Comuna de Paris e Internacional

14
 1 PRIMEIRA INTERNACIONAL OPERÁRIA O Programa Mensagem inaugural, 1864: uma concentração internacional reúne os franceses seguidores do proto- anarquista Pierre-Joseph Proudhon, morto neste mesmo ano de 1864, os unionistas ingleses, os socialistas germânicos de K. Marx, os italianos e alguns filantropos de outros países, aprovando a formação da AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores). Após a mensagem inaugural de Marx, se nomeia um Comitê para elaborar estatutos provisórios – que escreve o próprio Marx – e para celebrar um Congresso Geral em 1865 em Bruxelas, que, não havendo como celebrar, será substituído por uma Conferência de delegados da Alemanha, França, Inglaterra, Suíça e Bélgica em Londres, do dia 25 ao dia 29 de setembro, ao qual se decide a celebração do Congresso do ano seguinte em Ge nebra. “Considerando: que a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores; que os esforços dos trabalhadores por conquistar sua emancipação não devem constituir novos privilégios senão estabelecer para todos os mesmos direitos e os mesmos deveres; que a sujeição do trabalhador ao capital é fonte de toda escravidão política, material e moral; que pelo mesmo a emancipação econômica dos trabalhadores constitui o grande objetivo ao que deve se subordinar todo movimento político; que os esforços realizados até agora tem fracassado por falta de solidariedade entre os operários das diferentes profissões em cada país, e de união fraternal entre os trabalhadores de diversas regiões; que a emancipação dos trabalhadores não é um problema unicamente local ou nacional, mas sim, pelo contrário, este problema interessa a todas as nações civilizadas, ficando necessariamente subordinada sua solução ao concurso teórico e prático das mesmas; que o movimento que se está efetuando entre os operários dos países mais industrializados do mundo inteiro, ao engendrar novas esperanças, dá um solene aviso para não incorrer de novo em antigos erros, aconselhando combinar todos os esforços até agora isolados, por essas razões os abaixo assinantes, membros do Conselho eleito pela Assembléia realizada em 28 de setembro de 1864 em Saint Martin´s Hall de Londres, tem adotado as medidas necessárias para fundar a Associação Internacional dos Trabalhadores. Declaram que esta Associação internacional, assim como todas as sociedades e indivíduos que aderiram, reconhecerão como base de sua conduta para todos os homens a verdade, a justiça e a moral, sem distinção de cor, de crença ou de nacionalidade. Consideram como um dever reclamar não somente para eles os direitos do homem e do cidadão, mas também para todos os que cumprem com seus deveres. Não mais deveres sem direitos, não mais direitos sem deveres”. No entanto, a primeira redação em inglês pelos marxistas proclama “que por isso mesmo, a emancipação econômica dos trabalhadores é o grande objetivo que haverá de se subordinar como um meio todo o movimento político”, e na versão francesa, veículo de expressão dos proudhonianos anarquistas, se afirma simplesmente “que por isso mesmo a emancipação econômica dos trabalhadores é o grande objetivo que haverá de se subordinar todo o movimento político” (desaparece a expressão “como um meio”). É a discórdia na origem da AIT (cfr. Freymond, J. La Primera Internacional. I-II. Zero, Bilbao, 1973). Capítulo II – A AIT, ascensão e queda 1. Primeiro Congresso: Genebra, 1866  Dura apenas 4 dias clandestinos este Congresso (3-6 de setembro) em tempos que não estão para perder  jornadas de trabalho, nem sequer tomar determinados meios de transporte: muitos operários tem de fazer algum trecho do caminho a pé por falta de meios, chegando tarde. Luta social, ou luta política? Contra a opinião dos seguidores do proto-anarquista Proudhon, mais interessados nas greves e nos movimentos econômicos , se aprova a ação política parlamentar para a emancipação da classe operária, ainda que também se dão posturas intermediárias. Entre os franceses a atitude majoritária (...) é partidária de organizar um movimento político operário autônomo e sem instâncias de partido verticalista, sobre a base da luta sindical. Outra corrente minoritária, em que pese propor a independência dos operários frente aos políticos radicais republicanos de esquerda, quer fazer dos sindicatos a base dos partidos. Por fim, a fração saxona será a mais decididamente partidária da luta parlamentar, pois para essa fração a reforma social não cabe ser feita nas costas da legislação estatal.

Transcript of Comuna de Paris e Internacional

Page 1: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 1/14

  1

PRIMEIRA INTERNACIONAL OPERÁRIA

O Programa Mensagem inaugural, 1864: uma concentração internacional reúne os franceses seguidores do proto-

anarquista Pierre-Joseph Proudhon, morto neste mesmo ano de 1864, os unionistas ingleses, os socialistasgermânicos de K. Marx, os italianos e alguns filantropos de outros países, aprovando a formação da AIT(Associação Internacional dos Trabalhadores). Após a mensagem inaugural de Marx, se nomeia um Comitê paraelaborar estatutos provisórios – que escreve o próprio Marx – e para celebrar um Congresso Geral em 1865 emBruxelas, que, não havendo como celebrar, será substituído por uma Conferência de delegados da Alemanha,França, Inglaterra, Suíça e Bélgica em Londres, do dia 25 ao dia 29 de setembro, ao qual se decide a celebraçãodo Congresso do ano seguinte em Genebra.

“Considerando: que a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores; que osesforços dos trabalhadores por conquistar sua emancipação não devem constituir novos privilégios senãoestabelecer para todos os mesmos direitos e os mesmos deveres; que a sujeição do trabalhador ao capital é fontede toda escravidão política, material e moral; que pelo mesmo a emancipação econômica dos trabalhadoresconstitui o grande objetivo ao que deve se subordinar todo movimento político; que os esforços realizados até

agora tem fracassado por falta de solidariedade entre os operários das diferentes profissões em cada país, e deunião fraternal entre os trabalhadores de diversas regiões; que a emancipação dos trabalhadores não é umproblema unicamente local ou nacional, mas sim, pelo contrário, este problema interessa a todas as naçõescivilizadas, ficando necessariamente subordinada sua solução ao concurso teórico e prático das mesmas; que omovimento que se está efetuando entre os operários dos países mais industrializados do mundo inteiro, aoengendrar novas esperanças, dá um solene aviso para não incorrer de novo em antigos erros, aconselhandocombinar todos os esforços até agora isolados, por essas razões os abaixo assinantes, membros do Conselhoeleito pela Assembléia realizada em 28 de setembro de 1864 em Saint Martin´s Hall de Londres, tem adotado asmedidas necessárias para fundar a Associação Internacional dos Trabalhadores. Declaram que esta Associaçãointernacional, assim como todas as sociedades e indivíduos que aderiram, reconhecerão como base de suaconduta para todos os homens a verdade, a justiça e a moral, sem distinção de cor, de crença ou denacionalidade. Consideram como um dever reclamar não somente para eles os direitos do homem e do cidadão,

mas também para todos os que cumprem com seus deveres. Não mais deveres sem direitos, não mais direitossem deveres”.No entanto, a primeira redação em inglês pelos marxistas proclama “que por isso mesmo, a emancipação

econômica dos trabalhadores é o grande objetivo que haverá de se subordinar como um meio todo o movimentopolítico”, e na versão francesa, veículo de expressão dos proudhonianos anarquistas, se afirma simplesmente“que por isso mesmo a emancipação econômica dos trabalhadores é o grande objetivo que haverá de sesubordinar todo o movimento político” (desaparece a expressão “como um meio”). É a discórdia na origem daAIT (cfr. Freymond, J. La Primera Internacional. I-II. Zero, Bilbao, 1973).

Capítulo II – A AIT, ascensão e queda 

1. Primeiro Congresso: Genebra, 1866 

Dura apenas 4 dias clandestinos este Congresso (3-6 de setembro) em tempos que não estão para perder jornadas de trabalho, nem sequer tomar determinados meios de transporte: muitos operários tem de fazer algumtrecho do caminho a pé por falta de meios, chegando tarde.

Luta social, ou luta política? Contra a opinião dos seguidores do proto-anarquista Proudhon, mais interessados nas greves e nos

movimentos econômicos, se aprova a ação política parlamentar para a emancipação da classe operária, ainda quetambém se dão posturas intermediárias. Entre os franceses a atitude majoritária (...) é partidária de organizar ummovimento político operário autônomo e sem instâncias de partido verticalista, sobre a base da luta sindical.Outra corrente minoritária, em que pese propor a independência dos operários frente aos políticos radicaisrepublicanos de esquerda, quer fazer dos sindicatos a base dos partidos. Por fim, a fração saxona será a maisdecididamente partidária da luta parlamentar, pois para essa fração a reforma social não cabe ser feita nas costas

da legislação estatal.

Page 2: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 2/14

  2

Supressão do salárioA AIT adota a luta em escala internacional contra o capital e em favor do desaparecimento do regime

assalariado: “O Congresso declara que no estado atual da indústria, que é a guerra, devemos todos prestar ajudamútua para a defesa dos salários. Mas é seu dever declarar também que existe um fim mais elevado que devemos

alcançar: a supressão do salário. O Congresso recomenda o estudo dos meios econômicos baseados na justiça ena reciprocidade”. Arbitrar procedimentos para a abolição do regime assalariado constitui agora a metaverdadeiramente revolucionária da opção pela propriedade pública e coletiva dos meios de produção. 

O Congresso sublinha o associativismo, o trabalho corporativo, as sociedades de socorro mútuo, a reduçãoda jornada de trabalho para 8 horas “questão prioritária”, a luta contra o trabalho infantil e feminino, assim comoo procedimento de análise do crédito internacional, do exército, e da influência das idéias religiosas. OCongresso termina seus trabalhos com o: “proletários de todos os países, uni-vos”.

2. Segundo Congresso: Lausana, 1867

Solidariedade internacional A AIT põe pela primeira vez em prática a solidariedade internacional, ao apoiar economicamente os

trabalhadores do bronze de Paris pelos sindicatos ingleses. Também se impede que os trabalhadores de umalocalidade sejam movidos para outras para servir de fura-greve.

Mutualismo Celebrado em ambiente “francofono” (dos 72 delegados a maioria são franceses, 20 e suíços, 37), domina

o proudhonianismo: “Todos os esforços das organizações operárias devem fazer o possível para desapariçãonelas da usurpação do capital sobre o trabalho, para o qual haverá de reforçar as idéias de mutualismo e defederação”. (...) Enfadado, Marx escreve a seu amigo F. Engels: “No próximo Congresso de Bruxelas dirigirei eupessoalmente esse assunto, e darei a palmada final nesse bando de proudhonianos”, ao que Engels responde:“Não há o que se preocupar pois, enquanto o Conselho Geral estiver em Londres, todas essas resoluçõesproudhonianas não passarão de ser leite com sopa para gatos”.

Instrução Particular importância tem a unanimidade conseguida na terceira parte da quinta resolução em torno das“escolas-oficinas”: “A palavra ‘ensino gratuito’ é um contra-senso, dado que o imposto extraído dos cidadãosconstitui uma parte dos gastos, mas o ensino é indispensável e nenhum pai de família tem o direito de privar seusfilhos dela”. (...)

Estatismo A discrepância mais profunda terá sua origem em torno da função que se atribui ao Estado, rechaçado

pelos proudhonianos: “Seu papel deve limitar-se a receber os impulsos de seus mandatários, a executar suavontade, a representar seus interesses, a permanecer como guardião do pacto social, a registrar as convicçõesparticulares, sem que em nenhum caso possa, por sua própria iniciativa ou vontade privada, impedir o exercíciodos direitos que tem por missão fazer respeitar. Para dar a nosso pensamento uma forma mais precisa diremos

que o Estado é a gerência social: não tem pontos de interesse distintos da sociedade, porque não tem vida nemexistência própria. Com relação a nação é um signo, uma abstração”.(...)Todos concordam que o crédito público, o transporte ferroviário, os canais, as minas, os correios e

telégrafos, deveriam ser de propriedade da coletividade, proporcionados pelo preço de custo. Mas os delegadosse dividem quando se trata da propriedade da terra, defendida por franceses e italianos, enquanto ingleses ealemães pedem sua coletivização. A resolução deixa para o próximo Congresso, pois nem sequer os anarquistasestão de acordo entre si: “César de Paepe, antecipando-se a Bakunin no seio da Internacional, trataria depressionar em favor da propriedade coletiva da terra e até introduziu uma emenda encaminhada para tal fim, masfoi rechaçada. Os proudhonianos estavam dispostos a votar em favor da propriedade pública de outrosmonopólios sempre que não lhes pedissem uma declaração a favor da propriedade do Estado. No entanto, denenhum modo votariam em favor da propriedade pública da terra, porque eram firmes defensores da propriedade

do aldeão e a consideravam como parte essencial de seu direito pessoal à propriedade”, tensão esta sempre viva

Page 3: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 3/14

  3

entre anarquistas, anarcocomunistas e anarcocoletivistas (Victor Garcia: La Internacional obrera (FIJL. Caracas,Venezuela, 1964, pp. 58 ss).

3. Bakunin em cena

3.1 A Liga da Paz e da Liberdade A AIT escreve um manifesto de saudação e apoio para o Primeiro Congresso da Liga da Paz e da

Liberdade (que se celebrará no mesmo mês de setembro em Genebra), a qual se pretende acolher “todos osamigos da democracia livre” para constituir-se no “tribunal da democracia européia”, sempre dentro de umalinha burguesa de ação, ainda que na realidade reúne em si personagens tão heterogêneos como Victor Hugo,John Stuart Mill, Garibaldi, Louis Blanc, Herzen, Ogarev ou Bakunin. “Considerando: que a guerra pesaprincipalmente sobre a classe operária, porque a priva não só dos meios de existência, mas também, inclusive,são os mesmos trabalhadores que derramam nela seu sangue; que a paz armada paralisa as forças produtivas enão pede ao trabalho mais que obras inúteis, retraindo a produção ao ameaçá-la com a guerra; que a paz,primeira condição do bem-estar social, deve por sua vez ser consolidada por uma nova ordem de coisas queimpossibilite na sociedade a existência de duas classes, explorada uma pela outra, se solidariza plena e

inteiramente com o Congresso da Liga da Paz e da Liberdade para sustentar energicamente e tomar parte emtudo quanto empreenda para abolir os exércitos permanentes e realizar a paz, com o fim de alcançar o quantoantes possível a emancipação da classe operária e de livrar-se ao mesmo tempo do poder e da influência docapital, assim como de ir à formação de uma Confederação de Estados Livre de toda Europa.

Agora bem, considerando que a guerra tem como causa primeira e principal o pauperismo e a falta deequilíbrio econômico e para chegar a suprimir a guerra não basta licenciar os exércitos, mas sim modificar aorganização social no sentido de estabelecer uma partilha cada vez mais eqüitativa da produção, a AIT subordinasua adesão solidária a aceitação pelo Congresso da Liga da Paz e da Liberdade da declaração que precede”.

3.2 Fraternidade Internacional, ou Aliança dos Revolucionários Socialistas Dois meses antes da celebração do terceiro Congresso da AIT foi admitido nela M. Bakunin. Até agora os

debates na Internacional se estabeleceram entre marxistas e proudhonianos (Proudhon morre em 1864), que

estão no auge. Bakunin, que depois de vários anos na cadeia na Sibéria se dirige à Suíça (Berna) para participardo II Congresso da burguesa Liga da Paz e da Liberdade, conseguiu em 1868 que se aceite como manifestoprogramático seu escrito “Federalismo, Socialismo e Antiteologismo”. Mas Bakunin quer mais: quer criar umasociedade secreta, a Fraternidade Internacional ou Aliança dos Revolucionários Socialistas, fundada por elemesmo em Genebra em 1864 e incluída na Liga como fração sua, pela qual defende um modelo de sociedadeantiestatal (anestatal/ esp), coletivista e igualitária: “Nossa Liga deve transformar-se na expressão puramentepolítica dos interesses econômico-sociais e dos princípios que com tanto êxito estão sendo desenvolvidos epropagados na atualidade pela Grande Associação Internacional de Trabalhadores”. Com semelhante programaBakunin (que ainda que se diga o contrário não é apolítico, mas anti-estatal) pretende entrar na qualidade dedirigente político em uma organização (a AIT) cuja formação e desenvolvimento não têm contribuído de formadireta, porque esteve na prisão até então.

A AIT responde com dureza: “Os delegados da Internacional consideram que a Liga da Paz não tem,

dadas as atividades da Internacional, razão de existir e convidam esta sociedade para que se incorpore àInternacional e seus membros para que solicitem o ingresso em um de seus ramos”. Bakunin fica derrotado, mascomo entender essa derrota em uma Internacional dominada nesse momento por anarco-proudhonianos? Narealidade, o “proudhonianismo” dos proudhonianos não é tão claro e por outro lado a classe operária não situa osinteresses ideológicos por cima dos organizativos: se queriam uma só Internacional, para que multiplicar asLigas ou as Associações dentro dela? Conscientes da força da unidade, os internacionalistas não rechaçamBakunin, mas lhe chamam para a unidade. Pois ver, nas decisões internacionalistas uma contínua luta entremarxistas e anarquistas seria exagerar o embate ainda não muito claro em 1868 e prestar insuficiente atenção aofato primordial: que o movimento operário sente a presença da miséria e da humilhação por cima de qualquerdecantação ideológica, e a AIT será uma Internacional operária no sentido mais literal do termo, umaInternacional para a vitória sobre o capitalismo. Bakunin fica decepcionado duplamente: se dói pelo queconsidera uma “maquinação” de Marx contra sua pessoa e compreende que a Liga da Paz e da Liberdade não é

Page 4: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 4/14

  4

uma organização de classe, mas uma agrupação burguesa que não vai ir muito longe. Ao abandoná-la, não lhefica melhor remédio que ingressar na Internacional como um membro a mais.

3.3 De novo Bakunin: a Aliança Internacional da Democracia Socialista 

A Aliança, nova organização bakuninista, deveria buscar seus membros entre “os homens maissinceramente consagrados à causa e aos princípios da Internacional, a fim de preparar propagandistas, apóstolose organizadores”. Em outras palavras: quer fundar uma elite da Internacional dentro dela. O programa da AliançaInternacional da Democracia Socialista consta de sete pontos: igualdade política, econômica e social deindivíduos e sexos e supressão das classes; propriedade coletiva (associações agrícolas e industriais) da terra, dosinstrumentos de trabalho e do capital; igualdade educativa para todas as crianças; rechaço dos Estadosautoritários, em favor da “união universal das livres associações tanto agrícolas como industriais”; rechaço detoda ação política que não tenha como fim imediato e direto o triunfo operário contra o capital; rechaço de todaaliança fundada sobre o patriotismo e a rivalidade das nações; profissão de ateísmo, agora que Bakunin (atéontem um fervoroso crente) mudou.

Logo, o comitê central da Aliança pede ao Conselho Geral da AIT a admissão nela como ramificação sua,com uma dupla militância: deste modo, o cavalo carregado de bakuninistas se meteria na Tróia internacionalista.

E outra vez o Conselho Geral da AIT nega semelhante petição alegando que “a existência de um segundoorganismo internacional funcionando à margem e além dos muros da AIT seria o meio mais seguro paradesorganizá-la”. Marx viu o perigo da perda de sua possível hegemonia pessoal; acredita na importância de umaorganização internacional como veículo propagador de suas próprias idéias e como instrumento de controle dosmovimentos operários em pleno desenvolvimento, e ao mesmo tempo se mostra cético com os Congressos quenão só não serviram a esses fins, como além disso puderam dar oportunidades de difundir doutrinas quepoderiam impedir que a classe operária conseguisse a linha de ação correta.

O que pode fazer Bakunin nesse momento? Ele e seus companheiros apresentam ao Conselho Geral daAIT a proposta de dissolver a Aliança Internacional como organização internacional propriamente dita. Em 9 demarço de 1869 o Conselho Geral de Londres aceita a fórmula proposta pela Aliança e concede a esta o ingressona AIT, mas suprimindo o adjetivo “Internacional”. A partir de então a organização de Bakunin se denominaráAliança da Democracia Socialista, sendo admitida na AIT em 28/07/1869, um pouco antes do IV Congresso. Ela

arraigará na Itália e na Espanha – Barcelona e Madrid, por mediação de Giuseppe Fanelli – ao mesmo tempo quena Suíça, com James Guillaume.

4. Terceiro Congresso: Bruxelas, 1868 

4.1 Radicalização Do dia 6 ao 13 de setembro de 1868 os internacionalistas se reúnem (com maioria da delegação belga, 56

trabalhadores) representando já um quarto de milhões de operários, dada a perseguição padecida dos francesesem 1868. A AIT se vai colocando como instrumento da luta de classes, de tal maneira que a palavra‘internacional’ aparece como sinônimo de ‘subversivo’: “Se frente a lei nós somos os acusados e vós os juízes,frente os princípios somos na realidade dois partidos, vós o partido da ordem a qualquer preço, o partido daestabilidade, e nós o partido reformador, o partido socialista. Examinemos de boa fé qual é este estado social que

ousamos declarar perfeito. A ilegalidade o corrói, a falta de solidariedade o mata, os prejuízos anti-sociais oestrangulam entre suas barras de ferro. Os prazeres só são para uma minoria; a massa, a grande massa agoniza namiséria e na ignorância.

Uma classe que tem estado oprimida em todas as épocas e em todos os reinos, a classe trabalhadora,pretende aportar um elemento de regeneração; seria prudente e de sentido comum que por vossa parte saudasseeste sentimento racional e lhe permitisse levar a cabo sua obra de equidade. Quando uma classe tem perdido asuperioridade moral que a fizera dominante deve se apressar em desaparecer, se é que não quer ser cruel, porquea crueldade é o poder instintivo de todos os poderes que caem”.

Assim pois, ainda como acusados, os internacionalistas se erguem em fiscais acusadores, tal é seu grau decombatividade. (...)

4.2 Assuntos tratados

Page 5: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 5/14

  5

Coletivismo da terra

Se pronuncia claramente a favor da propriedade coletiva da terra (incluindo minas, ferrovias, caminhos,campos, canais, bosques) e da propriedade cooperativa das máquinas: “Considerando que estes grandesinstrumentos de trabalho, cujo domínio tem sido gratuitamente concedido à humanidade pela natureza; que estes

instrumentos de trabalho exigem necessariamente a aplicação das máquinas e da força coletiva; que as máquinase a força coletiva que existem hoje para a vantagem do capitalista devem no futuro aproveitar unicamente otrabalhador, e que para isso é preciso que toda a indústria em que essas duas forças resultam indispensáveis sejaexercida por grupos redimidos do salário, o Congresso resolve: 1o que em uma sociedade normal as pedreiras,regiões carboníferas e outras minas, assim como as ferrovias, pertencerão à coletividade social representada peloEstado, mas pelo Estado regenerado e submetido à lei da justiça. 2 o Que as pedreiras, regiões carboníferas eferrovias serão concedidos pela sociedade, não aos capitalistas como hoje em dia, mas a companhias operárias”.(...)

Greve

“O Congresso declara: que a greve não é um meio para libertar completamente o trabalhador, masconstitui uma necessidade na atual situação de luta entre o capital e o trabalho; que é preciso submeter a greve a

certas regras, a condições de organização, de oportunidade e de legitimidade; que desde o ponto de vista daorganização da greve existe necessidade, nas profissões que carecem ainda de sociedades de resistência, de criaressas instituições e além disso de solidarizar entre elas as sociedades de resistência de todas as profissões e detodos os países; em uma palavra, é preciso continuar neste sentido a obra empreendida pela Internacional e seesforçar para que o proletariado ingresse em massa nessa Associação; que desde o ponto de vista daoportunidade e da legitimidade é necessário nomear, dentro da federação de grupos de resistência de cadalocalidade, uma comissão composta por delegados destes diversos grupos que constituirão um conselho dearbitragem; para julgar a legitimidade das eventuais greves é necessário conceder às diferentes seções uma certaautonomia, seguindo os costumes, procedimentos e legislações particulares”.

Contra guerra, greve

“O Congresso recomenda aos trabalhadores a paralisação do trabalho no caso de que uma guerra estoure

em seus respectivos países”. Ainda que Marx ironize sobre esta resolução (“graciosa besteira dos belgas esta defazer a greve contra a guerra”), o Congresso manifesta: “É preciso dois métodos para suprimir a guerra: oprimeiro consiste em se opor diretamente à guerra se negando a fazer o serviço militar, ou, se bem que, vem adar no mesmo, dado que os exércitos precisam consumir, se negando a trabalhar. O segundo método não incidede forma direta. Só o método que, solucionando a questão social, possa chegar à supressão da guerra, só estemétodo será o que deve fazer triunfar a Internacional. A verdadeira e única causa das guerras é a fome...Considerando que a guerra jamais tem sido outra coisa que a razão do mais forte e não a sanção dos direito; queé um meio de subordinação dos povos pelas causas privilegiadas ou os governos que representam; que fortaleceo despotismo e asfixia a liberdade; que no estado atual da Europa os governos não representam os interesseslegítimos dos trabalhadores... Protesta com a maior energia e convida todas as seções da Associação a trabalharcom o maio vigor para impedir, pela pressão da opinião pública, uma guerra de povo contra povo que hoje sópoderia ser uma guerra civil, já que ao iniciar-se entre os trabalhadores seria uma luta entre irmãos e cidadãos”.

(...)5. Quarto Congresso: Basiléia, 1869

5.1 Ascensão e queda da AIT O Congresso de Basiléia (5-12/9/1869) marca o ponto culminante da Internacional. A AIT conta com mais

de um milhão de aderentes, e um exemplo de seu rápido crescimento temos na França, que se no primeiroCongresso conta apenas com 500 filiados, agora registra mais de 200 mil. Os franceses representam o grupomais numeroso (25). As delegações restantes se configuram assim: 5 alemães, 5 belgas, 2 austríacos, 2 espanhóis(pela primeira vez na qualidade de internacionalistas...), 2 italianos, um estadunidense (também pela primeiravez), além de 6 ingleses no Conselho Geral. No Congresso está presente pela única vez M. Bakunin; fiel a seucostume, Marx não assiste, se bem já no Primeiro Congresso da AIT escreveu: “Ainda que passo a maior parte

do tempo dispondo o necessário para que se celebre o Congresso de Genebra, não posso nem sinto desejo de

Page 6: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 6/14

  6

assistir, aparte de que me é de todo impossível abandonar meu trabalho. Espero poder fazer com meu trabalhomais pela classe operária do que poderia conseguir com minha presença em qualquer Congresso”.

5.2 Assuntos tratados 

 A herança, questão disputada Com predomínio bakuninista, a questão da herança se converte em ponto de fricção. Os marxistas

afirmam que o desaparecimento da herança não pode ser o ponto de partida de nenhuma transformação social,mas sim a natural conseqüência da apropriação coletiva dos meios de produção, “a lei de herança não é a causasenão o efeito, a conseqüência jurídica da organização econômica da sociedade atual”. Daí a necessidade dereformas impositivas, distribuição de renda, etc, remodelação definitiva do que hoje conhecemos como Bens doEstado.

Mas esta moção de inspiração marxiana será derrotada devido aos delegados que começaram, já a voltar aseus países de origem, pois como de costume o tempo não dá para outra coisa. Tamanha falta de quorumimpossibilita a adoção de acordos por maioria, se bem que fica clara a predominância bakuninista: “O direito deherança, conseqüência natural da apropriação violenta das riquezas naturais e sociais, passou a ser a base do

Estado político e da família jurídica que garantem e sancionam a propriedade individual. A transformação dapropriedade individual em coletiva chocará com grandes obstáculos no campesinato, pois se (depois de haverproclamado a liquidação social) for tentado desapropriar por decreto os milhões de pequenos agricultores, serãolançados nos braços da reação, e para submeter-lhes à revolução será preciso empregar a força contra eles. Serápreciso, pois, deixar-lhes possuir de fato estas parcelas das que hoje são proprietários. Mas se não abolir o direitode herança, o que acontecerá? Transmitiriam essas parcelas a seus filhos com a sanção do Estado, a título depropriedade. Pelo contrário, se proclamasse a liquidação política e jurídica do Estado, se abolisse o direito deherança, o que possuirão os camponeses? Só a posse de fato; e essa posse sem sanção legal nem amparo estatalse deixará transformar facilmente sob a pressão dos acontecimentos revolucionários...Considerando que o direitode herança, elemento essencial da propriedade individual, contribuiu poderosamente para alienar a propriedadeterritorial e a riqueza social em proveito de uns poucos e em detrimento da maioria, e que consequentemente éum dos maiores obstáculos para coletivizar a propriedade da terra; considerando assim mesmo que o direito de

herança, por restringida que seja sua ação, impede absolutamente à sociedade adquirir os meios para seudesenvolvimento moral e material e constitui um privilégio que, seja qual for sua importância de fato, nãodestrói a iniqüidade de seu direito, convertendo-se em uma ameaça para o direito social; considerando tambémque o Congresso se pronunciou pela propriedade coletiva e que uma declaração tal seria ilógica se não viessecorroborada pela que segue, o Congresso reconhece que o direito de herança deve ser completa e radicalmenteabolido, e que esta abolição é uma das condições indispensáveis para a liberdade de trabalho”.

“Antiestatismo” Dada a inspiração bakuninista do Congresso, este se manifesta favorável à legislação direta e contrário à

burocracia estatal, também em algum momento presente no interior da própria AIT.Pelo que se refere à Espanha, em junho de 1870, se celebra em Barcelona o primeiro Congresso operário

da Federação Regional Espanhola (FRE), filial da internacional, congresso que puxa a organização operária

espanhola no momento em que está a ponto de se consumar a “cisão” na Internacional (1872).6. A Conferência de Londres, 1871

6.1 A guerra franco-prussiana Apesar de haver sido decidido fazer de Paris a sede do Congresso de 1870, este não chega a celebrar-se

pela guerra franco-prussiana entre a França de Napoleão III e a Alemanha de Bismarck, que suscita estecomentário de Marx: “Os franceses precisam de uma surra. Se os prussianos saem vitoriosos, a centralização dopoder do Estado será útil para a concentração da classe operária alemã. Além disso, a preponderância alemãtransladará o centro de gravidade do movimento operário europeu da França até a Alemanha, e basta comparartão somente o movimento em ambos países de 1866 até agora para ver que a classe operária alemã é superior àfrancesa, tanto do ponto de vista teórico como do organizativo. A preponderância sobre o teatro do mundo do

Page 7: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 7/14

  7

proletariado alemão sobre o francês seria ao mesmo tempo a preponderância de nossa teoria sobre a deProudhon”.

6.2 A Comuna de Paris 

A Comuna (18/3 a 27/5/1871) é um intento dramático das classes baixas para assegurar a gestão dosassuntos públicos em um marco municipal e sem recorrer ao Estado. Suas origens são múltiplas: decepção dosparisienses mal alimentados e enervados pelo cerco alemão; afã de desquite de uma cidade que não foi vencida eque guarda suas armas, etc. O povo elege um comitê central da guarda nacional formado por 90 delegados, deles71 revolucionários sinceros, mas de ideologias contrapostas: blanquistas, partidários da ação direta; jacobinosque, como em 1792, postulam converter a Comuna no motor do Governo da França; e internacionalistas (17membros), elemento construtivo e moderador da Assembléia.

As forças do exército oficial mandado por Thiers reprimem violentamente, e ainda que os “comuneros”dispunham de 500.000 fuzis e 200 canhões, estão em número inferior. A dureza da luta se desenvolve ante osolhos atônitos dos alemães nos fortes do Norte e do Leste. Os versalheses rompem as barricadas do centro deParis, enquanto garrafas de petróleo incendeiam as “Tullerías”, e se multiplicam as execuções de revolucionáriose de reféns. Os últimos combates se desenvolvem no cemitério de Pére-Lachaise, onde os “comuneros” são

fusilados ao pé do muro dos federados.

6.3 A manobra de Marx O proletariado francês fracassa primeiro ao precipitar-se a abolir o Estado e proclamar a República em

Lyon, e depois a Comuna de Paris. Como conseqüência a Internacional será declarada fora da lei pelos governosde quase toda a Europa. Marx não deixa passar a oportunidade para afastar a Internacional daqueles países ondea influência proudhoniano-bakuninista é maior, assim que desde o Conselho Geral da AIT que ele dominaaproveita os três anos bélicos durante os quais não há Congressos para convocar uma Conferência em Londres(17-22/9/1871), na que adquire poderes ainda mais amplos alegando a necessidade de inspecionar as possíveistendências reacionárias de alguns grupos locais, coisa que se aceita por unanimidade – e paradoxalmente – como consenso de um Bakunin tão anti-centralista como visceral inimigo da ampliação de poderes pela cúpulaburocrática. Isso se explica por um duplo interesse do próprio Bakunin: primeiro, para compensar a seção

genebrina que se opõe à presença dos membros da disolvida Aliança bakuninista no seio da federação dosrelojoeiros de Genebra; segundo, pelo seu desejo de entrar também ele no Conselho Geral. Já em Londres,ausente grande parte dos internacionalistas, Marx aproveita para levar as águas a seu moinho, até então escoradopara o lado de Bakunin, por isso proclama que “contra o poder coletivo das classes possuidoras o proletariado sópode atuar como classe constituindo-se em partido político distinto, oposto as classes possuidoras”. Paraarrematar, termina a resolução recordando que o movimento econômico e a ação política “vão indissoluvelmenteunidos”. No entanto, só a Alemanha aceitará essa proposta de Marx, que se encontra muito contrariado. Osdemais assembleístas, ou se abstêm, ou não votam a favor. Bakunin escreverá atônito: “Como pode esperar deuma organização autoritária o nascimento de uma sociedade igualitária, livre? Isso é impossível. A Internacional,origem da sociedade futura, deve ser desde agora a imagem de nossos princípios sobre a liberdade e a federação,rechaçando qualquer princípio que conduza à autoridade da ditadura”.

Apesar de tudo, e para consolidar seu triunfo póstumo, Londres (Marx) ratifica sua resolução

considerando disolvida a Aliança bakuninista. Além disso recomenda às duas federações suíças (a bakuninista ea marxista) sua fusão em uma só, e que – em caso de não fazê-lo – a bakuninista seja designada como Federaçãodo Jura. A diferença impossível de se reconciliar foi consumada: Bakunin, menos político e mais partidário daação direta, pensa em uma organização “de baixo pra cima pela livre associação, e não de cima pra baixo poruma autoridade, seja qual for”.

O intercâmbio de golpes baixos entre marxistas e bakuninistas é tremendo. Os marxistas reprovamBakunin pela amizade com Netchaiev, aventureiro sem escrúpulos que empurra Bakunin a um ativismorevolucionário maquiavélico e não-moralista, como o reflete seu Catecismo revolucionário: “O revolucionáriodespreza e abomina a moral social de nossos dias, a moral em todas suas formas e princípios. Só considera moralaquilo que contribui ao triunfo da revolução. Os sentimentos acomodatícios e enervantes de família, amizade,amor, gratidão e honra devem desaparecer em favor da paixão fria pela causa revolucionária. Noite e dia, seuúnico pensamento, sua meta invariável deve ser a destruição sem piedade”. Sob este código Bakunin se coloca

em tipos de ação que desagradam Marx (convencido, igual a polícia da Europa de que Bakunin está preparando

Page 8: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 8/14

  8

uma conspiração de vastas proporções), e das quais se vai desenganar o próprio Bakunin. Marx trata de libertar aAIT das nocivas influências do “infame aventureiro” Bakunin, o qual contra-ataca: “Ao final caiu sobre nossascabeças a espada de Damocles com a que durante tanto tempo nos havia ameaçado. Mas não é exatamente umaespada, mas a arma que o senhor Marx utiliza habitualmente: um monte de lixo”.

6.4 O desconsolo de Anselmo Lorenzo Enquanto isso, até Londres chega da Espanha um excepcional testemunho operário, Anselmo Lorenzo,

que como representante da AIT espanhola lê a memória escrita pelo conselho de Valencia sobre a organizaçãosocial da classe trabalhadora merecendo todo tipo de elogios (...), apesar de que fica profundamente deprimidopelo que está vendo: “Da semana empregada naquela Conferencia guardo uma triste lembrança – escreve em “Oproletariado militante”. O efeito causado em meu ânimo foi desastroso. Esperava eu ver grandes pensadores,heróicos defensores do trabalhador, entusiastas propagadores das novas idéias, precursores daquela sociedadetransformada pela Revolução em que se praticou a justiça e se desfrutou da felicidade, e em seu lugar encontreigraves e tremendas inimizades entre os que deviam estar unidos em uma vontade de alcançar o mesmo fim. Pôdese assegurar que toda aquela Conferencia se reduziu a afirmar o predomínio de um homem ali presente, K. Marx,contra o que se supôs que pretendia exercer outro, M. Bakunin, ausente. Em carta particular dirigida aos amigos

de Barcelona explicando-lhes da Conferência escrevi esta frase: se o que Marx disse de Bakunin é certo, este éum infame; mas se não é certo, infame é aquele; não há meio termo: tão graves são as censuras e acusações quetenho ouvido”.

A ruptura está servida. Em 12/11/1871, a bakuninista Federação do Jura se reúne em Congresso edesaprova as decisões tomadas em Londres, propugnando frente a elas: destruição pela força das instituiçõesestatais; propaganda contra a reforma e a favor da revolução; ação ilegal com utilização de todos os meiostécnicos e químicos; autonomia de cada grupo.

7. Quinto Congresso: Haia, 1872

7.1 Polêmica sobre a representatividade A Conferência de Londres abriu o abismo entre Bakunin e Marx, o qual convocará o Congresso de Haia,

no ano seguinte (2-9/ 9), longe de Suíça, Espanha e Itália, como para impedir a assistência de bakuninistas. ABakunin representará o suíço James Guillaume, enquanto que Marx assistirá pessoalmente a assembléia.Na Holanda, 69 delegados representam 11 países e o Conselho geral, que conta com a delegação mais

numerosa (21), seguido da Alemanha (10), Bélgica (9), Suíça (5) e 5 da delegação espanhola. Os procedimentossão sumários, pois os ânimos estão muito exaltados e voltam a existir as acusações contra Bakunin, incluindo suapouca seriedade financeira em respeito a tradução para o russo de “O Capital” de Marx, não concluída depois decobrada (ainda que isso, por outro lado, revela que apesar de tudo ambos concordam na crítica da economiapolítica, visto que se não fosse assim Bakunin não iria querer traduzir). Se põe também a interdição ao direitodos partidários de Bakunin a participar na assembléia, sendo expulsos Guillaume e seus companheiros.

Os delegados espanhóis (Morango, Alerini, Farga e Marselau pela Aliança e Lafargue pela NovaFederação Madrilenha) propõem uma modificação para que a votação não se efetue por delegados mas pelonúmero de filiados: “A Federação Espanhola está pela liberdade e não consentirá jamais em ver no Conselho

Geral outra coisa que um centro de correspondência e estatística”; na mesma linha, a Federação do Jura propõevotação por federações, pois segundo os anti-autoritários a Internacional é uma associação livre nascida daorganização espontânea do proletariado.

Mas de nada valem esses relatos, pois ao final se modificam os artigos 2 e 6 do título II do regulamento daAIT, que ficam redigidas pelos marxistas (chamados autoritários, para quem o Conselho Geral deve ser umaespécie de Estado Maior da Internacional): “ Artigo 2: O Conselho Geral está obrigado a cumprir as resoluçõesdos Congressos e a vigiar que em cada país se apliquem estritamente os princípios, os estatutos e regulamentosda Internacional. Artigo 6: O Conselho Geral tem igualmente o direito de suspender seções, conselhos, comitêsfederais, federações ou ramificações da Internacional até o próximo Congresso”.

Além disso, a maioria autoritária retifica a resolução de Londres do ano anterior sobre a ação política dasclasses operária: “Na luta contra o poder coletivo das classes possuidoras, o proletariado não pode obrar comoclasse, mas constituindo-se ele mesmo em partido político distinto, oposto a todos os antigos formados pelas

classes possuidoras. Esta constituição do proletariado em partido político é indispensável para assegurar o

Page 9: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 9/14

  9

triunfo da revolução social e de seu objeto supremo, a abolição das classes. A coalizão das forças operárias, jáobtida pelas lutas econômicas, deve servir também de alavanca de controle nas mãos dessa classe na luta contrao poder político dos exploradores. Servindo-se sempre os senhores da terra e do capital assim como de seusprivilégios políticos para defender e perpetuar o trabalho, a conquista do poder político vem a ser o grande dever

do proletariado”.

7.2 Translado para os Estados Unidos Marx golpeia definitivamente Bakunin – golpe pífio porque o próprio tempo destrói a Primeira

Internacional – ao decidir o translado do Conselho Geral para os Estados Unidos. Nova York, pensada comosede do próximo VI Congresso da Internacional, constituirá um fracasso absoluto e nem sequer Marx sedeslocará até ela, nem Engels, nem ninguém de Londres. Depois deste Congresso fantasma, exceto nos EUA nãose voltará a ouvir falar da Internacional. Em setembro de 1873 tem lugar em Genebra o outro CongressoInternacional da AIT, já que tinha o de Nova York (marxistas) e este dos bakuninistas, onde ambos defendiam averdadeira representatividade da AIT. Nos EUA seguirá existindo uns poucos anos mais, com violentas disputasinternas, até que o VII Congresso de Filadélfia (julho de 1876) resolve “suspender por tempo indeterminado aAIT” (cfr. Molnar, M: El declive de la Primera Internacional. Cuadernos para el Diálogo, Madrid, 1974).

8. A Internacional anti-autoritária de Saint-Imier, 1872 Os marxistas não voltaram a se reunir, e os anarquistas o fazem em 15 de setembro na Internacional Anti-

Autoritária da cidade suíça de Saint-Imier (1872), com assistência de delegados da Espanha, Itália, França, Suíça(Federação do Jura) e América, resolvendo rechaçar todas as resoluções do Congresso de Haia e não reconhecerde nenhuma forma os poderes do novo Conselho Federal. A resolução doutrinal mais significativa é relativa àação política do proletariado: “O Congresso reunido em Saint-Imier declara: 1º Que a destruição de todo o poderpolítico pretendidamente provisonal é o primeiro dever do proletariado. 2º Que toda organização de um poderpolítico pretendidamente provisisório e revolucionário para trazer esta destruição não pode ser mais que umengano e para o proletariado resultaria tão perigoso como todos os governos hoje existentes. 3º Que, rechaçandotodo compromisso para a realização da revolução social, os proletários de todos os países devem estabelecer forade toda política burguesa a solidariedade da ação revolucionária”.

(...)Carlos Díaz

Primera Internacional Obrera

Fundación Emanuel Mounier 

Page 10: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 10/14

  10

A COMUNA DE PARIS

Fim da GuerraEm 1871 a França foi a guerra com a Prússia e foi derrotada. A cabeça do governo nacional era Adolphe

Thiers, ele teve que negociar os detalhes da paz com a Prússia. Depois de fazer isto teve que afrontar o problemade voltar a controlar Paris, de convencer a cidade de que a guerra com a Prússia havia terminado e do desarme daGuarda Nacional. A Thiers só lhe permitiam 12.000 soldados depois da trégua, e com eles teve que fazer frente avárias centenas de milhares de guardas nacionais.

Não tinha tempo. A maioria rural da Assembléia se transferiu desde Buerdeos, onde manteve umprimeiro encontro para tirar do país as tropas prussianas, a Versalles, al lado de Paris.

Os prussianos todavia ocupavam o norte da França, como seguro para o pagamento das indenizações deguerra que a França havia aceitado pagar como condição para a paz. Para fazer frente ao primeiro pagamento dasindenizações e assegurar a evacuação das tropas prussianas do norte da França, o governo francês necessitavaelevar os impostos. O principal problema de Thiers era a restauração da confiança. A ordem tinha que serrestabelecida, os comércios reabertos, e a vida tinha que voltar a normalidade. E por cima de tudo, como Parisera o coração da nação tinha que ser posta sobre o controle do governo nacional.

Paris sem dúvida permaneceu desafiante. Não aceitariam uma vitória prussiana. Isto queria dizer que nãohavia gostado nada que o governo houvesse capitulado ante os prussianos. A resistência patriótica a derrota daFrança inevitavelmente teria consequências no novo governo de Versalles. A Guarda Nacional de Parispermaneceu alerta, prontos para resistir a qualquer intento dos prussianos para entrar em Paris. Os canhõesabandonados no falido assédio a Paris foram levados a várias partes de Paris. Foram aqueles canhões trazidosaos distritos da classe operária os que se converteram no assunto crítico. Como disse Thiers tempo depois:

"os homens de negócios repetiam por aí constantemente que as operações financeiras só começariamoutra vez quando os miseráveis fossem aniquilados e os canhões retomados"

E foi o intento do governo de capturar as armas da Guarda Nacional, sábado muito cedo, o que detonou arevolução. O plano era ocupar os pontos estratégicos da cidade, capturar as armas e prender os revolucionários

conhecidos. O mesmo Thiers e alguns ministros foram a Paris para supervisionar a operação. Em principio, Parisestava dormida e tudo ia bem. Mas logo as massas despertaram e começaram a enfrentar os soldados. A GuardaNacional começou a ceder, mas não porque apoiasse as tropas do governo senão por que não sabiam o que fazer.As tropas regulares que ainda estavam esperando que chegassem os transportes para carregar as armas, se viramlogo superadas em número. Os acontecidos deram um giro sério em Montmartre quando as tropas se negaram adisparar na multidão e em vez disso prenderam seu próprio comandante, quem foi mais tarde fuzilado. Em toda acidade os oficiais se deram conta de que já não podiam confiar em seus homens. Pela tarde Thiers decidiuabandonar a capital. Escapando com uma diligencia que estava lhe esperando ditou a ordem da evacuação doexército a Versalles e pediu a todos os ministros que lhe seguissem. A retirada do exército a Versalles foicaótica. As tropas se insubordinavam (...) Tão apressada foi a retirada que vários regimentos foram esquecidosem Paris (uns 20.000). Os oficiais foram tomados prisioneiros, enquanto que uns 1500 homens deixados paratrás sem ordens ficaram a esperar o período da comuna. O governo havia abandonado a cidade.

As 11.00 da noite o Comitê Central da Guarda Nacional reunido em assembléia decidiu tomar oabandonado edifício Hotel de Ville, enquanto que outros comandantes e homens da Guarda Nacional ocupavamos restantes edifícios públicos da capital.

Foram os Blanquistas quem tomaram a iniciativa, quando Brunell levou o dubitativo Bellevois (cabeçado Comitê da Guarda Nacional) ao abandonado Hotel de Ville. Quando o comitê central chegou enfim ao Hotelde Ville reinava a mais absoluta confusão, a guarda nacional e os soldados erravam pela cidade e ninguém tinhaautoridade para mandar. Esta revolução foi uma insurreição espontânea em toda a capital, sem que houvesse umadireção central nem, ainda, nenhum comitê da Guarda Nacional.

Os comitês de Duval, Eudes, Brunel e todos os de Montmartre estavam a favor de marchar sobreVersalles, sem dúvidas os blanquistas não foram escutados. Os insurgentes encontraram Paris pronta para atomada de Versalles, mas a principal preocupação do Comitê Central da Guarda Nacional era a de "legalizar"sua situação investindo-se com o poder que tão inesperadamente havia caído em suas mãos. Em vez de seguir o

caminho pelo que o exército havia escapado a Versalles, como os blanquistas pediam ao comitê, entraram em

Page 11: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 11/14

  11

negociações com o único corpo constitucional que ficava na cidade, a prefeitura, para solicitar a convocação deeleições. Como um comunero perguntou no dia das votações:

"O qué significa a legalidade em tempos de revolução?" Este intento de voltar a legalidade trouxemoderação aos revolucionários. Muitos membros do Comitê Central sentiam que os acontecimentos haviam

escapado deles. Como um deles disse "aquela noite não sabíamos o que fazer; não queriamos a posse do Hotelde ville, queriamos construir barricadas. Estávamos desconcertados por nossa autoridade". Sobrou para a figuraliterária boêmia de Edourard Moreau persuadir o comitê central, entre os gritos de ‘Viva a comuna’, de queseguisse ocupando el Hotel de Ville al menos durante uns dias até que as eleições municipais tivessem lugar.

8 dias depois Paris teve eleições com 227.000 votos emitidos. Isto só era a metade do total do censo maseste censo se remontava a antes da guerra, desde então tinha havido uma grande redução de população. Esteêxodo beneficiou as áreas da "classe operária", já que eram as que menos haviam reduzido. Também se adotouum sistema proporcional de representação que deu mais representatividade aos densamente povoados bairrosoperários que o sistema anterior. Os resultados marcaram um enorme giro à esquerda, só se elegerem entre 15 e20 republicanos moderados, que logo demitiram.

Os distritos das classes populares eram os que mais apoiavam a comuna. A lista de Comitês deVigilância que havia atraído poucos votos nas eleições nacionais fazia um mês se encontrou com a maioria. Isto

não ocorreu por uma repentina conversão a ‘posição socialista revolucionária’ senão devido a que a maioriarepublicana de Paris queria agora votar pela comuna como voto defensivo contra Thiers e a monárquicaAssembléia Nacional de Versalles. Nos distritos da classe operária a vitória tinha um significado mais preciso, seesperava que agora fosse feito um trabalho mais sério para favorecer os excluídos pelos governos anteriores.

A comuna se instalou formalmente no Hotel de Ville dois dias depois do glorioso levantamento daprimavera, o 28 de Março. Os batalhões da Guarda Nacional se reuniram em assembléia, leram os nomes doseleitos nas eleições, e vestidos de vermelho, subiram os degraus do Hotel de Ville sobre um céu coberto pelobusto da República. No alto tremulava a Bandeira Vermelha, como havia sido feito desde o 18 de março, e oscanhões saudaram a proclamação da Comuna de Paris.

A composição da ComunaA comuna se compôs finalmente por 81 membros, a média de idade era de 38 anos, 5 membros eram

maiores de 60. (...)Os membros da Comuna careciam de experiência política. Seus debates eram na maior parte errantes, sepropunham e aceitavam assuntos que deixavam cair antes que expostos com decisão. Muitas vezes se desatavamdiscussões pessoais que levavam a uma disputa maior. A Comuna como tudo carecia de direção política. Isto eraespecialmente sério porque tinha que ganhar uma guerra civil para sobreviver. Foi em questões tais como aeducação ou a reforma das condições laborais, devido a experiência sindical de vários de seus membros, onde aComuna mostrou seus efeitos positivos.

(...)18 membros da comuna provinham dos bairros de classe média. No total uns 30 membros da comuna

poderiam ser classificados como de províncias, a metade deles eram jornalistas da imprensa republicana. O restoincluía a 3 médicos, só 3 advogados, 3 professores, um veterinário, um arquiteto e 11 relacionados com ocomércio.

Uns 35 membros eram trabalhadores manuais ou estavam implicados na política revolucionaria. Eramartesãos de pequenas oficinas que instauraram as associações operárias da capital. Típicos deste grupo eram ostrabalhadores do cobre, carpinteiros, decoradores e livreiros. Pode resultar chocante a falta de representantes dasgrandes indústrias que haviam proliferado nos arredores de Paris. Na realidade os operários das grandes fábricasdos subúrbios não haviam formado ainda organizações nem meios de combate. Parecia que a liderança localtinha um desenvolvimento muito inseguro de si mesmo e de suas possibilidades, demasiado inadequado para jogar um papel em uma escala maior. Isto deixou via livre para os representantes dos distritos pequeno-burgueses.

Uns 40 membros haviam estado implicados no movimento operário francês e a maioria deles se haviamunido à l° Internacional. Sua experiência nas associações operárias lhes dava receios com o poder político etinham voltado seu pensamento para as tendências anarquistas (levavam mais da tradição de Proudhon que deBakunin). Uns 12 membros da comuna eram blanquistas. Sua principal esperança para salvar a revolução era

libertando Blanqui, ou intercambiando por algum refém... dos que o Arcebispo de Paris era o mais notável.

Page 12: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 12/14

  12

A Comuna se instaurou em 28 de março e em 2 de abril as tropas de Thiers começaram seu ataque. Emprincípio a Comuna se reunia em segredo em um ‘Conselho de Guerra’, sem dúvida o segredismo não era o quese esperava de uma assembléia geral. O Comitê Central de 20 distritos, a Internacional e alguns dos clubespopulares pressionaram a comuna para que fizesse públicas suas sessões. Cedendo a estas pressões a comuna

aceitou publicar seus debates no Diário Oficial. Mas se fez difícil encontrar suficiente espaço para tanta gente (osespectadores) e o problema nunca se resolveu por completo.As teorias que se formularam em 1871 estavam baseadas nas idéias de 1793, na soberania popular:

aqueles que fossem eleitos para representar o povo iam atuar como delegados, não como membros doparlamento. Em particular, os clubes populares reclamaram que a soberania tinha que recair neles tanto comonele. Aqueles que haviam sido eleitos pelo povo estavam sujeitos a revogação de seus cargos por parte do povo eera uma obrigação dos eleitos permanecer em constante contato com as fontes de soberania popular. Em algunsclubes se faziam charlas sobre como meter mais pressão na comuna, e a partir daí fizeram intentos para unir asforças dos clubes para fazer melhor. Alguns membros da Comuna permaneceram em estreito contato com asforças que lhes levaram ao poder (o povo) frequentando os clubes.

A política da comuna.

A autêntica legislação social aprovada pela comuna parecia mais reformista que revolucionária, tomandoas demandas que haviam sido formuladas nos precedentes 20 anos. Cancelaram os aluguéis de propriedadedurante o período de assédio mas a própria propriedade privada nunca foi questionada. Depois de muitos debatesse deu um prazo de 3 anos para pagar as faturas devidas. Estas medidas impactaram a opinião burguesa de forade Paris. A Comuna instaurou uma bolsa de desemprego em cada “ajuntamento” (cada distrito de Paris tem umajuntamento, que se juntam no Hotel de Ville) e aboliu o trabalho noturno dos padeiros com a oposição dospatrões. A questão social mais urgente que enfrentou a comuna foi a do desemprego e adotou o passo radical depermitir a livre associação dos trabalhadores e as cooperativas operárias para tomar as fábricas para fazê-lasfuncionar outra vez. Sem dúvidas as sugerências mais extremas de que os trabalhadores tomaram "todas asgrandes fábricas dos monopolistas" foram rechaçadas. Para o 14 de maio haviam se formado 43 cooperativasprodutoras entre as indústrias artesanais da cidade.

No campo da educação o principal esforço se pôs em dar educação elementar para todos. O movimento

de reformas estava totalmente contra as escolas da igreja que representavam mais da metade das escolas de Paris.(...) Se deu uma atenção especial a educação da mulher, que haviam sido esquecidas até então. Se formou umacomissão especial, todas mulheres, para supervisionar o estabelecimento de escolas para moças. Propuseramcreches de dia situadas perto das fábricas para ajudar a mulher trabalhadora. Nenhum destes esquemas – deorganização industrial cooperativa ou reforma educativa – puderam dar muitos frutos. Houve demasiado poucotempo e tinham que ganhar a guerra.

(...)Thiers e seus ministros de Versalles não tinham nenhuma dúvida de que a Comuna de Paris era uma

declaração de mudança social que devia ser esmagada pela guerra civil. Este ponto de vista era compartido forada Francia, a existência da Comuna deixou furiosa a burguesia européia. Em 29 de março o London Timesdescreveu a revolução como "predomínio do proletariado sobre as classes pudientes, do artesão sobre o oficial,do Trabalho sobre o Capital". (...) A natureza socialista da Comuna pode ser vista tanto na direita como na

esquerda.Festival dos oprimidos

De todas as coisas o aspecto mais surpreendente da Comuna era a natureza festiva de Paris; era o'festival dos oprimidos'. A atmosfera da capital não era a de uma cidade em guerra; a cidade tinha ‘todos ossignos de estar simplesmente de férias'.

Mas logo o bom ambiente se voltou austero. Os funerais dos guardas nacionais mortos em combate seconverteram em grandes procissões por toda a cidade, eram encabeçados por membros da comuna e qualquerque se atrevesse a levantar a cabeça era forçado a baixá-la pelos sussurros da multidão. (...) Foram enormescerimônias de massas a queima de uma guilhotina e a demolição da Coluna de Verdún (um símbolo do império). "A excitação era tão intensa" observou um escritor inglês "que a gente caminhava como em sonhos". Incluso nomesmo dia em que as forças de Versalles entraram em Paris, domingo 21 de maio, havia uma enorme multidão

nos jardins das Tullerías escutando uma série de concertos em ajuda as viúvas e órfãos da guerra.

Page 13: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 13/14

  13

A comuna significava a reconquista da cidade pela maior parte do povo que tinha sido deixada de ladonos esquemas de reurbanização de Haussman. Durante um tempo a maioria da população participou ativamentenos assuntos públicos seja no nível de distrito o no nível de cidade.

O fim da ComunaA Comuna se fortificou pesadamente e tinha dispostas forças suficientes como para subsistir duranteoutros dois meses, e no entanto as forças do governo entraram em Paris. A partir desse dia seguiu uma semanade amargas e sangrentas lutas de rua, ainda mais amargas porque os parisienses já não podiam mais pensar navitória.

Haviam sido feitos poucos preparativos para a eventualidade de que as tropas do exército entrassem emParis e a muito comentada segunda linha de defesa não existia. Os encarregados de levantar as barricadas tinhamsido tão metódicos, e lentos, que existiam muito poucas na cidade. Durante a noite e a segunda pela manhã astropas do governo entraram em Paris por 5 portas diferentes. Ocuparam rapidamente dois distritos burgueses dosudeste da cidade. Daí fez um ataque pelas duas orelhas do Sena simultaneamente. Os bulevares de Haussmanmostraram seu valor ao possibilitar um movimento rápido de um grande número de homens na direção dosdistritos revolucionários e suas barricadas. Para a manhã de 22 de maio o terço oeste de París estava em mãos do

governo, depois de uma árdua luta em que se renderam 1.500 Guardas Nacionais.A Comuna se reuniu as 9.00, com 20 membros no Hotel de Ville, e mandou fazer cartazes convocandoos cidadãos a lutar em armas nas Barricadas.

Se levantaram barricadas muito rapidamente no centro de Paris. Na rua de Rivoli 50 maçons construíramem poucas horas uma barricada de 6 metros e vários de profundidade. Bandos de crianças traziam carrinhos deterra e as prostitutas de La Halle ajudavam a encher os sacos. Levantaram mais de 160 barricadas no primeirodia, mais de 600 no total. A maioria eram de 2 metros de alto e estavam construídas com pedras de pavimentotiradas das ruas, madeira na base, um canhão ou uma metralhadora e uma Bandeira Vermelha tremulando noalto.

(...)As duras críticas que Blanqui tinha feito em 1868 sobre o levantamento de junho de 1848 eram também

aplicáveis as barricadas da Comuna. A tática de combater cada um em sua própria área sem organização central

tornou fácil a tomada das barricadas uma a uma.Na manhã de terça as tropas de Versalles atravessaram a zona neutra dos arredores de Paris, osprussianos olharam para outro lado, e entraram em Paris por outra porta capturando outros dois bairros de Paris.Os massacres começaram a suceder como avançava a semana, 42 homens, 3 mulheres e 4 crianças foramfuzilados em uma parede, se improvisou uma corte marcial em uma casa da rua de Rosiers e durante o resto dasemana centenas de prisioneiros foram fuzilados. Terça pela noite os comuneros começaram a queimar algunsedifícios que ameaçavam a segurança das barricadas, podiam colocar atiradores neles. (...) A barricada não foitomada até a manhã de quarta, um dos últimos a cair foi uma mulher que desafiou as tropas com uma BandeiraVermelha.

Uns 30 defensores foram tomados prisioneiros e fuzilados, e seus corpos atirados na frente da barricada.Quarta as 8.00 foi abandonado o Hotel de Ville com fogo para cobrir a retirada. Paris em chamas era e ainda é aimagem mais característica que foi propagada da Comuna, a lista de edifícios destruídos era enorme,

compreensivelmente alguns edifícios, como a delegacia de polícia e o Palácio de Justiça foram incendiados pelacomuna. (...)Nas ruas de Paris estava ocorrendo uma matança mais indiscriminada; cada vez que caía uma barricada,

os defensores eram postos contra uma parede e fuzilados; 300 caíram assim no santuário da Igreja Madelaine. Oseminário junto a Saint-Suplice que havia sido convertido em hospital, as tropas de Versalles chegaram e sepuseram a disparar em todos os médicos, enfermeiras e pacientes deixando 80 cadáveres, o mesmo aconteceu nohospital Beaujon. A batalha pelo Bairro Latino durou 2 dias, terça e quarta. Durante a quinta e a sexta oscomuneros se retiraram, perdendo o controle da cidade.

O sábado amanheceu com névoa e chovendo pelo segundo dia consecutivo. Uma das últimas lutastiveram lugar no cemitério Pere-Lachaise onde uns 200 Guardas Nacionais tinham falhado em estabelecer umsistema de defesa adequado. (...) No domingo, 28 de Maio a Comuna havia desaparecido.

Se a batalha tinha terminado, os fuzilamentos não. A vitória de Versalles se converteu rapidamente em

um banho de sangue, qualquer um que havia se conectado com a Comuna de alguma forma, ou que estava no

Page 14: Comuna de Paris e Internacional

7/28/2019 Comuna de Paris e Internacional

http://slidepdf.com/reader/full/comuna-de-paris-e-internacional 14/14

  14

lugar equivocado no momento mais inoportuno foi fuzilado. Todos os parisienses estavam sobre suspeita, de fatoeram culpáveis. (...)

Morreram mais pessoas durante a última semana de maio que durante todas as batalhas da guerraFranco-Prussiana, e qualquer massacre anterior da história francesa. O Terror da Revolução Francesa tinha

provocado uns 19.000 mortos em um ano e meio. No há cifras exatas mas na região uns 30.000 parisiensesmorreram nesses dias, comparados com as perdas de Versalles de 900 mortos e 6.500 feridos...Houve ao redor de 50.000 presos, entre eles Louise Michel. Em seu juízo pediu para ser fuzilada

dizendo: "Parece que cada coração que late por a liberdade só tem direito ao chumbo, peço minha parte". En vezdisso foi deportada para Nueva Caledonia, colônia francesa perto das costas da Austrália junto com outros 4.500.Muitos morreram em prisão ou nos translados. Os que escaparam foram ao exílio da Suíça, Bélgica, GrãBretanha ou mais longe. Dois deles terminaram se casando com as filhas de Marx na Grã Bretanha. Como Marxescreveu a Engels "Longuet é o último Proudhonista, Lafargue é o último Bakuninista. Que o diabo os carregue".

(...)

 Aileen O' Carroll, Octubre de 1993 Original en: http://flag.blackened.net/revolt/talks/paris.html