Confissões de um puto convencido

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A. FAriAs

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ADverTÊnciAJuro, de pés juntos, que essa é uma obra de ficção sexual. Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência. Seu achão, você não está nessa história, viu? Tem gente bem pior que você.

A leitura desse livro pode provocar reações adversas como: Erotismo, afrodisia e excitação incontrolável.

Agite antes de usar...

Evite a penetração mental... Cuidado para não fundir a cuca.

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é umA merDA.Estou puto dos cornos. Não tenho mais vontade de viver. Nem consigo defecar direito, quem dirá pensar! E se penso, receio que me castrem os pensamentos. Sou um bosta, isso sim. Es-tou com impotência cerebral.

Ai de mim... Antes meu pai tivesse se masturbado que empre-nhado a mulher que me gerou. Azoospermia é o que ele deveria ter tido. Então, não estaria eu, agora, maldizendo o seu nome. Não fui parido; fui cagado. Não obstante, estou aqui e devo me portar como gente. É necessário que me conduza como ser exis-tente, pois se penso, existo, já dizia um velho eunuco.

Nem quero saber quem foi. Uso sua frase porque me parece verdadeira. Ou será que provarei o contrário? Vai chupar pre-go, vai!

Apresento-me: Sou um baguá, nascido aqui mesmo nesta ter-ra de perseguição, ódio e malícia; tenho a idade D’Ele quando foi morto. Instrução pardacenta: Um misto de puritano com li-beral, um pouco de cavalo e um tanto de asno. Mas eu sou eu mesmo, não sou imitação.

Não dou bola para conceitos.

Também não sou um muro de lamentações ambulante. O que eu pretendo é foder à vontade. Porque no dia em que a pica brochar, preciso estar realizado.

Meu nome é Joaquim, Joaquim Latrina, todavia, todos me co-nhecem por Joca. Os inimigos odiosos me apelidaram de “Joça”.

Esse meu apelido deu o que falar. Anda por aí mais que osso em boca de cachorro. Tudo é o Joca! Mas, graças a mim mes-mo, tenho um ótimo ponto de observação. Uma visão do co-tidiano que me permite ver a cidade que padece; que festeja; que defeca; que copula; que chupa; que apodrece; e, natural-mente, que prolifera. Vejo os gananciosos, em bandos, que estupram o poder; observo os usurpadores que subornam as

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leis sagradas e que faturam as empregadas; ouço monólogos ríspidos; diálogos amorosos. Vislumbro os beijos indiscretos e os pontapés a gosto.

Tudo isto sem mentir, nem inventar. Não tenho fantasias, nem sonhos utópicos. Está tudo documentado. Ai de ti, filho de uma puta, se achar que é babaquice minha. Juro, lhe como o cu.

Eu sou o Joca. Não tenho sentimento fixo. Dou uma trepada aqui, outra ali, sem compromisso. Não tenho dinheiro para pa-gar buceta de mulher. Eu vou em frente. Casamento? Só para quem tem vocação para corno manso. Nada de casar, fico com o puro consumo.

Sou um sujeito guapo, alto, encorpado, cabelos ondulados e curtos. Não um daqueles cabeludos, tipo “babaca de esqui-na”... Esses que ficam mostrando a chave do carro (que é do pai) e, quando conquistam uma gata, não sabem como agir no serviço. Empatam foda.

Comigo é na tampa, não tem moleza.

Não gosto de falar de mim mesmo, no entanto, me curvo à curio-sidade das mulheres e declaro mais: Tenho um membro médio, mas quando provocado, cresce barbaridade. Aí tenho que abrir o chiqueiro, porque o bicho fica sem espaço e quer sair.

Serve-me roupa 46 e sapato 40. Qual é? Pensou que usasse lan-cha? Eu não preciso de muito apoio para fazer força na cama, muito menos alavanca.

Se você ainda está lendo, continue porque vem coisa por aí. Espere um pouco; vou dar uma mijada e volto logo.

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Tenho A imPressãoque estou sendo seguido. Frequentemente hostilizado por pessoas a quem, aparentemente, nunca fiz nada. São desco-nhecidos que tentam colocar areia no meu barato. Qualquer hora, eu os arrebento ou revelo fotos deles com as mundanas dos bordéis. Lá eles pagam (sem titubear e às mãos cheias) o que as mundanas pedem. Em casa? Nem refresco!

Estou de saco cheio.

Fico com cara de tacho quando vejo esses putanheiros na fila da comunhão. São uns papa-hóstias! De mãos postas, pescoço torto, rezam. Ou fazem de conta, pois estão distraídos, traman-do algum safanão.

O padre fala e eles nem ouvem, e depois não sabem o que o padre falou. Creio que até o padre diz as orações de cor e se perde em devaneios, olhando para as donzelas presentes. Até, vejam só, tenta ele adivinhar quem lhe disse no confessionário que fodera com o namorado.

Vai cagar! Isso é coisa que se diga do padre? Para com isto, filho da puta! Está bem, está bem! Mas não me provoque que eu prego fogo. Aí vai todo mundo lamber pica de velho (que deve ter um gostinho...).

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mAs como eu falava antes, não disse a você que estou sendo seguido? Es-cutam meus telefonemas; fazem comentários e calúnias de coisas que nem pensei em fazer, quem dirá fazê-las. É a cons-ciência externa: a fofoca. Desisto de fazer porque já saíram es-palhando.

Estou no poder, mando e desmando. Mas, eis, senão, quando, o bode velho voltou de viagem e as más línguas destilaram veneno contra mim. Agora estou na boca do lobo. Recebi a minha destituição por escrito. Aí eu fiquei muito macho. Subi as escadarias e entrei na sala do chefe. Não me contive:

— Vai tomar no cu, porra!

— Meça suas palavras comigo!

— Vá à merda, velho caduco!

— Não grite que não lhe fiz nada.

— Caco velho, não vale um estanho na testa!

— Vamos conversar...

— Com você não tem mais conversa. Porque não dialogou antes?

— Eu estava fora!

— Bode velho! Seus dias estão contados. Vá se cagar, estupor!

— Você está demitido!!!

— Ah, seu puto! Não sabe manter uma conversa à altura?

— Fora, infiel! – Berrou tão alto e, antes que lhe desse um piripaque, saí.

Ora, ora... Vejam só a petulância do baita! Trabalhei para ele, dei um duro danado e ele vem, nem me agradece, crê nas fo-foqueiras e me despede assim.

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— Vá à merda, veado sem vergonha! - Gritei quando a porta se entreabriu.

Da sala do porco saiu um puxa-saco realizado com minha demissão.

— Espere, seu engole sapos, que quando o velho não der mais no couro, eu reassumo. Daí você vai dar o cego na esquina para ganhar a vida.

— Como? Eu sou inocente!

— Ah! Ah! - Ri bem alto - Você pensa que sou surdo. Você vai entrar pela tubulação!

O esconde-esconde, o sutiã de patrão, o suporte de aleijado, saiu apressado; senão lhe dava um pontapé no saco. Mas pre-feriu capar o gato, fechar aquela boca cheia de dentes e refa-zer-se com seus cupinchas.

Até aqueles que eu favoreci, durante minha curta gestão, se esquivam e evitam falar comigo. Porra, o que há? Só por que fui demitido não presto? Não faz mal. Logo eu reassumirei e aí, seus espíritos de porco, vocês vão peidar bolinha. Vocês vão todos ensacar fumaça.

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DePois Do bATe-bocA,do bafo com aquele caco, me escafedi da empresa e vaguei pela cidade, sem rumo, com os pensamentos embaralhados, sem volúpias com o baguazão lá embaixo. Eu me sentia sen-do zombado por todos. Nem as mulheres me jogavam aquele charme costumeiro. Estava extremamente nervoso. As putas que passam batendo bolsa não estão preocupadas com os acontecimentos, me dão bola; tentam beliscar alguma nota. Não tenho estômago para aturar conversa de bucho, as boas não andam pelas ruas. Elas me esperam na gandaia, à luz bran-da. Ao som da música apropriada elas amam mais.

Não estou para papos.

A tensão nervosa me abala. Preciso baixar noutro centro. Seu merda enxerido que está lendo, dá um tempo, que é para me recompor, pausar a vida e refletir.

Aluguei um quarto de hotel na cidade vizinha, emborquei al-guns copos de bebida (aquela que matou o guarda) e apaguei. Dormi profundamente, apesar dos pesadelos. Quando ama-nheceu, a cabeça doía de forma estonteante. Estava na bana-nosa.

Fui ao banheiro, olhe para o espelho: Eu estava irreconhecível, pálido, cara de verme de enxurrada; feio mesmo. Sentei no tro-no para aliviar as tripas, quase adormeci. Tocou o telefone do quarto. Levantei apressado puxando o zíper das calças, quase grampeando o pinguelo. Acho que nem limpei o cu.

— Fale, bípede implume... - Eu disse.

— O quê?

— Fala, bicha louca...

— O senhor quer café no quarto?

— Engrossa essa voz, xoxota!

— O senhor vai descer?

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— E você, já desceu?

— O que?

— As calças.

— Para que?...

— Para dar, seu merda.

— Dar o quê?

— O cu, porra!

— Não fale assim comigo, meu senhor!

— Ai, ai... O bunda-mole quer engrossar?

Desligou. Essas bichas são esquentadas quando se mexe com o brio delas. Tudo gente boa, culta e inteligente.

Éramos velhos conhecidos, eu sempre me hospedava ali quan-do queria ficar só, ou quando estava com a macaca.