Conceito de Consciência na Teoria de Vigotski

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    Psicologia USP, 2006, 17(2), 59-83. 59

    CONCEITODE CONSCINCIAEM VIGOTSKI

    Gisele Toassa1

    Instituto de Psicologia - USP

    Este artigo persegue o conceito de conscincia na obra de Vigotski,

    o principal problema de sua psicologia. Resume a importncia do

    contexto sociopoltico da Unio Sovitica para o desenvolvimento de sua

    teoria, que se iniciou com influncias da reflexologia e do pavlovismo,

    integrando progressivamente os amplos conhecimentos do autor (nasartes, na filosofia clssica e marxista) at a neuropsicologia e a psicologia

    experimental. Atravs da leitura de trabalhos produzidos de 1924 a 1934,

    este artigo revisa as ocorrncias semnticas da palavra conscincia,

    identificando seus fundamentos monistas e materialistas, extraindo

    seus sentidos principais e incluindo o conceito no enfoque histrico-

    cultural. O conceito desmembrado em suas trs acepes basilares

    (processo de tomada de conscincia da realidade externa e interna;

    atributo de contedos e processos psicolgicos; sistema psicolgico)

    que se articulam, produzindo um dos fundamentos da psicologia geral

    vigotskiana e articulando neuropsicologia, tica e ontologia.

    Descritores: Vygotsky, Lev Semenovich, 1896-1934. Conscincia.

    Histria da Psicologia. Neuropsicologia. Luria, Alexander

    Romanovich, 1902-1977.

    Leningrado, II Congresso Nacional de Psiconeurologia, 6 de janeiro de1924. Um recm-chegado da Bielo-Rssia apresenta a comunicao in-titulada Os mtodos de investigao reflexolgicos e psicolgicos. Suas

    1 Doutoranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto dePsicologia - USP. Meus ternos agradecimentos aos revisores deste artigo, Suely AmaralMello (UNESP-Marlia), orientadora deste trabalho iniciado no mestrado, e SandroHenrique Vieira de Almeida, historiador da psicologia sovitica (PUC-SP). Apoiofinanceiro: CAPES e CNPQ. Endereo para correspondncia: Rua Caiubi, 372, apto.22, Perdizes, So Paulo, SP. CEP 05010-000. Endereo eletrnico: gtoassa@yahoo.

    com.br

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    idias so transformadas em texto e publicadas na coletnea Psicologia eMarxismo, organizada por Kornilov, um ano mais tarde. Esto inaugura-dos os dez anos de fria criadora do jovem Lev Semenovich Vigotski, de-

    cepados pela tuberculose em junho de 1934 (Luria, 1992; Vygotski, 1991).O texto apresentado demarca a primeira posio de Vigotski no campo

    metodolgico, j imersa num debate que se revelaria crucial para o desen-volvimento de seu enfoque: o introspeccionismo subjetivista versus a cinciados reflexos, objetivista; a psicologia ferramenta de uma sociedade que sereconstri na luta de foras revolucionrias e contra-revolucionrias. A novacincia ganha conotaes poltico-ideolgicas e se expande dos laboratriosexperimentais para as aplicaes sociais.

    Desde a Rssia tzarista, despontava uma eminente tradio de estu-do da ento denominada atividade nervosa superior: discpulo de Schenov eCion, Pavlov fora laureado com o Nobel em 1904. Tempo de grandes desafios:nos anos que seguem a Revoluo de Outubro (1917), a fome convive como ordenamento cientfico da cosmoviso socialista. Em 1921, Lnin assinaum decreto assinalando os incrveis servios do acadmico Ivan PetrovichPavlov, que so de enorme significncia para a classe trabalhadora de todo omundo (Nobel Foundation, 1967). Pavlov recebe novas condies de traba-lho do governo socialista sua equipe chega a ser composta por 300 pessoas e nas duas dcadas seguintes que publicar suas obras de maior alcanceterico (Pessotti, 1979), no obstante o prprio Ivan Petrovich sofresse na pelea grande fome que se seguiu revoluo socialista.

    As palavras de Lnin ilustram a grande importncia que as cincias ea tecnologia vo adquirindo no regime sovitico, bem como a crena geral nomeio cientfico da poca de que a cincia dos reflexos de Pavlov forneceria basepara uma nova viso do psiquismo humano. Conforme Shuare (1990), o co-mando sovitico considerava necessrio desenvolver uma viso materialista e

    dialtica de cincias naturais e sociais. Neste perodo de grande agitao revolu-cionria, relativa liberdade de expresso e disputas de poder na cpula do regimesocialista especialmente aps a morte de Lnin em 1924 , floresce um breveperodo de riqussimas contribuies intelectuais e artsticas (Reis Filho, 2003).

    Vigotski desponta neste cenrio de penria material e entusiasmo socia-lista que Valsiner e Van der Veer (1996) chegam a denominar de missionrio,

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    tamanho o empenho do autor na edificao da nova psicologia , de criativoentrecruzamento de cincia, arte e filosofia ao qual, com seu gnio intelectualjudaico e iluminista, ter muito a acrescentar. Em 1923, Kornilov divulga no I

    Congresso de Nacional de Psiconeurologia alguns princpios para uma psicolo-gia marxista, tais como: a matria tem carter primrio com respeito consci-ncia; a psique propriedade da matria altamente (e socialmente) organizada;a dialtica deve ser aplicada criativamente como mtodo de investigao. Comesta comunicao, o autor intensificava os ataques pblicos contra Chelpanov,diretor do Instituto de Psicologia de Moscou (Valsiner & Van Der Veer, 1996).

    Outros autores antes de Kornilov j haviam se aventurado a proporprincpios marxistas na edificao da psicologia, mas, desta feita, h uma con-quista poltica importante: ainda em 1923, o Conselho Cientfico Estatal des-titui Chelpanov da direo do Instituto, substituindo-o por Kornilov (Leontiev,1996). Nessa poca, proliferavam diversas escolas da Psicologia: psicanlise,personalismo, pedologia, introspeccionismo entre outras, embora com o pas-sar dos anos fossem silenciadas as tradies consideradas burguesas (Valsiner& Van Der Veer, 1996).

    O novo diretor era o criador da chamada reactologia, cincia das rea-es, que ento defendia a combinao de relatos pessoais com o estudo dasreaes ocultas ao observador, do dispndio de energia no trabalho entre ou-tros temas. No houve, entretanto, grande proximidade entre Kornilov, sem-pre envolvido com tarefas administrativas do Instituto, e Vigotski, cuja basede pesquisa estendeu-se ao laboratrio da Academia de Educao Comunista(Valsiner & Van Der Veer, 1996). Aps sua apresentao no II Congresso dePsiconeurologia, Vigotski foi convidado pelo diretor a unir-se ao corpo de pes-quisadores de um Instituto em remodelao, no qual, a uma certa distncia dePavlov, avolumavam-se as crticas idia de que todo comportamento poderiaser explicado pelo reflexo condicionado. Com a presena de jovens como Lu-

    ria, Leontiev, Morozova entre outros, buscava-se demarcar a posio de umnovo grupo cientfico.2

    Vigotski um pensador complexo, e sua obra de nenhum modo podeser enquadrada na cincia dos reflexos, na reactologia ou qualquer outra ex-

    2 Luria e Leontiev trabalhavam para descobrir as bases materiais do fenmenopsicolgico, usando concepes pavlovianas (Leontiev, 1996).

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    presso introspeccionista ou objetivista clssica. Educou-se por meio do ma-terialismo histrico e dialtico, dos conhecimentos cientficos e filosficos,clssicos ou de sua poca, bem como de seus prprios trabalhos experimen-

    tais (Almeida, 2004), sendo o principal criador do enfoque histrico-cultural.Mas seus primeiros trabalhos no Instituto indicam alguma afinidade tericapara com Kornilov, Bekhterev e Pavlov e, at a composio do revolucionrioSignificado histrico da crise na psicologia, vrios textos do autor defendema explorao da Psicologia como cincia dos reflexos condicionados, debatedos estudiosos da ento chamada atividade nervosa superior. Sua postura era ade uma crtica propositiva e, j em 1924, ele reconhecia, como outros autoresdo cenrio internacional, a crise de sua cincia (Alvarez & Ro, 1991).

    O Vigotski de 1924 procura levar a unidade explicativa do reflexo con-dicionado s ltimas conseqncias, e com a terminologia da cincia dosreflexos que ele sintetiza algumas de suas primeiras idias sobre a conscin-cia, linguagem e inconsciente. O autor (1924-1934/1991) afirma que a inves-tigao reflexolgica deveria sofrer uma virada: os modestos experimentosclssicos de formao do reflexo condicionado j haviam atingido seu limite.O pensamento, inclusive por Vigotski, considerado na poca como reflexoinibido e a linguagem (interna ou externa) como um tipo de comportamento.A fala aparece como cadeias de perguntas e respostas, sries capazes de sofrer

    a influncia de outros sistemas reflexos; trata-se de um meio de comunicaodiante do qual a cincia dos reflexos sofre um impasse terico e metodolgico.Tal impasse explica-se, segundo minha compreenso, porque homens comoPavlov e Bekhterev eram fisilogos instrudos no estudo do comportamentoanimal. Pavlov, no entanto, acabou por desenvolver uma concepo de lingua-gem como segundo sistema de sinalizao, como novo padro de sinaliza-o constitudo de estmulos verbais, diferentemente da simples sinalizaosensorial (Pavlov, 2005). A maior intimidade com os territrios da lngua, lite-ratura e semiologia possibilitou a Vigotski superar o dualismo reflexolgico eenxergar na socialidade da linguagem a origem das interaes que compem aconscincia humana. Vigotski abraou a formulao de uma obra materialistaque no se recusasse a estudar a conscincia, e tampouco fosse capturada nosbecos sem sada do introspeccionismo. Neste momento de sua obra, a sada considerar a conscincia como a prpria interao entre sistemas de reflexo:

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    tambm a prpria conscincia ou a tomada de conscincia dos nossos atos e esta-dos deve ser interpretada como sistema de transmissores de uns reflexos a outrosque funcionam corretamente em cada momento consciente. Quanto maior sejao ajuste com que qualquer reflexo interno provoque uma nova srie em outrossistemas, mais capazes seremos de prestar-nos contas de nossas sensaes, co-munic-las aos demais e viv-las (senti-las, fix-las nas palavras etc). (Vygotski,1924/1991, p. 3, traduo nossa)

    A conscincia aparece, pois, como um sistema de transmissores, umsistema que adquire a qualidade de sensaes secundrias. Existiriam, basica-mente, reflexos internos e externos, como duas categorias gerais de sistemas

    de reflexos: um reflexo interno pode tornar-se palavra falada, e neste tor-nar-se que atua o referido sistema. O sistema regido por leis causais destaestruturao em complexos, com diferentes tipos, de formas de interao den-tro dos subsistemas e na totalidade dos sistemas (Vygotski, 1924-1934/1991).Os experimentos de associao de palavras, por exemplo, realizam-se com acolaborao de sistemas prximos. Quando uma emoo traduzida em pa-lavras, temos um exemplo de interao sistmica. Surgem j dois termos queno abandonaro Vigotski: estrutura e sistema, os quais se enriquecem com aevoluo terica, metodolgica e emprica do enfoque histrico-cultural e seimiscuem na sua discusso do conceito de conscincia. Estes termos indicamque o crebro no tem um funcionamento organizado a priori, que as estrutu-ras funcionais fundamentam-se na capacidade de formao de novas conexesneurais sistemicamente organizadas. A palavra unidade bsica do sistemados reflexos da conscincia, isto , dos reflexos que servem para refletir a in-fluncia de outros sistemas3.

    A palavra falada pelo outro e ouvida por mim um excitante, a faladapor mim um reflexo que cria excitantes a serem ouvidos pelo outro e por

    mim. So reflexos reversveis nos quais reside a fonte do comportamento e daconscincia, servindo coordenao coletiva do comportamento, perante o

    3 Assim, Vigotski prope uma cincia dos reflexos tambm aplicada linguagem,em que o relato verbal visto como uma forma de experimento, no como simplesinforme de processos internos, carente de preciso, mas sim, como uma seqncia deexcitaes e respostas motoras, isto , de reflexos.

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    qual a conscincia nunca pensada como independente do mundo e com umatendncia progressiva integrao entre diversos sistemas de conduta.

    O mecanismo da conscincia de si prprio (auto-conhecimento) e de reconhecimen-

    to dos demais idntico: temos conscincia de ns mesmos porque a temos dosdemais e pelo mesmo mecanismo, porque somos com respeito a ns o mesmo queos demais com respeito a ns. Reconhecemos-nos a ns s na medida em que somosoutros para ns, isto , pelo quanto somos capazes de perceber de novo os reflexosprprios como excitantes. (Vygotski, 1924-1934/1991, p. 12, traduo nossa)

    A conscincia de si implica, pois, numa relao de alteridade da pes-soa para consigo mesma, adquirida atravs da auto-estimulao produzidapela palavra. O conhecimento e o reconhecimento so funes da palavra,

    sendo que uma outra pessoa est sempre presente na sua formulao. Aparecej aqui a idia de desdobramento de funes entre pessoas e sua sntese numas, uma das leis fundamentais de desenvolvimento das funes psquicas su-periores. Noutro texto jovem (1925), a conscincia aparece como vivncia dasvivncias, em analogia forma pela qual as simples sensaes so sensaesdos objetos (Vygotski, 1924-1934/1991). Este o embrio da idia de segun-da conexo neurolgica na mediao da atividade, possivelmente inspiradaem Pavlov, que ganha maior consistncia epistemolgica no decorrer da obravigotskiana.

    Mas essa primeira conceituao de conscincia problemtica. A pa-lavra restringe-se ao nvel da sensao e da estimulao que explicam, aqui,o psiquismo, sem avanar muito com relao ao associacionismo tradicional.Seu aspecto essencial so as relaes interfuncionais, as tradues das rela-es entre sistemas de reflexos cerebrais. Mas como estas tradues se efetu-am entre os vrios tipos de reflexo? Quais so exatamente os sistemas de refle-xo, que agora parecem contemplar vrias faculdades idealistas da alma (comoassociao, linguagem, emoo etc.)? O prprio Vygotski (1924-1934/1991)

    mostra-se insatisfeito com a idia de reflexo, indicando que comportamentoseria um termo mais totalizante, que abarca tambm os reflexos condicionadostradicionais.

    Num enquadramento terico semelhante, A conscincia como umproblema de psicologia do comportamento (Vygotski, 1925/1991) polemi-za com a cincia dos reflexos que, para Vygotski, perde-se no dualismo e no

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    epifenomenalismo pois admite a existncia dos fenmenos de conscincia,mas se recusa a estud-los com os mtodos da reflexologia; aceita-os, emboraos tome como simples sensaes das cadeias mecanicistas de comportamento.

    As sondagens introspeccionistas deveriam ser abandonadas. O texto indicadoacima avana as posies do autor nos seguintes aspectos:

    1) Metodolgico: para se estudar os fatos da conscincia, preciso tras-lad-los a um idioma objetivo, materializ-los (Vygotski, 1924-1934/1991).Outro passo restringir o reflexo condicionado aos fenmenos detectados nosexperimentos pavlovianos, idia tambm presente em Bekhterev.

    2) Quanto s formas da experincia e na sua aquisio: o reflexo con-dicionado4 (como o autor tambm defende incidentalmente na Psicologia

    Pedaggica) considerado como meio bsico de aquisio da experinciacomportamental. Ele a impresso neurolgica que conjuga as aquisiesevolutivas inatas, a experincia histrica do gnero humano, a de outros indi-vduos (experincia social) e a duplicada (indicando a mediao do trabalhona relao indivduo ambiente) (Vygotski, 1925/1991). Estas quatro fontes docomportamento so referncias importantes para a escrita de sua PsicologiaPedaggica. A conscincia ainda aparece como interao entre sistemas dereflexos, no qual se d uma luta entre os diversos tipos de reflexos pela possedo campo motor comum sistemas reflexos que se vinculam, sendo que, deacordo com variveis diversas, surgem focos de maior excitao no crebro,possibilitando a um reflexo tornar-se dominante e inibir outros (idia presentena fisiologia de Ukhtomski).

    3) Indcios maiores da integrao do marxismo em seu pensamento: otexto se abre com uma citao de Marx que ressalta a capacidade humana deplanejamento das prprias aes, de duplicao da realidade na conscinciapor meio do trabalho humano e de adaptao ativa ao mundo externo. O papeldo trabalho como formador da conscincia insinua-se neste texto5.

    4 J existe uma ambigidade do autor quanto abrangncia do conceito de reflexo:parece preferir, em substituio a ele, o termo comportamento (Vygotski, 1925/1991,p. 42), que, depois, tambm h de sacrificar pelas idias de funo psquica superior esistemas psicolgicos.

    5 Davidov e Radzikhovskii (1985, p. 44) indicam uma incompatibilidade entre as trsacepes da palavra conscincia neste texto: 1) como reflexo dos reflexos; 2) comoestrutura do comportamento; e 3) como caracterstica do trabalho humano. Discordo

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    A Psicologia Pedaggica (Vigotski, 1926/2001c) apresenta a contri-buio das mais importantes psicologias da poca para o trabalho pedaggico.Aqui, a idia de conscincia surge aplicada ao papel de educar e de dirigir o

    desenvolvimento da criana, com ateno aos processos psicolgicos de aqui-sio da conscincia social. Maturam as incurses do autor no chamado eixogentico de investigao, ou seja, no estudo da ontognese e filognese daconduta humana. A aquisio da experincia do gnero humano e de outrosindivduos j vista por ele como um processo dinmico, ativo e dialtico. Afilognese da conduta consciente estudada na sua estrutura e natureza ce-rebral, aparecendo como um objeto de reflexo para o autor; existe j umaestratificao evolutiva dos tipos de reao, com uma dialtica entre as reaeshumanas conscientes e as evolutivamente mais antigas. Os atos racionais, por

    exemplo, ao se repetirem, podem adquirir o perfil de simples reflexos decondutas automticas e este aspecto seria fundamental para a execuo detarefas mais complexas idia que se reapresenta num dos ltimos trabalhosdo autor (2001a). Conforme Valsiner e Van der Veer (1996), na concepodo evolucionista russo Vagner (importante fonte de Vigotski), o instinto seriadiferente do intelecto, conquanto instinto e intelecto tivessem o reflexo comoorigem comum.

    Na relao entre razo-instinto-atividade aprofunda-se o monismo que

    o autor desenvolver posteriormente: o homem parte da natureza. Mas areflexologia j mostrou seus limites: difcil concili-la com as evidnciasde conduta humana voluntria, havendo tambm srios problemas em todosos outros referenciais. A Psicologia estava entre a vida e a morte, e Vigotski,tambm. Ao sofrer uma sria crise de tuberculose, o autor escreve o texto que,para muitos, serviria como seu testamento para a continuidade do desenvolvi-mento da Psicologia: o explosivo Significado Histrico da Crise na Psicolo-gia (1927/1991), proibido na Unio Sovitica como toda a obra de Vigotski durante mais de 20 anos. Este texto s vem luz em 1982.

    O autor defende a formulao de uma psicologia geral que abstraia da

    desta suposta incompatibilidade, defendendo que existe uma consistncia interna nestaprimeira conceituao de Vigotski: aqui o trabalho visto como atividade, como arelao entre homem e mundo produzida pelo reflexo condicionado, e refletida tambmno segundo sistema de reflexos: a conscincia. Existe j uma unidade de concepo emVigotski que se desenvolve e ganha sua expresso histrico-cultural anos depois.

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    diversidade dos fenmenos psquicos um trao comum, prprio de todos ouda disciplina geral (Vygotski, 1927/1991), fazendo um balano das contribui-es de diversas escolas e as conquistando para uma psicologia marxista, com

    seu mtodo inspirado no materialismo dialtico. Tal psicologia deveria mediartemas e condies concretos de reflexo e atuao do psiclogo tornando-seuma psicologia concreta do homem. Sem erro, pela abrangncia e recorrnciacom que o autor trata o conceito de conscincia, podemos dizer que este seriaparte da disciplina geral, vindo a cobrir, no futuro, um amplo espectro de ne-cessidades prticas. O teste da teoria para Vigotski deveria ser feito especial-mente numa relao orgnica com aprtica, como, assim podemos supor, eraa prtica clnica que o autor desenvolvia na pedologia e na reabilitao neurop-sicolgica6. A importncia do conceito na educao reflete-se na preocupao

    do autor em educar os professores acerca dos meios para formar a conscinciasocialista dos alunos: a educao era uma demanda urgente na Unio Soviticasocialista, que ento contava milhes de analfabetos, alm de muitas crianasdesabrigadas e deficientes sem nenhum tipo de assistncia (Kozulin, 1994).

    A sociedade, sua histria e sua cultura surgem como os fundamen-tos ontolgicos da vida humana, superando os esquemas de comportamentoreflexo, criando formas especificamente humana de determinismo, com umaregulao da conduta que no poderia ser reduzida ao comportamento ani-

    mal. o momento de conquistar a conscincia como objeto de estudo para anova psicologia: Vigotski entra em seu ltimo e decisivo momento de produ-o (1928-1934), em que desenvolve, com seus discpulos, os fundamentos doenfoque histrico-cultural.

    O binmio estmulo-resposta foi ajuizado por Vygotski (1931/1995)como o nico mtodo existente na psicologia experimental, partilhado por in-trospeccionistas e reflexlogos. Mas para o autor, a diferenciao do humanocom relao ao animal dever-se-ia principalmente apropriao de novos me-

    diadores da conduta, especialmente signos e ferramentas. O autor aponta paraa necessidade de uma anlise dos processos baseados no signo, que introduzemuma verdadeira mudana de qualidade na relao homem-meio: para Vigotski,a cincia dos reflexos errou ao enquadrar o signo entre os demais estmulossensoriais, ou a reao verbal entre outras tantas reaes, pois a palavra no

    6 Vigotski inspira-se na frase de Engels: A prova do pudim com-lo (Engels, 1880).

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    meramente um estmulo fsico. O homem teria suplantado o padro fixo,caracterstico da natureza, no qual os animais respondem hereditariamente aosestmulos ambientais, ou adquirem novas informaes sobre o ambiente a par-

    tir do reflexo condicionado (conceito amplo que tambm incluiria, em minhaviso, o comportamento operante skinneriano): os signos so uma forma deauto-estimulao no domnio da conduta, por meio da qual a realidade podeser representada na ausncia dela prpria, podendo tornar-se conscincia dosimpasses e relaes do real. O signo tambm parcialmente sensorial poisdepende, geralmente, de uma representao que o remete a algo fora de simesmo , mas , antes de tudo, um sinal arbitrrio, socializado e no coinci-dente com a sensao do objeto que representa.

    Vigotski, na tentativa de criar uma cincia geral que integrasse os da-dos de muitas disciplinas particulares, e se inspirando nos estudos da atividadenervosa superior, edifica um modelo de funcionamento neuropsicolgico queno se baseia na psicologia animal, mas a integra e condensa de forma originala enorme pliade de fontes cientficas, filosficas e artsticas que ele conhecia.Era esse o seu projeto de psicologia, no qual, desde o princpio, a conscinciano uma qualidade de reas especficas do crebro humano. De fato, mesmoque o crebro tenha novas reas e haja um aumento de volume em outras, estasregies no tm funes a priori. O signo transforma a formao do reflexo

    simples e, com o reflexo, compartilha apenas o fato de ser tambm uma co-nexo neural, embora de reas no identificadas com a simples percepo doestmulo e a eliciao da resposta.

    Uma das novas funes da palavra o domnio do prprio comporta-mento que, geneticamente, supera o controle dos estmulos condicionados. Noprocesso de aquisio de novas atividades, o controle do comportamento in-ternalizado a partir do domnio exercido por outras pessoas sobre a criana, porvia da auto-estimulao proporcionada pelo signo que, como vimos, anlo-

    go, mas essencialmente diverso de um estmulo. Assim, na conduta superior:1) o homem parte da natureza, seu comportamento um processo

    natural, a dominao do homem se estrutura como qualquer domnio da natu-reza, segundo o princpio de Bacon: a natureza se vence, obedecendo-a. Marxe Engels citam essas palavras ao falar das ferramentas de trabalho e dizem: Ohomem utiliza as propriedades mecnicas, fsicas e qumicas das coisas que

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    emprega como ferramenta para atuar sobre outras coisas de acordo com seuobjetivo. (Marx & Engels, citado por Vygotski, 1931/1995, p. 93).

    2) Francis Bacon, Hegel, Marx e Engels sero referncias filosficas

    importantes para que a conscincia seja vista, ento, como parte da realidadenatural para que os princpios naturais de formao do reflexo condiciona-do, por exemplo, sejam incorporados e superados pelas formas culturais deorganizao da conduta; para que seja possvel compreender a estrutura e ainterao das neoformaes neuronais humanas. A subordinao da naturezaaos fins sociais estabelece uma tenso dialtica para com a natureza internaexistente em seu sistema de reflexo consciente.

    Um vislumbre do monismo vigotskiano est na formao do ato voli-

    tivo: para ele, este um problema conexo ao da conscincia. No ato volitivo,devem-se diferenciar dois aparatos relativamente independentes: o primeirocorresponde ao prprio momento da deciso, quando se forma o aparato fun-cional e a subseqente conexo reflexa. Neste momento, o sistema de aoconsciente sopesa os motivos de deciso, utilizando os signos para represent-los e analis-los. A parte final do processo volitivo a formao artificial doreflexo condicionado com a abertura de uma nova via nervosa. J o segundoaparato seria o executivo, o funcionamento da conexo que se formou, a qualse processa de forma relativamente inconsciente (Vygotski, 1931/1995).

    O autor produz modificaes terico-metodolgicas importantes: naetapa final do seu mtodo histrico-gentico, iniciada por volta de 1928 (ba-seado em Beatn, 2005), propondo um conbio de fontes de conhecimentoque, unidas, constituem uma complexa teoria epistemo-ontolgica do psiquis-mo humano e que, at hoje, circunscreve a abrangncia temtica desta teoria.Faamos um pequeno recorte: a pesquisa experimental de Vigotski procuravafundir a observao dos aspectos externos e internos da reao da criana eo processo pelo qual os sujeitos integravam os signos e/ou instrumentos in-

    troduzidos pelo experimentador para a resoluo das atividades propostas.Subjetivo e objetivo so duas faces da mesma moeda: a experincia subjetivaesclarece como o crebro organiza objetivamente a psique. A anlise das le-ses cerebrais locais no adulto, por exemplo, e o modo como impactavam apercepo, a memria, a prpria condio do sujeito no seu meio social eramprocedimentos usuais na clnica vigotskiana. No se pode falar em conscincia

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    animal no referencial vigotskiano, devido ao papel das atividades especifica-mente humanas em seu desenvolvimento (Davidov & Radzikhovskii, 1985)7.E o desenvolvimento :

    um complexo dialtico que se distingue por uma complicada periodicidade, a des-proporo no desenvolvimento das diversas funes, as metamorfoses ou trans-formao qualitativa de umas formas em outras, um entrelaamento complexo deprocessos evolutivos e involutivos, o complexo cruzamento de fatores externose internos, um complexo processo de superao de dificuldades e de adaptao.(Vygotski, 1931/1995, p. 141, traduo nossa)

    Foi principalmente debatendo com autores de inspirao gestaltista, etambm Kurt Lewin, com os quais Vigotski compartilhava uma concepo es-

    trutural de desenvolvimento (Valsiner & Van der Veer, 1996), que o autor com-pletou sua concepo sobre as linhas gerais do desenvolvimento biolgico e seuentrelaamento com o cultural. Porm, na sua viso, o gestaltismo era biologi-cista, fisicalista e acrtico, e ele distanciou-se cada vez mais desta concepo.

    Em todo caso, para Vigotski, a interao com o ser mais desenvolvidoproduz mudanas estruturais da conscincia, predominantemente determinadapor leis biolgicas nas trs primeiras etapas do desenvolvimento da criana,propostas por Bhler (etapas que j se mostram nos macacos antropides pes-

    quisados por Khler) e reconhecidas por Vygotski (1995):- instintos ou o fundo inato, hereditrio, de seqncias de condutas

    programadas;

    - adestramento ou etapa dos hbitos ou reflexos condicionados: rea-es aprendidas, adquiridas na experincia pessoal;

    - intelecto ou reaes intelectuais, que realizam a funo de adaptaos novas condies. Karl Bhler tinha filiao gestaltista e desenvolveu a idiadesta etapa pela similaridade entre suas prprias observaes de crianas e osexperimentos de Khler com primatas. Este ltimo sustentava que os primatasapresentavam reaes inteligentes, ausentes em outras espcies, como a utili-zao de objetos para alcanar outros objetos.

    7 Foge aos objetivos deste artigo comentar os processos bsicos de formao da condutasuperior, mas se aplicam conceitos como zona de desenvolvimento real e prximo,situao social de desenvolvimento etc.

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    Conceito de Conscincia em Vigotski

    Vygotski (1931/1995) acrescenta uma quarta etapa, a do desenvolvi-mento do domnio do prprio comportamento em que, como vimos no caso

    dos atos volitivos, nega dialeticamente as etapas primitivas e as conservam numnvel superior de funcionamento. O prprio autor mostra-se indeciso sobre otermo adotado, perguntando-se: seria possvel dizer que o desenvolvimentoda vontade uma simples etapa, quando se diferencia to profundamente dosmomentos anteriores do desenvolvimento? No temos uma resposta definitivado autor.

    Um aspecto de certo modo contemplado nas etapas de Bhler era aconvico vigotskiana de que o desenvolvimento biolgico nos prov com

    formas imediatas de comportamento, como a percepo, os afetos, a memria(Vygotski, 1931/1995); todas as funes elementares, que se confundem noanimal e se diferenciam no desenvolvimento infantil. As reaes instrumentaisdos chimpanzs indicariam um passo evolutivo importante, embora fossem,para Vigotski, mais o ltimo degrau da evoluo animal que o mais confusoincio da histria da conscincia humana. A distino entre inferior e superior,por motivaes tanto polticas quanto cientficas, ser posteriormente bastantecriticada pela psicologia sovitica.

    Devemos dizer que estas trs primeiras etapas estariam ainda subordi-nadas s leis biolgicas da adaptao, embora exista uma clara superao porincorporao. As propriedades inerentes primeira etapa do comportamento,por exemplo, se superam, se eliminam e se convertem em uma etapa contrria,superior, formando verdadeiras misturas de tipos de comportamentos.

    As novas funes psquicas, especificamente humanas, sociais e cul-turais, funes psquicas superiores, formam-se neste processo de superao.Enlaam os vrios campos de investigao de Vigotski (1931/1995), que con-

    siderava as funes culturais mais antigas como fazer ns em cordas pararecordar formas rudimentares das funes superiores, ficando na prpriaorigem histrica destas formas, de tal modo que Vigotski (2001a) afirma: Ela(a palavra) a expresso mais direta da natureza histrica da conscincia hu-mana. (p. 486).

    assim que toda funo psicolgica superior, segundo Pino (2000),

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    uma relao social internalizada na qual se diferenciam, como afirmaVygotski (1931/1995), dois grupos de fenmenos: 1) domnio dos meios ex-ternos do desenvolvimento cultural e pensamento; 2) desenvolvimento das

    funes psquicas superiores especiais: ateno voluntria, memria lgica,formao de conceitos. Suas idias foram amplamente esclarecidas, enrique-cidas ou (muitas vezes) superadas pela neuropsicologia de Luria e outros cien-tistas soviticos8. So funes de ao observvel no exterior do homem econtroladas de seu interior.

    Imerso neste amplo quadro terico que procura representar as maiscomplexas qualidades criativas do psiquismo humano, Vigotski esculpe, final-mente, um novo conceito de conscincia. Este conceito uma prenda de suasvariadas fontes epistemolgicas e, para muitos, era seu principal problema depesquisa (Leontiev, 1996; Luria, 1986). Afirmando sua postura monista, ma-terialista e dialtica, proporciona uma alternativa dicotomia entre objetivo esubjetivo na atividade; a conscincia processo e produto, passvel de anlisessemiticas concretas e tambm em termos de interaes sistmicas cerebrais.No coincide com a idia de conscincia poltica e moral (embora, este lti-mo sentido aparea raramente na Psicologia Pedaggica) nem simplesmentecom o conhecimento cientfico. Aparece na obra vigotskiana, normalmente,com referncia ao indivduo pois uma de suas acepes trata de um sistema

    psquico que s pode realizar-se concretamente no indivduo humano mas asfontes de sua formao so scio-histricas.

    A conscincia sempre conscincia socialmente mediada de algumacoisa (Vygotski, 1928-1933/1996): a prpria relao da criana com o meio,e, de modo mais tardio, da pessoa consigo prpria (Luria, 1988). A conscin-cia no sistema esttico, mecanicista: relaciona-se ao desenvolvimento daconduta voluntria. Conforme Toassa (2004), em Vigotski, na vida concreta oindivduo pode modificar as condies que determinam sua conduta, criando

    uma nova soluo; o processo de criao de um sentido, de uma interpretaopara o mundo e suas relaes j seria uma forma de criao de novas combi-naes: no a realidade que simplesmente se reflete na conscincia, mastambm o indivduo que a reconstitui ativamente e nela interfere, produzindo

    8 Textos indicados: Fundamentos de Neuropsicologia e Higher Cortical Functionsin Man. Luria, sempre norteado pelo mestre, organiza uma tradio neuropsicolgicaque influencia, posteriormente, Oliver Sacks (1990).

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    Conceito de Conscincia em Vigotski

    uma nova verso da realidade externa e das prprias vivncias representadasna palavra. Diferentemente de outras teorias da Psicologia, o sistema da cons-cincia para o autor no equivale percepo, e se desdobra em duas acepes

    principais. Vejamos:1 acepo: como um processo e seu produto. Neste sentido, o ter-

    mo utilizado costumeiramente pelo autor o de tomada de conscincia comrespeito ao meio, ao prprio eu e s vivncias subjetivas, realizada por umcomplexo mecanismo psicolgico. O termo empregado na filosofia des-de o sculo XVIII (Inwood, 1997, p. 78), sempre descrevendo uma relao.Trata-se de uma relao de compreenso ou conhecimento, ativa com respeitoao meio social e no depercepo, e tampouco depensamento, como se cos-tuma entender em outras psicologias. Demanda, contudo, uma consonnciaentre os fatos internos ou externos ao sujeito e sua representao, ainda queinconclusa ou imperfeita, na palavra da a idia de compreenso. A percep-o mediada, e no imediata, como a animal apenas uma das funespsquicas intermedirias deste processo de compreenso efetuado pelo siste-ma psicolgico da conscincia, que tem a palavra como sua clula (Vigotski,1934/2001a); , muitas vezes, o resultado de um longo processo de elaboraopsicolgica. A princpio, conforme Bruner (1985), em Vygotsky e outros au-tores a criana relaciona-se com a realidade atravs de uma conscincia em-

    prestada de terceiros acerca dos objetivos da atividade, dividida com a criana,e que constitui meio para seu prprio desenvolvimento.

    Vygotski (1996) prope momentos distintos para o desenvolvimentoda conscincia em crianas, que parte de um estado indiferenciado de atraes,afetos, sensaes. Aps o nascimento, o psiquismo vai conhecendo os estmu-los que influem sobre ele, diferenciando coisas e pessoas, separando o subjeti-vo e o objetivo: no beb pequeno, existiriam ainda manifestaes muito primi-tivas de estados conscientes a idia de tomada de conscincia empregada

    nos mais variados contextos da obra de Vigotski, dos nveis mais simples aosmais complexos da ontognese. Um dos exemplos deste uso: o autor assinalaque o beb precisa tomar conscincia de que algum cuida dele9 para poderengajar-se no processo de comunicao emocional (atividade fundamental do

    9 Sendo a comunicao emocional a atividade principal no primeiro ano de vida etambm a primeira formao sistmica da conscincia humana.

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    primeiro ano de vida). Como prxima aquisio, num perodo subseqente, acriana precisa separar figura e fundo na sua atividade psicolgica.

    O sistema psicolgico consciente que caracteriza a primeira infncia

    baseia-se na unidade entre afeto e percepo: a percepo une-se ao afeto e ao. Em Vygotski (1928-1933/1996):

    Para a criana na primeira infncia a tomada de conscincia no equivale a perce-ber e elaborar o percebido com a ajuda da ateno, da memria e do pensamento.Tais funes no esto diferenciadas, atuam na conscincia integralmente subordi-nadas percepo em tanto quanto participam no processo de percepo. (p. 344,traduo nossa)

    Existem tambm outras classes de tomada de conscincia, no identi-ficadas necessariamente com um ou outro momento de desenvolvimento:

    1) tomada de conscincia motivacional: o termo conexo ao da liber-dade em Vigotski e aparece especialmente nas reflexes experimentais acercada livre-eleio entre diversos motivos, ou situaes de deciso em geral, sejaem situaes simples da vida prtica (j se desenvolvendo em crianas pr-es-colares), seja diante de srios conflitos ticos, que desenvolvem a liberdade deescolha (baseado em Vygotski, 1995; 1996). Vigotski tece relaes filosficas,antropolgicas e literrias nesta seara, e podemos deduzir que tambm os confli-

    tos emocionais podem ser objetos de tomada de conscincia, tendo como causasprofundas o pensamento e a palavra socialmente mediados. A necessidade obje-tiva de resolver problemas e os prprios problemas surgem como circunstnciashistricas observadas e internalizadas por um indivduo determinado.

    2) tomada de conscincia de operaes semiticas e conceituais: a par-tir de estudos experimentais sobre o desenvolvimento do pensamento verba-lizado, Vigotski (1934/2001a) afirma que tomar conscincia de uma operaosignifica transport-la do plano da operao ao plano da linguagem, recri-la

    na imaginao para que seja possvel exprimi-la em palavras. Na tomada deconscincia, o processo de atividade destacado da atividade geral da conscin-cia, tornando-se, ele mesmo, um objeto de conscincia, ou seja, apreendem-seos prprios processos psquicos por meio da generalizao e sistematizaodos conhecimentos j existentes. Dilemas motivacionais poderiam, tambm,ser objeto de uma tomada de conscincia sobre temas ticos bastante abstratos.

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    Com a mediao do conceito, um objeto deixa de ser um estmulo em parti-cular para ser conscientemente representado por uma sntese para Vigotski,h ento nveis mais abstratos de tomada de conscincia (de percepo dos

    prprios sistemas semiticos), que so um tipo de meta-relao com a reali-dade, mediados especialmente por uma histria de apropriao significativados conceitos cientficos; nesta meta-relao podemos identificar uma rela-o com as conquistas do gnero humano e com as experincias individuaisda pessoa. Neste processo, a tomada de conscincia passa pelos portes dosconceitos cientficos (1934/2001a, p. 290). Tais conceitos so mediados poroutros conceitos, de modo que o objeto colocado num sistema hierrquico deinter-relaes semiticas; da a possibilidade de que seja apreendido e trans-ferido para outros campos do pensamento e de conceitos anteriormente no

    relacionados a ele. Esta idia de transferncia da informao entre sistemaslembra a primeira conceituao de conscincia na obra de Vigotski.

    Segundo o autor (1934/2001a), a generalizao significa, ao mesmotempo, tomada de conscincia e sistematizao de conceitos. prprio dosconceitos espontneos no serem conscientizados as crianas sabem operarcom eles, mas no tomam conscincia deles, relacionando-se simplesmentecom o objeto e no com o ato de pensamento que torna essa relao existente.Como podemos verificar, conscincia no equivale sensao:

    Toda penetrao mais profunda na realidade exige uma atitude mais livre da cons-cincia para com os elementos dessa realidade, um afastamento do aspecto externoaparente da realidade dada imediatamente na percepo primria, a possibilidadede processos cada vez mais complexos, com a ajuda dos quais a cognio da reali-dade se complica e se enriquece. (Vigotski, 2000, p. 129)

    Perceber de modo diferente significa tambm ganhar novas possibili-dades de agir. O sentido da palavra, nova unidade de anlise da conscincia, uma sntese de toda a ao deste sistema psicolgico: o comportamento infan-

    til passa a ser determinado pelo campo semntico interno; pelo uso da palavra,que, para Luria, em Vigotski significava a mudana da referncia da palavracom relao ao objeto (1986). Exemplo: uma criana de 3 anos pode confun-dir supermercado e padaria, mas isso j no acontece com crianas maiores.

    Note-se que os tpicos acima especificados no remetem a uma clas-sificao acabada. Existem rupturas entre esses diversos nveis e formas de

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    tomada de conscincia, com um processo que se reflete dialeticamente no pr-prio desenvolvimento do sistema psicolgico consciente, que comentarei noprximo tpico.

    O termo autoconscincia tambm constitui parte do acervo semnticomaduro de Vigotski (tendo se apresentado precocemente, como vimos num deseus primeiros textos), equivalendo a uma tomada de conscincia relativa aoprprio eu, prpria personalidade. Uma das caractersticas da esquizofreniaseria a desagregao deste tipo de conscincia, bem como da conscincia darealidade objetiva (Vygotski, 1928-1933/1996). A autoconscincia desenvol-ve-se especialmente na adolescncia, embora tenha suas aparies em tornodos 3 anos de vida, partindo da linguagem que os outros enunciam acerca dacriana. Aqui, possvel identificar a influncia hegeliana, e, possivelmente,engelsiana: o eu um exemplo imediato de ser para-si. O homem se diferen-cia do animal e da natureza em geral por conhecer-se a si como eu, e estaautoconscincia tem uma estrutura e dinmica diferentes entre, por exemplo,adolescentes de classe sociais distintas.

    Sobre a base da reflexo, da auto-conscincia e compreenso dos processos pr-prios surgem novos agrupamentos, novas relaes entre as ditas funes e precisa-mente estas relaes que surgem na base da auto-conscincia e que caracterizama estrutura da personalidade ns as denominamos indcios tercirios.... Todas as

    convices internas, sejam quais forem, as diversas normas ticas, uns ou outrosprincpios de conduta plasmam-se, afinal de contas, na personalidade graas a essetipo de relaes. (Vygotski, 1928-1933/1996, p. 246, traduo nossa)

    Um aspecto relevante neste trecho que a tomada de conscinciaacontece pela operao de um mecanismo psicolgico de carter sinttico, ter-cirio, que se expressaria, tambm, numa organizao cerebral determinada,terceira acepo do termo conscincia em Vigotski.

    2 acepo: como atributo. Vygotski qualifica diversas funes oucontedos psquicos com o termo consciente: comum encontrarmos idiascomo concepo consciente (Vygotski, 1995), memria consciente, ato cons-ciente; bem como o estado existente ou inexistente de uma relao de compre-enso com a realidade externa ou vivencial. Tambm utiliza a idia de estadopsquico consciente referindo-se ao estado de viglia de uma pessoa.

    3 acepo: como sistema psicolgico em relao com o meio e com

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    Conceito de Conscincia em Vigotski

    a prpria pessoa. Um tipo de mecanismo que se desenvolve e resulta em grausvariveis de tomada de conscincia que integra sistemas novos e antigos deconduta. Nas palavras de Vigotski (1934/2001a): Para a psicologia moderna,

    no nenhuma novidade que a conscincia um todo nico e que funes par-ticulares esto inter-relacionadas em sua atividade. (p. 2), e a conscincia sedesenvolve como um processo integral, modificando a cada nova etapa a suaestrutura e o vnculo entre as partes. (p. 283), deste desenvolvimento resul-tando graus variveis de tomada de conscincia. Luria (1988) utiliza o termosistema estrutural com funo semntica para explicar o conceito vigotskiano.O mesmo autor (2001a, p.204) destaca a necessidade da anlise objetiva daatividade consciente do paciente no mundo. Na sua face biolgica, sintetiza aao das funes da matria altamente organizada no crebro, expresso sub-

    jetiva da atividade cerebral (Vygotski, 1924-1934/1991).Para Valsiner e Van der Veer (1996), a Goldstein que Vigotski toma

    de emprstimo a idia de sistema funcional como negao do antigo locali-zacionismo cerebral, que legava a cada rea enceflica um papel desligadodo todo de sua atividade. Vigotski, aluno de medicina por um curto perodo einstrumentalizado pelos debates neuropsicolgicos que desenvolvia com suaequipe, entende que as principais mudanas que distinguem as funes psqui-cas superiores das biolgicas, imediatas, so as ligaes interfuncionais, mais

    do que a modificao de funes isoladas: a memria associativa funcionariaisoladamente; a lgica, formando conexes complexas com o raciocnio e apercepo. Tal como no princpio de sua obra, a palavra sofre o impacto detodas estas funes. A formao destas novas conexes funcionais mritodas atividades mediadoras. Para Vygotski (1931/1995), os fenmenos morfo-lgicos e fisiolgicos, a forma e a funo, condicionam-se reciprocamente (p.124). Podemos deduzir que tais estruturas, num nvel de atividade mais sim-ples, seriam as principais responsveis pelas reservas naturais do psiquismo:o desencadeamento do instinto, a formao de reflexos condicionados, as rea-es intelectuais. A primazia hierrquica ficaria por conta das zonas respons-veis pela volio e pela organizao da conduta baseadas na fala, especialmen-te, dos lobos frontais, mas as relaes entre centros corticais e subcorticais docrebro seriam de mtua influncia.

    Na terceira acepo do termo, a conscincia , pois, um nico siste-

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    ma psicolgico, composto pelas estruturas de conduta consciente (sinnimode funes psquicas superiores); verdadeiras relaes sociais internalizadascomo aes, representaes e palavras que, encaradas em si mesmas, podem

    ser tidas como sistemas especficos a conscincia , portanto, uma estruturacomposta de outras estruturas. Desenvolve-se com modificaes da estruturageral e de vnculo entre seus elementos, os quais mantm entre si uma relaodialtica de parte-todo, criada pela insero dos sujeitos nas atividades sociais.Integrando-se a novas atividades humanas, as pessoas apropriam-se das fun-es psquicas superiores que as medeiam: memria, ateno, linguagem oral,sentimento, linguagem escrita etc.

    Inmeras impresses sensoriais bombardeiam o crebro. Tais im-presses so trabalhadas pelas funes psquicas superiores, cuja atividadeconsciente consiste em atribuir sentido s impresses sensoriais, em produzirnovas combinaes dessas impresses, alm de controlar as aes. O cartervoluntrio e criativo da atividade cerebral permite, assim, dizer que a realidadereflete-se no apenas no, mas tambmpelo crebro. Este processo desenvolve-se graas mediao da experincia acumulada e sintetizada na linguagem: com a apropriao dos sistemas de significaes historicamente desenvol-vidos que as pessoas so capazes de ir alm das sensaes, generalizando aexperincia nas palavras. Os signos so estmulos artificialmente criados para

    a representao dos estmulos-objeto (coisas, pessoas) e para a acumulao deexperincias acerca do meio: o caminho da criana coisa, e da coisa crianapassa por outra pessoa.

    Um problema conexo ao da conscincia seria o da inconscincia ouinconsciente. Vigotski (1925/2001b) no negava a existncia do inconscientee sua influncia na conduta, mas criticava Freud e a Psicanlise pela tendnciaa sexualizar toda a forma de inconsciente e a hiperbolizar este conceito, quemerece maior ateno do que podemos lhe dedicar neste momento.

    Concluindo: este artigo procurou identificar o trajeto histrico do con-ceito de conscincia em Vigotski. A importncia da socialidade, as origens daautoconscincia nas relaes sociais e o carter sistmico deste sistema psicol-gico so algumas caractersticas de suas primeiras idias sobre conscincia quese preservam na sua conceituao mais madura do termo. Em vivo debate comuma psicologia em crise, lanou os fundamentos de uma psicologia marxista e

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    Conceito de Conscincia em Vigotski

    libertria, preservando contribuies importantes da psicologia russa e de muitasoutras iluminaes. Com este artigo, aqui finalizo minha pesquisa de quatro anosacerca do conceito de conscincia em Vigotski, iniciada ainda no mestrado.

    Cabe ainda uma nota sobre o destino histrico das obras do autor: apsa morte de Lnin, em 1924, iniciou-se a disputa pelo poder na cpula do par-tido unido sovitico, que terminaria com a expulso de Trotski e ascensode Stalin (Reis Filho, 2003). Acentuou-se a perseguio ideolgica em mui-tos campos de conhecimento: vrios discpulos de Vigotski, segundo Kozulin(1994), criticam-no antes e depois de sua morte, criando uma psicologia base-ada no conceito de atividade prtica mas a posio de Kozulin (1994), entre-tanto, alvo de grande polmica, cuja exposio foge aos limites deste artigo.O stalinismo atacar a pedologia10 e qualquer iniciativa de educao cientficaque se oponha ao modelo escolstico, patritico e ideolgico do momento;ora, Vigotski era um entusiasta de qualquer avano na psicologia, viesse ouno da Unio Sovitica (Alvarez & Ro, 1991, p. xiv). A ideologia oficial, demodo similar ao behaviorismo americano, via com reticncias a valorizaodo tema conscincia pelo autor. Outro agravante teria sido a ambio deStlin em ser um cientista da linguagem. Resultado: Vigotski foi silenciadopor cerca de 20 anos aps sua morte, e, a partir de 1950, o pavlovismo torna-seuma psicologia oficial.

    Mas Stlin morre em 1953 e, em resposta ao florescimento do cogni-tivismo norte-americano, fortalece-se a temtica da linguagem como segundosistema de sinais na conceituao pavloviana. A era stalinista colocada em xe-que. A partir de ento, so editados alguns livros de Vigotski, como Pensamento eLinguagem (1956) e Psicologia da Arte (1968), conforme Alvarez e Ro (1991).

    Outra censura sobre a obra vigotskiana, mais insidiosa que aquela qual foi submetida na Unio Sovitica, a ocidental. Esta se iniciou em 1962,data conhecida da primeira publicao de um livro seu no Oeste do mundo,

    capitaneada por Bruner (1962): censura que consiste na mutilao editorial, es-vaziamento poltico ou simplesmente confuso com outras abordagens, comoo cognitivismo, construtivismo ou construcionismo. Mas Vigotski um autormarxista, conquanto muito distante de extraes deterministas do marxismo,como aquelas de Stlin ou Kautsky. Suas falas so pesadas na crtica forma de

    10 Cincia geral da criana, qual se alinhava Vigotski.

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    vida burguesa e entusistica no planejamento de uma sociedade socialista, emque a conscincia do homem sobre seu mundo, si mesmo e suas prprias aesdeveriam ser objeto de estudo e contribuio importantes da Psicologia.

    Toassa, G. (2006). The concept of consciousness in the Vygotskis theory.

    Psicologia USP, 17(2), 59-83.

    Abstract: This article investigates the concept of consciousness in thework of Lev Vygotsky, which is the main problem of his psychology.It summarizes the importance of the political and social context of

    the Soviet Union for the development of his theory, which has begunwith influences from the reflexology and pavlovism. However hisconception was constructed with a progressive integration of his widerange of knowledge, embracing arts, marxist, classical philosophy,neuropsychology and experimental psychology. Through readings ofvygotskyans works produced from 1924 up to 1934, this article revisesthe semantics occurrences of the word consciousness, identifying itsmonist and materialist dialectic fundaments, extracting its main sensesand including it in historical-cultural perspective. The concept is dividedin three fundamental senses (process of becoming aware of the internaland external reality; attribute of psychological contents and processes;

    psychological system) which link it selves, laying the foundations of thegeneral psychology of Vygotsky and relating neuropsychology, ethics andontology.

    Index terms: Vygotsky, Lev Semenovich, 1896-1934. Conscience.

    History of psychology. Neuropsychology. Luria,

    Alexander Romanovich, 1902-1977.

    Toassa, G. (2006). Le concept de conscience chez Vigotski. Psicologia

    USP, 17(2), 59-83.

    Rsum: Cet article poursuit le concept de conscience au long de loeuvre

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    Conceito de Conscincia em Vigotski

    de Vigotski, o il joue le rle principal. Larticle fait aussi un rsumde limportance du contexte socio-politique de lUnion Sovitique dansle dveloppement de sa thorie, qui a commenc sous linfluence de larflexologie et du pavlovisme, et a russi progressivement intgrer les

    vastes connaissances de lauteur (dans le champ des arts, de la philosophieclassique et marxiste) jusqu la neuropsychologie exprimentale. Par lalecture des travaux produits entre 1924 et 1934, larticle passe en revueles occurences smantiques du mot conscience, essayant didentifier sesfondements monistes et matrialistes, dextraire ses sens principaux etdinclure le concept dans la vise historico-sociale. Le concept se presenta partir de trois acceptions de base ( savoir, le processus de prise deconscience de la ralit externe et interne; lattribut de contenus et deprocessus psychologiques; le systme psychologique) qui sarticulent, enproduisant un des fondements de la psychologie gnrale vigotskienne et

    en articulant de la neuropsychologie, de lthique et de lontologie.Motscls: Vygotsky, Lev Semenovich, 1896-1934. Conscience.

    Histoire de la psychologie. Neuropsychologie. Luria,

    Alexander Romanovich, 1902-1977.

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    Recebido em: 3.05.2006

    Aceito em: 19.06.2006