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COMUNICAR CIÊNCIA ATRAVÉS DA INFOGRAFIA:O CASO DOS EXOPLANETAS
Orientador: Professora Doutora Emília Dias da Costa
Co-Orientador: Paulo Pereira
Maria João Pinto Leite
COMUNICAR CIÊNCIA ATRAVÉS DA INFOGRAFIA:O CASO DOS EXOPLANETAS
Projeto desenvolvido no 2º ano do Mestrado em
Design Gráfico e Projetos Editoriais na Faculdade de
Belas Artes da Universidade do Porto, para a obtenção
do Grau de Mestre no respetivo ciclo de estudos.
Porto, 2017
Orientador: Professora Doutora Emília Dias da Costa
Co-Orientador: Paulo Pereira
Maria João Pinto Leite
“Look again at that dot. That’s here. That’s home. That’s us. On it everyone you
love, everyone you know, everyone you ever heard of, every human being who
ever was, lived out their lives. The aggregate of our joy and suffering, thousands
of confident religions, ideologies, and economic doctrines, every hunter and fo-
rager, every hero and coward, every creator and destroyer of civilization, every
king and peasant, every young couple in love, every mother and father, hopeful
child, inventor and explorer, every teacher of morals, every corrupt politician,
every “superstar,” every “supreme leader,” every saint and sinner in the history
of our species lived there-on a mote of dust suspended in a sunbeam. (...)
Our posturings, our imagined self-importance, the delusion that we have
some privileged position in the Universe, are challenged by this point of pale
light. Our planet is a lonely speck in the great enveloping cosmic dark. In our
obscurity, in all this vastness, there is no hint that help will come from elsewhe-
re to save us from ourselves. (...)”
(SAGAN, 1994)
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Professora Doutora Emília Dias da Costa, e ao meu co-
-orientador, Paulo Pereira, por todo o apoio, compreensão e dedicação ao meu
projeto, mas acima de tudo por terem acreditado desde o início.
Aos meus pais e irmã, pelo amor e confiança, pela constante presença e pelas
imensas oportunidades que me proporcionaram e continuam a proporcionar,
é difícil ter palavras para agradecer.
Ao Pedro, por estar sempre presente em tudo, pelo apoio demonstrado e
pelo caminho, tão longo, que já fizemos e continuaremos a fazer juntos.
À Carolina, minha companheira de Universos, por todo o apoio e amizade.
Aos meus amigos, por serem os melhores que poderia ter.
RESUMO
A descoberta de planetas extrassolares abriu caminho para a criação de novas
áreas de estudo na Astronomia e mudou também a perceção que a Humanidade
tem do planeta que habita.
A constatação de que outros planetas como o nosso poderão existir, muda a
perspetiva que temos sobre o conceito de vida e promove, assim, uma tomada
de consciência do lugar que cada um ocupa neste pequeno ponto azul a que
chamamos Terra.
O objetivo do presente trabalho constituiu a criação de uma publicação
que, através do seu caráter infográfico, pretende comunicar as descobertas e o
estudo dos exoplanetas, pela importância que este tema assume na sociedade.
Este artefacto tem como intuito não só a transmissão de informações factuais
sobre o assunto, mas também a sensibilização e tomada de consciênca por
parte do leitor para a imensidão cósmica que ultrapassa o nosso pequeno pla-
neta azul. Recorreu-se assim à utilização de uma linguagem acessível, apoiada
no desenvolvimento de um conjunto de ferramentas narrativas e gráficas, que
promove a passagem de uma mensagem clara e coesa, facilitando a assimila-
ção de conhecimento.
Pretende-se assim afirmar a importância que um objeto de caráter infográ-
fico, através das várias estratégias de comunicação de informação que utiliza,
pode ter na aproximação da comunidade científica à sociedade, promovendo
um maior envolvimento desta nos vários feitos científicos e, por conseguinte,
o desenvolvimento de uma posição mais ativa.
Palavras chave //
Design; Infografia; Exoplanetas;
Publicação; Mensagem
ABSTRACT
The discovery of exoplanets paved the way for the creation of new study
areas in Astronomy and also changed the perception that Humanity has of the
planet that inhabits.
The realization that other planets similar to ours may exist, changes our
perspective on the concept of life and thus promotes an awareness of the place
that each occupies in this small blue ot that we call Earth.
The purpose of this work was the creation of a publication that, through its
infographic character, intends to communicate the discoveries and the study
of exoplanets, due to the importance that this theme assumes in society. This
artifact is intended not only to transmit factual information on the subject, but
also to raise awareness on the part of the reader of the cosmic immensity that
surpasses our little blue planet. The use of an accessible language, based on the
development of a set of narrative and graphic tools, promotes the transmission
of a clear and cohesive message, facilitating the assimilation of knowledge.
The aim is to affirm the importance that an infographic object, through the
various strategies of communication of information that it uses, can have in
the approach of the scientific community to the society, promoting a greater
involvement of this in the several scientific achievementsW and, therefore, the
developing a more active position.
Key words //
Design; Infography; Exoplanets;
Publlication; Message
ÍNDICE
7 Agradecimentos
9 Resumo
11 Abstract
15 Introdução
17 Motivação
19 Metodologia
21 PARTE I
ENQUADRAMENTO
23 1. Astronomia e Exoplanetas
24 2. O Planetário do Porto
27 PARTE II
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
29 3. Comunicar Ciência
30 4. Sociedade de Informação
32 4.1. Linguagem Visual
34 4.2. Infografia
36 4.2.1. Os princípios de Jacques Bertin como abordagem gráfica
38 4.2.2. Princípios e metodologia projetual de Edward Tufte
41 PARTE III
ESTADO DA ARTE
43 5. Casos de Estudo
43 5.1. Nasa’s Eyes - Eyes on Exoplanets
45 5.2. The World of 100
46 5.3. Cosmos: The infographic Book of Space
48 5.4. Running Numbers: An American Self-Portrait
51 PARTE IV
RELATÓRIO DO PROJETO
53 6. Conceito
53 6.1. Público-alvo
54 7. Abordagem
55 7.1. Formato / Objeto
56 8. Estrutura
56 8.1. Narrativa
58 8.2. Infografia / Código de Formas
60 8.3. Cores
61 8.4. Tipografia
65 Conclusão
67 Desenvolvimentos Futuros
69 Referências Bibliográficas
71 Webgrafia
73 Índice de Figuras
INTRODUÇÃO 15
INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa a obtenção do grau de mestre em Design Gráfico e
Projetos Editoriais na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto.
Este é constituído por duas componentes, uma prática, que propõe a criação
de uma publicação de caráter infográfico que aborda o tema da descoberta
de exoplanetas, e uma componente teórica, constituída pela elaboração de
um relatório de projeto acompanhado pela respetiva fundamentação teórica
e análise de casos de estudo. Este artefacto foi desenvolvido com o apoio do
Planetário do Porto – Centro de Ciência Viva, em particular com o constante
auxílio do designer Paulo Pereira, co-orientador do projeto, membro do grupo
de comunicação de Ciência desta instituição.
Em que medida a criação de uma publicação de caráter infográfico pode
promover a correta comunicação de um tema como a descoberta e estudo
de planetas exoplanetas, visando a compreensão e assimilação de conheci-
mentos sobre mesmo?
Esta é a questão fulcral que guiará a estrutura projetual – narrativa e gráfica
– e à qual se pretende responder de forma clara.
Os principais objetivos deste projeto são:
• Divulgar o tema dos exoplanetas, pela importância que este assume como
estudo científico, mas também pelo marco que representa na Ciência dos sé-
culos XX e XXI;
• Estruturar a comunicação narrativa e gráfica do projeto, de forma a tornar
o tema acessível, promovendo a passagem de uma mensagem clara ao leitor;
• Ter em conta não só a comunicação de factos, mas também de um con-
texto, entendendo este como uma ferramenta clara no sucesso de transmissão
da mensagem pretendida, visando a assimilação de conhecimento por parte
do público;
• Comprovar e realçar o papel fundamental do designer na comunicação de
ciência, enquanto agente ativo na transmissão de uma mensagem à sociedade.
O presente relatório agrupa todas as fases pelas quais passou o projeto, des-
de o conceito que deu origem à sua realização até as opções gráficas tomadas
para a concretização dos objetivos traçados para o mesmo. É também feita
uma reflexão sobre as várias áreas onde o artefacto atua, referindo perspetivas
e autores pertinentes para o seu estudo.
16 INTRODUÇÃO
O relatório divide-se em quatro partes que correspondem ao Enquadramento,
Fundamentação Teórica, Estado da Arte e Relatório de Projeto.
Na primeira parte, Enquadramento, contextualiza-se o tema que deu ori-
gem ao artefacto criado, justificando a sua pertinência. Apresenta-se também
um pouco da história, iniciativas e atividades desenvolvidas pelo Planetário
do Porto, instituição da qual foi recebido apoio para a criação do objeto e com
a qual é partilhado o objetivo de comunicar ciência.
Na segunda parte, Fundamentação Téorica, faz-se uma reflexão sobre os
campos de atuação do projeto. Apresentam-se vários autores que desenvol-
veram teorias e princípios referentes ao Design de Informação e à linguagem
visual. Princípios estes que influenciaram várias decisões tomadas durante o
processo de desenvolvimento projetual. É também feito um contexto histórico
da Infografia, demonstrando a importância que esta tem vindo a representar,
desde sempre, na sociedade.
Na terceira parte, Estado da Arte, é feita uma análise de quatro casos de
estudo. A escolha dos mesmos, prendeu-se com o facto de todos apresentarem
estratégicas gráficas e narrativas para a passagem de uma mensagem coesa,
mas também, em alguns deles, a incitação à reflexão e a tomada de uma posi-
ção ativa sobre os temas abordados.
A quarta parte, Relatório do projeto, é referente a todo o processo de de-
senvolvimento do objeto. Apresenta-se o conceito que deu origem ao mesmo
e a abordagem que se tomou. Expõe-se também a estrutura – narrativa e grá-
fica – do projeto e justificam-se as decisões tomadas para a linguagem gráfica
– código de formas, cores e tipografia -, de modo a que esta fosse eficaz na
transmissão da mensagem pretendida.
MOTIVAÇÃO 17
MOTIVAÇÃO
A curiosidade e o fascínio pelo desconhecido, levaram-me sempre a questio-
nar o que existiria para além do que o nosso olhar alcança. Questões como
“estaremos sós no Universo?” impulsionam a vontade de entender os mistérios
da imensidão cósmica que nos transcende.
Poder trabalhar um tema que está a marcar a ciência do século XXI, a des-
coberta de exoplanetas, através do design tornou-se na oportunidade perfeita
de aprofundar os conhecimentos numa área que sempre me cativou e, ao mes-
mo tempo, por em prática os conhecimentos adquiridos na minha formação
académica em design de comunicação.
Uma das grandes questões com que me deparei no início do projeto foi a
clara falta de acessibilidade que existe na informação que pretende ser trans-
mitida relativa a assuntos científicos. A forma como é comunicada a infor-
mação que se pretende passar está, na maioria das vezes, numa linguagem
que não é atingível pelo público, o que provoca incompreensão e por isso, a
mensagem não é comunicada.
A principal motivação na realização deste projeto foi criação de um artefac-
to que estruturalmente se ligasse ao leitor, ou seja, um objeto que transmitisse
a mensagem pretendida através de uma linguagem de fácil compreensão e que
promovesse a assimilação de conhecimento.
METODOLOGIA 19
METODOLOGIA
A metodologia do projeto desenvolvido dividiu-se em duas fases: documental
e analítica. Numa primeira fase, de índole documental, recorreu-se a obras e
artigos escritos que abordassem o tema da Astronomia e Exoplanetas, procu-
rando assim fazer um contexto cronológico dos acontecimentos relacionados
com a área em estudo. Nesta fase documental da investigação, a principal obra
estudada foi o livro “Outras Terras no Universo” de Nuno Cardoso Santos,
Luís Tirapicos e Nuno Crato. Esta obra assumiu um papel fundamental em
todo o processo de investigação e construção da própria narrativa do projeto.
A sua escrita fluída e direcionada para o público em geral facilitou a com-
preensão da área dos Exoplanetas.
Numa segunda fase, de carácter analítico, procedeu-se ao estudo de princí-
pios e metodologias de dois autores de referência da área da linguagem visual
e infografia, Jacques Bertin e Edward Tufte, percebendo as suas estratégias na
comunicação e transmissão de informação.
Recorreu-se também ao estudo de quatro casos práticos em que o princi-
pal propósito dos mesmos fosse a informar um público-alvo. Analisou-se o
tipo de narrativa, as ferramentas gráficas e a linguagem utilizada, tentando
entender como era feita a aproximação ao leitor e as estratégias usadas para a
passagem de uma mensagem.
A fase de desenvolvimento projetual, iniciou-se com a definição de conteú-
dos apoiada na investigação e no estudo realizado anteriormente, concebendo
uma cronologia dos acontecimentos que marcaram os 22 anos de descobertas
de exoplanetas. Após esta definição, partiu-se para a criação de uma lingua-
gem gráfica, sustentada pelos princípios e metodologias estudadas, capaz in-
formar os leitores e transmitir-lhes um contexto e uma mensagem.
ENQUADRAMENTO 23
1. ASTRONOMIA E EXOPLANETAS
O fascínio pelo espaço é algo que acompanha a Humanidade desde os seus
primórdios. Desde sempre, a curiosidade despertada por este tema alimen-
ta teorias e ideias, inspira escritores e artistas. Apesar de vários séculos de
estudos e investigação, muitas das questões formuladas não têm ainda uma
resposta certa. Perceber o nosso lugar no Universo, como se formou a Terra,
as estrelas, ou como tudo começou são temas que nos levam a questionar a
nossa existência e o nosso propósito. A consciência de habitarmos um plane-
ta que por sua vez habita uma imensidão cósmica, leva à inevitável questão
“Estamos sós no Universo?”. Esta pergunta é milenar. Na obra “Outras Terras
no Universo” (2012), são feitas várias referências ao estudo desta questão, mos-
trando que já na Grécia Antiga este assunto era abordado “As suas posições
filosóficas levaram-nos a considerar outros mundos, que estariam para além
dos sentidos humanos - uma infinidade de mundos, na verdade” (pág 18). O
atomismo, filosofia materialista desenvolvida por Demócrito de Abdera (cer-
ca de 460-370 a.C. ), é também referida como defensora da pluralidade de
mundos “Segundo o romano Hipólito (cerca 170-236), Demócrito sustentava
a existência de um número infinito de mundos, de diferentes dimensões. Em
alguns não haveria Sol e Lua, noutros o Sol e Lua seriam maior que os nossos
e noutros ainda haveria mais de um Sol e de uma Lua. A distância entre mun-
dos seria desigual, em algumas direções haveria mais, noutras menos. Alguns
estariam a crescer, outros no seu auge, outros ainda em declínio [...]” (pág. 18).
Já na era da ciência moderna, século XVI, a posição heliocentrista demons-
trada por Nicolau Copérnico foi um marco na discussão sobre a existência de
vida noutros planetas. Esta contradizia a posição geocentrista defendida por
Aristóteles entre outras personalidades como Cláudio Ptolomeu, que na sua
obra Almagesto, um dos mais influentes tratados de astronomia, deu forma a
esta teoria. Segundo Nicolau Copérnico, sendo a Terra considerada um plane-
ta e não o centro de tudo, então mais planetas como a Terra poderiam existir,
mudando assim decisivamente a forma como o tema era abordado até então.
Com todos os avanços tecnológicos e científicos, a astronomia tem feito
progressos a cada dia que passa e por isso, a procura por novos planetas fora
do nosso sistema solar tornou-se um objetivo palpável. Em 1995, foi descober-
to o primeiro exoplaneta, chamado de 51 Pegasi b, um gasoso gigante como
Júpiter ou Saturno, que orbita a estrela 51 Pegasi, uma pequena estrela seme-
lhante ao Sol. Esta descoberta abriu caminho para a criação de uma nova área
da astronomia: o estudo de exoplanetas.
24 ENQUADRAMENTO
No livro “Astro Homus” (2015), onde são relatadas várias conversas com
investigadores, astrónomos e astrofísicos, Stéphane Udry, astrónomo do
Observatório de Genebra onde foi encontrado o primeiro planeta extrasso-
lar, fala de uma “ciência para todos” através desta nova área de estudo, “Eu
acho que a astronomia em geral, e os planetas em particular, estão a trazer
uma maior humanização à ciência. A meu ver, essa dimensão humana foi uma
tendência que se foi perdendo, e por isso olho com alegria para esta nova for-
ça anímica. O tema apela de uma maneira direta à maioria das pessoas, o
que estamos a fazer diz-lhes algo.”, acrescenta ainda que “Estamos a voltar
às verdadeiras raízes do Homem com o que é chamado de última revolução
Coperniciana. Primeiro tivemos a Terra no centro, depois o Sol, e agora a vida
ocupa uma posição central, sendo o ser humano, nós próprios, apenas um
exemplo dessa vida.” (pág. 61 e 62). Com estas descobertas, a possibilidade
de encontrar um planeta parecido com as características da nossa Terra co-
meça a ser cada vez mais real. No mesmo livro, Christophe Lovis, astrofísico
no Observatório de Genebra, refere “A questão da vida no Universo é de tal
maneira fundamental que, qualquer que seja a resposta, vai fazer com que as
pessoas reflitam. Acho que vai transformar a sociedade progressivamente, à
medida que as ideias se começarem a instalar e forem assimiladas” (pág. 63).
A procura e, por conseguinte, a descoberta de formas de vida noutras zonas
do Universo poria em perspetiva a ideia de vida como a conhecemos, fazen-
do com que esta nova área de estudo assuma um papel fulcral na história da
Astronomia e da própria Humanidade.
A divulgação e promoção deste tema torna-se então imperativo. A demo-
cratização do conhecimento científico nesta área é um fator determinante
para a tomada de consciência por parte da sociedade.
2. O PLANETÁRIO DO PORTO
O Planetário do Porto – Centro de Ciência Viva foi criado em 1997 atra-
vés de um protocolo entre o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a
Fundação para a Ciência e Desenvolvimento (FCD) e o Centro de Astrofísica
da Universidade do Porto (CAUP), na qual se definiram a colaboração destas
três entidades visando a edificação e planeamento do Planetário do Porto. Este
incluiu desde logo a designação Centro de Ciência Viva que mais tarde viria
a integrar a Rede de Centros de Ciência Viva que estava a ser preparada pelo
ENQUADRAMENTO 25
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Segundo o protocolo definido, o
Planetário do Porto “tem como missão a promoção da cultura científica junto
da população e, em especial, junto das comunidades mais jovens, bem como
proporcionar aos jovens, sobretudo através da Astronomia, a motivação para
a Ciência e a Tecnologia e a oportunidade de iniciação à observação e experi-
mentação como atividade complementar aos curricula escolares.”
A gestão e funcionamento do Planetário do Porto – Centro de Ciência Viva
cabe, desde 2013, ao CAUP (anteriormente estava assegurado pela FCD e pelo
CAUP) na sequência do contrato sobre o exercício de poderes públicos estabe-
lecido entre a Universidade do Porto e o CAUP.
As atividades desenvolvidas no Planetário do Porto – Centro de Ciência
Viva – consistem em colóquios e palestras, apresentadas por elementos do
Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) onde são abordados temas
sobre Astronomia como o Sol, o Sistema Solar, Exoplanetas, O nosso Universo
e os grandes desafios da Astronomia, usando uma linguagem acessível ao pú-
blico; observações regulares e de eventos astronómicos especiais, como é o
exemplo do ciclo mensal “Mais Perto das Estrelas”, onde é feita uma breve
demonstração na cúpula do Planetário como se apresentará a noite no dia em
questão seguida de uma observação com o telescópio no exterior do edifício;
exposições e oficinas pedagógicas. Esta última atividade existe desde 2007 e é
destinada apenas a grupos escolares.
Uma das atividades mais notórias e relevantes para o Planetário do Porto,
com quase 25 anos, é o programa do CAUP “Astronomia nas Escolas”. Esta
atividade leva um planetário portátil às mesmas e por onde já passaram mais
de 250 mil crianças. Segundo o site do Planetário do Porto “O objetivo é le-
var a Astronomia às escolas, mesmo a partir dos 4 anos de idade. As sessões
têm uma duração típica de 45 minutos, são preparadas e apresentadas por
colaboradores do CAUP e adaptadas ao nível escolar dos alunos. Cada sessão
comporta no máximo 30 alunos. O planetário é composto por uma cúpula
insuflável com 6m de diâmetro e uma altura de 3,2m com um sistema de pro-
jeção digital 1k de última geração.”
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 29
3. COMUNICAR CIÊNCIA
Pode-se afirmar que vivemos numa época especial no que toca à evolução
científica. As descobertas e progressos que se tem realizado em variadíssimas
áreas da ciência dão provas da sua constante atualização e evolução. Apesar
deste progresso, a comunidade científica continua a ser vista como um ni-
cho na sociedade. Muitos dos seus feitos não são totalmente compreendidos
pelo público e por isso grande parte da informação não chega sequer a ser
assimilada.
Uma das grandes razões do afastamento da comunidade científica da so-
ciedade é o tipo de linguagem que esta utiliza na sua comunicação. Apesar da
máxima pertinência e importância para o desenvolvimento social e humano
das várias investigações realizadas no seu âmbito, o tipo de linguagem utili-
zada não é compatível, muitas das vezes, com o público leigo na matéria. Esta
ineficácia de comunicação promove uma desunificação e um crescimento do
desconhecimento de causas e consequências em temas fulcrais discutidos na
sociedade atual, veja-se o caso do fenómeno do aquecimento global em que
a sua existência é ainda questionada por muitos, dificultando a passagem de
uma mensagem.
Paolo Ciuccarelli, no livro Information Graphics, fala de um dever ético
da comunidade científica para com a sociedade. Refere que o distanciamento
se deve ao facto de os cientistas usarem uma linguagem muitas vezes impene-
trável, quando um simples comentário era necessário. “They must cope with
a public sense of distance and scepticism, and a lack of interest and apprecia-
tion. -sometimes they are faced with fierce oppostion, despite the relevance
of their research for both human and societal development. This gap between
sciences and the public widened over the years, partly because scientists tend
to use a specific and often impenetrable language, even on the rare occasions
where a clear comment to the public was necessary.” 1 (pág.79)
A forma como é comunicada a informação é tão importante como o con-
teúdo desta e, por isso, a necessidade de utilização de ferramentas que trans-
formem os dados a ser transmitidos em informação acessível ao público, tor-
na-se imperativo. O design de informação assume assim um papel fulcral na
criação de uma ponte entre a ciência e a sociedade. Paolo Ciuccarelli afirma
esta importância do design de informação e acrescenta ainda o valor das nar-
rativas visuais enquanto meio de transmissão de um contexto e não apenas
de factos. Mas transmitir informação através de ferramentas da narrativa não
afeta só a relação de investigadores com a sociedade, promove também a liga-
1 Eles devem lidar com a sensação
pública de distância e ceticismo,
falta de interesse e apreciação.
- às vezes eles enfrentam uma
oposição feroz, apesar da
relevância de suas pesquisas
para o desenvolvimento humano
e social. Esta diferença entre as
ciências e o público aumentou ao
longo dos anos, em parte porque
os cientistas tendem a usar uma
linguagem específica e muitas
vezes impenetrável, mesmo
nas raras ocasiões em que um
claro comentário ao público era
necessário .
30 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
ção entre várias disciplinas e grupos de investigação, favorecendo a discussão
de várias ideias e pontos de vista.
Comunicar ciência não pode ser apenas a mera transmissão de factos, mas
sim uma aproximação da comunidade científica à sociedade, promovendo o
envolvimento desta na discussão de ideias e o desenvolvimento de uma posi-
ção mais ativa e participativa.
4. SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO
“Understanding precedes action”(WURMAN, pág. 41, 2016)
A sociedade em que vivemos encontra-se repleta de informação. Esta chega-
nos nas mais variadas formas, através dos mais variados meios, tudo é ar-
mazenado e guardado. Apesar da substancial quantidade de dados com que
lidamos, muitos destes encontram-se em estado “cru”, não tendo por isso sido
analisado, tratado ou compreendido, mostrando assim a grande despropor-
cionalidade entre a produção e a análise dos mesmos. A análise e transforma-
ção de dados em informação assume, assim, um papel fundamental, permi-
tindo à sociedade proceder à assimilação desta e, posteriormente, produzir o
conhecimento necessário, extraindo valores e significados.
Estas questões fazem parte do campo de atuação do design de informação,
uma prática que se insere no design gráfico, pelo que se torna importante per-
ceber o que trata e em que meio atua.
No livro “Information Design” (1999) onde são apresentadas várias pers-
petivas e teorias relacionadas com o design de informação, Robert Jacobson,
autor do mesmo, afirma acreditar no design de informação como uma prática
única no design. Refere que o propósito desta área é a organização sistemática
dos canais de comunicação com vista ao aumento da compreensão dos par-
ticipantes de uma determinada conversa ou discurso. Apesar de considerar
difícil uma única definição, o autor defende que o design de informação irá
melhorar a capacidade da nossa sociedade processar e disseminar informação
e produzir conhecimento.
Robert Horn (1999) define design de informação como a arte e a ciência de
preparar informação para ser usada de forma efetiva e eficiente pelas pessoas.
Tal como Robert Jacobson (1999) salienta a capacidade de produzir conhe-
cimento através do design de informação. Horn (1999) acredita na eficiência
desta área no que toca ao propósito de comunicar. O autor afirma também que
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 31
o simples armazenamento da informação em dispositivos como computado-
res não resolve as nossas necessidades informativas podendo trazer até pro-
blemas de navegação devido à quantidade excessiva de informação apresenta-
da. O que Horn (1999) afirma como necessário é a eficácia na transmissão da
informação “What we need is not more information but the ability to present
the right information to the right people at the right time, in the most effective
and efficent form.” 2 (pág. 16).
Brenda Dervin (1999) afirma que nada há de novo no design de informação
e que a informação, independentemente da sua forma – dados, conhecimento,
factos, músicas, histórias ou metáforas – foi sempre projetada. Refere também
que a informação é uma ferramenta criada pelo ser humano para dar sentido
a uma realidade, podendo esta ser manifestada de forma ordenada ou caóti-
ca. Defende o design de informação como canal facilitador de compreensão,
ajudando as pessoas a tirar as suas próprias conclusões e a sem qualquer tipo
de imposição. “The central idea here is that information is made and unmade
communication – intrapersonal, interpersonal, social, organizational, natio-
nal, and global. With this view of information, information design cannot
treat information as a mere thing to be economically and effectively packaged
for distribution. Rather, it insists that information design is, in effect, metade-
sign: design about design, design to assist people to make and unmake their
own informations, their own sense.” 3 (pág. 43). Dervin conclui assim que esta
área é essencial ao ser humano e propõe uma reconceptualização que se foque
no ser humano enquanto criador de um sentido para a informação.
Romedi Passini (1999) refere que o design de informação não é um ter-
mo novo, mas que tem ganho destaque ao longo dos anos mais recentes.
Descreve-o como comunicação através de palavras, imagens, gráficos, mapas,
pictogramas e acredita que estamos perante uma abordagem do design que
promete evoluir para nova prática desta área. Este autor destaca também o
impacto da informação na sociedade e que cada vez mais o nosso trabalho
depende da eficácia desta. Afirma que o design de informação tem como base
do seu conhecimento várias áreas de estudo científicas e que junta o design
e a investigação. “Those who question the contribution of these sciences to
information design may misunderstand the role of science. Science does not
provide solutions, it only provides information and knowledge that designers
can use to develop solutions and new aproaches” 4 (pág. 83).
Joan Costa (2003), no seu livro “Diseñar para los ojos”, define design de
informação como a parte do design gráfico responsável por difundir mensa-
gens úteis e utilizáveis para os indivíduos da sociedade. Refere também que o
design de informação não é algo de novo, pois desde sempre, existiram livros
2 O que precisamos não é de mais
informação, mas a capacidade de
apresentar a informação certa, ao
público certo na altura certa, da
forma mais efetiva e eficiente.
3 A ideia central aqui é que a
informação é feita e desfeita -
intrapessoal, interpessoal, social,
organizacional, nacional e global.
Com essa visão da informação, o
design da informação não pode
tratar a informação como uma
mera coisa para ser embalada
económica e eficazmente para
distribuição. Em vez disso, insiste
que o design da informação é, de
facto, metadesign: design sobre
design, design para ajudar as
pessoas a criar e desfazer as suas
próprias informações e as suas
próprias conclusões.
4 Aqueles que questionam a
contribuição dessas ciências para
o design da informação podem
entender mal o papel da ciência.
A ciência não fornece soluções,
apenas fornece informações e
conhecimentos que os designers
podem usar para desenvolver
soluções e novas abordagens.
32 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
didáticos, ilustrações científicas e técnicas, sinalização, entre outros. O que
realmente há de novo é a forma como as mensagens são difundidas e a dimen-
são que estas têm. Para o autor, a um designer de informação requer-se uma
mentalidade de serviço público, uma atitude lógica e uma capacidade notável
de organizar informação de modo a que o recetor da mensagem a converta em
conhecimento útil. Joan Costa (2003) salienta ainda o carácter de responsabi-
lidade social da profissão e de uma atitude orientada para servir a sociedade.
Conclui-se assim que a importância do design de informação vai além de
uma mera transmissão de informação e assume-se como uma ferramenta po-
derosa de transmissão de mensagens. A forma como estas são transmitidas
influencia o sucesso ou insucesso da assimilação do conhecimento adquirido
por parte do público.
No que toca a ferramentas utilizadas no design de informação, a linguagem
visual tornou-se a força comunicativa e o meio de expressão desta área. A sua
origem, definição e campos de atuação são a base de muitas teorias que tentam
explicar e problematizar o surgimento desta linguagem.
Robert Horn (1999) refere que o design de informação pode ser pensado como
a profissionalização de um outro fenómeno de comunicação: o surgimento de
uma nova linguagem. Este autor define linguagem visual como o acoplamento
de palavras, imagens e formas numa unidade de comunicação unificada, não
sendo por isso possível remover as palavras, imagens ou formas de um contexto
sem o conteúdo ou significado ficarem diminuídos ou prejudicados. Sublinha
ainda que a linguagem visual é considerada uma linguagem por não ser possí-
vel compreender a sua sintaxe, semântica ou pragmatismos usando conceitos
linguísticos utilizados nas linguagens faladas e que para a criação de uma ver-
dadeira linguística desta nova linguagem, são necessários novos conceitos que
se foquem na forma como palavras e imagens se relacionam.
No que toca à razão do surgimento de uma linguagem visual, Horn (1999)
afirma que esta surge da necessidade da sociedade contemporânea e das orga-
nizações lidarem com a complexidade. Muitas ideias são melhor expressadas
através da linguagem visual, outras só podem mesmo ser expressadas através
desta forma.
Joan Costa (2003) refere os esquemas e ato de esquematizar como a expres-
são desta linguagem e sublinha as diferenças que existem entre esta e as restan-
4.1. Linguagem visual
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 33
tes linguagens. Refere que o triunfo do pensamento abstrato e esquemático que
caracteriza a nossa sociedade, necessita de uma linguagem própria. Afirma que
esta linguagem não se baseia na imagem imitativa mais ou menos figurativa
ou realista, nem no discurso ou no relato escrito, mas sim na necessidade de
“tornar visível realidades invisíveis, intangíveis incluindo aquelas que não são
sequer de natureza visual” (pág. 124).
Costa (2003) afirma que o ato de esquematizar se expressa graficamente
numa bifurcação do seu princípio de visualizar ou fazer visível. Cada um destes
ramos conduz a formas expressivas substancialmente diferentes e específicas:
a) As esquematizações a partir de imagens, intervêm quando estas chegam
aos limites de demonstração do que se pretende transmitir. Só o tratamento
esquemático pode tornar visível o que na imagem não é. Exemplos disto são as
ilustrações didáticas, de divulgação científica, a cartografia, plantas de cidades,
mapas de estradas; no campo técnico, os desenhos arquitetónicos, grafismos
industriais, desenho de objetos, etc.
b) Os esquemas propriamente ditos, que são elaborados a partir de dados,
sejam estes numéricos, escritos, estatísticos, simbólicos. Os esquemas são figu-
rações abstratas porque se apresentam como transposições visuais de dados,
fenómenos complexos do tempo e do espaço, estruturas invisíveis, estados e re-
lações. Estes deram lugar a uma autêntica “família”, que reúne os fluxogramas,
sociogramas, cartogramas, árvores de decisões, redes, logigramas, histogra-
mas, cronogramas, semantogramas, modelos e algoritmos. Pode assim dizer-se
que a esquematização conta com uma gramática.
Costa (2003) refere ainda que esta linguagem implica regras definidas para
a correta perceção/compreensão da mesma, na transmissão de conhecimento
desde um emissor a um recetor e afirma que na nossa era da informação e bus-
ca de conhecimento, a comunicação por meio da esquematização constitui-se
como algo imprescindível na ciência da comunicação visual.
Abraham Moles (1991) refere a representação visual por meio de uma lin-
guagem gráfica esquemática como especialmente apropriada – referindo até
como específica – para a “transmissão de conhecimentos” propriamente dita.
Afirma também que pelo seu intermédio se visualizam conceitos, ideias, situa-
ções, relações, processos, transformações, evoluções, deslocamentos, estrutu-
ras e outros fenómenos multidimensionais do mundo físico e social, que não
são de natureza ótica nem são passíveis de ser representados de outro modo.
O código dos gráficos é uma “escrita” do mundo dos fenómenos invisíveis.
Figura 1 // Esquemas com
diferentes graus de abstração/
iconocidade que mostram as
várias tipologias de representação.
34 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Moles (1991) compara ainda o sistema de signos utilizado por esta linguagem
com os da escrita alfabética, formulação química, música ou matemática, ou
seja, um sistema de sinais com que se constroem estruturas icónicas, imagens,
visualizações.
4.2. Infografia
Entende-se por Infografia a representação gráfica de uma informação com o
propósito de instruir, explicar ou clarificar algo a um determinado público
(Holmes, 2016).
A infografia como capacidade do ser humano representar conceitos através
de uma linguagem visual é algo que remonta à Pré-História. Emília Dias da
Costa (2011) afirma que “É ancestral a atividade humana da representação
através da linguagem visual – entendendo-se, neste estudo, por linguagem vi-
sual a que utiliza elementos gráficos e imagens para comunicar os mais varia-
dos dados, desde a perceção do mundo até à expressão do pensamento” (pág.
15). Nigel Holmes (2016) também afirma esta ancestralidade e refere as pintu-
ras nas paredes das cavernas que remontam a 30 000 a.C. como as primeiras
tentativas de comunicar informação visualmente.
Vários são os marcos na História onde a presença da representação gráfica
de informação desempenha um papel crucial. As cartografias do astrónomo e
cientista Ptolomeu, por volta de 150 a.C., onde eram explicados modelos como
o geocentrismo, a Terra considerada o centro do Universo. Nestas representa-
ções eram já incluídas também informações climáticas, de densidade popula-
cional e taxas de nascimento, servindo-se assim dos mapas como veículo de
informação.
Os desenhos anatómicos de Leonardo DaVinci, no século XV, denotavam
um grande interesse por parte deste autor pela representação gráfica como
forma de conhecimento e, como refere Emília Dias da Costa (2011) a ”prima-
zia da imagem sobre o texto, com o objetivo de esclarecer e explicitar o seu
pensamento” (pág. 38).
O século XVIII ficou marcado pela contribuição de William Playfair, con-
siderado por Edward Tufte (2001) como o inventor do design da gráfica mo-
derna. Playfair foi responsável pela criação do gráfico de linhas, o gráfico de
barras, o gráfico circular, o gráfico “tarte” e o gráfico temporal. Emília Dias
da Costa (2011) cita Phillip Meggs (1998) e refere que Playfair “criou uma nova
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 35
categoria de design gráfico denominada, atualmente, de gráfica de informa-
ção, que ganhou importância baseada no facto de grande parte do conheci-
mento requerer e basear-se na gráfica para apresentar informação completa,
de uma forma fácil de entender”.
A infografia foi evoluindo ao longo da história e passando por vários pro-
pósitos, mas a sua constante presença é inegável. Como refere Alberto Cairo
(2011), somos animais visuais e isso tem influência na forma como nos expres-
samos. O autor refere ainda que infografia e visualização não se apresentam
como dois campos distintos, mas são conceito sinónimos que expõem e aju-
dam na reflexão sobre o que é apresentado.
Figura 3 // Infografia de
William Playfair referente a
inquérito sobre as Causas
Permanentes do Declínio
e Queda de Nações ricas e
poderosas, 1805
Figura 2 // Pormenor de um
desenho explicativo de um
feto humano, da autoria de
Leonardo DaVinci, 1512.
36 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.2.1. Os princípios de Jacques Bertin como abordagem gráfica
Para a correta passagem de uma informação, a igualdade entre os dados a
transmitir e os dados recebidos pelo recetor é essencial, não dando assim mar-
gem para erros de interpretação. Para Jacques Bertin (1991), cartógrafo e teó-
rico, esta transmissão de informação fica a cargo das sensações visuais que,
comparadas, associadas e pesadas pelo cérbero, convertem-se em perceções,
ao que convencionalmente chamamos significados. Bertin (1991) sublinha a
importância do conhecimento das sensações visuais e os seus efeitos para a rea-
lização de um “bom desenho”, podendo conjugá-las para atingir os significados
convenientes. Para este mesmo autor, toda a linguagem gráfica convencional se
baseia nestas observações. Algumas são suficientemente evidentes (exemplo:
círculo grande = fenómeno grande, círculo pequeno = fenómeno pequeno); ou-
tras menos evidentes (exemplo: atribuição da quantidade 5 a um círculo verde,
e a quantidade 50 ao mesmo círculo, mas de cor vermelha – o que constitui um
erro, pois o dado a transmitir, a quantidade, não corresponde ao dado recebido,
a qualidade).
No livro “La Esquematica”, o autor Joan Costa realça também o trabalho
de Jacques Bertin, apelidando-o de “um clássico na disciplina da esquemati-
zação”, referindo a sua obra “Sémiologie grafique” 5 como uma obra capital
e descreve alguns dos princípios gráficos do autor. Bertin parte do princípio
que o designer só dispõe de uma ferramenta simples: as manchas, tendo estas
características diferentes. Situada num ponto específico do plano, a mancha
assume a condição de ter uma certa dimensão e pode ser desenhada de diversas
maneiras. Para além de variar de posição, pode também variar de:
• Tamanho (T)
• Valor (V)
• Grão (G)
• Cor (C)
• Orientação (OR)
• Forma (F)
e expressar uma correspondência entre a sua posição e o plano de fundo ou
entre a sua posição e as variáveis referidas (figura 4). Este é o princípio berti-
niano em que, como refere Joan Costa (1998), se baseia a teoria da semiologia
gráfica de Jacques Bertin. As seis variáveis são definidas por Bertin como “va-
riáveis retinianas”, dada a sua correspondência em ambas as dimensões, gráfica
e visual.
5 Bertin, J (1967). Sémiologie
graphique: les diagrammes, les
réseaux, les cartes.
5 50
Fenómeno
grande
Fenómeno
pequeno
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 37
Figura 4 // Variáveis gráficas de
Jacques Bertin, 1967.
O designer dispõe assim de oito variações (o plano, a sua posição nele e as
seis variáveis gráficas). Estes são os componentes de um completo sistema de
expressão visual.
Joan Costa (1998) refere que esta análise da perceção estática em oito varia-
ções não excluí outras formas de comunicação visual. Mas combinada com a
noção, que considera importante, de implantação, apresenta a vantagem de ser
construtiva (ou estruturalista) e ajusta-se às leis de Gestalt, tal como se adapta
de uma maneira homogénea aos problemas práticos da expressão gráfica, de vi-
sualização e esquematização. Os oito fatores bertinianos têm assim proprieda-
des exatamente semânticas e capacidade de visualização diferentes e infinitas.
Joan Costa (1998) acrescenta ainda que novas noções são criadas através dos
fatores referidos anteriormente, como o ponto, a linha e a zona. Costa (1998)
menciona, segundo o autor Jacques Bertin, que:
• “Um ponto significa um momento do plano, sem extensão nem surperfície.”
• “Uma linha significa um momento do plano e tem uma extensão mensu-
rável, mas sem superfície.”
• “Uma zona significa uma parte do plano e tem uma superfície mensurável.”
Joan Costa (1998) acrescenta ainda outros princípios da semiologia gráfica
de Bertin:
• “Num espaço significativo, a ausência de signos significa a ausência de
fenómenos.”
• “Num espaço significativo, toda a variação visual, de qualquer que seja a
sua ordem, aparece como significativa.”
• “Num espaço significativo, uma convenção é invariável.”
• “O enquadramento de uma representação limita o plano significativo, mas
não limita o fenómeno.”
• “Uma variável pode ser seletiva, associativa, ordenada ou quantitativa”, o
que afeta ao nível da organização do esquema.
• “A imposição, ou implantação, é a utilização das dimensões do plano.
Depende em primeiro lugar da natureza das correspondências entre as variá-
veis expressadas no plano.”
Apesar de a obra referida ser dos anos 60 do século passado, as teorias e
ideias de Jacques Bertin continuam atuais e, como refere Nigel Holmes (2016),
são uma base para muitos livros e teorias publicadas em anos seguintes. Este
autor menciona também que a teoria de Bertin dá à comunicação visual a sua
gramática própria.
38 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A eficiência de uma infografia depende das estratégias usadas para a comuni-
cação dos dados. A eficácia das mesmas, promovem o sucesso ou o insucesso
na passagem da mensagem a ser transmitida ao recetor. Edward Tufte (2003),
artista e estatístico americano e autor de vários emblemáticos livros sobre in-
fografia, afirma que a excelência consiste na comunicação de ideias com cla-
reza, precisão e eficiência (pág. 13) e apresenta alguns princípios que, na sua
ótica, devem estar presentes num projeto de natureza infográfica:
• Mostrar os dados
• Induzir o indivíduo a pensar sobre o tema e não sobre a metodologia,
design gráfico, a tecnologia de produção gráfica, etc.
• Evitar distorção do conteúdo dos dados
• Apresentar vários números num pequeno espaço
• Tornar grandes conjuntos de dados coerentes
• Encorajar o olho a comparar diferentes porções de dados
• Revelar os dados em vários níveis de detalhe, desde a visão generalizada
até a estrutura detalhada
• Servir um propósito claro: descrição, exploração, tabulação ou decoração.
• Estar integrado com as descrições estatísticas e verbais do conjunto de
dados.
Segundo Edward Tufte (2003), a atenção do indivíduo não deve ser des-
viada da informação e por isso, a forma como esta é disposta na infografia
em questão deve fazer as pessoas pensar sobre a mesma. Posto isto, o autor
apresenta vários aspetos teóricos que melhoram a performance de uma in-
fografia, completando os desígnios informativos e gráficos da mesma. Dois
desses aspetos, que serão agora apresentados, referem princípios que devem
estar incutidos na metodologia de quem produz infografias.
Um dos aspetos referido por Tufte (2003) é o que o mesmo apelida de “Data-
Ink”. Este aspeto refere-se à relação que existe entre a tinta gasta numa info-
grafia e a informação indispensável que esta apresenta. A informação que é
apresentada deve estar despojada de aspetos que não contribuem para a pas-
sagem da mensagem informativa, maximizando assim a relação Informação-
Tinta (pág. 93).
Outro dos aspetos referenciados está relacionado com o anterior e é o que
a autor chama de “Chartjunk”. Este princípio aborda as questões relacionadas
com a decoração gráfica na infografia. Tufte (2003) afirma que esta decoração
4.2.2. Princípios e metodologia projetual de Edward Tufte
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 39
não apresenta nada de novo ao indivíduo, contribuindo assim para a criação
de uma relação irrelevante entre o que é apresentado na infografia e a informa-
ção que esta pretende transmitir. O autor apresenta assim três fatores que con-
sidera contribuírem para o “chartjunk”: a arte ótica intencional, que se refere
aos efeitos visuais utilizados (como é exemplo o efeito moiré) que interferem
com a visualização da infografia, produzindo uma sensação de movimento
que causa distracção, barrando a passagem da informação (pág. 108); a gre-
lha, elemento gráfico causador de distração na ótica de Tufte (2003), deve ser
geralmente suprimida para que não compita com a informação apresentada.
Esta, empregue usualmente nos traçados iniciais dos gráficos, não acrescenta
informação à infografia, gerando muitas vezes atividade gráfica que não se
relaciona com o tipo de informação a ser passada (pág. 112); e, por último os
apelidados gráficos de autopromoção, que se referem a infografias que são do-
minadas pela excessiva decoração que contêm, deixando de se destacar pelos
seus elementos informativos para passarem a ser, como refere o autor, trans-
missores de um estilo gráfico (pág. 116).
Figura 5 // Mapa da autoria
de Charles Joseph Minard que
retrata as mortes das tropas de
Napoleão durante a campanha
russa, 1812.
Para Eduard Tufte (2006), esta é
considerada uma das melhores
infografias de sempre.
ESTADO DA ARTE 43
5. CASOS DE ESTUDO
Como já foi referido anteriormente, no que toca à comunicação de uma infor-
mação específica, a clareza e a eficácia na transmissão desta, promovem uma
melhor compreensão por parte do recetor, sendo mais rapidamente assimilado
conhecimento.
Os seguintes casos, apresentados como casos de estudo, cumprem esses
desígnios e apresentam soluções de comunicação informativa que promovem
uma ligação com o utilizador, através de ferramentas gráficas e narrativas.
NASA’s Eyes é um software de exploração do Universo desenvolvido pelo
California Institute of Technology (CIT). Este software apresenta três módulos
de exploração principais, “Eyes on Earth”, Eyes on the Solar System” e “Eyes
on the Exoplanets” mais quatro módulos destacados do módulo “Eyes on the
Solar System” relacionados com missões espaciais e fenómenos no sistema so-
lar “Cassini’s Tour”, “Solar Eclipse 2017”, “Juno Mission” e “Eyes on Pluto”.
A seguinte análise foca-se no módulo de exploração de exoplanetas “Eyes on
the Exoplanets”, sendo o tema da exploração de exoplanetas o objeto de estudo
no projeto desenvolvido (figura 6).
O módulo “Eyes on the Exoplanets” é totalmente dedicado a exoplanetas, per-
mite explorar e conhecer planetas e estrelas fora do nosso sistema solar. Inicia-
se com uma pequena viagem narrada que coloca o utilizador a 1000 anos luz de
distância da Terra mostrando todas as estrelas com planetas descobertos até ao
momento e sensibiliza este para o facto de que as estrelas avistadas representa-
rem apenas uma pequena fração da nossa galáxia. Esta explicação inicial, para
além de introduzir o tema ao utilizador, incute também a noção de imensidão
do que vai além do sistema solar, pondo assim em perspetiva a posição da Terra
na nossa galáxia.
Apresenta-se com uma navegação muito intuitiva onde, para além da refe-
rência necessária a características científicas das estrelas e planetas em questão,
a constante vontade de cativar a atenção do utilizador para o tema é notória.
Isto pode ser observado nos menus e opções onde são usadas constantes re-
ferências ao quotidiano do indivíduo. É exemplo disso o cálculo do tempo de
uma viagem da Terra ao planeta ou estrela em questão. Para além de apresen-
5.1. NASA’s Eyes – Eyes on the Exoplanets
44 ESTADO DA ARTE
tados os valores de sistemas de medida de tempo/distância mais comuns no
meio científico, como a unidade de ano-luz, são também apresentados valores
hipotéticos para viagens realizadas por meios de transporte como o automóvel,
o comboio de alta velocidade e o avião (figura 7).
Em todas as estrelas e planetas é disponibilizada a opção de comparação
com o sistema solar, ajudando o utilizador a ter uma melhor noção de medidas
como distâncias e tamanhos (figura 8). A pesquisa por planetas específicos é
também possível e nesta opção o utilizador pode também escolher procurar
pelos planetas maiores, os mais pequenos e os mais estranhos. Esta opção de
procura mais apurada, permite ao utilizador encontrar características diferen-
tes das encontradas nos planetas habituais, muitos deles até desafiadores de
teorias científicas. Mesmo aqui, as referências a elementos do quotidiano da
sociedade são utilizadas para facilitar a compreensão da informação, como é
exemplo a associação de massas de planetas a materiais como a esferovite. (fi-
gura 9).
Figura 6 // Apresentação dos vários módulos.
Figura 8 // Opção de comparação das órbitas dos
exoplanetas com as órbitas do Sistema Solar.
Figura 9 // Características do exoplaneta.
Figura 7 // Menu referente ao cálculo do tempo da
viagem através das várias opções de transporte.
ESTADO DA ARTE 45
The World of 100 é um projeto desenvolvido pelo designer Toby Ng, que consis-
te numa série dos postais que abordam vários tipos dados estatísticos, através
da infografia, sobre a população mundial. Sempre com o mote “Se o mundo
fosse uma aldeia de 100 pessoas” (“If the world was a village of 100 people”),
os postais abordam dados relacionados com idades, nacionalidades, géneros,
línguas faladas, religião, educação, entre outros, considerando sempre uma po-
pulação total de 100 pessoas.
A compreensão dos dados estatísticos apresentados nesse projeto infográfico
torna-se mais fácil, pelo facto dos números representados serem números de
fácil assimilação. É mais simples alcançar que se o mundo fosse uma aldeia de
100 pessoas, 70 seriam adultos e 30 seriam crianças, do que falar em 7 biliões
de pessoas. Esta simplificação da informação promove não só a integração mais
fácil do conhecimento, mas também uma mais rápida tomada de consciência
por parte da sociedade de fatores determinantes no mundo em que vivemos.
5.2. The World of 100
Figura 11 // Postal sobre o género.Figura 10 // Postal sobre a faixa etária.
Figura 12 // Postal sobre a religião. Figura 13 // Postal sobre o medo.
46 ESTADO DA ARTE
Cosmos: The infographic book of space é um livro de Stuart Lowe e Chris
North, astrónomos, com design do estúdio Founded, editado em 2015. Este li-
vro tem um cariz essencialmente infográfico e é focado inteiramente em temas
relacionados com a Astronomia e do Espaço (figura 14 e 15).
No capítulo introdutório do livro, os autores referem a complexidade de
muitas explicações relacionadas com o tema Astronomia e Espaço, mas afir-
mam que as ideias base são familiares a todos nós em algum nível. As escalas e
distâncias podem ser tão vastas como inimagináveis e, como é sublinhado por
Stuart Lowe e Chris North, a apresentação de grandes números nem sempre é
útil.
O livro divide-se em nove capítulos onde são abordados os temas Exploração
Espacial, Sistema Solar, Telescópios, o Sol, Estrelas, Galáxias, Cosmologia,
Outros Mundos e Diversos (vários temas num só capítulo). A organização dos
capítulos e por conseguinte, a sua disposição, está relacionada com a ordem
de grandeza dos temas, bem como a distância dos mesmos. Começando pela
pequena escala, as explorações espaciais, acabando na grande escala com temas
como o tamanho do universo e o que é conhecido deste. Esta ordem é eviden-
ciada com as entradas de capítulo, onde é mostrada sempre uma órbita de um
planeta sendo esta, à medida que os capítulos avançam, mais distante (figura
18, 19 e 20).
A escala das infografias apresentadas no livro são um fator determinante no
que toca à compreensão da imensidão e grandeza dos temas abordados. Apesar
de muitos dos dados não serem mostrados à escala real, a opção de sair fora das
margens da página na exibição dos mesmos apresenta-se como uma solução
gráfica de representação de dados com escalas colossais. Isto pode ser observa-
do, por exemplo, no capítulo cinco “Estrelas” na dupla página onde é abordado
o tema das estrelas gigantes existentes no Universo. O seu tamanho é represen-
tado através da escala na página, mas também através da cor (figura 16 e 17).
A comparação é também uma ferramenta gráfica utilizada para transmitir
a ideia de dimensão. Um bom exemplo disto é a dupla página dedicada ao nú-
mero de exoplanetas existentes, no capítulo 8 “Outros Mundos”. Neste spread,
para além da representação dos planetas extrassolares existentes, é também
feita uma representação proporcional dos planetas do sistema solar. Através da
comparação entre as duas representações, o utilizador consegue compreender
não só o tamanho dos exoplanetas apresentados, mas também perceber a di-
mensão reduzida dos planetas do sistema solar, incluindo a Terra. (fig. 21 e 22).
5.3. Cosmos: Infographic Book of Space
Figura 14 // Capa do livro.
Figura 15 // Lombada do livro.
ESTADO DA ARTE 47
Figura 16 // Dupla página referente ao tema das
estrelas gigantes.
Figura 18 // Entrada do capítulo
“O Sol”.
Figura 21 // Dupla página referente ao número de
exoplanetas existentes.
Figura 22 // Pormenor da página onde é
representada uma escala do Sistema Solar
proporcional aos exoplanetas indicados.
Figura 19 // Entrada do capítulo
“Telescópios”.
Figura 20 // Entrada do capítulo “Estrelas”.
Figura 17 // Pormenor onde é representada a escala
do Sol em comparação com as estrelas gigantes.
48 ESTADO DA ARTE
Running Numbers – Na American Self Protait é um projeto desenvolvido
pelo artista americano Chris Jordan que olha a cultura americana através de
dados estatísticos. Constituído por várias imagens, cada imagem retrata uma
quantidade específica de algo, por exemplo, 15 milhões de folhas de papel (cinco
minutos de uso de papel); 106 mil latas de alumínio (trinta segundos de consu-
mo de latas), etc. Segundo o autor, o objetivo deste projeto é que a representação
destas quantidades em imagens tenha um efeito diferente da exibição de apenas
números, como são apresentados diariamente em livros e artigos. Chris Jordan
acrescenta ainda que as estatísticas podem ser abstratas e anestesiantes, sendo
difícil a compreensão dos vários números descritos e apresentados nos dados.
Através da micro e macro leitura, obtém-se duas possíveis leituras das ima-
gens, implementando conceitos como o longe versus perto e a unidade versus
a quantidade. Com isto, o autor pretende a tomada de consciência e o levanta-
mento de questões relacionadas com a papel e responsabilidade que cada indi-
viduo tem numa sociedade em constante expansão e crescimento.
5.4. Running Numbers - An American Self-Portrait
Figura 23 // “Car Keys”, 2011.
Figura 25 // “Cigarette Butts”, 2013. Figura 26 // “Cigarette Butts” (aproximação), 2013.
Figura 24 // “Car Keys” (aproximação), 2011.
RELATÓRIO DO PROJETO 53
6. CONCEITO
“Look again at that dot. That’s here. That’s home. That’s us. On it everyone you love, everyone you know, everyone you ever heard of, every human being who ever was, lived out their lives.”
(SAGAN, 1994)
As várias descobertas e progressos na área dos exoplanetas, têm mudado a for-
ma como olhamos a Universo bem como o a perceção que temos do nosso
planeta Terra.
O conceito deste projeto apoia-se na necessidade de comunicar o estu-
do de planetas extrassolares, pelo lugar que este tema ocupa na história da
Astronomia, mas também na história da Humanidade. A possibilidade e, por
conseguinte, a descoberta de planetas com vida, mudaria a nossa perspetiva do
que é a vida enquanto conceito, mas também promoveria uma maior consciên-
cia do lugar que ocupamos na imensidão do cosmos.
O objetivo da criação de uma publicação de caráter infográfico sobre a des-
coberta de exoplanetas, foi trazer acessibilidade e divulgação a um tema que
marca a ciência e a sociedade do século XX e XXI.
Este objeto não se limita apenas à transmissão de factos sobre o tema, pre-
tende-se a tomada de consciência por parte do público, sensibilizando para a
imensidão cósmica que vai para além do nosso pequeno planeta azul. Pretende-
se também o levantamento de questões relacionadas com o nosso lugar no
Universo e a dimensão astronómica daquilo que nos transcende. O leitor tem,
portanto, um papel ativo nesta publicação, pois o mesmo é chamado a refletir
sobre as várias questões apresentadas.
A criação de uma publicação de caráter infográfico que tornasse acessível
o tema dos exoplanetas foi, como já referido, o objetivo principal no desen-
volvimento do objeto e por isso a definição de um público-alvo tornou-se um
dos primeiros fatores a ter em conta. Este projeto destina-se a um público que
deseje adquirir conhecimentos sobre o estudo de planetas que orbitam outras
estrelas e a importância deste tema para a Astronomia.
Tendo começado o projeto com pouco conhecimento sobre o tema, eu pró-
6.1 Público-alvo
54 RELATÓRIO DO PROJETO
pria me incluía na definição de público-alvo do mesmo. As várias questões que
iam sendo levantadas durante a investigação e análise de informação que ia
sendo adquirida como “O que há para além da Terra?”, “Existem planetas se-
melhantes à Terra? “, “Conseguiremos estuda-los e entende-los melhor?”, tor-
nou mais simples o entendimento das necessidades, tanto a nível gráfico como
narrativo, dos possíveis leitores desta publicação de caráter infográfico.
O interesse e o fascínio pelo tema em questão, levaram a que este projeto tivesse
essencialmente uma abordagem pessoal, baseada em experiências e pensamen-
tos próprios. Questões como “O que há para além daqui?” ou “Seremos apenas
nós?” conduziram este projeto para uma abordagem mais autoral e fizeram
com que o mesmo se tornasse também um espelho de questionamentos pes-
soais. Segundo Ellen Lupton, a designação “designer como autor” tem ativado
debates sobre o futuro do design gráfico desde os anos 90 e refere as diferen-
tes definições que estão associadas a este conceito “The word author suggests
agency, intention, and creation, as opposed to the more passive functions of
consulting, styling, and formatting.” 6. Ian Noble e Russell Bestley (2016) refe-
rem também a autoria no design como meio de passagem de mensagens “The
notion of authorship lies in the possibility that designers can also operate as
mediators – that they can take responsibility for the content and context of a
message, as well as the more traditional means of communication. The focus
for the designer might be on the transmission of his or her ideas and messages,
without the need for a client or commissioner, but still remaining fixed on the
effectiveness of communicating with an audience.” 7 (pág. 42).
A noção autoral dada ao projeto, estendeu-se para além do conceito e con-
taminou também toda a parte gráfica projetual, através das noções de escala
aplicadas nas infografias e até mesmo do minimalismo das formas represen-
tadas. Este minimalismo reflete uma vontade de tornar acessíveis os conceitos
abordados na publicação, resumindo números, tamanhos e ideias que não são
facilmente assimiladas pelo público, devido à sua dimensão, a uma linguagem
visual com um código de formas simplificadas.
7. ABORDAGEM
6 A palavra autor sugere agência,
intenção e criação, opondo-se
a funções mais passivas de
consulturia, estilo e formatação.
7 A noção de autoria reside na
possibilidade de os designers
também funcionarem como
mediadores - podem assumir a
responsabilidade pelo conteúdo
e contexto de uma mensagem,
bem como pelos meios de
comunicação mais tradicionais.
O foco para o designer pode
ser sobre a transmissão das
suas ideias e mensagens, sem
a necessidade de um cliente ou
comissário, mas mantendo-se fixo
na eficácia da comunicação com
uma audiência.
“A Terra é o berço da humanidade, mas ninguém pode viver no berço para sempre!”
Konstantin Tsiolkovsky
RELATÓRIO DO PROJETO 55
Figura 27 // Esboços iniciais
para a criação da narrativa
do projeto.
Para este projeto escolheu-se um suporte físico, uma publicação, pela ligação
que este estabelece com o leitor através dos vários sentidos. O suporte que é
escolhido para o artefacto influencia a forma como o indivíduo interage com o
mesmo. Robert Bringurst (2005) refere que “Um livro é um espelho flexível da
mente e do corpo. Seu tamanho e proporções gerais, a cor a textura do papel, o
som que produz quando as páginas são viradas, o cheiro do papel, da cola e da
tinta, tudo se mistura ao tamanho, à forma e ao posicionamento dos tipos para
revelar um pouco do mundo em que foi feito.” (pág. 159).
Inicialmente, optou-se pela escolha de um formato maior, perto de um A4,
mas rapidamente se percebeu que tornava o objeto demasiado imperioso. O
formato escolhido para a publicação, formato A5, prende-se com o facto de
este ser de fácil manuseamento e portabilidade, semelhante a um livro de bolso,
mas é também mais um fator que promove a ligação entre o indivíduo e o tema
da publicação, por conferir a leveza necessária a assuntos com um cariz mais
complexo, como é o exemplo da área dos exoplanetas.
7.1. Formato/Objeto
Figura 28 // Formato escolhido
para o artefacto criado.
56 RELATÓRIO DO PROJETO
Como se trata de um projeto com um caráter científico, a definição de uma
estrutura sólida para os vários parâmetros do projeto - narrativos e gráficos -
revelou-se de extrema importância. Esta estrutura tem também como objetivo
a criação de uma maior ligação com o leitor, acompanhando-o ao longo de todo
o projeto, facilitando compreensão da informação.
Como já foi referido no capítulo 3 “Comunicar Ciência”, as narrativas assu-
mem um papel crucial no que toca à transmissão de uma informação. Estas
promovem não só uma ligação mais forte entre a mensagem e o leitor, mas
também a passagem desta através de uma contextualização, não se restringin-
do apenas aos factos.
A contextualização revelou-se determinante no desenvolvimento do projeto.
Apesar deste ser sobre a descoberta de exoplanetas, percebeu-se que havia uma
necessidade de contextualizar a posição do planeta Terra em relação ao espa-
ço cósmico, criando uma cronologia das fases pelas quais o nosso planeta já
passou aos olhos da Humanidade: A Terra como o centro do Universo, a Terra
como um planeta a orbitar uma estrela, a Terra na vastidão cósmica e, agora, a
Terra no meio de vários planetas possivelmente semelhantes a esta. Estas várias
fases indicam ao leitor a evolução do conhecimento científico ao longo dos vá-
rios séculos e forma como a Humanidade foi alargando os seus horizontes para
além do seu pequeno ponto azul, procurando respostas para as suas perguntas.
8. ESTRUTURA
8.1. Narrativa
Figura 29 // Cronologia inicial onde são
apresentadas as várias fases pelas quais a Terra já
passou aos olhos da Humanidade.
Figura 30 // Dupla página onde a Terra está
representada como o centro do Universo.
RELATÓRIO DO PROJETO 57
Esta contextualização revelou-se também importante na introdução do
tema central do projeto, os exoplanetas. Aqui, também com uma estrutura cro-
nológica, optou-se por compor a narrativa através da representação dos marcos
mais importantes nos 22 anos de descobertas. Escolheu-se seguir uma estrutu-
ra cronológica semelhante à estrutura apresentada no livro “Outras Terras no
Universo”, obra já referida como referência para este projeto.
Foram também incluídas várias interrogações ao longo da paginação.
Muitas destas perguntas partiram de interrogações pessoais que foram surgin-
do ao longo das primeiras investigações sobre o tema. A sua inclusão durante a
narrativa, atua como mais um fator de envolvimento do leitor no projeto, pro-
movendo uma ligação entre questões pessoais e possíveis questões dos leitores.
Figura 31 // Dupla página do projeto onde foi
colocada a interregoção “E planetas como a Terra?”.
58 RELATÓRIO DO PROJETO
Tendo em conta a complexidade do tema abordado na publicação, a estrutura
gráfica torna-se na chave do sucesso no que toca à passagem de uma mensagem
clara ao leitor. As ferramentas gráficas usadas devem permitir ao indivíduo
uma correta leitura da informação transmitida para que assim seja feita a assi-
milação do conhecimento e, se possível, uma tomada de consciência, promo-
vendo uma posição ativa. Estas funções que vão além da simples comunicação
de uma informação, são afirmadas por Edward Tufte (2001) referindo que no
seu melhor, as infografias são ferramentas para se pensar sobre a informação
“Modern data graphics can do much more than simply substitue for small
statistical tables. At their best, graphics are instruments for reasoning about
quantitive information. Often the most effective way to describe, explore, and
summarize a set of numbers – even a very large set – is to look at pictures of
those numbers.” 8 (pág. 10).
Para este projeto fez-se o uso da infografia para a transmissão dos dados e
optou-se pelo uso de formas básicas – o círculo, a linha e o ponto - na criação
das mesmas. O caráter não visível e complexo da informação a ser transmitida
tornou a representação minimalista e abstrata na melhor opção para a passa-
gem de uma mensagem clara, priorizando o essencial. Emília Dias da Costa
(2011) afirma que “Toda a síntese supõe, implicitamente:
• Uma abstração ou uma série de abstrações sucessivas, que têm como fi-
nalidade separar e pôr em primeiro plano aquilo que é essencial, quer nas suas
componentes, quer na estrutura de um fenómeno;
• Uma concentração de informação, através de dados que foram depurados
até ao essencial, sem, no entanto, mutilar a sua identidade, as suas inter-rela-
ções, ou o seu contexto (…)” (pág. 295).
Na escala de iconicidade denominada de “escala de iconicidade decrescente”
desenvolvida por Abraham Moles, que consiste na elaboração de uma escala
de 12 níveis categorizada entre dois extremos: ponto um é a máxima represen-
tação da realidade visível – iconicidade máxima – e o ponto doze, a sua maior
abstração – iconicidade nula -, pode afirmar-se que o artefacto criado se situa
no ponto um onde “encontramos esquemas de vetores, nos espaços puramente
abstratos. Corresponde à representação gráfica, num espaço métrico abstrato
de relações e magnitudes vetoriais.” (Costa: 2011, 305)
8.2. Infografias/Código de formas
8 As infografias modernas podem
fazer muito mais do que ser um
simples substituto para gráficos
estatísticos. No seu melhor, as
infografias são instrumentos para
raciocinar sobre informações
quantitativas. Muitas vezes, a
maneira mais eficaz de descrever,
explorar e resumir um conjunto
de números - mesmo grande
conjunto - é olhar para imagens
desses números.
RELATÓRIO DO PROJETO 59
Tendo em conta a teoria da semiologia gráfica de Jacques Bertin (1998), re-
correu-se a variáveis gráficas como o tamanho, a cor e a orientação para trans-
mitir conceitos como distâncias e grandezas. Os contrastes de escala e a po-
sição das formas gráficas no plano assumiram uma função crucial, não só na
passagem da informação, mas também na transmissão de um contexto, basea-
do em conceitos como a noção de imensidão e a consciência do quão pequeno
é o nosso planeta no meio de uma vastidão cósmica.
Figura 32 // Exemplos de
infografias criadas para o projeto.
60 RELATÓRIO DO PROJETO
A cor, uma das variáveis gráficas escolhidas para representar a mensagem que
se pretendeu transmitir, assume um papel de máxima importância. Segundo
Emília Dias da Costa (2011) “A cor permite, nomeadamente: classificar, medir,
comparar, representar ou imitar a realidade, diferenciar e adicionar valor es-
tético. A cor classifica, ao permitir estabelecer distinções na leitura; mede, ao
atribuir pesos distintos aos elementos classificados; imita, ao reproduzir a cor
daquilo que simboliza” (pág. 373).
Todas estas valências foram tidas em conta na seleção das cores para a pu-
blicação. A escolha da cor vermelha para os exoplanetas deve-se ao contras-
te que esta proporciona tanto sobre um fundo branco como um fundo preto,
mas também pela sua simbologia. Eva Heller (2016) no livro “A psicologia das
Cores” refere que “A ação psicológica e simbólica do sangue faz do vermelho
a cor dominante de todas as atitudes positivas em relação à vida. O vermelho,
como a mais forte das cores, é a cor da força, da vida; (…)”. (pág. 55). A autora
refere ainda a cor vermelha como a cor da coragem e descreve esta como “o
domicílio da alma” em muitas culturas, devido a rituais, crenças e costumes à
volta do mundo que usam o vermelho como cor representativa (pág.55).
Força, vida e coragem são conceitos inerentemente associados a este proje-
to, não só pelo facto de a Astronomia poder ser uma das áreas de estudo mais
associadas à coragem e à força, por todos os avanços científicos e humanísticos
que já proporcionou, mas também pelo estudo dos exoplanetas em particular
representar a possibilidade de encontrarmos vida noutras áreas do Universo.
A cor preta em fundo branco e a cor branca em fundo preto para a represen-
tação das estrelas, deveu-se ao contraste que é estabelecido entre as duas cores
dando assim o devido destaque aos elementos.
A cor azul para o planeta Terra, também conhecido por planeta azul, seguiu
especificamente uma das valências da cor referidas por Emília Dias da Costa
(2011) “imita, ao reproduzir a cor daquilo simboliza”.
8.3. Cores
Vermelho - Exoplanetas
Preto - Estrelas
Azul - Planeta Terra
RELATÓRIO DO PROJETO 61
Figura 33 // Exemplos de
infografias criadas para projeto
onde são mostradas diferenças
através cor, uma das variáveis
gráficas usadas.
A escolha tipográfica de um projeto deve ser realizada cuidadosamente para
que esta esteja em concordância com a mensagem a ser transmitida e o contex-
to em que se insere. “O melhor tipo para um livro sobre corridas de bicicletas
será, antes de mais nada, um tipo inerentemente bom. Em segundo lugar de-
verá ser um tipo bom para livros, ou seja, um bom tipo para uma confortável
leitura longa. Em terceiro lugar, será um tipo simpático ao tema. Será provavel-
mente inclinado, forte e ágil; talvez também italiano. Mas provavelmente não
irá carregar-se de um frete excessivo de ornamentos e fantasias” (Bringhurst:
2005, 107).
Para este os textos e legendas deste projeto escolheu-se a tipografia Akzidenz
Grotesk. Uma sans-serif criada pela Berthold Type Foundry em 1896 que apre-
senta uma grande família de estilos tipográficos. Esta fonte tipográfica apresen-
ta-se com um caráter sóbrio e e de fácil leitura e a clareza das suas formas torna
a ligação com as infografias da publicação mais coesa. “A letras têm caráter, es-
pírito e personalidade. (…) Fontes escolhidas com base nesses aspetos tendem
a gerar resultados mais interessantes do que aquelas escolhidas por sua mera
disponibilidade ou pela coincidência de seu nome” (Bringhurst: 2005, 112).
Para os textos usou-se o peso regular e para as legendas, que desempenham
um papel fundamental ao acompanharem as formas abstratas das infografias,
foi usada a versão expandida que oferece a estas um maior destaque.
Os textos acompanham as infografias e descrevem os acontecimentos re-
feridos com os devidos destaques representados com a cor vermelha. Foram
escritos numa linguagem acessível e, por isso, de fácil compreensão para o lei-
8.4. Tipografia
ESTRELA
PLANETA
TERRA
ESTRELA DISTANTE
ESTRELA MAIS PRÓXIMA COM PLANETA
62 RELATÓRIO DO PROJETO
tor. Ao longos dos mesmos foram sendo inseridos desenhos de constelações,
sempre que estas eram referidas. Esta inclusão foi inspirada no livro de Galileo
Galilei “Istoria e dimostrazioni intorno alle macchie solari”, datado de 1613,
onde o astrónomo italiano inclui pequenos desenhos referentes às primeiras
observações telescópicas de Saturno no decorrer do texto. Edward Tufte (2003)
faz referência a estes desenhos definindo-os como impressionantes “In 1613,
when Galileo published the first telescopic observations of Saturn, word and
drawing were as one. The stunning images, never seen before, were just another
sentence element. Saturn, a drawing, a word, a noun. The wonderful becomes
familiar and the familiar becomes wonderful” 8 (pág. 121). Os pequenos dese-
nhos tornam a ligação texto-imagem mais forte para além de promoverem uma
melhor compreensão do contexto referido.
Figura 35 // Pormenor de um
dos textos do projeto onde são
aplicados os desenhos referentes
às constelações.
Figura 34 // Pormenor do texto
livro “Istoria e dimostrazioni
intorno alle macchie solari” de
Galileo Galilei, 1613.
9 Em 1613, quando Galileo
publicou as primeiras
observações telescópicas de
Saturno, a palavra e o desenho
eram como um só. As imagens
deslumbrantes, nunca antes
vistas, eram apenas um outro
elemento de frase.
Saturno, um desenho, uma
palavra, um substantivo. O
maravilhoso torna-se familiar e o
familiar se torna maravilhoso.
CONCLUSÃO 65
CONCLUSÃO
A realização deste projeto teve como premissa máxima a comunicação do estu-
do do exoplanetas e a forma como esta nova área da Astronomia está a mudar
a Ciência do século XXI. Para isso, desenvolveu-se uma estrutura gráfica e nar-
rativa que permitisse criar a acessibilidade necessária, para que a mensagem a
ser transmitida chegasse ao leitor. Esta estrutura resultou na criação de uma
linguagem visual minimalista que assenta nas formas básicas da linha, do cír-
culo e do ponto, para comunicar a informação. Para além da transmissão de
factos relacionados com o tema, este projeto teve como objetivo a transmissão
de um contexto ao leitor, que permitisse a tomada consciência da dimensão
que este tema tem na Ciência e na sociedade, mas também uma reflexão sobre
o lugar que ocupamos no Universo.
A conceção deste artefacto constituiu um grande desafio pela sua execu-
ção, mas principalmente pelo facto de as áreas de estudo retratadas no projeto
que não serem relacionadas com a minha formação académica. A investigação
intensiva que foi realizada na área da Astronomia e exoplanetas ao longo de
vários meses, revelou-se crucial não só para a definição do conteúdo do objeto
concebido, mas também para a abordagem que foi tomada. Ao longo da inves-
tigação muitos foram os questionamentos que foram surgindo não só sobre a
génese do tema, mas em relação à ínfima posição que nós, humanos, ocupamos
numa imensidão cósmica que vai para além do que é concebível nas nossas
mentes. Estes questionamentos pessoais tomaram uma posição fundamental
no projeto, definindo, através de uma posição autoral, o contexto que se preten-
deu transmitir ao leitor.
Afinal, estaremos sós no Universo?
DESENVOLVIMENTOS FUTUROS 67
DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
A publicação de caráter infográfico criada assume-se como um artefacto ao
qual se pretende dar continuidade. A constante descoberta de novos planetas
fora do sistema solar e a atualização dos estudos relacionados com a área, são
promissoras premissas de desenvolvimento projetual para este objeto.
Pretende-se aprofundar os marcos históricos referenciados no objeto e alar-
gar assim a estrutura narrativa do mesmo, mas também assumir o tipo de lin-
guagem visual utilizada neste artefacto como estratégia de comunicação grá-
fica e como possível ponto de partida para a transmissão de outras mensagens
relacionadas com a comunidade científica, criando assim cada vez mais pontes
este esta e a sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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“Planet 51 Peg b” Acedido em 25/07/2017.
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“Planet CoRoT-7 b” Acedido em 25/07/2017.
Disponível em: http://exoplanet.eu/catalog/corot-7_b/
72 WEBGRAFIA
“Planet HD 69830 d” Acedido em 25/07/2017.
Disponível em: http://exoplanet.eu/catalog/hd_69830_d/
“Planet Proxima Centauri b” Acedido em 13/08/2017.
Disponível em: http://exoplanet.eu/catalog/Proxima_Cen_b/
“Planetário do Porto” Acedido em: 27/07/2017.
Disponível em: http://planetario.up.pt/visita/
“Proxima Centauri b” Acedido em 13/08/2017.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Proxima_Centauri_b
“Running the Numbers: An American Self-Portrait” Acedido em 21/07/2017
Disponível em: http://www.chrisjordan.com/gallery/rtn/#car-keys
“The Designer as a Producer.” Acedido em 1/09/2016.
Disponível em: http://elupton.com/2010/10/the-designer-as-producer/
“The World of 100” Acedido em 22/07/2017
Disponível em: http://www.toby-ng.com/works/the-world-of-100/
“Turning powerful stats into art” Acedido em 05/05/2017.
Disponível em: https://www.ted.com/playlists/56/
making_sense_of_too_much_data
ÍNDICE DE FIGURAS 73
Figura 1 // Esquemas com diferentes graus de abstração/iconocidade que
mostram as várias tipologias de representação.
Fonte: Costa, J. (2003). Disenãr para los ojos (2ª ed.). Grupo Editorial Design.
Figura 2 // Pormenor de um desenho explicativo de um feto humano, da
autoria de Leonardo DaVinci, 1512.
Fonte: https://www.publico.pt/2012/05/08/culturaipsilon/noticia/
leonardo-da-vinci-o-anatomista-dedicado-e-moderno-1545195
Figura 3 // Infografia de William Playfair referente a inquérito sobre as
Causas Permanentes do Declínio e Queda de Nações ricas e poderosas, 1805
Fonte: http://www.branchcollective.org/?ps_articles=jonathan-sachs-
17861801-william-playfair-statistical-graphics-and-the-meaning-of-an-event
Figura 4 // Variáveis gráficas de Jacques Bertin, 1967
Fonte: Costa, J. (1998). La Esquemática. Ediciones Paidós Ibérica.
Figura 5 // Mapa da autoria de Charles Joseph Minard que retrata as mortes
das tropas de Napoleão durante a campanha russa, 1812.
Fonte: http://factmint.com/happy-234th-birthday-charles-joseph-minard/
Figura 6 // Apresentação dos vários módulos
Fonte: Software “NASA’s Eyes - Eyes on Exoplanets”
Figura 7 // Menu referente ao cálculo do tempo da viagem através das várias
opções de transporte.
Fonte: Software “NASA’s Eyes - Eyes on Exoplanets”
Figura 8 // Opção de comparação com o das órbitas dos planetas com
Sistema Solar.
Fonte: Software “NASA’s Eyes - Eyes on Exoplanets”
Figura 9 // Características do planeta.
Fonte: Software “NASA’s Eyes - Eyes on Exoplanets”
ÍNDICE DE FIGURAS
74 ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 10 // Postal sobre a faixa etária
Fonte: http://www.toby-ng.com/works/the-world-of-100/
Figura 11 // Postal sobre o género
Fonte: http://www.toby-ng.com/works/the-world-of-100/
Figura 12 // Postal sobre a religião
Fonte: http://www.toby-ng.com/works/the-world-of-100/
Figura 13 // Postal sobre o medo
Fonte: http://www.toby-ng.com/works/the-world-of-100/
Figura 14 // Capa do livro.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 15 // Lombada do livro.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 16 // Dupla página referente ao tema das estrelas gigantes.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 17 // Pormenor onde é representada a escala do Sol em comparação
com as estrelas gigantes.
Figura 18 // Entrada do capítulo “O Sol”.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 19 // Entrada do capítulo “Telescópios”.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 20 // Entrada do capítulo “Estrelas”.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 21 // Dupla página referente ao número de exoplanetas existentes.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 22 // Pormenor da página onde é representada uma escala do Sistema
Solar proporcional aos exoplanetas indicados.
Fonte: Arquivo pessoal
ÍNDICE DE FIGURAS 75
Figura 23 // “Car Keys”, 2011
Fonte: http://www.chrisjordan.com/gallery/rtn/#car-keys
Figura 24 // “Car Keys” (aproximação), 2011
Fonte: http://www.chrisjordan.com/gallery/rtn/#car-keys
Figura 25 // “Cigarette Butts”, 2013
Fonte: http://www.chrisjordan.com/gallery/rtn/#cig-butts
Figura 26 // “Cigarette Butts” (aproximação), 2013
Fonte: http://www.chrisjordan.com/gallery/rtn/#cig-butts
Figura 27 // Esboços iniciais para a criação da narrativa
do projeto.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 28 // Formato escolhido para o artefacto criado.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 29 // Cronologia inicial onde são apresentadas as várias fases pelas
quais a Terra já passou aos olhos da Humanidade.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 30 // Dupla página onde a Terra está representada como o centro do
Universo.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 31 // Dupla página do projeto onde foi colocada a interregoção “E
planetas como a Terra?”.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 32 // Exemplos de infografias criadas para o projeto.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 33 // Exemplos de infografias criadas para projeto onde são mostradas
diferenças através cor, uma das variáveis gráficas usadas.
Fonte: Arquivo pessoal
76 ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 34 // Pormenor do texto livro “Istoria e dimostrazioni intorno alle
macchie solari” de Galileo Galilei, 1613.
Fonte: https://i.pinimg.com/originals/24/69/f5/2469f5474a864b5d2f1ea-
975104121da.jpg
Figura 35 // Pormenor de um dos textos do projeto onde são aplicados os
desenhos referentes às constelações.
Fonte: Arquivo pessoal