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1937—2012

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Sociedade de S. Vicente de Paulo - Conferência do Divino Salvador de Fânzeres – 75 anos

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1937—2012

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Este livro não é uma obra de história no sentido científico do termo; é, antes, uma crónica quase jornalística das actividades mais relevantes e mais interessantes que foram encontradas no arquivo da Conferência do Divino Salvador de Fânzeres. É como que um só testemunho do trabalho vicentino, deixando um desafio à sua continuidade, uma vez que conta, comunica, descreve, dá a conhecer uma reali-dade nascida há 75 anos e que, desde então, nunca mais parou de oferecer serviço gerador de bem aos mais precisados. Deixa exemplo, deixa referência, deixa pro-ximidade, legado e reflexão, para além de testemunhar, através de palavras, exem-plos, documentos e fotografias, uma intensa ligação afectiva entre os Vicentinos da Conferência de S. Vicente de Paulo do Divino Salvador de Fânzeres e os pobres.

Dedico este livro a todos os Vicentinos de Fânzeres, Vicentinos de todos os tempos, de todos os momentos, e companheiros de todas as caminhadas.

Capa + paginação por: antoniocruz.euForam impressos 200 exemplares deste livro.Setembro de 2012.

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À memória de …

Todos os Vicentinos da Conferência de S. Vicente de Paulo

do Divino Salvador de Fânzeres que já partiram para junto de Deus.

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1937 › 2012SETENTA E CINCO ANOS DE AMOR A DEUS E AO PRÓXIMO

A Conferência do Divino Salvador de Fânzeres da Sociedade de S. Vicente de Paulo comemora, neste ano de 2012, setenta e cinco anos de vida vicentina ao serviço dos mais pobres e carenciados.

No longínquo ano de 1937, mais propriamente no dia 6 de Setembro, um grupo de cristãos, verdadeiros cristãos, da paróquia de Fânzeres teve a feliz ideia de formar uma Conferência. «Era urgente e necessário prover ao sustento dos mais pobres», escreveram na primeira acta aproximadamente um ano antes… Assim nasceu a Conferência Vicentina de Fânzeres.

Ao longo destes 75 anos de existência, a Conferência tornou-se uma escola de leigos cristãos que assumiram em grupo e com a Igreja um compromisso com os mais pobres e desprotegidos, daí a unidade e o sentido do trabalho vicentino.

Durante mais de sete décadas, a Conferência do Divino Salvador de Fânze-res foi, em conjunto com a Conferência Feminina de Nª Sr.ª do Rosário, o único movimento caritativo do laicado cristão que teve a coragem e a ousadia de socor-rer os mais pobres dos mais pobres: inúmeras gerações de doentes, oprimidos, marginalizados e esquecidos, homens, mulheres e crianças, que precisavam de ajuda urgente por padecerem do corpo e da alma. É inegável, por isso, o seu notá-vel testemunho no combate à pobreza e exclusão social.

A Conferência, ao longo dos seus 75 anos de vida, soube sempre enfrentar as mudanças sociais e eclesiais e, apesar de passar por diversas dificuldades e vicis-situdes, respondeu prontamente a inúmeros desafios, na maior parte das vezes superados, o que enriqueceu a experiência de vida dos Vicentinos e carenciados.

Desta forma, ficou bem clara a sua capacidade de adaptação e de renovação, assim como o seu amor à Igreja e aos pobres.

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O trabalho vicentino não é passivo nem conformista. Servindo-se da ini-ciativa e da criatividade, promove o respeito e o bem dos outros, através do con-tacto pessoa a pessoa e casa a casa, ao mesmo tempo que se esforça por comba-ter o egoísmo, a pobreza, a doença, a marginalidade, a solidão, porque sabe que os outros precisam de apoio, companhia e solidariedade. As Conferências privi-legiam, assim, a ajuda domiciliária como forma de promover a pessoa humana e a sua integração na sociedade. É por isso que nunca passam de moda nem ficam ultrapassadas no seu trabalho quotidiano.

Os resultados dos trabalhos desenvolvidos pela Conferência de S. Vicente de Paulo do Divino Salvador de Fânzeres ao longo destes 75 anos de existência não se revelam só nas centenas de famílias apoiadas, nos milhares de escudos ou euros distribuídos ou na quantidade de beneméritos que mostraram a sua generosi-dade, mas, essencialmente, nos pequenos gestos quotidianos de ajuda e amor ao próximo, que fizeram a diferença no testemunho cristão de amar a Deus na pessoa que sofre.

Se pensarmos nos vinte e cinco Vicentinos que integram actualmente a Conferência do Divino Salvador de Fânzeres e nas muitas dezenas que, ao longo destes 75 anos, fizeram parte activa da Conferência Vicentina, sem esquecer, de forma alguma, os seus familiares, que sempre os incentivaram, podemos dizer que a pequena semente lançada no ano de l937 produziu abundantes frutos e transformou, para melhor, possivelmente para muito melhor, a comunidade paro-quial e a freguesia de Fânzeres.

Parabéns a todos os Vicentinos, familiares, beneméritos e pessoas caren-ciadas apoiadas.

— josé garrido

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– 9 –S. Vicente de Paulo – Imagem adquirida no ano da fundação da Conferência do Divino Salvador de Fânzeres

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S. Vicente de Paulo – Imagem Comemorativa dos 50 anos da Conferência

Bandeira da Conferência Vicentina de Fânzeres

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VICENTINOS

A designação de Vicentinos vai entroncar na figura ímpar de um simples homem nascido em Abril de 1581, no Sul de França, na aldeia de Pouy, nas Landes: Vicente de Paulo.

Deus abençoou-o com uma vida preenchida e longa, quase 80 anos, uma vez que morreu em 27 de Setembro de 1660.

Foi pastor na sua juventude, mas era de inte-ligência viva e isso foi determinante para que os pais, pastores também, o tivessem encaminhado para a vida eclesiástica. Acabou por ser sacerdote apenas porque os seus pais pensaram que isso o iria

colocar em melhores condições de valer à sua pobre família.A vocação viria a surgir-lhe mais tarde e sobretudo pela visão autêntica da

Caridade que viveu inteiramente. Foi ele que estabeleceu o conceito da visita aos pobres e aos doentes, que, séculos depois, seria como que a impressão digital das Conferências de S. Vicente de Paulo.

Vicente de Paulo foi de tal forma uma figura extraordinária na prática da caridade e do amor ao próximo que, em 12 de Maio de 1855, foi aclamado por Leão XIII como o “Patrono de Todas as Obras de Caridade”, vindo depois, a ter o nome inscrito no livro dos Bem Aventurados, pela autoridade de Bento XIII, a 13 de Agosto de 1729, e, finalmente, já em 16 de Junho de 1737, a ser glorificado como Santo de Deus por Clemente XII.

Vicente de Paulo foi o fundador de muitas outras obras, todas elas com o carisma da caridade: Congregação da Missão, os Padres Lazaristas ou Vicentinos e as Filhas da Caridade. Não foi surpresa, por isso, que a irmã Rosália Rendu exer-cesse uma certa influência para que as conferências da caridade se chamassem Conferências S. Vicente de Paulo.

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VAMOS AOS POBRES

António Frederico Ozanam nasceu em Milão, no dia 23 de Abril de 1813. O pai, médico dedicado à ciência, à arte e ao trabalho, era homem de fé e com grande amor aos pobres. A mãe era uma cristã activa que se dedicava a cuidar dos doentes. A família fixou-se em Lyon e Frede-rico foi aluno do Colégio Real, onde a sua fé sofreu enor-mes abalos.

Aos 18 anos, deixou Lyon para frequentar em Paris a Universidade, primeiro Direito e depois Letras, cursos em que, após as licenciaturas, veio a doutorar--se. Ficou dolorosa e profundamente impressionado

pelo clima anti-cristão, anti-clerical e anti-igreja que encontrou, especialmente no meio académico da Sorbonne, quer entre os alunos, quer entre os professores.

Reagiu e protestou sempre contra os ataques à Igreja o jovem Ozanam, tendo marcado a sua posição de católico firme, de visão verdadeiramente profé-tica, ao escrever aos 18 anos, um artigo notável sobre a doutrina de um filósofo francês.

Desde então, como escritor, historiador, jurista, político, jornalista e pro-fessor de direito ou de letras, centrou as suas actividades e estudos em temas reli-giosos, sempre no propósito de demonstrar o papel relevante, único mesmo, da Igreja de Cristo na civilização humana.

Ozanam aprendeu a amar os pobres no ambiente familiar e tinha por eles um amor entranhado. Considerava ser essa a sua vocação, enraizada no amor de Deus, que nos amou primeiro para que nós também nos amemos uns aos outros. Ia ao ponto de afirmar que não basta falar da caridade e da missão da Igreja, porque é preciso traduzir o serviço dos pobres em compromisso efectivo. “Vamos aos pobres” foi o grito de ordem que levou Ozanam e os seus companheiros a fun-darem a Conferência da Caridade, mais tarde designada Conferências de S. Vicente de Paulo.

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A SOCIEDADE DE S. VICENTE DE PAULO (SSVP) NO MUNDO• EUROPA • 28Países · 8.580Conferências• ÁSIA • 21Países · 7.787Conferências• AMÉRICAS • 34Países · 26.359Conferências• ÁFRICA • 34Países · 2.951Conferências• OCEANIA • 9Países · 1.617Conferências

• 5Continentes,132Países,47.294Conferências,900.000Vicentinos

A SOCIEDADE DE S. VICENTE DE PAULO EM PORTUGAL• 21ConselhosCentrais• 802Conferências• 12.729Vicentinos• 28.000FamíliasAssistidas

A SOCIEDADE DE S. VICENTE DE PAULO EM GONDOMAR• 6Conferências• 89Vicentinos• 663FamíliasAssistidas

A SOCIEDADE DE S. VICENTE DE PAULO EM FÂNZERES• 2Conferências• 34Vicentinos• 132FamíliasAssistidas

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1ª ACTA DA CONFERêNCIA DE S. VICENTE DE PAULO DO DIVINO SALVADOR DE FÂNZERES

Uma das obras mais urgentemente necessárias a realizar nesta freguesia era a rela-tiva aos pobres. Havia-os em grande número.

Alguns esmolavam de porta em porta, nesta freguesia, e nas vizinhanças; outros, que em tempo passado tinham vivido em certo conforto, batidos pela adversidade, passavam agora angustiante necessidade, em suas casas, sem cora-gem para estender a mão à caridade; outros doentes e necessitados entretinham-se a escrever listas com nomes de pessoas, a quem «citavam», para fazer o peditório em seu proveito, nos seus respectivos lugares: - não se expunham ao incómodo de, antecipadamente, pedir licença às mencionadas pessoas para fazer uso do seu nome, escrevendo-o na lista, nem se enfadavam a pedir-lhes a caridade de fazer o peditório. Organizada a lista, assim a seu capricho, entregavam-na ao pároco para fazer a sua leitura, à missa primeira dos domingos.

Ouvindo «citar» os seus nomes, essas pessoas mandavam, condescenden-temente, fazer o peditório nos seus lugares, para entregar a colheita aos interessa-dos. Nem sempre eram de necessidade estes peditórios, e nem sempre iam socor-rer o legítimo doente. Serviam-se deles alguns habilidosos, para arranjar receita para passeios e desportos; outros para procurar bruxos e bruxas, pagar-lhes con-sultas e visitas, e satisfazer as suas receitas; outros para fartas jantaradas, em pre-juízo do necessitado; outros ainda serviam-se de nomes de imaginários doentes para colher esmolas, a cuja sombra iam passando menos mal… Era mister pôr fim a estes abusos esquisitos e revoltantes, pela criação de uma obra que valesse ao pobre, socorresse o necessitado, e tranquilizasse a quem confiadamente quisesse dar esmola, sem ludíbrio.

Em Março de 1936, o pároco, à estação da missa, chamou a atenção para o assunto, de imprescindível solução, lembrando mais os satisfatórios e belos resul-tados que, neste sentido, as Conferências de S. Vicente de Paulo têm operado, onde quer que tenham sido estabelecidas.

De todos os lugares da freguesia foram depois convidadas algumas pessoas na sala superior à sacristia, para tratar do problema relativo aos pobres.

E a oportunidade de ele agora ser tratado a sério, vinha mais da circunstân-cia de um decreto, publicado no «Diário do Governo», conceder uma verba para os pobres de cada freguesia, mediante a criação da CAPI (Campanha de Auxílio aos Pobres no Inverno).

O abade explicou depois a origem das «Conferências Vicentinas», e a maneira prática da sua organização e funcionamento, pedindo que todos aco-lhessem, de bom grado, esta esplêndida obra de caridade da Igreja. Distribuiu o

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«Manual da Conferência» a cada assistente, para ser estudado. Todos concorda-ram, dando a esta iniciativa o seu inteiro aplauso.

Em seguida, foi combinado que todos os presentes percorressem os seus lugares, a fim de organizar a lista dos subscritores, com as respectivas quotas mensais, e colher impressões, na certeza de que nesta, como em todas as obras filhas da Igreja, prescindíamos da política, não havendo outra a prescindir a esta obra senão a da «caridade cristã ao serviço da miséria», onde quer que ela se encontrasse.

O resultado desta jornada deu 764 subscritores, somando a quota mensalde 1 080$00 e semanal de 77$50.

Foi além de toda a expectativa este resultado que se podia classificar de magnífico, e revelou bem o carinhoso acolhimento que em todos os lares foi dada a essa obra.

Foi então assim constituída a Direcção da Conferência: Presidente, José Martins Marques; Vice-Presidente, David Afonso Moutinho; secretários, António de Sousa Vieira Neves e Manuel Domingos de Sousa Neves.

Confrades nos diferentes lugares: Seixo, David Afonso Moutinho; Regadas, Manuel Martins de Almeida; Felga, Joaquim Martins Cristóvão; Montezelo, Ângelo dos Santos; Paço, Damião Ferreira; Outeiro, Joaquim Almeida Garrido; Carvalha, Valdemar Pereira Coutinho e Fiel Pereira de Castro; Cabanas, Belmiro Marques de França; Manariz, José Ferreira, Damião Salgado, Alberto de Oliveira Moura e Vicente Salgado; Santa Eulália, Delfim Martins de Moura e Manuel Martins Cris-tóvão; Alvarinha, José da Fonseca, Albino Ferreira da Cruz, Domingos de Sousa Neves; Costa, José Martins de Castro Gandra, Augusto Dias de Beja e Serafim da Cunha Barbosa; Rua da Igreja, Dolor Martins de Castro e Avelino Pedro Viterbo.

Todos estes confrades, juntamente com os membros da direcção, foram considerados como Membros Fundadores da Conferência.

O pensamento inicial que os confrades tiveram foi socorrer os pobres extremamente necessitados, doentes e envergonhados, mediante os vales da Con-ferência.

Para a missa das quatro intenções foi escolhido o dia 6 de Agosto, transfi-guração do Senhor, e dia do Padroeiro da freguesia.

Depois de algum tempo de adaptação e funcionamento, foi pedida a agre-gação desta Conferência à Sociedade de S. Vicente de Paulo, por intermédio do Conselho Superior, em ofício de 22 de Novembro de 1936, sendo feita a agregação em 6 de Setembro de 1937, como consta do diploma patente na sede da Conferência.

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CARTA DE AGREGAÇÃO – 6 DE SETEMBRO DE 1937

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CRONOLOGIAPRESIDENTES DA CONFERÊNCIA DO DIVINO SALVADOR DE FÂNZERES

· 1937/1943 · JoséMartinsMarques· 1943/1945 · JoséFerreira· 1945/1949 · DaviddaSilvaNeves· 1949/1952 · JoséJoaquimMarques· 1952/1959 · AdrianoMarquesdosSantos· 1959/1969 · ManuelCastroNeves· 1969/1974 · AméricoMartinsMarques· 1974/1978 · AlbinoPintodeAguiar· 1978/1983 · FernandodaSilvaPintoFaria· 1983/1987 · JoséFerreiradaMota· 1987/1991 · ConceiçãoOliveiraFaria· 1991/2005 · JoséManuelGarridoMendes· 2005/2009 · PaulaCristinaGonçalvesTeixeira· 2009/2012 · JoséManuelGarridoMendes

A caridade é uma mãe carinhosa que tem os olhos cravados no filho que leva ao seio, que não pensa em si e esquece a sua beleza pelo seu amor.

— antónio frederico ozanam

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FAZER A DIFERENÇA

Todos sabemos a enorme importância do conhecimento da história, nomeada-mente da história das instituições, pois só conhecendo o passado se pode melho-rar o presente e preparar o futuro. Sei, contudo, ter a Conferência de S. Vicente de Paulo do Divino Salvador de Fânzeres, a “nossa Conferência”, adquirido já um estatuto e uma proeminência tais que me permitem começar o meu testemunho sem necessitar de resumir a história da Conferência, uma vez que todos os que lerem este livro a conhecem já, seguramente.

A “nossa Conferência” atingiu, nos últimos anos, toda a sua maturidade, encontrando-se, agora, com excelentes alicerces para, pondo em prática, de forma verdadeiramente eficaz, os seus valores de ajuda aos mais pobres e necessitados, fazer face aos novos desafios que surgem diariamente, sem ter de desbravar cami-nho ou desanimar perante as dificuldades.

Há três coisas que são o meu tripé para olhar a vida e o mundo: Deus, a Natureza e o Homem. Nesta altura da minha vida, já não me revolto contra Deus nem contra a Natureza. Contra o Homem, porém, ainda me revolto. Daí a minha vontade férrea de continuar a ser Vicentino e a lutar por um mundo melhor. Tudo na vida tem um sentido, acredito. E o sentido da minha vida é continuar, porque desde muito jovem que sei para onde vou.

A“aventura”deserVicentinocomeçouquandotinha14anosdeidade.OsVicentinos da “nossa Conferência” disseram que precisavam de mim… investiram em mim e hoje penso que não fiquei muito caro, uma vez que 500$00 foi o preço da minha participação na Peregrinação Vicentina a Fátima. Regressei cansado, inquieto, mas feliz. Não mais deixei de ser Vicentino.

Não vou escrever o que fiz ao longo da minha caminhada vicentina ou comoPresidentedaConferênciadurante14anos,oquefizeoqueaindafaço.Tudoaquilo que sou está escrito no livro da vida e no coração dos homens.

Por vezes, sinto dentro de mim uma mistura de nostalgia e sonho, de tole-rância e intransigência, de desilusão e esperança, de dúvida e certeza, de alegria e tristeza… claro que tudo isto se prende com a minha vocação de ser Vicentino e a realidade da vida que nos rodeia. Ao longo dos últimos anos, a sociedade tem atravessado momentos difíceis em que enormes dificuldades financeiras, sociais e laborais atiram para a pobreza e exclusão social grande número de homens e mulheres. Tal deve ser motivo de mobilização cada vez maior na ajuda e no apoio aos mais pobres.

Naturalmente, ao longo de todos estes anos houve fases do meu trabalho vicentino em que me senti menos estimulado, sobretudo em momentos de erros e fracassos; porém, também esses fracassos me deram lições para o futuro e me

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ensinaram a crescer, não só como pessoa ou como cristão vicentino, mas a prosse-guir a minha missão com um novo alento.

E a propósito de alento… sempre que ele tenta ganhar terreno, dou um pouco mais de espaço à lembrança do meu Avô Joaquim Garrido, um Vicentino que aprendi a conhecer através das actas da Conferência e do testemunho de quem caminhou com ele pelas estradas da freguesia ao encontro dos pobres, ele que é, e será sempre, para mim uma referência como verdadeiro Vicentino e cristão de alma límpida.

Estamos de parabéns. Apesar de eu só ter 30 anos como Vicentino, a “nossa Conferência” faz hoje 75 anos da sua agregação à Sociedade S. Vicente de Paulo.

Os 75 anos da Conferência do Divino Salvador de Fânzeres actualizam-se no amor ao próximo e na fidelidade de quem os celebra hoje, garantindo-lhe um futuro com sentido.

— josé garrido – actual presidente da conferência

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1.º RELATÓRIO DE CONTAS DA CONFERêNCIAANO DE 1938

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BREVE HISTORIALCONFERÊNCIA DO DIVINO SALVADOR DE FÂNZERES

Fundação/OrganizaçãodaConferência• 1935 • ÉpocadeNatal–Consoadaa108Pobres–Despesade469$25• 1936 • 1deMarço–1.ªReuniãodaConferência • 29deMarço–InvocaçãodoPadroeiro-S.Salvador • 3deMaio–BênçãodaImagemdeS.VicentedePaulo • 22deNovembrode1936–PedidodeAgregaçãoàSSVP• 1937 • 6deSetembro–AgregaçãoàSSVP • ConsoadadeNatala137Pobres–Despesade784$50• 1938 • 9deAbril–BênçãodaBandeiradaConferência • ConsoadadeNatala157Pobres–Despesade961$85• 1939 • Receitasde14.239$50–Despesasde13.235$15 • ConsoadadeNatala192Pobres–Despesade983$20• 1940 • Receitasde13.931$15–Despesasde13.721$95 • ConsoadadeNatala185Pobres–Despesade1.327$35• 1941 • 40Famíliasvisitadassemanalmente–2071duranteoano • Receitasde13.627$35–Despesasde10.290$00• 1942 • ConsoadadeNatala156Pobres • Receitasde13.627$35–Despesasde9.953$50• 1943 • 9deMaio–IníciodaDistribuiçãodaSopadosPobres • ConsoadadeNatala180Pobres–Despesade2.926$75 • Receitasde17.363$30–Despesasde12.590$18• 1944 • 12deFevereiro–Recebeu450pãesparaosPobres • Receitasde27.020$75–Despesasde19.869$60• 1945 • ConsoadadeNatala36Pobres–10.950sopasanuais • 97Pobresassistidos–2694visitasanuais • Receitasde26.093$98–Despesasde22.966$26• 1946 • Ofertade22$90deumlenhador–Graçaespecial • ConsoadadeNatala38Pobres• 1947 • 28deDezembro–Cortejodeoferendas–2.055$00 • JuntadeFreguesiadeusubsídiode900$00• 1948 • Distribuiçãode5400sopasanuais • MatadourodeFânzeres-Ofertade18Kgdecarnefresca • Receitasde28.917$10–Despesasde15.074$20• 1949 • 19Vicentinos–38Pobresajudadosmensalmente • 5400sopasanuais–Despesade3.753$50 • Receitasde28.917$10–Despesasde15.074$20

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• 1950 • 22famíliasvisitadassemanalmente • Receitasde5.946$20–Despesasde3.586$00• 195 • 14.600Sopasanuais–38famíliasajudadasporsemana • Receitasde23.589$00–Despesasde22.628$00• 1952 • 18.200sopasanuais–37famíliasajudadasporsemana • 26Vicentinos–877Subscritores • Receitasde32.499$50–Despesasde31.628$40• 1953 • 19250sopasanuais–1930famíliasajudadas • Receitasde32.416$20–Despesasde31.427$90• 1954 • 24000sopasanuais–1935famíliasajudadas • Receitasde27.351$30–Despesasde26.320$80• 1955 • 24.120sopasanuaisacompanhadasde100gr.depão • 34Vicentinos–600famíliasvisitadasduranteoano • Receitasde25.070$40–Despesasde23.540$40• 1956 • 60$00Pagamentomensalordenadocozinheira • Receitasde23.269$70–Despesasde20989$10• 1957 • 14deMaio–Lançamento1.ªpedradacasadosPobres • PeditórioparaaceiadosPobres–Receitade50.864$90• 1958 • 19VicentinosactivosnaConferência • 27deJulho–DiaVicentino–PresençadosPobres• 1959 • 24Vicentinos–400Subscritores–36famíliasajudadas • DistribuiçãodeleiteempódaCaritasDiocesana • Receitasde55.335$10–Despesasde55.151$00• 1960 • 36Vicentinos–934Subscritores–32famíliasajudadas • InauguraçãodacasadosPobresnaRegadas • Receitasde51.533$70–Despesasde61.996$30• 1961 • 39Vicentinos–923Subscritores–35famíliasajudadas • Receitasde46.132$10–Despesasde46.062$60• 1962 • 38Vicentinos–843Subscritores • 100sopasdiáriascomraçãode100grsdepão • Receitasde36.562$00–Despesasde39.830$50• 1963 • 39Vicentinos–840Subscritores–32famíliasajudadas • Receitasde38.076$00–Despesasde37.236$10• 1964 • 100sopasdiáriasaPobrescom100grsdepão • Receitasde35.402$70–Despesasde36.057$40• 1965 • 44Vicentinos–805Subscritores–27famíliasajudadas • Receitasde32.535$50–Despesasde31.905$50• 1966 • 50Vicentinos–800Subscritores–30famíliasajudadas • Receitasde42.264$10–Despesasde41.038$10

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• 1967 • 45Vicentinos–790Subscritores–28famíliasajudadas • Receitasde52.996$50–Despesasde54.651$20• 1968 • 7deOutubro–SufrágioalmadeVicentino-200$00oferta • Receitasde63.612$00–Despesasde57.988$00• 1969 • 54Vicentinos–820Subscritores • 200sopasdiáriasacompanhadasdepãoeleiteempó • Receitasde57.213$00–Despesasde53.197$00• 1970 • 56Vicentinos–826Subscritores–45famíliasajudadas • Receitasde50.997$60–Despesasde53.197$50• 1971 • 58Vicentinos–990visitasaPobres • Receitasde57.650$40–Despesasde54.914$00• 1972 • 56Vicentinos–1108visitasaPobres • Campanhadasaca–Umasacaentregueemcadacasa • Receitasde62.869$05–Despesasde56.618$30• 1973 • 56Vicentinos–995visitasaPobres • IníciodopeditóriomensalàportadaIgreja • Receitasde69.844$00–Despesasde68.470$40• 1974 • 30Vicentinos–950visitasaPobres • Receitasde74.399$60–Despesasde57.279$60• 1975 • 21Vicentinos–720visitasaPobres • Receitasde189.831$00–Despesasde187.340$00• 1976 • Ofertóriodasmissasde7.ºdiaefuneralparaaConferência • Receitasde50.256$20–Despesasde63.504$00• 1977 • DespesacomconsoadaaosPobres–8.700$00 • 7deMarço–ReflexãosobrefusãodasConferências• 1978 • VendadeNatal24.502$50–PeditórioNatal56.978$60 • 27deFevereiro–Decisãodereunirquinzenalmente • ColocaçãodebaixadasdaluzeáguanoPatrimónio• 1979 • 1.ªparticipaçãonaColóniadeFériasdaJuntadeFreguesia • ReceitadaVendadeNatal–27.728$00• 1980 • 2.ªparticipaçãonaColóniadeFériasdaJuntadeFreguesia • ReceitadaVendadeNatal–35.065$00• 1981 • ReceitadaVendadeNatal–63.456$00 • Receitaofertórioencerramentodacatequese–3.698$00• 198 • DespesacomConsoadadeNataldosPobres–14.000$00 • 25deAbril–FusãodaConferênciaJovenseAdultos • 12deDezembro–InscriçãocomosóciosdaAssociaçãoSSVP• 1983 • PeditóriodeNatalpelafreguesia–165.120$00 • Angariaçãodefundos–DeslocaçãodejovemàAlemanha

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• 1984 • 1deSetembro–Publicaçãodojornal“BomSamaritano” • Receitasde343.565$40–Despesasde290.919$50• 1985 • 10deFevereiro–RevitalizaçãodaConferênciadeJovens • Receitade123.209$00naVendadeNatal• 1986 • 22Vicentinos–21famíliasajudadas • Receitasde458.756$00–Despesasde268.977$00• 1987 • Celebraçãodo1.ºDiaParoquialdaCaridade • 6deSetembro–CinquentenáriodaConferência • Receitasde488.247$50–Despesasde334.068$50• 1988 • Celebraçãodo1.ºDiaParoquialdoDoente • Receitasde628.656$50–Despesasde530.105$50• 1989 • 22Vicentinos–40famíliasajudadas • Receitasde702.917$00–Despesasde691.609$00• 1990 • 22Vicentinos–52famíliasajudadas • Receitasde830.210$00–Despesasde367.056$00• 1991 • 20Vicentinos–43famíliasajudadas • Internamentodetrêstoxicodependentes • Receitasde722.745$50–Despesasde1.090.710$50• 1992 • 19Vicentinos–65famíliasajudadas • Receitasde878.101$00–Despesasde690.162$00• 1993 • 12deNovembro–1.ªNoitedeS.Martinho • DistribuiçãodegénerosdaCEE • Receitasde849.670$00–Despesasde1.172.545$00• 1994 • 14deFevereiro–1.ªNoitedeCarnaval • Receitasde1.339.203$50–Despesasde1.363.101$00• 1995 • Inauguraçãodasala/armazémdaConferência • Receitasde2.382.994$00–Despesasde2.455.268$00• 1996 • Ofertade600.000$00daCâmaraMunicipaldeGondomar • Receitade1.846.504$50–Despesasde1.535.618$00• 1997 • Exposiçãocelebrativados60anosdaConferência • Receitasde1.312.671$00–Despesasde964.155$00• 1998 • 28Vicentinos–80famíliasajudadas • Receitasde1.829.440$00–Despesasde2.290.292$00• 1999 • Compradeduascadeirasderodas • Receitasde2.550.800$00–Despesasde2.789.800$00• 2000 • Receitade984.000$00naVendadeNatal • Receitasde3.207.261$00–Despesasde3.141.290$00

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• 2001 • ÚltimosubsídiodaCMG–2.269.750$00 • 72famíliasajudadas–43doentesvisitados • Receitasde5.340.861$00–Despesasde5.238.978$00• 2002 • ObrasderestauronoPatrimóniodosPobres • Receitasde€21.901,72-Despesasde€21.409,95• 2003 • 2deMarço–1.ªRecolhadegénerosnoFeiraNova • 83famíliasajudadas–36doentesvisitados • Receitasde€16.131,75-Despesasde€24.734,10• 2004 • 18deDezembro–1.ªrecolhadegénerosnaCatequese • Receitasde€32.843,86-Despesasde€24.018,15• 2005 • 29Vicentinos–62famíliasajudadas • Receitasde€8.825,71-Despesasde€14.065,75• 2006 • 65famíliasajudadas–57doentesvisitados • Receitasde€8.011,97-Despesasde€9.415,96• 2007 • 20Vicentinos–60famíliasajudadas • Receitasde€9.415,96-Despesasde€9.075,66• 2008 • 66famíliasajudadas–75doentesvisitados • Receitasde€7.917,07-Despesasde€8.809,23• 2009 • 25Vicentinos–62famíliasajudadas • Receitasde€10.743,31-Despesasde€7.305,46• 2010 • 55famíliasajudadas–85doentesvisitados • Receitasde€14.693,41-Despesasde€8.137,98• 2011 • 25Vicentinos–53famíliasajudadas–57cabazesdeNatal • Receitasde€10.128,87-Despesasde€9.243,54• 2012 • 8deSetembro–Celebraçãodoseptuagésimoquinto aniversário da Conferência do Divino Salvador de Fânzeres

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ÚLTIMO RELATÓRIO DA CONFERêNCIA – 2011

Receitas DespesasColectasnasReuniões€176,07 Auxíliodomiciliário€2.058,82

OfertasDiversas€665,00 Auxílionadoença€689,05

BarracaDiv.Salvador€201,77 Auxílionahabitação€1.035,00

FeiraVelharias€3.082,21 Outrosauxílios€1.738,77

VendadeNatal€2.756,32 Pagam.luzeágua€1.065,47

MissasFunerais€3.243,50 Génerosaliment.€1.845,03

Óculosecadeiras€333,00

AjudasaInstituições€00,00

DespesasFormação€150,00

Desp.Administrativas€49,00

OutrasDespesas€179,40

Total Receitas €10.124,87 Total Despesas €9.243,54

ACTIVIDADES DA CONFERêNCIA VICENTINA PARA O ANO 2012

Actividades de ajuda a doentes e idosos• DiaParoquialdoDoente• VisitasaIdososeDoentesno1.ºDomingodecadamês

Actividades de apoio a famílias carenciadas• Visitasdomiciliárias• Dádivadegéneros,livros,mobiliárioeroupas• Pagamentodegás,luz,águaemedicamentos• CabazesdeNatal

Actividades de formação cristã e vicentina• EdiçãodoJornal“OBomSamaritano”• PeregrinaçãoVicentinaaFátima• EncontrosdeFormaçãoeReflexão

Actividades de angariação de fundos• VendadeNataleFeiradeVelharias• DiadaCaridadeeOfertóriosdasmissasdefunerais• ColectasnasReuniõesdaConferência

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AS ACTIVIDADES DA CONFERêNCIA VICENTINA

É grande, realmente, o objectivo da Conferência de S. Vicente de Paulo do Divino Salvador de Fânzeres, lembrado continuamente em cada reunião vicentina. Trata--se de exprimir em gestos e atitudes concretas o primeiro mandamento de Jesus Cristo: “Ama a Deus e o próximo como a ti mesmo”.

Este pensar e este agir têm mobilizado ao longo da história da humanidade milhares de pessoas, umas de forma mais ou menos activa, outras de forma mais ou menos marcante.

Primeiro, Vicente de Paulo, mais tarde, António Frederico Ozanam, dois homens que em tempos diferentes da história fizeram muito suas estas propostas de Jesus Cristo, a ponto de se esquecerem de si mesmos por amor a Deus e ao pró-ximo.

É com eles e por eles que realizamos o trabalho vicentino; é por nós, por cada um de nós, que realizamos com empenho e dedicação todas as tarefas e acti-vidades programadas. Nunca fizemos milagres, nem começaremos agora a fazer… Tudo é fruto de muitas horas de trabalho, uma enorme paixão por Jesus Cristo e muito amor aos pobres.

Se quisesse enumerar todas as actividades realizadas ao longo destes setenta e cinco anos de existência, penso que teria de requisitar uma biblioteca e não apenas este pequeno livro, tantas as actividades que aconteceram, tantos os trabalhos realizados, tantas, mas tantas, as horas dedicadas aos pobres, sem esquecer a experiência pessoal das centenas de Vicentinos que fizeram parte da Conferência ao longo da sua existência.

Não tenho pretensão de escrever tudo ou de falar de todas as actividades realizadas, porque tudo o que é importante escrever está gravado não só no cora-ção de cada Vicentino ou Vicentina como também na vida pessoal e comunitária de cada pobre ou família ajudada pela Conferência do Divino Salvador de Fânzeres.

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A CONFERêNCIA DE JOVENS

Nodia18deMaiode1974,foicriadaaprimeiraConferênciadeJovensemFânzeres.O objectivo essencial era criar uma actividade específica para os jovens e, através dela, levar os jovens a reflectir em comum sobre a temática da caridade e, porque não dizê-lo, chamar os jovens para a Conferência e levá-los a trabalhar junto dos mais pobres.

No momento, estava-se longe de prever o significado e o valor que esta Conferência e todos os jovens que a integravam iriam ter em todo este processo de formação e actividade vicentina. Na realidade, esta primeira Conferência de Jovens, para além da experiência maravilhosa e única que constituiu, foi uma oportunidade valiosa de revitalizar a Conferência e ao mesmo tempo toda a activi-dade paroquial. A experiência foi positiva e, em consequência dela, a Conferência de Jovens de S. João de Fânzeres chegou a ter mais de cinquenta jovens.

Começou assim uma nova etapa na vida vicentina de Fânzeres, com jovens e adultos a saborear entre si os momentos de encontro e simultaneamente a tomar consciência de que valia a pena fomentar e prolongar este intercâmbio e partilha vicentina.

De salientar o trabalho e dinamismo de José Faria e Fernando Faria, funda-dores desta Conferência, na qual podemos afirmar ter nascido a génese da Juven-tude Vicentina em Fânzeres.

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A CEIA DE NATAL

A Ceia do Natal aos Pobres começou a distribuir-se em 1935, meses antes de se organizar a Conferência e aproximadamente um ano e meio antes da sua agrega-ção à Sociedade S. Vicente de Paulo. Foi uma verdadeira jornada de caridade levada a efeito pela Juventude Masculina e Feminina da nossa terra, que se dispôs a per-correr, em turnos, os diferentes lugares da freguesia, angariando donativos, em dinheiro e géneros, para a consoada dos pobres. Foi a primeira vez que isto se rea-lizou na nossa terra, sendo esta iniciativa coroada de brilhantes resultados. Distri-buíram-se então cerca de 800$00 em bacalhau, arroz, pão, açúcar e batata… por 90 pobres.

Foi o grão de mostarda desta obra. Anualmente, promovida pela Conferên-cia, e sempre realizada pelos membros das Juventudes, esta simpática obra tem merecido o carinho das famílias, casas comerciais e empresas da nossa freguesia. Por vezes, esta jornada foi realizada sob chuva e neve; não obstante, os ardores da mocidade nunca arrefeceram. Queremos, por isso, exaltar as suas caprichosas ini-ciativas de bem-fazer e testemunhar o nosso reconhecimento sentido. (Relatório daConferênciadoDivinoSalvadordeFânzeres–1940)

A Igreja de que me orgulho de fazer parte está viva e activa, reza e evangeliza, baptiza e celebra a caridade, vive o mandamento do amor…Com a certeza consoladora das palavras de Jesus: “Eu estou sempre convosco”, e porque eu faço parte desta Igreja que mexe, que peregrina, que busca, que é solidária, que incentiva e que se quer encontrar com o seu mestre, encontro forças para continuar a ser Vicentino e vontade de testemunhar aos outros esta vocação. A Conferência é uma obra de Deus… portanto, estou confiante. — rosa faria

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SOPA DOS POBRES

A Sopa dos Pobres, nasceu em pleno coração da Conferência Vicentina Masculina do Divino Salvador de Fânzeres, mas não poderia viver sem a dedicação e o traba-lho exaustivo das senhoras que se responsabilizaram pela sua confecção diária. Foi inauguradaemMaiode1949,nodiadacelebraçãodo7.ºaniversáriodaConferên-cia Feminina de Nossa senhora de Fátima. Deram também um simpático incentivo os membros da Juventude Masculina, plenamente integrados no “sonho das Con-ferências”, oferecendo provisoriamente a sua sede para a confecção da sopa.

NaquadradeS.Miguel,emOutubrode1949,proporcionou-seaofertadegéneros necessários para a sopa: feijão, batata, legumes, abóboras, milho… tudo a sopa aceitaria, e os pobres agradeciam.

A sopa continuaria porque o lume não se apagaria na lareira dos bons corações. (Relatório da Conferência Vicentina de Fânzeres – 1950)

O desemprego, o aflitivo aumento do custo de vida, a ausência da reforma e a doença que por vezes vem para ficar, tudo associado à crise económica que a todos atinge, levaram à miséria de muitos lares, onde faltava quase tudo. A sopa dos pobres da nossa Conferência foi uma resposta para todos aqueles a quem não comove a ideia de que há irmãos nossos que nem sequer têm uma sopa e uma fatia daquele «pão-nosso de cada dia» que a ninguém deve escassear. A caridade, a justiça e a defesa social impõem-nos como uma indeclinável obrigação que acudamos aos mais necessitados, levando um pouco de paz às suas vidas complicadas e difíceis, um pouco de alegria aos seus lares sombrios. Não se pode dizer justa uma socie-dade que deixa sem pão muitos dos seus membros e que deixa persistir as mais profundas desigualdades económicas.

—josé mota

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JUNTO DOS DOENTES E IDOSOS…DIA PAROQUIAL DO DOENTE

Na tentativa de minorar o sofrimento e a solidão de centenas de doentes e idosos que vivem na freguesia, as duas Conferências celebram em conjunto, desde o ano de 1987, o Dia do Doente e do Idoso, um dia que se pretende marcado pela união e pela ajuda aos irmãos, principalmente os que estão doentes em suas casas, em lares ou nos hospitais.

Na celebração deste dia estão envolvidos não só os familiares dos doentes ou os Vicentinos que preparam o pequeno-almoço, a eucaristia e as visitas da parte da tarde, mas também a Equipa dos Ministros Extraordinários da Comunhão que visitam os doentes acamados e os ajudam a transportar para a celebração da euca-ristia na Igreja Paroquial.

PROGRAMADIA PAROQUIAL DO DOENTE E DO IDOSO

• 9:30horas • Pequeno-almoçoparaosDoentes • SalãoParoquialFânzeres.• 11:00horas • EucaristiacomDoenteseIdosos • IgrejaParoquial.• 15:00horas • VisitaaDoentesemsuascasas.

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JUNTO DOS DOENTES E IDOSOS…CONVÍVIO DOS IDOSOS

Monte de Stª Luzia, em Viana do Castelo; Seminário Missionário Padre Dehon, na Portelinha; Sameirinho, em Penafiel; Parque de S. Roque, no Porto; Casa do Gaiato, em Paço de Sousa; Santuário do Menino Jesus de Praga, em Avessadas; Escola de Montezelo, em Fânzeres; Monte na Cal, em Fânzeres; Centro Dehoniano de Betâ-nia, em Duas Igrejas; Associação Nuno Silveira, em Fânzeres; Sede dos Escuteiros de Fânzeres… foram, em anos consecutivos, ponto de encontro de centenas de idosos naquela que era uma das mais envolventes actividades promovidas pela Conferência Vicentina de Fânzeres e ao mesmo tempo uma das que tinha maior visibilidade – o Convívio de Idosos de Fânzeres.

Músicas, danças, jogos populares, oração e lanche faziam destes convívios verdadeiros momentos de encontro, animação e convívio.

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JUNTO DOS DOENTES E IDOSOS…VISITA SEMANAL A DOENTES E ACAMADOS

Tendo os Vicentinos como missão “Servir os pobres e os mais fragilizados”, con-tribuindo de forma solidária para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e comunidades, todos nós, Vicentinos da Conferência de Fânzeres, tentamos privi-legiar o contacto com os mais frágeis e desprotegidos da sociedade, os doentes e acamados que estão por vezes tão sós ou, na pior das hipóteses, sozinhos, porque esquecidos da comunidade.

Visitar um doente nem sempre é fácil, mas torna-se uma tarefa muito gra-tificante podermos de certa forma contribuir para a promoção e valorização da pessoa humana, sendo também possível, através das visitas que diariamente rea-lizamos no domicílio dos doentes e idosos assistidos pela Conferência, crescermos como pessoas, sentindo-nos realizadas, quer a nível pessoal, quer a nível cristão e vicentino, sempre com a preocupação de que o doente está em primeiro lugar e necessita da nossa visita.

Para todos nós que visitamos regularmente doentes, muitos deles acama-dos ou bastante debilitados, é sem sombra de dúvida uma experiência enriquece-dora estar junto deles, na medida em que minoramos a sua solidão e, através do contacto pessoal, de uma palavra ou de um gesto amigo, aliviamos um pouco a pesada cruz da doença.

O Voluntariado é uma realidade consoladora.Descobri esta verdade quando entrei para a Conferência do Divino Salvador de Fânzeres. Nesta aventura de “ser Vicentino”, descobri que o nosso relacionamento com o próximo é sempre uma projecção do nosso «eu»; é preciso, portanto, que tenhamos apreço e amor à nossa condição humana a fim de projectarmos esse mesmo sentimento sobre os outros. Os neuróticos ou os frustrados não sabem, na maior parte das vezes, o que é amar, uma vez que o seu íntimo só conhece amargura, rancor, pessimismo. E o amor é precisamente o con-trário: é mansidão, doçura e esperança sempre renovada.

— catarina neves

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JUNTO DOS DOENTES E IDOSOS…VISITAS A DOENTES NO 1.º DOMINGO DE CADA MêS

“Ser velho não é o contrário de ser jovem. Envelhecer é simplesmente passar para uma nova etapa da vida, que deve ser vivida da maneira mais positiva, saudável e feliz. É preciso investir na velhice como se investe nas outras faixas etárias”.

É com este pensamento e com o lema “estar mais perto dos que estão sós” que a Conferência do Divino Salvador de Fânzeres tem investido na equipa de visita aos doentes e idosos, com empenho e solidariedade, a pensar nos doentes e idosos da freguesia, a pensar em todos aqueles que viveram mais ou menos bem, mas agora, numa situação de doença ou devido à idade avançada, estão diaria-mente sozinhos ou esquecidos da sociedade.

Os doentes e idosos precisam de nós! Precisam de interlocutores aten-tos que os ouçam, para que se sintam amados, acompanhados e compreendidos. Nesse sentido, em cada visita que realizamos nestes primeiros domingos de cada mês, pretendemos sempre levar um sorriso, um carinho, uma palavra amiga a quem mais dela necessita, seja o doente ou idoso visitado, seja o próprio familiar que necessita, na maior parte das situações, do nosso apoio, não apenas instru-mental, mas acima de tudo um apoio humano, solidário, emocional…

Os idosos e doentes necessitam e apreciam as nossas visitas. Em geral, gostam de parti-lhar as suas vivências, contando-nos as experiências por que passaram ao longo da sua vida. Fazem-no com saudades e um brilhozinho nos olhos, relembrando os bons e os maus tempos passados. E precisam de ouvintes. Num mundo em que todos andamos demasiado preocupados com o dia-a-dia, por vezes, esquecemo-nos de como é importante aproveitar o tempo com todos os de quem gostamos. Em particular, devemos dar atenção aos mais velhos e doentes, aqueles que, de acordo com a lei da vida, menos tempo teremos para con-viver. Daí a importância destas visitas.

— laurinda garrido

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TESTEMUNHOS DE VIDA …“SERVIR O POBRE”

Aos 15 anos fui convidado pelo Sr. Castro Neves e pelo Sr. Hernâni a fazer parte da Conferência de S. Vicente de Paulo. Para mim, tal convite foi uma honra. Comecei por, na zona onde morava, fazer uma cobrança mensal para a ajuda dos pobres.

Cedo me apercebi de que estava no lugar certo, pois sentia que podia e devia contribuir para a missão de ajudar os pobres, o princípio base das Confe-rências Vicentinas. Tínhamos reuniões semanais, à segunda-feira à noite no Salão Paroquial, que contavam sempre com o Assistente Espiritual, o Rev. Padre Manuel Rebimbas. Recordo com muita saudade as visitas que fazíamos ao Santíssimo Sacramento antes de subirmos para o Salão.

Em 1967, fui convidado pelo Conselho Particular de Gondomar, presidido pelo Sr. Serafim Marques, a participar num encontro internacional de jovens Vicentinos em Lisboa, encontro este que me marcou profundamente, na altura como jovem e como confrade e, mais tarde, como homem.

Cedo cheguei a Presidente da Conferência de S. Vicente de Paulo. Achava que era muito cedo para tal cargo, mas o Senhor sabe o que faz. Dei o meu contri-buto como podia e sabia.

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Entretanto, também fui Presidente do Conselho Particular de Gondo-mar. Aí, deparei-me com dificuldades em algumas tarefas, pois os Vicentinos das outras Conferências eram todos pessoas com muita idade. A Conferência do Divino Salvador de Fânzeres foi sempre vista como líder em fermento. Graças ao apoio e ao testemunho de vida dos confrades que hoje já estão na mão de Deus, levei a minha missão avante. Lembro com saudade o Sr. Castro Neves, o Sr. Mou-tinho de Manariz, o Sr. Faria das Regadas, o Sr. Ribeiro da Cal, o Sr. Américo Mar-ques, o Sr. Albino Russo, o Sr. José Martins e tantos outros.

Tivemos um serviço na paróquia que foi magnífico para a época: era a cha-mada “sopa dos Pobres”. Foi cozinheira a Senhora Lurdes da Rua da Igreja, pessoa briosa e responsável, já que era exigente nos conteúdos para a confecção da sopa. Alguns confrades achavam que para os pobres qualquer coisa servia…

Lembro com carinho as visitas à Senhora Aninhas, que aconteciam à terça--feira, todas as semanas. Ela esperava-me com uma luz de vela à janela e no final dava-me sempre uma maçã, isto até à sua morte. Quando eu era criança, transpor-tava carvão que os meus pais vendiam até casa dela e ela recompensava-me sempre com uma maçã. Julgo que sempre me viu como um menino e por isso sempre me ofereceu a maçã… Bons tempos.

Uma outra ocasião fui convidado, com a minha mulher, para padrinho de baptismo do filho de uma família carenciada que visitava com frequência e com quem criei laços de amizade. Hoje têm uma vida estável.

— fernando faria

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APOIO A FAMÍLIAS CARENCIADAS…VISITAS DOMICILIÁRIAS

Todas as acções, levadas a efeito pelo homem, que contribuam para o bem-estar social e comunitário, são sempre necessárias e apreciáveis! Muito mais se tornam quando se revestem de sentido de missão e espírito de serviço aos outros, neste caso, os mais pobres, os carenciados, os mais excluídos da sociedade…

Os mais pobres não podem ser vistos apenas com os olhos, um abanar de cabeça, uma expressão de pena ou uma palavra de reprovação; é preciso vê-los também com o coração e esta visão realista, ponderada e reflexiva implica estar atento ao que se passa à nossa volta, ver os pobres e os mais desprotegidos como seres sociais e sociáveis que fazem parte integrante de uma comunidade ou socie-dade. Nesse sentido, os Vicentinos privilegiam em primeiro lugar as visitas domi-ciliárias, lá, na casa do pobre, onde o cheiro é mais intenso, a pobreza está mais perto e as carências são mais notórias.

No nosso dia-a-dia vicentino, vamo-nos deparando com muitos casos dramáticos de pobreza, carências materiais e espirituais que, com um verdadeiro espírito de volunta-riado e amor ao próximo, vamos minorando e resolvendo, muitas vezes com o empenho sincero e amigo de todos os elementos da Conferência, também dos nossos familiares e, seguramente, com a orientação e inspiração de Deus. Sinto-me por vezes totalmente impotente para resolver certas situações, mas, como as pes-soas aprendem mais com os olhos do que com os ouvidos, há que ensiná-las mais com o exemplo do que com os conselhos. Nesse sentido, arregaço as mangas e deito mãos à obra… Foi esta a forma por mim encontrada para ajudar o outro a sair da pobreza em que vive e a procurar viver com a qualidade de vida que merece. Incentivando as pessoas a lutar por uma vida melhor, tendo sempre presente o respeito, a confiança, a amizade e o amor, estamos a ensinar cidadania. A Conferência Vicentina está sempre de braços abertos para poder ajudar todas as pessoas nesta aventura que é viver.

— fernanda baptista

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APOIO A FAMÍLIAS CARENCIADAS…ENTREGA DE GÉNEROS ALIMENTARES

Fome significa não dispor da variedade suficiente de alimentos necessários ou em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades nutricionais. A fome é um problema de todo o mundo. Em todos os países e regiões existem pessoas que não têm alimentos suficientes. Infelizmente, é correcto afirmar que também em Fân-zeres se passa fome.

Ao longo de toda a sua existência, a Conferência tem distribuído milha-res de toneladas de géneros alimentares, não como forma de acabar com a fome, pois no dia seguinte ela volta a surgir, mas como forma de a minorar. É impossí-vel separar a exclusão social, a fome e a pobreza, uma vez que estão intimamente ligadas, sendo cada uma causa e consequência da outra. Neste momento, preocu-pamo-nos mais com a entrega de géneros alimentares do que com a atribuição de ajudas monetárias.

Dramas pessoais, situações de desemprego, doença, baixas pensões, aci-dentes de trabalho, doenças, inadaptações… são alguns dos problemas que afec-tam milhares de pessoas e a razão para as levar, na maior parte das vezes, a passar fome. No dia-a-dia da Conferência Vicentina, nunca nos poupamos, por isso, a qualquer esforço nem hesitamos nunca perante alguém que nos estende a mão e diz: “tenho fome”.

Ser Vicentino é viver o amor… O amor que é dádiva que se vive no dar-se e que é a melhor forma de receber de nós… dando-nos aos outros. É este o sentido da caridade vicentina, é este o espírito que nos leva a casa do pobre: aquele que não tem dinheiro, que passa fome, que não tem trabalho, ou que nem casa tem e vive numa barraca como um bicho; aquele que tem trabalho, mas não quer trabalhar, que não quer saber se os filhos andam ou não na escola; aquele que está doente e não tem uma visita; aquele que está só; aquele que tem dinheiro, mas não tem ninguém; aquele que tem tudo, mas a sua vida é um constante sabor a angústia. É a este, a estas pessoas, que o Vicentino, antes de mais, se leva a si próprio, e é desse, dessas pessoas, que recebe mais do que deu.

— conceição faria

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APOIO A FAMÍLIAS CARENCIADAS…DISTRIBUIÇÃO DE GÉNEROS DA C.E.E.

Assumir a entrega dos géneros excedentários da Comunidade Económica Euro-peia foi uma forma de mostrar como é possível à Igreja e aos cristãos fazerem bem o serviço aos outros e ajudarem o Governo a dar cumprimento ao seu objectivo de Apoio Social aos que dele carecem.

Dezenas de toneladas de leite, azeite, manteiga, queijo, arroz, bolachas, massas… foram, por intermédio das Conferências Vicentinas, distribuídos por inúmeras famílias pobres de Portugal.

Como não podia deixar de ser, a Conferência do Divino Salvador de Fânze-res, talvez por o seu Presidente, o Vicentino José Garrido, ser também o Presidente do Conselho de Zona de Gondomar, foi, durante quatro ou cinco anos, a grande dinamizadora da entrega destes géneros excedentários da Comunidade Europeia, não só pela freguesia de Fânzeres, mas por todo o Conselho de Gondomar. De salientar o grande apoio da Câmara Municipal de Gondomar e da Junta de Freguesia de Fânzeres na cedência de motoristas e camiões para o transporte destes géneros.

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APOIO A FAMÍLIAS CARENCIADAS…OFERTA DE CABAZES DE NATAL

“… Não imaginam o quanto este cabaz me vai fazer jeito. Nunca pensei que se lembrassem de mim. Agora, sim, posso dizer que vem aí o Natal…”

Na tentativa de proporcionar um Natal diferente a quem tem dificuldade em fazer Natal, a Conferência de Fânzeres oferece na altura da quadra natalícia um Cabaz de Natal a algumas famílias carenciadas ou a viver dificuldades financeiras. O número de cabazes entregues varia de ano para ano, conforme o número de famí-lias assistidas ou o número de pessoas que recorrem à Conferência a solicitar este tipo de ajuda.

Ser Vicentino é tentar traduzir em actos o que é na consciência da fé cristã o espírito da caridade, o íntimo desejo de participar pessoal e directamente no serviço dos pobres, privi-legiando o contacto pessoa a pessoa e traduzindo o Evangelho e a mensagem de Jesus Cristo para o quotidiano.A nossa principal actividade é a visita aos que, pelos mais diversos motivos, carecem de auxílio. Onde existe alguém com necessidade de apoio moral ou material, aí está um campo de acção vicentina. O apoio à terceira idade, tomando a seu cargo toda a ajuda de que carecem; o apoio à infância e às crianças em perigo moral ou social; o apoio a desem-pregados ou a grupos sociais de marginalizados, promovendo a sua reinserção na socie-dade e, acima de tudo, a ajuda às famílias que de todas as formas carecem de solidariedade são o dia-a-dia das Conferências Vicentinas.

— rosalina gonçalves

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APOIO A FAMÍLIAS CARENCIADAS…PAGAMENTO DE MEDICAMENTOS E PRÓTESES

“… Porque não esqueço quem precisa, e está por vezes em pior situação do que eu, remeto de todo o coração para a Conferência a quantia de 20,00 Euros, que podem ser utilizados para aquisição de medicamentos, para quem necessitar”.

“… Muito obrigado! Não sei o que seria de mim sem a vossa ajuda. O dinheiro da reforma mal dá para pagar a renda, a luz e a água. Para comer e medicamentos lá me vou arran-jando conforme posso ou conforme me ajudam.”

Estes dois testemunhos, importa confessá-lo, reais, demonstram de forma clara e inequívoca o que é a realidade do dia a dia da Conferência Vicentina e convocam--me para a reflexão sobre a dificuldade de tantos doentes, reformados, idosos ou famílias numerosas no acesso aos cuidados primários de saúde, higiene ou artigos ortopédicos. Como deve ser difícil, a par das dificuldades da vida, não ter meios para comprar um simples medicamento, um aparelho ou um artigo ortopédico que podem fazer toda a diferença, pois são por vezes tão necessários para melho-rar a qualidade de vida de um doente.

A Conferência dispõe no seu património de 6 camas articuladas, 8 cadeiras de rodas, 3 andarilhos, 2 cadeiras de serviço e diversas canadianas, apesar de nada estar guardado no armazém, pois tudo está emprestado a famílias necessitadas.

O empréstimo de cadeiras de rodas e camas articuladas é uma necessidade constante, mas, por vezes, não conseguimos dar resposta favorável… tudo é tão caro.

Nunca a história da humanidade melhor se exprimiu do que nestas simples palavras: Amar a vida é amar os outros. A caridade é vida e projecção humana ao serviço do bem. É força permanente, é impulso de amor para libertar os mais sobrecarregados. Amar a nossa vida é dever; amar a vida dos outros é caridade. Quando vejo muita riqueza e no campo oposto a pobreza, só vejo uma solução: a Caridade.

— ana andré

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APOIO A FAMÍLIAS CARENCIADAS…OFERTA DE MOBILIÁRIO

Na sociedade actual, onde diariamente se ouvem apelos de solidariedade e igual-dade entre todos, ainda podemos assistir a alguns gestos de solidariedade… Pes-soas que, felizmente, não ficam indiferentes e se preocupam com a qualidade de vida das pessoas mais desfavorecidas. É graças a estes sentimentos e gestos que chegam por vezes à Conferência Vicentina diversas ofertas de móveis, objectos e electrodomésticos que, apesar de já não servirem para uns, porque ainda se encon-tram em bom estado, são de muita importância para outros.

São inúmeras as pessoas anónimas necessitadas e há, inclusivamente, Téc-nicas do Serviço Social da Segurança Social ou de outras Instituições que constan-temente se dirigem à Conferência a solicitar móveis ou electrodomésticos para alguns dos seus utentes. A todos ofertamos o que temos e, em tantas outras vezes, arregaçamos as mangas e… aventuramo-nos a pedir.

Na melhor tradição cristã, é fundamental que vivamos um oferecimento que seja verda-deira caridade. Não é tanto Jesus Cristo que precisa das nossas ofertas, mas os homens e mulheres que ele veio salvar e a quem devemos gestos de gratuidade e solidariedade.

— cátia teixeira

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APOIO A FAMÍLIAS CARENCIADAS…PAGAMENTO DE LUZ, ÁGUA E RENDAS

Um jovem pai que ajudámos no pagamento da mensalidade da sua casa ao banco, veio agradecer a nossa preciosa ajuda. Os filhos, menores de idade, aparentavam um ar triste, sério… Tudo estava ainda tão presente, uma vez que a sua esposa tinha morrido no mês anterior vítima de cancro e sentia-se um pouco desorientado. Este pai, desempregado, não sabia para onde se virar, como fazer face às despesas quotidianas. Se não fosse o volumoso compromisso bancário, todos os meses, a sua vida correria pobre, mas sem aflições. Com as despesas a avolumar-se, a prestação do Rendimento Mínimo não dava qualquer ânimo para olhar a vida com esperança. A nossa ajuda no pagamento da renda ao banco tinha sido crucial. Agradecia do fundo de coração a ajuda prestada, mas agora tinha de ser ele mesmo a fazer face à vida. “Muito obrigado. Não mais vos esquecerei”, disse-nos, com gra-tidão no olhar.

— amélia ferreira

Pediram-nos, envergonhados, que lhes déssemos mais um amparo. Eram as facturas da água e electricidade, rondando, na totalidade, 70 euros, em risco de não conseguirem pagar para manterem este bem. Precisavam de ajuda… “só este mês”.

Outra mulher, em situação de dificuldade, com o marido há vários meses sem receber ou recebendo, por vezes, o ordenado em valor reduzido, mãe de quatro filhos, dois deles doen-tes, também ela o ganha-pão da família, pelo valor mínimo oficial. Com ela trazia a fac-tura da água e electricidade em falta…

Em cada quinzena aparecem-nos situações idênticas a esta, algumas delas reinci-dentes. Tentamos ajudar sempre na medida das nossas possibilidades. Por norma, nunca pagamos cortes de luz ou água e temos verdadeira dificuldade em pagar rendas ao banco, devido aos valores elevados. Procuramos, porém, ajudar na ten-tativa de aliviar um pouco as dificuldades de quem precisa.

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APOIO A FAMÍLIAS CARENCIADAS…DISTRIBUIÇÃO DE ROUPAS E BRINQUEDOS

Receber e oferecer roupas e brinquedos é quase o dia-a-dia da Conferência Vicen-tina, tal a quantidade de sacas de roupas e brinquedos que constantemente nos são oferecidas e que, depois de seleccionadas e preparadas, são entregues a quem delas necessita.

Ninguém imagina, a não ser que tenha a felicidade de estar presente, a ale-gria de uma criança quando recebe um brinquedo, mesmo que usado, ou o olhar de gratidão de alguém que recebe uma peça de roupa, se devidamente lavada e arranjada.

A felicidade está mais em dar do que em receber. Esta frase que não vem nos Evangelhos, mas que S. Paulo coloca na boca de Jesus, poderá parecer bonita, mas pouco adequada à mentalidade de hoje, a não ser quando queremos despachar algo que já não utilizamos. O amor ao próximo anda um pouco distante das ruas das nossas cidades e mais distante ainda dos nossos corações.Todos esperamos mais receber do que dar. Damos o que nos sobra ou não nos faz falta, damos o que temos, damos com a intenção de fazer caridade… mas, por vezes, damos coisas em tão mau estado que melhor seria se as deitássemos no lixo… não nos damos verdadei-ramente. Claro que não é por mal. Aliás, todos desejamos ser um pouco melhores, nem que seja para aliviar um pouco a nossa consciência. O problema é que a bondade não se deixa emoldurar por quadros ou quadras que a limitem. Somos, sem muitas vezes darmos conta, vítimas dos interesses egoístas de outros poderes e valores que deixaram de acreditar nas palavras de Jesus: “Ama o próximo como a ti mesmo”.Aprendemos a viver em sociedade mas não em comunidade: a sociedade é gerida por leis, a comunidade é gerida pelo amor. E, no entanto a felicidade está em dar. E todos sabemos por experiência que só o dom e o serviço com amor dão sentido à vida e nos fazem mais felizes.

— paula teixeira

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APOIO A FAMÍLIAS CARENCIADAS…AUXÍLIO NA EDUCAÇÃO

O nosso tempo apresenta problemas radicalmente novos e desafios nunca antes conhecidos, experimentando mudanças aceleradas e que têm reflexos em todos os domínios da actividade humana. Esta situação, tão complexa e tão cheia de incóg-nitas, exige de todos maior e melhor participação, tendo em vista o aparecimento de formas de intervenção mais adequadas e mais eficazes.

A escola reflecte todas as contradições do nosso tempo e das nossas socie-dades, mas reflecte também a esperança de tornar as crianças e os jovens mais cultos e mais aptos a imaginarem o futuro, a recriarem o mundo.

Ajudar um aluno com dificuldades, dar-lhe explicações, oferecer-lhe os livros que os pais não podem comprar, pagar despesas de educação e deslocação para a escola, incentivar os alunos a terminarem os seus cursos ou ciclos escolares, são propostas aliciantes na actividade vicentina, não só pela participação e cola-boração na educação de um futuro adulto, mas pelo incentivo de ajudar alguém a formar-se.

Sempre que disponibilizamos uma verba para pagar os estudos, os livros ou o material escolar de uma qualquer família, estamos a contribuir para melho-rar o futuro de alguém, quem sabe, alguém que precisa de ter futuro.

Percebi que neste mundo carregado de incoerência, de contradição, onde o homem mata outro homem, onde tanta gente passa fome ou vive em condições muitas vezes desumanas, onde se troca o amor e a paz pelo ódio e a violência e tudo é pago com juros, ainda existe alguém que sem interesse sorri, sem cobrar impostos e buscar recompensa dá tudo o que tem, até ao ponto de ficar de mãos vazias. Na Conferência de S. Vicente de Paulo descobri e confirmei que Deus realmente existe…

— paula vilhena

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TESTEMUNHOS DE VIDA …“O MEU TRABALHO NA CONFERêNCIA DE FÂNZERES”

Não escolhi, nem recebi jamais, preparação para a vida que hoje tenho, que é tra-balhar na Conferência. Mas não ficaria com a minha consciência tranquila se não falasse dos meus pais, antes de falar de mim. Foram eles que me fizeram assim como sou.

Desde criança, com os meus sete anos de idade, que via a Conferência a sobreviver com a ajuda dos subscritores e eu, juntamente com os meus irmãos e orientados pelo meu Pai, fazíamos os bilhetes (quotas) e todos os meses íamos a casa dos subscritores receber a quantia que eles tinham para dar. Assim, fui-me habituando a saber pedir em prol dos outros.

Observava o meu Pai, que ia um dia por semana, à noite, à reunião da Con-ferência e junto com outros amigos tentava resolver casos e ajudar os mais caren-ciados. Depois, em casa, conversava com toda a família e dizia-nos que tínhamos de fazer algo pelos outros, tentar angariar mais assinantes.

O tempo foi passando. Cresci e crescemos envolvidos no trabalho; depois, com os filhos de alguns amigos, criámos um grupo de jovens, para que pudésse-mos manter todo este percurso que os mais velhos tinham feito. Então, começá-mos por participar nas reuniões com os adultos. Contudo, antes de começar as reuniões, passávamos pela igreja para que cada um rezasse ao Santíssimo Sacra-mento e pedisse para que o nosso trabalho fosse bem encaminhado.

A sala da reunião ficava por cima da igreja e, assim, criámos um grupo de Jovens. Criámos amigos, fizemos convívios, arranjámos equipamento para uma equipa de futebol e começámos a realizar encontros em várias freguesias, Gaia-tos, Perosinho, etc. Como éramos muitos, dividíamo-nos em grupos para visitar os doentes em centros e fazer visitas domiciliárias, entre outros. E, assim, demos continuidade à Conferência. Hoje já não existem assinantes, mas temos outra forma de angariar fundos que é pedir ajuda sem ser assinante; é uma forma de sen-sibilizar para a necessidade de continuar a ajudar sem cruzar os braços.

Quando penso nas pessoas que fomos ajudando ao longo do tempo, vem-me à memória o internamento de duas meninas na casa Mãezinha, em Avin-tes – Granja. Os pais eram alcoólicos, andavam metidos na droga e davam mau viver às crianças. Duas meninas do casal ficaram ao encargo da Conferência, mas eram visitadas pelos pais, até um certo tempo. Após um ano, vieram embora, já que os pais tinham arranjado uma casa para viverem. Contudo, a vida desta famí-lia continuou a mesma miséria. Nada mais pudemos fazer, porque o casal era novo e as ajudas da Conferência nunca foram destinadas à criação de vícios. Por isso, o casal teve que dar um outro rumo à sua vida.

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Outra situação que me marcou igualmente, embora bastante mais triste, foi a de um homem de meia-idade, casado, sendo mais velho que a mulher cerca de 10 anos e com três filhos. Este casal vivia no centro da cidade do Porto, mas, devido a dificuldades financeiras, tiveram de abandonar a casa onde viviam e vieram morar para uma casa na minha rua, uma vez que a renda era bastante mais barata.

Desiludido com a vida, este senhor começou a criar hábitos alcoólicos e, em pouco tempo, a esposa, que entretanto tinha arranjado um outro compa-nheiro, abandonou a casa, juntamente com os três filhos, deixando o marido sozinho. Foi este um motivo e um pretexto para o senhor se deixar dominar pela bebida e degradar ainda mais a sua vida.

A sua debilidade era bem visível e nós, Vicentinos, decidimos apoiá-lo com a entrega de géneros alimentares. Todavia ele chorava, dizendo que já não tinha família e quase deixou de querer viver, de cuidar de si e de dar um rumo à sua vida.

Contactámos um Centro Social e pedimos o seu internamento… Sabíamos que aí ele teria um pouco mais de atenção, de aconchego, de qualidade de vida. Deram-nos luz verde e passado meio ano este senhor deu entrada no Centro de Dia, ficando as visitas ao encargo de três elementos da Conferência: eu, a minha irmã Conceição e o Domingos.

Todas as semanas lhe fazíamos uma visita, apesar de ele nas primeiras semanas ter tido alguma dificuldade em se adaptar à rotina do lar e estar constan-temente e fugir do Centro.

Tudo mudou, porém, um pouco com a nossa ajuda e incentivo e ao fim de alguns meses este senhor já elogiava o Centro e agradecia o acolhimento e acom-panhamento. No dia em que nos comunicaram o seu falecimento, ao fim de sete anos de internamento, apesar de saber que estávamos perante um caso de sucesso, sentimos tristeza por saber que nos separávamos definitivamente de alguém que se tornou um amigo.

Contudo, todas estas aventuras e desventuras tornaram-nos mais fortes, porque só ajudando os outros sentimos vontade de continuar a servir o próximo. Embora,desde2004,devidoaumproblemadesaúde,mevejaimpossibilitadadeajudar por completo, dentro das minhas possibilidades continuo empenhada em ajudar e com a ajuda de alguns colegas Vicentinos vou dando o meu melhor… Não posso parar nem deixar-me abater, pois sinto que alguém precisa da minha ajuda.

— maria rosa faria

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“UM SIMPLES GESTO”

Abandonei a escola com a sexta classe, que era a escolaridade obrigatória. O meu pai estava numa cadeira de rodas, vítima de um acidente. Tive, por isso, de ir tra-balhar para ajudar nas despesas da casa… Esse motivo deu-me coragem e entendi que não devia ficar triste, devia era estar feliz, uma vez que tinha agora a oportu-nidade de fazer algo pelos meus pais. Eles tinham feito inúmeros sacrifícios por minha causa quando adoeci com uma doença nos pulmões. Fizeram o possível e o impossível e a prova disso é que fiquei curada. A vida não é só um mar de rosas, também tem espinhos.

Lembro-me de que ocupava os meus tempos livres na igreja, a mesma igreja onde fiz a minha primeira comunhão e a comunhão solene, num grupo de jovens Vicentinos. Formávamos a Conferência de Jovens Vicentinos, que tinha como Patrono S. João.

Como cantávamos nas missas de sábado ou domingo, animámos a missa do Crisma, celebrada pelo Bispo do Porto, missa em que recebemos com muitos outros jovens o Sacramento do Crisma.

Fiquei responsável por fazer uma leitura e, no final da celebração, o Bispo deu-me os parabéns. Fiquei muito contente; foi um incentivo, uma vez que eu gos-tava muito de ler e ia constantemente à Biblioteca levantar livros.

O nosso grupo de Jovens Vicentinos chegou a ter mais de cinquenta ele-mentos. Tínhamos reuniões de leitura, fazíamos visitas aos doentes e, aos jovens menos felizes, levávamos um pouco da nossa alegria.

Marcou-me profundamente o caso de uma jovem da minha idade que, ao fugir de um estabelecimento correcional, caiu e magoou-se com alguma gravi-dade. Como não tinha pais, ficou a viver com um irmão. Em grupo, fazíamos regu-larmente visitas a sua casa e, numa dessas visitas, ficámos a saber pela sua cunhada que no domingo seguinte era dia de aniversário… a menina ia fazer quinze anos. Não pudemos ficar indiferentes a uma família marcada profundamente pela dor e pelas dificuldades da vida. Falei com os meus colegas e resolvemos fazer uma festa surpresa, uma festa com bailarico e tudo. O bolo de aniversário foi oferecido pelo Presidente da Conferência e cada um de nós ficou responsável por levar qualquer guloseima. Numa sala ao lado e em segredo preparámos uma mesa com algumas iguarias e fomos para junto da menina fazer o bailarico. Ela assistiu à festa, sen-tada na sua cadeira de rodas. No momento em que começámos a cantar os para-béns e abrimos a porta para ela ver a mesa que lhe tínhamos preparado, chorou de alegria e todos nós também nos comovemos.

A possibilidade de andar pelo seu próprio pé, isso não lhe pudemos dar, mas aquele aniversário foi com certeza o mais marcante que ela teve na sua vida,

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pelo menos ela nunca mais o ia conseguir esquecer. O pouco que cada um levou e ofertou não custou muito, mas, à menina, encheu-a de alegria e felicidade.

E, apesar de esta menina ter feito sofrer bastante a sua família e ter tido um fim trágico, esta iniciativa e o dia do seu aniversário foram para nós um momento único de doação e entrega.

— rosa maria

“RECEBI MUITO MAIS DO QUE DEI”

Lá diz o ditado, e muito bem, que “o cantar quer hora”. Pois a escrita também. Principalmente quando se trata de uma pessoa de fino trato, como a minha que-rida D. Ivone. Tenho a sensação de que, por mais que diga, nunca direi o suficiente. Ficará sempre algo por dizer, porque os sentimentos vivem-se, sentem-se...

Logo no primeiro encontro, surgiu entre nós uma enorme empatia, e depressa a D. Ivone passou de “protegida” a amiga e confidente. Apesar da avan-çada idade, a D. Ivone é o tipo de pessoa para quem o tempo parece não passar. De espírito aberto e mente bem formada, esta senhora tem uma enorme capacidade de compreender os sentimentos dos outros, imaginando-se nas mesmas circuns-tâncias. Com facilidade se identifica com o outro, o que a torna capaz de o compre-ender emocionalmente.

As visitas feitas à D. Ivone são sempre muito enriquecedoras. Com elas fomos, ao longo destes anos, construindo uma amizade muito sólida e madura. Há entre nós uma cumplicidade que eu jamais imaginei que pudesse existir, tendo em conta a enormíssima diferença de idades e não só. À primeira vista, tudo leva a crer que existe um abismo de diferenças entre nós, no entanto, posso, com toda a sinceridade e certeza, afirmar que somos como duas almas gémeas. As nossas conversas são sempre muito intensas. Partilhamos alegrias e tristezas, lágrimas e sorrisos, trocamos opiniões, aconselhamo-nos mutuamente, falamos do tempo, da vida, das novelas, damos boas gargalhadas, enfim... são conversas para jovens dos 8 aos 80!

Para finalizar, resta-me dizer que a D. Ivone é uma pessoa intemporal! Com um enorme coração. Muito humilde e sempre muito grata a tudo e a todos. Com uma fé inabalável capaz de mover montanhas. E de uma generosidade como poucos. Apesar das suas dificuldades físicas e económicas, está sempre pronta a repartir o pouco que tem. Mesmo em momentos menos bons, raramente se lamenta, tem sempre uma palavra amiga e reconfortante para dar e o seu “ombro amigo” está sempre disponível para quem nele quiser recostar a cabeça.

— paula vilhena

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FORMAÇÃO CRISTÃ E VICENTINA…EDIÇÃO DO JORNAL “BOM SAMARITANO”

A informação ocupa hoje um lugar importante no desenvolvimento económico, social e cultural de qualquer sociedade ou comunidade. Sabemos que, sem uma verdadeira informação, não pode existir uma autêntica participação de todos, no nosso caso, no desenvolvimento e na actividade da nossa Conferência do Divino Salvador de Fânzeres.

Para tal, ao editar o jornal “Bom Samaritano”, alargado a toda a comunidade, pretendemos mobilizar e sensibilizar todas as pessoas para os problemas, dificul-dades e trabalhos que de algum modo afectam a nossa Conferência Vicentina.

Com uma tiragem de 1000 exemplares, o “Bom Samaritano”, nascido no mês deSetembrode1984,jánasua56ªediçãoesemdataparaterminar,pretendeserumelo de ligação, formação e informação entre os Vicentinos e toda a comunidade.

JornalN.º1–Anode1984 JornalN.º56–Anode2012

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FORMAÇÃO CRISTÃ E VICENTINA…LIVRO DE MEDITAÇÕES NA REUNIÃO

Artigo18.º -Aprimeirapartedareuniãoédedicadaaumareflexãocomunitáriaapresentada por qualquer dos membros e inspirada nas escrituras, nos ensina-mentos da Igreja, nos pensamentos de S. Vicente de Paulo ou Frederico Ozanam, em temas sugeridos pelo Conselho Nacional ou por outros Conselhos, ou ainda em factos da vida quotidiana com especial relevância para a actividade vicentina.

(Da Regra da SSVP – Portugal)

Fruto desses momentos de reflexão, em que cada Vicentino é responsável por orientar a meditação no inicio de cada reunião, fizemos uma recolha de textos mais marcantes e significativos na vida de cada Vicentino, recolha que deu origem a um livro de orações, reflexões e meditações da Conferência.

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FORMAÇÃO CRISTÃ E VICENTINA…PEREGRINAÇÃO VICENTINA A FÁTIMA

Já faz parte do programa de actividades da Conferência de Fânzeres a Peregrinação Nacional Vicentina a Fátima, organizada pela Sociedade S. Vicente de Paulo. Pere-grinar, rezar e conviver preenche com elevado proveito espiritual o terceiro fim--de-semana de Abril, data habitual da peregrinação.

Renuncio à tentação de falar do valor de uma peregrinação a Fátima, porque perceber o valor de peregrinar com Maria é uma questão pessoal... Só lá, ouvindo ao mesmo tempo o silêncio, o vento, o som da Avé-Maria é que podemos sentir-nos peregrinos.

Vivemos tempos difíceis, todos o sabemos, mas nada melhor do que pedir a bênção da Virgem, para nos fortalecermos na nossa fé e no amor ao próximo. Na saudação a Maria que inicialmente fazemos na capelinha das Aparições, afirmamos, perante a imagem da Virgem, que a queremos saudar como mãe de Jesus, mãe da Igreja e Mãe da Sociedade S. Vicente de Paulo. A peregrinação é um momento de união de todos os Vicentinos. No San-tuário deixamos para trás os nossos egoísmos e em conjunto oramos a Maria, para que Ela nos ilumine de forma a fazermos frente às inúmeras situações com que nos confrontamos todos os dias. Na peregrinação Vicentina, em que participo há mais de vinte anos, levo constantemente as preocupações de todos os Vicentinos de Fânzeres e peço confiadamente à Virgem Maria que nos ajude a viver e a servir com fervor a nossa vida de Vicentinos junto dos mais carenciados.

— domingos costa

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FORMAÇÃO CRISTÃ E VICENTINA…ENCONTROS DE FORMAÇÃO E REFLEXÃO

Artigo103.º–Fielàtradição,cadaConselhoquetenhaConferênciasdirectamentedependentes deve organizar, pelo menos duas vezes por ano, reuniões que congre-guem os Vicentinos da área coordenada.

Artigo104.º–AsAssembleiasRegulamentaresdevemrealizar-se,segundoatradi-ção, na altura da festa da Imaculada Conceição (8 de Dezembro) e na data da come-moração litúrgica de S. Vicente de Paulo (27 de Dezembro).

Artigo 105.º – Cada Assembleia deve constar fundamentalmente de duas partes,uma destinada à oração e reflexão e outra de índole formativa e informativa sobre a acção e o espírito da Sociedade.

A capacidade de orar e escutar de um Vicentino depende da necessidade que ele sente para parar, reflectir e se procurar encontrar. Os encontros de formação e reflexão, tal como o nome indica, são sempre um tempo propício à reflexão, à par-tilha, ao convívio e à formação. Só quem vive com o coração silenciado será capaz de acolher e escutar também os outros, sobretudo os mais necessitados, tornando--se solidário das suas tristezas e esperanças, alegrias e angústias.

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FORMAÇÃO CRISTÃ E VICENTINA…ACTIVIDADES PAROQUIAIS E VICARIAIS

Na agenda dos homens, das instituições e da própria Igreja, registam-se aconteci-mentos de tal relevância que seria impensável relegá-los para os espaços das páginas em branco, desprovidos de qualquer referência e associação fenomenológica. São marcos que assinalam o dia-a-dia e o pulsar das instituições e nos despertam para a necessidade de marcar presença, dar o nosso contributo, apoiar e testemunhar.

Por isso, estes encontros, reuniões, convívios e assembleias são celebrados e preparados com tonalidades mais ou menos festivas a diversos níveis, mas que implicam sempre a presença de todos aqueles que fazem parte das diversas asso-ciações e instituições.

Neste contexto, a Conferência Vicentina de Fânzeres procura sempre, na medida da possibilidade e disponibilidade dos seus membros e da sua actividade, marcar presença nos diversos acontecimentos Paroquiais, Vicariais ou Diocesanos.

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TESTEMUNHOS DE VIDA …“A MINHA CAMINHADA VICENTINA”

Desde muito nova que ouvia falar, em minha casa, nas Conferências de S. Vicente de Paulo, pois o meu Pai foi Vicentino durante muitos anos. Não sei se por obra do destino, tudo começou no dia em que um tio doou toda a sua riqueza ao convento das Irmãs Vicentinas, convento que o acolheu até ao dia da sua morte.

A partir desse dia, este gesto de ajuda para com os outros marcou-nos profundamente e ficou enraizado na minha família, algo que realmente perdura até aos dias de hoje… a prova viva do valor deste testemunho somos eu e a minha irmã.

Entretanto, a saúde do meu Pai foi-se deteriorando e já não lhe era permi-tido cumprir as obrigações de Vicentino, pois tinha dificuldade em se deslocar, sendo substituído pelo meu irmão José. Passado algum tempo, esse meu irmão foi participar num Congresso Nacional de Jovens Vicentinos na Casa de Vilar, no Porto, e eu ia sentindo o entusiasmo, tanto do meu pai, como do meu irmão, em favor dos mais carenciados.

Como na paróquia existiam a Conferência Masculina e a Feminina, o pre-sidente da Conferência Masculina, à qual o meu irmão pertencia, convidou-o a formar uma Conferência mista de Jovens Vicentinos, pedido ao qual ele acedeu prontamente. Foi a minha oportunidade de entrar para a Conferência… e aí come-çou a minha caminhada vicentina. Além das reuniões, todas as segundas feiras, fazíamos visitas aos doentes; quando algum protegido precisava de limpeza na sua casa ou de qualquer outro tipo de ajuda, formávamos uma equipa e fazíamos o que era necessário para suprimir as carências e dificuldades dessa família. Pos-teriormente, formámos um grupo coral e de leitores para colaborar e participar nas missas dominicais das 8.00 horas da manhã. Nesta altura, a Igreja vivia um momento de renovação, devido ao Concílio Vaticano II… Foram anos em que vivi verdadeiros momentos de alegrias e alguns dissabores: era difícil viver e conviver com as situações de pobreza, mas rejubilava quando as pessoas que ajudava fica-vam mais felizes.

Nesta Conferência de Jovens, criámos também algumas actividades de animação, como a festa de Carnaval, actividade que se prolongou durante alguns anos. Foram momentos de muito divertimento, que fomentavam a ligação entre os elementos da Conferência e a comunidade.

Mais de vinte e cinco anos se passaram desde o momento que marcou a minha caminhada vicentina, entre os quais não posso esquecer quatro anos que ficaram para sempre vincados na minha memória – os quatro anos em que pre-sidi aos destinos da Conferência do Divino Salvador de Fânzeres. Durante a minha

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liderança, desempenhei as funções de Presidente o melhor que pude e soube. Tentei dar sempre o meu melhor perante as carências das situações que constan-temente surgiam. É claro que, de tanto que se fez, inúmeros acontecimentos já se perderam no tempo e na memória, apesar de guardar muitos outros que me mar-caram e que nunca mais vou conseguir esquecer.

Foi durante o meu mandato como Presidente que se comemoraram os cin-quenta anos da nossa Conferência, acontecimento em que me empenhei e que jamais esquecerei. Tanta coisa aconteceu entretanto… momentos lindos e que me trouxeram felicidade interior e outros menos agradáveis. Contudo, o apoio dos meus colegas de caminhada vicentina foi fundamental para os ultrapassar.

Recordo com saudades a imagem de uma senhora velhinha, viúva e sem família que adoeceu gravemente e ficou quase esquecida da sociedade. Quando soubemos da sua situação, já estava acamada, tinha perdido um pouco a noção da realidade e o seu corpo já apresentava profundas escaras. Perante a sua situação, ainda lhe comprámos um colchão anti-escaras, mas quase não lhe deu uso, pois em pouco tempo acabou por falecer.

Nesta jornada de ajuda aos outros tive momentos muito bonitos que me ajudaram a ficar um pouco mais atenta a quem sofre carências, pois quando temos conhecimento de certas situações ficamos mais sensíveis e conscientes, o que nos ajuda a ver e a viver a vida de outra forma. A verdade é que ao dar também recebe-mos.

— Conceição Faria

“VALEU A PENA”

A minha caminhada na Conferência foi muito positiva: conheci um Grupo de Vicentinos com um espírito de ajuda ao próximo sem igual, sempre prontos a con-tribuírem para a felicidade dos mais carenciados, constituindo um exemplo de amor e caridade. Desconhecia, até então, que alguém pudesse dispor tanto do seu tempo para ajudar os mais desfavorecidos e sempre com tanto amor e tanta alegria que se tornou contagiante. Compreendi o significado de se ser mais caridoso com aqueles que menos têm, conheci a verdadeira missão de ajuda ao próximo, soube a felicidade que se sente ao dar um pouco de nós a quem nada tem e percebi que assim, certamente, o mundo não seria tão egoísta e seríamos, com certeza, todos muito mais felizes.

Foram alguns anos que percorri nesta instituição e foram várias as situa-ções com que me deparei, umas mais positivas, outras um pouco menos. Entre todas, saliento as que a seguir descrevo. Encontrar o amor de uma mãe para com

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o seu filho toxicodependente, que lhe tirava tudo em casa, que a agredia e a dei-xava sempre maltratada, mas uma mãe que se recusava a ser transportada para o hospital para não denunciar o seu filho. Uma jovem mãe com dois filhos menores, um marido ausente e uma família com muitas carências, a quem levámos, no dia em que completou 30 anos, um bolo… Penso que foi a primeira vez que alguém se lembrou do seu aniversário. São pequenos gestos, mas que proporcionam muita alegria e sobretudo muita vontade de continuar e que, sem dúvida, mudaram a minha vida para sempre.

Eu também fui ajudada por esses Bons Amigos. Quando a vida para mim fazia pouco sentido, mostraram-me que existem muitas pessoas que necessitam da nossa ajuda. Ajudaram-me a ver a Vida com outros olhos e incentivaram-me a ter muita força para continuar a lutar. Foi uma experiência sem precedentes, que me fez muito feliz: aprendi a ser mais feliz, a receber, a dar e a dividir com aqueles que pouco têm.

Nesta caminhada, tive também por companhia a minha neta, que era real-mente ainda uma criança. Contudo, creio que o adulto que é hoje se deve, em parte, à mensagem da aprendizagem da partilha e da ajuda que pelos Vicentinos lhe foi transmitida.

A todos os Vicentinos, meus Bons Amigos, o meu Muito e Muito Obrigada por tudo o que fizeram por mim. Nunca vos poderei devolver a ajuda que me pres-taram; estão todos no meu coração. Muito Obrigada.

— cidália aires

“UM TRABALHO GRATIFICANTE”

Apesar de ser Vicentina há já muitos anos, nunca pensei que uma simples visita a casa do Sr. António pudesse marcar tão profundamente a minha forma de ser cristã, de encarar a vida e o meu viver quotidiano.

Recordo-me que sempre tive o desejo de ajudar o próximo. Como cristã que sou, achei que podia fazer alguma coisa mais do que simplesmente rezar.

Como fazer? O que fazer? Eram as questões que tantas vezes eu colocava a mim própria, questões que ganharam fundamento após uma cirurgia a que tive de ser submetida, e que posso dizer… foi o ponto de partida para uma nova vida. Desde o primeiro momento, ainda deitada na cama do hospital, que recebi tanto carinho e atenção dos meus familiares, amigos e conhecidos, que ficou totalmente claro para mim que tinha que partilhar as graças recebidas, os gestos concretos de pura amizade que me manifestaram, o carinho e atenção com que me presentea-ram. Só havia uma forma de retribuir tudo isto… teria de aprender a dar do meu

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tempo a Deus através dos outros. Nesta tentativa de redescobrir Deus no próximo, conheci o trabalho dos Vicentinos da minha Paróquia de Fânzeres, a Conferên-cia do Divino Salvador de Fânzeres, grupo de voluntários que desde o primeiro momento me fascinou, não só pela amizade com que me receberam, mas pelo tra-balho desenvolvido junto dos mais pobres.

Assim que pude, também eu passei a fazer parte dos que se voluntariaram para minimizar as carências dos mais necessitados.

Integrei, por isso, uma equipa que visitava e acompanhava a situação fami-liar do Sr. António, pessoa de poucas falas e de trato afável, mas desolado e amargu-rado consigo mesmo, com os homens e com a vida. Sempre que nos via, porém, os seus olhos voltavam a sorrir e a sua boca abria-se para dizer obrigado, um obrigado que saía de forma desajeitada, mas que era dito com uma tal sinceridade e emoti-vidade que tornava o simples gesto da nossa visita em algo de válido e motivante.

Aprendi a constatar que, nestas visitas a casa do Sr. António, nunca conse-guíamos diferenciar os sentimentos e emoções entre visitado e visitadores, uma vez que ambos ficávamos felizes e realizados com a visita e tristes, com o coração desolado, no momento da despedida. Quantas vezes regressei a casa com o coração apertado e tristeza no rosto, por olhar de perto para a miséria humana e o sofri-mento alheio.

Muito pouco o Sr. António nos pedia, apesar das necessidades serem notó-rias a todos os níveis. A casa estava imunda e ninguém se lembrava já da última vez que tinha sido limpa; a mobília do quarto, podre e desconchavada, com uma cama cuja roupa não era mudada havia imenso tempo, causava repulsa e nojo pelo cheiro que libertava; o chão, de tacos roídos e terra húmida, era pasto livre de ratos e baratas. Acompanhamento médico ou social, o Sr. António não tinha nem se lembrava como o poderia ter, apesar de estar parcialmente paralisado e limitado a uma cama, fruto de uma trombose que o vitimou, alterando-lhe completamente a sua forma de viver. As refeições a tempo e horas eram coisas que raramente exis-tiam no seu dia-a-dia, mas ele aprendeu a não reclamar ou dramatizar este aban-dono e falta de atenção da sua companheira, uma vez que uma simples palavra de recriminação ou chamada de atenção poderia complicar mais ainda a sua já difícil situação.

Mas, o pior de tudo, o que nos causava mais repulsa e revolta interior era o balde das necessidades junto de sua cama, um balde que magoava os sentidos, pois representava a imagem da decadência, abandono e desolação.

Dependente como estava, abandonado por tudo e por todos, o Sr. António acabou por ter de ultrapassar sozinho a ausência de carinho e aconchego a que a sua vida estava votada. Já não se revoltava quando sentia fome, sede, dores, ou a simples vontade de tomar um banho, e a prova disso é que ele já não tomava um

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banho havia seguramente vinte e dois meses. Mas o que mais o magoava e custava a ultrapassar era a solidão… O lento passar das horas do dia, das semanas, dos meses, o abandono e a necessidade de falar. Do que ele precisava mesmo era de quem o ouvisse sem pressas, sem horas marcadas, algo que tentámos superar nas muitas visitas que lhe fizemos, visitas que eu sempre fazia e nas quais, mesmo em prejuízo da minha vida pessoal e familiar, eu sempre tinha gosto em poder participar.

No acompanhamento desta situação, achámos porém que também era muito importante criar condições para o Sr. António tomar banho, consultar um médico, ter refeições a horas, enfim, cuidar um pouco mais dele e da sua higiene pessoal. Começámos, por isso, a fazer contactos com um médico do centro de saúde, um restaurante para lhe levar refeições e uma técnica do serviço social, contactos que fizeram surgir algumas poucas melhorias na vida do Sr. António e melhoraram um pouco a sua qualidade de vida e o seu viver.

Recordo, como se fosse hoje, gestos que me marcaram e que não consegui-rei esquecer jamais… a disponibilidade do Luís Pinto e da Paula Teixeira para lhe limpar a casa, a forma como o José Garrido o tratava, como lhe dava banho, como o levava à clínica para fazer exames, ou algo mais simples, mas talvez mais sublime, o gesto de tirar a sua própria camisa e de a oferecer ao Sr. António, uma vez que ele precisava de algo lavado para uma consulta médica e infelizmente em sua casa não se encontrava nada limpo para ele vestir, ou ainda o carinho com que mudáva-mos a roupa da cama do Sr. António, e a preocupação de carregar sacas de géneros para sua casa para não mais lhe faltar alimentação. Infelizmente, apesar de todo o empenho e solidariedade demonstrada, não conseguimos obter o resultado espe-rado e tivemos mesmo de nos esforçar afincadamente para internar o Sr. António, arranjar-lhe um lar que tivesse as condições necessárias para as suas limitações e dependência. Quando finalmente o conseguimos encontrar, a Conferência Vicen-tina empenhou-se em preparar todo o enxoval… não queríamos que faltasse nada para ele levar para a sua nova casa. Novamente, o José Garrido e o Joaquim Teixeira demonstraram estar mais do que à altura da situação. Levaram o Sr. António para casa do Joaquim Teixeira para lhe dar um banho e depois de o vestir com roupas novas, acompanharam-no ao lar de terceira idade, aquela que iria ser a sua nova e última morada, antes de falecer e deixar de sofrer, antes de finalmente descansar.

Ajudar o Sr. António foi, posso dizer, uma das maiores provas do amor de Deus por mim. Nas visitas e acompanhamento que lhe fizemos, tive a oportuni-dade de perder o medo de amar, de ajudar, de fazer a vontade de Deus. Ser Vicen-tina é uma oportunidade única para aprender a dividir com os outros tudo aquilo que sou e tenho.

— fernanda baptista

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“DAR E RECEBER”

Era eu ainda muito jovem, vieram a minha casa duas senhoras da Conferência Feminina de Fânzeres, pedir a meus pais que me deixassem fazer parte da Con-ferência. A princípio, os meus pais estavam indecisos, porque diziam que eu era muito nova, mas lá comecei a minha jornada vicentina, com o intuito de ajudar aqueles que necessitavam.

Naquele tempo, além de assistir às reuniões habituais, tinha como cargo levar uma ajuda monetária, no valor de 20$00, devido à inexistência de reforma, a uma idosa que morava no lugar do Outeiro. A partir dessa altura, comecei a ganhar uma certa simpatia pelas pessoas que visitava, principalmente pelos velhi-nhos. Nunca mais me hei-de esquecer da alegria desta Senhora sempre que eu lhe levava os 20$00.

Certo dia, ela disse-me que quando recebesse a reforma, em gratificação à Conferência, iria oferecer para os pobres aquilo que a Conferência lhe tinha dado a ela.

Assim foi… quando um dia lá cheguei, vi na sua cara um sorriso de alegria e satisfação, agradecendo a Deus aquilo que por ela tinha feito. Tinha finalmente recebido a reforma e começou a partir desse dia a cumprir o que havia dito.

No entanto, essa ajuda não durou muito, porque entretanto ela faleceu.

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Apesar de durante algum tempo ficar um pouco afastada da Conferência, porque comecei a trabalhar, nunca a abandonei totalmente e, dentro das minhas possibilidades, acompanhei o trabalho vicentino, primeiro na Conferência de Jovens e mais tarde na Conferência Mista do Divino Salvador de Fânzeres, confe-rência a que pertenço até aos dias de hoje.

Ao longo da minha vida, devido a uma experiência que eu tive com a doença do meu pai, comecei a compreender que não sou só eu que dou algo à Conferência, mas percebi que ela também me dá algo. Foi nas visitas aos doentes que nós fazemos, mas também com o que eu passei com o meu pai, que vi como é maravilhoso ver que no meio do sofrimento, da angústia e desespero, alguém está ao nosso lado para nos apoiar.

Assim percebi que as visitas são mais importantes para as pessoas que acompanham os doentes dia e noite do que para o próprio doente. Tal como as visitas, também existem os convívios, o dia do doente, actividades que eu conti-nuarei a realizar como membro da Conferência.

Desta forma, continua e continuará a minha caminhada na Conferência, uma caminhada de ajuda e amor ao próximo, tendo como lema a frase: “Pobres, sempre os haveis de ter convosco.” (Mat. 26, 11), fazendo a todos aqueles protegi-dos o que gostaríamos que nos fizessem, se porventura estivéssemos na sua situ-ação, porque esse deve ser o verdadeiro espírito vicentino, ajudar as pessoas com amor e carinho, e não ajudá-las simplesmente porque parece bem ou fica bem, perante as pessoas que nos conhecem.

— laurinda garrido

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOSESMOLA É SUFRÁGIO

Sempre que participamos num funeral de um familiar ou pessoa próxima, vemos na altura própria do ofertório alguém a fazer passar um cesto para receber as nossas ofertas monetárias, o que nos leva a questionar o porquê de um peditório numa cerimónia tão sen-tida e qual o fim a que se destina este dinheiro. E, como não sabemos responder a esta ques-tão, na maior parte das vezes não contribuímos, ou colocamos no cesto uma oferta simbó-lica, só pelo simples gesto, de como todos os outros, contribuir neste acto repetitivo, gesto que se torna por vezes vazio e perdido no seu valor ou significado. Este ofertório reveste-se de uma primordial importância, uma vez que as ofertas recebidas neste acto litúrgico são entregues à Conferência de S. Vicente de Paulo, como forma de ajuda e colaboração na sua missão de ajudar os mais pobres e necessitados. Desta forma, a esmola que é de um mérito enorme aos olhos de Deus tem como objectivo principal sufragar a alma dos nossos irmãos falecidos.

— jornal “o bom samaritano”

A Igreja sempre esteve em comunhão com os «fiéis defuntos», porque dessa comunhão todos, nós e eles, beneficiamos. Nós, porque reflectimos sobre as nossas raízes, o que somos e o que viremos a ser. Eles, os «fiéis defuntos», porque os nossos sufrágios, a oração e a caridade são o que de melhor lhes podemos ofe-recer. Tão antigo como a própria Conferência, a caridade em favor dos pobres é o melhor sufrágio para os nossos queridos defuntos.

De criança, recordo um costume às portas da igreja, que mais tarde vim a saber ser habitual por todo o país. No final da missa estava sempre alguém à saída da igreja com uma saca na mão a pedir para os pobres. Como eu gostava, quando a minha Avó me dava uma moeda, de contribuir, sem saber ao certo como é que aquele dinheiro chegava aos pobres. Só quando me tornei Vicentino é que consegui perceber o profundo significado de um peditório e da importância de que ele se reveste para a vida e sobrevivência de um grupo ou instituição.

— pedro pinto

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…VENDA DE NATAL

Esta actividade já ganhou um lugar cativo no calendário de actividades da paró-quia de Fânzeres como forma de viver o Natal com mais solidariedade e caridade.

Considerada talvez a mais antiga actividade de angariação de fundos da Conferência, sobrevivente a todas as vicissitudes do tempo, pois conseguiu man-ter-se nos mesmos moldes até aos dias de hoje, a Venda de Natal é sem sombra de dúvida a actividade que exige maior preparação, disponibilidade, empenho e atenção da parte de todos os membros da Conferência Vicentina. Perderam-se no tempo o número de noites ocupadas a preparar o espaço da venda, primeiro na sala por cima da sacristia da igreja, mais tarde numa sala do Salão Paroquial e agora no próprio Salão Paroquial, como são incontáveis também as horas des-pendidas a colocar preços, os quilómetros percorridos para pedir objectos às casas comerciais, as visitas matinais ou nocturnas ao Mercado Abastecedor do Porto para pedir fruta ou a destreza necessária para comprar objectos, miudezas e vinho a baixo custo para depois os vender com alguma margem de lucro.

Nos primórdios desta actividade, todos os objectos eram oferecidos pelas casas comerciais ou confeccionados pelas próprias Vicentinas, porém, mais tarde, com o agravar da crise e a dificuldade de preencher o espaço com objectos doados, abriu-se caminho à venda de artigos à consignação, com a venda de postais e livros de livrarias católicas. Era esta uma forma de propagar a boa mensagem e angariar ao mesmo tempo algum dinheiro para a Conferência.

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…FEIRA DE VELHARIAS E USADOS

A Feira de Velharias e Usados, que já vai na sua 9.ª edição, mobiliza não só os Vicentinos mas grande parte da população da freguesia, que compra e oferece objectos usados.

A Conferência Vicentina de Fânzeres organizou, pela primeira vez, no Salão Paroquial da freguesia, uma Feira de Velharias e Usados. Entre 4 e 19 de Setembro (apenas aos fins de semana), os interessados em visitar a feira podem contribuir comprando qualquer um dos objectos expostos ou então oferecer algo que tenham em casa para ser posto à venda.Esta venda de variados artigos, que funciona como angariação de fundos, foi a forma encontrada pelos Vicentinos de Fânzeres para ajudar os mais carenciados. Entre os artigos expostos, encontram-se móveis, brinquedos, louças, vestuário e calçado, livros, artigos de decoração e velharias. “As pessoas não têm por vezes disponibilidade para dar dinheiro, mas têm sempre em casa coisas que não fazem falta e que podem dar”, lembra José Garrido, presidente da Conferên-cia Vicentina de Fânzeres. O objectivo desta Feira de Velharias e Usados é juntar dinheiro para ajudar famílias carenciadas, bem como divulgar o trabalho da Conferência Vicen-tina. Esta entidade funciona em regime de voluntariado e conta com 26 elementos que nor-teiam a sua acção pela solidariedade e caridade. Nesta Feira, encontram-se artigos a preços simbólicos, mas também peças de valor. Seja qual for o resultado final, os produtos que não tiverem sido vendidos serão para oferecer. “As pessoas não só compram como também vêm oferecer artigos para venda”, diz José Garrido.

— jornal “ progresso de gondomar” – 09 de setembro de 2004

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…NOITES DE S. MARTINHO

As noites de S. Martinho, organiza-das pela Conferência Vicentina no Salão Paroquial, eram consideradas em toda a freguesia de Fânzeres ver-dadeiros acontecimentos sociais e culturais, não só pela diversidade do programa de variedades apresentado ou pelo elevado número de presenças que enchia por completo as cadeiras e mesas disponíveis, mas essencial-mente pela forma típica como o Salão era decorado e pela forma animada como toda a noite decorria.

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…FESTAS DE CARNAVAL

Actuamos e agimos num ambiente simbólico construído por múltiplas represen-tações. Entre elas persistem rituais, alguns ancestrais, que nos ligam ao passado e nos fazem lembrar a necessidade de viver o presente. Os rituais permitem a des-contracção, quebram a rotina. Não são necessariamente inúteis, alienantes ou des-propositados.

No Salão Paroquial de Fânzeres, as Festas de Carnaval organizadas pela Conferência Vicentina são verdadeiros rituais de alegria, festa e verdadeira des-contracção, algumas delas quase obrigatórias, pois funcionam como meio de angariação de fundos para a Conferência; apesar de fugirem ao carisma da Socie-dade de S. Vicente de Paulo, cabem na lógica da acção e dinamização vicentina. Outras são a forma encontrada para fazer festa, encontro, convívio e animação.

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…DIA DA CARIDADE

Com o apoio do Pároco e da Paróquia, a Conferência do Divino Salvador de Fânze-res organiza no dia da Sociedade S. Vicente de Paulo, normalmente celebrado no último domingo de Outubro, o seu Dia Paroquial da Caridade, um dia marcado pela solidariedade e apoio à Conferência Vicentina, que luta com dificuldades financeiras para fazer face aos inúmeros pedidos de ajuda com que diariamente é confrontada.

Nas eucaristias deste dia é entregue a todas as pessoas um envelope para nele serem colocadas ofertas monetárias, na medida das possibilidades de cada um.

MISSAS Envelopes entregues

Envelopes recolhidos

Total recebido

Missa das 16.00 h. 135 36 €126,00

Missa das 18.00 h 160 37 €214,20

Missa Manariz 40 21 €136,00

Missa Regadas 105 38 €300,20

Missa das 9.00 h. 160 83 €604,00

Missa das 11.00 h. 80 36 €368,25

Totais 680 251 €1.748,65

(Dados referentes ao Dia Paroquial da Caridade 2011)

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…PEDITÓRIOS

Ao longo destes setenta e cinco anos de vida vicentina, a Conferência realizou inú-meros peditórios, principal meio de subsistência… Já ninguém se lembra ao certo da quantidade de peditórios que foram realizados, uma vez que eles fazem parte do quotidiano da vida vicentina.

É importante recordar sempre o valor da caridade que tanto identifica quem partilha como define quem a recebe. Nunca deveríamos deixar subtrair a palavra caridade do nosso dicio-nário nem da nossa linguagem comum, ou considerá-la ainda desadequada no tempo… ela exprime a mais profunda realidade da partilha cristã.Seria tão bom que a partilha dos bens terrenos tivesse na sua motivação mais profunda a partilha de Deus para connosco, de tal modo que pudéssemos retribuir em amor e caridade o amor que nos vem de Deus. É assim que procuramos entender a simples oferta monetária, o saco de roupa ou calçado usados que nos oferecem ou outros bens necessários que tantas vezes chegam às nossas mãos.

— Joaquim Teixeira

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…COLECTAS NAS REUNIÕES

Artigo19.º-OespíritodepartilhadequeosmembrosdaConferênciaestãoani-mados exprime-se numa colecta de carácter secreto. (Da Regra da SSVP – Portugal)

Valor das Colectas nas reuniões no ano de 1941 – 402$40Valor das Colectas nas reuniões no ano de 2012 – 176,07€

Desde que me lembro que participo com os meus pais nas reuniões da Conferência Vicen-tina.Quando fiz sete anos, já menino da Catequese, achei que devia fazer algo de útil na Confe-rência. Fiquei por isso responsável por fazer a colecta em todas as reuniões.

— filipe garrido

Saca utilizada nas colectas da reunião

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…TÔMBOLA VICENTINA

A caridade requer imaginação para ultrapassar os momentos de crise que por vezes se instalam na sociedade. Num momento crucial em que as enormes dificul-dades financeiras, sociais e laborais atiram para a pobreza e exclusão social grande número de homens e mulheres, deve ser motivo de mobilização cada vez maior a ajuda e o apoio aos mais pobres e necessitados.

Ao longo da história da vida da Conferência Vicentina e em diversas situ-ações em que o dinheiro escasseia, a ideia de organizar uma Tômbola Vicentina logo ganha forma e da ideia à acção é só necessário disponibilizar algumas noites para separar objectos, numerar artigos e catalogar tudo para ser sorteado na tôm-bola. Depois é só esperar por uma festa popular ou um acontecimento social que congregue grande número de pessoas… e mãos à obra. A tômbola começa a fun-cionar.

Apesar de não me considerar uma «grande Vicentina», uma vez que não participo a 100 % na vida da Conferência Vicentina, sinto que o sentimento de caridade e ajuda aos mais necessitados faz parte de mim, do meu viver e da minha forma de ser. Nas actividades vicentinas, principalmente as actividades de angariação de fundos, aí sim, mesmo doente ou com pouca disponibilidade, dou o meu melhor, seja na Feira de Velharias ou de Natal, seja ainda na Venda de Rifas ou na Tômbola Vicentina.Porque o importante não é dar mas darmo-nos, entrego-me de coração a estas actividades.

— adelaide pinho

Tombola utilizada na Venda de Rifas da Conferência

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…VENDA DE RIFAS

Uma das actividades de angariação de fundos que, anualmente, a Conferência Vicentina realiza é a Venda de Rifas, por altura da quadra natalícia.

Vender as 1000 rifas não é tarefa fácil, apesar de o prémio ser normalmente aliciante, uma vez que exige um pouco de muito esforço dos Vicentinos, dos seus familiares e amigos, ou dos colegas de trabalho, pois são normalmente estes os primeiros a ser solicitados.

Quando ficam algumas rifas para vender e, com a proximidade do sorteio, é habitual ver no adro da igreja o Presidente da Conferência vestido de Pai Natal ou pequenos grupos de Vicentinos a tentar vender rifas aos mais distraídos… e, porque não dizer, aos mais beneméritos.

(Rifa do Sorteio de Natal de 2009)

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…BARRACA DO DIVINO SALVADOR

No ano de 2011, e na programação das Festas do Divino Salvador, Padroeiro da Fre-guesia de Fânzeres, foi agendada, em conjunto com o executivo da Junta de Fre-guesia, uma mostra cultural com a representatividade de alguns artesãos e asso-ciações de Fânzeres. À Conferência Vicentina, também convidada a participar nesta original iniciativa, foram atribuídas duas barracas, uma destinada a mostrar as diversas actividades vicentinas e a outra… ficaria ao critério dos Vicentinos a sua utilização; poderia ser utilizada, por exemplo, “como barraca de angariação de fundos para a Conferência”, sublinhou a Presidente da Junta de Freguesia.

Entusiasmados, abraçámos a ideia e organizámos a Barraca do Divino Sal-vador com uma venda de petiscos, a bons preços e saborosos. Foi um sucesso… O resultado foi francamente positivo, não só pelos 201,77 euros angariados, mas pela oportunidade de mostrar o valor do nosso trabalho.

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…VENDA DE CAFÉ E BOLOS CASEIROS

Votada ao sucesso, a venda de café e bolos caseiros é sempre uma oportunidade para apelar à partilha e colaboração com a Conferência Vicentina.

Com a ajuda, participação e amizade dos Vicentinos, dos seus familia-res e dos já tradicionais amigos, sempre que possível, principalmente durante a Feira de Velharias e a Venda de Natal, organizamos um bar para venda de café e bolos caseiros, sempre com a certeza de que podemos contar com a colaboração de todos, seja aqueles que oferecem os bolos para venda, seja todos aqueles que se dirigem ao bar para tomar café e os comprar.

Apesar de ser o mais jovem Vicentino da Conferência, tenho a responsabilidade de fazer os trocos e servir o café no bar da Conferência. Sei que não tenho jeito para vender os artigos que estão expostos nas feiras que organizamos, mas servir cafés e vender bolos é um traba-lho de que gosto e tenho jeito para o fazer.

— filipe garrido

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ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS…OUTRAS ACTIVIDADES

O voluntariado não é apenas um fazer: é antes de tudo um modo de ser, que parte do coração, de uma atitude de gratidão em relação à vida, e estimula a restituir e partilhar com o próximo os dons recebidos. Nesta perspectiva e no viver quoti-diano da Conferência Vicentina, procuramos encorajar a cultura do voluntariado, pilar importante e imprescindível no sucesso das actividades programadas. Todos são chamados a colaborar e a dar o seu contributo dentro das suas capacidades e disponibilidades. A acção de cada Vicentino nunca é vista ou encarada como uma intervenção “para mostrar número ou para assegurar serviços mínimos”, mas antes como uma presença complementar, importante e sempre necessária para manter viva a chama da solidariedade, da ajuda e da cooperação.

Nas diversas actividades programadas, procuramos promover a iniciativa e o empenho de cada Vicentino com o seu estilo pessoal, quase como que com a sua impressão digital. E a alegria que vemos no seu trabalho, o prazer que mostram na ajuda ao outro, no serviço que prestam de forma desinteressada e gratuita, em prol das pessoas e das famílias mais desfavorecidas, merecem a nossa homena-gem e a nossa gratidão. A solidariedade que se manifesta através do voluntariado é talvez a chave do sucesso de tantas e tantas outras actividades programadas pela Conferência ao longo dos seus 75 anos de verdadeiro amor gratuito aos outros. Ao longo destes 75 anos de existência, as actividades multiplicaram-se, as com-ponentes formação, intervenção e angariação conjugaram-se e surgiram inúmeras actividades válidas e necessárias. Presto por isso homenagem a todos os Vicenti-nos que se empenharam na ceia dos pobres, nas colónias de férias com crianças e idosos; nas vendas de Natal e de velharias, nos diversos peditórios; nas recolhas de géneros; na angariação de fundos; na entrega de mobiliário, brinquedos, e roupas; na oferta de géneros alimentares; no pagamento de medicamentos, luz, rendas e águas. Por todos dou graças a Deus pelo dom da vida que lhes concedeu.

— josé garrido

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TESTEMUNHOS DE VIDA …“SER JOVEM E AMAR”

Quando temos necessidades básicas para resolver que não sejamos capazes, não temos disponibilidade ou tempo, o interesse ou motivação para nos preocupar-mos com questões de outra natureza mais importantes do ponto de vista social, partimos sempre para uma dimensão simbólica em que o Vicentino parte com vontade de poder resolver e ajudar o próximo com todo o amor e carinho, porque os homens valem mais por aquilo que são do que por aquilo que têm.

Se eu algum dia pensasse que teria de dar um testemunho da minha passa-gem pela Conferência de Fânzeres, então teria feito um diário, que ajudaria agora a recordar. Mas bem-haja a quem teve a ideia de fazer passar as memórias para um livro, pela simples razão de que “os homens passam, os livros permanecem por gerações”.

Pela minha forma de estar, sinto que nunca é demais enaltecer o trabalho dos Vicentinos, gente humilde e de coração aberto sempre empenhada em ajudar os mais pobres e desfavorecidos da Freguesia de Fânzeres.

Vamos lá puxar pela memória e recordar os tempos passados… Fui para a Conferência ainda muito jovem para colmatar a ausência do meu Pai, que, por motivo de doença, não podia dar sequência à vida vicentina. Nessa altura as reu-niões eram às segundas-feiras à noite, sendo o Presidente o Sr. Castro Neves e o Conselheiro Espiritual o Padre Manuel Rebimbas, um Pároco presente e empe-nhado em colaborar com um grupo de mais ou menos quinze Vicentinos. Não cito os seus nomes para não esquecer alguém, mas lembro-me que eram gente válida e valorosa que tinha a seu encargo uma zona ou lugar da freguesia para visitar. A minha zona era Cabanas.

Nas reuniões, todos davam uma panorâmica das visitas aos pobres nas suas zonas de intervenção; era feita uma análise geral de cada situação, sendo atribu-ída uma verba, que o Sr. Américo, o Tesoureiro, logo nos entregava para levarmos ao pobre. Estas reuniões, que iniciavam e terminavam sempre com uma oração, tinham a duração de uma hora e meia, mas o tempo era sempre pouco para falar sobre os pobres ou distribuir tarefas dos trabalhos a realizar.

Havia também a necessidade de angariar fundos para a Conferência, uma vez que as quotas dos nossos associados, que nós tínhamos a responsabilidade de recolher, não chegavam para colmatar todas as necessidades. Nesse sentido, orga-nizávamos peditórios pela freguesia e quando havia festas estávamos em todo o lado, fosse a ajudar a organizar, fosse a tomar conta dos mais pobres. Recordo ainda que fizemos por diversas vezes a campanha da garrafa, andando de porta em porta a pedir garrafas vazias que depois eram vendidas, “como, não sei”. Esta cam-

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panha ocupava-nos muitas das manhãs de domingo, sempre a carregar e a descar-regar garrafas.

Para os demais desfavorecidos, fazia-se “a sopa dos pobres”, de segunda a sexta-feira: os mais jovens ajudavam os adultos, sempre preocupados para que não faltasse nada na cozinha, enquanto os mais adultos confeccionavam a sopa. Pelos mais jovens era também efectuada a distribuição do queijo e leite em pó que a Caritas nos oferecia.

O Sr. Castro Neves, como Presidente da Conferência, era o grande dinami-zador e impulsionador de todas estas actividades, e nós, em espírito vicentino e com muito amor ao próximo, ajudávamos com empenho e responsabilidade.

Os convites para diversas reuniões fora da freguesia de Fânzeres eram fre-quentes e arranjávamos sempre alguém com disponibilidade para estar presente a representar a Conferência. Recordo-me de ter ido mais do que uma vez ao Seminá-rio de Vilar em representação da nossa Conferência.

Entretanto, houve uma abertura da Igreja através do Concílio Vaticano II aos jovens e, se a memória não me falha, foi nessa altura que resolvemos criar, com o apoio dos mais adultos, uma Conferência de Jovens. Começámos por convidar jovens de todas as classes sociais para aderir ao movimento e em pouco tempo já tínhamos várias dezenas de jovens. Foi tudo tão rápido que ainda hoje não sei explicar tamanho entusiasmo.

Apesar de o Padre Rebimbas se manter um pouco céptico em relação ao tra-balho da Conferência de Jovens, na nossa mente sabíamos que era preciso dar vida à Igreja. Resolvemos, por isso, começar a reunião periodicamente no salão por cima da Igreja, em conformidade com a Regra da Sociedade S. Vicente de Paulo, e criar uma estrutura e uma direcção que melhor dinamizasse as actividades pro-gramadas. Assumindo eu a Presidência da Conferência de Jovens de S. João, o Fer-nando Faria foi eleito Secretário e a Deolinda Faria assumiu a tesouraria. Criamos um grupo coral que cantava músicas alegres e modernas para a época. Além de cantarmos na missa das oito da manhã, ajudávamos o Pároco e fazíamos as lei-turas. O certo é que esta missa começou a ser a mais concorrida e a igreja estava repleta de cristãos. No final da missa voltávamos a reunir, não só para ensaiar cânticos ou preparar as leituras, mas para discutir novas ideias e novas formas de ajudar a Conferência dos adultos. A verdade é que tudo decorria com assertivi-dade, responsabilidade e compromisso.

Aos sábados, formávamos equipas de trabalho e lá íamos uns para cada lado sempre com boa vontade e dedicação. Os jovens participavam em tudo o que os mais velhos faziam, mas havia também outras actividades, tais como a limpeza aos quartos dos idosos feito, pelas raparigas, enquanto os rapazes pintavam os quartos, consertavam estragos ou ajudavam a dar banho, quando eram homens os

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protegidos ajudados. Muitas histórias marcaram a minha actividade vicentina, por exemplo a

referente a um senhor que vivia no Paço, em frente à actual GNR. Enquanto pintá-vamos e limpávamos a casa, ouvimo-lo dizer que podíamos deitar fora tudo o que fosse velho, excepto uma cesta que estava debaixo da cama. É lógico que ficámos com curiosidade em saber o que a cesta continha e foi com uma certa emoção e espanto que nos apercebemos de que era uma caixa de ferramentas de pedreiro. “Estas ferramentas são o meu maior tesouro, pois foi com elas que eu trabalhei uma vida inteira e consegui sustentar a minha família”.

O grupo de jovens era um exemplo para todos, pois, apesar das dificulda-des surgidas, a alegria fazia parte das nossas actividades e arranjávamos sempre novas formas de nos divertirmos. Jogávamos ténis de mesa e criámos uma equipa de futebol que chegou a fazer alguns jogos em diversos sítios. Recordo com sauda-des os jogos na casa do Gaiato, em Paço de Sousa. Foi necessário, por isso, arran-jar o nosso próprio equipamento de futebol. Íamos também aos bailes dos Santos Populares, aos magustos ou festas de Carnaval. Chegámos também a organizar passeios e excursões. Um destes passeios, a Viana do Castelo, contou com a pre-sença do Padre Rebimbas e encheu dois autocarros de 52 lugares.

Se nos dias de hoje fosse perguntar aos jovens Vicentinos dessa época que estiveram envolvidos na Conferência, não tenho qualquer dúvida de que iriam dizer que recordam com saudades e nostalgia esses bons velhos tempos passados.

A esses Vicentinos da Conferência de Jovens de Fânzeres, à qual eu presidi e ajudei e fundar, o meu muito obrigado por tudo o que fizeram e me deram, eles que foram e serão sempre fantásticos. É bom que se diga que para se lidar com jovens é preciso ter-se um espírito jovem.

— josé faria

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“DAR SENTIDO à VIDA”

Recordo com saudade a minha participação e colaboração na Conferência do Divino Salvador de Fânzeres, uma experiência de vida que me marcou profunda-mente, talvez por ser ainda jovem… o meu tempo de Jovem Vicentino. Recordo que, para além de sermos um grupo que animava a Eucaristia Dominical das 08.00h, tínhamos diversas actividades dedicadas aos Vicentinos e aos mais Pobres, como se todos fossemos um só.

Relembro com prazer as visitas e dádivas que fizemos à Casa dos Pobres nas Regadas. Aqui a nossa presença e a palavra amiga eram como que um bálsamo que suaviza no combate à solidão de gente muitas vezes isolada da família e da socie-dade.

Relembro também as nossas oferendas para a Venda de Natal, realizadas no Salão por cima da Sacristia no final das missas, o mesmo Salão onde decorriam as reuniões da nossa Conferência de Jovens Vicentinos, reuniões que eram momen-tos únicos de formação cristã e de verdadeira amizade e camaradagem.

Não posso esquecer também algumas lembranças e amizades que ainda hoje fazem parte da minha vida, principalmente as visitas e convívios na Casa do Gaiato em Paço de Sousa. Aí os nossos jogos de futebol e o farnel repartido por todos os intervenientes tinham o condão de aproximar, criar laços e fazer frater-nidade.

Nos dias de hoje, sempre que passo junto da casa do “Fim das malas”, em Tardinhade, ou junto da “Casa dos Farias”, em Cabanas, sinto uma certa nostalgia e sorrio interiormente ao pensar nos bons momentos passados em grupo a ensaiar para cantar na missa. Louvo a Deus os dons, muitos ou poucos, que cada Vicen-tino teve e tem para se dedicar aos outros, seguindo o testemunho de S. Vicente de Paulo e de Frederico Ozanam.

— david ascenção

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“SERVIR TRAZ ALEGRIA”

É com alegria, mas com uma certa nostalgia no coração, que recordo o meu tempo de Vicentino, apesar de achar que nunca deixei de o ser, tal o meu empenho e com-promisso com a Conferência de Fânzeres e com a comunidade em que estou inse-rido.

O meu primeiro trabalho em Igreja foi ser Vicentino ao serviço da Confe-rência do Divino Salvador de Fânzeres. Ainda muito jovem, comecei por colaborar activamente na distribuição da sopa dos pobres e na visita aos mais carenciados, mas cedo percebi uma vocação muito especial, uma vontade muito própria para visitar os doentes, os que estão sós, os esquecidos da família e da comunidade. Não limitei por isso a minha actuação aos doentes e pobres da Regadas, lugar onde vivo, mas através da Conferência e da Legião de Maria, grupo de que também fiz parte activa, visitei inúmeros doentes da freguesia. Ainda hoje, volvidos mais de 50 anos, continuo a dar o meu contributo no Dia Paroquial do Doente e do Idoso.

Outras áreas mereceram também a minha atenção, talvez por coincidirem com a minha actividade profissional. Foi-me solicitada a construção de duas novas casas no Património dos Pobres das Regadas, responsabilidade que desempenhei com entusiasmo e compromisso, desde o início da construção até ficarem habitá-veis, uma tarefa que não terminou no dia da inauguração das casas, mas que teve a sua continuidade no tempo, pois eu estava disponível sempre que era preciso fazer qualquer arranjo ou melhoria no Património.

Sempre fui Vicentino e serei sempre enquanto Deus quiser, uma vez que ser Vicentino é seguir as propostas de Jesus.

— joaquim silva

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A FAMÍLIA VICENTINA…AS REUNIÕES DA CONFERêNCIA

Artigo15.º-AsConferênciasreúnem-seregularmente,nolocal,diaehorafixadospelos seus membros, sendo recomendável que as reuniões sejam semanais.

Artigo16.º-Asreuniõesdevemserimpregnadasdoespíritodefraternidade,ale-gria e simplicidade que animava já os fundadores da Sociedade de S. Vicente de Paulo, procurando tornar a espiritualidade Cristã Vicentina a fonte de toda a acção a desenvolver. (Da Regra da SSVP – Portugal)

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A FAMÍLIA VICENTINA…CONVÍVIO ENTRE VICENTINOS E FAMÍLIARES

“É preciso dar tempo ao tempo” – assim reza a sabedoria popular e com muita razão. Porém, para os tempos de hoje, a teoria é muito bela, mas a prática já não é o que era. Já basta a pressa com que se vive, a velocidade com que se anda e a fruta verde que se come, amadurecida à pressa. Nada disso nos é favorável. E é pena nem sequer termos tempo para saborear as coisas e os momentos bons da vida. Somos, cada vez mais, uma sociedade apressada, agitada, embrulhada na confusão.

Hoje, mistura-se o tempo com o momento, esquecidos que estamos de que a vida é feita de tempo e de momentos. Se soubermos valorizar o tempo, percebe-mos a importância do momento e, ainda, que os momentos dão sabor ao tempo.

Nesta dimensão, tentamos sempre encontrar tempo para momentos de encontro, convívio e confraternização entre os Vicentinos e os seus familiares. Os passeios e convívios vicentinos que acontecem anualmente são como que um bálsamo que suaviza as tristezas e dificuldades do trabalho junto dos mais pobres e oportunidades de estreitar laços de convívio e amizade. Também nós temos o direito de celebrar os momentos do nosso tempo.

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A FAMÍLIA VICENTINA…CEIA DE NATAL

Todos os anos, a época natalícia é vivida com intensidade na vida da Conferência Vicentina.

Com a abertura da Venda de Natal, em meados de Novembro, começa a azá-fama das actividades que tem a sua continuidade na recolha de géneros da cate-quese, nas campanhas de Natal, na preparação e entrega dos cabazes de Natal; e tudo termina não no momento do encerramento da Venda de Natal, mas quando o Salão Paroquial fica arrumado e os diversos objectos da Venda de natal guarda-dos para uma próxima oportunidade. Aí, sim… é o momento de parar um pouco e celebrar o Natal em família vicentina, conforme a disponibilidade de tempo, pois umas vezes fazemos a Ceia de Natal, outras vezes, a Ceia de Reis. O importante é encontrar algum tempo para estarmos juntos em família vicentina.

Na ceia de Natal ou de Reis, o espírito da verdadeira família é alicerçado com a união e a fraternidade entre todos os Vicentinos e os familiares presentes, uma vez que a mesa é pre-parada com aquilo que cada um tem para oferecer. E se em cada ano a ceia de Natal é dife-rente pela presença ou ausência de um ou outro Vicentino, tudo se repete, tudo é sempre tão igual, uma vez que a amizade, a partilha, a camaradagem e a boa disposição estão sempre presentes e fazem parte da «ementa».

— liliana martins

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A FAMÍLIA VICENTINA…MAGUSTO DE S. MARTINHO

Poderíamos dizer que a ideia era somente manter a tradição de S. Martinho, o que seria verdade, uma vez que, de tradicional tínhamos as castanhas e o vinho.

Os magustos de S. Martinho para Vicentinos e familiares são já de si uma tradição de longa data na vida da Conferência Vicentina, com verdadeiras tardes de alegria e festa misturadas com muita música, canções ao desafio, jogos popu-lares e muito, muito boa disposição, num grupo que tanto se reúne para trabalhar ou visitar os pobres, como se junta para fazer festa e passar alegre convívio e boa disposição.

Toda a vocação leva a um compromisso, isto é, a uma adesão absolutamente livre, a um certo género de vida definida por uma regra, escrita ou não.Para quem sentiu a vocação para o serviço pessoal dos pobres prestado em comum com os outros, entrar para a Conferência de S. Vicente de Paulo é um compromisso que dá corpo a essa vocação. É evidente que o compromisso vicentino não tem nada de voto compulsivo, pois não há nada mais livre nem mais reversível. Mas é um acto muito sério, e quem o pra-tica aprende a conhecer-se e a verificar que o encontro com os pobres e com os Vicentinos que se entregam ao serviço daqueles é um acto muito enriquecedor.

— serafim teixeira

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OUTRAS ACTIVIDADES…RECOLHA DE GÉNEROS NA CATEQUESE

A Catequese Infantil e Juvenil de Fânzeres, em colaboração com a Conferência Vicentina, organiza todos os anos na época natalícia, uma campanha de recolha de géneros destinados aos cabazes de Natal, oferecidos pela Conferência às famílias mais carenciadas.

São centenas as sacas com mensagens a apelar à partilha para com os mais pobres, entregues a todas as crianças e jovens da catequese.

Natal é isso mesmo… Dar e partilhar, num gesto que aproxima, num sor-riso que anima, numa doação a quem passa necessidade.

Apesar de ser uma jovem Vicentina, sou também membro de um Grupo de Jovens da paró-quia que participa activamente na campanha de recolha de géneros para a Conferência. Nesta campanha, organizada pela catequese e na catequese, consigo encontrar em cada saca com géneros alimentares que é colocada no altar no momento da Eucaristia, o Natal do calor humano que aquece e ilumina, o Natal que faz sorrir na amargura da doença o desespero da vida, o Natal que é a verdadeira mensagem do presépio da gruta de Belém.

— ana pinto

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OUTRAS ACTIVIDADES…RECOLHA DE GÉNEROS NO HIPERMERCADO

Como sabemos e todos temos oportunidade de verificar e apreciar, na nossa vivên-cia cristã, há vários gestos que são profundamente simbólicos e, por isso, têm uma enorme importância, não só pelo resultado, mas porque são realizados. A recolha de géneros no Feira Nova de Rio Tinto é prova disso mesmo.

A dada altura da nossa caminhada e perante as dificuldades surgidas e a ausência de verbas, alguém teve a ideia de fazer uma recolha de géneros num hipermercado. A ideia ganhou forma, ganhou pernas para andar e veio para ficar.

Nesta Campanha de Recolha de Géneros, conseguimos juntar centenas de quilos de géneros que nos foram muito úteis na preparação dos cabazes de Natal. As palavras convencem, mas os exemplos ficam.

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OUTRAS ACTIVIDADES…PATRIMÓNIO DOS POBRES

A iniciativa da construção do Património dos Pobres das Regadas, inspirada no lema do Padre Américo – “Cada Paroquia cuide dos seus pobres”, foi, no seu tempo, uma das actividades mais marcantes na vida da Conferência Vicentina de Fânzeres.

Projecto audacioso de construção de oito casas, implantado no lugar das Regadas, numa boa parcela de terreno que ficámos a dever a uma generosa família de Seixo que, com caridade, a doou para servir os mais pobres e necessitados, a obra vislumbrava-se cada vez mais num sonho cheio de fé e esperança de uma rea-lidade de que não se duvidava e que em pouco tempo se concretizou.

A Conferência assumiu desde o primeiro momento a realização desta obra, confiando a sua concretização a uma infatigável equipa de bons paroquianos, equipa que, apesar das dificuldades e frustrações com que se deparou, nunca desa-nimou, fazendo avançar sempre o sonho com permanentes iniciativas de anga-riação de fundos, trabalhos sem tréguas, luta sem esmorecimentos… e inspirada imaginação.

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OUTRAS ACTIVIDADES…CASA OZANAM

A Casa Ozanam é um projecto da Sociedade S. Vicente de Paulo, concebido e criado pelos Vicentinos da Diocese do Porto, para serviço dos mais pobres, apoiando as Conferências Vicentinas na sua acção.

Nasceu da vontade e da inquietação dos Vicentinos, merecendo o apoio dos principais órgãos do movimento vicentino: o Conselho Nacional de Portugal e o Conselho Geral Internacional, contando com a bênção da Igreja do Porto e com o reconhecimento favorável da Segurança Social, que o tem apoiado. É um projecto que honra os Vicentinos, dignifica e engrandece a Sociedade S. Vicente de Paulo.

Correspondendo ao apelo do Conselho Central do Porto, a Conferência do Divino Salvador de Fânzeres em colaboração com o Conselho de zona de Gondo-mar, assumiu a organização e animação da Eucaristia na festa de Verão da Casa Ozanamnoanode2004,tarefaquedesempenhoucomalegria,responsabilidadee dedicação.

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OUTRAS ACTIVIDADES…VIA-SACRA

A participação da Conferência do Divino Salvador de Fânzeres na Via-sacra Vicen-tina, realizada na praça da Batalha, no Porto, fez toda a diferença: nem foi mais nem menos, foi simplesmente diferente.

Em plena Quaresma e no coração da cidade do Porto, em frente à Igreja de StºIldefonso,realizou-seumaVia-sacrapúblicaorganizadapeloConselhoCentraldo Porto, Via-sacra que foi vivida, cantada e orientada pelos Vicentinos da Con-ferência de Fânzeres. Foi um momento muito próprio de vivência quaresmal e de testemunho cristão que marcou profundamente todos os que estiveram presentes.

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OUTRAS ACTIVIDADES…TORNEIO DE FUTEBOL

Com o objectivo de promover o convívio e a troca de experiências entre Jovens Vicentinos, a Comissão de Jovens Vicentinos da Maia organizou um torneio de futebol para jovens, uma vez que a actividade física ainda é um meio que seduz e congrega as camadas mais jovens.

A Conferência do Divino Salvador de Fânzeres foi convidada a participar e não se fez rogada… conseguiu trazer uma taça e uma medalha para Fânzeres, mas ganhou muito mais… Ganhou amizade, partilha e bons momentos passados em são convívio.

Parecia que tínhamos voltado atrás no tempo, em plena década dos anos setenta, quando a Conferência de Jovens de S. João de Fânzeres participava em aguerridos jogos de futebol, com equipamento próprio da Conferência, mais pare-cendo verdadeiros profissionais.

Fundada por jovens e para jovens, o “espírito de juventude” é uma tendência original e permanente da Sociedade S. Vicente de Paulo. O espírito de juventude é o dinamismo, o entusiasmo, a projecção no futuro, é a generosa aceitação dos riscos, é a imaginação cria-dora, isto é, acima de tudo a adaptabilidade, propriedade essencial da juventude, muito mais importante que a adaptação, que se torna a esclerose para quem já não consegue rea-daptar-se.

— david sousa

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OUTRAS ACTIVIDADES…ARMAZÉM DA CONFERêNCIA

Fazia parte de um sonho antigo… Arranjar um espaço próprio que pudesse ser uma mais-valia para a acção Vicentina, um armazém onde se pudessem guardar móveis, electrodomésticos, roupas ou géneros alimentícios, uma vez que, sem um espaço próprio e resguardado, todos estes valores andavam espalhados pelos vários cantos e corredores do Salão Paroquial.

Decidimos por isso deitar mãos à obra e não deixar esmorecer a ideia. Logo foram surgindo indicações de lugares para esse espaço. Foi feito então um apelo ao Pároco, o Dr. Agostinho Rebimbas, que logo apoiou a ideia e deu sugestões. E o sonho foi-se definindo, encaminhando-se para uma possível realidade. Uma clara aproximação dessa realidade aconteceu com a oferta generosa de diversos mate-riais para a construção deste espaço.

A obra material começou e acabou, mas o valor desta obra, situada pare-des-meias com as traseiras do Salão Paroquial, permanece no tempo.

Pode ser o homem a concretizar, mas Deus, através do Espírito Santo, ins-pira o que quer, inspirando-lhe o sonho, e dele o homem faz surgir a obra.

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OUTRAS ACTIVIDADES…GABINETE DE ATENDIMENTO

“…Depois deste trabalho que aqui fiz, depois de ouvir tudo o que aqui ouvi, vou ser melhor!”

Cada pessoa tem a sua sensibilidade e comunica de forma muito diferente os impactos, alegres ou tristes, que mais lhe tocam, mas este desabafo de um jovem, membro da equipa de Acolhimento e Atendimento da Paróquia de Fânzeres, ficou para sempre gravado na minha memória e, ainda hoje, volvidos mais de 10 anos do término deste trabalho realizado aos sábados de tarde, numa sala anexa ao Salão Paroquial, continuo a dar valor à actividade realizada por este grupo de jovens em parceria com a Conferência Vicentina.

Este grupo de jovens, ainda cheios da força do Espírito Santo recebido no dia do Crisma Paroquial, foi uma mais-valia na vida da Paróquia e na caminhada da Conferência vicentina, grupo que terminou porque nem a Conferência tinha capacidade de resposta para tantos pedidos, nem a Paróquia estava preparada para atender a tantas situações de necessidade.

Valeu a pena o trabalho desenvolvido por este grupo de jovens ao longo de seis anos, valeu a pena por todas as pessoas que encontraram uma porta aberta e uma palavra amiga, valeu a pena porque a Conferência cresceu em actividade e experiência.

“O gesto mais digno de alguém é inclinar-se para ajudar outro alguém”.

Se eu encontrasse uma pessoa que me dissesse: “Nunca tive oportunidade de ajudar alguém” eu lhe diria tranquilo: “Servir traz alegria. É porque nunca se aproximou de alguém”.Sim, o gesto mais nobre de alguém é aproximar-se do outro e preocupar-se com ele. Mas esse tipo de atenção deve ultrapassar o mero sentimento de obrigação. Ajudar alguém, no sentido mais profundo, é descer até ele, para fazê-lo crescer, para torná-lo mais gente. Passar pela vida a distribuir alegria, confortar os que sofrem ou estender a mãos aos mais necessitados é o segredo para alcançar a felicidade.

— filipe lamas

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OUTRAS ACTIVIDADES…CELEBRAR 50 ANOS

Uma data de aniversário sempre foi motivo para festejos.A Conferência de S. Vicente de Paulo do Divino Salvador de Fânzeres fez, no passado dia 6 de Setembro, cinquenta anos de existência. Esta é sem dúvida uma data importante pois não é todos os dias que uma Instituição celebra 50 anos de serviço aos mais pobres.Neste dia decorreu uma Sessão Solene no Salão Paroquial de Fânzeres, presidida pela Vicentina Conceição Faria, Presidente da Conferência, e uma Eucaristia Festiva com a pre-sença de todos os Vicentinos da Conferência, alguns antigos Vicentinos, Benfeitores, Cola-boradores e muitos outros Paroquianos que se quiseram associar a esta significativa data. Como não podia deixar de ser, uma vez que a Conferência possui um vasto espólio de objec-tos e documentos sobre a vida vicentina, foi organizada pelo Paulo Garrido, Secretário da Conferência, e pelo José Garrido, Presidente da Conferência de Jovens, uma exposição comemorativa destes 50 anos de vida vicentina.

— notícia enviada para o boletim português da ssvp

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OUTRAS ACTIVIDADES…CELEBRAR 60 ANOS

Celebrar esta bela data podia deixar-nos cair facilmente na tentação de louvor pes-soal ou institucional. Não há dúvida de que é justo lembrar e não esquecer, que a gratidão faz parte dos sentimentos mais nobres. Contudo, celebrar os 60 anos de vida e de história da Conferência Vicentina de Fânzeres tornou-se uma respon-sabilidade acrescida e ao mesmo tempo um desafio… Caminhar até aos 70, 75… e continuar.

Neste dia em que a Conferência celebrou os seus 60 anos de existência, sentiu o peso da história, a sua história de vida com milhares de pobres ajudados, centenas de Vicentinos, Benfeitores e Colaboradores que fizeram e ainda fazem parte de uma construção que nunca acaba. O amor e a fidelidade de Deus inaugu-ram-se todos os dias da nossa vida.

A história da Conferência de S. Vicente de Paulo do Divino Salvador de Fânzeres não é a história de heróis ignorados ou poetas de fama, nem sequer de um simples homem.É a vida múltipla e ao mesmo tempo una de um grupo de cristãos que vivem impelidos pelo mesmo ideal: ajudar os irmãos mais necessitados ao exemplo de S. Vicente de Paulo e de Frederico Ozanam.Sim, uma vida múltipla de ideias e sonhos, projectos e acções, tristezas e angústias, ale-grias e esperanças, unificada pela simplicidade e espírito de doação, traço de união entre todos os Vicentinos.

— cristina sousa

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OUTRAS ACTIVIDADES…O INTERCÂMBIO COM OUTRAS INSTITUIÇÕES

Ao longo destes 75 anos de vida, registamos com carinho e gratidão a forma como a Conferência tem sido acolhida pelas diversas Associações, Instituições e Colecti-vidades com as quais de mais perto tem trabalhado e colaborado.

Raras vezes a nossa voz foi desatendida quando precisámos de recorrer aos valiosos préstimos de outras entidades.

Gostaria, contudo, de salientar, a título de exemplo, o profícuo trabalho desenvolvido com a Comissão Social de Freguesia, um trabalho de equipa que deu maravilhosos frutos em prol dos mais carenciados e necessitados da Freguesia.

Decidi procurar uma instituição, onde a minha presença fosse útil através do volunta-riado, disponibilizando para isso algum do meu tempo.Como ouvia falar do trabalho dos Vicentinos, dirigi-me a eles, sem saber ao certo como funcionava a admissão de Vicentinos, quem eram os seus subscritores ou famílias ajuda-das.Acolheram-me de braços abertos, pois é com o esforço e a dádiva de todos que a Conferência tem o que precisa e consegue ajudar um grande número de famílias carenciadas.

— josefina dias

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A CONFERÊNCIA FEMININACONFERêNCIA VICENTINA DE Nª SR.ª DE FÁTIMA

Em Outubro de 1942 – na celebração das Bodas de Prata das aparições de Fátima, que a freguesia viveu apaixonadamente, e para perpetuar tal celebração – foi instituída a Confe-rência Feminina, e designada com o nome baptismal de Nossa Senhora de Fátima, e datada de 13 de Outubro. Em Maio de 1943, a Conferência comemorou o 7º aniversário da sua fundação com ale-gria e no Domingo do Bom Pastor, após a missa, e na presença das autoridades concelhias e paroquiais foi revista a história deste ano de actividades, marcado com a fundação da Conferência Feminina, e com o seu auxílio instituída a Rouparia. Estavam no Salão da Igreja um grande conjunto de peças de roupa angariadas pelas senhoras Vicentinas, com a colaboração dos Confrades, e também por elas confeccionadas.

— memórias familiares e pastorais – padre a. tavares martins

Este livro não estaria completo sem uma palavra de amizade, cumplicidade, fra-ternidade e incentivo à Conferência de Nossa Senhora de Fátima de Fânzeres e a todas as Vicentinas que fazem parte desta Conferência.

Em nome da Conferência do Divino Salvador de Fânzeres quero testemu-nhar a nossa gratidão por tudo o que têm feito e bem, junto dos mais pobres e carenciados. Louvamos a Deus a entrega, generosidade e o esforço de quantas se empenharam na vida vicentina, à medida que as necessidades o exigiam.

“Andamos por vezes o dia inteiro de saca na mão, a apelar a quem passa ou a bater à porta dos paroquianos a solicitar contribuições para ajudar os mais pobres. Pedir dinheiro, mesmo quando é para dar aos pobres, é sempre complicado e nem todos os Vicentinos têm facilidade em assumir essa postura… mas eu gosto de pedir. Haja quem peça que há sempre quem goste de dar. “

— fernanda mendes

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CONFERÊNCIA DO DIVINO SALVADOR DE FÂNZERESOS ACTUAIS VICENTINOS …

Adelaide Fernanda Gonçalves de PinhoAna Margarida Neves AndréAna Raquel Silva Fernandes PintoAntónio Filipe Viegas Lamas Cátia Sofia Coutinho Teixeira Conceição Oliveira FariaCristina Sousa FerreiraDavid Manuel Ferreira de SousaDomingos Teixeira da CostaFernando da Silva MartinsFilipe Teixeira GarridoJoaquim Manuel Gonçalves TeixeiraJosé Ferreira da Mota

José Manuel Garrido Mendes Josefina de Jesus Santos DiasLaurinda de Castro Garrido Lídia Catarina Garrido NevesLiliana Carla Neves MartinsMaria Amélia Dias Ferreira Maria Fernanda Baptista da MotaMaria Rosa Oliveira de FariaPaula Alexandra VilhenaPaula Cristina Gonçalves TeixeiraPedro Miguel da Silva PintoRosalina Carvalho GonçalvesSerafim Gonçalves Teixeira

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OS BENEMÉRITOS E BENFEITORES…

Ao longo dos setenta e cinco anos de existência da Conferência de S. Vicente de Paulo do Divino Salvador de Fânzeres, foram Beneméritos e Benfeitores desta ins-tituição tanto pessoas de elevadas posições sociais como humildes e anónimos “filhos do povo”.

Pela extensão e dimensão de algumas ofertas, revelando, todas elas, um indiscutível amor à causa que nos move e, sobretudo, pelo respeito que todos nos merecem, cuja divulgação feriria a sensibilidade de quantos o têm feito com admi-ração pelo trabalho da Conferência, mas com discrição, permitimo-nos ocultar, esses dados sem que, contudo, deixemos de expressar aqui e agora a nossa pro-funda gratidão a todos quantos nos ofertam contribuições e donativos, legados e doações, ajudando-nos a caminhar com segurança e confiança no futuro.

É devida ainda uma palavra de gratidão e apreço à Câmara Municipal de Gondomar, na pessoa do seu Presidente, sem esquecer a atenção e carinho que o vereador da Acção Social tem dedicado à actividade Vicentina.

Aos antigos Presidentes da Junta de Freguesia de Fânzeres, pessoas de bem que colocaram os seus préstimos ao serviço da Conferência. Ao actual Executivo da Junta de Freguesia, na pessoa da sua Presidente, igualmente é devida uma pala-vra de reconhecimento por toda a colaboração prestada à Conferência e por toda a ajuda concedida na organização de algumas actividades, as quais, sem a sua ajuda, teriam dificuldades de concretização.

Várias e significativas têm sido também as ajudas que, da mais diversa pro-veniência, quase sempre anónimas, têm servido de enorme ajuda e estímulo para continuar a nossa actividade junto dos mais pobres e necessitados.

Que Deus Vos ajude e cumule de bênçãos.

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Napassagemdo75.ºAniversáriodaAgregaçãodaConferênciadoDivinoSalvadorde Fânzeres à Sociedade S. Vicente de Paulo, é para mim uma honra, na qualidade de Presidente da Junta, ter a oportunidade de partilhar com todos vós este meu testemunho.

Muito antes de desempenhar esta minha função na Junta de Freguesia de Fânzeres, já era conhecedora e até admiradora da obra realizada pelos Vicentinos, que se dedicam, de alma e coração, a aliviar o sofrimento dos mais desfavoreci-dos, obra essa traduzida numa caridade prática e concreta, sempre pontuada por nobres valores, dos quais destacaria a humildade e a simplicidade.

Na qualidade de Presidente da Junta, tive a oportunidade de conhecer melhor a realidade da Conferência Vicentina de Fânzeres e sobretudo do seu meri-tório trabalho. Sei que gostariam de ir mais longe nesta nobre missão que a vós mesmos vos acometeste, tal é a quantidade de situações de manifesta dificuldade que encontrais muitas vezes no vosso caminho.

Nem sempre é possível acudir a todas as situações que estes difíceis tempos em que vivemos geram na nossa comunidade, mas quando a resposta imediata não é possível, ou o encaminhamento não funciona, fica sempre a receptividade a um desabafo, uma palavra sempre amiga ou um carinho no olhar, motivadores de esperança e até fé num futuro melhor e mais justo para todos. Faço votos para que mantenham esse vosso caminhar em prol do nosso semelhante mais necessitado, com a certeza de que a Junta de Freguesia de Fânzeres tudo fará para continuar a atender às vossas solicitações, dentro dos limites a que estamos sujeitos enquanto entidade pública.

Termino com um bem-haja a todos os que pertencem ou pertenceram a esta prestigiada instituição e um sentido “obrigada” por tudo.

— fernanda vieira presidente da junta de freguesia de fânzeres

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OS COLABORADORES…

Ao falar em colaboradores, não posso deixar de salientar em primeiro lugar o esforço e o apoio generoso que toda a Paróquia tem dedicado à Conferência de S. Vicente de Paulo do Divino Salvador de Fânzeres. Ao longo destes setenta e cinco anos de existência, muitos grupos paroquiais têm dado o seu contributo fraterno e amigo, bem como o esforço pessoal de alguns dos seus membros, para que a acção vicentina seja uma realidade cada vez mais forte na Paróquia de Fânzeres. Não cito os seus nomes para não correr o risco de esquecer alguém. Os grupos paroquiais que habitualmente colaboram com a Conferência sabem muito bem o valor do seu trabalho e o muito que têm feito em prol da Conferência e dos mais pobres.

Presto homenagem também a todos os cristãos, gente de bom coração, que não se cansa de repartir tudo o que tem com os mais desfavorecidos. Todo o bem que fazem em favor dos pobres fica, com toda a certeza, guardado no livro da vida, para um dia voltar a ser restituído.

Uma palavra, por último, mas não de menor importância, para todos os Assistentes Espirituais que acompanharam a Conferência ao longo da sua existên-cia. Lembro sobretudo os diversos Párocos de Fânzeres, a começar pelo fundador da Conferência, o Rev. Padre António Augusto Tavares Martins, Assistente Espi-ritualde1937a1954;oRev.PadreGregórioMagalhães,nosanosde1945e1946;oRev. Padre Floriano Dias Pereira, Assistente Espiritual de 1946 a 1959; recordo apresença amiga do Rev. Padre Manuel Maria Tavares Rebimbas, Assistente Espiri-tual do ano de 1959 a 1978; recordo, ainda tão presente nas nossas vidas e no nosso coração o Rev. Padre Agostinho Tavares Rebimbas, Assistente Espiritual de 1987 a 2008; e, mais recentemente, o Rev. Padre António Tomás Correia, Assistente Espi-ritual de 2008 a 2010. Finalmente, uma palavra de amizade e fraternidade ao Rev. Padre Daniel Rocha, actual Pároco e Assistente Espiritual da Conferência desde o ano de 2010.

Resta-nos a nossa gratidão e estima para com todos aqueles que de uma forma ou outra colaboram com a Conferência.

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NO SERVIÇO E NO AMOR CRISTÃO

A Conferência de S. Vicente de Paulo do Divino Salvador de Fânzeres, fundada no dia 6 de Setembro de 1937, completa este ano as suas Bodas de Diamante no serviço e no amor cristão.

Desenvolve a sua actividade, como todos nós sabemos, junto dos mais pobres, dos idosos, dos doentes, dos acamados, dos sem-abrigo e de todos aqueles que carecem de um gesto de caridade cristã. As suas inúmeras iniciativas e activi-dades que neste livro são recordadas, dão uma ideia de todo o trabalho gratuito, generoso e empenhado que os membros da Conferência colocam neste compro-misso responsável com os pobres e os carenciados. As visitas, as dádivas, os paga-mentos, as ofertas, as entregas, as iniciativas, os convívios são alguns exemplos das múltiplas facetas deste grupo de acção social e caritativa presente nesta paró-quia de Fânzeres.

Como nos dizem vários documentos da Igreja, a acção social é uma dimen-são profunda e estrutural da comunidade eclesial. Os cristãos estão conscientes de que o serviço fraterno constitui, ao lado do anúncio do Evangelho e da celebração da fé, uma dimensão fundamental da vivência em Cristo, sob a acção do Espírito Santo. Aliás a Eucaristia e a escuta da Palavra de Deus são fonte da verdadeira cari-dade. É da Eucaristia que deve partir a caridade, porque senão será apenas uma mera contribuição ou ajuda mais ou menos solidária ou um conjunto de tarefas mais ou menos interessantes mas sem a profundidade necessária do amor cris-tão. O importante é que a acção social e caritativa da paróquia feita muitas vezes pelas Conferências de São Vicente de Paulo seja sentida como o amor ao próximo que Jesus nos ensina no Evangelho, ela é o culminar e o desenvolvimento da nossa vivência do amor e da caridade cristã.

O serviço fraterno, diaconia ou acção social e caritativa, decorre do anún-cio do Evangelho e da celebração da fé, está no cerne da vida cristã e apresenta-se como sinal do seguimento de Jesus Cristo, que afirmou: pelo amor todos conhecerão

conferência do divino salvador de fânzeres

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que sois meus discípulos. É por este amor aos outros que a Igreja, que a paróquia se torna sacramento de fraternidade humana e se manifesta como sacramento uni-versal de salvação. É pela dimensão diaconal que o cristão pode chegar à vivência autêntica da fé e à inserção plena na comunidade eclesial e na comunidade civil.

A actual situação económica, social e de valores é uma oportunidade para desenvolver a nossa sensibilidade caritativa cristã e deve fazer-nos pensar como podemos ser expressão coerente e concreta do amor que Deus tem por nós. Estes tempos de crise conduzem as comunidades cristãs a purificar a sua missão de tes-temunho do Evangelho como salvação para a sociedade, como abertura às interpe-lações de serviço fraterno nos diferentes níveis de realização.

É nesta situação actual com toda esta envolvência mas também com a espe-rança dada da nossa vivência católica que a Conferência do Divino Salvador de Fânzeres é chamada a desenvolver a sua acção social e caritativa tendo também no pensamento aquele grupo que no ano de 1937 foi capaz de se formar, desenvolver e constituir. Era urgente e necessário prover ao sustento dos mais pobres, dizia-se na primeira acta da Conferência. É uma realidade que não é só daquele tempo em vésperas de uma guerra mundial mas é algo sempre presente na vida do cristão: o auxílio, a ajuda, a generosidade, o voluntariado, o amor, a caridade cristã.

Em meu nome e em nome da comunidade da paróquia do Divino Salvador, agradeço a todos os que de variadas formas contribuíram e auxiliaram as activi-dades da Conferência que sem a ajuda fraterna e a participação de muitas pessoas nada poderiam fazer a favor dos mais carenciados, e de um modo muito especial a todos os Vicentinos que a compõem e que trabalham e empenham na concreti-zação dos objectivos que norteiam a actividade da Conferência de São Vicente de Paulo que foi fundada em 1833 e se implantou em Fânzeres em 1937.

Que os ideais cristãos e vicentinos continuem a conduzir a vossa vida e que este momento seja um “carregar baterias” para continuar o grande trabalho apos-tólico de ajuda, de generosidade, de amor e de caridade cristã.

Que Cristo, o Bom Samaritano, ajude a Conferência a realizar sempre a sua missão de O levar a todos aqueles que necessitam de ajuda quer material quer espi-ritual e que haja sempre gente disposta a colaborar e a trabalhar nesta dimensão caritativa da nossa paróquia.

O Vosso Pároco e Assistente Espiritual— pe daniel paulo gonçalves rocha

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Todos os Vicentinos da Conferência estão inseridos na vida paroquial

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RUMO AOS 100 ANOS…

Do que humanamente depende o futuro, e constatando o entusiasmo e o dina-mismo do presente, podemos afirmar que a actividade das Vicentinas e Vicentinos de Fânzeres promete e está para durar.

O objectivo principal está consolidado, uma vez que o carisma primordial e prioritário é ajudar os pobres.

Estamos, por isso, a desenvolver esforços para incrementar uma inserção cada vez maior na vida paroquial, pois, apesar de a Conferência Vicentina ser um movimento cristão com uma actividade muito própria na vida da comunidade, somos essencialmente um movimento de Igreja e, como tal, um movimento aberto, mas sintonizado com toda a comunidade paroquial.

Caminhamos também no sentido de rejuvenescer a Conferência Vicen-tina para que todos os seus elementos, através de uma relação sadia, e na reflexão, oração e acção, tenham a possibilidade de se questionar e descobrir a sua vocação, recriando como seu o grito de António Frederico Ozanam: “Vamos aos pobres”.

Iremos, por isso, continuar a trabalhar intensamente na Conferência, enquanto Deus nos der força, entusiasmo, saúde e coragem, se possível até aos 100 anos.

Convictos da importância e oportunidade da mensagem de Frederico Ozanam e alicerçados na acção e no exemplo de vida de S. Vicente de Paulo, a todos endereçamos eterna gratidão.

— josé manuel garrido mendes

“Se cada homem, cada dia, deitasse uma flor no caminho do próximo, os caminhos da vida não ofereceriam senão flores.”

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Agradecemos à Paroquia do Divino Salvador de Fânzeres a colaboração prestada para a edição deste livro.

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Edição da Conferência de S. Vicente de Paulodo Divino Salvador de Fânzeres

na celebração do septuagésimo quinto aniversário

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1937—2012

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DorelatóriodaConferênciadeFânzeres–1939/1940

Cristo é hoje a legenda bendita que se consagra no lar do pobre e no lar do rico. ¶ Os pobres, essa mancha infinita de desdita e de angústia, tiveram certamente conforto por-que os mais afortunados se lembraram deles. ¶ E em todas as mesas, por mais humildes que sejam, houve por certo mais pão e alegria, aquela alegria que é esperança derradeira, aquela alegria que é fé que redime e consolo que anima. ¶ Fânzeres, esta freguesia que é do trabalho e da solidariedade, que é do amor e da ternura pelos que sofrem, cumpriu o seu dever de forma notável e edificante. ¶ Abriu o bolso e o coração, e um verdadeiro cau-dal de ouro correu todas as direcções, abeirou-se do infortúnio e consolou os deserdados.