Conceitos Técnicos e Econômicos para a Sustentabilidade da...

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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Gado de Leite Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Conceitos Técnicos e Econômicos para a Sustentabilidade da Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira Editores Técnicos Marne Sidney de Paula Moreira William Fernandes Bernado Juiz de Fora/MG 2011 Encontro de Produtores de Muriaé 2011.indd 1 20/06/2011 08:40:51

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Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaEmbrapa Gado de Leite

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Conceitos Técnicos e Econômicos para a Sustentabilidade da Bovinocultura Leiteira na Zona

da Mata Mineira

Editores TécnicosMarne Sidney de Paula Moreira

William Fernandes Bernado

Juiz de Fora/MG2011

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Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:Embrapa Gado de LeiteÁrea de Negócios Tecnológicos – ANTRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 Juiz de Fora – MGTelefone: (32)3311-7400Fax: (32)3311-7424e-mail: [email protected] page: http//www.cnpgl.embrapa.br

Supervisão editorial: Marne Sidney de Paula Moreira, William Fernandes BernardoEditoração eletrônica e tratamento das ilustrações: Carlos Alberto Medeiros de MouraRevisão Bibliográfica: Inês Maria RodriguesFoto da capa: Embrapa Gado de LeiteArte da capa: Giulia Drumond (estagiária)

Comissão Organizadora: Marne Sidney de Paula Moreira, William Fernandes Bernardo, Edson Curi, Evandro Luiz Lopes Lelis, João Lúcio de Almeida Silveira, José Maria Pinto da Silva, Luiz Eugênio Modesto, Manoel Theodoro de Carvalho Filho, Paulino José Melo Andrade, Ricardo Tadeu, Rodolpho de Almeida Torres, Éder Sebastião dos Reis, Carlos Alberto Medeiros de Moura

1ª edição

1ª impressão (2011): 700 exemplares

© Embrapa 2011

Todos os direitos reservadosA reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).

CIP-Brasil. Catalogação-na-publicação.Embrapa Gado de Leite

Conceitos Técnicos e Econômicos para a Sustentabilidade da Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira, MG / Marne Sidney de Paula Moreira... [et al.]. – Juiz de Fora : Embrapa Gado de Leite, 2011. 173 p.

ISBN 978-85-7835-019-2

1. Estratégia de alimentação. 2. Saúde rural. 3. Integração pecuária-lavoura-floresta. 4. Crédito rural. 5. Indicadores zootécnicos. 6. Pecuária de baixo carbono. 7. Produção de leite. 8. Exploração intensiva de gramíneas. 9. Sanidade animal. 10. Projeto ouro branco I. Moreira, Marne Sidney de Paula. II. Bernardo, William Fernandes.

CDD 636.214

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Autores/Editores

Fernanda Samarini MachadoMédica Veterinária, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Luiz Gustavo Ribeiro PereiraMédico Veterinário, Ph.D. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Marcelo Neves PintoMédico Veterinário - Doutor em ZootecniaDiretor Técnico Valor Orientações Agropecuá[email protected]

Fernando Pimont PôssasMédico Veterinário – Mestre em ZootecniaConsultor Técnico Valor Orientações Agropecuá[email protected]

Carlos Augusto Miranda GomideEngenheiro Agrônomo, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Domingos Sávio Campos PaciulloEngenheiro Agrônomo, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Alexandre Magno Brighenti dos SantosEngenheiro Agrônomo, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

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Marcelo Dias MullerEngenheiro Florestal, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Fausto de Souza SobrinhoEngenheiro Agrônomo, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Carlos Eugênio MartinsEngenheiro Agrônomo, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Paulino José Melo AndradeEngenheiro Agrônomo, M.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Wadson Sebastião Duarte da RochaEngenheiro Agrônomo, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

José Ladeira da CostaEngenheiro Agrônomo, D.Sc.Rua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Fernando Ferreira PinheiroMédico Veterinário, M.Sc.Analista de Captação de LeiteCoordenador de Qualidade do LeiteGerência de Suprimento de Leite [email protected]

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Marne Sidney de Paula MoreiraCientista Social – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Antônio Cândido Cerqueira Leite RibeiroMédico Veterinário, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Armando da Costa CarvalhoAssistente – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Carlos Alberto dos SantosEngenheiro Agrônomo, M.Sc. Rua Vicente Mazini, 265/801 36021-010 – Juiz de Fora, [email protected]

Edna Froeder ArcuriPesquisadora, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Fábio Homero DinizEngenheiro Agrônomo, M.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Guilherme Nunes de SouzaMédico Veterinário, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

José Barbosa Nunes – In memorianTécnico Agropecuário Emater – MG

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José Renaldi Feitosa de BritoMédico Veterinário, Ph.D. – Polo de Excelência do LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Luciano Castro Dutra de MoraesAssistente – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e BritoFarmacêutica – Bioquímica, Ph.D. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Rosângela ZoccalZootecnista, M.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Evandro Luiz Lopes LelisZootecnistaEscritório de Rosário da LimeiraEmater – MGrosá[email protected]

William Fernandes BernardoEngenheiro Agrônomo, M.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Carlos Geovane Rodrigues QueirozBanco do Brasil S/A Gerente de Mercado de Agronegócios36880-000 – Muriaé, MG

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Luiz Eugênio ModestoEngenheiro AgrônomoBanco do Brasil S/A36880-000 – Muriaé, [email protected]

João Lúcio de Almeida SilveiraEngenheiro AgrônomoConsultec Consultoria Agroempresarial LtdaAv. Comendador Freitas, 132 – Centro36880-971 – Muriaé, [email protected]

Marcelo Henrique OtenioFarmacêutico – Bioquímico, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Márcia Cristina de Azevedo PrataMédica Veterinária, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

John FurlongMédico Veterinário, D.Sc. – Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, [email protected]

Wagner DutraPrefeito MunicipalRua Miguel Gonçalves Gomes, s/n36893-000 – Miradouro, MG

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Apresentação

Nos últimos dez anos nós, brasileiros, assistimos e vivenciamos uma das mais importantes mudanças sociais da história nacional. No governo Kubitschek, por exemplo, o país crescia economicamente pela chegada de grandes indústrias, pela construção de estradas e ferrovias. O avanço social, no entanto, foi pequeno. Ou seja, o povo via o crescimento econômico, mas pouco se beneficiava dele. Ao longo dos governos seguintes as desigualdades e a pobreza persistiram e até se agravaram.

Ainda que carente exatamente desta infra-estrutura básica e necessária ao seu desenvolvimento pleno, ultimamente o país cresceu em termos sociais. A diferença é que agora o povo, e especialmente os mais pobres, puderam tirar proveitos deste crescimento. Vinte e oito milhões de pessoas saíram da pobreza absoluta e trinta e seis milhões subiram para a classe média. Mais do que os programas sociais de transferência de renda (bolsa família, seguro desemprego) e o aumento dos beneficiários de aposentadorias, o maior impacto em termos econômicos e sociais foi o aumento real de 54% do salário mínimo naquele período. Além de servir como valor-referência para outras faixas de salário, mais de 15 milhões de brasileiros passaram a obter salários com direitos garantidos.

A batalha de combate à miséria não está vencida, pois ainda restam dezesseis milhões de brasileiros vivendo em condições de pobreza extrema. Se a economia do país e as políticas sociais continuarem favoráveis, este será mais um contingente que ingressará no mercado de consumo. Mas o que esse assunto significa em termos de produção de leite? Esta é a pergunta.

O Brasil, em sua história, carregou uma espécie de vício econômico de exportação: o algodão, a seringueira, a cana-de-açúcar, o café, o minério de ferro e outros. Com os olhos para o exterior, pouco se observava a importância do mercado interno. Este é o ponto importante. O nosso mercado interno mudou e o consumo pelos brasileiros tornou-se extremamente importante.

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O leite, assim como outros produtos nacionais, pode agora ser vendido internamente em maior quantidade exatamente porque há mais pessoas com dinheiro suficiente para comprar. Observa-se também que os compradores não apenas adquirem mais produtos, mas querem produtos diferentes. Temos agora um mercado com duas características: mais pessoas para consumir leite e compradores que desejam iogurte light, leite desnatado, leite com acréscimo de vitaminas, dentre outras inúmeras possibilidades.

Todo este mercado interno não menospreza o atraente mercado externo ainda em expansão, como países da Ásia e África. Em todos os casos, interno e externo, o comprador demanda maior volume de leite e também um produto de qualidade. Quando se fala em sustentabilidade é preciso enxergar o futuro sustentável. É preciso pensar em um mercado consumidor promissor (em primeiro lugar) e em outros atributos, como os aspectos de meio ambiente e as questões sociais nos locais de produção de leite.

Para alcançar estas demandas é necessário mudar algumas atitudes e práticas não só nas indústrias, mas especialmente na produção de leite, isto é, dentro das fazendas. As informações para atender a estes requisitos de mercado são tratadas no 8o Encontro de produtores de leite da Zona da Mata Mineira e abordadas neste livro.

Comissão Organizadora

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Sumário

Capítulo 1. Planejamento alimentar para rebanhos leitei-ros ...........................................................................11

Capítulo 2. Exploração intensiva de gramíneas tropicais para produção de leite .................................................33

Capítulo 3. A pecuária de leite na integração lavoura--pecuária-floresta .......................................................53

Capítulo 4 . Indicadores técnicos de eficiência e renda de sistemas de produção de leite a pasto ......................79

Capítulo 5. Remuneração como incentivo à qualidade do leite ..........................................................................95

Capítulo 6. Produção de leite de qualidade com a tecno-logia “kit Embrapa de ordenha manual” .......................107

Capítulo 7. O caso da Fazenda Independência ..............117

Capítulo 8. Soluções em agronegócio .........................127

Capítulo 9 . Água e esgoto na propriedade rural - Quali-dade da água - Processo de captação e tratamento .......133

Capítulo 10 . Carrapato e vermes: ação preventiva reduz prejuízos .................................................................149

Capítulo 11. Prêmio mineiro de boas práticas na gestão municipal ................................................................161

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Capítulo 1

Planejamento alimentar para rebanhos leiteiros

Fernanda Samarini Machado, Marcelo Neves Ribas, Fernando Pimont Pôssas, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira

A alimentação é um dos itens que mais onera os sistemas de produção de leite, chegando representar de 40% a 60% do custo total. Assim, a eficiência econômica na produção é dependente do planejamento alimenta do rebanho.

Entre as variáveis que interferem no desempenho dos animais, os fatores nutricionais podem ser controlados de modo direto e apresentam resposta em um período relativamente curto. Entretanto, tomadas de decisões acertadas, demandam conhecimento sobre nutrição animal. Dietas desbalanceadas podem comprometer a produção de leite, o ganho de peso, a eficiência reprodutiva e do sistema produtivo.

Para a implantação de um adequado programa nutricional, devem ser trabalhadas todas as etapas envolvidas na alimentação animal: produção do alimento; controle de qualidade e composição química dos alimentos; formulação e balanceamento da dieta; adequada mistura dos ingredientes e fornecimento aos animais e; Monitoramento bioeconômico do planejamento alimentar. Esta palestra tem como objetivo apresentar os princípios básicos para a elaboração do planejamento alimentar de rebanhos leiteiros.

O que é uma ração balanceada?

O balanceamento da ração consiste no ato de combinar de forma técnica os alimentos que irão ser consumidos baseados nas quantidades

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necessárias para suprir as demandas nutricionais diários dos animais para um determinada produção de leite. Uma ração está balanceada quando os nutrientes necessários para uma determinada condição (ex: produção, ganho de peso) estão presentes no alimento ingerido no período de 24 horas, de forma equilibrada, constante e, que preferencialmente permitam retorno econômico ao produtor.

Por que é importante balancear rações?

Quando uma ração não está balanceada, o bovino poderá ingerir alguns nutrientes em excesso e outros em quantidades insuficientes. Alguns desbalanceamentos podem ter conseqüências drásticas e, se não corrigidos, podem causar morte súbita do animal.

Sintomas específicos ajudam a identificar os desbalanceamentos, porém, na maioria das situações, os desbalanceamentos se apresentam na forma sub-clínica, ocorrendo por exemplo, um simples decréscimo da produção, o que dificulta a percepção e aumenta o tempo de tomada de decisão para a solução do problema, impactando de forma representativa e negativa no sistema de produção.

Vacas leiteiras com alto potencial genético para produção são mais sensíveis aos efeitos negativos dos desbalanceamentos. O balanceamento de dietas visa melhorar a utilização dos recursos disponíveis, evitando tanto a queda no desempenho animal como o desperdício de nutrientes, contribuindo assim para que os sistemas de produção sejam economicamente viáveis.

Quais são os critérios para formular uma ração?

Os alimentos disponíveis na natureza contêm os nutrientes que os bovinos necessitam (proteínas, carboidratos, lipídeos, minerais, etc.) em diferentes proporções. Nenhum alimento consegue por si só atender as exigências nutricionais totais de um animal. Balancear uma ração consiste em encontrar a combinação adequada desses alimentos para que sejam fornecidas a quantidade e a proporção de

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

nutrientes que o animal necessita para se manter, para crescer, para engordar, para produzir leite, para reproduzir e para o crescimento do feto (fêmeas).

Em alguns sistemas (animais confinados), o homem tem completo controle sobre o tipo e a proporção dos vários ingredientes da ração, e isto tende a facilitar o balanceamento de dietas. Em contrapartida, em sistemas baseados a pasto, o balanceamento da dieta torna-se mais difícil, devido à capacidade de seleção do animal, bem como à determinação incorreta da quantidade de pasto ingerida pelos animais. Desta forma, para aumentar a eficiência na formulação de dietas a partir de cálculos matemáticos, manuais ou por computadores, deve-se atentar para aspectos relacionados aos animais, aos alimentos e ao manejo realizado. Assim, as seguintes perguntas devem ser respondidas: Qual animal alimentar? Quais alimentos estão disponíveis? e Como alimentar?

Qual animal alimentar?

Para balancear uma dieta é importante conhecer o animal que está sendo alimentado e quais as suas exigências nutricionais. Os principais fatores que afetam a exigência nutricional dos animais são:

• Raça• Peso corporal• Desempenho: produção de leite ou ganho de peso• Escore corporal• Composição do leite (% de gordura)• Estádio de lactação e reprodução• Número de lactações

A exigência nutricional dos animais é influenciada pelas características fisiológicas do animal descritas acima, mas também pelos fatores ambientais (condições climáticas, quantidade de lama, relevo das pastagens) e pelos fatores relacionados ao manejo (distância diária percorrida, tipo de instalações). Onde estas informações podem ser obtidas?

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Estas informações vêm sendo disponibilizadas em publicações periódicas sobre normas e padrões de alimentação para rebanhos leiteiros. O desenvolvimento do Sistema de Energia Líquida da Califórnia em 1968 e o trabalho realizado em Beltsville sobre exigências de energia líquida em 1971 são marcos referenciais na pesquisa de exigências nutricionais e permitiram as primeiras publicações das normas e padrões de alimentação de bovinos nos Estados Unidos: o “Nutrient Requirement of Dairy Cattle” em 1971, com a sétima revisão/edição publicada. A sétima edição do “Nutrients Requirements of Dairy Cattle (NRC)”, publicada em janeiro de 2001 é uma referência dos recentes avanços em nutrição de vacas leiteiras. Outros exemplos de normas e padrões de alimentação são as publicadas na França pelo INRA, no Reino Unido pelo AFRC e na Austrália pelo CSIRO. Na Tabela 1 são apresentados dados de exigências nutricionais compilados do NRC e CNCPS v. 4.0.

Para que a dieta balanceada reflita adequadamente a exigência nutricional dos animais, é importante trabalhar o rebanho em lotes de produção formando grupos mais homogêneos. Na maioria das propriedades são

Tabela 1. Estimativa de exigência nutricional de vacas da raça Holandês,

determinadas pelo NRC 2001, e vacas mestiças (Holandês x Zebu)

determinadas pelo modelo CNCPS v. 4.0.

Peso vivo

(kg)

PL

(kg/dia)

DEL

(dias)

Energia*

(Mcal/dia)

NDT

(kg/dia)

PM

(kg/dia)

Ca

(g/dia)

P

(g/dia)

Vacas da raça Holandês

400 5 270 13,90 4,94 0,493 22,4 7,9450 10 200 16,10 5,72 0,547 26,5 9,9

500 15 150 20,40 7,24 0,776 34,2 14,5

550 20 100 24,70 8,77 1,005 41,9 19,1

550 25 60 28,20 10,01 1,229 48,0 23,6

Vacas da mestiças (Holandês x Zebu)

400 5 270 19,88 5,51 0,409 22,0 8,0

450 10 200 24,49 6,79 0,586 27,0 11,0

500 15 150 30,34 8,41 0,804 34,0 16,0

550 20 100 36,63 10,15 1,040 42,0 21,0

550 25 60 41,92 11,62 1,254 48,0 26,0

*Energia Líquida para as vacas da raça Holandês e energia metabolizável para vacas mestiças.

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15Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

as instalações que determinam quantos grupos poderão ser formados na fazenda, mas de acordo com as necessidades nutricionais e estado reprodutivo das vacas, os seguintes grupos poderão ser formados em rebanhos leiteiros:

• Início de lactação – vacas com alta produção• Terço médio da lactação – vacas a serem inseminadas• Final da lactação – vacas a serem secas• Primíparas – vacas ainda em crescimento• Vacas secas• Vacas no pré-parto

Com a formação de lotes homogêneos, as dietas tenderão a atender adequadamente as necessidades de cada fase em que os animais se encontram, o que é fundamental para o êxito do planejamento alimentar do rebanho.

Quais Alimentos estão disponíveis?

Os alimentos são classificados de acordo com os seus conteúdos de fibra bruta e de outros nutrientes, em cinco grandes grupos.

Grupo 1 - Alimentos volumosos: São os que contêm mais de 18% de fibra bruta (FB) na matéria seca e englobam forrageiras secas e grosseiras (fenos e palhas), pastagens cultivadas, pastos nativos, forrageiras verdes e silagens.

Grupo 2 - Alimentos concentrados: São os que possuem menos de 18% de fibra bruta (FB) e podem ser divididos em:

a) Concentrados energéticos: Contêm menos de 20% de proteína bruta (PB). Como exemplos têm-se: milho, sorgo, trigo, aveia, cevada, frutas, nozes e algumas raízes.

b) Concentrados protéicos: Contêm mais de 20% de PB e têm-se como exemplo os farelos de soja, de amendoim, de girassol, de algodão, glúten de milho e alguns subprodutos de origem animal, tais como a farinha de peixe.

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Grupo 3 - Suplementos minerais: São fontes de macronutrientes como Cálcio (Ca), Fósforo (P), Potássio (K), Cloro (Cl), Sódio (Na) e Magnésio (Mg), que são expressos em percentagem, e de micronutrientes como Cobalto (Co), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Iodo (I) Selênio (Se) e Zinco (Zn), que são expressos em parte por milhão (ppm) ou miligrama por quilograma (mg/kg).

Grupo 4 - Suplementos vitamínicos: Constituem-se de misturas de vitaminas que são adicionadas às rações, para complementar as deficiências dos alimentos. São pouco utilizadas em rações de ruminantes no Brasil.

Grupo 5 - Aditivos: Os aditivos entram em pequenas quantidades nas rações e são compostos por antibióticos, corantes, anabolizantes, hormônios, antioxidantes, fungicidas, palatabilizantes, leveduras, tampões e enzimas fibrolíticas.

Para todos os alimentos incluídos na dieta, é importante saber:• O teor de umidade e a composição química (energia, proteína

bruta, fibra bruta, minerais e vitaminas)• Atributos específicos e os limites máximos de utilização de cada

alimento

As composições químicas dos alimentos utilizados para formular dietas devem, sempre que possível, ser obtidas a partir da análise laboratorial, principalmente quando se trabalha com coprodutos agroindustriais que apresentam grande variação na composição química. Para alimentos usuais e para situações em que não é possível realizar análise laboratorial, têm sido utilizadas tabelas de composição química ou banco de dados de programas de computadores (Tabelas 2 e 3).

Entretanto, o simples conhecimento da composição química dos alimentos não é suficiente para que os mesmos sejam corretamente utilizados. Torna-se necessário conhecer seus atributos específicos como: presença de fatores antinutricionais, digestibilidade e efetividade

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17Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

da fibra, teor de óleo, relação Ca:P, os quais determinarão os limites máximos de utilização (Tabelas 4 e 5).

Tabela 2. Composição química de alimentos concentrados energéticos

mais usuais. Nutrientes expressos na matéria seca.

Alimentos energéticosMS

(%)

PB

(%)

NDT

(%)

FDN

(%)

FDA

(%)

EE

(%)

Ca

(%)

P

(%)

Arroz farelo desengordurado 89,4 17,5 77,7 25,5 14,3 2,2 0,10 1,68Arroz farelo integral 88,7 13,9 83,6 24,1 14,1 16,1 0,12 1,65

Mandioca raspa integral 87,6 3,3 72,2 23,6 9,9 0,7 0,23 0,06

Melaço em pó 85,2 3,1 69,8 6,0 3,0 1,5 1,50 0,15

Milheto grão 88,5 13,6 76,4 15,9 7,7 5,1 0,05 0,23

Milho grão 87,6 9,1 87,2 14,0 4,1 4,0 0,03 0,25

Milho floculado 90,5 8,9 - 11,1 5,2 3,4 0,03 0,28

Milho (silagem do grão) 67,8 8,6 78,5 8,1 4,2 4,0 0,03 0,23

MDPS 87,8 7,7 65,5 31,8 14,4 2,7 0,04 0,21

Polpa cítrica 87,9 7,2 65,2 24,3 23,0 3,3 1,84 0,16

Soja casquinha 89,8 11,6 68,8 68,4 50,5 1,6 0,59 0,21

Sorgo grão 87,9 9,5 80,3 14,2 6,3 3,0 0,04 0,28

Trigo farelo 88,0 16,6 72,4 44,3 13,5 3,5 1,00 0,01

Tabela 3. Composição química de alimentos concentrados protéicos mais

usuais. Nutrientes expressos na matéria seca.

Alimentos protéicosMS

(%)

PB

(%)

NDT

(%)

FDN

(%)

FDA

(%)

EE

(%)

Ca

(%)

P

(%)

Algodão caroço 91,0 22,6 81,9 46,0 35,8 18,9 0,33 0,75Algodão farelo (28% PB) 89,7 32,2 69,8 36,7 31,2 1,9 0,26 0,84

Algodão farelo (38% PB) 89,9 40,9 68,3 34,9 24,2 1,9 0,24 1,00

Algodão torta 89,0 33,8 50,9 55,7 32,6 9,7 0,35 0,10

Amendoim farelo 89,7 58,3 85,6 13,9 11,0 0,32 0,14 0,71

Babaçu farelo 89,6 20,7 49,4 78,5 48,1 2,0 0,09 0,49

Canola farelo 90,1 40,0 77,8 30,7 21,8 1,3 0,67 0,86

Feijão resíduo 87,1 23,8 71,7 18,5 11,4 1,6 1,25 0,35

Girassol farelo 91,8 35,4 64,0 42,4 30,9 2,1 0,73 0,92

Mamona farelo (detoxicado) 90,2 40,6 - - 48,0 1,3 0,71 0,71

Milho glúten farelo 88,5 24,4 73,5 39,5 10,0 3,2 0,04 0,49

Soja farelo 88,6 48,8 81,5 14,6 9,9 1,7 0,34 0,58

Soja grão 91,2 39,0 84,5 17,5 13,2 19,9 0,27 0,53

Uréia 97,5 282 - - - - - -

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18Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Os volumosos (silagens, pastos, fenos e palhadas) geralmente são os alimentos que entram em maior quantidade na dieta dos ruminantes.

Alimentos Características

Arroz farelo integral

Contém 12% de óleo o que aumenta o risco de rancificação e

redução da digestibilidade da fibra. Utilizar no máximo até

30% do concentrado de animais adultos

Arroz farelo desengordurado

Baixo teor de extrato etéreo o que reduz os riscos com

rancificação. O produto é pulverulento e de difícil mistura com

outros ingredientes. Utilizar no máximo 1,5 kg/animal/dia ou

até 50% do concentrado de animais adultos

Mandioca farinha integral

Produto com alta densidade energética e rápida degradação

ruminal. Sem restrições de utilização para ruminantes,

podendo substituir o milho

Melaço

Subproduto da fabricação de açúcar utilizado par a aumentar a

palatabilidade da dieta. Não deve ultrapassar 30% do

concentrado

Milho grão

Sem restrições para alimentação de ruminantes. Deve ser

realizada a moagem fina para melhorar o aproveitamento do

amido.

Milho (silagem do grão)

Grão colhido antes da maturação e armazenado na forma de

silagem. Apresenta maior degradação do amido no rúmen

Polpa cítrica

Atenção especial aos níveis de Ca e P em elevadas inclusõesde polpa cítrica. Sugere-se substituição de no máximo 40% de

milho por polpa cítrica.

Soja casquinha

Melhoram o ambiente ruminal devido ao baixo teor de amido e

alto teor de fibra digestível. Utilizar até no máximo 40% da

matéria seca da dieta total.

Sorgo grão

Fonte energética baseada em amido. Substitui totalmente o

milho em animais de méd ia a baixa produção e parcialmente

em animais de alta produção.

Tabela 4. Características e níveis de inclusões de alimentos concentrados

energéticos mais usuais.

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19Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Tabela 5. Características e níveis de inclusões de alimentos concentrados

protéicos mais usuais.

Alimentos Características

Algodão caroço

Boa fonte de energia (óleo), proteína e fibra (lí nter). Não

utilizar para machos reprodutores devido ao gossipol. Utilizar

no máximo até 2,5 kg/animal/dia para animais adultos ou 20%

da matéria seca da dieta total (devido ao óleo).

Algodão farelo

Evitar a utilização concomitante de algodão farelo e caro ço.

Para bezerros, utilizar no máximo até 20% da matéria seca do

concentrado.

Amendoim farelo

Observar atentamente os níveis de aflatoxina (<50 ppb) e o

grau de rancificação quando armazenado em ambientes

inadequados. Utilizar no máximo até 2,0 kg/animal/ dia paraanimais adultos ou 30% da matéria seca do concentrado.

Babaçu farelo

Rancifica-se facilmente em longos períodos de armazenamento

dependendo do nível de óleo.

Girassol farelo

Se utilizado em altas inclusões altera a composição de gordura

de leite. Utilizar no máximo até 1,5 kg/animal/dia para animais

adultos ou 20% da matéria seca do concentrado.

Milho glúten farelo

Sem restrições quanto ao seu uso na dieta de bovinos.

Necessita a complementação com outras fontes de proteína

devido ao balanço inadequado de aminoácido.

Soja farelo

Sem restrições quanto ao seu uso na dieta de bovinos. A

substituição do farelo de soja por outro ingrediente só se

justifica pelo custo de produção.

Soja integral

Utilizar no máximo até 20% da matéria seca da dieta total,

pois o excesso de óleo pode comprometer a digestibilidade da

fibra. Evitar a mistura e o armazenamento da soja moída com

uréia.

Uréia

Utilizar no máximo até 1% da matéria seca da dieta total.

Recomendação segura é de 40 g de uréia a cada 100 kg de

peso vi vo. Utilizar mistura de uréia e sulfato de amônia naproporção 9:1, com base na matéria natural.

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20Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

A qualidade dos volumosos tem relação direta com o sucesso do planejamento alimentar e, quanto melhor, menor a necessidade de inclusão de alimentos concentrados e o preço gasto com a alimentação.

Os seguintes fatores devem ser considerados para as forragens:• A espécie forrageira utilizada (gramíneas ou leguminosas;

temperadas ou tropicais);• O estádio de maturação da planta é importante porque influencia

o valor nutritivo da forragem;• A forma física e composição química da fibra são importantes porque

influenciam no tempo de ruminação e potencial de degradação;• Parâmetros de qualidade para avaliar a eficiência de estocagem

de forragens conservadas (silagens e fenos)

Existe grande diferença entre os teores de proteína bruta, fibra (FDN), cálcio e fósforo entre as forrageiras tropicais. À medida que a planta forrageira envelhece, o seu valor nutritivo piora devido ao maior acúmulo de carboidratos estruturais e lignina, e menor porcentagem de proteína bruta e fósforo, provocando queda na digestibilidade da matéria seca ingerida. As diferenças entre a composição química de diferentes forrageiras e entre forrageiras em diferentes idades de corte podem ser observadas na Tabela 6.

No período da seca, em que ocorre redução do crescimento da maioria das forrageiras tropicais, é comum o fornecimento de volumoso no cocho. Existem alguns métodos de conservação de forragens como a fenação e, principalmente, a ensilagem. Na Tabela 7, encontra-se a composição de silagens comumente utilizadas na suplementação de bovinos e outras forrageiras utilizadas in natura.

Para a tomada de decisão sobre quais alimentos devem ser adquiridos, Os seguintes pontos devem ser observados:

• Disponibilidade local• Período de maior oferta no mercado (planejamento da compra)• Custo por unidade de nutriente• Qualidade do alimento (livre de contaminação e uniformidade)• Grau de processamento (aquecimento, peletização, extrusão)

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21Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Ao comparar alimentos concentrados, não é apropriado utilizar seus preços por unidade de peso (kg ou tonelada). O correto é comparar o custo em R$/kg de proteína bruta (PB) ou por kg de NDT, ou ambos. Para simulação do cálculo por nutrientes, serão utilizados três alimentos protéicos hipotéticos denominados de ALIMENTO 1, 2 e 3, que apresentam os seguintes custos por kg: 0,60; 0,42 e 0,51 R$ por kg.

Tabela 6. Composição bromatológica de forrageiras tropicais emdiferentes idades em porcentagem de matéria seca.

ForrageiraIdade

(dias)% MS* % PB % FDN % FDA % Ca % P

Capim-

Braquiarão

0 a 30 14,46 11,04 67,89 33,29 0,94 0,47

31 a 45 21,47 10,65 63,06 31,19 - -

46 a 60 21,49 10,61 83,75 43,55 0,71 0,47

Capim-

Decumbens

0 a 30 21,21 12,32 77,93 37,55 0,61 0,42

31 a 45 30,23 7,78 - - - 0,30

46 a 60 27,34 9,06 79,96 40,04 0,53 0,35

Capim-Elefante

31 a 45 14,35 14,34 69,84 38,94 0,35 0,27

46 a 60 19,94 9,20 72,28 42,43 0,50 0,54

61 a 90 19,77 9,70 73,94 41,95 0,29 0,29

Capim-Tifton

0 a 30 17,89 11,88 72,65 38,57 0,26 0,26

31 a 45 16,59 9,22 72,34 37,81 0,25 0,21

46 a 60 20,78 7,42 72,31 37,29 0,24 0,20

* A matéria seca está em porcentagem da matéria natural. Matéria Seca (MS),Proteína Bruta (PB), Fibra em Detergente Neutro (FDN), Fibra em DetergenteÁcido (FDA), Cálcio (Ca), Fósforo (P).Fonte: Valadares Filho et al. (2006).

Tabela 7. Composição bromatológica de opções forrageiras para o períodoseco em porcentagem de matéria seca (MS).

Forrageira % MS* % PB % FDN % FDA % Ca % P % NDT

Cana-de-açúcar In natura 28,45 2,74 57,68 34,02 0,20 0,06 62,70

Silagem de Cana-de-açúcar 25,85 4,05 62,26 41,95 0,46 0,03 45,65

Silagem de Capim-Elefante 26,81 5,84 79,13 51,75 0,35 0,13 58,08

Silagem de Girassol 23,87 9,07 46,10 36,02 1,22 0,10 -

Silagem de Milho 30,92 7,26 55,41 30,63 0,30 0,19 64,27

Silagem de Sorgo 30,82 6,69 61,41 35,77 0,30 0,18 57,23

* A matéria seca está em porcentagem da matéria natural. Matéria Seca (MS),Proteína Bruta (PB), Fibra em Detergente Neutro (FDN), Fibra em Detergente Ácido(FDA), Cálcio (Ca), Fósforo (P), Nutrientes Digestíveis Totais (NDT).Fonte: Valadares Filho et al. (2006).

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22Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Na tabela abaixo estão resumidas as etapas necessárias para se obter o custo do kg de PB de cada alimento.

Apesar do ALIMENTO 1 ser mais caro (R$ 0,60/kg), é a alternativa mais econômica na situação apresentada, tendo em vista o menor custo por kg de PB (R$ 1,48). O mesmo raciocínio deve ser aplicado na comparação de alimentos energéticos, procurando determinar o custo por kg de NDT de cada alimento disponível antes da compra.

Como alimentar?

Alguns aspectos da alimentação e do manejo também são importantes por interferirem diretamente no consumo e no desempenho dos animais, porém são difíceis de serem quantificados. Segue abaixo uma série de características de um programa de alimentação que pode afetar a utilização de uma ração balanceada e que devem ser consideradas nos cálculos:

• Palatabilidade dos alimentos utilizados• Freqüência de fornecimento da dieta• Método de fornecimento (dieta completa, concentrado separado)• Alimentação individual ou em grupo• Freqüência de limpeza do cocho• Instalações (espaço de cocho, tipo de piso, sombreamento)

A estimulação do consumo, além de proporcionar maior produção pelos animais, permite a substituição de insumos nobres como o milho e o farelo de soja por sub-produtos com menor teor de energia ou de proteína, ou até mesmo reduzir a proporção de alimento concentrado em relação ao volumoso. Diversas ações de manejo têm demonstrado efeito positivo sobre o consumo de alimento por animais confinados, como o aumento na freqüência de trato e a limpeza de cocho. O simples fato de mexer a dieta no cocho já desperta o interesse do bovino que retorna a alimentar.

Alimento PB (% MS) MS (%) PB (% MN)Preço

(R$/kg)

Custo da

PB (R$/kg)

1 46,00 88,00 40,48 0,60 1,48

2 26,00 85,00 22,01 0,42 1,91

3 40,00 80,00 32,00 0,52 1,62

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23Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Com relação ao método de fornecimento, a utilização de dieta completa, além de facilitar o balanceamento por garantir que os animais estão consumindo todos os alimentos de forma proporcional, também garantirá um adequado ambiente ruminal. A presença da forragem junto com o concentrado estimula a ruminação e a salivação do animal, o que mantém o pH do rúmen em níveis aceitáveis (5,8 a 6,4) auxiliando assim na prevenção de distúrbios metabólicos como a acidose.

Para as propriedades que adotam o fornecimento de alimentos concentrados separado dos alimentos volumosos, aumenta-se o risco de distúrbios metabólicos, pois a rápida fermentação do amido pode promover o abaixamento do pH ruminal a níveis críticos em poucas horas. Nestas condições, podem ser recomendados a utilização de ingredientes (grupo dos aditivos) que auxiliam na modulação do pH como bicarbonato de sódio e óxido de magnésio.

Para o correto balanceamento de rações, devem ser selecionados alimentos de todas as classes que comporão a mistura final para os animais, buscando sempre volumosos, concentrados energéticos, concentrados protéicos, suplementos minerais e vitamínicos. Agindo dessa forma, elevam-se as possibilidades de atingir os objetivos dos cálculos, pois se têm alimentos que possuem concentração de nutrientes acima e abaixo das exigências nutricionais. Isso porque as características nutritivas de cada classe de alimentos são peculiares e garante tal heterogeneidade e complementaridade entre os nutrientes de cada ingrediente. Além da composição química, as características de mercado já citadas deverão ser levadas em consideração.

Qual é o método de formulação mais adequado?

O mais importante não é o método utilizado. Desde que as exigências nutricionais sejam atendidas, qualquer método pode ser considerado bom. O importante é fazer o acompanhamento dos resultados das dietas formuladas, verificando se o nível produtivo e/ou reprodutivo encontra-se no patamar desejado (esperado).

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24Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Quais nutrientes devem ter prioridade no balanceamento?

Via de regra, dá-se prioridade para a fração protéica e energética. Entretanto, os demais nutrientes também vão exercer papel fundamental no desempenho e saúde do animal. Segue abaixo algumas considerações relevantes à formulação de dietas totais sobre alguns nutrientes:

Fibra: O teor de fibra tem grande importância para o balanceamento, pois está relacionado com a capacidade de consumo dos animais, a estimulação da ruminação e do pH do rúmen, bem como ao teor de energia da dieta. O NRC 2001 sugere limites mínimos e máximos de FDN de acordo com a fonte desta fração fibrosa (forragem x alimento concentrado):

Proteína: Para as fontes protéicas, a fração não degradável no rúmen (PNDR), resistente às proteases e peptidases microbianas, passa direta-mente ao abomaso e intestino delgado para sofrer digestão. Neste caso, os aminoácidos e pequenos peptídeos resultantes do processo digestivo são absorvidos e lançados na circulação portal, de forma semelhante à que ocorre em monogástricos. Já a fração degradável no rúmen (PDR) é convertida basicamente em amônia e utilizada para a síntese de proteína microbiana. Dietas com mais de 40% PNDR, em relação ao teor de PB

Nutrientes Mínimo Máximo OBS

FDN 27 a 28% 42 a 44%Dependerá do tamanho da partícula e se o FDN é

de origem forrageira ou de alimento concentrado

FDA 19 a 21% - -

CNF 30 a 32% 42 a 45% -

PDR 60% 70% Valores em relação a PB

PNDR 30% 40% Valores em relação a PBEE 1 a 2% 6 a 8% Depende do grau de insaturação da gordura

FDN (forragem) FDN (mínimo) FDN (máximo) CNF (máximo)

19 25 44 44

18 27 42 42

17 29 40 40

16 31 38 38

15 33 36 36

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25Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

total da dieta, podem reduzir o consumo e a digestibilidade de alimentos, em função de um insuficiente suprimento de PDR para otimizar o cresci-mento microbiano e a fermentação ruminal.

Softwares de formulação de dietas

São inúmeros os programas de computador para balanceamento de rações e/ou concentrados para bovinos. Os programas visam minimizar os custos de produção da ração ou vislumbram a resposta fisiológica e bioquímica dos animais dos rebanhos. Seja qual for o programa ou o método de programação, é importe ressaltar, que por mais apurado que seja o cálculo realizado, não torna dispensável o pleno e completo conhecimento de nutrição de ruminantes para operá-los. Em suma, o acompanhamento e supervisão do rebanho é fator que pode aumentar, em muito, as chances de sucesso na elaboração, execução e supervisão de programas nutricionais na bovinocultura.

Por fim, e que se reveste de grande importância ao se adquirir um programa computacional para execução de cálculos de ração reside em pontos como:

• O banco de ingredientes (alimentos) presentes no programa, bem como a facilidade de se adicionar novos alimentar;

• Que as exigências nutricionais, quando presentes no próprio pro-grama, deixe margem para que o técnico opte por maiores ou menores níveis nutricionais. Efeitos ambientais (climáticos, hie-rárquicos, sociais, dentre outros) podem impor maior ou menor exigências nutricionais.

• A possibilidade de importação e/ou exportação tabelas de compo-sição de alimentos, exigências nutricionais e relatórios. Programas que exportam relatório em arquivos do tipo .doc, .pdf, .txt, tem sempre grande mobilidade de informação.

• Sempre verificar a existência de upgrade dos programas, e ob-viamente as condições para renovação das licenças de uso dos mesmos.

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26Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Como avaliar o êxito do planejamento alimentar?

Apesar de todos os cuidados no balanceamento de uma dieta e no manejo nutricional, técnicos e produtores devem lançar mão de ferramentas para monitorar o programa nutricional adotado. Os seguintes itens podem ser observados neste monitoramento:

• Desempenho: ganho de peso ou produção de leite• Escore de condição corporal• Composição do leite• Escore de fezes (avaliação visual)

Desempenho

O desempenho, seja ganho de peso ou produção de leite, é fácil de ser medido e é fundamental para o monitoramento do programa nutricional. Para animais jovens, complementar ao ganho de peso, são interessantes de serem monitoradas as avaliações morfométricas, como: altura de cernelha e de garupa, circunferência torácica e comprimento de garupa.

Escore de condição corporal (Ecc)

A condição corporal dos bovinos é mais um dos fatores que afetam as exigências de nutrientes e é uma importante ferramenta para avaliar o metabolismo energético dos animais. O ECC é um indicativo do percentual de gordura corporal que os animais apresentam independente do peso vivo. A condição corporal ou o escore corporal é obtido por meio da avaliação visual dos animais, e devido à sua facilidade, deve ser utilizada de forma constante e rotineira pelos produtores e técnicos. Apesar de ser subjetiva, é bastante acurada quando aplicada a todos os animais pelo mesmo avaliador, sendo que este deve estar devidamente treinado para realizar tal avaliação.

Normalmente, tem sido adotada uma escala de 1 a 5 pontos para bovinos leiteiros, sendo que a pontuação 1 é dada para animais extremamente magros e 5 (leite) são dadas para animais extremamente gordos.

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27Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Composição do leite como ferramenta de monitoramento do planejamento alimentar

A influência do balanceamento da dieta sobre a composição do leite tem chamado a atenção da indústria leiteira e dos pesquisadores durante a última década. A análise dos componentes do leite (gordura, proteína e nitrogênio uréico) é capaz de fornecer informações precisas de disfunções digestivas e/ou metabólicas que estejam ocorrendo com as vacas em lactação, bem como determinar a eficiência com que os alimentos estão sendo aproveitados pelo animal.

Abaixo são apresentadas algumas relações existentes entre composição do leite e manejo alimentar:

Aumentam o teor de gordura no leite:

• Baixa produção de leite• Alto teor de fibra na dieta (FDN)• Perda de peso excessiva no início da lactação• Baixa porcentagem de concentrado na dieta• Substituição de concentrados rico em amido por coprodutos fibrosos

Diminuem o teor de gordura no leite:

• Alta porcentagem de concentrados na dieta• Baixo teor de fibra efetiva na dieta• Alto teor de carboidrato não fibroso (CNF) na dieta• Alimentos muito moídos ou de rápida degradação ruminal• Substituição de forragem por sub-produtos fibrosos• Utilização de inonóforos

Aumentam o teor de proteína no leite:

• Vacas com baixo teor de gordura no leite• Baixa produção de leite• Dietas com alto teor de carboidratos fermentáveis no rúmen• Alta porcentagem de proteína não degradável no rúmen• Fornecimento de forragem de alta qualidade

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28Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Diminuem o teor de proteína no leite:

• Baixa proporção de proteína degradável no rúmen (< 60 a 65% da PB)

• Baixo consumo de matéria seca• Baixo teor de carboidrato não fibroso (CNF) na dieta

Fatores que alteram o teor de nitrogênio uréico no leite (NUL):

Escore de fezes

As fezes dos bovinos podem dizer muito sobre o balanceamento da dieta e o processo digestivo. Nutricionistas e extensionistas têm demonstrado a importância da avaliação das fezes dos bovinos como ferramenta de gestão da nutrição do rebanho devido à riqueza de informações e facilidade de realização.

Como avaliar as fezes dos bovinos?

Inicialmente as fezes são avaliadas pela aparência. Algumas características dos bolos fecais devem ser observadas como: •Cor: A cor das fezes é influenciada pelos alimentos, a quantidade

Proteína do

leite %NUL baixo (<10) NUL ótimo (10 a 15) NUL alto (>15)

< 3,0%

- Deficiência de proteína

bruta na dieta

- Deficiência de PDR

- Deficiência de proteínabruta na dieta

- Deficiência de CHO

fermentável no rúmen

- Deficiência de PNDR

(< 35 a 40% da PB da

dieta)

- Deficiência de aa

essenciais

- Excesso de proteínabruta na dieta

- Excesso de PDR (>

60 a 65% da PB da

dieta)

- Deficiência de CHO

fermentável no rúmen

- Excesso de FDN

- Desbalanço de aa

> 3,2%

- Suprimento adequado

de aminoácidos

- Deficiência de PDR

- Excesso de CHO

fermentável no rúmen

- Balanço adequado de

aminoácidos

- Balanço adequado de

CHO fermentável no

rúmen

- Excesso de PDR (>

60 a 65% da PB da

dieta)

- Deficiência de CHO

fermentável no rúmen- Excesso de FDN

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29Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

de bile, e taxa de passagem do alimento. Fezes de vaca manejadas a pasto é verde escuro, enquanto as dietas com feno são marrons.•Consistência: A consistência das fezes é determinada pelo

teor de umidade e pela quantidade de fibra efetiva da dieta. Normalmente quando são utilizados alimentos secos, as fezes tendem a apresentar consistência firme e o bolo fecal também será mais seco. Nos casos de lesão do intestino grosso ou em quadros de acidose as fezes dos animais tendem a estar mais fluidas.•Tamanho das partículas: A detecção de partículas grandes nas

fezes, tanto de grãos quanto de fibras, sugere que o alimento não está permanecendo tempo suficiente no rúmen para sofrer adequada ruminação e fermentação microbiana. A depressão da digestão ruminal pode estar associada ao baixo pH ou a alta taxa de passagem. Geralmente, quando são consumidas adequadas quantidades de fibra efetiva, o tamanho das partículas fecais é menor e fubá é menos aparente.•Presença de grãos: Por apresentar alta taxa de degradação

no trato digestivo dos bovinos, é incomum encontrar grãos ou pedaços de grãos nas fezes. Nestas situações, os processamentos dos ingredientes dos concentrados devem ser reavaliados para aumentar a exposição dos grãos à degradação. Outro ponto que deve ser avaliado é o balanceamento da dieta (correção de possíveis excessos de amido).•Fezes com bolhas e muco: Quando a alimentação é fermentada

no rúmen, os ácidos orgânicos são absorvidos através do epitélio ruminal, os gases (dióxido de carbono e metano) são eructados e as células microbianas passam para o intestino delgado para a digestão e absorção. Quando os substratos fermentáveis passam para o intestino grosso (ceco e intestino grosso), eles são fermentados por bactérias lá. O gás produzido pela fermentação do intestino posterior pode aparecer como bolhas nas fezes.

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30Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Então, para facilitar a interpretação da avaliação das fezes, tem sido atribuído uma pontuação que vai de 1 a 5 pontos de acordo com a classificação abaixo:

Considerações finais

O sucesso de um planejamento alimentar depende do conhecimento das fases da vida produtiva do animal que esta sendo alimentado, dos alimentos disponíveis, do processo de formulação, balanceamento da dieta, assim como o fornecimento e monitoramento do desempenho bioeconômico.

Referências

BIAGI, J.D. Implicações da granulometria de ingredientes na qualidade de peletes e na economia da produção de rações. Simpósio sobre

Escore Aparência Fatores nutricionais

1

Muito líquidas. As fezes formam um

arco no momento que o bovino está

defecando. Animais com diarréia

Pode estar associado a excesso de

proteína e amido, ou falta de fibra.

2Ainda não forma pilhas e se espalha

quando bate no chão

Pode estar associado a falta de fibra

efetiva na dieta ou à ingestão de

pastagens muito tenras (baixa MS).

3

Aparência semelhante a mingau ou

creme de barbear, com a formação

de um bolo fecal com vários anéis

concêntricos. O bolo fecal já mantém

marcas do pé quando pisado e adere

na sola da bota

Fezes ideais. Sugere adequado

balanceamento da dieta e correto

funcionamento do trato digestivo.

4

As fezes são mais espessas e o bolo

fecal formado tende a ser mais alto.

O bolo fecal mantém marcas do pé

quando pisado não adere facilmente

na sola da bota

Pode estar associados a dietas com

forragens de baixa qualidade e/ou

com falta de proteína. Dietas com

alta proporção de volumoso.

5Bolo fecal firme e seco. Partículas

de fibra muito visíveis

Pode caracterizar quadros de

animais em desidratação ou animais

alimentados com palhadas.

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31Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

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Capítulo 2Exploração intensiva de gramíneas tropicais para

produção de leite

Carlos Augusto de Miranda Gomide, Domingos Sávio Campos Paciullo

Introdução

Os resultados preliminares do censo agropecuário de 2006, revelam uma pequena redução na área de pastagens, passando de 177 milhões de hectares em 1996, para 172 milhões em 2006 (IBGE, 2006). Já a área de pastagens cultivadas no Brasil vem crescendo nos últimos anos. Entre 1985 e 1996 passou-se de 73,7 para 99,6 milhões de hectares (IBGE, 1996). Apesar das dimensões continentais brasileiras, é cada vez maior a pressão ambiental sobre a abertura de novas fronteiras agrícolas. Aliado a este fato, a atual expansão da cultura da cana-de-açúcar e da silvicultura, promovida pelo crescimento do programa de agroenergia, tem representado também um impacto sobre as áreas de pastagem no Brasil, seja pela competição direta entre as atividades, seja pela valorização fundiária que aumenta o custo de oportunidade do uso da terra.

Por um lado, especialistas têm apontado que esta substituição de área de pastagens para as culturas da cana, da soja, do milho etc., pode ser compensada por um aumento de 10% na produtividade dos sistemas pecuários para que se mantenha as atuais produções de leite e carne. Outro aspecto importante a ser considerado, e que de certa forma vem de encontro com o cenário acima, é que, na pecuária, os sistemas produtivos intensivos têm mostrado maior rentabilidade em relação àqueles mais extensivos, desde que conduzidos de forma eficiente.

Neste contexto, o pastejo rotacionado por suas características, que serão

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34Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

abordadas neste texto, é sem dúvida uma opção viável para grande número de propriedades brasileiras sobretudo as produtoras de leite. Esta modalidade de pastejo tem cada vez mais despertado o interesse de técnicos e produtores, sendo seu uso aumentado nas diversas regiões do país.

Contudo, a escolha de um sistema de pastejo é bem mais complexa do que simplesmente adotar algumas técnicas de manejo, uma vez que envolve uma série de variáveis que interagem, como por exemplo a planta forrageira, o animal, o clima e o solo (RODRIGUES & REIS, 1997).

O manejo intensivo de pastagens tropicais preconiza o uso, sob pastejo rotacionado, de gramíneas de alto potencial produtivo na época chuvosa (até 150 kg MS/ha.dia), associado à utilização de áreas com gramíneas de porte baixo e crescimento prostrado, na época seca (EUCLIDES, 2001). Esta recomendação prática concilia a alta taxa de crescimento das gramíneas cespitosas tropicais no verão com a aptidão das espécies estoloníferas para o manejo mais extensivo e até mesmo para a prática do diferimento (vedação do pasto). É importante considerar, também, que em sistemas de produção de leite ou carne pecuários baseados no uso de pastagens, é frequentemente necessário o fornecimento de suplementos volumosos, tais como silagens, fenos e cana-de-açúcar durante a época seca do ano, o que representa uma demanda de área para tais cultivos.

O desempenho animal sob pastejo, expresso em produção por animal, é condicionado por diferentes fatores, como: genética e alimentação prévia do animal, consumo de forragem, valor nutritivo da forragem e eficiência na conversão da forragem consumida. Neste sentido, tem-se que as eficiências nas etapas de conversão da energia solar em produção vegetal é baixa, em torno de 2 a 4%, assim como também a conversão da forragem produzida em produto animal, cerca de 7 a 15% (HODGSON, 1990). Já a eficiência de utilização da forragem apresenta grande amplitude, podendo variar de 40 a 80% (Figura 1), sendo portanto a etapa com maior chance de manipulação.

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35Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Esta figura evidencia a importância em se preocupar com práticas de manejo que permitam otimizar a utilização do pasto. Tal aspecto ganha relevância para gramíneas tropicais, sobretudo as cespitosas, que embora apresentem altas taxas de crescimento na época chuvosa, se caracterizam também por rápido acúmulo de colmos e material senescente que concorrem para diminuir a eficiência de colheita de animais em pastejo (CARVALHO et al., 2011; GOMIDE et al., 2006).

Crescimento das gramíneas

O modo de crescimento das gramíneas, com o contínuo lançamento de novas folhas e perfilhos é que garante sua persistência, mesmo sob pastejo.

Com o sucessivo surgimento de folhas e perfilhos, e o alongamento de seus colmos, a gramínea acumula biomassa, levando ao acúmulo de forragem no pasto. Porém, este processo alcança um ritmo máximo e depois estabiliza (Figura 2), em função, dentre outras coisas, da morte das folhas mais velhas. O comportamento descrito na figura é observado durante o período de rebrotação de qualquer gramínea. Entretanto, a magnitude e a duração de cada fase irá depender de uma série fatores como: época do ano, nível de fertilidade do solo, manejo imposto, espécie forrageira, dentre outros.

À medida que cresce e se desenvolve a planta acumula biomassa, ocupa os espaços disponíveis e aumenta a interceptação da luz incidente (hoje tem-se preconizado 95% de interceptação da luz solar incidente como

Recursos:

Solo,

Clima,

Forragem

Produzida

Forragem

Consumida

Produto

Animal:

Leite,

Crescimento

2 a 4%Utilização

40 a 80%

Conversão

7 a 15%

Figura 1. Eficiência das etapas envolvidas no processo de produção animal em

pastagens (Hodgson, 1990).

CarnePlanta, etc.

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36Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

momento ideal para o pastejo) . O crescimento ou a recuperação da planta forrageira após o corte ou pastejo pode ser representado conforme a curva abaixo (Figura 1), em que se observam três fases. Na fase 1, logo no início do período de recuperação (primeira semana), o crescimento ou o acúmulo de forragem é lento devido a baixa quantidade de folhas para fotossíntese e, dependendo da intensidade da desfolha realizada, há necessidade de surgimento e desenvolvimento de novos perfilhos. Quanto mais intensa for a desfolha, caracterizada por uma menor massa de forragem residual, mais tempo a planta gasta para atingir o crescimento da fase 2. A fase 2, apresenta um crescimento acelerado resultante da contínua formação de novas folhas de alta eficiência fotossintética. Na fase 3, tem-se a diminuição do ritmo de crescimento devido à morte das folhas mais velhas, sombreamento, e gastos para manutenção da planta.

Do ponto de vista prático, a espera pelo alcance do máximo crescimento (Fase 3) representa perda de tempo, pois nesta fase a produção de forragem obtido na parte superior do pasto é compensado pela morte na parte inferior, reduzindo o acúmulo de forragem em função dos dias de recuperação. Além do mais, nesta fase aumenta-se a quantidade de material morto e de colmos, sobretudo em gramíneas de crescimento ereto, o que resulta em diminuição do valor nutricional da forragem e maior dificuldade para a apreensão da forragem, prejudicando o desempenho animal (CARVALHO et al., 2007). Os colmos embora representem contribuição significativa para o acúmulo de forragem, são de menor valor nutritivo e prejudicam o consumo de forragem pelos animais em pastejo. Assim, temos que o objetivo do manejo é otimizar a produção de forragem, mas sem permitir altas perdas por morte de folhas e acúmulo de colmos.

Por outro lado, o uso do pasto no início da fase 2, além de propiciar baixa produção, pode prejudicar a recuperação das plantas no período de rebrotação seguinte e consequente levar à degradação do pasto.

Com o objetivo de se obter elevada produção de forragem de bom valor nutricional, recomenda-se iniciar o pastejo no terço final da fase 2 (antes do aumento na participação de colmos e folhas morta), quando a taxa

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37Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

de acúmulo e o valor nutritivo são altos. A determinação deste intervalo, ou do número de dias necessários para se alcançá-lo, depende de vários fatores que serão discutidos adiante.

Modalidades de pastejo rotacionado

No pastejo de lotação rotacionada existem várias maneiras para subdividir e utilizar as pastagens, sempre com intuito de aumentar a eficiência da produção de forragem e por consequência a produção animal, sem, contudo, comprometer a persistência das plantas forrageiras. Algumas variações do pastejo de lotação rotacionada são apresentadas a seguir.

Método de lotação rotacionada convencional (Figura 3 a)

Este método caracteriza-se pela mudança dos animais de forma periódica e freqüente de um piquete para outro de forma sucessiva, voltando ao primeiro após completar o ciclo. No pastejo rotacionado são planejados períodos de ocupação e de descanso do piquete, os quais são úteis para

Massa d

e f

orr

agem

Dias de crescimento

Intervalo Recomendado

para Uso do pasto

Fase 2

Fase 1

Figura 2. Representação da curva de acúmulo de forragem em uma pastagem após

corte ou pastejo em função do tempo de recuperação.

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38Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

o manejo do sistema. Em geral, são preconizados períodos de ocupação variando entre um e sete dias e períodos de descanso entre 20 e 45 dias, dependendo da espécie forrageira considerada, da fertilidade do solo, das condições climáticas e do grau de intensificação preconizado para o manejo do sistema. Outras orientações para manejo do pastejo rotacionado incluem a separação dos animais em categorias, a reposição de nutrientes ao solo, via adubação e previsão de uso de suplementos volumosos para a época seca do ano, sejam eles silagens, fenos ou cana-de-açúcar.

Pastejo em faixas (Figura 3 b)

Este método é caracterizado pelo acesso dos animais a uma área limitada dentro do piquete, e com movimentação de cercas, o animal pasteja faixas restritas da área do piquete. O tamanho da área de cada faixa é calculado para fornecer aos animais a quantidade de forragem de que necessitam por dia. Este método, usado em sistemas mais intensivos, principalmente em pecuária de leite, é preconizado em propriedades onde a qualidade do manejo é elevada, com o objetivo de aumentar a eficiência de utilização de forragem.

Pastejo ponteiros-seguidores (Figura 3 c)

O método de pastejo primeiro-último, também conhecido como método de pastejo ponteiros-seguidores ou despontadores-rapadores, é um procedimento interessante quando se dispõe de animais de diferentes categorias e que apresentem diferenças na capacidade de resposta à forragem (por exemplo vacas em diferentes estágios de lactação . Assim, os animais de maior potencial de resposta à forragem de qualidade, ou seja, animais mais exigentes, constituem o primeiro grupo de pastejo, ou o grupo de desponte. A maior disponibilidade e qualidade de forragem inicial permite pastejo seletivo e alta taxa de ingestão de nutrientes, o que resulta em maior produção animal. Em seguida ao lote de desponte pasteja outro grupo de animais de menor exigência. Somente após o pastejo do segundo lote é que inicia o período de descanso do piquete.

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

d) Pastejo alternado (Figura 3 d)

Caracteriza-se pelo uso de dois piquetes, os quais são utilizados alternadamente, ou seja, enquanto um está sendo pastejada, o outra está em descanso. Nessa situação, os períodos de descanso e de ocupação do piquete são iguais, não devendo ser superior a 28 dias. O uso do pastejo alternado é satisfatório em sistemas extensivos e semi-intensivos de produção.

Vantagens do pastejo rotacionado para o manejo de gramíneas tropicais

Uma das vantagens do pastejo rotacionado é que, pela intensificação na produção forrageira por área, torna-se possível aumentar a taxa de lotação da fazenda e/ou liberar áreas para cultivos alternativos e assim

a) pastejo rotacionado convencional b) pastejo em faixa

c) pastejo do primeiro-último d) pastejo alternado

Figura 3. Exemplos de modalidades de pastejo rotacionado.

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40Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

incrementar a produção de forragem para a época seca, reduzindo a dependência de insumos externos à propriedade. Entretanto, vale salientar que a simples adoção de um ou outro método de pastejo, contínuo ou rotacionado, não garante incremento na produção de forragem. O crescimento das plantas responde a fatores de crescimento como, água, nutrientes, luz, temperatura etc. O manejo do pastejo é também um fator que interfere no crescimento do pasto e embora tecnicamente não haja diferença entre os métodos (rotacionado X contínuo), no pastejo rotacionado se tem, na prática, maior controle das alturas do pasto antes e depois do pastejo. Este controle é fundamental para aumentar a eficiência de colheita da forragem, sobretudo em gramíneas tropicais.

A Figura 4 abaixo ilustra duas condições distintas observadas em gramíneas cespitosas conforme o manejo adotado.

Situação A Situação B

Pré-pastejo

Pós-pastejo

Alongamento do

colmo

Folhas consumidas

parcialmente Folhas não

consumidas

Figura 4. Efeito do alongamento do colmo sobre a eficiência de pastejo em

gramíneas cespitosas.

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41Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Na situação A temos uma planta que foi manejada com resíduo baixo e se recuperou por um período adequado (em torno de 3 a 4 semanas no verão para pastos adubados). Neste caso, o pasto tem alta relação folha-colmo, pouco material morto e boa densidade de folhas verdes. Nesta condição, os animais exercem um pastejo eficiente conforme se observa após o pastejo. Já a situação B ilustra uma condição em que, por erro no manejo (resíduo alto e/ou longo período de descanso), houve o alongamento dos colmos. Neste caso, a eficiência do pastejo fica comprometida, restando muitas folhas não consumidas além da ocorrência de colmos que para serem eliminados necessitam de roçagem, prática que encarece o manejo da pastagem. Além disso, pastagens de gramíneas de crescimento ereto (cespitosas) apresentam alta perda de forragem por tombamento quando submetidas ao pastejo num porte alto. Assim, deve-se buscar, por meio do manejo, controlar a estrutura do pasto, evitando o alongamento dos colmos e o acúmulo de forragem morta.

O efeito negativo do alongamento do colmo sobre a eficiência de pastejo é maior em gramíneas de crescimento ereto, as chamadas gramíneas cespitosas (capim-elefante, capim-colonião, capim-tanzânia, capim-mombaça, capim-marandu etc.), do que naquelas de porte baixo.

Trabalhos têm mostrado que a presença excessiva de colmos, além de prejudicarem o uso eficiente do pasto, comprometem também a rebrota seguinte ao pastejo. Desde que se tenha condições favoráveis para o crescimento das plantas (chuvas, temperaturas, nutrientes e etc.), resíduos mais baixos associados a períodos de descanso adequados têm proporcionado rebrotas mais vigorosas e melhor estrutura da vegetação, caracterizada por alta relação folha-colmo e baixa participação de folhas mortas.

Características do pastejo rotacionado

O pastejo rotacionado se caracteriza por alternar períodos de uso (ocupação ou pastejo) e de descanso (recuperação ou rebrota).

Uma das características do pastejo rotacionado é que, por permitir melhor controle da intensidade de desfolha e do período de rebrota da

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planta, favorece a uniformidade do pastejo e melhora a eficiência de uso da forragem. Estas vantagens ocorrem sob maiores taxas de lotação em resposta ao aumento da produção de forragem, conseguido pelo maior eficiência no uso de insumos (adubos).

O maior controle exercido sobre as condições do pasto é que torna o pastejo rotacionado o método indicado para pastagens consorciadas de gramíneas e leguminosas e pastos de gramíneas cespitosas (capim-elefante, capim-tanzânia etc.), pois estas espécies, por seu hábito de crescimento, são mais susceptíveis a competição de outras plantas e, sob longos períodos de descanso têm sua estrutura comprometida pelo crescimento do colmo e acúmulo de forragem morta. Entretanto, o uso do pastejo rotacionado não é exclusivo para gramíneas cespitosas, espécies de crescimento prostrado também são utilizadas sob este método com ótimos resultados, como é o caso das gramíneas dos gêneros Cynodon (Coast-cross, Tifton 85 e Estrela) e Brachiaria (Marandu e Xaraés).

Durante a ocupação do piquete e dependendo da intensidade do pastejo, caracterizada pelo tempo de ocupação e pela taxa de lotação (número de animais/hectare), o pasto passa por uma rápida alteração da altura, da quantidade de forragem e de sua estrutura. Após a retirada dos animais do piquete, é dado ao pasto um período para que ele se recupere e teoricamente retorne à condição original (pré-pastejo). Esta recuperação depende de uma série de fatores já descritos. Além disso, fatores relacionados à forma e fisiologia da planta, como o resíduo deixado após o pastejo, principalmente folhas verdes, número de perfilhos prontos para se desenvolverem, dentre outros, vão garantir boa e rápida recuperação do pasto.

Duas questões principais do pastejo rotacionado são as definições dos períodos de descanso e ocupação dos piquetes. Em outras palavras, quando entrar com os animais no piquete e quando retirá-los? A definição destes prazos, além de influenciar as características do pasto como mostrado anteriormente, afeta o número de piquetes a serem utilizados, uma vez que este é calculado pela fórmula:

NP = PD/PO + XNP = Número de piquetes

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

PD = Período de descanso PO = Período de ocupaçãoX = grupos de animais em pastejo

Da equação acima pode-se inferir o efeito da variação de seus componentes no número de piquetes a serem adotados, e consequentemente nos gastos que serão realizados. Desta forma, quando se aumenta o PO para um determinado PD se consegue reduzir o número de piquetes. Da mesma forma que a diminuição do PD num dado PO também reduz o número de piquetes necessários. É importante lembrar que o período de descanso, como o tempo necessário para a recuperação do pasto, é variável e depende, entre outras coisas, das condições climáticas, do nível de fertilidade e da espécie forrageira utilizada. O Tabela a seguir apresenta alguns exemplos do número de piquetes necessários conforme a combinação entre períodos de descanso e ocupação.

A área de cada piquete irá depender do tamanho do rebanho a ser manejado, sua exigência nutricional (idade, peso, nível de produção etc) que irá refletir a demanda diária de forragem, do crescimento do pasto que determinará, junto com a demanda diária, a área de pasto por animal e do tempo de ocupação do piquete. Assim, podemos calcular a área do piquete da seguinte forma:

Área do piquete = número de animais x área por animal (m2) x dias de ocupação considerando um lote de 50 animais, 150 m2 por ani-

Período de Ocupação (dias)

Períodos de Descanso (dias) 1 3 5 7

45 45 16 10 7

35 35 13 8 6

30 30 11 7 5

25 25 9 6 4

Tabela 1. Número de piquetes necessários para instalação de sistema de

pastejo rotacionado considerando o pastejo de apenas um grupo de

animais (NP = PD/PO +1).

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mal e três dias de ocupação teremos:Área do piquete = 50 animais X 150 m2/animal x 3 diasÁrea do piquete = 22.500 m2 = 2,25 ha

A área estimada por animal pode ser reduzida em função do uso de insumos que favoreçam a produção de forragem (adubação, irrigação), da redução da demanda de nutrientes do pasto (uso suplementação volumosa e/ou concentrada).

Vale ressaltar que longos períodos de ocupação (acima de sete dias) podem resultar em pastejos desuniformes. Isto porque os animais preferem colher as folhas mais novas. Como no verão as gramíneas tropicais apresentam alta taxa de crescimento, uma planta pastejada pode, após poucos dias (quatro ou cinco) apresentar novas folhas que terão a preferência dos animais que tenderão a repetir o pastejo nestas áreas. Este processo leva ao esgotamento das plantas e pode gerar áreas super-pastejadas, enquanto parte do piquete não é utilizado tornando-se envelhecido, com acúmulo de hastes e folhas mortas. Além disso, os animais tendem a se concentrar numa mesma área para descanso durante o período de ocupação, o que prejudica a recuperação desta área. Assim, deve-se buscar uma combinação entre PD e PO a fim de se conciliar a uniformidade do pastejo e números de piquetes necessários. De um modo geral, períodos de ocupação entre 3 e 7 dias parecem permitir um bom ajuste, sem prejuízo para a uniformidade do pastejo.

Considerando, por exemplo, período de ocupação de três dias e o período de descanso de 36 dias, teremos, para o pastejo de um lote de animais, a necessidade de 13 piquetes. No entanto, se conseguirmos, com a prática de adubação e/ou irrigação, reduzir o período de descanso para 24 dias, o número de piquetes pode reduzir para nove. Se imaginarmos piquetes de 1 hectare, é possível liberar, apenas com o manejo, dois hectares da propriedade para outros usos, inclusive o cultivo de milho ou sorgo para silagem ou mesmo de cana-de-açúcar para uso na época seca do ano, e/ou aumentar o tamanho do rebanho.

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Num rebanho leiteiro, devido a necessidade diária de ordenha dos animais, a troca frequente de piquetes (á medida que se reduz o período de ocupação) não é problema, sendo mais interessante exercer um melhor controle sobre a uniformidade do pastejo.

A redução do período de descanso é uma alternativa interessante para reduzir o número de piquetes necessários no sistema e ao mesmo tempo garantir um pasto com boas características para o pastejo. É importante, contudo, considerar que esta redução é possível desde que atendidas as necessidades da planta para rápida rebrotação. Neste sentido, é importante se preocupar com a fertilidade do solo. A correção do pH e o fornecimento de cálcio e magnésio, por meio da calagem, devem ser considerados na implantação da pastagem. Como para o manejo rotacionado se preconiza espécies mais produtivas, no entanto usualmente mais exigentes em fertilidade, a recomendação tem sido de se elevar a saturação de bases do solo (V%) para valores entre 60 e 70%. Também a aplicação de fonte de fósforo no plantio deve ser observada, a fim de se elevar os teores deste nutriente no solo que de um modo geral são baixos e limitam uma produção mais intensiva. A adubação do pasto durante a época chuvosa e é a forma de se repor os nutrientes extraídos pela produção de forragem (principalmente nitrogênio e potássio) e acelerar a recuperação da planta. Esta adubação deve ser feita de forma parcelada ao longo da estação chuvosa, após a saída dos animais do piquete. Para a adubação nitrogenada recomenda-se doses entre 40 e 60 kg de N/ha/aplicação, a fim de melhorar sua eficiência e evitar perdas (CANTARUTTI et al., 2002), podendo esta dose ser diminuída no meio da estação quando o crescimento do pasto estiver acima da necessidade de forragem.

As quantidades de fósforo e potássio a serem aplicadas devem ser baseadas em resultados da análise anual ou bianual do solo e, assim como o nitrogênio, também variam em função do nível de produção desejado.

Para que o incremento na produção forrageira provocada pela adubação nitrogenada se traduza em maiores produtos animais (leite, carne etc)

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é necessário o correto ajuste na taxa de lotação, e/ou no momento de uso da forragem. Neste sentido, vale lembrar a recomendação de Boin (1986), que expressivas elevações de produção em resposta a adubação são observadas quando se comparam na mesma produtividade, e não na mesma idade de corte. Mais claramente, para se ter maiores respostas ao uso da adubação, principalmente a nitrogenada, é preciso fazer uso da forragem no auge da taxa de acúmulo de forragem. A partir deste ponto há queda no ritmo de crescimento e acúmulo de materiais indesejáveis (colmo, material morto e inflorescência) resultando em maiores perdas sob pastejo e conseqüente diminuição da eficiência de uso do pasto. Alta eficiência de uso do pasto deve ser considerada, a fim de otimizar o retorno em termos da produção por quilo de nitrogênio aplicado conforme mostra o Tabela 2 abaixo.

O aumento da eficiência do nitrogênio (Kg leite/Kg N) em resposta principalmente ao aumento do uso do pasto reforça a importância do correto manejo do pasto a fim de garantir uma estrutura que permita alto aproveitamento da forragem produzida. A importância da estrutura do pasto sobre o processo de colheita de animais em pastejo é apresentada por Carvalho et al. (2011). Estes autores mostram como a altura do pasto e também sua composição morfológica afeta o consumo de forragem dos animais. Neste ponto vale lembrar o aspecto apresentado na Figura 1 da grande importância da etapa de utilização da forragem sobre a eficiência do sistema de produção animal a pasto.

O Tabela 3 mostra como a redução do período de descanso em pastagem

Tabela 2. Resposta a aplicação de nitrogênio em função da eficiência de

uso do pasto e do nível produtivo da vaca.

Uso do pasto (%)

Produção de leite (kg/vaca.dia)

8 10 12

Kg leite / kg N

50 8,6 9,8 10,9

70 12,1 13,8 15,2

90 15,5 17,7 19,6

Fonte: Boin (1986).

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

de capim-mombaça melhorou a relação folha-colmo. Embora a produção de forragem por ciclo seja maior com maiores períodos de descanso, deve-se considerar, como mostrado pela menor relação folha-colmo, que boa parte desta produção advém do colmo, fração menos consumida e de menor valor nutritivo. Além do mais, o maior número de ciclos de pastejo realizados sob menores períodos de descanso ao longo da estação de crescimento, pode compensar esta aparente redução da produção.

O maior número de perfilhos observados sob menor período de descanso indica boa condição do pasto para garantir sua perenidade.

A maior taxa de crescimento do pasto sob menor período de descanso garantiu rápida recuperação da vegetação, propiciando pastejos mais frequentes. Além disso, o controle do resíduo pós-pastejo foi mais efetivo sob menor período de descanso. O Tabela 4 a seguir mostra como a altura do resíduo pós-pastejo se eleva com os ciclos de pastejo sob mais longos períodos de descanso. Tal fato advém do alongamento dos colmos e consequente dificuldade dos animais em consumirem esta fração do pasto. Assim, nota-se que apesar de se buscar resíduos entre 30-40 cm para todos os tratamentos (período de descanso), já no primeiro ciclo de pastejo houve elevação sob os períodos de descanso mais longos, se agravando com o suceder dos ciclos de pastejo.

Outro exemplo, se considerarmos um período de ocupação de cinco dias com períodos de descanso de 25, 35 ou 45 dias, teremos ao longo de

Tabela 3. Características do pasto de capim-mombaça sob diferentes

períodos de descanso na época chuvosa.

Período de

descanso

(dias)

Altura do pasto

(cm)

Relação folha-

colmo

Produção de

Forragem

(kg MS/ha.ciclo)

Taxa de

Crescimento

(kg MS/ha.dia)

Número de

Perfilhos/m2

25 79 4,6 4.570 182,8 240

35 98 3,7 5.580 159,4 176

45 117 1,7 7.340 163,1 148

Fonte: Adaptado de Gomide et al. (2007).

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150 dias de estação chuvosa (novembro a março), respectivamente, cinco, quatro e três ciclos de pastejo.

Outro aspecto positivo da redução do período de descanso é a menor perda de forragem observada. O Tabela 5 abaixo sumariza os dados obtidos ao longo de um ano em pastagem de capim-mombaça manejado variando a intensidade (refletida pela altura de resíduo) e a frequência de pastejo (refletida pela interceptação luminosa pelo pasto).

Tabela 4. Efeito do período de descanso e dos ciclos de pastejo sobre a

altura pós-pastejo do capim-Mombaça.

Período de descansoCiclos de Pastejo

1o 2o 3o

Altura do resíduo pós -pastejo (cm)

25 dias 38,2 39,3 39,4

35 dias 46,8 57,1 65,4

45 dias 59,1 68,6 ---

Fonte: Adaptado de Candido et al. (2005).

Tabela 5. Produção e perda de forragem, ao longo do ano, em pastagem de

capim-Mombaça em função do resíduo pós-pastejo e da frequência de

pastejo definida com base na interceptação luminosa (janeiro de 2001 a

fevereiro de 2002).

Altura de Resíduo

(cm)

Interceptação Luminosa (%)

95 100

Altura do pasto (cm)

88 115

Produção de Forragem (kg MS/ha.ano)

30 26.900 24.900

50 17.920 20.280

Perda de Forragem (kg MS/ha)

30 3.120 5.810

50 5.000 5.900

Fonte: Carnevalli (2003).

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

No Tabela acima nota-se que a combinação da menor altura de resíduo (30 cm) com o período de descanso correspondente ao alcance, pelo pasto, de uma interceptação de 95% da luz incidente, que correspondeu a uma altura média do pasto de 88 cm, promoveu alta produção de forragem com baixa perda pós-pastejo, refletindo em maior eficiência de uso do pasto; característica desejável, sobretudo em sistemas mais intensivos.

Considerações finais

A disseminação de sistemas intensivos de produção animal a pasto tem levado à adoção do pastejo rotacionado em diversas regiões do Brasil. Por seu maior controle sobre o pastejo, este é um método interessante e pode contribuir para melhoria dos índices produtivos.

Manipulações nos períodos de descanso e de ocupação dos piquetes, além de alterarem o número de piquetes necessários, trazem consequências sobre a uniformidade do pastejo, a estrutura do pasto e a produção de forragem.

Estudos recentes têm mostrado ser possível a intensificação do pastejo rotacionado em gramíneas tropicais, com redução do período de descanso (em torno de 3 semanas) e aumento da intensidade de pastejo (menores resíduos), durante a época chuvosa do ano desde que se atenda as necessidades das plantas para rápida recuperação, principalmente no que se refere à disponibilidade de nutrientes no solo, conseguidas por meio das adubações de reposição. A otimização da produção de forragem paralelamente ao controle da estrutura do pasto (redução do alongamento do colmo e do acúmulo de material morto), tem propiciado bom desempenho dos animais e melhor eficiência produtiva dos sistemas que utilizam o pastejo rotacionado.

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50Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

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51Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

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Capítulo 3A pecuária de leite na integração lavoura-

pecuária-floresta

Wadson Sebastião Duarte da Rocha, Marcelo Dias Müller, Fausto Souza Sobrinho, Carlos Eugênio Martins, Alexandre Magno Brighenti,

Paulino José Melo Andrade

Resumo

A bovinocultura de leite é uma atividade desenvolvida em todas as regiões do Brasil. Portanto, qualquer medida utilizada para tornar os empreendimentos mais eficientes é sempre estimulada. Entre os problemas da pecuária de leite a alimentação dos animais se destaca, constituindo-se, normalmente, no principal componente do custo da atividade. As tecnologias dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) podem contribuir com a intensificação da exploração, favorecendo produção de forragem, com redução de custos, além de proporcionar diversificação e aumento de renda da propriedade. Nem sempre os três componentes, lavoura, pecuária e floresta, estão presentes ao mesmo tempo e em todas as áreas da propriedade nos sistemas integrados. A definição de áreas, culturas e esquemas de rotação deve ser baseada na aptidão da propriedade e objetivos do produtor. A assistência técnica deverá estar presente, auxiliando nas tomadas de decisão. De qualquer forma, é importante salientar que a escolha das culturas (lavouras, forrageiras e florestais), bem como os seus espaçamentos e arranjos de plantio devem priorizar o objetivo inicial da atividade, que é a produção de leite. Neste capítulo foram abordados aspectos relacionados a inclusão da pecuária de leite na integração lavoura-pecuária-floresta.

Palavras-chave: bovinocultura de leite, produção de forragem, consórcio, braquiária, milho, eucalipto.

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Introdução

A pecuária de leite não segue uma estrutura única no Brasil, porque esta atividade depende principalmente das características do clima local (microclima) e da cultura ou costume dos produtores. Em muitas regiões a atividade é considerada de subsistência, portanto, não sendo conduzida para atingir maiores produtividades. Porém, o que chama atenção para a pecuária de leite é a possibilidade de contribuir para a sustentabilidade social e econômica.

Em relação ao aspecto social, os empreendimentos baseados na produção de leite favorecem e dependem das associações e/ou das cooperativas. Desta forma, possibilita a interação entre os produtores de uma região. Outro ponto importante é que por ser uma atividade que necessita de acompanhamento diário, inclusive nos finais de semana e feriados, há estímulo ao uso da mão de obra familiar, o que incentiva a participação dos membros da família neste agronegócio. Em muitos casos ocorre a especialização técnica de algum membro da família, principalmente os filhos dos produtores. Estes fatos auxiliam no aumento da escolaridade do homem do campo e na redução do êxodo rural.

Ao se considerar os aspectos econômicos, o leite é um produto que possui demanda tanto no mercado nacional, quanto no internacional. Até o momento não há restrição ao volume de leite a ser enviado pelo produtor aos laticínios ou cooperativas, o que permite flexibilidade diária, mensal e anual aos empresários rurais. Portanto, ações ou tecnologias que visam aumentar a produtividade são amplamente estimuladas pelo setor.

De modo geral, os produtores visam aumentar a produção de leite da fazenda, para favorecer a competição pelo fornecimento de leite às cooperativas ou aos laticínios. Além disso, maiores produções podem possibilitar certa autonomia do produtor, que pode definir pela venda a granel do seu produto, realizando o resfriamento do leite na propriedade. O volume de leite produzido em um empreendimento também pode ser utilizado para discriminar as propriedades e os produtores, pois, de

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55Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

modo geral, o aumento do volume produzido é associado à adoção de tecnologias em maior grau e/ou mais eficientes.

As tecnologias de produção, ou conjunto de técnicas utilizadas, podem aumentar a eficiência do processo e garantir mais lucro para o produtor. De modo geral, para aumentar a produtividade de leite por vaca ou por área há necessidade de maior oferta de alimentos ricos em energia e proteína. Portanto, o custo de aquisição destes recursos será fundamental para a manutenção do empresário rural na atividade. A redução dos custos de produção em uma fazenda que tem o leite como o seu produto principal depende muito da diversificação dos recursos vegetais cultivados e da utilização com maior eficiência dos recursos naturais solo e água.

O solo tem uma capacidade definida de contribuir com a produção vegetal, que depende da sua classe. Entretanto, dependendo do manejo utilizado, principalmente, em relação à correção do solo, a adubação e ao plantio, poderá ocorrer aumento da capacidade do solo contribuir para o incremento da produção. O melhor uso do solo no processo é importante, pois influencia no custo de produção.

A escolha das espécies forrageiras que serão utilizadas para alimentação animal é importante, pois poderá influenciar tanto na redução de volumoso quanto da ração a serem ofertadas no cocho. O cultivo das espécies poderá ser realizado em diferentes glebas ou as culturas poderão ser consorciadas em algum momento no tempo e em algumas áreas da fazenda. Quanto mais produto for gerado em uma área menor será o impacto do custo da terra no custo da produção. Além de influenciar na otimização do uso da terra há também a utilização com maior eficiência do corretivo, do adubo e de agrotóxicos.

A maior eficiência do uso da área não está relacionada somente com a produção de alimento para os animais. A intensificação de uso da terra possibilita aumentar o número de animais por área sem ocasionar a redução da produção de leite por animal. Dependendo da condição inicial, poderá ocorrer aumento na produção por animal concomitante

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ao aumento do número de vacas por área, resultando em aumento da produtividade.

Uma forma de aumentar a eficiência no uso da terra é a utilização de consórcio, que poderá ser entre duas ou mais espécies. À medida que mais espécies são cultivadas na propriedade, tanto em consórcio quanto de forma solteira, maior será a dificuldade experimentada pelo produtor. Isto é verificado, pois a especialidade é a produção de leite, ou seja, haverá sempre uma necessidade de suporte para o manejo das culturas. Claro que esta constatação não é verdadeira para todos os produtores, porque alguns deles já realizam o plantio de milho, feijão e outras culturas para a produção de grãos. Neste caso, há menor dificuldade para implantar o cultivo consorciado. As dificuldades que mais ocorrem são em relação a utilizar uma área de pastagem para cultivar uma outra cultura em consórcio e em relação ao próprio consórcio, que por envolver mais de uma espécie dificulta o manejo integrado.

O consórcio pode ser baseado em um sistema de integração lavoura e pecuária (iLP), ou em um sistema de integração lavoura, pecuária e floresta (iLPF). Para o pecuarista estes sistemas são sempre preconizados para aumentar a eficiência na produção de leite. Portanto, o objetivo principal de qualquer um dos sistemas é proporcionar a alimentação de vacas para produção de leite. Esta afirmativa parece óbvia, mas alguns técnicos ou produtores esquecem-se disto no momento de manejar o sistema, o que pode favorecer a produção de grãos e de produtos relacionados ao componente arbóreo, mas com redução na produção de leite. Existe esta possibilidade, pois os cenários possuem características que irão influenciar na definição do arranjo produtivo, ou seja, o modelo é ajustado de acordo com a situação verificada no local de implantação.

A pecuária de leite nacional

O leite é produzido em todas as regiões do país e contribui com 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional (VISÃO, 2004). Os dados do IBGE relativos à produção brasileira de leite, entre 1990 e 2008, indicaram que a taxa de crescimento da produção de leite foi de 4,61% ao ano, e

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entre e 2008, foi de 4,29% ao ano (PRINCIPAIS INDICADORES LEITE E DERIVADOS, 2010). Ressalta-se ainda que 2003 foi o primeiro ano em que a balança comercial dos produtos lácteos apresentou superávit, com perspectivas de crescimento no futuro (IBGE, 2003).

Outro fator interessante para o setor lácteo é a movimentação das cooperativas e outras empresas aumentando os investimentos com a finalidade de ampliar sua participação no mercado. Em 2003, as cooperativas captaram 1,90 bilhão de litros e aumentaram o número de associados para 33.492 produtores (MOVIMENTAÇÃO, 2004). Este fato aliado ao Plano de Desenvolvimento Estratégico das Cooperativas de Laticínios, aprovado em julho de 2003 oferece uma grande oportunidade para a Agricultura Familiar se inserir em um programa de integração lavoura, pecuária e floresta (iLPF).

A pecuária nacional caracteriza-se pela dependência das pastagens, que são constituídas, principalmente, por forrageiras tropicais nativas ou naturalizadas e cultivadas, com produção vegetal sazonal, em conseqüência de fatores climáticos.

A regularidade da produção de leite torna-se dependente de alternativas de alimentação, como suplementação alimentar em pasto e, também, o uso de forragens conservadas. Os métodos, modelos ou sistemas de produção adotados vão do uso extensivo da pastagem ao confinamento total, cujos índices de produtividade também apresentam grandes variações regionais. Entretanto, a cadeia produtiva do leite é a que mais se transformou nos últimos anos, tendo ocorrido profundas alterações em todos os seus segmentos, da produção ao consumo.

Embora a exploração leiteira brasileira seja bastante diversificada, há necessidade de se intensificar os sistemas de produção para manutenção dos produtores na atividade. A busca pela redução de custos é essencial. Nesse aspecto, a possibilidade de produção em pasto é estratégica para o país, visto que a alimentação animal é responsável por até 60% do custo operacional da produção do leite. Em um sistema de produção intensiva de leite em pasto, com rebanho mestiço Holandês x Zebu instalado na

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Embrapa Gado de Leite, este custo decresceu de 51,3%, em 1995, para 47% em 2002 decorrente da intensificação (NOVAES et al., 2003). Logo, a intensificação dos sistemas produtivos de leite, obrigatoriamente passa pela melhoria das pastagens e aumento da capacidade de suporte. Contudo, essa necessidade de incremento das pastagens confronta-se com a consideração que a maioria dos pecuaristas brasileiros têm a respeito das forrageiras cultivadas para pastejo. Resultados de trabalhos de pesquisa de campo realizados nos estados de Goiás e Minas Gerais (DIAGNÓSTICO, 1996) e os citados por Bressan et al. (1999), permitem concluir que a maioria dos produtores não considera a pastagem como cultura; que os maiores produtores são os que mais utilizam fertilizantes e corretivos; e que o uso de herbicidas e inseticidas é inexpressivo. O uso de práticas como consorciação de pastagens, plantio direto (menos de 2%) e rotação pasto-agricultura (11,5%) são de baixa adoção. Apenas 12% dos produtores adotavam pastejo com lotação rotacionada e alegavam ser sua implantação de custo alto e a sua condução e manutenção difíceis. Neste diagnóstico, a maioria dos produtores citou os altos custos dos insumos e sua incompatibilidade com o preço do leite como sendo a principal causa do baixo uso de insumos para aumentar a produtividade da pastagem.

Neste contexto, a iLPF apresenta-se como ferramenta determinante a ser difundida para uso pelos produtores de leite, pois a associação dos conhecimentos e das tecnologias hoje existentes faz deste sistema uma excelente alternativa para a produção estável, econômica e ecologicamente sustentáveis, além de diversificar a renda do produtor. Mesmo que o produtor de leite não tenha intenção de enveredar pelo “caminho da agricultura”, a possibilidade de utilização das lavouras apenas para recuperação das pastagens faz da iLPF uma excelente alternativa para produção de alimentos para venda ou uso na alimentação animal. No caso dos componentes arbóreos, há possibilidade de uma poupança verde, que pode fornecer madeira para diversas finalidades tais como lenha, mourões e madeira para serraria, com consequente geração de renda adicional para o produtor.

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A integração de lavouras e o componente arbóreo com a pecuária de leite

No caso do pecuarista de leite, uma das alternativas de integração seria por meio do consórcio de culturas anuais utilizadas para produção de grãos, destinada à obtenção de concentrado, ou de silagem. O milho, sorgo e milheto são culturas bastante empregadas com essas finalidades. As espécies forrageiras, nessas situações, podem ser plantadas sem maiores prejuízos às culturas. Lavouras de grãos também são muito bem vindas nos sistemas e seus produtos podem ser empregados, além da comercialização direta, para a produção de concentrado com menor custo. No caso do componente arbóreo, diferentes espécies podem ser utilizadas. A definição dependerá do produto que será gerado. De modo geral, as árvores são utilizadas para proporcionar sombra, conforto dos animais, e para fornecer madeira para lenha e mourões para recuperação e construção de cercas. Neste caso o componente mais utilizado é o eucalipto. Porém, se o interesse do produtor for a produção de frutos, ou fibras, ou energia (carvão, biodiesel), ou banco de proteína, outras espécies poderão ser utilizadas. Porém, é sempre importante salientar que o arranjo do componente arbóreo tem grande influência na produtividade do pasto. Deste modo, o espaçamento entre as linhas de árvores deverá ser corretamente definido. As opções das culturas e dos esquemas de rotações utilizados são muitas, devendo ser adaptadas de acordo com o interesse e aptidão de cada produtor e região. A assistência técnica deve sempre estar presente para auxiliar os produtores nessa etapa. Como exemplo de culturas e rotação para a iLPF, explorando a pecuária de leite, segue o esquema abaixo (Figura 1). É importante salientar que o esquema (Figura 1) é somente uma orientação, pois a escolha do uso de iLP ou iLPF dependerá de discussões entre os interessados, além disso, os produtores poderão implantar diferentes sistemas na mesma fazenda.

Nesse caso, a área total da fazenda foi dividida em três partes, cada uma delas, cultivada por duas safras com milho para silagem, em consórcio com eucalipto, e um ano e meio como pasto. Após esse período, a área novamente seria utilizada para produção de silagem. Ressalta-se,

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contudo, que durante o inverno, período de maior escassez de forragem, toda a área cultivada pode ser pastejada. Além disso, é importante considerar que a entrada dos animais, antes de finalizar o segundo ano de cultivo da cultura de milho, dependerá da velocidade de crescimento das plantas de eucalipto, caso não seja possível utilizar proteção das árvores.

Figura 1. Esquema de rotação de culturas e forrageiras na iLPF.

Fonte: Adaptado de Souza Sobrinho et al. (2007).

Área 1 Área 2 Área 3

1o Ano

Milho silagem+

Forrageira+

Eucalipto

PastoDegradado

PastoDegradado

2o Ano

Milho silagem+

Forrageira+

Eucalipto

Milho silagem+

Forrageira+

Eucalipto

PastoDegradado

3o AnoPasto

+Eucalipto

Milho silagem+

Forrageira+

Eucalipto

Milho silagem+

Forrageira+

Eucalipto

4o Ano

Milho silagem+

Forrageira+

Eucalipto

Pasto+

Eucalipto

Milho silagem+

Forrageira

5o Ano

Milho silagem+

Forrageira+

Eucalipto

Milho silagem+

Forrageira+

Eucalipto

Pasto+

Eucalipto

6o AnoPasto

+Eucalipto

Milho silagem+

Forrageira+

Eucalipto

Milho silagem+

Forrageira+

Eucalipto

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

A semeadura da forrageira pode ser simultânea à cultura ou com alguma defasagem para evitar competição que possa reduzir a produtividade da lavoura. Apesar da preocupação de muitos agricultores, na maioria das vezes, as forrageiras não prejudicam o desempenho das culturas, mesmo quando semeadas simultaneamente, em função, principalmente, de diferenças na curva de crescimento das espécies. Portanto, recomenda-se o plantio simultâneo.

Quando o desenvolvimento inicial da lavoura é prejudicado por algum motivo, ou quando a forrageira apresenta grande vigor, é possível retardar o desenvolvimento desta última, sem prejuízos para as lavouras, por meio da aplicação de herbicidas seletivos, em sub-doses. Nesse caso, não há morte da forrageira, apenas supressão ou paralisação no desenvolvimento por intoxicação com os produtos. Mesmo sem a aplicação de herbicida o desenvolvimento das braquiárias é bem mais lento que o do milho. A aplicação do nicosulfuron, em doses bem abaixo das recomendadas para controle total das plantas daninhas, mostrou-se muito eficiente para redução do desenvolvimento da braquiária.

As decisões das culturas a serem empregadas na iLPF devem ser tomadas pelo produtor, auxiliado pela assistência técnica, bem como os esquemas de rotação e a forma de operacionalizar o consórcio. Normalmente os agricultores utilizam rotações em que o pasto permanece por menor tempo (1 a 2 anos, por exemplo), ao contrário dos pecuaristas, que preferem utilizar as pastagens por intervalos maiores de tempo. É importante mencionar que o incremento em quantidade e qualidade da forragem advindo da iLPF é decorrente da correção e disponibilização de nutrientes residuais da adubação das lavouras. Quando o intervalo de renovação dos pastos, ou seja, de retorno das lavouras nas áreas de pasto, for maior que 2 a 3 anos é recomendada adubação da forrageira para evitar queda acentuada na produtividade. É importante lembrar que a aplicação de corretivos no pasto é feita a lanço e sem incorporação (1/4 da dose recomendada para uma profundidade de 20 cm) e que o fósforo é um nutriente de baixa mobilidade no solo. Assim, o plantio da lavoura favorece mais a recuperação da camada agricultável do solo, pois há

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incorporação do fósforo e de parte do corretivo na linha de semeadura. Portanto, caso o produtor não faça o plantio do milho novamente na área o processo de degradação continuará, obrigando o pecuarista a renovar a pastagem de forma convencional, utilizando aração e gradagem. Desta forma, ocorrerá aumento nos custos de produção e o sistema de integração perderá uma de suas finalidades, que é a recuperação de áreas degradadas.

É importante salientar no caso do componente florestal que a associação de diferentes espécies em um mesmo sistema implica na existência de interações ecofisiológicas entre os componentes arbóreos/arbustivos e não arbóreos (forrageiras, culturas de grãos e animais). Estas interações se fazem presentes, principalmente pela competição por luz, água e nutrientes. Desta forma, é possível inferir que fatores tais como: o arranjo estrutural (composição de espécies e espaçamentos de plantio), a idade do plantio, o tipo de espécie (arquitetura de copa) e o sistema de manejo (desramas e desbastes), são de fundamental importância para a sustentabilidade destes tipos de sistemas.

Neste sentido, destacam-se os estudos desenvolvidos por Oliveira et al. (2007a; 2007b), que avaliaram a influência de diferentes arranjos de plantio de eucalipto na produção forrageira e na distribuição da radiação fotossinteticamente ativa no sub-bosque em sistemas agrossilvipastoris na região do cerrado em Minas Gerais. A conclusão do estudo evidencia que espaçamentos mais abertos (por exemplo, entre 20 e 30 m) favorecem a penetração de radiação luminosa no sub-bosque, proporcionando melhores condições de produtividade da pastagem. Os estudos também indicam que em espaçamentos mais adensados de eucalipto, ou mesmo nos mais convencionais 3 x 2 m ou 3 x 3 m, a partir de certa idade, não é possível introduzir culturas intercalares nas entrelinhas, tendo em vista as limitações de espaço, supressão física da serrapilheira, competição por água e nutrientes e ainda pela baixa disponibilidade de radiação luminosa.

Os mesmos autores verificaram que tanto a quantidade quanto a qualidade da radiação fotossinteticamente ativa no sub-bosque sofreu

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

uma mudança significativa com a idade do eucalipto. Esta afirmativa é corroborada por Righi et al. (2007), que ressaltam que a disponibilidade de luz em sistemas consorciados é significativamente influenciada pelo componente florestal.

A definição do sistema de manejo do componente florestal também assume fundamental importância tanto na produção florestal quanto na produção pecuária. Basicamente, são duas as práticas silviculturais adotadas: a desrama e o desbaste, que proporcionam maior incidência de luminosidade no sub-bosque o que favorece a produção das culturas forrageiras.

Além da influência do desenho do sistema e de seu manejo, vale ressaltar a influência do local. Tournebize e Sinoquet (1995), destacam que tanto a orientação do plantio quanto a sua localização (latitude) também influenciam a distribuição de luminosidade no sistema. Dobrowski et al. (2009) observam que a fisiografia da paisagem exerce uma influência significativa na temperatura atmosférica.

Assim, pode-se inferir que não existe uma fórmula definida para o desenho destes sistemas. Cada caso deve ser analisado in loco e juntamente com o produtor levando-se em consideração diversos fatores tais como: finalidade do sistema (produção de madeira para serraria, para uso na propriedade, etc.), perfil do produtor (pecuarista, lavourista, silvicultor), condições socioeconômicas, condições edafoclimáticas locais, mercado, etc. Dessa forma, o arranjo espacial e as práticas silviculturais das árvores devem ser manejados de forma que se possa aumentar ou diminuir a densidade de árvores sem prejuízo da área útil para a cultura forrageira.

A inclusão da pecuária de leite na iLPF – oportunidade

Verifica-se grande potencial da pecuária leiteira em participar, com vantagens, nos sistemas integrados de produção. Há possibilidade de ganhos tanto para os sistemas integrados como para a cadeia do leite.

Ressalta-se, ainda, que o custo de produção do leite em sistemas integrados pode ser reduzido em função, basicamente, de maior

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disponibilidade de alimentos em quantidade e qualidade. Dois pontos merecem destaque. O primeiro refere-se à incorporação de culturas de grãos na fazenda ou na região produtora de leite. O custo do transporte de grãos das principais regiões produtoras para as fazendas de leite eleva o preço do concentrado fornecido às vacas, aumentando o custo de produção unitário. A proximidade ou a interação com a produção de grãos permitirá a adoção de subprodutos das culturas ou indústrias processadoras na formulação de concentrados. Gera-se, então, expectativa de maior redução nos custos com a suplementação concentrada.

O segundo ponto diz respeito à melhoria da quantidade e qualidade de forragem disponível nas pastagens. Como já mencionado, a maioria das pastagens brasileiras encontra-se abaixo do seu potencial produtivo, ou seja, em algum estágio de degradação. Como normalmente os pecuaristas não consideram a pastagem como uma lavoura, que deve ser cuidada e adubada, a tendência seria a redução cada vez maior do potencial produtivo das pastagens e dos solos. Com a adoção da iLPF, que nada mais é que uma forma de intensificação da exploração agrícola, haverá maior disponibilidade de forragem de melhor qualidade para os animais, quer seja pela adubação residual das lavouras ou da própria pastagem.

Com a iLPF espera-se que haja mudanças de hábitos, tanto de pecuaristas como de lavouristas. No caso específico dos pecuaristas, os custos de recuperação das pastagens serão embutidos no custo de implantação e na receita gerada, fazendo com que percebam que o gasto com a adubação anual das pastagens é menor que os prejuízos causados pela redução da produção de forragem e/ou pela necessidade de altas doses de corretivos e adubos a cada vez que as pastagens forem sucedidas por lavouras. Se for utilizado o plantio direto no sistema de iLPF, o solo terá a sua estrutura preservada, a matéria orgânica será mantida e incrementada em muitos casos, a infiltração de água no solo será aumentada, reduzindo a erosão e a perda de solo. Do ponto de vista econômico, a iLPF proporciona redução de 10 a 25% nos desembolsos com a reforma e permite a amortização do capital investido já no primeiro

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

ano (SANTOS, 2004). Com a elevação e manutenção da disponibilidade de forragem de qualidade, novos fatores dentro das fazendas poderão ou deverão ser alterados. Havendo qualidade na alimentação, os produtores conhecerão melhor o potencial do seu rebanho, em termos de produção de leite, com possibilidade de incremento de renda. Em contrapartida, melhorias na gestão das propriedades serão necessárias não só pela inclusão de novos fatores na exploração leiteira, mas principalmente em função de novas atividades agrícolas muitas vezes desconhecidas dos pecuaristas. Por isso, o acompanhamento da assistência técnica é essencial para a adoção das tecnologias preconizadas pela oLPF.

Uma outra característica importante da iLPF com reflexos positivos no aumento da competitividade da exploração leiteira é a existência de pastos recém-formados todos os anos em diferentes glebas/áreas. Nota-se que os pastos de primeiro ano mantém-se verdes por mais tempo no início da estação seca, retardando a necessidade de suplementação volumosa no cocho. Como a escassez de alimentos nessa época do ano é um dos principais gargalos da produção de leite em pasto, a iLPF poderá contribuir com sua viabilização na maior parte do ano, reduzindo a necessidade de suplementação volumosa. Além do mais, dentro de uma fazenda produtora de leite é possível a obtenção de renda a partir da produção e comercialização de alimentos (grãos, silagem e feno) e maior número de animais excedentes, além dos produtos obtidos com o componente arbóreo.

Desafios da pecuária leiteira na iLPF

Apesar de todo o potencial de inserção da pecuária leiteira nos sistemas de produção integrada, ainda há muitos pontos a serem esclarecidos. Dentre os principais desafios, destacam-se:•Dificuldades para obtenção de maquinário para plantio das

lavouras integradas com as forrageiras – pode ser uma forte restrição para adoção da iLPF. Em regiões onde a agricultura é mais desenvolvida esse problema é minimizado pela utilização de máquinas de aluguel. Contudo, em algumas regiões tais facilidades não estão disponíveis e o investimento na compra de semeadoras

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de plantio direto e colhedoras de grãos provavelmente não seja viável. Há necessidade de busca de alternativas, como fontes de financiamentos especiais a juros mais baixos e com prazos de pagamento mais longos e flexíveis, equipamentos funcionais para uso em pequenas propriedades e em topografia acidentada como a Zona da Mata de Minas Gerais e compra em conjunto, por meio de associações de produtores.•Resistência dos produtores – a exploração leiteira é trabalhosa

e exige uma estrutura “fixa”. Entretanto, é uma atividade com maior potencial de incremento na renda dos produtores. Além do mais, a própria cultura dos produtores de leite que tem sua exploração baseada no cooperativismo, pelo menos na venda dos produtos, pode favorecer a quebra dessa resistência, por meio de contratos de parcerias com os produtores de grãos. A forragem produzida nas fazendas, a princípio para obtenção de palhada para o plantio direto das lavouras, seria utilizada na época seca pelos pecuaristas para produção de leite, além da possibilidade de aumentar a renda com a venda, ou uso na fazenda, de lenha, madeira, frutos, sementes, fibras, dentre outros, provenientes do componente arbóreo. Esse seria um passo inicial importante para “convencimento” do agricultor da viabilidade da inclusão da pecuária de leite na iLPF. Ao mesmo tempo, impulsionaria o pecuarista de leite a adotar os sistemas integrados de produção.

Utilização da iLPF em propriedade leiteira – Relato de experiência

Com o objetivo de implantar um sistema de integração lavoura, pecuária e floresta foi selecionado um empreendimento na Zona da Mata Mineira especializado na produção de leite e que possuísse pastagens com necessidade de recuperação. Foi escolhido o “Sítio Valão”, de propriedade dos irmãos Machado (Carlos Machado, Vicente de Paula Machado e Sérgio Machado), que sempre se baseou na pecuária de leite como base econômica para sustento das famílias ali instaladas. É uma fazenda com aproximadamente 130 ha, localizada no município de Mar de Espanha (MG) com relevo montanhoso, típico da região Sudeste de Minas Gerais.

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

A mentalidade dos proprietários, no entanto, sempre foi diferenciada. O trabalho e administração da fazenda é conjunto, com definições claras de funções para cada um dos integrantes. Apesar das dificuldades financeiras, buscaram, no emprego de tecnologias, alternativas para melhoria da atividade leiteira. Desde os anos de 1990 iniciaram os trabalhos de melhoramento do rebanho, por meio da inseminação artificial, visando animais rústicos e produtivos. Alternaram entre sêmens das raças Holandesa e Gir Leiteiro. Foram os pioneiros na região na adoção do plantio direto, iniciado no ano de 2000. De lá para cá, arado e grade praticamente foram aposentados no Sítio Valão.

Como mencionado, a base da exploração sempre foi a pecuária de leite. As áreas de baixadas e aquelas com inclinação que permitisse a mecanização eram utilizadas para a produção de forragem e também de grãos. Normalmente adotavam o plantio do milho, para silagem, na safra e do feijão na safrinha, em sequência. Muitas vezes adotavam plantios do milho ou sorgo para silagem, na safra e safrinha, objetivando a produção em quantidade e qualidade para a alimentação do rebanho.

Continuando a busca por tecnologias que permitissem o aumento da eficiência da atividade leiteira e o incremento em renda, em 2005 foi iniciada no Sítio Valão a integração entre lavoura e pecuária (iLP), com a orientação da Embrapa Gado de Leite e o acompanhamento da Emater. Inicialmente os trabalhos foram conduzidos com o objetivo de recuperação de áreas de lavouras degradadas, possibilitando ainda a disponibilização de pasto na época seca e de palhada para o plantio da safra seguinte.

Após análise da propriedade e discussão com os proprietários foram definidas as formas de atuação, de modo a se alterar o mínimo possível o manejo utilizado. Os dois primeiros anos não foram bem sucedidos, em função das condições climáticas e também de alguns métodos adotados. Após a realização de alguns ajustes, o sistema começou a funcionar e apresentar os resultados.

Na Tabela 1 estão apresentadas as produtividades de silagem, feijão e do pasto formado após a retirada das lavouras nas safras 2007/08,

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2008/09 e 2009/10. Observa-se que as produtividades de silagem foram elevadas, acima da média da região (OLIVEIRA; SOUZA SOBRINHO, 2008). Com o aumento da produtividade de silagem, a primeira grande vantagem foi a redução na área necessária para encher os silos. Com isso, parte do milho cultivado, a princípio para produção de silagem, foi colhido como grão. Este, por sua vez, foi utilizado para a formulação do concentrado, produzido na propriedade, reduzindo o custo da ração. Como a produtividade do milho foi alta (aproximadamente 9000 kg/ha), foi possível comercializar parte da produção, agregando mais renda à propriedade.

Em relação ao feijão, cultura tradicional do Sítio Valão, segundo relatos dos produtores, não houve aumento na produtividade. É importante mencionar que o sistema de iLP foi sugerido de modo a se alterar o mínimo possível o manejo utilizado na propriedade. A manutenção do cultivo do feijão nas áreas é uma prova disto. Embora não contribua efetivamente com a atividade leiteira, fazia parte das atividades da propriedade e sempre gerou renda adicional. Ressalta-se também, que o cultivo do feijão no Sítio Valão ocorre na safrinha, onde as condições de clima, especialmente a precipitação pluviométrica, são muito variáveis e afetam negativamente o desenvolvimento da cultura. Em função disso, não era esperado incremento na produtividade do feijão pelo emprego da iLP.

Outro efeito positivo percebido logo no início da adoção da iLP foi a produção de forragem do pasto recém-formado. Após a colheita do milho para a silagem, a pastagem implantada apresentou alta taxa

Tabela 1. Produtividades de milho para silagem e grãos (sacos de 60

kg/ha), feijão (sacos de 60 kg/ha) e da pastagem nas safras 2007/08,

2008/09 e 2009/10 obtidas no sistema de iLP no Sítio Valão (Mar de

Espanha/MG).

SafraMilho silagem

(t/ha)

Milho grão

(sacos/ha)

Feijão

(sacos/ha)

Pastagem

(t/ha de forragem verde)

2007/08 55 156 20 52,5

2008/09 60 151 18 60,0

2009/2010 50 150 20* 45,0

* - Estimativa de produção.

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

de crescimento, proporcionando forragem de boa qualidade e em quantidade (Tabela 1). O que normalmente era uma área degradada e com pouca cobertura vegetal, sendo a maioria de plantas daninhas que não contribuíam com a alimentação dos animais, passou a ser fonte de alimento em época de escassez (inverno). Aproximadamente 50 dias após a colheita da silagem a área começou a ser pastejada, retardando a necessidade de fornecimento total de volumoso no cocho. No início da época chuvosa posterior, em função do maior vigor das plantas, a rebrota do pasto foi adiantada permitindo, também, a redução da suplementação volumosa no cocho.

Nesse período de inverno, quando se iniciou o aproveitamento do pasto recém-formado no sistema iLP (Figura 2), foi realizado teste para demonstrar a contribuição da forragem produzida para o manejo da propriedade. Uma área de 3 ha, próxima ao curral, implantada originalmente com milho e B. brizantha (cv. Marandu), foi dividida em 13 piquetes para pastejo rotacionado, com ocupação de 15 vacas por um dia. Os animais, para efeito de suplementação alimentar concentrada, foram divididos em três grupos. A redução na quantidade de ração fornecida aos animais no cocho não provocou decréscimo significativo na sua produção de leite. Mesmo com um intervalo de desfolha muito curto (12 dias) a produção de forragem foi elevada. Os ajustes necessários na taxa de lotação foram realizados (Figura 3). Constatou-se, portanto, que a forragem produzida pelo pasto recuperado foi capaz de substituir parte do concentrado disponibilizado aos animais, mantendo-se a produtividade de leite. Isto foi importante para os próprios produtores verificarem e decidirem pela redução do fornecimento de alimento concentrado, contribuindo para o aumento da renda líquida da atividade leiteira. Inicialmente eram fornecidos 8 kg de concentrado por vaca/dia e, a partir da utilização da área implantada com B. brizantha (cv. Marandu) houve redução de 4 kg de concentrado por vaca/dia.

Em função dos resultados obtidos, esta área de 3 ha, normalmente cultivada com milho para silagem, foi deixada como pasto no período de safra. Entre outubro de 2008 a março de 2009 foram mantidas,

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aproximadamente 21 animais, em sistema de pastejo rotacionado, com média de leite de produção de 20 kg/vaca/dia, proporcionando produtividade média de 140 kg/ha/dia (Figura 3).

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18

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/20

09

Produtividade (Kg/ha/dia) N.vacas Produção média de leite (kg/vaca/dia)

Figura 3. Número de vacas, produção média (kg/vaca/dia) e produtividade de leite

[(kg/ha/dia)/10] no período de outubro de 2008 a março de 2009, obtidas em

piquetes de (cv. Marandu) implantados no sistema de ILP no Sítio

Valão (Mar de Espanha/MG). O eixo y da esquerda refere-se ao número de vacas e

a produção média de leite, o lado direito refere-se à produtividade.

B. brizantha

Figura 2. Piquete de (cv. Marandu), formado no sistema de iLP,

pastejado por vacas leiteiras no Sítio Valão (Mar de Espanha, MG).

Brachiaria brizantha

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71Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Ainda na safra de 2008/09 uma área de aproximadamente 2,5 ha, com pastagem degradada próxima ao curral foi incluída no sistema visando substituir a silagem que seria produzida na área de 3 ha deixada com pasto e também recuperar esta área de pastagem. Decidiu-se incluir o componente arbóreo visando tanto o sombreamento para os animais como também alternativa de renda futura aos produtores. Adotou-se, assim, o sistema de integração lavoura, pecuária e floresta (iLPF), com o plantio consorciado do milho para silagem, braquiária e eucalipto. O arranjo espacial adotado foi o de 21,0 x (3,0 x 2,0), sendo duas fileiras de árvores, com espaçamento entre plantas de 3,0 x 2,0 metros e 21 metros entre as faixas, totalizando uma densidade de 416 árvores por hectare. Foram utilizadas mudas de Eucalyptus grandis propagadas por sementes. Nas áreas entre as faixas de árvores foi feito o cultivo em consórcio do milho e a Brachiaria brizantha (cv.Marandu). Seis meses após o plantio do consórcio, e dois meses após a colheita do milho para silagem, os animais tiveram acesso ao pasto recém-formado. Para isso foi necessária a proteção das linhas de eucalipto por meio de cerca eletrificada. Num primeiro momento foram utilizadas novilhas para evitar a quebra das árvores que já estavam com aproximadamente 3 m de altura (Figura 4).

Ainda na safra de 2008/09 novas áreas foram inseridas no sistema de iLP. Em uma destas áreas, considerada a melhor da propriedade e normalmente cultivada na safra e na safrinha com milho para silagem, foi realizado novo teste para comprovação da capacidade de suporte. A forrageira implantada foi a B. ruziziensis (cv. Comum), cuja finalidade inicial era o fornecimento de forragem no inverno e de palhada para o plantio direto subseqüente. Parte da área (0,6 ha) foi dividida em 13 piquetes e explorada com quatro vacas, com média de produção de leite de 18 kg/vaca/dia, aproximadamente (Figura 5).

O manejo adotado na fazenda preconizava o fornecimento de silagem no cocho durante todo o ano. Na época seca do ano todos os animais recebiam de 30 a 40 kg/vaca/dia de silagem de milho e na época das águas 10 kg/vaca/dia.

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72Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Figura 4. Novilhas em áreas de (cv. Marandu), formado no sistema de

iLPF, no Sítio Valão (Mar de Espanha, MG).

Brachiaria brizantha

Figura 5. Piquetes de , formado no sistema de iLP, no Sítio Valão (Mar de

Espanha, MG).

Brachiaria ruziziensis

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73Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

É importante salientar que as vacas que pastejavam a área de B.ruziziensis não recebiam silagem de milho e somente 2 kg/vaca/dia de concentrado, além da forragem consumida na pastagem. As vacas que pastejavam a área de B.brizantha, por sua vez, recebiam 10 kg/vaca/dia de silagem de milho e 4 kg/vaca/dia de concentrado.

A partir de 2010 nova área de iLP, medindo aproximadamente quatro hectares, foi implantada com o consórcio milho + B.brizantha (cv. Marandu). Após o corte do milho para a silagem, em metade da área, a pastagem de Marandu foi incorporada à área de B. ruziziensis, totalizando 2,6 hectares. Esta área foi dividida em 17 piquetes, de modo que cada piquete é pastejado por um dia com descanso de 16 dias. Estes 17 piquetes estão mantendo 16 vacas, com uma taxa de lotação superior a cinco vacas/ha (Figura 6). Com a redução do volume de chuva, início da época seca, as vacas estão recebendo 10 kg/vaca/dia de silagem de milho e 4 kg/vaca dia de concentrado, com produtividade média de leite de 21 kg/vaca/dia. Os resultados permitem concluir que o pasto bem manejado é capaz de sustentar animais proporcionando condições de obtenção de altas produtividades de leite, com grande redução de custo.

Na safra 2009/2010 foi implantada uma nova área de iLPF, sob o mesmo arranjo, com aproximadamente 5 ha, mais acidentada, com o cultivo em consórcio do milho e a Brachiaria brizantha (cv. Marandu) nas áreas entre as faixas de árvores (Figura 7). Nesta oportunidade foram utilizadas mudas clonais de um híbrido de eucalipto (urograndis).

Figura 6. Visão geral de parte do Sítio Valão. Áreas de piquetes implantadas por meio de ILP eILPF.

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74Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

É importante mencionar que a obtenção e manutenção das produtividades vegetais (milho e forrageiras) obtidas no Sítio Valão, assim como em qualquer outra propriedade, estão altamente relacionadas com o manejo de corretivos e adubações utilizado nos sistemas. Com a intensificação da exploração da terra, a extração de nutrientes pelas plantas é incrementada, tornando essencial a sua reposição.

A produção florestal foi estimada com base em dados dendrométricos obtidos em campo, com o auxílio do software SisEucalipto, desenvolvido pela Embrapa Florestas para a prognose da produção de madeira e seus multiprodutos. Foi feita uma projeção da produção de madeira considerando um horizonte de 12 anos com previsão de dois desbastes seletivos aos 4 e 8 anos antes do corte final. Os resultados são apresentados na Tabela 2.

Figura 7. Pasto formado por meio de ILPF em área de morro no Sítio Valão (Mar de Espanha,

MG).

Tabela 2. Estimativa da Produção florestal no sistema de integração

lavoura, pecuária e floresta com mudas propagadas por sementes x mudas

clonais.

Produção

(m3/ha)

Plantio Sementes

Safra 2008/2009

Plantio clone

Safra 2009/2010

Ano 4 Ano 8 Ano 12 Ano 4 Ano 8 Ano 12

Lenha e carvão 8,0 16,0 25,0 19,7 31,0 26,0

Toretes 5,0 14,0 33,0 13,0 25,6 40,0

Serraria 0 4,0 55,0 0 14,0 65,0

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Considerações finais

Os danos provocados pela agricultura tradicional têm desafiado a pesquisa pela busca de novas tecnologias capazes de reparar os danos perceptíveis e evitar o surgimento de outros. Nesse contexto, a iLPF trouxe um avanço considerável. Os conhecimentos gerados até o momento, por essa tecnologia, propiciaram alavancar o desenvolvimento de sistemas agrossilvipastoris produtivos e sustentáveis no Brasil. Muitos entraves ainda necessitam ser solucionados, contudo, o que se deseja num futuro próximo é a convivência harmônica de culturas produtoras de grãos, espécies forrageiras e arbóreas, capazes de expressar todo o seu potencial produtivo de forma econômica e viável e, assim, garantir a sustentabilidade do setor rural no País.

Agradecimento

Agradecemos aos Senhores Carlos Machado, Vicente de Paula Machado e Sérgio Machado, proprietários do “Sítio Valão”, por terem permitido a realização das avaliações em algumas áreas da propriedade e permitido a publicação das fotografias neste artigo.

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

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Capítulo 4

Indicadores técnicos de eficiência e renda de sistemas de produção de leite a pasto

José Ladeira da Costa

Introdução

O objetivo deste artigo é sensibilizar produtores de leite a adotarem o controle e avaliação de indicadores técnicos de eficiência e renda, como ferramentas para auxiliar na administração da propriedade. A apresentação destes indicadores segue o critério de facilidade de determinação, não observando a ordem de importância. São eles: Produção de leite por vaca ordenhada e por vaca total; Percentual de vacas em lactação; Relação produção de leite e consumo de concentrado; Produtividade da mão-de-obra; Taxa de lotação das pastagens; Produtividade da terra; Rendimento das culturas forrageiras; Mortalidade das fêmeas; Intervalo de partos; e Idade ao primeiro parto. Tais indicadores se prestam para a elaboração de diagnósticos e identificação de restrições ao aumento da produção e à melhoria da produtividade e renda. O exercício apresentado no Anexo 1 pode ser útil ao produtor ou técnico que se propõe efetuar uma análise pontual do desempenho de uma propriedade, como mostra.

Produção de leite a pasto: conceitos

O modelo de produção de leite a pasto caracteriza-se pela manutenção do rebanho nas pastagens durante o período das chuvas e pelo fornecimento de forragem suplementar (cana e/ou silagem) limitado ao período seco do ano, quando é baixo ou nulo o crescimento do pasto. O pasto é um alimento barato e o pastejo uma forma simples e econômica de alimentar o rebanho. Concentrados são fornecidos para vacas em lactação, em função da produção leite, e, dependendo do nível de especialização, no período da seca, para as demais categorias, em função do ganho

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de peso desejado e condição reprodutiva e/ou corporal. Em qualquer situação, sempre levar em consideração a disponibilidade e a qualidade do pasto e da forragem suplementar ao fornecer concentrado.

Este modelo de produção pode ser representado pela Figura 1, onde três elementos se destacam: solo, planta (forrageiras e pastagens) e animal, cada qual deles, per se, um sistema complexo. Os fatores climáticos - radiação, temperatura, precipitação etc. - afetam diretamente o crescimento das plantas e o comportamento dos animais, que precisam ser adaptados às condições reinantes. O “Produtor”, ao centro, é o responsável pela manutenção do equilíbrio entre os três principais elementos, tendo como compromisso a melhoria na produtividade e aumento na produção e renda.

Numa atividade que passa por rápida evolução, a capacitação técnica e gerencial do produtor é cada vez mais necessária. A função gerencial do produtor envolve atividades múltiplas e de natureza permanente, como: identificar problemas e restrições ao crescimento (Diagnóstico); estabelecer objetivos e metas e propor as soluções ou providências para

Figura 1. Representação esquemática de um sistema de produção de leite a pasto.

Clima

ANIMAL

Produtor

SOLO PLANTA

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alcançá-los (Planejar); trabalhar/administrar bem (Executar); acompanhar a execução do plano – (Controlar); reavaliar os resultados (Analisar/Diagnosticar), assim sucessivamente. O sucesso do produtor é alcançado com a manutenção da estabilidade do sistema e com a geração de renda, condições necessárias para a continuidade do negócio. Para atingir esses objetivos, o produtor precisa estar preparado para coletar e interpretar dados e informações que o auxiliem na tomada de decisão, tais como indicadores técnicos de eficiência e renda.

Indicadores técnicos

Produção de leite por vaca ordenhada e por vaca total

As produções de leite por vaca ordenhada (PVO) e pelo total de vacas (PVT) do rebanho são obtidas dividindo-se a produção de leite num determinado período – dia ou mês, pelo número de vacas ordenhadas e pelo total de vacas (lactação e secas), respectivamente.

Alem de medidas de produção, a relação entre PVO e PVT combina os efeitos dos fatores intervalos de partos e duração da lactação constituindo-se num indicativo da eficiência produtiva do rebanho. Assim, elevada PVO, relativamente ao padrão da raça, com a PVT aproximando-se da PVO, é indicativo de excelente desempenho produtivo; quando a PVT distancia-se da PVO, é indicativo de fraco desempenho, motivado por intervalos de partos longos e/ou lactações curtas. A PVO deve ser comparada com o padrão da raça e com propriedades de sucesso na região.

Percentual de vacas em lactação

O percentual de vacas em lactação (% VL) é determinado facilmente, para um determinado dia, sabendo-se o número de vacas em lactação (VL) e o total de vacas (VT) do rebanho: % VL= VL/VT*100.

No total de vacas não são incluídas as novilhas em reprodução, uma vez que a idade ao primeiro parto é o indicador mais apropriado para se avaliar a eficiência do sistema de criação. Assim determinado, o valor do

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%VL é indicativo da situação esperada para intervalo de partos e duração da lactação, índices freqüentemente desconhecidos. Em razão do forte impacto sobre a produção de leite, a % VL é um bom indicador da eficiência produtiva do rebanho a ser considerado no diagnóstico da atividade leiteira.

O percentual das vacas em lactação está sujeita a variações devido à concentração de partos em determinadas épocas do ano, causadas por: mudanças no manejo alimentar do rebanho, principalmente entre as épocas das chuvas e da seca; dificuldades de concepção das vacas no verão, motivado por estresse provocado pelas altas temperatura e umidade do ar; interesse do produtor em concentrar a parição na época da seca, quando é maior preço do leite. Portanto, para maior rigor no diagnóstico, é recomendável avaliar a evolução mensal do percentual de vacas em lactação durante o ano, identificando as causas de tais variações.

É importante enfatizar que o % VL, é função do intervalo de partos (IP) e a da duração da lactação (DL), conforme mostram os dados da Tabela 1. Conhecendo-se o IP e a DL do rebanho, pode assim calcular: %VL = Duração de lactação (meses)/Intervalo de partos (meses) x 100. Por exemplo: duração da lactação, 10 meses, e o intervalo de partos, 14 meses, o %VL do rebanho será 71,4%.

Os dados da Tabela 1 mostram que:• Alta % VL: consegue-se com IP curto e lactação longa;• Baixa % VL: pode ocorrer em rebanhos com IP longos, se as

Tabela 1. Evolução no percentual de vacas em lactação em função de

variações no intervalo de partos e na duração da lactação.

Intervalo de partos

(mês)

Duração da lactação (mês)

7 8 9 10

Vacas em lactação (%) *

12 58 67 75 83

13 54 62 69 77

14 50 57 64 71

15 47 53 60 67

16 44 50 56 63

* %VL = Duração de lactação (meses) / Intervalo de partos (meses) x 100.

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

lactações são curtas;• Evolução no %VL de 53 para 77%: obtida com a redução do IP

de 15 para 12 meses combinado com aumento da lactação de 08 para 10 meses, com ganhos de 17% no número de crias e de 45% no número de vacas em lactação e, possivelmente, na produção de leite;

• A duração e a persistência de lactação são critérios importantes a serem considerados para a seleção e descarte de vacas do rebanho.

Relação produção de leite e consumo de concentrado

Os concentrados (rações) para suplementação das vacas em lactação constituem um dos maiores componentes de despesa na atividade leiteira. Sabendo-se a produção de leite e quantidade de concentrado fornecido no dia (ou mês) às vacas em lactação, calcula-se a relação litros de leite/1,0 kg de concentrado.

O acompanhamento das variações nas relações litros de leite/1,0 kg de concentrado e preço de leite/preço de concentrado e seus impactos sobre o percentual da receita gasto com concentrados é um procedimento que deve ser adotada de forma rotineira. Os dados da Tabela 2 mostram que:

• O fornecimento de 1,0 kg de concentrado para 3,0 litros de leite produzidos compromete 33% da receita com leite, quando a relação de preços do leite e concentrado seja de 1:1. Esse comprometimento pode atingir 27% e 42% da receita, caso o preço do leite seja 20% acima ou abaixo do preço do concentrado, respectivamente.

• Quando favorável a relação de preços leite/concentrado, o maior nível de suplementação de concentrado é compensado pela maior receita com a venda de leite.

Para minimizar a despesa com concentrados, é importante que o produtor, adote ainda medidas que assegurem: a) oferta de forragem de melhor qualidade, visando reduzir a necessidade de suplementação com concentrados; b) racionalizar o uso de concentrado, em função do estágio de lactação, produção e condição corporal das vacas.

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84Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Produtividade da mão-obra

A produtividade da mão-de-obra (PMDO), expressa em litros de leite produzido por trabalhador por dia, é indicador apropriado para se avaliar a eficiência do uso da mão-de-obra (MDO) e estimar o seu impacto no custo de produção. Este indicador é determinado dividindo-se a quantidade de leite produzida num determinado período – dia, semana ou mês - pelo número de serviços (MDO permanente e eventual, própria ou contratada) gastos na atividade leiteira (ordenha, plantio, colheita, preparo da forragem, alimentação do rebanho, roçada etc.) no mesmo período. Tomando-se, por exemplo, 500 litros a produção diária de leite e quatro o numero médio de trabalhadores envolvidos com a atividade leiteira, a PMDO será de 125 litros de leite por trabalhador por dia.

A produtividade da mão de obra causa grande impacto no custo da atividade leiteira, podendo, quando baixa, inviabilizar a produção de leite conforme mostram os dados da Tabela 3. A avaliação e o acompanhamento mensal da evolução da PMDO é recomendável, inclusive em se tratando de MDO familiar.

É preciso dispor de condições favoráveis para o trabalho (instalações, máquinas e equipamentos apropriados), inclusive com a capacitação e melhoria da qualidade da mão-de-obra. Maior produtividade da mão-de-obra se consegue com uso intensivo de pastagens, suplementação

Tabela 2. Despesa com concentrados para vacas em lactação,

relativamente à receita com venda de leite, em função da variação nas

relações “produção de leite e consumo de concentrados” e de preços “do

leite e do concentrado”.

Relação “Litros de leite produzido

por 1,0 kg de concentrado”

Relação “preço do leite : preço do concentrado”

1: 0,8 1 : 1 0,8 :1

Despesa com concentrados (% da receita)

2,5 32 40 50

3 27 33 42

3,5 22,8 28,6 35,7

4 20 25 31

5 16 20 25

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85Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

a pasto, forragem de qualidade, rebanho mais produtivo, ordenha mecânica e aumento da escala de produção, Melhorias da PMDO proporcionam forte redução nas despesas, podendo viabilizar, com os ganhos proporcionados, o investimento em ordenhadeira mecânica.

Taxa de lotação das pastagens

A taxa de lotação (TL), expressa em unidade-animal (UA) por hectare, é uma medida da capacidade de suporte e um indicador das condições das pastagens, o que possibilita comparar diferentes pastagens e propriedades.

Uma unidade-animal (UA) corresponde a um bovino adulto, com peso de 450 kg. Para efeitos práticos considera-se, para rebanhos mestiços Holandês-Zebu: crias até um ano = 0,25 UA; crias de 1 a 2 anos = 0,5 UA; animais de 2 a 3 anos = 0,75 UA; animais acima de três anos e adultos = 1,0 UA; e reprodutores = 1,25. Ajustes devem ser feitos para raças de grande porte e para vacas em lactação com produções elevadas.

A TL é determinada a partir do total de UA do rebanho, que é obtido conhecendo-se o número de animais de cada categoria, dividindo-o pela área de pastagens da propriedade. Valores para TL inferiores a 1,0 UA/

Tabela 3. Variação no percentual da despesa com mão-de-obra (MDO)

relativamente à receita com venda de leite, em função da produtividade

(PMDO) e do custo.

PMDO

(Litros de

leite/trabalhador/dia)

Receita com

venda de leite*

(R$ /dia)

Custo da MDO

(R$ / trabalhador/dia)

30,00 40,00 50,00

Despesa com MDO (% da receita)

50 35 86 114 143

100 70 43 57 71

150 112 27 36 45

200 140 21 28 36

300 210 14 19 24

400 280 11 14 18

* R$ 0,70 / litro de leite.

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86Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

ha indicam pastagens pouco produtivas ou degradadas; TL superiores a 4,0 UA/ha são esperadas em pastagens adubadas e manejadas em pastejo rotativo.

Opcionalmente, a TL pode ser expressa em vacas por hectare, especialmente para pastagens exploradas intensivamente com vacas em lactação.

Produtividade da terra

A produtividade da terra pode ser expressa em produção de leite por hectare por dia (L/ha/dia), que é um indicador da eficiência do uso dos recursos forrageiros e do potencial do rebanho. Este indicador é determinado dividindo-se a quantidade de leite produzida num determinado período – dia, mês ou ano - pela área total da atividade leiteira (pastagens, forrageiras para corte e ensilagem, mais área ocupada com instalações). Tomando-se, por exemplo, uma produção de 500 litros leite/dia e 50 ha a área da atividade leiteira, dividindo-se a produtividade da terra: 10 litros/ha/dia. Maior rigor é obtido considerando-se produções médias diárias ao final de um mês, semestre ou ano.

Opcionalmente, para as pastagens destinadas à criação das fêmeas a produtividade pode ser expressa em ganho de peso por hectare por ano (kg/ha/ano).

A taxa de lotação das pastagens e produção por vaca ordenhada são os fatores que mais causam impacto na produtividade da terra, conforme mostram os dados da Tabela 4. Assim, combinando-se aumentos na taxa de lotação de 1,0 para de 2,0 vacas/ha, e na produção de leite, de 5 para 10 litros/vaca/dia, pode-se evoluir de uma produtividade de 5,0 para 20 litros/ha/dia, considerada boa. Disto resulta no aumento da estimativa de receita anual por hectare de R$ 1.280,00 para R$ 5.110,00. R$ 0,70/litro/leite. Ressalta-se, assim, a importância e a necessidade do produtor implementar, simultaneamente, melhorias nas pastagens e no uso de vacas com maior potencial leiteiro.

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87Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

A produção de leite por hectare por dia (L/ha/dia) é um indicador apropriado para comparar propriedades que adotam sistemas de produção de leite a pasto, em função da facilidade de determinação e entendimento. Além disso, é possível obter estimativas de receitas com a venda de leite por unidade de área, úteis na tomada de decisões quanto à realização de investimentos na melhoria das pastagens e na produção de forragem.

Rendimento das culturas forrageiras

A obtenção de rendimentos elevados das culturas forrageiras (capineira, cana-de-açúcar, milho ou sorgo para silagem) resulta em maior eficiência no uso da terra, da mão-de-obra e das máquinas e equipamentos empregados no plantio e colheita, além da obtenção de forragem de melhor qualidade, com menor custo. Com forragem de melhor qualidade são esperados ganhos adicionais na produção de leite e no crescimento dos animais, e menor necessidade de concentrados para suplementação do rebanho.

A obtenção de rendimentos elevados e forragem de boa qualidade deve ser a meta do produtor. Para isso, tecnologias intensivas de produção de forrageiras para corte ou ensilagem devem ser aplicadas nas áreas com maior capacidade de uso do solo e com possibilidades de irrigação. O rendimento das culturas forrageiras deve ser avaliado a cada corte ou colheita e, na medida do possível, expresso em produção de matéria seca (t MS/ha).

Tabela 4. Evolução na produtividade da pastagem em função dos

aumentos da taxa de lotação e da produção de leite por vaca ordenhada.

Taxa de lotação da

pastagem

(Vacas/ha)

Produção por vaca ordenhada (L/dia) Pastagem para 10

vacas

(Ha)5 10 15 20

Produtividade da pastagem (L leite/ha/dia)

0,5 2,5 5 7,5 10 20,0

1 5 10 15 20 10,0

1,5 7,5 15 22,5 30 7,5

2 10 20 30 40 5,0

4 20 40 60 80 2,5

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88Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Exemplos dos ganhos esperados com a melhoria da produtividade das lavouras de cana-de-açúcar e milho são mostrados nas Tabelas 5 e 6.

Cana-de-açúcar: para um rebanho de 40 vacas, considerando consumo de cana de 25 kg/vaca/dia e período de suplementação de 180 dias, serão necessários 1.000 kg de cana por dia ou 180 toneladas no total. Em função da produtividade esperada (45 a 120 t/ha), a área do total canavial irá variar de 1,5 a 4,0 ha; em conseqüência, os 1.000 kg/dia de cana para suplementar as 40 vacas, serão obtidos em áreas de 83 a 222 m2, com evidentes benefícios da produção intensiva.

Milho para silagem: duas medidas simples, como “tempo” e “distância percorrida” para colheita de uma carreta de forragem, possibilitam ao produtor obter estimativas do rendimento de colheita e produtividade da lavoura, ou seja, eficiência do uso das máquinas e da terra. De posse destes dados, é possível estimar os ganhos esperados com a melhoria dos processos de produção de silagem, considerando-se os menores

Tabela 5. Variação no tamanho do canavial e na área colhida diariamente

para a obtenção de 1.000 kg de cana em função do rendimento da lavoura.

Produção de cana(T/ha)

Tamanho do canavial(ha)

Área colhida(m2/dia)

45 4,0 222

60 3,0 166

75 2,4 133

90 2,0 111

120 1,5 83

Tabela 6. Impactos do rendimento da lavoura sobre a área de plantio e

custos de máquinas para produção de 1,0 t de silagem de milho.

Lavoura A B C

Tempo de colheita (carreta 1.800 kg)* Minuto 28 13 8Distância percorrida* Metro 1.300 800 500Rendimento de colheita t/h 3,86 8,3 14,43Produção estimada da lavoura ** t/ha 15 25 40Área necessária para a produção de para 100 t desilagem

Ha 6,7 4,0 2,5

* Tempo de colheita e distância percorrida: valores observados; ** espaçamento: 0,9 m

entre linhas.

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89Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

gastos com as operações de preparo do solo, plantio, tratos culturais e colheita, com redução na área cultivada e com a obtenção de uma silagem de melhor qualidade.

Mortalidade das fêmeas

Índices elevados de mortalidade resultam em pequena disponibilidade de fêmeas para reposição do rebanho e venda, além dos machos. A identificação das fêmeas ao nascer (nome ou número, data, mãe, pai, grau de sangue etc. com registro em caderno, ficha ou planilha apropriada) e o registro da morte dos animais (data, idade e causa provável) possibilita medir as perdas e adotar as medidas necessárias para prevenir novos casos.

O maior risco de morte das crias ocorre durante o período de aleitamento, o qual deve merecer grande atenção do produtor. Todavia, não basta assegurar a sobrevivência da bezerra, mas também lhe proporcionar um desenvolvimento compatível com o padrão da raça, visando obter um animal mais produtivo e de maior valor comercial. A ingestão adequada de colostro pelo recém-nascido, o tratamento do umbigo, a manutenção das crias em instalações limpas, o fornecimento de quantidades suficientes de leite, concentrado e forragem de boa qualidade, o controle e prevenção do carrapato e verminoses, são medidas indicadas para o adequado desenvolvimento nesta fase.

Convém ressaltar: a) a perda de apenas um bezerro(a) num rebanho em que nascem 20 bezerros por ano, resulta em 5% de mortalidade nesta categoria; b) a mortalidade de animais jovens em rebanhos leiteiros é freqüentemente mais elevada do que a relatada pelos produtores, em razão da falta de registros.

Idade ao primeiro parto

A idade ao primeiro parto (IPP) é um indicador da eficiência do sistema de cria e recria das fêmeas leiteiras. Para saber a IPP é necessária a identificação individual das fêmeas do rebanho, com informações sobre: nome ou número, data de nascimento, pai, mãe, grau de sangue aproximado e peso ao nascer.

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90Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

A redução na IPP resulta na manutenção de maior número de animais produtivos no rebanho; em maior taxa de substituição das matrizes por suas filhas, supostamente de melhor potencial leiteiro, com melhoria no padrão genético do rebanho; e em mais fêmeas de maior valor comercial para venda. Outro aspecto positivo é a maior eficiência do uso da terra, visto que um menor número de fêmeas de reposição são mantidas no rebanho, com menor necessidade de pastagem (Tabela 7). A meta para IPP varia com a raça, admitindo-se certa flexibilidade em função do sistema de criação adotado: 24 a 28 meses para fêmeas HPB; 30 a 36 meses para fêmeas mestiças HPB-Zebu.

Para a redução da IPP é necessário adotar um bom manejo alimentar da fêmea desde a fase de aleitamento, com especial atenção ao período seco do ano. É desejável, ainda, acompanhar o desenvolvimento das fêmeas com pesagens mensais ou a cada seis meses (final dos períodos da seca e das águas) e aos 12 e 24 meses, conforme as facilidades disponíveis na propriedade e o nível de especialização do rebanho.

Outras medidas que contribuem para a redução da mortalidade e da idade ao primeiro parto, com agregação de valor às fêmeas para reposição e venda, são: parição das vacas em pasto-maternidade,

Tabela 7. Efeito da redução da idade ao primeiro parto combinado com o

aumento da taxa de lotação da pastagem sobre a eficiência do uso da

terra, considerando a reposição anual de dez fêmeas no rebanho.

CategoriasIdade ao primeiro parto (Mês)

42 36 30 24

Fêmeas até 1 ano 10 10 10 10

Fêmeas de 1 a 2 anos 10 10 10 10

Fêmeas de 2 a 3 anos 10 10 5 -

Fêmeas mais de 3 anos 5 - - -

Total de fêmeas de reposição 35 30 25 20

Pastagem necessária (ha):

Taxa de lotação: 1 UA/ha 20 15 11 7,5

2 UA/ha 10 7,5 5,5 3,8

Eficiência do uso da terra (%) 38 50 67 100

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91Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

próximo ao curral de manejo; adequada ingestão do colostro pelos recém-nascidos; tratamentos iniciais (corte do cordão umbilical, descorna, vacinações e identificação); aleitamento artificial em abrigos individuais com adequado arraçoamento (concentrado e feno) e desmama precoce das bezerras; cria e recria das fêmeas a pasto (boa qualidade), em pastejo rotacionado; suplementação com cana+uréia e concentrados na seca; fornecimento de sal mineral à vontade.

Intervalo de partos e duração da lactação

O intervalo de partos (IP) corresponde ao período de tempo decorrido entre dois partos consecutivos de uma mesma vaca. Para determinar o IP e a duração da lactação (DL) é preciso anotar as datas de partos e de secagem. O uso de fichas e planilhas é indicado. conhecimento do IP e da DL favorece a tomada de decisão relativa ao descarte de vacas, bem como a adoção de medidas que resultem em melhorias na eficiência reprodutiva do rebanho.

A redução no intervalo de partos faz com que a vaca permaneça menos tempo seca, e, com isso, em aumento na produção de leite, além de proporcionar maior número de crias, disponibilizando mais animais para venda, trazendo como conseqüência mais renda para o produtor. Admitindo-se que dois meses após o parto a vaca se encontre apta para a reprodução, somados aos 9,5 meses de gestação (283 dias), totalizando 11,5 meses de IP, assim torna-se difícil justificar a ocorrência de intervalos de partos superiores a 14 meses.

O efeito da redução do intervalo de partos combinado com o aumento da produção por lactação sobre a produção de leite da propriedade é mostrado na Tabela 8. As principais medidas necessárias para se obter uma maior eficiência produtiva são: um adequado manejo alimentar das vacas no pré e pós-parto; a suplementação adequada da vaca em função da produção de leite, do estágio de lactação e da condição corporal; um bom manejo sanitário; e uso de reprodutores férteis ou de boas práticas de inseminação.

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92Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Impactos dos indicadores técnicos sobre a produção

Os impactos de mudanças nos indicadores de lotação da pastagem, intervalo de partos, duração da lactação e produção por vaca ordenhada, evoluindo de valores típicos de um sistema tradicional (A) de produção para sistemas melhorados (B) e intensivos (C) sobre a produção de leite e receita, são mostrados da Tabela 9. Nesse exemplo, foram obtidos aumentos de três a dez vezes na produção de leite, na produtividade da terra e na receita. Quanto ao saldo parcial (Receita menos despesas), foi afetado principalmente pelos gastos com concentrados e pela produtividade da mão-de-obra, que são os principais componentes de despesas nas propriedades leiteiras especializadas. O preço do leite é variável importante na composição da receita, em qualquer situação. Contudo, é importante destacar que embora dependente do mercado, melhorias no preço do leite podem ser obtidas em função do aumento da escala de produção e com melhoria da qualidade, com ganhos adicionais na remuneração.

Tabela 8. Efeito da redução do intervalo de partos combinado com o

aumento da produção por lactação sobre a produção de leite num rebanho

com 10 vacas.

Intervalo de partos (meses): 16 15 14 13

Partos (bezerros) por ano: 7,5 8,0 8,6 9,2

Vacas ordenhadas/dia (10 m lactação) 6,2 6,7 7,2 7,7

Produção de leite:

Por vaca ordenhada (L/Dia) Total da propriedade (L/dia)

20 124 134 144 154

15 93 100 108 116

12 74 80 86 92

10 62 67 72 77

8 50 54 58 62

5 31 34 36 38

Eficiência (%) 80 86,7 97,4 100

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93Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Conclusão

O conhecimento de indicadores técnicos da propriedade é útil para ela-boração de diagnósticos; aferir a eficiência e corrigir os desvios; avalia-ção do potencial para crescimento da produção; e comparar o planejado com o realizado. Aos produtores interssados neste tema, recomenda-se preecher o exercício apresentado no Anexo 1 - Teste: Diagnóstico dos indicadores técnicos da propriedade leiteira, para avaliar a posição de sua propriedade, com os ajustes necessários nos índices apontados em relação a sistemas produtivos bem explorados na região.

Tabela 9. Melhoria dos indicadores técnicos e impactos na produção, na

receita com venda de leite e no saldo parcial do “subsistema vacas”.*

Indicadores Unidade A B C

Pastagens para as vacas Ha 20 20 20

1. Lotação das pastagens Vacas/Ha 1,0 2,0 4,0

Vacas (Total) Nº 20 40 80

2. Intervalo de partos Mês 15 14 13

Partos no ano Nº 16 34 73

3. Duração da lactação Mês 8 9 10

Percentual de vacas em lactação % 50,0 65,0 77,0

4. Produção por vaca ordenhada L/Dia 8 11 14Produção de leite L/Dia 85 283 862

Produtividade da terra L/ha/dia 4,2 14,1 43,1

Receita com a venda de leite R$/Mês 1.816,00 6.022,00 18.343,00

5. Relação leite produzido/ concentrado

para vacasL/kg 6,0 4,5 3,0

Despesa com concentrado R$/Mês 302,00 1.338,00 6.114,00

Relação Despesa/receita % 17% 22% 33%

6. Produtividade da mão-de-obra L/DH 70 140 250

Despesa com mão-de-obra R$/Mês 1.669,00 2.765,00 4.716,00

Relação despesa/receita % 92% 46% 26%

Saldo parcial R$/Mês (-154,00) 1.587,00 7.512,00

Saldo mensal – R$/Ha (-7,70) 79,00 376,00

* Leite = R$ 0,70/litro; concentrado = R$ 0,70/kg; mão-de-obra = R$ 45,00/serviço/dia.

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94Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Anexo 1Teste: Diagnóstico dos indicadores técnicos da propriedade leiteira.

Instruções:

1 -Preencha os campos vazios com as informações solicitadas

2 - Efetue a multiplicação e calcule o total de unidade-animal do rebanho

3 - Calcule os indicadores técnicos, de acordo com as orientações

prestadas no artigo.

Tamanho

Área da atividade leiteira Ha Ração para vacas em lactação Kg/dia

Pastagem (Total) Ha Produção de leite (PL) / dia: Litros

Pastagem para vacas em lactação Ha Leite: preço recebido R$/Litro

Mão-de-obra (Trabalhadores/Dia) Nº Concentrado: preço pago R$/KgRebanho

Categorias: Nº Cab. Multiplicar UA/Cab Igual UAReprodutores X 1,25 =

Vacas em lactação X 1,00 =

Vacas secas X 1,00 =

Fêmeas: até 01 ano X 0,25 =

Fêmeas: 1 a 2 anos X 0,50 =

Fêmeas: 2 a 3 anos X 0,75 =

Machos: até 01 ano X 0,25 =

Machos: 1 a 2 anos X 0,50 =

Machos: 2 a 3 anos X 0,75 =

Bois X 1,00 =

Total de animais -

Total de unidade-animal

Indicadores técnicos (e Valores de referência)

Produção de leite (PL): Baixo * Alto *

- Vaca ordenhada L/dia < 8 >12

- Vaca total L/dia

- por 1 kg ração gasto Litro

- Trabalhador (Produtividade da mão-de-obra) L/Trab/dia 100 200

- Área (Produtividade da terra) L/ha/dia 10 20

Vacas em lactação % 60 72

Lotação das pastagens (Total) UA/ ha < 1 2

Lotação das pastagens para vacas lactação Vacas/ ha 1 > 2

Despesa com MDO/% da Receita de leite % > 30 < 30

Despesa concentrado/% da Receita de leite % > 30 < 25

* Valores de referência para sistemas de produção de leite a pasto com rebanhos mestiços

HPB-Gir. Ajustes precisam ser feitos para sistemas intensivos.

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Capítulo 5

Remuneração como incentivo à qualidade do leite

Fernando Ferreira Pinheiro

Introdução

As melhorias na produtividade da pecuária leiteira e na qualidade do leite são temas debatidos há mais de 20 anos. Em um mercado cada vez mais competitivo e exigente como o da cadeia produtiva do leite, esses temas são considerados fundamentais para a competitividade e a sustentabilidade na atividade. E é importante ressaltar que com a evolução das tecnologias e ferramentas de manejo, a eficiência produtiva na cadeia estará cada vez mais relacionada à qualidade, uma vez que os controles de qualidade além de garantir a integridade do produto final, direcionam para o uso racional de insumos na produção. Sendo assim há diminuição de perdas e desperdício, o que contribui para o aumento da produtividade.

Ainda com relação à produtividade, na pecuária leiteira brasileira este é um tema bem estudado e desenvolvido. Como resultado observou-se o crescente volume de leite produzido no Brasil desde a década de 90. Esse crescimento levou à necessidade de estimular o aumento de consumo de leite e derivados, expandindo as vendas no mercado interno e a busca por novos mercados, com o Brasil passando de importador para exportador de derivados lácteos. Entretanto, para atender essas necessidades é importante atentar às demandas do mercado, sendo que atualmente a de maior destaque é a de produtos de qualidade e que não ofereçam riscos de consumo, principalmente para crianças e idosos.

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No caso do leite e seus derivados, a busca por produtos de melhor qualidade começa pela matéria-prima, ou seja, a qualidade dos produtos que as indústrias vão comercializar depende da qualidade do leite fornecido pelos produtores. Além de influenciar na qualidade do produto final, a matéria-prima leite influencia também no rendimento das plantas industriais. Sendo assim, precisamos trabalhar mais o tema qualidade, atual desafio da pecuária leiteira nacional.

Além disso, é preciso salientar que a qualidade está além da avaliação no produto final. Por exemplo, as normas européias abordam qualidade em toda a cadeia produtiva, avaliando o ambiente de trabalho, a assistência técnica, desde o produtor até o consumidor final. Com isso a qualidade se torna fundamental para a cadeia produtiva moderna do leite, envolvendo: sanidade do rebanho, nutrição adequada, adequadas condições de armazenamento e transporte até unidade beneficiadora e a preocupação com a melhoria na composição do leite.

Neste sentido, para melhorar a qualidade de sua principal matéria-prima e seus índices de rendimento, é importante para a indústria e para a cadeia produtiva, a criação de um Programa de Melhoria na Qualidade do Leite fornecido pelos produtores, ação já é prevista em documentação exigida na Instrução Normativa 51.

E para ter melhorias no processo de produção do leite, se faz necessário uma estrutura para educação continuada junto aos produtores, incluindo nesta estrutura ações como: palestras para produtores e colaboradores, projetos de assistência técnica e educação, manuais e informativos técnicos e a disponibilização dos resultados de análise de qualidade para os produtores. No caso de um programa de melhoria da qualidade, com uma estrutura educação continuada bem organizada, outra ferramenta que funciona como incentivo e oportunidade de ganhos é o Sistema de Pagamento pela Qualidade do Leite.

Desta forma, o pagamento pela qualidade é importante para estimular o produtor a buscar informações e orientações para melhorar a qualidade do leite produzido em sua propriedade. Além disso, é uma forma justa

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de bonificar aqueles que se preocupam com a qualidade e investem em melhorias. O retorno para indústria está na melhoria da qualidade de sua matéria-prima, e para o produtor a obtenção do produto de todas as atividades realizadas em sua propriedade, valorizado pelo resultado das melhorias adotadas.

A importância da qualidade do leite para a produção de derivados lácteos

O controle e a determinação dos componentes do leite são muito importantes na fabricação de derivados lácteos. A composição média do leite é de 87,4% de água e 12, 6% de sólidos totais, sendo 3,9% de gordura, 3,2% de proteína, 4,6% de lactose e 0,90% de minerais (HARDING, 1995). A composição do leite pode variar devido a vários fatores como a sazonalidade, a genética e a nutrição. Entretanto, o valor nutritivo dos componentes individuais, tais como gordura, proteína, lactose e vitamina A são muito constantes (HOLMES E WILSON, 1990).

Além da composição, a qualidade microbiológica do leite também é de extrema importância para a produção de derivados. Neste caso, as células somáticas e as bactérias contaminantes têm grande influência sobre as características organolépticas e sobre o tempo de prateleira dos produtos (Machado, 2008).

Além de atestar o estado sanitário das vacas em lactação em relação à mastite, a CCS também é um critério de qualidade do leite cru, já que a glândula mamária doente produz leite com composição alterada, o que resulta em leite fluido e produtos lácteos de qualidade reduzida (GIGANTE E COSTA, 2008). A literatura aceita como 200.000 cél. Somáticas/mL indicativo de leite originário de um úbere sadio, livre de mastite. Estima-se ainda que ocorra uma redução de 2 a 2,5% da produção de leite para cada 100.000 cél. Somáticas/mL acima de 200.000 cél/mL (PHILPOT, 2002).

O uso de leite com CCS elevada afeta principalmente a produção de queijos, por causa de sua menor concentração de caseína e aumento das proteínas do soro. Causa ainda alteração da coagulação e do conteúdo

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de sólidos no soro, resultando em um produto com alterações sensoriais e defeitos de textura. Com relação à fabricação de leite em pó, a CCS elevada pode alterar a estabilidade térmica e reduzir a vida de prateleira, além do aparecimento de sabores indesejáveis no produto final. No caso do iogurte pode inibir a ação dos fermentos utilizados, em razão dos altos níveis de substâncias como a lactoferrina.

E no caso do leite UHT, o uso de leite com elevada CCS contribui para a redução do tempo para início do defeito conhecido como gelatinização do leite, devido à ação de proteases e lípases (SANTOS E FONSECA, 2007).

A Contagem Bacteriana Total (CBT) é indesejável, pois coloca em risco a saúde do consumidor devido à maior probabilidade de veiculação de doenças, e para a indústria, devido problemas no leite, causa características sensoriais indesejáveis (MENDONÇA et al., 2001).

O leite é uma fonte completa de nutrientes para uma grande quantidade de organismos e muitas espécies de bactérias se multiplicam rapidamente nele, principalmente se as temperaturas forem favoráveis. Neste caso, os componentes do leite são afetados pelas substâncias e enzimas liberadas pelas bactérias que causam coagulação, mudanças na cor, sabor e redução da produção e qualidade dos produtos. Lípases bacterianas desenvolvem sabor de ranço e reduzem a produção de manteiga. A fermentação da lactose em ácido lático ocasiona acidez e coagulação e pode reduzir a estabilidade do leite em pó ao calor (HOLMES E WILSON, 1990).

Com relação aos outros componentes do leite, a gordura é o componente mais variável, influenciada por fatores ambientais e manejo (especialmente nutrição) e genéticos (REIS et al., 2004).No caso dos teores de proteínas, estes são determinantes do rendimento industrial de queijos e outros lácteos dependentes da concentração de caseína no leite utilizado como matéria-prima (FONSECA et al., 2008).

Dessa forma a redução de células somáticas e de bactérias, o aumento nas concentrações de gordura e proteína verdadeira no leite representam uma grande revolução para a cadeia, pois haverá redução nos custos

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de transporte da matéria-prima e aumento na eficiência industrial (MACHADO, 2008). Além disso, seria a garantia de um produto final de melhor qualidade e sem risco para o consumidor.

O Sistema de pagamento pela qualidade

Principais fundamentos e objetivos

Um sistema de pagamento pela qualidade não pode ser uma ação isolada dentro da cadeia produtiva. O seu estabelecimento depende da conscientização de alguns segmentos do setor leiteiro. A ausência destes entendimentos gera problemas tecnológicos para todo o setor (TEIXEIRA, 1993). O sistema de pagamento pela qualidade deve ser uma ferramenta com duas funções: assegurar que os produtores estão sendo pagos pelo valor do seu leite no mercado e buscar a melhoria da qualidade através do pagamento de incentivos (HARDING,1987).

O pagamento do leite pela qualidade é uma ferramenta utilizada por vários países, sempre levando em consideração suas particularidades e necessidades locais. Na Comunidade Européia há regulamentação para pagamento pela qualidade do leite para todos os países membros desde 1971 (LEALI, 1975). Nesta regulamentação são considerados os seguintes pontos: Sanidade Animal, Valor Nutritivo e Valor Higiênico.

Para ser atingir o resultado desejado, o sistema de pagamento precisa satisfazer algumas condições como: o preço deve corresponder ao valor do leite, que depende da composição e qualidade higiênica, o produtor deve receber o preço justo e deve estar convencido disto (Berg,1986). Neste caso o pagamento seria composto por: composição, quantidade e qualidade higiênica. Com relação à qualidade higiênica o método de avaliação deverá ser o mais moderno disponível. Além disso, a classificação higiênica deverá ser um sistema único em todo o país (AUCLAIR,1970).

Embora a legislação européia seja de 1971, vários países já adotavam sistemas de pagamento. A Bélgica instaurou seu sistema em 1964, embora a legislação específica tenha surgido apenas em 1976 (RYSKENS, 1977).

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Neste sistema eram avaliados na época: determinação de impurezas, determinação da qualidade bacteriana, prova de coagulação e detecção de antimicrobianos e conservantes. Já na França a regulamentação existe desde 1969, e sua avaliação é baseada na composição e qualidade higiênica (GESSAT, 1974).

Um exemplo interessante é o caso da Itália que possui um sistema de pagamento desde 1962. Neste caso eram avaliados três pontos: sanidade animal (tuberculose, brucelose e mastite), composição (gordura e proteína) e higiene (limpeza, reação a resasurina e contagem dos termodúricos) (LEALI, 1975). Na época as zonas livres de brucelose e tuberculose foram consideradas como as que atingiram os primeiros degraus para a melhor qualidade do leite. Neste caso, foi considerado que o produtor deveria ser o primeiro a ser convencido da necessidade dos programas de sanidade animal. Como resultado em 1971 todos os rebanhos estavam livres de brucelose (TEIXEIRA, 1993). Essa experiência deve ser avaliada para o futuro da pecuária leiteira no Brasil.

Atualmente na Europa as indústrias adaptaram sistemas de pagamento que penalizam o leite fora de especificação e bonificam aquele que tem melhores desempenhos que os critérios exigidos por lei (RIBEIRO, 2008).

Os Estados Unidos e o Canadá também adotaram essas ferramentas para melhoria da qualidade do leite cru (MACHADO, 2008). No caso do Canadá, o sistema abrange os itens gordura, proteína e contagem de células somáticas (MONARDES, 1998). Uma maior valorização foi dada a proteína devido à valorização deste componente.

Considerando os índices de qualidade do leite dos países que adotaram um sistema de pagamento pela qualidade, fica evidenciado que o pagamento diferenciado pela qualidade do leite é o meio mais eficiente para alcançar melhorias. Desta forma, é importante no caso da pecuária leiteira brasileira a existência de um sistema de pagamento pela qualidade. Algumas cooperativas e empresas do setor lácteo já implantaram esses sistemas de pagamento, contribuindo significativamente para a melhoria na qualidade do leite.

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A implantação do pagamento pela qualidade do leite

A implantação de um Sistema de Pagamento pela Qualidade vai além de estabelecer os parâmetros e os valores a serem usados para a bonificação da produção. Neste caso, é importante seguir os padrões estabelecidos pela Instrução Normativa 51 (BRASIL, 2002).

É muito importante possuir uma estrutura capaz de garantir a correta coleta das amostras na propriedade, assim como o seu envio para um dos laboratórios da Rede Brasileira de Laboratórios de Controle de Qualidade do Leite (RBCQL). E este ponto é fundamental, pois garante a agilidade da coleta e envio das amostras, do processamento das análises e do recebimento e processamento dos resultados, garantindo assim a confiabilidade e imparcialidade dos resultados que serão utilizados na composição da bonificação pela qualidade.

O Sistema de Pagamento pela Qualidade começa, portanto na coleta da amostra. Para tanto é importante que esta tarefa possua um Procedimento Operacional Padrão descrito e registrado nos documentos da indústria. Além de estar descrito, este procedimento deve ser passado em treinamentos para os responsáveis pelas coletas. Atualmente o sistema mais utilizado é a coleta realizada pelos transportadores e, portanto o treinamento contínuo e o controle da coleta são fundamentais para o sucesso do sistema.

É importante também garantir um suprimento de material para a coleta e armazenamento das amostras, ou seja, frascos, conservantes, caixas isotérmicas e gelo reciclável. Depois de coletadas essas amostras devem ser enviadas a um laboratório da RBCQL para serem analisadas, dentro de um prazo de até 7 (sete dias). Para cumprir essas etapas é necessário haver um cronograma de coletas, envio e análise das amostras. Esse cronograma deve ser estabelecido e enviado para todas as partes envolvidas, indústria e laboratório.

De posse dos resultados, é importante ter um sistema que possa receber esses dados, disponibilizá-los para os produtores e processá-los para realizar o pagamento pela qualidade. Quando o produtor

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passa a receber pela qualidade do seu produto, neste caso o leite, ele passa a se preocupar com o resultado das análises. Por isso é muito importante disponibilizar este resultado ao produtor de forma objetiva e ao mesmo tempo completa, o que o permitirá avaliar e planejar ações para a melhoria da qualidade de seu leite. Desta forma, a qualidade se torna mais um parâmetro para avaliação da produção, um indicador de desempenho financeiro da atividade de leite na propriedade.

A experiência da Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais

Preparada para atender a esse processo, há sete anos, a CCPR-Itambé deu início às análises relativas à Contagem Bacteriana Total (CBT), Contagem de Células Somáticas (CCS) e composição do leite recebido de seus cooperados. Assim foi criado um banco de informações que tinha por objetivo, primeiramente, municiar os produtores com informações sobre o leite produzido, possibilitando a adequação às exigências da Instrução Normativa nº 51, que entraria em vigor três anos depois.

A partir daí, os produtores tiveram acesso ao Boletim da Qualidade, por meio do qual podiam avaliar os índices de medida da qualidade do leite, preparando-se para atender às exigências legais e para o pagamento pela qualidade, adotado há quatro anos pela CCPR. Os dados colhidos levaram à implantação de programas que, até hoje, visam a melhoria contínua da qualidade do leite produzido pelos cooperados.

Os resultados para pagamento são registrados no Boletim da Qualidade, assim como o histórico de qualidade da propriedade que serve, de orientação para os produtores. Além disso, essas informações permitem aos técnicos da Itambé realizar visitas para a orientação sobre a qualidade do leite junto aos produtores.

E os resultados obtidos foram além da melhoria na qualidade do leite. Essa melhoria aconteceu e se refletiu principalmente com relação à microbiologia do leite. Os produtos da cooperativa fortaleceram ainda mais a sua tradição de qualidade. Os produtores atentos às mudanças

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se tornaram mais competitivos e valorizados, a avaliação da produção deixou de ser apenas relativa ao volume e à orientação técnica ganhou outro ponto de atuação. Além da oportunidade financeira para os produtores, novas oportunidades de pesquisas surgiram, tanto em controles na propriedade como nos processos da cadeia produtiva. E mais recentemente surgiram os trabalhos e pesquisas para melhorias nas condições de transporte do leite da propriedade às unidades industriais.

E como aprendizado solidificou- se o conceito de que um programa de pagamento pela qualidade do leite deve incentivar o produtor a melhorar a qualidade do seu leite. Principalmente no que se refere à CBT e CCS, pois estes dois parâmetros dependem da adoção de práticas corretas de manejo, como a limpeza e higienização dos equipamentos de ordenha e o controle de mastite. São nesses parâmetros que o produtor consegue uma melhoria da qualidade significativa no seu produto a curto e médio prazo, já que com relação aos sólidos, a nutrição e, principalmente, a genética irão interferir para ocorrerem melhorias.

Considerações finais

As experiências obtidas no Brasil e no exterior comprovam que o pagamento pela qualidade do leite é a ferramenta mais eficiente para promover a melhoria na qualidade. Esse incentivo vem sendo adotado cada vez mais por várias indústrias, o que ajuda a fortalecer a cadeia e fomentar a preocupação com a melhoria na qualidade de seu produto.

Um sistema de pagamento pela qualidade não deve ser estático, é importante sempre revisá-lo e atualizá-lo de acordo com as novas exigências legais e de mercado. Ou seja, deve ser uma ferramenta dinâmica que busca de forma contínua, incentivo e a premiação àqueles produtores que se preocupam com o leite que produzem como alimento para um consumidor final.

Com o aumento da produção leiteira e o conseqüente aumento da participação no mercado internacional, será necessário aumentar a abrangência dos atuais sistemas de pagamento. Neste caso, aspectos

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sanitários, de segurança e meio ambiente poderão ser incluídos em sistemas de pagamento pela qualidade com maior participação na composição do preço da matéria prima.

Referências

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HOLMES,C.W.; WILSON, G.F. . Produção de leite à pasto. Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1990.

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Capítulo 6

Produção de leite de qualidade com a tecnologia “kit embrapa de ordenha manual”

Marne Sidney de Paula Moreira, Antônio Cândido de Cerqueira Leite Ribeiro, Armando da Costa Carvalho, Carlos Alberto dos Santos, Edna Froeder Arcuri, Fábio Homero Diniz, Guilherme Nunes de Souza, José

Barbosa Nunes, José Renaldi Feitosa Brito, Luciano Castro Dutra de Moraes, Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e Brito, Rosângela Zoccal

Introdução

O Brasil é um dos dez maiores produtores de leite do mundo. Do total da produção brasileira no ano de 2010 (aproximadamente 30 bilhões de litros), estima-se que 20% seja oriunda de 80% de produtores classificados como de baixa escala, ou seja, produção diária de até 200 litros de leite. A quantidade de produtores nesta condição é estimada em 1.130.000, que corresponde ao tamanho do mercado de potenciais usuários da tecnologia “Kit Embrapa de ordenha manual”. Em geral, a infraestrutura de ordenha das suas propriedades é precária, o nível de tecnificação é baixo, e a ordenha é realizada manualmente.

Apesar da significativa importância socioeconômica do setor leiteiro no Brasil, os indicadores de produtividade da sua pecuária bovina e, particularmente, da qualidade do seu leite (VILELA et al., 2001; BRITO E BRITO, 2003; BRITO et al., 2006), evidenciam que a atividade ainda requer mudanças significativas para o alcance de perfil de negócio efetivamente competitivo e sustentável. Nesse contexto, a adequação tecnológica, via tecnologias de produção e tecnologias de gestão, assume papel muito importante, daí a relevância da PD&I (pesquisa, desenvolvimento e inovação), por envolver as atividades de pesquisa e de transferência de tecnologias e conhecimentos.

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A contaminação microbiana do leite é um dos principais problemas enfrentados pelos produtores (BRITO et al., 2006), particularmente os de baixa escala que adotam a ordenha manual, refletindo negativamente na qualidade do leite produzido e, conseqüentemente na manutenção/inserção desses produtores no mercado.

Resultados de pesquisas, inclusive de instituições do Brasil, como a Embrapa (BRITO et al., 2006) mostram que a adoção de medidas relativamente simples, de fácil compreensão pelos produtores rurais, pode reduzir significativamente a contaminação microbiana do leite. Essas medidas incluem a definição de local próprio para os procedimentos de ordenha e armazenamento do leite, que deve ser mantido limpo e seco; o uso de utensílios apropriados, em bom estado de conservação e higiene; a educação do (a) ordenhador (a) quanto aos hábitos higiênicos e procedimentos corretos de ordenha; e o tempo hábil gasto no transporte do leite até a indústria ou ao tanque de refrigeração.

Para minimizar o problema da contaminação microbiana do leite dos produtores de baixa escala, a Embrapa Gado de Leite desenvolveu, em parceria, a tecnologia “Kit Embrapa de Ordenha Manual” (MOREIRA et al., 2007).

Objetivo do trabalho

O objetivo do presente trabalho foi avaliar o impacto da adoção da tecnologia “Kit Embrapa de Ordenha Manual” na Contagem Bacteriana Total (CBT) e, conseqüentemente, na produção de leite de qualidade, de vacas de propriedades de baixa escala (até 200 litros de leite por dia), de distintas comunidades rurais do Brasil.

A tecnologia “kit Embrapa de ordenha manual”

O “Kit Embrapa de Ordenha Manual” é composto por: um balde semi-aberto para ordenha manual (12 litros); uma caneca de fundo escuro; um balde de plástico (8 litros) para armazenagem de água clorada; uma mangueira de borracha (5 metros); um adaptador para caixa de

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água, de meia polegada; um adaptador de pressão, de meia polegada; um registro esfera, de meia polegada; um esguicho de jardim, de meia polegada; um veda-rosca/teflon; um litro para coar o leite (nylon ou aço inoxidável ou alumínio ou plástico atóxico); uma seringa de 20 ml; um copo graduado; detergente alcalino em pó; cloro comercial; papel-toalha; escova ou bucha; um banquinho de madeira; e um par de luvas de borracha. Acompanha o Kit uma cartilha ilustrada para orientar a sua montagem e utilização.

O custo da aquisição do Kit é de, aproximadamente, R$ 150,00 por propriedade. A manutenção é de praticamente R$ 12,00 por mês. Estes valores variam em função de regiões. Mas considerando-se os baixos custos e o impacto direto e imediato da sua adoção na qualidade microbiológica do leite e, conseqüentemente, na qualidade e no rendimento dos derivados lácteos processados, algumas indústrias estão disponibilizando o Kit gratuitamente para os produtores.

O Kit é uma tecnologia do tipo produto resultante de atividade de D (desenvolvimento), com fundamento em P (pesquisa), no âmbito da PD&I. Com referência ao I (inovação), conceitualmente o Kit está em conformidade com a Lei Federal nº 10.973, de 02.12.2004 (“Inovação: introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços”).

Ademais, o Kit insere-se no “modelo de inovação aberta” ou “paradigma da inovação aberta” (CHESBROUGH, 2003; KRUGLIANSKAS, 2006; FERRO, 2007). Para Kruglianskas (2006), a “inovação aberta” é um modo de inovar que proporciona arranjos diversos, de acordo com as distintas culturas empresariais. Tais arranjos “convergem para um ambiente em que se estabelecem funções e atividades que privilegiam de forma muito mais intensa a busca de parcerias para a inovação, em contraposição ao sistema, antes predominante, da pesquisa focada prioritariamente nas competências internas. É uma mudança importante, que trás um impacto às empresas, que apenas começa a se desenhar” (KRUGLIANSKAS, 2006).

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110Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Na “inovação aberta”, distintos agentes, inclusive inventores, pequenos empreendedores etc., passam a ser vistos como possíveis parceiros no processo de inovação tecnológica. Na Embrapa Gado de Leite, a tecnologia social “Kit Embrapa de Ordenha Manual”, é um caso de “inovação aberta”, envolvendo como parte do processo criativo, produtores de leite de base familiar e assentados da reforma agrária, pois práticas e conhecimentos locais vêm sendo incorporados à tecnologia. Como exemplos, a utilização da corrente para contenção das vacas no momento da ordenha, substituindo a corda, foi incorporada por produtores assentados do estado de Sergipe (Assentamento Nossa Senhora das Dores, município Nossa Senhora da Glória-SE). Melhorias na utilização do balde para água clorada foram implementadas pelos produtores no Assentamento Timboré (município de Andradina-SP), por meio da utilização de fios condutores para o deslocamento do balde, conforme a necessidade.

O “Kit Embrapa de Ordenha Manual” foi oficialmente lançado no dia 03 de julho do ano de 2007, na Região Nordeste, no evento Agrishow Semi-Árido (Petrolina-PE, 03 a 07 de julho de 2007).

No dia 02 de setembro de 2007, um domingo, o Kit foi objeto de reportagem especial do programa de televisão “Globo Rural”.

A metodologia para avaliação da contagem bacteriana total (CBT)

A CBT é um parâmetro internacional de qualidade higiênico-sanitária do leite, medido em unidades formadoras de colônias de bactérias por mililitro de leite cru refrigerado (ufc/ml de leite).

A Instrução Normativa 51 (IN 51), de setembro de 2002, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) (BRASIL, 2004), que regulamenta a produção, identidade, coleta e transporte do leite, estabelece o limite de 1.000.000 de ufc/ml de leite, para o leite cru refrigerado, a partir de julho de 2005 nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A partir de julho de 2007, o mesmo limite foi estabelecido para

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111Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

as Regiões Norte e Nordeste, com redução desse valor para 750.000 e para 100.000 ufc/ml de leite, a partir dos anos de 2011 e 2012, respectivamente.

Para a avaliação da CBT foram analisadas 530 e 519 amostras de leite, coletadas antes e após o uso do Kit, respectivamente. As amostras provieram de 89 rebanhos bovinos localizados em propriedades de comunidades das Regiões Nordeste (42), Sudeste (30), Centro-Oeste (10) e Sul (07), cujo número de animais ordenhados, por rebanho, variou de 1 a 44. As amostras de leite foram coletadas em frascos específicos 10 minutos após as ordenhas da manhã , por um período de três dias antes e três após o uso do Kit.

As amostras foram mantidas em temperatura de conservação (4 a 5°C) e analisadas em laboratórios da Rede Brasileira de Controle da Qualidade do Leite (RBQL), credenciados pelo MAPA. Procederam-se as análises em equipamentos automatizados de citometria de fluxo.

A média geométrica da CBT das amostras coletadas antes e após o uso do Kit, para cada rebanho, foi utilizada como unidade observacional para a análise estatística.

Aplicou-se um questionário para a identificação das principais fontes de contaminação bacteriana do leite.

As atividades foram monitoradas por análises de laboratório, inclusive com o objetivo de demonstrar aos produtores o progresso realizado com o uso do Kit, e a sua consolidação para divulgação e reaplicação (novas adoções) mais ampla e mais rápida da incorporação da tecnologia no setor produtivo do leite.

Para o desenvolvimento do trabalho, a Embrapa Gado de Leite estabeleceu parcerias com diversas instituições/organizações, a saber: Emater-MG, Unesp/Ilha Solteira (SP), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Embrapa Semi-Árido (PE), Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE), Embrapa Clima

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112Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Temperado (RS), Embrapa Pecuária Sudeste (SP), Embrapa Arroz e Feijão (GO), Fundação Arthur Bernardes (MG), Universidade Estadual de Goiás (GO), Incra (RS), Associação de Pequenos Produtores do Projeto Liberdade 19 de Agosto (SP), Agência Municipal de Desenvolvimento Rural Integrado de Buíque (PE), Cooperativa Agropecuária Regional de Palmeira dos Índios (AL), Laticínios Morrinhos Indústria e Comércio Ltda (GO), Prefeituras Municipais (Buíque-PE, Caetés-PE, Capoeira-PE, Ibimirim-PE, Tupanatinga-PE, Pedra-PE, Venturosa-PE e Unaí-MG) e diversas comunidades rurais. A Embrapa Gado de Leite contou também com o apoio de muitas pessoas físicas (técnicos, estudantes, produtores de base familiar e assentados da reforma agrária).

Da RBQL, participaram a Embrapa Gado de Leite, a Clínica do Leite (ESALQ/USP. Piracicaba-SP), a Universidade Federal Rural de Pernambuco/Departamento de Zootecnia, a Universidade Federal de Goiás/Centro de Pesquisa de Alimentos e a Universidade de Passo Fundo (RS).

Resultados, na qualidade do leite, do uso da tecnologia “kit Embrapa de ordenha manual”

Os valores da média, mediana e máximo para a CBT, antes do uso do Kit, foram 220.000, 37.000 e 4.919.000 ufc/ml de leite, respectivamente. Após o uso do Kit, foram 45.000, 15.000 e 882.000 ufc/ml de leite, respectivamente. Estatisticamente, houve diferença significativa (p < 0,001) entre as médias. A redução da CBT, como conseqüência do uso do Kit, foi de 80,0%.

Entre os 28 rebanhos com média geométrica dos resultados da CBT superiores a 100.000 ufc/ml de leite, após o uso do Kit 23 rebanhos (82,0% dos 28) apresentaram a CBT inferior a 100.000 ufc/ml de leite. Dez rebanhos apresentaram médias geométricas superiores a 300.000 ufc/ml de leite antes do uso do Kit. As médias destes 10 rebanhos foram 883.000 ufc/ml de leite antes do uso do Kit e 74.000 ufc/ml de leite após o uso do Kit. Portanto, uma redução de 93,0% em comparação com a CBT inicial (antes do uso do Kit).

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113Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Com os valores acima apresentados, os produtores atendem às exigências da legislação para a CBT, implicando, portanto, em sua inserção/manutenção na cadeia produtiva do leite.

Uma síntese dos dados da CBT é apresentada nas Tabelas 1 a 3.

Tabela 1. Contagem Bacteriana Total (CBT) e sua redução, no leite de

vacas de rebanhos de baixa escala, de produtores de base familiar e

assentados da reforma agrária, de comunidades rurais de sete estados do

Brasil, em função do uso da tecnologia “Kit Embrapa de Ordenha Manual”.

2006 – 2007.

Observação: propriedade de baixa escala é aquela cuja produção diária de leite é, no máximo,

de 200 litros.

Estado

Número de

rebanhos da

amostra

CBT

(X 1.000 UFC/mL de leite) Redução da CBT em

comparação com a

produção de leite sem

o uso do kit (%)

Média geométrica

Antes do

uso do Kit

Após o uso

do Kit

Pernambuco 30 293 42 86

Alagoas 08 31 12 61

São Paulo 20 24 13 46

Goiás 10 51 39 22

Rio Grande do Sul 07 488 66 87

Minas Gerais 10 35 20 43

Sergipe 04 80 28 65

Total 89 159 31 80

Tabela 2. Distribuição de freqüência dos rebanhos, por classe de

contagem bacteriana (CBT), em função do uso da tecnologia “Kit Embrapa

de Ordenha Manual”, 2006-2007.

Classe de CBT

(x 1.000 UFC/mL de leite)

Número de

rebanhos da

amostra

CBT

(x 1.000 UFC/mL de Leite

Média geométrica

Antes do uso do Kit Após o uso do Kit

0 a 100 61 30 17

101 a 200 10 135 60

201 a 300 08 261 54

Acima de 300 10 883 74

Total 89 159 31

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114Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Considerações finais

As características ambientais, culturais e sócio-econômicas das regiões pode ter exercido influência na variação da redução da CBT. Ressalte-se que o objetivo da cartilha ilustrada é padronizar os procedimentos de utilização do Kit para distintas regiões. Portanto, procedendo-se a sua adequada montagem e utilização, a tecnologia pode ser recomendada para os rebanhos bovinos ordenhados manualmente em diferentes regiões do Brasil, e mesmo de outros países da América Latina e Caribe, África etc., situados abaixo do paralelo 20 de latitude norte, haja vista promover imediata melhoria na segurança e qualidade do leite produzido em propriedades de baixa escala (até 200 litros de leite por dia).

A utilização do Kit pelos produtores que utilizam tanques de refrigeração comunitários, padroniza o processo produtivo quanto à obtenção de leite com menor CBT, viabilizando a implementação da granelização para estes produtores e, conseqüentemente, sua inserção/manutenção no mercado. Ressalte-se que a condição técnica dos tanques de refrigeração comunitários para o resfriamento e armazenamento do leite, enquanto processo inovador, relaciona-se, entre outros fatores, à incorporação, no tanque, de leite com características microbiológicas adequadas à qualidade desejada. O tanque não melhora as características do leite, principalmente as microbiológicas, mas apenas as mantém conforme

Tabela 3. Distribuição de freqüência dos rebanhos considerando-se a CBT

de 100.000 ufc/ml de leite, em função do uso do “Kit Embrapa de Ordenha

Manual”. 2006-2007.

Indicador

Antes do uso do Kit Após o uso do Kit

Número de

rebanhos da

amostra

%

Número de

rebanhos da

amostra

%

Média geométrica da CBT maior do

que 100.000 ufc/ml de leite61 68,5 84 94,4

Média geométrica da CBT menor do

que 100.000 ufc/ml de leite28 31,5 05 5,6

Total 89 100,0 89 100,0

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115Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

foi produzido. Portanto, a qualidade do leite cru refrigerado depende de ações, práticas e procedimentos anteriores ao resfriamento, principalmente aquelas referentes ao manejo e à higiene na ordenha e no tempo gasto para a refrigeração. No âmbito das boas práticas o Kit desempenha papel relevante para a obtenção de leite de qualidade.

Por sua participação na melhoria da qualidade do leite, por intermédio da redução da CBT, o “Kit Embrapa de Ordenha Manual” é uma tecnologia social que agrega valor ao produto. Como conseqüência, tem contribuído para aumentar a renda dos produtores familiares e assentados da reforma agrária, pois estes passam a receber, por litro de leite, um pagamento adicional (bonificação), como retribuição pela produção e comercialização de um produto de melhor qualidade. Dependendo da região, a bonificação é de até 10% por litro, sobre o valor médio pago aos produtores. Este leite de melhor qualidade propicia maior rendimento industrial, maior tempo de prateleira dos produtos lácteos, maior lucro, oferta de alimentos mais seguros do ponto de vista sanitário e nutricional para o consumo humano, dentre outros impactos que se constituem em benefícios para distintos segmentos (produtores rurais e suas famílias, indústria de laticínios, consumidores e governo).

Referências

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BRITO, J. R. F.; BRITO, M. A . V. P. e; ARCURI, E. F.; SOUZA, G. N. de; LANGE, C. C. Segurança e qualidade do leite. In: SANTOS, C. A . dos; CARVALHO, L. de A .; CAMPOS, O . F. de; ARCURI, P. B. Embrapa

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116Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Gado de Leite: 30 anos de pesquisa e conquistas para o Brasil. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2006. p. 154-172.

CHESBROUGH, H. W. Open Innovation: the new imperative for creating and profiting from technology. Boston: Harvard Business School Press, 2003.

FERRO, A . F. P. Open innovation: introdução ao conceito e aplicações. Programa Natura Campus de Inovação Tecnológica. 2007. Disponível em http://www.natura.net/campus (sessão de artigos). Acesso em 13.setembro.2007.

KRUGLIANSKAS, I. Os novos caminhos da inovação. Inova, São Paulo, v. 13, n. 47, p. 1-3, jul./set. 2006.

MOREIRA, M. S. de P.; RIBEIRO, A. C. de C. L.; CARVALHO, A . da C.; SANTOS, C. A . dos; ARCURI, E. F.; DINIZ, F. H.; SOUZA, G. N. de; NUNES, J. B.; BRITO, J. R. F.; MORAES, L. C. D. de; BRITO, M. A . V. P. e; ZOCCAL, R. Kit Embrapa de ordenha manual. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2007. 20 p.

VILELA, D.; BRESSAN, M.; CUNHA, A . S. (Ed.). Cadeia de lácteos no Brasil: restrições ao seu desenvolvimento. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. 484 p.

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Capítulo 7

Caso da Fazenda Independência

Evandro Luiz Lopes Lelis, William Fernandes Bernardo

Introdução

Conforme a expressão “ver para crer”, de São Tomé, a natureza do ser humano faz com que nós todos sejamos, ao menos um pouco, movidos pelos princípios de São Tomé. Apesar dos resultados da pesquisa mostrarem que algumas tecnologias são boas e dão resultado, o impulso inicial é de dúvida. Não que isso seja ruim, aliás é necessário. A dúvida é o princípio do conhecimento. Toda inovação inicia pela dúvida, depois passa para a pesquisa, depois pelos testes e, finalmente, está pronta para a aplicação. Esta inovação “pronta” ainda precisa passar pela avaliação do produtor, uma vez que cada propriedade possui suas particularidades de ambiente (solo, água, temperatura, regime de chuvas, topografia, etc.), mão-de-obra disponível, recursos financeiros, tamanho da área e do rebanho, dentre outros.

O relato a seguir considera, portanto, a presença do espírito o São Tomé em nós, no sentido positivo da descoberta do conhecimento. Pretende apresentar e discutir como foi o processo de incorporação de tecnologias voltado para o aumento da produção e da qualidade de leite, assim como a redução de custo de produção na Fazenda Independência.

A propriedade

A Fazenda Independência localiza-se na comunidade do Pombal, que fica a cinco quilômetros da cidade-sede de Rosário da Limeira, no município mineiro de mesmo nome. Esta propriedade é do casal Isalino Vicente de

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118Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Freitas e Maria Eulália de Veiga Freitas. Hoje quem administra é o filho Luciano Roberto de Freitas e sua esposa Rosângela Aparecida de Freitas, que contam com o apoio do filho Bruno Luciano de Freitas.

A propriedade possui área total de 60 hectares, sendo:• 40 hectares de pastagens (25 hectares de pasto formado)• 2 hectares de cana-de-açúcar • 4 hectares de capineira • 12 hectares de floresta: reserva legal e área de preservação

permanente• 2 hectares de café

Histórico da propriedade

A Fazenda Independência teve início em 12 hectares de herança do senhor Isalino e Maria Eulália. O restante da área foi adquirido de outros

Figura 1. Vista da Fazenda Independência.

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119Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

herdeiros e vizinhos com o passar dos anos. Este casal teve 11 filhos, sendo 6 mulheres e 5 homens.

De início Isalino e Maria Eulália tinham no café e no gado de corte as principais atividades econômicas. A produção de leite começou com 5 vacas, cujo total diário chegava a 20 litros de leite. A comercialização era difícil por conta da distância. O leite produzido, apesar da pequena quantidade, precisava ser levado até a comunidade Santa Rosa, há 4 quilômetros de distância.

Por ocasião de casamentos, os filhos foram saindo da fazenda para residir em outros locais do meio rural ou na cidade. Por falta de mão-de-obra para realizar as atividades de manutenção e colheita, a lavoura de café foi deixada em segundo plano e o leite foi o produto agropecuário escolhido como atividade econômica principal.

Figura 2.Pastejo rotacionado.

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120Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Luciano Roberto casou-se com Rosângela Aparecida e decidiram permanecer na propriedade trabalhando com produção de leite. O casal tem dois filhos: o Bruno Luciano de Freitas, que trabalha com bovinocultura de leite, e o José Geraldo Freitas, que optou por trabalhar com café, além de também cuidar das pastagens. Pela maior afinidade com a atividade leiteira Luciano fez, no ano de 2001, um acordo de meação na produção de leite com seu pai, o Sr. Isalino. No início do acordo havia 13 vacas de leite, cuja produção total somava 35 litros diários, além das áreas com lavouras de café.

A chegada das novas técnicas de produção de leite

Desde o início Luciano investiu esforços para a melhoria genética do rebanho. Para isso, fazia seleção no momento de aquisição das vacas, mas aos poucos percebeu que os resultados não eram aqueles que ele esperava. As falhas no processo de melhoramento que fazia dentro da fazenda só foram verificadas alguns anos mais tarde. Na verdade, Luciano percebeu problemas em seu processo de melhoramento genético por meio da baixa produção de leite das primeiras filhas dos cruzamentos feitos na propriedade. Avaliando seu processo de melhoramento ele concluiu que não bastava adquirir vacas selecionadas se continuasse a cruzá-las com os touros reprodutores existentes na propriedade, que eram de baixa qualidade genética em termos de produção de leite. Cinco anos sem resultados se passaram com aquele tipo de melhoramento genético.

Em 2006, no momento em que Luciano resolveu dedicar-se exclusivamente ao leite, foi possível implantar melhorias mais significativas no processo de produção de leite de sua propriedade. Uma mudança importante foi em termos de tipo de produto final e a forma de venda do leite. Com o aumento da produção de 35 para 70 litros diários foi possível comprar um tanque de resfriamento de leite. Se no primeiro momento era preciso entregar o leite na comunidade Santa Rosa, há 4 quilômetros de distância, neste ano o leite passou a ser entregue na propriedade pelas mãos do

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121Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Toninho Otaviano. Estas duas mudanças liberaram significativamente o trabalho no sítio, considerando a economia de tempo para a entrega do leite todos os dias.

Tanto o resfriamento quanto o menor tempo de transporte do leite em latão reduzem as condições propícias à proliferação de microorganismos no leite. Ou seja, a partir destas iniciativas a Fazenda Independência passava a contar com um produto de maior qualidade a oferecer ao mercado. Se este produto de melhor qualidade não implicasse necessariamente em maior preço de venda, ao menos despertava o interesse de compradores. A razão disto está em que o leite de melhor qualidade (menor contagem de células somáticas – CCS e menor CTB – contagem total de bactérias) resulta em maior rendimento e menores perdas na indústria. Se por um lado o leite de maior qualidade atrai o comprador, por outro evita a rejeição no mercado. Isto é muito importante considerando o leite como um produto a ser comercializado dentro das lógicas da economia de mercado, marcado por altos e baixos na oferta e procura.

Em 2008 Luciano fez um curso de inseminação artificial com o Edson Curi, técnico da Emater-MG. A partir de então Luciano começou a inseminar seu rebanho, o que agora já significava atacar o principal entrave para a melhoria genética do rebanho. Apenas para lembrar, as primeiras iniciativas para a melhoria genética – apenas pela aquisição de vacas selecionadas – não haviam surtido o efeito que ele esperava. Agora, com sêmen de touro selecionado, um novo processo de melhoramento animal se iniciava na propriedade, o que certamente reverteria em um rebanho com maior potencial leiteiro. Para ter acesso aos insumos Luciano integrou o programa municipal de inseminação artificial de bovinos de leite, utilizou o botijão de sêmen e o nitrogênio coletivo, tudo sob o custeio da Prefeitura de Rosário da Limeira.

Ainda em 2008 Luciano decidiu investir o lucro da produção de leite na compra de uma ordenhadeira mecânica. Mais uma vez ele decidia pela incorporação de um equipamento poupador de mão-de-obra, o que reduzia seu efetivo tempo de trabalho. Com a visível falta de trabalhadores

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122Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

disponíveis no meio rural para trabalhos eventuais, a mecanização da propriedade foi uma decisão importante do gerenciamento adotado pelo Luciano. A redução das despesas de contratação de trabalhadores amortiza, aos poucos, o custo de compra do equipamento. É também preciso considerar que a ordenha mecânica melhora as condições de trabalho dos proprietários, o que motiva o dia-a-dia e estimula inclusive a participação de outros membros da família – em especial os mais jovens.

Em 2009 começaram a nascer as primeiras bezerras com origem da inseminação artificial iniciada no ano anterior. Embora não se possa ainda concluir em termos de produção de leite, as aparências das bezerras apontam para uma significativa melhoria genética. A partir do ano 2013 espera-se confirmar esta melhoria pela produção destes animais em termos de aumento na produção de leite: o indicador mais importante para o produtor.

Em 2010 começou o trabalho de melhoria e manejo das pastagens. Para isso foram feitas as correções do pH do solo com calcário, a divisão de pastagens e o manejo dos animais no sistema de piquetes rotacionados, estabelecido de acordo com a capacidade suporte das pastagens. Também começou o trabalho com integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF), que envolve a produção de culturas anuais (como o milho), espécies arbóreas (como o eucalipto), pastagens e o gado de leite. A implantação da iLPF foi feita com o plantio de eucalipto em fileira dupla no espaçamento de 3 metros por 3 metros e 20 metros entre estas fileiras duplas (de 3 m por 3 m). Para pastejo foi utilizado o Braquiária brizantha cultivar marandu.

Na implantação do iLPF utiliza-se o plantio de culturas anuais no primeiro ano, seguido pela semeadura de forrageiras. O adubo utilizado no plantio do milho, por exemplo, deixa resíduos que são utilizados pelo capim, o que resulta na melhoria das pastagens. Para os animais, as árvores na pastagem representam sombra nos dias quentes, o que é muito importante para o rebanho de sangue mais Holandês devido

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à sensibilidade desta raça ao calor. Para o produtor, o eucalipto serve não apenas para o uso na própria fazenda, mas também pode ser comercializado, o que aumenta a renda da família. A melhoria da produtividade das pastagens (pela calagem, adubação e rotação de animais nos piquetes) significa o aumento da produção de alimentos da fazenda, o que reduz o volume de concentrados empregado na alimentação dos animais.

Outra tecnologia importante introduzida pelo Luciano foi a utilização de cana-de-açúcar mais uréia na alimentação dos animais. A oferta de cana para fornecimento aos animais coincide com a queda da disponibilidade de pastagem na época da seca. A mistura uréia+sulfato de amônio representa o acréscimo de proteína, carente na cana-de-açúcar. Este casamento de alimentos na época da seca deu muito certo na propriedade.

Figura 3. Integração lavoura-pecuária-floresta.

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Estado atual da Fazenda Independência

Todas estas mudanças na pastagem e na forma de lidar com a alimentação dos animais significaram o aumento da produção total de leite e a redução do custo de produção. De fato, no final de 2010 a produção total de leite na fazenda já estava em 230 litros diários. Naquela data as categorias de animais na fazenda eram:

• 36 vacas - 27 em produção e 9 secas• 12 novilhas - 3 inseminadas e 9 para serem inseminadas• 14 bezerras• 6 bezerros até um ano de idade

Atualmente a Fazenda Independência conta com dois hectares de pastejo rotacionado em braquiária marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu) e braquiária do brejo (Brachiaria radicans). O Luciano tem projeto para aumentar a área de piquetes rotacionados, dos quais um hectare será de

Figura 4. Rebanho da fazenda.

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

pastejo com aveia preta (Avena stigosa Schreb.). Os bezerros já estão pastando o capim marandu na área de integração lavoura-pecuária-floresta.

Conclusão

A história da família Freitas é muito inspiradora, especialmente para aqueles (a maioria de nós) que têm um pouco de São Tomé: ver para crer. Inspiradora porque mostra que é possível mudar, ainda que seja aos poucos. O período de tempo transcorrido para efetuar as mudanças é o que menos importa, uma vez que é preciso “dar tempo ao tempo”. Este é o período necessário para haver uma reflexão, adaptação e uma maturação das novidades. Conforme pretendemos apresentar, a cronologia aponta para a introdução de cada técnica da Fazenda Independência. As novidades estavam ao alcance da família e adequadas ao porte da propriedade, uma pequena propriedade familiar e tradicional em produção de leite.

É importante ressaltar a disposição do Luciano Freitas em fazer diferente, em ousar, mas sempre dedicando tempo para o planejamento e para a reflexão. Essa característica permite aos Freitas se encaixar no cenário leiteiro nacional e até internacional, uma vez que melhoram a qualidade do produto, reduzem os custos de produção e ainda possuem ações que trazem benefícios ao meio ambiente, o caso da integração-lavoura-pecuária-floresta.

A experiência da gestão da Fazenda Independência pela família Freitas traz para nós, técnicos, produtores e estudantes, a chance de ver novos caminhos, de reforçar alguns conceitos e, principalmente, ter mais um aprendizado nesta complexa atividade leiteira. Por isto, também, gostamos a cada dia mais de atuar com bovinocultura leiteira: um ofício desafiador, recompensador e apaixonante.

Referências

PORTAS, A. A.; VECHI, V.A. Aveia preta: boa para a agricultura, boa para a pecuária. Disponível em: <http://www.cati.sp.gov.br/Cati/_

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126Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

tecnologias/cereais/AVEIA_PRETA.pdf>. Acesso em: 8 jun. 2011.

CÓSER, A. C.; PEREIRA, A. V. Forrageiras para pastagens e capineiras. Disponível em: < http://www.cnpgl.embrapa.br/nova/informacoes/pastprod/textos/37Instrucao.pdf>. Acesso em: 8 jun. 2011.

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Capítulo 8

Soluções em agronegócios

Carlos Geovane Rodrigues Queiroz, Luiz Eugênio Modesto

Introdução

Somos abordados, diariamente, por produtores rurais, em busca de informações sobre linhas de crédito disponíveis para financiar seus empreendimentos agropecuários. O Banco do Brasil é o maior agente financiador do agronegócio brasileiro e oferece várias alternativas para o crédito rural.

Você sabia que há financiamento para compra de tratores novos ou usados?

E para implantação de lavouras de cana-de-açúcar, segmento que está em alta?

E para plantio de eucalipto, cuja procura é crescente?

Com o objetivo de auxiliar no atendimento aos produtores da agricultura familiar, agroempresários e àqueles clientes que são médicos, advogados, dentistas, entre outras atividades e também possuem propriedades rurais, mas não sabem que podem financiar, por exemplo, o custeio de suas atividades, desenvolvemos este roteiro, visando repassar orientações aos interessados, que também devem buscar informações na rede de Agências do Banco do Brasil e no site www.bb.com.br.

Entenda o crédito rural

Podem solicitar crédito rural: produtor rural - pessoa física ou jurídica ou

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associações de produtores rurais, cooperativas de produtores rurais ou pessoa física ou jurídica que se dedique a atividades agropecuárias. Não podem ser beneficiados com o crédito rural estrangeiros residentes no exterior, sindicato rural ou parceiro, se o contrato de parceria restringir o acesso de qualquer das partes ao financiamento.

O crédito rural financia o custeio da produção e da comercialização de produtos agropecuários, estimula os investimentos rurais, incluindo armazenamento, beneficiamento e industrialização dos produtos agrícolas. Além de fortalecer o setor rural, incentiva a introdução de métodos racionais no sistema de produção.

O Banco do Brasil aplica recursos controlados pelo Governo, recursos captados no mercado e recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT. Dependendo de resoluções específicas, o Banco poderá aplicar recursos captados no exterior.

Basicamente temos atualmente uma diferenciação nas linhas de credito rural com direcionamento para Produtores que se enquadrem no:•Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fa-

miliar;•Pronamp - Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural;• Segmento de demais produtores

Agricultura familiar

O principal programa do Governo Federal de apoio a este importante segmento é o Pronaf - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, Desde sua criação, o Banco do Brasil tem papel de destaque como maior parceiro da agricultura familiar e principal agente financeiro desse Programa.

São beneficiários do Pronaf as pessoas que compõem as unidades familiares de produção rural e que comprovem seu enquadramento mediante apresentação da Declaração de Aptidão ao Pronaf - DAP válida.

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

A DAP é o documento que identifica os beneficiários do Pronaf, sendo obrigatória sua apresentação para obtenção de financiamento, além dos demais documentos exigidos pelo Banco.

A DAP é fornecida por entidades credenciadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Na região e expedida pela Emater e pelo SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS. As condições observadas por estas entidades para concessão da DAP para o Grupo de AGRICULTORES FAMILIARES são as seguintes:

• explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária;

• residam na propriedade ou em local próximo; • não disponham, a qualquer título, de área superior a quatro módulos

fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor, na região de Muriaé - MG quatro módulos fiscais equivalem a 112 ha (cento e doze hectares);

• obtenham, no mínimo, 70% da renda familiar oriunda da exploração agropecuária e não agropecuária do estabelecimento;

• tenham o trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento, utilizando apenas eventualmente o trabalho assalariado, de acordo com as exigências sazonais da atividade agropecuária, podendo manter até dois empregados permanentes;

• tenham obtido renda bruta familiar nos últimos 12 meses que antecedem a emissão da DAP acima de R$ 6 mil e até R$ 110 mil, incluída a renda proveniente de atividades desenvolvidas no estabelecimento e fora dele, por qualquer componente da família, excluídos os benefícios sociais e os proventos previdenciários decorrentes de atividades rurais.

Pronamp

O Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural - Pronamp tem como objetivos promover o desenvolvimentos das atividades rurais dos médios produtores e proporcionar o aumento da renda e a geração de

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emprego no campo, mediante apoio financeiro com abertura de crédito fixo. O Pronamp substituiu o Proger Rural.

Estes recursos são destinados para o seguinte Publico-Alvo:• Produtor rural, que atenda cumulativamente aos seguintes

requisitos: - seja proprietário, posseiro, arrendatário ou parceiro; - tenha, no mínimo, 80% de sua renda originária da atividade agropecuária ou extrativa vegetal;

• possua renda bruta anual de até R$ 500 mil, por participante - envolvido no empreendimento, com aplicação de rebate nos per-centuais indicados abaixo, na renda proveniente das seguintes atividades:

- ovinocaprinocultura, aquicultura, sericicultura, fruticultura, cafeicultura e cana-de-açúcar: 20%; - olericultura, floricultura, pecuária leiteira, avicultura e suino-cultura não integradas: 40%; - avicultura e suinocultura integradas ou em parceria com agroindústrias: 80%.

Demais produtores

Produtores que não se enquadram nas condições definidas para obtenção dos recursos do Pronaf ou do Pronamp utilizam as linhas de custeio, investimento e comercialização destinadas aos demais produtores.

Todo produtor que deseje obter recursos de credito rural no Banco do Brasil necessita de previamente estabelecer LIMITE DE CRÉDITO PARA PRODUTOR RURAL pessoa física ou jurídica, mediante dados cadastrais e de produção agropecuária.

Procure sua agência de relacionamento do Banco do Brasil e obtenha relação de documentos necessários e das empresas de Assistência Técnica credenciadas para levantamentos da produção agropecuária e elaboração de propostas/projetos de financiamento.

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131Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Medidas do plano safra 2011-2012

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA

Os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; da Fazenda; e do Desenvolvimento Agrário anunciaram dia 31 de maio, as principais medidas do Plano Agrícola 2011/2012, aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 26/05/2011.

Entre as inovações do Plano Safra 2011/2012, está a criação de duas linhas de crédito, à taxa de juros fixa de 6,75% ao ano: uma linha de até R$ 1 milhão para lavouras de cana; e outra, de até R$ 750 mil, para a pecuária, destinada à aquisição de reprodutores e matrizes bovinas ou bubalinas. Também foi criada uma Linha Especial de Crédito (LEC) para a cultura da laranja, no valor de até R$ 30 milhões por agroindústria.

O programa ABC passará a incorporar as linhas de crédito do Propflora e do Produsa, com redução da taxa de juros para 5,5% ao ano. Também foram fixados os preços mínimos para as culturas de verão, regionais e da sociobiodiversidade da safra 2011/2012; e para as culturas das regiões Norte e Nordeste da safra 2012.

O Plano Agrícola 2011/2012 trará a simplificação nas normas do crédito rural e a melhoria das condições de taxas e limites para os produtores. Foi fixado um limite único de R$ 650 mil, em apenas uma faixa, para o financiamento de custeio de todas as culturas e atividades, em substituição aos limites anteriores, por produtos.

Ainda para incentivar e estimular a produção, o limite de financiamento de investimentos, com recursos obrigatórios do crédito rural, foi elevado de R$ 200 mil para R$ 300 mil.

Os programas agrícolas financiados com recursos do BNDES sofreram ajustes que facilitam a operacionalização pelas instituições financeiras e o acesso pelos agricultores. Entre outras medidas, as federações e

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confederações de cooperativas agrícolas passarão a ter acesso às linhas do Procap-Agro, desde que atuem nos moldes de cooperativas centrais.

O Procap-Agro recebeu o reforço de R$ 350 milhões, remanejados do Prodecoop, a serem aplicados ainda na safra atual. O Moderagro, que financia a aquisição de corretivos agrícolas, teve os limites elevados de R$ 300 mil para R$ 600 mil, nos contratos individuais; e de R$ 900 mil para R$ 1.200 mil nos coletivos.

Para reforçar o apoio ao médio produtor rural, a renda bruta anual para enquadramento no Programa Nacional de Fortalecimento do Médio Produtor Rural (Pronamp) passou de R$ 500 mil para R$ 700 mil.

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA

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Capítulo 9

Água e esgoto na propriedade rural - qualidade da água - processo de captação e tratamento

Marcelo Henrique Otenio

Qualidade da água

A preservação da qualidade da água constitui, hoje, um dos principais desafios da humanidade.

O Saneamento rural é quase inexistente no Brasil, ao contrário das cidades que dispõem de água tratada por empresas de saneamento básico.

A qualidade da água é necessária em todas as etapas de produção do leite.

• alimentação dos animais;• limpeza dos tetos;• lavagem e desinfecção dos vasilhames e equipamentos de

ordenha;• higienização das instalações.

A importância da água

Demanda de água na bovinocultura:

Tipo de Consumo Consumo de ÁguaBebida 40 a 120 litros/animal adulto

Produção de leite100 litros/vaca ordenhada + 6 litros de água por litro de

leite produzido

Limpeza de instalações 25 litros por m2 de área de limpeza

Produção de queijo 5-6 litros/ Kg queijo

Produção de leite pasteurizado 2 litros/litro de leite empacotado

Abate em frigorífico 1.500 litros/animal abatido

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A disponibilidade de Água Doce no Mundo:• Água do Mar: 97,4%;• Geleiras: 1,98%;• Águas superficiais e subterrâneas: 0,62%.

Para preservar e proteger os mananciais de água doce é necessário:• tratar os resíduos da produção leiteira;• manejar adequadamente os animais, plantas e solo para não

causar degradação ambiental;• conservar as águas de chuva (propiciar a infiltração no solo)

A manutenção dos mananciais depende da taxa de infiltração das águas de chuva nos solos

Águas superficiais

São formadas pelas águas dos rios, córregos, lagoas, represas e açudes.

A resolução CONAMA N° 357, de 17 de março de 2005 (CONAMA, 2005) dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para seu enquadramento, onde a água doce apresenta-se em 5 classes (classe especial e classes 1; 2; 3; 4).

Vantagens

• Atendimento, em geral, de grandes demandas;• Facilidade na determinação da vazão anual;• Autodepuração (interação entre fatores físicos, biológicos e

químicos);• Segurança no planejamento das atividades de produção animal,

especialmente quanto ao crescimento do rebanho e ao uso da irrigação para o plantio de grãos e forragens para alimentação animal.

Os rios e lagoas pertencentes à “classe especial” têm as margens protegidas por mata ciliar, não recebem contaminação/poluição

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135Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

importante, possuem águas límpidas, contêm pouca matéria orgânica e são ricas em oxigênio. Mesmo assim é necessário que essas águas recebam um tipo simplificado de tratamento.

Desvantagens

• Necessidade de “tratamento” para eliminar a contaminação do ambiente;

• Aumento da matéria orgânica, argila, areia, folhas, resíduos de agrotóxicos/adubos, etc., na época das chuvas.

Pode ocorrer o fenômeno de “reversão de corrente”, contrário ao da autodepuração, com a mistura entre a água e a “lama” depositada no fundo do manancial, como resultado pode ocorrer morte de peixes.

As águas de “minas” ou nascentes (miradouros, brejos, olhos d’água), quando correm a céu aberto, passam a serem consideradas águas superficiais.

Figura 1. Rio com água turva (época de chuvas).

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136Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Captação de águas superficiais

a) Verificar se o manancial está protegido do ponto de vista ambiental.

b) Vistoriar a área de captação para avaliar se há riscos de degradação por assoreamento, contaminantes, poluentes e agrotóxicos.

c) Fazer a captação um pouco afastada das margens e a alguns centímetros de profundidade. Com esses cuidados evita-se o excesso de matéria orgânica presente nas margens e na superfície.

d) Perfurar e revestir a extremidade do cano com uma tela fina.

e) Usar um recipiente perfurado (tambor), suspenso por uma bóia de isopor, para impedir que o cano atinja o fundo do curso d’água.

Tratamento de águas superficiais

Objetivo

Promover a clarificação da água para remover a matéria orgânica e inorgânica e ganhar maior eficiência na filtração e cloração.

Tipo de tratamento

Considerar o “Tratamento Apropriado” que consta de procedimentos

Figura 2. Captação de água superficial, segundo Vianna (2002).

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137Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

relativamente simples, eficientes e de baixo custo. Não inclui fases de coagulação/floculação química da água (tratamento clássico).

Fases

Clarificação preliminar (1º etapa), realizada por caixas de passagem/telas/caixa de acumulação ou caixas de areia ou decantação (tanque de decantação) ou pré-filtração.

Filtração e Cloração (2º etapa), quando chegar o momento de ser filtrada. A sua turbidez não pode ultrapassar 30 mg/L.

O filtro é composto por camadas de pedra brita 1, cascalho rolado ou brita zero, areia em mediadas de 0,1 m 0,3 m e 0,6 m respectivamente, sendo este modelo de filtração descendente.

Cloração

Cloração é a última etapa do processo de tratamento de água.

Para volumes de água superiores a 5 mil litros/dia, recomenda-se usar um clorador por gotejamento ou ainda o clorador de pastilhas.

Para volumes menores, podem ser usados cloradores por difusão ou flutuadores do tipo margarida, utilizados em piscina, com pastilhas de cloro, ou ainda este modelo de instalação simples desenvolvido pela Embrapa Instrumentação Agropecuária. http://www.cnpdia.embrapa.br/produtos/clorador.html.

Recomendações específicas

Cloração para consumo diário de até 1.000 litros de água:

Para volumes de água até 1.000 litros/dia, recomenda-se usar uma cloração por difusão com cloro granulado em pó a 65% (cloro ativo), como descrito na representação esquemática no clorador modelo Embrapa.

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138Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Procedimento para clorar a água no modelo Embrapa.

1º Passo: com o registro 1 fechado, abrir a torneira 2 para aliviar a pressão da tubulação e fechar em seguida;

2º Passo: misturar 2 colheres rasas de café do cloro granulado em pó a 65% (cloro ativo) em meio copo d’água até completa dissolução;

3º Passo: abrir o registro 3 e entornar vagarosamente a solução no receptor de cloro evitando borbulhamento. Em seguida despejar água limpa para assegurar a descida de toda a solução; finalizar fechando o registro 3;

4º Passo: abrir o registro 1 para entrada da água até encher totalmente a caixa d’água, abrindo o registro 2, em seguida;.

5º Passo: após a caixa cheia fechar o registro 1 e só repetir a operação, após o uso de toda a água tratada da caixa.

Verificação da cloração

Após a desinfecção, a eficácia da cloração pode ser constatada com o monitoramento do teor de cloro residual mínimo de 0,2 mg por litro de água em qualquer ponto da rede de distribuição, estando assim em

Figura 3. Cloração de água para reservatório de 1000 litros

Adaptado de: http://www.cnpdia.embrapa.br/produtos/clorador.html

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139Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade da

Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

conformidade com a Portaria No 518 Ministério da Saúde, de 25 de Março de 2004 (BRASIL, 2005). Para tanto, existem no mercado kits para análise de água de fácil utilização que permitem uma leitura rápida e segura do nível resídual de cloro.

Kit para aferição do cloro ativo residual: o procedimento para análise deve seguir a recomendação do fabricante.

Cloração para consumo diário acima de 5000 litros de água:

Para volumes de água superiores a 5000 litros/dia, recomenda-se usar uma cloração através de bomba dosadora, conforme desenho esquemático:

1° passo: encher o reservatório de cloro com hipoclorito de sódio (20 a 30% de cloro ativo);

2° passo: ajustar a dosagem da bomba dosadora de acordo com as recomendações do fabricante e a partir de avaliação da vazão da fonte de água na tubulação.

Foto do Kit Cloro.

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140Conceitos Técnicos e Econômicos para Sustentabilidade daBovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

O processo de cloração com a bomba dosadora é contínuo, atentando para os seguintes pontos:

• utilizar sempre cloro na forma líquida.• verificar com frequência o nível de cloro no reservatório, repondo

sempre que atingir o nível mínimo.• monitorar o teor de cloro residual mínimo de 0,2 mg por litro de

água em qualquer ponto da rede de distribuição.

A higiene em todas as etapas da produção de leite é fator determinante para a qualidade final do produto e as atividades são extremamente dependentes da qualidade da água.

Podem ser usados produtos à base de cloro líquidos (hipoclorito de sódio: solução a 10% e água sanitária) e sólidos (hipoclorito de cálcio, HTH em pastilhas ou granulado, cal clorada).

Quantidade de cloro para tratar 1000 litros de água (1mg/L de cloro aplicado).

Produtos à base de cloro Dose/1m3 (1 ppm)

Hipoclorito de sódio: 20 a 30% de Cl (líquido) 30 a 50 mLÁgua sanitária a 2% (líquido) 100 a 200 mLHipoclorito de cálcio a 10% (pó) 10 gramasCloro granulado a 65% (pó) 1,54 gramasCloro estabilizado em tabletes (65% a 90% de cloro) Seguir instruções do fabricante.

Figura 4. Funcionamento da Bomba Dosadora.

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

Águas subterrâneas

Como se formam as águas subterrâneas:

Os lençóis confinados ou artesianos são formados por duas camadas impermeáveis e tem locais de recarga

As águas de chuva penetram no solo e formam os lençóis freáticos.

Vantagens

Geralmente são puras, porque elas vão sendo naturalmente filtradas quando penetram no solo, livrando-se da matéria orgânica e de outros resíduos. Quando são bem captadas não necessitam de outro tratamento auxiliar, podendo receber uma cloração residual de 0,2 mg/L.

Desvantagens

A vazão é muito variável, limitando assim o seu uso para as diversas demandas da fazenda leiteira. Muitos poluentes têm a propriedade de se

Figura 5. Localização dos lençóis livres e artesianos, segundo Vianna (2002).

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infiltrarem no solo e atingir o lençol de água. Em algumas regiões podem conter sais responsáveis pelo fenômeno da “dureza”, que provoca o entupimento das canalizações e problemas com o funcionamento de detergentes por exemplo.

Tratamento de esgoto

Fossa séptica biodigestora modelo Embrapa

Características do saneamento rural - esgoto

Antigamente, os efluentes eram jogados nos cursos de água processando-se a depuração por vias naturais onde um grande volume de água limpa e oxigenada diluía a pouca carga. Os micro-organismos se encarregavam facilmente da degradação deste alimento inesperado sem interferir com a vida aquática.

Conforme o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), a cobertura de serviços de saneamento nas áreas rurais do Brasil é pior do que em países africanos e asiáticos, comparação dos dados divulgados no 4° Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, mostra um crescimento de cobertura por rede geral de esgoto ou fossa séptica ligada ou não a rede geral nas áreas rurais subiu de 10,3% em 1992, para 23,1% em 2008. Entretanto a maioria da população do campo ainda vive em condições inadequadas, pois 46% são atendidas por fossas rudimentares, 5,6% por valas, 3,1% lançam seu esgoto diretamente nos rios, mares, lagos, 0,6% adotam outras soluções não adequadas e 21% não possui esgotamento sanitário, de modo que ainda é inferior à da zona rural do Sudão (24%), Nepal (24%), Nigéria (25%), Afeganistão (25%) e Timor Leste (32%). Para cumprir as metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio até 2015 será necessário reduzir a proporção para 44,85% (PNUD, 2010).

É característica do esgoto doméstico:• Possuem uma carga orgânica muito grande bem como agentes

microbiológicos;

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

• Podem provocar gastrenterites, hepatites, febres tifóides, cóle-ras, entre outros;

• São responsáveis por uma grande parte da carga poluente nos cursos de águas superficiais onde são despejados, que por sua vez vão fazer trocas com águas subterrâneas, que também vão ser poluídas.

Principais constituintes: • Água (99,9%)• Sólidos (0,01%) • Sólidos Suspensos • Sólidos Dissolvidos • Matéria Orgânica • Nutrientes (N, P) • Organismos Patogênicos

As fossas rudimentares

O esgoto gerado na residência é depositado na fossa, que consiste de uma simples escavação feita no solo, sem qualquer revestimento interno de suas paredes. No interior da fossa ocorrem reações na matéria orgânica presente nas fezes, em virtude da intensa atividade microbiana, com a liberação de um líquido de odor desagradável e também com altas concentrações de nitrato (NO3-) e coliformes fecais, denominado chorume. Este líquido se infiltra nas paredes da fossa e percola através do solo podendo atingir e contaminar as águas subterrâneas que abastecem os “poços caipiras”.

Essas fossas rudimentares são as principais responsáveis pela contaminação das águas.

O Tratamento de esgotos podem ser realizado por via aeróbia, anaeróbia ou sistemas combinados. O Saneamento rural é quase inexistente no Brasil, ao contrário das cidades que dispõem de água tratada por empresas de saneamento básico.

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Processo Biológico

Os processos biológicos usados em tratamento de esgotos são aqueles onde os micro-organismos utilizam a matéria orgânica biodegradável em um reator biológico para obtenção de energia para as suas atividades e como fonte de matéria prima para a sua reprodução. Nestes processos, duas reações principais ocorrem, a de respiração, em que os micro-organismos utilizam a matéria orgânica para a obtenção de energia, gerando os chamados produtos finais da respiração (CO2 e H2O) e a reação de síntese e reprodução em que a matéria orgânica é utilizada como matéria prima para a reprodução dos micro-organismos.

Digestão anaeróbica

O processo de digestão anaeróbia é conhecido desde o final do século XIX, caracterizando-se pela estabilização da matéria orgânica em ambiente livre de oxigênio molecular. Devido à robustez e alta eficiência, a digestão anaeróbia está presente desde em simples fossas sépticas domésticas até em estações completamente automatizadas servindo a grandes regiões metropolitanas. Dentre os objetivos do processo anaeróbio, conforme Silva et al (2007), estão as seguintes funções:

• redução substancial dos sólidos voláteis;• redução significativa dos organismos patogênicos;• estabilização de substâncias instáveis presentes no esgoto.

Normalmente, a digestão anaeróbia é opção preferida de estabilização, devido ao seu baixo custo operacional. A digestão anaeróbia gera como produtos da estabilização o gás carbônico e o gás metano, incentivando ainda mais esta opção de tratamento devido ao potencial energético gerado.

Fossa séptica biodigestora

O sistema denominado Fossa Séptica Biodigestora foi desenvolvido com o objetivo de promover o tratamento de esgoto em áreas rurais, onde segundo PNUD (2011) cerca de 46 % da população fazem uso

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

de fossas rudimentares e/ou não possuem qualquer tipo de captação/tratamento do esgoto doméstico.

O sistema de fossa biodigestora contribui para a viabilização do tratamento de esgoto doméstico e consequente produção de efluentes desinfetados. Consiste em um tratamento biológico do esgoto por ação de digestão fermentativa, utilizando-se de esterco bovino/ ovino como meio inoculante de bactérias. O sistema evita a proliferação de doenças veiculadas pela água poluída por esgoto doméstico (NOVAES et al., 2002).

Um esquema do sistema é mostrado na Figura 3. O sistema é composto por três caixas de plástico de 1000 litros cada. Os tubos e conexões são vedados na junção com a caixa através de cola de silicone. A primeira caixa é ligada diretamente ao vaso sanitário. Todo o sistema permanece enterrado no solo visando manter um isolamento térmico. Inicialmente, à primeira caixa são adicionados, por meio da válvula de retenção, uma mistura contento aproximadamente 10 L de esterco de bovino fresco e 10 litros de água. O objetivo desse procedimento é aumentar a atividade microbiana e consequentemente a eficiência da biodigestão. Esse processo deve ser repetido a cada trinta dias. O dimensionamento do sistema faz com que o material depositado nas caixas fermente por aproximadamente trinta dias, período suficiente para uma completa biodigestão.

Como uma família é composta, em média, por 5 pessoas, e ao utilizar o vaso sanitário para descarga utiliza-se aproximadamente 10 L de água, isso resulta aproximadamente em 50 L de água/resíduos por dia lançado nas caixas biodigestoras, dando um total de 1500 L/mês. O material depositado nas caixas fermenta por aproximadamente 35 dias, período suficiente para uma completa biodigestão, permitindo que o efluente possa ser utilizado como um adubo orgânico em canteiros com plantações a um custo praticamente zero.

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Referências

[BRASIL] 2005. Portaria MS 518/2004/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental – Brasília: 2005. 28p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/portaria_518_2004.pdf Acesso em: 26 mai. 2011.

CONAMA, Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução n° 357, de 17 de março de 2005. Estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. DOU, Brasília – DF, de 18 de março de 2005. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf>. Acessado em: 09 ago. 2007.

NOVAES, A. P.; SIMÕES, M. L.; MARTIN-NETO, L.; CRUVINEL, P. E.; SANTANA, A.; NOVOTNY, E. H.; SANTIAGO, G.; NOGUEIRA, A. R. A. Utilização de uma fossa séptica para melhoria do saneamento rural e desenvolvimento da agricultura orgânica. São Carlos: Embrapa Instrumentação Agropecuária, 2002. (Embrapa Instrumentação Agropecuária. Comunicado Técnico, 46).

Figura 6. Esquema do sistema da fossa séptica biodigestora, segundo Novaes et al.

(2002).

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SILVA, W. T.; FAUSTINO, A. S.; NOVAES, A. P. Eficiência do Processo de Biodigestão em Fossa Séptica Biodigestora Inoculada com Esterco de Ovino. São Carlos: Embrapa Instrumentação Agropecuária, 2007. (Embrapa Instrumentação Agropecuária. Documentos, 34).

OTENIO, M. H.; CARVALHO, G. L. O. de; SOUZA, A. M. de; NEPOMUCENO, R. S. C. Cloração de água para propriedades rurais. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2010. 4p. (Embrapa Gado de Leite. Comunicado Técnico, 60.). Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/26419/1/COT-60-cloracao.pdf>. Acesso em: 26 mai. 2011.

PNUD. 4° Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM). Brasília: IPEA, 2010. p. 184.

VIANA, F. C. Qualidade da Água – Processos de captação e tratamento (ITAMBÉ). Cooperativa Central de Minas Gerais. 2002. Folheto explicativo.

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Capítulo 10

Carrapato e vermes: ação preventiva reduz prejuízos

Marcia Cristina de Azevedo Prata, John Furlong

O nome já diz: parasitas. Aqueles que vivem à custa de outro. No caso, os animais e, por tabela, os donos. Seja sugando o sangue do hospedeiro, seja desviando nutrientes para proveito próprio, carrapatos e vermes trazem danos consideráveis. Os carrapatos têm ainda um importante agravante: “cospem no prato que comem”. Isso quer dizer que, ao mesmo tempo em que ingerem sangue do hospedeiro, devolvem excesso de líquidos para o organismo desse mesmo hospedeiro. E é aí que mora o perigo: juntamente com esse líquido, são transferidos agentes de sérias doenças que, se não tratadas, podem levar o animal à morte. E o produtor, na tentativa de evitar ou solucionar problemas, começa uma verdadeira via-crúcis de compra de carrapaticidas que vão sendo usados e trocados indiscriminadamente. Como conseqüências: resistência cada vez mais séria nas populações de carrapatos, resíduos no leite e muito desperdício de dinheiro, entre outros problemas. Registros recentes, de 2002, estimam em dois bilhões de dólares os prejuízos acarretados somente pelo carrapato dos bovinos a cada ano no nosso País. As perdas determinadas pelos vermes, embora inquestionáveis, são mais difíceis de se quantificar, pois o inimigo, neste caso, está oculto e o exame de fezes muitas vezes não traz resultados conclusivos. E, é claro, os vermes também têm seus agravantes: quando um produtor percebe diarréia nos animais, principalmente na bezerrada, imediatamente põe a culpa nos vermes e administra um vermífugo, que pode resolver ou não. O verme é apenas um dos possíveis culpados: bactérias e vírus também podem ser os responsáveis e, nesses casos, o vermífugo de nada valerá. E além do mais: em caso de diarréia, temos que pensar no soro caseiro antes de qualquer outro remédio, pois os efeitos da desidratação são mais rápidos que os de qualquer micróbio ou parasita.

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E por outro lado, quando o produtor vê a bezerrada com tosse ou outro distúrbio respiratório, o diagnóstico vem na hora: pneumonia. Mas os vermes, neste caso esquecidos, podem ser os responsáveis por essa tosse....

Complicado, não? Nem tanto, se forem seguidas algumas regrinhas bem simples e básicas, específicas para cada caso, os parasitas de fora, carrapatos, e de dentro, vermes, que serão abordados isoladamente. Mas tem uma regra básica que vale para ambos e, se for levada em conta, já podemos contar com meio caminho andado: prevenção é a palavra-chave. O ditado é conhecido de todos: “prevenir é melhor do que remediar”. E quando o assunto é parasita, seja de dentro ou de fora, o produtor precisa saber que prevenir é muito mais barato que remediar. E prevenir, no caso dos parasitas é atuar na época de menores taxas de parasitismo. Isso mesmo: existem épocas do ano que são naturalmente desfavoráveis à proliferação destes inimigos, em decorrência da ação de fatores climáticos, temperatura, umidade e precipitação. Estes fatores, sem cobrar nada de nós, agem principalmente sobre a fase não parasitária dos inimigos, que é a fase em que estes estão no ambiente. Reduzindo-se as populações do ambiente, conseqüentemente são reduzidos, também, os níveis de parasitismo. Uma das chaves do problema está, então, em descobrir que fases são essas e agir racionalmente nesse período, com vermífugo ou carrapaticida, conforme o caso, com elevação das chances de sucesso, uma vez que se combate um inimigo já enfraquecido. Mas existem outras....

Resolvendo o problema “carrapato”

O primeiro ponto que deve ficar claro é que no Brasil existem mais de cinqüenta espécies de carrapatos. A maioria parasita animais silvestres. E há aqueles velhos conhecidos que atacam animais domésticos, como cães, cavalos e bovinos. Neste texto, abordaremos somente o inimigo de dois bilhões de dólares, ou seja, o carrapato dos bovinos. Todas as dicas apresentadas aqui valem somente para esta espécie e, se forem utilizadas para o combate de outras como o carrapato-estrela, por exemplo, o fracasso é garantido. Isso ocorre porque as medidas de

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

controle são baseadas no ciclo de vida do agente a ser controlado e cada espécie de carrapato tem um ciclo com características próprias. O controle do carrapato-estrela, por exemplo, de tão diferente, merece ser abordado em um texto exclusivo.

Enfocando, então, o carrapato dos bovinos: será que esse inimigo é tão forte e poderoso, a ponto de nos “roubar” dois bilhões de dólares por ano? A resposta é não. O carrapato bovino não é tão forte. Nós é que damos força para ele, quando erramos nas práticas de combate. E por que o erro é tão importante? Porque cada mamona mal banhada que sobrevive ao tratamento, gera aproximadamente 3.000 filhotes também com capacidade de resistir. Banhar sem capricho é, portanto, um péssimo negócio para o produtor. Vamos, então, combinar uma coisa: o papel do produtor na luta contra o carrapato dos bovinos não é banhar. É banhar bem. Essas três letrinhas fazem a diferença e podem garantir a vitória. Mas, além do banho mal dado, existem outros dois erros: o tratamento é realizado na época errada, quando o inimigo está mais forte e o produto a ser utilizado é escolhido com critérios que não garantem a eficácia, como preço ou propaganda. Se esses três erros levam a perdas tão significativas, minimizar as perdas e garantir sucesso no controle significa deixar de cometê-los. Em outras palavras: para a garantia de sucesso no controle do carrapato dos bovinos, precisamos saber dar respostas corretas a três perguntas: quando tratar, como tratar e que produto utilizar. Simples? Ao lermos este texto, parece, mas na prática não tem sido assim. É importante ressaltar que o produtor tem que acertar nas três respostas, tanto na teoria quanto na prática, para vencer a luta. E como acertar? A Embrapa Gado de Leite pode ajudar, e muito, nessa tarefa. Veja como, no decorrer deste texto.

Conhecendo o inimigo

A primeira medida que se tem que ter em mente quando se deseja combater um inimigo com eficiência e sem erros é conhecê-lo bem. Conhecendo a vida do carrapato, podemos descobrir e explorar seus pontos fracos para ver se viramos o jogo, pois no campeonato “homem X carrapato”, a vitória tem sido sempre deles. A Embrapa Gado de

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Leite tem constatado isso ao longo dos últimos dez anos: o quadro de resistência das populações do carrapato dos bovinos aos carrapaticidas é cada vez mais grave. Os carrapaticidas que temos no mercado são ruins? Não. São usados erradamente e, com isso, deixam de ser armas eficientes na nossa luta.

O carrapato dos bovinos passa uma fase da vida no animal e outra na pastagem. No corpo do bovino, machos e fêmeas copulam, a fêmea fertilizada se enche de sangue (mamona ou jabuticaba) e se desprende para, ao encontrar um abrigo no solo, iniciar sua postura de aproximadamente 3.000 ovos. Terminada a postura, a fêmea morre e, após um variável período de incubação dos ovos, eclodem as larvas que vão para a ponta da pastagem, aguardar a passagem de um hospedeiro adequado. As larvas, então, fixam-se no hospedeiro e se alimentam e mudam de estádio até chegarem ao ponto de mamona, fechando o ciclo. Exposto o ciclo, dois pontos devem ser destacados. O primeiro diz respeito a períodos. O tempo que o carrapato passa fora do hospedeiro varia de acordo com a época do ano e com a região geográfica e determina o momento de se tratar. Já o tempo que o carrapato passa sobre o hospedeiro, desde a subida da larva até a queda da mamona dura, em média 22 dias, seja qual for a época do ano e a região geográfica. Este período determina o intervalo entre banhos carrapaticidas, que deverá ser de 21 dias para que, com o banho, o carrapato seja atingido em algum momento de sua fase parasitária. O segundo ponto se refere a quantidades: se contarmos todos os carrapatos que parasitam todo um rebanho, o resultado será apenas 5% do total de carrapatos de uma propriedade. Os outros 95% se encontram no ambiente. E como atingi-los? Fazendo com que um animal banhado tenha contato com a pastagem contaminada para que funcione como um “aspirador” de larvas de carrapatos. As larvas que subirem, morrerão ao terem contato com pêlos e pele do animal recém-banhado ou iniciarão o desenvolvimento, mas não terão chance de terminá-lo, uma vez que serão eliminadas no próximo banho. Mas para o processo dar certo têm que ser eliminados os três erros, ou seja, deve ser utilizado o produto eficiente, na época adequada e da forma mais caprichada possível.

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Que carrapaticida utilizar?

Embora estejamos abordando apenas uma espécie de carrapato, é importante ressaltar que dentro de cada propriedade existe uma população com um perfil particular de resistência. Na prática, isso quer dizer que um produto que é altamente eficiente contra os carrapatos da propriedade vizinha pode de nada valer em sua propriedade. E como determinar o produto mais eficiente para cada propriedade? “Atirar no escuro” gera aumento de gastos e aceleração do processo de resistência. O ideal é efetuar o teste carrapaticida. A Embrapa Gado de Leite realiza gratuitamente o teste para todo o Brasil. Para usufruir deste serviço, basta coletar carrapatos de acordo com as instruções a seguir e enviar pelos correios:

• Separar dois ou três animais mais infestados e deixá-los sem contato com carrapaticida por pelo menos 25 dias, em caso de utilização de produto que age por contato (banho de aspersão) ou 35 dias, quando se utiliza produto “pour on” (na linha do dorso) ou injetável. Este cuidado deve ser adotado para que os carrapatos a serem utilizados no teste não tenham resíduos de carrapaticidas;

• Coletar uma grande quantidade de carrapatos (por volta de 200). Só servem os carrapatos grandes e repletos de sangue, que são as fêmeas, conhecidas popularmente como “mamonas” ou “jabuticabas”. A melhor hora para coleta é o início da manhã, quando os animais encontram-se mais intensamente infestados por carrapatos com estas características;

• Acondicionar em recipiente adequado (pote plástico ou caixa de papelão, contendo pequenos furos que possibilitem a respiração dos carrapatos, sem permitir a fuga destes);

• Identificar o material, informando nome e município da propriedade, nome do proprietário, endereço para envio dos resultados e telefone;

• Enviar por Sedex para: Embrapa Gado de Leite (carrapatos)Rua Eugênio do Nascimento, 610Dom Bosco36038-330 – Juiz de Fora, MG

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É importante que o material seja enviado no início da semana (segundas, terças ou quartas-feiras) e que o tempo entre a coleta e o envio seja o menor possível. O ideal é coletar e enviar no mesmo dia mas, caso não seja possível, pode-se fazê-lo no dia seguinte, desde que se tenha o cuidado de deixar os carrapatos, devidamente acondicionados, na parte inferior da geladeira. Para o envio pelos correios não é necessária refrigeração do material. Dúvidas podem ser esclarecidas pelo telefone (32) 3311-7454 ou pelo e-mail: [email protected].

É importante ressaltar que os resultados são válidos apenas para a propriedade de onde foram coletados os carrapatos e que o teste é gratuito.

Juntamente com os resultados do teste são fornecidas informações para tratamento da forma correta e na época adequada. Atualmente são testados aproximadamente 20 produtos para tratamento sob a forma de banho. O produtor deve escolher da lista de resultados, um produto com eficiência igual ou superior a 90% e utilizá-lo por até 12 meses. Após este período, repetir o teste para novo tratamento. É importante destacar que, embora os produtos para banho sejam geralmente os que necessitam de menor período de descarte do leite, este período, chamado na bula de “período de carência” deve ser respeitado, para garantir que o leite e os produtos derivados possam ser consumidos sem riscos à saúde humana.

Como tratar?

Banho carrapaticida dá trabalho. E o banho bem dado dá mais trabalho ainda. Mas o inimigo exige tal dedicação. Optar para os produtos injetáveis não é uma saída adequada para o produtor de leite, uma vez que estes produtos exigem um período de carência longo, por volta de 30 dias de descarte de leite. Situação semelhante ocorre com muitos produtos de aplicação na linha do dorso ou “pour on”. Já que não podemos fugir do banho, quais as características de um banho bem dado?

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

•Dose certa: a dose da bula. Nem mais nem menos. Subdosagens levam a aceleração da resistência e superdosagens representam grande risco de intoxicações. •Nunca misturar produtos: os produtos eficientes são, em sua

maioria, associações de princípios ativos. Tais associações são testadas e aprovadas na dosagem e concentração indicadas na bula. Associar produtos leva a alterações em tais dosagens e concentrações, com sérios riscos à saúde dos animais e até do operador. Pelos mesmos motivos, nunca se deve utilizar um produto de forma diferente daquela preconizada na bula, ou seja, um produto para banho não deve ser aplicado sob a forma “pour on” e vice-versa.•Homogeneização: o ideal seria o preparo de uma “calda”, diluindo-

se previamente a quantidade recomendada para o preenchimento de uma bomba em um balde à parte, com dois a três litros de água. O conteúdo do balde é, então, colocado aos poucos na bomba, adicionando-se água e mexendo sempre, até completar o volume recomendado.•Equipamento: quanto menos contato do operador com a solução,

melhor para a saúde do operador e pior para o carrapato. Deve ser dada preferência a modelos em que o recipiente contendo a solução não fique “colado” ao corpo do operador.•Segurança do operador: uso de equipamento de proteção individual,

como luvas, máscaras, macacão e botas é imprescindível. Carrapaticida é veneno. Nas primeiras aplicações pode não se sentir nada. Mas a exposição contínua ao produto pode levar a danos irreparáveis à saúde, até mesmo à morte.•Pressão: deve ser suficiente para atravessar os pêlos, atingindo e

molhando a pele, sem machucar o animal.•Aplicação: sem pressa e com capricho. Deve ser feita a favor do

vento, no sentido contrário ao dos pêlos e com o animal contido (em brete ou cordas). Nada de ficar correndo atrás do animal a ser banhado. Deve ser banhada toda a superfície corporal do animal, atingindo-se até as regiões de mais difícil acesso, como úbere, face interna das orelhas e entre pernas.

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•Quantidade: 4 a 5 litros de solução para um animal adulto. Para bezerros, quantidade menor, proporcional ao seu tamanho.•Horário e condição: para reduzir riscos de intoxicações, nunca

banhar em horas de sol forte e não banhar animais cansados e ofegantes. Evitar banhar em dias chuvosos, para garantir a eficiência do produto. Caso não seja possível evitar a chuva, deixar os animais por duas horas sob um teto após o banho e só então soltar no pasto.

Quando tratar

O carrapato dos bovinos desenvolve quatro gerações por ano. Três são fortes e uma é naturalmente enfraquecida pelos fatores climáticos. Conforme já foi relatado, prevenir é a melhor tática no controle. Isso significa que, em vez de agir continuamente com as três fortes, devemos atuar preventivamente, concentrando os banhos carrapaticidas na geração mais fraca. Reduzindo-se essa geração enfraquecida, conseqüentemente serão reduzidas as gerações subseqüentes. Esse é o controle estratégico: realizar cinco a seis banhos carrapaticidas, um a cada 21 dias, no período de menores infestações. A quantidade de banhos e o intervalo entre aplicações não mudam, mas o período de realização variará de acordo com a região enfocada, conforme a seguir:

•Regiões Sudeste e Centro-Oeste: nos locais mais próximos do nível do mar, a alta temperatura dos primeiros meses do ano reduz significativamente a quantidade de larvas na pastagem. Portanto, a série de cinco a seis banhos deverá ser feita neste período, de janeiro a abril. Em locais de maior altitude, onde a temperatura não faz muita diferença, a população enfraquecida ocorre durante os meses de mais baixa umidade, geralmente no segundo semestre, antes das chuvas, quando devem ser efetuados os tratamentos.•Nordeste (Zona da Mata e Agreste): a série de cinco a seis banhos

deve ser iniciada entre janeiro e março, de acordo com o local, quando a umidade relativa e as chuvas são menores.•Sul da Bahia e Região Norte: a única “brecha” é o período de

menos chuvas, geralmente entre agosto e outubro.

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•Região Sul: como o frio intenso no meio do ano faz a população de carrapatos praticamente desaparecer, nesta Região o controle é diferente: somente três banhos, um a cada 90 dias, em setembro, dezembro e março.

É claro que devem ser levados em conta o tamanho e a heterogeneidade do território brasileiro. Cada localidade tem suas peculiaridades e o período de tratamentos pode e deve ser ajustado a estas, sempre levando em conta o fundamento do controle estratégico: efetuar tratamentos quando o nível de infestação é menor.

Com a realização do controle estratégico em períodos restritos, no restante do ano basta o monitoramento visual da quantidade de carrapatos presentes nos animais e a intervenção somente em casos de grandes infestações, com banhos a cada 21 dias, até que a situação volte ao controle. Uma dica é monitorar os animais mais parasitados (animais de “sangue doce”) a cada 21 dias, efetuando banhos extras somente naqueles que apresentarem 25 ou mais mamonas em um lado do corpo. Com o passar dos anos, cada vez será menor a necessidade de banhos extras o que, além de economizar dinheiro, contribui para retardar o processo de resistência. Mas é importante lembrar que, para que tudo funcione a contento, deve-se agir nos três pontos, utilizando o produto correto, na época adequada e da forma mais caprichada possível. E empregando-se a tática dos animais “aspiradores”. Desta forma, estará garantido o sucesso na luta contra o inimigo de dois bilhões de dólares.

Resolvendo o problema “vermes”

Diversas espécies de vermes parasitam os bovinos. A maioria, quando na fase adulta, se aloja no estômago e intestino. São os vermes ou helmintos gastrintestinais que, quando em grandes quantidades podem causar diarréias, anemia, pêlo arrepiado e sem brilhos e perda de peso, entre outros distúrbios. Mas há ainda os vermes pulmonares, que determinam desordens respiratórias como tosse, respiração ofegante e secreção nasal, além de emagrecimento. Então, se o animal apresenta alguns destes sintomas, ele com certeza tem vermes e o tratamento é

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com vermífugos, certo? Errado. Outros agentes, como bactérias e vírus podem ser os causadores e a avaliação de um médico veterinário é muito importante para diagnóstico e tratamento corretos. Se, por outro lado, o rebanho não apresenta estes sintomas, é sinal que está livre de vermes? Errado também. Os efeitos dos vermes dependem de diversos fatores, como raça e idade do animal, estado nutricional e manejo. Na maioria das vezes, os vermes atuam de forma silenciosa, desviando os nutrientes absorvidos pelos animais, gerando perdas de apetite e de peso, quase imperceptíveis ao produtor. O que fazer, então?

Assim como foi feito para carrapatos, primeiramente vamos conhecer a vida do inimigo: ovos dos vermes saem nas fezes e, no solo, desenvolvem-se até larvas, ainda no interior do bolo fecal. Sob temperaturas altas, o desenvolvimento é acelerado. Uma boa chuva desagrega esse bolo e permite a migração da larva até a pastagem, quando será ingerida pelo bovino e migrará até o local de predileção dos adultos de cada espécie. Já deu para perceber que temperatura alta e chuvas favorecem estes inimigos, principalmente os gastrintestinais, que estão em abundância no período chuvoso. Uma vez entendido o fundamento do controle estratégico para carrapatos, ficará fácil adaptá-lo para os vermes. A regra é agir preventivamente, nos períodos de menores níveis de parasitismo. Seguem, portanto, algumas dicas que poderão ajudar no combate aos vermes:

• Uma vez que a maioria dos vermes está “em alta” na estação chuvosa, o tratamento estratégico deve ser realizado na estação seca: três aplicações de vermífugos, sendo uma no início, outra no meio e a terceira no final da estação seca darão combate a ver-mes gastrintestinais e pulmonares. Para animais de alto grau de sangue europeu, que são os mais sensíveis, é recomendada uma quarta vermifugação no meio do período chuvoso.

• Devem receber tratamento somente os animais em idade mais susceptível à verminose, de 3 a 4 meses até o primeiro parto. Abaixo desta faixa etária os animais ainda não adquiriram vermes, devido ao hábito alimentar. E acima de dois anos, já adquiram uma certa resistência. Normalmente têm vermes, mas em menor quantidade e não sofrem os efeitos da verminose. Devem ser

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tratados apenas se apresentarem sintomas. No entanto, deve-se salientar que, mais importante que tratar animais que necessita-ram de intervenção fora desta faixa etária, é descobrir e eliminar as possíveis causas desta necessidade: ambiente excessivamente úmido, higiene inadequada, alta densidade de animais, entre ou-tras.

• Utilizar vermífugos com amplo espectro de ação, ou seja, com ação sobre vermes gastrintestinais e pulmonares.

• Dar preferência a produtos que tenham ação sobre larvas e adul-tos, para evitar a necessidade de reaplicação em curto espaço de tempo.

• Agrupar os animais por faixa de peso para facilitar a administra-ção da dosagem correta.

• Cuidado com desidratação. Para animais com forte diarréia, a pri-meira providência é o soro caseiro (5 L de água de boa qualidade, 45 g de sal, 250 g de açúcar). Em casos mais graves o soro casei-ro deve ser substituído por hidratação endovenosa.

• Em caso de necessidade de administração de vermífugo em vacas em lactação, respeitar os períodos de descarte de leite estipula-dos na bula.

Uma dica final, que vale tanto para carrapatos quanto para vermes: ao adquirir animais, deve-se exigir que estes sejam tratados ainda no local de origem. Antes da incorporação ao rebanho, caso seja possível, estes animais devem ser mantidos isolados em observação por aproximadamente 30 dias.

Neste texto, foram apresentadas medidas simples que podem ajudar no combate a vermes e carrapatos, mas não substituem a atuação profissional. O acompanhamento do médico veterinário e a participação ativa de produtor e empregados são fundamentais para a garantia do sucesso.

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Capítulo 11

Prêmio mineiro de boas práticas na gestão municipal

Wagner Dutra

Apresentação da prefeitura

O município de Miradouro localiza-se na Zona da Mata Mineira. Sua área de 301,52 km², integra com a terceira maior área o Território do Parque da Serra do Brigadeiro, um dos territórios delimitados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário como prioritário para investimentos que busquem o desenvolvimento sustentável e com gestão colegiada efetivada pelos municípios que o compõe. Situa-se às margens da BR-116, distante 332 km de Belo Horizonte e 315 km do Rio de Janeiro.

Segundo o Censo do IBGE possui uma população de 10.197 habitantes, destes 4.915 habitantes na zona urbana e 5.282 na zona rural. Como pode ser observado por esses dados, Miradouro é um dos poucos municípios mineiro e até mesmo brasileiro, que mantém a sua maioria da sua população vivendo na zona rural. O censo agropecuário do IBGE/07 aponta a existência de 896 estabelecimentos agropecuários no município, destes, 450 ocupam áreas inferiores a 10 hectares e outros 409 estão na faixa de 10 a 100 ha, o que demonstra o grande número de agricultores familiares existentes em Miradouro. O setor também é o responsável pela ocupação direta de 2.996 pessoas, o maior número de empregos gerados por uma atividade no município. Consequentemente, a principal atividade econômica é a agropecuária, destacando-se a produção leiteira o que por si indica a necessidade de investimentos na agricultura familiar

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M) de Miradouro é 0,698, abaixo da média do Estado de Minas Gerais que é de 0,766 e o do Brasil, 0,764.

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A renda per capita média é de R$160,10 enquanto que a de Minas Gerais é de 276,00; a proporção de pobres é de 41,7% (Minas Gerais 29,8) e a de indigentes 14,04. O Índice Gini que reflete a desigualdade social é de 0,54, sendo que os 20% mais pobres detêm 3,2% da renda enquanto que os 20% mais ricos ficam com 58,9%. Um montante de 57,4% de nossas crianças vive em famílias com renda inferior a 1/2 salário mínimo enquanto que no Estado 43,4% crianças vivem em famílias com renda inferior a 1/2 salário mínimo.

Os índices acima expostos evidenciam a necessidade de investimentos em políticas públicas voltadas para atender à população mais pobre, sendo um dos grandes problemas, enfrentados na época da criação do projeto, o desemprego ou o sub – emprego.

Para resolver estes problemas e dar um futuro digno aos produtores foi criado no ano de 2005 o projeto “Ouro Branco”, que vem sendo aprimorado constantemente desde sua implantação.

Resumo da prática de gestão.

A administração Municipal constatou que os produtores de leite de Miradouro, trabalhavam utilizando o método tradicional de armazenamento e transporte de leite, sem agregar tecnologia, comprometendo assim sua qualidade, e baixando o valor recebido pelos produtores. Este baixo valor do produto aliado a baixa produção acarretava um empobrecimento da população, bem como incentivava o abandono da atividade e o êxodo rural.

Para mitigar este problema que assolava o município foi criado o Projeto Ouro Branco que atua na zona rural do município e atende a 187 famílias, empregando diretamente 720 pessoas e indiretamente 1.200 pessoas.

Foram realizadas Oficinas teórico-práticas, que visavam transmitir tecnologia aos produtores, houve análise da vocação do indivíduo e fóruns de discussão para transmitir segurança aos associados, pois os produtores estavam inseguros em adaptar suas propriedades a uma nova

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cultura, rompendo com o passado e aprimorando as práticas adotadas até então.

A sistemática do projeto trabalhou o associativismo, mostrando à população que era necessária esta nova prática, em função da agregação e otimização do que já era produzido. O projeto criou núcleos de micro-agricultores que possuíam de 1 a 30 hectares, que eram o público alvo do projeto.

A primeira ação do projeto foi a formação de associações, que eram criadas de acordo com um estudo técnico sobre a localização e o transporte, observando a distância de cada propriedade em ralação ao tanque de resfriamento.

A prefeitura construiu 23 galpões, um para cada associação, responsabilizando-se pela Logística, parte Elétrica e Hidráulica com recursos vindos parte do ICMS, parte do IPTU. Foram adquiridos ainda nesta fase, 23 tanques de resfriamento do leite com recursos provenientes do Pronaf, dos produtores.

Numa próxima etapa, os técnicos da Prefeitura, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da Emater, atuaram nas propriedades orientando sobre Manejo, Qualidade do Leite, Sanidade do Rebanho e sobre o Gerenciamento das Propriedades. O projeto também fez ainda um mapeamento do melhor tipo de alimentação para o gado da região, após este mapeamento realizado em parceria com a Embrapa, a prefeitura adquiriu 72 toneladas de cana e distribuiu às famílias envolvidas no projeto.

Outra fase do projeto tratou da qualificação das famílias nas técnicas de inseminação artificial, pois, foram adquiridos e distribuídos botijões para armazenamento de sêmen, obtendo assim uma melhoria genética do plantel.

Como boa prática de gestão e visando a continuidade administrativa o projeto foi transformado em programa de governo com a criação da Lei Municipal nº 1.284/2010, que entrou em vigor em 24 de julho de 2010.

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Justificativa

Como já foi citado o município tem aproximadamente 50% da população na zona rural, onde as condições de vida eram precárias devido a baixa renda, desvalorização do trabalho no campo e dificuldades na educação dos filhos e ainda problemas de desnutrição infantil e difícil acesso a sede do município.

Após a criação do projeto a vida do homem do campo em nosso município mudou efetivamente. A produção de leite, que antes do projeto era de aproximadamente 1.500 litros/dia, alcançou hoje uma produção de 9.000 litros/dia. Com a melhoria da qualidade do produto o valor comercializado passou de R$ 0,33 o litro para R$ 0,80 o litro, e os mesmos produtores que antes alcançavam um faturamento bruto mensal de R$ 14.850,00. Hoje, após, a implantação do Ouro Branco, tem um faturamento bruto mensal de R$ 216.000,00 o que representa um aumento de 1.455% no faturamento. Estes dados por si só já demonstram o sucesso do projeto, embora tenhamos atuado em setores sociais que são igualmente importantes com resultados igualmente satisfatórios.

Contudo, a implantação técnica do projeto por si não seria suficiente para se alcançar os resultados esperados. A prefeitura criou uma série de contrapartidas dos produtores, para que estes pudessem participar do Ouro Branco, quais sejam.

Se analfabeto matricular-se no Programa Brasil Alfabetizado; se tiver filhos na idade escolar mate-los matriculados na rede de ensino municipal com freqüência escolar acima de 75%; manter o cartão de vacina de seus filhos em dia; comparecer às palestras bimestrais proporcionadas pela equipe de técnicos que dão suporte ao projeto.

Várias outras medidas, em outros setores, foram tomadas, ainda, para que se tornasse sólida e viável a permanência da população residente no campo, dentre elas destacamos:

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•Em meio ambiente: Em parceria com o IEF,foram articulados o projeto ouro Branco e o Projeto Orquestrando com a Natureza ,que consiste do plantio de `arvores nas regiões acidentadas e encostas para proteger as áreas de risco do município, além disso, atua no cercamento das nascentes. Implantamos o Projeto Caminho Livre, que visa despertar a consciência ecológica na população urbana e rural.•Em infra-estrutura: melhoria das estradas, implantação da telefonia

móvel, construção de 16 pontes de concreto e 11 pontes de tubos ármicos, facilitando assim o acesso à zona rural do município e a escoação da produção.•Na educação: ampliação da educação no campo, criação do sexto

ao nono ano na zona rural, diminuindo a nucleação, deixando as crianças em suas comunidades, permitindo que os filhos dos produtores pudessem estudar sem ter que se deslocar até a cidade, sofrendo menos influências urbanas, facilitando assim o acesso e a permanência na escola. Além disso, houve uma integração entre o ensino e a realidade do aluno da zona rural, as práticas agrícolas não são colocadas apenas como matérias transversais, mas foram inseridas à grade curricular, além das visitas as propriedades piloto do Projeto Ouro Branco, comprovando sua implantação e viabilidade. Para o segundo semestre do ano de 2011,está sendo implantada a primeira Escola de Tempo Integral Rural no município.•Na Secretaria de Saúde: Reestruturamos a Secretaria de Saúde,

criamos então pólos de saúde dentro das propriedades piloto, aumentamos mais 2 equipes de PSF e criamos mais 4 equipes de saúde bucal para atender as pessoas em suas localidades. •Na Secretaria de Assistência Social: Melhoria da eletrificação

rural, onde 100 % das propriedades foram atendidas, construção e melhoria das residências, visitas domiciliares freqüentes. Criação do Projeto Promorar, que se tornou uma Lei Municipal nº 1.175 e entrou em vigor no ano de 2005, que garante a melhoria de moradias saneamento básico, e destina-se prioritariamente a atender situações que coloquem em risco a segurança, a saúde e a higiene das famílias que nelas residem.

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Houve ainda uma efetiva integração entre as secretarias de Agricultura, Saúde e Ação Social, na implantação do projeto Desnutrição Zero 2007, que consiste da erradicação da desnutrição no município através da conscientização das famílias com relação às mudanças de hábitos alimentares, objetivo alcançado no ano de 2007.

Recentemente, foi criada uma variante do projeto Ouro verde, o Vale Verde, que projeta produzir em 2011, 100.000 mudas de café e 100.000 mudas de eucalipto, ampliando para 200.000 em 2012 e 300.000 em 2013. O plantio destas 1.200.000 mudas entre café e eucalipto, dará ao município a condição de negociar crédito de carbono com empresas européias, a pretensão da administração é que o dinheiro arrecadado seja investido na cooperativa Ouro Branco, para viabilizar a sétima fase do projeto que consiste no beneficiamento e rebeneficiamento do leite.

É de extrema importância reconhecer que o projeto Ouro Branco se desenvolve articulado com outros projetos da administração, a saber:

• Viver melhor (várzea de arroz comunitária e reflorestamento urbano);• Saber e Nutrir (piscicultura de corte e artesanal);• Ouro Verde (Incentivo à cafeicultura);• Patrulha Agrícola (máquinas agrícolas subsidiadas);• Desnutrição Zero 2007;• Rimando com a Internet, a prefeitura é provedora do sinal que leva

internet aberta, (gratuita) a zona urbana , e a parte da zona rural de nosso município, para que a população tenha acesso ao conhecimento e a toda a praticidade que o mundo digital pode oferecer. Ouro Branco mais forte com infra-estrutura (comunicação).

Em reconhecimento a eficácia do projeto o município recebeu os seguintes prêmios:

• Prêmio do Instituto Ambiental Biosfera ao Projeto Orquestrando com a Natureza, que consiste do plantio de árvores nas regiões acidentadas e encostas para proteger as áreas de risco do município, além disso, atuou no cercamento de 30 nascentes em propriedades envolvidas no projeto Ouro Branco;

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• Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor – 2010. Hoje o município é visitado por outros gestores públicos que vêm confirmar a viabilidade do Projeto;

• Premio Mineiro de Boas Praticas na Gestão Municipal, no ano de 2011, no eixo desenvolvimento social;

Objetivo geral

Melhorar a qualidade de vida dos produtores envolvidos no projeto, fomentando o cooperativismo, criar postos de trabalho aumentando significativamente a renda dos produtores, de modo a melhorar a renda mensal dos envolvidos e a aquecer a economia municipal.

Objetivos específicos

Melhorar as condições de vida do homem do campo, valorizando a vocação do município, evitando assim o êxodo rural em 3 anos.

Aumentar e otimizar os postos de trabalho das famílias atendidas pelo projeto 3 anos.

Aumentar a renda dos produtores rurais atendidos pelo projeto em um período de 3 anos.

Fortalecer a base econômica do município em um período previsto de 2 anos.

Erradicar a desnutrição infantil do município, em um tempo previsto de 2 anos.

Fomentar a cultura do cooperativismo entre os participantes do projeto, em um tempo previsto de 1 ano.

Erradicar o analfabetismo no município, em um tempo previsto de 6 anos.

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Criar a cultura da produção associada às práticas de preservação ambiental, em um tempo previsto de 2 anos.

Metodologia

Para a implantação do projeto Ouro Branco foram realizadas oficinas teórico-práticas, houve análise da vocação do indivíduo, várias reuniões foram necessárias para transmitir segurança aos associados, porque eles estavam inseguros por adaptar suas propriedades a uma nova cultura, aprimorando e as vezes rompendo as práticas adotadas até então. A sistemática do projeto trabalhou o associativismo, mostrando à população que era fácil a realização do projeto em função da agregação e otimização do que já era produzido.

O projeto criou núcleos de micro-agricultores que possuíam de 1 a 30 hectares, que era o público alvo do projeto, em torno de 187 famílias associadas diretamente.

A prática produtiva anterior ao Ouro Branco consistia na produção individual das propriedades, onde os produtores utilizavam o método tradicional de armazenamento e transporte, ou seja, ainda usavam as latas de leite, onde o leite permanecia em temperatura ambiente até chegar à indústria, comprometendo assim sua qualidade. O leite então passava a ter uma baixa qualidade para a indústria, que para seu beneficiamento terá um investimento maior, em conseqüência disso o preço pago ao produtor é menor.

Para a viabilidade e eficácia do projeto, várias parcerias foram firmadas a saber: Prefeitura Municipal, Sindicato dos Trabalhadores Rurais Secretaria de Agricultura, Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Miradouro, Emater-MG e iniciativa Privada. Tais parcerias garantem as informações, insumos e serviços necessários a atividade leiteira.

Com a implantação e o sucesso do projeto, a Secretaria de Agricultura passou a mediar a negociação dos produtores com a indústria. Cada um dos 23 grupos possui um representante que participa da negociação,

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sendo que agora eles negociam toda a produção do projeto,o que lhes deu respaldo mediante a indústria, pois o produto negociado possui quantidade e qualidade.

Para sua implantação o projeto foi dividido em fases, conforme segue:

Primeira Fase – formação dos grupos e compra dos tanques de resfriamento

Formação de núcleos (associações) para uso coletivo dos tanques;

Construção dos galpões pelo poder público;

Confecção de projeto de financiamento do tanque com o crédito rural;

Conscientização de trabalho em conjunto – associativismo e cooperativismo.

Segunda Fase – alimentação e manejo

Formação de propriedades piloto, que eram multiplicadoras do projeto para demais produtores, pois serviam de laboratório para as atividades que seriam implantadas nas outras propriedades, servia de oficina para alunos do ensino fundamental, estando em sintonia com o projeto Educação no Campo, onde os alunos constatam a viabilidade do campo, baseado na parceria e nas técnicas propostas pelo Projeto Ouro Branco;

Orientação e incentivo sobre alimentação do rebanho: com cana e uréia, silagem e capineiras irrigadas;

Implementação da qualidade do leite , através da Normativa 51;

Subsidio da prefeitura ao uso de cerca elétrica para divisão de pastos , pastejo rotacionado,( piquetes);

Subsídio no uso do trator da prefeitura no preparo de áreas para o plantio de canaviais, capineiras, milho/sorgo e pastagens;

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Controle individual de animais (reprodutivo e sanitário);

Negociação do preço do leite com os laticínios, onde a Secretaria de Agricultura atua como mediadora.

Terceira Fase – melhoramento genético

Cursos de inseminação artificial, os produtores da cada núcleo são capacitados e cada produtor insemina seu próprio rebanho;

Acasalamento genético, feito pelos técnicos da Secretaria de Agricultura;

Compra de 10 botijões de sêmen. Dos quais 03 foram comprados com recurso da próprios do municipio, e 07 com recurso do Ministério do Desenvolvimento Social, que foi cedido em comodato aos produtores, e estes são responsáveis pela manutenção e compra de sêmen;

Orientação de características fenotípicas para produtores que iriam comprar matrizes leiteiras.

Quarta Fase – conectou o homem do campo ao mundo digital, (através do projeto rimando rural). infra estrutura de qualidade

Quinta Fase – criação da cooperativa ouro branco, que faz a gestão do misturador de ração. (objetivando diminuir o custo da produção)

Sexta Fase – transporte próprio através da cooperativa

Sétima Fase – beneficiamento e rebeneficiamento do leite (previsão 2011)

Avaliação

Para a implantação do Projeto, uma das dificuldades encontradas foi trabalhar e viabilizar o associativismo e o cooperativismo entre os produtores, pois estavam inseguros em adaptar suas propriedades a uma nova cultura, rompendo com o passado e aprimorando as práticas

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

adotadas até então, entretanto a partir do trabalho e da dedicação dos técnicos envolvidos na implantação do projeto esse desafio foi superado.

A realidade local foi amplamente modificada com a implantação do Projeto Ouro Branco, a vida das 187 famílias envolvidas mudou significativamente para melhor , em 90% das famílias já houve a compra ou troca de veículos e motos, aquisição de antenas parabólicas, aparelho de DVD substituição dos telhados das residências, de telha de amianto para telhas de barro. Podemos citar como exemplo, o Senhor Odilon Valentim, que possui 1 alqueire de terra. Em 2005, ele produzia 8 litros de leite ao dia, em 2010 alcançou uma produção de 110 litros de leite ao dia; o que gera uma renda diária de R$ 88,00 , e uma renda mensal de R$ 2.728,00.

Em conseqüência disso a economia do município passou a movimentar mais dinheiro, o que gera emprego e renda para a população urbana.

Conforme segue abaixo, visualizamos em linhas gerais a evolução obtida com a implantação do Projeto:

Receita bruta dos produtores

O leite teve um aumento de 242% no período. Agora compare...

A receita aumentou incrivelmente 1.455% no período.

Ano de 2005

Ano de 2008 Ano de 2010

Quantidade

produzida1500 litros/dia 7.200 litros/ dia 9.000 litros/dia

Valor pago R$ 0,33 o litro R$ 0,52 o litro R$ 0,80 o litro

Valor total

mensalR$ 14.850,00 R$ 111.800,00 R$ 216.000,00

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Arrecadação municipal

Conquistamos um aumento da arrecadação municipal com o repasse do ICMS em torno de 30% até 2009, e foram abertas no Município 3 novas empresas ligadas ao leite.

Indicadores sociais

Em conseqüência do conjunto das ações os indicadores sociais também avançaram:

I -C Educação

Ensino fundamental

II -C Saúde

Com os trabalhos realizados de 2005 a 2009, o município zerou a taxa de Mortalidade infantil.

III -C Assistência social

De 2005 a 2007, com as ações integradas zeramos a desnutrição infantil

IV -C Educação

Segundo dados do IBGE do ano de 2002, o índice de analfabetos era de 21% no município. Com as ações integradas e o Projeto Ouro Branco articulado, o último levantamento feito pelas equipes de PSF em dezembro de 2010, esse número caiu vertiginosamente para 853 analfabetos.

Viabilidade de implantação

O Projeto Ouro Branco se regionalizou já está implantado em 9 municípios de nossa região, e recebemos visitas de outros que tem interesse em sua implantação.

IDEB Municipal Mineiro Nacional

2005 3.7

2009 5.0 4.9 4.6

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Bovinocultura Leiteira na Zona da Mata Mineira

As recomendações que damos é que são necessários:• Diagnóstico da realidade; • Planejamento das atividades;• Despertar o associativismo;• Integração entre as Secretarias;• e CORAGEM.

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