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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716 Arruda, Zanin, Kobayashi. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 1(gt14):1-20 Comunicação pública e divulgação científica em parques tecnológicos do Brasil GT 14 - Desafios e perspectivas para políticas de CT&I no Brasil Adriana Gonçalves Arruda Maria Zanin Elizabete Mayumy Kobayashi Resumo: Os parques tecnológicos do Brasil são empreendimentos que visam criar um ambiente de sinergia entre diversos agentes – empresas, universidades, laboratórios, centros de pesquisa, empreendedores, governo e cidadãos – para fortalecer a ciência, tecnologia e inovação (CT&I) por meio de parcerias entre instituições públicas e privadas, trazendo produtos, processos e serviços que beneficiem diretamente a sociedade e, assim, impulsionar o desenvolvimento socioeconômico do País. Partindo do pressuposto de que estes parques devam realizar uma comunicação pública democrática e uma divulgação científica que consiga ser acessível e disseminada aos seus diversos públicos, especialmente o cidadão, este trabalho tem como objetivo promover uma reflexão sobre a importância da Comunicação Pública da Ciência (CPC) nestes parques tecnológicos – tendo em vista que estes empreendimentos são geralmente geridos por instituições públicas ou organizações sociais e, principalmente, recebem investimentos públicos para a concretização destas parcerias. A publicação tem como objetivo geral conceituar e caracterizar os parques tecnológicos brasileiros – enfatizando, principalmente, seu papel como agente inovador na sociedade – e refletir como sua divulgação científica poderia se aproximar aos critérios estabelecidos de produção da informação fornecidos pelos Estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e, consequentemente, se relacionando ao modelo democrático de comunicação pública previamente estipulada pela literatura, que caracteriza uma comunicação bidirecional, participativa e que traz a democratização do conhecimento. Para promover esta discussão e sugerir possíveis ações para que a comunicação pública atinja, de fato, o público leigo, o trabalho utiliza, como aporte metodológico, pesquisas bibliográficas e de campo, bem como análise de conteúdo, que ajudam a entender a importância da comunicação pública e da divulgação científica em ambientes que envolvem CT&I. Trata-se de uma pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa de dados. Os resultados deste trabalho identificaram que a divulgação da ciência feita nos parques tecnológicos ainda se aproxima de um modelo de déficit da CPC, sendo, portanto, unidirecional e pouco efetiva ao cidadão. Ainda sugerem que a divulgação da ciência feita nos parques tecnológicos resulte em uma comunicação compatível com o que os Estudos CTS recomendam numa divulgação científica. As reflexões poderão, ainda, contribuir para os estudos em comunicação pública da ciência, divulgação científica em ambientes de inovação e na percepção de políticas públicas de CT&I. Palavras-chave: Comunicação Pública; Divulgação Científica; Parques Tecnológicos; Inovação Tecnológica; Estratégias de Comunicação

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Comunicação pública e divulgação científica emparques tecnológicos do Brasil

GT 14 - Desafios e perspectivas para políticas de CT&I no Brasil

Adriana Gonçalves ArrudaMaria Zanin

Elizabete Mayumy Kobayashi

Resumo: Os parques tecnológicos do Brasil são empreendimentos que visam criar um ambiente desinergia entre diversos agentes – empresas, universidades, laboratórios, centros de pesquisa,empreendedores, governo e cidadãos – para fortalecer a ciência, tecnologia e inovação (CT&I) por meiode parcerias entre instituições públicas e privadas, trazendo produtos, processos e serviços quebeneficiem diretamente a sociedade e, assim, impulsionar o desenvolvimento socioeconômico do País.Partindo do pressuposto de que estes parques devam realizar uma comunicação pública democráticae uma divulgação científica que consiga ser acessível e disseminada aos seus diversos públicos,especialmente o cidadão, este trabalho tem como objetivo promover uma reflexão sobre a importânciada Comunicação Pública da Ciência (CPC) nestes parques tecnológicos – tendo em vista que estesempreendimentos são geralmente geridos por instituições públicas ou organizações sociais e,principalmente, recebem investimentos públicos para a concretização destas parcerias. A publicaçãotem como objetivo geral conceituar e caracterizar os parques tecnológicos brasileiros – enfatizando,principalmente, seu papel como agente inovador na sociedade – e refletir como sua divulgaçãocientífica poderia se aproximar aos critérios estabelecidos de produção da informação fornecidos pelosEstudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e, consequentemente, se relacionando ao modelodemocrático de comunicação pública previamente estipulada pela literatura, que caracteriza umacomunicação bidirecional, participativa e que traz a democratização do conhecimento. Para promoveresta discussão e sugerir possíveis ações para que a comunicação pública atinja, de fato, o público leigo,o trabalho utiliza, como aporte metodológico, pesquisas bibliográficas e de campo, bem como análisede conteúdo, que ajudam a entender a importância da comunicação pública e da divulgação científicaem ambientes que envolvem CT&I. Trata-se de uma pesquisa exploratória, com abordagem qualitativade dados. Os resultados deste trabalho identificaram que a divulgação da ciência feita nos parquestecnológicos ainda se aproxima de um modelo de déficit da CPC, sendo, portanto, unidirecional epouco efetiva ao cidadão. Ainda sugerem que a divulgação da ciência feita nos parques tecnológicosresulte em uma comunicação compatível com o que os Estudos CTS recomendam numa divulgaçãocientífica. As reflexões poderão, ainda, contribuir para os estudos em comunicação pública da ciência,divulgação científica em ambientes de inovação e na percepção de políticas públicas de CT&I.

Palavras-chave: Comunicação Pública; Divulgação Científica; Parques Tecnológicos; InovaçãoTecnológica; Estratégias de Comunicação

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Introdução

Os parques tecnológicos são empreendimentos que objetivam gerar ciência, tecnologia e

inovação (CT&I) por meio da concretização de parcerias entre diversos agentes – empresas,

universidades, laboratórios, centros de pesquisa, empreendedores, governo e cidadãos, que ficam

próximos fisicamente em um ambiente de sinergia. Tendo em vista que estes empreendimentos

recebem financiamentos públicos governamentais, é imprescindível que tornem públicas suas

pesquisas, principalmente as que são socialmente aplicáveis para que o público não-especializado

tenha acesso ao conhecimento científico e aos próprios benefícios propiciados por estas inovações

de maneira acessível.

Mais do que informar sobre suas ações e pesquisas, é recomendável que os parques

tecnológicos exerçam a divulgação científica por meio da Comunicação Pública da Ciência (CPC),

tendo em vista que ela pode assumir um imprescindível papel de ferramenta mediadora entre

Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Esta comunicação, no entanto, não deve ser unidirecional,

pois mostrou, em exemplos da própria literatura, que se torna ineficaz no que diz respeito à

participação e engajamento públicos. É nesse sentido que autores definiram quatro modelos

principais de CPC – déficit de conhecimento científico (ou déficit cognitivo); déficit complexo (ou

modelo contextual); experiência leiga; e participação pública (ou democrático) (KNORR-CETINA,

1999; BROSSARD; LEWENSTEIN, 2009; FARES; NAVAS; MARANDINO, 2007; LIMA;

NEVES; DAGNINO, 2008) –, que serão abordados nesta pesquisa com o intuito de conceitua-los,

analisá-los brevemente e verificar qual destes modelos abrange uma abordagem que vai de encontro

aos Estudos CTS e que, portanto, torna a sociedade mais crítica, participativa e engajada

socialmente com políticas públicas que envolvam CT&I. Com base nesta conceituação, foram feitas

análises para verificar quais modelos de CPC mais se encaixam na divulgação científica realizada

pelos parques tecnológicos estudados – e refletir sobre possíveis desafios enfrentados por eles,

sugerindo, ainda, melhorias para esta área nos empreendimentos.

Baseado nestas considerações, este trabalho tem por objetivo promover uma reflexão sobre a

importância da Comunicação Pública da Ciência (CPC) e da divulgação científica, sob o olhar dos

Estudos CTS, nos parques tecnológicos brasileiros. Para realizar estes estudos e pensar em possíveis

ações efetivas para que estas divulgações sejam, de fato, eficazes, a metodologia da pesquisa

engloba uma abordagem qualitativa de dados (ALVES; SILVA, 1992). Foram utilizados como

aportes metodológicos: i) revisões bibliográficas, que teve o intuito de conceituar termos – como

parque tecnológico, Comunicação Pública da Ciência (CPC) e divulgação científica –,

contextualizar informações e analisar pesquisas previamente realizadas sobre os temas; ii) pesquisa

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de campo1, que consistiu em entrevistas semiestruturadas realizadas com quatro parques

tecnológicos do Estado de São Paulo credenciados pelo Sistema Paulista de Parques

Tecnológicos (SPTec); e iii) análise de conteúdo, com o objetivo de interpretar os dados das

entrevistas coletadas para, assim, mapear e caracterizar a área de comunicação desses

empreendimentos.

Os resultados deste trabalho foram organizados em três itens, ou seja: 1) Parques

Tecnológicos no Brasil: surgimento e seu papel como instrumento de políticas de CT&I, que

utiliza dados bibliográficos para contextualizar brevemente a criação e a consolidação de

parques tecnológicos brasileiros, bem como seu papel como instrumento de políticas de

CT&I, já que são responsáveis pelo fomento a estes três elementos com o estímulo a parcerias

entre universidades e empresas; 2) Comunicação Pública da Ciência, divulgação científica e

políticas de CT&I, que, com base na literatura acadêmica da área, conceitua estes dois termos

e caracteriza os quatro modelos principais de Comunicação Pública da Ciência, analisando

quais mais se aproximam dos Estudos CTS e que auxiliam no fomento a políticas públicas de

CT&I; e 3) Divulgação científica e CPC em parques tecnológicos brasileiros: reflexões

alinhadas aos Estudos CTS que, além de se utilizar de revisão bibliográfica, mostra a pesquisa

de campo realizada com quatro parques tecnológicos do Estado de São Paulo, (Ribeirão Preto,

Santos, São Carlos e São José dos Campos) com entrevistas semiestruturadas no escopo

comunicacional, que resultou em uma análise de conteúdo e, consequentemente, em um

quadro elucidativo com as características gerais da área de comunicação desses

empreendimentos.

Com base nos métodos utilizados, foi possível confirmar a hipótese de pesquisa de que

a divulgação da ciência feita nos parques tecnológicos ainda se aproxima de um modelo de

déficit da CPC, sendo, portanto, unidirecional e pouco efetiva ao cidadão e ao que os Estudos

CTS recomendam numa divulgação científica. Com base nesta premissa, fomentou-se, ainda,

uma reflexão que questiona como a divulgação científica destes locais pode se aproximar

minimamente aos estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e, consequentemente, do

modelo democrático de comunicação pública estipulado pela literatura, que consiste em uma

comunicação bidirecional, participativa e de apropriação e democratização do conhecimento

1 As entrevistas foram realizadas em 2016 com profissionais pertencentes às assessorias de comunicaçãointernas e, quando elas inexistiam, com empresas da área terceirizadas ou, ainda, gestores dos parques.

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científico. As reflexões desta publicação poderão, ainda, contribuir para os estudos em

comunicação pública da ciência, divulgação científica em ambientes de inovação e na

percepção de políticas públicas de CT&I.

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1 Parques Tecnológicos no Brasil: surgimento e seu papel como instrumento de políticasde CT&I

Os parques tecnológicos são empreendimentos criados com o intuito de promover

ciência, tecnologia e inovação tecnológica, estimulando a colaboração entre centros de

conhecimento (universidades, centros de pesquisa e escolas) e setor produtivo (empresas,

especificamente as de base tecnológica)2 (SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO, 2017). O intuito é criar um

ambiente – com espaços físicos próximos – de sinergia entre esses agentes para a

concretização de parcerias que estimulem a criação de tecnologias que cheguem ao mercado e

à população. Nesse sentido, “o Parque Tecnológico é importante para criação de transferência

de conhecimento, tecnologia e inovação, além de ser fundamental para o desenvolvimento

regional, não podendo ser encarado como um fim por si só” (COLLARINO; TORKOMIAN,

2014, p. 1). Um parque tecnológico, portanto, se apoia na relação entre seus agentes

envolvidos. “É indispensável [...] a infra-estrutura acadêmica de excelência, a atividade

permanente de pesquisa e a existência do espírito empreendedor. Sem esses três elementos,

dificilmente o parque tecnológico poderá surgir e consolidar-se” (MARCOVITCH, 1988, p.

64). Outro fator importante é o apoio governamental, seja por meio de agências financiadoras

ou por meio de demais fontes de financiamentos públicos e privados. O interesse público deve

estar presente já na estruturação inicial do parque, pois o Estado precisa ser o indutor do

processo:

Um parque tecnológico é um ambiente de inovação, associado às políticaspúblicas e próximos a universidades ou centros de pesquisa. Visa, portanto,transformar conhecimento em riqueza, gerando novos produtos e processos,criando empregos bem remunerados, novas empresas, bem-estar social eambiental e impostos. Estes objetivos permanentes devem ser preservados egarantidos na estrutura de gestão dos parques (STEINER; CASSIM;ROBAZZI, 2008, p.31).

Criados no Brasil a partir da década de 1980, os parques tecnológicos surgiram em um

cenário de recessão, que ocorria especialmente na América Latina. A criação formal destes

2 Disponível em: <http://www.desenvolvimento.sp.gov.br/parques-tecnologicos> . Acesso em: 5 set.2017.

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empreendimentos aconteceu em 1984, por meio do Programa de Implantação de Parques

Tecnológicos, criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq) (BUFFA; NOSELLA, 2003; FERNANDES, 2014). Com este Programa, sete cidades

foram contempladas: Petrópolis (RJ), São Carlos (SP), Campina Grande (PB), Manaus (AM),

Joinville (SC), Santa Maria (RS) e Florianópolis (SC). O critério de escolha desses lugares

analisou cidades que possuíam universidades como âncoras, além de novas tecnologias. Este

primeiro programa, embora seja um marco no surgimento dos parques tecnológico no País,

não trouxe resultados significativos, mas auxiliou na disseminação do conceito de

incubadoras de empresas (ANPROTEC, 2013).

Anos depois – mais especificamente em 1992 –, foi criada uma nova iniciativa,

também pelo CNPq, para mapear os parques tecnológicos existentes no Brasil. Havia, naquele

momento, 17 empreendimentos espalhados pelas regiões Nordeste, Norte, Sudeste e Sul. No

entanto, foi apenas a partir dos anos 2000 que estes empreendimentos começaram a ser, de

fato, consolidados (FERNANDES, 2014). Uma pesquisa realizada pela Anprotec, intitulada

Estudo de projetos de Alta Complexidade: indicadores de parques tecnológicos,

publicada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pela Universidade de Brasília

(2013)3, mostra que, até 2013, o Brasil somava o total de 94 iniciativas de parques

tecnológicos (39 na região Sudeste; 35 no Sul; oito no Centro-Oeste; sete no Nordeste; e

cinco na região Norte).

Desse total de iniciativas, a maioria (38, que corresponde a aproximadamente 40%

deles) estava, até 2013, em estágio pré-operacional, ou seja, ainda em fase de projeto. Apenas

28 constituem efetivamente parques em operação e os demais 28 encontram-se em fase de

implantação. Destaca-se, neste cenário, as regiões Sul e Sudeste, que concentram a maior

parte das iniciativas em todas as fases do desenvolvimento. A Sul, especificamente possui 13

parques já em operação, enquanto que a Sudeste tem 11 neste estágio. A região Nordeste está

avançando gradativamente, tendo em vista que, de um total de sete iniciativas, possui quatro

parques já em operação. Já as regiões Norte e Centro-Oeste ainda não possuem nenhum

parque em operação.

Percebe-se que estes empreendimentos são criados e consolidados de acordo com a

vocação e área de atuação de cada região. Também são estruturados em locais próximos a3 Disponível em: <http://www.anprotec.org.br/Relata/PNI_FINAL_web.pdf>. Acesso em: 10 set.2017.

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universidades – públicas e privadas – e centros de pesquisa, que possuem mão de obra

qualificada, e preferencialmente em locais que possuem incubadoras de base tecnológica já

consolidadas na região e que podem influenciar positivamente no ambiente de sinergia do

parque. No entanto, segundo Collarino (2014), não há regras específicas para a consolidação

de um parque tecnológico – setores e áreas também são formados com base nas

especificidades de cada empreendimento e de acordo com políticas públicas próprias. Ainda

assim, o Estado deve auxiliar na indução de integração, em um mesmo espaço físico, de

universidades, institutos de pesquisa e demais entidades públicas, com empresas privadas de

base tecnológica.

[...] a política pública paulista para os Parques Tecnológicos concebe-oscomo entidades com personalidade jurídica própria e objeto socialespecífico, devendo dispor de modelo de gestão que apresente viabilidadeeconômico-financeira e que seja adequado às competências científicas etecnológicas das entidades locais e às vocações econômicas regionais. Mas,além dessas características, é importante ter clareza que a dimensão dessesempreendimentos foge à capacidade de investimento isolado do setorpúblico: eles precisam ser constituídos em parcerias com o setor privado,para assegurar sua sustentabilidade econômico-financeira. (STEINER;CASSIM; ROBAZZI, 2008, p.11).

Assim, um parque tecnológico se mostra um agente importante no que se refere à

participação na política do Estado no incentivo à inovação. E, justamente por contar com

investimentos públicos e com o apoio governamental, é preciso que estes empreendimentos

gerem inovação à sociedade, que tem deve ter acesso à informação sobre as tecnologias ali

desenvolvidas, bem como toda a produção científica. É neste contexto que se faz necessária

uma Comunicação Pública da Ciência (CPC) eficaz e bidirecional – que seja elucidativa e,

sobretudo, participativa, atingindo seus agentes e, sobretudo, o cidadão beneficiado por

determinada inovação.

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2 Comunicação Pública da Ciência, divulgação científica e políticas de CT&I

A Comunicação Pública da Ciência (CPC) começou a ser debatida a partir da década

de 1980 por meio do conceito de “compreensão pública da ciência”4 e era problematizada

pelos próprios cientistas. A ideia era solidificar “ (1) projetos que visam melhorar a

compreensão do público em uma área específica da ciência; (2) projetos que visam explorar a

interação do público e da ciência” (BROSSARD; LEWENSTEIN, 2009, p. 12, tradução da

autora). Albuquerque, Costa e Sousa (2010) associam o conceito de CPC ao acesso à

informação e defendem que a comunicação pública consiste em “uma possível intervenção

voltada para o fortalecimento dos direitos do cidadão em informar e ser informado, tendo

assim o seu conceito ligado à legitimação e transparência” (ALBUQUERQUE; COSTA;

SOUSA, 2010, p. 2-3). Assim, a troca de informações entre agentes e atores sociais –

Governo, Estado e sociedade – sobre temas de interesse mútuo é essencial para que a

comunicação pública seja eficaz e promova benefícios (ARRUDA, 2017).

Segundo Lima, Neves e Dagnino (2008), a implantação de uma política de

popularização da ciência poderia ajudar na inclusão de interesses de grupos sociais à margem

dos benefícios proporcionados pela C&T. É por isso que os Estudos em Ciência, Tecnologia e

Sociedade (ECTS) tornam-se essenciais neste âmbito, já que têm o intuito de ampliar o

conhecimento público sobre C&T, inclusive de cidadãos leigos (LIMA; NEVES; DAGNINO,

2008). Ao disponibilizar o acesso à informação científica ao cidadão, autores criaram quatro

modelos de comunicação pública: déficit de conhecimento científico (ou déficit cognitivo);

déficit complexo (ou modelo contextual); experiência leiga; e participação pública (ou

democrático) (KNORR-CETINA, 1999; BROSSARD; LEWENSTEIN, 2009; FARES;

NAVAS; MARANDINO, 2007; LIMA; NEVES; DAGNINO, 2008). Eles se diferem

principalmente devido ao papel e comportamento geral do público, e também na execução de

políticas públicas relacionadas à CT&I (ROTHBERG; RESENDE, 2013), como mostra a

Tabela 1.

4 Conhecido, em inglês, por PUS (“Public Understanding of Science”) (BROSSARD; LEWENSTEIN, 2008).

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Tabela 1 – Modelos de Comunicação Pública da Ciência

Modelo Visão da ciência Conhecimento científico Comunicação da ciênciaDéficit de

conhecimento científico

ou cognitivo

Motor do progressoConhecimento linear,independente do meio

social

Analfabetismo científico;popularização e

vulgarização da ciênciaUnidirecional: do

especialista para o públicoleigo

Déficitcomplexo ou

conceitual

Forma deconhecimento

verdadeira e superior

Maior entendimento evalorização de atividadescientífico-tecnológicas

Unidirecional, mas amplia acapacidade da participação

pública

Experiêncialeiga

Mais próxima dopúblico; conhecimento

baseado emexperiência cotidiana

Parcial, provisório econtroverso; influência de

reflexões promovidaspelos Estudos CTS

Bidirecional; buscapromover e ampliar a

participação direta de atoressociais em decisões e

conflitosDemocrático

ouparticipação

pública

Mais próxima dopúblico;

compartilhamento dedecisões no âmbito da

C&T

Busca difusão deinformações para maiorparticipação pública da

sociedade

Bidirecional; comunicaçãode equidade entre cientistas enão-cientista; valorização devárias formas de expertise

Fonte: ARRUDA, 2017

O quarto modelo – democrático – se caracteriza pelo engajamento público e “tem sido

apresentado como o quadro mais apropriado para a comunicação pública da ciência”

(BROSSARD; LEWENSTEIN, 2009, p. 16, tradução da autora). Esse modelo foca em

atividades destinadas a aumentar a participação pública nas políticas relacionadas à ciência.

As atividades de participação pública são muitas vezes impulsionadas porum compromisso com a “democratização” da ciência – de tirar o controle daciência de cientistas e políticos de elite e dando-lhe a grupos públicos pormeio de alguma forma de capacitação e engajamento político (Sclove, 1995),embora a natureza exata desta capacitação ainda não tenha sido claramentedefinida (BROSSARD; LEWENSTEIN, 2009, p. 15, tradução da autora).

O intuito deste modelo, portanto, é promover discussões com seus agentes envolvidos,

enxergando o público leigo como um deles – é uma atitude que busca relação de igualdade

entre os pesquisadores e o cidadão e um debate aberto e participativo, que envolva, de fato, a

sociedade (COSTA; SOUSA; MAZOCCO, 2010). Embora este modelo seja considerado mais

próximo ao ideal no que diz respeito à comunicação e participação pública, ainda possui

dificuldade de ser efetivamente implementado e concretizado socialmente. Mas é justamente

nesta direção que os estudos na área de CTS “propõem um olhar crítico/reflexivo sobre C&T,

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que ultrapasse o entendimento de conceitos e dos benefícios associados à C&T” (LIMA;

NEVES; DAGNINO, 2008, p. 5).

Nesse contexto, “a comunicação pública pode assumir o relevante papel de ser uma

ferramenta mediadora da integração entre ciência, tecnologia e sociedade” (ROTHBERG;

RESENDE, 2013, p. 62). E, ainda, “escolher os modelos de comunicação que vão aos

encontros dos Estudos CTS é assumir o compromisso de transformação” (ROTHBERG;

RESENDE, 2013, p. 78). Arruda (2017) enfatiza que o modelo democrático se adequa mais

do que os demais no que diz respeito à divulgação científica no âmbito dos Estudos CTS. “É

na divulgação científica que os produtores do conhecimento científico se aproximam dos

consumidores, que são estimulados ao debate e que, inclusive, possam ajudar na formulação

de políticas públicas de C&T” (ARRUDA, 2017, p.52).

A divulgação científica – que visa difundir informações científicas gerais para público

leigo por meio de veículos de comunicação, livros didáticos, palestras e feiras de ciências,

museus, espetáculos teatrais, entre outros, e que pode ser considerada um instrumento da CPC

– voltada aos Estudos CTS foca em divulgações não neutras, fomentando uma visão mais

crítica sobre a CPC e, possivelmente, mais participativa. Trata-se, portanto, de um novo olhar

sobre a CT&I. É importante que ela seja feita por profissionais da comunicação – jornalistas –

especializados, fazendo o papel de mediador na relação entre pesquisador e público leigo

(LACOMBE, 2010). “Por ser uma área nova, criada na fronteira dos conhecimentos, o CTS

tem, dentre outras missões, a de permitir que ambos se aproximem e se compreendam,

servindo como um mediador entre produção científica e jornalística” (LACOMBE, 2010, p.

314).

É preciso, no entanto, entender a importância da divulgação no auxílio à construção de

políticas públicas de CT&I, especialmente no que diz respeito à disseminação do

conhecimento como uma construção social. Por este viés, o modelo democrático de

comunicação pública vai mais de encontro com uma divulgação científica elucidativa e

participativa. Sendo os parques tecnológicos instrumentos de políticas de CT&I, é papel

destes empreendimentos também se atentar para esta importância e, assim, fortalecer a ideia

de que é preciso divulgar a produção científica feita no escopo deste ambiente sinérgico,

sobretudo para os mais beneficiados desta inovação: a própria sociedade.

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3 Divulgação científica e CPC em parques tecnológicos brasileiros: reflexões alinhadas

aos Estudos CTS

No ano de 2016, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com quatro parques

tecnológicos credenciados pelo Sistema Paulista de Parques Tecnológicos. A escolha desses

parques foi pelo fato de serem empreendimentos que cumprem determinados requisitos

impostos pelo SPTec5 e podem, portanto, ser considerados mais “avançados” do que os

demais, já que estão em fase de operação.

Estas entrevistas – aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – foram feitas

com jornalistas, responsáveis de empresas de comunicação terceirizadas e gestores dos

parques tecnológicos. Após a coleta dos dados, foi feita uma análise do conteúdo das

entrevistas com o intuito de analisar e caracterizar a área de comunicação dos quatro parques

tecnológicos credenciados pelo SPTec. O intuito foi justamente compreender o cenário de

comunicação – mais especificamente a divulgação científica – nos parques tecnológicos – se

possuem uma área consolidada, profissionais terceirizados, se não possuem área de

comunicação; se há uma política de comunicação estipulada, se estes parques realizam

divulgação científica, quais veículos de comunicação são mais utilizados (rádio, televisão,

impresso e internet), quais seus principais objetivos, se promovem ações com os cidadãos,

dentre outros dados. Além da interpretação das respostas coletadas nas entrevistas, a pesquisa

também contou com coleta de dados nos sites institucionais dos parques para complementar

os resultados objetivos. Estas análises permitiram obter, como parte dos resultados, as

informações que seguem sintetizadas na Figura 1:

5 Todos os requisitos necessários para o credenciamento definitivos estão detalhados em http://www.desenvolvimento.sp.gov.br/parques-tecnologicos.

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Figura 1 – Caracterização da área de comunicação de parques tecnológicos credenciados pelo SPTec

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Fonte: ARRUDA, 2017Com base na Figura 1, nota-se que um primeiro movimento no âmbito comunicacional

já foi feito pela maior parte dos parques tecnológicos analisados pela autora – de quatro

empreendimentos analisados, três possuem área de comunicação, seja ela própria ou

terceirizada, e com profissionais formados da área de comunicação – jornalistas. Há, portanto,

uma preocupação com a divulgação do parque tecnológico. No entanto, nenhum dos quatro

parques possui uma política de comunicação estipulada, o que possivelmente justifica

ausência de planejamento estratégico de comunicação nestes empreendimentos, incluindo a

divulgação de ciência, tecnologia e inovação (ARRUDA, 2017). Importante destacar que os

quatro parques analisados estão presentes na internet, já que todos possuem site institucional.

Este é um dado essencial, pois demonstra a preocupação dos parques em manter informações

institucionais disponíveis a todos os cidadãos que desejarem acessar e saber mais.

O estudo também constatou, em análises mais específicas de matérias publicadas nos

sites dos empreendimentos6, que determinados parques tecnológicos do Estado de São Paulo

exercem o modelo de déficit da comunicação pública – especialmente o cognitivo –, o que

demonstra que os empreendimentos ainda se articulam de maneira unidirecional. Segundo

Rothberg e Resende, o modelo de déficit de comunicação pública prevalece no Brasil, o que

pode ser alarmante no que diz respeito à apropriação real do conhecimento:

Críticas apontam que a visão da ciência como motor do progresso, difundida emações realizadas sob o modelo de déficit cognitivo, pode propagar a mitificação daciência. E que o modelo seria ineficiente, sobretudo, por permitir um distanciamentoentre as expectativas do emissor e as do receptor (ROTHBERG; RESENDE, 2013,p. 70).

Sendo assim, embora metade dos parques analisados diga ser preocupado em fornecer

informações ao público leigo, percebe-se que estas informações ainda são repassadas de

maneira unidirecional – ou seja, podem até ser transmitidas, mas por meio de uma via de mão

única, sem participação ativa deste público.

Embora já haja este primeiro movimento de reconhecimento da importância da área de

comunicação em ambientes que envolvam CT&I, como citado anteriormente, a caracterização

dos parques estudados mostra que a área de comunicação destes empreendimentos tem

6 A análise completa se encontra na dissertação de mestrado da autora, disponível em: < https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/8664/DissAGA.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em 13 set.2017.

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equipes enxutas – de uma a duas pessoas –, o que nos mostra que os recursos humanos são

escassos e os profissionais não conseguem absorver todas as atividades atribuídas à área,

incluindo a divulgação da ciência feita no dia a dia. Além disso,

[...] o fato de nenhum dos parques analisados possuir uma política decomunicação estruturada também dificulta os empreendimentos aestabelecerem metas e estratégias formais de divulgação [...] e ao modelodemocrático de comunicação pública, que pressupõe uma melhorcompreensão da área científico-tecnológica e maior participação do públicoleigo em decisões essenciais na área (ARRUDA, 2017, p.96).

Entende-se, portanto, que ações efetivas são necessárias no que diz respeito às áreas de

comunicação dos parques tecnológicos, se aproximando mais da percepção pública da ciência.

Uma possível sugestão é que os agentes envolvidos em políticas de CT&I entendam a

importância da CPC e da divulgação científica para o parque tecnológico, já que a

comunicação, neste caso, atua como um agente facilitador da disseminação do conhecimento

científico junto à sociedade. Assim, pode-se investir em recursos humanos capacitados e em

maior quantidade, para que os profissionais da comunicação sejam especializados em CT&I e,

assim, consigam refletir com maior clareza sobre como exercer a divulgação científica de

maneira elucidativa e didática, de forma que esclareça os conteúdos ao cidadão leigo e

fomente sua participação pública em tomada de decisões – o que, portanto, fomentaria

também o modelo democrático de CPC.

Também é preciso que os próprios parques tecnológicos enxerguem o cidadão como

um de seus públicos-alvo – juntamente com universidades, empresas e governo –, focando a

sua divulgação em conteúdos que enfatizam aplicações sociais de resultados de pesquisas

consolidadas nos parques. Consolidar políticas de comunicação em ambientes de parque

tecnológico pode ser um primeiro passo para nos aproximarmos do modelo democrático de

comunicação pública e, consequentemente de uma interação bidirecional e a democratização e

apropriação do conhecimento científico.

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Considerações finais

A presente pesquisa mostrou que a divulgação científica e a Comunicação Pública da

Ciência (CPC) podem exercer um papel fundamental para os parques tecnológicos brasileiros,

tendo em vista que são empreendimentos que recebem investimentos públicos e que têm a

finalidade de gerar produtos, processos e serviços por meio de parcerias universidade-empresa

que promovam inovação e consequentemente crescimento socioeconômicos do País. Faz-se

necessário, portanto, que esses empreendimentos divulguem e tornem públicas suas pesquisas,

especialmente suas aplicações e impactos sociais.

Embora esta divulgação da ciência seja estritamente necessária, a pesquisa detectou

que os parques tecnológicos – especialmente os analisados, localizados no Estado de São

Paulo –, embora possuam uma área de comunicação minimamente estabelecida, não têm uma

política da comunicação consolidada e são constituídos de recursos humanos escassos nesta

área, o que certamente dificulta o processo de divulgação da ciência de maneira direta e

eficaz. É preciso, portanto, que os agentes envolvidos com os parques – especialmente os da

esfera pública – se atentem a importância desta área para que a contratação de profissionais

especializados se torne viável. Também se percebe a necessidade de os próprios parques

enxergarem o cidadão como público-alvo do empreendimento – tanto quanto universidades e

empresas. Com essas ações, a CPC realizada pelos parques tecnológicos brasileiros pode

começar a se aproximar de um modelo mais democrático e, assim, dos Estudos CTS,

fortalecendo uma visão mais crítica e menos neutra das pessoas no que diz respeito às

questões científicas.

A discussão do assunto está ainda em seu início, se faz necessária e não se esgota

facilmente, tendo em vista que os parques tecnológicos deveriam iniciar esse movimento de

se alinharem com o modelo democrático de comunicação pública, o que pressupõe uma

interação bidirecional com o público e, sobretudo, auxílio na transformação do cidadão em

agente ativo. Assim, além de adquirir conhecimentos sobre o que é gerado nestes

empreendimentos, a própria sociedade poderá ter a sabedoria necessária para se apropriar do

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conhecimento científico e, assim, fomentar um posicionamento mais participativo no que diz

respeito às políticas de CT&I, se impondo em tomadas essenciais de decisões para auxiliar,

também, no desenvolvimento científico-tecnológico do Brasil. Desta forma, a comunicação

pública assumiria o relevante papel de ser uma ferramenta mediadora da integração entre a

ciência, tecnologia e sociedade.

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