CONSERVAÇÂO do SOLO Aula 1

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Estudo de Conservação Solo Prof. Jorge Luiz Piccinin Aulas: sábado, 21 de agosto de 2010 I – Conceitos A – Solos São várias as definições dadas ao longo de séculos de estudo, abaixo temos duas que exemplificam o recurso solo de uma maneira geral: - Solo é a superfície inconsolidada várias que recobre as rochas e mantém a vida animal e vegetal da Terra. É constituído de camadas que diferem pela natureza física, química, mineralógica e biológica, que se desenvolvem com o tempo sob a influência do clima e da própria atividade biológica (VIEIRA, 1975). - Solo consiste na camada mais externa da crosta terrestre, geralmente não consolidada, variando de centímetros a dezenas de metros de profundidade, que difere do material subjacente, também geralmente não consolidado, em cor, textura, estrutura, constituição física, composição química, características biológicas e provavelmente em processos químicos, reações e morfologia (MARBUT, 1936). O solo é um recurso natural e renovável que deve ser utilizado como patrimônio da coletividade, independente do seu uso ou posse. Por ser um Meio Organizado e Contínuo na Paisagem, com Diferenciações Horizontais e Verticais Visíveis a Diversas Escalas, requerem estudos específicos em acordo com ecossistema e atividades. É um dos componentes vitais do meio ambiente e constitui o substrato natural para o desenvolvimento das plantas e base primaria para qualquer tipo de atividade antrópica B – Conservação

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Estudo de Conservação SoloProf. Jorge Luiz Piccinin

Aulas: sábado, 21 de agosto de 2010

I – Conceitos

A – SolosSão várias as definições dadas ao longo de séculos de estudo, abaixo temos duas

que exemplificam o recurso solo de uma maneira geral:

- Solo é a superfície inconsolidada várias que recobre as rochas e mantém a vida animal e vegetal da Terra. É constituído de camadas que diferem pela natureza física, química, mineralógica e biológica, que se desenvolvem com o tempo sob a influência do clima e da própria atividade biológica (VIEIRA, 1975).

- Solo consiste na camada mais externa da crosta terrestre, geralmente não consolidada, variando de centímetros a dezenas de metros de profundidade, que difere do material subjacente, também geralmente não consolidado, em cor, textura, estrutura, constituição física, composição química, características biológicas e provavelmente em processos químicos, reações e morfologia (MARBUT, 1936).

O solo é um recurso natural e renovável que deve ser utilizado como patrimônio da coletividade, independente do seu uso ou posse. Por ser um Meio Organizado e Contínuo na Paisagem, com Diferenciações Horizontais e Verticais Visíveis a Diversas Escalas, requerem estudos específicos em acordo com ecossistema e atividades. É um dos componentes vitais do meio ambiente e constitui o substrato natural para o desenvolvimento das plantas e base primaria para qualquer tipo de atividade antrópica

B – ConservaçãoA ciência da conservação do solo objetiva a manutenção das condições físicas,

químicas e biológicas do solo, estabelecendo critérios para o uso e manejo das terras, de forma a não comprometer sua capacidade produtiva (qualquer atividade antrópicas) e os recursos naturais de diferentes ecossistemas.

Simplificando: preconiza um conjunto de medidas e/ou informações obtidas para a tomada de decisões sobre o planejamento e execução de projetos diversos.

• Conservação = Manter ou Melhorar

C – Solo e Pedologia

Pedologia é a divisão da Ciência que re&ne os conhecimentos sobre o solo. O

entendimento do solo na natureza, sua classificação e sua distribuição espacial, são

decisivos na transferência dos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos de pesquisa,

do uso e da ocupação das terras. No mínimo privilegia a relação acerto/erro nos

processos de uso e ocupação do solo em determinadas paisagens, que por sua vez

apresentam características específicas dos diferentes biomas que compõe o território

brasileiro.

Isto indica que o conhecimento a respeito dos recursos de solos no país deve ser

cada vez mais intensificado para atender a programas de manejo, recuperação e

conservação, poluição ambiental, qualidade do solo, agricultura de precisão, dentre

outros.

A pedologia, aqui contemplando levantamento e classificação de solos, é a

ciência por meio e fins voltada a essa área. Os conceitos pedológicos empregados na

distinção e subdivisão de classes de solos e das fases das unidades de mapeamento,

características morfológicas avaliadas principalmente nos horizontes subsuperficiais,

fundamentam-se na quantificação de atributos permanentes dos solos. Entretanto, as

mudanças temporais resultantes da atividade antrópicas são realmente pouco

contempladas nos sistemas de classificação de solos em geral, mas essenciais nos

projetos ambientais.

Para melhor aproveitamento das informações contidas nos levantamentos

pedológicos, é cada vez mais importante a interação entre os técnicos dos diferentes

segmentos das ciências do solo e ambiental com o meio no qual estão inseridos. Mesmo

muitas vezes generalizados em termos regionais, os levantamentos pedológicos, em sua

maioria, constituem, ainda a melhor ferramenta para o planejamento de uso e ocupação

do solo e estratificação ambiental. Aprimorá-los, alterando os conceitos pedológicos (de

sua classificação em unidade pedológica) e detalhes atuais compatíveis com a

necessidade de informação do projeto (a se executar) é o melhor método a se seguir em

conservação do solo.

II - FATORES de FORMAÇÂO do SOLO

A preocupação com o conhecimento dos solos encontra-se registrada desde os

tempos históricos sendo perceptível a partir do momento em que os homens passaram a

cultivar plantas, e a reconhecer as melhores terras para seus cultivos. Em 1883, aparece

o livro Chernozem (do russo Tcherno = negro, e zem = solo) de Dokutchaev, que

representou o início da Ciência dos Solos Moderna. A importância de seus trabalhos

está relacionada com o primeiro reconhecimento da sucessão de horizontes A, B e C dos

solos, suas características químicas e físicas, e relações com a origem e evolução dos

solos.

É curioso observar que antes do final do século XIX, Hillgard, nos Estados

Unidos chega a percepções bastante próximas, organizando o reconhecimento e o

mapeamento de solos, sobretudo nas frentes pioneiras, a partir de suas qualidades e

características (textura, cor, análises de solos e nutrientes).

Sendo assim, intensificaram os estudos pedogenéticos, em que houve inclusão

de fatores e processos de formação de solos, permitindo fazer comparações entre as

variações desses fatores e processos, que resultaram nas várias classes de solos, com

peculiaridades capazes de diferenciá-los uns dos outros. Dentro deste contexto,

enquadram-se os fatores de formação de solos, que são: material de origem, clima,

organismos, relevo e tempo.

O solo, materiais que resultam do intemperismo ou meteorização das rochas, por

desintegração mecânica ou decomposição química e biológica, é composto de quatro

partes, a saber: 

ar;

água;

matéria orgânica (restos de pequenos animais e plantas); e

parte mineral que veio da alteração das rochas

Entretanto, são diversas as definições de solo, conforma o enfoque desejado,

onde realizamos atividades diversas: sustentamos-nos, construímos, plantamos e

retiramos minerais. Em agricultura e geologia, solo (crosta terrestre) é a camada que

recobre as rochas, sendo constituído de proporções e tipos variáveis de minerais

(formados por intemperismo da rocha subjacente, a rocha-mãe) e de húmus (matéria

orgânica decomposta por ação de organismos do solo). Também se refere, de modo

mais restrito (especialmente na agricultura), à camada onde é possível desenvolver-se a

vida vegetal. O nome técnico para o solo, em geologia, é manto de intemperismo, e ele

se localiza logo acima da litosfera. Abaixo estão listados alguns exemplos destas

definições segundo as diferentes áreas:

Engenharia civil: material escavável, que perde sua resistência quando em contato com

a água.

Agronomia: camada superficial de terra arável, possuidora de vida microbiana.

Arqueologia: material no qual se encontram registros de civilizações e organismos

fósseis.

Geologia: produto do intemperismo físico e químico das rochas.

Pedologia: camada viva que recobre a superfície da terra, em evolução permanente, por

meio da alteração das rochas e de processos pedogenéticos comandados por agentes

físicos, biológicos e químicos.

O solo é o resultado de algumas mudanças que ocorrem nas rochas. Estas

mudanças são bem lentas, sendo que as condições climáticas e a presença de seres vivos

são os principais responsáveis pelas transformações que ocorrem na rocha até a

formação do solo. Para entendermos melhor este processo, acompanhe atentamente a

seqüência abaixo:

1) Rocha matriz exposta.

2) Chuva, vento e sol desgastam a rocha formando fendas e buracos. Com o tempo a

rocha vai esfarelando-se.

3) Microrganismos como bactérias e algas se depositam nestes espaços, ajudando a

decompor a rocha através das substâncias produzidas.

4) Ocorre acúmulo de água e restos dos microrganismos.

5) Organismos um pouco maiores como fungos e musgos, começam a se desenvolver.

6) O solo vai ficando mais espesso e outros vegetais vão surgindo, além de pequenos

animais.

7) Vegetais maiores colonizam o ambiente, protegidos pela sombra de outros.

8) O processo continua até atingir o equilíbrio, determinando a paisagem de um local.

Todo este processo leva muito tempo para ocorrer. Calcula-se que cada

centímetro do solo se forma num intervalo de tempo de 100 a 400 anos, que

compreende a passagem da rocha sã (material de origem) ao solo como o vemos na

paisagem (ex dos solos da Amazônia, Figura 01), processo esse denominado de

intemperismo. . Os solos usados na agricultura demoram entre 3000 a 12000 anos para

tornarem-se produtivos. 

Figura 01: Processos de Formação dos Solos.

É importante visualizar os solos como corpos dinâmicos naturais, cujas

características (como a de um ser vivo) são decorrentes das combinações de influências

que recebem. Como o solo é substrato onde evoluem outros sistemas, tais características

irão também influenciar na evolução de diferentes componentes das paisagens como:

relevo, vegetação e comportamento hídrico.

O processo de formação de solos é chamado de intemperismo, ou seja,

fenômenos físicos, químicos e biológicos que agem sobre a rocha e conduzem à

formação de partículas não consolidadas:

- Intemperismo físico: promove a modificação das propriedades físicas das rochas

(morfologia, resistência, textura) através da desagregação ou separação dos grãos

minerais antes coesos, acarretando no aumento da superfície das partículas, mas não

modificando sua estrutura. Sua atuação é acentuada em virtude de mudanças bruscas de

temperatura. Ciclos de aquecimento e resfriamento dão origem a tensões que conduzem

a formação de fissuras nas rochas assim desagregando-as. A mudança cíclica de

umidade também pode causar expansão e contração. Espécies vegetais de raízes

profundas, ao penetrarem nos vazios existentes, também provocam aumento de fendas,

deslocamento de blocos de rochas e desagregação.

A superfície exposta ao ar e a água, aumentada pela fragmentação, abre caminho e

facilita o intemperismo químico.

- Intemperismo químico: ocorre quando estratos geológicos são expostos a águas

correntes providas de compostos que reagem com os componentes minerais das rochas e

alteram significativamente sua constituição. Esse fenômeno é o intemperismo químico,

que provoca o acréscimo de hidrogênio (hidratação), oxigênio (oxigenação) ou carbono

e oxigênio (carbonatação) em minerais que antes não continha nenhum destes

elementos. Muitos minerais secundários formaram-se por esses processos. Este tipo de

intemperismo é mais comum em climas tropicais úmidos. 

- Intemperismo biológico: é caracterizado por rochas que perdem alguns de seus

nutrientes essenciais para organismos vivos e plantas que crescem em sua superfície.

À medida que o intemperismo vai atuando (tempo), a camada de detritos torna-se mais

espessa e se diferencia em subcamadas (horizontes do solo), que em conjunto formam o

perfil do solo. O processo de diferenciação dos horizontes ocorre com incorporação de

matéria orgânica no seu interior. Partículas migram descendentemente, levadas pela

gravidade e até realizam movimentos ascendentes carregadas com a ascensão do lençol

freático. Ainda, deve ser considerada a atuação de plantas, cujas raízes absorvem

elementos em profundidade e estes são incorporados à superfície.

Na verdade, a origem e evolução dos solos são condicionadas por cinco fatores,

geralmente exemplificado por Solo = f (rocha de origem, organismos vivos,

clima, relevo e tempo), a saber:

Material (rocha) de origem : a ação do intemperismo nas rochas depende de seus

materiais constituintes, sua estrutura e composição mineralógica:

Rochas Ígneas ou Magmáticas: Cristalização Minerais a Partir Resfriamento

Magma

- 80% volume da litosfera

- Região Amazônica: Granitos e Granitóides

Rochas Metamórficas - Resultam da transformação de outras rochas

preexistentes, sob novas condições de temperatura e pressão

- 15% litosfera

- Região Amazônica: Xistos e Gnaisses

Rochas sedimentares - As rochas intemperisadas perdem sua coesão e passam a

ser erodidas e transportadas por diferentes agentes (água, vento, gravidade), até sua

sedimentação em depressões da crosta terrestre, denominadas bacias sedimentares.

Essa transformação é denominada diagênese.

-5% litosfera 75% superfície

-Região Amazônica: Arenitos e Argílitos

Clima: Um dos mais ativos e importantes fatores de formação do solo, onde

precipitação (deficiência e excedente hídricos) e temperatura regulam a natureza e a

velocidade das reações químicas.

Relevo: a topografia e a cobertura vegetal regulam a velocidade do escoamento

superficial das águas pluviais. Isto interfere na quantidade de água que infiltra e percola

no solo. Este processo (em tempo suficiente) é essencial para consumação das reações e

drenagem; os solos diferenciam-se na paisagem de acordo com a posição no relevo.

Essas diferenciações podem ser conhecidas pelas diferenças verticais dos horizontes

observadas nos perfis de solo.

Ý 10º C dobra-se a Vel. Reações Químicas

 

< T° > T°

REGIÃO BREVES

Sub tropical Tropical Equatorial - Solos mais intemperizados

Latitude

23°S Trop. Capricórnio 1° N Equador

< T°M orgânica > ( Hor escuro )P Efetiva < Nutrientes >

Microrganismos: a decomposição de matéria orgânica libera gás carbônico cuja

concentração no solo pode ser até 100 vezes maior que na atmosfera. Isso diminui o pH

das águas de infiltração. Alguns minerais, como alumínio, tornam-se solúveis somente

em pH ácido, isto é, necessitam desta condição para se desprender de sua rocha de

origem. Outros produtos de metabolismo, como ácidos orgânicos secretados por

liquens, influenciam também os processos de intemperismo.Assim como raízes que

exercem forca mecânica nas rochas que pode acarretar em sua desagregação;

Tempo: variável dependente de outros fatores que controlam o intemperismo,

principalmente dos constituintes do material de origem e do clima. Em condições de

intemperismo pouco agressivas é necessário um tempo mais longo de exposição para

haver o desenvolvimento de um perfil de alteração.

Assim, a partir de um perfil do solo, é possível visualizar a ação do processo de

intemperismo, como demonstra a Figura 02:

PLANO SUAVE ONDULADO FORTE. Montanhoso ONDULADO ONDULADO0 – 3% 3 – 12% 12 – 25 % 25 – 45% > 45%

0,5ºC / 100 m AltitudeSolos mais IntemperizadosRegião Amazônia

Figura 02: A medida que as rochas se intemperizam, os horizontes ou camadas se

diferenciam entre si: a) Seqüências de horizontes A – R solos menos intemperizados,

com rochas próximas a superfície (Fotos 1 e 2); b) seqüências de horizontes A – B,

solos mais intemperizados (Fotos 3 e 4).

1

432

A

R

Fonte: Piccinin (2003)

Fonte: Prado (2005)

II - FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA

A pedologia, que estuda a Gênese, Morfologia e Classificação do Solo, têm

como objetivo estudar e interpretar a formação ou o processo evolutivo do solo, através

de suas características morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas, para

compreender seu potencial de uso e classificá-lo; compreender o solo como um recurso

natural indispensável é fundamental para que os vários usos dados ao solo não causem

sua degradação e garantam o seu desenvolvimento sustentável.

Pedologia, do grego pedon (solo, terra), é o nome dado ao estudo dos solos no

seu ambiente natural. É um dos dois ramos da ciência do solo, sendo o outro a

edafologia. Edafologia é a ciência que trata da influência dos solos em seres vivos,

particularmente plantas, incluindo o uso do solo pelo ser humano com a finalidade de

proporcionar o desenvolvimento das plantas; ou seja, estuda os solos como substrato

básico para os vegetais (tipo de solo, estruturação, porosidade, densidade etc).

Por DEFINIÇÃO a Cobertura Pedológica é a estruturação (ou organização) dos

constituintes do solo, vertical e lateralmente, dando a este uma morfologia, uma

anatomia; podendo parecer um meio contínuo, mas contém descontinuidades que

separam classes de solo em função de suas organizações elementares (estrutura,

porosidade, feições pedológicas), horizontes, que caracterizam e dão forma a dinâmica

dos sistemas pedológicos em uma mesma e diferentes regiões.

ASSIM as organizações elementares caracterizam um determinado meio pedológico,

tanto em termos de classificação como de comportamento em termos de uso e ocupação.

Os três perfis de solo abaixo podem ser representativos da cobertura pedológica de uma

determinada área (ex: de 10, 50 ou 100 ha) ou de uma região (100 Km2)

Se observarmos bem os perfis acima, facilmente notamos diferenças em termos

de tonalidade (cor), de espessura (profundidade de ocorrência) entre as cores e de

transição entre tonalidades; essas são algumas das características morfológicas que

delimitam os horizontes. Cada um desses perfis tem características morfológicas e

comportamento diferenciado, ou seja, não se enquadram para atividades ou projetos

afins, no entanto, podem compor a cobertura pedológica de uma determinada área.

Praticamente, todo o processo de identificação dos solos inicia-se no campo,

através do exame morfológico cuidadoso do perfil, pelo quais os horizontes são

identificados, delimitados uns dos outros e nomeados.

A seção vertical, através do solo, englobando a sucessão de horizontes ou

camadas, acrescidas do material de origem subjacente pouco ou nada transformado

(intemperizado) pelos processos pedogenéticos e o manto superficial de resíduos

orgânicos, dá-se o nome de Perfil de Solo.

Assim, Perfil de Solo é a seção vertical que, partindo da superfície, aprofunda-

se até onde chega a ação do intemperismo, mostrando, na maioria das vezes, uma série

de camadas dispostas horizontalmente (horizontes), paralelas à superfície do terreno,

que possuem propriedades resultantes dos efeitos combinados dos processos de

formação do solo.

Nas figuras acima, observa-se perfis diferenciados por etapas, em função dos

processos pedogenéticos do solo. Exemplos de perfis de solo encontrados no meio

12

pedológico, enquanto na Figura 1 temos um solo maduro, com estagio de inteperismo

muito avançado, profundo e subdividido por horizontes, na Figura 2 temos uma camada

de solo sobreposta ao material de origem, de baixa profundidade efetiva.

De modo geral, um perfil de solo intemperizado, condição predominante na

Amazônia legal, pode ser representado da seguinte forma:

A presença associada de certo número de organizações elementares, ou

principais características morfológicas (textura, cor, consistência, estrutura, cerosidade,

nódulos e concreções, slickensides e espessura e transição entre horizontes) delimitam

os horizontes. Os horizontes são caracterizados pela presença associada de certo número

de organizações elementares; cada horizonte é descrito em termos de um ou mais tipos

de assembléias e de suas relações.

Por DEFINIÇÂO, HORIZONTES são volumes pedológicos mais ou menos

paralelos à superfície, caracterizados pela presença de um ou mais tipos de assembléia e

de suas relações. Sua espessura é variável, seus limites superiores e inferiores são

nítidos ou difusos. Lateralmente, sua extensão pode ir desde o metro, até vários

quilômetros. Sua formação resulta de mecanismos de alteração, como desagregação das

rochas, dissolução e gênese de novos minerais; mecanismos biológicos e de acumulação

de matéria orgânica; mecanismos de liberação, migração e acumulação de constituintes,

A AB

BA

B

BC

C

Reminiscência Material Origem

HORIZONTES

ROCHA

SÓLUM

REGOLITO

PERFIL

1 32

que se dá verticalmente (da base ao topo ou do topo à base do perfil), e lateralmente (da

alta para a baixa encosta); e mecanismos de organização e de agregação, que dão

origem às cores dos solos, aos agregados, a textura, aos sistemas pedológicos, que são

suas características morfológicas. Abaixo, exemplos de horizontes:

ENQUETE: Utilizando somente a tonalidade, é possível delimitar os diferentes

horizontes nas Figuras acima? Qual o solo mais Homogêneo? Qual deles seria mais

fácil elaborar um projeto? Qual seria o solo mais argiloso e o mais arenoso?

III - ESTUDOS do SOLO e PAISAGEM

A paisagem é a imagem da ação combinada dos fatores de formação do solo, tais

como o relevo, os organismos, o material de origem, o clima, ao longo do tempo. É

muito importante conhecer a distribuição dos solos na paisagem. Como decorrência, e

independentemente das aplicações, o estudo dos solos deve basear-se no

reconhecimento dessas organizações (morfológicas) em sistemas pedológicos, em todas

as escalas, das características e propriedades, de seu funcionamento.

Esses princípios têm importância para a determinação do funcionamento e

comportamento dos solos face aos diferentes modos de utilização: agrícola, silvicultura,

urbanismo, engenharia, prospecção geológica e mineral, etc.

A - Principais Características Morfológicas dos Solos

Na identificação dos horizontes e camadas, que regem principalmente o

comportamento físico e químico de um sistema pedológico, é de capital importância o

conhecimento dos seus atributos morfológicos.

Fonte: Prado (2005)

A caracterização morfológica é realizada no perfil do solo através de

metodologias padronizadas (Oliveira et al., 1992; Lemos & Santos, 1997; Embrapa,

1999; Prado 2005), dividas geralmente em duas etapas. A 1° etapa consiste na descrição

morfológicas dos atributos morfológicos do perfil (anatomia interna, como textura, cor,

cerosidade, etc), já a 2° é mais de âmbito ambiental, de paisagem local e/ou regional dos

pontos de levantamento e descrição.

São vários os procedimentos que devem ser tomados no campo para se

classificar os solos. As observações podem ser feitas mediante tradagens, trincheiras ou

em barrancos adequados de estradas (sem sinais de erosão ou de adição de materiais). O

estudo dos solos mediante a amostragem por tradagens tem alguns inconvenientes, tal

como a destruição das unidades estruturais, impossibilitando a avaliação correta da

estrutura, da cerosidade e da consistência nos estados seco e úmido. Entretanto, é

possível examinar a cor, avaliar a textura e a consistência do solo no estado molhado.

O estudo em trincheiras ou em barrancos de estrada permite o exame das

características morfológicas sem limitações, pois as unidades estruturais estão no seu

estado natural. Deve-se ter o máximo cuidado para não amostrar o solo em local onde

foi adicionado material estranho.

Após separar os horizontes, tendo-se como base as variações de cor, textura,

estrutura, cerosidade (se ocorrer), consistência e transição entre horizontes, inicia-se a

coleta de amostras de solo, começando pelos horizontes ou camadas mais profundas, até

os horizontes mais superficiais, para evitar a contaminação entre as amostras de

horizontes, o que poderia ocorrer caso a amostragem fosse feita no sentido inverso.

As amostras de solo são acondicionadas em sacos plásticos em quantidade de 2-

5 kg, fazendo-se antes a etiquetagem, anotando-se as respectivas profundidades dos

horizontes (ou camadas) e o respectivo número do perfil.

As principais características utilizadas em levantamentos, em projetos de uso e

ocupação do solo e associações entre processos solo – paisagens são;

- textura, cor, consistência, estrutura, cerosidade, nódulos e concreções,

slickensides e espessura / transição entre horizontes.

TEXTURA

Refere-se às dimensões e características das partículas primárias do solo, ou seja,

é a proporção das frações granulométricas dos minerais integrante do solo

compreendendo partículas de TFSA, de diâmetros igual ou inferior a 2 mm. Essas

partículas são agrupadas em função do tamanho, porém apresentam características

comuns. Pode ser avaliada através do tato, pela sensação ao esfregar um pouco de solo

úmido entre os dedos. A areia provoca sensação de aspereza, o silte de sedosidade e a

argila de pegajosidade.

Raramente um solo é constituído de uma só fração granulométrica, daí a

necessidade de classes de textura procurando definir diferentes combinações de areia,

silte e argila.

Em função db diametreo das´particulas minerais, são classificadas em:

Escala (mm)

2,0 – 0,2 A Grossa

0,2 – 0,02 A Fina

16 – 35 Média

0,02 – 0,002 Silte

< 0,002 Argila

já em função da percentagem de argila na composição (100%) granulométrica, obtida

através de análises de laboratório (análises físicas, granulométricas ou textura) define-se

a classe textural de um determinada amnostra, camada ou horizonte de solo:

Teor Argila (%) Interpretação Textura

< = 15 Arenosa

16 – 35 Média

36 – 60 Argilosa

> 60 Muito Argilosa.

Dessas frações a argila é a que possui maior superfície específica, por isso

possui natureza coloidal e de alta retenção de cátions e de adsorção de fósforo. A

fração mineral representa a maior parte da fase sólida do solo e é constituída de uma

gama variada de minerais de argila (tamanho argila), os quais apresentam cargas

elétricas negativas responsáveis pela capacidade de troca de cátions (CTC).

Particula Nº partículas/g solo Superfície (cm2/g)

Areia M Fina 722.000 227

Silte 5.780.000 454

Argila 90.300.000.000 8.000.000

Não só a classificação do solo depende diretamente do teor de argila ao longo

do perfil, mas também o manejo de solo. Na classificação do solo no nível hierárquico

de ordem examina-se o gradiente textural como um dos itens principais, e no manejo

com essa fração granulométrica interfere diretamente no grau de compactação, na

disponibilidade de água, na capacidade de troca de cátions, na dosagem da calagem e

de herbicidas. Nos solos do Brasil o teor de silte geralmente não são elevados exceto

para a maioria do Cambissolos.

Os solos arenosos ao longo do perfil são aqueles com menor disponibilidade

de água, mas não significa que os solos argilosos ou muito argilosos possuem a maior

disponibilidade hídrica, pois o Latossolos ácricos possuem argila elavada, mas são

muito ressecados por causa da forte microagregação da argila, que é conseqüência do

elevado grau de floculação dessa fração.

Os teores de areia fina quando são muito maiores do que os de areia grossa

contribuem para o aumento da disponibilidade água no perfil.

A Figura mostra o triângulo das classes texturais, adaptado do americano

proposto pelo Soil Survey Manual (1993).

COR

A cor do solo reflete os teores de matéria orgânica, óxidos de ferro e as classes

de drenagem interna, e é a sensação visual que primeiro chama atenção na identificação

dos solos.

A tabela Munsell de cores é rotineiramente utilizada na identificação das cores

dos diversos solos. Padroniza-se examinar a cor do solo no estado úmido e em

condições de boa luminosidade.

O matiz representa a combinação das cores vermelha (red em inglês) e

amarela( yellow em inglês), e para solos   variam de 5R (100% de red e 0% de yellow) a

5Y (100% de yellow e 0% de red), conforme a figura 1.

O matiz 5YR resulta de 50% de contribuição da cor vermelha e 50% da cor

amarela, o matiz 7,5 YR resulta da proporção de 62,5% da cor amarela e 37,5% da

proporção da cor vermelha.

O valor, que está disposto no sentido vertical da tabela, reflete as combinações

da cor cinza (mistura de preto e branco), varia de zero (preto absoluto) a 10 (branco

absoluto). Abaixo um esquema dessas definições.

Fonte: Prado (2005).

Quanto menor o valor, mais escuro é o solo e mais alto e o teor de matéria

orgânica e a capacidade de troca de cátions.

Finalmente, o croma está disposto no sentido horizontal da tabela e refere-se a

contribuição do matiz. Se o matiz é zero a cor é neutra não existindo as participações

das cores vermelha e amarela.

Característica morfológica de fácil visualização e identificação. O sistema de

classificação do solo considera a cor para distinção de classes, pois infere sobre a

ocorrência de processos pedogenéticos ou avaliação de características importantes no

solo. Como foi citado anteriormente, Principais agentes responsáveis pela cor matéria

orgânica e óxidos de ferro

Os tipos de óxidos de ferro estão muito relacionados com as cores dos diversos

solos, sendo a hematita o óxido de ferro responsável pela cor vermelha, a goethita

pela amarela, e as formas reduzidas de ferro, pela cor cinza. O quartzo, e o carbonato

de cálcio são responsáveis pela cores muito claras dos solos.

Os Gleissolos, especialmente, ocorrem nas baixadas, ou seja em locais

permanentemente encharcados, possuem cores neutras (acinzentadas, azuladas, ou

olivaceas) indicando a ocorrência do ferro num ambiente muito redutor devido a forte

influência da água, e podem ainda apresentar mosqueamento ou cor variegada.

Todas as outras classes de solos podem apresentar restrição de drenagem

interna iniciando numa profundidade próxima de 50 cm ou pouco mais abaixo se

apresentarem mosqueamento ou variegado. Isso representa um ambiente úmido a

partir dessas profundidades em direção ao lençol freático.

Matiz 10RValor 3Croma 4

Notação CorVermelho (10R 3/4 úmido)

A tabela (ou carta) Munsell para identificação das cores:

Algumas Inferências sobre as Cores do Solo

Ex. Solos vermelhos:

Boa Drenagem,

Estágio de imtemperização avançado,

CTC variável, mas geralmente superior aos solos de cores mais claras,

Acidez variável, mas geralmente acida nos horizontes B,

Reserva de nutrientes, superior aos de solos com tonalidades mais claras,

Disponibilidade de P, superior aos de solos com tonalidades mais claras,

Agregação elevada, conseqüência da presença de óxidos de ferro (Fe).

ESTRUTURA

Define-se estruturas pelo arranjo das partículas areia, siltee argila em agregados

ou torrões. As estruturas, ou agregados, podem ser entendidos como um conjunto

coerente de partículas primárias do solo com forma e tamanho definidos, com

importante influência no comportamento do meio solo. Os agregados podem aparecer

num mesmo horizonte com morfologias diversificadas e variarem lateral e

verticalmente.

Fonte: Piccinin (2005)

A Estrutura é composta por 3 Fases - Sólida, Líquida e Gasosa!

Forma Geral, Sob Condição Natural sua Composição é:

Minerais 45%

MO 5-10%

Microporos 30 %

Macroporos 20%

ArÁguaNutrientes

A formação dos agregados ocorre por meio de diferentes mecanismos, os quais

são: floculação dos constituintes, devido à presença das argilas; cimentação dos

constituintes, em função da presença de matéria orgânica, argila, ferro calcário, sílica e

atividade biológica; fissuração dos domínios floculados ou cimentados, em

conseqüência das variações de volume relacionadas às oscilações no teor de umidade e

presença de argila expansivas. As estruituras do solo são constantemente alteradas pelas

atividades antrópicas, muitas vezes levando ao processo de compactação da camada

superficial do perfil, quando aparecem as estruturas pulverizada, angulares ou

laminares, facilitando o desenvolvimento de processos erosivos.

Exemplo de estruturas Subangulares; observa-se a grande quantidade de poros, ou vazios.Sob tais condições, ocorre tanto a infiltração da água como seu armazenamento.Não se observa quaisquer sinais de compactação.