Comuna de paris ii

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A Guerra Civil na França e a Comuna de PARIS A Guerra Civil na França (em alemão: Der Bürgerkrieg in Frankreich) é um livro escrito por Karl Marx como discurso ao Conselho Geral da Internacional, com o objetivo de disseminar entre os trabalhadores de todos os países um entendimento claro do caráter e da significância mundial da luta heróica dos participantes da Comuna de Paris (1871) e suas experiências históricas da quais devem tirar aprendizado. O livro teve grande circulação em 1872, sendo traduzido em diversos idiomas e publicado na Europa e nos Estados Unidos. "A Guerra Civil na França" foi originalmente publicado por Marx somente como terceiro discurso ao Conselho Geral da Internacional, separado em quatro capítulos. Em 1891, no vigésimo aniversário da Comuna de Paris, Friedrich Engels reuniu uma nova coleção de trabalhos. Engels decidiu incluir os dois primeiros discursos que Marx fez para a Internacional provendo assim base histórica adicional à Guerra Civil por parte de Marx na Guerra Franco-Prussiana. Consequências teóricas[editar | editar código-fonte] Para Marx, os acontecimentos da Comuna de Paris levaram-no à reavaliar as significâncias de alguns de seus escritos anteriores. Em um prefácio posterior ao Manifesto Comunista, Marx escreveria que "nenhuma importância é atribuída às medidas revolucionárias propostas no final da Seção II. Essa passagem seria hoje, em muitos aspectos, diferentemente formulada."1 A passagem referida no "Manifesto" busca mostrar o processo da tomada proletária do poder do Estado. Sugerindo ainda no mesmo prefácio, que leiam "A Guerra Civil na França", diz: "A Comuna, sobretudo, provou que 'a classe operária não pode limitar-se a apoderar-se da máquina do Estado, nem colocá-la em movimento para atingir seus próprios objetivos'."1 Referências Difícil saber se os livros produzem revoluções. Mas ao ler esta obra o leitor terá certeza de que as revoluções criam grandes livros. Foi assim que a Comuna de Paris, a primeira forma de autogoverno dos trabalhadores, encontrou seu maior intérprete, de tal maneira que é impossível recordar aqueles feitos colossais sem ler A guerra civil na França de Karl Marx. Os personagens aparecem em sua condição de classe sem perder a humanidade naquilo que têm de mais nobre ou mais vil. Vemos o quase ministro Jules Favre falsificando documentos enquanto vive em adultério com a mulher de um bêbado de Argel; o futuro primeiro-ministro Jules Ferry como um advogado sem um tostão pronto a assaltar os cofres públicos; e o celebrado Thiers, que antes de mentir como presidente já havia feito carreira de mentiroso como historiador… Se em O 18 de brumário de Luís Bonaparte (Boitempo, 2011) Marx mostrou como um homem medíocre pôde governar sob a fantasia de “Napoleão III”, aqui ele desvenda por que um mentiroso, um corrupto e um falsificador conseguiram derrotar a Comuna e liderar o regime anônimo da burguesia: a República Parlamentar. Não à toa, Marx recorda que, quando esses “vampiros” fugiram para Versalhes com suas cocotes e sua polícia, os ladrões comuns foram com eles… Paris se tornou subitamente uma capital segura, embora sitiada. Em contraste com os carrascos de Versalhes, Blanqui e seus camaradas erguiam uma cidade nova. Mas tinham tanta coragem quanto ingenuidade, e cometeram até mesmo o erro de não tomar a sede do banco! A guerra civil na França foi escrita como Mensagem do Conselho Geral da I Internacional e difundida como livro na Europa e nos Estados Unidos. A primorosa edição que o leitor tem agora em mãos traz as variantes do manuscrito original, que dão ao estudioso um aparato crítico imprescindível. Bem merecida edição para um autor que desejava semear outras revoluções. Porque Marx certamente esperava que, depois da leitura, nenhum revolucionário futuro se detivesse “respeitosamente diante das portas do Banco da França”. *** Trecho da Apresentação escrita por Antonio Rago Filho:

Transcript of Comuna de paris ii

Page 1: Comuna de paris ii

A Guerra Civil na França e a Comuna de PARIS

A Guerra Civil na França (em alemão: Der Bürgerkrieg in Frankreich) é um livro

escrito por Karl Marx como discurso ao Conselho Geral da Internacional, com o

objetivo de disseminar entre os trabalhadores de todos os países um entendimento

claro do caráter e da significância mundial da luta heróica dos participantes da

Comuna de Paris (1871) e suas experiências históricas da quais devem tirar

aprendizado. O livro teve grande circulação em 1872, sendo traduzido em diversos

idiomas e publicado na Europa e nos Estados Unidos.

"A Guerra Civil na França" foi originalmente publicado por Marx somente como

terceiro discurso ao Conselho Geral da Internacional, separado em quatro capítulos.

Em 1891, no vigésimo aniversário da Comuna de Paris, Friedrich Engels reuniu uma

nova coleção de trabalhos. Engels decidiu incluir os dois primeiros discursos que

Marx fez para a Internacional — provendo assim base histórica adicional à Guerra

Civil por parte de Marx na Guerra Franco-Prussiana.

Consequências teóricas[editar | editar código-fonte]

Para Marx, os acontecimentos da Comuna de Paris levaram-no à reavaliar as

significâncias de alguns de seus escritos anteriores. Em um prefácio posterior ao

Manifesto Comunista, Marx escreveria que "nenhuma importância é atribuída às

medidas revolucionárias propostas no final da Seção II. Essa passagem seria hoje, em

muitos aspectos, diferentemente formulada."1 A passagem referida no "Manifesto"

busca mostrar o processo da tomada proletária do poder do Estado. Sugerindo ainda

no mesmo prefácio, que leiam "A Guerra Civil na França", diz: "A Comuna,

sobretudo, provou que 'a classe operária não pode limitar-se a apoderar-se da máquina

do Estado, nem colocá-la em movimento para atingir seus próprios objetivos'."1

Referências

Difícil saber se os livros produzem revoluções. Mas ao ler esta obra o leitor terá

certeza de que as revoluções criam grandes livros. Foi assim que a Comuna de Paris,

a primeira forma de autogoverno dos trabalhadores, encontrou seu maior intérprete,

de tal maneira que é impossível recordar aqueles feitos colossais sem ler A guerra civil

na França de Karl Marx.

Os personagens aparecem em sua condição de classe sem perder a humanidade

naquilo que têm de mais nobre ou mais vil. Vemos o quase ministro Jules Favre

falsificando documentos enquanto vive em adultério com a mulher de um bêbado de

Argel; o futuro primeiro-ministro Jules Ferry como um advogado sem um tostão

pronto a assaltar os cofres públicos; e o celebrado Thiers, que antes de mentir como

presidente já havia feito carreira de mentiroso como historiador…

Se em O 18 de brumário de Luís Bonaparte (Boitempo, 2011) Marx mostrou como

um homem medíocre pôde governar sob a fantasia de “Napoleão III”, aqui ele

desvenda por que um mentiroso, um corrupto e um falsificador conseguiram derrotar

a Comuna e liderar o regime anônimo da burguesia: a República Parlamentar.

Não à toa, Marx recorda que, quando esses “vampiros” fugiram para Versalhes

com suas cocotes e sua polícia, os ladrões comuns foram com eles… Paris se tornou

subitamente uma capital segura, embora sitiada. Em contraste com os carrascos de

Versalhes, Blanqui e seus camaradas erguiam uma cidade nova. Mas tinham tanta

coragem quanto ingenuidade, e cometeram até mesmo o erro de não tomar a sede do

banco!

A guerra civil na França foi escrita como Mensagem do Conselho Geral da I

Internacional e difundida como livro na Europa e nos Estados Unidos. A primorosa

edição que o leitor tem agora em mãos traz as variantes do manuscrito original, que

dão ao estudioso um aparato crítico imprescindível. Bem merecida edição para um

autor que desejava semear outras revoluções. Porque Marx certamente esperava que,

depois da leitura, nenhum revolucionário futuro se detivesse “respeitosamente diante

das portas do Banco da França”.

***

Trecho da Apresentação escrita por Antonio Rago Filho:

Page 2: Comuna de paris ii

A Comuna de Paris foi a primeira experiência histórica de tomada de poder da classe

trabalhadora, cujo significado colocou-a como referencial para as lutas de

emancipação social. Foi uma revolução contra o Estado. A forma política “finalmente

encontrada”, meio orgânico de ação que visava um trânsito socialista, uma nova

forma social sem classes, a poesia do futuro. O heroísmo da classe operária na luta

contra os usurpadores das fontes de vida foi um exemplo que a Associação

Internacional dos Trabalhadores (AIT) tentou imortalizar. Marx, secretário da AIT,

dando continuidade aos combates da Comuna e investindo contra as calúnias e

mentiras dos jornais burgueses, dissemina as virtudes da República do Trabalho: “Que

é a Comuna, essa esfinge tão atordoante para o espírito burguês?”. A essa pergunta o

leitor encontrará respostas claras, minuciosas, concretas, ao estilo do rigor marxiano,

no conjunto de escritos selecionados para compor esta obra.

***

A Coleção Marx e Engels, da Boitempo Editorial, desenvolve um trabalho de

recuperação da obra de Karl Marx e Friedrich Engels, sempre em traduções diretas

dos originais, com a participação de especialistas nos fundadores do marxismo e um

aparato editorial que faz de seus livros uma referência dentro e fora do país. Com 11

volumes publicados, a coleção teve início com a edição comemorativa dos 150 anos

do Manifesto Comunista, em 1998. Em seguida foi publicado o livro A sagrada

família (2003), obra polêmica que assinala o rompimento definitivo de Marx e Engels

com a esquerda hegeliana. Os Manuscritos econômico-filosóficos (2004) vieram na

sequência, ao qual se seguiram os lançamentos de Crítica da filosofia do direito de

Hegel(2005); Sobre o suicídio (2006); A ideologia alemã (2007); A situação da classe

trabalhadora na Inglaterra (2008); Sobre a questão judaica (2010);Lutas de classes

na Alemanha (2010), O 18 de brumário de Luís Bonaparte(2011), e A guerra civil na

França (2011), em comemoração aos 140 anos da Comuna de Paris., da Boitempo

Editorial, desenvolve um trabalho de recuperação da obra de Karl Marx e Friedrich

Engels, sempre em traduções diretas dos originais, com a participação de especialistas

nos fundadores do marxismo e um aparato editorial que faz de seus livros uma

referência dentro e fora do país. Com 11 volumes publicados, a coleção teve início

com a edição comemorativa dos 150 anos do Manifesto Comunista, em 1998. Em

seguida foi publicado o livro A sagrada família (2003), obra polêmica que assinala o

rompimento definitivo de Marx e Engels com a esquerda hegeliana. Os Manuscritos

econômico-filosóficos (2004) vieram na sequência, ao qual se seguiram os

lançamentos de Crítica da filosofia do direito de Hegel(2005); Sobre o

suicídio (2006); A ideologia alemã (2007); A situação da classe trabalhadora na

Inglaterra (2008); Sobre a questão judaica (2010);Lutas de classes na

Alemanha (2010), O 18 de brumário de Luís Bonaparte(2011), e A guerra civil na

França (2011), em comemoração aos 140 anos da Comuna de Paris.

Vale lembrar que a Boitempo Editorial lançou em abril de 2011 os primeiros nove

títulos da Coleção Marx e Engels no formato virtual. Para mais informações sobre

os títulos da Coleção, visite nosso site.

A Comuna de Paris foi a primeira experiência na história de um governo operário, sob

bases econômicas cooperativistas, sob os signos do igualitarismo e do laicismo. Durou

72 dias: o governo operário na capital francesa vai de 26 de março até 28 de maio de

1871. Desde a 1ª Intenacional (Associação Internacional dos Trabalhadores), Marx

atua em prol da Comuna de Paris, objeto das maiores calúnias pelos jornalões

burgueses europeus.

“Que é a Comuna, essa esfinge tão atordoante para o espírito burguês”?, pergunta-se

Marx em 1871, quando redige o folheto “Guerra Civil na França”. O documento

esclarece o leitor acerca dos acontecimentos de Paris sob um ponto de vista não

burguês, elucidando a luta de classes que perpassa a guerra franco-prussiana e tem

como principal vítima o proletariado francês.

Thieres, líder dos capituladores instalados em Versalhes, estabelece uma paz com a

Prússia cujos termos envolviam o esmagamento da Comuna de Paris. Os traidores da

republica social parisiense abandonaram estrategicamente canhões e armas que serian

utilizados pelas forças armadas prussianas para atacar a Comuna. Por suposto aquela

“esfinge” já era motivo de temor por toda burguesia europeia e a capitulação francesa

envolvia e perpassava pelo massacre daquela experiência, denunciando o caráter

classista daquela luta.

Page 3: Comuna de paris ii

A guerra franco-prussiana inicia-se em 1870: claramente, a França subestimava de

início o poderio militar prussiano. Na verdade as hostilidades entre franceses e

alemães remetem às guerras napoleônicas, cujo final foi o exílio de Napoleão em Elba

e a vitória da Santa Aliança, da reação monárquica sobre a República. Após a ascensão

de Napoleão III (sobrinho de Napoleão I), por meio de um golpe de Estado, a França

consolidaria o Segundo Império, cuja vida seria breve e se encerraria com a derrota

dos franceses na guerra franco-prussiana.

A capitulação oficial de Paris foi conduzida por Thiers em fevereiro de 1971.

Entretanto, a população de Paris recusou-se a depor as armas. Havia diferenças

políticas entre a capital e as províncias. Durante a guerra, as províncias francesas

elegeram para a Assembleia Nacional Francesa deputados monarquistas (os “Rurais”),

bancada francamente favorável à capitulação ante a Prússia. A população de Paris, no

entanto, opunha-se a essa política. Marx lembra que as províncias sofriam com a

desinformação provocada pela burguesia francesa, que impedia qualquer forma de

comunicação entre as províncias e a Comuna, além de todas as mentiras reinteradas a

respeito a república social de paris. Louis Thiers, político experiente,

sistematicamente ironizado por Marx, foi elevado à chefia do gabinete conservador

com a queda do Segundo Império. Tentou esmagar os insurretos parisienses. Estes,

porém, com o apoio da Guarda Nacional e de combatentes que se recusavam a atirar

em crianças e mulheres, derrotaram as forças legalistas, obrigando os membros do

governo a abandonar Paris e dirigir sua política desde Versalhes. Segundo Marx, toda

a escória da sociedade parisiense, ou seja, sua parcela improdutiva, fugiu junto com a

burguesia. A partir da medida socialista de eliminação das forças armas e da polícia, e

a constituição do povo em armas, Marx comenta a redução total da criminalidade em

Paris.

Enquanto a Comuna resistia, Thiers foi buscar auxílio junto à Prússia para esmagá-la.

Publicamente, o astuto político dizia não ceder um palmo de terra francesa aos

alemães. Entretanto, seus termos de rendição envolveram a entrega de Alsácia e

Lorena à Prússia. Além disso, a França foi obrigada a pagar uma indenização de

guerra de cinco bilhões de francos de ouro. A Prússia, de outro lado, garantiu que

fossem libertados 100 mil prisioneiros de guerra franceses, os quais foram admitidos

para reprimir a Comuna.

Depois de pouco mais de dois meses de lutas, a Comuna foi esmagada pelas tropas da

reação.

A Comuna de Paris nos legou a bandeira vermelha do igualitarismo e a canção da

Internacional. Legou-nos igualmente uma série de medidas que nos fazem crer ser

aquela experiência, algo à frente de seu tempo. Limitou por exemplo o salário máximo

de cada mandatário a valor correspondente ao salário de um trabalhador; eliminou o

trabalho noturno, legalizou os sindicatos, instituiu a igualdade de sexos, tornou eletivo

o cargo de juiz, incorporou o internacionalismo não só no discurso, mas na prática,

com a participação de estrangeiros nos órgãos de funcionamento da comuna. Separou

a religião do estado e eliminou o ensino religioso. Todas estas mudanças introduzidas

pelo governo operário não poderiam subsistir a um cerco de centenas de milhares de

homens armados amplamente pelas principais potencias europeias. Ainda assim, em

meio a fome e a todas as dificuldades, a Comuna subsistiu brava e heroicamente por

72 dias todas as atrocidades da reação.

Marx não detalha o número de mortos, mas ilustra em diversas passagens a forma

bárbara como a reação esmagou a Comuna. Estima-se que 80.000 pessoas foram

mortas pelas tropas da burguesia franco-prussiana, das quais 20.000 foram executadas,

sumariamente. Fala-se que só interrompeu-se o banho de sangue quando se constatou

que o enorme número de cadáveres disseminaria doenças na cidade. Das 40.000

pessoas presas, uma parcela foi levada à Ilha da Nova Caledônia, onde, ainda hoje, é

possível ver as marcas deixadas pelos comunards. Presos numa ilha perdida num lugar

esquecido do mundo, as marcas dizem “Viva a Comuna”. Mais de um século passou-

se e a luta da Comuna por uma sociedade igualitarista permanece tão viva quanto as

marcas das prisões da Nova Caledônia

Resumo do texto: A Guerra Civil em França, Karl Marx, Introdução de Engel.

Aluno: Savio Emerick Barros Pavani Marinho

A Guerra Civil francesa é compreendida como a segunda parte de um processo que

começara com o Conselho Geral da Guerra Franco Alemã, porque ainda durante a

última metade do século XIX, a Alemanha sofria as consequências daquele

acontecimento. A anexação da Alsácia-Lorena por parte da Alemanha, unificada, a

partir de então, fez com que a França fizesse uma aliança com a Rússia, tal atitude

resultou em duas alternativas para os alemães, tornar-se “servo notório da Rússia, ou

após trégua, teria que se armar para uma nova guerra”, contra os franceses e russos.

Essa rivalidade acirrada entre os povos europeus, também é válida para análise da

Guerra Civil na França. O desenvolvimento político e econômico da França, desde a

Page 4: Comuna de paris ii

Revolução Francesa, desenhou-se e tal forma que só uma revolução de caráter

proletário poderia estourar no país, que quer dizer que após a emblemática “vitória”

na revolução de 1789, a classe de proletário tinha suas revindicações próprias. Mesmo

que tais revindicações fossem imprecisas e confusas, todas tinham, a eliminação das

diferenças de classes entre capitalistas e operários, como objetivo em comum. As

revindicações operárias, contudo, continham um perigo para ordem social, uma vez

que a classe ainda estava armada, dessa forma o desarmamento da classe

operária, por parte da burguesia, era visto como prioridade. Com o objetivo de

enfraquecer os operários, os burgueses liberais tentaram assegurar a reforma eleitoral,

para então fortalecer o partido deles. Dada a crise política entre burguesia liberal e

pequena burguesia, os operários inciaram a luta nas ruas, esse possuíam um grau de

autonomia muito maior do que se imaginava.

Com a conjuntura mencionada, os operários saíram vitoriosos e no lugar da reforma

da república nos moldes da burguesia, ergueu-se a “República Social”. A partir de

então surgiu uma imensa luta de classes na França, as classes burguesas e operárias

lutavam pelo poder, mas ao mesmo tem esse conflito se desenrolava, ficava mais

evidente que nenhuma das duas classes estavam preparadas para governar o país,

enquanto o proletário não conseguia se consolidar em uma unidade aceita com

representatividade, a burguesia, por sua vez, ainda era, em sua maioria, constituída

por sentimentos monárquicos, além de estar dividida em 4 partidos. Como

consequência da crise civil instaurada, Louis Bonaparte centralizou o poder, tendo ao

seu lado o exército, a polícia e a maquinaria administrativa, instaurando um novo

Império. O pretexto usado pelo novo imperador foi que ele iria proteger a burguesia

dos operários e os operários da burguesia, sobre amparo de um forte desenvolvimento

na indústria.

Sob a bandeira de retomar a extensão territorial do primeiro

Império, Napoleão Terceiro não tinha outra alternativa senão a Guerra, que seria

inevitável, mais cedo ou mais tarde. A 4 de setembro de 1870, o império caiu por meio

da Revolução de Paris e a República foi novamente instaurada. Em meio ao colapso

francês naquele momento, no qual o país se via em meio a uma guerra e com um

governo recém instaurado, “o povo consentiu aos deputados de Paris do antigo Corpo

legislativo que agissem como governo de defesa nacional”. Tal ato permitia que todos

aqueles aptos a pegar em armas entrassem para a guarda nacional, o que permitiu com

que os operários agora formassem a grande maioria. Como era de se esperar, em pouco

tempo instaurou-se uma grande oposição entre os burgueses do governo e o proletário

armado, culminando em uma grande Guerra Civil, dentro de uma cidade sitiada por

tropas estrangeiras. Enfim, após 131 dias de isolamento a cidade se rendeu, visto que

recursos básicos para a sobrevivência estavam faltando. Mesmo assim, a rendição foi

de forma parcial, as próprias tropa prussianas tiveram bastante cuidado ao entrar na

cidade, dado o respeito imposto pela Guarda Nacional, o que quer dizer que o

proletário manteve as armas nas mãos, mesmo com a rendição.

Dado o perigo que a classe operária armada representava para os grandes proprietários

rurais e capitalistas, o governo tentou mais uma vez desarmar a população. A tentativa

inicial foi o envio de tropas de

linha com a ordem de roubar a artilharia da Guarda nacional, tentativa essa frustrada.

Como consequência foi decretada a guerra entre Paris e o governo francês, sendo eleita

dia 26 de março a Comuna de Paris, Guarda nacional se transformou no único poder

armado, “isentou todos os pagamentos de rendas de casa de Outubro de 1870 até Abril,

pôs em conta para o prazo de pagamento seguinte as quantias de arrendamento já

pagas e suspendeu todas as vendas de penhores no montepio municipal. No mesmo

dia, os estrangeiros eleitos para a Comuna foram confirmados nas suas funções,

porque a (bandeira da Comuna é a da República mundial). A 1 de Abril foi decidido

que o vencimento mais elevado de um empregado da Comuna, portanto dos seus

próprios membros também, não poderia exceder 6000 francos (4800 marcos)”.

Também foram separadas Igreja e Estado, bem como abolido todos os pagamentos do

Estados para fins religiosos, o trabalho noturno foi abolido. As decisões da comuna

tinha forte caráter proletário pelo fato que só tinham acento nela os próprios ou

representantes deles.

Dada a dificuldade das tropas de Versalhes em entrar e retomar o controle sobre Paris,

o governo francês (Versalheses) aproximou-se daqueles que eram até então inimigos,

os prussianos, negociando assim o retorno de vários soldados franceses que estavam

retidos na Prússia como prisioneiros de guerra. Com a imensa maioria e após dias e

dias de

combate a comuna finalmente sucumbiu, um massacre à população parisiense ocorreu

pelas tropas de Versalhes, as tropas prussianas ficaram do lado de fora da cidade, com

ordens expressas para não deixar nenhum membro da comuna fugir, prisões em massa

foram feitas, o povo parisiense pagara caro por tentar defender os seus interesses.

Aqueles poucos que conseguiram fugir, dividiram-se em uma maioria, os Blanquistas,

que ficaram com o controle sobre a Guarda Nacional, e uma minoria, os membros da

Associação Internacional dos Trabalhadores, formada pelos socialistas.

A comuna teve como decreto mais importante, um projeto de desenvolvimento da

indústria baseado, não só, numa associação dos operários em cada fábrica, mas

também na unificação entre todas as associações em uma grande federação. Tratava-

Page 5: Comuna de paris ii

se, de acordo com Marx, do caminho inteiramente correto para chegar ao comunismo.

Com a comuna, ficou percebido que a classe operária, estando no poder, não poderia

governar com a velha máquina do Estado, de modo a não perder a sua própria

dominação . Dessa forma, era necessário acabar com a “velha maquinaria de

opressão”, para tal, foi aplicado na Comuna duas medidas consideradas inéditas, todos

os cargos administrativos foram ocupados por interessados eleitos por voto via

sufrágio universal e a segunda media, todos os serviços eram pagos com salários

equivalentes ao que um operário recebia.

A 4 de Setembro de

1870, os operários de Paris proclamaram a República, que foi quase instantaneamente

aclamada através de toda a França. O desenrolar da proclamação se deu quando,

pressionados pelas tropas prussianas, que marchavam incessantemente em direção a

Paris, a nova república, sem alternativas, armou a classe operária com o objetivo de

formação da Guarda Nacional, para então se configurar algum tipo de defesa contra o

opressor. A classe operária armada, no entanto, configurou-se no que era de esperar,

uma guerra armada, culminado com a criação da Comuna de Paris.

Configurou-se uma divisão dentro da própria França, de um lado a Comuna, em Paris,

e do outro o governo Francês, sediado em Versalhes. O segundo, por sua vez, dado os

sucessíveis fracassos de reanexação de Paris aliou-se com inimigo, a Prússia, que não

só libertou os soldados prisioneiros da Guerra Franco-Prussiana para lutar e

reconquistar Paris, como também, enviou o seu próprio exército para ajudar. Naquele

momento o governo francês entregava o seu próprio povo nas mãos de um inimigo

externo, prova disso é que pela primeira vez, a capital fora bombardeada dos seus

próprios fortes e o pior pelo seu próprio governo, que havia entregado não só Paris

aos prussianos, mas toda a França.

O início de todo esse desenrolar histórico se deu graças às consequências do segundo

Império, de Luis Bonaparte, esse tinha mergulhado o país em uma forte dívida externa,

todas as cidades estavam também afundadas em pesadíssimas dívidas municipais, sem

falar da caríssima guerra contra a Prússia, com o discurso de que iria resgatar a

extensão territorial francesa do primeiro Império, tal guerra além de ter sido um

fracasso, acabou com os recursos franceses, a nação estava faminta, mergulhada em

dívidas e ainda por cima custeando uma guerra fadada ao fracasso. Sob essa realidade

emergiu a República que criou possibilidades para que pudesse surgir a Comuna.

O cerco à cidade de Paris, ocorrido pela junção das tropas prussianas e do governo

francês, fez com que produtos de primeira necessidade faltassem na capital, a cidade

sofria com a escassez de tudo, além de estar sendo duramente bombardeada, em um

massacre terrível, feito pelo próprio governo francês. Contudo mesmo assim a

Comuna resistiu o quanto pôde, enquanto havia alguma esperança de que a camada

social historicamente reprimida pudesse, enfim, ter um governo menos corrupto mais

justo e de acordo com princípios de igualdade entre as pessoas.

Tal fato único até então, deixa um legado, “A Paris operária com a sua Comuna será

sempre celebrada como o arauto glorioso de uma nova sociedade. Os seus mártires

estão guardados como relíquia no grande coração da classe operária. E aos seus

exterminadores, já a história os amarrou àquele pelourinho eterno donde todas as

orações dos seus padres os não conseguirão redimir”.

MARX, Karl. A Guerra Civil na França. Seleção de textos, tradução e notas de

Rubens Enderle; [apresentação de Antonio Rago Filho]. São Paulo: Boitempo. 2011.

274 p.

A Paris dos trabalhadores, com sua

Comuna, será eternamente celebrada como a gloriosa

precursora de uma nova sociedade.

Karl Marx

Descubram o traço essencial [de Karl

Marx], as imensas sobrancelhas, e vocês saberão

imediatamente que estão lidando com a mais formidável de

todas as forças individuais compostas - um sonhador que

pensa, um pensador que sonha.

R. Landor

Sua queda [da burguesia] e a vitória do

proletariado são igualmente inevitáveis.

Karl Marx e Friedrich Engels

Sobre o autor[1]

SOBRE O AUTOR

Page 6: Comuna de paris ii

Karl Marx (1818-1883) foi um destacado pensador e

revolucionário alemão que atuou em áreas como história, filosofia, economia,

sociedade e política, etc. Suas muitas teorias, sua efetiva atuação política e

revolucionária e seus estudos, destacando-se a luta de classes entre o proletariado e

burguesia como motor da história, desde então, ecoam pelas sociedades

contemporâneas.

A OBRA

O presente livro de Marx, A Guerra Civil na França, tem como

base as cartas enviadas por ele em sua posição como secretário da Associação

Internacional de Trabalhadores (AIT), em apoio a Comuna e

aos communards[2]redigidas em maio de 1871, pouco tempo depois da derrota da

Comuna. E Paris resistirá ao assédio prussiano? Com essa pergunta de Marx, podem-

se imaginar quais os eventos que o influenciam em seu estudo, sendo ele próprio um

personagem ativo dessa atmosfera.[3] A conjuntura aponta para Paris (sede da

Comuna) em guerra em 1871, sendo nela visível a influência do movimento

revolucionário de 1848. São denunciados pelo pensador alemão alguns personagens

como Thiers, [4] um dos principais articuladores da derrota da Comuna, considerado

um personagem "que nunca produziu nada" [5], espelhado em seus boletins mentirosos

contra a Comuna, [6] além de outras figuras;

Pode-se perguntar como esses

ultrapassados charlatães e intriguistas parlamentares como

Thiers, Favre, Dufaure, Garnier-Pagès (apenas

fortalecidos por uns poucos tratantes da mesma laia)

continuam a ressurgir à superfície após cada revolução e a

usurpar o poder Executivo - esses homens que sempre

exploram e traem a revolução, fuzilam o povo que a fez e

sequestram as poucas concessões liberais conquistadas dos

governos anteriores (aos quais se opuseram). [7]

Thiers e outros próximos a ele obtêm vantagens em sua posição

contra os communards, como no enriquecimento de Jules Ferry.[8] Marx ressalta

também a preocupação deles em relação à Comuna, como no pedido de Thiers, mentor

do partido da ordem, [9] para Bismarck aumentar o número de soldados das tropas para

enfrentar de Comuna (40 mil para 100 mil) cabendo ressaltar que o próprio Thiers

fortificou Paris em 1840, mas essa não é a única contradição dele. Marx aponta o

exemplo do bombardeio da cidade de Palermo (Itália) pelos prussianos, em que Thiers

criticou-o, mas favorável que fossem usados bombardeios contra a Comuna[10] e em

sua errônea comparação[11] com a Guerra Civil dos Estados Unidos.[12] Outra pergunta

de Marx é: "quem vai pagar a conta?". É Apontado que as províncias no segundo

império estão atoladas em dividas municipais. [13] Nessa linha de pensamento, o

imperialismo, segundo Marx, é a forma mais prostituta e acabada do estado e a

Comuna apresenta qualidades em oposição a isso. As atrocidades partindo de

Versalhes contra a Comuna foram tamanhas que chocaram até a revista

londrina Times. [14] Outro exemplo que apontam um eco com a Comuna é o evento

envolvendo o general Lecomte, em que seus homens atiram nele, em oposição à ordem

de fogo dele contra a Comuna.[15]

A classe trabalhadora francesa, segundo o historiador Antonio

Rago foi fortemente reprimida e embora estivesse armada para a guerra[16] resistiu

bravamente por mais de dois meses, embora a situação fosse desfavorável a Comuna,

pois um terço de seu território estava em domínio do inimig; à capital (Paris) se

encontrava isolada das províncias e suas comunicações estavam cortadas. Essa é,

portanto, uma Paris heróica, em que Marx indica a agitação de várias revistas da

época, inspiradas nessa conjuntura revolucionária. Na descrição de Marx, a Comuna

Page 7: Comuna de paris ii

foi heróica mesmo no curto tempo que teve de se organizar (pouco mais de dois meses)

e devido há esse pouco tempo que durou, as substituições tanto de leis como de

pessoas eram continuas. Nesse clima foi criada a constituição da Comuna, no qual

Marx destaca pontos como o sufrágio universal, a ideia de descentralização dos

poderes, sua flexibilidade e abolição da propriedade privada.[17] Enfim, Marx afirma

que a Comuna "juntava elementos saudáveis" para a sociedade, pois destruirá duas

esferas do sistema político da época; o funcionalismo estatal e o exército permanente.

Segundo Marx, o Comuna é a sua própria existência produtiva[18] e nela não existiam

roubos, ela publica todos os seus atos e declarações, diferente do que Marx aponta no

que acontece com outros sistemas. Mas em Versalhes[19] a Comuna não é bem vista,

sendo que na Assembleia Nacional de Paris ela recebe vaias. Mesmo o povo de Paris

tendo lutado pela Comuna mais do que em qualquer outra situação foram esmagados

em 1871 na conhecida semana sangrenta, como nos muitos exemplos de fuzilamentos

e aniquilações que sofreram os communards.

Marx afirma que "a roda da história girou para trás", na ideia da

derrota da Comuna de Paris, que assim como outras ocorridas no território francês e

europeu foram fortemente reprimidas. O tempo limitado que a Comuna teve, junto de

outros fatores demonstram, segundo Marx, que a classe operária não tinha adquirido

capacidade de governar o estado[20], embora ela mesma não se propusesse a ocupar as

funções do estado. A Comuna de um modo em geral, era dividida entre uma maioria

de blanquistas e uma minoria de seguidores da escola socialista de Prudhon[21] em que

se destacam os acertos entre essas duas partes, embora Marx não interpretasse isso

algo positivo. Observa-se na visão dele que;

Parece-me que a Comuna perde tempo

demais com ninharias e brigas pessoais. Vê-se que, nisso,

ela sofre influências que não provem dos trabalhadores.

Não seria ruim se vocês encontrassem tempo para

recuperar o tempo perdido. [22]

Em suma, a obra A Guerra Civil na França, de Karl Marx, um

atuante dessa conjuntura, apresenta e problematiza a causa ao qual se dedica, qual

seja, atuar junto ao movimento proletário, através de seus escritos, denunciando

abusos, apresentando personagens e suas ações de destaque em seu entender e

encastelado como na proposta de Edward Thompson (destacando-se as diferenças

devidas) que era trazer a história aqueles que eram poucos apresentados. Marx, além

de escrever a história de um movimento que em si recebe pouco destaque quando se

comparado com outros, ganha nessa obra um importante estudo da conjuntura da

época e a visão desse destacado filósofo e historiador

A Comuna de Paris foi o primeiro governo operário da história, fundado em 1871 na

capital francesa por ocasião da resistência popular ante a invasão por parte do Reino

da Prússia.

A história moderna registra algumas experiências de regimes comunais, impostos

como afirmação revolucionária da autonomia da cidade. A mais importante delas —

a Comuna de Paris — veio no bojo da insurreição popular de 18 de março de 1871.

Durante a guerra franco-prussiana, as províncias francesas elegeram para

a Assembleia Nacional Francesa uma maioria de deputados monarquistas francamente

favorável à capitulação ante a Prússia. A população de Paris, no entanto, opunha-se a

essa política. Louis Adolphe Thiers, elevado à chefia do gabinete conservador, tentou

esmagar os insurretos. Estes, porém, com o apoio da Guarda Nacional, derrotaram as

forças legalistas, obrigando os membros do governo a abandonar

precipitadamente Paris, onde o comitê central da Guarda Nacional passou a exercer

sua autoridade. A Comuna de Paris — considerada a primeira república proletária da

história — adotou uma política de carátersocialista, baseada nos princípios da Primeira

Internacional dos Trabalhadores.

Page 8: Comuna de paris ii

O poder comunal manteve-se durante cerca de quarenta dias. Seu esmagamento

revestiu-se de extrema crueldade. De acordo com aenciclopédia Barsa, mais de

20 000 communards foram executados pelas forças de Thiers.

O governo durou oficialmente de 26 de março a 28 de maio, enfrentando não só o

invasor alemão como também tropas francesas, pois a Comuna era um movimento de

revolta ante o armistício assinado pelo governo nacional (transferido para Versalhes)

após a derrota na guerra franco-prussiana. Os alemães tiveram ainda que libertar

militares franceses feitos prisioneiros de guerra para auxiliar na tomada de Paris.

Precedentes[editar | editar código-fonte]

A população francesa já havia enfrentado, após a Revolução Francesa, uma revolta

em Fevereiro de 1848, responsável por destituir o "rei burguês" Luís Filipe d'Orleans,

dando fim à monarquia de Julho e instaurando a Segunda República Francesa.

Entretanto, após um golpe de estado por Luís Bonaparte, conhecido como "O Outro

18 de Brumário", Bonaparte instaurou o Segundo Império Francês e proclamou-se

Napoleão III. No governo de Napoleão III, a França envolveu-se em atritos constantes

com a Prússia, relacionados à sucessão espanhola (veja Guerra franco-prussiana).

Com um telegrama falsificado por Otto Von Bismarck, extremamente ofensivo ao

povo francês, Napoleão III declarou guerra à Prússia.

No entanto, o exército prussiano estava mais bem preparado, vencendo facilmente os

franceses. O imperador francês foi feito prisioneiro em Sedan. Com isso, foi

proclamada aTerceira República Francesa legitimando um governo provisório de

defesa nacional para o qual Louis Adolphe Thiers foi eleito presidente.

O armistício e a Comuna[editar | editar código-fonte]

Wilhelm I foi coroado Imperador da Alemanha no Palácio de Versalhes.Bismarck ao

centro, de branco.

O Governo Provisório, com sede na prefeitura de Paris, iniciou um processo de

capitulação da França entregando a maior parte de seu exército permanente bem como

suas armas a contragosto da população parisiense. O único contingente agora armado

era a Guarda Nacional, formada em sua maior parte por operários e alguns membros

da pequena burguesia.

Convictos na resistência ao exército estrangeiro, a Guarda Nacional assaltou a

prefeitura e expulsou os membros da assembleia que se instalariam em Versalhes. A

administração pública de Paris agora se encontrava nas mãos do Comitê Central da

Guarda Nacional que manteria conversações com Versalhes até 18 de março, quando

o presidente Thiers mandou desarmar a Guarda Nacional numa operação sigilosa

durante a madrugada daquele dia. Pegos de surpresa, a população parisiense expulsa

o contingente de Thiers dando início à independência política de Paris frente à

Assembleia de Versalhes culminando com a eleição e a declaração da Comuna em 26

e 28 de março.

Apesar da evidente disposição do povo parisiense em resistir, a Assembleia de

Versalhes acabou assinando a paz com os alemães. Num episódio

humilhante, Guilherme I, o soberano alemão, foi coroado imperador do Segundo

Reich na sala dos espelhos do Palácio de Versalhes.

Realizações da Comuna[editar | editar código-fonte]

A Comuna de Paris DECRETA: O alistamento obrigatório é abolido; a guarda

nacional é a única força militar permitida em Paris; todos os cidadãos válidos fazem

parte da guarda nacional.

Destruição da Coluna Vendôme pelos communards.

Por sugestão do revolucionárioGustave Courbet, as pedras da coluna decaída seriam

utilizadas para a reconstrução do hotel de la Monnaie, que a época servia de abrigo

para inválidos.

Ferramentas penhoradas são devolvidas aos operários durante o cerco à Comuna.

O governo revolucionário foi formado por uma federação de representantes de bairro

(a guarda nacional, uma milícia formada por cidadãos comuns). Uma das suas

primeiras proclamações foi a "abolição do sistema da escravidão do salário de uma

vez por todas". A guarda nacional se misturou aos soldados franceses, que se

amotinaram e massacraram seus comandantes. O governo oficial, que ainda existia,

fugiu, junto com suas tropas leais, e Paris ficou sem autoridade. O Comitê Central da

federação dos bairros ocupou este vácuo, e se instalou na prefeitura. O comitê era

formado por Blanquistas, membros da Associação Internacional dos

Trabalhadores, Proudhonistase uma miscelânea de indivíduos não-afiliados

politicamente, a maioria trabalhadores braçais, escritores e artistas.

Eleições foram realizadas, mas obedecendo à lógica da democracia direta em todos os

níveis da administração pública. A polícia foi abolida e substituída pela guarda

nacional. A educação foi secularizada, a previdência social foi instituída, uma

comissão de inquérito sobre o governo anterior foi formada, e se decidiu por trabalhar

no sentido da abolição da escravidão do salário. Noventa representantes foram eleitos,

mas apenas 25 eram trabalhadores e a maioria foi constituída de pequenos-burgueses.

Entretanto, os revolucionários eram maioria. Em semanas, a recém nomeada Comuna

de Paris introduziu mais reformas do que todos os governos nos dois séculos anteriores

combinados:

Page 9: Comuna de paris ii

1. O trabalho noturno foi abolido;

2. Oficinas que estavam fechadas foram reabertas para que cooperativas fossem

instaladas;

3. Residências vazias foram desapropriadas e ocupadas;

4. Em cada residência oficial foi instalado um comitê para organizar a ocupação

de moradias;

5. Todas os descontos em salário foram abolidos;

6. A jornada de trabalho foi reduzida, e chegou-se a propor a jornada de oito

horas;

7. Os sindicatos foram legalizados;

8. Instituiu-se a igualdade entre os sexos;

9. Projetou-se a autogestão das fábricas (mas não foi possível implantá-la);

10. O monopólio da lei pelos advogados, o juramento judicial e os honorários

foram abolidos;

11. Testamentos, adoções e a contratação de advogados se tornaram gratuitos;

12. O casamento se tornou gratuito e simplificado;

13. A pena de morte foi abolida;

14. O cargo de juiz se tornou eletivo;

15. O calendário revolucionário foi novamente adotado;

16. O Estado e a Igreja foram separados; a Igreja deixou de ser subvencionada

pelo Estado e os espólios sem herdeiros passaram a ser confiscados pelo

Estado;

17. A educação se tornou gratuita, secular, e compulsória. Escolas noturnas foram

criadas e todas as escolas passaram a ser de sexo misto;

18. Imagens santas foram derretidas e sociedades de discussão foram adotadas

nas Igrejas;

19. A Igreja de Brea, erguida em memória de um dos homens envolvidos na

repressão da Revolução de 1848, foi demolida. O confessionário de Luís

XVI e a coluna Vendôme também;

20. A Bandeira Vermelha foi adotada como símbolo da Unidade Federal da

Humanidade;

21. O internacionalismo foi posto em prática: o fato de ser estrangeiro se tornou

irrelevante. Os integrantes da Comuna incluíam belgas, italianos, poloneses,

húngaros;

22. Instituiu-se um escritório central de imprensa;

23. Emitiu-se um apelo à Associação Internacional dos Trabalhadores;

24. O serviço militar obrigatório e o exército regular foram abolidos;

25. Todas as finanças foram reorganizadas, incluindo os correios, a assistência

pública e os telégrafos;

26. Havia um plano para a rotação de trabalhadores;

27. Considerou-se instituir uma Escola Nacional de Serviço Público, da qual a

atual ENA francesa é uma cópia;

28. Os artistas passaram a autogestionar os teatros e editoras;

29. O salário dos professores foi duplicado.

A semana sangrenta[editar | editar código-fonte]

Cadáveres de communards.

O governo oficial, agora instalado em Versalhes e sob o comando de Thiers, fez a paz

com o Império Alemão para que tivesse tempo de esmagar a Comuna de Paris. Como

acordado entre os dois países, a Alemanha libertou prisioneiros de guerra para compor

as forças que o exército francês usaria contra a Comuna. Esta possuía menos de 15

000 milicianos defendendo a cidade contra o exército de 100 000 soldados sob o

comando de Versalhes.

Assim como durante o período da comuna, em sua queda os revolucionários

destruíram os símbolos do Segundo Império Francês - prédios administrativos e

palácios - e executaram reféns, em sua maioria clérigos, militares e juízes. Na

perspectiva dos communards, derrubar a velha ordem e tudo que com ela tinha vínculo

era preciso para que novas instituições pudessem florescer.

Ao todo, a Comuna de Paris executou cem pessoas e matou outras novecentas na

defesa da cidade. As tropas de Thiers, por outro lado, executaram 20 000 pessoas,

número que, somado às baixas em combate, provavelmente alcançou a cifra dos 80

000 mortos. 40 000 pessoas foram presas e muitas delas foram torturadas e executadas

sem qualquer comprovação de que fossem de fato membros da Comuna. As execuções

só pararam por medo de que a quantidade imensa de cadáveres pudesse causar

uma epidemia de doenças.[carece de fontes]

A Comuna é considerada, por grupos políticos revolucionários posteriores

(anarquistas, comunistas, situacionistas), como a primeira experiência moderna

de um governo popular.1 Um acontecimento histórico resultante da iniciativa de

grupos revolucionários e do espontaneísmo político das massas, em meio a

circunstâncias dramáticas de uma guerra perdida (Guerra franco-prussiana) e

de uma guerra civil em curso.

THEIRS: Após a derrota da França na Guerra franco-prussiana e o aprisionamento

do imperador Napoleão III em Sedan pelas tropas deBismarck, Thiers é eleito

presidente do novo Governo Provisório de Defesa Nacional. Importa constatar que

houve certa indefinição a respeito da forma de governo a ser adotada. Assim, nas

eleições para a assembleia nacional constituinte (fevereiro de 1871), foram eleitos 500

monarquistas e apenas 200 republicanos. Aqueles, porém, estavam divididos em três

grupos (bonapartistas, orleanistas e legitimistas), o que dificultava a opção

monárquica. Por fim, como os orleanistas acabaram se aliando aos republicanos,

Page 10: Comuna de paris ii

apenas em 1875 a III República seria formalizada. Theirs foi cauteloso em não se

formalizar como umPresidente de República.

A contragosto da população parisiense, Thiers negociava a capitulação da capital

francesa, no que a Guarda Nacional forçou a então formada assembléia consituinte a

se refugiar em Versalhes. Na capital então organizou-se um Comitê Central formado

por membros da Guarda.

Thiers ainda foi responsável por uma tentativa fracassada de desarmar a Guarda

Nacional na madrugada de 18 de março. A população, no entanto, se rebela, expulsa

o contingente que tentava o desarmamento tendo assim se iniciado a independência

de Paris em relação à Assembléia Constituinte em Versalhes.

Desempenhou ainda importante papel na sangrenta repressão à Comuna de

Paris declarada em 28 de março de 1871.

Comuna de Paris: Autogestão, Democracia Direta e Federalismo

Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares

Há 140 anos, no mês de março, pela primeira vez na história os trabalhadores puderam

ter a experiência, por um curto período de tempo, de se organizarem pela autogestão

e pelo federalismo. Acontecia na França o que ficou conhecido como A Comuna de

Paris.

Na época, a França estava em guerra com a Prússia (que originou o que hoje é a

Alemanha), a qual havia se industrializado e se organizado territorialmente depois de

outros paises da Europa, como a própria França e Inglaterra. No entanto, possuía um

exército poderoso e um enorme apetite por expandir seu território e seu poderio

econômico. A França, que havia acabado de sair de décadas do império de Napoleão

III, se reorganizava como república durante essa guerra (após a prisão do imperador

pelos prussianos) e tinha como presidente Thiers. Como estava perdendo a guerra para

a Prússia, a burguesia francesa decidiu se entregar de forma vergonhosa, a custo do

sacrifício da maioria da população. Nessas horas, o nacionalismo vai por água abaixo

frente à ameaça de prejuízo dos negócios. O governo francês decide assinar um acordo

de paz em que desarma todo seu exército, com exceção da guarda nacional de Paris.

A guarda nacional era composta em sua maioria por operários e a população de Paris,

majoritariamente, discordava dos rumos políticos do novo governo em relação à

Prússia. No dia 18 de março, o proletariado de Paris eclode em revolta com apoio da

guarda nacional, expulsa o governo, destrói os símbolos da opressão e passam a

controlar o dia a dia da cidade. Desmontam toda a lógica de administração estatal e

passam a governar baseados nos princípios da democracia direta. Cada distrito de

Paris elegia um delegado, com mandato revogável e que representava a opinião das

pessoas que compunham aquele distrito.

Os governos provocaram a guerra, quem mais sofreu foram as camadas oprimidas e

depois quiseram acabá-la de uma maneira humilhante, com uma provável

precarização da vida dos trabalhadores. O povo procurou dar a sua resposta.

Era impossível resolver problemas criados por séculos de sistemas sociais injustos em

apenas 40 dias (tempo que durou a Comuna), mas seus feitos foram surpreendentes,

como a redução das jornadas de trabalho, o fim da pena de morte, a criação de um

comitê para organizar a ocupação das habitações vazias, igualdade entre os sexos, a

separação da igreja dos espaços de administração pública e, principalmente, o

desmonte do aparato estatal e substituição da antiga administração centralizada por

uma organização federada e sobre controle direto da população, este sem dúvida

nenhuma um de seus maiores feitos. Infelizmente, a Comuna não durou para realizar

alguns de seus projetos como a autogestão da produção, a rotatividade no trabalho e o

fim do regime de salário. Vale destacar que a Comuna adotou princípios

internacionalistas e contava com a participação ativa de vários estrangeiros, além de

uma forte influência da AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores), entidade

com aspirações socialistas que reunia trabalhadores principalmente da Europa e EUA.

Após a fuga de Paris, o governo Francês se instalou em Versalhes e fez um acordo

com a Prússia, no qual esta liberou os soldados franceses que tinham sido feito

prisioneiros para reprimir a Comuna. 100 mil soldados marcharam sobre Paris, que

era defendida por heróicos 15 mil milicianos. A repressão como sempre foi

desproporcional. Cerca de 20 mil pessoas foram executadas, fora os mortos em

combates. As mortes só cessaram com o medo de uma epidemia na cidade, que estava

amontoada de corpos. Quarenta mil foram presas e várias outras foram deportadas.

As lições da Comuna e a questão do Estado

Apesar de seu fim trágico, a Comuna de Paris nos deixa a certeza de que uma nova

lógica de sociedade é possível. Uma sociedade autogerida, sem desigualdade

Page 11: Comuna de paris ii

econômica e livre. Feitos impressionantes foram realizados em um período de guerra,

imagine o que não poderia ser feito em longo prazo num ambiente mais propício. As

ideias postas em prática em Paris foram o que sempre defenderam os setores

libertários da AIT. Muitos dos seus membros participaram ativamente do processo de

sua construção, mas os socialistas não eram maioria. Ou seja, não eram maioria nem

os adeptos das ideias de Marx e nem os coletivistas (adeptos das ideias de Bakunin).

Apesar disso, os trabalhadores, de maneira geral, fizeram um programa socialista, sem

assim o chamar. As necessidades mais imediatas buscaram soluções em perspectiva

libertárias.

Em todos os documentos, textos teóricos e intervenções no seio da AIT e outros

espaços do movimento operário os coletivistas, que mais tarde viriam a ser conhecidos

como anarquistas, defenderam as ideias que foram colocadas em prática na Comuna.

Mesmo não sendo a corrente política de maior peso (Bakunin se referia a Jacobinos

como os mais numerosos na Comuna), suas ideias foram colocadas em prática. Para

transformar as estruturas injustas da sociedade capitalista somente com um

movimento que tenha efetivamente a participação dos oprimidos, mas não apenas no

combate, na inevitável violência revolucionária, mas na elaboração das estruturas da

nova sociedade que virá. É preciso organizar o trabalho e os aspectos gerais que

garantam o funcionamento de nossa sociedade. Somente na prática, entre erros e

acertos, é que forjaremos o novo homem e assim, juntamente com ele, uma nova

sociedade.

O Estado é uma estrutura criada para manter as injustiças e o pólo oprimido da

sociedade sobre controle da minoria exploradora. Foi assim em todos os sistemas

sociais existentes e no capitalismo ele ganha um novo contorno: não apenas organiza

o aparato repressor que garante que a exploração continue, mas toma conta da

administração da vida em sociedade para que ela permaneça nos rumos que sirvam o

interesse da elite. A burguesia se apoderou direta ou indiretamente do Estado, quando

em sua revolução destituiu a nobreza. Assim o fez, pois o sistema que passava a

consolidar com sua vitória exigia a manutenção da exploração e, portanto, da

sociedade dividida em classes. Na luta do pólo explorado para derrotar a burguesia,

somos movidos por ideais socialistas e temos como uma das nossas grandes metas a

extinção das classes sociais, por isso não podemos usar os mesmos mecanismos que

eles.

Em um processo de transição para uma sociedade socialista não poderíamos nos

apoderar do Estado, pois isso colocaria a perder todas as nossas aspirações. Ao invés

do Estado temos que construir uma nova forma de gerir a sociedade e a forma mais

adequada nesse caso é pela democracia direta num sistema federativo. Temos plena

consciência de que um processo de transição não é algo rápido, e para destruir as

estruturas dessa sociedade não será nada fácil. Porém, não podemos usar um dos

principais instrumentos da classe dominante para manutenção das injustiças: o Estado.

Na AIT existia outra grande corrente política com influência das ideias de Marx e

Engels. Os marxistas tinham um grande peso no movimento operário europeu, mas

sempre defenderam uma via diferente para construção do socialismo. Em seus

materiais anteriores à Comuna de Paris, deixava-se muito claro a necessidade da

centralização do processo de transição e a utilização do aparato do Estado para destruir

a estrutura da sociedade. Podemos ver isso no texto de maior divulgação de Marx e

Engels, que é o Manifesto Comunista, no qual se usa o termo Ditadura do Proletariado

para qualificar essa transição. Por sinal, um termo pouco aprofundado por Marx e que

só vai ganhar maior importância com Engels e Lênin e as necessidades destes em

influenciar o movimento operário alemão e russo, respectivamente. Esse processo

seria bem diferente do que ocorreu na Comuna de Paris.

O fato é que logo depois da Comuna, Marx escreve um texto elogiando o processo

ocorrido em Paris e enaltecendo como um exemplo. Vale destacar que havia um

acirrado debate dentro da AIT entre os dois grupos citados, no qual um dos principais

temas era justamente a discussão entre centralização e federalismo. O que teria

ocorrido? Oportunismo? Mudança de ideia? Vale destacar que em texto da época

Marx e Engels referiam ao Manifesto Comunista como um documento envelhecido e

ultrapassado em alguns aspectos. Infelizmente, essa postura não se manteve após a

Comuna e o próprio Engels reviu algumas ideias defendida nesse texto de Marx. Além

do mais, a postura de ambos e do seu grupo no congresso de 1872 da AIT, em Haia,

foi o de expulsar Bakunin entre outras pessoas da AIT, rachando a entidade e indo de

encontro à maior parte das seções da AIT (principalmente as latinas). Engels ajudou a

fundar uma outra Internacional, mas não uma Internacional de associações de

Page 12: Comuna de paris ii

trabalhadores, mas de partidos socialistas que passavam a disputar o parlamento. A

fração libertária continuou fiel aos seus princípios, mas infelizmente foi se

enfraquecendo.

A Comuna de Paris tem que permanecer sempre viva na memória daqueles que lutam

por uma nova sociedade. Nossa vitória não está determinada, ela é apenas uma

possibilidade. Por mais que a radicalização da democracia direta, com autogestão e

federalismo sejam mais trabalhosos, é o caminho que levará ao objetivo almejado. Só

podemos fazer isso com a participação direta do povo e não por pessoas iluminadas

que centralizariam o processo, supostamente antenadas com o desejo da maioria. Por

mais que tenham sido trabalhadores, uma vez dentro do Estado se tornaram burocratas

e continuaram fazendo funcionar a máquina feita para garantir o aprisionamento da

maioria e a manutenção das injustiças.

SOCIALISMO SEM LIBERDADE É OPRESSÃO,

LIBERDADE SEM SOCIALISMO É INJUSTIÇA!

VIVA A COMUNA DE PARIS!

*Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares*

Maceió, março de 2011.