CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS DE AÇO E SUA APLICAÇÃO EM PAVIMENTOS

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1 CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS DE AÇO E SUA APLICAÇÃO EM PAVIMENTOS 1 Mauricio Bochicchio 2 RESUMO O presente artigo trata sobre o concreto reforçado com fibras de aço, descrevendo o mecanismo de interação entre o concreto e as fibras, e os principais fatores que interferem no seu comportamento mecânico no que diz respeito à resistência à tração na flexão e tenacidade. Aborda a respeito dos tipos de fibra de aço, suas características geométricas e mecânicas e a relação destas com o comportamento do concreto reforçado com fibras de aço. Identifica as principais características do concreto reforçado com fibras de aço na aplicação em pavimentos e aponta as práticas usuais em relação à dosagem e controle tecnológico, além de apontar as principais vantagens e desvantagens do seu uso. Palavras chave: Fibras de aço. Pavimentos de concreto. 1 INTRODUÇÃO O concreto está entre os materiais mais utilizados no mundo, possui diversas vantagens, tais como baixo custo, facilidade de adaptação a diversas condições de produção e possibilidade de moldagem em variadas formas. No entanto, é um material de comportamento frágil e com baixa capacidade de deformação quando submetido a esforços de tração, e ao fissurar perde totalmente sua capacidade de resistir à tração. A adição de fibras de aço ao concreto está entre as alternativas tecnológicas para melhoria destas características. As fibras de aço adicionam ao concreto certa ductilidade, transformando-o em um compósito de comportamento pseudo-dúctil, aumentando sua tenacidade e a 1 Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Civil apresentado na Unifacs – Universidade Salvador, em 2013.1. Orientado pelo Prof. Carlos Machado. 2 Bacharel em Urbanismo (UNEB), Graduando em Engenharia Civil (UNIFACS). E-mail: [email protected]

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CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS DE AÇO E SUA APLICAÇÃO EM PAVIMENTOS1

Mauricio Bochicchio2

RESUMO

O presente artigo trata sobre o concreto reforçado com fibras de aço, descrevendo o mecanismo de interação entre o concreto e as fibras, e os principais fatores que interferem no seu comportamento mecânico no que diz respeito à resistência à tração na flexão e tenacidade. Aborda a respeito dos tipos de fibra de aço, suas características geométricas e mecânicas e a relação destas com o comportamento do concreto reforçado com fibras de aço. Identifica as principais características do concreto reforçado com fibras de aço na aplicação em pavimentos e aponta as práticas usuais em relação à dosagem e controle tecnológico, além de apontar as principais vantagens e desvantagens do seu uso.

Palavras chave: Fibras de aço. Pavimentos de concreto.

1 INTRODUÇÃO

O concreto está entre os materiais mais utilizados no mundo, possui diversas

vantagens, tais como baixo custo, facilidade de adaptação a diversas condições de

produção e possibilidade de moldagem em variadas formas. No entanto, é um

material de comportamento frágil e com baixa capacidade de deformação quando

submetido a esforços de tração, e ao fissurar perde totalmente sua capacidade de

resistir à tração. A adição de fibras de aço ao concreto está entre as alternativas

tecnológicas para melhoria destas características.

As fibras de aço adicionam ao concreto certa ductilidade, transformando-o em um

compósito de comportamento pseudo-dúctil, aumentando sua tenacidade e a

                                                            1 Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Civil apresentado na Unifacs – Universidade Salvador, em 2013.1. Orientado pelo Prof. Carlos Machado. 2 Bacharel em Urbanismo (UNEB), Graduando em Engenharia Civil (UNIFACS). E-mail: [email protected] 

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resistência à tração na flexão; para o caso de pavimentos, ajuda a diminuir os

índices de fissuração por retração hidráulica e térmica.

Segundo Rodrigues (2010, p.67) a adição de fibras de aço incrementa a resistência

ao impacto, fazendo com que o material apresente maior tenacidade e melhor

comportamento com relação à fadiga, o que permite que mesmo depois de

apresentar determinada deformação plástica, o material ainda tenha capacidade

estrutural.

Carnio (1998) apud (OLIVEIRA, 2000, p.16) afirma que a adição das fibras de aço

ao concreto tem por finalidade inibir a abertura das fissuras, bem como a sua

propagação, e que, devido a esse controle de fissuração, o material apresenta

capacidade de se deformar absorvendo esforço, característica esta de material com

ductilidade.

No entanto, a mera inserção das fibras não é a garantia da melhoria destas

condições, diversos fatores afetam o comportamento deste compósito, como: o teor

de fibras, forma e comprimento das fibras, o módulo de elasticidade do concreto e

da fibra. Outro fator importante é o controle tecnológico, já que as fibras são

distribuídas de modo aleatório dentro da matriz de concreto, sua distribuição

homogênea é fundamental para o comportamento esperado do material.

Segundo Figueiredo (2011, p.4) atualmente, a prática de utilização do concreto

reforçado com fibras no Brasil pode ser descrita como uma atividade basicamente

empírica, pois é muito freqüente a utilização de teores fixos de fibras e a total

ausência de procedimentos de controle da qualidade do compósito.

O concreto reforçado com fibras aço é um material ainda pouco explorado no país,

em grande parte pelo desconhecimento dos profissionais a respeito de suas

possibilidades; seu uso teve início na década de 1990, e desde então já foram

realizados diversos estudos a respeito do assunto. Sua utilização está concentrada

principalmente em pavimentos industriais, outras aplicações têm sido em concreto

projetado para túneis e na fabricação de tubos de concreto.

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O presente trabalho se propõe, com base em uma pesquisa bibliográfica sobre o

tema, a contribuir com o entendimento e disseminação da tecnologia do concreto

reforçado com fibras de aço, apontando a função da inserção das fibras de aço ao

concreto e descrevendo o mecanismo de interação entre o concreto e as fibras.

2 TIPOS DE FIBRAS DE AÇO

A NBR 15530 (ABNT, 2007) estabelece parâmetros de classificação para as fibras

de aço de baixo teor de carbono e dispõe sobre os requisitos mínimos de forma

geométrica, tolerâncias dimensionais, defeitos de fabricação, resistência à tração e

dobramento. Seu principal objetivo é garantir que as fibras possuam especificações

que atendam a um comportamento mínimo esperado para o concreto reforçado com

fibras de aço, e também possibilitar uma ordenação do mercado para a produção do

material.

Quanto à resistência do aço utilizado na fabricação das fibras, a norma define

resistências mínimas em função da classe da fibra, a menor resistência prevista para

o aço é de 500MPa.

Quadro 1 – Limites de resistência à tração para os diversos tipos e classes de fibras de aço conforme NBR 15530

Fonte: Figueiredo (2011)

As fibras de aço são classificadas de acordo com o seu formato e tipo de aço que

lhe dá origem, conforme indicado no Quadro 2. Quanto ao formato podem ser: Tipo

A - com ancoragem nas extremidades, Tipo B - corrugada e Tipo R - reta. Quanto à

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classe podem ser: Classe I – produzida a partir de arame trefilado, Classe II –

obtida a partir de chapa laminada cortada a frio e Classe III – produzida com arame

trefilado e escarificado.

Quadro 2 – Classificação e geometria das fibras de aço para reforço de concreto conforme NBR 15530

Fonte: Figueiredo (2011)

Outro ponto importante de que trata a norma diz respeito ao fator de forma, que é a

relação geométrica obtida a partir da divisão do comprimento da fibra, não alongado,

pelo diâmetro do círculo com área equivalente à de sua seção transversal (L/d). A

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norma indica também valores máximos de variação do comprimento e diâmetro

especificados.

Quadro 3 – Requisitos de fator de forma mínimo das fibras de aço para concreto conforme NBR 15530

Fonte: Figueiredo (2011)

A NBR 15530 (ABNT, 2007) estabelece também o ensaio de dobramento, que

consiste no dobramento da fibra a 90º em um pino de 3,2mm de diâmetro, à

temperatura de 16ºC. O ensaio é realizado em uma amostra de 10 exemplares por

lote, e no mínimo 90% destas não podem sofrer quebra.

A preocupação com a variação dimensional é para se garantir que o fator de forma

da fibra não apresente grandes variações e não prejudique o comportamento do

concreto reforçado com fibras de aço quanto à sua resistência pós-fissuração

(FIGUEIREDO, 2011, p.23).

A norma define também um percentual máximo de fibras com defeitos de fabricação,

verificação é realizada para cada lote fabricado, com uma amostra de no mínimo

200g. O lote é aceito se não apresentar mais que 5% de peças com defeito. Podem

ocorrer defeitos como, peças emendadas pelo topo, prejudicial principalmente para

os concretos projetados, e também peças sem ancoragem, para o caso das fibras

tipo A, o que pode afetar o fator de forma.

Quadro 4 – Plano de amostragem para um lote de fibras que será submetido ao controle de recebimento conforme NBR 15530

Fonte: Figueiredo (2011)

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3 O MECANISMO DE INTERAÇÃO ENTRE O CONCRETO E AS FIBRAS DE

AÇO

A base do desempenho dos concretos reforçados com fibras está no papel exercido

pelas fibras como ponte de transferência de tensão pelas fissuras surgidas no

momento de rompimento do concreto. As fibras de aço atuam como reforço do

concreto endurecido, podendo em certos casos substituir a armadura convencional.

Segundo Figueiredo (2011) entre as principais causas de fissuras está a retração da

pasta de cimento dentro da matriz, que é restringida pelos agregados que são bem

mais rígidos, causando esforços de tração na pasta e sua possível fissuração.

As fissuras conduzem a uma concentração de tensões em suas bordas, quando o

material é carregado, facilitando a ruptura do mesmo. Ao se iniciar uma nova fissura

ocorre diminuição da área disponível de suporte de carga, o que causa um aumento

das tensões nas extremidades das fissuras, quando esta tensão supera a tensão

crítica há a ruptura abrupta do material. No caso de esforço cíclico ocorre ruptura por

fadiga da seguinte forma, a cada ciclo de carregamento há um aumento progressivo

das microfissuras, e com isso um aumento progressivo das tensões, até que ocorra

a ruptura do material.

Ao se adicionar fibras de aço de resistência e módulo de elasticidade, adequados e

num teor apropriado, o concreto deixa de ter o comportamento frágil. Após o

rompimento da matriz, as fibras fazem o papel de ponte de transferência de tensões,

cuja concentração nas extremidades é então minimizada. Com isso, tem-se uma

redução da velocidade de propagação das fissuras no material que passa a ter um

comportamento pseudo-dúctil ou não frágil.

Após a fissuração da matriz a presença das fibras proporciona em geral um aumento

da ductilidade e percebe-se em alguns casos, ganho de resistência à tração.

Entretanto, este aumento dependerá de uma série de fatores, tais como: volume de

fibras, arranjo e método de mistura nos demais componentes do concreto de

Cimento Portland (MOSCATELLI, 2011).

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Figura 1 – Esquema de concentração de tensões para um concreto sem (a) e com (b) reforço de fibras

Fonte: Figueiredo (2011)

4 FATORES QUE AFETAM O DESEMPENHO DO CONCRETO REFORÇADO

COM FIBRAS DE AÇO

A geometria da fibra é um dos principais aspectos que definem o desempenho do

compósito, outro fator relevante na definição deste desempenho é a resistência do

aço utilizado na sua produção. Existem ainda outros fatores que tem influência direta

no comportamento do concreto reforçado com fibras de aço, entre os principais

estão o teor de fibras e a resistência do concreto.

4.1 GEOMETRIA

4.1.1 Comprimento

Quanto maior o comprimento da fibra, maior será o seu embutimento e,

consequentemente, a resistência pós-fissuração do concreto. Porém, existem alguns

inconvenientes, um deles é a perda de mobilidade da mistura; o outro é que se

ultrapassando o comprimento crítico, a fibra se romperá no momento em que

surgirem as fissuras, diminuindo assim a resistência pós-fissuração.

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O comprimento crítico (Lc) é aquele que faz com que se atinja no centro da fibra sua

tensão de ruptura; isto ocorre pelo fato das tensões na fibra aumentarem

linearmente das extremidades ao centro, devido à carga de arrancamento

proporcionada pelo comprimento embutido.

Figura 2 – Distribuições possíveis de tensão ao longo de uma fibra em função do comprimento crítico

Fonte: Figueiredo (2011)

Devido a isto, as fibras disponibilizadas no mercado para reforço do concreto de

resistência convencional possuem comprimentos menores que o crítico e o

mecanismo de reforço é regido pelo processo de arrancamento da fibra garantindo

assim a tenacidade do compósito.

Segundo Figueiredo (2011), o recomendado é a utilização de fibras cujo

comprimento seja igual ou superior ao dobro da dimensão máxima característica do

agregado utilizado no concreto, para que haja compatibilidade entre fibras e

agregados, de forma que estas interceptem as fissuras com mais frequência. Ainda

segundo o autor, há duas alternativas para obter-se esta compatibilização, reduzir a

dimensão máxima característica do agregado ou aumentar o comprimento da fibra,

de modo a se maximizar a tenacidade.

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Figura 3 – Concreto reforçado com fibras de aço com compatibilidade dimensional (A), e sem compatibilidade (B)

Fonte: Figueiredo (2011)

4.1.2 Fator de forma

Quanto maior o fator de forma maior será a capacidade resistente pós-fissuração do

concreto, contanto que não se ultrapasse o comprimento crítico da fibra

(FIGUEIREDO, 2011, p.44).

Quanto menor a seção transversal da fibra, menor será a superfície de contato com

a matriz, diminuindo a capacidade de carga ao arrancamento. Portanto as fibras de

maior seção transversal apresentam um melhor desempenho para um número fixo

de fibras na seção de ruptura. No entanto, para um mesmo teor de fibras, quanto

menor o diâmetro equivalente da fibra, maior será o fator de forma; e também maior

será a quantidade de fibras distribuídas no concreto, o que fará com que aumente a

possibilidade destas interceptarem as fissuras, contribuindo assim para o melhor

desempenho do material para um determinado teor de fibras.

Pelo fato do comportamento do concreto reforçado com fibras de aço ser

determinado simultaneamente pelo comprimento e diâmetro das fibras, a norma

brasileira NBR 15530 (ABNT, 2007), estabeleceu parâmetros mínimos para esta

relação (L/d), que é o fator de forma, de modo a não se ultrapassar o comprimento

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crítico e a se manter um diâmetro mínimo que garanta uma aderência eficiente entre

a fibra e a matriz.

4.1.3 Ancoragem

As fibras com ancoragem nas extremidades apresentam maior resistência ao

arrancamento do que as retas, para pequenas deflexões, devido à sua geometria.

Para maiores deflexões e maiores aberturas de fissuras, as fibras retas se tornam

mais eficientes. Isto se dá pelo fato das fibras com ancoragem, quando submetidas

a maiores esforços de tração, acabam degradando o concreto na interface com a

ancoragem, fazendo com que diminua sua resistência ao arrancamento.

Figura 4 – Variação da resistência residual pós-fissuração com aumento de nível de deslocamento

Fonte: Figueiredo (2011)

4.2 TEOR DE FIBRAS

Segundo Figueiredo (2011) o teor de fibras pode ser apontado como o principal

definidor do comportamento do concreto reforçado com fibras de aço. A capacidade

de reforço proporcionado pelas fibras depende diretamente do teor de fibras

utilizado, pois quanto maior a quantidade de fibras atuantes como ponte de

transferência de tensões ao longo da fissura, melhor será o reforço pós-fissuração

proporcionado pelas mesmas.

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Há ainda o conceito de volume crítico, que é o teor de fibras adicionado ao concreto

que faz com que sua capacidade resistente se mantenha após fissuração da matriz

de concreto. Teores de fibras acima do crítico fazem com que o material aceite, após

a fissuração, valores de carregamento crescentes. Teores de fibras abaixo do crítico

fazem com que haja perda progressiva da capacidade resistente do material após a

fissuração.

Figura 5 – Compósitos reforçados com volume de fibras (VF) abaixo (A), acima (B) e igual (C) ao volume crítico de fibras durante o ensaio de tração na flexão

Fonte: Figueiredo (2011)

4.3 RESISTÊNCIA DAS FIBRAS

Quanto maior a resistência da fibra, maior será a capacidade resistente do material

pós-fissuração. No entanto, para fibras curtas, abaixo do comprimento crítico, não

existe necessidade de se utilizar fibras de elevada resistência, dado que o principal

mecanismo de arrancamento da fibra é o escorregamento; e não será atingida, no

centro da fibra, tensão suficiente para sua ruptura, devido ao pequeno comprimento

de ancoragem.

4.4 RESISTÊNCIA DO CONCRETO

O módulo de elasticidade da matriz de concreto tem influência direta no volume

crítico de fibras, matrizes cimentícias de maior módulo irão demandar um maior teor

de fibras para atingir o volume crítico. Quando se tem um concreto com maior

resistência mecânica melhora-se a condição de aderência com as fibras, diminuindo

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o comprimento crítico que pode levar a fibra ao rompimento, o que fará diminuir a

capacidade resistente pós-fissuração do material.

Figura 6 – Curvas de dosagem segundo o critério JSCE-SF4 para uma mesma fibra de aço em concretos projetados via seca com diferentes níveis de resistência à compressão da matriz

Fonte: Figueiredo (2011)

5 CONTROLE TECNOLÓGICO DO CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS DE

AÇO

O controle tecnológico do concreto reforçado com fibras de aço deve ser realizado

em todas as etapas convencionais de produção do concreto, que são as seguintes:

Controle dos materiais constituintes e da produção;

Controle do concreto fresco;

Controle do concreto endurecido.

Devem ser realizados todos os ensaios necessários a cada uma das etapas citadas,

de acordo com as normas vigentes.

Para o concreto reforçado com fibras de aço devem ainda ser tomados cuidados na

hora da mistura das fibras. Para o concreto endurecido, realizado ensaio para

determinação de sua tenacidade; para o caso de pisos faz-se também o ensaio de

abrasão.

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5.1 MISTURA

Um problema muito comum na produção do concreto reforçado com fibras de aço é

a formação de tufos de fibras aglomeradas denominados ouriços. Sua causa está

associada ao processo de mistura inadequado. A formação de ouriços faz reduzir o

teor de fibras homogeneizado na mistura e cria um ponto frágil no local onde se

aloja.

Para evitar a formação de ouriços, as fibras devem ser adicionadas ao concreto,

assim como os demais componentes, em velocidade regular, recomenda-se

20kg/min, de modo a se garantir a homogeneidade da mistura. Podem ser

adicionadas em conjunto ou após a adição dos demais componentes. Em obras com

demanda de grandes volumes de concreto recomenda-se a utilização de dosadores

automáticos.

5.2 TRABALHABILIDADE

A adição das fibras reduz a trabalhabilidade do concreto, altera suas condições de

consistência e mobilidade, dificultando sua fluidez. Porém, a adição de baixos teores

de fibras não chega a afetar suas condições de lançamento e adensamento. As

dimensões das fibras e o seu grau de rigidez são os fatores que mais afetam a

trabalhabilidade do concreto reforçado com fibras de aço.

Para a avaliação da trabalhabilidade do concreto reforçado com fibras de aço são

recomendados os ensaios do cone invertido (ASTM, C995, 1994) e o VeBe. No

entanto, segundo estudos, o ensaio de cone invertido mostra-se inadequado. Outros

estudos demonstram que o ensaio do abatimento do tronco de cone mostra-se

adequado para concretos com teores de fibras até 100kg/m³.

5.3 ENSAIO DE TENACIDADE

A definição mais aceita atualmente para a tenacidade é a energia absorvida pelo

compósito quando carregado, abrangendo a energia absorvida antes e após a

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fissuração da matriz, quando as fibras passam a atuar de maneira mais efetiva

(FIGUEIREDO, 2011, p.64).

A tenacidade é um dos principais parâmetros a serem observados na especificação

do concreto reforçado com fibras de aço. O método para sua determinação mais

adotado no Brasil é o Japan Society of Civil Engineers (JSCE-SF4, 1984), não existe

norma brasileira para tal.

O JSCE-SF4 é um ensaio de flexão com deformação controlada realizado em

corpos de prova prismáticos com dimensões de 10x10x40cm³ ou 15x15x50cm³, a

depender do tamanho da fibra que está se utilizando; a menor dimensão do corpo de

prova deve ter pelo menos três vezes o comprimento da fibra.

Figura 7 – Posicionamento de corpo-de-prova, LVDT e cutelos, no ensaio de tração na flexão com o sistema “yoke”

Fonte: Figueiredo (2011)

O corpo de prova é colocado sobre dois apoios distantes 30cm ou 45cm, a depender

das dimensões do mesmo, sobre este é aplicado carregamento há 1/3 e 2/3 do vão

através de prensa com controle de velocidade. O deslocamento é aferido através de

medição eletrônica; é um dos métodos de maior confiabilidade. A tenacidade é

calculada a partir da curva carga x deslocamento, obtida para o deslocamento L/150.

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6 CONCRETO COM FIBRAS DE AÇO APLICADO EM PAVIMENTOS

No Brasil, o principal campo de aplicação do concreto reforçado com fibras de aço é

o de pisos industriais. Para este tipo de estrutura as fibras podem substituir

totalmente as armaduras convencionais, isto é possível em estruturas que

apresentem a possibilidade de redistribuição de esforços, como é o caso de pisos,

pavimentos e radiers apoiados sobre o solo.

Para a execução de pisos somente com a utilização do reforço de fibras de aço

podem ser consideradas algumas vantagens, quando comparado ao uso de telas de

aço soldadas, conforme aponta Figueiredo (2000).

Redução do tempo total de execução e número de operários, pois não existe

a etapa de colocação das telas.

Economia de espaço na obra, necessário à estocagem de armaduras.

Não há necessidade do uso de espaçadores como para as telas metálicas, e

o reforço se distribui de forma homogênea por toda a estrutura, não havendo

o risco de deslocamento das armaduras como ocorre com a utilização das

telas soldadas.

Corte das juntas de dilatação sem a necessidade de barras de transferência

pré-instaladas. As fibras também ajudam no reforço das bordas minimizando

o efeito de lascamento.

Maior facilidade de acesso ao local da concretagem, já que não há armaduras

instaladas que impeçam o trânsito de pessoas e equipamentos.

Não representam restrição quanto à mecanização da execução do pavimento.

Outra vantagem a se considerar é a possibilidade de se trabalhar com paginações

de pisos maiores. Segundo Rodrigues (2010, p.76), têm-se adotado para pisos com

fibras de aço placas com comprimentos de até 12m, para teores de fibras entre

20kg/m³ a 25kg/m³. Para placas acima de 16cm de espessura é arbitrado um

consumo mínimo de 30kg/m³, permitindo a execução de placas de 30m a 40m de

comprimento. Mundialmente há exemplos pontuais de placas maiores de 50m de

comprimento, com consumos de fibra da ordem de 35kg/m³.

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Quanto à durabilidade dos pavimentos de concreto reforçado com fibras de aço em

relação aos com armaduras de telas de aço soldadas, alguns autores defendem que

o fato das fibras diminuírem a abertura das fissuras e consequentemente a entrada

de agentes agressivos ao concreto faz com que aumente sua durabilidade. E

também a maior tenacidade dos pavimentos de concreto reforçado com fibras de

aço faz com que estes sejam mais duráveis quando submetidos à esforços cíclicos e

tenham melhor comportamento em relação à fadiga.

Um inconveniente em relação aos pavimentos de concreto reforçados com fibras de

aço é o fato de algumas fibras aparecerem na superfície produzindo pequenos

pontos de ferrugem. Este problema não influência na capacidade de reforço do

pavimento, sendo apenas estético. Uma solução é a adoção de teores de

argamassa superiores a 50% e abatimentos de tronco de cone na faixa de 100mm,

para possibilitar o envolvimento total das fibras e agregados, porém, isto pode levar

à segregação da fibra e reduzir o reforço na superfície do pavimento, o que facilita o

aparecimento de fissuras, indo de encontro ao que se propõe ao adotar a solução

com fibras de aço.

Outra questão importante é o fato de não haver uma definição clara quanto à

dosagem das fibras. Os limites mínimos e máximos sugeridos por fabricantes e

pesquisadores, para aplicação em pisos e pavimentos, estão entre 0,25% e 1% em

volume. No entanto, como já abordado, a mera definição o teor de fibras não é

suficiente para determinar as características esperadas de desempenho do concreto

reforçado com fibras de aço.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a especificação do concreto reforçado com fibras de aço deve se levar em

conta os diversos fatores que influenciam no seu desempenho, como: o teor de

fibras, as características geométricas e mecânicas das fibras e a resistência do

concreto; assim como deve se atentar para a correta especificação dos materiais

que compõe a base cimentícia, principalmente o diâmetro máximo dos agregados,

de modo que sejam compatíveis com as fibras de aço utilizadas, para que se

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consiga a resistência desejada do material, no que diz respeito à resistência à tração

na flexão e tenacidade.

Além disto, é de extrema importância que exista um controle tecnológico na

produção do concreto com fibras de aço, com a adequada mistura dos materiais e

ensaios que afiram sua trabalhabilidade, em conformidade com as condições de

lançamento e adensamento existentes, e tenacidade de acordo com as

especificações de projeto, garantindo assim o comportamento esperado do material.

Uma questão de relevância na escolha da solução em concreto reforçado com fibras

de aço na sua utilização em pavimentos são suas vantagens executivas, quando

comparado à utilização de armaduras convencionais em telas soldadas,

principalmente no que diz respeito à redução de tempo e de número de operários

necessários, o que pode vir a gerar um grande impacto nos custos totais do

empreendimento.

REFERÊNCIAS BALBO, José Tadeu. Pavimentos de concreto. São Paulo: Oficina de Textos, 2009. BASTOS, Paulo Sérgio dos Santos. Análise experimental de dormentes de concreto protendido reforçados com fibras de aço. 1999. 270 p. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos – USP, São Carlos, 1999. CRISTELLI, Rafael. Pavimentos industriais de concreto: Análise do sistema construtivo. 2010. 161 p. Monografia (Especialização) – Escola de Engenharia da UFMG, Belo Horizonte, 2010. FIGUEIREDO, Antonio Domingues de. Concreto com fibras de aço. 2000. 70 p. Boletim técnico – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000. FIGUEIREDO, Antonio Domingues de. Concreto reforçado com fibras. 2011. 248 p. Tese (Livre-Docência) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. FIGUEIREDO, Antonio Domingues de; CHAMA NETO, Pedro Jorge; FARIA, Hernando Macedo. A nova normalização brasileira sobre fibras de aço. Revista Concreto - IBRACON. Ano XXXVI, n.50, p.67-76, abr/mai/jun.2008.

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FRANCO, Bruno Luiz Marson. A tecnologia do concreto reforçado com fibras de aço. Revista Concreto - IBRACON. Ano XXXVI, n.50, p.42-47, abr/mai/jun.2008. MOSCATELLI, Ivo. Fibras de aço em concreto de cimento Portland aplicados a pavimento. 2011. 153 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Engenharia civil, Arquitetura e Urbanismo – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. OLIVEIRA, Patrícia Lizi de. Projeto estrutural de pavimentos rodoviários e de pisos industriais de concreto. 2000. 246 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de engenharia de São Carlos - USP, São Carlos, 2000. RODRIGUES, Públio Penna Firme. Manual de Pisos industriais: fibras de aço e protendido. São Paulo: Pini, 2010.