Conselho Editorial desta edição Conselho Científico€¦ · Educação Física de duas escolas...
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Conselho Editorial desta edição Conselho Científico
Iranilse Pinheiro (Dir. Geral-ESMAC)
Sandra Christina F. dos Santos (UEPA)
Ilton Ribeiro dos Santos (ESMAC)
Silvana de Fatima Oliveira de Almeida
Asmaa Abduallah Hendawy
Rider Moura da Silva
Sônia Ferreira Garcia
Sandra Christina F. dos Santos (ESMAC -UEPA)
llton Ribeiro Santos (ESMAC)
Mário Jorge Santos Pinheiro (ESMAC)
Asmaa Abduallah Hendawy
Maria Do Perpétuo S. Dionízio Carvalho Da Silva
Marco Antonio Rocha dos Remédios
Cândida Assumpção Castro
Rider Moura da Silva
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Direção Geral - ESMAC
Direção Acadêmica SANDRA CHRISTINA F. DOS SANTOS
Divisão de Pesquisa E Extensão– ISE/NUPEX
Coordenador de Pesquisa ISE - NUPEX ASMAA ABDUALLAH HENDAWY
ILTON RIBEIRO DOS SANTOS
Coordenadora de Extensão ISE – NUPEX MARCIA JORGE
Projeto Gráfico da Revista
SANDRA CHRISTINA F. DOS SANTOS ILTONRIBEIRO DOS SANTOS
Ilustração da Capa Textura de papel
Revisão
CÂNDIDA ASSUMPÇÃO CASTRO
Editoração eletrônica Assessoria de Comunicação – ASCOM
RITA DE CÁSSIA RODRIGUES MARTINS ILTON RIBEIRO DOS SANTOS
Editores:
SANDRA CHRISTINA F. DOS SANTOS ILTON RIBEIRO DOS SANTOS
Bibliotecária
MARIANA ARAÚJO
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Central/ESMAC, Ananindeua/PA
REVISE – Revista Interdisciplinar da Divisão de Pesquisa/ESMAC – V. 05, n.16 (MAIO/2019) - Ananindeua/PA. Organizadores: Sandra Christina F. dos Santos, Asmaa Abduallah Hendawy, Ilton Ribeiro dos Santos, Cândida Assumpção Castro e Rider Moura da Silva.
Publicado em edição temática; v. 05, n. 16: Ensino Superior. ISSN: 2359-4861 Periódicos brasileiros. I. Escola Superior Madre Celeste. 2. Ananindeua/Pa.
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S U M Á R I O
SÍNDROME DE DOWN E O JOGO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA Alex Marques de Vasconcelos Rafael Costa Martins
.......................................................................................................................................................................09 SURDOCEGUEIRA E PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES Rafael Costa Martins
............................................................................................................................. ..........................................23 COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ATLETAS DE FUTEBOL DE CINCO Breno Bauer Notargiacomo Costa Lediane Lobato Martins
Anselmo de Athayde Costa e Silva ........................................................................................................................... .........................................35 COMUNIDADES RIBEIRINHAS: PROPOSIÇÕES PARA AÇÕES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE Eliseu de Sousa Costa,
Breno Lins de Alencar e Silva,
Sônia Sueli Serrão da Silva,
Shirley Aviz de Miranda,
Nádile Juliane Costa de Castro
............................................................................................................................. ..........................................43 AÇÃO EDUCATIVA SOBRE HIGIENE ENTRE ESCOLARES DE UNIDADE EDUCACIONAL RIBEIRINHA: RELATO DE EXPERIÊNCIA Ianny Ferreira Raiol Gabriela Nascimento de Souza Leticia de Souza Rodrigues Marina Pereira Queiroz dos Santos
Nicole Râmilly de Oliveira Lameira Shirley Aviz de Miranda
.......................................................................................................................................................................55
NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO AO MERCÚRIO EM PEIXES COMERCIALIZADOS NO VER-O-PESO: UMA REVISÃO DA LITERATURA Carolina de Sena Fernandes dos Santos Renata Pacheco Vasconcelos Veloso Helder Douglas Cuimar Moreira Filho Maísa Lima Miranda
Sara Bianca Almeida Luz Thayenne Correia Costa de Souza Renata Novaes da Silva
.......................................................................................................................................................................65
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AUDITORIA COM ENFÂSE EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO Adriana Cristina Nobre Adegas Alan Alves Magalhães Gilvania da Silva Costa Petrus Fabiano Araújo de Oliveira Diogo Willavian Maciel Dantas Flávio Heleno Solano Reis Mário Jorge Santos Pinheiro ............................................................................................................................. ..........................................77
O USO DA FERRAMENTA AUDITORIA EXTERNA NA IDENTIFICAÇÃO DE FRAUDE EMPRESARIAL Francinete Silva Santiago Samera dos Anjos Trindade Suzianne dos Santos Rocha Petrus Fabiano Araújo de Oliveira Diogo Willavian Maciel Dantas Flávio Heleno Solano Reis Mário Jorge Santos Pinheiro
............................................................................................................................. ..........................................89
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Colhe o Dia, porque És Ele Uns, com os olhos postos no passado,
Veem o que não veem: outros, fitos Os mesmos olhos no futuro, veem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto — A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
Ricardo Reis
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APRESENTAÇÃO
Núcleo de Pesquisa da Escola Superior Madre Celeste/ESMAC tem a
satisfação de apresentar o número 16 da revista interdisciplinar REVISE. É
importante lembrar que esta revista recebe seus artigos por duas vias. A
primeira como resultado de iniciação científica dos cursos de bacharelado e
licenciatura da própria instituição. A segunda via trata-se do edital da
revista publicado todo o início do semestre e aberto para toda a comunidade
de pesquisadores disponíveis a colaborar para um mundo melhor.
Comemoramos nesse ano de 2019 o quinto ano desse periódico; é
uma data festiva para nós da Escola Superior Madre Celeste, pois
acreditamos que essa revista é uma das formas da valorização da educação
superior embasada no tripé ensino, pesquisa e a extensão.
Assim, com os esforços das equipes de profissionais junto com os
alunos e a comunidade ao em torno acreditamos que esse tempo de
divulgação tem nos ajudado no aprimoramento de nossas indagações,
buscando as melhores respostas para o cuidado de uma vida melhor,
Organizadores
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SÍNDROME DE DOWN E O JOGO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Alex Marques de Vasconcelos* Rafael Costa Martins†
RESUMO: O Jogo nas aulas de Educação Física para alunos com Síndrome de Down (SD) trata-se de uma investigação acerca dos benefícios que esse conteúdo da Educação Física pode proporcionar aos alunos com esta síndrome. Objetivou-se analisar como os jogos realizados nas aulas Educação Física pode contribuir para o desenvolvimento desses alunos, promovendo-lhes bem estar e qualidade de vida. Como metodologia foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca dos aspectos históricos e características da SD, seguido de uma análise do Jogo e seus aspectos sociais, bem como, a utilização através de questionário semiestruturado com perguntas abertas e fechadas, com três professores de Educação Física de duas escolas da Rede Particular de Ensino de Belém/PA. PALAVRAS-CHAVE: Síndrome de Down. Jogo. Educação Física.
INTRODUÇÃO
Segundo Schwartzman (1999, p.3), os primeiros trabalhos científicos sobre
a Síndrome de Down (SD) datam do século XIX; porém, possivelmente ela sempre
esteve presente na espécie humana. Referências claras a indivíduos com a SD
podem ser encontradas na cultura dos Olmecas, tribo que viveu na região que hoje
conhecemos como Golfo do México, de 1500 aC até 300 dC. Achados
arqueológicos nessa região encontraram gravações, esculturas e desenhos de
crianças e adultos com características tais que fazem supor que fossem indivíduos
com a síndrome.
Dados históricos sugerem que os Olmecas acreditavam que estes indivíduos com SD resultassem do cruzamento das mulheres mais idosas da tribo com o jaguar, este último objeto de culto religioso. Desta forma, a criança com SD era
* Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física (ESMAC) e Especialista em Educação Física
Escolar (ESMAC). Graduando-se em Bacharelado em Educação Física e Gestão Esportiva e de Lazer
(FCC). Professor da Educação Básica na Rede particular de Ensino. E-mail: [email protected] † Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física (UFPA) e Mestre em Educação (PPGED/UFPA).
Professor efetivo da SEDUC/PA – Modalidade Educação Especial e do Ensino Superior no curso de
Graduação em Educação Física da ESMAC. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física e
Educação Especial – GEFES. E-mail: [email protected]
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considerada um ser híbrido, deus-humano, e aparentemente cultuado como tal (SCHWARTZMAN, 1999, p. 3).
De acordo com esse mesmo autor, nas sociedades europeias mais antigas,
pessoas com deficiências eram pouco consideradas, e os bebês com quadros mais
evidentes, como aqueles com SD, muito possivelmente eram abandonados para
morrer de inanição (extrema debilidade) ou para serem devorados por animais
selvagens.
Na Grécia Antiga, para os espartanos, os indivíduos com deficiência não
eram tolerados. Justificavam tais atos cometidos contra os deficientes postulando
que estas criaturas não eram humanas, mas um tipo de monstro pertencente a outras
espécies.
Os portadores de deficiência, na Idade Média, foram considerados como produto da união entre uma mulher e o demônio. Lutero, que viveu no século XVI, propunha que a criança deficiente e sua mãe fossem queimadas, pois somente entendia o nascimento de uma criança defeituosa como resultado desta união malévola (SCHWARTZMAN, 1999, p. 4).
Assim, percebe-se que é um campo vasto para investigação, visto que trata-
se de um segmento que cresce cada vez mais no meio social, havendo necessidade
de oferecer melhores condições de vida para essas pessoas e sua inserção no meio
educacional. Dessa forma, cabem maiores investimentos em busca de melhorias em
termos de qualidade de vida, uma vez que se trata de seres humanos com
possibilidades de desenvolvimento de suas habilidades.
Segundo o Movimento Down (2014), existe uma parcela significativa de
alunos com Síndrome de Down em escolas regulares, com um crescimento
significativo do número de matrículas nos últimos anos. No entanto, nem sempre a
inclusão se dá de maneira satisfatória: geralmente faltam recursos humanos e
pedagógicos para atender às necessidades educacionais específicas dos alunos.
Esses alunos, por terem a síndrome, muitas vezes ficam excluídos e acabam
não participando efetivamente, com os demais alunos, das aulas de Educação Física.
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Diante disso, considera-se a área da Educação Física um campo socializador, bem
como de desenvolvimento dos aspectos: cognitivo, motor e afetivo, uma vez que, a
disciplina realiza atividades lúdicas que favorecem a expressão corporal, a relação
afetiva tanto entre alunos com SD e com as demais pessoas.
Frente ao exposto, busca-se neste artigo, apresentar o conteúdo Jogo nas
aulas de Educação Física, e de que forma contribui no desenvolvimento de alunos
com SD. A pesquisa foi desenvolvida por meio de um levantamento bibliográfico de
caráter qualitativo, seguido de uma pesquisa de campo, valendo-se de um
questionário semiestruturado com perguntas abertas e fechadas, tendo como
sujeitos professores de Educação Física atuantes com alunos que apresentam a
síndrome.
CONHECENDO A SÍNDROME E SUAS CARACTERÍSTICAS
Segundo Pueschel (2012, p. 45), o registro antropológico mais antigo da
Síndrome de Down (SD) deriva das escavações de um crânio saxônio, datado do
século VII, apresentando modificações estruturais vistas com frequência em crianças
com a síndrome. Algumas pessoas acreditam que a SD tenha sido representada no
passado em escultura e pictografias. Os traços faciais de estatuetas esculpidas pela
cultura Olmeca há quase três mil anos foram considerados semelhantes aos de
pessoas com SD. O exame cuidadoso dessas estatuetas, porém, gera dúvidas sobre
essa afirmação.
Numa tentativa de identificar crianças com a síndrome em pinturas antigas,
Hans Zellweger (apud Pueschel, 2012, p. 46) concluiu que o pintor Andrea
Mantegna, artista do século XV, o qual pintou diversos quadros de Madonas com o
menino Jesus, representou o menino Jesus com feições sugestivas da SD na pintura
Virgem e Criança. Zellweger (apud Pueschel, 2012, p. 46) também alega que uma
criança com a síndrome foi representada na pintura Adoração dos Pastores, pintada
pelo artista flamengo Jacob Jordaens em 1618.
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A primeira descrição de uma criança que, presume-se, tinha a síndrome foi
fornecida por Jean Esquirol em 1838. Logo a seguir, em 1846, Edouard Seguin
descreveu um paciente com feições que sugeriam a SD, denominando a condição de
“idiotia furfurácea”. Em 1866, Duncan registrou uma menina “com uma cabeça
pequena e redonda, olhos parecidos com os chineses, projetando uma grande língua
e que só conhecia algumas palavras”. Naquele mesmo ano, Jhon Langdon Down
publicou um trabalho no qual descreveu algumas das características da síndrome que
hoje leva o seu nome. Down mencionou: “O cabelo não é preto, como é o cabelo
de um verdadeiro mongol, mas é de cor castanha, liso e escasso. O rosto é achatado
e largo. Os olhos posicionados em linha oblíqua. O nariz é pequeno. Estas crianças
têm um poder considerável para a imitação”.
Assim como muitos cientistas contemporâneos dos meados do século XIX,
Down foi certamente influenciado pelo livro de Charles Darwin, “A origem das
espécies”. Em conformidade com a teoria da evolução de Darwin, Down acredita
que a condição que agora chamamos de SD era um retorno a um tipo racial mais
primitivo. Ao reconhecer nas crianças afetadas uma aparência oriental; Down criou
o termo “mongolismo” e chamou a condição, inadequadamente, de “idiotia
mongoloide”. Hoje sabe-se que as implicações raciais são incorretas. Por esta razão
e também por causa das conotações étnicas negativas dos termos mongol,
mongoloide e mongolismo, terminologia desse tipo devem ser definitivamente
evitadas.
Segundo alguns autores, o uso da terminologia poderia comprometer o
potencial para a aceitação social dessas crianças, a justiça na alocação de educação e
outros recursos e a definição da política a longo prazo para a questão. Mais
importante ainda, chamar uma criança com a síndrome de mongoloide não é apenas
um insulto degradante à criança, mas também uma descrição incorreta da pessoa,
que, embora detentora de uma deficiência intelectual, é, antes de tudo, um ser
humano capaz de aprender e de participar da sociedade.
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De acordo com Pueschel (2012, p. 77), a aparência e as funções de todo o
ser humano são determinadas, principalmente, pelos genes. Da mesma maneira, as
características físicas de crianças com Síndrome de Down são formadas por
influências de seu material genético. Como as crianças herdam os genes tanto da
mãe quanto do pai, elas se parecerão, até certo ponto, com os pais em aspectos
como estrutura corporal, cor de cabelo e olhos, padrões de crescimento (embora em
ritmo mais lento).
Entretanto, devido ao material genético adicional no cromossomo 21 extra,
crianças com SD também têm características corporais que lhes dá uma aparência
diferente das de seus pais, irmão ou outras crianças sem deficiência. Como o
cromossomo 21 extra se encontra nas células de toda a criança com SD, ele exerce
uma influência na formação do corpo em todas elas de forma semelhante.
A SD está relacionada a uma cromossomopatia, ou seja, uma aberração
cromossômica, sendo a principal causa genética da deficiência intelectual. Esse erro
genético se apresenta mais comumente sobre a forma de uma trissomia simples do
cromossomo 21, ou seja, a presença de um cromossomo extra no cariótipo de uma
pessoa, fazendo com que o número total de cromossomos na SD seja 47 e não 46.
Entretanto, outros tipos de alterações cromossômicas também foram detectados
nos cariótipos de pessoas com SD como, por exemplo, a trissomia por translocação
e o mosaissismo. No entanto, em todos os três casos é sempre o cromossomo 21 o
responsável pelas características peculiares dessa síndrome. Nesse sentido, Pimentel
(2012, p. 29) afirma,
A Síndrome de Down está relacionada a uma cromossomopatia, ou seja, a uma anormalidade na constituição cromossômica que ocorre no momento após a concepção. Esse erro genético não tem relação com a etnia ou classe social e se apresenta mais comumente sob a forma de um cromossomo extra no par 21, por isso é também chamado de trissomia 21 ou trissomia simples. Porém, outros tipos de alterações cromossômicas também foram detectados nos cariótipos de pessoas com Síndrome de Down como, por exemplo, a translocação e o mosaicismo. No entanto, em
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todos os três casos é sempre o cromossomo 21 o responsável pelas características fenotípicas peculiares dessa síndrome.
Segundo Schwartzman (1999, p. 16-20), alguns fatores podem modificar a
incidência da SD, e são classificados em ambientais ou exógenos e endógenos. Entre
os endógenos, o mais importante é a idade materna, sendo que a anomalia é
aumentada à medida que aumenta a idade da mãe. Mulheres mais velhas apresentam
riscos maiores de terem filhos trissômicos, possivelmente devido ao fato do
envelhecimento dos óvulos. O mesmo não acontece com os espermatozoides, e por
esta razão e que não há uma relação direta entre a SD e a crescente idade paterna. Já
entre os fatores ambientais, quanto maior o número de gestações interrompidas
após o diagnóstico pré-natal da síndrome, menor será a incidência ao nascimento.
Nesse sentido, segundo alguns autores, a Síndrome de Down apresenta
algumas características, como as elencadas por Alves (2011, p. 23),
(...) a baixa estatura, o crânio apresenta braquicefalia (crânio mais largo que comprido), com o ocipital achatado, o pavilhão das orelhas é pequeno e disfórmico, a face é achatada e arredondada, os olhos mostram fendas palpebrais e exibem Manchas de Brushfild ao redor da margem da Iris, a boca é aberta, muitas vezes mostrando a língua sulcada (enrugada, com fendas e cortada) e saliente, alterações no alinhamento dos dentes, as mãos são curtas e largas, frequentemente com uma única prega palmar transversa, chamada de prega simiesca (semelhante ou relativo ao macaco) (...), os pés mostram um amplo espaço entre o primeiro e o segundo dedo, músculos hipotônicos (diminuição do tônus muscular) e articulações com flexibilidade exageradas, excesso de pele atrás do pescoço, displasia pélvica, tendência para luxação atlanto-axial (...).
Todas as características são semelhantes entre as pessoas com a síndrome,
não importando a que etnia pertença, tais características, segundo Schwartzman
(1999, p. 16-20), não são específicas e cada uma delas, isoladamente, poder estar
presente em indivíduos sem a síndrome. Também é importante destacar, segundo o
Mundo Down (2014), que a SD não é uma doença, e sim uma condição inerente à
pessoa, portanto não se deve falar em tratamento ou cura. Entretanto, como esta
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condição está associada a algumas questões de saúde que devem ser observadas
desde o nascimento da criança.
Na SD os problemas cardíacos congênitos representam uma causa
importante de mortalidade na infância, mas atualmente as taxas de sobrevida
aumentaram significativamente de tal modo que até 70% destes bebês com doenças
cardíacas sobrevivem até seu primeiro ano de vida. Alguns estudos afirmam que
6,1% das crianças e adolescentes com menos de 20 anos de idade apresentam a
desordem do deficit de atenção, e também algumas porcentagens, apresentam
comportamentos autoagressivos e estereotipados (ALVES, 2011, p. 26).
De acordo com o mesmo autor, as malformações congênitas e as infecções
respiratórias, combinadas com doenças e/ou insuficiência cardíaca, também, são
causas importantes de morte. Sendo assim, faz-se necessário a periodicidade ao
médico para que seu desenvolvimento e estado geral de saúde possam ser
acompanhados e também para serem oferecidos procedimentos preventivos
(ALVES, 2011, p. 25).
O JOGO E SUAS CONSIDERAÇÕES
Buytendijk (apud Elkonin, 1998, p. 36) entende que o jogo possui dentre
suas peculiaridades a alegria, liberdade e espontaneidade, entretanto, apenas esses
elementos não conseguem possibilitar uma boa compreensão sobre a finalidade, a
intenção e a evolução dos jogos. Nessa perspectiva, Elkonin (1998, p. 36) destaca
que dentre as várias teorias que trabalharam com o jogo, vale ressaltar a de Schiller,
para quem é uma atividade que propicia prazer para seus indivíduos, e a de Spencer
(apud Elkonin, 1998, p. 36), que caracteriza sua origem como estando relacionada a
um excesso de energia presente nas crianças, consequentemente a criança jogava
porque precisava gastar as energias que possuíam de sobra.
O primeiro passo em direção ao entendimento social do jogo, segundo
Elkonin (1998, p. 36), foi de Wundt (1988), para quem, a origem do jogo, ou
melhor, seu nascimento está relacionado ao trabalho. Qualquer jogo, por mais
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simples que pareça é uma idealização de um trabalho anteriormente realizado, pois
este sempre precedeu a gênese da atividade lúdica. Já Groos (apud Elkonin, 1998, p.
37), foi o primeiro a considerar a importância dos jogos e brincadeiras no
desenvolvimento infantil, por caracterizar os jogos como potentes instrumentos
para a análise da personalidade das crianças, sua compreensão é fundamental para
explicar a construção da psique infantil.
A partir das teorias desenvolvidas pelos autores acima citados, Elkonin
(1998, p. 36) construiu sua visão de jogo, entendendo este como uma atividade
eminentemente social, exercendo grande importância para a construção da
personalidade e da psique infantil. Seu desenrolar, apesar de proporcionar prazer
para seus praticantes, não se resume de forma alguma apenas a este aspecto, pois
sua funcionalidade social extrapola as simples manifestações do prazer.
Elkonin (1998, p. 33-35) destaca que o primeiro aspecto fundamental para a
construção de qualquer teoria sobre o jogo deve incidir na sua diferenciação com as
atividades lúdicas praticadas pelos animais, pois, os humanos possuem a
peculiaridade de planejarem suas ações previamente, ao passo que os animais, agem
puramente por instintos.
Para Elkonin (1998, p. 80), o jogo, enquanto atividade humana surge do
trabalho. Mais do que isso, toda atividade lúdica provém de uma situação séria dos
adultos, consequentemente, não existe jogo descolado da realidade. Qualquer
proposta que entende o jogo como fenômeno dado e, não construído socialmente,
representa um falho entendimento humano sobre o processo de construção do
próprio homem, o qual só pode ser realizado de forma histórica e cultural.
Jogar para a criança é dominar seu mundo e, consequentemente, propor
soluções para os principais problemas que visualizam em sua realidade. Cabe
ressaltar que as situações representadas nos jogos não constituem um mundo
separado da realidade, pois eles se dialogam constantemente. A criança joga a partir
da apropriação que faz da realidade, assim, para Elkonin (1998, p. 80), a teoria
defendida por Piaget (1971) de que existem dois mundos para as crianças (real versus
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lúdico) está completamente enganada, pois a criança não se evade completamente de
sua realidade quando joga.
Apenas por intermédio dos jogos e brincadeiras infantis a criança pode se
apropriar da complexidade do mundo objetivo dos adultos, esse fato coloca essas
atividades como potentes elementos educacionais. Além disso, desempenham um
papel ativo na construção da personalidade, da psique e do aprimoramento de seu
repertorio motor, consequentemente, os jogos e brincadeiras oferecem novas
possibilidades de “exploração” social e ambiental para as crianças.
Ao jogar a criança liberta-se relativamente da dependência dos adultos, pois
agora torna-se independentes em suas atitudes, já não há mais obstáculos para a
tomada de decisões. Essa característica promove uma verdadeira reestruturação
mental em diversas áreas do cérebro das crianças, atuando decisivamente na
construção de sua personalidade.
O agir como adulto nos jogos é o primeiro sinal de independência das
crianças, já que pela primeira vez ela toma consciência de seu pequeno lugar nas
atividades sociais. Não há como negar, entretanto, que os jogos representam uma
necessidade de comunicação das crianças com o mundo, facilitando a construção de
um pensamento crítico e reflexivo.
Elkonin (1998, p. 258) destaca que na vida real a criança não é mais do que
uma criança, não possuindo atitudes independentes. Já no jogo, a criança vira
protagonista de certa situação, prova e experimenta suas forças e criações. Em nossa
realidade, o jogo assume o caráter de atividade principal para as crianças.
Segundo o mesmo autor, o desenvolvimento dos jogos possibilita a criança
se apropriar de algumas regras sociais, as quais são fundamentais para o
desenvolvimento moral das crianças. O desenvolvimento dos jogos contém em seu
interior a evolução de suas próprias regras, portanto, não existem jogos sem regras.
Uma das grandes contribuições que o jogo oferece para a construção da
psique humana é a possibilidade de vivenciar através de uma situação lúdica algumas
das principais problematizações da vida real. O desenvolvimento psíquico
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produzido pelos jogos está intimamente relacionado com o tipo de apropriação que
as crianças realizam em seu cotidiano.
A partir do que foi discutido, destaca-se a importância assumida pela prática
dos jogos em nossa sociedade e, da necessidade da Educação Física se apropriar
teoricamente deste importante conteúdo. Assim, a Educação Física pode ser
caracterizada como uma área que promove uma efetiva e verdadeira
interdisciplinaridade entre algumas áreas da ciência, o que a caracteriza como um
componente fundamental nas diversas relações sociais presentes em nosso
cotidiano.
UMA BREVE DISCUSSÃO ACERCA DO ESTUDO
Com todas as informações colhidas na pesquisa de campo realizada com os
professores da “Comunidade Educativa o Mundo do Peteleco” e “Centro de
Educação Montessoriano do Pará – CEMP” chegou-se as seguintes considerações
em forma de breve análise. Perguntou-se inicialmente se esses professores já haviam
trabalhado ou se trabalham com alunos com SD. As opiniões foram diversas: Dois
responderam sim e um respondeu não. Nessa perspectiva, os professores 01 e 02
comentaram,
“Que durante o desenvolvimento das atividades, sempre tentam adequar os alunos aos seus planos de aula, tentando trazer os alunos para a realidade desses planos e fazer com que eles participem das aulas junto com os demais”.
Em relação às atividades que melhor beneficiam esses alunos nos aspectos
cognitivos, motor e afetivo, os entrevistados 01, 02 e 03 relataram,
“Devem existir vários tipos de atividades, e não apenas um único estilo, como por exemplo: voltado para desenvolvimento do lado social, é interessante desenvolver atividades e jogos em equipe, em conjunto, tanto os jogos cooperativos como os competitivos; voltado para o desenvolvimento motor e cognitivo, é interessante a realização dos circuitos individuais e dos jogos individuais, para ajudar no desenvolvimento da coordenação, do equilíbrio, da flexibilidade”.
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Quanto as contribuições dos jogos nas aulas de Educação Física para os
alunos com SD, o professor 01 disse,
“Dentre as inúmeras contribuições, no aspecto biológico, o aluno portador da SD tem que participar dessas atividades, pois como eles se alimentam bastante, principalmente de doce, e tem um ganho de massa corporal (massa gorda) muito fácil, eles têm que praticar as atividades e se movimentar para manter uma qualidade de vida; no aspecto motor, tem-se o desenvolvimento do equilíbrio, da coordenação motora, da percepção; no aspecto cognitivo, as atividades ajudam a estimular mais o raciocínio lógico deles, estimular a criatividade, a entender as regras dos jogos e das atividades que realizam durante o dia, a entender o convívio com as outras pessoas e crianças, entender o que deve e o que não se deve fazer; no aspecto social, proporciona a interação com outras pessoas, de diferentes classes sociais, sexo e culturas. Então isso é muito importante para que ele seja aceito e para que as pessoas o aceitem também, para que não haja descriminação por possuírem a síndrome ou alguma outra limitação, limitação essa que tem que ser adequadas à realidade dele e das outras pessoas”.
O Professor 02 afirmou,
“As contribuições dos jogos para os alunos com SD são muitos, mas em primeiro tem-se a liberação da cerotonina, pois apesar de apresentarem a síndrome, esses alunos apresentam as mesmas condições fisiológicas que os alunos “normais”; a atividade física ajuda a tonificar os músculos desses alunos. Além disso, como se fala que fisiologicamente eles são iguais, a entrevistada acredita que os benefícios são os mesmos.
No que se refere às contribuições dos jogos durante as aulas de Educação
Física nos aspectos sociais e afetivos, o professor 02 afirma,
“Dependendo do estímulo que o Down receber e se ele for bem estimulado, ele tem a possibilidade de ter as mesmas habilidades que uma pessoa “normal”, entretanto, isso tudo vai depender do estímulo que é dado. Sendo assim, é fundamental que o professor de Educação Física seja essa pessoa a estimular esse aluno em sua aula, prestando atenção
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de qual forma que esse aluno corresponde mais, para poder desenvolver e fazer com que a sua habilidade seja desenvolvida de forma aumentada. Para isso, é necessário traçar uma parceria com essa criança, que se tenha um olhar especial sobre ele e que se deixe desenvolver com os outros alunos, não deixando que o grupo o rejeite por alguma ou qualquer falta de habilidade que ele venha apresentar”.
No que diz respeito a isso, Nascimento, Araújo e Migueis (2009, P. 293),
afirmam que o jogo é entendido como uma atividade na qual o homem reconstrói as
relações sociais e, nesse processo, formam-se novas funções psíquicas. Desse modo,
o jogo protagonizado, umas das possibilidades de trabalho, surge como uma forma
peculiar e específica da atividade humana pela qual as crianças se apropriam da
experiência social da humanidade e se desenvolvem como personalidade.
A professora 02, em sua entrevista disse ainda que: “não se pode esquecer
que muitas vezes os professores de Educação Física são os únicos estímulos que
esse aluno recebe, que às vezes os próprios pais os vedam dessas possibilidades de
desenvolvimento”. Ficou claro que os jogos realizados nas aulas Educação Física
passam a fazer parte da vida desses indivíduos estimulando tanto os seus aspectos
cognitivos, sociais quanto afetivos e motores.
Considerações Finais
Após esse percurso, nem de longe se ousou afirmar ter esgotado o tema e
ter colocado um ponto final na discussão. Certamente continuará a ser uma temática
geradora de tantas outras reflexões, uma vez que se trata de um público que cresce
cada vez mais no meio social, havendo necessidade de oferecer melhores condições
de vida para essas pessoas e sua consequente inserção no meio social, bem como
uma resposta a sociedade quanto aos avanços educacionais que possam favorecer os
desenvolvimentos cognitivos, emocionais e físicos de pessoas com a síndrome.
Nesse sentido, segundo Nascimento, Araújo e Migueis (2009, P. 297), é
importante compreender que, ao jogar, a criança reproduzirá de modo singular um
determinado aspecto da realidade. Sendo assim, o jogo é justamente a forma pela
qual a criança pode apropriar-se cada vez mais desse mundo, aproximar-se cada vez
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mais dele. Assim, o jogo é a forma principal de a criança vivenciar o seu processo de
humanização, uma vez que é a atividade que melhor permite à criança apropriar-se
das atividades (motivos, ações e operações) culturalmente elaboradas.
De acordo com as autoras, o jogo para a criança em idade pré-escolar, é a
atividade que melhor lhe permite ir se compreendendo como um ser em si e um ser
para si, sendo um recurso largamente empregado na educação infantil, etapa escolar
em que o lúdico ou a brincadeira é um meio bastante utilizado nos processos de
educação e aprendizagem.
Certamente que a Educação Física para alunos com SD ainda tem muitos
obstáculos a suplantar em termos de formação profissional, estimulação do
desenvolvimento e atividades a serem realizadas, entretanto, esperamos que esse
breve estudo possa servir de ponto de partida para que outros
professores/pesquisadores avancem nessa construção e a própria Educação Física
para alunos com SD alcance novos espaços.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Fátima. Para entender Síndrome de Down. 2. ed. Rio de Janeiro, 2011.
ELKONIN, Daniil, B. Psicologia do jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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SCHWARTZMAN, José Salomão. Síndrome de Down. São Paulo: Mackenzie, 1999.
22
23
SURDOCEGUEIRA E PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES
Rafael Costa Martins‡
RESUMO: O processo de ensino e aprendizagem de pessoas surdocegas no Brasil ocorre desde o século XX, apesar disso, muitos atendimentos são comprometidos pela falta de metodologia adequada de professores que atuam nesta área. O estudo objetiva relacionar o Método Van Dijk com a Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), na tentativa de sistematização dos conhecimentos de ambas as áreas, apresentando estratégias didático-metodológicas para professores que atuam com este segmento na Educação Especial. Utilizou-se como metodologia uma pesquisa bibliográfica acerca dos temas pesquisados. Concluiu-se que é possível relacionar a Método Van Dijk e a PHC.
PALAVRAS-CHAVE: Surdocegueira. Método Van Dijk. Pedagogia Histórico-Crítica.
INTRODUÇÃO
Entende-se a educação, através do processo ensino e aprendizagem, como
uma prática social fundamental a existência e permanência do funcionamento da
sociedade, a partir do momento que se organizam formas de transmissão dos
conhecimentos elaboradas para as futuras gerações.
Buscando afirmar a necessidade de superação de uma pedagogia tradicional,
e de transmissão de conhecimentos enraizados como parte integrante do processo
educacional, têm se a escola como uma instituição básica em oportunizar, através
dos professores, o trabalho formativo e de apropriação do conhecimento elaborado,
não se tratando de um saber fragmentado, mas sim de um saber universal e
democrático.
A tentativa de construção deste trabalho surge a partir de elementos
constituintes de uma educação de senso crítico, relacionando a prática pedagógica
de professores e o processo de ensino e aprendizagem com pessoas surdocegas, e é
sabido que há poucos registros na área da Surdocegueira, principalmente quando se
trata em seus procedimentos metodológicos.
‡ Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física (UFPA) e Mestre em Educação (PPGED/UFPA).
Professor efetivo da SEDUC/PA – Modalidade Educação Especial e do Ensino Superior no curso de
Educação Física da ESMAC. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física e Educação
Especial – GEFES. E-mail: [email protected]
24
Este trabalho, tem como proposta metodológica a pesquisa bibliográfica
(SEVERINO, 2007, p. 122), e como objetivo precípuo relacionar o Método Van
Dijk com a Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), na tentativa de sistematizar os
conhecimentos de ambas as áreas, apresentando estratégias didático-metodológicas
para professores que atuam com este segmento na Educação Especial.
ASPECTOS HISTÓRICOS DA SURDOCEGUEIRA
Historicamente, os estudos e atendimentos sobre Surdocegueira iniciaram no
século XVIII, na Europa, especificamente na França, onde uma mulher surdocega,
iniciou sua educação formal em Paris; houve presença também na Noruega, Itália e
Ucrânia, o qual neste último, já no ano de 1914, uma mulher surdocega doutorou-se
em Psicologia e Ciências Pedagógicas (CADER-NASCIMENTO, 2007, apud
GALVÃO, 2010, p. 20).
Já na América Latina, mais especificamente no Brasil, teve início com a visita
da surdocega, mundialmente conhecida, Helen Keller, em 1953, a partir deste marco
da educação de pessoas surdocegas, fundou-se diversas instituições, como por
exemplo, Instituto de Cegos Padre Chico, em 1961, no Estado de São Paulo; o
Serviço de Atendimento ao Deficiente Audiovisual (SEADAV), em 1963; também
em São Paulo, e outras mais, estendendo-se para outros Estados, Bahia, Ceará, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rondônia, etc.
(FREDERICO, 2006, p. 25).
Desde então, a terminologia Surdocegueira vem sofrendo diversas alterações
desde o século XIX, período histórico no qual surgiu o primeiro atendimento à
pessoas com essa deficiência, como por exemplo, Dificuldade de Aprendizagem
Profunda e Múltipla (DAPM), Múltipla Deficiência Severa, Cego com Deficiência
Adicional, Múltipla Privação Sensorial (MPS), Dupla Deficiência Sensorial, e
finalmente Surdocegueira (FREDERICO, 2006, p. 31).
Posteriormente, a crise terminológica surgiu na grafia da palavra
Surdocegueira, que inicialmente fora escrita com hífen, “surdo-cegueira”, e
25
consequentemente, a pessoa que adquiria a Surdocegueira era denominado de
“surdo-cego”, com hífen.
Como afirma Lagati (1995, apud FREDERICO, 2006, p. 31),
O Termo surdocegueira e surdocego, foi proposto em 1991, na Itália, onde começou uma cruzada para conseguir a aceitação da palavra única surdocego, no lugar da palavra hifenizada “surdo-cego”, sua crença era de que a surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades do que aquelas causadas pela cegueira e pela surdez.
Ainda segundo a autora,
Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não aditivo (LAGATI, 1995 apud FREDERICO, 2006, p. 32).
A Surdocegueira ainda mantém-se como uma deficiência pouco conhecida
entre os profissionais da área da educação e da saúde, talvez um pouco mais
evidenciada pelos profissionais que atuam com pessoas com deficiência. Além disso,
a Surdocegueira, nos estudos atuais, ainda é um tema relativamente novo na
literatura especializada, se comparada a outras deficiências, como Deficiência Física
(DF), Deficiência Auditiva (DA) e Deficiência Visual (DV).
Essa deficiência pode ser causada de maneira variada pré, peri e pós-natal,
em decorrência de doenças infecto contagiosas, que a própria mãe adquire durante a
gravidez, ou a pessoa adquire quando é recém nascida, ou quando criança, na
adolescência ou na fase adulta, por síndromes genéticas, ou traumas, em qualquer
momento da vida.
Algumas síndromes genéticas§, podem ser associadas à visão e a audição,
podendo desencadear, ainda no desenvolvimento embrionário, alterações
§ FREDERICO (2006).
26
autossômicas, durante as 12 semanas de gestação, como por exemplo, Síndrome de
Cockayne, Síndrome de Flynn-aird, Síndrome de Refsum, Síndrome de Edwards –
Trissomia 18, e a Síndrome de Usher, que esta, caracteriza-se como uma doença
genética com padrão de herança autossômica recessiva, causa perda auditiva e visual,
ao nascer.
Muitos indivíduos surdocegos possuem outras deficiências associadas, sejam
elas físicas e intelectuais, e possuem ainda, quatro categorias que podem ser
agrupadas em surdocegos adquiridos ou congênitos, que são: indivíduos que eram
cegos e se tornaram surdos; indivíduos que eram surdos e se tornaram cegos;
indivíduos que se tornaram surdocegos e indivíduos que nasceram ou
desenvolveram precocemente a Surdocegueira, sendo esta classificada de duas
formas, Pré-linguístico (antes da aquisição da linguagem, seja oral ou gestual) e Pós-
linguístico (depois da aquisição da linguagem, seja oral ou gestual).
A conceituação da deficiência Surdocegueira é motivo de muitas inquietações
e debates, por isso, há diversos conceitos que são divulgados por especialistas da
área da Surdocegueira, que se manifestam alegando que esta deficiência caracteriza-
se como uma única deficiência, e não sendo classificada como Deficiência Múltipla
(DM), inclusive Cader-Nascimento, define que,
A surdocegueira é um comprometimento, em diferentes graus, dos sentidos receptores a distância (audição e visão). A combinação desses comprometimentos pode acarretar sérios problemas de comunicação, mobilidade, informação e consequentemente, a necessidade de estimulação e atendimentos educacionais específicos (CADER-NASCIMENTO, 2010, p. 18).
Para Maia (2000), a surdocegueira é uma deficiência única que apresenta
perda de visão e audição, de tal forma que a combinação das duas deficiências
impossibilita o uso dos sentidos de distância.
Pessoas são surdocegas quando apresentam graves deficiências visuais e auditivas que resultam em problemas de
27
comunicação, informação e mobilidade. O grupo deverá incluir pessoas com dificuldades severas visuais e auditivas de nascença ou adquiridas na tenra infância e as que desenvolveram a deficiência na vida adulta (MAIA, 2000, p. 53).
Percebe-se então, que a Surdocegueira é reconhecida de maneira singular,
como uma única deficiência, mesmo possuindo características de uma DM, presença
de DA e DV. Nesse sentindo, o processo de ensino e aprendizagem dos indivíduos
surdocegos, promovido pelos professores, exige um atendimento especializado, com
estimulação especifica e individualizada, oferecendo condições educacionais de
qualidade, valendo-se de metodologias específicas e adequadas às necessidades dos
alunos surdocegos.
O MÉTODO VAN DIJK E A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA.
Van Dijk ao longo de seus estudos e experiências, desenvolveu algumas
estratégias de ensino através de uma Abordagem Co-Ativa, a qual contribuiu na
interação de crianças surdocegas com seu ambiente. Esta proposta de ensino parte
do princípio que as atividades precisam ser realizadas em conjunto, ou seja, o
professor e o aluno, devem realizar os movimentos de maneira simultânea. As
atividades devem partir inicialmente do interesse da criança, sendo compartilhado e
vivenciado pelo professor (CADER-NASCIMENTO, 2003, p. 42).
Ao conviver com crianças surdocegas, Van Dijk descobre que o
desenvolvimento delas parte de uma proposta de manipulação de objetos, familiares
ou não, que aos poucos vão adquirindo padrões motores iniciais. Desta forma, a
criança percebe que pode realizar e controlar seus próprios movimentos,
proporcionando novas descobertas de movimentos.
As fases metodológicas que constituem a Abordagem Co-Ativa, que tratam
da prática pedagógica dos professores que atuam com alunos surdocegos, são seis:
Nutrição, Ressonância, Movimento Co-ativo, Referência Não-Representativa,
Imitação e Gesto Natural. O objetivo dessas fases metodológicas, é proporcionar
28
condições de aprendizagem às pessoas surdocegas, aumentando suas
potencialidades e possibilidades de comunicação e interação com o ambiente,
atingindo assim, um maior desenvolvimento do indivíduo com Surdocegueira.
Segundo Cader-Nascimento,
As seis fases constituem-se como um processo dinâmico de incorporação de estímulos sociais. As fases não são excludentes, nem exclusivas, e, às vezes, podem ser sequenciais e cumulativas. Essa flexibilidade permite à criança mover-se por várias fases simultaneamente, sendo uma via para compreender o mundo. Assim, a capacidade de participação da criança, em cada fase, pode aparecer, desaparecer e reaparecer durante todo o trabalho pedagógico realizado. O tipo, o local, as condições de realização das atividades propostas e as necessidades da criança são fatores que determinarão as características de sua participação (CADER-NASCIMENTO, 2010, p. 44).
Portanto, é de suma importância a utilização de uma metodologia adequada,
através dessa Abordagem educacional trabalhada na educação e ensinamentos
cotidianos de alunos surdocegos, faz-se necessário que os professores que atuam
com estes alunos, compreendam e se apropriem desses procedimentos, sendo
essencial para o êxito do trabalho.
A Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), originou-se dos estudos de Saviani**,
onde delimitou uma pedagogia de caráter dialético valendo-se das teorias críticas da
educação, inspirando-se em Karl Marx e seu Materialismo Histórico-Dialético,
conseguiu desenvolver uma pedagogia que contribuísse para a tentativa de
transformação da sociedade.
Essa pedagogia, através das análises e contribuições de Gasparin (2012), o
qual sistematizou-a em uma metodologia, para ser trabalhada pedagogicamente em
aulas, trazendo um conteúdo teórico crítico e ampliador de novas possibilidades
didáticas. A PHC foi sistematizada em cinco fases, a Prática Social Inicial,
Problematização, Instrumentalização, Catarse e Prática Social Final, onde professor
** Obra intitulada - Pedagogia Histórico-Crítico: Primeiras aproximações. 11º ed. São Paulo: Autores
Associados, 2011.
29
e alunos irão adquirir a consciência sobre a prática pedagógica a ser realizada
durante o processo ensino e aprendizagem.
Vejamos a seguir cada uma das fases da Abordagem Co-Ativa, criada por
Van Dijk, e os momentos pedagógicos elaborados por Gasparin, a partir dos
conceitos da PHC de Saviani, tentando relacionar suas principais características, e
suas possíveis aplicações na prática pedagógica dos professores.
A RELAÇÃO DO MÉTODO VAN DIJK COM A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES.
A Nutrição é a primeira fase da Abordagem Co-Ativa, tem como objetivo
permitir que a pessoa com Surdocegueira aceite um mediador, cooperando com as
atividades pedagógicas apresentadas por ele. Durante esta fase, o processo de
aproximação deve ser priorizado, constituindo a base de sentimentos como,
segurança e confiança, que determinarão o sucesso da ação pedagógica, atual e
futura (CADER-NASCIMENTO, 2010, p. 45).
A fase da Nutrição tem uma relação com o momento pedagógico
denominado de Prática Social Inicial, devido também caracterizar-se pelo primeiro
contato, a primeira leitura que o professor faz de seus conteúdos a seus alunos.
Segundo Gasparin (2012), a Prática Social Inicial é o primeiro passo do método,
caracteriza-se por uma preparação, uma mobilização do aluno para a construção do
conhecimento escolar. É a primeira leitura da realidade, um contato inicial com o
tema a ser estudado, ou seja, é o primeiro momento do trabalho pedagógico,
consiste em ver a realidade e tomar consciência de como ela se coloca no seu todo e
em suas relações com o conteúdo que será desenvolvido durante o processo (p. 34).
A segunda fase desenvolvida por Van Dijk é a Ressonância, este termo é
emprestado da Física, que significa “fenômeno pelo qual um corpo sonoro vibra ao
ser atingindo por vibrações produzidas por outro corpo, quando o período delas
coincide com o seu, ou com o de um de seus harmônicos” (FERREIRA, 1986).
30
O objetivo dessa fase é proporcionar a interação do indivíduo com o outro,
introduzindo modalidades alternativas de comunicação, fazendo-o perceber a
influência e os efeitos de seus movimentos no corpo do outro.
Para Amaral (2002),
No nível da ressonância, o adulto e a criança estão muito próximos, movendo-se juntos em um espaço muito limitado. O adulto imita os movimentos da criança ou então inicia sua própria conta; o adulto começa com a criança um movimento de que esta goste, e cessa o movimento em um momento esperando que a criança dê um sinal para reiniciar (AMARAL, 2002, p. 5).
Esta segunda fase, chamada de Ressonância, relaciona-se com o segundo
momento pedagógico da PHC, a Problematização, que, por sua natureza e função,
se torna fundamental para o encaminhamento de todo o processo de trabalho
docente-discente. Nesse processo de Problematização, tanto o conteúdo quanto a
prática social tomam novas feições. Ambos começam a alterar-se: é o momento em
que começa a análise da prática e da teoria. Inicia-se o desmonte da totalidade,
mostrando ao aluno que ela é formada por múltiplos aspectos interligados. São
evidenciados também as diversas faces sob as quais pode ser visto o conteúdo,
verificando sua pertinência e suas contradições, bem como seu relacionamento com
a prática (GASPARIN, 2012, p. 34).
O Movimento Co-Ativo, ou mão sobre mão, é a terceira fase, e caracteriza-se
pela ampliação comunicativa entre o mediador e o indivíduo, valendo-se de um
espaço mais amplo. O objetivo dessa fase é aumentar a utilização de recursos de
comunicação e ampliar a ação motora do indivíduo no ambiente.
Segundo Frederico (2006),
Esta atividade é uma continuidade da ressonância, mas acontece com uma separação física. Os movimentos co-ativos mais funcionais são os que compreendem o uso de objetos em acontecimentos cotidianos como: comer, limpar a mesa, guardar objetos, vestir-se com um apoio de mão sobre mão. Os movimentos co-ativos com o uso de objetos, proporcionam à criança uma maior independência funcional,
31
e elas aprendem que as atividades têm começo e fim. Este é um passo essencial para desenvolver o conceito de tempo (FREDERICO, 2006, p. 45).
Para relacionar o Movimento Co-Ativo de Van Dijk, evidencia-se o terceiro
momento pedagógico que é a Instrumentalização, a qual realiza-se nos atos docentes
e discentes necessários para a construção do conhecimento científico. Os educandos
e o educador agem no sentido da efetiva elaboração interpessoal da aprendizagem,
através da apresentação sistemática do conteúdo por parte do professor e por meio
da ação intencional dos alunos de se caracterizarem desse conhecimento
(GASPARIN, 2012, p. 49).
Ainda para Gasparin (2012),
Os sujeitos aprendentes e o objeto da sua aprendizagem são postos em recíproca relação através da mediação do professor. É sempre uma relação tríade, marcada pelas determinações sociais e individuais que caracterizam os alunos, o professor e o conteúdo (GASPARIN, 2012, p. 49). A Instrumentalização é o caminho pelo qual o conteúdo sistematizado é posto à disposição dos alunos para que o assimilem e o recriem e, ao incorporá-lo, transformem-no em instrumentos de construção pessoal e profissional (GASPARIN, 2012, p. 51).
A quarta fase é a Referência Não-Representativa, nesta, as atividades com
manipulação de objetos começam a fazer sentido para o indivíduo, inicia-se a
caracterização das referências realizadas pelo indivíduo no ambiente em que se
encontra, e com as pessoas que se relaciona.
Segundo Cader-Nascimento,
(...) objetiva propiciar condições para a criança surdocega compreender alguns símbolos indicativos de atividades, pessoas, situações. Para isso, utiliza-se o objeto de referência, o qual inicialmente não terá significado para a criança; no entanto, precisa ser introduzido antes da realização de qualquer atividade (CADER-NASCIMENTO, 2010, p. 49).
O quarto momento pedagógico da PHC, é a Catarse, uma síntese do
cotidiano e do científico, do teórico-prático a que o educando chegou, marcando
32
sua nova posição em relação ao conteúdo e à forma de sua construção social e
reconstrução na escola.
Segundo Gasparin,
É a expressão teórica dessa postura mental do aluno que evidencia a elaboração da totalidade concreta em grau intelectual mais elevado de compreensão. Significa, outrossim, a conclusão, o resumo que ele faz do conteúdo aprendido recentemente. É o novo ponto teórico de chegada; a manifestação do novo conceito adquirido (GASPARIN, 2012, p. 124).
O educando mostra que, de um sincretismo inicial sobre a realidade social do
conteúdo trabalhado, conclui agora com uma síntese, que é o momento em que ele
organiza e estrutura, em nova forma, seus pensamentos sobre as questões que
conduziram seu processo de aprendizagem. Este momento pedagógico, a Catarse,
além de possuir uma relação com a quarta fase, Referência Não-Representativa,
possui também uma íntima relação com a quinta fase, a Imitação.
A Imitação, objetiva estimular a pessoa surdocega na realização das
atividades propostas, com a criação e possibilidades do próprio indivíduo, dos
movimentos e ações realizados pelo professor. Nesta fase também, o surdocego
começa a recriar os elementos simbólicos assimilados, para realizar suas
necessidades. Difere-se do movimento Co-Ativo, pois na Imitação o indivíduo
reelabora de forma criativa a ação após demonstração do professor, acrescentando
ou omitindo elementos, enquanto no movimento Co-Ativo a ação é simultânea, e
não há evocação de situações já vivenciadas (CADER-NASCIMENTO, 2003, p.
47).
O por último, a sexta fase de Van Dijk, é o Gesto Natural, a qual representa
uma manifestação da expressão corporal na identificação do objeto, pessoa ou
situação. Os Gestos Naturais podem ser uma forma alternativa de comunicação pré-
linguística, e que para desenvolvê-la, a melhor forma é a integração dos movimentos
Co-Ativos e Imitação durante o processo (FREDERICO, 2006, p. 46).
33
Outra observação importante, é destacado por Cader-Nascimento (2010),
quando descreve que é nesta fase que o indivíduo começa a criar seus próprios
gestos, conquistando e realizando suas necessidades e desejos.
A Prática Social Final é o último momento pedagógico elaborado por
Gasparin (2012, p. 142), relaciona-se com o Gesto Natural, pois é a confirmação de
que aquilo que o educando somente conseguia realizar com ajuda dos outros, agora
o consegue sozinho, ainda que trabalhando em grupo. É a expressão mais forte, de
fato se apropriou do conteúdo, aprendeu, e por isso sabe e o aplica. É o novo uso
social dos conteúdos científicos aprendidos na escola, durante o processo de ensino
e aprendizagem.
Para o autor,
A prática Social Final é a nova maneira de compreender a realidade e de posicionar-se nela, não apenas em relação ao fenômeno, mas à essência do real, do concreto. É a manifestação da nova postura prática, da nova atitude, da nova visão do conteúdo no cotidiano. É, ao mesmo tempo, o momento da ação consciente, na perspectiva da transformação social, retornando à Prática Social Inicial, agora modificada pela aprendizagem (GASPARIN, 2012, p. 143).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das apresentações e descrições dessas Abordagens metodológicas,
percebeu-se uma relação proximal entre suas características e seus procedimentos
metodológicos, na tentativa de aperfeiçoar e qualificar os conhecimentos referentes
aos atendimentos de alunos com Surdocegueira, realizados por professores.
Durante a realização das atividades educacionais com pessoas surdocegas, é
importante utilizar as fases e os momentos pedagógicos descritos e desenvolvidos
por Van Dijk e Gasparin, fazendo-se necessário também, a organização do trabalho
pedagógico dos professores atuantes com este segmento, a estruturação adequada
do ambiente em que se realizarão as atividades, estabelecendo uma rotina, variando
os estímulos de acordo com o avanço, entendimento e progressão de cada aluno.
34
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35
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ATLETAS DE FUTEBOL DE CINCO
Breno Bauer Notargiacomo Costa††
Lediane Lobato Martins‡‡
Anselmo de Athayde Costa e Silva§§
RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar os parâmetros antropométricos de atletas de futebol de 5 em dois momentos diferentes do período competitivo. Oito atletas do Clube de Futebol para Cegos do Pará (CFCP), com média de idade 27,2 ±2,14 anos foram submetidos à avaliação da composição corporal através da técnica de espessura de pregas cutâneas. No momento inicial a massa dos sujeitos foi de 75,13 ±13,4 kg, enquanto que no momento final a massa foi de 76,59 ±12,1 kg; o IMC variou de 26,4 ±4,5 kg/m² para 25,4 ±4,2 kg/m² no momento pós. A gordura corporal não mostrou variação significativa (pré: 24,8 ±4,8% e pós: 25,06 ±3,9%). Concluiu-se que os atletas possuem percentual de gordura acima dos valores normais para população. Além disso, não foi observada modificação nos parâmetros de composição corporal entre os dois momentos da análise.
PALAVRAS-CHAVE: Composição corporal; Deficiente Visual; Avaliação.
INTRODUÇÃO
A prescrição de programas de treinamento para diversas modalidades
esportivas exige conhecimento da especificidade de cada uma delas (CYRINO et al,
2002). Desse modo em modalidades coletivas, como por exemplo, o futebol, o
conhecimento sobre a composição corporal tem se revelado importante para a
caracterização das exigências especificas como na velocidade e salto vertical desse
esporte (CYRINO et al., 2002).
É importante deixar claro que o conhecimento da especificidade permite
adquirir bons resultados esportivos. Pois a necessidade de simular os exercícios de
acordo com a realidade para se obter bons resultados nas modalidades esportivas.
(MOLINUEVO; ORTEGA, 1989; SANTOS et al., 1991).
†† UFPA. Universidade Federal do Pará. Pós-graduação em treinamento esportivo, E-mail:
[email protected]. ‡‡ Professora de Educação, pós graduada Educação Especial com Ênfase em inclusão
E-mail: [email protected] §§ Orientador. Doutor em Atividade Física Adaptada pela Faculdade de Educação Física da UNICAMP,
E-mail: [email protected]
36
Outro aspecto importante sobre a composição corporal, é que valores
elevados da gordura corporal estão associados ao baixo condicionamento físico e a
queda de rendimento nas modalidades esportivas. Portanto o excesso de gordura
para atletas que a todo o momento se deslocam e sustentam seu peso, está
relacionado ao decréscimo de performance. (BUENO et al,. 2011; KEOGH, 1999;
OLIVEIRA et al., 2014). Por este motivo, se faz necessário compreender melhor
como estes componentes morfológicos do atleta se comportam no período da
preparação física antes dos campeonatos.
Embora existam referências sobre a composição corporal em atletas
cegos de futebol (GORLA et al., 2017; SOUZA et al., 2014), esses autores
apresentam alguns testes que são administráveis a pessoa com deficiência visual
dentro do futebol de cinco, como antropometria, composição corporal e coletas
dados da seleção brasileira de futebol de cinco. Ainda assim, pouco se escreveu até o
presente momento sobre o futebol de cinco e consequente pouco sobre a
composição corporal. Portanto, o objetivo desta pesquisa consiste na análise de
dados da composição corporal dos atletas durante o período de preparatório para
competição e posterior a mesma.
Matérias e Métodos
Caracterização da amostra
A amostra foi constituída por oito atletas que se organizavam nas
seguinte posições ala 2 atletas, pivôs com 3 atletas e fixos com 3 atletas com média
de idade de 27,2 (±2,14 anos) que integram Clube de Futebol para Cegos do Pará
(CFCP). Em relação à classificação visual, todos eram cegos e classificados como
B1. A classificação B1 corresponde aqueles que podem ter percepção de luz, mas
não são capazes de reconhecer as formas das mãos em qualquer distância
(FONTOURA et al., 2008). E foram avaliados em dois períodos diferentes (maio e
agosto) na duração de 12 semanas. Os atletas possuíam uma frequência de
treinamento de duas vezes na semana, sendo duas horas semanais. Foi recomendado
37
aos participantes que não treinassem na véspera das avaliações para se tornar mais
fidedignas as medidas. Cada avaliação consistiu em medidas antropométricas (massa
corporal, altura, e dobras cutâneas utilizando a equação Dc=1,1631-0,0632
Log10(TR+BC+SB+SI) de Durnin e Womersley (1974). Todos os atletas
participaram do Campeonato Regional Centro-Norte de Futebol de 5 no período de
20 a 23 julho de 2017, organizado pela Confederação Brasileira de Desporto de
Deficiente Visuais.
Medidas antropométricas
A massa corporal foi mensurada com balança digital da marca
RelaxMedic® com capacidade máxima de 180kg e escala de leitura de 100g. A
estatura foi mensurada com estadiômento de bolso da marca Cescorf® com escala
de medida de 0,1 cm. Foram mensurados com plicômetro da marca Cescorf® as
dobras cutâneas tríceps (TR), bíceps (BC), subescapular (SB), axilar média (AM),
peitoral (PT), suprailíaca (SI), abdominal (ABD), coxa (CX) e perna (PTH). E para o
cálculo da densidade corporal utilizou-se a equação de quatro dobras cutâneas (TR-
BC-SB-SI) validada por Durnin e Womersley (1974) equação utilizada a partir dos
trabalhos realizado referente à composição corporal da seleção brasileira. Calculou-
se o percentual de gordura corporal (%G) por meio da equação de Siri (1961) %G =
[(4,95/D) – 4,50] x 100. E foi calculado o índice de massa corporal (IMC, kg/m²).
A análise dos dados foi realizada através do teste de Wilcoxon para
comparação dos momentos pré e pós intervenção e foi utilizado o software Bioestat
5.5 e o nível de significância de p≤0,05.
Resultados
As variáveis que caracterizam a amostra são apresentadas na tabela 1.
Não foram observadas diferenças significativas após o tempo de intervenção para as
variáveis antropométricas e de composição corporal (Tabela 2).
38
Tabela 1: Média e desvio padrão das características da amostra.
Variável Média ±dp Amplitude
Idade, anos 27,2 ±2,14 17 a 41
Massa, kg 75,13 ±13,4 55,3 a 95,6
Estatura, cm 169 ±0,1 159 a 177
IMC, kg/m² 26,4 ±4,5 18,2 a 32,4
GC, % 24,6 ±4,8 15,4 a 30,5
∑ 9DC 127,5 ±38,8 62 a 179
Legenda: ±dp - desvio padrão; IMC - Índice de Massa Corporal; GC, Gordura
Corporal.
Tabela 2. Características antropométricas dos atletas de acordo com
posicionamento na pré-temporada e pós temporada.
Variáveis Idade anos MC (KG)
Estatura (cm)
IMC (kg/m)2 GC (%) ∑ 9DC
Pré-temporada 27,4(±6,9) 75,13(±13,4) 169(±0,1) 26,4(±4,5) 24,66(±4,8) 127,5(±38,8)
Pós temporada 27,4(±6,9) 76,59(±12,1) 169(±0,1) 25,4(±4,2) 25,06(±3,9) 129,7(±32,8)
Legenda: MC, massa corporal; IMC, índice de massa corporal; GC, gordura corporal;
Ʃ9DC, somatório das 9 dobras cutâneas.
Os resultados indicam que após 12 semanas de treinamento técnico tático e
físicos na pré-temporada e no pós-temporada verificou-se que a massa corporal de
ambas as posições estudadas (Ala, fixo e pivô) para todo o grupo analisado, não
apresentou diferença estatística significativa (p≤0,05). Na variável antropométrica
MC (75,13kg), nas variáveis de composição corporal de %GC (26,40%) e Ʃ 9DC
(127,5mm) em relação à pós-temporada.
Discussão
Este estudo buscou comparar características antropométricas de atletas
de futebol de cinco entra pré e pós temporada pertencentes à principal equipe de
39
estado do Pará. O estudo da composição corporal representa um dos elementos
importante para identificar o perfil do atleta. Considerando que o perfil
antropométrico de atletas de elite de futebol de cinco (Gorla et al, 2017) server
como fonte de referência ao presente estudo.
Contanto nesta pesquisa, notou-se que a equipe analisada apresenta
percentual de gordura acima da média 24,83% (Gorla, 2017; Lohman, 1992;
Mantovani, 2008; Souza, 2014). Em decorrência da baixa frequência de treinamento,
como resultado, gera dificuldade na melhora dos valores de composição corporal
(BARTHOLO, 2011; DUARTE, 2016). Que recomendam uma carga-horária de
treinamento semanal seja obedecendo o tempo real de jogo 50 minutos 6 vezes por
semana totalizando 5h de treinamento semanal. Essas evidências sugerem que a
preparação física dos atletas deve ter uma frequência de treinamento maior.
Comparando os presentes resultados às evidências na literatura é possível
tecer alguns comentários. Faz-se importante ressaltar que os valores de percentual
de gordura da equipe estão acima do valor de percentual desejado para atletas de
futebol de cinco segundo o que demonstra 10,5% (GORLA et al., 2017). Que
realizou estudo com 23 atletas com média de 27,3 ± 5,5 anos que integram a seleção
brasileira de futebol de cinco, sendo 4 goleiros e 19 atletas com classificação B1,
desta forma acreditamos que o perfil de composição corporal dos atletas se mostra
desfavorável para fins competitivos. Segundo Petreça e Rucke Neto (2016)
demonstram em seu estudo que o percentual de gordura em atletas de futsal e
futebol variam em médias de 16,40%.
Portanto este trabalho vem contribuir para o crescimento de
conhecimento nesta área. O estudo foi realizado com uma amostra de atletas que
não tem a carga ideal de treino semanal. Assim, é importante ressaltar que a
generalização dos resultados fica prejudicada quanto à análise longitudinal. O n do
estudo é baixo, porém, está próximo do normal para estudos envolvendo esporte
paraolímpico (SILVA et al., 2002; SILVA et al., 2015), que geralmente utilizam baixa
amostra pela dificuldade de recrutar sujeitos que atendam aos critérios de inclusão.
40
Por exemplo, Silva et al. (2002) realizou uma pesquisa com 11 jogadores de futebol
portadores de paralisia cerebral para fazer avaliação isocinética e Silva et al. (2015)
que realizou a pesquisa com 14 atletas paraolímpicos de ambos o sexo para avaliar
queixas musculoesqueléticas em atletas paraolímpicos no qual foi executado 3 vezes
em 1 ano. Em vista disso foi à primeira tentativa de um desenho longitudinal.
No entanto a pesquisa foi realizada com equipe de futebol de cinco com
os treinamentos já em andamento. Contudo, vale ressaltar a necessidade de
reproduzir este experimento com uma amostra que tenha uma carga mínima de 6-8
horas semanais de treinamento. Para verificar as prováveis alterações que possam
ser encontradas para justificar uma possível hipótese de mudança. Por isso, um
estudo planejado em futuras equipes ou na própria equipe pesquisada seria uma
oportunidade de demonstrar essa experiência cientifica.
Conclusão
Os resultados do presente artigo permitiram constatar que os atletas de
futebol de 5 da equipe analisada possuem valores percentuais de gordura acima do
normal para a população, bem como em comparação a atletas de modalidades
análogas e que estes valores não se alteraram após o período de treinamento.
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43
COMUNIDADES RIBEIRINHAS: PROPOSIÇÕES PARA AÇÕES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE Eliseu de Sousa Costa*** ¹, Breno Lins de Alencar e Silva2, Sônia Sueli Serrão da Silva3,
Shirley Aviz de Miranda4, Nádile Juliane Costa de Castro5.
RESUMO: O objetivo da pesquisa é identificar o contexto de uma comunidade ribeirinha e sua implicação para atividades de educação em saúde. É uma pesquisa exploratória-descritiva realizada na comunidade ribeirinha da Ilha do Combu no município de Belém-PA, localizada a frente a Belém. A técnica de coleta de dados foi baseada na observação não participante com o suporte da captura fotográfica e a busca de dados em documentos históricos e na legislação. Os resultados emergiram três categorias: Contexto, Acesso: transporte e dificuldades e Enfrentamentos para educação em saúde. Conclui-se que as peculiaridades regionais devem ser observados ao se oportunizar atividades de educação em saúde em comunidades ribeirinhas, haja vista que possibilitam a aceitação e compressão mais efetiva no processo de aprendizagem. PALAVRAS-CHAVE: Educação em saúde; Populações Vulneráveis; Saúde Coletiva; Enfermagem; Comunidades.
INTRODUÇÃO
A educação em saúde pressupõe uma combinação de oportunidades que
favoreçam a manutenção da saúde e sua promoção, não entendida somente como
transmissão de conteúdos mas também como a adoção de práticas educativas que
busquem a autonomia dos sujeitos na condução de sua vida. Desse modo, educação
em saúde nada mais é que o pleno exercício de construção da cidadania
(ROECKER et al. 2012). É vista como uma das estratégias utilizadas na atenção
primária, para efetivar uma aproximação entre os serviços de saúde e a comunidade,
entre o educador e o educando, em um processo de ensino-aprendizagem, sendo
este, complexo e de construção permanente (FERNANDES, BACKES, 2010).
Nessa diretiva, com a criação e implementação do Estratégia Saúde da
Família, populações tradicionais da Amazônia, como é o caso de algumas das
populações ribeirinhas, tiveram a oportunidade de acesso à saúde. Em conjunto a
*** 1 Especialista em Saúde da Família. SESMA Benevides.2 - Graduado em Enfermagem. Universidade
da Amazônia (UNAMA). 3 - Graduada em enfermagem. SESMA Belém. 4 - Mestre em enfermagem.
Centro Universitário Metropolitano da Amazônia (UNIFAMAZ). 5 - Doutora em Ciências
socioambientais. Departamento de Atenção Primária à Saúde da ABEn Seção Pará. E-
mail:[email protected]
44
essa estratégia, como ferramenta a subsidiar transformações no processo saúde-
doença têm-se utilizado a educação em saúde em comunidades amazônidas
(SANTOS et al., 2018). Por certo, é necessário aplicar desde a formação acadêmica
ações voltadas para a realidade regional, para que subsidiem reflexões na vida
profissional (CASTRO et al., 2017).
É pertinente reconhecer as peculiaridades do cenário amazônico. Por certo,
em se tratando de uma região geográfica de dimensões continentais e sua população
se estabelecer ao longo de centenas de rios, na maioria das vezes, sem acesso por
estradas, o que gera isolamentos e dificulta o desenvolvimento de ações em saúde
(MACHADO et al., 2010). Logo, por meio das ações da equipe de enfermagem é
possível sistematizar o serviço e utilizar metodologias baseadas em práticas
educativas e que subsidiem a atenção básica e os cuidados individuais e coletivos
(ARAÚJO et al., 2018) e que podem ser direcionadas as realidades ao
conhecimentos das populações regionais a fim de diminuir agravos (SANTOS et al.,
2017).
Nestes termos, o objetivo da pesquisa é identificar o contexto de uma
comunidade ribeirinha e sua implicação para atividades de educação em saúde.
MATERIAL E MÉTODO
Pesquisa exploratória-descritiva realizada na comunidade ribeirinha da Ilha
do Combu no município de Belém-PA, localizada a frente a Belém. Esta pesquisa
iniciou-se em maio de 2015 até agosto de 2018. A fim de atender ao objetivo deste
estudo, buscou-se na abordagem qualitativa as ferramentas teórico metodológicas
que possibilitam caminhar pela perspectiva em que a dinâmica do mundo
sociocultural e ambiental. A pesquisa qualitativa aborda o campo social como um
“mundo de significados” em que as práticas e linguagens dos grupos sociais, com
suas motivações, aspirações, crenças, valores, atitudes se expressam na vida
cotidiana (TEIXEIRA, 2014, p. 140).
45
Para isso, o objeto deste estudo suscitou como técnica de coleta de dados a
observação não participante com o suporte da captura fotográfica e a busca de
dados em documentos históricos e na legislação que trata das feiras em geral. Partiu-
se também da produção de um diário de campo, realizadas por visitas in loco. O
instrumento de coleta de dados possui dois elementos a serem observados:
infraestrutura dos serviços de saúde e educação, realidade geográfica, sendo
registrados em diário de campo. Considerando que as técnicas de coleta de dados
levaram a produção de um relatório textual, utilizou-se - como técnica de análise de
dados que é um conjunto de técnicas de análise de comunicações (BARDIN, 2016).
A pesquisa irá obedecer ao que rege a resolução nº 466, de 12 de dezembro
de 2012 do conselho nacional de saúde em que constam as Diretrizes e Normas
Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos e foi aprovado no
comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos (CEP/CONEP) sob número:
1.082.776.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Contexto
Segundo Cirilo (2013), a APA da ilha do Combu foi criada em 1997, através
da lei estadual n° 6.083, e a mesma tem como objetivo o ordenamento do uso dos
recursos naturais de maneira sustentável, como o extrativismo do açaí e do palmito.
A partir da criação dessa lei, a gestão desta APA passou a ser de competência da
Secretária Estadual de Meio Ambiente (SEMA/PA). Neste sentindo, a APA é de
fundamental importância para a preservação do ecossistema da ilha do Combu,
assim como para a manutenção da qualidade de vida do ribeirinho e tem como
objetivo a garantia da fauna e da flora, a preservação dos ecossistemas, a
manutenção do meio ambiente e a garantia da sustentabilidade na utilização dos
recursos naturais.
Geograficamente, a Ilha do Combu está localizada às margens do rio Guamá,
na porção sul do município de Belém, a uma distância de 1,5 km da zona urbana da
46
cidade. Com uma área de 15 Km2, constitui-se a quarta maior ilha do município,
distante da capital de Belém em média 15 minutos de rabeta. A mesma pertence ao
Distrito de Outeiro (DAOUT), que envolve as ilhas localizadas na parte norte e na
parte sul da região insular do município de Belém (CIRILO, 2013). Nesse espaço
tipicamente amazônico, caracterizado pela presença de vegetação de várzea, por
furos, igarapés e paranás (Figura 1), vivem cerca de 1.700 moradores que estão
distribuídos em quatro comunidades: comunidade do Igarapé Combu, comunidade
Beira Rio, comunidade Santo Antônio ou do Igarapé do Piriquitaquara e
comunidade do São Benedito a preservar ou do Furo de São Benedito (TEIXEIRA;
ALVEZ, 2008).
De acordo com Reis et al. (2012), a população do Combu é composta na sua
maioria por crianças e adolescente com idade entre 0 a 19 anos (54%) seguido da
população adulta com faixa etária entre 20 a 90 anos (45,6%). Desta forma, a
comunidade constitui-se essencialmente por uma população jovem, já que 65,6%
dos moradores encontram-se no intervalo etário de 0 a 24 anos.
O fato de a população ser formada em sua maior parte por jovens, que hoje
tem maior acesso a informação e a educação, acabam por incorporar valores
Figura 1 – Vegetação a margem do furo do Combu. Fonte: Arquivo de campo
47
culturais diferentes dos preservados pelas comunidades tradicionais ribeirinhas, as
quais viviam predominantemente da exploração dos recursos naturais, da pesca e da
agricultura de subsistência. A incorporação dos novos valores é resultante
principalmente da proximidade com o centro urbano, do acesso à informação, do
contato com outras culturas
Nestes termos é necessário compreender que as moradias tradicionais dos
povos ribeirinhos são denominadas de palafitas, termo utilizado para designar um
tipo de habitação construída sobre troncos ou pilares. Esse tipo de construção é
comum em áreas alagadas, com estrutura de madeira, de palha ou de taipa. Neste
estudo foi identificado que as casas da ilha em sua grande maioria são de madeira,
com pisos elevados, telhas de barro, todas muito próximas às margens dos rios.
Essas moradias são adequadas ao sistema de cheia dos rios, quase sempre possuem
um pequeno trapiche ou ponte, que tem como objetivo facilitar o acesso, haja vista,
que o rio é o principal meio de deslocamento dos ribeirinhos.
Reis et al. (2012), aponta que nestas realidades há um pequeno trapiche ou
ponte na parte frontal das residências, tendo por finalidade estacionar/atracar as
rabetas e/ou montarias. Além disso, há um banheiro localizado na parte externa da
casa, uma espécie de compartimento independente interligado a residência por uma
ponte feita por tronco de açaizeiro ou miritizeiro, sendo descrito como um pequeno
barraco coberto, com um orifício no assoalho. Em paralelo, é importante salientar
que a comunidade não tem acesso ao saneamento básico: água encanada, sistema de
esgoto, coleta e separação de lixo, muitas patologias podem estar associadas a essas
condições precárias de moradias, a destacar: diarreia, anemia, hepatites, amebíase,
tifo, salmonela, febre tifoide, viroses, patologias gastrointestinais, infecção urinárias,
entre outras.
ACESSO: TRANSPORTE E DIFICULDADES
Para Silva et al. (2013), o termo ribeirinho, não se refere ao simples fato de
alguém morar às margens de um rio ou igarapé, mas se refere a uma população que
48
possui um modo de vida peculiar, que a diferencia das demais populações do meio
rural ou urbano, possuindo uma dinâmica marcada pela presença do rio, o qual não
é apenas um elemento do cenário ou da paisagem, mas algo constitutivo do modo
de ser e de viver. E por habitarem em um ambiente onde a força da natureza se faz
presente, os ribeirinhos aprenderam a sobreviver em um meio repleto de limitações
e desafios impostos pelo rio e pela floresta. Logo, a relação desse povo com as
mudanças naturais fez com eles que adaptassem o seu cotidiano, seu modo de morar
e de buscar meios para sua subsistência (MORIM, 2014).
Neste sentido, Santana (2013), ressalta que o rio institui o alicerce de
sobrevivência dos ribeirinhos, sobretudo às terras férteis de suas margens, além de
se apresentar como via de transporte. O rio possui um papel fundamental em suas
vidas, pois, é através dele que são estabelecidas as ligações entre as localidades com a
utilização de jangadas e barcos como o único meio de transporte. É nele também
que os ribeirinhos executam uma das principais atividades que lhes proporciona
fonte de renda e de sobrevivência: a pesca (MORIM, 2014).
Diante disso, entende-se que embora o rio seja indissociável das atividades de
subsistência e da vida ribeirinha, apresenta-se de forma paradoxal, pois é também
um fator limitante, pelo fato de diminuir as possibilidades de acesso a serviços como
saúde, educação, comunicação e deslocamento, dentre outros, em decorrência ao
isolamento geográfico, o que reflete em carências socioeconômicas, como a
inexistência de saneamento básico, condições precárias de habitação, ausência de
tratamento adequado do lixo, desemprego e limitação da renda.
Esse cenário reflete também na mobilidade dos ribeirinhos, visto que os
principais meios de transportes utilizados na comunidade ribeirinha do Combu e
demais ilhas, que compõem a região insular do município de Belém são: rabetas,
barcos e montarias, estes transportam nativos em suas atividades diárias, servidores
de serviços públicos destas áreas, além de turistas.
Mesmo próximo à área urbana de Belém o acesso à ilha do Combu é
dificultado pela escassez de transporte coletivo regular, principalmente nos dias
49
úteis, pois o transporte regularizado é para transportar alunos que estudam na área
urbana, profissionais da educação e saúde que atuam na ilha (Figura 2). Para as
demais pessoas como: pesquisadores, visitantes, turistas e mesmo ribeirinhos que
precisem realizar atividades fora da ilha que, por ventura, se interessem transitar
entre a ilha e área urbana do município nos dias úteis, o acesso é escasso, sendo
estes obrigados a arriscar-se em meio a transportes irregulares, que não obedecem às
normas de segurança estabelecidas pela Agência Nacional de Transportes
Aquaviários (ANTAQ).
A partir desse pressuposto, é possível afirmar que a ilha do Combu
estabelece uma relação de dependência com o centro urbano de Belém,
principalmente ao que concerne a economia, pois seu desenvolvimento resulta da
interação comercial entre as duas partes, uma vez que os produtos do extrativismo
são comercializados principalmente no mercado belenense. Do mesmo modo, é no
centro comercial de Belém que o ribeirinho adquire a maioria dos produtos e artigos
Fotografia 02 - Transporte escolar dos ribeirinhos. Fonte: Arquivo pessoal.
50
usados no seu dia a dia, como, vestuário, alimentação, utensílios domésticos, dentre
outros.
Além disso, ainda ocorre dependência de profissionais e serviços, como
educação e saúde, haja vista, que na ilha estes serviços são oferecidos de forma
básica e os profissionais que lá atuam residem na região metropolitana de Belém.
Assim, essa relação de dependência ser fortifica e perpetua, principalmente, devido
às necessidades que a ilha possui, em termos de infraestrutura social, comercial e de
serviços. É importante compreender a necessidade de ir e vir, de segurança, lazer,
saúde, respeito, dentre outros, está sendo negligenciada, mediante a atual condição
que se apresenta o espaço da praça princesa Isabel e do porto lá instalado.
No caso dos serviços de saúde, por exemplo, os impactos destas carências
caracterizam-se como dificuldades para realizar consultas, exames, vacinas, ações
preventivas dentre outros, resulta em uma população com um maior potencial de
adoecimento sem possibilidade acessível de tratamento pela medicina moderna, o
que representa acentuação dos índices epidemiológicos destas populações.
Assim, o isolamento geográfico afeta a epidemiologia da ilha, como evidencia
Azevedo et al. (2014) que como parte de sua pesquisa realizou campanha de coleta
de material para PCCU, e constatou que aproximadamente 23% das mulheres
pesquisadas não compareceram para a coleta de material e a justificativa ao não
comparecimento teria sido a dificuldade de acesso à ESF do Combu, pelo fato de
residirem em área ribeirinha e não disporem de transporte para o deslocamento.
É prudente afirmar que as populações das ilhas são prejudicadas devido às
dificuldades de acesso a serviços como a saúde, seja pela escassez ou pelo
isolamento geográfico, o que pode acarretar no agravamento do quadro
epidemiológico dessas populações. Por outro lado, o isolamento geográfico favorece
a manutenção das características naturais e antropológicas destas comunidades, visto
dessa forma como um fator favorável para a preservação da cultura, pois os mantêm
pouco contato com outras comunidades.
51
ENFRENTAMENTOS PARA EDUCAÇÃO EM SAÚDE:
Comunidade como da ilha do Combu, ainda que possuam proximidade com
a área urbana, possuem um acesso limitado de informação. Mas, se comparado com
outras comunidades isoladas geograficamente podem ter a introdução de novas
tecnologias sociais de comunicação que são viabilizadas por essa proximidade com a
região metropolitana. Com base em todas essas dificuldades, o Ministério da saúde
criou a Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF), que o objetiva suprir essas
dificuldades de acesso a tais comunidades (BRASIL, 2013).
Embora, já haja preocupação por parte do Ministério da Saúde com as
comunidades ribeirinhas mais isoladas, a UBSF ainda não é uma realidade no
Combu, pois hoje a ilha dispõe apenas de uma Casa de Saúde da Família que
funciona pela manhã e oferece apenas serviços básicos, como consultas. Este espaço
é fixo e o acesso é através do rio, contudo, sabe-se que nem todos os ribeirinhos
dispõem de transporte para isso. A UBSF se faz necessário devido principalmente
ao fato de a ilha ter uma enorme extensão territorial, onde muitos ribeirinhos ainda
vivem em situação de isolamento, com precárias condições sanitárias, como
ausência de saneamento básico, de sistema de tratamento água, coleta de lixo dentre
outros, além do fato de a região insular do município de Belém ser formada por
várias ilhas que também poderiam se beneficiar.
Deste modo, teriam acesso a serviços de saúde que proporcionaria
informação em saúde e consequentemente promoção à saúde e qualidade de vida.
Ademais, isso se faz necessário também, por que o isolamento geográfico permite
que estas comunidades conservem suas características antropológicas, culturais,
religiosas, crenças e valores. Nestes termos, é necessário compreender que cenários
como estes são representativos de processos sociais que determinam a saúde dos
indivíduos (MEDEIROS et al., 2018).
Por certo, ao se objetivar produzir ações de educação em saúde é necessário
compreender o cenário e buscar informações pertinentes de modo a agir
coerentemente com as necessidades locais referentes a saúde. No mais, deve-se
52
reconhecer os indivíduos pertencentes a esta comunidade como sujeitos que
possuem conhecimentos que devem ser considerados no processo das ações de
educação em saúde (SILVA, 2018). Como aporte pode-se enveredar-se pelas rodas
de conversa (DIAS, et al., 2018) e que contemplem a realidade socioambiental e
antropológica destas comunidades (SANTOS et al., 2017) e busquem informações
necessárias para compreensão das dinâmicas locais.
Nestes termos, as ações voltadas para educação sem saúde seriam mais
eficazes. Uma educação em saúde deve ser voltada para a realidade de modo a
resolver problemas reais, mas sobretudo, compreender a complexidade que envolve
processos interdisciplinares (TENÓRIO et al., 2018). Este olhar é necessário, haja
vista que nestes cenários como já apontado há características que são peculiares a
região. O profissional em saúde deve construir suas ações então pela realidade, pelo
campo da saúde coletiva que abrange um olhar interdisciplinar e buscando resolver
problemas reais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
As peculiaridades de uma região são condições que devem ser consideradas
no contexto das ações de educação em saúde. Na Amazônia é sempre pertinente
identificar questões geográficas e de mobilidade de comunidades ribeirinhas, pois,
possuem suas rotinas envoltas aos recursos naturais e por costumes e culturas
amazônidas. Por certo, a compreensão do ser amazônida deve sempre ser discutida
no âmbito da execução de atividades dos serviços de atenção primária à saúde.
O trabalho limita-se a compreender o cenário, mas é possível encontrar mais
evidências identificando agravos e relacionando-os ao ambiente. Recomenda-se que
sejam realizados estudos parasitológicos e de acidentes pertinentes a essas realidades
de modo a corroborar com os apontamentos já discutidos.
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AÇÃO EDUCATIVA SOBRE HIGIENE ENTRE ESCOLARES DE UNIDADE EDUCACIONAL RIBEIRINHA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Ianny Ferreira Raiol††† Gabriela Nascimento de Souza2
Leticia de Souza Rodrigues2 Marina Pereira Queiroz dos Santos2
Nicole Râmilly de Oliveira Lameira2 Shirley Aviz de Miranda3
RESUMO: Objetivo: Realizar uma ação educativa para incentivar a adoção de hábitos de higiene com crianças em idade pré-escolar. Metodologia: Trata-se de uma ação educativa, utilizando a metodologia de problematização com o Arco de Maguerez. A ação foi realizada em Cotijuba. O público-alvo destinou- se às crianças de 3 a 5 anos. A aplicação da metodologia de problematização ocorreu por meio de 5 etapas, nas quais foram: Observação do local, Identificação do problema, Investigação, Criação de estratégias e Execução de ações, a fim de minimizar o problema observado. Houve uma dinâmica voltada à avaliação dessas crianças nas quais foram utilizadas músicas e coreografias. Resultados: Observou-se que as crianças continham bastante conhecimento acerca da higienização pessoal, sobre os itens mostrados, também sobre a forma de utilizá-los. Porém, nem todas as crianças tinham acesso a tais objetos em suas casas. Além disso, percebeu-se alto índice de pediculose. Conclusão: O processo vivenciado na metodologia da problematização proporcionou uma experiência em termos de aprendizagem, em saber lidar com essa realidade e adquirir novas experiências de campo. Vale ressaltar que é de grande importância a participação dos profissionais de saúde que lidam direta ou indiretamente na elaboração e atuação de programas de promoção de bons hábitos higiênicos. Palavras-Chave: Educação em saúde; Higienização; Promoção da saúde. INTRODUÇÃO
A educação em saúde vem sendo construída desde início, sempre tendo em
vista a melhoria e reabilitação, pois é na idade pré-escolar que há maior absorção de
informações. As ações educativas e preventivas devem ser incorporadas aos hábitos
das crianças de modo que elas sejam aptas a compreender as necessidades e
††† Discente da Faculdade Metropolitana da Amazônia. E-mail: [email protected]
² Discente da Faculdade Metropolitana da Amazônia. 3 Docente da Faculdade Metropolitana da Amazônia. E-mail: shirleyaviz@hotmail.
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importância de ter hábitos higiênicos desde cedo que contribuirá para evitar várias
doenças decorrentes. (NASCIMENTO, 2015).
A família está presente como a estrutura social básica e o primeiro núcleo da
construção da aprendizagem de um indivíduo, sendo assim, os hábitos na família
podem interferir na construção dos saberes de uma criança. E a escola, também
assume um papel relevante, pois como espaço de apropriação de conhecimentos,
tem dever de subsidiar propostas preventivas e promocionais à saúde. A ausência de
hábitos higiênicos aumenta a aquisição de doenças como cáries dentárias e
pediculose. (GABANI, 2010).
A criação de hábitos de higiene na educação infantil proporciona ao
desenvolvimento, aprendizagem lúdica, multidisciplinar e interdisciplinar
possibilitando as crianças a estabelecerem relações entre as atividades com a
realidade vivenciada por elas. A promoção da saúde no âmbito escolar visa
desenvolver o conhecimento de higiene e prevenção de doenças através de
conhecimento prático e teórico. A participação do contexto familiar, comunitário,
social e ambiental é fundamental para bons hábitos. (ROGEL, 2016).
Nessa perspectiva, para manter boa qualidade de vida, adotar bons hábitos
de higiene é uma das medidas mais necessárias. Dentre os hábitos saudáveis, o
banho é fundamental. A pele, o maior órgão do corpo humano, funciona como uma
barreira natural impedindo a entrada de microrganismos. Quando a proliferação
dessas bactérias boas é acentuada, ou quando é eliminada, a pele pode ficar
vulnerável, permitindo a infestação de outros organismos causadores de infecções.
(SILVA, 2016).
Dessa maneira, refletir sobre como as práticas de promoção da saúde são
elaboradas na perspectiva do cuidado, tem salientado discussões a respeito da
diversidade de atores sociais da saúde e o diálogo capaz de reconhecer as diferentes
realidades instituídas pelos mais variados aspectos que dão sentido de existência do
humano. Enquanto foco de reflexões, o cuidado vem auxiliando na elaboração de
57
novos planejamentos e intervenções voltadas ao atendimento da criança em sua
integralidade. (STEIN; VIEIRA, 2016).
O profissional deve direcionar a elaboração de suas atividades a partir da
realidade e do contexto em que está inserido, ou seja, buscar uma interpretação da
realidade educacional para então compreender os diferentes elementos que
envolvem a prática educativa, visando sua transformação. (SARUBBI, 2014).
Os dados epidemiológicos a respeito dos problemas relacionados à saúde
bucal de pré-escolares salientam a importância de intervenções educativas planejadas
de acordo com as características do desenvolvimento dessa faixa etária, a qual
compreende crianças entre três e cinco anos de idade. As escolas de educação
infantil são espaços privilegiados para intervenções coletivas visando à promoção de
comportamentos saudáveis e o desenvolvimento da autonomia da criança.
(CARVALHO et al., 2013).
A pediculose é vista como uma ectoparasitose mais prevalente entre a
população infantil e de difícil resolutividade. Apesar dos professores de Centros de
Educação Infantil vivenciar frequentemente a presença de infestação, seja em seus
núcleos familiares ou profissionais, muitas de suas práticas ainda se embasam no
senso comum, sem conhecimento e respaldo científico. Geralmente, quando as
pessoas tratam, muitas vezes, é por conhecimentos empíricos. (GABANI;
MAEBARA; FERRARI, 2010)
O enfermeiro, como profissional da saúde, tem como atribuições fazer
avançar ações na perspectiva do desenvolvimento integral da criança no ambiente
pré-escolar por meio de projetos que articulem saúde e educação para o
enfrentamento das vulnerabilidades que comprometam o pleno desenvolvimento
das crianças. (SIGAUD et al., 2017).
As necessidades e condições de higiene de crianças em idade pré-escolar em
zonas rurais ainda são muito precárias. Muitas vezes ocasionada pela ausência dos
pais relacionada, principalmente, a carga horária excessiva de trabalho.
Consequentemente, tais crianças se tornam vulneráveis a diversos problemas de
58
higiene, devido à falta de conhecimento do cuidado com o próprio corpo, também
pela realização inadequada de cuidados higiênicos. Para o crescimento e
desenvolvimento saudável da população infantil, é essencial organizar e planejar
ações educativas voltadas à promoção do cuidado em saúde (NASCIMENTO,
2015).
Dessa forma, para que essa prevalência diminua é necessário medidas de
educação em saúde visando à promoção e prevenção de forma que os problemas
higiênicos de alto índice epidemiológico, principalmente, na educação infantil, sejam
diminuídos e/ou combatidos. Assim, a realização de ações, preferencialmente em
ambientes de convívio social (como nas escolas) promovem a incorporação de
hábitos e comportamentos saudáveis no seu dia a dia (SARUBBI, 2014).
Diante disso, é esperado que por meio dessa prática, as crianças
compreendam a necessidade e importância de ter hábitos higiênicos desde cedo,
pois, quanto melhor estas tais crianças forem esclarecidas, mais chances elas terão de
formarem seu ego de forma própria e de contribuir para um ambiente mais asseado.
Assim, a representatividade para que a adoção de hábitos de higiene na educação
infantil aconteça de maneira prática, é necessária uma aprendizagem lúdica
(ROGEL, 2016).
Dessa forma, o objetivo geral desse trabalho relatar a realização de ação
educativa sobre hábitos saudáveis de higiene entre crianças em idade pré-escolar em
uma escola municipal de educação infantil na ilha de Cotijuba, Belém/PA.
PERCURSSO METODOLÓGICO
Trata-se de um relato de experiencia sobre ação educativa com a temática
sobre hábitos de higiene na educação infantil. O método utilizado foi através da
metodologia de problematização na qual pressupõe um discente ativo, protagonista
do processo de construção do conhecimento com a própria realidade, apreendida
como problema real a ser resolvido ou melhorado mediante a ação conjunta.
(CASTRO; GONÇALVES; BESSA, 2017).
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A elaboração da atividade foi baseada na metodologia da problematização e
das etapas do Arco de Maguerez e suas etapas, nas quais: a primeira etapa foi uma
observação da realidade, por meio de uma visita prévia a unidade educacional, a fim
de conhecer o espaço escolar, assim como as crianças e a necessidade de
intervenção no local. A segunda etapa foi identificação dos pontos-chave sobre as
possíveis vulnerabilidades relacionadas a higiene. Na etapa seguinte aconteceu a
teorização, com imersão teórica sobre a temática. Na quarta etapa consistiu na busca
por estratégias de formas didáticas, por meio de metodologias ativas a serem
desenvolvidas com as crianças na busca de solucionar ou minimizar a situação
identificada e a última etapa se constituiu na execução em si da ação educativa.
A atividade foi desenvolvida realizada em uma Unidade Municipal de
Educação Infantil, localizada na ilha de Cotijuba, município de Belém, no estado do
Pará. Ocorreu no horário de 09:00 horas às 12:00 horas do dia 30 de novembro do
ano 2018. O público-alvo foi destinado às crianças da escola na faixa etária de três a
cinco anos, além de professores.
RELATO DA EXPERIÊNCIA
Essa experiência oportunizou-nos desenvolver a atividade de educação em
saúde, de maneira criativa e dinâmica, utilizando recursos áudio visuais e
estimulando a participação das crianças. Tendo como objetivo a prevenção das
doenças, buscando a mudança de comportamento através do despertar de uma
consciência crítica.
Destarte, a dinâmica foi dividida em duas etapas, as quais: a primeira etapa
foi utilizada músicas e coreografias de forma lúdica, relacionados as higiene com
objetivo de envolver a criança com a temática abordada e com intuito de fortalecer
nas crianças a forma adequada de tomar banho, representar os locais a serem
lavados, a forma correta de escovar os dentes e como tratar a pediculose, para que
eles pudessem adquirir hábitos de higienização desde pequenos.
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Outra forma de analisar, foi através da exposição de uma cartolina, que
continha objetos, sendo eles: shampoo, sabonete, creme dental, escova de dente,
pente fino e um pente comum. Visto que, tais itens eram apontados e
posteriormente eram feitas perguntas, com o objetivo de avaliar o conhecimento das
crianças acerca de cada objeto apontado, na identificação do nome do item, como
utilizá-lo e se eles tinham acesso a este item em suas casas.
A metodologia utilizada teve intuito de promover o incentivo para que elas
tenham hábitos higiênicos desde cedo, para que possam evitar quaisquer tipo de
doenças decorrentes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram da ação educativa vinte e uma crianças, na faixa etária de três à
cinco anos, sendo onze meninos e nove meninas. Contamos também com a
presença dos professores da unidade educacional. Foi observado que eles têm
conhecimento de como fazer a higienização pessoal. Apesar do incentivo à escovar
os dentes, alguns setem preguiça ao fazer a limpeza bucal, a maioria relata tomar
banho sozinhos sem a presença dos pais/responsável, ou seja, tem uma
precariedade na vigilância e as crianças acabam fazendo de forma inadequada.
A professora da escola relatou que tem um alto índice de pediculose e
algumas crianças relataram que ao tomar banho utilizam o pente fino, outras falaram
que a mãe as “catava”. Porém, o índice ainda continua alto já que nem todas têm o
mesmo hábito.
Percebeu-se que 100% das crianças sabiam o que era cada item de higiene
pessoal, mas nem todas tinham em seu domicilio; 85,7% das crianças falaram que
utilizavam sempre que tomavam banho; 14,2% das crianças falaram que passam o
pente fino quando lavam o cabelo; 90,5% afirmam que lavam as mãos antes das
refeições; 100% afirmam que escovam os dentes; 19% das crianças dizem ter
preguiça e acabam não escovando sempre, somente uma vez ao dia.
61
Durante a atividade, percebemos que as crianças demonstraram interesse
pelo tema abordado através da verbalização/diálogo no que diz respeito aos
cuidados de higiene, sendo destacados como pontos mais importantes para esse
cuidado: o banho, lavagem das mãos antes e após de comer algo, do uso de pente
fino, a importância de escovar os dentes e o corte das unhas. Tal verbalização
Nota-se que por conta de serem crianças com pais, possivelmente, com baixa
renda, acabam tendo deficiência/ausência de bons hábitos. Consequentemente, os
riscos da aquisição de doenças são maiores. Além disso, foi possível perceber a
carência dos pais com relação aos cuidados com a limpeza e asseio perante seus
filhos, pois os professores presentes na atividade relataram que a maioria da
criançada chega na creche de forma suja e mal asseada.
De acordo com Nascimento (2015), é necessário o desenvolvimento de
atividades de Educação em Saúde para garantia de melhores condições de saúde.
Nesse sentido, é importante que se comece atuar justamente na idade infantil,
estimulando o desenvolvimento da responsabilização sobre seu próprio bem-estar e
consequentemente contribuindo para a manutenção de um ambiente saudável.
Desse modo, percebemos que comportamentos simples (escovar os dentes,
pentear o cabelo, tomar banho, lavar as mãos, cortar as unhas etc.,) com materiais
acessíveis e de baixo custo (como a escova de dentes, pente de cabelo, sabonetes,
dentre outros) não são desempenhados e utilizados, respectivamente, devido a baixa
renda familiar e/ou a negligência dos pais/responsáveis com relação ao incentivo na
educação e conscientização sobre as práticas de higienização.
Portanto, a atividade de educação continuada é fundamental nesse
aprendizado, de maneira a estimular e reforçar a importância da limpeza pessoal e
dos hábitos de higiene fora e dentro de casa, a fim de incutir nessas crianças tais
comportamentos, de forma a enxergá-los com mais naturalidade em vez de uma
obrigação. (SIGAUD et al., 2017).
Segundo Gomes (2016) a educação em saúde além de uma estratégia de
baixo custo, sendo capaz de atingir resultados significativos e duradouros e tem
62
como principal objetivo a prevenção das doenças, buscando a mudança de
comportamento através do despertar de uma consciência crítica, além de construir
nas pessoas um conceito acerca de hábitos saudáveis.
CONCLUSÃO
A experiência de promoção a saúde com os escolares foi válida e
extremamente rica, servindo para mostrar a importância de se adotar medidas de
higiene tanto de forma individual como coletiva. Haja vista, nessa oportunidade que
tivemos junto com as crianças, pudemos ensiná-las por meio de gestos, palavras,
canções e atitudes, além de ampliar os horizontes para o processo de construção de
hábitos higiênicos.
O processo vivenciado na metodologia da problematização proporcionou
novos modos de construção do conhecimento, e estreitou as vivências no ensino-
comunidade. Destaca-se a importância da participação dos profissionais de saúde
que lidam direta ou indiretamente nos programas de promoção da saúde na infância,
com ênfase nos hábitos adequados de limpeza.
Os profissionais na área da saúde devem sempre utilizar a educação em
saúde como algo que esteja presente em suas orientações, tanto no ambiente escolar,
quanto no familiar, devendo ser enfocado as medidas de prevenção e adoção de
bons hábitos de higiene. Quando a pessoa é orientada, ela passa a ter o poder de
decidir sobre as questões referentes à saúde e, assim, poderá agir de maneira crítica
refletindo sobre suas próprias atitudes.
Portanto, tivemos a oportunidade de abranger o olhar dessas crianças no
contexto de qualidade de vida, não somente sobre o benefício próprio, mas da
família e da comunidade, com relação as boas práticas de higiene. Assim, ao se
trabalhar com essas questões ainda na infância, quando adultos, essas pessoas irão
ter uma melhor qualidade de vida e consequentemente, terão uma boa condição de
saúde no que diz respeito às suas práticas de higiene. Vale ressaltar, que é
fundamental a participação de profissionais de saúde que lidam com as crianças, na
63
elaboração e atuação de programas com o objetivo de prevenção e promoção que
envolva a família/cuidadores.
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64
65
NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO AO MERCÚRIO EM PEIXES COMERCIALIZADOS NO VER-O-PESO: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Carolina de Sena Fernandes dos Santos‡‡‡ Renata Pacheco Vasconcelos Veloso1
Helder Douglas Cuimar Moreira Filho§§§ Maísa Lima Miranda2
Sara Bianca Almeida Luz2 Thayenne Correia Costa de Souza2
Renata Novaes da Silva****
RESUMO: Este artigo é resultado de um trabalho desenvolvido de acordo com a proposta da disciplina de Educação Ambiental, ao longo do segundo semestre de 2018. Tem como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre os níveis de mercúrio encontrados nos pescados comercializados no Ver-o-Peso, Belém-Pará, comparando os resultados obtidos por Amaro (2014) e Arrifano (2011). O presente estudo ratifica a importância do acompanhamento dos níveis de Hg-T nos peixes, a fim de contribuir para a prevenção dos possíveis males causados por este metal ao meio ambiente e saúde humana.
PALAVRAS CHAVE: Peixes. Mercúrio. Ribeirinhos. Contaminação.
INTRODUÇÃO
O Mercúrio é um metal liquido, substância natural facilmente encontrada no meio
ambiente. Exatamente por esta característica particular, é empregado em diversas
atividades econômicas, em especial na mineração. Segundo Costa et al (2014), o
mercúrio é um dos poluentes com maior potencial tóxico dentre os metais pesados,
e desperta uma grande preocupação ambiental, pois apresenta capacidade de
bioacumulação†††† nos organismos e v‡‡‡‡ ao longo da cadeia trófica. A mineração é
‡‡‡ Discentes do 3° semestre de Nutrição na Escola Superior Madre Celeste – ESMAC
([email protected]) §§§ Discentes do 3º semestre de Biomedicina na Escola Superior Madre Celeste – ESMAC **** Docente Orientadora da Escola Superior Madre Celeste – ESMAC, Mestra em Planejamento
do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA), Pós-Graduanda em
Gestão Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Economista pela Universidade
Federal do Pará (UFPA) e Engenheira Florestal pela universidade Federal Rural da Amazônia
(UFRA) ([email protected]) †††† “...transferência cumulativa de contaminantes do meio externo para o organismo, no qual as
concentrações observadas são muito superiores que as do meio”. (Cf. MARANHO, Lucineide
66
uma das atividades que mais causa contaminação pelo mercúrio por elevar o nível de
Hg no ambiente terrestre e aquático (COSTA JUNIOR et al, 2017).
O mercúrio ao entrar no organismo humano se deposita em alguns tecidos
causando lesões, pode provocar úlceras gastrointestinais e necrose tubular, além de
atravessar a barreira placentária causando danos ao feto, desencadear diversas
reações psicóticas, por exemplo, alucinações e tendências suicidas (SOUZA e
BARBOSA, 2000). Uma das maneiras do mercúrio chegar até o homem é através da
contaminação ambiental, comumente pela ingestão de peixes que apresentam o
meio mais viável de obtenção de mercúrio total (Hg-T) para seres humanos.
Em Minamata no Japão, ficou evidenciado todo o potencial contaminante do
Hg devido a sua alta toxicidade para o organismo humano, onde a causa da
contaminação foi o despejo de produtos industriais diretamente na referida baia. A
partir daí, informações sobre manifestações clínicas características de contaminação
mercurial como comprometimento do sistema nervoso, paralisia e atrofia muscular
que posteriormente viriam a caracterizar a doença ou mal de Minamata, serviram
para mobilização de segmentos da sociedade em diversas regiões, inclusive no Brasil
(PEREIRA, 2019).
Partindo desse pressuposto, o garimpeiro e a comunidade ribeirinha estão
mais predispostos à contaminação por este elemento através da água contaminada e
alimentos produzidos em hortas próximas ao garimpo, além do peixe que é
consumido em larga escala pelos paraenses e é um importante marcador de
contaminação, isto se tornou um fato preocupante (AMARO, 2014). No mercado
de peixes no Ver-O-Peso, maior feira livre da América-Latina, se comercializa
Aparecida. Biomagnificação do heptacloro num modelo de simulação em condições.
Dissertação (Mestrado em Ecologia de Agro ecossistemas) - Universidade de São Paulo,
Piracicaba, 2006. p. 12-13). ‡‡‡‡ “... acumulo de toxicante de forma direta ou indireta nos corpos receptores em diferentes
níveis tróficos, sendo transferidos de organismos menores para organismos maiores”. (Cf.
MARANHO, L. A. Biomagnificação do heptacloro num modelo de simulação em condições.
Dissertação (Mestrado em Ecologia de Agroecossistemas) - Ecologia de Agroecossistemas, Universidade
de São Paulo, Piracicaba, 2006. p. 12-13).
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diversas especiarias amazônicas e entre elas estão os peixes, que são concentradores
naturais do mercúrio.
Diante da relevância da temática, a presente pesquisa tem como objetivo
verificar quais são os níveis de Hg-T em peixes comercializados no mercado do Ver-
o-Peso, encontrados na bibliografia. Para tanto, foram selecionadas três pesquisas
que avaliam o grau de contaminação do pescado comercializado no Ver-o-Peso.
MERCÚRIO E O CICLO DO MERCÚRIO NO MEIO AMBIENTE
O Mercúrio (Hg) é um metal líquido que possui propriedades químicas
importantes para a manipulação, segregação e refinação de outros componentes
químicos muito conhecidos pelo seu valor monetário como o ouro (Au) e a prata
(Ag). Porém, quando se diz respeito à saúde coletiva e ambiental apresenta um vasto
e abrangente maleficio, uma vez que o metal não contem aspectos essenciais para a
sobrevivência ou que beneficiem o organismo humano, tal como outros organismos
(FREITAS et al, 2016).
O mercúrio se apresenta em três formas, Mercúrio elementar que devido sua
estabilidade é transportado a longas distancias e permanece no ambiente por um
longo período, Mercúrio inorgânico que é representado por um conjunto de sais
mineiras e compostos e o Metilmercúrio que é considerado o mais importante
devido a sua alta toxicidade e facilmente incorporado ao ecossistema aquático,
cumulando-se nos organismos existentes na água (SOUZA, 2000).
O Mercúrio Hg0 pode sofrer oxidação fotoquímica perdendo elétrons para
se tornar mercúrio inorgânico, que ao se combinar com vapores de água cai sobre a
terra como chuva por meio do processo de deposição seca e úmida, a partir daí o
mercúrio é encontrado na forma de íon e cerca de 40% é depositado nos corpos de
água podendo adentrar ao solo, ser absorvido pelas plantas, depois por peixes
menores, peixes maiores até chegar ao consumo humano (WASSERMAN, 2001).
O Mercurio pode sofrer um processo de metilação que é a sintetização do
Mercúrio elementar por bactérias presentes na água, este processo pode ocorrer de
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duas formas, biótica ou abiótica, a primeira é por meio de bactérias chamadas
Desulfovibrio desulfurican, e a segunda por meio da meitilcobalamina (metilador),
um dos fatores que acabam propiciando essa metilação é o despejo de rejeitos
orgânicos nos rios, fazendo com que o mercúrio se torne mais facilmente
metilmercurio, sendo assim, por meio de biomagnificação chegar ao ser humano
(SOUZA, 2014).
Embora o grau de prevalência do mercúrio seja considerado normal na maior
parte do mundo, as informações acerca do mercúrio em áreas com altas
concentrações do metal constatam um leque devastador de consequências
relacionado à biosfera, podendo afetar corpos hídricos (geralmente causados por
grandes empresas despejando resíduos contendo mercúrio em rios e mares) solos
(principalmente os que sofrem erosão por meio de garimpagem) e atmosfera
(incipientes de vaporização do metal como, por exemplo, a queima de combustíveis
minerais.
As consequências em relação a saúde da população variam desde a perda das
arcadas dentárias até o comprometimento do sistema nervoso central, a retirada
total do mercúrio varia de 6 meses a 2 anos dependendo da exposição em que o
indivíduo foi submetido (GLINA et al, 1997), porém as sequelas adquiridas são
crônicas e em sua maioria levam os portadores à morte.
ACIDENTES CAUSADOS POR MERCÚRIO NO MUNDO E NO BRASIL
Entre os casos mais famosos sobre desastre ambiental envolvendo
contaminação por mercúrio, certamente destaca-se o ocorrido em Minamata no
estado de Kyushu no Japão, em meados dos anos 1950, caracterizado pelo despejo
de dejetos de uma fábrica diariamente na baia de Minamata. Nesses dejetos
encontrava-se o metilmercúrio que é a versão mais tóxica do metal e que pode ser
absorvida pela pele. Os efeitos desastrosos causados pela imprudência dos
responsáveis pela fábrica resultaram na intoxicação primeiramente dos animais
aquáticos da região, posteriormente os indivíduos consumidores da agua e peixes
69
provenientes da baia foram intoxicados, as consequências incluíam atrofia muscular,
paralisia, convulsões e danos ao sistema nervoso.
Do ponto de vista nacional evidencia-se o desastre na barragem da
mineradora SAMARCO em Mariana/ MG no ano de 2015, o rompimento originou
toneladas de lama abarcando metais pesados derivados da indústria mineradora.
Segundo Freitas et al (2016), dentre os lamaçais que devastaram a cidade e
alastraram-se para os arredores além de Mariana, ressaltam-se concentrações muito
acima do tolerável de metais como chumbo (Pb) e mercúrio (Hg) resultando na
morte e extinção eminente da fauna aquática local e destruição da flora, além de
atingir a saúde da população (foram contabilizados aproximadamente 10.000
pessoas atingidas) direta e indiretamente por meio da precária qualidade de água
afetada pelo desastre tal como os suprimentos alimentares, proliferação de doenças,
problemas físicos, neurológicos e respiratórios, alterações climáticas e impactos
socioeconômicos.
Em menos de quatro anos, em janeiro de 2019, na cidade de Brumadinho
ocorreria o rompimento de mais uma barragem de rejeitos, barragem da mina
Regente Feijão. De acordo com o boletim de monitoramento divulgado pelo
Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM, 2019), o rompimento lançou no
meio ambiente aproximadamente 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos,
causando grandes impactos sociais para as famílias atingidas e provocando a
contaminação do rio Paraopeba por metais pesados, identificando uma
concentração de mercúrio total 21 vezes maior do que o limite permitido pelas
normas ambientais.
METODOLOGIA
O presente estudo é uma pesquisa exploratória com caráter qualiquantitativo.
Trata-se de uma revisão da literatura, realizada em três estágios: estágio 1)
identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a
70
elaboração da revisão; estágio 2) estabelecimento de critérios para seleção da
literatura; estágio 3) avaliação e interpretação dos estudos.
A escassez de estudos sobre análise da intensidade da contaminação do
pescado comercializado no Ver-o-Peso, foi determinante para o desenvolvimento
do estágio 2, restringindo a análise da literatura no intervalo temporal de 2011 a
2014, período onde foi possível identificar estudos sobre a temática pretendida.
Desta forma, os trabalhos de Amaro (2014) e Arrifano (2011) foram adotados para
fins comparativos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
MERCÚRIO NOS PEIXES COMERCIALIZADOS NO VER-O-PESO
Algumas pesquisas desenvolvidas em comunidades da Região Metropolitana
de Belém (RMB), com o objetivo de verificar a contaminação do pescado
comercializado no mercado Ver-o-Peso, relacionando indicadores epidemiológicos,
níveis de exposição ao mercúrio e contaminação de peixes (AMARO, 2014;
ARRIFANO, 2011).
Na pesquisa de Arrifano (2011) foram coletadas cinco espécies de peixes
piscívoros no mercado Ver-o-Peso: Tucunaré (Cichla sp.), Pescada Branca (Plagioscion
squamosissimus), Filhote (Brachyplatystoma filamentosum), Sarda (Pellona sp.) e Dourada
(Brachyplatystoma flavicans); e quatro espécies não-piscívoras no mercado municipal de
Itaituba: Aracu (Leporinus sp.), Pacú (Mylossoma sp.), Caratinga (Satanoperca sp.), Jaraqui
(Colossoma macropomum). A pesquisa identificou que o Tucunaré apresentou elevado
nível de metilmercúrio, fato justificado pela espécie ser proveniente da região de
Tucuruí que, historicamente estudos já demonstram análises de peixes
contaminados. Entre as espécies não-piscívoras analisadas, o estudo identificou que
o grau de concentração de metilmercúrio reduz a medida em que o índice de estado
nutricional (IEN) aumenta (Gráfico 1).
71
Gráfico 1. Correlação negativa entre o IEN e a concentração de MeHg em espécies não piscívoras da região do Tapajós. IEN vs MeHg (P<0,01; r: -0,5303)
Fonte: Arrifano (2011).
Em seu estudo, Amaro (2014) coletou amostras de espécies de peixes do tipo
carnívoro (Brachyplatystoma rousseauxii/Dourada e Brachyplatystoma
filamentosum/Filhote) e herbívoro (Schizodon fasciatum/Aracu), em períodos sazonais,
na época de maior pluviosidade e época de menor pluviosidade. Foi possível
evidenciar o potencial de bioacumulação do Hg-T na cadeia alimentar, uma vez que
as espécies predadoras apresentaram maior concentração da substância, com
destaque para a Dourada, quando comparadas com a espécie não predadora
(Gráfico 2), principalmente no período menos chuvoso, quando o nível da água é
mais baixo o que pode promove maior movimentação do Hg-T.
Os resultados encontrados por Amaro (2014) foram semelhantes aos de
Arrifano (2011), quanto a maior concentração de Hg-T em peixes piscívoros,
comprovando que a bioacumulação de Hg-T está associada aos hábitos alimentares,
peixes no topo da cadeia alimentar, vão apresentar maior concentração da
substância.
72
Gráfico 2. Comparação das médias de Hg-T dos peixes do Mercado do Ver-o-Peso (Belém, Pará), período menos chuvoso e mais chuvoso.
Fonte: Amaro (2014).
Nota: Os resultados são expressos com a média ± E.P.M., de 20 peixes por espécie. *p < 0,05 difere significativamente do período mais chuvoso (Teste t Student).
Ao avaliar o grau de concentração de mercúrio, a pesquisa de Arrifano (2011)
aponta níveis acima do limite de 0,5mg/g recomendado pela Organização Mundial
de Saúde – OMS para as espécies Tucunaré (quase 1,5 mg/g), enquanto no estudo
de Amaro (2014) a espécie Dourado foi a que apresentou maior concentração de
Hg-T de 0,45 mg/g, nível abaixo do recomendado pela OMS (Quadro 1).
73
Quadro 1. Comparativo entre os resultados encontrados nos estudos de Amaro (2014) e Arrifano (2011).
AUTOR RESULTADOS ENCONTRADOS
Arrifano (2011)
No mercado municipal de Itaituba na região do Tapajós, os níveis de mercúrio encontrados nas amostras dos peixes (Tucunaré, Sarda, Dourada, Pescada Branca, Filhote e Surubim) analisados estão acima do valor tolerado pela OMS, enquanto que a amostra de Cichla spp. (Tucunaré) coletado no mercado Ver-o-Peso em Belém, possui origem de Tucurí e apresenta níveis acima do valor de tolerância.
Amaro (2014)
Nenhuma das espécies analisadas alcançaram o limite máximo de Hg-T para consumo, porém, as concentrações ficaram próximas ao valor de referência estabelecido pela ANVISA, e maior do que o indicado pela OMS de 0,5 µg/g, para o consumo seguro.
Fonte: elaborado pelos autores, a partir de Amaro (2014) e Arrifano (2011).
É importante destacar que, as espécies analisadas são comercializadas no
Ver-o-Peso e tem origem de diversas partes do estado do Pará. Com um histórico
de exploração mineral e atividade garimpeira, é possível que o nível de
contaminação por mercúrio dos peixes seja proporcional a esse histórico, amostras
oriundas de regiões com histórico de uso e contaminação por mercúrio
provavelmente apresentaram maior nível de Hg-T, o que é evidenciado no estudo
de Arrifano (2011).
CONCLUSÃO
O presente estudo permite concluir que uma das vias de exposição do
mercúrio (Hg) pela população paraense e comunidade ribeirinha é através da
ingestão de pescados e que os níveis encontrados nos pescados consumidos na
região do Ver-o-Peso estão dentro do limite permitido pela ANVISA. Além disso, o
presente estudo permitiu concluir, através de pesquisa de literatura, quais os tipos de
peixes são mais propícios a ser contaminados bem como as doenças ocasionadas
devido ao seu consumo, pois o mercúrio é conhecido por ser um dos poluentes de
maior potencial tóxico dentre os grupos de metais pesados, trazendo grandes
74
preocupações para os ambientalistas, devido seu poder de acumulação no organismo
e na cadeia trófica.
Ratifica-se a importância do monitoramento dos níveis de mercúrio através dos
peixes como marcadores de contaminação, uma vez que fazem parte alimentação do
paraense.
Com isso, conclui-se que a educação ambiental é de suma importância no
que diz respeito à informação da comunidade e aos atores econômicos, com o
intuito de inibir práticas comuns que pulverizam e potencializam a poluição do meio
ambiente. A distribuição do mercúrio no ambiente apresenta níveis toleráveis de
prevalência, no entanto, os aspectos de bioacumulação e biomagnificação resultam
na preocupação em relação à saúde da população e meio ambiente pelo fato do Hg-
T possuir um alto potencial acumulativo em organismos.
REFERÊNCIAS
AMARO, Cláudia Simone Oliveira et al. Concentração de mercúrio total (Hg-T) em peixes comercializados em diferentes períodos sazonais no Mercado do Ver-o-Peso, Belém, Estado do Pará, Brasil. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v. 5, n. 1, p. 53-60, (2014).
ARRIFANO, G. P. F. Metilmercúrio e mercúrio inorgânico em peixes comercializados nos mercado municipal de Itaituba (Tapajós) e Mercado do ver-o-peso (Belém). Belém: Universidade Federal do Pará (2011).
AZEVEDO, Fausto Antônio de. Toxicologia do mercúrio. In: Toxicologia do mercúrio. RIMA/INTERTOX (2003a).
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75
GLINA, Débora MR; SATUT, Blanca TG; ANDRADE, Esther MOAC. A exposição ocupacional ao mercúrio metálico no módulo odontológico de uma unidade básica de saúde localizada na cidade de São Paulo. Cadernos de Saúde Pública, v. 13, p. 257-267, (1997).
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76
77
AUDITORIA COM ENFÂSE EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO
Adriana Cristina Nobre Adegas§§§§ Alan Alves Magalhães***** Gilvania da Silva Costa†††††
Petrus Fabiano Araújo de Oliveira‡‡‡‡‡ Diogo Willavian Maciel Dantas§§§§§
Flávio Heleno Solano Reis****** Mário Jorge Santos Pinheiro††††††
RESUMO: o presente estudo pretende identificar a importância da utilização dos sistemas de informação contábil utilizado na auditoria e é direcionado a pesquisadores e contadores auditores, buscando identificar a importância dos sistemas de informação com os avanços tecnológicos, e tem como objetivo demonstrar quais os benefícios que o sistema de informação proporciona para o auditor em uma auditoria interna, identificando tipos de sistemas utilizados, os objetivos da auditoria interna e identificando as normas do profissional de auditoria. PALAVRAS-CHAVE: Auditoria; Sistemas; Auditor.
1. INTRODUÇÃO
A evolução da tecnologia em um processo de auditoria tem como necessidade o
fornecimento de informações com rapidez e qualidade. O sistema de informação
trás para a auditoria instrumentos tecnológicos que não dispensa o conhecimento
teórico e técnico.
§§§§ Discente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua –PA. E-mail: [email protected], ***** Discente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua –PA. E-mail: [email protected] ††††† Discente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua –PA. E-mail: [email protected] ‡‡‡‡‡ Docente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua – PA. E-mail: [email protected] §§§§§ Docente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua – PA. E-mail: [email protected] ****** Docente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua – PA. E-mail: [email protected] †††††† Docente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua – PA. E-mail: [email protected]
78
A auditoria é uma ferramenta utilizada pelo contador auditor que
proporciona as organizações um suporte com ética e segurança em informações
principalmente diante desse constante avanço da tecnologia da informação. Sua
principal característica é detectar os riscos nas entidades com o objetivo de prevenir
futuros prejuízos financeiros, bem como, garantindo salvaguardando os ativos da
empresa. As ferramentas utilizadas em uma auditoria de sistema de informação são
importantes, além de ajudarem em cálculos, planejamentos, praticidade e
confiabilidade no processo a ser auditado. Uma auditoria realizada em sistema de
informação analisa apenas a parte de informática buscando e analisando diversos
arquivos onde para cada auditoria há ferramentas para ao auxílio.
Com a constante evolução na tecnologia, o auditor deve acompanhar todas
as mudanças tecnológicas ocorridas nos sistemas, pois esse avanço da tecnologia
trouxe para o mercado da auditoria contribuições essenciais e indispensáveis para os
auditores que trabalham com os softwares onde permite acompanhamento das
atividades de auditoria como Audit Automation Facilities (AAF) e o Sistema de
Auditoria Interna (Audin), onde sempre buscam atualizações para proporcionar um
trabalho com qualidade, ética e eficiência, superando as expectativas dos seus
clientes.
Dentro dos sistemas de informação há o sistema de informação contábil, que
proporciona fornecimento de dados essenciais para a contabilidade que é
considerado uma das áreas mais importantes desse conjunto de sistema.
Nos dias atuais o uso da tecnologia está cada vez mais avançado em todas as
áreas e isso exige que os profissionais estejam constantemente se atualizando e
acompanhando tais mudanças. O mundo do trabalho está cada vez mais dependente
das inovações tecnológicas, que geram crescimento, produtividade e agilidade.
Dominar o conhecimento tecnológico é fundamental, pois ela está presente em
todos os ambientes profissionais.
Assim, a informática tornou-se imprescindível para qualquer organização ou
profissional, pois vem facilitando cada vez mais seu dia-a-dia. Os profissionais da
79
informática elaboram diversos programas para atender a qualquer necessidade do
mercado, haja vista que, atualmente, existem diversificados sistemas de informações
que têm colaborado com todo o processo decisório organizacional, gerando
informações completas em pouco espaço de tempo e auxiliando ainda mais em toda
a administração da organização.
Segundo Morese (2010, p.14):
A importância da informação para as organizações é universalmente aceita, constituindo, senão o mais importante, pelo menos um recurso cuja gestão e o aproveitamento estão diretamente relacionados com o sucesso desejado. A informação também é considerada e utilizada em muitas organizações como um fato estruturante e instrumento de gestão. Portanto a gestão efetiva de uma organização requer a percepção objetiva e precisa dos valores da informação e do sistema de informação.
Para o autor, as organizações do século XXI utilizam a tecnologia como
ponto de partida de seu negócio, logo essas organizações já inclusas na era digital
têm um sistema de controle bem elaborado, facilitando o seu potencial informativo
e decisório para os negócios.
Para o autor, na atualidade, os avanços tecnológicos vêm sendo marcados
pelo ritmo acelerado e pela variedade de inovações tecnológicas que estão sendo
introduzidas no mercado. Esses fatores, aliados à disseminação da tecnologia da
informação por todas as atividades das empresas, vêm impondo a necessidade de
refletir, cada vez mais, sobre os impactos gerados por esses avanços tecnológicos.
Tal reflexão leva à percepção da necessidade de efetivo gerenciamento dos
recursos tecnológicos disponíveis e aqueles possíveis de serem acessados, na busca
por critérios que possam permitir avaliar como a introdução de uma inovação
tecnológica pode contribuir com a geração de informações relevantes e em tempo
hábil, de modo a atender a demanda por informações advindas dos diversos
usuários da organização.
No mesmo sentido, Mattos (2009, p.18) considera que, com base na
Tecnologia da Informação, as empresas devem possuir um sistema estruturado de
80
forma tal que atenda a legislação pertinente à empresa; a elaboração de relatórios
gerenciais internos; acompanhamento orçamentário; órgãos governamentais
(Receita Federal e o Fisco) e particulares (bancos e fornecedores) e, portanto, que
atenda às necessidades estruturais e administrativas da empresa, em contribuição ao
seu processo decisório.
De acordo com o autor, um sistema de informação assume dimensões
organizacionais com o auxílio da tecnologia, existindo para responder às
necessidades da empresa, incluindo-se problemas apresentados pelo ambiente
externo, criados por situações políticas, demográficas, econômicas e tendências
sociais. Além disso, os sistemas de informação se desenvolvem em uma empresa, de
acordo com os componentes desta (setores que executam as diferentes funções
necessárias ao funcionamento da empresa – produção, marketing, finanças) e
conforme os níveis de decisão (estratégico, tático e operacional).
O estágio estratégico refere-se ao processo de decisão sobre os objetivos e as
metas da empresa, e as alterações sobre os recursos a serem utilizados para alcançar
os mesmos e sobre as políticas a serem adotadas na aquisição utilização e
distribuição dos recursos.
O estágio tático refere-se ao processo pelo qual os gestores se asseguram de
que os recursos são obtidos e usados eficaz e eficientemente para o cumprimento
dos objetivos da organização.
O estágio operacional visa assegurar que as tarefas específicas são executadas
eficaz e eficientemente.
As fases do processo decisório são: identificação do problema; análise do
problema; estabelecimento de soluções alternativas; análise e comparação das
soluções alternativas; seleção de alternativas mais adequadas; implantação da
alternativa selecionada; avaliação da alternativa selecionada.
As decisões são classificadas em:
a) Decisões programadas: caracterizam-se pela rotina e repetitividade,
podendo ser possível estabelecer um procedimento padrão.
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b) Decisões não programadas: caracterizam-se pela novidade. Estão
inseridas num contexto do ambiente dinâmico, que se modifica
rapidamente com o decorrer do tempo.
c) Elementos do processo decisório:
- A incerteza;
- Os recursos do tomador de decisões.
d) Fatores de influência no processo de tomada de decisões:
- Complexidade evolutiva do mundo moderno;
- Redução do tempo disponível para a tomada de decisão;
- Velocidade das comunicações;
- Melhoramento nos processos de informações e com expectativa de
resultado a curto prazo.
Nosso trabalho encontra-se dividido em quatro capítulos que passamos a
apresentar de forma resumida.
No primeiro capitulo apresentamos a história, o conceito e as principais
diferença entre auditoria interna e externa.
No segundo capitulo abordamos a contribuição da tecnologia perante os
sistemas de informação utilizado na auditoria.
No terceiro capitulo apresentamos os sistemas de informação contábil com
suas definições e seus objetivos.
No quarto capitulo abordamos a metodologia da auditoria focalizada nos
sistemas de informação contábil, nomeadamente no que diz respeito às principais
atribuições dos sistemas de informação para a área contábil.
2. HISTÓRIA DA AUDITORIA
A auditoria nasceu antes mesmo da exploração mercantil. A auditoria surgiu como
consequência da necessidade de confirmação dos registros contábeis, em virtude do
aparecimento das grandes empresas e da taxação do imposto de renda, baseado nos
resultados apurados em balanço. BATISTA, (2017, p.1). RIBEIRO (2013, p. 3) “[...] Surgiu
da necessidade de se garantir a veracidade das informações derivadas dos registros
82
contábeis”. Certo é que o surgimento da auditoria ocorreu com a evolução do comércio. A
evolução do comercio fez com que surgisse o profissional capacitado em auditoria.
2.1. AUDITORIA
A auditoria tem como conceito de auditoria inspecionar as atividades desenvolvidas em
determinada empresa ou setor que tem por objetivo analisar, averiguar se elas estão de
acordo com as disposições planejadas.
[...] auditoria é um conjunto de técnicas e procedimentos que visam apresentar opiniões, conclusões, críticas e orientações sobre situações ou fenômenos patrimoniais, a submissão aos princípios fundamentais e normas de contabilidade, além da legislação pertinente a entidade auditada, expressando comentários, recomendações, pareceres e relatórios, confirmados nos papéis de trabalho. (SILVA, 2017).
2.2.AUDITORIA INTERNA
A auditoria interna verifica os controles internos em uma organização, averiguando
a qualidade dos registros e segurança destes, é um controle administrativo, cuja função é
indagar, questionar, avaliar a eficiência e a eficácia de outros controles da organização.
Batista (2017, p.32) diz que a auditoria interna é:
Prestação de serviço que visa fortalecer o Controle Interno da instituição, fornecendo meios à administração para identificar o andamento do sistema contábil, a coerência legal dos procedimentos, a gestão administrativa, o controle patrimonial, os procedimentos adotados e o cumprimento ou não das políticas definidas pela administração ou gerencia da entidade.
2.3. AUDITORIA EXTERNA OU INDEPENDENTE
A auditoria independente é um parecer técnico de um exame procedente da
demonstração financeira de uma entidade, com o objetivo das adequações consoante aos
Princípios Fundamentais de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabilidade, e
relevante a sua legislação. No quadro 2, observa-se as características gerais da auditoria
externa.
83
Esta Norma de Auditoria trata das responsabilidades gerais do auditor independente na condução da auditoria de demonstrações contábeis em conformidade com as normas brasileiras e internacionais de auditoria. (...) (COELHO, 2016)
2.4.AUDITORIA DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO
A auditoria de sistema de informação tem como objetivo garantir a
produtividade e a segurança na estrutura computacional analisando a eficiência e
assegurando o cumprimento das leis. “Uma auditoria em sistemas de informação
consiste em um processo de verificação de toda a estrutura computacional da
empresa, feito por profissionais específicos e capacitados para tal”. (DUTRA, 2017)
A auditoria de sistema de informação verifica o ambiente informatizado das
organizações garantindo a segurança de integridade dos dados que o computador
manipula.
O principal aspecto do gerenciamento de um Sistema de Informação é o envolvimento da administração do sistema e do usuário final; nesse sentido, observa-se a atuação dos gestores contábeis no planejamento, coordenação e desenvolvimento dos Sistemas de Informações. (GIL, 2010 P. 64)
3. A CONTRIBUIÇÃO DA TECNOLOGIA NO SISTEMA DE INFORMAÇÃO NA AUDITORIA 3.1 TIPOS DE SISTEMAS USADO NA AUDITORIA
Na auditoria é utilizado sistemas tecnológicos avançados que contribuem aos
auditores e organizações resultados mais rápidos com melhorias significativas.
IMONIANA,(2016, p. 54), “cita o Técnica de Auditoria Assistida por Computador
(TAAC), onde relata que os papeis de trabalho do TAAC devem conter informações
suficientes para descrever os testes executados e as conclusões alcançadas”. O
TAAC tem como objetivo da suporte nas atividades de levantamento de dados na
auditoria dando maior credibilidade ao parecer técnico.
Os softwares são utilizados na auditoria, onde contribuem para o planejamento
dos trabalhos com eficácia na execução de monitoramento e análise de dados dos
clientes e na emissão de relatórios pelos auditores. Imoniana (2016, p. 130) diz que
84
“Audit Automation Facilities (AAF), padroniza ações, integra equipes, automatiza
processos de cobrança, gera gráficos e relatórios, disponibiliza os dados com total
segurança, permitindo inserção, documentação verificação e acompanhamento dos
controles internos”. Em um planejamento de uma auditoria esse sistema busca
informações necessárias com segurança e eficiência reduzindo custos e tendo
excelência na comunicação com os envolvidos no trabalho trazendo bons
resultados.
Ainda sobre sistemas de softwares Imoniana, (2016, p.132) diz que o
Sistema de Auditoria Interna (AUDIN) “(...) auxilia as equipes envolvidas nas
auditorias a realizarem os planejamentos e executarem suas tarefas, permitindo aos
gerentes acompanhar os trabalhos, emitir comentários e aprovar ou não os
documentos gerados pela equipe (...)”. Diante dos avanços tecnológicos os softwares
contribuem com a possibilidade de aplicar e extrair diversas informações com
eficiência e eficácia.
4. METODOLOGIA
O presente trabalho tem como principal objetivo identificar quais os benefícios
que o sistema de informação contábil proporciona para a contabilidade,
identificando o conceito de auditoria, os objetivos da auditoria de sistemas, as
normas da NBC T da auditoria interna e externa, tipos de sistemas e as
contribuições que os softwares trazem para a auditoria.
Trata-se de uma pesquisa, cuja finalidade é aprimorar as informações sobre o
sistema de informações contábil para estudante e profissional na área de
contabilidade no Estado do Pará. No quadro 4, observa-se os passos da
metodologia.
85
Quadro 1:Metodologia de Pesquisa
Metodologia de Pesquisa
Campo da ciência Monodisciplinar
Finalidade Básica
Abrangência Temporal Transversal
Natureza Qualitativa
Objetivo Descritiva
Procedimento técnico Bibliográfico
Local de Realização Estado do Pará
Procedência dos dados Secundário
Fonte: FARIAS FILHO; ARRUDA FILHO. Adaptado (2013, pg.60)
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância fundamental do sistema de informação contábil utilizado na
auditoria e no dia a dia das empresas é analisar e avaliar oferecendo segurança e
eficiência das informações produzidas para tomada de decisão.
A confiabilidade dos sistemas de informação durante uma auditoria é
também verificada. É importante que esteja de acordo com os padrões da empresa,
isso traz mais estabilidade para a empresa enfrentar os problemas, e está sempre à
frente das outras no mercado com inovação e criando novas soluções. Também
certifica que os sistemas estão seguindo a legislação e outras normas de qualidade.
A metodologia aplicada neste trabalho e os resultados obtidos foram
relevantes para atingir o objetivo geral, que foi identificar quais os benefícios que o
sistema de informação proporciona para a área contábil.
Foi neste sentido que se desenvolveu este estudo na expectativa de obter
conhecimentos sobre o funcionamento do sistema de informação contábil utilizados
por contadores e auditores dentro das entidades e nos escritórios contábeis.
86
Pode-se dizer que a utilização da tecnologia agregada ao sistema de
informação está evoluindo, porém necessita de algumas melhorias mudanças nas
atitudes dos profissionais da área e melhoria na segurança dos sistemas de
informações transmitidas pelos sistemas.
Acredita-se que os contadores estão procurando acompanhar o
desenvolvimento da tecnologia fazendo com que seus trabalhos sejam feitos com
segurança proporcionando rapidez aos seus clientes.
Diante dos avanços tecnológicos os sistemas de informação vêm
desempenhando de forma geral um papel de suma importância para os contadores e
auditores nas tomadas de decisões trazendo rapidez e qualidade no fornecimento de
informações.
Apesar de ter vários sistemas de informação, conclui-se que a finalidade deles
é processar, coletar, armazenar e distribuir as informações necessárias para as
tomadas de decisões, e a forma de gerenciamento de cada organização.
Sabe-se que a auditoria é um processo de extrema importância para a contabilidade
de cada empresa, e o contador hoje tem a possibilidade de ter com a ajuda desses
sistemas de informação uma maior exatidão, veracidade nas informações, para um
controle interno da organização no geral. Os procedimentos de auditoria foram
evidenciados com diversos estudos em várias bibliografias.
Nesse sentido, a utilização dos Sistemas de Informação na auditoria permite
aos auditores realizarem seu trabalho de maneira mais rápida e eficiente. Além disso
diminui o tempo, e a produtividade do dia a dia nas rotinas administrativas melhora
consideravelmente.
Com isso através de levantamentos de dados, de questionários aplicado com
profissionais da área contábil, podemos afirmar que a auditoria com ênfase no
sistema de informação traz inúmeros benefícios, no qual podemos citar: maior
eficiência e redução de custos, qualidade no trabalho de auditoria reduzindo os
riscos, prepara o contador para o mundo globalizado dos negócios, melhora a
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qualidade nas informações e consequentemente afeta diretamente nas tomadas de
decisões.
Nos dias de hoje sabendo que para os contadores enfrentarem os desafios de
uma tomada de decisão assertiva, são imprescindíveis a auditoria e o uso do sistema
de informação em qualquer empresa que utilize recursos computacionais.
Este trabalho teve como finalidade aprimorar e esclarecer o entendimento do
tema proposto. É importante informar que o sistema a cada dia passa por uma
renovação e atualização, com isso claro, vai haver a necessidade de novas pesquisas
para atender a demanda dos usuários da contabilidade para aprimorar cada vez mais
seus conhecimentos
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O USO DA FERRAMENTA AUDITORIA EXTERNA NA IDENTIFICAÇÃO DE FRAUDE EMPRESARIAL
Francinete Silva Santiago‡‡‡‡‡‡
Samera dos Anjos Trindade§§§§§§ Suzianne dos Santos Rocha*******
Petrus Fabiano Araújo de Oliveira††††††† Diogo Willavian Maciel Dantas‡‡‡‡‡‡‡
Flávio Heleno Solano Reis§§§§§§§ Mário Jorge Santos Pinheiro********
RESUMO: O presente artigo aborda a observância histórica e teórica de conceitos de auditoria externa, demonstrando a importância da mesma dentro de uma instituição e, mais precisamente seu auxílio na Identificação de Fraude Empresarial. Estabelecendo uma a relação entre a questão de fraudes e atuação e eficácia da auditoria externa no momento da ocorrência da fraude. Palavras-Chave: Auditoria externa. Identificação. Auditor. Fraudes.
1.INTRODUÇÃO
O presente artigo baseado no tema o uso da ferramenta auditoria externa na
identificação de fraude empresarial, tem como objetivo geral demonstrar a função
da ferramenta auditoria externa para a prevenção de fraude empresarial, além de
confirmar a função da auditoria externa e descrever o papel do auditor na auditoria
externa para a identificação de fraudes.
‡‡‡‡‡‡ Discente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua –PA. E-mail: [email protected], §§§§§§ Discente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua –PA. E-mail: [email protected] ******* Discente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua –PA. E-mail: [email protected] ††††††† Docente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua – PA. E-mail: [email protected] ‡‡‡‡‡‡‡ Docente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua – PA. E-mail: [email protected] §§§§§§§ Docente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua – PA. E-mail: [email protected] ******** Docente do Curso de Ciência Contábeis na Escola Superior Madre Celeste – (ESMAC) de Ananindeua – PA.E-mail: [email protected]
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A contabilidade é a ciência que estuda, analisa e controla todo o patrimônio
das entidades e possui uma técnica de contra prova aos resultados obtidos ao final
de cada período registrado. Chamada de auditoria contábil essa contra prova é
aplicada com a finalidade de avaliar as informações obtidas pela contabilidade da
instituição fazendo com que a riqueza patrimonial seja analisada profundamente,
número por número, no caso de suspeita de divergências entre os resultados ou
somente como rotina administrativa. A forma com que os auditores desempenham
sua função varia bastante de empresa para empresa, o que faz com que os resultados
obtidos sejam mais precisos e confiáveis dentro de cada situação.
A auditoria externa vem evoluindo ao longo dos anos, fazendo com que
muitos profissionais da área contábil busquem conhecimentos e habilidades
específicas para atuar nesta área. A auditoria externa é um instrumento de controle
administrativo, onde se destaca como um ponto de convergência de todos os
efeitos, fatos e informações originadas dos diversos segmentos da empresa. A
execução de uma auditoria, não se isola somente ao controle da contabilidade, mas
se estende aos diversos segmentos de uma empresa onde surgem cuidados especiais,
análises de resultados ou ainda fatores que venham trazer confiabilidade ou
benefícios à empresa.
2.1. AUDITORIA INTERNA E EXTERNA
As técnicas utilizadas tanto pela Auditoria Externa, como pela Auditoria
Interna, são as mesmas. A auditoria em geral procura voltar-se ao Controle Interno
das empresas, pois assim, poderá realizar seus exames a fim de identificar possíveis
falhas no processo dos diversos setores da empresa e proporcionar a recomendação
de melhorias nesses setores para que estes não venham a conter mais falhas.
Segundo Franco e Marra (2001, p. 26),
A auditoria compreende o exame de documentos, livros e registros, inspeções e obtenção de informações e confirmações, internas e externas, relacionadas com o controle do patrimônio,
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objetivando mensurar a exatidão desses registros e das demonstrações contábeis deles decorrentes.
Alguns autores como Sá (1998) entendem que a auditoria tem objetos básicos
e secundários. Os básicos seriam os da opinião da fidedignidade das demonstrações
contábeis, o segundo refere-se a matérias como as descobertas de erros e fraudes,
informações acerca do controle interno, assistência na área econômico-financeira,
etc. que se refere a possíveis modificações para melhorar o operacional da
organização.
Assim segundo Franco e Marra (2001) no geral as auditorias têm também a
finalidade da apuração de erros e fraudes, ocorrem as revisões integrais dos
documentos relativos à conta examinada e dos registros contábeis, o que muitas
vezes confunde-se com a perícia contábil, que consiste em exame localizado de
menor extensão.
Duarte e Valério (2004, p. 47) discorrem acerca do tema auditoria da seguinte
forma:
A temática revela-se de extrema relevância dado que em auditoria é bastante importante o suporte da opinião, surgindo assim, o conceito de evidência de auditoria como a informação que sustenta os relatórios, conclusões ou opiniões do auditor ou entidade competente para desempenhar a auditoria, e que se caracteriza pela idoneidade, relevância e razoabilidade.
Para José Maffei (2015, p.38), o auditor deve ser independente, não podendo
deixar-se influenciar por fatores estranhos, por preconceitos ou quaisquer outros
elementos materiais ou afetivos que resultem perda, efetiva ou aparente, de sua
independência.
Acordi (2010) afirma que essas etapas a serem seguidas pelo auditor o
auxiliam no sentido de que ao finalizar a auditoria o resultado seja o mais verdadeiro
possível e sem erros, pois em cada etapa o auditor focará sua atenção somente na
etapa em que está, não deixando passar despercebido nenhum dado.
Deste modo, após todo o processo de auditoria, o auditor externo, além de
emitir o seu parecer acerca das demonstrações contábeis, ainda emite um relatório
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onde apresenta sugestões para a solução de problemas na empresa, problemas estes
identificados no decorrer de seu trabalho de auditoria.
Segundo José Maffei (2015, p. 3), comparando-se os dois tipos de auditoria,
podem-se traçar as seguintes características marcantes:
Quadro 1 - Principais diferenças entre auditoria interna e externa
Auditoria interna Auditoria Externa
Objetivos
Presta serviços de avaliação e consultoria
com o intuito de adicionar valor e melhorar
as operações de uma organização
Emitir um parecer as
demonstrações contábeis e os
relatórios financeiros
Foco
Principal
Avalia os processos e controles e a
efetividade da gestão de riscos
Validar saldos e movimentações
Outros
serviços
● Consultoria em gestão
● Colaboração com cultura de controle
● Alerta sobre risco estratégicos
● Atuação como facilitador
● Apoio á tomada de decisão
● Coordenação entre os diversos elementos-chave da governança corporativa
● Apoio a projetos e avaliações para fins de aquisição, fusão ou cisão
● Consultoria tributária
● Consultoria em gestão e outros temas
● Terceirização dos serviços de auditoria interna
● Assessoria contábil e outros serviços de apoio
● Apoio a projetos
● Avaliação para fins de aquisição, fusão ou cisão
● Serviços de avaliação, perícia e atuarias
Fonte: Maffei(2015)
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3.AUDITOR
A contratação de um auditor externo por um empresa é motivada por fatores
determinantes, entre ele podemos destacar:
a exigência de instituições financeiras no momento de ceder
empréstimos;
como forma de controlar os procedimentos internos e para maior
controle dos acionistas;
obrigatoriedade legal, como é o caso das Cia de capital abertas;
A fim de atender as exigências contratual;
A fim de demonstrar maior confiabilidade e credibilidade das
informações financeiras as partes interessadas.
De acordo com Sá (1982, p. 16) “é necessário um auditor saber como
analisar as possibilidades de ocorrência de fraudes, para identificar os seus indícios,
sendo esse conhecimento, condição essencial para sua formação profissional”.
José Maffei (2015, p. 54) discorre acerca dos objetivos de um auditor ao
conduzir um trabalho de auditoria nas demonstrações financeiras são:
● Obter razoável certeza de que as demonstrações como um todo não contém discrepância materiais, seja por fraude ou erro, e, portanto, permitem ao auditor expressar uma opinião sobre os critérios pelos quais elas foram preparadas, em todo os aspectos relevantes, de acordo com a estrutura aplicável de reporte no País.
● Elabora seu relatório sobre a demonstrações financeiras e comunicar sua opinião de acordo com o que requerem as Normas, e de acordo com os achados do auditor.
Portanto, para não encontrar dificuldades no exercício de suas funções, o
auditor deve conhecer a organização auditada para uma melhor identificação das
possíveis fraudes/e ou erros que tenham sido detectadas e quais os casos mais
frequentes. Ao identificar as possíveis fraudes/ou erro, o auditor tem que comunicar
imediatamente a administração e sugerir medidas corretivas a serem implantadas,
informando as possíveis consequências dos feitos, caso as medidas orientadas não
sejam adotadas.
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4.FRAUDE
A fraude nas empresas tem sido amplamente questionada através dos meios
de comunicação, profissionais que atuam e outros profissionais de diversas áreas do
conhecimento humano discute assuntos acerca do assunto por ser de grande
relevância para as entidades. Tal discussão é resultado da necessidade de
transparência e segurança nos números apresentados pelas empresas para seus
investidores.
4.1.PROCEDIMENTOS QUANDO EXISTE INDICAÇÃO DE FRAUDE
OU ERRO
Ao aplicar os procedimentos de auditoria, com base no planejamento e na
avaliação de risco o auditor considerar que há provável existência de fraude e/ou
erro, o profissional auditor deve levar em conta os efeitos que essa informação
causará sobre as demonstrações contábeis. Se o auditor acreditar que tais fraudes
causar distorções relevantes nas demonstrações contábeis da entidade, o mesmo
deve modificar seus procedimentos ou aplicar outros adicionais.
Para Crepaldi (2014) ‘a continuidade desses procedimentos adicionais ou
modificados depende do julgamento do auditor quanto aos possíveis tipos de fraude
ou á probabilidade de fraude e/ou erro possa resultar em distorções relevantes nas
demonstrações contábeis.
5.METODOLOGIA
A pesquisa é o procedimento que o pesquisador utiliza para a investigação de
um problema. Para que seja possível alcançar as respostas necessárias para
conclusão da pesquisa é indispensável a escolha correta do tipo de conhecimento
científico e método que será aplicado. E através de sua aplicação, destes métodos e
procedimentos que pesquisa trará retorno satisfatório, mesmo que os resultados
obtidos tragam respostas contrárias ao esperado.
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5.1.QUANTO NATUREZA DA PESQUISA
A pesquisa realizada é de natureza básica, sem aplicação imediata, que busca
geração e ampliação do conhecimento já existente sobre o assunto auditoria externa.
5.2.QUANTO A ABORDAGEM
A pesquisa é qualitativa, não se preocupando apenas com a representação
gráfica e numérica das informações encontradas, mas também com a clareza e
qualidade do conhecimento a ser repassado com a pesquisa.
5.3.QUANTOS AOS OBJETIVOS
Enquadra-se em pesquisa com fins descritivos, onde os resultados serão
alcançados através da aplicação e análise de questionário aplicado a profissional
experiente no tema abordado. Bem como exploratória, visando o desenvolvimento
sobro o tema.
5.4.QUANTOS AOS PROCEDIMENTOS
Para alcançar os resultados desta pesquisa utilizou-se o levantamento,
pesquisa bibliográfica para maior compreensão sobre o tema e sobre as informações
existentes até o momento do trabalho.
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentre as diversas atividades executadas pela função de auditoria, destaca-
se a importância da visão do auditor para a continuidade operacional do órgão
auditado. O status da função auditoria não deve ser restrito apenas à fidedignidade
das demonstrações contábeis das auditorias independentes ou implementação de
controles e normas internas pelo auditor.
Sob este contexto, a fraude pode representar um elevado obstáculo à
sobrevivência das empresas devido ao seu aprofundamento nos últimos anos, o qual
certamente tem influenciado negativamente nas atividades empresariais. Assim,
como pode ser notada, a fraude exerce um mal de extrema relevância em uma
organização empresarial.
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A auditoria externa visa realizar um trabalho de verificação completa dos
controles da empresa, principalmente os contábeis e, através de seu parecer e de
suas recomendações, são identificados pontos vulneráveis em relação às possíveis
fraudes. O auditor, por sua vez, recomenda à empresa as ações a serem tomadas
para que essas fraudes ou qualquer outro tipo de ação que seja prejudicial à entidade
sejam evitadas.
Ao término deste estudo objetiva-se contribuir com mais debates e
esclarecimentos a respeito desta temática e que reforcem e apareçam maiores
empenho e técnicas voltadas para esta investigação de suma importância para a vida
financeira das empresas bem como para o equilíbrio da economia como um todo.
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