COMUNHÃO€¦ · 1 COMUNHÃO Revista Espírita Bimestral Propriedade da COMUNHÃO ESPÍRITA...
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COMUNHÃO Revista Espírita Bimestral
Propriedade da
COMUNHÃO ESPÍRITA CRISTÃ DE LISBOA www.comunhaolisboa.com
ANO 35 Nº 210
SETEMBRO - OUTUBRO 2016
Não aderimos ao novo acordo ortográfico
Propriedade, Administração, Índice Página
Redacção, Composição e
Impressão :
Editorial 2 Calçada do Tojal, 95, s/c Página de Kardec 5
1500-592 Lisboa Os métodos pedagógicos de Jesus 9
Telefone : 217 647 441 Fé (soneto) 14
* O que vale o Espiritismo 15 Director Responsável : Pai Nosso 18
Manuela Vasconcelos O uso do Tempo 19
* Opção errada 23
Tiragem : 150 exemplares A sós (soneto) 29
Distribuição Gratuita Páginas do Passado 30
* Na edificação da fé 34
Registo nº.211720 *
Depósito Legal Nº. 13972
http://www.comunhaolisboa.com/
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EDITORIAL
Realmente, tudo o que é bom acaba depressa e pensamos
assim em relação ao tempo, maior ou menor, em que podemos
descontrair e passar uns dias ou semanas ‘naquelas férias’ que, por
sistema e ansiedade, levamos os onze meses do ano a desejar que
cheguem… mesmo quando vivemos a situação de ‘reformados’ e,
portanto, de férias os 365 dias do ano! Mas, quando pensamos
assim, a respeito dos reformados, muitos de nós esquecemo-nos
que, por necessidade ou hobby, muitos deles acabaram por ter uma
reforma em que trabalham tanto ou mais que quando estavam no
activo!
Pessoalmente, gostamos das férias, não por representarem
uma época de far niente, mas pelo tempo climatérico que elas
significam: é que nós, que dos 6 aos 45 anos vivemos em África,
acabámos por gostar e apreciar muito mais o calor que o frio e,
com o regresso a Portugal continental, passámos a ter 9 meses de
frio e apenas 3 de calor! É muito pouco para quem podia usufruir
de horas de praia em qualquer dia do ano!...
Aqui, Setembro significa o retomar de funções – seja para
os que trabalham ainda, seja para os que se dedicaram a ocupar o
seu tempo de alguma maneira, para não viverem uma vida
sedentária enquanto… a morte não chega! É verdade! Queiramos
ou não, temos de reconhecer existirem pessoas que, depois de
reformadas, ficaram simplesmente a verem os dias passarem sem
os ocuparem em fazer qualquer coisa de útil… a não ser o lerem o
jornal, quando lêem, verem a TV durante horas esquecidas e…
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aguardarem pelo passar dos dias numa inactividade que não
procuram quebrar, seja de que maneira for!
E, no entanto, há tanto de útil em que esses mesmos dias
podem ser aproveitados!
Quando cruzamos com alguma pessoa que assim vive,
lembramo-nos sempre de uma frase de Jesus, quando Ele disse:
“Meu Pai trabalha até hoje e Eu trabalho também”… Pensamos –
honestamente – pensamos que passar os dias sem qualquer espécie
de actividade é ‘desonrarmos’ a dádiva diária que o Senhor nos vai
fazendo, sem que a mesma seja aproveitada, e perguntamo-nos
qual será a reacção dessas mesmas pessoas quando, no regresso ao
mundo espiritual, tiverem de reconhecer tudo o que perderam com
a inactividade que criaram para si próprias?!
Já estamos em Agosto… Considerando que “o tempo passa
a correr”, talvez seja este o momento de projectarmos o que fazer
a partir de Setembro… Iniciativas novas… Algum estudo, - que o
estudo pode fazer-se em qualquer idade e o saber não ocupa lugar!
- Uma pesquisa, sobre um qualquer tema que seja mais aliciante,
descobrindo aquilo que as páginas do Tempo ocultaram e, depois,
com um pouco de entusiasmo e boa vontade poderá transmitir para
todos…
Quem quiser, realmente, poderá ‘enriquecer’ em muito o
seu tempo, concretizando no seu dia a dia aqueles sonhos que, há
vários anos atrás, afirmavam estarem guardados para quando a
reforma chegasse!
E há – para quem se preocupe com o próximo – as visitas
aos doentes, nos hospitais, aos velhinhos, nos lares, o auxílio
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àqueles outros que vivam sosinhos e precisem de companhia para
uma ida ao médico, para uma tarde ao ar livre… para… para…
Qualquer actividade será sempre mais útil que a indolência
que leve uns e outros a ficarem sentados numa qualquer cadeira,
aguardando que o dia se faça noite para irem dormir e, no dia
seguinte, repetirem a mesma espera… enquanto por ‘aqui’
andarem!
Que nos perdoem estas palavras aqueles que acham natural
viver-se assim mas nós, que gostamos de ser activos, pensamos
que a actividade é ainda uma maneira de agradecermos ao Senhor
o dia a dia que Ele nos concede, apesar de estarmos civilmente
reformados… E se Ele nos continua a dar esses dias, não
deveremos aproveitá-los, criando um qualquer benefício para
eles… e para nós?!
Talvez seja o momento de pensarem diferente, aqueles que
tanto gastam e usam os maples que têm em casa!…
Para os outros, os trabalhadores de qualquer idade,
desejamos um bom recomeço de actividades a partir de
Setembro…
A DIRECÇÃO
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PÁGINA DE KARDEC
Continuamos hoje com a transcrição do texto da ‘Revista
Espírita de Maio de 1869’, com que a editora Lake inicia o livro
«Obras Póstumas»:
“Nascido em Lião, a 3 de Outubro de 1804, de antiga
família que se distinguiu na magistratura e no foro, Allan Kardec
(Léon Hippolyte Denizard Rivail) não seguiu a carreira dos
avoengos sentindo-se, desde os verdes anos, atraído pelos estudos
da ciência e da filosofia.
“Matriculado na Escola de Pestalozzi, em Yverdun (Suiça),
tornou-se um dos mais aplicados discípulos daquele eminente
professor e um dos mais zelosos propagadores do seu sistema de
educação, que tão grande influência exerceu na reforma dos
estudos da Alemanha e da França.
“Dotado de notáverl inteligência e atraído para o ensino
por vocação e especiais aptidões, desde os 14 anos ensinava aos
condiscípulos menos adiantados o que ia aprendendo.
“Foi com essas explicações que se lhe desenvolveram as
ideias, que mais tarde deveriam colocá-lo entre os homensa do
progresso e do livre pensamento.
“Nascido na religião católica, mas educado no
protestantismo, serviram-lhe os actos de intolerância por que
passou, de incentivo, em boa hora, ao pensamento de uma reforma
religiosa, na qual tranbalhou em silêncio por dilatados anos,
procurando alcançar o meio de unificar as crenças sem que
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pudesse descobrir, entretanto, o elemento indispensável para a
solução do grande problema.
“Foi o Espiritismo que, mais tarde, lhe facultou esse meio,
imprimindo-lhe aos trabalhos particular orientação.
“Concluídos os estudos tornou a França; possuindo
profundo conhecimento da língua alemã, traduziu para ela
diferentes obras de educação e moral, entre as quais, o que é
característico, as de Fénelon, que mui particularmente o
seduziram.
“Era membro de muitas sociedades científicas e, entre elas,
a da Academia Real de Arras, que, no concurso de 1831, lhe
coroou uma notável memória acerca da questão: Qual o sistema
de estudos mais em harmonia com as necessidades da época?
“De 1835 a 1840 fundou em sua casa, na Rua Sèvres,
cursos gratuitos de fisica, química, anatomia comparada,
astronomia, etc. – empresa digna de encómios em qualquer tempo,
mas principalmente numa época em que bem poucos eram os
interessados que se aventuravam por aquela senda.
“Sempre empenhado em tornar atraentes e interessantes os
sistemas de educação inventou, ao mesmo tempo, um método
engenhoso para aprfender a contar e um quadro mnemónico da
História da França, cujo objectivo era fixar na memória as datas
dos mais notáveis acontecimentos, bem como os descobrimentos
que ilustram cada reinado.
“Entre as numerosas obras de educação, podemos citar as
seguintes: ‘Plano para o Melhoramento da Instrução Pública,
1828’. – ‘Curso Prático e Teórico de aritmética, segundo o Método
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de Pestalozzi, para uso de Professores e de Mães de Família,
1829’. – ‘Gramática Francesa Clássica, 1831’.- ‘Manual para
Exames de Capacidade. Soluções Racionais de Questões e
Problemas de Aritmética e de Geometria, 1846’.- ‘Catecismo
Gramatical da Língua Francesa, 1848’. ‘Programa dos Cursos
Ordinários de Fisica, Quimica, Astronomia, Fisiologia’ (que ele
dava no Liceu Polimático).- ‘Pontos para os Exames da Câmara
Municipal e da Sorbonne’, acompanhados de ‘Instruções Especiais
sobre as Dificuldades Ortográficas, 1849’, obra muito estimada na
ocasião da qual ainda recentemente (1869) se faziam novas
edições.
“Antes que o Espiritismo lhe viesse popularizar o
pseudónimo de ALLAN KARDEC, havia ele, como se vê, sabido
ilustrar-se com trabalhos de natureza mui diversa, os quais tinham
por finalidade esclarecer a massa popular, prendendo-a ainda mais
ao sentimento de família e ao amor da pátria.
“Em 1855, quando se começou a tratar das manifestações
de Espíritos, Allan Kardec dedicou-se a perseverantes observações
do fenómeno e cuidou principalmente de lhe deduzir as
consequências filosóficas; entreviu de longe o princípio de novas
leis naturais, aquelas que regem as relações entre o mundo visível
e invisível. Reconheceu, nas manifestações deste, uma das forças
da natureza, cujo conhecimento devia projectar luz a uma
infinidade de problemas considerados insolúveis. Finalmente,
percebeu a relação de tudo aquilo com pontos de vista religiosos.
“As suas principais obras acerca da nova matéria são: O
Livro dos Espíritos, para a parte filosófica, cuja primeira edição
apareceu a 18 de Abril de 1857. O Livro dos Médiuns, para a
parte experimental e científica, publicada em Janeiro de 1861. O
Evangelho Segundo o Espiritismo, para a parte moral, publicada
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em Abril de 1864. O Céu e o Inferno, ou A Justiça de Deus
Segundo o Espiritismo, em Agosto de 1865. A Génese, os
Milagres e as Predições, em Janeiro de 1868. A Revista
Espírita, orgão de estudos psicológicos, publicação mensal
começada em 1 de Janeiro de 1858.
“Fundou, em Paris, a 1 de Abril de 1858, a primeira
sociedade espírita regularmente constituída, com o nome de
Societé Parisienne des Études Spirites, cujo fim exclusivo era o
estudo de tudo quanto pudesse contribuir para o progresso da nova
ciência.
“Allan Kardec defendeu-se admiravelmente da pecha de
haver escrito sob a influência de ideias preconcebidas ou
sistemáticas. Homem de carácter frio e severo, observara os factos
e das observações deduziu as leis que os regem; foi o primeiro
que, a propósito desses factos, estabeleceu teoria e constituiu um
corpo de doutrina, regular e metódico. Demonstrando que os
factos, falsamente chamados sobrenaturais, são sujeitos a leis,
subordinou-os à categoria dos fenómenos da natureza e fez ruir,
assim, o último reduto do maravilhoso, que é uma das causas da
superstição.
“Durante os primeiros anos de preocupação com os
fenómenos espíritas, foram estes mais objecto de curiosidade que
de meditações sérias.”
(Continua)
(In “Obras Póstumas”, edição Lake: Biografia de Allan Kardec).
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OS MÉTODOS
PEDAGÓGICOS DE JESUS
Jesus não economizou recursos didácticos para ensinar-
nos a decência, o respeito a Deus e ao próximo.
Depois d’Ele a Terra nunca mais seria a mesma!... Muitas
criaturas lograram registar seus nomes na História, mas Ele
dividiu-a em duas partes: antes e depois d’Ele.
Dizia que não era sua a Doutrina que ensinava, pois a
aprendera junto ao Pai Celestial. Ele era o Médium de Deus, o
canal através do qual a Mensagem Divina chegou à Humanidade
para libertá-la do império das trevas e da ignorância.
Aproveitava-se da beleza exuberante da Natureza em festa
para emoldurar o Verbo Divino portador da Boa Nova.
Quando o disco solar declinava no horizonte, dardejando
flechas de ouro que se derramavam pelas encostas plenas de trigais
maduros, e a brisa suave carreando os delicados perfumes das
flores multicoloridas acariciavam os rostos sofridos, vincados
pelas dores e necessidades variadas, Sua voz penetrava como
punhal de luz na alma enferma do poviléu, lenindo dores e
acendendo novas esperanças em suas existências obscuras.
Vezes sem conto utilizou-se da maiêutica socrática para
alavancar das profundezas abissais das almas a luz divina
aprisionada nas trevas da ignorância: Que diz a Lei? Que lês lá?
Se o sal for insípido, com que se há-de salgar? Se amardes só os
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que vos amam, que galardão havereis? Se saudardes somente os
vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos
também o mesmo?
Escarafunchando as mais íntimas anfractuosidades das
almas e corações com o Seu bisturi de luz, esvurmava as feridas
purulentas e acendia as claridades do Reino dos Céus nas trevas
terrestres.
Reformulou totalmente o perfil que Moisés desenhara do
Pai Celestial, demonstrando que Deus é o Pai de todos, aos quais
ama com o mesmo enternecimento, sem distinções, sem
segregações, sem privilégios de uns em detrimento de outros.
Com poesia e encantamento, Amélia Rodrigues aduz1 :
“(…)Esse Divino Genitor jamais ameaça nem castiga. Ao
apresentá-lO a Israel e, por extensão, à sociedade de todos os
tempos, Jesus exalta-lhe a paternidade sublime, facultando uma
visão nova e justa em torno do seu afecto por tudo e por todos.
Glorifica-O em a Natureza, que transforma na Sua cátedra de
ensino, chamando a atenção para a magnitude do Cosmo e a
grandeza das ignoradas expressões de vida invisíveis e vibrantes.
Em Seu nome falou aos deserdados do mundo, com o mesmo
encantamento com que o fez aos poderosos de um momento,
atendendo ao pecador e miserável moral, quanto ao casto e puro
discípulo da Sua mensagem; honrou as espigas maduras do trigo,
comendo-as num sábado, enquanto elogiou as minúsculas
sementes de mostarda; usou o espelho das águas do mar calmo,
para refletir o azul turqueza dos céus claros das manhãs
iluminadas na Galileia singela… Ainda, em Seu nome, abençoou
os campos verdes e a relva seca transformada em labareda; usou a
imagem da serpente astuta e das pombas simplórias; das feras que
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têm os seus covis e das aves com os seus ninhos; dos lírios
alvinitentes e dos pássaros cantores, como se cada uma dessas
mensagens vivas fosse uma nota retumbante da incomparável
sinfonia que cantou aos ouvidos da Humanidade.
Tendo nascido entre pastores, fez-se Pastor das ovelhas
humanas, entre as quais se escondiam cabritos e lobos disfarçados,
amando-os, porém, a todos com a mesma ternura e informando
que são filhos do mesmo Pai, sem nenhuma distinção nem
preconceito, nem julgamento antecipado.
Informou que o Pai jamais deixou os filhos sem notícias da
Sua progenitura, o que realizou através de anjos, dos profetas, de
mensageiros de toda a espécie, de acontecimentos grandiosos uns,
delicados outros, de forma que ninguém jamais viesse a sentir-se
órfão.
(…) A arte insuperável de narrar história era um dos
recursos pedagógicos mais enriquecedores de que podia dispor, e
todos os grandes pensadores utilizaram-se desse admirável
mecanismo para expressar o seu pensamento. Ele também assim o
fez.
Ante as inseguranças e problemáticas do entendimento da
ética-moral e dos deveres a todos impostos pela vida, Ele recorria
às imagens vigorosas do quotidiano, para que pudessem entender e
vivenciar o mais valioso recurso de dignificação humana… E as
parábolas espocavam dos Seus lábios como flores do campo,
naturais e formosas. Uma delas informava que se tratava de um
homem rico, que possuía um mordomo que foi acusado de estar
utilizando-se em benefício próprio, dos bens que não lhe
pertenciam. E porque tudo indicasse a realidade infeliz da sua
conduta, o amo chamou-o e pediu-lhe que prestasse contas da sua
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mordomia, porquanto já não tinha condições de merecer fé nem
respeito. Surpreendido pela atitude severa do amo, o infiel
começou a conjecturar a respeito do futuro que lhe estava
reservado, constatando não possuir recursos para o exercício de
uma outra função, que lhe exigisse esforço e luta. Então, desonesto
como era, convidou um dos devedores do seu patrão e perguntou-
lhe:
- Quanto deves ao meu senhor?
Informado que eram cem cados de azeite, propôs-lhe que
anotasse apenas metade, comprometendo-se a pagá-los. E o
mesmo fez em relação a outro devedor, que informou serem cem
coros de trigo, indicando-lhe que anotasse apenas oitenta e não
deixasse de pagá-los.
Com tal, o sagaz agradou aos devedores, que lhe ficaram
amigos, mas também poupou o seu senhor de grandes prejuízos,
garantindo-lhe o recebimento de parte das dividas. Em face dessa
astúcia, o amo também o estimou, porque essa atitude era
compatível com aqueles outros desonestos que se comportavam da
mesma maneira, muito diferente dos filhos da luz.
E arrematou, enfático: Grangeai amigos por meio das
riquezas da injustiça, para que, se estas vos faltarem, vos recebam
eles nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no pouco, também é fiel
no muito, quem é injusto no pouco, também é injusto no muito.Se,
pois, nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as
verdadeiras? E se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que
é vosso? Nenhum servo pode servir dois senhores, porque ou há-
de odiar um e amar o outro, ou há-de dedicar-se a um e desprezar
o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.
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Os farisues, que eram gananciosos, ouviam todas estas
coisas e zombavam d’Ele.
As riquezas da injustiça constituem os recursos que a
sagacidade consegue, amealhando para outrem enquanto acumula
também para si. Impossibilitado de ser honrado no cumprimento
dos deveres que lhe dizem respeito, o indivíduo utiliza-se dos bens
que pode reunir, compensando a própria astúcia com os valores
que supõe pertencer-lhe. Esse comportamento reserva-lhe meios
de sobrevivência para o futuro, mas não lhe grangeia a paz de
consciência, pelo reconhecer da falibilidade moral e defecção
espiritual.
Esse treinamento da honra ao lado dos pequenos valores,
de alguma forma prepara-o para as grandes conquistas de que se
verá a braços, a serviço do Senhor da Vinha, Aquele que é a
Justiça e a Soberania.
A sua posição enfrenta, então, duas alternativas: a que diz
respeito ao mundo imediato e aquela que se refere à
transcendência. Quem deseje a eterna, certamente terá que
despojar-se da ambição enganosa dos valores transitórios, porque
em serviço da auto-iluminação, necessita despojar-se de toda a
sombra interior, enquanto caminha pela senda humana.”
1 – FRANCO, Divaldo Pereira. A Mensagem do Amor Imortal.
Salvador, LEAL, 2008, capítulos 7 e 30.
ROGÉRIO COELHO (Mauriaé – M.Gerais – Brasil).
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F É
Quem pôs ouro na areia e pôs na fonte
Água que mata a sêde e vem regar
A terra que dá pão? Quem fez o mar?
Quem fez a várzea, e o vale, e fez o monte?
Quem pôs na linha fina do horizonte
Tantos rubis – na tarde a agonizar?
Quem deu à noite a prata do luar?
Quem deu à ideia o berço duma fronte?
Quem deu brancura aos lírios, cheiro às rosas?
Quem fez brotar das almas misteriosas
O amor da fantasia alegre ou triste?
Quem pôs astros sem fim no firmamento,
E pôs em cada pedra um pensamento?
Responde agora, ateu: Deus não existe?
PEDRO HOMEM DE MELO
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O QUE VALE O ESPIRITISMO
A Doutrina Espírita ensina e demonstra:
1º - que a morte não é o aniquilamento do ser individual;
mas apenas uma simples passagem de meio;
2º - que a alma, essência pré-existente da individualidade
humana, é, por necessidade da natureza, imortal e indefinidamente
perfectível;
3º - que essa perfectibilidade se opera por via de
reencarnações sucessivas em novos corpos, neste e em outros
mundos do espaço insondável;
4º - que, desta sorte, não há eleitos nem réprobos, felizes
enm infelizes eternamente: há, tão só, indivíduos mais ou menos
avançados na escala da perfectibilidade, a qual só se conquista à
força de trabalho e de sofrimento.
Daí resulta que o homem vive assim numa constante
esperança, que o anima e consola, mesmo no meio da mais cruel
adversidade; porque tem a certeza de que o seu progresso futuro só
dele depende, e que os sofrimentos da existência actual são o
crisol indispensável para o seu depuramento.
Pelo contrário, aqueles que não crêem na imortalidade e na
reencarnação, aqueles que vêem no homem apenas uma pouca de
matéria que a morte desagrega e dissolve nos seus elementos
químicos, vivem uma vida intranquila, lutando constantemente
para conquistar a riqueza, fonte única e exclusiva do seu bem
terreno, único que a tacanha inteligência concebe e aprecia.
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E quando um dia a doença o persegue ou as desditas o
assediam, esse homem vive num estado de desespero constante,
porque se considera um desgraçado irremediavelmente perdido.
Então, alucinado pelas ideias falsas em que se tem deixado
embalar, julgando que a morte é o esquecimento e o aniquilemento
do ser, suicida-se, praticando assim o maior crime que podia
cometer, e a maior loucura em face da razão e da verdade.
Este paralelo frisante entre o espiritualista convicto e o
materialista descrente, leva-nos à seguinte conclusão: - Se a
imortalidade da alma e a reencarnação fossem uma mentira,
seriam ainda assim abençoadas mentiras, porque delas, com a
esperança, nos adviria a felicidade.
Por isso, temos nós dito muitas vezes, e não nos cansamos
de o repetir: o espírita convicto é sempre um ser essencialmente
feliz, porque se reconhece imortal e sabe que o seu destino futuro
só dele depende.
Mas não é só esta a vantagem que nos advém da doutrina e
crença espírita: há outras mais, que interessam à sociedade em
geral, embora ao mesmo tempo redundem em nosso benefício
também.
Como esta crença exige que não façamos aos outros o que
não quereríamos que nos fizessem e só façamos a outrem o que
desejaríamos nos fizessem a nós, daqui resulta que somos assim
racionalmente forçados a ser bons para com todos.
Ora, dada assim a reciprocidade entre todos os que
partilham esta crença, daqui resulta que, se fosse possível que a
maioria dos homens seguisse essa benéfica orientação moral, as
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relações sociais tornar-se-iam tão suaves, que deslisariam sem
atritos nem emperramentos nocivos.
Por outro lado, como o espiritismo não é uma religião,
embora seja uma crença filosófica meramente racional e
experiemntal, não está eivado do espírito de seita, que tantos males
tem causado em todas as épocas, separando os homens em vez de
os unir num laço fraterno. As religiões separam-os em crenças
adversas, que mutuamente se anatemizam, quando não se degolam
reciprocamente.
Ao contrário, o espírita respeita todas as religiões no
mesmo pé de igualdade, porque em todas reconhece um fundo de
verdade, de mistura com muitas ficções e absurdos e fica
meramente deista, de um deísmo que nada tem de antropomorfo.
Respeita e reconhece o Cristo como o Messias mais perfeito que
tem encarnado na Terra, e adopta a sua moral, por não haver outra
mais perfeita.
Quanto aos materialistas, não os condena nem anatematiza;
lamenta o seu estado de atraso psicológico, que não lhes permite
que possam ver a verdade sem ficarem deslumbrados.
É que as verdades e factos do Espiritismo, para poderem
ser compreendidos e assimilados exigem, no que os estuda, um
grau de adiantamento psíquico e moral que nem sempre anda a par
com o desenvolvimento intelectual.
O materialismo é como o míope que não pode distinguir e
apreciar os objectos distantes, por mais esforços que empregue.
A sua visão apoucada não lhe permite ver além do campo
material em que vive. Lamentemos a sua estreiteza de vistas, mas
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não lhe queiramos mal por isso porque, por via de regra, não tem
culpa.
Um dia lhe chegará em que poderá ver como nós. Que esse
dia chegue breve, é o nosso vivo desejo.
AFONSO ACÁCIO MARTINS VELHO (1º Presidente da Federação Espírita Portuguesa)
(In: Revista O ESPIRITA, da F. E.P., Abril a Julho de 1924).
*
PAI NOSSO
Oh! Pai do Espírito, que tão alto moras, e que, ubíquo,
eterno, brilhas em cada raio da Tua Luz, santo é o Teu nome e
floresça, eternamente, nas almas dos homens de fé!
Venha a nós a Tua Paz!
Sejamos nós a repercussão da Tua Vontade, nesta vida de
erros e na outra de verdade!
Dá-nos o alimento espiritual do Teu Amor!
Perdoa e ensina!
Expulsa a tentação que rasteja sob os nossos passos, livra-
nos do mal de fechar os olhos para não ver a Verdade Eterna!
EUGÉNIO TAVARES (Cabo Verde, 18-10-1867/1-6-1930)
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O USO DO TEMPO
Como se sabe, o dia é o período de tempo que corresponde
a uma volta completa da Terra sobre o seu eixo.Na contagem da
Humanidade terrestre, é constituído por vinte e quatro horas, que
são iguais para todos os que nela habitam. A diferença reside no
que cada um faz do tempo de que dispõe. Muitos o aproveitam da
melhor forma possível e outros, ao contrário, simplesmente o
desperdiçam, usando de seu livre arbítrio que, segundo o
Dicionário Escolar da Língua Portuguesa da Academia Brasileira
de Letrtas, é a liberdade para tomar decisões de acordo com o seu
próprio discernimento.
Interessante notar que os mais ocupados são, em geral, os
que mais conseguem realizar tarefas adicionais que lhes são
solicitadas. Nada obstante estejam com a agenda completa, com
disciplina e boa vontade sempre conseguem encaixar e acrescentar
algo a mais, e se aceitam, sem nenhuma dúvida, cumprirão o
compromisso extra, a tempo e a hora.
Já os que dispõem de bastante tempo, e não estão tão
ocupados, em geral, apresentam desculpas de variadíssima ordem
para declinar o convite e não realizar a tarefa extra que lhe foi
proposta.
A vontade e a disciplina são factores fundamentais para o
bom uso do tempo. Com a utilização do bom senso que ajuda as
nossas escolhas, as vinte e quatro horas do dia podem ser bem
distribuídas entre trabalho, actividade física, lazer, entretenimento,
leitura e estudo, descanso, etc..
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A propósito, como muito bem esclareceu Léon Denis: A
vontade é a maior de todas as potências; é, em sua acção,
comparável ao imã. A vontade de viver, de desenvolver em nós a
vida, atrai-nos novos recursos vitais; tal é o segredo da lei de
evolução. (O Problema do Ser, do destino e da dor, capítulo XX,
32ª ed. FEB 2014, p. 291).
Não foi por acaso, portanto, que a sabedoria popular,
depois de longa e aguda observação do dia a dia, construiu a
expressão querer é poder.
Por outra parte, é deveras curioso observar que as cédulas
do dinheiro norte-americano contêm a inscrição Nós confiamos em
Deus (In God we trust) e, apesar disso, os cidadãos que habitam
aquele país, de um modo geral, consagram de maneira muito forte
a ideia de que tempo é dinheiro (Time is Money).
O dinheiro, seja de que país for, é neutro. Se for bem
utilizado, óptimo. Se for mal empregado, que lástima (vale registar
que as cédulas do dinheiro brasileiro, em letras miúdas, contêm a
expressão Deus seja louvado).
No entanto, muito mais que dinheiro, tempo é
oportunidade, como muito bem apontado pelo Espírito Joanes,
através da psicografia do eminente médium Raul Teixeira:
Com calma você entenderá cada ocorrência à sua volta e
cada pessoa em seu caminho.
Nada você perderá pelo uso da calma em sua trajectória
humana, pois, longe de alimentar-se da ideia materialista de que
tempo é dinheiro, você começará a pensar que,
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fundamentalmente, tempo é oportunidade, e que você deverá
aproveitá-la para o melhor.
Mesmo que deixe de lucrar algumas poucas moedas no
jogo enlouquecido das competições, você conquistará harmonia e
saúde, a fim de prosseguir na rota da felicidade que tanto deseja
(Para uso diário, cap. 7, 6ª ed. Frater, 2014, p.54).
Tempo é oportunidade! E que grande oportunidade!
Oportunidade de aprendizado; de correcção de erros, males
e equívocos de passado recente ou remoto, ainda que de modo
parcial; de aperfeiçoamento pessoal, intelectual e moral; de
crescimento através do trabalho; de conhecimento que pode ser
obtido nos campos das ciências, da filosofia, das artes, das letras;
de ampliação do conhecimento de si mesmo, que é a chave do
progresso individual (questão 919 de O Livro dos Espíritos); da
reforma íntima, para melhor; da mudança de postura e de
compostura, para citar apenas algumas poucas hipóteses que o
bom uso do tempo pode proporcionar-nos.
Sobre a oportunidade do trabalho, por exemplo, o mesmo
Espírito Joanes, antes referido, igualmente através da psicografia
do inclíto médium Raul Teixeira, recomenda: Faça do melhor
modo o seu trabalho. Esteja certo de que, se trabalha mal, se
empresta má vontade àquilo que faz, embora possa causar
transtornos aos outros, a si mesmo é que estará prejudicando.
Ainda quando você não receba as considerações e
reconhecimento como gostaria, na Terra, pense na oportunidade
que lhe está oferecendo o Pai da Criação. Ao seu tempo tudo
melhorará.
Não se perca, evitando perturbar-se em sua actividade
profissional. Antes, aprimore-se. Faça tudo com carinho e rigor
-
22
para que a sua estada no mundo seja de muito proveito para o seu
grande futuro.
A sua vida pode tornar-se um estuário de felicidade, num
campo de alegria, evadindo-se das cadeias do remorso, do
pessimismo, do egoísmo, do mal, enfim, para que a sua travessia
humana seja um hino de ventura para o seu encontro com Deus
por meio do seu semelhante. (Para uso diário, cap. 11, 6ª ed.
Frater, 2014, p. 74).
De outro lado, o emprego do tempo de modo adequado,
equilibrado e positivo, com análise e observação atentas e, ainda,
com leitura e estudo crescentes e permanentes, pode resultar em
significativo avanço moral.
Pode ajudar-nos a conseguir sermos pessoas de Bem,
voltadas para o Bem e para a sua prática, úteis onde quer que nos
encontremos, bem dispostas a cumprir a parte que nos compete,
com zelo, com empenho, com competência, com qualidade e com
amor.
Se já sabemos que uma das finalidades do Espiritismo é a
de tornar melhores as pessoas que o compreendem (Revista
Espírita, Julho de 1858) podemos empenhar-nos em conhecê-lo e
compreendê-lo melhor (e, por este modo, estaremos usando
muitíssimo bem o tempo de que dispomos), lendo e estudando,
ainda que a pouco e pouco, as cinco obras fundamentais (O Livro
dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o
Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Génese), os doze primeiros
volumes da Revista Espírita e também o livro O que é o
Espiritismo, do próprio Professor Hippolyte Léon Denizard Rivail,
o nosso Allan Kardec.
-
23
Tornando-nos melhores, será mais fácil enxergar no
próximo um irmão e fazer a ele somente o que gostaríamos que ele
nos fizesse, com o que estaremos colocando em prática o
ensinamento máximo de Jesus, o Cristo, Modelo e Guia da
Humanidade, nosso Irmão, nosso Mestre, nosso Amigo de todas as
horas.
E sendo melhores, sem um átimo de dúvida, seremos mais
felizes desde logo e aqui mesmo na Terra.
ANTÓNIO MORIS CURY
(Transcrito, com a devida vénia, do jornal brasileiro MUNDO
ESPÍRITA, da Federação Espírita do Paraná, em Curitiba, Junho
de 2016).
*
OPÇÃO ERRADA
A resposta 621 de ‘O Livro dos Espíritos’ à pergunta de Allan Kardec sobre “Onde está inscrita a lei de Deus”?, é taxativa
na sua simplicidade: “Na nossa consciência”. E, de cada vez que
nos propomos fazer algo de errado, nós, os seres inteligentes da
Criação Divina, somos sempre advertidos – melhor ou pior,
mediante o nosso conceito de moral – do que devemos e não
devemos fazer, mediante aquilo que, em determinado instante da
vida de cada um, pensamos realizar. E não vale a pena
desculparmo-nos com as palavras de sempre de que “não
sabemos”, “nunca ninguém nos disse”, porque os Espíritos
-
24
Superiores, que sabem bem mais do que nós, afirmam-nos que
sim, que sabemos – a menos que a nossa consciência esteja
totalmente adormecida e “lhe dê” muito trabalho acordar-nos com
a advertência do certo e do errado…
Lamentavelmente, o homem habituou-se a procurar, para a
fuga ao sofrimento e aos obstáculos que surgem no seu caminho
da Vida, o que de mais errado existe – ainda que pense que é o
mais certo a fazer! E se os ateus, os que vivem sem um mínimo de
fé na ‘vida que continua’ pensam que essa fuga representa um acto
máximo de coragem, os outros, os que a têm, afirmam, não poucas
vezes que vão fazer o que Deus quer, porque – se Ele não
quisesse, já tinha dado uma solução aos problemas que enfrentam!
E da primícia errada para uma conclusão mais errada ainda,
colocam em Deus a culpa dos seus erros e, ainda, da solução dos
problemas por eles mesmos criados, esquecidos da advertência de
Jesus, quando há pouco mais de 2000 anos afirmou que “tudo terá
que ser pago até ao último ceitil”! E Jesus referia-se à Lei de
Causa e Efeito, ou, se quisermos ser mais simplistas na sua
significação, refiramo-la com “A sementeira é livre mas a colheita
obrigatória”, ou ainda com aquele ditado tão velhinho que vem já
do tempo dos nossos avós: “Quem semeia ventos, colhe
tempestades!...” Palavras diferentes, estas e aquelas, mas
significando todas o mesmo!
Só quem participe de uma reunião mediúnica tomará
conhecimento com todo o horror que são as consequências do
suicídio e, ainda aqui, este ‘todo’ será sempre relativo porquanto,
ao manifestar-se no seu sofrimento, a entidade que precisa de
auxílio e esclarecimento não sabe dizer quanto tempo já passou,
quantos anos já decorreram desde o cometimento do tresloucado
acto!
-
25
Tresloucado, sim! Porque, se quem não sabe nadar
soubesse os anos que vai lutar contra o afogamento acontecido; se
quem pegou numa arma e a fez disparar, está continuamente a
repetir o mesmo movimento e a sentir a dureza da bala a penetrar-
lhe nas carnes e quebrar-lhe os ossos; se quem emborcou um copo
com um qualquer veneno letal continua a sentir a sua destruição na
queimadura do que bebeu e o vai minando conforme lhe entra no
organismo; se quem se atira para a frente de um carro ou de um
comboio, sente continuamente as dores da pancada e busca juntar
as múltiplas partes de si próprio que se espalharam no caminho –
se tudo isto e muito mais do que cada um concretizou, continua
pelo tempo que lhe faltaria viver de vida terrena naquela
existência, quanto menor não será o sofrimento de se estar
desempregado; de se ver um ente querido partir como
consequência de uma doença incurável; de não se conseguir dar
uma solução a qualquer um dos muitos problemas que surjam e
não se tem coragem de enfrentar e tentar resolver!
Troque-se o orgulho de um nome e de funções bem
reconhecidas na sociedade pela humildade de se fazer qualquer
coisa, desde que seja sempre digna; troque-se a recordação do que
já se possuiu em bens materiais pelo reconhecimento do nada que
eles valem frente à necessidade do que é realmente importante;
viva-se o dia a dia, na certeza de que ninguém está só e, com o
apoio e união dos familiares, cada um conseguirá vencer – desde
que não acalente a ambição de continuar a ser o que foi
anteriormente… Será que não foi o orgulho de uma ‘posição
superior’ que o seu titulo académico ajudou a conquistar, que
levou muitos e muitos a caírem na perdição de tudo o que haviam
adquirido, por não terem sabido manter-se … dignos, honestos,
sem ambicionarem mais do que o que lhes era necessário para uma
vida correcta? E, nesta conquista que os levou à perdição, o que
fizeram da união familiar? Que aconteceu ao lar criado
-
26
anteriormente, aos filhos pelos quais são – deviam ser e sentir-se –
responsáveis, e a quem apenas souberam dar dinheiro e dinheiro,
para que não os incomodasse a falta de assistência que lhes
davam… – como se o dinheiro substituísse presença, conselhos,
conversas… carinho… orientação… apoio?!
Ainda aqui, o dinheiro conseguiu calar a voz da
consciência que os alerta para a responsabilidade que se tem com
todos aqueles que passaram a fazer parte da corrente a que
chamaram ‘família’! E quando, aparentemente, tudo falha, de
repente sentem-se perdidos porque criaram uma existência onde o
amor- que devia ser a base de tudo – falhou há muito tempo!
Então… procura-se a solução no imediato!
A busca do caminho da morte não é solução, nem sequer
para aqueles outros, diferentes dos primeiros, que tomando
conhecimento de que têm uma doença incurável, procuram
terminar mais depressa com o sofrimento, pelo medo do que vão
sofrer! A morte chegará, pelas vias normais, apenas quando Deus
o entenda… e quem poderá afirmar que o tempo que o médico
determinou que a doença demorará a ‘acabar com ele’ não será
protelado mais e mais… enquanto um novo medicamento que
surja poderá, talvez, fazer o “milagre” de o curar?!
O suicídio nunca é, nunca será solução para nenhum caso –
por mais grave que ele possa parecer aos olhos e mente de quem
começa a nele pensar – creiam! E o tempo de sofrimento – bem
maior que o vivido até então – que terão ainda, depois dele
concretizado, gritará na consciência de cada um pelas dores que se
criaram e poderiam, de todo, terem sido evitadas apenas com um
pouco mais de coragem… de fé!
-
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“A vida continua” não são apenas palavras a embelezarem
uma história mais ou menos bela: são uma verdade e uma
advertência, como que a gritarem para cada um que se sofre,
sofrerá muito mais depois; se chora, o choro que viverá será
incessante; as dores tornar-se-ão tão lancinantes que perderá as
forças a gritar de desespero! E… afirma Camilo – o nosso Camilo
– no livro mediúnico “Memórias de um suicida”: a juntar a todo o
sofrimento que se criou com o tresloucado acto perpretado, tem-se
ainda, por tempos infindos, o cheiro das próprias carnes em
decomposição e o sentir dos vermes que lhas vão corroendo!
Delphine de Girardin, no capítulo V de ‘O Evangelho
segundo o Espiritismo, diz: “Para julgar uma coisa é imperioso vê-
la nas suas consequências. Assim é que, para apreciar o que é
realmente ditoso ou representa infortúnio para o homem, é mister
transportar-se além desta vida, porque é lá que as consequências se
manifestam. Ora, tudo aquilo que ele chama infortúnio, de
conformidade com o seu prisma acanhado, cessa com a vida e tem
sua compensação na vida futura.”
Nos tempos que vamos vivendo, parece que se tornou
‘corriqueiro’ o buscar-se o suicídio para terminus dos problemas
que cada um enfrenta e, quem o faz, julga cometer um acto de
coragem com a sua desistência de continuar a viver… mas a vida
continua porque nós somos imortais, assim criados pela Vontade
Divina de quem nos criou para sermos felizes – numa felicidade
que nos aguarda, no fim do caminho de cada um, e significa a
perfeição para que Ele, o Senhor, nos criou! Ele, o Pai, pelo Seu
Emissário, Jesus, apontou-nos o caminho a percorrer: nós, seres
imperfeitos mas inteligentes da Criação – ou deveríamos, antes,
dizer: seres inteligentes e imperfeitos da Criação? – vamos
enchendo esse mesmo caminho com obstáculos que criamos a
-
28
cada passo, como se o ‘masoquismo’ tivesse de fazer parte do
nosso dia a dia!
Troque-se o masoquismo por um pouco mais de fé e esteja-
se mais atentos à voz da consciência, de cada vez que ela lembre o
mandamento da lei do Senhor ao advertir, determinando: NÃO
MATARÁS! Buscando uma solução para cada problema, com
humildade e esperança no dia de Amanhã, lembrando-nos todos
que somos Criação Divina, conseguiremos trocar as ideias
negativas pelas positivas e, de cabeça erguida para enfentar-se a
luta, veremos finalmente o Sol, que nasce a cada dia por vontade
de Deus, e nos aquece e fortalece com a sua luz… uma luz que nos
ilumina o caminho a percorrer!
A coragem afinal, está em seguir em frente!
MANUELA VASCONCELOS
*
Fé inabalável é somente aquela capaz de
enfrentar a razão, face a face, em todas as épocas da
Humanidade.
ALLAN KARDEC
-
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A SÓS…
Para que julgas, Homem!, saber tanto,
Se tudo quanto sabes é bem pouco!...
Ergue a cabeça tua, pobre louco!...
E pesquisa no fundo desse manto.
Vê tu se à vastidão encontras termo.
É tudo infindo como o pensamento!...
Vão as ideias como ténue vento,
Encontrar-se vogando em puro ermo…
E, todavia, ao longe há muito ainda!
Que procurar saber os homens devem,
Pois é ciência bem formosa e linda!
Vá! Não pares! Investiga! Luta!...
Posto que os anos sobre a fronte nevem,
Há sempre mundos que a razão prescruta.
DÁ MESQUITA, médico
Porto, Janeiro/Fevereiro de 1939.
-
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PÁGINAS DO PASSADO
UMA TESE E UMA ATITUDE
O facto que vamos narrar seria natural em qualquer parte
do mundo em que o preconceito científico não tivesse mergulhado
raízes fundas, pois a liberdade de pensamento deve estender-se a
todas as actividades humanas. Emitir opiniões, exteriorizar
sentimentos é a mais bela prerrogativa do espírito. Se um
universitário preparou tese relativa à parte mais nobre do ser,
demonstrando a existência de forças que muitos diplomados
impugnam à priori, porque se lhe havia de impedir essa
manifestação volitiva num areópago de sábios? O misoneismo
científico impera em vários sectores da vida mental. Uma classe
reivindica o que pertence a outra por direito de conquista. Mas há
assuntos ‘diabólicos’, cujo enunciado causa horror aos espíritos
fortes educados no velho tradicionalismo.
Fala-se a cada instante no reinado do espírito, na
necessidade de ascender a planos mais altos e combate-se, por
sistema, a base desse esforço meritório. Como abstracção, o
espírito discute-se em todos os sentidos; tem adeptos nos credos
religiosos e até nos sectores chamados positivistas; mas quando se
lhe dá foros de realidade e se encara como célula de um mundo
normal a que um dia pertenceremos, mil vozes se levantam em
coro uníssono e a realidade passa a abstracção.
Pois um novo apareceu agora na Faculdade de Letras de
Lisboa a fechar o curso com uma tese intitulada “Faculdades
Latentes na Psique”, ante um júri de consagrados, um dos quais
-
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pertencente à Sociedade Teosófica de Portugal. Eram oito os
próceres que o Dr. Luiz Avelar de Aguiar enfrentou através de um
trabalho digno de louvor, quer pelo arrojo da atitude, quer pela
clareza da argumentação: Dr. Vieira de Almeida, catedrático de
Filosofia e arguente; Dr. Délio Nobre dos Santos, catedrático de
Psicologia e membro da Sociedade Teosófica; Dra. Virgínia
Ramos; Dr. Mário de Albuquerque; Dr. Artur Moreira de Sá; Dr.
Bandeira Ferreira e o Dr. Ferreira de Almeida.
Pela primeira vez em Portugal os fenómenos psíquicos
subiram ao estrado da universidade, sujeitos à análise de mestres
indiscutíveis e pela primeira vez um jovem talentoso arriscou a
posição mental, levando à crítica científica um estranho mundo
fenoménico a que poucos estavam habituados.
A tese contesta a atitude negativista da “ciência oficial” no
tocante aos fenómenos psíquicos e denuncia a precaridade actual
dessas posições em contradição com o verdadeiro critério no
estudo dos factos metapsíquicos. Para reforçar o trabalho,
apresentou o método conveniente oferecido ao investigador,
acrescido das principais hipóteses explicativas do hipnotismo.
Como se vê, o Dr. Luiz de Aguiar não se ergueu como espírita,
porque isso teria menos valor no conceito do arguente. Ergueu-se
como estudioso que entreviu hipóteses de trabalho e procurou
analisar racionalmente, sem ideia preconcebida, pouco lhe
importando o sector mental ou espiritual em que o pudessem
enquadrar. Era inabitual o tema? Que importava, se tudo quanto
existia implicava estudo sério? A Filosofia abriu-lhe um campo
inteiramente novo e o pensador analisava friamente, desbravando
terreno, apeando interrogações, rumo à verdade perquirida.
Num crescendo de objectivismo, criticou e classificou
certos fenómenos ligados à hipnose profunda e assim foi abrindo
-
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caminho ao estudo expositivo da fenomenologia mediúnica, em
escala de complexidade até à exposição de um facto de aparente
actividade póstuma.
Não deixou também de criticar e impugnar determinadas
teses, segundo as quais os ‘médiuns’ são verdadeiros casos
patológicos, e analisou seguidamente várias hipóteses tendentes à
explicação das manifestações mediúnicas, bem como as atitudes
psíquicas subconscientes. E assim demonstrou a sua tese,
afirmando que existem no Homem faculdades supranormais, ou,
antes, inabituais, como as classificou o grande fisiologista Richet,
que dão origem a meios extraordinários de percepção e acção
sobre o chamado meio exterior.
O Prof. Vieira de Almeida, depois de valorizar,
positivamente, a documentação carreada pelo autor da tese e de
salientar a extrema dificuldade de entrar num campo onde as
interpretações abundam, afirmou que o cientista hodierno deve ter
grande interesse pelo inabitual e dissertou largamente acerca do
defeito generalizado de misturar o ‘maravilhoso’ com os
fenómenos inabituais, louvando o candidato por ter estabelecido
claras distinções no desejo permanente de atingir a objectividade.
E num tom de sinceridade que muito o enobreceu, disse estar
convencido de que aumentaria cada vez mais o número de pessoas
idóneas no interesse por tão interessante sector da investigação.
Tendo o Prof. Vieira de Almeida preferido, de maneira
geral, orientar a sua crítica no domínio da “Teoria do
Conhecimento”, em vez de se cingir ao conteúdo da tese, foi nesse
terreno que replicou o candidato, concordando, aliás, com as
considerações do catedrático sobre a tese em questão. Em breve
comentário, o Porf. Délio Santos, respondeu a uma crítica do
candidato afirmando que o facto de tal fenomenologia não ser
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especialmente estudada nas cadeiras de Psicologia é devido à
preocupação de preencher os cursos com o estudo de matérias de
mais imediata aplicação.
Para nós, espíritas, este acontecimento tem especial relevo,
não pela tese do candidato – conhecemos alguns estudantes que
desejariam imitá-lo – mas pela atitude da Faculdade de Letras, que
deu um alto exemplo de isenção didáctica, fugindo ao
tradicionalismo e à rotina e permitindo que um aluno se ocupasse
de assuntos que muitos pseudo-sábios consideram devaneio de
nefelibatas.
Felicitamos o Dr. Luiz Avelar de Aguiar pelo desassombro
da sua atitude e pelo valor do seu trabalho que, em 30 de Julho
último, foi plenamente aprovado.
Os fenómenos psíquicos (metapsíquicos ou espíritas)
transcenderam os limites estreitos dos laboratórios e fazem a ronda
do público sob diversos nomes e em cenáculos numerosos. O Prof.
Vieira de Almeida, com a característica ironia bem de acordo com
um espírito brilhantíssimo que faz dele um grande português, disse
que tais fenómenos ainda são considerados por alguns como “artes
demoníacas”, mas que o verdadeiro amante do saber deve alegrar-
se, vendo as suas teorias abaladas… Na verdade, assim é.
Semelhante facto representaria um índice de progresso mental, em
harmonia com a insatisfação humana.
(Artigo não assinado e publicado na Revista Portuguesa
ESTUDOS PSÍQUICOS de Setembro de 1952).
*
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NA EDIFICAÇÃO DA FÉ
Ninguém edificará o santuário da fé no coração, sem
associar-se, com toda a alma, naquilo que é de belo e de superior
dentro da vida.
Para alcançar, porém, a divina construção, não nos bastam
os primores intelectuais, a eloquência preciosa, o êxtase
contemplativo ou a desenvoltura dos cálculos no campo da
inteligência.
Grandes génios do raciocínio são, por vezes, demónios da
miséria e da morte.
Admiráveis doutrinadores, em muitas ocasiões, são vitrines
de palavras brilhantes e vazias.
Muitos adoradores da Divindade, frequentemente,
mergulham-se na preguiça a pretexto de cultuar a Glória Celeste.
Famosos matemáticos, não raro, são símbolos de
sagacidade e exploração inferior.
Amemos o trabalho que a Eterna Sabedoria nos conferiu,
onde nos situamos, afeiçoando-nos à sua execução sempre mais
nobre, cada dia, e seremos premiados pela grande compreensão,
matriz abençoada de toda a confiança, de toda a serenidade e de
todo o engrandecimento do espírito.
-
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Para penetrar os segredos da estatuária, o escultor repete os
golpes do buril milhares de vezes.
Para produzir o vaso de que se orgulhará em missão bem
cumprida, o oleiro demora-se infinitamente ao contacto da argila.
Para expor as peças com que enriquecerá o conforto
humano, o carpinteiro, de mil modos, recapitulará o
aprimoramento do tronco bruto.
Não te queixes se a fé te não coroa a razão.
Consagra-te aos pequeninos sacrifícios, na esfera de tuas
diárias obrigações; à frente dos outros, cede de ti mesmo, exercita
a bondade, inflama o otimismo por onde passes, planta a gentileza
de teus sonhos, movimenta-te no ideal de sublimação que elegeste
para alvo de teu destino.
Aprende a repetir para que te aperfeiçoes…
Não vale fixar indefinidamente as estrelas, amaldiçoando
as trevas que ainda nos cercam.
Acendamos a vela humilde de nossa boa vontade, no chão
de nossa pobreza individual, para que as sombras terrestres
diminuam, e o esplendor solar sintonizar-te-à com a nossa flama
singela.
A tomada insignificante é o reflector da usina, quando
ligada aos seus poderosos padrões de força.
Confessemos Jesus em nossos actos de cada hora,
renovando-nos com Ele e sofrendo felizes em seu roteiro de
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renunciação, auxiliando a todos e servindo, cada vez mais, em Seu
nome, e, de inesperado, reconheceremos nossa alma inundada por
alegria indizível e por silenciosa luz…
É que o trabalho de comunhão com o Mestre terá realizado
em nós a sua obra gloriosa, e a fé perfeita e divina, por tesouro
inalienável, brilhará connosco, definitivamente, incorporada à
nossa vida e ao nosso coração.
EMMANUEL
(In: MEDITAÇÕES DIÁRIAS, edição Ide, 2010, pgs. 60 a 63).
*
Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da
semana, e cerradas as portas da casa onde os discípulos,
com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus
e pôs-se no meio deles e disse-lhes: - Paz seja convosco.
- JOÃO, 20 : 19.
*
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-
38
*
O QUINHÃO DO DISCÍPULO
Quinhão : parte que cabe a cada um, quando se divide o todo.
29º conto do livro “Pontos e Contos”
Chico Xavier / Irmão X (Humberto de
Campos) – Pedro Leopoldo / MG – 3 de
Outubro de 1950.
Cercado de potências angélicas, o Mestre dos mestres recebia a
longa fileira de almas necessitadas, a chegarem da Terra, trazidas
pelas asas veludosas do sono.
Rogativas particulares sucediam-se ininterruptas. E o Divino
Dispensador as acolhia afavelmente. Para as solicitações mais
disparatadas, oferecia a ternura do benfeitor e o sorriso do sábio.
Jovens e velhos, adultos e crianças eram admitidos à Augusta
Presença, um a um, expondo cada qual sua necessidade e sua
esperança.
- Senhor – implorava carinhosa mãe, de olhos súplices – meus
filhos aguardam-te a complacência vigilante!
-
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E prosseguia, aflita, enumerando intrincados problemas
domésticos, destacando projetos para o futuro, na experiência
carnal.
O Mestre ouviu e recomendou aos ooperadores atendessem a
súplica, na primeira oportunidade.
Seguiu-se-lhe linda jovem que rogou ansiosa:
- Oh! Jesus, atende-me! Socorre meu noivo que sucumbe...
Livra-o da morte, por piedade! Sem ele, não viverei!...
O Benfeitor Divino ouviu atento, e ordenou que os emissários
restituissem o dom da saude fisica ao doente grave.
Logo após, entrou velho e simpático lavrador, de gestos
confiantes, que se prosternou, suplicando: - Doador da ida,
abençoa o meu campo! Peço-te! Amo profundamente a terra que
me confiaste. O celeiro do meu pão, recreio de meus olhos,
esperança de minha velhice!...
O Pastor Divino sorriu para ele, abençoou-o afetuosamente e
determinou aos auxiliares santificassem o ritmo das estações sobre
o campo daquele trabalhador devotado, para que ali houvesse
flores e frutos abundantes.
Em seguida, cavalheiro respeitável penetrou o recinto de luz,
evidenciando nobre posição intelectual, e solicitou reverente:
- Protetor dos Necessitados, o ideal de realizar algo de útil na
Terra inflama-me o espírito... Dá-me possibilidades materiais,
concede-me a temporária mordomia de teus infinitos bens! Quero
combater o pauperismo, a fome, a nudez, entre os homens
encarnados... Auxilia-me por compaixão!
O Embaixador do Sumo Bem contemplou-o, satisfeito,
aquiesceu com palavras de estímulo e designou adjuntos para a
articulação de providências, quanto à satisfação do pedido.
Minutos depois, entrou um filósofo que implorou:
- Sábio dos sábios, dá-me inspiração para renovar a cultura
terrestre!...
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O Cristo aprovou a petição, concedendo-lhe vasto séquito de
instrutores.
E a legião dos suplicantes prosseguia sempre, movimentada e
feliz, valendo-se da visita providencial do Celeste Benfeitor às
sombrias fronteiras da carne. Jesus atendia sempre, ministrando
incentivos e alegrias, graças e consolações, determinando medidas
aos assessores diretos.
Em dado instante, porém, o circulo foi penetrado por um
homem diferente. Seu olhar lúcido falava de profunda sede
interior, seus gestos respeitosos traduziam confiança e veneração
imensas.
Ajoelhou-se, humilde, estendeu os braços para o Emissário do
Eterno Pai e, ao contrário de quantos lhe haviam precedido na
súplica, explicou-se com simplicidade:
- Senhor, eu sei que sempre dás, conforme nossos rogos.
Ante a estupefação geral, continuou:
- Há quase vinte séculos, ensinaste-nos que o homem achará o
que procura e receberá o que pede...
O Divino Orientador ouvia, comovido, enquanto os demais
seguiam a cena com admiração.
O visitante reverente deixou cair lágrimas sinceras e
prosseguiu:
- Vezes inúmeras, eu tenho lidado com o desejo e a posse, com
a esperança e a realização nos circulos transitórios da existência
carnal. Estou pronto para cumprir-te os desígnios superiores, seja
onde for, quando e como quiseres, mas, se permites, rogo-te luz
divina do teu coração para o meu coração, paz, alegria e vigor
imortais de tua alma para minha alma!... Quero seguir-te, enfim!...
Com doçura admirável, o Mestre tocou-lhe a fronte e indagou:
- Queres ser meu discípulo?
- Sim! – respondeu o aspirante da luz.
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Calou-se o Cristo. Verificando-se intervalo mais longo, e
considerando que todos os pedintes haviam recebido gratificações
e júbilos imediatos, o aprendiz perguntou:
- Que me reservas, Senhor?
- O Doador das Bençãos contemplou-o com ternura e
informou:
- Volta ao campo de teus deveres. Entender-me-ei contigo
diretamente.
E depois de um silêncio, que ninguém ousou interromper, o
Mestre concluiu:
- Reservar-te-ei a lição!
Paralelando, Entendendo e Interpretando
Lendo e relendo a narrativa, a nós presenteada pelo nosso
querido Irmão X, consegui, com a ajuda e presença constante dos
amigos do Plano Espiritual, traçar um paralelo entre a situação de
evolução de cada uma das personagens e a passagem evangélica,
contida em Mateus, 7:7-8: “Pedi, e dar-se.-vos-à; buscai e
achareis; batei e abrir-se-vos-à; porque todos os que pedem,
recebem; os que buscam, acham; e a quem bate, se abre.”~
Encontramos o mesmo sentido, através da forçada
prece/oração, no capítulo XXVII do E. S. E. (Pedi e obtereis).
Tudo o que for referente à evolução do espírito, estará sempre
relacionado com o nosso posicionamento, reposicionamento e
reforma íntima, no tocante ao nosso aperfeiçoamento.
Logo no início, o querido autor nos afirma a condição de
encarnados das personagens, quando cita: “...o Mestre dos
Mestres recebia a longa fileira de almas necessitadas, a
chegarem da Terra, trazidas pelas asas veludosas do sono.” –
ou seja, chegaram até Jesus pelo desdobramento do espírito do
encarnado, quando este está dormindo e somente o corpo fisico se
encontra em descanso.
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As personagens que circulam pelo texto, nada mais são do que
uma projeção de todos nós, simbolizados pelos diversos estágios
evolutivos por que passamos, durante a vida progressiva do
espírito, através das muitas e diversificadas encarnações que já
tivemos.
Como se nos afirma, em uma frase atribuida ao Codificador
Allan Kardec e que se encontra esculpida no dolman de seu
túmulo: “Naître, mourir, renaître encore et progresser sans cesse,
telle est la loi.” – “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir
sempre, esta é a lei.” Ao refletirmos sobre seus significados, com isenção da
emoção e do desculpismo natural, momento em que justificamos
todas as nossas ações, poderemos determinar em qual estágio do
progresso espiritual nos encontramos, quais posturas temos
adotado e o que necessitamos modificar para avançar diante da
espiritualidade.
Nenhum de nós reencarna para ter poder, riquezas ou beleza;
reencarnamos para cumprirmos com o necessário progresso do
espírito, pelas expiações e provas, conscientes de que tudo que
aqui temos, ou não temos, que alcançamos ou não, chega pelas
consequências dos nossos atos.
Nesta história, Jesus, como não poderia deixar de ser, é a
personificação da pureza máxima, da bondade infinita, da justiça
plena, que fazem parte da divindade, que está sempre ao nosso
lado, acompanhando-nos em nosso processo evolutivo,
concedendo-nos, de acordo com nossos méritos, em atitude de
concordância, tudo aquilo que pedimos, mas mostrando que tudo
tem seu tempo, muitas vezes até transigindo em tolerância, pelo
Seu imenso amor.
Humberto de Campos mostra ainda a bondade e a
condescendência do Divino Mestre em sua disposição de ceder aos
sentimentos, aos desejos dos diversos personagens que chegam até
Ele, na imensa maioria implorando por benefícios materiais.
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Sem dúvida, todos serão ouvidos e amorosamente atendidos,
na medida das suas necessidades, dos seus méritos e das suas
fraquezas, que o Mestre sabe que serão eliminados pelas diversas
vivências do espírito inserido na carne, sempre com o horizonte a
mostrar o crescimento espiritual que surgirá no futuro.
A cada passo uma lição, a cada tipo de pedido a demonstração
e confirmação do nosso estágio evolutivo.
Irmão X, pela narrativa, nos traz a possibilidade de podermos
simbolicamente dividir nossa evolução em três etapas distintas e
sequênciais:
Pedi, e dar-se-vos-à Buscai e achareis Batei e abrir-se-vos-à.
1. Pedi e dar-se-vos-à – a infância do espírito
Pela leitura constatamos que os espíritos mesmo estando no
início de sua evolução, possuem a consciência da existência de um
poder maior a lhes dirigir as experiências.
Porém, esses espíritos, ainda sem grande consciência do seu
próprio papel neste processo, vivenciando sua infância, colocam-
se perante a Espiritualidade, qual a criança que tudo espera do
adulto, por estar totalmente na dependência dele.
Lembremos que a idade fisica nada significa: o encarnado
pode estar vivendo seus 100 anos no corpo fisico e em espírito ser
ainda, comparativamente, um recém-nascido.
Somente vivem o “pedi e dar-se-vos-à”, sem se preocupar com
o buscar, o bater, o lutar, o estudar, o progredir, o entender, o
aceitar, ou o se reformar.
Nesta fase, o espírito começa a perceber o mundo à sua volta e
as suas preocupações maiores se resumem à vida fisica, na luta
pela sobrevivência e na conquista pelos aspectos materiais.
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Os ensinamentos chegam para todos, mas o aprendizado, no
entanto, será de cada um. Ele é individualizado, o livre-arbítrio
está presente e assim, pouco a pouco, é que se dá o
desenvolvimento do seu raciocínio rumo aos estágios superiores
da evolução.
Na história de hoje, poderiamos colocar como
representante desses estágio evolutivo:
. A mãe que pede pelos filhos;
. A linda moça que pede pela saude do noivo;
. O lavrador, que pede pela boa colheita;
. O cavalheiro respeitável, que pede possibilidades materiais.
A carinhosa mãe solicita a Jesus a sua complacência vigilante
para os filhos. Poderiamos no primeiro momento entender como
plenamente louvável este apelo a Jesus. Mas, muitas vezes,
aguardamos da Espiritualidade amiga, a proteção incondicional
para nós ou para os que amamos; querendo tudo para nós
esquecemos a necessidade de outros irmãos que minguam no
abandono, na opressão, ou nos sofrimentos da ausência da saude
fisica e mental. Olvidando também das responsabilidades pelos
nossos atos, o que a própria lei divina nos impõe, sem atentarmos
para as possibilidades do enorme leque de ações caridosas que
temos no momento – retratado aqui o egoismo.
A linda moça que pede pelo seu noivo, quer nos fazer crer que
tem um lado de desprendimento e renúncia; na verdade, ela pede
por ela mesma, pois quando diz que sem ele não viverá, demonstra
dependência e sentimento de posse. Ela simboliza as pessoas que
se deixam levar por um excessivo apego aos companheiros de
jornada terrestre, esquecidos de atentar para as necessidades
evolutivas deles, buscando dominar sua vontade, impondo suas
necessidades e colocando a sua presença fisica ao seu lado, como a
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única medida da capacidade de sobreviver – retratados aqui a
dependência, desejo de posse e medo.
O velho e simpático lavrador é o simbolo da pessoa sem fé
na promessa futura da ação da Lei Divina. São aqueles que vivem
somente o agora e tudo aguardam da vida na Terra, preocupando-
se por demais com seu sustento, plantando somente na Terra, sem
a preocupação de preparar, arar e plantar no divino terreno das
vidas futuras. Todos os seus desejos, todas as suas aspirações
encontram-se focados nessa única experiência, não levando em
conta que ela é apenas uma experiência. A Terra torna-se, então, o
celeiro, o recreio e a esperança, como se ela fosse o nosso
definitivo lar, onde não cabem ideais espirituais maiores –
retratados aqui a falta de entendimento, ausência do estudo e
negação da verdadeira fé.
O cavalheiro respeitável, simbolizando o rico, que pede
muitas riquezas e mordomias, para combater o pauperismo, a
fome, a nudez, objetivando boas ações, e, em princípio, ajudar a
muitos, na aparência de que não seria só para ele, sem querer lutar
por esta causa, pede o imediato, para aí sim, agir em benefícios
gerais. Esperando receber antes, para depois doar, só prometendo e
correndo o risco de, ao obter, esquecer-se de ajudar e muitas vezes
não cumprindo com seus objectivos – retratados aqui o
comodismo, a inércia e também a ociosidade. Para estes pedidos, feitos pelas personagens acima, todos
relacionados com o “pedi, e dar-se-vos-à”, o Mestre, no que nos
conta o texto, delega os atendimentos aos seus celestiais:
Cooperadores, Emissários, Auxiliares Adjuntos.
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Todos serão atendidos nas devidas oportunidades, promovendo
assim resultados positivos para suas rogativas. Jesus, ao observar o
surgimento de alguns sinais de evolução, já não havendo o
primitivismo, realiza os desejos das personagens, mesmo que
ainda se encontrassem em fase inicial de progresso.
Temos certeza que todos nós passamos, ou ainda estamos
passando por esta fase, ou estágio, mas felizmente, o nascer, o
morrer e o renascer se alternam para o Espírito em progresso, em
busca de alcançarmos o objectivo maior das sucessivas
encarnações, que é o encontro da perfeição.
2. Buscai e achareis – Juventude do espírito
Aos poucos, vamos consolidando em nós os ensinamentos que
o Plano Superior nos descortina e, as diversas experiências
vividas ao longo das nossas existências, fazem com que nosso
Espírito, em dado momento, mais consciente, anseie por vivenciar
outras situações, buscar mais conhecimento, desenvolver laços
mais estreitos e mais harmoniosos com os diversos companheiros
que a espiritualidade pode nos proporcionar.
Quando chegamos a este ponto, as referências materiais, os
desejos imediatistas, o egoismo, a personalidade egocêntrica, a
vaidade, o orgulho, que eram muito importantes num primeiro
momento, passam a não trazer satisfação, saciedade ou prazer:
sentimos que algo não mais nos realiza.
É neste ponto da nossa evolução que deixamos de agir somente
pelo “pedi e dar-se-vos-à” de coisas para o conforto e segurança
das coisas da matéria e passamos a viver também o “buscai e
achareis.” Este estágio, que ainda denuncia estarmos na juventude do
espírito, quando então buscamos conhecimentos, não nos liberta
ou isenta da maravilhosa e necessária ajuda do Mundo Espiritual,
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porém, já não ficamos aguardando que tudo nos seja dado e doado
pelos Irmãos Superiores, sob a orientação e governança de Jesus.
Entendemos que nosso espírito é parte ativa de seu próprio
crescimento e evolução espiritual; a reforma intima toma as
devidas proporções de necessidade; agora, nesta fase, já
conseguimos olhar para o próximo e sentimos que podemos
ajudar, temos a vontade de suprir suas necessidades, começamos a
nos desfazer do egoismo, da vaidade, do orgulho, do ciume, da
inveja e da arrogância.
A personagem que simboliza o estágio seguinte, do “pedi e
dar-se-vos-à” + “buscai e achareis”, é
. O filósofo, um sábio que não pede bens materiais, não pede só
para si, ou para os seus; desta forma, amplia seu alcance, deixando
de lado a visão egoística de um provável e limitado universo. Ele
aspira auxiliar a muitos encarnados, renovando a cultura na Terra,
pois sabe que este é um dos desafios do espírito, crescer em
igualdade, tanto em progresso moral, quanto intelectual. Quando o
filósofo pede inspiração ao Divino Mestre, não pede que a obra se
realize por concessão de favores, mas que lhe seja dada a condição
de realizá-la.
Aqui, Jesus já não solicita cooperadores, emissários, auxiliares
ou adjuntos; concede um vasto séquito de instrutores,
demostrando que o pedido era mais elevado em sua essência e que
não era somente um caso de se dar alguma coisa, mas antes, o de
preparar alguém para uma missão maior.
A narrativa prossegue nos informando que uma legião de
suplicantes, movimentada e feliz, continuava a pedir ao Mestre por
suas necessidades da carne, a maioria na condição do “pedi e dar-
se-vos-à”.
3. Batei e abrir-se-vos-à – entrada na fase adulta
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Continua o espirito a sua jornada evolutiva, caminhando agora
em sua fase adulta, buscando adquirir maturidade.
Ela será o resultado das experiências acumuladas pelas
encarnações sucessivas, pelos ensinamentos absorvidos, com seu
consequente aprendizado e finalmente pela prática exaustiva da lei
divina e imutável de amor que rege o Universo e da entrega total
do amor ao próximo.
Quando o espírito chega neste culminante ponto de
entendimento, de abnegação, de humildade, de simplicidade, de
devotamento, de obediência e de resignação, já não só pede para
obter e nem só busca para encontrar, ele entende que precisa
agora também bater para entrar.
É o “batei e abrir-se-vos-à”, não quer somente pedir, não
quer mais somente buscar, ele quer compartilhar com Jesus de sua
companhia, de sua presença, pois tudo é o resultado da reforma
íntima que vinha sendo construída com afinco, dedicação e luta.
A transformação é profunda nesta fase, o Espírito já conseguiu
um razoável progresso intelectual e está plenamente consciente de
seu progresso moral, dedica todo seu esforço na direção do bem,
querendo somente ser o discípulo e receber o seu quinhão.
O símbolo desse estágio está nesta personagem:
. O “homem diferente”, que ao penetrar o ambiente, antes mesmo
de pronunciar qualquer palavra, já provocava reações positivas,
das mais diversas, nos presentes. Olhar lúcido transmitindo
vontade interior, gestos respeitosos que arregimentavam
confiança, provocando sentimentos de veneração espontânea.
Respeitoso com a autoridade do Divino Orientador, em
demonstração de humildade, ajoelha-se e, em vez de inicialmente
pedir, justifica-se. Reconhece a autoridade, bondade, justiça e
sabedoria do Divino Pastor; ao mesmo tempo que mostra seu
momento de mea-culpa e de entrega total, somente após estas
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demonstrações, faz um pedido diferente, ratificando sua condição
de “homem diferente”, como nestas passagens:
- Senhor, eu sei que sempre dás, conforme nossos rogos.
- Há quase vinte séculos, ensinaste-nos que o homem achará o
que procura e receberá o que pede...
- Vezes inúmeras, eu tenho lidado com o desejo e a posse, com
a esperança e a realização nos circulos transitórios da existência
carnal. Estou pronto para cumprir-te os desígnios superiores, seja
onde for, quando e como quiseres, mas, se permites, rogo-te luz
divina do teu coração para o meu coração, paz, alegria e vigor
imortais de tua alma para minha alma!... Quero seguir-te,
enfim!...
Jesus lhe pergunta se quer ser Seu discípulo.
- Sim! – respondeu o aspirante da luz.
- Que me reservas Senhor?
Neste ponto, o “homem diferente” representa a evolução
pretendida por todos nós, já a caminho da perfeição; por suas
atitudes sua visão e necessidades são mais elevadas, por isso,
bateu e a porta se abriu para ele.
Em seu discurso para Jesus, ele fala de toda a caminhada
evolutiva que já fez, quando diz que inúmeras vezes ele esteve na
Terra, lidando com o desejo e a posse, com a esperança e a
realização, deixando claro que aquele amadurecimento era fruto de
conquista árdua e demorada. E, ao invés de pedir, ele bate à porta
estreita de que nos fala Jesus, se dispondo ao serviço junto a Ele e
a suportar tudo por Ele.
Seguindo o exemplo do Apóstolo Paulo, que travou com Jesus
este diálogo: “Senhor, eu creio. Quie queres que eu faça?”, o
“homem diferente” pergunta: “Que me reservas, Senhor?”. Não
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demonstrando dúvidas, ele só queria saber qual seria a sua tarefa,
junto ao Provedor do Bem.
Jesus, que tudo sabe, reconhecia naquele homem o verdadeiro
servidor, o fiel seguidor que jamais iria recuar ou temer o fardo
maior e mais pesado. Sua resposta, inversamente às que foram
distribuidas, dizia para que o “homem diferente” retornasse ao
campo de seus deveres, ou seja, após acordar de seu
desdobramento do Espírito, retornando à Terra, retomasse as lides
diárias, não para receber uma condição fisica e material melhor do
que os outros, mas, separado dos demais, o próprio Jesus iria ter
com ele.
Ele não receberia parcialidades, bens, saude, campos férteis,
sabedoria: ele receberia a Lição.
Jesus lhe reservou a Lição, pois ele já tinha passado por todo o
resto e agora, quando atingia seu ponto culminante na Terra,
receberia os ensinamentos diretamente do Mestre e não dos
divinos cooperadores, emissários, auxiliares ou adjuntos. Não
haveria mais intermediários.
Podemos pedir e buscar, mas tenhamos sempre como meta o
bater à porta.
Logo no início desta interpretação falei que os ensinamentos
são para todos, mas o aprendizado é de cada um; é necessário que
nós, já estando no caminho, ao longo de muitas encarnações
vividas, recebamos os ensinamentos, sejamos bons aprendizes, nos
preparando para receber a Lição.
O estudo da Doutrina Espírita nos facilita o caminho, mas sua
prática é que nos mostrará como ver, alcançar e ultrapassar a porta
estreita.
Estreita, no sentido de deixarmos para trás as coisas da
matéria, mas imensamente larga para possibilitar a evolução moral
e intelectual do espírito.
É a porta do capril, que Jesus refere em João, 10:1 – “Em
verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no
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aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e
salteador.”
A Lição vinda diretamente do Mestre Divino, nos fará fazer o
que Ele faz e coisas maiores, como nos atesta em João, 14:12 –
“Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim
fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque
eu vou para junto do Pai.”
Para chegarmos a este grau elevado de evolução e fazer o que
Ele faz, precisamos eliminar, através das infinitas oportunidades
de reencarnações, todas as impurezas do espírito, adquiridas desde
a nossa primeira encarnação. Alguns chegam mais rápido que os
outros, basta para isso vivenciar a prática de todos os
ensinamentos e não somente conhece-los.
Salvé, Jesus! Saude e paz para todos.
MARCELO VITAL BRASIL
(S. Paulo – Brasil)
(Artigo cedido, gentilmente, pelo Autor).
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A CASA DE DEUS
Quando a descobri, o desarrumo era total,
Numa confusão de sentimentos baralhados
No geral,
Misturando-se o orgulho e a vaidade,
E o egoismo, que vence qualquer idade!
Encontrei a desesperança,
O ressentimento dos que não têm confiança,
E a auto-compaixão
Dos que vivem sem qualquer ilusão!
(A moradia de tão escura,
Não revelava fé na vida futura)...
... Mas sem saber como, um dia
Entrou o sol naquela moradia,
E o que era escuro se perdeu
Na claridade de um novo dia que nasceu!
E o sol, ao entrar, ensinou a olhar
E amar a Natureza,
Desde o pipilar das avezitas no ar,
Ao rumorejo
Da água da praia, num bocejo
De quem não sabe se dormir... se orar!
... E o olhar perdeu-se em rios e montanhas,
Em florestas e árvores tão tamanhas
Que parecia o céu quererem tocar...
E o riso da criança que passava
Era a cascata de água cristalina
A fugir ao rio, buscando o mar!
... E as lágrimas que os olhos alagavam,
Que de salgadas tanto amaravam,
Secavam céleres, aos beijos que lhe dava
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A brisa acariciante que as roçava!
... E a dor que anteriormente afligia
Já não era dor... eu diria
Que era apenas um sentir
- Talvez um estado d’alma
De quem encontrou, enfim!, a calma!
E na casa que descobrir eu um dia pudera
Não havia mais desarrumo total:
Os maus sentimentos dominados
(ainda não vencidos no geral)
Davam aos “quartos” ares de arrumados:
Entrava neles a luz que vinha dos céus,
E aquela moradia
(O meu coração, eu lhes diria)
Era também uma Casa de Deus!
MANUELA VASCONCELOS
Lx., Novembro de 1986
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A PEDRA ANGULAR
DAS TRÊS REVELAÇÕES Deus não quer ser temido, mas amado
“(...) Não existe outra lei senão esta: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao vosso próximo como a vós mesmos”.
Como não poderia deixar de ser, Deus é o foco central das
Três Revelações. Evidentemente, em cada uma delas, a
compreensão possível sobre “o que é Deus” foi-se ampliando de
acordo com a dosagem de luz oferecida pelo Mais Alto
porporcionalmente à nossa capacidade de “metabolizar
intelectualmente” tais informações.
Assim, Moisés (1)
nos apresenta um Deus terrível, injusto, que
pune um povo inteiro pela falta de seu chefe, que Se vinga do
culpado na pessoa do inocente, que fere os filhos pelas faltas dos
pais, caracterizando as chamadas “cobranças vicárias” que não
existem nem mesmo nas precárias, limitadas e imperfeitas leis
humanas... Moisés desenha-nos o perfil de um Deus ciumento,
vingativo, cruel, i