Coneito de Parresia do Michk Foucault
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WILLIAN DOS SANTOS GODOI
O CONCEITO DE PARRESIA PARA MICHEL FOUCAULT
Artigo apresentado a disciplina de prática profissional II, do Curso de Licenciatura em Filosofia, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Professor: Haroldo Osmar de Paula Junior
CURITIBA
2012
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O CONCEITO DE PARRESIA PARA MICHEL FOUCAULTWILLIAN DOS SANTOS GODOI*
Falar é uma necessidade, escutar é uma arte.(Johann Goethe VERIFICAR LIVRO)
RESUMO: O presente trabalho pretende conceituar um termo que foi muito utilizado na antiguidade clássica e tardia, mas que foi deixado de lado pelos filósofos que vieram após esses períodos, e finalmente resgatado pelo filósofo Michel Foucault. Esse termo é conhecido como Parresia, e que pode ser conhecido como “franco-falar” ou até mesmo como “dizer-verdadeiro”.
Palavras-chave: Parresia, falar-verdadeiro, verdade, falar-franco, linguagem.
THE CONCEPT OF PARRESIA TO MICHEL FOUCAULT
ABSTRACT: The present work intend to conceptualize a term that was very utilized in the classic antiguity and late, but was overlooked by the philosophers who came after these periods, and finally rescued by the philosopher Michel Foucault. This term is known as Parresia and can be known as “frank-speaking” or as “say-true”.
Key-words: Parresia, say-true, true, say-frank, language.
SUMÁRIO
* Graduando no Curso de Licenciatura em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
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1.INTRODUÇÃO..................................................................................................... 4
2.O CONCEITO DE PARRESIA NA ANTIGUIDADE............................................ 5
3. ANALISANDO A PARRESIA NEGATIVAMENTE E CONFRONTADO-A COM
AS SUAS DUAS RIVAIS........................................................................................ 9
4. A CONCEPÇÃO DE FOUCAULT SOBRE A PARRESIA................................. 11
5. CONCLUSÃO..................................................................................................... 13
6. REFERENCIAS................................................................................................... 14
1. INTRODUÇÃO
4
2 . O CONCEITO DE PARRESIA NA ANTIGUIDADE
5
É no curso de 1981/1982 de Michel Foucault que é conhecido como “A
hermenêutica do Sujeito”, que Foucault utiliza pela primeira vez o conceito de
parresia. O curso de 1981/1982, é dedicado ao tema do cuidado de si, entretanto, o
conceito de parresia faz parte da prática do cuidado de si mesmo, ou seja, não
poderia passar despercebido do curso ministrado por Michel Foucault.
Foucault atenta que a parresia
...foi muito pouco estudada, devemos dizer. Primeiro porque, [ muito embora os] próprios antigos se refiram com frequência a ela (veremos toda a série de textos em que é tratada essa parresia, e a série que utilizarei está longe de ser exaustiva, claro) não há no entanto, ou só muito pouco, reflexão direta sobre essa noção de parresia. É uma noção utilizada, é uma noção mencionada, não é uma noção diretamente refletida e tematizada como tal. (FOUCAULT, 2011, p. 45)
Na questão do cuidado de si, Foucault analisa um texto chamado justamente
de Parrhesia escrito pelo filósofo epicurista Filodemo nascido por volta de 110 a.C,
infelizmente só se conhece fragmentos desse texto. O texto de Filodemo mostra que
na escola epicurista era imprescindível que cada aluno tivesse um guia, um diretor
que lhe assegurasse a direção individual. Então entre o diretor e o dirigido teria que
existir uma intensa relação afetiva, uma relação de amizade. E nessa relação de
amizade tem que existir uma parresia pois “esta direção requeria certa qualidade, na
verdade, uma certa ‘maneira de dizer’, uma certa, digamos assim, ‘ética da palavra’.”
(FOUCAULT, 2006, p. 169).
Então Foucault aponta para uma possível definição de parresia com base
nesse texto de Filodemo, parresia “é a abertura do coração, é a necessidade, entre
os pares, de nada esconder um ao outro do que pensam e se falar francamente.”
(FOUCAULT, 2006, p. 169).
Deixando a analise da parresia em relação ao epicurismo um pouco de lado,
vejamos agora a parresia analisando uma carta que o filósofo estóico Marco Aurélio
escreveu para Frontão que era seu mestre. O intuito dessa carta era que Frontão
que se encontrava distante pudesse orientar Marco Aurélio, então o filósofo estóico
relata minuciosamente o seu dia inteiro, desde o momento que ele acorda, relatando
o que leu de manhã, o que comeu no café da manhã, com quem conversou, o
horário que foi almoçar, e a hora que foi dormir. Essa carta endereçada a Frontão
era basicamente uma espécie de peso que Marco Aurélio tirava das costas, pois
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escrevendo a carta, Marco Aurélio podia analisar o que ele havia feito naquele dia e
julgar se havia falando em alguma coisa. Se houvesse algum tipo de falha, ou de
erro que o filósofo tivesse cometido, com certeza seu mestre Frontão iria mandar
outra carta o repreendendo. Essa carta também simboliza um certo tipo de amor que
Marco Aurélio sentia por Frontão.
Para que Frontão pudesse ajudar Marco Aurélio e para que pudesse fazer
um julgamento correto sobre a situação em quem se encontrava Marco Aurélio, era
necessário que Marco Aurélio falasse a verdade sobre o que estava acontecendo
com ele. Era necessário que Marco Aurélio empregasse a parresia para poder
expressar sem esconder nada o que ele necessitava que seu mestre conhecesse
para que ele pudesse dar o veredicto correto sobre a maneira que Marco Aurélio
deveria se portar. Segundo o ponto de vista de Foucault em relação a essa carta
endereçada a Frontão,
...desenvolve-se, creio, algo muito novo e importante, que é uma nova ética, não tanto da linguagem ou do discurso em geral, mas da relação verbal com o Outro. E é esta nova ética da relação verbal com o outro que está designada na noção fundamental de parrhesía. A parrhesía, traduzida em geral por" franqueza", é uma regra de jogo, um princípio de comportamento verbal que devemos ter para com o outro na prática da direção de consciência. (FOUCAULT, 2006, p. 202)
Podemos perceber que o sentido do conceito de parresia em relação ao
texto do epicurista Filodemo e da carta do estóico Marco Aurélio é bem próximo pois
ambos falam sobre uma necessidade do locutor da verdade, daquele que fala a
verdade, daquele que fala francamente, daquele que fala do coração, em relação a
uma outra pessoa, como nos casos citados, um amigo, um aluno,um dirigido, um
diretor, um discípulo e um mestre. Para que um possa falar a verdade sobre o outro
e para o outro, para que possam dizer a verdade, para que possam ser parresiastas,
é necessário que ambos possuam a verdade.
Outra analise em que o conceito de parresia foi encontrado e que cabe aqui,
é uma analise que Foucault faz da peça do poeta grego Eurípedes chamada Ion,
Eurípedes foi um importante poeta da Grécia Antiga, nascido em 485 a.C. na ilha
grega de Salamina e morreu em 406 a.C. na cidade de Pela (Macedônia).
Diz Foucault sobre o texto de Eurípedes
Se me interesso por esse texto, ion, é porque ele está precisamente inserido no meio ou, digamos, no fim do primeiro terço de uma tragédia, que podemos dizer, acho eu, inteiramente consagrada à parresía, em todo caso
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é percorrida de cabo a rabo por esse tema da parresía (do dizer tudo, do dizer-a-verdade e da fala franca). (FOUCAULT, 2011, p. 72)
A peça Ion, apresenta a princesa Creusa, filha única do falecido Erecteu, rei
de Atenas, e que vai a Delfos em companhia do marido, Xuto, para consultar o
oráculo, pois sua esterilidade compromete a sucessão real em Atenas.
No templo de Apolo a princesa encontra um adolescente chamado Íon. Na realidade,
ele é filho dela e de Apolo e havia sido abandonado por ela, anos antes, e
encaminhado pelo deus ao seu templo em Delfos. Xuto, após diversas cenas de
suspense, é convencido pelo oráculo de que o rapaz é seu filho e, mais tarde, mãe e
filho finalmente se reconhecem.
Bom, a peça Ion, termina com o reencontro de mãe e filho, Creusa e Ion.
Creusa foi seduzida por Apolo, e do seu relacionamento com esse Deus, Creusa
deu a luz a Ion, porém, desamparada pelo Deus Apolo, e com vergonha de ser mãe
solteira, Creusa abandona Ion. Mas Apolo que viu o momento do abandono de seu
filho, resolveu intervir e fez com que seu filho fosse parar no seu próprio templo em
Delfos.
Tempos mais tarde Creusa se torna esposa de Xuto, um estrangeiro que
acaba ajudando Atenas e obtem a permissão de Ereteu para se casar com Creusa,
que é ateniense. Xuto era um tirano de Atenas, e necessitava de um filho para que
este ocupasse seu lugar quando ele não estivesse mais apto a governar Atenas.
Então Creusa e Xuto partem para o templo de Apolo em Delfos para perguntar ao
Deus Apolo se Xuto conseguiria ter um descendente um dia. Chegando no templo
de Delfos Xuto pergunta para a sacerdotisa de Apolo se ele teria descendente,
Apolo responde que o filho de Xuto seria a primeira pessoa que Xuto iria encontrar
saindo de dentro do templo. Xuto então sai do templo e a primeira pessoa que ele
encontra é Ion, e abraça Ion chamando-o de filho e depois de muita insistência
acaba convencendo Ion a abandonar o templo e ir com ele para no futuro ser
governante de Atenas.
Chegando em Atenas Ion percebe que se pai na verdade é um estrangeiro,
e que o governo do seu pai, era um governo tirânico. Ion desejava governar, mas se
ele é filho de estrangeiro, ele só poderia ser um tirano. E segundo Ion, ser tirano,
não é de maneira alguma governar justamente. Para que Ion possa exercer um
governo justo, e que forneça a liberdade de expressão aos cidadãos que ele vai
governar, Ion tem que conhecer a sua mãe, “tem grande necessidade de saber
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quem é ela. Não só tem necessidade de saber quem é ela, mas gostaria que ela
fosse ateniense” (FOUCAULT. 2011, p. 71). Se ele é filho de Xuto, que é
estrangeiro, ao menos que seja filho de uma mãe ateniense, pois tendo uma mãe
ateniense, Ion talvez pudesse governar de maneira mais justa.
Portanto para que Ion possa governar de maneira justa, ele deve ser franco
com o seu povo, ele deve falar a verdade, mas como Foucault relembra que para
obter
...o direito de falar livremente, para herdar dela a parresía. Porque, diz ele: “Se um estrangeiro entra numa cidade em que a raça não tem mácula, ainda que a lei faça dele um cidadão, sua língua continuará sendo serva [sua boca continuará sendo escrava ”. (FOUCAULT, 2011, p. 72)
Podemos ver então que o conceito denominado de parresia serve também
para que se possa governar justamente, pois é falando a verdade, falando na hora
correta, sendo totalmente franca, que se pode governar com justiça uma cidade. A
parresia.
Uma última e pequena analise da parresia que eu gostaria de apresentar em
relação a antiguidade grega e helenística é sobre o discurso do mestre. Algumas
escolas de filosofia da antiguidade, exigiam um certo tipo de disciplina vinda do
aluno, por exemplo, o silêncio, sendo que o aluno ao assistir as aulas do mestre
deveria se manter de boca fechada, sem falar absolutamente nada, algumas escolas
estoicas não permitiam nem anotações em cadernos. O silêncio era uma obrigação
pois para que o
...o silêncio do discípulo seja um silêncio fecundo, para que, no fundo deste silêncio, se depositem como convém as palavras de verdade que são as do mestre, e para que o discípulo possa fazer destas palavras algo de seu, que o habilitará no futuro a tomar-se ele próprio sujeito de veridicção... (FOUCAULT, 2006, p. 442)
O papel do mestre por sua vez era o de ser uma parresiasta, um falador-de-
verdade, uma falador-franco, o mestre não podia ensinar o aluno de maneira errada,
pois com o silêncio do aluno que servia para que o próprio aluno aprendesse palavra
por palavra, sem depois reproduzir de maneira distorcida os ensinamentos do
mestre. Por sua vez o discurso do mestre, tem que ser algo que não seja um
discurso artificial, fingido, um discurso que obedeça às leis da retórica e que vise na alma do discípulo somente efeitos patéticos. É preciso que não seja
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um discurso de sedução. É preciso que seja um discurso tal que a subjetividade do discípulo possa dele apropriar-se e que, apropriando-se dele, o discípulo possa alcançar o objetivo... (FOUCAULT, 2006, p. 442)
O discurso do mestre não deve ser um discurso retórico, um discurso que só
procure palavras bonitas, o discurso deve ser usado para orientar o discípulo, para
fazer com que o discípulo se torne uma pessoa que possua parresia, que possa falar
livremente, e que possa dizer sobretudo a verdade. Agora deixando um pouco de
lado os conceitos de parresia para os filósofos da antiguidade, gostaria de expressar
a opinião do filósofo contemporâneo Michel Foucault sobre o conceito de parresia,
entretanto como o próprio filósofo aconselha, gostaria de mostrar o conceito de
parresia de forma negativa, ou seja, mostrando aquilo que a parresia não é.
3 . ANALISANDO A PARRESIA NEGATIVAMENTE E
CONFRONTADO-A COM AS SUAS DUAS RIVAIS
O próprio filósofo nos fala no curso sobre a hermenêutica do sujeito que se
quisermos compreender o conceito de parresia, “talvez seja melhor - começando por
uma análise um pouco negativa – confrontar a parrhesía com duas figuras que lhe
são adversas.” (FOUCAULT, 2006, p. 451).
As duas figuras adversas da parresia, são a lisonja e a retórica. Então para
entender melhor o que significa parresia é necessário que mostremos que a parresia
não é lisonja, e também não é retórica, apesar de poder se servir da retórica.
Comecemos então pela lisonja, que nada mais que um adversário moral da
parresia. A parresia deve se livrar e combater a lisonja, pois a parresia é totalmente
oposta a lisonja.
Alguns filósofos da antiguidade fizeram tratados sobre a lisonja, um exemplo
é o filósofo Plutarco que escreveu um livro para diferenciar o verdadeiro amigo do
bajulador, do lisonjeador.
Então é necessário que façamos uma definição do que significa a lisonja. É
interessante notar que a lisonja sempre atrelada a cólera. Alguns filósofos também
fizeram diversos trabalhos sobre a cólera, por exemplo, Sêneca escreveu o De ira,
um tratado inteiramente dedicado a cólera. A cólera nada mais é que o
“arrebatamento violento, arrebatamento incontrolado de alguém em relação a outro,
em relação a outro sobre quem o primeiro, o que está encolerizado, encontra-se no
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direito e em posição de exercer seu poder e, portanto, dele abusar.” (FOUCAULT,
2006, p. 453). Pode ser a fúria de um pai de família sobre a sua esposa e seus
filhos, ou sobre um patrão e seu empregado. A cólera é o momento que a pessoa
deixa de exercer o poder sobre si mesmo, perde a soberania sobre si própria, e
começa a exercer seu poder sobre as outras pessoas.
A lisonja aparece então de modo inverso e complementar a cólera, pois a
cólera é a posição em que se encontra uma pessoa superior de exercer o seu poder
sobre uma pessoa inferior, enquanto a lisonja é o meio que essa pessoa inferior, vai
tentar ganhar o poder dessa pessoa superior.
E a maneira que o inferior encontra para utilizar a lisonja, é usando a fala, “e
é falando que o inferior pode, alcançando de certo modo o poder maior do superior,
conseguir dele obter o que quer.” (FOUCAULT, 2006, p. 454)
É a fala da lisonja que reforça a superioridade daquele que usa o poder, pois
o inferior diz que o superior é o mais forte, o mais belo, é o que tem mais poder,
fazendo-o crer que isso realmente é verdade, enfim, a fala do lisonjeador é a fala da
mentira, é a fala da falsidade, é a fala que cega o lisonjeado, e é utilizada somente
para fazer com que o superior não acabe usando o seu poder contra aquele que o
elogiou. Portanto se a fala do lisonjeador é a fala da mentira, podemos ver que é
totalmente contraria a fala da parresia, que é a fala da franqueza, a fala da verdade.
O segundo adversário da parresia é a retórica, sendo esta um adversário
técnico. A retórica pode ser definida como uma técnica cujos procedimentos não
visam exatamente estabelecer uma verdade, mas se trata mais de uma arte de
persuadir aquele a quem a fala está endereçada, e tentar convence-lo sobre uma
verdade, ou sobre uma mentira. A retórica é uma arte que pode se servir da mentira.
E Foucault relembra que “na parrhesía só pode haver verdade. Onde não
houver verdade não há franco-falar. A parrhesía é a transmissão nua, por assim
dizer, da própria verdade. (FOUCAULT, 2006, p.462).
A retórica sendo uma arte, tem todo um procedimento técnico para ser
considerada retórica, tem que ser ensaiada, tem que se observar as regras que
podem acabar inutilizando o seu efeito, existem locais corretos que ela pode ser
usada, enquanto o objeto de discurso da parresia é a verdade, sem ensaio e sem
nada, a verdade nua e crua.
Outro ponto interessante sobre a retórica é que ela é usada geralmente para
beneficio próprio, ela é usada sobre os outros, mas sempre em beneficio daquele
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que está se servindo dela. Mas a parresia tem uma finalidade completamente
diferente.
Na parrhesía, por certo, trata-se também de agir sobre os outros, não tanto para exigir-lhes algo, para dirigi-los ou incliná-los a fazer uma ou outra coisa. Agindo sobre eles, trata-se fundamentalmente de conseguir que cheguem a constituir por si mesmos e consigo mesmos uma relação de soberania característica do sujeito sábio, do sujeito virtuoso, do sujeito que atingiu toda a felicidade que é possível atingir neste mundo. (FOUCAULT, 2006, p. 465)
Após entendermos que a parresia se opõe a lisonja e a retórica, e
entendermos também as suas principais diferenças, podemos compreender um
pouco melhor a essência da parresia. Seguindo agora com a tentativa de
desvelamento desse tão interessante conceito, vejamos qual a concepção do
filósofo Michel Foucault sobre a parresia.
4. A CONCEPÇÃO DE FOUCAULT SOBRE A PARRESIA
No curso da hermenêutica do sujeito, após Foucault apresentar o termo
parresia em diversos textos da antiguidade, chega a vez dele explicar a parresia
segundo o seu ponto de vista. Para Foucault, de um lado, parresia é um conceito
que tem relação a atitude moral do sujeito, é uma qualidade moral, é vinculada
diretamente a ética do sujeito, e por outro lado, é uma espécie de tekhné, que é
necessária e indispensável para se transmitir o discurso verdadeiro a pessoa que
dele necessita para constituir a si próprio como sujeito de soberania sobre si mesmo
e sujeito de veridicção sobre si.
Foucault atenta mais uma vez que o significado de parresia pode ser o tudo-
dizer, ou o diz-tudo, o fala-tudo
Ou melhor, não é tanto o "tudo-dizer" que está em questão na parrhesía . Na parrhesia, o que está fundamentalmente em questão é o que assim poderíamos chamar, de uma maneira um pouco impressionista: a franqueza, a liberdade, a abertura, que fazem com que se diga o que se tem a dizer, da maneira como se tem vontade de dizer, quando se tem vontade de dizer e segundo a forma que se crê ser necessário dizer. O termo parrhesia está tão ligado à escolha, à decisão à atitude de quem fala, que os latinos justamente traduziram parrhesía pela palavra libertas. O tudo-dizer da parrhesía tomou-se libertas: a liberdade de quem fala. E muitos
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tradutores franceses utilizam para traduzir parrhesía - ou traduzir libertas neste sentido - a expressão franc-parler (franco-falar), tradução que, como veremos, me parece a mais adequada. (FOUCAULT, 2006, p.451)
Podemos ver que parresia, pode ser traduzida também como liberdade, e é
uma espécie de liberdade do falar, é a liberdade daquele que carrega a verdade e
que pode ser livre para dizer essa verdade.
Na aula do dia 10 de março de 1982, sobre o curso do cuidado-de-si,
Foucault declara que a parresia é a
palavra livre, desvencilhada de regras, liberada de procedimentos retóricos na medida em que, de um lado, deve certamente adaptar-se à situação, à ocasião, às particularidades do ouvinte; mas, sobretudo e fundamentalmente, é uma palavra que, do lado de quem a pronuncia, vale como comprometimento, vale como elo, constitui um certo pacto entre o sujeito da enunciação e o sujeito da conduta. O sujeito que fala se compromete. No mesmo momento em que diz "eu digo a verdade", compromete-se a fazer o que diz e a ser sujeito de uma conduta, uma conduta que obedece ponto por ponto à verdade por ele formulada. (FOUCAULT, 2006, p. 492)
Parresia é a fala livre daquele que possui a verdade, é também o
comprometimento com outro, é um elo que o parresiasta cria com aquele a quem ele
vai dizer a verdade, pois eles se ligam a partir do momento em que o parresiasta
possui uma verdade sobre o outro. O parresiasta vai mudar o modo de ser do sujeito
a quem ele vai se endereçar.
5. CONCLUSÃO
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6. REFERENCIAS