Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

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A importância dos valores para a construção de novos paradigmas sociais Marisa Santoro Bravi Eliane Miraglia 2010

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Monografia escrita em parceria com Marisa Santoro Bravi. Trata das leis brasileiras e da naturalização da Previdência Complementar como comportamento social. O título original é: Comunicação e Educação Previdenciária: a importância dos valores para a construção de novos paradimas sociais.

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A importância dos valores para a

construção de novos paradigmas sociais

Marisa Santoro Bravi

Eliane Miraglia

2010

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Esta monografia foi escrita entre os meses de maio e

setembro de 2010. Apresenta um registro de uma conquista que

gradativamente está se consolidando no Sistema de Previdência

Complementar Brasileiro: a comunicação como recurso estratégico

de gestão e, mais recentemente, a educação previdenciária.

Buscamos contribuir com o resgate de parte de processo que

tem sido construído por profissionais de diversas especialidades –

atuária, jurídica, contábil, financeira, entre tantas outras. Também

nos dedicamos a selecionar e analisar as principais propostas

divulgadas como tendência para o setor, além de documentos

publicados oficialmente para orientar e alinhar as decisões de

dirigentes e entidades na busca da ampliação e democratização

do acesso ao Sistema de Previdência Complementar pela

sociedade brasileira.

Nesse sentido, acreditamos que a natural evolução do

Sistema de Previdência Complementar, já avançada na

administração financeira, dependa agora do compartilhamento de

um modelo comunicativo e educacional, conceitual e simbólico,

que possa ocupar o imaginário – corações e mentes – de todos e

transformar os atuais hábitos de consumo em escolhas inteligentes

que subsidiem a consolidação de uma cultura previdenciária,

referência também de comunicação e educação.

Marisa Santoro Bravi e Eliane Miraglia

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 5

Mapeamento da estrutura e conteúdo 11

TUDO MUDA O TEMPO TODO NO MUNDO 17

Além da retórica 17

Sem referência 22

O futuro não é duvidoso: tem riscos e oportunidades 28

A tangibilidade e a intangibilidade dos valores 30

Incentivo das leis à comunicação e à educação previdenciária 34

Diferentes expressões 42

POLIFONIA DAS RESPOSTAS ÀS LEIS 45

Tecnologias sociais: ética e transformação cultural 46

Iniciativa da Previdência Social 49

Parceria Público-Privado 51

Iniciativas da Previdência Complementar 54

Plim-plim! 72

SBR – governança e cultura previdenciária 74

Em todas as instâncias 80

A pedagogia da transformação 83

Efeito borboleta 88

PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR PARA 17 MILHÕES DE

BRASILEIROS 91

Previdência complementar e recuperação salarial 94

Plano de contribuição mínima para diferentes classes

trabalhadoras 97

Poupança interna e desoneração do empregador 99

Decisões arrojadas revitalizam o Setor de Previdência

Complementar 103

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia 110

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Formar exige ousadia 113

Participante: o formador de opinião, o agente de mudança 122

Sonho que se sonha junto: uma nova realidade! 126

ESPERANÇA: O CAMINHO QUE SE DEIXA DE HERANÇA 129

Certas escolas são equipadas apenas com a obstinação dos

que desejam aprender 129

Eu vejo um novo começo de era, de gente fina, elegante e

sincera 133

A união de sonhos é parte da luta para universalizar a

dignidade 141

FONTES CONSULTADAS 145

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APRESENTAÇÃO

Assim, com esse progresso na regulamentação do órgão supervisor e conseqüente criação de uma autarquia especial para exercer fiscalização dos fundos de pensão, poderemos, em breve, estender a previdência complementar a um número bem maior de brasileiros. Essa é nossa meta para 2010: melhorar a fiscalização para que os fundos de pensão sejam não só um instrumento de desenvolvimento no País, mas também uma segurança para os trabalhadores brasileiros, ao se aposentarem

1.

Quando as políticas públicas conseguem democratizar

bases sólidas para criar melhores condições de trabalho e de

vida aos cidadãos, as necessidades essenciais são supridas.

Mas outras demandas também relevantes começam a exigir

atenção: cidadania e sustentabilidade de vida. A discussão

sobre a importância da expansão do setor de Previdência

Complementar no Brasil – e, conseqüentemente, da

comunicação como um dos pilares da estratégia que vai

alavancar essa evolução – está se expandindo nesse

contexto, principalmente em decorrência de um conjunto de

legislações e, sem dúvida, das soluções que as instâncias

públicas, privadas e as entidades criaram para fazer cumprir

essas leis.

1 Relatório de Atividades 2009 PREVIC. Brasília: Superintendência

Nacional de Previdência Complementar (PREVIC), 2010, p. 8. Destaque nosso.

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Hoje, está perdendo poder competitivo no mercado

quem ainda questiona e resiste em reconhecer a contribuição

da comunicação na elaboração de planejamentos que

tenham por objetivos consolidar e difundir a melhor

percepção dos planos previdenciários para a vida dos

participantes e ainda – por meio do fortalecimento de

relacionamentos e laços de confiança – estabelecer os

fundamentos que propiciem, no longo prazo, a sobrevivência

das entidades de previdência no país.

Já se cristalizou na história das Entidades de

Previdência Complementar -EFPC o trabalho de profissionais

da área para esclarecer o conceito de comunicação como

conjunto de ferramentas e recursos estratégicos do qual

informar é apenas um dos aspectos. Comunicação se propõe

interagir, formar, transformar. Para isso, as EFPC e a própria

comunicação enfrentam agora um novo estágio de desafios

específicos e intrínsecos: transparência, coerência,

interlocução, velocidade, permanência. Para as EFPC, os

atributos da comunicação também deixaram de ser mistério:

ela tem que ser rápida, precisa, objetiva, adequada às

necessidades e características de seus públicos de interesse,

oferecer feedback a seus interlocutores2.

2 BRAVI, M. Comunicação e relacionamento – diferenciais

estratégicos de gestão, in Administração Geral I – Governança e Gestão Estratégica. São Paulo. Programa de Educação ABRAPP, 2010.

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Como processo de construção permanente, cuja

principal característica é a revisão contínua, para que sejam

analisados riscos e aproveitadas as oportunidades, esta

monografia pretende participar dessa tarefa, refletindo sobre

algumas questões que impactam e podem determinar o

aumento do nível de consciência sobre a importância dos

planos de previdência complementar para a manutenção da

qualidade de vida das pessoas e o papel da comunicação no

avanço do fortalecimento do grupo de formadores de opinião

pública e influência que integra o Sistema.

Queremos, entretanto, registrar que neste cenário, mais

recentemente, à comunicação veio se somar a educação,

como instrumento para tornar os conceitos de Previdência

Complementar ainda mais didáticos e acessíveis ao cidadão.

Mesmo que cada fundo de pensão use modelos próprios

para se relacionarem com seus participantes, existe uma

essência e uma mensagem da qual todos compartilham:

plano previdenciário é uma decisão inteligente, de longo

prazo, que permite gerar condições propícias à qualidade

e à sustentabilidade de vida.

A expressão sustentabilidade – é importante que se

esclareça antecipadamente – aqui não se restringe ao

sentido financeiro, de acumulação e lucro. Ela se refere

principalmente ao conceito de equilíbrio, à capacidade de

manutenção de um estado por tempo indefinido, mesmo

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diante de alterações e adversidades do contexto3. Do que é

possível deduzir: tudo o que não é sustentável está sujeito ao

risco inexorável de perecer. Entendemos que essa

orientação é válida para a vida individual e coletiva, para os

planos previdenciários e para todo o Sistema de Previdência

Complementar.

Sistema – para o biólogo austríaco Ludvwig Von

Bertalanffy, responsável pela elaboração da Teoria Geral dos

Sistemas – pressupõe a interrelação e a interdependência

dos componentes de uma totalidade integrada. Bertalanffy

caracteriza sistema como um conjunto de elementos

articulados, interagindo segundo objetivos comuns4.

Por esse motivo, entendemos e reiteramos que tudo o

que acontece por decisão na instância individual, tem

impacto nas demais instâncias dessa cadeia do Sistema de

Previdência Complementar: indivíduo, família, patrocinador,

entidade, fiscalizadores, mercado, mídia, comunidade,

sociedade, governo e vice-versa.

De imediato, o maior salto evolutivo na percepção da

importância da comunicação para o Sistema foi resultado de

muito trabalho e reflexo direto de determinações legais. Isso

demonstra, primeiramente, que em muitas situações a

3 Diversos autores. Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais. Rio

de Janeiro. Thex Editora, 2002. 4 BERTALANFFY, L.V. Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis. Vozes,

1975.

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interferência oficial na administração privada pode

salvaguardar boas práticas consolidadas, protegendo-as de

possíveis decisões precipitadas de alguns gestores que

ainda não reconhecem ou entendem de forma distorcida, o

papel da comunicação em suas entidades. Em outras

palavras: as leis impedem retrocessos nas práticas de

comunicação. Aponta, em segundo lugar, para uma

corresponsabilidade inalienável de a esfera oficial continuar a

desenvolver mecanismos que possam indicar caminhos, o

que quer dizer: estabelecer diretrizes capazes de propiciar

condições para que mais e mais brasileiros possam

realmente decidir e optar por investir suas reservas

financeiras em um plano previdenciário.

Assim, comemoramos a publicação do Guia PREVIC –

Melhores práticas em fundos de pensão5 que avança mais

um passo e inclui instruções próprias de comunicação e

educação previdenciária no capítulo destinado a discutir

Governança. Atribui à Diretoria Executiva o papel de zelar

pela comunicação da EFPC.

A Diretoria Executiva deve exercer suas atribuições em conformidade com a política de administração traçada pelo Conselho Deliberativo. A comunicação a conselheiros, patrocinadores, instituidores, participantes e

5 Guia PREVIC – Melhores práticas em fundos de pensão. Brasília,

2010

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assistidos está entre suas principais atribuições, destacando-se que as informações devem ser prestadas de forma regular e imediata. A transparência da gestão agrega valor ao trabalho realizado e tem impacto positivo nos resultados dos planos de benefícios. A comunicação e divulgação de relatórios a conselheiros, patrocinadores, instituidores, participantes e assistidos deve ser feita em linguagem clara e acessível, utilizando-se de meios adequados, com informações sobre as políticas de investimentos, as premissas e hipóteses atuariais, a situação econômica e financeira, bem como os custos incorridos na administração dos planos de benefícios. A EFPC deve informar, ainda, sempre que solicitada pelos interessados, a situação de cada participante ou assistido perante seu plano de benefícios.

Entretanto, como assumimos também o papel crítico

diante desse cenário, devemos considerar um risco na

interpretação da proposta oficial: o fluxo de comunicação se

tornar unidirecional (da PREVIC para as EFPC e das EFPC

para seus públicos de interesse) quando uma de suas

qualidades mais importantes é a multidimensionalidade, a

interação, o diálogo permanente. Talvez essa seja a primeira

brecha para se imaginar mecanismos de registro de opinião e

feedback do qual o Sistema de Previdência Complementar

necessitará para, inclusive, avaliar a efetividade e resultados

de sua intenção.

Por isso, pretendemos apresentar aqui uma reflexão

polifônica, que associa e combina diferentes vozes do

Sistema de Previdência Complementar, entretanto com um

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escopo restrito aos limites de um trabalho monográfico.

Reconhecemos que ainda há muito a se considerar –

notadamente do ponto de vista do participante, do

trabalhador, da sociedade e da mídia. Mas que essa

incompletude seja um incentivo e um convite para que mais

profissionais se debrucem sobre o tema que, por sua riqueza,

pode beneficiar tanta gente.

Mapeamento da estrutura e conteúdo

Estruturada em quatro partes, esta monografia tem

início com a construção de um cenário pelo qual são revistos

alguns dos marcos legais mais significativos para a

comunicação em Previdência Complementar e que deram

origem e desencadearam a educação previdenciária no

Brasil.

Em seguida, apresenta importantes ações de educação

financeira e previdenciária em diferentes segmentos: público,

público-privado e privado, para ilustrar o que foi criado em

atendimento às leis e as estratégias que as entidades

utilizam para sensibilizar participantes e a sociedade.

Recupera ainda uma linha histórica que demonstra a

evolução das tecnologias de ensino, comentando seus

reflexos para a gradual introdução dos valores e princípios

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éticos no programa de compreensão e transformação do ser

humano.

Depois, mostra como ações efetivas dão bases para a

proposição de uma alternativa teórica que visa a expansão

do Sistema de Previdência Complementar. E a viabilidade

dessas novas possibilidades é efetivamente demonstrada por

meio de uma iniciativa nova do Sistema que surge para

estender a proteção de um plano previdenciário a pelo

menos 80 mil novos integrantes e dar condições para que a

comunicação e a educação previdenciária se estabeleçam

como cultura, difundindo e transformando consciência em

decisão cidadã.

Para encerrar, descreve nossa visão de futuro nos

caminhos da comunicação como instrumento de

transformação econômica e social. Essa é nossa forma de

reafirmar nossa esperança nessa construção conjunta com a

qual pretendemos contribuir sempre.

Selecionamos um quadro de referências, mas

utilizamos como fonte entrevistas com profissionais de

destaque no mercado, que antecipamos tanto o registro

quanto a pertinência.

Adacir Reis – coordenador do Centro de Estudos

Jurídicos da Previdência Complementar – CEJUPREV e

advogado do escritório Reis, Torres & Florêncio Advocacia –

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contribui com informações para a formulação do panorama

sobre as tendências na difusão da Previdência

Complementar no Brasil.

Ausônia Favorido Donato – educadora, mestre em

educação e doutora em saúde pública pela Universidade de

São Paulo. Diretora do Núcleo de Formação e

Desenvolvimento Profissional do Instituto de Saúde da

Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e diretora

pedagógica do Colégio Equipe – fala sobre as questões que

envolvem o ato de educar e a pedagogia de ensino.

Danielle Schmidt Foletto Xavier – administradora de

empresas, gerente de Atendimento e Comunicação da Previg

– Sociedade de Previdência Complementar – que permitiu o

acesso a dados da pesquisa Programas de Educação

Financeira e Previdenciária – Evidências em Fundos de

Pensão no Brasil, realizada para o curso de Especialização

em Gestão da Previdência Privada do Complexo de Ensino

Superior de Santa Catarina – CESUSC. Os resultados são

expressivos em estatísticas e análises, utilizadas na

fundamentação de parte de nossas reflexões.

Devanir Silva – Superintendente Geral da Associação

Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência

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Complementar - ABRAPP que contribuiu com nossa reflexão

final, falando sobre comunicação e expansão do Sistema de

Previdência Complementar.

Felinto Sernache Coelho Filho – diretor da Towers

Watson – participa na formulação dessa visão dos recursos

que podem auxiliar para a formação desse imaginário e

distinguir os participantes dos planos previdenciários na

sociedade brasileira.

Ivan Sant’Ana Ernandes – atuário, consultor, professor

da Pontifícia Universidade Católica (PUC/MG), tutor do

Programa de Educação ABRAPP e coautor do livro Atuária

para Não Atuários – esclarece aspectos teóricos e estruturais

específicos do Sistema de Previdência Complementar

Paulo Roberto Pisauro – diretor superintendente da

Votorantim Prev, plano de previdência complementar da

Fundação Senador José Ermírio de Moraes – Funsejem –

explica o impacto positivo e competente de uma decisão

técnica inédita daquela EFPC para o Sistema de Previdência

Complementar.

Assim, procuramos atender à sugestão do Guia de

Melhores Práticas da PREVIC, no sentido de:

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[...] reunir informações importantes e relevantes para todos os fundos de pensão, independentemente de seu porte, de sua forma de gestão – seja interna, externa ou mista – das modalidades de planos de benefícios administrados, das diferenças regionais, da natureza dos patrocinadores e dos instituidores,

ou de qualquer outra particularidade.

Por uma questão de coerência, queremos, finalmente,

estender nossas considerações e análises também aos

órgãos oficiais e à mídia, que tanto podem contribuir para

a difusão e o aprimoramento do diálogo sobre o Sistema

de Previdência Complementar no país.

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TUDO MUDA O TEMPO TODO NO MUNDO

Além da retórica

Ampliar o acesso à Previdência Complementar deve ser

o alicerce fundamental de uma política para que os cidadãos

conheçam, participem e se tornem formadores de opinião

criticamente construtiva a um serviço que pode garantir

inclusão social, qualidade, dignidade e sustentabilidade para

a vida das pessoas. Daí a importância de propostas

democráticas para criar mecanismos que possibilitem à

Previdência Complementar ser entendida, defendida e

desejável por todas as camadas da sociedade

indistintamente.

Trata-se, sem dúvida, de uma meta ambiciosa. O

Sistema de Previdência Complementar no Brasil conta com

2,5 milhões de participantes6, apesar de seu potencial para

contemplar 17 milhões7! Mas estamos avançando. A decisão

6 Relatório de Atividades 2009 Previc. Brasília: Superintendência

Nacional de Previdência Complementar (Previc), 2010, p. 8. 7 Seminário de Educação Previdenciária (24 de julho de 2010), dado

apresentado por Edevaldo Fernandes da Silva, diretor de assuntos atuariais e econômicos da Previc. disponível em www.abrapp.org.br/apoio/teasers/previc/sp23/1.Edevaldo%20Fernandes%20da%20Silva_PREVIC.pps#388,28,Educação Previdenciária. Consultado em agosto de 2010.

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do governo federal para estimular a previdência associativa

fez com que 100 mil novos participantes – advogados,

atuários, comerciários, dentistas, atores, músicos, artistas,

entre outros – e R$ 320 milhões fossem injetados no Sistema

de Previdência Complementar, por meio de planos

instituídos8.

Mais pessoas cobertas e amparadas revitalizam e

fortalecem o Sistema. E esse número – dadas as

expectativas otimistas da economia para os próximos anos –

deverá ser muito maior, considerando a ampliação da oferta

de postos formais de trabalho para atender às demandas

geradas pelo desenvolvimento das áreas de infraestrutura e

serviços. É preciso considerar que só a BM&F Bovespa “está

trabalhando para se tornar a segunda bolsa do mundo em

valor de mercado até 2012, na concorrência pelo posto de

novo centro financeiro global, que tem sido acirrada entre os

países do grupo BRIC”9.

Entretanto, o objetivo real da BM&F, Anbima e

Febraban é “transformar São Paulo na plataforma de

negócios dos mercados latinoamericanos, para cultivar

acordos que facilitem a atração de investidores internacionais

8 Previdência em questão n° 16 – Informativo eletrônico do Ministério da

Previdência Social. Disponível em www.abrapp.org.br/ppub/arquivos/destaque/previdencia-em-questao-n116.pdf 9 Projeto Ômega. Pólo financeiro global no Brasil. Revista Fundos de

Pensão. ABRAPP, maio 2010, p. 53.

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para a negociação no Brasil e para criar novas oportunidades

e produtos que levem as companhias e os investidores

brasileiros às principais praças do mundo”10.

Com base nesses fatos consideramos pertinente

formular, aqui, algumas questões cujas respostas envolvem

diretamente uma reflexão sobre a evolução do trabalho de

comunicação junto a todos os atores do Sistema de

Previdência Complementar.

Os novos e os demais participantes do Sistema, que hoje

somam 2,5 milhões de trabalhadores, já podem ser

considerados formadores de opinião, potenciais

defensores e promotores de um serviço tão fundamental à

sustentabilidade das suas e das vidas de suas famílias?

Os participantes do Sistema de Previdência

Complementar entendem como cada Real investido no

plano previdenciário – seja próprio, seja por meio do

patrocinador – significa mais empregos, mais

desenvolvimento para o país?

Os participantes do Sistema de Previdência

Complementar conseguem entender e reafirmar sua

convicção nas vantagens de um investimento de longo

10

Idem

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prazo, ainda que permanentemente expostos a políticas

de incentivo ao consumo?

Estudos e pesquisas promovidos pela Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE

demonstram que, em todo o mundo, o conhecimento

financeiro é muito restrito11 e, no Brasil, esse quadro não é

diferente. O seminário A Estrutura de Previdência na Europa,

realizado em junho de 2010, evidenciou que, de forma geral,

os participantes deixam de acompanhar os resultados do

Sistema, por não se sentirem informados12!

Em uma economia equilibrada, partimos do princípio que a Renda recebida não é totalmente utilizada para o Consumo, sendo assim, é um excedente de recursos que chamamos de Poupança

13.

Por isso, acreditamos que diferentes, porém

convergentes, políticas deverão ser elaboradas e

implementadas para estimular a difusão do conceito e dos

valores próprios da Previdência Complementar em amplitude,

favorecendo a mais e mais brasileiros a consciência sobre

11

PINHEIRO, R. P. Educação financeira e previdenciária, a nova fronteira dos fundos de pensão. Disponível em www.previdenciasocial.gov.br/arquivos/office/3_090420-113416-244pdf.Consultado em junho de 2010. 12

Sintonia da Notícia – 14 de junho de 2010. 13

Cartilha de educação financeira e previdenciária. Associação Brasileira de Educação Financeira (ABEF) - 2ª edição, p. 14

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seu compromisso com a construção de mecanismos de

proteção e sustentação para sua própria vida e de sua

família, do significado de poupança interna, nos

investimentos de longo prazo para o investidor individual, o

cidadão, e para toda a sociedade. De acordo com Felinto

Sarnache, consultor da Towers Watson: “O crescimento

sustentável do Brasil só se viabiliza através de uma forte

poupança interna que, em boa parte, advém dos Fundos de

Pensão e dos investimentos de longo prazo”14.

O crescimento do Sistema de Previdência

complementar é um desafio gigantesco para a comunicação!

E depende de uma série de interfaces que precisam ser

estabelecidas com outras áreas do conhecimento: educação,

direito, economia, atuária, ciências contábeis, auditoria,

administração pública. É um exercício de muitos para

inúmeros! É um convite e um compromisso que se

estabelece entre todos aqueles que possam assumir a

dianteira nesse processo de construção permanente.

14

Os caminhos para fomentar a Previdência Complementar no Brasil. Revista Fundos de Pensão. ABRAPP, julho 2010, p. 10

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Sem referência

Na década de 1980, as palavras sustentabilidade,

responsabilidade social, proteção ambiental,

empreendedorismo praticamente não figuravam no

vocabulário e no discurso nacional. Naquela época, o Brasil

experimentava um longo processo de crescimento

econômico, que favoreceu a consolidação do Sistema

Previdenciário e incentivou a formalização das relações de

trabalho.

Entretanto, na década seguinte, o país foi obrigado a

enfrentar fraco crescimento econômico, desemprego,

privatizações, informalidade do mercado de trabalho,

deterioração salarial15. Essas mudanças e instabilidades do

cenário econômico, político e social determinaram as

condições para que instituições, especialmente as não

governamentais, passassem a ter uma atuação mais

presente junto às camadas desfavorecidas da sociedade,

conquistando credibilidade e representatividade em

diferentes instâncias: educativa, política, social, empresarial.

Além disso, essas instituições foram responsáveis e tiveram

15

É imperioso formalizar e ampliar o mercado de trabalho. Série: A reforma da previdência. Revista Fundos de Pensão. ABRAPP, maio de 2010, p. 22.

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o mérito de integrar como prática efetiva à realidade das

pessoas aqueles conceitos até então pouco conhecidos.

Fatos dessa natureza sugerem que as necessidades

sociais são corresponsáveis por determinar as

transformações comportamentais, culturais e mais: fazer

incorporar e naturalizar temas no cotidiano das pessoas,

agregando e ampliando as noções de cidadania,

emancipação e protagonismo social. Entidades como o

Instituto Ethos e o Centro de Referência Akatu, por exemplo,

foram fundamentais para estabelecer interface e aproximar

diferentes segmentos da sociedade, tanto em nível nacional,

quanto internacional, atuando para solucionar problemas

sociais em escala16.

Hoje, o país enfrenta outra realidade. Por meio de

diferentes decisões, o governo encabeçou uma política

econômica que gradativamente possibilitou a inclusão e o

acesso a bens de consumo para as classes C e D, gerando

demandas para a indústria e para o comércio. Com base em

fontes como a Fundação Getúlio Vargas - FGV, o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a Revista Exame

publicou em julho o que chama de nova pirâmide do

consumo brasileiro, na qual demonstra e projeta o

crescimento para os próximos anos.

16

BORNSTEIN. D. Como mudar o mundo – empreendedores sociais e o poder das novas idéias. Rio de Janeiro. Record, 2006.

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24

Fonte: Revista Exame – 28 de julho de 2010

Aquecimento da economia por meio de estímulo ao

consumo. Mesmo diante de um cenário de crise que o mundo

enfrentou em 2008, o governo federal sustentou uma política

de redução de impostos (Imposto sobre Produtos

Industrializado – IPI) para carros, motos, móveis,

eletrodomésticos, materiais de construção, como estratégia

para manter os postos de trabalho nas indústrias.

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O consumo contribui claramente para o desenvolvimento humano quando aumenta as suas capacidades, sem afetar adversamente o bem-estar coletivo, quando é tão favorável para as gerações futuras como para as presentes, quando respeita a capacidade de suporte do planeta e quando encoraja a emergência de comunidades dinâmicas e criativas

17.

Em reação, a demanda para o consumo cresceu. O

governo federal ainda está comemorando o crescimento dos

postos formais do mercado de trabalho. A superação da crise

pelo Brasil foi considerada modelo para outros países no

mundo. Brasileiros e todo o mercado financeiro estão

otimistas com a estabilização da economia e com as

expectativas de maiores investimentos externos, que

significarão desenvolvimento de infraestrutura e em demais

segmentos da economia.

Essa é a pauta que, diariamente, os telejornais e todos

os canais de comunicação transformam em notícias

consumidas pelos cidadãos do país. Mescladas às

propagandas de oferta de telefonia móvel, automóveis,

eletrodomésticos, imóveis, cervejas, é assim que o brasileiro

vai criando referências para lidar com o seu próprio dinheiro.

Mas o risco desse formato de economia é o

desencadeamento do consumismo, que diz respeito ao

17

FELDMAN, F. Consumismo. In TRIGUEIRO, A. (coord.) Meio ambiente no século 21. www.autoresassociados.com.br

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excesso, ao supérfluo, ao exagero, sem a consciência sobre

os impactos dessa atitude desequilibrada, provocando danos

à própria economia, ao meio ambiente, ao sistema financeiro

e às demais instâncias sociais.

É inegável a suscetibilidade das pessoas aos apelos

para o exercício de liberdade de escolha que

necessariamente significa consumo, associado ao aumento

da oferta de crédito pessoal. Entretanto, essa fórmula, apesar

de festejada, tem também se mostrado nociva. De acordo

com pesquisa da Confederação Nacional do Comércio, o

brasileiro, despreparado para atuar no mercado de consumo

de forma equilibrada, disciplinada, previdente, terminou

contraindo uma série de dívidas além de sua capacidade

financeira para fazer frente a esses compromissos, o que foi

responsável por gerar considerável e significativo aumento

da inadimplência18.

[A ausência de poupança interna] impede que o Brasi tenha um crescimento similar ao da China, por exemplo, embora o país tenha fundamentos econômicos sólidos. A questão é que o crescimento brasileiro é baseado no consumo, que é muito incentivado. “O governo estimula o consumo e o PIB aumenta. Depois o próprio

18

Seminário de Educação Previdenciária (24 de julho de 2010), dados apresentados por José Ribeiro Pena Neto, diretor vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades de Previdência Complementar - ABRAPP, disponível em http://www.abrapp.org.br/ Consultado em agosto de 2010.

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governo aumenta a taxa de juros para frear o consumo e conter a pressão inflacionária. Nós vivemos nesse ciclo há mais de vinte anos. Precisamos fazer a conta certa da equação e incentivar a poupança”

19.

Essa situação de desequilíbrio decorre também da

parcialidade no acesso a informação, a que os brasileiros são

expostos e de uma desinformação sobre educação financeira

e previdenciária. Acreditamos, evidentemente, que essa é

uma grande oportunidade para o Sistema fazer um

contraponto no discurso de incentivo ao consumo, mostrando

os benefícios de uma atitude mais responsável e equilibrada

em relação à administração de recursos financeiros.

Como principais atores e porta-vozes do Sistema, é

fundamental reconhecermos que ainda não desenvolvemos

com efetividade a compreensão sobre a necessidade de

disciplina financeira que permita compatibilizar o orçamento

doméstico com uma reserva financeira para proteger,

especialmente durante a aposentadoria, a capacidade de

consumo do cidadão. Disciplina, rigor, critério, sensatez com

o dinheiro são conceitos ainda deficientes na cultura

previdenciária do brasileiro. Por isso, consideramos válida

toda iniciativa que atue para sensibilizar e gerar mobilização

da atenção das pessoas para uma experiência mais

19

Os caminhos para fomentar a Previdência Complementar no Brasil. Revista Fundos de Pensão. ABRAPP, julho 2010, p. 10

Page 30: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

28

sustentável em relação à sua própria capacidade financeira e

de consumo.

O futuro não é duvidoso: tem riscos e oportunidades

O Sistema de Previdência Complementar no Brasil tem

se tornado cada vez mais sólido e transparente, graças às

contínuas atualizações de suas normas de procedimentos

técnicos, instrumentos de gestão, princípios contábeis,

revisões atuariais, fiscalizações e regulamentações.

Os objetivos dessas evoluções permanentes são

favorecer o aumento do nível de confiança do participante na

administração de seus recursos, prevenir riscos de diferentes

categorias e potencializar a performance dos investimentos

feitos em Previdência Complementar. E os resultados são

expressivos.

Apesar do aprimoramento normativo ter sido iniciado há apenas alguns anos, a dedicação dos diferentes atores ao fomento do setor já tem dado frutos. Desde 2002, a Previdência Complementar, que possuía aproximadamente 1.800 patrocinadores, passou a contar com cerca de 2.700 e, daqui para a frente, a expectativa é que o ambiente se desenvolva cada vez mais, sobretudo em face da criação da Superintendência Nacional de Previdência Complementar.

O aperfeiçoamento do Sistema tem atribuído ao modelo

de Previdência Complementar brasileiro status reconhecido

Page 31: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

29

internacionalmente e a administração de fundos de pensão

está atraindo cada vez mais a atenção de importantes

formadores de opinião, como a prestigiada revista inglesa

World Finance que, em 2010, concedeu à Fundação CESP o

prêmio de melhor fundo de pensão do país20. No início de

julho, a Entidade sediou ainda um importante encontro com

representantes da Superintendência Nacional de Previdência

Complementar – PREVIC, com a finalidade de tratar da

política de gestão de riscos do fundo de pensão, estabelecida

para monitorar e gerenciar riscos operacionais, de

investimentos, legais, atuariais, estratégicos e também os

riscos de imagem aos quais a entidade está sujeita. A

metodologia e os resultados também foram mostrados a uma

equipe de consultores do Banco Mundial, que presta serviços

para a PREVIC sobre o sistema de Supervisão Baseada em

Riscos - SBR21.

A SBR verifica a exposição a riscos e os controles

sobre eles, atua sobre as origens dos riscos e induz uma

gestão proativa das entidades. A análise e avaliação das

adversidades e das oportunidades, observadas em cenários

futuros, contribuem para a formação de uma visão ampla do

Sistema de Previdência Complementar Fechado e do

20

Fundação CESP: um olhar para o futuro. Jornal Bem-Estar n° 193 – fevereiro/março de 2010 21

Panorama Brasil – DCI – julho de 2010

Page 32: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

30

ambiente em que este se insere, visando sua estabilidade e

solidez22.

A SBR é um avanço que indubitavelmente demonstra,

na área de gestão de recursos financeiros, a considerável

mudança de imagem e percepção dos fundos de pensão ao

longo do tempo, com uma superação inquestionável de uma

série de preconceitos e mitos em relação a ingerências

administrativas.

A tangibilidade e intangibilidade dos valores

Entretanto, como bem sabemos, apesar de todos os

esforços já realizados o Sistema de Previdência

Complementar ainda está exposto a incontáveis variáveis.

Estamos em tempos de aprender a identificar e minimizar

riscos intrínseca e sistemicamente relacionados aos cenários

econômicos. É preciso reconhecer que, pelo modelo de

comunicação que as EFPC adotaram, os participantes, o

mercado e a mídia aprenderam a reconhecer e entender

principalmente os superávits dos planos previdenciários.

Mas e os déficits a que um investidor institucional está

sujeito, inclusive, aqueles motivados por impactos

imprevisíveis até nos mais precisos estudos de cenários

22

Guia PREVIC – Melhores práticas em fundos de pensão. Brasília. Superintendência Nacional de Previdência Complementar. 2010, p.12

Page 33: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

31

macroeconômicos? Em 2010, por exemplo, a erupção de um

vulcão na Islândia, um fenômeno natural, espontâneo e

inesperado, provocou um caos inimaginável para as

companhias de transportes aéreos e para o sistema

financeiro. Os riscos inerentes à economia são incontáveis. O

acidente na plataforma de petróleo no México é outro

exemplo que subverte qualquer projeção macroeconômica

elaborada para subsidiar decisões de investimento. Por tudo

isso, os participantes precisam entender essas regras.

E, se os riscos são reais, as oportunidades também

existem. Há alguns anos, imaginar o incremento do poder

aquisitivo das classes C e D era um quadro totalmente

inverossímil na sociedade brasileira. Hoje, além de grandes

varejistas, bancos como o Bradesco e o Santander têm

projetos para ampliar as bem sucedidas iniciativas de instalar

suas agências em comunidades como Paraisópolis e

Heliópolis (São Paulo), Morro do Alemão (Rio de Janeiro) e

periferia de Brasília23. A TIM, depois de fazer sucesso no

mercado com o plano de voz pré-pago, direcionou seu foco

para o serviço de dados e lançou o pacote pré-pago Infinity

Web que, por R$ 0,50/dia, oferece acesso à internet, sem

restrições de sites ou aplicativos, nas redes 2G e 3G. A

intenção é atingir usuários que utilizam lan houses, isto é,

23

Folha de S. Paulo – 25 de maio de 2010

Page 34: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

32

cuja maior demanda se concentra na classe C24. Isso

significa uma aposta na viabilidade econômica, emancipação

e autonomia desses segmentos sociais.

Para nós, esses fatos indicam que as tendências para o

futuro podem não ser duvidosas, mas mudam sempre. Pela

perspectiva da comunicação, conquistamos uma evolução

indiscutível em credibilidade e competência administrativa e

financeira. Mas ainda estamos expostos ao risco de

resultados parciais neste processo porque deixamos escapar

a oportunidade de compartilhar o conhecimento sobre

conceitos inerentes à Previdência Complementar: equilíbrio,

disciplina, transparência, sustentabilidade, construção do

futuro.

Comunicar não é apenas o que se diz. É exatamente aquilo que o nosso interlocutor entende, aquilo que ele compreende. Para crescer, o Sistema de Previdência precisa fornecer a divulgação de mensagens preferenciais, que contribuam para a construção de imagem positiva junto a seus públicos de maior interesse

25.

Ainda que se queira enfatizar a natureza financeira da

atividade das EFPC, existem caminhos para elucidar suas

24

www.portalexame.abril.com.br/tecnologia/noticia/tim-mira-classe-c-libera-internet-ilimitada. Consultado em agosto de 2010 25

BRAVI, M. Comunicação e relacionamento – diferenciais estratégicos de gestão. In Administração Geral I. São Paulo. Programa de Educação ABRAPP, 2010

Page 35: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

33

características específicas, sem prejuízo para os demais

traços que distinguem essa modalidade de investimento.

Para Geraldo Magela, consultor sênior da área de

Previdência da Mercer, investir em comunicação é uma

decisão acertada. “O plano de pensão é um mecanismo de

investimento e deve ser tratado como tal. Quando as

pessoas enxergam isso, o plano passa a competir pelo

dinheiro que está na carteira do indivíduo26. Segundo o

consultor, os processos de comunicação entre as EFPC e o

participante também precisam ser revistos e aprimorados.

Quem trabalha no sistema tende a acreditar que o participante precisa entender o plano a fundo e isso não é verdade. O que ele precisa entender são as linhas gerais do plano, seus direitos, deveres e as vantagens que advêm daquele contrato

27.

Aprimorar os sistemas de difusão da informação e

reorganizar as mensagens sobre planos previdenciários,

demonstrar a cadeia de valor envolvida numa atitude

previdenciária são oportunidades de intenso trabalho para a

comunicação contribuir com projetos de vida individuais e

coletivos. Temos que nos preparar para subsidiar

plataformas de comunicação e educação previdenciária.

26

Os caminhos para fomentar a Previdência Complementar no Brasil. Revista Fundos de Pensão. ABRAPP, julho 2010, p. 11 27

Idem

Page 36: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

34

Acreditamos que esse trabalho deverá sustentar decisões

equilibradas, determinantes para um futuro com qualidade de

vida para o participante, desenvolvimento dos

patrocinadores, do país e de toda a sociedade.

Incentivo das leis à comunicação e à educação

previdenciária

As leis oferecem respaldo para um impulso que surge

na sociedade, catalisando demandas coletivas, determinando

e sugerindo caminhos para o aperfeiçoamento dessa relação

que se estabelece entre os atores do Sistema de Previdência

Complementar: participantes, patrocinadores e entidades.

Os marcos cronológicos que selecionamos e

apresentamos aqui revelam a construção de um processo de

adoção das melhores práticas do mercado. Podemos notar

que o texto dos primeiros documentos se dedicaram a tratar

genericamente da comunicação mas, posteriormente,

especificar a pauta de educação previdenciária junto aos

diferentes públicos que integram este cenário.

O quadro que estruturamos mostra a síntese das

decisões que consideramos responsáveis por uma série de

instrumentos que têm evidenciado a comunicação e a

educação, entendidas como objeto de planejamentos

estratégicos, planos de gestão administrativa, políticas de

Page 37: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

35

gestão de riscos, políticas de recursos humanos, manuais de

governança corporativa, códigos de ética e tantos outros

instrumentos utilizados pelas EFPC para se relacionar com

seus públicos de interesse.

HISTÓRICO DE DECISÕES OFICIAIS

Data Documento

1° de setembro de 2004

Resolução CGPC n° 13 Trata principalmente de governança, mas já evidencia a importância de informar e esclarecer as regras da EFPC aos participantes, para garantir a continuidade do negócio e de todo o sistema.

6 de dezembro de 2006

Resolução CGPC n° 23 Trata do conjunto de informações que deverá anualmente ser transformado em relatório de prestação de contas aos participantes (produzido em formato impresso).

28 de abril de 2008 Recomendação CGPC n° 1 Trata especificamente do programa de educação previdenciária.

4 de setembro de 2009

Instrução Normativa MPS/SPC n° 32 Libera a EFPC do envio do relatório impresso de prestação de contas (em formato impresso), desde que a entidade execute um programa plurianual de educação previdenciária.

É importante detalhar alguns aspectos desse conjunto

de determinações, para esclarecer como as leis foram

Page 38: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

36

contribuindo para consolidar práticas de comunicação e

transformar a cultura previdenciária nas EFPC.

Governança e sustentabilidade do negócio

A Resolução CGPC n° 13 – de 1° de setembro de 2004

– foi instituída para determinar as práticas que garantissem a

sustentabilidade das EFPC e defender valores como

transparência e ética na gestão administrativa dos ativos

previdenciários. Além disso, o texto propõe avanços ao

Sistema, defendendo o desenvolvimento de uma cultura

interna, capaz de atribuir importância e integrar de forma

generalizada os controles internos às diferentes rotinas

operacionais e instâncias hierárquicas.

Parágrafo único. É recomendável a instituição de código de ética e conduta e sua ampla divulgação, inclusive aos participantes e assistidos e às partes relacionadas, assegurando-se o seu cumprimento

28.

O mesmo documento trata ainda da gestão de riscos,

entre os quais estão incluídos os riscos de imagem, aos

quais se relaciona a comunicação com os diferentes públicos

de interesse – participantes, patrocinadores, opinião pública,

e os meios de comunicação de massa. A Resolução CGPC

28

Resolução CGPC n° 13 – Artigo 3°. Destaque nosso.

Page 39: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

37

n° 13 explicita também as diretrizes em relação à clareza da

abordagem do conteúdo que deverá ser divulgado aos

públicos de interesse:

Art. 17. Sem prejuízo do disposto em normas específicas, a comunicação com os participantes e assistidos deve ser em linguagem clara e acessível, utilizando-se de meios apropriados, com informações circunstanciadas sobre a saúde financeira e atuarial do plano, os custos incorridos e os objetivos traçados, bem como, sempre que solicitado pelos interessados, sobre a situação individual perante o plano de benefícios de que participam29.

Relatório anual de informações aos participantes

Dois anos depois de ter definido as premissas de

governança corporativa para as EFPC, o Conselho de

Gestão de Previdência Complementar (CGPC) publica sua

Resolução n° 23, em 6 de dezembro de 2006, pela qual

passa a tratar especificamente da divulgação de informações

aos participantes e assistidos dos planos previdenciários.

O CGPC determina, então, a entrega – especialmente

aos novos participantes do Sistema – de documentos

importantes como regulamentos, estatutos, certificado e

29

Idem. Artigo 17°. Destaque nosso.

Page 40: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

38

material explicativo descrevendo em linguagem simples e

precisa as características do plano. O artigo 2° daquele

documento também prevê a necessidade de manter o

participante permanentemente informado sobre as

atualizações feitas ao plano.

Entretanto, o principal foco daquela Resolução é a

determinação da elaboração periódica do Relatório Anual de

Informações que devem ser prestadas à então Secretaria de

Previdência Complementar (SPC) e também aos

participantes.

Art. 4°. O relatório anual de informações referido no art. 3° deverá ser encaminhado em meio impresso aos participantes e assistidos até o dia 30 de abril do ano subseqüente a que se referir

30.

A implantação da Resolução CGPC n° 23, todavia, fez

com que as entidades se deparassem com dois problemas: o

primeiro deles era a divulgação obrigatória de informações de

nível excessivamente técnico, o que impedia o entendimento

do relatório pelos participantes do Sistema. O segundo, o

encarecimento da produção do relatório, uma vez que era

exigido o envio de versão impressa, demandando

investimentos em projetos editorial e gráfico além de

postagem.

30

Resolução CGPC n° 23. Destaque nosso.

Page 41: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

39

Apesar do detalhamento das informações que

demonstravam a transparência e o cumprimento de metas

administrativas, os participantes passaram a questionar e até

mesmo recusar o recebimento do relatório, uma vez que não

conseguiam compreender o conteúdo informado.

Educação previdenciária: primeiro passo é dado em 2008

Em abril de 2008, o Conselho de Gestão de Previdência

Complementar (CGPC), por meio de sua Recomendação n°

1, decidiu sugerir à Secretaria de Previdência Complementar

(SPC) a elaboração de um Programa de Educação

Previdenciária, para compatibilizar as atividades de

Previdência Complementar com as políticas previdenciárias e

de desenvolvimento socioeconômico, e ainda garantir aos

participantes do Sistema mais acesso a informações sobre a

gestão de seus planos de benefícios.

As principais características desse Programa de

Educação Previdenciária contemplavam um trabalho

plurianual, realizado individualmente ou com outros órgãos

governamentais. Além disso, também caberia à SPC

incentivar que as EFPC passassem a adotar ações de

educação previdenciária em três níveis diferentes de

atuação: 1) informação: fornecendo fatos, dados e

conhecimentos específicos; 2) instrução: desenvolvendo

Page 42: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

40

habilidades necessárias para a compreensão de termos e

conceitos por meio de treinamentos; 3) orientação:

conciliando meios gerais e específicos para o melhor uso e

aproveitamento das informações recebidas.

As ações de educação previdenciária deveriam

contemplar participantes, assistidos e seus beneficiários e

caberia à SPC relatar anualmente os resultados obtidos com

esse trabalho. Queremos destacar nessa Recomendação a

primeira interface que se estabelece entre os campos da

Comunicação e da Educação. Esse documento dá origem e

alavanca, definitivamente, inúmeros processos de

comunicação e educação que as EFPC passam a

desenvolver junto a seus públicos de interesse.

Um processo em negociação

Em setembro de 2009, uma decisão da Secretaria de

Previdência Complementar do Ministério de Previdência

Social veio apoiar e confirmar a necessidade imediata de se

implantar a educação previdenciária entre os participantes do

Sistema e difundir esses conceitos para toda a sociedade,

reiterando o papel e a interface da comunicação nesse

processo.

Para isso, a SPC publicou a Instrução MPS/SPC n° 32

e flexibilizou o envio da versão impressa do Relatório de

Page 43: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

41

Informações para as EFPC que tivessem seu programa de

educação financeira e previdenciária aprovado pela referida

Secretaria.

Em linhas gerais, além de contemplar os níveis de

informação, instrução e orientação, o programa deve ainda

descrever os objetivos de cada ação, identificar por planos de

benefício os participantes e assistidos que serão trabalhados,

bem como os meios de comunicação utilizados, duração,

metas de implantação, cronograma de execução do

programa, descrição da metodologia de monitoramento e

avaliação de resultados.

Acreditamos que, mesmo envolvendo uma troca – o

relatório pelo programa – a decisão favoreceu o processo de

evolução da comunicação no Sistema porque estende sua

abrangência para a educação financeira e previdenciária de

forma sistematizada e permanente.

Também destacamos o detalhamento da decisão oficial

em relação aos aspectos técnicos do processo comunicativo,

no sentido de orientar a segmentação do público de interesse

para adequar a linguagem das mensagens e mais: testar sua

efetividade por meio de indicadores de resultado.

Sem dúvida, o processo avança gradativamente em

direção a um trabalho cada vez mais elaborado de

planejamento, gestão e avaliação da comunicação, buscando

a melhor difusão de informações, o esclarecimento sobre o

Page 44: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

42

Sistema e a formação de opinião e massa crítica e,

principalmente, a transformação de comportamentos sociais.

Acreditamos que o gerenciamento adequado e estratégico

dos processos de comunicação contribui também para a

formação de um patrimônio intangível que distingue a EFPC

por meio da reputação que ela conquista junto a seus

públicos de interesse e relacionamento.

Diferentes expressões

As leis desencadearam diferentes respostas do Sistema

de Previdência Complementar, que passou a buscar novos

caminhos para garantir além do entendimento, um

envolvimento do participante. Os efeitos dessa preocupação

foram previstos no Guia PREVIC – Melhores práticas em

fundos de pensão:

A descrição dos processos deve incluir a definição dos fluxos de informação entre os órgãos estatutários e aqueles constituídos por cada entidade. O volume, a forma, a periodicidade e o conteúdo das informações precisam ser suficientes para a melhor tomada de decisão e supervisão. Um programa de educação financeira e previdenciária dedicado a dirigentes, empregados, patrocinadores, instituidores participantes e assistidos tem efeitos positivos na qualidade da gestão. Dirigentes e empregados passam a deter habilidades e conhecimentos necessários ao desempenho de suas funções.

Page 45: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

43

Participantes e assistidos adquirem ferramentas úteis para o planejamento e o controle de sua vida econômica e financeira e se capacitam para o exercício de fiscalização e acompanhamento de seu plano previdenciário

31.

O Guia PREVIC também explicita alguns preceitos de

como se deve entender um programa de educação e a

comunicação nas EFPC:

O programa de educação financeira e previdenciária deve contemplar os três níveis recomendados e consolidados em guias internacionais de boas práticas: informação, formação e orientação. A comunicação ao participante e assistido, colocado em primeiro nível, deve, sempre que possível, ultrapassar o conteúdo mínimo estabelecido pela legislação. Os dados divulgados devem ser interpretados de modo que o participante ou o assistido tenha compreensão da situação econômica, financeira e patrimonial de seu plano de benefícios. A linguagem clara e adequada ao nível do conhecimento dos usuários deve traduzir os termos técnicos aplicáveis ao regime de previdência

32.

Por isso, consideramos interessante conhecer agora

algumas iniciativas importantes e que – pelas perspectivas

que adotamos – demonstram as diferentes vozes que estão

31

Guia PREVIC – Melhores Práticas em Fundos de Pensão. Brasília. Superintendência Nacional de Previdência Complementar. 2010, p. 17. Destaque nosso. 32

Idem.

Page 46: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

44

fazendo reverberar os conceitos previdenciários e financeiros

no país.

Entendemos que, para apresentar essas vozes, antes,

é pertinente propor uma analogia. A imagem que nos ocorre

é a de muitos músicos, afinando seus instrumentos para uma

apresentação majestosa de uma grandiosa sinfonia. O

público já ouviu a melodia, mas ainda falta memorizar e reter

muitos dos acordes e compassos que permitam desfrutar de

toda a beleza da obra. O maestro está a caminho. O

espetáculo está para começar.

Page 47: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

45

POLIFONIA DAS RESPOSTAS ÀS LEIS

Como recurso metodológico, realizamos um recorte que

evidencia as ações de comunicação produzidas pelo

Ministério da Previdência Social e pelo Sistema de

Previdência Complementar para difundir a educação

previdenciária. Essa estratégia foi adotada por

considerarmos a educação previdenciária uma oportunidade

sem precedentes no histórico de comunicação junto aos

participantes e à sociedade. Além disso, as mensagens de

educação previdenciária têm o objetivo específico comum de

construir um referencial informativo que subsidie uma maior

consciência do cidadão sobre a responsabilidade de suas

decisões em relação ao dinheiro. Por outra perspectiva,

essas mensagens dão início a um processo de

transformação da cultura financeira e social no país.

Esse recorte nos permitiu ainda encontrar,

especialmente em meio eletrônico, muitas iniciativas sobre o

mesmo tema, que utilizaremos aqui para ilustrar nossa

reflexão. Não se trata de estabelecer comparativos, mas uma

uniformização temática que nos permita identificar e alinhar o

teor dessa produção. Com base nesse levantamento,

pudemos traçar algumas considerações que imaginamos

contribuir para essa construção conjunta.

Page 48: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

46

Tecnologias sociais: ética e transformação cultural

Márcio Schiavo – profissional de comunicação que no

Brasil se destaca pelo trabalho desenvolvido na área de

educação social corporativa – denomina de tecnologia social

toda modalidade de intervenção social, fundamentada em

determinados métodos, processos e estratégias. E esclarece

que, as tecnologias sociais associam componentes de

experiência e risco, porque elas não são experimentadas em

laboratórios, sob total controle do pesquisador. As

tecnologias sociais são aplicadas diretamente nos

segmentos, grupos e comunidades que se pretende

beneficiar. Daí a presença elevada de riscos, caso seja

utilizado algum procedimento inadequado.

É por isso que toda tecnologia social exige ética para

ser aplicada, além de planejamento da intervenção social,

metodologia de trabalho, instrumentos específicos para

monitoramento e controle de processos e resultados, que

possam proporcionar uma avaliação permanente dos

componentes programáticos, objeto que distingue aquela

tecnologia social33.

33

Disponível em www.comunicarte.com.br/textos/entrevista_sobre_TS.pdf - consultado em julho de 2010

Page 49: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

47

É importante, também, que todo esse processo se desenvolva em permanente interação com os grupos beneficiários, com vistas a garantir que o produto (serviço) final corresponda às suas reais necessidades e expectativas, além de contemplar os seus saberes e experiências, respeitar o seu direito à autodeterminação, alavancar e fomentar sua autonomia seja pessoal ou socialmente

34.

Existe uma similaridade entre o conceito de tecnologia

social e a prática da comunicação e da educação que se faz

no Sistema de Previdência Complementar. Sem laboratórios,

as instituições que se dispõem a realizar esse trabalho

utilizam diferentes recursos e estratégias e têm se superado

para lidar com o desafio de dialogar com públicos tão

distintos.

As ações de comunicação que passaremos a

apresentar demonstram que as entidades estão atuando,

ainda, isoladamente ou em grupos. Apesar de ter avançado,

se sistematizada, a comunicação pode contribuir de forma

mais assertiva, para que essas iniciativas se consolidem

junto à sociedade e agreguem valores intangíveis

(credibilidade, reputação, imagem) para as instituições e para

o Sistema. Por uma questão didática, segmentamos esta

seleção em três áreas distintas: ações na esfera pública,

34

SCHIAVO, M. Disponível em www.comunicarte.com.br/textos/entrevista_sobre_TS.pdf - consultado em julho de 2010. Destaque nosso.

Page 50: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

48

público-privada e privada. Nesta última, destacamos as

iniciativas das EFPC, que se distinguem das demais

instituições por não terem finalidade lucrativa.

Para facilitar o acompanhamento de nossa exposição,

elaboramos um quadro que demonstra a composição de

nossa amostragem.

INSTITUIÇÃO PROGRAMA

Instituto Nacional de Seguro Social - INSS

Programa de Educação Previdenciária – PEP

Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiros, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização – COREMEC

Estratégia Nacional de Educação Financeira ENEF

Entidades Abertas de Previdência Complementar - EAPC

Prevjovem

Sistema financeiro - BM&F EducAção Financeira

Entidades Fechadas de Previdência Complementar - EFPC

Forluz: Muito além da dispensa de distribuição do relatório

CBS: Perto de Você

Funcef: Um senhor futuro

Regius: Bem me Quero e Prever

Visão Prev: blog e twitter

Pool das EFPC de SC

PREVIC Seminário de Educação Previdenciária e Financeira das EFPC

ICSS Certificação de Dirigentes

ABRAPP Programa de Educação 2010

Page 51: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

49

Agora, passaremos a descrever aquilo que

consideramos mais relevante de cada trabalho, porque

entendemos que todas essas ações se somam e convergem,

destinam-se a compor um movimento maior, que

seguramente se estruturará e se definirá, como uma

conseqüência natural e conjugada de todos esses esforços.

Iniciativa da Previdência Social

Ainda existe muito desconhecimento sobre os direitos

do cidadão sobre a proteção social que o pagamento de

impostos pode oferecer. Os programas educativos realizados

pela esfera pública contam com autonomia, autoridade e um

incontestável potencial para conquistar credibilidade e

visibilidade junto a diferentes atores sociais. Por esse motivo,

iniciamos a descrição desta amostragem por meio de um

programa realizado há dez anos pelo Ministério de

Previdência Social, que conta com a parceria da Secretaria

de Educação e ainda atua junto à áreas de recursos

humanos das empresas.

Page 52: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

50

PEP divulga cobertura da Previdência Social aos

trabalhadores

Ao completar uma década, o Programa de Educação

Previdenciária (PEP) do Instituto Nacional de Seguro Social -

INSS está em pleno processo de modernização, com a

formação de mutiplicadores pela internet. O PEP é a principal

ferramenta que o INSS utiliza para ampliar a cobertura da

Previdência Social aos trabalhadores brasileiros ainda

destituídos dessa proteção, com o desafio de levar a educação

previdenciária ao encontro do cidadão... onde quer que ele esteja!

A iniciativa integra um projeto maior, cujo objetivo é

incluir a educação previdenciária como tema transversal do

currículo das escolas de ensino médio. Para isso, o INSS

firmou um convênio com a Secretaria da Educação de Goiás,

Aparecida de Goiânia e Novo Gama. Pela internet, será feita

a capacitação dos multiplicadores e o conteúdo será

administrado pela Coordenação de Educação a Distância da

Diretoria de Recursos Humanos do INSS.

O curso de capacitação de disseminadores externos ampliará as oportunidades de formação, utilizando os recursos disponíveis, como a internet e a ferramenta de ensino a distância Moodle. A idéia é oferecer este curso também para as áreas de recursos humanos das empresas e demais parceiros do PEP. (Renata Melo – coordenadora do PEP)

35

35

PIMENTEL. R. Programa de educação previdenciária investe no ensino a distância. AgPrev, julho de 2010.

Page 53: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

51

Em seu portfólio de atividades, o PEP também reúne

ações educativas presenciais (cursos, palestras, orientações

individuais), participação em programas de rádio e televisão.

O público de interesse do PEP é o trabalhador ainda não

segurado pelo INSS. São prerrogativas do PEP aumentar o

número de brasileiros cobertos pelo Regime Geral de

Previdência Social (RGPS) e contribuir para aumentar o

conhecimento dos cidadãos já segurados sobre direitos,

serviços e melhorias no atendimento do INSS36.

Parceria Público-Privado

Somar esforços diante de grandes desafios é uma

estratégia que pode dar bons resultados. Essa foi a intenção

do governo brasileiro em 2007, quando criou o grupo de

trabalho formado por representantes do Banco Central do

Brasil, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da então

Secretaria de Previdência Complementar (SPC) e da

Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).

A missão do grupo de trabalho: criar um inventário de

ações e projetos de educação financeira no país, além de

mapear o grau de conhecimento financeiro da população

brasileira.

36

Idem

Page 54: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

52

Os resultados dessas ações serão contabilizados a

médio e longo prazos. Mas contribuirão fundamentalmente

para a sustentabilidade desse esforço governamental junto à

sociedade, por meio de entidades parceiras nesse projeto,

que contam ainda como o apoio da BM&F Bovespa e

mantêm na internet o site www.vidaedinheiro.gov.br.

ENEF: iniciativa híbrida

A Estratégia Nacional de Educação Financeira - ENEF

tem caráter permanente e adota como prerrogativa a

definição de medidas que visem à proteção dos

consumidores em relação a produtos financeiros. Aos

esforços educacionais se associa a efetividade da regulação,

fiscalização e a sanção desses serviços.

O primeiro resultado que se espera tem caráter social

diante do potencial educativo para promover maior inclusão

de segmentos da população até então excluídos do sistema

financeiro. Outro resultado correlato dessas ações tem

caráter econômico: a formação de poupança interna.

A cultura e a formação de massa crítica que a ENEF

pretende se relacionam com o planejamento de vida, que

associa variáveis pessoais, propondo um melhor

entendimento sobre os riscos aos apelos do consumo

predatório e imediatista e uma alternativa consistente para

Page 55: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

53

investimentos de longo prazo, consumo responsável e

segurança do Sistema Financeiro Nacional. O público de

interesse da ENEF é adulto. Por isso, as ações seguem uma

tendência mundial, concentrando foco nas escolas.

Em agosto de 2010, o Comitê de Regulação e

Fiscalização dos Mercados Financeiros, de Capitais, de

Seguros, de Previdência e Capitalização (Coremec), junto de

entidades públicas e privadas – como o Instituto Unibanco,

Febraban, Anbima, BM&FBovespa, Banco Mundial e

Ministério da Educação – apresentaram à imprensa o projeto

piloto de educação financeira nas escolas públicas, cuja

primeira fase teve início no dia 9 do mesmo mês.

O projeto integra a ENEF e, até 2011, deverá chegar a

mais de 200 mil instituições de ensino oficial e erradicar o

analfabetismo financeiro do país, a começar por 450 escolas

do ensino médio público dos Estados de São Paulo, Rio de

Janeiro, Minas Gerais, Tocantins, Ceará e Distrito Federal. O

objetivo do projeto é ensinar crianças e jovens a tomar

decisões de consumo e investimentos, e a planejar o futuro,

disseminando esse conhecimento para toda sua família.

A impressão e distribuição do material de apoio foram

feitas pela BMF&Bovespa. O site www.vidaedinheiro.gov.br

foi utilizado pela Febraban e pela Andima como instrumento

de capacitação à distância para os professores sobre a

utilização correta do material junto aos alunos. Segundo

Page 56: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

54

Rogélio Marchetti, representante do Banco Mundial, “aulas

de educação financeira fazem parte do currículo escolar de

60 países, dentre os quais Holanda, Japão e Estados Unidos.

O modelo dessa iniciativa é inovador e será acompanhado de

perto pelo Banco”.

A educação financeira nas escolas é incentivada pela

Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento

Econômico (OCDE) e integra o currículo escolar de mais de

60 países37.

Iniciativas da Previdência Complementar

Na esfera privada, existem importantes trabalhos de

comunicação e educação financeira e previdenciária,

realizados por bancos, seguradoras e outras instituições de

grande representatividade junto à sociedade brasileira.

Públicos com diferentes abordagens

Para ilustrar essa categoria, selecionamos o site

www.prevjovem.br, por utilizar recursos de animação,

realidade aumentada, jogos, uma família inteira de

personagens própria para estabelecer contato com o público

37

Começa projeto de educação financeira nas escolas. Diário dos Fundos de Pensão – 9 de agosto de 2010

Page 57: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

55

de interesse: o jovem. Com esse exemplo, queremos mostrar

as inúmeras possibilidades de linguagem em que podem ser

exploradas e, principalmente, que este esforço de

comunicação e educação tem sido objeto de atenção de

diferentes segmentos do mercado junto à sociedade.

Outra iniciativa relevante é da BM&F que, com a TV

Cultura de São Paulo, produz e transmite o programa

Imagem do portal Espaço PrevJovem

Page 58: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

56

EducAção Financeira. Os episódios são disponibilizados na

internet, assim como alguns cursos gratuitos online. O

público de interesse é segmentado e existem mensagens

específicas para mulheres, crianças e adultos.

EFPC: comunicação ainda é desafio

Queremos esclarecer, entretanto, que optamos por

evidenciar aqui alguns programas realizados por EFPC, cuja

natureza não contempla a finalidade lucrativa. Esse dado é

importante para os responsáveis pelo planejamento da

comunicação, uma vez que esse instrumento prevê dotação

orçamentária específica para ser implementado e mantido.

Nele, os programas de comunicação e educação

contemplados devem ter caráter permanente. Dessa forma,

os desafios para as EFPC são ainda maiores. Dependem de

muita criatividade e parcerias para conciliar todas essas

variáveis.

Reiteramos que nossa intenção se restringiu ao registro

de um levantamento aleatório, mas abdicou de qualquer

análise de conteúdo ou comparativa, que demandariam um

conhecimento profundo dos objetivos e de todas as etapas

envolvidas no planejamento de comunicação de cada uma

dessas EFPC.

Page 59: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

57

Mesmo simbólica, nossa amostragem é bastante

significativa e reveladora, porque comprova soluções

criativas e realistas com relação ao que se pretende construir

no presente e no futuro e à colaboração que ser quer dar

para todo o Sistema e para a sociedade.

Complementam nossa seleção alguns dados da

pesquisa Programas de Educação Financeira e

Previdenciária – Evidências em Fundos de Pensão no Brasil,

de Danielle Schmidt Foletto Xavier. Em 2009, a pesquisadora

distribuiu acesso a questionário eletrônico para as 279

entidades associadas à ABRAPP com o objetivo de registrar

os principais dados sobre educação previdenciária praticada

pelas EFPC. A pesquisa obteve um índice de resposta de

36,5%. Entre outros aspectos, identificou que 34% dos

respondentes afirmam realizar educação previdenciária.

Desse total, 43% já possuem o programa há mais de um ano.

Das entidades que não possuem programas de educação

previdenciária, 59% estão em fase de desenvolvimento, o

que revela uma tendência a aumentar esse conjunto de

iniciativas ao longo do tempo.

Outro dado importante: 82% dos programas de

educação previdenciária são realizados por equipe própria da

entidade, ao que a pesquisadora atribui um maior grau de

envolvimento e comprometimento dos profissionais com o

programa. Além disso, 61% das EFPC que têm programa de

Page 60: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

58

educação previdenciária, afirmam possuir mecanismos para

avaliar o grau de entendimento dos participantes em relação

ao conteúdo oferecido. As ferramentas utilizadas são:

pesquisa, pesquisa de satisfação, jogos, informativos,

eventos na patrocinadora, pesquisa web, gerenciamento e

análise de acessos ao portal de educação previdenciária.

Desse conteúdo, destacamos a seguinte orientação:

[...] esse processo não é desenvolvido de uma única vez, mas se constrói ao longo do tempo, com diversas ações coordenadas e devem estar embasadas em três pilares: motivacional (reflexão sobre as mudanças de atitude para o futuro), financeiro (planejamento) e saúde (planejamento).

De acordo com a pesquisa, as principais

dificuldades apontadas pelas EFPC na implantação desses

programas foram: efetiva divulgação dos informativos,

resistência dos participantes, escolha do conteúdo do

programa, diversidade de planos e públicos envolvidos,

dificuldade para adaptar material para diferentes níveis de

público, participação do patrocinador.

Outro dado importante detectado pela pesquisadora diz

respeito ao principal público de interesse dos programas de

educação previdenciária das EFPC. A maioria centraliza sua

comunicação no participante e seus beneficiários.

Page 61: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

59

Considerando esses resultados, agora mostraremos o

que as EFPC estão efetivamente produzindo. As informações

apresentadas a seguir foram obtidas diretamente nos sites

das entidades, que disponibilizam na internet conteúdos para

consulta do público sobre essas entidades.

Forluz: muito além da dispensa de distribuição de

relatório

A Forluz foi a primeira EFPC a se valer do incentivo

criado pela Instrução Normativa MPS/SPC n° 32, que

dispensa o envio – por meio impresso – do relatório anual de

informações aos participantes e assistidos. Entretanto, a

consciência sobre o trabalho de educação previdenciária que

a Forluz se propõe a fazer revela a ética e a seriedade com

que o tema deve ser tratado e colocado em prática. É por

isso que destacamos a afirmação de Wilson Geraldo Silva,

gerente de previdência e atuária da Forluz. Para ele,

educação previdenciária não deve ser um meio para a

dispensa da distribuição do relatório anual impresso. “Esse é

um estímulo menor, porque um bom programa de

educação custa mais do que isso”38.

38

Fundos de pensão focam a educação. Diário dos Fundos de Pensão, 14 de julho de 2010, disponível em

Page 62: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

60

Disponível em www.abrapp.org.br/apoio/teasers/previc/rj26.htm

Com 26 mil participantes e patrimônio total de mais de

R$ 8,5 bilhões, o plano previdenciário da Forluz contempla

quatro diferentes perfis de investimentos, cinco percentuais

de contribuição básica e três modalidades de aposentadoria.

Despertar o interesse é o grande desafio da comunicação

com esse público, presente em todo o Estado de Minas

Gerais. Mas apesar do foco, as ações não se restringem

www.abrapp.org.br/diario/DescricaoNoticia.aspx?id=19130, consultado em julho de 2010. Destaque nosso.

Page 63: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

61

somente aos participantes. “Envolver a família é muito

importante para que a administração do orçamento e a

mudança de hábitos comecem em casa”, afirma Wilson. O

programa de educação previdenciária Para Viver Melhor

utiliza site, jornal, e-mail, página de bate-papo e coluna fixa

no jornal da patrocinadora. Realiza palestras no Programa de

Preparação para Aposentadoria, promove um evento anual

de prestação de contas e realiza uma campanha anual de

alteração de perfil de investimentos. Para superar a

dificuldade de reunir pessoas, a Forluz inclui a educação

financeira também nos eventos da patrocinadora.

Todas as ações são submetidas ao sistema de

monitoramento exigido pela PREVIC. A mensuração dos

resultados ainda é difícil, mas fundamental, porque esse é

um trabalho de longo prazo que deverá proporcionar retorno

para todo o Sistema de Previdência Complementar.

CBS: Perto de Você

Perto de Você é o nome que a CBS Previdência –

fundo de pensão dos empregados da Companhia Siderúrgica

Nacional – utiliza para seu Programa de Educação

Financeira e Previdenciária, destinando uma área específica

de seu portal para essa finalidade. Perto de Você tem a

imagem de uma abelha como recurso para identificar a

Page 64: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

62

marca, numa referência simpática à importância do trabalho

contínuo e da construção sustentada da relação com o

dinheiro e o futuro.

Imagem do portal CBS, consultado em julho de 2010

O Programa Perto de Você centraliza simuladores de

benefício, resgate e Imposto de Renda, vídeos explicativos

sobre o funcionamento dos planos previdenciários, Programa

de Preparação para a Aposentadoria, glossário de termos

técnicos. Está prevista a disponibilização de áudios

Page 65: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

63

(podcasts), ferramentas de comunicação que tornam a

educação financeira uma experiência didática, agradável,

interativa, em tempo real. É destinado aos participantes, mas

a quase totalidade do conteúdo é acessível a demais

interessados nos temas desenvolvidos.

A CBS decidiu estender seu programa de educação

financeira e previdenciária à população de Volta Redonda,

cidade que sedia sua patrocinadora. “Nós, os fundos de

pensão, temos o papel social de fomentadores da cultura

previdenciária”, dizem Ricardo Esch e Wlader Lúcio Lima,

respectivamente diretor financeiro e gerente de

relacionamento da entidade39.

Os dirigentes contam que as ações para a comunidade,

em creches e universidades, são um dos pilares do programa

de educação e aproveitam todas as oportunidades que

surgem como, por exemplo, garimpar espaço na

programação da rádio local. “É empreendedorismo social

mesmo”.

Para custear o programa de educação, a CBS firma

parcerias com gestores de recursos para bancar viagens,

palestrantes e materiais. Para sustentar o monitoramento, a

39

Fundos de pensão focam a educação. Diário dos Fundos de Pensão, 14 de julho de 2010, disponível em www.abrapp.org.br/diario/DescricaoNoticia.aspx?id=19130, consultado em julho de 2010

Page 66: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

64

CBS registra todas as ações realizadas por meio de listas de

presença, fotos e pesquisas de opinião.

Funcef: Um Senhor futuro

A Funcef está comemorando 100 mil associados em

seus planos, promovendo simpósios em diferentes

localidades do país, investindo forte em registros por meio de

vídeos já disponibilizados em seu portal. Os temas voltados à

educação previdenciária tratam de preparação para a

aposentadoria, da importância do controle financeiro para o

futuro e registram os depoimentos de associados que

investem em planos previdenciários.

A Funcef tem também um site totalmente dedicado à

educação previdenciária, com o objetivo de promover a

cultura previdenciária séria e responsável. Um senhor futuro

é o nome do site (www.umsenhorfuturo.com.br)

Page 67: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

65

Imagem do site Um senhor futuro, da Funcef, consultado em julho de 2010

Por esse site, o participante pode fazer simulações,

cursos online, consultar biblioteca digital, integrar grupos

virtuais de discussão, entre outras atividades.

Regius: Bem me Quero e Prever

O programa de educação

previdenciária da Regius Sociedade

Civil de Previdência Privada – fundo de

pensão instituído pelo Banco de

Brasília (BRB) – também usa a imagem

de uma abelha como recurso para

distinguir esse conteúdo das demais

Page 68: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

66

informações disponibilizadas em seu portal para os

participantes.

O nome do programa é Bem me Quero e oferece

conteúdos informativos nas áreas de educação financeira e

previdenciária, assim como outras peças como o manual do

participante. O site apresenta demais peças de comunicação

que são utilizadas pelo programa.

Imagem da camiseta do programa Bem me Quero, disponível no portal da Regius – consultado em julho de 2010

Page 69: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

67

As peças de comunicação para envolver participantes

vão além do ambiente virtual. Bottons, cartilhas, camisetas,

banners, convites integram o kit montado para o programa

Bem me Quero.

Bem me Quero

foi o primeiro módulo

do programa de

educação financeira e

previdenciária da

Regius. Em 2010, a entidade lançou o Prever - Programa de

Educação e Valorização das Escolhas Responsáveis,

para dar continuidade às ações de conscientização e

promoção da compreensão sobre conceitos e produtos

financeiros. Além disso, a entidade pretende ainda contribuir

para tornar os indivíduos mais competentes em suas

escolhas; mais conscientes sobre as oportunidades e riscos

e, consequentemente, auxiliar na promoção de seu bem-

estar.

VisãoPrev: blog e Twitter, a experiência das empresas do

Grupo Telefonica

A VisãoPrev – entidade que administra os planos

previdenciários das empresas do Grupo Telefonica – lançou

Page 70: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

68

em agosto de 2010, dois novos canais para interagir com

seus participantes e com a sociedade.

Pela rede social Twitter, a VisãoPrev

(http://twitter.com/VisaoPrev) oferece informações

importantes sobre tudo o que acontece na entidade, no

mercado previdenciário e, principalmente, nos planos. E, pelo

blog, http://visaoeduca.com.br/, são disponibilizados vídeos,

sugestões de livros, links úteis, dicas financeiras e outros

temas.

Custos compartilhados entre as EFPC de Santa Catarina

Um dos maiores obstáculos à implantação de um

programa de educação previdenciária, especialmente para as

EFPC, que não têm fins lucrativos, é o custo de produção e

distribuição das peças de comunicação, cujo tratamento do

conteúdo deve ter uma preocupação com clareza, didatismo,

lógica, além de uma abordagem lúdica e atraente.

Para driblar essas barreiras, os profissionais de

comunicação das EFPC do Estado de Santa Cantarina

entenderam ser fundamental a união de esforços para traçar

uma estratégia comum. Por isso, formaram um pool que está

somando conhecimentos para realizar um programa mais

abrangente e minimizar custos, firmando parcerias com

outras instituições.

Page 71: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

69

Os trabalhos estão em evolução e, em breve, os

participantes dos planos previdenciários de todo o Estado

terão acesso à produção com conceitos e uma linguagem

unificada.

Uma mostra das experiências das EFPC

Em julho de 2010, a Superintendência Nacional de

Previdência Complementar - PREVIC realizou o Seminário

de Educação Previdenciária e Financeira das Entidades

Fechadas de Previdência Complementar, nas cidades de

São Paulo e Rio de Janeiro.

O evento deixou claro que a educação financeira e

previdenciária é uma prioridade do Estado brasileiro, pelo

seu potencial de agente de uma sociedade mais justa. À

educação previdenciária, entretanto, cabe um papel de

relevância, pela condição diferenciada de promover o

protagonismo social e a cidadania. E previdência é um tema

que se relaciona com outros assuntos importantes, como por

exemplo, as relações de trabalho e emprego, porque uma de

suas principais capacidades é a proteção da vida e do

trabalho, que estão em contínua transformação na sociedade

– maiores expectativas de vida, mudanças nas relações

formais de emprego, entre outras questões.

Page 72: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

70

Caberá a todos os envolvidos na educação financeira e

previdenciária trabalhar para vencer a desinformação e a

desigualdade. Essa é a grande transformação social que a

PREVIC está propondo por meio de iniciativa conjunta com a

Secretaria de Políticas e Previdência Complementar – SPPC,

Associação Brasileira das Entidades Fechadas de

Previdência Complementar - ABRAPP, Associação Nacional

dos Participantes dos Fundos de Pensão - ANAPAR,

Associação dos Fundos de Pensão de Empresas Privadas -

APEP e do Departamento Intersindical de Estatística e

Estudos Socieconômicos - DIEESE, que congregam diversas

entidades de diferentes categorias e, na área de previdência,

contam com programas de treinamento, cursos de graduação

e especialização em andamento ou em fase de implantação

e, dessa, forma, assumem a dianteira nesse trabalho de

difusão e consolidação da educação previdenciária no Brasil.

Durante o Seminário de Educação Previdenciária e

Financeira das Entidades Fechadas de Previdência

Complementar, entidades como Fipecq, Telos, Funcef,

Eletroceee, Forluz, CBS, Eletros e Valia tiveram a

oportunidade de apresentar suas soluções para implementar

o programa de educação previdenciária que começa

envolvendo mais diretamente os participantes, área de

recursos humanos e comunicação dos patrocinadores e

empregados dessas entidades. Entretanto, em regiões e

Page 73: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

71

instituições mais propícias, essas ações terminam se

estendendo também a comunidades locais.

O quadro apresentado nesse evento demonstrou a

diversidade de públicos de um Sistema bastante

heterogêneo. A Fundação de Previdência Complementar dos

Empregados ou Servidores da FINEP, IPEA, CNPq, INPE e

INPA - FIPECq, por exemplo, enfrenta o desafio de se

comunicar simultaneamente tanto com o participante imerso

e isolado no meio da Mata Amazônica - onde permanece

sem comunicação por até dois meses, realizando um

trabalho de seleção de espécies de insetos – quanto com os

cientistas, que desenvolvem pesquisas técnicas em

laboratórios de análises.

Já a Telos – Fundação Embratel de Seguridade Social

– possui uma massa de participantes com acesso a

tecnologias de informação, como a internet, que facilitam a

produção e difusão de mensagens e conteúdos online

(cursos e games) e a criação de estratégias de estímulo a

utilização desse canal.

A Eletroceee – Fundação CEEE de Seguridade Social,

entre outros recursos, faz uso de mascote e teatro, que

terminam aproximando e mobilizando os participantes.

O resultado do Seminário de Educação Previdenciária e

Financeira das Entidades Fechadas de Previdência

Complementar aponta para uma congregação de todos

Page 74: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

72

esses esforços e uma possível unificação, que será liderada

pela PREVIC em conjunto com a SPPC, ABRAPP, ANAPAR,

APEP e DIEESE e demais instituições que possam somar

suas competências técnicas na produção de diagnósticos,

construção de cenários macroeconômicos e indicadores de

avaliação e outros instrumentos para subsidiar e facilitar essa

missão comum.

Plim-plim!

Na noite do dia 23 de julho de 2010, portanto, logo após

a conclusão do primeiro dia do Seminário de Educação

Previdenciária e Financeira das Entidades Fechadas de

Previdência Complementar, a Rede Globo colocava no ar

uma edição do programa Globo Repórter totalmente

dedicada a educação financeira e orçamento familiar40.

A trilha sonora de abertura do programa ecoava em

todo território nacional e também na internet, anunciando o

apresentador Sérgio Chapelin que convidava e provocava os

telespectadores com um instigante questionamento:

Amigos da internet, alerta vermelho! Duas em cada três famílias brasileiras gastam mais do que ganham. O Globo Repórter investiga o orçamento

40

Disponível em http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2010/07/globo-reporter-vai-dar-dicas-para-controlar-o-orcamento-domestico.html. Acessado em julho de 2010. Destaque nosso.

Page 75: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

73

doméstico. Como se livrar das dívidas e dos juros altos? A tentação das compras desnecessárias. Gastos de fim de semana abalam o nosso controle? O brasileiro que precisou fechar o próprio negócio e morar fora do país para pagar as dívidas da família. Mas ele conseguiu! A dona de casa que quitou todas as contas atrasadas em dois anos ensina: quem negocia, consegue descontos. É possível escapar dos juros do cartão de crédito? Filhos salvam a mãe endividada. Eles aprenderam na universidade como controlar a vida financeira. Crianças de negócios? Até na escola fundamental, aulas de economia doméstica aliviam os gastos familiares. E o teste que não falha: você é um consumidor equilibrado? Sexta, no Globo Repórter!

O Globo Repórter, entretanto, deixou de dedicar espaço

para dizer o que o brasileiro, depois de aprender a lidar com

o próprio dinheiro, pode fazer para que o controle de

desperdício, além de equilíbrio, também possa significar bons

investimentos e boas decisões. Mas essa é uma

oportunidade que talvez caiba maior atenção e análise sobre

a pertinência, considerando todos os interesses envolvidos

no Sistema de Previdência Complementar.

Page 76: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

74

SBR – governança e cultura previdenciária

A PREVIC está empenhada na disseminação da

metodologia da Supervisão Baseada em Riscos - SBR. Para

buscar um modelo de excelência que possa ser adaptado às

características do Sistema brasileiro, um grupo de técnicos

visitou a Holanda e o Reino Unido, onde a SBR já está

implantada há mais de cinco anos. Nesses países, a

autorregulação atingiu um nível de condições propício para

que a governança seja exercida com foco na educação. A

aposta é na mudança de cultura, por meio da educação e da

capacitação. Lá, qualquer deslize pode ser categorizado

como má fé e não desconhecimento41.

A SBR é um estímulo à eficiência da gestão. Vale

lembrar que o negócio das EFPC está sujeito a diferentes

tipos de risco, entre os quais se destacam os estratégicos,

operacionais, atuariais, legais, de mercado, de contraparte,

de liquidez, de segurança da informação e de imagem. O

risco de imagem, normalmente, é decorrência dos demais.

Por isso, educação, comunicação e governança podem ser

41 Experiências estrangeiras aperfeiçoam a SRB brasileira. Revista Fundos de Pensão nº 365, junho de 2010, p. 66. Destaque nosso.

Page 77: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

75

entendidas como fatores que contribuem para a mitigação

dos demais riscos42.

Esse novo paradigma será acompanhado de um eficiente processo de educação que precisa atingir tanto os integrantes das entidades fechadas de previdência complementar (EFPC), quanto os participantes e assistidos. A experiência internacional demonstra que, além da verificação de aderência aos regulamentos e normas os órgãos de supervisão se dedicam ainda à educação dos responsáveis pela gestão dos fundos de pensão e ao fomento do sistema. As iniciativas nesse sentido resultam em melhoria dos resultados globais, com conseqüente e perceptível aumento da rentabilidade dos ativos e redução das perdas oriundas dos riscos intrínsecos à gestão dos planos de benefícios. O processo educacional dos dirigentes evidenciará a importância dos controles internos e da gestão dos riscos para o sucesso da missão primordial dos planos de benefícios: garantir o pagamento de aposentadorias e pensões a seus participantes e assistidos

43.

Trata-se, portanto, de uma mudança cultural, cujo êxito

dependerá de todo o segmento, facilitando a ação de

liderança da PREVIC e também uma mudança de papel, que

primará pela excelência de gestão como essência.

42

FELIX, L. e FERREIRA, A. F. Instrumentos de controle e de auditoria para as EFPC e princípios a serem observados no processo de fiscalização. Programa de Educação ABRAPP 2010. 43

Guia PREVIC – Melhores prátcas em fundos de pensão. Brasília. Superintendência Nacional de Previdência Complementar. 2010, p.12

Page 78: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

76

Outro aspecto importante é a necessidade de um

alinhamento de visão do patrocinador, do participante e da

entidade. É preciso ficar claro que esses três atores têm

interesses comuns e não contrários. Para Manoel Lucena,

diretor de Fiscalização da PREVIC, isso significa que [...] a

adoção da SBR pressupõe a existência de um Sistema

maduro, que prima pela governança e autogestão. Um nível

que [...] já existe no Brasil. Alguns passos ainda precisam ser

dados em direção à consolidação desse novo conceito, como

a certificação de dirigentes”44.

Certificação de dirigentes

O “dever fiduciário” se faz imprescindível sempre que um proprietário delega a um administrador poderes decisórios sobre a gestão de sua propriedade, cabendo a este o dever de não colocar os seus interesses pessoais ou de terceiros à frente dos interesses de quem lhe confiou tais poderes. Trata-se pois de uma típica relação de confiança e lealdade

45.

É inegável o movimento que está sendo feito para que a

mudança cultural possa significar uma elevação da

44

Idem, p. 67 45

D‟ALMEIDA, A. C. B. A governança e o cumprimento do dever fiduciário, in Administração Geral I – Governança e gestão estratégica. Brasília. Programa de Educação ABRAPP 2010, p. 5

Page 79: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

77

percepção do Sistema de Previdência Complementar a um

patamar diferenciado diante do mercado, de novos

patrocinadores e, principalmente, diante da sociedade.

Nesse sentido o modelo de certificação para dirigentes

dos fundos de pensão, conduzido pelo Instituto de

Certificação dos Profissionais de Seguridade Social (ICSS),

está contribuindo sobremaneira para o processo de

amadurecimento do Sistema e dando um exemplo de avanço

da autorregulamentação no país46.

A certificação foi instituída pela Resolução CMN nº

3792, de 2009, e é obrigatória para os Administradores

Estatutários Tecnicamente Qualificados (AETQ), ou seja,

membros da diretoria executiva da EFPC, responsáveis pela

gestão dos investimentos. Porém, para os integrantes dos

Conselhos Deliberativo e Fiscal, a certificação ainda é

facultativa. A expectativa do ICSS é que o conceito de

certificação se expanda e possa abranger outros

profissionais interessados nos processos de qualificação e

atualização contínuas.

A comunicação e a educação – entendidas aqui como

pilares para a formação de um patrimônio intangível e

inalienável de uma EFPC – representam um investimento

que se soma na construção da relação de confiança e

46

O modelo de certificação dos fundos de pensão. Revista Fundos de Pensão nª 364, maio de 2010, p. 9

Page 80: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

78

lealdade, expressa pelo dever fiduciário, que está na

natureza do Sistema. Outro aspecto importante se associa ao

valor agregado à imagem e à marca institucionais.

Esse movimento espontâneo de certificação vai ter uma repercussão muito boa entre os próprios participantes, que vão achar que os responsáveis pela gestão de seus recursos são capazes e querem demonstrar que, de fato, o são. Além disso, a imagem da fundação cresce com esse processo, o que será percebido pelos outros agentes de mercado

47.

ABRAPP implanta Programa de Educação

Para que o ICSS pudesse se dedicar totalmente à

certificação, houve uma segregação de funções e a

Associação Brasileira das Entidades Fechadas de

Previdência Complementar - ABRAPP assumiu a

responsabilidade de conduzir o programa de treinamento

junto a dirigentes e demais profissionais das EFPC.

Com duração de seis meses – maio a setembro de

2010 – o Programa de Educação ABRAPP reuniu

consultores e tutores especializados para organizar e

apresentar de forma didática o conteúdo que será avaliado

47

Idem, p. 10. Destaque nosso.

Page 81: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

79

nos exames do ICSS. Os temas abordados em sala de aula

estão agrupados nos segmentos de Atuária, Controles

Internos e Auditoria, Administração Geral e Governança

Corporativa, Finanças, Contabilidade e Jurídico.

À metodologia de ensino se associa toda uma

competência logística necessária para operacionalizar uma

estrutura itinerante. Os cursos foram programados para

acontecer nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e

Brasília, com a colaboração de entidades como Ceres,

Postalis, Regius, Sistel, Real Grandeza, Prevhab e Fundação

Cesp, que permitem a utilização de auditório e toda

infraestrutura necessária à realização do evento. Essa

parceria também contribui para a minimização dos custos, o

que torna o treinamento acessível e possível a um maior

número de interessados.

O Programa de Educação ABRAPP está atraindo

profissionais do Brasil inteiro, inclusive de localidades mais

distantes como Acre, Amazonas, Piauí, Pará, Rio Grande do

Norte. Essa diversidade de públicos consolida uma

importante rede de relacionamento que se estabelece entre

os profissionais do Sistema, ativada em razão da pertinência

dos assuntos discutidos e compartilhados em sala de aula e

um dos estímulos à troca de experiências vivenciadas nas

EFPC.

Page 82: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

80

Em todas as instâncias

Registrar esse levantamento sobre educação financeira

e previdenciária foi nossa estratégia para exemplificar como

as instituições estão organizadas para se comunicar e se

aproximar de diferentes públicos de interesse. Mas quem

são, como se distinguem, como reconhecer os públicos de

interesse como o qual o Sistema de Previdência

Complementar deve se comunicar? “Selecione cada

segmento de público e pergunte se esse conjunto de

pessoas pode interferir no seu negócio. Se a resposta for

positiva, aí está a necessidade de se comunicar”48.

Por pequena amostragem que tratamos aqui, do ponto

de vista da comunicação, podemos esboçar um cenário que,

de forma geral, demonstra a segmentação dos perfis dos

públicos de interesse e também dos recursos que podem ser

mobilizados para que esse processo seja intenso e

permanente.

48

BRAVI, M. Comunicação e relacionamento – diferenciais estratégicos de gestão. In Administração Geral I – Conceitos de governança e gestão estratégica nas EFPC. São Paulo. Programa de Educação ABRAPP 2010

Page 83: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

81

Cabe esclarecer: essa classificação dos públicos de

interesse tem um caráter meramente ilustrativo. A rigor, todos

os segmentos integram a sociedade. Também queremos

lembrar que esta amostragem demonstra os diferentes

recursos de comunicação que as EFPC utilizam para

disseminar as informações sobre educação previdenciária.

Para sintetizar o que mostramos até aqui, construímos o

quadro a seguir:

PROGRAMA PÚBLICO DE INTERESSE

ATINGIDO

PEP Sociedade, mídia

ENEF Sociedade, mídia

Prevjovem Clientes e a sociedade

Programa Forluz

Participantes, familiares,

comunidade, sociedade,

patrocinadores, instituidores,

profissionais das EFPC

Perto de Você (CBS)

Um Senhor Futuro (CEF)

Bem me Quero / Prever (Regius)

Visão Educa (Visão Prev)

Certificação (ICSS)

Educação ABRAPP

Page 84: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

82

Queremos lembrar que o sistema de comunicação em

uma EFPC é muito mais amplo que o programa de educação

previdenciária porque envolve uma série de atividades

relacionadas à padronização de informações que determinam

a formação da cultura previdenciária (estatuto, regimentos,

normas e manuais internos, políticas, convênios de adesão,

relatórios de atividade e todas as peças que permitam

ultrapassar as determinações legais em relação à informação

dos participantes).

Entretanto, no que se refere especificamente à

educação, vamos aproveitar essa oportunidade para explicar

alguns aspectos relevantes que reiteram características das

RECURSO DE COMUNICAÇÃO FORMATO

Internet

Cursos a distância, sites especializados, blogs, twitter, games, podcasts (áudio), vídeo, biblioteca digital, grupos de discussão, e-mail, animação.

Televisão Programa da BM&F na TV Cultura

Rádio Espaços para entrevistas

Impressos Jornal, revista, mural, banners, informativos

Presencial Aulas, concursos, sorteios, palestras, orientações individuais, teatro

Outros Mascote, bottons, camisetas

Page 85: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

83

tecnologias sociais que, como vimos, pretendem transformar

realidades e comportamentos.

A pedagogia da transformação

Sou um educador e escrevo para educadores. O que é um educador? Não é um ser que se encontre ao final de um curso de pedagogia. Diplomas podem fazer professores, mas não têm o poder de gerar educadores. E.E. Cummings disse que mundos melhores não são feitos, eles simplesmente nascem. Digo o mesmo acerca dos educadores: eles não são feitos. Eles nascem

49.

No dia 30 de julho de 2010, realizamos uma entrevista

com a Profª. Drª Ausônia Favorido Donato, educadora,

mestre em Educação e doutora em Saúde Pública pela

Universidade de São Paulo. Diretora do Núcleo de Formação

e Desenvolvimento Profissional do Instituto de Saúde da

Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e diretora

pedagógica do Colégio Equipe. Nossa intenção foi buscar

algumas informações na área da pedagogia que pudessem

elucidar alguns aspectos desse trabalho de educação

previdenciária, em suas primeiras manifestações.

Por isso, achamos válido resgatar como o conceito e os

objetivos da educação – assim como os valores – se

transformam no tempo. Por isso, é preciso muita atenção e

49

ALVES, R. Lições de feitiçaria – meditações sobre a poesia. São Paulo. Loyola. 2003. p. 12

Page 86: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

84

sensibilidade para lidar com essas mudanças e, dessa

forma, estar à frente do movimento que se processa,

interagindo e contribuindo com as novas demandas sociais.

A democratização do ensino, desde a Revolução

Francesa, até a década de 1950, buscava socializar os

conhecimentos sistematizados, acumulados pela sociedade.

A Profª Ausônia Donato diz que:

Não se falava em valores. O ensino era uma coisa voltada para cognição, para o intelecto. A palavra educare significa conduzir alguém. Conduzir alguém no contato com os grandes modelos da humanidade. No pensamento literário, científico.

A partir de 1950, aproximadamente, há um

deslocamento do eixo do intelecto para o sentimento e, com

isso, uma mudança radical na prática pedagógica. Ainda não

são valores. O que se quis, na época, foi tratar de

sentimentos e emoções. Já, na década de 1980, a educação

passa a buscar o tecnicismo na pedagogia. O papel do

educador muda. Ausônia explica que:

Se, na primeira fase, o educador antes buscava transmitir conhecimento como autoridade, na segunda, ele vai facilitar o aprendizado do aluno. Na terceira tendência, que eu estou chamando tecnicista, ele e o aluno vão organizar os meios. O centro é a técnica. E isto é hoje uma expressão muito grande na Pedagogia: técnicas eficazes, eficientes, racionais, produtivas.

Page 87: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

85

A concepção crítica da educação é um movimento bem

mais recente. Surgiu na França, em 1969, quando os

intelectuais se quiseram fazer uma revolução cultural e

passaram a discutir valores.

Então, para ser sujeito, você tem que conhecer, tem que fazer coisas, mas tem que ter valores também. Mas essa é uma discussão nova! No Brasil, o professor Paulo Freire discute muito isso. Sua proposta é fundamentalmente conhecer o mundo, para poder intervir nesse mundo e transformá-lo em uma coisa mais justa.

Esse exercício envolve ética e autoconhecimento. Por

isso a professora chama a atenção:

Olha que interessante! Para ensinar valores, os educadores têm que ter muita consciência de quais valores eles elegem quando decidem educar. A fundamentação é de valores. Não a informação ou o conhecimento, mas os valores que, na realidade, vão dirigir o ato educativo numa determinada direção. Vão conduzir”.

A educação de valores é feita por etapas e precisa

naturalizar a troca, que não é uma ação espontânea no ser

humano. Educador e educando precisam entender que a

educação é um ato intencional e diretivo. É preciso ter

clareza dos objetivos, por isso o planejamento é tão

importante. E a professora ensina:

Page 88: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

86

Qualquer ato educativo tem que ter aprendizado, senão não é educação. Aprendizagem é algo multidimensional, envolve as dimensões humana, técnica e sociocultural. Um princípio importante diz que nós aprendemos de diversas fontes. Alguns, por exemplo, conseguem aprender mais por meio de imagens. Então, cabe ao educador garantir várias fontes para o acesso ao aprender seja pleno de possibilidades.

E como se avaliam os resultados desse trabalho? Para

Ausônia, um dos desafios mais importantes é explicitar quais

são as intenções do educador. Fazer um diagnóstico inicial

do público de interesse, planejar, implementar as ações e

monitorar continuamente os resultados que demonstrem a

conquista dessas intenções em cada etapa do processo.

Educação é diferente de condicionamento, porque implica em escolha do indivíduo que, internamente, articula diferentes repertórios: um motivacional, ou seja, seus medos e desejos. Se você não contar com isso na hora do aprendizado, não vai conseguir ensinar. O outro é o cognitivo, isto é, não basta só o desejo, mas você precisa de conhecimentos. E esses

conhecimentos não são temas. Cognitivo aqui são as capacidades de leitura, observação, descrição, análise, síntese, problematização e, ao lado disso, a memória. O aprendizado exige que todo esse universo seja acionado. E não basta só isso! Tem ainda o repertório valorativo, as crenças, os tabus, os preconceitos. Tudo isso precisa ser levado em consideração de forma interconectada. Sem isso, a gente não garante o

aprendizado.

Page 89: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

87

A professora lembra ainda da importância de políticas

que possam sustentar o trabalho educativo. De qualquer

forma, existe uma interdependência entre essas políticas e o

fazer pedagógico, associada aos educadores que se

dedicam a definir valores, descrever e avaliar as relações de

poder no processo educativo, especificar quais os conteúdos

da cultura eles vão ensinar, quais serão as metodologias e os

instrumentos de avaliação. “As políticas sociais garantem os

princípios e as diretrizes. A concretização do trabalho cabe

aos educadores”.

O que se pode esperar, então, desse conjunto integrado

de esforços? A formação de sujeitos da aprendizagem.

Indivíduos autônomos, com capacidade de escolha, com

consciência de responsabilidade e cidadania. Protagonistas

de suas próprias vidas e com capacidade de formar opinião!

Ausônia Donato criou uma definição específica:

Sujeito da aprendizagem é aquele que sabe (tem que ter conhecimento), sabe que sabe (tem consciência que sabe), sabe porquê sabe (o motivo, a justificativa, o sentido), sabe para que sabe (finalidade), sabe como sabe (método, uma metodologia), senão você não é autônomo. Sabe, ainda, dizer a terceiros (expressar, comunicar): o que sabe, como sabe, por que sabe, para que sabe. Porque se você não souber socializar o seu conhecimento, você ainda não é sujeito. Se ficar só para você o conhecimento, você ainda não é sujeito da aprendizagem. Eu tenho defendido isso.

Page 90: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

88

Efeito borboleta

A educação previdenciária provocou um efeito muito

positivo e irrevogável no campo da comunicação praticada

pelas EFPC. Ainda não dispomos de mecanismos e

instrumentos para avaliar todo o impacto desse processo.

Entretanto, por essa reflexão, procuramos mostrar o que

percebemos como mais evidente: se, até então, existia uma

separação formal entre os campos da comunicação e da

educação no Sistema de Previdência Complementar, agora

eles se mesclam.

E mais: para que o resultado seja efetivo, será

necessário o envolvimento de outras áreas do conhecimento:

Direito, Atuária, Controles Internos, Investimentos,

Contabilidade, Administração Geral, porque se quisermos

formar cidadãos, precisamos – além dos aspectos técnicos –

incluir nessa definição de programas os aspectos humanos,

que influenciam a vida em suas dimensões de qualidade,

segurança e sustentabilidade. Gilberto de Souza, consultor

sênior da Deloitte, vai mais longe na análise das tendências

de mercado:

[...] a oferta de novos produtos diferenciados exigirá uma modernização ainda maior do sistema, que precisará dar

Page 91: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

89

o suporte necessário para que tais produtos sejam elaborados de forma sustentável, o que dependerá do desenvolvimento adequado de um modelo de precificação que os torne atraentes. Para ele, há uma tendência cada vez mais forte de que os produtos relacionados à Previdência

Complementar, saúde, assistência e seguro sejam interligados50.

Acreditamos, por esses motivos, que a

responsabilidade de fazer educação e comunicação

previdenciária pressupõe uma atuação e um diálogo com

outras instâncias ainda maiores, capazes de, com base

nessa troca, estabelecer políticas para assegurar que essas

práticas se transformem em tecnologias sociais efetivas.

Mais uma vez, lembramos: o Sistema de Previdência

Complementar é conhecido por números e cifras. Mas

precisa consolidar todos os seus valores que são ainda

maiores e distinguem todos aqueles que já investem e

acreditam que o futuro pode ser uma experiência saudável,

feliz, plena e sustentável.

50

Os caminhos para fomentar a Previdência Complementar no Brasil. Revista Fundos de Pensão nº 366, junho de 2010, p.11

Page 92: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

90

Page 93: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

91

PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR PARA

17 MILHÕES DE BRASILEIROS

Para chegar aqui, partimos da construção de um

cenário geral, mostramos as perspectivas de crescimento e

algumas leis recentes do Sistema de Previdência

Complementar; criamos um mosaico com as iniciativas de

comunicação e educação previdenciária nas áreas pública,

público-privada e privada e ainda relatamos uma orientação

na área pedagógica para subsidiar o trabalho de profissionais

que pretendam desenvolver projetos próprios de educação

junto aos públicos de interesse das EFPC.

Nossa intenção, agora, é discutir algumas decisões que

afetam a questão efetiva da democratização do Sistema de

Previdência Complementar, com base no viés da

comunicação e de estratégias que possam viabilizar a meta

de contemplar 17 milhões de brasileiros com planos

previdenciários.

Entendemos que, como uma tecnologia social, a cultura

previdenciária deva ser respaldada por diferentes

perspectivas integradas. Selecionamos e priorizamos a

análise de duas delas. Perspectiva técnica: mostraremos

que a democratização da Previdência Complementar é

possível tanto na teoria quanto por soluções práticas. Para

isso, teremos respaldo nas entrevistas de Ivan Sant”Ana

Page 94: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

92

Ernandes de Paulo Pisauro. Perspectiva comunicacional:

tratamos da importância da constituição do formador de

opinião, como elemento estratégico e tático que pode

efetivamente atuar como grande agente de transformação

social.

Antes, porém, vamos fazer uma breve digressão que

nos auxiliará a entender melhor uma evolução histórica e o

que será necessário para mais esse movimento. No Brasil,

foram necessários 33 anos51 para que a previdência

complementar se consolidasse e atingisse 2,5 milhões de

participantes. Por isso, a projeção desse número para 17

milhões nos faz pensar nas estratégias possíveis para atingir

essa população imensa, no menor tempo possível. É esse

ensaio que queremos realizar aqui.

Pela perspectiva da comunicação, achamos importante

lembrar que, já há algum tempo, muitos profissionais têm se

mobilizado para propor trabalhos que contribuam com a

consolidação do Sistema de Previdência Complementar.

Esse é o caso da proposta Comunicação: o futuro presente –

os novos rumos da prosperidade social, elaborada pela

Comissão Técnica de Comunicação Social e Marketing da

ABRAPP, de 1993. “Se toda a nação compartilhar dos

benefícios que os fundos de pensão proporcionam, essa

51

Lei 6.435, de 15 de julho de 1977 e Decreto-Lei 81.240 de 23 de janeiro de 1978

Page 95: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

93

saudável realidade pertencerá a todos e não mais será vista

como um privilégio”52.

Naquela época, eram preocupações da Comissão

Técnica a defesa da imagem das EFPC, a recuperação da

autoestima do aposentado, a proposta de um Sistema de

Previdência Complementar integrado, politicamente viável,

socialmente relevante e economicamente factível. De lá para

cá, muitas conquistas foram conseqüência daquela visão e

das ações que se implementaram a partir da Campanha

Institucional Integrada para o Sistema de Previdência

Complementar. A reputação das EFPC como investidores

institucionais, por exemplo, é hoje uma realidade

consolidada, assim como os aposentados – por disporem de

renda própria – passaram a ser percebidos como

economicamente autônomos, com direito a crédito pessoal e,

portanto, um segmento representativo, que faz diferença

junto ao mercado consumidor.

Na verdade, praticar comunicação não é propriamente uma opção. É um imperativo. De sobrevivência do sistema. Porque quem não se comunica perde. Perde visibilidade, perde transparência, perde criatividade, perde oportunidades, perde clientes. Perde! Perde! Perde!...

52

Comunicação: o futuro presente – os novos rumos da prosperidade social. Comissão Técnica de Comunicação Social e Marketing da ABRAPP. 1993.

Page 96: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

94

Comunicação não é fórmula mágica, espécie de aspiração utópica, sempre desejada, mas nunca alcançada. Comunicação é algo concreto discernível e que resulta do esforço de todos. Esforço esse organizado e orientado segundo um conjunto de diretrizes e objetivos coerentes e racionalmente ordenados

53.

Acreditamos que esse conjunto de diretrizes e objetivos

coerentes e racionalmente ordenados comece por um plano

de viabilidade econômica. Para nos ajudar explicar essa

condição, em 10 de agosto de 2010, Ivan Sant‟Ana Ernandes

– atuário, consultor, professor da Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais e coautor do livro Atuária para Não

Atuários – concedeu a entrevista exclusiva que, a seguir,

será apresentada.

Previdência complementar e recuperação salarial

Num país em que o mercado formal de trabalho tem

regras nem sempre generosas para o trabalhador que, além

da degradação salarial, ainda contribui exaustivamente com

severos impostos sobre sua renda mensal, a poupança pode

até ser um desejo mas ainda longe de se tornar realidade

porque depende, entre outros fatores, de condições mais

favoráveis para que se torne prática que efetivamente

53

Idem. Destaque nosso.

Page 97: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

95

substitua a compulsão pelo consumo imediato e uma aposta

inteligente no futuro.

A Previdência Oficial é uma cobertura básica, cuja

contribuição é compulsoriamente paga pelo trabalhador que

atua no mercado formal. Mas a previdência complementar

ainda está distante da maioria deles. Vale principalmente

para quem ganha acima do teto da Previdência Social. Por

isso, o professor esclarece:

Previdência complementar é para quem tem salários acima do teto da previdência social. Aqueles que ganham abaixo do teto, e estão no mercado formal de trabalho (carteira assinada pelo valor recebido, com desconto sobre o salário total para a previdência social), não precisam complementar o valor que receberão da previdência social.

Mas, para Ivan Sant‟Ana Ernandes, é preciso criar

outros mecanismos que possam, antes, auxiliar a equilibrar a

Previdência Social e recuperar a degradação salarial, o que

tornaria a previdência complementar acessível para mais

trabalhadores. A fórmula é a seguinte:

De acordo com pesquisas recentes, o mercado formal está ligeiramente superior ao mercado informal. Para racionalizar, vamos falar em 50% para cada tipo. O salário mínimo, na forma de benefício previdenciário, continua garantindo aposentadoria por idade, a quem nunca contribuiu, a título de assistência social. O custo da assistência social tem crescido muito, exatamente

Page 98: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

96

por conta da recuperação do salário mínimo que, pela vinculação, puxa a renda do aposentado. Por conta disso, quem contribuirá se, contribuindo ou não, terá direito a um salário mínimo mensal no final da vida laborativa? Penso que a solução será a prevista desde o início dos tempos: criar um piso previdenciário, que ficará distante do piso salarial. Recupera-se o piso salarial e “apenas” corrige-se o piso previdenciário. Teríamos liberdade então para melhorar o salário de quem está na base pirâmide salarial.

Incremento e recuperação do salário mínimo – além de

maior poder aquisitivo – desencadeiam uma necessidade de

manutenção da qualidade de vida. Para o professor, se o

trabalhador estiver informado, ele vai saber optar pelo melhor

sistema de cobertura e o ganho em escala é o que vai tornar

o Sistema de Previdência Complementar uma opção

vantajosa.

A partir desse “descasamento” [entre piso salarial e piso previdenciário], num horizonte de médio para longo prazo, as classes C e D também precisarão de complementação à aposentadoria social. Nesse ambiente evolutivo, a comunicação será instrumento fundamental para dizer: olha, o salário mínimo está se divorciando do benefício de aposentadoria. Portanto, cuide de se preparar. Você que recebe o salário mínimo, prepare-se também porque, na aposentadoria, sua renda cairá. Os custos de gestão ainda estão altos, é verdade. Mas poderão baixar se levada em conta a lei dos grandes números.

Page 99: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

97

Plano de contribuição mínima para diferentes classes

trabalhadoras

Segundo o professor Ivan Sant‟Ana Ernandes,

multiplicar é uma operação que, relativamente, só depende

de uma capacidade de estender o Sistema de Previdência

Complementar para quem, além de contribuir e gerar

dividendos, pode ainda formar opinião, pavimentando uma

estrada rumo ao infinito.

Veja o caso das revendedoras Avon, Natura e similares. Se todas as revendedoras pudessem se reunir em um único plano instituído, por exemplo, com credibilidade, informação maciça e fiscalização, teríamos um canal poderoso para redução de custo de gestão. Veja ainda que – pela capacidade de formação de opinião – essas trabalhadoras poderão fazer muito pela conscientização de outros grupos sobre a necessidade da previdência complementar. Veja os transportadores urbanos de passageiros: a renda na aposentadoria do cobrador, do motorista urbano e de toda a cadeia laboral no setor poderia criar um plano, a contribuições mínimas, para a aposentadoria, buscando reduzir a distância existente entre o piso previdenciário e o salário mínimo. Outro exemplo? Os empregados em supermercados. Estamos considerando que, em todos os casos, os empregadores (contratadores, no caso de revendedores) possam fazer aportes aos fundos assim constituídos. Tais contribuições poderiam excluir riscos futuros associados a renda vitalícia, a exemplo do que já ocorre com os fundos instituídos.

Page 100: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

98

A democratização da previdência complementar e a

recuperação do valor do Salário Mínimo são mais do que

uma idéia abstrata. Hoje, tratam-se de metas políticas

atreladas ao desenvolvimento econômico. Entretanto, Ivan

Sant‟Ana Ernandes adverte que essa política precisa ser

maximizada para recompor também todos os demais

salários.

Para o salário mínimo, esse processo já está em curso. Em recente debate, Dilma Roussef falou em 74% de recomposição do Salário Mínimo. O Dieese fala em 53%. Enquanto discutimos o percentual, confirmamos a base: houve elevação do salário mínimo. Naturalmente que, da aritmética, salários acima desse mínimo estão “perdendo” valor, quando referenciados em múltiplos desse piso salarial. O inciso IV do artigo 7º da nossa Constituição proíbe a vinculação de qualquer coisa ao salário mínimo, excetuando apenas o piso previdenciário que pregamos também seja desvinculado. Para assegurar direitos adquiridos e acumulados, que se faça uma data de corte. Por exemplo: a nova regra passará a valer para quem entrar na força de trabalho no ano seguinte à sua publicação.

Viabilizar previdência complementar para o trabalhador

brasileiro, além do patrocínio do plano previdenciário,

também depende de algumas instituições que tenham

credibilidade e tradição no segmento possam assumir a

condução da idéia junto aos patrocinadores. O professor

explica:

Page 101: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

99

Que tal um plano, com iniciativa patrocinada pela ABRAPP e Avon? Estamos falando em patrocínio da idéia, não do plano. A Avon convoca suas revendedoras e a ABRAPP “vende” a idéia. A palavra “venda” está propositadamente destacada. Se “comprarem” a idéia da previdência, imagina a força de ”venda do tema previdência” dessas nobres trabalhadoras às suas clientes. A Avon poderia “bancar” a administração do plano com incentivos fiscais. Dessa forma, não seria cobrada taxa de administração das revendedoras. Eventuais bônus poderiam ser aportados na conta, dentro das políticas de premiação da Avon.

Poupança interna e desoneração do empregador

Durante a crise econômica de 2008 e 2009, o Governo

Federal utilizou uma política pública de incentivo ao consumo

para manter a economia aquecida. Mas, além disso, também

se valeu da poupança interna, formada pelos planos

previdenciários. Em razão do suporte que o Sistema de

Previdência Complementar fornece tanto no segmento social

quanto no segmento econômico, é possível cogitar uma

política de incentivo e desoneração dos empregadores para

que, além de contratantes formais, se tornem ainda

patrocinadores e ofereçam planos previdenciários para a

força de trabalho de suas empresas. Ivan Sant‟Ana Ernandes

esclarece:

Page 102: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

100

Parte da tranquilidade com que o Brasil enfrentou a crise se deve ao elevado índice de poupança interna, especialmente o proporcionado por poupança previdenciária, aplicado nos diferentes setores da economia. O incentivo aos empregadores deve ser considerado o principal tema. Porque tantos programas sociais diferenciados, vinculados ao trabalhador? O Estado, através do governo, poderia eleger a previdência complementar o principal instrumento de seguridade social. Tais recursos, difusos atualmente, poderiam ser unificados e aplicados em previdência capitalizada.

Pela perspectiva do empregador, uma política de

recursos humanos que oferece plano de previdência

complementar ao trabalhador é mais valorizada junto ao

mercado, tem visibilidade, demonstra respeito e colaboração

com a formação da dignidade e cidadania.

Concordo plenamente! Repito há anos que só pode ser chamada de ciência aquela que trabalha em prol da humanidade. Recentemente vi frase com esse conteúdo escrito nos anos 1930 por Pietro Ubaldi, no livro “A Grande Síntese”, o que me permite citar com propriedade. Então, se estamos trabalhando para dar razoável conforto àqueles que saem do mercado de trabalho, somos – a atuária e o Sistema Brasileiro de Previdência Complementar – ciência e cumprimos o nosso objetivo.

Para o professor, entretanto, o trabalhador também

pode ser alvo de uma política de incentivos tributários, uma

vez que ele manterá seu dinheiro investido por um período

Page 103: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

101

maior de tempo e com o propósito de complementar a renda

durante a aposentadoria.

Se puder ser mais, ótimo! Se não, pelo menos os atuais programas de incentivo deveriam estar associados a trabalho e amparo social. Todos voltados para o bem da coletividade.

Com relação à educação previdenciária, Ivan Sant‟Ana

Ernandes é categórico. É preciso fazer mais! Só assim será

possível, inclusive, mudar a percepção e o conceito que hoje

são atribuídos no Brasil à aposentadoria.

As iniciativas de educação previdenciária existentes ainda mostram-se excessivamente tímidas, por falar apenas a quem já está no sistema. Talvez seja a grande oportunidade de ganhar “musculatura” suficiente para extrapolar os atuais muros e alcançar a toda a sociedade brasileira. As ações imediatas seriam: comunicação dirigida à sociedade, com envolvimento direto dos diversos agentes, incentivos fiscais e, principalmente, unificação dos diversos instrumentos governamentais de amparo social. Devemos repensar a previdência, mesmo a complementar, como “antecipação de aposentadoria”. Pessoalmente não sou a favor da solução de aposentar para “ganhar mais” ou “para ter outro emprego”. Prefiro que seja “para ter outra atividade, tão ou mais prazerosa quanto a que tenho hoje”.

Page 104: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

102

Em outras palavras: Previdência Complementar

também deve ser entendida como sinônimo de oportunidade

de realização. E, para efeito de síntese, podemos afirmar que

este tecido comunicacional articula e entremeia diferentes

fios ou vertentes discursivas, diferentes vozes. O trabalhador,

o empregador, o Estado, as EFPC, as instituições que podem

congregar todos esses públicos de interesse.

Deixamos explícito, entretanto, que não é só por meio

de mensagens que se viabilizará a ampliação do Sistema de

Previdência Complementar no Brasil. Essa meta exige ações

de diversas naturezas: políticas, econômicas, sociais,

tributárias, legais, que incluem a comunicação em sua

gênese – na interface com públicos específicos – mas

antecedem a comunicação junto à sociedade. Daí a

necessidade de soluções efetivas, associadas a

planejamentos integrados de comunicação, para atingir os 17

milhões de brasileiros, num tempo determinado e razoável. A

mudança cultural e comportamental poderá ser conquistada

por meio da comunicação e da educação mas,

principalmente, por planos capazes de acolher e ser

atraentes para todo tipo de trabalhador.

Page 105: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

103

Decisões arrojadas revitalizam o Setor de Previdência

Complementar

A técnica tem por objetivo transcender e concretizar a

proposta teórica. É isso o que mostra a experiência do plano

Votorantim-Prev – com 27 mil participantes e que ocupa o

ranking das 15 maiores EFPC do país. No dia 18 de agosto

de 2010, Paulo Roberto Pisauro, diretor superintendente,

concedeu entrevista exclusiva que demonstra como as

soluções técnicas e decisões arrojadas podem, além de

criativas, atingir grupos cada vez maiores de cidadãos. Há 16

anos, a entidade trabalha para que todos possam se

beneficiar dos resultados que o plano previdenciário oferece.

Em número de participantes, temos uma importante representação no setor. A cultura previdenciária, infelizmente, não está incutida na grande maioria dos brasileiros, mesmo naqueles em condições de entender do assunto. Dentro de nosso pequeno universo que inclui os 27 mil participantes e seus familiares, temos tentado dar uma contribuição. O grau de adesão dentro do nosso Grupo é bom (90%), mas temos a pretensão de chegar mais longe com campanhas e esclarecimentos em eventos internos, assim como combater alguns focos de resistência, influenciados principalmente por fatores externos à empresa.

Paulo Pisauro explica que, nesse esforço de superar as

resistências, surgiu uma nova oportunidade de oferecer

cobertura previdenciária a mais pessoas, aproveitando a

Page 106: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

104

experiência do Votorantim-Prev e a contribuição da entidade

no desafio de apostar no crescimento do Sistema de

Previdência Complementar.

Esse foi o motivo que nos levou a procurar uma alternativa para proporcionar aos familiares dos participantes, acesso a administração de fundos previdenciários, a custos mais baixos. Quando você oferece algo mais barato que o mercado surge o interesse no assunto, daí uma contribuição à cultura previdenciária. Nosso propósito, então é de difundir e facilitar o acesso a uma camada que consideramos importante. Se tomarmos 27 mil participantes e estimar que pelo menos três familiares de cada um deles tem potencial de adesão, teríamos um potencial de 81 mil novos integrantes nesse segmento. Se todas as Entidades procurassem o mesmo caminho, certamente teríamos um número expressivo.

A solução técnica de gestão da entidade foi, então,

estabelecer uma parceria com uma entidade aberta de

previdência complementar que pudesse operacionalizar e

viabilizar o projeto para oferecer o plano. O diretor

superintendente explica os principais aspectos considerados

e que influenciaram a decisão.

Muitos acabam não entendendo porque a Fundação Senador José Ermírio de Moraes - Funsejem oferece um plano aberto para os familiares se já tem seu próprio plano. É simples: o plano de previdência complementar da Votorantim é um benefício oferecido aos seus funcionários. Se incrementar com outros propósitos, estará criando uma outra finalidade do original específico aos

Page 107: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

105

funcionários. Além disso, também, há de se admitir que, quando há necessidade de transferir ou liquidar um plano – seja por venda, cisão ou fusão entre empresas, por exemplo – esses acessórios dentro dos planos acabam constituindo-se em detalhes que podem trazer problemas em negociações. Há também a questão da perenidade. Se você tem um plano para uma determinada população e a multiplica por três, como nosso caso, terá um custo considerável para administração.

Ousadia e inovação para transpor obstáculos e dar

origem a um trabalho convergente que vai beneficiar a EFPC,

a EAPC e os familiares dos participantes, que contarão com

um plano de previdência complementar financeiramente

atraente. Paulo Pisauro destaca como o modelo de plano se

distingue.

Desconhecemos se existe oferta semelhante ao que estamos criando. Os gestores financeiros que consultamos não têm esse modelo e também estão muito interessados em oferecer ao mercado. Podem surgir daí novidades que eles próprios (gestores) poderão copiar e oferecer às outras entidades. O que conhecemos é exatamente entidade que tem “plano família” dentro de seus planos, através de um agente Instituidor, o que é diferente de nosso modelo.

Para o dirigente, o incentivo da entidade à cultura

previdenciária está em linha com a sua missão. Mas existe

um trabalho de comunicação que diferencia a EFPC da

EAPC.

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106

A difusão da cultura previdenciária dentro da família Votorantim é e será permanente. A oferta de oportunidade para além dos funcionários é apenas uma forma de aplicar essa cultura. Vamos incentivar, sem, contudo, ser um representante da instituição financeira que cuidará desse propósito para que não haja interpretação errônea. Certamente, boa parte dos cônjuges, filhos e netos dos participantes não têm a mesma oportunidade que eles têm com a Funsejem. Mas poderão tê-la, assim que o contrato for firmado, e darão mais valor aos princípios previdenciários que a Funsejem vem pregando.

A Funsejem tem dois profissionais dedicados à área de

comunicação, responsáveis por executar e disseminar a

política da entidade que considera a cultura previdenciária

um atributo importante e indicador de um comportamento

lúcido, espontâneo, voluntário. Por isso, reconhece o

potencial do participante como formador de opinião.

Nossa preocupação primordial é de levar aos participantes e seus familiares todo tipo de informação importante e difundir entre eles, e outras pessoas que eles possam influenciar, a cultura previdenciária. Dentro das empresas patrocinadoras sempre divulgamos cartazes e informativos nos diversos murais; também temos informativos via e-mail, que é eficiente, mas não atinge toda população. Temos uma revista bimensal que endereçamos para a residência do participante com o fim de que a família do mesmo tenha contato com as principais informações da Funsejem. É nossa preocupação enviar a cada três meses um extrato também à residência do

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107

participante com o mesmo intuito de que a família tenha esse conhecimento. No “site”, publicamos informativos e disponibilizamos o fale conosco; simuladores de perfil e um canal telefônico pelo qual recebemos ligações a cobrar. Procuramos dar espaço e facilitar canais para falar com o participante. Fazemos reuniões periódicas com os responsáveis pelas diretorias e gerências das diversas unidades de RH do Grupo, para reciclar e mantê-los atualizados sobre a Funsejem, já que é também comum o RH ser procurado pelos participantes para falar de Funsejem.

Paulo Pisauro afirma que, para a Funsejem, a

comunicação é um instrumento cuja importância está

representada inclusive dentro do orçamento da entidade.

A Comunicação é, enfim, ferramenta que detém uma parcela considerável dentro de nosso orçamento geral. Nosso principal foco, e portanto desafio na comunicação, é esclarecer sobre perfis de investimentos e alertar sobre riscos. Dentro desse contexto a abordagem é alertar e dar ênfase sobre os riscos que os investimentos carregam e conscientizar os participantes nessa decisão, ponderando também sobre prazos de aposentadoria.

Junto ao participante, cabe à Comunicação atuar

simultaneamente com didatismo e imparcialidade. É preciso

entender, de antemão, que cada participante tem um perfil

único, sujeito ainda a variantes do contexto e dos riscos a

que ele está exposto. Assim, o diretor adverte:

Page 110: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

108

A questão de que os investimentos em previdência são de longo prazo é muito polêmica e não pode ser generalizada; afinal quem sabe o prazo do outro? Depende de quando você começa ou começou. Alguém é capaz de afirmar para uma pessoa que está com 60 anos que ela deve excluir de seu perfil os investimentos de risco? Ninguém sabe quando essa pessoa vai ou quer aposentar-se! Somos só capazes de analisar sob o ponto de vista estatístico ou legal. Mas, geralmente essas pessoas não olham para si próprias; não olham para as estatísticas e regulamentos de outros países, ou seja, muitas vezes praticam uma coisa e pregam outra para si próprias. Ninguém sabe se aquela pessoa, na idade em que está, tem outro patrimônio administrado e pode deixar aquele da previdência em risco ou fora dele. Por outro lado, se você compara a rentabilidade das aplicações de riscos e as de renda fixa, dependendo do período que você analisa, verifica que os resultados são diferentes. Enfim esta questão também é muito polêmica, muito pessoal e particular de cada indivíduo.

Perseverança, sutileza, habilidade, estratégia são

algumas características que tornam a Comunicação em

Previdência Complementar uma prática singular, sempre

sujeita a diferentes interpretações, mas invariavelmente em

busca da uniformidade, da melhor imagem e identidade para

participantes, patrocinadores e entidade. Cabe ainda à

Comunicação estabelecer as bases para uma reputação

sólida, que possa sustentar as decisões e catalisar cada vez

mais credibilidade para a entidade e todo o Sistema de

Previdência Complementar. Por isso, Paulo Pisauro destaca:

Page 111: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

109

Comunicar é desafio constante. Você tem que falar todos os dias a mesma coisa para os mesmos públicos e sempre haverá mal entendidos ou dúvidas. Hoje o mundo proporciona uma infinidade de informações com agilidade impressionante, mas 90% de informação inútil. Esse é o desafio: atingir o alvo com objetividade informando o que é mais importante.

Além da comunicação, para o diretor, outras medidas

estruturais podem ser definidas com o objetivo de tornar o

Sistema de Previdência Complementar ainda mais viável,

equilibrado e atraente, inclusive, para empresas e entidades.

Eu acho que os órgãos reguladores deveriam estudar um caminho alternativo além de ter um Instituidor dentro dos planos. Algo que não exigisse custos elevados de administração dentro das entidades fechadas, nem preocupações sobre a manutenção de um plano ao longo do tempo. Há de se convir que quando você admite um plano dentro da Instituição, você tem que admitir também que terá aquele universo de participantes de forma praticamente perene.

Ao aproximar os depoimentos de Ivan Sant‟Ana

Ernandes e Paulo Roberto Pisauro procuramos demonstrar

as convergências e similaridades entre uma proposição

teórica e a solução prática. David Harvey, geógrafo inglês da

Universidade de Cambridge e professor da Universidade de

Oxford e City University of New York, afirma que uma

descoberta científica ou as soluções de problemas sempre

surgem em resposta a uma necessidade social. No setor de

Page 112: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

110

Previdência Complementar, sem dúvida, este é um momento

em que as necessidades sociais passaram a demandar

novos formatos, novas atitudes. Por isso, os principais atores

do Sistema têm uma responsabilidade muito grande de

conduzir esse processo por conhecerem – mais do que os

demais – os riscos e as oportunidades, por reconhecerem

que a capacitação de seus principais atores, os participantes,

será a grande alavanca de transformação de comportamento,

que dará base a um efetivo desenvolvimento e progresso

social.

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia

Como profissionais de comunicação, nos propusemos a

desenvolver uma análise sistêmica das diferentes variáveis

que se entrelaçam para formar o tecido discursivo do

Sistema de Previdência Complementar. Por isso,

evidenciamos os aspectos teórico e técnico para, com essa

base, propor algumas premissas específicas da

comunicação, considerando que existem diferentes

abordagens, propostas, modelos, conceitos, princípios

estratégicos, procedimentos que tornam a gestão da

comunicação um processo de resultados concretos. Todos

os recursos são válidos, desde que as condições propícias

Page 113: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

111

para implementação estejam definidas, avaliadas em relação

à sua pertinência e coerência.

Nosso objetivo, portanto, não é elaborar um modelo,

mas aproveitar a oportunidade para elucidar alguns aspectos

que a análise das mensagens que, hoje, o Sistema de

Previdência Complementar utiliza para se expressar.

Para nós, associada às possibilidades de comunicação

junto aos incontáveis públicos de interesse – participantes,

patrocinadores, sindicatos, associações de classe, governo,

imprensa, comunidade, sociedade – está a demanda de

expandir o valor simbólico do Sistema de Previdência

Complementar no imaginário desses públicos, reconhecendo

que existe um capital intangível que se acumula a nosso

favor, conforme conseguirmos construir um referencial sólido

junto a esses diferentes públicos. Isso significa trabalhar

com valores como conforto, segurança, equilíbrio,

responsabilidade, sustentabilidade, compartilhamento, ética,

inteligência.

Equilíbrio não se trata de lucro. Exclui, portanto, em

sua essência, o consumismo, o comportamento predatório

inclusive em relação à idéia de lucro individual. Quem faz

Previdência Complementar busca uma situação que garanta

a manutenção de uma estabilidade financeira no longo prazo.

Responsabilidade: de todos. Porque Previdência

Complementar se trata de uma relação de confiança e

Page 114: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

112

fidelidade (fidúcia). Portanto os envolvidos – participantes,

patrocinador, entidade, legisladores, mercado –

necessariamente precisam de atitudes conscientes, que

promovam todos esses segmentos.

Compartilhamento: planos previdenciários são

individuais mas, somados, geram benefícios para a família,

para o grupo, para o mercado de trabalho, para a economia,

para a sociedade. Essa percepção de Sistema também

contribui para a idéia de proteção e segurança.

Autonomia e independência: como resultado de

planejamentos lógicos nas esferas pessoal, familiar e social.

Num mundo cada vez mais individualista, esses valores

distinguem e tornam as pessoas reconhecidas nos níveis

locais e as empresas, investidores e economias em níveis

globais

Inteligência: se a Previdência Complementar promove

ganhos simultâneos em tantos segmentos da sociedade, as

decisões de investimento em planos previdenciários não se

confundem com especulação financeira, reconhecem riscos,

mas – pela relação de longo prazo – também consideram

naturais as instabilidades, oportunidades e recuperações do

mercado.

Sustentabilidade: a oposição entre imediatismo e

longo prazo estão na gênese desse conceito. Trata-se de

uma relação consciente com o tempo. A disciplina e a

Page 115: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

113

perseverança são formas de fazer frente aos riscos e à

vulnerabilidade de uma cobertura parcial da Previdência

Oficial.

Cidadania: o valor que se quer atribuir aos

participantes dos planos previdenciários não é a de

privilegiados, mas de cidadãos emancipados, conscientes,

lúcidos, sujeito e principal beneficiário de suas escolhas.

E com um repertório simbólico constituído, associado a

uma experiência positiva de serviço, poderemos pensar

ainda na avaliação e mensuração metódicas e sistêmicas de

um novo patrimônio intangível do Sistema de Previdência

Complementar: o nível de fidelidade do participante e do

patrocinador às EFPC administradoras de seus planos

previdenciários.

Formar exige ousadia

Se pretendemos falar e convencer 17 milhões de

brasileiros, temos que traçar estratégias que viabilizem essa

meta. Precisamos responder quem são, onde estão, como se

comunicam essas pessoas. Precisamos de modelos de

análise que nos permitam identificar cada subgrupo para criar

produtos e mensagens customizadas para nos aproximar e

interagir adequadamente com esse universo. Porque como

nos ensinam Philip Kotler e Nancy Lee:

Page 116: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

114

A macrossegmentação supõe uma estratégia de “tamanho único” que muitas vezes leva a resultados decepcionantes. Essa estratégia não só ignora os desejos, as necessidades e as preferências das pessoas, mas também ignora a necessidade de desenvolver estratégias que podem ser cruciais para seu mercado-alvo

54.

Todos os canais e recursos, devidamente avaliados

dentro de seu potencial, são imprescindíveis. E atribuímos à

esfera pública sensibilizar, subsidiar, convocar e alimentar

alguns deles, especialmente as mídias responsáveis pela

comunicação de massa.

Como ampla decisão política é preciso fazer constar o

tema da Previdência Complementar na pauta de telejornais,

telenovelas, radionovelas, reportagens especiais, concursos,

jornalistas, blogueiros, twitteiros. É preciso mobilizar o grande

público. Por esse motivo, cabe pensar em uma aliança

das esferas pública, público-privada e privada que – a

exemplo do que já é praticado para entender as formas

sofisticadas de preservação da administração e dos

investimentos financeiros (SBR) – o Sistema de

Previdência Complementar também possa contar com

54

KOTLER, P. e LEE, N. Marketing contra a pobreza – as ferramentas da mudança social para formuladores de políticas, empreendedores, ONGS, empresas e governo. Porto Alegre, Bookman, 2010, p. 115

Page 117: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

115

consultores internacionais e nacionais e estrategistas na

área de marketing social.

Seminários que reúnam profissionais em torno de

temas como comunicação, mercado de trabalho,

desenvolvimento de recursos humanos, sustentabilidade,

protagonismo social são oportunidades para que a

Previdência Complementar esteja presente na programação

e na agenda desses eventos.

A formação de uma nova consciência sobre consumo

consciente, economia doméstica e hábitos de poupança de

longo prazo depende de uma rede permanente de

informações qualificadas que possam sustentar a

transformação de comportamentos e condutas. E, como

estamos defendendo aqui a perenidade dessa cultura

previdenciária, não propomos campanhas pontuais, cujos

resultados, como vimos, são imediatos, porém, não se

sustentam no tempo. Precisamos criar uma cadeia de

valores estáveis, capazes de desencadear a curiosidade,

o desejo e a vontade de se conquistar uma qualidade de

vida diferenciada. Além dos recursos convencionais – como

jornais, revistas, boletins, portais – os principais atores do

Sistema de Previdência Complementar têm de se apropriar

de jogos e animações eletrônicos, treinamento e educação a

distância, redes sociais, mensagens SMS, blogs, twitter e

simuladores, buscando desenvolver o que Viktor Blazek -

Page 118: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

116

pesquisador da Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo - chama de interatividade

qualificada, isto é, aquela capaz de fazer aprender, mobilizar

o interesse e estimular a recriação do modelo de

aprendizagem.

Ambiciona-se então para a interatividade do jogo um valor resultante de um processo em que os jogadores possam participar da proposta comunicativa, transportando para o formato de jogo e devolvendo para o fluxo da mensagem uma contribuição rica e colaborativa

55.

Formação, como nos disse Ausônia Donato, não é

condicionamento. Estamos em busca de um conjunto de

atitudes que ultrapasse e supere a mera reação

automatizada a um estímulo imediato. Em nossas ações de

comunicação e educação previdenciária, precisamos lembrar

que estamos tratando simultaneamente de aspectos

racionais – relacionados a noções lógico-matemáticas,

regras, normas – e emocionais, valorativos – relacionados à

inteligência social. Por isso, consideramos útil revisitar a

55

BLAZEK, V. A interatividade qualificada dos jogos digitais - Estudo de Caso sobre o Vivo em Ação. Dissertação de mestrado apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. 2009, p. 68. Disponível em http://www.pos.eca.usp.br/sites/default/files/file/bdt/2009/2009-

me-blazek_viktor.pdf

Page 119: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

117

tipologia cerebral humana proposta por Edgar Morin56,

representada no quadro a seguir:

HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFÉRIO DIREITO

Pensamento analítico, abstrato

Pensamento intuitivo, concreto

Explicação Compreensão

Focalização sobre os objetos

Focalização sobre as pessoas

Linearidade, seqüencialidade, serialidade

Simultaneidade, síntese, globalidade

Racionalidade, cálculo Estética, arte

Controle, dominação social Comunicação psicoafetiva

Masculino Feminino

Técnico Artístico

Cultura (educação ocidental)

Cultura (educação oriental)

Transpondo essa mesma estrutura para o campo da

comunicação, podemos dizer que, apesar de eficiente, a

construção do referencial simbólico, da proposta de valor da

Previdência Complementar não deve se limitar somente aos

atributos técnicos dos serviços que presta. Essa é uma

armadilha reducionista, que provoca uma distorção na

percepção da imagem, restringindo-a normalmente a seus

aspectos financeiros e econômicos, como já pudemos

verificar.

56

MORIN, E. apud IBAIXE, C., SOLANOWSKI, M., IBAIXE JR., J. Preparando aulas – manual prático para professores. Passos para formação do educador. São Paulo. Madras. 2006, p. 17

Page 120: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

118

Os atributos técnicos tratam das características

objetivas e lógicas do modelo e são importantes para a

escolha do indivíduo porque se relacionam diretamente com

a experiência de utilização. Entretanto diferentes serviços

financeiros podem possuir atributos técnicos similares. Daí a

dificuldade para o público perceber o que distinguem esses

serviços entre si. Além disso, esses atributos pressupõem

uma decisão sempre racional. Porém, muitas decisões e

escolhas são emocionais. Por isso, no processo de

comunicação deve estar presente uma proposta de valor que

combine benefícios funcionais, benefícios emocionais e

benefícios de autoexpressão57.

Os benefícios funcionais são aqueles que

caracterizam a utilidade, possuem vínculo direto com as

decisões de compra e com a experiência de uso do cliente. O

desafio é utilizar esses benefícios para construir uma posição

que se destaque em relação às demais opções do mercado.

Esta última tarefa envolve não só a criação de um produto ou serviço, mas também a comunicação dessa capacidade aos clientes. A comunicação, é claro, nunca será uma tarefa trivial, podendo, às vezes, ser extremamente difícil

58.

57

AAKER, D. Construindo marcas fortes. Porto Alegre. Bookman. 2007, p.83 58

Idem, p. 99

Page 121: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

119

Produtos ou serviços possuem benefícios emocionais

quando proporcionam uma sensação positiva aos clientes.

Para o Sistema de Previdência Complementar, são

benefícios emocionais a segurança e a proteção que se

adquire para a preservação da qualidade de vida,

especialmente na aposentadoria. Mas existem outros

benefícios ou atributos emocionais: a sustentabilidade,

tratada como comportamento de equilíbrio, lógica e

necessidade de um planeta em plena transformação.

Os benefícios emocionais acrescentam riqueza e profundidade à experiência de possuir e usar [um serviço, um produto, uma marca].[...] Para descobrir os benefícios emocionais que são ou poderiam ser associados [a um serviço, produto ou marca], o foco das pesquisas terá de se concentrar nas emoções. Como se sentem os clientes quando estão adquirindo ou usando [um serviço, produto ou marca]? Quais são as sensações suscitadas pela obtenção de um benefício emocional? A maioria dos benefícios funcionais irá incorporar uma emoção ou um conjunto de emoções correspondentes.

59

A autoexpressão diz respeito ao potencial que

serviços, produtos e marcas possuem para se tornar

símbolos da autoimagem de uma pessoa, desde que forneça

elementos pelos quais essa pessoa possa comunicar,

expressar sua própria imagem. A autoexpressão é um

59

Ibidem, p. 100

Page 122: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

120

poderoso elemento de conexão entre o consumidor e o

serviço, produto ou marca que o representa.

Dessa forma, a comunicação que vise uma cultura

previdenciária tem que ser multidimensional, usando

recursos combinados que possam sensibilizar e explicar,

transmitir conceitos e distinguir modelos, produzir

conhecimento e reorganizar valores. Essa identidade deve

ser persuasiva, universal, capaz de se impor em qualquer

contexto, de se estabelecer diante de qualquer outro produto

ou serviço financeiro do mercado.

De modo bem prático, é preciso considerar que o

resultado que se espera de um processo comunicativo é a

transformação de uma situação previamente estabelecida,

pelo enriquecimento mínimo do repertório do interlocutor.

Portanto, é preciso ter uma intenção clara e um plano de

ação que permita atingir, de forma assertiva, esse resultado

específico.

A aprendizagem sempre envolve o processo de mudança ou transformação a partir da dinâmica mental neuronal que se verifica no cérebro humano. De forma sintética, essas mudanças ou transformações envolvem: pensamentos, sentimentos e ações que se projetam na realidade social

60.

60

IBAIXE, C., SOLANOWSKI, M., IBAIXE JR., J. Preparando aulas – manual prático para professores. Passos para formação do educador. São Paulo. Madras. 2006, p. 30

Page 123: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

121

O que queremos dizer aqui é que a comunicação do

Sistema de Previdência Complementar não pode mais se

restringir aos aspectos técnicos e legais das mensagens. É

preciso criar outros apelos que possam ser percebidos

de forma integrada ao cotidiano das pessoas.

Ao garantir segurança em todos os momentos, os fundos de pensão proporcionam bem-estar e tranqüilidade, que se refletem positivamente no desempenho profissional e emocional. É esse caráter abrangente da função de nossas entidades que deve ser disseminado – o futuro individual e coletivo não pode ser uma dúvida nem uma ameaça, mas converter-se na certeza de um amanhã digno se iniciativas forem tomadas, consolidando-se em ações efetivas para a mudança do comportamento de nossa sociedade

61.

Por isso, e reconhecendo todo o mérito das medidas

adotadas e dos avanços em relação à comunicação e

educação, é que nos permitimos sugerir que o papel de

fiscalizador, atribuído ao participante, seja revisto.

Participantes e assistidos adquirem ferramentas úteis para o planejamento e o controle de sua vida econômica e financeira e se capacitam para o exercício de fiscalização e acompanhamento de seu plano previdenciário

62.

61

Comunicação: o futuro presente – os novos rumos da prosperidade social. Comissão Técnica de Comunicação Social e Marketing da ABRAPP 62

Guia PREVIC – Melhores práticas em fundos de pensão. Brasília. Superintendência Nacional de Previdência Complementar. 2010, p. 17

Page 124: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

122

Um participante fiscal pode pressupor uma relação de

oposição à administração que está sendo feita dos seus

recursos financeiros pela EFPC. Um participante fiscal pode

deixar de perceber o papel do patrocinador na formação de

um patrimônio tangível e intangível que transforma o

presente, incentivando o desenvolvimento da economia, e o

futuro, proporcionando dignidade e sustentabilidade para a

vida. Um participante fiscal pode não possuir uma percepção

sistêmica de todos os aspectos – individuais, coletivos e

sociais – que estão implícitos nos resultados de um plano

previdenciário.

Entendemos que o que a PREVIC pretende estabelecer

– considerando o dever fiduciário que orienta a natureza das

EFPC – é antes uma relação de confiança, de pacto, de

entendimento que permita a todos os atores do Sistema

entenderem os benefícios funcionais para reconhecer e

desejar os benefícios emocionais dos planos previdenciários

e, por meio deles, exercitar sua mais plena autoexpressão.

Participante: o formador de opinião, o agente de

mudança

Pensar o formato de comunicação chamado 360º é

imaginar a informação disponível nas mais diferentes

circunstâncias: escola, seminários, feiras e exposições,

Page 125: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

123

bibliotecas e parques públicos, treinamentos, telenovelas,

revistas e gibis, blogs e sites da internet, vídeos do Youtube,

no telefone celular. Em qualquer lugar onde se esteja, as

mensagens reiterando uma consciência diferenciada vão

desencadear mecanismos pelos quais o interlocutor, o

público de interesse se identifique e associe sua capacidade,

seu poder de decidir construir uma vida e um futuro melhor.

O fato de compartilhar uma descoberta dá ao indivíduo a impressão que ele está realizando uma ação útil. Não se trata de „se fazer valer‟, mas de „se fazer reconhecer‟. Está provado que todo indivíduo tem necessidade desse tipo iniciativa. Mesmo os mais egoístas, os mais solitários, têm necessidade de comunicar sua emoção quando descobrem algo surpreendente e que pode ser útil aos outros. Adoramos mostrar aquilo que nos encanta

63.

Valores, identidade, capacidade de fazer escolhas

acertadas, ponderação das decisões. Esses valores e

atributos estão à disposição de quem pretende estabelecer

um processo de comunicação consistente com os públicos

de interesse do Sistema de Previdência Complementar e

com toda a sociedade. Um processo de comunicação que se

proponha a construir relações de longo prazo, baseadas na

confiança, na educação e no respeito que, como resultado

correlato, terminam constituindo grandes formadores de

63

CHETOCHINE, G. Buzz marketing – sua marca na boca do cliente. São Paulo. Financial Times - Prentice Hall, 2005, p. 18

Page 126: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

124

opinião. O historiador e professor Jorge Borges de Macedo

conceitua esse processo:

[...] há opinião pública quando um ponto de vista de interesse colectivo se transfere do grupo ou pessoa que o formula para uma área social mais ampla e exprime uma atitude de intervenção. Os dois elementos – o grupo formulante e a área social de aceitação – têm de ser diferentes para que haja opinião pública. Para se constituir a opinião pública tem que se dispor de mecanismos de difusão para se apresentar como pública

64.

Cabe, entretanto, explicar que a opinião pública não é

estável. Ela está sujeita e é suscetível a medos coletivos,

pressões ou mesmo mecanismos preexistentes. Daí a

necessidade de se preparar muito bem a opinião pública para

lidar com essas controvérsias65. Isso aumenta ainda mais a

responsabilidade dos comunicadores presentes nas EFPC.

Existe a percepção de uma diferença essencial que distingue

informação de conhecimento. E somente o conhecimento é

capaz de respaldar uma estabilidade junto à opinião pública.

Em 2009, a agência Young & Rubicam produziu uma campanha

publicitária para o jornal O Estado de S. Paulo, distinguindo os

64

MACEDO, B. WWW.ieei.pt/files/Borges-de-Macedo-A-opiniao-publica-na-Historia-e-a-Historia-na-opiniao-publica. Consultado em março de 2010. 65

MACEDO, B. WWW.ieei.pt/files/Borges-de-Macedo-A-opiniao-publica-na-Historia-e-a-Historia-na-opiniao-publica. Consultado em março de 2010.

Page 127: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

125

conceitos de informação e conhecimento. Achamos

esclarecedor relembrar, aqui, a mensagem tão lúcida e clara:

Informação é diferente de conhecimento. Informação passa. Conhecimento fica. Informação está em todo lugar. Conhecimento é difícil de achar. Informação envelhece. Conhecimento é para sempre. Informação vem até você. Conhecimento leva você mais longe. Se hoje a informação é de graça, qual o valor do conhecimento?

66

Consideramos formadores de opinião os indivíduos com

senso crítico, capazes de selecionar e articular informações

qualificadas para, a partir delas, elaborarem análises sólidas,

tendo claros os riscos e as oportunidades que o Sistema de

Previdência Complementar envolve. Porque planos

previdenciários são negócios de longo prazo e precisam ser

entendidos por essa perspectiva, que contempla ainda

questões como desenvolvimento econômico e social.

O formador de opinião que nos interessa se assemelha

ao sujeito da aprendizagem, definido por Ausônia Donato:

aquele que tem conhecimento, consciência, domínio, método

para formar e, principalmente, critério para compartilhar e

socializar seu próprio repertório. É esse o cidadão e o

formador de opinião que o Sistema de Previdência

Complementar deve procurar desenvolver e estimular,

66

Vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=jLjXvSVKdAw

Page 128: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

126

considerando que o desenvolvimento social e o progresso

estão necessariamente associados à liberdade de

consciência e de escolha.

Sonho que se sonha junto: uma nova realidade!

Qual é a infraestrutura que o Sistema de Previdência

Complementar realmente dispõe para criar uma cultura

previdenciária junto à sociedade?

– Podemos pensar, de imediato, no Ministério da

Previdência Social, na Superintendência Nacional de

Previdência Complementar – a PREVIC, e na Secretaria de

Políticas de Previdência Complementar – a SPPC, para tratar

das EFPC. No Ministério da Fazenda, para tratar das EAPC e

seguradoras. Também podemos lembrar do Ministério da

Educação, que estabeleceu uma importante parceria na

consolidação do Programa de Educação Previdenciária

(PEP) e da Estratégia Nacional de Educação Financeira

(ENEF).

É possível ir além?

– Acreditamos que a resposta é: sempre!

Por isso, sugerimos ao poder público que essas

parcerias sejam estendidas a todos os mecanismos da Secretaria

de Comunicação.Social da Presidência da República e do

Ministério do Trabalho e Emprego.

Page 129: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

127

Julgamos fundamental estabelecer uma agenda de

eventos nacionais e internacionais que possa contar com

palestrantes, profissionais e entidades que tratem da

Previdência Complementar, de forma mais ampla ou

específica. Também é importante contar com depoimentos

de participantes nesses eventos. Os planos de previdência

complementar possuem uma diversidade enorme de perfis

que deve ser explorada, para que se aproveite a

oportunidade de se estabelecer identidades em todos os

níveis econômicos e sociais, faixas etárias, profissões,

etnias, o que vai representar – em termos de construção do

imaginário e do repertório previdenciário – uma verdade

absoluta: o Sistema é realmente para todos!

Se pensamos em Sistema, necessariamente temos

que considerar sua abrangência, seus potenciais. Temos que

tentar entender quais são suas possibilidades. Foi isso que

pretendemos mostrar aqui. As diferentes faces, os vários

atores, as incontáveis vozes. Para nós, tudo isso se

interconecta, se articula, ainda que em esferas distintas.

Cabe a nós – profissionais do Sistema de Previdência

Complementar - aprimorarmos essas percepções,

estabelecermos novos laços, estreitarmos relacionamentos,

ocuparmos outros espaços, conquistarmos corações e

mentes, atuarmos técnica e politicamente, para cumprirmos

de forma integral nosso papel.

Page 130: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

128

Page 131: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

129

ESPERANÇA: O CAMINHO QUE SE DEIXA DE

HERANÇA

Certas escolas são equipadas apenas com a obstinação

dos que desejam aprender67

Em nossas considerações finais, queremos deixar

registrado nosso respeito a todos os passos, a todas as lutas,

a todas as construções que foram feitas para que o Sistema

de Previdência Complementar seja uma conquista comum a

todos.

Aqui, descrevemos apenas uma pequena parte de todo

esse processo ao qual desejamos somar mais uma

sementinha. Mas temos muita esperança que ela vá

contribuir significativamente para estimular novas

inspirações, idéias e principalmente realizações.

O povo brasileiro é inteligente. Ele entende o que

significa redução de impostos, juros altos, inflação. Entende o

que é portabilidade, cuja campanha de comunicação mais

expressiva para divulgação desse conceito foi capitaneada

pela Agência Nacional de Telecomunicações e pelas

67

BUARQUE, C. e SALGADO, S. O berço da desigualdade. Brasília. UNESCO, Instituto Sangari, 2009, p. 90

Page 132: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

130

companhias telefônicas. Entende o que é proteção e

equilíbrio ambiental e coleta seletiva. Todas essas

experiências criaram instrumentos de proteção e também de

emancipação do cidadão.

Nossa missão agora é, por meio dos planos

previdenciários e da Previdência Complementar, atualizar o

conceito de consumo e equilíbrio financeiro, sustentabilidade

da vida e criar uma tecnologia social que torne a sociedade

brasileira melhor. Em 2007, durante o 27º Congresso

Brasileiro dos Fundos de Pensão, Paulo Henrique Amorim

lançou à uma platéia de mais de dois mil integrantes do

Sistema o seguinte desafio:

Será tão difícil assim vender o futuro?

Se quisermos criar uma cultura sustentável, a resposta

é sim. Mas, não é impossível. Talvez conhecer hábitos de

consumo seja um caminho. Vale dizer que a Revista Exame,

em 28 de julho de 2010, publicou a matéria Consumo: força

da economia, na qual aborda os hábitos dos brasileiros,

considerando que o Brasil está se transformando em uma

economia de massa. Especialistas determinaram que três

tendências comportamentais merecem atenção:

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131

TENDÊNCIA DE CONSUMO

CARACTERÍSTICAS DE CONSUMO

1ª Quero ter

mais

Dos consumidores remediados aos mais abastados, o anseio é melhorar o que já foi conquistado e incorporar o que está fora do orçamento. Aqueles que já superaram as necessidades básicas, expandem seu universo de consumo agregando novos itens. Nas classes mais altas, a tendência é de sofisticação. Segundo a consultoria BGC, 26% dos consumidores aceitam gastar mais para comprar produtos melhors.

2ª Quero saber

mais

Investimento em educação e acesso à internet e a TV a cabo são beneficiados por essa tendência. Entre os emergentes, é uma estratégia pragmática: estar mais preparado significa conseguir um emprego melhor no futuro. Isso vale, sobretudo, para os filhos. Por isso, as escolas de inglês e informática se multiplicam nas periferias. A educação é valorizada em todas as classes sociais, mas para os mais pobres é o que pavimenta o caminho para uma renda maior e para novos hábitos de consumo.

3ª Quero

experimentar mais

É o impulso que motiva boa parte dos consumidores emergentes a viajar de avião pela primeira vez, a conhecer um restaurante ou a passar a freqüentar cinemas e teatros. Os novos hábitos incluem o consumidor em ambientes que não conhecia. Isso também

vale para as compras no supermercado. De produtos mais saudáveis a guloseimas, o consumidor quer incluir itens que vão além da cesta básica.

Se queremos expandir, precisamos entender esses

hábitos. Previdência complementar, saúde, segurança,

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132

qualidade e sustentabilidade de vida precisam ocupar este

cenário, este imaginário, acompanhar estas tendências. Um

bom indicador: para o consumidor existe um vínculo

consolidado entre educação e futuro (segunda tendência). O

que significa que o movimento da educação previdenciária

está trilhando uma rota correta. Mas precisamos ficar atentos

porque: “Os comportamentos desejados são aqueles que

queremos convencer o público-alvo a aceitar, rejeitar,

modificar ou abandonar”68.

Existem diferentes modelos e abordagens para buscar

essas mudanças comportamentais junto à sociedade. O

sucesso de cada um deles depende de uma caracterização

criteriosa dos subgrupos que integram o universo do público

de interesse. Entretanto, a teoria que mais se compatibiliza

com a idéia de formador de opinião é a Teoria do

Comportamento Planejado, por preconizar que um público de

interesse:

[...] tem maior probabilidade de adotar um comportamento quando tem uma atitude positiva em relação a ele, percebe que „pessoas importantes’ o aprovariam e acredita que terá sucesso em sua realização.

68

KOTLER, P. e LEE, N. Marketing contra a pobreza – as ferramentas da mudança social para formuladores de políticas, empreendedores, ONGS, empresas e governo. Porto Alegre, Bookman, 2010, p. 147. Destaque nosso.

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133

Eu vejo um novo começo de era, de gente fina, elegante

e sincera

A mesma Exame criou um portal dedicado à educação

previdenciária, onde publicou , em 19 de agosto de 2010, a

matéria Encerrando a carreira – Gustavo Borges conta

como se aposentou do esporte aos 31 anos, na qual

percebemos nitidamente essa associação – cultura

previdenciária e educação – em relação transversal com

esporte, empreendedorismo, juventude, visão de futuro,

planejamento, proteção à família, decisão acertada, sucesso

profissional.

Mostra que o nadador, apesar de seus incontáveis

êxitos, teve uma carreira relâmpago – assim como outros

atletas e modelos – e imaginava parar aos 27 anos de idade.

Por isso, fez um curso de Economia – paralelamente à sua

atuação no esporte. Ele afirma que essa decisão fez parte

de um plano de transição preaposentadoria (2000 a 2004)

e um plano pós-aposentadoria (de 2004 a 2008), que lhe

garantiu – além de conforto financeiro – o envolvimento com

uma atividade profissional (montou o próprio negócio e ainda

continua a integrar a elite mundial de natação).

O que considero mais importante é ter uma clara perspectiva do que você quer ter no futuro. Existe o ciclo do atleta, dos filhos, da aposentadoria,

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134

mas todos eles terminam. Meu conselho para quem vai passar ou está passando por essa fase é que mudar de ciclo não é tão difícil quanto parece, especialmente quando se tem amor pelo que se faz.

69

A entrevista mostra ainda que o plano do atleta

beneficiou toda a família, que também conquistou uma vida

confortável, graças a uma associação de fatores, como

sociedades bem-sucedidas e escolha de negócios lucrativos.

Ou seja: decisões coletiva e individualmente inteligentes.

Hoje, Gustavo Borges é dono de cinco academias de

esporte, desenvolveu métodos para ensino de natação que já

contam com mais de 150 credenciados em todo o país.

Também é comentarista esportivo na televisão e realiza

palestras motivacionais.

Usamos esse exemplo para demonstrar que a

percepção sistêmica vale para a esfera individual, familiar e

social. Como jovem de visão, o projeto de aposentadoria de

Gustavo Borges ainda gera resultados para outros

empresários e trabalhadores e beneficia muita gente. Nossa

missão é grande porque precisamos contribuir com mais

tecnologias sociais, capazes de ampliar a percepção e a

consciência da sociedade sobre a sustentabilidade da vida.

Dessa forma, estaremos subsidiando, mais do que a

manifestação fiscalizadora de nosso público de interesse, a

69

Idem

Page 137: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

135

tomada de decisões inteligentes e responsáveis por cidadãos

autônomos, como a sociedade precisa.

Somos um país respeitado internacionalmente por

trabalhos nas áreas de publicidade, propaganda, telenovela,

esportes, cinema, jornalismo, política econômica,

administração de planos previdenciários. Podemos ser

também na cultura e na comunicação previdenciária. Em

progresso e desenvolvimento social!

Dessas idéias também compartilham respeitados

profissionais do Sistema de Previdência Complementar:

Devanir Silva, Superintendente Geral da Associação

Brasileira das Entidades Fechadas e Previdência

Complementar ABRAPP, e Felinto Sernache, Diretor da

empresa de consultoria Towers Watson. que concederam

entrevistas exclusivas para esta monografia. Adacir Reis,

Coordenador do Centro de Estudos Jurídicos da Previdência

Complementar e advogado do escritório Reis, Torres &

Florêncio Advocacia dá um depoimento que encerra esse

panorama sobre tendências na expansão e na comunicação

da Previdência Complementar no Brasil.

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136

1. O que é preciso para aproximar a idéia de previdência complementar do cotidiano das pessoas? Devanir Silva: Na nossa visão é necessário, talvez antes de tudo, nos preocuparmos fortemente em levar educação previdenciária às pessoas. Fazê-las compreender que também são responsáveis - e não só o Estado - pela construção do futuro, entendendo que a Previdência Social irá fornecer apenas uma parcela da renda necessária para uma vida mais ativa na aposentadoria. Enfim, o INSS só oferece o básico, que, aliás, é o papel da Previdência estatal no mundo inteiro. Temos que levar em conta também que o nosso alvo deve ser o público mais novo, como a geração Y, que tem a caracterizá-la o não conformismo e um maior nível de exigência, com maior capacidade de busca e processamento das informações, e que usa as novas mídias digitais para atender às suas demandas. Daí que os nossos esforços de esclarecimentos devem concentrar-se em instrumentos como internet, celular, plataformas eletrônicas e shopping centers, entre outros meios disponíveis. Felinto Sernache: No curto prazo, penso que podemos massificar a ideia da previdência complementar através da criação de um personagem de novela (da Globo) que possa representar o poupador de plano de previdência. Algumas inserções no Jornal Nacional bem como no programa do Faustäo e do Caldeirão do Huck dariam a visibilidade do "produto" para a classe C emergente. Entretanto, para atingirmos plenamente o objetivo de criarmos uma cultura permanente no médio e longo prazos, faz-se necessário investir nas crianças. O curriculum das escolas fundamentais e de ensino médio deveriam ter matérias obrigatórias de planejamento financeiro e previdência privada. Esse mecanismo deveria se estender às faculdades também. Acredito, ainda, que o uso de parte da conta do FGTS para aplicação direta pelos participantes em planos de previdência privada pode constituir, definitivamente, um poderoso

Page 139: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

137

instrumento de divulgação e educação da previdência privada no Brasil. 2. Quanto significado previdência complementar pode conquistar no imaginário das pessoas? Devanir Silva: O primeiro pensamento que me ocorre é o muito que a Previdência Complementar pode significar em termos de exercício de cidadania, no sentido de que o benefício oferecido por um fundo de pensão permite à pessoa ingressar na aposentadoria sem se aposentar da vida, podendo ao contrário usufruí-la em uma plenitude ainda maior. Enfim, assegura as condições para viver a maturidade em condições dignas, com qualidade, sentindo-se incluído e participante ativo da sociedade, praticante de seus valores e parte do mercado. Felinto Sernache: Aqui, é possível pensar em valores: cidadania, sustentabilidade, dignidade, qualidade de vida, competência decisiva (do indivíduo e do patrocinador), compromisso com o futuro, etc. Os comerciais patrocinados através de diversas mídias trazem um apelo que toca diretamente no inconsciente das pessoas. Temos vários exemplos bem sucedidos e que devem ser explorados (alguns comerciais do Bradesco por exemplo). 3. Que lugar no ranking dos objetos de desejo das pessoas o bom futuro e a previdência complementar podem alcançar? Devanir Silva: A Previdência Complementar passa com certeza a objeto de desejo quando as pessoas já adquiriram uma certa renda, evoluíram profissionalmente e aprenderam mais com a vida e geralmente isso só acontece na meia idade. Raramente os jovens têm essa consciência, até mesmo por causa da distância de tempo que os separa da aposentadoria. Por isso, nosso maior desafio é

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138

levar essa compreensão aos públicos mais novos, se possível ao jovem que ingressou há pouco tempo no mercado de trabalho. O que de certo modo deve nos ajudar a criar essa consciência é o fato de a elevação da renda da população em geral não estar sendo adequadamente acompanhada pelos benefícios da Previdência Complementar, o que deve reforçar nas pessoas a compreensão de que a aposentadoria básica não basta, considerando as conquistas feitas ao longo da vida e que precisarão ser protegidas. Felinto Sernache: Infelizmente previdência privada ainda não alcançou tal status. Está no fim da fila na escala do desejo das pessoas. Entretanto, entendo que através do curriculum escolar (obrigatório) teremos a possibilidade de melhorar essa percepçäo e preferência das pessoas. 4. Que grupo pode ser considerado o melhor formador de opinião sobre a importância da previdência complementar na vida das pessoas? Devanir Silva: Essa é uma pergunta que não comporta dúvidas na resposta. Quem melhor pode esclarecer as pessoas sobre o quanto a Previdência Complementar é fundamental são aqueles que já participam de fundos de pensão. Estes podem dar o seu testemunho de vida, com muito mais credibilidade. Felinto Sernache: Sem dúvida, os professores. A saída para a massificaçäo está na formação dos professores e na inclusäo desse tema no curriculum escolar obrigatório.

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139

Depoimento sobre a expansão da Previdência

Complementar no Brasil

Por Adacir Reis

Para que seja possível alcançar patamares significativos é

preciso, antes de tudo, considerar um aspecto objetivo: o da

relação renda e emprego. O país precisa melhorar a

distribuição de renda para aumentar a formação de

poupança. E isso obviamente passa pela geração do

emprego – do emprego formal. Renda e emprego são,

portanto, primordiais para se pensar em poupança

previdenciária.

Tendo em vista tratar-se de um processo gradual, o segundo

grande desafio é despertar a consciência sobre a

necessidade de poupança e incentivar as pessoas a

aumentarem sua capacidade de poupar.

Cabe, obviamente, ao Estado assumir a frente no que tange

à regulamentação, estímulo fiscal, entre outras decisões. O

Estado já está fazendo sua parte.

Muita coisa melhorou. Mas há mais por fazer, principalmente

no que se refere a aspectos tributários. Porém, a sociedade

também tem um importante papel a cumprir. Por isso, é

preciso ter clareza de que a sociedade deve fazer sua parte.

Considero fundamental que se articule a realização de um

Fórum Nacional, um grande encontro com a participação de

todos os atores da sociedade – empresários, imprensa,

esportistas, artistas – para divulgar a importância do ato de

poupar para o amanhã, atrelando esse conceito à

Previdência Complementar. É de fundamental importância

criar um espaço no novo governo para que seja possível

articular, de maneira sistemática, todas as lideranças.

Page 142: Comunicação e Educação Previdenciária: novos paradigmas sociais

140

Por outro lado, há necessidade de um trabalho com as

escolas, embasado em ações estratégicas, no sentido de

inserir esses temas em determinadas disciplinas. Além disso,

um trabalho junto a pais, mestres e professores deve ser

idealizado. Devemos pensar, em patrocinar projetos

escolares, em treinar professores, realizar premiações, etc.

Na verdade, precisamos, primeiramente, de ações que

dependam de liderança para que haja multiplicação desses

valores, conceitos e conscientização. Depois, de ações de

varejo. O estado da arte em Previdência será atingido

quando o assunto for pauta de conversas familiares, como já

acontece em relação a outros temas que permitem nos

deparamos com as crianças ensinando aos pais novas

atitudes. E isso é perfeitamente possível!

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141

A união de sonhos e ilusões é parte da luta para

universalizar a dignidade70

Para essa monografia, usamos o recurso de criar uma

analogia com a apresentação de uma sinfonia. Por isso,

fomos mostrando isoladamente muitas e diferentes vozes: as

leis, as análises econômicas e tendências de consumo, as

pesquisas e ações na área de educação previdenciária, as

teorias pedagógicas, as teorias atuariais, campanhas

publicitárias, temas do telejornalismo e da mídia impressa, a

implantação de uma combinação nova de previdência

complementar, opiniões sobre as possibilidades da

infraestrutura oficial para a expansão de políticas e do próprio

Sistema Previdenciário, as escolhas bem-sucedidas de um

jovem que fez o futuro ser bom para muita gente. Mas, como

dissemos, são vozes isoladas... Será?

Ainda que com recursos limitados, nossa intenção aqui

foi tratar previdência complementar por meio de referências

de todos os tipos: lógicas, factuais, sensoriais. Tivéssemos

outras condições, criaríamos uma máquina do tempo, pela

qual o usuário teria mapeadas suas principais características

por um scanner de alto desempenho. A partir desse perfil, um

menu de futuro seria disponibilizado e, por meio de recursos

70

BUARQUE, C. e SALGADO, S. O berço da desigualdade. Brasília. UNESCO, Instituto Sangari, 2009, p. 69

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142

de realidade expandida, a experiência de futuro teria direito a

cenários de estresse de diferentes modalidades: riscos

estratégicos, acidentes de percurso, interrupção involuntária

e antecipada de carreira, entre outras possibilidades. Ao final

da experiência de futuro, o usuário de nossa máquina do

tempo poderia receber um relatório de orientação sobre quais

as melhores decisões para cada experiência e fase de vida

escolhida no menu.

Em nossa analogia inicial, entretanto, usamos a música.

O espetáculo estava para começar. Todos ensaiando,

aquecendo instrumentos e vozes. O maestro estava a

caminho.

Mas quem é mesmo esse regente? As instâncias

públicas, público-privadas, privadas, os cidadãos, os

participantes, os patrocinadores, a mídia, a sociedade?

Achamos que a melhor resposta para essa pergunta é:

o tempo!

Tempo Rei transformai as

velhas formas do viver.

Ensinai, ó Pai, o que eu

ainda não sei

Mãe, Senhora do perpétuo

socorrer.

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143

Porque, para nós, todas essas instâncias continuarão

a compartilhar e a alternar papéis de extrema importância

para todo o Sistema de Previdência Complementar. E temos

muito trabalho pela frente! Todos nós temos a necessidade

de buscar resultados, respostas, interações,

relacionamentos, cultura de qualidade. Não se trata de um ou

outro ator. Temos que ativar e envolver todos os atores

previdenciários nesse empreendimento social.

Se continuarmos unindo esforços e nos mobilizando,

poderemos mostrar mais ao mundo do que nossa

competência técnica para administrar recursos e sucessos

materiais.

Nós poderemos mostrar ao mundo que somos

capazes de estimular e formar gerações inteiras de

brasileiros inteligentes, responsáveis, autônomos,

emancipados, cidadãos e protagonistas em suas

escolhas mais conscientes, com vidas sustentáveis

plenamente.

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144

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145

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