CONHECIMENTO, ATITUDE E PRÁTICA SOBRE O...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO
CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM
ANGELA BEATRIZ DE CASTRO LIMA
CONHECIMENTO, ATITUDE E PRTICA SOBRE O
PROCESSO DE DOAO DE RGOS E TECIDOS ENTRE
PROFISSIONAIS DE SADE
VITRIA
2018
ANGELA BEATRIZ DE CASTRO LIMA
CONHECIMENTO, ATITUDE E PRTICA SOBRE O
PROCESSO DE DOAO DE RGOS E TECIDOS ENTRE
PROFISSIONAIS DE SADE
Dissertao apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Enfermagem do
Centro de Cincias da Sade da
Universidade Federal do Esprito Santo,
como requisito parcial para obteno do
ttulo de Mestre em Enfermagem.
rea de Concentrao: Sade e
Enfermagem. Linha de pesquisa: O cuidar
em enfermagem no processo de
desenvolvimento humano.
Orientadora: Prof. Dra. Mirian Fioresi
Coorientadora: Prof. Dra. Lorena Barros
Furieri
VITRIA
2018
Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Esprito Santo, ES, Brasil)
Bibliotecria: Silvana Lyra Vicentini Mourrahy CRB-6 ES-000148/O
Lima, Angela Beatriz de Castro, 1988- L732c Conhecimento, atitude e prtica sobre o processo de doao
de rgos e tecidos entre profissionais de sade / Angela Beatriz de Castro Lima. 2018. 100 f. : il.
Orientador: Mirian Fioresi. Coorientador: Lorena Barros Furieri. Dissertao (Mestrado Profissional em Enfermagem)
Universidade Federal do Esprito Santo, Centro de Cincias da Sade.
1. Transplante de rgos, tecidos, etc. 2. Doao de rgos, tecidos, etc. 3. Atitudes em relao a sade. 4. Enfermagem. I. Fioresi, Mirian. II. Furieri, Lorena Barros. III. Universidade Federal do Esprito Santo. Centro de Cincias da Sade. IV. Ttulo.
CDU: 61
ANGELA BEATRIZ DE CASTRO LIMA
CONHECIMENTO, ATITUDE E PRTICA SOBRE O
PROCESSO DE DOAO DE RGOS E TECIDOS ENTRE
PROFISSIONAIS DE SADE
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem do
Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo, como
requisito final para obteno do grau de Mestre em Enfermagem, na rea de
concentrao Sade e Enfermagem e na linha de pesquisa o cuidar em enfermagem
no processo de desenvolvimento.
Aprovada em 20 de fevereiro de 2018
COMISSO EXAMINADORA
___________________________________________________ Prof. Dra. Mirian Fioresi Universidade Federal do Esprito Santo - Centro de Cincias da Sade Orientadora ____________________________________________________ Prof. Dra. Lorena Barros Furieri Universidade Federal do Esprito Santo - Centro de Cincias da Sade Coorientadora ____________________________________________________ Prof. Dr. Bruno Henrique Fiorin Universidade Federal do Esprito Santo - Centro Universitrio Norte do Esprito Santo - So Mateus Membro Externo ____________________________________________________ Prof. Dra. Walckiria Garcia Romero Sipolatti Universidade Federal do Esprito Santo - Centro de Cincias da Sade Membro Interno ____________________________________________________ Prof. Dra. Andressa Bolsoni Lopes Universidade Federal do Esprito Santo - Centro de Cincias da Sade Suplente Externo ____________________________________________________ Prof. Dra. Eliane de Ftima Almeida Lima Universidade Federal do Esprito Santo - Centro de Cincias da Sade Suplente Interno
AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus, por esta conquista em minha vida.
Agradeo a meu pai e minha me, pelos ensinamentos e por sempre
incentivar meus sonhos.
Ao meu esposo Fernando, pelo amor e dedicao ao nosso casamento.
Nesses dois anos de aprendizado, seu apoio e compreenso foram essenciais para
mim.
minha irm Ana Paula, por vibrar com todas as minhas conquistas.
Aos amigos que entenderam minha ausncia nesse tempo dedicado aos
estudos.
minha orientadora, Professora Doutora Mirian Fioresi, pela dedicao
exemplar docncia, pela pacincia nos momentos de aflio, pelo
compartilhamento de conhecimento e pela ateno prestada para que tudo
ocorresse da melhor forma possvel.
minha coorientadora, Professora Doutora Lorena Barros Furieri, pelo
acolhimento a cada orientao e por estar sempre disponvel e atenta desde o incio
dessa jornada de estudos.
Aos professores que aceitaram compor a banca de mestrado, por suas
contribuies para o refinamento desta pesquisa.
coordenadora da Central de Transplantes do Esprito Santo, MSc. Raquel
Matiello, que apoiou o desenvolvimento deste trabalho desde o incio.
Aos enfermeiros e colegas de trabalho da Central de Transplantes do Esprito
Santo, que aceitaram o convite para participarem de parte desta pesquisa, elevando
a valia e a seriedade do contedo aqui produzido.
Aos profissionais de sade que integram as CIHDOTTs, por participarem da
pesquisa e proporcionarem a realizao deste estudo.
Educao no transforma o mundo. Educao muda as pessoas.
Pessoas transformam o mundo.
(Paulo Freire)
RESUMO
Introduo: O processo de doao de rgos e tecidos necessita do envolvimento de vrios profissionais da sade. Os profissionais integrantes das Comisses Intra-Hospitalares de Doao de rgos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTTs) dedicam-se conduo do processo de doao e orientao sobre a manuteno do potencial doador (PD) de rgos e tecidos, por isso necessrio estudar como tais profissionais entendem as fases desse processo. Objetivo: Analisar o conhecimento, a atitude e a prtica sobre o processo de doao de rgos e tecidos entre os profissionais atuantes nas CIHDOTTs. Mtodos: Esta dissertao constituda de dois estudos interdependentes: um estudo metodolgico para a construo e validao de face e contedo de um questionrio (CAP) Conhecimento, Atitude e Prtica; e um estudo analtico do tipo CAP. No estudo metodolgico a populao foi formada pelos juzes que participaram do processo de validao de face e contedo do questionrio elaborado.Foram 9 juzes com pelo menos um ano de atuao na Central de Transplantes de um estado da regio Sudeste do Brasil. No estudo analtico a populao foi composta por 34 profissionais de sade, com nvel superior e atuao regulamentada nas CIHDOTTs. A pesquisa foi realizada em duas reunies realizadas pela Central de Transplantes no perodo de Junho a Setembro de 2017 onde todos os profissionais foram convidados a participar. Resultados: Foi elaborado um questionrio de 25 questes, todas alcanaram IVC> 0,79 aps avalio dos juzes, e foram divididas em conhecimento, atitude e prtica. O questionrio apresenta 10 questes sobre conhecimento com valor de 1,0 ponto cada, 10 sobre atitude tambm com valor de 1,0 ponto cada e 5 sobre prtica com valor de 2,0 pontos cada. Aps a coleta de dados, constatou-se maior adequabilidade dos profissionais quanto atitude e menor quanto ao conhecimento sobre a captao de rgos para transplantes. Os profissionais com especializao na rea e os que se sentem preparados obtiveram maiores escores de conhecimento e prtica; j aqueles com duplo vnculo empregatcio apresentaram escores menores de atitude; e aqueles com formao para atuao na Comisso e que no apontaram empecilhos para a conduo do processo apresentaram pontuaes superiores no parmetro Prtica. Os escores conhecimento e prtica apresentam correlao positiva moderada. Concluso: Foi possvel construir um questionrio do tipo CAP, com evidncias de validao de face e contedo, assim como aplic-lo para avaliao dos profissionais das CIHDOTTs. Produto: O estudo resultou em uma tecnologia gerencial em forma de instrumento avaliativo com o propsito de subsidiar aes de qualificao do processo de trabalho das CIHDOTTs estaduais e possveis intervenes nos processos de trabalho, podendo ser utilizado para autoconhecimento e tambm a nvel de gesto, elucidando o que estes profissionais sabem, pensam e como agem perante o processo de doao de rgos e tecidos. Aps a defesa final foi enviado processo Secretaria de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional para obteno do nmero de registro da obra de autoria das autoras.
Palavras Chave: Obteno de Tecidos e rgos; Transplante; Enfermagem; Conhecimentos, Atitudes e Prtica em Sade; Inquritos e questionrios.
ABSTRACT
Introduction: The process of organs and tissues donating requires the involvement of
several health professionals. The professionals involved in the Intra-Hospital Organ
and Tissue Donation and Transplant Commissions (CIHDOTTs) are dedicated to
conducting the donation and orientation process on the maintenance of the potential
donor (PD) of organs and tissues, so it is necessary to study how such professionals
understand the stages of this process. Objective: To analyze the knowledge, attitude
and practice about the process of donation of organs and tissues among
professionals working in CIHDOTTs. Methods: This dissertation consists of two
interdependent studies: a methodological study for the construction and validation of
face and content of a questionnaire about Knowledge, Attitude and Practice; and an
analytical study. In the methodological study the population was formed by the
judges who participated in the process of validation of the face and content of the
questionnaire elaborated. There were 9 judges with at least one year of performance
in the Transplant Center of a state in the southeastern region of Brazil. In the
analytical study, the population was composed of 34 health professionals, with a
higher level and regulated performance in CIHDOTTs. The research was conducted
in two meetings held by the Transplant Center from June to September 2017 where
all professionals were invited to participate. Results: A questionnaire of 25 questions
was elaborated, all of them reached a CVI> 0.79 after judges' evaluation, and were
divided into knowledge, attitude and practice. The questionnaire presents 10
questions about knowledge with a value of 1.0 points each, 10 on attitude also with
value of 1.0 point each and 5 on practice with value of 2.0 points each. After the data
collection, it was verified that the professionals were more adaptable regarding the
attitude and less about the knowledge about the organ harvesting for transplants.
Professionals with specialization in the area and those who feel prepared have
obtained higher scores of knowledge and practice; already those with double
employment bond presented smaller scores of attitude; and those with training for
action in the Commission and who did not indicate obstacles to the conduct of the
process presented higher scores in the Practice parameter. The knowledge and
practice scores present moderate positive correlation. Conclusion: It was possible to
construct a CAP-type questionnaire, with evidence of face and content validation, as
well as to apply it to the evaluation of CIHDOTT professionals. Product: The study
resulted in a managerial technology in the form of an evaluation instrument with the
purpose of subsidizing actions of qualification of the work process of the state
CIHDOTTs and possible interventions in the work processes, being able to be used
for self-knowledge and also at management level, elucidating what these
professionals know, think and how they act in the process of donating organs and
tissues. After the final defense, a case was sent to the Copyright Office of the
National Library to obtain the registration number of the work authored by the
authors.
Key Words: Obtaining Tissues and Organs; Transplant; Nursing; Knowledge, Attitudes and Practice in Health; Surveys and questionnaires.
LISTA DE SIGLAS
ABTO
CET
CFM
CIHDOTT
Associao Brasileira de Transplante de rgos
Central Estadual de Transplantes
Conselho Federal de Medicina
Comisses Intra-Hospitalares de Doao de rgos e Tecidos para Transplante
CNT
COFEN
DOU
Central Nacional de Transplantes
Conselho Federal de Enfermagem
Dirio Oficial da Unio
FAEC
IML
CAP
IVC
LILACS
MDSNC
ME
MEDLINE
MS
OPO
PCR
PD
PET-SADE
PMP
RBT
SNC
SNT
SUS
TCLE
UFES
UFJF
UTI
Fundos de Aes Estratgicas e Compensao
Instituto Mdico Legal
Conhecimento, Atitude e Prtica
ndice de Validade de Contedo
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias de Sade
Medicamentos Depressores do Sistema Nervoso Central
Morte Enceflica
Literatura Internacional em Cincias da Sade e Biomdicas
Ministrio da Sade
Organizao de Procura de rgos
Parada Cardaca Respiratria
Potencial Doador
Programa de Educao pelo Trabalho - Sade
Por milho de populao
Revista Brasileira de Transplante
Sistema Nervoso Central
Sistema Nacional de Transplante
Sistema nico de Sade
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Universidade Federal do Esprito Santo
Universidade Federal de Juiz de Fora
Unidade de Terapia Intensiva
SUMRIO
1 INTRODUO ........................................................................................... 11
1.1 Temporalidade da Autora ........................................................................... 11
1.2 Problematizao ......................................................................................... 12
2 REFERENCIAL CONCEITUAL .................................................................. 16
2.1 A Legislao do Transplante no Brasil ....................................................... 16
2.2 Notificao, Captao e Distribuio de rgos e tecidos ......................... 20
2.3 Aspectos Epidemiolgicos .......................................................................... 25
2.4 Comisso Intra-Hospitalar de doao de rgos e tecidos para Transplante ................................................................................................................... 27
2.5 Conhecimento, Atitude e Prtica CAP ..................................................... 29
3 OBJETIVOS ............................................................................................... 31
3.1 Geral ........................................................................................................... 31
3.2 Especficos ................................................................................................. 31
4 METODOLOGIA ....................................................................................... 312
4.1 Delineamento da Pesquisa ......................................................................... 32
4.1.1 ESTUDO METODOLGICO .................................................................... 32
4.1.2 ESTUDO ANALTICO ............................................................................... 35
4.2 Aspectos ticos .......................................................................................... 37
5 RESULTADOS ........................................................................................... 38
5.1 Artigo 1 ....................................................................................................... 39
5.2 Artigo 2 ....................................................................................................... 40
5.3 Produto ....................................................................................................... 41
6 CONCLUSO ............................................................................................. 44
REFERNCIAS ......................................................................................................... 45
ANEXOS ................................................................................................................... 53
ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA JUZES ....................................................................................................... 53
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 56
ANEXO C PRODUTO E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS............... 59
APNDICES .............................................................................................................. 63
APNDICE A PARECER CEP ......................................................................... 63
11
1 INTRODUO
1.1 Temporalidade da Autora
Meu caminho acadmico teve incio quando ingressei na Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 2006, onde tive o privilgio de estar cercada de
bons professores e tima estrutura acadmica. Perpassei por aulas curriculares, fui
monitora, participei de projetos de pesquisa e extenso, fui bolsista do Programa de
Educao pelo Trabalho (PET-SADE) e terminei minha graduao em
Enfermagem no ano de 2010. Tornei-me especialista em Gesto e Planejamento de
Servios e Sistemas de Sade pela mesma instituio pblica de ensino em 2012.
Durante minha trajetria profissional, percorri os caminhos da assistncia
hospitalar e da sade pblica. Debrucei-me mais a fundo nos conhecimentos acerca
da enfermagem sanitarista e comunitria, pois atuei 4 anos (dos 6 anos de formada)
em Unidades de Sade Tradicional e de Estratgia de Sade da Famlia.
Ao ser empossada em novo emprego, atravs do concurso pblico da
Secretaria Estadual de Sade do Esprito Santo, em janeiro/2016, aceitei o desafio
de trabalhar na Central Estadual de Transplantes (CET-ES), que responde como
Ncleo de Regulao.
Muitas novidades e inquietaes passaram a me acompanhar neste perodo
de adaptao e muito estudo para aporte tcnico e terico. A insero em um campo
de trabalho to especfico e nobre traz reflexes sobre o que se pode fazer para
contribuir de maneira efetiva.
Nos cenrios nacional e estadual, os nmeros indicam uma fila de espera
grande e inversamente proporcional ao nmero de transplantes realizados,
mostrando que o nmero de doadores de rgos e tecidos ainda insuficiente para
suprir essa demanda, que se configura como a nica de chance de vida de muitos
brasileiros.
Todo o conhecimento que envolve esse campo de trabalho de extrema
importncia para qualificar a atuao do enfermeiro ante a equipe multiprofissional.
Ao desenvolver um papel tcnico e ativo, ele fornece informaes cientficas e
defende preceitos ticos que visam tornar a experincia da identificao do potencial
doador at o transplante mais eficaz.
12
1.2 Problematizao
O transplante de rgos e tecidos a ltima alternativa teraputica para
pacientes com doenas crnicas incurveis, revelando um cenrio de sucesso para
a equipe de sade e para o paciente, pois direciona a chances reais de recuperao
o que antes era impossvel.
Cerca de 250 brasileiros aguardam um novo corao. So pessoas que
precisam passar pelo transplante do rgo, pois so vtimas de miocardiopatias
primrias ou decorrentes da evoluo de doena isqumica, valvar, congnita, entre
outras. O transplante cardaco o tratamento indicado quando procedimentos
intervencionistas ou mesmo cirurgias no so suficientes para melhorar a qualidade
ou prolongar a vida da pessoa (ABTO, 2002; ABTO, 2017).
J em fila de espera por um fgado, esto os pacientes com doena heptica
crnica avanada, falncia heptica fulminante e doena heptica metablica
congnita. De uma maneira geral, o transplante heptico est reservado aos
portadores de insuficincia heptica crnica terminal, com expectativa de vida
inferior a 20% ao final de 12 meses, se no forem transplantados; e naqueles cuja
progresso da doena heptica, se no transplantados, resulte em mortalidade que
exceda aquela decorrente do prprio transplante. Atualmente, 1.235 receptores
esto inscritos no cadastro brasileiro aguardando por este rgo (MARRONI et al.,
2003; ABTO, 2017).
Para tratamento da insuficincia renal crnica terminal, o transplante constitui-
se como a melhor alternativa de tratamento, devendo ser oferecido a todos os
indivduos urmicos que no apresentem contraindicaes para o procedimento, que
tenham o desejo de submeter-se ao transplante, aps o esclarecimento de seus
riscos e benefcios, e que estejam inscritos na lista nica de espera por um rim, que
consta com 20.595 candidatos a receptores no Brasil (MANFRO; CARVALHAL,
2003; ABTO, 2017).
Por ser o transplante uma alternativa teraputica para doenas crnicas em
fase final, fundamental que se conheam a etiologia da doena de base e os
fatores prognsticos envolvidos. Alm disso, necessrio que se identifiquem
contraindicaes absolutas ou relativas ao procedimento, bem como haja o
13
esclarecimento do receptor para os riscos e benefcios envolvidos nesse processo
(MARRONI et al., 2003; MANFRO; CARVALHAL, 2003; BRASIL, 2017a).
Para os outros rgos e tecidos, as principais indicaes esto compiladas no
quadro abaixo:
Quadro 1 - Principais indicaes para transplante de rgos e tecidos. Vitria, ES, Brasil, 2018
rgos e Tecidos Principais indicaes de transplante
Pulmo Portadores de doenas pulmonares crnicas por fibrose ou enfisema
Pncreas Diabticos Tipo I e doena renal associada
Crneas
Portadores de ceratocone, ceratopatia bolhosa, infeco ou trauma de
crnea
Medula ssea Portadores de leucemia, linfoma e aplasia de medula
Osso Pacientes com perda ssea por certos tumores sseos ou trauma
Pele Pacientes com grandes queimaduras
Fonte: Adaptada de ABTO, 2002
Os procedimentos podem ser realizados a partir de doador vivo (rim, medula
ssea, fgado e pulmo) e o mais comum a partir de doador morto.
considerado doador morto aquele indivduo com diagnstico de parada
cardiorrespiratria (PCR) irreversvel (como na doao de crneas e ossos) ou por
morte enceflica (ME) (nos casos de corao, pulmo, fgado, pncreas e rim)
(VILLAS-BAS, 2011). Este trabalho dar enfoque aos processos de doao de
rgos e tecidos a partir de doadores mortos com diagnstico de ME.
O diagnstico de ME regulamentado pela Resoluo n 2.173/17 do
Conselho Federal de Medicina (CFM) e definido como a parada total e irreversvel
da atividade do tronco e dos hemisfrios cerebrais (BRASIL, 2017a).
A primeira regulamentao do referido diagnstico foi a Resoluo n 1.480,
de 1997. Recentemente o Conselho Federal de Medicina publicou uma nova
resoluo, a de n 2.173/2017, com algumas atualizaes, passando a vigorar em
todo o territrio nacional. Mesmo com os esforos de divulgao e as capacitaes
desenvolvidas por rgos pblicos, a ME ainda no bem entendida pela populao
em geral, estudantes e profissionais. A desinformao quanto aos aspectos ticos e
legais de seu diagnstico gera atitudes incoerentes e estresse dos profissionais que
atuam com pacientes crticos (BITTENCOURT et al., 2007; GUIDO et al., 2009).
Procedimentos sistematizados e com rigor tcnico e tico possibilitam a
converso de um Potencial Doador em Doador Efetivo, cujo caminho permeado
14
pela manuteno das funes vitais para disponibilizao dos rgos ao transplante.
Para tanto, necessria uma equipe treinada para identificar possveis pacientes em
ME, reconhecer alteraes fisiolgicas e atuar na estabilizao dos Potenciais
Doadores para viabilidade dos rgos, assim como garantir infraestrutura
(RODRIGUES et al., 2013, PADILHA et al., 2009).
O processo de doao de rgos e tecidos requer o envolvimento de uma
equipe multiprofissional presente nos mbitos nacional, estaduais e municipais,
atuando na regulao dos protocolos e processos, e na assistncia no ambiente
hospitalar. No mbito nacional, compe o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e
a Central Nacional de Transplantes (CNT). A regulao estadual fica a cargo da
Central Estadual de Transplantes. E, no ltimo cenrio, esto presentes as
CIHDOTTs, que tm essencial atuao, em parceria com a equipe assistencial, na
identificao e notificao do Potencial Doador, na abertura e concluso do
protocolo de ME, na manuteno clnica do doador, no suporte e na entrevista
familiar, na conduo do processo de doao desde a cirurgia de captao at a
entrega do corpo (BRASIL, 2005; ONT, 2011).
As CIHDOTTs esto legalmente institudas desde 2005, em mbito nacional,
atravs da Portaria n 1.752. Em 2009, foi aprovada a Portaria n 2.600, que
apresenta o Regulamento Tcnico do Sistema Nacional de Transplantes, o qual
destina a Seo II organizao das comisses, classificando-as em I, II e III, de
acordo com o nmero de bitos por ano, a equipe intensivista especializada e/ou o
credenciamento para programa de transplante.
Em 2017, foi publicada a Portaria de Consolidao n 4, que, em seu Anexo 1,
apresenta a atual legislao sobre o assunto atravs do agrupamento das
informaes contidas no Regulamento Tcnico do Sistema Nacional de
Transplantes, Portaria n 2.600/2009, sem alterao de contedo no que se refere
CIHDOTT.
Tendo os integrantes das CIHDOTTs como eixo central, em torno do qual
construdo o processo de doao (deteco de Potencial Doador at captao de
rgos e entrega do corpo), necessrio que a equipe seja formada por
profissionais seguros e com um processo de tomada de deciso coerente e pautado
no saber tico, legal e cientfico. (BRASIL, 2005; ONT, 2011).
O conhecimento e a aceitao do diagnstico de ME so necessrios, tanto
pelos profissionais de sade (para identificao e manuteno do Potencial Doador)
15
quanto pela populao (a fim de diminuir o nmero de negativas familiares), visto
que a doao dos rgos e tecidos pode representar a nica ou at a ltima chance
de alternativa teraputica para pacientes com vrios tipos de doenas terminais
(FREIRE et al., 2014).
Para Roza, Odierna e Laselva (2006), importante que a equipe esteja
capacitada para atuar nessa rea, uma vez que o conhecimento dos profissionais
que trabalham com doao de rgos e tecidos um dos fatores que parece estar
relacionado melhoria de sobrevida do paciente (receptor), e at mesmo
viabilidade de enxerto (rgo ou tecido transplantado).
Nesse contexto, emerge a necessidade de realizao deste estudo para um
diagnstico situacional do estado do Esprito Santo.
16
2 REFERENCIAL CONCEITUAL
2.1 A Legislao do Transplante no Brasil
A evoluo da legislao brasileira sobre transplante tem incio com a Lei n
5.479/68, que dispunha sobre captao e transplantes de tecidos, rgos e partes
de cadver para finalidade teraputica e cientfica. Como ponto de destaque, a lei
previa, em seu artigo 4, o princpio de doao presumida:
Indivduos que no tivessem mencionado em seu documento de
identificao a expresso no doador de rgos e tecidos, aps o
diagnstico de morte enceflica, poderiam ter seus rgos removidos para
fins de transplantes, independente da vontade da famlia (BRASIL,1968).
A Constituio Brasileira de 1988 apresenta diretrizes sobre transplantes para
a federao e traz a proibio da comercializao de rgos e tecidos:
A lei dispor sobre as condies e os requisitos que facilitem a remoo de
rgos, tecidos e substncias humanas para fins de transplante, pesquisa e
tratamento, bem como a coleta, o processamento e a transfuso de sangue
e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercializao (BRASIL,
1988).
Em 1997, ocorreu a regulamentao do diagnstico de ME pelo CFM, que a
definiu como situao irreversvel de todas as funes respiratrias e circulatrias ou
cessao irreversvel de todas as funes do crebro, inclusive do tronco cerebral,
sendo consequncia de processo irreversvel e de causa conhecida. Essa condio
essencial para a doao de rgos e tecidos.
Ainda no ano de 1997, a Lei n 9.434 dispe sobre a retirada de rgos,
tecidos e partes do corpo humano com finalidade de transplante, tanto em vida como
post-mortem. Em 2017, essa lei foi regulamentada pelo Decreto n 9.175 a fim de
normatizar a disposio de rgos, tecidos, clulas e partes do corpo humano para
fins de transplante e tratamento normatizando, ento, o setor de transplantes e
organizando o SNT, que, vinculado ao Ministrio da Sade, responsvel pelo
processo de captao e distribuio de rgos, tecidos e partes retiradas do corpo
humano para fins teraputicos (BRASIL, 2017b).
So instncias que integram o SNT: o Ministrio da Sade, as Secretarias de
Sade dos Estados e do Distrito Federal; as Secretarias de Sade dos Municpios;
17
as Centrais Estaduais de Transplantes (CET); a Central Nacional de Transplantes
(CNT); as estruturas especializadas integrantes da rede de procura de rgos,
tecidos, clulas e partes do corpo humano para transplantes; as estruturas
especializadas no processamento para preservao ex situ de rgos, tecidos,
clulas e partes do corpo humano para transplantes; os estabelecimentos de sade
transplantadores; as equipes especializadas; e a rede de servios auxiliares
(BRASIL, 2017a).
O SNT, desde sua criao e diante da legislao em questo, tem como
prioridade evidenciar com transparncia todas as suas aes no campo da poltica
de doao-transplante, visando, primordialmente, confiabilidade do sistema e
assistncia de qualidade ao cidado brasileiro. O Brasil possui, hoje, um dos
maiores programas pblicos de transplantes de rgos e tecidos do mundo (NEVES;
DUARTE; MATTIAS, 2008).
Para normatizao dos recursos financeiros, os repasses so realizados pelo
Fundo de Aes Estratgicas e Compensao (FAEC), que executa o pagamento
direto aos estabelecimentos de sade que atuam no processo de doao-
transplante no pas (BRASIL, 2012).
A poltica nacional de transplantes de rgos e tecidos est fundamentada na
Lei n 9.434/1997 e na Lei n 10.211/2001, e, de acordo com o Sistema nico de
Sade (SUS), tem como diretrizes a gratuidade da doao, a beneficncia em
relao aos receptores e a no maleficncia em relao aos doadores vivos.
Estabelece, tambm, garantias e direitos aos pacientes que necessitam desses
procedimentos e regula toda a rede assistencial mediante autorizaes e
reautorizaes de funcionamento de equipes e instituies (NEVES; DUARTE;
MATTIAS, 2008).
O modelo de doao presumida, adotado anteriormente, no deu certo e aps
amplas discusses, em 2001, ela passou a ser regulamentada pela Lei n 10.211/01,
vigorando at os dias atuais:
A retirada de tecidos, rgos e partes do corpo de pessoas falecidas para
transplantes ou outra finalidade teraputica depender da autorizao do
cnjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessria, reta ou
colateral, at o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por
duas testemunhas presentes verificao da morte (BRASIL, 2001).
18
O Decreto n 9.175/2017 reconhece expressamente a possibilidade de
autorizao da doao pelo companheiro, equiparando-o ao cnjuge, o que at
ento no era possvel.
As portarias n 1.752/05 e 1.262/06 apresentam como objetivo,
respectivamente: a determinao da necessidade de implantao de CIHDOTT em
todos os hospitais com mais de 80 leitos e a seguinte configurao do Regulamento
Tcnico para estabelecimento de atribuies, deveres e indicadores de eficincia e
do potencial de doao de rgos e tecidos relativos s CIHDOTT.
Em 2009, foi aprovada a Portaria n 2.600, de 21 de outubro, que apresenta o
Regulamento Tcnico do Sistema Nacional de Transplantes, aps consulta pblica e
participao de vrios segmentos da populao (comunidade transplantadora,
comunidade tcnico-cientfica, sociedades mdicas, profissionais de sade, gestores
e sociedade em geral) (BRASIL, 2009).
A Portaria n 2.601, de 21 de outubro de 2009, institui, no mbito do SNT, o
Plano Nacional de Implantao das OPOs. No entanto, o Brasil ainda composto
por um sistema misto, pois alguns estados j adotaram o modelo OPO, mas outros
desenvolvem o trabalho pautado nas CIHDOTTs. O estado do Esprito Santo, por
exemplo, desempenha o trabalho de captao de rgos atravs das CIHDOTTs.
Em 2017, foi instituida a Portaria de Consolidao n 4, como forma de
consolidao das normas sobre os sistemas e os subsistemas do SUS, incluindo o
SNT no Sistema Nacional de Sade e revogando a Portaria n 2.600/2009 (BRASIL,
2017).
Tal portaria destina-se a regular o desenvolvimento de toda e qualquer
atividade relacionada utilizao de clulas, tecidos, rgos ou partes do corpo para
fins de transplante em todo o territrio nacional. O contedo dividido em 28 anexos
que abordam os seguintes contedos: Sistema Nacional de Transplantes;
Regimento Interno da Cmaras Tcnicas; Normas gerais para autorizao e
funcionamento de Bancos e Tecidos Humanos; Laboratrio de histocompatibilidade
e imunogentica; Frmula para clculo de MELD e PELD; Situaes especiais para
potenciais receptores; Critrios de classificao dos hepatocarcinomas; Critrios de
Insuficincia Heptica; Tabela de pontuao de receptores em lista; Estatstica
mensal; Formulrios diversos e indicadores; Normas para autorizao de equipes
especializadas e estabelecimentos de sade; Ficha de priorizao por
impossibilidade total de acesso para dilise; Fluxo de informaes, tipificao e
19
cadastro de doadores no REDOME; Termo de consentimento/ autorizao de
realizao de exames/resultados; Orientaes ao doador voluntrio; Nmero
mximo de cadastro de doador voluntrio de medula ssea por Unidade Federativa.
O Dirio Oficial da Unio (DOU) publicou a Resoluo CFM 2.173/17, que
atualiza os critrios para definio da morte enceflica, revogando o texto anterior, a
Resoluo CFM 1.480/97.
Assim, com o arcabouo legal em vigor, fica estabelecida a obrigatoriedade
da observncia do Regulamento Tcnico atual para o desenvolvimento de toda e
qualquer atividade relacionada utilizao de clulas, tecidos, rgos ou partes do
corpo para fins de transplante em todo o territrio nacional. Abaixo, o quadro que
sintetiza essas informaes para melhor entendimento.
Quadro 2 - Sntese das principais legislaes e pontos de destaque apresentados individualmente Vitria, ES, Brasil, 2018
Legislao Pontos de destaque
Lei n 5.479/68 Retirada e transplante de tecidos, rgos e partes de cadver para
finalidade teraputica e cientfica (Art 4: doao presumida)
Constituio Federal 1988 Proibio da comercializao de rgos e tecidos
Resoluo CRM 2.173/2017
revoga a Resoluo CRM
1.480/1997
Parada total e irreversvel das funes enceflicas equivale morte
Lei n 9.434/1997 Normatizao do setor de Transplante e organizao do Sistema
Nacional de Transplantes
Lei n 9.434/1997
Lei n 10.211/2001
Gratuidade da doao; beneficncia em relao aos receptores e
no maleficncia em relao aos doadores;
Garantias e direitos a pacientes que necessitam deste
procedimento;
Regulao de toda rede assistencial; Normatizao do SNT.
Portarias n 1.752/2005 e
1.262/2006
Implantao da CIHDOTT em todos os hospitais com mais de 80
leitos; Atribuies,deveres e indicadores de eficincia.
Portaria de Consolidao n
4/2017 (revoga a Portaria n
2.600/2009)
Regulamento Tcnico do SNT obrigatria a observncia do
disposto no Regulamento Tcnico ora aprovado para o
desenvolvimento de toda e qualquer atividade relacionada
utilizao de clulas, tecidos, rgos ou partes do corpo para fins
de transplante em todo o territrio nacional.
Portaria n 2.601/2009 Plano Nacional de Implantao de Organizao de Procura de
rgos (OPOs)
Portaria n 845/2012 Fundo de Aes Estratgicas e Compensao (FAEC)
Decreto n 9.175/2017 (revoga
o Decreto n 2.268, de 30 de
junho de 1997)
Regulamenta a Lei n 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, para
tratar da disposio de rgos, tecidos, clulas e partes do corpo
humano para fins de transplante e tratamento.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
20
2.2 Notificao, Captao e Distribuio de rgos e tecidos
A Lei n 9434/97, tambm conhecida como Lei dos Transplantes, regula, em
todo o territrio nacional, transplantes ou enxertos de tecidos, rgos ou partes do
corpo humano a serem realizados por estabelecimento de sade, pblico ou privado,
e por equipes mdico-cirrgicas de remoo e transplante previamente autorizados
pelo rgo de gesto nacional do Sistema nico de Sade.
Para aproximao com a temtica, a ltima verso das diretrizes para
avaliao e validao do potencial doador (WESTPHAL et al., 2016) trouxe
definies importantes para o entendimento do processo de doao de rgos e
tecidos, dentre elas:
a) Possvel Doador: paciente que apresenta leso enceflica grave e
necessita de ventilao mecnica;
b) Potencial Doador: a partir do momento em que se inicia (abre) o protocolo
de morte enceflica;
c) Doador Elegvel: paciente com protocolo de ME concludo, sem
contraindicao, com autorizao familiar, mas no ocorre a cirurgia de
captao de rgos;
d) Doador Efetivo: quando se inicia a operao para remoo de rgos;
e) Doador com rgos transplantados: quando pelo menos um dos rgos
captados transplantado.
A Figura 1 apresenta o passo a passo para melhor entendimento das etapas
que envolvem o processo de doao de rgos e tecidos para transplante.
21
Figura 1 - Etapas interdependentes que envolvem o processo de doao de rgos e tecidos para transplante. Vitria, ES, Brasil, 2018. Fonte: Elaborado pelas autoras.
Etapa 1
Identificao do Possvel Doador
Etapa 2
Avaliao e Manuteno do Possvel Doador
Etapa 3
Comprovao da Morte Enceflica e Comunicao famlia do diagnstico de ME
Etapa 4
Notificao Central Estadual de Transplantes (CET)
Etapa 5
Viabilizao do Protocolo pela CET
Etapa 6
Entrevista Familiar
Etapa 7
Autorizao da Doao de rgos e tecidos para transplante
Etapa 8
Sorologia
Etapa 9
Alimenta o Sistema Nacional de Transplante com os dados do Doador pela CET
Etapa 10
Seleo receptores
Etapa 11
Contato com a equipe transplantadora para avaliao
Etapa 12
Aceite estadual e/ou nacional
Etapa 13
Cirurgia de captao
Etapa 14
Entrega do corpo para famlia
Etapa 15
Transplante
22
A identificao de potenciais doadores feita, principalmente, nos hospitais
onde eles esto internados, por meio das CIHDOTTs, nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) e em setores de emergncia em pacientes com o diagnstico de ME,
atravs das buscas-ativas (Etapa 1). As funes da coordenao intra-hospitalar
baseiam-se em organizar, no mbito do hospital, o processo de captao de rgos
e articular-se com as equipes mdicas do hospital e com a CET (BRASIL, 2017b).
A abertura do protocolo de ME inicia-se com a avaliao de pacientes em
estado geral gravssimo, com pontuao 03 na Escala de Coma de Glasgow e causa
do coma definida, devendo ativamente excluir cinco causas frequentemente citadas
na literatura como potenciais mimetizadoras de morte enceflica: (1) uso de drogas
depressoras do SNC; (2) distrbios metablicos graves; (3) hipotermia grave; (4)
hipotenso grave; e (5) drogas ou doenas causadoras de paralisia motora, bem
como iniciar as aes de manuteno do possvel doador (Etapa 2) (MARCON et al.,
2012; WESTPHAL et al., 2016).
Para comprovao do diagnstico de ME, so realizados dois testes clnicos
com intervalo, conforme a faixa etria; e um exame complementar, segundo a
Resoluo CFM 2.173/2017 (Etapa 3), a serem realizados por mdicos diferentes,
que no participem das equipes de transplante. Para tanto, so testados os
seguintes reflexos: fotomotor, crneo-palpebral, culo-ceflico, culo-vestibular,
traqueal e o teste de apneia. Podem ocorrer respostas motoras espontneas (sinal
de Lzaro) durante o teste de apneia e, mais frequentemente, nos episdios de
hipoxemia e hipotenso, os quais so de origem medular e no excluem a ME
(MARCON et al., 2012).
Para a faixa etria de 07 dias a 2 meses incompletos, respeita-se o intervalo
de 24 horas entre o primeiro exame clnico e o segundo exame clnico. De 2 meses
a 24 meses incompletos, 12 horas entre o primeiro exame clnico e o segundo. J
para pacientes acima de 2 anos, deve ser respeitado o intervalo de 1 hora entre as
avaliaes clnicas (CFM, 2017).
A morte enceflica tambm dever ser demonstrada por meio de exame
grfico, a ser realizado a qualquer momento aps o primeiro exame clnico,
caracterizada pela ausncia de fluxo sanguneo no crebro, alm de inatividade
eltrica e metablica cerebral (CFM, 2017).
A partir do momento no qual se suspeite do caso de ME, a famlia deve ser
comunicada a fim de dar transparncia e prestar esclarecimentos sobre o caso
23
especfico do potencial doador. E quando confirmado o diagnstico, este tambm
deve ser comunicado (Etapa 3). Para os autores Galvo et al (2007); e Westin,
Mendes e Victorino (2016), uma equipe profissional segura, com conhecimento
acerca da fisiopatologia da ME, imprescindvel na conduo desses casos. Alm
disso, necessrio notificar o caso CET a fim de regular e garantir a legitimidade
do processo. Tal procedimento est regulamentado no artigo 13 da Lei n
9.434/1997.
So contraindicaes absolutas os portadores de sorologia positiva para HIV I
e II e HTLV I e II; tuberculose em atividade; pessoas com infeces generalizadas e
pessoas com cncer (com exceo daqueles restritos ao sistema nervoso central,
carcinoma basocelular, cncer de tero e doenas degenerativas crnicas) (BRASIL,
2017a).
O caso de morte enceflica notificado CET passa por minuciosa avaliao
clnica e laboratorial para viabilizao do protocolo de ME e posterior entrevista
familiar. Assim, a comisso buscar a autorizao familiar por meio do Termo de
Autorizao de Doao de rgos (Etapas 5, 6 e 7).
Aps a autorizao familiar, o Termo de Autorizao de Doao de rgos
assinado deve ser enviado CET. Tambm faz parte do protocolo de ME a coleta
de material biolgico para sorologia a ser enviado CET, para posterior cadastro do
doador no SNT (Etapas 7, 8 e 9).
A partir do resultado da sorologia, do envio dos dados do potencial doador e
do cadastro do doador no SNT, gerada a Ficha de Informao do Doador, padro
utilizado por todos os estados brasileiros. A partir da, o sistema cruza as
informaes e gera o ranking, mediante o Cadastro Tcnico nico, composto pelo
banco de dados dos receptores (Etapa 9).
O destino dos rgos captados definido pela CET de acordo com as ofertas
estaduais, iniciando-se a oferta de rgos s equipes que contatam seus receptores
no intuito de verificar disponibilidade e condies clnicas. Caso no haja receptores
aptos para o rgo do doador, a CET repassa a oferta para outra esfera, a Central
Nacional de Transplantes (CNT), que distribui o rgo em nvel nacional (Etapas 10,
11 e 12).
As CET desempenham um papel importante no processo de
identificao/doao de rgos. Normatizadas pela Portaria de Consolidao n
4/2017, as atribuies das CET so, em linhas gerais: a inscrio e classificao de
24
potenciais receptores; o recebimento de notificaes de morte enceflica; o
encaminhamento e as providncias quanto ao transporte de rgos e tecidos; a
notificao Central Nacional dos rgos para o redirecionamento para outros
estados; dentre outras (BRASIL, 2017a).
Alguns rgos tm como critrio a compatibilidade antropomtrica e o tempo
de espera, como no caso de corao e pulmo. Os rins so distribudos conforme a
compatibilidade imunolgica e a gravidade do paciente. O fgado distribudo
fundamentalmente pelo tempo em lista. A crnea leva em considerao a
classificao (tectnica ou ptica), o tempo em lista e a idade do doador. As
priorizaes de receptores so casos parte na formulao do ranking (BRASIL,
2017a).
Na etapa 13, aps o aceite do receptor ao rgo disponibilizado, respeita-se o
prazo mximo para que a cirurgia seja feita aps a retirada do rgo, e cada rgo
tem um prazo curto para ser transplantado. As cirurgias de corao e de pulmo so
as mais urgentes e devem ser feitas no prazo de at 4 horas. Depois vm as do
fgado, rim e pncreas, chegando at 12 horas de isquemia fria. A operao dos dois
rins pode ser feita em at 36 horas. J a crnea pode ser transplantada em at 7
dias (BRASIL, 2017a).
O bito constatado aps a realizao do ltimo exame realizado para
constatao da ME. A entrega do corpo para o velrio ocorre aps a captao, no
caso de autorizao de doao, ou logo aps a negativa familiar (Etapa 14) (ABTO,
2002).
A legislao prev que, nos casos em que a doao no for vivel, o suporte
teraputico artificial ao funcionamento dos rgos ser descontinuado, hiptese em
que o corpo ser entregue aos familiares ou instituio responsvel pela
necropsia, nos casos em que se aplique (CFM, 2007; CFM, 2017).
A ltima etapa, de nmero 15, consiste no transplante propriamente dito,
representando a ltima alternativa teraputica segura e eficaz no tratamento de
diversas doenas crnicas incurveis, determinando a nica chance de melhoria na
qualidade e na perspectiva de vida do receptor (ABTO, 2009).
25
2.3 Aspectos Epidemiolgicos
Os transplantes de rgos slidos comearam a ser realizados no Brasil na
dcada de 60. Considerados como medidas teraputicas de eficcia comprovada
para tratamento de inmeras doenas de carter progressivo e incurvel, passaram
a influenciar a perspectiva de tempo e qualidade de vida dos doentes (BACCHELLA;
OLIVEIRA, 2006).
Mesmo com avanos na medicina e aumento do sucesso do transplante na
vida do receptor, o Brasil vem apresentando um quantitativo de transplantes que
pouco varia ao analisarmos a srie histrica dos ltimos trs anos no setor. Dados
retirados do caderno impresso Veculo Oficial da Associao Brasileira de
Transplantes de rgos (ABTO) indicam que, no ano de 2016, foram realizados (em
nmeros absolutos) 22.355 transplantes de rgos e tecidos nos estados brasileiros.
Em 2015 e 2014, respectivamente, foram realizados 21.772 e 20.934 transplantes
em mbito nacional (ABTO, 2016).
No Esprito Santo, o primeiro transplante de rgos foi o renal, datado de
1976, um marco para a poca. Segundo o ltimo compilado realizado pela ABTO
(2017), o Estado ocupa, no ranking de transplantes na modalidade a partir de doador
falecido, os seguintes lugares: para transplante de crnea, ficou em 13 lugar em um
ranking de 25 estados; para transplante heptico, ficou em 11 lugar em um ranking
de 13 estados; para transplante cardaco, ficou em 9 lugar em um ranking de 13
estados; e para transplante renal, ficou em 11 lugar em um ranking de 21 estados
que realizam tal modalidade de transplante.
O ltimo levantamento realizado e publicado pela Revista Brasileira de
Transplantes (ABTO, 2016) revela a necessidade estimada de transplantes e o
quantitativo efetivamente realizado no Esprito Santo, onde se observa que no foi
possvel alcanar os nmeros ideais, como se apresenta abaixo:
Tabela 1 - Apresentao dos dados referentes necessidade estimada de transplantes e ao quantitativo efetivamente realizado no Esprito Santo, Janeiro a Dezembro - 2016. Vitria, ES,
Brasil, 2018
Necessidade anual estimada e n
de transplantes Crnea Rim Fgado Corao Pulmo
Necessidade estimada 354 236 98 31 31
Transplantes realizados 327 82 27 8 0
Fonte: ABTO, 2016
26
Pesquisas revelam que os baixos nmeros de doao efetivada e,
consequentemente, de transplante, devem-se a vrios fatores, dos quais podemos
destacar a complexidade do processo de doao, as falhas na deteco e/ou
notificao da ME, a manuteno inadequada dos potenciais doadores de rgos e
a negativa familiar (LIMA, 2012; SCHIRMER et al., 2007).
A fila de espera nacional composta de 32.066 candidatos (ativos e
semiativos) e obedece a uma crescente ao longo dos anos, enquanto o nmero de
doadores efetivos ainda permanece insuficiente para suprir essa demanda. No
estado do Esprito Santo, esse nmero apresenta um total 1.077 pacientes espera
de um rgo (ABTO, 2017).
Abbud (2006) refere tambm que a disparidade em fila de espera pode
ocorrer devido a vrios fatores, tais como: a baixa remunerao das equipes; a falta
de conhecimento dos profissionais da sade; a dificuldade e o alto custo da
manuteno dos potenciais doadores nas UTIs; e a falta de pessoal treinado para o
processo de entrevista familiar, entre outros.
O ltimo compilado da Revista Brasileira de Transplantes (RBT),
correspondente ao perodo de 2009 a 2016, informa que foram notificados no
Esprito Santo 1464 potenciais doadores, dos quais 24% (352) se converteram em
doadores efetivos, mas 76% no se efetivaram. Ao descrever as causas de no
efetivao, tem-se que 41,5% corresponderam a problemas na manuteno do
potencial doador e na conduo do processo de morte enceflica (461), seguidos
por 34,5% de recusa familiar (384) e 24% de contraindicao mdica (267),
reforando a importncia de uma equipe profissional capacitada frente desse
processo (ABTO, 2016).
Diante do panorama de janeiro-setembro 2017, o estado do Esprito Santo
notificou 169 potenciais doadores, correspondendo a 56,7 por milho de populao
(pmp)/ano. Destes, 32 se tornaram doadores efetivos (10,7 pmp) e todos tiveram
seus rgos implantados. Dos doadores, 63% foram de mltiplos rgos. Das
causas da no concretizao da doao de rgos dos 169 potenciais doadores
notificados, observamos o seguinte:
a) 92 entrevistas familiares com 51 recusas, correspondendo a 55%;
b) 37 casos com contraindicao mdica, correspondendo a 22%;
c) 2 dos potenciais doadores evoluram para PCR , correspondendo a 1%;
27
d) 40 casos de Diagnstico de Morte Enceflica no confirmada,
correspondendo a 24%;
e) 7 casos de outras causas, correspondendo a 4%.
O perfil de doadores do estado do Esprito Santo, de janeiro a setembro 2017,
foi traado a partir do total de 32 doaes e apresentado na tabela abaixo:
Tabela 2 - Perfil de doadores do estado do Esprito Santo, janeiro a setembro 2017. Vitria, ES, Brasil, 2018
Tabela: Perfil dos Doadores
Sexo Feminino Masculino Total
7 25 32
Causa do Coma TCE AVE Outras Total
16 11 5 32
Grupo Sanguneo
Tipo A Tipo B Tipo O Tipo AB Total
12 4 14 2 32
Faixa Etria 0 - 17 anos 18-49 anos 50-64 ou mais anos Total
2 21 9 32
Fonte: ABTO, 2017
A regio metropolitana conta com dois hospitais com programa de transplante
de rgos slidos, localizados nos municpios de Cariacica e Vila Velha, alm de a
mesma regio ser responsvel pelo maior nmero de processos de doao de
rgos e tecidos. Hospitais de referncias em trauma situados em Vitria e Serra
concentraram o maior nmero de abertura de protocolo e doaes no ltimo ano
(2017), pois contam com equipe CIHDOTT que acompanham os protocolos de
doao de rgos e tecidos.
2.4 Comisso Intra-Hospitalar de doao de rgos e tecidos para
Transplante
As CIHDOTTs esto legalmente institudas desde 2005 em mbito nacional,
devendo ser institudas pela direo de cada hospital, mediante ato formal,
informando CET qualquer mudana na composio. A comisso dever ser
composta por, no mnimo, trs membros, dentre estes um mdico ou enfermeiro,
28
que dever ter feito o curso de coordenador intra-hospitalar de doao de rgos e
tecidos para transplante (BRASIL, 2005).
Os integrantes da CIHDOTT devem possuir conhecimento sobre o processo
de morte enceflica e doao de rgos e tecidos, habilidade de comunicao
interpessoal, familiaridade com documentaes e legislaes especficas, bem como
aspectos ticos que envolvem a doao (ARCANJO; OLIVIERA; SILVA, 2013).
Em 2017, foi publicada a Portaria de Consolidao n 4, que apresenta o
Regulamento Tcnico do Sistema Nacional de Transplantes. Destina o Captulo III e
a Seo II organizao das comisses, classificando-as em I, II e III, de acordo
com o nmero de bitos por ano, a equipe intensivista especializada e/ou o
credenciamento para programa de transplante. Elenca ainda as atribuies da
equipe e a necessidade de estrutura fsica e equipamentos para o desenvolvimento
das atividades especficas a serem desenvolvidas.
Dentre as atribuies das CIHDOTTs, destacam-se a coparticipao na
identificao do potencial doador; a notificao do caso CET; a articulao com
equipes, setores e estabelecimentos de sade, a fim de tornar o processo mais gil,
promover e organizar o acolhimento famlia doadora e responsabilizar-se pela
educao permanente dos funcionrios da instituio; bem como o registro de cada
processo, intervenes e atividades desenvolvidas e arquivamento do protocolo
(BRASIL, 2017).
A conduo efetiva do processo de doao engloba a segurana do
diagnstico de ME e a manuteno dos Potenciais Doadores. As alteraes
fisiolgicas desencadeadas pela ME, quando no conduzidas adequadamente,
tornam-se as principais causas de obstculos nos processos de doao
(DOMINGOS; BOER; POSSAMAI, 2010; GUIMARES; FALCO; ORLANDO,
2010).
A organizao e efetividade da comisso refere-se dinamizao do
diagnstico do processo de ME de um potencial doador, possibilidade de favorecer
o processo de formao dos profissionais, bem como ao senso de dever,
responsabilidade e compromisso, emergindo num processo de (des)construo para
um fazer tico, a fim de realizar um trabalho multidisciplinar mais eficaz e efetivo
(CAPPELLARO, 2008).
Equipe mdica e de enfermagem, psiclogo, assistente social, compondo ou
no a CIHDOTT, so algumas das diversas categorias profissionais envolvidas na
29
viabilidade de uma doao multiorgnica. Mas a importncia de uma comisso
atuante e a presena de um coordenador intra-hospitalar de transplante destacam-
se como facilitadores de todo o processo, os quais esto focados em garantir a
transparncia, a agilidade e a legitimidade das aes, para transmitir segurana a
todos os envolvidos e, principalmente, um olhar especial para a famlia
(BITTENCOURT, 2014).
Arcanjo, Oliveira e Silva (2013) destacam a importncia da avaliao do
profissional envolvido nesse processo de forma efetiva e constante, a fim de
favorecer o processo de aprimoramento baseado na experincia profissional e no
aporte terico, minimizando possveis falhas que possam interferir na converso do
Potencial Doador em Doador Efetivo.
2.5 Conhecimento, Atitude e Prtica CAP
As pesquisas sobre CAP foram introduzidas nas estratgias preventivas com
a inteno de identificar quais so as principais caractersticas de uma determinada
populao no que se refere a seus Conhecimentos, Atitudes e Prticas (BRASIL,
2002).
As pesquisas que utilizam o inqurito CAP podem propiciar a identificao
das reais lacunas do conhecimento, crenas ou padres de comportamento que
podem facilitar ou dificultar a compreenso e a ao, bem como causar problemas
ou criar barreiras para os esforos de controle de um determinado problema de
sade pblica (NICOLAU, 2011).
A pesquisa investigativa permite, tambm, identificar informaes errneas e
atitudes que so comumente realizadas pela populao do estudo, especificar
fatores que influenciam o comportamento, as razes para suas atitudes e como e
por que as pessoas praticam certos comportamentos de sade. Alm disso, pode
ser utilizado para identificar as necessidades, os problemas e as barreiras na
execuo de programas ou intervenes, assim como direcionar possveis solues
para melhorar a qualidade e a acessibilidade dos servios (NICOLAU, 2011).
Estudos brasileiros que avaliaram o conhecimento de profissionais de sade
sobre a temtica da doao de rgos e tecidos para transplantes e as etapas que
compem tal processo apontaram dficit de conhecimento (MAGALHES; VERAS;
30
MENDES, 2016; DORIA et al., 2015; FREIRE et al., 2014; FREIRE et al., 2012a;
SILVA; SILVA; RAMOS, 2010; JUNIOR et al., 2009; SCHEIN et al., 2008; GALVO
et al., 2007), revelando um cenrio comprometedor, uma vez que a base de atitudes
e prticas adequadas advm de um conhecimento adequado; e o contrrio tambm
verdade, pois a falta de conhecimento interfere significativamente junto s atitudes
e prticas inadequadas (SILVEIRA et al., 2014).
Assim como em todo o Brasil, o Esprito Santo tambm necessita de
discusses e aprimoramento acerca das limitaes encontradas nesse cenrio,
como logstica, infraestrutura, rotatividade de membros das comisses e falta de
recursos pblicos destinados ao processo de doao e transplante de rgos no
Estado.
Diante do exposto, fica elucidada a motivao deste estudo, a fim de
colaborar com planejamento gerencial de aes para qualificao das CIHDOTTs
estaduais.
31
3 OBJETIVOS
3.1 Geral
Analisar o conhecimento, a atitude e a prtica sobre processo de doao
de rgos e tecidos entre os profissionais atuantes nas CIHDOTTs.
3.2 Especficos
Construir um instrumento para coleta de dados;
Realizar validao de Contedo e Face;
Correlacionar o perfil sociodemogrfico e profissional da equipe
multiprofissional atuante nas CIHDOTTs com o conhecimento, a atitude e
a prtica no processo de doao de rgos e tecidos.
4 METODOLOGIA
32
4.1 Delineamento da Pesquisa
Esta dissertao constituda de dois estudos interdependentes: um estudo
metodolgico para a construo e validao de face e contedo de um questionrio
do tipo CAP Conhecimento, Atitude e Prtica; e um estudo analtico com o
propsito de analisar o conhecimento, a atitude e a prtica dos profissionais das
CIHDOTTs sobre processo de doao de rgos e tecidos .
4.1.1 ESTUDO METODOLGICO
Trata-se de um estudo metodolgico para construo e validao de
contedo e face de um questionrio do tipo CAP, a ser aplicado com a equipe
multiprofissional que atua nas CIHDOTTs. Para tanto, o processo de construo e
validao envolveu trs etapas, de acordo com artigo de metodologia semelhante,
destacando os autores Machado, Samico e Braga (2012).
A primeira etapa foi uma busca na literatura cientfica com acesso s bases
de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade) e
MEDLINE (Literatura Internacional em Cincias da Sade e Biomdica), na qual foi
possvel selecionar trabalhos cientficos sobre a temtica do estudo. Foram
adotados os seguintes procedimentos para levantamento e anlise da
documentao bibliogrfica: busca, seleo, impresso/solicitao e anlise dos
textos. Assim, foi possvel a construo de um esboo do questionrio, em sua
verso inicial, baseado em estudos cientficos prvios que analisaram o
conhecimento (FREIRE et al., 2012b; SCHEIN, et al., 2008) e as atitudes
(BARRADAS, 2010) da equipe multiprofissional no processo de doao de rgos
de tecidos. Ainda foi utilizado um estudo, publicado em 2016, que descreve as
diretrizes para avaliao e validao do potencial doador em morte enceflica
(WESTPHAL et al., 2016). Tambm foram consultados inquritos do tipo CAP em
distintas temticas (SOARES et al, 2016; MACHADO; SAMICO; BRAGA, 2012).
Os estudos que avaliam conhecimento, atitude e prtica em relao doao
de rgos e tecidos para transplantes, em sua maioria, so direcionados a
estudantes ou populao. Poucos envolvem profissionais de sade. A falta de
referncias sobre o questionrio CAP voltado para a temtica em estudo nos
33
motivou construo e validao deste instrumento para realizao de possveis
coletas de dados.
Para a seleo dos juzes, foi considerado o seguinte critrio de incluso: ser
enfermeiro com, pelo menos, um ano de atuao direta no processo de doao de
rgos e tecidos, sendo assim considerado com expertise na temtica. Todos so
integrantes da CET-ES. Dos nove juzes, seis so profissionais atuantes nas
atividades de planto operacional, um o enfermeiro que realiza o gerenciamento
do sistema e outro atua na coordenao estadual de CIHDOTT. Tambm participou
dessa etapa a enfermeira coordenadora da CET-ES. Esses profissionais foram
considerados capazes de avaliar a aparncia, o contedo e a clareza das questes
para posteriores adequaes necessrias.
Aps a reviso da literatura, foram selecionados os temas a serem abordados
nas questes do questionrio CAP, sendo ento apresentados para apreciao
pelos juzes, que descreveram, em impresso com espao destinado s adequaes
propostas, suas sugestes referentes ao contedo a ser abordado no instrumento.
Aps as sugestes, na ausncia dos juzes, as questes que comporiam o
questionrio foram elaboradas e organizadas.
A segunda etapa constituiu-se da validao de face (aparente) e contedo do
questionrio pelos mesmos nove juzes apresentados acima. O pesquisador deixou
claro que a participao seria voluntria e facultativa, e garantiu confidencialidade e
sigilo. Aps a concordncia em participar da pesquisa, o participante assinou o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), estabelecido pela resoluo
do Conselho Nacional de Sade n 466/201216.
Respeitados os preceitos ticos, o objetivo da pesquisa e o questionrio
foram apresentados aos juzes para que procedessem validao de face
(aparente) e contedo. Para tanto, eles preencheram um cabealho com as
seguintes informaes pessoais e profissionais: sexo, idade, titulao mxima,
tempo de graduao, tempo de prtica profissional, tempo de atuao na CET-ES.
Logo aps, receberam um impresso explicando o modo de preenchimento da
avaliao (Figura 1), procedido do questionrio:
Figura 2 - Orientaes para validao do Questionrio CAP. Vitria, ES, Brasil, 2018
34
Fonte: Elaborada pelas autoras.
Para a avaliao do grau de concordncia entre os especialistas, foi utilizado
o ndice de Validade de Contedo (IVC), que uma medida ponderada que atribui
um peso linearmente mais forte quando o juiz acredita na adequao da questo
(LOPES; SILVA; ARAUJO, 2013).
Para concluir essa etapa, as questes foram pontuadas de acordo com a
escala Likert, considerando o grau de importncia para a composio do
questionrio (1=Nada pertinente; 2=Pouco pertinente; 3=Muito pertinente;
4=Muitssimo pertinente). O escore foi calculado pela soma das respostas para cada
item do questionrio sinalizado como 3 ou 4, e dividido pela soma total das
respostas aos itens. Os juzes deveriam avaliar as questes em relao
importncia para aquele domnio, mas tambm em relao operatividade,
semntica e ao conceito.
Para o clculo do IVC, foi utilizada a seguinte frmula: IVC = respostas 3 e
4/ respostas. Para Cubas e Nbrega, na abrangncia de 6 ou mais juzes, os
itens validados devem ter IVC maior que 0,79 (CUBAS; NBREGA, 2015).
A avaliao dos juzes ocorreu nos meses de maio e junho de 2017.
Na terceira etapa, foi realizada a anlise do escore de IVC das revises dos
juzes, com a finalidade de formar a verso final do questionrio, sendo considerado
como vlido os itens que alcanaram IVC maior que 0,79 para adequao do
questionrio.
A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora principal, e os dados foram
organizados em uma planilha eletrnica, no programa EXCEL verso 2007.
35
A pesquisa obteve a aprovao do Comit de tica do Centro de Cincias da
Sade/ UFES sob CAAE 01894416.0.0000.5060 mediante o parecer de nmero
1856.303, datado de 08/12/2016.
4.1.2 ESTUDO ANALTICO
Trata-se de um estudo analtico, de abordagem quantitativa, do tipo CAP
Conhecimento, Atitude e Prtica, com o propsito de analisar o conhecimento, a
atitude e a prtica dos profissionais atuantes nas CIHDOTTs no processo de doao
de rgos e tecidos para transplantes.
O questionrio CAP utilizado nos mbitos nacional e internacional e
consiste em um conjunto de questes que tem a finalidade de mensurar o que uma
certa populao sabe, pensa sobre determinado problema e como atua nele. um
tipo de avaliao formativa, que intui coletar dados de uma parcela populacional e
posteriormente favorecer a elaborao de intervenes (BRASIL, 2002).
Foram adotadas as seguintes definies tambm utilizadas por Machado,
Samico e Braga (2012) que os autores Badran (1995) e Gonalves e Leite (2005)
trouxeram em suas pesquisas, nas quais conhecimento est ligado capacidade de
adquirir e reter informaes a serem utilizadas; atitude, como a inclinao para
reagir de algum modo referente a algumas situaes; ver e interpretar eventos de
acordo com certas predisposies; organizar opinies com coerncia; e prtica
refere-se aplicao de regras e conhecimentos que levam execuo da ao de
maneira tica.
O questionrio utilizado foi elaborado pelos autores conforme bibliografia
vigente, perpassando por trs etapas a fim de alcanar evidncia de validao para
posterior aplicabilidade. Foram elas: Etapa I, busca de literatura cientfica sobre a
temtica para elaborao das questes. Etapa II, validao de face aparente e
contedo do questionrio por juzes. Para a seleo dos juzes, foi considerado o
seguinte critrio de incluso: ser enfermeiro com, pelo menos, um ano de atuao
na CET-ES, sendo assim considerado com expertise na temtica. Para a avaliao
do grau de concordncia entre os especialistas, foi utilizado o ndice de Validade de
Contedo (IVC), que uma medida ponderada que atribui um peso linearmente
mais forte quando o juiz acredita na adequao da questo. Etapa III, realizao da
36
anlise do escore de IVC das revises dos juzes, com a finalidade de formar a
verso final do questionrio.
O questionrio final constou de trs partes, sendo a primeira referente
identificao pessoal; a segunda parte, caracterizao profissional; e a terceira
parte, abrangendo o questionrio CAP, com 10 questes sobre conhecimento, 10
questes sobre atitude e 5 questes relativas a prtica, com enfoque no processo de
doao de rgos e tecidos para transplantes. As respostas foram consideradas
adequadas ou no adequadas de acordo com a literatura vigente sobre o assunto
Para anlise dos dados, conforme estudos de metodologia semelhantes, foi
considerado para conhecimento: questo adequada quando a resposta foi
verdadeiro para as assertivas verdadeiras, ou falso para as assertivas falsas;
questo no adequada quando a resposta foi falso ou no sei para as assertivas
verdadeiras ou verdadeiro ou no sei para as assertivas falsas, sendo, ento,
atribudo 1,0 ponto por questo respondida corretamente (MACHADO; SAMICO;
BRAGA, 2012; BADRAN, 1995).
Em relao a atitude: questo adequada quando a resposta foi concordo ou
concordo plenamente para as assertivas verdadeiras, ou discordo ou discordo
plenamente para as assertivas falsas; questo no adequada quando a resposta foi
discordo, discordo plenamente, no tenho opinio para as assertivas
verdadeiras, ou concordo, concordo plenamente, no tenho opinio para as
assertivas falsas, sendo, ento, atribudo 1,0 ponto por questo respondida
corretamente (MACHADO; SAMICO; BRAGA, 2012; BADRAN, 1995).
Quanto a prtica: questo adequada quando a resposta foi sim e questo
inadequada quando a resposta foi no, sendo, ento, atribudos 2,0 pontos por
questo respondida corretamente (MACHADO; SAMICO; BRAGA, 2012; BADRAN,
1995).
Diante do questionrio, foi calculada uma nota em uma escala de 0 a 10,
alcanando-se 10 pontos quando todas as questes apresentassem respostas
corretas, ento, quanto maior o escore, maior o conhecimento, a atitude e a prtica
dos profissionais estudados. No h consenso entre os estudos quanto pontuao
que deve ser considerada como satisfatria para que os escores do questionrio
CAP sejam entendidos como adequados. Considerando que os estudos ponderam
uma variao na porcentagem de acertos entre 50% (MACHADO; SAMICO;
37
BRAGA, 2012) e 90% (SANTOS et al., 2017), para este trabalho foram considerados
satisfatrios escores iguais ou superiores a 60%.
A coleta de dados foi realizada nas reunies trimestrais ministradas pela
Coordenao Estadual de CIHDOTT, sob a gesto da CET-ES, no perodo de junho
a setembro de 2017, em um total de duas reunies.
A populao do estudo foi formada pelos profissionais que atuam nas
CIHDOTTs dos hospitais pblicos, privados e filantrpicos do estado do Esprito
Santo que compareceram s reunies no perodo da coleta de dados e aceitaram,
formalmente, participar da pesquisa. As CIHDOTTs estaduais so compostas por
123 profissionais com atuao regulamentada no estado do Esprito Santo. Nas
reunies de junho e setembro, quando os dados foram coletados, participaram 34 e
31 profissionais respectivamente, dos quais 17 participaram das duas reunies,
sendo computadas 12 recusas participao na pesquisa, totalizando uma
populao de 36 profissionais.
As anlises estatsticas foram realizadas com SPSS 20 e BioEstat 5.3. As
variveis categricas foram expressas em frequncias absolutas e relativas e as
contnuas, por mdia desvio padro da mdia. A normalidade foi testada pelo
mtodo de Shapiro-Wilk. Foram usados os testes no paramtricos de Mann-
Whitney e Kruskal-Wallis. As mdias foram analisadas pelo teste no paramtrico de
Wilcoxon ou Friedman, quando apropriados. As relaes entre as variveis foram
realizadas atravs do coeficiente de Correlao de Spearman, o qual foi avaliado
qualitativamente da seguinte forma: se 0,00 < < 0,30 , existe fraca correlao; se
0,30 < 0,60 , existe moderada correlao; se 0,60 < 0,90 , existe forte
correlao; se 0,90 < 1,00 , existe correlao muito forte. Foi considerado
significante um valor de p
38
5 RESULTADOS
A partir do estudo, foi possvel elaborar dois artigos cientficos e um produto.
Artigo 1: Construo e Validao do Questionrio de conhecimento, Atitude e
Prtica sobre processo de doao de rgos
Revista: Cogitare Enfermagem
Submisso dia 23/01/2018
Artigo 2: Doao de rgos e tecidos para Transplantes: Conhecimento,
Atitude e Prtica
Revista: Revista Brasileira de Enfermagem REBEN
Previso de submisso: aps as contribuies feitas durante a defesa final.
Produto: Instrumento de avaliao de conhecimento, atitude e prtica dos
profissionais das CIHDOTT.
39
5.1 Artigo 1
Revista Cogitare Enfermagem
CONSTRUO E VALIDAO DO QUESTIONRIO DE CONHECIMENTO,
ATITUDE E PRTICA SOBRE PROCESSO DE DOAO DE RGOS
Angela Beatriz de Castro Lima1, Bruno Henrique Fiorim
2, Walckiria Garcia Romero Sipolatti
3, Lorena Barros
Furieri4, Mirian Fioresi
5
1Enfermeira. Especialista em Planejamento e Gesto de Servios e Sistemas de Sade. Servidora pblica
estadual. Atua na Central de Transplantes do Esprito Santo, Vitria- ES- Brasil.
2 Enfermeiro. Doutor em Cincias da Sade. Docente do Departamento de Cincias da Sade da Universidade
Federal do Esprito Santo, So Mateus- ES- Brasil.
3 Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade
Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.
4 Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade
Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.
5 Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade
Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.
Categoria do Artigo: Artigo Original
Autor Correspondente:
Autor: Angela Beatriz de Castro Lima
Instituio vinculada: Universidade Federal do Esprito Santo
Endereo: Av. Marechal Campos, 1468, Vitria, Esprito Santo, Brasil, CEP 29043-900.
E-mail: [email protected]
Telefone: 27- 981717577; 27- 3335 7119
40
5.2 Artigo 2
Revista Brasileira de Enfermagem
DOAO DE RGOS E TECIDOS PARA TRANSPLANTES: CONHECIMENTO,
ATITUDE E PRTICA
Angela Beatriz de Castro Lima1, Bruno Henrique Fiorim
2, Walckiria Garcia Romero Sipolatti
3, Andressa
Bolsoni Lopes4, Eliane de Ftima Almeida Lima
5, Lorena Barros Furieri6, Mirian Fioresi7
1. Enfermeira. Especialista em Planejamento e Gesto de Servios e Sistemas de Sade. Servidora pblica
estadual. Atua na Central de Transplantes do Esprito Santo, Vitria- ES- Brasil.
2. Enfermeiro. Doutor em Cincias da Sade. Docente do Departamento de Cincias da Sade da Universidade
Federal do Esprito Santo, So Mateus- ES- Brasil.
3. Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade
Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.
4. Enfermeiro. Doutora em Cincias (Fisiologia Humana) pela Universidade de So Paulo. Docente do
Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.
5. Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Docente do Departamento
de Enfermagem da Universidade Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.
6. Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade
Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.
7. Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade
Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.
Categoria do Artigo: Artigo Original
Autor Correspondente:
Autor: Angela Beatriz de Castro Lima
Instituio vinculada: Universidade Federal do Esprito Santo
Endereo: Av. Marechal Campos, 1468, Vitria, Esprito Santo, Brasil, CEP 29043-900.
E-mail: [email protected]
Telefone: 27- 981717577; 27- 3335 7119
41
5.3 Produto
Ttulo: Instrumento avaliativo sobre processo de doao de rgos e
tecidos para profissionais de sade integrantes das Comisses Intra-
Hospitalares de Doao de rgos e Tecidos para Transplantes
(CIHDOTT)
Equipe Tcnica: Enfermeira Angela Beatriz de Castro Lima; Professora
Doutora Mirian Fioresi; Professora Doutora Lorena Barros Furieri.
Descrio: Desenvolvimento de tecnologia gerencial de natureza
instrumento avaliativo sobre processo de doao de rgos e tecidos, a
ser divulgado de forma impressa e digital (Anexo C).
INTRODUO
Os integrantes das Comisses Intra-Hospitalares de Doao de rgos e
Tecidos para Transplantes - CIHDOTTs compe a equipe em torno do qual
construdo o processo de doao (deteco de Potencial Doador at a captao de
rgos e entrega do corpo), necessrio que a equipe seja formada por
profissionais seguros e com um processo de tomada de deciso coerente e pautado
no saber tico, legal e cientfico (BRASIL, 2005; ONT, 2011).
Para Roza e colaboradores (2006), importante que a equipe esteja
capacitada para atuar nessa rea, uma vez que o conhecimento dos profissionais
que trabalham com doao de rgos e tecidos um dos fatores que parece estar
relacionado melhoria de sobrevida do paciente (receptor) e at mesmo
viabilidade de enxerto (rgo ou tecido transplantado).
Arcanjo, Oliveira e Silva (2013) destacam a importncia da avaliao do
profissional envolvido nesse processo de forma efetiva e constante, a fim de
favorecer o processo de aprimoramento, baseado na experincia profissional e no
aporte terico, minimizando possveis falhas que possam interferir na converso do
Potencial Doador em Doador Efetivo.
Diante da necessidade de conhecer o perfil desses profissionais, pensou-se
na formulao deste questionrio avaliativo a fim de identificar informaes errneas
e atitudes que so comumente realizadas pela populao do estudo; especificar os
42
fatores que influenciam o comportamento, as razes para suas atitudes e como e
por que as pessoas praticam certos comportamentos de sade; alm de permitir a
identificao das necessidades, dos problemas e das barreiras na execuo de
programas ou intervenes, assim como direcionar possveis solues para
melhorar a qualidade e acessibilidade dos servios (NICOLAU, 2011).
ETAPAS DE ELABORAO
O questionrio utilizado foi elaborado pelos autores conforme bibliografia
vigente, perpassando trs etapas a fim de alcanar evidncia de validao para
posterior aplicabilidade. Foram elas: Etapa 1, busca de literatura cientfica sobre a
temtica para elaborao das questes. Etapa 2, validao de face aparente e
contedo do questionrio por juzes. Para a seleo dos juzes, foi considerado o
seguinte critrio de incluso: ser enfermeiro com, pelo menos, um ano de atuao
na CET-ES, sendo, ento, considerado com expertise na temtica. Para a avaliao
do grau de concordncia entre os especialistas, foi utilizado o ndice de Validade de
Contedo (IVC), que uma medida ponderada que atribui um peso linearmente
mais forte quando o juiz acredita na adequao da questo (LOPES et al., 2013). Na
etapa 3, houve a realizao da anlise do escore de IVC das revises dos juzes,
com a finalidade de formar a verso final do questionrio.
O questionrio final constou de trs partes, sendo a primeira referente
identificao pessoal; a segunda parte, caracterizao profissional; e a terceira parte
abrangendo o questionrio CAP, com 10 questes sobre conhecimento (cada uma
com valor de 1,0 ponto), 10 questes sobre atitude (cada uma com valor de 1,0
ponto) e 5 questes relativas prtica (cada uma com valor de 2,0 pontos), com
enfoque no processo de doao de rgos e tecidos para transplantes. As respostas
foram consideradas adequadas ou no adequadas de acordo com a literatura
vigente sobre o assunto.
Diante do questionrio, foi calculada uma nota em uma escala de 0 a 10,
alcanando-se 10 pontos quando todas as questes apresentassem respostas
corretas. Ento, quanto maior o escore, maior o conhecimento, a atitude e a prtica
dos profissionais estudados. No h consenso entre os estudos quanto pontuao
que deve ser considerada como satisfatria para que os escores do questionrio
CAP sejam entendidos como adequados. Considerando que os estudos ponderam
43
uma variao na porcentagem de acertos entre 50% (MACHADO; SAMICO;
BRAGA, 2012) e 90% (SANTOS et al., 2017), para este trabalho foram considerados
satisfatrios escores iguais ou superiores a 60%.
FINALIDADE E CONTRIBUIES
O questionrio, em sua verso final, contemplou trs dimenses passveis de
serem analisadas, sendo elas: conhecimento, atitude e prtica desenvolvida durante
o processo de doao de rgos e tecidos para transplante; e, consequentemente, a
prtica profissional da populao estudada. Nessa perspectiva, o desenvolvimento
de uma tecnologia embasada no referencial terico conceitual atualizado e com o
aporte legal vigente, em mbito nacional, expe o quanto esta produo pode
contribuir para com a sade pblica em seus diversos nveis de ateno.
Assim como em todo o Brasil, um estado da Regio Sudeste do Brasiltambm
necessita de discusses e aprimoramento acerca das limitaes encontradas nesse
cenrio, como dficit de conhecimento e insegurana da equipe CIHDOTT, logstica,
infraestrutura, rotatividade de membros das comisses e falta de recursos pblicos
destinados ao processo de doao e transplante de rgos no Estado.
A fim de subsidiar aes de qualificao do processo de trabalho das
CIHDOTTs estaduais e intervenes educacionais, foi elaborado este questionrio
avaliativo possibilitando realizar um diagnstico situacional da populao em estudo,
podendo ser utilizado para autoconheciemnto e tambm a nvel de gesto,
elucidando o que estes profissionais sabem, pensam e como agem perante o
processo de doao de rgos e tecidos.
REGISTRO
O produto ser enviado para a Secretaria de Direitos Autorais, vinculada a
Biblioteca Nacional, aps a defesa final, para ento obter registro do produto.
44
6 CONCLUSO
Foi possvel construir e obter evidncias de validao do questionrio CAP e
aplic-lo para o diagnstico situacional do estado do Esprito Santo. Ainda, ficou
constatado, que o conhecimento dos profissionais de sade que compem as
CIHDOTTs insuficiente, necessitando assim de investimento em educao e
atualizao profissional.
Para alm do dficit de conhecimento constatado, foi possvel tambm
verificar os fatores dificultadores do processo de trabalho, bem como a interao
entre os membros da equipe, e destes com a famlia, a Central de Transplantes e os
demais indivduos envolvidos no processo de doao de rgos.
Acredita-se que esta pesquisa poder trazer aos integrantes da CIHDOTT e
para outros profissionais de sade o estmulo busca por conhecimento cientfico e
a reflexo sobre o contexto desse trabalho to especfico. Um profissional seguro e
consciente de suas atitudes e prticas perante seu processo de trabalho pode
assegurar uma assistncia de melhor qualidade ao usurio, famlia e aos
pacientes em fila de espera por um rgo.
Tendo em vista a carncia de estudos nesta rea, h a necessidade de
aprofundamento e novas pesquisas a fim de alcanar melhores resultados e
benefcios potenciais qualidade de vida dos trabalhadores, usurios, famlias,
sociedade, bem como comunidade cientfica.
45
REFERNCIAS
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