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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaçãoXXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Natal, RN – 2 a 6 de setembro de 2008
Comunicação no metrô de São Paulo: as construções narrativas da publi (cidade)1
Frederico J. Tavares de Oliveira2
Rosamaria Luiza (Rose) de Melo Rocha3
Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, SP
RESUMO
Este artigo é resultado do exercício de compatibilização de material desenvolvido em torno do projeto de pesquisa que trata da comunicação do metrô de São Paulo. Ele se configura em um texto que reflete o caráter polifônico da cidade e do metrô – tratase de um processo metodológico adotado para a escrita que pretende avizinhar mais ao objeto investigado, que é a publi (cidade) no metrô e sua relação com um determinado público usuário que se confunde com consumidor. Nos atentamos em justificar a pertinência do tema para o campo da comunicação, passando rapidamente por métodos já adotados de apreensão e interpretação do corpus. Objetivamos com este texto a discussão e problematização da relação do usuário do metrô de São Paulo com a publicidade alí presente.
PALAVRASCHAVE: metrópole, publicidade, metrô, comunicação, imaginários urbanos, multidão e consumo.
1 Introdução
Este artigo responde, em linhas gerais, a alguns resultados do PGE4 Monográfico que
está sendo desenvolvido no âmbito da Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM). A aplicação acadêmica do projeto “Comunicação no metrô de São Paulo: as
construções narrativas da publi (cidade)” objetiva a discussão e problematização da
relação do usuário do metrô de São Paulo com a publicidade alí presente. Tal objetivo,
que se confronta com um problema, é revelador de uma série de elementos que serão
apresentados a seguir. Esses elementos são forjados em uma relação de interação muito
particular, vista tanto sob uma ótica social quanto econômica e mercadológica, o que
1 Trabalho apresentado no IJMI – Mediações e interfaces comunicacionais do Intercom Junior, evento componente do XXXI Congresso Brasileiro de Ciências de Comunicação.2 Graduando em Comunicação Social com habilitação em Propaganda e Marketing. Atua como assistente de pesquisa no projeto “Imagens limiares e visualidades juvenis”, coordenado pela Profa. Dra. Rose de Melo Rocha. Email: [email protected] Professora do Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM/SP. [email protected] Projeto de Graduação ESPM.
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permite pensarse em alternativas comunicacionais – publicitárias – que se apropriem
“criativamente” de um espaço e de um tipo de usuário muito inspirador.
Vale comentar, desde já, que o trabalho se apóia em uma perspectiva que
considera o caráter polifônico da cidade de São Paulo (Canevacci, 2004) e do metrô. O
olhar se volta a algumas estações relevantes e compatíveis com as propostas e
exercícios metodológicos do projeto – que acolhem atores fundamentais para a análise:
o usuárioconsumidor, anunciantes e comerciantes lojas, publicidade e atores do
poder público. Sistematizar o corpus neste cenário polifônico também de muitos outros
agentes, na verdade, será multiplicar enfoques, olhares ou vozes – metodologia de
Canevacci (2004) – relacionados com um mesmo tema para se avizinhar mais à
representação do objeto estudado. Atentaremos com maior dedicação a relação do
usuário com a publicidade que há no metrô demonstrando casos já vistos e debatidos. O
método prescritivo de uma pesquisa acadêmica exige certo rigor e coerência no(s)
momento(s) de apreensão do objeto e, por isso, fora realizado trabalhos em campo – em
estações do metrô – desde novembro de 2007 até maio de 2008 com intervalos de 3
meses entre cada experiência. Cabe, aqui, levantar parte do material já coerido – que se
organiza de forma coerente no tempo – e apresentar brevemente as estratégias
metodológicas que pretendemos aplicar no percurso final do projeto, comentando a
repercussão do tema em nossas reuniões de orientação e qualificação5. Este artigo
apresentará, portanto, resultados do projeto em desenvolvimento e suas devidas
orientações e problemas para a construção do texto final que será apresentado em
novembro deste ano a ESPM.
A relevância deste estudo que problematiza a comunicação feita no metrô de São
Paulo pode ser enaltecida por dados da própria empresa que administra o transporte,
assim como pela importância e imagem – talvez, pelo posicionamento – que o metrô
ocupa no imaginário social. A Estação Sé6, localizada no centro da cidade e que para
nós será estaçãobase de estudo, tem capacidade para 100 mil passageiros no horário de
pico, segundo informações do site do Metrô. Este transporte integra a rotina de muitas
pessoas e representa um símbolo de urbanidade para uma cidade que é paradigma de
metrópole no contexto brasileiro e latinoamericano. Tratase, portanto, de um espaço
5 Este projeto fora qualificado em junho deste ano pelo Prof. Ms. João Oswaldo S. Matta.6 Estação enterrada de integração da Linha 1Azul e Linha 3Vermelha. A Linha 1 tem 20,2 km de extensão e é utilizada por 325 milhões de passageiros/ano.
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enorme e de um dos meios mais eficazes de transporte – bem valorizado e cuidado no
imaginário urbano.
Tentaremos de alguma forma responder “por que o metrô para se pensar em
construções narrativas da publi (cidade)? O que é publi (cidade) para nós e por que se
falar em publicidade e comunicação neste contexto? Por que, enfim, problematizar a
comunicação do metrô?”
Com “inspiração” do pesquisador Canevacci (2004), que estudara a cidade de
São Paulo, buscaremos apresentar no texto certa multiplicação de enfoques – olhares ou
vozes – ou seja, o caráter polifônico da cidade – relacionados com um mesmo tema (que
é a relação do usuário com a publicidade no metrô) para se avizinhar mais à
representação do objeto investigado que é para nós, em outras palavras, a publi (cidade)
do metrô de São Paulo. Publi (cidade) como mescla resultante da polifonia entre
elementos urbanos situantes do metrô/cidade (agentes interessados: usuário, anunciante
e poder público) e lugar de interação peculiar entre atores específicos em momentos
históricos também particulares. A tensão no imaginário social sujeito às condições da
metrópole, as quais ele também é influenciador, é que nos conduz a um pensamento que
considera uma interação muito íntima entre os discursos do cenário urbano (da cidade
mídia), cuja publicidade é cosmético da comunicação, e um certo tipo de público
abalizado por nós como uma multidão específica, todavia pouco explorada. Essa
definição de multidão se mostra bastante problemática e deverá ser desenvolvida para o
texto final do trabalho.
Pela base teórica, exploramos também a metodologia de Silva (2001) que nos
auxilia a identificar e interpretar fantasmas urbanos – esse ponto será desenvolvido no
artigo justamente para explicar a publi (cidade) – termo que encontramos para sintetizar
a importância do objeto investigado, atribuindo ao tema certa alegoria instigadora. Fala
se a partir disso de imaginários urbanos. A importância do tema se mostra justamente
pelas possibilidades que a comunhão investigada (entre discurso social e publicitário no
metrô) oferece de se pensar em trabalhados de dimensão colaborativa entre os três
agentes centrais – mercado, usuárioconsumidor e poder público – principalmente no
campo da comunicação. Por conta disso, vislumbramos uma “possibilidade cidadã” no
espaço comunicacional do metrô, cuja função pode ajudar a tornar clara a ordem da
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cidade em orientação ao bemcomum e, por isso, à “possibilidade cidadã”7 (Jacobs,
2007).
A relevância do próprio cenário – que se dá pela grandeza das estações, volume
de pessoas, signos e enfrentamentos urbanos, de multidão vs publicidade, ordenação,
caos e velocidade – é talvez o que tenha motivado essa investigação a perceber na
comunicação publicitária recorrente no metrô de São Paulo uma possibilidade de
interpretação e criação. As primeiras experiências em campo trouxeram uma impressão
ligada ao conceito de gap de comunicação que seria uma certa lacuna nos processos que
envolvem o campo da publicidade no contato com seu público receptor – um problema
para nós.
O projeto em questão – que é piloto na Escola – é vinculado ao projeto
“Consumo, Cena Midiática e Políticas de Visibilidades Contemporâneas” coordenado
pela Profa. Dra. Rose de Melo Rocha – orientadora deste artigo e projeto – junto ao
Programa de Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM. Não era de
se esperar que a ótica do consumo seria pivô de nossa discussão aparentada pelo
discurso da publicidade no diálogo com um certo usuário revestido de consumidor.
......
Sugerese um mapa para este artigo: partimos da cidade ao metrô, para sua
relação com o usuário que é tido como consumidor pela publicidade – nos atemos um
pouco a essa questão com auxilio de texto de Janice Caiafa (2007) – e partimos para
exemplos e resultados. Assim, esperamos trazer a parte burocrática da pesquisa
acadêmica, seus objetivos e metodologia, referências teóricas e experiências em campo,
sob a forma de uma “resenha crítica” que olha para a comunicação do metrô de São
Paulo na polifonia do contexto que consideramos sua inserção. Será a maneira de expor
ao leitor a experiência dessa pesquisa, que já foi qualificada em um primeiro momento
pela Escola, os desafios do projeto e orientações para o texto final. Ordenação e tumulto
podem ser reflexos da polifonia do metrô em nosso artigo.
7 O indivíduo, segundo Bauman (2001: 45), “tende a ser morno, cético ou prudente em relação à “causa comum”, ao “bem comum”, à “boa sociedade” ou à “sociedade justa”. Ele propõe: “Qual é o sentido de “interesses comuns” senão permitir que cada indivíduo satisfaça seus próprios interesses?”. O cidadão, ao contrário, tende a buscar seu próprio bemestar por meio do bemestar da cidade.
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2 A publi (cidade) imaginada: os fantasmas da comunicação urbana
O suporte teórico sobre o qual iremos nos debruçar e apresentar no trabalho prevê
concomitantemente o exercício de se deixar estimular pelos próprios objetos e signos do
cenário em movimento – a cidademídia – para sobre eles mesmos voltar nosso
pensamento (Schopenhauer, 2005). Este exercício, que pressupõe um estranhamento no
olhar, se faz importante enquanto método de apreensão de nosso objeto de pesquisa
porque se bem relacionado com o suporte teórico explorado pode se servir ao momento
mais criativo que buscaremos neste trabalho: a interpretação que prepara o terreno à
proposição.
Esse processo assemelhase a uma metodologia utilizada pelo pesquisador
italiano Canevacci (2004) que acentuava seu “estrangeirismo” no apreendimento da
cidade de São Paulo, percorrendo caminhos investigativos ligados ao que ele denomina
por “antropologia da comunicação urbana”. O estranhamento no olhar desenraizado –
de estrangeiro – vivenciado por nosso autor, permite um estado propício para a
“descoberta” do cotidiano da comunicação urbana – das mídias, marcas e discursos da
cidade, em geral, sem vincularse ao vício do olhar do metropolitano. Nosso exercício
psicológico será, portanto, o de olhar para a publicidade e seu público receptor “com a
mesma ingenuidade com que se observa um panorama exótico, com a mesma vontade
de imersão nessa sedutora diferença. Mas também com a mesma seriedade com que se
contempla uma obra de arte” (Canevacci, 2004: 31).
Falar em imaginários urbanos significa conduzir o diálogo entre mídia (ou
cidademídia no caso de São Paulo) e “multidão” às suas raízes – à linguagem – e por
isso a perspectiva pressupõe um diálogo “negociado” na construção narrativa da publi
(cidade). Um diálogo que ocorre entre os discursos sociais e os discursos da cidade
mídia – os “discursos da rua” – que na verdade não são totalmente externos a um
suposto discurso comum de dado grupo social. “As vozes que falam na mídia fazem eco
a outros dizeres que vêm de outros lugares da sociedade” (Gregolin, 2008: 22), mesmo
quando verificamos um domínio maior entre aquele quem detém o poder de “gerar
fantasmas” e aquele que aparenta se reduzir apenas à passividade de espectador. Por
isso a observação deve ser observadora – “que não é mais ‘participante’ da ação, mas
observa também a si própria como sujeito que observa o contexto. É metaobservação”
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(Canevacci, 2004: 31); é “observação atuante” – ferramenta e modo de se apreender um
objeto investigado.
Quando estendemos “horizontalmente” a idéia de imaginários urbanos a noção
de fantasmas urbanos – que estaria relacionada a produção midiática – trabalhamos com
uma interpretação da publi (cidade) que percebe no discurso publicitário caminhos de
representações e ressignificações contemporâneas da sociedade. A questão invade
também o campo da psicologia: Silva (2001) ao estabelecer relações entre fantasmas e
espectros, ao mostrar seu grau de parentesco (ambos se vinculam à família de specio,
ver, olhar), nos apresenta uma diferença etimológica bastante esclarecedora que
desaprocima os termos colocandoos em posições opostas, quando uma nova derivação
da palavra espectro aparece: o espectador. O fantasma “aparece” para ser visto por um
espectador que está para ver, como para verse enquanto reflexo em um espelho. O
interessante, psicologicamente, diz o autor, ocorre quando o espectador acredita verse e
não é assim, é um falso reflexo, uma ilusão ou, certamente, um “espelhismo”.
Silva (2001: 53) mostra a definição de fantasma:
“Imagem mental ou representação imaginária que designa o produto de
uma atividade interior (consciente ou inconsciente); distinguese da percepção da ‘realidade’
(consciente e natural) opondose a ela [...]; essa atividade imaginária corresponde, de um lado,
ao termo fantasia, que engloba o que se pode chamar de ‘mundo imaginário’; e de outro lado à
satisfação imaginária de um desejo inconsciente”.
Esta outra citação parece traduzir ou generalizar nosso “recorte”. Pode ser um
apanhado do que entendemos por publi (cidade). Vemos nela as estaçõs do metrô, os
vagões, a velocidade, a publicidade, imagens, multidão e tecnologia (Silva, 2001:
XXV):
“A vida moderna vai pondo tudo em um tempo, um ritmo, umas
imagens, em uma tecnologia, em um espaço que não é só real (como se diz daquele lugar onde
cabem e se colocam as coisas) mas também simulado, para indicar o lugar da ficção que nos
atravessa diariamente”
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Fotos: 1, 2 e 3: Estação Consolação – Linha Verde. Fotos 4 e 5: Estação Ana Rosa – Linha Azul e Verde. Data: 11. 2. 08
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Dentro do vagão – Linha Verde. Data: 11. 2. 08
Texto: “Viva Simples”
Ao considerarmos a metrópole como lugar de explosões midiáticas e
comunicacionais de diversas ordens e dimensões – já desprezando a perspectiva que a
vê como resultado de um conjunto de efeitos mecânicos do desenvolvimento das
indústrias modernas, porque nos situamos no linear da fantasmagoria e do espetáculo,
estamos lidando com um vasto arsenal de elementos que servem de referências para se
pensar a experiência social (as motivações comportamentais). Nos metrôs de São Paulo,
3 milhões de passageiros circulam por dia e a frequência de cruzamento de símbolos –
de passagens urbanas – se faz visualmente alta. A comunicação publicitária neste
cenário parece demonstrar importância quando assume um diálogo tão presente com
muitos indivíduos.
3 Comunicação no metrô de São Paulo: as construções narrativas da publi
(cidade)
Janice Caiafa (2007) em texto sobre questões ligadas a noção de uso e consumo no
metrô no metrô do Rio de Janeiro entende que os anúncios no metrô e sua multiplicação
sobre os diversos suportes atuem como uma forma, por vezes exaustiva, de extrair
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rentabilidade da presença do usuário. Dessa forma, o consumo se configuraria como o
elemento mais emblemático do controle no contexto da gestão privada de um
equipamento coletivo. Ele está alí na forma de anúncios publicitários, nas lojas,
farmácias e supermercados8, estimulando experiências forjadas na assistência:
“Tratase o passageiro como consumidor fazendoo alvo de um tipo de
assistência ao fornecerlhe indicações e instruções que ele, na busca de exercer seu direito de
uso, não pediu e que em algum grau o desviam desse exercício” (Caiafa, 2007: 11).
Estação Vila Mariana – Linha azul. Textos: Shopping Metrô Itaquera. Tão bom, tão perto, tão nosso. Diversão para
toda a família. 8 salas de cinema. Data: 11. 2. 08
.....
O discurso sedutor de Debord (1997) nos ajuda a perceber que o excesso de
produção e sua correspondente publicidade opõem de um lado o trabalhador e de outro
o poder independente do produto de seu trabalho, que se mostra em todo o seu vigor,
em toda sua fantasmagoria, na excelência da banalidade fabricada pela mass media.
Estação Sé – Linha Vermelha e Azul. Data: 6. 11. 07
8 Os jornais de 16 de abril de 2008 anunciam que o Metrô de São Paulo terá farmácia e supermercados. O Metrô abriga hoje 600 lojas. Prevêse, espalhadas pelas diversas estações da Companhia, novas 9 drogarias, a construção de mais 24 lojas e a abertura de mais um shopping em 2009, este na Estação Tucuruvi (zona norte).
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Nosso estudo parte de pressupostos que acabam por considerar a comunicação
urbana de lugares congestionados de imagens, enquanto polifonia de vozes autônomas
que se cruzam, se relacionam, sobrepondose umas às outras, constituindo uma espécie
de coro, cuja inserção publicitária se configura como forma de controle, como toda
assistência (Caiafa, 2007).
O olhar adestrado do metropolitano que se defende na rotina, desviando olhares,
parece garantir a resistência da multidão que ora “assiste” a publi (cidade) um pouco à
distância; a problemática do tema estaria nessa condição de entender um certo usuário
consumidor que na duplicidade do enfoque oferece margens para se pensar tanto em
uma multidão, visto que “usuário do metrô” conota uma noção massiva de público,
quanto em uma certa multidão devidamente segmentada pela publicidade e, portanto,
provedora de grupos de indivíduos consumidores. Na figura de uma assistente, a
publicidade no metrô mostra faces de um controle sutil que, como toda assistência,
explica Caiafa (2007), restringe determinada ação já esperada no espectador.
Caiafa (2007: 13) já vislumbrava como no contexto do serviço público ou de
utilidade pública o procedimento publicitário se denunciaria em sua pior face.
“Justamente porque ele trabalha contra o direito de uso – razão de ser do transporte,
como até a lei deixa claro e como os usuários não cessam de confirmar”. Não residiria
aí uma oportunidade mal explorada, ou senão um gap de comunicação? Jacobs (2007)
acusa os arquitetos que se aventuram no desenho urbano por geralmente não saberem
por onde começar quando pensam no que fazer para criar uma ordem visual nas cidades.
Estação Sé. Espaço central. Data: 6. 11. 07
A importância da comunicação deve ser enaltecida na medida em que esta pode
constituir pontos de referência (Jacobs, 2007). Suas funções ajudam a tornar clara a
ordem das cidades ao enfatizar e promover sua diversidade; destacam o fato de serem
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diferentes de seus vizinhos e importantes por serem diferentes; tornam, ou podem tornar
visualmente importantes as áreas urbanas que são funcionalmente importantes, e cuja
importância precisa ser reconhecida. Da mesma maneira tem amplas possibilidades de
construir uma ambiência capaz de compor um diálogo com seu público receptor voltado
a um determinado exercício de cidadania. Ao procurar analisar o significado das
mensagens da maneira como são recebidas e interpretadas estamos tentanto, entre outras
coisas, demonstrar que o sentido da mensagem não é uma propriedade fixa da
mensagem em si, mas uma característica que está sendo constantemente renovada e
transformada no processo de apropriação (Thompson, 1995).
Caiafa (2007) exemplifica, como formato interessante de comunicação, uma
peça publicitária que capturava o usuário do metrô do Rio de Janeiro em movimento,
algo que não chegamos a constatar como possibilidade bem aproveitada no metrô de
São Paulo. Nas ecadarias das estações, por exemplo, os cartazes são praticamente
desconexos. Por vezes são repetidos; o mesmo cartaz, várias vezes. Poderia se contar
uma estória alí.
Estação Consolação. Exemplo de uma possibilidade mal aproveitada de capturar o usuário em movimento. Data: 11.
2. 08
4 Uma luz no fim do túnel: metodologia, problemas e orientações
Procuramos neste artigo levantar algumas das bases construidas no projeto em questão,
enfocando para a publicidade da cidade, no metrô. O resultado obtido na investigação
da relação dessa comunicação com usuários trouxe, na pesquisa bibliográfica,
documental e de campo, sinais instigadores para uma investigação acadêmica pertinente
ao campo da comunicação atual. O artigo, portanto, responde a um projeto em
construção que deverá não tardiamente se desenvolver em um texto final avaliado como
Projeto de Graduação pela ESPM.
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Não nos aprofundamos na parte metodológica do projeto neste artigo por razões
de seleção de conteúdo para o texto e porque viemos incorporando sugestões da
qualificação em nossas estratégias de apreensão do objeto. Por ora, coletamos material –
fotos e vídeos – em períodos espaçados coerentemente no tempo e definimos quais
estações serão investigadas com maior profundidade. Pretendemos em agosto realizar
experiências de campo também com regularidades no tempo para situarmos um corpus
capaz de indicar recorrências, comparações e possibilidades criativas. Sob a ótica do
consumo, tendo em vista a publicidade, nossa pesquisa de campo se orientará em dois
momentos: 1) no momento de “observação atuante” – que envolve a questão do
“estrangeirismo” e 2) no momento de aproximação com usuários.
Enquanto observador atuante, a postura do pesquisador se consistirá em uma
observação etnográfica e iconográfica. Nesta fase, tomase nota e registrase o objeto
estudado. Atende aos objetivos de: a) conhecer o local explorado; b) mapear os meios
técnicos de transmissão utilizados pela comunicação publicitária9; c) compor um corpus
capaz de fornecer subsídios para análise e investigação; d) levantar hipóteses sobre o
contato estabelecido entre a publicidade e seu público receptor – registro das reações
provocadas pela publicidade; e) levantar hipóteses sobre o aproveitamento do espaço
publicitário.
Nesta fase será necessário instrumentos para se tomar nota e registrar o
ambiente. Fotos e vídeos farão parte de nosso material, sendo ferramentas fundamentais
à construção de nosso texto.
No momento de aproximação com usuários, estamos desenvolvendo opções,
cujas metodologias de coleta e análise são qualitativas. Não cabe aqui aprofundarmos
em processos tão complexos de serem apresentados, quando não temos a certeza de qual
opção iremos evoluir. De qualquer forma, esse momento parece ter que responder a
objetivos centrais: a) identificar os imaginários associados pelos receptores às peças
publicitárias selecionadas – o que a peça em si desperta no receptor; b) identificar as
possiveis expectativas em relação à comunicação alí experimentada; c) identificar casos
de sucesso e fracasso da publicidade.
9 Segundo Thompson (1995: 403) “este enfoque é útil porque nos possibilita ver que algumas das características da apropriação quotidiana estão ligadas à natureza dos meios técnicos de transmissão, à presença de habilidades, capacidades e recursos exigidos para decodificar mensagens transmitidas pelos meios específicos, e às regras, convenções e exigências práticas ligadas a tal decodificação”.
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Os problemas de pesquisa parecem se voltar principalmente ao usuário
multidãoconsumidor e tudo que lhe qualifica no cenário polifonico da publi (cidade) do
metrô. Deveremos, para o texto final, explorar mais esse usuário tanto pelo auxílio
bibliográfico – se optarmos por adotar um conceito de multidão – quanto pelo contato
aproximado com o receptor.
Barbero (2006: 54) parece contribuir nesse sentido com resgates históricos do
surgimento do conceito de multidão e massa e sua evolução até a contemporaneidade.
Destacamos citação fomentadora do autor: “estamos diante de uma sociedade composta
por uma enorme massa de pessoas semelhantes e iguais, que incansavelmente giram
sobre si mesmas com o objetivo de poder darse os prazeres vulgares com que
satisfazem suas almas”.
Nos interessa mostrar que mesmo no “fazer consumir” da publicidade podem ser
melhor exploradas no metrô de São Paulo as possibilidades de se construir um discurso
capaz de compor, com outros elementos do espaço do metrô, um “objeto” funcional de
fruição e informação, “malgrado a conclamação ao consumo” (Caiafa, 2007: 13). As
proposições virão para nós, neste estudo, como bases para novos projetos dedicados a
planificação do espaço comunicacional do metrô de São Paulo. Entendemos, a
princípio, de que não seja necessário um controle literal sobre todo o campo de visão
para darse ordem visual ao metrô. Isso seria, seguindo os conselhos de Jacobs (2007),
enfadonho para todos. Devese dar espaço para a descoberta, a organização e
diversidade, ou a participação pessoal de cada um.
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REFERÊNCIAS
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BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
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DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
GREGOLIN, Maria do Rosario. Análise do discurso e mídia: a (re)produção de identidades. Comunicação, mídia e consumo. Caderno de Pesquisa ESPM, São Paulo, v.4, n.11, p.1125, novembro, 2007.
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SILVA, Armando. Imaginários Urbanos. São Paulo: Perspectiva, 2001.
THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de
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