Conceito de Saúde

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Reflexões acerca do conceito de saúde

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  • REFLEXES ACERCA DO CONCEITO DE SADE

  • ORGANIZAES SOCIAISNas organizaes, seus objetivos, valores e seu processo de socializao sobrepem-se aos indivduos.Reduzindo espao subjetividade, visa at-los firmemente s malhas por elas tecidas. A cultura da organizao assume cunho da dimenso do sagrado: substitui a religio na tarefa de garantir tanto um sistema de significaes quanto segurana e tranquilidade, ao transformar em pondervel a imponderabilidade do destino, ao negar a existncia do chaos. Isto leva o indivduo a sacrificar-se pelas metas por elas perseguidas, adentrando irrefletidamente, na maioria das vezes, em um sistema totalitrio.

  • PELO VERSONeste quadro social atual de desamparo e sofrimento humanos, com reduzido espao para a subjetividade, no qual uma das expresses mais marcantes ocorre no espao pblico de instituies e organizaes, coerente que a prtica psicolgica intervenha em instituies relacionadas Segurana Pblica, Justia, Educao e Sade, j que em seu contexto que esta realidade mostra sua face mais emblematicamente perversa, ou seja, pelo verso. Propiciar um olhar atento e cuidadoso aos modos de subjetivao engendrados pela violncia, intolerncia e desrespeito perpetrados pelas organizaes sociais ao ser humano na contemporaneidade.

  • ETIMOLOGIACONCEPTUS = pensamento1660s referia-se a um jogo de palavras aludindo palavras com mesmo som mas diferentes significados. Ou seja, poderia ser ambguo e com duplo sentido.Algo concebido pela mente, IDEIA, NOO: como na filosofia uma ideia geral abstrata, uma noo universal, resultada de uma operao mental ou imagem a partir de percepoDo Latim concepere = tomar em consideraoArchaico : apreender algo pela razo ou imaginao Compreender, agarrar, entender, p. ex., o homemArchaico : dar a ver, exibir, produzir, dar expresso aDirigir, enquadrar, nomear

  • CONCEITO E PSICOLOGIAComo os instrumentos compreensivos da Psicologia apreendem as novas modalidades de inscrio das subjetividades contemporneas? Legitima-se repensar sistemas psicolgicos, por representarem subjetividade e seus impasses na modernidade? Como aproximar o que h de sofrente nas novas formas de subjetivao? Como circunscrever o campo do mal-estar contemporneo em que essa ao ocorre?

  • TCNICA OU TECHNA atividade clnica e a pedaggica no fogem a um predomnio da tcnica, fenmeno essencial da Idade Moderna. A clnica, afastando-se de sua peculiaridade originria referente ao debruar-se sobre o leito do doente, passa, cada vez mais, a privilegiar procedimentos tcnicos. Desse modo, hoje, o clnico entendido e valorizado como especialista.Nessa composio, o momento clnico inicial, com toda sua potencialidade de promover uma confiana teraputica atravs da ateno e acolhimento, reduzido a uma atividade de triagem, a qual encaminhar os pacientes aos respectivos especialistas, que, atravs da mediao da tcnica, deles trataro.Por sua vez, no mbito pedaggico, os currculos dos cursos de cincias humanas e biolgicas tm cada vez mais contemplado quesitos tcnicos, visando a formao de especialistas, em detrimento de uma formao humanista, relevando a filosofia, a literatura e as artes em geral. Nessa tica, esperado e apreciado que, por exemplo, o psiclogo atue primordialmente enquanto um especialista em sua atividade profissional; em seu consultrio ou em instituies, ele dever manter-se numa neutralidade, afastando-o da condio fundamental da cidadania: do ouvir e do ser ouvido em praa pblica.No entanto, esse modelo tcnico-cientfico mostra sinais de esgotamento. No mbito da sade mental, tanto a psiquiatria quanto a psicologia no tm, institucionalmente, ainda, apesar dos esforos do movimento antimanicomial, conseguido responder s demandas sociais e cultura.

  • SADE: MENTAL APENAS?As instituies psiquitricas manicomiais revelaram-se depsitos de pessoas, subtraindo-lhes a prpria humanidade ao conden-las a um diagnstico estigmatizante, gerador de excluso social e cultural, alijando-as de sua cidadania. Os manicmios falharam em sua tarefa de cuidar do doente mental, no conseguindo reverter e nem sequer minorar seu sofrimento; ao contrrio, esse sofrimento aumentou, pois passou a relacionar-se ao no sentido de ser desses pacientes.Do mesmo modo, no mbito da educao, procedimentos pedaggicos alinham-se por modelos disciplinares de conduta, desconsiderando o direito de aprender. Dessa forma, instituies de sade e educao constituem-se, na maioria, em lugares no implicados com uma ateno para resgate de sentido. Nelas, os sujeitos sociais so despejados, destitudos de razo e/ou bem-estar ou de possibilidades de aprendizagem; assim, constituem-se lugares onde sagra um sofrimento confinado e reverberado, revelando um sujeito, e as instituies que deles cuidam, como dependentes de um tecido social e cultural, cujos sistemas de representao e simbolizao determinam modos de ser adequados e ajustados. Enquadrados na des-razo e no des-conhecimento, os sujeitos sociais so condenados tanto ao exlio social (pela des-considerao institucional), como tambm ao exlio de si mesmos (pelo des-alojamento existencial).

  • QUESTIONAMENTO patente que o contexto social, poltico, econmico e cultural contemporneo clama por mudanas nas abordagens implicadas tanto na concepo e implementao de sade e educao quanto na pedagogia da formao profissional de seus agentes. Propor alternativas de trabalho tcnico e reflexes tericas para profissionais que lidam com uma populao resultante de uma nova ordem mundial, apresenta-se como uma tarefa desafiadora para psiclogos.Em face desse enfoque de realidade, imposta progressivamente com contundncia e pungimento, cabe a pergunta: seria possvel abrir outras possibilidades de prticas clnico-pedaggicas, em sade e educao, para o mal-estar no contexto contemporneo? Talvez, um caminho possvel seria buscar a etimologia dos termos sade, educao, sofrimento, poltica e tica, a fim de articular sentido entre cada um, como um encaminhamento para uma reflexo sobre tal questionamento da prtica psicolgica em instituies.

  • Etimologia como criao de sentido

    da perspectiva da significao da linguagem como criao de sentido que se impe uma retrospectiva etimolgica, reencontrando a atribuio de significado a termos recorrentes na compreenso do sentido da condio humana. Afinal, no percurso histrico de uma lngua, tais termos passaram a aderir-se a significados precisos e determinados, destituindo-os de seu uso originrio como utenslio para a comunicao de sentido entre homens.Segundo o Webster (2001), sade vem do latim salus, significando condio (orgnica ou organizacional) benfica, de bem-estar, de segurana. Refere-se cura (healein, em ingls antigo), como promoo de integridade e/ou cuidado.

  • SADE E EDUCAOTalvez desse termo tenha derivado saudao, como forma de demonstrar respeito e reconhecimento quele do qual nos aproximamos. Aproxima-se de clnica e de cuidado, tarefas cotidianas e pertinentes ao universo do fazer psicolgico no mbito da sade. Por outro lado, educao, do latim educere, de e+ducere, ou seja, e = para fora, e ducere=conduzir, trazer, fazer movimento em direo a algum. Implica debruar-se ou inclinar-se a uma forma de cuidar para que o outro se conduza adiante. Ambos parecem articular-se prtica psicolgica clnica. Dizem respeito a dirigir-se a algum de modo a faz-lo conduzir-se adiante em sua experincia, destinando-se ao seu bem-estar. Assim, sade e educao aproximam-se tanto pelo sentido de promoo de cuidado e integridade, quanto de demonstrao de respeito e reconhecimento, via saudao.

  • PARA A PSICOLOGIAComprometida com ateno e cuidado para que o sujeito se conduza na direo de seu bem-estar, ou de busca de sentido, a prtica psicolgica inclina-se para acolher o sofrimento humano como ausncia de sentido. Etimologicamente originrio do grego pathos, sofrer assume o significado de sentir, experienciar, tolerar sem oferecer resistncia, ser afetado, dizendo da condio de se pr em movimento por qualquer emoo. Em latim, sofrer origina-se de subferre, referindo-se a suportar por debaixo, implicando dois significados: tolerar um peso e sustentar um peso. No primeiro, sofrer diz respeito a uma dor, ao passo que no segundo diz de uma fora ou de um poder ser. Assim, em ambas as origens, sofrimento refere-se situao de ser afetado pela ambigidade prpria da condio humana. Diz da dor frente ao desamparo do homem na sua tarefa de existir, suportando a inospitalidade dos acontecimentos para conduzir-se adiante.Assim, pela etimologia de sade e educao, legitima-se a criao de uma cultura de participao da comunidade para promover sua prpria sade e apropriar-se de sua educao, assim como criar uma ambincia para especificidades e diferenas de perspectivas entre os atores sociais envolvidos.

  • AGENTES EM AORetomando Figueiredo (1995), quanto aos significados de tica, h uma dimenso tica da existncia humana referente ao campo de relao de um indivduo com outros, no contexto da antropologia filosfica. Nessa ao interativa, o que importa no s e principalmente a sobrevivncia do agente, mas tambm sua imagem e sua estima perante os outros e perante si mesmo. Efetivamente, h sempre uma reflexividade, uma relao de um para consigo mesmo, implicada numa conduta tica (p. 28). Dessa forma, tica e poltica referem-se, simultaneamente, a privado e pblico, intimidade e exposio, cuidado e segurana, identidade e cidadania, sade e normas, direitos e deveres, interior e exterior.

  • AGENTES SEM AOA construo de regras e critrios confiveis de deciso, na escolha de modos de ser e fazer, gerar e gerir a prpria vida, passou a calcar-se em experincias subjetivas individualizadas, acentuando uma crescente separao entre indivduos e coletividades s quais pertencem. Por outro lado, exatamente a incerteza em relao legitimidade das verdades assim constitudas que gera uma vinculao perversa em relao ao grupo, j que, incerto sobre a legitimidade do seu saber e fazer, o indivduo passa a apoiar-se cegamente nos valores, atitudes e crenas do grupo do qual participa.

  • PARA QUESTIONAR CONCEITOSDessa forma, o modo de constituio desses grupos e sua vinculao ao quadro maior da sociedade geram um modo de ao no qual a alteridade (outros grupos, outras idias, outras propostas polticas, religiosas ou cientficas) passa a ser considerada uma ameaa, devendo ser eliminada: um grupo no pode suportar outra verdade alm da sua. Assim, florescem as condutas totalitrias e massificadas, fruto da intolerncia e do fanatismo (Enriquez, 2001), revelando que a tica como ideologia perversa j que, tomando o presente como fatalidade, anula a marca essencial do sujeito tico e da ao tica. Aborta-se o sujeito social: aquele agente para a atuao de sua liberdade de escolha como atividade reflexiva e crtica acerca de aes, possivelmente, no passado, eleitas para o presente, sendo este uma passagem apenas transitria, pela possibilidade do futuro como abertura do tempo humano.Contudo, as normas societrias tm a funo de ordenar o caos no qual a liberdade, ilimitada e no estruturada, pode levar os indivduos a uma permanente guerra de um para com todos os outros, viabilizando o agir somente segundo interesses privados. Uma tal situao gera insegurana, tenso e conflito, podendo destruir a todos. Novamente, a violncia se apresenta como modo humano no jogo ambguo entre o pblico e o privado, uma vez que, para obter proteo, a liberdade das individualidades deve sofrer restries.

  • COMPREENSO E POSSIBILIDADEAssim, pode-se pensar que a sociedade estrutura seus padres de acordo com uma lgica de criao de poder soberano para proteger igualmente todos os seus membros, como garantia de melhor qualidade de vida. No entanto, Pellegrino (1983) diz que, na contemporaneidade, se verifica que o pacto social instalado para a proteo social traiu seus prprios propsitos e foi quebrado (p. 2). Desviando-se completamente do compromisso de garantir a convivncia humana dentro de padres aceitveis de segurana, tal pacto veio a reboque de uma economia poltica desptica, em que as necessidades e interesses humanos ficam atrelados s idiossincrasias do mercado e do capital, fetichizados como um bem supremo a ser prioritariamente atendido. Esta uma forma de compreenso da injustia social que graa no mundo globalizado. Numa ampla viso histrica, pode-se encarar essa situao como emergncia de encontros conflitantes e tencionais entre opressores e oprimidos, ou um modo clssico de relao que conduz tica categorial do bom e do mau, includo e excludo, igual e diferente, independente e dependente, enquadrados e marginalizados, aqueles sem teto (morada).

  • CONCEITO/CONCEITUALIZ-AOTal contexto conduz a repensar tanto a ao quanto a formao de profissionais, atuantes no setor da sade e do desenvolvimento humano, e a problematizar a questo do sofrimento humano em diferentes situaes: em consultrio privado, em instituies de sade, em programas educacionais para populaes marginalizadas. essa dimenso da tica que demanda repensar a prpria clnica, redirecionando-lhe o sentido de modo a contemplar o espectro da experincia do ser humano, plural e singular ao mesmo tempo, atendendo a todas as formas de manifestaes e expresses pessoais, alm da tradio cultural. Diz respeito crena no ato transformador que, para alm da culpa assistencialista, dispe-se a cuidar de quem sofre, aceitando o desafio de confronto com o estranhamente diferente, esperando que o assombro com o estranho, com acontecimentos inesperados propiciados por essa abertura para o mundo, possibilite a criao de outras dimenses compreensibilidade da humanidade do homem.

  • CONCEITUALIZ-AO DE SADEMas, como seria possvel abrir possibilidades de prticas clnico-pedaggicas em sade e educao no contexto contemporneo? Compreendida a dimenso tica para o humano, pode ser possvel discutir uma prtica psicolgica direcionada por essa tenso originria, prpria no sujeito. Possibilitaria encontrar sentido para uma prtica que contemplasse esse sujeito/agente e seu conflito diante de presses inevitveis e prprias de sua humanidade. Enfim, busca-se reconfigurar uma prtica psicolgica que privilegie o sofrimento do ser humano conflitadamente em suas formas de organizao. No mbito da atuao psicolgica, o olhar voltado ao sofrimento humano contextualizado preocupa-se em buscar abordagens que contemplem as demandas inseridas nesta problemtica. Imprescindvel a investigao para um saber mais condizente com a experincia do homem no mundo com outros, aproximando-se do que seria o tcito, o cultural, o tnico e, talvez, o tico. Afinal o cliente um sujeito social, histrico e cultural, a complexidade e a multireferncia que est em jogo e que pode oferecer uma viso de homem no mais fragmentada, mas global e solidria (Vieira Filho, 1997, p. 3).

  • CONCEITO E ORGANIZAOA Organizao Mundial da Sade (OMS) define sade como: o estado de completo bem-estar fsico, mental e social e no simplesmente a ausncia de doena ou enfermidade.* que sade no significa ausncia de doena. Ao desvincularmos a sade da doena temos grandes mudanas conceituais; * que sade no se limita apenas ao corpo. Inclui tambm a mente, as emoes, as relaes sociais, a coletividade; * que existe a necessidade do envolvimento de outros setores sociais e da prpria economia para que as pessoas possam de fato ter sade; * a sade de todos ns, alm de ter um carter individual, tambm envolve aes das estruturas sociais, incluindo necessariamente as polticas pblicas;Qual o questionamento em relao a esse conceito?

  • CONCEITO RE-VISADOFalar em completo bem-estar, englobando vrios fatores da vida das pessoas muito mais um ideal do que uma possibilidade real. Ser que possvel um completo bem-estar fsico, mental e social? O que ser que a palavra completo quer dizer?Isto foi revisto na Conferncia Internacional sobre a Promoo da Sade, na cidade de Ottawa, em novembro de 1986, onde surgiu o conceito de promoo de sade.

  • /SADE/BEM ESTAR/PROMOO/Muitas coisas importantes mudam a partir desse novo conceito:* a sade deixa de ser uma utopia e passa a ser uma possibilidade; * a sade um processo, isto , no acontece de um momento para o outro, requer tempo e o envolvimento de vrias pessoas; * inclui uma ao nova e fundamental, que o controle desse processo que passa a ser responsabilidade de todos os/as cidados/s. Ou seja, o Controle Social.Em 1988, a Constituio Federal do Brasil passou a definir sade como um direito de todos e um dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos, e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para a sua promoo, proteo e recuperao. (Art. 196 e 198)Aqui, mais uma vez temos avanos, e quais seriam?

  • SADE E POLTICA* A sade passa a ser um direito e no um favor de algum governo. * O Estado tem o dever de garantir esse direito. * A sade est diretamente ligada s polticas sociais e s condies econmicas que sustentam essa poltica. * Prope-se a democratizao no acesso igualitrio e universal. Isto quer dizer que todos e todas tm o mesmo direito, independentemente de nossas diferenas. * Trata-se de promoo da sade, o que garante a preveno da mesma.

  • SADE E CUIDADO???Em 1986 aconteceu a 8 Conferncia Nacional de Sade que elaborou uma outra definio de sade: A sade a resultante das condies de alimentao, habitao, educao, renda, meio ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso a servios de sade. Nesta definio, voc pode perceber a nfase nas condies sociais para uma vida digna como condio para a sade. A partir desta definio, a sade deixa locais especficos como os hospitais e centros de sade para ir para outros lugares: nossa casa, nossa escola, o ar que respiramos, a gua que bebemos, os alimentos que ingerimos, o salrio que recebemos, o que fazemos nas horas de lazer, e na liberdade que temos ou deixamos de ter. claro que sade tambm resulta da responsabilidade que cada pessoa precisa ter com o seu prprio bem-estar. o que chamamos de auto-cuidado: saber se prevenir, evitar as situaes que colocam a sade em risco, prestar ateno sua alimentao e higiene, pensar na vida a longo prazo (e no apenas nesse instante).

  • RESUMINDOResumidamente, observe o caminho por onde passou o conceito de sade:* Eliminao da doena; * Estado de completo bem-estar fsico, mental e social; * Construo social; * Desenvolvimento humano integral; * Direito humano fundamental; * Bem pblico como prrequisito para o desenvolvimento socioeconmico.* Utopia: Em seu sentido mais amplo significa a construo de um lugar ideal, que contenha o progresso social e uma sociedade transformada baseada no humanismo e na justia social. * Constituio Federal:Art. 196 A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e aos servios para sua promoo, proteo e recuperao. Art. 198 As aes e servios pblicos de sade integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema nico, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralizao, com direo nica em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuzo dos servios assistenciais; III - participao da comunidade. Pargrafo nico - O sistema nico de sade ser financiado, nos termos do art. 195, com recursos do oramento da seguridade social, da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, alm de outras fontes.

  • Segre, M. & Ferraz, F.C.Rev. Sade Pblica, O conceito de sade 31 (5), 1997 539-542

    A Organizao Mundial de Sade (OMS) define sade no apenas como a ausncia de doena, mas como a situao de perfeito bem-estar fsico, mental e social. Essa definio, at avanada para a poca em que foi realizada, , no momento, irreal, ultrapassada e unilateral.*Procurar-se-, no presente artigo, fundamentar objees definio de Sade da OMS. Trata-se de definio irreal por que, aludindo ao perfeito bemestar, coloca uma utopia. O que perfeito bemestar? por acaso possvel caracterizar-se a perfeio?No se deseja, enfocar o subjetivismo que tanto a expresso perfeio, como bem-estar trazem em seu bojo. Mas, ainda que se recorra a conceitos externos de avaliao ( assim que se trabalha em Sade Coletiva), a perfeio no definvel. Se se trabalhar com um referencial objetivista, isto , com uma avaliao do grau de perfeio, bem-estar ou felicidade de um sujeito externa a ele prprio, estar-se- automaticamente elevando os termos perfeio, bem-estar ou felecidade a categorias que existem por si mesmas e no esto sujeitas a uma descrio dentro de um contexto que lhes empreste sentido, a partir da linguagem e da experincia ntima do sujeito. S poder-se-ia, assim falar de bem-estar, felicidade ou perfeio para um sujeito que, dentro de suas crenas e valores, desse sentido de tal uso semntico e, portanto, o legitimasse.

  • SADE/ANGSTIAPor outro lado, a angstia (com oscilaes), tendo essa angstia repercusso somtica maior ou menor (por exemplo, um clon irritativo ou uma gastrite), configura situao habitual, inerente s prprias condies do ser humano. Divergir de posturas da sociedade, e at marginalizar-se ou de ser marginalizado frente a essa mesma sociedade, no obstante o sofrimento que essas situaes trazem, comum e at desejvel para o homem sintonizado com o ambiente em que vive.Nessas condies, no se poder certamente falar em perfeito bem-estar social. Entende-se que, para fins de estatsticas de sade, as formas de avaliao externa sejam necessrias; no seria exeqvel qualitativar-se esse tipo de mensurao. Essas reflexes e as que se seguiro so cabveis para que o estudioso de cincias de sade possa pensar melhor sua matria.

  • SADE ORGANIZADARecentemente, mdicos dos EUA criaram uma entidade nosolgica e at lhe deram um C.I.D.: a sndrome da felicidade, incompatvel com a situao do homem, com suas dificuldades, dvidas, medos e incertezas. Seria dessa felicidade que a OMS tiraria seus parmetros para caracterizar o perfeito bem-estar mental?Recentemente, mdicos dos EUA criaram uma entidade nosolgica e at lhe deram um C.I.D.: a sndrome da felicidade, incompatvel com a situao do homem, com suas dificuldades, dvidas, medos e incertezas. Seria dessa felicidade que a OMS tiraria seus parmetros para caracterizar o perfeito bem-estar mental?A definio de sade da OMS est ultrapassada por que ainda faz destaque entre o fsico, o mental e o social. Mesmo a expresso medicina psicossomtica, encontra-se superada, eis que, graas vivncia psicanaltica, percebe-se a inexistncia de uma clivagem entre mente e soma, sendo o social tambm inter-agente, de forma nem sempre muito clara, com os dois aspectos mencionados.Quando se fala em bem-estar j se englobam todos os fatores que sobre ele influem: ou no est j uficientemente sentido pessoalmente, e descrito em outras pessoas, que o infarto, a lcera pptica, a colite irritativa, a asma brnquica, e at mesmo o cncer guardam profundos vnculos com os estados afetivos dos sujeitos? (a escolha do termo sujeitos e no objetos ou vtimas, dessas situaes propositada, no sentido de introduzir a idia de ser a doena somtica apenas uma via a mais para externar a turbulncia afetiva, tendo sido essa via inconscientemente buscada pelo sujeito, incapaz de harmonizar os seus conflitos interiores).

  • SADE/AFETOSuponha-se que decorra da percepo dessa no clivagem da pessoa a conhecida expresso devese tratar o doente e no a doena, dando margem, a inobservncia dessa proposta, ao sucesso das assim chamadas formas no tradicionais de medicina (muitas vezes maior do que o da medicina), por visarem, essas tcnicas, muito mais a afetividade do sujeito, do que a mera expresso somtica de sua turbulncia emocional.Percebe-se a extrema dificuldade de aceitao, por muitos profissionais de sade, do fato de fincar-se o xito teraputico no relacionamento afetivo com o cliente (o termo paciente no foi, propositadamente, usado para tornar mais distante a idia de exclusiva aceitao, paciente, submissa, com relao ao profissional de sade). O vnculo afetivo, embutido de confiana recproca, na dupla que empreende uma ao de sade (profissional-cliente), a par dos aspectos cognitivos, tcnicos e cientficos, decisivo para que se possa esperar a melhora do estado do cliente.

  • AFETO (IM)POSSVELDir-se- que no mundo atual, com a medicina em grande parte socializada (pr-paga), estatal ou no, com o profissional de sade habitualmente mal ressarcido (no dispondo de tempo e espao afetivo para dedicar-se seriamente a cada um de seus pacientes), a criao e preservao dessa ligao afetiva entre o profissional de sade e o cliente to irreal quanto a expectativa de perfeito bem-estar da OMS. Admite-se que assim seja, pelo menos em parte, cabendo a contrapartida prpria estrutura de personalidade do profissional, despreparado muitas vezes para o estabelecimento daquele tipo de vnculo. As restries mencionadas absolutamente no desvalorizam as reflexes apresentadas.

  • SADE/QUALIDADE DE VIDAFinalmente, para tecer consideraes sobre a mencionada unilateralidade da definio da OMS, h que se discutir o conceito de qualidade de vida. O que qualidade de vida? Dentro da Biotica, do conceito de autonomia, entende-se que qualidade de vida seja algo intrnseco, s possvel de ser avaliado pelo prprio sujeito. Prioriza-se a subjetividade, uma vez que, de acordo inclusive com o conceito de Bion2 (1967), a realidade a de cada um. No h rtulos de boa ou m qualidade de vida, embora, conforme j se disse anteriormente, a sade pblica, para a elaborao de suas polticas, necessite de indicadores. Assim, por exemplo, bvio que so imprescindveis, dentro de uma sociedade, as estatsticas de mortalidade pelas vrias doenas. Mas, o que doena? No ela, liminarmente, apenas um conceito estatstico, considerando-se doentes (fsicos, mentais ou sociais) todos os que se situarem fora da assim chamada normalidade?

  • SADE/NORMALIDADEPrincipalmente em psiquiatria (embora isso ocorra, sem excesses, em todas as expecialidades mdicas), onde, na maioria das vezes nem mesmo alteraes morfolgicas do chancela diversidade dos indivduos (e, ainda que dessem, no seria, o raciocnio, o mesmo? - no valer a pena ser repensado o valor dessa diversidade (individualidade), a fim de preservla? Do fato de, cientificamente, serem conhecidos muitos determinantes genticos, culturais e at fsicos, qumicos e biolgicos de muitas patologias, decorrer o direito ou no de intervir sobre essas diferenas quando o sujeito, manifestando sua vontade, no desejar essa interveno? O que o doente? Um ser humano diferente, que talvez tenha sua vida encurtada.

  • SADEMENTAL SEDIMENTAL?O que o sofrimento? dor, inteiramente subjetiva, qualquer que seja a sua origem. O tratamento de uma doena, qualquer que seja, ela apenas ser legtimo (e, conseqentemente, tico), se o doente manifestar vontade de ser ajudado. Caso contrrio, o tratamento poder tratar-se de defesa social (situao freqente, em psiquiatria) transvestida de benemerncia.Retornando a considerar os condicionamentos, dos genticos aos sociais, no existem todos eles, tanto nos sos como nos doentes? A autonomia uma condio que no se autorga a quem quer que seja: ou se reconhece, ou se nega. Este problema com relao psiquiatria, na verdade, j se cronificou entre ns. A prpria noo da doena mental, como bem demonstrou Foucalt (1972) foi constituda historicamente. Por um hbito positivista uma exigncia metodolgica procurou-se no corpo antomo-fisiolgico do louco o substrato ltimo para explicar sua doena.

  • SADE DESVIADA?Ocorre que, como denunciou o movimento antipsiquitrico, a noo de desvio pendia mais para um juzo de valor que servia, na verdade, ao controle e normalizao sociais. Logo, volta-se a enfatizar a prioridade do subjetivismo em toda reflexo sobre qualidade de vida. Poder algum afirmar que um portador de colostomia, conseqente a uma cirurgia de cncer intestinal, tem qualidade de vida pior do que um seguidor obsessivo de regras religiosas, intimidado perenemente por um Deus que lhe foi inculcado, independentemente de sua vontade? Nesta ptica, vai ficando claro que realidade nada mais do que uma convergncia de subjetivismos. Haver outra forma de conceitu-la, essa realidade, que s pode ser vista e pensada por pessoas?Ser que algum, pelo simples fato de no ter recursos para se alimentar de acordo com nossos padres, poder aprioristicamente ser considerado com qualidade pior de vida do que uma pessoa bem alimentada?

  • ALMA/SADE???No restam dvidas de que essas consideraes, aparentemente radicalizantes, visam apenas a atenuar a tendncia positivista dos conceitos de sade que a esto. O presente enfoque importante para uma viso ampliada de sade pblica. Necessariamente ela observa, descreve, avalia e administra indicadores: a poltica de sade louva-se nesses elementos. Assim sendo a abordagem de dentro para fora do ser humano, onde o que mais conta o subjetivismo do indivduo, recorrendo-se inclusive teoria e vivncia psicanaltica para a sua fundamentao, pode parecer despropositada e fora do contexto de sade pblica.No nisto que se pensa. O destaque autonomia do ser humano, em que supostamente existe uma vontade, fazendo parte de uma psyche (alma) que transcende ao prprio ambiente sociocultural e mesmo sua babagem gentica, talvez d uma condio melhor de entender a virtual ineficcia de polticas de sade em determinados casos e circunstncias.

  • SADE VISADANo nisto que se pensa. O destaque autonomia do ser humano, em que supostamente existe uma vontade, fazendo parte de uma psyche (alma) que transcende ao prprio ambiente sociocultural e mesmo sua babagem gentica, talvez d uma condio melhor de entender a virtual ineficcia de polticas de sade em determinados casos e circunstncias.Esta viso anti-positivista e mais humana das atividades dos profissionais de sade, pode contribuir para um contato mais sintnico, mais emptico e, conseqentemente, mais tico, entre eles e a populao assistida.E, concluindo, dentro desse enfoque, no se poder dizer que sade um estado de razovel harmonia entre o sujeito e a sua prpria realidade?

  • R. gacha Enferm., Porto Alegre, v.20, n.1, p.26-40, jan. 1999 - PROBLEMATIZANDO CONCEITOS DE SADE, A PARTIR DO TEMA DA GOVERNABILIDADE DOS SUJEITOS Valria Lerch Lunardi

    A sade, o estado de sade, ser saudvel, so termos verbalizados, freqentemente, como metas e objetivos a serem buscados e atingidos pelo exerccio da profisso. Falar em governabilidade, na verdade, significa falar nos limites ou pontos de contato entre o governo de si, entendido como exerccio de autonomia, e o governo poltico de outros, no sentido de heteronomia.

    Para Caponi (1997), o carter mutvel, mvel e subjetivo atribudo ao conceito de bem-estar, antes de uma crtica, reafirma o carter de subjetividade como um elemento inerente oposio sade-enfermidade. Mesmo numa viso de sade que se restrinja apenas ao mbito do biolgico, a expresso dos sintomas pelo indivduo, do que sente, do que percebe como manifestao em si, estar, sempre, carregada da sua subjetividade, da sua forma de perceber e sentir que ou pode ser diferente do que sentido e percebido por outro indivduo.

  • SADE EM QUESTOSeu carter utpico e de subjetividade refere-se possibilidade desta conceituao de sade ser politicamente utilizada para legitimar estratgias de controle e de excluso do que consideramos como indesejvel e perigoso. Ao afirmar-se o bem-estar como um valor desejvel, seja fsico, emocional ou social, parece que tudo o que reconhecido como positivo na sociedade, como produtor da sensao e do sentimento de bem-estar, passa a poder fazer parte do mbito da sade, como a laboriosidade, a convivncia social, a vida familiar, o controle dos excessos, caracterizando, ao contrrio, como um desvalor, como o seu reverso patolgico, tudo o que se apresenta como negativo, perigoso, indesejvel, ou o que reconhecido como malfico.Por outro lado, se a subjetividade, a condio e o vivido do sujeito, sua histria e o seu modo de viver so fundamentais, ser possvel determinar externamente ao sujeito, o que ou no o seu prprio estado de bem-estar?Ser que o que considero e reconheo como bem-estar ser o mesmo bemestar percebido por outras pessoas que vivem em contextos, situaes sociais, extremamente diferentes das minhas? possvel determinar, externamente aos sujeitos o que o seu estado de bem-estar?

  • SADE x SAUDVEL1986: condies de alimentao, moradia, educao, lazer, transporte e emprego, e das formas de organizao social de produo, constata que, alm de se dar a superao da tradio higienista e curativa pela determinao social da doena, a sade parece situar-se, assim, num mbito superestrutural, resultante de uma base scio-econmica.Apesar do mrito deste conceito em articular sade e sociedade, concordo com Nascimento de que a sade no pode ser entendida como um meio e um instrumento de transformao da sociedade como um todo, como o eixo principal e norteador das lutas de mudanas da sociedade.Mesmo reconhecendo a importncia da sade, da sua promoo, preservao e recuperao, em muitas das reivindicaes que se fazem necessrias, h que reconhecer no ser este o foco primordial ou, necessariamente, a trajetria a ser construda, frente s exigncias sociais que se fazem prementes. Por outro lado, sabe-se que tais condies exigidas para alcanar-se a sade, na verdade, podem constituir-se apenas em uma possvel faco do problema da sade, j que, em pases desenvolvidos, tais condies foram alcanadas e, no entanto, as pessoas continuam adoecendo por outros problemas.

  • SADE SOCIAL OU DOENTE?Alm destes argumentos, outros riscos desta conceptualizao so destacados por Caponi (1997, p.7): primeiro, a perda de referncia a uma especificidade biolgica ou psquica da enfermidade, excluindo da polaridade sade-doena qualquer afeco no resultante das condies sociais dos indivduos, como j abordado em relao s populaes dos pases mais ricos.

    segundo problema indica a amplido e a extenso do conceito que permitiria a insero de praticamente todos os mbitos da existncia dos homens numa relao de sade-doena, possibilitando a sua medicalizao, isto , tornando, de uma certa forma, at desejvel a medicalizao da existncia. Dentre outros equvocos possveis, decorrentes do uso de um conceito de sade to abrangente, ressaltado o perigo nas exigncias de reivindicaes e direitos que nem sempre podem ser reduzidos parmetros de sade, como o caso, por exemplo, do direito autonomia, como ao legitimar uma extenso de respostas teraputicas para qualquer conflito social.

  • SADE PRPRIA???Garcia (1997, p.103-104), em pesquisa realizada em um Centro de Sade de Florianpolis, com o objetivo de discutir o carter educativo das aes em sade, constata, por parte dos usurios, a vinculao de sade com um estado de bem-estar, como algo que sente, de sentir-se bem, de estar bem consigo, de estar feliz, de estar de bem com a vida. Os entrevistados no fazem qualquer referncia sade como decorrente de determinantes que no estejam relacionados com o seu sentir individual e prprio.Parece importante destacar que tal anlise no tem a inteno de legitimar as desigualdades sociais vividas pelos homens, na sociedade, com as quais discordo profundamente. Antes, objetiva reconhecer e admitir que h pessoas, por exemplo, que no usufruem de lazer ou da liberdade, segundo minha concepo e valores e, entretanto, podem e se reconhecem, freqentemente, como vivendo em estado de sade.

  • SADE DO HOMEMPor outro lado, mesmo que num sentido abrangente, se a sade fosse a resultante de tais condies (transporte, emprego, entre outras) como entender que pessoas que no desfrutam de tais condies, aparentemente, possam encontrar-se e reconhecer-se em estado de sade?Somente o prprio homem pode avaliar as mudanas que sofre - paths -, pela sua prpria experincia cotidiana. Sade o silncio dos rgos.

  • SADE VIVIDADjours: sade assunto ligado a cada ser humano, um compromisso do homem com sua realidade. O humano precisa buscar meios para um caminho singular e original em direo ao bem estar, com liberdade de avaliar e regular as variaes orgnicas, de administrar a prpria vida e de agir por si e coletivamente, junto aos outros, tanto no trabalho organizado como nas relaes sociais.Canguilhem: sade o que deseja a teraputica ou aquele que a tem ou no?. Sade instituir novas normas e transgredir as habituais, dada a variao das situaes. Sade uma margem de tolerncia s infidelidades do mundo: acontecimentos inesperados, movimento fundamental como historicidade que o humano .Direito de ser quem se , pois o ser saudvel revela a diferena entre o conceito e a experincia vivida. Sade ser cada um seu prprio agente de sade em dilogo com quem capaz de fazer uma terapia (servio) para tratamento (apalpar).

  • SADE: ATO OU AO?Ao afirmar, como papel dos profissionais de sade, o exerccio da implementao de estados de equilbrio do ser humano pelo atendimento das suas necessidades bsicas, h o risco no s implcito, mas bastante claro, de que em nome da sade dos clientes, os profissionais possam ou busquem atuar e interferir no atendimento de todas as necessidades dos sujeitos, o que, na verdade, pela sua abrangncia, poderia significar a interferncia na existncia do homem como um todo.Focalizando, de modo mais especfico, o seu conceito de sade, questiono se ser possvel, alm de tico, externamente aos sujeitos, reconhecidos como conscientes, livres e autnomos, determinar e identificar seus estados de equilbrio ou desequilbrio?Constato, ento, a partir das anlises realizadas sobre os conceitos de sade da OMS, da VIII CNS e de Horta, que h trs conceptualizaes.

  • SADE CUIDADA??????????Tais modos parecem ter elementos comuns que poderiam ser apontados e criticados: a extenso da sade a todos os mbitos da existncia, em relao ao alcance de um estado de bem-estar fsico, social e mental; seja pelo conceito abrangente de sade; seja atravs do atendimento das necessidades psicobiolgicas, psicossociais e psico-espirituais; a medicalizao da sade e, consequentemente, da vida dos indivduos, j que toda a sua existncia torna-se passvel de ser focalizada, abordada e assistida como um assunto de sade, e, em especial, pelos profissionais de sade, especialistas desta rea; o domnio do saber mdico e, por extenso, do saber da enfermagem como possibilidade para resolver, at, os problemas e conflitos existenciais mais internos, o que parece mais explcito e evidente em Horta; a funo do mdico ou da enfermeira podendo assemelhar-se funo do pastor3: no conceito de sade da OMS, quando no apenas o bem-estar fsico reconhecido como sade, mas, tambm, o bem-estar mental e social; no conceito da VIII CNS, ao abranger no seu conceito de sade, no s as condies de alimentao, transporte e moradia, mas as de liberdade, do uso do tempo livre e do lazer, por exemplo; em Horta, ao abordar a possibilidade de atendimento, pela enfermagem, dentre outras, de necessidades como de auto-realizao, auto-imagem, amor e filosofia de vida.

  • SADE/CUIDADOFoucault apresenta o poder pastoral como um tipo de poder exercido pelo pastor no s ao rebanho como um todo, de modo totalizante, mas a cada ovelha, individualmente, de modo abnegado, repleto de responsabilidade e bondade compassiva, em que o pastor responsabiliza-se por suas ovelhas e pelo rebanho como um todo requerendo saber e conhecer tudo o que se passa na intimidade da sua alma. A importncia e a pertinncia do poder pastoral e do poder poltico, para o entendimento de como as sociedades modernas organizam-se e funcionam, encontra-se no entrecruzamento que se d entre o poder poltico do Estado, como estrutura jurdica, e o poder pastoral que tem como funo prestar ajuda e exercer o cuidado contnuo e permanente dos indivduos e das populaes. Analisando a poltica de sade do sculo XVIII, Foucault verifica que a partir da disciplinarizao e da medicalizao do ambiente hospitalar, o hospital converte-se em local de produo e de transmisso de saber. Os indivduos e seus corpos, assim como os corpos das populaes, tornam-se objeto de saber e de prtica mdicos. O corpo das populaes torna-se a meta final do governo. O Estado assume a funo de organizao da sociedade como meio de bem-estar, sade e longevidade, pela necessidade de preservao da fora de trabalho, mas mais ainda, pela necessidade econmico-poltica de governo da populao. (Foucault, 1990)

  • Desconstruindo a definio de sade. Luis Salvador de Miranda S Junior. Jornal do Conselho Federal de Medicina (CFM) jul/ago/set de 2004, pg 15-16Sobre o conceito de sade

    Etimologicamente, sade do latim sanitas, referindo-se integridade antomo-funcional dos organismos vivos (sanidade). No se trata de conceito unvoco: mais de uma significao, que podem ser confundidas. Deve-se estar atento, no se deixar confundir. Destas significaes, alguma frequentes: a) sanidade, ausncia de enfermidade em um ser vivo (o mais antigo significado, como em: esteve doente, recuperou a sade); b) saudao amistosa ( moda dos romanos antigos); c) rito verbal exclamativo, quando algum espirra; d) estado de capacidade, energia, disposio e vigor fsico ou mental (como em no tenho sade para esse trabalho), sentido figurado e metafrico; e) sentir-se bem ou, ao menos, no se sentir mal (a sade se manifesta no silncio dos rgos, diziam os antigos); f) rea do conhecimento e campo de estudo sobre a sade, as cincias da sade (enfim, todos os estudos sanitrios que se interessam pelos indivduos e comunidades, as cincias da sade); g) de-signao sinttica dos programas, estabelecimentos, agncias ou organismos sociais pblicos ou privados destinados a cuidar da sade dos indivduos e comunidades; h) atividade poltica pblica ou programa social governamental voltado para os cuidados com a sade individual ou coletiva e para a administrao destes servios (como em funcionrio da sade, profisso de sade, Ministrio da Sade e secretaria de Sade).

  • SADE/CUIDADO/ORGANIZADOSNeste ltimo sentido, sade (melhor seria dizer ao, estabelecimento ou sistema de cuidados com a sade), quer dizer atividade sanitria consubstanciada nas aes e servios de sade; na atividade dos trabalhadores e dos estabelecimentos ou agncias de sade, nos programas e planos de sade e nas aes de sade pblicas ou privadas. Quando se diz: a sade direito do cidado e dever do Estado, funcionrio da sade, profissional da sade ou oramento da sade, com o sentido de assistncia ou cuidado com a sade que o termo utilizado. De fato, como seria possvel um oramento do bem-estar fsico, mental e social, ou ser um funcionrio da ausncia de doena, ou o Estado garantir a sanidade de algum ou de algum animal ou vegetal? O que a Constituio chama de sade? Exatamente o ltimo dos sentidos apontados para o termo.

  • SADE OFICIALA Constituio brasileira declara a sade como direito social (art. 6). E direito de todo cidado e, conseqentemente, dever do Estado (art. 196). Quem se debruar sobre a Constituio do Brasil verificar que, nela, sade significa polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao (art. 196). E mais, aqui sade quer dizer assistncia sade ou atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuzo dos servios assisten-ciais, com participao da comunidade (art. 198, incisos II e III). Donde se depreende que a legislao brasileira chama de sade ao sistema social de atendimento sade das pessoas e das comunidades. Ningum, honestamente, tem o direito de pretender outra coisa para este significante neste contexto particular.

  • O conceito de bem-estar

    O primeiro significado de bem-estar pode ser a noo subjetiva de sentir-se bem, no ter queixas, no apresentar sofrimento somtico ou psquico, nem ter conscincia de qualquer leso estrutural ou de prejuzo do desempenho pessoal ou social (inclusive familiar e laboral). A, bem-estar significa sentir-se bem e no apenas no se sentir mal. Mas bem-estar tambm significa condio de satisfao das necessidades (conscientes ou inconscientes, naturais ou psicossociais). Nos seres humanos, implica na satisfao das necessidades biolgicas, o bem-estar fsico; das necessidades psicolgicas, o bem-estar mental; e das necessidades sociais, o bem-estar social. E no apenas satisfeitas todas essas necessidades, mas perfeitamente (ou completamente) atendidas, como explicita a OMS. A identificao da sade com bem-estar pode ter tido a finalidade de superar as dificuldades metafsicas da definio negativa ou o propsito estratgico de dissoci-la dos conceitos de enfermidade e invalidez. E estes dois propsitos foram obtidos. Tem o mrito de incluir as condies psicossociais como de sade, mas, na prtica, re-velou seu carter utpico e sua inoperacionalidade.

  • BEM-ESTAR CONCEITUADOComo se v, o conceito de bem-estar no tem a univocidade exigida pelo pensamento cientfico. Pode significar no se sentir mal, sentir-se bem ou ter satisfeitas suas necessidades. Por isso, o conceito de sade da definio da OMS, mesmo que estivesse bem construdo, dependeria do significado do conceito de bem-estar, ausente dele. A rigor, a proposio da OMS significa que o ente nela caracterizado deve ter perfeita ou completamente atendidas todas as suas necessidades. Isto , para ser considerado saudvel o ser vivo deve ter satisfeitas todas as suas necessidades, quando os humanos criam sempre novas necessidades. O que configura o carter utpico desta caracterizao de sade. Em termos de satisfao das necessidades ou com referncia a sentir-se bem, para os seres humanos, desfrutar completo bemestar , no mnimo, algo impossvel mesmo de se cogitar como utopia distante, na qual as pessoas em geral (ou alguma pessoa em particular) possam ter satisfeitas todas as suas necessidades individuais e sociais, em todos os planos de sua existncia (o biolgico, o psicolgico e o social).Por esta conceituao, sade implica em perfeito bem-estar ou completo bem-estar (dependendo da traduo). Por outro lado, a insatisfao resultante de um estado de mal-estar pode ser positiva, isto , um fator de sade, na medida em que pode ser condio de desenvolvimento e aperfeioamento. Estado de insatisfao que costuma ser condicionante poderoso na conduta de indivduos e coletividades. Podendo, mesmo, ser encarado como fator essencial da evoluo de indivduos e da espcie.

  • BEM-ESTAR CONFUNDIDOConsiderando-se a menor possibilidade, pode-se pretender que o mal-estar constitua componente essencial da condio humana. Parece ser caracterstica dos humanos se mostrarem insatisfeitos; incapazes de completa satisfao e isto, repita-se, tem sido importante componente de sua identidade e de seus mecanismos adaptativos. Porque sempre que o ser humano v satisfeitas suas necessidades num momento, no seguinte cria outras. Por isto, tem sido definido como homo insatisfactus.Desse modo, a definio de sade adotada pela OMS no definio vulgar e nem definio cientfica, pois discorda das exigncias contemporneas referentes elaborao das definies (cientficas ou no); tampouco uma concepo ampla de sade, mas apenas uma mal elaborada concepo de sade humana.

  • Histria do Conceito de Sade.MOACYR SCLIAR. PHYSIS: Rev. Sade Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1):29-41, 2007, p.29-41

    A concepo mgico-religiosa partia, e parte, do princpio de que a doena resulta da ao de foras alheias ao organismo que neste se introduzem por causa do pecado ou de maldio. Para os antigos hebreus, a doena no era necessariamente devida ao de demnios, ou de maus espritos, mas representava, de qualquer modo, um sinal da clera divina, diante dos pecados humanos. Deus tambm o Grande Mdico: Eu sou o Senhor, e sade que te trago (xodo 15, 26); De Deus vem toda a cura (Eclesiastes, 38, 1-9).A doena era sinal de desobedincia ao mandamento divino. A enfermidade proclamava o pecado, quase sempre em forma visvel, como no caso da lepra Trata-se de doena contagiosa, que sugere, portanto, contato entre corpos humanos, contato que pode ter evidentes conotaes pecaminosas.Em primeiro lugar, porque tal tratamento no estava disponvel; em segundo, porque a lepra podia ser doena, mas era tambm, e sobretudo, um pecado. O doente era isolado at a cura, um procedimento que o cristianismo manter e ampliar: o leproso era considerado morto e rezada a missa de corpo presente, aps o que ele era proibido de ter contato com outras pessoas ou enviado para um leprosrio. Esse tipo de estabelecimento era muito comum na Idade Mdia, em parte porque o rtulo de lepra era freqente, sem dvida abrangendo numerosas outras doenas.

  • SADE RELIGIOSAOs preceitos religiosos do judasmo expressam-se com freqncia em leis dietticas, que figuram, em especial, nos cinco primeiros livros da Bblia (Tor, ou Pentateuco). Sua finalidade mais evidente a de manter a coeso grupal, acentuando as diferenas entre hebreus e outros povos do Oriente Mdio. Essas disposies eram sistemas simblicos, destinados a manter a coeso do grupo e a diferenciao com outros grupos, mas podem ter funcionado na preveno de doenas, sobretudo de doenas transmissveis. Por exemplo, um animal no poderia ser abatido por pessoa que tivesse doena de pele, o que faz sentido: leses de pele podem conter micrbios. Moluscos eram proibidos, e dessa forma certas doenas, como a hepatite transmitida por ostras, podiam ser evitadas. Isso no significa que a preveno fosse exercida conscientemente; as causas das doenas infecciosas eram desconhecidas. Seria muito difcil, por exemplo, associar a carne de porco transmisso da triquinose. Para isto h uma explicao ecolgica, por assim dizer. A criao de sunos, no Oriente Mdio, seria um contra-senso. Trata-se de uma regio rida, sem a gua de que esses animais necessitam como forma de manter seu equilbrio trmico. Alm disso, povos nmades teriam dificuldades em manter um animal que se move pouco, como o porco. Finalmente, ao contrrio dos bovinos, que servem como animal de trao e que proporcionam leite, o suno s fornece a carne - uma luxria, portanto, uma tentao que era evitada pelo rgido dispositivo da lei.

  • SADE/CULTURAEm outras culturas era o xam, o feiticeiro tribal, quem se encarregava de expulsar, mediante rituais, os maus espritos que se tinham apoderado da pessoa, causando doena. O objetivo reintegrar o doente ao universo total, do qual ele parte. Esse universo total no algo inerte: ele vive e fala; um macrocorpo, do qual o Sol e a Lua so os olhos, os ventos, a respirao, as pedras, os ossos (homologao antropocsmica). A unio do microcosmo que o corpo com o macrocosmo faz-se por meio do ritual.Entre os ndios Sarrum, que vivem na regio da fronteira entre Brasil e Venezuela, o conceito de morte por causa natural ou mesmo por acidente praticamente inexiste: sempre resulta da maldio de um inimigo. Ou, ento, conduta imprudente: se algum come um animal tabu, o esprito desse animal vinga-se provocando doena e morte.A tarefa do xam convocar espritos capazes de erradicar o mal. Para isso ele passa por um treinamento longo e rigoroso, com prolongada abstinncia sexual e alimentar; nesse perodo aprende as canes xamansticas e utiliza plantas com substncias alucingenas que so chamarizes para os espritos capazes de combater a doena.

  • SADE/MEDICINA/ANTIGAA medicina grega representa uma importante inflexo na maneira de encarar a doena. verdade que, na mitologia grega, vrias divindades estavam vinculadas sade. Os gregos cultuavam, alm da divindade da medicina, Asclepius, ou Aesculapius (que mencionado como figura histrica na Ilada), duas outras deusas, Higieia, a Sade, e Panacea, a Cura. Ora, Higieia era uma das manifestaes de Athena, a deusa da razo, e o seu culto, como sugere o nome, representa uma valorizao das prticas higinicas; e se Panacea representa a idia de que tudo pode ser curado - uma crena basicamente mgica ou religiosa -, deve-se notar que a cura, para os gregos, era obtida pelo uso de plantas e de mtodos naturais, e no apenas por procedimentos ritualsticos.

    Essa viso religiosa antecipa a entrada em cena de um importante personagem: o pai da Medicina, Hipcrates de Cs (460-377 a.C.). Pouco se sabe sobre sua vida; poderia ser uma figura imaginria, como tantas na Antigidade, mas h referncias sua existncia em textos de Plato, Scrates e Aristteles. Os vrios escritos que lhe so atribudos, e que formam o Corpus Hipocraticus, provavelmente foram o trabalho de vrias pessoas, talvez em um longo perodo de tempo. O importante que tais escritos traduzem uma viso racional da medicina, bem diferente da concepo mgico-religiosa antes descrita. O texto intitulado A doena sagrada comea com a seguinte afirmao: A doena chamada sagrada no , em minha opinio, mais divina ou mais sagrada que qualquer outra doena; tem uma causa natural e sua origem supostamente divina reflete a ignorncia humana.Hipcrates postulou a existncia de quatro fluidos (humores) principais no corpo: bile amarela, bile negra, fleuma e sangue. Desta forma, a sade era baseada no equilbrio desses elementos. Ele via o homem como uma unidade organizada e entendia a doena como uma desorganizao desse estado. A obra hipocrtica caracteriza-se pela valorizao da observao emprica, como o demonstram os casos clnicos nela registrados, reveladores de uma viso epidemiolgica do problema de sade-enfermidade. A apoplexia, dizem esses textos, mais comum entre as idades de 40 e 60 anos; a tsica ocorre mais freqentemente entre os 18 e os 35 anos.

  • SUDE/HOMEM/MUNDOEssas observaes no se limitavam ao paciente em si, mas a seu ambiente. O texto conhecido como Ares, guas, lugares discute os fatores ambientais ligados doena, defendendo um conceito ecolgico de sade-enfermidade.

    Da emergir a idia de miasma, emanaes de regies insalubres capazes de causar doenas como a malria, muito comum no sul da Europa e uma das causas da derrocada do Imprio Romano. O nome, alis, vem do latim e significa maus ares ( bom lembrar que os romanos incorporam os princpios da medicina grega).

    Galeno (129-199) revisitou a teoria humoral e ressaltou a importncia dos quatro temperamentos no estado de sade. Via a causa da doena como endgena, ou seja, estaria dentro do prprio homem, em sua constituio fsica ou em hbitos de vida que levassem ao desequilbrio.

    No Oriente, a concepo de sade e de doena seguia, e segue, um rumo diferente, mas de certa forma anlogo ao da concepo hipocrtica. Fala-se de foras vitais que existem no corpo: quando funcionam de forma harmoniosa, h sade; caso contrrio, sobrevem a doena. As medidas teraputicas (acupuntura, ioga) tm por objetivo restaurar o normal fluxo de energia (chi, na China; prana, na ndia) no corpo.

    Na Idade Mdia europia, a influncia da religio crist manteve a concepo da doena como resultado do pecado e a cura como questo de f; o cuidado de doentes estava, em boa parte, entregue a ordens religiosas, que administravam inclusive o hospital, instituio que o cristianismo desenvolveu muito, no como um lugar de cura, mas de abrigo e de conforto para os doentes.

  • SADE/CORPO/MENTEMas, ao mesmo tempo, as idias hipocrticas se mantinham, atravs da temperana no comer e no beber, na conteno sexual e no controle das paixes. Procurava-se evitar o contra naturam vivere, viver contra a natureza. O advento da modernidade mudar essa concepo religiosa.O suo Paracelsus (1493-1541) afirmava que as doenas eram provocadas por agentes externos ao organismo. Naquela poca, e no rastro da alquimia, a qumica comeava a se desenvolver e influenciava a medicina. Dizia Paracelso que, se os processos que ocorrem no corpo humano so qumicos, os melhores remdios para expulsar a doena seriam tambm qumicos, e passou ento a administrar aos doentes pequenas doses de minerais e metais, notadamente o mercrio, empregado no tratamento da sfilis, doena que, em funo da liberalizao sexual, se tinha tornado epidmica na Europa.J o desenvolvimento da mecnica influenciou as idias de Ren Descartes, no sculo XVII. Ele postulava um dualismo mente-corpo, o corpo funcionando como uma mquina.

  • DOENA SAUDADAAo mesmo tempo, o desenvolvimento da anatomia, tambm conseqncia da modernidade, afastou a concepo humoral da doena, que passou a ser localizada nos rgos. No famoso conceito de Franois Xavier Bichat (1771-1802), sade seria o silncio dos rgos.Mas isto no implicou grandes progressos na luta contra as doenas, que eram aceitas com resignao: Pascal dizia que a enfermidade um caminho para o entendimento do que a vida, para a aceitao da morte, principalmente de Deus. Mais tarde, os romnticos no apenas aceitariam a doena, como a desejariam: morrer cedo (de tuberculose, sobretudo) era o destino habitual depoetas e msicos como Castro Alves e Chopin. Para o poeta romntico alemo, a doena refinaria a arte de viver e a arte propriamente dita. Sade, nestas circunstncias, era at dispensvel.Mas a cincia continuava avanando e no final do sculo XIX registrou-se aquilo que depois seria conhecido como a revoluo pasteuriana. No laboratrio de Louis Pasteur e em outros laboratrios, o microscpio, descoberto no sculo XVII, mas at ento no muito valorizado, estava revelando a existncia de microorganismos causadores de doena e possibilitando a introduo de soros e vacinas. Era uma revoluo porque, pela primeira vez, fatores etiolgicos at ento desconhecidos estavam sendo identificados; doenas agora poderiam ser prevenidas e curadas.

  • SADE CONTADAEsses conhecimentos impulsionaram a chamada medicina tropical. O trpico atraa a ateno do colonialismo, mas os empreendimentos comerciais eram ameaados pelas doenas transmissveis endmicas e epidmicas. Da a necessidade de estud-las, preveni-las, cur-las. Nessa poca nascia tambm a epidemiologia, baseada no estudo pioneiro do clera em Londres, feito pelo mdico ingls John Snow (1813-1858), e que se enquadrava num contexto de contabilidade da doena. Se a sade do corpo individual podia ser expressa por nmeros - os sinais vitais -, o mesmo deveria acontecer com a sade do corpo social: ela teria seus indicadores, resultado desse olhar contbil sobre a populao e expresso em uma cincia que ento comeava a emergir, a estatstica.O termo de origem alem, Statistik, e deriva de Staat, Estado, o que bastante significativo, pois o desenvolvimento da estatstica coincide com o surgimento de um Estado forte, centralizado. A estatstica teve boa acolhida na Inglaterra, onde vigorava a idia, mais tarde expressa em um famoso dito de Lord Kelvin (William Thomson, 1824-1907), segundo o qual tudo que verdadeiro pode ser expresso em nmeros.

  • SUDE URBANIZADANa verdade, mtodos numricos no estudo da sociedade, a includa a situao de sade, j haviam sido introduzidos no sculo XVII. O mdico e rico proprietrio rural William Petty (1623-1687) iniciara o estudo do que denominava de anatomia poltica, coletando dados sobre populao, educao, produo e tambm doenas. Esse processo ganhou impulso no sculo XIX.

    Na Inglaterra, bero da Revoluo Industrial, tambm surgiram estudos desse tipo: que ali se faziam sentir com mais fora os efeitos, sobre a sade, da urbanizao, da proletarizao. Esta foi a situao que inspirou Friedrich Engels a escrever Condio da classe trabalhadora na Inglaterra. A partir de 1840 aparecem os Bluebooks e inquritos estatsticos.Carter pioneiro nas estatsticas de sade atribudo a William Farr (1807-1883). Mdico, Farr tornou-se em 1839 diretor-geral do recmestabelecido General Register Office da Inglaterra, e a permaneceu por mais de 40 anos. Seus Annual Reports, nos quais os nmeros de mortalidade secombinavam com vvidos relatos, chamaram a ateno para as desigualdades entre os distritos sadios e os no-sadios do pas. Em 1842, Edwin Chadwick (1800-1890) escreveu um relatrio que depois se tornaria famoso: As condies sanitrias da populao trabalhadora da Gr-Bretanha. Chadwick, que no era mdico nem sanitarista, mas advogado, impressionou o Parlamento, que em 1848 promulgou lei (Public Health Act) criando uma Diretoria Geral de Sade, encarregada, principalmente, de propor medidas de sade pblica e de recrutar mdicos sanitaristas. Dessa forma teve incio oficial o trabalho de sade pblica na Gr-Bretanha.

  • SADE CIDADEm 1850, nos Estados Unidos, Lemuel Shattuck, livreiro, faz um relato sobre as condies sanitrias em Massachusetts - e uma diretoria de sade criada nesse Estado, reunindo mdicos e leigos. Ao mesmo tempo, outras revolues, estas sangrentas, ocorriam, como a de 1848, como a Comuna de Paris: Karl Marx estava diagnosticando os males do capitalismo e propondo profundas modificaes na sociedade. Mesmo que estas no ocorressem, modificaes precisavam ser feitas. Os capitalistas e latifundirios precisavam, nas palavras de Otto von Bismarck, o chanceler de ferro, serem salvos deles prprios, de sua ganncia que ameaava sacrificar a mo-de-obra operria.Bismarck criou, em 1883, um sistema de seguridade social e de sade que, por vrios aspectos, foi pioneiro. Alis, na Alemanha j tinha surgido, em 1779, a idia da interveno do Estado na rea de sade pblica. Naquele ano comeava a ser publicado o System einer Vollstndigen medicinischen Polizei, obra monumental com a qual Johan Peter Frank (1745-1821) lanava o conceito, paternalista e autoritrio, de polcia mdica ou sanitria.Depois da Alemanha, o sistema foi implantado na Frana, que, tendo anexado a Alscia-Lorena aps a Primeira Guerra Mundial, no quis privar a populao dessa regio dos benefcios de que gozava sob o Imprio Alemo.

  • SADE POLITIZADAVrios outros pases foram copiando o sistema. Mudana substancial ocorreria poca da Segunda Guerra, na Gr-Bretanha. Com o intuito de oferecer ao povo ingls uma espcie de compensao pelas agruras sofridas com o conflito blico, o governo de Sua Majestade encarregou, em 1941, Sir William Beveridge de fazer um diagnstico da situao do seguro social. Dezoito meses mais tarde, Beveridge submeteu ao governo um plano, em conseqncia do qual foi criado, como parte do Welfare System, que prometia proteo do bero tumba, o Servio Nacional de Sade, destinado a fornecer ateno integral sade a toda a populao, com recursos dos cofres pblicos.Mas no havia ainda um conceito universalmente aceito do que sade.Para tal seria necessrio um consenso entre as naes, possvel de obter somente num organismo internacional. A Liga das Naes, surgida aps o trmino da Primeira Guerra, no conseguiu esse objetivo: foi necessrio haver uma Segunda Guerra e a criao da Organizao das Naes Unidas (ONU) e da Organizao Mundial da Sade (OMS), para que isto acontecesse.

  • SADE CONCEITUADA UNIVERSALO conceito da OMS, divulgado na carta de princpios de 7 de abril de 1948 (desde ento o Dia Mundial da Sade), implicando o reconhecimento do direito sade e da obrigao do Estado na promoo e proteo da sade, diz que Sade o estado do mais completo bem-estar fsico, mental e social e no apenas a ausncia de enfermidade. Este conceito refletia, de um lado, uma aspirao nascida dos movimentos sociais do ps-guerra: o fim do colonialismo, a ascenso do socialismo. Sade deveria expressar o direito a uma vida plena, sem privaes. Um conceito til para analisar os fatores que intervm sobre a sade, e sobre os quais a sade pblica deve, por sua vez, intervir, o de campo da sade (health field), formulado em 1974 por Marc Lalonde, titular do Ministrio da Sade e do Bem-estar do Canad - pas que aplicava o modelo mdico ingls. De acordo com esse conceito, o campo da sade abrange:_ a biologia humana, que compreende a herana gentica e os processos biolgicos inerentes vida, incluindo os fatores de envelhecimento;_ o meio ambiente, que inclui o solo, a gua, o ar, a moradia, o local de trabalho;_ o estilo de vida, do qual resultam decises que afetam a sade: fumar ou deixar de fumar, beber ou no, praticar ou no exerccios;_ a organizao da assistncia sade. A assistncia mdica, os servios ambulatoriais e hospitalares e os medicamentos so as primeiras coisas em que muitas pessoas pensam quando se fala em sade. O conceito da OMS, divulgado na carta de princpios de 7 de abril de 1948 (desde ento o Dia Mundial da Sade), implicando o reconhecimento do direito sade e da obrigao do Estado na promoo e proteo da sade, diz que Sade o estado do mais completo bem-estar fsico, mental e social e no apenas a ausncia de enfermidade. Este conceito refletia, de um lado, uma aspirao nascida dos movimentos sociais do ps-guerra: o fim do colonialismo, a ascenso do socialismo. Sade deveria expressar o direito a uma vida plena, sem privaes. Um conceito til para analisar os fatores que intervm sobre a sade, e sobre os quais a sade pblica deve, por sua vez, intervir, o de campo da sade (health field), formulado em 1974 por Marc Lalonde, titular do Ministrio da Sade e do Bem-estar do Canad - pas que aplicava o modelo mdico ingls. De acordo com esse conceito, o campo da sade abrange:_ a biologia humana, que compreende a herana gentica e os processos biolgicos inerentes vida, incluindo os fatores de envelhecimento;_ o meio ambiente, que inclui o solo, a gua, o ar, a moradia, o local de trabalho;_ o estilo de vida, do qual resultam decises que afetam a sade: fumar ou deixar de fumar, beber ou no, praticar ou no exerccios;_ a organizao da assistncia sade. A assistncia mdica, os servios ambulatoriais e hospitalares e os medicamentos so as primeiras coisas em que muitas pessoas pensam quando se fala em sade.

  • SADE REVISADANo entanto, esse apenas um componente do campo da sade, e no necessariamente o mais importante; s vezes, mais benfico para a sade ter gua potvel e alimentos saudveis do que dispor de medicamentos. melhor evitar o fumo do que submeter-se a radiografias de pulmo todos os anos. claro que essas coisas no so excludentes, mas a escassez de recursos na rea da sade obriga, muitas vezes, a selecionar prioridades.A amplitude do conceito da OMS (visvel tambm no conceito canadense) acarretou crticas, algumas de natureza tcnica (a sade seria algo ideal, inatingvel; a definio no pode ser usada como objetivo pelos servios de sade), outras de natureza poltica, libertria: o conceito permitiria abusos por parte do Estado, que interviria na vida dos cidados, sob o pretexto de promover a sade. Em decorrncia da primeira objeo, surge o conceito de Christopher Boorse (1977): sade ausncia de doena. A classificao dos seres humanos como saudveis ou doentes seria uma questo objetiva, relacionada ao grau de eficincia das funes biolgicas, sem necessidade de juzos de valor.

  • SADE PBLICAUma resposta a isto foi dada pela declarao final da Conferncia Internacional de Assistncia Primria Sade realizada na cidade Alma-Ata (no atual Cazaquisto), em 1978, promovida pela OMS. A abrangncia do tema foi at certo ponto uma surpresa. A par de suas tarefas de carter normativo - classificao internacional de doenas, elaborao de regulamentos internacionais de sade, de normas para a qualidade da gua - a OMS havia desenvolvido programas com a cooperao de pases-membros, mas esses programas tinham tido como alvo inicial duas doenas transmissveis de grande prevalncia: malria e varola.O combate malria baseou-se no uso de um inseticida depois condenado, o dicloro-difenil-tricloroetano (DDT), tendo xito expressivo mas no duradouro. A seguir foi desencadeado, j nos anos 60, o Programa de Erradicao da Varola. A varola foi escolhida no tanto por sua importncia como causa de morbidade e mortalidade, mas pela magnitude do problema (os casos chegavam a milhes) e pela redutibilidade: a vacina tinha alta eficcia, e como a doena s se transmite de pessoa a pessoa, a existncia de grande nmero de imunizados privaria o vrus de seu hbitat. Foi o que aconteceu: o ltimo caso registrado de varola ocorreu em 1977. A erradicao de uma doena foi um fato indito na histria da Humanidade.

  • POLTICA/SADEQuando se esperava que a OMS escolhesse outra doena transmissvel para alvo, a Organizao ampliou consideravelmente seus objetivos, como resultado de uma crescente demanda por maior desenvolvimento e progresso social. Eram anos em que os pases socialistas desempenhavam papel importante na Organizao - no por acaso, Alma-Ata ficava na ex-Unio Sovitica. A Conferncia enfatizou as enormes desigualdades na situao de sade entre pases desenvolvidos e subdesenvolvidos; destacou a responsabilidade governamental na proviso da sade e a importncia da participao de pessoas e comunidades no planejamento e implementao dos cuidados sade. Trata-se de uma estratgia que se baseia nos seguintes pontos: 1) as aes de sade devem ser prticas, exeqveis e socialmente aceitveis; 2) devem estar ao alcance de todos, pessoas e famlias - portanto, disponveis em locais acessveis comunidade; 3) a comunidade deve participar ativamente na implantao e na atuao do sistema de sade; 4) o custo dos servios deve ser compatvel com a situao econmica da regio e do pas. Estruturados dessa forma, os servios que prestam os cuidados primrios de sade representam a porta de entrada para o sistema de sade, do qual so, verdadeiramente, a base. O sistema nacional de sade, por sua vez, deve estar inteiramente integrado no processo de desenvolvimento social e econmico do pas, processo este do qual sade causa e conseqncia.

  • SADE COM CUIDADOOs cuidados primrios de sade, adaptados s condies econmicas, socioculturais e polticas de uma regio deveriam incluir pelo menos: educao em sade, nutrio adequada, saneamento bsico, cuidados materno-infantis, planejamento familiar, imunizaes, preveno e controle de doenas endmicas e de outros freqentes agravos sade, proviso de medicamentos essenciais.Deveria haver uma integrao entre o setor de sade e os demais, como agricultura e indstria.O conceito de cuidados primrios de sade tem conotaes. uma proposta racionalizadora, mas tambm uma proposta poltica; em vez da tecnologia sofisticada oferecida por grandes corporaes, prope tecnologia simplificada, de fundo de quintal. No lugar de grandes hospitais, ambulatrios; de especialistas, generalistas; de um grande arsenal teraputico, uma lista bsica de medicamentos - enfim, em vez da mstica do consumo, uma ideologia da utilidade social. Ou seja, uma srie de juzos de valor, que os pragmticos da rea rejeitam. A pergunta : como criar uma poltica de sade pblica sem critrios sociais, sem juzos de valor?Por causa disso, nossa Constituio Federal de 1988, artigo 196, evita discutir o conceito de sade, mas diz que: A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para a promoo, proteo e recuperao. Este o princpio que norteia o SUS, Sistema nico de Sade. E o princpio que est colaborando para desenvolver a dignidade aos brasileiros, como cidados e como seres humanos.

  • IN-CONCLUINDOAs mudanas scio-culturais em curso, requisitando alternativas para a promoo de sade e educao, necessitam ser contempladas pela oferta de reflexes terico-prticas para a formao, de profissionais dessas reas, mais pertinente s demandas de seus servios no contexto social contemporneo, e no por significados institucionalizantes atribudos historicamente.

  • ORIGEM/CUIDADO???Grego: g rys (voz); Gtico : kara (lamento), Latim: garrire (balbuciar), curareSOFRIMEN(TOPeso de preocupao incerta, apreensiva ou medo, para considerar encaminhamentosAteno acompanhada por interesse e responsabilidade Considerao, inclinao:Encargo, Superviso: responsabilidade ou ateno para segurana e bem estar, como sob o cuidado mdico Custdia: encargo temporrio, quando algum designado por outra pessoa ou agnciaDireo de ateno, ansiedade ou solicitude pessoa ou coisa Solicitude: protetividade apreensiva ou reflexiva atentividade ou considerao para o bem estar de outro Preocupao: interesse no bem estar ou segurana de outro, carregada de apreenso ou dvida de dificuldades ou falhas pela responsabilidade implicadaAnsiedade: forte desgaste pela expectativa de mal resultado outcomeSinnimos para cuidadoso: meticuloso, escrupuloso, pontual, variada mistura de atentividade e cauo

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