CONCEPÇÃO DE ESCOLA E EDUCAÇÃO EM...

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INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE CAMPUS AVANÇADO ABELARDO LUZ ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO TRABALHO DE CURSO CONCEPÇÃO DE ESCOLA E EDUCAÇÃO EM GRAMSCI Idinéia Ferreira Dutra Jurema de Fátima Knopf Abelardo Luz/SC,dezembrode 2018

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INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE

CAMPUS AVANÇADO ABELARDO LUZ ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO

TRABALHO DE CURSO

CONCEPÇÃO DE ESCOLA E EDUCAÇÃO EM GRAMSCI

Idinéia Ferreira Dutra

Jurema de Fátima Knopf

Abelardo Luz/SC,dezembrode 2018

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TRABALHO DE CURSO

CONCEPEÇÕES DE ESCOLA E EDUCAÇÃO EM GRAMSCI

Trabalho de Curso – TC apresentado ao Curso de Especialização em Educação: Educação e Prática de Ensino, do InstitutoFederal Catarinense – Campus Avançado Abelardo Luz, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Educação.

Orientador: Jurema de Fátima Knopf

Idinéia Ferreira Dutra

Abelardo Luz/SC, dezembrode 2018

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática do ICMC/USP, cedido ao IFC e

adaptado pela CTI - Araquari e pelas bibliotecas do Campus de Araquari e Concórdia.

F18cFerreira Dutra, Idinéia Concepção de Escola e Educação Em Gramsci /Idinéia Ferreira Dutra; orientadora Jurema DeFátima Knopf. -- Abelardo Luz, 2018. 21 f.

Artigo (artigo) - Instituto Federal Catarinense,campus Abelardo Luz, Especialização em Educação:Educação e Prática de Ensino, Abelardo Luz, 2018.

1. Educação. 2. Sociedade. 3. Escola.I.De FátimaKnopf, Jurema. II. Instituto Federal Catarinense.Especialização em Educação: Educação e Prática deEnsino. III. Título.

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BANCA AVALIADORA Prof.ª MªJurema de Fátimaknopf– Orientadora ( Instituto Federal Catarinense –IFC)

Prof.ª Mª LiamarBonattiZorzanello –( Instituto Federal Catarinense – IFC)

Prof.ª Mª Carmem Waldow –(Instituto Federal do Paraná – IFPR)

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CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO E ESCOLA EM GRAMSCI

Idinéia Ferreira Dutra1

Jurema de Fatima Knopf2

RESUMO

A educação no mundo passou por diversas vertentes filosóficas para adequar-se e tornar-se tal qual é atualmente, não pode-se negar os grandes avanços que a humanidade teve desde os princípios do pensamento da democratização da educação. O presente artigo, baseado em pesquisas bibliográficas, nos traz a trajetória de um reconhecido filósofo que defendeu até os dias de sua morte o princípio da educação para todos. Antonio Gramsci é o grande inspirador desta pesquisa que visa apresentar os pilares da educação por ele proposto que mesmo em tempos difíceis teve uma visão futurista e inovadora, pensando uma escola unitária, onde o privilégio da educação pudesse ser estendido às classes operárias, não apenas à burguesia elitista. Para entender os sistemas educacionais nos diversos países é necessário conhecer a história da educação e perceber a grande contribuição de filósofos e educadores que influenciaram na transformação de uma educação que era privilégio de poucos, para uma educação mais acessível, livre de divisão de classes e preconceitos. Gramsci, apesar de sua breve vida, foi um grande pensador que buscou inovação não apenas na educação, mas também na ação política e filosófica de uma sociedade cujos moldes desfavorecia a classe dos trabalhadores assalariados.

Palavras- Chaves: Educação, Sociedade, Escola.

ABSTRACT

Education in the world has gone through several philosophical strands to fit and become as it is today. It is understood that still in our country education is walking in the footsteps of ant, but it can not be denied the great advances that humanity has had since the principles of the thought of the democratization of education. This article, based on bibliographical research, brings us the trajectory of a renowned philosopher who defended until the days of his death the principle of education for all. Antonio Gramsci is the great inspirer of this research work that aims to present the pillars of education according to the author who even in difficult times had a futuristic and innovative vision, thinking of a unitary school, where the privilege of education could be extended to the working classes , not just the elitist bourgeoisie. In order to understand educational systems in different countries, it is necessary to know the history of education and to realize the great contribution of philosophers and educators who have influenced the transformation of an education that was the privilege of the few, to a more accessible education, free of class division and prejudices . Gramsci, despite his brief life, was a great thinker who sought innovation not only in education, but also in the political and philosophical action of a society whose molds disfavored the class of salaried workers.

Key Words: Education, Society, School.

1 Licenciada em Pedagogia pelo Instituto Federal do Paraná-IFPR, Acadêmica de Pós Graduação de

Especialização em Educação: Educação e Prática de Ensino do Instituto Federal Catarinense – IFC Campus Abelardo Luz. E-mail: [email protected] 2Graduada em Pedagogia para Educadores do Campo na Universidade Estadual do Oeste do

Paraná-UNIOESTE. Especialista em Especialização no Ensino de Ciências Humanas e Sociais na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Mestre em Mestrado em Educação na Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE. Orientadora deste trabalho de curso (TC). E-mail:[email protected]

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INTRODUÇÃO

A educação tem grande relevância na organização da sociedade assumindo

papel indispensável nas relações estabelecidas, sendo vista como instrumento de

transformação. Ao falar emuma educação que busca a autonomia dos indivíduos,

voltada a uma perspectiva crítica, podemos nos remeter aum dos mais referenciados

filósofos do século XX. Antônio Gramsci, que propõe uma concepção de escola que

dialoga com pressupostos da “pedagogia socialista”. Gramsci foi um homem de vida

breve que deixou uma obra vasta, onde sua visão futurista contribuiu para moldar a

democratização da educação no mundo.

Antônio Gramsci apresenta uma reflexão teórica com caráter questionador e

que se preocupa com a relação indivíduo e sociedade, baseando o conhecimento de

caráter social nas práticas escolares. O filósofo italiano é entendido como grande

influenciador, pois através de suas ideias muitos passaram a acreditar que

conhecimento e cultura são ferramentas fundamentais para mudar a sociedade.

A prática docente crítica, progressista não pode prescindir do movimento

dialético entre o fazer e o pensar, sobre o fazer. Dessa feita, o contexto teórico,

formador não pode jamais, transformar-se num contexto de puro fazer. Ele é, pelo

contrário, contexto de que fazer de práxis, quer dizer de prática e de teoria. Assim,

nos contextos teóricos de formação de professores, a relação dialética entre prática

e teoria necessita de incondicional vivência. O professor comprometido com a

transformação necessita buscar novos conhecimentos, estimulando o preparo

científico e técnico do aluno para atuar no contexto em que vive.

A pesquisa aqui apresentada objetiva, de modo geral: analisar os pressupostos

educacionais que permeiam a concepção de escola em Gramsci, e,

especificamente: contextualizar a elaboração teórica do autor pesquisado; identificar

os pressupostos que demarcam a concepção gramsciana de escola; compreender a

relação entre trabalho e ensino na formação do novo homem na teoria gramsciana.

A metodologia adotada para o estudo é de caráter bibliográfico, revisando os

conceitos fundantes da concepção gramsciana de escola, em obras clássicas do

autor como: “Cadernos do Cárcere”, escrita quando o autor encontrava-se preso por

opor-se ao ditador Mussolini em 1926, sendo que nessa obraexpressou importantes

ideias, que compreendem discussões pertinentes à filosofia, política e educação.

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Além de Cadernos do Cárcere, Gramsci também é autor de “Escritos Políticos”

(1926) livro que apresenta textos idealistas anteriores ao período em que esteve

preso, onde expõe seus ideais marxistas e seu posicionamento político. O artigo

conta com textos de autores que buscaram compreender Gramsci em suas diversas

concepções e trazer de forma atualizada a importância do historicismo e da dialética

do pensamento desse estimado filósofo, que apesar de ter escrito de acordo com a

realidade de sua época, possui grande contribuição na organização da educação

atual. Um desses autores é Paolo Nosella (2004), que em “A escola de Gramsci”

retratou a contribuição do filósofo ao desenvolvimento de uma percepção crítica de

educação. Ainda pode citar-se outros autores como: Manacorda (1990),

Jesus(2005), Vieira (1999), Nosella (2004), entre outros.

O presente artigo está organizado em três seções, a primeira parte intitulada;

Breve contexto histórico: as implicações que demarcaram a concepção educacional

de Antônio Gramsci, no qual destaca as principais concepções de educação

idealizadas pelo autor, contextualizando com o momento histórico da época em que

suas obras forma elaboradas, analisando necessidades e pressupostos que

originaram um pensamento revolucionário vindos de um grande idealista que

influencia até hoje diversas áreas da sociedade. O segundo: A concepção de escola:

os pressupostos que demarcam a concepção gramsciana de escola. Apresenta o

modelo de educação estabelecido por Gramsci, que buscou a democratização do

ensino já em sua época onde, educação “humanista”. Pregava que formar

pensadores era privilégio da elite, e a “profissional” formava trabalhadores para

atender a demanda do mercado de trabalho e; por último. A concepção de trabalho e

ensino na formação do povo.

1 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO: AS IMPLICAÇÕES QUE DEMARCARAM A

CONCEPÇÃO EDUCACIONAL DE ANTÔNIO GRAMSCI

Antônio Gramsci nasceu em Ales, na Ilha da Sardenha em 1891, em uma

família numerosa, foi vitima antes dos dois anos de uma doença que o deixou

corcunda e prejudicou seu desenvolvimento, quando adulto sua altura não passava

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de 1.50 metros e sua saúde era bem debilitada. Viveu em uma das regiões mais

pobres da Itália, cuja capital é Turim, foi nesse lugar que Gramsci estudou na

Universidade de Turim (1911), mas precisou largar os estudos por falta de recursos

(CARNOY, 1986).

Mesmo sem concluir o estudo superior interessou-se pelas causas operárias

e unindo seu gosto pela escrita, logo se identificou pelo jornalismo político

envolvendo-se na política durante a primeira Guerra Mundial, como jornalista e

crítico de teatro. Nas tardes, costumava assistir as reuniões da organização sindical

da Confederação Geral do Trabalho e do Partido Socialista. Criou dois periódicos,

Ordine Nuovo e Unitá, deixando explícito que seu objetivo era educar a nova classe

operária. Por esse amor à comunicação e busca por conhecimento, há quem afirme

que o estudo para Gramsci possuía um sentido terapêutico. (1999).

Gramsci manteve sempre vivo seu interesse pela teoria marxista chamando-a

de “filosofia das práxis”, estava sempre na luta contra o estado burguês, por isso foi

alvo do regime fascista, trabalhava com uma visão crítica ao sistema liberal burguês,

que carregava a classe operária se incorporado à luta pela superação da condição

subalterna. Em 1908 conclui o ginásio em Oristano, ingressa no curso colegial em

Cagliari, vai morar com seu irmão Gennaro, vira secretário do Partido Socialista

Italiano e começa a frequentar movimento socialista de Sardenha, onde discutem

problemas econômicos e sociais de sua cidade.

No ano de 1919 abandona o Curso para fazer política e lutar pelos seus

ideais. No jornal onde começou a participar Ordine Nuovo, ele defendia a ideia de

que os proletariados tinham que fazer parte da política, e era a favor de criar

conselhos de trabalhadores fabris (SCHLESENER, 2005). Nesse mesmo

ano,Gramsci publica o artigo “Trabalhadores e Camponeses”, onde denota a

percepção de como o caráter do desenvolvimento desigual do capitalismo na Itália e

a formação do Estado moderno criaram condições, nas quais, os camponeses do

Sul eram incapazes de definir uma estratégia sistemática para suas lutas

(GRAMSCI, 1977, p.87). “Os camponeses desmotivados eram incapazes de

pensarem como membros da sociedade, portanto seus movimentos não tinham

força suficiente para influenciar e alterar o modelo de sociedade.”

Sob tais condições, a psicologia dos camponeses foi inescrutável: seus reais sentimentos permaneceram ocultos, enredados e confusos em um sistema de defesa contra a exploração que era meramente individualista, destituído de uma continuidade lógica, inspirada em grande medida pela astúcia e pelo servilismo fingido. A luta de classes foi confundida com

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banditismo – com ameaça, queima de florestas, abatimento do gado, rapto de mulheres e crianças, assaltos à prefeitura – era uma forma de terrorismo elementar, sem longo prazo ou consequências eficazes (GRAMSCI, 1977, p. 83-84).

Ao analisar a incidência das rebeliões frequentes no território Italiano, na

segunda metade do século XIX, Gramsci observou que as atuações dos grupos de

assalariados não se afastaram da sujeição política ou sequer alteraram as suas

condições permanentes de vida.

Uma série de conflitos ocorreu e os chamados “rebeldes” sofreram brutais

represálias do governo e as lutas estenderam-se por longos anos, Gramsci cresceu

vendo as manifestações e os massacres, inclusive, aos quinze anos testemunhou

uma terrível realidade, Sardenha, sua terra natal, havia sido devastada por uma

violenta convulsão social. Desde a adolescência até a vida adulta pôde ver de perto

a brutal repressão aos movimentos dos trabalhadores e camponeses.

De acordo com os argumentos de Gramsci (1977) o Estado moderno

protegeu-se de tal forma que para superá-los as forças revolucionárias precisavam

de uma gerência intelectual e moral antes da conquista do poder político, pois do

contrário poderia facilmente ruir. Desse ponto de vista, se uma minoria

revolucionária obtiver sucesso na tomada violenta de poder, essa minoria será,

possivelmente, derrubada por um contragolpe difundido pelas forças mercenárias do

capitalismo.

Com outros militantes e intelectuais da esquerda, no ano de 1921 criou o

Partido Comunista Italiano, mas por ideais contrários ao regime fascista, com seu

pensamento insistente de instruir as massas, munindo-os primeiramente de

conhecimento, através do ideal de uma campanha educacional abrangente para

conscientizar os trabalhadores, não pôde contar com o total apoio de seu partido e

em consequência se sua ideologia libertária foi preso dia 08 de novembro de 1926 e

foi condenado a mais de 20 anos de prisão. Durante o tempo que estava preso

escreveu 32 cadernos de reflexão chamados Quadernidel cárcere (Cadernos Do

Cárcere).

Encerra o período de liberdade condicional no ano de 1937, pretende voltar

para Sardenha para se reestabelecer, mas na noite do dia 25 de Abril tem uma crise

inesperada sofre um derrame cerebral. Sua mulher Tatiane assiste tudo acontecer, e

na manhã do dia 27 vem a óbito, Gramsci morre aos 46 anos, ele foi cremado e

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suas cinzas guardadas em uma urna, que foi enterrada no cemitério de Verano, com

o passar dos tempos foi transferido para Roma, no cemitério dos Ingleses

(JAPIASSU, 1996).

Gramsci lutou quanto podia por seus ideais, sofreu desde cedo com a doença

de Pott ou tuberculose vertebral (é uma forma de apresentação de

tuberculoseextrapulmonar, onde a coluna vertebral é afetada.) , mas nem por isso

desistiu, demonstrou sempre preocupação com o proletariado, e suas raízes

estavam na política, por onde buscava equalizar os seus anseios para uma luta mais

justa, e igualdade social, na educação foi que Gramsci começou disseminar,

esperando colher resultados mesmo quando não havia esperança.

Para concretização da ideia foi criada em 1919 “escolas da cultura” que seria

considerada como um modelo, baseado no ideário da escola não formal, Gramsci foi

ampliando seus desejos e buscando realizá-los. Com essa intenção criou o “Instituto

de Cultura Proletária” e fundou uma seção de Proletariados, para que discutissem

questões sociais e étnicas e através de debates os jovens operários passavam a

compreender com criticidade o modelo econômico vigente na época e pensar

racionalmente soluções para suas necessidades políticas e socioeconômicas.

Com o desenvolvimento do curso Gramsci começou a apresentar a

metodologia de como funcionava aquelas escolas:

Apertados uns com os outros, em bancos incômodos, espaço apertado, aqueles alunos desacostumados, a maior parte já maduros, fora da idade quando aprender é coisa simples e natural, todos cansados por uma jornada de trabalho, seguindo com maior atenção ao desenvolver da lição esforçando-se para anotar no caderno (JESUS, 2005, p.90).

Ele queria que cada um daqueles jovens operários fosse preparado para uma

vida cultural, política e social, Gramsci dedicou-se através das escolas para levar a

cultura de massa para os operários.

A escola de OrdineNuovo que é um periódico semanal Italiano, criado por

Gramsci e alguns jovens intelectuais socialistas de Turim que são amigos de

Gramsci desde a Universidade, nasceram com o intuito de fazer da revista um

centro de elaboração e de esclarecimento da experiência real do movimento

operário Turinense, mostrando a luta direta dos operários. A escola tinha por

objetivo uma escola espontaneista, onde o estudante aprende também por meio de

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suas vivências. Uma escola baseada "não apenas na cultura e produção em geral,

mas também escola e produção em particular são inseparáveis em uma perspectiva

técnico-política, ou numa perspectiva do novo humanismo" (MANACORDA, 1987, s.

p.).

Com isso, Ordine Nuovo se caracterizou como escola em um sentido real.

Afirma Nosella (1989), o que queria o grupo dirigente, não poderia acontecer sem

um trabalho educativo que incluía até a autoeducação. Daí o lema impresso no

primeiro número, como uma síntese de programa: “Instrui-vos porque precisamos de

toda a vossa inteligência, lutai porque precisamos de todo o vosso entusiasmo”

(NOSELLA, 1989).

A revista foi se tornando um centro de alto nível, que leitores e colaboradores

também participavam, era uma escola frequentada por operários que com a

instrução correta de alunos, logo se tornavam mestres. Tratava-se de uma escola

cujo objetivo era ser uma força livre, que tinha como instrumento preparar e informar

as massas operárias e camponesas, uma massa revolucionária disciplinada

consciente da responsabilidade que está carregando em suas costas. O jornal não

só visava o diferencial no enfoque das notícias, mas que se tornasse um agente de

educação e organização entre os operários:

Gramsci desejava que o jornal fosse uma verdadeira escola de capacitação dos trabalhadores. E foi realmente o que aconteceu quando ele se tornou o principal órgão dos conselhos de Fábrica e centro dos movimentos operários. Conhecendo sua importância, ele faz o censo dos assinantes, sugerindo que todos ajudassem esta iniciativa de suma importância para o partido. (JESUS, 2005, p.93).

Dentro de uma concepção de partido, escola foi enraizada na prática

industrial e ligada a concepção dialética do historicismo, a escola que foi criada em

torno da revista Ordine Nuovo, e tinha intuito de formar os intelectuais do futuro.

Mesmo nos tempos de repreensão fascista, Gramsci não desistiu de sua ideia

de instruir a classe trabalhadora, criando assim a “Escola por Correspondência” que

seria um braço da Escola de Partidos. Ele tinha consciência dos inconvenientes

dessa escola, mas naquelas circunstâncias era o que podiafazer ,a distância entre

mestre e aluno era complicada, então foi criada essa forma de educação porque os

alunos podiam recorrer às cartas para esclarecer dúvidas e pedir conselhos, mas

isso preocupava Gramsci, pois teoricamente estava tudo bem, e como será que

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estava na prática, eis a grande preocupação.

Gramsci se esforça para explicar que os limites pedagógicos inerentes ao método escolar por Correspondência não constituem algo negativo de forma irreparável, porque a primazia no processo formativo da pessoa cabe à vida, a experiência de luta, da produção e da reprodução. A escola é algo importante, mas complementar; acelera as potencialidades humanas, não as crias. Tayloriza o saber geral, no sentido de que organiza as partes, subdivide os pontos, interliga os atos pedagógicos de forma que a sequência produza um todo orgânico e superior (NOSELLA, 2005, p. 103).

A escola preparou uma edição de “O Manifesto”, com o apoio de Gramsci,

onde o mesmo pensou a escola iria durar por muito tempo, com isso ele mesmo

redigiu a introdução da primeira apostila para trabalhar com os operários e como

tudo estava ocorrendo sobe controle ele iniciou também a segunda apostila que

chamou de “A Vida da escola”, na introdução ele justificativa porque se criar uma

escola “por correspondência”, e sua devida importância. Mas com o passar do

tempo os operários começam a serem perseguidos, as bibliotecas operárias foram

incendiadas, por causa desses incidentes a classe operária ficou com medo, não

queria arrumar inimigos, com isso prejudicou ação revolucionária que Gramsci tanto

lutava.

Gramsci(1984) afirmava que escola deve pautar-se nos conselhos (de fábrica e

do campo) e exemplifica uma forma didática dessa relação,pois existem concepções

e experiências a respeito da relação escola – trabalho,com intuito de traduzir o

profundo sentido que Gramsci dava a essa relação mas de forma didática, como

buscava para uma autêntica escola do trabalho.

É importante destacar que o autor estudado é um dos intelectuais mais

respeitados do século XX. Em contraposição, o comunismo acenava como

alternativa de mudanças aos trabalhadores. Sua produção intelectual acentua a

educação no contexto da luta de classes, onde o direito de frequentar a escola com

ensino de qualidade poderia estender-se a todos, não apenas formar para o

trabalho, como previa a educação da época, mas democratizar o ensino, formando

pensadores. A seguir veremos a concepção de escola segundo o ideal pensado por

Gramsci.

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2 A CONCEPÇÃO DA ESCOLA: OS PRESSUPOSTOS GRAMSCIANOS

Para Gramsci, todo homem é um filósofo porque possui condições de pensar,

o que há são níveis de compreensões distintas, que devem ser potencializadas ao

longo da vida. Deste modo, a educação pretendida pelo autor visa uma formação

integral do homem, no sentido de desenvolver a sua formação técnica e intelectual

ao mesmo tempo. Para tal, toda instituição ou organização cultural objetiva

desenvolver a cultura e formar consciência das massas.

[...] o operário não é especificamente caracterizado pelo trabalho manual ou instrumental, mas por esse trabalho sob determinadas condições sociais; [...] existe em qualquer trabalho físico, inclusive no mais mecânico e degradado, um mínimo de qualificação técnica, isto é, um mínimo de atividade intelectual criativa. [...]. Não é, portanto, uma vez mais, a natureza da atividade exercida, que é sempre, de qualquer modo, intelectual, mas a sua colocação no âmbito das relações sociais aquilo que conta; [...] (MANACORDA, 2008, p.165).

A concepção de escola unitária, visa a democratização da escola, e

acreditando no poder de libertação da escola, como meio de formar pessoas para

serem dirigentes numa nova sociedade. Surge da crítica a escola classista / dualista

italiana. A dualidade se expressava na oferta do ensino clássico para a classe

influente e profissional para os operários. As escolas surgem de maneira

desordenada, escolas particulares para atender à necessidade de formar os

especialistas e dirigentes para as complexas atividades práticas requeridas pela

civilização moderna (GRAMSCI, 2004).

Para Gramsci o operário deveria ter acesso à teoria marxista, compreendendo

o modelo econômico em que estava inserido, tendo assim uma visão crítica da

sociedade, dessa maneira fez uma crítica à divisão entre a escola clássica e

profissional: “[...] a escola profissional destinava-se às classes instrumentais, ao

passo que a clássica destinava-se às classes dominantes e aos intelectuais.”

(GRAMSCI, 1991, p. 118).

Considerando a escola italiana como elitista e discriminatória, buscou orientar

a sociedade quanto à ideia de uma escola que assinalasse as acentuadas

diferenças entre a formação profissional e a formação intelectual.

Na escola atual, em função da crise profunda da tradição cultural e da concepção da vida e do homem, verifica-se um processo de progressiva

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degenerescência: as escolas de tipo profissional, isto é, preocupadas em satisfazer interesses práticos imediatos, predominam sobre a escola formativa, imediatamente desinteressada. O aspecto mais paradoxal reside em que este novo tipo de escola aparece e é louvada, quando na realidade, não só é destinado a perpetuar as diferenças sociais, como ainda a cristalizá-las em formas chinesas. (GRAMSCI, 2001, p. 49).

Contrapondo-se à escola que instruía a elite e treinava o operário, propôs um

modelo de “escola unitária” ou de cultura geral, esta seria uma escola com

oportunidades para todos que demonstrassem interesse pelos estudos, mas

inicialmente teria algumas limitações, portanto não era um protótipo da sonhada

escola para todos. Toda a mudança para o surgimento dessa escola dependia de

uma ampliação dos prédios, demanda maior de material e docente. A qualidade da

relação professor/aluno é muito mais intensa quando limita-se poucos alunos por

professor e a ideia de escola por ele apresentada é a escola-colégio, munida de

bibliotecas equipadas, salas de aula confortáveis e auditório para seminários,

dormitórios e refeitórios Gramsci (1991). Mesmo pensando em uma escola ideal,

sabia que para a época aquele tipo de escola tão sonhada apareceria inicialmente

com vagas limitadas, o ingresso dos alunos necessariamente deveria ocorrer por

meio de concurso ou indicações.

A escola unitária baseia-se na procura por uma emancipação humana e a

aquisição de maturidade intelectual. Gramsci considerou decisiva a última fase da

escola unitária, em que os alunos poderiam desenvolver disciplina intelectual,

autonomia moral e definir as “[...] indicações orgânicas para a orientação

profissional”.“(GRAMSCI, 1991, p. 125)”.

Jesus (2010), Gramsci chamou a atenção para o fato de que a escola

operária “completa e esclarece a experiência concreta de vida, orienta e acostuma a

generalizar melhor”. Aquela escola tem que ser diferente porque as origens culturais

do operariado são bem diferentes. “Enquanto o jovem burguês já chega à escola

“saturado pelo espírito de sua classe”, possuído da “presunção do saber”, a classe

operaria, oprimida explorada, não pode oferecer aos filhos o mesmo clima

cultural”MARX; ENGELS (1986).

É o novo entrelaçamento entre ciência e trabalho na indústria moderna, o qual cria um novo tipo de intelectual diretamente produtivo; [...] cria, ademais, a necessidade de uma escola que seja também ela de cultura [...], mas de uma cultura nova e diferente, ligada à vida produtiva. [...] escola de cultura para um novo tipo de intelectual, [...] (MANACORDA, 2008, p.167).

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É por esse tipo de educação que lutava, pensando em uma melhor qualidade

de vida para o trabalhador, onde o acesso ao conhecimento científico e à cultura não

fosse apenas privilégio da elite. Mesmo na prisão repetiu a sua atividade educativa.

Gramsci deixou uma grande contribuição no campo da educação, inclusive na

área das atividades da escola informal, que ele criou antes de ser preso, ele se

convenceu que para chegar à hegemonia do proletariado necessitava de uma

elaboração intelectual dessa forma. Precisava trabalhar mais a cultura para com a

ajuda dela realizar a transformação política, pois naquela época, a arma usada era

uma ideologia dos proletariados para uma revolução.

Sobre essa relação Manacorda (1990) aponta a necessidade de elaboração

de um programa escolar que se baseie não somente no mundo das relações de

trabalho, mas também na liberdade de pensamento e opinião, formando

trabalhadores pensantes, visando à plena humanização.Para solucionar a crise

educacional italiana, que tinha origens na base material da sociedade, imaginou um

novo princípio educativo, com vistas à “formação para a capacidade de agir ao

mesmo tempo intelectualmente e manualmente, isto é, no mundo contemporâneo,

tecnicamente e industrialmente em uma organização educativa unitária, vinculada às

instituições produtivas e culturais da sociedade adulta” Gramsci (2011).Como explica

a citação:

A escola unitária requer que o Estado possa assumir as despesas que hoje estão a cargo da família, para a manutenção dos escolares, isto é, que se transforme inteiramente o orçamento da educação nacional, ampliando-o de modo extraordinário e tornando-o mais complexo; a inteira função da educação e formação das novas gerações deixa de ser privada e torna-se pública, pois somente assim pode ela envolver todas as gerações, sem distinções de grupos ou de castas. (MANACORDA, 2008, p.253).

A organização da escola unitária de Gramsci tem sua proposta curricular

dividida em níveis, de acordo com faixa etária e desenvolvimento intelectual-moral

dos educandos, o objetivo é inseri-los no meio social, depois de ser elevado a um

grau de maturidade e capacidade suficiente para a criação intelectual e prática e a

um maior nível de autonomia na orientação e iniciativa (GRAMSCI, 2004, p.36).

Para ingressar na escola unitária o aluno deveria ser avaliado por meio de

uma prova em que apresentasse suas potencialidades individuais. O primeiro nível

da escola unitária teria duração de 3 a 4 anos, assemelhando-se ao atual ensino

fundamental I, nessa fase os alunos aprenderiam:

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As primeiras noções do Estado e da sociedade, enquanto elementos primordiais de uma nova concepção do mundo que entra em luta contra as concepções determinadas pelos diversos ambientes sociais tradicionais, ou seja, contra as concepções que poderíamos chamar de folclóricas (GRAMSCI, 2004, p.36).

Na fase final da escola unitária a duração seria de aproximadamente 6 anos,

organizada pensando-se no desenvolvimento da autodisciplina e a autonomia do

aluno, pressupondo que o estudante possuindo um método próprio de investigação,

seria capaz de descobrir e criar ideias.

Segundo Carnoy(1986) A “escola” para Gramsci ultrapassava a “escola” a

serviço da dominação de poucos, que perpetuava a divisão de classes, que

reforçava as diferenças sociais e disciplinava o aluno para aceitar as desigualdades,

relegando, a um plano, a socialização do conhecimento.

Um dos principais conceitos que articulam a escola unitária é a concepção de

trabalho, ele perpassa toda a relação da escola e sua dimensão formativa. Para o

autor, que ancora seu pensamento no Marxismo, onde chamava a teoria de Marx,

de filosofia da práxis, pois ela era uma prática pensada e reflexiva com isso buscava

uma ideologia libertária:

O primeiro pressuposto de toda história humana é naturalmente a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro fato a constatar é, pois, a organização corporal destes indivíduos e, por meio disto, sua relação dada com o resto da natureza. [...] Tal como os indivíduos manifestam sua vida, assim são eles. O que eles são coincide, portanto, com sua produção, tanto com o que produzem, como com o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais de sua produção. (MARX; ENGELS, 1986, p. 27-28).

Entende-se assim que é pelo trabalho que o homem mostra-se superior aos

demais seres, pois através deste adquire sua subsistência. Dentro do pensamento

marxista, é intolerável a opressão de uma minoria sob o trabalho da maioria,“Pois há

aqueles, dentre eles, que trabalham e nada adquirem e aqueles que adquirem

qualquer coisa e não trabalham”.(MARX & ENGELS, 1999, p. 35). Para os marxistas

dentro do sistema capitalista existe a classe melhor abastada que são os grandes

proprietários dos meios de produção e a classe operária que possui como

propriedade apenas a sua força de trabalho.

Compreendendo a função do Estado como uma instituição passageira e com

possibilidades de transformação, Gramsci elabora outra estratégia: a “guerra de

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posição” ou “guerra de movimento”, que de acordo com Carnoy (1994), baseia-se

em quatro elementos: o primeiro sugere que cada país deveria desenvolver uma

estratégia socialista para proteger-se da ordem mundial; o segundo propõe

organizar a classe trabalhadora para agir contra a hegemonia; na terceira estabelece

uma educação formadora de consciência para a classe trabalhadora; o último

elemento baseia-se em relacionar o partido revolucionário à classe trabalhadora

como um todo.

As correspondências mantidas por Gramsci no cárcere mostrou que ele era

dedicado com a educação de seus filhos e sobrinhos, mostrando-se um pedagogo e

um mestre exigente que não importava os obstáculos, se esforçou para acompanhar

a educação destes, em outras cartas ele voltou a preocupação pedagógica em

relação ao espontaneísmo (é a ideia de aprender um conteúdo experimentando

situações , acontece aleatoriamente sem exigencia. Essa concepção está voltada

para a prática sem compromisso com a educação) e a disciplina. Nessas cartas

demonstrava preocupações e também um diálogo pedagógico com seus filhos,

alegava que a educação tem que ser “total ou integral” com intuito de formar

indivíduos em sua totalidade em relação do homem-massa ou homem coletivo.

Com seus filhos mais crescidos Gramsci queria acompanhar o seu progresso

intelectual apelando para “pedagogia da exigência” que seria baseado em uma

cultura sólida e realista que busca uma formação de homens sóbrios, fez isso de um

modo bem simples, com auxílio das histórias infantis, mas que não deve se deixar

levar pelas fantasias, tem que aliar seu projeto pedagógico com a vivência de seu

dia a dia, aliar à prática a teoria, a criança deve ser estimulada em buscar e agir

crítica e historicamente.

Gramsci buscava fazer uma analogia da forma que viveu e o quanto tinha

mudado e como isso interferiu no seu desenvolvimento, ele procurou se atualizar no

campo da educação, mas sua preocupação central era a educação de seus filhos.

Esclareceu, naquela mesma carta, seu pensamento sobre a aprendizagem, afirmando que “a criança se desenvolve intelectualmente, de modo rápido, absorvendo desde primeiros dias de nascido, uma quantidade extraordinária de imagens que são ainda recordadas depois dos primeiros anos...”, A partir destas considerações, reafirmou sua concepção de homem, isto é,” toda uma formação histórica, obtida com a coerção, entendida não só no seu sentido brutal e de violência externa”, para concluir que” renunciar a formar a criança significa apenas permitir que sua personalidade se desenvolva recebendo, caoticamente, do meio em geral, todos os motivos vitais” (JESUS,2005, p. 111 e 112).

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Através de todos seus interesses e dedicação, ainda demonstrava e

comentava a necessidade de “educar os professores”, com isso pedia que seus

filhos fossem bem educados e preparados fora da escola. “Quando voltou a se

interessar pela escola, agora com aspectos “profissionais”

3 A CONCEPÇÃO DE TRABALHO E ENSINO NA FORMAÇÃO DO POVO

Como grande formador de opinião e com intelectualidade indiscutível,

Gramsci em sua teoria propõe uma escola unitária que promova a maturidade

intelectual. Sua preocupação com a educação está diretamente ligada ao seu

posicionamento político, onde mostra-se comprometido com o proletariado. Além de

desenvolver sua proposta educacional, continuou a dar incentivo às instituições

proletárias, como os sindicatos e partidos. Gramsci apresentou este desafio:

construir uma verdadeira “escola unitária”, incumbida da “[...] tarefa de inserir os

jovens na atividade social, depois de tê-los levado a certo grau de maturidade e

capacidade, à criação intelectual e prática e a uma certa autonomia na orientação e

na iniciativa. ” (GRAMSCI, 1991, p. 121).

O desafio era o de pensar uma escola socialista unitária, que articulasse o ensino técnico-científico ao saber humanista. Essa seria uma chave para que os trabalhadores pudessem perseguir a sua autonomia e desenvolver uma nova cultura, antagônica àquela da burguesia. A luta dos trabalhadores para garantir e aprofundar a cultura, para se apropriar do conhecimento, traria consigo o esforço e o empenho para assegurar a sua autonomia em relação aos intelectuais da classe dominante e ao seu poder despótico. (ROIO, 2006, p. 312).

Gramsci declara uma batalha contra os moldes da escola profissionalizante,

decifrando-a como uma escola simplesmente obedece ao capitalismo, aumentando

dessa forma a distância econômica existente entre as classes. Ofertando um ensino

profissionalizante, o governo passa a impressão que é democrático e que oferece

sim o acesso a educação de qualidade. Mesmo com tal visão, o autor assume que a

educação pública é dever do Estado: “Serviços públicos intelectuais: além da escola,

nos vários níveis, que outros serviços não podem ser deixados à iniciativa privada,

mas – numa sociedade moderna – devem ser assegurados pelo Estado e pelas

entidades locais [...]” (GRAMSCI, 2001, p. 187).

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Segundo Roio (2006), para Gramsci, sindicato e partido exercem pouca

relevância na educação emancipatória dos operários, pois o processo educativo

deve começar partindo da própria classe, do processo produtivo fundamentando a

autoeducação e autoemancipação do trabalho. Através do conselho de fábrica,

ocorre a formação de intelectuais que irão compor o partido e o sindicato.

Dentro da proposta para a escola do trabalho é que os intelectuais gerados

pela própria classe operária teriam a oportunidade de aprimorar seus

conhecimentos, criando oportunidade de transformar a cultura da classe, mostrando

o potencial de mudança que a educação proporciona. Dessa forma a escola do

trabalho localiza sua metodologia e o seu fundamento dentro da ação de quem a

compõe, o seu objetivo está em colaborar para a edificação do homem comunista,

trabalhador livre associado. Para isso, é imprescindível o controle da produção e do

instrumento de trabalho, o que implica conhecimento técnico e científico. (ROIO,

2006, p. 316).

[...] Gramsci adquire, desse modo, um novo equilíbrio, o conceito de novo humanismo concretiza-se, assim, como humanismo do trabalho, um trabalho que tem uma dimensão bastante mais ampla que a dimensão didático-moral habitual nas escolas ativas. (MANACORDA, 1990, p. 243).

Educação e trabalho em Gramsci, não é aquela que conhecemos por “escola

tecnológica” ou “escola politécnica”, pois não possui características de formação

meramente profissionalizante. Para ele o trabalho como princípio educativo, pode

ser representado com a definição de Marx a respeito de uma configuração ampla de

educação, com o exercício de técnicas, numa formação intelectual e física.

Ao falar do princípio educativo e relacioná-lo com o trabalho devemos

também lembrar que somos parte de um mundo e dependemos dele para

sobreviver, mais especificadamente da natureza, pois é através dela que

conseguimos nos manter. Com o trabalho humano pode-se transformar a natureza

em benefícios próprios, produzindo e reproduzindo diferentes formas de vida.

O processo de trabalho necessita ser como um princípio educativo, sendo

imprescindível para formar intelectuais que sejam atuantes na classe trabalhadora

que concretize uma sociedade emancipadora e crítica, não esquecendo a bagagem

e as histórias dos indivíduos e suas relações sociais.

Gramsci (2001) pretende em sua visão,a escola unitária, onde busca a

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maturidade intelectual e a emancipação humana, para alcançar o objetivo de ter

cidadãos realmente atuantes e não apenas reprodutores do consenso e da

hegemonia burguesa.

Os estudos de Antônio Gramsci, sempre voltados para a luta de classes,

foram imprescindíveis para pensar-se na educação de maneira diferente, sendo ele

um pensador que viveu as grandes repressões italianas, suas ideias e seus

pensamentos formaram os moldes da educação muito atual, parecendo ser alguém

que viveu nossa época. Apesar de sua partida precoce, deixou um legado não

apenas na educação, mas na política, filosofia, entre outras áreas do conhecimento.

CONCLUSÃO

Em análise aos estudos de Gramsci é possível perceber que sua busca por

liberdade da ação política e cultural foi a maior inspiração de suas obras, sendo o

filósofo um grande influenciador das massas, foi preso e encarcerado que escreveu

sua obra mais famosa: “Cadernos do Cárcere”.

Um grande defensor da luta de classes, Gramsci pensou na instrução da

classe operária, entendendo que através do conhecimento ocorre a verdadeira

revolução. A grande contribuição dos relatos de Gramsci sobre o almejado sistema

de ensino faz-se presente na educação da atualidade, sendo que é um filósofo

considerado em todos os cursos de licenciatura, além de ser reconhecido na

economia, política, filosofia, entre ouras áreas.

Pode-se concluir dentro do pensamento de Gramsci que sua consciência de

mundo ampla e visionária resultou em ideias que até a atualidade são respeitadas e

seguidas.

A transformação da escola ao longo dos anos vê muitos resquícios da escola

de Gramsci. Assim ao findar o trabalho de pesquisa, considera-seAntônio Gramsci

como um dos precursores dos princípios da educação para todos, seu aporte no

âmbito educacional lutando por uma proposta de instrução às classes menos

favorecidas, fez dele não apenas um filósofo ou idealista político, mas também um

educador, ao expor suas ideias e disseminar conhecimentos de tanta relevância

para a sociedade, trazendo um grande desenvolvimento intelectual e aflorando uma

visão de mundo com maior criticidade.

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