Conhecimento em Serviço Social

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE HISTÓRIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL RICARDO LARA A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM SERVIÇO SOCIAL: o mundo do trabalho em debate FRANCA 2008

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Ricardo Lara, Franca/SP: UNESP;

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE HISTRIA, DIREITO E SERVIO SOCIAL

    RICARDO LARA

    A PRODUO DO CONHECIMENTO EM SERVIO SOCIAL:

    o mundo do trabalho em debate

    FRANCA

    2008

  • RICARDO LARA

    A PRODUO DO CONHECIMENTO EM SERVIO SOCIAL:

    o mundo do trabalho em debate

    Tese apresentada Faculdade de Histria, Direito e Servio Social, Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, para obteno do ttulo de Doutor em Servio Social. rea de concentrao: Servio Social: Trabalho e Sociedade. Orientador: Prof. Dr. Jos Walter Canas

    FRANCA

    2008

  • Lara, Ricardo A produo do conhecimento em Servio Social : o mundo do trabalho em debate / Ricardo Lara. Franca : UNESP, 2008 Tese Doutorado Servio Social Faculdade de Histria, Direito e Servio Social UNESP. 1.Trabalho e trabalhadores Poltica social . 2. Servio So- cial Produo do conhecimento. 3. Mundo do trabalho As- pectos sociais. 4. Perspectiva ontolgica. CDD 362.85

  • RICARDO LARA

    A PRODUO DO CONHECIMENTO EM SERVIO SOCIAL:

    o mundo do trabalho em debate

    Tese apresentada Faculdade de Histria, Direito e Servio Social, Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, para obteno do ttulo de Doutor em Servio Social. rea de concentrao: Servio Social: Trabalho e Sociedade.

    BANCA EXAMINADORA

    Presidente: ________________________________________________________________

    Dr. Jos Walter Canas - UNESP/FHDSS 1 Examinador: _____________________________________________________________ 2 Examinador: _____________________________________________________________ 3 Examinador: _____________________________________________________________ 4 Examinador: _____________________________________________________________

    Franca, ______ de _______________ de 2008.

  • In memoriam de Genoef Malagutti Lara, que despertou em mim o companheirismo e a sensibilidade pela vida, desde os meus primeiros contatos

    com o mundo social.

    Ao Professor Narciso Joo Rodrigues Junior, velho companheiro, pela pacincia, discordncias e insistncias em indicar que o saber sobre o mundo

    e o mundo carece de transformao.

  • AGRADECIMENTOS

    Meus sinceros agradecimentos s pessoas que estiveram presentes no percurso da

    realizao deste trabalho.

    Ao Orientador, Professor Doutor Jos Walter Canas, pela oportunidade de ser um

    mestre flexvel e, com isso, me proporcionar a liberdade de pensamento. Por conseguinte,

    tive a oportunidade de produzir um saber sem as amarras to caras para a maioria dos ps-

    graduandos. Aprendi que teorizar fazer poltica e ambos, quando bem articulados, nos

    cobram posicionamentos radicais diante da catica desconsiderao do homem no mundo do

    trabalho sob a regncia do capital.

    Aos Professores Doutores Joo Antnio Rodrigues e Jos Fernando Siqueira da Silva,

    pelas importantes sugestes na qualificao desta tese e pelo companheirismo nos caminhos

    do Servio Social.

    Professora Doutora Claudia Maria Frana Mazzei Nogueira pelo companheirismo,

    incentivos e sugestes na minha vida profissional.

    Aos velhos amigos Diogo Prado Evangelista, Marlon Garcia da Silva do Grupo de

    Estudos Pensamento Vivo, que insistentemente sobreviveu s ofensivas contra-

    revolucionrias de carter reacionrio da Unesp/Franca, entre os anos 2001 e 2003. Os

    conflitos tericos e polticos tencionados entre ns e que, em alguns momentos, extrapolavam

    a normalidade da sonolenta academia universitria, foram de substancial importncia para o

    direcionamento de minha vida. Muito do que escrevo nesta tese tem suas razes no Grupo de

    Estudos Pensamento Vivo que felizmente contou com as indicaes do velho/novo

    Professor no-mestre, no-doutor Narciso Joo Rodrigues Junior que no se resumiu a

    nos oferecer obras e captulos de livros tericos, mas, acima de tudo, deu direo nossa vida

    social.

    Ao perene companheiro Diogo Prado Evangelista, novamente, pela leitura,

    discordncias e importantes sugestes na fase final desta tese.

    Aos meus pais, Revair Pedro Lara e Diva Ideltrudes Carneiro Lara que, mesmo de

    longe e com olhares fraternos e receosos, me acompanharam nesta caminhada que teve incio

    em 1999, quando resolvi abandonar o mundo do futebol para encarar o mundo acadmico e,

    conseqentemente, o mundo do trabalho.

    minha irm Flvia Lara que, quando criana, foi meu espelho nos estudos. Talvez

    minha maior torcedora nas partidas acadmicas. Agradeo a confiana que depositou em

  • seu irmo que s sabia correr atrs de bola. Seus incentivos em vrios momentos foram

    fundamentais para superar inmeros obstculos.

    minha querida esposa Thalita Simes Pinotti Lara, agradeo com especial afeto,

    pois do nosso amor construmos uma relao de companheirismo para todas as etapas da

    nossa vida. Sinto que no tenho somente uma esposa, mas, acima de tudo, uma companheira

    poltica. Ao meu querido filho Pedro Gabriel Pinotti Lara. Pequeno companheiro sedento de

    vida, curioso e que, na minha imaturidade, me ensinou a ser pai, palavra to fcil hoje, mas

    que, em outros tempos, me deixava noites sem dormir. Em todos os nossos momentos,

    observo a potncia de sua vida que se nutre em seu olhar e aes. Agradeo a ambos pela

    pacincia e espao de dilogo em relao s minhas inquietaes polticas e tericas.

  • O tempo pobre, o poeta pobre. Fundam-se num mesmo impasse. Em vo me tento explicar, os muros so surdos. Sob a pele das palavras h cifras e cdigos. O sol consola os doentes e

    no os renova. As coisas. Que tristes so as coisas, consideradas sem nfase.

    (Carlos Drummond de Andrade, A Flor e a Nusea)

    O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porm, desviamo-nos dele.

    A cobia envenenou a alma dos homens, levantou no mundo as maravilhas do dio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a misria e os morticnios.

    Criamos a poca da produo veloz, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A mquina, que produz em grande escala, tem provocado a escassez.

    Nossos conhecimentos fizeram-nos cticos; nossa inteligncia, empedernidos e cruis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

    Mais do que mquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligncia, precisamos de afeio e doura!

    Sem essas virtudes, a vida ser de violncia e tudo estar perdido.

    (Charles Chaplin, O ltimo discurso, do filme O Grande Ditador)

    A cincia se desenvolve a partir da vida; e, na vida, quer saibamos e queiramos ou no, somos obrigados a nos comportar de modo

    ontolgico.

    (Georg Lukcs, Ontologia do Ser Social)

  • RESUMO

    Na bibliografia recente das cincias sociais e humanas, o mundo do trabalho intensamente investigado por pesquisadores das mais diversas reas do conhecimento. Nas pesquisas, ganham destaques os estudos sobre a terceirizao e a subcontratao, a precarizao do trabalho, as inovaes tecnolgicas, o desemprego estrutural e as demais refraes da crise de acumulao do capital que acentuam, sobremaneira, as expresses da questo social. O Servio Social com seus programas de ps-graduao, ncleos de pesquisas e, respectivamente, seus meios de publicitao de conhecimentos apresentam significativas investigaes referente temtica, que absorve expressiva relevncia na produo terica da rea a partir de 1990. O mundo do trabalho uma temtica ampla e complexa que pressupe opes tericas e polticas acerca de aspectos a serem abordados num estudo cientfico, principalmente em razo de os estudos sobre o tema terem as mais variadas abordagens. Nesta tese, o objetivo analisar a produo terica do Servio Social sobre o mundo do trabalho no perodo de 1996 a 2006, com nfase nas principais temticas e tendncias das investigaes dos assistentes sociais. O material de pesquisa so os artigos das revistas Servio Social e Sociedade, Debates Sociais, Servio Social e Realidade e Praia Vermelha. A pesquisa de carter bibliogrfico com a tcnica de anlise temtica e apia-se no pressuposto de que a produo do conhecimento torna-se relevante quando tem como meta a busca de explicaes das contradies da realidade social. A preocupao central da pesquisa foram as investigaes dos assistentes sociais sobre o mundo do trabalho, mas, no desenvolvimento, surgiram vrios questionamentos que nos levaram a interrogar a objetividade da pesquisa e da produo do conhecimento no Servio Social; protestar em relao aos caminhos tortuosos da Universidade Moderna; perquirir a fragmentao do conhecimento das cincias sociais com suas metodologias reducionistas na apreenso da vida social; traar alguns apontamentos sobre a perspectiva ontolgica, e esforar para compreender os nexos causais entre trabalho e cincia. Foram analisados 79 artigos das revistas. Os resultados da pesquisa apresentam treze eixos temticos que auferem destaque na seguinte ordem: a) trabalho e poltica social b) transformaes do mundo do trabalho e reestruturao produtiva; c) precarizao do trabalho, informalidade e desemprego; d) Servio Social de empresa; e) trabalho infantil; f) trabalho, sindicalismo e lutas sociais; g) processo de trabalho e Servio Social; h) trabalho e qualidade de vida; i) trabalho feminino; j) centralidade do trabalho; k) trabalho e subjetividade; l) trabalho e tica; m) trabalho e pessoa com deficincia. A pesquisa apresenta o quadro sinptico da produo do conhecimento do Servio Social sobre o mundo do trabalho e, o que mais importante, demonstra as mais diversificadas tendncias de estudos que colaboram para os avanos tericos da profisso.

    Palavras-chave: Servio Social; produo do conhecimento; pesquisa; mundo do trabalho; perspectiva ontolgica.

  • ABSTRACT

    In the recent bibliography of social and human sciences, the world of work intensely is investigated by researchers of diverse areas of the knowledge. In the research, the studies gain prominences on the subcontractating, precarious work, the technological innovations, the structural unemployment and too much refractions of the crisis of accumulation of the capital that they accent, excessively, the expressions of the social matters. The Social Work with its programs of pos-graduation, centers of research and, respectively, its ways of to return public of knowledge presents significant inquiries referring to the thematic, that it absorbs expressive relevance in the theoretical production of the area from 1990.The world of the work is ample thematic and a complex one that estimates theoretical options and politics concerning aspects to be discussed in a scientific study, mainly in reason of the studies on the subject to have the most varied discussions. In this thesis, the object is to analyze the theoretical production of the social work on the world of work in the period of 1996 to 2006,with emphasis in the main thematic ones and trends of the inquiries of the social assistants the material of research are the articles from the magazines Servio Social e Sociedade, Debates Sociais, Servio Social e Realidade e Praia Vermelha. The character of the research is bibliographical one with the thematic analysis technicals and is supported in the idea that the production of the knowledge becomes relevant when the object of the searching of explanations for the contradictions of the social reality. The central concern of the research had been the inquiries of the social assistants on the world of work, then the development, some questionings had appeared that had taken us to interrogate the real object of the research and the production of the knowledge in the social work; to protest in relation to the winding ways of the Modern University;to research the fragmentation of the knowledge of social sciences with its reducing methodologies in the apprehension of the social life, to trace some notes on the perspective ontological, and to try hard to understand the connection between work and science. Were analyzed 79 articles from the magazines. The results of this research presents thirteen thematic axles that gain prominence in the following order: a) Work and social politic; b) The world of work in transformation and the productive reorganization; c) precarious work, informality and unemployment; d) Social Work of enterprise; e) Childrens work; f) Work, trade union and social discussions; g) The progress of work and Social Work; h)Work and quality of life; i)Feminine work; j)Centralized work; l) Work and subjectivity; l)Work and ethics; m) Work and person with deficiency. The research presents an abstract the production of the knowledge from Social Work about the world of work and, the most important is, to demonstrate the various trends of studies that collaborate to theoretical progress of the profession.

    Key words: Social Work; production of knowledge; research; world of work; perspective ontological.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ....................................................................................................................11

    1.1 Traos expressivos da pesquisa e da produo do conhecimento em Servio Social ......16

    2 O MUNDO DO TRABALHO NA PRODUO TERICA DO SERVIO SOCIAL ....44

    2.1 Eixos Temticos e Tendncias de Estudo sobre o Mundo do Trabalho ...........................46

    2.1.1 Trabalho e poltica social...................................................................................................46

    2.1.2 Transformaes do mundo do trabalho e reestruturao produtiva .....................................63

    2.1.3 Precarizao do trabalho, informalidade e desemprego ......................................................78

    2.1.4 Servio Social de empresa .................................................................................................91

    2.1.5 Trabalho infantil..............................................................................................................104

    2.1.6 Trabalho, sindicalismo e lutas sociais ..............................................................................111

    2.1.7 Processo de trabalho e Servio Social ..............................................................................121

    2.1.8 Centralidade do trabalho .................................................................................................135

    2.1.9 Trabalho e qualidade de vida ...........................................................................................143

    2.1.10 Trabalho feminino .........................................................................................................149

    2.1.11 Trabalho e subjetividade................................................................................................153

    2.1.12 Trabalho e tica .............................................................................................................158

    2.1.13 Trabalho e pessoa com deficincia.................................................................................162

    2.2 Quadro Sinptico da Produo Terica do Servio Social sobre o Mundo do Trabalho.164

    3 A OBJETIVIDADE DA PRODUO DO CONHECIMENTO EM SERVIO

    SOCIAL ............................................................................................................................170

    3.1 Aluses s Cincias Sociais .............................................................................................183

    3.2 Pressupostos de uma Perspectiva Ontolgica .................................................................192

    3.3 Prolegmenos para uma Compreenso de Trabalho e Cincia .....................................210

  • 3.4 A cincia e seus Nexos Causais com o Trabalho ............................................................218

    3.5 Por uma Cincia Humana................................................................................................228

    4 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................238

    4.1 Servio Social e mundo do trabalho ...............................................................................238

    REFERNCIAS.....................................................................................................................261

  • 1 INTRODUO

    No basta que o pensamento tenda sua realizao, preciso que a realidade mesma

    tenda ao pensamento. (MARX, 2004, p. 101).

    Nas ltimas dcadas, as diversas reas do conhecimento abordaram com veemncia o

    mundo do trabalho, especialmente a partir de mais uma crise de acumulao do capital

    iniciada nos anos 1970.

    O mundo do trabalho uma temtica ampla e complexa que pressupe opes tericas

    e polticas acerca de aspectos a serem abordados num estudo cientfico, principalmente em

    razo de as investigaes sobre o trabalho terem as mais variadas abordagens nas cincias

    sociais e humanas. Nesta tese, o objetivo analisar a produo terica do Servio Social sobre

    o mundo do trabalho de 1996 a 2006. Objetivamos levantar as principais temticas e

    tendncias das investigaes dos assistentes sociais sobre o mundo do trabalho.

    Este estudo continuao de nossa formao em Servio Social que teve incio no ano

    de 2000 e, nesse percurso, nos preocupamos em compreender as particularidades do Servio

    Social a partir da tica do trabalho1. Nessa trajetria, realizamos estudos e pesquisas que se

    condensam ainda de forma inconclusa nesta tese, pois acreditamos que a realizao deste

    trabalho mais uma etapa na nossa trajetria profissional e pessoal. A opo de estudar o

    mundo do trabalho no meramente uma questo de temtica ou de opo terica, , acima

    de tudo, esforo e preocupao em produzir um saber que no se contenta com uma anlise

    terica restrita, mas, sobretudo, almejamos um saber terico que se posiciona politicamente

    em favor do trabalho e, respectivamente, da humanidade social. Ao longo desta pesquisa,

    pretendemos indicar que teorizar fazer poltica.

    Teorizar fazer poltica no sentido de encarar a cincia, a pesquisa e a produo do

    conhecimento no de forma neutra como roga o preceito positivista de cunho conservador.

    Temos como pressuposto produzir um saber que se posiciona em favor do trabalho e, com as

    devidas conseqncias tericas e polticas desse posicionamento. bom ressaltar que nossa

    concepo est distante das necessidades polticas como critrio da cientificidade, ou seja,

    est afastado das concepes para as quais o verdadeiro cientificamente o que justificasse a

    necessidade da ttica poltica.

    1 As pesquisas que realizamos sobre o mundo do trabalho foram as seguintes: graduao (2000 2003) As determinaes e manifestaes do trabalho precrio: o caso dos trabalhadores acima de 40 anos; mestrado (2004 2005) As determinaes do trabalho (in)visvel: o trabalho subcontratado no setor caladista de Franca- SP; doutorado (2005 2008) A produo do conhecimento em Servio Social: o mundo do trabalho em debate.

  • Esta pesquisa tem relao estreita com nossa vida nesses ltimos nove anos. Desde

    19992, vivemos como estudante e, a partir de 2004, como professor, no espao universitrio.

    Observando o cotidiano da Universidade e as inquietaes que essas relaes trazem, que

    definimos o nosso tema de estudo no doutorado a produo do conhecimento em Servio

    Social sobre o mundo do trabalho. O ambiente universitrio que se apresenta to slido e rico

    diante do saber , ao mesmo tempo, to vazio e pobre quando so cobrados posicionamentos

    de alguns acadmicos. Claro que no podemos generalizar, pois ainda temos poucos ilustres

    representantes do gnero humano na Universidade, ou seja, homens e mulheres que se

    preocupam com um saber que favorea e lute pela humanidade. Mas o que mais nos angustia

    deparar com o ambiente universitrio e observar que muitos intelectuais esto satisfeitos

    em produzir e reproduzir a Universidade, sem preocupao alguma de estabelecer relaes

    com o conjunto das contradies e lutas sociais3.

    Por tais questes, optamos por estudar o mundo do trabalho e, simultaneamente,

    questionar os caminhos da produo do conhecimento, pois vivemos na contemporaneidade uma

    contra-revoluo extrema. A desconsiderao dessa situao em relao processualidade social

    pode nos levar a doce melodia do debate ps-modernidade, que tudo coloca em xeque com

    intenso esforo de erradicar a luta de classe e, por conseguinte, oculta o principal questionamento

    que, a nosso ver, a produo e a reproduo da vida social sob o sistema do capital.

    O mundo do trabalho compreendido como o palco central da produo e da

    reproduo da vida material e, conseqentemente, o espao seja no campo, na fbrica ou no

    setor de servios de intensa explorao dos trabalhadores que vendem sua fora de trabalho.

    As relaes precarizadas de trabalho tomaram propores alarmantes no capitalismo

    contemporneo, simultaneamente, o estranhamento intensificou-se no conjunto da vida social.

    O desafio desta tese estudar as investigaes dos assistentes sociais sobre o mundo

    do trabalho e analisar as suas construes tericas, para assim termos as principais tendncias

    de estudo dos profissionais em Servio Social sobre a relao capital versus trabalho

    contempornea e, especialmente, visualizarmos possveis caminhos tericos e polticos em

    relao s nossas preocupaes cotidianas com a luta de classes.

    As principais inquietaes que perpassam esta tese so as seguintes: o conhecimento

    produzido pelo Servio Social subsidiado pelas cincias sociais e humanas a respeito da principal

    tenso da vida social, que academicamente nomeamos de mundo do trabalho, tem como objetivo

    2 No ano de 1999 cursamos o primeiro ano do curso de Histria do Centro Universitrio Central Paulista (UNICEP). 3 Voltaremos a esse debate na terceira seo desta tese.

  • desvendar a potencia revolucionria do trabalho? O conflito capital versus trabalho foi solapado

    pela fome voraz de ttulo da Universidade Moderna e se tornou mais uma temtica de estudo?

    Para responder tais indagaes, foram pesquisados artigos das revistas Servio Social

    & Sociedade; Debates Sociais; Servio Social e Realidade; Praia Vermelha. Tivemos

    dificuldades em delimitar o material de pesquisa, pois a partir de 1980 o Servio Social

    comeou a colher os frutos do movimento de reconceituao4 e surgiram importantes

    investigaes sobre as mais variadas temticas que tomam como pressuposto a centralidade

    do trabalho. Portanto, nesta pesquisa restringimos a analisar os artigos que trazem como

    preocupao central o mundo do trabalho. A opo em investigar as citadas revistas ocorreu

    depois de uma ampla pesquisa sobre os principais meios de publicitao do conhecimento em

    Servio social. A seguir justificamos a nossa escolha.

    A revista Servio Social & Sociedade tem sua presena no debate terico do Servio

    Social h 26 anos, registrando parte significativa da trajetria histrica da profisso.

    Atualmente uma publicao de referncia nacional e internacional, cujo objetivo levar aos

    profissionais de Servio Social e reas afins as ltimas informaes sobre os mais diversos

    temas ligados vida social. Definimos como recorte histrico da pesquisa os anos de 1996 a

    2006, por condensar significativos estudos e publicaes do Servio Social sobre o mundo do

    trabalho. Um dos marcos que tambm influenciaram a definio desse perodo foi a

    publicao da revista Servio Social & Sociedade nmero 52, tendo como tema o mundo do

    trabalho. Observe a apresentao do Comit Editorial da revista:

    Este nmero da revista Servio Social e Sociedade est organizada em torna da problemtica do trabalho na sociedade capitalista contempornea. O impacto desencadeado pelas mudanas nos processos produtivos atinge a todos os pases, ainda que com expresses e desdobramentos particulares e diferenciados em cada um deles [...] fazer desta temtica o eixo desta edio no casual. [...] A temtica trabalho se desdobra pelos artigos, tanto na tica do seu rebatimento na prtica do Servio Social com diferentes segmentos sociais, quanto atravs da contribuio de Lukcs para a anlise ontolgica da categoria trabalho. (p. 7-8, 1996).

    A revista Debates Sociais uma publicao do Centro de Cooperao e Intercmbio

    em Servios Sociais (CBCISS)5. Seu primeiro nmero foi editado em 1968 e apresenta, desde

    4 Entendemos o movimento de reconceituao como a crtica desenvolvida pelos assistentes sociais, contra o Servio Social tradicional nos anos de 1960 e que se estendeu at inicio dos anos 1980. Esse processo foi de fundamental importncia para a profisso se aproximar de autores da tradio marxista e iniciar de forma mais homognea, no mbito da formao e do exerccio profissional, uma postura crtica diante do capitalismo.

    5 A Histria do CBCISS tem sua origem como representante da Conferncia Internacional de Bem-Estar Social em 1962. O CBCISS tem relevncia no cenrio internacional, projetando-se como comit e respeitado por seus trabalhos e contribuies relevantes. Informaes disponveis no site do CBCISS.

  • ento, discusses dos mais diversificados temas do Servio Social. A revista um espao de

    discusso da categoria profissional h 36 anos, por tal questo consideramos uma fonte de

    pesquisa relevante.

    A revista Servio Social e Realidade desde 1993 um peridico de circulao em mbito

    nacional e representa a produo do conhecimento do Programa de Ps-Graduao em Servio

    Social da Universidade Estadual Paulista Unesp/Franca, que tem como uma de suas linhas de

    pesquisa: Servio Social - Mundo do Trabalho. O programa de ps-graduao tem considervel

    nmero de dissertaes e teses que pesquisaram questes relacionadas temtica trabalho.

    A revista Praia Vermelha existe desde 1997 e responde pela produo acadmica do

    programa de ps-graduao da Escola de Servio Social da Universidade Federal do Rio de

    Janeiro (UFRJ). Esse programa de ps-graduao apresenta como uma de suas linhas de

    pesquisa: Processo de trabalho e classes sociais, que objetiva realizar estudos nos diferentes

    setores da economia e observar as alteraes e os impactos ocorridos no mundo do trabalho.

    Selecionamos essas revistas pela impossibilidade de analisarmos toda a produo

    terica disponvel do Servio Social sobre o mundo do trabalho. Consideramos que tais

    revistas condensam significativos estudos dos assistentes sociais e profissionais das reas

    afins e contm conselho editorial composto por expressivos pesquisadores da rea.

    Pressupomos que, ao analisarmos os artigos das revistas, teremos o quadro sinptico

    dos estudos dos assistentes sociais sobre o mundo do trabalho e, o que mais importante,

    surgiro as mais diversificadas tendncias de estudos que podero colaborar para os avanos

    tericos da profisso. Outro fator de acrscimo que a pesquisa pode trazer diz respeito

    seguinte afirmao: se o Servio Social for impreciso na apreenso do mundo do trabalho,

    tambm ficar aqum ou alm da realidade social nas propostas, nas elaboraes e execues

    de polticas, programas e projetos sociais. Contudo, no atual momento de produo terica

    dos assistentes sociais, torna-se relevante uma anlise sistematizada da produo do

    conhecimento sobre o mundo do trabalho.

    Esta pesquisa foi de cunho bibliogrfico6 e buscamos pressupostos tericos na

    inteleco de mundo que se pauta na [...] descrio ontolgica do ser social sobre bases

    materialistas [...]. (LUKCS, 1979, p. 14). Debruamos sobre o material de pesquisa no

    simplesmente para cumprir uma exigncia acadmica, mas, antes de tudo, para construir um

    6 Bibliografia o conjunto dos livros e artigos escritos sobre determinado assunto, por autores conhecidos e identificados ou annimos, pertencentes a correntes de pensamento diversas entre si, ao longo da evoluo da Humanidade. E a pesquisa bibliogrfica consiste no exame desse material, para levantamento e anlise do que j se produziu sobre determinado assunto que assumimos como tema de pesquisa cientifica. (RUIZ, 1996, p. 58).

  • saber que nos fortalea na compreenso das contradies da vida social, que orquestrada de

    forma destrutiva pelo sistema do capital. Esta forma de se inclinar sobre um determinado

    objeto de estudo ou realidade social no se atm somente ao empirismo pragmtico

    propriamente dito, mas destaca o real como edificao constituda historicamente e movido

    por rupturas que exigem novas superaes no confronto com o mundo dos homens.

    Na pesquisa, abrimos discusses que aparentemente so especficas, mas que englobam

    apreenses mais amplas e complexas. A produo do conhecimento em Servio Social sobre o

    mundo do trabalho foi nossa objetivao de estudo, que observamos atravs da cincia, no como

    algo esttico, fechado e final, mas buscamos ampliar as discusses e as possibilidades de pensar o

    objeto de estudo, pois, ao desvendarmos o objeto, as anlises mostraram os diversos

    caminhos na exposio terica. Entendemos que o recorte do objeto estudado, no existe por si

    s, est engendrado em um complexo sistema social. A busca da totalidade no desenvolvimento

    da investigao no foi um fato formal do pensamento, mas a busca pela:

    [...] reproduo mental do realmente existente, as categorias no so elementos de uma arquitetura hierrquica e sistemtica; ao contrrio, so na realidade formas de ser, determinaes de existncia, elementos estruturais de complexos relativamente totais, reais, dinmicos, cuja inter-relaes dinmica do lugar a complexos cada vez mais abrangentes, em sentido tanto extensivo quanto intensivo. (LUKCS, 1979, p. 28, destaque do autor).

    A preocupao central da pesquisa foram as investigaes dos assistentes sociais sobre

    o mundo do trabalho, mas, no desenvolvimento, surgiram vrios questionamentos que nos

    levaram a interrogar a objetividade da pesquisa e da produo do conhecimento no Servio

    Social; a protestar em relao aos caminhos tortuosos da Universidade Moderna; a

    perquirir a fragmentao do conhecimento das cincias sociais com suas metodologias

    reducionistas na apreenso da vida social; a traar alguns apontamentos sobre a perspectiva

    ontolgica e a esforar para compreender os nexos causais entre trabalho e cincia.

    A presente tese constituda por quatro sees. A segunda O mundo do trabalho na

    produo terica do Servio Social objetivou apresentar, a partir das anlises dos artigos, as

    principais preocupaes de estudo dos assistentes sociais sobre o mundo do trabalho alm de

    elaborar os eixos temticos que facilitaram a forma de expor o contedo.

    A terceira seo A objetividade da produo do conhecimento em Servio Social

    objetivou questionar a condio atual da pesquisa e da produo do conhecimento na

    Universidade Moderna e a fragmentao a que as cincias sociais so submetidas diante da

    concepo burguesa de cincia. Ainda na terceira seo, indicamos os pressupostos da

    perspectiva ontolgica com a pretenso de se aproximar de um saber carente do mundo e

  • mundo carente de transformao e, por conseqncia, perquirimos os nexos causais entre

    trabalho e cincia em busca de uma cincia verdadeiramente humana, que privilegie, na

    produo do conhecimento, a lgica do trabalho.

    Nas consideraes finais, retomamos a discusso da segunda seo e realizamos uma

    interlocuo com os principais autores que influenciam a produo terica do Servio social

    sobre o mundo do trabalho.

    Entretanto, antes de entrarmos na discusso da produo terica do Servio Social

    sobre o mundo do trabalho, realizamos na introduo um breve histrico da pesquisa e da

    produo do conhecimento em Servio Social. Destacamos o momento em que os assistentes

    sociais se afirmam como pesquisadores e realamos quando o trabalho emerge como temtica

    de destaque nas investigaes dos programas de ps-graduao da rea.

    1.1 Traos Expressivos da Pesquisa e da Produo do Conhecimento em Servio Social

    O Servio Social contemporneo responde por significativa produo de

    conhecimento nas mais diversas reas das cincias sociais e humanas. A partir de 1970, com

    maior evidncia, a profisso inseriu-se como interlocutora das demais reas do conhecimento

    e comeou a responder pela sua prpria produo terica, permitindo maior destaque

    pesquisa e produo do conhecimento. A ps-graduao em Servio Social ganhou espao

    junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq),

    Fundao Cooperao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) e s

    demais agncias de fomento. O pas oferece cursos de especializao, mestrado, doutorado e

    ps-doutorado. A qualidade e o volume da produo cientfica revelam uma profisso que

    alcanou sua maturidade intelectual.(NETTO, 1996 b).

    O debate sobre pesquisa e produo do conhecimento passou a ser freqente nos

    encontros da categoria profissional e, de certa forma, surge tambm como preocupao de

    estudo na bibliografia da rea. Portanto, para pr em relevncia a pesquisa e a produo do

    conhecimento em Servio Social, vamos resgatar momentos particulares no processo histrico

    da profisso.

    O Servio Social como profisso inserida na diviso social do trabalho tem algumas

    singularidades no seu fazer profissional. Uma das mais destacadas a execuo de polticas

    pblicas no enfretamento das expresses da questo social. No mbito cientfico, o Servio

    Social classificado como cincia social aplicada. Aqui j cabe uma breve pergunta. O que

    cincia social aplicada? Cremos que toda forma de existir da cincia advm de uma realidade

  • social, do mundo real e no de uma imaginao aleatria, em que no tenha o vnculo

    aplicado com a concretude histrica. Percebemos que desde a sua origem, o Servio Social

    mantm uma relao estreita com a cincia burguesa. Isso claro! Sua emerso como

    profisso se deu na idade do capitalismo monopolista, momento de organizao do Estado e

    das legislaes sociais segundo os princpios de regulao social liberal e consolidao das

    cincias particulares no mbito acadmico.

    No pice do capitalismo monopolista, perodo aproximado entre 1890 e 1940, as

    contradies sociais foram substanciais e a economia burguesa buscou sadas para manter o

    seu ciclo de acumulao. A principal caracterstica dessa fase do capitalismo o acrscimo

    dos lucros capitalistas atravs do controle dos mercados. Os principais fenmenos da

    organizao monoplica so: crescimento contnuo dos preos das mercadorias e servios

    produzidos pelos monoplios; taxas de lucros tendem a ser mais altas nos setores

    monopolizados; taxa de acumulao se eleva, em contrapartida, ocorre a tendncia

    descendente da mdia de lucro e a disposio ao subconsumo; investimentos se concentram

    nos setores de maior concorrncia; substituio do trabalho vivo pelo trabalho morto em

    razo da insero de novas tecnologias; crescimento do nmero de trabalhadores que vo

    compor o exrcito industrial de reserva de fora de trabalho, ou seja, o desemprego. (NETTO,

    1996 a).

    Para assegurar os mecanismos tencionados pela ordem monoplica, o Estado

    reivindicado como mecanismo de interveno extra-econmica, cuja funo assegurar os

    grandes lucros dos monoplios e desempenhar funes econmicas como investimentos em

    setores menos rentveis e em empresas com dificuldade de crescimento ou em crise; entregar

    aos monoplios os complexos construdos com fundos pblicos alm de outros fatores que os

    fortalecem em detrimento dos custeios do Estado. O Estado passa a ter como principal

    objetivo garantir as condies necessrias acumulao e valorizao do capital monopolista.

    Em relao s contradies sociais oriundas da relao capital versus trabalho, o

    Estado se responsabiliza por controlar e manter a fora de trabalho e por suportar certo nvel

    de organizao de luta classista. Parafraseando Jos Paulo Netto (1996 a, p. 25), o capitalismo

    monopolista, pelas suas dinmicas e contradies, cria condies tais que o Estado por ele

    capturado, ao buscar legitimao poltica por meio do jogo democrtico, permevel a

    demandas das classes subalternas, que podem fazer incidir nele seus interesses e suas

    reivindicaes imediatas. Com isso a questo social passa a ser objeto de interveno

  • contnua e sistemtica por parte do Estado, por meio das polticas sociais, as quais passam a

    atuar diretamente nas expresses da questo social7 de forma fragmentada e parcializada.

    Enquanto interveno do Estado burgus no capitalismo monopolista, a poltica social deve constituir-se necessariamente em polticas sociais: as seqelas da questo social so recordadas como problemticas particulares (o desemprego, a fome, a carncia habitacional, o acidente de trabalho, a falta de escolas, a incapacidade fsica etc.) e assim enfrentadas. (NETTO, 1996 a, p. 28, destaque do autor).

    Evidncia, portanto, a ao interventiva do Estado, que desconsidera a questo

    social como resultante da ordem burguesa e das contradies do modo de produo

    capitalista, na sua maneira conflitante de produzir e apropriar da riqueza social. Dessa forma,

    a questo social atacada nas suas expresses, nas suas seqelas, e so entendidas como

    problemticas para o desenvolvimento econmico-social.

    Nesse contexto, o Servio Social, em mbito mundial, emerge como profisso e

    consolida seu espao scio-ocupacional na idade do capitalismo monopolista. Para Jos Paulo

    Netto (1996 a, p. 6971, grifo do autor) somente na ordem societria comandada pelo

    monoplio que se gestam as condies histrico-sociais para que, na diviso social e tcnica

    do trabalho, constitua-se um espao em que se possam mover prticas profissionais como as

    do assistente social. A profissionalizao do Servio Social no se relaciona decisivamente

    evoluo da ajuda, racionalizao da filantropia nem organizao da caridade;

    vincula-se dinmica da ordem monoplica. Portanto, na consolidao da sociedade

    burguesa madura que surge o Servio Social com sua base sustentada nas modalidades do

    Estado burgus que se defronta com a questo social8 por meios das polticas sociais.

    nesta processualidade histrico-social que se pe o mercado de trabalho para o assistente

    7 Todas as evidncias disponveis sugerem que a expresso questo social tem histria recente: seu emprego data de cento e setenta anos. Parece que comeou a ser utilizada na terceira dcada do sculo XIX e foi divulgada at a metade daquela centria por crticos da sociedade e filantrapos situados nos mais variados espaos do espectro poltico. A expresso surge para dar conta do fenmeno evidente da histria da Europa Ocidental que experimentava os impactos da primeira onda insdustrializante, iniciada na Inglaterra no ltimo quartel do sculo XVIII: trata-se do fenmeno do pauperismo. Com efeito, a pauperizao (neste caso, absoluta) massiva da populao trabalhadora constituiu o aspecto mais imediato da instaurao do capitalismo em seu estgio industrial-concorrencial e no por acaso engendrou uma copiosa documentao. (NETTO, 2001 c, p. 42, destaque do autor).

    8 Em nossa perspectiva, a apreenso da particularidade da gnese histrico-social da profisso nem de longe se esgota na referncia questo social tomada abstratamente; est hipotecada ao concreto tratamento desta num momento muito especfico do processo da sociedade burguesa constituda, aquela do trnsito idade do monoplio, isto , as conexes genticas do Servio Social profissional no entretecem com a questo social, mas com suas peculiaridades no mbito da sociedade burguesa fundada na organizao monoplica. (NETTO, 1996 a, p. 14, destaque do autor).

  • social, e este passa a ter a sua ao profissional reconhecida como um dos agentes executores

    das polticas sociais.

    A profisso adquire concretude histrica nos marcos da expanso do capitalismo

    monopolista, confrontando o seu exerccio profissional com as seqelas da questo social.

    Nesse sentido a poltica social um dos campos essenciais da ao profissional, mas vale

    lembrar que o Servio Social no se esgota nessa ao.

    No Brasil, o Servio Social deu seus primeiros passos na dcada de 1930 com a

    iniciativa particular de vrios setores da burguesia com fortes laos com a Igreja Catlica,

    tendo como referncia, primeiramente, o Servio Social europeu de orientao Franco

    Belga. Martinelli (2000, p. 122) alerta que o Servio Social brasileiro no pode ser entendido

    como uma simples transposio de modelos ou mera importao de idias, pois suas origens

    esto profundamente relacionadas com o complexo quadro histrico conjuntural que

    caracteriza o pas naquele momento. Dentre os principais fatores da realidade brasileira, a

    autora destaca que a acumulao capitalista deixava de se fazer atravs das atividades agrrias

    e de exportao, centrando-se no amadurecimento do mercado de trabalho, na consolidao

    do plo industrial nacional e na vinculao da economia com o mercado mundial. O processo

    revolucionrio em curso no Brasil desde a segunda metade da dcada de 1920 vinha exigindo

    uma rpida recomposio do quadro poltico, social e econmico. A represso policial,

    peculiar da primeira repblica, atravs da qual fracassara o plano da burguesia em conter

    avano do movimento operrio, necessitava de mecanismos mais slidos para combater as

    contradies sociais.

    Os primeiros passos operacionais do Servio Social no Brasil se do no seio do

    movimento catlico. O processo de profissionalizao e legitimao encontra-se estreitamente

    articulado expanso das grandes instituies scio-assistenciais estatais, paraestatais e

    autrquicas, que nascem especialmente na dcada de 1940. Dentre as instituies podemos

    destacar: o Conselho Nacional de Servio Social (1938), a Legio Brasileira de Assistncia

    (1942), o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (1942) e o Servio Social da Indstria

    (1946). A criao de tais instituies tem como pano de fundo um perodo, na histria do

    Brasil, marcado pelo aprofundamento do modelo de Estado intervencionista sob a gide do

    capitalismo monopolista internacional e por uma poltica econmica nacional que privilegiou

    o crescimento da industrializao. No Brasil, o desenvolvimento material desencadeia a

    expanso do proletariado urbano, reforada pela migrao interna, o que cria a necessidade

    poltica de controlar e absorver esses segmentos sociais. O Estado incorpora parte das

    reivindicaes da classe trabalhadora nacional, ampliando a base de reconhecimento legal da

  • cidadania, do proletariado e dos direitos sociais por meio da criao de legislaes sociais.

    (IAMAMOTO, 2000, p. 30 - 31).

    No campo terico, as primeiras dcadas do Servio Social no Brasil tiveram como

    seiva o pensamento social da Igreja e o pensamento conservador9, principalmente, da

    sociologia norte-americana10. imperativo recordar as influncias das Encclicas Papais pela

    abordagem da escola Franco-Belga e as anlises funcionalistas norte-americana com as

    metodologias de ao: caso, grupo e comunidade. A relao da profisso com o iderio

    catlico vai cunhar seus primeiros referenciais no contexto de expanso e secularizao do

    mundo capitalista. Sua fonte a Doutrina Social da Igreja, a ao social franco-belga e o

    pensamento de So Toms de Aquino (Sculo XII) retomado em fins do sculo XIX por

    Jacques Maritain na Frana e pelo Cardel Marcier na Blgica (neotomismo), tendo como

    objetivo aplicar esse pensamento s necessidades do contexto social. Essa relao vai

    imprimir profisso um carter de apostolado fundado em uma abordagem da questo

    social como problema moral e religioso e numa interveno que prioriza a formao da

    famlia e do indivduo para soluo de problemas e atendimento de suas necessidades

    materiais, morais e sociais. O contributo do Servio Social, neste momento, incidir sobre os

    valores e comportamentos de seus clientes na perspectiva de sua integrao sociedade, ou

    melhor, nas relaes sociais vigentes do capitalismo monopolista. (YAZBEK, 2000, p. 22).

    Em seguida, a busca pelo aprimoramento tcnico buscou aproximao com o Servio Social

    norte-americano. Essa aproximao objetivava atender s novas configuraes do

    desenvolvimento do capitalismo da poca e que, por conseqncia, exigia da profisso maior

    qualificao e sistematizao de seu espao scio-ocupacional, priorizando responder s

    necessidades do Estado que iniciava a implementao das polticas sociais. De acordo com

    Iamamoto (2000, p. 28):

    Analisando a sociedade a partir do suporte terico da noo de comunidade, do princpio da solidariedade como base ordenadora das relaes sociais, o Servio Social alia a este universo terico um outro elemento: a filosofia social humanista crist. Ao mesmo tempo, aprimora os procedimentos de interveno incorporando os progressos do Servio Social norte-americano no que se refere aos mtodos de

    9 Originalmente parametrado e dinamizado pelo pensamento conservador, adequou-se ao tratamento dos problemas sociais quer tomados nas suas refraes individualizadas (donde a funcionalidade da pscicologizao das relaes sociais), quer tomadas como seqelas inevitveis do progresso (donde a funcionalidade da perspectiva pblica da interveno) desenvolveu-se legitimando-se precisamente como interveniente prtico-emprico e organizador simblico no mbito das polticas sociais. (NETTO, 1996 a, p. 75, destaque do autor).

    10 O Servio Social nasce e se desenvolve na rbita desse universo terico. Passa da influncia do pensamento conservador europeu, franco-belga, nos seus primrdios, para a sociologia conservadora norte-americana, a partir dos anos de 40. (IAMAMOTO, 2000, p. 26).

  • trabalho com indivduos, grupos e comunidade. Ou seja: enquanto os procedimentos de interveno so progressivamente racionalizados, o contedo do projeto profissional permanece fundado no reformismo conservador e na base filosfica aristotlico-tomista.

    Por outro lado, a recepo a-crtica das cincias sociais e humanas marcou o incio do

    Servio Social. As abordagens europias, em especial a interpretao durkeimiana do sistema

    da diviso do trabalho, a peculiar teorizao sobre o normal e o patolgico e sua relao com

    as matrizes do pensamento catlico integraram as bases tericas11 do Servio Social numa

    tica restauradora e moralista. Com a consolidao das cincias sociais e a sua conseqente

    fragmentao que deu margem consolidao da sociologia, a escola norte-americana, com

    as elaboraes de Mary Richmond, designa ao exerccio do assistente social a noo de uma

    cincia social sinttica aplicada. Segundo Paulo Netto (1996 a, p. 142, grifo do autor): O

    carter aplicado provinha da convico de que era essencial profisso intervir sobre

    variveis prtico-empricas, mais que qualquer outra dimenso; o trao sinttico derivava do

    tnus sistemtico da sociologia norte-americana de ento. O empirismo atribudo ao Servio

    Social resultado de sua consolidao na diviso social do trabalho. Atribui-se a ele o carter

    de uma profisso interventiva, que necessita dar resposta prtica para as contradies sociais.

    As cincias sociais so buscadas pelos profissionais de uma forma sistemtica ao extremo,

    havendo, em alguns momentos, reivindicaes de receiturios capazes de oferecer caminhos

    eficazes para as aes profissionais, desconsiderando, inclusive, o processo histrico-social.

    Calcado nesses preceitos, o Servio Social tem sua filiao terica com as cincias sociais do

    sculo XX que, em suas construes terico-metodolgicas, produz um saber fragmentado

    sobre a realidade social.

    A aceitao inicial de uma aproximao receptora do Servio Social em relao s

    cincias sociais enfraqueceu o eixo de apreciao crtica dos subsdios tericos. A matriz

    positivista ofereceu uma compreenso das relaes sociais e do ser social de cariz imediatista,

    restringindo a perspectiva terica ao mbito do verificvel, da experimentao e da

    fragmentao do homem e da sociedade. Essa viso de mundo no oferecia possibilidades de

    mudanas, seno dentro da ordem estabelecida, voltando-se sempre para ajustamentos e

    conservaes do status quo da ordem do capital. Na sua orientao funcionalista, esta

    abordagem apresenta para a profisso propostas de trabalho ajustadoras e um perfil

    11 Segundo Yasbek (2000, p. 23, destaque do autor): Este processo vai constituir o denominado arranjo terico doutrinrio, caracterizado pela juno do discurso humanista crist com o suporte tcnico-cientfico de inspirao na teoria social positivista, reitera para a profisso o caminho do pensamento conservador (agora, pela mediao das Cincias Sociais).

  • manipulatrio, voltado para o aperfeioamento dos instrumentais e das tcnicas para a

    interveno, com metodologias de ao que buscava padres de eficincia. Observa-se

    uma tecnificao da ao profissional que acompanhada de uma crescente burocratizao

    das atividades institucionais. (YASBEK, 1994, p. 71). Segundo Paulo Netto (1996 a, p. 143,

    destaque do autor), no havia validao crtica do acervo das cincias sociais por parte dos

    assistentes sociais, resultando em:

    [...] a) o tnus do Servio Social tendia a ser heternimo, isto , tendia a ser dinamizado a partir da valorao cientfico- acadmica varivel desfrutada num momento dado por uma ou outra cincia social ou uma de suas correntes; b) a verificao da validez dos subsdios tendeu a desaparecer do horizonte profissional do assistente social j que prvia e supostamente realizada no sistema de saber de origem , donde uma escassa ateno pesquisa e investigao (e as escassas predisposio e formao para tanto). A outra conseqncia deletria foi a consolidao do praticismo na interveno do profissional (praticismo que, como vimos deita razes na prpria emergncia da funcionalidade histrico-social do Servio Social); tacitamente, o carter aplicado de interveno profissional passou a equivaler ao cancelamento da inquietao em face dos produtos das cincias sociais.

    J a partir dos anos de 1950, o Servio Social, na continuidade e na qualidade de

    receptor a-crtico das cincias sociais, passou a ter influncias tericas heterogneas que vo

    desde as concepes tericas conservadoras s mais progressistas. Em princpio, no decurso

    da modernizao do Servio Social, h uma aproximao com os fundamentos da teoria da

    modernizao presente nas cincias sociais. Esse perodo terico respondia pelas condies

    materiais do Brasil que se aventurava no desenvolvimentismo e apostava no capitalismo

    industrial. Simultaneamente ocorre o desdobramento de alguns setores populares que

    causavam calafrios aos poderes autoritrios da sociedade brasileira. Diante da realidade social

    do pas, o Servio Social passa a ser um agente importante para o enfrentamento da questo

    social, o que amplia o seu campo de interveno. No mbito interno da profisso, j na

    dcada de 1950, os primeiros questionamentos do status quo do Servio Social se fazem

    presentes, principalmente, pela preocupao de alguns profissionais em responder s nsias de

    alguns setores populares.

    Nos anos de 1960, sob a tutela da ditadura militar, a categoria profissional,

    impossibilitada de questionar as condies polticas, sociais e econmicas da realidade

    brasileira, inicia um ciclo de indagaes sobre o objeto, os objetivos, os mtodos e os

    procedimentos de interveno do Servio Social, dando incio ao movimento de

  • reconceituao. Os encontros12 que marcaram esse perodo tiveram avanos que

    possibilitaram aos assistentes sociais questionar a natureza do Servio Social. No decorrer do

    movimento de reconceituao, segmentos progressistas da profisso se aproximaram dos

    movimentos sociais, de perspectivas tericas crticas, de grupos de esquerda das

    Universidades e questionaram o tradicionalismo da profisso, dando incio ao que se afirmou,

    a partir dos anos de 1980, como ruptura com o Servio Social tradicional. Segundo Iamamoto

    (2000, p. 37, destaque do autor):

    O posicionamento crtico que passa a ser assumido nos ltimos anos por uma marcela minoritria, embora crescente, de Assistentes Sociais emerge no apenas de iniciativas individuais, mas como resposta s exigncias apresentadas pelo momento histrico. Torna-se possvel a medida que o contingente profissional se expande e sofre as conseqncias de uma poltica econmica amplamente desfavorvel aos setores populares. Nessa conjuntura poltico-econmico em que j no se podem ignorar as manifestaes populares, em que os movimentos sociais e o processo organizativo de diversas categorias profissionais se revigoram, a prtica do Assistente Social passa a ser analisada a partir das implicaes polticas do papel desse intelectual vinculado a um projeto de classe. Verificam-se tentativas de ruptura de parte do meio profissional com o papel tradicionalmente assumido, na procura de somar-se s foras propulsoras de um projeto de sociedade. A isso se alia a busca de fundamentos cientficos mais slidos que orientam a atuao, ultrapassando a mera atividade tcnica. Questiona-se, inclusive, que tipo de orientao terico-metodolgica deve informar a prtica e como esta pode ser repensada a servio da produo do conhecimento voltado para os interesses dos setores populares e de sua organizao autnoma. Essa nova qualidade de preocupao com a prtica profissional visa ainda resgatar, sistematizar e fortalecer o potencial inovador contido na vivncia cotidiana dos trabalhadores, criao de alternativas concretas de resistncia ao processo de dominao.

    A perspectiva da inteno de ruptura13, no processo de renovao do Servio Social,

    objetivava romper com o tradicionalismo e suas implicaes terico-metodolgicas e prtico-

    profissionais. Nesse perodo, o regime militar do ciclo autocrtico burgus obstaculiza

    liminarmente o projeto de ruptura no terreno da prtica profissional. A reforma do Estado e a

    realocao profissional dos assistentes sociais no propiciavam margem para prticas crticas

    nem nos espaos do setor privado nem nos espaos setor pblico. Neste momento, a inteno de

    ruptura, como perspectiva profissional que objetiva romper com o tradicionalismo e escrever

    novas pginas para o Servio Social, aproxima-se da Universidade que se apresentava como um

    12 Os encontros que nos referimos so os seminrios de teorizao: Arax (1967); Terespolis (1970); Sumar (1978) e Alto da Boa Vista (1984). Nesses seminrios ocorreram reflexes inscritas no processo de renovao do Servio Social no Brasil.

    13 A emergncia visivelmente objetivada desta perspectiva renovadora est contida no trabalho levado a cabo, mais notadamente entre 1972 e 1975, pelo grupo de jovens profissionais que ganhou hegemonia na Escola de Servio Social da Universidade Catlica de Minas Gerais, onde se formulou o depois clebre Mtodo Belo Horizonte. na atividade deste grupo que a inteno de ruptura se explica originalmente em nosso pas, assumindo uma formulao abrangente que at hoje se revela uma arquitetura mpar. (NETTO, 2001b, p. 261).

  • espao menos adverso que os outros para apostas de rompimento; era, comparado ao demais,

    uma espcie de ponto fulcral na linha da menos resistncia. (NETTO, 2001b, p. 250).

    Nos anos 1970, o espao acadmico oferecia inicial solidez com a graduao e a

    recente ps graduao em Servio Social, o que proporcionava um caminho um pouco mais

    seguro para os questionamentos e o trabalho terico-metodolgico pretendido pelos

    protagonistas da perspectiva da inteno de ruptura. Na Universidade, foi possvel a

    interao intelectual entre assistentes sociais que pretendiam se dedicar pesquisa, sem as

    demandas imediatas da prtica profissional submetida s exigncias e aos controles

    institucionais das agncias empregadoras. No espao universitrio, foi possvel realizar

    experincias supervisionadas nos campos de estgios com novas abordagens e referenciais e,

    principalmente, quebrar o isolamento intelectual do assistente social e viabilizar experincia

    de prticas autogeridas. (NETTO, 2001b).

    A partir da perspectiva da inteno de ruptura, o Servio Social se insere com maior

    assiduidade no espao acadmico e a interlocuo com profissionais das diversas reas do

    saber (historiadores, filsofos, socilogos) cria oportunidade para o desenvolvimento da

    pesquisa e da produo do conhecimento. A busca pela renovao que gerou a ruptura com o

    tradicionalismo no seio da profisso ofereceu uma nova insero dos assistentes sociais no

    debate acadmico, e a pesquisa emerge como um dos principais pr-requisitos para a

    formao e o exerccio profissional.

    O movimento de reconceituao do Servio Social ocorreu em toda a Amrica Latina e

    atribuiu aos assistentes sociais do Continente a necessidade de construo de um projeto

    profissional comprometido com as demandas da classe trabalhadora e dos movimentos sociais.

    Neste momento, inicia-se a interlocuo da profisso, no de forma homognea, com a

    obra de Marx em alguns casos enviesados e com duvidoso rigor terico. Posteriormente, nos

    anos de 1980, com outros pensadores da tradio crtica como Antonio Gramsci com as

    abordagem acerca do Estado, da sociedade civil, do mundo dos valores, da ideologia; com

    Georg Lukcs no resgate da centralidade do trabalho e dos enunciados ontolgicos da obra

    de Marx; com Agnes Heller na problematizao sobre o cotidiano, os valores e a tica; com

    E. P. Thompson na concepo acerca das experincias humanas; com Eric Hobsbawm

    na contribuio sobre a interpretao marxista da histria alm de outros importantes

    estudiosos crticos do mundo dos homens.

    Numa rpida linha de raciocnio, podemos dizer que o Servio Social iniciou-se sobre as

    balizas da teoria social da Igreja, passou para a concepo positivista de uma sociologia

    conservada permeada por ecletismos e, no movimento de reconceituao, sofreu influncias de

  • um leque amplo de abordagens tericas das cincias sociais, que vai desde as perspectivas

    funcionalistas, fenomenolgicas, passando pelo vulgarismo terico at as fontes de uma teoria

    social crtica. Tais influncias foram simultneas e emergiram de acordo com as determinaes

    histricas do pas e, principalmente, com a necessidade da profisso em dar respostas que se

    aproximassem da realidade social brasileira. A luta pela redemocratizao no incio dos anos de

    1980, no alvorecer dos movimentos sociais, um exemplo, que desencadeou a afirmao do

    compromisso do Servio Social, nos Cdigos de tica de 1986 e 1993, com a classe trabalhadora

    e com os valores de uma sociedade que v para alm do capital.

    Nas dcadas de 1970 e 1980, o Servio Social aproximou-se de matrizes tericas que

    colocavam os movimentos sociais, as lutas de classes e a questo social como categorias de

    anlises essenciais para o entendimento da realidade social. Nesse momento as teorias sociais

    crticas comearam a ser estudadas com maior aprofundamento pelos assistentes sociais, com

    especial ateno pela teoria social de Marx.

    Nos anos de 1980, h certa densidade do debate terico, o que gerou maior

    visibilidade acadmica e cientfica da profisso. A pesquisa que at ento no era uma

    realidade determinante do modo de ser e existir do Servio social passa a ser uma necessidade

    em todos os nveis de formao. A aproximao do Servio social com a teoria social crtica

    proporcionou avanos no arsenal terico-metodolgico da profisso, o que ultrapassou a

    condio de mero executor de polticas, programas e projeto sociais e passou a assumir, nos

    ltimos 20 anos, a condio de planejadores e gestores das polticas sociais e fez crescer o

    material bibliogrfico produzido pela rea.

    A pesquisa passa a ser ineliminvel para o Servio Social em todas as suas

    manifestaes profissionais. Em sua origem, praticamente no existia preocupao com a

    pesquisa. A partir da renovao do Servio Social, ou seja, do movimento do reconceituao,

    o Servio Social evidencia-se diante da Universidade e da produo do conhecimento, pois o

    aprofundamento cientfico foi um imperativo interior e exterior para a profisso, tanto para

    avanar nas anlises sobre a sua especificidade14 e as demandas postas, como para assegurar

    maior recolhimento no mercado de trabalho. A postura investigativa passou a ser uma

    exigncia para a sistematizao terico-prtica do exerccio profissional e para definio de

    14 Diante da amplitude e da complexidade das questes que envolvem a definio de conhecimento que o Servio Social v-se obrigado a refletir sobre a sua prpria natureza. ento a partir do deslocamento de uma programao desenvolvida pela Associao Brasileira de Ensino no Servio Social, nestas duas ltimas dcadas, principalmente nos primeiros anos de 1980, que travado no interior do Servio Social um debate polmico sobre a construo do conhecimento. (SETBAL, 2005, p. 31).

  • estratgias e de instrumentais tcnico-operativos que oferecessem melhores formas de

    enfrentamento das manifestaes da questo social.

    Nas primeiras dcadas do Servio Social no Brasil, pouco se cobrou na direo do

    aprimoramento cientfico. Esperavam-se estratgias que conseguissem dar respostas s

    manifestaes de pobreza, de misria, de violncia. A cobrana pelo aprimoramento

    cientfico, no seio da prpria categoria profissional, foi fundamental para o seu

    reconhecimento e amadurecimento, negando as vises assistencialista, paternalista, caritativa

    que circunscrevia o Servio Social. O aprimoramento cientfico contribuiu sobremaneira para

    o enfrentamento das expresses da questo social, com estratgias que ultrapassam o

    sentimentalismo e o messianismo de vis religioso to presente no meio profissional.

    A relao do Servio Social com a pesquisa passou a ser agenda de vital importncia a

    partir dos anos de 1980. As entidades representativas da profisso como a Associao Brasileira

    de Ensino em Servio Social (ABESS) e o Centro de Documentao em Pesquisa e Poltica

    Social e Servio Social (CEDEPSS), juntamente com o surgimento dos programas de ps-

    graduao, exerceram papel de extrema relevncia para o desenvolvimento da pesquisa na rea.

    Segundo Ammann (1984, p. 147): A incorporao da pesquisa na prtica profissional da rea

    um fenmeno relativamente recente, posto que tinha havido esforos orientados para consolidar

    uma poltica geral de capacitao e investigao, no campo do Servio Social, por parte dos

    organismos profissionais.

    Para Simionatto (2005, p. 2425), os fatores fundamentais, nos anos 1980, foram a

    reforma curricular de 1982, em que a pesquisa aparece como uma das exigncias da formao

    profissional, e a criao, em 1987, do CEDEPSS. Sob a coordenao do CEDEPSS e com a

    participao das demais entidades da categoria, a pesquisa ganhou novo impulso. Houve

    investimento na produo do conhecimento, conformaram-se posies cientficas e polticas

    pela construo de uma coletividade que nos ambientes universitrio, poltico e associativo,

    foi audaz em estabelecer caminhos fecundos para pensar a realidade social brasileira. A

    mesma autora ainda comenta que a organizao e a sistematizao do conhecimento

    ganharam novos espaos de divulgao com a criao dos Cadernos de Pesquisa do

    CEDEPSS e dos Cadernos ABESS, que vigoraram de 1986 a 198815. As produes

    veiculadas nesses espaos evidenciaram as preocupaes da pesquisa em relao discusso

    metodolgica, s controvrsias paradigmticas nas cincias sociais e humanas, suas

    implicaes na construo do conhecimento e na interveno profissional.

    15 Os Cadernos foram substitudos, a partir de 1988, pela Temporalis, que est atualmente na oitava edio.

  • consenso na literatura da rea que a aproximao do Servio Social com a pesquisa

    em propores considerveis, no que diz respeito ao conjunto da profisso, ocorreu com a

    insero do Servio Social nas Universidades, pois at 197016 os cursos funcionavam como

    escolas isoladas. As universidades que primeiro ofereceram cursos de ps-graduao foram:

    Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC/SP) - (1971); Pontifcia Universidade

    Catlica do Rio de Janeiro (PUC/RIO) - (1972); Universidade Federal do Rio de Janeiro

    (UFRG) - (1976); Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) - (1977);

    Universidade Federal da Paraba (UFPb) - (1979); Universidade Federal de Pernambuco (UFPe)

    - (1979). Apesar disso, no podemos esquecer que o Servio Social apresenta preocupaes

    com a produo do conhecimento antes do surgimento da ps-graduao, como exemplo: os

    materiais do Centro Brasileiro de Cooperao e Intercmbio de Servio Social (CBCISS) que

    com seus trabalhos sustentados no pensamento conservador de matriz positivista subsidiou os

    encontros de Arax (1967) e Terespolis (1970) durante o movimento de reconceituao. O

    Centro Latino Americano de Trabalho Social (Celats) foi outra tendncia que se aproximou da

    matriz marxista e foi responsvel pelo desenvolvimento do Mtodo B. H., que procurou

    confrontar terica e politicamente com os documentos da CBCISS. Embora o CBCISS e o

    Celats no constituam rgos de investigao, tm, em alguns momentos de sua trajetria,

    utilizado os procedimentos metodolgicos da pesquisa, com claro propsito de estudar as

    prticas profissionais do Servio Social (SETBAL, 2005, p. 73).

    Entendemos que a pesquisa em Servio Social no pode ser reduzida aos programas de

    ps-graduao, pois em todas as reas de interveno da profisso, muitas consolidadas e

    outras emergentes de acordo com as condies scio-histricas oriundas dos mecanismos do

    Estado ou da sociedade civil no enfrentamento da questo social, ela o instrumental de

    trabalho em potencialidade que oferece condies de aproximao, nas devidas propores,

    da realidade e de suas complexas determinaes.

    A partir dos anos 1980, a pesquisa para o Servio Social passou a ser situada como

    uma das principais preocupaes, pois era necessria a afirmao da profisso no espao

    universitrio e nas intervenes sistematizadas com instrumentais casados com fundamentos

    terico-metodolgicos que ofeream maior proximidade entre a teoria e a prtica. A pesquisa

    16 A formao dos assistentes sociais como profissionais, dado o seu carter interventivo, privilegiou fundamentalmente o aspecto tcnico-operacional, em detrimento da produo do conhecimento. A reforma educacional, instaurada pela ditadura militar, refuncionaliza o sistema educacional, principalmente no que concerne ao ensino superior, adequando-o ao modelo econmico, no que se refere ao Servio Social. Nesse sentido, a refuncionalizao e expanso do ensino superior passa a oferecer, em todo o pas, cursos de Servio Social, ocasionando a insero do ensino de Servio Social no mbito universitrio. (KAMEYAMA, 1998, p. 34).

  • e a produo do conhecimento so os nicos caminhos possveis e necessrios para tais

    situaes. No mbito da interveno, a pesquisa parceira em potencial, pois fica difcil

    pensar numa forma de intervir na realidade sem desenvolver um estudo sistematizado para

    posteriormente propor uma ao que seja aceita pela objetividade social, pois a capacidade

    operacional dos assistentes sociais, desvinculada da pesquisa e da produo do conhecimento,

    acaba por expressar-se, em algumas circunstncias, como sinal distintivo da identidade dessa

    profisso, permitindo que se institua um verdadeiro fetiche da prtica (SETBAL, 2005).

    A pesquisa passa a ser pensada a partir de sua intrnseca relao com o exerccio

    profissional, pois se o espao de interveno so as expresses da questo social, nada mais

    coerente do que investigar, conhecer, compreender para depois, dentro do campo das

    possibilidades postas pelas determinaes sociais, polticas, econmicas, culturais, realizar

    uma prtica17 que tenha relevncia para o segmento social atendido. Setbal alerta que (2005,

    p. 23), no podemos considerar a pesquisa apenas como resultante da formao da ps-

    graduao nem dos estmulos que essa apresenta produo do conhecimento cientfico,

    pois estaramos desconsiderando a necessria sistematizao dialtica para a interveno

    profissional, ou seja, a pesquisa indispensvel ao assistente social em toda ao, seja na

    produo de uma tese na universidade ou na anlise socioeconmica na instituio social.

    Pelo menos, assim deveria ser pensada desde a origem do Servio Social.

    A categoria profissional comeou a contribuir e a responder pela produo de

    conhecimentos que do sustentao segura ao profissional. Segundo Jos Paulo Netto

    (2001 b, p. 133): Este relevo tem reconhecimento institucional: credibilizando-se como

    interlocutor das cincias sociais e desenvolvendo-se no plano da pesquisa e da investigao, o

    17 Cabe nesse instante retomar Setubal (2005, p. 16, grifo do autor) para esclarecer questes referentes a designao da prtica profissional e social no interior do Servio social. Segundo a autora: Entendemos como prtica social o processo que ultrapassa o mero exerccio rotineiro, capaz de modificar tudo o que rodeia o homem na sua individualidade, para atingir a direo, o ritmo e o desenvolvimento de seus atos sociais no seu construir-se enquanto ser social. ponto de partida e de chegada do sujeito coletivo que, ao recusar a ordem burguesa, resgata as experincias da populao subalterna ao mesmo tempo em que reivindica, por meio de movimentos e de uma ao questionadora, solues para os problemas sociais cada vez mais agravados pela concentrao de riquezas, discrepncia de oportunidades culturais, distores nas manifestaes ideolgicas e polticas. Embora sem querer forar a perda da preeminncia original da palavra prtica que, deriva do grego praktik significa uso, exerccio, experincia, expandimos a sua compreenso ao contexto da prxis social por renovar-se permanentemente a partir do dilogo entre teoria e prtica. Com isso no afirmamos que essa relao seja explcita e visualizada por todos os componentes das diferentes prticas sociais, como tambm no dizemos que toda prtica social se constitui prxis, mas sim que toda prxis social e decorrente da prtica social, que por sua vez um produto social desenvolvido de forma histrica e coletiva. Por conseguinte, quando consideramos o Servio Social uma forma de expresso de prtica social, no queremos atribuir-lhe uma conotao empirista, mas sim entende-lo como uma forma de ao profissional em permanente transformao pelo dilogo incessante entre teoria e prtica. Dilogo que se faz pela mediao da conscincia; conscincia que representa a forma de ser e aparecer do Servio Social.

  • Servio Social consagra-se junto a agncias oficiais de financiamento que apiam a produo

    de conhecimento. Isso se deu, principalmente, aps a renovao do Servio Social, ou seja,

    ao movimento de reconceituao, que constituiu18 [...] segmentos de vanguarda, sobretudo,

    mas no exclusivamente inseridos na vida acadmica, voltados para a investigao e a

    pesquisa. (NETTO, 2001b, p. 136).

    O processo histrico da profisso proporcionou a insero dos seus programas de ps-

    graduao, seus ncleos de pesquisa e, por conseguinte, comeou a responder por uma determinada

    produo cientfica, nas mais diversas reas do conhecimento. De acordo com Iamamoto e Carvalho

    (1998, p. 88): O Servio Social em sua trajetria no adquire o status de cincia, o que no exclui a

    possibilidade de o profissional produzir conhecimentos cientficos, contribuindo para o acervo das

    cincias humanas e sociais, numa linha de articulao dinmica entre teoria e prtica. Conforme

    destacamos, a pesquisa e a produo de conhecimentos na rea do Servio Social aceleraram a partir

    de 1970 e 1980, momento em que iniciaram os primeiros cursos de ps-graduao na rea de

    cincias sociais e, especificamente, em Servio Social no pas. Desde ento, a produo

    bibliogrfica teve um aumento considervel, sendo alimentada pelas dissertaes de mestrado e

    teses de doutorado. Mas foi somente a partir de 1984 que o Servio Social obteve reconhecimento

    pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) como uma rea

    especfica de pesquisa, sendo-lhe atribudas as seguintes linhas de investigao: Fundamentos do

    Servio Social, Servio Social Aplicado, mais recentemente, Servio Social do Trabalho, Servio

    Social da Educao, Servio Social do Menor, Servio Social da Sade, Servio Social da

    Habitao19. Atualmente, o Servio Social integra, juntamente com as reas de Direito,

    Comunicao, Economia, Administrao, Arquitetura, Demografia e Economia Domstica, a

    grande rea de Cincias Sociais Aplicadas. (KAMEYAMA, 1998).

    Na formao profissional, a pesquisa recebeu um tratamento especfico com as novas

    diretrizes curriculares de 1996. A pesquisa, na graduao, deve perpassar os trs ncleos20 de

    fundamentao que compem o currculo do Servio Social. A investigao passou a ser

    compreendida como dimenso constitutiva da prxis do assistente social e como subsdio para a

    18 Esta constituio que supe, entre outros dados, a diferenciao entre segmentos profissionais alocados preferencialmente prtica e segmentos alocados especialmente ao trabalho investigativo tem sido equivocadamente identificada a uma ruptura teoricista com a prtica profissional; como sabem todos aqueles que tm alguma familiaridade com a reflexo sistemtica, ela a condio mesma para a criao dos requisitos para a compreenso crtica da prtica profissional. (NETTO, 2001b, p. 136).

    19 Cf. CNPq. 20 Os trs ncleos constitutivos da formao profissional em Servio Social so: ncleo de fundamentos da vida social;

    ncleo de fundamentos da formao scio-histrica da sociedade brasileira; ncleo de fundamentos do trabalho profissional. Sobre as diretrizes curriculares e os ncleos de fundamentao consultar cadernos ABESS n. 7.

  • produo do conhecimento sobre os processos sociais e a reconstruo do objeto da ao

    profissional. A postura investigativa do assistente social essencial para a sistematizao terica da

    realidade social. A pesquisa um potencial tcnico que potencializa o entendimento e o

    enfrentamento das desigualdades sociais, oferece subsdios suficientes para a superao do

    pragmatismo.

    As diretrizes curriculares do curso de Servio Social delimitam claramente o campo de

    formao profissional e evidenciam os componentes principais que so as dimenses: terico-

    metodolgica, tcnico-operativa e tico-poltica. O assistente social deve estar capacitado para

    apreender, pela perspectiva da totalidade, as determinaes da vida social da sociedade burguesa, o

    processo histrico da sociedade brasileira, o significado social da profisso e das suas demandas, a

    sua especificidade na diviso social do trabalho e, principalmente, compreender a estatura poltica

    que envolve a profisso. O projeto tico-poltico protagoniza valores bem articulados com os

    movimentos sociais, a classe trabalhadora e faz opo por um projeto profissional vinculado ao

    processo de construo de uma nova ordem societria, sem dominao-explorao de classe, etnia e

    gnero. A busca da realizao desses valores recai diretamente sobre a crtica radical aos modos de

    ser e existir da sociedade burguesa, que se sustenta materialmente na propriedade privada e na

    propagao de uma ideologia individualista e alienada pelos sentidos do ter21. O Cdigo de tica de

    1993 preconiza a defesa e o aprofundamento intransigente da democracia, como socializao da

    riqueza socialmente produzida e a participao dos setores populares no poder poltico. A

    liberdade22 cobrada como possibilidade de construo de novas relaes sociais em que os

    homens sero capazes e tero condies de fazer histrica, bem distante da liberdade burguesa que

    medida pela posse da propriedade privada.

    Para compreenso das dimenses terico-metodolgica, tcnico-operativa e tico-poltica

    que cercam a formao profissional, o assistente social deve adotar a pesquisa como uma

    potencialidade de compreenso cientfica da sociedade burguesa, pois a demanda profissional

    21 De acordo com Marx (1993, p. 197, grifo do autor): A propriedade privada tornou-nos to estpidos e parciais que um objeto s nosso quando o temos, quando existe para ns como capital ou quando por ns diretamente possudo, comido, bebido, transportado no corpo, habitado, etc., numa palavra quando utilizado. Embora a propriedade privada concebe todas estas formas diretas de propriedade como simples meio de vida, a vida qual servem de meios a vida da propriedade privada o trabalho e a criao de capital.

    22 De acordo com Lukcs (1978, p. 15, destaque do autor): [...] a liberdade, bem como sua possibilidade, no algo dado por natureza, no um Dom do alto e nem sequer uma parte integrante de origem misteriosa do ser humano. o produto da prpria atividade humana, que se propusera, mas que nas suas conseqncias dilata objetivamente e de modo contnuo o espao no qual a liberdade se torna possvel; e tal dilatao ocorre, precisamente, de modo direto, no processo de desenvolvimento econmico, no qual, por um lado, acresce-se o nmero, o alcance etc., das decises humanas entre alternativas, e, por outro, eleva-se ao mesmo tempo a capacidade dos homens, na medida em que se elevam as tarefas a eles colocadas por sua prpria atividade. Tudo isso, naturalmente, permanece ainda no reino da necessidade.

  • produto e produo dessa ordem social. As anlises sobre o modo de produo capitalista e suas

    refraes na vida social so pontos de partidas para apreender e entender, de forma mais aproximada

    possvel, a especificidade do fazer profissional do Servio Social.

    O Servio Social, no que diz respeito a pesquisa e a produo do conhecimento nos

    programas de ps-graduao da atualidade, envolve amplas e diversificadas reas de concentrao e

    linhas de pesquisa. Conforme dados da Fundao Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de

    Nvel Superior (Capes)23 - (2007) do Ministrio da Educao, a rea de Servio Social possui 24

    programas de ps-graduao, sendo 24 cursos de mestrado e 09 de doutorado. Ainda segundo dados

    da Capes (2007) a natureza dos programas de ps-graduao da rea de Servio Social : 15 em

    Servio Social, 3 em Poltica Social, 2 em Polticas Sociais, 2 em Polticas Pblicas, 1 em Servio

    Social e Poltica Social e 1 em Polticas Sociais e Cidadania. Observe os programas de ps-

    graduao e os respectivos nveis, reas, linhas de pesquisa e conceito.

    Conceito24 Programa Nvel do(s) curso (s)

    rea de concentrao

    Linhas de pesquisa M D

    Servio Social / Universidade Federal do Par UFPA

    Mestrado Servio Social, poltica social e cidadania

    - Servio Social, gesto de polticas e direitos sociais - Questo agrria / questo urbana e meio ambiente no contexto da Amaznia

    3 -

    Servio Social / Universidade Federal de Pernambuco UFPE

    Mestrado e Doutorado

    Servio Social, movimentos sociais e direitos sociais

    - Estado, poltica social e ao social - O processo de organizao e mobilizao popular - Relaes de trabalho e prticas sociais de classes - Relaes sociais e alternativas de trabalho comunitrio no nordeste

    5 5

    Quadro 1 - Distribuio do Nvel dos Cursos, reas de Concentrao, Linhas de Pesquisa e Conceitos dos Programas de Ps-Graduao em Servio Social no Brasil.

    Fonte: CAPES / MEC, 2008. (CARVALHO; SILVA E SILVA, 2005).

    23 Cf. Capes. Mestrados e doutorados. Cursos recomendados e reconhecidos. 24 Os programas de ps-graduao so submetidos avaliao peridica da Capes/Mec, considerando os

    seguintes critrios: proposta do programa, corpo docente, atividades de pesquisa, atividade de formao, corpo discente, teses e dissertaes, produo e insero social.

  • Conceito Programa

    Nvel do(s) curso (s)

    rea de concentrao

    Linhas de pesquisa

    M D

    Servio Social / Universidade Federal da Paraba UFPB

    Mestrado

    Fundamentao terico-prtico do Servio Social; poltica social

    - Histria, formao e prtica profissional do Servio Social - Processos participativos e organizativos - Relaes sociais e processos de trabalho no mundo contemporneo - Subjetividade, cultura e prticas sociais - Estado, direitos sociais e poltica social

    3

    -

    Servio Social / Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN

    Mestrado Servio Social, cultura e relaes sociais; Servio Social, formao profissional, trabalho e proteo social

    - Questo social, relaes de poder e cultura - Servio Social: sociabilidade, cotidiano, cultura e violncia - Trabalho, proteo social e cidadania

    3 -

    Servio Social / Universidade Federal de Alagoas UFAL

    Mestrado Servio Social, trabalho e direitos sociais

    - Questo social, direitos sociais e servio social - Trabalho, poltica e sociedade

    3 -

    Polticas Pblicas / Universidade Federal do Piau UFPI

    Mestrado Estado, sociedade e polticas pblicas

    - Cultura, identidades e processos sociais - Estado, polticas pblicas e movimentos sociais

    4 -

    Quadro 2 - Distribuio do Nvel dos Cursos, reas de Concentrao, Linhas de Pesquisa e Conceitos dos Programas de Ps-Graduao em Servio Social no Brasil.

    Fonte: CAPES / MEC, 2008. (CARVALHO; SILVA E SILVA, 2005).

  • Conceito Programa Nvel do(s) curso (s)

    rea de concentrao

    Linhas de pesquisa M D

    Polticas Pblicas / Universidade Federal do Maranho UFMA

    Mestrado e Doutorado

    Polticas pblicas e movimentos sociais; polticas sociais e avaliao de polticas e programas sociais

    - Estado e cultura - Estado e movimentos sociais - Estado, questo agrria e conflito - Estado, trabalho e polticas pblicas - Avaliao de polticas e programas sociais - Seguridade social e pobreza - Servio Social e formao profissional - Violncia, famlia, criana e gnero

    5

    5

    Poltica Social / Universidade Nacional de Braslia UNB

    Mestrado e Doutorado

    Estado, polticas sociais e cidadania

    - Movimentos sociais e cidadania - Poltica social: estado e sociedade - Trabalho e relaes sociais - Questo social, instituies e servios sociais

    5 5

    Servio Social / Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC/SP

    Mestrado e Doutorado

    Servio Social: polticas sociais e movimentos sociais; Servio Social: fundamentos e prtica profissional

    - Assistncia social e seguridade social - Poltica social: estado, movimento social e associativismo civil - Servio Social: identidade, formao profissional e prtica

    6 6

    Servio Social / Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro PUC/RJ

    Mestrado e Doutorado

    Servio Social, questo social, direitos sociais

    - Cultura, representaes e polticas sociais - Trabalho, gnero e poltica social - Violncia, famlia e direitos sociais - Questes scio-ambientais, estudos culturais e desenvolvimento sustentvel

    4 4

    Quadro 3 - Distribuio do Nvel dos Cursos, reas de Concentrao, Linhas de Pesquisa e Conceitos dos Programas de Ps-Graduao em Servio Social no Brasil.

    Fonte: CAPES / MEC, 2008. (CARVALHO; SILVA E SILVA, 2005).

  • Conceito

    Programa

    Nvel do(s) curso (s)

    rea de concentrao

    Linhas de pesquisa

    M

    D

    Servio Social / Universidade Estadual Paulista UNESP

    Mestrado e Doutorado

    Trabalho e sociedade - Servio Social: mundo do trabalho - Servio social: formao e prtica profissional

    4 4

    Poltica Social / Universidade Federal Fluminense UFF

    Mestrado Proteo social e processos interventivos

    - Sistemas de proteo social: regimes, histria e sujeitos sociais - Servio Social, avaliao e gesto de polticas sociais

    4

    Servio Social / Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ

    Mestrado e Doutorado

    Poltica social e trabalho

    - Poltica social - Trabalho e representao social - Cultura e identidades sociais

    4 4

    Poltica Social / Universidade Federal do Esprito Santo UFEP

    Mestrado Poltica social, estado e sociedade

    - Poltica social, cultura e prticas sociais - Poltica social, questo social e gesto de servios sociais

    3 -

    Servio Social / Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ

    Mestrado e Doutorado

    Servio Social, instituies e movimentos sociais; Servio Social, poltica social e cidadania

    - Servio Social, poder local e movimentos sociais - Servio Social, processos polticos e polticas sociais - Anlise institucional e avaliao de programas e recursos - Globalizao, estado nao e servio social - Servio Social, processo de trabalho e polticas empresariais - Histria concepes contemporneas do Servio Social e teoria social

    5 5

    Quadro 4 - Distribuio do Nvel dos Cursos, reas de Concentrao, Linhas de Pesquisa e Conceitos dos Programas de Ps-Graduao em Servio Social no Brasil.

    Fonte: CAPES / MEC, 2008. (CARVALHO; SILVA E SILVA, 2005).

  • Conceito Programa

    Nvel do (s) curso (s)

    rea de concentrao

    Linhas de pesquisa

    M D

    Servio Social / Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul PUC/RS

    Mestrado e Doutorado

    Servio Social, polticas e processos sociais; demandas e polticas sociais; metodologias do Servio Social

    - Fundamentos do Servio Social e relaes sociais - Gerontologia social - Poltica social, trabalho e excluso social

    5 5

    Servio Social / Universidade Federal de Santa Catarina UFSC

    Mestrado Servio Social, direitos humanos e questo social

    - Estado, sociedade civil e poltica social - Servio Social, excluso, violncia e cidadania

    4 -

    Servio Social e Poltica Social / Universidade Estadual de Londrina UEL

    Mestrado Servio Social e poltica social

    - Gesto de polticas sociais - Servio Social e processos de trabalho

    4 -

    Servio Social / Universidade Federal do Amazonas UFAM

    Mestrado Servio Social e sustentabilidade na Amaznia

    - Questo social, polticas sociais, trabalho e direitos sociais na Amaznia - Servio Social, diversidade scio-ambiental e sustentabilidade na Amaznia

    3 -

    Polticas Sociais / Universidade Catlica de Pelotas UCPEL

    Mestrado Processos participativos, desenvolvimento e poltica social

    - Desenvolvimento, territrio e inovao social - Polticas sociais, processos participativos e cidadania social

    3 -

    Quadro 5 - Distribuio do Nvel dos Cursos, reas de Concentrao, Linhas de Pesquisa e Conceitos dos Programas de Ps-Graduao em Servio Social no Brasil.

    Fonte: CAPES / MEC, 2008. (CARVALHO; SILVA E SILVA, 2005).

  • Conceito Programas Nvel do(s) curso (s)

    rea de concentrao

    Linhas de pesquisa M D

    Polticas Sociais / Universidade Cruzeiro do Sul UNICSUL

    Mestrado Cidades e questes sociais

    - Cidades, cultura e prticas sociais - Polticas sociais, famlias e desigualdades sociais

    3 -

    Polticas Sociais e Cidadania / Universidade Catlica de Salvador UCSAL