Considerações sobre a obra AMOR DE PERDIÇÃO

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CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBRA “AMOR DE PERDIÇÃO” Lorena da Fonseca Cavoli FONTE: (2013, 03). Considerações Sobre A Obra Amor De Perdição. TrabalhosFeitos.com . Retirado 03, 2013, de http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Considera%C3%A7%C3%B5es-Sobre- a-Obra-Amor- Introdução De acordo com os estudos realizados por William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães (2005) Camilo Castelo Branco é um dos principais representantes do ultra-romantismo português. Sua obra mais importante é “Amor de perdição” escrita em 1925. Trata-se de uma novela passional, onde seu talento atingiu o ponto máximo. Ao apresentar histórias de amor impossível entre dois jovens, o autor é capaz de contextualizar o enredo de modo, a traçar alguns importantes cenários de Portugal. Nessas histórias o sofrimento amoroso é exaltado, capaz de transformar o caráter das personagens, fazendo com que os jovens amantes sejam envolvidos

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CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBRA “AMOR DE PERDIÇÃO”

                                                        Lorena da Fonseca Cavoli 

FONTE: (2013, 03). Considerações Sobre A Obra Amor De

Perdição. TrabalhosFeitos.com. Retirado 03, 2013, de

http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Considera%C3%A7%C3%B5es-Sobre-a-Obra-Amor-

Introdução

De acordo com os estudos realizados por William Roberto Cereja e

Thereza Cochar Magalhães (2005) Camilo Castelo Branco é um dos

principais representantes do ultra-romantismo português. Sua obra

mais importante é “Amor de perdição” escrita em 1925.   Trata-se de

uma novela passional, onde seu talento atingiu o ponto máximo. Ao

apresentar histórias de amor impossível entre dois jovens, o autor é

capaz de contextualizar o enredo de modo, a traçar alguns

importantes cenários de Portugal. Nessas histórias o sofrimento

amoroso é exaltado, capaz de transformar o caráter das

personagens, fazendo com que os jovens amantes sejam envolvidos

por uma aura de pureza e devotamento que os santifica. O trágico

fim é a sentença que pune um amor que infringe os princípios de

uma sociedade. Embora tenha relacionado à história á vida

atribulada de um parente, Camilo incorporou á obra muito de suas

próprias experiências na prisão e do relacionamento proibido com

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Ana Plácido, Mulher casada.

A obra em questão é representante do Romantismo Português. De

acordo com estudos realizados por Maria Luíza Abaurre, Marcela

Nogueira Pontara e Tatiana Fadel (2005) o romantismo “assumiu

uma feição anticlássica, proclamando a liberdade individual do

artista, eximindo-o da necessidade de imitação

dos clássicos Greco-latinos.” (ABAURRE; PONTARA; FADEL, 2005,

P.57). O movimento que antecedeu ao romantismo foi o

Classicismo. Na obra “Os Lusíadas” de Camões   observa-se a

rigidez da forma poética. Os Lusíadas constituem um poema épico

dividido em dez cantos que apresentam, no total, 1.102 estrofes

organizadas em oitava rima (ABABABCC) e perfazem 8.816 versos,

todos decassílabos. (CF.ABAURRE; PONTARA; FADEL, P. 38). É

essa rigidez clássica que os românticos desejaram romper. O desejo

de liberdade está expresso em todo o romance “Amor de perdição”.

As autoras em questão citam como características do romantismo:

sentimento nacionalista, permitindo a construção de uma identidade

nacional; a livre expressão dos sentimentos; o individualismo; a fuga

da realidade e o egocentrismo. (CF. ABAURRE; PONTARA; FADEL,

P. 38). Dito isso passa-se à análise da obra a fim de se verificar se

ela é ou não um bom exemplar da literatura romântica portuguesa,

antes, porém será feita a síntese do enredo, a fim de situar o leitor.

Na introdução do romance, o narrador relata a prisão de Simão

Botelho, nas cadeias de Relação do Porto e antecipa o exílio do

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moço, aos 18 anos, devido a uma paixão juvenil, bem como o

desfecho trágico da história. Passa então a contar a história da

família de Simão Botelho. Começa com a trajetória de seu pai,

Domingos Botelho, que formado em direito inicia sua carreira em

Lisboa, onde cai

nas graças dos reis. 

Na corte, se apaixona por uma dama D. Maria I, D. Rita Castelo.

Após dez anos de aproximação e conquistas, casam-se por fim. Em

1801, estão estabelecidos em Viseu, em Companhia de suas três

filhas. Seus dois filhos estudam em Coimbra. Manuel, o mais velho,

muito reclama de seu irmão Simão, dizendo que ele emprega seu

dinheiro em “pistolas” e anda em companhia de perturbadores da

ordem. 

Tais acusações não são ouvidas pelo pai, mas quando Simão, em

férias em casa, se mete numa briga, em defesa de um criado que

fora espancado, seu pai enfurecido o quer preso. A mãe o ajuda na

fuga para Coimbra, onde começa a defender publicamente a

Revolução Francesa, e acaba detido em caráter acadêmico por seis

meses, e volta para casa de seus pais. No espaço de três meses

Simão transformou-se e para melhor. Desprezou a ralé e saía ou só,

ou com sua irmã mais nova. Preferia lugares isolados, tais como o

campo, as árvores, os sítios mais sombrios e ermos.   O pai

consente que o filho lhe dirija a palavra, desconhecendo o motivo da

mudança de seu filho que estará apaixonado pela filha do vizinho,

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um inimigo que seu pai, devido a uma sentença deu perda de causa

a Tadeu de Albuquerque.

Por três meses, Simão e Teresa   encontra-se às escondidas, sem

levantar nem uma suspeita   sonham casar-se e fazem planos para a

vida em comum.   

Simão e Tereza são flagrados conversando na janela, e Rita, ao ser

pressionado pelo pai conta tudo o que sabe. Tadeu Albuquerque

planeja casar a filha com um primo, Baltasar Coutinho. Tereza, no

entanto, se nega a Baltasar que jura se por contra o romance de

Tereza e Simão. Proibidos de se encontrar, os jovens trocam

correspondência, ajudados por uma mendiga e por Mariana, filha do

ferreiro João da Cruz. Mariana encarna o amor romântico abnegado

por Simão.

    Tereza será enviada para o convento de Monchique0 no Porto,

mas Simão resolve raptá-la, acaba por matar seu rival e se entrega a

policia. João da Cruz oferece-se para ajudá-lo a fugir, mas ele não

aceita, pois é o típico herói romântico. Matou por amor a Teresa,

portanto assume seu ato e faz questão de pagar. Condenado a

forca, a sentença é comutada e Simão exilado na Índia.   Quando ele

estar partindo , Teresa , muito doente pede que a coloquem no

mirante do convento, para ver o navio que levará   Simão para longe.

Após acenar dizendo adeus, morre. Mariana, que acompanha Simão

ao exílio entrega-lhe a última carta de Teresa. Ele fica sabendo de

sua morte, tem uma febre enigmática e morre. Mariana não suporta

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a morte do amado, suicida-se abraçada ao corpo de Simão jogando–

se no mar.

          Características românticas na obra “Amor de Perdição”

O resumo faz ver que a obra apresenta algumas das principais

características do romantismo. A primeira delas é a liberdade que

pode ser notada nas personagens.

Vale lembrar que O Romantismo aconteceu após a Revolução

Francesa (1789). Tal Revolução traz para Europa o sentimento

nacionalista, que aparece no romance em questão, como se vê em

“A mocidade estudiosa, em grande parte simpatizava com as

balbuciantes teorias da liberdade ”(Cf. p. 62). Pois bem, a Revolução

Francesa objetivava a queda da aristocracia e a ascensão da

burguesia (CF. ABAURRE; PONTARA; FADEL, P. 38.) e um dos

seus lemas era “Liberté”. Tal liberdade está presente na personagem

Simão Botelho, como se vê em “Simão emprega em pistolas o

dinheiro dos livros, convive com os mais famosos perturbadores da

academia, e corre de noite as ruas, insultando os habitantes e

provocando-os à luta com assuadas” (Cf. p.60). 

Tão livre quanto Simão é a personagem Teresa de Albuquerque.

Que se recusa casar-se com o primo Baltazar, impondo sua vontade

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aos costumes de   uma sociedade, onde os casamentos eram

negociados para atender aos interesses das   famílias, desprezando

o amor ,   como nos mostra o trecho em que Teresa nega-se a

Baltazar,”O primo engana-se: os nossos corações não estão unidos.

Sou muito sua amiga, mas nunca pensei em ser sua esposa, nem

me lembrou que o primo pensasse em tal.” ( Cf. p.69 ).

    No século XIX, a mulher ocupava um papel secundário na família,

sempre dependendo do homem, o poder estava concentrado no pai

ou no marido, sendo privada da razão. A mulher era feita para

obedecer.

-

Hás de casar! Quero que cases! Quero... Quando não, serás

amaldiçoada para sempre, casa irá para teu primo! Nenhum infame

há de aqui pôr um pé nas alcatifas de meus avós. Se és uma ama

vil, não me pertences, não és minha filha Teresa! Morrerás num

convento! Esta a, não podes herdar apelidos honrosos que foram

pela primeira vez insultados pelo pai desse miserável que tu amas!

Maldita sejas! Entra nesse quarto, e espera que daí te arranque para

outro, onde não verás um raio de sol. (Cf. p. 74.)

        Outra característica do romantismo, esta presente nas cartas

que possuem um valor muito significativo, pois revelam o exagero

sentimental das personagens, podemos perceber a aflição e

angustia de Teresa por não ter noticias de Simão, vejamos o

fragmento da carta onde Teresa preocupada, escreve a Simão

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querendo noticias: “Ó meu querido Simão, que será feito de ti?...

Estás ferido? Serei eu a causa da tua morte? Dize-me o que

souberes. Eu já não peço a Deus senão a tua vida. Foge desses

sítios: vai para Coimbra, e espera que o tempo melhore a nossa

situação. Tem confiança nesta desgraçada, que é digna da tua

dedicação...” (Cf. p.93). Teresa se mostra tão apaixonada, que não

deseja mais nada na vida além da vida de Simão.

        Em outra carta em que Teresa já está trancada no convento ela

diz: 

"Não receies nada por mim, Simão. Todos estes trabalhos me

parecem leves, se os comparo aos que tens

padecido por amor de mim. A desgraça não abala a minha firmeza,

nem deve intimidar os teus projetos. São alguns dias de tempestade,

e mais nada. Qualquer nova resolução que meu pai tome dir-ta-ei

logo, podendo, ou quando puder. A falta das minhas noticias deves

atribuí-la sempre ao impossível. Ama-me assim desgraçada, porque

me parece que os desgraçados são os que mais precisam de amor e

de conforto. Vou ver se               posso esquecer-me, dormindo.

Como isto é triste, meu querido amigo!... Adeus”. ( Cf. p. 102).

Teresa procura confortar Simão, mostra-se esperançosa de que um

dia   todo o sofrimento   acabara, tenta parecer forte é o encoraja

Simão a lutar pelo amor deles , observamos mais uma característica

do Romantismo , viver o amor ate as últimas conseqüências .

  Mariana é a mais romântica personagem de Amor de perdição, filha

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do ferreiro João da Cruz, é uma mulher de 24 anos, criada no

campo, e pertence a uma classe social menos favorecida. O

narrador acrescenta “formas bonitas” e um rosto “belo e triste”, a fim

de realçar a grandeza de seu amor   renunciado .   Mariana   mostra-

se Abnegada e fiel , ao amado Simão , ajudando –o a alcançar a

felicidade, que para ele esta presente em Teresa. 

    Mariana   é a personagem que mais sofre no romance , e que

nunca se realiza sentimentalmente. No entanto controla  

obstinadamente seu ciúme .

"Amava, e tinha ciúmes de Teresa, não ciúmes que se

refrigeram na expansão ou no despeito, mas infernos surdos, que

não rompiam em lavareda os lábios, porque os olhos se abriam

pronto em lágrimas para apagá-la."

    Dona de casa desde muito cedo Mariana , começa a ser para

Simão uma espécie de mãe , fluindo para o companheirismo da  

paixão , espera ligasse ao infeliz moço que um dia apareceu em sua

casa ferido . 

Mariana excede   o próprio sentimento, em função do amor de

Simão por Tereza, podemos   perceber no trecho a seguir :

- Ouça-me, Mariana: que espera de mim?

- Que hei de eu esperar!...

Por que me diz isso o senhor Simão?

- Os sacrifícios que Mariana tem feito e quer fazer por mim só

podiam ter uma paga, embora mos não faça esperando

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recompensa. Abre-me o seu coração, Mariana?

- Que quer que eu lhe diga?

- Conhece a minha vida também como eu, não é verdade?

- Conheço. E que tem isso?

-Sabe que eu estou ligado pela vida e pela morte àquela desgraçada

senhora?

- E daí? Quem lhe diz menos disso?!

-Os sentimentos do coração só os posso agradece com amizade. 

-E eu já lhe pedi mais alguma coisa senhor Simão? (Cf.p167)

    Outra característica do romantismo é o fascínio   pela morte para

buscar a   felicidade. O suicídio de Mariana é um exemplo desse

sentimento onde a morte caracteriza a vitoria no amor. 

    A figura mais complexa e humana da obra.   Mariana é capaz de

abandonar a tudo e a todos para servir ao seu amado.

.

     

                                        Considerações finais.

Todas as características realçadas fazem ver que a obra “Amor de

Perdição” representa bem o romantismo português, tem o amor

como centro de toda a narrativa, entretanto esse amor estar

intimamente ligado a morte. Existe entre as personagens, Simão,

Teresa, e Mariana uma dependência, onde a paixão exacerbada não

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pode existe sem a presença do outro. A narrativa não apresenta em

nenhum momento erotismo, pois o amor aparece idealizado,

inatingível e infactível   no plano terreno. Abrangemos mais

claramente no desfecho da obra, onde o triangulo amoroso é

desfeito, o amor exagerado os leva à perdição. A obra é

extremamente criativa, em relação aos obstáculos e peripécias

enfrentadas pelas personagens. Camilo Castelo branco mistura

ficção com realidade incluindo fatos de sua vida. A obra apresenta

também forte criticas á igreja como instituição e a sociedade da

época.

Referências bibliográficas:

  ABAURRE, Maria Luiza

        Português: língua, literatura, produção de texto: volume único/

Maria Luiza Abaurre, Marcela Noguira Pontara, Tatiana Fadel. 2.ed .

São Paulo : Moderna, 2004. 

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  CEREJA, William Roberto 

        Português : linguagens . volume 2, 5 ed . São   Paulo: Atual ,

2005. 

  Branco , Camilo Castelo 

      Amor de perdição . Edição dirigida e apresentada por Fernanda

Mendonça . São Paulo ; Difusão Européia