Conflito ou Violência Escolar? Por: Rosiméri de Souza ... · possíveis e principais causas que...
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Universidade Cândido Mendes
Instituto “A Vez do Mestre”
Pós Graduação “Lato Sensu”
Conflito ou Violência Escolar?
Por: Rosiméri de Souza
Orientadora: Professora Sheila Rocha
Rio de Janeiro
.Outubro/ 2009.
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Universidade Cândido Mendes
Instituto “A Vez do Mestre”
Pós Graduação em “Lato Sensu “
Conflito ou Violência Escolar?
Trabalho de Monografia apresentado por
Rosiméri de Souza, como requisito final
para conclusão e obtenção do certificado
do curso de Pós Graduação a nível “Lato
Sensu” em Orientação Educacional e
Pedagógica.
i
2
Agradecimentos
A Deus
Que incomparável e inconfundível na sua infinita bondade, compreendeu os
meus anseios e deu-me a necessária coragem para que eu atingisse meus
objetivos. Ofereço o meu porvir e peço que continue a ajudar-me dando
forças para eu agir com coerência e eficiência no trabalho e acerto em minha
decisões.
À minha família,
Ela é a base, a estrutura o refúgio... o apoio que nos sustenta e nos acolhe.
Certamente que sem ela a caminhada tornar-se-ia mais difícil, mais lenta.
Rosiméri de Souza
ii
3
Dedicatória
A todos os seres humanos dedico carinhosamente este trabalho,
convidando-os a refletir sobre a importância e necessidade de
nos respeitarmos mutuamente.
iii
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Resumo
Este trabalho tem por finalidade trazer a reflexão sobre a importância de
saber discernir conflito de violência e, que em rápida análise, pode-se dizer
que, o que os distingue é a interação que existe no primeiro caso. Em
relação as situações de violência, segue reflexão e estudo sobre as
possíveis e principais causas que geram relações violentas, impedindo a
construção de um ambiente escolar amistoso. Baseada em pesquisa
descritiva bibliográfica, busca-se levar o leitor a pensar na necessidade de
todos os atores envolvidos no processo educacional e escolar e, perceber a
necessidade e o dever de respeitar e ter mais tolerância uns com os outros
nas interações diárias, fora da escola, mas, principalmente no ambiente
escolar, onde as crianças menores estão num processo inicial de interações
e relações individuais ou grupais. Apresentando a conclusão, reafirmamos a
importância e real necessidade da capacitação da equipe técnico-
pedagógica, assim como dos professores e gestores e demais funcionários
em ações preventivas de violência. Dessa forma, falar de conflitos é
reconhecer que eles fazem parte da vida pessoal e proporciona crescimento
e amadurecimento individual e grupal.
Palavras-chave: Respeito. Interação. Conflito. Violência. Relação. Convívio
social. Ambiente escolar.
iv
5
Metodologia
Baseando-se em pesquisa descritiva bibliográfica, o que se pretende com
este trabalho é refletir sobre a ausência de tolerância e respeito nas relações
grupais, o que, muitas vezes, geram reações violentas nos processos inter-
relacionais. Pretende-se, também, contribuir com o leitor na busca de
reflexões sobre as causas e possíveis prevenções de comportamentos
violentos, além de chamar a atenção de que nem sempre a existência de um
conflito na relação é negativo, ao contrário, sugere oportunidade de
crescimento e mudança comportamentais nas relações grupais, conforme
Chrispino..
Numa visão mais ampla, Fernández (2005), aborda o clima escolar como
fator de qualidade, na prevenção da violência e solução de conflitos, entre
outros autores como Grinspun e Luck.
v
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Sumário
Agradecimentos. ii
Dedicatória iii
Resumo iv
Metodologia v
Introdução vi
Sumário 7
I- Violência ou conflito no cotidiano escolar 10
1.1- O que é a Violência 10
1.2- O que é Conflito 12
1.3- Ambiente emocional 13
II- As causas da violência 17
2.1- Os Parâmetros Curriculares 18
2.2- A Escola 20
2.3- A Família 21
2.4- O Educador 22
2.5- A criança 23
III- Orientador Educacional como mediador na prevenção da violência no
cotidiano 26
3.1O Orientador Educacional no contexto histórico 26
3.2- O Orientador Educacional como mediador de violências ou
conflitos 27
3.3- Ação do Orientador Educacional nas relações de qualidade 30
3.4- Participação 33
Conclusão 35
Vi
7
INTRODUÇÃO
Este trabalho, denominado “Violência Escolar”, tem por finalidade fazer um
convite à reflexão, sobre esta temática, promovendo uma atitude a ser
desenvolvida de uma forma firme e amorosa sobre o cotidiano escolar das
séries iniciais. Em torno desse tema, tem-se como problematização o
seguinte questionamento: “Em que medida a ausência de tolerância e
respeito mútuos gera relações conflitantes nas inter e intra-relações
escolares”?
O comportamento agressivo nas relações entre os estudantes tem sido uma
constante no dia-a-dia das escolas. São atos de agressão física, verbal,
psicológica ou moral que ocorrem de modo repetitivo, sem ter uma
motivação evidente, sendo executado por um ou vários estudantes contra o
outro, dentro da escola, seja em sala de aula e/ou durante o recreio escolar.
Teixeira (2006, p.09) classifica este tipo de comportamento como “bullying”,
que é um termo inglês, ainda sem tradução para o português, e que aborda
as questões de comportamento agressivo entre os estudantes, sob
diferentes formas de interação.
Muitos educadores, que vivenciam situações de violências em sala de aula
provocadas por seus alunos, normalmente sem motivos aparentes pensam
sobre essas questões e buscam entender: em que medida a ausência de
tolerância e respeito mútuos gera situações conflitantes nas relações
escolares?
Este é um assunto de extrema importância a ser discutido, pois é um
problema que muitas escolas estão vivenciando não somente entre seus
8 discentes, mas, também se pode observar que o fato se estende entre os
professores, gestores, pais e demais funcionários que muitas vezes
representam os próprios referenciais para os alunos.
Alguns autores afirmam que a crescente violência que as crianças e
adolescentes estão habituados a ver ao redor do mundo, está penetrando o
interior de nossas escolas e toma proporções assustadoras. As crianças são
influenciadas por tudo que veem e ouvem e acabam reproduzindo essa
violência em seu cotidiano. Dessa forma, os conflitos nas escolas tornam-se
um paradoxo, uma vez que a educação é um antídoto contra a violência.
Esta violência também estaria sendo inculcada pela própria instituição,
quando não toma medidas à altura para promover uma educação que leve
os alunos a refletirem e superarem esses problemas. É possível trabalhar as
atitudes conscientes frente a estas manifestações, analisando as origens e
as formas de violência presentes no ambiente escolar. A proposição de
limites, através do diálogo, poderia resolver pequenos problemas que
ajudariam a superar esta problemática.
Através de uma pesquisa bibliográfica, baseando-se em alguns autores
como: Gustavo Teixeira, Isabel Galvão, Miriam Grinspun, Celso Antunes,
entre outros, pretende-se identificar que a hipótese que move este trabalho é
a de que a capacitação dos Orientadores Educacionais, em parceria com a
Equipe Técnico-Pedagógica, Professores e demais funcionários, possibilitará
a proposição de ações preventivas, resgatando a dignidade dos sujeitos da
escola.
A partir destas reflexões, propõe-se, no primeiro capítulo, conceituar
Violência e Conflito.
9 No segundo capitulo, o objetivo é identificar as causas das Violências e dos
conflitos dentro da sala de aula e durante o recreio.
O terceiro capítulo servirá para refletir e definir a ação do Orientador
Educacional, no papel de mediador, procurando atuar nos casos de
Violências e Conflitos existentes no cotidiano escolar, buscando saná-los.
Deste modo, esse trabalho propõe que a equipe técnico-pedagógica reflita
sobre a necessidade de se conhecer as causas que geram um ambiente tão
desarmonizador e conflitante buscando traçar atividades cotidianas que
trabalhem os valores como: tolerância, respeito, solidariedade, cooperação e
responsabilidades nas ações e reações apresentadas nas relações do dia-a-
dia escolar.
A escola como meio socializador, deve criar possibilidades de trabalhar junto
aos alunos, a partir do o direito de serem ouvidos em suas ideias e desejos,
proporcionando um espaço de debates, como forma de possibilitá-los
reconhecer seus sentimentos e potenciais desde pequenos; devem ser
trabalhados os valores éticos e os sentimentos como: amor/ódio,
medo/coragem, atração/repulsão, ensinando-os a se responsabilizarem
pelas atitudes e conseqüências de seus atos, frente à sociedade.
Deve ousar acreditar que o futuro poderá ser diferente se no “mundo infantil”
outros valores puderem ser desenvolvidos, tais como: um sorriso quando é
preciso ser sério; refletir sobre a indulgência demasiada quando é preciso
ser firme; sobre a severidade quando é preciso agir com doçura; o gritar
quando é preciso acalentar; o afastamento quando é necessário aproximar-
se, são exemplos de posturas suficientes para estimular a aprendizagem,
num ambiente amistoso.
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CAPITULO I
VIOLÊNCIA OU CONFLITO NO COTIDIANO ESCOLAR
Apesar de simples, esta questão pode parecer um tanto complexa para o
educador, que vivencia situações de conflitos ou, sobretudo, de violência,
em sua prática pedagógica. Ouve-se, escuta-se e vivencia-se,
rotineiramente, algum tipo de situação conflitante, que, por não ser explicito,
pode transformar-se numa experiência de violência. Essa imagem
inquietante é fortalecida sempre que ocorrem episódios mais agravantes,
constantes e abusivos.
A crescente violência que estamos vendo, ao nosso redor, está penetrando
nas bases de nossa formação e toma proporções assustadoras. As crianças
são influenciadas por tudo que veem e ouvem e acabam reproduzindo essa
violência em seu cotidiano escolar. Apesar de o cotidiano escolar incorporar
as ameaças do seu exterior, como produtor, ele mesmo, embates e
exclusões. Esses conflitos, por exemplo, tornam-se um paradoxo, uma vez
que a educação é um antídoto contra a violência.
1.1- O que é a Violência
Segundo o Minidicionário de Silveira Bueno, violência é a qualidade de
violento; ato de violentar; agressão.
Há violência quando alguém, por vontade própria, causa danos à dignidade
de outra (s) pessoa (s). Isso pode ser feito de maneira explícita, por
exemplo, quando atentamos contra a integridade física do outro ou de seus
11 bens materiais, ou de maneira simbólica, quando afrontamos sua integridade
moral ou sua participação social.
A violência ocorre no interior da escola, por parte de professores e /ou
demais funcionários, quando se impede a participação justa de todas as
crianças no dia-a-dia escolar; quando há certa desconfiança em sua
potencialidade e capacidade de aprender, recusando-se ensinar o que lhe é
de direito por Lei; quando se diminui conteúdos por acreditar que não farão
diferença ou falta para o bom desempenho do futuro delas; quando se
coloca em risco a autoestima por pré-conceito ou malícia.
Por outro lado, existe o comportamento violento entre estudantes. São atos
de agressão física, verbal ou moral, que ocorre de modo repetitivo sem
motivação aparente, ocorrendo principalmente em sala de aula ou durante o
recreio.
Teixeira, (2006, p.9), classifica esse tipo de comportamento como “bullying”,
que é um termo inglês, ainda sem tradução para o português.
O bullying está relacionado com comportamentos
agressivos e hostis de alunos que se julgam
superiores aos outros colegas, acreditam na
impunidade de seus atos dentro da escola e muitas
vezes são pertencentes a famílias desestruturadas,
convivendo com pais opressores, agressivos e
violentos...
As vítimas do bullying normalmente são pessoas tímidas, inseguras e com
dificuldade em fazer amizades, além de serem incapazes de reagir aos
atos de agressividades.
12
De acordo com Teixeira, (op cit, p.10) as crianças vítimas desse tipo de
violência, são fisicamente mais fracas, mais jovens, alunos novatos na
escola e de diferentes religiões, também se tornam alvos do bullying.
Porém, não são apenas os alunos-alvos que sofrem desse problema, os
alunos que presenciam as agressões aos colegas vivem também em
constante medo de tornarem-se a próxima vitima e o ambiente escolar
torna-se hostil, motivo de medo e insegurança.
Na maioria das ocasiões, as agressões ocorrem dentro de sala de aula, na
presença de professores, que muitas vezes subestimam o problema não
tomando nenhuma providência frente às agressões ou ameaças que
resulta em problemas como baixa auto-estima, troca frequente de colégio e
interrupção dos estudos.
1.2- O que é Conflito
Bueno (op cit 2001, p.187), classifica conflito como briga, luta.
Comumente, o conflito é visto como uma situação negativa e destruidora. A
convivência com as diversidades cultural, religiosa, étnica, ou com inúmeras
possibilidades de convívio entre as diferenças pode ser caracterizada por
conflitos que geram relações democráticas.
Galvão considera conflito como os atos de oposição e descreve-o como:
Necessário à vida, inerente e constitutivo, tanto da
vida psíquica, como da dinâmica social. Sua ausência
indica apatia, total submissão e, no limite, remete a
13 morte. Sua não explicitação pode levar à violência.
Mesmo que possa confundir com ela, conflito não é
sinônimo de violência. Violentos podem ser os meios
de resolução ou os atos que tentam expressar um
conflito que não pôde ser formulado, explicitado (2004,
p.15).
Com base no texto de Galvão, (op cit) os conflitos que desabrocham no
cotidiano escolar resultam de processos inerentes ao desenvolvimento ou
podem ser tomados como indicadores de inadequações das práticas
escolares, tendo em vista os recursos e possibilidades das crianças.
Apesar de elevado número de conflitos verificados no cotidiano escolar, ou
seja, no universo complexo onde se encontra crianças e adultos,
profissionais e familiares, referências culturais e valores distintos, esses
conflitos são inevitáveis, visto que eles se dão de diferentes formas, movidos
por diferentes razões, mesmo por motivos ligados a fatores externos, o fato
se deu no interior da escola o que merece olhar e atitudes pertinentes.
Embora entendendo que conflito não é sinônimo de violência, considera-se
tênue o limite entre o poder construtivo e o destrutivo do conflito, levanta a
necessidade de pensar sobre a possibilidade de distingui-los quanto o seu
valor no cotidiano escolar.
A análise dessa situação leva-se aos seguintes questionamentos: De que
forma o conflito indica crescimento? Em quais indica estagnação e se
confunde com violência?
Com base nesta articulação, estas perguntas nos remetem, a saber, até que
ponto os conflitos no cotidiano escolar resultam de processos inerentes ao
14 desenvolvimento ou resultam de inadequações de práticas pedagógicas de
acordo com os recursos e possibilidades das crianças. A análise das
situações de conflitos traz elementos para se pensar sobre as demandas
infantis, expectativas e concepções do educador.
1.3 – Ambiente emocional
Galvão (ibidem) considera como componentes indissociáveis da ação
humana, as manifestações emocionais que tem importante reação nos
momentos de interação que se constroem nas situações escolares. Muitas
vezes, um gesto de irritação pode imprimir um clima de animosidade entre
as crianças. Cria-se uma relação de rispidez que dificulta uma aproximação
e compromete uma vinculação afetiva, condição indispensável para
aprendizagem.
O conhecimento das emoções pode ser muito útil para o educador, no
sentido de evitar envolvimentos de perversidade em que pode perder o
controle da turma ou com o conhecimento das emoções pode conseguir um
melhor entrosamento dos alunos.
Galvão diz que:
Se muita intensa, a densidade emocional pode dar lugar a
atos impulsivos, os quais podem, por sua vez, ensejar a
agressividade ou violência. Mas, sempre de caráter
paradoxal, a elevação da tonalidade emocional também pode
dar lugar a relações de solidariedade e maior proximidade. No
caso do professor, pode ter sua temperatura emocional
elevado tanto por seu entusiasmo como por sua insegurança.
(2005, p.221).
15 A importância para esta reflexão representa fator fundamental para a prática
pedagógica de qualidade. É condição também para gestão de conflitos e
obtenção de um bom clima de sociabilidade.
A familiarização, desde a infância, com suas emoções, com sua própria
agressividade ou sentimentos hostis que pode nutrir por alguém,
manifestado-as verbalmente ou por outra linguagem, contribui para o
reconhecimento de seus conflitos íntimos ou interpessoais e que a escola
pode ser favorecida.
Num ambiente complexo, como o ambiente escolar, onde se encontram
crianças, adultos, familiares e profissionais, referencias culturais distintas, a
existência de conflitos é inevitável. E eles acontecem em diferentes formas,
movidos por diferentes razões. Mesmo que ligados a fatores exteriores à
escola, o simples fato de acontecerem lá já traz características do cotidiano
escolar.
Galvão (op cit) considera conflitos os atos de oposição, que podem se
expressar por diferentes condutas. Embora não seja sinônimo de violência,
em quais momentos há uma confusão entre si, em seus conceitos?
É muito importante considerar a ideia de distinguir violência do conflito.
Para Michaud (1989), o que basicamente distingue a violência do conflito é a
interação. A interação está presente no conflito e ausente em situações de
violência. Na violência, é inviabilizada a interação, porque ela inferioriza o
outro, já no conflito permite-se fazer e refazer. A violência surge da falta de
interação ou, devido à ausência de interação ocorre a violência.
16 Chrispino (2002) diz que um exemplo claro da dificuldade que os
profissionais encontram para lidar com o conflito é a incapacidade de
identificar as circunstâncias que derivam do conflito. Na vida, assim como
nas escolas, só percebem-se o conflito, quando este apresenta suas
consequências violentas.
Certamente, a maneira de lidar com o conflito escolar ou educacional é que
vai variar de uma escola que veja o conflito como instrumento de
crescimento ou como um grave problema que não deva ser discutido e é
abafado.
17
CAPITULO II
AS CAUSAS DA VIOLÊNCIA
Quando analisamos os acontecimentos diariamente presenciados no
cotidiano escolar, constata-se que nossas crianças estão vivendo um
problema moral muito grande, que, além de falta de virtudes, observa-se
distorções ou desconhecimentos dos valores sejam eles moral, cultural,
religioso ou social.
Diversas são as causas da violência escolar. Os sinais desanimadores
dessa situação são observados na desestrutura familiar, conteúdos
televisivos ou por outra mídia incentivando atitudes violentas e
desrespeitosas, desrespeito às diferenças gerando problemas de relações,
dificuldades no processo da aprendizagem, falta de limites, indisciplina,
injustiças e discriminações, atitudes de intolerância, Outras causas existem
também de natureza diversas, como: problemas, entre elas: frágeis
referências morais, distorção de valores, questões familiares (dificuldades no
estabelecimento de limites, regras, dinâmica familiar comprometida,
violência doméstica etc.), problemas culturais, barreiras sócio-econômicas,
conflitos emocionais do próprio educando, problemas de saúde mental do
educando e/ou de familiares, comprometimento cognitivo ou dificuldade na
aprendizagem.
Os problemas de saúde mental, cognitivos e de aprendizagem pouco são
considerados como causas efetivas de comportamentos agressivos, mas
sua interferência no padrão de comportamento de crianças e adolescentes
vem sendo cada vez mais evidenciada por profissionais ligados a saúde
mental.
18
As dificuldades do aluno não são o único fator gerador de tais problemas. As
condições emocionais e profissionais do educador também interferem no
agravamento ou possibilitam a diluição dos problemas citados. Outro fator
relevante é a ausência ou insuficiência de infra-estrutura e de recursos
materiais, sociais e educacionais necessários para o pleno desenvolvimento
do processo educativo. Recursos estes que deveriam ser garantidos pelo
sistema educacional. No entanto, na ausência desses recursos, a escola
deverá criar condições e recursos próprios para que o problema de violência
não continue.
As conseqüências geradas são incalculáveis. O enfraquecimento da relação
aluno/ educador, falhas no processo educativo, perda do referencial de
autoridade no ambiente escolar e o inquestionável agravamento das
barreiras encontradas por todos os envolvidos neste processo são apenas
as mais evidentes. Tal é a gravidade destes problemas que estas
conseqüências não se limitam ao ambiente escolar, mas se traduzem em
sérios reflexos sociais.
Como não poderia deixar de ser, a escola vem sofrendo os reflexos deste
contexto geral que deixa os professores, muitas vezes, sem saber como agir
com esta ou aquela criança. Embora eles tentem procurar maneiras de
favorecer a formação de pessoas autônomas, íntegras e conscientes de
seus atos e posteriores consequências, nem sempre os procedimentos
utilizados permitem o alcance de tal objetivo. Isso porque a escola não
educa e nem constrói conhecimentos sozinha. A família deve ser parceira
imprescindível no processo educativo, tendo em vista todo o processo que
influencia sobre as atividades desenvolvidas na escola.
2.1 – Os Parâmetros Curriculares (PCNs)
19 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), mais do que nunca, na
história da educação brasileira, incorporam questões sociais, levados pela
regência de suprir uma necessidade nacional, ou seja, como a educação
pode, prioritariamente, atender aos desafios de uma sociedade em que os
futuros cidadãos, nas séries iniciais de seu desenvolvimento, desconhecem
o respeito mútuo, o diálogo e a solidariedade, dando lugar a legitimação da
violência e agressões de toda sorte, muitas vezes reproduções do que veem
ou vivem em seus próprios lares.
Os PCNs indicam, como objetivos do Ensino Fundamental, que os alunos
sejam capazes de:
Compreender a cidadania como exercício de direitos e
deveres políticos, civis e sociais, adotando no dia-a-dia,
atitudes de participação, solidariedade, cooperação e repúdio
as injustiças e discriminações, respeitando o outro e exigindo
para si o mesmo respeito. (1997, v.1).
Os referenciais curriculares apontam que as escolas de educação infantil
devem estar comprometidas assim como os professores que trabalham com
as séries iniciais, para que tais valores possam ser desenvolvidos juntos a
nossas crianças, para que, dessa forma, se consolidem nos jovens e
adultos.
A escola apresenta-se um dos locais mais eficazes para a construção e
desenvolvimento desses valores e virtudes, favorecendo a existência de um
ambiente amistoso, onde possa ocorrer o processo de aprendizagem.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, como bases estruturantes do
currículo básico, ratifica para a necessidade de criação de estratégias nas
20 situações cotidianas, onde seja formado um ambiente amistoso, envolvendo
os cidadãos no processo ensino-aprendizagem, superando suas
impossibilidades através da participação da comunidade escolar,
construindo no ambiente pedagógico uma convivência amistosa e
harmônica.
2.2 – A Escola
Atualmente, cada vez mais, a sociedade estimula crianças e adolescentes a
atitudes que passam longe de refletir quanto à necessidade do cuidado com
o outro. Só é possível sensibilizá-los quando estão atuando em grupo - a
família, a turma na escola, principalmente nas observações feitas durante o
recreio, o grupo de lazer, etc., e, entende que sua presença e contribuição
são importantes.
É preciso deixar de ver a criança como um “aprendiz de conteúdos”.
Conforme diz Antunes (2003, p.43) seria indispensável que a escola
trabalhasse a alfabetização emocional, não para que domesticasse seus
comportamentos ou ouvisse temas sobre emoções, mas para que
encontrasse um espaço social para discutir amor, ódio, frustração, auto-
estima, autoconhecimento. E, também, seria indispensável que se
trabalhasse sua comunicação interpessoal e outros conteúdos que
certamente não “caem” no vestibular, mas são essenciais à vida.
Para criar esse espaço acolhedor, é necessário entender o que é afetividade
e porque ela é fundamental no processo ensino-aprendizagem na formação
de pessoas mais alegres, motivadas, seguras, capazes de conviver num
clima amistoso.
2.3 – A Família
21 A família é o primeiro modelo de socialização da criança. O desenvolvimento
pessoal do indivíduo se nutre dos primeiros afetos e vínculos maternos /
paternos. Percebe-se que ela é um elemento-chave na gênese das condutas
agressivas das crianças, gerando amores e desamores que redundarão, na
idade adulta, ajustados ou não nas normas de convivência.
A família é fundamental para entender o caráter peculiar da criança
agressiva com condutas anti-sociais ou conflitantes. Família e escola são os
principais agentes da socialização e da educação da população infantil e,
dessa forma, de grande peso e responsabilidade.
Alguns aspectos familiares são fatores que podem desencadear
comportamentos agressivos nas crianças, assim como nos adolescentes: a
desestruturação da família, os maus tratos, comportamento violento por um
ou mais membros da família, falta de diálogo, permissividade, punições
excessivas, falta de afeto entre os cônjuges, ausência de afeto e carinho.
Como já foi dito, crianças são influenciadas por tudo que veem e ouvem e
acaba reproduzindo no cotidiano escolar. Dessa forma, a experiência mostra
que o bom comportamento apresentado na escola é o reflexo da boa
educação que recebe em casa, da mesma forma acontece com criança que
apresenta mau comportamento no ambiente escolar, resulta das
repreensões, punições ou mau conduta que recebe da família.
O professor precisa da cooperação e participação da família para
desempenhar seu papel plenamente, sobretudo nas situações de
comportamentos agressivos e situações de conflitos ou violência que
distanciam aqueles que deveriam ser parceiros no processo ensino e
aprendizagem porque é um grande desafio para os alunos aprender, assim
como, para o professor ensinar, em uma classe que apresenta um nível
acentuado de conflitos.
22
2.4 – O Educador
O papel do educador vem passando por um intenso processo de
modificação nas últimas décadas, reflexo de constantes mudanças na
sociedade, gerando novos desafios, demandas, instrumentos facilitadores e
também inúmeros obstáculos. Um dos principais desafios encontrados pelo
educador está no comportamento do aluno. De atitudes inadequadas a
conflitos diretos com os colegas e professores, surgem algumas das maiores
preocupações vivenciadas pela escola atualmente.
Problemas no estabelecimento e na manutenção da disciplina; aumento de
atitudes agressivas; atos violentos; transgressão de regras; violação dos
direitos alheios; entre outras manifestações anti-sociais no ambiente escolar,
evidenciam importantes desajustes na relação educador/aluno. O educador
diante de tal situação necessita conhecer as causas e conseqüências destes
problemas para, então, buscar soluções e evitar o agravamento e a
disseminação deste padrão de comportamento, passando do âmbito
individual para o coletivo. Como diz De La Taille,
As crianças precisam adquirir regras
que implicam valores e formas de
conduta e estas somente podem vir de
seus educadores ou pais. (1996, p.23).
O professor não pode esquecer da importância do seu papel como educador
e que pode atuar como agente transformador no desenvolvimento de seus
alunos quando o motiva pela busca do saber; evita confrontos com eles;
promove o diálogo e valoriza os esforços e conquistas; quando promovem
reflexões sobre questões que envolvam comportamentos e conflitos, etc.
2.5 – A criança
23 Assim como o professor, o aluno também é membro de uma sociedade e,
como qualquer outro sujeito, possui capacidade de ação e crescimento.
Sendo assim, suas experiências e suas histórias são fatores determinantes
do seu comportamento.
A Educação Básica é considerada uma etapa necessária e importante na
vida da criança, nela deverá ser desenvolvida uma imagem positiva de si,
reconhecendo-se como personagem ativo no espaço que ocupa, ou seja,
inserida num ambiente escolar, socializando-se através das brincadeiras,
expressando-se por meio de seus sentimentos e emoções, interagindo-se
com colegas, professores e com a comunidade escolar.
No âmbito da Educação, o professor constitui o parceiro mais experiente,
cuja função é propiciar um ambiente atraente e prazeroso, saudável e não
discriminatório de experiências educativas e sociais, construindo na criança,
já desde pequena, a necessidade de aprender a respeitar os sentimentos e
opiniões das pessoas, sejam elas crianças ou adultos, convivendo com
etnias, crenças ou culturas diferentes, conforme Vergés e Sana. (2004, p.22
e 24).
Com uma postura coerente e segura, o professor vai usando sua autoridade
nos conceitos do sim e do não com seus alunos, desenvolvendo neles maior
segurança em situações que surjam atitudes agressivas ou conflitantes, e
assim elas possam se sentir confortáveis com o professor na busca do
diálogo. Nesse sentido, a criança irá experimentando, pela convivência, a
obrigação de cumprir as regras que lhe são impostas, pois, as crianças
pequenas não têm o discernimento desenvolvido por isso a necessidade da
interiorização de uma regra para estabelecer um espaço educativo amistoso.
24 A criança, na visão de Pestalozzi, se desenvolve de dentro para fora, idéia
oposta à concepção de que a função do ensino é preenchê-la de
informação. Para o pensador suíço, o professor deve conhecer e respeitar
os estágios de desenvolvimento pelos quais a criança passa e um ambiente
acolhedor criará condições a um bom rendimento nos diferentes tipos
relacionais.
De acordo com Fernández, a ligação interna nas relações interpessoais em
grupos de professor-professor; professor-aluno e aluno-aluno; a vinculação
pessoal e o respeito profissional são aspectos primordiais para uma
atividade educadora. Os próprios professores se queixam de que o respeito
e a consideração em suas relações, frequentemente se defrontam com
desavenças pessoais entre si, sejam amigos ou não e, em relação aos
alunos na ligação entre si, o enfoque da conduta é na relação interpessoal
com seus iguais, o grupo se converte em campo de experiências sociais por
substituição de uma palavra por outra e pela forma que contempla o mundo
ao seu redor. (2005, p.38).
Como afirma Fernández:
De acordo com a nova Lei de Educação, o professor
se compromete a animar, a impulsionar e instruir o
processo educativo dos alunos. Isso implica uma
mudança substancial na qual o aluno e as suas
necessidades se convertem no centro de atenção e a
relação professor-aluno varia quanto a qualidade de
sua vinculação. O seu “saber fazer” frequentemente se
vê interrrompido pela dinâmica da aula, pelas relações
entre alunos e suas motivações. (op cit, p.41).
25 Desta forma, entende-se que ensinar e aprender estão, em sociedade como
a nossa, intimamente ligados a uma forma institucionalizada, a escola. Nela
acontece a dinâmica dessas relações e, é nela, que se deve dar
continuidade ao desenvolvimento de hábitos e virtudes que contribuam para
uma relação amistosa, pois, as crianças costumam ter um grau de franqueza
e espontaneidade em suas observações, por isso, a necessidade de atenção
aos possíveis e normais desentendimentos ou conflitos que venham a surgir,
mas que não deverão passar deste estágio. Para a criança é importante
compreender a autenticidade e grau de seu afeto na relação direta com o
ensino-aprendizagem.
Sabe-se que atualmente as crianças vivem muito sozinhas, uma vez que
seus pais ou responsáveis tem necessidade de trabalhar durante todo o dia.
Assim, quando estão em sala de aula, muitas vezes carentes e
desmotivadas, exteriorizam essas carências através de brigas, agressões,
birras e insucessos curriculares.
A partir de Martinez Zampa (2005), as causas de conflitos ou de violências
no espaço escolar, são provenientes das ações próprias dos sistemas
escolares ou oriundos das relações que envolvem os atores da comunidade
escolar, como: entre os docentes na forma da comunicação, interesses,
disputas de poder, valores; entre os alunos e docentes em relação em não
conseguirem entender o que está sendo explicado, falta de material,
desinteresse ou falta de diálogo; entre pais, docentes e gestores que
envolvem agressões entre alunos e professores, perda de material,
discordâncias de critérios de avaliação e/ ou conteúdos programáticos, falta
de entendimento nas questões burocráticas e administrativas da gestão
escolar, entre outras causas.
26
CAPÍTULO III
ORIENTADOR EDUCACIONAL COMO MEDIADOR NA
PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NO COTIDIANO
Neste capitulo será tratado uma das atribuições do Orientador Educacional,
enquanto mediador da relação professor/aluno, na prevenção das situações
de violências no cotidiano que interferem na qualidade da educação e no
espaço de convivências interpessoais.
Para descrever a ação do Orientador Educacional faz-se necessário uma
reflexão sobre a sua trajetória, para repensarmos a sua prática face a
organização da escola em seu contexto econômico, sociais e culturais nas
realidades atuais.
3.1- O Orientador Educacional no contexto histórico
Conforme Grinspun, a definição de Orientação Educacional atinge diferentes
significados que acompanham sua trajetória histórica, sobretudo na
realidade brasileira. A concepção inicial de Orientação, no Brasil, era de um
cunho psicológico, terapêutico e corretivo.
No curso da história da Orientação Educacional, seu significado vai sendo
tecido na dimensão do contexto histórico, com o qual mantém estreitas
relações. Afinal, o que é orientar? Para que se orienta? Por que se orienta?
Questões importantes na busca de um conceito mais preciso.
27 Se antes cabia ao orientador ser uma figura “neutra” no processo
educacional, para “guiar” os jovens em sua formação cívica, moral e
religiosa, hoje se espera que ele seja um profissional comprometido com sua
área, com a história de seu tempo e com a formação do cidadão.
(GRISPUN,op cit, p.118).
O conceito de Orientação educacional se reveste, então, de três dimensões
especificas, diz Grinspun (2006)
Aquela determinada pela legislação que aborda a Orientação
Educacional; a que resultou da prática da própria Orientação,
então originando a formulação de um conceito a partir da
realidade e das expectativas da comunidade escolar
(incluindo os educadores em geral), e a que foi sendo
construída pelos orientadores – artífices principais do
processo -, que a legitimam, hoje, em termos de uma prática
pedagógica. Pode-se dizer que, no primeiro momento, há
uma dimensão legalista; no segundo, funcionalista e, no
terceiro, realista. (p. 20)
A partir destas reflexões, entendemos que a Orientação trabalha na escola
em favor da cidadania, não criando um serviço de orientação para atender
os excluídos do conhecimento, do comportamento, dos procedimentos, etc.,
mas para entendê-los, através das relações que ocorrem no espaço escolar.
a organização da escola, em todos os aspectos deve destinar-se a criar
condições e situações favoráveis ao bem-estar emocional do educando, e o
seu desenvolvimento nas áreas cognitiva, psicomotora e afetiva, de modo
que ele adquira habilidades, conhecimentos e atitudes que lhe permitam
fazer face às necessidades existenciais.
28 Esse desenvolvimento da educação integral, preconizada pela Lei 5692/71,
só é possível vendo o aluno como um ser integral, cujas áreas citadas acima
(cognitiva, psicomotora e afetiva) devem ser desenvolvidas equilibrada e
harmoniosamente.
Atualmente, a Orientação Educacional continua tendo sua importância no
contexto escolar, só que diferenciada na medida em que esta passa a ter
uma posição mais crítica onde procura ajudar o aluno de forma global,
caminhando ao seu lado e fazendo compreender que naquele determinado
momento, ele também está vivendo a sua própria história de vida.
3.2 - O Orientador Educacional como mediador de violências
ou conflitos
“Conhecer a escola mais de perto significa colocar uma lente
de aumento na dinâmica das relações e interações que
constituem o dia-a-dia, aprendendo as forças que a
impulsionam o que a retêm, identificando as estruturas de
poder e os modos de organização do trabalho escolar,
analisando a dinâmica de cada sujeito neste complexo
interacional” (GRISPUN, 2006, p.108).
Uma proposta politico-pedagógica voltada para uma educação solidária,
indica várias práticas para enfrentar firmemente os desafios de superar
situações em que surjam relações conflitantes que possam transformar em
relações de violências.
Cada conjunto de estratégias deverá ser pensado em relação a um fato
concreto e sua real problemática. As questões relativas a violência escolar
29 não podem ser tratadas de modo isolado, mas sim, em íntima articulação
com a dinâmica educativa da escola como um todo.
As práticas participativas e de diálogo nas diferentes dimensões escolares –
da sala de aula aos conselhos da escola; os espaços sistemáticos de
reflexão coletiva do professor das práticas educativas e seus problemas
concretos; a intensificação das relações entre as famílias e a escola à
realização de atividades extraclasse como esporte, teatro, excursões, grupos
de música ou de dança, são alguns exemplos de estratégias para construir
um ambiente amistoso.
Para enfrentar uma cultura da violência, é necessário aprender a exercer a
humildade, a tolerância e a luta em defesa dos direitos dos educadores e
educandos, como diz Freire (1996), “a luta dos professores em defesa de
seus direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um momento
importante de sua prática docente, enquanto prática ética” (p.66).
Quanto a relação na prática docente com o aluno ele afirma
O meu respeito de professor à pessoa do educando, à sua
curiosidade, à sua timidez, que não devo agravar com
procedimentos inibidores exige de mim o cultivo da humildade
e da tolerância... Como ser educador, sobretudo numa
perspectiva progressista, sem aprender, com maior ou menor
esforço, a conviver com os diferentes? Como ser educador se
não desenvolvo em mim a indispensável amorosidade aos
educandos com quem me comprometo e ao próprio processo
formador de que sou parte...? (FREIRE, op cit, p.67).
30 Somente assim se pode acreditar ser possível construir uma educação num
espaço onde a sociabilidade permite um fundamento ético na ação cotidiana,
respeitando a dignidade de toda pessoa humana.
3.3 – Ação do Orientador Educacional nas relações de qualidade
Conforme Freud, Piaget e Kolberg, o psiquismo humano é construído com o
social, num processo de ação e interação com a realidade externa. A relação
com o exterior é a condição para a elaboração, que é forjada quando a
criança age sobre o mundo externo, no esforço de conhecê-lo e representá-
lo. Sendo o ser humano essencialmente relacional, torna-se urgente uma
educação que valoriza o individuo, o respeito ao próximo e a ética.
O Orientador como mediador nas relações de qualidade, unido à equipe
técnico-pedagógica, proporcionará atividades estimulando o contato com o
outro, pois isto é primordial para o desenvolvimento da criança, influindo,
inclusive, na sua capacidade de amar, refletir, criticar, compreender e
colocar-se no lugar do outro, desenvolvendo assim, ainda na criança, sua
autoconsciência nos processos inter-relacionais, como também nos
processos intra-relacionais.
O individuo com maior consciência de si, de suas
capacidades e limitações, de suas angústias e
fraquezas, de suas inseguranças, seus medos e
solidão (e, também, de sua grandeza); aquele que
compreende o quanto é único e separado, mas se
torna capaz de ir ao encontro do outro, de
compreendê-lo e amá-lo, pois se vê como a própria
extensão de si mesmo (TELLES, 1975, p.16).
31 O ambiente escolar representa o espaço onde os processos e as teorias
pedagógicas vão se desenvolvendo, representa também o espaço de
transformação e vivência das próprias experiências dos alunos e
professores: espaço de trocas, criação e vivências de diferentes valores.
Se a escola é o universo que reúne alunos diferentes, ela é o palco onde
certamente o conflito se instalará e se o conflito é inevitável é necessário
aprender o oficio da mediação de conflito para que essa técnica se aprimore
facultando a cultura da mediação de conflito.
A mediação de conflito é o procedimento no quais os participantes, com a
assistência de um profissional imparcial, no caso o Orientador Educacional –
mediador coloca a situação em questão com o objetivo de desenvolver
opções, considerarem alternativas e chegar a um acordo que seja
mutuamente aceitável. A mediação poderá direcionar para uma reorientação
das relações sociais, novas formas e cooperação, de confiança e de
solidariedade, conhecendo formas mais maduras, espontâneas e livres de
resolver as diferenças pessoais ou grupais. a mediação propõe atitudes de
tolerância, responsabilidade e iniciativa individual que podem contribuir para
uma nova ordem social, a partir de Ensaio: Aval. Públ. Educ., Rio de Janeiro.
Não deixando de considerar as especificidades afetivas, emocionais, sociais
e cognitivas das crianças, a qualidade das experiências oferecidas que
podem contribuir nos movimentos das relações humanas deverão estar
embasadas em alguns princípios como
O respeito à dignidade e aos direitos das crianças
consideradas nas suas diferenças individuais, sociais,
econômicas, culturais, étnicas e religiosas; o direito da
criança a brincar, como forma particular de expressão,
32 pensamento, interação e comunicação infantil; o
acesso das crianças aos bens socioculturais
disponíveis, ampliando o desenvolvimento das
capacidades relativas à expressão, à comunicação, à
interação social, ao pensamento, à ética e a estética; a
socialização das crianças por meio de sua participação
e inserção nas mais diversificadas práticas
sociais,sem discriminação de espécie alguma; o
atendimento aos cuidados essenciais associados à
sobrevivência e ao desenvolvimento de sua
identidade. (VERGÉS & SANA, 2004, p.20).
No entanto, é necessário não perder de vista que a criança está sendo
educada para viver em sociedade e não somente com os pais ou familiares,
portanto algumas regras se fazem necessárias para o êxito na tarefa de
educar, como: cumprir e fazer cumprir as regras de maneira clara e firme,
desta forma a criança está aprendendo sobre responsabilidade; ter sempre
em mente que coerência, segurança, justiça, tolerância, respeito e igualdade
são fundamentais para estabelecer uma relação amistosa dentro ou fora da
escola. Definir normas passíveis de serem cumpridas e válidas para todos
os alunos; valorizar sempre o diálogo como a melhor maneira de resolver os
conflitos não permitindo que tal situação transforme-se em atitudes ou atos
de violência entre si. E, o diálogo, segundo Freire “... nutre-se de amor, de
humanidade, de esperança, de fé, de confiança”.
A prática da Orientação é um ato político que não busca em seu trabalho o
ajustamento do aluno a sociedade, mas seu enfrentamento a realidade
social estabelecida atualmente.
3.4 – Participação
33 O envolvimento dos diferentes agentes que formam a comunidade escolar é
de fundamental importância para determinar um clima de convivência
favorável na mediação de conflitos. A participação de alunos, professores e
pais têm um papel significativo nas propostas e práticas educativas. As
escolas que valorizam o conflito, e, juntos, aprendem a trabalhar com essa
realidade , são aquelas em que o diálogo é permanente, objetivando ouvir as
diferenças para melhor decidirem; onde a explicitação do pensamento deve
ser incentivada; onde o currículo considera as oportunidades para discutir
soluções alternativas para os conflitos no campo das ideias, do poder e da
diferença de toda ordem; onde as regras são explícitas, faladas e discutidas.
Em relação à efetivação da participação de todos os atores envolvidos na
construção do espaço escolar e pedagógico, Fernández diz
A participação significa uma
oportunidade para desenvolver-se
atitudes de cidadania e de democracia
interna em que se colocam em prática
valores que deveriam permanecer no
pensamento e no comportamento dos
alunos em sua vida adulta. A
participação contribui para uma cultura
no centro educacional, para socializar
os alunos fora do regime regrado de
cada área e para potencializar as
diversas capacidades ao proporcionar
um esquema valido de criatividade.
(2005, p.145).
Dessa forma, nota-se que a importância da Orientação se dá de tal forma
que esta nunca deixará de existir, pois a educação nunca deixará de existir.
Antes tido como o responsável por encaminhar alunos considerados
34 “problema” a psicólogos, o orientador educacional conquistou uma nova
função, perdeu o antigo e pejorativo rótulo de delegado e hoje atua, entre
outras atribuições, trabalha para intermediar conflitos escolares e ajudar os
professores a lidar com alunos com dificuldades na aprendizagem
significativa. Faz, também, ponte entre estudantes, professores e pais.
A questão ainda é mais fundamental quando partimos do conceito
etimológico de educação, que educare refere-se a orientar, guiar, conduzir o
processo educacional que tem como foco principal atingir o aluno que é o
sujeito de maior importância no contexto da educação, orientação e das
relações consigo mesmo e com o outro, garantindo a integração dos atores
educacionais e avaliar o processo, para evitar dispersão.
35
CONCLUSÃO
A função cobrada da escola hoje vai muito além de transmissão de
conhecimento, mas a busca de soluções de problemas que são entraves
para a adequação da criança no cotidiano escolar, que possui sua
organização própria de funcionamento, onde existem regras, acordos e
limites. São muitas vezes no cumprimento deste conjunto de regras que
surgem alguns conflitos como fenômeno de interferências no processo de
aprendizagem, que sabemos, acontece a partir da mútua interação.
A escola deve ser um espaço, onde a criança possa aprender num clima de
confiança, de amizade e de respeito; onde se aprendam conteúdos
significativos e contextualizados; onde haja profissionais capacitados e em
frequentes formação de capacitação para lidar com as situações de conflitos
ou violências que surgirem durante o processo. Uma escola onde os alunos
vivam experiências de solidariedade e de busca do bem comum.
Reconhecemos que é justamente no espaço escolar que a criança vai
extravasar suas emoções, sejam elas saudáveis ou não. Cada criança é
ímpar, dessa forma, reage diferentemente as situações ao seu redor. Alguns
teóricos acreditam que os seres humanos nascem com reflexos físicos, quer
dizer, tendência natural para imitar ou sentir medo e, no ambiente escolar, o
aluno reproduzirá suas vivências experienciadas em casa ou em seu grupo
de convivências, fora da escola, pois, para se desenvolver,elas precisam
aprender com os outros, por meio de vínculos que se estabelecem.
Sabemos que a criatura é agressiva por instinto e, quando não consegue
exteriorizar essa violência, faz uso de mecanismo como fuga, introspecção
ou alienação, inquietação ou hostilidade. Por qualquer motivo descontrola-
se, instalando o processo violento na relação por falta de diálogo, tolerância
36 e paciência. No entanto, entendemos que só quando os conflitos
ultrapassam o limite da convivência natural, é que surgem as ações
agressivas e violentas.
O estudo mostrou que as crianças socializam-se umas às outras. O desafio
de socializar é descobrir como ajudá-las a controlar seus impulsos e
tornarem-se capazes de refletir, sobre as consequências de suas ações,
pois ainda não construíram um modo próprio e estável de sentimentos,
reações sociais, interesses e valores. Por isso, alguns professores
encontram dificuldades para lidar com as “crianças mais difíceis ou
birrentas”.
Assim como o professor, o aluno também é membro de uma sociedade e,
como qualquer outro sujeito, possui capacidade de ação e interação, sendo
o ser humano essencialmente um ser social. Sendo assim, concluímos que
suas experiências e suas histórias são fatores determinantes para a
qualidade de suas relações.
Apesar do difícil quadro que as escolas estão vivenciando entre violências e
conflitos de relação, acredita-se que seja possível fazer da escola um
espaço de diálogo, respeito, tolerância e de solidariedade, numa perspectiva
de estabelecer entre alunos, professores, funcionários, especialistas e
administradores relações amistosas, tornando-se, cada elemento desse
processo, responsável pela sua autonomia e de seus próprios direitos de
dialogar, refletir, questionar, discordar num ambiente recíproco,
reconhecendo seus limites e possibilidades.
O sentimento de pertinência, de identidade pessoal, tanto para professores
como para alunos, é importante para desenvolver a tarefa educativa. Assim,
o trabalho com a auto-estima, tanto do professor como do aluno, e a atenção
37 às necessidades pessoais devem ser entendidos como elo principal de um
clima de qualidade.
Sabemos que a escola é envolvida em importante empreendimento de
âmbito social e, nela, como consequência, existem os desajustes de
comportamento, de valores e de respeito ao outro, tais como: o modelo
familiar, a influência dos meios de comunicação, os valores, a violência da
própria sociedade, etc.
Mesmo chegando ao término deste trabalho, entendo que o tema estudado
ainda necessita de muita pesquisa para maior compreensão e ações mais
acertadas, pois ainda há muito que fazer para prevenir problemas de
violências no ambiente escolar, a fim de que o processo ensino-
aprendizagem possa ser construído num clima amistoso. Entretanto, a
reflexão feita contribuiu bastante para levantar possibilidades e descobrir
caminhos para uma relação de qualidade.
De acordo com Fernández, a ligação interna nas relações interpessoais em
grupos de professor-professor; professor-aluno e aluno-aluno; a vinculação
pessoal e o respeito profissional são aspectos primordiais para uma
atividade educadora. Os próprios professores se queixam de que o respeito
e a consideração em suas relações, frequentemente se defrontam com
desavenças pessoais entre si, sejam amigos ou não e, em relação aos
alunos na ligação entre si, o enfoque da conduta é na relação interpessoal
com seus iguais, o grupo se converte em campo de experiências sociais por
substituição de uma palavra por outra e pela forma que contempla o mundo
ao seu redor. A partir dessa reflexão, voltamos ao principal problema que me
levou a pensar em que medida a ausência de tolerância e respeito mútuos
gera relações conflitantes nas inter e intra-relações escolares?
38 O estudo nos mostra que o conflito faz parte de nossa vida pessoal e está
presente nas instituições e é sensato enfrentá-lo com habilidade pessoal e
nao evitá-lo. De outra forma é dizer à criança e ao jovem que as diferenças
que existem entre si podem transformar-se em antagonismos, e que, se
estes não forem entendidos evoluem para o conflito e que pode transformar-
se em violência. A maneira que os atores permanentes da escola (alunos,
professores, técnicos e comunidade) vão lidar com o conflito escolar é que
irá identificá-lo como oportunidade de crescimento ou um grave problema
que deve ser abafado.
Portanto, concluo este estudo com a certeza de que seria utópico ter
pretensão de eliminar os conflitos, assim como, a violência nas relações,
pois eles são partes da vida, mas trata-se da forma de buscar novas
maneiras de prevenção, administração e resolução; uma delas seria a
capacitação dos orientadores educacionais em parceria com a equipe
técnica-pedagógica e todos os atores envolvidos neste processo
educacional.
39
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