Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

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Conceitos e Noções Gerais de Dissertação Existem dois tipos de dissertação: a dissertação expositiva e a dissertação argumentativa. A primeira tem como objetivo expor, explicar ou interpretar idéias; a segun-da procura persuadir o leitor ou ouvinte de que determinada tese deve ser acatada. Na dissertação argumentativa, além disso, tentamos, explicitamente, formar a opinião do leitor ou ouvinte, procurando persuadi-lo de que a razão está co-nosco. Na dissertação expositiva, podemos explanar sem combater idéias de que discordamos. Por exemplo, um professor de História pode fazer uma explicação sobre os modos de produção, aparentando impessoalidade, sem tentar con- vencer seus alunos das vantagens das vantagens e desvanta-gens deles. Mas, se ao contrário, ele fizer uma explanação com o propósito claro de formar opinião dos seus alunos, mostrando as inconveniências de determinado sistema e valorizando um outro, esse professor estará argumentando explicitamente. Para a argumentação ser eficaz, os argumentos devem possuir consistência de raciocínio e de provas. O raciocínio consistente é aquele que se apóia nos princípios da lógica, que não se perde em especulações vãs, no “bate- boca”estéril. As provas, por sua vez, servem para reforçar os argumntos. Os tipos mais comuns de provas são: os fatos- exemplos, os dados estatísticos e o testemunho. Como fazer uma dissertação argumentativa Como fazer nossas dissertações? Como expor com clareza nosso ponto de vista? Como argumentar coerentemente e validamente? Como organizar a estrutura lógica de nosso texto, com introdução, desenvolvimento e conclusão? Vamos supor que o tema proposta seja Nenhum homem é uma ilha. Primeiro, precisamos entender o tema. Ilha, naturalmente, está em sentido figurado, significando solidão, isolamento. Vamos sugerir alguns passos para a elaboração do rascunho de sua redação. 1. Transforme o tema em uma pergunta: Nenhum homem é uma ilha? 2. Procure responder essa pergunta, de um modo simples e claro, concordando ou discordando (ou, ainda, concordando em parte e discordando em parte): essa resposta é o seu pon-to de vista. 3. Pergunte a você mesmo, o porquê de sua resposta, uma causa, um motivo, uma razão para justificar sua posição: aí estará o seu argumento principal. 4. Agora, procure descobrir outros motivos que ajudem a defender o seu ponto de vista, a fundamentar sua posição. Estes serão argumentos auxiliares. 5.Em seguida, procure algum fato que sirva de exemplo para reforçar a sua posição. Este fato-exemplo pode vir de sua memória visual, das coisas que você ouviu, do que você leu. Pode ser um fato da vida política, econômica, social. Pode ser um fato histórico. Ele precisa ser bastante expressivo e coerente com o seu ponto de vista. O fato-exemplo, geralmente, dá força e clareza à nossa argumentação. Esclarece a nossa opinião, fortalece os nossos argumentos. Além disso, pessoaliza o nosso texto, diferencia o nosso texto: como ele nasce da experiência de vida, ele dá uma marca pessoal à dissertação. 6. A partir desses elementos, procure juntá-los num texto, que é o rascunho de sua redação. Por enquanto, você pode agrupá-los na seqüência que foi sugerida: Os passos 1) interrogar o tema; 2) responder, com a opinião 3) apresentar argumento básico 4) apresentar argumentos auxiliares 5) apresentar fato- exemplo 6) concluir (in Novo Manual da Nova Cultural - Redação, Gramática, Literatura e Interpretação de Textos, de Emília Amaral e outros)

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Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

Existem dois tipos de dissertação: a dissertação expositiva e a dissertação argumentativa. A primeira tem como

objetivo expor, explicar ou interpretar idéias; a segun-da procura persuadir o leitor ou ouvinte de que determinada tese deve ser acatada. Na dissertação argumentativa, além disso, tentamos, explicitamente, formar a opinião do leitor ou ouvinte, procurando persuadi-lo de que a razão está co-nosco.

Na dissertação expositiva, podemos explanar sem combater idéias de que discordamos. Por exemplo, um professor

de História pode fazer uma explicação sobre os modos de produção, aparentando impessoalidade, sem tentar con-vencer seus alunos das vantagens das vantagens e desvanta-gens deles. Mas, se ao contrário, ele fizer uma explanação com o propósito claro de formar opinião dos seus alunos, mostrando as inconveniências de determinado sistema e

valorizando um outro, esse professor estará argumentando explicitamente.

Para a argumentação ser eficaz, os argumentos devem possuir consistência de raciocínio e de provas. O raciocínio

consistente é aquele que se apóia nos princípios da lógica, que não se perde em especulações vãs, no “bate-boca”estéril. As provas, por sua vez, servem para reforçar os argumntos. Os tipos mais comuns de provas são: os fatos-

exemplos, os dados estatísticos e o testemunho.

Como fazer uma dissertação argumentativa

Como fazer nossas dissertações? Como expor com clareza nosso ponto de vista? Como argumentar coerentemente

e validamente? Como organizar a estrutura lógica de nosso texto, com introdução, desenvolvimento e conclusão?

Vamos supor que o tema proposta seja Nenhum homem é uma ilha.

Primeiro, precisamos entender o tema. Ilha, naturalmente, está em sentido figurado, significando solidão,

isolamento.

Vamos sugerir alguns passos para a elaboração do rascunho de sua redação.

1. Transforme o tema em uma pergunta:

Nenhum homem é uma ilha?

2. Procure responder essa pergunta, de um modo simples e claro, concordando ou discordando (ou, ainda,

concordando em parte e discordando em parte): essa resposta é o seu pon-to de vista.

3. Pergunte a você mesmo, o porquê de sua resposta, uma causa, um motivo, uma razão para justificar sua

posição: aí estará o seu argumento principal.

4. Agora, procure descobrir outros motivos que ajudem a defender o seu ponto de vista, a fundamentar sua

posição. Estes serão argumentos auxiliares.

5.Em seguida, procure algum fato que sirva de exemplo para reforçar a sua posição. Este fato-exemplo pode vir de

sua memória visual, das coisas que você ouviu, do que você leu. Pode ser um fato da vida política, econômica, social. Pode ser um fato histórico. Ele precisa ser bastante expressivo e coerente com o seu ponto de vista. O fato-exemplo,

geralmente, dá força e clareza à nossa argumentação. Esclarece a nossa opinião, fortalece os nossos argumentos. Além disso, pessoaliza o nosso texto, diferencia o nosso texto: como ele nasce da experiência de vida, ele dá uma marca pessoal à dissertação.

6. A partir desses elementos, procure juntá-los num texto, que é o rascunho de sua redação. Por enquanto, você

pode agrupá-los na seqüência que foi sugerida:

Os passos

1) interrogar o tema;

2) responder, com a opinião

3) apresentar argumento básico

4) apresentar argumentos auxiliares

5) apresentar fato- exemplo

6) concluir

(in Novo Manual da Nova Cultural - Redação, Gramática, Literatura e Interpretação de Textos, de

Emília Amaral e outros)

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Como ficaria o esquema

1º parágrafo: a tese

2º parágrafo: argumento 1

3º parágrafo: argumento 2

4º parágrafo: fato-exemplo

5º parágrafo: conclusão

Exemplo de redação com esse esquema:

Tema: Como encarar a questão do erro

Título: Buscar o sucesso

Tese

1º§ O homem nunca pôde conhecer acer-tos sem lidar com seus erros.

Argumentação

2º§ O erro pressupõe a falta de conheci-mento ou experiência, a deficiência de sintonia entre o que se propõe a

fazer e os meios para a realização do ato. Deriva-se de inúmeras causas, que incluem tanto a falta de informação, como a inabilidade em lidar com elas.

3º§ Já acertar, obter sucesso, constitui-se na exata coordenação entre informação e execu-ção de qualquer

atividade. É o alinhamento preci-so entre o que fazer e como fazer, sendo esses dois pontos indispensáveis e inseparáveis.

Fato-exemplo

4º§ Como atingir o acento? A experiência é fundamental e, na maior das vezes, é alicerçada em erros anteriores,

que ensinarão os caminhos para que cada experiência ruim não mais ocorra. Assim, um jovem que presta seu primeiro vesti-bular e fracassa pode, a partir do erro, descobrir seus pontos falhos e, aos poucos, aliar seus co-nhecimentos à

capacidade de enfrentar uma situa-ção de nova prova e pressão. Esse mesmo jovem, no mercado de trabalho, poderá estar envolvido em situações semelhantes: seus momentos de fracasso estimularão sua criatividade e maior em-penho, o que fatalmente levará a posteriores acertos fundamentais em seu trabalho.

Conclusão

5º§ Assim, o aparecimento dos erros nos atos humanos é inevitável. Porém, é preciso, aci-ma de tudo, saber lidar

com eles, conscientizar-se de cada ato falho e tomá-los como desafio, nunca se conformando, sempre buscando a superação e o sucesso. Antes do alcance da luz, será sempre preciso percorrer o túnel.

(Redação de aluno.)

Esquema da antítese

Como incluir a contra-argumentação numa dissertação argumentativa

A dissertação argumentativa começa com a proposição clara e sucinta da idéia que irá ser comprovada, a TESE. A

essa primeira parte do texto dissertativo chamamos de introdução.

A segunda parte, chamada desenvolvimento, visa à apresentação dos argumentos que comprovem a tese, ou seja,

a PROVA. É costume estruturar a argumentação em ordem crescente de importância, como foi explicado no início desta lição, a fim de prender cada vez mais a atenção do leitor às razões apresentadas. Essas razões baseiam-se em provas

demonstráveis através dos fatos-exemplo, dados estatísticos e testemunhos.

Na dissertação argumentativa mais formal, o desen-volvimento apresenta uma subdivisão, a ANTÍTESE, na qual se

refutam possíveis contra-argumentos que possam contrariar a tese ou as provas. Nessa parte, a ordem de importância inverte-se, colocando-se, em primeiro lugar, a refutação do contra-argumento mais forte e, por último, do mais fraco,

com o propósito de se depreciarem as idéias contrárias e ir-se, aos pontos, refutando a tese adversa,ao mesmo tempo em que se afasta o leitor ou ouvinte dos contra-argumentos mais poderosos.

Na última parte, a conclusão, enumeraram-se os argumentos e conclui-se, reproduzindo as tese, isto é, faz-se uma

SÍNTESE. Além de fazer uma síntese das idéias discu-tidas, pode-se propor, na conclusão, uma solução para o problema

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discutido.

Esquema de uma dissertação com antítese

Tema: Vestibular, um mal necessário.

Tese: O vestibular privilegia os candidatos pertencentes às classes mais favorecidas economicamente.

Prova: Os candidatos que estudaram em escolas com infra-estrutura deficiente, com as escolas públicas do Brasil,

por mais que se esforcem, não têm condições de concorrer com aqueles que freqüentaram bons colégios.

Antítese: Mesmo que o acesso à universidade fosse facilitado para candidatos de condição econômica inferior, o

problema não seria resolvido, pois a falta de um aprendizado sólido, no primeiro e segundo grau, comprometeria o ritmo do curso superior.

Conclusão (síntese´): As diferenças entre as escolas públicas e privadas são as verdadeiras responsáveis pela

seleção dos candidatos mais ricos.

Relação entre causa e conseqüência

Você possui um tema para ser analisado. Neste caso, a melhor forma de desenvolvê-la é estabelecer a relação

causa-

conseqüência. Vamos à prática com o seguinte tema:

Tema

Constatamos que no Brasil existe um grande número de correntes migratórias que se deslocam do campo para as

médias ou grandes cidades.

Para encontrarmos uma causa, perguntamos:

Por quê?

ao tema acima. Dentre as respostas possíveis, poderíamos citar o seguinte fato:

Causa:

A zona rural apresenta inúmeros problemas que dificultam a permanência do homem no campo.

No sentido de encontrar uma conseqüência para o problema enfocado no tema acima, cabe a seguinte

pergunta:

O que acontece em razão disso?

Uma das possíveis respostas seria:

Conseqüência

As cidades encontram-se despreparadas para absorver esses migrantes e oferecer-lhes condições de subsistência e

de trabalho

Veja que a causa e a conseqüência citadas neste exemplo podem ser perfeitamente substituídas por outras,

encontradas por você, desde que tenham relação direta com o assunto. As sugestões apresentadas de maneira nenhuma são as únicas possíveis.

Veja outros exemplos:

Causa: As pessoas mais velhas têm medo do novo, elas são mais conservadoras, até em assuntos mais prosaicos.

Tema: Muitas pessoas são analfabetas eletrônicas, pois não conseguem operar nem um videocassete. Conseqüência: Elas se tornam desajustadas, pois dependem dos mais jovens até para ligar um forno microondas, elas precisam acompanhar a evolução do mundo.

Causa: A nação que deixa depredar as construções

consideradas como patrimônios históricos destrói parte da História de seu país.

Tema: É de fundamental importância a preservação das construções que se constituem em patrimônios históricos.

Conseqüência: Isso demonstra claramente o subdesenvolvimento de uma nação, pois quando não se conhece o

passado de um povo e não se valorizam suas tradições, estamos desprezando a herança cultural deixada por nossos

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antepassados.

Causa: A maioria dos parlamentares preocupa-se muito mais com a discussão dos mecanismos que os fazem

chegar ao poder do que com os problemas reais da população.

Tema: A maior parte da classe política não goza de muito prestígio e confiabilidade por parte da população.

Conseqüência: Os grandes problemas que afligem o povo brasileiro deixam de ser convenientemente discutidos.

Causa: Algumas pessoas refugiam-se nas drogas na tentativa de esquecer seus problemas.

Tema: Muitos jovens deixam-se dominar pelo vício em diversos tipos de entorpecentes, mal que se alastra cada vez

mais em nossa sociedade.

Conseqüência: Acabam formando-se dependentes dos psicóticos dos quais se utilizam e, na maioria das vezes,

transformam-se em pessoas inúteis para si mesmas e para a comunidade.

Exercícios

Apresentaremos alguns temas e você se incumbirá de encontrar uma causa e uma conseqüência para cada um

deles. Escreva-as, seguindo o modelo apresentado acima:

1 Tema: As linhas de ônibus que percorrem os bairros das grandes metrópoles não têm demonstrado muita

eficiência no atendimento a seus usuários.

Causa:

Conseqüência:

2 A convivência familiar está muito difícil.

causa:

Conseqüência:

3 As novelas de televisão passaram a exercer uma profunda influência nos hábitos e na maneira de pensar da

maioria dos telespectadores.

Causa:

Conseqüência:

4 As doenças infecto-contagiosas atingem particularmente as camadas mais carentes da população.

Causa:

Conseqüências:

5 Apesar de alertados por ecologistas, os lavradores continuam utilizando produtos agrotóxicos

indiscriminadamente.

Causa:

Conseqüência:

Esquema de redação com causa-conseqüência

Título

Introdução (o problema):

1º parágrafo: Apresentação do tema (com ligeira ampliação).

Desenvolvimento:

2º parágrafo - Causa (explicações adicionais)

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3º parágrafo - Conseqüência (com explicações adicionais)

Conclusão(a solução):

4º § - Expressão inicial + reafirmação do tema + observação final

Proposta de redação

Escolha um dos temas apresentados nesta folha e redija um texto em quatro parágrafos, conforme o esquema

desenhado acima. Não se esqueça de aplicar a relação causa-conseqüência.

(Do livro Técnicas Básicas de Redação, Branca Granatic, Editora Scipione)

Outro esquema interessante:

O texto Aquilo por que vivi, de Bertrand Russel, revela uma estrutura que o vestibulando poderá usar em sua

redação. Leia o texto:

Aquilo por que vivi

Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do

conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso, instável, por sobre o profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero.

Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o

resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão –

essa solidão terrível através da qual nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime. Busquei-o, finalmente, porque vi na união do amor, numa miniatura mística, algo que prefigurava a visão que os santos e os poetas imaginavam. Eis o que busquei e, embora isso possa parecer demasiado bom para a vida humana,

foi isso que – afinal – encontrei.

Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por

que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui.

Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade

sempre me trazia de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a construir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria ser a vida humana. Anseio por avaliar o mal, mas não posso, e

também sofro.

Eis o que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se me

fosse dada tal oportunidade.

(Bertrand Russel, Autobiografia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967.)

O texto, cujo tema está explícito no título – os motivos fundamentais da vida do autor – apresenta cinco parágrafos.

No primeiro parágrafo, o autor revela as suas “três paixões”:

a) amor;

b) conhecimento;

c) piedade.

Em seguida, dedica três parágrafos para cada uma dessas paixões. O segundo parágrafo fala sobre a busca do

amor; terceiro, sobre a procura do conhecimento; e o quarto, sobre a importância do sentimento piedade diante do

sofrimento.

O quinto e último parágrafo realiza a conclusão do texto.

Eis o esquema:

1º§ - a, b, c;

2º§ - a;

3º§ - b;

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4º§ - c;

5º§ - a, b, c.

(in Novas Palavras, de Emília Amaral e outros, editora FTD-1997)

Observar a estrutura dos textos dissertativos é um bom momento de aprendizagem. Recomenda-se tal exercício aos

vestibulandos: ler editoriais e artigos de jornais.

Como fazer redação no Enem (Hélio Consolaro* )

O tema proposto pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sempre traz uma situação como tema, geralmente de

caráter social, para que o estudante faça uma análise.

A banca apresenta textos de apoio, gráficos e (ou) figuras para que o estudante tenha subsídios para analisar o problema apresentado.

Nesse modelo, sempre proponho a meus alunos do ensino médio que façam uma dissertação de quatro parágrafos, quantidade ideal para atingir as 25 linhas propostas.

O aluno deve verbalizar no primeiro parágrafo o problema apresentado como tema, com suas próprias palavras. Nele,

não se dá opinião, pois não se trata de dissertação argumentativa. A posição ideológica do aluno (não se omita) vai aparecer nos apontamentos da causa e da conseqüência, e principalmente na conclusão.

No segundo parágrafo, o estudante indica uma causa do problema, o porquê daquilo acontecer; no terceiro, uma conseqüência, em razão dele, ocorre tal coisa.

E na conclusão, como sempre, a banca examinadora pede para que o estudante apresente a solução para o problema.

Exemplo bem resumido:

Introdução: Muitos jovens deixam-se dominar pelo vício em diversos tipos de entorpecentes, mal que se alastra cada vez

no Brasil.

Tópico frasal do 2.º parágrafo (causa): Algumas pessoas refugiam-se nas drogas na tentativa de esquecer seus problemas.

Tópico frasal do 3.º parágrafo (conseqüência): Tornam-se dependentes dos psicóticos dos quais se utilizam e, na maioria das vezes, transformam-se em pessoas inúteis para si mesmas e para a comunidade.

Conclusão (solução): Fazem-se necessárias políticas públicas fortes de prevenção, com atividades culturais e esportivas

para a juventude, ocupando-lhe o tempo, formando o caráter dos adolescentes.

Introdução e conclusão devem ser curtas, pois na primeira apresenta-se o problema; na segunda, a solução, sem delongas. A maior parte das linhas deve ser usada nos parágrafos da causa e da conseqüência.

Modelos de redações do ENEM Modelo 1: Copa do Mundo

Excesso de confiança estraga

Aquilo que era ânimo virou desânimo. Alguns brasileiros caíram num baixo astral, outros ficaram raivosos porque a

seleção brasileira foi desclassificada nas quartas-de-final da Copa do Mundo.

Tudo isso aconteceu porque houve excesso de autoconfiança por parte da equipe brasileira. A conquista do penta, feita com muita dificuldade em 2002, como aconteceu com a Itália neste ano, cegou a todos. Devido ao sucesso da copa anterior, imprensa e torcida se empolgaram, achando que o Brasil seria campeão por antecipação. Isso contagiou

jogadores e dirigentes, deixando-os de salto alto. Está provado que erra menos quem duvida e não acredita piamente em certezas.

Logo, com a realidade estampada, depois daquele jogo com a França, em que o Brasil foi derrotado e desclassificado ,

veio a revolta e a depressão da torcida. E como participantes de uma civilização judaico-cristã, os brasileiros foram atrás de culpados e vítimas, uma verdadeira caça às bruxas, como se em futebol não se pudesse conjugar o verbo perder. Carlos Alberto Parreira, o técnico, e os jogadores Roberto Carlos e Cafu foram crucificados.

Com certeza, na próxima copa, em 2010, na África do Sul, o Brasil não se submeterá a outro fiasco, porque tem como exemplo o amargo da derrota de 2006. E todos os brasileiros estarão com o senso crítico mais aguçado e não confiarão cegamente, exercendo o seu poder de crítica antecipadamente.

Modelo 2 - Violência

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Amar e perdoar

O Brasil, infelizmente, vem sendo tomado pela violência. As pessoas estão indignadas, mas também não conseguem interpretar a nova realidade, por isso ficam meio perdidas, se perguntando: por que, meu Deus, acontece tudo isso.

Tudo isso acontece porque se injetou na sociedade brasileira um exacerbado espírito de competição. Todos querem

vencer, não importa como, mesmo que seja sem ética. E a pessoa bem-sucedida é aquela que compra mais, usa produtos de boa marca, consome mais. A vida espiritual se reduziu a orar para TER mais e não para SER mais.

Nessa competição em que a vida foi transformada, instalou-se o vale-tudo, por isso "levar vantagem em tudo" é o

grande slogan da pessoa vencedora, nem que para vencer precise massacrar outras pessoas. Deus não é o grande Pai, ninguém mais vê o outro como irmão, mas como um concorrente, uma pessoa a ser derrotada. Nem que seja pela violência. Vencer é mais importante do que perdoar.

Parece que a humanidade precisará viver uma catástrofe para acordar, pois está tomada pelo êxtase do capitalismo exacerbado. Assim descobrirá que é preciso viver, mas também deixar o outro viver. Amar e perdoar é mais importante que competir e vencer.

*Hélio Consolaro é professor de Português, coordenador do site Por Trás das Letras, escritor e presidente da Academia Araçatubense de Letras.

--Texto Dissertativo / Argumentativo --

Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto

dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentação

científica, o relatório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não

está preocupado com a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto,

um texto informativo.

Os textos argumentativos, ao contrário, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o

ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o texto, além de explicar, também persuade o

interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo.

O texto dissertativo argumentativo tem uma estrutura convencional, formada por três partes

essenciais.

Page 8: Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

Introdução

Que apresenta o assunto e o posicionamento do autor. Ao se posicionar, o autor formula uma tese ou

a idéia principal do texto.

Teatro e escola, em princípio, parecem ser espaços distintos, que desenvolvem atividades

complementares diferentes. Em contraposição ao ambiente normalmente fechado da sala de aula e

aos seus assuntos pretensamente “sérios” , o teatro se configura como um espaço de lazer e

diversão. Entretanto, se examinarmos as origens do teatro, ainda na Grécia antiga, veremos que

teatro e escola sempre caminharam juntos, mais do que se imagina.(tese)

Desenvolvimento

Formado pelos parágrafos que fundamentam a tese. Normalmente, em cada parágrafo, é

apresentado e desenvolvido um argumento. Cada um deles pode estabelecer relações de causa e

efeito ou comparações entre situações, épocas e lugares diferentes, pode também se apoiar em

depoimentos ou citações de pessoas especializadas no assunto abordado, em dados estatísticos,

pesquisas, alusões históricas.

O teatro grego apresentava uma função eminentemente pedagógica. Com sua tragédias,

Sófocles e Eurípides não visavam apenas à diversão da platéia mas também, e sobretudo, pôr em

discussão certos temas que dividiam a opinião pública naquele momento de transformação da

sociedade grega. Poderia um filho desposar a própria mãe, depois de ter assassinado o pai de forma

involuntária (tema de Édipo Rei)? Poderia uma mãe assassinar os filhos e depois matar-se por causa

de um relacionamento amoroso (tema de Medeia e ainda atual, como comprova o caso da cruel mãe

americana que, há alguns anos, jogou os filhos no lago para poder namorar livremente)?

Naquela sociedade, que vivia a transição dos valores místicos, baseados na tradição religiosa, para

os valores da polis, isto é, aqueles resultantes da formação do Estado e suas leis, o teatro cumpria

um papel político e pedagógico, à medida que punha em xeque e em choque essas duas ordens de

valores e apontava novos caminhos para a civilização grega. “Ir ao teatro”, para os gregos, não era

apenas uma diversão, mas uma forma de refletir sobre o destino da própria comunidade em que se

vivia, bem como sobre valores coletivos e individuais.

Deixando de lado as diferenças obviamente existentes em torno dos gêneros teatrais (tragédia,

comédia, drama), em que o teatro grego, quanto a suas intenções, diferia do teatro moderno? Para

Bertold Brecht, por exemplo, um dos mais significativos dramaturgos modernos, a função do

teatro era, antes de tudo, divertir. Apesar disso, suas peças tiveram um papel essencial

pedagógico voltadas para a conscientização de trabalhadores e para a resistência política na

Alemanha nazista dos anos 30 do século XX.

O teatro, ao representar situações de nossa própria vida – sejam elas engraçadas, trágicas, políticas,

sentimentais, etc. – põe o homem a nu, diante de si mesmo e de seu destino. Talvez na

instantaneidade e na fugacidade do teatro resida todo o encanto e sua magia: a cada representação, a

vida humana é recontada e exaltada. O teatro ensina, o teatro é escola. É uma forma de vida de

ficção que ilumina com seus holofotes a vida real, muito além dos palcos e dos camarins.

Conclusão

Que geralmente retoma a tese, sintetizando as idéias gerais do texto ou propondo soluções para o

problema discutido. Mais raramente, a conclusão pode vir na forma de interrogação ou representada

por um elemento-surpresa. No caso da interrogação, ela é meramente retórica e deve já ter sido

respondida pelo texto. O elemento surpresa consiste quase sempre em uma citação científica,

filosófica ou literária, em uma formulação irônica ou em uma idéia reveladora que surpreenda o

leitor e, ao mesmo tempo, dê novos significados ao texto.

Que o teatro seja uma forma alternativa de ensino e aprendizagem, é inegável. A escola sempre

Page 9: Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

teve muito a aprender com o teatro, assim como este, de certa forma, e em linguagem própria,

complementa o trabalho de gerações de educadores, preocupados com a formação plena do ser

humano. (conclusão)

Quisera as aulas também pudessem ter o encanto do teatro: a riqueza dos cenários, o cuidado com

os figurinos, o envolvimento da música, o brilho da iluminação, a perfeição do texto e a vibração

do público. Vamos ao teatro! (elemento-supresa)

(Teatro e escola: o papel do educador: Ciley Cleto, professora de Português).

Atenção: a linguagem do texto dissertativo-argumentativo costuma ser impessoal, objetiva e

denotativa. Mais raramente, entretanto, há a combinação da objetividade com recursos poéticos,

como metáforas e alegorias. Predominam formas verbais no presente do indicativo e emprega-se

o padrão culto e formal da língua.

O Parágrafo

Além da estrutura global do texto dissertativo-argumentativo, é importante conhecer a estrutura de

uma de suas unidades básicas: o parágrafo.

Parágrafo é uma unidade de texto organizada em torno de uma idéia-núcleo, que é desenvolvida

por idéias secundárias. O parágrafo pode ser formado por uma ou mais frases, sendo seu tamanho

variável. No texto dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos relacionados com a

tese ou idéia principal do texto, geralmente apresentada na introdução.

Embora existam diferentes formas de organização de parágrafos, os textos dissertativo-

argumentativos e alguns gêneros jornalísticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura

consiste em três partes: a idéia-núcleo, as idéias secundárias (que desenvolvem a idéia-núcleo), a

conclusão. Em parágrafos curtos, é raro haver conclusão.

A seguir, apresentarei um espelho de correção de redação. A faixa de valores dos itens analisados

sofre alteração a cada concurso, os aspectos macroestruturais e microestruturais são variáveis na

maneira como são expostos. No entanto, os espelhos não fogem ao padrão pré-determinado.

ESPELHO DA AVALIAÇÃO DA PROVA DISCURSIVA - MODELO CESPE/UnB

Aspectos macroestruturais nota

obtida

faixa de

valores

APRESENTAÇÃO TEXTUAL

Legibilidade (0,00 a 2,00)

Respeito às margens e indicação de parágrafos (0,00 a 2,00)

ESTRUTURA TEXTUAL (dissertativa)

Introdução adequada ao tema/posicionamento (0,00 a 4,00)

Desenvolvimento (0,00 a 4,00)

Fechamento do texto de forma coerente (0,00 a 4,00)

DESENVOLVIMENTO DO TEMA

Estabelecimento de conexões lógicas entre os

argumentos (0,00 a 4,00)

Objetividade de argumentação frente ao

tema/posicionamento (0,00 a 4,00)

Estabelecimento de uma progressividade textual em

relação à seqüência lógica do pensamento (0,00 a 4,0

Tipo de erro

Pontuação

Page 10: Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

Construção do período

Emprego de conectores

Concordância nominal

Concordância verbal

Regência nominal

Regência verbal

Grafia/acentuação

Repetição/omissão vocabular

Outros

Nota no conteúdo (NC) » NC = 5 : 28 x (soma das notas dos quesitos)

Número de linhas efetivamente ocupadas (TL)

Número de erros (NE)

NOTA DA PROVA DISCURSIVA (NPD): NPD=NC – 3 x NE : TL

A seguir, apresentarei a estrutura textual dissertativa, a partir dos dados do espelho de correção da

prova discursiva, seguindo a orientação do professor Fernando Moura (Nas Linhas e Entrelinhas).

ESTRUTURA TEXTUAL DISSERTATIVA

1. Bases Conceituais

PARTE I – O conteúdo da redação

a) Apresentação Textual

Legibilidade e erro: escreva sempre com letra legível. Prefira a letra cursiva. A letra de imprensa

poderá ser usada desde que se distinga bem as iniciais maiúsculas e minúsculas. No caso de erro,

risque com um traço simples, o trecho ou o sinal gráfico e escreva o respectivo substituto.

Atenção: não use parênteses para esse fim.

- Respeito às margens e indicação dos parágrafos;

Para dar início aos parágrafos, o espaço de mais ou menos dois centímetros é suficiente. Observe as

margens esquerda e direita na folha para o texto definitivo. Não crie outras. Não deixe “buracos” no

texto. Na translineação, obedeça às regras de divisão silábica.

- Limite máximo de linhas;

Além de escrever seu texto em local devido (folha definitiva), respeite o limite máximo de linhas

destinadas a cada parte da prova, conforme orientação da banca. As linhas que ultrapassarem o

limite máximo serão desconsideradas ou qualquer texto que ultrapassar a extensão máxima será

totalmente desconsiderado.

-Eliminação do candidato;

Seu texto poderá ser desconsiderado nas seguintes situações:

- ultrapassagem do limite máximo de linhas.

- ausência de texto: quando o candidato não faz seu texto na FOLHA PARA O TEXTO

DEFINITIVO.

- fuga total ao tema: analise cuidadosamente a proposta apresentada. Estruture seu texto em

conformidade com as orientações explicitadas no caderno da prova discursiva.

- registros indevidos: anotações do tipo “fim” , “the end”, “O senhor é meu pastor, nada me

faltará” ou recados ao examinador, rubricas e desenhos.

Page 11: Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

b) Estrutura Textual Dissertativa

Não dê título ao texto, começa na linha 1 da folha definitiva o seu parágrafo de introdução.

Estrutura clássica do texto dissertativo

b.1) Introdução adequada ao tema / posicionamento

Apresenta a idéia que vai ser discutida, a tese a ser defendida. Cabe à introdução situar o leitor a

respeito da postura ideológica de quem o redige acerca de determinado assunto. Deve conter a tese

e as generalidades que serão aprofundadas ao longo do desenvolvimento do texto. O importante é

que a sua introdução seja completa e esteja em consonância com os critérios de paragrafação. Não

misture idéias.

b.2) Desenvolvimento

Apresenta cada um dos argumentos ordenadamente, analisando detidamente as idéias e

exemplificando de maneira rica e suficiente o pensamento. Nele, organizamos o pensamento em

favor da tese. Cada parágrafo (e o texto) pode ser organizado de diferentes maneiras:

- Estabelecimento das relações de causa e efeito: motivos, razões, fundamentos, alicerces, os

porquês/ conseqüências, efeitos, repercussões, reflexos;

- Estabelecimento de comparações e contrastes: diferenças e semelhanças entre elementos – de um

lado, de outro lado,em contraste, ao contrário;

- Enumerações e exemplificações: indicação de fatores, funções ou elementos que esclarecem ou

reforçam uma afirmação.

b.3) Fechamento do texto de forma coerente

Retoma ou reafirma todas as idéias apresentadas e discutidas no desenvolvimento, tomando uma

posição acerca do problema, da tese. É também um momento de expansão, desde que se mantenha

uma conexão lógica entre as idéias.

c) Desenvolvimento do Tema

c.1) Estabelecimento de conexões lógicas entre os argumentos.

Apresentação dos argumentos de forma ordenada, com análise detida das idéias e exemplificação

de maneira rica e suficiente do pensamento. Para garantir as devidas conexões entre períodos,

parágrafos e argumentos, empregar os elementos responsáveis pela coerência e unicidade, tais

como operadores de seqüenciação, conectores, pronomes. Procurar garantir a unidade temática.

c.2) Objetividade de argumentação frente ao tema / posicionamento

O texto precisa ser articulado com base nas informações essenciais que desenvolverão o tema

proposto. Dispensar as idéias excessivas e periféricas. Planejar previamente a redação definindo

antecipadamente o que deve ser feito. Recorrer ao banco de idéias é um passo importante. Listar as

idéias que lhe vier à cabeça sobre o tema.. Estabelecer a tese que será defendida. Selecionar

cuidadosamente entre as idéias listadas, aquelas que delimitarão o tema e defenderão o

seu posicionamento.

c.3) Estabelecimento de uma progressividade textual em relação à seqüência lógica do

pensamento.

O texto deve apresentar coerência seqüencial satisfatória. Quando se proceder à seleção dos

argumentos no banco de idéias, deve-se classificá-los segundo a força para convencer o leitor,

partindo dos menos fortes parta os mais fortes.

Caríssimos, é possível (e bem mais tranqüilo) desenvolver um texto dissertativo a partir da

elaboração de esquemas. Por mais simples que lhes pareça, a redação elaborada a partir de

Page 12: Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

esquema permite-lhes desenvolver o texto com seqüência lógica, de acordo com os critérios

exigidos no comando da questão (número de linhas, por exemplo), atendendo aos aspectos

mencionados no espelho de avaliação. A professora Branca Granatic oferece-nos a seguinte

sugestão de esquema:

SUGESTÃO DE PRODUÇÃO DE TEXTO COM BASE EM ESQUEMAS

ESQUEMA BÁSICO DA DISSERTAÇÃO

1º parágrafo: TEMA + argumento 1 + argumento 2 + argumento 3

2° parágrafo :desenvolvimento do argumento 1

3° parágrafo: desenvolvimento do argumento 2

4° parágrafo: desenvolvimento do argumento 3

5° parágrafo: expressão inicial + reafirmação do tema + observação final.

EXEMPLO:

TEMA: Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas

que preocupam a todos.

POR QUÊ? *arg. 1: Existem populações imersas em completa miséria.

*arg. 2: A paz é interrompida freqüentemente por conflitos internacionais.

*arg. 3: O meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.

Texto definitivo

Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver os graves problemas que

preocupam a todos, pois existem populações imersas em completa miséria, a paz é interrompida

freqüentemente por conflitos internacionais e, além do mais, o meio ambiente encontra-se

ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.

Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis – estas, mal distribuídas, quer entre Estados,

quer entre indivíduos – encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos

países do Terceiro Mundo, sobretudo em certas regiões da África, vemos com tristeza, a falência da

solidariedade humana e da colaboração entre as nações.

Além disso, nesta últimas décadas, temos assistido, com certa preocupação, aos conflitos

internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança das guerras do Vietnã

e da Coréia, as quais provocaram grande extermínio. Em nossos dias, testemunhamos conflitos na

antiga Iugoslávia, em alguns membros da Comunidade dos Estados Independentes, sem falar da

Guerra do Golfo, que tanta apreensão nos causou.

Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico, provocado pela ambição desmedida de

alguns, que promovem desmatamentos desordenados e poluem as águas dos rios. Tais atitudes

contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por se transformar em

local inabitável.

Em virtude dos fatos mencionados, somos levados a acreditar que o homem está muito longe de

solucionar os graves problemas que afligem diretamente uma grande parcela da humanidade e

indiretamente a qualquer pessoa consciente e solidária. É desejo de todos nós que algo seja feito no

sentido de conter essas forças ameaçadoras, para podermos suportar as adversidades e construir um

mundo que, por ser justo e pacífico, será mais facilmente habitado pelas gerações vindouras.

Se vocês seguirem a orientação dada pelo esquema, desde o 1º parágrafo, verão que não há como

se perder na redação, nem fazer a introdução maior que o desenvolvimento, já que a introdução

apresenta, de forma embrionária, o que será desenvolvido no corpo do texto. E lembre-se de que a

conclusão sempre retoma a idéia apresentada na introdução, reafirmando-a, apresentando propostas,

soluções para o caso apresentado. Com essa noção clara, de estrutura de texto, também é possível

Page 13: Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

melhorar o seu desempenho nas provas de compreensão e interpretação de textos.

Como construir um texto dissertativo

Procedimentos Básicos

01. Interpretação do tema

Devemos interpretar cuidadosamente o tema proposto, pois a fuga total a este implica zerar a prova

de redação;

02. Levantamento de idéias

A melhor maneira de levantar idéias sobre o tema é a auto-indagação;

03. Construção do rascunho

Construa o rascunho sem se preocupar com a forma. Priorize, nesta etapa, o conteúdo;

04. Pequeno intervalo

Suspenda a atividade redacional por alguns instantes e ocupe-se com outras provas, para que possa

desviar um pouco a atenção do texto; evitando, assim, que determinados erros passem

despercebidos;

05. Revisão e acabamento

Faça uma cuidadosa revisão do rascunho e as devidas correções;

06. Versão definitiva

Agora passe a limpo para a versão definitiva, com calma e muito cuidado!

07. Elaboração do título

O título deve ser urna frase curta condizente com a essência do tema.

Orientação para Elaborar uma Dissertação

• Seu texto deve apresentar tese, desenvolvimento (exposição/argumentação) e conclusão.

• Não se inclua na redação, não cite fatos de sua vida particular, nem utilize o ainda na 1ª

pessoa do plural.

Seu texto pode ser expositivo ou argumentativo (ou ainda expositivo e argumentativo). As

idéias-núcleo devem ser bem desenvolvidas, bem fundamentadas.

• Redija na 1ª pessoa do singular ou do plural, ou fundamentadas. Evite que seu texto

expositivo ou argumentativo seja urna seqüência de afirmações vagas, sem justificativa,

evidências ou exemplificação..

• Atente para as expressões vagas ou significado amplo e sua adequada contextualização. Ex.:

conceitos como “certo”, “errado”, “democracia”, “justiça”, “liberdade”, “felicidade” etc.

• Evite expressões como “belo”, “bom”, “mau”, “incrível”, “péssimo”, “triste”,“pobre”, “rico”

etc.; são juízos de valor sem carga informativa, imprecisos e

subjetivos.

• Fuja do lugar-comum, frases feitas e expressões cristalizadas: “a pureza das crianças”, “a

sabedoria dos velhos”. A palavra “coisa”, gírias e vícios da linguagem oral devem ser

Page 14: Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

evitados, bem como o uso de “etc.” e as abreviações.

• Não se usam entre aspas palavras estrangeiras com correspondência na língua portuguesa:

hippie, status, dark, punk, laser, chips etc.

• Não construa frases embromatórias. Verifique se as palavras empregadas são fundamentais e

informativas.

• Observe se não há repetição de idéias, falta de clareza, construções sem nexo (conjunções

mal empregadas), falta de concatenação de idéias nas frases e nos parágrafos entre si,

divagação ou fuga ao tema proposto.

• Caso você tenha feito uma pergunta na tese ou no corpo do texto, verifique se a

argumentação responde à pergunta. Se você eventualmente encerrar o texto com uma

interrogação, esta pode estar corretamente empregada desde que a argumentação responda à

questão. Se o texto for vago, a interrogação será retórica e vazia.

• Verifique se os argumentos são convincentes: fatos notórios ou históricos, conhecimentos

geográficos, cifras aproximadas, pesquisas e informações adquiridas através de leituras e

fontes culturais diversas.

• Se considerarmos que a redação apresenta entre 20 e 30 linhas, cada parágrafo pode ser

desenvolvido entre 3 e 6 linhas. Você deve ser flexível nesse número, em razão do tamanho

da letra ou da continuidade de raciocínio elaborado. Observe no seu texto os parágrafos

prolixos ou muito curtos, bem corno os períodos muito fragmentados, que resultam numa

construção primária.

Seguem alguns modelos

TEMA: “DENÚNCIAS, ESCÂNDALOS, CASOS ILÍCITOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA,

CORRUPÇÃO E IMPUNIDADE... ISSO É O QUE OCORRE NO BRASIL HOJE.”

Uma nova ordem

Nunca foi tão importante no País uma cruzada pela moralidade. As denúncias que se sucedem, os

escândalos que se multiplicam, os casos ilícitos que ocorrem em diversos níveis da administração

pública exibem, de forma veemente, a profunda crise moral por que passa o País.

O povo se afasta cada vez mais dos políticos, como se estes fossem símbolos de todos os males. As

instituições normativas, que fundamentam o sistema democrático, caem em descrédito. Os

governantes, eleitos pela expressão do voto, também engrossam a caldeira da descrença e, frágeis,

acabam comprometendo seus programas de gestão.

Para complicar, ainda estamos no meio de uma recessão que tem jogado milhares de trabalhadores

na rua, ampliando os bolsões de insatisfação e amargura.

Não é de estranhar que parcelas imensas do eleitorado, em protesto contra o que vêem e sentem,

procurem manifestar sua posição com o voto nulo, a abstenção ou o voto em branco. Convenhamos,

nenhuma democracia floresce dessa maneira.

A atitude de inércia e apatia dos homens que têm responsabilidade pública os condenará ao castigo

da história. É possível fazer-se algo, de imediato, que possa acender uma pequena chama de

esperança.

O Brasil dos grandes valores, das grandes idéias, da fé e da crença, da esperança e do futuro

necessita, urgentemente da ação solidária, tanto das autoridades quanto do cidadão comum, para

instaurar uma nova ordem na ética e na moral.

Carlos Apolinário, adaptado

Comentário:

O primeiro parágrafo constitui a introdução do texto (tese).

Page 15: Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

Os parágrafos segundo, terceiro e quarto constituem o desenvolvimento (argumentação —

exemplificação com análise e crítica).

O último parágrafo é a conclusão (perspectiva de solução).

TEMA: Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena

(Fernando Pessoa)

Sonhar é preciso

“Nós somos do tamanho dos nossos sonhos. Há, em cada ser humano, um sebastianista louco,

vislumbrando o Quinto Império; um navegador ancorado no cais, a idealizar ‘mares nunca dantes

navegados’; e um obscuro D. Quixote de alma grande que, mesmo amesquinhado pelo atrito da

hora áspera do presente, investe contra seus inimigos intemporais: o derrotismo, a indiferença e o

tédio.

Sufocado pelo peso de todos os determinismos e pela dura rotina do pão-nosso-de-cada-dia, há em

cada homem um sentido épico da existência, que se recusa a morrer, mesmo banalizado,

manipulado pelos veículos de massa e domesticado pela vida moderna.

É preciso agora resgatar esse idealista que ocultamente somos, mesmo que D. Sebastião não volte,

ainda que nossos barcos não cheguem a parte alguma, apesar de não existirem sequer moinhos de

vento.

Senão teremos matado definitivamente o santo e o louco que são o melhor de nós mesmos; senão

teremos abdicado dos sonhos da infância e do fogo da juventude; senão teremos demitido nossas

esperanças.

O homem livre num universo sem fronteiras. O nordeste brasileiro verde e pequenos nordestinos, ri

sonhos e saudáveis, soletrando o abecedário. Um passeio a pé pela cidade calma. Pequenos judeus,

árabes e cristãos, brincando de roda em Beirute ou na Palestina.

E os vestibulandos, todos, de um país chamado Brasil, convocados a darem o melhor de si no curso

superior que escolheram.

Utopias? Talvez sonhos irrealizáveis de algum poeta menor, mas convicto de que nada vale a pena,

se a alma é mesquinha e pequena.”

Comentário:

A introdução encontra-se no 1° parágrafo, que faz uma espécie de síntese do texto, funcionando

como uma espécie de índice das idéias e elementos que aparecerão no desenvolvimento

(sebastianista, o navegador, o D. Quixote).

O desenvolvimento está nos cinco parágrafos seguintes, que retomam e explicam cada uma das

idéias e elementos apresentados no inicio.

A conclusão realiza-se no último parágrafo, reafirmando a tese de que somos do tamanho de nossos

sonhos e de nossas lutas por nossos ideais, sem os quais a alma seria mesquinha e pequena (e a vida

não valeria a pena).

TEMA: “À busca do Brasil de nossos sonhos, travar-se-á uma longa jornada.”

Em busca do Brasil de nossos sonhos

Utopia, talvez seja este o termo que resuma os anseios de um povo que, há mais de quatro séculos,

alimenta esperanças de ver seu país constituir-se em um Estado forte e humanitário.

Transformações drásticas e rápidas não correspondem ao caminho a se seguir que será árduo e

penoso, entretanto os júbilos alcançados serão tão doces e temos que terão valido cada gota de

Page 16: Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

sangue e suor derramado.

Muitos são os problemas (corrupção, injustiça, desigualdades...) e suas soluções existem, só não

fazem parte do plano político-econômico e social a ser seguido, pois este não há. Generalizar chega

a ser infantil e prematuro, mas atualmente não se tem tido conhecimento sobre uma reforma

concreta e séria que vise à melhoria de vida da população e que não esteja “engavetada”, ainda em

“processo de viabilização”, tal como as reformas agrária e tributária, por exemplo. A justiça no

Brasil, além de paradoxal, vem a ser ilusória.

Diversidade de solos, climas, costumes, gente, vários povos misturados em um só, tantos méritos e

nenhuma vitória que não tenha sido mais do que temporária. O amor à pátria a cada dia fica mais

frágil quando deveria se fortalecer, então o que fazer?

Lutar, não travando guerras ou impondo violência. Reivindicar direitos e estipular deveres requer

sabedoria, a liberdade de expressão foi conquistada com muito esforço e perseverança por

brasileiros que queriam gritar e não se calar diante da destruição lenta e contínua de seu país.

Valorizas o nosso e melhorar o Brasil depende não da vontade de cada um, isoladamente, mas sim

do desejo de todos, afinal são mais de cento e trinta milhões de pessoas com interesses diversos

ocupando um mesmo país, e muitas querem vê-lo progredir, no entanto como isso será possível?

Optando por um nacionalismo extremado? Talvez. Para haver mudanças é preciso que se queira

mudar, um Estado politicamente organizado, quem sabe, este Estado: o Brasil.

Tatiana R. Batista

Como melhorar o Brasil

“E nas terras copiosas, que lhes denegavam as promessas visionadas, goravam seus sonhos de

redenção”. Com estas palavras José Américo de Almeida, em seu livro “A Bagaceira”, conseguiu

caracterizar um Brasil que, há quinhentos anos, mantém-se o mesmo: injusto e desigual.

Fome e miséria em meio à fartura e pujança, descontentamento e inércia presentes em um mesmo

povo. Tantas contradições advêm de um processo histórico embasado em inserir o Brasil no

contexto sócio-econômico mundial como um Estado dependente economicamente, subdesenvolvido

tecnologicamente, sendo por isso frágil perante a soberania de um sem-número de países que desde

sempre deteve o controle supremo de o quê, e como tudo deve ser direcionado.

De colônia à república, sendo monarquia ou não, a aristocracia se mantém presente, forte e

imponente, segura habilidosamente “as rédeas” deste “carro desgovernado” chamado,

anteriormente, de Terra brasilis. É estranho pensar que um vasto território, em que se afirma vigorar

o “governo de todos e para todos” pertença na realidade a um restrito grupo que não deseja

alterações de qualquer tipo, por considerar a atual situação do Brasil ideal. O ideal seria

desconsiderar tais argumentos, sendo estes inválidos e inadmissíveis, uma vez que altos níveis de

desemprego, corrupção, carência nos diversos setores públicos..., não correspondem ao que se

espera para haver uma elevação no padrão de desenvolvimento de um país.

A globalização, tão comentada em todo o mundo, só ratifica ainda mais um processo que, aos olhos

de todos, parece inevitável: a colonização do mundo, a preponderância de uns poucos Estados

politicamente organizados sobre o resto do planeta. O Brasil virando colônia, principalmente, dos

Estados Unidos da América. A submissão completa.

Deste ponto de vista (que pode ser o único), a situação se apresenta de forma grave. Alarmante,

porém é a falta de soluções.

Pior, talvez seja a falta de interesse em mudanças. Já foram privatizadas a (Companhia Vale do Rio

Doce, a Siderúrgica Nacional, logo em breve a Petrobrás e o Banco do Brasil, símbolos da

soberania nacional. Vivemos em um mesmo espaço o qual cada vez mais deixa de nos pertencer,

Page 17: Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

estamos enfraquecidos, o nacionalismo se enfraquece se a nação única deixa de existir. Não se pode

afirmar que uma atitude revolucionária seja o melhor caminho ou o caminho certo, no entanto a

passividade neurastênica da população jamais resolverá nada. O exercício da cidadania é necessária

para implantar a verdadeira cidadania. Consciência política e senso de justiça o pior obstáculo a ser

contornado é a alienação, conseqüência da ignorância que cerca a maior parte da população, sem

acesso à cultura.

O primeiro passo já foi dado: conhecer os problemas e, mesmo que superficialmente, pensar a

respeito. Ufanismo, utopia, sonho, perseverança e luta. A coragem precisa de esperança, o homem

precisa de ambas para sobreviver e lutar. Se o povo brasileiro é naturalmente corajoso, lutemos

agora para seguir em frente e firmar este país como soberano e forte que é.

Tatiana R. Batista

A corrupção no Brasil

Durante todo o processo de formação cultural do povo brasileiro, o trabalho nunca foi considerado

uma atividade digna, a riqueza, mesmo ilícita era a grande nobreza e a comprovação da

superioridade.

No período colonial, o trabalho para o português recém-chegado toma-se um ato ignóbil, explorar o

bugre e o negro é a maneira de se viver numa terra nova, onde a “esperteza” de sempre tirar lucros e

ganhar, mesmo através da trapaça, é considerada uma virtude.

No império e na república oligárquica, a história se repete e sempre está a favor de uma aristocracia,

que desrespeita a condição humana, com suas atitudes nepóticas e de extrema fraternalidade entre

os iguais mineiros e paulistas.

Nos períodos seguintes, a rede de corruptos se mostra e toma contorno urbanos, onde a população

adquire maior intelectualidade e passa a exigir um maior respeito e que pelo menos se disfarcem os

roubos contra nossa população de miseráveis e condicionados.

Já cansada pelos quinhentos anos de “falcatruas” justificadas e pela explosão de novas “bombas”, a

cada dia a população apercebe-se. em fim, do maquiavelismo político e rejeita as soluções prontas e

maternais da pátria mãe gentil.

Esperamos que, nos próximos anos, a política brasileira tome-se mais séria, rejeite o dito

maquiavélico e trate o trabalho como um meio de ascensão e de dignificação do homem e não como

um ato oprobriante.

Tiago Barbosa