Conflitos Territoriais na Ilha Grande

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    XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRRIA, So Paulo, 2009, pp. 1-18

    MAPEAMENTO ATRAVS DE SENSORIAMENTO REMOTO DOS CONFLITOSTERRITORIAIS RURAIS NA ILHA GRANDE-RJ ENVOLVENDO ESTADO E

    COMUNIDADES TRADICIONAIS.

    Alexandre Cigagna [email protected]

    Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPECaixa Postal 515 - 12245-970

    So Jos dos Campos - SP, Brasil

    Resumo: Desde o litoral do Paran passando por So Paulo at o litoral sul Fluminense,

    entre as serras midas e o mar ocorre h 500 anos a presena de uma populao cuja

    cultura est entranhada nesta natureza. Os caiaras so representantes da histria do

    Brasil assim como outras comunidades tradicionais minoritrias em nossa sociedade.

    Este ltimo fator faz destas populaes extremamente suscetveis s ameaas urbanas.

    Porm suas situaes geogrficas de isolamento serviram de fortaleza contra as

    investidas do crescimento nacional. O caso da populao da Ilha Grande um exemplo

    dos conflitos resultantes de polticas urbanas impostas sobre o meio rural. Este trabalho

    permite uma viso espacial dos fatos atravs de Sensoriamento Remoto a partir de

    imagens Landsat/TM.

    Palavras-chave: Territorio, Conflito, Sensoriamento Remoto, Ilha Grande.

    Abstract.: 500 years of history are represented in the landscape of Ilha Grande-RJ. Thedecade of 1970 led to major changes in the history of this landscape. After centuries of

    intensive use, different units of conservation of the nature(UC) overlap in order to protect

    this shrine. Defined during the military dictatorship, the UCs did not consider the

    centenarians inhabitants of these lands, the Caiaras. The state define until recently, the

    Caiaras condition as hiding in their own ancestral territory. The objective of this work is

    through remote sensing draw the recent history of land use of the island in order to map

    the practice of agriculture and its process of abandonment defined by law. We use in this

    work Landsat/TM imagery and supervised classification.Palavras-chave: Territory, conflict, Remote Sensing, Ilha Grande.

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    1.Introduo

    A Ilha Grande fica localizada no 5 Distrito do Municpio de Angra dos Reis no

    litoral sul do Estado do Rio de Janeiro (figura 1) entre as latitudes 2305S e 2314S e as

    longitudes 4404 e 4423W. O ponto mais perto do continente dista 3 km. Possui 193km2 de rea com 106 praias e 34 pontas que formam enseadas e sacos. Sua populao

    de 6 mil habitantes fixos enquanto 15 mil pessoas a freqentam durante temporadas

    tursticas.

    Figura 1: localizao da Ilha Grande no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro

    A ilha uma sobreposio de unidades de conservao municipais e estaduais.

    Quase toda a ilha regida pelo Parque Estadual da Ilha Grande(PEIG) de 1971,

    administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF).

    O histrico desta ilha reflete a histria do Brasil, pois ela vivenciou todos os

    grandes ciclos econmicos que este pas conheceu com exceo do da borracha.

    Extrao de madeira, comercio de escravos, trafico de ouro, ciclo da cana e do caf, ciclo

    da pesca, ciclo dos presdios e finalmente, ciclo atual do turismo e da conservao da

    natureza.

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    3Mapeamento atravs de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-RJ envolvendo Estado e comunidades tradicionais, pp.1-18

    Ao longo dos sculos uma populao sempre esteve presente vivendo da roa de

    subsistncia, do extrativismo vegetal, da caa e da pesca artesanal; os caiaras com seu

    caracterstico modo de vida(caiara). Esta populao caiara gerenciou a natureza por

    sculos vendo o desmatamento de sua paisagem pelas fazendas e a regenerao das

    matas que seguiu a falncia destas. Um povo que conhece muito bem seu territrio

    ancestral e a dinmica da natureza e que nos ensina a viver em simbiose nela dando uma

    lio de ecologia para toda a populao urbana.

    Desta forma o solo da Ilha Grande foi por sculos palco de muitas dinmicas

    territoriais e de uso dos recursos naturais. Em nosso moderno meio tcnico cientfico

    informacional, as tecnologias nos permitem estudar a histria do manejo do solo para

    planejar o futuro sustentvel almejado.

    Fazemos com este trabalho uma aproximao das novas tecnologias para/com as

    populaes tradicionais da Ilha Grande a fim de entender o histrico uso do solo

    mapeando-o e gerando produtos cartogrficos que auxiliem a tomada de decises por

    parte das instituies responsveis pela conservao deste espao. Em 2008 o plano de

    manejo da principal UC da ilha, o Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) ainda esta em

    construo e as informaes construdas neste trabalho visam auxiliar na incluso dos

    interesses do caiara no planejamento para a gesto inclusiva e participativa do parque.

    A ocupao humana dos solos da ilha se deu preferencialmente da praia emdireo aos fundos dos vales elevando-se por toda vertente do relevo potencialmente

    agricultvel. Os assentamentos destas populaes edificavam-se entre as roas e as

    praias.

    A partir da dcada de 1970 as diversas Unidades de Conservao existentes hoje

    na ilha foram criadas expulsando as populaes caiaras desprovidas de ttulos de

    propriedades de sua terra(territrio). Aps proibio da pratica da roa por parte da

    legislao ambiental parte da populao que no deixou a ilha em direo das favelas de

    Angra dos Reis se agruparam nas praias onde desembocam os principais rios de seusvales. Desta forma as comunidades so definidas hoje na Ilha pelo nome da praia onde

    se encontram.

    O objetivo deste trabalho cientfico o de registrar atravs de mapeamento o uso

    do solo da Ilha Grande no ano de 1985 para posteriores estudos comparativos a fim de

    criar uma evoluo do manejo ambiental local ps-criao das Unidades de Conservao.

    Como resultado esperado, est a observao do declnio gradual do uso do solo

    observado por satlite caracterizando um processo paulatino de desterritorializao da

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    populao caiara do seu territrio ancestral. Para isso foi necessrio trabalhar com

    sensoriamento remoto de imagens de satlite a fim de produzir dados de uso do solo.

    Posteriormente foi produzido um material estatstico-descritivo e cartogrfico referente s

    bacias hidrogrficas da Ilha Grande. Atravs de lgebra de mapas foram cruzados os

    dados a fim de definir o grau de preservao ambiental por bacia hidrogrfica atravs deum ndice criado para este trabalho.

    Conflitos scio-ambientais e territorialidade caiara

    A criao de reas naturais protegidas em territrios ocupados porsociedades pr-industriais ou tradicionais vista por estas populaeslocais como uma usurpao de seus direitos sagrados terra onde

    viveram os seus antepassados, o espao coletivo no qual se realiza o seumodo de vida distinto do urbano industrial. (Diegues, 2004:65)

    A imposio de neomitos sobre a natureza que seria intocada serve como

    justificao para a gerao de reas protegidas que desfavorecem a populao local para

    favorecerem a populao urbana. Esta relao vertical do poder pblico sobre o meio

    ambiente em nome da nao tem gerado conflitos graves. Em muitos casos, eles tm

    acarretado a expulso de moradores tradicionais de seus territrios ancestrais, como

    exige a legislao referente s unidades de conservao restritivas.

    Os moradores locais vem este empreendimento como um roubo de seupatrimnio histrico, de sua cultura, sua identidade, sua moradia e seu espao, tanto local

    de trabalho quanto provedor das ferramentas de trabalho. Eles reivindicam direitos

    estveis de acesso, controle ou uso da totalidade ou parte dos recursos a existentes.

    Os recursos existentes em uma comunidade caiara so de acesso comunitrio.

    Essas formas de apropriao comum de espaos e recursos naturaisrenovveis se caracterizam pela utilizao comunal (comum, comunitria)de determinados espaos e recursos por meio do extrativismo vegetal

    (cips, fibras, ervas medicinais da floresta), do extrativismo animal (caa,pesca), e da pequena agricultura itinerante.(Diegues, 2002:66)

    Observamos na organizao do espao caiara a raridade de cercas, servindo,

    quando existem, para impedir a entrada de animais a horta perto da casa.

    A transferncia de um espao caiara coletivo ou comunitrio para uma rea

    estatal de acesso restrito administrada por um rgo ambiental do governo que possui

    diretrizes claras de atuao, as quais limitam substancialmente os direitos dos moradores,

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    5Mapeamento atravs de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-RJ envolvendo Estado e comunidades tradicionais, pp.1-18

    constitui um choque social, cultural e, sobretudo vital para esta populao privada de sua

    rotina de subsistncia.

    Territorialidade fsica

    A territorialidade caiara se constri diariamente sob prticas que legitimam o seu

    poder de ao sobre o seu espao vivido. O caiara tm o domnio sobre o seu espao e

    sobre suas tcnicas de trabalho. Estas tcnicas so aplicadas na apropriao, na

    manuteno e na produo deste espao, lhe garantem sua permanncia, seu poder e

    representatividade atravs dos seus objetos e suas localizaes sobre este espao.

    O manejo espacial que o caiara pratica em seu dia-a-dia, em sua localidade

    distante do poder pblico, na qual a organizao territorial coletiva e advm de seu

    entendimento de composio e disposio espacial. Nestas praias isoladas umas das

    outras e dos centros urbanos, as informaes e conhecimentos so passados e

    adquiridos de boca em boca com a devida importncia do papel exercido pelo grupo

    familiar. A territorialidade se d devido acumulao de saberes tradicionais, transmitidos

    de pai para filho h muitas geraes. Estes saberes tradicionais so materializados

    atravs do trabalho e da produo caiara.As nove escolas municipais da Ilha Grande so fonte de informao e representam

    para as localidades onde esto situadas, a nica representao do poder pblico

    operante no local e proximidades.

    Observamos que quando os mais velhos relatam sobre seus antepassados, estes

    os descrevem fazendo atividades que so de suas prticas cotidianas. Esta cultura

    independente, caiara, possui como principal transmissora de conhecimento, a sabedoria

    popular transmitida tradicionalmente de boca em boca.

    A interao com a mata atlntica e o mar condicionante para a incorporao deuma srie de conhecimentos inerentes vida nela. Desta forma, seu abastecimento e a

    sua sobrevivncia neste meio so fruto de sua prpria construo garantido ao caiara

    pela sua prpria fora e vontade.

    O caiara do Aventureiro reivindica sua poro de natureza a qual lhe fornece seu

    meio de subsistncia, seu meio de trabalho e produo e seu meio de reproduo

    cultural.

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    A territorialidade caiara est materializada no espao de trabalho. Dentre os meios

    de produo esto a agricultura, a pesca e ultimamente o turismo.

    Territrio metafsico.

    A identidade nativa caiara adquirida a partir da relao com os estrangeiros.

    Ambientalistas j consideraram a populao do aventureiro como a populao caiara

    mais tradicional do estado do Rio de Janeiro.

    Porm, o mais comum entre os caiaras de qualquer localidade no se

    reconhecer como tal. A identidade caiara,

    embora atribuda, de certa forma assumida pela populao local, namedida em que necessrio manter a coeso social perante aintensificao da presena de atores externos e reafirmar o direito aoterritrio.(Cato, 2004:2)

    Muitos so os smbolos e os patrimnios coletivos caiaras. Neste momento

    necessrio destacar a importncia do carter espiritual que o caiara alimenta em sua f

    majoritariamente catlica de muitos santos. Esta f qual ele administra com muita

    liberdade visto que apesar da sempre presente a igreja nas vilas e povoados praieiros, a

    presena do padre marcada para dias de comemorao, no existindo uma freqncia

    de missas. Da espacialidade das prticas advindas do acmulo destes conhecimentos

    surge uma territorializao da cultura caiara. Estas prticas ficam acumuladas na

    memria individual e coletiva e do legitimidade ao individuo sobre o territrio social e

    cultural de sua tradio. Um territrio ancestral.

    como se o grupo desenvolvesse um trabalho cultural no sentido deconstruir uma imagem pblica de unidade, mobilizando um repertrio desmbolos comunais, memrias e sentimentos coletivos. (Cato, 2004:10)

    O territrio caiara se concretiza invisivelmente como um territrio identitrio. oterritrio cultural histrico. As estimativas da existncia deste povoado de mais de 150

    anos, existindo a possibilidade de remontar a trs sculos.

    Alm do espao de reproduo econmica, das relaes sociais, oterritrio tambm o locus das representaes e do imaginrio mitolgicodessas sociedades tradicionais. (Diegues, 2004:87)

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    7Mapeamento atravs de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-RJ envolvendo Estado e comunidades tradicionais, pp.1-18

    Haesbaert(2002) enfatiza a importncia do fator simblico na apropriao espacial

    de uma cultura esclarecendo que a ligao dos povos tradicionais com seus espaos de

    vida mais forte porque, alm de um territrio fonte de recursos, o espao ocupado de

    forma ainda mais intensa atravs da apropriao simblico-religiosa.

    Pertencemos a um territrio, no o possumos, guardamo-lo, habitamo-lo,impregnamo-nos dele. Alm disso, os viventes no so os nicos a ocuparo territrio, a presena dos mortos marca-o mais do que nunca com osigno do sagrado. Enfim, o territrio no diz respeito penas funo ou aoter, mas ao ser. Esquecer este princpioespirituale no material sesujeitar a no compreender a violncia trgica de muitas lutas e conflitosque afetam o mundo de hoje: perder seu territrio desaparecer.(Bonnemaison e Cambrzy, 1996. apud: Haesbaert, 2002:23)

    O individuo territorializado est enraizado neste territrio, se alimenta dele e

    aparece como smbolo representativo dele assim como ele o representa.

    A participao efetiva da comunidade na principal festa do lugar, que aFesta de Santa Cruz, e a grande importncia por ela atribuda ao evento, eainda uma persistncia dos moradores em manter a agricultura e a pescacomo atividades cotidianas e referenciais so tambm demonstraes deseu enraizamento. (Cato, 2004:15)

    Mas no possvel negligenciar as mudanas radicais que ocorrem nas prticas

    cotidianas dos moradores da vila do aventureiro na hora de fazer esta anlise. A cultura

    est mudando junto com os meios de subsistncia e as novas relaes de trabalho

    afetando a identidade caiara.

    Tal identidade sendo representativa de um modo de vida, e este modo de vida

    estando passando por uma metamorfose radical, podemos falar de uma

    desterritorializao caiara na Vila do Aventureiro e contradizer os ditos de que esta seria

    a comunidade caiara mais tradicional do estado.

    Outras localidades na Ilha Grande, como o serto do Sitio Forte e da Tapera

    mantm exemplos mais tradicionais desta cultura.

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    8XIX ENGA, So Paulo, 2009 WIEFELS, A.C.

    As territorialidades caiaras perdem espao para a cultura estrangeira em muitas

    frentes e se afirmam em outras como resgate identitrio promovido pela populao.

    2.Materiais e Mtodos

    Para construir os dados desta pesquisa foi necessrio um trabalho de

    sensoriamento remoto associado a uma pesquisa de campo, tambm chamada de

    reambulao afim de confirmar os resultados observados atravs das imagens de satlite.

    Esta pesquisa foi realizada a partir de uma imagem de satlite LANDSAT-5/TM de

    1985/07/20, cena 218-076 enquadrando a ilha para gerar o mapa de uso do solo.

    A escolha pelas imagens do satlite Landsat ao invs do satlite CBERS(Satlite

    de Recursos Terrestres Sino Brasileiro) se deu por dois motivos. O primeiro e

    fundamental devido possibilidade de estudo multi-temporal com resoluo temporal

    desde 1972. O segundo devido qualidade da resoluo espacial da imagem. As

    imagens CBERS/CCD no tm uma resoluo satisfatria desta rea e possui muitas

    ranhuras paralelas(rudos) que poluem a imagem no permitindo uma boa visualizao

    de detalhes nem uma boa classificao. Tambm verdade que o seu sensor fornece

    uma imagem um pouco fosca no permitindo revelar estes detalhes que procuramos. A

    resoluo de 20 metros prejudicada por diferentes fatores ligados aos detectores que

    definem uma resoluo real inferior a 30 metros(a resoluo do Landsat/TM)

    Desta forma, a outra alternativa gratuita e de fcil acesso, o satlite Landsat

    sempre fornece uma qualidade ntida de suas imagens e tem uma resoluo temporal de

    muitas dcadas permitindo dar prosseguimento pesquisa comparativa. A diferena de

    resoluo espacial de um satlite para o outro dando desvantagem para o Landsat foi

    compensada pela nitidez do resultado.

    Foi definida uma rotina de processamento de dados e critrios afim para produzir

    tal mapa. O rigor no registro da metodologia empregada para obter os dados deve ser

    respeitado para manter a coerncia na produo de dados de extensa resoluo temporal

    a fim de poder comparar os resultados em posterior trabalho previsto. O projeto Landsat

    est em vigor desde 1972 e posteriormente sero comparados os dados dcada a dcada

    at os dias de hoje.

    A anlise da imagem Landsat foi feita atravs do software ENVI-4.2, onde esta foi

    submetida a realce e foi feita uma composio colorida RGB-453(figura 2), significando o

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    9Mapeamento atravs de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-RJ envolvendo Estado e comunidades tradicionais, pp.1-18

    uso respectivo dos comprimentos de onda do infra-vermelho mdio( 0,63 - 0,69 m),

    infra-vermelho prximo( 0,76 - 0,90 m) e vermelho( 1,55 - 1,75 m).

    Tal composio conhecida por permitir a identificao de diferentes tonalidades

    da falsa-cor vermelho que representa a vegetao. O olho humano distingue maior

    diversidade de tonalidades da cor vermelha que qualquer outra cor. Desta forma

    possvel classificar diferentes tipos de vegetao. O alvo em destaque neste trabalho no

    propriamente a vegetao, mas a falta desta. As clareiras so os indicativos da

    presena de roas caiaras em funcionamento ou em estgio de abandono. Desta forma

    foram destacadas da imagem atravs da classificao automtica Mahalanobis Distance

    as seguintes classes: 1) gua; 2) sombra; 3) areia; 4) floresta; 5) clareira (tabela-1). As

    amostras de treinamento foram destacadas visualmente sobre diferentes representantes

    destas classes. A classe floresta precisou ser generalizada apesar das diferentes

    respostas espectrais possveis para tal anlise devido ao desinteresse desta pesquisa

    especfica em esmiuar tal classe.

    Tabela 1: Estatsticas geradas para a classificao.

    Class Distribution Summary:

    Unclassified: 0 points (0.000%) (0.0000 Meters)Agua [Blue1] 331 points: 4,312 points (0.699%) (3,880,800.0000 Meters)

    Sombra [Black] 450 points: 437,585 points (70.958%) (393,826,500.0000 Meters)

    Floresta [Green3] 2240 points: 160,848 points (26.083%) (144,763,200.0000 Meters)

    Clareira [Red] 416 points: 13,349 points (2.165%) (12,014,100.0000 Meters)

    Areia [White] 14 points: 590 points (0.096%) (531,000.0000 Meters)

    Figura 2: Composio RGB453 Figura 3: Imagem classificada

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    10XIX ENGA, So Paulo, 2009 WIEFELS, A.C.

    No ArcGis-9.2 foi feito o geoprocessamento referente s dinmicas espaciais da

    ilha grande. As informaes geogrficas de cunho mais fsicas como altimetria, hidrologia

    e geomorfologia podem ser consideradas satisfatrias independentemente da data dentro

    de uma escala temporal de poucas dcadas como o caso. Tais dados foram cedidospelo Instituto Estadual de Florestas (IEF-RJ). O dado no produzido neste trabalho e de

    importncia fundamental a base topogrfica da Ilha Grande e a rede fluvial. O resto foi

    inteiramente fruto desta pesquisa.

    O resultado da classificao foi em seguida importado para o ArcGis-9.2. atravs

    do arcatalog, e da ferramenta: convertion tools from raster raster to polygon.

    Desta forma foi criado um shapedas reas destacadas na imagem classificada(figura 3)

    que passou a representar uma camada do dataframeem uso no Arcgis.

    O contorno da ilha disponvel era da escala 1/100000 e tinha traes e contornos

    pouco detalhados. Foi necessrio produzir um contorno da ilha para a escala da imagem

    classificada. Para produzir o contorno da Ilha Grande, foi estourado contraste do realce

    da imagem de satlite de forma que classificasse somente a gua e a terra. Em seguida

    os contornos da feio trazida do raster foi arredondada atravs de ferramenta do

    arctoolbox.(Tabela-2)

    Tabela 2: passos para arredondar feies no ArcToolbox.

    Data menagement tool Features Features to line,

    Data menagement tool Generalization Smooth Line,

    Data menagement tool Feature Feature to polygon.

    Deste contorno geoposicionado em relao ao datum da imagem de satlite:

    WGS_1984_UTM_Zone_23S foram construdas as bacias hidrogrficas sobre a base

    topogrfica de 1/25000 conseguida atravs do IEF.

    A metodologia empregada foi a de recortar polgonos dentro do polgono maior

    representado pela ilha, para manter a rea total na soma final(Figura 4).

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    11Mapeamento atravs de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-RJ envolvendo Estado e comunidades tradicionais, pp.1-18

    Figura 4: Bacias hidrogrficas da Ilha Grande.

    Assim, seguindo os divisores de gua, as bacias foram traadas, o detalhamento

    foi arredondando sobre as microbacias adjacentes totalizando 65 bacias hidrogrficas.

    Estas bacias foram nomeadas de acordo com o nome das localidades ou pontos de

    referncias locais e logo foram calculados os atributos rea e permetro para cada uma.

    Para a carta das roas e clareiras, foi necessrio submet-la a pequenas

    correes e a organizao dos dados da tabela.

    Um primeiro problema foi o fato de os polgonos das roas e clareiras no

    respeitarem os divisores de gua das bacias hidrogrficas. (Figuras 5 e 6)

    Figura 5: Conflito de shapes. Figura 6: Conflito resolvido com a ferramenta intersect

    Foi utilizada a ferramenta do arctoolbox: analisis tools overlay intersect

    para fazer com que elas ocupassem somente uma bacia, tendo como resultado a sua

    subdiviso em pelo menos dois polgonos.

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    Em seguida foram extradas as informaes de rea e permetro destes novos

    polgonos referentes s roas e clareiras e para poder comparar estas reas com a do

    total da bacia hidrogrfica.

    Podemos pelo quadro a seguir ter uma noo resumida de ferramentas de edio

    do ArcGis9.2 utilizadas no trabalho.

    Tabela 4: Resumo dos principais passos no ArcGis9.2

    Finalmente foi feito um join espacial da camada referentes ao uso do solo sobre

    a das bacias hidrogrficas(BH) para gerar a tabela que possibilitou calcular a taxa de

    impacto ambiental por BH. Tal taxa porcentagem de rea desflorestada representada

    pela formula (a/A*100) onde a a rea sem cobertura florestal de uma BH e A a rea

    total da mesma BH.

    3.Resultados

    A ida ao campo fator fundamental do trabalho para a pesquisa geogrfica quando

    encontramos o real e ficamos desesperados para assimilar a quantidade de informaes

    que este real nos oferece. Decifrar o campo extremamente prazeroso devido ao sentido

    que dado pesquisa. O deparar com os sujeitos e as afinidades que so criadas com

    estes no so insignificantes; do alma ao trabalho. Esta metodologia de pesquisa

    caracterstica da cincia geogrfica.

    Vetorizao da imagem classificada:Convertion Tools from raster raster to polygon Criao das bacias hidrogrficas:Data menagement tool Features Features to lineData menagement tool Generalization Smooth LineData menagement tool Feature Feature to polygonEditor modify task cut polygon feature

    Nomeao das BHsCalculo de rea e permetro das BHs

    Correes:-Diviso dos polgonos que ocupavam duas bacias:Analisis tools overlay intersect (camadas: BH e Clareiras)-Fuso de polygonos:Editor - Merge

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    13Mapeamento atravs de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-RJ envolvendo Estado e comunidades tradicionais, pp.1-18

    Em diversas idas a campo, foi possvel fazer uma leitura de paisagem e conhecer

    as pessoas que interagem cotidianamente com esta paisagem. Neste momento

    identificamos os detalhes do sub-clima conflituoso que existe. Quer dizer; existe um

    conflito latente referente a histria desta populao, mas tambm existe a inrcia e o

    silncio da impotncia frente aos rgos do poder que geraram esta injustia. Existem

    tambm outros conflitos que dizem respeito a uma situao mais moderna. O

    desenvolvimento da Ilha Grande junto com todo o da regio da Costa Verde no litoral Sul-

    Fluminense est fundamentado no discurso do turismo ecolgico, mas que na verdade

    trata a ecologia como objeto de consumo. Pousadeiros e veranistas correm geram uma

    verdadeira corrida do ouro a fim de se apossar de parcelas deste solo sagradamente

    verde e preservado, que se revela um objeto de consumo cobiado nacional e

    principalmente internacionalmente para o turismo.

    A seguir esto ilustradas trs situaes de clareiras que foram agrupadas na

    classificao como um tipo de rea denominada para este trabalho de rea desmatada

    em contraposio floresta.

    O caso do solo exposto ilustrado pela Figura 7 caracterstico principalmente do

    vale do Provet no sudoeste da ilha onde o uso intensivo por sculos deteriorou o solo e

    onde a vegetao secundria tem dificuldade para se regenerar apesar da presena de

    florestas mais densas circunvizinhas.As Clareiras cobertas por gramneas ou espcies da famlia das samambaias

    (diferena provavelmente devida a diferena de Ph do solo)(Figura 8) esto espalhadas

    pela floresta e na maioria das vezes so roas abandonadas em regenerao.

    As Roas de subsistncia caiaras (Figura 9) ainda existem em 2008 em diversas

    localidades da ilha apesar da ilegalidade.

    Figura 7: Solo exposto.

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    15Mapeamento atravs de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-RJ envolvendo Estado e comunidades tradicionais, pp.1-18

    Saco dos Castelhanos 206,90 9,98 25 3,78 4,07 1,83

    Ponta de Itacuc 171,22 6,07 8 3,26 2,01 1,91

    Rio Perequ 1065,28 17,21 61 20,99 13,86 1,97

    Rio Capivari 2518,35 30,56 121 52,00 35,59 2,06

    Matariz Leste 349,44 9,25 30 10,97 7,94 3,14

    Vermelha Norte 46,68 2,71 6 1,51 1,18 3,23

    Crrego da Andorinha 1496,81 21,12 70 73,73 29,72 4,93

    Abro Leste 87,71 4,84 13 4,39 3,19 5,01

    Pta da Enseada 155,51 9,17 29 8,07 5,99 5,19

    Parnaioca 1187,54 20,14 88 61,67 30,58 5,19

    Sundara sul 113,60 4,54 27 6,66 5,27 5,86

    Saco-Bananal 234,59 7,47 28 13,90 8,43 5,93

    Sundara 124,38 5,65 34 8,62 7,76 6,93

    Castelhanos 219,42 11,10 50 16,16 11,51 7,37

    Barra Pequena 498,26 12,08 35 37,32 14,71 7,49

    Lopes Mendes Oeste 249,52 9,07 48 18,88 12,89 7,57

    Praia do Leste 177,55 8,14 18 13,57 7,35 7,64

    Crrego do Abrao 544,99 10,69 52 42,17 21,25 7,74

    Praia de Fora 410,09 9,21 76 35,67 20,98 8,70

    Palmas 376,40 12,95 54 33,13 17,55 8,80

    Pta Mero 172,03 8,31 39 15,38 9,87 8,94

    Saco do Cu 301,80 9,38 45 27,10 14,64 8,98

    Pta Grossa 128,19 6,32 31 12,61 8,25 9,83

    Mangues 324,09 15,22 56 32,89 18,19 10,15

    Passa Terra 202,43 7,59 29 21,10 10,58 10,42

    Praia do Abrozinho 57,01 3,93 20 6,67 4,87 11,71

    Bananal 220,21 6,95 32 26,38 11,77 11,98

    Ponta do Bananal 70,04 5,18 7 8,40 3,50 11,99Litoral Proveta Ponta da Escada 404,29 12,40 63 48,46 22,03 11,99

    Praia do Iguau 333,16 9,66 56 41,91 21,93 12,58

    Araatiba 1 40,86 2,69 11 5,33 3,15 13,04

    Araatiba 79,64 3,70 18 10,44 5,56 13,12

    Matariz Oeste 330,18 8,89 60 45,01 21,93 13,63

    Pta do Lobo 133,79 5,34 37 18,54 11,91 13,86

    Pta da Rezingueira 103,93 6,26 35 15,31 9,54 14,73

    Sitio Forte 238,33 8,09 50 35,79 18,67 15,02

    Crrego da Longa 332,74 8,59 46 51,08 22,35 15,35Pta Drago 63,84 3,47 23 9,88 6,47 15,47

    Acai - Micos 185,69 9,81 26 29,16 13,07 15,70

    Araatiba4 96,35 3,90 15 17,47 7,21 18,14

    Lopes Mendes Leste 273,50 8,89 72 52,12 24,04 19,06

    Pta do Pilo 120,39 6,20 22 23,01 9,80 19,11

    Abro 403,63 8,10 95 77,85 39,80 19,29

    Araatiba2 63,04 3,64 20 12,83 5,85 20,35

    Proveta Sudoeste 95,07 5,49 28 19,64 10,14 20,66Corrego deItapecerico 201,29 6,34 24 44,97 15,28 22,34

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    16XIX ENGA, So Paulo, 2009 WIEFELS, A.C.

    Pta do Cabra 32,64 3,72 7 8,01 3,17 24,55

    Corrego da Parnaioca 267,37 8,06 56 69,17 27,55 25,87

    Aventureiro 70,09 4,26 32 18,28 11,23 26,08

    Praia do demo 145,89 5,37 54 38,49 18,53 26,38

    Araatiba3 119,10 5,07 41 31,43 14,70 26,39

    Freguesia de Santana 215,30 13,38 58 56,82 24,90 26,39Tapera 162,23 4,90 57 44,07 22,53 27,16

    Ubatuba 140,39 7,23 42 46,85 21,48 33,37

    Praia Vermelha 125,93 5,16 33 42,34 17,99 33,62Freguesia deSantana - Leste 173,58 6,34 79 58,68 27,58 33,80

    Tapera oeste 56,17 4,11 19 22,50 9,77 40,06

    Longa oeste 40,97 3,11 26 26,65 10,91 65,05

    Carta 1 reas desmatadas na Ilha Grande-RJ por Bacia Hidrogrfica 1985

    4.Concluso

    A paisagem desflorestada da Ilha Grande tem uma histria de sculos. Em

    comparao com o perodo colonial e das fazendas, o sistema de roas de subsistncias

    no afeta tanto a mata nativa. Aps aproximadamente 100 anos do abandono das

    grandes fazendas (De dois Rios, Do Holands, de Sitio Forte, de Freguesia de Santana) o

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    17Mapeamento atravs de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-RJ envolvendo Estado e comunidades tradicionais, pp.1-18

    caiara viu a mata voltar a crescer e retomar o seu espao de forma exuberante

    demonstrando o potencial da Mata Atlntica em se auto-regenerar. Da mesma forma, as

    roas de subsistncias, proibidas a partir da dcada de 1970 por deciso legislativa

    tiveram seu abandono gradual representando hoje diversos estgios de recuperao da

    mata.

    No ano de 1985, podemos perceber que muitas famlias ainda resistiam ao

    despejo e ainda estavam na terra mantendo o seu modo de vida caiara, indo contra a

    deciso do Estado que lhes proporcionou uma situao de ilegalidade quanto sua

    presena em solos preservados.

    Este trabalho fornece bases metodolgicas para construir a progresso do uso e

    manejo dos solos da Ilha Grande ao longo do tempo. Imagens da srie de satlites

    Landsat nos fornece dados desde o inicio da dcada de 1970 at hoje.

    O estudo comparativo com as dcadas precedentes e posteriores 1985 nos

    informar a velocidade com que as famlias promoveram este xodo rural forado para o

    continente (maior parte para as favelas de Angra dos Reis) e a velocidade com que a

    vegetao se regenerou.

    O resultado da pesquisa permite observaes a respeito de quais so as reas

    mais ocupadas, degradadas e recuperadas da Ilha Grande. As bacias hidrogrficas mais

    preservadas so: as bacias do Capivari-Corrego do Sul, Rio Pereque, pequenas baciascosteiras do sul e Barra Pequena em Dois Rios.

    Em contraposio, as bacias mais impactadas so as do Saco do Cu, Tapera,

    Araatiba, Praia Vermelha, Proveta, Aventureiro e Abro, condizendo com as

    maiores aglomeraes humanas.

    Podemos observar desta forma o processo de desterritorializao do povo caiara

    em relao ao seu territrio ancestral, o qual representa a ilha toda. A reterritorializao

    precria nas favelas de Angra dos Reis, ou nas praias da ilha na condio de mo de

    obra barata para pousadeiros e outras infra-estruturas tursticas conseqncia de umapoltica por parte das autoridades ambientais que no reconhecem os direitos dos

    caiara em relao ao seu territrio ancestral.

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    18XIX ENGA, So Paulo, 2009 WIEFELS, A.C.

    5 Bibliografia:

    CATO, Helena Henriques Ferreira - Territrio caiara: memria e identidade na

    demarcao do espao social. Mestrado no CPDA/UFRRJ, 2004.

    CPRM Servio Geolgico do Brasil .

    DIEGUES, Antnio Carlos Santana - O mito moderno da natureza intocada, 4 edio,

    SP: Hucitec; NUPAUB, USP, 2004.

    HAESBAERT, Rogrio - Concepes de territrio para entender a desterritorializao. in

    Territrio Territrios/Programa de Ps Graduao em Geografia PPGEO-UFF/AGB-

    Niteroi. 2002.p17-38.

    IEF Instituto Estadual de Florestas do Rio de Janeiro.

    PONTES, Anderson de Arajo A possibilidade da roa caiara na Ilha Grande.

    Monografia em Geografia, FFP/UERJ, 2007.

    WIEFELS, Alexandre Cigagna - Do Territrio Territorialidade Caiara: o conflito entre os

    moradores da Vila de Aventureiro e as polticas preservacionistas da Reserva Biolgica

    da Praia do Sul na Ilha Grande-RJ. Monografia em Geografia, FFP/UERJ, 2007.