Cong - Facultad de Economía - Universidad Nacional ... · Web viewBrasil durante a...
Transcript of Cong - Facultad de Economía - Universidad Nacional ... · Web viewBrasil durante a...
Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica
Cuarto Congreso Internacional de La Asociación Mexicana de Historia Económica
Simpósio 18: Famílias, negócios y empresas em La América Latina 1850 - 1930
Ema Elisabete Rodrigues Camillo
Mestre em História Econômica- Instituto de Economia/ UNICAMP
Centro de Memória- CMU/Unicamp
COMPANHIA MAC HARDY: UMA EMPRESA DE BENS DE
CAPITAL NA ECONOMIA DO OESTE PAULISTA (1875 – 1894)
1) Contexto de surgimento
A mecanização agrícola, ocorrida a partir da segunda metade do século XIX,
representou, principalmente, a modernização de um país empenhado em pertencer ao grupo
das nações mais desenvolvidas do mundo ou pelo menos copiar-lhes o modelo. Momento
em que o Brasil era penetrado pelo capitalismo, e inserido na divisão internacional do
trabalho, enquanto produtor de matéria-prima e consumidor de produtos manufaturados
estrangeiros.
O volume de renda gerado pelo setor exportador viabilizou a expansão de um setor
de máquinas não endógeno ao sistema, pois a despeito do surgimento de um conjunto de
fabricantes nacionais, estes tiveram que enfrentar a concorrência externa, representada por
intenso comércio de máquinas agrícolas importadas, principalmente, dos EUA.
A história da Mac Hardy, a sua gênese no Brasil, confunde-se com o desenrolar da
própria história econômica da nação. Para se entender a evolução de uma empresa que
atuou no mercado industrial e comercial do país, é importante o conhecimento do processo
histórico que teve lugar principalmente na cidade de Campinas, local de seu surgimento e
onde se manteve em atividade até pelo menos 1975. Contudo, diz-se mesmo, que qualquer
estudo que vise o conhecimento da história de empresas industriais e comerciais atuando no
Brasil durante a segunda metade do século XIX passa, necessariamente, pela compreensão
e explicação de processos históricos regionais como o do Rio de Janeiro e de São Paulo,
aquele polarizado por Cantagalo e este por Campinas. O biólogo Louis Couty, em 1881,
comparou a produção cafeeira da região fluminense e do Oeste paulista, valendo-se do
exame procedido em 17 fazendas de Cantagalo e Campinas, concluindo que estes
municípios eram os dois mais notáveis centros da lavoura do Brasil.
Campinas tornou-se um pólo econômico, social e cultural a partir do século XIX, na
esteira do sucesso econômico alcançado através da implantação da cultura cafeeira na
região.
Outra região, que viera substituir aquela do Vale do Paraíba, designada Oeste
Paulista, localizada no Centro-Oeste de São Paulo, - embora não corresponda ao oeste
geográfico-, onde penetrou o café principalmente por Campinas, estendendo-se numa faixa
dali para o norte até Ribeirão Preto. A conquista do Oeste pela lavoura cafeeira é fenômeno
que pertence, efetivamente, à segunda metade do século XIX. Não há dúvidas que desde
1817 fizeram-se tentativas de adaptar a planta nos arredores de Campinas e, desde os
últimos anos do século XVIII, o cafeeiro fora introduzido no município de Jundiaí.1 Os
progressos notáveis e definitivos só ocorreram após 1850. Nesse meado de século em seu
novo habitat , seu cultivo colocou em prática procedimentos já ditados pela experiência,
enquanto se desenrolava rapidamente na região de Campinas a substituição dos engenhos
de cana pelos cafezais.2
Formou-se assim nesse município, novo e importante pólo de difusão do café, de
onde se disseminou por todo o Oeste da Província. O café adentrou por essa cidade, ainda
1 Sérgio Milliet, ao abordar a penetração do café na Província de São Paulo, afirma ser indiscutível que esta tenha se dado a partir do norte em que os primeiros produtores foram os municípios de Ubatuba, Bananal e São Luís do Paraitinga. Só mais tarde esses cafeeiros confluindo com a expansão que vinha do sul de Minas, atingiram a região que então se designava o “Oeste” de São Paulo, após contornar a região da capital paulista. Essa área não coincide exatamente com o oeste geográfico de São Paulo, indica a direção tomada pela expansão cafeeira advinda do Vale do Paraíba. In MILLIET, Sérgio. Roteiro do café e outros ensaios. São Paulo: Hucitec,1982, p.18 e LAPA, José Roberto do Amaral. A Economia Cafeeira. São Paulo: Brasiliense, 1983, p.27.2 CANABRAVA, Alice P.:"A Grande Lavoura", e COSTA, Emília Viotti da. "Da escravidão ao trabalho livre. Aperfeiçoamento no processo de fabrico do açúcar e beneficiamento do café", in História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Monárquico. Reações e Transações. São Paulo: Difel, 1985, p. 7 e p.18. Contudo, por volta de 1858, Limeira, Rio Claro, Mogi-Mirim e Jundiaí, embora cultivassem café, eram ainda predominantemente açucareiros, enquanto Itu, Capivari e Porto Feliz o eram de maneira quase exclusiva. Numa relação de 2618 fazendas de café e 667 fazendas de açúcar localizadas na província de São Paulo, constava que as primeiras mantinham 55 834 escravos, 4 223 agregados e 2159 colonos, enquanto nas fazendas de açúcar, viviam 15 641 escravos, 698 agregados e, apenas dez colonos.
2
no final do século XVIII segundo Corrêa de Mello, em forma de sementes, quando o
sargento-mor Raimundo Alves dos Santos Prado, as ganhou do então capitão-general da
capitania de São Paulo Antônio Manoel de Mello Castro e Mendonça (1797-1802), que se
mostrava interessado em promover a cafeicultura na capitania. Esse sargento-mor deve tê-
las plantado em sua propriedade, pois pelo recenseamento de 1798 ele residia em
Campinas, e era senhor de engenho, com canaviais novos. Portanto, devem ser de suas
terras as 4 arrobas de café produzidas na então Vila de São Carlos, e mencionadas no
recenseamento de 1805. Em 1830, o fazendeiro Francisco Egydio de Souza Aranha tomou
a iniciativa de incrementar essa cultura e promover a sua exportação. Afirma-se que sua
propriedade lhe viera às mãos por herança, e que ali foram plantadas as primeiras mudas de
café por seu sogro, que por volta de 1817, as recebera de um parente de nome Francisco de
Paula Camargo, que nesse ano estivera na Corte – por ocasião dos festejos que se faziam
pelo casamento do então Príncipe D. Pedro- onde viu ser vendido café limpo a 8 e 9 mil
réis a arroba, julgando ser o preço vantajoso tratou de plantar café em suas terras.3
Na zona de Campinas, em menos de vinte anos, plantações de cana e gêneros
alimentícios, que haviam constituído a grande riqueza do passado, tinham sido substituídas
pelos cafezais. Em 1860, esta zona já rivalizava com Bananal, então o maior produtor. A
cultura da cana e a produção de aguardente continuaram a ser produzidas com vantagem.
Campinas era reconhecida como importante centro comercial de comarcas distantes,
seja da Província de São Paulo, seja de Minas Gerais. Destas vinham seus produtos:
algodão, toucinho, feijão, queijo, que dali eram redistribuídos. Só de Franca chegavam,
naquela época, de 500 a 700 “vagões” que eram remetidos para Santos e Rio de Janeiro, em
carretas e tropas de mulas.4
3 MELLO, Joaquim Corrêa de. “Café-Campinas”. Almanaque de Campinas para 1900. Campinas, Typ. Casa Livro Azul, 1899, p.99. TSCHUDI, J. J. Von. Viagem às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo. São Paulo: Livraria Martins, 1976, p.172-173. 4 COSTA, op. cit., p.6. Milliet, calcado no vazio historiográfico sobre a cafeicultura paulista existente muitas décadas atrás, se propôs traçar o roteiro do café dentro do estado de São Paulo, tomando por base apenas fontes oficiais, porque mais aceitáveis e por permitirem acesso a dados por municípios. Desse estudo referente ao caminho percorrido pelo café resultou a divisão do Estado em sete zonas, classificadas pela ordem cronológica de introdução do café: Norte, Central, Mogiana, Paulista, Araraquarense, Noroeste, Alta Sorocabana. Interessa-nos mais de perto as quatro primeiras, uma vez que o surgimento e desenvolvimento delas relaciona-se ao período ora em estudo. Campinas, em particular, pertencia à zona Central, juntamente com: Angatuba , Atibaia , Bofete, Bragança, Cabreúva, Campinas, Campo Largo, Conchas, Capivari, Cotia, , Guarei, Indaiatuba, Itapetininga, Itatiba, Itu, Joannópolis, Jundiaí, Juqueri, Laranjal, Monte Mór, Nazaré, Parnaíba, Pereiras, Piedade, Piracaia, Piracicaba, Porangaba, Porto Feliz, Rio das Pedras, Salto, Santa Bárbara, São Pedro, São Roque, Sarapui, Sorocaba, Tatuí, Tietê, Una e Vila Americana. V. MILLIET
3
No interior do planalto paulista, o cafeeiro encontrou seu solo de eleição, a área
mais propícia ao seu desenvolvimento, a terra roxa, que se completava com condições
favoráveis do clima, em vastas extensões.
A maior fertilidade do solo, cafezais mais novos e técnica mais avançada geraram
lucros crescentes para essa cafeicultura. Mas, a interiorização do café em São Paulo se
chocaria com os exorbitantes custos de transporte. Pois essa difusão dos cafeeiros criou
enormes distâncias entre as lavouras e o porto de Santos, que lhe servia de escoadouro. A
introdução das ferrovias veio sanar o problema e também converteu-a em verdadeira
desbravadora de terras.5
A introdução das máquinas de beneficiamento na cafeicultura paulista significou
não só poupar mão-de-obra como também reduzir seus custos, aumentar sua produtividade
e seus lucros, o que lhe possibilitava expandir-se ainda mais. Aumentar o plantio
significava incorporar mais terras e mais mão-de-obra. A ferrovia eliminara as barreiras à
oferta de terras. Contudo, conseqüente da proibição do tráfico negreiro, o aumento
vertiginoso do preço do escravo coloca em cheque a lucratividade do setor. A solução viria
com a imigração européia. Observe-se, não de caráter colonizador como as do Sul ou a do
Espírito Santo, mas sim a de homens despossuídos, que pudessem ser submetidos ao capital
cafeeiro. Sendo assim, a economia escravista de São Paulo, além de prover sua própria
infra-estrutura - através das ferrovias – promoveu a transição para o trabalho assalariado,
através do movimento imigratório que comandou. O ano de 1886 é o marco dessa transição,
dado que a partir dele, a expansão cafeeira ficava totalmente garantida. Subordinando
efetivamente o trabalho, instalou com isso as bases da economia cafeeira capitalista. Ao
criar seu próprio mercado de trabalho criou também “sobras”, que permitiriam o
nascimento do mercado de trabalho urbano em São Paulo. Ao adotar o colonato,
possibilitou a criação de um mercado de bens-salário. De ambos os quais a futura indústria
e a agricultura mercantil se valeriam mais tarde.
2)Empresa e propriedade: características
5 CANO, Wilson. "Padrões diferenciados das Principais Regiões Cafeeiras (1850-1930)", in Estudos Econômicos, São Paulo, maio/agosto, 1985, p. 301
4
Em 1872, procedente de Drumblair, Escócia, chega a Campinas o jovem Guilherme
Mac Hardy, já um "hábil mecânico" que viera trabalhar na então firma Milford &
Lidgerwood, importadora de máquinas agrícolas. Poucos anos depois, em 1875, resolveu
estabelecer-se por conta própria, montando uma fábrica voltada à produção de máquinas de
beneficiamento principalmente de café, além de outros utensílios, ferramentas e
implementos voltados à lavoura. 6
Não sem algumas dificuldades, conseguiu desenvolver seu negócio e em 1880 pode
ampliar suas instalações. Para tanto ele organizou dupla sociedade, constituindo
respectivamente a firma Guilherme Mac Hardy & Cia, tendo por sócio John James Ross e a
Mac Hardy & Cia – Fundição Campineira de Ferro e Bronze – para a qual se associou a
Joseph James Sims. John Ross veio direto da Inglaterra a pedido de Mac Hardy
especialmente para ajudá-lo na expansão do estabelecimento; quanto a Sims, este já morava
em Campinas, quando se associou a Mac Hardy.
Estabelecendo-se inicialmente à Rua Bom Jesus, nº 23 (hoje Avenida Campos
Sales), com a expansão do estabelecimento mudou-se para a Avenida Andrade Neves, nº1 e
nº15, onde foi montada uma vasta oficina e uma fundição que ocupavam 8.000 m2, não
compreendendo esse número os terrenos que foram adquiridos visando novas ampliações.
A 9 de outubro de 1883 ocorreu a inauguração das "novas e grandes officinas de
fundição dos Srs. Guilherme Mac Hardy & Cia., conhecidos e conceituados mecânicos, que
há bastantes annos fundaram nesta cidade uma importante casa de machinas e uma
fundição em grande escala, a que tem dado notável desenvolvimento." Trabalhavam nessa
oficina de 140 a 145 operários, incluindo os da fundição, que eram em número de 30,
podendo-se recorrer a um excedente de 25 a 30 operários quando havia necessidade de
aumento da produção. 7
Foi na fundição que Joseph J. Sims cuidou de formar a mão-de-obra que lhe era
necessária, "entre gente do paíz". Por volta de 1886, 54 aprendizes, na maioria brasileiros,
trabalhavam sob sua direção. Esses aprendizes eram dito, com treinamento de um ano e
6 FEITOSA, Miguel Alves. À volta da exposição (notas e impressões). Campinas. Typ a vapor co Correio de Campinas, 1886, p.111. Cia. Mac Hardy Manufatureira e Importadora. Dados Históricos. 1957, p.1.7 A Gazeta de Campinas, Campinas, 11/10/2007. FEITOSA, idem, p.112. FREIRE, Ezequiel. "Rememorando o extraordinário certame da "Princesa d´Oeste "de 1885". Cartas reportagens ao Correio Paulistano sobre a Iª Exposição Regional, de 25 dez. 1885 a 25 jan. 1886. Correio Popular, Campinas, 17/12/1939, p.12
5
meio a três anos, serem capazes de realizar trabalhos de fundição "muito regulares".
Tratava-se de rapazes entre 11 e 19 anos, que eram iniciados a título de serviço gratuito,
mas que em pouco tempo estavam aptos a ganhar um salário que variava entre 2, 3, e 4$000
(mil réis) diários. Esses dados levantados junto a Feitosa (1886) e Freire (1885-86) podem
ser comparados aos localizados por Lapa no Diário de Pernambuco que, em notícia sobre a
quinta viagem que D. Pedro II fez à cidade de Campinas, ao mencionar a visita que o
imperador realizou junto às oficinas Mac Hardy, apresenta outros números com relação aos
operários e aprendizes para cada casa. Assim, nas oficinas de fundição, ferraria, pintura e
carpintaria havia 150 operários: 122 brasileiros, sendo 69 aprendizes e na Casa Mac Hardy,
45 operários: 23 brasileiros, sendo 10 aprendizes, o que equivale dizer que conjuntamente,
trabalhando naquelas unidades de produção existiam 195 operários, sendo setenta e nove
aprendizes. 8
Nesta segunda fase da Cia. Mac Hardy, marcada pela presença dos dois sócios e que
antecede a sua transformação em sociedade anônima, não foi possível precisar o volume de
sua produção, apenas pode-se levantar que eram consumidos, anualmente, cerca de 400
toneladas de ferro-gusa para atender a demanda por seus produtos.
Há que ser lembrado o papel desempenhado por esse estabelecimento a partir de sua
implantação, fazendo baixar o preço das máquinas agrícolas, cujo monopólio era exercido
pela fabricante americana Lidgerwood Mfg. Co. Ltd. Segundo depoimentos de lavradores
campineiros, o efeito da concorrência fez com que os preços desses equipamentos
baixassem 15%, 20% e até 70%. Prova disso é a matéria publicada na Gazeta de Campinas,
onde Guilherme P. Ralston & Cia., "únicos agentes n´esta província para a venda das
afamadas machinas de beneficiar café, conhecidas como machinas Lidgerwood, têm a
honra de annunciar aos srs. Fazendeiros (...) que tendo o fabricante dellas aumentado e
melhorado consideravelmente as fábricas, diminuindo assim o custeio dellas, fazem
reverter esta diminuição em favor da lavoura, e por isso venderão de hoje em diante as ditas
machinas com grande redução dos preços. Prevalecendo-se da opportunidade, de novo
chamam attenção dos srs. Fazendeiros (...), acerca da infração commetida pelo Sr.
Guilherme Mac Hardy aos privilégios do Sr. Lidgerwood. Em desaggravo (...) hoje
iniciamos processo judicial contra o Sr. Guilherme Mac Hardy, como infractor destes
8 LAPA, José Roberto do Amaral. A cidade: os cantos e os antros. São Paulo: Edusp, 1996, p.92.
6
privilégios e renovamos nosso protesto contra a venda das machinas fabricadas por elle (...)
estamos promptos a receber encomendas para machinas semelhantes às feitas pelo Sr.
Guilherme Mac Hardy, com abatimento de vinte por cento abaixo dos preços deste.".
Quanto ao que era produzido por essa empresa. É importante que se descreva
através de que produtos essa firma se fez representar na Iª Exposição Regional de
Campinas, ocorrida em 1885, para que também fique mais clara a divisão interna havida na
fábrica, já indicada anteriormente.
O Pavilhão Mac Hardy apresentou-se dividido em duas partes, a primeira foi
destinada aos "machinismos" expostos por Guilherme Mac Hardy & Cia. E a segunda
continha os produtos da fundição de Mac Hardy & Cia.
Na primeira divisão foram expostas duas máquinas, sendo que a maior delas podia
beneficiar até 300 arrobas de café por dia. A outra, denominada máquina Provincial, que
ocupava espaço mais limitado, podia beneficiar entre 150 e 200 arrobas de café por dia. Foi
exposto também um "vapor locomóvel dos afamados fabricantes Clayton &
Schuttleworth", com potência de 8 HP, destinado a tocar uma máquina completa, de n° 2,
para beneficiar café. Na outra divisão foram expostas todas as polias, engrenagens,
engenhos de cana e turbinas pertinentes à fundição.
Resta lembrar, ainda sobre a participação desse estabelecimento industrial nessa
exposição, que à mesma foi atribuída medalha de prata, pelo júri constituído para julgar o
"melhor café, com referência ao benefício", quando chegaram à conclusão de que a
máquina de beneficiamento, apresentada por Mac Hardy, levava pequena vantagem sobre a
de Lidgerwood Mfg. Co. Ltd. e de Arens Irmãos, os outros concorrentes, na "batalha" para
estabelecer a superioridade das máquinas destinadas ao melhor aproveitamento do café.
Vale lembrar que em Exposição Provincial ocorrida em São Paulo em janeiro de
1885, anterior à acima referida, multiplicaram-se as rivalidades sobre que máquinas eram
mais adequadas ao beneficiamento do café, sendo concorrentes, a exemplo de Campinas,
três fabricantes de máquinas agrícolas: Mac Hardy, Lidgerwood e Arens, que ficaram
nacionalmente conhecidos como grandes fabricantes de máquinas agrícolas, motores a
vapor, caldeiras, turbinas e equipamentos de transporte, no final do século XIX. 9
9 FREIRE, ibidem e BRITO, Jolumá. História da cidade de Campinas. São Paulo, Saraiva, 1959, v. 10, p. 66-67.
7
Durante a última visita que o imperador D. Pedro II fez a Campinas, em outubro de
1886, já mencionada anteriormente, essa indústria participou da recepção de rua para o
casal imperial, formando uma ala composta por 160 dos seus operários. Momento em que o
Club Musical Mac Hardy, portando suas bandeiras e seu estandarte, fez-se presente entre as
inúmeras bandas e agrupamentos de escolares e operários que também participaram das
festividades programadas.
No dia seguinte à recepção, as duas unidades que compunham essa fábrica foram
visitadas pelo monarca, que também percorreu as dependências do Club, tendo assinado o
seu livro de visitas e aproveitado para ouvir a execução de várias peças musicais pela banda
do mesmo, o que muito apreciou. Esse Club, criado em novembro de 1885, tinha por
objetivo propiciar lazer aos empregados dessa firma, mas desempenhou função não só
recreativa como cultural e assistencial, na medida em que dispunha de biblioteca, sala de
leitura, piano, bilhar e se propunha a auxiliar os seus sócios em caso de acidente,
enfermidade ou morte. Diz-se que as festas promovidas por essa associação marcaram
época e que nessas ocasiões a banda sempre se fazia presente. 10
10 LAPA, op. cit., p. 92-93. SECKLER, Jorge. Almanach do Estado de São Paulo para 1890. São Paulo, Jorge Seckler & Cia, s.d.; Companhia. Dados Históricos. 1957, p. 1.
8
9
10
Em 1889, quando a população de Campinas foi violentamente atingida por um
primeiro surto de febre amarela, Guilherme Mac Hardy acabou por perder seus dois sócios
e colaboradores, Ross e Sims, que vieram a falecer quando a epidemia se alastrou pela
cidade. Mas esse golpe não desanimou o industrial que, associando-se a um grupo de de
personalidades campineiras, tratou de transformar seu estabelecimento industrial e
comercial em sociedade anônima. Foi assim que a 18 de janeiro de 1891, realizou-se a
primeira assembléia de acionistas para a efetivação da empresa como S/A. 11
Dessa assembléia resultou a eleição da primeira diretoria da Cia. Mac Hardy
Manufatureira e Importadora que ficou assim constituída: presidente: barão de Ataliba
Nogueira; secretário: Dr. Gabriel Dias da Silva; gerente: Guilherme Mac Hardy. Entre os
acionistas figuravam nomes, muitos dos quais ligados à vida agrícola, comercial e
financeira da cidade e de São Paulo, como: barão Geraldo de Rezende, Roberto Clarck,
Bento Quirino dos Santos, Joaquim Vilac, José França de Camargo, John Mc-Kindal, Júlio
Frank de Arruda, Joseph Breen, José Maximiano Pereira Bueno e Júlio Gerin. 12
Em 1894, Guilherme Mac Hardy voltou à sua terra natal, tendo vivido na Escócia
até 1914, vindo a falecer aos 84 anos de idade. Seu corpo foi sepultado na cidade de
Aberdeen. Diz-se que enquanto viveu, mesmo distante, continuou a participar na orientação
dos rumos da companhia que ele fundara. 13
No início do século a Companhia ocupava uma área de 6320 m²; dois grandes
edifícios especialmente construídos para abrigar suas quatro oficinas, havendo mais uma
área de 8071 m² de terrenos que estavam cobertos provisoriamente e que serviam de
depósito para materiais e outras utilidades. Formando um quadrilátero envolvendo quatro
quarteirões formados pelas ruas General Osório, Barão de Parnaíba, Bernardino de Campos
11 Foram estes os elementos da sociedade campineira indicados: barão de Ataliba Nogueira, barão Geraldo de Rezende, José Paulino Nogueira, Bento Quirino dos Santos, Joaquim Vilac, figuras ligadas, em sua maioria, à agricultura e à vida pública local. Companhia, idem, p.2. 12 José Maximiano Pereira Bueno foi criador da Junta Comercial do Estado de São Paulo. AMARAL, Leopoldo. A cidade de Campinas em 1900. Campinas, Typ. a vapor da Casa do Livro Azul, 1899, p.276 e Companhia, ibidem, p.2.13 AMARAL, idem e Companhia, idem. Afirmam ter Mac Hardy se retirado do Brasil em 1893, contudo analisando o Livro de Atas das Assembléias Ordinárias e Extraordinárias da Cia. Mac Hardy (1891 – 1985).Pode-se constatar a presença de Guilherme Mac Hardy em Assembléia Geral Ordinária realizada a 06 de Janeiro de 1894, durante a qual este solicitou ausentar-se do país, que contradita aquela data.
11
e 11 de Agosto, cortados pela Avenida Andrade de Neves ademais de terreno que avançava
na Rua General Osório no sentido da Estação Ferroviária da cidade. 14
Foto da Planta dos Terrenos e Officinas da Cia Mac Hardy Campinas
A energia empregada era o vapor, possuindo a Companhia quatro motores
que produziam uma força de 108 HP, distribuída entre as quatro oficinas (fundição,
serraria, ferraria e carpintaria), que punham em movimento 75 máquinas de fundição,
mais a oficina mecânica e a de carroças.
O capital registrado da empresa, em 1899, era de 2.000:000$000 (contos de
réis), e o número de acionistas era de167. Nessa época trabalhavam nas oficinas 230
operários, fora o pessoal do expediente, representado pelos engenheiros, maquinistas
e carpinteiros, que se ocupavam da instalação das máquinas nas fazendas. 15
14 Planta dos Terrenos e Officinas da Cia Mac Hardy. Campinas. Ass. Joseph Breen, Director-Presidente. Carimbada: Cia. Paulista de Seguros, 1907. Ms. Fundo Cia. Mac Hardy, P.1. Arquivos Históricos, Centro de Memória-UNICAMP. 15 Ressalte-se que Bandeira Jr. aponta outros números para o volume de pessoal ocupado, que confrontamos por se tratarem de dados de 1901 e por apresentar diferença significativa. Senão vejamos, nacionais: 190 homens e 30 menores (deve se tratar dos aprendizes); estrangeiros: 70 homens e 10 menores, num total de 300, mas deve incluir o "pessoal do expediente." BANDEIRA Jr., Antonio Francisco. "A indústria no Estado de São Paulo em 1901", in São Paulo, Diário Oficial, 1901, p. 133.
12
Neste outro momento de seu desenvolvimento, a linha de produção dessa
empresa incluía:
- ventiladores para café em coco, de 800 a 1000 arrobas diárias;
- ventiladores dobrados, para a mesma quantidade;
- catadores Mac Hardy, melhorados – garantidos pela patente 2593, para 350 arrobas
diárias.
- descascadores Mac Hardy, privilegiados pela patente 2593, de três tipos: n° 1 e 1,5
para 500 a 600 arrobas diárias; n°2 para 350 a 400 arrobas diárias; n°3 para 250 a 300
arrobas diárias;
- separadores para 300 a 400 arrobas diárias;
- brunidores para 800 arrobas diárias;
- máquina econômica combinada, aparelho completo, contendo todos os maquinismos
necessários ao beneficiamento do café como: ventiladores de café em coco,
descascador, ventilador dobrado, separador, catador, todos os seus condutores, bicas,
polias, transmissões e correias. Apresentam-se de quatro tipos. 16
- desintegradores (moinho para fubá, para 300 kg. por hora);
- moendas para cana de nº 1 a 6. Moendas manuais, a vapor ou por animais;
- serras Mac Hardy, tipos de nº 1 a 3, com 1, 3 e 6 pedras;
- turbinas Leffel;
- arados e carpideiras Durei & Cia;
- vapores Clayton e Schmit Ceuvaret.
Para produzir o que acima detalhamos eram empregados anualmente: ferro guza:
200.000 quilos; ferro fundido: 100.000 quilos; ferro batido: 40.000 quilos; aço: 1000
quilos; bronze: 3000 quilos; cobre velho: 2500 quilos; estanho: 250 quilos; chumbo:
1000 quilos; cobre inglês: 50.000 quilos; cobre gaz.: 10.000 quilos; madeira: 2500
metros cúbicos.17
16 São grandes as vantagens dessas máquinas em relação às inventadas anteriormente, em relação ao seu assentamento (chegava há demorar noventa dias): dispensa todos os esteios para o assentamento de transmissão; não necessita de carpinteiros para assentamento, somente de alguns ajudantes para colocarem as peças mais pesadas; podem ser assentadas em qualquer casa, pois não apresentam nenhum travamento em relação às paredes. "Companhia Mac Hardy – Campinas" in AMARAL, op. cit., sem paginação.17 Ainda segundo BANDEIRA Jr., idem, p.133.
13
A partir de 1913, o Dr. Júlio Gerin, que desde o início do século XX ocupara o
cargo de engenheiro gerente, assumiu a direção da companhia, tendo permanecido nesse
14
cargo até o início dos anos 1960, quando o controle acionário da mesma foi adquirido pelo
Grupo Irmãos Duarte, de Americana.
Importante assinalar que por volta de 1935 as oficinas foram todas transferidas para
um também prédio próprio, localizado na Avenida Saudade, 67, em bairro vizinho ao
Centro da cidade, tendo permanecido na Avenida Andrade de Neves o setor da empresa
destinado à comercialização dos seus produtos. 18
Até ser adquirida pelos Duarte, a empresa encontrava-se internamente constituída
por vários departamentos, como:
- Departamento de máquinas agrícolas, responsável pela fabricação de máquinas de
benefício de arroz, milho, mandioca e cacau e de rebenefício de café.
- Departamento de caldeiras e locomóveis, responsável pela produção de caldeiras
automáticas de alto rendimento (na fabricação das quais a Mac Hardy foi uma das pioneiras
no Brasil). 19
- Departamento mecânico, especializado na fabricação de máquinas operatrizes (furadeiras
e plainas-limadoras); máquinas para curtumes; máquinas para serraria e carpintaria e
"prensas excêntricas."
- Departamento têxtil, especializado na produção de todos os tipos de teares, especialmente
automáticos. (A empresa exportou durante a IIª Guerra Mundial mais de 50 teares
comuns).
A Companhia dispunha ainda de uma bem montada fundição apta a atender a todos
os outros departamentos. Os departamentos de importação e o comercial eram praticamente
independentes do setor industrial.
Sabe-se que a Cia. Mac Hardy encerrou suas atividades produtivas em 1975,
embora juridicamente a empresa continuasse existindo. Por volta de 1983 a Helcosa –
Engenharia, Comércio e Indústria de Metais Ltda., situada no Km 99 da rodovia
Anhanguera, incorporou as máquinas da Mac Hardy ao seu patrimônio.20
18 Depoimento de Acyrton Azevedo Pereira. O Sr. Acyrton foi funcionário da Companhia por mais de 30 anos. 19 Um sopro de vitalidade ainda pode ser sentido através de relato feito no histórico elaborado pela própria empresa, onde é mencionado o atendimento de encomenda, feita pelo Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro, no ano de 1956, "das duas maiores caldeiras fornecidas num só bloco e fabricadas no Brasil", destinadas ao rebocador de alto-mar Laurindo Pitta, que após rigorosos testes técnicos foram plenamente aprovadas. Companhia. Dados históricos, 1957, p. 4; Impressões do Brasil no século XX (sua história, seu povo, comércio, indústrias e recursos). Lloyd´s Greater Britain Publishing Company Ltd, 1913, p.735.20 Depoimento de Acyrton Pereira.
15
3) Ensaio de Análise Preliminar
No contexto do início do surto industrial no Oeste Paulista, alavancado pela
expansão cafeeira, observa-se casos de concorrência industrial e comercial entre as
empresas pioneiras na produção de máquinas agrícolas. Neste contexto, a empresa objeto
do interesse deste trabalho desempenhou um papel fundamental.
Mac Hardy sempre enfrentou concorrentes, sendo assim, cumpre nos determos um
pouco mais sobre essa questão, identificando fatos e movimentos capazes de exteriorizar na
trajetória dessa empresa no Brasil, estratégias de convivência, bem como salientar
oportunidades de confronto junto a um concorrente em particular, que exercia o monopólio
do comércio de máquinas no Brasil, a Lidgerwood MFG. Co. Ltd 21. Nesse sentido a cidade
de Campinas, província de São Paulo, passa a ser um cenário privilegiado e mais indicado
para essa análise, porque se tornou o local onde as evidências mais se externalizaram.
Guilherme V. V. Lidgerwood acionou a Justiça em algumas ocasiões contra
concorrentes industriais. Uma dessas ações jurídicas foi contra Guilherme Mac Hardy, que
viera da Escócia em 1872 para trabalhar junto a ele, em sua firma Milford & Lidgerwood,
tendo, três anos depois, montado seu próprio estabelecimento de fabricação de máquinas de
beneficiamento de café e outros utensílios, ferramentas e implementos voltados para a
lavoura, como se afirmou anteriormente. Declarava Lidgerwood, por seu procurador no Rio
de Janeiro e por seus advogados na cidade de Campinas, ter movido Ação Ordinária e
citado a Guilherme Mac Hardy, em que pede seja o Réu indiciado por ter feito, usado e
vendido máquinas semelhantes as do Autor e que ferem e infringem os privilégios
concedidos ao mesmo, através de cartas patente por suas invenções e melhoramentos em
máquinas de descascar e beneficiar café, e condenado “a entregar as machinas fabricadas
em contravençam, todos os instrumentos e utensílios empregados no fabrico das mesmas,
alem d’uma multa igual a decima parte do valor dos productos fabricados e indemnisação
de perdas e damnos, seguindo o disposto na Lei de 28 d’Agosto de 1830.” 22
21 CAMILLO, Ema Elisabete Rodrigues. Modernização Agrícola e Máquinas de Beneficiamento: um estudo da Lidgerwood MFG. Co. Ltd., década de 1850 a de 1890. Dissertação de Mestrado, Instituto de Economia da Unicamp, Campinas, 2003.22 Ação Ordinária. Juízo Commercial da Cidade de Campinas. Autor: Guilherme Van Vleck Lidgerwood, Réu: Guilherme Mac Hardy, 1877. Fundo Tribunal de Justiça de Campinas. IIº OF, cx. 401, nº 8003. Arquivos Históricos, CMU.
16
A briga na justiça ganha amplitude e se aloja principalmente na imprensa local, já a
partir de novembro de 1878, quando cartas trocadas entre Mac Hardy e um admirador
contumaz de Lidgerwood, José Eleutério Mafra, trazem à baila a qualidade dos dois
sistemas e os custos envolvidos em suas aquisições. Foi possível identificar-se anúncios
mandados publicar por Mac Hardy que visavam claramente denegrir a imagem de
Lidgerwood ou instigá-lo ao confronto. A que um fazendeiro anônimo responde,
escrevendo contra o anúncio de um ventilador fabricado por Lidgerwood que custara
340$000 sendo vendido a 150$000 mil réis por Mac Hardy. “Só o espírito de maledicência
e para hostilizar fez aquele anúncio, dá a entender que o Sr. Mac Hardy para poder vender
suas machinas (que também são boas) precisa aggredir seus competidores”. Assim os
títulos se sucedem: 23
Gazeta de Campinas, Campinas, setembro de 1880.
23 GAZETA de Campinas, edições de 12 mar. 1880, set. 1880,
17
Gazeta de Campinas, Campinas, agosto de 1880 e setembro de 1880
18
Por ocasião das duas Exposições, a Provincial e a Regional, Lidgerwood gastou RS
28.000$000 contos de réis para nelas se fazer representar. Na Exposição Provincial, este foi
premiado com medalha de prata pela máquina de beneficiar café, de sua invenção,
fabricada em Campinas, que apresentou. A premiação ocorreu após demonstração prática
de utilização das máquinas, expostas junto ao corpo de júri da seção industrial, durante a
qual ficou comprovado que o café beneficiado pela máquina Lidgerwood apresentou
melhor qualidade do que o proveniente da máquina de Mac Hardy & Cia., embora a
Lidgerwood tenha concorrido com um modelo pequeno e gasto mais tempo do que a
máquina do concorrente para obtenção do produto final.
O Manual de História Económica de la Empresa de Valdaliso torna-se instrumento
valioso e preciso no sentido de conformarmos nosso objeto de estudo, isto é, no esforço
para delimitá-lo teoricamente, que é válido uma vez cumprido o objetivo de caracterizá-lo.
Evocando as First Movers, uma empresa pioneira e que estrategicamente soube manter-se
no mercado brasileiro de máquinas de beneficiamento de café, chegando mesmo a liderá-lo,
assim podemos classificar a empresa que se constituiu em nosso objeto de estudo a partir
desse conceito. Vejamos porquê.
Levando-se em conta os parâmetros nos quais se apóia Valdaliso, a empresa de que
estamos tratando pode ser definida como “inventora”, pois desenvolveu uma patente ou
uma tecnologia, presente nas máquinas que fabricava e comercializava dentro do País.
Também “pioneira de produto”, por ser uma empresa que desenvolveu uma inovação,
“pioneira no mercado”, por ser a primeira, ou uma das primeiras a comercializar uma
inovação. 24
Na explicação dada por Valdaliso, o autor se refere concretamente à situação dessas
empresas pioneiras nos EUA, casos por ele estudados, quantificando que 47% delas
fracassaram, somente 11% se converteram em empresas líderes ou dominantes, e apenas
8% conseguiram manter sua liderança no mercado. Para os autores em quem Valdaliso se
apóia o caminho para o êxito não consiste em ser o primeiro a entrar no mercado, mas sim
em lutar continuamente pela liderança avaliando as oportunidades que se apresentam no
24 “Trata-se de melhorar os meios empregados em transmittir o movimento às diversas machinas occupadas em beneficiar café.” RELATÓRIO de melhoramentos inventados por Guilherme Mac Hardy em machinas de Beneficiar Café. Campinas, 20 de janeiro de 1886. Ms, 1p. Fundo Cia. Mac Hardy. Arquivos Históricos. Centro de Memória UNICAMP.
19
mercado, reforçando as capacidades da empresa e destinando recursos para satisfazer
eficientemente as necessidades dos consumidores. Chandler também chegou às mesmas
conclusões, acrescentando que as empresas que dominaram o mercado internacional em
seus respectivos setores entre 1870 e 1940, não foram nem as inventoras de um produto ou
processo, nem as pioneiras na comercialização dos mesmos, senão aquelas que realizaram
um triplo investimento em produção, marketing e direção necessário para explorar
plenamente as economias de escala e diversificação: estas seriam para ele as first movers.
Nesse sentido, a julgar pelos parâmetros expostos, correlacionando-os ao que
viemos até agora expondo sobre a atuação da Cia. Mac Hardy no mercado brasileiro, é de
crer-se estarmos tratando de uma autêntica first mover. 25
25 VALDALISO, Jesús Ma. e LÓPEZ, Santiago. História económica de la empresa. Barcelona: Crítica, 2000, p.304. O autor apoiou-se nos trabalhos de Golder & Tellis (1993 e 1996). Mira Wilkins usa para definir essas empresas pioneiras o conceito de prime movers.
20