Comunicação e Oratória

81

Click here to load reader

description

Dr. Cristofani - Comunicação e Oratória - disciplina oferecida no curso de Teologia da Seminário Batista Ana Wolleman/Unigran, Dourados/MS. Minha primeira experiência com vídeo aula gravada em 2007-2008.

Transcript of Comunicação e Oratória

Page 1: Comunicação e Oratória
Page 2: Comunicação e Oratória

Graduação a Distância

Teologia

COMUNICAÇÃO E ORATÓRIA

Professor Dr. José Roberto Cristofani

Apresentação do docente

Queridos Participantes!

Sou o professor José Roberto Cristofani. Pastor Presbiteriano hávinte e cinco anos e tenho Doutorado em Antigo Testamentopela Escola Superior de Teologia (EST/UFRGS). Gosto delecionar Antigo Testamento e as disciplinas a ele relacionadas.Fiz um curso de Pós-Graduação em “Informática na Educação –EAD” na Universidade Estadual de Londrina, e me apaixoneipor tecnologia educacional, tanto que desenvolvo uma “Cartilhade Alfabetização em Hebraico Bíblico”, com muitos recursosmultimídia, no meu programa de Pós-Doutorado em LinguísticaAplicada pela Universidade Federal de Santa Catarina.

Espero que vocês também se apaixonem pelo Antigo Testamento e pelo Ensino a Distância. Estareisempre à disposição de vocês.

Um forte abraço!Com carinhoPastor Cristofani

Page 3: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

9

Introdução

Queridos,

Gostaria de iniciar nosso curso com uma reflexão acerca da Pregação. O texto abaixo

é uma carta enviada ao periódico “Heartcry Journal” de autoria de alguém que subscreve

apenas com o nome de Kenny.

O texto, intitulado “Uma Súplica aos Pastores”, revela um problema que afeta a

Pregação em muitos lugares hoje e a preocupação de quem ouve a Pregação.

Prezados Pastores e Pregadores,

Recentemente, ouvi um pastor (não da minha igreja) pregar um sermão sem vida,

sem paixão, sem objetivo, destituído de poder ou fogo. Quando me refiro a fogo, não estou

falando a respeito de pregações animadas, que incitam a audiência a imitar aulas de exercícios

aeróbicos. (Conheci Vance Havner, por exemplo, um grande pregador que falava com poder,

paixão e fogo, embora sua voz fosse monótona e seu estilo de pregação bem estático.) Mas

a mensagem que ouvi esse dia foi uma perda de tempo para mim, o que me levou a expressar

os seguintes pensamentos aos pregadores em geral:

Nós, o povo de Deus, temos sede e temos fome. Estamos machucados e precisamos

de ajuda. Precisamos do fogo de Deus e precisamos do poder de Deus. E, para isso,

precisamos de você, pregador. Você tem um chamado especial na sua vida e Deus o escolheu

para ser a voz dele.

Porém, não precisamos de mais pregações “engraçadinhas” ou engenhosas, por

mais que ilustrações e eloqüência possam ser eficazes na comunicação de uma mensagem.

Não precisamos de pregações didáticas, com três pontos, seis subdivisões e uma história

comovente no final, embora todas essas coisas possam ajudar a transmitir uma idéia. Não

precisamos de mais piadas e brincadeiras inúteis para entreter-nos durante os cultos. Não

precisamos que você constantemente faça referência a si mesmo enquanto prega. E não

precisamos ouvir mais pregações de segunda mão, encontradas na Internet ou em algum

livro adquirido numa feira promocional.

Page 4: Comunicação e Oratória

10

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Precisamos é de pregadores que tenham o fogo de Deus. Precisamos é de pregadores

que tenham o poder de Deus. Precisamos é de pregadores que tenham paixão pelas mensagens

que proclamam. Precisamos é de pregadores que nos alimentem da Palavra escrita de Deus

e que depois nos apontem para o Verbo vivo de Deus. Precisamos é de pregadores que

sejam consumidos pelo fogo do céu para que nós também sejamos consumidos por Deus.

Precisamos é de pregadores que sejam inflamados por sua paixão pela Palavra de Deus.

Por favor, ajudem-nos, pregadores! Sabemos que temos uma responsabilidade

pessoal por nosso próprio caminhar com Deus. Mas precisamos de ajuda. Somos fracos,

somos frágeis, somos esquecidos. Precisamos ouvir do céu. Não precisamos ouvir sobre

pescarias ou viagens turísticas nas pregações. Não precisamos ouvir sobre festas ou

confraternizações na igreja. Não precisamos ouvir sobre nosso time favorito de futebol.

Não precisamos ouvir sobre suas realizações, premiações ou qualificações profissionais.

O que precisamos ouvir é que você foi autorizado por Deus para proclamar a palavra da

vida para nós.

Estamos desfalecendo aqui nos bancos da igreja, desfalecendo porque há pouca ou

nenhuma visão de Deus na maioria dos púlpitos. Estamos cansados de ouvir o texto de

Provérbios 29.18 (“Não havendo profecia [ou visão] o povo se corrompe [ou dispersa]”)

interpretado erroneamente como uma exortação a planejamento de longo prazo. Nós, o povo,

estamos perecendo porque não há visão de Deus.

Levantem-se! Tomem sua posição! Não aceitem mediocridade! Não aceitem algo

inferior! Busquem tudo que puderem de Deus, transmitam-no para nós e depois voltem para

buscar mais. Persigam a Deus com paixão. Não subam ao púlpito enquanto não tiverem uma

mensagem da parte dele para nos transmitir. Não preguem enquanto não souberem que estão

bem com Deus. Não subam ao púlpito enquanto não tiverem convicção de que foram ungidos

por Deus e que têm o fogo de Deus.

Com sinceridade,

Kenny

PS: Dizem que onde há fumaça, há fogo. Infelizmente, porém, a fumaça também

pode ser um indício de que o fogo que outrora ardia já se apagou.1

Ouçamos Kenny e façamos deste curso uma oportunidade de aprendizagem e

aprofundamento naquilo que Karl Barth denomina de “terceira forma da Palavra de Deus = a

Pregação”

1 http://www.revistaimpacto.com.br/arauto/ler_mat.php?idmat=160. Publicado originalmente no periódico “Heartcry Journal”, edição33, 2005. Mais informações sobre essa publicação: www.LifeAction.org

Page 5: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

11

Aula 01

HOMILÉTICA - DEFINIÇÕESE CONCEITUAÇÃO

A preparação da pregação deve ser o dever primordial do pastor.

Karl Barth

A Homilética é ciência e pode ser considerada sob diversos pontos de vista: históricos,

psicológicos e sociais. Pode-se dizer que é Arte quando considerada nos seus aspectos

estéticos, a beleza do conteúdo e da forma, organização, criatividade e imaginação no sermão.

Considerada Técnica quando utiliza as técnicas de oratória e retórica. Designada Edificação

quando focada em sua função espiritual, ou seja, adoração, poder, transformações,

manifestações espirituais, etc.

Homilética é a arte de preparar e pregar sermões, sendo a transliteração do grego

Page 6: Comunicação e Oratória

12

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

“homileu” com o sentido básico de “conversar com”. Como aparece em alguns textos do

Novo Testamento:

E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. (Lucas 24.14)

Subindo de novo, partiu o pão, e comeu, e ainda lhes falou largamente até ao romper

da alva. E, assim, partiu. (Atos 20.11)

[..] esperando também, ao mesmo tempo, que Paulo lhe desse dinheiro; pelo que,

chamando-o mais freqüentemente, conversava com ele. (Atos 24.26)

Em 1 Coríntios 15.33 o Apóstolo Paulo utiliza a palavra derivada “homilia” para se

referir à associação (= companhia) que deve ser evitada:

Não vos enganeis: as más conversações [homilia = companhia] corrompem os bons

costumes.

Esse sentido de “homilia” alarga a compreensão de “homilética”, que podemos dizer

seria: “conversar em companhia de várias pessoas”.

No dicionário encontramos a seguinte definição de “Homilia”:

Prática que instrui os fiéis sobre a religião, principalmente com respeito aos Evangelhos:

as homilias dos Padres da Igreja.

As seguintes definições podem ajudar a esclarecer a natureza, a função e os objetivos

da Homilética, que aqui é tomada como extensão e sinônimo de Pregação.

É a apresentação da verdade através da personalidade; é a comunicação da verdade

aos homens mediante o homem. (Phillips Brooks)

É a proclamação da graça de Deus, sob a autoridade do trono de Deus, visando

atender as necessidades humanas. (G. Campbell Morgan)

É a verdade de Deus apresentada por uma personalidade escolhida, para ir ao

encontro das necessidades humanas. (Andrew W. Blackwood)

Essas três primeiras opiniões sobre a Homilética (= Pregação) ressaltam, cada uma

a seu modo, a mediação da Palavra de Deus por um agente humano especialmente escolhido

para isso, ou seja o “Pregador”, a “Pregadora”.

É uma manifestação do Verbo Encarnado desde o Verbo escrito e por meio do verbo

falado. (Bernard Manning)

É a proclamação pública da verdade divina baseada nas Escrituras, por uma

Page 7: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

13

personalidade escolhida, com o propósito de satisfazer às necessidades humanas.

(Jesse C. Northcutt)

As duas citações acima destacam o conteúdo da Pregação, isto é, as Escrituras –

base sobre a qual cada pessoa responsável por proclamar o Evangelho deve usar.

Já as duas próximas referências englobam a natureza mesma da Pregação, sua tarefa,

seus objetivos e, sobretudo, seu motivador: o Espírito Santo.

A pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado de e

transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem

no seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente aplica à personalidade e

experiência do pregador e depois, através dele, aos seus ouvintes. (Haddon W.

Robinson)

É a fiel exposição do sentido correto de um ou mais textos da Bíblia, ilustrando a

exposição e aplicando-a à vida dos ouvintes, envolvendo-os de tal maneira que são

satisfeitas as suas necessidades, sendo que esta comunicação é feita por uma pessoa

com experiência real com Cristo e guiada pelo Espírito Santo. (Jerry Key)

É necessário ter em mente que Homilética e Pregação são interdependentes, se

justapõem, mas são distintas em certos aspectos.

A Homilética tem como fim auxiliar a pessoa na confecção de sermões para uma

pregação mais eficiente, que beneficie a ambos, Pregador e audiência.

Assim, a Homilética ajuda a construir discursos religiosos com ordem, com exposição

clara de idéias e com um sentido lógico e certo.

Lembre-se das palavras de John F. MacArthur:

Não é a engenhosidade de nossos métodos, nem as técnicas de nosso ministério, nem

a perspicácia de nossos sermões que trazem poder ao nosso testemunho. É a obediência

a um Deus santo e a fidelidade ao seu justo padrão em nosso viver diário.

O Sermão, definido como: Discurso sobre tema religioso pregado do púlpito, em

que o pregador proclama as verdades cristãs; prática, prédica. Admoestação com o fim de

moralizar. Censura enfadonha, repreensão, é o resultado final da preparação da pessoa que

irá pregar.

O Professor Dr. Jean Lauand1 destaca a função educadora do Sermão e o valor

pedagógico da memória na pregação. Em suas palavras:

Atualmente, a palavra “sermão” já se pode entender simplesmente como um

“arrazoado longo e enfadonho com que se procura convencer alguém”. Nosso tempo,

mais voltado para o visual, para os “efeitos especiais”, para o imediato, e menos

1 Jean Lauand (org.) Cultura e Educação na Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1998.

Page 8: Comunicação e Oratória

14

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

propenso ao ouvir e à reflexão, mal pode imaginar o que representavam para o povo

os sermões de pregadores geniais como Agostinho, Crisóstomo, Bernardo, Tomás de

Aquino e outros grandes mestres antigos e medievais.[...] O principal interesse do

bispo de Hipona era pastoral e não retórico, embora, precisamente por isso,

apresentasse discursos de inesquecível beleza. Voltava-se para o homem comum,

apoiando-se - aliás, como fazia todo o educador da época - na sensibilidade e na

memória de seus ouvintes. Ao contrário da pedagogia atual, que não valoriza e até

chega a desprezar a memória, Agostinho e todos os grandes medievais sabiam

reconhecê-la como o tesouro por excelência, como um precioso dom de Deus. A

memória, muito mais do que a mera faculdade natural de “lembrar-se” ou o exercício

de habilidades mnemônicas, era vista como a base de todo o relacionamento humano

com a realidade. “A memória é, para S. Agostinho, a primeira realidade do espírito,

a partir da qual se originam o pensar e o querer; e assim constitui uma imagem de

Deus Pai, de quem procedem o Verbo e o Espírito Santo”.

Doutra maneira, pode-se dizer que a eficácia da palavra depende do pregador

(persuadindo), do ouvinte (entendendo) e de Deus (alumiando com sua Graça). É o pregador

quem falha quando o ouvinte não entende. E a maior falha está em pregar uma coisa e praticar

outra. Deduz-se, então, que a eficácia da comunicação, no sermão, não é apenas uma questão

de argumentação teórica, mas de coerência entre o que se prega e o que se pratica. Corre-

se o risco de confundir o rebanho, mais do que esclarecê-lo e orientá-lo, aquele que prega

sem fé, sem estudo, sem profundidade.

ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta

“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-

ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,

utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.

Page 9: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

15

Aula 02

TIPOLOGIA DE SERMÕES

Qualquer que seja o seu método, o homem prudente começará com alguma

necessidade humana e tentará ir ao encontro dela com a verdade divina.

A. W. Blackwood

A classificação dos sermões em tipos pode variar de acordo com a sua estrutura,

variar conforme os objetivos a serem alcançados e variar consoante à percepção ou opinião

de cada autor.

A forma clássica de classificar os sermões segue, invariavelmente, o critério

do uso que se faz da Escritura, ou seja, do modo como a pessoa que vai pregar lida

com o texto bíblico.

Page 10: Comunicação e Oratória

16

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Assim, essa classificação tem três tipos de sermões:

SERMÃO TÓPICO OU TEMÁTICO

A característica fundamental desse tipo é tratar sobre um determinado tópico ou

assunto que derive de um texto bíblico, mas do qual as divisões não se encontram no texto.

O tema é extraído de um texto e as divisões de outros. Assim, a sua idéia central é decorrente

do texto lido; no entanto, a argumentação é buscada em outros textos bíblicos.

Há autores que indicam as seguintes vantagens desse tipo de sermão:

a) Possibilita o aperfeiçoamento da retórica. É o sermão típico dos grandes oradores;

b) É fácil de elaborar, porque a unidade é construída conforme o desejo do pregador;

c) Possibilita que se aprofunde um assunto tratando-o de forma completa;

e) Permite a discussão de qualquer assunto, pois as idéias vêm de fora do texto.

Todavia, o mesmo tipo de sermão apresenta algumas “armadilhas” que devem ser

evitadas pela pessoa que vai utilizá-lo. Por exemplo, a pessoa pode:

a) ... negligenciar a exegese da palavra de Deus não aplicando-a;

b) ... atrair a atenção para si mesma, pois é a inteligência, argumentação e oratória

que está em primeiro lugar;

c) ... tratar do tema de forma pessoal, esquecendo-se do ponto de vista bíblico.

Para evitar essas armadilhas a pessoa pode seguir as seguintes dicas:

a) Tratar de um tema claro, específico e expressivo;

b) Organizar os argumentos de maneira lógica e progressiva;

c) Esquematizar as divisões em uma das seguintes maneiras: explanação, prova,

argumentação, aplicação.

Exemplo1 de Sermão Temático

Que acreditam nas flores vencendo os canhões

Cântico dos Cânticos 8.6-7

“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, Porque o

amor é forte como a morte, E inexorável como o Sheol à paixão, Sua chama é chama de fogo

1 Todos os sermões aqui transcritos são de minha autoria, salvo indicação em contrário.

Page 11: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

17

Veementes labaredas de Javé As muitas águas não poderiam apagar o amor, Nem os rios

afogá-lo; Ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo

desprezado”

“que acreditam nas flores vencendo os canhões.”

Este verso faz parte da bem conhecida canção de Geraldo Vandré – “Prá não dizer

que não falei de flores”. Canção de protesto e de luta. Uma canção de resistência.

Flores e canhões.

Flores são a maneira silenciosa e carinhosa de expressar o amor. Os canhões, por

sua parte, o poder.

Queremos meditar brevemente sobre o tema: Amor e Poder.

Amor entendido como sendo mais que um sentimento. Uma relação. Relação de

dois iguais, mulher e homem, garoto e garota.

Poder compreendido, não como uma dominação aberta, declarada, porém,

sutil, velada.

E isso no livro de Cantares.

Nele entramos pela porta dos fundos, como quer o verso 7b

“Ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo

desprezado”

Esse aforismo é a janela na qual debruçaremos para olhar essa coleção de poemas.

Esse dito é meditação de sábio que redatou o livro de maneira a construir uma instrução

sobre o amor enquanto relação.

Tal instrução quer mostrar a beleza exultante do amor entre homem e mulher e o

poder que ameaça de contínuo essa relação.

O amor é descrito de forma poética, romântica, terna. É um exagero que não pode

ser expresso nem com “mil rosas roubadas”. É a convivência apaixonada da mulher com o

homem, do garoto com a garota.

“Eu sou para meu amado e seu ardente desejo o traz a mim. Vem, ó meu amado,

saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias. Levantemo-nos cedo de manhã para ir às

vinhas; vejamos se já florescem as vides, se se abre a flor, se já brotam as romeiras; dar-te-

ei ali meu amor.” 7.11-13

Numa paisagem bucólica e afrodisíaca, o encantamento mútuo destila toda emoção,

prazer e sensualidade que pode existir num leito à relva, na penumbra dum quarto.

A paixão da relação chega às raias dos sonhos, devaneios:

“sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, pois desfaleço de amor.” 2.5

A imaginação rompe as barreiras do impossível, atravessa os vales do insondável e

vai repousar sobre o corpo da amada, do amado.

Page 12: Comunicação e Oratória

18

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

É a linguagem do amor. Amor criado com carinho, alimentado com paixão. É o amor

conquistado com palavras doces e suaves, mágicas, buquê de flores, gestos amenos.

Poesia e sedução, alegria e emoção. Que rio pode afogá-lo? Que águas apagá-lo?

Entretanto, à espreita está o poder, a dominação sutil e cotidiana.

O sábio sabe da ameaça e procura divisá-la. E o faz tomando Salomão como figura

idealizada daqueles que exercem o poder como determinante das relações.

“Cântico dos Cânticos sobre Salomão.” 1.1a

Os Cânticos não são de Salomão, nem para ele, senão sobre Salomão, isto é, o

cantar dos Cantares é uma veemente crítica ao modo como “Salomão” trata o amor, como

“ele” age numa relação a dois.

“O rei me introduziu nas suas recâmaras.” 1.4b

O ato de introduzir requer uma certa imposição. A moça foi levada à força para os

aposentos do rei, que depois de possuí-la, lança-a no harém, lugar de esquecimento aonde

vão as mulheres não amadas, compradas, exigidas como tributo, exibidas como troféu.

“Sessenta são as rainhas, oitenta as concubinas e as virgens sem número.” 6.8

Tal é o harém!

“Que é isso que sobe pelo deserto ... É a liteira de Salomão; sessenta valentes estão

ao redor dela ... Todos sabem manejar a espada. O rei fez para si um palanquim de madeira

do Líbano ... colunas de prata, assento de púrpura e tudo interiormente ornado com amor

pelas filhas de Jerusalém.” 3.6-10

O tirano não sabe amar, ter uma relação de diferentes-iguais. Empreende um desfilar

de seus dotes e bens, de sua bem equipada e treinada guarda pessoal. Exibe seu poder, sua

sedução está na força. Tudo pelo amor. Inútil! Tais lisonjas não se coadunam com a

expectativa da outra pessoa que quer se deixar conquistar, seduzir, não ser conquistada,

seduzida à força.

A estratégia não sensibiliza a moça, antes, causa uma resistência:

“O meu amado é meu e eu sou dele ...” 2.16a

A resistência vem em forma de amor. É amando espontânea, sincera e

verdadeiramente que se faz resistência ao poder e brutalidade da tirania sutil que assalta toda

relação a dois. A ela se responde com um amor suave e delicado, forte como a morte.

O mais sublime dos Cânticos é uma canção de resistência, como o é a canção de

Vandré. Resistência ao poder sorrateiro que quer impor uma relação e impor-se na relação.

Contra tal:

Page 13: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

19

“há que endurecer, porém sem perder a ternura.” (Chê)

O perfume exalado de uma relação de diferentes-iguais estão nas flores às vossas

mãos. Às mãos daqueles que:

”acreditam nas flores vencendo os canhões”

SERMÃO TEXTUAL

Este tipo versa sobre um determinado texto bíblico tirando dele suas divisões para a

exposição, mas não “expõe” o texto bíblico em si.

Desse modo, as divisões podem ser as palavras do próprio texto ou o sentido das

palavras do texto em termos diferentes. O tema e as divisões estão no texto ou são derivados

dele. Nesse caso, o texto utilizado é pequeno, não devendo ultrapassar 4 versículos. Aqui, o

texto é que controla todos os pontos a serem tratados no sermão.

A vantagem desse tipo de sermão é que possibilita aos ouvintes a oportunidade

de acompanhar, passo a passo, a exposição do sermão.

Exemplo de Sermão Textual

Desafio para fazer teologia

Daniel 12.1-4

1 Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu

povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele

tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no

livro. 2 Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e

outros para vergonha e horror eterno. 3 Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o

fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e

eternamente. 4 Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim;

muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará.

Introdução

Tornou-se lugar comum, nos dias de hoje, fazer distinção entre o labor “Teológico”

e a tarefa “Pastoral“. Estabeleceu-se, sem nenhuma razão, uma dicotomia entre a tarefa de

elaborar teologia e o trabalho pastoral. A primeira, atribui-se aos “teólogos”, isto é, aos

professores dos Seminários e aos Doutores da Igreja. A segunda, delega-se aos “pastores”,

ou seja, aos que labutam na Igreja local.

Com uma aura de verdade tal dicotomia é reforçada pelo discurso de todos aqueles

que, por motivos variados, insistem em que haja tal separação entre trabalho pastoral e

Page 14: Comunicação e Oratória

20

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

produção teológica. Discurso que, consciente ou não, encobre, muitas vezes, uma teologia

inconsistente, pois que a pregação, os estudos bíblicos, o aconselhamento são “teologia”

formulada por quem está na lida pastoral. Pena que o mais das vezes uma má teologia.

Por isso o desafio de se “fazer teologia”. Contudo, uma teologia que tenha três

elementos, ao que parece, fundamentais:

Primeiro, uma teologia engajada. Segundo, uma teologia fundamentada na tradição

bíblica. Terceiro, uma teologia relevante para as necessidades do povo.

I. Uma teologia engajada

O texto de Daniel 12.1-4 é a conclusão da grande visão iniciada no capítulo 10. Tal

capítulo narra em forma de “profecia ex eventu” a situação de perseguição de parte do povo

judeu por Antíoco IV. Este rei destrói o santuário,abole a circuncisão, os dias festivos e

tortura e mata as pessoas que permanecem fiéis à Aliança de Javé.

O texto em tela trata da ressurreição dos “muitos” (não de todos) dos fiéis e dos

infiéis e mostra a sorte que cabe a cada grupo.

A formulação desta doutrina da ressurreição é resposta ao sofrimento e morte dos

fiéis que não podem aceitar que Javé os tenha abandonado. É um grito de esperança e

resistência contra o opressor.

Na perícope em pauta (v.3), são mencionados os Maskilim (entendidos) que,

conforme 11.33,são os responsáveis por ensinar o povo, nutrindo a confiança em Javé, como

pastores às suas ovelhas.

Não há dúvida de que foram esses Maskilim que formularam a teologia da ressurreição

que aqui encontramos. E como formularam?

Primeiro, de uma maneira engajada, isto é, eles estavam participando da luta de sua

comunidade, seu grupo. Não eram meros espectadores, porém ativos lutadores.

II. Uma teologia bíblica

Segundo, de uma maneira bíblica, pois para formularem a teologia da ressurreição

foram beber de fontes bíblicas (Isaías 26.19 - menção da ressurreição), em mananciais de

firme tradição (Ezequiel 37.1-14 - vale dos ossos secos). Não estavam elaborando algo

totalmente novo, porque enraizado na tradição bíblica. Mas, nem por isso, apenas repetiam

a tradição, porquanto avançaram em relação a ela, formando um elo que ligaria essa teologia

à teologia da ressurreição em o Novo Testamento.

III. Uma teologia relevante

Terceiro, de maneira relevante, ou seja, estavam respondendo às necessidades do

momento, daquela comunidade específica. Estavam oferecendo respostas, saídas, referenciais,

sentido, enfim, aos questionamentos daquele grupo.

Page 15: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

21

Conclusão

Por isso, o desafio de fazer teologia é o desafio de romper com a dicotomia entre

trabalho pastoral e labor teológico. E todos somos responsáveis por isso; nós alunos, nós

professores, nós pastores, pois um(a) pastor(a) é um(a) teólogo(a) e um(a) teólogo(a) é

um(a) pastor(a).

Quem assim não se considerar não merece o título de pastor nem de teólogo.

Portanto, assumamos o desafio de “fazer teologia”. Todavia, uma teologia que tenha

três elementos fundamentais: que seja engajada, fundamentada na tradição bíblica e relevante

para as necessidades do povo.

SERMÃO EXPOSITIVO

Como o próprio título sugere, o sermão expositivo desenvolve seu assunto na

exposição de um determinado texto bíblico, tendo suas divisões e argumentos nele

baseados. Em uma palavra: Sermão expositivo consiste na explicação ou explanação de

um trecho das escrituras.

Basicamente o que o distingue do sermão textual é a extensão do texto bíblico

utilizado. Alguns pregadores pensam que pregar expositivamente significa comentar todo o

texto lido, como se estivesse fazendo um comentário bíblico, catalogando fatos, versículo

após versículo.

As vantagens desse tipo são muitas, por exemplo:

a) É fácil de manter o foco no assunto tratado, pois o texto é o “guia” do Pregador

naquele assunto;

b) Exige estudo sério da palavra de Deus, é necessária a exegese do texto;

c) Permite realizar uma série completa sobre determinados textos bíblicos;

d) É necessário determinar o texto. O texto precede o sermão. Diferença de um

sermão temático e um expositivo, nesse sentido.

Exemplo de Sermão Expositivo

Pequenas Línguas, Grandes Estragos

Tiago 3.1-18

3:1 Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de

receber maior juízo. 2 Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça

no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo. 3 Ora, se pomos freio na

boca dos cavalos, para nos obedecerem, também lhes dirigimos o corpo inteiro. 4 Observai,

igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos de rijos ventos, por um pequeníssimo

Page 16: Comunicação e Oratória

22

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro. 5 Assim, também a língua, pequeno

órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva!

6 Ora, a língua é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de

nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência

humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno. 7 Pois toda espécie de

feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero

humano; 8 a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado

de veneno mortífero. 9 Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela,

amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. 10 De uma só boca procede bênção

e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim. 11 Acaso, pode a

fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? 12 Acaso, meus irmãos, pode

a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar

água doce. 13 Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria,

mediante condigno proceder, as suas obras. 14 Se, pelo contrário, tendes em vosso coração

inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade.

15 Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca. 16

Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins. 17

A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável,

plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento. 18 Ora, é em paz que se

semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz.

Introdução

Todos conhecemos o programa “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”. Este

slogan inspirou a IPIB a criar o projeto denominado “Pequenas Igrejas, Grandes Ministérios”.

Quem lê o versículo 5 do texto proposto, não pode deixar de lembrar tanto do programa da

TV, quanto o projeto da IPIB. Assim, propomos o tema: Pequenas Línguas, Grandes

Estragos.

O trecho inicia com uma exortação àqueles que almejam ser Mestres (dida,

skaloi- v.1) na comunidade destinatária da carta, advertindo-os que serão alvos de mais

rigoroso juízo.

I. Perfeito em proclamar a Palavra da verdade (vv.2-8)

O verso 2 diz que quem não tropeça na “Palavra” (evn lo,gw|), isto é, na Palavra da

verdade (cf. 1.18,21,22 e 23) é capaz de refrear todo o corpo. Seguem-se duas ilustrações

disso: Primeira, o cavalo tem freios (v.3). Segunda, os navios têm lemes (v.4). Em ambos os

casos o que está em vista é a pequenez do freio e do leme que são responsáveis pela condução

do corpo do cavalo e do navio, respectivamente. Assim é a língua, pequena e se gaba de

grandes feitos (v.5a). Duas outras comparações são propostas: A da fagulha que põe em

Page 17: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

23

chamas toda a floresta e a dos animais que são domados (vv. 5b-8). Assim, no primeiro

caso, a língua é vista como um fogo abrasador que põe em chamas toda a existência humana.

Já no segundo caso, a língua é vista como indomável, pois nenhum homem a conseguiu domar.

Dessa forma, a fala do “mestre” é capaz de dirigir todo o corpo da Igreja, visto estar

colocada no meio da congregação. Portanto, cabe ao que almeja este encargo ser perfeito

no uso da palavra.

II. A palavra de benção e de maldição (vv. 9-12)

A narrativa prossegue mostrando que com a língua é possível bendizer ao Senhor

e maldizer aos homens feitos à imagem de Deus, isto é, dela procede “benção” e “maldição”

(vv.9-10). A exortação do apóstolo é que isso não deve ser assim, e ilustra com duas

figuras: A fonte, que não pode jorrar água doce e amarga e as árvores, que produzem

conforme sua espécie.

A palavra de “maldição” provém de um coração invejoso e amargurado, cheio de

sentimento faccioso (v.14). Onde há esses sentimentos, aí há confusão e toda espécie de

coisas ruins (v.16). E isso é o grande estrago que a pequena língua pode causar, pois ela é

um “mundo de iniqüidade” (v.6), “um mal incontido, carregado de veneno mortífero” (v.8).

III. A sabedoria do alto torna o mestre perfeito (vv. 13-18)

Diante do quadro tão sombrio esboçado acima, qual é a saída para que os

proclamadores da Palavra possam ser perfeitos?

A resposta a essa pergunta encontra-se nos versículos 13 e 17. No v.13 os

“mestres” são exortados a mostrar a sabedoria mediante o condigno proceder. Já o capítulo

1.5-8 havia mostrado como conseguir a sabedoria. Aqui é o exercício da mesma que

está em questão.

No trecho, a sabedoria do “alto” (v.17) é contraposta à sabedoria que “não desce lá

do alto” (v. 15), pois esta é terrena, animal e demoníaca, enquanto aquela é pura, pacífica,

indulgente, tratável, cheia de misericórdia e bons frutos, imparcial e sem fingimento.

Portanto, os mestres devem buscar a sabedoria que vem do alto, e não a que procede

de seu próprio coração.

Conclusão

Aqui no Seminário há muitos de nós que desejamos ser mestres na Igreja de Cristo,

proclamadores da Palavra de Deus para os irmãos e irmãs. É necessário lembrar, porém, da

exortação do apóstolo Tiago de que o juízo será muito mais severo para nós que temos a

responsabilidade de guiar o Corpo de Cristo.

Assim, tenhamos isso em mente e nos esforcemos por vigiar nosso falar de tal maneira

que nossa pequena língua não faça grandes estragos.

Page 18: Comunicação e Oratória

24

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Outras possibilidades de classificar os sermões podem ser apresentadas. Mas uma,

porém, é o suficiente: Classificação conforme os objetivos gerais do sermão, conforme Crane.

(El sermon eficaz pg. 57-75):

1. Sermão evangelístico

Sua finalidade é persuadir os perdidos a aceitarem Jesus Cristo como Senhor e

Salvador. Infelizmente, os sermões evangelísticos são, hoje, repletos de frases feitas: “Deus

te ama”, “Você pode morrer esta noite”, “Vem agora”, etc.

2. O sermão doutrinário

Sua finalidade é instruir os crentes sobre as grandes verdades da fé e como aplicá-

las, portanto, é didático. O dom de ensino era muito difundido no cristianismo nascente.

Jesus era intitulado de “Mestre” e os seus seguidores de “discípulos”.

3. O sermão devocional

Sua finalidade é desenvolver nos crentes um sentimento de amorosa devoção para

com Deus, despertando sentimento de louvor.

4. O sermão de consagração

Sua finalidade é estimular os crentes a dedicarem talentos, tempo, bens, influência,

vida, etc, ao serviço de Deus. Estimula a igreja para vocação, abertura de novos trabalhos,

ofertas missionárias, etc.

5. O sermão ético ou moral

Sua finalidade é orientar os crentes para pautarem suas condutas diárias e relações

sociais de acordo com os princípios cristãos. Assuntos que cabem aqui: Matrimônio, adultério,

divórcio, justiça social, racismo, dignidade da pessoa.

6. O sermão de alento (ou pastoral)

Sua finalidade é fortalecer e alertar os crentes no meio de crises pessoais ou

comunitárias. Focalizam o cuidado de Deus para com o seu povo e o livramento que o

Senhor opera.

Além dos tipos apresentados acima, qualquer pessoa pode desenvolver seu próprio

método de pregação. Abaixo um exemplo de um método que eu mesmo criei que chamo de

“Literário-Narrativo”, isto é, mesclo a exposição do texto bíblico com uma “pitada” intuição

espiritual e muita, muita imaginação.

Page 19: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

25

Exemplo de Sermão Literário-Narrativo

A história de nossa marca! (Gênesis 4:1-16)

1. Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim;

então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR. 2. Depois, deu à luz a Abel, seu

irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador. 3. Aconteceu que no fim de uns tempos

trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. 4. Abel, por sua vez, trouxe das

primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua

oferta; 5. ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira,

Caim, e descaiu-lhe o semblante. 6. Então, lhe disse o SENHOR: Por que andas irado, e

por que descaiu o teu semblante? 7. Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se,

todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti

cumpre dominá-lo. 8. Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estando eles no

campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou. 9. Disse o SENHOR

a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso, sou eu tutor de meu

irmão? 10. E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim.

11. És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos

o sangue de teu irmão. 12. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo

e errante pela terra. 13. Então, disse Caim ao SENHOR: É tamanho o meu castigo, que já

não posso suportá-lo. 14. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de

esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará. 15.

O SENHOR, porém, lhe disse: Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E

pôs o SENHOR um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o

encontrasse. 16. Retirou-se Caim da presença do SENHOR e habitou na terra de Node, ao

oriente do Éden.

Muito prazer: Meu nome é CAIM!

Peço licença para contar minha história. Na verdade a história desta marca que

trago em meu corpo. Peço quinze minutos da sua amável atenção.

Meu nome é Caim mesmo. Sou filho de Adão e Eva e tinha um irmão de nome Abel.

Mas uma desgraça se abateu sobre nossa família.

Hoje, debaixo desta árvore, protegido pelo céu, contemplando o rebanho que

pasta tranqüilamente nesta campina, ainda continuo meditando nas lembranças que esta

marca em minha mão, feito tatuagem, evoca, lembranças da tragédia que mudou

completamente nossas vidas.

Papai já havia saído do Éden e, junto com mamãe, se estabeleceram numa região na

qual podia, não apenas criar seu rebanho, mas também cultivar seu pomar.

Mamãe contava, para mim e meu irmão, como nós nascemos. Você sabe, essas

Page 20: Comunicação e Oratória

26

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

histórias de cegonha para crianças. Mamãe disse que durante minha gravidez recebeu auxílio

de Javé. E eu nasci saudável. Javé, se você não sabe, é o nome do nosso Deus, meu e de

minha família.

Éramos uma família feliz. Felicidade que aumentou ainda mais quando Abel, meu

irmão, nasceu.

Lembro bem que papai e mamãe passavam os dias cuidando de tudo. Papai cuidava

do pomar e do rebanho. Mamãe, da casa e dos animais domésticos que tínhamos.

Quando meu irmão e eu ficamos maiorzinhos também ajudávamos nos afazeres do

lar. Papai me ensinava a cuidar das frutas e orientava meu irmão a cuidar dos carneirinhos.

No final do dia mamãe nos esperava na varanda com um suco de frutas e um bolo de fubá e

ali ficávamos ouvindo, de papai, as histórias sobre a criação e aquelas histórias que nos ligam

uns aos outros.

Aprendemos muitas coisas de papai e mamãe. Eu e Abel, meu irmão, tivemos

uma infância feliz. Corríamos atrás das ovelhas, subíamos em árvores, tomávamos banho

num riacho próximo de casa, brincávamos com nossos gatos e com os brinquedos que

papai fazia.

Lembro bem, como se fosse hoje, que meu irmão e eu estávamos catando abacate,

quando Abel, que estava em cima da árvore, soltou uma fruta e ela caiu nas minhas costas,

pois eu estava abaixado arrumando as que nós já tínhamos apanhado. Lembro que gritei com

meu irmão e o xinguei. Mas você sabe, irmão é irmão, e saímos dali dando boas risadas do

que tinha acontecido.

Passaram-se os anos, Abel e eu crescemos. Eu cuidava do pomar, meu irmão do

rebanho.

Certo dia, trouxemos para o culto, uma oferta cada um. Abel trouxe algo do rebanho.

Eu trouxe algo do campo. Não sei qual o motivo a oferta do meu irmão foi aceita e a minha

não. Naquele dia aconteceu algo muito triste. Sem ter controle das minhas emoções, fiquei

sobremodo irado com o acontecimento. A tal ponto foi minha ira que meu semblante se

desfigurou. Eu podia sentir aquela chama, aquele fogo embraseando meu rosto. Saí daquele

lugar arrasado. Mas antes que saísse ouvi uma voz no profundo do meu ser. Sabia que era o

Senhor que estava dizendo:

— Caim meu filho; por que estás tão irado? Por que teu rosto está tão desfigurado?

Por que tanta amargura no coração? Não há motivo para tu estares assim Caim.

E continuou:

— Olha Caim, há dentro de ti duas forças, como se fossem dois cães: aquele que tu

alimentares vai prevalecer. São duas opções: aquela que escolheres é a que determinará tua

aceitação ou não, perante mim. Por isso reflitas nisto: Se procederes pelo bem, tu serás

aceito, todavia se procederes pelo mal eis o pecado à porta do coração: Portanto, cabe a ti

dominar os desejos que estão contra ti. E lembra-te sempre Caim: não é a religiosidade das

ofertas que me agradam, mas, sim, um coração sincero, um desejo puro.

Page 21: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

27

Aquelas palavras ainda ressoam forte dentro de mim. É como se o Senhor as estivesse

falando hoje.

Descobri estarrecido, naquele dia, que há algo de monstruoso dentro do ser humano,

algo de demência que assombra todos nós. Você não se sente assim de vez em quando?

Você às vezes não fica irado, nervoso ... querendo matar meia dúzia de políticos?

É ... isso é uma tragédia por si só!

Mas minha história não pára por aí. Ela se agravou até a desgraça completa. Deixa-

me contar a parte mais triste.

Certa ocasião, chamei meu irmão para irmos ao campo, e num ato de pura violência

e loucura, deixei-me dominar pelo meu lado obscuro, pelo meu desejo do mal, e feri meu

irmão de morte. Por um instante fiquei ali, inerte, paralisado, olhando o corpo do meu irmão

estendido ali no chão, o sangue escorrendo pela terra ...

Fugi, apavorado. No caminho, outro encontro com o Senhor, que me perguntou:

— Caim, onde está teu irmão?

Sabia que nada podia esconder de Javé, sabia que o Senhor nos acompanha aonde

quer que nós iremos. Porém, no auge do meu desespero tentei um último ardil dizendo:

— Não sei onde está meu irmão. Acaso sou cuidador do meu irmão?

Em vão minhas palavras. A quem estava eu querendo enganar, senão a mim mesmo?

Conturbado e a sós com Deus ouvi-o dizer em tom de lamento:

— Que fizeste Caim?! O sangue do teu irmão clama da terra para mim. A voz do teu

irmão grita da terra regada com o sangue dele. A terra abriu a boca para receber a vida do

teu irmão. Agora és maldito sobre essa terra que não mais dará o sustendo quando a lavrares.

E Deus continuou dizendo ao meu coração:

— Serás andarilho sem rumo pela terra.

Mesmo que eu tivesse tapado os ouvidos naquele momento, teria ouvido essas duras

e assustadoras palavras, pois elas iam direto ao coração e, como cravos na madeira,

penetravam meu ser e ficaram fixadas para sempre.

Vivi um verdadeiro inferno existencial, um sofrimento tão intenso que não podia

suportar ... então clamei ao Senhor:

— Senhor meu castigo é tão grande que não posso suportá-lo, pois me lanças da tua

face e tenho que me esconder da tua presença e ando fugitivo e errante...

E completei a frase chorando amargurado:

— ... E quem me encontrar, certamente me matará.

Disse isso, pois temia receber na mesma moeda o castigo pelo meu pecado, por ter

tirado a vida do meu irmão.

Foram dias de profundo sofrimento. O fato de ter tirado a vida do meu irmão tirava

meu sono. Não conseguia dormir pensando no que fizera, pensando na dor de mamãe, pensando

na tristeza de papai, pensando na destruição que causei na minha família.

Sim. Você não pode imaginar a dor, a tristeza, a angústia, o desespero, a solidão

Page 22: Comunicação e Oratória

28

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

que enchiam meus dias.

Ainda sob o domínio do medo e do pânico ouvi o que o Senhor Javé falou:

— Caim: qualquer pessoa que tirar a tua vida será vingado sete vezes. Mas eu, o

Senhor Deus, coloco em ti um sinal, uma marca bem visível para que qualquer pessoa que te

encontrar não te fira de morte. Esta marca te protegerá pelo resto de tua vida e será uma

lembrança de que sempre estarei ao teu lado a proteger-te.

Deus falou, e assim se fez. No dorso da minha mão direita surgiu esta marca, parecida

com uma tatuagem, que me identifica como um protegido de Javé. Essa marca que você vê

em minha mão é a lembrança de uma tragédia familiar, mas é, ao mesmo tempo, um sinal de

proteção.

Eu sei que parece estranho eu dizer isso, pois você deve ter ouvido uma outra versão

da minha história. Entretanto, você pode consultar o livro Sagrado e comprovar o que estou

dizendo.

Assim, quando você olhar para esta marca em minha mão, saiba que é um sinal com

dois significados: um externo e outro interno. Um invisível e outro visível. A marca invisível é

a lembrança do meu pecado. A marca visível é a lembrança da proteção que recebi do Senhor.

Pense nisso: Se você não soubesse da história do meu pecado só veria a marca

visível e saberia que Javé me protege, e não saberia o que fiz.

Portanto, você que ouve a minha história tenha sempre na mente e no coração a

certeza de que, apesar do nosso pecado, seja ele qual for, nunca será tão grande que o

Senhor não possa perdoá-lo e isso por um motivo bastante simples: Jesus, o filho de Deus,

nosso irmão mais velho, derramou seu sangue para nossa remissão, para nossa proteção.

Assim, você também carrega uma marca que lembra o seu pecado, mas que também

lembra o perdão de Javé.

Essa é a história da nossa marca!

Page 23: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

29

ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta

“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-

ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,

utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.

Page 24: Comunicação e Oratória

30

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Page 25: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

31

Aula 03

ESTRUTURA DO SERMÃO

A pregação não é um exercício de oratória para o pregador, mas um elemento

essencial no crescimento espiritual do Corpo de Cristo.

John F. MacArthur

A importância da estrutura de um sermão é diretamente proporcional ao impacto

que o mesmo deve causar na memória do ouvinte. Um discurso bem estruturado ficará gravado

de forma duradoura na platéia.

Podemos chamar a Estrutura de uma Prédica de “Esboço” ou “Plano” dentro do

qual o material deve ser disposto em ordem. Isso exige talento e treino. É necessária a

imaginação construtiva. Mas, uma estrutura é indispensável, pois para o pregador é importante

Page 26: Comunicação e Oratória

32

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

ter os pensamentos nos lugares certos e para os ouvintes uma boa estrutura ajuda na

compreensão. Ademais, a falta de um plano, quase sempre leva o Pregador à digressão, à

repetição e à falta de clareza.

Uma boa estrutura se constitui de vários elementos. Por exemplo: Unidade, que

diz respeito a coerência temática, centrada em uma única mensagem. Ordem, que diz

respeito à coesão onde as idéias têm uma seqüência, início meio e fim, caminhando para

o clímax. Equilíbrio, que diz respeito à proporcionalidade e simetria entre as partes que

compõem o discurso. Elas devem ter tamanhos semelhantes para que uma parte não se

sobressaia à outra.

DESENVOLVIMENTO DO SERMÃO1

O desenvolvimento da Homilia deve acompanhar sua estrutura, que em geral pode

ser dividido em três partes: Exórdio (Introdução), Argumentação, Peroração (Conclusão).

Vejamos cada parte em separado.

Exórdio

Também chamado de “Introdução”, é a parte introdutória do sermão, ou seja, é o

processo pelo qual o pregador procura preparar a mente dos ouvintes e causar um interesse

para com a mensagem e o mensageiro. O Exórdio tem como objetivo fundamental preparar o

ouvinte para receber a mensagem, para entender o assunto e o propósito do sermão, pois a

platéia não sabe de antemão o tema do que será pregado. Assim, a finalidade é conquistar a

atenção dos ouvintes e despertar o seu interesse pelo tema da prédica e torná-lo atento e

disposto a ouvir.

Por isso, deve empreender um esforço para atrair a atenção (direção ou concentração

da mente num objeto), despertar o interesse (o interesse alimenta a atenção, apresentar algo

que se mostre digno de ser ouvido) e conquistar a simpatia (qualquer afetamento ou atitude

pretensiosa, além de inadequado, poderá criar um clima de antipatia por parte dos ouvintes)

do povo a sua mensagem.

Assim, uma boa introdução deve ser interessante (os primeiros minutos do sermão

são muitíssimo importantes. É aqui que o pregador ganha ou perde a atenção do ouvinte. Se

inicialmente for monótono, marcante ou trivial, provavelmente afetará a recepção da mensagem

pelos ouvintes); breve (convém que o pregador passe logo à parte principal da mensagem.

Uma introdução demasiadamente elaborada mata o sermão. O ideal é usar 10% do tempo

do sermão); clara (a linguagem deve ser natural e inteligível); modesta (evitar o pedantismo e

o exibicionismo de qualquer forma, pois a impressão egoísta no exórdio do sermão mata o

efeito de todo o discurso e cria antipatia ao pregador); e apropriada (à ocasião, à mensagem,

1 Para o que segue veja: http://revistadominical.sites.uol.com.br/homiletica.htm

Page 27: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

33

ao lugar, narrativa interessante, descrição bem feita, são elementos fundamentais para estimular

a imaginação e por os ouvintes a pensar antes de chegar ao corpo do sermão). Clareza sem

antecipar os fatos. A cordialidade é um elemento fundamental no exórdio, pois conquista a

emoção do ouvinte que permanecerá atento até o final da pregação.

É preciso evitar tornar a Introdução algo sensacionalista, exagerado e

antecipatória, apresentando todo o sermão logo no início ou prometendo mais do que

realmente pode alcançar.

Um Exórdio pode tomar diversas formas. Pode ser uma:

Introdução textual, na qual se procede a leitura de um texto, explicando os fatores

importantes relacionados ao mesmo.

Introdução contextual, na qual o contexto da passagem é explicado, como no caso

da parábola do filho pródigo que é antecedida por duas outras com o mesmo tema.

Introdução descritiva, na qual se faz uma descrição dramática da situação do texto

base da pregação.

Introdução temática, na qual o tema ou assunto é esclarecido por definições de

termos ou imagens presentes no texto, explicação de palavras que apresentem, à primeira

vista, um sentido obscuro, ambíguo ou que tenham um sentido bíblico peculiar, bem diferente

do de hoje.

Introdução problema, na qual um determinado problema é apresentado inicialmente

e a argumentação propõe uma solução plausível a ele.

Introdução ilustrativa, na qual se apresenta uma ilustração da própria Bíblia, da

literatura universal, das artes em geral, dos telejornais, de experiências de vida, etc.

Introdução inquiritiva, na qual se formula uma pergunta incisiva e relevante à platéia

e busca-se respondê-la ao longo da homilia.

Ao final do Exórdio é preciso fazer uma transição para o corpo do sermão. Essa

transição pode ser feita pela chamada “proposição” do sermão, isto é, levantar a tese

fundamental que será discutida ao longo da prédica.

Proposição é uma declaração simples do assunto que o pregador se propõe

apresentar, desenvolver, provar ou explicar.2

2 James Braga, Como Preparar Mensagens Bíblicas, p. 99.

Page 28: Comunicação e Oratória

34

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

A ‘proposição’ é aquela oração afirmativa que contém a substância do discurso.3

Lembremos as palavras de John Jowett:

Estou convicto de que nenhum sermão está pronto para ser pregado, nem pronto

para ser publicado, enquanto não nos for possível expressar o seu tema numa breve e

fecunda sentença, tão clara como cristal. Para mim, a conquista de tal sentença é o

mais difícil, exigente e frutuoso trabalho no meu gabinete. (...) Segundo o meu modo de

ver, nenhum sermão devia ser pregado, nem mesmo escrito, enquanto a sentença

expressiva não emergisse, clara e lúcida como o luar sem nuvens.4

Argumentação

Essa parte do sermão recebe vários nomes, tais como: corpo do sermão, discussão,

argumento, desenvolvimento. A argumentação exige uma atenção especial, visto que o que

precedeu foi um preparo para este momento, e o que virá após será uma questão apenas de

fechamento do assunto.

Já aludimos, anteriormente, aos tipos de sermão conforme o modo com que cada

tipo aborda o texto bíblico.

Agora, aqui no tópico “argumentação” é importante ressaltar que os argumentos

devem ser extraídos da Bíblia. Daí a necessidade de selecionar os textos bíblicos que devem

ser o alicerce da nossa pregação.

As divisões são as seções principais do corpo de um sermão bem ordenado (esboço).

Quer sejam enunciadas durante a entrega, quer não, um sermão corretamente planejado será

dividido em partes distintas que contribuirão para sua unidade.

As divisões esclarecem os pontos do sermão. É muito mais fácil para o ouvinte

quando as idéias principais são ordenadas e proferidas claramente porque permite acompanhar

e entender uma mensagem. Além disso, as divisões ajudam a recordar, a recapitular os aspectos

principais do sermão. Muitas vezes, as pessoas que se dizem abençoadas pelo sermão, quando

perguntadas pelo teor da mensagem já não se lembram, ou apenas vagamente. Pode até ser

falha de memória, no entanto, na maioria dos casos, foi falta de didática do pregador.

Não há um número definido de divisões em um sermão, mas deve haver quantas

forem necessárias para o bom desenvolvimento do tema proposto. Em geral três ou quatro

seções são suficientes, pois mais que isso, muito provavelmente daria mais que um sermão.

Porém, é necessário ressaltar que cada divisão deve conter um argumento próprio e

distinto das demais, doutra forma não se justificam. Pois como diz Lloyd-Jones:

Nunca forcemos uma divisão. E nem se adicione alguma divisão meramente

3 A. W. Blackwood, A Preparação de Sermões, p. 132.4 John H. Jowett, O Pregador, Sua vida e obra, pp. 89-90.

Page 29: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

35

tendo em vista completar o conceito que tivermos em mente, ou a fim de nos

conformarmos à prática usual. As divisões devem ser naturais, e aparentemente

inevitáveis.5

Conservando a linha mestra do pensamento deve haver dependência de cada ponto.

Às vezes, em um grupo muito grande de divisões ou subdivisões nota-se apenas repetições

com palavras diferentes apenas.

O corpo do sermão deve ser arquitetado de acordo com um plano ou esboço

definitivo. Não se pode denominar de sermão aquilo que não apresenta um plano definitivo.

As divisões devem ser claras e simples, livres de pontos obscuros, idéias vagas ou expressões

indefinidas, assim como de qualquer preocupação com efeitos sensacionalistas.

As divisões devem promover a unidade de pensamento. A unidade é essencial à

construção da mensagem e, assim, ajudar o pregador a descobrir o tratamento correto

de um assunto.

Por isso, devem ser elaboradas harmonicamente. Use três afirmações, três

exclamações, três interrogações, mas nunca misture uma afirmação com uma interrogação ou

uma exclamação com uma pergunta, observando o progresso gradativo até o clímax.

Um aspecto fundamental é o elo entre as divisões. É essencial para o progresso

harmônico do sermão que cada divisão seja entrelaçada a outra de forma natural e lógica.

Para isso usamos a chamada “transição”, ou seja, uma frase que resuma o que foi dito na

divisão anterior e introduza a divisão posterior.

É sempre bom lembrar que a platéia não tem diante de si o esboço do sermão para

segui-lo. Seu único meio de acompanhar a seqüência da mensagem é o pensamento do

pregador e suas próprias palavras.

A transição deve ser feita de modo a permitir a passagem suave e fácil de idéias de

uma parte para outra, do sermão.

Peroração

Peroração é o termo técnico para “Conclusão”. Sua importância não pode ser

menosprezada sob o risco de se perder todo o sermão por causa de uma conclusão mal feita.

É o ponto de decisão e, muitas vezes, o auditório vê o sermão se esfumaçar no fim ou, o que

é pior, o Pregador ficar dando voltas sem conseguir concluir a prédica.

Por isso, os grandes oradores gregos e romanos davam especial atenção as suas

pregações, parecendo sentir e deixando transparecer que a Conclusão era a batalha final que

decidiria a guerra e, assim, reuniam todas as suas forças para um esforço supremo.

A conclusão é sem dúvida, o elemento mais poderoso de todo o sermão. Se não for

bem executada pode enfraquecer ou até mesmo destruir as partes anteriores da mensagem.

5 D.M. Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, pp. 150-151.

Page 30: Comunicação e Oratória

36

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Alguns pregadores se esquecem da importância da conclusão e, como resultado, seus sermões

fracassam no ponto crucial. Em vez de concentrarem o material em um foco de calor e poder,

permitem que a corrente de pensamento no final se dissipe em observações fracas, vagas ou

sem importância.

Lembremos que a conclusão não é uma parte que adicionamos ao sermão, e sim

parte orgânica dele, ou seja, que completa sua forma e seu efeito. A conclusão deve ocupar

cerca de 10% do tempo total do sermão. Nela devemos fazer a recapitulação e aplicação.

Na peroração podemos fazer um breve resumo do que foi dito e aplicar a mensagem

ao ouvinte, uma aplicação pessoal, pois cada ouvinte deve saber que está se falando para

ele. Deve o ouvinte se perguntar: “Muito bem, à luz disso, que devo fazer?” Evite o festival

de banalidades: “que possamos ser crentes melhores”, “que Deus nos abençoe”. Isso não

quer dizer nada.

Alisto abaixo algumas sugestões para uma conclusão bem sucedida:

• Deve ter uma finalização natural e apropriada ao sermão como um todo. Por isso

deve-se evitar toda e qualquer matéria nova ou estranha.

• Deve ser viva e enérgica. Uma reprodução forte e vívida do pensamento principal

do sermão, como pregos bem cravados no coração de cada ouvinte.

• Deve ser precisa, definida e clara nos pensamentos e na expressão. Se há uma

parte do sermão que exija maior clareza e conselhos definidos e objetivos, é justamente a

conclusão.

• Cuidado com gestos que distraem: olhar o relógio, fechar a Bíblia, recolher o esboço,

falar enquanto folheia o hinário, buscar um hino a ser cantado, etc.

Page 31: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

37

ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta

“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-

ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,

utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.

Page 32: Comunicação e Oratória

38

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Page 33: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

39

Aula 04

ESTRUTURA TEXTUAISE HOMILÉTICA

DE SERVA A SENHORA

Quando deixamos o Seminário para assumirmos um campo, presumimos, muitas

vezes, que sabemos o suficiente a respeito das disciplinas estudadas e não nos damos conta

que a nossa preparação acadêmica foi o primeiro dos impulsos em direção a novos estudos.

Assim, ao nos voltarmos para um estudo mais atencioso dos textos bíblicos vamos,

inevitavelmente, descobrir aspectos estruturais que jogam, repetidas vezes, nossos

pressupostos homiléticos por terra.

Aprendemos no Seminário a estruturar nossos sermões e estudos conforme as regras

observadas nos grandes pregadores do passado. Regras que cientificamente denominam-se

“regras homiléticas”.

Page 34: Comunicação e Oratória

40

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Não há nada de mal, em si, o uso de tais regras, se forem empregadas para servir o/

a ministro/a, como entendo que sejam. Entretanto, de serva a homilética passou a ser senhora,

e senhora tal que não permite ao expositor bíblico respeitar as estruturas que encontramos

nos textos.

Portanto, quero mostrar que os textos bíblicos obedecem a certas estruturas naturais

e que podemos utilizá-las para ministrar a palavra.

AS ESTRUTURAS TEXTUAIS

Denomino “estrutura textual” à forma como aparecem dispostos os elementos dentro

de padrões nos textos. Na análise dos textos bíblicos, temos que notar a disposição natural

de tais elementos. Tal disposição é uma imposição interna que o autor colocou e quer que

seja considerada por aqueles que lerão o texto, pois a distribuição dos elementos obedeceu

a uma intenção didática, não foi feita à revelia deste propósito.

Vou tomar dois textos como amostra para exemplificar suas respectivas estruturas.

Amós 1.3-5

3 Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Damasco e por quatro, não

sustarei o castigo, porque trilharam a Gileade com trilhos de ferro. 4 Por isso, meterei fogo à

casa de Hazael, fogo que consumirá os castelos de Ben-Hadade. 5 Quebrarei o ferrolho de

Damasco e eliminarei o morador de Biqueate-Áven e ao que tem o cetro de Bete-Éden; e o

povo da Síria será levado em cativeiro a Quir, diz o SENHOR.

Inicialmente, demarca-se os limites do texto. Esse processo consiste em encontrar o

início e o fim do texto considerado. (Obs. considera-se, para esse fim, o texto sem as divisões

em capítulos e versículos).

Nesse caso, o texto tem seu início com as palavras – Assim diz o Senhor –, e tem

seu término com – diz o Senhor –. Assim, o trecho de Amós 1.3-5 pode ser tomado como

um parágrafo em si.

Para confirmar essa afirmação, basta olhar para o contexto e verificar que outros

textos semelhantes a este, em função (profecia contra uma nação) também se iniciam e

terminam do mesmo modo. Por exemplo, a profecia contra Gaza inicia-se com – Assim diz

o Senhor – e termina com – diz o Senhor –. Do mesmo modo ocorre com as profecias

contra Amom, Moabe e Israel. E ainda, com uma pequena variação no final, com as profecias

contra Tiro, Edom e Judá.

Feita a demarcação dos limites do texto, passa-se a verificar qual a estrutura da

perícope.

O trecho começa de uma forma autoritativa – Assim diz o Senhor –, à qual chamo

de “Fórmula do Mensageiro”.

Page 35: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

41

O segundo elemento que se percebe é uma “Acusação” – Por três transgressões

de Damasco, e por quatro, não susterei o castigo –.

Um terceiro elemento decorre naturalmente do segundo, pois o castigo tem que ter

um motivo. Assim, esse elemento é o que chamo de “Base do Castigo”, isto é, a explicação

do “porquê” – Porque trilharam a Gileade com trilhos de ferro –.

Ainda, um quarto elemento deste trecho é a “Descrição do Castigo”, iniciada por

uma conjunção conclusiva por isso. Este elemento também decorre do anterior: – Por isso

meterei fogo ... será levado cativo a Quir ... – .

Finalmente a unidade é encerrada com uma “Fórmula Conclusiva”, abreviada da

introdução – diz o Senhor –.

Em resumo, a estrutura de Amós 1.3-5 é a seguinte:

I. Fórmula do Mensageiro 3 Assim diz o SENHOR:

II. Ameaça de Castigo Por três transgressões de Damasco e por quatro, não sustarei o castigo,

III. Base do Castigo porque trilharam a Gileade com trilhos de ferro.

IV. Descrição do Castigo 4 Por isso, meterei fogo à casa de Hazael, fogo que consumirá os castelos

de Ben-Hadade. 5 Quebrarei o ferrolho de Damasco e eliminarei o morador

de Biqueate-Áven e ao que tem o cetro de Bete-Éden; e o povo da Síria será

levado em cativeiro a Quir,

V. Fórmula Conclusiva diz o SENHOR.

As outras sete profecias que se seguem, salvo pequenas variações, possuem a mesma

estrutura textual.

Mateus 6.2-4

2 Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os

hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade

vos digo que eles já receberam a recompensa. 3 Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a

tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 4 para que a tua esmola fique em secreto;

e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.

Usando o mesmo procedimento é preciso, além de demarcar o trecho, identificar os

elementos da sua estrutura textual.

Primeiramente delimita-se o texto. O parágrafo inicia-se com um advérbio temporal

– Quando – e encerra-se com a palavra – recompensará –. (OBS: o v.1 é tomado como

Page 36: Comunicação e Oratória

42

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

introdução geral para as três unidades que se seguem; esmola, oração e jejum).

Esse trecho será tomado como uma unidade completa em si.

Esta afirmativa é claramente comprovada com uma simples olhada no contexto (cf.

vv. 5 e 6; 16 e 18); versos que encerram uma estrutura textual idêntica.

Uma vez delimitado o texto, passa-se a determinar a estrutura.

Nesse trecho os elementos estão dispostos de tal maneira a formarem duas partes:

Na primeira parte existe uma introdução que é feita com uma menção do assunto – Quando,

pois, deres esmola –.

O segundo elemento constitui-se numa “Advertência” aos discípulos para não agirem

conforme hipócritas – não toques trombeta ... –.

O elemento que se segue é uma “Explicação da Advertência”, iniciada por uma

conjunção explicativa, omitida neste parágrafo, mas subentendida conforme vv. 5 e 16. Assim,

o texto pode ser lido – porque dão esmola nas sinagogas ... –.

O último elemento da primeira parte é a “Conclusão” – já receberam a recompensa

– (passado).

A introdução da segunda parte, iniciada por uma conjunção adversativa, “Contrapõe”

o ensino, fazendo uma menção do assunto – tu, porém, ao dares a esmola –.

Em segundo lugar aparece um “Ensino”, seguindo imediatamente a frase adversativa

– ignore a tua esquerda ... –.

A conclusão da segunda parte é feita com uma promessa no futuro, fechando assim

a unidade completa.

Resumindo a estrutura textual de Mateus 6.2-4.

1ª PARTE

I. Introdução 2 Quando, pois, deres esmola,

II. Advertêncianão toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas

e nas ruas,

III. Justificativa da Advertência para serem glorificados pelos homens.

IV. Conclusão (passado) Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.

2.ª PARTE

I. Contraposição do Ensino 3 Tu, porém, ao dares a esmola,

II. Ensinoignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 4 para que a tua

esmola fique em secreto;

III. Conclusão (futuro) e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.

Page 37: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

43

Os outros dois parágrafos (oração e jejum) seguem a mesma estrutura.

É bom ressaltar que Mateus aduz ao parágrafo da oração, um ensino complementar

(vv. 7-15).

Com tais amostras é possível comprovar que os textos respeitam, dentro do seu

gênero, certas estruturas textuais.

À guisa de exercício de fixação pode-se tentar estabelecer a disposição dos elementos

dos seguintes trechos: As 7 cartas do apocalipse, os AIS de Mateus 23.13ss; os cânticos de

Lucas; as antíteses de Mateus 5.21-47 e assim por diante.

A QUESTÃO

Tendo descrito as estruturas acima, surge a questão:

Como se comportam as regras homiléticas nesses casos?

A experiência tem demonstrado que a homilética não respeita os elementos naturais

do texto. Padronizou-se ministrar (sermões e estudos) com três ou quatro divisões. Não que

as divisões homiléticas sejam más em si, mas tais regras muitas vezes, forçam a ver divisões

onde não há ou omiti-las de um texto.

No caso de Amós 1.3-5, caberia uma divisão homilética tradicional (três divisões,

introdução e conclusão).

Contudo, no caso de Mateus 6.2-4, a mesma divisão homilética não teria lugar, sem

violar as divisões naturais impostas pela estrutura textual.

CONCLUSÃO

Com essas breves considerações, gostaria de propor uma inversão de posição, isto

é, devolver à homilética o seu lugar de serva e considerar os textos sob a perspectiva de suas

estruturas naturais.

Se a homilética tem por objetivo colocar de maneira clara e didática a ministração

da palavra, as estruturas textuais se prestam a isso muito mais.

Afirmo isso porque podemos utilizar as divisões dos textos segundo os padrões

impostos internamente, isto é, pelos padrões estruturais do próprio autor que pretendeu, no

mais das vezes, ser claro, conciso e didático.

Portanto, digo que não devemos nos prender cegamente aos padrões impostos ao

texto externamente, isto é, às leis homiléticas.

Façamos a experiência, usemos as estruturas textuais na ministração da palavra.

Veja o exemplo abaixo:

De um mesmo e só Espírito!

No princípio criou Deus os céus e a terra. Na vastidão inócua e informe, na

Page 38: Comunicação e Oratória

44

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

deformidade caótica de um mundo sem encanto, passou a dizer palavras de encantamento e

ternura... E eis a luz, e as trevas abissais se dissiparam, e o dia e a noite. E eis o firmamento,

e as águas, acima e abaixo, e também um torrão de terra seca, os continentes, terra e mar,

ilhas e nascentes, poeira e águas correntes. E a relva, a erva, a árvore, sementes, flores,

frutos, florestas, bosques e jardins. Exuberante arrebenta a flora vicejando vida em solo

bruto... E eis no céu o sol, e a lua e as estrelas aos milhares, e as constelações e galáxias e

todo o exército dos céus marchando na precisão de suas órbitas, alumiando dias e noites,

separando luz e trevas, compassando tempos e estações... E eis as águas embaixo povoadas

de seres marinhos, e os céus em cima repletos de seres alados, e a terra, no meio, tomada de

seres sem conta, animais de toda espécie. A vida extravasa em rica fauna. E aos peixes, aves,

répteis ordenou:

— Enxameai terra e céus e mares... E eis que tudo, tudo, tudo era muito bom. E num

momento de suprema e infinita inspiração criou Deus o ser humano, homem e mulher os

criou, e como uma coroa de rosas o colocou sobre toda sua criação que com carinho fizera.

E disse mais:

— Não fiquem sozinhos, façam amor, e que desse amor multipliquem-se em iguais e

povoem o planeta!

Ótimo! Tudo perfeito! Tudo tão bom! Bom de se olhar, bom de se tocar, bom de se

saborear! Tudo muito bom!

E assim se fez, e nos amamos e geramos tantos outros seres humanos e tomamos

todos os recantos da terra, e habitamos os vales, as campinas, as montanhas... Entretanto,

para aonde fomos Deus não nos deixou só, mas assoprou um mesmo e só espírito nos Poetas,

nos Profetas e nos Pastores. Os primeiros para cantar o encantamento da criação, os segundos

para promover o cuidado com a criação e os últimos para cuidar da coroa da criação. Deu-

nos as Poetizas para cantar a nossa relação com Ele mesmo. Concedeu-nos as Profetizas

para promover nossa relação com a Natureza. E ofertou-nos as Pastoras para cuidar da

nossa relação com nossos semelhantes.

Assim, o espírito que habita poetas e poetizas canta:

Foi Deus quem fez o céu e o luxo das estrelas, fez também um seresteiro para

conversar com elas, fez a lua que prateia minha estrada de sorrisos. Foi Deus quem fez

o vento que sopra os teus cabelos, foi Deus quem fez o orvalho que molha o teu olhar.

Foi Deus quem fez a noite, e um violão plangente, foi Deus quem fez a gente somente

para amar, só para amar1.

Salmo 104:1 Bendize, ó minha alma, ao SENHOR! SENHOR, Deus meu, como tu

és magnificente: sobrevestido de glória e majestade, 2 coberto de luz como de um manto. Tu

estendes o céu como uma cortina ,3 pões nas águas o vigamento da tua morada, tomas as1 Luiz Ramalho.

Page 39: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

45

nuvens por teu carro e voas nas asas do vento. 4 Fazes a teus anjos ventos e a teus ministros,

labaredas de fogo. 5 Lançaste os fundamentos da terra, para que ela não vacile em tempo

nenhum. 6 Tomaste o abismo por vestuário e a cobriste; as águas ficaram acima das montanhas;7 à tua repreensão, fugiram, à voz do teu trovão, bateram em retirada. 8 Elevaram-se os montes,

desceram os vales, até ao lugar que lhes havias preparado. 9 Puseste às águas divisa que não

ultrapassarão, para que não tornem a cobrir a terra. 10 Tu fazes rebentar fontes no vale, cujas

águas correm entre os montes; 11 dão de beber a todos os animais do campo; os jumentos

selvagens matam a sua sede. 12 Junto delas têm as aves do céu o seu pouso e, por entre a

ramagem, desferem o seu canto. 13 Do alto de tua morada, regas os montes; a terra farta-se

do fruto de tuas obras. 14 Fazes crescer a relva para os animais e as plantas, para o serviço

do homem, de sorte que da terra tire o seu pão, 15 o vinho, que alegra o coração do homem,

o azeite, que lhe dá brilho ao rosto, e o alimento, que lhe sustém as forças. 16 Avigoram-se as

árvores do SENHOR e os cedros do Líbano que ele plantou, 17 em que as aves fazem seus

ninhos; quanto à cegonha, a sua casa é nos ciprestes. 18 Os altos montes são das cabras

montesinhas, e as rochas, o refúgio dos arganazes. 19 Fez a lua para marcar o tempo; o sol

conhece a hora do seu ocaso. 20 Dispões as trevas, e vem a noite, na qual vagueiam os

animais da selva. 21 Os leõezinhos rugem pela presa e buscam de Deus o sustento; 22 em vindo

o sol, eles se recolhem e se acomodam nos seus covis. 23 Sai o homem para o seu trabalho e

para o seu encargo até à tarde. 24 Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com

sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas. 25 Eis o mar vasto, imenso, no qual

se movem seres sem conta, animais pequenos e grandes. 26 Por ele transitam os navios e o

monstro marinho que formaste para nele folgar. 27 Todos esperam de ti que lhes dês de comer

a seu tempo. 28 Se lhes dás, eles o recolhem; se abres a mão, eles se fartam de bens. 29 Se

ocultas o rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração, morrem e voltam ao seu pó.30 Envias o teu Espírito, eles são criados, e, assim, renovas a face da terra. 31 A glória do

SENHOR seja para sempre! Exulte o SENHOR por suas obras!

Água que nasce na fonte serena do mundo, e que abre o profundo grotão. Água

que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão. Águas escuras dos rios que

levam a fertilidade ao sertão. Águas que banham aldeias e matam a sede da população.

Águas que caem das pedras, no véu das cascatas, ronco de trovão e depois dormem

tranqüilas no leito dos lagos. Água dos igarapés onde mãe d’água, é misteriosa canção.

Água que o sol evapora, pro céu vai embora virar nuvens de algodão. Gotas de água da

chuva, a legre arco- ír is sobre a plantação. Gotas de água da chuva,

tão tr is tes são lágrimas na inundação. Águas que movem moinhos

são as mesmas águas que encharcam o chão e sempre voltam humildes pro fundo da

terra. Terra planeta água.2

2 Guilherme Arantes.

Page 40: Comunicação e Oratória

46

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Há um mesmo e só Espírito na alma das poetizas e poetas que cantam e louvam, por

nós, o Criador pela beleza da criação.

Assim, o mesmo espírito que também habita profetas e profetizas exorta:

Gênesis 2 15 Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do

Éden para o cultivar e o guardar.

Gênesis 2 19 Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais

do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria;

e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. 20 Deu nome

o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos...

..., tudo é azul, terra azulada, verde-azul, azul (e céu) tudo é azul, lago e lagoas

azuis e, quanto mais distante a terra, mais azul, ilhas azuis em lago azul. Este é o rosto

da terra libertada. Para nos amarmos numa terra bela, muito bela, não só por ela

senão pelos homens nela, sobretudo pelos homens nela. Esta terra, Deus nos deu bela

por isso, para a sociedade nela.3

Romanos 8:19-24 19 A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos

de Deus. 20 Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele

que a sujeitou, 21 na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da

corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. 22 Porque sabemos que toda a

criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. 23 E não somente ela, mas também

nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a

adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.

Há um mesmo e só Espírito na alma dos profetas e profetizas que nos exortam ao

cuidado terno com a criação do magnificente Criador.

Da mesma forma que habita com poetas, profetizas, poetizas e profetas, o mesmo

espírito faz morada com pastores e pastoras.

Porém, dos pastores não temos discursos para mostrar, e das pastoras não há palavras

para falar, pois sua tarefa impõe, por si, uma atitude e não palavra.

Portanto, são vidas que falam pelas pastoras: Jesus de Nazaré, Francisco de Assis,

Dietrich Bonhoeffer... e pelos pastores: Maria de Nazaré, Teresa de Ávila e Teresa de Calcutá,

e todos os anônimos pastores e pastoras anônimas que se fizeram poesia e profecia a favor

dos seus irmãos e irmãs.

Maria de Nazaré, mãe do Senhor, acolheu em seu ventre o lógos, o poema completo

de Deus. E com um cuidado maternal cumpriu a dolorosa e gratificante missão de ser a mãe

3 Ernesto Cardenal.

Page 41: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

47

do Salvador de toda criação de Deus Pai.

Junto aos irmãos e irmãs da comunidade estendeu a todos, sem distinção, os segredos

guardados em seu coração de mãe, confortando e animando, como uma pastora, o rebanho

de Deus.

Teresa de Ávila, mística e religiosa espanhola, fundadora da comunidade das

Carmelitas Descalças, reforçou o cumprimento rigoroso das primitivas e severas regras da

Ordem. Foi a primeira mulher a ser proclamada doutora da Igreja. Teresa purificou a vida

religiosa espanhola do início do século XVI, contribuindo para fortalecer as reformas na

Igreja numa época em que o Protestantismo estendia-se pela Europa.

São dela as seguintes palavras ditas para suas pupilas:

É aqui, minhas filhas, que o amor será achado - não escondido pelos cantos,

mas em meio de ocasiões pecaminosas. E me acreditem, embora possamos falhar

freqüentemente e cometer pequenos erros, nosso ganho será incomparavelmente muito

maior.

E ainda...

Compreendi que o amor encerra todas as vocações e que o amor é tudo, abraça

todos os tempos e todos os lugares.

Teresa de Calcutá, albanesa, abre-se à vocação divina e, aos trinta e oito anos,

abandona o convento e vai viver nas periferias de Calcutá (Índia) com os pobres dos pobres,

como ela mesma dizia. O cuidado com os pobres ela o transformou em um quarto voto às

suas seguidoras nos seguintes termos: “dedicar-se de todo coração e livremente a serviço

dos mais pobres dos pobres.”

Ao fundar a “Casa dos Moribundos” passa a acolher os miseráveis que viriam a

morrer nas ruas caso não fossem recolhidos.

Uma das frases mais marcantes desta Pastora do rebanho de Deus é a seguinte: “Dá

Cristo ao mundo, não o mantenhas para ti mesma e, ao fazê-lo, usa as tuas mãos.” E o

carisma fundamental aparece na exortação ao cuidado com os pobres: “toca-os, lava-os,

alimenta-os.”

Essas mulheres-pastoras falam, ainda hoje, com suas vidas, do cuidado com o povo

de Deus.

Outro tanto se pode ver nas vidas de Jesus de Nazaré, de Francisco de Assis e

Dietrich Bonhoeffer.

Jesus de Nazaré, o supremo Pastor, ungido pelo mesmo espírito, deixou Nazaré ...

Mateus 4:13-17 13 ... foi morar em Cafarnaum, situada à beira-mar, nos confins de

Zebulom e Naftali; 14 para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías:

Page 42: Comunicação e Oratória

48

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

15 Terra de Zebulom, terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios!16 O povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte

resplandeceu-lhes a luz. 17 Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos,

porque está próximo o reino dos céus.

Compreendendo sua missão entre os pobres e miseráveis, Jesus de Nazaré, de

passagem por este mundo, olhando ...

Mateus 9:36-10:1 36 ... as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas

e exaustas como ovelhas que não têm pastor. 37 E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara,

na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38 Rogai, pois, ao Senhor da seara

que mande trabalhadores para a sua seara.

Dietrich Bonhoeffer, além de pastor, teólogo, foi escritor e poeta. Um dos fundadores

da chamada “Igreja Confessante” organizada em Maio de 1934 em Barmen, Alemanha. Sua

experiência à frente da igreja em Finkenwalde gerou dois livros O Preço do Discipulado e

Vida em Comunidade, que, somado a um terceiro livro, Cuidado Espiritual sobre o ministério

pastoral, usava para preparar pastores para a Igreja Confessante.

A partir de 1934, já perseguido, exerce clandestinamente seu ministério na Alemanha,

até ser preso em 1943, acusado de envolvimento num plano para assassinar Hitler.

Dietrich Bonhoeffer amou a igreja do seu tempo, sofreu com ela e por ela, mas

também participou ativamente do destino da sua pátria, e quando viu que a sua igreja silenciou

diante de tanta injustiça, que os cristãos não levantaram suas vozes em favor

... dos irmãos mais fracos e indefesos de Jesus Cristo (os judeus e os 200.000

considerados indignos de viver, entre eles os deficientes físicos e mentais, todos estes

condenados a eutanásia, mais os milhares de ciganos, homossexuais e testemunhas de Jeová

levados para os campos de extermínio)...

... não calou e nem desistiu mesmo sabendo o risco que iria correr se fosse adiante

pela causa.

Em um sermão de fevereiro de 1933, logo após a ascensão de Hitler ao poder,

Dietrich declara:

Na Igreja temos um único altar, o altar do Altíssimo, diante do qual todas as criaturas

devem dobrar os joelhos.

Francisco de Assis, um jovem de boa condição econômica e bem situado socialmente

com um futuro promissor, tem uma profunda experiência espiritual com o Senhor e, movido

pelo espírito de Deus, abandona tudo e passa a viver com as pessoas mais desprezadas da

sua época.

Page 43: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

49

Vive, a partir daí, junto aos leprosos, aos pobres e inicia um movimento de

restauração de vidas humanas.

Francisco inunda seu mundo de amor e fraternidade e desenvolve uma compreensão

de comunhão do homem com a criação que transborda em poesia e cuidado para com tudo

e para com todos.

Ao explicar a um noviço a loucura do Evangelho, Francisco de Assis diz:

O Evangelho me confere a liberdade dos loucos e das crianças. A liberdade

evangélica, meu irmão, te permite jejuar e interromper o jejum para comer com o irmão

que grita à noite “morro de fome”, te convida a apreciar a tradição e a abrir caminhos

novos, a falar com os ricos e a beijar os leprosos. Meu irmãozinho, só viverás a liberdade

do Evangelho se acreditares no sonho, se alimentares em ti a ternura para com todas as

coisas e se te dispuseres a sofrer com alegria. Não deixes, irmão, de sonhar o sonho de

Jesus Cristo.4

Finalmente, as palavras de irmão Francisco ressoam claras e fortes:

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que

estão no mundo inteiro e vos bendizemos porque por vossa santa cruz redimistes o mundo.

Eterno Deus onipotente, justo e misericordioso, concedei-nos a nós míseros praticar

por vossa causa o que reconhecermos ser a vossa vontade e querer sempre o que vos

agrade, a fim de que, interiormente purificados, iluminados e abrasados pelo fogo do

Espírito Santo, possamos seguir as pegadas de vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo,

e por vossa graça unicamente chegar até vós, ó Altíssimo, que em Trindade perfeita e

Unidade simples viveis e reinais na glória como Deus onipotente por toda a eternidade.5

Deus não nos deixou sozinhos no mundo, mas nos deu os poetas e poetizas para

cantar a beleza da criação, legou-nos os profetas e profetizas para nos exortar ao cuidado

da Natureza e nos presenteou com os pastores e pastoras para que fossemos cuidados por

eles.

Ao insuflar um mesmo e só espírito em todas elas e em todos eles o Senhor nos

concede sempre fruir da companhia dessas pessoas e entre nós, hoje, estão os pastores e as

pastoras para cuidar da coroa da criação.

Salmo 104 Senhor envias o teu Espírito e fazes a teus ministros e ministras, labaredas

4 Francisco de Assis.5 Francisco de Assis.

Page 44: Comunicação e Oratória

50

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

de fogo.

Amém!

Lembre-se: Todo e qualquer intérprete deve preparar mensagens de maneira

inteiramente pessoal. Mas deveria estabelecer uma regra sem exceções: ‘começa,

prossegue e termina com oração’. (A.W. Blackwood).

ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta

“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-

ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,

utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.

Page 45: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

51

Aula 05

DESENVOLVIMENTO DO SERMÃO

O QUE FALAR

“Além de falar melhor é imprescindível ter o que falar.”

Você provavelmente já foi convidado, sem que esperasse, para fazer uma saudação

a um grupo ou teve que apresentar, de surpresa, uma homenagem a alguém num aniversário

ou numa reunião social ou mesmo já foi convidado, com antecedência, para fazer um discurso,

ministrar uma aula, dar uma palestra.

Qual foi sua reação? Aceitou? Recusou? Por quê?

Talvez uma das causas por que tenha recusado seja a falta de ter o que falar,

conseqüentemente, o despreparo para “improvisar”.

Page 46: Comunicação e Oratória

52

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Tendo estudado as técnicas de falar em público, resta, agora, saber o que falar.

DEFINIR O OBJETIVO

A primeira coisa que você deve ter em mente quando for falar em público é: saiba o

que vai dizer. Uma apresentação só terá sucesso se tiver um objetivo claramente determinado.

O que você tem para dizer a seu público? Antes de começar a se preparar para uma

apresentação, decida aonde quer chegar com ela.

Concentre-se em seu objetivo a cada passo da preparação, a fim de garantir que ela

seja útil e eficaz. Analise o que você quer.

Antes de qualquer coisa, defina o que você quer dizer ao seu público e qual a melhor

forma de se comunicar com ele. Sua estratégia dependerá de três aspectos: tipo de mensagem,

tipo de público e instalações do auditório.

Repasse consigo mesmo o objetivo de sua apresentação e questione-se: é

suficientemente simples ou complexa demais? Imagine quem poderia estar na platéia e como

seu discurso seria recebido por essa pessoa. Em seguida, veja se essa é a forma como você

gostaria que ele fosse recebido. Se não for, modifique sua estratégia.

Ao perguntar pelo objetivo de uma fala, estamos, na verdade, perguntando pelo tipo

de apresentação requerida. A que propósito servirá minha fala?

Dentre os vários tipos de apresentação, alistamos os seguintes:

Informativa

Quando se deseja simplesmente dar esclarecimentos, prestar informações sobre

mudanças, pressupondo que o público desconhece ou conhece pouco sobre o assunto.

Também pode ser chamada de explicativa.

Persuasiva

Tem como objetivo persuadir, envolver, fornecer dados para o público tomar decisões

ou modificar o seu ponto de vista, suas crenças, valores ou opiniões.

Motivacional

Tem como meta promover mudanças de atitudes e comportamentos do público, tais

como comprar, vender, votar, participar, escolher, influenciando-o para essas mudanças.

Discursos de Entretenimento

Nessa situação, encontramos o bate-papo informal após um evento, com o objetivo

de aumentar a alegria do ambiente ou criar uma situação mais favorável. Cabem aqui também

aqueles “improvisos” sem maiores compromissos.

Page 47: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

53

Discursos de Cortesia

Encontram-se nessa categoria as falas de agradecimento, de homenagens, de

despedida, de boas vindas, de congratulações e todas as orações que expressem gentilezas

ou cortesias.

Analisar o Público-Alvo

Para transmitir sua mensagem com eficácia, você deve levar em consideração os

valores culturais e opiniões do seu público.

Nesse tópico, obtêm-se todos os dados pertinentes das pessoas que estarão ou

poderão estar presentes na apresentação.

Perguntas como essas deverão ser respondidas:

1. Quantas pessoas estarão presentes?

2. Qual é, efetivamente o seu público alvo?

3. Como o público se sente em relação ao seu assunto?

4. As pessoas têm conhecimentos sobre o que você irá abordar?

5. O que você espera que as pessoas façam a partir da sua apresentação?

6. O que o público precisa conhecer sobre o seu tema?

7. O que há de interessante, para o público, no assunto a ser abordado?

8. Quais seriam as perguntas mais prováveis que as pessoas poderiam fazer?

9. Qual o perfil etário do grupo?

10. Qual a quantidade de homens e de mulheres?

Outro fator importante em relação ao público-alvo é a imagem que se quer deixar.

A primeira impressão é a que fica, e é muito difícil mudá-la. Sinais podem ser captados

muito depressa pela maneira como a pessoa se veste e fala e até mesmo pelo modo como

caminha. Antes que você chegue ao palco, a platéia terá formado uma opinião baseada nessas

primeiras impressões. É importante decidir de antemão que imagem você deseja passar para

o público. Causar a melhor primeira impressão pode ser vital para o sucesso de sua palestra.

Portanto, vista-se adequadamente e caminhe, fale e posicione-se com segurança e naturalidade.

Sua imagem será mais bem recebida se a platéia puder se identificar com você.

Assim, é sempre importante estar ciente de qual imagem é esperada pelo público. Será mais

fácil “escolher” a imagem sabendo um pouco sobre seus espectadores. Não se esqueça:

estilos de vestir podem comunicar mensagens específicas para cada tipo de platéia.

Lembre-se, nunca faça uma apresentação sem conhecer essas informações básicas:

para quem você vai falar, o que esse público quer ouvir, quanto tempo você terá, se você

será o único orador, qual a ordem das apresentações, se haverá um período para perguntas

e respostas, se você vai falar durante uma refeição, o local da apresentação, que instrumentos

estarão à sua disposição (retroprojetor, computador com programa para fazer apresentações,

Page 48: Comunicação e Oratória

54

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

televisão, vídeo, lousa, etc). Com isso em mente você evita cair em armadilhas e sente mais

segurança.

O SERMÃO/DISCURSO

Qualquer que seja o tipo de apresentação é necessário que tenha início, meio e fim.

O discurso pode ser dividido em três partes:

I. Introdução

II. Desenvolvimento

III. Conclusão

I. Introdução do Sermão/Discurso

A Introdução do Discurso é sua parte mais importante, pois nela se ganha ou se

perde a atenção dos ouvintes.

Três elementos compõem a Introdução

a. Fazer o Vocativo

b. Captar a Atenção

c. Preparar o Assunto Central

a. Fazer o Vocativo

Vocativo é uma expressão usada para chamar a atenção dos ouvintes colocando-

nos em evidência em relação ao auditório.

O vocativo demarca o início da fala indicando ao público que o discurso vai começar.

É o momento em que o auditório volta olhos e ouvidos ao orador. É o instante em que cada

ouvinte diz a si mesmo: “Vai começar”.

Exemplos de vocativos:

1. Caros amigos, irmão, irmãs

2. Senhoras e senhores

3. Brasileiras e brasileiros

4. Digníssimo senhor

5. Minha gente

6. Prezado auditório

b. Captar a Atenção

A receptividade do público tem relação direta com a feliz ou infeliz forma que o

orador escolher para captar a atenção. A primeira oração é o momento supremo da conciliação

Page 49: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

55

de interesses entre o orador e o público. Um discurso bem começado abre todas as chances

de o orador conseguir seu objetivo.

Existem procedimentos que o orador deve usar para começar um discurso e outros

que ele não deve usar.

Alguns dos recursos sugeridos para captar a atenção são os seguintes:

1. Cite um fato surpreendente que cause impacto

2. Pergunte algo ao auditório

3. Saliente que o assunto beneficiará o ouvinte

4. Refira-se à ocasião ou à circunstância

5. Faça uma ilustração

6. Mostre que o assunto é importante

7. Comece com humor

8. Encene algo engenhoso

9. Faça uma citação adequada

10. Lisonjeie o público

c. Preparar o Assunto Central

Preparar o Assunto Central significa comunicar ao público qual será o assunto de

sua palestra. Você estará, de fato, esboçando um resumo do que vai dizer. O seu objetivo,

nesta parte, é fazer com que o público pense: “Ah! Estou sabendo o que ele vai dizer”.

Preparar o Assunto Central pode significar também criar expectativa em relação ao

Assunto Central, sem que, neste caso, o público perceba o que vem a seguir.

Sem perder de vista a importância da brevidade e da objetividade e para que o tema

penetre na mente do ouvinte, você pode utilizar-se de um ou mais dos seguintes recursos:

1. Explicar, através de uma ou duas orações curtas e precisas, o conteúdo do tema

a ser desenvolvido.

2. Enriquecer essa parte do discurso com uma narração, uma história, que facilite a

compreensão da próxima parte do discurso.

3. Fornecer ao auditório a informação de que o assunto central será dividido em

partes, esclarecendo quais serão estas partes.

De acordo com sua conveniência, os recursos acima podem ser excludentes ou não,

isto é, você poderá utilizar-se de um deles separadamente ou de um deles conjugado ao

outro.

O tempo da Introdução

O conjunto dos subitens da “Introdução”, sem ser regra fixa, ocupa geralmente 20%

Page 50: Comunicação e Oratória

56

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

do tempo despendido no discurso.

O orador não deve ficar preso ao cumprimento invariável dessa distribuição do tempo.

Não existem leis ou regras que substituem a análise e decisão pessoal baseada no bom senso.

II. Desenvolvimento do Sermão/Discurso

O Desenvolvimento do Discurso é a parte na qual devem ser apresentados os

argumentos que confirmarão o assunto central e refutarão as posições contrárias a ele. Assim,

confirmar e refutar são as duas partes do Desenvolvimento do Discurso.

Confirmar

Confirmar um assunto é apresentar de forma lógica e concatenada os argumentos

que sustentam a idéia central do discurso. Confirmar é mostrar os pontos positivos de

determinado assunto.

A confirmação pode ser feita através de argumentos lógicos, testemunhos, citações,

circunstâncias, entre outros.

Refutar

Refutar não é polemizar. Refutar é responder as objeções que possam ser levantadas

pela audiência.

Há duas formas básicas de refutar: a negação e a defesa. A negação é demonstrar

que determinados fatos, idéias ou doutrinas, estão fundados em argumentos falsos ou

simplesmente inexistem. A defesa é mais positiva, pois trata de enfraquecer as bases ou

princípios sobre tal e qual fato, idéia ou doutrina se sustêm.

O tempo do desenvolvimento

O desenvolvimento ocupa, via de regra, 70% do total do tempo disponível para o

discurso. Porém, vale aqui, a mesma regra aplicada ao tempo da Introdução do Discurso,

isto é, somente uma avaliação conjunta do discurso poderá determinar o tempo do

desenvolvimento.

III. Conclusão do Sermão/Discurso

A Conclusão do Discurso nada mais é do que a repetição enfática da idéia central

do discurso e um resumo dos argumentos usados para sustentá-la.

Assim, pode-se concluir um discurso das seguintes maneiras:

1. Recapitular o assunto central e seus argumentos

2. Dizer uma frase forte e objetiva

3. Convidar o auditório a se posicionar em relação ao assunto

4. Desafiar o público a agir conforme a idéia apresentada

Page 51: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

57

O tempo da Conclusão

O tempo despendido na Conclusão deve girar em torno de 10% do total gasto no

Discurso. Nessa parte, a regra é mais rígida, pois se o orador não conseguir concluir nesse

tempo, provavelmente não conseguirá concluir em tempo algum.

Em todo caso seja breve. Não canse o seu público. Ele vai ficar inquieto, vai começar

a conversar, a levantar, e você vai ficar inseguro. O ex-presidente americano Lyndon Johnson

costumava recomendar: “Saiam sempre no auge da festa”. Com isso ele queria dizer que,

onde quer que esteja você deve parar de falar quando seus ouvintes esperam e desejam que

você continue.

Assim, a duração do discurso deve variar dependendo das circunstâncias, pois

ninguém vai guardar tudo o que você disser. Observe que em 1 hora de discurso só 50% vão

ser realmente ouvidos. São 30 minutos. Desses, só 50% serão realmente entendidos. São 15

minutos. Desses, as pessoas só vão acreditar em 50%. São 7,5 minutos. E desses só 50%

serão lembrados. São 3,75 minutos. Portanto, a maior parte do que você falar não será

compreendida. A concisão é uma grande virtude numa apresentação.

ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta

“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-

ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,

utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.

Page 52: Comunicação e Oratória

58

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Page 53: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

59

Aula 06

TÉCNICAS PARA UMABOA ORATÓRIA

INTRODUÇÃO

“Falar em público está entre os maiores temores da humanidade. Como se pode

ver, não estamos sozinhos.”

O horror de ter que enfrentar uma platéia, seja de que tamanho for, tem sido o maior

fator de fracassos na vida profissional e pessoal de milhares de pessoas.

Esse medo paralisa as pessoas diante das grandes oportunidades que têm de mostrar

suas habilidades e seus conhecimentos, causando um prejuízo, não apenas pessoal e

profissional, mas, sobretudo, emocional, pois alguém que tenha desperdiçado uma única chance

de falar em público pode ter assinado sua sentença de permanecer no ostracismo social.

Page 54: Comunicação e Oratória

60

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Você já passou por essa experiência? Tem medo de passar?

Não se desespere, pois o medo de falar em público é comum a todos nós. Ninguém

nasce um orador ou uma oradora, como diz Quintiliano: “Os poetas nascem, os oradores se

fazem.”

Dentre os fatores que geram medo, os psicólogos apontam o fato de que, o mais das

vezes, recebemos uma educação que gera essa situação de pavor de enfrentar um auditório.

A boa notícia, entretanto, é que existem técnicas eficientes para que possamos superar,

de forma eficaz, o medo de falar em público.

Assim, este curso se destina àquelas pessoas que desejam desenvolver suas

potencialidades de falar em público, sem medo e com correção.

FALAR EM PÚBLICO

“O medo de falar em público não pode ser extirpado, apenas controlado. E

nisso reside sua real força.”

É inútil tentar eliminar o medo de falar em público. Primeiro porque é impossível não

sentir aquele “friozinho” na barriga diante da platéia. Segundo porque é no controle e

direcionamento do medo que se pode canalizar o potencial emotivo de um discurso,

apresentação ou saudação.

Portanto, a melhor estratégia para manter sob controle o medo de falar em público

é conhecer as causas e os efeitos do medo.

Dicas para superar o medo de falar

Tendo estabelecido as prioridades em relação às suas capacidades, o passo

seguinte é iniciar o processo de superação do medo de falar em público.

As seguintes dicas de Reinaldo Polito devem servir de guia.

1. Saiba exatamente o que vai dizer no início, quase palavra por palavra, pois

neste momento estará ocorrendo maior liberação da adrenalina.

2. Leve sempre um roteiro escrito com os principais passos da apresentação,

mesmo que não precise dele. É só para dar mais segurança.

3. Se tiver que ler algum discurso ou mensagem, imprima o texto em um cartão

grosso ou cole a folha de papel numa cartolina, assim, se as suas mãos tremerem um

pouco o público não perceberá e você ficará mais tranqüilo.

4. Ao chegar diante do público não tenha pressa para começar. Respire o mais

Page 55: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

61

tranqüilo que puder, acerte devagar a altura do microfone (sem demonstrar que age

assim de propósito), olhe para todos os lados da platéia e comece a falar mais lentamente

e com volume de voz mais baixo. Assim, não demonstrará a instabilidade emocional

para o público.

5. No início, quando o desconforto de ficar na frente do público é maior, se

houver uma mesa diretora, cumprimente cada um dos componentes com calma. Dessa

forma, ganhará tempo para superar os momentos iniciais tão difíceis. Se entre os

componentes da mesa estiver um conhecido aproveite também para fazer algum

comentário pessoal.

6. Antes de falar, quando já estiver no ambiente, não fique pensando no que vai

dizer, preste atenção no que as outras pessoas estão fazendo e tente se distrair um

pouco.

7. Antes da apresentação evite conversar com pessoas que o aborreçam, prefira

falar com gente mais simpática.

8. Antes de fazer sua apresentação, reúna os colegas de trabalho ou pessoas

próximas e treine várias vezes. Lembre-se de exercitar respostas para possíveis perguntas

ou objeções. Com esse cuidado não se surpreenderá diante do público.

9. Se der o branco, não se desespere. Repita a última frase para tentar lembrar a

seqüência. Se esse recurso falhar, diga aos ouvintes que mais a frente voltará ao assunto.

Se ainda assim não se lembrar, provavelmente ninguém irá cobrar por isso.

10. Todas essas recomendações ajudam no momento de falar, mas nada substitui

uma consistente preparação. Use sempre todo o tempo de que dispõe.

Não custa lembrar que não existe uma fórmula mágica para se falar em público.

Existem, sim, técnicas que uma vez dominadas nos ajudam a não apenas perder o medo de

falar em público, como também a falar bem e melhor.

Por isso, nada substitui o conhecimento dessas técnicas, sua utilização correta e

muito treino na sua aplicação. Sem esses requisitos não será possível aprender, aperfeiçoar

ou praticar a arte de falar em público.

Se encontrar um atalho para perder o medo de falar em público saiba que ele poderá

levá-lo exatamente no sentido contrário ao pretendido.

Portanto, resista às “fórmulas mágicas” que prometem fazê-lo perder o medo de

falar em público, pois são o “canto da sereia” no campo da oratória.

FALAR MELHOR

“Não é suficiente perder o medo de falar em público, é indispensável falar

melhor.”

Page 56: Comunicação e Oratória

62

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

A arte de falar em público exige o domínio de técnicas simples, mas eficazes. E é o

pleno domínio delas que fará a diferença entre a pessoa que fala em público e aquela que é

de fato uma oradora.

É Reinaldo Polito, novamente, que tem as melhores orientações neste sentido:

1. A naturalidade pode ser considerada a melhor regra da boa comunicação

a. Se você cometer alguns erros técnicos durante uma apresentação em público,

mas comportar-se de maneira natural e espontânea tenha certeza de que os ouvintes ainda

poderão acreditar nas suas palavras e aceitar bem a mensagem.

b. Entretanto, se usar técnicas de comunicação, mas apresentar-se de forma artificial,

a platéia poderá duvidar das suas intenções.

c. A técnica será útil quando preservar suas características e respeitar seu estilo de

comunicação.

d. Apresentando-se com naturalidade, irá se sentir seguro confiante e suas

apresentações serão mais eficientes.

2. Não confie na memória - leve um roteiro como apoio

a. Algumas pessoas memorizam suas apresentações palavra por palavra imaginando

que assim se sentirão mais confiantes. A experiência demonstra que, de maneira geral, o

resultado acaba sendo muito diferente. Se você se esquecer de uma palavra importante na

ligação de duas idéias, talvez se sinta desestabilizado e inseguro para continuar. O pior é que

ao decorar uma apresentação você poderá não se preparar psicologicamente para falar de

improviso e ao não encontrar a informação de que necessita, ficará sem saber como contornar

o problema.

b. Use um roteiro com as principais etapas da exposição, e frases que contenham

idéias completas. Assim, diante da platéia, leia a frase e a seguir comente a informação,

ampliando, criticando, comparando, discutindo, até que essa parte da mensagem se esgote.

Depois, leia a próxima frase e faça outros comentários apropriados à nova informação,

estabeleça outras comparações, introduza observações diferentes até concluir essa etapa do

raciocínio.

c. Aja assim até encerrar a apresentação.

d. Uma grande vantagem desse recurso é que você se sentirá seguro por ter um

roteiro com toda a seqüência da apresentação, ao mesmo tempo em que terá a liberdade

para desenvolver o raciocínio diante do público.

e. Se a sua apresentação for mais simples poderá recorrer a um cartão de notas,

uma cartolina mais ou menos do tamanho da palma da mão, que deverá conter as palavras-

chave, números, datas, cifras, e todas as informações que possam mostrar a seqüência das

idéias.

f. Com esse recurso você bate os olhos nas palavras que estão no cartão e vai se

certificando que a seqüência planejada está sendo seguida.

Page 57: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

63

3. Use uma linguagem correta

a. Uma escorregadela na gramática aqui, outra ali, talvez não chegue a prejudicar

sua apresentação. Afinal, quem nunca comete erros gramaticais que atire a primeira pedra.

Entretanto, alguns erros grosseiros poderão prejudicar a sua imagem e a da instituição que

estiver representando.

b. Tenho relacionado alguns erros comuns cometidos até por aqueles que ocupam

posições hierárquicas importantes e sinto que as platéias que os ouvem duvidam da formação

e da competência de quem os comete.

c. Os mais graves são: “fazem tantos anos”, “menas”, “a nível de”, “somos em seis”,

“meia tola”, entre outros.

d. Mesmo que você tenha uma boa formação intelectual, sempre valerá a pena fazer

uma revisão gramatical, principalmente quanto à conjugação verbal e às concordâncias.

4. Saiba quem são os ouvintes

a. Se você fizer a mesma apresentação diante de platéias diferentes talvez até possa

ter sucesso, mas por acaso. A previsão, entretanto, é de que não atinja os objetivos

pretendidos.

b. Cada público possui características e expectativas próprias que precisam ser

consideradas em uma apresentação.

c. Procure saber qual é o nível intelectual das pessoas, até que ponto conhecem o

assunto e a faixa etária predominante dos ouvintes. Assim, poderá se preparar de maneira

mais conveniente e com maiores chances de se apresentar bem.

5. Tenha começo meio e fim

a. Guarde essa regrinha simples e muito útil para organizar uma apresentação: Anuncie

o que vai falar, fale e conte sobre o que falou.

b. Depois de cumprimentar os ouvintes e conquistá-los com elogios sinceros, ou

mostrando os benefícios da mensagem, conte qual o tema que irá abordar.

c. Ao anunciar qual o assunto que irá desenvolver, a platéia acompanhará seu

raciocínio com mais facilidade, porque saberá aonde deseja chegar.

d. Em seguida, transmita a mensagem, sempre facilitando o entendimento dos ouvintes.

Se, por exemplo, deseja apresentar a solução para um problema, diga antes qual é o problema.

Se pretender falar de uma informação atual, esclareça inicialmente como tudo ocorreu até

que a informação nova surgisse.

e. Use toda argumentação disponível: pesquisas, estatísticas, exemplos, comparações,

estudos técnicos e científicos, etc.

f. Se, eventualmente, perceber que os ouvintes apresentam algum tipo de resistência,

defenda os argumentos refutando essas objeções.

g. Finalmente, depois de expor os argumentos e defendê-los da resistência dos

ouvintes, diga qual foi o assunto abordado, para que a platéia possa guardar melhor a mensagem

principal.

Page 58: Comunicação e Oratória

64

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

6. Tenha uma postura correta

a. Evite os excessos, inclusive das regras que orientam sobre postura.

b. Alguns, com o intuito de corrigir erros, partem para os extremos e condenam até

atitudes que, em determinadas circunstâncias, são naturais e corretas.

c. Assim, cuidado com o “não faça”, “não pode”, “está errado” e outras afirmações

semelhantes. Prefira seguir sugestões que dizem “evite”, “desaconselhável”, “não é

recomendável”, e outras que se pareçam com essas.

d. Portanto, evite apoiar-se apenas sobre uma das pernas e procure não deixá-las

muito abertas ou fechadas. É importante que se movimente diante dos ouvintes para que

realimentem a atenção, mas esteja certo de que o movimento tem algum objetivo, como por

exemplo, destacar uma informação, reconquistar parcela do auditório que está desatenta,

etc. Caso contrário é preferível que fique parado.

e. Cuidado com a falta de gestos, mas seja mais cauteloso ainda com o excesso de

gesticulação.

f. Procure falar olhando para todas as pessoas da platéia, girando o tronco e a

cabeça com calma, ora para a esquerda, ora para a direita, para valorizar e prestigiar a

presença dos ouvintes, saber como se comportam diante da exposição e dar maleabilidade

ao corpo, proporcionando, assim, uma postura mais natural.

g. O semblante é um dos aspectos mais importantes da expressão corporal, por isso

dê atenção especial a ele. Verifique se ele está expressivo e coerente com o sentimento

transmitido pelas palavras. Por exemplo, não demonstre tristeza quando falar em alegria.

h. Evite falar com as mãos nos bolsos, com os braços cruzados ou nas costas. Também

não é recomendável ficar esfregando as mãos, principalmente no início, para não passar a

idéia de que está inseguro ou hesitante.

7. Seja bem-humorado

a. Nenhum estudo comprovou que o bom-humor consegue convencer ou persuadir

os ouvintes. Se isso ocorresse os humoristas seriam sempre irresistíveis. Entretanto, é óbvio

que um orador bem-humorado consegue manter a atenção dos ouvintes com mais facilidade.

b. Se o assunto permitir e o ambiente for favorável, use sua presença de espírito

para tornar a apresentação mais leve, descontraída e interessante.

c. Cuidado, entretanto, para não exagerar, pois o orador que fica o tempo todo

fazendo gracinhas pode perder a credibilidade.

8. Prepare-se para falar

a. Assim como você não iria para a guerra municiado apenas com balas suficientes

para acertar o número exato de inimigos entrincheirados, também para falar não deverá se

abastecer com conteúdo que atenda apenas ao tempo determinado para a apresentação.

Saiba o máximo que puder sobre a matéria que irá expor, isto é, se tiver de falar 15 minutos,

saiba o suficiente para discorrer pelo menos 30 minutos.

Page 59: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

65

b. Não se contente apenas em se preparar sobre o conteúdo, treine também a forma

de exposição. Faça exercícios falando sozinho na frente do espelho, ou se tiver condições,

diante de uma câmera de vídeo. Atenção para essa dica - embora esse treinamento sugerido

dê fluência e ritmo à apresentação, de maneira geral, não dá naturalidade. Para que a fala

atinja bom nível de espontaneidade fale com pessoas. Reúna um grupo de amigos, familiares

ou colegas de trabalho, ou de classe, e converse bastante sobre o assunto que irá expor.

c. Acredite, se conseguir falar de maneira semelhante na frente da platéia será um

sucesso.

9. Use recursos audiovisuais

a. Esse estudo é impressionante - se apresentar a mensagem apenas verbalmente,

depois de três dias os ouvintes irão se lembrar de 10% do que falou. Se, entretanto, expuser

o assunto verbalmente, mas com auxílio de um recurso visual, depois do mesmo período, as

pessoas se lembrarão de 65% do que foi transmitido. Mais uma vez, tome cuidado com os

excessos. Nada de Power Point acompanhado de brecadinhas de carro, barulhinhos de

máquina de escrever, e outros ruídos que deixaram de ser novidade há muito tempo e por

isso podem vulgarizar a apresentação.

b. Um bom visual deverá atender a três grandes objetivos: destacar as informações

importantes, facilitar o acompanhamento do raciocínio e fazer com que os ouvintes se lembrem

das informações por tempo mais prolongado. Portanto, não use o visual como “colinha”, só

porque é bonito, para impressionar, ou porque todo mundo usa. Observe sempre se o seu

uso é mesmo necessário.

c. Faça visuais com letras de um tamanho que todos possam ler.

d. Projete apenas a essência da mensagem em poucas palavras.

e. Apresente números em forma de gráficos.

f. Use cores contrastantes, mas sem excesso.

g. Posicione o aparelho de projeção e a tela em local que possibilite a visualização

da platéia e facilite sua movimentação.

h. Evite excesso de aparelhos. Quanto mais aparelhos e mais botões maiores as

chances de aparecerem problemas.

10. Fale com emoção

a. Fale sempre com energia, entusiasmo, emoção. Se nós não demonstrarmos

interesse e envolvimento pelo assunto que estamos abordando, como é que poderemos

pretender que os ouvintes se interessem pela mensagem?

b. A emoção do orador tem influência determinante no processo de conquista dos

ouvintes.

Page 60: Comunicação e Oratória

66

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

FALAR BEM

“Além de falar melhor é imprescindível falar bem.”

Imagine um discurso pronunciado num mesmo tom de voz, no mesmo volume.

Com muita probabilidade o auditório logo se desinteressará e o orador estará em sérias

dificuldades para veicular sua mensagem.

Para falar em público e falar bem é necessário utilizar-se de todos os recursos

disponíveis. Aqui se trata particularmente dos dotes pessoais de cada estudante, isto é, da

voz, dos gestos, da postura, da aparência, entre outros.

Um estudo realizado pela Universidade da Califórnia, mostra que apenas 7% do

impacto provocado no público vêm da parte verbal da apresentação. Os maiores impactos

vêm da voz (38%) e da linguagem corporal (55%). O que não quer dizer que você não deva

dar máxima atenção ao conteúdo, que é a razão de ser de qualquer apresentação.

Voz

A utilização adequada da voz é uma arma poderosa na comunicação.

Há pessoas que falam muito devagar, outras que têm dicção ruim ou falam de forma

linear ou, ainda, com volume muito baixo.

A questão é simples: como posso esperar, de fato, que alguém me compreenda ou

preste atenção no que digo se nem sequer consegue entender o que estou dizendo?

Como usar bem a voz

O tom e o volume da voz são pontos cruciais em uma apresentação.

Entender como o sistema vocal funciona - e como se pode controlá-lo para manipular

o som da voz - é parte essencial do preparo para uma apresentação de sucesso.

O som é produzido quando o ar passa pelas cordas vocais, fazendo-as vibrar. Assim,

o primeiro requisito para se falar com clareza é o bom suprimento de ar para os pulmões.

Você pode melhorar a captação de ar por meio de um exercício muito simples de respiração:

INSPIRAÇÃO - Inspirar devagar e profundamente o ar pelo nariz, até sentir o abdome

expandir. Segure a respiração até não poder mais.

EXPIRAÇÃO - expirar o ar pela boca o mais profundamente possível, forçando

todo o ar para fora à medida que o abdome se contrai.

O segundo requisito é uma laringe em boas condições, pois nela estão abrigadas as

cordas vocais. Faça um esforço para descansar sua laringe um dia antes de sua apresentação,

falando menos que o normal.

Entonação e altura

Como em português a única diferença entre uma pergunta e uma afirmação é a

entonação da frase, uma afirmação do tipo “a margem de lucro deve ser aumentada” pode

Page 61: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

67

ser tomada por pergunta se a entonação subir nas sílabas finais. Para transmitir a mensagem

correta, sempre use cuidadosamente a entonação e a altura da voz. A platéia deve entender

o sentido exato de suas palavras.

Velocidade

Variar a velocidade da apresentação manterá a platéia interessada, mas você deve

evitar acelerações e reduções a troco de nada.

Lembre-se de dar uma pausa entre os tópicos principais e aproveitar para fazer um

contato visual com a platéia. Isso também lhe dará a oportunidade de medir as reações à sua

apresentação. Entre uma etapa e outra da palestra, fale devagar e enfaticamente, para destacar

as passagens importantes.

Dicção

Pronunciar bem as palavras, desde que com naturalidade, deve ser um anseio de

todas as pessoas. Quanto melhor for a dicção, mais facilmente os ouvintes compreenderão a

mensagem e maior será a demonstração de preparo, já que se deduz, pela maneira correta

de dizer as palavras, tratar-se de alguém que teve boa formação, boa educação e, portanto,

tem mais autoridade para abordar o assunto que expõe.

Para quem fala rápido, essa preocupação deve ser redobrada, pois, se pronunciar

muito bem as palavras, mesmo falando depressa, os ouvintes ainda assim poderão compreender

a mensagem.

Para aprender a pronunciar bem as palavras e melhorar a dicção, é possível contar

com a ajuda de um fonoaudiólogo. Entretanto, se, por algum motivo, não puder recorrer a

seu auxílio, comece fazendo exercícios de leitura em voz alta.

Dicas

1. Chupe uma bala de menta ou de mel antes da apresentação.

2. Se possível, faça exercícios para melhorar a profundidade de sua respiração.

3. Treine mudar a entonação de algumas frases.

Corpo

Cerca de dois terço da comunicação humana é não-verbal, transmitida por meio de

gestos das mãos, expressões faciais ou outras formas de linguagem.

Curiosamente, a expressão corporal assume até mais importância do que a voz e,

em alguns casos, do que o próprio conteúdo. Medo de olhar nos olhos, expressão facial

incongruente com o conteúdo, aparência mal cuidada, ausência de gestos ou excessiva

gesticulação, bem como posturas inadequadas são suficientes para tirarem o brilho de um

processo de comunicação.

Page 62: Comunicação e Oratória

68

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Postura

A boa imagem corporal começa com a postura - o modo como você se posiciona.

A melhor postura para começar uma apresentação é a ereta, com os pés ligeiramente

afastados e o peso do corpo divido entre eles. Os braços devem estar relaxados e soltos ao

lado do corpo. Essa é a postura mais reservada e transmite neutralidade. Você pode partir

disso e criar impressões diferentes se entender os modos como as posturas são interpretadas.

Curvar-se ligeiramente para frente, por exemplo, parece positivo e amigável - como se você

estivesse envolvendo e encorajando a platéia. Curvar-se para trás, no entanto, tende a parecer

negativo e até mesmo agressivo.

Os músculos do seu corpo existem para manter o esqueleto em posição vertical. Se

você os utiliza corretamente, sua linguagem corporal vai dizer: “Eu sou uma pessoa segura e

equilibrada”.

Se você deixar os músculos relaxados demais, parecerá desleixo. Para melhorar a

postura, pratique ficar em posição vertical até que você esteja seguro de que pareça

absolutamente natural, como se essa fosse sua posição habitualmente. Imagine que você é

mais alto, ou que está sendo gentilmente puxado para cima por um fio para ajudá-lo a manter

a posição.

Dicas

1. Certifique-se de que sua linguagem corporal reflite o que está sendo dito.

2. Aprenda a relaxar os músculos faciais - e sorria.

3. Sempre calce sapatos confortáveis.

4. Não permita que o cabelo caia sobre o seu rosto.

5. Mantenha uma postura “aberta” o tempo todo, evitando cruzar os braços ou

criar uma barreira entre você e a platéia.

6. Se você estiver relaxado, sua linguagem corporal reforçará a mensagem com

naturalidade e os gestos apropriados ajudarão a disfarçar o nervosismo.

Olhos nos olhos

O contato com os olhos é uma ferramenta poderosa que estabelece uma certa

intimidade entre as pessoas. É importante criar essa intimidade em uma apresentação. Faça

uma “varredura” da platéia com olhar, lembrando de incluir as pessoas que sentam no fundo

e nas laterais, assim como as da frente. Embora seja tentador olhar com mais freqüência para

as pessoas que se demonstrem entusiasmadas e interessadas, não negligencie os que parecem

negativos ou neutros.

Dicas

1. No primeiro contato, olhe nos olhos de alguém que você imagina ser amigável.

2. Olhe direto nos olhos de alguém da platéia sempre que puder.

Page 63: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

69

Gestos

Platéias grandes vêem as coisas de um jeito, platéias pequenas vêem de outro. Por

isso, a gesticulação deve mudar de acordo com o tamanho da platéia. Grandes públicos

requerem movimentos exagerados para que se atinja o mesmo efeito visual conseguido com

gestos “normais” para um grupo pequeno. Por exemplo, um gesto que aponte dois itens

precisa começar no ombro em vez de partir do cotovelo para ter o impacto visual certo com

uma platéia grande. Embora gesticular com exagero possa à primeira vista parecer

inconveniente, para o público será natural.

Dicas

1. Utilize gestos de mãos para dar ênfase.

2. Não gesticule tanto que suas mãos se tornem uma distração.

3. Pronuncie bem as palavras - sem exagero.

4. Fale com boa intensidade - nem alto nem baixo demais - sempre de acordo

com o ambiente.

5. Fale com boa velocidade - nem rápido nem lento demais.

6. Fale com bom ritmo, alternando a altura e a velocidade da fala para manter

aceso o interesse dos ouvintes.

7. Tenha postura física correta.

8. Fale com emoção - demonstre interesse e envolvimento pelo assunto.

Page 64: Comunicação e Oratória

70

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta

“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-

ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,

utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.

Page 65: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

71

Aula 07

EXERCÍCIOS DE ORATÓRIA

“Treine, treine, treine. A prática leva à perfeição. Portanto, treine.”

Os exercícios desta seção têm como alvo a aplicação das técnicas estudadas ao

longo do curso.

ENTONAÇÃO

Leia as poesias a seguir e procure dar a entonação que lhe pareça mais apropriada

à emoção ou sentimento que o poema quer transmitir.

Um Sopro de Vida

Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou sabe. Perigo de mexer no

Page 66: Comunicação e Oratória

72

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

que está oculto – e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em

profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que

existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue.

Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem

outras – quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.”

Clarice Lispector

Predileção

Prefiro, do fosso abissal oceânico, o frescor

à brisa do árido deserto, a tépida mornidão.

Prefiro, do cálido cadinho, o crisol abrasador

à sombra oblíqua do oásis, miragem e ilusão.

Prefiro, do furacão, a devastadora virulência

ao vento brando das tardes moles de verão.

Prefiro, do tufão, a arrasadora turbulência

ao bafejar propício, do dia findo, a viração.

Prefiro, do trovão, o ribombar ensurdecedor

ao silêncio inquietante, a mudez da cerração.

Prefiro, do relâmpago, o clarão ameaçador

à paz embaçada e melancólica da escuridão.

Prefiro, do mar, o furor espumante e revolto

à serena calma da enseada, quieta retenção.

Prefiro, da rota, a devira das amarras solto

ao rumo certo da bússola, o tino da direção.

Prefiro, da montanha, oura vertigem da altura

ao equilíbrio monótono, da planície a proteção.

Prefiro, da senda, o risco incerto da aventura

ao caminho traçado, da cartografia a exatidão.

Prefiro, em tudo, a liberdade cupida, seu amor

ao sombrio calabouço da indiferente reclusão.

Prefiro, em tudo, o êxtase, da paixão, o ardor

à frieza inerte do ostracismo, cela da solidão.

José Roberto Cristofani - In: Poemas

Page 67: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

73

Ênfase

Escolha um dos seguintes pensamentos abaixo e treine a ênfase em uma de suas

partes, por exemplo:

O que destrói a criatividade das pessoas é o senso do ridículo. Aquele que

comete um erro e não o corrigiu, está cometendo outro erro. Confúcio

O que destrói a criatividade das pessoas é o senso do ridículo. Aquele que comete

um erro e não o corrigiu, está cometendo outro erro. Confúcio

O que destrói a criatividade das pessoas é o senso do ridículo. Aquele que comete

um erro e não o corrigiu, está cometendo outro erro. Confúcio

Algumas pessoas começam a falar um momento antes de pensar. Não importa o

número de vezes que se tenha caído, o importante é saber quantas vezes conseguiu

levantar. A vitória sempre foi de quem nunca duvidou dela.

Raul Follerean

O homem comum se adapta ao mundo, o homem fora do comum persiste em

fazer o mundo adaptar-se a ele, portanto, o sucesso depende de homens fora do comum.

George Bernard Shaw

Aqueles que se sentem satisfeitos, sentam e nada fazem, os insatisfeitos são os

únicos propulsores do mundo.

Walter Savage Landor

O melhor educador é aquele que conseguiu educar-se a si mesmo.

Sabedoria Oriental

O caminho mais curto para o sucesso, é sempre tentar mais uma vez.

Thomas Edson

O homem que sabe o que quer, já percorreu um longo caminho. Prefiro a angústia

da busca, do que a paz da acomodação.

Dom Resende Costa

Encontra o sucesso quem acredita nos seus sonhos e se empenha para transformá-

los em realidade. Os únicos limites do homem são: o tamanho das suas idéias e o grau

da sua dedicação.

F. Veiga

Page 68: Comunicação e Oratória

74

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Uma das causas do fracasso na vida é deixar para amanhã o que se pode fazer

hoje, e depois fazê-lo apressadamente.

Sabedoria Oriental

Velocidade

Leia o texto abaixo alternando a velocidade da fala conforme as exigências das frases.

A Virulência do Amor (excertos)

A virulência das ondas açoitadas pelos ventos numa visceral tempestade, tenta ser

contida pelos anseios de um fogo abrasador que se nega a ser domesticado. Estabelece-se,

assim, uma luta titânica que opõe o corpo e a alma, o espírito e a razão, devassa a ternura,

arrasa a emoção, cala a voz e, simultaneamente, pede para gritar, para amar, para,

apaixonando-se, entregar-se à solidão, aos passos lentos, às comportas...

Iça as velas, desfralda os panos e não quer o vento. Arrisca-se no mar e não suporta

o bater violento das ondas.

Mas qual mistério é mais profundo que o navegar sob torrencial chuva empunhando

um archote inflamado? Qual coração teria que sucumbir à benfazeja virulência do que chamam

amor? Quanto tempo seria necessário até que houvesse um conluio entre duas substâncias

tão opostas, tão destruidoras e autodestruidoras? O fogo, com fogo se combate? A água,

qual elemento pode retê-la? Ou seria possível colocar ambas as substâncias juntas sem o

risco de que uma devorasse a outra?

José Roberto Cristofani - Escritos Inéditos

Volume

Leia o trecho a seguir variando o volume de maneira mais adequada possível.

A Virulência do Amor (excertos)

Cobra-se do amor que ele seja paciente, compreensivo, tolerante, que supere todos

os obstáculos, que seja perdoador, longânimo e que tenha todas as qualidades e nenhum

defeito. Isso sim é idealização do amor, visto que não leva em conta quem ama. O portador

do amor é, por natureza, uma pessoa frágil, inconstante, incoerente, contraditória, vulgar,

carente, triste e alegre, cheia de desejos, ambições, pecados, erros, limites, defeitos. Sim,

pois é humano, é ser em construção em busca da superação de todas as mazelas inerentes

aos seres verdadeiramente humanos. Mesmo os poetas, categoria execrada pelos ditames

sociais, são humanos, talvez, os mais miseráveis deles, pois insistem em ver brilho nos olhos

daquelas pessoas que a dita realidade apagou. Por procurar enxergar um oásis paradisíaco

onde outros só vêem deserto abrasador. Os poetas, nem sei por que em nome deles argumento,

teimam em achar um oceano onde as pessoas comuns só podem encontrar uma torneira que

jorra minguadas gotas. Sim, o coração do poeta tem olhos que ultrapassam em visão medíocre

Page 69: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

75

dos perfeitos mortais. Olha com carinho e simplicidade o mundo que o rodeia e tenta, em

vão, emprestar seus olhos para outros seres humanos afim de que possam vislumbrar além

das aparências, além do véu que tolda as mentes mesquinhas e condicionadas a ver somente

a ilusória, hipócrita e falsa realidade. Eles, os seres humanos perfeitos, chamam isso de

realidade. Quem dera fosse uma realidade menos morta, menos sem brilho, sem sonhos, sem

ilusão. Mas para quê? Para que destruam também isso? Não, não é possível, para alguém

que sabe que o amor é mais que um sentimento e ilusão, não é possível comungar com esse

estado de coisas.

Por isso a idealização do amor (perdoador, compreensivo, tolerante, superador de

todas as dificuldades, etc...) é bem mais ilusório que a própria realidade de quem ama, pois

quem ama tem na construção de seu ser uma inquietude permanente que não é boa ou má por

si, mas que se entende como limitado, imperfeito, incompleto, como humano, enfim!

José Roberto Cristofani - Escritos Inéditos

Agradecimentos

Sra. Presidente, agradecemos ao Sr. Secretário de Fazenda, Dr. Fernando Lopes,

ao mais novo Secretário de Estado e Controle, Dr. João Paulo de Andrade, e também

ao Dr. José Henrique Lacerda, Subsecretário Adjunto do Tesouro Estadual, que hoje

compareceram, às 10 horas da manhã, à Audiência Pública na Comissão de Orçamento,

Finanças, Tributação, Fiscalização Financeira e Controle. Muito obrigado.

André Luiz (03/05/2001)

Eu agradeço ao Deputado André Ceciliano, que tem tido atuação extraordinária

nesta Casa, essa concessão. Não sabemos se torcemos para que V. Exa. seja eleito Prefeito,

ou para que continue aqui.

Quero registrar que ontem foi o 122º aniversário do jornal O Fluminense. Fui

pessoalmente, hoje, levar o meu abraço ao diretor-presidente, Dr. Alexandre. Tivemos a

oportunidade de falar do interior do nosso Estado e do Estado como um todo. Esse continua

sendo um jornal importante para o nosso Estado, que pode nos ajudar a alavancar o

desenvolvimento do interior do Estado, tão abandonado nos últimos anos.

Quero também aproveitar a oportunidade para agradecer aos Srs. Deputados a

aprovação do nosso Projeto, que vai estimular a organização de cooperativas nos

municípios, com parceria das comunidades, prefeituras e Governo do Estado. Com

certeza, colheremos bons frutos. Em razão disso, agradeço aos Srs. Deputados por essa

aprovação. Muito obrigado.

Nilton Salomão (09/05/2000)

1. Agradecer a uma homenagem que recebeu, por ocasião do dia do Estudante, feita

por uma Igreja.

Page 70: Comunicação e Oratória

76

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Convite

Sr. Presidente, eu gostaria de convidar V. Exª, Senador Jader Barbalho, as Srªs e os

Srs. Senadores para a exposição “Êxodos”, que será apresentada pelo fotógrafo brasileiro

Sebastião Salgado, às 18 horas e 30 minutos, no Salão Negro do Senado Federal. Aqui,

abordará a parte da exposição “Êxodos” sobre as crianças, e, no Espaço Venâncio, aqui em

Brasília, outros aspectos.

Trata-se de uma exposição comovedora, uma história perturbadora, pois poucas

pessoas abandonam a terra natal por vontade própria. Em geral, elas se tornam migrantes,

refugiadas ou exiladas, constrangidas por forças que não têm como controlar, fugindo da

pobreza, da repressão ou das guerras. Partem com os pertencem que conseguem carregar,

avançam como podem a bordo de frágeis embarcações, espremidas em trens e caminhões, a

pé. Viajam sozinhas, com as famílias ou em grupos. Algumas sabem para onde estão indo,

confiantes de que as espera uma vida melhor; outras estão simplesmente em fuga, aliviadas

por estarem vivas. Muitas não conseguirão chegar a lugar nenhum.

Sebastião Salgado, nesta exposição, demonstra extraordinária sensibilidade e

capacidade. Mostra o que ocorre num dos maiores divisores de fronteiras, entre os Estados

Unidos e o restante da América Latina -, por exemplo, um muro eletrificado, onde tantas

pessoas têm morrido; latino-americanos, mexicanos e outros que têm tido a vontade de obter

um lugar ao sol na América do Norte, mas que muitas vezes não conseguem; pessoas que,

nos cinco continentes, têm tido dificuldades para encontrar o direito à vida com dignidade.

Sr. Presidente, apresentamos o requerimento aqui já aprovado na tarde de hoje,

consignando um voto de louvor e congratulações ao fotógrafo reconhecido internacionalmente,

Sebastião Salgado, pela sua vida de trabalho na divulgação da condição humana. O seu

trabalho está dividido em quatro capítulos - “Migrantes e refugiados: o instinto da

sobrevivência”; “A tragédia africana: um continente à deriva”; “A América Latina: êxodo rural,

desordem urbana”; e “Ásia: a nova face urbana do mundo”. Afirmando não ser juiz para

julgar o que é bom ou ruim, o fotógrafo só quer, segundo suas palavras, “provocar um debate

sobre a condição humana do ponto de vista dos povos em êxodo de todo o mundo. Minhas

fotografias são um vetor entre o que acontece no mundo e as pessoas que não têm como

presenciar o que acontece. Espero que a pessoa que entrar numa exposição minha não saia

a mesma.”

Sebastião Salgado tem tido a colaboração de sua esposa, Lélia Wanick Salgado,

que é organizadora de seus livros e exposições.

Convidamos todos para essa homenagem.

Solicito, Sr. Presidente, que seja registrada na íntegra a justificativa do

requerimento. Muito obrigado.

Eduardo Suplicy (Senado Federal - 04/04/2001)

1. Fazer um convite de formatura para os familiares e os amigos.

Page 71: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

77

Saudação

Sr. Presidente, Senador Edison Lobão; Srªs e Srs. Senadores, tenho a satisfação de

registrar a presença aqui entre nós de alguns membros do Congresso Nacional da África do

Sul, o Sr. E. Saloojee, o Sr. M.T. Masutha, a Srª P.W. Cupido, a Srª I. Mars e o Sr. AZA van

Jaarsveld, que estão em visita ao Congresso Nacional brasileiro.

Queremos aproveitar para registrar os laços de amizade que unem o povo brasileiro

e os membros do Congresso Nacional do Brasil à África do Sul e a importância de estarmos

interagindo. S. Exªs estão aqui sobretudo para estudar o sistema previdenciário e os programas

sociais brasileiros. Quero, portanto, registrar as nossas boas-vindas a S. Exªs.

Sr. Presidente, eu gostaria ainda de me inscrever, se houver oportunidade, para,

na hora adequada, fazer uma comunicação inadiável. Muito obrigado. Eduardo Suplicy

(Senado Federal - 21/03/2001)

1. Fazer uma saudação a um/a pregador/a convidado/a.

Discurso

A REVOLUÇÃO, suas ORIGENS e seu PROGRAMA

“O programa da Revolução reflete o espírito que a inspirou e traça o caminho para

o ressurgimento do Brasil: institui o aumento da produção nacional, sangrada por impostos

que a estiolam; estabelece a organização do trabalho deixada ao desamparo pela inércia ou

pela ignorância dos governantes; exige a moralidade administrativa, conculcada pelo sibaritismo

dos políticos gozadores; impõe a invulnerabilidade da justiça, maculada pela peita do

favoristismo; modifica o regime representativo, com a aplicação de leis eleitorais previdentes,

extirpando as oligarquias políticas e estabelecendo, ainda, a representação por classes em

vez do velho sistema da representação individual, tão falho como expressão da vontade

popular; assegura a transformação do capital humano como máquina, aperfeiçoando-o para

produzir mais e melhor; restitui ao elemento homem a saúde do corpo e a consciência da sua

valia, pelo saneamento e pela educação e restabelece, finalmente, o pleno gozo das liberdades

públicas e privadas, sob a égide da lei e a garantia da justiça.

Em rápida síntese, eis os lineamentos da obra que o Governo Provisório, com a

colaboração eficiente de todos os bons brasileiros, pretende levar a efeito, usando de

poderes discricionários e tendo em vista, exclusivamente, reintegrar o país na posse de

si mesmo.” Getúlio Vargas (discurso pronunciado no banquete oferecido pelas classes

armadas em 2 de Janeiro, 1931)

1. Fazer um discurso sobre o seu plano de ministério para uma Igreja local.

Page 72: Comunicação e Oratória

78

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta

“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-

ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,

utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.

Page 73: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

79

Aula 08

DICAS GERAIS E AVALIAÇÃO

“Somente a auto-análise poderá indicar o nível de aprendizagem.”

CONTROLE EMOCIONAL

Para dominar os nervos de forma eficiente, você precisa ser capaz de prever e

identificar os sinais de nervosismo que geralmente o afetam. Há muitos sintomas. Um dos

mais comuns é a sensação de ter um “nó no estômago”. Outros sinais incluem: secura na

boca, aparecimento de um tique no canto de um olho, mãos trêmulas, palmas suadas,

desconforto com cabelo e roupas, vontade de andar de um lado para o outro e tensão

generalizada em várias partes do corpo. Cada pessoa reage de forma diferente e é comum a

ocorrência de mais de um sintoma por vez.

Page 74: Comunicação e Oratória

80

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Esteja atento para esses sintomas e previna-se. É importante que você mesmo

mantenha o devido controle emocional.

MINIMIZANDO AS TENSÕES

Quando você está nervoso, seus músculos ficam tensos. Isso acontece porque o

corpo está preparado para “matar ou morrer”, o instinto primário diante de qualquer perigo.

Exercícios simples podem ajudar a eliminar essa tensão.

A crescente tensão em seus músculos pode causar alguns efeitos indesejáveis durante

uma apresentação. A tensão muscular tende a prejudicar sua postura ao derrubar os ombros

e fazê-lo aparentar posição defensiva. Ela também pode inibir o funcionamento regular da

laringe, dando à voz aquele conhecido tremor identificado como nervosismo. Ficar tenso por

qualquer período de tempo, além de cansativo, pode diminuir o impacto da sua apresentação.

Exercícios simples podem ajudá-lo a reduzir a tensão e ganhar mais controle sobre seu corpo.

Por exemplo, pressão na nuca; alongamento do corpo; alongamento da espinha, entre outros.

Dicas

1. Estique-se e imagine ser mais alto do que realmente é.

2. Tente relaxar em posição ereta por 10 minutos sem se mover.

3. Force os cotovelos para trás.

CONTROLANDO O MEDO

Para fazer uma apresentação forte e eficiente você deve estar relaxado de antemão.

Mesmo que não esteja tenso, tente achar um local silencioso para juntar as idéias e relaxar

cerca de 30 minutos antes de se apresentar. Se você sabe que tem tendência a ficar nervoso,

tente rir dessa sensação - logo ela será familiar e você deve recebê-la como “velha amiga”.

Reflita sobre seu pequeno ataque de nervos e o rebatize como “expectativa”.

Dicas

1. Escreva uma lista de fatores ligados à palestra que o deixam nervoso.

2. Sorria apenas quando for espontâneo. Um sorriso forçado sempre soa falso.

3. Imagine-se fazendo um discurso de alta qualidade.

4. Use um pouco de sua “energia nervosa” para dar vida ao seu discurso.

Page 75: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

81

PREPARO X MEDO

Um dos maiores motivos do nervosismo é o medo de que algo dê errado durante a

apresentação. Ao reduzir as chances de isso ocorrer, você pode minimizar o medo e sair da

“beira de ataque de nervos”. O segredo é se preparar minuciosamente e não dar chance para

o azar.

Toda vez que você pensar em algo que gostaria de checar novamente, tome nota.

Acostume-se a usar uma lista de checagem sempre que você se prepara para fazer uma

apresentação.

Dicas

1. As páginas do roteiro ou das notas devem estar numeradas, para o caso de

caírem no chão.

2. Os recursos audiovisuais devem alcançar também o fundo do auditório.

3. Todos os equipamentos elétricos devem estar funcionando satisfatoriamente.

MOTIVAÇÃO E AUTO-ESTIMA

Motivação e auto-estima são aspectos importantes da comunicabilidade de uma

pessoa, a energia que flui sutilmente através da sua voz e do seu corpo, das palavras e da sua

postura, dos gestos e do olhar. É a expressão do seu otimismo ou pessimismo, da agressividade

ou suavidade, do nível da sua auto-estima. É a comunicação invisível, mas presente, percebida

pelos sentidos. Quão agradável é a energia que flui de pessoas otimistas, bem humoradas,

felizes, que diante das adversidades da vida encontram desafios que serão superados.

Cabe ressaltar, ainda, a sutileza da comunicação das pessoas que têm bondade no

coração, a gentileza nos gestos, beleza e doçura nas palavras.

Sensualidade, alinhamento e graça permeiam seus movimentos. Uma nobreza natural

flui silenciosa e discretamente em suas ações; há uma segurança pessoal apoiada na humildade;

uma reverência, um senso de humor mesclado com a consciência do sagrado. Essas são as

pessoas que fazem mais do que se comunicar, irradiam luz e brilho pessoal.

BONS HÁBITOS

A pregação não é apenas o sermão: é também o pregador. Alguns maus hábitos

podem comprometer o sermão. O pregador deve tomar cuidado para evitar tais costumes e

maneirismo.

Page 76: Comunicação e Oratória

82

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

• Postura ereta. Não se deite sobre o púlpito nem se acorcunde.

• Cuidado com a aparência: O uso de óculos escuros em recinto fechado e à noite, é

triste. O pregador descabelado, com barba por fazer, colarinho virado, sapatos enlameados.

• Cultive o idioma: A pregação é comunicação oral. Conheça pelo menos o seu idioma.

É sua ferramenta

• Cuidado com regionalismo: “Botão, mucidade, cruis de Jesuis, dolze, irrael, etc”.

• Use seu próprio estilo: Seja você mesmo. Não copie.

• Fale toda a palavra: Não engula os “r” e os “s” não engula as sílabas finais. Evite as

sujeições “eles tão” ao invés de “eles estão”.

• Aprenda a ler: Pratique a pontuação correta, dê entonação, viva os diálogos do

texto.

• Fale às pessoas: Olhe para elas. Paredes, bancos, teto e chão não se convertem

nem aprendem. Nunca olhe para uma só pessoa, ainda que sinta algo diferente (de Deus) ao

olhar para essa pessoa. Lembre-se que você está pregando para todos.

• Fale com o corpo: Use expressão facial condizente. Evite a “cara de mau”. Use

ambas as mãos. Não oscile o corpo para trás e para frente. Tampouco se levante

constantemente na ponta dos pés. Evite o dedo indicador apontando para o ouvinte.

• Module a voz: Deve ser de acordo com o ambiente. Não é o grito. É a consistência

e convicção.

• Evite os vícios de linguagem: - “né”, “intão”, “é interessante notar”, “aí”, etc

• Evite chavões: Como acompanhar um sermão de 30 minutos com mais de 60

“aleluias” e “glórias a Deus?”

• Ao contar um testemunho não detalhe muito, ou então escreva um livro.

• Nunca “vença” o povo pelo cansaço. Não obrigue o povo a dar glória ou aleluia só

para satisfazer teu ego, ou para ter sensação que a tua prédica tem resultado.

• Faça o que lhe foi pedido para fazer, não invente nada.

• Não fique estático, você não é uma múmia; não fique pulando tanto, pois não é um

palhaço. A comédia tem sua hora e se for bem colocada pode até ajudar a compreensão dos

ouvintes e evitar o cansaço.

• Observe se está sendo ouvido; ser ouvido é uma coisa sendo entendido é outra.

• Nunca preencha lacunas com “amém” , “né”, ou coisa assim.

• Não pronuncie palavras feias, de baixo calão, ridículas ou indecorosas. Treine seu

vocabulário.

• Antes de iniciar, enquanto assentado no púlpito, não fique conversando com os

colegas de lado e nem escorando de um lado para o outro ou pernas abertas e, nem limpar as

narinas (isso deve ser feito em oculto, no banheiro ou secretaria). Púlpito é exemplo de

elegância e comportamento social, além de ser um lugar santo e de reverência.

• Púlpito é lugar de se pregar a Palavra de Deus, então pregue como se Deus estivesse

em seu lugar.

Page 77: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

83

• O seu próximo pode ser o seu espelho. É observando que se aprende. Tenha um

espírito de crítica construtiva, e permita que o critiquem.

• Cuidado com as ondas e modismo de outros pregadores, antes de copiá-las, analise-

as pela Palavra de Deus e os costumes gerais.

• Aprenda ética ministerial para que saibas o teu limite.

• Cuidado com aqueles que gostam de dizer: “Deus falou para mim....”

• Cuidado para não dizer algo que machuque seus companheiros que estão na sua

retaguarda, afinal o pastor local, seus obreiros, é que ficam anos e anos ali enchendo o

templo para você ir lá pregar; portanto não estrague com 45 minutos o trabalho de meses ou

anos. (ousadia não é estupidez)

• Não pense que porque está ali no púlpito você é melhor que todos os obreiros

locais ou da região.

AUTO-AVALIAÇÃO

A auto-avaliação é parte essencial do processo de aquisição de conhecimentos.

Somente a partir dela é que se poderá estabelecer as prioridades da prática.

Seguem algumas avaliações para nortear a busca de aperfeiçoamento.

Avaliação do desempenho (Reinaldo Polito)

1. Como você se sente ao falar em público

( ) natural, sem tensões

( ) tenso, mas com o controle da situação

( ) muito tenso, com dificuldade para lidar eficientemente com a situação

2. Ao ser convidado para falar em público

( ) você prepara sua fala, seguindo um esquema seu, independentemente do público

que vai ouvi-lo

( ) você prepara de acordo com seus objetivos e o interesse do público

( ) você não prepara

3. Se você for convidado para falar sobre um assunto que não conhece com

profundidade

( ) você recusa

( ) você aceita, desde que tenha tempo suficiente para se preparar

( ) você aceita, mesmo sem ter tempo de preparar

4. Ao organizar sua fala, você pensa num início, meio e fim

( ) às vezes

Page 78: Comunicação e Oratória

84

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

( ) sempre

( ) nunca

5. Como você inicia sua fala

( ) entra direto no assunto, de forma objetiva

( ) tenta conquistar os ouvintes

( ) inicia de qualquer maneira

6. Como você encerra suas apresentações

( ) com uma frase forte, mesmo que não tenha muita ligação com o assunto

( ) recapitula a essência da mensagem e pede ação ou reflexão

( ) termina secamente, com a frase “era isso o que eu tinha para dizer, obrigado”

7. Como você estabelece a intensidade (volume) da voz diante do público

( ) de acordo com o seu potencial

( ) de acordo com o ambiente

( ) não tem nenhuma preocupação com a intensidade

8. Que tipo de vocabulário você usa

( ) o que conhece, próprio da sua profissão, atividade ou estudo

( ) simples e objetivo, de acordo com o público

( ) bem informal, até com gírias

9. Ao falar, você

( ) não gesticula, sente-se amarrado

( ) gesticula com moderação, reforçando o que está dizendo

( ) gesticula demais

10. Qual é o ritmo de sua fala

( ) nem rápido nem devagar, mas sempre com a mesma velocidade

( ) alterna, com velocidade normal, rápida e lenta

( ) fala sempre muito rápido ou muito devagar

11. Como você pronuncia as palavras

( ) corretamente, com certo exagero

( ) corretamente sem exagero

( ) suprimindo algumas letras e sílabas das palavras

12. Como é sua comunicação visual

Page 79: Comunicação e Oratória

Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN

85

( ) olha para algumas pessoas

( ) olha para todas as pessoas

( ) não olha para o auditório

13. Como você constrói suas frases

( ) saem truncadas, mas completas

( ) saem completas e ordenadas

( ) às vezes, costuma interrompê-las na metade

14. Numa reunião, como você se comporta

( ) nem sempre fala, mas fica sempre atento

( ) fala com objetividade e fica sempre atento

( ) fica calado e temeroso que peçam a sua opinião

15. Qual é seu estilo de comunicação

( ) controlado, objetivo, sem grandes emoções

( ) natural, com emoção

( ) afetado

ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta

“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-

ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,

utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.

Page 80: Comunicação e Oratória

86

Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN

Conclusão

Ao concluir este curso, a única certeza que podemos ter é a de que todo esforço despendido até aqui, na aprendizagem e aperfeiçoamento das técnicas de falar em público, somente serão úteis se praticadas à exaustão.

Não pode haver ilusão maior do que achar que já se alcançou a meta proposta para ter uma boa oratória.

Decorre da constatação acima que é necessário, é imprescindível mesmo buscar o constante aperfeiçoamento da arte da oratória. Uma busca incessante, permanente, tenaz que molda o bom orador, que talha as melhores oradoras, que transforma, enfim, uma pessoa que fala em público em uma verdadeira oradora.

O domínio da técnica é necessário. Contudo, será na persistente e contínua prática que se revelarão os grandes oradores e oradoras.

Referências

BARTH, Karl. A proclamação do Evangelho. Salamanca, Ediciones Sigueme, 1969. BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado. São Paulo, Publicações Evangélicas Selecionadas, 1989.BLACKWOOD, A. W. A Preparação de Sermões. São Paulo, ASTE, 1965. BRAGA, James. Como Preparar Mensagens Bíblicas. Miami, Florida, Editora Vida, (4ª impressão), 1989.BROADUS, John A. O Preparo e Entrega de Sermões. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1960.CABRAL, Elienai. O Pregador Eficaz. Rio, CPAD, 1983.GOUVÊA Jr. Herculano. Lições de Retórica Sagrada. Campinas, SP. (s. editora), 1974.HAWKINS, THOMAS. Homilética Prática. Rio de Janeiro, Ed. Juerp, 5. edição, 1988.HELLER, Robert. Como se Comunicar Bem. São Paulo, Publifolha,1999. HINDLE, Tim. Como Fazer Apresentações. São Paulo, Publifolha, 1999. JOWETT, John H. O Pregador, Sua vida e obra. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1969.KEY, Jerry Stanley. José da Silva. Um Pregador Leigo. Rio, JUERP, 1978. LACHLER, Karl. Prega a Palavra. São Paulo, Vida Nova, 1990.

WEISS, Donald. Como Falar em Público. São Paulo, Nobel, 1999.

Page 81: Comunicação e Oratória

LLOYD-JONES, D. Martyn. Pregação e Pregadores. São Paulo, Fiel, 1984.MARTIN, Albert N. O Que há de Errado com a Pregação de Hoje? São Paulo, Fiel, (s.d.).PASSADORI, Reinaldo. Timidez ao falar em público: Você tem este problema? Texto disponível no site do autor.POLITO, Reinaldo. A Arte de Quebrar Regras. In: Revista Vencer 19.POLITO, Reinaldo. Assim é que se Fala – como organizar a fala e transmitir idéias. 11. edição, São Paulo, Saraiva, 1999.POLITO, Reinaldo. Como Falar corretamente e sem inibições. 87ª edição, São Paulo, Saraiva, 2000.POLITO, Reinaldo. Dicas Para Falar Melhor. In: Revista Vencer 18.POLITO, Reinaldo. Escute Essa. In: Revista Vencer 09.POLITO, Reinaldo. Faça de suas Apresentações um Sucesso. In: Revista O Vidroplano, Janeiro, 2001.ROBINSON, Haddon W. A Pregação Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 1983.SOMOGGI, Laura. Você tem horror de falar em público? In: Revista VOCÊ S.A.SPURGEON, C.H. Lições aos Meus Alunos. São Paulo, PES. 1982, 3 Vols.SPURGEON, C.H. Sermões Sobre a Salvação. São Paulo, PES. 1992.W. KOLLER, CHARLES. Pregação Expositiva Sem Anotações. São Paulo, Ed.Mundo Cristão, 2a Edição, abril de 1987.WEISS, Donald. Como Falar em Público. São Paulo, Nobel, 1999.