CONHECIMENTO, ATITUDE E PRÁTICA SOBRE O...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM ANGELA BEATRIZ DE CASTRO LIMA CONHECIMENTO, ATITUDE E PRÁTICA SOBRE O PROCESSO DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS ENTRE PROFISSIONAIS DE SAÚDE VITÓRIA 2018

Transcript of CONHECIMENTO, ATITUDE E PRÁTICA SOBRE O...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO

CENTRO DE CINCIAS DA SADE

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM

ANGELA BEATRIZ DE CASTRO LIMA

CONHECIMENTO, ATITUDE E PRTICA SOBRE O

PROCESSO DE DOAO DE RGOS E TECIDOS ENTRE

PROFISSIONAIS DE SADE

VITRIA

2018

ANGELA BEATRIZ DE CASTRO LIMA

CONHECIMENTO, ATITUDE E PRTICA SOBRE O

PROCESSO DE DOAO DE RGOS E TECIDOS ENTRE

PROFISSIONAIS DE SADE

Dissertao apresentada ao Programa de

Ps-Graduao em Enfermagem do

Centro de Cincias da Sade da

Universidade Federal do Esprito Santo,

como requisito parcial para obteno do

ttulo de Mestre em Enfermagem.

rea de Concentrao: Sade e

Enfermagem. Linha de pesquisa: O cuidar

em enfermagem no processo de

desenvolvimento humano.

Orientadora: Prof. Dra. Mirian Fioresi

Coorientadora: Prof. Dra. Lorena Barros

Furieri

VITRIA

2018

Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Esprito Santo, ES, Brasil)

Bibliotecria: Silvana Lyra Vicentini Mourrahy CRB-6 ES-000148/O

Lima, Angela Beatriz de Castro, 1988- L732c Conhecimento, atitude e prtica sobre o processo de doao

de rgos e tecidos entre profissionais de sade / Angela Beatriz de Castro Lima. 2018. 100 f. : il.

Orientador: Mirian Fioresi. Coorientador: Lorena Barros Furieri. Dissertao (Mestrado Profissional em Enfermagem)

Universidade Federal do Esprito Santo, Centro de Cincias da Sade.

1. Transplante de rgos, tecidos, etc. 2. Doao de rgos, tecidos, etc. 3. Atitudes em relao a sade. 4. Enfermagem. I. Fioresi, Mirian. II. Furieri, Lorena Barros. III. Universidade Federal do Esprito Santo. Centro de Cincias da Sade. IV. Ttulo.

CDU: 61

ANGELA BEATRIZ DE CASTRO LIMA

CONHECIMENTO, ATITUDE E PRTICA SOBRE O

PROCESSO DE DOAO DE RGOS E TECIDOS ENTRE

PROFISSIONAIS DE SADE

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem do

Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo, como

requisito final para obteno do grau de Mestre em Enfermagem, na rea de

concentrao Sade e Enfermagem e na linha de pesquisa o cuidar em enfermagem

no processo de desenvolvimento.

Aprovada em 20 de fevereiro de 2018

COMISSO EXAMINADORA

___________________________________________________ Prof. Dra. Mirian Fioresi Universidade Federal do Esprito Santo - Centro de Cincias da Sade Orientadora ____________________________________________________ Prof. Dra. Lorena Barros Furieri Universidade Federal do Esprito Santo - Centro de Cincias da Sade Coorientadora ____________________________________________________ Prof. Dr. Bruno Henrique Fiorin Universidade Federal do Esprito Santo - Centro Universitrio Norte do Esprito Santo - So Mateus Membro Externo ____________________________________________________ Prof. Dra. Walckiria Garcia Romero Sipolatti Universidade Federal do Esprito Santo - Centro de Cincias da Sade Membro Interno ____________________________________________________ Prof. Dra. Andressa Bolsoni Lopes Universidade Federal do Esprito Santo - Centro de Cincias da Sade Suplente Externo ____________________________________________________ Prof. Dra. Eliane de Ftima Almeida Lima Universidade Federal do Esprito Santo - Centro de Cincias da Sade Suplente Interno

AGRADECIMENTOS

Agradeo a Deus, por esta conquista em minha vida.

Agradeo a meu pai e minha me, pelos ensinamentos e por sempre

incentivar meus sonhos.

Ao meu esposo Fernando, pelo amor e dedicao ao nosso casamento.

Nesses dois anos de aprendizado, seu apoio e compreenso foram essenciais para

mim.

minha irm Ana Paula, por vibrar com todas as minhas conquistas.

Aos amigos que entenderam minha ausncia nesse tempo dedicado aos

estudos.

minha orientadora, Professora Doutora Mirian Fioresi, pela dedicao

exemplar docncia, pela pacincia nos momentos de aflio, pelo

compartilhamento de conhecimento e pela ateno prestada para que tudo

ocorresse da melhor forma possvel.

minha coorientadora, Professora Doutora Lorena Barros Furieri, pelo

acolhimento a cada orientao e por estar sempre disponvel e atenta desde o incio

dessa jornada de estudos.

Aos professores que aceitaram compor a banca de mestrado, por suas

contribuies para o refinamento desta pesquisa.

coordenadora da Central de Transplantes do Esprito Santo, MSc. Raquel

Matiello, que apoiou o desenvolvimento deste trabalho desde o incio.

Aos enfermeiros e colegas de trabalho da Central de Transplantes do Esprito

Santo, que aceitaram o convite para participarem de parte desta pesquisa, elevando

a valia e a seriedade do contedo aqui produzido.

Aos profissionais de sade que integram as CIHDOTTs, por participarem da

pesquisa e proporcionarem a realizao deste estudo.

Educao no transforma o mundo. Educao muda as pessoas.

Pessoas transformam o mundo.

(Paulo Freire)

RESUMO

Introduo: O processo de doao de rgos e tecidos necessita do envolvimento de vrios profissionais da sade. Os profissionais integrantes das Comisses Intra-Hospitalares de Doao de rgos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTTs) dedicam-se conduo do processo de doao e orientao sobre a manuteno do potencial doador (PD) de rgos e tecidos, por isso necessrio estudar como tais profissionais entendem as fases desse processo. Objetivo: Analisar o conhecimento, a atitude e a prtica sobre o processo de doao de rgos e tecidos entre os profissionais atuantes nas CIHDOTTs. Mtodos: Esta dissertao constituda de dois estudos interdependentes: um estudo metodolgico para a construo e validao de face e contedo de um questionrio (CAP) Conhecimento, Atitude e Prtica; e um estudo analtico do tipo CAP. No estudo metodolgico a populao foi formada pelos juzes que participaram do processo de validao de face e contedo do questionrio elaborado.Foram 9 juzes com pelo menos um ano de atuao na Central de Transplantes de um estado da regio Sudeste do Brasil. No estudo analtico a populao foi composta por 34 profissionais de sade, com nvel superior e atuao regulamentada nas CIHDOTTs. A pesquisa foi realizada em duas reunies realizadas pela Central de Transplantes no perodo de Junho a Setembro de 2017 onde todos os profissionais foram convidados a participar. Resultados: Foi elaborado um questionrio de 25 questes, todas alcanaram IVC> 0,79 aps avalio dos juzes, e foram divididas em conhecimento, atitude e prtica. O questionrio apresenta 10 questes sobre conhecimento com valor de 1,0 ponto cada, 10 sobre atitude tambm com valor de 1,0 ponto cada e 5 sobre prtica com valor de 2,0 pontos cada. Aps a coleta de dados, constatou-se maior adequabilidade dos profissionais quanto atitude e menor quanto ao conhecimento sobre a captao de rgos para transplantes. Os profissionais com especializao na rea e os que se sentem preparados obtiveram maiores escores de conhecimento e prtica; j aqueles com duplo vnculo empregatcio apresentaram escores menores de atitude; e aqueles com formao para atuao na Comisso e que no apontaram empecilhos para a conduo do processo apresentaram pontuaes superiores no parmetro Prtica. Os escores conhecimento e prtica apresentam correlao positiva moderada. Concluso: Foi possvel construir um questionrio do tipo CAP, com evidncias de validao de face e contedo, assim como aplic-lo para avaliao dos profissionais das CIHDOTTs. Produto: O estudo resultou em uma tecnologia gerencial em forma de instrumento avaliativo com o propsito de subsidiar aes de qualificao do processo de trabalho das CIHDOTTs estaduais e possveis intervenes nos processos de trabalho, podendo ser utilizado para autoconhecimento e tambm a nvel de gesto, elucidando o que estes profissionais sabem, pensam e como agem perante o processo de doao de rgos e tecidos. Aps a defesa final foi enviado processo Secretaria de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional para obteno do nmero de registro da obra de autoria das autoras.

Palavras Chave: Obteno de Tecidos e rgos; Transplante; Enfermagem; Conhecimentos, Atitudes e Prtica em Sade; Inquritos e questionrios.

ABSTRACT

Introduction: The process of organs and tissues donating requires the involvement of

several health professionals. The professionals involved in the Intra-Hospital Organ

and Tissue Donation and Transplant Commissions (CIHDOTTs) are dedicated to

conducting the donation and orientation process on the maintenance of the potential

donor (PD) of organs and tissues, so it is necessary to study how such professionals

understand the stages of this process. Objective: To analyze the knowledge, attitude

and practice about the process of donation of organs and tissues among

professionals working in CIHDOTTs. Methods: This dissertation consists of two

interdependent studies: a methodological study for the construction and validation of

face and content of a questionnaire about Knowledge, Attitude and Practice; and an

analytical study. In the methodological study the population was formed by the

judges who participated in the process of validation of the face and content of the

questionnaire elaborated. There were 9 judges with at least one year of performance

in the Transplant Center of a state in the southeastern region of Brazil. In the

analytical study, the population was composed of 34 health professionals, with a

higher level and regulated performance in CIHDOTTs. The research was conducted

in two meetings held by the Transplant Center from June to September 2017 where

all professionals were invited to participate. Results: A questionnaire of 25 questions

was elaborated, all of them reached a CVI> 0.79 after judges' evaluation, and were

divided into knowledge, attitude and practice. The questionnaire presents 10

questions about knowledge with a value of 1.0 points each, 10 on attitude also with

value of 1.0 point each and 5 on practice with value of 2.0 points each. After the data

collection, it was verified that the professionals were more adaptable regarding the

attitude and less about the knowledge about the organ harvesting for transplants.

Professionals with specialization in the area and those who feel prepared have

obtained higher scores of knowledge and practice; already those with double

employment bond presented smaller scores of attitude; and those with training for

action in the Commission and who did not indicate obstacles to the conduct of the

process presented higher scores in the Practice parameter. The knowledge and

practice scores present moderate positive correlation. Conclusion: It was possible to

construct a CAP-type questionnaire, with evidence of face and content validation, as

well as to apply it to the evaluation of CIHDOTT professionals. Product: The study

resulted in a managerial technology in the form of an evaluation instrument with the

purpose of subsidizing actions of qualification of the work process of the state

CIHDOTTs and possible interventions in the work processes, being able to be used

for self-knowledge and also at management level, elucidating what these

professionals know, think and how they act in the process of donating organs and

tissues. After the final defense, a case was sent to the Copyright Office of the

National Library to obtain the registration number of the work authored by the

authors.

Key Words: Obtaining Tissues and Organs; Transplant; Nursing; Knowledge, Attitudes and Practice in Health; Surveys and questionnaires.

LISTA DE SIGLAS

ABTO

CET

CFM

CIHDOTT

Associao Brasileira de Transplante de rgos

Central Estadual de Transplantes

Conselho Federal de Medicina

Comisses Intra-Hospitalares de Doao de rgos e Tecidos para Transplante

CNT

COFEN

DOU

Central Nacional de Transplantes

Conselho Federal de Enfermagem

Dirio Oficial da Unio

FAEC

IML

CAP

IVC

LILACS

MDSNC

ME

MEDLINE

MS

OPO

PCR

PD

PET-SADE

PMP

RBT

SNC

SNT

SUS

TCLE

UFES

UFJF

UTI

Fundos de Aes Estratgicas e Compensao

Instituto Mdico Legal

Conhecimento, Atitude e Prtica

ndice de Validade de Contedo

Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias de Sade

Medicamentos Depressores do Sistema Nervoso Central

Morte Enceflica

Literatura Internacional em Cincias da Sade e Biomdicas

Ministrio da Sade

Organizao de Procura de rgos

Parada Cardaca Respiratria

Potencial Doador

Programa de Educao pelo Trabalho - Sade

Por milho de populao

Revista Brasileira de Transplante

Sistema Nervoso Central

Sistema Nacional de Transplante

Sistema nico de Sade

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Universidade Federal do Esprito Santo

Universidade Federal de Juiz de Fora

Unidade de Terapia Intensiva

SUMRIO

1 INTRODUO ........................................................................................... 11

1.1 Temporalidade da Autora ........................................................................... 11

1.2 Problematizao ......................................................................................... 12

2 REFERENCIAL CONCEITUAL .................................................................. 16

2.1 A Legislao do Transplante no Brasil ....................................................... 16

2.2 Notificao, Captao e Distribuio de rgos e tecidos ......................... 20

2.3 Aspectos Epidemiolgicos .......................................................................... 25

2.4 Comisso Intra-Hospitalar de doao de rgos e tecidos para Transplante ................................................................................................................... 27

2.5 Conhecimento, Atitude e Prtica CAP ..................................................... 29

3 OBJETIVOS ............................................................................................... 31

3.1 Geral ........................................................................................................... 31

3.2 Especficos ................................................................................................. 31

4 METODOLOGIA ....................................................................................... 312

4.1 Delineamento da Pesquisa ......................................................................... 32

4.1.1 ESTUDO METODOLGICO .................................................................... 32

4.1.2 ESTUDO ANALTICO ............................................................................... 35

4.2 Aspectos ticos .......................................................................................... 37

5 RESULTADOS ........................................................................................... 38

5.1 Artigo 1 ....................................................................................................... 39

5.2 Artigo 2 ....................................................................................................... 40

5.3 Produto ....................................................................................................... 41

6 CONCLUSO ............................................................................................. 44

REFERNCIAS ......................................................................................................... 45

ANEXOS ................................................................................................................... 53

ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA JUZES ....................................................................................................... 53

ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 56

ANEXO C PRODUTO E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS............... 59

APNDICES .............................................................................................................. 63

APNDICE A PARECER CEP ......................................................................... 63

11

1 INTRODUO

1.1 Temporalidade da Autora

Meu caminho acadmico teve incio quando ingressei na Universidade

Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 2006, onde tive o privilgio de estar cercada de

bons professores e tima estrutura acadmica. Perpassei por aulas curriculares, fui

monitora, participei de projetos de pesquisa e extenso, fui bolsista do Programa de

Educao pelo Trabalho (PET-SADE) e terminei minha graduao em

Enfermagem no ano de 2010. Tornei-me especialista em Gesto e Planejamento de

Servios e Sistemas de Sade pela mesma instituio pblica de ensino em 2012.

Durante minha trajetria profissional, percorri os caminhos da assistncia

hospitalar e da sade pblica. Debrucei-me mais a fundo nos conhecimentos acerca

da enfermagem sanitarista e comunitria, pois atuei 4 anos (dos 6 anos de formada)

em Unidades de Sade Tradicional e de Estratgia de Sade da Famlia.

Ao ser empossada em novo emprego, atravs do concurso pblico da

Secretaria Estadual de Sade do Esprito Santo, em janeiro/2016, aceitei o desafio

de trabalhar na Central Estadual de Transplantes (CET-ES), que responde como

Ncleo de Regulao.

Muitas novidades e inquietaes passaram a me acompanhar neste perodo

de adaptao e muito estudo para aporte tcnico e terico. A insero em um campo

de trabalho to especfico e nobre traz reflexes sobre o que se pode fazer para

contribuir de maneira efetiva.

Nos cenrios nacional e estadual, os nmeros indicam uma fila de espera

grande e inversamente proporcional ao nmero de transplantes realizados,

mostrando que o nmero de doadores de rgos e tecidos ainda insuficiente para

suprir essa demanda, que se configura como a nica de chance de vida de muitos

brasileiros.

Todo o conhecimento que envolve esse campo de trabalho de extrema

importncia para qualificar a atuao do enfermeiro ante a equipe multiprofissional.

Ao desenvolver um papel tcnico e ativo, ele fornece informaes cientficas e

defende preceitos ticos que visam tornar a experincia da identificao do potencial

doador at o transplante mais eficaz.

12

1.2 Problematizao

O transplante de rgos e tecidos a ltima alternativa teraputica para

pacientes com doenas crnicas incurveis, revelando um cenrio de sucesso para

a equipe de sade e para o paciente, pois direciona a chances reais de recuperao

o que antes era impossvel.

Cerca de 250 brasileiros aguardam um novo corao. So pessoas que

precisam passar pelo transplante do rgo, pois so vtimas de miocardiopatias

primrias ou decorrentes da evoluo de doena isqumica, valvar, congnita, entre

outras. O transplante cardaco o tratamento indicado quando procedimentos

intervencionistas ou mesmo cirurgias no so suficientes para melhorar a qualidade

ou prolongar a vida da pessoa (ABTO, 2002; ABTO, 2017).

J em fila de espera por um fgado, esto os pacientes com doena heptica

crnica avanada, falncia heptica fulminante e doena heptica metablica

congnita. De uma maneira geral, o transplante heptico est reservado aos

portadores de insuficincia heptica crnica terminal, com expectativa de vida

inferior a 20% ao final de 12 meses, se no forem transplantados; e naqueles cuja

progresso da doena heptica, se no transplantados, resulte em mortalidade que

exceda aquela decorrente do prprio transplante. Atualmente, 1.235 receptores

esto inscritos no cadastro brasileiro aguardando por este rgo (MARRONI et al.,

2003; ABTO, 2017).

Para tratamento da insuficincia renal crnica terminal, o transplante constitui-

se como a melhor alternativa de tratamento, devendo ser oferecido a todos os

indivduos urmicos que no apresentem contraindicaes para o procedimento, que

tenham o desejo de submeter-se ao transplante, aps o esclarecimento de seus

riscos e benefcios, e que estejam inscritos na lista nica de espera por um rim, que

consta com 20.595 candidatos a receptores no Brasil (MANFRO; CARVALHAL,

2003; ABTO, 2017).

Por ser o transplante uma alternativa teraputica para doenas crnicas em

fase final, fundamental que se conheam a etiologia da doena de base e os

fatores prognsticos envolvidos. Alm disso, necessrio que se identifiquem

contraindicaes absolutas ou relativas ao procedimento, bem como haja o

13

esclarecimento do receptor para os riscos e benefcios envolvidos nesse processo

(MARRONI et al., 2003; MANFRO; CARVALHAL, 2003; BRASIL, 2017a).

Para os outros rgos e tecidos, as principais indicaes esto compiladas no

quadro abaixo:

Quadro 1 - Principais indicaes para transplante de rgos e tecidos. Vitria, ES, Brasil, 2018

rgos e Tecidos Principais indicaes de transplante

Pulmo Portadores de doenas pulmonares crnicas por fibrose ou enfisema

Pncreas Diabticos Tipo I e doena renal associada

Crneas

Portadores de ceratocone, ceratopatia bolhosa, infeco ou trauma de

crnea

Medula ssea Portadores de leucemia, linfoma e aplasia de medula

Osso Pacientes com perda ssea por certos tumores sseos ou trauma

Pele Pacientes com grandes queimaduras

Fonte: Adaptada de ABTO, 2002

Os procedimentos podem ser realizados a partir de doador vivo (rim, medula

ssea, fgado e pulmo) e o mais comum a partir de doador morto.

considerado doador morto aquele indivduo com diagnstico de parada

cardiorrespiratria (PCR) irreversvel (como na doao de crneas e ossos) ou por

morte enceflica (ME) (nos casos de corao, pulmo, fgado, pncreas e rim)

(VILLAS-BAS, 2011). Este trabalho dar enfoque aos processos de doao de

rgos e tecidos a partir de doadores mortos com diagnstico de ME.

O diagnstico de ME regulamentado pela Resoluo n 2.173/17 do

Conselho Federal de Medicina (CFM) e definido como a parada total e irreversvel

da atividade do tronco e dos hemisfrios cerebrais (BRASIL, 2017a).

A primeira regulamentao do referido diagnstico foi a Resoluo n 1.480,

de 1997. Recentemente o Conselho Federal de Medicina publicou uma nova

resoluo, a de n 2.173/2017, com algumas atualizaes, passando a vigorar em

todo o territrio nacional. Mesmo com os esforos de divulgao e as capacitaes

desenvolvidas por rgos pblicos, a ME ainda no bem entendida pela populao

em geral, estudantes e profissionais. A desinformao quanto aos aspectos ticos e

legais de seu diagnstico gera atitudes incoerentes e estresse dos profissionais que

atuam com pacientes crticos (BITTENCOURT et al., 2007; GUIDO et al., 2009).

Procedimentos sistematizados e com rigor tcnico e tico possibilitam a

converso de um Potencial Doador em Doador Efetivo, cujo caminho permeado

14

pela manuteno das funes vitais para disponibilizao dos rgos ao transplante.

Para tanto, necessria uma equipe treinada para identificar possveis pacientes em

ME, reconhecer alteraes fisiolgicas e atuar na estabilizao dos Potenciais

Doadores para viabilidade dos rgos, assim como garantir infraestrutura

(RODRIGUES et al., 2013, PADILHA et al., 2009).

O processo de doao de rgos e tecidos requer o envolvimento de uma

equipe multiprofissional presente nos mbitos nacional, estaduais e municipais,

atuando na regulao dos protocolos e processos, e na assistncia no ambiente

hospitalar. No mbito nacional, compe o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e

a Central Nacional de Transplantes (CNT). A regulao estadual fica a cargo da

Central Estadual de Transplantes. E, no ltimo cenrio, esto presentes as

CIHDOTTs, que tm essencial atuao, em parceria com a equipe assistencial, na

identificao e notificao do Potencial Doador, na abertura e concluso do

protocolo de ME, na manuteno clnica do doador, no suporte e na entrevista

familiar, na conduo do processo de doao desde a cirurgia de captao at a

entrega do corpo (BRASIL, 2005; ONT, 2011).

As CIHDOTTs esto legalmente institudas desde 2005, em mbito nacional,

atravs da Portaria n 1.752. Em 2009, foi aprovada a Portaria n 2.600, que

apresenta o Regulamento Tcnico do Sistema Nacional de Transplantes, o qual

destina a Seo II organizao das comisses, classificando-as em I, II e III, de

acordo com o nmero de bitos por ano, a equipe intensivista especializada e/ou o

credenciamento para programa de transplante.

Em 2017, foi publicada a Portaria de Consolidao n 4, que, em seu Anexo 1,

apresenta a atual legislao sobre o assunto atravs do agrupamento das

informaes contidas no Regulamento Tcnico do Sistema Nacional de

Transplantes, Portaria n 2.600/2009, sem alterao de contedo no que se refere

CIHDOTT.

Tendo os integrantes das CIHDOTTs como eixo central, em torno do qual

construdo o processo de doao (deteco de Potencial Doador at captao de

rgos e entrega do corpo), necessrio que a equipe seja formada por

profissionais seguros e com um processo de tomada de deciso coerente e pautado

no saber tico, legal e cientfico. (BRASIL, 2005; ONT, 2011).

O conhecimento e a aceitao do diagnstico de ME so necessrios, tanto

pelos profissionais de sade (para identificao e manuteno do Potencial Doador)

15

quanto pela populao (a fim de diminuir o nmero de negativas familiares), visto

que a doao dos rgos e tecidos pode representar a nica ou at a ltima chance

de alternativa teraputica para pacientes com vrios tipos de doenas terminais

(FREIRE et al., 2014).

Para Roza, Odierna e Laselva (2006), importante que a equipe esteja

capacitada para atuar nessa rea, uma vez que o conhecimento dos profissionais

que trabalham com doao de rgos e tecidos um dos fatores que parece estar

relacionado melhoria de sobrevida do paciente (receptor), e at mesmo

viabilidade de enxerto (rgo ou tecido transplantado).

Nesse contexto, emerge a necessidade de realizao deste estudo para um

diagnstico situacional do estado do Esprito Santo.

16

2 REFERENCIAL CONCEITUAL

2.1 A Legislao do Transplante no Brasil

A evoluo da legislao brasileira sobre transplante tem incio com a Lei n

5.479/68, que dispunha sobre captao e transplantes de tecidos, rgos e partes

de cadver para finalidade teraputica e cientfica. Como ponto de destaque, a lei

previa, em seu artigo 4, o princpio de doao presumida:

Indivduos que no tivessem mencionado em seu documento de

identificao a expresso no doador de rgos e tecidos, aps o

diagnstico de morte enceflica, poderiam ter seus rgos removidos para

fins de transplantes, independente da vontade da famlia (BRASIL,1968).

A Constituio Brasileira de 1988 apresenta diretrizes sobre transplantes para

a federao e traz a proibio da comercializao de rgos e tecidos:

A lei dispor sobre as condies e os requisitos que facilitem a remoo de

rgos, tecidos e substncias humanas para fins de transplante, pesquisa e

tratamento, bem como a coleta, o processamento e a transfuso de sangue

e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercializao (BRASIL,

1988).

Em 1997, ocorreu a regulamentao do diagnstico de ME pelo CFM, que a

definiu como situao irreversvel de todas as funes respiratrias e circulatrias ou

cessao irreversvel de todas as funes do crebro, inclusive do tronco cerebral,

sendo consequncia de processo irreversvel e de causa conhecida. Essa condio

essencial para a doao de rgos e tecidos.

Ainda no ano de 1997, a Lei n 9.434 dispe sobre a retirada de rgos,

tecidos e partes do corpo humano com finalidade de transplante, tanto em vida como

post-mortem. Em 2017, essa lei foi regulamentada pelo Decreto n 9.175 a fim de

normatizar a disposio de rgos, tecidos, clulas e partes do corpo humano para

fins de transplante e tratamento normatizando, ento, o setor de transplantes e

organizando o SNT, que, vinculado ao Ministrio da Sade, responsvel pelo

processo de captao e distribuio de rgos, tecidos e partes retiradas do corpo

humano para fins teraputicos (BRASIL, 2017b).

So instncias que integram o SNT: o Ministrio da Sade, as Secretarias de

Sade dos Estados e do Distrito Federal; as Secretarias de Sade dos Municpios;

17

as Centrais Estaduais de Transplantes (CET); a Central Nacional de Transplantes

(CNT); as estruturas especializadas integrantes da rede de procura de rgos,

tecidos, clulas e partes do corpo humano para transplantes; as estruturas

especializadas no processamento para preservao ex situ de rgos, tecidos,

clulas e partes do corpo humano para transplantes; os estabelecimentos de sade

transplantadores; as equipes especializadas; e a rede de servios auxiliares

(BRASIL, 2017a).

O SNT, desde sua criao e diante da legislao em questo, tem como

prioridade evidenciar com transparncia todas as suas aes no campo da poltica

de doao-transplante, visando, primordialmente, confiabilidade do sistema e

assistncia de qualidade ao cidado brasileiro. O Brasil possui, hoje, um dos

maiores programas pblicos de transplantes de rgos e tecidos do mundo (NEVES;

DUARTE; MATTIAS, 2008).

Para normatizao dos recursos financeiros, os repasses so realizados pelo

Fundo de Aes Estratgicas e Compensao (FAEC), que executa o pagamento

direto aos estabelecimentos de sade que atuam no processo de doao-

transplante no pas (BRASIL, 2012).

A poltica nacional de transplantes de rgos e tecidos est fundamentada na

Lei n 9.434/1997 e na Lei n 10.211/2001, e, de acordo com o Sistema nico de

Sade (SUS), tem como diretrizes a gratuidade da doao, a beneficncia em

relao aos receptores e a no maleficncia em relao aos doadores vivos.

Estabelece, tambm, garantias e direitos aos pacientes que necessitam desses

procedimentos e regula toda a rede assistencial mediante autorizaes e

reautorizaes de funcionamento de equipes e instituies (NEVES; DUARTE;

MATTIAS, 2008).

O modelo de doao presumida, adotado anteriormente, no deu certo e aps

amplas discusses, em 2001, ela passou a ser regulamentada pela Lei n 10.211/01,

vigorando at os dias atuais:

A retirada de tecidos, rgos e partes do corpo de pessoas falecidas para

transplantes ou outra finalidade teraputica depender da autorizao do

cnjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessria, reta ou

colateral, at o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por

duas testemunhas presentes verificao da morte (BRASIL, 2001).

18

O Decreto n 9.175/2017 reconhece expressamente a possibilidade de

autorizao da doao pelo companheiro, equiparando-o ao cnjuge, o que at

ento no era possvel.

As portarias n 1.752/05 e 1.262/06 apresentam como objetivo,

respectivamente: a determinao da necessidade de implantao de CIHDOTT em

todos os hospitais com mais de 80 leitos e a seguinte configurao do Regulamento

Tcnico para estabelecimento de atribuies, deveres e indicadores de eficincia e

do potencial de doao de rgos e tecidos relativos s CIHDOTT.

Em 2009, foi aprovada a Portaria n 2.600, de 21 de outubro, que apresenta o

Regulamento Tcnico do Sistema Nacional de Transplantes, aps consulta pblica e

participao de vrios segmentos da populao (comunidade transplantadora,

comunidade tcnico-cientfica, sociedades mdicas, profissionais de sade, gestores

e sociedade em geral) (BRASIL, 2009).

A Portaria n 2.601, de 21 de outubro de 2009, institui, no mbito do SNT, o

Plano Nacional de Implantao das OPOs. No entanto, o Brasil ainda composto

por um sistema misto, pois alguns estados j adotaram o modelo OPO, mas outros

desenvolvem o trabalho pautado nas CIHDOTTs. O estado do Esprito Santo, por

exemplo, desempenha o trabalho de captao de rgos atravs das CIHDOTTs.

Em 2017, foi instituida a Portaria de Consolidao n 4, como forma de

consolidao das normas sobre os sistemas e os subsistemas do SUS, incluindo o

SNT no Sistema Nacional de Sade e revogando a Portaria n 2.600/2009 (BRASIL,

2017).

Tal portaria destina-se a regular o desenvolvimento de toda e qualquer

atividade relacionada utilizao de clulas, tecidos, rgos ou partes do corpo para

fins de transplante em todo o territrio nacional. O contedo dividido em 28 anexos

que abordam os seguintes contedos: Sistema Nacional de Transplantes;

Regimento Interno da Cmaras Tcnicas; Normas gerais para autorizao e

funcionamento de Bancos e Tecidos Humanos; Laboratrio de histocompatibilidade

e imunogentica; Frmula para clculo de MELD e PELD; Situaes especiais para

potenciais receptores; Critrios de classificao dos hepatocarcinomas; Critrios de

Insuficincia Heptica; Tabela de pontuao de receptores em lista; Estatstica

mensal; Formulrios diversos e indicadores; Normas para autorizao de equipes

especializadas e estabelecimentos de sade; Ficha de priorizao por

impossibilidade total de acesso para dilise; Fluxo de informaes, tipificao e

19

cadastro de doadores no REDOME; Termo de consentimento/ autorizao de

realizao de exames/resultados; Orientaes ao doador voluntrio; Nmero

mximo de cadastro de doador voluntrio de medula ssea por Unidade Federativa.

O Dirio Oficial da Unio (DOU) publicou a Resoluo CFM 2.173/17, que

atualiza os critrios para definio da morte enceflica, revogando o texto anterior, a

Resoluo CFM 1.480/97.

Assim, com o arcabouo legal em vigor, fica estabelecida a obrigatoriedade

da observncia do Regulamento Tcnico atual para o desenvolvimento de toda e

qualquer atividade relacionada utilizao de clulas, tecidos, rgos ou partes do

corpo para fins de transplante em todo o territrio nacional. Abaixo, o quadro que

sintetiza essas informaes para melhor entendimento.

Quadro 2 - Sntese das principais legislaes e pontos de destaque apresentados individualmente Vitria, ES, Brasil, 2018

Legislao Pontos de destaque

Lei n 5.479/68 Retirada e transplante de tecidos, rgos e partes de cadver para

finalidade teraputica e cientfica (Art 4: doao presumida)

Constituio Federal 1988 Proibio da comercializao de rgos e tecidos

Resoluo CRM 2.173/2017

revoga a Resoluo CRM

1.480/1997

Parada total e irreversvel das funes enceflicas equivale morte

Lei n 9.434/1997 Normatizao do setor de Transplante e organizao do Sistema

Nacional de Transplantes

Lei n 9.434/1997

Lei n 10.211/2001

Gratuidade da doao; beneficncia em relao aos receptores e

no maleficncia em relao aos doadores;

Garantias e direitos a pacientes que necessitam deste

procedimento;

Regulao de toda rede assistencial; Normatizao do SNT.

Portarias n 1.752/2005 e

1.262/2006

Implantao da CIHDOTT em todos os hospitais com mais de 80

leitos; Atribuies,deveres e indicadores de eficincia.

Portaria de Consolidao n

4/2017 (revoga a Portaria n

2.600/2009)

Regulamento Tcnico do SNT obrigatria a observncia do

disposto no Regulamento Tcnico ora aprovado para o

desenvolvimento de toda e qualquer atividade relacionada

utilizao de clulas, tecidos, rgos ou partes do corpo para fins

de transplante em todo o territrio nacional.

Portaria n 2.601/2009 Plano Nacional de Implantao de Organizao de Procura de

rgos (OPOs)

Portaria n 845/2012 Fundo de Aes Estratgicas e Compensao (FAEC)

Decreto n 9.175/2017 (revoga

o Decreto n 2.268, de 30 de

junho de 1997)

Regulamenta a Lei n 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, para

tratar da disposio de rgos, tecidos, clulas e partes do corpo

humano para fins de transplante e tratamento.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

20

2.2 Notificao, Captao e Distribuio de rgos e tecidos

A Lei n 9434/97, tambm conhecida como Lei dos Transplantes, regula, em

todo o territrio nacional, transplantes ou enxertos de tecidos, rgos ou partes do

corpo humano a serem realizados por estabelecimento de sade, pblico ou privado,

e por equipes mdico-cirrgicas de remoo e transplante previamente autorizados

pelo rgo de gesto nacional do Sistema nico de Sade.

Para aproximao com a temtica, a ltima verso das diretrizes para

avaliao e validao do potencial doador (WESTPHAL et al., 2016) trouxe

definies importantes para o entendimento do processo de doao de rgos e

tecidos, dentre elas:

a) Possvel Doador: paciente que apresenta leso enceflica grave e

necessita de ventilao mecnica;

b) Potencial Doador: a partir do momento em que se inicia (abre) o protocolo

de morte enceflica;

c) Doador Elegvel: paciente com protocolo de ME concludo, sem

contraindicao, com autorizao familiar, mas no ocorre a cirurgia de

captao de rgos;

d) Doador Efetivo: quando se inicia a operao para remoo de rgos;

e) Doador com rgos transplantados: quando pelo menos um dos rgos

captados transplantado.

A Figura 1 apresenta o passo a passo para melhor entendimento das etapas

que envolvem o processo de doao de rgos e tecidos para transplante.

21

Figura 1 - Etapas interdependentes que envolvem o processo de doao de rgos e tecidos para transplante. Vitria, ES, Brasil, 2018. Fonte: Elaborado pelas autoras.

Etapa 1

Identificao do Possvel Doador

Etapa 2

Avaliao e Manuteno do Possvel Doador

Etapa 3

Comprovao da Morte Enceflica e Comunicao famlia do diagnstico de ME

Etapa 4

Notificao Central Estadual de Transplantes (CET)

Etapa 5

Viabilizao do Protocolo pela CET

Etapa 6

Entrevista Familiar

Etapa 7

Autorizao da Doao de rgos e tecidos para transplante

Etapa 8

Sorologia

Etapa 9

Alimenta o Sistema Nacional de Transplante com os dados do Doador pela CET

Etapa 10

Seleo receptores

Etapa 11

Contato com a equipe transplantadora para avaliao

Etapa 12

Aceite estadual e/ou nacional

Etapa 13

Cirurgia de captao

Etapa 14

Entrega do corpo para famlia

Etapa 15

Transplante

22

A identificao de potenciais doadores feita, principalmente, nos hospitais

onde eles esto internados, por meio das CIHDOTTs, nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) e em setores de emergncia em pacientes com o diagnstico de ME,

atravs das buscas-ativas (Etapa 1). As funes da coordenao intra-hospitalar

baseiam-se em organizar, no mbito do hospital, o processo de captao de rgos

e articular-se com as equipes mdicas do hospital e com a CET (BRASIL, 2017b).

A abertura do protocolo de ME inicia-se com a avaliao de pacientes em

estado geral gravssimo, com pontuao 03 na Escala de Coma de Glasgow e causa

do coma definida, devendo ativamente excluir cinco causas frequentemente citadas

na literatura como potenciais mimetizadoras de morte enceflica: (1) uso de drogas

depressoras do SNC; (2) distrbios metablicos graves; (3) hipotermia grave; (4)

hipotenso grave; e (5) drogas ou doenas causadoras de paralisia motora, bem

como iniciar as aes de manuteno do possvel doador (Etapa 2) (MARCON et al.,

2012; WESTPHAL et al., 2016).

Para comprovao do diagnstico de ME, so realizados dois testes clnicos

com intervalo, conforme a faixa etria; e um exame complementar, segundo a

Resoluo CFM 2.173/2017 (Etapa 3), a serem realizados por mdicos diferentes,

que no participem das equipes de transplante. Para tanto, so testados os

seguintes reflexos: fotomotor, crneo-palpebral, culo-ceflico, culo-vestibular,

traqueal e o teste de apneia. Podem ocorrer respostas motoras espontneas (sinal

de Lzaro) durante o teste de apneia e, mais frequentemente, nos episdios de

hipoxemia e hipotenso, os quais so de origem medular e no excluem a ME

(MARCON et al., 2012).

Para a faixa etria de 07 dias a 2 meses incompletos, respeita-se o intervalo

de 24 horas entre o primeiro exame clnico e o segundo exame clnico. De 2 meses

a 24 meses incompletos, 12 horas entre o primeiro exame clnico e o segundo. J

para pacientes acima de 2 anos, deve ser respeitado o intervalo de 1 hora entre as

avaliaes clnicas (CFM, 2017).

A morte enceflica tambm dever ser demonstrada por meio de exame

grfico, a ser realizado a qualquer momento aps o primeiro exame clnico,

caracterizada pela ausncia de fluxo sanguneo no crebro, alm de inatividade

eltrica e metablica cerebral (CFM, 2017).

A partir do momento no qual se suspeite do caso de ME, a famlia deve ser

comunicada a fim de dar transparncia e prestar esclarecimentos sobre o caso

23

especfico do potencial doador. E quando confirmado o diagnstico, este tambm

deve ser comunicado (Etapa 3). Para os autores Galvo et al (2007); e Westin,

Mendes e Victorino (2016), uma equipe profissional segura, com conhecimento

acerca da fisiopatologia da ME, imprescindvel na conduo desses casos. Alm

disso, necessrio notificar o caso CET a fim de regular e garantir a legitimidade

do processo. Tal procedimento est regulamentado no artigo 13 da Lei n

9.434/1997.

So contraindicaes absolutas os portadores de sorologia positiva para HIV I

e II e HTLV I e II; tuberculose em atividade; pessoas com infeces generalizadas e

pessoas com cncer (com exceo daqueles restritos ao sistema nervoso central,

carcinoma basocelular, cncer de tero e doenas degenerativas crnicas) (BRASIL,

2017a).

O caso de morte enceflica notificado CET passa por minuciosa avaliao

clnica e laboratorial para viabilizao do protocolo de ME e posterior entrevista

familiar. Assim, a comisso buscar a autorizao familiar por meio do Termo de

Autorizao de Doao de rgos (Etapas 5, 6 e 7).

Aps a autorizao familiar, o Termo de Autorizao de Doao de rgos

assinado deve ser enviado CET. Tambm faz parte do protocolo de ME a coleta

de material biolgico para sorologia a ser enviado CET, para posterior cadastro do

doador no SNT (Etapas 7, 8 e 9).

A partir do resultado da sorologia, do envio dos dados do potencial doador e

do cadastro do doador no SNT, gerada a Ficha de Informao do Doador, padro

utilizado por todos os estados brasileiros. A partir da, o sistema cruza as

informaes e gera o ranking, mediante o Cadastro Tcnico nico, composto pelo

banco de dados dos receptores (Etapa 9).

O destino dos rgos captados definido pela CET de acordo com as ofertas

estaduais, iniciando-se a oferta de rgos s equipes que contatam seus receptores

no intuito de verificar disponibilidade e condies clnicas. Caso no haja receptores

aptos para o rgo do doador, a CET repassa a oferta para outra esfera, a Central

Nacional de Transplantes (CNT), que distribui o rgo em nvel nacional (Etapas 10,

11 e 12).

As CET desempenham um papel importante no processo de

identificao/doao de rgos. Normatizadas pela Portaria de Consolidao n

4/2017, as atribuies das CET so, em linhas gerais: a inscrio e classificao de

24

potenciais receptores; o recebimento de notificaes de morte enceflica; o

encaminhamento e as providncias quanto ao transporte de rgos e tecidos; a

notificao Central Nacional dos rgos para o redirecionamento para outros

estados; dentre outras (BRASIL, 2017a).

Alguns rgos tm como critrio a compatibilidade antropomtrica e o tempo

de espera, como no caso de corao e pulmo. Os rins so distribudos conforme a

compatibilidade imunolgica e a gravidade do paciente. O fgado distribudo

fundamentalmente pelo tempo em lista. A crnea leva em considerao a

classificao (tectnica ou ptica), o tempo em lista e a idade do doador. As

priorizaes de receptores so casos parte na formulao do ranking (BRASIL,

2017a).

Na etapa 13, aps o aceite do receptor ao rgo disponibilizado, respeita-se o

prazo mximo para que a cirurgia seja feita aps a retirada do rgo, e cada rgo

tem um prazo curto para ser transplantado. As cirurgias de corao e de pulmo so

as mais urgentes e devem ser feitas no prazo de at 4 horas. Depois vm as do

fgado, rim e pncreas, chegando at 12 horas de isquemia fria. A operao dos dois

rins pode ser feita em at 36 horas. J a crnea pode ser transplantada em at 7

dias (BRASIL, 2017a).

O bito constatado aps a realizao do ltimo exame realizado para

constatao da ME. A entrega do corpo para o velrio ocorre aps a captao, no

caso de autorizao de doao, ou logo aps a negativa familiar (Etapa 14) (ABTO,

2002).

A legislao prev que, nos casos em que a doao no for vivel, o suporte

teraputico artificial ao funcionamento dos rgos ser descontinuado, hiptese em

que o corpo ser entregue aos familiares ou instituio responsvel pela

necropsia, nos casos em que se aplique (CFM, 2007; CFM, 2017).

A ltima etapa, de nmero 15, consiste no transplante propriamente dito,

representando a ltima alternativa teraputica segura e eficaz no tratamento de

diversas doenas crnicas incurveis, determinando a nica chance de melhoria na

qualidade e na perspectiva de vida do receptor (ABTO, 2009).

25

2.3 Aspectos Epidemiolgicos

Os transplantes de rgos slidos comearam a ser realizados no Brasil na

dcada de 60. Considerados como medidas teraputicas de eficcia comprovada

para tratamento de inmeras doenas de carter progressivo e incurvel, passaram

a influenciar a perspectiva de tempo e qualidade de vida dos doentes (BACCHELLA;

OLIVEIRA, 2006).

Mesmo com avanos na medicina e aumento do sucesso do transplante na

vida do receptor, o Brasil vem apresentando um quantitativo de transplantes que

pouco varia ao analisarmos a srie histrica dos ltimos trs anos no setor. Dados

retirados do caderno impresso Veculo Oficial da Associao Brasileira de

Transplantes de rgos (ABTO) indicam que, no ano de 2016, foram realizados (em

nmeros absolutos) 22.355 transplantes de rgos e tecidos nos estados brasileiros.

Em 2015 e 2014, respectivamente, foram realizados 21.772 e 20.934 transplantes

em mbito nacional (ABTO, 2016).

No Esprito Santo, o primeiro transplante de rgos foi o renal, datado de

1976, um marco para a poca. Segundo o ltimo compilado realizado pela ABTO

(2017), o Estado ocupa, no ranking de transplantes na modalidade a partir de doador

falecido, os seguintes lugares: para transplante de crnea, ficou em 13 lugar em um

ranking de 25 estados; para transplante heptico, ficou em 11 lugar em um ranking

de 13 estados; para transplante cardaco, ficou em 9 lugar em um ranking de 13

estados; e para transplante renal, ficou em 11 lugar em um ranking de 21 estados

que realizam tal modalidade de transplante.

O ltimo levantamento realizado e publicado pela Revista Brasileira de

Transplantes (ABTO, 2016) revela a necessidade estimada de transplantes e o

quantitativo efetivamente realizado no Esprito Santo, onde se observa que no foi

possvel alcanar os nmeros ideais, como se apresenta abaixo:

Tabela 1 - Apresentao dos dados referentes necessidade estimada de transplantes e ao quantitativo efetivamente realizado no Esprito Santo, Janeiro a Dezembro - 2016. Vitria, ES,

Brasil, 2018

Necessidade anual estimada e n

de transplantes Crnea Rim Fgado Corao Pulmo

Necessidade estimada 354 236 98 31 31

Transplantes realizados 327 82 27 8 0

Fonte: ABTO, 2016

26

Pesquisas revelam que os baixos nmeros de doao efetivada e,

consequentemente, de transplante, devem-se a vrios fatores, dos quais podemos

destacar a complexidade do processo de doao, as falhas na deteco e/ou

notificao da ME, a manuteno inadequada dos potenciais doadores de rgos e

a negativa familiar (LIMA, 2012; SCHIRMER et al., 2007).

A fila de espera nacional composta de 32.066 candidatos (ativos e

semiativos) e obedece a uma crescente ao longo dos anos, enquanto o nmero de

doadores efetivos ainda permanece insuficiente para suprir essa demanda. No

estado do Esprito Santo, esse nmero apresenta um total 1.077 pacientes espera

de um rgo (ABTO, 2017).

Abbud (2006) refere tambm que a disparidade em fila de espera pode

ocorrer devido a vrios fatores, tais como: a baixa remunerao das equipes; a falta

de conhecimento dos profissionais da sade; a dificuldade e o alto custo da

manuteno dos potenciais doadores nas UTIs; e a falta de pessoal treinado para o

processo de entrevista familiar, entre outros.

O ltimo compilado da Revista Brasileira de Transplantes (RBT),

correspondente ao perodo de 2009 a 2016, informa que foram notificados no

Esprito Santo 1464 potenciais doadores, dos quais 24% (352) se converteram em

doadores efetivos, mas 76% no se efetivaram. Ao descrever as causas de no

efetivao, tem-se que 41,5% corresponderam a problemas na manuteno do

potencial doador e na conduo do processo de morte enceflica (461), seguidos

por 34,5% de recusa familiar (384) e 24% de contraindicao mdica (267),

reforando a importncia de uma equipe profissional capacitada frente desse

processo (ABTO, 2016).

Diante do panorama de janeiro-setembro 2017, o estado do Esprito Santo

notificou 169 potenciais doadores, correspondendo a 56,7 por milho de populao

(pmp)/ano. Destes, 32 se tornaram doadores efetivos (10,7 pmp) e todos tiveram

seus rgos implantados. Dos doadores, 63% foram de mltiplos rgos. Das

causas da no concretizao da doao de rgos dos 169 potenciais doadores

notificados, observamos o seguinte:

a) 92 entrevistas familiares com 51 recusas, correspondendo a 55%;

b) 37 casos com contraindicao mdica, correspondendo a 22%;

c) 2 dos potenciais doadores evoluram para PCR , correspondendo a 1%;

27

d) 40 casos de Diagnstico de Morte Enceflica no confirmada,

correspondendo a 24%;

e) 7 casos de outras causas, correspondendo a 4%.

O perfil de doadores do estado do Esprito Santo, de janeiro a setembro 2017,

foi traado a partir do total de 32 doaes e apresentado na tabela abaixo:

Tabela 2 - Perfil de doadores do estado do Esprito Santo, janeiro a setembro 2017. Vitria, ES, Brasil, 2018

Tabela: Perfil dos Doadores

Sexo Feminino Masculino Total

7 25 32

Causa do Coma TCE AVE Outras Total

16 11 5 32

Grupo Sanguneo

Tipo A Tipo B Tipo O Tipo AB Total

12 4 14 2 32

Faixa Etria 0 - 17 anos 18-49 anos 50-64 ou mais anos Total

2 21 9 32

Fonte: ABTO, 2017

A regio metropolitana conta com dois hospitais com programa de transplante

de rgos slidos, localizados nos municpios de Cariacica e Vila Velha, alm de a

mesma regio ser responsvel pelo maior nmero de processos de doao de

rgos e tecidos. Hospitais de referncias em trauma situados em Vitria e Serra

concentraram o maior nmero de abertura de protocolo e doaes no ltimo ano

(2017), pois contam com equipe CIHDOTT que acompanham os protocolos de

doao de rgos e tecidos.

2.4 Comisso Intra-Hospitalar de doao de rgos e tecidos para

Transplante

As CIHDOTTs esto legalmente institudas desde 2005 em mbito nacional,

devendo ser institudas pela direo de cada hospital, mediante ato formal,

informando CET qualquer mudana na composio. A comisso dever ser

composta por, no mnimo, trs membros, dentre estes um mdico ou enfermeiro,

28

que dever ter feito o curso de coordenador intra-hospitalar de doao de rgos e

tecidos para transplante (BRASIL, 2005).

Os integrantes da CIHDOTT devem possuir conhecimento sobre o processo

de morte enceflica e doao de rgos e tecidos, habilidade de comunicao

interpessoal, familiaridade com documentaes e legislaes especficas, bem como

aspectos ticos que envolvem a doao (ARCANJO; OLIVIERA; SILVA, 2013).

Em 2017, foi publicada a Portaria de Consolidao n 4, que apresenta o

Regulamento Tcnico do Sistema Nacional de Transplantes. Destina o Captulo III e

a Seo II organizao das comisses, classificando-as em I, II e III, de acordo

com o nmero de bitos por ano, a equipe intensivista especializada e/ou o

credenciamento para programa de transplante. Elenca ainda as atribuies da

equipe e a necessidade de estrutura fsica e equipamentos para o desenvolvimento

das atividades especficas a serem desenvolvidas.

Dentre as atribuies das CIHDOTTs, destacam-se a coparticipao na

identificao do potencial doador; a notificao do caso CET; a articulao com

equipes, setores e estabelecimentos de sade, a fim de tornar o processo mais gil,

promover e organizar o acolhimento famlia doadora e responsabilizar-se pela

educao permanente dos funcionrios da instituio; bem como o registro de cada

processo, intervenes e atividades desenvolvidas e arquivamento do protocolo

(BRASIL, 2017).

A conduo efetiva do processo de doao engloba a segurana do

diagnstico de ME e a manuteno dos Potenciais Doadores. As alteraes

fisiolgicas desencadeadas pela ME, quando no conduzidas adequadamente,

tornam-se as principais causas de obstculos nos processos de doao

(DOMINGOS; BOER; POSSAMAI, 2010; GUIMARES; FALCO; ORLANDO,

2010).

A organizao e efetividade da comisso refere-se dinamizao do

diagnstico do processo de ME de um potencial doador, possibilidade de favorecer

o processo de formao dos profissionais, bem como ao senso de dever,

responsabilidade e compromisso, emergindo num processo de (des)construo para

um fazer tico, a fim de realizar um trabalho multidisciplinar mais eficaz e efetivo

(CAPPELLARO, 2008).

Equipe mdica e de enfermagem, psiclogo, assistente social, compondo ou

no a CIHDOTT, so algumas das diversas categorias profissionais envolvidas na

29

viabilidade de uma doao multiorgnica. Mas a importncia de uma comisso

atuante e a presena de um coordenador intra-hospitalar de transplante destacam-

se como facilitadores de todo o processo, os quais esto focados em garantir a

transparncia, a agilidade e a legitimidade das aes, para transmitir segurana a

todos os envolvidos e, principalmente, um olhar especial para a famlia

(BITTENCOURT, 2014).

Arcanjo, Oliveira e Silva (2013) destacam a importncia da avaliao do

profissional envolvido nesse processo de forma efetiva e constante, a fim de

favorecer o processo de aprimoramento baseado na experincia profissional e no

aporte terico, minimizando possveis falhas que possam interferir na converso do

Potencial Doador em Doador Efetivo.

2.5 Conhecimento, Atitude e Prtica CAP

As pesquisas sobre CAP foram introduzidas nas estratgias preventivas com

a inteno de identificar quais so as principais caractersticas de uma determinada

populao no que se refere a seus Conhecimentos, Atitudes e Prticas (BRASIL,

2002).

As pesquisas que utilizam o inqurito CAP podem propiciar a identificao

das reais lacunas do conhecimento, crenas ou padres de comportamento que

podem facilitar ou dificultar a compreenso e a ao, bem como causar problemas

ou criar barreiras para os esforos de controle de um determinado problema de

sade pblica (NICOLAU, 2011).

A pesquisa investigativa permite, tambm, identificar informaes errneas e

atitudes que so comumente realizadas pela populao do estudo, especificar

fatores que influenciam o comportamento, as razes para suas atitudes e como e

por que as pessoas praticam certos comportamentos de sade. Alm disso, pode

ser utilizado para identificar as necessidades, os problemas e as barreiras na

execuo de programas ou intervenes, assim como direcionar possveis solues

para melhorar a qualidade e a acessibilidade dos servios (NICOLAU, 2011).

Estudos brasileiros que avaliaram o conhecimento de profissionais de sade

sobre a temtica da doao de rgos e tecidos para transplantes e as etapas que

compem tal processo apontaram dficit de conhecimento (MAGALHES; VERAS;

30

MENDES, 2016; DORIA et al., 2015; FREIRE et al., 2014; FREIRE et al., 2012a;

SILVA; SILVA; RAMOS, 2010; JUNIOR et al., 2009; SCHEIN et al., 2008; GALVO

et al., 2007), revelando um cenrio comprometedor, uma vez que a base de atitudes

e prticas adequadas advm de um conhecimento adequado; e o contrrio tambm

verdade, pois a falta de conhecimento interfere significativamente junto s atitudes

e prticas inadequadas (SILVEIRA et al., 2014).

Assim como em todo o Brasil, o Esprito Santo tambm necessita de

discusses e aprimoramento acerca das limitaes encontradas nesse cenrio,

como logstica, infraestrutura, rotatividade de membros das comisses e falta de

recursos pblicos destinados ao processo de doao e transplante de rgos no

Estado.

Diante do exposto, fica elucidada a motivao deste estudo, a fim de

colaborar com planejamento gerencial de aes para qualificao das CIHDOTTs

estaduais.

31

3 OBJETIVOS

3.1 Geral

Analisar o conhecimento, a atitude e a prtica sobre processo de doao

de rgos e tecidos entre os profissionais atuantes nas CIHDOTTs.

3.2 Especficos

Construir um instrumento para coleta de dados;

Realizar validao de Contedo e Face;

Correlacionar o perfil sociodemogrfico e profissional da equipe

multiprofissional atuante nas CIHDOTTs com o conhecimento, a atitude e

a prtica no processo de doao de rgos e tecidos.

4 METODOLOGIA

32

4.1 Delineamento da Pesquisa

Esta dissertao constituda de dois estudos interdependentes: um estudo

metodolgico para a construo e validao de face e contedo de um questionrio

do tipo CAP Conhecimento, Atitude e Prtica; e um estudo analtico com o

propsito de analisar o conhecimento, a atitude e a prtica dos profissionais das

CIHDOTTs sobre processo de doao de rgos e tecidos .

4.1.1 ESTUDO METODOLGICO

Trata-se de um estudo metodolgico para construo e validao de

contedo e face de um questionrio do tipo CAP, a ser aplicado com a equipe

multiprofissional que atua nas CIHDOTTs. Para tanto, o processo de construo e

validao envolveu trs etapas, de acordo com artigo de metodologia semelhante,

destacando os autores Machado, Samico e Braga (2012).

A primeira etapa foi uma busca na literatura cientfica com acesso s bases

de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade) e

MEDLINE (Literatura Internacional em Cincias da Sade e Biomdica), na qual foi

possvel selecionar trabalhos cientficos sobre a temtica do estudo. Foram

adotados os seguintes procedimentos para levantamento e anlise da

documentao bibliogrfica: busca, seleo, impresso/solicitao e anlise dos

textos. Assim, foi possvel a construo de um esboo do questionrio, em sua

verso inicial, baseado em estudos cientficos prvios que analisaram o

conhecimento (FREIRE et al., 2012b; SCHEIN, et al., 2008) e as atitudes

(BARRADAS, 2010) da equipe multiprofissional no processo de doao de rgos

de tecidos. Ainda foi utilizado um estudo, publicado em 2016, que descreve as

diretrizes para avaliao e validao do potencial doador em morte enceflica

(WESTPHAL et al., 2016). Tambm foram consultados inquritos do tipo CAP em

distintas temticas (SOARES et al, 2016; MACHADO; SAMICO; BRAGA, 2012).

Os estudos que avaliam conhecimento, atitude e prtica em relao doao

de rgos e tecidos para transplantes, em sua maioria, so direcionados a

estudantes ou populao. Poucos envolvem profissionais de sade. A falta de

referncias sobre o questionrio CAP voltado para a temtica em estudo nos

33

motivou construo e validao deste instrumento para realizao de possveis

coletas de dados.

Para a seleo dos juzes, foi considerado o seguinte critrio de incluso: ser

enfermeiro com, pelo menos, um ano de atuao direta no processo de doao de

rgos e tecidos, sendo assim considerado com expertise na temtica. Todos so

integrantes da CET-ES. Dos nove juzes, seis so profissionais atuantes nas

atividades de planto operacional, um o enfermeiro que realiza o gerenciamento

do sistema e outro atua na coordenao estadual de CIHDOTT. Tambm participou

dessa etapa a enfermeira coordenadora da CET-ES. Esses profissionais foram

considerados capazes de avaliar a aparncia, o contedo e a clareza das questes

para posteriores adequaes necessrias.

Aps a reviso da literatura, foram selecionados os temas a serem abordados

nas questes do questionrio CAP, sendo ento apresentados para apreciao

pelos juzes, que descreveram, em impresso com espao destinado s adequaes

propostas, suas sugestes referentes ao contedo a ser abordado no instrumento.

Aps as sugestes, na ausncia dos juzes, as questes que comporiam o

questionrio foram elaboradas e organizadas.

A segunda etapa constituiu-se da validao de face (aparente) e contedo do

questionrio pelos mesmos nove juzes apresentados acima. O pesquisador deixou

claro que a participao seria voluntria e facultativa, e garantiu confidencialidade e

sigilo. Aps a concordncia em participar da pesquisa, o participante assinou o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), estabelecido pela resoluo

do Conselho Nacional de Sade n 466/201216.

Respeitados os preceitos ticos, o objetivo da pesquisa e o questionrio

foram apresentados aos juzes para que procedessem validao de face

(aparente) e contedo. Para tanto, eles preencheram um cabealho com as

seguintes informaes pessoais e profissionais: sexo, idade, titulao mxima,

tempo de graduao, tempo de prtica profissional, tempo de atuao na CET-ES.

Logo aps, receberam um impresso explicando o modo de preenchimento da

avaliao (Figura 1), procedido do questionrio:

Figura 2 - Orientaes para validao do Questionrio CAP. Vitria, ES, Brasil, 2018

34

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Para a avaliao do grau de concordncia entre os especialistas, foi utilizado

o ndice de Validade de Contedo (IVC), que uma medida ponderada que atribui

um peso linearmente mais forte quando o juiz acredita na adequao da questo

(LOPES; SILVA; ARAUJO, 2013).

Para concluir essa etapa, as questes foram pontuadas de acordo com a

escala Likert, considerando o grau de importncia para a composio do

questionrio (1=Nada pertinente; 2=Pouco pertinente; 3=Muito pertinente;

4=Muitssimo pertinente). O escore foi calculado pela soma das respostas para cada

item do questionrio sinalizado como 3 ou 4, e dividido pela soma total das

respostas aos itens. Os juzes deveriam avaliar as questes em relao

importncia para aquele domnio, mas tambm em relao operatividade,

semntica e ao conceito.

Para o clculo do IVC, foi utilizada a seguinte frmula: IVC = respostas 3 e

4/ respostas. Para Cubas e Nbrega, na abrangncia de 6 ou mais juzes, os

itens validados devem ter IVC maior que 0,79 (CUBAS; NBREGA, 2015).

A avaliao dos juzes ocorreu nos meses de maio e junho de 2017.

Na terceira etapa, foi realizada a anlise do escore de IVC das revises dos

juzes, com a finalidade de formar a verso final do questionrio, sendo considerado

como vlido os itens que alcanaram IVC maior que 0,79 para adequao do

questionrio.

A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora principal, e os dados foram

organizados em uma planilha eletrnica, no programa EXCEL verso 2007.

35

A pesquisa obteve a aprovao do Comit de tica do Centro de Cincias da

Sade/ UFES sob CAAE 01894416.0.0000.5060 mediante o parecer de nmero

1856.303, datado de 08/12/2016.

4.1.2 ESTUDO ANALTICO

Trata-se de um estudo analtico, de abordagem quantitativa, do tipo CAP

Conhecimento, Atitude e Prtica, com o propsito de analisar o conhecimento, a

atitude e a prtica dos profissionais atuantes nas CIHDOTTs no processo de doao

de rgos e tecidos para transplantes.

O questionrio CAP utilizado nos mbitos nacional e internacional e

consiste em um conjunto de questes que tem a finalidade de mensurar o que uma

certa populao sabe, pensa sobre determinado problema e como atua nele. um

tipo de avaliao formativa, que intui coletar dados de uma parcela populacional e

posteriormente favorecer a elaborao de intervenes (BRASIL, 2002).

Foram adotadas as seguintes definies tambm utilizadas por Machado,

Samico e Braga (2012) que os autores Badran (1995) e Gonalves e Leite (2005)

trouxeram em suas pesquisas, nas quais conhecimento est ligado capacidade de

adquirir e reter informaes a serem utilizadas; atitude, como a inclinao para

reagir de algum modo referente a algumas situaes; ver e interpretar eventos de

acordo com certas predisposies; organizar opinies com coerncia; e prtica

refere-se aplicao de regras e conhecimentos que levam execuo da ao de

maneira tica.

O questionrio utilizado foi elaborado pelos autores conforme bibliografia

vigente, perpassando por trs etapas a fim de alcanar evidncia de validao para

posterior aplicabilidade. Foram elas: Etapa I, busca de literatura cientfica sobre a

temtica para elaborao das questes. Etapa II, validao de face aparente e

contedo do questionrio por juzes. Para a seleo dos juzes, foi considerado o

seguinte critrio de incluso: ser enfermeiro com, pelo menos, um ano de atuao

na CET-ES, sendo assim considerado com expertise na temtica. Para a avaliao

do grau de concordncia entre os especialistas, foi utilizado o ndice de Validade de

Contedo (IVC), que uma medida ponderada que atribui um peso linearmente

mais forte quando o juiz acredita na adequao da questo. Etapa III, realizao da

36

anlise do escore de IVC das revises dos juzes, com a finalidade de formar a

verso final do questionrio.

O questionrio final constou de trs partes, sendo a primeira referente

identificao pessoal; a segunda parte, caracterizao profissional; e a terceira

parte, abrangendo o questionrio CAP, com 10 questes sobre conhecimento, 10

questes sobre atitude e 5 questes relativas a prtica, com enfoque no processo de

doao de rgos e tecidos para transplantes. As respostas foram consideradas

adequadas ou no adequadas de acordo com a literatura vigente sobre o assunto

Para anlise dos dados, conforme estudos de metodologia semelhantes, foi

considerado para conhecimento: questo adequada quando a resposta foi

verdadeiro para as assertivas verdadeiras, ou falso para as assertivas falsas;

questo no adequada quando a resposta foi falso ou no sei para as assertivas

verdadeiras ou verdadeiro ou no sei para as assertivas falsas, sendo, ento,

atribudo 1,0 ponto por questo respondida corretamente (MACHADO; SAMICO;

BRAGA, 2012; BADRAN, 1995).

Em relao a atitude: questo adequada quando a resposta foi concordo ou

concordo plenamente para as assertivas verdadeiras, ou discordo ou discordo

plenamente para as assertivas falsas; questo no adequada quando a resposta foi

discordo, discordo plenamente, no tenho opinio para as assertivas

verdadeiras, ou concordo, concordo plenamente, no tenho opinio para as

assertivas falsas, sendo, ento, atribudo 1,0 ponto por questo respondida

corretamente (MACHADO; SAMICO; BRAGA, 2012; BADRAN, 1995).

Quanto a prtica: questo adequada quando a resposta foi sim e questo

inadequada quando a resposta foi no, sendo, ento, atribudos 2,0 pontos por

questo respondida corretamente (MACHADO; SAMICO; BRAGA, 2012; BADRAN,

1995).

Diante do questionrio, foi calculada uma nota em uma escala de 0 a 10,

alcanando-se 10 pontos quando todas as questes apresentassem respostas

corretas, ento, quanto maior o escore, maior o conhecimento, a atitude e a prtica

dos profissionais estudados. No h consenso entre os estudos quanto pontuao

que deve ser considerada como satisfatria para que os escores do questionrio

CAP sejam entendidos como adequados. Considerando que os estudos ponderam

uma variao na porcentagem de acertos entre 50% (MACHADO; SAMICO;

37

BRAGA, 2012) e 90% (SANTOS et al., 2017), para este trabalho foram considerados

satisfatrios escores iguais ou superiores a 60%.

A coleta de dados foi realizada nas reunies trimestrais ministradas pela

Coordenao Estadual de CIHDOTT, sob a gesto da CET-ES, no perodo de junho

a setembro de 2017, em um total de duas reunies.

A populao do estudo foi formada pelos profissionais que atuam nas

CIHDOTTs dos hospitais pblicos, privados e filantrpicos do estado do Esprito

Santo que compareceram s reunies no perodo da coleta de dados e aceitaram,

formalmente, participar da pesquisa. As CIHDOTTs estaduais so compostas por

123 profissionais com atuao regulamentada no estado do Esprito Santo. Nas

reunies de junho e setembro, quando os dados foram coletados, participaram 34 e

31 profissionais respectivamente, dos quais 17 participaram das duas reunies,

sendo computadas 12 recusas participao na pesquisa, totalizando uma

populao de 36 profissionais.

As anlises estatsticas foram realizadas com SPSS 20 e BioEstat 5.3. As

variveis categricas foram expressas em frequncias absolutas e relativas e as

contnuas, por mdia desvio padro da mdia. A normalidade foi testada pelo

mtodo de Shapiro-Wilk. Foram usados os testes no paramtricos de Mann-

Whitney e Kruskal-Wallis. As mdias foram analisadas pelo teste no paramtrico de

Wilcoxon ou Friedman, quando apropriados. As relaes entre as variveis foram

realizadas atravs do coeficiente de Correlao de Spearman, o qual foi avaliado

qualitativamente da seguinte forma: se 0,00 < < 0,30 , existe fraca correlao; se

0,30 < 0,60 , existe moderada correlao; se 0,60 < 0,90 , existe forte

correlao; se 0,90 < 1,00 , existe correlao muito forte. Foi considerado

significante um valor de p

38

5 RESULTADOS

A partir do estudo, foi possvel elaborar dois artigos cientficos e um produto.

Artigo 1: Construo e Validao do Questionrio de conhecimento, Atitude e

Prtica sobre processo de doao de rgos

Revista: Cogitare Enfermagem

Submisso dia 23/01/2018

Artigo 2: Doao de rgos e tecidos para Transplantes: Conhecimento,

Atitude e Prtica

Revista: Revista Brasileira de Enfermagem REBEN

Previso de submisso: aps as contribuies feitas durante a defesa final.

Produto: Instrumento de avaliao de conhecimento, atitude e prtica dos

profissionais das CIHDOTT.

39

5.1 Artigo 1

Revista Cogitare Enfermagem

CONSTRUO E VALIDAO DO QUESTIONRIO DE CONHECIMENTO,

ATITUDE E PRTICA SOBRE PROCESSO DE DOAO DE RGOS

Angela Beatriz de Castro Lima1, Bruno Henrique Fiorim

2, Walckiria Garcia Romero Sipolatti

3, Lorena Barros

Furieri4, Mirian Fioresi

5

1Enfermeira. Especialista em Planejamento e Gesto de Servios e Sistemas de Sade. Servidora pblica

estadual. Atua na Central de Transplantes do Esprito Santo, Vitria- ES- Brasil.

2 Enfermeiro. Doutor em Cincias da Sade. Docente do Departamento de Cincias da Sade da Universidade

Federal do Esprito Santo, So Mateus- ES- Brasil.

3 Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade

Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.

4 Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade

Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.

5 Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade

Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.

Categoria do Artigo: Artigo Original

Autor Correspondente:

Autor: Angela Beatriz de Castro Lima

Instituio vinculada: Universidade Federal do Esprito Santo

Endereo: Av. Marechal Campos, 1468, Vitria, Esprito Santo, Brasil, CEP 29043-900.

E-mail: [email protected]

Telefone: 27- 981717577; 27- 3335 7119

40

5.2 Artigo 2

Revista Brasileira de Enfermagem

DOAO DE RGOS E TECIDOS PARA TRANSPLANTES: CONHECIMENTO,

ATITUDE E PRTICA

Angela Beatriz de Castro Lima1, Bruno Henrique Fiorim

2, Walckiria Garcia Romero Sipolatti

3, Andressa

Bolsoni Lopes4, Eliane de Ftima Almeida Lima

5, Lorena Barros Furieri6, Mirian Fioresi7

1. Enfermeira. Especialista em Planejamento e Gesto de Servios e Sistemas de Sade. Servidora pblica

estadual. Atua na Central de Transplantes do Esprito Santo, Vitria- ES- Brasil.

2. Enfermeiro. Doutor em Cincias da Sade. Docente do Departamento de Cincias da Sade da Universidade

Federal do Esprito Santo, So Mateus- ES- Brasil.

3. Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade

Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.

4. Enfermeiro. Doutora em Cincias (Fisiologia Humana) pela Universidade de So Paulo. Docente do

Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.

5. Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Docente do Departamento

de Enfermagem da Universidade Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.

6. Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade

Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.

7. Enfermeira. Doutora em Cincias Fisiolgicas. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade

Federal do Esprito Santo, Vitria-Es-Brasil.

Categoria do Artigo: Artigo Original

Autor Correspondente:

Autor: Angela Beatriz de Castro Lima

Instituio vinculada: Universidade Federal do Esprito Santo

Endereo: Av. Marechal Campos, 1468, Vitria, Esprito Santo, Brasil, CEP 29043-900.

E-mail: [email protected]

Telefone: 27- 981717577; 27- 3335 7119

41

5.3 Produto

Ttulo: Instrumento avaliativo sobre processo de doao de rgos e

tecidos para profissionais de sade integrantes das Comisses Intra-

Hospitalares de Doao de rgos e Tecidos para Transplantes

(CIHDOTT)

Equipe Tcnica: Enfermeira Angela Beatriz de Castro Lima; Professora

Doutora Mirian Fioresi; Professora Doutora Lorena Barros Furieri.

Descrio: Desenvolvimento de tecnologia gerencial de natureza

instrumento avaliativo sobre processo de doao de rgos e tecidos, a

ser divulgado de forma impressa e digital (Anexo C).

INTRODUO

Os integrantes das Comisses Intra-Hospitalares de Doao de rgos e

Tecidos para Transplantes - CIHDOTTs compe a equipe em torno do qual

construdo o processo de doao (deteco de Potencial Doador at a captao de

rgos e entrega do corpo), necessrio que a equipe seja formada por

profissionais seguros e com um processo de tomada de deciso coerente e pautado

no saber tico, legal e cientfico (BRASIL, 2005; ONT, 2011).

Para Roza e colaboradores (2006), importante que a equipe esteja

capacitada para atuar nessa rea, uma vez que o conhecimento dos profissionais

que trabalham com doao de rgos e tecidos um dos fatores que parece estar

relacionado melhoria de sobrevida do paciente (receptor) e at mesmo

viabilidade de enxerto (rgo ou tecido transplantado).

Arcanjo, Oliveira e Silva (2013) destacam a importncia da avaliao do

profissional envolvido nesse processo de forma efetiva e constante, a fim de

favorecer o processo de aprimoramento, baseado na experincia profissional e no

aporte terico, minimizando possveis falhas que possam interferir na converso do

Potencial Doador em Doador Efetivo.

Diante da necessidade de conhecer o perfil desses profissionais, pensou-se

na formulao deste questionrio avaliativo a fim de identificar informaes errneas

e atitudes que so comumente realizadas pela populao do estudo; especificar os

42

fatores que influenciam o comportamento, as razes para suas atitudes e como e

por que as pessoas praticam certos comportamentos de sade; alm de permitir a

identificao das necessidades, dos problemas e das barreiras na execuo de

programas ou intervenes, assim como direcionar possveis solues para

melhorar a qualidade e acessibilidade dos servios (NICOLAU, 2011).

ETAPAS DE ELABORAO

O questionrio utilizado foi elaborado pelos autores conforme bibliografia

vigente, perpassando trs etapas a fim de alcanar evidncia de validao para

posterior aplicabilidade. Foram elas: Etapa 1, busca de literatura cientfica sobre a

temtica para elaborao das questes. Etapa 2, validao de face aparente e

contedo do questionrio por juzes. Para a seleo dos juzes, foi considerado o

seguinte critrio de incluso: ser enfermeiro com, pelo menos, um ano de atuao

na CET-ES, sendo, ento, considerado com expertise na temtica. Para a avaliao

do grau de concordncia entre os especialistas, foi utilizado o ndice de Validade de

Contedo (IVC), que uma medida ponderada que atribui um peso linearmente

mais forte quando o juiz acredita na adequao da questo (LOPES et al., 2013). Na

etapa 3, houve a realizao da anlise do escore de IVC das revises dos juzes,

com a finalidade de formar a verso final do questionrio.

O questionrio final constou de trs partes, sendo a primeira referente

identificao pessoal; a segunda parte, caracterizao profissional; e a terceira parte

abrangendo o questionrio CAP, com 10 questes sobre conhecimento (cada uma

com valor de 1,0 ponto), 10 questes sobre atitude (cada uma com valor de 1,0

ponto) e 5 questes relativas prtica (cada uma com valor de 2,0 pontos), com

enfoque no processo de doao de rgos e tecidos para transplantes. As respostas

foram consideradas adequadas ou no adequadas de acordo com a literatura

vigente sobre o assunto.

Diante do questionrio, foi calculada uma nota em uma escala de 0 a 10,

alcanando-se 10 pontos quando todas as questes apresentassem respostas

corretas. Ento, quanto maior o escore, maior o conhecimento, a atitude e a prtica

dos profissionais estudados. No h consenso entre os estudos quanto pontuao

que deve ser considerada como satisfatria para que os escores do questionrio

CAP sejam entendidos como adequados. Considerando que os estudos ponderam

43

uma variao na porcentagem de acertos entre 50% (MACHADO; SAMICO;

BRAGA, 2012) e 90% (SANTOS et al., 2017), para este trabalho foram considerados

satisfatrios escores iguais ou superiores a 60%.

FINALIDADE E CONTRIBUIES

O questionrio, em sua verso final, contemplou trs dimenses passveis de

serem analisadas, sendo elas: conhecimento, atitude e prtica desenvolvida durante

o processo de doao de rgos e tecidos para transplante; e, consequentemente, a

prtica profissional da populao estudada. Nessa perspectiva, o desenvolvimento

de uma tecnologia embasada no referencial terico conceitual atualizado e com o

aporte legal vigente, em mbito nacional, expe o quanto esta produo pode

contribuir para com a sade pblica em seus diversos nveis de ateno.

Assim como em todo o Brasil, um estado da Regio Sudeste do Brasiltambm

necessita de discusses e aprimoramento acerca das limitaes encontradas nesse

cenrio, como dficit de conhecimento e insegurana da equipe CIHDOTT, logstica,

infraestrutura, rotatividade de membros das comisses e falta de recursos pblicos

destinados ao processo de doao e transplante de rgos no Estado.

A fim de subsidiar aes de qualificao do processo de trabalho das

CIHDOTTs estaduais e intervenes educacionais, foi elaborado este questionrio

avaliativo possibilitando realizar um diagnstico situacional da populao em estudo,

podendo ser utilizado para autoconheciemnto e tambm a nvel de gesto,

elucidando o que estes profissionais sabem, pensam e como agem perante o

processo de doao de rgos e tecidos.

REGISTRO

O produto ser enviado para a Secretaria de Direitos Autorais, vinculada a

Biblioteca Nacional, aps a defesa final, para ento obter registro do produto.

44

6 CONCLUSO

Foi possvel construir e obter evidncias de validao do questionrio CAP e

aplic-lo para o diagnstico situacional do estado do Esprito Santo. Ainda, ficou

constatado, que o conhecimento dos profissionais de sade que compem as

CIHDOTTs insuficiente, necessitando assim de investimento em educao e

atualizao profissional.

Para alm do dficit de conhecimento constatado, foi possvel tambm

verificar os fatores dificultadores do processo de trabalho, bem como a interao

entre os membros da equipe, e destes com a famlia, a Central de Transplantes e os

demais indivduos envolvidos no processo de doao de rgos.

Acredita-se que esta pesquisa poder trazer aos integrantes da CIHDOTT e

para outros profissionais de sade o estmulo busca por conhecimento cientfico e

a reflexo sobre o contexto desse trabalho to especfico. Um profissional seguro e

consciente de suas atitudes e prticas perante seu processo de trabalho pode

assegurar uma assistncia de melhor qualidade ao usurio, famlia e aos

pacientes em fila de espera por um rgo.

Tendo em vista a carncia de estudos nesta rea, h a necessidade de

aprofundamento e novas pesquisas a fim de alcanar melhores resultados e

benefcios potenciais qualidade de vida dos trabalhadores, usurios, famlias,

sociedade, bem como comunidade cientfica.

45

REFERNCIAS

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46

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