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  • Compreendendo os possveis fatores que influenciam a transformao das intenes em aes estratgicas: Um estudo de caso em uma Instituio de Ensino Superior

    Autoria: Daniel Pacheco Lacerda, Heitor Mansur Caulliraux

    Resumo: Embora a rea de estratgia no seja recente, h poucas pesquisas que dediquem ateno implementao da estratgia (Atkinson, 2006, Hutzchenreuter & Kleindienst, 2006, Meers, 2007). Recente trabalho de Furrer, Thomas & Goussevskaia (2008) fez um levantamento sobre a pesquisa em estratgia, nos ltimos 26 anos, nos principais peridicos da rea e corrobora empiricamente com isso. Alguns trabalhos (Atkinson, 2006, Hutzchenreuter & Kleindienst, 2006, Meers, 2007) dedicados aos problemas vinculados a implementao da estratgia relatam que grande parte das estratgias no so implementadas. Se per si, a implementao da estratgia um tema que merea ateno, o contexto no qual as estratgias sero implementadas oferece desafios especficos. Esse o caso das Instituies de Ensino Superior (IES). Alguns autores (Cohen, March & Olsen, 1972; Cohen & March, 1974; March & Olsen, 1976; Dahrendorf, 1995) argumentam que as Universidades (um tipo de IES, objeto desse estudo) no so gerenciveis. Por conseqncia, as tentativas de desenvolver estratgias, nesse contexto, so questionveis. Contudo, o contexto competitivo das Instituies de Ensino Superior, em geral, e das Universidades, em particular, tornou-se mais acirrado. Entre o perodo de 2000 e 2006 o nmero de IES no Brasil aumento 92% e no Rio Grande do Sul 113%. No Brasil houve um aumento em 116% do nmero de vagas enquanto o nmero de matriculados aumentou 74%. Alm disso, o contexto do ensino distncia oferece desafios adicionais para as IES. Nesse sentido, a utilizao do ferramental da estratgia, em geral, e da implementao da estratgia, em particular, no contexto das IES Privadas se apresenta til. To importante quanto formular estratgias a sua implementao. Posto isto, essa pesquisa se dedica a verificar quais os fatores que influenciaram a transformao das intenes estratgicas (ao longo de 12 anos) existentes em aes estratgicas. A pesquisa foi realizada atravs de uma abordagem qualitativa por meio de um Estudo de Caso em uma IES do Sul do Brasil. Foram entrevistados gestores, funcionrios e docentes vinculados e no vinculados Instituio em tela. Alm disso, foram utilizadas outras fontes de evidncia como o acesso a documentos e os oramentos realizados dos perodos. A pesquisa apresenta alguns indcios em relao aos fatores que podem influenciar nos processos de implementao das intenes estratgicas, em geral, e para as IES, em particular. Alm disso, o trabalho procura contribuir, tambm, para rea ao fornecer um modelo que tenta explicitar as possveis relaes entre os fatores que impactam na implementao, ou no, das intenes estratgicas.

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    1. Introduo Diferentes aspectos da estratgia so objeto de estudo. Aspectos relacionados ao contedo e ao processo de formao das estratgias, envolvimento dos colaboradores e da mdia gerncia, processo decisrio e implementao das estratgias so alguns elementos que podem ser citados. Em recente estudo, Hutzschenreuter & Kleindienst (2006) apresentam que grande parte do foco das pesquisas tem se concentrado nas teorias que explicam as razes da vantagem competitiva (contedo da estratgia Anlise Posicionamento e Estratgicas Genricas, Teoria dos Recursos e Capacidades, Teoria das Capacidades Dinmicas). Alm disso, Furrer, Thomas & Goussevskaia (2008), em levantamento realizado nos ltimos 25 anos, tambm destacam as pesquisas relacionadas ao planejamento estratgico, processo decisrio estratgico e na anlise da competitividade, em detrimento a implementao. No Brasil essa tendncia, aparentemente, no tem se mostra distinta. Em um levantamento realizado sobre a produo cientfica brasileira, entre 1991 e 2002, em estratgia empresarial Bertero, Vasconcelos & Binder (2003) apresentam um quadro semelhante. Dentre 202 artigos analisados (que puderam ser classificados nas temticas propostas pelos autores) sobre estratgia empresarial, 78,3% se concentram nos seguintes temas: Fundamentos Organizacionais (27,2%); Porter & Fundamentos Econmicos (22,3%); Planejamento Estratgico (12,4%) e Processo Decisrio Estratgico (12,4%) (Bertero, Vasconcelos & Binder, 2003). Pode-se perceber, portanto, que pouca ateno vem sendo dedicada as questes relativas ao desdobramento e a implementao da estratgia nas organizaes. Nesse sentido, Meers (2007) afirma haver uma lacuna entre a teoria e a necessidade de pesquisa sobre as razes do sucesso ou fracasso da estratgia nas empresas. Isso pode ensejar a dvida sobre a qualidade das estratgias formuladas e/ou sua implementao. Em um levantamento realizado em 2004, em diferentes setores, com executivos verificou-se que apenas 43% das organizaes consideraram que as iniciativas estratgicas foram bem sucedidas (Economist Intelligence Unit, 2004). Esse quadro no parece ser novo. Em pesquisa realizada com 93 (noventa e trs) organizaes por Alexander (1985) uma parte significativa das organizaes demoraram mais tempo que o planejado para a implementao da estratgia. A pesquisa de Alexander (1985) foi replicada 13 (treze) anos aps sua divulgao por Al Ghamdi (1998) em empresas do Reino Unido. As concluses estiveram alinhadas com as evidncias anteriores. Se per si a estratgia apresenta-se como um tema multifacetado (Chaffee, 1985) e com lacunas (como todo o campo de investigao) a serem preenchidas, os locais de aplicao do conhecimento sobre estratgia apresentam caractersticas peculiares. nesse sentido que as Instituies de Ensino Superior (IES) se inserem. Conforme Meyer Jr. & Mangolim (2006) as Universidades brasileiras procuram transpor os modelos e paradigmas no que tange a estratgia, poderia ser dito tambm sobre outras reas do contexto das empresas para sua realidade. Entretanto, Meyer Jr (2004) chama a ateno para a cautela do uso desse arcabouo para as Universidades. Nesse sentido, um dos aspectos destacados por Meyer Jr (2004) a dicotomia entre a inteno e a ao (alinhando-se as questes discutidas na rea da estratgia). A Universidade pode ser caracterizada como uma organizao complexa, pois rene diversas reas do conhecimento, onde se localizam cursos, os mais distintos, em diferentes nveis, lugar onde as decises so essencialmente colegiadas e polticas e onde atuam profissionais altamente qualificados, formando grupos de interesse distintos (Meyer Jr. & MANGOLIM, 2006, p. 7). As caractersticas peculiares desse tipo de organizao provocam concluses difusas nas pesquisas sobre o tema, chegando at mesmo a questionar suas possibilidades de gerenciamento. Nesse sentido, alguns autores (Cohen, March & Olsen, 1972; Cohen & March, 1974; March & Olsen, 1976; Dahrendorf, 1995) argumentam que as Universidades no so gerenciveis.Corroborando com essa posio Dahrendorf (1995) argumenta que as instituies acadmicas no podem e no deveriam ter uma gesto estratgica.

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    Para outros autores (Millet, 1962; Goodman, 1962; Tabatoni & Barblan, 2000) na realidade o gerenciamento e a tomada de decises ocorrem por consenso e de maneira colegiada. Em um estudo de caso mltiplo em seis representativas Universidades brasileiras (PUC-Rio, PUCRS, UFRGS, UFBA, UNICAMP, UEM) Hardy & Facchin (1996) encontram algumas estruturas Universitrias que corroboram com o que foi apresentado. No h consenso sobre os processos que envolvem a gesto estratgica, principalmente no que tange o processo de formulao e desdobramento, nas Instituies de Ensino Superior. Assim sendo, esse trabalho investigou a seguinte questo: Quais fatores estiverem presentes nas estratgias que foram, ou no, implementadas? A seguir ser apresentado, de maneira sucinta, o referencial terico que sustenta a pesquisa. Em seguida, so evidenciados os procedimentos metodolgicos adotados na conduo da pesquisa. Na seqncia a se apresentam os resultados observados. Por fim, so debatidas as principais concluses, e limitaes do trabalho.

    2. Referencial Terico O presente referencial terico procura apresentar alguns elementos relevantes para a composio do quadro terico que sustentou o trabalho. No se pretende esgotar o tema.

    2.1. A Gesto em Instituies de Ensino Superior Conforme afirma Lorange (2000), no deve ser surpresa que nas instituies acadmicas as idias e prticas de gesto so vistas com ceticismo, seno com desaprovao. Infelizmente, gesto em educao ainda um conceito que estimula uma reao negativa em muitos acadmicos (Lorange, p. 399, 2000). No modelo de Cohen, March & Olsen (1972) as IES so uma anarquia organizada. Segundo essa abordagem a gesto no seria aplicvel nos ambientes das instituies de ensino superior. Mesmo aps mais de 20 anos dessas afirmaes e apesar das mudanas corridas nessas mais de duas dcadas Dahrendorf (p. 103, 1995) afirma que A universidade no quer nem precisa ser gerenciada (...) basicamente, ela funciona em si, por meio de seus prprios e misteriosos dos canais internos". Assim sendo, Dahrendorf (1995) d eco s afirmaes e percepes sobre gesto nas universidades do ponto de vista da anarquia organizada (Lorange, 2000). Segundo Dahrendorf (1995), a universidade funciona pelo interesse dos grupos individuais de desenvolvimento do conhecimento. nesse sentido que outro conjunto de trabalhos se dedica que se chama de Colegialidade. A Colegialidade diz respeito ao gerenciamento e a tomada de deciso ocorrendo pelo consenso entre os pares iguais (Millet, 1962; Goodman, 1962; Tabatoni & Barblan, 2000). Hardy & Fachin (1996, p. 34) definem a colegialidade como descentralizao dentro da subunidade, isto , a ocorrncia de um alto grau de influncia dos membros do corpo docente no processo decisrio. A Colegialidade embora explique certos aspectos da gesto universitria de um ponto de vista das micro-operaes, no suficiente para explicar o funcionamento da universidade como um todo. Uma alternati