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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE UnB DE PLANALTINA (FUP) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA RICARDO BORGES OLIVEIRA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL INTEGRADA NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA: UM ESTUDO DE CASO BRASÍLIA DEZEMBRO/2015

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UNIVERSIDADE DE BRASLIA

FACULDADE UnB DE PLANALTINA (FUP)

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GESTO

PBLICA

RICARDO BORGES OLIVEIRA

COMUNICAO ORGANIZACIONAL

INTEGRADA NA UNIVERSIDADE DE BRASLIA:

UM ESTUDO DE CASO

BRASLIA

DEZEMBRO/2015

II

RICARDO BORGES OLIVEIRA

COMUNICAO ORGANIZACIONAL

INTEGRADA NA UNIVERSIDADE DE BRASLIA:

UM ESTUDO DE CASO

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

Graduao Stricto Sensu em Gesto Pblica, da

Universidade de Braslia, como requisito parcial

para a obteno do ttulo de Mestre em Gesto

Pblica.

Orientador: Professor Doutor Mrio vila

BRASLIA

DEZEMBRO/2015

III

IV

Dissertao de autoria de RICARDO BORGES OLIVEIRA, intitulada

COMUNICAO ORGANIZACIONAL INTEGRADANA UNIVERSIDADE DE

BRASLIA: UM ESTUDO DE CASO, apresentada como requisito parcial para

obteno do grau de Mestre em Gesto Pblica da Universidade de Braslia, em 07 de

dezembro de 2015, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

_________________________________________

Prof. Dr. Mrio vila

Orientador Universidade de Braslia (UnB)

_________________________________________

Prof. Dr. Andr Nunes

Examinador Universidade de Braslia (UnB)

_________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Ximenes Aguiar Bizerril

Examinador externo Universidade de Braslia (UnB)

Braslia

2015

V

amada inspiradora Irlanda Aglae,

companheira de vida; aos meus queridos

filhos Tarsila e Vicente Lus; aos meus pais

Raimundo e Neusa; aos meus irmos Ana

Jacira, Marisa, Eduardo e Isabel; aos meus

sogros Mrio Ernesto (em memria) e

Maria Vesper.

VI

AGRADECIMENTO

Agradeo a minha famlia pelo apoio fundamental: minha amada Irlanda

Aglae; meus filhos Tarsila e Vicente Lus; meus pais Raimundo e Neusa; meus irmos

Ana, Marisa, Eduardo e Isabel; meus sogros Mrio Ernesto (em memria) e Maria

Vesper; meu cunhado Ernesto e sua esposa Fernanda; meus sobrinhos Lusa, Vincius,

Catarina, Arthur, Beatriz, Paulo, Joo, Sophia e Marina.

Ao meu orientador, prof. Dr. Mrio vila, por todo apoio ao longo desta

jornada.

amiga doutoranda Denise Lima, pela ajuda inestimvel.

A Jlia Franco, pelo eficiente trabalho na transcrio das entrevistas.

amiga Lia Nani e ao jornalista Flvio Castro, pela ajuda na reviso.

Ao primo Jos Mrio, pela exmia traduo.

jornalista da Secom Erika Suzuki, pela preciosa ajuda.

chefe Neuza Meller, pela compreenso e pelo incentivo.

Aos colegas da UnBTV, pela fora diria.

Aos colegas da primeira turma do PPGP/FUP/UnB: Aristides, Ivonaldo, Kelli,

Laura, Lussara, Pedro, Priscilla, Rogrio e Rivany, pelo companheirismo. Sem eles,

tudo teria sido mais difcil.

Aos colegas da segunda turma do PPGP/FUP/UnB.

Ao Programa de Ps-Graduao (PPGP/FUP/UnB), que, em convnio com o

Instituto Superior de Cincias Sociais e Polticas da Universidade de Lisboa (ISCSP),

possibilitou conhecer modelos de gesto pblica daquele pas e participar de aulas nesse

conceituado instituto.

Ao querido professor Elioenai (em memria), pelos ensinamentos.

Aos professores doutores Andr Nunes e Marcelo Bizerril, por aceitarem fazer

parte da banca e pelas crticas e observaes acerca deste trabalho.

Aos amigos Moacir, Thadeu, Marcelo Magalhes e Flvia.

VII

Em primeiro lugar, temos uma propriedade do comportamento que

dificilmente poderia ser mais bsica e que, no entanto, frequentemente

menosprezada: o comportamento no tem oposto. Por outras palavras, no

existe um no-comportamento ou, ainda em termos mais simples, um

indivduo no pode no se comportar. Ora, se est aceito que todo o

comportamento, numa situao interacional, tem valor de mensagem, isto ,

comunicao, segue-se que, por muito que o indivduo se esforce, -lhe

impossvel no comunicar (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1967, p.

44-45).

No h, realmente, pensamento isolado, na medida em que no h homem

isolado. Todo ato de pensar exige um sujeito que pensa, um objeto pensado,

que mediatiza o primeiro sujeito do segundo, e a comunicao entre ambos,

que se d atravs de signos lingusticos. O mundo humano , desta forma, um

mundo de comunicao (FREIRE, 1977, p. 66).

A universidade de que precisamos, antes de existir como um fato no mundo

das coisas, deve existir como um projeto, uma utopia, no mundo das ideias

(RIBEIRO, 1982, p. 172)

VIII

COMUNICAO ORGANIZACIONAL INTEGRADA NA UNIVERSIDADE DE

BRASLIA: UM ESTUDO DE CASO

RESUMO

No cenrio atual de grandes mudanas, cada vez mais as organizaes tm percebido a

importncia da comunicao para alcanar a sua misso e os seus objetivos. No mbito

das Instituies de Ensino Superior (IES) pblicas, a comunicao exerce papel

fundamental para a divulgao de sua finalidade, no que concerne ao ensino, pesquisa

e extenso, e para a abertura de novos canais de dilogo e democracia. Nascida sob a

perspectiva da inovao e autonomia, a Universidade de Braslia (UnB) tem buscado se

inserir e influenciar na realidade que a cerca, em consonncia com o seu estatuto de

criao. Entretanto, enfrenta dificuldade em manter uma maior interlocuo com a

sociedade e com o seu pblico interno. Em grande medida, isso se deve ausncia de

uma poltica de comunicao estratgica, que possibilite a integrao dos setores de

comunicao: Secretaria de Comunicao Social, Rdio UnB e UnBTV. Atualmente,

esses setores atuam de forma isolada, sem coordenao de esforos e com grandes

dificuldades estruturais. As fragilidades na comunicao interna e externa e a

necessidade de integrao da rea foram apontadas no Plano de Desenvolvimento

Institucional (PDI/UnB) 2014-2017. Nesse sentido, a Vice-Reitoria instituiu comisso

para elaborar uma poltica de comunicao para a UnB. O principal marco terico o

modelo de comunicao organizacional integrada, proposto por Margarida Kunsch. O

estudo de caso buscou analisar as possibilidades de integrao dos setores de

comunicao da UnB, no contexto da Resoluo n. 04/2013 da VRT. Para tanto, foram

aplicadas entrevistas semiestruturadas, individualmente, a gestores, servidores e

estagirios que atuam na comunicao da UnB, entre os meses de maio a agosto de

2015. As tcnicas foram embasadas na abordagem da anlise de contedo, observao

participante e anlise documental. Analisaram-se cinco categorias, emergidas dos

objetivos da pesquisa: Setores de Comunicao da UnB, Planejamento da Comunicao

da UnB, Comunicao organizacional Integrada, Comunicao Integrada em outras IES

e Superintendncia de Comunicao da UnB. Os dados coletados permitiram constatar

que a criao de um rgo como uma superintendncia de comunicao, modelo

adotado em outras IES pblicas brasileiras, poderia levar ao aperfeioamento da gesto

da comunicao da UnB. Entretanto, a deciso depende de vontade poltica da cpula da

universidade e de maior debate no mbito da prpria rea de comunicao.

Palavras-chave: comunicao, gesto, planejamento, universidade, UnB.

IX

INTEGRATED ORGANIZATIONAL COMMUNICATION AT THE

UNIVERSITY OF BRASILIA: A CASE STUDY

ABSTRACT

In the ever-changing current environment the organizations have realized the

importance of the communication process in reaching their mission and goals. Within

the scope of the public Higher Education Institutions (IES) communication plays a

major role in divulging their purpose in regards to education, research and extension, as

well as in the opening of new channels of dialogue and democracy. Born under the

banner of innovation and autonomy the University of Brasilia (UnB) has always aimed

at influencing and improving its surrounding reality, in accordance with the terms of its

creation. However, it faces challenges in keeping a better dialogue with its internal

public as well as with society at large. To a great extent that is due to the lack of a

policy of strategic communication, which would enable the integration of its channels of

communication: the Social Communication Secretariat, the University Radio (Rdio

UnB) and the UnBTV. Currently these sectors work in an isolated form, without

coordination and with great structural problems. Both the weaknesses in the internal and

external communication and the need for integration have been diagnosed in the 2014-

2017 Institutional Development Plan (PDI/UnB). For that reason the Vice-Rectory

established a commission to elaborate a communication policy for the University. The

main theoretical framework is the model of integrated organizational communication

proposed by Margarida Kunsch. The case study sought to analyze the possibilities for

integrating the communication sectors at UnB, in the context of the VRT Resolution

04\2013. In order to accomplish that goal individual semi-structured interviews were

conducted with managers, employees and trainees, between May and August 2015. The

techniques were based on the approach of content analysis, participant observation and

documentary analysis. Five categories were analyzed, emerged from the research

objectives: Sectors of Communication at UnB, Communication Planning at UnB,

Integrated Organizational Communication, Integrated Communication in others IES and

Superintendence of Communication at UnB. The collected data led to the conclusion

that the creation of an organism such as a Superintendence of Communication, modeled

after the one adopted by others Brazilian public Higher Education Institutions could

optimize the management of communication at UnB. Meanwhile, success essentially

depends on the political will of the University summit level as well as on a greater

debate within the scope of the communications area itself.

Keywords: communication, management, planning, university, UnB.

X

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Diferenas entre os nveis de planejamento ................................................. 48

Quadro 2 Tipologia organizacional e a universidade ................................................... 54

Quadro 3 Universidade x empresa caractersticas organizacionais ........................... 57

Quadro 4 Quantitativo funcional do CPCE/UnBTV .................................................... 80

Quadro 5 Quantitativo funcional da Secom ................................................................. 87

Quadro 6 Sujeitos da pesquisa ...................................................................................... 99

Quadro 7 Instrumentos de comunicao da UnB ....................................................... 106

Quadro 8 Avaliao da comunicao da UnB ............................................................ 107

Quadro 9 Perspectivas da comunicao da UnB ........................................................ 109

Quadro 10 Quantitativo de profissionais e estagirios que atuam

na comunicao da UnB ................................................................................................ 112

Quadro 11 Avaliao do planejamento da comunicao da UnB .............................. 114

Quadro 12 Perspectivas do planejamento da comunicao da UnB .......................... 116

Quadro 13 Importncia da comunicao integrada na UnB ....................................... 123

Quadro 14 Perspectivas da comunicao integrada na UnB ...................................... 128

Quadro 15 Experincias de comunicao integrada em outras IES

Pblicas .................................................................................................... 135

Quadro 16 Avaliao do modelo de Superintendncia de

Comunicao da UnB ............................................................................... 139

Quadro 17 Perspectivas da criao da Superintendncia de

Comunicao da UnB ............................................................................... 142

XI

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Comunicao Organizacional Integrada .............................................................. 40

Figura 2 Matriz SWOT UnB 2014 Anlise preliminar de objetivos e estratgias .......... 64

Figura 3 Organograma da Superintendncia de Comunicao Social da USP .................. 68

Figura 4 Organograma da Superintendncia de Comunicao Social da UFF .................. 69

Figura 5 Organograma da Superintendncia de Comunicao da UFES ........................... 73

Figura 6 Organograma da Superintendncia de Comunicao da UFPI ............................ 74

Figura 7 Organograma da Superintendncia de Comunicao da UFRN .......................... 76

Figura 8 Organograma da UnBTV ..................................................................................... 80

Figura 9 Organograma da Secretaria de Comunicao da UnB ......................................... 87

Figura 10 Organograma da Superintendncia de Comunicao da UnB ........................... 90

Figura 11 Secretaria de Comunicao (Secom) ............................................................... 103

Figura 12 CPCE/UnBTV .................................................................................................. 103

Figura 13 UnBTV em Planaltina ...................................................................................... 104

Figura 14 Rdio UnB ....................................................................................................... 104

Figura 15 Problemas na comunicao .............................................................................. 152

Figura 16 Comunicao integrada .................................................................................... 154

XII

SIGLAS UTILIZADAS

AE Agncia Estado

AGECOM/UFRN Agncia de Comunicao da UFRN

CECOM Centro de Comunicao da UFG

CEP Comisso de tica em Pesquisa

Ceftru Centro Interdisciplinar em Transporte

CIC Departamento de Cincia da Computao

CONSUN/UFPI Conselho Universitrio da UFPI

Consuni Conselho Universitrio

COORDCOM Coordenadoria de Comunicao Social

CPCE Centro de Produo Cultural a Educativa

DAF Decanato de Administrao

DPO Decanato de Planejamento e Oramento

DF Distrito Federal

EaD Ensino a Distncia

EBC Empresa Brasil de Comunicao

EDUFPI Editora da Universidade Federal do Piau

FAC Faculdade de Comunicao

FCI Faculdade de Cincia da Informao

FUB Fundao Universidade de Braslia

FUBRA Fundao Universitria de Braslia

FUP Faculdade de Planaltina

GRAFUFPI Grfica Universitria da UFPI

ICC Instituto Central de Cincias

IES Instituies de Ensino Superior

IFES Instituies Federais de Ensino Superior

IPTV Internet Protocol Television

ISCSP Instituto Superior de Cincias Sociais e Polticas da

Universidade de Lisboa

MEC Ministrio da Educao

MPDFT Ministrio Pblico do Distrito Federal e Territrios

MPOG Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto

XIII

MPT Ministrio Pblico do Trabalho

PDI Plano de Desenvolvimento Institucional

PJU Procuradoria Jurdica

PPGP Programa de Ps Graduao em Gesto Pblica

RNP Rede Nacional de Ensino e Pesquisa

SCS Superintendncia de Comunicao Social

SCS/UFPI Superintendncia de Comunicao Social do Piau

Secom Secretaria de Comunicao Social

Sicap Sistema de Cadastramento Unificado de Prestao de

Servio

Supecc /UFES Superintendncia de Cultura e Comunicao

SINAES Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior

SINTEST-RN Sindicato Estadual dos Trabalhadores em Educao do

Ensino Superior (Rio Grande do Norte)

TI Tecnologia da Informao

TVU TV Universitria

UFES Universidade Federal do Esprito Santo

UnB Universidade de Braslia

UnBTV Canal Universitrio de Braslia

Unitev Canal Universitrio de Niteri

USP Universidade de So Paulo

UFF Universidade Federal Fluminense

UFPI Universidade Federal do Piau

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFSCar Universidade Federal de So Carlos

VRT Vice-Reitoria

WebRdio Rdio pela internet

WebTV TV pela internet

XIV

SUMRIO

1 Introduo .................................................................................................................... 16

2 Problema de pesquisa .................................................................................................. 19

3 Justificativa .................................................................................................................. 21

4 Objetivos ...................................................................................................................... 24

4.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 24

4.2 Objetivos especficos ................................................................................................ 24

5 Desenvolvimento ......................................................................................................... 25

5.1 Conceitos da comunicao ....................................................................................... 25

5.1.1 Funes da comunicao ....................................................................................... 26

5.1.2 Classificaes da comunicao ............................................................................. 26

5.2 Comunicao Organizacional ................................................................................... 27

5.2.1 Redes formal e informal ........................................................................................ 30

5.2.2 Fluxos comunicativos ............................................................................................ 31

5.2.3 Meios de comunicao nas organizaes .............................................................. 32

5.2.4 Barreiras na comunicao ...................................................................................... 33

5.3 Comunicao Pblica ............................................................................................... 34

5.4 Comunicao Integrada ............................................................................................ 38

5.5 Planejamento ............................................................................................................ 45

5.6 Organizao Universitria ........................................................................................ 52

5.7 Planejamento estratgico nas universidades ............................................................. 58

5.7.1 Planejamento estratgico na Universidade de Braslia .......................................... 61

5.8 Comunicao das universidades pblicas brasileiras ............................................... 65

5.8.1 Panorama da comunicao em universidades pblicas brasileiras ........................ 67

5.8.1.1 O modelo da Universidade de So Paulo USP ................................................ 67

5.8.1.2 O modelo da Universidade Federal Fluminense UFF ..................................... 69

5.8.1.3 O modelo da Universidade Federal do Esprito Santo UFES .......................... 71

5.8.1.4 O modelo da Universidade Federal do Piau UFPI ......................................... 73

5.8.1.5 O modelo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN .............. 75

5.9 Estrutura de comunicao da Universidade de Braslia ........................................... 77

5.10 Superintendncia de Comunicao da UnB: processo de formao ...................... 87

6 Metodologia ................................................................................................................. 92

6.1 Delineamento da pesquisa ........................................................................................ 92

XV

6.2. Amostra ................................................................................................................... 97

6.3 Anlise da coleta de dados...................................................................................... 100

7 Discusso dos dados .................................................................................................. 102

7.1 Categorias analisadas .............................................................................................. 102

7.1.1 Setores de Comunicao da UnB ........................................................................ 102

7.1.2 Planejamento da Comunicao da UnB .............................................................. 113

7.1.3 Comunicao Organizacional Integrada .............................................................. 122

7.1.4 Comunicao Integrada em outras IES ............................................................... 134

7.1.5 Superintendncia de Comunicao da UnB ........................................................ 138

7.2 Concluses gerais sobre a discusso dos dados ..................................................... 147

8 Concluso .................................................................................................................. 152

Referncias ................................................................................................................... 155

Apndices ..................................................................................................................... 166

Apndice A: Termo de consentimento livre e esclarecido dos/as participantes da

pesquisa ........................................................................................................................ 166

Apndice B: Roteiro de entrevista ................................................................................ 167

Apndice C: Adaptao do questionrio aos objetivos da pesquisa ............................. 169

Anexos .......................................................................................................................... 170

Anexo A: Resoluo da Vice-Reitoria n. 04/2013 ...................................................... 170

Anexo B: Resoluo da Vice-Reitoria n. 11/2013 ...................................................... 171

Anexo C: Memorando sobre o relatrio final que estabelece proposta de uma poltica de

comunicao para a UnB .............................................................................................. 172

Anexo D: Organograma da UnB .................................................................................. 173

Anexo E: Institucionalizao da UnBTV ..................................................................... 174

Anexo F: Relato sobre a Rdio UnB ............................................................................ 175

Anexo G: Proposta de Poltica de Comunicao Integrada para a Universidade de

Braslia .......................................................................................................................... 177

16

1 Introduo

impossvel no se comunicar. Esse axioma da comunicao, formulado pelo

pesquisador Paul Watzlawick (1967), significa dizer que estamos sempre comunicando algo,

pois, uma vez que no h possibilidade de o ser humano no se comportar, impossvel no

comunicar.

Tambm implica uma pergunta: o que ns e as organizaes nas quais atuamos e

com as quais interagimos estamos comunicando? Estamos sendo eficazes nesse processo

comunicativo? Esse questionamento importante para a nossa prpria sobrevivncia e das

organizaes, bem como para o alcance de novas oportunidades, num mundo em constantes

transformaes.

No mbito organizacional, uma viso descuidada da comunicao pode ocasionar o

fracasso de programas, recursos humanos e at um desgaste ou a completa runa da imagem

das organizaes. Portanto, a comunicao precisa ser pensada como uma filosofia

disseminada e utilizada por toda a organizao, e no se restringir a algumas iniciativas ou

setores.

Nessa linha, Margarida Kunsch (2003) refora que a organizao precisa planejar

estrategicamente a sua comunicao. A viso de comunicao integrada adotada pela autora

d o embasamento terico a este trabalho. Essa percepo busca analisar a comunicao nas e

das organizaes de forma abrangente, levando em considerao a complexidade do

fenmeno comunicacional. Nessa perspectiva, a comunicao deixa de ter uma funo apenas

ttica, para ser considerada estratgica. Para tanto, deve haver a integrao entre a

comunicao interna, a institucional e a de negcios, na busca da eficcia, eficincia e

efetividade. Dessa forma, ganha a organizao, os seus pblicos e a sociedade (KUNSCH,

2009).

17

Estudar, entender e colocar em prtica essa nova dimenso da comunicao no

interior das organizaes um desafio, ainda mais quando nos referimos s Instituies de

Ensino Superior (IES) pblicas. No raro, falta nas universidades uma viso compartilhada e

articulada, o que dificulta o processo de planejamento. Kunsch (1992) defende que as

universidades brasileiras deveriam repensar todo o seu modelo de comunicao para interagir

melhor com a sociedade. No estudo, a autora aponta que, por mais que os dirigentes das IES

brasileiras percebam essa necessidade de comunicao, paradoxalmente, a maioria dessas

organizaes no se organiza de tal modo que consiga realizar esse intento.

A ausncia de uma poltica de comunicao claramente definida compromete

tambm as propostas de mudana, pois a comunidade acadmica no envolvida no processo,

nem chamada a refletir sobre o significado e o impacto dessas transformaes

(SCROFERNEKER, 2001).

A Universidade de Braslia (UnB) no exceo, pois, at o momento, inexiste um

plano de comunicao organizacional que estabelea metas, objetivos e estratgias em um

conjunto voltado para os pblicos interno e externo, o que tem favorecido aes isoladas. Ao

longo do tempo, a UnB estruturou apenas a Secretaria de Comunicao (Secom), mas no

conseguiu integrar as reas de comunicao: UnBTV e Rdio UnB. A distribuio dos setores

no organograma da UnB evidencia essa ausncia de integrao (ANEXO D).

Com o propsito de buscar um plano que articule e integre as unidades de

comunicao, a Vice-Reitoria instituiu uma comisso de trabalho, cujo resultado final foi a

proposta de criao de uma superintendncia de comunicao, a qual ser o objeto de estudo

da presente dissertao. O aprimoramento da comunicao institucional da UnB, com o

estabelecimento de uma poltica de comunicao integrada, est prevista no Plano de

Desenvolvimento Institucional (PDI) da UnB 2014-2017, o qual contempla as bases do

18

planejamento estratgico aprovadas pela administrao superior (UNIVERSIDADE DE

BRASLIA, 2015b).

O presente estudo insere-se, portanto, na rea de pesquisa Estado, Territrio e

Polticas Pblicas do Programa de Ps-Graduao Profissional em Gesto Pblica

(PPGP/FUP/UnB). Espera-se que os dados coletados possam trazer subsdios para reorientar

as estratgias de comunicao e relacionamento com os diversos pblicos da Universidade de

Braslia (UnB), tendo em vista a necessidade de integrao das reas de comunicao da

universidade.

19

2 Problema de pesquisa

A Universidade de Braslia (UnB) tem mantido uma estrutura de comunicao

marcada pela falta de articulao e integrao entre as unidades da rea e pela ausncia de

uma poltica de comunicao global que estabelea metas, objetivos e estratgias, de modo a

ampliar os resultados e garantir uma comunicao eficiente e eficaz com os pblicos da

instituio.

Diante dessa constatao, percebe-se a necessidade de integrar, de forma harmnica,

os diferentes setores de comunicao social da UnB a fim de se obter mais eficincia e

sinergia nas aes. Dessa forma, poder-se-ia expor ideias e propostas para soluo dos

problemas da sociedade e prover meios para viabilizar o acesso da populao produo

acadmica.

O uso sinrgico da comunicao, alm de gerar respostas mais imediatas, possibilita

a reduo substancial de custos, devido ao planejamento e execuo de tarefas conjuntas

(TORQUATO DO REGO, 2015). Nesse contexto, indispensvel rever os mecanismos de

captao de recursos por parte das unidades de comunicao. Entretanto, verifica-se uma

crescente reduo e alta rotatividade de profissionais da rea na universidade quer seja pela

evaso provocada baixa remunerao e/ou ms condies de trabalho, quer seja pela demisso

dos trabalhadores terceirizados , o que contribui para aumentar os entraves administrativos

para a execuo de projetos com a agilidade e eficincia exigida nesse tipo de atividade.

Nessa perspectiva, a Vice-Reitoria da Universidade de Braslia instituiu, por meio da

Resoluo n. 04/2013 (ANEXO A) e da Resoluo n. 11/2013 (ANEXO B), comisses para

apresentar um plano de articulao entre as unidades de comunicao da UnB. Os grupos so

formados por representantes das reas de comunicao da UnB (Rdio, Secom, e UnBTV) e

de outros setores da universidade. Vale ressaltar que o estabelecimento de uma poltica de

comunicao integrada no mbito da Universidade de Braslia est previsto no Plano de

20

Desenvolvimento Institucional (PDI) da UnB 2014-2017 e no planejamento estratgico da

UnB (UNIVERSIDADE DE BRASLIA, 2015b).

A partir do produto dessas comisses, idealizou-se uma poltica de comunicao

integrada para a UnB: uma superintendncia, que visa confiar comunicao da instituio

maior coordenao de esforos, aproveitamento das novas tecnologias e a eficincia dos

setores de comunicao.

A superintendncia objetiva, ainda, por meio da integrao, otimizar o atendimento

aos pblicos internos e externos da universidade para consolidar a imagem da universidade.

Assim, indaga-se: como integrar eficientemente os setores de comunicao social da UnB?

Essa a questo norteadora desta dissertao.

21

3 Justificativa

Esta dissertao pretende pesquisar e analisar uma estrutura unificada de gesto de

comunicao organizacional integrada, a partir de uma filosofia que preconiza a convergncia

de diversas reas, a fim de permitir uma ao sinrgica:

A convergncia de todas as atividades, com base em uma poltica global, claramente

definida e nos objetivos gerais da organizao, possibilitar aes estratgicas e

tticas de comunicao, mais pensadas e trabalhadas com vistas na eficcia

(KUNSCH, 2003, p. 150).

Por essa perspectiva, a comunicao deixa de ser vista como um conjunto de aes

isoladas e passa a ser concebida como um processo que necessita de planejamento e

direcionamento estratgico, alinhando-se com os objetivos da instituio.

A aplicao da comunicao organizacional integrada nas universidades pblicas tem

propiciado o surgimento de uma comunicao mais eficiente, ao permitir que os profissionais

de reas especficas trabalhem em torno do mesmo projeto, evitando, assim, a disperso de

recursos humanos e materiais. Tambm colabora para uniformizar valores e conceitos, alm

de consolidar a imagem da instituio perante seus pblicos interno e externo (KUNSCH,

2003).

As universidades pblicas caracterizam-se por uma maior flexibilidade, porm,

possuem uma organizao conservadora, que necessita de uma estratgia de gesto voltada

para o melhor atendimento das demandas da sociedade e da comunidade universitria

(MARCELINO, 2004).

A Universidade de Braslia, ao longo dos ltimos anos, vem enfrentando srias

dificuldades e restries institucionais, as quais poderiam ser superadas a partir da

implantao de um sistema integrado de planejamento que atendesse ao planejamento

estratgico, ttico e operacional (MIRANDA, 2004, p. 43).

22

Nesse contexto, a integrao dos setores de comunicao da UnB Secretaria de

Comunicao (Secom), CPCE/UnBTV e Rdio UnB visa propiciar a construo de uma

linguagem unssona e um comportamento afinado, a fim de possibilitar a otimizao de

esforos e evitar sobreposies de tarefas. Os setores podem trabalhar de forma conjunta, a

partir dos objetivos da instituio e respeitando as metas de cada um, promovendo uma gesto

orientada ao pblico usurio.

A integrao desses setores est prevista no Plano de Desenvolvimento Institucional

(PDI) da UnB 2014-2017 e no planejamento estratgico da UnB (UNIVERSIDADE DE

BRASLIA, 2015b).

Note-se que a atuao isolada tem sido favorecida pela ausncia de uma poltica de

comunicao estratgica para a UnB. Cada unidade estabelece sua proposta de oramento

para determinado plano de ao e a encaminha individualmente Reitoria ou ao Decanato de

Administrao (DAF/UnB), podendo precarizar, assim, a gesto do financiamento da

comunicao social da universidade. Dessa forma, a sobrevivncia financeira dessas unidades

de comunicao dependem, em grande parte, do protagonismo dos seus gestores.

Do ponto de vista administrativo, as unidades enfrentam entraves que impedem o seu

desenvolvimento consistente. Entre eles, encontram-se a crescente reduo do nmero de

profissionais devido alta rotatividade e baixa remunerao e a substituio destes por

estagirios de graduao, conforme consta no Relatrio de Autoavaliao Institucional da

Universidade de Braslia 2012 (UNIVERSIDADE DE BRASLIA, 2014b).

Vale registrar, como outro aspecto deficiente, a defasagem tecnolgica dos

equipamentos e de infraestrutura, o que compromete a qualidade no tratamento da informao

na UnB.

Do mesmo modo, unidades com perfil de rgo complementar, como o

CPCE/UnBTV, buscam recursos por meio de projetos, mas esbarram em dificuldades

23

administrativas para execut-los de forma adequada. Muitos projetos acabam sendo

desenvolvidos por iniciativa dos gestores das unidades ante a existncia de oportunidades, em

vez de serem fomentados por uma poltica institucional. Portanto, pretende-se pesquisar em

que aspectos uma poltica de gesto para o setor permitir a articulao, integrao e o

fortalecimento da comunicao social da UnB.

Aliado a isso, verifica-se a carncia de estudos e diagnsticos que descrevam o perfil

dos pblicos interno e externo de interesse da instituio. Os dados coletados nesta pesquisa

podem ajudar a aperfeioar os veculos existentes e reorientar as estratgias de comunicao e

relacionamento com esses pblicos.

Ao analisar a proposta de poltica de comunicao organizacional integrada para a

UnB, no contexto da Resoluo n. 04/2013 da VRT/UnB, o presente estudo concluiu que a

criao de um rgo como uma superintendncia de comunicao pode levar a uma melhor

gesto da comunicao da UnB.

24

4 Objetivos

4.1 Objetivo geral

Analisar como a comunicao organizacional da UnB pode integrar os setores de

comunicao social da universidade, no mbito da proposta da comisso instituda pela

Resoluo n. 04/2013, da Vice-Reitoria da UnB.

4.2 Objetivos especficos

Analisar o cenrio atual da gesto da comunicao na UnB.

Examinar o panorama do planejamento estratgico aplicado comunicao

organizacional no mbito das universidades pblicas brasileiras, em especial da UnB.

Investigar a comunicao organizacional integrada e os desafios para a integrao dos

setores de comunicao da UnB.

Relacionar experincias de gesto integrada no mbito da comunicao de

universidades pblicas brasileiras com o processo de construo de uma poltica de

comunicao integrada na UnB.

Analisar o modelo proposto de Superintendncia de Comunicao na UnB.

25

5 Desenvolvimento

5.1 Conceitos da comunicao

A comunicao humana costura a teia social, pois por meio da linguagem que

construmos uma realidade compartilhada, base para a vida social (CASTRO, V., 1998). Por

meio dos processos comunicativos, so criadas as bases de entendimento que permitem s

pessoas interagirem como grupos organizados, visando alcanar objetivos pr-determinados.

A palavra comunicao origina-se do latim communis, comum. Portanto,

etimologicamente comunicar significa tornar algo comum entre as pessoas; introduz a ideia de

comunho, comunidade (MARQUES DE MELO, 1975; SOUSA, 2006). Para Freire (1977, p.

67), comunicao implica reciprocidade: o que caracteriza a comunicao enquanto este

comunicar comunicando-se que ele dilogo, assim como o dilogo comunicativo. Na

concepo desse autor, comunicao significa coparticipao dos sujeitos pensantes, que

juntos criam o conhecimento, transformando e humanizando o mundo.

O ato de comunicar est presente nas mais variadas formas de interao social,

envolvendo poder, consentimento, cooperao, liderana e solidariedade (KATZ; KAHN,

1978). Em tempos de novas tecnologias e intensas interaes, comunicar cada vez menos

transmitir e cada vez mais negociar e conviver (WOLTON, 2010).

A comunicao pode ser analisada sob dois aspectos: como processo ou como

atividade social. No primeiro caso, o foco no canal e na troca de mensagens codificadas dos

comunicadores em um determinado contexto. Nesse caso, comunicar significa observar os

acontecimentos e as relaes como dinmicos, em evoluo, sempre em mudana, contnuos

(BERLO, 2003, p. 23). Esse processo comunicacional compreendido por diversos tericos

da comunicao como complexo, ubquo e multidisciplinar (LITTLEJOHN, 1988; KREEPS,

1995; MARCHIORI, 2010).

26

J na comunicao como atividade social, a nfase recai sobre como as pessoas

respondem realidade, interagindo por meio da troca de significados, em uma dada cultura. A

comunicao , assim, um fator essencial de integrao (BUONO; BOWDITCH, 1992).

O estudo da comunicao situa-se, primordialmente, nos campos das cincias

humanas e sociais, mas no exclusivo dessas reas, pois tem recebido contribuies de

diferentes cincias. Dessa forma, a comunicao compreendida como uma cincia

multidisciplinar.

5.1.1 Funes da comunicao

Robbins (2002) aponta quatro funes da comunicao: controle, motivao,

expresso emocional e informao. A comunicao atua no controle do comportamento das

pessoas de vrias formas, a comear pela hierarquia, fazendo com que os integrantes da

organizao saibam a quem comunicar primeiro uma informao ou um acontecimento. A

comunicao facilita tambm a motivao, na medida em que esclarece o que deve ser feito,

avalia a qualidade do seu desempenho e orienta sobre o que fazer para melhor-lo. Por meio

da expresso emocional, os funcionrios expressam os seus sentimentos de satisfao e/ou

frustraes. Por fim, a comunicao facilita a tomada de decises, porque proporciona aos

indivduos e ao grupo as informaes que necessitam para a tomada de decises (ROBBINS,

2002).

5.1.2 Classificaes da comunicao

Torquato do Rego (2015) classifica os tipos de comunicao em trs dimenses: 1)

comportamental (nveis intrapessoal, interpessoal e grupal); 2) social, o qual envolve a

organizao e o sistema social, e 3) ciberntica, que agrupa circuitos de captao,

armazenamento, tratamento e disseminao de informaes no mbito organizacional. A

primeira dimenso est relacionada ao comportamento no interior das organizaes,

27

envolvendo as preocupaes com processos e habilidades comunicativas entre indivduos e

grupos, com a finalidade de ajustamento, integrao e desenvolvimento. A segunda

dimenso ocorre por meio da comunicao de massa, caracterizada pela transmisso de

mensagens de uma fonte para uma ampla audincia, heterognea, dispersa e amorfa. J a

terceira dimenso diz respeito ao controle, tratamento das informaes, seu armazenamento

por mquinas, e vincula-se ao sistema tecnolgico das organizaes (TORQUATO DO

REGO, 2015, p. 66).

Rogrio Santos (1998), por sua vez, divide a comunicao em interpessoal, de

massas e organizacional. Segundo o autor, a comunicao interpessoal a forma mais simples

de interao, entre pelo menos duas pessoas. Trata-se de um processo dialgico, base da

comunicao humana. J a comunicao de massas aquela em que o emissor organiza,

elabora e distribui a informao para uma vasta audincia. A comunicao organizacional, por

sua vez, ocorre dentro de uma estrutura ou grupo coerente, visando a um objetivo comum

(SANTOS, 1998).

A principal diferena entre esses trs modos de comunicao est na relao entre os

seus intervenientes e essencial para identificar a eficcia da comunicao. Dessa forma, pela

anlise das aes e reaes do emissor-receptor possvel saber se a comunicao atinge os

seus objetivos, se ou no persuasiva (SANTOS, 1998).

Na prxima seo, ser abordada a comunicao no mbito das organizaes, objeto

do presente estudo.

5.2 Comunicao Organizacional

A comunicao organizacional envolve os diversos instrumentos utilizados pela

organizao para interagir com os seus diferentes pblicos (SCROFERNEKER, 2000) e com

a sociedade em geral, criando mecanismos para a validao pblica de sua atuao

(OLIVEIRA; PAULA, 2007).

28

Conforme Duarte e Monteiro (2009, p. 334), a comunicao a prpria energia que

circula nos sistemas e a argamassa que d consistncia identidade organizacional. Ela o

oxignio que d vida s organizaes. Dessa forma, o sistema de comunicao vital para o

processamento das funes administrativas internas e do relacionamento com o meio externo

organizao (KUNSCH, 2003).

A comunicao organizacional pode ser entendida como um processo que

intermedeia o discurso da organizao, ajusta interesses, controla os participantes internos e

externos e promove maior aceitabilidade da ideologia organizacional. Envolve, dessa forma, a

interpretao e negociao de mensagens, por meio de esforos para articular e trazer a

compreenso mtua das vises, propsitos e metas da organizao entre os funcionrios

(TORQUATO DO REGO, 2015; ANDREWS; HERSCHEL; BAIRD, 1996).

Segundo Freitas (2004, p. 41), a comunicao estabelece o dilogo da organizao

em mbito interno e externo.

Em mbito interno o dilogo se configura em consonncia com a cultura

organizacional. Neste sentido, a comunicao apontada como poder para facilitar a

cooperao, a credibilidade e o comprometimento com valores. O relacionamento da

organizao no mbito externo ser o reflexo do tratamento da comunicao em

mbito interno.

Verificam-se, portanto, duas perspectivas complementares da comunicao

organizacional: a comunicao interna, em que esto envolvidos os integrantes da

organizao, e a comunicao externa, em que o corpo organizacional interage com o meio

em que est inserido.

Para Cardoso (2006, p. 1.132), no existe organizao sem prtica comunicativa. O

autor afirma que esses processos comunicativos

(...) so essenciais para a operao da entidade e esto intimamente vinculados s

formas de significar, valorar e expressar uma organizao, isto , ao processo

comunicacional e constitutivo da cultura da organizao, e de sua identidade,

configurando imagens reconhecidas por seus diversos pblicos internos e externos.

A comunicao pode ser entendida, ento, como um alicerce que d forma

organizao, fazendo-a ser aquilo que ela .

29

Conforme Cardoso (2006), a comunicao organizacional atravessa todas as aes de

uma empresa ou organizao, atuando de forma permanente na construo de sua cultura e

identidade. O autor adota o termo comunicao organizacional em substituio ao conceito

tradicional de comunicao empresarial.

Cardoso (2006, p. 1.140) explica que a comunicao organizacional diz respeito a

uma viso mais estratgica da comunicao, enquanto a comunicao empresarial relaciona-

se a uma abordagem instrumental da comunicao.

A comunicao organizacional vem assumindo uma nova dimenso estratgica nas

organizaes que, como se v, modifica paulatinamente antigos limites. A

comunicao assume um papel muito mais abrangente, fazendo referncia a tudo

que diz respeito posio social e ao funcionamento da organizao, que envolve

desde seu clima interno at suas relaes institucionais.

Torquato do Rego (2015, p. 14) tambm passou a adotar o termo comunicao

organizacional, em vez de comunicao empresarial: trata-se, afinal, de reconhecer a

irrefutvel realidade: a comunicao resvalou para outros terrenos e espaos, ampliando o

escopo e adicionando novos campos ao territrio da comunicao empresarial.

Kunsch (2009) enfatiza que a comunicao organizacional precisa ser entendida de

forma ampla: Pode-se dizer que uma disciplina que estuda como se processa o fenmeno

comunicacional dentro das organizaes e todo o seu contexto poltico, econmico e social

(KUNSCH, 2009, p. 54).

Hall (1984, p. 132) ressalta que o processo de comunicao nas organizaes

contm elementos que so fortemente organizacionais e fortemente individuais. Pinho

(2006, p. 27) refora essa ideia ao afirmar que, independentemente do tipo de organizao, a

comunicao o elemento que mantm e sustenta os relacionamentos no ambiente

organizacional.

Kreeps (1995) entende a comunicao organizacional como um processo marcado

pelo recebimento e gerao de informaes. Nessa perspectiva, a comunicao organizacional

30

assume a funo de fonte informacional para os membros de uma determinada organizao. A

informao se constitui, assim, em uma ponte entre a comunicao e a organizao. O autor

identifica nas organizaes quatro nveis hierrquicos de comunicao humana: comunicao

intrapessoal, comunicao interpessoal, comunicao de grupos pequenos e comunicao de

grupos mltiplos. A comunicao intrapessoal a forma mais extensa e bsica da

comunicao humana, na qual processada a informao. A comunicao interpessoal se

constri sobre o nvel intrapessoal, entre duas pessoas. J a comunicao de grupos pequenos

constri-se sobre a interao interpessoal, utilizando vrios comunicadores e somando

dinmicas grupais e relaes interpessoais. A comunicao de multigrupos se d por meio da

combinao dos outros trs nveis de comunicao, ao coordenar um grande nmero de

pessoas para cumprir os objetivos em comum (KREEPS, 1995).

5.2.1 Redes formal e informal

Segundo Kunsch (2003, p. 84), a comunicao nas organizaes flui, de forma

simultnea, por meio de duas redes: formal e informal. A comunicao formal aquela

procedente da prpria estrutura organizacional, de onde emana um conjunto de informaes,

pelos mais diferentes veculos.

Trata-se da comunicao administrativa, que se relaciona com o sistema expresso de

normas que regem o comportamento, os objetivos, as estratgias e conduzem as

responsabilidades dos integrantes das organizaes (KUNSCH, 2003, p. 84).

J a comunicao informal aquela que surge das relaes entre as pessoas. A autora

aponta como um dos principais produtos da rede informal a rede de boatos, decorrente, em

grande parte, da ansiedade, da insegurana e da falta de informaes. Outros exemplos so

a conversa e a livre manifestao dos trabalhadores, que fazem parte do convvio das pessoas

(KUNSCH, 2003, p. 83).

31

O sistema formal de comunicao de toda organizao o conjunto de canais e

meios de comunicao estabelecidos de forma consciente e deliberada

suplementada, no decorrer de pouco tempo, por uma rede informal de

comunicaes, igualmente importante, que se baseia nas relaes sociais intra-

organizativas e uma forma mais rpida de atender a demandas mais urgentes e

instveis (KUNSCH, 2003, p. 82).

Para a pesquisadora, a comunicao informal precisa ser canalizada para o lado

construtivo, auxiliando a organizao a buscar respostas de forma mais rpida s

inquietaes do meio e facilitando a gesto das pessoas, visando a uma administrao

participativa (KUNSCH, 2003, p. 84).

Torquato do Rego (2015) avalia que a construo de um modelo sinrgico de

comunicao depende do estudo dessas redes, as quais so fontes importantes para a

construo um modelo avanado de comunicao a servio de organizaes complexas.

No item a seguir sero analisadas as formas como a comunicao flui dentro da

organizao.

5.2.2 Fluxos comunicativos

Os fluxos mais citados em pesquisas da rea de comunicao organizacional so os

descendentes ou verticais, os ascendentes e os horizontais ou laterais.

Kunsch (2003) explica que a comunicao descendente ou vertical aquela ligada ao

processo de informaes da cpula da organizao para os subalternos na hierarquia,

caracterizando-se como comunicao administrativa oficial. J a comunicao ascendente o

processo oposto: as informaes so enviadas de baixo para cima, por meio de instrumentos

planejados (caixa de sugestes, reunies com trabalhadores e sistemas de consulta). No fluxo

horizontal ou lateral, a comunicao se d no mesmo nvel.

No fluxo descendente, o objetivo a difuso dos dados globais, tais como as

polticas da organizao, dentre outras informaes, tendo como caracterstica a formalidade.

32

O fluxo ascendente permite que os dados recolhidos nas bases cheguem at as instncias

superiores e departamentos interessados (BALDISSERA, 2000).

A comunicao horizontal possibilita o entrosamento nos grupos de pares e de

mesmo nvel funcional, contribuindo para o aprimoramento da coordenao (TORQUATO

DO REGO, 2015). Segundo Faria e Suassuna (1982, p. 120), o fluxo horizontal permite que o

administrador alcance a coordenao de esforos, capaz de proporcionar a imprescindvel

sinergia, e o controle, por meio de comunicaes feitas por relatrios e grficos da infra para a

superestrutura.

Gaudncio Torquato do Rego (1986, p. 54) enfatiza:

Nos desenhos organizacionais mais autoritrios e hierrquicos, percebe-se uma

tendncia para se manter a informao como propriedade secreta de alguns grupos,

que, evidentemente, utilizam esse propriedade para controlarem os subalternos.

Kunsch (2003, p. 86) acrescenta os fluxos transversal ou longitudinal e o circular. A

comunicao transversal aquela que perpassa todas as instncias e variados setores.

Uma tendncia das organizaes orgnicas e flexveis permitir que a comunicao

ultrapasse as fronteiras tradicionais do trfego de suas informaes. Essas

organizaes, por incentivarem uma gesto mais participativa e integrada, criam

condies para que as pessoas passem a intervir em diferentes reas e com elas

interagir.

J o fluxo circular surge e se desenvolve em organizaes informais e favorece a

efetividade do trabalho.

Para viabilizar a comunicao com os variados pblicos, no nvel descendente, as

organizaes utilizam diversos instrumentos, conforme ser exposto a seguir.

5.2.3 Meios de comunicao nas organizaes

Os canais mais usados na comunicao descendente so: visuais escritos

(instrues, circulares, manuais, boletins, panfletos, jornais e outros), pictogrficos (pinturas,

fotografias, desenhos, diagramas e mapas), escrito-pictogrficos (cartazes, filmes mudos com

33

legenda, grficos, diplomas e certificados) e simblicos (luzes, bandeiras e flmulas e

insgnias); auditivos diretos (conversas, entrevistas, reunies e conferncias), indiretos

(telefone, rdio, intercomunicadores automticos e autofalantes) e simblicos (sirenes, apitos,

sinos e outros); audiovisuais (filmes, demonstraes, vdeo, videoconferncia e outros);

telemticos (internet, intranet, celulares e outros) e meio presencial direto (comunicao

participativa, como o teatro). Portanto, a maior parte da comunicao no mbito das

organizaes apoia-se em canais orais e escritos (TORQUATO DO REGO, 1986, p. 65;

KUNSCH, 2003, p. 87).

Na utilizao desses instrumentos, a organizao precisa estar atenta para evitar

rudos no processo de comunicao.

5.2.4 Barreiras na comunicao

No processo comunicacional, rudos podem interferir e comprometer a eficcia da

comunicao. Segundo Kunsch (2003), as barreiras mais comuns so de natureza mecnica,

fisiolgica, semntica e psicolgica. As barreiras mecnicas ou fsicas relacionam-se com os

aparelhos de transmisso que podem dificultar ou mesmo bloquear a comunicao. As

barreiras fisiolgicas decorrem de problemas genticos ou malformao de rgos vitais para

a comunicao. As barreiras semnticas so ocasionadas pelo uso inadequado da linguagem,

quando os cdigos e signos empregados no fazem parte do repertrio estabelecido em um

ambiente comunicacional. Por fim, as barreiras psicolgicas so os preconceitos e esteretipos

que prejudicam a comunicao. Esto relacionados a percepes equivocadas, a partir de

atitudes, crenas, valores e cultura da pessoa (KUNSCH, 2003).

No contexto das organizaes, a autora destaca quatro barreiras: pessoais,

administrativas, excesso de informaes e as informaes incompletas. As barreiras pessoais

dizem respeito personalidade de cada indivduo, como este se comporta no ambiente de

trabalho. As barreiras administrativas decorrem das formas como as organizaes atuam e

34

processam as informaes. A sobrecarga de informaes gerada pela falta de seleo e de

prioridade, o que prejudica a eficincia e a eficcia da comunicao. J as comunicaes

incompletas e parciais so provocadas por informaes fragmentadas, distorcidas ou

duvidosas (KUNSCH, 2003).

As consideraes ora expostas sobre comunicao no mbito das organizaes

representam, de forma sinttica, a base dos estudos sobre o tema. No prximo tpico sero

analisados aspectos relacionados comunicao em organizaes pblicas.

5.3 Comunicao Pblica

O conceito de comunicao pblica varia de acordo com o ponto de vista dos

estudiosos do assunto. Para Elizabeth Pazito Brando (2007), essa pluralidade de definies

demonstra que a expresso no um conceito claro, nem ainda uma rea profissional bem

delimitada.

A autora citada identificou o uso do termo em vrios campos do conhecimento e

agrupou-os em cinco reas. A primeira rea est associada atuao da comunicao

organizacional. Nesse enfoque, a comunicao pblica empregada ao lado dos conceitos

organizacionais: planejamento estratgico da comunicao nas instituies e definio dos

objetivos que orientam a atuao junto aos seus diversos pblicos, visando ao

desenvolvimento da sua imagem institucional. Para tanto, utilizam-se os variados

instrumentos e tcnicas de marketing e comunicao organizacional.

A segunda rea identifica a comunicao pblica com a comunicao cientfica.

Nesse campo, busca-se a aproximao da cincia com a sociedade, por meio das diversas

tecnologias de informao e divulgao do conhecimento. Nessa perspectiva, a comunicao

pblica pretende influenciar na mudana de hbitos da populao, bem como na tomada de

decises polticas sobre assuntos da cincia que impactam de forma direta na vida dos

cidados.

35

Na terceira rea, Brando (2007, p. 5) correlaciona a comunicao pblica com a

comunicao do Estado e/ou governamental. Nessa tica, a comunicao pblica

compreendida como um processo comunicativo das instncias da sociedade que trabalham

com a informao voltada para a cidadania. A autora destaca que a comunicao

governamental pode ser identificada como comunicao pblica na medida em que se torna

um instrumento de construo da agenda pblica, direcionando o governo para a prestao de

contas e, ao mesmo tempo, possibilitando a participao da populao nas polticas e nos

debates pblicos.

A quarta rea relaciona a comunicao pblica com a comunicao poltica. Brando

(2007) faz esse paralelo a partir de dois pontos de vista: o primeiro diz respeito expresso

dos partidos polticos e dos governos, na medida em que utilizam meios comunicacionais para

transmitir, na esfera pblica, seus ideais partidrios e posicionamentos polticos; j o segundo

refere-se mediao e discusso entre os detentores da tecnologia e dos veculos de

comunicao e a sociedade civil que busca interferir no acesso a essas tecnologias, bem

como na regulao e escolha do contedo. Nesse caso, cabe ao Estado a gesto desse dilogo

e a responsabilidade pelas questes concernentes s polticas pblicas de comunicao.

Por ltimo, a autora identifica a comunicao pblica com estratgias da sociedade

civil organizada. Nesse contexto, entende-se que o governo no o nico responsvel pela

definio das polticas pblicas. Aqui, a comunicao pblica utilizada como referncia a

uma prtica democrtica de comunicao, independente da grande indstria miditica e

comprometida com o cotidiano das populaes.

Brando (2007, p. 9) aponta um ponto em comum entre as diferentes interpretaes

da expresso comunicao pblica, que aquele relacionado participao dos atores

envolvidos Estado, governo e sociedade com o propsito de informar para a construo

da cidadania.

36

Para Graa Monteiro (2007), comunicao pblica divide-se em quatro modalidades:

1) comunicao institucional, responsvel por divulgar o papel das organizaes, prestando

contas de suas atividades; 2) comunicao governamental, praticada pelo governo, nas

diferentes esferas, para prestao de contas e estmulo da participao popular nas polticas;

3) comunicao poltica, relacionada aos processos eleitorais; e 4) comunicao pblica

propriamente dita, relacionada s obrigaes da instituio pblica, como informar o pblico,

apresentar e promover os servios de administrao e tornar conhecidas as instituies

interna e externamente.

Monteiro ressalta que a comunicao pblica no exclusiva das instituies

governamentais, feita tambm por movimentos sociais e organizaes do terceiro setor e

ainda por empresas privadas cujas aes sociais transcendem os limites dos negcios

privados (MONTEIRO, 2007, p. 39).

Para Matos (2007, p. 52), o conceito de comunicao pblica indissocivel dos

agentes envolvidos na comunicao.

Se historicamente este ou aquele agente possa ter se confundido com o processo

mesmo da comunicao pblica, como foi e continua sendo o caso do Governo e das

mdias, preciso superar este estgio, propondo um novo paradigma: a comunicao

pblica exige a participao da sociedade e seus segmentos.

Novelli (2006, p. 77), por sua vez, destaca a importncia da comunicao pblica

para o exerccio da participao popular e da cidadania. Nesse sentido, cabe comunicao

pblica extrapolar a esfera da divulgao de informaes do governo e da assessoria de

imprensa como mecanismo de autopromoo dos governantes e de suas aes para colocar-se

como instrumento facilitador do relacionamento entre cidado e Estado.

Ainda na percepo da autora, a comunicao pblica tem papel essencial para o

desempenho de uma boa administrao.

nessa perspectiva que Brando (2007, p. 24) conceitua comunicao pblica como

um processo que se instaura na esfera pblica entre o Estado, o Governo e que se prope a

37

ser um espao privilegiado de negociao entre os interesses das diversas instncias de poder

constitutivas da vida pblica no pas.

Na mesma linha, Duarte (2015, p. 2) considera que a comunicao pblica trata de

compartilhamento, negociaes, conflitos e acordos na busca do atendimento de interesses

referentes a temas de relevncia coletiva.

Conforme Duarte (2015, p. 2), comunicao governamental diz respeito a fluxos de

informao e padres de relacionamento que envolvem os gestores e a ao do Estado e a

sociedade. O Estado, nesse caso, compreendido como o conjunto das instituies ligadas

ao Executivo, Legislativo e Judicirio, incluindo empresas pblicas, institutos, agncias

reguladoras, rea militar e no deve ser confundido com governo.

Kunsch (2013) percebe a comunicao pblica como uma necessidade e uma

obrigao, tendo em vista que a razo de ser do servio pblico so o cidado e a sociedade.

Segundo a autora, preciso uma mudana cultural de mentalidade, tanto do servio pblico

quanto da sociedade, para resgatar a legitimidade do poder pblico. Kunsch (2013) aponta a

necessidade de as aes comunicativas contriburem para uma sociedade mais justa. Para

tanto, a autora ressalta que a comunicao deve ser vista como uma prioridade das instituies

pblicas; alm disso, os servidores pblicos e os gestores devem estar preparados e engajados

para uma comunicao proativa.

Para a melhoria da comunicao nas organizaes pblicas, Kunsch (2013) afirma

que preciso enfrentar algumas barreiras, tais como: os esteretipos sobre o servio pblico,

o culto excessivo burocracia, o ceticismo do servidor pblico, as ingerncias polticas, o

imediatismo e a improvisao das aes comunicativas, a falta de recursos financeiros e a

no-profissionalizao (cargos polticos).

De forma esquemtica, Torquato do Rego (2002) apresenta um roteiro para o

desenvolvimento da comunicao no mbito do servio pblico. O autor aponta dez funes:

38

1) comunicao como forma de integrao interna, visando dar conhecimento, motivar e

integrar setores para a consecuo de objetivos; 2) comunicao como forma de expresso de

identidade, para construir e resguardar a imagem e a credibilidade; 3) comunicao como base

de lanamento de valores; 4) comunicao como base da cidadania, para permitir o direito

informao; 5) comunicao como funo orientadora do discurso dos dirigentes; 6)

comunicao como forma de orientao aos cidados; 7) comunicao como forma de

mapeamento dos interesses sociais, a partir do estudo e planejamento; 8) comunicao como

forma de democratizao do poder, a partir do compartilhamento de mensagens; 9)

comunicao como forma de integrao social, para integrar as comunidades e uni-las em

torno de um ideal; e 10) comunicao como instrumento a servio da verdade, relacionada

tica.

O prximo segmento ser voltado para o estudo da comunicao integrada no mbito

das organizaes.

5.4 Comunicao Integrada

O conceito de comunicao integrada adotado por este estudo parte da concepo

terica desenvolvida por Margarida Kunsch (2003). Conforme a autora, a comunicao

integrada uma filosofia que direciona a convergncia das diversas reas, permitindo uma

atuao sinrgica (KUNSCH, 2003, p. 150).

Nessa perspectiva, a comunicao organizacional integrada pressupe uma juno

da comunicao institucional, da comunicao mercadolgica, da comunicao interna, e da

comunicao administrativa, que formam o mix, o composto da comunicao organizacional

(KUNSCH, 2003, p. 150).

Essa concepo procura ver a comunicao nas e das organizaes em uma viso

abrangente, considerando todos os aspectos relacionados com a complexidade do processo

comunicacional.

39

Torquato do Rego (2015, p. 17) entende que essencial uma coordenao

centralizada para a eficincia e a eficcia da comunicao no mbito das organizaes: o

importante procurar considerar a comunicao uma ao integrada de meios, formas,

recursos, canais e intenes.

Bueno (2002, p. 8), por sua vez, conceitua comunicao integrada como um

(...) conjunto articulado de esforos, aes, estratgias e produtos de comunicao,

planejados e desenvolvidos por uma empresa ou entidade, com o objetivo de agregar

valor sua marca ou de consolidar a sua imagem junto a pblicos especficos ou

sociedade como um todo.

Nessa direo, Kotler (2008, p. 42) esclarece que a comunicao integrada deve:

(...) reconhecer o valor agregado de um plano abrangente, avaliar os papis

estratgicos de uma variedade de disciplinas de comunicaes e combinar essas

disciplinas para fornecer clareza, consistncia e impacto mximo de comunicao

por meio da integrao de mensagens discretas.

Para Elen Geraldes (2014), a comunicao integrada pressupe que as vrias

habilitaes que compem a rea, com suas competncias e olhares especficos, devem

trabalhar em conjunto, agindo de forma transdisciplinar. Ainda segundo a autora, a

comunicao integrada pode ser vista de outro ponto de vista.

a indissociabilidade entre ttica, estratgia e polticas, constituindo uma

Comunicao que, alm de ser pautada pelo cenrio e suas exigncias, com um foco

na sustentabilidade, elabora seus produtos e processos a partir de valores, princpios,

identidade e memria (GERALDES, 2014, p. 138).

A comunicao integrada analisada por Oliveira e Paula (2007) pela tica das

interaes estabelecidas pela organizao com os seus interlocutores. As autoras propem um

modelo de comunicao dialgica, com fluxos planejados e espontneos, informacionais e

relacionais, da organizao com os diversos atores sociais. Nesse contexto, a nfase desloca-

se da convergncia de esforos para uma percepo da comunicao como um processo que

institui espaos comuns, em que ocorre o compartilhamento de significados e construo de

sentidos entre os interlocutores.

40

Kunsch (2003) utiliza um modelo mais didtico, o qual aponta as grandes reas da

comunicao organizacional integrada, que permitem a uma organizao interagir com os

seus pblicos-alvo e com a sociedade em geral, a partir de uma ao conjugada de esforos: a

comunicao administrativa, a comunicao interna, a comunicao mercadolgica e a

comunicao institucional.

A Figura 1 indica essa viso:

Figura 1 Comunicao Organizacional Integrada

Fonte: KUNSCH, 2003, p. 178.

A seguir sero apresentadas as caractersticas das reas desse composto da

comunicao organizacional integrada: comunicao administrativa, comunicao interna,

comunicao mercadolgica e comunicao institucional.

41

5.4.1 Comunicao administrativa

A comunicao administrativa aquela que se processa dentro da organizao e que

permite organizar o fluxo de informaes. Relaciona-se com os fluxos, os nveis e as redes

formal e informal de comunicao que permitem o funcionamento do sistema organizacional

(KUNSCH, 2003, p. 153). Pressupe, portanto, um contnuo processo para que a organizao

possa planejar, administrar e gerenciar os seus recursos, visando ao alcance de seus objetivos.

A comunicao administrativa abrange todos os contedos do cotidiano da

administrao da organizao, buscando atender s reas centrais de planejamento e s

estruturas tcnico-normativas (TORQUATO DO REGO, 2002).

Segundo Charles Redfield (1980), a comunicao administrativa composta por

cinco elementos: (1) um comunicador, que (2) transmite (3) mensagens a um (4) destinatrio

visando a influenciar o comportamento deste, conforme comprovar a sua (5) resposta. Em tal

processo, segundo Torquato do Rego (2002), falhas e distores so comuns, devido ao

desconhecimento do sistema, profuso dos centros emissores de comunicao e carncia

de profissionais qualificados para tratar e administrar os elos da cadeia. Nesse sentido, Lupetti

(2009) afirma que preciso haver um gestor da comunicao administrativa, com amplo

conhecimento sobre o sistema organizacional e o sistema de comunicao, para orientar e

administrar os diferentes setores, gerando unificao, clareza e objetividade na construo das

mensagens.

Embora a comunicao administrativa esteja diretamente relacionada ao

funcionamento da organizao, no deve ser confundida com a comunicao interna, a qual

ser apresentada a seguir.

5.4.2 Comunicao interna

A comunicao interna aquela responsvel pela interao entre a organizao e

seus empregados. Desenvolve-se paralelamente comunicao administrativa, compondo

42

com as outras reas do processo comunicacional a integrao da comunicao no mbito

organizacional (KUNSCH, 2003).

Kunsch (2003, p. 159-160) refora o carter estratgico da comunicao interna.

A importncia da comunicao interna reside, sobretudo, nas possibilidades que ela

oferece de estmulo ao dilogo e troca de informaes entre a gesto executiva e a

base operacional, na busca da qualidade total dos produtos ou servios e do

cumprimento da misso de qualquer organizao.

Assim, o investimento em comunicao interna traz, como retorno, maior

participao e mobilizao dos funcionrios, pois o pblico interno um pblico

multiplicador (KUNSCH, 2003, p. 159).

Nessa mesma direo, Torquato do Rego (2002) afirma que a comunicao interna

busca contribuir para o desenvolvimento e a manuteno de um clima positivo, propcio ao

cumprimento das metas estratgicas da organizao, ao crescimento continuado de suas

atividades e servios e expanso de suas linhas de produtos.

A comunicao interna, dessa forma, estimula o dilogo, a troca de informaes

entre os diferentes nveis hierrquicos, a manifestao de ideias e o sentimento de integrao

ao trabalho. Entretanto, para que a comunicao alcance os seus objetivos, devem ser

observados alguns aspectos, relacionados com polticas, estratgias, qualidade, contedo e

linguagem, pessoal e uso de novas mdias com adequao das inovaes tecnolgicas

(KUNSCH, 2003, p. 160).

Lupetti (2009) destaca que a comunicao interna voltada a todos os colaboradores

e tem como finalidade propiciar a integrao entre eles, compatibilizando os interesses dos

funcionrios aos da organizao.

5.4.3 Comunicao mercadolgica

Na sequncia do composto da comunicao organizacional integrada, a comunicao

mercadolgica apontada por Kunsch (2003) como aquela responsvel pela produo

43

comunicativa relacionada aos objetivos mercadolgicos, objetivando a divulgao publicitria

dos produtos ou servios da organizao.

A comunicao mercadolgica est diretamente relacionada rea de marketing,

responsvel por estabelecer os parmetros e fornecer os subsdios necessrios para toda a

criao e organizao da comunicao mercadolgica (KUNSCH, 2003, p. 162). Lupetti

(2009) ressalta que a comunicao mercadolgica envolve qualquer forma de comunicao

capaz de atingir um objetivo de marketing.

Torquato do Rego (2002, p. 168) relaciona o conceito de marketing ao contexto do

processo comunicacional, ao afirmar que marketing um conjunto de atividades voltadas a

promover relaes de trocas entre um emissor e um receptor, no momento certo, por meio de

canais adequados e mensagens apropriadas que atinjam o foco de interesses dos segmentos-

alvo.

Na mesma linha, Pinho (2006, p.40) define a comunicao mercadolgica como

aquela projetada para ser persuasiva, para conseguir um efeito calculado nas atitudes e/ou

comportamento do pblico visado. O autor acrescenta que esse tipo de comunicao

desenvolvido pelas relaes pblicas e pela publicidade e propaganda.

Para Kotler e Keller (2006, p. 533), a comunicao de marketing permite s

empresas conectar suas marcas a outras pessoas, lugares, eventos, marcas, experincias,

sensaes e objetos.

5.4.4 Comunicao institucional

A comunicao institucional aquela responsvel pela construo e pelo

fortalecimento da identidade corporativa, por meio da gesto estratgica das relaes pblicas.

Ressalta aspectos relacionados com a misso, a viso, os valores e a filosofia da organizao

e contribuindo para o desenvolvimento do subsistema institucional, compreendido pela juno

desses atributos (KUNSCH, 2003, p. 164-165).

44

A misso, a viso e os valores da organizao compem a identidade corporativa. Na

concepo de Kunsch (2003, p. 241), a misso o conceito da organizao em si, sua razo

de ser, de existir. Ianhez (2006, p. 102) complementa: a expresso de um compromisso

compartilhado. J a viso, representa o posicionamento futuro que a organizao quer

assumir, ou seja, como quer ser vista pelos pblicos a ela vinculados (KUNSCH, 2003);

um guia para se determinar o nvel de ambio da organizao e uma seta indicativa para

qualquer planejamento (IANHEZ, 2006, p. 104). Por fim, os valores traduzem as

convices filosficas dos principais dirigentes e os atributos que acreditam que a

organizao deva ter como princpio para direcionar suas atividades; so um conjunto de

traos culturais, institucionais e de atitudes definidos de maneira sistemtica ou em sua

coerncia interna na busca do alcance dos objetivos da empresa (YANAZE, 2011, p. 458).

Para Torquato do Rego (1985, p. 183), a comunicao institucional tem o objetivo de

conquistar simpatia, credibilidade e confiana, realizando, como meta finalista, a influncia

poltico-social.

A comunicao institucional formada por subreas ou instrumentos que

convergem para formatar uma comunicao da organizao em si, como sujeito institucional,

perante seus pblicos, a opinio pblica e a sociedade em geral (KUNSCH, 2003, p. 166).

Esses instrumentos, segundo a autora, so: as relaes pblicas (a quem cabe

gerenciar a comunicao institucional), o jornalismo empresarial, a assessoria de imprensa, a

publicidade/propaganda institucional, a imagem e a identidade corporativa, o marketing

social, o marketing cultural e a editorao multimdia.

Conforme exposto, a comunicao organizacional integrada compreende um

processo global de comunicao, com o propsito de nortear e orientar toda a comunicao

que gerada na organizao, como um fator estratgico para o desenvolvimento

organizacional na sociedade (KUNSCH, 2003, p. 179).

45

Kunsch (2003, p. 180) ressalta que a importncia da comunicao integrada tem seu

princpio no fato de permitir que se estabelea uma poltica global, em funo de uma

coerncia maior entre os diversos programas comunicacionais, de uma linguagem comum a

todos os setores e de um comportamento organizacional homogneo. Alm disso, segundo a

autora, evita a sobreposies de tarefas.

Por meio de um sistema integrado, os vrios setores de comunicao de uma

organizao podem coordenar esforos, visando alcanar os objetivos gerais, respeitando os

objetivos especficos de cada setor (KUNSCH, 2003; LUPETTI, 2009).

Dessa forma, evidencia-se a necessidade de as organizaes conceberem e

executarem planos, projetos e programas de forma articulada atentando para a comunicao

institucional, administrativa e mercadolgica , uma vez que as estratgias comunicacionais

envolvem todos os integrantes e setores da organizao. Assim, a administrao dessa

integrao depende do planejamento das aes, o qual ser objeto de anlise na prxima

seo.

5.5 Planejamento

O planejamento envolve a seleo de objetivos e diretrizes, programas e

procedimentos a serem desenvolvidos, tanto para a organizao como um todo, quanto para

cada departamento (KOONTZ; ODONNELL, 1973). Nessa mesma linha, Megginson et al.

(1998) definem o planejamento como o processo de estabelecer objetivos ou metas,

determinando a melhor maneira de atingi-las.

Albuquerque (1981, p. 13) entende o planejamento como um conjunto de estudos,

pesquisas, levantamentos, projetos, programas, que visam possibilitar uma interveno sobre

a realidade que se quer modificar. J para Ackoff (1978), o planejamento busca tanto evitar

aes incorretas, quanto reduzir a frequncia dos fracassos, ao se explorar as oportunidades.

46

O planejamento pode ser considerado, portanto, como um processo desenvolvido

para o alcance de uma situao desejada de um modo mais eficiente, eficaz e efetivo, com a

melhor concentrao de esforos e recursos (OLIVEIRA, D., 2003).

Faz-se necessrio esclarecer a diferena entre eficincia, eficcia e efetividade.

Eficincia significa fazer bem-feito, de maneira adequada, com reduo de custos,

desempenho competente e rendimento tcnico. Eficcia liga-se a resultados em

funo dos quais preciso escolher alternativas e aes corretas, usando para tanto

conhecimento e criatividade para fazer o que mais vivel e certo. Efetividade

relaciona-se com a permanncia no ambiente e a perenidade no tempo, no contexto

da obteno dos objetivos globais (KUNSCH, 2003, p. 205).

O processo de planejamento interfere na realidade para transform-la e constru-la

com as caractersticas que se deseja, por meio de planos, programas e projetos (GANDIN,

2000). tambm um processo poltico, pois depende de deciso poltica dos grupos

envolvidos e da articulao desses grupos (BAPTISTA, 2000).

Kunsch (2003, p. 207) adverte que o planejamento vai alm de um processo

mecnico, de saber o que fazer, de que modo e com que recursos. Trata-se de um processo

complexo e abrangente, que exige conhecimentos, criatividade, anlises conjunturais e

ambientais, alm de aplicativos instrumentais tcnicos.

De forma sinttica, baseado em Dias (1982), possvel apontar as principais

vantagens da utilizao do planejamento nas organizaes: a) possibilita a coordenao de

esforos e a maximizao dos recursos; b) faz com que a organizao perceba a sua prpria

razo de existir; c) permite aferir se est perseguindo os objetivos propostos; d) aumenta o

nvel de interao entre as pessoas da organizao; e) amplia as perspectivas dos dirigentes,

que assim podem encontrar novas ideias sobre oportunidades a serem exploradas.

O planejamento pode ser dividido em trs tipos: planejamento estratgico,

planejamento ttico e planejamento operacional (OLIVEIRA, D., 2003).

O planejamento estratgico a mais importante etapa que uma organizao pode

desenvolver (TAVARES, 2010), na medida em que cria as condies para que a organizao

47

decida de forma rpida diante de oportunidades e riscos (MOREIRA, PASQUALE; DUNER,

2003). Ocupa o topo da pirmide da organizao, caracteriza-se como de longo prazo e est

presente em toda a organizao (OLIVEIRA, D., 2003). Pode ser visto como uma tcnica

administrativa que, por meio da anlise do ambiente, identifica os pontos fortes e fracos para

o cumprimento da misso organizacional e, dessa forma, estabelece o propsito de direo

que a organizao dever seguir para aproveitar as oportunidades e evitar riscos

(FISCHMAN; ALMEIDA, 1991, p. 25).

Conforme Kunsch (2009, p. 111), a concepo de planejamento estratgico est

associada administrao estratgica e ao pensamento estratgico.

A administrao estratgica alia o planejamento estratgico com a tomada de

deciso operacional em todos os nveis. Implica a mudana de atitudes na cpula,

nas condutas externas e nos participantes do processo. Desenvolve o esprito crtico

nas pessoas, visando a novas solues estratgicas, administrativas ou operacionais,

voltadas para melhor adaptao ao ambiente, e objetivando uma postura

empreendedora.

Vale frisar que, no que diz respeito ao planejamento estratgico, a natureza da

organizao precisa ser considerada. Em organizaes pblicas, h a busca pela valorizao

social dos bens e servios produzidos pela instituio; j em organizaes privadas, o foco a

conquista de vantagens competitivas (CASTRO; LIMA; BORGES-ANDRADE, 2005).

O planejamento ttico criado em nveis organizacionais inferiores com a finalidade

de usar recursos disponveis para alcanar os objetivos esperados (OLIVEIRA, D., 2003).

Caracteriza-se por um impacto de mdio prazo e abrange determinados setores da

organizao, normalmente acontece no nvel gerencial, com a finalidade de decidir e

operacionalizar as grandes decises estratgicas tomadas pela alta administrao

(FERNANDES; BERTON, 2005). Busca atender a demandas imediatas, por meio de aes

administrativas (KUNSCH, 2003).

J o planejamento operacional um plano de curta durao, com o objetivo de

controlar as rotinas de uma unidade da organizao (TAVARES, 2010), por meio de

48

documentos escritos, metodologias e implantao (OLIVEIRA, D., 2003). As decises

operacionais ocorrem no cotidiano das organizaes, estabelecendo uma ligao entre

decises tticas e estratgicas e seu impacto se d no curto prazo, afetando apenas

determinados setores ou reas especficas da organizao (FERNANDES; BERTON, 2005).

De modo que essa forma de planejamento controla a execuo e busca corrigir os desvios

quanto s aes propostas (KUNSCH, 2003).

O Quadro 1 apresenta as diferenas entre esses trs nveis de planejamento.

Quadro 1 Diferenas entre os nveis de planejamento

Estratgico Ttico Operacional

Prazo Longo prazo Mdio prazo Curto prazo

Amplitude Todo Parcial Local

Riscos Maiores Menores do que o estratgico e

maiores do que

o operacional.

Menores

Atividades Fins e meios Meios Meios

Flexibilidade Menor Maior do que o estratgico e

menor do que

o operacional.

Maior

Fonte: OLIVEIRA, D. (2003, p. 48).

Esses trs tipos de planejamento coexistem; podem at ser examinados de forma

separada, mas, na prtica, ocorrem conjuntamente e so inseparveis (ACKOFF, 1978).

A seguir sero analisados e aplicados os conceitos sobre planejamento no contexto

da comunicao organizacional, para, ento, dar incio ao estudo da comunicao nas IES

pblicas, mais especificamente na UnB.

5.5.1 Planejamento estratgico aplicado comunicao organizacional

Independentemente da filosofia de comunicao adotada por uma organizao, o

planejamento revela-se fundamental para o enfrentamento dos desafios, bem como para o

aproveitamento de oportunidades de comunicao (ALBUQUERQUE, 1981).

49

Vasconcelos (2009, p. 15) afirma que a busca por resultados pressupe a superao

de obstculos e a escolha da melhor estratgia para alcan-los. Portanto, planejar a

comunicao buscar a soluo de problemas, a partir da compreenso das dificuldades e dos

desafios em dado contexto (VASCONCELOS, 2009).

Na mesma linha, Kunsch (2003) aponta a necessidade de a organizao moderna

planejar, administrar e pensar estrategicamente a sua comunicao, para, assim, enfrentar os

inmeros desafios da complexidade contempornea.

No basta pautar-se por aes isoladas de comunicao, centradas no planejamento

ttico, para resolver questes, gerenciar crises e gerir veculos comunicacionais, sem

uma conexo com a anlise ambiental e as necessidades do pblico, de forma

permanente e estrategicamente pensada (KUNSCH, 2003, p. 245).

Cardoso (2006) tambm aponta a necessidade de se compreender a estratgia

organizacional como um processo de emergncia estratgica.

No mais possvel conceber e executar planos, projetos e programas isolados de

comunicao institucional, mercadolgica, de administrao interna ou externa, pois

uma estratgia comunicacional integra todos os setores da organizao e envolve

todos os seus participantes (CARDOSO, 2006, p. 1.140).

Por meio da constante ateno aos ambientes interno e externo, o planejamento

estratgico orienta as decises sobre a misso, os objetivos, as metas e as estratgias da

organizao (ARAJO, 1996). Portanto, os profissionais da rea precisam atentar para as

oportunidades e os riscos do macroambiente (TORQUATO DO REGO, 2015).

Vasconcellos Filho e Fernandes (1982) apresentam diversas vantagens do

planejamento estratgico: possibilita o comportamento sinrgico das reas funcionais da

organizao e a integrao com o ambiente; torna a organizao proativa; orienta o processo

decisrio; estimula a descentralizao do processo de planejamento; favorece a adequao de

modelos organizacionais aos diversos contextos ambientais e orienta o desenvolvimento dos

planejamentos ttico e operacional.

50

Torquato do Rego (2015) apresenta algumas estratgias para a comunicao no

mbito das organizaes, entre as quais: planejar a comunicao de maneira sinrgica e

integrada, envolvendo os recursos comunicativos e as comunicaes grupais e interpessoais;

abrir e tornar mais equilibrados os fluxos de comunicao; valorizar e enfatizar canais

participativos de comunicao; estabelecer uma identidade transparente e forte para projeo

externa; criar uma linguagem sistmica e uniforme, estabelecendo condies para uso e

desenvolvimentos dos canais de comunicao; valorizar o pensamento criativo e acreditar na

comunicao como um poder organizacional, identificando-a como investimento, no como

despesa.

No sentido de viabilizar o planejamento estratgico de comunicao no mbito das

organizaes, Kunsch (2003) prope os seguintes princpios: a) cultura de planejamento do

pensamento estratgico o planejamento estratgico deve ser percebido como um

instrumento capaz de direcionar as atividades da organizao, visando alcanar os resultados

pretendidos. Isso implica que a organizao precisa estar atenta para criar e manter uma

cultura de valorizao do planejamento estratgico; b) rea de comunicao subordinada

cpula diretiva e participante da gesto estratgica a rea de comunicao precisa ter sua

importncia reconhecida e ocupar espao estratgico na estrutura organizacional, sendo

subordinada alta direo e participando efetivamente da gesto estratgica; c) capacitao

profissional o responsvel pela comunicao e da equipe precisa ter a capacitao adequada

para pensar a comunicao organizacional de forma estratgica; d) valorizao de uma cultura

organizacional corporativa a organizao moderna precisa estimular o envolvimento das

pessoas no processo de formulao do planejamento estratgico, dando-lhes oportunidade de

equacionar as causas dos pontos fracos e fortes da comunicao organizacional integrada.

O planejamento estratgico em comunicao depende, portanto, de que esses quatro

princpios sejam colocados em prtica no mbito da organizao.

51

Para Duarte e Monteiro (2009), a gesto da comunicao organizacional deve ser

assumida por todos os seus membros, e no apenas pela cpula diretiva da organizao. Para

esses autores, a comunicao organizacional precisa ser estimulada de forma permanente por

seus agentes.

Para um gestor de comunicao, o primeiro passo talvez seja transformar a

comunicao de uma arte, de