conceitos basicos permacultura

download conceitos basicos permacultura

of 53

description

permacultura

Transcript of conceitos basicos permacultura

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    PNFC Projeto Novas Fronteiras da Cooperao Para o Desenvolvimento Sustentvel

    CONCEITOS BSICOS SOBRE

    PERMACULTURA

    Braslia, DFJulho de 1998

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    CONCEITOS BSICOS SOBRE PERMACULTURA

    ELABORAOAndr Luis Jaeger Soares

    APOIOMarli Bianna do Nascimento NunesMinistrio da Agricultura e do Abastecimento MA

    Carlos Alberto dos Santos Silva PNFC Projeto Novas Fronteiras da Cooperaopara o Desenvolvimento Sustentvel

    Aloysio Costa e Silva JniorPNFC Projeto Novas Fronteiras da Cooperaopara o Desenvolvimento Sustentvel

    Catalogao na fonte. MA/SDR/CENAGRI Preservao da Memria AgrcolaNacional

    Soares, Andr Luis Jaeger.Conceitos bsicos sobre permacultura /por Andr Luiz Jaeger Soares. -- Braslia : MA/SDR/PNFC, 1998.53 p. ; 25cm

    1. Permacultura - Agricultura alternativa. I.Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento sustentvel. II. Ttulo

    AGRIS E14CDU 631.151

    Impresso no Brasil

    CONCEITOS BASICOS SOBRE

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    PERMACULTURA

    A Secretaria de Desenvolvimento Rural do Ministrio da Agricultura e doAbastecimento, por meio do PNFC- Projeto Novas Fronteiras da Cooperaopara o Desenvolvimento Sustentvel, adotou a Permacultura comometodologia de trabalho destinada agricultura familiar, por ser um mtodo detrabalho e de desenvolvimento adequado s condies climticas, ambientaise sociais do Brasil. Dentro do paradigma da sustentabilidade, almeja-sedesenvolver e implantar sistemas permaculturais de produo ecomercializao em organizaes associativistas, apropriados a cada biomado Pas.

    0 PNFC, com o Projeto Permacultura e Agricultura Orgnica, vemtrabalhando no desenvolvimento dessas tcnicas, de forma a que o agricultorfamiliar melhore seu padro de vida, reduzindo sua dependncia de recursosfinanceiros. Esta publicao visa introduzir os princpios e prticas daPermacultura, sem a pretenso de esgotar o assunto. A partir dela, o leitorpoder aprofundar seus conhecimentos praticando e buscando maisinformaes. Lembramos que a Permacultura fundamentalmente prtica, eque trabalhando na terra que a pessoa ir descobrir os princpios aquimencionados.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    O QUE PERMACULTURA?Em poucas palavras, Permacultura uma sntese das prticas agrcolas

    tradicionais com idias inovadoras. Unindo o conhecimento secular sdescobertas da cincia moderna, proporciona o desenvolvimento integrado dapropriedade rural de forma vivel e segura para o agricultor familiar.

    0 projeto permacultural envolve o planejamento, a implantao e amanuteno conscientes de ecossistemas produtivos que tenham adiversidade, a estabilidade e a resistncia dos ecossistemas naturais. Eleresulta na integrao harmoniosa entre as pessoas e a paisagem, provendoalimentao, energia e habitao, entre outras necessidades materiais e no -materiais, de forma sustentvel.

    A palavra PERMACULTURA ainda no existe nos dicionriosbrasileiros. Ela foi inventada por Bill Mollison para descrever essatransformao, da agricultura convencional em uma Permanente agricultura.

    Como campo de trabalho, a Permacultura uma carreira reconhecidainternacionalmente, em vrias instituies de ensino superior. Apesar disso,no um campo de "especializao" e, sim, de "generalizao". 0 permacultorutiliza conhecimentos de muitas reas para fazer sua anlise e tomar suasdecises.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    QUANDO SURGIU?

    A Permacultura foi desenvolvida no comeo dos anos 70 pelosaustralianos Bili Mollison e David Holmgren, como uma sntese das culturasancestrais sobreviventes com os conhecimentos da cincia moderna. A partirde ento, passou a ser difundida na Austrlia, considerando que, naquelepas, a agricultura convencional j estava em decadncia adiantada,mostrando sinais de degradao ambiental e perda de recursos naturaisirrecuperveis. Na verdade, em situao muito similar do Brasil de hoje.

    Desde ento, os inmeros casos de sucesso na aplicao daPermacultura tm provado ser, ela, uma soluo vivel no somente para aAustrlia, como para todo o Planeta. Os conceitos de agricultura permanentecomearam a ser expandidos como uma cultura permanente, envolvendofatores sociais, econmicos e sanitrios para desenvolver uma verdadeiradisciplina holstica de organizao de sistemas.

    Hoje, existem institutos de Permacultura em todos os continentes, emmais de cem naes. Diversos pases, como o Brasil, vm adotando aPermacultura como metodologia agrcola e, at mesmo, escolas de todos osnveis esto incluindo a Permacultura no seu currculo bsico.

    POR QU PERMACULTURA?0 Planeta Terra encontra-se em um momento crtico. Apesar da evoluo

    rpida das tecnologias existentes, os nossos sistemas naturais esto em crise. Portoda a parte, constata-se a degradao ambiental em diversas formas. 0 mundoperde bilhes de toneladas de solos frteis, anualmente. Os desertos continuamcrescendo a uma velocidade ameaadora. 0 abastecimento de energia e guapotvel para o futuro prximo est ameaado, alm de outros problemasgeneralizados que continuam se agravando, como as mudanas climticas recentesocasionadas pelo impacto do nosso consumo excessivo de combustveis fsseis.

    No Brasil, a famlia rural carente de informaes e de recursos parasobreviver sustentavelmente, com o conseqente xodo rural que, por sua vez, temrepercusso na qualidade de vida nas zonas urbanas.

    Precisamos trazer solues prticas para a pessoa do campo. Solues quevenham de encontro s realidades culturais, sociais e ambientais de cada regio.Solues sistmicas, acessveis e simples, que tragam segurana famlia e umpotencial de desenvolvimento humano sustentvel.

    A Permacultura se adapta a transies lentas ou rpidas. Voc podecomear lentamente, utilizando uma pequena parcela de terra, e os recursos

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    disponveis localmente, ou transformar toda a propriedade, de uma s vez, deacordo com suas condies financeiras e a quantidade de ajuda com que vocpode contar. No esquecendo o auxlio que a natureza oferece, quandocomeamos a colaborar com ela.

    Integrando todos os aspectos da sobrevivncia e da existncia decomunidades humanas, a Permacultura muito mais do que agriculturaecolgica ou orgnica, englobando Economia, tica, sistemas de captao etratamento de gua, tecnologia solar e bioarquitetura. Ela uma sistemaholstico de planejamento da nossa permanncia no Planeta Terra.

    A TICA DA PERMACULTURA"Os sistemas bsicos de sustentao da vida no Planeta

    esto em crise. A continuar assim, o Homo sapiens poder entrar para alista das espcies em perigo de extino."

    Jornal The Examiner- Londres 1992

    Para realizar a Permacultura, necessrio adotar uma tica especficade sustentabilidade que exija um repensar dos nossos hbitos de consumo edos nossos valores, em geral. Os pontos fundamentais so definidos assim:

    0 cuidado com o planeta Terra - Esta uma afirmao simples eprofunda, com o intuito de guiar nossas aes para a preservao de todosos sistemas vivos, de forma a continuarem indefinidamente no futuro. Issopressupe uma valorizao de tudo o que vivo e de todos os processosnaturais. A rvore tem valor intrnseco, valiosa para ns, no somentepela madeira ou pelos frutos. porque viva e realiza um trabalho queproporciona a continuidade da vida no Planeta. Assim, tambm tm valor agua, os animais, o solo e toda a complexidade de relaes entreorganismos vivos e minerais existentes na Terra.

    0 cuidado com as pessoas - 0 impacto do ser humano no Planeta Terra, sem dvida, o mais marcante. Portanto, a qualidade da vida humana um fator essencial no desenvolvimento de estratgias de sobrevivncia.Somos mais de cinco bilhes habitando % da superfcie terrestre. Assim,se pudermos garantir o acesso aos recursos bsicos necessrios existncia, reduziremos a necessidade de consumir recursosno-renovveis.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Portanto, os sistemas que planejarmos devem, prover suas necessidades demateriais e energia, como, tambm, as necessidades daquelas pessoas queneles habitam.

    Distribuio dos excedentes - Sabemos que um sistema bem planejado temcondies de alcanar uma produtividade altssima, produzindo assim umexcesso de recursos. Portanto, devemos criar mtodos de distribuioequitativos, garantindo o acesso aos recursos a todos que deles necessitam,sem a interveno de sistemas desiguais de comrcio ou acumulao deriqueza de forma imoral. Qualquer pessoa, instituio ou nao que acumuleriqueza ao custo do empobrecimento de outras est diminuindo a expectativade sustentabilidade da sociedade humana.

    Limites ao consumo - Isso requer um repensar de valores, umreplanejamento dos nossos hbitos e uma redefinio dos conceitos dequalidade de vida. Alimento saudvel, gua limpa e abrigo existem emabundncia na natureza; basta que com ela cooperemos.

    DESIGN OU DESENHO?

    Nesse contexto, a traduo da palavra "design" mais do que desenho.Design planejamento consciente, considerando todas as influncias e osinter-relacionamentos que ocorrem entre os elementos de um sistema vivo.

    Os resultados de um bom design permacultural devero incluir:

    estratgias para a utilizao da terra sem desperdcio ou poluio;

    sistemas estabelecidos para a produo de alimento saudvel, possivelmentecom excesso,

    restaurao de paisagens degradadas, resultando na preservao deespcies e habitats, principalmente espcies em perigo de extino,

    integrao, na propriedade, de todos os organismos vivos em um ambiente deinterao e cooperao em cicios naturais;

    mnimo consumo de energia;

    captao e armazenamento de gua e nutrientes, a partir do ponto mais altoda propriedade.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    PLANEJAMENTO POR SETORES

    importante que tenhamos compreendido todas as energias externasque tenham influncia dentro do nosso stio, luz solar, ventos, chuvas,incndios, poluio sonora, atmosfrica, visual etc.

    Aps a observao cuidadosa desses efeitos, realizamos umplanejamento para direcionar ou bloquear essas energias, de acordo com asnossas necessidades. Esse planejamento feito por setores, onde o stio ocentro do sistema e um crculo representa os 360 graus de possvel influnciaexterna. Assim, marcamos os setores de acordo com as informaes quecoletamos: setor de luz solar no inverno e no vero, setor dos ventos, setor deperigo de incndio, e assim por diante.

    Esses setores serviro, mais tarde, para definir o posicionamento dequebra-ventos, a posio da casa e dos abrigos dos animais, entre muitosoutros elementos.

    0 planejamento por setores complementado com o planejamento por Zonas.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    PLANEJAMENTO POR ZONAS

    Ao contrrio dos setores, as zonas dizem respeito s energias internasdo sistema. Principalmente, em relao ao trabalho humano e movimentao de gua e nutrientes.

    Planejamos todo o projeto de forma a realizar uma economia mximade trabalho e recursos, criando pontos de utilizao que estejam ligados aospontos onde esses recursos esto sendo produzidos.

    Assim, podemos alcanar a maior eficincia energtica possvel,colocando aqueles elementos que necessitam de maior ateno humana maisprximos casa. Aqueles que podem ser mantidos com pouco ou nenhummanejo, ficaro mais longe.

    Tambm pensamos na conexo entre todos os elementos, de forma aque os produtos (ou recursos) de um elemento sejam utilizados como insumospor outros. a vertcalzao do sistema - lixo o recurso ainda noaproveitado.

    Dessa forma, reduzimos ao mximo a necessidade de trabalho e, aomesmo tempo, evitamos a poluio ou a contaminao.

    Podemos definir, ento, as seis zonas bsicas de um sistemapermacultural:

    Zona 0 - a casa, o centro do sistema, a partir do qual iniciamos o nossotrabalho, pondo a casa em ordem.

    Na prpria casa, e sua volta, existem muitos espaos que podem setornar produtivos. Peitorais de janelas, laterais de parede... enfim, toda ahabitao pode ser planejada ou modificada para que seja mais eficiente nautilizao de recursos e na produo de alimento. Esse trabalho contribui parao controle da temperatura no interior da habitao, alm de utilizar osmicroclimas criados pela existncia da prpria estrutura.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Zona 1 - compreende a rea mais prxima da casa, que visitaremosdiariamente e onde colocamos os elementos que necessitam cuidado dirio: ahorta, as ervas culinrias, alguns animais de pequeno porte e rvoresfrutferas de uso freqente (ex. limo). Tambm onde concentraremos aarmazenagem de ferramentas e de alimentos, para utilizao a longo prazo.

    A horta um elemento essencial da Zona 1, pois funciona como basede sustentao da alimentao da famlia. Ela poder ser manejada com oauxlio de animais que faam o trabalho de fertilizao e controle. na Zona 1que inclumos os elementos necessrios nossa sobrevivncia elementar:gua potvel, espao para a produo de composto e uma rea onde lavar osprodutos da horta e as ferramentas. Um viveiro de mudas tambm deve serincludo, como base para a diversificao da produo.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Zona 2 - um pouco mais distante da casa, a Zona 2 envolve aqueleselementos que necessitam de manejo freqente sem a intensidade da Zona 1.Algumas frutferas de mdio porte, galinhas e tanques pequenos deaqicultura podero fazer parte dessa Zona, bem como outros animaismenores (patos, gansos, pombos, coelhos, codornas etc.) Essa rea ofereceproteo Zona 1.

    Zona 3 - j mais distante da casa, poderemos nela incluir as culturas com finscomercias, que ocupam mais espao e no necessitam de manejo dirio.Tambm poderemos incluir a criao de florestas de alimentos, animais demdio e grande portes com rodzio de pastagens; produo comercial defrutos e castanhas, entre outros elementos essenciais diversidade daproduo.

    Zona 4 - visitada raramente, nela poderemos incluir a produo de madeirasvaliosas, audes maiores e a produo de espcies silvestres comerciais. Emregies de floresta, o extrativismo sustentvel e o manejo florestal tambmpodero fazer parte desta Zona, bem como a recriao de florestas dealimentos em regies que foram desmatadas.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Zona 5 - Aqui, s entraremos para aprender ou para uma coleta ocasional desementes. onde no interferimos, permitindo, assim, que exista odesenvolvimento natural da floresta. Sem esta Zona ficamos sem refernciapara a compreenso dos processos que tentamos incluir nas outras zonas.

    importante incluir elementos de armazenamento e captao de guae nutrientes em todas as zonas, a partir do ponto mais elevado dapropriedade.

    A ECOLOGIA DA PERMACULTURA

    A Ecologia o estudo dos sistemas naturais. Um ecossistema consisteem grupos de organismos que interagem uns com os outros dentro de seuambiente natural, coexistindo para formar um sistema complexo de relaes,de forma a perpetuar a evoluo das espcies e manter os mecanismos detransformao de energia de forma sustentvel.

    Seres humanos so parte integrante dos ecossistemas onde vivem.Portanto, se desejam sobreviver, devem aceitar o imperativo de viver de formaintegrada ao meio ambiente, repondo os recursos que retiram e alimentandoos cicios vitais de regenerao.

    Observe a floresta natural. Veja como, nela, todos os organismosinteragem harmoniosamente, visando uma produtividade imensurvel. Agora,imagine como seria se pudssemos recriar essa harmonia com a mesmaprodutividade, introduzindo espcies de plantas e animais que fossem teis snecessidades humanas. Na verdade, esse trabalho possvel e necessrio.Ecossistemas cultivados podem, at, superar os ecossistemas naturais quanto produtividade para os seres humanos.

    Ecologia cultivada um termo muito comum, entre os permacultores.Para que possamos cultivar um ecossistema, necessrio compreender ofuncionamento de sistemas naturais, de tal forma que nossas intervenoesobedeam um critrio de sustentabi 1 idade, tanto com o ambiente natural dehoje como para as futuras geraes, que dele dependero.

    A grande diferena entre um ecossistema natural e um cultivado que,no cultivado, existe a presena de um grande nmero de especies (e dabiomassa) introduzidas para a utilizao de humanos e de seus animais. Adiversidade e a estabilidade permanecem altas, garantindo, assim, asobrevivncia a longo prazo.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    necessrio, no entanto, que tenhamos uma viso sistmica da nossapresena no mundo, e que reconsideremos nossos conceitos antiquados deproduo, lucro, fertilidade, ciclos e recursos, que so relativos s nossasexperincias individuais, as quais, por sua vez, so regidas pela tica queescolhermos.

    Alguns dos princpios bsicos que regem a existncia de ecossistemasso..

    1 Fluxo de energia - Todas as formas de vida requerem energia parasobreviver. No Planeta Terra, a fonte primordial de energia o sol. A partirdele, todos os organismos vivos retiram, direta (como as plantas) ouindiretamente (como os animais), sua alimentao.2 Cicios de aproveitamento - Em sistemas naturais, a matria constantemente reaproveitada. A quantidade de matria total no Planeta constante, por isso os organismos vivos dependem da utilizao e dareciclagem dos materiais. Assim, quando recolhemos as folhas cadas no choe colocamos no lixo, estamos interferindo negativamente, privando o solo damatria orgnica necessria gerao de alimento para as plantas, que, porsua vez, iriam nos alimentar.

    3 Cadeias alimentares - Cada organismo vivo est ligado a outros. Ascadeias alimentares representam as relaes de alimentao entre os seresvivos, em um determinado habitat. Uma cadeia frgil (ex.-. uma lavoura detrigo) inclui poucas espcies e, assim, poucas oportunidades de sobrevivncia.Uma cadeia forte( ex.: floresta), ao contrrio, tem multas espcies que sealimentam umas das outras, perpetuando sua existncia mesmo com aocorrncia de eventos inesperados.

    4 Sucesso e dimenses - Imagine a floresta aps uma queimada. Mesmoque o solo tenha sido desnudado de sua cobertura natural, a natureza trabalhapermanentemente para recuperar sua diversidade no local. Novas espciesaparecem, colonizando o local em etapas sucessivas, com grupos de plantasdiferentes, at que, com o tempo, a floresta amadurea novamente. Essasplantas so conhecidas, para fins de estudo, como espcies pioneiras (noprimeiro estgio), intermedirias e de clmax.

    Essa colonizao sucessiva, no tempo e no espao, conhecida comosucesso; a utilizao de vrios "andares" um exemplo da eficincia dosprocessos naturais, na utilizao do espao. Na realidade, elas ocorremconstantemente, na medida em que grandes rvores vo morrendo e abrindo

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    espao para o reinicio do processo. Na Permacultura, precisamos observar osprocessos de sucesso natural do local para recriarmos e acelerarmos esseprocesso com as espcies que nos so teis, sem negligenciar asnecessidades bsicas do sistema.

    5 Fatores limitantes - Muitos fenmenos influenciam no desenvolvimento deecossistemas. Clima, temperatura, regime de chuvas, quantidade de luz solardiria e qualidade do solo so apenas alguns dos fatores que podem limitar adiversidade e a produtividade de um sistema vivo. Dentro da Permacultura,trabalhamos para amenizar esses fatores, de forma a criar uma variedade demicroclimas que permitam o cultivo de muitas espcies, mesmo que ascaractersticas gerais do local sejam limitadas.

    LENDO A TERRA (exerccio prtico)0 primeiro passo para executar um planejamento adequado da

    utilizao de algum espao de terra, seja este um lote na zona urbana oualgumas centenas de alqueires, uma compreenso profunda dos processosnaturais existentes nesse espao. Anotar as espcies que nele vivem, asvariaes topogrficas e seus impactos no microclima, bem como osprocessos que estejam faltando para um equilbrio.1 . Colete o maior nmero de informaes possvel, a respeito da rea de

    terra que voc vai trabalhar. Procure mapas, ndices de pluviosidade(chuva), fotografias antigas e modernas, o mximo de dados que puderdescobrir. Ainda que grande fonte de informaes sejam os vizinhos maisantigos, no aceite tudo como verdade absoluta, pois sua observao que vai determinar a concluso. Pergunte de onde vem o vento no veroe no inverno, qual a poca das maiores chuvas etc. Anote tudo em umcaderno. Procure, tambm, os rgos pblicos na regio (EMBRAPA,113GE, Prefeitura etc.), que podero, tambm, fornecer informaesvaliosas.

    2. Agora, faa um reconhecimento da terra. Ande por todos os lados,observe as diferenas entre os vrios terrenos. Descubra a inclinaoespecfica de cada rea.

    3. Pegue uma fita mtrica ou utilize o tamanho do seu passo para descobriras distncias entre os elementos importantes existentes na terra, casas,galpes, plantios, hortas, audes etc.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    4. Marque com preciso os locais onde exista gua (nascentes, crregos,poos etc.)

    5. Agora, faa um mapa da terra, no esquecendo de incluir a orientaocom relao ao Norte. Junto a esse mapa, coloque todas as anotaesreferentes ao stio. Anote todas as espcies de plantas e animais(domsticos e silvestres), colete amostras das espcies que voc noconhece, para uma futura identificao. Essas espcies iro informarmuito sobre o estado em que essa terra se encontra.

    6. Faa um perfil da inclinao do terreno com os diversos elementosexistentes bem como as alturas respectivas.

    CLIMAS E MICROCLIMAS

    A superfcie da Terra absorve calor e, assim, aquece de baixo para cimaa atmosfera que nos cerca. Esse ar quente sobe e, nas camadas mais altasda atmosfera, perde calor novamente, fazendo o ar frio descer. Esse padrogeral o responsvel pelas variaes climticas predominantes no Planeta.

    Os fatores climticos influenciam, profundamente, a seleo dasespcies e a escolha da tecnologia apropriada para cada situao. Alm dasmudanas climticas amplas, da localizao da terra em relao ao mar, daaltitude e da latitude, outros fatores mais localizados tambm se relacionamuns com os outros para criarem microclimas especficos. Assim, mesmo queum stio esteja em uma localidade de clima subtropical, por exemplo, podemhaver locais especficos, dentro do stio, que apresentem caractersticas declima temperado, clima tropical seco ou mido. A identificao desses"microstios" pode significar a diferena entre uma produo sustentvel euma agricultura medocre, dependendo da diversidade das espcies e dooportunismo do projetista em aproveitar-se dessas situaes.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    LATITUDE E ALTITUDE

    A linha do equador representa o centro de uma faixa volta do Planetaque recebe a maior quantidade de irradiao solar, durante o ano. Isso devido posio do Planeta, no percurso que faz volta do sol.

    medida em que nos afastamos do equador (latitude 0), a quantidadede irradiao solar diminui com o ngulo do sol em relao ao horizonte.Assim, quanto maior for a latitude, menores sero as temperaturas mdiasanuais.

    Para efeitos de projeto, cada 100 metros de altitude acima do nvel domar equivalem a 1 grau a mais, de latitude.

    Concluindo - um stio que esteja a 15 graus de latitude e a 500 metrosacima do nvel do mar, ser considerado como estando a 20 graus de latitude,no clculo das temperaturas mdias.

    INCLINAOEste fator relativo ao grau de elevao no terreno, em relao a uma

    linha horizontal. Terrenos com inclinao demasiada (maior do que 20 graus)so considerados, em geral, imprprios para o cultivo. Devem ser revegetadoscom espcies de floresta, para evitar eroso, ou cuidadosamente cultivadoscom terraos. Terrenos muito planos causam dificuldades na drenagem e,geralmente, so pobres em diversidade de microclimas possveis.

    ASPECTO

    A direo, para a qual a inclinao do terreno estiver voltada, definidacomo o aspecto do terreno: Norte, Sul, Leste ou Oeste. Esse fator,conjuntamente com a inclinao e a latitude do local, determinam aquantidade de irradiao solar direta que o terreno recebe. Esse fatortambm sofre a influncia de corpos que reflitam ou absorvam a luz (lagos,edificaes etc.). Quanto mais irradiao solar, mais quente. 0 local ideal,ento, incluiria uma variedade de aspectos e inclinaes, oportunizando umamaior diversidade de espcies e uma variedade de tcnicas.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Assim, dentro da anlise de situao que o projetista executa antes derealizar um projeto, ele incluir um estudo dos microclimas, como apontado nomapa.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Mesmo uma rocha, um muro, uma casa ou a prpria vegetao, modificamos microclimas sua volta. Com essa anlise, poderemos escolher os locais paraa casa e para os animais, assim como a variedade das espcies vegetais quedesejamos introduzir. devido existncia de microclimas favorveis que, emcertas ocasies, descobrimos plantas tropicais produzindo em latitudes onde ageada ocorre todos os anos.

    QUEBRA - VENTOS

    Um local aberto, exposto aos ventos, pode diminuir muito a produtividadede um stio. Portanto, devemos projetar quebra - ventos , de forma a permitirem odesenvolvimento saudvel das plantas.

    Quebra - ventos devero tambm, cumprir vrias outras funes, como ade atrair pssaros silvestres, produzir forragem animal, proteger do fogo e evitara eroso.

    0 quebra - vento ideal composto por vrias camadas de plantio, de formaa que o vento no seja totalmente interrompido no seu percurso (isso causaturbulncia e pode destruir o plantio), diminuindo em torno de 80% de suaintensidade.

    Com um planejamento adequado, poderemos posicionar os quebra -ventosde forma a melhorarem a polinizao das espcies produtivas que estivermoscultivando.

    SOLOS

    A grande maioria dos solos cultivados, no mundo de hoje, esto doentes,empobrecidos pelo manuseio incorreto, contaminados pelo uso excessivo debiocidas e improdutivos pela falta de manejo generalizada. 0 uso excessivo defertilizantes sintticos tambm causa problemas gerais fertilidade do solo.

    Hoje, sabemos que todos os desertos do Planeta esto aumentando, aoinvadirem reas antes produtivas. Problemas de salinidade esto impedindo ocultivo no que, antes, era terra frtil.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Os desertos e as plancies salinas so exemplo vivo da nossairresponsabilidade no manejo do solo.

    Solos saudveis so como um organismo vivo. Necessitam do nvel certo deumidade e de ar para que a variedade imensa de organismos microscpicos eanimais existentes possam realizar o seu trabalho de converter matria orgnicaem hmus, a base da vida terrestre no Planeta.

    Para que o solo mantenha-se frtil e saudvel, necessrio que omanejemos de forma adequada, evitando que fique desprotegido ou que sejatrabalhado em excesso. Como modelo para esse manejo, observamos,novamente, os ecossistemas naturais estveis e seus processos de reciclagemde nutrientes.

    Estas, so algumas das tcnicas que utilizamos, dentro da permacultura,para manter o solo saudvel

    Adubao verde - utilizando as plantas que chamamos de "acumuladoresdinmicos", poderemos devolver, ao solo, os nutrientes que j no esto maisdisponveis para as razes superficiais. Os acumuladores dinmicos resgatamesses nutrientes com suas razes profundas, trazendo-os at as folhas, que osdevolvem ao solo para se decomporem. Um dos acumuladores dinmicos maiseficientes o Confrei.

    Mulch - solo descoberto solo pobre; a cobertura do solo, conhecida comomulch, pode ser de matria orgnica morta (folhas, galhos, jornais etc.), como nafloresta, ou pode ser viva, com o plantio de espcies benficas rasteiras (batatadoce, labe-labe). Essa cobertura serve para evitar a evaporao rpida daumidade do solo e protege-lo contra a eroso, alm de evitar o ataque de pragas.

    Leguminosas - muitas espcies da famlia das leguminosas, e algumas deoutras famlias, trabalham em associao com microorganismos, de forma aretirar o Nitrognio existente na atmosfera, fixando-o no solo em forma dendulos. 0 manejo dessas plantas poder adiantar em muito, o processo derecuperao de solos empobrecidos. Da mesma forma, pesquisas recentesdemonstram uma associao similar entre palmeiras e fungos, facilitando aabsoro de fsforo. A complexidade de associaes entre plantas e organismosmicroscpicos, no solo, ainda um campo rico e relativamente inexplorado.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Plantios de cobertura - da mesma forma que a adubao verde, os plantios decobertura tambm melhoram a estrutura geral dos solos. Alm de executaremesse trabalho, os plantios podero, tambm, ter outras funes, como forragemanimal, alimentao humana ou mulch.

    Esterco animal - o valor do esterco animal como adubo j amplamenteconhecido no Brasil. No entanto, a novidade que poderemos executar essaadubao diretamente, sem a interveno humana no transporte ou no trato,utilizando as tcnicas de tratores vivos e evitando o uso excessivo de energia.

    GUAApesar de o Brasil estar em posio privilegiada em relao quantidade

    das chuvas totais no Planeta, a quantidade de gua potvel disponvel para autilizao direta das pessoas est diminuindo. Imagine que se toda a guaexistente no Planeta coubesse em uma garrafa, a quantidade de gua potvel aonosso alcance no chegaria a uma gota.

    necessrio planejar adequadamente o uso da gua, em qualquerpropriedade. Dentro do princpio bsico da criao dos pontos de utilizao dasenergias que entram em um sistema, poderemos nos valer do mtodo"Yeomans" de modificao do terreno para aumentar a eficincia das guas quepassam pelo stio, melhorando, assim, a qualidade do solo e a fertilidade total dosistema.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    0 mtodo Yeomans pode ser resumido em:

    construo de canais de infiltrao, escavaes em nvel que permiteminterromper o escorrimento superficial da gua e faz-la penetrar no solo. Com otempo, essas faixas de terreno se tornam extremamente frteis, alm de evitar aeroso superficial;

    cultivo por linha chave, uma forma de cultivo do solo que aumenta a fertilidadee a capacidade de reteno de gua;

    construo de audes interligados, outra forma muito econmica dearmazenar gua para a utilizao em perodos de seca e para a criao desistemas de aquicultura altamente produtivos. Alm de cumprir a funo dearmazenamento, aumenta muito a capacidade de produo do local, melhorandoo microclima. Audes so elementos fundamentais de qualquer projeto desustentabilidade. Para efeito de projeto, qualquer rea de terra dever serplanejada para incluir, aproximadamente, 12% a 20% de submerso emreservatrios de gua.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Alm de melhorar a eficincia na utilizao da gua, deveremos, tambm,considerar as condies de saneamento e a possvel reutilizao dos efluentesproduzidos na casa.

    A "gua cinza" aquela que j foi utilizada para a lavagem de roupas oupara os banhos. Essa gua poder ser direcionada produo vegetal, evitandoa proliferao de mosquitos e outros organismos que se reproduzem em poas eque ameaam a sade humana.

    A captao da gua da chuva uma alternativa muito vivel para osuprimento de gua potvel. Na verdade, basta calcular a quantidade de guaque o telhado da casa capta por ano, e construir um sistema de calhas e tanqueque armazene parte dessa gua longe da luz solar e do acesso de insetos.

    COMO CALCULAR A QUANTIDADE DE CAPTAO DE UM TELHADO

    rea do telhado (em M) X Quantidade anual de chuva (em m) = m 3

    ARVORES: OS AGENTES DA MUDANAUm fato normalmente esquecido no planejamento dos usos da propriedade

    rural diz respeito a implantao das rvores na modificao dos microclimaslocais, inclusive, aumentando a quantidade total de precipitao muito alm dachuva que pode ser observada.

    Com os efeitos da evapora nsp i rao, durante o dia, e da condensao,durante a noite, a quantidade total de gua que chega ao solo, diariamente, aumentada em at 65% devido influncia das rvores.

    Em reas distantes do mar, a floresta chega a ser responsvel por at 75%da chuva. Assim, se derrubamos a floresta estamos criando desertos. Asflorestas retornam dez vezes mais gua ao solo do que os sistemas a solo nu - e,certamente, absorvem muito mais gua no momento da chuva, evitando, assim,a eroso superficial.

    Na verdade, as florestas podem ser consideradas como imensos lagoscheios de gua em constante reciclagem com o solo e a atmosfera.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    OS ANIMAIS E SEUS BENEFCIOSDentro da Permacultura, animais executam funes vitais de reciclagem

    de nutrientes e de trabalho mecnico. Apesar de serem pobres conversoresde energia, quando comparados s plantas, os animais so os elementosmveis de um sistema vivo e devem ser includos seja para proverem parte daalimentao bsica, seja unicamente, como processadores de nutrientes.

    Vamos analisar a galinha, por exemplo. ela um animal de pequenoporte, com uma variedade enorme de produtos e comportamentos, com certasnecessidades bsicas que necessitam ser supridas de dentro do sistema.Primeiro, criamos interaes com outros elementos, de forma a que asnecessidades da galinha sejam supridas; ento, introduzimos elementos queutilizem seus produtos. At mesmo o trabalho de ciscar, que a galinhaexecuta, e o seu esterco podem ser utilizados diretamente, com umplanejamento adequado. Isso o que chamamos de "tratores vivos".Tratores Vivos so tcnicas de utilizao do comportamento natural dosanimais para limpar, arar e fertilizar a terra. Galinhas, porcos, patos, gansos eoutros animais podero ser utilizados dessa forma, criando sistemas rotativosque economizam o trabalho da pessoa e, ao mesmo tempo, beneficiam oanimal e o ambiente.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    0 ENSINO DA PERMACULTURA

    A palavra Permacultura registrada, internacionalmente, comopropriedade do Instituto de Permacultura - Austrlia. Qualquer pessoa queadmita a tica da Permacultura pode utiliz-la no seu dia-a-dia com a nicarestrio de que o ensino da Permacultura (cursos de curta ou longa durao)s poder ser ministrado por graduados do Instituto ou por aqueles formadospor esses graduados.

    BIBLIOGRAFIA

    Mollison, Bill - Permaculture, A Designers Manual, Tagan Publications,Austrlia,1989.

    Mollison, Bill e Slay, Reny M. - Introduction to Permaculture, TagariPublications, 1991.

    Morrow, Rosemary - Earth Users Guide to Permaculture, Rodale, 1992

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    ANEXOS

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    0 TERRIVEL DIA DE HOJEpor Bill Moffison

    Eu no acho que algum tenha resumido tudo o que est acontecendona face da terra.

    A fim de mudar nossos caminhos, parece que temos a necessidade denos aterrorizar, prevendo ondas gigantescas e catstrofes. Essas coisaspodem acontecer, a falha de San Andrs pode deslizar. Mas, no podemosfazer muita coisa a respeito. 0 que de fato est acontecendo alguma coisaque ns, como seres humanos, somos pessoalmente responsveis. Isso muito generalizado: quase tudo o que dizemos, aplica-se a todo lugar.

    Os sistemas reais que, de fato, esto comeando a falir so o solo, asflorestas, a atmosfera e o ciclo de nutrientes. Somos ns, os responsveis porisso. No Ocidente, ns no desenvolvemos, em parte alguma (e eu duvido queem qualquer outro lugar, com a exceo das reas tribais), sequer um sistemasustentvel de agricultura ou de florestas. No temos um sistema. Vamos vero que est acontecendo.

    FLORESTAS

    Descobriu-se que as florestas so mais importantes para o cicio dooxignio do que jamais suspeitamos. Costumvamos pensar que os oceanoseram os elementos mais importantes. Eles no o so, ja que contribuem,provavelmente, com menos de 8% do total da reciclagem do oxignioatmosfrico. Muitos deles, inclusive, esto comeando a consumir oxignio.Se lanarmos mais mercrio nos mares, os oceanos sero consumidores deoxignio.

    0 equilbrio est mudando. Portanto, principalmente das florestas quens dependemos para nos proteger das condies anrquicas. Algumas dasflorestas, so importantes ao extremo, como aquelas, sempre verdes, nasquais existem dois sistemas extensivos - o equatorial, com muitas espcies, eo das tundras russas e florestas do sul do Planeta.

    As florestas chuvosas, so criticamente importantes para o cicio dooxignio e para a estabilidade da atmosfera.

    As florestas fornecem, ainda, uma grande quantidade de chuva.Quando cortamos a floresta dos topos dos morros e serras, podemos observar

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    que as chuvas diminuem entre 10% a 30%, o que poderia ser tolerado. 0 quevoc no v acontecer a precipitao total diminuir mais de 86%, sendo queas chuvas so uma pequena frao da precipitao total.

    E bem possvel que, em noites calmas, claras e sem nuvens, nenhumaprecipitao seja registrada em qualquer lugar, pelos instrumentos, - e, aindaassim, haver grandes precipitaes nos sistemas florestais. Isso particularmente verdade em relao aos climas martimos, mas tambm verdade para todos os climas. Por isso, bem possvel criar condiessemidesrticas muito rapidamente, simplesmente desmatando os topos dosmorros e montanhas, o que est sendo feito a uma grande velocidade.

    prprio, das florestas, a capacidade moderadora de tudo o que nelasexiste. As florestas moderam o frio e o calor excessivos, bem como o excessode chuvas e a poluio. Com a retirada das florestas, chegam os extremos.Naturalmente, so as florestas que criam os solos; so um dos poucossistemas capazes disso.

    0 que est acontecendo com as florestas? Usamos grandesquantidades de produtos florestais de forma temporria - papel e,particularmente, jornal. A demanda tornou-se excessiva. No momento,estamos cortando um milho de hectares por ano, muito alm do queplantamos. Mas, em um ms, isso pode mudar rapidamente. No ms passado,por exemplo, essa taxa dobrou, devido ao desmatamento, no vale doMississipi, para a produo de soja.

    De todas as florestas que j tivemos, apenas 2% ainda restam naEuropa. Eu no acho que haja uma s rvore na Europa que no existadevido tolerncia do homem, ou que no tenha sido plantada por ele. Noexistem florestas primitivas na Europa.

    Na Amrica do Sul, restam apenas 8%. E eu acho que 15% a mdiageral, em outros lugares. Assim, ns j destrumos a maior parte das florestase estamos trabalhando com uma pequena parte remanescente. A taxa decorte varia, dependendo da prtica de manejo, mas, em geral, mesmo nasflorestas mais bem manejadas, temos uma perda constante de 4%, restandomais 25 anos, at acabar tudo. Mas, de fato, o que observamos no sul dasia, Amrica do Sul, no Terceiro Mundo e em qualquer lugar onde asmultinacionais possam obter ttulos de propriedades de florestas no mundoocidental, a perda est prxima de 100%. o sistema de "cortar e fugir".

    Temos sido tranqilizados com a falsa noo de segurana, semprereafirmada, de que as companhias madeireiras esto plantando 8 rvores para

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    cada rvore cortada. 0 que nos interessa a biomassa. Quando voc tira dafloresta algo alm de 150 toneladas e retorna alguma coisa que no pesa maisdo que 5 quilos, voc no est, de maneira alguma, preservando a biomassa.

    Para que usamos as florestas? A maior parte dos usos para papel-jornale material de embalagens. Mesmo as florestas primitivas esto sendo cortadaspara isso.

    Florestas que nunca viram os ps do homem, que nunca sofreramqualquer interveno humana, esto sendo cortadas para fazer jornais. Soflorestas onde as rvores talvez tenham 70 metros, at chegar aos primeirosgalhos. So catedrais gigantescas, que esto sendo cortadas. Existem rvoresna Tasmnia muito mais altas do que as sequias, e que esto sendoembarcadas como cavacos. Assim, na maior parte das vezes , ns estamosdegradando as florestas virgens para o uso menos til possvel.

    Isso tem um efeito sobre a outra ponta do sistema. 0 lixo de produtosflorestais est assassinando grandes extenses de oceanos. A maior razo paraque o Bltico, o Mediterrneo e a costa de Nova York tenham se tornadoconsumidores de oxignio que estamos forrando o fundo dos oceanos comprodutos florestais. Existem, por alto, cerca de 12 bilhes de toneladas de dixidode carbono sendo liberadas, anualmente, com a morte de florestas, das quaisdependemos para reciclar o dixido de carbono. Destruindo as florestas, estamosdestruindo o sistema que deveria estar nos ajudando. Estamos trabalhando sobrea sobra de um sistema. o ltimo remanescente, que est sendo erodido.

    CLIMA

    Os efeitos disso tudo sobre o clima global esto se tornado aparentes,tanto na composio quanto na incapacidade, da atmosfera, de amortecermudanas. Agora, a qualquer ms, quebramos um recorde do clima, de algumamaneira. Na minha cidade natal, estamos bastante isolados e protegidos poroceano e floresta. Mas, tivemos, em seqncia, os meses de mais ventos, seca eumidade em duzentos anos de registros. Assim, o que realmente estacontecendo com o clima global no a tendncia para o efeito-estufa; no uma tendncia para a idade do gelo; agora, o tempo est comeando a variar toamplamente que totalmente impossvel sabermos qual o limite extremo queser quebrado. Mas, quando quebrar, quebrar em um extremo e muitorepentinamente. Ser uma mudana sbita. At l, iremos sofrer imensasvariaes climticas. o que est ocorrendo.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Podemos continuar cortando e, talvez em mais 12 anos, no tenhamosuma s floresta.

    Ainda existe um outro fator. Seria suficientemente ruim, se fosse apenasos nossos cortes que estivessem assassinado as florestas. Mas, desde a dcadade 1920, com freqncia cada vez maior, temos perdido espcies florestais paratoda uma sucesso de patgenos. Isso comeou com coisas como as pragas dascastanheiras, que constituam 80% das florestas por elas ocupadas. Assim, odesaparecimento de uma nica espcie pode representar uma enorme perda debiomassa, de enorme reserva biolgica; e uma arvore muito importante. RchardSt. Barbe Baker indica que as rvores que esto se perdendo so aquelas commaior quantidade de massa foliar por unidade. Primeiro as castanheiras, comcerca 60 acres de folha por rvore. Em seguida os olmos, com aproximadamente40. Agora, as faias esto se perdendo, bem como os carvalhos e os eucaliptos,na Austrlia e na Tasmnia. At mesmo as rvores de folhas de agulha, noJapo, esto em decadncia. As florestas de conferas japonesas esto seperdendo a uma taxa fantstica. E assim , tambm, com as protetoras florestascanadenses e russas .

    A CONSPIRAO DOS INSETOS

    Agora chegamos a uma coisa chamada conspirao dos insetos. Em cadafloresta, de cada pas, os elmos, as castanheiras, os lamos e os pinheiros estosujeitos ao ataque de patgenos especficos. Os insetos esto adquirindo algumaespcie de resistncia. A reao americana seria a de pulverizar; a reaobritnica seria a de derrubar e queimar; e, na Austrlia, a reao dizer: " Ah,que droga! Ser a vez desta se perder no prximo ano? Deixa perder!

    Realmente, so doenas? Quais so as doenas? Insetos soresponsveis pela morte de eucaliptos. Existe o fungo da canela. Nos elmos, adoena holandesa. Nos lamos e pinheiros a ferrugem. Voc acha que algumadessas doenas esto matando as florestas?

    Eu penso que o que estamos vendo uma carcaa. A floresta umsistema moribundo, do qual os decompositores esto comeando a se alimentar.Se voc conhece florestas muito bem, sabe que pode sair uma manh e feriruma rvore com um machado, toc-la com a lmina de um trator ou bater nelacom o seu carro. Em seguida, se voc sentar-se pacientemente perto daquelarvore, dentro de trs dias vera que talvez vinte insetos e outros decompositorese "pragas" visitaram o ferimento. A rvore j est condenada. 0 que os atrai ocheiro da rvore morrendo. Percebemos isso na Austrlia.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Simplesmente, fira uma rvore e veja o que acontece. Os insetos chegam. Osinsetos detectam o cheiro. A rvore se tornou sua comida, e eles vmalimentar-se.

    Assim, insetos no so a causa da morte das florestas. A causa da mortedelas so as mltiplas injurias. Apontamos algum inseto e dizemos.. "aqueleinseto fez isso". muito melhor, se podemos acusar os outros. Todos vocssabem disso. Assim, acusamos o inseto. uma conspirao, realmente, acusaros insetos. Mas, a verdadeira razo pela qual as florestas esto morrendo queesto havendo mudanas profundas na quantidade de luz penetrando asflorestas atravs de poluentes e na precipitao de chuvas cidas. As pessoas, eno os insetos, esto assassinando as florestas.

    SOLOS

    Tanto quanto podemos perceber, perdemos 50% do solo que j tivemosantes de 1950, ano a partir do qual temos feito medies precisas. E perdemosoutros 30%, do solo que restou. Isso to verdade no Terceiro Mundo quanto o no mundo ocidental.

    0 solo criado a uma taxa aproximada de 4 toneladas por acre, ao ano.Em reas secas, essa taxa bem menor. Solos so criados pela precipitao dechuvas e pela ao das plantas. A taxa varia. Em desertos, eles so criados auma taxa bem baixa. Em climas midos, a taxa de cerca de 4 toneladas poracre. Se voc no perder nada alm de 4 toneladas de solo por acre, ao ano,est empatado.

    Mas, deixe-nos olhar o que acontece. Na Austrlia, perdemos cerca de 27toneladas de solo por acre cultivado, ao ano. Bem menos do que na Amrica,onde voc planta milho e podemos perder 400 toneladas por acre, ao ano. Se amdia de perdas pode ser de 20, poder subir para 400 ou 500 toneladas. NoCanad, esto medindo a perda de hmus e o resultado , praticamente, omesmo. L, eles esto esgotando o hmus. Nas pradarias, onde comearamcom bons solos hmicos, agora esto com solo mineral bsico.

    Aqui est alguma coisa que deveria ser do interesse de cada um de ns.Para cada pessoa - seja ela americana ou indiana - que se alimenta de cereais, ocusto , agora, de 12 toneladas de solo por ano.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Toda essa perda o resultado do cultivo. Enquanto voc est arando, estperdendo. Na proporo em que estamos perdendo solo , vemos que noteremos solos agrcolas dentro de uma dcada.

    No considerando os solos que perdemos diretamente, com o cultivo,estamos perdendo enormes quantidades de solos para o que chamado dedesertificao. No Estado de Vitria, na Austrlia, perdemos 800.000 acres parao sal, este ano. Isto significa uma perda de solo que cultivado, mas tambmuma perda de solo no cultivado.

    DESMATAMENTO CAUSA PERDA DE SOLO

    A principal razo para o desaparecimento do solo o corte de florestas. E,quase sempre, esse corte longe do lugar onde o solo perdido. Isto , vocno pode fazer nada, se o seu solo comea a salinizar aqui, porque a razo estnos divisores de gua, que podem estar a mil milhas de distncia. Estamos,agora, comeando a ter solos salinizando nos climas midos, na Austrlia. Isso um fator deslocado. No mais uma ocorrncia somente dos desertos. Aconteceem climas de invernos midos.

    No um processo simples, mas fcil de entender como isso acontece.A chuva, medida em que cai sobre os morros e penetra nas florestas, tem umarede de transferncia para baixo. Se removemos a floresta, o que temos, agora, uma rede de perdas por evaporao. Florestas escoam gua limpa para baixoe liberam gua limpa na atmosfera, Essa rede de transferncia para baixocarrega consigo o sal, que uma parte inevitvel das 4 toneladas de solo poracre que produzida a partir da fragmentao das rochas. Normalmente, essesal viaja por canais profundos. No so sistemas de superfcie. guas frescasescorrem da superfcie e se infiltram. Mesmo em climas midos, temos muitomais gua salgada nas profundidades do que na superfcie. Isso acontece porque as rvores funcionam como bombas, mantendo os baixos lenis freticos.Se cortamos as rvores, os lenis freticos profundos se elevam a um ritmomensurvel, e eles esto subindo, mensuravelmente, de grandes reas naAmrica, frica, e Austrlia. Quando esto a cerca de 3 ps, abaixo dasuperfcie, as rvores comeam a morrer de "pragas". E, quando esto a cercade 18 polegadas, abaixo da superfcie, outras plantaes comeam a morrer.Quando chegam superfcie, eles evaporam e o solo fica visivelmente salgado. 0governo australiano comeou, ento, a fornecer bombas grtis para osfazendeiros, e eles comearam a bombear, para fora, a gua salgada. Ondepodero descarregar a gua que esto bombeando ? Grande problema !

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    0 prximo passo usar concreto; assim, a gua, agora desviada dosrios, se infiltra nos solos enquanto a esto bombeando para os mares. E teroque fazer isso para sempre. Voc quer, agora, mil bombas... Ao mesmo tempoem que o governo est fornecendo bombas para os fazendeiros, tambm estliberando licenas adicionais de corte de madeiras para as multinacionais, queesto indo muito bem. Com uma das mos, eles esto vendendo bombas, e,com a outra, vendendo madeira. uma circunstncia muito feliz para algumaspessoas, mas uma catstrofe para a Terra.

    A maioria das pessoas, no entanto, no est indo muito bem, de formaalguma. Assim, estamos perdendo solos e desenvolvendo desertos a umavelocidade simplesmente terrvel. E, isso, sem nenhuma araao para aagricultura. Voc pergunta: os analistas das companhias multinacionais estocientes desses problemas? No. Eles tm formao em economia,gerenciamento comercial e toda espcie de reas irrelevantes.

    A minerao tambm um grande fator de salinizao em base local,responsvel pela perda de toda a madeira de lei em reas do oesteaustraliano e, sem dvida, tambm em outros lugares. A minerao traz superfcie muitos resduos, que so evaporados.

    RODOVIAS, CIDADES E POOSNa Inglaterra, assim como na Amrica, o mais amplo fator isolado que

    causa perdas de solo a construo de auto-estradas. Eu acho que, naInglaterra, existe uma milha de auto estrada para cada milha quadrada desuperfcie. E as auto-estradas esto se estendendo rapidamente, nasuposio de que nunca precisaremos do solo, e de que elas o tornaro aptopara aumentar o uso de energia. As auto-estradas so responsveis pelaperda permanente de solo, assim como as cidades.

    As cidades esto localizadas sobre 11 % de todo solo bom da Terra. 0Canad um exemplo muito interessante. Ali, as cidades so responsveispela destruio dos melhores solos , sem considerar qualquer outro fator, e,durante esta dcada, levou os agricultores a mudarem-se para lugares menossustentveis. Ao mesmo tempo, estamos pedindo sistemas ao menossustentveis e, em alguns casos, um aumento de produo, nos solos querestaram. Como as perdas de solos agrcolas so amplamente devidas aoexcesso de uso da energia mecnica e, tambm, da energia qumica - ento,o fato de estarmos tentando manter a produtividade nos solos remanescentes

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    significa que a taxa de perda deve crescer, devido ao fato de usarmos, cadavez mais, energia sobre uma superfcie cada vez menor.

    OUTROS FATORES CONTRIBUEM PARA PERDAS DE SOLO

    Nas regies ridas do sul da Austrlia, existe uma espcie deagricultura de "cortar e fugir", na qual o fazendeiro cava um buraco (perfuraum poo) e bombeia gua salobra para culturas anuais. Voc mantm isso porquatro anos. Nesse tempo, a superfcie fica pesadamente mineralizada e voctem que procurar outra rea e cavar outro buraco, o que resultar numaespcie de carpete destrutivo. Voc pode ver isso. Temos trs ou quatro anosbons e, em seguida, a produtividade cai abaixo do nvel econmico. Os solosso, normalmente, agregados com carbonatos e abandonados. 0 ph se elevaem cerca de 2 pontos, por ano. Voc pode comear com ph 8 e, rapidamente,chegar a ph 11. quando voc pula fora.

    Observamos, agora, a ao dos ventos sobre os solos. Isso tem trazidofalncia aos solos do interior da Amrica. Existem solos soprando para LosAngeles e caindo como chuva vermelha.

    Solos das reas marginais da Austrlia Central caem sobre as cidadescomo uma espcie de lama fina e diluda, numa quantidade de cerca de 12toneladas por acre, ao dia. 0 maior fator de perdas de solos o vento. Quantomais seco o vento se torna, mais cuidados devemos tomar.

    No precisamos olhar para nada, alm do solo, e para mais nada, almdas florestas, para enxergarmos um mundo finito. Acho que podemos dizer,com segurana, que no temos uma agricultura ou uma floresta sustentvelem lugar algum do mundo.

    GUAAgora, vamos considerar a gua. H uma dcada atrs, algum disse

    que a gua se tornaria o mineral mais raro do mundo. 0 lenol fretico estdecrescendo rapidamente, em toda parte. Estamos jogando com sistemasmuito antigos. Muitos desses sistemas tm 40.000 anos de evoluo. Dentrode pouco tempo, no haver como obter gua barata na superfcie. Se vocpudesse obter, Los Angeles a compraria e usaria.

    A maior causa disso a maneira como impermeabilizamos tudo, nascidades. No recuperamos nada, em termos de gua dos solos.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Impermeabilizamos grandes reas com rodovias. No reciclamosnenhuma gua para o lenol freticos. Assim que a gua chega a um rio ou aum crrego, ela se foi. Est no seu caminho para o mar ou evaporada sobreum deserto totalmente salgado. Um rio fluindo no , realmente, uma coisamuito til. Ele um caminho de sada.

    Existem duas reas muito crticas para a gua. Uma, est dentro dascidades. A outra, est nas bordas dos desertos. Ambas esto caminhandopara grandes dificuldades. Agora mesmo, desertos em expanso estoassassinando milhes de pessoas na frica. So visveis, do alto, rebanhos epessoas saindo do Saara.

    Outro perigo tem sido a deposio, a longo prazo, de lixo atmico emguas profundas. Alguns desses depsitos esto comeando a filtrar, no valedo Sacramento. melhor voc comear a medir a radiatividade da gua doslenis freticos do Maine, Nova Jrsei e Califrnia, e, eu acho, em muitosoutros lugares, tambm.

    As indstrias tm, simplesmente, usado grandes buracos para despejarresduos perigosos nos lenis freticos, com o resultado de que grandesextenses de lenis freticos esto se tornando inviveis. Acho que Bostonparou de usar gua do seu subsolo. E voc jamais ser capaz de us-lanovamente. Nunca haver um modo de limpar essa gua poluda.

    Agora, em muitos centros e cidades, a gua carrega 700 ppm de saldissolvido, que est prximo do limite tolerado pelo rim humano. A 1.100 ppm,voc sente tonturas, acumulao de gua nos tecidos e outros problemas.Ocorrem muitas mortes devido a isso em cidades como Perth e Adelaide, naAustrlia, bem como em Los Angeles. Em todas essas reas, talvez, ns nodevssemos usar gua para beber. Est boa para tomar banho, embora, emAtlanta, o cloro quase asfixia quem toma banho. PC13's causam esterilidade.Eu acho que cerca de 20% dos homens americanos, na faixa etria de 20anos, esto estreis, agora.

    0 fato de que a gua est se tornando um recurso escasso evidentemente ridculo, porque, falando a grosso modo, meio milho de galesde gua caem exatamente sobre o seu telhado, anualmente. Mas,brevemente, voc vai ter muito pouca gua disponvel aqui, a no ser quevoc construa tanques ou lagos para armazenar a gua captada.

    Naturalmente, as perdas de rvores tm, agora, um pronunciado efeitosobre o aumento da escassez da reciclagem da gua. A gua no est sendoreciclada. Estamos perdendo gua da superfcie da Terra. Acho que 97% de

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    toda a gua esto indisponveis o tempo todo, e que somente 3% reciclada.Ns estamos reduzindo isso muito rapidamente. E, ainda, h outros fatores,como a poluio industrial.

    Existe uma disputa desesperada pelos recursos energticos, sejam elesmadeira, carvo, leo ou energia atmica. So coisas realmente perigosas,para serem usadas em termos de sistemas de vida, em geral. Estamoscaminhando na direo de srios problemas. 0 perigo est no resultado final -o que sobra dos processos, o que sai das chamins. Mas, no caso damadeira, o fato que voc tambm destri uma rvore.

    Produtos qumicos - o que voc pode dizer sobre eles? A maioria dasformulaes de produtos qumicos tem resultados imprevistos e, a longoprazo. Esses produtos incluiro DDT, PC13s, dioxinas e cloro.

    UM FUTURO DESESPERADORNo mnimo, teremos um futuro desesperador. Nossos filhos podero

    no acreditar que, um dia, tivemos comida de sobra. E isso ser causado porcoisas completamente ridculas. Toda a energia atmica produzida nosEstados Unidos , exatamente, a energia equivalente requerida pelasmquinas de secar roupas.

    Eu, literalmente, no posso suportar as rodovias americanas. comose eu estivesse em um hospcio. Eu posso agentar o Apocalipse, mas noposso agentar as rodovias do Canad. Dirigindo como pessoas loucas, paraonde eles esto indo? E por que tantos esto indo na mesma direo ? Todosesto fugindo de alguma coisa. Eu gostaria de perguntar o que h dentro dascarretas que esto estragando a estrada. alguma coisa til? Ou algumacoisa que j existe no lugar para onde ele est indo? Com freqncia, tenhovisto carretas, aparentemente levando cargas idnticas, indo em direescontrrias, Os motoristas me dizem que eles esto transportando mercadorias.

    Tudo isso, incluindo o problema da energia, o que ns temos queatacar de uma vez. Isso pode ser feito. possvel fazer a reconstituio. Nsbem que deveramos fazer alguma coisa a respeito disso. Nunca chegaremosa lugar algum, se no fizermos nada. A grande tentao, na qual osacadmicos se refugiam, a de coletar mais evidncias. Eu quero perguntar..precisamos de mais provas? Ou j tempo de parar de juntar evidncias ecomear as aes curativas?. Mas, a tentao de sempre juntar maisprovas. Gente demais desperdia suas vidas juntando evidncias. Todavia, ena medida em que juntamos mais evidncias, vemos que as coisas so pioresdo que pareciam ser.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    PROJETO PARA UMA AO CURATIVAQuando projetamos para a permanncia, geralmente caminhamos para

    florestas, pastagens perenes, lagos, tanques e agricultura sem arao. Esse o nosso negcio. At que tenhamos mais pistas sobre o que ser sustentvel, com isso que temos que jogar.

    0 suprimento de gua para a indstria pode ser fornecido pelostelhados; estabelecimentos podem usar essa gua. A Amrica , mais oumenos, uma espcie de tanque. Existem, agora, diferentes tipos de tanques.Um do tipo que voc coloca embaixo da calha do telhado de sua casa.Outros tipos de tanques baratos so o de chapa e o de terra. Nenhumproblema, absolutamente. Sempre haver gua suficiente para as nossasnecessidades - a gua fresca que, atualmente, deixamos ir para o mar.

    Temos trs caminhos para armazenar essa gua. Podemos armazen-Ia no solo, em tanques de superfcie ou em reservatrios fechados. Para umasituao agrcola, usaremos o solo. Para situaes domsticas, usaremos ostanques de terra, que so muito mais baratos. Para cada 5.000 gales quepodemos armazenar em tanques de concreto, podemos armazenar 250.000em tanques de terra, com o mesmo custo.

    Temos estratgias legais e financeiras. Localmente, podemos tornaruma bioregio muito mais auto-suficiente. As pessoas que esto fazendo issoesto acrescentado estufas s suas casas e produzindo suas prpriasverduras. H uma grande mudana acontecendo. assim que comeamos.Trabalhando em um acre.

    Agora, a coisa que temos ignorado, no apenas voltando as costasmas, freqentemente, fugindo dela, a converso de sistemas de altosinvestimentos de capital para esses sistemas de baixa energia. Existe todo umconjunto de estratgias para usar e, assim, estamos nos reunindo com um"banco de servio da Terra". Algumas dessas estratgias iro beneficiar,tambm, a nossa felicidade social.

    A nica maneira de fazer as coisas rapidamente fazendo o mnimo demovimentos no tempo mais rpido possvel, por meio de uma rpidadelegao de trabalho para as pessoas. No h nenhuma esperana de quepodemos ter tudo pronto nos prximos 5 anos, se guardarmos isso para nsmesmos. Assim, eu vim aqui para quebrar o monoplio da elite alternativa naAmrica.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Temos deixado os especialistas perdidos no territrio. Precisamos decentenas e centenas desses especialistas. Ns no queremos, a qualquertempo, patentear alguma coisa ou manter as informaes para ns mesmos,nem mesmo manter esses empregos para ns. 0 tempo disso j se foi. Nsestamos envolvidos em um sistema cooperativo, e no competitivo. Existemmuito poucos de ns operando nessa ponta do sistema; assim, temos que agirde forma muito eficiente, com o objetivo de criar a maior quantidade demudanas no mais curto perodo de tempo.

    Acho que, aqui, temos uma tica: parar de admirar as pessoas que tmdinheiro. H que haver uma grande mudana tica. um tempo interessantepara se viver.

    A grande virada que ns temos que dar est fora do sistemaeducacional. Toda metodologia e princpios que usamos surgiram comoresultado da observao dos sistemas naturais e so estabelecidas demaneira passiva. A mente percebe que a mudana que precisa ser feita paracriar permacultura entender que voc pode peg-la e faz-la. Temos quetornar ativo, o nosso conhecimento. Temos que mudar o pensamento, de umnvel passivo para um nvel ativo.

    A AGRICULTURA UM SISTEMA DESTRUTIVOQuais so as estratgias atravs das quais no precisaremos da

    agricultura? A agricultura um sistema destrutivo. Bem, precisamos de muitomais horticultores. Horticultores so as espcies de agricultores maisprodutivos e mais cooperativos. Eles sempre foram. Nunca houve um debatesobre isso. Quando voc faz uma fazenda grande, voc simplesmente aceitauma repentina queda na produtividade e no rendimento, bem como quemenos pessoas participam desse lucro. Por isso, ela economicamente"eficiente". Quando voc fala de fazendas produtivas dessa natureza, vocest falando de dlares. Quando voc reduz o tamanho da propriedade,tomando o cuidado de que o tamanho do lote no seja menor do que umquarto de acre (118 de hectare) , a produtividade agrcola sobe. Voc podeargumentar que o efeito da diviso de uma fazenda grande em parcelas de 5acres antieconmico. Cinco parcelas de 5 acres so antieconmicas. Umaparcela de um quarto de acre no antieconmica. Essas parcelas soaltamente produtivas.

    Quantos horticultores existem nos Estados Unidos? Cinqenta e trspor cento dos horticultores so familiares. Eles cultivam, em mdia, apenas600 ps quadrados. Produzem algo em torno de $ 1.50 por p quadrado.Estes

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    horticultores esto produzindo 18% de alimento, nos Estados Unidos, a umvalor quase equivalente ao da agricultura total.

    Agora, vamos olhar a Rssia. 0 fazendeiro campons, com 1/2a 1 acre,est produzindo cerca de 84% de alimento. As fazendas estatais, que ocupama maior parte das terras agricultveis, produzem o restante. Mas, as fazendasestatais no esto fazendo o seu trabalho. Elas tm um dficit de 6% que transferido do Canad ou dos Estados Unidos. A agricultura glamurosa, aagricultura de larga escala, no a agricultura que est produzindo comida.Ns estamos limitados, agora, a cerca de 20 produtos bsicos. 0 dia da sojaest chegando, provavelmente. Pode-se fazer quase tudo, a partir da soja.

    CONTROLE DE SEMENTESNo acho que existam muitas empresas de sementes, no mundo, que

    no pertenam a um consorcio de no mais do que 10 grupos. Isso ,certamente, uma verdade na Austrlia. As sementes, agora, tm sidoproduzidas e distribudas por multinacionais. Voc pode comprar umasemente de milho no-hbrida nos Estados Unidos? Aqui ou ali. Na Austrlia,no podemos. Mas, temos uma companhia de sementes. Ela chamada de"Empresa de sementes auto-confiveis", em Stanley, Tasmnia. Talveztenhamos duas. (a Empresa de Sementes auto-confiveis" est extinta, masfoi substituda pela "Phoenix sementes", tambm na Tasmnia. Ed.)

    0 prximo passo dos grandes consrcios de produtores de sementes foio de aprovar a legislao das patentes de sementes. Nesse ponto, muitaspessoas comearam a ter suspeitas.

    A patente de material biolgico era um movimento levemente suspeito.Ento, o Conselho Mundial das Igrejas investigou a situao e produziu as"Sementes da Terra".

    0 gato estava fora do saco. Assim, houve uma revolta geral contra ocontrole de um recurso bsico. "The kent whealy" , justamente, um dessesmovimentos de revolta.

    Mas, uma coisa que tudo isso nos ensinou foi que no podemos fugir dosistema. Trabalhar em 2 acres, dentro das florestas da Nova Inglaterra, nofar com que voc fique fora do sistema, a menos que esteja envolvido emuma operao de produo de sementes e saiba, exatamente, o que estfazendo. A maior parte das pessoas no sabe. Se voc est treinando paraser um bom horticultor, ainda assim h certas reas em que voc no entrou,e produzir sementes uma delas. Em um vale na Tasmnia, entre um grupode "hippies" que vivem l, voc pode encontrar 50 Ph. D. A maioria deles est

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    sentada em casa, fazendo tric, tecendo ou perambulando toa, catandoamoras pretas, apenas deixando que as pessoas sem sensibilidade fiquemperguntando o que eles esto fazendo. Para organizar as foras da vida,devemos usar todas as nossas habilidades, e no apenas algumas.

    Em uma horta permacultural, devemos lidar com a questo de como oselementos sero posicionados. Alguns desses elementos so estercos ousistemas de trocas de energia por outros elementos; outros, so elementosdefensivos que protegem outras plantas de vrias maneiras; e alguns servemcomo sistema de latada para outras, ou fornecem sombra. Assim, existemrelaes fsicas envolvidas e h todo um conjunto de regras que explicam porque certos elementos so colocados juntos. E ns entendemos algumasdessas regras. Muitas delas so bastante bvias.

    DIVERSIDADE

    Diversidade no est relacionada tanto com o nmero de elementos deum sistema como com o nmero de conexes funcionais entre esseselementos. Diversidade no o nmero de coisas, mas o nmero de formasnas quais as coisas trabalham. Essa , realmente, a direo para a qual opensamento permacultural est direcionado. Eu estava sentado, uma noite,estudando quantas conexes podem ser feitas apenas colocando doiselementos juntos, uma estufa e um galinheiro. Acho que cheguei a 129 tiposde conexes benficas. Assim, o fato sobre o qual estamos realmente falandono um complicado e grandioso stio com 3.000 espcies.

    Seria muito bonito fazer 3.000 conexes entre 30 espcies ou 30elementos, sendo essas conexes definidas como benficas ou no. Pode-sever centenas de exemplos, particularmente em grupos sociais nos quais adiversidade de interesses no necessariamente benfica. Diversidade por simesma no lhe d nenhuma estabilidade ou vantagem.

    Desse modo, o que estamos estabelecendo uma espcie deassociao de coisas que trabalham harmoniosamente em conjunto.

    Existem regras a serem seguidas no arranjo de elementos, dentro deuma rea. Existem regras que tm a ver com a orientao, com o zoneamentoe com as interaes. Existe todo um conjunto de princpios que definem porque colocamos coisas juntas e por que as coisas funcionam.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    0 departamento de agricultura definiu o que terra agricultvel? 0 queele definiu foi a terra que pode ser arada. Mas, eu no vejo sequer uma reada paisagem como sendo no-agrcola. Existe toda uma hierarquia deprodutividade em uma paisagem, e toda ela pode ser usada para a produo.Assim, existem, realmente, duas estratgias para a nossa considerao sobreagricultura. Uma das estratgias a de encontrar o nvel mnimo at ondepodemos reduzir as prticas agrcolas e continuar produzindo. Outraestratgia a de encontrar o nvel no qual podemos incrementar o uso daterra dita no-agrcola, para a produo de produtos agrcolas. Existe todo tipode novos jogos para serem jogados. Estou, literalmente, surpreendido por verquo pouco essas florestas da Amrica so usadas para propsitos produtivossustentveis, como verdadeiras florestas.

    PRINCPIOS

    Vamos olhar o conjunto de princpios que orientam esses sistemas.Esses princpios, regras e diretrizes so baseadas no estudo de sistemasnaturais. Axiomas so princpios estabelecidos ou verdades evidentes por siprprias. Um princpio uma verdade bsica, uma regra de conduta, umcaminho para o procedimento. Uma lei uma afirmao de um fato apoiadapor um conjunto de hipteses que provaram ser corretas ou convincentes.Teses ou hipteses so idias oferecidas para a comprovao ou discusso.Existem, tambm, regras e leis baixadas que no so nem regras nem leis.No vale a pena definir como elas so o que so. Agora, eu desenvolvi umconjunto de diretrizes que dizem - "Aqui um bom caminho para avanar".Isso no tem nada a ver com leis ou regras, so somente princpios.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    ENERGIA E PERMACULTURAPor David Holmgren

    0 debate sobre a sustentabilidade tem mostrado uma profunda confusoentre processos e sistemas que sustentam a vida e a humanidade. A falta deferramentas conceituais para incorporar "contribuies" ambientaispreviamente ignoradas nos clculos usados por economistas e formadores deopinio dolorosamente bvia. No existem respostas simples para questescomplexas de custos, benefcios e sustentabilidade. Entretanto, existe umamoeda natural que podemos usar para medir nossa interdependncia emrelao ao meio ambiente, e que nos auxilia a tomar decises sensatas sobreaes atuais e futuras. Essa moeda a energia.

    LEIS DA ENERGIA

    As leis da energia que governam todos os processos naturais so bementendidas e no sofreram aposies de nenhuma das revolues dopensamento cientfico, durante este Sculo. So a primeira e a segunda leisda termodinmica.

    Primeira lei (A lei da conservao da energia) - Energia no criada nemdestruda. A energia que entra em um sistema deve ser considerada comoarmazenada l, ou fluindo para fora.

    Segunda lei (A lei da degradao da energia) - Em todos os processos,alguma energia perde sua capacidade de produzir trabalho e degradada emqualidade. A tendncia da energia potencial, de ser usada e degradada, descrita como entropia, que e uma medida de desordem que sempreaumenta em processos reais.

    Essas leis so ensinadas em todo curso de cincias, mas, de umamaneira tpica em nossas sociedade e cultura fragmentadas, socompletamente ignoradas nas formas como conduzimos nossa economia enossas relaes com o mundo natural. As leis da termodinmica soamplamente aceitas como verdades, mas no como idias tericas teis. Asegunda lei tem sido sempre representada como uma ameaa fundamentalpara a noo moderna de progresso. Os mais tradicionais e tribais pontos devista do mundo esto de acordo com a segunda lei. Por exemplo, a antigaidia grega do universo sendo esgotado pela passagem do tempo muitopessimista para a mente moderna.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    Nos ltimos vinte anos, trabalhos de ecologistas e de algunseconomistas tm tentado aplicar as leis da energia de maneiras mais prticaspara entender a crise ambiental global e desenvolver ferramentas conceituaisteis para criar bases mais viveis e durveis para a vida humana. 0 trabalhodo ecologista Howard Odum criou uma estrutura terica e uma ferramentaconceptual que foi muito importante para o desenvolvimento do conceitopermacultural. Durante os anos 70, ocorreu um breve incremento naquantidade de pesquisas nesse campo, mas esse esforo declinou, junto comos preos do petrleo, ao longo dos anos 80. Odum foi um dos primeirosecologistas a desenvolver um sistema de abordagem para estudar asinteraes ser humano / meio ambiente. Ele usa energia como moeda paracomparar e quantificar todo o espectro de elementos e processos naturais eartificiais (feitos pelo homem).

    ABORDAGEM DE ECOSSISTEMA DE ODUM

    Analisa elementos e processos de um ecossistema em termos de fluxo deenergia, armazenamento, transformaes, realimentao e perdas.

    Incorpora elementos inanimados e vivos do ambiente natural.

    Incorpora a economia e outros sistemas humanos como partes integrantesdo mundo natural.

    QUALIDADE DA ENERGIA E ENERGIA INCORPORADA

    A segunda lei da termodinmica baseada no conceito de qualidade daenergia. Examinando o mundo natural, desde os processos estelares at ossistemas vivos, vemos que diferentes formas de energia tm potenciaisdiferentes para produzir trabalho ou impulsionar processos. Desde que todaforma de energia pode ser convertida em calor, energia pode ser definidacomo. uma quantidade que flui atravs de todo o processo, medida pelo calorgerado (a caloria a unidade de medida de calor). Calor dispersado a formamais diluda de energia; ela no mais capaz de gerar trabalho.

    Todos os processos reais envolvem uma degradao na qualidade darede de energia. No entanto, uma proporo do fluxo de energia total pode serelevada a formas mais concentrada de energia, capazes de impulsionar outrosprocessos. Essa criao de ordem produz resultados marcantes, maisnotavelmente, a vida, mas inclui tanto fenmenos inanimados como mineraisraros e sistemas criados pelo homem, como ambientes construdos, cultura e

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    informao. Entretanto, essa ordem sempre obtida s custas de degradaoda rede de energia. A evoluo total de Gaia (o planeta vivo) uma pequenaexpresso da ordem que cresce a partir da degradao macia da energia nosprocessos termonucleares do sol.

    Termodinamicamente, existem relaes fixas entre quatro formas deenergia variando de baixo para alto nvel de qualidade. Essas e outrasrelaes similares entre energias de diferentes qualidades so fundamentaispara uma compreenso correta da base energtica da natureza e daexistncia humana. A eficincia da converso da luz do sol em madeira (peloprocesso da fotosntese) 8-8000 ou 0,1%. A aparente ineficincia desseprocesso deve-se qualidade muito baixa da luz do sol diluda que atinge asuperfcie da Terra. Embora 3,800 milhes de anos de evoluo tenhamotimizado esses processos de captao de energia, qualquer"desenvolvimento" tecnolgico altamente improvvel, apesar das freqentesafirmaes em contrrio.

    Muitos tipos de energias de alta qualidade so exigidos para trabalhoscomplexos. Tendemos a pensar nas exigncias de energia apenas em termosde combustvel, ignorando o trabalho humano e a contribuio de materiais.Estes, freqentemente, envolvem mais energia do que combustveis.

    Ao fazer funcionar o motor de um carro, o combustvel representa cercade 60% do total de energia consumido. Odum continua explicando - "A energiaenvolvida na longa cadeia de trabalhos convergentes, sustentando processostais como atividades educacionais, muito grande. A energia total necessriapara um produto a energia incorporada quele produto. A energiaincorporada de um livro muito grande, quando comparada com a energia decalor que poderia ser obtida se o livro fosse queimado. Para clareza nacontabilizao energtica, energias incorporadas deveriam ser expressascomo calorias, equivalente solar ou equivalente em carvo.

    Muitos estudos de energia feitos por pessoas aparentementequalificadas e levadas a srio por polticos falham em levar em conta osimples fato de que uma caloria de baixa qualidade no pode fazer o mesmotrabalho realizado por uma caloria de alta qualidade. Em conseqncia,freqentemente chegam a concluses completamente errneas. Taisproblemas tm afligido ambas as propostas, tanto a de baixa quanto a de altatecnologia. Energia nuclear pode ser um grande exemplo de uma "fonte" deenergia que, de fato, usa e/ou degrada mais energia humanamente utilizveldo que produz. Tecnologias solar, elica e bio-combustvel, embora sejamapropriadas para o uso de energias j incorporadas, nunca sustentaro umacultura industrial de alta energia sem o subsdio do combustvel fssil.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    As tecnologias de computadores podem, similarmente, ser apropriadaspara fazer uso de manufaturas e trabalho de rede j em curso, mas so, narealidade, muito caras em energia, devido grande quantidade de energiaincorporada.

    SIGNIFICADO DO TRABALHO DE ODUM

    "A base energtica para o Homem e a Natureza" um texto acessvelsobre o trabalho de Odum, escrito para alunos de 1 o. e 20. graus e estudantesno-graduados com um conhecimento mnimo de matemtica e cincias. umlivro muito importante, que deveria ser lido e compreendido por todos ospermacultores. Sem esse entendimento, muito fcil ser mal orientado aodesenvolver e propor sistemas de uso da terra, tecnologia e estilos de vida queconsomem mais do que produzem e armazenam energia til para asnecessidades humanas, atuais e futuras. Esse trabalho mostra um caminho paraa integrao de informaes sobre os sistemas naturais de escala local e global,tecnologia, impacto ambiental e processos sociais e econmicos.

    0 balano energtico e os diagramas de sistemas fornecem umaferramenta nica para o entendimento e as decises mais harmnicas,sintonizadas com as leis do mundo natural.

    0 trabalho de Odum mostra, exatamente, como e porque impossvelevitar essas regras em qualquer situao, sem a necessidade de considerarprincpios morais.

    A sociedade industrial de alta energia mostrada como conseqncianatural da abundncia de combustvel fssil, mas inadequada, em grandeextenso, para um futuro de baixa energia.

    AGRICULTURA E FLORESTA

    Se existe um nico ponto de vista mais importante para a permacultura, notrabalho de Odum, esse o de que a energia solar e suas variveis so a nossanica fonte sustentvel de vida. Floresta e agricultura so os primeiros (epotencialmente auto-sustentveis) sistemas de captao de energia solardisponveis.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    0 desenvolvimento tecnolgico no mudar esse fato bsico.

    Deveria ser possvel planejar um sistema de uso da terra que se aproximasseda capacidade produtiva de captao de energia solar em sistemas naturais,ao mesmo tempo em que satisfizesse as necessidades humanas. Essa era apremissa original do conceito permacultural. Embora a energia solar disponvelpossa representar alguma espcie de limitao ultima produtividade, sooutros fatores que, primeiramente, a limitam.

    PRINCPIO DO PODER MAXIMO

    Alm das duas leis da termodinmica estabelecidas, o trabalho deOdum baseado em um terceiro princpio, o princpio do poder mximo, queexplica que o sistema que capta mais energia, e a usa de forma a maiseficiente, sobrevive competio com outros sistemas.

    Odum declara que "esses sistemas que sobrevivem competio entreescolhas alternativas so os que desenvolvem mais poder (taxa de fluxo deenergia) de entrada e usam isso para atender s necessidades desobrevivncia".

    Esses sistemas fazem isso por meio.

    1. do desenvolvimento de estoques de energia de alta qualidade;

    2. do trabalho de retroalimentao do estoque para aumentar as entradas deenergias;

    3. da reciclagem de materiais conforme a necessidade,

    4. da organizao de controles que mantm o sistema adaptado e estvel

    5. do estabelecimento de intercmbio com outros sistemas para suprimentode energias especiais necessrias;

    6. de trabalho til para o meio ambiente, ajudando a manter condiesfavorveis; por exemplo - contribuio dos micro organismos para oequilbrio do clima global ou a contribuio para as chuvas, pelas florestasdas montanhas.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    0 principio do poder mximo controverso e tem estimulado crticas dealguns, em relao ao trabalho de Odum, como "determinismo biofsico semespao para valores humanos". Enquanto a viso desse sistema apenasuma forma de entender o mundo, as ultimas duas caractersticas de sucessode um sistema natural deixam amplas possibilidades para abordagenscooperativas e valores humanos mais elevados. 0 poder proftico dametodologia de Odum, de perceber as mudanas caticas no mundo nosltimos 20 anos, sugere que um meio muito til para checar asustentabilidade de sistemas.

    MOLLISON

    Dentro do movimento permacultural, o trabalho de Odum no tem sidoamplamente reconhecido (e confundido com o trabalho de outro ecologistaamericano, Eugene Odum), embora ele confirme a preocupao dapermacultura com o uso de recursos naturais, como fundamento de qualquercultura permanente.

    Mollison faz referncia a Odum apenas de passagem, em "Permacultura- Um Manual de Projetistas", e sugere "o conceito de entropia no ,necessariamente, aplicvel a sistemas vivos e abertos da Terra, com os quaisestamos envolvidos e nos quais estamos imersos". Isso poderia sererroneamente interpretado como significando que podemos projetar o nossocaminho sem qualquer problema, e que os sistemas naturais podem sustentar,continuamente, o alimento abundante ao qual o mundo est acostumado.

    Nas ltimas e poucas centenas de anos, temos cavado milhes de anosde luz solar (combustvel fssil) do cho para criar uma economia e umacultura globais. 0 sistema mais produtivo e sustentvel pode ser capaz desatisfazer as necessidades de 5 ou, at mesmo, 10 bilhes de pessoas. Noentanto, eles nunca sustentaro grandes cidades, uma economia global e ariqueza material ocidental, mesmo que toda estratgia convencional deconservao de energia seja adotada. Essa uma plula amarga, a serengolida pelos ocidentais criados com a noo de progresso material. Isso nosignifica que as estratgias de conservao de energia defendidas duranteanos por Lovins e outros otimistas, em sendo adotadas progressivamente, nosejam incrivelmente importantes; na verdade, elas so essenciais para fazer omelhor uso do que temos.

    A transio de uma economia insustentvel, baseada em combustveisfsseis, para uma economia com base no sol (agricultura e floresta), envolver

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    a aplicao da energia incorporada que herdamos da cultura industrial. Essaenergia incorporada est contida em uma vasta coleo de coisas, infra-estrutura, processos culturais e idias; quase tudo, inadequadamenteorganizado para uma economia "solar". E tarefa do nosso tempo, tomar essagrande riqueza, reorganiz-la e aplic-la para o desenvolvimento de sistemassustentveis.

    Mollison, quase de passagem, aponta para trs linhas-mestras quedevemos observar, nessa tarefa:

    o sistema que construirmos deve durar tanto quanto o possvel e requerermanuteno mnima;

    esses sistemas, alimentados pelo sol, deveriam produzir no apenas parasuprir suas prprias necessidades, mas, tambm, as necessidades daspessoas que os criam e controlam. Assim, eles so sustentveis na medidaem que mantm a si prprios e queles que os constrem,

    podemos usar energias no-renovveis para construir esses sistemas,desde que, ao longo de suas vidas, eles armazenem ou conservem maisenergia do que usamos para cri-los ou mant-los,

    Essas questes so muito importantes. Mas, como deveriam seravaliadas, se somos adeptos delas, particularmente a espinhosa questo deuso de energias no-renovveis, em estado natural e incorporadas?

    Antes de considerar qualquer aspecto detalhado de custos e benefcios,e como primeiro teste de sustentabilidade para o uso da Terra, eu aplico asseguintes perspectivas (derivadas de Odum)- todo ecossistema terrestre deve trabalhar para retardar os inexorveis

    efeitos da gravidade, degradando progressivamente, fsica equimicamente, a energia potencial armazenada em pontos elevados decaptao da paisagem;

    ao final, tudo vai parar nos oceanos, at a prxima reciclagem (com aspoucas, mas importantes, excees dos ventos martimos, peixesmigratrios e aves). gua e nutrientes so as chaves da energia potencialqumica, enquanto que a forma natural da Terra, por si s, a chave daexpresso da energia potencial fsica. Hmus do solo e rvores de vidalonga so as chaves da reserva de energia, que todos os ecossistemasterrestres usam em sua interminvel luta contra a gravidade.

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    TESTE DE SUSTENTABILIDADE DE HOLMGREN

    0 sistema trabalha para captar e armazenar gua e nutrientes pelo maiortempo possvel e, to alto quanto o possvel, dentro das reas de captaoda paisagem?

    Como o sistema se compara com a eficincia dos sistemas naturaisprimitivos, bem como com sistemas naturais e recuperados (incluindo aservas daninhas) ?

    possvel manejar paisagens produtivas para captar e armazenarenergia de forma mais eficiente do que em sistemas primitivos, por meio douso cuidadoso de energias externas, freqentemente no-renovveis.

    0 uso de tratores para construir represas bem projetadas, capazes dedurar centenas de anos em paisagens bem manejadas, um excelenteexemplo de uso apropriado de energias no-renovveis. At estruturas eprocessos que no atendem a essas condies (moinhos-de-ventos,possivelmente) podem ser justificados, seja porque poupam grandequantidade de energias no-renovveis, ou porque eles fazem um melhor usode energias j incorporadas em plantas e equipamentos existentes.

    A maioria de nossas paisagens rurais manejadas, especialmente asfazendas, falham miseravelmente no teste de gua e nutrientes. Eroso,salinizao, acidificao e a poluio de rios e lenis freticos so alguns dossintomas. Em acrscimo, o uso anual de energias no-renovveis, ao invs dapromoo do desenvolvimento natural, geralmente muito alto. As energiasincorporadas aos fertilizantes artificiais so extremamente altas.

    PRODUTIVIDADE NATURAL

    Por outro lado, considere a satisfao de produzir em um sistema semmanejo, bem frente de nossos olhos. Muitas reas rurais da Austrlia estomantendo muito mais cangurus do que ovelhas, com menos danos para osolo. Esses rebanhos poderiam fornecer um grande suprimento de carne,mesmo mantendo populaes selvagens e saudveis.

    As florestas so ainda mais eficientes em captar e armazenar gua enutrientes, do que os sistemas de pastagens sustentveis. Nas reascosteiras de grande precipitao, na Austrlia, florestas rebrotadas deespcies nativas

  • Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento Sustentvel SDR-MA/PNUD

    (em alguns lugares, exticas) esto desenvolvendo futuras reservas demadeira a uma taxa bem maior do que a obtida com todos os esforoscombinados de reflorestamento. Prticas simples, de releamento, poderiampromover um grande desenvolvimento no valor das reservas futuras dessasflorestas. Qualquer sistema que aumente o valor do solo e da gua, e queexija pouca ou nenhuma energia de combustvel fssil para se desenvolver oumanter, promovendo reservas de produo devidas, em grande parte, aplicao de trabalho e habilidade humanas, deveriam ser vistas como osnossos maiores patrimnios.

    PAISAGENS URBANAS

    Os sistemas urbanos so grandes e custosas redes de perdas, emtermos de energias, solo e gua. Em acrscimo, a maior parte dos processosde transformao de energia fsica e dos sistemas de informao estominando as