Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós...

8
Jesús es el Cristo, El Hijo de Dios Errores de entendimiento y de traducción Parte 3 Isaías 43:11 Dios EL Salvador, Jesucristo el salvador Isaías 43:11: Yo, yo Jehová, y fuera de mí no hay quien salve. Lucas 1:47: Y mi espíritu se regocija en Dios mi Salvador [aquí era María quien hablaba]. Lucas 2:11: Que os ha nacido hoy, en la ciudad de David, un Salvador, que es CRISTO el Señor (aquí hablaba un Ángel de Dios). s un error común que algunos cristianos tomen de estos registros que, como Dios es el único que salva y Jesucristo es llamado salvador; ambos son la “misma entidad”. Esto es la vez ilógico y anti Escritural. Un albañil puede decir: yo hice esa casa. También lo puede decir el electricista y el azulejista, el plomero, el pintor y el arquitecto. Finalmente el dueño podría decir: yo hice la casa. En realidad cada cual hizo su parte en la casa. No puede ser que todos la hayan hecho pero en el hablar coloquial todos la hicieron. Quien inició el proyecto fue el dueño que expuso la idea al arquitecto y puso el dinero y compró los materiales y luego contrató a los distintos gremios. El dueño fue el originador, sin él no hubiese habido ni proyecto, ni materiales ni gremios. El arquitecto actuó en lugar del dueño, como un agente o representante de él dando los parámetros del arte y oficio de la construcción para que los siguientes agentes (los gremios) trajeran el concepto o idea del dueño en concreción. E 27

Transcript of Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós...

Page 1: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...
Page 2: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

Confia

Page 3: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

Confia

Sofia Ribeiro

Page 4: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

© 2018 Sofia Ribeiro e Matéria-Prima EdiçõesTodos os direitos reservadosIncluindo os direitos de reprodução total ou parcial em qualquer suporte.

Matéria-Prima EdiçõesAv. Miguel Bombarda, 42, 1ºC1050-127 [email protected]

Título: ConfiaAutora: Sofia RibeiroRevisão: Cristina Silveira de CarvalhoConcepção gráfica e paginação: Pedro Fernandes/Matéria-PrimaFotografia de capa: João PortugalCabelos: Eric Ribeiro / Griffe

Impressão e Acabamento: Cafilesa - Soluções Gráficas, Lda. ISBN: 978-989-769-134-8Depósito legal: XXXXX/18

Page 5: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

Ao meu pai.

Page 6: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

I. FORÇA 11Os primeiros anos 13

Aprender que o trabalho salva 20

Os amores e as casas 28

O primeiro susto 34

Um aniversário especial 38

Fechar a cortina 43

O exame 49

O dia D 57

Como assim? 60

A festa 67

II. FOCO 75A vida continua 77

O anúncio 82

Os meus pais 85

Contar ao mundo 91

Parar 95

Uma segunda opinião 100

Começa a químio 110

Queda de cabelo 121

O dia a dia 134

Partilhar o vídeo 140

O estigma 148

A última sessão 150

A cirurgia 157

Índice

Page 7: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

III. FÉ 167O amor 169

Os meus amigos 172

Shai 183

Redescobrir a paixão 200

De volta à família 211

O meu abraço 224

Agradecimentos 226

Page 8: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...
Page 9: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

Vi que ele falava, mas não o ouvia. Sabia que o médico me

estava a dizer que o caroço que tinha era, afinal, um cancro,

mas só sentia o barulho ensurdecedor. Como um rádio mal

sintonizado, o que me chegava era tudo o que não queria

saber. A minha cabeça pensava que talvez fosse um engano,

que talvez pudéssemos repetir os exames, ver melhor; tentar

uma nova análise, mas o meu coração sabia que a minha vida

estava prestes a mudar para sempre.

O médico continuava a falar e eu sem o ouvir. Lembro-me

do ar preocupado com que me explicava a “lesão na mama

esquerda”, como tentava ser claro e detalhado sem me deixar

completamente sem chão. Lembro-me de perceber uma série

de palavras que nunca julguei poderem definir um estado

e um caminho que seriam meus. Tratamentos, protocolos,

quimioterapia, como assim? Então, e a minha vida? O que faço

com ela enquanto o meu corpo decide se vive ou se morre?

E os meus? A minha família? E onde coloco os meus sonhos,

tudo o que ainda tenho para viver?

Pela primeira e única vez, tive medo. E chorei as primeiras

de muitas lágrimas.

Page 10: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...
Page 11: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

O que me trouxe até

aqui

I. Força

Page 12: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

A infância, as descobertas, os sonhos e o primeiro

susto

Page 13: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

13

F O R A M M U I TAS AS V E Z E S , ao longo deste tratamento, em que

me lembrei da minha infância. É inevitável, quando recebemos

a notícia de que temos uma doença possivelmente fatal,

que a nossa vida nos passe diante dos olhos. Umas vezes de

modo consciente, outras, sem me aperceber, foram muitas as

memórias que me vieram à cabeça, nem todas felizes, mas

sempre úteis para o momento em que as revivi.

Nunca falei deste tema publicamente, porque sempre tive

medo que a imprensa não o tratasse com o respeito que merece.

Por mais mágoas que tenha, quase todas resolvidas, a minha

família merece consideração e respeito. É sabido que a minha

infância não foi fácil, que o meu contexto é particular e eu hoje

sei que cresci a ver coisas que nenhuma criança devia ver. Mas

isso nunca me impediu de correr atrás dos meus sonhos. Pelo

contrário, as dificuldades só me tornaram numa pessoa que vai

à luta e que dificilmente baixa os braços.

Tive uma infância muito pequenina que, na verdade, durou

até aos sete anos. Sou filha de pais separados, o que, por si

só, não é nada de especial. Mas tanto o meu pai como a minha

mãe não conseguiram resolver as suas diferenças da forma mais

sensata e respeitosa, o que fez com que fosse forçada a assistir

Os primeiros anos

Page 14: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

Confia

14

a coisas das quais, por mais que queira, nunca me vou esquecer.

Não havia muito dinheiro e nunca tivemos uma casa. Vivíamos

em quartos de residenciais, não havia muito espaço, e o meu

pai nem sempre estava. Quando se zangava com a minha

mãe, desaparecia durante uns tempos, ou desaparecíamos

nós. A situação tornava-se insustentável, umas vezes por

desentendimento entre eles, outras porque a minha mãe não

tinha como pagar o quarto. Andávamos de residencial em

residencial ou em casa de algum amigo que nos dava guarida

até a situação acalmar e melhorar.

Lembro-me de, numa dessas vezes, nos termos mudado

para casa de uma amiga da minha mãe, eu e ela, na Quinta

do Mocho, em Sacavém. Os prédios, ainda por acabar, tinham

sido ocupados por pessoas em situação precária e vivíamos

todos nas mesmas condições: numa estrutura de cimento

e tijolo, sem portas nem janelas, apenas cartão ou placas de

metal ou madeira que serviam para tapar o frio e ter alguma

privacidade. A luz chegava-nos através de puxadas dos postes

de eletricidade da rua e a água que usávamos nascia num poço

ali perto. Não havia saneamento básico, os esgotos eram a céu

aberto e os ratos andavam por ali. Não me esqueço de que, um

dia, acordei com a minha mãe, aflita, a sacudir um deles que

tinha subido para o colchão onde dormíamos no chão. Hoje, e

talvez por isso, são bichos que não me metem medo.

Apesar de o meu pai ser mais ausente, cheguei a viver com

ele durante um tempo, no Bairro da Curraleira, perto do Alto de

São João. Hoje em dia, é uma zona reabilitada, mas, na época,

era um bairro de lata e considerado um dos supermercados de

droga e foco de criminalidade. Nesse tempo, o meu pai tinha

uma namorada com quem decidiu partilhar casa e levava-me

Page 15: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

Sofia Ribeiro

15

com ele durante algumas temporadas. Era uma casa térrea, de

tijolo e telhado de zinco, com dois quartos, uma sala e uma

casa de banho. Ou melhor, uma divisão que se assemelhava

a uma casa de banho. Porque a sanita era um buraco no chão

e a banheira um quadrado feito em tijolo com um ralo e uma

cortina, para alguma privacidade.

Quando penso em tudo isto, em dias maus, não há como

não sentir alguma mágoa, mas nada comparado com aquela

que guardei durante grande parte da minha vida. Não entendia

as razões dos meus pais, não percebia por que motivo não

tentaram comprar ou arrendar uma casa para não termos de

passar pelo que passámos, como isso teria sido importante

para nós, como família, como seres humanos. Já eu ia a meio da

adolescência quando a minha mãe decidiu arrendar uma casa

modesta, em Camarate. Nessa altura eu já era independente,

mas passava lá uns dias, de vez em quando.

Bem sei que isto não foi um ambiente saudável para uma

criança crescer, mas nunca me senti uma vítima. Há tantas

crianças, infelizmente, em situações iguais ou piores, que a

minha história se torna apenas mais uma. É a minha, claro, e por

vezes dói-me, mas aceito-a como é e tenho a certeza absoluta

de que, sem ela, eu não seria a pessoa que sou hoje. Sabia que

não tinha uma família como as outras, até porque via que os

meus colegas de escola viviam de modo diferente. Dormíamos

os três na mesma cama, eu ao lado da minha mãe, lugar que

a minha irmã mais nova veio ocupar quando nasceu. Passei a

dormir aos pés da cama e, mesmo assim, sentia-me feliz.

Não tínhamos muita coisa, incluindo comida. Cada um de

nós tem a sua relação particular com a comida. A minha, pelo

que vos tenho vindo a contar, remete-me para a minha infância.

Page 16: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

Confia

16

Desde pequena que adoro comer. Ainda hoje, metam-me um

prato de comida à frente e fico feliz! Nunca passei fome, mas

comíamos o que havia e sempre que aparecia alguma coisa

que não era habitual, fazíamos uma festa. Bolo de aniversário:

maravilha! Carne, quer fosse frango ou porco, era uma alegria!

Como vivíamos em quartos de residenciais, fazíamos a chamada

comida de tacho – a única possível de cozinhar na pequena placa

elétrica que a minha mãe levava e usava às escondidas –, que não

era mais do que um tacho com a comida que a carteira permitia

ter. Podia ser frango com massa, jardineira, massa com feijão,

arroz de salsichas, refeições

baratas e simples de cozinhar.

Além disso, era comida que se

conservava mais tempo fora do

frigorífico, um eletrodoméstico

que por vezes os quartos tinham,

mas era tão pequeno que só

cabia o leite e pouco mais.

O Nestum e a Maizena eram

os nossos fiéis companheiros,

muitas vezes durante toda

a semana. Isso e sopas de

leite. Fecho os olhos e ainda

me lembro do sabor do pão

com açúcar, já meio duro, mas

amolecido pela força do leite.

De tudo o que comíamos, só a

açorda me desgostava. Até chorava para a comer! Ainda hoje,

é das poucas coisas para as quais não vale a pena convidarem-

me. Não consigo mesmo.

No jardim de São Pedrode Alcântara, com 10 anos.

Page 17: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

Sofia Ribeiro

17

A minha mãe era a comandante daquela tropa e nunca

nos faltou o que comer, mas houve períodos muito difíceis. Por

vezes, passavam-se dias em que sentia a minha mãe do lado

de lá da porta do quarto, a deixar-nos caixas de papa, leite e

pão, antes de sair de novo para tentar arranjar dinheiro para

nós. Como tinha a renda em atraso, o dono da residencial não a

deixava entrar enquanto não pagasse.

Apesar de tudo, tenho memória de momentos em que nos

senti muito próximas. Só adormecia com ela a fazer-me cafuné.

Com uma mão fazia-me festas no cabelo, a outra mão estava

presa na minha, agarrada por mim com medo que ela se fosse

embora e me deixasse sozinha. E antes de fechar os olhos e

pegar no sono, pensava: “Um dia vai ser diferente, eu sei que

vai!” Não me perguntem como, mas, aos seis, sete anos, eu

sabia que o nosso futuro haveria de ser melhor.

Como todas as crianças, as brincadeiras na rua eram tudo.

Punha-me em cima de placas de madeira e atirava-me de

ribanceiras, sem nenhuma noção de perigo. Perdia as horas,

deixava-me ir na brincadeira com os meus amigos. O mesmo

acontecia na escola, adorava lá estar. Eram alturas em que me

esquecia de que a minha vida não era igual à das crianças da minha

idade, era um ponto de fuga de tudo o que via e não gostava.

Cresci com o sonho de ter uma casa e, nos piores

momentos, nunca perdi a esperança de que as coisas

melhorassem e nós pudéssemos, um dia, viver todos

juntos, numa casa com uma televisão na sala de estar

e uma mesa grande cheia de comida.

Page 18: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

Confia

18

Apesar das muitas dificuldades por que passámos, acredito

com todas as minhas forças que o dinheiro nunca é o maior

problema. Termo-nos uns aos outros, da forma que soubermos

ser uns dos outros, isso sim, é tudo. Uma criança precisa de

amor, estabilidade, segurança, respeito, e isso nem sempre

existiu comigo.

Sei que, com tudo o que vivi, poderia, facilmente, ter-me

tornado uma delinquente. O ambiente à minha volta era propício

a isso, era o caminho mais fácil, mas a minha vontade férrea de

ter uma vida melhor, mais feliz, para mim e para a minha família,

sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós

e, hoje, adoro a minha casa (adorei todas aquelas em que vivi,

no tempo certo), adoro estar em casa e adoro até o som da

palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e

paz, fonte de aconchego e serenidade.

Hoje sei que o caminho que os meus pais escolheram para

eles, e que nos afetou de forma clara e para sempre, não foi o mais

correto, mas aceitei-o. Ainda tenho lembranças menos boas, mas

estou cada dia a aprender a lidar com elas. Há cinco anos, decidi

pedir ajuda e recorri à psicanálise. Aconselho quem queira e

possa a fazer o mesmo. Todos precisamos de alguém com quem

falar, desabafar sobre o que nos pesa e entristece. E, acreditem,

há coisas na nossa história que não fazemos ideia de quanto nos

afetam no dia a dia. A determinada altura, precisei que alguém

neutro me ajudasse, sem me julgar, a pensar sobre tudo isto, a

dar uma ordem às recordações, a desatar nós e, sobretudo, a

encontrar respostas para as perguntas que carreguei comigo até

então. Sei hoje que não terei respostas para tudo, mas vivo com

uma maior noção do modo como a minha infância e as escolhas

dos meus pais influenciaram, positiva e negativamente, o meu

Page 19: Confia · Era uma casa térrea, de ... sempre falou mais alto. Sonhava com uma casa para todos nós e, ... palavra casa. É um lugar de amor, onde vou buscar energia e paz, ...

Sofia Ribeiro

19

caminho e a minha relação com os outros. Sou o que sou, de

bom e de mau, para o bem e para o mal, por causa do que vivi.

Somos todos. A minha história não se apaga, mas começo a

saber viver com ela e a resolvê-la na minha cabeça.

Com 15 anos, na varanda de um dos sítios onde morámos, armada em top model.

(vamos fingir que não estamos a ver a sombra azul nos meus olhos)