Conectores Ambientais A Construção de Estratégia Vinculada ... · isolados, e reduzem as taxas...
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IV Encontro Nacional da Anppas 4,5 e 6 de junho de 2008 Brasília - DF – Brasil _______________________________________________________
Conectores Ambientais
A Construção de Estratégia Vinculada a Instrumentos de
Planejamento
Anamaria de Aragão Costa Martins [email protected]
Arquiteta e doutora em Urbanismo pela Universidade Politécnica da Catalunha. Assessora Especial da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Distrito Federal.
Cláudia Varizo Cavalcante
Geógrafa, mestranda de Geografia da Universidade de Brasília. Analista de Administração Pública da especialidade de meio ambiente da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do
Distrito Federal. [email protected]
Carlos Roberto Machado Vieira
Engenheiro Civil e especialista em Geoprocessamento pela Universidade de Brasília. Assessor da Subsecretaria de Planejamento Urbano da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente
do Distrito Federal. [email protected]
Resumo Este trabalho apresenta a potencialidade da configuração de conectores ambientais, a ser adotada
em Planos Diretores, na estruturação do sistema de espaços livres no território. Tal estratégia permite
a articulação de unidades de conservação isoladas, a partir do manejo adequado de estruturas
lineares de vegetação nativa e de outros espaços livres, tanto de ambiência urbana quanto rural, que
se prestem a esta finalidade. A identificação, o mapeamento e a caracterização dos conectores
ambientais possibilitam a proposição e implementação de um modelo de planejamento e gestão
integrado, que necessita ser incorporado ao Plano Diretor como instrumento básico da política urbana
e rural de municípios com mais de 20.000 habitantes. Esta estratégia foi adotada no Plano Diretor de
Ordenamento Territorial do Distrito Federal com o objetivo de reconhecer a vocação de determinados
espaços para a função socioambiental de conexão de ecossistemas e determinar ações para a
preservação e consolidação de espaços importantes para a qualidade de vida da população.
Palavras-chave Conexão de ecossistemas, planejamento urbano, sistemas de espaços livres
1. Introdução
Este trabalho discute a necessidade de articular unidades de conservação segregadas no território
pelas áreas urbanizadas, especialmente em regiões onde se observa um padrão de urbanização
disperso, baseado em propriedades de grande dimensão e baixas densidades.
No atual debate sobre as mudanças climáticas, a manutenção de áreas de vegetação nativa,
considerando seus efeitos sobre o balanço de carbono na atmosfera, assume uma dimensão mais
ampla, que inclui sua relação com as dinâmicas urbana e rural a elas associadas. Essa
perspectiva reveste de importância questões como a expansão urbana, a intensificação do uso
das áreas agricultáveis, a ampliação de atividades pastoris, bem como a expansão da rede
rodoviária, por impactarem os diversos biomas, com a remoção crescente da cobertura de
vegetação nativa, ocasionando processos de fragmentação e isolamento de ecossistemas
preservados e o incremento das taxas de extinção de espécies, comprometendo a biodiversidade
e a integridade dos ambientes naturais.
De modo a contornar a fragmentação do habitat remanescente, o presente artigo apresenta uma
estratégia passível de ser adotada em instrumentos de planejamento urbano, na orientação da
forma de organização do território: a configuração de conectores ambientais, que inclui diversas
unidades de conservação e estruturas lineares de vegetação nativa, e atua na recuperação de
espaços com importância ambiental e promoção da conectividade dos biomas. Tal estratégia foi
desenvolvida na proposta do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal – PDOT
/2007, em tramitação na Câmara Legislativa do Distrito Federal – CLDF, e constitui uma
experiência piloto de como a função socioambiental de conexão de ecossistemas pode ser
incluída em um instrumento de planejamento urbano.
Em termos teóricos, o trabalho discute a potencialidade de adotar a estratégia de conectores
ambientais no âmbito de planos diretores urbanos, trazendo para um contexto específico o
conceito da estratégia de conservação ambiental de corredores ecológicos. Embora ambas as
estratégias se pautem na concepção de ligação entre espaços naturais que permita a dispersão
de fauna e flora e a manutenção de funções ecológicas, sua distinção radica na abordagem do
tema, em termos de abrangência e exigências para sua configuração.
Em termos metodológicos, o trabalho utiliza a ferramenta do geoprocessamento para cruzamento
e produção de informações, que permitem determinar um diagnóstico ambiental dos espaços de
maior sensibilidade e fragilidade, além das manchas mais preservadas. A sistematização de tais
informações levou a construção do mapa síntese sobre o qual são propostos os conectores
ambientais.
Inicialmente, apresenta-se como a gradação de densidades e a estruturação de sistema de
espaços livres estão presentes na tradição do planejamento urbano como elementos de
organização das metrópoles industriais até o presente. Desenvolve-se, então, como a
preocupação com o desenvolvimento sustentável e o padrão de dispersão das aglomerações
urbanas indicam a necessidade de estruturar sistemas de espaços livres de modo a preservar a
biodiversidade. Em seguida, o trabalho apresenta os principais impactos da dispersão urbana no
contexto do Distrito Federal, área onde a estratégia discutida encontra-se em processo de
implementação. Continuando, o trabalho desenvolve o conceito de conectores ambientais,
apresentando a metodologia empregada para delmitação das áreas passíveis de funcionar como
conectores.
Finalmente, são apresentadas as medidas necessárias para a implementação dos conectores
ambientais, considerando-se que a configuração de um conector exige a adoção de
procedimentos de gestão integrada e articulada deste mosaico de espaços, bem como realização
de intervenções que tornem evidente a função socioambiental para a qual estes espaços estão
vocacionados, seja em ambiência rural, urbana ou nos espaços naturais.
2. A trajetória do planejamento territorial na definição de sistemas de
espaços livres
A anexação de inúmeros povoados à principal cidade da região, configurando um aglomerado em
termos políticos, administrativos, urbanísticos e socioeconômicos, em finais do século XIX e
princípios do século XX, dá origem ao conceito contemporâneo de metrópole. Para esta
metrópole, vista como o resultado negativo do processo de industrialização, o planejamento
urbano e regional idealizou, especialmente no período entre guerras do século XX, diferentes
modelos territoriais que consideravam além dos povoados anexados, outros núcleos urbanos da
região, na ambição de que estes pudessem abrigar parte da população e atividades econômicas
que congestionavam a grande maioria dos centros urbanos.
Os modelos de organização territorial desde meados do século XX têm em comum a lógica de
organizar a área metropolitana por faixas decrescentes de densidades do núcleo urbano principal
em direção a sua periferia, onde diferentes atividades (condizentes com tais densidades) seriam
instaladas. O excedente populacional do núcleo central seria transferido para cidades satélites
interligadas por sistemas de transporte (inicialmente coletivo, o trem de proximidades, e,
posteriormente, individualizada, a rede rodoviária) e separadas entre si e do núcleo principal por
um sistema de espaços livres. O sistema de espaços livres aparece sob diferentes formas, desde
o cinturão verde em torno do núcleo principal que caracterizou a metropolização de Londres,
passando pelos “fingers”, os dedos verdes de Copenhagen, ou o Coração Verde em torno do qual
se organiza o Randstad holandês. Na maior parte das cidades européias, este espaço verde
estruturador caracterizava-se, inicialmente, já como um espaço agrícola.
A definição de cinturões verdes nas metrópoles atuais é motivada pela ampliação dos limites
urbanos, tendo em vista o processo de dispersão da residência no território. O desenvolvimento
sustentável e a preocupação com a preservação de áreas ambientalmente frágeis no aglomerado
urbano surgem como principais motivações para idealizar um sistema de espaços livres
estruturador da forma urbana.
A expansão urbana e a dispersão da residência pelo território, a intensificação do uso das áreas
agricultáveis, a ampliação de atividades pastoris, bem como expansão rodoviária despertaram a
preocupação dos planejadores com respeito aos impactos sobre diversos biomas. Em geral, com
a remoção crescente da cobertura de vegetação nativa em prol da urbanização ou das atividades
agrícolas, observam-se processos de fragmentação e isolamento do habitat remanescente, com
impacto sobre sua integridade, repercutindo, certamente, sobre o balanço de carbono na
atmosfera e no processo de mudanças climáticas. Assim, inicia-se nova etapa de estruturação de
sistema de espaços livres, relacionada com a necessidade de proteção de ecossistemas e da
biodiversidade.
Se nos planos do século XIX e princípios do século XX, o cinturão verde incidia principalmente
sobre áreas rurais, e a intenção era preservar o espaço agrícola, rural e bucólico por oposição ao
espaço urbano da metrópole industrial, no presente, trata-se de preservar o espaço natural,
intocado, uma vez que os limites entre urbano e rural são cada vez mais tênues.
3. A necessidade de conectividade de ecossistemas no panorama da
dispersão urbana
A manutenção de ecossistemas e da biodiversidade esteve a princípio relacionada com a
configuração de espaços naturais destinados à preservação de seus atributos, resguardados da
interferência antrópica. Nessa vertente, espaços territoriais foram legalmente protegidos com o
objetivo de manter manchas representativas da vida natural do planeta.
No entanto, a delimitação de áreas para preservação não se mostrou suficiente para a saúde dos
ecossistemas, uma vez que elas se implantaram com um padrão espacial altamente fragmentado.
Estudos sobre os efeitos desse fracionamento de ambientes na dinâmica das comunidades de
flora e fauna, como os de Ricklefs (1996); Plummer & Mann (1995); e Wilson (1988), apontam que
nessas condições as populações tendem à extinção, sendo a interposição de obstáculos ao
acasalamento dos animais que leva ao desenvolvimento de endemismos, uma das maiores
ameaças à biodiversidade (BRASIL, 2000).
Os impactos da fragmentação dos habitat naturais, como afirma Fernandez (1996), também
podem ser percebidos na redução do número absoluto de espécies como conseqüência imediata
da diminuição das áreas preservadas; no processo de insularização que diz respeito à diminuição
da relação espécie-área; e no efeito de bordadura, que corresponde ao aumento de bordas
expostas onde a elevação de temperatura e do déficit de pressão de vapor afetam os processos
bióticos e a composição de espécies nesses espaços (BRASIL, 2000).
O acelerado processo de urbanização, bem como a expansão de fronteiras agrícolas, promoveu
uma rápida perda de habitat naturais e o isolamento das áreas remanescentes. Diante do padrão
de ocupação do espaço, Miller (1997) admite que o destino das áreas protegidas mundiais
caminha para a formação de ilhas de diversidade biológica em meio a um mar de assentamentos
humanos (BRASIL, 2000).
O caminho para a manutenção da biodiversidade, diante desse quadro de ocupação urbana
associada à fragmentação de ecossistemas, passa pela promoção de formas de intercâmbio de
espécies por meio de corredores de dispersão, que conectam parte de fauna e flora que foram
isolados, e reduzem as taxas de extinção. Esta conexão se torna possível em faixas de habitat
nativo que ligam áreas remanescentes de ecossistemas preservados. Os animais precisam de
caminhos naturais para se movimentar e migrar, e desta forma prevenir a consangüinidade e a
superexploração de presas. A conectividade também é fundamental para espécies que não
possuem espaço suficiente para manter a população viável.
No sentido de incorporar as preocupações com a conectividade de espaços à gestão de Unidades
de Conservação e de áreas protegidas no Brasil, o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, lei nº 9.985/2000, define corredores ecológicos como:
“[...] porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de
conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da
biota, facilitando a dispersão das espécies e a recolonização de áreas
degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam, para a sua
sobrevivência, áreas com extensão maior do que aquelas de unidades
individuais” (art. 2º, inciso XIX da lei nº 9.985/2000).
O Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA - já tratava do tema estabelecendo
parâmetros e procedimentos para a identificação e implantação de corredores ecológicos em sua
Resolução nº 09/1996. Este dispositivo define corredores entre áreas preservadas como sendo
“faixa de cobertura vegetal existente entre remanescentes de vegetação primária, em estágio
médio e avançado de regeneração, capaz de propiciar habitat ou servir de área de trânsito para
fauna residente nos remanescentes” (art 1º da Resolução CONAMA nº 09/1996). Os corredores
mencionados, ainda segundo a Resolução, são constituídos pelas matas ciliares em toda sua
extensão e respectivas faixas marginais definidas por lei; e pelas faixas de cobertura vegetal
existentes nas quais seja possível a interligação de remanescentes, em especial, às unidades de
conservação e áreas de preservação permanente.
Os mencionados instrumentos legais associam a conectividade de áreas preservadas ao processo
de gestão de unidades de conservação, tornando-a medida necessária e estabelecendo
parâmetros para sua implementação a partir do conceito de corredores ecológicos.
No contexto de crescimento das cidades brasileiras, o padrão de dispersão da mancha urbana,
com áreas cada vez mais esparramadas por um extenso território, que tem certamente contribuído
para o processo de perda e fragmentação de habitat naturais, a conectividade surge como uma
alternativa para a melhoria da qualidade do ambiente urbano como um todo, significando tanto a
manutenção de processos ecológicos importantes daquelas áreas que ainda permanecem
preservadas, como também qualidade em termos do ambiente construído que incorpora espaços
livres a convivência urbana.
Entretanto, nessa mancha urbana dispersa, torna-se tarefa difícil encontrar as faixas de habitat
natural que serviriam de caminhos naturais para animais e para a distribuição de fauna e flora. As
ligações existentes encontram-se, na maior parte das vezes, sensivelmente alteradas pela ação
antrópica. Se a qualidade dessas ligações, como habitat natural, pode ser questionada, enquanto
espaços livres permanecem como únicas possibilidades de conexão e sua valorização como tal se
apóia no que defende Quasmmen (1997), que a conexão entre áreas preservadas, mesmo que
tênue, permite que elas possam suportar um número maior de espécies.
No quadro de dispersão urbana, a busca de mecanismos para a promoção da conectividade
ambiental é crucial e não pode se prender exclusivamente àqueles caminhos que comprovados
por estudos técnicos se enquadrem como corredores ecológicos, mas também incluir toda a
potencialidade que um sistema de espaços livres venha a oferecer para o fluxo gênico.
4. Os impactos da dispersão urbana sobre o meio ambiente em Brasília
As características de relevo, de solos e de entalhe dos cursos de água do Distrito Federal
condicionaram, sobremaneira, a dinâmica de uso e ocupação do solo em seu território. A grande
disponibilidade de áreas planas nas chapadas e nas áreas de dissecação intermediária atraiu,
naturalmente, os assentamentos urbanos e a implantação de grandes glebas de agricultura
irrigada. Por outro lado, os elementos de fragilidade e sensibilidade presentes em seu território
diante das intervenções antrópicas, levaram à delimitação e à criação de espaços legalmente
protegidos, com o objetivo de manter especialmente os recursos hídricos, atributo ambiental
considerado estratégico para a região.
A dinâmica da ocupação do território do Distrito Federal foi conduzida por um ritmo acelerado de
crescimento demográfico. O crescimento da Capital, nos últimos anos, tem se realizado a partir de
tendências metropolitanas de descentralização, dado que a ocupação polinucleada do território
(Plano Piloto e as cidades satélites) deu lugar desde a década de 1990 a um panorama de
dispersão da residência, como conseqüência do aparecimento de numerosos parcelamentos
irregulares de classe média.
O parcelamento de glebas rurais, de propriedade pública ou privada, relativamente desconectadas
dos núcleos urbanos consolidados, em unidades de menor dimensão, caracteriza o crescimento
por dispersão (MARTINS, 2006). Esta forma de urbanização verificada no Distrito Federal vem
ocorrendo à margem do planejamento, em locais próximos às unidades de conservação
constituídas para a proteção de áreas mais sensíveis à ocupação humana.
Aparentemente, o padrão de ocupação do solo com lotes de maior dimensão e menores
densidades – ou o modelo de chácaras de recreio – utilizado em inúmeros bairros do ínicico de
Brasília sugere, do ponto de vista ambiental, maior respeito à capacidade de suporte do território,
na medida em que haveria menor impermeabilização do solo, maior preservação da cobertura
vegetal, menor incidência de processos erosivos, entre outros aspectos.
Deve-se recordar que este modelo, além do apelo ambiental, reflete também um modelo cultural,
associado com o culto à cidade-jardim como a alternativa por excelência à problemática da cidade
industrial do século XIX, com suas altas densidades, mescla de usos impróprios, tais como
residência e indústria, ausência de saneamento, em um padrão de insalubridade que ocasionou
grandes epidemias. Por oposição a esse modelo, a cidade-jardim e os modelos utópicos dos pré-
urbanistas progressistas do século XIX (CHOAY, 1965) idealizaram a desconcentração da cidade
industrial com a criação de comunidades no campo (com população controlada) a distâncias e
localizações compatíveis com o sistema ferroviário. Os modos de locomoção, que aumentam a
mobilidade no território, criaram a possibilidade material de difusão do tecido urbano. Este modelo
foi reelaborado em diferentes versões, sendo uma delas o modelo de cidade-parque de Brasília
(MARTINS, 2006).
Estes três fatores – apelo ambiental, modelo cultural e mudança nos modos de locomoção –
foram determinantes no padrão de dispersão urbana verificado em grande parte das áreas
metropolitanas, assim como em Brasília.
A relação com a natureza buscada tanto no modelo ambiental e cultural da baixa densidade
residencial, em pequenas comunidades fora do centro urbano, foi substituída por outras formas de
interpretação do que é “natureza”: os grandes lotes não necessariamente optam por preservar a
cobertura vegetal original, mas seus proprietários preferem gramados e espécies exóticas; os
lotes não necessariamente apresentam grandes percentuais permeáveis, já que são construídas
inúmeras estruturas de lazer nas áreas livres, como piscinas, churrasqueiras, quadras de
esportes, salões de jogos e áreas pavimentadas para ocasiões festivas, por exemplo.
No Distrito Federal, o impacto desta forma urbana fica envidenciado em algumas situações como
a contaminação do lençol freático derivada de poços artesianos abertos nas chácaras de recreio,
o represamento ilegal de córregos para formação de “piscinas naturais” no interior de tais
propriedades em áreas do Setor de Mansões Park Way, Lago Sul e Lago Norte.
Além disso, o alto consumo de água encontrada nas áreas com maior índice de dispersão urbana
geram outro tipo de impacto. De acordo com dados da Companhia de Abastecimento de Água do
DF (CAESB, 2003 apud MANCINI, 2008), enquanto o consumo de água em tecidos urbanos mais
compactos, como o da cidade de Celândia, é da ordem de 180 l/hab/dia, no Lago Sul, o consumo
é de 597 l/ha/dia, no Lago Norte é de 349 l/ha/dia. O Plano de Água e Esgotos de 2000 (CAESB,
PDAE, 2000 apud MANCINI, 2008) apresenta que, em 1990, a cota de água reservada para o
Parkway era de 750 l/ha/dia e a do Lago Norte e Lago Sul era de 600 l/hab/dia. Embora as
medições de consumo das áreas tenham permitido a redução desta cota (ParkWay- 323 l/ha/dia e
Lago Norte – 306 l/hab/dia), o padrão de consumo de áreas com grandes propriedade é pelo
menos 3 vezes maior que o de áreas mais densas e compactas, evidenciando uma tendência
pouco sustentável, frente à pouca disponibilidade hídrica do DF.
Outro tipo de impacto, que interessa diretamente ao presente trabalho, diz respeito à
fragmentação do habitat remanescente. A sucessão de propriedades de grande dimensão, que
muitas vezes estão próximas a unidades de conservação, interrompem os fluxos naturais da fauna
que passa a enfrentar inúmeros obstáculos como cercas e muros.
Como resultado, este modelo disperso de ocupação urbana, horizontal e de baixa densidade,
muito contribuiu para que o Distrito Federal perdesse rapidamente sua cobertura vegetal nativa.
Hoje, o Cerrado corresponde a cerca de 42,36% do seu território, entre matas, cerrado stricto
sensu e campos, segundo dados da UNESCO (2001).
Além de perda em termos absolutos da área de Cerrado, observa-se significativa fragmentação do
bioma. O maior percentual de cobertura vegetal remanescente no DF corresponde a algumas das
áreas legalmente protegidas - o Parque Nacional, a Reserva Ecológica do IBGE e as Estações
Ecológicas de Águas Emendadas, do Jardim Botânico e da UnB. O restante são áreas
fracionadas associadas a situações de fragilidade físico-territorial, onde as dificuldades no
desenvolvimento de atividades urbanas ou rurais (encostas mais acentuadas, solos pouco
profundos, maior susceptibilidade a processos erosivos) impediram uma ocupação mais intensa.
Importante lembrar que grande parte do território do Distrito Federal foi reconhecida como
Reserva da Biosfera do Cerrado pelo programa da UNESCO “O Homem e a Biosfera”, que tem
como objetivo justamente promover formas de conservação do Bioma em áreas sujeitas às
pressões da urbanização. A mencionada Reserva da Biosfera identifica suas zonas núcleo,
espaços preservados, a zona tampão, em seu entorno imediato, e indica o que seria uma zona de
transição, responsável pela ligação entre as zonas núcleo. Entretanto, os espaços que compõem
esta zona de transição não foram detalhados.
Assim, do ponto de vista ambiental, contraditoriamente a sua premissa inicial, o aparente respeito
à capacidade de suporte do território, a que esta forma de ocupação extensiva e em baixas
densidades propõe-se, transforma-se na contínua urbanização ao longo das principais vias de
conexão territorial, configurando transições ambíguas entre espaço urbano e rural e levando à
ocupação de áreas de interesse ambiental que, em situações mais compactas, poderiam ser
preservadas. Neste cenário territorial, o isolamento é cada vez maior de espaços remanescentes
de vegetação natural, sendo poucos os caminhos possíveis para as trocas bióticas.
Considerando os problemas decorrentes do isolamento e fragmentação para a manutenção dos
ecossistemas e biodiversidade, a qualidade desses ambientes ainda preservados, bem como do
ambiente construído no Distrito Federal, passa pela manutenção de ligações que viabilizem trocas
bióticas. De forma que a conexão entre remanescentes de espaços naturais é condição a ser
buscada e garantida também no contexto da ocupação urbana.
5. A estratégia de conectores ambientais
As ligações entre espaços remanescentes naturais, especialmente em ambientes urbanos,
conforme já mencionado, devem ser propiciadas mesmo que de forma tênue, diante da
possibilidade de ganhos na preservação de espécies. É nesta perspectiva de construir alternativas
que contribuam num processo de manutenção da biodiversidade que reside a estratégia de
conectores ambientais1.
O desenvolvimento do conceito de conector ambiental surge da necessidade de definir os
caminhos naturais que propiciam a ligação de sistemas preservados em contextos urbanos cada
vez mais dispersos, que seguem um modelo urbano extensivo e em baixa densidade, que se
propaga em áreas de interesse ambiental. Por isso, a delimitação dos conectores ambientais parte
de informações de um diagnóstico físico-ambiental do território capaz de identificar sistemas
preservados e pouco antropizados, muitas vezes os únicos espaços livres ainda possíveis de
serem articulados e preservados pois a mancha urbana se dispersou sobre os espaços naturais.
Assim, tal conceito pode ser facilmente incorporado como um elemento dos planos diretores, isto
é, como um dos instrumentos da política urbana.
A metodologia para a identificação de conectores e a indicação de medidas para a sua
implementação tem como base a experiência aplicada no Distrito Federal, desenvolvida no
contexto da revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF, entre 2004 e 20072.
1 Um paralelo entre os conceitos de corredores ecológicos e conectores ambientais ajuda a explicitar a concepção deste último. Embora, os dois conceitos se pautem na concepção de ligação entre espaços naturais que permita a dispersão de fauna e flora, e a manutenção de funções ecológicas, o corredor ecológico já tem sua definição estabelecida no SNUC. Como o SNUC vincula os procedimentos relacionados à delimitação e implementação dos corredores ecológicos ao plano de manejo das unidades de conservação, sua delimitação pressupõe a realização de estudos de representatividade dos ecossistemas para o estabelecimento de prioridades de conservação.
2 Os autores integraram a equipe responsável pela revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF, em processo de discussão na Câmara Legislativa (PLC 46/2007). A estratégia de integração ambiental, como denominada no Plano Diretor, foi discutida com técnicos do órgão ambiental, tendo sido revalidada na 3ª Audiência Pública Geral do Plano, em 02 de junho de 2007. Desde a Audiência, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente vem empreendendo estudos para viabilizar a implantação dos conectores ambientais em diferentes localidades. O resultado desta experiência é apresentada no artigo.
5.1. A metodologia para identificação de conectores ambientais
A introdução da estratégia de integração ambiental, no âmbito do Plano Diretor do Distrito Federal,
buscou enfatizar a organização do território a partir das possibilidades de articulação geradas
pelos espaços naturais. Observa-se no território do DF que tanto as unidades de conservação
como a estrutura de parques não configuram um sistema, por se encontrarem extremamente
fragmentados e desconectados. Nesse sentido, a delimitação dos conectores ambientais abriu a
possibilidade de desenhar um sistema de espaços livres.
Os exemplos internacionais corroboram com o método empregado na identificação dos
conectores ambientais. O Fingerplan de Copenhagen, de 1944, identificou cursos de água,
corredores verdes e estradas isoladas como os caminhos naturais para a definição dos “dedos
verdes” que estruturariam o crescimento da aglomeração de Copenhagen. Mais recentemente, o
Plano Geral Metropolitano de Barcelona (1992) criou a Anella Verda, um sistema de espaços
livres interconectados capazes de manter a biodiversidade. Este sistema é composto por espaços
naturais, pelo sistema hidrográfico, por corredores florestais, tendo os espaços agrícolas como
elementos de contenção.
A visualização dos principais conectores ambientais do território do DF emergiu naturalmente a
partir da construção de mapas temáticos, relativos às diferentes variáveis do meio físico,
necessários para a identificação dos condicionantes da urbanização, utilizando como ferramenta
metodológica o geoprocessamento.
O geoprocessamento é o tratamento informatizado de dados georreferenciados. Utiliza
ferramentas computacionais, chamadas de Sistemas de Informação Geográfica – SIG, que
permitem realizar análises, sobreposições e cruzamentos de informações cartográficas e
mapeamentos temáticos, a partir de um banco de dados georreferenciado.
O Distrito Federal conta com o Sistema de Informações Territoriais e Urbanas do Distrito Federal –
SITURB, criado pela Lei nº 353, de 18 de novembro de 1992, atualmente sob a coordenação da
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente - SEDUMA. O SITURB é o
Sistema de Informações Geográficas que responde pelas informações relacionadas ao
planejamento territorial e urbano do DF e está dividido em quatro grandes temas: dados físicos,
circulação e transporte, equipamentos urbanos e uso e ocupação do solo. Os trabalhos de
sistematização dos dados do SITURB foram iniciados em 2000, com a utilização do software
ArcView.
A partir do banco de dados do SITURB foi construído um mapa síntese proveniente da sobresição
de três temas que expressam a integridade de certos espaços para se prestarem à função de
conexão ambiental, assim como a fragilidade de determinadas áreas para a ocupação urbana:
a) hidrografia do Distrito Federal, constituída por cursos d’ água que são caminhos naturais
da dispersão das espécies, em especial devido aos remanescentes de matas ciliares ainda
presentes no território do DF;
b) mapa de uso do solo (UNESCO/2001 – escala 1:100.000), que identifica as diversas
fitofisionomias do cerrado presentes no Distrito Federal, e a partir do qual podem-se
identificar os remenescentes de vegetação nativa possíveis de propiciar a conectividade
desejada;
c) mapa de suceptibilidade à erosão (figura 1), construído a partir do cruzamento dos dados
relativos à pedologia (Mapa de reconhecimento dos Solos do Distrito Federal-1978-
EMBRAPA- Escala 1:100.000) e a declividades do terreno (CODEPLAN - Escala
1:100.000 – 1989). No mapa de declividades, foram destacados os intervalos mais
íngremes em duas classes de caimento dos terrenos: entre 10% e 20% e acima de 20%.
No mapa da pedologia, utilizaram-se os tipos de solo mais susceptíveis a processos
erosivos. Na categoria de susceptíveis, foram destacados os solos brunizem
avermelhados, e na categoria de muito fortemente susceptíveis a processos erosivos
foram destacados os cambissolos e as areias quartzosas. As áreas que possuem algum
grau de suceptibilidade à processos erosivos, coincidentes em grande parte com espaços
pouco antropizados devido a sua inadequação à ocupação urbana e rural, apresentam por
outro lado boas condições de atender à função de conectividade ambiental.
Figura 1- Mapa de suceptibilidade à erosão
Da leitura deste mapa síntese (figura 2) foram identificados dois sistemas ambientais relevantes
no contexto da estrutura territorial do Distrito Federal:
a) Sistema Ambiental Preservado do Cerrado
Corresponde a espaços naturais com manchas contínuas de Cerrado ainda preservado, onde
importantes funções ecológicas foram mantidas, especialmente devido à extensão das áreas
abrangidas. Os espaços que compõem esse sistema são elementos fundamentais na sustentação
ambiental do território, exigindo manejo compatível para manutenção dessa condição. A
conformação deste sistema guarda estreita correlação com as principais Unidades de
Conservação de Proteção Integral instituídas no Distrito Federal, demonstrando a eficácia deste
instrumento na manutenção de grandes extensões de espaços preservados. Compõem ainda este
sistema alguns parques e outras categorias de unidades de conservação, bem como áreas
institucionais, da Embrapa e das Forças Armadas, que mantiveram espaços livres estratégicos.
b) Sistema Ambiental Frágil (ou Sensível)
Corresponde às áreas com maior risco a processos erosivos, onde as declividades mais
acentuadas dificultaram a sua exploração tanto por atividades rurais como por urbanas,
configurando um sistema formado de espaços naturais pouco antropizados. A presença de
elementos, como vales fluviais e fragmentos de vegetação nativa recobrindo as encostas, confere
a estes espaços um forte potencial para a conexão ambiental e fluxo biótico. Nesses espaços
deve-se considerar, ainda, que a cobertura com vegetação nativa é uma condição para a
estabilidade das encostas e, portanto, a sua manutenção cumpre também importante papel
ambiental na qualidade dos recursos hídricos e solos.
Figura 2- Mapa de síntese
A partir da identificação desses dois sistemas ambientais as possibilidades de conexão puderam
ser indicadas. Nesse processo, primeiramente, foi reconhecida a vocação das áreas integrantes
do Sistema Ambiental Frágil para a conexão entre os espaços contínuos de cobertura vegetal
natural do Sistema Ambiental Preservado. Posteriormente, dois critérios foram utilizados para
apontar os conectores ambientais que estabelecem as ligações entre os diversos fragmentos dos
sistemas ambientais: os elementos da hidrografia (cursos d’água e lagos) que, juntamente com a
vegetação no seu entorno a ser obrigatoriamente preservada, delineiam um caminho natural para
a fauna; e a presença de espaços especialmente protegidos (parques e unidades de conservação)
que constituem espaços livres em ambiência tanto rural como urbana que podem ser articulados e
interligados, de maneira a estabelecer um conjunto de áreas dispostas linearmente e de forma
contínua. As conexões apontadas por meio dessa metodologia estão representadas no Mapa
esquemático da estratégia de Conectores Ambientais - (figura 3).
Em síntese, os conectores ambientais correspondem a porções do território dispostas linearmente
que mantém ambientes preservados, tais como fragmentos de vegetação nativa, ou estrutura
física e ambiental própria, tal como vales fluviais, que, por estes aspectos, possibilitam a conexão
funcional entre ecossistemas.
Figura 3- Mapa esquemático da estratégia de Conectores Ambientais
5.2. Medidas para a implantação de Conectores Ambientais
O Plano Diretor, de acordo com o disposto na Constituição e no Estatuto das Cidades, deve
abranger áreas urbanas, rurais e naturais. Entretanto, na prática, observa-se a maior incidência
das diretrizes dos planos sobre os espaços urbanos. Mesmo ao tratar do sistema de espaços
livres, em geral os Planos Diretores descrevem as unidades de conservação definidas em
zoneamentos ambientais e focam os espaços livres em ambiência urbana.
O ponto de inovação pretendido com a definição de conectores ambientais, no contexto do Plano
Diretor, é abordar um sistema de espaços livres na escala do território, passíveis de definir a
organização da aglomeração. No caso do Distrito Federal, o Plano Diretor de Ordenamento
Territorial procurou indicar procedimentos para a implementação dos conectores ambientais,
considerando a ambiência – urbana, rural ou natural – em que estes se encontram.
Quando os espaços delimitados como conectores inserem-se no espaço natural, muitas vezes é
necessário formalizar a proteção de novas áreas para garantir a integração e articulação da
gestão das unidades de conservação e demais áreas protegidas. Entretanto, em grande parte dos
casos, a recuperação e manutenção das Áreas de Preservação Permanente ao longo dos cursos
d’água é suficiente para reestabelecer os caminhos naturais dos conectores ambientais.
Em ambiência rural, a implantação dos conectores ambientais passa pela demarcação das
reservas legais de propriedades rurais em áreas que estabeleçam, sempre que possível, espaços
contínuos e compatíveis com a função de conexão entre ecossistemas. O incentivo ao
desenvolvimento de atividades consonantes com a proteção do meio ambiente, tais como
ecoturismo, agroecologia, entre outras, constituem caminhos para que a implantação do conector
ambiental receba um estímulo econômico.
Em ambiência urbana, a implantação dos conectores requer um conjunto de ações destinadas a
valorizá-los e qualificá-los também em relação ao seu entorno urbano, e favorecendo as medidas
necessárias para que a comunidade vizinha seja a principal responsável pela proteção,
manutenção e recuperação das áreas que integram o conector. Estes espaços trazem maior
qualidade de vida para as comunidades vizinhas, uma vez que podem contribuir para o lazer. Por
isso, a criação de parques lineares com a finalidade de interligar unidades e áreas protegidas, já
constituídas, e a realização de obras que minimizem o impacto da circulação de veículos sobre as
rotas da fauna estão entre intervenções fundamentais.
A implantação de um conector ambiental encontra-se em desenvolvimento no âmbito da
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Distrito Federal. O projeto
de requalificação de São Sebastião, um dos núcleos urbanos do Distrito Federal, procura integrar
as demandas relativas a melhoria do ambiente construído com aquelas de implantação de um
conector ambiental que atravessa a área urbana. Trata-se de uma conexão importante, pois
estabelece a ligação entre uma área preservada, que reúne as unidades de conservação
Estações Ecológicas da UnB e do Jardim Botânico e a Reserva Ecológica do IBGE, e o vale do rio
São Bartolomeu, que interliga toda a região até a Estação Ecológica de Águas Emendadas, outra
unidade de conservação de Proteção Integral.
Onde esse conector atravessa os espaços naturais, é proposta a ampliação da Área de Relevante
Interesse Ecológico Mata Grande. Já no contexto urbano, as medidas para sua implantação
buscam basicamente a eliminação de obstáculos ao livre trânsito da fauna (como a elevação de
vias); a recuperação de áreas degradadas; a recomposição de vegetação, principalmente, em
áreas de preservação permanente; e a qualificação daqueles espaços especialmente protegidos
de maneira que a população faça uso adequado dessas áreas e cooperem com a sua
manutenção.
Observa-se, assim, que a implantação de um conector ambiental exige a adoção de
procedimentos de articulação do mosaico de espaços que o integram, bem como realização de
intervenções e pequenas soluções de engenharia podem significar um grande ganho ambiental,
com mínimos impactos sobre a urbanização.
6. Conclusão
Mesmo sendo o território do Distrito Federal, e suas condicionantes ambientais para ocupação
amplamente estudados desde a definição da localização da nova capital, e não obstante a riqueza
de informação disponível na administração pública e em trabalhos acadêmicos sobre a fauna e
flora da região, o órgão responsável pelo estabelecimento da política ambiental do Distrito
Federal, sujeito a uma serie de limitações de ordem operacional, ainda não dispõe de trabalho
conclusivo sobre o estabelecimento de corredores ecológicos. Com a conclusão do Zoneamento
Ecológico e Econômico, em escala distrital, em elaboração pela Secretaria de Desenvolvimento
Urbano e Meio Ambiente – SEDUMA, são esperados estudos mais aprofundados quanto a esta
questão.
Nesse contexto de indisponibilidade de um diagnóstico abrangente quanto às conexões entre
Unidades de Conservação no DF, historicamente, tem cabido aos Planos Diretores de
Desenvolvimento Territorial e Urbano recorrer ao mosaico de informações disponível, ou ao
estabelecimento de diagnósticos ambientais simplificados. Por outro lado, as condições de
preservação dos remanescentes de matas de galeria e de espaços livres ao longo dos fundos de
vale que, no processo de ocupação do território foram destinados à agricultura, oferecem uma boa
condição para a manutenção das conexões ambientais, em comparação à maioria das cidades
brasileiras, onde córregos estão canalizados e fundos de vale já estão ocupados.
De forma que a inclusão no Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal da
estratégia de conectores ambientais e a adoção de medidas que visam a sua implementação,
convergem aos objetivos dos instrumentos da política ambiental e urbana.
A indicação de conectores ambientais no plano diretor não pretende esgotar todas as
possibilidades de conexão entre ecossistemas no território. Mediante a metodologia aplicada,
ficam estabelecidas as conexões mais evidentes e com maior possibilidade de gestão integrada,
introduzindo um instrumento importante no planejamento da cidade.
Cria-se, assim, um novo campo de intervenção para políticas públicas voltadas ao
desenvolvimento urbano sustentável.
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