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Comunicado Técnico 78 ISSN 1679-0162 Novembro, 2003 Sete Lagoas, MG 1 Eng. Agr., PhD, Entomologia, Embrapa Milho e Sorgo Caixa Postal 151 CEP 35 701-970 Sete Lagoas, MG. E-mail: [email protected] Controle de pragas de grãos de sorgo armazenados Jamilton Pereira dos Santos 1 Uma característica positiva dos grãos de sorgo é a possibilidade de serem armazenados por longo período de tempo, sem perdas significativas da qualidade. Sobre o ambiente dos grãos de sorgo armazenados exercem grande influência fatores como características da cultivar, temperatura, umidade, arejamento, microorganismos, insetos e pássaros. As principais pragas do grão de sorgo armazenado são o gorgulho, Sitophilus zeamais (Figura 1) e a traça dos cereais, Sitotroga cerealella (Figura 2). Além destes, eventualmente, ocorrem o rizoperta, Rhyzopertha dominica (Figura 3) e o tribólio, Tribolium castaneum (Figura 4). Eles podem ocorrer em qualquer sistema de armazenagem de sorgo. Figura 1 Figura 2

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ComunicadoTécnico

78ISSN 1679-0162Novembro, 2003Sete Lagoas, MG

1 Eng. Agr., PhD, Entomologia, Embrapa Milho e Sorgo Caixa Postal 151 CEP 35 701-970 Sete Lagoas, MG. E-mail: [email protected]

Controle de pragas de grãosde sorgo armazenados

Jamilton Pereira dos Santos1

Uma característica positiva dos grãos de sorgoé a possibilidade de serem armazenados porlongo período de tempo, sem perdassignificativas da qualidade. Sobre o ambientedos grãos de sorgo armazenados exercemgrande influência fatores como característicasda cultivar, temperatura, umidade,arejamento, microorganismos, insetos epássaros. As principais pragas do grão desorgo armazenado são o gorgulho, Sitophiluszeamais (Figura 1) e a traça dos cereais,Sitotroga cerealella (Figura 2). Além destes,eventualmente, ocorrem o rizoperta,Rhyzopertha dominica (Figura 3) e o tribólio,Tribolium castaneum (Figura 4). Eles podemocorrer em qualquer sistema de armazenagemde sorgo.

Figura 1

Figura 2

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Figura 3

Figura 4

Importância da cultivar na preservação daqualidade do sorgo

De modo geral, as cultivares que produzemgrãos mais duros são mais resistentes aoataque de pragas. Fatores como a dureza dogrão e a concentração em ácidos fenólicossão preponderantes para a menor incidênciade pragas, as quais iniciam o ataque nocampo, mas é no armazém que se multiplicamem grande número e causam os maioresdanos.

Efeito da temperatura e umidade napreservação da qualidade

A temperatura e a umidade dos grãosconstituem elementos determinantes naqualidade, porque influenciam na ocorrênciade insetos e fungos durante oarmazenamento. A maioria das espécies deinsetos e de fungos reduz sua atividadebiológica a 15 oC. A aeração, que consiste em

forçar a passagem de ar através da massa degrãos, constitui uma operação fundamentalpara baixar e uniformizar a temperatura damassa de grãos armazenados. O teor deumidade do grão é outro ponto crítico paraum armazenagem de qualidade. Grãos comaltos teores de umidade tornam-se muitovulneráveis a serem colonizados por altaspopulações de insetos e fungos. Para umaarmazenagem segura, é necessário secar ogrão, forçando a passagem do ar aquecidoatravés da massa de grãos ou secando-o comar natural. Embora o fluxo de ar durante aaeração seja tão baixo a ponto de não reduzira umidade do grão (quando realizado àtemperatura natural), deve-se ter cuidado,porque uma aeração excessiva poderá reduziro teor de umidade e, conseqüentemente, opeso. O desenvolvimento de insetos e fungosacelera rapidamente sob as condições ideaisde temperatura e umidade, impondo limitesno tempo para uma armazenagem segura.

Grãos com umidade adequada euniformemente distribuída por toda a massapodem permanecer armazenados comsegurança por longo período de tempo.Quando não houver aeração, a umidade migrade um ponto para outro. Essa movimentaçãoda umidade ocorre em função de diferençassignificativas na temperatura dentro da massade grãos, provocando correntes de convecçãode ar, criando pontos de alta umidade relativae alto teor de umidade no grão e,conseqüentemente, pontos com condiçõesambientais favoráveis para o desenvolvimentode insetos e fungos. Portanto, a aeraçãoexerce uma função essencial tanto paramanter a temperatura e a umidade no pontodesejado quanto para uniformizar e distribuiresses fatores na massa de grãos. Conclui-se,portanto, que a estabilidade da umidade e atemperatura são fundamentais para o controlepreventivo da ocorrência de insetos e fungos.

Efeito da aeração na preservação daqualidade

A aeração tem sido usada para inibir odesenvolvimento de insetos e fungos. A

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aeração pode reduzir a temperatura da massade grãos a um valor que inibe a multiplicaçãodesses organismos, conforme observouSutherland (1968) e Reed et al. (2000).Porém, alguns insetos e fungos são maisadaptados às condições de temperaturas maisbaixas e o efeito da aeraçãoapenas, não écapaz de reprimir o desenvolvimentopopulacional de algumas espécies. Pesquisasrealizadas com milho, por Arthur e Throne(1994), utilizando um processo contínuo deaeração, demonstraram que populações deSitophilus zeamais e Tribolium castaneumforam significativamente reduzidas nos silossubmetidos a aeração. Eles tambémobservaram uma perda de eficiência maisrápida do inseticida aplicado no silo nãosubmetido a aeração do que no silo aerado. Aaeração reduz substancialmente a ocorrênciade fungos.

A aeração deve ser realizada quando atemperatura do ar estiver mais baixa e o arestiver mais seco. Ela pode ser realizada deforma contínua ou em intervalos de tempodeterminado, considerando-se faixas detemperatura ideal, ou mesmo baseando-se nadiferença entre a temperatura do ar ambientee temperatura dos grãos.

Monitoramento e amostragem naprevenção da infestação

Monitorar significa obter o registro poramostragem da ocorrência de insetos, ou deoutro organismo, com freqüência previamentedefinida, ao longo de um período de tempo esob determinadas condições ambientais.Qualquer fator que influencia namovimentação dos insetos afeta aamostragem e, portanto, deve ser registrado.A magnitude dos efeitos dependeprincipalmente da espécie de inseto a sercapturada, da temperatura, do tipo e umidadedo grão. Portanto, amostragem é o pontocrítico de qualquer programa demonitoramento visando um controle de pragasem grãos armazenados. Existem diversos tiposde armadilhas que se mostram eficientes paradetectar a presença de insetos adultos.

Ações para prevenir e/ou controlar aspragas

Além da observância de aspectos importantescomo a escolha da cultivar, colher nomomento adequado, de promover a limpezados armazéns, ainda existem outras práticasque contribuem para prevenir a ocorrência depragas.

Higienização espacial

a) Para prevenir e controlar a infestação, épreciso conhecer onde os insetos ocorrem ouse escondem. Levantamentos têmdemonstrado que a maioria das unidadesarmazenadoras vazias são infestadas porinsetos de diferentes espécies e por ácaros.Alimentos para animais, como rações, eequipamentos agrícolas, como carretastransportadoras de grãos, constituem outrasfontes de infestação.

Muitos insetos são dotados de grandecapacidade de vôo, o que aumenta suacondição de infestar os grãos armazenados.Para evitar maiores problemas durante aarmazenagem, algumas medidas preventivasdevem ser tomadas:

* Promover uma boa limpeza dos grãosantes de serem armazenados, isto porque osinsetos têm mais dificuldades de infestargrãos limpos;

* Limpar toda a estrutura, de preferênciautilizando jatos de ar para desalojar a sujeiradas paredes e dos equipamentos, e recolhertodo o material fino com aspirador de pó;

* Inspecionar todo o teto e consertar todae qualquer possibilidade de goteira antes decarregar o silo ou armazém;

* Não permitir acúmulo de lixo, dentro oumesmo fora da unidade armazenadora;

* Pulverizar as paredes, tetos e piso deunidades armazenadoras vazias com produtoinseticida registrado e aprovado tecnicamentepara essa finalidade;

* Monitorar a temperatura da massa degrãos, a umidade do grão e a presença dosinsetos em pontos críticos do silo;

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* Somente armazenar grãos de safra novaem estrutura vazia e que tenha passado poruma higienização geral e nunca misturar grãonovo com grão velho;

* Lembrar sempre que grãos submetidos aaeração programada ou, melhor ainda, serefrigerados nunca se deterioram.

Pesquisas visando testar a eficiência dediferentes inseticidas, aplicados sobresuperfícies de diferentes naturezas, bem comovisando avaliar o efeito residual em operaçõesde higienização espacial, indicaram grandeeficiência dos produtos Deltametrina 2,5 CE,Pirimiphos metil 50 CE e Bifentrina 25 CE,quando aplicados sobre superfície de madeira,alvenaria, cerâmica, tecido de algodão, dejuta, de plástico trançado, de papel (tiposacaria de semente) (Figura 5).

Controle de pragas em diversas formas dearmazenamento

O controle preventivo é praticado antes ouimediatamente após os grãos seremarmazenados. Ele tem o objetivo de evitar amultiplicação dos insetos dentro do silo, doarmazém, em cujas estruturas, pelas suascaracterísticas ou estado de conservação, nãoreúnem condições para que nelas sejautilizado um método curativo de controle depragas.

Armazenamento do sorgo a granel

O armazenamento de sorgo, em estruturascom sistemas de termometria e aeraçãoforçada, é o método que permite melhorqualidade do produto. Para ter sucesso nessetipo de armazenamento, é necessário procederà limpeza e secagem dos grãos, aeração econtrole das pragas.

Figura 5

b) A nebulização é uma prática que consistena aplicação de um inseticida na forma demicropartículas que são lançadas numacorrente de fumaça produzida por umequipamento (Figura 6) que queima óleomineral, produz e lança no ambiente um jatode fumaça (Figura 7). Essa fumaça, de baixadensidade, carrega as micropartículas deinseticida para os pontos mais altos daunidade armazenadora, onde normalmentenão são atingidos por pulverização. Esse tipode tratamento visa controlar, especialmente,os insetos voadores, como as mariposas, quese alojam nos pontos mais altos da unidadearmazenadora. A dose do inseticida naoperação de nebulização é calculada emfunção do volume (m3) de espaço interno daestrutura que será ocupada pela fumaça. ATabela 1 indica doses para alguns inseticidas.

Figura 6

Figura 7

Tabela 1. Dose e tempo de exposição recomendados paraexpurgo com fosfina.

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Silos para armazenamento a granel podem serconstruídos com chapas metálicas ou deconcreto (Figura 8). São grandes estruturasposicionadas verticalmente, cuja altura excedea base numa relação superior a 2:1. Essasestruturas devem, necessariamente, ser muitobem vedadas, para permitirem o combate dosinsetos, através do método de fumigação,utilizando gases tóxicos, como a fosfina.Devem possuir também sistema determometria e aeração forçada.

uniformizar a mistura do inseticida (Figura 11),durante o enchimento do silo. Para a corretautilização dos silos graneleiros horizontais,recomenda-se remover todo o estoque noinício da safra e promover uma higienizaçãototal da estrutura, a fim de receber os grãosda nova safra - não misturar grãos velhos comgrãos novos na mesma célula armazenadora.

Figura 8

Há outra modalidade de silos, denominada desilos graneleiros horizontais (Figura 9). Elespossuem grandes dimensões na base, porémcom altura baixa. São dotados de sistema determometria e aeração forçada, porém não sãovedáveis adequadamente para neles se realizaro expurgo com fosfina. Na verdade, são muitoabertos e, portanto, não permitem o usoeficaz da fosfina ou outro gás fumigante,como método de combate aos insetos.Portanto, a realização de fumigação em silosgraneleiros horizontais é uma operaçãoineficiente e de alto risco e, por isso, deve serevitada.

Figura 9

Nesse caso, as pragas devem ser combatidasde forma preventiva, pela aplicação de umasolução inseticida sobre os grãos na correiatransportadora, da mesma forma que se fazcom o milho (Figura 10), dotada de paletas(tombadores), para revolver os grãos e

Figura 10

Figura 11

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Comitê dePublicações

Presidente: Ivan CruzSecretário-Executivo: Frederico Ozanan Machado DurãesMembros: Antônio Carlos de Oliveira, Arnaldo Ferreira daSilva, Carlos Roberto Casela, Fernando Tavares Fernandese Paulo Afonso Viana

Expediente Supervisor editorial: José Heitor VasconcellosRevisão de texto: Dilermando Lúcio de OliveiraEditoração eletrôncia: Tânia Mara Assunção Barbosa

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Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:Embrapa Milho e SorgoCaixa Postal 151 CEP 35701-970 Sete Lagoas,MGFone: 0xx31 3779 1000Fax: 0xx31 3779 1088E-mail: [email protected]

1ª edição1ª impressão (2003) Tiragem: 200

Armazenamento em sacaria

O armazenamento de sorgo em sacaria, emarmazéns convencionais, pode ser empregadocom sucesso, desde que as estruturasarmazenadoras atendam às condiçõesmínimas. O sorgo deve estar seco (13-13,5%de umidade) e deve haver boa ventilação naestrutura. O piso deve ser concretado,cimentado, com a cobertura perfeita e comproteção anti-ratos. As pilhas de sacos devemser erguidas sobre estrados de madeira e

Tabela 2. Orientação sobre o uso de alguns inseticidas para controle ou prevenção contra pragas de grãos armazenados.

afastados das paredes. O combate aos insetosdeve ser realizado através de expurgoperiódico, iniciando-o, de forma preventiva,logo após o ensacamento, e repetindo-o acada três meses (Tabela 2). Recomenda-setambém uma pulverização externa das pilhasde sacos, bem como de toda a estrutura,seguindo as concentrações sugeridas naTabela 1, como forma de prevenir areinfestação.