CONGREGAÇÃO PARA O CLERO - presbiteros.com.br · CONGREGATIO PRO CLERICIS ... Acendei neles o...

49
CONGREGAÇÃO PARA O CLERO Adoração eucarística pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

Transcript of CONGREGAÇÃO PARA O CLERO - presbiteros.com.br · CONGREGATIO PRO CLERICIS ... Acendei neles o...

C O N G R E G A Ç Ã O P A R A O C L E R O

Adoração eucarísticapela santificação dos sacerdotes

e Maternidade espiritual

C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

Adoração eucarística pela santificação dos sacerdotes

e Maternidade espiritual

2 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

Responsável pela publicação:S.E.R. Dom Mauro Piacenza,Arcebispo. tit. de Victoriana,Secretário da Congregação para o Clero

Congregação para o CleroPiazza Pio XII, 3 - 00193 Roma

Tel.: 06 698 84151 - 06 698 84178Fax: 06 698 84845

www.clerus.orgwww.bibliaclerus.org

Esta brochura é uma ofertaaos benfeitores e amigos da Fundação AIS

Setembro de 2009

Fundação AISR. Prof. Orlando Ribeiro, 5 D1600-796 Lisboa

Tel.: 217 544 000Fax: 217 544 001

[email protected]

3ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

São realmente muitas as coisas a serem feitas para o verdadeiro bem do Clero e para a fecun-didade do ministério pastoral nas circunstâncias actuais, mas, exactamente por isso mesmo, com o firme propósito de enfrentar essas dificuldades e essas fadigas, cientes de que o agir sucede ao ser e que a alma de cada apostolado é a intimidade com Deus, pretende-se iniciar um movimento espiritual que, favorecendo uma consciência cada vez maior da ligação ontológica entre Eucaristia e Sacerdócio e da especial Maternidade de Maria em relação a todos os Sacer-dotes, dê vida a uma corrente de adoração perpétua, para a santificação dos clérigos, e a um novo empenho das almas femininas consagradas para que, inspirando-se na Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote e associada, de modo singular, à sua obra de Redenção, queiram adoptar espiritualmente sacerdotes para os ajudar com a oferta de si, a oração e a penitência. Na adoração está sempre incluído o acto de reparação pelas próprias faltas e, nas actuais circunstâncias, sugere-se uma particular intenção em tal sentido.

Segundo o dado constante da Tradição, o ministério e a realidade da Igreja não se reduzem à estrutura hierárquica, à liturgia, aos sacramentos e aos ordenamentos jurídicos. De facto, a natureza íntima da Igreja e a origem primeira da sua eficácia santificadora, devem ser procu-radas na mística união com Cristo.

A doutrina, e a própria estrutura da constituição dogmática Lumen Gentium, afirmam que essa união não pode ser imaginada separada da Mãe do Verbo Encarnado, Aquela que Jesus quis intimamente unida a Si para a salvação de todo o género humano.

Não é casual, portanto, que no mesmo dia em que foi promulgada a constituição dogmática sobre a Igreja – 21 de Novembro de 1964 -, Paulo VI proclamasse Maria “Mãe da Igreja”, ou seja, mãe de todos os fiéis e de todos os pastores.

O Concílio Vaticano II – referindo-se à Bem-Aventurada Virgem – assim se expressa: “...Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça.” (LG n 61).

CONGREGATIO PRO CLERICISCarta que a Congregação está a enviar para promover a adoração

eucarística pela santificação dos sacerdotes e maternidade espiritual:

EXCELÊNCIA REVERENDÍSSIMA

4 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

Sem nada acrescentar ou tirar à única mediação de Cristo, a sempre Virgem é reconhecida e invocada, na Igreja, com títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro e Medianeira; Ela é o modelo do amor materno que deve animar todos os que cooperam, através da missão apostólica da Igreja, na regeneração da inteira humanidade (cfr LG n 65).

À luz destes ensinamentos, que são parte da eclesiologia do Concílio Vaticano II, os fiéis, diri-gindo o olhar para Maria – exemplo fúlgido de toda virtude -, são chamados a imitar a primeira discípula, a mãe, à qual foi confiado, em João – aos pés da cruz (cfr Jo 19, 25-27) –, cada discí-pulo, e assim, tornando-se seus filhos, aprendem com ela o verdadeiro sentido da vida em Cristo.

Desta forma – e exactamente a partir do lugar ocupado pela Virgem Santíssima e do papel por Ela desenvolvido na história da salvação - pretende-se, de maneira muito especial, confiar a Maria, a Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote, cada Sacerdote, suscitando, na Igreja, um movi-mento de oração que coloque no centro a adoração eucarística contínua, no arco de tempo das vinte e quatro horas, de modo que, de cada canto da terra, sempre se eleve a Deus, incessante-mente, uma oração de adoração, agradecimento, louvor, pedido e reparação, com o objectivo precípuo de suscitar um número suficiente de santas vocações para o estado sacerdotal e, ao mesmo tempo, de acompanhar espiritualmente – na realidade do Corpo Místico -, com uma espécie de maternidade espiritual, todos os que já foram chamados ao sacerdócio ministerial e são ontologicamente modelados ao único Sumo e Eterno Sacerdote, para que cada vez melhor

Nossa Senhora com os Apóstolos

5ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

sirvam a Ele e aos irmãos, colocando-se não apenas “na” Igreja, mas também “perante” a Igreja, como prolongamento visível e sinal sacramental de Cristo que representam como cabeça, pastor e esposo da Igreja (PdV n 16).

Pede-se portanto a todos os Ordinários diocesanos que percebem, em particular, a especi-ficidade e a insubstituibilidade do ministério ordenado na vida da Igreja, em conjunto com a urgência de uma acção comum a favor do sacerdócio ministerial, de se tornarem parte activa e de promover – nas diferentes comunidades do povo de Deus a eles confiadas -, verdadeiros cenáculos onde clérigos, religiosos e leigos, unidos entre si e em espírito de verdadeira comu-nhão, se dediquem à oração, sob forma de adoração eucarística contínua, inclusive em espírito de genuína e real reparação e purificação. Para tal fim, inclui-se um fascículo que tem como finalidade fazer compreender melhor a índole da iniciativa, para aderir em espírito de fé ao projecto aqui apresentado.

Maria, Mãe do Único, Eterno e Sumo Sacerdote, abençoe esta iniciativa e interceda, junto a Deus, pedindo uma autêntica renovação da vida sacerdotal a partir do único modelo possível: Jesus Cristo, Bom Pastor!

Presto obséquios cordiais no Vínculo da comunhão eclesial com sentimentos de intenso afecto colegial.

Do Vaticano, 8 de Dezembro de 2007

Solenidade da Imaculada Conceição da B.V. Maria

Cláudio Card. Hummes

PrefeitoMauro Piacenza

Secretário

6 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

“Rogai ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a Sua messe!” Isto significa que: a messe existe, mas Deus quer servir-Se dos homens, a fim de que ela seja levada ao celeiro. Deus necessita de homens. Necessita de pessoas que digam: Sim, eu estou disposto a tornar-me Vosso trabalhador na messe, estou disposto a ajudar para que esta messe, que está a amadurecer nos corações dos homens, possa realmente entrar nos celeiros da eternidade e a tornar-se perene comunhão divina de alegria e de amor.

“Rogai ao Senhor da messe”! Isto quer dizer também: não podemos simplesmente “produzir” vocações, elas devem vir de Deus. Não podemos, como talvez noutras profissões, por meio de uma propaganda bem definida, através das chamadas estratégias adequadas, simplesmente recrutar pessoas. A chamada, partindo do coração de Deus, deve sempre encontrar o caminho rumo ao coração do homem. E no entanto, exactamente para que chegue aos corações dos homens, é necessária também a nossa colaboração. Rogar ao Senhor da messe significa certa-mente, antes de mais nada, rezar por isso, tocar o Seu coração e dizer: “Fazei-o por favor! Despertai os homens! Acendei neles o entusiasmo e a alegria pelo Evangelho! Fazei-os entender que este é o mais precioso de todos os tesouros e que quem o descobriu deve transmiti-lo!”

Nós tocamos o coração de Deus. Mas o rogar a Deus não se realiza somente mediante palavras de oração; implica também a transformação da palavra em acção, para que o nosso coração que pede lance a faísca da alegria em Deus, da alegria pelo Evangelho, e suscite em outros corações a disponibilidade a dizer um “sim”. Como pessoas de oração, repletas da Sua luz, atingimos os outros e, envolvendo-os na nossa oração, fazemos com que entrem na luz da presença de Deus, que fará então a Sua parte. Neste sentido queremos sempre e novamente rogar ao Senhor da messe, tocar o Seu coração e tocar, com Deus, na nossa oração, também os corações dos homens para que Ele, segundo a Sua vontade, faça amadurecer neles o “sim”, a disponibilidade e a constância - através de todas as confusões do tempo, através do calor do dia e também através da escuridão da noite - de perseverar fielmente no serviço, haurindo continuamente dele a consciência de que, embora fatigante, este esforço é bom, é útil porque conduz ao essencial, ou seja, faz com que os homens recebam o que esperam: a luz de Deus e o amor de Deus.

“ROGAI AO SENHOR DA MESSE PARA QUE ENVIE TRABALHADORES”

7ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

BENTO XVIEncontro com os Sacerdotes e os Diáconos

em Freising, 14 de Setembro de 2006

© L

’Oss

erva

tore

Rom

ano

8 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

A vocação de ser mãe espiritual dos sacerdotes é muito pouco conhecida, insuficien-temente compreendida e portanto pouco vivida, apesar da sua vital e fundamental importância. Essa vocação muitas vezes está escondida, invisível aos olhos humanos, mas tem como objectivo transmitir vida espiritual.

Disto tinha certeza o Papa João Paulo II: por isso ele quis no Vaticano um mosteiro de clausura onde fosse possível rezar pelas suas intenções como Sumo Pontífice.

MATERNIDADE ESPIRITUAL DOS SACERDOTES

9ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

Independentemente da idade e do estado civil, todas as mulheres se podem tornar mães espiri-tuais de um sacerdote, e não somente as mães de família. É possível também para uma mulher doente, para uma mulher solteira ou para uma viúva. Adapta-se, em particular, às missionárias e às religiosas que oferecem inteiramente a própria vida a Deus pela santificação da humani-dade. João Paulo II agradeceu até mesmo a uma menina pela sua ajuda materna: “Exprimo a minha gratidão também à beata Jacinta de Fátima pelos sacrifícios e orações oferecidas pelo Santo Padre, que ela tinha visto em grande sofrimento”. (13 de Maio de 2000).

Cada sacerdote é precedido de uma mãe que, frequentemente, também é uma mãe de vida espiritual para os seus filhos. Giuseppe Sarto, por exemplo, o futuro Papa Pio X, logo depois de ser consagrado bispo foi visitar sua mãe, na altura com setenta anos de idade. Ela beijou respeitosamente o anel do filho e de repente, ficando pensativa, indicou a sua pobre aliança de prata: “Sim, Peppo, mas tu agora não estarias usando esse anel se eu antes não tivesse usado a minha aliança”. S. Pio X, justamente, confirmava a partir da sua experiência: “Cada vocação sacerdotal vem do coração de Deus, mas passa através do coração de uma mãe!”.

“O QUE ME TORNEI E COMO, O DEVO À MINHA MÃE!”Sto. Agostinho

Um excelente testemunho é a vida de Sta. Mónica. Santo Agostinho, seu filho, que aos deza-nove anos, como estudante em Cartago, havia perdido a fé, escreveu nas suas ‘Confissões’: “... Mas Vós, lá do alto, estendestes a mão e arrancastes a minha alma desta voragem tene-brosa, enquanto minha Mãe, Vossa fiel serva, junto de Vós chorava por mim, mais do que as outras mães choram sobre os cadáveres dos filhos. … Entretanto aquela viúva casta, piedosa e sóbria - como Vós a quereis - já, certamente, mais alegre pela esperança, mas não menos remisse em prantos e gemidos, não se cansava de Vos fazer queixa de mim, durante as horas em que orava.” Após a conversão disse com gratidão: “Minha santa mãe, Vossa serva, nunca me abandonou. Ela me deu à luz com a carne para esta vida temporal e com o coração para a vida eterna. O que me tornei e como, o devo à minha Mãe!”.

Durante as suas discussões filosóficas, Santo Agostinho queria sempre que a sua mãe esti-

vesse ao seu lado; ela escutava atentamente, às vezes intervinha com um parecer delicado ou, para assombro dos sábios presentes, dava respostas a questões abertas. Portanto não surpreende que Santo Agostinho se decla-rasse seu ‘discípulo em filosofia’!

10 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

“... Ao entrar numa igreja pequena e muito antiga, decorada com mosaicos e frescos dos primeiros séculos, o cardeal teve uma visão imane. Milhares de religiosas rezavam na pequena igreja. Elas eram tão graciosas e reco-lhidas que havia lugar para todas, apesar da comunidade ser numerosa. As irmãs rezavam e o cardeal nunca tinha visto rezar tão inten-samente. Elas não estavam de joelhos, mas firmes em pé, o olhar não longínquo, porém fixo num ponto próximo a ele e, no entanto, invisível aos seus olhos. Os braços das irmãs estavam abertos e as mãos viradas para o alto, numa posição de oferecimento”.

O incrível desta visão é que as irmãs segu-ravam, em suas pobres e delicadas mãos, homens e mulheres, imperadores e reis, cidades e países. Às vezes as mãos aper-tavam-se ao redor de uma cidade; outras vezes de um país, reconhecível pelas bandeiras nacionais, estendia-se sobre uma muralha de braços que o sustentavam. Nestes casos também em volta de cada irmã que rezava expandia-se um halo de silêncio e discrição. A maioria das reli-giosas, porém, sustentava com as mãos um só irmão ou irmã. Nas mãos de uma jovem e frágil monja, quase uma menina,

o cardeal Nicolau viu o papa. Percebia-se quanto a carga pesava sobre ela, mas o seu rosto brilhava de felicidade. Sobre as mãos de uma religiosa idosa estava ele próprio, D. Nicolau Cusano, Bispo de Bressanone e cardeal da Igreja romana. Ele reco-nheceu-se claramente a si mesmo com as suas rugas e com os defeitos da sua alma e da sua vida. Observava tudo com olhos arregalados e assustados, mas logo ao susto seguiu-se uma indescritível beatitude. O guia, que estava ao seu lado, murmurou-lhe: “Veja como apesar dos seus vossos pecados, são ajudados e suportados os pecadores que não deixaram de amar a Deus!”. O cardeal perguntou: “O que acontece então aos que deixam de amar?”. Repentinamente, sempre acompanhado pelo sua guia, encontrou-se na cripta da igreja, onde rezavam outros milhares de religiosas.

Enquanto que as anteriores sustentavam as pessoas com as mãos, estas na cripta sustentavam-nas com o coração. Estavam profundamente envolvidas, pois tratava-se do destino eterno das almas. “Veja, Eminência”, disse o guia: “assim são suportados aqueles que deixaram de amar. Algumas vezes acontece que se aquecem

O SONHO DE UM CARDEAL

O Cardeal Nicolau Cusano (1401-1464), Bispo de Bressanone, não foi somente um grande político da Igreja, famoso legado papal e reformadorda vida espiritual do clero e do povo no século XV, mas também um homem do silêncio e da contemplação. Num “sonho” foi-lhe mostrada aquela realidade espiritual que ainda hoje vale para todos os sacerdotes e para todos os homens: o poder do abandono, da oração e do sacrifício das mães espirituais no segredo dos conventos.

MÃOS E CORAÇÕES QUE SE SACRIFICAM

11ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

com o calor dos corações que se consomem por eles, mas nem sempre. Às vezes, na hora da morte, passam das mãos daqueles que ainda os querem salvar para as mãos do Juiz divino, a quem devem justificar-se inclusive pelo sacrifício que lhes foi ofere-cido. Nenhum sacrifício fica sem frutos, mas quem não colhe o fruto que lhe foi oferecido, amadurece o fruto da ruína”.

O cardeal fitou as mulheres vítimas volun-tárias. Ele sempre soubera da sua exis-tência. Nunca, porém, havia percebido com tanta clareza o que significavam para a Igreja, para o mundo, para os povos e para cada indivíduo; somente agora, confuso, compreendia. Curvou-se, então, profunda-mente perante as mártires do amor.

Desde o ano 550 e durante meio século, Säben foi a sede episcopal da diocese de Bressanone. A partir de 1685, portanto há mais de 300 anos, o castelo tornou-se um mosteiro, onde até hoje uma comunidade de Irmãs Beneditinas vive a maternidade espiritual, rezando e consagrando-se a Deus, exactamente como o cardeal Nicolau Cusano vira no seu sonho.

12 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

Eliza provinha de uma família protestante, a dos Rolls, que sucessivamente fundou a indústria automobilística Rolls-Royce, mas quando jovem, durante a sua permanência e educação em França, havia ficado muito impressionada pelo exemplar empenho da Igreja Católica para com os pobres.

No Verão de 1830, após o casamento com o coronel John Francis Vaughan, Eliza, apesar da forte resistência dos seus parentes, converteu-se ao catolicismo. Havia tomado essa decisão com convicção e não somente por ter passado a fazer parte de uma famosa família inglesa de tradição católica. Os antepassados Vaughan, durante a perseguição dos católicos ingleses no reinado de Isabel I (1558-1603), prefe-riram sofrer a expropriação dos bens e a prisão a renunciar à própria fé.

Courtfield, a residência originária da família de seu marido, tornara-se, durante as décadas de terror, um abrigo para os sacerdotes perseguidos e um lugar onde se celebrava a Santa Missa. Desde então haviam passado três séculos, mas nada mudara no espírito católico da família.

ELIZA VAUGHAN

É uma verdade evangélica que as vocações sacerdotais devem ser pedidas com a oração. Evidencia-o Jesus no evangelho quando diz: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe!”(Mt 9,37-38).

Oferece-nos um exemplo muito significativo a inglesa Eliza Vaughan, mãe de família e mulher dotada de espírito sacerdotal, que rezou muito pelas vocações.

Certa do poder da oração silenciosa e fiel, Eliza Vaughan reservava cada dia uma hora de adoração na capela da casa, rezando pelas vocações na sua família. Tornando-se mãe de seis sacerdotes foi grandemente atendida. Falecida em 1853, a Mãe Vaughan foi enterrada em Courtfield, na propriedade da família que ela tanto amara.

Hoje, Courtfield é um centro de exercícios espirituais da diocese de Cardiff. Com o exemplo da santa vida de Eliza, em 1954 a Capela da Casa foi consagrada pelo bispo como “Santuário de Nossa Senhora das Vocações”, título que foi confirmado no ano 2000.

13ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

Convertida de todo o coração, cheia de zelo, Eliza propôs ao marido oferecer os filhos a Deus. Essa mulher de elevadas virtudes rezava todos os dias durante uma hora em frente ao Santíssimo Sacramento, na Capela da residência de Courtfield, pedindo a Deus uma família numerosa e muitas vocações religiosas entre os seus filhos. Foi atendida! Teve catorze filhos e morreu pouco depois do nascimento do último filho em 1853. Dos treze filhos vivos, entre os quais oito rapazes, seis tornaram-se sacerdotes: dois em ordens religiosas, um sacerdote diocesano, um bispo, um arcebispo e um cardeal. Das cinco filhas, quatro tornaram-se religiosas. Que bênção para a família e que efeitos para toda a Ingla-terra! Todos os filhos da família Vaughan tiveram uma infância feliz, porque na sua educação a sua santa mãe possuía a capaci-dade de associar de modo natural a vida espi-ritual e as obrigações religiosas com as diver-sões e a alegria. Por vontade da mãe faziam parte da vida quotidiana as orações e a Santa Missa na capela da casa, bem como a música, o desporto, o teatro, a equitação e as brinca-

deiras. Os filhos não se entediavam quando a mãe lhes contava as vidas dos santos, que aos poucos se tornaram para eles amigos íntimos. Eliza levava consigo os filhos também nas visitas e nos cuidados aos doentes e aos sofre-dores das vizinhanças, para que pudessem nestas ocasiões aprender a serem generosos, a fazer sacrifícios, a dar aos pobres as suas poupanças e seus brinquedos.

Faleceu pouco depois do nascimento do décimo quarto filho, John. Dois meses após a sua morte, o coronel Vaughan, convencido que ela havia sido um dom da Providência, escreveu numa carta: “Hoje, durante a adoração, agradeci o Senhor, por ter podido devolver-Lhe a minha amada esposa. Abri-Lhe o coração cheio de gratidão por ter-me dado a Eliza como modelo e guia, A ela ainda me liga um vínculo espiritual inseparável. Que maravilhosa consolação e que graça me transmite! Ainda a vejo, como sempre a vi, perante o Santíssimo com aquela sua pura e humana gentileza que lhe iluminava o rosto durante a oração”.

OFEREÇAMOS OS NOSSOS FILHOS A DEUS

TRABALHAI NAS VINHAS DO SENHOR

As numerosas vocações entre os filhos do casal Vaughan são realmente uma extraordi-nária herança na história do Reino Unido e uma bênção que provinha principalmente da mãe Eliza. Quando Herbert, o filho mais velho, aos dezasseis anos anunciou aos pais que queria tornar-se sacerdote, as reacções foram dife-rentes. A mãe, que havia rezado muito para que isso acontecesse, sorriu e disse: “Meu filho, eu já sabia há muito tempo”. O pai, porém, precisou

de um pouco de tempo para aceitar o anúncio, pois sobre o filho mais velho, herdeiro da casa, havia colocado muitas esperanças e havia pensado para ele uma brilhante carreira militar. Como teria podido imaginar que Herbert iria tornar-se Arcebispo de Westminster, fundador de Millhill e posteriormente Cardeal?

Mas o pai também logo se persuadiu e escreveu a um amigo: “Se Deus quer Herbert para si, também pode ficar com

14 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

todos os outros”. Reginaldo, porém, casou-se, como Francis Baynham, que herdou a propriedade da família. Deus chamou ainda outros nove filhos dos Vaughan. Roger, o segundo, tornou-se prior dos beneditinos e mais tarde respei-tado Arcebispo de Sydney, na Austrália, onde mandou construir a catedral. Kenelm tornou-se cisterciense e mais tarde sacer-dote diocesano. José, o quarto filho dos Vaughan, foi beneditino como o irmão Roger e fundador de uma nova abadia.

Bernardo, talvez o mais animado de todos, que amava muito a dança e o desporto, que não perdia uma diversão, tornou-se jesuíta. Conta-se que no dia anterior à sua entrada na ordem, tenha tomado parte de um baile e tenha dito ao seu par: “Este é o último baile a que venho, porque vou para jesuíta!”. Surpreendida, a jovem teria exclamado: “Mas por favor! Logo o senhor, que tanto ama o mundo e dança maravilhosamente bem, quer ser jesuíta?”. A resposta, que pode ser interpretada de várias maneiras, é muito bonita: “Exacta-mente por isso me entrego a Deus!”. John, o mais novo, foi ordenado sacerdote pelo irmão Herbert e posteriormente tornou-se Bispo de Salford, em Inglaterra. Das cinco filhas da família, quatro tornaram-se religiosas. Gladis entrou na ordem da visitação, Teresa foi irmã da misericórdia, Claire irmã clarissa e Mary madre supe-riora das agostinianas. Margareta, a quinta filha dos Vaughan, também queria ser religiosa, mas não pôde por causa da sua saúde delicada. Viveu, porém, em casa como consagrada e passou os últimos anos da sua vida num mosteiro.

Herbert Vaughan tinha dezasseis anos quando no verão, durante um retiro espiritual, resolveu ser sacerdote. Foi ordenado em Roma aos 22 anos de idade e mais tarde tornou-se Bispo de Salford, em Inglaterra, e fundador dos Missionários de Millhill, que hoje actuam no mundo inteiro. Por fim, tornou-se Cardeal e terceiro Arcebispo de Westminster. No seu brasão está escrito: “Amare et Servire!”. O seu programa estava enunciado na frase “O amor deve ser a raiz da qual brota todo o meu serviço”.

15ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

BEATA MARIA DELUIL MARTINY (1841-1884)

VENERÁVEL LOUISE MARGUERITE CLARET DE LA TOUCHE (1868-1915)

Há cerca de 120 anos, nalgumas revela-ções particulares, Jesus começou a confiar às pessoas consagradas nos mosteiros e no mundo o Seu plano para a renovação do sacer-dócio. Ele confiou a algumas mães espirituais a chamada ‘obra para os sacerdotes’. Uma das precursoras desta obra é a beata Maria Deluil Martiny. Sobre esse seu grande íntimo desejo ela disse “Oferecer-se pelas almas é belo e grande! Mas oferecer-se pelas almas

dos sacerdotes... é tão belo e grande que seria preciso ter mil vidas e mil corações!... Daria de bom grado a minha vida para que Cristo pudesse encontrar nos sacerdotes aquilo que deles se espera! A daria de bom grado mesmo se um só pudesse realizar perfeitamente o plano divino em si!”. De facto, aos 43 anos, ela selou com o martírio a sua maternidade espiritual. As suas últimas palavras foram: “É para a obra, a obra para os sacerdotes!”.

Jesus também preparou por longos anos a Serva de Deus Louise Marguerite Claret de la Touche ao apostolado para a renovação do sacerdócio. Ela contou que a 5 de Junho de 1902, durante uma adoração, aparecera-lhe o Senhor.

“Eu tinha-Lhe pedido pelo nosso pequeno noviciado e suplicado que me desse algumas almas que eu pudesse plasmar para Ele. Ele respondeu-me: ‘Dar-te-ei almas de homens’. Fiquei em silêncio pois não compreendi as Suas palavras. Jesus acrescentou: ‘Dar-te-ei almas de sacerdotes. Ainda mais surpre-endida por estas palavras, perguntei: ‘Meu Jesus, como o farás?’. Ele então expôs-me a obra que estava a preparar e que devia aquecer o mundo com o amor. Jesus continuou a explicar o Seu plano e, assim, quis dirigir-Se aos sacerdotes: ‘Como há 1900 anos eu pude

16 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

renovar o mundo com doze homens – eles eram sacerdotes – hoje também eu poderia renovar o mundo com doze sacerdotes, mas deverão ser sacerdotes santos.”

O Senhor mostrou então a Louise Margue-rite a obra em concreto. “É uma união de sacerdotes, uma obra que abrange o mundo inteiro”, escreveu. “Se o sacerdote quer realizar a sua missão e proclamar a miseri-córdia de Deus, deveria em primeiro lugar, ele mesmo ser invadido pelo Coração de

Jesus e deveria ser iluminado pelo amor do Seu Espírito. Os sacerdotes deveriam cultivar a união entre si, ser um coração e uma alma e nunca ser obstáculo uns para os outros”.

Louise Marguerite descreveu com expres-sões muito felizes o sacerdócio no seu livro “O Coração de Jesus e o sacerdócio”, que alguns sacerdotes acreditaram ser a obra de um comfrade. Um jesuíta declarou: “Não sei quem escreveu o livro, mas uma coisa sei com certeza, não é obra de uma mulher!”.

LU MONFERATO

Vamos, agora, à pequena povoação de Lu no Norte de Itália, uma localidade com poucos milhares de habitantes, situada numa região rural a 90 km a oeste de Turim. Esta pequena povoação teria ficado desconhecido se em 1881 algumas mães de família não tivessem tomado uma decisão que iria ter “grandes repercussões”.

Muitas dessas mães tinham no coração o desejo de ver um dos seus filhos tornar-se sacerdote ou uma das suas filha entregar-se totalmente ao serviço do Senhor. Come-çaram então a reunir-se todas as terças-feiras

para a adoração do Santíssimo Sacramento, sob a orientação do seu pároco, Monsenhor Alessandro Canora, e a rezar pelas vocações. Todos os primeiros domingos do mês rece-biam a Comunhão por essa intenção. Após a Missa todas as mães rezavam juntas para pedir vocações sacerdotais. Graças à oração cheia de confiança destas mães e à abertura de coração destes pais, as famílias viviam num clima de paz, de serenidade e de alegre devoção que permitiu aos filhos discernir com maior facilidade o seu chamamento.

17ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

Quando o Senhor disse: “Muitos são os chamados, mas poucos os eleitos” (Mt 22,14), devemos entendê-lo desta maneira: muitos serão chamados, mas poucos respon-derão. Ninguém podia pensar que o Senhor teria atendido tão amplamente o pedido destas mães. Desta povoação surgiram 323 vocações à vida consagrada (323!): 152 sacerdotes (e religiosos) e 171 religiosas pertencentes a 41 diferentes congregações. Em algumas famílias houve até três ou quatro vocações. O exemplo mais conhecido é o da família Rinaldi. O Senhor chamou sete filhos desta família. Duas filhas entraram para as irmãs Salesianas e, enviadas a Santo Domingo, tornaram-se pioneiras e missionárias corajosas. Entre os homens, cinco tornaram-se sacerdotes Sale-sianos. O mais conhecido dos cinco irmãos, Filippo Rinaldi, foi o terceiro sucessor de Dom Bosco, beatificado por João Paulo II a 29 de Abril de 1990. De facto, muitos jovens entraram para os salesianos. Não foi por acaso, visto que Dom Bosco durante a sua vida visitou quatro vezes a cidade de Lu. O santo participou da primeira Missa de Filippo Rinaldi, seu filho espiritual, na sua cidade de origem. Filippo gostava muito de lembrar a fé das famílias de Lu: “Uma fé que

fazia dizer aos nossos pais: O Senhor nos deu filhos e se Ele os chama nós certamente não podemos dizer não!”. Luigi Borghina e Pietro Rota viveram a espiritualidade de Dom Bosco de maneira tão fiel que foram chamados um “o Dom Bosco do Brasil” e o outro “o Dom Bosco da Valtellina”. Monsenhor Evasio Colli, Arcebispo de Parma, também vinha de Lu (Alessandria). Dele disse João XXIII: “Ele é que devia ser papa, não eu. Tinha tudo para ser um grande papa”.

A cada 10 anos, todas as religiosas, reli-giosos e sacerdotes ainda vivos reuniam-se em Lu, vindos de todas as partes do mundo. Dom Mario Meda, pároco da cidade durante muitos anos, contou como esse encontro na realidade era uma grande festa, uma festa de agradecimento a Deus por ter feito grandes coisas em Lu.

A oração que as mães de família rezavam em Lu era breve, simples e profunda:

“Senhor, fazei que um dos meus filhos se torne sacerdote! Eu mesma quero viver como boa cristã e quero conduzir os meus filhos para o bem, a fim de obter a graça de poder oferecer-Vos, Senhor, um sacerdote santo. Amém”.

Esta fotografia é única na história da Igreja Católica. De 1 a 4 de Setembro de 1946 grande parte dos 323 sacerdotes, religiosos e religiosas provenientes de Lu encontraram-se na sua povoação. Este encontro teve repercussão no mundo inteiro.

18 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

BEATA ALEXANDRINA DA COSTA (1904-1955)

Também um exemplo de vida como a de Alexan-drina da Costa, beatificada a 25 de Abril de 2004, demonstra de maneira impressionante a força transformadora e os efeitos visíveis do sacrifício de uma jovem doente e abandonada. Em 1941 Alexandrina escreveu ao seu pai espiritual, P. Mariano Pinho, que Jesus Se havia dirigido a ela com estas palavras: “Minha filha, em Lisboa vive um sacerdote que corre o risco de se condenar eternamente; ele ofende-me de maneira grave. Chama o teu pai espiritual e pede-lhe autori-zação para que Eu te faça sofrer particularmente, durante a paixão, por aquela alma”.

Recebida a licença, Alexandrina sofreu muitís-simo. Sentia o peso dos pecados daquele sacer-dote, que não queria mais saber de Deus e estava prestes a condenar-se. A coitada vivia no seu corpo o estado infernal em que se encontrava o sacerdote e suplicava: “Não, no inferno não! Ofereço-me em holocausto por ele até quando Tu quiseres”. Ela chegou a ouvir o nome e o apelido do sacerdote.

O P. Pinho quis então indagar junto do cardeal de Lisboa para saber se naquele momento algum sacerdote estaria a dar-lhe muitos desgostos. O cardeal confirmou com sinceridade que de facto havia um sacerdote que o preocupava; o nome que pronunciou era exactamente o mesmo que Jesus dissera a Alexandrina.

Alguns meses mais tarde foi referido ao P. Pinho, por parte de um amigo sacerdote, P. David Novais, um episódio especial. O P. David acabara de dar um curso de exercícios espirituais em Fátima, no qual também havia participado um senhor muito discreto que todos haviam notado pelo seu comportamento exemplar. Este homem, no último dia dos exercícios, sofreu um ataque de coração; foi chamado um sacerdote e ele pôde confessar-se e receber a Comunhão. Pouco depois falecia, reconciliado com Deus. Descobriu-se que aquele senhor, vestindo roupas leigas, era um sacerdote e era exactamente aquele pelo qual Alexandrina tanto havia lutado.

19ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

SERVA DE DEUS CONSOLATA BETRONE (1903-1946)

Os sacrifícios e as orações de uma mãe espiritual de sacerdotes destinam-se em particular aos consagrados que se perderam ou que abandonaram a própria vocação. Jesus, na Sua Igreja, chamou a esta vocação inumeráveis mulheres, como por exemplo a Irmã Consolata Betrone, Clarissa Capu-chinha de Turim. Jesus disse-lhe: “A tua tarefa na vida é dedicares-te aos teus irmãos. Consolata, tu também serás um bom pastor e irás em busca dos irmãos perdidos para trazê-los de volta a Mim”.

Consolata ofereceu tudo por eles, pelos “seus irmãos” sacerdotes e consagrados que se encontravam em dificuldade espiri-tual. Na cozinha, durante o trabalho, rezava sem cessar a sua oração do coração: “Jesus, Maria, Vos amo, salvai as almas!”.

Transformou conscientemente qualquer pequeno serviço e tarefa em sacrifício. Jesus disse-lhe a esse propósito: “Estas são acções insignificantes, mas como tu as ofereces com grande amor, concedo a elas um valor desmedido e transformo-as em graças de conversão que descem sobre os irmãos infelizes”.

Muitas vezes no convento eram assinalados por telefone ou por carta casos concretos dos quais Consolata carregava o peso no sofri-mento. Às vezes sofria durante semanas ou meses pela aridez, pela sensação de inutili-dade, de obscuridade, de solidão, de dúvidas e pelos estados pecaminosos dos sacerdotes. Uma vez, durante essas lutas interiores, escreveu ao seu pai espiritual: “Quanto me custam os irmãos!”. Jesus, porém, fez-lhe

uma grande promessa: “Consolata, não é só um irmão que devolverás a Deus, mas todos. Prometo-te que Me darás os irmãos, todos, um após o outro”. E assim foi! Levou de volta a um sacerdócio rico de graça todos os sacerdotes que lhe haviam sido confiados. Muitos destes casos foram documentados com precisão.

20 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

Berthe Petit é uma grande mística belga, uma alma de expiação pouco conhecida. Jesus indicou-lhe com clareza o sacerdote pelo qual devia renunciar aos seus projectos pessoais e também fez com que o encontrasse.

BERTHE PETIT (1870-1943)

Desde os quinze anos, Berthe durante cada Santa Missa rezava pelo celebrante: “Meu Jesus, faz com que o Teu sacerdote não te cause desgostos!”. Quando tinha dezassete anos, os seus pais perderam todo o património por causa de uma fiança; no dia 8 de Dezembro de 1988, o seu director espiritual disse-lhe que a sua vocação não era o mosteiro, mas ficar em casa e cuidar dos pais. Com desgosto, aceitou o sacri-fício; pediu, porém, a Nossa Senhora que interce-desse para que, em vez da sua vocação religiosa, Jesus chamasse um sacerdote zeloso e santo. “Serás atendida!” garantiu-lhe o pai espiritual.

O “PREÇO” DE UM SACERDOTE SANTO

O que ela não podia prever aconteceu dezasseis dias mais tarde: um jovem advogado de 22 anos, o dr. Louis Decorsant, estava a rezar perante uma imagem de Nossa Senhora das Dores. De repente e inesperadamente, ele teve a certeza de que a sua vocação não era casar com a rapariga que amava e exercer a profissão de jurista. Compreendeu com clareza que Deus o chamava ao sacerdócio. Essa chamada foi tão clara e insistente que ele não hesitou nem um instante em abandonar tudo. Após os estudos em Roma, onde havia termi-nado o seu doutoramento, foi ordenado sacerdote em 1893. Berthe tinha então 22 anos.

Nesse mesmo ano um jovem sacerdote, com 27 anos, celebrou a Santa Missa da meia-noite num subúrbio de Paris. Esse facto é importante porque

à mesma hora Berthe, assistindo à Santa Missa da meia-noite em outra paróquia, prometia sole-nemente ao Senhor: “Jesus, quero ser um holo-causto para os sacerdotes, para todos os sacer-dotes, mas de modo especial para o sacerdote da minha vida”.

Quando foi exposto o Santíssimo, a jovem viu de repente uma grande cruz com Jesus e aos Seus pés Maria e João. Ela ouviu as seguintes pala-vras: “O teu sacrifício foi aceite, a tua súplica atendida. Eis o teu sacerdote... Um dia o conhe-cerás”. Berthe viu que os traços do rosto de João assumiram os de um sacerdote desconhecido. Tratava-se do reverendo Decorsant, mas ela somente o encontraria em 1908, ou seja, quinze anos depois, reconhecendo o seu rosto.

21ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

O ENCONTRO DESEJADO POR DEUS

UMA TAREFA EM COMUM

Berthe encontrava-se em Lourdes, em pere-grinação. Aqui Nossa Senhora confirmou-lhe: “Verás o sacerdote que pediste a Deus há vinte anos. Está prestes a acontecer”. Ela estava com uma amiga na estação de Austerliz em Paris, num comboio que ia para Lourdes, quando um sacerdote entrou na carruagem onde elas estavam para guardar o lugar para uma doente. Era o reverendo Decorsant. Os seus traços eram os que Berthe havia visto no rosto de S. João quinze anos antes, era portanto aquele pelo qual havia oferecido tantas preces e tanto sofrimento físico. Após ter trocado algumas palavras gentis, o sacer-

dote desceu do comboio. Exactamente um mês mais tarde, o mesmo reverendo Decor-sant fez uma peregrinação a Lourdes para confiar a Nossa Senhora o seu futuro de sacerdote. Carregando a sua bagagem encon-trou novamente Berthe e a sua amiga. Reco-nhecendo as duas mulheres, convidou-as para a Santa Missa. Enquanto o P. Decorsant elevava a hóstia, Jesus disse a Berthe no seu íntimo: “Este é o sacerdote pelo qual aceitei o Teu sacrifício”. Após a liturgia, ela soube que “o sacerdote da sua vida”, como lhe teria chamado posteriormente, estava hospedado na mesma pensão que ela.

Berthe revelou ao P. Decorsant a sua vida espiritual e a sua missão para a consa-gração ao Coração Imaculado e Doloroso de Maria. Ele, por sua vez, compreendeu que essa alma preciosa lhe havia sido confiada por Deus. Aceitou ser transferido para a Bélgica e tornou-se para Berthe Petit um santo director espiritual e um apoio incansável para a realização da sua missão. Sendo um excelente teólogo foi um mediador ideal para a hierarquia ecle-siástica em Roma.

Durante vinte e quatro anos, ou seja até à sua morte, acompanhou Berthe que, como alma de expiação, muitas vezes estava doente e sofria de modo especial pelos sacerdotes que abandonavam a vocação.

22 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

VENERÁVEL CONCHITA DO MÉXICO (1862-1937)

Jesus uma vez explicou a Conchita: “Existem almas que receberam uma unção através da ordenação sacerdotal. Porém, há também almas sacerdotais que têm uma vocação sem ter a dignidade ou a ordenação sacerdotal. Elas oferecem-se em união comigo... Essas almas ajudam espiritualmente a Igreja de maneira poderosa. Tu serás mãe de um grande número de filhos espirituais, mas eles custarão ao teu coração como mil martírios. Oferece-te como holocausto, une-te ao Meu sacrifício para obter as graças para eles” ... “Desejaria voltar a este mundo... nos Meus sacerdotes. Desejaria renovar o mundo, revelando-Me neles e dar um impulso forte à Minha Igreja, derramando o Espírito

Santo sobre os Meus sacerdotes como num novo Pentecostes”. “A Igreja e o mundo neces-sitam de um novo Pentecostes, um Pentecostes sacerdotal, interior”.

Quando era jovem Conchita rezava com frequência frente ao Santíssimo: “Senhor, sinto-me incapaz de te amar, portanto quero casar. Dá-me muitos filhos e que eles possam amar-Te mais do que eu sou capaz.”. Do seu casamento muito feliz nasceram nove filhos, duas meninas e sete rapazes. Ela consagrou-os todos a Nossa Senhora: “Entrego-os completamente a ti como se fossem teus filhos. Tu sabes que eu não os sei educar, pouco sei do que significa ser mãe, mas Tu, Tu sabes”. Conchita viu morrer quatro dos

Maria Concepción Cabrera de Armida, Conchita, esposa e mãe de numerosos filhos, é uma das santas modernas que Jesus preparou para uma maternidade espiritual pelos sacerdotes. No futuro ela terá grande importância para a Igreja universal.

Conchita, jovem viúva e o filho Manuel

23ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

seus filhos e todos tiveram uma morte santa. Conchita foi realmente mãe espiritual para o sacer-dócio de um dos seus filhos; e sobre ele escreveu: “Manuel nasceu na mesma hora em que morreu o Padre José Camacho. Quando ouvi a notícia, pedi a Deus que o meu filho pudesse substituir este sacerdote no altar. Desde o momento em que o pequeno Manuel começou a falar, rezámos juntos pela grande graça da vocação ao sacer-dócio... No dia da sua primeira Comunhão e em todas as festas importantes renovei a súplica... Aos dezassete anos entrou na Companhia de Jesus”.

Em 1906, de Espanha, onde estava, Manuel (o terceiro filho, nascido em 1889) comunicou-lhe a sua decisão de se tornar sacerdote e ela escreveu-lhe: “Entrega-te ao Senhor com todo o coração sem nunca te negares! Esquece as criaturas

e principalmente esquece-te a ti mesmo! Não posso imaginar um consagrado que não seja um santo. Não é possível entregar-se a Deus pela metade. Procura ser generoso com Ele!”.

Em 1914 Conchita encontrou-se com Manuel em Espanha pela última vez, porque ele nunca mais voltou ao México. Nessa época o filho escreveu-lhe: “Minha querida, pequena mãe, indicaste-me o caminho. Tive a sorte, desde pequeno, de ouvir de teus lábios a doutrina salutar e exigente da cruz. Agora quero pô-la em prática”. A mãe também experimentou a dor da renúncia: “Levei a tua carta perante o tabernáculo e disse ao Senhor que aceito com toda minha alma esse sacrifício. No dia seguinte coloquei a carta no meu peito enquanto recebia a Santa Comunhão para renovar o sacrifício total”.

Dia 23 de Julho de 1922, uma semana antes da ordenação sacerdotal, Manuel, então com 30 anos de idade, escreve a sua mãe: “Mãe, ensina-me a ser sacerdote! Fala-me da imensa alegria de poder celebrar a Santa Missa. Entrego tudo nas tuas mãos, como me protegeste no teu peito quando eu era criança e me ensinaste a pronun-ciar os belos nomes de Jesus e Maria para me introduzir nesse mistério. Sinto-me realmente como uma criança que pede preces e sacrifícios... Assim que eu for ordenado sacerdote, enviar-te-ei a minha bênção e depois, ajoelhado, receberei a tua”. Quando Manuel foi ordenado sacerdote, a 31 de Julho de 1922, em Barcelona, Conchita levantou-se para participar espiritualmente da ordenação; devido ao fuso horário no México era noite. Ela comoveu-se profundamente: “Sou mãe de um sacerdote! ... Posso somente chorar e agradecer! Convido todo o céu a agradecer em meu lugar porque me sinto incapaz pela minha

miséria”. Dez anos mais tarde escreveu ao filho “Não consigo imaginar um sacerdote que não seja Jesus, ainda menos quando ele é parte da Companhia de Jesus. Rezo por ti, para que a tua transformação em Cristo, desde o momento da celebração, se cumpra de modo que tu sejas, dia e noite, Jesus” (17 de Maio de 1932). “O que faríamos sem a cruz? A vida sem as dores que unem, santificam, purificam e obtêm graças, seria insuportável” (10 de Junho de 1932). O P. Manuel morreu aos 66 anos de idade em odor de santidade. O Senhor fez com que Conchita compreendesse para o seu apostolado: “Confio-te mais um martírio: tu sofrerás aquilo que os sacerdotes cometem contra mim. Tu o viverás e oferecerás pela infidelidade e pelas misérias deles”. Esta maternidade espiritual pela santificação dos sacerdotes e da Igreja consumiu-a completamente. Conchita morreu em 1937 aos 75 anos.

MÃE, ENSINA-ME A SER SACERDOTE

24 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

Em 1869 estavam juntos o bispo de uma diocese na Alemanha e o seu hóspede, o Bispo de Mainz, D. Ketteler. Durante a conversa o bispo diocesano elogiava as tantas obras benéficas do seu hóspede. Mas D. Ketteler explicou ao seu interlocutor: “Tudo o que alcancei com a ajuda de Deus, o devo às preces e ao sacrifício de uma pessoa que não conheço. Posso somente dizer que alguém ofereceu a Deus a sua vida em sacrifício por mim e graças a isso tornei-me sacerdote”. E continuou: “Antes eu não me sentia desti-nado ao sacerdócio. Tinha feito alguns exames na faculdade de direito e desejava fazer uma rápida carreira que me permitisse ter um lugar de prestígio no mundo, ser respeitado e ganhar muito dinheiro. Um acontecimento extraordinário porém impediu tudo isso e conduziu a minha vida noutra direcção.

Uma noite, enquanto estava sozinho no meu quarto, abandonei-me aos meus sonhos de ambição e aos planos para o futuro. Não sei o que me aconteceu, não sei se estava acor-dado ou não. O que eu via era a realidade ou um sonho? Só uma coisa sei com certeza: vi aquilo que sucessivamente provocou a viragem da minha vida. Claro e límpido,

Cristo estava por cima de mim numa nuvem de luz e mostrava-me o Seu Sagrado Coração. Em frente dEle estava uma freira ajoelhada com as mãos erguidas em posição de implo-ração. Da boca de Jesus ouvi as seguintes palavras: ‘Ela reza ininterruptamente por ti!’. Eu via com clareza a figura da irmã, e sua fisionomia impressionou-me de maneira tão forte que ainda hoje a tenho perante os meus olhos Ela parecia-me uma simples conversa. A sua roupa era pobre e rústica, e as suas mãos avermelhadas e calejadas pelo trabalho pesado. O que quer que tenha sido, sonho ou não, para mim foi extraordinário, pois fui atingido no íntimo e, a partir daquele momento, resolvi consagrar-me inteiramente a Deus no serviço sacerdotal.

Recolhi-me num mosteiro para os exercí-cios espirituais e conversei sobre tudo isso com meu confessor. Comecei os estudos de teologia aos trinta anos. O resto o senhor já conhece. Se agora o senhor acredita que algo de bom foi feito por meu intermédio, saiba de quem é o mérito: daquela irmã que rezou por mim, talvez sem sequer me conhecer. Tenho a certeza que por mim se rezou e ainda se

O MEU SACERDÓCIO E UMA DESCONHECIDA

BARÃO WILHELM EMMANUEL KETTELER(1811-1877)

Todos nós devemos o que somos e a nossa vocação às preces e aos sacrifícios dos outros. No caso do famoso Bispo D. Ketteler, extraordinária figura do episcopado alemão do século XIX e figura de destaque entre os fundadores da sociologia católica, a benfeitora foi uma religiosa, a última e a mais pobre irmã do seu convento.

25ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

reza em segredo, e que sem aquela prece eu não poderia alcançar a meta à qual Deus me destinou”. “Tem ideia de quem reza por si e onde?” perguntou o bispo diocesano.

“Não. Posso somente pedir a Deus que a abençoe, se ainda vive, e que lhe devolva mil vezes o que fez por mim”.

No dia seguinte D. Ketteler foi visitar um convento de religiosas numa cidade próxima e lá celebrou a Santa Missa na capela. Quando estava prestes a terminar a distribuição da Sagrada Comunhão, já na última fila, o seu olhar deteve-se sobre uma irmã. O seu rosto empalideceu e ele ficou imóvel, mas logo se recompôs e deu a comunhão à religiosa que não se apercebera de nada e estava devotadamente ajoelhada. Concluiu então serenamente a liturgia.

Para o pequeno-almoço chegou também ao convento o bispo diocesano do dia anterior. D. Ketteler pediu à madre superiora que lhe apresentasse todas as irmãs e elas apare-ceram imediatamente. Os dois bispos apro-ximaram-se e D. Ketteler cumprimentou-as observando-as, mas percebia-se claramente que não encontrava quem procurava. Em voz baixa dirigiu-se à madre superiora: “As irmãs estão todas aqui?” Ela, olhando o grupo, respondeu: “Excelência, mandei chamá-las a todas mas, de facto, falta uma!”. “E porque não veio?” A madre superiora respondeu: “Ela cuida do estábulo, e de maneira tão exemplar que às vezes no seu zelo se esquece das outras coisas”. “Desejo conhecer essa irmã”, disse o bispo. Pouco depois a religiosa chegou. Ele empalideceu e, após ter dirigido algumas palavras a todas as religiosas, pediu para ficar a sós com ela.

“A Irmã conhece-me?” perguntou. “Exce-lência, eu nunca o vi!”. “Mas a Irmã rezou e ofereceu boas obras por mim?” queria

saber D. Ketteler. “Não tenho consciência disso, pois não sabia da existência de Vossa Excelência”. O bispo ficou alguns instantes imóvel em silêncio, depois continuou com outras perguntas. “Que devoções ama mais e pratica com maior frequência?” “A vene-ração ao Sagrado Coração”, respondeu a irmã. “Parece que a Irmã tem o trabalho mais pesado de todo o convento!” conti-nuou. “Ah não, Excelência! Certamente não posso negar que às vezes me repugna”. “Então o que faz quando é atormentada pela tentação?”. “Acostumei-me a enfrentar, por amor a Deus, com zelo e alegria todas as tarefas que me custam muito e depois oferecê-las por uma alma no mundo. Será o bom Deus a escolher a quem dar a Sua graça, eu não quero saber. Também ofereço a hora de adoração da noite, das 20 às 21 horas, por essa intenção”. “E como teve a ideia de oferecer tudo isso por uma alma?” “É um costume que eu já tinha quando ainda vivia no mundo. Na escola, o pároco ensinou-nos que devíamos rezar pelos outros como se faz pela própria família. E também acrescentava: ‘Seria necessário rezar muito por aqueles que correm o risco de se perderem para a eternidade. Mas visto que só Deus sabe quem tem mais necessi-dade, o melhor seria oferecer as orações ao Sagrado Coração de Jesus, confiantes na Sua sabedoria e omnisciência’. E eu assim fiz, e sempre acreditei que Deus encontra a alma certa”.

A IRMÃ DO ESTÁBULO

26 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

“Quantos anos tem?” perguntou D. Ketteler. “Trinta e três anos, Excelência”. O bispo, impressionado, reflectiu por um instante e depois perguntou: “Quando é que a Irmã nasceu?” A irmã disse o dia do seu nascimento. Então o bispo ficou perplexo: tratava-se exac-tamente do dia da sua conversão! Ele vira-a à sua frente assim, exactamente como naquele momento. “A Irmã não sabe se as suas preces e os seus sacrifícios tiveram sucesso?” “Não, Excelência”. “E não gostaria de saber?”. “O bom Deus sabe quando fazemos algo de bom, isso me basta”, foi a simples resposta.

O bispo estava abalado: “Então, por amor de Deus, continue com essa obra!”.

A irmã ajoelhou-se à sua frente e pediu a bênção. O bispo levantou solenemente as mãos e com profunda comoção disse: “Com os meus poderes episcopais, abençoo a sua alma, as suas mãos e o trabalho que elas cumprem, abençoo as suas orações e os seus sacrifícios, o seu domínio de si e a sua obedi-ência. Abençoo-a principalmente para a sua última hora e peço a Deus que a assista com a Sua consolação”. “Amém”, respondeu serena a irmã e afastou-se.

DIA DO ANIVERSÁRIO E DIA DA CONVERSÃO

UM ENSINAMENTO PARA TODA A VIDA

O bispo estava abalado no seu íntimo. Aproximou-se da janela, tentando recuperar a calma. Mais tarde despediu-se da madre superiora e voltou à casa do seu amigo e confrade. E a ele confidenciou: “Agora encon-trei aquela a quem devo a minha vocação. É a última e a mais pobre irmã conversa do convento. Nunca poderei agradecer a Deus o suficiente pela Sua misericórdia, porque aquela religiosa reza por mim há quase vinte anos. Deus porém já havia aceite a sua prece e também tinha previsto que o dia do seu nascimento coincidiria com o dia da minha conversão; depois, Deus acolheu as

orações e as boas obras daquela irmã.

Que ensinamento e que advertência para mim! Se um dia cair na tentação de me orgulhar pelos eventuais sucessos e pelas minhas obras perante os homens, devo sempre lembrar que tudo me vem da graça, da oração e do sacrifício de uma pobre serva que está no estábulo de um convento. E se um trabalho insignificante me parecer de pouco valor, devo reflectir sobre isto: o que aquela serva faz com humilde obediência a Deus e oferece em sacrifício com domínio de si, tem um valor tão grande perante Deus que as suas obras criaram um bispo para a Igreja!”.

O Bispo D. Wilhelm Emmanuel Ketteler

27ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

28 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

SANTA TERESA DE LISIEUX (1873-1897)

Teresa tinha somente 14 anos quando, durante uma peregrinação a Roma, compre-endeu a sua vocação de mãe espiritual dos sacerdotes. Na sua autobiografia escreve como, após ter conhecido em Itália muitos santos sacerdotes, entendera que, apesar da sua sublime dignidade, não deixavam de ser homens fracos e frágeis. “Se santos sacerdotes ... mostram com o seu comportamento uma necessidade extrema de orações, o que dizer dos tíbios?” (A 157). Numa das suas cartas encorajava a irmã Celina: “Vivemos pelas almas, somos apóstolos, salvamos principal-mente as almas dos sacerdotes... rezamos, sofremos por eles e, no último dia, Jesus estará grato” (LT 94).

Na vida de Teresa, doutora da Igreja, há um episódio comovente que demonstra o seu zelo pelas almas e especialmente pelos missionários. Já estava muito doente e podia andar somente à custa de muito esforço, mas o médico recomendara-lhe passear meia hora por dia no jardim. Mesmo sem acreditar na utilidade desse exercício, ela fazia-o fielmente todos os dias. Uma vez uma irmã que a acompanhava, vendo o grande sofrimento que lhe provocava o caminhar, disse-lhe: “Mas, irmã Teresa, porquê toda essa fadiga se o sofrimento é maior que o alívio?”. E a santa respondeu: “Sabe irmã, estou pensando que talvez exactamente neste momento um missio-nário em algum país remoto se sinta muito

cansado e desanimado, portanto ofereço as minhas fadigas por ele”.

Deus demonstrou ter acolhido o desejo de Teresa de oferecer a sua vida pelos sacerdotes quando a madre superiora lhe confiou dois nomes de seminaristas que haviam pedido o apoio espiritual de uma carmelita. Um era o abade Maurice Bellière, que poucos dias depois da morte de Teresa recebia o hábito de “Padre Branco”, tornando-se um sacer-dote missionário. O outro era o P. Adolphe Roulland, que a santa acompanhou com as suas preces e sacrifícios até a ordenação sacerdotal e de modo especial durante a sua missão na China.

29ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

BEATO CARDEAL CLEMENS AUGUST VON GALEN (1878-1946)

O SERVO DE DEUS PAPA JOÃO PAULO I (1912-1978)

A 13 de Setembro de 1933, com 55 anos de idade, o pároco Clemens von Galen foi nomeado Bispo de Münster pelo Papa Pio XI. Fiel ao seu lema de não se deixar influenciar “nem pelo elogio, nem pelo medo”, protestou publicamente contra as medidas terroristas da Gestapo e denunciou o Estado que havia prejudicado os direitos da Igreja e dos seus fiéis. Em 1946, o Papa Pio XII nomeou cardeal o Bispo de Münster pelos seus méritos e pela extraordinária coragem em professar a fé.

Na tomada de posse como pastor de Münster, D. Galen fez imprimir uma imagem com o seguinte texto: “Sou o décimo terceiro filho da nossa família e agradecerei eternamente a minha mãe por ter tido a coragem de dizer sim a Deus também a esse décimo terceiro filho. Sem esse sim de minha mãe, hoje eu não seria sacerdote e bispo”.

“FOI MINHA MÃE QUEM ME ENSINOU”

João Paulo I começou a sua última audiência geral em Setembro de 1978 rezando o acto de cari-dade. “Eu vos amo, meu Deus, de todo o coração e sobre todas as coisas, porque sois infinita-mente bom e amável, e nossa eterna felicidade. Por vosso amor, amo o meu próximo como a mim mesmo e perdoo as ofensas rece-

30 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

bidas. Senhor, que eu vos ame sempre mais’. É uma famosíssima oração com as palavras da Bíblia. Foi minha mãe quem me ensinou. Continuo a rezá-la várias vezes por dia”. Pronunciou essas palavras sobre a sua mãe com tanta ternura, que quem se encontrava

na sala de audiências respondeu com um aplauso impetuoso. Entre eles, uma jovem disse com lágrimas nos olhos: “Como é comovedor que o Papa fale da sua mãe! Agora entendo melhor quanta influência nós, mães, podemos ter sobre os nossos filhos.”

Anna nasceu em 1909 na parte alemã do Volga numa numerosa família católica. Era uma simples aluna de nove anos quando viveu o início da perseguição.

“... 1918, no segundo ano, no começo das aulas ainda rezávamos o Pai-nosso. Um ano mais tarde já havia sido proibido e o pároco já não podia entrar na escola. Começavam a troçar de nós, cristãos, já não respeitavam os sacerdotes e destruíam os seminários.”

Aos onze anos Anna perdeu o pai e alguns irmãos e irmãs por causa de uma epidemia de cólera. Pouco tempo depois morreu também a sua mãe, e ela, com apenas dezassete anos, cuidou dos irmãos e das irmãs menores, mas “…nosso pároco também morreu naquela época e muitos sacerdotes foram presos. Assim, ficámos sem pastores! Isso foi um duro golpe. A Igreja na paróquia vizinha ainda estava aberta, mas ali também não havia nem um sacerdote. Os fiéis reuniam-se assim mesmo para rezar, mas sem o pastor a igreja estava abandonada. Eu chorava

“SENHOR DAI-NOS NOVAMENTE SACERDOTES!”

Durante a perseguição comunista, Anna Stang sofreu muito e, como tantas outras mulheres na sua situação, ofereceu os seus sofrimentos pelos sacerdotes. Na velhice tornou-se, ela mesma, uma pessoa com espírito sacerdotal.

“FICÁMOS SEM PASTORES!”

Anna Stang (à direita) e a sua amiga Vittoria.

31ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

ENTREGA DO SERVIÇO SACERDOTAL

ORAÇÕES ÀS ESCONDIDAS PARA FAZER CHEGAR UM SACERDOTE!

e não conseguia acalmar-me. Quantos cantos, quantas preces a haviam enchido e agora tudo parecia morto”.

Depois dessa escola de profundo sofrimento espiritual, Anna começou a rezar de modo espe-cial pelos sacerdotes e missionários. “Senhor, dá-nos novamente um sacerdote, dá-nos

a Sagrada Comunhão! Tudo sofro de bom grado pelo Teu amor, grande Coração de Jesus!” Anna ofereceu pelos sacerdotes todos os sofrimentos que se seguiram de modo especial, mesmo quando numa noite de 1938 o seu irmão e o seu marido – tinha um casamento feliz há sete anos – foram presos e nunca mais voltaram.

Em 1942 a jovem viúva Anna foi deportada para o Cazaquistão com os seus três filhos. “Foi duro enfrentar o frio do Inverno, mas depois chegou a Primavera. Naquela época chorei muito, mas também rezei muitíssimo. Eu tinha a sensação que alguém estava a segurar-me na mão. Na cidade de Syrjanowsk encon-trei algumas mulheres católicas. Reuníamo-nos às escondidas todos os domingos e dias de festa para cantar e rezar o terço. Eu suplicava com frequência: Maria, nossa mãe querida, vê como somos pobres. Dai-nos novamente sacerdotes, mestres e pastores!”

A partir de 1965 a violência da perseguição diminuiu e Anna podia ir uma vez por ano à capital do Quirguistão, onde vivia um sacer-dote católico no exílio.

“Quando estive em Biskek foi construída uma igreja. Fui lá com a Vittoria, uma conhe-

cida minha, para participar na Santa Missa. A viagem era longa, mais de 1000 km, mas para nós foi uma grande alegria. Há mais de vinte anos que não víamos um sacerdote nem um confessionário! O pastor daquela cidade era idoso e passara mais de dez anos na prisão por causa da sua fé. Enquanto ali estive, foram-me confiadas as chaves da igreja e, assim, pude fazer longas horas de adoração. Nunca imaginei poder estar tão próxima do taberná-culo. Cheia de alegria ajoelhei-me e beijei-o”.

Antes de viajar, Anna teve a licença de levar a Sagrada Comunhão aos católicos mais idosos da sua cidade, que nunca poderiam ter ido pessoalmente à igreja. “A pedido do sacerdote, na minha cidade, durante trinta anos baptizei crianças e adultos, preparei os casais para o sacramento do matrimónio e orientei enterros até que, por motivos de saúde, deixei de poder prestar esse serviço”.

Não é possível imaginar a gratidão de Anna quando em 1995 encontrou pela primeira vez um sacerdote missionário. Chorou de alegria e com emoção exclamou: “Veio Jesus, o Sumo sacer-dote!”. Rezava há décadas para que chegasse um sacerdote à sua cidade, mas chegando aos 86 anos de idade tinha perdido a esperança de ver com os

seus olhos a realização desse desejo profundo.

A Santa Missa foi celebrada na sua casa e esta maravilhosa mulher de alma sacerdotal pôde receber a Sagrada Comunhão. Durante o resto do dia Anna não comeu nada, para manifestar dessa forma o seu profundo respeito e alegria.

32 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

No verdadeiro sentido da palavra, exac-tamente no coração do Vaticano, à sombra da cúpula de São Pedro, encontra-se um convento consagrado à “Mater Ecclesiae” (Mãe da Igreja). O edifício, simples, foi usado no passado para várias funções e refor-mado há alguns anos para ser adaptado às necessidades de uma ordem contemplativa. O próprio Papa João Paulo II fez com que esse convento de clausura fosse inaugurado no dia 13 de Maio de 1994, dia de Nossa Senhora de Fátima; aqui as irmãs iriam consagrar a sua vida para as necessidades do Santo Padre e da Igreja.

Esta tarefa é confiada, cada cinco anos, a uma diferente ordem contemplativa. A primeira comunidade internacional era composta por Clarissas provenientes de seis diferentes países (Itália, Canadá, Ruanda, Filipinas, Bósnia e Nicarágua). Posteriormente foram substituídas pelas Carmelitas, que continu-aram a rezar e a oferecer a própria vida pelas intenções do papa. Desde o dia 7 de Outubro de 2004, festa de Nossa Senhora do Rosário, encontram-se no mosteiro sete Irmãs Bene-ditinas de quatro nacionalidades. Uma irmã é filipina, uma vem dos EUA, duas são fran-cesas e três italianas.

UMA VIDA OFERECIDAAO PAPA E À IGREJA

Com essa fundação, João Paulo II mostrava à opinião pública mundial, sem palavras mas de maneira muito clara, quanto a vida contemplativa oculta é importante e indis-pensável, mesmo na nossa época moderna e frenética, e quanto valor ele atribuía à oração no silêncio e ao sacrifício oculto. Se ele queria ter tão próximas as irmãs de clausura para que rezassem por ele e pelo seu ponti-ficado, é porque tinha a profunda convicção de que a fecundidade do seu ministério de pastor universal e o êxito espiritual da sua imensa obra, proviessem, em primeiro lugar, da oração e dos sacrifícios de outros.

O Papa Bento XVI também tem a mesma profunda convicção. Duas vezes foi celebrar a Santa Missa junto às “suas irmãs”, agrade-cendo-lhes pela oferta das suas vidas por ele.

As palavras que ele dirigiu no dia 15 de Setembro de 2007 às Clarissas de Castel Gandolfo, também valem para as irmãs de clausura do Vaticano: “Eis então, queridas Irmãs, o que o Papa espera de vós: que sejais chamas ardentes de amor, “mãos postas”

33ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

Não é por acaso que o Santo Padre escolheu ordens femininas para essa tarefa. Na história da Igreja, seguindo o exemplo da Mãe de Deus, sempre foram as mulheres a acompanhar e apoiar, com orações e sacrifícios, o caminho dos apóstolos e dos sacerdotes nas suas activi-dades missionárias. Por isso, as ordens contem-plativas consideram como carisma próprio “a imitação e a contemplação de Maria”. A Irmã M. Sofia Cicchetti, actual madre superiora do mosteiro, define a vida de sua comunidade como uma vida mariana quotidiana: “Aqui nada é extraordinário. A nossa vida contemplativa e de clausura somente pode ser compreendida à luz da fé e do amor de Deus. Nesta nossa sociedade consumista e hedonista, quase parece ter desaparecido quer o sentido da beleza e do deslumbramento perante as grandes obras que

Deus realiza no mundo e na vida de cada homem e mulher, quer a adoração pelo mistério da Sua amorosa presença junto de nós. No contexto do mundo de hoje a nossa vida afastada do mundo, mas não indiferente a ele, poderia parecer absurda e inútil. No entanto, podemos testemunhar com alegria que não é uma perda dedicar o tempo só a Deus. Lembra a todos profeticamente uma verdade fundamental: a humanidade, para ser autêntica e plena, deve ancorar-se em Deus e viver no tempo a respi-ração do amor de Deus. Queremos ser como tantas “Moisés” que, com os braços erguidos e o coração dilatado por um amor universal mas concretíssimo, intercedem para o bem e a salvação do mundo, tornando-se, dessa forma, “cooperadoras no mistério da Redenção” (cfr Verbi Sponsa, 3).

Encontro com o Santo Padre João Paulo II na sua biblioteca particular a 23 de Dezembro de 2004

que vigiam em oração incessante, totalmente separadas do mundo, para apoiar o minis-tério daquele que Jesus chamou para guiar a Sua Igreja”.

A Providência dispôs realmente bem que, sob o pontificado de um papa que tanto aprecia São Bento, possam estar ao seu lado, de uma maneira verdadeiramente especial, as Irmãs Beneditinas.

UMA VIDA MARIANA QUOTIDIANA

34 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

A nossa tarefa baseia-se, mais que no “fazer”, no “ser” nova humanidade. À luz desta realidade podemos dizer que a nossa vida é vida cheia de sentido, não é de forma alguma perda e desperdício, nem recusa ou fuga do mundo, mas alegre doação ao Deus-Amor e a todos os irmãos sem exclusão, e aqui no “Mater Ecclesiae” em particular pelo Papa e seus colaboradores”.

A Irmã Chiara-Cristiana, madre superiora das Clarissas da primeira comunidade no centro do Vaticano, contou: “Quando cheguei aqui encontrei a vocação na minha vocação: dar a vida pelo Santo Padre como Clarissa. Assim foi para todas as outras irmãs”.

A Irmã M. Sofia confirma: “Nós, como Beneditinas, estamos profundamente ligadas à Igreja universal, e sentimos

portanto um grande amor pelo Papa, onde quer que estejamos. Certamente, ser chamadas tão próximas a ele – inclusive fisicamente – neste mosteiro “original”, aprofundou o amor por ele. Procuramos transmiti-lo também aos nossos mosteiros de origem. Nós sabemos que somos chamadas a sermos mães espirituais na nossa vida oculta e no silêncio. Entre os nossos filhos espirituais, ocupam um lugar privilegiado os sacerdotes e os semi-naristas, e todos os que se dirigem a nós pedindo apoio para as suas vidas e o seu ministério sacerdotal, nas provas ou deses-peros do caminho. A nossa vida quer ser “testemunho da fecundidade apostólica da vida contemplativa, em imitação de Maria Santíssima, que no mistério da Igreja se apresenta de maneira eminentemente singular como virgem e mãe”(cfrLG63).

A Irmã M. Sofia Cicchetti oferece ao Santo Padre um conjunto de panos litúrgicos para a Santa Missa bordados à mão pelas irmãs.

35ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

36 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

MÃE DA SAGRADA EUCARISTIA,ROGAI CONNOSCO PARA QUE HAJA SANTOS SACERDOTES!

37ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

1. Saudação ao Senhor eucarístico com um cântico de adoração

(Eventualmente tocado por um CD)

2. Num breve silêncio, tomamos consciência diante de quem estamos

Diante de nós está o Deus Uno e Trino, nosso criador, a quem tudo devemos. Eu sou Sua criatura, Seu Filho. O Deus todo-poderoso e misericordioso está presente e aproxima-Se de mim com todo o Seu amor.

A adoração eucarística é um encontro pessoal da alma com Deus, que está sempre à nossa espera. Embora estejamos ajoelhados ante uma hóstia branca totalmente insignificante, que se encontra oculta num tabernáculo, ou visível numa custódia, e embora nada sintamos e nada vejamos de extraordinário, como crentes sabemos muito bem: Aqui está Jesus vivo e verdadeiro diante de nós. Ele oferece ao Pai louvor e acção de graças perfeitos, aos quais podemos unir o nosso louvor e acção de graças.

Só raramente reflectimos que na Sagrada Hóstia podemos adorar Jesus, tanto criança como adulto; tanto como Homem das Dores, como Rei ou Mestre. Ele espera por nós como pastor e salvador, como consolador e autor de milagres, como crucificado e redentor ressuscitado e como Aquele que há-de voltar na Sua glória.

3. Louvor, acção de graças e contrição

Se com fé tomarmos consciência de quem aqui está presente, tão silencioso e humilde no meio de nós, ao início da hora de adoração voltar-nos-emos para Deus com igual assombro e louvor e agradecer-Lhe-emos a Sua presença com palavras livres.

Simultaneamente tomamos consciência, na presença do Deus todo amoroso, das nossas próprias imperfeições, falhas e pecados. Assim, não tenhamos medo de nos arrependermos.

Deixemos entrar em nós a dor do arrependimento, e oremos com sinceridade e cheios de

Pensamentos para a realização de uma hora de adoração pela santificação dos sacerdotes

“A adoração é, no seu sentido mais profundo, um abraço a Jesus, em que eu Lhe digo: «Eu pertenço-Te e peço-Te que também Tu estejas sempre comigo!»”

Papa Bento XVI

UMA HORA DIANTE DO SANTÍSSIMO

38 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

amor: “Jesus, perdoa-me. Tu sabes que Te amo! Faz que tudo fique bem!” Só quando, através desta contrição perante Deus, nos tivermos tornado uma criança humilde e tivermos da nossa parte perdoado a todos, podemos realmente rezar bem.

De facto, por vezes sentimos a nossa oração fraca e insignificante, mas se a unirmos ao Adorador divino no tabernáculo, ela torna-se poderosa e infinitamente valiosa.

Também de grande auxílio é recorrer aos santos anjos e unir-se à sua adoração perfeita, como recomendou Jesus a Sta. Margarida Alacoque.

Criemos, além disso, o hábito de nos aproximarmos tanto quanto possível do Santíssimo. Pois quem ama quer estar perto do seu amado como Maria em Betânia aos pés de Jesus.

4. Um cântico em forma de louvor

5. Oração contemplativa comunitária

Para impregnarmos de sentido divino as nossas meditações e as nossas orações, existem muitas possibilidades!

Para isso, tenhamos sempre à mão sobretudo a Sagrada Escritura, onde fala connosco Aquele diante de quem nos ajoelhamos. Quando é lido um breve excerto do Evangelho, podemos ouvi-lo como se fosse Jesus a falar-nos pessoalmente do Seu tabernáculo.

Naturalmente que se pode também rezar em comum o “Rosário bíblico”, lendo-se antes de cada mistério do Rosário uma passagem apropriada da Sagrada Escritura ou uma frase apropriada de um excerto do Evangelho durante esse mistério, sucessivamente antes de cada Ave Maria.

Na sua Carta Apostólica “Fica Connosco, Senhor” o Papa João Paulo II realçou, por ocasião do Ano da Sagrada Eucaristia, em Outubro de 2004: Aprofundemos na adoração eucarística a nossa contemplação pessoal e comunitária, servindo-nos também de utensí-lios de oração imbuídos da Palavra de Deus e da experiência de tantos místicos antigos e recentes. O próprio Rosário visto no seu sentido profundo, bíblico e cristocêntrico poderá ser um caminho particularmente adequado para a contemplação eucarística, que se pratica em companhia e na escola de Maria.”

Já na sua Encíclica “O Rosário da Virgem Maria”, o mesmo Papa sublinhou no ano 2002: “Com efeito, recitar o Rosário nada mais é senão contemplar com Maria o rosto de Cristo O Rosário é ao mesmo tempo meditação e súplica. A imploração insistente da Mãe de Deus apoia-se na nossa confiança de que a sua intercessão materna tudo pode conseguir no coração do seu Filho.”

Podemos, assim, recitar os mistérios do Rosário com diferentes intenções: pelo Santo Padre, pelos cardeais, bispos e missionários, pelos sacerdotes e religiosos, que estão desani-mados ou prestes a abandonar o seu caminho sacerdotal, ou por todos aqueles que deitaram

39ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

a mão ao arado, mas que depois se volveram para trás, bem como por todos os sacerdotes falecidos. Sobretudo que a oração também se aplique pela santificação das famílias, pois é delas que emanam as vocações.

Entre os mistérios do Rosário podem ser cantados cânticos apropriados (eventual-mente peças de música de um CD).

Uma outra alternativa de oração contemplativa consiste em meditar a Via Sacra. Para isso, as 14 estações, por exemplo, podem ser lidas em voz alta por um orador, em que, após cada estação, poderá ser recitada uma breve oração à escolha pelas intenções dos sacerdotes. É sempre diversificado e ajuda a nossa atenção quando, em algumas estações, é cantado um lindo cântico (eventualmente uma peça de música apropriada de um CD).

Visto estarmos ajoelhados ante a Misericórdia viva, adequa-se também o Rosário da Divina Misericórdia como oração contemplativa. Jesus revelou-o à religiosa polaca Faustina Kowalska, que o Papa João Paulo II canonizou no chamado Domingo da Mise-ricórdia no ano 2000. Neste sentido, antes de cada mistério, podia ser lido um breve pará-grafo da consoladora mensagem de Jesus Misericordioso do Diário da Irmã Faustina. Jesus promete: “Que grandes graças concederei às almas que rezarem este terço! As entranhas da minha misericórdia têm compaixão daqueles que rezam esta oração.” (Diário N.º 848).

Uma outra alternativa da oração comunitária pelos sacerdotes poderá consistir em escolher algumas invocações especialmente apropriadas de uma ladainha, tal como a do Coração de Jesus, do Preciosíssimo Sangue, da Sagrada Face , e recitá-las lentamente.

Muito enriquecedor pode também ser ler em voz alta palavras pronunciadas por santos sobre a Sagrada Eucaristia, ou episódios da vida de santos eucarísticos. Poder-se-ia aqui também apresentar uma das mães de sacerdotes que estão descritas na brochura“Adoração Eucarística para a santificação dos Sacerdotes e maternidade espiritual” .

6. Palavras de amor trocadas em silêncio

O silêncio na adoração adquire um especial significado, em que podemos abrir o nosso coração a Jesus.

Cada um é convidado, de forma muito pessoal, a falar com Jesus, como se falasse com o melhor amigo sobre aquilo que o preocupa. Pode-se confiar-Lhe realmente tudo: alegrias e tristezas, os nossos planos e anseios e, sobretudo, os sacerdotes!

Para este tempo de oração silenciosa, que pode ser sonorizado com música tocada baixinho, aplicam-se também as palavras de Jesus à Ir. Faustina: “Fala-Me de tudo. Quero que saibas que Me dás uma grande alegria Fala coMigo sobre tudo, com a simplicidade de uma criança, pois os Meus ouvidos e o meu Coração estão vergados sobre ti, e a tua fala é-Me querida” (Diário N.º 921).

No silêncio é possível, por exemplo, pronunciar repetidamente breves jaculatórias: “Jesus, eu amo-Te!” “sus, eu me ofereço a Ti, Cuida tu de mim!” “Jesus, eu confio em Ti!”, ou

40 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

o acto de amor “Jesus, Maria, eu Vos amo, salvai almas!”, como lhe recomendou o Senhor à Serva de Deus, Ir. Consolata Betrone.

Quem talvez ainda não esteja habituado a falar de uma forma assim tão pessoal com Deus, poderá, durante este tempo de silêncio, recorrer à contemplação “Um quarto de hora diante do Santíssimo” de S. António Maria Claret.

Também seria muito bom rezar de forma contemplativa a oração preferida de S. Inácio de Loyola, “Alma de Cristo”, ou uma outra oração conhecida.

No silêncio, podemos não só falar com Jesus, mas também ouvi-Lo. Jesus quer comu-nicar-se ao nosso íntimo - também sem quaisquer palavras audíveis. Ele responde às nossas perguntas e anseios, ao recordar-nos, por exemplo, uma determinada palavra do Evangelho. Ele inspira-nos ao insinuar-nos, por exemplo, um pensamento belo e bom, que nos ilumina, conforta e nos enche de paz interior.

Quando nos expomos aos amorosos raios do Senhor eucarístico, somos como uma flor que só através dos quentes raios solares consegue abrir e desdobrar-se.

Deste modo, a hora de adoração torna-se não apenas uma oferenda aos sacerdotes, mas vai lentamente transformando também a nossa própria vida, como Angelus Silesius exclamou: “A mais nobre oração acontece quando o devoto se transforma intimamente naquilo diante do qual ele se ajoelha.”

7. Comunhão espiritual

Antes de nos “despedirmos” do Senhor, podemos ainda comungar espiritualmente. A comunhão espiritual acontece de forma muito simples: através do nosso desejo e do pedido “Jesus, vem agora espiritualmente ao meu coração!” atraímo-Lo à nossa alma. A comunhão espiritual é como um intenso abraço entre mim e Jesus, é como um amoroso beijo interior.

O grande pregador e santo franciscano Leonardo de Porto Maurício disse: “Prometo-vos que, se fizerdes a comunhão espiritual várias vezes ao dia, o vosso coração estará comple-tamente transformado no período de um mês.”

8. Propósito

Teresa de Ávila, a grande santa doutora da Igreja e mestra da oração, nos seus escritos espirituais, aconselha a nunca se abandonar a contemplação sem se ter formulado um propósito concreto para o dia-a-dia.

9. Um cântico final ou o tantum ergo, se houver disponível um sacerdote para a bênção eucarística.

41ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

10. Bênção

Juntos com Jesus regressemos agora ao quotidiano. Levamo-Lo espiritualmente no coração, da igreja para o nosso mundo meritocrático e acelerado. Levamo-Lo para o lugar onde nos chama o dever. Por isso, dizia Papa João Paulo II: “A nossa adoração não deve nunca terminar.”

Alma de Cristo, santificai-me.

Corpo de Cristo, salvai-me.

Sangue de Cristo, inebriai-me.

Água do Lado de Cristo, lavai-me.

Paixão de Cristo, confortai-me.

Meu bom Jesus, ouvi-me.

Dentro de vossas chagas, escondei-me.

Não permitais que me separe de Vós.

Do inimigo maligno defendei-me.

Na hora da minha morte, chamai-me.

E mandai-me ir para Vós,

para que eu Vos louve com os Vossos santos

no Vosso reino por toda a eternidade.

Ámen.

42 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

“À noite avistei na minha cela um anjo, o Executor da Ira de Deus. Usava uma veste clara, e o seu rosto estava radiante. Sob os seus pés estava uma nuvem de onde saíam trovões e relâmpagos para as suas mãos, e saídos da sua mão atingiam a Terra. Quando vi o sinal da ira de Deus, que devia atingir a Terra, mas especialmente um determinado lugar, cujo nome por razões compreensíveis não posso revelar, pedi ao anjo que se deti-vesse por um certo tempo, pois o mundo iria fazer penitência. Mas o meu pedido de nada valeu ante a cólera divina. Avistei então a Santíssima Trindade. A grandeza da Sua majes-tade trespassou-me até ao mais íntimo de mim, e eu não ousava repetir o meu pedido. Nesse mesmo momento, senti em mim o poder da graça de Jesus, que reside na minha alma. Quando tomei consciência desta graça, fui de repente arrebatada para diante do trono de Deus. Oh, como é grande o nosso Senhor e Deus, e como é inconcebível a Sua santidade! Não vou sequer tentar descrever a Sua grandeza, pois em breve todos veremos como Ele é. Comecei então a suplicar a Deus pelo mundo, com palavras ouvidas interior-mente. Quando assim rezava, vi a impossibilidade do anjo continuar a executar aquele justo castigo, merecido por causa dos pecados. Nunca tinha rezado com tanta força inte-rior como naquela ocasião. As palavras com que suplicava a Deus eram as seguintes: “Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso amado filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, pelos nossos pecados e os pecados de todo o mundo. Pela Sua dolorosa paixão, tende misericórdia de nós.”

(Diário N.º 474-475).

Como se recita o Terço da Divina Misericórdia?Jesus ensinou, com todos os pormenores, como deve ser feita esta oração:

“Recitá-lo-ás...como o Rosário habitual, da seguinte forma:

Primeiro, um “Pai Nosso” e uma “Ave Maria” e o “Credo”,

a seguir – nas contas do Pai-Nosso – as palavras:

“Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso muito amado filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos pecados de todo o mundo.

As palavras deste terço foram ditadas por Jesus à Ir. Faustina Kowalska durante uma visão impressionante a 13 e 14 de Setembro de 1935 em Vilna.

TERÇO DA DIVINA MISERICÓRDIA

43ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

Nas contas pequenas rezarás da seguinte forma:

Pela Sua dolorosa paixão, tende misericórdia de nós e de todo o mundo.

No fim, rezarás três vezes estas palavras:

Deus santo, Deus forte, Deus imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro”

(Diário N.º 476).

Uma vez, a Ir. Faustina ouviu na sua alma as seguintes palavras:

“Quem recitar o terço da Divina Mise-ricórdia receberá a minha grande mise-ricórdia na hora da sua morte. Os sacer-dotes o recomendarão aos pecadores como a última tábua de salvação. Ainda que o pecador seja o mais endurecido, se recitar este Terço uma só vez, alcançará a graça da Minha infinita misericórdia. Desejo que todo o mundo reconheça a Minha misericórdia.

Desejo conceder graças insondáveis às almas que confiarem na Minha misericórdia.”

(Diário N.º 687)

44 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

Este santo é o fundador dos claretianos, a ordem missionária mais importante de Espanha no séc. XIX, Arcebispo de Santiago de Cuba e, poste-riormente, confessor da rainha Isabel de Espanha, bem como orientador espiritual de Santa Micaela do Ssmo. Sacramento. Como grande figura da história da Igreja de Espanha do seu tempo, assim escreveu:

“Foi no dia 26 de Agosto de 1861. Eu rezava o Rosário em La Granja e, ao final da tarde, pelas sete horas, realizei aí a minha adoração. O Senhor concedeu-me então a grande graça de as espécies sacramentais terem permanecido no meu peito, de forma que noite e dia trago comigo o Altíssimo. Tenho pois de estar sempre muito recolhido e crescer cada vez mais profun-damente na vida de graça.”

Guia para um diálogo com o Senhor eucarístico por Sto. António Maria Claret

UM QUARTO DE HORA DIANTE DO ALTÍSSIMO

No diálogo “um quarto de hora diante do altíssimo”, Sto. António Maria Claret deixa Jesus falar a cada alma pessoalmente:“Não é preciso saberes muito para me agradares, basta que ames a Mim próprio. Fala pois coMigo com a simplicidade com que falarias com o teu amigo mais próximo.

Tens alguma coisa a pedir-Me por alguém?Diz-me o seu nome e o que Eu poderia fazer agora por ele.Pede muito! Não hesites em pedir. Fala-Me também com simplicidade e sinceridade dos pobres que queres consolar; dos doentes que vês sofrer; dos desencaminhados que desejas ardente-mente que regressem ao caminho certo. Por todos eles, diz-me pelo menos uma palavra.

E para ti, não precisas de alguma graça para ti?Diz-Me francamente que talvez sejas orgulhoso, egoísta, inconstante, negligente ... e pede-Me depois que venha em teu auxílio nos poucos ou muitos esforços que fazes para te libertares disso. Não tenhas vergonha! Há muitos justos, muitos santos no Céu que tiveram exactamente os mesmos defeitos. Mas pediram com humildade ... e pouco a pouco foram-se vendo livres deles.Não hesites também em pedir saúde, bem como uma saída feliz para os teus trabalhos, negócios ou estudos. Tudo isto te posso dar, e dou-te. E desejo que Mo peças, desde que não seja contra

45ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

a tua santificação, mas que te beneficie e apoie. E de que precisas hoje mesmo? Que posso Eu fazer por ti? Se tu soubesses como desejo tanto ajudar-te!

Tens contigo algum plano?Então, conta-Me. Que te preocupa? O que pensas? O que desejas? O que posso fazer pelo teu irmão, tua irmã, teus amigos, tua família, teus superiores? O que gostarias que fizesse por eles? E em relação a Mim: Não desejas que Eu seja glorificado? Não gostarias de poder fazer algum bem aos teus amigos, que talvez ames muito, mas que talvez vivam sem pensarem em Mim? Diz-Me: O que desperta hoje em especial a tua atenção? O que desejas ardentemente? De que meios dispões para o conseguir? Conta-Me se algum empreendimento te corre mal, e Eu te direi as razões do insucesso. Não gostavas de Me conquistares para ti?

Sentes-te talvez triste ou de mau humor?Conta-Me com todo o pormenor o que te faz triste. Quem te magoou? Quem feriu o teu amor próprio? Quem te desprezou? Conta-me tudo, e em breve chegarás a ponto de Me dizeres que, seguindo o Meu exemplo, tudo perdoas, tudo esqueces. Como recompensa, receberás a Minha bênção reconfortante. Terás medo, talvez? Sentes na tua alma uma melancolia indefinida, que é na verdade injustificada, mas que apesar disso não acaba, que te destroça o coração? Lança-te na providência dos Meus braços! Eu estou contigo, do teu lado. Vejo tudo, oiço tudo, e nem por um momento te abandono. Sentes a relutância entre as pessoas, que antes gostavam de ti e que se afastam de ti sem que tu lhes tenhas dado o mínimo motivo? Pede por elas e Eu as recondu-zirei para junto de ti se elas não forem impedimento para a tua santificação.

E não terás a comunicar-Me alguma alegria?Porque não Me deixas participar dessa alegria, dado que sou teu amigo? Conta-me aquilo que desde a última visita que Me fizeste confortou o teu coração e te fez sorrir. Talvez tenhas expe-rimentado agradáveis surpresas; talvez tenhas recebido boas notícias, uma carta, um sinal de afecto; talvez tenhas superado uma dificuldade, tenhas saído de uma situação sem saída. Tudo isto é obra Minha. Só tens que me dizer simplesmente: Obrigado, Meu Pai!

Não queres prometer-Me nada?Leio no fundo do teu coração. É fácil enganar os homens, mas não a Deus. Fala pois coMigo com toda a sinceridade. Estás firmemente decidido a nunca mais te expores àquela ocasião de pecado, a renunciar àquele objecto que te prejudica, a deixar de ler aquele livro que provocou a tua imaginação, a deixar de falar com aquela pessoa que perturba a paz da tua alma? Queres voltar a ser gentil, amável e complacente para essa outra pessoa que até agora consideravas hostil porque te tratou mal?Muito bem, regressa agora à tua ocupação habitual, ao teu trabalho, à tua família, ao teu estudo. Mas não te esqueças do quarto de hora que ambos passámos aqui. Guarda, na medida em que possas, silêncio, modéstia, recolhimento interior, amor ao próximo. Ama a Minha Mãe, que também é tua.E volta com um coração ainda mais cheio de amor, ainda mais devoto do Meu espírito. Se o fizeres, cada dia no Meu coração encontrarás novo amor, novos benefícios, novas consolações.”

Publicado pelo Secretariado Pastoral da Arquidiocese de Viena 1988.

46 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

O SACERDOTE E A MÃE ESPIRITUAL DOS SACERDOTES SEGUNDO O MODELO DE JESUS E MARIA

Para a actual situação da Igreja num mundo secularizado, onde com frequência se torna evidente uma crise de fé, o papa, os bispos, os sacerdotes e os crentes procuram uma solução. Nesta crise, torna-se cada vez mais visível que a verdadeira solução reside na renovação interior dos sacerdotes e, neste contexto, a chamada “maternidade espiritual dos sacerdotes” adquire um especial signifi-cado. Através deste “ser mãe espiritual”, as mulheres e mães tomam parte da maternidade universal de Maria que, sendo Mãe do Eterno Sumo Sacerdote, é também Mãe de todos os sacerdotes de todos os tempos.

Se já na vida natural a criança é acolhida, dada à luz, alimentada e cuidada pela sua mãe, este pensamento muito mais se aplica à vida espiritual: por detrás de todos os sacerdotes encontra-se uma mãe espiritual, que suplicou a Deus a sua vocação, que os traz ao mundo entre dores espirituais e que os “alimenta”, oferecendo como dádiva a Deus tudo o que no decurso do dia faz, para que se tornem sacerdotes santos, sacer-dotes fiéis à sua identidade específica e às suas funções específicas.

Quem pode ser uma mãe espiritual dos sacerdotes?Para ser mãe espiritual de sacerdotes, uma mulher não precisa de ser mãe física de um sacerdote. Independentemente da idade e estrato social, todas as mulheres podem tornar-se mães espirituais dos sacerdotes, ou seja, mulheres solteiras, mães de família,

viúvas, religiosas e consagradas e, sobretudo, aquelas que oferecem o seu sofrimento por amor. Até a uma criança que não sabia ler nem escrever, a bem-aventurada Jacinta de Fátima, agradeceu o próprio Papa João Paulo II, a 13 de Maio de 2000, pelo seu auxílio na sua vocação pastoral universal: “Exprimo também a minha gratidão à beata Jacinta pelos sacrifícios e orações que ofereceu pelo Santo Padre, que ela tinha visto em grande sofrimento.”

Naturalmente que os homens não ficam de forma alguma excluídos da ajuda pelas voca-ções e pela santificação dos sacerdotes; pois temos todos a vocação de colaborarmos neste processo! Neste tempo presente, é necessário mais do que nunca todo o nosso apoio para que os sacerdotes se santifiquem na fidelidade à sua vocação.

De que forma uma mãe espiritual ajuda os sacerdotes?Para quem se decidiu interiormente: “Desejo oferecer a minha vida inteira a Deus pela santificação dos sacerdotes!”, não é natural-mente possível estar sempre a pensar concre-tamente nesta maternidade espiritual. Isso é Jesus que assume, a quem, por exemplo, uma mãe de família oferece, como dádiva espiritual aos sacerdotes, o seu quotidiano, com todos os seus deveres e renúncias.Até mesmo uma breve oração no momento da Sagrada Comunhão, feita deliberadamente por um sacerdote, é uma dádiva concreta; ou quando se passa em recolhimento uma hora

47ADORAÇÃO EUCARÍSTICA - pela santificação dos sacerdotes e Maternidade espiritual

junto de Deus, diante do Santíssimo, se reza o terço e se Lhe oferece este tempo de oração pelos sacerdotes, os quais, na actual falta de sacerdotes, estão tantas vezes sobrecarre-gados com tarefas pastorais e administrativas, que julgam não ter mais tempo para a oração pessoal e silenciosa.

Ajudas particularmente valiosas pela vida de um sacerdote são naturalmente os sacrifícios espirituais: quando uma mãe espiritual dos sacerdotes, por exemplo, renuncia delibe-radamente a viver a experiência de se sentir amada por Deus ou a afastar-se da oração sem consolo, para que um sacerdote possa viver de forma sensível este amor e este consolo; ou quando suporta com amor a solidão

e a aridez, humilhações e ofensas, provações e tentações do mundo, que também os sacer-dotes muito bem conhecem, em seu lugar. Também suportar uma doença ou uma dor física, no espírito da fé e com paciência, pode tornar-se uma preciosa fonte de graças para os sacerdotes.

Os comoventes exemplos de mães consagradas aos sacerdotes, descritos nesta brochura, devem encorajar-nos a acreditar, de forma muito mais viva, no poder da maternidade espiritual pelos sacerdotes, invisível mas inteiramente real. Mostram que a oração e os sacrifícios ocultos feitos por amor e em atitude sobrenatural possuem um efeito poderoso e passível de ser sentido pelos sacerdotes.

“CADA VOCAÇÃO SACERDOTAL... PASSA PELO CORAÇÃO DE UMA MÃE!”

S. PIO X

Cada sacerdote é precedido de uma mãe que não raro se tornou também mãe para a vida espiritual dos seus filhos. Giuseppe Sarto, por exemplo, o futuro Papa Pio X, logo após a sua consagração como bispo, visitou a sua mãe septuagenária. Respeitosamente, beijou o anel do seu filho, mas logo após ficou repentinamente pensativa

e mostrou a Giuseppe a sua aliança de casamento em prata e gasta pelo trabalho: “É verdade, Seppi, mas não usarias hoje o teu anel se eu não tivesse primeiro usado a minha aliança.” Ao que Pio X retorquiu, confirmando: “Toda a vocação sacerdotal brota do coração de Deus, mas passa pelo coração de uma mãe!”

48 C O N G R E G A Ç Ã O PA R A O C L E R O

A Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) é uma Organização Pública Universal Dependente da Santa Sé em estreita colaboração com as Conferências Episcopais de cada país e com os Bispos Diocesanos. Foi fundada em 1947 pelo R.P. Werenfried van Straaten, o. praem., inspirado na mensagem de Fátima, após a Segunda Guerra Mundial, para ajudar os milhões de refugiados da Alemanha de Leste que fugiam da ocupação comunista.

Organização essencialmente pastoral, não cessa de ajudar a Igreja, onde quer que seja perseguida, refugiada e ameaçada, em mais de 150 países. A AIS apoia todos os anos cerca de 8.000 projectos em todo o mundo: na América Latina, na África, na Ásia e também na Europa de Leste e Ocidente, onde quer que

a Igreja enfrente dificuldades. Os desafios são múltiplos: totalitarismo de esquerda ou de direita, fanatismo religioso, multiplicação de seitas, materialismo, falta de sacerdotes.

Como dizia João Paulo II aos delegados da AIS reunidos em Roma: ( ) nem toda a gente ouve esses cristãos que sofrem em silêncio Vós actuais, recolheis ofertas, enviais ajudas que levam, aos que esperam, a certeza de que os seus irmãos na fé conhecem as suas neces-sidades e não os abandonam Esta caridade concreta e multiforme é um testemunho indis-pensável em todas as épocas, sobretudo na nossa. É este o trabalho da AIS, graças à ajuda de mais de 700.000 benfeitores que dão regu-larmente apoio com as suas ofertas generosas.

AJUDA À IGREJA QUE SOFRE UMA ORGANIZAÇÃO AO SERVIÇO DA IGREJA

Para mais informações, contacte a Fundação AIS e ser-lhe-á enviada documentação gratuita.

R. Prof. Orlando Ribeiro, 5D 1600-796 LISBOA

Tel.: 217 544 000 | Fax: 217 544 001

Domus Pater Werenfried Rua Francisco Marto, 205 2495-448 Fátima

Tel.: 249 534 956

[email protected]