcleos vestibulares mediano e inferior, toma o feixe vestibulo-mesencefálico e projecta-
se, contralateralmente, nos núcleos motores do III e IV pares cranianos.
Embora o ser humano detecte objectos ao longo de um ângulo visual de cerca de
81
Revisão da Literatura
200º, a sua acuidade visual reside numa região central da retina com cerca de 5º, chamada
a Fóvea. Uma das principais funções do sistema oculomotor é manter as imagens centradas
na Fóvea conservando-as aí através de cinco movimentos de controlo neural, partilhando
cada um a mesma via efectora - os motoneurónios do núcleo oculomotor no tronco cerebral,
que a seguir se referem:
1º - O Movimento sacádico do olho é responsável por dirigir rapidamente a fóvea
para os objectivos de interesse no espaço visual. Este sistema gera um movimento
conjugado balístico dos olhos chamado sacada, o qual traz a fóvea para o objectivo.
As sacadas são extremamente rápidas ocorrendo numa fracção de segundo, até à
velocidade de 600 a 700º/seg. Há uma vantagem distinta nesta velocidade, uma
vez que a visão fica nítida durante o movimento do olho.
Um movimento sacádico do olho é chamado balístico porque uma vez
iniciado é extremamente difícil corrigi-lo no deslocamento. Há um atraso de cerca
de 0,2 seg. entre a percepção do alvo e o início da sacada. A seguir a este período
latente, leva cerca de 0,05 seg. para se completar o movimento. Uma vez iniciado
o processo sacádico, o sistema é incapaz de repetir outra sacada durante os 0,2 seg.
próximos, independentemente do comportamento do alvo. Por exemplo, se um
alvo se move durante aquela fracção de segundos, enquanto o olho executa uma
sacada, a fóvea acabará sempre no local onde o alvo estava inicialmente.
A natureza balística da sacada parece ser alterável apenas por um input
vestibular simultâneo, tal como ocorre quando a cabeça se movimenta durante
uma sacada (Kandel e Schwartz, 1985).
Apesar da sua natureza balística, as sacadas podem estar sob controlo de
feedback contínuo. A velocidade dos movimentos sacádicos, nos macacos, são
duplamente mais rápidos do que nos humanos. O sistema do movimento sacádico
do olho depende tanto da posição retinal como da posição do olho.
O movimento requer que a retina primeiro localize o alvo, no espaço visual
(posição retinal); o movimento também depende da posição inicial dos olhos na
órbita, quando o objecto é percepcionado (posição do olho). Tanto a posição retinal
como a posição do olho são levadas em consideração antes de se iniciar uma ordem
para uma sacada. O cérebro deve continuamente monitorar a posição do olho, na
órbita, de forma a que possa aplicar uma ordem apropriada para uma sacada. Esta
ordem inclui seguidamente informação acerca da amplitude e da direcção da sacada.
A direcção da sacada é codificada durante a excitação do grupo apropriado de
neurónios motores e a sua amplitude é codificada pela duração (do comprimento
de onda da descarga). As sacadas também estão sob controlo voluntário e podem
82
Dolores Monteiro
ser feitas às escuras e com os olhos fechados. Parte do centro de controlo parece
estar localizado no córtex cerebral, o qual envia sinais para o tronco cerebral onde
se pensa iniciarem as sacadas, embora ainda não tenha sido provado
experimentalmente. As sacadas para a esquerda são iniciadas no hemisfério cerebral
à direita e as para a direita no hemisfério esquerdo. É possível induzir um movimento
do olho conjugado ao estimular o córtex frontal (Mays e Sparks, 1980) citados por
Kandel e Schwartz (1985).
2º - O Movimento de perseguição lenta está relacionado com o conservar o alvo na
fóvea uma vez determinado o alvo. Este sistema opera para movimentos
estacionários e que se movem usando diferentes processos para cada tipo de
objectivo. Assim, se os olhos, como o objectivo, estão parados, a fixação (foviação)
pode ser mantida por um esforço consciente, presumivelmente ao suprimir qualquer
sacada consciente.
Contudo, durante a fixação do alvo, há pequenos movimentos contínuos
inconscientes dos olhos caracterizados por impulsos lentos e por chicotadas rápidas.
Os impulsos movem a fóvea para fora do alvo de interesse e as chicotadas são
pequenas sacadas que fazem regressar a fóvea para o alvo, depois de um impulso
de afastamento do mesmo.
Devido às chicotadas não é, pois, possível uma perda do alvo. Os impulsos
parecem ser essenciais à visão contínua (Yarbus, 1967) citado por Kandel e
Schwartz(1985).
Se um alvo se move e se o indivíduo se mantém em posição ortostática, os
olhos perseguem a imagem de forma a que esta se mantenha continuamente na
fóvea. Para que este movimento de perseguição ocorra, o cérebro deve calcular a
direcção e a velocidade da imagem na retina. Estas operações parecem ser efectuadas
sob o controlo do córtex occipital, onde ocorre a percepção da forma. O sistema de
perseguição lenta pode operar com apenas um alvo na retina, não operando no
entanto no escuro.
3º - O Movimento vestibular do olho ou reflexo vestíbulo-oculomotor tem a ver
com a estabilização do olho, em relação às modificações de posição da cabeça.
Se a posição da cabeça é alterada, este sistema reflexo conserva o olho na
mesma direcção, tal como o fez antes do movimento.
O sinal que inicia este reflexo não surge dentro do sistema visual, mas sim
no labirinto membranoso do ouvido interno que detecta o movimento da cabeça,
ao longo dos três eixos espaciais.
Cada um dos três canais semicirculares apercebe-se da aceleração angular
83
Revisão da Literatura
da cabeça em torno de um eixo diferente e transmite sinais correspondentes aos
neurónios no núcleo vestibular.
Uma aceleração mais elevada, por exemplo maiores velocidades da cabeça,
produz uma taxa de descarga maior ao longo dos nervos que enervam qualquer
canal.
Devido à viscosidade do fluido que envolve as células capilares, nos canais
semicirculares, estas taxas de descarga são proporcionais à velocidade da cabeça,
não à aceleração, para a maior parte dos movimentos normais da cabeça.
Os neurónios do núcleo vestibular avaliam a mudança da posição da cabeça,
ao integrar a informação acerca da velocidade que vem de cada canal e um sinal de
correcção adequado é enviado ao núcleo oculomotor, para estabilização dos olhos.
No fim de uma breve aceleração, estes sinais persistem, porque a velocidade
é constante.
À medida que a aceleração vem para o zero, os sinais de velocidade
desaparecem em 10 a 20 seg, mas isto é muito mais longo do que a duração da
maior parte dos movimentos da cabeça. Assim, quando a cabeça se movimenta a
informação acerca da velocidade e a duração do movimento são sempre capazes
de impossibilitar o cérebro de determinar a posição da cabeça e, consequentemente,
de iniciar movimentos compensatórios apropriados do olho.
A amplificação do reflexo vestíbulo-oculomotor pode ser alterada por
mudanças ambientais: mudanças na relação entre a mão e o olho ou movimentos
retinais correspondentes ou que revelam plasticidade no circuito sináptico do sistema
oculomotor.
O reflexo vestíbulo-oculomotor pode ser testado por irrigação suave do
canal auditivo externo com água morna a 42º - 47º, ou fria a 20º. Um gradiente
termal é estabelecido através do canal que induz o fluir da endolinfa numa direcção
ou noutra e assim influencia a cúpula. Este procedimento simula o movimento da
cabeça, o qual na volta produz movimentos do olho compensatórios, através do
sistema vestibular, conforme veremos.
Os núcleos vestibulares medial e superior recebem o input, principalmente,
das ampolas dos canais semicirculares. O núcleo vestibular medial inicia a via
vestíbulo-espinal medial que termina na região cervical da medula. Os axónios,
nesta via, fazem conexões monossinápticas com neurónios motores que enervam
os músculos do pescoço. Esta via participa no controlo reflexo dos movimentos do
pescoço de forma a que a posição da cabeça possa ser mantida com precisão e
correlacionada com os movimentos dos olhos.
84
Dolores Monteiro
As células, em ambos os núcleos, medial e superior, participam nos reflexos
vestíbulo-oculomotor e enviam os seus axónios para o fascículo longitudinal medial,
numa via que corre para as partes rostrais do tronco cerebral, mesmo abaixo da
linha média do 4º ventrículo.
A função dos núcleos vestíbulo-mediais e superiores pode ser ilustrada ao
verificar um arco reflexo elementar vestíbulo-oculomotor. Se a cabeça é inclinada
para um dos lados, os olhos rodam na direcção oposta e isto ajuda a manter o
campo visual no plano horizontal. As vias precisas centrais, que fazem a mediação
deste reflexo, não foram estudadas completamente mas são dependentes do input
tónico do utrículo. Para compreender os reflexos vestíbulo-oculomotores, que são
mediados por inputs dos canais semicirculares, fizeram-se experiências com uma
pessoa sentada num banco rotativo. Ao rodar para a esquerda em torno do eixo
vertical, quando a aceleração se inicia, os olhos fazem um desvio conjugado para
a direita numa direcção oposta à direcção da cabeça, com a, tendência de conservar
os olhos fixos num único ponto no espaço. Os olhos não ficam nesta posição.
Quando atingirem o limite do seu movimento, movimentam-se rapidamente para
a esquerda na direcção da aceleração angular. A estes movimentos lentos e rápidos
dá-se o nome de fases lentas e rápidas do nistagmo vestibular.
É de notar que a fase rápida do nistagmo é na direcção da aceleração.
Quando o movimento para a esquerda pára abruptamente, é equivalente à
produção de uma aceleração rápida para a direita, devido à inércia do fluido nos
canais semicirculares horizontais.
Agora os olhos executam movimentos lentos repetidos para a esquerda,
acompanhados de movimentos de retorno rápidos para a direita, até que o estímulo
vestibular normalize. Este nistagmo postrotatory é usado clinicamente para avaliar
o estado funcional do sistema vestibular. À medida que a cabeça acelera para a
esquerda, há uma excitação das fibras nervosas que enervam a ampola do canal
horizontal do lado esquerdo. Este aumento, na actividade, é originado através de
várias mudanças sinápticas e conduz à contracção dos músculos que viram ambos
os olhos para direita.
Ao mesmo tempo, a actividade das fibras nervosas, que enervam a crista do
canal horizontal à direita, diminui e isto causa o relaxar dos músculos antagonistas.
Estes efeitos coordenados são conseguidos, por grupos específicos de conexões,
entre os núcleos vestibulares mediais e superiores e os núcleos motores dos músculos
extra-oculares.
Para os movimentos em zonas planas não horizontais os outros canais
trabalham juntos, aos pares, tal como o fazem os canais horizontais.
85
Revisão da Literatura
A regulação coordenada característica do reflexo vestíbulo-oculomotor foi
examinada experimentalmente nos anos 50, por Szentagothai (s.d) citado por Kandel
e Schwartz (1985). Ele selou uma cânula no canal horizontal semicircular esquerdo,
dum animal “experimental”, e empurrou e puxou, alternadamente a endolinfa
enquanto registavam a tensão em cada músculo extra-ocular. Quando a endolinfa
era empurrada simulando um movimento rotativo para a esquerda, o recto lateral
do olho direito contraía-se, enquanto que o recto lateral do olho esquerdo e o recto
medial do olho direito mostravam uma tensão reduzida.
O controlo voluntário do movimento dos olhos é independente do sistema
vestibular. As regiões mais importantes do córtex cerebral envolvidas nos
movimentos voluntários dos olhos são os campos oculares frontais localizados
nos lóbus frontais.
Quando os campos oculares frontais não são estimulados electricamente,
num dos lados do cérebro há um desvio conjugado do cérebro para o lado oposto.
Lesões nos lóbulus frontais tornam as pessoas incapazes de fazer movimentos
voluntários dos olhos para o lado oposto à lesão; outros movimentos reflexos dos
olhos, que são mediados pelo sistema vestibular, permanecem intactos.
4º - O Movimento óptico-cinético está especialmente desenvolvido em pássaros,
embora também ocorra em animais com visão. Este reflexo estabiliza as imagens
na retina, durante os movimentos da cabeça, ao fim de 0,5 Seg. Quando o movimento
unidireccional da cabeça é prolongado durante 20 a 30 Seg., o reflexo vestíbulo-
oculomotor adapta-se, não podendo provocar movimentos compensatórios. O
reflexo óptico-cinético surge. Este reflexo usa um sinal retinal contínuo, em vez
de sinal fásico do labirinto, por forma a sentir o movimento da cabeça. Para
conservar a imagem localizada na retina, o olho, automaticamente, começa a
perseguir o alvo, à medida que a cabeça se movimenta. Esta perseguição conserva
a velocidade relativa da imagem retinal ao nível zero; ou seja, conserva a velocidade
do olho igual e oposta à velocidade da cabeça. Quando o objecto que está a ser
perseguido se movimenta para fora do campo visual, o olho começa uma sacada
rápida em direcção ao alvo a perseguir, acompanhando-o.
Este reflexo pode ser induzido ao colocar um sujeito dentro de um cilindro
rotativo com riscas envolventes.
O cilindro rotativo provocará um movimento oscilatório ritmado dos olhos
chamado nistagmo optocinético dos olhos, o qual tem uma fase lenta, quando a
cabeça se inclina para a frente e uma fase rápida, quando a cabeça cai para trás,
para uma posição erecta. Os olhos, imediatamente, iniciam a perseguição de uma
tira (risca) do cilindro (a fase lenta), até que se torne impossível fazer isso sem
86
Dolores Monteiro
girar a cabeça ou o corpo. Antes que isto ocorra, os olhos, rapidamente, fazem uma
sacada na direcção oposta à do movimento do cilindro, de forma a permitir a fixação
de uma nova tira (fase rápida). Isto gera um comboio ritmado de movimentos dos
olhos.
5º - O Sistema de movimentos vergentes. Os sistemas descritos anteriormente geram
movimentos conjugados dos olhos, mas quando os olhos vêem um objecto a
aproximar-se ou afastar-se, cada olho movimenta-se de diferente forma
(disjuntivamente) para conservar a imagem do objecto alinhada, precisamente, em
ambas as fóveas. Se o objecto se aproxima, os olhos devem convergir, se se afasta,
devem divergir. Esta operação denomina-se sistema de vergência.
O sistema de vergência trabalha juntamente com os sistemas de controlo de
pupila e lente no chamado reflexo de acomodação. O centro de controlo para a
vergência parece localizar-se no córtex occipital.
Em conclusão: O sistema oculomotor é outro exemplo do design modular do cérebro.
Grupos específicos de neurónios desempenham operações específicas: alguns analisam a
velocidade da cabeça, outros a velocidade do olho no espaço; alguns grupos de neurónios
analisam as diferenças entre os dois e ainda outros enviam estas variáveis para alvos retinais.
Embora cada operação seja desempenhada por grupos separados de células, a maior parte
dos módulos influenciam e controlam as análises feitas pelos outros através de interacções
sinápticas. Muitos módulos também partilham de circuitos de análise e todos partilham a
via comum final do sistema, o receptáculo dos neurónios oculomotores.
2.2.2.3 – Entradas Inespecíficas
– Estudos Aplicados
Madeira, F. (1986), perspectivando ainda a lógica de estudos neurofisiológicos,
chama a atenção para a existência de outros trabalhos sob o ponto de vista comportamental
da actividade postural, quase todos eles focando a influência dos níveis de vigilância nesta
actividade, tendo sido utilizados vários métodos para a sua determinação como – o
electroencefalograma, o ritmo cardíaco, a pressão arterial, e a resistência palmar.
Relativamente ao modo evolutivo da actividade cortical e subcortical cerebral,
durante o sono, foi demonstrado que a actividade neuronal se encontra diminuída durante
a fase de ondas lentas mas aumentando a fase paradoxal, chega mesmo a ultrapassar o
estado de vigília, conforme nos descreve Melo, F (1988).
Também na análise qualitativa e quantitativa dos diversos parâmetros do
87
Revisão da Literatura
estatoquinesigrama - tais como a amplitude, a frequência e o perfil visual – se possibilita
que se elabore um modelo de diagnóstico de certas patologias. Podemos fundamentar tais
propósitos nos dois aspectos de frequência que o estatoquinesigrama revela e aos quais
atribuem uma significação funcional e postural: a banda lenta entre 0,2 e 0,5 Hz, e as
bandas mais rápidas até 2 Hz aproximadamente. Assim, a banda lenta relaciona-se com a
frequência de ressonância do corpo sobre o controlo do aparelho vestibular, sendo o sistema
visual um amortizador desse movimento. Os movimentos lentos aparecem no
estatoquinesigrama com a eliminação do controlo visual.
Para autores com experiência acentuada na matéria e fundamentalmente em clínica
neurológica é-lhes permitido, através dos registos estatoquinesigráficos, diferenciar certas
patologias, nomeadamente entre afecções periféricas - proprioceptivas - e afecções centrais,
entre afecções vestibulares e cerebelosas, uma vez que para cada uma correspondem valores
e projecções específicas.
No diagnóstico diferencial, em neurologia, um outro aspecto é tido em consideração,
por um lado, o tempo de latência entre as estimulações óptica e as reacções posturais, e
entre as estimulações vestibulares - galvânicas - e as reacções posturais por outro. O tempo
expresso é sensivelmente o mesmo para as duas situações, variando entre os 400-600ms.
O estabelecimento da correlação cruzada entre os movimentos é outro contributo importante,
em virtude de aparecerem amplitudes e frequências nos dois vectores, com características
próprias de anomalias já conhecidas.
Concretamente, é possível distinguir qualitativa e quantitativamente os sinais de
Romberg positivos - doenças com desordens proprioceptivas, em função da amplitude, da
frequência e da direcção das oscilações corporais (Njiokiktjien et al, 1976).
Watanabe et al (1980-A), citados por Madeira (1986), fazem alusão à significação
da análise do espectro de potência e velocidade nos reflexos posturais e nos
disfuncionamentos do equilíbrio. Referem que o método encontrado para análise das
alterações do equilíbrio, baseado nos índices de flutuação dos deslocamentos do corpo em
valor matemático, tem contribuído para o diagnóstico das localizações das perturbações e
a classificação das doenças.
Estudos comparativos entre sujeitos sãos e pacientes com degenerescência espino-
cerebolosa, com idades semelhantes, a partir da posição de Romberg - com olhos abertos
e fechados - concluíram:
- os movimentos do corpo nas duas amostras, quer no eixo dos X, quer no
eixo do Y, ou ainda no módulo XY, são sempre menores com os olhos abertos;
- nos sujeitos sãos os movimentos do corpo que revelam maior amplitude e
frequência verificam-se no eixo do Y;
88
Dolores Monteiro
- nos sujeitos doentes a preferência pelo eixo do Y também se verifica, embora
se tivessem observado maior intensidade nas respectivas oscilações (Sugano
e Tominaga , 1979-A).
Vários autores estão de acordo com a tendência para uma maior acentuação dos
deslocamentos corporais no sentido lateral - eixo do Y.
O grande interesse revelado pela posturologia, no campo da patologia infantil, tem
sido demonstrado na sua utilização como método de classificação e diagnóstico.
Observações feitas por Tsukimura, através da posturografia, permitiram-lhe avaliar
quantitativamente as possibilidades da posição bípede. Assim, as superfícies dos
deslocamentos são mais pequenas no grupo de doentes em sistema ambulatório
relativamente aos doentes internados, incapazes de andarem (Tsukimura, 1976).
O uso regular de sapatos altos ou de “salto alto” pode ser a origem de diversas
perturbações fisiológicas - articulares, cutâneas, neuromusculares, com repercussões não
só ao nível do pé mas igualmente a todos os planos da cadeia músculo-articular. Peruchon
(1981) estudou as variações das acções estabilizadas do sistema da equilíbrio bípede quando
o apoio do calcanhar é colocado a diferentes alturas; essa altura é medida pelo ângulo das
articulações metatarso - falangianas. Estes estudos permitiram concluir da possibilidade
de definir uma altura média crítica do “tacão”, para além da qual as acções estabilizadoras
se tornam muito importantes. A esta altura crítica corresponde um ângulo crítico das
articulações metatarsianas que se situa nos 30°. Assim, pela posturografia, é possível
determinar a medida do ângulo crítico para um determinado indivíduo, e consequentemente
a altura crítica do “tacão” acima da qual será necessário exercer acções reguladoras, correndo
o risco de se tornarem excessivas e originar perturbações fisiológicas várias (Peruchon et
al, 1981).
Diversas áreas do conhecimento, designadamente na neurologia, na clínica e na
ortopedia, têm utilizado a posturografia na avaliação e na valorização da capacidade de
trabalho. Assim, alguns autores têm ensaiado e aperfeiçoado a aplicação das técnicas
posturográficas no diagnóstico diferencial (Dantin et al, 1978).
Os mesmos autores, num estudo envolvendo condutores profissionais de automóveis,
concluíram que existe uma relação significativa entre as anomalias de EEG - SKG e o
número de acidentes registados. Entre aqueles que tiveram um maior número de movimentos
excessivamente rápidos no S.K.G. predominam os indivíduos implicados em acidentes de
viação.
Dantin (1980) verificou que num grupo de 30 condutores de táxi, acidentados,
havia uma coincidência entre os movimentos rápidos do S.K.G., e os acidentes atribuídos
a uma velocidade excessiva ou imprópria.
89
Revisão da Literatura
Baron (1971) citado por Madeira (1986) verificou, em sujeitos submetidos a tracções
mecânicas antero-posteriores, que a regulação postural se efectuava com um melhor
rendimento nos desportistas treinados, relativamente aos sujeitos “normais” não
desportistas.
Os mesmos autores, analisando um ginasta de alta competição em posição
ortostática, de olhos fechados, a quem foi pedido que imaginasse a execução de um
movimento da sua especialidade, verificou que o respectivo S.K.G. apresentava um aumento
na frequência dos movimentos e uma alteração na direcção dos mesmos. Constatou,
também, que as variações na orientação dum estímulo luminoso induzem alterações de
ritmo; uma barra vertical aumenta a frequência dos movimentos antero-posteriores; uma
barra horizontal aumenta a frequência dos movimentos laterais.
Segundo Meyer e Baron (1982), os desportistas de alto nível apresentam os
estatoquinesigramas mais pequenos, uma vez que possuem uma actividade tónico-postural
beneficiada por uma educação exercida sobre o esquema corporal. No exemplo citado
refere que o S.K.G. dum membro da equipa francesa de tiro de carabina apresentava uma
superfície de 6 mm2, enquanto a média dos sujeitos utilizados nos seus trabalhos - estudantes
jovens e de boa saúde - era de 19,2 mm2.
Para os mesmos autores, fisiologicamente o estatoquinesigrama localiza-se,
geralmente, para trás e para a direita. Esta localização lateral está relacionada com o olho
director da verticalidade, integrando a vertical do lugar e que, em geral, é o olho esquerdo.
Este fenómeno difere do olho dominante e nada tem a ver com o fenómeno da lateralização.
Baron, em estudo conduzido em 1976, sujeitos “normais”, em posição ortostática e
repetindo três vezes o exame nas mesmas condições experimentais, apontava para resultados
idênticos. Efectivamente, 93% das mulheres e 64% dos homens estudados apresentam um
estatoquinesigrama localizado para trás e para direita (Baron et al 1976), citado por Ma-
deira (1986).
Fisiologicamente a frequência dos deslocamentos varia entre 0,3 e 1,00 Hz.
Acrescenta que em medicina desportiva é possível prever o funcionamento de certos
sistemas; labiríntico - 0,3 Hz e proprioceptivo - 1,00 Hz. Daí a importância de poder
encarar as diferentes actividades desportivas, as mais vulgarmente praticadas, sob a forma
de actividade de predominância estática, com aceleração angular ou linear, à velocidade
constante ou variável; a marcha dos dois sistemas interpenetram-se para as inibirem ou
facilitarem.
De forma caricatural, o sistema proprioceptivo, mais recente, na realização da
actividade tónico-postural, capaz de educação e de aquisição, afinaria o gesto e actuaria
sobre os músculos flexores - extensores; o sistema vestibular, arcaico, derradeiro sistema
de salvaguarda do equilíbrio, dependente de características inatas, cujo funcionamento
90
Dolores Monteiro
ressurge em casos de urgência, seria inibido em permanência pelo sistema proprioceptivo
e actuaria sobre os músculos abdutores-adutores.
Admite-se que o reforço da função inibidora do sistema recente sobre o arcaico,
seja obtido pelo treino das adaptações posturais (Baron et al, 1982).
– Outras incidências
Ao níve de interferência das aferências plantares, na regulação do equilíbrio, Okubo
et al (1980) realizou o seguinte estudo em indivíduos dp sexo masculino: colocou debaixo
dos pés dos indivíduos da experiência uma ou duas placas de espuma de borracha, e verificou
uma redução na eficácia do comportamento postural. Uma vez que este estudo apenas
considerou os movimentos no sentido lateral, verificaram que neste vector havia uma
tendência para o lado direito.
Para o mesmo autor, em investigação levada a efeito sobre a função dos receptores
plantares no controlo dos deslocamentos do centro de gravidade, estimulando os
mecanoreceptores plantares - berlindes em diferentes distâncias - em indivíduos de 16
anos de idade, saudáveis, do sexo masculino, conclui-se que a superfície, o comprimento
e a velocidade dos deslocamentos oscilavam em função do tipo de estimulação. Pensa-se
que as informações dos mecanoreceptores plantares se exprimem mais ao nível dos centros
superiores que ao nível medular Okubo et al (1980).
Poucos elementos científicos foram, até hoje produzidos que visam um aspecto
comportamental da postura. Todos os trabalhos produzidos são dedicados à abordagem
das variações da postura em função de vigilância.
Os efeitos exercidos pelos níveis de vigilância, na regulação da actividade postural,
têm sido objecto de várias investigações. Desta forma, investigadores demonstram uma
certa unanimidade, uma vez que consideram que os níveis de vigilância interferem com a
delicadeza dos finos ajustamentos posturais. Assim, Madeira (1986), citando Baron(1971),
verificou que pela aplicação de provas farmacológicas actuando sobre certas estruturas da
substância reticulada: aos casos de elevação do nível de vigilância corresponde uma
diminuição da amplitude dos movimentos laterais e antero-posteriores; aos casos de
abaixamento do nível de vigilância corresponde um aumento da amplitude dos movimentos
laterais e antero-posteriores.
Num estudo efectuado com a população infantil - criança do sexo feminino entre
os 5 e 11 anos, “normais” e amblíopes, Berthelot (1973) observou as repercussões da
alteração dos níveis de vigilância sobre a postura. As crianças foram submetidas a prova
de solicitação mental, e verificou que nas crianças “normais”, em todas as idades
consideradas, não se constata nenhuma diferença significativa nas superfícies, relativamente
à prova testemunho. Na frequência dos deslocamentos, verificou-se, em todas as idades,
91
Revisão da Literatura
um aumento significativo do número de movimentos finos de ajustamento, que se
orientavam no sentido antero-posterior quando da realização da prova, em comparação
com o teste testemunho.
Assim, a actividade tónico postural era mais intensa em comparação com o SKG
testemunho. Em estudo cronológico mostra-se uma diferença significativa dos
deslocamentos entre os 5 e os 7 anos, produzindo-se o aumento mais acentuado aos 7
anos, permanecendo em seguida inalterável.
Nas crianças amblíopes, a diferença verificada em termos de superfície produzia-
se aos 5 anos, e nos deslocamentos aos 5 e aos 11 anos. Relativamente aos deslocamentos,
o comportamento era significativamente diferente do das crianças “normais”. A partir dos
7 anos, os deslocamentos orientavam-se, em quase todos os elementos, para trás Berthelot
(1973).
Sugawara e Isik (1980) procederam a uma experiência com uma amostra de cinco
bombeiros de boa saúde, com uma média de idade de 20 anos. O estudo consistiu em
analisar o processo de restabelecimento da função de equilíbrio, imediatamente a seguir
ao acordar noas diferentes fases do sono. Os resultados foram recolhidos por inter-
médio de um estatoquinesímetro e por um tratado poligráfico compreendendo um
electroencefalograma. A análise dos resultados levam-nos a concluir o seguinte:
- As variações da projecção do centro de gravidade corporal são tanto maiores
quanto mais baixo for o nível de vigilância do indivíduo (o nível mais baixo
corresponde ao despertar do estado de sono). É necessário mais tempo nesta fase
para a estabilização do equilíbrio corporal;
- Durante esta fase, o electroencefalograma apresenta um traçado de vigília típico
observando-se, no entanto, alguns artefactos relacionados com os deslocamentos
do corpo durante a experiência;
- Não existe diferença entre a superfície estatoquinesimétrica encontrada quer no
despertar do estado I quer durante o estado de vigília;
- Também não se encontram diferenças quanto à superfície obtida, entre o estado
de vigília e o despertar do estado de sono paradoxal.
Destes resultados, o autor conclui que quanto mais profundo é o estado de sono de
um indivíduo mais retardado é o restabelecimento do equilíbrio corporal, devido ao facto
de, durante o despertar, o nível de vigilância ser ainda muito baixo e os mecanismos de
controlo do equilíbrio, relativos ao sistema vestibular necessitarem de mais tempo para
uma correcta coordenação com a formação reticular mesencefálica.
92
Dolores Monteiro
Okuma, (1966) citado por Sugawara e Isik (1980), mediu o tempo de reacção que
demorava um indivíduo a premir um botão situado ao seu lado, depois de despertar. Conclui
que quanto mais profundo era o estado de sono de um indivíduo maior era o tempo de
reacção observado, querendo isto significar que o equilíbrio varia em função dos níveis de
vigilância.
Sugawara e Isik (1980), citando outros trabalhos de Okuma (1966), concluíram
que a coordenação dos reflexos espinais, controlados pelo sistema nervoso central, necessita
de um tempo aproximado de 2 a 4 segundos, quando o nível de vigilância é baixo.
Meyer e Baron (1982) referem uma investigação relativa ao estudo da postura de
atiradores de alto nível de prestação após a ingestão de álcool. O álcool colocava fora do
circuito o controlo das grandes oscilações do corpo e a correcção espaço-temporal, no
momento do exercício de tiro, o que originava obviamente um abaixamento na precisão
performances. No mesmo trabalho, verificaram que os atiradores com carabina foram
mais afectados que os atiradores com pistola. A diferença verificada é atribuída, por um
lado, ao peso da arma - 5 a 8 kg para os carabineiros contra 1,5 kg para os pistoleiros - e
por outro, às diferenças morfológicas e psicológicas dos dois tipos de atiradores.
Em estudo realizado sobre a estabilização da postura vertical, durante o stress
emocional, numa amostragem heterogénea - 153 atletas de alto nível, testados antes e
depois da prestação em competição e em treino; 200 estudantes, testados antes e depois
dos exames e das aulas; e um grupo de controlo, testado em situações comuns e isentos de
emocionalidade - concluíram:
- A avaliação quantitativa das oscilações do corpo, durante a estabilização da postura
vertical ,permitiu revelar a dependência deste parâmetro em relação com certos
estados emocionais.
- A não homogeneidade na estabilização da postura vertical no aparecimento em
situações de stress sob a influência de estados emocionais.
- Alguns dos testados demonstravam uma deterioração da actividade posturo-
motora, enquanto outros revelaram uma melhoria em comparação com os índices
do grupo de controlo.
- As particularidades da profissão, a tipologia e outras actividades são de grande
importância para a determinação da influência do stress emocional, na
estabilização da postura vertical (Strelets et al, 1979).
Os autores reconhecem que para uma conclusão mais definitiva sobre estes trabalhos,
são necessárias investigações adicionais.
Berthelot. (1973) afirmou que a elevação do nível de vigilância, por uma participação
93
Revisão da Literatura
mais ou menos activa do córtex, parece aumentar a subtileza dos ajustamentos posturais, a
emotividade, por seu lado, tende a perturbá-la .
Resumindo:
O estudo agora apresentado, sobre as aferências sensoriais, permite-nos
expressar que apesar do estreito relacionamento entre o sistema sensorial e o sistema
motor, é possível a execução de movimentos sem as aferências e as retroalimentações
sensitivas, o que significa a existência de programas motores no Sistema Nervoso
Central que operam sem este tipo de informações, tal como foi demonstrado em
experiências conduzidas, em macacos, por Rothwell, J.& col. (1982), embora esses
movimentos não sejam completamente normais.
De qualquer modo, a importância das aferências sensoriais encontra-se bem
demonstrada, nos casos de ataxia de Friedreich, em que existe uma degenerescência dos
cordões posteriores condutores da sensibilidade táctil discriminativa. Nestes doentes não
existe a sensação de posicionamento, a de movimentos vibratórios, nem a de movimentos
passivos, encontrando-se a marcha bastante mais afectada no Homem, em comparação
com outros animais em idêntica situação, dada a sua complexidade no primeiro.
De acordo com Sérgio, (1985), ”não são necessárias sensações para gerar o
movimento, contudo, quanto mais complexo for o comportamento motor e
consequentemente a actividade postural infrajacente, tanto mais imprescindível se torna o
feedback sensitivo para a manutenção e para o conhecimento da localização de cada uma
das partes do corpo no mesmo decurso”.
2.2.3 – Mecanismos Neurobiológicos (Estruturas)
O controlo da postura e do movimento é efectuado, segundo Ghez, C. (1985),
através de ajustamento da contracção dos músculos esqueléticos, o que, por sua vez, requer
que o sistema motor tenha uma informação contínua do que acontece na periferia.
A integração desta informação, proveniente dos distintos receptores sensitivos, é
colocada a diferentes níveis do Sistema Nervoso Central, consoante a sua crescente
complexidade, de maneira a dar a resposta mais apropriada a cada tipo de estímulo.
Segundo Bizzi e col. (1985), os músculos, os orgãos responsáveis pela resposta
motora, actuam como se fossem “molas elásticas” reguláveis, em que a potência do trabalho
efectuado está directamente relacionado com o seu grau de estiramento e com a intensidade
da estimulação neural.
Deste modo, e tendo em conta que os músculos se encontram divididos, sob o
94
Dolores Monteiro
ponto de vista funcional e em relação às articulações, em agonistas e antagonistas, Bizzi e
col. (1985) consideram que o equilíbrio, entre estes dois grupos musculares, está dependente
de factores como:
- a estimulação efectuada pelos motoneurónios (alfa) que inervam ambos os grupos
musculares (agonistas e antagonistas);
- a tensão-estiramento e as propriedades elásticas das fibras musculares que
compõem estes músculos;
- as forças extrínsecas que sobre elas exercem.
Segundo Ghez (1985), quando se procura posicionar um membro numa dada
posição, não basta a contracção do grupo de músculos agonistas. Os músculos antagonistas,
que se opõem às acções dos primeiros, também se contraem. Além destes, os músculos
posturais também se contraem, não só procurando fixar a angulação das articulações
proximais, como igualmente ajustar o equilíbrio - de todo o organismo.
No que respeita aos níveis de integração, temos que:
- O 1º nível de integração Sensório-Motora corresponde à Espinal Medula,
responsável pela resposta mais automática e estereotipada a um dado estímulo -
o reflexo.
John Hughling Jackson, neurologista britânico do sec. XIX, considerou que quanto
mais automática fosse a resposta, “mais baixo” seria o seu nível de organização ou, quanto
mais elaborado fosse o comportamento motor, “mais alto” seria o seu nível de integração.
Neste tipo de resposta motora, os potenciais de acção são originados nos receptores
sensitivos, por acção dum determinado estímulo e conduzidos, através das vias sensitivas,
às células nervosas motoras que se encontram nos cornos anteriores da medula. Os neurónios
motores, aos serem activados, produzem novos potenciais de acção, susceptíveis de
estimular as células musculares, ocasionando, por seu turno, a respectiva resposta.
Estes neurónios motores, que antecedem o orgão efector, constituem a via final
comum. O conjunto formado pelo neurónio motor e pelas fibras por ele inervado é designado
por unidade motora.
Muito embora os neurónios motores medulares constituam a Via Final Comum,
muitas destas acções são coordenadas a nível dos interneurónios.
- O 2º nível de integração da actividade Sensória-Motora encontra-se no Tronco
Cerebral, cujos neurónios processam as informações ascendentes provenientes
95
Revisão da Literatura
da medula e as veiculadas por determinadas estruturas sensitivas, tendo especial
relevo, o processamento de aferências relativas a ajustamentos posturais.
O tronco cerebral, para além de efectuar a integração das ordens vindas dos centros
nervosos superiores, é o local onde se iniciam as vias motoras descendentes, à excepção
da córtico-espinal. Embora apresentando uma arquitectura mais complexa que a espinal-
medula, reconhece-se nele a correspondência funcional das fibras sensoriais e motoras da
medula nas formações sensoriais e motoras dos 12 pares cranianos.
Os pares cranianos são os responsáveis pela inervação sensitiva e motora da cabeça
e de grande parte do pescoço, inervação dos orgãos dos sentidos, inervação parasimpática
e do sistema autónomo do controlo visceral.
A importância do tronco cerebral deve-se ao facto de possuir a substância reticular,
como igualmente, pelo facto de que, à excepção do feixe córtico-espinal, todos os feixes
motores descendentes têm nele a sua origem.
A substância reticular apresenta um arranjo difuso dos seus neurónios multipolares
que estabelecem um grande número de interconexões com múltiplas fibras aferentes.
Funcionalmente, pode ser considerado dividido em duas porções - lateral ou de recepção
- por via da qual recebe ramificações colaterais das vias sensoriais ascendentes, do cortex
cerebral, do cerebelo, dos gânglios da base, do hipotálamo, dos núcleos nervosos cranianos,
de ambos os colículos, e informações dos sistemas motor e visceral; e a interna ou de
projecção, donde saem as fibras eferentes ascendentes, que se projectam difusamente no
hipotálamo e nos núcleos não específicos do tálamo, e descendentes em direcção às lâminas
VII e VIII medulares e aos interneurónios (via de activação indirecta).
- O 3º nível de integração situa-se no Cortex Cerebral, correspondente à área 4 de
Brodmann. Nesta porção cortical é efectuado o processamento das “ordens”
motoras que, necessitando deste nível de organização, são canalizadas,
posteriormente, para o tronco cerebral e outras estruturas sub-talâmicas, assim
como para a medula.
O córtex possui dois tipos de células facilmente distintas - as células piramidais,
que constituem a origem das primeiras eferências, distribuídas pelas camadas II, III e V e
as células estreladas, mais pequenas e de diversas formas, que são interneurónios,
concentrando-se em maior número na camada IV do córtex sensorial.
A área cortical 4 de Brodmann recebe aferências vindas de outros níveis corticais,
como é o caso da região cortical pré-motora e de centros nervosos inferiores. Para além
destas informações, de âmbito central, os centros de integração, qualquer que seja o seu
96
Dolores Monteiro
nível de situação hierárquica, recebem igualmente informações sensoriais periféricas,
interferindo estas no estímulo enviado.
- A integração Sensório-Motora de nível mais elevado - 4º nível de integração - é
efectuada na área Cortical Pré-Motora ou área 6 de Brodmann. A designação
pré-motora deve-se ao facto de ser nesta zona que se programa o movimento,
sendo o cortex motor, por este motivo, o centro onde a sua acção se vai
particularmente sentir.
Sendo o nível de integração “mais elevado”, a informação que lhe é veiculada é
também mais seleccionada, podendo, inclusivamente, ser suprimida a nível dos
retransmissores sensoriais, por “ordens” vindas das áreas superiores.
O córtex pré-motor encontra-se situado numa posição anterior, em relação à área
motora primária ou área 4 de Brodmann, no lobo frontal, recebendo informações do córtex
parietal posterior (área 7) e do cerebelo. É responsável pela preparação de qualquer acção
motora voluntária (encontrando-se ligado à actividade postural) e pelo controlo dos
músculos axiais proximais e das cinturas escapulares e pélvicas.
No referente ainda a aspectos da selecção de informação, e directamente relacionado
com a actividade dos mecanismos motores, encontra-se o Cerebelo. Este orgão controla a
transmissão de sinais dos centros motores do tronco cerebral e da área motora cortical, em
direcção à medula vertebral.
O cerebelo recebe informações da periferia, do tronco cerebral e do córtex cer-
ebral. É de grande importância no SNC devido ao facto de ser a central telefónica do
sistema motor. Recebe chamadas de todos os centros motores e até de vários receptores
sensoriais, já atrás mencionados, enviando, por sua vez, as respectivas ordens a esses
centros motores, cabendo-lhe igualmente o papel de coordenar vários movimentos
simultâneos.
2.2.4 –Métodos de Estudo e Registo da Actividade Tónico-Postural
A porturologia é uma ciência recente cujo âmbito de estudo é o “registo da actividade
tónico-postural ortoestática” (Baron, 1980 - citado por Madeira, 1986).
O estudo da actividade tónico-postural ortoestática pode ser feito através dum exame
global das perfomances posturais a aparelhagem específica ou por um exame analítico
(exame clinico postural) baseado nas “respostas posturais” a um conjunto de testes.
97
Revisão da Literatura
Os estudos posturográficos utilizam, actualmente, os seguintes aparelhos:
1 - O ESTABILÓGRAFICO que dissocia os movimentos antero-posteriores dos
movimentos laterais.
2 - O ESTATOQUINESÍMETRO que, durante um determinado tempo, fornece
informação sobre: a localização da projecção do centro de gravidade do corpo em relação
ao centro do polígono de sustentação; a evolução da frequência e amplitude dos
deslocamentos do centro de gravidade; a evolução deste fenómeno no tempo e no espaço
Figura 2.3.
Figura 2.3. Registo de indivíduo que mantém a verticalidade no interior do polígono de sustentação. Superfície
do estatoquinesigrama (in Gagey et al., 1999).
3 - ESTABILÓMETRO ou PLATAFORMA de ESTABILIDADE que regista o
número e os tempos de equlíbrio/desiquibrio (à direita, ao centro e à esquerda). Este aparelho
tem sido utilizado em situações dinâmica
O objectivo do exame clinico-postural é evidenciar um desiquilíbrio tónico, uma
modificação dos reflexos de postura ou uma perturbação das reacções de equilíbrio,
permitindo detectar um “Sindroma Postural”.
Este poderá ser, segundo Gagey (1999), harmónico, quando as hipertónicas axial e
distal são contralaterais, ou disarmónico, quando as hipertonias axial e distal são
homolaterais.
Para conseguir estes objectivos usam-se testes específicos:
I - Para detectar o DESIQUILIBRIO TÓNICO:
a) - TESTE DA VERTICALIDADE DE BARRÉ: indivíduo na posição de pé, imóvel,
sobre uma plataforma horizontal onde está desenhada a linha média intermaleolar.
Os pés são bloqueados atrás, por uma calha tangente aos calcanhares e,
lateralmente, por uma calha formando um ângulo de 450 de abertura anterior,
Figura 2.4.
98
Dolores Monteiro
São colocados dois fios de prumo à frente e atrás do indivíduo (de modo que caiam
nas extremidades da linha média sagital) permitindo avaliar a posição da prega nadegueira,
da apófise espinhosa da sétima vértebra cervical e do vértex em relação à vertical
intermaleolar.
Figura 2.4. Plataforma utilizada no teste de Verticalidade de Barre
b) - TESTE DE FUKUDA : o indivíduo na posição de pé, com os olhos vendados,
braços paralelos na horizontal e em extensão frontal, executam, o mesmo lugar,
50 “pietinements” seguidos com elevação das coxas à horizontal e flexão do
joelho a 900. Figura 2.5
Figura 2.5. A pista de Fukuda
99
Revisão da Literatura
No início do teste, o indivíduo coloca-se no centro de um alvo desenhado no chão e
formando círculos concêntricos equidistantes 50 cm e divididos em 12 sectores de 300.
O teste é executado com a cabeça direita e virando-a para a direita ou para a esquersa.
Figura 2.6.
Figura 2.6. Teste Fukuda sobre a influência do Reflexo Nucal.
No final do teste determina-se a posição dos pés, em relação ao alvo considerando:
a distância percorrida em relação ao centro do alvo; o ângulo de afastamento em relação à
trajectória ideal em linha recta; o ângulo de rotação axial do corpo sobre si mesmo em
relação à posição de partida. Figuras 2.7 e 2.8.
O resultado do teste é considerado normal quando:
- a distância percorrida fôr, aproximadamentoe de 1 metro
- o ângulo de desvio máximo fôr de 300
- o ângulo de rotação máximo fôr de 300
c) - TESTE DE CYON-PAILLARD ou manobra do posicionamento dos indicadores:
o indivíduo na posição de sentado, olhos fechados, braços na horizontal e em
extensão frontal, punhos fechados (com excepção dos indicadores em extensão,
face a face, sem se tocarem).
Figura 2..7 Teste de Fukuda em posiçãode cabeça. neutra.
Figura.2.8 Teste de Fukuda após rotação de cadeiragiratória
100
Dolores Monteiro
O teste consiste em agitar os braços no plano sagital, 10 vezes seguidas, e ulterior
imobilização ao mesmo nível.
Se, no final do teste, os indicadores não estiverem nivelados, fala-se em hipertonia
do lado do indicador que se encontra mais elevado.
d) - MANOBRA DE CONVERGÊNCIA: indivíduo na posição de pé, cabeça primeiro
em posição espontânea fixando a ponta iluminada dum lápis em movimento de
aproximação da face segundo um plano sagital à altura das pupilas. Em seguida,
colocada a cabeça na vertical (de tal forma que a linha que liga as pupilas esteja
na horizontal) e repete o procedimento.
Se o resultado do teste fôr a limitação do movimento dos olhos para lados opostos,
nas duas posições da cabeça fala-se em desiquilíbrio tónico postural.
e) - NISTAGMOS OPTICOCINÉTICO: pode obter-se este nistagmos deslocando
uma banda da estimulação opticocinética (com 70 x20 cm e faixas pretas e brancas
alternadas de 4 cm) no plano frontal à altura dos olhos e a uma distância de 40
cm.
Se o resultado mostrar que as sacadas rápidas são mais demoradas dum lado que o
outro fala-se em assimetria direccional nistagmática.
II - Para detectar os REFLEXOS POSTURAIS:
a) - DE ORIGEM NUCAL: usando os testes de Fukuda e de Cyon descritos
anteriormente verificar se, com o movimento de rotação da cabeça, o tónus
muscular dos extensores e abdutores dos membros (superior-Cyon e inferior-
Fukuda) aumenta do mesmo lado, para onde foi o movimento da cabeça.
b) - DA ORIGEM OCULOMOTOR: indivíduo na posição de pé, pés juntos, é
observado em três situações: a olhar em frente, para a direira e para a esquerda.
Verificam-se as oscilações extremas da base do pescoço em relação a referências
fixas (fio de prumo e quadriculado mural).
Num indiviuo normal verifica-se um desvio contralateral do eixo corporal.
III - Para detectar as REACÇÕES DE EQUILIBRAÇÃO:
Actualmente é conhecida a impossibilidade dos dois aparelhos vestibulares assumirem
simultaneamente a posição vertical, uma vez que os seus eixos verticais estão ligeiramente
inclinados para dentro e para baixo.
101
Revisão da Literatura
Nesta perspectiva e, no sentido de ultrapassar este problema, distinguem-se
ortoestatismo, um labirinto dominante e um olho de verticalidade ou olho postural
determinados pelos seguintes testes:
a) Teste “Romberg postural”: indivíduo permanecendo durante 15 segundos na
posição de pé, olhos fechados, pontas dos pés afastadas num ângulo de 450,
calcanhares unidos, braços em extensão frontal na horizontal e mãos unidas
pelo bordo radial. Figura 2.9.
Quando o eixo pupilar está inclinado, para a direita, aparece um desvio do eixo
corporal, para a esquerda e/ou uma rotação do corpo em torno do seu eixo vertical, fala-se
em labirinto esquerdo dominante.
Figura 2.9. Teste Romberg postural
b) - Olho “postural”: com base na posição anterior, verificam-se os desvios do eixo
corporal em quatro situações: ambos os olhos abertos; ambos os olhos fechados;
olho esquerdo fechado e olho direito aberto e vice-versa.
O olho de verticalidade ou “postural” é aquele cuja oclusão isolada provoca
o aparecimento da resposta postural de Romberg.
103
Procedimentos Metodológicos
PARTE II
104
Dolores Monteiro
105
Procedimentos Metodológicos
3
Procedimentos metodológicos
106
Dolores Monteiro
107
Procedimentos Metodológicos
3.1. Caracterização da amostra
3.1.1 Processo amostral
A amostra considerada, nesta pesquisa, foi construída a partir de um Universo de
3.600 indivíduos pertencentes às Escolas Preparatórias e Secundárias do concelho de Vila
Real. Em conformidade, os indivíduos foram seleccionados, através de um processo de
amostragem aleatória estratificada, não proporcional, de acordo com os seguintes critérios:
• Serem ou não praticantes de uma só modalidade desportiva, federada numa
instituição de acolhimento (Clube).
• Terem idades compreendidas nos diferentes escalões etários de 11, 12, 13 e 14
anos, até ao limite de ± 6 meses.
• Número de anos de prática da modalidade. A fim de prevenir eventuais conclusões
equívocas, relativamente ao estabelecimento de vínculos de causalidade entre
características comportamentais e a carga de trabalho realizado, instituiu-se, no
presente estudo, que os indivíduos a analisar tivessem, pelo menos, um ou mais
anos de realização contínua e exclusiva dessa prática. O critério de “prática
desportiva” foi estabelecido de modo a asseverar, entre os elementos analisados, o
máximo nível de prestação, de intensidade e regularidade do treino (Madeira, 1986).
• Número de horas de treino semanal. Estabeleceu-se que todos os indivíduos a
analisar tivessem, no mínimo, 2 horas de treino organizado por semana. Definimos
“treino organizado” como sendo a prática regular, intensiva e controlada, de uma
modalidade desportiva, numa estrutura de acolhimento (Clube), sob a orientação
de uma equipa técnica e orientada para o aperfeiçoamento do praticante, com vista
à participação em competições oficiais (Sobral, 1981).
3.1.2. Constituição da amostra
Tendo em vista os objectivos do presente estudo, e os critérios atrás referidos, a
amostra foi constituída por 120 indivíduos que foram agrupados segundo os escalões etários,
o sexo e o nível da prática desportiva (Quadro 3.1).
108
Dolores Monteiro
Quadro 3.1
Composição da amostra total (N=120)
Idade Indivíduos com prática desportiva do sexo
masculino
Indivíduos sem prática
desportiva
Andebol Natação Futebol Masculino Feminino
11 anos 6 6 6 6 6
12 anos 6 6 6 6 6
13 anos 6 6 6 6 6
14 anos 6 6 6 6 6
As modalidades desportivas escolhidas, para a constituição da amostra, foram
seleccionadas tendo por referência a classificação taxonómica de Baron et al. (1982),
formulada a partir dos conhecimentos obtidos em estudos posturográficos.
Assim, os autores referidos concluíram da possibilidade de classificar as diferentes
actividades desportivas, as mais comummente praticadas, sob a forma de actividades de
predominância estática ou dinâmica. As primeiras, dependendo das propriedades reaccionais
do sistema proprioceptivo; e as segundas subordinadas às propriedades reaccionais do
sistema labiríntico (Madeira, 1986).
Os dois critérios atrás explicitados – requisitos da amostra e opção das modalidades
desportivas escalonadas na taxonomia referida – permitiram constituir a amostra experi-
mental, considerando 3 modalidades desportivas: Andebol, Natação, Futebol, todas elas
subordinadas às propriedades reaccionais do sistema labiríntico.
Para efeitos de análise, esta amostra foi posteriormente subdividida em duas
subamostras, assim constituídas: a primeira – designada amostra principal – apenas com
indivíduos do sexo masculino, com ou sem prática de pelo menos uma modalidade
desportiva federada em clube, e a segunda, constituída pelos indivíduos dos dois sexos
sem prática desportiva e apenas com vivência curricular da disciplina de Educação Física
nos respectivos estabelecimentos de ensino (Quadro 3.2).
109
Procedimentos Metodológicos
Quadro 3.2
Composição da amostra principal (N=96)
IDADE MODALIDADE
AND
MODALIDADE
NAT
MODALIDADE
FUT
Não Praticante
masculino (NPRM)
TOTAL
11 6 6 6 6 24
12 6 6 6 6 24
13 6 6 6 6 24
14 6 6 6 6 24
Total 24 24 24 24 96
A amostra principal apresenta um design factorial de 4X4. Usaram-se assim 16
grupos de 6 sujeitos cada, num total de 96 sujeitos. Os dois factores classificatórios foram
a MODALIDADE, doravante designada por MODAL, e a IDADE. A modalidade tem 4
níveis: Andebol (AND), Natação (NAT), Futebol (FUT) e não - praticantes masculinos
(NPRM). A idade, por seu lado, tem quatro níveis: Onze, Doze, Treze e Catorze.
Para testar a influência do factor SEXO, usámos um grupo adicional de 24 sujeitos
do sexo feminino, não - praticantes, e com as idades igualmente compreendidas entre os
onze e os catorze anos. Este grupo, nas análises a realizar, será contrastado com o grupo
de não - praticantes masculinos.
3.2. Formulação das hipóteses
De acordo com o conhecimento fornecido pela análise da literatura especializada,
na síntese teórica referida, formulamos um conjunto de hipóteses, que se pretendem
confirmar (ou infirmar) no decorrer da pesquisa. Essas hipóteses são as seguintes:
Hipótese 1 – A expressividade do comportamento postural – variáveis estabilográficas
– inerente a cada indução sensorial específica manifesta características diferenciadas,
segundo diferentes variáveis antropométricas (sexo, idade, peso e altura).
Hipótese 2 – A expressividade do comportamento postural, expressa em variáveis
estabilográficas (de critério), reflecte características diferenciadas, consoante o tipo
específico de indução sensorial (prova)
Hipótese 3 – A expressividade do comportamento postural – variáveis estabilográficas
– manifesta características diferenciadas, quando se comparam indivíduos de várias
modalidades.
110
Dolores Monteiro
3.3. Protocolo exprimental
De acordo com as questões fundamentais que originaram o presente estudo, a
metodologia experimental foi desenvolvida em cumprimento de rigorosas exigências de
sistematização, objectividade e precisão, fora das quais os resultados careceriam de
significação precisa.
Neste sentido e a fim de prevenir eventuais distorções, foram estabelecidos, na
planificação da experiência, vários requisitos essenciais.
3. 3.1. Normalização Ecológica
Os estímulos provocados pelo ambiente sobre o indivíduo dão origem a reacções
externas e internas que podem provocar distorções susceptíveis de influenciar os resultados.
Assim, procurámos dotar o laboratório onde se realizaram as provas com as seguintes
condições de experimentação:
• Luminosidade
A luminosidade estava de acordo com o parecer técnico. Tendo em conta a
proporcionalidade estabelecida entre a superfície do laboratório (113.4 m2) e a
quantidade de luxes debitados (350), a luminosidade respeitava os padrões normais
para os espaços com tais funções.
• Obscuridade
A obscuridade foi completamente conseguida com o recurso a materiais sintéticos
opacos, uma vez que o protocolo experimental previra a realização de provas na
ausência total de luz.
• Temperatura
A zona de temperatura indiferente (zona térmica indiferente) foi definida por Schmidt
como sendo a temperatura suficiente para assegurar o estado de naturalidade térmica
ou de conforto térmico. Tanto acima como abaixo desta zona indiferente, instalam-
se sensações permanentes de calor ou de frio, respectivamente, ainda que o organismo
seja mantido em temperatura constante durante um período prolongado. A zona
indiferente permanece entre os 28 e os 36°C (Schmidt, 1980).
Na verdade, as alterações na temperatura corporal afectam as estruturas celulares,
os sistemas enzimáticos e numerosas reacções químicas e processos físicos. Neste
sentido, e a fim de evitar quaisquer alterações nos resultados, procurámos manter a
temperatura ambiente nos 28°C aproximadamente. O gradiente de temperatura, do
centro (37ºC) para a pele (33°C) aproximadamente, é suficiente para assegurar o
estado de neutralidade térmica (Madeira, 1986).
111
Procedimentos Metodológicos
• Som
As preocupações com eventuais estimulações sonoras foram, igualmente, previstas.
O desenvolvimento do protocolo processou-se na ausência de ruídos ou de outros
tipos de vibrações susceptíveis de afectar a concentração do sujeito.
3.3.2. - Normalização das Condições de Experiência
Este estudo implicou a sistematização de um conjunto de princípios, no sentido de
uniformizar convenientemente os indivíduos, as situações, as condições da sua efectivação
e, por conseguinte, a recolha dos dados. Estudos realizados em seres humanos, sobre uma
série de funções psicológicas, Ayensu e Whitfield (1981) verificaram que níveis de
vigilância, temperatura, frequência cardíaca, níveis de captação de oxigénio, motivação,
deep- post-lunch e excreção urinária de potássio experimentam nítidas alterações rítmicas
no decurso de um período de 24 horas. “Este fenómeno foi designado de ritmo circadiano
e está, segundo estudos efectuados, associado com mudanças de performance. Em geral, a
pior performance é observada na parte inicial da manhã” (Madeira, 1986).
Em consonância com estes factores, na normalização das condições de experiência:
- Foi respeitado um período de recuperação de aproximadamente 24 horas, entre o
momento de recolha de dados e o último esforço dispendido pelos indivíduos em
situação de treino, competição ou outras situações;
- Foram rejeitados os indivíduos que estavam inactivos há mais de dez dias;
- Foram excluídos os indivíduos que, no momento, se encontravam sobre a acção
de fármacos, tabaco, ou perturbação emocional significativa;
- Foi usado um equipamento simples e uniformizado, constando unicamente de
calção, camisola, de modo a obedecer a critérios uniformes de execução e registo;
- Todas as provas foram realizadas com os indivíduos descalços;
- As provas tiveram lugar no Laboratório de Psicofisiologia da Faculdade de
Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, uma hora após a primeira
refeição ligeira, correspondente à ementa do pequeno almoço servido no Centro
de Estágio de Desportistas da Cruz Quebrada - Lisboa;
- A execução das provas processou-se a partir de uma posição base, invulgar,
concebida, de modo a não privilegiar qualquer das modalidades em estudo;
- Adoptou-se a posição ortostática definida no ponto 3.4.2. do presente estudo.
112
Dolores Monteiro
3.3.3. Normalização dos Equipamentos
Com objectivo de manter uma calibração estabilizada dos equipamentos abaixo
referidos, estes foram verificados previamente, antes de cada sessão, por técnicos
especializados, de acordo com normas industriais estabelecidas para o seu funcionamento.
Os equipamentos utilizados foram: a Plataforma de Estabilidade modelo 16020, três relógios
“58007 stop clock”, um contador “58004 counter data recorder”, uma unidade marcadora
de tempos “51012 interval end repeat timer” que constituem a plataforma de estabilidade
modelo 16125 da Lafayette Instrument Company.
3.4. Provas
Partindo de algumas experiências conduzidas no âmbito da posturografia, uma
diversidade de provas foram executadas com o objectivo de fazer a exploração funcional
e concretizar o acesso às qualidades temporo-espaciais dos diferentes sistemas implicados
na regulação do equilíbrio ortostático.
O estudo da função dos diversos sistemas que participam na manutenção e regulação
do comportamento postural efectua-se, geralmente, fazendo incidir sobre esses sistemas
diferentes factores, ou ainda a partir da eliminação da respectiva actividade (Madeira,
1986).
De facto, da harmoniosa e coerente diligência desses sistemas depende o adequado
funcionamento dos reflexos da adaptação corporal. Pelo contrário, se uma qualquer
desarmonia se instala, daí resultam alterações na dinâmica dos reflexos implicados na
actividade tónico-postural e, como consequência, na própria capacidade adaptativa.
A título de exemplo, citaremos a exploração funcional do sistema postural, isto é,
o levantamento das suas condições operativas e a clivagem dos seus défices - objectivo
nuclear da posturografia - que é uma prática ainda recente, sem equivalência noutros espaços
de estudo e investigação. Não são raros os casos, referidos na literatura, da ocorrência de
fenómenos posturais patológicos, não obstante, previamente, terem percorrido uma
diversificada coorte de especialidades médicas, tais como, neurologia, otoneurologia,
cardiologia, imagiologia, reumatologia, apresentando invariavelmente, exames
complementares negativos.
Em posturologia, no cumprimento destes propósitos, aplica-se um método de análise
designado por Método das Variações Concomitantes cujo princípio reside na indução -
“manipulação” - fragmentada ou interactiva das entradas - inputs - do sistema postural.
Isto é, induzem-se variações de estimulação específica numa dada entrada e,
concomitantemente, vão-se analisar os efeitos ao nível da saída – out put- utilizando, para
esse efeito, as variáveis Posturográficas.
113
Procedimentos Metodológicos
Retomando o método das variações concomitantes, e igualmente a título de exemplo,
apresentamos uma listagem não exaustiva das manobras tendencialmente mais utilizadas
na indução das entradas do sistema postural:
ENTRADA VISUAL
Olhos abertos / olhos fechados; Iluminação / obscuridade; Visão foveal
(estabilização do campo visual) visão periférica; Mobilização do campo visual
(variações de distância do alvo); Visão monocular/ binocular; (efeitos
cineprismáticos; efeitos de anamorfose; efeitos de anisoforia espacial), etc.
ENTRADA VESTIBULAR
Estimulação galvânico-labiríntica; Estimulação calórica; Estimulação mecânica
(aceleração angular e linear).
ENTRADA PODAL
Apoio unipodal; Estimulação plantar diferenciada; Ângulos de abertura tíbio-
társica; Esquémia / anestesia.
ENTRADA AUDITIVA
Gradientes de estimulação sonora.
ENTRADA OCULOMOTORA
Movimentos de perseguição ocular; Movimentos de versão sustentados; Induções
prismáticas; Vibrações músculo-tendinosas.
ENTRADA RAQUIDIANA
Posicionamentos cefálicos e dorso-lombares mantidos; Vibrações músculo-
tendinosas nucais e dorso-lombares; Vibrações sinusoidais articulares; Estimulação
trigeminal.
ENTRADA INESPECÍFICA
Variações dos níveis de vigilidade; Induções farmacológicas; Teste de Raven;
Álcool / Abstinência; Fases de sono.
A experiência mostra que a utilização do método das variações concomitantes é
extremamente útil, não obstante o seu aperfeiçoamento continuar a processar-se. Um
primeiro passo já foi dado, graças à elaboração das tabelas de normalização respeitantes à
definição dos limites das variações aleatórias entre dois registos sucessivos, que, no fundo,
é a base essencial para a interpretação do posturograma.
3.4.1 - Critérios de Elaboração
O primeiro critério diz respeito à possibilidade de interferir, objectivamente, com o
funcionamento específico dos sistemas visual e oculomotor.
114
Dolores Monteiro
O segundo critério impõe a necessidade de utilizar tarefas consideradas como
habilidades fechadas, isto é, sujeitas a reduzida variação do envolvimento e marcadas por
uma qualidade relativamente insignificante de incerteza.
O terceiro critério considera a conveniência de gerar situações invulgares,
susceptíveis de criar condições de execução inabituais.
O quarto critério baseia-se na indispensabilidade de elaborar provas agradáveis,
sem necessitarem de treino anterior, isentas de risco e/ou custos fisiológicos, e de fácil
compreensão pelo indivíduo da amostra.
O quinto e último critério diz respeito à necessidade de harmonizar os objectivos
do estudo com as disponibilidades humanas, económicas e institucionais ao nosso dispor.
3.4.2 - Definição das Provas
Explicitamos, seguidamente, a natureza das provas estabilográficas que integraram
o protocolo experimental.
O conteúdo e a sequência, porque se encontram expostos, correspondem,
rigorosamente, à forma como foram apresentados aos indivíduos da amostra.
Decorrentes dos critérios de elaboração referidos, todas as provas do protocolo
foram efectuadas a partir duma Posição Base (posição ortostática): braços em extensão
com apoio palmar numa trave colocada à altura do peito, pés afastados simetricamente e
nivelados de modo a estabilizarem a plataforma numa posição de equilíbrio horizontal,
olhando em frente um ponto luminoso fixo ou intermitente à altura dos olhos a uma distância
de 0,75m (lâmpada de cor vermelha, 12 watts), (Madeira, F. 1986).
Prova 1 - Equilíbrio com movimento sustentado dos olhos para o centro .
Descrição: A partir da posição base, o indivíduo conserva normalmente o corpo
imóvel, mantendo a plataforma em equilíbrio horizontal, durante 20 segundos. Nestas
condições o indivíduo deverá olhar permanentemente um ponto luminoso, situado no plano
frontal, à altura dos olhos e distando destes 0,75m.
Prova 2 - Equilíbrio com movimento sustentado dos olhos para a direita.
Descrição: Partindo da posição base, o indivíduo deverá olhar, permanentemente
durante 20 segundos, um ponto luminoso, colocado à direita no plano frontal, a uma distância
de 1,00m. O corpo estará normalmente imóvel mantendo a plataforma em equilíbrio hori-
zontal.
Prova 3 - Equilíbrio com movimento sustentado dos olhos para a esquerda.
Descrição: A partir da posição base, o indivíduo deverá olhar permanentemente um
115
Procedimentos Metodológicos
ponto luminoso colocado à esquerda no plano frontal a uma distância de 100 cm, durante
20 segundos. O corpo estará normalmente imóvel mantendo a plataforma em equilíbrio
horizontal.
Prova 4 - Equilíbrio com estimulação opticocinética.
Descrição: A partir da posição base e durante 20 segundos, o indivíduo terá que
acompanhar, só com o movimento dos olhos, a lâmpada que se encontra acesa; o resto do
corpo estará normalmente imóvel mantendo a plataforma em equilíbrio horizontal.
Obs. Para a concretização desta prova, foi concebido um sistema electrónico (repetidor de
ciclos temporizados) - ligado a um aparelho com as seguintes características: três
lâmpadas de cor vermelha e com intensidade de 12 Watts cada, a acender e a apagar
a uma cadência de 2 segundos, e na sequência direita, centro, e esquerda.
Prova 5 - Equilíbrio com os olhos vendados.
Descrição - Partindo da posição base, o indivíduo com os olhos fechados (vendados)
e durante 20 segundos, deverá manter o corpo normalmente imóvel conservando a
plataforma em equilíbrio horizontal.
Obs: Para a concretização das provas, I, II, III, IV, e para prevenir eventuais desvios foveais,
foi usado um Nac Eye Recorder - Nac System(Figura 3.1), ligado a uma câmara de
vídeo Philips VK 4030 e a um gravador Philips VR 2000. Este equipamento utiliza a
técnica de reflexão corneal, gravando, simultaneamente, a cena tal como é vista pelo
indivíduo, em “V” luminoso, cuja localização corresponde à região fixada pelo mesmo.
Figura 3.1 Conjunto Nac Eye Recorder - Nac System
116
Dolores Monteiro
3.5. Procedimentos
Foi referido pessoalmente a toda a equipa técnica e aos alunos o objectivo do
trabalho. Esta fase da pesquisa implicou a participação duma equipa constituída por quatro
elementos (A, B, C, D) previamente formados e treinados no desenho experimental. A
cada um foi cometida uma função específica, de acordo com o protocolo.
O elemento A operava no preenchimento da ficha individual de identificação,
fazendo, simultaneamente, a primeira introdução à prova a realizar. Para o efeito,
escolhemos um tipo de leitura clara e pausada, susceptível de proporcionar a integral
compreensão da mensagem apresentada. Esta fase processava-se com o sujeito na posição
de sentado. O elemento B apresentava as instruções correspondentes às características das
várias provas, ajustava o sistema óptico-cinético à estatura do indivíduo e colocava o Nac
Eye Recorder. O elemento C funcionava como orientador na sincronização das operações
exigidas pela metodologia experimental, operando simultaneamente com o Nac Eye
Recorder - Nac System e Plataforma de estabilidade.
O elemento D operava com os equipamentos de registo estabilográficos.
A aplicação das provas estabilográficas foi individual, com uma única realização,
cumprindo rigorosamente a ordem já atrás descrita.
Para além da sequência estabelecida na realização das provas explicitadas, importa
realçar alguns aspectos metodológicos, tidos em conta na recolha dos dados.
Assim, após o elemento A ter preenchido a ficha de identificação, o sujeito a testar
dirigia-se ao elemento B, a fim de ajustar e aferir o Nac Eye Recorder à sua estatura.
Seguia-se a explicação e colocação na posição base a adoptar sobre a plataforma de
estabilidade:
- Estabelecida e concretizada com rigor a posição base, C, após cronometrar 10
segundos, indicava a D, através de um discreto sinal visual, o preciso momento
da entrada em aquisição de dados;
- Os dados eram assim recolhidos durante 20 segundos, controlados por um sinal
“bytes” emitido pelo computador;
- Concluída a respectiva prova, B dava início ao controlo de um período de repouso
com a duração de três minutos. Entretanto, e na passagem do 1º minuto, B
indicava que, no fim do repouso, se iniciava nova prova.
Porém, outras particularidades metodológicas foram consideradas. Na prova V
(prova de imobilidade ortostática com olhos vendados) o sujeito da amostra, já com os
olhos vendados, aguardava, sentado, um período adaptativo de 30 segundos, antes de se
colocar na posição base.
117
Procedimentos Metodológicos
O tempo estabelecido foi considerado pelo facto de existirem normalmente
inconvenientes de adaptação (Imbert, 1976) citado por Kayser et al (1976). As condições
de adaptação visual devem ser cuidadosamente ponderadas, visto as alterações na
iluminação ambiente serem acompanhadas por alterações nas performances visuais.
Com vista a minimizar o efeito da fadiga, foi concedido um período de repouso de
3 minutos entre cada prova, vivenciado na posição de sentado.
3.6 - Recolha de dados
Os dados proporcionados por cada elemento da amostra são de natureza
posturográfica / estabilográfica. De acordo com o protocolo estabelecido, a respectiva
recolha foi feita individualmente nas 5 provas propostas, conforme referenciado no ponto
3.4.2.
3.6.1. Equipamentos
Na recolha dos parâmetros posturográficos / estabilográficos usou-se um
equipamento de medida, formado por três unidades:
1 - Plataforma de Estabilidade modelo 16020, formada por uma base com 32,5 X
36 polegadas e um eixo com 26 X 42 polegadas com três interruptores específicos
para a direita, centro e esquerda. O eixo é ajustável para quatro alturas,
respectivamente 7,5; 9; 10,5 e 12 polegadas a partir da base. O ângulo de
suspensão da plataforma pode variar de 0 a 15 graus. A altura da plataforma do
chão ao topo do poste de suporte é de 23 polegadas (Figura 3.2).
A altura de recolha de dados escolhida foi de 7,5 polegadas; ângulo de suspensão
de 10 graus e um tempo de teste de 20 segundos;
2 - três relógios “58007 stop clock”, que permitem contar os tempos de equilíbrio/
desequilíbrio (centro, direita, esquerda) (Figura 3.3).
3 - um contador “58004 counter data recorder”. (Figura 3.3).
4 - uma unidade marcadora de tempos “51012 interval end repeat timer” que
constituem a plataforma de estabilidade modelo 16125 da Lafayette
Instrument Company (Figura 3.3).
118
Dolores Monteiro
Fig. 3.2 Plataforma de Estabilidade
modelo16020.
Fig. 3.3 três relógios “58007 stop clock”; um
contador “58004 counter data recorder”; uma
unidade marcadora de tempos “51012 interval end
repeat timer”.
119
Resultados
4 Resultados
120
Dolores Monteiro
121
Resultados
4.1 Estatísticas descritivas
Peso e Altura. Apresentam-se, no Quadro nº 4.1, as estatísticas descritivas relativas
ao peso e altura dos sujeitos que constituem a amostra total. A representação gráfica da
distribuição destas variáveis encontra-se nos Gráficos 4.1 e 4.2. Como se pode ver, a
distribuição do peso é enviesada, afastando-se da normalidade.
A média de peso dos 118 sujeitos é de 43,09 kg. A amplitude de variação do peso é
de 42,5 kg, sendo o peso mínimo de 25,5 kg e o máximo de 68,0 kg.
Quanto à altura, a média é de 153,7 cm, com uma amplitude de variação de 48 cm.
O sujeito de menor estatura regista 129 cm, o de estatura máxima mede 178 cm.
Quadro 4.1
Estatísticas descritivas do peso e altura para a amostra total.
VARIÁVELN (=120) MIN MAX MÉDIA
ERROPAD.
DESVIO PADRÃO VIÉS CURTOSE
PESO 118 25,500 68,000 43,085 0,817 8,877 0,621 -0,047
ALTURA 118 129,000 178,000 153,703 0,794 8,621 0,368 0,252
Gráfico 4.1. Distribuição do peso dos sujeitos (N=118).
122
Dolores Monteiro
Gráfico 4.2. Distribuição da altura dos sujeitos (N=118).
4.1.1. Relação do Peso e a Altura com a Modalidade praticada e a Idade, entre
os sujeitos do sexo masculino
Para determinar se o peso e a altura dependiam significativamente da idade dos
sujeitos e da modalidade praticada, entre os sujeitos do sexo masculino (N=96), realizámos
um teste de significância das diferenças das médias. O peso e a altura foram inicialmente
testadas em conjunto, isto é, numa abordagem multivariada (MANOVA), e depois
separadamente (ANOVAs de dois factores). Os resultados do teste (ver Quadro nº4.2)
mostram que ambos os factores (MODALIDADE e IDADE) têm um impacto significativo
no peso e na altura, quando estas duas medidas antropométricas são consideradas
conjuntamente. A interacção MODALIDADE X IDADE não é, porém, significativa (ver
quadro seguinte):
Quadro4.2
Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para o peso e
altura, por modalidade e idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
Efeito Wilk's Lambda Rao's R gl 1 gl 2 p
Modalidade 0,792 3,255 6 158 0,005 **
Idade 0,605 7,529 6 158 <0,000 ***
Modalidade* Idade 0,774 1,200 18 158 0,267
Consideremos agora os resultados univariados, que nos permitem testar a influência
dos dois factores sobre o peso e a altura, mas tomando estas variáveis separadamente. O
factor MODALIDADE relaciona-se significativamente com o peso, mas não com a altura
(ver Quadro nº 4.3):
123
Resultados
Quadro 4. 3
Testes univariados de significância da diferença de médias para o peso e altura, por
modalidade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96)
EFEITO: MODALIDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl 1, 2) 3,80 p
PESO 175,947 52,962 3,322 0,024 *
ALTURA 111,181 53,971 2,060 0,112
A observação das respectivas médias permite concluir que os alunos de andebol e
de natação são significativamente mais pesados que os de futebol e os não-praticantes
masculinos:
Quadro 4.4
Médias do peso e da altura, por modalidade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino
(N=96).
MODALIDADEPESO ALTURA
ANDEBOL 45,063 153,333
NATAÇÂO 44,708 156,375
FUTEBOL 40,375 153,583
NÃO PRATICANTE 40,042 151,125
Quanto à idade, está significativamente associada a ambos os parâmetros
antropométricos (Quadro nº 4.5):
Quadro 4 .5
Testes univariados de significância da diferença de médias, para o peso e altura, por
idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
EFEITO: IDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl 1, 2) 3,80 p
PESO 651,489 52,962 12,301 <0,001 ***
ALTURA 897,681 53,971 16,633 <0,001 ***
Esta associação é quase monótona e de sinal positivo, como se pode apreciar no
quadro que apresenta as respectivas médias para cada grupo de idades (Quadro nº 4.6):
124
Dolores Monteiro
Quadro 4.6
Médias de peso e de altura, por idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino
(N=96).
IDADE PESO ALTURA
ONZE 37,875 148,833
DOZE 39,042 148,708
TREZE 44,000 155,375
CATORZE 49,271 161,500
A análise univariada mostra, contrariamente ao resultado da análise multivariada,
que a interacção entre a MODALIDADE e a IDADE é estatisticamente significativa no
caso do peso (ver Quadro nº 4.7).
Quadro 4.7
Testes univariados de significância da diferença de médias para o peso e altura, por
interacção modalidade X idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
EFEITO: MODALIDADE X IDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl 1, 2) 9,80 p
PESO 114,530 52,962 2,163 0,033
ALTURA 74,301 53,971 1,377 0,212
A inspecção do gráfico representativo sugere que essa interacção se deve ao facto
de os sujeitos praticantes de futebol e os não praticantes apresentarem oscilações de peso
ao longo dos quatro níveis etários, o que não acontece com os praticantes de andebol e de
natação (Gráfico nº 4.3).
Gráfico nº 4.3. Distribuição do peso dos sujeitos, por idade e modalidade (N=96)
É esta diferença entre os quatro grupos real, ou um característica acidental da nossa
amostra, um mero artefacto estatístico? Para tentar uma primeira abordagem desta questão,
IDADE
MODAL NPRMMODAL FUT
MODAL NAT
MODAL AND
CATORZETREZEDOZEONZE
5 8
5 4
5 0
4 6
4 2
3 8
3 4
125
Resultados
dentro dos limites do presente trabalho, realizámos um teste de comparação entre pares
(post-test de Scheffé). Nenhuma das comparações se revelou estatisticamente significativa.
Por essa razão, consideramos a interacção detectada como não corroborada estatisticamente.
4.1.2. Relação do Peso e a Altura com o Sexo e a Idade, entre os sujeitos não-
-praticantes de ambos os sexos
Qual é a influência do factor sexo sobre as duas variáveis antropométricas?
Realizámos, para responder a esta questão, uma MANOVA, em que os dois factores
entrados foram o SEXO e a IDADE. Deste modo, pode determinar-se a influência do sexo
controlando igualmente o factor IDADE. Para a presente análise usámos apenas os dois
grupos de sujeitos não-praticantes (N=48). Os resultados multivariados apresentam-se no
Quadro nº 4.8:
Quadro 4.8
Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para o peso e
altura, por sexo e idade, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Efeito Wilk's Lambda Rao's R gl 1 gl 2 p
Sexo 0,829 4,015 2 39 0,026*
Idade 0,739 2,123 6 78 0,060
Sexo*Idade 0,747 2,037 6 78 0,071
Como se vê, apenas o sexo parece ter influência significativa sobre as duas variáveis
antropométricas, quando consideradas conjuntamente. No Quadro nº 9 apresentam-se os
resultados dos respectivos testes univariados. Como se pode apreciar, o factor SEXO
influencia significativamente o peso, mas não a altura.
Quadro 4.9
Testes univariados (ANOVA) de significância da diferença de médias para o peso e altura,
por sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
EFEITO: SEXO
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl 1, 2) 1,40 p
PESO 302,505 46,599 6,492 0,015 *
ALTURA 99,188 60,938 1,628 0,209
Globalmente, os sujeitos não-praticantes do sexo feminino são mais pesados e mais
altos que os do sexo masculino (ver Quadro nº 4.10). A diferença, porém, apenas é
significativa
126
Dolores Monteiro
significativa (a p<0.05) para o peso, como dissemos atrás.
Quadro 4.10
Médias do peso e da altura, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos(N=48).
SEXO PESO ALTURA
MASC. 40,042 151,125
FEMIN. 45,063 154,000
Uma representação gráfica da média do peso por sexo e nível de idade encontra-se
no gráfico seguinte (Gráfico nº 4.4). Note-se que os sujeitos do sexo feminino são
sistematicamente mais pesados a partir dos doze anos de idade. A interacção Sexo X Idade
não é estatisticamente significativa para a variável peso (p=0.128).
PESO
IDADE
SEXO FEM
SEXO MASC
CATORZETREZEDOZEONZE
5 8
5 4
5 0
4 6
4 2
3 8
3 4
Gráfico 4. 4. Distribuição do peso dos sujeitos não praticantes, por idade e sexo (N=48).
As análises univariadas (ANOVAS) sobre a relação entre as duas variáveis
antropométricas e a idade revelaram-se significativas (ver Quadro nº 4.11). Note-se, porém,
que o teste multivariado, estatisticamente mais poderoso, não se revelou significativo,
como dissemos atrás. Por essa razão, as presentes relações univariadas devem ser encaradas
com prudência.
Quadro 4.11
Testes univariados (ANOVA) de significância da diferença de médias para o peso e altura,
por idade, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
EFEITO: IDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl 1, 2) 3,40 p
PESO 189,283 46,599 4,062 0,013 *
ALTURA 183,410 60,938 3,010 0,041 *
127
Resultados
Como é normal, o peso e altura dos sujeitos aumentam monotonamente com a
idade (Quadro nº 4.12):
Quadro 4.12
Médias do peso e da altura, por idade, para a amostra de sujeitos não praticantes (N=48).
IDADE PESO ALTURA
ONZE 38,542 148,333
DOZE 40,125 150,167
TREZE 44,250 155,500
CATORZE 47,292 156,250
4.1.3. Variáveis dependentes
No presente estudo as variáveis de critério referem-se à performance dos sujeitos
sobre a plataforma de forças. Este equipamento fornece dois tipos de medidas, um relativo
ao número de deslocamentos e outro relativo ao tempo total em cada uma das três posições,
a saber:
• Tempo de equilíbrio ao centro
• Tempo de desequilíbrio ao centro
• Tempo de desequilíbrio à esquerda
• Número de deslocamentos ao centro
• Número de deslocamentos à direita
• Número de deslocamentos à esquerda
Para cada prova obtêm-se assim seis medidas. Nas cinco provas, portanto, registámos
30 (=6X5) resultados. No entanto, a forma de operar da plataforma impõe certas restrições
à inter-variabilidade destas diversas medidas. O número de deslocamentos ao centro não é
independente da soma de deslocamentos laterais (D+E), e o tempo total de 20 Seg. de
prova implica igualmente uma relação inviolável entre o tempo passado em posição de
equilíbrio e o tempo passado em desequilíbrio (isto é, o tempo ao centro = 20 – tempo de
desequilíbrio). Por essa razão obtivemos a partir destas 6 medidas directas por prova, 4
medidas efectivamente independentes, que são derivadas das primeiras e constituem as
variáveis de critério que vão ser usadas nas análises subsequentes. Estas variáveis são as
seguintes:
TOTDES - medida do desequilíbrio, expressa em número de deslocamentos à direita
mais o número de deslocamentos à esquerda.
128
Dolores Monteiro
TOTTEM – medida do desequilíbrio, expressa em tempo fora da posição central,
isto é, a soma do tempo à direita mais o tempo à esquerda.
LATD – medida da preferência lateral, expressa em número de deslocamentos à
direita menos o número de deslocamentos à esquerda.
LATT - medida da preferência lateral, expressa em tempo de desequilíbrio à direita
menos o tempo de desequilíbrio à esquerda.
Isto quer dizer que usaremos, neste estudo, 20 (=4X5) medidas de critério,
correspondentes às 4 variáveis atrás referidas registadas nas 5 provas.
O quadro seguinte (Quadro nº 4.13) sintetiza as principais estatísticas descritivas
das 20 medidas criteriais, para a amostra total (N=96).
Quadro 4.13
Estatísticas descritivas das 20 medidas criteriais, para a amostra total (N=96).
Variável N Min Max Média Erro
Padrão
Desvio
Padrão
Viés Curtose
TOTDES-1 96 0 18 3,740 0,414 4,056 1,283 1,188
LATD-1 96 -6 5 0,240 0,195 1,913 -0,231 0,950
TOTDES-2 96 0 18 3,073 0,366 3,581 1,501 2,586
LATD-2 96 -4 7 0,198 0,169 1,658 0,993 3,062
TOTDES-3 96 0 17 2,427 0,336 3,292 1,958 4,310
LATD-3 96 -7 6 0,344 0,195 1,913 -0,054 4,441
TOTDES-4 96 0 20 1,969 0,287 2,808 3,291 17,204
LATD-4 96 -4 6 0,302 0,150 1,466 0,727 2,984
TOTDES-5 96 1 23 11,135 0,535 5,243 -0,178 -0,617
LATD-5 96 -12 13 -0,281 0,446 4,367 -0,037 0,598
TOTTEM-1 96 0,00 7,66 1,196 0,163 1,599 1,871 3,647
LATT-1 96 -2,52 3,35 0,063 0,087 0,845 0,342 3,861
TOTTEM-2 96 0,00 6,61 0,900 0,131 1,288 2,337 6,527
LATT-2 96 -1,73 3,61 0,014 0,085 0,832 0,955 4,368
TOTTEM-3 96 0,00 6,23 0,776 0,121 1,184 2,356 6,150
LATT-3 96 -3,87 2,41 0,028 0,089 0,863 -1,511 7,497
TOTTEM-4 96 0,00 3,66 0,619 0,088 0,865 1,692 2,204
LATT-4 96 -2,61 1,42 -0,008 0,056 0,548 -1,397 6,476
TOTTEM-5 96 0,11 12,36 3,527 0,248 2,428 0,853 0,855
LATT-5 96 -3,96 8,76 0,071 0,213 2,087 1,206 3,382
Legenda: TOTDES-1 - Total de deslocamentos à direita + à esquerda, na prova 1 (= Deslocamentos ao centro — 1)
LATD-1 – Índice de preferência lateral de deslocamentos na prova 1 (= DPR1D — DPR1E)
TOTTEM-1 - Total do tempo passado à direita + à esquerda, para a prova 1. (Esta variável é = 20 — TEMP-C; por essarazão pode ser usada como medida do tempo de desequilíbrio. Nas análises de variância, será usada em vez da variávelTEMP-C)
LATT-1 – Índice de preferência lateral no tempo na prova 1 (= TEMP1D — TEMP1E)
129
Resultados
4.1.4 Correlação entre as variáveis de critério
Obtivemos as correlações entre as 20 variáveis de critério, que se apresentam no
Quadro 4.14.
Quadro 4.14
Correlações entre as variáveis de critério ou dependentes
TOTDES-1
TOTTEM-1
TOTDES-2 TOTTEM-2
TOTDES-3
TOTTEM-3
TOTDES-4
TOTTEM-4
TOTDES-5
TOTTEM-5
TOTDES-1 -
TOTTEM-1 0,81 *** -
TOTDES-2 0,82 *** 0,76 *** -
TOTTEM-2 0,65 *** 0,68 *** 0,87 *** -
TOTDES-3 0,66 *** 0,68 *** 0,74 *** 0,76 *** -
TOTTEM-3 0,60 *** 0,61 *** 0,69 *** 0,74 *** 0,84 *** -
TOTDES-4 0,57 *** 0,54 *** 0,64 *** 0,63 *** 0,62 *** 0,55 *** -
TOTTEM-4 0,49 *** 0,48 *** 0,51 *** 0,61 *** 0,56 *** 0,52 *** 0,61 *** -
TOTDES-5 0,38 ** 0,41 *** 0,38 *** 0,36 *** 0,34 *** 0,29 *** 0,45 *** 0,36 *** -
TOTTEM-5 0,27 ** 0,31664 0,33 *** 0,44 *** 0,38 *** 0,42 *** 0,35 *** 0,45 *** 0,66 *** -
LATD-1 LATT-1 LATD-2 LATT-2 LATD-3 LATT-3 LATD-4 LATT-4 LATD-5 LATT-5
LATD-1 -
LATT-1 0,45 *** -
LATD-2 0,29 ** 0,29 ** -
LATT-2 0,09 0,43 *** 0,58 *** -
LATD-3 0,10 -0,05 0,06 0,09 -
LATT-3 0,06 0,10 0,01 0,12 0,76 *** -
LATD-4 0,10 -0,11 0,20 * 0,09 0,18 -0,03 -
LATT-4 0,02 -0,07 -0,03 -0,06 0,12 -0,01 0,58 *** -
LATD-5 0,07 -0,03 0,03 -0,06 0,09 -0,04 0,20 0,26 * -
LATT-5 0,07 0,05 0,09 -0,05 0,18 0,14 0,04 0,24 * 0,67 *** -
LATD-1 LATT-1 LATD-2 LATT-2 LATD-3 LATT-3 LATD-4 LATT-4 LATD-5 LATT-5
TOTDES-1 -0,05 -0,13 -0,15 -0,01 0,17 0,04 0,08 -0,08 -0,05 -
TOTTEM-1 0,07 0,12 0,02 0,11 0,23 * 0,10 0,00 -0,07 0,05 -
TOTDES-2 0,00 -0,09 -0,02 0,12 0,24 * 0,16 0,06 -0,20 -0,10 -
TOTTEM-2 0,06 0,04 0,02 0,25 * 0,25 * 0,18 0,02 -0,23 * -0,07 -
TOTDES-3 0,03 -0,02 -0,03 0,19 0,24 * 0,01 0,03 -0,22 * -0,05 -
TOTTEM-3 0,03 -0,04 -0,02 0,26 * -0,04 -0,19 0,02 -0,21 * -0,04 -
TOTDES-4 -0,06 -0,03 0,04 0,24 * 0,28 ** 0,18 0,21 * -0,09 -0,07 -
TOTTEM-4 -0,03 0,01 0,01 0,09 0,09 -0,01 -0,00 -0,24 * 0,05 -
TOTDES-5 -0,09 0,07 -0,00 -0,05 0,08 0,01 0,04 -0,06 -0,10 -
TOTTEM-5 -0,01 0,06 0,05 -0,02 0,01 -0,08 -0,09 -0,11 0,08 -
• p<0,05; ** p<0,01; *** p<0,001
Dolores Monteiro
130
4.2. Análises multivariadas das variáveis de critério
Nesta secção, iremos tentar determinar a relação das medidas criteriais obtidas
com os diversos factores causais seleccionados. Como se explicou antes, privilegiaremos
sistematicamente uma abordagem multivariada, o que significa que vamos testar a influência
desses factores sobre o conjunto das medidas criteriais, e não sobre cada uma delas em
separado. É essa influência multivariada que desejamos contrastar. Por isso, só quando os
testes multivariados tiverem revelado a existência de efeitos estatisticamente significativos,
é que os testes univariados subsequentes serão de verdadeiro interesse para nós. Em certos
casos, porém, procederemos a análises univariadas, mesmo na ausência de resultados
significativos para a correspondente análise multivariada. Fá-lo-emos, porém, sob a reserva
de que não devem ser tomadas como expressando uma relação realmente substantiva, mas
apenas como indicadores de fenómenos a merecer um estudo eventualmente mais
aprofundado.
4.2.1.Relação das variáveis antropométricas com as variáveis dependentes
A relação entre as duas variáveis antropométricas, peso e altura, e as variáveis de
critério foi estudada por meio de um conjunto de testes correlacionais. O Quadro nº 4.15
apresenta as correlações obtidas:Variáveis PESO ALTURATOTDES-1 0,062 0,072
TOTTEM-1 -0,006 -0,005TOTDES-2 0,074 0,052TOTTEM-2 0,097 0,066TOTDES-3 0,061 0,034TOTTEM-3 0,008 -0,031TOTDES-4 0,061 0,052TOTTEM-4 0,114 0,032TOTDES-5 0,080 0,068TOTTEM-5 0,071 -0,032LATD-1 -0,085 -0,063LATT-1 -0,154 -0,080LATD-2 -0,018 0,034LATT-2 -0,031 0,008LATD-3 0,019 -0,014LATT-3 0,015 -0,004LATD-4 0,044 0,107LATT-4 0,144 0,105LATD-5 0,162 0,248*LATT-5 0,126 0,073
Quadro 4.15
Correlações entre as variáveis de
critério e os factores peso e altura, para
a amostra de sujeitos do sexo masculino
(N=96). * p<0,05.
Resultados
131
Apenas uma das correlações é significativa (a p<0.05). Trata-se da correlação entre
a altura e a variável LATD-5. Aparentemente os sujeitos mais altos oscilam mais para a
direita, ou seja, exprimem uma preferência lateral – para a direita – que é tanto mais
acentuada quanto maior é a sua estatura. Curiosamente, tal correlação não é significativa
quando em vez da preferência lateral expressa em termos do número de oscilações, usamos
como indicador a preferência lateral expressa em tempo de desequilíbrio. Neste caso,
como se pode ver (variável LATT-5), não existe correlação significativa com a altura.
4.2.2. Relação entre os factores preditores e as variáveis de critério
4.2.2.1. Variáveis TOTDES e TOTTEM
Vamos agora analisar a relação dos factores considerados preditores – a modalidade,
a idade e o tipo de prova – com os resultados obtidos pelos sujeitos nas provas de equilíbrio.
Começaremos pelos resultados que medem o grau absoluto de equilíbrio (ou, dizendo
melhor, o grau absoluto de desequilíbrio), e que são as variáveis TOTDES e TOTTEM.
Estas duas variáveis são duas medidas alternativas do mesmo construto, o que se reflecte,
aliás, na elevada correlação entre elas. Por essa razão, justifica-se que sejam analisadas
conjuntamente, isto é, através de uma análise multivariada, na ocorrência uma análise de
variância multivariada (MANOVA).
As análises seguintes foram todas realizadas com os 96 sujeitos masculinos.
Procedeu-se, como se disse, a uma MANCOVA (análise de co-variância multivariada)
com medidas repetidas, em que os dois factores entre grupos são a MODALIDADE (4
níveis) e a IDADE (4 níveis), e o factor entre sujeitos é a PROVA (5 níveis). Além destes
três factores, usaram-se dois co-variantes, o peso e a altura. Isto quer dizer que vamos
determinar:
1º A influência sobre a TOTDES e a TOTTEM, consideradas em conjunto, da
MODALIDADE, da IDADE e da PROVA, depois de se remover a influência do
peso e da altura.
2º A influência sobre a TOTDES e a TOTTEM, consideradas em separado, da
MODALIDADE, da IDADE e da PROVA, depois de se remover a influência do
Dolores Monteiro
132
peso e da altura. Estas análises são univariadas (são ANCOVAs) e, em princípio,
só são importantes quando a relação multivariada correspondente é significativa.
No entanto, reportaremos os resultados univariados mesmo em alguns casos em
que os resultados multivariados não são significativos, quando tal se revelar
importante. Deve, no entanto, manter-se na memória a restrição acima apontada:
os resultados univariados só são significativos, quando os multivariados o são.
Isto tem a ver com o facto de as duas variáveis de critério em presença (a TOTDES
e a TOTTEM) não serem independentes uma da outra: há razões estatísticas
(por exemplo a correlação entre elas, que é elevada), e sobretudo razões
substantivas (porque são duas medidas alternativas do mesmo construto — o de
desequilíbrio — e não é evidente qual delas é a mais importante, ou sequer se se
podem considerar como realmente separáveis) para as considerar em conjunto.
Os resultados da análise multivariada apresentam-se no Quadro nº 4.16. O resultado
mais relevante de um teste multivariado de significância de diferença entre médias é o
lambda (l) de Wilk. Este valor indica a variância que resta quando a influência do factor é
removida. O seu valor é tanto menor quanto mais importante é o factor, e vice-versa. O R
de Rao é uma transformação do l de Wilk que apresenta uma distribuição estatística simi-
lar à do F dos testes univariados. É uma boa aproximação ao F, e pode ser assim utilizado
para estimar o nível de significância para os graus de liberdade respectivos. Trata-se, em
suma, de uma espécie de F multivariado.
Quadro 4.16
Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para as variáveis
TOTDES e TOTTEM, por modalidade, idade e tipo de prova, para a amostra de sujeitos
do sexo masculino (N=96).
Sumário de todos os efeitos; desenho:
1-MODALIDADE, 2-IDADE, 3-PROVA
Efeito Wilk's Lambda Rao's R gl 1 gl 2 p
Modalidade 0,839 2,360 6 154 0,033*
Idade 0,912 1,217 6 154 0,301
Prova 0,169 40,052 8 65 <0,001***
Modalidade x Idade 0,669 1,907 18 154 0,019*
Modalidade x Prova 0,664 1,196 24 189 0,250
Idade x Prova 0,765 0,764 24 189 0,778
Lodalidade x Idade x Prova 0,327 1,129 72 402 0,235
Resultados
133
A inspecção do quadro anterior mostra que há, numa perspectiva multivariada,
dois factores significativos: a PROVA e a MODALIDADE. A interacção entre a
MODALIDADE e a IDADE é também significativa.
- Factor Prova
O factor explicativo mais importante é a Prova: os escores dos sujeitos nas variáveis
TOTDES e TOTTEM estão significativamente relacionados com o tipo de prova em causa.
Podemos dizer isto de outra maneira: a maioria da variação registada nestas duas medidas
— quando consideradas conjuntamente — é devida ao tipo de prova.
As análises univariadas (quando se consideram separadamente as duas variáveis
de critério) mostram que este factor permanece altamente significativo (a p<0.001) para as
duas variáveis TOTDES e TOTTEM (ver Quadro 4.17):
Quadro 4.17
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis TOTDES e
TOTTEM, por tipo de prova, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
As médias dos 96 sujeitos para cada prova são as seguintes:
Quadro 4.18
Médias de TOTDES e TOTTEM, por tipo de prova, para a amostra dos sujeitos do sexo
masculino (N=96).
Vê-se que é sobretudo na prova 5 que se registam os resultados mais discrepantes.Esta diferença é visualmente constatável nos gráficos seguintes:
N=96 EFEITO: PROVA
Quad.MédioEfeito Quad.Médio
Erro
f (gl1,2)4,320
p
TOTDES 1376,229 7,793 176,605 <0,001***TOTTEM 139,540 1,269 109,986 <0,001***
PROVA TOTDES TOTTEM
1 3,740 1,196
2 3,073 0,900
3 2,427 0,776
4 1,969 0,619
5 11,135 3,527
Dolores Monteiro
134
Gráfico 4.5. Distribuição dos escores em TOTDES, por prova, dos sujeitos do sexo
masculino (N=96).
Gráfico 4.6. Distribuição dos escores em TOTTEM, por prova, dos sujeitos do sexo
masculino (N=96).
Realizámos um post-teste (teste de Scheffé) para determinar entre que pares de
provas esta relação permanecia significativa (ver Quadro nº 4.19). No caso da TOTDES,
revelaram-se significativas as diferenças entre a prova 5 e as restantes provas e ainda entre
as provas 1 e 3 e provas 1 e 4; no da TOTEM, mantêm-se significativas as diferenças entre
a prova 5 e as restantes e ainda entre as provas 1 e 4. Em ambas as medidas, a principal
diferença é entre a prova 5 e as outras quatro. Esta diferença é significativa a p<0.001 e
indica que as circunstâncias da prova 5 aumentam apreciavelmente a desequilibração dos
sujeitos.
TOTDES
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
1 3
1 1
9
7
5
3
1
TOTTEM
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
4
3.4
2.8
2.2
1.6
1
.4
Resultados
135
Quadro 4.19
Testes post-hoc (teste de Sheffé) de verificação da significância da diferença entre pares,
para as variáveis TOTDES e TOTTEM, por tipo de prova, dos sujeitos do sexo masculino
(N=96).
Nota: No triângulo superior representa-se a variável TOTDES; no triângulo inferior a
variável TOTTEM
- Factor Modalidade
A modalidade praticada apresenta uma influência estatisticamente significativa (a
p<0.05) sobre as variáveis de critério. As análises univariadas (Quadro nº 4.20) mostram
que essa influência é significativa em ambas as variáveis.
Quadro 4.20
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis TOTDES e
TOTTEM, por modalidade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
As médias por modalidade são as seguintes:
Test e de Sheffe; Variáveis TOTDES e TOTTEM
Probabilidades para os testes Post-hoc
EFEITO: Prova
Prova {1} {2} {3} {4} {5}
1 {1} - 0,603 0,033 * 0,001 *** 0,000 ***
2 {2} 0,507 - 0,633 0,114 0,000 ***
3 {3} 0,157 0,965 - 0,862 0,000 ***
4 {4} 0,015 * 0,560 0,919 - 0,000 ***
5 {5} 0,000 *** 0,000 *** 0,000 *** 0,000 *** -
STATISTICA EFEITO: MODALIDADE
Quad.MédioEfeito Quad.Médio Erro f (gl1,2) 3,78 p
TOTDES 146,968 37,551 3,914 0,012 *
TOTTEM 22,432 5,205 4,310 0,007 **
Dolores Monteiro
136
Quadro 4.21
Médias de TOTDES e TOTTEM, por modalidade, para a amostra dos sujeitos do sexo
masculino (N=96).
Vejam-se estes resultados graficamente:
Gráfico 4.7. Distribuição dos escores em TOTDES, por modalidade, dos sujeitos do
sexo masculino (N=96).
Gráfico 4.8. Distribuição dos escores em TOTTEM, por modalidade, dos sujeitos do
sexo masculino (N=96).
MODALIDADE TOTDES TOTTEM
ANDEBOL 5,267 1,681
NATAÇÂO 5,350 1,811
FUTEBOL 4,658 1,442
Não Praticantes 2,600 0,680
TOTDES
MODALIDADE
NPRMFUTNATAND
5.6
5.2
4.8
4.4
4
3.6
3.2
2.8
2.4
TOTTEM
MODALIDADE
NPRMFUTNATAND
2
1.8
1.6
1.4
1.2
1
.8
.6
Resultados
137
Em ambos os casos, são os sujeitos não praticantes que apresentam escores mais
baixos. Um teste de comparação entre pares (post-teste de Scheffé) mostra que, para ambas
as variável (TOTDES e TOTTEM), apenas é significativa a diferença entre os não-
praticantes e os praticantes de andebol e de natação (ver Quadro nº 4.22). As diferenças
entre os diversos grupos de praticantes não são significativas.
Quadro 4.22
Testes post-hoc (teste de Sheffé) de verificação da significância da diferença entre pares,
para as variáveis TOTDES e TOTTEM, por modalidade, dos sujeitos do sexo masculino
(N=96).
Nota: No triângulo superior representa-se a variável TOTDES; no triângulo inferior a
variável TOTTEM
- Factor Idade
A idade não está estatisticamente relacionada com as duas variáveis de desequilíbrio.
Tal acontece, quer na perspectiva multivariada (p=0.301), quer quando se consideram as
duas variáveis separadamente. A título de ilustração, apresentamos os escores dos sujeitos,
por grupo de idades:
Quadro 4.23
Médias dos escores dos sujeitos do sexo masculino (N=96) nas variáveis TOTDES e
TOTTEM, por modalidade.
MODALIDADE AND {1} NAT {2} FUT {3} NPR {4}
{1} ANDEBOL - 0,999 0,898 0,014*
{2} NATAÇÂO 0,978 - 0,858 0,010*
{3} FUTEBOL 0,883 0,668 - 0,088
{4} Não Praticante 0,013* 0,004** 0,091 -
IDADE MÉDIAS
TOTDES TOTTEM
ONZE 4,642 1,559
DOZE 5,067 1,720
TREZE 4,133 1,215
CATORZE 4,033 1,119
Dolores Monteiro
138
- Interacções
A única interacção estatisticamente significativa regista-se entre a MODAL e a
IDADE (p<0.05). Esta interacção não é, porém, significativa, quando se consideram as
duas medidas em separado (ver Quadro 4.24).
Quadro 4.24
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis TOTDES e
TOTTEM, por interacção entre a MODALIDADE e a IDADE, para a amostra de sujeitos
do sexo masculino (N=96).
As médias por Modalidade e por IDADE são as seguintes (Quadro 4.25):
Quadro 4.25
Médias de TOTDES e TOTTEM, por modalidade e idade, para a amostra dos sujeitos do
sexo masculino (N=96).
INTERACÇÃO MODALIDADE x IDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 9,78 p
TOTDES 73,724 37,551 1,963 0,0550
TOTTEM 9,994 5,205 1,920 0,0610
MODAL IDADE TOTDES TOTTEM
AND ONZE 3,500 1,347
AND DOZE 8,100 2,440
AND TREZE 4,167 1,316
AND CATORZE 5,300 1,621
NAT ONZE 7,333 2,974
NAT DOZE 5,200 1,835
NAT TREZE 3,833 0,981
NAT CATORZE 5,033 1,453
FUT ONZE 5,033 1,358
FUT DOZE 3,767 1,657
FUT TREZE 5,767 1,837
FUT CATORZE 4,067 0,915
NPRM ONZE 2,700 0,556
NPRM DOZE 3,200 0,948
NPRM TREZE 2,767 0,728
NPRM CATORZE 1,733 0,489
Resultados
139
Estes valores podem apreciar-se mais facilmente nos dois gráficos seguintes:
Gráfico 4.9. Distribuição dos escores em TOTDES, por modalidade e idade, dos sujeitos
do sexo masculino (N=96).
Gráfico 4.10. Distribuição dos escores em TOTTEM, por modalidade e idade, dos sujeitos
do sexo masculino (N=96).
A interacção entre a Prova e a Modalidade é não-significativa, quer na perspectiva
multivariada (p=0.250), quer nas análises univariadas subsequentes (p=0.368 e p=0.056,
respectivamente para as variáveis TOTDES e TOTTEM).
IDADE
MODAL NPRM
MODAL FUT
MODAL NAT
MODAL AND
CATORZETREZEDOZEONZE
9
8
7
6
5
4
3
2
1
IDADE
MODAL NPRM
MODAL FUT
MODAL NAT
MODAL AND
CATORZETREZEDOZEONZE
3.2
2.6
2
1.4
.8
.2
Dolores Monteiro
140
A representação gráfica destes valores é mais legível:
Gráfico 4.11. Distribuição dos escores em TOTDES, por Modalidade e Prova, dos sujeitos
do sexo masculino (N=96).
Gráfico 4.12. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Modalidade e Prova, dos sujeitos
do sexo masculino (N=96).
A interacção Idade x Prova é igualmente não significativa (p=0.778, para o teste
multivariado, e p=0.805 e p=0.275, respectivamente para os testes univariados
subsequentes).
TOTDES
MODAL NPRM
MODAL FUT
MODAL NAT
MODAL AND
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
1 4
1 2
1 0
8
6
4
2
0
- 2
TOTTEM
MODAL NPRM
MODAL FUT
MODAL NAT
MODAL AND
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
4.5
3.5
2.5
1.5
.5
- . 5
Resultados
141
Vejamos os gráficos correspondentes:
Gráfico 4.13. Distribuição dos escores em TOTDES, por Idade e Prova, dos sujeitos do
sexo masculino (N=96).
Gráfico 4.14. Distribuição dos escores em TOTDES, por Idade e Prova, dos sujeitos do
sexo masculino (N=96).
A tripla interacção MODAL x IDADE x PROVA não é significativa, quer em termos
multivariados (p=0.235), quer univariadamente para a variável TOTDES (p=0.886). Mas
esta interacção tripla é significativa para a variável TOTTEM (p<0.01).
Podemos examinar, nos gráficos seguintes, o padrão de resultados diferenciais
obtidos pelos diferentes grupos de sujeitos nesta variável:
TOTDES
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
1 4
1 2
1 0
8
6
4
2
0
TOTTEM
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
5
4
3
2
1
0
Dolores Monteiro
142
Gráfico 4.15. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Idade e Prova, para os
praticantes de Andebol, dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
Gráfico 4.16. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Idade e Prova, para os
praticantes de Natação, dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
Gráfico 4.17. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Idade e Prova, para os
praticantes de Futebol, dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
TOTTEM
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
5
4
3
2
1
0
TOTTEM
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
6.5
5.5
4.5
3.5
2.5
1.5
.5
- . 5
TOTTEM
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
6.5
5.5
4.5
3.5
2.5
1.5
.5
- . 5
Resultados
143
Gráfico 4.18. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Idade e Prova, para os Não
Praticantes, dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
Recorde-se aqui o que dissemos no início desta secção: quando se encontra efeito
univariado significativo, mas que se segue a um multivariado não-significativo, há que ser
circunspecto ao máximo grau. Em geral, existe uma boa probabilidade de a relação
univariada significativa ser um artefacto estatístico, isto é, resultar de um acaso, de uma
peculiaridade irrepetível da amostra utilizada. A única maneira segura de testar a validade
da relação univariada, consiste em replicar o estudo com outra amostra independente.
Neste caso, há que notar que o número de sujeitos por célula (isto é, por grupo homogéneo)
é muito pequeno, pois temos apenas 6 sujeitos em cada condição experimental. O risco da
relação significativa ser um artefacto estatístico é, aqui, acrescido. Por estas duas razões,
somos de opinião que o triplo efeito detectado no caso da variável TOTTEM deve ser
considerado, até nova evidência, como não fiável. Outros estudos são necessários, neste
contexto.
- Covariantes
Examinámos, finalmente, a relação das duas variáveis entradas na MANCOVA
como co-variantes (recorda-se que se trata das variáveis antropométricas PESO e ALTURA).
No teste multivariado, a relação entre os dois co-variantes e as duas variáveis de critério é
não-significativa (ver Quadro 4.27):
TOTTEM
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
2.6
2.2
1.8
1.4
1
.6
.2
- . 2
Dolores Monteiro
144
Quadro 4.27
Teste multivariado de significância para as duas variáveis de critério TOTDES e TOTTEM,
por Peso e Altura, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
O exame das relações univariadas mostra que apenas num caso essa relação é
significativa:
Quadro 4.28
Teste univariado de significância para a variável de critério TOTTEM 5, por Peso e Altura,
para a amostra dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
Trata-se, como se pode ver no quadro anterior, da relação entre o PESO e a variável
TOTTEM, na prova 5. Essa relação é positiva, sendo o coeficiente de regressão beta=0.452,
o que corresponde a uma probabilidade p<0.01. Isto é, quanto mais pesados os sujeitos,
maior o tempo total passado por eles em posições desequilibradas, na prova 5.
4.2.2.2. Variáveis LATD e LATT
Vamos agora examinar a relação entre os três factores independentes
MODALIDADE, IDADE e PROVA, e as duas variáveis que se referem à lateralidade
(LATD e LATT). O design experimental é, neste caso, idêntico ao utilizado para as variáveis
TOTDES e TOTTEM. Quer isto dizer que procuraremos isolar:
1º A influência sobre a LATD e a LATT, consideradas em conjunto, da MODAL, da
IDADE e da PROVA, depois de se remover a influência do peso e da altura.
Testes Multivariados
2 covariantes
Teste VALOR p
Wilks' Lambda 0,705
Rao R Form 3 (20, 138) 1,317 0,178
Pillai-Bartlett Trace 0,317
v (20, 140) 1,319 0,177
Variável dependente: TOTTEM-5
F(2,78) = 4,768680 p = 0,01112
B-weightErro padrão
Beta t (78) p
PESO 0,137 0,051 0,452 2,707 0,008**
ALTURA -0,056 0,050 -0,188 -1,129 0,263
Resultados
145
2º A influência sobre a LATD e a LATT, consideradas em separado, da MODAL,
da IDADE e da PROVA, depois de se remover a influência do peso e da altura. Estas
análises são univariadas (são ANCOVAs) e só são importantes quando a relação
multivariada correspondente é significativa. No entanto, reportaremos os resultados
univariados mesmo em alguns casos em que os resultados multivariados não são
significativos, quando tal se justificar. Tal como sucede com as duas variáveis de medida
de desequilíbrio, também aqui as variáveis LATD e LATT não podem considerar-se
substantiva e estatisticamente independentes. Aplica-se pois, neste caso, o que dissemos a
propósito da análise efectuada com as medidas relativas ao construto de equilíbrio.
O teste multivariado de significância da diferença de médias (MANCOVA)
mostra que nenhum dos três factores está significativamente associado à lateralidade (ver
Quadro 4.29):
Quadro 4.29
Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para as variáveis
LATD e LATT, por modalidade, idade e tipo de prova, para a amostra de sujeitos do sexo
masculino (N=96).
Em boa verdade, a análise poderia terminar aqui. Vamos, no entanto, examinar as
relações univariadas.
- Factor Modalidade
A modalidade não se encontra relacionada, numa perspectiva univariada, com as
variáveis de critério LATD e LATT (ver Quadro 4.30):
1-MODAL, 2-IDADE, 3-PROVA
Effect Wilk's Lambda
Rao's R gl 1 gl 2 p
1 0,904 1,328 6 154 0,248
2 0,990 1,396 6 154 0,220
3 0,922 0,687 8 65 0,701
12 0,820 0,892 18 154 0,589
13 0,813 0,584 24 189 0,940
23 0,834 0,509 24 189 0,973
123 0,300 1,226 72 402 0,117
Dolores Monteiro
146
Quadro 4.30
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD e
LATT, por Modalidade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
As médias destas variáveis, por modalidade praticada, são as seguintes (Qua-
dro 4.31):
Quadro 4.31
Médias de LATD e LATT, por Modalidade, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino
(N=96).
- Factor Idade
Como se pode apreciar no Quadro 4.32, o factor Idade não está significativamente
associado, quer à variável LATD (p=0.711), quer à variável LATT (p=0.063).
Quadro 4.32
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD e
LATT, por Idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
EFEITO: MODALIDADE
Quad.MédioEfeito Quad.Médio Erro f (gl1,2) 3,78 p
LATD 5,758 7,672 0,750 0,525
LATT 1,808 1,780 1,015 0,391
MODALIDADE LATD LATT
AND 0,250 0,147
NAT 0,150 -0,122
FUT 0,392 0,024
NPRM -0,150 0,085
EFEITO: IDADE
Quad.Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 3,78 p
LATD 3,533 7,672 0,460 0,711
LATT 4,508 1,780 2,532 0,063
Resultados
147
Os escores dos sujeitos de cada grupo de idade nestas duas variáveis são os seguintes:
Quadro 4.33
Médias de LATD e LATT, por Idade, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
- Factor Prova
O factor Prova não exibe qualquer associação estatisticamente significativa com as
variáveis que exprimem a predominância lateral (Quadro 4.34):
Quadro 4.34
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD e
LATT, por Prova, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
Os escores médios respectivos, registados nas cinco provas realizadas, foram os
seguintes (Quadro 4.35):
Quadro 4.35
Médias de LATD e LATT, por Prova, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino
(N=96).
IDADE LATD LATT
ONZE -0,125 -0,192
DOZE 0,233 0,272
TREZE 0,167 -0,008
CATORZE 0,367 0,062
EFEITO: PROVA
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 4,320 p
LATD 6,154 5,536 1,112 0,351
LATT 0,106 1,361 0,078 0,989
PROVA LATD LATT
1 0,240 0,063
2 0,198 0,014
3 0,344 0,028
4 0,302 -0,008
5 -0,281 0,071
Dolores Monteiro
148
- Interacções
Nenhuma das interacções possíveis se revelou como estatisticamente associada àpredominância lateral, quer quando esta é expressa em termos de número de oscilações(LATD), quer quando se mede em função do tempo (LATT).
Interacção MODAL x IDADE
A interacção entre a Modalidade e a Idade é não-significativa, para ambas as variáveisdependentes (ver Quadro 4.36).
Quadro 4.36Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD eLATT, por interacção Modalidade e Idade, para a amostra de sujeitos do sexo masculino(N=96).
As médias para cada grupo são as seguintes:
Quadro 4.37Médias de LATD e LATT, por Modalidade e Idade, para a amostra dos sujeitos do sexomasculino (N=96).
INTERACÇÂO: MODAL x IDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 9,78 p
LATD 10,689 7,672 1,393 0,206
LATT 0,665 1,780 0,374 0,944
MODAL IDADE LATD LATT
AND ONZE 0,367 0,032
AND DOZE -0,500 0,167
AND TREZE 0,233 0,026
AND CATORZE 0,900 0,362
NAT ONZE -0,600 -0,517
NAT DOZE 0,133 0,201
NAT TREZE 0,433 -0,083
NAT CATORZE 0,633 -0,090
FUT ONZE 0,833 -0,117
FUT DOZE 0,633 0,333
FUT TREZE 0,033 -0,148
FUT CATORZE 0,067 0,030
NPRM ONZE -1,100 -0,166
NPRM DOZE 0,667 0,388
NPRM TREZE -0,033 0,173
NPRM CATORZE -0,133 -0,054
Resultados
149
Graficamente, esta interacção apresenta-se assim:
Gráfico 4.19. Distribuição dos escores em LATD, por Modalidade e Idade,
dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
Gráfico 4.20. Distribuição dos escores em LATT, por Modalidade e Idade,
dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
Interacção MODALIDADE x PROVA
A interacção entre a Modalidade praticada e a Prova realizada é igualmente não-
significativa para as duas variáveis dependentes (Quadro 4.38):
IDADE
MODAL NPRM
MODAL FUT
MODAL NAT
MODAL AND
CATORZETREZEDOZEONZE
1.4
1
.6
.2
- . 2
- . 6
- 1
-1 .4
IDADE
MODAL NPRM
MODAL FUT
MODAL NAT
MODAL AND
CATORZETREZEDOZEONZE
.6
.4
.2
0
- . 2
- . 4
- . 6
Dolores Monteiro
150
Quadro 4.38
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD e
LATT, por interacção Modalidade e Prova, para a amostra de sujeitos do sexo masculino
(N=96).
As médias são as seguintes (Quadro 4.39):
Quadro 4.39
Médias de LATD e LATT, por Modalidade e Prova, para a amostra dos sujeitos do sexo
masculino (N=96).
INTERACÇÃO: MODALIDADE x PROVA
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 12 p
LATD 6,211 5,536 1,122 0,341
LATT 0,505 1,361 0,371 0,973
MODALIDADE PROVA LATD LATT
AND 1 0,167 0,129
AND 2 0,417 0,301
AND 3 0,833 0,183
AND 4 0,458 0,029
AND 5 -0,625 0,092
NAT 1 0,625 -0,058
NAT 2 0,250 -0,122
NAT 3 -0,083 -0,154
NAT 4 0,04167 -0,171
NAT 5 -0,083 -0,105
FUT 1 -0,083 0,030
FUT 2 0,000 -0,212
FUT 3 0,375 -0,089
FUT 4 0,750 0,028
FUT 5 0,917 0,365
NPRM 1 0,250 0,150
NPRM 2 0,125 0,089
NPRM 3 0,250 0,174
NPRM 4 -0,042 0,080
NPRM 5 -1,333 -0,068
Resultados
151
Os escores respectivos podem apreciar-se graficamente:
Gráfico 4.21. Distribuição dos escores em LATD, por Modalidade e Prova, dos sujeitos
do sexo masculino (N=96)
Gráfico 4.22. Distribuição dos escores em LATT, por Modalidade e Prova, dos sujeitos
do sexo masculino (N=96)
Interacção IDADE x PROVA
Vejamos, agora, a interacção entre a Idade e a Prova realizada. Tal como sucedia na
análise multivariada, os resultados univariados mostram que este efeito não é significativo
para qualquer das duas variáveis dependentes:
LATD
MODAL NPRM
MODAL FUT
MODAL NAT
MODAL AND
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
1.2
.8
.4
0
- . 4
- . 8
-1 .2
-1 .6
LATT
MODAL NPRM
MODAL FUT
MODAL NAT
MODAL AND
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
.45
.3
.15
0
- . 15
- . 3
Dolores Monteiro
152
Quadro 4.40
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD e
LATT, por interacção Idade e Prova, para a amostra de sujeitos do sexo masculino (N=96).
As médias dos diferentes grupos são as seguintes:
Quadro 4.41
Médias de LATD e LATT, por Idade e Prova, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino
(N=96).
INTERACÇÂO: IDADE x PROVA
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 12 p
LATD 5,615 5,536 1,014 0,435
LATT 1,025 1,361 0,753 0,699
IDADE PROVA LATD LATT
ONZE 1 0,125 -0,060
ONZE 2 0,333 -0,165
ONZE 3 -0,083 -0,205
ONZE 4 0,042 -0,249
ONZE 5 -1,042 -0,283
DOZE 1 0,167 0,191
DOZE 2 0,208 0,118
DOZE 3 0,875 0,320
DOZE 4 0,167 0,051
DOZE 5 -0,250 0,680
DOZE 1 0,542 0,076
TREZE 2 0,292 0,148
TREZE 3 0,167 -0,047
TREZE 4 0,667 0,160
TREZE 5 -0,833 -0,376
CATORZE 1 0,125 0,043
CATORZE 2 -0,042 -0,046
CATORZE 3 0,417 0,045
CATORZE 4 0,333 0,005
CATORZE 5 1,000 0,263
Resultados
153
Os gráficos correspondentes apresentam-se a seguir:
Gráfico 4.23. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, dos sujeitos do
sexo masculino (N=96)
Gráfico 4.24. Distribuição dos escores em LATT, por Idade e Prova, dos sujeitos do sexomasculino (N=96)
Interacção MODAL x IDADE x PROVA
A tripla interacção é, curiosamente, significativa (a p=0.031) para o caso da LATD.
Quadro 4.42Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD eLATT, por interacção Modalidade x Idade x Prova, para a amostra de sujeitos do sexo
masculino (N=96).
LATD
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
1.2
.8
.4
0
- . 4
- . 8
-1 .2
LATT
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
.8
.6
.4
.2
0
- . 2
- . 4
- . 6
INTERACÇÂO: MODAL x IDADE x PROVA
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 36 p
LATD 8,461 5,536 1,528 0,031*
LATT 0,783 1,361 0,575 0,977
Dolores Monteiro
154
A apresentação tabular dos resultados para os 80 (4 x 4 x 5) níveis de efeitos gerados
por esta interacção é praticamente ilegível, razão porque nos dispensamos de a apresentar
aqui. Talvez os gráficos correspondentes nos possam ajudar a fazer uma ideia da natureza
desta interacção:
Gráfico 4.25. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, para os praticantes
de Andebol.
Gráfico 4.26. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, para os praticantes
de Futebol.
Gráfico 4.27. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, para os praticantes
de Natação.
LATD
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
3
2
1
0
- 1
- 2
- 3
- 4
LATD
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
3
2.5
2
1.5
1
.5
0
- . 5
- 1
-1 .5
LATD
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
4
3
2
1
0
- 1
- 2
- 3
Resultados
155
Gráfico 4.28. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, para os Não
Praticantes.
- Covariantes
Os resultados multivariados para as duas co-variantes (Peso e Altura) são não
significativos:
Quadro 4.43
Teste multivariado de significância para as duas variáveis de critério LATD e LATT, por
Peso e Altura, para a amostra dos sujeitos do sexo masculino (N=96).
As análises univariadas para as 10 (dez) variáveis de produto efectivamente medidas
mostram que o impacto das co-variantes permanece não-significativo em todos os casos.
Podemos assim concluir que as duas variáveis antropométricas não se relacionam com as
medidas de predominância lateral.
LATD
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
2.5
1.5
.5
- . 5
-1 .5
-2 .5
-3 .5
-4 .5
Testes multivariados
2 Covariantes
Valor p
Wilks' Lambda 0,791
Rao R Form 3 (20, 138) 0,858 0,639
Pillai-Bartlett Trace 0,221
v (20, 140) 0,868 0,628
Dolores Monteiro
156
4.2.3. Relação do Sexo com as variáveis de critério
Para determinar qual a relação do factor SEXO com as diversas medidas criteriais
de interesse, realizámos duas séries de análises Multivariadas, a primeira incidindo sobre
as variáveis relativas ao grau de equilíbrio dinâmico (variáveis TOTDES e TOTTEM) e a
segunda sobre as duas variáveis de predominância lateral (variáveis LATD e LATT). Em
ambas estas duas séries, apenas utilizámos os dois grupos de sujeitos não-praticantes
(designados por NPRM e NPRF, respectivamente), num total de 48 sujeitos.
Nestas análises, o factor Idade foi entrado como factor de controlo. Igualmente se
utilizaram, pela mesma razão, e como co-variantes, as duas variáveis antropométricas, o
Peso e a Altura.
Trata-se, portanto, de duas MANCOVAS, com um desenho de análise similar, na
sua estrutura, ao das análises anteriores.
4.2.3.1. Variáveis TOTDES e TOTTEM
Os resultados multivariados para estas duas variáveis mostram que apenas o factor
Prova tem um efeito significativo (a p<0.001) sobre as duas medidas de equilíbrio.
Quadro 4.44Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para as variáveis
TOTDES e TOTTEM, por Sexo, Idade e tipo de Prova, para a amostra de sujeitos não
praticantes dos dois sexos (N=48).
Quanto às co-variantes, os resultados multivariados são igualmente não-signi-
ficativos. Os resultados univariados (para as dez medidas relevantes) mostram, da mesma
forma, que não existe relação significativa entre aquelas e os parâmetros antropométricos.
O quadro seguinte apresenta os resultados multivariados.
1-SEXO, 2-IDADE, 3-PROVA
Efeito Wilk's Lambda Rao's R gl 1 gl 2 p
Sexo 0,898 2,108 2 37 0,136
Idade 0,954 0,296 6 74 0,937
Prova 0,180 14,256 8 25 <0,001***
Sexo X Idade 0,970 0,191 6 74 0,979
Sexo X Prova 0,679 1,478 8 25 0,215
Idade X Prova 0,615 0,556 24 73 0,946
Sexo X Idade X Prova 0,582 0,625 24 73 0,901
Resultados
157
Quadro 4.45
Teste multivariado de significância para as duas variáveis de critério TOTDES e TOTTEM,
por Peso e Altura, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Passemos agora a considerar o efeito dos três factores (Sexo, Idade e Prova) sobre
os escores de interesse.
- Factor Sexo
O factor Sexo, que já atrás constatáramos não se encontrar associado à perform-
ance nas duas variáveis consideradas em conjunto, mostra-se igualmente sem relação com
estas, quando se tomam em separado:
Quadro 4.46
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis TOTDES e
TOTTEM, por Sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
As médias dos dois grupos são as seguintes:
Quadro 4.47
Médias de TOTDES e TOTTEM, por Sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dos
dois sexos (N=48).
Testes Multivariados
2 Covariantes
Valor p
Wilks' Lambda 0,790
Rao R Form 3 (20, 58) 0,364 0,993
Pillai-Bartlett Trace 0,222
v (20, 60) 0,374 0,991
EFEITO: SEXO
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 1,38 p
TOTDES 16,120 15,710 1,026 0,317
TOTTEM 8,890 2,547 3,490 0,069
SEXO TOTDES TOTTEM
MASC. 2,600 0,680
FEM. 3,092 1,025
Dolores Monteiro
158
- Factor Idade
A idade não está, como se vê a seguir, relacionada univariadamente com as duas
variáveis de critério:
Quadro 4.48
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis TOTDES e
TOTTEM, por Sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
As médias são as seguintes:
Quadro 4.49
Médias de TOTDES e TOTTEM, por Idade, para a amostra de sujeitos não praticantes
dos dois sexos (N=48).
- Factor Prova
A Prova tem um efeito estatisticamente significativo (a p<0.001) sobre as duas
variáveis de critério:
Quadro 4.50
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis TOTDES e
TOTTEM, por Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
EFEITO: IDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 3,38 p
TOTDES 3,875 15,710 0,247 0,863
TOTTEM 0,994 2,547 0,390 0,761
IDADE TOTDES TOTTEM
ONZE 3,067 0,829
DOZE 3,050 0,969
TREZE 2,933 0,961
CATORZE 2,333 0,652
MAIN EFFECT: PROVA
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 4,160 p
TOTDES 585,933 6,845 85,600 0,000***
TOTTEM 57,902 0,896 64,646 0,000***
Resultados
159
As médias são as seguintes:
Quadro 4.51
Médias de TOTDES e TOTTEM, por Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes
dos dois sexos (N=48).
Como se constata, o desequilíbrio é significativamente maior no caso da Prova 5
que nas outras provas. Estes resultados corroboram os resultados similares verificados na
amostra principal deste estudo.
- Interacções
As interacções são estatisticamente não-significativas na análise multivariada.
Vejamos estas relações numa perspectiva univariada.
Interacção SEXO x IDADE
Esta interacção não é estatisticamente significativa para ambas as variáveis
dependentes TOTDES e TOTTEM
Quadro 4.52
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis TOTDES e
TOTTEM, por interacção Sexo x Idade, para a amostra de sujeitos não praticantes dos
dois sexos (N=48).
PROVA TOTDES TOTTEM
1 2,000 0,590
2 1,354 0,322
3 1,083 0,258
4 0,750 0,291
5 9,042 2,803
INTERACÇÂO: SEXO x IDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 3,38 p
TOTDES 3,796 15,710 0,242 0,867
TOTTEM 0,422 2,547 0,166 0,919
Dolores Monteiro
160
As médias respectivas apresentam-se a seguir:
Quadro 4.53
Médias de TOTDES e TOTTEM, por Sexo e Idade, para a amostra de sujeitos não
praticantes dos dois sexos (N=48).
A representação gráfica destas médias apresenta-se a seguir, nos gráficos 4.29 e
4.30:
Gráfico 4.29. Distribuição dos escores em TOTDES, por Sexo e Idade, para a amostra
de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Gráfico 4.30. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Sexo e Idade, para a amostra
de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
SEXO IDADE TOTDES TOTTEM
MASC ONZE 2,700 0,556
MASC DOZE 3,200 0,948
MASC TREZE 2,767 0,728
MASC CATORZE 1,733 0,489
FEM ONZE 3,433 1,102
FEM DOZE 2,900 0,990
FEM TREZE 3,100 1,193
FEM CATORZE 2,933 0,815
IDADE
SEXO FEM
SEXO MASC
CATORZETREZEDOZEONZE
3.6
3.2
2.8
2.4
2
1.6
IDADE
SEXO FEM
SEXO MASC
CATORZETREZEDOZEONZE
1.3
1.2
1.1
1
.9
.8
.7
.6
.5
.4
Resultados
161
Interacção SEXO x PROVA
A interacção Sexo x Prova é estatisticamente significativa (a p<0.01) para a variável
TOTTEM, mas não para a TOTDES.
Quadro 4.54
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis TOTDES e
TOTTEM, por interacção Sexo x Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes dos
dois sexos (N=48)
As médias e a sua representação gráfica apresentam-se a seguir:
Quadro 4.55
Médias de TOTDES e TOTTEM, por Sexo e Prova, para a amostra de sujeitos não
praticantes dos dois sexos (N=48).
INTERACÇÃO: Sexo x Prova
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 4,160 p
TOTDES 0,254 6,845 0,037 0,997
TOTTEM 3,291 0,896 3,674 0,007**
SEXO PROVA TOTDES TOTTEM
MASC 1 1,667 0,567
MASC 2 1,208 0,248
MASC 3 0,833 0,245
MASC 4 0,542 0,172
MASC 5 8,750 2,168
FEM 1 2,333 0,613
FEM 2 1,500 0,395
FEM 3 1,333 0,270
FEM 4 0,958 0,409
FEM 5 9,333 3,48
Dolores Monteiro
162
Gráfico 4.31. Distribuição dos escores em TOTDES, por Sexo e Prova, para a amostra
de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Gráfico 4.32. Distribuição dos escores em TOTTEM, por Sexo e Prova, para a amostra
de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
A interacção reside na circunstância de os indivíduos do sexo masculino registarem
menos tempo de desequilíbrio que os do outro sexo em 3 das provas – Prova 3, 4 e 5 – mas
não nas duas restantes.
Interacção IDADE x PROVA
Embora de interesse marginal para o presente contexto, não quisemos deixar de
examinar esta interacção. Como se pode ver pelo quadro seguinte, ela não é estatisticamente
significativa para ambas as variáveis dependentes.
TOTDES
SEXO FEM
SEXO MASC
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
1 1
9
7
5
3
1
- 1
TOTTEM
SEXO FEM
SEXO MASC
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
.5
0
- . 5
Resultados
163
Quadro 4.56
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis TOTDES e
TOTTEM, por interacção Idade x Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes dos
dois sexos (N=48).
Apresentamos a seguir as médias e a respectiva representação gráfica:
Quadro 4.57
Médias de TOTDES e TOTTEM, por Idade e Prova, para a amostra de sujeitos não
praticantes dos dois sexos (N=48).
INTERACÇÂO: IDADE x PROVA
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 4,160 p
TOTDES 3,069 6,845 0,448 0,941
TOTTEM 0,602 0,896 0,672 0,776
IDADE PROVA TOTDES TOTTEM
ONZE 1 2,167 0,590
ONZE 2 1,833 0,427
ONZE 3 0,833 0,146
ONZE 4 0,500 0,075
ONZE 5 10,000 2,909
DOZE 1 2,333 1,048
DOZE 2 1,500 0,303
DOZE 3 1,250 0,253
DOZE 4 0,667 0,183
DOZE 5 9,500 3,058
DOZE 1 2,333 0,391
TREZE 2 1,667 0,427
TREZE 3 1,500 0,431
TREZE 4 1,000 0,603
TREZE 5 8,167 2,952
CATORZE 1 1,16667 0,332
CATORZE 2 0,417 0,131
CATORZE 3 0,750 0,200
CATORZE 4 0,833 0,302
CATORZE 5 8,500 2,294
Dolores Monteiro
164
Gráfico 4.33. Distribuição dos escores em TOTDES, por Idade e Prova, para a amostra
de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Gráfico 4.34. Distribuição dos escores em TOTEM, por Idade e Prova, para a amostrade sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Interacção SEXO x IDADE x PROVA
A interacção tripla é igualmente não-significativa (ver Quadro 4.58). Por razões de
espaço não apresentaremos as médias e a representação gráfica dessas médias. Em todo o
caso, seriam dificilmente interpretáveis.
Quadro 4.58Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis TOTDES e
TOTTEM, por interacção Sexo x Idade x Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes
dos dois sexos (N=48).
TOTDES
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
1 1
9
7
5
3
1
- 1
TOTTEM
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
3.4
2.8
2.2
1.6
1
.4
- . 2
INTERACÇÂO: SEXO x IDADE x PROVA
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 12 p
TOTDES 1,435 6,845 0,210 0,998
TOTTEM 0,927 0,896 1,035 0,420
Resultados
165
4.2.3.2. Variáveis LATD e LATT
Analisaremos nesta secção o impacto do factor sexo sobre as duas variáveis relativasà predominância lateral (variáveis LATD e LATT). A amostra utilizada e a estrutura dodesenho empírico são as mesmas da secção anterior: os mesmos factores, as mesmas co-variantes.
A análise multivariada mostra que nenhum dos factores considerados é um preditorsignificativo deste construto de predominância lateral.
Quadro 4.59Teste multivariado (MANOVA) de significância da diferença de médias para as variáveisLATD e LATT, por Sexo, Idade e tipo de Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes
dos dois sexos (N=48).
As duas covariantes Peso e Altura são igualmente não preditoras (ver quadroseguinte).
Quadro 4.60Teste multivariado de significância para as duas variáveis de critério LATD e LATT, porPeso e Altura, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Em termos univariados, porém, há a assinalar duas relações significativas. Aco-variante Altura correlaciona significativamente com as variáveis LATT-4 e LATD-5,como se pode apreciar nos quadros seguintes. Porque os coeficientes de regressão são
1-SEXO, 2-IDADE, 3-PROVA
Effect Wilk's Lambda
Rao's R gl 1 gl 2 p
Sexo 0,951 0,961 2 37 0,392
Idade 0,957 0,275 6 74 0,947
Prova 0,862 0,501 8 25 0,844
Sexo x Idade 0,864 0,938 6 74 0,473
Sexo x Prova 0,942 0,192 8 25 0,990
Idade x Prova 0,411 1,093 24 73 0,373
Sexo x Idade x Prova 0,498 0,827 24 73 0,692
Testes Multivariados
Covariantes Peso e Altura
Valor p
Wilks' Lambda 0,630
Rao R Form 3 (20, 58) 0,755 0,753
Pillai-Bartlett Trace 0,401
v (20, 60) 0,752 0,757
Dolores Monteiro
166
ambos positivos, podemos dizer que, para os 48 sujeitos considerados, a uma maior estaturacorresponde, na Prova 4, uma predominância temporal das posições de desequilíbrio paraa direita, e, na Prova 5, uma predominância similar do número de posições de desequilíbriopara o mesmo lado direito.
Quadro 4.61Testes univariados de significância para a variável LATT 4, por Peso e Altura, para aamostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Quadro 4.62Testes univariados de significância para a variável LATD 5, por Peso e Altura, para aamostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Porque os três factores considerados não são multivariadamente significativos (comoigualmente o não são as interacções), poderíamos, em rigor, terminar aqui a análise. Noentanto, e em conformidade com o realizado anteriormente, examinaremos de seguida asrelações univariadas de cada um dos factores com a LATD e a LATT.
- Factor Sexo
O sexo não apresenta qualquer associação univariada com a LATD ou a LATT:
Quadro 4.63Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD e
LATT, por Sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Variável: LATT-4F(2, 38) = 2,354362 p = 0,10866
B-weightErro padrão
Beta t (38) p
PESO -0,021 0,014 -0,390 -1,506 0,140
ALTURA 0,027 0,012 0,554 2,138 0,039*
Variável: LATD-5
F(2, 38) = 4,610908 p = 0,01611
Variable B-weightErro padrão
Beta t (38) p
PESO -0,337 0,185 -0,449 -1,823 0,076
ALTURA 0,470 0,162 0,716 2,906 0,006**
EFEITO: SEXO
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 1,38 p
LATD 10,050 10,547 0,953 0,335
LATT 0,085 1,385 0,611 0,806
Resultados
167
As médias por sexo apresentam-se no quadro seguinte. Como se pode apreciar, os
sujeitos do sexo feminino exibem uma predominância para a direita maior que os do outro
sexo, mas a diferença não é estatisticamente significativa.
Quadro 4.64
Médias de LATD e LATT, por Sexo, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois
sexos (N=48).
- Factor Idade
A idade praticamente não permite diferenciar os sujeitos desta amostra. Os resultados
univariados, apresentados no quadro seguinte, são eloquentes:
Quadro 4.65
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD e
LATT, por Idade, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
As médias falam por si (Quadro 4.66). Não existe um padrão discernível quanto à
relação da idade com a predominância lateral.
Quadro 4.66
Médias de LATD e LATT, por Idade, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois
sexos (N=48).
SEXO LATD LATT
MASC. -0,150 0,085
FEM. 0,208 0,101
EFEITO: IDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 3,38 p
LATD 1,494 10,547 0,142 0,934
LATT 0,255 1,385 0,184 0,907
IDADE LATD LATT
ONZE -0,167 0,048
DOZE 0,183 0,162
TREZE 0,067 0,150
CATORZE 0,033 0,013
Dolores Monteiro
168
- Factor Prova
A natureza da Prova não está associada à lateralidade (Quadro 4.67):
Quadro 4.67Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD eLATT, por Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Vejamos as médias por prova (Quadro 4.68). No caso da variável LATD, osresultados registados na prova 5 são mais excêntricos, mas uma análise post-hoc (teste deSheffé) mostra que não diferem significativamente dos registados em qualquer das outrasprovas.
Quadro 4.68Médias de LATD e LATT, por Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois
sexos (N=48).
- Interacções
Interacção SEXO x IDADE
A interacção Sexo x Idade não é significativa para qualquer das variáveisconsideradas:
Quadro 4.69Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD eLATT, por interacção Sexo x Idade, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois
sexos (N=48).
EFEITO: PROVA
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 4,160 p
LATD 9,308 6,604 1,409 0,233
LATT 0,103 0,966 0,106 0,980
PROVA LATD LATT
1 0,375 0,1333
2 0,271 0,510
3 0,250 0,073
4 -0,042 0,057
5 -0,708 0,152
INTERACÇÃO: SEXO x IDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 3,38 p
LATD 19,655 10,547 1,864 0,152
LATT 2,125 1,385 1,534 0,221
Resultados
169
Os resultados dos diferentes grupos e a sua representação gráfica apresentam-se a
seguir:
Quadro 4.70
Médias de LATD e LATT, por Sexo e Idade, para a amostra de sujeitos não praticantes
dos dois sexos (N=48).
Gráfico 4.35. Distribuição dos escores em LATD, por Sexo e Idade, para a amostra de
sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Gráfico 4.36. Distribuição dos escores em LATT, por Sexo e Idade, para a amostra de
sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
SEXO IDADE LATD LATT
MASC. ONZE -1,100 -0,166
MASC. DOZE 0,667 0,388
MASC. TREZE -0,033 0,173
MASC. CATORZE -0,133 -0,054
FEM. ONZE 0,767 0,262
FEM. DOZE -0,300 -0,063
FEM. TREZE 0,167 0,127
FEM. CATORZE 0,200 0,079
IDADE
SEXO FEM
SEXO MASC
CATORZETREZEDOZEONZE
1
.6
.2
- . 2
- . 6
- 1
-1 .4
IDADE
SEXO FEM
SEXO MASC
CATORZETREZEDOZEONZE
.45
.35
.25
.15
.05
- . 05
- . 15
- . 25
Dolores Monteiro
170
Interacção SEXO x PROVA
Igualmente a interacção Sexo x Prova não é significativa (Quadro 4.71):
Quadro 4.71Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD eLATT, por interacção Sexo x Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes dos doissexos (N=48).
As médias e a sua representação gráfica são as seguintes:
Quadro 4.72Médias de LATD e LATT, por Sexo e Prova, para a amostra de sujeitos não praticantesdos dois sexos (N=48).
Gráfico 4.37. Distribuição dos escores em LATD, por Sexo e Prova, para a amostra desujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
INTERACÇÃO: SEXO x IDADE
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 4,160 p
LATD 3,204 6,604 0,485 0,747
LATT 0,724 0,966 0,749 0,560
SEXO PROVA LATD LATT
MASC. 1 0,250 0,150
MASC. 2 0,125 0,089
MASC. 3 0,250 0,174
MASC. 4 -0,042 0,080
MASC. 5 -1,333 -0,068
FEM. 1 0,500 0,117
FEM. 2 0,417 0,013
FEM. 3 0,250 -0,029
FEM. 4 -0,417 0,034
FEM. 5 -0,083 0,371
LATD
SEXO FEM
SEXO MASC
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
.8
.4
0
- . 4
- . 8
-1 .2
-1 .6
Resultados
171
Gráfico 4.38. Distribuição dos escores em LATT, por Sexo e Prova,
para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Nenhum teste post-hoc de diferenças entre pares (usámos, na ocorrência o teste de
Scheffé) revela uma diferença significativa nesta interacção.
Interacção IDADE x PROVA
Esta interacção é não-significativa:
Quadro 4.73
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD e
LATT, por interacção Idade x Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes dos dois
sexos (N=48).
LATT
SEXO FEM
SEXO MASC
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
.5
.4
.3
.2
.1
0
- . 1
INTERACÇÂO: IDADE x PROVA
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 12 p
LATD 4,083 6,604 0,618 0,825
LATT 0,458 0,966 0,474 0,928
Dolores Monteiro
172
As médias e a respectiva representação gráfica apresentam-se em seguida:
Quadro 4.74
Médias de LATD e LATT, por Idade e Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes
dos dois sexos (N=48).
Gráfico 4.39. Distribuição dos escores em LATD, por Idade e Prova, para a amostra de
sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
IDADE PROVA LATD LATT
ONZE 1 0,333 0,260
ONZE 2 0,667 0,160
ONZE 3 0,333 0,113
ONZE 4 -0,167 0,040
ONZE 5 -2,000 -0,334
DOZE 1 0,500 0,338
DOZE 2 0,333 0,052
DOZE 3 0,750 0,112
DOZE 4 -0,500 -0,033
DOZE 5 -0,167 0,344
TREZE 1 0,000 -0,033
TREZE 2 0,167 0,027
TREZE 3 0,000 0,094
TREZE 4 0,167 0,248
TREZE 5 -0,833 0,415
CATORZE 1 -0,167 -0,032
CATORZE 2 -0,083 -0,034
CATORZE 3 -0,083 -0,028
CATORZE 4 0,333 -0,025
CATORZE 5 0,167 0,183
LATD
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
1.4
.8
.2
- . 4
- 1
-1 .6
-2 .2
Resultados
173
Gráfico 4.40. Distribuição dos escores em LATT, por Idade e Prova, para a amostra de
sujeitos não praticantes dos dois sexos (N=48).
Interacção SEXO x IDADE x PROVA
A tripla interacção é igualmente não-significativa para ambas as variáveis
dependentes:
Quadro 4.75
Testes univariados de significância da diferença de médias para as variáveis LATD e
LATT, por interacção Sexo x Idade x Prova, para a amostra de sujeitos não praticantes
dos dois sexos (N=48).
Por razões de espaço, as médias e gráficos respectivos não serão aqui apresentadas.
LATT
IDADE CATORZE
IDADE TREZE
IDADE DOZE
IDADE ONZE
PROVA 5PROVA 4PROVA 3PROVA 2PROVA 1
.5
.4
.3
.2
.1
0
- . 1
- . 2
- . 3
- . 4
INTERACÇÃO: SEXO x IDADE x PROVA
Quad. Médio Efeito Quad. Médio Erro f (gl1,2) 12 p
LATD 4,990 6,604 0,756 0,695
LATT 0,716 0,966 0,742 0,709
175
Conclusões
PARTE III
176
Dolores Monteiro
177
Conclusões
5Discussão conclusão
e recomendações
178
Dolores Monteiro
179
Conclusões
O estudo realizado vem na sequência de trabalhos produzidos, por alguns
investigadores, que incidem sobre a verificação das características temporo-espaciais dos
diversos sistemas implicados no equilíbrio postural em posição ortostática.
Recordamos que o nosso estudo, ao pretender analisar as características de
funcionamento temporo-espacial dos sistemas visual e oculomotor implicados no
comportamento postural em situações de equilíbrio ortostático, fê-lo através do método
estabilométrico, cujo objectivo reside na medição dos fenómenos de controlo da postura,
ou, com a finalidade de tentar prever o próprio rendimento em situações dinâmicas.
Assim, a ordem de apresentação da avaliação dos resultados aqui expressa será
feita de acordo com a verificação das variáveis de critério e terá, neste capítulo, os elementos
mais relevantes do nosso estudo.
Concluída que foi a análise estatística, passaremos agora a uma avaliação final dos
resultados obtidos tendo presentes os nossos objectivos essenciais da investigação.
1 - Reportando-nos à análise centrada na estatística descritiva, observamos que,
da tendência geral dos resultados obtidos, nas diversas relações em análise, ressaltam
apenas os elementos que a seguir se enunciam:
• a distribuição do peso é enviesada para os sujeitos em análise, contudo, quando
nos detemos na altura, a sua distribuição é já mais homogénea.
• Quanto à relação peso e a altura com a modalidade praticada e a idade entre os
sujeitos do sexo masculino verifica-se um impacto significativo destes dois factores
no peso e na altura, quando estas medidas antropométricas são consideradas
conjuntamente. A interacção entre a modalidade e a idade não é, porém, significativa.
• Quanto à idade verifica-se que ela está associada a ambos os parâmetros peso e
altura. Esta associação é, no entanto, quase monótona uma vez que com a variação
do crescimento é natural que o peso e a altura produzam o mesmo efeito.
• No sentido de se verificar a influência do factor sexo sobre as duas variáveis
antropométricas para os grupos não-praticantes, verifica-se que o sexo apenas tem
influência significativa sobre o peso, mas não sobre a altura. Esta verificação diz
apenas respeito ao grupo dos não praticantes do sexo feminino, por estes serem
mais pesados e mais altos que os do sexo masculino, confirmando os estudos sobre
o crescimento estatural e ponderal, realizados por Rigal (1987) p.390.
180
Dolores Monteiro
2 - Relativamente às análises Multivariadas das variáveis de critério, propusemo-
-nos, no início da investigação verificar a relação entre duas variáveis antropométricas
(peso e altura) com as variáveis de critério.
a) Pela análise dos procedimentos metodológicos, concluímos que os sujeitos mais
altos têm oscilações mais vincadas para a direita, quando expressas em número de
deslocamentos, mas não em tempo de deslocação. Esta incidência, relativamente à
predominância postural com preferência lateral para a direita, indicia ser determinante no
posicionamento do centro de gravidade em relação ao eixo médio do corpo que traduz a
verticalidade do sujeito. Sobre esta problemática de posicionamento, Arguel M. P. (1980)
refere: “...a verticalidade do corpo confunde-se com o eixo de gravidade, esta condição
pode ser causada por vários factores entre os quais podemos destacar, o deficiente
desenvolvimento dos músculos extensores dos membros inferiores, que origina graves
desequilíbrios musculares e atitudes posturais compensatórias incorrectas, mesmo a nível
superior, traduzindo o afastamento do eixo corporal para a direita”.
b) Da relação entre os factores preditores e as variáveis de critério TOTDES e
TOTTEM os resultados sugerem, na linha dos estudos realizados por Meyer (1979) e
Baron (1982), a interacção entre a natureza dos estímulos input e a resposta output integradas
no plano da regulação do controlo da postura e equilíbrio. Do mesmo modo, Valentinuzzi
(1980) relata a real dependência entre o comportamento postural e equilíbrio e o tipo de
indução/prova realizados sobre o sistema visual e oculomotor.
Quando consideradas as variáveis de critério conjuntamente, os resultados indicam
que a maior variação, nestas duas medidas, é devida ao tipo de Prova. Mesmo quando
realizámos as análises univariadas - consideradas separadamente - verifica-se que este
factor se mantém altamente significativo. É, sobretudo, na prova 5 que se registam os
resultados mais discrepantes, traduzindo um aspecto conclusivo referente ao comportamento
postural da amostra. Sabe-se, de acordo com Yonas (1981), que a regulação do equilíbrio,
em indivíduos, é determinada pela influência que o sistema visual tem sobre o controlo do
equilíbrio. Ainda, o mesmo autor demonstrou que simulações visuais apropriadas levam a
uma variação concomitante da postura. Igualmente, para Forsseberg & Nashner,
considerando o incremento apreciável do número de deslocamentos posturais na ausência
da entrada visual, referem que podem ser atribuídos ao aumento da sensibilidade do sistema
noutras fontes de informação. Para os mesmos autores, a visão não domina senão nas
situações de conflito intersensorial.
181
Conclusões
Parece-nos clara e evidente a forma como a variação das condições de indução
sensorial se reflecte no maior número de deslocamentos posturais na variável TOTDES,
apresentando diferenças significativas entre as provas 1 e 3 e provas 1 e 4. O mesmo
acontece no registo de diferenças significativas no factor Prova na variável TOTTEM
medida de tempo de desequilíbrio. Na linha de investigação de vários posturologistas, as
condições objectivas e específicas de realização das provas estão na base de acentuadas
diferenças encontradas na concomitante resposta motora. Neste sentido, consideramos a
inquestionável dependência existente entre o comportamento postural ortostático e a indução
sensorial dos sistemas visual, traduzindo deste modo, uma conclusão genérica final
formulada no início da nossa pesquisa.
c) O factor modalidade (prática) apresenta resultados estatisticamente significativa
sobre as variáveis de critério. No entanto, para nossa surpresa, foram os não praticantes
que obtiveram os escores mais baixos, ou seja, que revelaram um comportamento postural
mais equilibrado. Isto parece estar em contradição com os resultados obtidos por outros
investigadores.
Nas linhas de investigações levadas a efeito por Woollacott & Sveistrup, (1992) a
prática parece contribuir para a organização espacial e temporal das respostas posturais
automáticas não sendo as sinergias posturais estritamente inatas. Das informações
precedentes, realçamos ainda uma questão ligada ao papel da prática desportiva na
aceleração do desenvolvimento e modificação das características das respostas posturais
para além da aquisição das habilidades fundamentais. O desenvolvimento e as aprendizagens
permitem um afinamento das sinergias da activação muscular, assim como uma calibração
das entradas reguladoras das reacções de equilíbrio.
A influência da prática física sobre as capacidades de equilíbrio tem sido muito
estudada.
Singer R (1970) por exemplo, relativamente a tarefas estabilométricas, releva uma
melhoria das performances no decurso das sessões experimentais e uma tendência maior
de equilíbrio dos atletas em relação aos indivíduos não treinados nas estratégias de equilíbrio.
Por outro lado Shik, Stoner & Jette (1983) demonstraram que as performances, em
dançarinos, em tarefas de equilíbrio estático e dinâmico, melhoraram com o nível de prática.
Neste contexto e ao verificar que os sujeitos não praticantes são aqueles que apresentam
escores mais baixos, podemos concluir que não se confirmam as informações precedentes
para os conjuntos desprovidos de prática motora organizada.
d) O facto do factor idade não estar associado às duas variáveis de desequilíbrio
poderá ser determinado pelo desenvolvimento das capacidades de equilíbrio aparecer como
182
Dolores Monteiro
condição essencial, não somente na aquisição das habilidades complexas, mas também no
domínio das habilidades ditas fundamentais. Assim, é na infância que as relações
fundamentais, entre postura e movimento, mais se assemelham. Shik, Stoner & Jette (1983).
Do estudo entre as interacções estatísticas, registadas entre a Modalidade e a Idade,
verificam-se para o grupo de NPRM, escores sistematicamente inferiores, quer para a
variável TOTDES como para a TOTTEM. Podemos ainda referir, no contexto dos escores
atribuídos nas diferentes idades para as variáveis atrás referidas, existir uma tendência
para uma aproximação dos escores nas Modalidades desportivas nos indivíduos de catorze
anos. Associamos este acontecimento à ocorrência do pico de desenvolvimento do período
pubertário que se regista ao longo da ontogénese.
O teste univariado de significância - Covariantes - para a variável TOTTEM na
prova 5, por Peso e Altura para a amostra do sexo masculino (N=96) conclui que apenas
da relação Peso e a variável referida possui uma relação significativa. Desta relação,
podemos ainda concluir que quanto mais pesados são os sujeitos, maior é o tempo total
passado por eles em posição de desequilíbrio. No equilíbrio dinâmico, a massa corporal
reparte-se de forma variável em cada instante sobre os pontos de apoio, o que provoca
uma variação de forças: a actividade muscular modifica-se continuamente para manter a
orientação postural global e restabelece-a quando a perturbação é demasiado
importante.Com base nos resultados obtidos, as diferenças verificadas dos deslocamentos
corporais levam-nos a ter que considerar a importância da análise do centro de pressão dos
grupos em estudo, uma vez que evidenciaram claras diferenças no seu posicionamento
relativamente à vertical.
Por outro lado, Howse J. & Hancock S. (1988) referem a importância da condição
postural de peso (weight left and right), na ocorrência da lateralidade. Para os referidos
autores, esta condição parece ser causada pelo deficiente desenvolvimento dos músculos
dos membros inferiores, podendo até originar atitudes posturais compensatórias incorrectas,
aquando da ocorrência do afastamento do eixo corporal lateralmente.
A apresentação de tripla interacção na variável LATD entre a modalidade x idade e
prova, verificada nos gráficos nºs 4.25, 4.26, 4.27 e 4.28, permite-nos concluir, pelo poder
inequívoco e discriminativo da prova 5, que, tal como noutros momentos em análise na
nossa pesquisa, confirma a hipótese da variabilidade da resposta postural consequentemente
à solicitação dos sistemas informacionais. Neste caso, o recurso a outras fontes de
informação, resultante da privação da aferência visual e/ou oculomotora, isto é, a preferência
lateral esquerda verificada pelo desequilíbrio dinâmico, ilustra, significativamente, o número
183
Conclusões
de deslocamentos atingidos, confirmando algumas das conclusões de trabalhos anteriores,
(Madeira F.,1986; Cacho F.,1989; Gantchev G., 1980) e comprovando as respostas obtidas
pelas diferenças de lateralidade por Baron J.B e col. (1976).
e) Relativamente ao Sexo, Prova, Variáveis TOTDES e TOTTEM.
O factor Sexo introduz um outro aspecto que nos parece concludente referente ao
comportamento postural e ao maior número de deslocamentos e tempo de desequilíbrio
dos mesmos deslocamentos. Os resultados confirmam os resultados semelhantes
investigados na amostra principal. Não há diferenças significativas entre sexos.
Quanto às Interacções (Sexo x Prova), verifica-se, neste caso, que existe uma
interacção entre Sexo x Prova estatisticamente significativa para as provas 3, 4 e 5
referenciando os indivíduos do sexo masculino como aqueles que registam menos tempo
de desequilíbrio. Estes resultados confirmam estudos anteriores de Gantchev (1980), nos
quais se conclui que os indivíduos do sexo masculino se afastam menos da verticalidade e
os do sexo feminino criam maiores amplitudes de deslocamento e maior tempo de
desequilíbrio.
f) Os resultados expressos em termos univariados, Variáveis LATD e LATT,
exprimem duas relações significativas. A covariante Altura correlaciona significativamente
com as variáveis LATT-4 e LATD-5 (quadros 4.61 e 4.62). Verificamos, assim, que na
totalidade da amostra de sujeitos não praticantes, na Prova 4, a uma maior estatura
corresponde uma predominância temporal das posições de desequilíbrio para a direita.
Também, na Prova 5, se verifica predominância similar do número de posições de
desequilíbrio para o mesmo lado direito.
De acordo com Serge Mesure & Jacques Crémieux (1998) na posição de pé (bípede)
os segmentos corporais, num dado momento, necessitam da organização e integração
sensório - motora do equilíbrio postural. É assim que todas as modificações activas ou
passivas desta postura fundamental, colocam em jogo dispositivos automáticos de
compensação e de correcção destinados a preservar ou a gerir em, todas as circunstâncias,
o equilíbrio do corpo numa posição determinada. A manutenção de uma actividade postural,
em condições inabituais e desestabilizantes, deve suscitar, no indivíduo, não somente a
utilização das aferências sensoriais, mas também desencadear reacções motoras rápidas e
o mais apropriadas possível ao restabelecimento do equilíbrio (caso deste grupo de não
praticantes na Prova 5, realizada na ausência de informação visual). Do mesmo modo, na
Prova 4 realizada com estimulação opticocinética, por comparação com o que se passa ao
longo da ontogénese, a aprendizagem de um novo gesto passa por uma preponderância da
184
Dolores Monteiro
contribuição visual. Na ontogénese aprendemos, com efeito, que cada vez que o indivíduo
aprende uma nova habilidade postural, existe uma predominância da entrada visual ao
serviço de um novo tipo de controlo postural. No nosso estudo, no grupo de não praticantes,
não podemos observar a construção de uma nova habilidade, mas simplesmente observamos
a sua performance postural. Como diz Massion, 1992, o resultado, expresso pela diminuição
do número de exercícios, demonstra uma adaptação sensório-motora à situação solicitada.
Em adição, destacamos, de acordo com Gagey P. M.(1973), que os dois olhos não
têm a mesma importância para assegurar a regulação da actividade tónico postural do
sujeito em equilíbrio. Normalmente, nós solicitamos mais o chamado “olho postural”, ou
seja, o olho que melhor nos assegura a regulação do nosso equilíbrio. O conhecimento
desta nova perspectiva, que se inscreve no quadro das lateralidades posturais, pode bem
estar na base da justificação fundamental das duas relações significativas anteriormente
apresentadas.
RECOMENDAÇÕES
• Os dados obtidos neste estudo permitem-nos confirmar a necessidade
de desenhos experimentais mais complexos, com o recurso a metodologias de
investigação quantitativa e qualitativa mais elaboradas. A complexidade dos
fenómenos, que decorrem das interacções simultâneas entre os grupos, terá que ter
outro tratamento mais aprofundado.
• Necessariamente, nos aspectos puramente metodológicos, a recolha de
dados deverá ser realizada, de acordo com alguns autores, no meio e no final da
época desportiva, que são os momentos adequados de avaliação.
• Decorrente do ponto anterior, a execução de estudos em contextos
desportivos deverá ser efectuada numa perspectiva longitudinal, recorrendo a
técnicas estatísticas mais complexas e rigorosas. Só assim será possível conhecer
os vários processos relacionais existentes entre as variáveis e o seu efeito no
rendimento dos indivíduos testados.
• Relativamente às dificuldades já referidas e relativas à dimensão da
amostra, em especial ao baixo número de indivíduos seleccionados, elas prenderam-
se com o facto de os indivíduos serem de várias zonas distantes da Universidade,
tornando difícil a deslocação dos indivíduos e, sobretudo, a observação dos critérios
de normalização. Este facto pode ser um obstáculo à extensão deste tipo de estudos
a determinadas amostras.
185
Conclusões
5.1 Propostas de trabalhos futuros
Do trabalho desenvolvido ressaltam algumas questões que necessitam de ser
aprofundadas em pesquisas futuras:
• Procurar o relacionamento do sistema visual com o sistema vestibular,
utilizando estímulos diferentes dos proporcionados no presente estudo.
• Procurar utilizar as mesmas provas em indivíduos com um maior tempo
de prática desportiva (federada) e em diversos escalões etários
187
Bibliografia
6Bibliografia
188
Dolores Monteiro
189
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Anexos
7Anexos
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Dolores Monteiro
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Anexos
Anexo I
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Dolores Monteiro
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Anexos
Anexo II
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Dolores Monteiro
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Anexos
Anexo III